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PSICODIAGNÓSTICO – V 513
importância de se considerar o tamanho de terna sugere uma mãe dominante, enquanto
cada pessoa representada, o tamanho relativo um pai pequeno, apenas maior que o próprio
de alguns membros em relação aos outros, a sujeito, indica que este percebe aquele como
distância das figuras entre si e a sua posição sendo somente um pouco mais importante que
no papel, que são itens também levados em ele. Por outro lado, chama a atenção para a
conta por Hammer (1991). existência ou não de uma relação entre tama-
Conforme Klepsch e Logie (1984), só secun- nho e idade, levantando algumas hipóteses.
dariamente Hulse se detinha na distribuição Tamanhos diversos para representar gêmeos
seqüencial das figuras, nas omissões, nos “exa- podem revelar sentimentos diferenciados para
geros caricaturescos”(p.87), no sombreado e com esses membros da família. A criança que
em outros tipos de ênfase, que são valoriza- desenha um irmão menor (até um bebê) de
dos por outros autores. Não obstante, Cam- igual tamanho ao seu está pressupondo que
pos (1977) relaciona hipóteses interpretativas ele represente uma figura competitiva, ame-
de Hulse associadas com alguns desses itens. açadora para sua posição na família. Mas se
Assim, lembra que há omissão do próprio su- um adulto desenha a si próprio no colo ma-
jeito na representação da família, quando ele terno, está manifestando tendências regres-
não se sente nela incluído, dela não participa, sivas.
não recebe afeto ou se há um problema de re- Outra relação que esse autor estabelece é
jeição. Por outro lado, tanto a distribuição se- entre proximidade ou afastamento das figuras
qüencial, como ênfases especiais no desenho e distância emocional entre as pessoas dese-
de algum membro da família, podem se rela- nhadas. Membros da família distantes uns dos
cionar com a valência afetiva que ele tem para outros configuram um grupo familiar desuni-
o sujeito, seja num sentido positivo como ne- do, como se as pessoas fossem desenhadas
gativo. Se o próprio sujeito se coloca em pri- individualmente e não como família, e sem
meiro lugar, a hipótese é de egocentrismo e, evidência de “troca emocional” (p.296). Ao
se em último, de cerceamento. A representa- contrário, uma criança pode se colocar, no de-
ção de algum membro da família em negrito senho, ao lado de um dos pais, demonstrando
pode identificar um conflito com essa pessoa. suas próprias preferências ou efeitos do con-
Uma figura riscada pode indicar simbolicamen- flito edípico. Por outro lado, o distanciamento
te o desejo de afastá-la da família ou suben- afetivo pode ter uma representação simbólica
tender um desejo de sua morte. Igualmente, pela interposição de elementos extras entre
se um membro da família é circunscrito num membros da família, que denunciam uma in-
círculo, pode ter essa mesma significação ou terferência no canal de comunicação ou no in-
pode denotar uma ênfase especial por razões tercâmbio afetivo. Um exemplo disto seria o
afetivas ou circunstanciais (problema de doen- desenho de uma árvore entre as figuras do pai
ça, por exemplo). A inclusão, na representa- e da mãe, que pode sugerir dificuldades no
ção familiar, de pessoas já falecidas pode su- relacionamento do casal ou o desejo de sepa-
gerir fixação. E se a família é desenhada em rá-los. Aliás, para clarear a significação afetiva
grupos que se distanciam uns dos outros, há das relações mútuas, é importante observar a
uma hipótese de divisão na constelação fa- expressão facial que o sujeito empresta a cada
miliar. figura, que pode apresentar um ar afetuoso,
Hammer (1991), que também considera bondoso ou, pelo contrário, agressivo ou proi-
valioso o desenho da família se o psicólogo está bitivo.
interessado “na percepção que o paciente tem O sujeito que se sente rejeitado, não aten-
de si mesmo na família e/ou na percepção de dido, carente, desenhará a si mesmo (caso se
sua relação com as figuras parentais e dos ir- inclua na representação familiar) de um modo
mãos” (p.297), pondera que, na sua análise, o diferente daquele que se percebe como o filho
tamanho “talvez seja a variável mais importante preferido. A inclusão ou a omissão do próprio
(p.294). Deste modo, uma grande figura ma- sujeito se associa com a presença ou não de
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Neste nível de conteúdo, salienta quatro sentações simbólicas, deve-se tentar analisar a
pontos que devem ser especialmente conside- sua possível significação.
rados: a valorização do personagem principal, Finalmente, observa-se que, neste nível de
a desvalorização de um personagem, a distân- conteúdo, Corman (1967) dá uma ênfase im-
cia entre as figuras e a presença de represen- portante à interpretação dos conflitos infan-
tações simbólicas. tis, principalmente aos que considera mais
O personagem principal é o mais importante notórios, “os conflitos de rivalidade fraterna e
no sentido de que as relações do sujeito com os conflitos edípicos” (p.59).
ele são especialmente significativas, seja por- Groth-Marnat (1999) salienta a forma como
que “o admira, inveja, teme” (p.54), seja por- as figuras são representadas, bem como a or-
que com ele se identifica. Evidencia-se como a dem seqüencial em que aparecem, que permi-
primeira figura a ser desenhada; pela coloca- tiriam explorar as relações interfamiliares e a
ção em primeiro lugar; pelo maior tamanho; maneira como o sujeito se percebe dentro do
por merecer um traçado mais cuidado, mais contexto. Valoriza, especialmente, a primeira
caprichado ou com mais adornos; por sua lo- colocação, que identifica a pessoa com a qual
calização ao lado de uma figura importante (do estão associados os sentimentos mais fortes
pai, por exemplo); por ser desenhado em posi- do sujeito, sejam positivos ou negativos. A
ção mais central, de modo que chame a aten- omissão do sujeito é explicada por ausência de
ção entre as outras figuras ou concentre a aten- poder ou de influência na família. Variações no
ção dessas figuras; por ser aquela mais enfati- traçado, borraduras ou o uso da cor podem
zada, por representar o próprio sujeito, que indicar sentimentos em relação a membros fa-
com ela se identifica. miliares específicos.
A desvalorização implica intentos de nega- Já no desenho cinético da família, a dinâ-
ção, que é indicada, freqüentemente, pela mica das relações familiares é especialmente
omissão total de uma figura ou de detalhes da focalizada, sendo importante identificar a pre-
mesma. Mas pode também ser sugerida pelo sença ou a natureza das interações. As ativida-
tamanho menor que as outras figuras; pela des representadas, às vezes, são estereotipa-
colocação seqüencial em último lugar; por sua das, refletindo papéis do cotidiano da família,
localização distanciada das demais, horizontal- mas, mesmo assim, o fato de a criança selecio-
mente ou em plano inferior; por sua represen- nar uma ação específica pode ter significação.
tação menos caprichada, cuidada ou detalha- Burns e Kaufman (1978) lembram que a ação
da; por ser depreciada de alguma maneira, de cozinhar, por exemplo, aparece freqüente-
como pela omissão do nome; ou, ainda, por mente, porém, simboliza uma figura materna
ser uma figura com que raramente o sujeito se protetora, enquanto a atividade de limpar se
identifica. associa “com mães compulsivas que se preo-
A distância entre as figuras associa-se com cupam mais com a casa do que com a gente
dificuldades no relacionamento e tanto pode que a habita” (p.27). Já o pai, que é represen-
ser indicada pelo afastamento entre as re- tado guiando um carro ou no trabalho, parece
presentações dos personagens quanto por não estar tão integrado na família como aque-
outros indícios, como por um traço de sepa- le que está lendo o jornal, pagando as contas
ração. ou brincando com os filhos, que “são ativida-
Outro ponto importante a ser considerado des freqüentes de pais normais” (p.27).
é a inclusão de animais, domésticos ou selva- Conforme Groth-Marnat (1999) comenta,
gens, no desenho do sujeito, que serviriam para se um membro da família é representado “em
a expressão mais livre de diferentes tendências posição precária” (p.331) ou no verso do pa-
pessoais, que podem, assim, ser mascaradas. pel, pode-se pressupor a existência de tensão
Desta maneira, desenhar irmãos como figuras ou, mesmo, de conflito não resolvido do sujei-
de animais seria uma forma de desvalorizá-los to com essa pessoa. No caso de o sujeito não
como pessoas. Mas, como se trata de repre- bem desenhado, há “insegurança quanto aos
CASO ILUSTRATIVO
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dos irmãos, o que condiz com o fato de ser ter a mesma idade. Identifica-se com o pai (pelo
mais valorizado por ela. Mas, mesmo sendo desenho), mas também não se aproxima dos
mais velho, sua figura é menor que a de César, demais. Permanece de braços abertos, mas não
o que se relaciona, por certo, à competição dá nem recebe. O sentimento de rejeição fica
entre ambos e com o desejo deste de que Rob- evidente, assim como a valorização dos irmãos
son seja inferior a ele. ou, mais especificamente, da irmã, embora
Ellen, a irmã gêmea de César, é desenhada valorize mais o pai, com quem se identifica.
em tamanho maior que ele, inclusive maior que As figuras são pobres, com expressão hu-
todas as figuras do sexo masculino, assim como milde, sem adornos. Falta riqueza expressiva.
a mãe é a maior da família. Evidencia-se a va- Além disso, não há uma percepção integrada
lorização das figuras femininas, talvez em fun- da estrutura familiar (as figuras estão distan-
ção do papel da mãe, que é o mais produtivo tes, flutuando), o que denuncia a distância afe-
da família. tiva, que é real na família.
César sente-se o mais rejeitado, o menor. É Tais dados foram corroborados por outros
o último a ser representado, distante de to- de outras fontes, durante o processo psicodiag-
dos. Desenha-se depois da irmã, apesar de esta nóstico.