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Desenho da Família

Neli Klix Freitas, Jurema Alcides Cunha


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ADMINISTRAÇÃO fazer, entregando-lhe uma nova folha, quan-
do deseja suprimir uma figura.
Na administração, geralmente se solicita ao Assim, recomenda-se que o psicólogo pre-
sujeito que desenhe a sua família e, a seguir, viamente decida que subsídios vai utilizar em
se pede que nomeie as figuras desenhadas sua interpretação, para evitar problemas por
(Campos, 1977). Mas há outras versões, como uma administração que deixe de oferecer as
a de instruir o sujeito a desenhar uma família, informações de que necessita.
como imagina (Corman, 1967), ou uma famí-
lia em movimento (Burns & Kaufman, 1978),
sendo este um procedimento complementar ao INTERPRETAÇÃO
desenho tradicional da família.
Na primeira opção, não há outras instru- Não existe um roteiro padronizado para a in-
ções, a não ser a de oferecer ao sujeito algum terpretação do desenho da família, embora
encorajamento, se há indícios de hesitação ou, haja certa concordância entre autores sobre
mesmo, de confusão (Groth-Marnat, 1984). Já algumas hipóteses interpretativas.
Hulse, conforme Klepsch e Logie (1984), em seu A impressão geral transmitida pelo desenho
trabalho com crianças, estimulava-as “a dizer parece ser explícita ou implicitamente valori-
o que quisessem a respeito de seus desenhos” zada por vários autores. Há mais ênfase nos
(p.87). Por outro lado, Corman (1967) propôs sentimentos do sujeito em relação à sua famí-
que, após a representação da família imaginá- lia “do que no estilo das pessoas individuais”
ria, se introduza um questionário, para que o (Groth-Marnat, 1984, p.143).
sujeito indique, dentre os diferentes membros, Hulse, que, segundo Klepsch e Logie (1984),
qual é considerado o melhor, o pior, o mais sugeriu a utilização do desenho da família
infeliz, o mais feliz e qual o seu preferido. Com- como técnica projetiva, propunha uma abor-
plementarmente, deve dizer quem seria, se fi- dagem gestáltica como especialmente útil para
zesse parte dessa família, e as razões da esco- explorar aspectos psicodinâmicos, principal-
lha desse personagem de identificação. mente para revelar precocemente conflitos da
Observa-se, também, que, enquanto há criança, a percepção que ela tem de sua famí-
autores que sugerem que se forneça uma bor- lia, bem como seus sentimentos e atitudes em
racha ao sujeito, Corman (1967) prefere não o relação aos diferentes membros. Destacava a

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importância de se considerar o tamanho de terna sugere uma mãe dominante, enquanto
cada pessoa representada, o tamanho relativo um pai pequeno, apenas maior que o próprio
de alguns membros em relação aos outros, a sujeito, indica que este percebe aquele como
distância das figuras entre si e a sua posição sendo somente um pouco mais importante que
no papel, que são itens também levados em ele. Por outro lado, chama a atenção para a
conta por Hammer (1991). existência ou não de uma relação entre tama-
Conforme Klepsch e Logie (1984), só secun- nho e idade, levantando algumas hipóteses.
dariamente Hulse se detinha na distribuição Tamanhos diversos para representar gêmeos
seqüencial das figuras, nas omissões, nos “exa- podem revelar sentimentos diferenciados para
geros caricaturescos”(p.87), no sombreado e com esses membros da família. A criança que
em outros tipos de ênfase, que são valoriza- desenha um irmão menor (até um bebê) de
dos por outros autores. Não obstante, Cam- igual tamanho ao seu está pressupondo que
pos (1977) relaciona hipóteses interpretativas ele represente uma figura competitiva, ame-
de Hulse associadas com alguns desses itens. açadora para sua posição na família. Mas se
Assim, lembra que há omissão do próprio su- um adulto desenha a si próprio no colo ma-
jeito na representação da família, quando ele terno, está manifestando tendências regres-
não se sente nela incluído, dela não participa, sivas.
não recebe afeto ou se há um problema de re- Outra relação que esse autor estabelece é
jeição. Por outro lado, tanto a distribuição se- entre proximidade ou afastamento das figuras
qüencial, como ênfases especiais no desenho e distância emocional entre as pessoas dese-
de algum membro da família, podem se rela- nhadas. Membros da família distantes uns dos
cionar com a valência afetiva que ele tem para outros configuram um grupo familiar desuni-
o sujeito, seja num sentido positivo como ne- do, como se as pessoas fossem desenhadas
gativo. Se o próprio sujeito se coloca em pri- individualmente e não como família, e sem
meiro lugar, a hipótese é de egocentrismo e, evidência de “troca emocional” (p.296). Ao
se em último, de cerceamento. A representa- contrário, uma criança pode se colocar, no de-
ção de algum membro da família em negrito senho, ao lado de um dos pais, demonstrando
pode identificar um conflito com essa pessoa. suas próprias preferências ou efeitos do con-
Uma figura riscada pode indicar simbolicamen- flito edípico. Por outro lado, o distanciamento
te o desejo de afastá-la da família ou suben- afetivo pode ter uma representação simbólica
tender um desejo de sua morte. Igualmente, pela interposição de elementos extras entre
se um membro da família é circunscrito num membros da família, que denunciam uma in-
círculo, pode ter essa mesma significação ou terferência no canal de comunicação ou no in-
pode denotar uma ênfase especial por razões tercâmbio afetivo. Um exemplo disto seria o
afetivas ou circunstanciais (problema de doen- desenho de uma árvore entre as figuras do pai
ça, por exemplo). A inclusão, na representa- e da mãe, que pode sugerir dificuldades no
ção familiar, de pessoas já falecidas pode su- relacionamento do casal ou o desejo de sepa-
gerir fixação. E se a família é desenhada em rá-los. Aliás, para clarear a significação afetiva
grupos que se distanciam uns dos outros, há das relações mútuas, é importante observar a
uma hipótese de divisão na constelação fa- expressão facial que o sujeito empresta a cada
miliar. figura, que pode apresentar um ar afetuoso,
Hammer (1991), que também considera bondoso ou, pelo contrário, agressivo ou proi-
valioso o desenho da família se o psicólogo está bitivo.
interessado “na percepção que o paciente tem O sujeito que se sente rejeitado, não aten-
de si mesmo na família e/ou na percepção de dido, carente, desenhará a si mesmo (caso se
sua relação com as figuras parentais e dos ir- inclua na representação familiar) de um modo
mãos” (p.297), pondera que, na sua análise, o diferente daquele que se percebe como o filho
tamanho “talvez seja a variável mais importante preferido. A inclusão ou a omissão do próprio
(p.294). Deste modo, uma grande figura ma- sujeito se associa com a presença ou não de

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um sentimento de pertinência. A omissão de zonas proibidas. Assim, o movimento do tra-
irmãos pode denunciar sentimentos de rivali- çado da esquerda para a direita tem um senti-
dade da criança, que tenta simbolicamente do progressivo e, da direita para a esquerda,
excluir da família figuras competitivas. tem um sentido regressivo.
Se os membros da família são representa- No nível das estruturas formais, a represen-
dos por figuras muito diferenciadas daquelas tação da figura humana é pressuposta como o
do grupo sociocultural do sujeito, como, por esquema corporal do sujeito, sendo possível
exemplo, por marcianos, isso pode significar avaliar a sua maturidade (muito embora haja
que somente num plano muito distante do ní- influência também de aspectos emocionais,
vel de realidade ele pode conceber um maior além dos cognitivos) e a presença de transtor-
contato ou integração com eles, o que tam- nos do esquema corporal. Leva em conta, nes-
bém sugere que busca refúgio na fantasia. te nível, uma diferenciação em tipos de repre-
Finalmente, quando Hammer (1991) anali- sentação das figuras, como as mais espontâ-
sa seus casos, observa-se que leva em conta neas, em que predominariam linhas curvas, e
aspectos formais e estruturais de cada figura as mais rígidas, em que se salientam as linhas
e, em especial, da que representa o próprio retas. Destaca, assim, um tipo sensorial (o mais
sujeito, integrando dados relativos ao grupo espontâneo e livre) e um racional (o mais rígi-
familiar com hipóteses interpretativas do de- do), que começa a se fazer mais freqüente, nos
senho da figura humana. desenhos, depois do ingresso na fase escolar.
Corman (1967) diferencia três níveis de in- Realmente, é em nível de conteúdo que são
terpretação do desenho de uma família: o ní- principalmente considerados os aspectos pro-
vel gráfico, o das estruturas formais e o do con- jetivos do desenho, notando-se, entretanto,
teúdo. que, nesse teste, “as defesas operam de forma
No nível gráfico, leva em conta a amplitu- mais ativa, as situações geradoras de ansieda-
de, a força e o ritmo do traçado, a localização de são afastadas mais resolutamente, e as iden-
na página e o movimento do traçado. tificações se regem, de bom grado, pelo prin-
A amplitude do traçado, se é maior ou mais cípio do poder” (p.41). Corman (1967) exem-
restrita, associa-se com expansão vital ou ini- plifica com o caso de uma criança que tem ci-
bição. A força do traçado representa a força úme do irmão menor e, então, pode omiti-lo
dos impulsos, com liberação ou inibição dos no desenho, negando a sua existência, pode
instintos. Esses aspectos podem ser considera- trocar de papel com ele ou se colocar em seu
dos em relação ao desenho total ou podem ser lugar, com ele se identificando. Não obstante,
usados para enfatizar um personagem; por antes de qualquer interpretação num sentido
exemplo, desenhando-o bem maior que os projetivo, recomenda que se examine em que
demais. medida o desenho obedece ao princípio de rea-
Por ritmo, subentende-se como o sujeito de- lidade (com a representação exata da família
senvolve a tarefa de forma mais espontânea real) ou resulta puramente da fantasia do su-
ou, pelo contrário, estereotipadamente, numa jeito, que, então, projetará tendências pessoais
repetição simétrica de traços, pontos, etc., até diversas em personagens distintos. Assim, “as
atingir um grau de minuciosidade que pode regras que dirigem a análise variam segundo o
chegar a ser compulsivo. nível de projeção” (p.49), que deve ser deter-
A localização é considerada em termos do minado pela comparação da família desenha-
simbolismo do espaço, na folha que o sujeito da com a família real, autêntica. Recomenda,
desenha, em que a parte superior representa a também, não fazer uma interpretação às ce-
expressão da fantasia, e a inferior, de ausência gas, mas buscar uma “convergência de indí-
de fantasia, de energia, como zona de depres- cios” (p.51) em dados de outras fontes (de tes-
são. Já o lado esquerdo se relaciona com o tes e de informações clínicas), para a confir-
passado, e o lado direito, com o futuro, en- mação das hipóteses levantadas a partir do
quanto os lugares que ficam vazios significam desenho.

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Neste nível de conteúdo, salienta quatro sentações simbólicas, deve-se tentar analisar a
pontos que devem ser especialmente conside- sua possível significação.
rados: a valorização do personagem principal, Finalmente, observa-se que, neste nível de
a desvalorização de um personagem, a distân- conteúdo, Corman (1967) dá uma ênfase im-
cia entre as figuras e a presença de represen- portante à interpretação dos conflitos infan-
tações simbólicas. tis, principalmente aos que considera mais
O personagem principal é o mais importante notórios, “os conflitos de rivalidade fraterna e
no sentido de que as relações do sujeito com os conflitos edípicos” (p.59).
ele são especialmente significativas, seja por- Groth-Marnat (1999) salienta a forma como
que “o admira, inveja, teme” (p.54), seja por- as figuras são representadas, bem como a or-
que com ele se identifica. Evidencia-se como a dem seqüencial em que aparecem, que permi-
primeira figura a ser desenhada; pela coloca- tiriam explorar as relações interfamiliares e a
ção em primeiro lugar; pelo maior tamanho; maneira como o sujeito se percebe dentro do
por merecer um traçado mais cuidado, mais contexto. Valoriza, especialmente, a primeira
caprichado ou com mais adornos; por sua lo- colocação, que identifica a pessoa com a qual
calização ao lado de uma figura importante (do estão associados os sentimentos mais fortes
pai, por exemplo); por ser desenhado em posi- do sujeito, sejam positivos ou negativos. A
ção mais central, de modo que chame a aten- omissão do sujeito é explicada por ausência de
ção entre as outras figuras ou concentre a aten- poder ou de influência na família. Variações no
ção dessas figuras; por ser aquela mais enfati- traçado, borraduras ou o uso da cor podem
zada, por representar o próprio sujeito, que indicar sentimentos em relação a membros fa-
com ela se identifica. miliares específicos.
A desvalorização implica intentos de nega- Já no desenho cinético da família, a dinâ-
ção, que é indicada, freqüentemente, pela mica das relações familiares é especialmente
omissão total de uma figura ou de detalhes da focalizada, sendo importante identificar a pre-
mesma. Mas pode também ser sugerida pelo sença ou a natureza das interações. As ativida-
tamanho menor que as outras figuras; pela des representadas, às vezes, são estereotipa-
colocação seqüencial em último lugar; por sua das, refletindo papéis do cotidiano da família,
localização distanciada das demais, horizontal- mas, mesmo assim, o fato de a criança selecio-
mente ou em plano inferior; por sua represen- nar uma ação específica pode ter significação.
tação menos caprichada, cuidada ou detalha- Burns e Kaufman (1978) lembram que a ação
da; por ser depreciada de alguma maneira, de cozinhar, por exemplo, aparece freqüente-
como pela omissão do nome; ou, ainda, por mente, porém, simboliza uma figura materna
ser uma figura com que raramente o sujeito se protetora, enquanto a atividade de limpar se
identifica. associa “com mães compulsivas que se preo-
A distância entre as figuras associa-se com cupam mais com a casa do que com a gente
dificuldades no relacionamento e tanto pode que a habita” (p.27). Já o pai, que é represen-
ser indicada pelo afastamento entre as re- tado guiando um carro ou no trabalho, parece
presentações dos personagens quanto por não estar tão integrado na família como aque-
outros indícios, como por um traço de sepa- le que está lendo o jornal, pagando as contas
ração. ou brincando com os filhos, que “são ativida-
Outro ponto importante a ser considerado des freqüentes de pais normais” (p.27).
é a inclusão de animais, domésticos ou selva- Conforme Groth-Marnat (1999) comenta,
gens, no desenho do sujeito, que serviriam para se um membro da família é representado “em
a expressão mais livre de diferentes tendências posição precária” (p.331) ou no verso do pa-
pessoais, que podem, assim, ser mascaradas. pel, pode-se pressupor a existência de tensão
Desta maneira, desenhar irmãos como figuras ou, mesmo, de conflito não resolvido do sujei-
de animais seria uma forma de desvalorizá-los to com essa pessoa. No caso de o sujeito não
como pessoas. Mas, como se trata de repre- bem desenhado, há “insegurança quanto aos

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seus sentimentos de pertencer à família” (Gro- um irmão de 12 anos. O pai deixou de ser fun-
th-Marnat, 1984, p.145), que, quando são exa- cionário público quando ficou com um defeito
cerbados, se traduzem pela omissão do sujei- na perna e um problema de visão, por causa
to, no desenho. de um acidente, passando a trabalhar como
Qualquer ênfase numa figura identifica uma pipoqueiro na frente do colégio de César. Este
característica marcante ou um envolvimento o auxilia, diariamente, a empurrar a carroci-
específico. Figuras em plano mais elevado as- nha de pipoca até o portão da escola, indo
sociam-se com sentimentos de dominação e buscá-lo à tardinha. A mãe trabalha como bal-
poder, enquanto braços estendidos podem conista de uma grande loja, tendo melhor re-
sugerir “uma tentativa de controle do ambien- muneração que o marido. Conseguiu para o
te” (p.145). filho mais velho, que também trabalha como
Determinadas dificuldades no relaciona- office-boy de um banco, uma bolsa de estu-
mento podem transparecer no estilo do dese- dos num colégio particular. É o filho para quem
nho (Burns & Kaufman, 1978), como pela com- a mãe “passa bem as roupas”, “compra rou-
partimentalização, que denuncia isolamento, que pas” e com quem conversa. Afirma que ele “vai
pode ser inclusive da criança e de seus sentimen- ser alguém na vida” (sic). Ellen, a irmã gêmea
tos. Pessoas podem ser representadas encapsu- de César, mora com os padrinhos, pessoas de
ladas ou enquadradas de forma simbólica. posses que lhe dão tudo, porque não têm fi-
Podem, também, ser colocadas barreiras lhos. Visita a família nos fins de semana, e a
entre as figuras, denotando um bloqueio da mãe quer que ela “estude e faça um bom casa-
energia emocional. Como se trata de represen- mento” (sic).
tações simbólicas, devem ser examinadas com Motivos do encaminhamento: César foi
cuidado. “Bolas”, por exemplo, são freqüente- encaminhado pelo SOE à psicóloga porque tem
mente usadas para indicar interação, às vezes se isolado dos colegas, não brinca no recreio
com um sentido competitivo. Certas ativida- e, às vezes, chora. Diz não gostar de sua casa,
des agressivas entre irmãos, que também po- porque fica muito só.
dem envolver o arremesso de uma bola ou de Interpretação: A figura mais importante,
uma faca, podem indicar rivalidade fraterna talvez por uma questão de identificação, é o
(Burns & Kaufman, 1978). “Luz” e “fogo” po- pai. Foi desenhada em primeiro lugar. Nota-se
dem ser consideradas como representações que foi representado com seu defeito físico
concretas de sentimentos positivos na intera- (com uma perna mais curta) e com chapéu,
ção (Groth-Marnat, 1999), relacionados com indicando que precisa de proteção.
afeição e amor, embora “fogo” possa suben- A mãe é a figura maior, possivelmente por
tender raiva por falta de gratificação das ne- ser quem trabalha mais, recebe melhor orde-
cessidades correspondentes. “Nuvens pesadas” nado e comanda a organização da casa.
podem ter relação com preocupações e depres- O irmão mais velho, Robson, é representa-
são. Por outro lado, se há sentimentos de ins- do próximo da mãe e num plano superior aos
tabilidade, o sujeito pode “tentar criar alguma
estabilidade, sublinhando todo o desenho ou
os indivíduos com os quais as suas relações pa-
recem instáveis” (Groth-Marnat, 1984, p.145).
É um outro estilo do desenho (Burns & Kauf-
man, 1978).

CASO ILUSTRATIVO

Informações básicas: César é um menino de Figura 34.1 Desenho da família de um menino de 10


10 anos de idade, que tem uma irmã gêmea e anos.

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dos irmãos, o que condiz com o fato de ser ter a mesma idade. Identifica-se com o pai (pelo
mais valorizado por ela. Mas, mesmo sendo desenho), mas também não se aproxima dos
mais velho, sua figura é menor que a de César, demais. Permanece de braços abertos, mas não
o que se relaciona, por certo, à competição dá nem recebe. O sentimento de rejeição fica
entre ambos e com o desejo deste de que Rob- evidente, assim como a valorização dos irmãos
son seja inferior a ele. ou, mais especificamente, da irmã, embora
Ellen, a irmã gêmea de César, é desenhada valorize mais o pai, com quem se identifica.
em tamanho maior que ele, inclusive maior que As figuras são pobres, com expressão hu-
todas as figuras do sexo masculino, assim como milde, sem adornos. Falta riqueza expressiva.
a mãe é a maior da família. Evidencia-se a va- Além disso, não há uma percepção integrada
lorização das figuras femininas, talvez em fun- da estrutura familiar (as figuras estão distan-
ção do papel da mãe, que é o mais produtivo tes, flutuando), o que denuncia a distância afe-
da família. tiva, que é real na família.
César sente-se o mais rejeitado, o menor. É Tais dados foram corroborados por outros
o último a ser representado, distante de to- de outras fontes, durante o processo psicodiag-
dos. Desenha-se depois da irmã, apesar de esta nóstico.

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