Como aquele que se afoga e não consegue mais respirar, fui asfixiado por esses sentimentos que me sufocaram por bastante tempo. Minha maneira de ver o mundo descoloriu, tornou-se cinza. A alacridade abandonou o meu viver e o fel amargo do ressentimento queimava, segregando nas minhas entranhas pleno rancor. Os jardins floridos de antes, que me brindaram com o perfume do bom viver, foram tomados pelas sarças e espinhos, sufocando a semeadura na própria caminhada, deixando a estrada erma, seca e causticante. Replicava sem parar os acontecimentos penosos, pus-me no rol das vítimas injustiçadas, atormentando a todos com meus diálogos tristes, enfermos e repetitórios. Assim me larguei anestesiado, indo e voltando àqueles instantes, que cáusticos, ardiam por dentro, em ciclos de cólera e embrutecimento. A saúde, que sempre foi um sustentáculo, me abandonou. Os achaques de toda ordem tomaram o corpo ressentido pelo ódio. A vingança era tempero e eu o vinha juntando com as especiárias da ira, consumindo meus dias em desdém e abandono. Essa perseguição constante, atrasou meus passos, postergando momentos de felicidade e progresso, inibindo a atração de coisas boas e de sentimentos melhores e mais equilibrados. Até que, um dia, finalmente percebi... Eu era um escravo do ódio. As vozes cândidas dos voluntários do amor chegaram às conchas dos meus ouvidos e me alertaram, “estás caminhando de olhos vendados para o abismo!”. Despertei de pronto e procurei socorro ainda na carne, ainda em tempo. Me disseram: “deixas de centralizar tudo. Esquece um pouco das próprias dores e repousa teus olhos no sofrimento alheio.” Lentamente e articulando à lupa do amor, em mim embaçada, limpei-a com minhas lágrimas, e fui, dia após dia, testemunhando a dor nos outros. Vi, assim, que o acúleo cravado na minha carne era pequena haste, se comparado ao espigão enfiado na alma dos menos favorecidos. Acompanhando esses heróis da fraternidade, me transformei também nesses franciscanos da atualidade que operam no bem com total desinteresse. Aprendi a cultivar a esperança aos desesperançados. A dessedentar os sedentos do conhecimento. A agasalhar os que tinham a alma descoberta ante o frio da fé. Minorando as dores alheias, nutrindo, assistindo, socorrendo e derramando ternura por onde passei, de repente me encontrei liberto das correntes pesadas do ódio. Que felicidade! De imediato percebi novas cores na existência. Deixou-me o azedume e as queixas. A gratidão tomou parte do meu íntimo. Uma nova família se apresentou as minhas carências, diferente daquela feita dos laços de sangue. Essa nova era enlaçada pelos fios ternos do coração. Entendi só aí a excelência e magnitude do Amor e todo o seu poder regenerativo, que rapidamente transformou às águas lodacentas do meu ódio, cambiando-as em vertente cristalina e pura, inundando à vida de satisfação e júbilo. A todo enfermo, doente pelo vírus do ódio, hei de receitar amor e caridade em doses abundantes.
Nestor Mensagem psicografada na sessão mediúnica do dia 13 de fevereiro de 2023, na Mansão do Caminho, pelo médium Jorge Antônio