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Os diferentes tipos de texto

Prosa / Verso
São técnicas mutuamente exclusivas bem conhecidas e identificáveis, que estão
invariavelmente presentes em qualquer texto. Nos escritos em verso, cada sentença
fica em uma linha, com a intenção de manter o ritmo e, às vezes, por motivos
estéticos. Versos são usados geralmente em poesias e são a principal característica
dos poemas.

A prosa é o estilo tradicional de escrever as frases em sequência, formando


parágrafos. Ela é usada em todos os gêneros de texto (também é possível escrever
poesia em prosa).

Crônica
A crônica é um texto curto (cerca de uma página) que conta um único caso,
enfatizando mais a situação do que as personagens ou o ambiente. Diferencia-se
do conto por ser mais curta e menos apegada às personagens, preocupando-se
mais com a observação da situação e a moral que se pode tirar dela.

Conto
O conto, geralmente, também é curto, possuindo de três a vinte páginas (mas nada
impede de ser muito maior do que isso). Este possui um único drama,
diferenciando-se nesse ponto dos romances e novelas. As personagens são
desenvolvidas o suficiente para o entendimento da história, sendo geralmente
poucas e marcantes. O cenário também é pequeno, frequentemente ocorrendo em
um único ambiente.

Fábula / Apólogo / Parábola


São estilos de contos criados especificamente para expressar uma moral.
As fábulas retratam animais, os apólogos usam objetos inanimados e
as parábolas representam situações metafóricas envolvendo pessoas.

Novela
As novelas em geral são maiores do que os contos, porém menores do que os
romances. Elas contam com um único ponto de vista, porém esta personagem é
mais desenvolvida e possui uma história mais definida do que nos contos,
mantendo o foco mais nos conflitos pessoais do que na esfera social. Enquanto um
conto possui um único drama, a novela possui vários conflitos surgindo
sequencialmente durante o enredo.

Romance
A forma mais conhecida para os livros de ficção são os romances. Este é composto
de diversas tramas, com várias personagens e pontos de vistas diferentes. Embora o
foco principal possa ser uma personagem, os romances em geral retratam uma
mudança no ambiente social. Diferentemente das novelas, os romances são
histórias fechadas e completas, dando uma margem menor a continuações.

Poema / Poesia
A poesia é um estilo de texto que retrata as emoções, abusando de conceitos
abstratos, metáforas e outras figuras de linguagem. Embora sejam geralmente
escritas em verso, nada impede de que poesias sejam escritas em prosa.

Já o poema é sempre escrito em verso, tratando de coisas mais concretas, embora


ainda evocando emoções e sentimentos. Existem poemas narrativos que podem
superar os romances em comprimento, chamados estes de poemas épicos.

Matéria / Artigo / Ensaio / Tratado


Estes são gêneros de não-ficção que também valem a pena serem
mencionados. Matéria é um texto jornalístico com a intenção de transmitir um fato
de importância social. Artigo é uma publicação sobre um assunto específico,
geralmente com base em resultados de uma pesquisa científica, apresentando a
opinião do autor a respeito. Ensaio é um texto breve, expondo reflexões filosóficas
pessoais a respeito de um tema, sem referências a outros materiais. Tratado é um
texto mais formal e profundo do que um ensaio e mais preocupado em investigar
ou expor os princípios sobre o assunto.

Conclusão
Existem outras variações mais específicas em determinados gêneros que, se eu
fosse expor, tornaria o texto extenso demais, fugindo ao propósito inicial. Ainda,
embora frequentemente os textos se encaixem em gêneros específicos, às vezes é
difícil classificar, cabendo em mais de uma classificação. Vale a pena estudar estilos
diferentes para renovar e abrir a mente, além de ser possível encontrar uma
habilidade que talvez você nem soubesse que tinha.

Conto

Márcia Fernandes
 
Professora licenciada em Letras

O conto é um texto curto em que um narrador conta uma história desenvolvida


em torno de um enredo - uma situação que dá origem aos acontecimentos de
uma narrativa.

Há poucos personagens e poucos locais, pois como a história é breve não é


possível incluir vários lugares e personagens diferentes.

Há vários tipos de contos: realistas, populares, fantásticos, de terror, de humor,


infantis, psicológicos, de fadas.

A estrutura desse gênero textual é composta por quatro partes: apresentação


do enredo, desenvolvimento dos acontecimentos, momento de tensão - clímax,
e solução - desfecho.

Alguns exemplos de contos escritos pelos maiores contistas brasileiros são:

 A Cartomante, de Machado de Assis


 O Gato Vaidoso, de Monteiro Lobato
 Presépio, de Carlos Drummond de Andrade
 Feliz Aniversário, de Clarice Lispector
 A Caçada, de Lygia Fagundes Telles
 Conto de Verão n.º 2: Bandeira Branca, de Luis Fernando Verissimo
 O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan

Características do conto
O conto apresenta as seguintes características:

 Espaço delimitado;
 Tempo marcado;
 Presença de narrador;
 Poucos personagens;
 Enredo.
Espaço delimitado: o local em que se desenvolve a história é delimitado, como
uma determinada casa, rua, parque, praça. Isso acontece pelo fato de o conto
ser uma narrativa breve, em que não é possível se falar em muitos espaços
diferentes.

Tempo marcado: o tempo do conto é marcado. Isso quer dizer que é possível
saber em que momento a história acontece. Esse tempo pode ser:

cronológico - quando as coisas acontecem numa sequência normal, de horas,


dias, anos.

psicológico - quando as coisas não acontecem numa sequência normal, mas


de acordo com a imaginação do narrador ou de um personagem.

Narrador: a história do conto é contada por um narrador, que pode ser:

 narrador observador, aquele que conhece a história, mas não participa dela.
 narrador personagem, aquele que além de narrar a história, também é um dos
seus personagens.
 narrador onisciente, aquele que conhece a história e todos os personagens
envolvidos nela.

Personagens: o conto contém poucos personagens, porque como é um texto


breve, não é possível incluir muitos participantes na história. Os personagens
podem ser principais ou secundários.

Enredo: o conto apresenta sempre um enredo, que é um problema ou situação


que dá origem aos acontecimentos de uma história. Ele pode ser:

linear - quando os fatos seguem uma sequência lógica, ou seja: apresentação,


desenvolvimento, momento de tensão - clímax, e solução - desfecho.

não linear - quando os fatos não seguem uma sequência lógica, ou seja, em vez
de começar pela apresentação do problema ou da situação, pode começar pela
sua solução e os acontecimentos são narrados ao longo do conto.

Tipos de contos
Dependendo da temática explorada, há diversos tipos de contos, do qual se
destacam:

 Contos realistas, os que narram situações realistas e não imaginárias.


 Contos populares, os que narram histórias transmitidas de uma geração para
outra.
 Contos fantásticos, aqueles em que as histórias apresentam mistura de
realidade com ficção e confundem os leitores com acontecimentos absurdos.
 Contos de terror, os que narram histórias cheias de mistérios, suspense e
medo.
 Contos de humor, os que narram histórias que têm como objetivo divertir os
leitores.
 Contos infantis, os que narram histórias para crianças e que têm a intenção de
transmitir uma lição moral.
 Contos psicológicos, os que narram histórias que envolvem lembranças e
sentimentos, e têm a intenção de levar o leitor a refletir.
 Contos de fadas, os que narram histórias que envolvem príncipes e princesas, e
se desenvolvem em torno de um acontecimento trágico, mas que têm um
final feliz.

Os Minicontos, Microcontos ou Nanocontos são subcategorias do conto,


chamados de "contos minimalistas".

Eles são bem menores que o conto, uma vez que podem ocupar meia página,
uma página, ou ser formado por poucas linhas.

Mesmo que não compartilhem da estrutura básica dos contos, esse tipo de
texto tem adquirido diversas formas na atualidade, sobretudo após o
movimento modernista.

Dessa forma, ele deixa de lado a estrutura fixa narrativa, privilegiando assim, a
liberdade criativa dos escritores.

Estrutura do conto
A estrutura do conto é fechada e objetiva, na medida em que esse tipo de texto
é formado por apenas uma história e um conflito.

Sua estrutura está dividida em três partes:

 Introdução: nesse momento inicial, há uma breve ambientação do espaço,


tempo, personagens e enredo.
 Desenvolvimento: aqui se desenrolam os acontecimentos da história,
relacionados com o problema ou a situação apresentados na introdução.
 Clímax: quando acontece o momento de maior tensão da história.
 Desfecho: encerramento da narrativa, em que se apresenta uma solução para o
enredo.

Exemplos de conto
Trecho do conto Missa do Galo, de Machado de Assis
“NUNCA PUDE entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos
anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com
um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria
acordá-lo à meia-noite.

A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora


casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas A segunda mulher,
Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando vim de Mangaratiba para o
Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela
casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações,
alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas
escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos
quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma
vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo.
Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não
respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu
soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com
uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana.
Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas afinal,
resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente
suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento
moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo
de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências
salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O
próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma
pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar;
pode ser até que não soubesse amar.

Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862.
Eu já devia estar em Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a
missa do galo na Corte”. A família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na
sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem
acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu
levaria outra, a terceira ficava em casa.

— Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de
Conceição.

— Leio, D. Inácia.

Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do


Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um
candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo
magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava
completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que
costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem
dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio
acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à
de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de
Conceição.

— Ainda não foi? perguntou ela.

— Não fui, parece que ainda não é meia-noite.

— Que paciência! (...)”

Trecho do conto Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector

"Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio


arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos
achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do
busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias
gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo
menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja
do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos,
com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima
palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando
balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos
imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo
exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem
notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe
emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de
Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me
que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não
vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para
meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu
voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a
esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando,
que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí:
guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam
mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando
pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria
era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com
um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não
estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais
tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com
meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido,
enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a
adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas,
adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja
precisando danadamente que eu sofra."

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