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FFLCH - FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

ENSINO DE HISTÓRIA - TEORIA E PRÁTICA


Prof. Maurício Cardoso

BENJAMIN, Walter. O Contador de Histórias. Considerações sobre a obra de Nikolai


Leskov. In: -----------------. A arte de contar histórias. LAVELLE, Patrícia (org. e posfácio).
SP: Hedra, 2018, p. 19-58.

Kessis Soares de Sena, 9766025

O CONTADOR DE HISTÓRIAS
WALTER BENJAMIN

SÍNTESE DO TEXTO

"O contador de histórias pode assim ser considerado como um mestre ou como um sábio.
Ele sabe aconselhar - não em alguns casos, como o provérbio, mas em muitos, como o
sábio. Pois lhe é dado recorrer a toda uma vida. (Uma vida que não inclui apenas sua
própria experiência, mas também uma boa parte da experiência alheia. O contador de
histórias assimila ao que tem de mais intimamente seu aquilo que aprendeu por ouvir dizer.)
Seu talento é poder contar sua vida; sua dignidade é poder contá-la por inteiro. O contador
é o homem que poderia deixar a mecha de sua vida consumir-se completamente na doce
chama de sua narração. Daí vem essa atmosfera incomparável que, em Leskov como em
Hauff, em Poe como em Stevenson, cerca o contador. O contador de histórias é a figura na
qual o justo se encontra consigo mesmo." pg. 57

Benjamin nos fala da morte do contador de histórias no nosso cotidiano e identifica o texto
escrito por meio da literatura moderna simbolizado por Leskov como um indício da
aproximação do fim do contador de histórias. Isso ocorre porque a literatura moderna está
em contradição com a oralidade da contação de histórias e ao mesmo tempo que há uma
morte também há com o nascimento da modernidade e dos comportamentos burgueses
novas formas de relação dos seres humanos com o tempo e o espaço.

Em consideração à palavra morte, o autor nos conta a essencialidade desta etapa da vida
que foi modificada com a ascensão da burguesia, onde nas culturas pré-modernas essa
etapa significava a vida e fazia parte do convívio da comunidade, um momento em que se
falava, se ouvia e se refletia sobre os fatos decorridos. A obsessão pela eternidade, pela
longevidade e a ocultação e negativação do caráter natural da morte como parte da vida
levou algumas sociedades humanas a estenderem a morte e ocultar esta etapa da vida,
com a retirada da morte do espaço público e destinação aos hospitais e sanatórios.

Convém retomarmos o desenvolvimento técnico e o início da modernidade por meio das


revoluções burguesas como fator decisivo para as mudanças em relação às contações de
histórias. O surgimento da imprensa e da reprodutividade técnica aceleradora da difusão da
informação significou o fim do contador de histórias e o nascimento da literatura moderna. A
experiência vivida da arte de contar histórias transformou-se pela ciência e pela modificação
das relações de produção, quando o autor afirma que o ato de contar histórias está próximo
do artesanato e sobre os artesãos e mercadores se constituíam fatos e literaturas que eram
passadas adiante pela oralidade, o que era considerado sabedoria.

Por fim, chamo atenção para a contemporaneidade do fim dos contadores de história
quando o abandono das grandes narrativas permeia o cotidiano e temos como expressão
máxima desse fim as redes sociais como o twitter que limita o texto em poucos caracteres

"O homem de hoje não cultiva mais o que não pode ser abreviado". De fato, conseguiu até
abreviar o conto. Vivenciamos o surgimento da short story, que se emancipou da tradição
oral e não mais permite essa lenta sobreposição de camadas finas e transparentes que
oferece a melhor imagem da maneira pela qual o conto perfeito vem à luz do dia a partir das
camadas acumuladas por suas diferentes versões" pg. 34.

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