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E.P. THOMPSON COSTUMES EM COMUM Trad: ROSAURA EICHEMBERG Revisso nice: ANTONIONEGRO (CRISTINA MENEGUELLO PAULOFONTES Ginianria Ds Ceres 6 TEMPO, DISCIPLINA DE TRABALHO E CAPITALISMO INDUSTRIAL “Mantinhamos um velhocriado, ewio nome era Wright, traba- Ihande todos os dias, emborafosse pago por semana, mas ele {facia rodas por ofci |.) Certa manhdaconteceu que, endo ‘uma carroga quebrado na estrada {.], 0 velho foi chamado para conserté-lanolugar em que o veiculo se encontrava; en ‘quanto ele esiava ocupade fazendoo seu trabatho, passou um amponés que o conhecia, e o saudou camo cumprimento de Costume: Bom dia, velho Wright, que Deus oajude a terminar ogo 0 seu trabalho. O velho levantow os olhos paraeele|.J¢ com uma grosseria divertida, respondeu: Povco me importa, seele ajudar ou no, trabalho por da Daniet Defoe, The great law of subordination considered: oF the insolence and insufferable behaviour of SERVANTS in England duly enquired into (1724) ‘Para a camada superior da humanidade,o tempo & un inimi 40. €[.] a sua principal atividade é maté-o; a0 passo que, para os outros, tempo e dinheir sao quase sindnimos. Henry Fielding, An enquiry into the causes ofthe late increase of robbers (1751) Tess{.eomepowasubir@ alameda ou rua escura etorta que no fora feita para um caminhar apressado; uma rua trazada antes que pequenos pedacos de terrativessem valor e quando (05 reldgios de wn s6 poneiro bastavam para subdividiro dia. Thomas Hardy 267 1 Elugar-comum que osanos entre 1300 1650 presenciaram mudangas im portantes na percepedo do tempo no ambito da cultura intelectual da Europa Ocidental.' Nos Contos de Canterbury, 0 galo ainda aparece no seu papel memorial de rel6gio da natureza: Chantecler Levantou o olhar parasol brithante ‘Que nosigno de Toure percorrera Vinteetantas graus, eum poco mais, Cle sabiapela natureza. epornenhuma outraciéncia, Que amanhecta, ecantou com voz alegre [.! Mas, embora “Pela natureza ele conhecesse cada ascensio/ Do equinécio na- ‘quela cidade”, o contraste entre o tempo da “natureza” e o tempo do relégio é apontado na imagem — Bemmais confidvel ea o seu canto no poleiro Do que um reldgio, ou religio da aba." Esse é um relégio muito primitivo: Chaucer (ao contrério de Chntecer) ra londrino, cente dos horéros da Core, da organizagéo urbana edo “tempo ddomercador” que lacques le Goff, nam artigo sugestivo em Annales, contrapos aotempo da Igreja medieval? ‘Nilo desejo discutir até que ponto 2 mudanga foi causada pela difusdo de rel6gios partrdo século xiv em diante, até que pont foi ela propria sintoma de uma nova dsciptna puritana eexatidioburguesa, Seja qual for o modo de considerarmos, a mudanga certamente existe. 0 regio Sobe no paleo elisa- betano, transformandoottimo soliléquo de Fausto num diatogo com oem “as estrelas se movem silenciosas, o tempo core, 0 rel6gio vai bater a ‘Otempo sideral present desde o inicio ds literatura, com um nico passoaban- donov océu para entrar nos lres. A mortaidade eo amor so sentidos de modo mais pungente quando 0 “progresso vagaroso do ponteiro em movimento" érza o mostrador. Quando se usao regio ao redor do pescogo,ee fica proni- moa batidas menos rezulares do corago. So bastante anigas as imagens li sabetanas do tempo como devoredor, desfigurader,irano sangrento,ceifeiro, mas hé um novo senso deimediatismo insisténcia. “A medida que oséculo xvitavanga, aimagem do mecanismo doreldgio se (4) Caste up his eyen to the brighte sone That in the sign of Taurus had yronne! “Twenty degrees and oon, and somwhat moore He knew by kynde, and by noon cote lore! “Tha it was pryme, and crew with bls stevee (a) Wet sikerer was his crowyng.in bis logge! Than iss clokke, or an abbey orlogge 268 cexpande. até que, com Newton, toma conta do universo. E pela metade do séeu- Jo Xvi (se confiarmos em Sterne) o regio jéalcangara niveis mais fntimos Pojs opai de Tristram Shandy —“"um dos homens mais regrados em tudo.o que fazia {1 que jéexistiram” —“eriara um habito durante muitos anos de sua vi- dda —nanoite do primeira domingo de cada mésf...|,eledavacordaaum grande relogio que tinhamos no topo da escada dos fundos”. “Aos poucos também transferiaalguns outros pequenos inteesses familiares para mesmo periodo" ‘oguetornou Tristram capaz de precisaradata de sua concepgao. Provocou tam- bém The clockmaker's outcry against the author (0 protesto dos relojoeiros contra autor: ‘Asminhasencomendas de viriosrelégios parao interior foramanceladas; porque ‘agora nenhuma dam recatada ousa falar em dar corda a um reldgio sem se expor ‘0s olhates maliciosos e as piadas da familia...) Sim, agora a expresso comum ‘das prostitutas “Meu senor no quer dar corda ao seu rel6gio”” _Asmatronas vrtuoses (reclamava “relojoeiro”) esto enfiando os rel6gios nos quartos de trases velhos, porque les“ m — Bftretanto; ¢ improvd vet que €33e inipressionismo grosseiro fagi avarigar a v presente investigago: até que ponto,e de que manere, ssa mudanga no senso} yit!f detempo ast liciplinade rabalho, eat que pontoinfenciow a percepeao| © itera ce tempo dos tabalhadores? Se a transiglo para a sociedade industrial | sQU' tmadyraacarretou uma reestrturag rigorosa dos habits de abalho—novas disciplinas, novos estimulos, ¢ uma nova natureza humana em que esses estimu- wer Josatuassem efetivamente —, até que pontotudoisso se relaciona com mudancas manotasi interna dotempo? n (bea, Eom comhesio quem os pas imine. meigiodotenpocst commenterelaionada comes procesosfamiliaresnociclodotrabathooudas | yyy tarefas domésticas, Evans-Pritchard analisou senso de tempo dog nuer)"0 Y" {sy telgio dio € odo gad. aon das tarts pastor, e para um ust asioras. ff {dodia& passagem do tempo sio basicamente asucessao dessas tarefasea sua | lil tagfo ma Ei ov mand defied ocupcional do emo evel, 6% Shrangendo no apenas cada ora. mas cua meiahoradodia—as $h30 da ma- 4 qbp\ ht os bts fore para o pasos has ovehas foram sols, As 630 0 80 nascau, 7htornourse quente, ds 7h30 0s bodes} foram par pasto ete. — time economia iusitadamente bem regulada, De modo semelhante, os eros ‘rol para medigde de intervalos de tempo. Em Madagiscar.o tempo pos Siaser neddo pelo “soeimentodoartoz”(ceeade meiahor) ou pelo tarde 269 te the my tum gafanhoto” (um momento). Registrov-se que os nativos de Cross River ddizem: “o homem morreu em menos tempo do que leva 0 milho para assa (menos de quinze minutos)" [Nao € dificil encontrar exemplos dessa attude mais préximos de nés em termos de tempo cultural. Assim, no Chile do século XVI, o tempo era fre lientemente medido em “Credos": um terremoto foi descrito em 1647 como tendodurado o tempo de dois credos; enquanto o cozimento de umovo podia ser estimado por uma Ave-Maria rezada em voz alta, Na Birmania,*'em tempos re- centes, 0s monges levantavam ao amanhecer, “quando ha bastante luz para ver as veias namio”.’ Oxford English dictionary nos dé exemplos ingleses—pa- ter noster wyle [a duragio do Pai-Nosso}, miserere whe (a durago do Mise- rere] (1450), € (a0 New English dictionary, mas nio no Oxford English diesionary pissing wile tempo de ua mad] — una medio um tno arbitra, Pierre Bourdieu investigou mais detathadamente as atitudes dos campone- ses cabilas (na Argélia) com relagio ao tempo em anos recentes: “Uma aitude de submissio e de indiferenga imperturbavel em relaco a passagem do tempo, ue ninguém sonha em controlar, empregar ou poupar... A pressa é vista como ‘uma falta de compostura combinada com ambig80 diabélica”. O relégio & as, vvezes conhecido como “a oficina do diabo”; no hé horas precisas de refeigbes; “a nogo de um compromisso com hora marcada é desconhecida; eles apenas combinam de se encontrar ‘no préximo mercado”. Uma cangao popular diz: E init correraurés do mundo, Ninguém jamais o alcangara* Em sua deserigéo bem observada da illha Aran, Synge nos dé um exemplo clissico: -Enguanto camino com Michael, alguém muita vezes vem falar comigo para perguntar que horas sio, No entanto, poucas pessoas tém bastante familiasidade ‘com a nogdo moderna de tempo para compreender de forma menos vaga con -venso das hocas,e quando ies informo-a hora do meu reldgio, eles ni ficam sa- Lisfeitose querem saber quanto tempo ainda Thes rest até o erepsisculo." Naitha, o conhecimento geral do tempo depende, bastante curiosamente, da di- rego do vento. Quase todas as cabanas so construidas [.] com duss poras ume ‘em frente da outra, ea mais abrigada das duas fica aberta durante todo o dia para {deixar entrar luzno interior. Seo vento € norte, porta do sul ficaaberta, eo movi- ‘mento da sombra do umbyral sobre o cho da cozinha indica a hora: porém, asst {que 0 vento muda para.o sul, a outra porta € aberta, eas pessoas, que jamais pen- sam em fazer um reldgio de so primitivo, fam perdidas(.. (a) Atwal Myanma 270 ‘Quando ventoédonort,avelhasenhora preparaasminhas refeigdescombas- ‘ante regularidade: mas, nos outros dias, elafrequentemente prepara o meu ché 8s tes horas em ver das is [.-]" Sem dvia ese descaso pelo tempo doreligios6¢possivel uma come nidade de poquenos agrculforese pscadores, cujeesttura de mercado € ministagio mnima, ena qual as tarts dri (que podem vara da pesca ao plantio, construgao de casas, remendo das redes, feitura dos telhados, de um bergo ude um cisdo) parecer se desenrlr, pela lgica da necessidade, cian reds ols do pequen Ivan” Masa descrip de Synge serve pars ena taro condicionamento essence em diferentes notes Jo tempo grads or diferentes situagGes de trabalho, ¢ sua relagio com os ritmos “naturais”. E dbvio Que os capadres ever aprovetr cera hors da noite para colocr as sus thats: Os pescadores eos navegantes ever iegrar a5 sues Vides com a8 tars Er 180, una pug de Snderiand inca as segintes pala: “con SHderando que este un porto maritima em gue mites pessoas Bo obigaas a Fear acordades drat odaa noite pra cuidardasmarése de suasaividadesno To" "A expresso operaionlé“cuidr des mare padronizao do empo ‘oval no porto marino chserva.osnitmos do mae so parece natural ecom- preensvel pra os peseadores ov navegadores a compulso€prptia da n- thers Da mesmeformao taba doamanhecerat repésculo pode parecer “natural” noma comunidade de agricultores, especialmente nos meses da co- theta amaturza exge que o gro sea colhido anes que comecemasempes- ade: observamos mos de taal “nateris”serelante acompanando cutrsoeupasbes ais ou industria: devs cuiar das ovelhas nagpoca do Ce orice & teutuenntiniminiarirese WUD cuidar do fogoe nlo deixarque se espalhe pelasturfas(eosquequeimamcarvao Ot" deem dormira lado), quandoo ferrets send feito, as fornalhas no podem, ape - HG ’A nolago do tempo que surge nesses contextos tem sido deserita como ef orientago pelastarfas. Talvez seja a orientagio mais eficaz nas sociedades ccamponesas, ¢ continua a ser importante nas atividades domeésticas ¢ dos vi- larejos. Nao perdeu de modo algum toda asua importincia nas regides rurais da tl ‘ Gri-Bretanha de hoje. E possivel propor ts quests sobre a orientagopelas yu tarefas.Primeiro,hainterpretago de que é mais humanamente compreensiel f\0" ddoque o trabalho de horério marcado.O camponts ou tabsthador parece cuidae > ddoque 6 uma necessidade. Segundo, na comunidade em que a orientagdo elas)" tarefas € comum parece haver pouca separa¢o.entre “o trabalho” ¢ “a vida’ Asya relagoes socisis 0 trabalho sio misturados —odiade trabalho se prolonga ou se cona segundo atarefa—ento rane sensode continent otabala gy a vidas yyaet in ib © “passar do dia". Terceiro, aos homens acostumados com 0 trabalho marcado pelo relégio, essa atitude para com o trabalho parece perduliria e carente de urgéncia." ‘Sem divide, essa distingdo tio clara pressupbe, como referencial, 0 cam- { [yh Ponts ou anes independent. Masa questo da rentato peas areas oS: tora muito mais complexa na situego em que se emprega mio-de-obra. Toda liar do pequeno agricultor pode ser orientada pelas tatefas; ‘masem seu interior pode haver divisio de trabalho, alocagiio de papéis ea dis- G9. cipina de uma relagio de empregador-empregado entre oagrcultre seus fi a thos. Mesmo nesse caso tempo end comegandoase transformarem dinheio, 1 6 dinheio do empregador. Assim que se contata mao-de-obra eal. é visivel a transformagao da orientagao pelas tare no trabalho de horério marcado. £ vetdade que a regulagio do tempe de trabatho pode ser feitaindependente- ‘mente de qualquer reldgio —e, na verdade, precede a dfusto desse mecanis- ‘mo. Ainda asim, na metade do séeulo xi, 0s fazendeitosrcos calculavam as suas expectativas da mio-de-obra contratada em “dias de trabalho” (como faa Henry Best) — “Cunnigarth, com suas teras de aluvido,requer quatro grandes dias de trabalho para um bom ceifeio”,“Spellowe exige quatro dias de trabalho indiferentes” etc.:*e oque Best fazia para a sua propria fazenda, Markham tentow apresentar de forma geral 119 Umhomem {pode cifarum act meio de cereiscomo cevada cain, seas i plana forem grossas,pococlésices ents acho ese eletabalhar bem sem cortarascabegas da espigasedeixando os tals anda plantados num dade a ah batho; mas seas plantas forem bos, goss bastante eretas, le pode ceifar dois NA} acresoudoisacresemeonu dagoraseasplanasfremeurtase finale poe so acontece com todos os trabathadores que conhego;e quanto mais sem esperan- {gagocaso de umhomem, mais frequentesserioessesacessos ede maior duragio.” Par fim, podemos notar que a iregularidade do dia eda semana de taba- tho estavaestrutrada, af as primeiras décadas do século xrx, no Ambito da inegulridade mais abrangente do anode trabalho, pontuo pelos seus feriados ¢ feirastradicionais. Anda asim, apesar do triunfo do sabado sobre os antigos dias dos santo ao século Xvi," povo se agarrava tenazmente 3s suas festas€ imnias consagradas pelo costume na pardquia,e até pode hes ter. dado ws qe ponto esse argumento pode ser estendido da manufatura 0s tra trthadoresrurais?Diante das circunstincias, parece haver trabalho dito e se- tmanalimplaedvel essa rea orabalhador rural to tinha Sana Segunda-Feira Mas ainda ata uma discriminago detalhada das diferentes situag6es de traba- tho. A aldeia do século xvi (e xx) tnha seus préprios artesdos independentes, tem como muitos qu eram empregados para fazer tarefa iregulares” Além disso, nadtearural semeercamentos,oargumentocléssicocontrao campoaber- toe as temas comunais era asua inefciénciae desperdicio de tempo, porque 0 pegieoagriclior od calono: {.:1 se thes oferecem trabalho, eles espondem que tém de ircuidar das suas ove- Ihas,cortar ‘ojo tirar a vaca do curral, ou talvez, dizem que tém de manda ferrar ‘cavalo, para que ele poss lev-los a uma corrida de cavalos ou auma parti de ‘eriquete,[Arbuthnot, 1773] ‘Ao perambular atrés de seu gado, ee adquire um habito deindoléncia. Um quarto do dia, a metade do dia ¢ As vezes os dis inteirs so imperceptivelmente perdi- dos. trabalho didrio se tora desagradsvel {| [Relatério sobre Somerset, 1795] Quando otrabathador se tora dono de mais terras do que ele ea sta familia con- seguem cultivar tarde [.. fazendeiro jf nfo pode depender dele para trabalho constant (1: [Commercial d Agricultural Magazine, 1800)" ‘Aiisso devemos acrescentar as queixas freqilentes dos adeptos do aprimoramer to ageicola a respeito do tempo desperdicado, tanto nas feiras sazonais como ‘antes daintrodugao do armazém da aldeia) nos dias de mercado semanais.” (Ocriado%ta fazenda, ou o trabalhador rural regular e remunerado, que tra- balhava, impecavelmente, todas as horas regulamentares ou até mais, que n30 tinha direitos ou terra comuns,¢ que (se ndo morasse na casa do patrao) vivianu- 285, Tot , & Uy oe ma choupana 2ela vinculado, estava sem divida sujeitoa umaintensadisciplina de trabalho, tanto no século x¥ii como no xix. Markham descreveu espirituosa- mente o dia de um lavrador (que morava na casa do patrdo) em 1636: “[..] 0 lavrador deve se levantar antes das quatro horas da madrugada, e depois de dar ‘gracas a Deus pelo seu descanso ¢ orar pelo sucesso de seu trabalho, deve entrar ‘no estabulo [..]". Depois de limpar estabulo, tratar dos cavalos, alimenté-los ce prepararos seus apetrechos, ele talvez tomasse o café da manba (as seis ou seis ce meia da manha) ¢ devia arar até as duas ou trés horas da tarde, quando tirava ‘meiahora para oalmogo; devia cuidar dos cavalosetc.atéasseis emeia datarde, quando entio podia entrar para o jantar: {..Jedepois do jantar, ele doviaconsertar os sapatosabeira do fogo, tanto os seus ‘como os da familia, bate ocnhamo ouo linho, colher eesmagar macissilvestres para fizercidra ousuco de fratas, ou entio moer 0 malte no moedor manval,colher jjunco para fazer velas, ou realizar alguma tarefa doméstica dentro de casa até baterem as oito horas (1 Endo ele devia mais uma vez cuidar de seu gado e “dando gragas a Deus pelos beneficios recebidos naquele dia”) podia ir dormir.” ‘Mesmo assim, temos dieito a demonstrar um certo ceticismo. Hé dificul- ddades ébvias na natureza da ocupagho. Arar nfo € uma tarefa feita o ano inteiro. ‘Ashoras eas tarefas devern flutuar com o tempo. Os cavalos (se nfo os homens) devem descansar. Hé dificuldade de supervisfo: 0s relatos de Robert Loder in- ddicam que os criados (quando fora da vista dos patres) nem sempre estavam de joethos agradecendo a Deus pelos seus beneficios: “os homens trabalham quan: do hes apraz,¢ por isso podem vadiar"."O préprio fazendeiro devia fazer horas extras se quisesse manter todos os seus trabalhadores sempre ocupados.”” E 0 crindo da fazends podia reivindicar o seu direito anual de partir se otrabalho no The agradasse. ‘Assim, tanto 0s cercamentos como o desenvolvimento agricola se preocu: pavam, em certo sentido, com a administragao eficiente do tempo da forga de trabalho, Os cercamentos e oexcedente cada ve b tina disciplina de trabalho mais exigente, Nao-€ urna uestio de técnicas novas, mas de uma percepgio mais agucada dos empre- tzadores capitalists empreendedores quanto ao uso parcimonioso (Ge LJ and afer super he shall either bythe fireside mend shoes Bat fr himselfe and their Fail, or beat and knock Hemp or Fx, or picke and stamp Apples or Crabs, for (Cyder or Verdjuyce, or elt grind malt on the quernes, pick candle rushes, or doe some stanly office within doors tb ful eight a clock 50 e revela no debate entre os defensores da mio-de-obra remunerada comem- prego regular ¢ os defensores do “trabalho por empreitada” (sto é, trabalhiado- res empregados para tarefas especificas e pagos pelo trabalho executado). Na década de 1790, Sir Mordaunt Martin desaprovou o recurso ao trabalho por em- preitada que as pessoasaprovam, part nfo ter o trabalho de vigiaros seus empregados:ore- Sultado € que o trabalho é malfit, os rabalhadores se vanglriam na cervejaria, do que eles podem gastar numa ‘mijada conta sparede”,criando descontenta- ‘mento entre os homens com remuneragdes moderadss “Um fazendeiro” se ope essa visio com 0 argumento de que o trabalho porem- preitada eo trabalho remunerado regular podiam ser judiciosamente misturados: DDois rabalhadores se comprometem a cortar a grama de um pedago de terra, co brando dois xelins ow meia coroa por acre; mando ao campo, com as suas foices, dois de meus criados domésticos; ei que posso.contarcomo fatode que seuscom- ppanheiros 0s fardo acompanhar ritmo de rabalho;e assim eu ganho f...]demeus triados domésticos as mesmas horas adicionas de trabalho que meus criadoscon- ‘ratados voluntariamente Ihe dedicam." [No século xix, 0 debate foi em grande parte decidido a favor do trabalho remu- nerado semanalmente, suplementado pelo trabalho por tarefas quando havia ne~ cessidade. O dia do trabalhador de Wiltshire, descrito por Richard Jefferies na década de 1830, ndo era menos longo do que o descrito por Markham. Talvez, por opor resistencia aesse labutar implacavel, esse trabalhador se distinguia pe- o“caminhar desajeitado”e pela “lentidzo mortal que parece impregnar tudo 0 queele faz”." (0 trabalho mais drduo e prolongado de todos era o da mulher do traba- Ihador na economia rural, Parte desse trabalho — especialmente 0 cuidado dos bbebés —era o mais orientado pelas tarefas. Outra parte se dava nos campos, de onde ela retornava para novastarefas domésticas. Como Mary Collier reclamou ‘numa réplica inteligente a Stephen Duck: [le quando chegamos em casa ‘Aide nds! vemos que nosso trabalho mal comerou Tantas coisas exigem a nossa atencdo, Tivéssemos dez mans, nds as usarlamos todas. Depois de péiras eriangas na cama, com o maior carinho Preparansos tudo para a volta dos homens ao lar: Elesjantam e vio para a cama sem demora, E descansam bem até o dia seguinte: Enquanto nds ai! s6 pademos ter un pouco de sono Porque 0s filhos teimosos choram e gritam std 287 oot E desde 0 tempo em que acolheita se inicia yy, Eom erased: ait Atéotrigo ter cortado earmazenado, a oy Nossa labwaé todos os dias 0 extrema niet, : er ‘Que quase nunca ha tempo para sonhar."** \ 1 are ee oe eae een se revelava necessrioeinevitével, «no uma imposiglo extera. Isso continua aserverdade aos dis de hoje, apesardotempodaescolae dotempo datele- visio, 0 ritmo do trabalho feminino em casa nfo se afinatotelmente com & medigao do reldgio.A mae de criangas pequenas tem uma percepgioimperte- tadotempoe segue outrosritmoshumanos. Bla ainda néo abandonou de todoas convengies da sociedade “pré-industrial v Cologuei “pré-industrial” entre aspas: e por uma razo. E verdade que @ transigdo para. a sociedade industrial desenvolvida requer uma andlise tanto so- ciol6gica como econdmica. Conceitos como “preferéncia de tempo" e“curvada oferta de mao-de-obra de inclinagio retrégrada"” sio, muito frequentemente, tentativas desajeitadas de encontrar termos econémicos para descrever proble- mas sociol6gicos. Mas, da mesma forma, é suspeita a tentativa de fornecer mo-

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