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aixao

PELA

ureza

JOEL R. BEEKE & RANDALL J. PEDERSON


“Paixão pela Pureza é um presente maravilhoso à Igreja de
Jesus Cristo, e um valioso recurso para estudiosos e admira­
dores dos puritanos. Temos uma grande dívida de gratidão
para com Joel Beeke e Randall Pederson por este serviço de
amor.”
- DR. TOM ASCOL, pastor da Grace Baptist Church em Cape
Coral, Flórida, e diretor executivo dc Founders Ministries

“A obra de Joel Beeke e de Randall Pederson, Paixão pela


Pureza ajudará muito a prover-nos de um eficaz antídoto
reformado, bíblico e cristalino, para o câncer do evangelho
da prosperidade, que está se espalhando pela África como um
incêndio incontrolável. A espiritualidade que envolve a mente,
o coração e as mãos dos puritanos, que honra Deus e é bem
equilibrada e integral, agora se nos faz acessível de maneira
abrangente e, contudo, simples e compreensível. Este livro
deveria ser uma leitura-padrão e compulsória para os pastores
africanos que estão se preparando para o ministério da Palavra
no reino de Deus. Cremos firmemente que esta espécie de
teologia e de espiritualidade, mediante a graça de Deus, fará
uma significativa diferença no meio da pobreza desesperadora,
dos milhares de pacientes terminais com AIDS, e de milhões
de órfãos. O que África precisa é de transformação por meio da
renovação das estruturas mentais (Rom. 12:1,2) que prendem
as pessoas com cadeias de pobreza por falta de uma ética
bíblica do trabalho, do exercício da mordomia cristã e, acima
de tudo, de vidas centralizadas em Cristo. O livro Paixão pela
Pureza nos ajudará grandemente a tornar o conselho de Deus
conhecido de todos e a equipar os líderes das igrejas de modo a
serem instrumentos de uma mudança e de uma transformação
que sensibilizem os corações pela aquisição de uma simples e
contudo profunda visão reformada da vida no mundo.”
- D r. E J. (FLIP) BUYS, diretor do Mukhanyo Theological College,
KwaMhlanga, África do Sul, e presidente da região africana da
World Reformed Fellowship
“Que ideia maravilhosa, que recurso maravilhoso! Num
só volume são apresentados a nós algumas das mentes mais
grandiosas da história da Igreja quando somos convidados
a “conhecer os puritanos” e a familiarizar-nos com os seus
escritos. Embora apreciação favorável da teologia e dos escritos
puritanos tenha aumentado na última metade do século XX,
a literatura carecia de uma compreensiva apresentação dos
principais autores; agora isso foi corrigido num volume que
desde logo estimula mais leitura, restaura o nosso conhecí-
mento do passado e renova a nossa apreciação do legado
teológico trazido a nós numa torrente de literatura puritana.
Os autores devem receber congratulações pela conclusão do
projeto; em consequência, a Igreja vai ser enriquecida.”
- DR. IAIN D. CAMPBELL, pastor da Rack Free Church
of Scotland, Isle of Lewis, Escócia

“Aqueles puritanos, mestres na arte de juntar a teologia


reformada à vida prática, podem falar por si mesmos.
Entretanto - os precisos e úteis sumários que Joel Beeke e
Randall Pederson fizeram de 150 biografías e 700 livros fazem
enorme diferença. Agora podemos, fácil e confiavelmente,
conhecer as historias pessoais subjacentes à teologia passional,
e penetrar mais fundo os temas que estes homens de fé foram
chamados para abordar. Durante muitos anos Beeke nos tem
lembrado o papel dos que pertencem à Segunda Reforma
YccAaiiaesà na história da vida piedosa reformada, e é próprio
pensar nele como aquele que os acrescentaria, e também os
escoceses, ao grande cortejo de ingleses e de americanos da
Nova Inglaterra nos quais pensamos mais prontamente. Um
“puritanismo global”, e como entendê-lo e valorizá-lo, é o
que este livro extraordinário nos dá. Ele abre muitíssimas
portas para a sabedoria bíblica e para a grandeza evangélica,
e auxiliará muito, tanto para o principiante como para o
estudioso maduro da piedade bíblica.”
- DR. D. CLAIR DAVIS, professor de história da Igreja, emérito,
Westminster Seminary, Filadélfia, Estados Unidos
‘‫׳׳‬Paixãopela
, Pureza mapeia o terreno da literatura puritana
disponível em inglês com aguda e perspicaz abrangência, e
respeitosa apreciação. Quem quiser passear por dentro deste
mundo notável colherá enorme benefício deste novo estudo
singular e importante. Útil e inspirador, é um feito estupendo.”
- DR. JAMES A. DEJONG, presidente da Dutch Reformed
Translation Society, Estados Unidos

‫ ״‬Paixão pela Pureza é outro bem-vindo incentivo a sermos


gratos a Deus pelo que Ele tem dado à Igreja por meio dos
puritanos - em suas vidas, em seus sermões, em seu ministério
e em seu exemplo.”
- REV. PAUL DEN BUTTER, pastor emérito da
Christelijkc Gereformeerde Kirk, Holanda

“ Finalmente, um livro-roteiro fidedigno, que nos guia num


continente imenso, fértil e quase intransitável. Com base num
conhecimento enciclopédico, disciplinado por escrupulosa
pesquisa, Joel Beeke e Randall Pederson compilaram um
guia de orientação puritana para a nossa época. Nestas
páginas podemos saber o que os puritanos têm para oferecer
e onde encontrá-lo. Um esplêndido encorajamento para uma
exploração mais extensa.”
- PASTOR EDWARD DONNELLY, diretor do
Reformed Theological College, cm Belfast, na Irlanda do Norte

“Beeke e Pederson deram à literatura uma extraordinária


contribuição que promove a rica herança deixada por nossos
antepassados puritanos. Esta obra não somente nos propicia
uma visão ampla e abrangente de todo 0 movimento puritano,
mas as suas descrições concisas e eloquentes de cada puritano
reimpresso permitem-nos vê-los de um modo novo e único. O
que é mais importante, este livro abre o nosso apetite para a
teologia dos puritanos - teologia que visa produzir uma piedade
inteligente e cristocêntrica. Queira Deus usar grandemente
esta obra para maior expansão do notável ressurgimento da
literatura puritana no mundo de língua inglesa.”
- REV. BARTEL ELSHOUT, pastor da Heritage
Reformed Congregation,
Chilliwack, Colúmbia Britânica, Canadá, e tradutor da obra de
Wilhelmus à Brakel, The Christian’s Reasonable Service

“Temos aqui um livro de informação e de inspiração suma­


mente útil, que nos chama para uma apreciação mais completa dos
calvinistas experimentais ingleses, escoceses e holandeses do
século dezessete. Este estudo cuidadoso é um bom lugar para
iniciação e progresso no conhecimento dos puritanos.”
- DR. W. ROBERT GODFREY, presidente do Westminster
Seminary, Califórnia, Estados Unidos

“Desde os anos finais da década de 1950, um crescente


número de evangélicos vem redescobrindo a riqueza da piedade
e da teologia dos seus antepassados puritanos. Os que são
novatos quanto a este material, podem sentir-se esmagados pela
ampla escolha feita pelos autores e pelos trabalhos oferecidos.
Paixão pela Pureza é um inapreciável guia para a porção mais
significativa da nossa herança teológica e devocional.”
- DR. CRAWFORD GRIBBEN, autor de The Irish Puritans

“Qualquer coisa que fomente a leitura e o estudo dos


puritanos eu desejo recomendar. Sou grato a Paixão pela
Pureza porque penso que é imensamente importante tornar
conhecidos os escritos dos puritanos.”
- REV. COR HARINCK, pastor emérito da
Gereformeerde Gemeenten, Holanda

“Este valioso volume preenche uma enorme lacuna, e


é certo que vai se tornar a obra-padrão de referência para o
estudo dos puritanos e seus vestígios literários. Para todos os
interessados nos puritanos, é uma obra indispensável.”
- DR. MICHAEL HAY KIN, presidente do Toronto
Baptist Seminary, Canadá
“Paixão pela Pureza é um livro pelo qual estávamos
esperando! Ele faz com que a história com respeito aos
puritanos ganhe vida, e certamente vai despertar maior
interesse pelos escritos destes teólogos que foram os maiores
pregadores, depois dos apóstolos.”
- DR. MARTIN HOLDT, pastor da
Constantia Park Baptist Church, Pretória, África do Sul

“Os puritanos excederam a todos os outros, tanto na


qualidade da exposição como no equilíbrio entre doutrina,
experiência e prática. Fico emocionado com esta obra oportuna,
que certamente vai animar muitos a lerem pessoalmente os
puritanos. As biografias nos prendem; muito útil a inclusão
de teólogos escoceses e holandeses. Um recurso superlativo.”
- PASTOR ERROLE HULSE, autor de Quem Foram os Puritanos?

“Passados cinquenta anos desde que o interesse pelos


puritanos e por suas obras renasceu na Grã-Bretanha e na
América, 0 entusiasmo por seus escritos espalhou-se por todo
o globo. Há agora uma terceira geração explorando suas
obras. Este volume biográfico proverá um inapreciável re-
curso para todos aqueles que descobriram os escritos destes
grandes homens, mas que querem ver 0 “ rosto” dos seus
autores. Que ele sirva para levar amor pelos puritanos a uma
quarta geração, e além!”
- REV. MARK G. JOHNSTON, pastor da
Grove Chapel, Camberwell, Inglaterra

“Paixão pela Pureza é uma galeria de quadros da irmandade


puritana da Inglaterra, da Escócia e da Holanda, e uma
facilidade de referência aos seus escritos, agrupados num só
volume. Um serviço de amor da parte dos seus compiladores,
tomara que produza o mesmo em muitos leitores.”
- DR. HYWEL R. JONES, professor de teologia prática,
Westminster Seminary, Califórnia, Estados Unidos
“Uma parte da Reforma é recuperação, e isso inclui
especialmente uma recuperação do passado. Paixão pela Pureza
é uma ferramenta importante para retomar o pulso da piedade
que era viva entre o povo de Deus como resultado da sua volta
à Bíblia e ao afeto histórico da Igreja pelas questões espirituais.
Este volume deve encontrar um lugar duradouro naquele
gênero de escrito religioso chamado “ biografia espiritual”,
como um roteiro para mais ampla exploração e maior alegria.”
- DR. NELSON KLOOSTERMAN, professor no
Mid-America Reformed Seminary, Estados Unidos

“ Se o espaço nas estantes da sua biblioteca for limitado,


aqui está um volume que fará o trabalho de dez ou vinte,
propiciando-lhe acesso às vidas dos homens que estão por trás
dos livros puritanos, que você valoriza tanto. Ter um guia para
tudo 0 que foi impresso desde a década de 1950 o ajudará a
explorar o campo da literatura puritana mais amplamente,
e a fazer escolha mais sábia enquanto você constrói a sua
coleção pessoal. Conhecer mais das vidas, provações e reais
realizações destes grandes cristãos aumentará grandemente
o seu entendimento e a sua apreciação dos escritos deles.”
- REV. RAY B. LANNING, pastor associado da Reformed
Presbyterian Church, Grand Rapids, Michigan, Estados Unidos

“As histórias das vidas de proeminentes puritanos e suas


ilustrações em Paixão pela Pureza suscitam um toque pessoal
que despertará considerável interesse em todos os tipos de
leitores e os motivará a ler pessoalmente os puritanos mais
regularmente. Os autores atingiram o seu objetivo de serem
suficientemente simples para o cristão dotado de bom grau de
educação e que está apenas começando a 1er escritos puritanos,
e suficientemente instrutivos para que o mais maduro leitor
dos puritanos possa aprender e obter da sua leitura. Paixão
pela Pureza certamente vai ser a obra-padrão à qual o povo
de Deus recorrerá quando procurar conhecer os homens
piedosos que viveram e ministraram durante este período
da história da Igreja - conhecê-los e beneficiar-se deles. Que
tesouro será este livro, por muitos motivos, sendo um destes
que ele, num só volume, torna acessíveis as vidas e uma parte
do material de uma ampla variedade de puritanos.”
- DR. WAYNK MACK, direior do Strengthening
Ministries International

“Abrangente no caráter e enciclopédico no escopo, esta


obra servirá como um excelente tomo de referência para todos
aqueles que irão estudar o puritanismo durante as décadas
vindouras. Esta obra de laboriosa erudição é uma fonte
não sobrepujada de fácil acesso a todos os vultos puritanos
importantes, suas biografias e seus principais escritos. Só
podemos estar extremamente agradecidos aos autores e às
providenciais provisões de Deus em tornar acessível este
recurso, sem paralelo, a um amplo público.”
- DR. DONALD K. McKIM, autor dc Ramism m
William Perkins’ Theology

“Paixão pela Pureza é uma compilação muito útil e


abrangente de biografias e da bibliografia puritanas, que
focaliza específicamente as obras puritanas reimpressas nos
últimos cinquenta anos. É particularmente proeminente
por sua compacta completitude de cada biografia e por seus
incisivos sumários de cada obra reimpressa. Oxalá todo fiel
ministro do evangelho e sério estudioso da Palavra de Deus
se aposse e se utilize deste precioso tesouro.”
- PASTOR JERRY MARCELLINO, Laurel, Mississippi,
moderador da Fellowship of Independent Reformed Evangelicals

“Os escritos dos puritanos constituem o mais rico depósito


de instrução cristã prática produzida desde os dias dos
apóstolos, e os que mineram o ouro puritano são prodigamente
recompensados por seu esforço. Paixão pela Pureza é uma
realização monumental e um acréscimo há muito esperado
aos instrumentos disponíveis àqueles que pensam com serie­
dade na necessidade de desenterrar este tesouro. Joel Beeke
e Randall Pederson nos prestaram grande serviço.”
- DR. ROBERT R MARTIN, pastor da Emmanuel
Reformed Baptist Church, Seattle, Washington, Estados Unidos

“O ressurgente apetite pela literatura puritana tem produ­


zido longas listas de livros e pesadas estantes ñas bibliotecas.
Estudantes intimidados e pastores ocupados perguntam: “Por
onde começo?” Os leitores regulares dos puritanos perguntam:
“Daqui, para onde vou?” A óbvia resposta a ambas as perguntas
agora é: Paixão pela Pureza. Estou confiante em que Deus vai
usar poderosamente esta publicação que enriquece a mente,
aquece 0 coração e satisfaz a alma para despertar novo interesse
pelos puritanos, estimular a publicação de seus livros e, assim,
multiplicar entre nós as vidas centralizadas em Cristo, que
eles promoveram com tanta paixão.”
- DR. DAVID MURRAY, pastor da Free Church of Scotland
(Continuing), Stornoway, Escócia

“Paixão pela Pureza é uma obra para 1er e valorizar como


um tesouro. O simples volume dos escritos puritanos pode
ser esmagador, se não se tiver algum guia fácil de seguir.
E justamente disso que precisamos. Aqueles que conhecem
e amam os puritanos perceberão que se abrem novas
paisagens, enquanto que aqueles que querem começar
acharão útil direção.”
- DR. ROBERT OLIVER, preletor no
London Theological Seminary, Inglaterra,
e autor de History of English Calvinistic Baptists

“Paixão pela Pureza provê biografias, resultantes de boa


pesquisa, dos puritanos e dos teólogos escoceses e holandeses
de mentalidade puritana, bem como útil e cativante informação
sobre o conteúdo dos seus livros publicados durante os
últimos cinquenta anos. Este fascinante livro supre uma falta
de há muito sentida.”
- DR. WILLEM J. O P T HOF, professor de história do pietismo,
Amsterdam, Holanda

“Uma das minhas muitas bênçãos nos últimos trinta e


cinco anos de ministério foi a redescoberta dos puritanos. Não
houve outros homens que mais me influenciaram. Uma coisa,
porém, faltava: meticulosos e interessantes detalhes de suas
vidas. Conhecemo-las como sombras, ora mais ora menos,
através dos seus livros, mas lhes faltavam os delineamentos
da personalidade deles. Paixão pela Pureza, com seus resumos
biográficos, preenche a lacuna. Quão grandioso é conhecer
melhor os homens que têm sido tão grande bênção para mim!”
- DR. JOSEPH A. PIPA, JR., presidente do Greenville
Presbyterian Theological Seminary, South Carolina, Estados Unidos

“Paixão pela Pureza, obra monumental, representa um


marco na revitalização do interesse pelos puritanos. Tenho
grande divida com os puritanos pela orientação bíblica
e espiritual que recebi pela primeira vez, quando eu era
jovem, por meio da literatura da Banner of Truth Trust,
e posteriormente, durante os trinta e oito anos do meu
ministério. Se não houvesse as reimpressões dos puritanos, o
meu ministério teria sido grandemente empobrecido.”
- REV. CORNELIS (NEIL) PRONK, pastor emérito da
Free Reformed Church, Ontário, Canadá

“Os puritanos são os melhores amigos que os cristãos


podem ter num tempo de confusão doutrinária. Por essa
razão damos as boas-vindas a este novo livro que 0 Dr. Beeke
e o senhor Pederson providenciaram para a nossa geração,
colocando os teólogos puritanos muito acessivelmente diante
de nós. Estes pais espirituais, que merecem ser mais do que
nomes honrados na história, são-nos apresentados aqui de
um modo que deverá influir beneficamente na vida pessoal
de cada um de nós e na vida de nossas igrejas.”
- REV. MAURICE ROBERTS, pastor da
Free Church of Scotland (Continuing), Inverness, Escócia

“Não existe outro recurso que se iguale a Paixão pela


Pureza; ele se evidenciará indispensável para quem quer que
goste de ler os teólogos puritanos e seus filhos espirituais. E
tem mais: as breves biografias destes mestres de anos passados
são de imensa ajuda, possibilitando-nos saber algo sobre os
homens que estão por trás de todos os nomes puritanos bem
conhecidos, e até de alguns não tão conhecidos. Dou graças a
Deus pelo serviço de amor empreendido pelo Dr. Beeke e por
Randall Pederson: Paixão pela Pureza não teria sido completado
se estes homens não tivessem perseverado através de muitos
anos de leitura e pesquisa, a fim de nos abençoarem com esta
grande obra. Queira o Senhor recompensar a todos nós (e a
eles) por ocupar-nos em ler este livro sumamente digno!”
- DR. LANCE QUINN, pastor da
The Bible Church of Little Rock, Arkansas, Estados Unidos

“Paixão pela Pureza é uma realização de fôlego. O livro é


digno de nota por sua ampla abrangência. Também é notável
o fácil acesso que ele propicia a informação fatual acerca do
movimento puritano e das vidas e dos escritos de puritanos
individuais. Para todo aquele que quiser adquirir ou manter
familiaridade com os puritanos, este livro é indispensável.”
- DR. LELAND RYKEN, autor de Santos no Mundo

“Paixão pela Pureza é um inapreciável recurso para


qualquer leitor destes gigantes espirituais e teológicos. Como
acontece com o assunto deste livro, você verá que esta obra vai
expandir sua mente e enriquecer seu coração na apreciação
dos puritanos, e vai incentivar o seu crescimento na piedade
experimental. Todos os que valorizam este período da historia
da Igreja devem muito a Beeke e a Pederson.”
- L)R. TOM SCHWANDA, professor associado de
formação cristã e ministerial, Wheaton College, Illinois,
Estados Unidos

“Paixão pela Pureza ajuda-nos, como coreanos, a com­


preender mais completamente os puritanos, como também os
teólogos escoceses e os da segunda reforma holandesa. Pela
leitura deste livro, espero que Deus desperte os corações de
muitos leitores para lutarem pela verdade na hora presente,
quando tantos rejeitam a sã doutrina e se desviam, aderindo
a tradições centralizadas no homem.”
- REV. CHANGWON SEO, pastor, Seul, Coréia, e presidente da
KIRP {Instituto Coreano para Pregação Reformada{

“John Udall, em seu prefácio da edição de 1637 do seu


comentário de Lamentações, escreveu: “O Senhor nos faz
capazes e desejosos de viajar com toda a atenção naquele
celestial labor de sondar os indescritíveis tesouros do co­
nhecimento e da sabedoria que jazem ocultos em sua bendita
Palavra”. Nossos labores nesta obra serão grandemente
auxiliados por este excelente livro, Paixão pela Pureza, quando
nos expõe estes homens e seus escritos, os quais, por sua
vez, fazem-nos beber intensamente da inexaurível fonte das
Escrituras Sagradas.”
- REV. DENIS SHELTON, ministro jubilado,
Presbyterian Reformed Church, Sydney, Australia

“Paixão pela Pureza deveria ser o primeiro livro a ser pego


por qualquer pessoa que tenha algum interesse pelos puritanos.
As curtas biografias são inspiradoras e inflamam o coração de
desejo de ler os escritos destes grandes homens. Peça magistral
de pesquisa, resultado de vinte anos de um serviço de amor.”
—TIM SHENTON, autor de Christmas Evans

“Beeke e Pederson prestaram à comunidade cristã e à


teologia histórica um serviço maravilhoso, provendo
uma hábil introdução e orientação quanto aos escritos
recentemente publicados sobre o puritanismo e os próprios
escritores puritanos. Um ponto especialmente forte da coleção
é a inclusão, não somente de puritanos ingleses e americanos,
mas também dos “antigos escritores” da Segunda Reforma
Holandesa.”
- DR. DON SINNEMA, professor de teologia,
Trinity Christian College, Palos Heights, Illinois

“Paixão pela Pureza explora as vidas, o mundo e as obras


dos puritanos com a completitude que eles merecem. As
biografías desafiam e inspiram, os sabores dos seus escritos
edificam ricamente, e a direção rumo às reimpressões
modernas descortina novos horizontes de leitura. Este livro
fará o principiante enamorar-se pelos puritanos pela primeira
vez, e ajudará grandemente aqueles que já se encantam com
estes homens e seus livros.”
- REV. JOHN THACKWAY, pastor, Holywell,
Flintshire, País de Gales, e Editor de Bible League Quarterly

“Fui abençoado nos primeiros livros puritanos que


estudei. Eram de leitura interessante, úteis, intensamente
práticos e fascinantes. Naturalmente, o primeiro foi Pilgrim's
Progress, estudado na escola e daí por diante lido com crescente
prazer e com discernimento cada vez maior. O segundo foi
na universidade, em 1959, na época da primeira explosão dos
livros da Banner of Truth. Foi o livro de Thomas Watson, Body
of Divinity. Achei mais emoção purificada e esclarecimento
numa única página do que em muitos livros contemporâneos.
0 próximo livro tinha que ser Owen. Todo mundo falava
dele durante o café da manhã, e então me sentei e li Spiritual
Mindedness1, na biblioteca de obras de referência, em Hayes,
Cardiff. Essa leitura confirmou que eu tinha adentrado um
1 Publicado pela PES sob o tílulo Pensando Espiritualmente.
novo mundo. A próxima ajuda prática foi Precious Remedies
against Satan's Devices, de autoria de Thomas Brooks, um grande
livro verde, de capa dura, publicado por Sovereign Grace
Publishers em 1960. Anos mais tarde veio a ser uma série
de sermões. Também tirei muito proveito da obra de Thomas
Watson intitulada Divine Cordial, ou, como foi chamado mais
tarde, All Things for Good. Muito recentemente me deleitei
com um livro de Thomas Brooks sobre devoção pessoal, The
Secret Key to Heaven. Outra descoberta feita em anos recentes
foram os escritos do puritano nascido em Cardiff, Christopher
Love. Quem eram estes homens poderosos? Finalmente há
um esplêndido livro que preenche algumas lacunas do nosso
conhecimento, um amigável companheiro nas estantes dos
livros puritanos a serem consultados.”
- PASTOR GEOFF THOMAS, pastor da Alfred Place Baptist
Church, Aberystwyth, País de Gales

“Desde a década de 1950 tem havido crescente sede de


acessível literatura puritana nos círculos cristãos, sede que
tem resultado num animador crescimento do número de obras
puritanas, agora disponíveis. Neste livro, Joel Beeke e Randall
Pederson proveram, não somente um claro e completo guia
para as obras que foram publicadas novamente, mas também
biografias dos autores puritanos, as quais permitem ao leitor
entender mais completamente 0 contexto em que cada obra
foi escrita. Este livro será de valor inestimável, tanto para os
que vêm aos puritanos pela primeira vez como também para
aqueles que estão familiarizados com suas obras, mas que
andam em busca de um bem fundamentado guia que os ajude
na leitura delas.”
- DR. CARL TRUEMAN, professor de história da Igreja Cristã e
história da teologia, Westminster Seminary, Filadélfia, Estados Unidos

“Enquanto o mundo tem seu cânon de santos e heróis, o


cristianismo tem sua nuvem de testemunhas, entre as quais
os puritanos - como o reafirma Paixão pela Pureza - são
notavelmente proeminentes nas áreas da teologia experi­
mental e da piedade exemplar.”
- PROFESSOR FRED VAN EIEBURG, Vrije Universiteit,
Amsterdam, Holanda

“Está provado que no passado as coleções de biografías


eram de imenso valor, e os crentes cristãos continuam
sendo enriquecidos espiritualmente pelos livros escritos por
Edmundo Calamy, Walter Wilson, James Reid, Benjamin
Brook, Erasmus Middleton, Thomas Smith, e outros. Mas
este livro, embora use informação contida em obras anteriores,
promete e dá algo mais: uma história do puritanismo inglês,
seguida de quase cento e cinquenta esboços informativos
daqueles puritanos, presbiterianos escoceses e teólogos da
Segunda Reforma Holandesa, cujas obras foram republicadas
nos últimos cinquenta anos - tudo isso junto com uma
perceptiva avaliação de muitas de suas excelentes obras. A
ideia de tal livro, brilhantemente concebida, agora tornou­
-se realidade com evidente piedade e meticuloso trabalho de
erudição. Lindamente produzido, este livro seguramente vai
se tornar uma obra clássica e padrão. Que agrade ao Senhor
abençoá-lo, e reviver, em nossos dias tão necessitados, a
teologia, a experiência e a prática do puritanismo autêntico!”
- MALCOLM H. WATTS, Pastor da Emmanuel Church,
Salisbury, Inglaterra

“finalmente! Beeke e Pederson produziram o livro do


qual os leitores da literatura puritana têm sentido falta durante
anos. Seja que você tenha acabado de descobrir os tesouros
escritos pelos puritanos, seja que já conheça bem estas obras
que transcendem 0 tempo e desejam cavar suas riquezas mais
profundamente, este livro é para você.”
-D R. DONALD S. WHITNEY, professor associado de espiritualidade
bíblica, Southern Baptist Theological Seminary, Louisville, Kentucky,
Estados Unidos
“Os puritanos eram homens de cabeça precisa e de
corações ardentes, dedicados a seguir as Escrituras plenamente
e a adornar a doutrina de seu Deus e Salvador em todas as
coisas. Suas vidas devem ser estudadas por todos quantos
amam a santidade bíblica, e todos os que têm os interesses
de Cristo no coração devem ponderar profundamente os seus
escritos. Esta obra, tão cuidadosa, amorosa e criteriosamente
produzida, apresentará a uma nova geração de cristãos estes
gigantes espirituais do século dezessete de um modo que só
pode estimular neles o desejo de conhecê-los melhor. Isso só
pode ser bom para a Igreja do século vinte e um.”
- DR. ANDREW WOOLSEY, pastor da
Evangelical Presbyterian Church, Crumlin, Irlanda do Norte
Recomendação
Talvez não exista no meio evangélico atual um rótulo que
seja mais pejorativo e mal compreendido que “puritano”.
Um puritano é visto como alguém de moralidade falsa ou
hipócrita, um santarrão intransigente cuja missão na vida
é ser 0 estraga-prazeres dos demais cristãos. Acredito que a
grande maioria que usa o termo para destruir a reputação de
adversários teológicos desconhece quem foram realmente os
puritanos e qual a origem deste nome.
Os puritanos viveram entre os séculos XVI e XVIII. Eram
leigos e ministros ordenados da Igreja da Inglaterra e das
igrejas presbiterianas, batistas e congregacionais. O apelido
“puritanos” foi colocado por seus inimigos, para ironizar 0
ideal de pureza que defendiam. Eles estavam insatisfeitos
porque a Igreja da Inglaterra havia se reformado apenas
parcialmente, conservando ainda muitos elementos do cato­
licismo romano que eles consideravam como contrários às
Escrituras. Queriam uma Igreja purificada destes acréscimos,
0 que lhes ganhou o apelido de “puritanos” . A firmeza com
que defendiam suas convicções, 0 rigor teológico e exegético
de suas obras, o modo de vida frugal, austero e simples que
defendiam, valeu-lhes uma reputação de gente inflexível,
sisuda, púdica, e obtusa, especialmente depois que caíram em
desgraça política na Inglaterra.
Hoje, todavia, existe um movimento de contornos mundiais
que visa resgatar a importância do movimento puritano na
história da Igreja. Apesar de ter passado como movimento,
a teologia do puritanismo permanece viva na vasta literatura
que os pastores puritanos deixaram e na influência duradoura
na cultura ocidental. Recentemente, a revista Time considerou
o “novo calvinismo” - um dos herdeiros teológicos da teologia
puritana - a terceira maior influência na cultura ocidental!
O interesse pela teologia puritana, sua piedade, devoção e
espiritualidade tem crescido cada vez mais, não somente no
exterior, como também no Brasil.
Neste contexto, a publicação de Paixão pela Pureza é
extremamente relevante e estratégica, pois retrata a vida e a
obra dos maiores e mais bem conhecidos pastores e líderes
do movimento puritano, de maneira sintética, devocional e
fácil de ler. Todos os seminários, escolas de teologia, institutos
bíblicos e especialmente todos os pastores deveríam possuir um
exemplar, não somente como fonte riquíssima de informação
histórica e biográfica, mas como estímulo à piedade, devoção,
fidelidade e dedicação ao trabalho de Deus neste mundo.
Sem dúvida, uma das maiores contribuições da Publicações
Evangélicas Selecionadas para nosso conhecimento daqueles que
formaram uma das gerações mais poderosas de heróis da fé.
- Dr. Augustus Nicodemus Lopes - Chanceler da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
São Paulo, Brazil
Paixão pela Pureza

Conheça os Puritanos

Inclui um Guia para as Reimpressões Atuais


Paixão pela Pureza

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Joel R. Beeke
e
Randall J. Pederson

Publicações Evangélicas Selecionadas


Caixa Postal 1287 - São Paulo, SP - 01059-970
www.editorapes.com.br
Copyright © 2010 by Joel R. Beeke e Randall J. Pederson

lodos os direitos reservados.


Publicado originalmente por Reformation I leritage Books, sob o título Meet
the Puritans With a Guide to Modern Reprints by Joel R. Beeke e Randall J.
Pederson. Traduzido com permissão de: Reformation Heritage Books
2965 Leonard St., NIK - (¡rand Rapids, MI 49525, USA

Todos os direitos de tradução e edição para a lingua portuguesa


reservados à Publicações Evangélicas Selecionadas - Editora PES.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sob qualquer meio impresso,
eletrônico e digital sem autorização expressa dos editores.

Primeira edição: 2010


Tradução: Odayr Olivetti

Revisão: Kranklin Eerreira


Silas Roberto Nogueira

Capa: Edvânio Silva

Consultoria Eiditorial: Editorial Press

Impressão c Acabamento: Imprensa da E'é

Textos Bíblicos:todas as citações bíblicas, quando não indicadas, foram extraídas


da ARC - Almeida Revista e Corrigida

Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Beeke, Joel R.
Paixão pela Pureza: conheça os Puritanos / Joel R. Beckc
c Randall J. Pederson; (tradução: Odayr Olivetti] - Sao Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 2010.

ISBN: 978-8563905-01-7‫־‬

Titulo original: Meet the Puritans


“Inclui um guia para reimpressões atuais.”
Bibliografia

1. Puritanos - Biografia I. Titulo.

10-09174 CDD-285.92
índices para catálogo sistemático:
1. Puritanos: Biografia 285.92
Dedicatória dos Autores

Com sincera apreciação de meus fieis amigos do Reino


Unido por seu companheirismo espiritual, seus púlpitos e
seus lares abertos, e seus convites para falar em conferências
na terra natal dos puritanos:

Gareth e Ceri Edwards


David e Elisabeth George
Erroll e Lyn Hulse
Mark e Fiona Johnston
Peter e Jill Masters
David e Shona Murray
Iain e Jean Murray
Robert e Rachel Oliver
Maurice e Sandra Roberts
Ken e Rosemary Stockley
John e Margaret Thackway
Geoff e Iola Thomas
Malcolm e Jill Watts
Andrew e Joan Woolsey
-JR B

A minha querida Sarah, por todo o seu amor e apoio;


a meus pais, Gary e Rosamary Pederson,
por seu encorajamento através dos anos;
e a Tyler James - queira Deus você cresça
lendo e amando os puritanos.
-R JP
índice
Prefácio.....................................................................................31
Ilustrações................................................................................51
Abreviaturas e Endereços dos Editores.................................53

Biografías e Resenhas de Livros Puritanos

Uma Breve História do Puritanismo Inglês............................... 61


Thomas Adams........................................................................69
Henry Ainsworth.................................................................... 74
Henry Airay............................................................................. 77
Joseph Alleine..........................................................................79
Richard Alleine....................................................................... 87
Vincent Alsop..........................................................................92
Isaac Ambrose..........................................................................94
William Ames..........................................................................99
Robert Asty............................................................................ 114
Sir Richard Baker.................................................................. 117
William Bates......................................................................... 119
Richard Baxter....................................................................... 123
Lewis Bayly............................................................................ 137
Paul Baynes............................................................................ 141
Robert Bolton........................................................................ 144
Samuel Bolton....................................................................... 150
John Boys............................................................................... 154
Anne Bradstreet..................................................................... 156
William Bridge...................................................................... 159
Thomas Brooks..................................................................... 164
João Bunyan........................................................................... 170

25
PAIXAO I’ HLA PU R EZA

Anthony Burgess................................................................... 183


Jeremiah Burroughs.............................................................. 189
Nicholas Byfield.................................................................... 197
Thomas Cartwright...............................................................200
Joseph Caryl...........................................................................205
Thomas Case..........................................................................211
Stephen Charnock.................................................................216
David Clarkson......................................................................221
Thomas Cobbett....................................................................223
Hlisha Coles...........................................................................225
John Cotton ..........................................................................227
Tobias Crisp...........................................................................238
John Davenant.......................................................................243
Arthur Dent...........................................................................247
Edward Dering ....................................................................250
Thomas Doolittle..................................................................254
George Downame..................................................................259
John Downame......................................................................262
Daniel Dyke...........................................................................265
Jonathan Edwards.................................................................269
John Eliot...............................................................................316
Edward Fisher.......................................................................323
John Flavel.............................................................................329
Thomas Ford.........................................................................341
William Gearing....................................................................344
Richard Gilpin.......................................................................346
Thomas Goodwin..................................................................350
Thomas Gouge......................................................................367
William Gouge.......................................................................371
Richard Greenham................................................................ 377
William Greenhill................................................................. 385
Obadiah Grew........................................................................390
William Gurnall....................................................................393
Joseph Hall.............................................................................397

26
Indice

George Hamond .................................................................. 403


Nathanael Hardy.................................................................. 406
Robert Harris........................................................................ 408
Matthew Henry.................................................................... 412
Philip Henry......................................................................... 424
Oliver Heywood................................................................... 430
Arthur Hildersham.............................................................. 437
Robert Hill............................................................................ 440
Thomas Hooker ................................................................ 443
Ezekiel Hopkins................................................................... 454
John Howe............................................................................ 457
Thomas Jacomb.................................................................... 468
James Janeway...................................................................... 471
William Jenkyn.................................................................... 474
Edward Johnson................................................................... 478
Benjamin Keach................................................................... 481
Edward Lawrence................................................................ 486
John Lightfoot...................................................................... 489
Christopher Love................................................................. 493
William Lyford..................................................................... 502
Thomas Mantón................................................................... 504
Edward Marbury.................................................................. 513
Walter Marshall.................................................................... 515
Cotton Mather...................................................................... 520
Increase Mather.................................................................... 533
Richard Mather.................................................................... 540
Samuel Mather..................................................................... 544
Matthew M ead..................................................................... 547
Christopher Ness.................................................................. 551
John Norton.......................................................................... 553
John Owen............................................................................ 558
Edward Pearse...................................................................... 568
William Pemble.................................................................... 570
William Perkins.................................................................... 573

27
PAIXAO P E L A PUREZA

Edward Polhill.......................................................................586
Matthew Poole.......................................................................589
John Preston..........................................................................593
Nathanael Ranew .................................................................600
Edward Reynolds..................................................................603
Thomas Ridgley....................................................................608
Ralph Robinson.....................................................................611
Richard Rogers......................................................................613
Timothy Rogers.....................................................................617
Henry Scudder......................................................................622
Obadiah Sedgwick.................................................................624
Samuel Sewall........................................................................629
Thomas Shepard...................................................................634
John Shower .......................................................................642
Richard Sibbes.......................................................................645
Henry Smith..........................................................................654
William Spurstowe................................................................662
Richard Steele........................................................................668
Solomon Stoddard.................................................................673
Lewis Stuckley......................................................................680
George Swinnock..................................................................683
Joseph Symonds....................................................................685
Edward Taylor.......................................................................687
Thomas Taylor.......................................................................694
Robert Traill..........................................................................698
John Trapp.............................................................................703
George Trosse.........................................................................706
Ralph Venning.......................................................................710
Nathaniel Vincent.................................................................714
Thomas Vincent....................................................................717
Thomas Watson.....................................................................722
William Whitaker.................................................................733
Michael Wigglesworth..........................................................735
John Winthrop......................................................................740

28
índice

Apêndice 1: Coleções de Escritos Puritanos 747


Apêndice 2: Teólogos Escoceses.......................................... 767
Introdução: Os Puritanos da Inglaterra e os
Presbiterianos da Escócia.................................................... 769
Elugh Benning...................................................................... 771
Thomas Boston..................................................................... 774
David Dickson...................................................................... 792
James Durham...................................................................... 798
Ebenezer e Ralph Erskine................................................... 808
George Gillespie................................................................... 826
Andrew Gray......................................................................... 833
William Guthrie................................................................... 839
Thomas Halyburton............................................................ 844
Samuel Rutherford............................................................... 852
Henry Scougal...................................................................... 865

Apêndice 3: Teólogos da Pós-Reforma Holandesa............ 873


Introdução à Pós-Reforma Holandesa.....................................875
Wilhelmus à Brakel.............................................................. 879
Alexander Comrie................................................................ 888
Theodorus Jacobus Frelinghuysen..................................... 893
Abraham Hellenbroek......................................................... 901
Johannes Hoornbeek........................................................... 907
Jacobus Koelman.................................................................. 911
Jean Taffln............................................................................. 916
Willem Teellinck.................................................................. 921
Theodorus van der Groe...................................................... 932
Johannes VanderKemp........................................................ 935
Gisbertus Voetius................................................................. 938
Herman Witsius................................................................... 948

Apéndice 4: Fontes Secundárias sobre os Puritanos........965


Apéndice 5: “A Grande Tradição” : Uma Palavra Final
sobre o Puritanismo e a Nossa Necessidade Atual......975

29
ΡΑ ΙΧAO P E L A PU R EZA

Glossário de Palavras, Expressões e Acontecimentos


Empregados neste Guia............................................... 981
Bibliografia de Fontes Secundárias sobre os Puritanos... 1007
índice de Autores e de Títulos.......................................... 1067

30
Prefácio

O s puritanos [eram] luzes incandescentes e


brilhantes. Quando rejeitados pelo sombrio
Ato de Bartolomeu e expulsos dos seus respectivos
cargos, impelidos a pregar em celeiros e nos campos,
nas estradas e nos cercados, eles, de maneira especial,
escreviam e pregavam como quem tem autoridade.
Embora mortos, por seus escritos eles ainda falam:
uma unção peculiar os acompanha até esta hora; e,
durante estes trinta anos passados, tenho observado
que, quanto mais a verdadeira e vital religião revive,
em nossa terra ou noutras, mais requeridos são os
antigos e bons escritos puritanos, ou os autores
de igual qualidade que viveram e morreram na
comunhão da Igreja da Inglaterra... Suas obras ainda
os louvam nos portões; e, sem pretensão de espírito
de profecia, podemos aventurar-nos a afirmar que
eles viverão e florescerão quando realizações mais
modernas, de uma qualidade oposta, não obstante
seus pomposos e refulgentes enfeites, desfalecerem
e morrerem na estima daqueles cujas mentes
estiverem abertas para discernir o que mais perto
chega do padrão das Escrituras.
- George Whitefield, Works, 4:306,307

31
PAIXAO P E L A PU R EZA

Por que produzir um guia para a literatura que nos foi


legada pelos puritanos ingleses e seus equivalentes da Escocia
e da Holanda? Para responder a essa pergunta precisamos
começar recordando quão pouco interesse pelos puritanos
houve em grande parte do século vinte.
Como foi predito por Whitefield, a demanda pelos “antigos
e bons escritos puritanos” continuou forte nas gerações que
se lhe seguiram, até bem dentro do século dezenove. Esse
interesse pelos puritanos culminou nos esforços de Alexander
Grosart e de outros para produzirem edições padronizadas
das obras dos puritanos.
Contudo, nos últimos anos do século dezenove um tipo
muito diferente de mentalidade veio a prevalecer entre
os cristãos nos dois lados do Atlântico. O calvinismo dos
puritanos foi descartado como um sistema de pensamento
cristão obsoleto, e o elevado conceito sobre as Escrituras, que
era o verdadeiro pulso vital do puritanismo, foi substituído
por um conceito muito diferente, proclamado como mais
erudito e mais científico, para disfarçar o seu real caráter de
pura incredulidade e apostasia.
O clamor pelos “antigos e bons escritos puritanos”
foi silenciado, e as obras dos puritanos pararam de sair das
impressoras da Grã-Bretanha e da América do Norte. Se
não jogadas no lixo ou vendidas como refugo, as obras dos
puritanos feneciam não lidas nas estantes das bibliotecas ou
continuavam não vendidas, nem a preço de pechincha, nos
“sebos” e nas livrarias.
Abaixo de Deus, foi o ministério do Dr. Martyn Lloyd-
-Jones, em Londres, que ajudou a criar uma procura por
livros puritanos. Ele se referia tão frequentemente a obras
puritanas em sua pregação que as pessoas lhe perguntavam
onde poderíam encontrá-las. Ele lhes indicava a Biblioteca
Evangélica. Depois ele também presidiu à Conferência
Puritana desde o seu início em 1950, vários anos antes de as
reimpressões puritanas começarem a aparecer. Assim muitas

32
Prefácio

pessoas estavam andantes por elas na época em que se


tornaram disponíveis.
A situação mudou dramaticamente, começando na
segunda metade da década de 1950, e estiveram na dianteira
as reimpressões lançadas pela editora Banner of Truth Trust.
Uma nova geração de cristãos, já começando a compreender
Desse tempo em diante, a literatura puritana se multiplicou
tanto que poucos amantes de livros podem dar-se ao luxo
de adquirir tudo o que está sendo republicado. Que livros
comprar? Onde achar um breve sumário de cada obra
puritana e uma breve descrição do autor?
Este guia responde a essas perguntas com a provisão de
uma breve biografia de cada autor puritano cujas obras foram
reimpressas desde 1956, e de uma curta resenha desses livros.
Esperamos que isso ajude os que compram livros puritanos,
interesse outros leitores nos puritanos, e guie aqueles que já
se acham imersos na literatura puritana levando-os a estudos
mais profundos.

Definição de Puritanismo
Qual é o sentido preciso do termo puritano? Muitos hoje
empregam o termo para descrever um ramo do cristianismo
rabugento e legalista, que beira ao fanatismo. Grande parte
desse estereótipo é produto dos sentimentos contrários aos
puritanos do século dezenove. Embora as culturas subsequentes
tenham expressado várias opiniões sobre os puritanos, é útil
registrar uma breve história do termo e avaliar 0 movimento
tão objetivamente quanto possível.
O termo puritano foi empregado pela primeira vez na
década de 1560, com referência àqueles protestantes ingleses
que consideravam as reformas feitas sob o reinado da rainha
Elizabeth incompleta e clamavam por uma “purificação” (da
palavra grega katharos, “puro”). Sua conotação negativa é
derivada do fato de ser uma tradução do termo latino catharus
(puritano) ou cathari (puritanos, de katharos), título dado aos

33
PAIXAO PHLA PU R EZA

hereges medievais (Gordon S. Wakefield, “The Puritans”,


em The Study of Spirituality, ed. Cheslyn Jones, Geoffrey
Wainwright e Edward Yarnold, p. 438). Para William Perkins
(1558-1602), muitas vezes chamado “o pai do puritanismo”,
puritano era um “termo vil” que descrevia pessoas com
tendências perfeccionistas {The Works of Mr. William Perkins,
1:342, 3:15). Leonard J. Trinterud conclui: “Durante todo 0
século dezesseis o termo era empregado mais frequentemente
como um adjetivo que expressava zombaria do que como um
substantivo nominal, e era rejeitado como difamante onde
quer que fosse aplicado” {Elizabethan Puritanism, pp. 3ss.).
Os termos puritano e puritanismo pegaram, apesar de
o seu sentido ter mudado ao longo dos anos. Eruditos do
século vinte dão várias opiniões sobre o que esses termos
pretendem de fato descrever. William Haller vê o “dogma
central do puritanismo {como} um determinismo totalmente
abrangente, uma doutrina da predestinação formulada
teologicamente” {The Rise of Puritanism, p. 83). Perry Miller
encontra a “medula da teologia puritana” na ideia da aliança
(Errand into the Wilderness, pp. 48,49); e Alan Simpson a
encontra na concepção da conversão {Puritanism in Old and
New England, p. 2). Christopher Hill enfatizava as ideias
sociais e políticas do puritanismo {Society and Puritanism). John
Coolidge ligava a ênfase puritana a uma rejeição da doutrina
anglicana das adiaphora, ou seja, das coisas indiferentes {The
Pauline Renaiscence in England: Puritanism and the Bible).
Richard M. Hawkes apresenta este sumário: “Teria sido [o
puritanismo inglês] um movimento essencialmente teológico,
enfatizando a teologia da aliança, a predestinação e um culto
religioso reformado? Ou teria sido o cerne da questão política,
asseverando os direitos inalienáveis da consciência diante
de Deus, a norma da lei natural acima dos tribunais e suas
prerrogativas arbitrárias, a dependência do rei ao parlamento,
o alicerce da autoridade do Estado no povo? Certa pesquisa
moderna tem apontado para uma terceira possibilidade,

34
Prefácio

indicando que a essência do puritanismo era a sua piedade,


a ênfase na conversão, na religião existencial, sentida no
coração” {The Logic of Assurance in English Puritan Theology),
Westminster Theological Journal 52 [1990]: 247.
Todos esses interesses, e outros mais, estão envolvidos
no puritanismo. Expresso mais simplesmente, afirmamos que
os puritanos abraçavam cinco interesses principais, e falavam
deles substancialmente em seus escritos.

• Os puritanos procuravam pesquisar as Escritu­


ras, conferir os seus achados e aplicá-los a todas
as áreas da vida. Ao fazerem isso, os puritanos
também tinham por objetivo serem confessionais
e teológicos, e dependeram muito da dedicada
erudição cristã.
• Os puritanos se entregavam apaixonadamente
ao objetivo de focalizar o caráter trinitário da
teologia. Eles nunca se cansavam de proclamar a
graça eletiva de Deus, o amor sacrificial de Jesus
Cristo, e a obra do Espírito Santo aplicando a
redenção às vidas dos pecadores. Seu fascínio
pela vida cristã era motivado, não tanto pelo
interesse por sua experiência pessoal em si como
por seu desejo de rastrear a obra divina dentro
deles para poderem render toda a glória a seu
triúno Senhor.
• Em comum com os reformadores, os puritanos
criam na significativa importância da Igreja nos
propósitos de Cristo. Portanto, eles acreditavam
que o culto deveria ser o esperado efeito e a
fiel encarnação de sua fé bíblica, e, assim, o
puritanismo era um movimento focalizado
numa pregação clara e séria, numa reforma
litúrgica e numa fraternidade espiritual. Os

35
PAIXAO P E L A PU R EZA

puritanos criam, igualmente, que havia, revelada


nas Escrituras, uma ordem ou uma política para
0 governo da Igreja, e que 0 bem-estar da Igreja
dependia de colocá-la em conformidade com
essa ordem.
* Nas grandes questões da vida nacional apresen­
tadas pelas crises do seu tempo, os puritanos
buscavam nas Escrituras luz para os deveres, o
poder e os direitos do rei, do parlamento e dos
cidadãos-súditos.
• Quanto ao indivíduo, os puritanos focalizavam
a conversão pessoal e abrangente. Com Cristo
eles criam que, “aquele que não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus” (João 3:3). Por
conseguinte, eles eram excelentes na pregação do
evangelho, provando a consciência, despertando
o pecador, chamando-o ao arrependimento e à fé,
conduzindo-o a Cristo e educando-o no caminho
de Cristo. Igualmente, com Tiago, criam que “a
fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”
(Tiago 2:17). Por isso elaboraram, com base
nas Escrituras, uma acurada descrição do que 0
cristão deve ser em sua vida interior, diante de
Deus, e em todos os seus atos e relações nesta
vida, no lar, na Igreja, no trabalho e na sociedade.

Neste livro, 0 termo puritano é empregado numa com­


binação de todos os interesses acima apresentados. Por isso
mesmo incluímos, não somente os puritanos que foram
expulsos da Igreja da Inglaterra pelo Ato de Uniformidade,
de 1662, mas também aqueles que, na Inglaterra e na América
do Norte, desde o reinado de Elizabeth I até 1689 (e em certos
casos, até 0 transcorrer do século dezoito), labutaram para
reformar e purificar a Igreja e para levar o povo a um viver

36
Prefácio

piedoso coerente com as doutrinas reformadas da graça. J. I.


Packer resume bem este entendimento do puritanismo: “O
puritanismo foi um movimento evangélico pró-santidade
que procurava implementar a sua visão de uma renovação
espiritual de âmbito nacional e pessoal, na Igreja, no Estado
e no lar; na educação, na evangelização e na economia;
no discipulado e na devoção individual, no cuidado e na
competência pastoral” (An Anglican to Remember - William
Perkins: Puritan Popularizer [St. Antholin’s Lectureship
Charity Lecture, 1996J, pp. 1,2).
Peter Lewis diz acertadamente que o puritanismo nasceu
de três necessidades: (1) A necessidade de pregação bíblica
e do ensino da sã doutrina reformada; (2) a necessidade de
uma piedade bíblica e pessoal que salientasse a obra do
Espirito Santo na fé e na vida do crente; e (3) a necessidade
de restabelecer a simplicidade bíblica na liturgia, ñas vestes
e no governo da Igreja, de modo que urna vida eclesiástica
bem ordenada promovesse o culto ao triúno Deus como
vem prescrito em Sua Palavra ( The Genius of Puritanismo,
pp. llss.). Doutrinariamente, o puritanismo era uma espécie
de vigoroso calvinismo; experimentalmente, era ardente e
contagioso; evangelisticamente, era agressivo, embora terno;
eclesiásticamente, era teocêntrico e venerável; politicamente,
almejava ser bíblico, equilibrado e com a consciência cativa
diante de Deus nas relações com 0 rei, parlamento e súditos.
De maneira nenhuma o puritanismo era um movimento
monolítico, mais que o foram os reformadores, ou, quanto a
essa questão, mais do que 0 fora qualquer grupo importante
de teólogos da história. Eles também tinham suas diferenças,
não somente eclesiásticas e políticas, mas também teológicas.
Havia entre eles homens que se expuseram ao erro, tais como
Richard Baxter sobre a justificação e John Preston sobre a
expiação. No entanto, na maior parte houve uma notável
unidade de pensamento, de convicção e de experiência entre
os puritanos.

37
PAIXAO PELA PU REZA

Como Tirar Proveito da Leitura dos Puritanos


Com a bênção do Espírito, os escritos puritanos podem
enriquecer sua vida como cristão em muitos aspectos,
quando eles abrem as Escrituras e as aplicam praticamente,
perscrutando a sua consciência, indiciando os seus pecados,
levando você ao arrependimento, modelando sua fé, guiando
sua conduta, confortando-o em Cristo e conformando você
a Ele, e levando-o à plena certeza da salvação e a um estilo
de vida caracterizado pela gratidão ao triúno Deus por Sua
grandiosa obra de salvação. Aqui estão seis característi­
cas que permeiam a literatura puritana e que explicam sua
persistente relevância e poder:

1. Eles modelavam a vida pelas Escrituras. Os puritanos


amavam, viviam e respiravam as Escrituras, deleitando­
-se no poder do Espírito que acompanhava a Palavra. Eles
consideravam os sessenta e seis livros das Escrituras como a
biblioteca do Espírito graciosamente legada aos cristãos. Eles
consideravam as Escrituras como Deus lhes falando como seu
Pai, dando-lhes a verdade na qual eles podiam confiar por
toda a eternidade. Viam-nas como dinamizadas pelo Espírito
para renovar suas mentes e transformar suas vidas.
Os puritanos pesquisavam, ouviam e cantavam a Palavra
com deleite, e animavam outros a fazerem 0 mesmo. O
puritano Richard Greenham sugeriu oito modos de ler as
Escrituras: com diligência, sabedoria, preparação, meditação,
conferência, fé, prática e oração. Thomas Watson proveu
numerosas diretrizes sobre como ouvir a Palavra de Deus: vir
à Palavra com um santo apetite e com um coração disposto a
aprender. Sentar-se aos pés da Palavra atentamente, recebê-la
com singeleza e mesclá-la com a fé. Depois reter a Palavra,
orar firmado nela, praticá-la, e falar com outros sobre ela.
Os puritanos insistiam com os crentes que fossem
centralizados na Palavra, quanto à fé e quanto à prática. Em
sua obra Christian Directory, Richard Baxter mostrou que os

38
Prefácio

puritanos consideravam a Bíblia como um fidedigno guia para


todos os aspectos da vida. Todos os casos de consciência eram
submetidos às diretrizes das Escrituras. Disse Henry Smith:
“Devemos ter sempre a Palavra de Deus diante de nós como
uma regra, e não crer em nada que ela não ensine, não amar
coisa alguma que ela não tenha prescrito, nem odiar nada senão
0 que ela proíbe, nem fazer nada, senão o que ela ordena”.
Se você ler os puritanos regularmente, o modo deles
focalizarem as Escrituras será contagioso. Embora seus
comentários das Escrituras não sejam a última palavra quanto
à exegese, os puritanos mostram como render devotada leal­
dade à mensagem da Bíblia. Como eles, você será um crente
cativo à Bíblia viva, concordando com John Flavel, que
disse: “As Escrituras nos ensinam a melhor maneira de viver,
a mais nobre maneira de sofrer e a mais consoladora maneira
de morrer” .

2. Eles unem a doutrina à prática. Os puritanos faziam isso


dirigindo-se à mente, confrontando a consciência, e buscando
0 envolvimento amoroso do coração.
• Dirigindo-se à mente. Os puritanos recusavam colocar
em conflito a mente e o coração, mas ensinavam que o conhe­
cimento era o solo no qual o Espírito plantava a semente da
regeneração. Concebiam a mente como o palácio da fé. “Na
conversão, a razão é elevada”, escreveu John Preston. Cotton
Mather disse: “A ignorância é a mãe, não da devoção, mas da
heresia”.
Os puritanos entendiam que um cristianismo sem intelecto
fomenta um cristianismo sem espinha dorsal. Um evangelho
anti-intelectual rapidamente se torna um evangelho vazio e
informe que não vai além das “necessidades sentidas”. E o
que está acontecendo em muitas igrejas hoje. Tragicamente,
poucos crentes entendem que, se houver pouca diferença
entre 0 que os cristãos e os incrédulos creem com suas mentes,
logo haverá pouca diferença em como eles vivem. A literatura

39
PAIXAO P E L A PU R EZA

puritana é uma grande solução para esse problema.


‫ ״‬Confrontando a consciência. Os puritanos eram mestres
em mencionar pecados específicos, fazendo a seguir perguntas
para produzir clara convicção desses pecados. Como um
puritano escreveu: “Devemos ir com a vara da Palavra de Deus
e bater em cada moita atrás da qual um pecador se esconde,
até que, como Adão que se escondera, ele compareça em sua
nudez diante de Deus”.
A leitura que inspira devoção deve ser também confron­
tadora, bem como consoladora. Experimentaremos pequeno
crescimento se as nossas consciências não forem aguilhoadas
e dirigidas a Cristo diariamente. Desde que somos propensos
a correr para trás das moitas, precisamos de ajuda diária para
sermos levados à presença do Deus vivo “nus e patentes aos
olhos daquele com quem temos que tratar” (Heb. 4:13). Nisso
nenhum escritor nos pode ajudar tanto como os puritanos.
• Envolvendo 0 coração. É incomum hoje encontrar livros que
alimentem a mente com sólido conteúdo bíblico e que movam
0 coração com amoroso ardor, mas os puritanos oferecem esses
dois benefícios. Eles arrazoam com a mente, confrontam a cons­
ciência e apelam ao coração. Eles escrevem impelidos pelo amor
à Palavra de Deus, pelo amor à glória de Deus e pelo amor às
almas dos leitores. Eles expõem Cristo em Sua beleza, incitando­
-nos a anelar conhecê-10 melhor e viver totalmente para Ele.

3. Eles focalizam Cristo. De acordo com Thomas Adams,


“Cristo é o resumo de toda a Bíblia, profetizado, tipificado,
prefigurado, exibido, demonstrado, presente em cada
folha, quase em cada linha, sendo as Escrituras, por assim
dizer, como as faixas que envolveram o menino Jesus”.
Semelhantemente, Isaac Ambrose escreveu: “Pensem em
Cristo como 0 verdadeiro conteúdo, âmago, alma e escopo de
todo o conteúdo das Escrituras”.
Os puritanos amavam Cristo e escreviam muito sobre a
Sua beleza. Samuel Rutherford escreveu: “Coloquem a beleza

40
Prefácio

de dez mil milhares de mundos de paraísos, semelhantes ao


Jardim do Éden, num só; coloquem todas as árvores, todas as
flores, todos os aromas, todas as cores, todos os sabores, todas
as alegrias, toda a formosura, toda a doçura numa só. Oh,
que coisa bela e excelente seria! E, no entanto, em comparação
com o belo, caríssimo e muito amado Cristo, seria menos
do que uma gota de chuva quando comparada com todos os
mares, rios, lagos e fontes de dez mil planetas como a terra”.
Thomas Goodwin fez eco desse pensamento, dizendo: “Para
mim, 0 céu sem Cristo seria o inferno”.
Você gostaria de conhecer Cristo melhor e amá-10 mais
plenamente? Mergulhe na literatura puritana, pedindo ao
Espírito que a santifique para você de um modo centrado
em Cristo.

4. Eles mostram como enfrentar as tribulações. Aprendemos


dos puritanos que temos necessidade de que a aflição nos
humilhe (Deut. 8:2), nos ensine o que o pecado é (Sof. 1:12) e
nos leve a Deus (Os. 5:15). Como Robert Leighton escreveu:
“A aflição é o pó de diamantes com o qual Deus dá polimento
a Suas joias” . Os puritanos nos mostram que a vara da aflição
é 0 meio pelo qual Deus inscreve a imagem de Cristo mais
completamente em nós, a fim de que sejamos participantes
da Sua justiça e da Sua santidade (Heb. 12:10,11).
Se neste momento você está passando por tribulações, leia
0 livro de William Bridge, A Lifting Up for the Downcast, 0
de Thomas Brooks, A Mute Christian Under the Rod, e o de
Richard Sibbes, A Bruised Reed. Eles lhe mostrarão como
toda tribulação pode levá-lo a Cristo, fazê-lo andar pela fé e
desapegar-se deste mundo. Como Thomas Watson escreveu:
“Deus quer que o mundo fique pendurado como um dente
solto que, sendo extraído facilmente, não nos causa muita
aflição”. Leia também The Rare Jewel of Christian Contentment,
de Jeremiah Burroughs. Por meio da tribuação, ele nos ensina
a saber contentar-nos. Então, da próxima vez que você for

41
EAIXAO P E L A PU REZA

esbofeteado por outros, satanás ou a sua própria consciência,


você levará essas tribulações a Cristo e Lhe pedirá, mediante
o Seu Espírito, que as santifique, para que o seu contenta­
mento espiritual venha a ser um modelo para outros.

5. Eles nos mostram como viver em dois mundos. O livro de


Richard Baxter, The Saint’s Everlasting Rest, mostra o poder
que a esperança do céu tem para dirigir, controlar e energizar
a nossa vida na terra. Apesar do seu tamanho (mais de 800
páginas), este clássico tornou-se a leitura da família nos
lares puritanos. Só foi sobrepujado por Pilgrim’s Progress {O
Peregrino}1, de Bunyan, que é um desenvolvimento alegórico
desta mesma verdade. O peregrino de Bunyan avança rumo
à Cidade Celestial, que nunca fica fora de sua mente, exceto
quando ele é traído por alguma forma de enfermidade
espiritual.
Os puritanos acreditavam que devemos ter o céu “em
vista” durante toda a nossa peregrinação terrena. Eles levavam
a sério a dinâmica neotestamentária dos dois mundos, o já /
ainda não, salientando que manter a “esperança da glória”
diante das nossas mentes guiará e modelará as nossas vidas
na terra. Viver à luz da eternidade exigia abnegação radical.
Os puritanos nos ensinaram a viver cientes de que a alegria
do céu compensa toda e qualquer perda e cruz que tenhamos
que suportar, se seguirmos Cristo. Eles nos ensinaram que
preparar-nos para morrer é o primeiro passo na aprendizagem
para viver.

6. Eles nos mostram a verdadeira espiritualidade. Os


puritanos promoviam a autoridade das Escrituras, a evange-
lização bíblica, a reforma da Igreja, a espiritualidade da lei,
o combate espiritual contra o pecado que há em nós, o filial

1 Uso chaves para distinguir dos colchetes empregados pelo autor. Nota der
tradutor.

42
Prefácio

temor a Deus, e a arte da meditação, a terribilidade do inferno


e as glórias do céu. Leia, pois, os puritanos devocionalmente,
e depois ore para poder imitar a espiritualidade deles. Faça
perguntas como estas: temos nós, como os puritanos, sede
de glorificar o triúno Deus? Somos motivados pela verdade
bíblica e pelo fogo bíblico? Compartilhamos com os puritanos
a ideia da necessidade vital da conversão e de nos revestir­
mos da justiça de Cristo? Seguimo-los como eles seguiam
Cristo?

Onde Começar
Se você está apenas começando a 1er os puritanos, comece
lendo Heaven Taken by Storm, por Thomas Watson, The Fear
of God, por João Bunyan, Keeping the Heart, por John Flavel,
Precious Remedies Against Satan’s Devices, por Thomas Brooks,
e Glorious Freedom, por Richard Sibbes, e depois passe a ler as
obras por John Owen, Thomas Goodwin e Jonathan Edwards.
Quanto às fontes que o introduzirão ao estilo de vida e à
teologia dos puritanos, comece pela obra por Leland Ryken,
Santos do Mundo: Os Puritanos Como Eles Eram Realmente, São
José dos Campos, Editora Fiel, 1992, Peter Lewis, The Genius
of Puritanism (Morgan, Pensilvânia: Soli Deo Gloria, 1997),
e Erroll Hulse, Quem Foram os Puritanos? (São Paulo, PES,
2004). Passe então a ler a obra por James I. Packer intitulada
Entre os Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida Cristã,
São Jose dos Campos, Editora Fiel,1996.
Temos lutado para tornar o nosso guia útil, tanto
para os que estão apenas começando a ler os puritanos
como para os mais adiantados na teologia e nos estudos
puritanos. Consequentemente, haverá algum material que o
principiante vai achar difícil compreender, e outro material
que os mais adiantados vão achar bastante elementares.
Em geral, no entanto, esperamos que este livro seja um
guia informativo e estimulante para todos os que estão
procurando saber mais sobre os teólogos puritanos e sobre

43
PAIXAO P E L A PU R EZA

os livros recentemente reimpressos que eles escreveram.

Critérios e Fontes Utilizados


Este livro começou na década de 1980 com uma série
de artigos escritos para a editora Banner of Truth (EUA),
intitulada: “Meet the Puritans... in Print!”. Esses artigos
cobriam reimpressões puritanas desde a década de 1950 até
1985. Dez anos mais tarde, “Reading the Best in Puritan
Literature: A Modern Bibliography”, Reformation and Revival,
5, 2 (1996): 117-158, cobriu títulos puritanos reimpressos
de 1986 a 1996. Paixão pela Pureza expande esse material e
cobre livros reimpressos durante meio século, de 1956 a
2005. Contém, ao todo, comentários sobre quase 700 livros
de mais de 75 publicadoras, e perto de 150 breves biografías.
Algumas biografias são substancialmente mais longas do que
outras por causa da importância do individuo na historia e na
literatura cristã, ou por causa do volume do material biográfico
disponível. Também, algumas dessas biografias mais longas
são adaptadas de artigos ou introduções de livros que nõs
escrevemos, e são incluídas aqui com a devida permissão.
Em geral não tentamos incluir todas as edições de
brochuras de um particular autor quando suas obras completas
foram reimpressas. Tampouco incluímos mais de uma edição
de um livro reeditado duas vezes ou mais. Em muitos casos
registramos a reimpressão de melhor qualidade. Em alguns
casos, quando a qualidade era quase igual, demos preferência
à edição ainda em circulação. Em cada caso damos informação
sobre o editor, o número de páginas e a data da publicação,
dados que se seguem ao título. Os títulos de cada autor são
listados alfabéticamente, exceto nos casos em que “as obras”
do autor foram reimpressas. Nesses casos, o verbete das obras
do autor é colocado primeiro. Nos subsequentes verbetes
referentes a esse autor um asterisco (*) é colocado antes de
cada título não incluído nas obras do autor. Lamentamos que
não podemos indicar se um título está atualmente circulando

44
Prefácio

ou não, pois muitos livros deste guia entram ou saem de


circulação todo ano. Visto que gostaríamos de atualizar livro
periodicamente, acolhemos as sugestões dos leitores que lêem
sobre títulos puritanos reimpressos no último meio século
(1956-2005) que acaso tenhamos omitido. Favor encaminhá­
-las a Joel R. Beeke, 2965 Leonard Street, NE, Grand Rapids,
Michigan 49525, USA. Nossa informação atualizada sobre
novas publicações puritanas reimpressas será regularmente
atualizada e enviada à página do Puritan Resource Center,
cujo site é www.puritanseminary.org.
São incluídos vários apêndices. O primeiro cobre títulos
de múltiplos autores; o segundo, escritores escoceses que
se enquadram em nossa definição de puritano; o terceiro,
escritores da Segunda Reforma Holandesa, às vezes
chamados “puritanos holandeses”, traduzidos para o inglês;
e quarto, uma bibliografia comentada de amostras de fontes
secundárias sobre os puritanos impressos nos últimos vinte
anos. Este último apêndice podería ser facilmente aumentado
para tornar-se, ele próprio, uma monografia completa. Em
vez disso, em acréscimo à breve bibliografia comentada do
quarto apêndice, incluímos uma bibliografia não comentada
de várias centenas de fontes secundárias no fim deste livro.
O apêndice conclusivo serve como uma palavra final sobre o
puritanismo, escrita por J. I. Packer.
Quanto aos parâmetros de tempo, estão incluídos os homens
e as mulheres cujos escritos refletem convicções puritanas
havidas no período que se estende de William Perkins (1558­
1602) a Jonathan Edwards (1703-1758), às vezes chamado
“0 último puritano”. Precursores dos puritanos, como John
Bradford e John Hooper, não foram incluídos. Nalguns casos,
foi difícil determinar se devíamos incluir um particular autor
ou não, em especial os que se opunham à eclesiologia puritana,
tais como Thomas Adams, Richard Baker, Joseph Hall,
Nathaniel Hardy e Ezekiel Hopkins. Nestes casos, visto que
os seus escritos trazem a estampa puritana de espiritualidade

45
PAIXAO PHLA PU R EZA

a que Whitefield se refere na citação que dá inicio a este


prefácio, nós os incluímos.
Quanto às fontes utilizadas, consultamos livremente as
principais enciclopédias e as obras-padrão de consultas sobre
os puritanos. As mais úteis foram as por H.C.G. Matthew
e Brian Harrison, Oxford Dictionary of National Biography
(60 volumes); Oxford DNB), Leslie Stephen e Sidney Lee,
Dictionary of National Biography (22 volumes; DNB), The New
Schaff-Herzog Encyclopedia ofReligious Knowledge (15 volumes),
M’Clintock e Strong, Ciclopedia of Biblical, Theological, and
Ecclesiastical Literature (12 volumes), Allen Johnson e Dumas
Malone, Dictionary of American Biography (10 volumes), John
Stripe, Ecclesiastical Memmorials (7 volumes), Appleton's
Cyclopaedia of American Biography (6 volumes), Erasmus
Middleton, Evangelical Biography (4 volumes), Edmund
Calamy, The Nonconformist's Memorial (4 volumes; também,
Samuel Palmer, edição de 3 volumes), A.G. Matthew, Calamy
Revised, Jay Green, Encyclopedia of Christianity (4 volumes),
Anthony à Wood, Athenae Oxonienses (4 volumes), S. Allibone,
A Critical Dictionary ofEnglish Literature and British andA merican
Authors (4 volumes), James Darling, Cyclopaedia Bibliographica
(3 volumes), Benjamin Brooks, Lives of Puritans (3 volumes), e
Thomas Fuller, Abel Redevivus; or, The Dead Yet Speaking: The
Lives and Deaths of Modem Divines (2 volumes), como também
sua obra intitulada Worthies of England (2 volumes). Devido
à escassez de material sobre alguns puritanos, às vezes nos
apoiamos fortemente sobre estas fontes. Quanto a informações
sobre os puritanos que serviram na Assembléia de Westminster,
a obra de James Reid, Memoirs of the Westminster Divines, e a
de William Barker, Puritan Profiles, ajudaram muito. Também
consultamos estudos sobre puritanos individuais. Nos casos
em que as fontes se contradiziam, usamos a Oxford DNB como
nossa fonte final de autoridade.
Para o apêndice 2, fizemos uso do Dictionary of Scottish
Church History & Theology, editado por Nigel Cameron; para

46
Prefácio

0 apêndice 3, consultamos a obra de F.W. Grosheide e G.E


Van Itterzon, Christelijke Encyclopedie, (6 volumes), a de J.E
DeBie e J. Loosjes, Bwgraphisch Woordenbock van Protestantsche
Godgeleerden in Nederland, (5 volumes), a de D. Nauta,
Biografisch Lexicon voor de Geschiedenis van het Nederlandse
(sic) Protestantismo, (4 volumes), e a de B. Glasius, Biografisch
Woordenbock van Nederlandsche Godgeleerden, (3 volumes).
Quanto à descrição de livros, resumimos cada livro,
frequentemente oferecendo uma citação agradável do livro
que está sendo resenhado para despertar o apetite do leitor
em potencial. Quando um material do editor descreve
factualmente o conteúdo de um livro, vez por outra tecemos
parte desse material em nosso resumo.
Quanto a um índice tópico e textual dos escritos dos
puritanos, ver a obra de Robert E Martin, A Guide to the
Puritans, que inclui muitos dos livros examinados neste
volume. O livro de Martin é um necessário complemento
deste volume para aqueles que desejam seriamente conhecer e
estudar os temas e os textos manuseados na tradição puritana.
Fara manter este livro numa extensão razoável, não
fizemos uso de notas de rodapé. Em muitos casos, as citações
um tanto longas incluem o autor e o título em referência no
texto. Quanto a dados bibliográficos completos sobre as fontes
secundárias, verifique a bibliografia no fim deste livro. A
grafia foi modernizada nos títulos e nas citações de livros
antigos. O uso de maiusculas segue 0 Chicago Manual of Style:
daí, “Rei Charles”, mas “o rei” ; “grau de Bacharel em Artes”
ou grau de “Doutor em Teologia” como títulos, mas “grau de
bacharel” ou “doutorado em teologia” como termos gerais.
Finalmente, deve-se notar que milhares de livros escritos
por puritanos nào estão incluídos neste livro porque não
foram reimpressos desde a década de 1950. Nalguns casos se
faz referência a títulos não reimpressos nas partes biográficas
deste livro. Contudo, muitos puritanos não tiveram nenhum
dos seus títulos reimpresso; em vista disso, você procurará em

47
PAIXAO P E L A PU REZA

vão seus nomes nas páginas do índice. Pensávamos compilar


uma lista de tais autores e títulos, mas seriam necessárias
demasiadas páginas para mantermos o nosso formato de
um só volume. Para consultar bons guias de referências aos
puritanos e às fontes primárias não mencionadas neste livro,
ver especialmente os livros de Benjamin Brooks, Lives of the
Puritans, James Reid, Memoirs of the Westminster Divines, e o
Oxford DNB. Para os interessados em informação sobre títulos
puritanos antigos ainda não reimpressos, sugiro que contatem
o Centro de Recursos Puritanos (2965 Leonard Street N.E.,
Grand Rapids, Michigan 49525, USA), que abriga uma coleção
de 3.000 títulos de livros escritos por puritanos e sobre eles.

Reconhecimentos
Nossos agradecimentos ao Rev. Ray B. Lanning pela
assistência editorial e principalmente por nos fornecer um
glossário de palavras e acontecimentos do século dezessete
oriundos da Escócia Presbiteriana, da Inglaterra puritana e da
Nova Inglaterra, talvez desconhecidos dos leitores modernos.
Esperamos que você ache útil este glossário, particularmente
quando estiver lendo o material biográfico. Somos gratos,
também, a Phyllis TenElshof pela editoração; a Gary den
Hollander, Kate DeVries, Sharia Kattenberg, Dr. Robert
Oliver, Rev. John Thackway, Dr. Fred van Lieburg e Kelly
Ziegler pela leitura das provas; a Alastair Roberts por sua
assistência durante uma internação; a Linda den Hollander
pela digitação que fez; e a Jay T. Collier por sua ajuda nos
detalhes do acabamento final. Sinceros agradecimentos ao Dr.
Jan VanVliet por colaborar no verbete sobre William Ames,
ao Rev. Cornelius Pronk por seu trabalho como co-autor
do verbete sobre Theodorus Frelinghuysen, e ao Dr. Torn
Schvvanda por ajudar no verbete sobre Isaac Ambrose.
Agradecemos a Iain Murray suas minuciosas sugestões em
resposta aos nossos dois primeiros projetos, e por instilar em
nós amor pela literatura puritana por meio das reimpressões

48
Prefácio

dos livros da Banner of Truth Trust, dos seus próprios livros e


de sua valiosa amizade. Também somos gratos a Kelly Kapic
e a Randall Gleason por nos permitirem reimprimir sua
obra A Brief History of English Puritanism. Estendemos nossa
gratidão a Don Kistler por prover muitas das ilustrações
dos puritanos ingleses que há neste livro e por partilhar
nossa visão e nosso amor pelas reimpressões puritanas.
Expressamos nossos agradecimentos também a DenHertog
Publications por permitir-nos tomar emprestadas ilustrações
dos teólogos da segunda reforma holandesa, a Caffy Whitney
por seu trabalho artístico na provisão de ilustrações referentes
a William Perkins e William Ames utilizadas tanto na capa
como no corpo do livro, e a Amy Zevenbergen por desenhar
a sobrecapa.
Os estudantes de teologia do Puritan Reformed Theological
Seminary, constituíram um importante ímpeto para per-
severarmos na produção deste livro. Estamos agradecidos a
diversos estudantes que providenciaram material que nos
ajudou no trato de um verbete. Oramos rogando a Deus que
estes estudantes sejam ministros do evangelho tão devotos e
competentes para a nossa geração como os puritanos foram
para a deles.
De todo o coração agradecemos às nossas esposas, Mary
Beeke e Sarah Pederson, sua paciência, apoio e entusiasmo
durante a execução deste projeto. Humilhamo-nos por
sermos abençoados com esposas cujas vidas, pela graça de
Deus, manifestam a classe de piedade bíblica que a literatura
puritana promove poderosamente.
Finalmente, somos devedores e agradecidos ao nosso Deus
e Salvador que, por Sua graça, alimentou-nos tão ricamente
por meio de nossos antepassados ingleses, escoceses e
holandeses de mentalidade puritana. Esperamos que, quando
você ler suas vidas e estudar bem os seus livros, concorde
com a avaliação feita por James I. Packer: “Numa época
de perda de visão e de valores decadentes [os puritanos

49
ΡΑ ΙΧAO P E L A PU R EZA

são] um farol de esperança chamando-nos a urna entrega


radical e a urna radical ação, quando ambas estas atitudes são
desesperadamente necessárias” .

50
Ilustrações

Puritanos Ingleses e Americanos


Vincent Alsop................... 92 William Gouge................ 371
Isaac Ambrose................... 94 Joseph Hall...................... 397
William Ames................... 99 Matthew Henry.............. 413
Sir Richard Baker..........117 Philip Henry................... 424
William Bates.................119 Oliver Heywood............. 430
Richard Baxter.................124 Arthur Hildersham........ 437
Robert Bolton..................144 Ezekiel Hopkins............. 454
Samuel Bolton.................150 John Howe...................... 457
William Bridge................159 Thomas Jacomb.............. 468
João Bunyan ...................171 William Jenkyn.............. 474
Jeremiah Burroughs...... 189 Benjamin Keach............. 481
Joseph Caryl.................... 205 John Lightfoot................ 489
Thomas Case................... 211 Christopher Love........... 493
Stephen Charnock......... 216 Thomas Mantón............. 505
David Clarkson............... 221 Cotton Mather................ 521
John Cotton.................... 228 Increase Mather.............. 533
Tobias Crisp.................... 238 Matthew Mead................ 547
John Davenant................ 243 Christopher Ness............ 551
Thomas Doolittle..........254 John Owen ..................... 559
Jonathan Edwards.........270 Edward Pearse................ 568
John Flavel...................... 329 William Pemble.............. 570
Thomas Goodwin..........351 William Perkins.............. 574
Thomas Gouge............... 367 Matthew Poole................ 590

51
PAIXAO P E L A PU REZA

John Preston................. .593 Richard Steele............. ... 668


Edward Reynolds......... .603 Thomas Taylor............ ... 694
Timothy Rogers............ .617 John Trapp.................. ...703
Henry Scudder.............,622 Ralph Venning............ ...710
Obadiah Sedgwick........,624 Nathaniel Vincent...... ...714
John Shower ................,642 Thomas Watson.......... ...723
Richard Sibbes..............,645 William Whitaker...... ...733
Henry Smith.................,654

Teólogos Escoceses
Thomas Boston.............,775 George Gillespie......... ...826
Ebenezer Erskine.........,809 Andrew Gray............... ...834
Ralph Erskine.............. .. 809 Samuel Rutherford..... ... 852

Teólogos da Pós-Reforma Holandesa

Wilhelmus à Brakel..... ,880 Jean Taffin................... ...916


Alexander Comrie....... ,888 Willem Teellinck........ ...921
Abraham Hellenbroek.,902 Theodoras van der Groe 932
Johannes Hoornbeek .....907 Gisbertus Voetius....... ...939
Jacobus Koelman......... ,911 Herman Witsius......... ... 948

52
Abreviaturas e
Endereços dos Editores

AAS: American Antiquarian Society, 185 Salisbury Street,


Worcester, Massachusetts 01609
AMS: AMS Press, Inc., Brooklyn Navy Yard, Building 292,
Suite 417,63 Flushing Avenue, Brooklyn, New York1 11205
AP: Aldine Press
Arno: Arno Press - agora uma publicadora pertencente a
Aye Company Publishers, 400 Bedford St., Suite 322,
Manchester, New Hampshire 03101
Ashgate: Ashgate Publishing Co., Old Post Road, Brookfield,
Vermont 05036
Baker: Baker Book House, 6030 E. Fulton, Ada, Michigan
49301
BB: Blue Banner Publications, Livingstone House, 16 Edward
St., Kilsyth G65 9DL, Scotland
Bedford: Bedford Publishers, 33 Irving Place, New York, New
York 10003
Berith: Berith Publications (uma divisão de Tentmaker
Publications; ver endereço abaixo)
B&H: Broadman & Holman, 127 Ninth Avenue North, MSN
114, Nashville, Tennessee 37234
BP: The Bunyan Press, 23 Haslingden Close, Harpenden,
Herts AL5 3EW, England

1 Nos endereços mantenho a forma do original. Nota do tradutor.

53
PAIXAO PK LA PURF.ZA

BTT: Banner of Truth Trust, The Grey House, 3 Murrayfield


Road, Edinburg EH 12 6EL, Scotland; Escritório
americano: EO. Box 621, 63 E. Louther St., Carlisle,
Pennsylvania 17013
CFP: Christian Focus Publications, Geanies House, Fearn,
Tain, Ross-shire IV20 1TW, Scotland
CMP: Cornmarket Press, 42/43 Conduit Street, London WIR
ONE, England
Crossway: Crossway Books, 1300 Crescent St., Wheaton,
Illinois 60187
CVHM: Connecticut Valley Historical Museum, 220 State
Street, Corner of State and Chestnut Streets, Springfield,
Massachusetts 01103
DA: Dust and Ashes, 170 Washington Ave., Muskegon,
Michigan 49441
Da Capo: Da Capo Press Inc.
Degraaf: DeGraaf, Zuideinde 40, Postbus 6, 2420 AA,
Nieuwkoop, Netherlands
Dover: Dover Publications, Inc., 31 East 2nd Street, Mineóla,
New York 11501
Ebenezer: Ebenezer Publications
Eerdmans: Wm B. Eerdmans Publishing, 255 Jefferson S.E.,
Grand Rapids, Michigan 49503
EP: Evangelical Press, 12 Wooler St., Darlington, County
Durham DL1 1RX, England
FCM: Focus Christian Ministries Trust, 6 Orchard Road,
Lewes, East Sussex BN72HB, England
FPP: Free Presbyterian Publications, 133 Woodlands Rd.,
Glasgow G3 6LE, Scotland

54
Abreviamos e Endereços dos Editores

FUP: Frederick Ungar Publishing Co., 250 Park Avenue


South, New York, New York 10003
GM: Gospel Mission, RO. Box 318, Choteau, Montana 59422
Harvard: Harvard University Press, 79 Garden St., Cambridge,
Massachusetts 02138
HP: Hendriksen Publishers, RO. Box 3473, Peabody,
Massachusetts, 01961
IO: International Outreach, PO. Box 1286, Ames, Iowa 50010
IVP: InterVarsity Press, PO. Box 1400, Downers Grove,
Illinois 60515
JB: James Begg Society, 20 Abbotswell Crescent, Kincorth,
Aberdeen AB12 5AR, Scotland
JC: James Clarke Press, RO. Box 60, Cambridge CB1 2NT,
England
JFCP: James Family Christian Publishers
Johnson: Johnson Reprint Corporation
K&K: Klock & Klock
Kregel: Kregel Publishers, PO. Box 2607, Grand Rapids,
Michigan 49501
LSUP: Lousiana State University Press, PO. Box 25053,
Baton Rouge, Lousiana 70894
LUP: Lehigh University Press, 2002 Lehigh University, 27
Memorial Drive West, Bethlehem, Pennsylvania 18015
MP: Maranatha Publishers
MQ: McGill-Queen’s University Press, 3430 McTavish Street,
Montreal, Quebec H3A 1X9 Canada
NP: Naphtali Press, PO. Box 141084, Dallas, Texas 75214
NR: Netherlands Reformed Book Publishing, 123 Leffingwell
N.E., Grand Rapids, Michigan 49525

55
PAIXÃO P E L A PU REZA

NUP: Nebraska University Press, 233 North 8th Street,


Lincoln, Nebraska 68588
OP: Old Paths Publications, 1 Bittersweet Path, Willowstreet,
Pennsylvania 17584
PA: Presbyterian’s Armoury Publications, PO. Box 662,
Burnie TAS 7320, Austrália
Pilgrim: Pilgrim Press
PL: Peter Lang, 275 Seventh Avenue, 28th floor, New York,
New York 10001
PP: Pietan Publication, 26 Green Farm Road, New Ipswich,
New Hampshire 03071
P&R: Presbyterian and Reformed Publishing, RO. Box 817,
Philipsburg, New Jersey 08865
PUP: Princeton University Press, 41 William St., Princeton,
New Jersey 08540
RAP: Reformed Academic Press, PO. Box 8599, Greenville,
South Carolina 29604
RE: Maranatha Publications, PO. Box 66212, Mobile,
Alabama 36606
Reiner: Reiner Publications
RHB: Reformation Heritage Books, 2965 Leonard St. N.E.,
Grand Rapids, Michigan 49525
Rhwym: Rhwym Books, RO. Box 1706, Cambridge,
Massachusetts, 02238
ROR: Richard Owen Roberts, RO. Box 21, Wheaton, Illinois
60189
RP: Reformation Press, 11 Churchhill Dr., Stornoway, Isle of
Lewis PA87 2NP, Scotland
SDG: Soli Deo Gloria, uma divisão de Ligonier Ministries,
PO. Box 547500, Orlando, Florida 32854

56
Abreviamos e Endereços dos Editores

SF: Scholar’s Facsimiles and Reprints


SG: Solid Ground Christian Books, EO. Box 660132, Vestavia
Hills, Alabama 35266
SGP: Sovereign Grace Publishers, PO. Box 4998, Lafayette,
Indiana 47903
SGT: Sovereign Grace Trust Fund
Smith: Peter Smith Publishers, 5 Lexington Ave., Gloucester,
Massachusetts 01930
SPR: Sprinkle Publications, PO. Box 1094, Harrisonburg,
Virginia 22801
SWRB: Still Waters Revival Books, 4710-37A Ave., Edmonton,
Alberta, T6L 3T5, Canada
TENT: Tentmaker Publications, 121 Hartshill Rd., Stoke-on­
-Trent, Staffs ST4 7LU, England
TP: Tanski Publications
UC: University of Chicago Press, 1427 East 60th Street,
Chicago, Illinois 60637
UGP: University of Georgia Press, 330 Research Drive,
Athens, Georgia 30602
UIP: University of Illinois Press, 1325 South Oak Street,
Champaign, Illinois 61820
UMP: University of Massachusetts Press, EO. Box 429,
Amherst, Massachusetts 01004
UNC: University ofNorth Carolina Press, 116 South Boundary
Street, Chapel Hill,
North Carolina 27514
UPA: United Press of America, Boston Way, Lanham,
Maryland 20706

57
PAIXAO P E L A PU REZA

UPP: University of Pennsylvania Press, 4200 Pine Street,


Philadelphia, Pennsylvania 19104
VH: Vision Harvest, PO. Box 680, Haymarket, Virginia 20168
WJ: Walter J. Johnson, Inc.
Yale: Yale University Press, PO. Box 209040, New Haven,
Connecticut 06520
Zoar: Zoar Publications, Christian Bookshop, 21 Queen St.,
Ossett, West Yorkshire WF5 8AS, England
Zondervan: Zondervan Publications, 5300 Patterson S.E.,
Grand Rapids, Michigan 49512

As editoras que acima constam sem endereço não existem mais.


Muitos dos livros passados em revista neste livro podem ser encon-
irados em sua livraria cristã local ou podem ser obtidos diretamente
da publicadora. Se você não conseguir localizar alguns títulos, faça
contato com Reformation Heritage Books, 2965 Leonard St. NE,
Grand Rapids, Michigan 49525 (telefone: 616-977-0599; e-mail:
orderja heritagebooks.org: website: www.heritagebooks.ors).

58
Biografías Puritanas
e
Resenhas de Livros
Os puritanos não eram incultos e ignorantes. Em sua grande
maioria, formaram-se em Oxford e em Cambridge - muitos
deles eram membros do corpo docente de faculdades, e alguns
deles foram presidentes ou diretores das melhores faculdades
das duas universidades. Em conhecimento de hebraico, grego
e latim, em poder como pregadores, expositores, escritores e
críticos, os puritanos, em seu tempo, não estavam em segundo
lugar em relação a ninguém. Suas obras ainda falam por eles
nas estantes de todas as bibliotecas teológicas bem supridas.
Seus comentários, suas exposições, seus tratados sobre teologia
prática, casuística e experimental são incomensuravelmente
superiores às dos seus adversários no século dezessete.
Em resumo, aqueles que expõem os puritanos a escárnio,
apresentando-os como homens superficiais e iletrados, só
estão expondo a sua própria superficialidade, a sua própria
ignorância dos fatos históricos e o caráter extremamente
raso da sua própria leitura.
Os puritanos, como um corpo, fizeram mais para elevar
0 caráter nacional do que qualquer classe de ingleses que já
viveram. Ardorosos amantes da liberdade civil, e dispostos a
morrer em sua defesa - vigorosos na direção de assembléias,
e não menos vigorosos no campo de batalha - temidos em
todas as partes da Europa, enquanto unidos, invencíveis na
terra pátria - grandes com suas penas, e não menores com suas
espadas - temendo Deus muitíssimo, e temendo os homens
pouquíssimo - eles foram uma geração de homens que nunca
receberam do seu país a honra que merecem.
J.C. Ryle (introdução a Works, de Thomas Mantón, 2:xi)
Breve História do
Puritanismo Inglês

De Wittenberg, as idéias protestantes se espalharam


rapidamente por toda a Europa, alcançando a Inglaterra
durante o reinado de Henrique VIII (1509-1547). O monarca
inglês usou 0 pretexto de reforma religiosa como uma
oportunidade para romper com a igreja católica {romana)
e assim poder divorciar-se e casar-se de novo legalmente, e
alimentar a esperança de ter um herdeiro do sexo masculino.
Durante o curto reinado do seu adoentado filho Eduardo VI
(1547-1553), a teologia de Lutero e Calvino foi introduzida na
Igreja da Inglaterra pelo arcebispo Thomas Cranmer (1489­
1556) por meio de seu livro de Homilies (1547), de seu Livro de
Oração Comum (1552) e dos seus Forty-Two Articles of Religion
(1553). Contudo, essas reformas foram rapidamente revertidas
durante o reinado “sanguinário” de Maria Tudor (1553-1558).
Ela reestabeleceu a missa latina e impôs a obediência inglesa
ao papa romano, ao preço de 270 mártires protestantes,
Thomas Cranmer inclusive.
Quando a rainha Elizabeth (1533-1603) subiu ao trono,
em 1558, muitos que tinham fugido para 0 continente europeu
para escapar à perseguição imposta por Maria voltaram para a
Inglaterra com esperança de continuar as reformas iniciadas
sob Eduardo VI. Embora a rainha tenha designado alguns dos
“exilados marianos” para posições de influência (inclusive
seis bispos), muitos achavam que seus Atos de Uniformidade

61
PAIXAO P E L A PU R EZA

(1559-1562) deixaram a Igreja só “meio reformada”, visto


que ela não livrou a Inglaterra das vestes e cerimônias
clericais, que eram restos do catolicismo. Sua exigência de
estrita observância do Livro de Oração Comum e dos Artigos
da Religião, de Cranmer, pouco fez para satisfazer o anseio
que eles tinham pelo tipo de pregação bíblica que haviam
experimentado nas grandes igrejas reformadas do continente.
Horrorizado com 0 clero imoral e incompetente tolerado pelo
episcopado inglês, Thomas Cartwright (1535-1603) convenceu
muitos, por meio de suas preleções em Cambridge, em 1570,
de que a senda da Reforma requeria o modelo presbiteriano
mais disciplinado praticado em Genebra. Por volta de 1586,
o Book of Discipline começou a circular discretamente entre
ministros interessados; esse livro esboçava novos padrões
para o culto público, os quais asseguravam a pregação da
Palavra e uma apropriada administração das ordenanças.
Uma vez tendo sobrepujado a ameaça do catolicismo
derrotando a armada espanhola em 1588, a rainha dirigiu
novamente sua atenção ao empenho de impor conformidade
dentro da Igreja inglesa. Sua nova Alta Corte de Concessões,
sob o arcebispo John Whitgift (1530-1604) suspendeu
centenas de clérigos, acusando-os de sedição e deslealdade
ao decreto da rainha contra os puritanos, editado em 1593.
Alguns desses ministros expulsos continuaram a pregar e a
ensinar, patrocinados por pessoas da nobreza simpáticas
ao puritanismo, ao passo que alguns começaram a reunir
congregações em lares privados. Apesar de Elizabeth ter
obtido sucesso em pôr fim aos esforços organizados para
reformar a Igreja, uma “ fraternidade espiritual” de pessoas
moderadamente interessadas em reforma continuou a
florescer. Patrick Collinson explica que isso dizia respeito
especialmente a Cambridge, onde estudantes se aglomeravam
para ouvir os sermões de William Perkins (1558-1602), o
“príncipe dos teólogos puritanos”. Durante 0 seu ministério
na Great St. Andrews Church, Perkins mantinha a

62
Breve História do Puritanismo Inglês

imprensa da universidade ocupada imprimindo seus livros


sobre a teologia reformada e prática, os quais eram lidos
avidamente em toda a Inglaterra. Igualmente influente foi
Laurence Chaderton (1538-1640), o “papa do puritanismo em
Cambridge”, que durante quase quarenta anos, como mestre
e diretor do Emmanuel College, treinou muitos dos mais
talentosos pregadores puritanos da geração subsequente.
Visto que James I (1566-1625) era calvinista, seu acesso
ao trono em 1603 reviveu as esperanças puritanas de reformas
mais amplas. Negando as acusações de que eram “cismáticos
que visavam a dissolução” da Igreja inglesa, a fraternidade
puritana apresentou suas solicitações ao novo rei emH Petição
Milenar (1603), que foi assinada por mil ministros. Eles
apelaram por mudanças na administração do batismo e no
uso de vestes, na necessidade de autoexame antes da Ceia do
Senhor, na substituição de bispos faltosos por clérigos capazes
de pregar, e por maior restrição pelos tribunais eclesiásticos
na excomunhão de leigos e na suspensão de ministros.
Em 1604, James I realizou uma conferência em Hampton
Court para considerar as solicitações deles. Contudo, re­
conhecendo que a sua supremacia real estava ligada ao
episcopado inglês, James declarou abertamente seus temores:
“Não havendo bispo, não há rei”. Embora tenha concordado
em produzir uma nova tradução da Bíblia para ajudar os
pregadores ingleses - a King James Version, exigiu que todo
o clero se conformasse à liturgia e ao governo da Igreja da
Inglaterra. Para assegurar isso, o rei começou uma nova
campanha para impor conformidade cerimonial através
dos seus bispos. De 1604 a 1609, quase noventa ministros
foram suspensos do ofício, entre eles John Robinson (1575­
1625), que migrou para a Holanda com o pró-separatista
William Bradford (1589-1657), futuro governador da colônia
de Plymouth. Em 1609 William Ames (1576-1633) também
foi expulso da Universidade de Cambridge e fugiu para a
Holanda, onde se tornou um dos maiores teólogos puritanos.

63
PAIXAO P E L A PU REZA

Após essas suspensões iniciais, James I foi ficando mais


tolerante para com os pastores puritanos devido à pressão
exercida por membros do parlamento simpáticos à causa
puritana. As tensões foram ainda mais abrandadas pelo apoio
do rei ao calvinismo no Sínodo de Dort (1618,1619) e por um
crescente número de puritanos moderados que encontraram
meios de fazer concessões a fim de continuarem seu serviço
dentro da Igreja inglesa. Estes eram liderados por Laurence
Chaderton, que continuou como diretor do Emmanuel
College até 1622, e por Richard Sibbes (1577-1635), que serviu
como pregador na Holy Trinity Church, em Cambridge,
e posteriormente em Gray’s Inn, em Londres. A posição
moderada de Sibbes nas questões eclesiásticas permitiu
que sua popularidade aumentasse até mesmo durante o
contencioso reinado de Charles I (1625-1640).
O casamento de Charles, em 1625, com Henrietta Maria,
católica devota, acendeu imediatos temores entre os ministros
puritanos e o parlamento de que o novo rei tinha a intenção de
levar a Inglaterra de volta a Roma. As suspeitas aumentaram
quando Charles nomeou seu conselheiro de confiança, William
Laud (1573-1645), como bispo de Londres, em 1628. Embora
Laud se opusesse à autoridade do papa, a reintrodução que
fez de muitas formas católicas de culto e o apoio que deu à
teologia arminiana afligiam 0 clero puritano. Depois que
Charles I dissolveu o parlamento e assumiu pessoalmente o
governo, em 1629, o bispo Laud iniciou uma feroz perseguição
aos puritanos. Proibiu a pregação da predestinação, exigiu
que todo 0 clero usasse o livro de oração e vestes clericais, e
fez com que os leigos se ajoelhassem antes de receber a Ceia
do Senhor. Depois que foi nomeado arcebispo da Cantuária,
em 1633, Laud se opôs à observância puritana do Sabbath,
exigindo que o Book of Sports fosse lido em todos os púlpitos,
sob ameaça de suspensão.
Caçados pelos agentes de Laud, muitos puritanos
preferiram emigrar, ou para a Holanda, ou para a Nova

64
Breve História do Puritanismo Inglês

Inglaterra, nos Estados Unidos. Em 1630, John Winthrop


(1588-1649) chefiou 0 primeiro grande êxodo puritano
para Massachusetts, a bordo do Arbella (com Simon e Anne
Bradstreet), como parte da flotilha de sete navios. Durante
a década seguinte, alguns dos mais estimados pregadores da
Inglaterra, inclusive John Cotton, Thomas Hooker e Thomas
Shepard, juntaram-se aos 13.000 emigrantes que navegaram
para a Nova Inglaterra.
A escalada das táticas repressivas de Laud em 1637
comprovaram-se desastrosas para 0 rei Charles. Seu bárbaro
tratamento dos não-conformistas puritanos, como William
Prynne (1600-1669), cujas orelhas foram cortadas e o rosto
marcado com ferro em brasa, trouxe de volta lembranças
das brutais perseguições movidas contra os protestantes pela
rainha Maria. A tentativa de Laud de impor a liturgia angli-
cana aos presbiterianos escoceses galvanizou sua resistência
nacional, que levou à adoção, em 1638, do Pacto Nacional
que añrmava a fé reformada e a liberdade da Igreja na
Escócia. A fracassada guerra do rei contra os “pactuários”
escoceses e sua recusa a trabalhar com o parlamento incitaram
mais oposição, forçando finalmente Charles a fugir de Londres
em maio de 1642. Aliado aos presbiterianos escoceses e com
0 apoio do clero puritano, o Grande Parlamento rejeitou a
alegação do divino direito dos reis feita por Charles, lançando
o país numa guerra civil. Ficou provado que Charles I e
seu exército de cavaleiros não eram páreo para a brilhante
liderança de Oliver Cromwell (1599-1658) e seu Novo Exército
Modelo de soldados puritanos. O parlamento prendeu o
arcebispo Laud e o executou por traição em 1645. Depois da
derrota dos realistas, Charles, da prisão, negociou um tratado
secreto com os escoceses que levou a maiores hostilidades.
Por seu papel em prolongar a guerra civil, 0 rei foi julgado e
executado em 30 de janeiro de 1649.
Durante toda a Guerra Civil Inglesa (1642-1648), sob
a direção do parlamento, mais de cem líderes puritanos se

65
PAIXAO P E L A PUREZA

reuniram na Abadia de Westminster para redigir uma nova


confissão de fé para a Igreja nacional. Embora concordassem
em geral sobre a teologia calvinista, surgiram divergências
entre a maioria que defendia uma Igreja nacional presbiteriana
e uma pequena, mas articulada, minoria de independentes,
liderados por Thomas Goodwin, que argumentavam
defendendo o direito das congregações de se governarem.
Einalmente chegaram a um consenso que advogava a formação
voluntária de presbitérios congregacionais por todo 0 país.
A Igreja da Escócia imediatamente aprovou a Confissão de
Westminster, assim que ficou completa, em 1647, seguida pelos
congregacionais da Nova Inglaterra, em 1648. Uma década
depois, os congregacionais ingleses se reuniram em Londres e
adotaram a Confissão de Westminster em sua Declaração
de Savoy (1658), com apenas modificações insignificantes
sobre o governo da Igreja. Dessa forma, a Confissão de
Westminster tornou-se 0 padrão doutrinário para a teologia
puritana.
A despeito da grande realização em Westminster, qualquer
aparência de solidariedade entre os não-conformistas
rapidamente desapareceu com o fim da monarquia. Depois
da criação de uma nova república, as tensões políticas entre
presbiterianos e independentes no parlamento continuaram
a crescer. Para evitar paralisação, Cromwell dissolveu
o parlamento em 1653 e governou 0 país como Lorde
Protetor até sua morte, em 1658. A garantia das liberdades
religiosas dada por Cromwell permitiu crescimento sem
precedentes entre quase todos os segmentos religiosos. Os
independentes foram promovidos a posições de grande poder
dentro da república puritana. John Owen, por exemplo, foi
nomeado vice-chanceler de Oxford, ex-fortaleza realista.
Desafortunadamente, as novas liberdades religiosas tiveram
vida curta. A fracassada tentativa feita por Richard Cromwell
de suceder a seu pai criou uma complexa crise política que
precipitadamente levou à restauração da monarquia em 1660.

66
Breve História do Puritanismo Inglês

Apesar das promessas de Charles II de preservar a liberdade de


consciência, os anglicanos realistas, impelidos pelo desejo de
revanche, pressionaram o rei para reinstaurar a conformidade
religiosa por meio de uma série de leis conhecida como Código
Clarendon (assim denominado por referência ao Lorde
Chanceler Edward Hyde, conde de Clarendon).
Começou, assim, o período de dissidência que resultou na
perseguição e na prisão de muitos pastores puritanos famosos,
inclusive João Bunyan e Richard Baxter. Em 1662, o Ato de
Uniformidade exigia que os ministros puritanos repudiassem
as suas ordenações denominacionais, renunciassem a seu
juramento de adesão à Solene Liga e Aliança, e fossem
reordenados sob os bispos. Quase dois mil ministros (um
quinto de todo o clero) recusaram-se a conformar-se e foram
expulsos das suas paróquias no dia de São Bartolomeu, 24
de agosto de 1662. A Lei sobre Conventículos, proibindo os
não-conformistas de pregar nos campos e de dirigir
cultos nos lares, foi acompanhada em 1665 pela Lei das
Cinco Milhas, que proibia os ministros expulsos de chegarem
perto de cinco milhas das suas antigas paróquias e de qual­
quer cidade e vila.
Embora os puritanos tenham sido barrados dos púlpitos
e das universidades, as medidas de repressão não podiam
silenciar suas penas. Depois de 1662, à sombra da perseguição,
eles produziram algumas das suas obras teológicas e de devoção
mais apreciadas (e.g., The Pilgrim’s Progress - O Peregrino). Posto
que as esperanças de uma república puritana continuassem a
cintilar na Nova Inglaterra, a força do puritanismo se esvaía
rapidamente na velha Inglaterra. Lamentavelmente, muitos
dos puritanos proeminentes morreram antes da suspensão
da perseguição em 1689, pela Lei da Tolerância, sob William1
e Mary. Banidos dos pátios das igrejas mesmo depois de sua
morte, muitos puritanos, entre os quais João Bunyan, Thomas

' William III (1650-1702). Ñola do tradutor.

67
PAIXAO P E L A PUREZA

Goodwin e John Owen, foram sepultados num cemitério


não-conformista especial, em Bunhill Fields, Londres. Perto
do fim do século, muito da paixão puritana para reformar a
Igreja da Inglaterra foi redirecionado no sentido da formação
de várias denominações dissidentes, então legalmente
permitidas pelo governo inglês.

extraído de The Devoted Life, obra editada por Kelly


M. Kapic e Randall C. Gleason. Copyright © 2004,
por Kelly M. Kapic e Randall C. Gleason.
Usado com permissão da InterVarsity Press, RO. Box
1400, Downers Grove, IE 60515. www.ivpress.com

68
Thomas Adams
(1583-1652)

'homas Adams graduou-se pelo Trinity College,


T! Cambridge, com o grau de Bacharel em Artes, em 1602, e
quatro anos mais tarde, com o grau de Mestre em Artes, pelo
Clare College. Ordenado diácono e presbítero na diocese de
Lincoln em 1604, serviu como vigário adjunto' de Northill,
Bedfordshire de 1605 a 1611. Quando seu novo superior 0
despediu, os paroquianos de Adams assinaram uma petição
declarando que ele se havia “conduzido sobriamente em seu
procedimento, arduamente em seu ofício, amorosamente entre
os seus vizinhos, em conformidade com as ordens da Igreja, e
em todos os aspectos de maneira própria da sua vocação” (J.
Maltby, Prayer Book and People in Elizabethan and Early Stuart
England, p. 78). Esse testemunho pode ter ajudado Adams a
assegurar uma nomeação no ano seguinte como vigário de
Willington, Bedfordshire.
Em 1614 ele se tornou vigário de Wingrave, Buckingham­
shire, e depois, em 1619, mudou-se para Londres, onde lhe
foram confiados as reitorias de St Benet Paul’s Wharf e da
pequena igreja de St. Benet Sherehog. Quanto a seus cinco
primeiros anos em Londres, também foi leitor na St. Gregory,1
1 Curate

69
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

uma paróquia de 3.000 pessoas. Tempos depois, ele pregava


ocasionalmente em St. Paul’s Cross e Whitehall, e serviu como
capelão de Henry Montagu, Primeiro Conde de Manchester
e Presidente do Tribunal real.
Adams era um poderoso pregador, um escritor muito
citado e um teólogo influente. Líderes proeminentes da Igreja
e do Estado, tais como John Donne e o conde de Pembroke,
estavam entre os seus amigos.
Adams era mais episcopal calvinista do que puritano.
Ele não se opunha à exigência de o participante ajoelhar-se
antes de receber a Ceia e temia que a abolição do episcopado,
{questão} defendida por alguns puritanos, levasse ao ana-
batismo. Não obstante, Adams é incluído aqui porque ele
abraçou a teologia, a polêmica e o estilo de vida puritanos.
J. Sears escreve: “Como os puritanos, ele insistia na zelosa
observância do descanso no domingo e era profundamente
hostil a Roma, aos jesuítas e ao papado, bem como à ociosidade,
à condescendência excessiva com os prazeres do mundo e a
todas as formas de alto e ostensivo consumo” (Oxford DNB,
1:261). Essas coisas, combinadas com o eloquente estilo com
que escrevia, levaram Robert Southey a descrevê-lo como “na
prosa, o Shakespeare dos teólogos puritanos” .
Adams compartilhava a preocupação puritana com a
necessidade de expurgar a Igreja da Inglaterra dos restantes
vestígios do catolicismo romano ou do “papado”, como era
então chamado. Sua franca expressão dessa preocupação e de
sua identificação com os puritanos em muitas áreas ofendeu
William Laud, arcebispo da Cantuária; sem dúvida, isso
impediu sua promoção na Igreja. Ao mesmo tempo, Adams
era solidamente leal ao rei, e assim se viu objeto do desfavor
de Cromwell, provavelmente sofrendo isolamento sob o
Protctorado, e foi deixado a passar seus dias como dependente
da caridade alheia no que ele descreveu, na dedicatória de
sua obra publicada postumamente, Anger and Man’s Comfort,
(1653), como a sua “pobre e decrépita velhice”.

70
Thomas Adams

Pouco se sabe da parte mais tardia da carreira de Adams.


Ao que parece, ele não escreveu nada para publicação durante
os últimos vinte anos da sua vida. Morreu em 1652. Alexander
B. Grosart escreveu sobre ele: “Thomas Adams permanece
na linha de frente dos nossos grandes pregadores ingleses.
Ele não é tão determinado como Jeremy Taylor, nem tão
continuamente esplêndido como Thomas Fuller, mas é
superiormente eloquente e brilhante, e muito mais cheio de
idéias do que ambos esses”.

The Complete Works of Thomas Adams (TP; 3 volumes,


1.148 páginas; 1998). Em 1629, Adams organizou os seus
sermões em maciço infolio, subsequentemente impresso em
três volumes na série de Nichol reimpressa de 1861 a 1866. Os
sermões de Adams têm sido admirados desde a sua primeira
publicação; eles “o colocaram, sem comparação, na vanguarda
dos pregadores da Inglaterra, e tiveram influência na formação
de João Bunyan. ... Suas numerosas obras revelam grande
cultura clássica e patrística, e são únicas em sua abundância
de histórias, anedotas, aforismos e trocadilhos” (Encyclopedia
Britannica, 11a edição, 1:181).
O volume 1 das obras de Adams contém seus sermões
sobre textos do Velho Testamento, como God’s Bounty,
sobre Provérbios 3:16, e Mystical Bedlam, sobre Eclesiastes
9:3. O volume 2 contém seus sermões sobre textos do Novo
Testamento, e o volume 3 contém o corpus restante dos sermões
sobre o Novo Testamento, como também meditações sobre
0 Credo dos Apóstolos e cinquenta páginas de memórias de
Adams, escritas por Joseph Angus.
Os sermões de Adams são evangélicamente eloquentes e
bíblicamente fiéis. James I. Packer escreve:

Seu gosto por alegorias evangélicas e por

71
PAIXAO PKLA PU R EZA

pirotecnia verbal, porém, tornam seus sermões


vigorosos, antes que pesados. Sua doutrina é
calvinista, sem nenhuma ambiguidade, mas com
orientação mais pastoral que especulativa ou polêmica.
Ele não se aprofunda no assunto relacionado com a
experiência cristã, porém é calorosamente evangélico
na exaltação do poder de Cristo, da graça e da fé. Os
temas sobre os quais ele é mais constante e mais
completo são, contudo, os diferentes tipos de pecado,
a anatomia da hipocrisia, e os estratagemas de
satanás. Como acontece com todos os puritanos, ele
é um pensador inteiramente teocêntrico, e diz muita
coisa esclarecedora sobre os métodos pelos quais
Deus trata com os pecadores, tanto com misericórdia
como com juízo. Não mostra nenhuma simpatia
pelo programa puritano de reforma da Igreja, mas 0
descarta como 0 faz com todas as formas de sectarismo
e separatismo. Ele é vigorosamente explícito contra
Roma (The Encyclopedia of Christianity, ed. Edwin Η.
Palmer, 1:63).

*A Commentary on the Second Epistle General of St. Peter


(SDG; 899 páginas; 1990). Em 1663, Adams publicou um
extenso comentário sobre a Segunda Epístola de Pedro.
Nunca foi incluído em nenhuma edição de suas obras.
Contudo, o livro de 900 páginas, em duas colunas, foi editado
por James Sherman e impresso em Londres, em 1839. A obra
é exegeticamente confiável e estilísticamente habilidosa.
Muito conhecimento teológico proveitoso é transmitido
com frases notáveis. Spurgeon comentou que esse livro foi
0 melhor comentário puritano impresso por iniciativa da
editora de James Sherman. Está “ repleto de elegância, santa
perspicácia, pensamento brilhante e profunda instrução; não
temos conhecimento de nenhuma leitura mais rica e mais
espirituosa”, disse Spurgeon.

72
Thomas Adams

Por exemplo, sobre 2 Pedro 3:9: “O Senhor não retarda


a sua promessa”. {VA: “O Senhor não é negligente no que
se refere à sua promessa” }, Adams escreve: “Outra causa
da aparente negligência do Senhor em não nos libertar
no presente, é a nossa negligência em não louvá-10 pelos
livramentos passados. Ingratidão; essa é a bruxa, a feiticeira,
cujos entorpecedores encantamentos fazem com que até nos
esqueçamos de Deus. Se nós O esquecemos, como podemos
culpá-10 por deixar de lembrar-Se de nós?” (p. 688).

73
Henry Ainsworth
(1569-1622)

D escendente de burgueses, natural de Swanton Morley,


Norfolk, Henry Ainsworth completou sua educação
formal como acadêmico, primeiro no St. John College, e
depois no Gonville e Caius College, Cambridge, de 1586 a
1591. Associou-se ao partido puritano que havia na igreja,
mas eventualmente se juntou aos separatistas, aqueles
congregacionais que não queriam esperar por reforma operada
de dentro. Esses primeiros congregacionais eram escarnecidos
por todos os lados como “ brownistas”, pelo nome do seu mais
antigo e importante representante, Robert Browne (c. 1550­
1633), que se tornou um exemplo quanto a extremismo e
instabilidade.
A perseguição na Inglaterra logo compeliu os separatistas a
buscarem refúgio na Holanda. Ainsworth chegou a Amsterdam
em 1593, onde viveu na pobreza e na obscuridade, trabalhando
como carregador de um livreiro. Logo os seus brilhantes dotes
como hebraísta e os seus estudos rabínicos abriram caminho
para coisas melhores. A parte exilada da congregação separatista
de Londres reagrupou-se em Amsterdam sob a liderança de
Ainsworth na qualidade de “doutor” ou mestre da igreja.
Ainsworth foi autor “total ou parcialmente” da confissão de

74
I ferny Ainsworth

fé da igreja lançada em 1596, um dos mais primitivos credos


ou plataformas do congregacionalismo. O texto da confissão
de 1596 foi reimpresso com introdução e notas como “A
Segunda Confissão da Igreja de Londres-Amsterdam”, que
consta no livro de Williston Walker, The Creeds and Platforms
of Congregationalism (New York: The Pilgrim Press, 1991).
Em 1597, a Ainsworth juntou-se Francis Johnson
(1562-1618), que se tornou pastor da igreja. Os dois vieram
a divergir-se sobre um ponto muito discutido da política
congregacional, a saber, se as decisões dos oficiais da Igreja
deveriam ser submetidas à deliberação da congregação.
Depois de muitos esforços para conciliação, Ainsworth e os
que o apoiavam retiraram-se em 1610 para seguir seu próprio
caminho como “ainsworthianos” .
Nos doze anos seguintes, Ainsworth ocupou-se da prega­
ção e ensino e se viu envolvido em controvérsias grandes e
pequenas, tudo isso enquanto dava sequência a seus estudos
e produzia uma grande quantidade de obras escritas, entre
as quais alguns verdadeiros monumentos de erudição,
estando entre estes suas Annotations. Ainsworth tem sido
chamado “o mais firme e mais culto campeão dos princípios
representados pelos congregacionais primitivos”. Como tal
ele era grandemente desprezado, mas as suas habilidades
e realizações como erudito não podiam ser negadas. Suas
contrastantes reputações redundaram em que “muitos, como
os enciclopedistas L. Moréri e J.H. Zedler, criaram dois “Henry
Ainsworth” - um, o Dr. Henry Ainsworth, culto comentarista
bíblico; 0 outro, H. Ainsworth, um arqui-herege e “o caudilho
dos separatistas em Amsterdam” (Encyclopaedia Britanmca,
11a. edição, 1:440,1441).
Ainsworth tinha, com justiça, a reputação de genuína
piedade e bondade cristã. Uma das suas muitas contribuições
para a literatura cristã foi 0 “Ainsworth’s Psalter”, sua versão
metrificada dos Salmos, utilizada pelos separatistas na
Holanda e levada para além-mar, para a Plymouth Plantation,

75
ΡΑΙΧ AO P E L A PUREZA

pelos País Peregrinos em 1620, dois anos antes do falecimento


de Ainsworth.

Annotations on the Pentateuch, or the Five Books of Moses;


the Psalms of David, and the Song of Solomon (SDG; 2
volumes; 1524 páginas; 1991). Ainsworth fez 0 seu melhor
trabalho com os Salmos, que ele traduziu para 0 inglês, tanto
em prosa como em verso. Sua obra tem sido consultada
frequentemente por tradutores ingleses do Velho Testamento.
Ainsworth interpreta Cantares de Salomão alegóricamente,
vendo-o como “tratando da reconciliação do homem com
Deus e da paz mediante Jesus Cristo, com alegria no Espírito
Santo”.
Teólogos americanos e britânicos elogiaram as Annotations,
por Ainsworth. Philip Doddridge escreveu: “Ainsworth sobre
o Pentateuco, Salmos e Cantares de Salomão, é um bom livro,
impregnado de valioso conhecimento judaico; e sua tradução,
em muitos lugares, é preferível à nossa própria, especialmente
nos Salmos”.
De há muito, as Annotations, por Ainsworth, são uma
necessidade na biblioteca do pastor. Seus comentários são
precisos, e sua perícia em antiguidades o habilita a oferecer
percepções valiosas em várias passagens.

76
Henry Airay
(1560-1616)

H enry Airay nasceu perto do Lago Windermere, em


Westmorland. Seu pai, William Airay, era cunhado
ou o servo favorito de um clérigo rico, Bernard Gilpin,
relembrado como “o apóstolo do norte”, por seus muitos
labores e atividades caridosas ali. Graças à bondade de Gilpin,
Henry foi educado na escola secundária local que Gilpin tinha
construído e doado, e posteriormente foi enviado a Oxford, às
expensas de Gilpin. Embora Gilpin tenha morrido enquanto
Airay ainda não se formara, Gilpin tinha feito provisão em
seu testamento para a continuidade da educação de Airay.
Airay iniciou seus estudos universitários em St. Edmund’s
Hall em 1580, mas logo se transferiu para o Queen’s College,
onde lhe foram outorgados os graus de Bacharel em Artes
(1583), Mestre em Artes (1586), Bacharel em Teologia (1594) e
Doutor em Teologia (1600). Airay tornou-se membro do corpo
docente diretivo em 1586 e exerceu vários cargos universitários
nas poucas décadas seguintes. Em 1599, foi eleito reitor do
Queen’s, e em 1606, tornou-se vice-chanceler de Oxford.
Durante a sua vice-chancelaria, Airay censurou William Laud
por pregar o que Airay considerava “papismo em St. Mary’s”.
Por volta de 1586, Airay foi ordenado para o ministério

77
PAIXAO P E L A PUREZA

e veio a ser um frequente e zeloso pregador na universidade.


Sua obra Lectures on Philippians (publieada postumamente
em 1618) é considerada um espécime da sua pregação, de sua
fiel exposição da fé reformada e de sua oposição a tudo o que
cheirasse de “papismo” na Igreja nacional.
Airay aceitou a reitoria de Charlton-on-Otmoor, próxi­
mo de Oxford, em 1606. Em 1615, ele se tornou reitor de
Bletchingdon, Oxfordshire. Morreu no dia 6 de outubro de
1616. Um ano depois, Christopher Potter, um primo que
Airay fizera seu testamenteiro, elogiou Airay como “notável
e estimado por sua santidade, sua integridade, sua cultura e
seriedade, suas infatigáveis e penosas lutas no cumprimento
das suas funções ministeriais, [e] por sua singular sabedoria
e destreza no governo do nosso [Queen’s] College, que, pela
bênção de Deus sobre o seu cuidado, enviou muitos ministros
bem preparados à Igreja” .

Lectures upon the Whole Epistle of St. Paul to the Philippians


(TENT; 410 páginas; 2001). Constituindo a substância dos
seus noventa e cinco sermões, a obra Philippians, por Airay
(reimpressa da série de Nichol, 1864), oferece uma inteira
compreensão do pensamento e da clara instrução de Paulo
com agudas aplicações sobre cada passagem. Nesses sermões,
Airay insiste em pôr o ensino paulino em ação. Prolífico
sem ser repetitivo, este livro é pontilhado de pensamentos
centralizados em Cristo, como o seguinte, sobre Filipenses
3:10: “Noto dois motivos pelos quais o apóstolo considerava
as aflições uma vantagem para ele: primeiro, porque nas
aflições ele tinha comunhão com Cristo. Segundo, porque
pelas aflições ele era feito semelhante a Cristo” (p. 259).
Philippians, de Airay, é, como diz Alexander Grosart, o
seu “monumento único e permanente”. Também ligado a este
livro está o comentário de Colossenses, de Thomas Cartwright
(ver Cartwright).

78
Joseph Alleine
(1634-1668)

ascido em Devizes, Wiltshire, no início de 1634, Joseph


Alleine amava e servia o Senhor desde a infância. Uma
testemunha da época identificou 1645 como o ano em que
Alleine “começou a corrida cristã”. Da idade de onze anos em
diante, “todo o curso da sua juventude foi uma ininterrupta
corrente de procedimento piedoso”. Quando o seu irmão mais
velho, Edward, um clérigo, morreu, Joseph pediu que lhe
fosse permitido educar-se para tomar o lugar de Edward no
ministério da igreja. Ele ingressou em Oxford com a idade
de dezesseis anos e sentou-se aos pés de grandes teólogos
como John Owen e Thomas Goodwin.
Alleine iniciou seus estudos no Lincoln College em 1649.
Dois anos mais tarde, tornou-se aluno de estudos especiais do
Corpus Christi College, onde o corpo docente era, em geral,
mais plenamente puritano do que o do Lincoln. Alleine
estudava longas horas, muitas vezes privando-se de sono e
de alimento. Graduou-se em Oxford em 1653 com o grau de
Bacharel em Artes c se tornou preceptor e capelão do Corpus
Christi College. Também dedicou muito tempo a pregar a
prisioneiros na cadeia do condado, visitar os enfermos e
atender aos pobres.

79
PA IXAO P E L A PUREZA

Em 1655, Alleine aceitou o convite de George Newton,


vigário da Igreja de St. Mary Magdalene, Taunton, Somerset,
para ser seu assistente. Taunton, cidade de produção de lã
manufaturada e que tinha uns 20.000 habitantes, era uma
fortaleza puritana. Logo depois de mudar-se para Taunton,
Alleine casou-se com sua prima Theodosia Alleine, cujo
pai, Richard Alleine, era ministro de Batcombe, Somerset
(ver abaixo). Ela era uma mulher ativa, que temia Deus
profundamente. Logo no início do seu casamento, ela dirigiu
uma escola doméstica de cerca de cinquenta alunos, a metade
deles constituída de internos. Posteriormente ela seria a
biógrafa do seu marido, depois da morte dele.
Alleine levantava-se cedo, dedicando o tempo entre as
quatro e as oito horas a exercícios de culto privado. Sua mulher
lembrava-se de que ele “ ficava muito preocupado se ouvisse
ferreiros ou outros artesãos em seus ofícios, antes de ele estar
em comunhão com Deus, muitas vezes me dizendo: “Como
este ruído me enche de vergonha! Será que meu Mestre não
merece mais do que o deles?”
Seu ministério em Taunton como pregador e pastor foi
muito frutífero. Richard Baxter recordou “a grande habilidade
ministerial de Alleine na explicação e aplicação pública das
Escrituras - tão persuasiva, tão convincente, tão poderosa” .
Alleine era também um excelente professor, dedicando muito
tempo a instruir seu povo, usando o Breve Catecismo. Era um
ardoroso evangelista. Um contemporâneo escreveu: “Ele era
infinita e insaciavelmente ávido pela conversão de almas,
no que ele teve não pequeno sucesso” .
Expulso por não conformidade em 1662, Alleine
aproveitou a oportunidade para aumentar os seus labores
públicos, acreditando que o tempo que lhe restava era pouco.
Pregou em média um ou dois sermões por dia, durante nove
meses, até quando foi detido e lançado na prisão de Ilchester.
Na noite anterior, Alleine tinha pregado e tinha orado com seu
povo durante três horas, e tinha declarado: “Glória seja dada a

80
Joseph A llá n e

Deus que me considerou digno de sofrer por Seu evangelho!”


A cela da prisão de Alleine veio a ser o seu púlpito, pois
ele continuou a pregar a seu povo através das grades. Ele
escreveu também numerosas cartas pastorais e muitos artigos
teológicos. Solto em 20 de maio de 1664, após cerca de um
ano na prisão, reassumiu seu ministério proibido até ser
detido novamente, em 10 de julho de 1665, por manter um
conventículo. Mais uma vez libertado da prisão, seu tempo
restante foi “cheio de perturbações e perseguições, suportadas
nobremente” . Voltou para Taunton em fevereiro de 1668, onde
adoeceu gravemente. Nove meses depois, com trinta e quatro
anos de idade, cansado do duro trabalho e sofrimento, Alleine
morreu na plena certeza da fé, louvando a Deus e dizendo:
“Cristo é meu, e dEle eu sou - por Sua aliança” .

The Act of Conformity (RE: 47 páginas; sem data). Este


pequeno e polêmico tratado está ligado à edição, de RE
Publications, do livro por Alleine Alarm to the Unconverted.
Não está incluido na lista das obras compiladas por Charles
Stanford em 1861. Ninguém tem certeza de que foi escrito por
Alleine, embora o seu estilo seja semelhante ao das suas outras
obras. A obra é um exame em profundidade do Juramento de
Lealdade decretado em 24 de agosto de 1662 e, seja ele ou não
o autor, um ministro não conformista poderia subscrevê-lo
conscientemente. Esse livro, The Act of Conformity, apresenta
um enfático “Não”, dizendo: “ Fazer esse juramento animará
o parlamento (quando vir quão leviana e brandamente
engolimos a pílula) a se considerar infalível quando o impõe,
ou a considerar-nos almas dúcteis, flexíveis e sequazes” (p. 45).

An Alarm to the Unconverted (BTT; 148 páginas; 1995). Este


clássico evangélico foi impresso pela primeira vez em 1671
(subtítulo: A Serious Treatise on Conversion), quando foram

81
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

vendidos 20.000 exemplares, e subsequentemente reimpresso


em 1675 como A Sure Guide to Heaven {Um Guia Seguro
para o Céu1}, título dado às edições de BTT mais recentes.
É um poderoso manual sobre a conversão e sobre o chamado
do evangelho, como os títulos dos capítulos revelam: Erros
a respeito da Conversão: A Natureza da Conversão; A
Necessidade da Conversão; As Características dos que Não
são Convertidos; As Misérias dos que Não são Convertidos;
Orientações para os que Não são Convertidos; Os Motivos
para a Conversão.
O modelo de evangelização puritana de Alleine é muito
próprio para corrigir as distorções atuais do evangelho. Por
exemplo, ele mostra que separar os ofícios e os benefícios de
Cristo não é uma nova ideia. O verdadeiro convertido está
disposto a receber Cristo, tanto como Salvador que nos liberta
do pecado, como Senhor da sua vida. Ele afirma:

Tudo 0 que diz a respeito de Cristo é aceito


pelo verdadeiro convertido. Ama não apenas
o salário, mas também a obra de Cristo, não
somente os benefícios, mas o serviço de Cristo
também. Está disposto não apenas a esmagar o
trigo, mas a submeter-se ao jugo também. Aceita
os mandamentos de Cristo - sim, também a cruz
de Cristo. O falso convertido não aceito Cristo
inteiramente. Deseja a salvação que está em
Cristo, entretanto não deseja a santificação. Quer
os privilégios, mas não se apropria da Pessoa de
Cristo. Divide entre os ofícios e os benefícios de
Cristo. E um erro no alicerce. Todo aquele que ama
a vida, acautele-se acerca disso. Trata-se de um
erro grave, do qual você têm sido advertido muitas
vezes, contudo, nenhum outro ocorre com tanta
frequência (p. 55-56).
1 Segunda edição em português publicado pela PES, sob esse título, em 2002.

82
Joseph A llá n e

Esse livro, reimpresso umas quinhentas vezes e o mais


famoso dos dezenove tratados de Alleine, tem sido utilizado
para a eonversão de muitas almas. Influenciou a abordagem
evangelística de pregadores famosos como George Whitefield e
Charles Spurgeon. A despeito de uma simplificação superficial
de algumas declarações que podem ser mal interpretadas
no sentido de promover a capacidade humana na salvação,
o clássico de Alleine permanece como um exemplo de ouro
da pregação evangelística e uma aguilhoada incentivando a
evangelização pessoal.

The Life and Letters of Joseph Alleine (RHB, 332 páginas,


2003). Ainda não foi escrita uma biografia definitiva de
Alleine. A mais longa e documentada narrativa do século
dezessete foi escrita por sua esposa, Theodosia, em seguida
a sua expulsão e ao seu aprisionamento depois da aprovação
do Ato de Uniformidade em 1662. Em 1672, quatro anos
depois da sua morte e um ano depois da primeira impressão
de Alarm to the Unconverted, a obra de Alleine, Christian
Letters, Lull of Spiritual Instructions foi publicada em Londres.
No ano seguinte, fragmentos de informação biográfica e de
reminiscências pessoais foram reunidos por sua viúva e por
Richard Baxter, e foram publicados com suas cartas. Esse
livro foi reimpresso com correções em 1677 como The Life
and Death of that Excellent Minister of Christ Mr. Joseph Alíeme,
(Londres: Nevil Simmons).
Impressões adicionais do volume de 1677 com pequenos
acréscimos e correções ocorreram em 1806, publicadas
por J. Gemmill; em 1829, pela American Sunday School
Union; e em 1840, por Robert Carter, em Nova Iorque. A
impressão de RHB, de 2003, inclui a edição de Carter, mais
duas cartas da edição de Gemmill e três cartas de Remains de
Alleine. E assim, pela primeira vez, todas as quarenta e nove
cartas de Alleine existentes estão impressas num só volume.
Um apêndice contém 0 sermão pregado no funeral de Joseph
Alleine, por George Newton (Londres: Nevil Simmons, 1677).

83
PAIXAO P E L A PUREZA

A biografia de Charles Stanford intitulada Joseph Alleine:


His Companions and Times apareceu em 1861. Embora Charles
Spurgeon a tenha chamado “ biografia admirável”, ela também
é incompleta, sem dúvida em parte devido à escassez de
detalhes sobre a vida de Alleine. Embora a obra Life and Letters
de Alleine sofra algo por não ser uma narrativa documentada,
ela tem a vantagem de ter sido escrita por contemporâneos
de Alleine. Mesmo contendo alguma repetição e tendências
hagiográficas, essas páginas mostram 0 retrato de um ministro
que tinha um grande coração para Deus e para as preciosas
almas que estavam sob 0 seu ministério.
Nesse livro, Richard Baxter escreveu 0 capítulo 1 da
biografia de Alleine. Richard Alleine, seu sogro, escreveu 0
capítulo 3. Outros capítulos foram escritos por seu colega
mais velho, George Newton (cap. 4), sua viúva (cap. 6), seu
amigo chegado e colega de ministério, Richard Fairclough
(cap. 9). Os capítulos restantes foram escritos por diversos
amigos chegados que preferiram permanecer anônimos.
Valioso como é o relato da vida de Alleine feito por seus
contemporâneos, suas cartas, que formam a segunda metade
do livro, são de valor maior. Enquanto a narrativa de sua vida
nos dá um relato das suas circunstâncias externas, suas cartas
revelam as fontes secretas do seu coração, pondo à mostra o
fervor de um evangelista, 0 coração de um pastor e a paciência
de um sofredor por Jesus Cristo. Muitas dessas cartas foram
escritas na prisão, destinadas aos paroquianos de Taunton,
quando já não lhe era permitido ministrar-lhes a Palavra
de Deus em pessoa. Com sua ênfase em Cristo e na genuína
piedade, essas cartas exalam a própria atmosfera do céu. Eis
uma passagem que expressa o seu amor por seu povo de
Taunton:

Vocês são pessoas que estão em meu coração e


cujo bem-estar é objeto de minha contínua oração,
cuidado e estudo. E, oxalá, eu soubesse fazer-lhes

84
Joseph Alleine

bem! Como me pesa pensar em quantos de vocês


ainda permanecem em seus pecados, após tantos e
tão prolongados esforços em conduzi-los a conversão
e trazê-los a Cristo! Mais uma vez, amados, mais
uma vez, ouçam o chamado que 0 Deus altíssimo
lhes faz. A prisão lhes prega a mesma doutrina que
o púlpito prega. Ouçam, meu povo, ouçam; 0 Senhor
da vida e da glória lhes oferece toda a misericórdia, e
paz, e bem-aventurança. Oh, por que vocês haverão
de morrer? Quem quiser, beba de graça das águas
da vida. Minha alma se aflige por vocês. Ah, se eu
apenas soubesse que argumentos usar para vocês;
quem vai escolher as minhas palavras para mim, para
que eu prevaleça sobre os pecadores para que não
rejeitem a misericórdia que se oferece em favor deles?
Como conseguirei adentrar seus corações? Como
os alcançarei? Oh, se eu tão-somente soubesse as
palavras que se cravariam neles! Se eu apenas pudesse
colocar-me entre os seus pecados e eles! (pp. 150,151).

Verdadeiramente, como diz Iain Murray, “Nunca o


evangelho de Jesus Cristo se inflamou mais fervorosamente
em nenhum coração inglês!”
Quando 0 missionário escocês Alexander Duff (1806-1878)
leu esse livro, ficou impressionado com a rica variedade de dons
e graças de Alleine, seu maduro critério de julgamento, sua
fervorosa devoção e sua penetrante seriedade. Duff escreveu:
“Que zelo inextinguível! Que insaciável sede de conversão dos
pecadores perdidos! Que incansável vigilância na advertência
e edificação dos santos! Que profunda humildade e auto-
rebaixamento à vista de Deus! Que paciência e clemência, que
brandura e generosidade, que afabilidade e moderação! Que fé
triunfante - que tranquila, ainda que arrebatadora, alegria!” Não
admira que João Wesley chamasse Alleine “0 Rutherford inglês”.
Numa época em que o desejo de felicidade pessoal e de

85
ΡΑΙΧ AO ΡΗ LA PUREZA

autoestima substituiu o mandato bíblico de santidade da


vida, a leitura da vida e das cartas de Alleine pode ser um
real tónico para a alma.

The Precious Promises of the Gospel (SDG; 40 páginas; 2000).


Este opúsculo é extraído da obra Heaven Opened, de Richard
Alleine. É um dos dots capítulos escritos por Joseph Alleine.
Personificando Deus ao falar a Seu povo, Alleine nos propicia
uma comovente declaração do amoroso e misericordioso
coração do triúno Deus, revelado nas promessas das Escrituras,
tecidas em quase cada frase.

86
Richard Alleine
(1611-1681)

O tio e sogro de Joseph Alleine, Richard Alleine, nasceu


em Ditcheat, Somersetshire, onde seu pai foi reitor da
igreja paroquial por mais de 50 anos. Seu pai serviu como seu
preceptor, preparando Richard para ir para Oxford quando
ele estava com dezenove anos de idade, e ali se matriculou no
St. Alban’s Hall, graduando-se como Bacharel em Artes em
1631. Depois continuou seus estudos no New Inn College
até receber o grau de mestre, com honras, em 1634.
Alleine foi ordenado ministro na diocese de Salisbury
no dia 2 de março de 1634. No ano seguinte, foi nomeado
capelão de Sir Ralph Hopton. Até antes da guerra civil,
Alleine começou a assistir a seu idoso pai em Ditcheat. Em
1642, Richard Alleine mudou-se para Batcombe, Somerset,
onde ministrou efetivamente por mais de vinte anos. Logo ele
declarou-se puritano subscrevendo a Solene Liga e Aliança
de 1643, e depois uma confissão local: “Testemunho que os
ministros de Somersetshire dão das Verdades de Jesus Cristo”,
cinco anos mais tarde. Alleine era muito amado em Batcombe
por sua pregação e por seu terno cuidado das almas. Godly
Fear, (1664), uma coleção de seus sermões, revela sua ternura
no ministério pastoral.

87
PAIXAO P E L A PUREZA

Alleine foi expulso da sua paróquia em 1662, por não


conformidade. A aprovação do Ato das Cinco Milhas
compeliu-o a refugiar-se na aldeia de Frome Selwood, onde
continuou a pregar só em residências até sua morte em 1681.
Ele foi multado em diversas ocasiões por manter conventículos
Alleine era conhecido por sua piedade e por seu ministério
de busca de almas, como também por seus escritos, todos os
quais são de natureza espiritual e prática. Um escritor conta a
história do que aconteceu com sua obra em quatro volumes,
Vindication of Godliness (Vindiciae Pietatis):

A sua obra Vindiciae Pietatis (que veio a publico


pela primeira vez em 1660) foi recusada licença
pelo arcebispo Sheldon, e foi publicada em comum
com outros livros não conformistas, sem ela. O
livro esgotou-se rapidamente e “fez muito bem
para corrigir este mundo mau” . Roger Norton,
impressor do rei, fez com que grande parte da
primeira impressão fosse apreendida, baseado em
que não fora licenciada, e a mandou para a cozinha
real. Num relance de olhos em suas páginas, porém,
pareceu-lhe um pecado que um livro tão santo - e
tão vendável - fosse destruído. Por isso comprou
de volta as folhas, diz Calamy, por uma ninharia,
encadernou-a e vendeu-as em sua própria loja. Por
sua vez, foi apresentada queixa disso, e ele teve que
pedir perdão de joelhos diante da mesa do conselho,
e os exemplares restantes foram sentenciados a
serem “assados” ou a serem esfregados com uma
broxa de tinta e enviados de volta à cozinha para
acender o fogo. Tais exemplares “assados” ainda
ocorrem. O livro não foi morto (Encyclopedia
Britannica, 11a edição, 1:690).

88
Richard A lleine

Heaven Opened: The Riches of God’s Covenant (SDG; 343


páginas; 2000). Neste livro, Alleine discute a natureza e as
bênçãos da aliança de Deus com Seu povo. Alleine delineia
com grande riqueza de detalhes os papéis de Deus, de Cristo,
do Espírito, da terra, dos anjos de luz, dos poderes das trevas,
da morte e o reino na aliança. Depois ele fala dos frutos da
aliança na vida do crente.
O livro começa: “Boas novas do céu! Do alto o dia primaveril
visitou este arruinado mundo! Após um dilúvio de pecado e
miséria, eis o arco nas nuvens! O Senhor Deus fez e estabeleceu
uma nova aliança, e esta lançou o primeiro raio de luz sobre o
tenebroso estado do homem perdido e caído, e trouxe à luz a
vida e a imortalidade. Esta aliança é a esperança dos pecadores,
e as riquezas dos santos, a Magna Charta da cidade de Deus.
Renovado o direito à eternidade; 0 ato divino de dar, no qual
ele concedeu, sobre condições justas, aos pecadores suas vidas,
e outorgou a Seus santos uma herança eterna”.
A obra termina com uma exortação igualmente emocio-
nante aos pecadores e aos santos. Dirigindo-se a santos
desviados, Alleine escreve: “Cristãos, chorem a consciência
perdida, e que seja recuperada” .

Instructions About Heart-work (SDG; 411 páginas, 2003).


Publicado pela primeira vez em 1681, este pouco conhecido
tratado produzido por Alleine (sua derradeira obra publicada),
é uma extensa exposição de Provérbios 4:23: “Guarda com
toda a diligência 0 teu coração, porque dele procedem as saídas
da vida” (VA). O autor tem por objetivo ensinar aos leitores a
maneira própria de guardar seus corações, salientando 0 que
é para ser feito da parte de Deus e da parte do crente.
A meta que se vê no livro todo é que os crentes cresçam no
exercício da graça e na posse da plena certeza da salvação.
Alleine encerra seu tratado com estas penetrantes
palavras: “Estarão vocês persuadidos, deixar-se‫־‬ão vencer,
de modo a preparar-se e a entregar seus corações ao Senhor?

89
PAIXAO PHLA PU R EZA

De molde a preservá-los e a mantê-los puros e fiéis a Ele?


Vindo assim a confiar em Sua fidelidade? Oxalá eu prevaleça
sobre vocês nisto; eu realizei o meu trabalho, e, tendo dessa
forma colocado vocês em segura custódia, devo ousar deixar
vocês nesta confiança para que, doravante, todos vocês
sejam “guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a
salvação” .
A semelhança da obra por Flavel intitulada Keeping the
Heart, que também é sobre Provérbios 4:23, a de Alleine está
carregada de instrução prática e espiritual. Nenhum pecado
deixa de ser exposto; nenhum hipócrita é desculpado. É um
agudo tratamento da piedade prática, trazendo a marca de
uma personalidade joeirada por Deus.

The World Conquered by the Faithful Christian (SDG; 172


páginas; 1995). Neste livro, Alleine faz uso do tema militar
paulino sobre o combate cristão, vendo a existência do crente
neste mundo como uma contínua batalha contra o mal
espiritual. Ele dá explicação sobre a armadura do crente, os
inimigos do crente e a vitória do crente. O foco de grande
parte do livro está em como obter a vitória no combate
espiritual - vitória no contentamento, numa constância de
mente, apesar das mudanças externas, na prontidão para
morrer, no viver pela fé, em ser crucificado com Cristo,
em ser selado pelo Espírito, em ter os olhos postos no
galardão e nas alegrias celestiais. Em tudo isso, Alleine
salienta que nada menos que a vitória valerá.
Este livro anima os santos cansados de lutar a manterem
0 curso, olhando para Jesus. Alleine conclui: “O verdadeiro
cristão tem seus inimigos sob seus pés, mesmo enquanto
está na luta. Ele é um soldado, tão logo é um santo, é um
vencedor, tão logo é um soldado. Simplesmente empunhar
as armas garante a sua vitória”.
Alleine considera a observância do descanso no domingo
e a frequente participação na Ceia do Senhor como uma

90
Richard Alíem e

parte crítica da força do cristão num mundo caído.


Ao expor um correto autoexame para a Ceia do Senhor
Alleine escreve: “O arrependimento, se for sincero, será
universal. Estender-se-á a todo pecado conhecido. Quem
não se arrepende de tudo o que é mau, na verdade não
se arrepende de nada” (p. 131).

91
V in c e n t A lsop n asceu em S o u th C o llin g h a m , N o ttin g h a m ­
s h ire , em 1630, filh o de G eo rg e e de J u d ith A lsop. Seu pai
se rv iu com o p áro co em S o u th C o llin g h a m . A lsop fre q u e n to u a
escola s e c u n d á ria de U p p in g h a m , e se m a tric u lo u n o St. J o h n ’s
C ollege, C a m b rid g e , em 1648. T o rn o u -se p ro fe sso r a s s is te n te
na E scola O a k h a m , R u tla n d , e, em 1657, c aso u -se com a filh a
de B e n ja m in K in g , o m in is tro local, q u e in flu e n c io u A lsop
p ara a b ra ç a r v ig o ro s a m e n te o p u rita n is m o . N o m e sm o an o
A lsop o b te v e a re s p o n s a b ilid a d e p a ro q u ia l de L a n g h a m , u m a
p a ró q u ia n as v iz in h a n ç a s de O a k h a m .
P o r v o lta de 1660, A lsop se rv iu à co n g re g a ç ã o de W ilby,
N o rth a m p to n s h ire , m as foi ex p u lso em 1662 p o r não
c o n fo rm id a d e . C o n tin u o u a p re g a r p riv a d a m e n te na área, e
foi c o n fin a d o p o r seis m eses n u m a cadeia de N o rth a m p to n
p o r o ra r com u m a pesso a e n fe rm a . E m 1672, p ô d e m in is tr a r
em sua casa em G e d d in g to n , sob a D ec la ra ç ã o de In d u lg ê n c ia .
Ele su c e d e u a T h o m a s C ra w to n , Jr., co m o m in is tro da T o th ill
S treet, W e stm in ste r, em 1677, e se rv iu ali até su a m o rte em
1703. D e p o is da m o rte de A lso p , C alam y foi seu sucessor.
A lsop foi p a rtic u la rm e n te c o n h e c id o em seu te m p o
com o um á v id o p o le m is ta e “ lib e rta d o r dos d is s id e n te s da

92
Vincent Alsop

Restauração” . Escreveu diversas obras atacando os erros do


seu tempo, tais como o seu 21«ri-Aas.ao, em 1765, que criticava
0 notório socinianismo de William Sherlock. O vigor polêmico
de Alsop acalmou-se um tanto quando seu filho, que tinha
participado da rebelião de Monmouth, de 1685, foi preso por
possíveis acusações de traição. Alsop conseguiu obter perdão
para seu filho dois anos depois, provavelmente devido a seus
esforços conciliatórios entre James II e os não-conformistas
(Alsop e um punhado de outros proeminentes presbiterianos
deram apoio ao rei quando a situação se deteriorou com os
principais líderes anglicanos). Os esforços de Alsop pela reforma
montaram o palco para os não conformistas do século dezoito,
tais como Calamy, que foi seu sucessor em Tothill Street.

Practical Godliness: The Ornament of All Religion (SDG;


172 páginas; 2003). Impresso pela primeira vez em 1696, este
tratado, que consiste de vários sermões pregados sobre Tito
2:10, manda-nos “adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador,
em todas as coisas” . Em acréscimo a prover numerosas
diretrizes sobre como praticar a piedade cada dia vivendo de
acordo com as promessas do evangelho e os preceitos da lei,
Alsop reforça seu argumento em prol do progresso da piedade
pessoal salientando a santificação do domingo (no que “toda
a religião prática sobe, cai, sofre maré baixa ou maré alta”) e
a santificação da religião da família (“Inútil será sonhar que
as congregações serão santas, se as famílias são profanas”).
Apenso há 0 raro estudo de 67 páginas da teologia bíblica
sobre vestuário e modas, notavelmente relevante para
os nossos dias.

93
Isaac Ambrose
(1604-1664)

saac A m b ro se n asceu em 1604, filh o de R ic h a rd A m b ro se ,


I v ig á rio de O rm s k irk , L a n c a s h ire . T en d o in g re ssa d o no
B rasen o se C ollege, O x fo rd , em 1621, g ra d u o u -s e com o g ra u
de B ach a rel em A rte s em 1624, e foi o rd e n a d o ao m in is té rio .
T o rn o u -se vig á rio da igreja p a ro q u ia l de C a s tle to n , D e rb y s h ire ,
em 1627, e d ep o is se rv iu em C la p h a m , Y o rk sh ire, de 1629 a
1631. N o a n o s e g u in te ele rece b eu o g rau de M e s tre em A rtes,
de C am b rid g e .
Pela in flu ê n c ia de W illia m R u ssell, C o n d e de B e d fo rd ,
A m b ro se foi n o m e a d o co m o u m dos q u a tro p re g a d o re s
itin e ra n te s do rei p a ra L a n c a s h ire , e esta b e le c e u re s id ê n c ia
em G a rsta n g , c id a d e de L a n c a s h ire , e n tre P re s to n e L a n c a ste r.
O s p re g a d o re s do rei era m c o m issio n a d o s p a ra p re g a r as
d o u trin a s da R efo rm a n u m a área fo rte m e n te e n trin c h e ir a d a
no cato lic ism o ro m a n o . P o u co te m p o d e p o is, ele se casou.
P or v olta de 1640, Lady M a rg a re t H o g h to n 0 esco lh e u com o
vigário de P re sto n em A m o u n d e rn e ss. E n q u a n to A m b ro se viveu
em P re sto n , d esfru to u a calorosa am izad e da fam ília H o g h to n .
E ra p a ra a flo re s ta e a to r r e h e rd a d a s p o r essa fa m ília , p e rto
de B la ck b u rn , a leste de P re sto n , ou p ara W ed d icre W oods,
p e rto de G arstan g , que A m b ro se se retira v a todo m ês de m aio

94
Isaac A mbrose

para, estar a sós e examinar as Escrituras, orar e meditar sobre


Deus. Seu sermão intitulado “Remindo o Tempo”, pregado a
urna grande congregação reunida para os funerais de Lady
Hoghton, foi lembrado por muito tempo em Lancashire.
No tempo da Reforma, muitos em Preston, especialmente
os de classe nobre, tinham-se apegado à fé católico-romana.
Quando começou a primeira guerra civil, Preston permaneceu
leal ao rei e tornou-se o quartel-general dos realistas em
Lancashire. Não obstante, Ambrose declarou-se puritano
e presbiteriano quando subscreveu a Solene Liga e Aliança
de 1643, e foi um dos ministros que serviu no comitê do
parlamento designado para supervisionar a expulsão de
“ministros e mestres-escola escandalosos e ignorantes”
durante a vigência da República.
Preston tornou-se o campo de batalha entre as forças de
oposição do rei e o parlamento. Ambrose foi detido duas vezes
(1642 e 1643) por suas crenças presbiterianas, porém foi logo
libertado em ambas as ocasiões por sua amizade com a família
Hoghton e com outros cavalheiros das redondezas, e por
sua reputação de piedade. Quando Bolton foi tomada pelos
realistas em 1644, Ambrose se refugiou em Leeds. Cromwell
derrotou as tropas realistas na batalha travada em Preston
em 1648. Essa vitória pôs fim à segunda guerra civil.
O presbiterianismo em Lancashire foi bem servido por
Ambrose na década de 1640 e no início da de 1650, embora
não sem luta. Em diversas ocasiões ele serviu como moderador
da classis' de Lancashire, e, em 1648, foi um signatário do
harmonioso consenso do clero presbiteriano de Lancashire,
o qual expressou solidariedade com a Assembléia de
Westminster e se opôs a um chamado à tolerância. Em 1649,
o comitê local de recursos dos ministros despojados ordenou
que ele fosse logo preso em Londres. Quando Ambrose
voltou a ministrar em Preston, defrontou-se com incessante1

1 A s s e m b l é i a o u c o n v e n ç ã o 1 'u n e io n a n d o c o m o tr ib u n a l. N o t a d o tra d u to r.

95
PAIXÃO P E L A PUREZA

perseguição. Finalmente, em 1654, renunciou a seu cargo ali,


talvez em parte devido a enfermidade (Oxford DNB; 1:921).
Ambrose mudou-se para 0 norte para tornar-se ministro
de Garstang, onde foi expulso de sua moradia em 1662 por
não conformidade. Viveu sua aposentadoria entre seus amigos
em Preston, vindo a morrer de repente de apoplexia em 23
de janeiro de 1664. Dele foi dito: “ Ele foi santo em sua vida,
feliz em sua morte, honrado por Deus e tido em alta estima
por todos os homens bons” .
Ambrose era um autor centralizado em Cristo e caracte­
rizado por ardoroso conhecimento experimental. Ele falava
de si como filho de Boanerges e de Barnabé, embora os seus
escritos e o seu ministério pareçam ter refletido mais deste
do que daquele. Seus escritos são extraordinariamente isentos
de polêmica. “Como escritor religioso, Ambrose tem uma
vividez e um frescor de imaginação que raros não conformistas
puritanos possuíam. Muitos que não gostam da doutrina
puritana nem têm simpatia pela experiência puritana, têm
apreciado o sentimento e a beleza dos seus escritos, e seu livro
Looking mito Jesus manteve os seus escritos em popularidade
ao lado dos escritos de João Bunyan” (Encyclopaedia Britannica,
1Ia edição, 1:800). Uma coleção de suas obras apareceu em 1674
e foi reimpressa ao menos sete vezes nos dois séculos seguintes.
Diversos livros significativos de Ambrose não foram
reimpressos por mais de um século. Estes incluem as primeiras
obras de sua pena, Prima e Ultima, escritos em 1640. Prima
apresenta a mensagem da regeneração, e Ultima trata das
últimas coisas, inclusive a vida, a morte, o juízo, 0 inferno,
um correto entendimento do estado intermediário, e o céu.
Essas obras foram seguidas por Media,1 2 escrita em 1650. Este
tratado sobre a santificação, mais longo, examina os deveres
espirituais nos quais o crente deve se engajar para crescer na
graça e em mais profunda união a Cristo. Ambrose era um
forte defensor da ideia de se manter um diário para registro

1 T ítu lo s ‫ ו ח ס‬latim (p lu ra l n e u tro ) s ig n if ic a n d o r e s p e c tiv a m e n te : a s p r im e ir a s


c o is a s , a s ú ltim a s , e a s in te r m e d iá ria s . N o ta d o tra d u to r.

96
Isaac A mbrose

das experiências diárias com Deus. Infelizmente, seu diario


foi perdido, embora ele tenha incluído duas extensas amostras
em sua obra Media. Elas revelam sua profunda paixão por
buscar e experimentar o “gozo inefável e glorioso” de Jesus
Cristo, nosso esposo divino.
O livro de Ambrose, Communion with Angels, foi publicado
pela primeira vez com suas Works em 1674. Este livro traça os
meios pelos quais os mensageiros divinos assistem o crente
nos vários períodos da vida, do nascimento ao juízo. De acordo
com Ambrose, os anjos nos defendem e nos mantêm a salvo
das tentações do diabo e agem como servos e instrumentos da
providência de Deus. Os anjos podem agir em nossos sonhos
e, portanto, devemos ter o cuidado de discernir a origem de
nossos sonhos, para ver se são de Deus. Embora de natureza
fortemente experimental, esta é a obra mais especulativa de
Ambrose.

The Christian Warrior: Wrestling with Sin, Satan, the


World and the Flesh (SDG; 150 páginas; 1997). Nesta obra
sobre o combate cristão, originalmente escrita em 1661, mas
aparentemente publicada pela primeira vez com as Works
em 1674, Ambrose apresenta três verdades chaves: (1) todos
os que pertencem a Deus têm que ser guerreiros; (2) temos
inimigos poderosos e maliciosos contra os quais lutar, e (3)
temos que lutar e pelejar contra esses inimigos.
Baseando sua obra em Efésios 6:12, Ambrose explica como
o cristão deve travar a batalha espiritual contra o pecado, 0
mundo, a carne e satanás. Ele mostra que satanás nos ataca
diferentes vezes e sob diferentes condições na vida, e como
devemos preparar-nos para resistir a seus assaltos. Suas dez
maneiras de fazer frente à ira pecaminosa são extremamente
úteis (pp. 110-116). As orientações de Ambrose são perspicazes,
boas para nos testar e sucintas. Por exemplo, Ambrose nos

97
PAIXAO PHLA PUREZA

adverte: “Não se satisfaça com súbitos gemidos de afeto, mas


esforce-se para preservar as impressões que o Espirito fez
em sua alma” (pp. 64,65).

Looking Unto Jesus (SPR; 694 páginas; 1986). Após uma


séria enfermidade no início da década de 1650, Ambrose
escreveu um devocionário sobre o que o Senhor tinha feito
por sua alma, intitulado Looking unto Jesus, or lhe Soul’s Eyeing
ofJesus as Carrying on the Great Work of Man’s Salvation (1658).
O livro, que salienta a identificação experimental com Jesus,
no pensamento e na conduta, logo se tornou um clássico
da teologia cristocêntrica. Seus leitores sentem que estão
pisando em terra santa.
Ambrose descreve numerosos aspectos do ministério de
Cristo. Por exemplo, ele apresenta o ministério de Jesus desde
a eternidade e durante a Sua vida numa perspectiva de nove
pontos: conhecendo Jesus, considerando Jesus, desejando
Jesus, esperando em Jesus, crendo em Jesus, amando Jesus,
alegrando-nos em Jesus, recorrendo a Jesus, e conformando­
-nos a Jesus num aspecto particular do Seu ministério.
Quanto a conformidade a Cristo em Sua ressurreição,
Ambrose escreve: “Contemplem Cristo ressurreto, Cristo
glorificado. [Procuremos] ver a nossa vivificação pessoal
ligada inseparavelmente à ressurreição de Cristo e nela
fundamentada inabalavelmente. Quando pudermos, pela fé,
ter uma vista desta realidade, quão corajosa e vitoriosamente
a alma entrará com toda a garra nas controvérsias do Senhor
contra o diabo e contra os nossos próprios corações enganosos.
... O, se eu pudesse firmar minha fé mais frequentemente
na ressurreição de Cristo, de modo que afinal eu pudesse
vê-la, pela luz de Deus, ser como um princípio destinado a
minha vivificação em particular!” (pp. 490,491).
Esse livro tem sido reimpresso muitas vezes, influenciando
muitos cristãos através dos séculos e incentivando-os a
buscarem um andar mais íntimo com Deus. Iguala-se às
Letters de Samuel Rutherford em sua centralidade em Cristo.

98
William Ames
(1576-1633)

illiam Ames (latinizado como “Amesius”) nasceu


W em 1576 em Ipswich, Suffolk, na época um centro de
um robusto puritanismo. O pai de Ames, também chamado
William, era um comerciante bem sucedido e tinha simpatias
puritanas; sua mãe Joane Snelling, era relacionada com
famílias que iriam ajudar a fundar a Plantação de Plymouth
no Novo Mundo. Visto que seus pais morreram quando ele
era jovem, foi criado por seu tío materno, Robert Snelling,
um puritano das proximidades de Boxford. Desde a meninice,
Ames foi impregnado pelo vigoroso puritanismo do seu tempo
e lugar.
O tio de Ames não poupou gastos para a sua educação,
enviando-o em 1594 para o Christ’s College, na Universidade
de Cambridge, conhecido por seu puritanismo não abrandado
e por sua filosofía ramista.1 Ames rapidamente demonstrou

1 R a m i s t a : d e P e t e r R a m u s ( P i e r r e d e I ,a R a m é e ) , n a t u r a l d a P i c a r d i a , p r o v í n c i a
francesa (1 5 1 5 -1 5 7 2 ). P erseg u id o por sua ló g ica in o v ad o ra, e d ep o is de
co n v ertid o ao p ro testan tism o , p erseg u id o p elo ze lo c o m q u e d efen d ia as
d o u t r i n a s d a R e f o r m a , f o i u m d o s q u e m o r r e r a m d u r a n t e o “ m a s s a c r e d e S.
B a r t o l o m e u ” , e m 2 4 d e a g o s t o d e 1 5 7 2 ( " d i a d e S . B a r t o l o m e u ” ). N o t a d o
trad u to r.

99
WILLIAM AMES
William Ames

a sua predisposição para aprender. Graduou-se com o grau


de Bacharel em Artes em 1598. Em 1601, recebeu o grau de
Mestre em Artes, foi eleito membro do corpo docente diretivo
do Christ’s College, foi ordenado ao ministério e passou por
uma dramática experiência de conversão sob a “desafiadora
pregação” de William Perkins.
Em seguida a essa profunda transformação espiritual,
Ames declarou que “um homem pode ser bonus ethicus [pessoa
moralmente boa na religião exterior], e, todavia, não bonus
theologus [cristão sincero, de coração]” (Fresh Suit Against
Human Ceremonies, 1633, 1:131). Ser um bonus theologus
tornou-se a preocupação de Ames durante toda a sua vida,
o que se revelou num cristianismo prático que expressava a
piedade interior de um coração obediente, redimido.
Depressa Ames veio a ser a bússola e a consciência moral
do College. Todavia esse papel durou pouco. O edito do rei
James na Conferência de Hampton Court, em 1604, fortaleceu
a convicção de que qualquer atividade puritana nos “colleges”
que envolvesse crítica à Igreja da Inglaterra tinha quer ser
suprimida. Os porta-vozes puritanos foram despojados dos
seus graus acadêmicos e despedidos. O processo culminou
em 1609 com a designação de Valentine Cary, que odiava o
puritanismo, para a direção, e não William Ames, que estava
muito mais qualificado para a posição. Em 21 de dezembro
de 1609, quando Ames pregou um contundente sermão no
Dia de São Tomé - uma festividade anual em Cambridge que
estava se tornando cada vez mais ruidosa com o passar dos
anos - e denunciou o jogo, administrando o “salutar vinagre
da reprovação”, as autoridades do “college” o tomaram em
custódia e o suspenderam dos seus graus acadêmicos e dos
seus deveres eclesiásticos.
Antes de ser formalmente demitido, Ames renunciou a
sua posição no corpo diretivo. Depois de um breve período
como conferencista em Colchester, George Abbott, bispo de
Londres, proibiu Ames de pregar. Em 1610, Ames decidiu

101
PAIXAO PH LA PURHZA

procurar o clima académico e eclesiástico mais livre da


Holanda. Ali permaneceu ele, exilado, pelo resto da vida.
Primeiro Ames foi para Rotterdam, onde conheceu
John Robinson, pastor da congregação separatista inglesa
em Leiden. Alguns membros da congregação logo iriam
estabelecer a Plantação de Plymouth no Novo Mundo e viriam
a ser conhecidos como os Pais Peregrinos da Nova Inglaterra.
Ames não conseguiu persuadir Robinson a abandonar os seus
sentimentos separatistas, a saber, que as igrejas puritanas
deveríam separar “ raiz e ramo” da Igreja da Inglaterra, mas
Ames teve sucesso em moderar alguns dos seus conceitos
mais radicais.
Em seguida a uma breve estada em Rotterdam e em
Leiden, Ames foi empregado de 1611 a 1619 por Sir Horace
Vere, comandante das forças inglesas na Holanda, para servir
como capelão militar daquelas forças baseadas em Haia.
Ali Ames presidiu a uma pequena congregação, agiu como
conselheiro espiritual da família Vere, ministrou para as tropas
durante campanhas militares e escreveu quatro livros contra
0 arminianismo, que tinha precipitado uma crise eclesiástica.
Essa crise entre os holandeses pôs os remonstrantes
(arminianos), promotores da doutrina do livre-arbítrio,
contra os contraremonstrantes (calvinistas), que mantinham
a doutrina ortodoxa da predestinação. A habilidade de
Ames como teólogo sistemático nesse debate granjeou-lhe
considerável aclamação como o “Agostinho da Holanda” e “o
martelo dos arminianos” (Oxford DNB, 1:943). Finalmente,
a questão arminiana foi tratada num sínodo internacional na
cidade holandesa de Dordrecht2 (1618,1619). Por sua perícia
em lidar com as questões do conflito arminiano, Ames, embora
sendo um membro não votante do sínodo, foi chamado para
ser o principal conselheiro teológico e secretário de Johannes
Bogerman, 0 presidente constituído. O sínodo decidiu em

2 P o p u la r m e n te c h a m a d a l)o rt. N o ta d o tra d u to r.

102
William Ames

favor da posição calvinista histórica sobre todos os cinco


pontos levantados pelos arminianos. Um expurgo dos
arminianos nos círculos eclesiásticos, políticos e académicos
seguiu-se às determinações do sínodo, deixando uma vaga
no professorado da Universidade de Leiden. Ames foi eleito
para ocupar a cátedra, mas o longo braço do estado inglês
prevaleceu. Ames, recentemente despedido do seu posto em
Haia por pressão das autoridades inglesas, viu o posto da
Universidade de Leiden fechado para ele também, devido
à oposição do rei James I.
Durante sua primeira década na Holanda Ames casou-se
duas vezes. Primeiro desposou uma fdha de Ursula Sotherton
e de John Burges, seu predecessor em Haia, mas ela morreu
logo depois do casamento, não deixando nenhum filho. Em
1618, ele se casou com Joan Fletcher; juntos, tiveram três
filhos, Ruth, William e John.
Para sustentar sua família, Ames voltou ao trabalho
como palestrante e preceptor particular para estudantes da
universidade, e o fez durante três anos após a reunião do
sínodo de Dort. Sua pequena “casa escola” de Leiden parecia,
em pequena escala, o Staten College, uma academia presidida
por Festus Hommius. Estudantes de teologia viviam na casa de
Ames, e ele lhes ensinava puritanismo e teologia sistemática.
Posteriormente ele desenvolveu algumas dessas palestras em
seu famoso livro Marrow of Theology.
Em 1622, oficiais da Universidade de Franeker, uma
instituição relativamente nova situada na província de
Friesland, ignoraram as autoridades inglesas e nomearam
Ames como professor de teologia. Em 7 de maio de 1622, Ames
deu sua aula inaugural sobre o Urim e 0 Tumim no peitoral
do sumo sacerdote. Quatro dias após ser nomeado como
professor, ele recebeu 0 grau de Doutor em Teologia, tendo
defendido com êxito trinta e oito teses e quatro corolários
sobre “a natureza, a teoria e a função prática da consciência”,
diante de Sibrandus Lubbertus, professor sênior do corpo

103
PAIXAO P E L A PUREZA

docente. Em 1626, ele foi designado Rector Magnificus, o mais


alto ofício acadêmico honorário da universidade.
Durante os seus onze anos de exercício do oficio em
Franeker, Ames ficou conhecido como o “Sábio Doutor”
que tentava “puritanizar” a universidade inteira. Ames re­
conhecia que a universidade era ortodoxa na doutrina, mas
não sentia que a maioria do corpo docente e dos alunos era
suficientemente reformada na prática. O corpo docente, em
particular, era dependente demais da lógica aristotélica para
que Ames se sentisse bem, e enfatizava inadequadamente a
responsabilidade humana na vida cristã. Por isso Ames tornou
a organizar uma espécie de pensão ou “college” em sua casa
dentro da universidade, onde ocorreram sessões de aulas,
palestras e numerosas discussões teológicas. Como reitor, ele
promoveu a piedade, insistiu na observância do descanso no
domingo, encurtou os feriados do Natal e da Páscoa e apertou
a disciplina estudantil. Seus esforços produziram o que foi
chamado “a Reforma da década de 1620”.
Mediante ensino e escritos prolíficos, durante os seus anos
em Franeker, Ames manteve uma forte postura contrária aos
prelados e arminianos, mas a sua maior contribuição foi na
teologia e na ética, que ele via como um sistema unificado que
ajudava o cristão a viver uma vida de genuína piedade. Ali
Ames escreveu suas duas maiores obras, Medulla Theologiae e
De Conscientia, (traduzida para o inglês como Conscience with
the Power and Cases Thereof). Em seu sistema de religiosidade
moral e teológica, Ames incorporou a filosofia e 0 método
ramistas que tinha aprendido em Cambridge. Desenvolvidos
por Petrus Ramus (1515-1572), filósofo reformado francês do
século dezesseis, o ramismo procurava corrigir os sofismas do
aristotelismo daquele tempo, caracterizados por uma brecha
entre a vida e o pensamento, entre o saber e o fazer, e, no
caso da vida religiosa, entre a teologia e a ética.
Mediante seu ensino, Ames estabeleceu sua reputação
pessoal, como também a da academia onde ele ensinava.

104
William Ames

Estudantes vinham de todas as partes da Europa para estudar


a seus pés. Seu aluno mais famoso foi Johannes Cocceius, que
mais tarde desenvolvería a teologia da aliança, ultrapassando
bastante o pensamento de Ames. Contudo, Ames não estava
contente, pois nem tudo ia bem na universidade. Alguns
estudantes e membros do corpo docente diretivo não
apreciavam os esforços de Ames para realizar uma reforma
mais profunda e mais ampla. Uma facção de professores,
liderada por Johannes Maccovius, sabotavam os esforços
de Ames. Além disso, contínuas discussões entre Ames,
Lubbertus e seu colega aristotélico Maccovius, envenenaram
a atmosfera intelectual de Franeker, ao mesmo tempo em que
a umidade do ar marítimo de Friesland desgastava a saúde
de Ames. Esses problemas, combinados com o desejo de sua
mulher de reunir-se a seus concidadãos, convenceram Ames
a procurar outro lugar onde servir.
Em 1632, Ames aceitou um convite de seu amigo Hugh
Peter para juntar-se a ele como co-pastor da igreja de refugiados
ingleses em Rotterdam. Ames sentiu-se atraído pelo posto
devido à visão que Peter tinha de uma congregação centralizada
na aliança que lutava por um purificado corpo de membros
composto de crentes regenerados que verdadeiramente pra­
ticassem a sua fé. Peter também queria que Ames o ajudasse
a desenvolver um “college” puritano em Rotterdam.
No fim do verão de 1633, Ames finalmente rumou para
0 sul, para Rotterdam. No outono 0 Rio Maas rompeu suas
ribanceiras e Ames, já mal de saúde, piorou mais ainda, depois
que sua casa foi inundada. Ele morreu de pneumonia no dia
11 de novembro com a idade de cinquenta e sete anos, nos
braços de Hugh Peter. Até o fim ele permaneceu firme na
fé e em triunfal esperança.
Pouco antes de sua morte, Ames considerou seriamente
a ideia de juntar-se a seu amigo John Winthrop na Nova
Inglaterra, mas Deus tinha outro “Novo Mundo” em Sua
mente para ele. Quatro anos depois da morte de Ames, sua

105
ΡΑΙΧA ü P E L A PUREZA

mulher e seus filhos foram viver na colônia puritana de Salem,


Massachusetts. Levaram com eles a biblioteca de Ames, a qual
formou o núcleo da biblioteca original do Harvard College,
embora mais tarde um incêndio tenha destruído a maior
parte dos livros.
A influência de Ames foi talvez maior na Nova Inglaterra,
onde seu livro The Marrow of Theology tornou-se o texto
básico em Harvard e frequentemente era lido e citado em
todas as colônias. Depois, também, os seus escritos sobre
questões eclesiásticas lançaram os fundamentos para o
congregacionalismo não separatista da Nova Inglaterra, um
movimento que sustentava que as igrejas congregacionais da
Colônia da Baía de Massachusetts deveríam apoiar a reforma
mais ampla da Igreja da Inglaterra, em vez de defender a
separação dela. A Plataforma de Cambridge de 1648, em
particular, reflete o pensamento de Ames. Depois, também, o
seu ramismo foi avidamente abraçado e tornou-se característico
do puritanismo da Nova Inglaterra. Cotton Mather descreveu
Ames como “aquele profundo, aquele sublime, aquele sutil,
aquele irrefutável - sim, aquele angélico doutor”.
A influência de Ames foi também grande na Holanda, onde
ele se tornou conhecido por sua oposição ao arminianismo.
Ele influenciou o pensamento holandês em muitos aspectos,
especialmente em seu desenvolvimento da casuística, isto é,
como tratar dos casos de “crise de consciência” específicos.
Gisbertus Voetius, professor em Utrecht e líder da Segunda
Reforma Holandesa, foi profundamente influenciado pelas
idéias de Ames. Petrus van Mastricht, outro renomado escritor
holandês, também foi fortemente beneficiado pelas idéias de
Ames, particularmente o seu pensamento sobre a aliança e a
sua casuística.
Quase todos os livros de Ames foram impressos na Holanda,
muitos em latim, para a comunidade erudita internacional.
Logo depois, The Marrow of Theology e Conscience, with the
Power and Cases Thereof, foram traduzidos para o holandês

106
William Ames

e reimpressos ao menos quatro vezes no século dezessete.


Ironicamente, Ames foi menos influente em sua terra natal,
na Inglaterra, embora ali também ele tenha sido considerado o
mais importante discípulo e herdeiro de Perkins. As principais
obras de Ames circularam amplamente e influenciaram a
teologia calvinista por toda a Inglaterra no século dezessete.
Seu livro Marrow, em particular, era altamente considerado
pelos puritanos. Thomas Goodwin disse que “depois da Bíblia,
ele considerava o livro do Dr. Ames, Marrow of Divinity, o
melhor livro do mundo”.

Conscience, with the Power and Cases Thereof (WJ; 293


páginas; 1975). Samuel Morrison, um historiador de Harvard,
descreve este importante manual de casuística puritana
(publicado primeiramente em latim, 1630; em inglés, 1639)
como “urna das mais valiosas fontes da moralidade puritana”.
Passou por perto de vinte impressões em menos de trinta
anos.
No prefacio Ames menciona que ele tinha ouvido, quando
jovem, o Mestre Perkins expor a maneira puritana de tratar
os casos de consciência, o que lhe causou profundo impacto e
orientou o curso da sua vida c do seu ministério. Contudo, a
casuística de Ames é mais precisa e integral em sua teologia
do que na de Perkins. Perkins se apoia mais no estudo
teológico medieval de casos, ao passo que Ames desenvolve
uma teologia de casos de consciência mais centralizada na
Palavra, mais evidente em sua explicação da obediência da
humanidade a Deus dentro da estrutura do Decálogo.
O livro Conscience flui naturalmente do Livro 2 da obra
Mairow e serve de comentário desta. O próprio Ames o
declarou suficientemente: “ Se houver alguns que desejam
ter as questões práticas mais bem explicadas, especialmente
as da última parte desta Marrow, nós vamos tentar, querendo
Deus, satisfazê-los com um tratado especial, que pretendo

107
PAIXAO P E L A PUREZA

escrever, tratando das questões usualmente chamadas “casos


de consciência”.
Uma coleção de cinco livros, Conscience passa de um
tratamento teórico da natureza da consciência para aplicações
muito práticas. Seu conteúdo central veio pela primeira
vez à luz na defesa que Ames fez das teses e dos corolários
relacionados com sua promoção ao grau de Doutor em Teologia
na Universidade de Franeker em 1622. Oito anos depois
dessa defesa, Ames publicou esse material empreendendo-o
como uma obra de teologia moral que preencheu uma lacuna
no sistema em desenvolvimento do pensamento reformado.
Richard Baxter, que construiu seu próprio Christian Directory
sobre a casuística de Ames, disse que, embora Perkins tenha
prestado valioso serviço na promoção da casuística reformada,
o livro de Ames, apesar de mais breve, era superior. “Ames
excedeu a todos.”
O Livro I, sobre Conscience, define a consciência como “o
juízo que o homem faz de si mesmo, de acordo com o juízo
que Deus faz do homem”. Ele oferece um tratamento teórico
do que constitui a consciência antes de descer a detalhes
sobre o funcionamento da consciência.
No Livro 2, Ames descreve o que é um caso de consciência:
“Uma questão prática, concernente à qual a consciência pode
produzir uma dúvida” . Esta parte explica o pecado, a entrada
no estado de graça, a continuada batalha entre carne e espírito,
e a conduta na vida cristã. O Livro 2 facilmente poderia servir
como um compêndio de teologia reformada.
O Livro 3, intitulado Of Man’s Duty in General, pergunta
sobre “as ações, e o procedimento da vida [do homem]”. Diz
Ames que o sinal da verdadeira obediência é a colocação
submissa da vontade de Deus à frente da vontade da criatura,
mesmo quando a vontade não pareça trabalhar em direção à
vantagem da criatura. Isto se realiza exercitando as disciplinas
de uma vida obediente - humildade, sinceridade, zelo, paz,
virtude, prudência, paciência, temperança - e evitando práticas

108
William Ames

que impeçam um andar obediente, tais como a embriaguês,


os pecados do coração e os pecados da língua.
Esses três livros tomam quase um terço de Conscience.
Em seguida a essas questões preliminares de declarações
feitas para definir os termos e de elaborações conceituais
sobre a consciência e a obediência, Ames agora se concentra
em seu real interesse pela ética ou teologia moral inquirindo
como os casos de consciência devem ser julgados. A resposta
simples é: pelo apropriado entendimento e aplicação da lei
moral. E aí que Conscience apanha 0 tema do Livro 2 da obra
Manow.
Os livros 4 e 5 elucidam a lei moral quanto ao dever que
o ser humano tem para com Deus e para com seu próximo.
O dever do homem para com Deus cobre o inteiro espectro
do andar cristão obediente, do amor a Deus na adoração
pública e privada à guarda do descanso no domingo. Ames
discute tópicos gerais como a Igreja, mas também cobre
tópicos específicos como a oração e o canto. Ele prepara
adequadamente o leitor para o Livro 5 sobre as relações
interpessoais, primeiro resolvendo qualquer incerteza que
acaso o crente tenha sobre sua relação com Deus. No Livro
5, que tem cinquenta e sete capítulos e é duas vezes mais
comprido que o Livro 4, Ames discute casos de consciência
que podem surgir nas relações interpessoais. Ele fundamenta
todo o seu ensino nos últimos seis mandamentos do
Decálogo.

The Marrow of Theology (Baker, 353 páginas; 1997). Publicado


primeiro em latim, em 1627, o livro de Ames, Medulla
theologiae, foi 0 manual teológico padrão para os puritanos
da Nova Inglaterra por mais de cem anos. Geralmente era
considerado o melhor esboço sucinto de teologia calvinista já
escrita. Thomas Hooker e Increase Mather recomendavam a
obra Manow como o livro mais importante, fora a Bíblia, para
a formação de um firme teólogo. Mather dizia que esse era o
único livro, além da Bíblia, que era um requisito necessário
para se entrar no ministério. No fim, os livros Institutes of

109
PAIXAO P E L A PUREZA

Elenctic Theology/ por Francis Turretin, e Systematic Theology,


por Charles Hodge, tomaram o lugar da obra de Ames como
texto teológico para seminarios.
A teologia desse livro de Ames é, toda ela, sobre cristianismo
prático - um cristianismo do homem integral, não apenas
do intelecto, ou da vontade, ou dos bons sentimentos. Ela
demonstra a paixão de Ames no sentido de que o pensamento
e a vida representassem um único sistema de cristianismo
prático, vital. Ames procurou mostrar que a teologia não lida
primariamente com declarações acerca de Deus, mas, antes,
com saber como viver para Deus, isto é, “de acordo com a
vontade de Deus”.
Ames defendia a primazia da volição. A fé envolve “ um
ato do homem integral - que não é, de modo algum, um mero
ato do intelecto”, ele escreveu, mas o ato da vontade ao crer no
evangelho é aquele que, pela graça do Espírito, torna salvífíco
o conhecimento. Portanto, o conhecimento salvífíco difere do
mero conhecimento por envolver a sincera e profunda rendição
da vontade. Ames escreve: “Embora a fé sempre pressuponha
conhecimento do evangelho, não obstante não há nenhum
conhecimento salvífíco em ninguém... exceto 0 conhecimento
que se segue a este ato da vontade e dele depende” (1.1.3,4).
Focalizando a vontade como 0 centro da fé, Ames queria
demonstrar que a verdadeira piedade dá-se numa relação
pactuai entre a criatura pecadora e o Criador que redime. A
fé como ato da vontade é uma verdadeira marca da obediência
pactuai, quando é solicitado à criatura que responda com fé
e obediência às promessas da aliança oferecidas pela graça
em Cristo. A teologia da aliança é o coração do sistema
teológico de Ames.
O livro Marrow foi organizado de acordo com 0 sistema
ramista de dicotomías, que persegue o tema segundo o qual a
teologia, a doutrina do Deus vivo, consiste, primeiro, da “ fé”

5 R e fe r e n te a c o n tr o v é r s ia ( C a ld a s A u le le ). N o ta d o tra d u to r.

110
William Ames

(Livro 1, capítulo 1-41, páginas 77-216), ou aquilo em que a


pessoa crê, e, segundo, da “observância” (Livro 2, capítulos
1-22, páginas 219-331), ou como a pessoa pratica a fé e realiza
boas obras em obediência a Deus. Tais obras fluem da fé e lhe
acrescentam vida e sentido. Essas duas categorias principais
- fé e observância - compreendem o manancial do qual flui o
inteiro sistema teológico de Ames.
Depois de definir a fé como “o descanso do coração
em Deus” e de expor a fé como um ato do homem integral,
especialmente da vontade, Ames discute o objeto da fé, que
é Deus. Em seguida ao seu ensino sobre o conhecimento e a
essência de Deus (Livro 1, capítulos 4 e 5; daqui por diante,
1.4,5), Ames expõe a “eficiência” de Deus, que ele define
como “o poder operante de Deus pelo qual Ele opera todas as
coisas em todas as coisas (Ef. 1:11; Rom. 11:36)” (1.6). Depois
ele discute o decreto de Deus como 0 primeiro exercício da
eficiência de Deus (1.7). Ele estabelece que tudo acontece
devido ao beneplácito eterno de Deus demonstrado em Sua
criação e providência (1.8,9). A graça preservadora de Deus
estende-se sobre toda a ordem criada, ao passo que o governo
especial que Deus exerce para com a humanidade, a “criatura
inteligente”, é a aliança das obras (1.10). Tendo violado essa
aliança condicional, a humanidade caiu tragicamente em
pecado. Essa queda teve graves e eternas consequências,
inclusive a morte física e espiritual e a propagação do pecado
original (1.11-17).
Mas ainda há esperança. A condenação sofre uma
reviravolta pela graça restauradora mediante redenção. Por
meio da Pessoa e da obra de Cristo, a humanidade caída
pode ter renovada a comunhão com Deus. Tudo isso acontece
unicamente pelo beneplácito de Deus e graças a Seu propósito
“misericordioso” (1.18-23).
No capítulo 24, intitulado “ The Application of Christ”, a
teologia pactuai de Ames torna-se mais óbvia. O meio pelo
qual a aliança da redenção entre Deus e Cristo chega à fruição

111
PAIXAO P E L A PUREZA

é a aliança da graça, que as Escrituras chamam “nova aliança” .


Noutras palavras, a “aplicação de Cristo” é administrada
pactualmente. Depois de explicar como a nova aliança difere
da antiga, Ames assevera que a essência da aliança da graça
continua através de diferentes eras históricas até, finalmente,
no último dia, os crentes serem impelidos para a glória, e a
aliança da graça inaugurada na Queda ser consumada final
e definitivamente.
Ames coloca a doutrina da predestinação como parte da
doutrina da certeza final (1.25). Para Ames, a graça da certeza
está incluída em seu exame da ordem da salvação, que ele
explica antes de passar à “união pela vocação”, justificação,
adoção, santificação e glorificação (1.26-30).
A seguir Ames dedica dois capítulos ao assunto referente
à aplicação da redenção, a Igreja (1.31,32), depois fala sobre o
modo ou 0 meio da aplicação da redenção, dedicando capítulos
às Escrituras Sagradas (1.34), ao ministério (1.33, 35), aos
sacramentos {ou seja, às ordenanças} (1.36, 41) e à disciplina
eclesiástica (1.37). Finalmente, Ames explica como Deus
administra a aliança da graça (1.38,39, 41).
O Livro 2 apresenta a segunda metade do sistema de
teologia de Ames: a observância ou obediência que acompanha
a fé. A obediência é realizada por meio da virtude e das boas
obras, e se manifesta na religião (amor a Deus) bem como
na justiça e na caridade (amor ao próximo). Aqui Ames
explica que a primeira tábua da lei e suas virtudes teológicas
constituem o alicerce da religião, da adoração a Deus, enquanto
que a segunda tábua da lei e suas virtudes relacionadas com a
caridade constituem 0 paradigma para a conduta interpessoal.
O projeto da vida cristã é expresso agindo para com
Deus e uns para com os outros como os Dez Mandamentos
prescrevem (2.1-22). Ames elaborou 0 Livro 2 em detalhe em
sua obra Conscience (ver acima).
The Marrow of Theology, expõe clara e sistematicamente
0 pensamento puritano sobre Deus, sobre a igreja e sobre o

112
W illiam Ames

mundo. É um livro essencial para o entendimento da ideia


puritana sobre a aliança, a santificação e o enganjamento, e
é altamente recomendado igualmente para leigos e teólogos.
Deveria fazer parte da biblioteca de todo pastor e da biblioteca
de toda igreja.

Technometry (UPP; 202 páginas, 1979). Nesta obra William


Ames apresenta a estrutura geral do sistema intelectual
puritano-ramista. Essa estrutura, que consiste de um
esboço enciclopédico de todo o conhecimento, é chamada
“ tecnometria”, ou tecnologia. O livro oferece um tratamento
sistemático das artes liberais e da sua integração com a teologia.
Ele inspirou as “teses tecnológicas” que eram discutidas
nos exercícios iniciais nos primordios de Harvard e Yale. A
metodologia de Ames é precisa e compreensiva.

113
Robert Asty
(1642-1681)

ilho de Robert e Ellen Asty, Robert Asty nasceu em 1642


F em Stratford, município de West Ham, Essex, quando
essa parte do pais era uma fortaleza do puritanismo. Seu pai
foi um dos ministros destituídos dos seus postos e sustento na
Igreja da Inglaterra no Dia de São Bartolomeu, 24 de agosto
de 1662. Enquanto seu pai foi forçado a sair, o filho escolheu
ficar fora por amor da consciência.
O jovem Robert Asty abriu uma escola secundária na
aldeia de Dedham, Essex, em 1663, onde ensinou por dez
anos. Em 1668, casou-se com Lydia Sammes, filha do seu
pastor, John Sammes, ministro em Coggeshall, Essex. Os
Asty tinham sete filhos, três dos quais precederam seu pai na
morte. Seu segundo filho, John, estudou para o ministério
junto com Isaac Watts, e posteriormente os dois se associaram
como colegas no ministério das igrejas independentes.
Em 1674, Asty mudou-se para o norte para trabalhar como
instrutor mestre de uma igreja congregacional de Norwich,
Norfolk. Trabalhou ali até 1681, quando sucumbiu à varíola
e morreu repentinamente no dia 14 de outubro, aos trinta e
nove anos de idade.

114
Roben A u y

A Treatise of Rejoicing in the Lord Jesus in All Cases and


Conditions (SDG; 250 páginas; 2002). Esta é a melhor
conhecida obra de Asty. Foi publicada pela primeira vez em
1683, e depois, novamente, cm 1901 e em 1990. Explicando
Habacuque 3:17,18, Asty sonda a alma para descobrir as
causas de tristeza e desânimo nas vidas do povo de Deus. Ele
então provê sábio conselho sobre como encontrar alívio em
Cristo. Ele oferece um completo plano bíblico de batalha para
combater o inimigo que vem na forma de desânimo espiritual.
Oferece também ajuda contra os assaltos das trevas, tanto
para os santos recém-convertidos como para os peregrinos
maduros.
Asty provê muitas instruções sobre como esperar em
Cristo e sobre como assegurar-se de um interesse pessoal,
salvífico por Ele. Suas diretrizes aos crentes no capítulo 4,
“embora na sombria preocupação, o seu [salvífico] interesse
por Cristo”, são particularmente proveitosas. Ele aconselha:
fortalecer o ato direto de fé em Cristo; regozijar-se nas graças
fortalecedoras e sustentadoras do Espírito; labutar para
aumentar a graça e a santidade; regozijar-se no “alvorecer do
dia, mesmo quando você não consegue ver o sol no fulgor do
meio-dia” ; preferir o serviço por Cristo, acima da segurança
em Cristo; colher consolação vinda de experiências anteriores;
mostrar bondade a todos os crentes em luto; e estar disposto
a continuar “andando na escuridão” por todo o tempo em que
Deus quiser mantê-lo ali.
Asty lembra aos crentes que eles devem regozijar-se
em Cristo, não importa quais sejam as suas circunstâncias.
Ele escreve: “Não tema, ó alma, não chore seu frasco vazio,
não chore os bens que perdeu, não chore suas comodidades
passadas, erga os olhos para contemplar a plenitude de Jesus.
Ele tem o suficiente para a sua felicidade, Ele pode ordenar
que a plenitude da terra adentre a sua condição e dá-la a você
pela mão que Lhe apraze empregar”.
Na conclusão do livro, Asty conclama: “Ó, venha auferir

115
PAIXAO P E L A PUREZA

as suas consolações de Cristo, e não da criatura; não procure


obtê-las de ajudas secundárias, mas sim da Fonte; não se
assente junto às correntes, mas suba à Fonte, ao Oceano, que
está sempre cheio!”
O livro inclui também dois sermões: “The Hope of the
Saints in Heaven”, (Col. 1:5) e “A Christian’s Freedom from
Condemnation in Christ”, (Rom. 8:1).

116
R ic h a rd B a k e r n asceu em S is s in g h u rs t, K e n t, de u m a
fa m ília rica. Seu pai, J o h n B aker, tin h a serv id o com o
m e m b ro do p a rla m e n to (1554,1555) e e ra ad v o g ad o , e sua
m ãe, C a th e rin e , e ra filh a de R e g in a ld S co tt, de Scots H all,
A sh fo rd , K e n t. R ic h a rd in g re sso u no H a r t H a ll, O x fo rd ,
co m o m e m b ro da C â m a ra dos C o m u n s , com dezesseis anos
de id ad e. P o s te rio rm e n te sa iu de O x fo rd p a ra e s tu d a r d ire ito
em L o n d re s , e viajo u ao c o n tin e n te p a ra a p re n d e r lín g u a s e
c o n h e c e r o u tra s c u ltu ra s .V oltou p a ra O x fo rd p a ra c o m p le ta r
u m g ra u de m e stre em 1594.
B a k e r se rv iu co m o m e m b ro da C ám a ra dos C o m u n s p o r
A ru n d e l em 1593 e p o r E a st G rin s te a d em 1597, e foi feito
cav a leiro p o r Ja m e s I e m l6 0 3 . F o i m u ito e s tim a d o p o r suas
p ro eza s in te le c tu a is , p a rtic u la rm e n te na lógica e n a filosofía.
P o r a lg u m te m p o se rv iu co m o juiz de paz, p o r M id d le se x ,
e e n tã o , em 1620, foi feito p rin c ip a l x erife de O x fo rd sh ire .
T am b ém foi L o rd e de M id d le A sto n e de o u tra s te rra s de
E ssex, G lo u c e s te rsh ire , K e n t e O x fo rd sh ire .
C aso u -se com M a rg a re t M a in w a rin g , filh a de Sir G eorge
M a in w a rin g de Ig h tfie ld , S h ro p s h ire , a p e sa r de isto sig n ific a r
q u e ele d ev eria a tu a r co m o fia d o r das s u b sta n c ia is d ív id as da

117
ΡΛΙΧΑΟ P E L A PUREZA

família dela. Por volta de 1625, Baker foi denuneiado como


devedor à coroa. O governo confiscou sua propriedade em
Oxfordshire, e de 1635 até sua morte, dez anos mais tarde,
ficou encarcerado na Eleet Prison.1 Embora sob vigilância,
teve liberdade para escrever; enquanto esteve preso, produziu
doze livros. Muitos dos seus escritos são de natureza histórica,
o mais famoso sendo A Chronicle of the Kings of England. Sua
obra mais evangélica é seu livro Meditations and Disquisitions
upon Certain Psalms. Embora não sendo puritano do ponto
de vista político, é incluído aqui por causa do sabor teológico
puritano que rescende dessas meditações.

Meditations and Disquisitions upon Certain Psalms (SPR;


449 páginas; 1988). Este livro inclui meditações sobre o Salmo
primeiro, sobre os Salmos penitenciais (6, 32, 38, 51, 102, 130,
143) e sobre os sete Salmos consoladores de Davi (23, 27, 30,
34, 84, 103, 116). As exposições de Baker são eloquentes e
experimentais. Por exemplo, comentando o Salmo 51 Baker
escreve: “ Se for Teu prazer, ó I)eus, retirar Tua presença de
mim para fazer-me consciente da minha fraqueza, mesmo
assim, não me lances da Tua presença com desprazer, para
me fazer desesperar do Teu amor” .*

F a m o s a p risão d e L o n d re s, a n te rio rm e n te u m m e rc a d o . N o ta d o trad u to r.

118
h

William Bates
(1625-1699)

illia m B ates foi u m dos m ais p o p u la re s e m ais


W e s tim a d o s p re g a d o re s e n tre os não c o n fo rm ista s ; um
m e stre do estilo sim p le s de p reg aç ão p u rita n a , sua ênfase à
p ie d a d e c o n q u is to u -lh e o n o m e de “ lín g u a de p ra ta ” . N ascid o
em n o v e m b ro de 1625, era filh o de W illia m B ates, fidalgo
na p a ró q u ia de St. M a ry M a g d a le n e , B erm o n d sey , Surrey.
G ra d u o u -s e no Q u e e n ’s C ollege, o b te n d o o g rau de B acharel
em A rte s em 1645, e o de M e stre em A rtes cm 1648. N o ano
se g u in te ele se to rn o u v ig á rio d e T o tte n h a m , M id d le se x , e
p o u co s an o s d e p o is su ced eu a W illia m S tro n g co m o v ig á rio de
St. D u n s ta n -in -th e -W e s t. C o m o o u tro s p u rita n o s , ele p reg o u
m u ita s vezes n o s fam osos ex erc ício s m a tu tin o s realizad o s na
Ig reja de C rip p le g a te .
D e aco rd o com R ic h a rd B axter, B ates d e se m p e n h o u uní
im p o rta n te papel nas negociações p ara a restau ra ção de C harles
II. C om o re co m p en sa, foi d esig n ad o capelão real em 1660. N o
m esm o ano, foi n o m e ad o m e m b ro da com issão en ca rre g ad a
da aprovação de m in is tro s pelo P a rla m e n to R esid u al e, por
m a n d a to real, fo i-lh e d ad o um d o u to ra d o em teologia pela
U n iv e rsid a d e de C am b rid g e. N o ano seg u in te, ele re p re se n to u ,
em com issão, os p re s b ite ria n o s na C o n ferên c ia de Savoy, onde

119
PAIXAO P E L A PUREZA

um dos propósitos era fazer revisão da liturgia pública, inclusive


a identificação de pontos fracos do Livro de Oração Comum.
A primeira esposa de Bates morreu jovem, quando lhe deu
sua primeira filha. Aos trinta e seis anos de idade, ele se casou
com Margaret, jovem de 21 anos de idade, filha de Edward
Gravenor, fidalgo de St. Giles Cripplegate. Ela lhe sobreviveu
por uma geração.
Em 1662, Bates foi um dos 2.000 ministros expulsos pelo
Ato de Uniformidade. Mas ele não se ofendeu. Em seu sermão
de despedida da igreja de St. Dunstan não fez nenhuma menção
das expulsões iminentes, senão dizer em sua conclusão, na
verdade com brandura, que a sua não conformidade só era
motivada por seu temor de ofender Deus. E então acrescentou:
“ Se eu tiver a infelicidade de estar errado, certamente os
homens não têm motivo para irar-se comigo neste mundo, e
espero que Deus me perdoe no próximo” (OxfordDNB, 4:327).
Bates labutou durante os próximos dez anos, muitas vezes
com homens como Thomas Mantón, Edmund Calamy e
Richard Baxter, pela inclusão dos não conformistas na Igreja
anglicana, e pela tolerância para com outras Igrejas. Em duas
ocasiões, ele se dirigiu a William III e a Mary em favor dos
seus companheiros não conformistas. Contudo, todos esses
esforços permaneceram em grande medida infrutíferos,
porquanto Charles nunca cumpriu sua promessa de trabalhar
pela inclusão dos não conformistas.
Depois de sua expulsão, Bates pregou muitas vezes nas
vizinhanças de St. Dunstan, mais comumente na casa da
condessa de Exeter e numa sala situada no portal de Temple
Bar,1 ao lado de sua velha igreja. De 1669 em diante, serviu,
ao que parece, como um dos preletores de uma congregação
dissidente situada em Hackney. Em 1672, foi licenciado como
mestre presbiteriano e foi designado para ministrar preleções

1 T em p le B ar. a n tig a p a s s a g e m s e p a ra n d o as ru a s F leet e a a m p la a v e n id a


S tra n d , e m l.o n d re s. N o ta d o trad u to r.

120
William Bates

em Pinner’s Hall (local mais tarde denominado “Preleção aos


Velhos Mercadores”). Quando Daniel Williams foi expulso
deste ministério de preleções em 1694, Bates abriu mão de
seu encargo de preletor e fundou a Sala de Preleções Salters,
onde reuniu grandes multidões.
Durante as últimas décadas de sua vida, Bates teve diversos
atritos com as autoridades, inclusive ao menos três multas
por manter conventículos, apesar do seu caráter pacífico, da
sua branda maneira de pregar, da sua crescente reputação
como respeitável erudito e da sua amizade com importantes
autoridades anglicanas, como o arcebispo Tillotson. Bates
continuou sendo um importante puritano até o fim da sua
vida, e várias vezes foi convidado para pregar nos funerais de
bons amigos puritanos, inclusive Richard Baxter, Thomas
Mantón, Thomas Jacomb e David Clarkson.
Bates morreu em Hackney em 21 de julho de 1699,
sobrevivendo-lhe sua segunda mulher, Margaret. Nos funerais
de Bates, o sermão, pregado por John Howe, amigo íntimo de
mais de quarenta anos, foi um rico testemunho de sua vida
piedosa e do seu diligente estudo. Sua excelente biblioteca,
adquirida por Daniel Williams, ajudou a estabelecer a Biblioteca
Dr. Williams, agora situada em Gordon Square, Londres.

The Complete Works of William Bates (SPR; 4 volumes, 2.085


páginas; 1990). Os escritos de Bates foram coletados pela
primeira vez numa edição de 1700 infolios; em 1815, foram
impressos em quatro volumes, dos quais esta reimpressão é
fotolitografada.
Todos os escritos de Bates veiculam boa erudição, extensa
leitura e esmerada redação. John Howe descreve Bates como
“devorador de livros” e como alguém que anelava estudar sobre
Deus e expor Seu amor e Sua misericórdia: “Em que êxtases
de admiração e de amor de Deus o tenho visto irromper”,

121
PAIXAO P E L A PUREZA

disse Howe (Works of Bates, 1:xviii). Isso vem à tona no livro


por Bates mais vezes reimpresso, The Harmony of the Attributes
of God, (1674). Seus capítulos sobre a misericordia de Deus
são algo do que há de mais excelente jamais escrito sobre
este precioso assunto. Eis aqui quatro inferências que Bates
extrai do regozijo pela infinidade do amor divino: “(1) O
amor redentor merece a nossa mais alta admiração e os mais
humildes agradecimentos; (2) O amor de Deus manifestado
em nossa redenção é a força mais poderosamente persuasiva
para o arrependimento; (3) O amor transcendente que Deus
expressou em nossa redenção mediante Cristo deve acender
em nós um recíproco afeto por Ele; (4) Que alta provocação
é desprezar a misericordia redentora e anular a infinita
bondade dispensada tão extraordinariamente para nossa
recuperação!” (1:329-340).
Alguns consideram o livro The Four Last Things, (1691), a
obra mais grandiosa de Bates, um breve e pungente tratamento
dos fatos da morte, do juízo, do céu e do inferno. Seu tratado
de 50 páginas On Divine Meditation é tipicamente puritano
e um dos melhores em seu campo, cobrindo sucintamente os
pontos básicos da sua natureza, necessidade, tempo, vantagens,
regras e aplicações. Suas outras importantes publicações
incluem The Select Lives of Illustrious and Pious Persons,
Discourses on the Existence of God, The Immortality of the Soul,
The Great Duty of Resignation, The Danger of Prosperity, Sermons
on the Forgiveness of Sins, e The Sure Trial of Uprightness. O livro
Complete Works inclui numerosos sermões e diversos tratados
sobre o viver cristão, todos os quais escritos sucintamente e
carregados de material edificante. Se você está procurando
um puritano que sempre escreve bem, é prático e também
celestial, e nunca é tedioso, leia as Works de Bates.

122
Richard Baxter
(1615-1691)

R ichard Baxter nasceu em 1615 em Rowton, perto de


,Shrewsbury, em Shropshire. Ele foi o único íilho de
Beatrice Adeney e de Richard Baxter. Devido ao hábito de
jogar do seu pai e de dívidas herdadas, junto com a má saúde
da sua mãe, Richard viveu com seus avôs maternos durante os
dez primeiros anos da sua vida. Quando seu pai foi convertido
pela “simples leitura das Escrituras, privadamente”, Richard
voltou ao lar paterno, e posteriormente reconheceu que
Deus usou as sérias conversas do seu pai acerca de Deus e
da eternidade como “o instrumento das minhas primeiras
convicções, e da aceitação de uma vida santa” (Reliquiae
Baxterianae, 1:2-4).
Em grande parte, a educação de Baxter foi informal; mais
tarde ele escreveu que tivera quatro professores em seis anos,
todos os quais eram ignorantes e dois levavam vida imoral. Não
obstante, ele tinha mente fértil e gostava de ler e de estudar.
Uma doença prolongada e vários livros - particularmente as
Works de William Perkins - foram o meio usado por Deus
para “eu me decidir para Ele”, escreveu Baxter (Reliquiae
Baxterianae, 1:3,4). Quando estava com quinze anos de idade,
ele foi profundamente afetado pela obra de Richard Sibbes,

123
RICHARD BAXTER
Richard Baxter

The Bruised Reed: “ Sibbes descortinou mais o amor de Deus


por mim e me propiciou uma vivida apreensão do mistério
da redenção e de quanto eu era devedor a Jesus Cristo”.
Subsequentemente, o Treatise of Faith, de Ezekiel Culverwell,
(1623), “ fez-me muito bem” (ibid., 1:4,5).
A educação de Baxter deu uma virada para melhor quando
ele se transferiu para a escola secundária de Wroxeter, onde
recebeu alguma ajuda de custos de um mestre-escola chamado
John Owen. Seu melhor professor ali foi Francis Garbet, um
ministro erudito que se interessou realmente por Baxter. Aos
dezesseis anos de idade, sob a persuasão de Owen, Baxter
decidiu renunciar à universidade em favor de colocar-se sob a
instrução de um amigo de Owen, Richard Wickstead, capelão
do Castelo de Ludlow, que foi seu preceptor, na verdade
sem muito ânimo, durante dezoito meses.
Em 1633, Baxter foi para Londres sob o patrocínio de
Sir Henry Herbert, Mestre dos Eventos Festivos, na corte de
Charles I. Joseph Symonds e Walter Cradock, dois piedosos
ministros puritanos que estavam em Londres, despertaram sua
simpatia pelo não conformismo, mas ele ficou apenas quatro
semanas em Londres. Insatisfeito com a vida mundana da
corte em Londres, e desejando cuidar de sua mãe enferma, ele
voltou para casa em 1634; sua mãe morreu em maio de 1635.
Baxter passou os próximos quatro anos estudando teologia
particularmente, em especial a dos escolásticos, inclusive
Aquino, Scotus e Ockham.
Aos vinte e três anos de idade, não tendo até então
“nenhum escrúpulo contra a subscrição”, e achando que “os
conformistas tinham a melhor causa” (ibid., 1:13), Baxter foi
ordenado diácono por John Thornborough, o idoso bispo
de Worcester. Por nove meses ele serviu como diretor da
escola fundada em Dudley, um centro da não conformidade.
Em 1639, ele se tornou ministro assistente em Bridgnorth,
Shropshire, onde desenvolveu mais profunda apreciação
pela não conformidade.

125
PAIXÃO P E L A PUREZA

Em 1641, Baxter tornou-se vigário adjunto em Kidder­


minster. Embora muitos, entre uma população muito
corrupta e rude de operários que trabalhavam em tecelagem
manual, tenham ficado ofendidos, inicialmente, com sua forte
pregação e com sua ênfase ao exercício de controle sobre a
administração da Ceia do Senhor e à disciplina da igreja, seu
ministério de dezessete anos ali (1641,1642, 1647-1661) teve
substancial fruto. Ele pregava como “um homem moribundo
para homens moribundos”, o que, com a bênção do Espírito,
resultou em numerosas conversões. Sua oração não era menos
intensa: “ Sua alma batia asas para o céu e arrebatava com
ela outras almas” (Leonard Bacon, Select Practical Writings of
Richard Baxter, [New Haven, 1831], 1:262).
Durante os primeiros dias da Guerra Civil Baxter apoiou,
e numa ocasião acompanhou, o exército parlamentar. Ele
pregava diante de Cromwell, mas não se sentia bem com a
tolerância do Protetor para com os separatistas. Embora fosse
tão-somente um ocasional “conformista”, Baxter apoiava a
posição de que se devia fazer parte de uma igreja estabelecida,
e se opôs à Solene Liga e Aliança de 1643. Ele acreditava
também que as tendências antinomistas de alguns soldados e
pregadores, como Tobias Crisp e John Saltmarsh, eram opostos
à vida cristã prática. O ensino deles incitou-o a escrever a
obra Aphorisms ofJustification, (1649), na qual ele argumentou
em favor de uma combinação da graça divina e a cooperação
humana na justificação.
Em 1647, as enfermidades prolongadas de Baxter com­
peliram-no a deixar o exército. Recuperou-se na casa de Sir
Thomas e Lady Rous, em Worcestershire, onde escreveu a
primeira parte de The Saints’ Everlasting Rest. Posteriormente
ele disse que o escreveu como um serviço de amor enquanto
“olhava a morte na face e, todavia, experimentava a suficiente
graça de Deus”.
Recuperado, Baxter voltou para Kidderminster, onde se
concentrou em escrever. “Meus escritos eram o meu principal

126
Richard Baxter

labor diário”, escreveu ele, ao passo que “a pregação e o


preparo para ela, eram apenas a minha recreação” (Reliquiae,
p. 85). Também catequizava membros da igreja dois dias por
semana. Ele ia de casa em casa, com um ajudante, falando
uma hora com cada família e dando a cada uma delas um ou
dois livros edificantes, usualmente escritos por ele mesmo. A
respeito dessas visitas ele disse: “Poucas famílias se despediam
de mim sem algumas lágrimas, ou sem fazerem promessas
aparentemente sérias [de lutarem] por uma vida piedosa” .
E acrescentou: “Algumas pessoas ignorantes, que por muito
tempo foram ouvintes inaproveitáveis, obtiveram mais
conhecimento e preocupação de consciência em meia hora
de exposição concentrada do que em dez anos de pregação
pública” (ibid., l:83ss.).
As visitas nos lares deram fruto. A congregação teve seu
local de reuniões transbordando de pessoas, de modo que foi
preciso acrescentar cinco galerias. Quando Baxter chegou a
Kidderminster, raramente uma família em cada rua, entre as
800 famílias, honrava Deus com culto doméstico. Nos fins do
seu ministério, em 1661, havia ruas em que todas as famílias
o faziam. Sobre o domingo ele escreve, “quando você passava
pelas ruas, podia ouvir cem famílias cantando Salmos e
repetindo sermões”. Das aproximadamente seiscentas pessoas
que se tornaram membros em plena comunhão sob o seu
ministério, ele acrescenta, “Não havia doze das quais eu não
tinha esperanças quanto à sua sinceridade” (ibid., 1:84,85).
Baxter labutou muito, apesar das suas dores crônicas desde
a idade de 21 anos até o fim da sua vida. Ele teve tuberculose e
temia o definhamento. Nos anos subsequentes à Restauração,
ele deixou Kidderminster e foi para Londres, onde pregava
frequentemente em St. Dunstan’s e fazia preleções em
Pinner’s Hall e em Fetters Lane. Contudo, ele pleiteou em
vão, na Conferência de Savoy (1661), em favor da forma de
episcopado sinodal, não sacerdotal, projetada pelo arcebispo
James Ussher, (1581-1656), e de uma revisão puritana do
Livro de Oração.

127
PAIXAO P E L A PUREZA

Em 1662, Baxter foi expulso da Igreja da Inglaterra pelo


Ato de Uniformidade. Continuou a pregar pelo resto de
sua vida onde podia, mas nunca reuniu uma congregação
dele próprio. J. I. Packer escreve: “Erroneamente chamado
presbiteriano, Baxter era um não conformista relutante que
favorecia a monarquia, igrejas nacionais, liturgia e episcopado,
e pôde aceitar 0 Livro de Oração, não solidariamente revisto
em 1662. Mas o Ato de Uniformidade, de 1662, exigia renúncia
do juramento dos ideais puritanos de reforma como condição
para 0 recebimento de incumbência na restaurada Igreja da
Inglaterra, e Baxter recusou-se a seguir adiante nisso” (New
Dictionary of Theology, p. 83).
Depois de sua expulsão, quando estava com quase cinquenta
anos de idade, Baxter casou-se com uma de suas convertidas,
Margaret Charlton, que tinha pouco mais de vinte anos. A
disparidade de idades causou alguma consternação por um
tempo, mas a excelência do seu casamento em Cristo silenciou
os rumores. Margaret foi comprovadamente uma cristã devota,
e uma esposa fiel que ansiava zelosamente pela salvação das
almas. A ternura de Baxter para com a esposa e a piedade dela
são descritas na obra Breviate of the Life of Mrs. Margaret Baxter,
(1681). Ali Baxter escreve que “ jamais conheceu alguém igual
a ela” na religiosidade prática, pois ela era “melhor que a
maioria dos teólogos que ele conhecera para resolver crises de
consciência”. Em face disso, ele habitualmente compartilhava
com ela todos os casos, exceto os que se impunham como
absolutamente confidenciais (Breviate, pp. 67,68).
Os Baxter estabeleceram-se em Londres. Prelados e
magistrados perseguiam Baxter durante muitos dos seus
restantes anos. Ele foi preso ao menos três vezes por pregar
e nunca mais reassumiu um cargo pastoral; até seus livros
foram tomados dele. Sua reação foi dizer: “ Senti que eu estava
perto do fim da obra e da vida que necessitam de livros, e por
isso tranquilamente deixei que todos fossem embora”. Uma
vez até a cama em que jazia enfermo foi confiscada.

128
Richard Baxter

Depois que James II assumiu o trono, em 1685, Baxter


foi acusado de atacar o episcopado na obra Paraphrase
on the New Testament, e foi levado à presença do Lord
Jeffreys, Presidente do Tribunal. Jeffreys acusou Baxter de
comportamento sedicioso, chamando-lhe de “ velho patife
que envenenou o mundo com sua doutrina de Kidderminster”.
Jeffreys continuou, exclamando: “Este cão convencido,
teimoso e fanático - que não se conformou quando poderia
ter sido promovido; pendurem-no!” O bispo de Londres
interferiu, e Baxter foi poupado de ser açoitado em público,
embora continuasse preso por mais cinco meses.
Baxter finalmente se beneficiou do Ato de Tolerância,
de 1689, posto em vigor por William e Mary para proteger
os não conformistas. Passou seus últimos dias nas aprazíveis
vizinhanças da Charterhouse Square. Ocasionalmente pregava
a grandes multidões ali, mas passou a maior parte do seu
tempo escrevendo. Quando estava para morrer e um amigo
lhe lembrou os benefícios que muitos tinham recebido dos
seus escritos, Baxter replicou: “Fui tão-somente uma pena
nas mãos de Deus, e que louvor se deve a uma pena?” Por
ocasião da sua morte, em 8 de dezembro de 1691, Baxter
tinha escrito cerca de 150 tratados, como também centenas
de cartas e ensaios não publicados.
Os escritos de Baxter são uma estranha mescla teológica.
Ele era um dos poucos puritanos cujas doutrinas dos decretos
de Deus, da expiação e da justificação eram qualquer coisa,
menos reformadas. Embora em geral tenha estruturado
sua teologia ao longo das linhas do pensamento reformado,
frequentemente se inclinava para o pensamento arminiano.
Ele desenvolveu sua própria noção de redenção universal, 0
que ofendeu os calvinistas, mas reteve uma forma de eleição
pessoal, que ofendeu os arminianos. Ele rejeitava a reprovação.1
Foi grandemente influenciado pelos amyraldistas e

1 O d e c re to d iv in o d e re p ro v a ç ã o d o s n ã o eleito s. N o ta d o trad u to r.

129
PAIXAO PKLA PUREZA

incorporou muito do pensamento deles, inclusive o universalis­


mo hipotético, que ensina que Cristo morreu hipoteticamente
por todos os homens, mas Sua morte só tem real beneficio
para aqueles que creem. Para Baxter, a morte de Cristo foi
mais uma satisfação forense da lei do que de uma morte
substitutiva pessoal em favor dos pecadores eleitos.
Sua abordagem da justificação tem sido chamada neo-
nomianismo (isto é, “nova lei”); ele dizia que Deus criou uma
nova lei oferecendo perdão aos infratores arrependidos da antiga
lei. A fé e o arrependimento - as novas leis que têm que ser
obedecidas - tornam-se a justiça pessoal e salvífica do crente,
sustentada pela graça da preservação. A soteriologia de Baxter
é, então, amyraldiana, com o acréscimo do ensino arminiano da
“nova lei”. Felizmente, essas doutrinas errôneas não estão muito
presentes numa primeira leitura dos escritos devocionais de
Baxter, os quais são elaborados principalmente para incentivar
a santificação do crente, antes que para ensinar teologia.
Baxter declarou não gostar de ter que escrever tratados
polêmicos: “ Sobre controvérsias tenho escrito, mas somente
para terminá-las, não para fazê-las”. Todavia, Hans Boersma
mostrou que, embora pacífico em alguns aspectos, Baxter
podia ser provocador também (ver A Hot Pepper Corn: Richard
Baxter’s Doctrine of Justification in its Seventh-Century Context
of Controversy, [Zoetermeer: Boekencentrum, 1993 ]).

A Calltothe Unconverted{Zondervan; 170páginas; 1953). Este


“tratado” evangelístico clássico, baseado em Ezequiel 33:11,
revela o apaixonado interesse de Baxter pela evangelização.
É um sério e racional apelo aos incrédulos para que sejam
convertidos a Deus e aceitem Sua oferta de misericórdia. Aqui
vai um exemplo:
Se morreres não convertido, não há como
duvidar da tua condenação; e não tens certeza de

130
Richard Baxter

que vais viver mais uma hora e, todavia, não estás


pronto a arrepender-te e entrar? Oh, pobre infeliz! Já
não serviste por tempo suficiente a carne e o diabo? Já
não baste o pecado que cometeste? Seria 0 pecado tão
bom para ti? Seria tão proveitoso? Não 0 conheces,
para que queiras ter mais dele? Não recebeste tantos
chamados e tantas misericórdias, tantos golpes e
tantos exemplos? Viste muitos jovens nos túmulos,
e ainda não estás pronto a deixar os teus pecados e
vir a Cristo? E então? Depois de tantas convicções
de pecado e apertos de consciência, depois de tantos
propósitos e promessas, ainda nào estás pronto a
ser convertido e a viver? Oh, se tão-somente os teus
olhos e 0 teu coração fossem abertos para saber quão
bela oferta te é feita agora! E que alegre mensagem
somos enviados a proclamar para induzir-te a vir,
pois tudo já está pronto! (pp. 70,71).

Salientando que os pecadores “morrem porque querem


morrer; isto é, porque não são convertidos”, Baxter diz: “Tão
zeloso é Deus pela conversão dos pecadores que Ele dobra
as Suas ordens e exortações com veemência: “Convertei­
-vos, convertei-vos; por que razão morrereis?” E preciso
discernimento na leitura deste livro, visto que ocasionalmente
as idéias errôneas de Baxter vêm à tona.

Dying Thoughts (Baker, 144 páginas; 2004). Baseado em


Filipenses 1:23, “mas de ambos os lados estou em aperto, tendo
desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito
melhor”, Baxter expõe uma atitude própria para com a presente
vida e para com a vida por vir. Dying Thoughts foi escrito
pouco tempo antes da morte de Baxter, ocorrida em 1691.
O livro exala um espírito de fé vital nas promessas de Deus.
Esta reimpressão foi condensada por Benjamin Fawcett.
Também contém um excelente ensaio introdutório escrito

131
PAIXAO P E L A PU R EZA

por Edward Donnelly, intitulado “A Corrective for Reformed


Preachers”, que colhe da pregação de Baxter lições práticas
para os ministros.

The Practical Works of Richard Baxter (SDG; 4 volumes,


4.201 páginas; 2000). Baxter é autor de aproximadamente 150
livros, vários dos quais são infolios de mais de um milhão
de palavras. Se suas obras fossem impressas completamente,
chegariam a mais do dobro do tamanho das de Owen. Muitos
livros de Baxter são homiléticos, catequéticos, biográficos,
históricos, práticos, filosóficos, éticos ou polêmicos em sua
natureza, embora ele também tenha publicado comentários,
poesia e política. Keeble escreve: “O puritanismo sempre
utilizou a imprensa, mas nunca houve uma carreira literária
como esta, quer na escala quer no sucesso. Baxter foi o primeiro
escritor de uma corrente de “ bestsellers” na história literária
da Grã-Bretanha” (Oxford DNB, 4:430).
Os escritos práticos de Baxter em geral eram os mais
populares. Suas Practical Works, foi publicada em quatro
volumes infolios em Londres, em 1707, depois prestimosa-
mente editadas por William Orme e republicadas em vinte
e três volumes em 1830, depois da qual foi feita a série de
quatro volumes de H.R. Rogers foi publicada em 1868. A
edição da SDG em 2000 é da série de Rogers.
O primeiro volume, A Christian Directory, (1673), oferece
percepções perspicazes para a vida do crente, expondo teologia
prática e casuística com mais de um milhão de palavras.
Nenhuma obra puritana sobre teologia aplicada chegou perto
da popularidade, do escopo ou da profundidade deste tratado.
Com extenso interesse pelo viver cristão, no aconselhamento
e na prática, na Igreja atual esta reimpressão da obra de Baxter
deveria ser um acréscimo bem-vindo a todas as bibliotecas
e a todo aquele que quiser dar sólidas respostas bíblicas às
perguntas mais importantes do homem.
O volume 2, intitulado zl Call to the Unconverted, (1658),

132
Richard Baxter

contém essa obra condensada, mais onze tratados, inclusive


The Reasons of the Christian Religion, The Unreasonableness of
Infidelity, A Treatise of Conversion, e The Character of a Sound,
Confirmed Christian. O volume 3 contém The Saints’ Everlasting
Rest, (1649),A Treatise of Self-Denial, (1659), Dying Thoughts,
(1683), e outros tratados sobre diferentes assuntos. O volume 4
contém a versão completa do magistral tratado, The Reformed
Pastor,2 (1656), como também The Catechising of Families,
The Vain Religion of the Formal Hypocrite, vários sermões e
treze tratados menores, inclusive The Cure of Melancholy and
Overmuch Sonow, by Faith { Superando a Tristeza e a Depressão
com Fé} - talvez a mais subestimada obra por Baxter. Nela
Baxter, como médico de almas, sonda com notável percepção
a psiquê humana e oferece sugestões para a cura da depressão
e de outras indisposições mentais. Por exemplo, Baxter
diz: “Quanto puder, distraia-os dos pensamentos que são o
problema deles; mantenha-os envolvidos noutras conversas
e noutra ocupação; intervenha neles e interrompa suas
imaginações; levante-os, mas com amorosa importunação; não
permita que fiquem sós por muito tempo; consiga companhia
conveniente para eles, ou eles para ela; principalmente, não
deixe que fiquem ociosos, mas dirija-os ou impulsione-os
a alguns trabalhos agradáveis que possam ativar o corpo e
ocupar os pensamentos” (Practical Works, 4:933).

The Reformed Pastor {O Pastor Reformado}, (BTT; 256


páginas; 1999). Condensada da obra original, esta edição
apresenta um exame mais acessível da teologia pastoral de
Baxter. Escrevendo este livro com a profunda determinação
de retificar a negligência pastoral que ele tinha experimen­
tado quando jovem em West Midlands, Baxter descreve com
zelosos detalhes, a supervisão que os pastores devem exercer,

2 P u b licad o por P u b licaçõ es K van g élicas S elecio n ad as, S ão P au lo - sob o


títu lo O Pastor Aprovado. T rad u ção d e O d a y r O liv etti.

133
PAIXAO P E L A PUREZA

primeiro sobre eles e depois sobre seus rebanhos, movidos


por sincero amor às almas (At. 20:28).
Com o termo “Reformado” no título, Baxter não somente
quer dizer que os pastores devem ser “calvinistas”, mas
também que eles devem ser “ revivificados” . Ble se supera
no esforço de convencer os ministros da sua alta vocação
para buscar avivamento pessoal e assumir 0 seu trabalho
com seriedade e oração. Alguns trechos deste livro são
notavelmente próprios para produzir convicção de pecado,
tal como a denúncia que Baxter faz do orgulho pastoral. Ele
oferece também muita orientação prática ao pastor para lidar
com os perenes problemas de instruir e guiar a igreja. E
Baxter em sua melhor expressão.
Philip Doddridge escreve sobre essa obra: “ The Reformed
Pastor deve ser lido por todo jovem ministro, antes de tomar
as pessoas sob seu cuidado estabelecido; e, penso eu, sua
parte prática deve ser revista cada três ou quatro anos;
pois nada teria maior tendência de despertar o espírito
do ministro para esse zelo em sua obra, por falta da qual
muitos bons homens não passam de sombras do que
poderíam ser, se as máximas e as medidas formuladas nesse
incomparável tratado fossem seguidas estrenuamente” .

Reliquiae Baxterianae (RB; 312 páginas; sem data). Bste livro


contém consideravelmente menos da metade do original, que
apareceu pela primeira vez em 1696, sob a responsabilidade
editorial de Matthew Sylvester. Embora o original, que nunca foi
reimpresso na totalidade, tenha sido descrito como “uma tralha
confusa e disforme”, continua sendo uma importante fonte
de informação sobre a história do século dezessete. Edmund
Calamy (1671-1732) condensou a obra de Baxter numa edição
mais fácil de ler e publicada em 1702. Em 1925, J. M. Lloyd-
-Thomas editou um resumo insatisfatório, The Autobiography of
Richard Baxter, (Londres: Dent). A edição corrente, publicada
na década de 1990, embora desigual na qualidade, contém

134
Richard Baxter

fascinantes percepções da vida de Baxter e oferece valiosas


pepitas de sabedoria, particularmente para ministros.

The Saints’ Everlasting Rest !0 Repouso Eterno dos Santos},


(CFP; 704 páginas; 1999). Este é, merecidamente, um dos mais
valiosos volumes das obras práticas de Baxter. Escreveu a maior
parte dele quando eslava longe de casa e não tinha nenhum
livro, exceto a Bíblia para consultar. Estando doente durante
meses e esperando a morte, fixou seus pensamentos no repouso
eterno do crente em Cristo. Depois que se recuperou, Baxter
pregou esses pensamentos em seus sermões semanais em
Kidderminster. Thomas Doolittle, natural de Kidderminster,
que mais tarde se tornou um conhecido ministro e escritor
puritano, datou sua conversão do tempo em que ouviu essas
pregações.
Em 1650, Baxter publicou a substância de suas pregações
como os primeiros de muitos escritos práticos. Sobre esse livro
William Bates escreveu: “Para despertar os nossos anseios, ele
revela o santuário do alto e põe a descoberto as glórias e as
alegrias dos bem-aventurados na presença divina, com uma
luz tão forte e viva que todas as deslumbrantes vaidades deste
mundo se desvanecem na comparação, e o crente sincero as
desprezará como o idoso faz com os brinquedos das crianças.
Para incitar nosso temor, ele remove a venda e torna o
fogo eterno do inferno tão visível, e representa as chamas
atormentadoras dos condenados com cores tão terríveis
que, devidamente consideradas, refrearia e controlaria os
mais desenfreados e licenciosos apetites dos miseráveis mais
sensuais”.
O ministro puritano John Janeway disse que sua conversão
foi grandemente influenciada pela leitura do livro de Baxter.
Referindo-se à parte do livro que explana a contemplação
celestial, Janeway escreveu a um amigo: “Há um dever que,
se fosse exercido, dissiparia todas as causas de melancolia:
refiro-me à meditação celestial e à contemplação das coisas

135
PAIXAO P E L A PU R EZA

às quais tende a verdadeira religião cristã. Se tão-somente


andássemos junto a Deus uma hora por dia cumprindo este
dever, 6 que influência teria também sobre o dia todo, e,
devidamente realizado, sobre a vida inteira! Este dever, com
sua utilidade, seu estilo e suas diretrizes, conhecí antes em
certa medida, mas o tive influindo mais fortemente em mim
pelo livro do Sr. Baxter, The Saints’ Everlasting Rest, livro
cuja importância dificilmente poderá ser valorizada demais,
e pelo qual sempre tenho motivo para bendizer Deus” .

136
Lewis Bayly
(c. 1575-1631)

ewis Bayly nasceu por volta de 1575 em Carmarthen,


L Gales, onde Thomas Bayly, seu provável pai, estava
servindo como vigário adjunto naquele tempo. Lewis e sua
primeira esposa, que provavelmente foi Judith Appleton,
tiveram seu primeiro filho em 1595, seguido de mais quatro
filhos. Bayly obtinha seu sustento de Shipston-on-Stour, cm
Worcestershire, em 1597, e três anos mais tarde foi-lhe cedida
a moradia da coroa situada em Evesham, no mesmo condado,
onde serviu como diretor da escola secundária.
Bayly logo ficou sendo conhecido por sua pregação e foi
nomeado capelão do príncipe Henry, poucos anos depois do
acesso do rei James I ao trono. Em 1606 foi-lhe concedida
a reitoria de Llanedi, Carmarthenshire, mas ficava grande
parte do tempo em Evesham. Embora fosse um calvinista
conformado, que respeitava a autoridade da Igreja, Bayly dava
ênfase à piedade no estilo puritano. Logo depois do passamento
de sua esposa, em 1608, ele começou a transformar alguns dos
seus sermões no livro que viria a ser um clássico protestante,
The Practice of Piety {A Prática da Piedade}.
Em 1611,Bayly tornou-se tesoureirodeSt.PaufsCathedral.
Nesse mesmo ano, ele obteve o grau de Bacharel em Teologia

137
PAIXAO PHLA PURH/ Λ

em Oxford, e em 1613 0 Doutorado em Teologia. Por volta


desse tempo, ele sueedeu a Henry Mason na St. Matthew’s
Friday Street, em Londres. Foi designado prebendeiro1 de
Lichfield em 1614 e, dois anos mais tarde, tornou-se capelão
do rei. Fm dezembro de 1616, foi consagrado bispo de Bangor,
posição que ocupou até sua morte.
As convicções puritanas de Bayly lhe ocasionaram
frequente conflito, tanto na corte como em sua remota diocese
no norte de Gales. Fm 1621, ele foi mantido preso por vãrios
meses por sua oposição ao Book of Sports ¡ Livro de Fsportes).
Novas acusações, endossadas pelo arcebispo William Laud,
foram apresentadas contra ele em 1626, mas resultaram em
nada mais do que contínua hostilidade contra ele. Fm 1630,
Bayly foi acusado de ordenar clérigos que não tinham aceitado
plenamente a doutrina e a disciplina da Igreja da Inglaterra.
Defendeu-se com sucesso. Morreu em outubro de 1631,
deixando mulher e quatro filhos.

The Practice of Piety: Directing a Christian Walk, that He


May Please God (SDG: 343 páginas; 1997). Nos séculos
dezessete e dezoito, este clássico protestante foi um dos
devocionarios ingleses mais universalmente lidos, depois do
Pilgrim's Progress {O Peregrino). O próprio Bunyan rastreou
o início de suas convicções espirituais chegando à leitura do
manual de Bayly. Um pastor puritano até se queixou de que
o seu rebanho considerava o devocional com autoridade
igual à da Bíblia.
Publicado pela primeira vez nos primordios de 1600 (a
data exata é desconhecida, mas provavelmente foi em 1611),
The Practice of Piety foi reimpressa em 1612 num formato
ampliado. Por volta de 1643 tinha alcançado sua trigésima

1 C lé r ig o q u e re c e b e " p r e b e n d a ” (sa lá rio ) d e u m a c a te d ra l. N o ta d o trad u to r.

138
Lewis Bayly

quaria edição inglesa; por volta de 1714, sua quinquagésima


primeira edição e por volta de 1792 sua septuagésima edição.
Em 1842, Grace Webster produziu uma edição com notas
biográficas. Através desses séculos todos, The Practice of Piety
foi traduzido em muitas línguas européias, inclusive holandês
(1620), francês (1625), galés (1629), alemão (1629), polonês
(1647) e romanche2 (1668). Os puritanos da Nova Inglaterra
até o traduziram para a língua falada pelos nativos americanos
de Massachusetts (1665).
The Practice of Piety está repleta de instruções bíblicas e
práticas sobre a busca de um viver santo. O autor começa a
sua obra com “uma clara descrição de Deus [em] Sua essência,
em Sua Pessoa e em Seus atributos” . Essa doutrina é a base
da piedade; todas as graças de que os pecadores necessitam
provêm do bondoso caráter de Deus.
Bayly estrutura sua obra em torno dos dois destinos da
humanidade. Ou estamos percorrendo 0 caminho largo que
leva à destruição, ou, pela graça divina, estamos no caminho
estreito que conduz à vida eterna. O pecador não arrependido
tem o infortúnio como seu companheiro constante, na
infância, na mocidade e principalmente na idade adulta
e nos últimos anos de sua vida. Da trágica cena do inferno
como um lago sem fundo reservado para os que morrem não
regenerados, Bayly volta-se para as indescritíveis glórias do
céu. Salientando a necessidade de uma fé verdadeira e de
um santo viver, ele conclui: “Põe logo o óleo da piedade na
lâmpada do teu procedimento, para que estejas em contínua
prontidão para encontrar-te com o esposo” .
O restante do livro explica como alcançar e manter a
prontidão para a Segunda Vinda de Cristo. Bayly mostra
como superar sete obstáculos: ensino errado, o mau exemplo
2 T erm o em pregado para d esig n ar a lín g u a ro m án ica, do grupo reto ­
- ro m á n ic o , ta la d a n u m a p a rte d a S u íç a , n o C a n tà o d o s G riso n s . Λ p artir de
Id37, é a q u a r ta lín g u a o ficial d a S u íç a (a s o u tr a s trê s sã o : a le m ã o , tra n c e s e
italian o ). N o ta d o trad u to r.

139
PAIXAO P E L A PU R EZA

de pessoas proeminentes, a paciência de Deus em demorar


a punir o pecador, a presunção da misericórdia de Deus,
a companhia de ímpios, 0 medo da piedade (como se essa
tornasse deprimidos os seus possuidores), e a ilusão da vida
longa. Depois Bayly salienta que a piedade deve ser cultivada,
e dá conselhos sábios sobre as disciplinas da oração, da leitura
da Bíblia, da meditação, do cântico de salmos, da guarda do
Sabado, da mordomia, da celebração da Ceia do Senhor, e
do andar diário com Deus. Ele mostra como guiar os nossos
pensamentos, palavras e atos em tempos de boa saúde, como
também em tempos de enfermidade e de aflição. Ele provê
diretrizes com o fim de nos proteger do desespero e do medo
da morte. Em resumo, este é um livro sobre como viver
piedosamente e morrer bem.
O livro de Bayly, que tem sido creditado como uma
influência fundamental na ascensão do pietismo (Oxford
DNB, 4:463), não está isento de defeitos. Falta-lhe uma forte
ênfase evangélica e, consequentemente, diz pouca coisa sobre
como alguém se torna cristão. Em certos lugares, ele tende
a fomentar o tipo de meditação introspectiva que leva à
própria melancolia que ele procura evitar.

140
Paul Baynes
(c. 1573-1617)

N ascido em Londres por volta de 1573, Paul Baynes


matriculou-se no Christ’s College, Cambridge, em
1591, onde viveu tão dissolutamente que seu pai o destituiu
do patrimônio da família até que ele mostrasse sinais de
arrependimento. Pouco depois da morte de seu pai, ele
foi convertido e logo se tornou conhecido por sua piedade,
“agudeza de espírito, variedade de leitura, profundidade de
juízo,aptidão para ensinar, linguagem santa e agradável, atitude
prudente e conversa celestial”. Recebeu o grau de Bacharel em
Artes de Cambridge em 1594, e um grau de mestre em 1597.
Serviu como membro do corpo diretivo do Christ’s College de
1600 a 1604, e sucedeu a William Perkins como preletor em St.
Andrews, Cambridge, em 1602. Grandes multidões atendiam
a seu ministério; alguns percorriam grandes distâncias para
ouvir suas exposições.
Baynes deu continuidade à tradição predestinacionista
experimental estabelecida por Perkins. Comparando Perkins
e Baynes com Elias e Eliseu, William Ames escreveu que 0
espírito de Elias “pela experiência achava-se em dobro” em
Baynes (prefácio da obra de Baynes, The Diocesans Trial).
Baynes recusou-se a subscrever as regras da Igreja da
Inglaterra, pelo que ele foi silenciado em 1608 por Samuel
Harsnet, chanceler do arcebispo de Bancroft. Então Baynes

141
ΡΑΙΧ AO PHLA I’ UR1-ZA

passou a pregar quando se lhe dava ocasião, e se distinguía


como conselheiro espiritual. Samuel Clarke lhe chama
“excelente casuista, e, por isso, muitos cristãos com dúvidas
o buscavam por uma solução satisfatória de casos de
consciência” (Lives), pp. 30,31. Sua obra intitulada Christian
Letters contém numerosas consolações a crentes aflitos
em todas as condições. De acordo com Alexander Grosart,
Baynes era “o hóspede de honra dos nobres puritanos cm
toda a Inglaterra” .
Esses dons causaram mais perseguição a Baynes.
Procurando com que fosse banido, Harsnet o acusou
formalmente de violar a Lei dos Conventículos. Quando
intimado a comparecer diante do Conselho Privado, saiu-se
tão bem que as acusações foram abandonadas. Um membro
do conselho confessou: “ Ele fala mais como um anjo do que
como um homem, e eu não me atrevo a ficar aqui para ter
parte em nenhuma sen-lença contra ele” .
Baynes viveu seus últimos anos na pobreza e mal de saúde,
vindo a morrer em Cambridge em 1617. Foi-lhe difícil o leito
de morte. Dúvidas e temores o lançaram em feroz conflito
espiritual, mas no fim ele venceu. Richard Sibbes, que foi seu
sucessor em St. Andrews, tinha sido convertido sob Baynes
e afetuosamente lhe chamava “nosso Paul”.
Baynes não publicou nada durante a sua vida. Somos
devedores a William Ames e a outros puritanos por verem ao
menos dez das obras de Baynes passarem pela imprensa logo
depois da morte do autor delas. Diversos livros importantes
escritos por Baynes ainda não foram reimpressos, tais como
um comentário dos dois primeiros capítulos de Colossenses,
um tratado sobre a Oração do Senhor, e os livros Help True
Happiness, The Trial of a Christian’s Estate, Λ Caveat for Cold
Christians, A Counterbane against Earthly Carefulness, An
Epitome of Man’s Misery and Deliverance, The Minor or Miracle
of God’s Love unto the World of His Elect, Iwo Godly and
Eruitful Treatises, e Brief Directions Unto a Godly Life. Os livros

142
Paul Bavncs

de Baynes se distinguem por engrandecerem a soberania da


graça de Deus e por sondarem as profundezas da depravação
do homem.

A Commentary on St. P aul’s Epistle to the Ephesians (TENT;


424 páginas; 2002). Publicado pela primeira vez em 1643 e
reeditado no século dezenove, o comentário de Efésios, de
Baynes, é uma sólida peça de exposição exegética puritana,
perspicácia doutrinária e profundidade experimental. O
comentário, que é sua magnum opus, contém a substância das
mensagens pregadas em St. Andrews, Cambridge. Sobre o
comentário de Efésios, Richard Sibbes escreveu: “Os maiores
encontraráo matéria na qual exercitar-se; os menores, matéria
de doce conforto e santa instrução; e todos confessarão que
ele trouxe alguma luz a esta Escritura”.
Na exegese de Efésios 1:13,14, Baynes tenta produzir
harmonia entre as idéias reformadas e as puritanas unindo
os papéis do Espírito como Deus em nós e como selo. Ele
distingue entre ser selado pelo Espírito (que todos os crentes
possuem) e ser feito consciente de tal selagem (que somente
os que estão cônscios das graças do Espírito experimentam).
Ele relaciona a conscientização da selagem do Espírito com
a plena certeza da fé, retratando o crescimento do cristão na
certeza como cstãgios. “A infância” falta plena certeza. “A meia
idade” tem alguma medida de certeza; e “A idade avançada”
geralmente possui muita certeza (ef. Beeke, A Busca da Plena
Segurança, pp. 267,268).

143
R o b e rt B o lto n n asc e u em 1572 em B la c k b u rn , L a n c a s h ire .
Foi a d m itid o n o L in c o ln C ollege, O x fo rd , em 1592, m as
logo se tra n s fe riu p a ra o B rasen o se C ollege, O x fo rd , o n d e se
fo rm o u com o g ra u de B a ch a rel em A rtes em 1596. E m 1602
ele se to rn o u m e m b ro do c o rp o d ire tiv o de B rase n o se . L o g o
se firm o u co m o um c o m p e te n te p re le to r u n iv e rs itá rio , e
ta m b é m com o u m b em d o ta d o lógico, lin g u is ta e filósofo.
D e p o is de o u v ir W illia m P e rk in s p ro fe rir o co m eço de
um d isc u rso , B o lto n c h a m o u -o de “ su je ito vazio e á rid o , u m
e ru d ito e m in e n te m e n te m e d ío c re ” . L o g o d e p o is, p o ré m ,
D eu s c o n v e n c e u B o lto n dos seus p eca d o s p o r m e io de suas
co n v ersas com T h o m a s P eacock, seu colega de m o ra d ia .
C o m o u m dos seus b ió g rafo s escreve, “O S e n h o r foi so b re
ele com o u m g ig a n te , p e g o u -o p elo pescoço, s a c u d iu -0 e 0 fez
em p ed aço s, co m o fez com Jó ; a ç o ito u -o e o la n ç o u p o r te rra ,
com o fez com P a u lo , p o n d o d ia n te dele a feia visão d o s seus
pecados, q u e p eso u ta n to n ele q u e ele b e rro u de d o r no co ração ,
e o a te m o riz o u ta n to q u e , com o o o uvi dizer, ele se le v a n to u
da cam a d u ra n te a n o ite p o r p u ra a n g ú s tia de e s p írito ” (M.
Bolton’s Last and Learned Work of the Four Last Things, [1635J,
pp. 15,16). V ários m eses m a is ta rd e , B o lto n foi p o sto em

144
Roben Bolton

liberdade em Cristo. Pouco depois de sua conversão, sentiu-se


chamado para 0 ministério.
Depois de obter o grau de Bacharel em Teologia em
Oxford, em 1609, Bolton se tornou ministro de Broughton,
em Northamptonshire. Ali permaneceu até sua morte em
1631. Bolton foi um pastor digno, eloquente, fiel e piedoso, e
suas pregações salientavam tanto a hediondez do pecado como
as ofertas da graça de Deus. Ele era bíblico, sério, afetuoso,
e comunicava singular paixão pelo bem das almas imortais.
Seu biógrafo, J.E Denham, escreve: “Esta simplicidade de
intenção foi peculiarmente aprovada e honrada por Deus, que
por seu ministério convenceu muitas centenas de pessoas da
sua necessidade espiritual, e da capacidade e disposição do
Salvador para santificá-las e redimi-las” (.Afflicted Consciences,
p. xxxiii).
Bolton gostava de pregar sobre o material histórico das
Escrituras. No transcurso do seu ministério, ele pregou
sobre quase todos os capítulos históricos do Velho e do Novo
Testamentos. Todo dia santo e toda sexta-feira anterior à
ministração da Ceia do Senhor, ele costumeiramente ex-
punha um capítulo inteiro.
Bolton era constantemente requisitado como conselheiro
espiritual, em seu país e no exterior. Seus livros refletem essa
experiência, sumariando meio século de pensamento puritano
sobre a santificação e sobre os princípios da vida cristã.
A despeito de estar sempre muito ocupado, os hábitos
de devoção de Bolton eram muito fortes. Habitualmente
orava seis vezes por dia e observava dias de quebrantamento,
principalmente antes da Ceia do Senhor. Um biógrafo
escreveu: “Ele tinha tanta humildade e tanto fervor e fé em
sua comunhão com Deus que era como uma criança falando
com seu pai”.
Bolton morreu no dia 17 de dezembro de 1631, depois de
uma penosa e prolongada doença. Seu leito de enfermidade
servia de púlpito do qual ele falava a sua família e a numerosos

145
PAIXAO P EL A PUREZA

visitantes. Muitas vezes ele expressou seu ardente anseio de


estar com Cristo, dizendo: “Oh, quando vai chegar essa boa
hora? Quando vou ser solto? Quando vou estar com Cristo?”
Dois dias antes de morrer, ele disse: “Nada sinto em minha
alma, senão Cristo, com quem eu de coração desejo estar”.
Disse ele que nunca tinha ensinado coisa alguma em seus
sermões que primeiro não tivesse procurado “aplicar em meu
próprio coração”. Quando se despediu de seus filhos, lembrou­
-lhes o que frequentemente lhes ensinara, e disse que “estava
persuadido de que nenhum deles ia se atrever a encontrar-se
com ele no grande tribunal na condição de não regenerado” .

The Carnal Professor (SDG; 156 páginas; 1992). Associado


ao livro de Thomas Goodwin, Christ Set Forth, este livro é
uma solene obra sobre a pecaminosidade do homem natural
e sobre a extraordinária suficiência de Cristo. O texto
para este tratado de Bolton c Romanos 8:13: “Porque, se
viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito
mortificardes as obras do corpo, vivereis”. Sobre este livro
ele diz: “Tens aqui, em resumo, a alma do homem destripada
diante dos teus olhos, e essa massa de corrupção alojada num
coração carnal (juntamente com seu poder e sua pestilência)
posta a descoberto diante de ti, ficando assim claramente
demonstrada a miserável condição do homem guiado pela
carne, e a felicidade que atende aos que são conduzidos pelo
Espírito de Deus, como também o duro conflito que se trava
entre estes dois inquilinos antagônicos que habitam nas
almas crentes, com os meios de vitória”.

Discourse About the State of True Happiness (WJ; 156 páginas;


1979). Esta reimpressão apresenta sermões de Bolton sobre o
Salmo 1:1,2: “Bem-aventurado 0 varão que não anda segundo o
conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores,

146
Roben fíolton

nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu


prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.
No estilo puritano clássico, Bolton afirma que a maior felicidade
do homem só se pode encontrar em Deus e numa existência
vivida piedosamente diante dEle, e faz séria advertência contra
a busca da felicidade em qualquer outro lugar.
A respeito da felicidade Bolton diz: “Não há nenhuma
possibilidade de alcançá-la, senão pela pureza de coração,
santidade no viver, constância no curso da santificação,
unicamente o que pode levar à face e à presença de Deus,
somente onde, e com quem, se acha a suprema perfeição da
beatitude, um rio de prazeres infinitos, a fonte da vida e 0
descanso infindável de todos os desejos próprios da criatura”.

The Four Last Things: Death, Judgment, Hell, Heaven


(SDG; 144 páginas; 1994). Este livro contém os últimos
sermões que Bolton pregou antes de sua morte. Grande parte
da instrução que nos dá é sobre como preparar-se o homem
para o iminente juízo e para o seu destino final no céu ou no
inferno. A metade do livro é usada sobre como preparar-se
para a morte.
Escrevendo sobre as alegrias do céu, Bolton declara:
“Permitam-me dizer-lhes, antes de mais nada, que a
excelência, a glória e o dulçor dali nenhum coração mortal,
nenhuma mente finita, nenhum entendimento criado pode
conceber nem compreender” (p. 93). Na parte final da edição
aqui considerada consta um resumo da rara obra de Bolton
intitulada Helps to Humiliation, baseada em Atos 2:37.

General Directions for a Comfortable Walkingwith God (SDG;


450 páginas; 1995). Este tratado, publicado pela primeira vez
em 1626 e reimpresso em 1837, é uma importante obra de
casuística puritana. Mas Bolton o escreveu primeiramente
como um guia para si próprio. Ele divide esta obra em duas
seções: Preparativos Gerais e Diretrizes Particulares. Na

147
PAIXAO P E L A PU R EZA

primeira seção Bolton considera dez meios de livrar a alma


dos grilhões do pecado: abandonar o pecado de que você gosta,
odiar a hipocrisia, exercitar a abnegação, viver uma vida de
fé, formular corretas concepções do cristianismo, guardar-se
do mundanismo, aquecer-se com 0 amor de Deus, entesourar
a reconciliação com Deus, guardar seu coração, e meditar
na bem-aventurança futura. Na segunda seção ele descreve
deveres cristãos, como cuidar da família, controlar a língua
e gerenciar cada ato das nossas vidas.
J. I. Packer escreveu 0 seguinte sobre as obras de Bolton,
Comfortable Walking e Instructions (ver o próximo verbete):
“Richard Baxter percorreu todo este terreno uma geração
mais tarde muito mais detalhadamente, e com um grande
poder de pensamento, mas Bolton não fica devendo nada a
Baxter no calor e na profundidade, no sentido experimental,
e às vezes o sobrepuja” .

Instructions for Comforting Afflicted Consciences (SDG; 390


páginas; 1991). Os puritanos tratavam de todos os aspectos
da vida interior do homem - mente, coração, consciência,
memória e vontade. O livro Instructions de Bolton (1626)
provê uma das melhores obras dos primeiros puritanos sobre
a consolação do crente aflito em todos aqueles aspectos.
Na Seção 1, a Parte 1 mostra, com base em Provérbios
18:14, a grande necessidade que 0 homem tem de armazenar
“consolações celestiais” em seu coração. Admoesta os
indiferentes, os sensuais, e os que se opõem à pregação fiel,
e trata do problema da perseguição. A Parte 2 da Seção 1
descreve como intolerável uma consciência ferida. Explica
por que alguns não sentem o aguilhão do pecado, e provê
vinte fatores persuasivos contra o pecado.
Na Seção 2, a Parte 1mostra como é errado confortar aqueles
que não sentem tristeza pelo pecado nem sentem tristeza por
motivos errôneos. Bolton explica como os ministros devem
aplicar 0 conforto a tais pessoas - nem pouco nem muito. A

148
Roben Bolton

Parte 2 da Seção 2 trata dos métodos e meios certos de curar


consciências aflitas.
Na Seção 3, a Parte 1 fala de meios de consolação que surgem
de fora de nós e de dentro de nós por meio das Escrituras e
das marcas da graça. Também nos diz como identificar essas
marcas. A Parte 2 da Seção 3, a seção mais longa do livro, trata
dos males da consciência e de diversos meios de curar cada
um deles. Aqui, especialmente, Bolton oferece ajuda para
tratamento da alma atormentada. Boa parte desse conselho
flui de toda uma vida de aconselhamento ministrado a muitos
crentes atribulados, inclusive alguns do continente, os quais
procuravam Bolton para receber aconselhamento espiritual.
Esta edição, reimpressa da edição de 1831, contém também
memórias da vida de Bolton.

149
Samuel Bolton

, ste e ru d ito , m e m b ro da A ssem bléia de W e stm in ster, não


ftin h a relação de p a re n te sc o com seu h o m ô n im o acim a.
Sam uel B o lto n nasceu em L o n d re s em 1606, recebeu sua
educação na M a n c h e ste r S chool, m a tric u lo u -se n u m p e n sio n a to
do C h ris t’s C ollege, C am b rid g e , 1625, e recebeu o g rau de
B acharel em A rtes em 1629, e de M e stre em A rtes em 1632.
B o lto n to rn o u -s e v ig á rio a d ju n to de H a rro w , M id d le se x ,
em 1634; m in is tro de St. M a rtin L u d g a te , L o n d re s , em 1638;
e dep o is, em 1641, m in is tro de St. S a v io u r’s, S o u th w a rk .
D u ra n te 0 seu m in is té rio ali, B o lto n foi d e s ig n a d o ta m b é m
p re le to r em St. A n n e e em St. A g n es, A ld e rsg a te , e foi d eleg ad o
com o m e m b ro da A ssem b léia de W e stm in ste r.
E m 1645, B o lto n to rn o u -s e d ir e to r do C h r is t’s C ollege,
C am b rid g e . M e sm o e n tã o , no e n ta n to , c o n tin u o u a p re g a r
re g u la rm e n te em L o n d re s , p r in c ip a lm e n te em St. A n d re w s,
H o lb o rn , p o rq u e “ seu desejo de c o n q u is ta r alm as p ara
C risto p o r m eio da p reg aç ão era m u ito g ra n d e ” (C alam y,
p. 25). P o s te rio rm e n te ele se rv iu co m o v ic e -c h a n c e le r da
U n iv e rsid a d e de C a m b rid g e (1650-1652).
B olton escreveu sete livros, a m a io r p a rte dos q u ais era
c o n s titu íd a de coleções de serm ões revisados. Esses 0 revelam

150
Samuel Bolton

como um intérprete das Escrituras claro, ardoroso, experimen­


tal e ortodoxo. Ele viveu como pregava, ensinava e escrevia.
Morreu em 15 de outubro de 1654, com quarenta e oito
anos de idade, após longa enfermidade. Em seus funerais ele
foi descrito como um teólogo temente a Deus e pertencente
a outro mundo, cuja pregação “arrebatava nossas almas com
sua vigorosa compaixão”. Em seu testamento ele pediu que
fosse “enterrado como um cristão comum, e não com a pompa
exterior de um doutor, porque ele esperava ressurgir no Dia do
Juízo e comparecer diante de Deus, não como doutor, mas como
um cristão humilde”. Edmund Calamy pregou em seus funerais.

The Arraignment of Error (SDG; 460 páginas; 1999). Apesar


do seu título, este livro visa mostrar por que se deve evitar
controvérsia desnecessária, e igualmente mostrar por que os
erros em doutrinas essenciais devem sofrer firme oposição. O
frontispicio 0 livro resume as questões tratadas:

Um discurso que serve de freio para coibir a


petulância do espírito dos homens no acolhimento
de opiniões, e como uma bússola pela qual
podemos velejar na busca e descoberta da verdade,
distribuído em seis importantes perguntas:

Pergunta 1. Como pode ser, em relação aos


próprios fins de Deus, de satanás e do homem, que
houvesse opiniões errôneas?

Pergunta 2. Quais são as bases da existência de


numerosos erros?

Pergunta 3. Por que tantas pessoas se deixam


levar por erros?

151
EAIXAO P E L A PUREZA

Pergunta 4. Quem são os que estão em perigo?

Pergunta 5. Quais são os meios pelos quais se


pode examinar as opiniões, e as características da
verdade?

Pergunta 6. Quais os meios que Deus deixou


em Sua Palavra para suprimir 0 erro e corrigir
pessoas errôneas?

Sob tais questões gerais, muitas outras


interrogações necessárias e proveitosas estão
compreendidas, discutidas e resolvidas. E, em
conclusão referente a todas elas, são acrescentados
alguns motivos e meios conducentes a uma feliz
acomodação das nossas diferenças atuais.

The Arraignment of Enor trata da questão: se há uma só


verdade e um só evangelho, por que há tantas divisões entre
o povo de Deus? A resposta de Bolton é que os erros existem
abundantemente para tentar e para peneirar os filhos de
Deus, preparando-os, dessa forma, para manterem 0 apego à
verdade. Ele trata de outras questões também, tais como: por
que Deus permite erros na Igreja? Que devemos fazer quando
homens piedosos discordam em assuntos doutrinários? Bolton
ensina que tanto 0 uso pastoral dos sínodos como o poder do
magistrado são necessários, mas ambos devem ser limitados,
claramente definidos e submetidos às Escrituras. Ele escreve
com convicção: “A Palavra de Deus e Deus em Sua Palavra,
as Escrituras e Deus nas Escrituras é o único juiz e norma
autorizada, suprema e infalível nas questões de doutrinas
e de culto, de coisas em que devemos crer e coisas que
devemos praticar” .

The True Bounds of Christian Freedom (BTT; 224 páginas;

152
Sam uel Bolton

2001). Publicado pela primeira vez em 1645, este livro


explica o lugar da leí na vida cristã. Vivendo numa época
em que a licenciosidade e a imoralidade se multiplicam,
não conseguiremos recomendar este livro com suficiente
força. A análise de Bolton é penetrante. Enquanto se opõe
ao antinomismo, ele assegura ao crente que a lei não é uma
sentença de morte, mas, antes, um incentivo à prática das
boas obras. A lei é para ser amada e apreciada, não temida e
desobedecida.
Depois de definir a natureza da verdadeira liberdade,
Bolton responde a seis perguntas: os cristãos estão livres da lei
moral como norma de obediência? Os cristãos estão livres de
todos os castigos e punições pelo pecado? Se 0 crente se coloca
sob a lei moral como norma de dever, sua liberdade em Cristo
é infringida? Os livres em Cristo podem pecar de modo a
voltarem para a escravidão? Os livres em Cristo podem realizar
deveres por recompensa? Os cristãos estão livres da obediência
a homens? Bolton conclui o seu tratado dizendo: “Portanto,
a minha exortação a todos os cristãos é que mantenham sua
liberdade cristã mediante constante vigilância” .
Christian Freedom apareceu primeiro sob o endosso de
John Downame, que o descreveu como um livro “sólido,
judicioso, piedoso e muito proveitoso”. Nesta edição, S.M.
Houghton provê um pungente sumário do pano de fundo
histórico do livro de Bolton num apêndice (pp. 225-230).

153
John Boys
(1571-1625)

ohn Boys foi comprometido com a Igreja da Inglaterra;


contudo, era profundamente evangélico e partilhava
com seus contemporâneos puritanos um amor pela religião
verdadeira, experimental. Ele nasceu na localidade de Elmton,
em Eythorne, Kent, e era filho de Thomas Boys, um fidalgo
de uma família desde longo tempo estabelecida no leste de
Kent, e de sua esposa, Christian Searles, filha e co-herdeira
de John Searles de Wye. John Boys recebeu sua educação
no King’s College, Canterbury, e entrou no Corpus Christi
College, Cambridge, em 1586, onde obteve o grau de Bacharel
em Artes em 1590 e um grau de mestre em 1593. Nesse ano
ele se mudou para uma comunidade em Clare Hall, onde
obteve o grau de Bacharel em Teologia cm 1600.
Em 1597 foi concedido a Boys uma verba de sustento
de Betteshanger, Kent, que ele reteve toda a sua vida. Ele
pregou em St. Paul’s Cross, em Londres, quando estava com
vinte e oito anos de idade, e lhe foi outorgado um doutorado
em teologia em 1605. Em 1599, Boys recebeu uma verba
de Tilmanstone, à qual renunciou em 1618 para tornar-se
reitor de Great Mongeham. Em 1603, recebeu a reitoria de
Hollingbourne como uma terceira verba para sustento em

154
John Boys

Kent. No ano seguinte, casou-se com Angela Bargrave, filha


de Robert Bargrave de Bridge, perto de Cantuária.
Boys era favorecido pelo arcebispo Whitgift, e o rei
James I o nomeou deão de Cantuária em 1619, posição que
reteve até sua morte. Em 1620, ele foi designado para a Alta
Corte de Concessões. Devido às posições influentes dele,
Boys pôde promover a piedade e a reforma espiritual entre
os seus colegas do clero. Calvinista predestinacionista, ele
foi especialmente notável por seu resoluto protestantismo.
Morreu em seu escritório em Elmton no dia 26 de setembro
de 1625, e foi sepultado na catedral quatro dias depois.

The Works of John Boys (SDG; 789 páginas; 1997). O próprio


Boys compilou uma edição de um só volume de suas obras em
1622, no qual incluiu a sua exposição homilética sistemática
do lecionário prescrito pela igreja - um projeto de dez anos.
Incluiu também cinco sermões variados, e onze livros de
homílias publicados pela primeira vez entre 1609-1617. As
homílias eram tão populares que foram reeditadas ao menos
doze vezes na primeira década.
A reimpressão feita pela SDG é fotolitografada de uma
edição de 1854 publicada em Nova Iorque por Stanford
e Swords, e está baseada numa edição de 1629, feita em
Londres. Contém sua exposição de passagens das Escrituras
para os cultos da Oração da Manhã e da Noite, e da Ceia do
Senhor, em O Livro de Oração Comum, como também seus
escritos sobre os Salmos, exposições sobre as Epístolas e os
Evangelhos, e comentários sobre o Credo dos Apóstolos, a
Oração do Senhor e os Dez Mandamentos.
Spurgeon disse que Boys era “um dos mais ricos escritores”
sendo “tudo essencial”. Na verdade, o estilo de Boys é vivido,
engenhoso, claro e profundo. Ele tornava clara e prática toda
doutrina complexa.

155
Anne Bradstreet
(1612-1672)

nne Bradstreet foi a primeira americana a publicar um


A livro de poesia. Nasceu em 1612 em Northampton,
Inglaterra, e era filha de Thomas Dudley e de Dorothy Yorke.
Seu pai tinha liderado soldados voluntários na Reforma
Inglesa e no Estabelecimento Elizabetano, e sua mãe era
uma dama de linhagem nobre.
Quando ela estava com dezesseis anos de idade, casou-se
com Simon Bradstreet, jovem solteiro de vinte e cinco anos
de idade que servia como assistente da Massachusetts Bay
Company. Ele era filho de Simon Bradstreet, Sr., ministro
puritano de Horbling. Anne e sua família tinham emigrado
para a América no Arbella em 1630 (o mesmo navio no qual
John Winthrop viajava). Muitos pereceram naquela viagem
de três meses, mas os Bradstreet chegaram salvos e seguros a
Salem e se mudaram para Boston, onde se uniram por breve
tempo à igreja atendida por John Cotton, antes de se mudarem
para Newtown (atual Cambridge), e finalmente para Ipswich
e Andover. Durante os primeiros anos de seu empossamento,
Anne escreveu diversos poemas expressando sua devoção a
Deus e seu amor por seu marido, bem como descrevendo
suas lutas com o Novo Mundo, inverno e doença. Após

156
Anne Bradstreet

uma peleja com a tuberculose, ela escreveu, “Upon a Fit of


Sickness”, (1632).
Nos primeiros anos de sua vida de casada, Bradstreet
preocupou-se, temendo que sua incapacidade de conceber
era resultado do desprazer de Deus, mas seus temores foram
aliviados em 1632, quando engravidou e teve Samuel, o
primeiro dos seus oito filhos. Durante os próximos trinta
e sete anos, Anne escreveu centenas de poemas, que ela
frequentemente chamava de “meus filhos” . Esses poemas
religiosos, meditativos, revelam sua fé exemplar e seu amor
por seus filhos e por seu marido. Muitos foram escritos durante
longos períodos de solidão, enquanto seu marido viajava em
missões políticas.
Bradstreet passava muito tempo com seus filhos, lendo
para eles, ensinando-os como seu pai a tinha ensinado quando
ela era nova. Também partilhava poesia com eles. Mais tarde
ela escreveu a seus filhos sobre a sua paixão pela poesia
meditativa: “Não trabalhei nisto que vocês leem para mostrar
minha habilidade, mas para declarar a verdade, não para me
expor, mas para expor a glória de Deus”.
Bradstreet era também ativa na política. Foi uma das
pessoas que fundaram Newtown, e ela ajudou a colonizar
North Andover, onde viveu desde 1645 até sua morte. Seu
marido exerceu vários ofícios públicos e finalmente se tornou
governador de Massachusetts.
Em 1650, os poemas de Bradstreet foram apresentados ao
público quando o seu cunhado, John Woodbridge, os levou
para Londres. Aparentemente foram publicados por Stephen
Bowtell sem o consentimento de Bradstreet. A coleção foi
publicada como The Tenth Muse lately sprung up in America. Or
Several Poems, compiled with great variety of Wit and Learning
by a Gentlewoman in those parts. O livro logo entrou na lista
dos mais vendáveis da Inglaterra.
Nos últimos anos, Bradstreet fez uma revisão desses
primeiros poemas e acrescentou mais dezoito para uma

157
PAIXAO PH LA PURHZA

segunda edição. Nathaniel Ward, afamado pregador de


Ipswich, escreveu 0 prefácio e publicou a obra em Boston em
1678, seis anos depois da morte de Bradstreet, com o título
de Several Poems compiled with great variety of wit and learning
fu ll o f delight. B radstreet m orreu de tuberculose em
16 de setembro de 1672. O estilo cálido e simples dos seus
escritos era muito apreciado em seu tempo, e de lá para cá
conquistou um lugar entre os poetas mais famosos da América.

The Complete Works of Anne Bradstreet (Belknap Press;


336 páginas; 1981). Esta coleção mostra o espírito puritano
de Bradstreet e seu encanto, sua sensibilidade e seu talento.
Diversamente de outras edições, esta incorpora os textos de
1650, 1678 e 1867, de Andover, provendo um corpo completo
de sua obra. Também estão incluídos os comentários
preambulares de Nathaniel Ward, John Rogers e outros.

To My Husband and Other Poems (Dover Publications; 80


páginas; 2000). Esta coleção de poesias selecionadas de bom
número de obras de Bradstreet revela os pensamentos de
uma mulher notavelmente sensível e bem educada. Exibindo
amplo alcance e grande beleza, estes poemas incluem odes a
seu marido e a seus filhos, uma elegia formal em honra da
rainha Elizabeth I, e amorosos epitáfios honrando seus pais
e netos falecidos. Agrupados de acordo com a respectiva
categoria (poemas de amor, da vida no lar, meditações
religiosas, diálogos e lamentações), os poemas exibem o valor
intelectual de Bradstreet, como também suas convicções
puritanas.

158
William Bridge
(1600-1670)

illia m B rid g e era n a tu ra l de C a m b rid g e s h ire . In g re sso u


W no E m m a n u e l C ollege, C a m b rid g e , em 1619, o n d e
o b te v e u m g ra u de B ach a rel em 1623 e u m de M e stre em
1626, e e n tã o se rv iu p o r v ário s an o s co m o m e m b ro do corpo
d ire tiv o do C ollege. E n q u a n to era e s tu d a n te em C a m b rid g e ,
foi g ra n d e m e n te in flu e n c ia d o p elas p rele çõ es de J o h n R ogers
em D e d h a m , Essex.
B rid g e foi o rd e n a d o p re s b íte ro n a Ig reja da In g la te rra em
1627. D o is a n o s m a is ta rd e , foi n o m e a d o p re le to r em Saffron
W a ld e n , E ssex , o n d e c o m e ç o u a m o s tra r a lg u m a in flu ê n c ia
n ão c o n fo rm is ta , re c u s a n d o -s e a u s a r a s o b re p e liz e 0 cap u z
b a se a d o em q u e ele n ã o tin h a s id o lic e n c ia d o p o r u m b isp o .
E m 1631, ele foi lic e n c ia d o e se a m o ld o u . N e ssa época ele
foi n o m e a d o p r e le to r em C o lc h e s te r, E ssex , e ta m b é m lhe
p e d ira m q u e fizesse as p re le ç õ e s em St. G e o rg e ’s T o m b la n d ,
N o rw ic h . E m 1632, ele se to r n o u r e ito r d e St. P e te r H u n g a te ,
em N o rw ic h . E m 1634, foi le v ad o p e ra n te a c o rte do
c o n s is to rio e foi s u s p e n s o te m p o r a r ia m e n te p o r e sp o sa r a
d o u tr in a da e x p ia ç ã o lim ita d a e p o r c o n d e n a r os a rm in ia n o s .
D o is a n o s m a is ta rd e , o n o v o b is p o de N o rw ic h , M a tth e w
W ren , q u e d irig iu u m a c a m p a n h a v ir u le n ta c o n tra a não

159
PAIXAO P E L A PU R EZA

conformidade, despojou Bridge. Os que apoiavam Bridge


fizeram uma petição ao rei em favor dele, alegando que
Wren estava solapando a economia. Bridge não contestou as
acusações feitas contra ele, mas permaneceu em Norwich até
ser excomungado e receber ordens de sair do solo inglês.
O arcebispo Laud escreveu ao rei: “O Sr. Bridge de
Norwich, em vez de se conformar, abandonou seu trabalho
como preletor e duas paróquias, e foi para a Holanda”. Charles
I respondeu na margem: “Deixe que se vá; estamos bem
livrando-nos dele” .
Bridge estabeleceu-se em Rotterdam por volta de maio de
1636, onde sucedeu a Hugh Peters e começou a servir como
co-pastor de uma congregação com John Ward. Renunciou à
sua ordenação pela Igreja da Inglaterra e foi ordenado como
ministro independente por John Ward, que, por sua vez, foi
ordenado por ele. Finalmente, Ward foi deposto em 1639
por opor-se a Bridge e por repetir continuamente sermões
velhos. Jeremiah Burroughs substituiu Ward como co-pastor
de Bridge.
Bridge voltou para a Inglaterra em 1641, onde se tornou
conhecido por suas idéias puritanas. Em 1642, foi nomeado
membro da Assembléia de Teólogos de Westminster, e com­
provou-se um notável independente. Com Burroughs,
Thomas Goodwin, Philip Nye e Sidrach Simpson, ele
escreveu An Apologetical Narrative para promover uma política
congregacional e apresentar objeções ao presbiterianismo.
Em 1642, Bridge aceitou uma posição de pregador
no interior em Yarmouth, onde organizou uma igreja
independente, e formalmente se tornou seu pastor no outono
de 1643. Labutou ali até 1662, quando foi expulso do púlpito
pelo Ato de Uniformidade.
Bridge era um excelente pregador, um hábil erudito e
um escritor prolífico, e possuía uma biblioteca bem suprida.
Levantava-se às 4 horas da manhã todos os dias para pesquisar
as Escrituras, confessar seus pecados e manter comunhão com

160
William Bridge

Deus. M uitas vezes estudava dezessete horas num dia,


e, contudo, não se tornou um teólogo isolado numa torre.
Seus paroquianos o viam como um pastor caridoso e franco,
cujo ministério ajudava muitas pessoas.
Muitas vezes Bridge foi chamado para pregar diante
do Grande Parlamento e era consultado pelo Parlamento
sobre questões relacionadas com a Igreja. Ele foi também
um proeminente membro da Conferência de Savoy e um
conhecido escritor.
Bridge passou seus últimos anos em Yarmouth e
Clapham, Surrey, onde pregava para uma igreja independente,
provavelmente fundada por ele. Segundo foi relatado, “o povo
se reunia em tão grande número para ouvi-lo que por volta
das 7 horas da manhã não se conseguia lugar” (Barker, Puritan
Profiles, ρ. 87). Ele morreu em Clapham no dia 12 de março
de 1671.

The Works of William Bridge (SDG); 5 volumes; 1990).


Publicado pela primeira vez em três volumes em 1649, em
dois volumes em 1657, e mais tarde ampliado para incluir
todos os escritos de Bridge em cinco volumes em 1845, 0
livro The Works of William Bridge (reimpresso da edição de
1845) está repleto de ensinamentos práticos. Tópicos como o
mistério do evangelho, as grandes realidades da fé, Cristo e
a aliança, e o arrependimento evangélico, são cobertos com
aguda penetração e com calor pastoral.
Os capítulos do volume 1 incluem: “O Grande Mistério
do Evangelho Quanto à Consolação e à Santidade dos Santos”,
“O Poder que Satanás Tem de Tentar, e 0 Amor e Cuidado de
Cristo por Seu Povo Sob a Tentação”, “Graça por Graça, ou
as Transbordantes Bênçãos da Plenitude de Cristo Recebida
por Todos os Santos” ; “A Vida Espiritual e a Permanência
de Cristo em Todos os Crentes” ; “A Luz das Escrituras, a

161
PAIXÃO P E L A PUREZA

Luz Mais Certa e Segura”, (sermões sobre 2 Pedro 1:19 que


provocaram uma resposta do quaere George Whitehead), e “A
Habitação do Justo no Tempo de Praga e Peste” (exposição
do Salmo 91 para animar os crentes quando a peste1 estava
devastando Londres). O volume 2 inclui: “ Levantamento
para os Abatidos” ; “Cinco Sermões sobre a Fé” e “Revelada
a Liberalidade da Graça e do Amor de Deus para com os
Crentes”. O volume 3 contém: “Cristo e a Aliança” (uma série
de dez sermões registrados por pessoas que tomavam notas),
“Cristo em Agonia”, e “ Verdades Oportunas para os Dias
Maus” (nove sermões pregados na área de Londres, inclusive
um que afirma que a repressão imposta aos não conformistas
faz parte dos desígnios de Deus para prová-los). O volume 4
contém: “Dezessete Sermões sobre Vários Assuntos e Ocasiões”
e “Arrependimento Evangélico”. O volume 5 contém: “A
Gravidade Maligna do Pecado e a Plenitude de Cristo”, “Oito
Sermões”, “Uma Palavra aos Idosos”, “Curada a Consciência
Ferida” (afirma o direito dos súditos de se defenderem, e do
parlamento de declarar o que é a lei), “A Verdade dos Tempos
Vindicada” (insiste em que a verdade tem que ser defendida
mesmo quando se reconhece que a guerra civil é a pior forma
de conflito), “O Convertido Leal” (condena “os homens do
“livro-de-serviço”, que não apoiam a Solene Liga e Aliança e
“A Doutrina da Justificação pela Fé Exposta Abertamente”).

A Lifting Up for the Downcast (BTT; 288 páginas; 1988). Este


livro, baseado no Salmo 42:11, é uma coleção de treze sermões
sobre depressão espiritual. Ela tem ajudado centenas de filhos
de Deus no combate ao desânimo. Bridge fala das seguintes
causas de depressão: grandes pecados, graça fraca, não cumpri­
mento de deveres, falta de certeza, tentação, deserção, aflição e
incapacidade de servir. Este livro está carregado de conselhos
1 Λ p e s te te z 7 0 .0 0 0 v ítim a s d e tim a p o p u la ç ã o d e 5 0 0 .0 0 0 , c m 1665. N o an o
se g u in te , o in c ê n d io d e stru iu q u a tro q u in to s d o c e n tro d a c id a d e . N o ta d o
trad u to r.

162
William Bridge

reconfortantes, mostrando por que os crentes não devem ficar


desanimados, não importa em que condições se encontrem.
O sermão final, The Cure of Disouragements by Faith in
Jesus Christ, vale o preço do livro. “Veja que você não vai
a Deus sem Cristo, mas sim, com Cristo nos braços” diz
Bridge (276).

A Word to the Aged (SDG; 20 páginas; 2003). Neste opúsculo,


William Bridge visa pecados particulares aos quais os idosos
são mais propensos, tais como um espírito queixoso, amargor,
e impenitência. Indicando o Senhor Jesus Cristo como o
remédio para os pecados e fraquezas da idade avançada,
ele dá conselho sobre como melhorar os anos restantes dos
idosos para que suas vidas glorifiquem o Senhor e Lhe sejam
agradáveis.

163
Thomas Brooks
(1608-1680)

T homas Brooks nasceu em 1608. Ingressou no Emmanuel


College, Cambridge, em 1625, onde puritanos da Nova
Inglaterra como Thomas Hooker, John Cotton e Thomas
Shepard também recebiam a sua educação, mas parece que
ele saiu antes de graduar-se. Brooks foi ordenado pregador do
evangelho em 1640 e se tornou capelão da frota parlamentar
servindo no mar por alguns anos. Esse ministério é mencio­
nado em algumas de suas “devoções no mar”, como também
a sua declaração: “ Estive no mar durante anos e, pela graça
de Deus, posso dizer que não trocaria minhas experiências
no mar pelas riquezas da Inglaterra” .
Depois da Guerra Civil, Brooks tornou-se ministro na
igreja de St. Thomas the Apostle, Queen Street, Londres
(1648-1651). Foi chamado muitas vezes para pregar diante
do parlamento. Em 1652, tornou-se reitor de St. Margaret’s,
New Fish Street Hill, que foi a primeira igreja totalmente
queimada no grande incêndio de Londres (1666). Como
Thomas Goodwin e John Owen, Brooks preferiu o conceito
congregacional sobre 0 governo da Igreja. Em 1662, caiu
vítima do notório Ato de Uniformidade.
Depois de expulso da sua moradia, Brooks continuou

164
Thomas Brooks

a pregar em Londres, onde aparentemente sofreu pouca


perseguição. Ele se tornou ministro de uma congregação em
Moorfields, perto de St. Margaret’s. Diversamente de muitos
ministros, ele permaneceu em Londres durante a Grande Praga
de 1665, atendendo fielmente a seu rebanho. Em 1662, ele foi
licenciado para pregar de acordo com os termos da Declaração
de Indulgência, mas essa licença foi revogada em 1676.
Brooks perdeu, em 1676, sua primeira esposa Martha
Burgess, uma piedosa mulher que ele tinha como um grande
tesouro. A respeito dela Brooks escreveu: “Ela se sentia sempre
melhor quando estava mais com Deus num canto. Muitas vezes
ela derramava o dia todo a sua alma diante de Deus pela nação,
por Sião, e pelos grandes interesses de sua própria alma”.
Posteriormente casou-se com uma jovem mulher temente
a Deus chamada Patience Cartwright (Alexander Grosart
diz sucintamente: “ela, juventude primaveril, ele, velhice
hibernai” [Works of Brooks, Lxxxvj), e ela se comprovou uma
companheira sumamente digna.
Brooks morreu em 1680 e foi sepultado em Bunhill
Fields, famoso cemitério da não conformidade de Londres.
John Reeve, que pregou nos funerais, disse que Brooks tinha
“uma natureza amena, uma grande seriedade, ampla caridade,
paciência maravilhosa e forte fé”.

The Works of Thomas Brooks (BTT; 6 volumes; 3.000 páginas;


2001). Esta compilação de seis volumes feita por James Nichol
é um tesouro. O volume 1 contém as memórias de Brooks
escritas por Alexander B. Grosart, como também “Precious
Remedies Against Satan’s Devices”, “Apples of Gold” (obra
popular para moços e moças impressa dezessete vezes de 1657
a 1693), “The Mute Christiam Under the Smarting Rod”, e
“A String of Pearls”.
O volume 2 contém “An Ark for all of God’s Noahs”,

165
PAIXAO P E L A PUREZA

“The Privy Key of Heaven”, e “Heavenon Earth” . O volume


3 contém “The Unsearchable Riches of Christ” e “A Cabinet
of Jewels”. O volume 4 contém “The Crown and Glory of
Christianity”, que consiste de 58 sermões sobre Hebreus
12:14. O volume 5 contém “The Golden Key to Open Hidden
Treasures”, “Paradise Opened”, e “A Word in Season”. O último
volume contém “London’s Lamentations” (extraordinária
obra de confissão coletiva), “The Glorious Day of the Saints’
Appearance”, “God’s Delight in the Progress of the Upright”,
“Hypocrites Detected”, “A Believer’s Last Day His Best Day”,
“A Heavenly Cordial”, e “The Legacy of a Dying Mother”.
De todos os teólogos puritanos reimpressos por
Jam es Nichol na década de 1860, Brooks foi o mais
popular. Tanto os assuntos práticos de que ele se
ocupa como o modo de sua apresentação tornam “ suas
frases tão memoráveis como melodias” Além disso, as
suas percepções espirituais são apresentadas direta e
fervorosamente, e estão repletas das Escrituras. Como um
colega de ministério disse de Brooks: “ Ele tinha os temas
da teologia em sua cabeça e o poder dessa substância em
seu coração” . Peter Lewis disse: “ Podemos acrescentar:
em seus livros também” (The Genius of Puritanism , p. 29).
Recomendamos Thomas Brooks ardorosamente. Ele
comunica verdades profundas de maneira simples, e é leitura
própria para jovens e adultos. Seus escritos transpiram vida
e poder espiritual e são particularmente confortadores para
os crentes verdadeiros. Se você estiver limitado à compra de
poucas coleções de obras puritanas, certifique-se de comprar
e 1er Brooks.

Heaven on Earth: A Treatise on Assurance (BTT; 320


páginas; 1983). Não há privilégio mais alto do que o de ser
filho de Deus e de saber disso, pois a certeza traz alegria à
adoração e à oração, e força e ousadia ao nosso testemunho.
Fracasso e fraqueza em todas essas áreas muitas vezes podem

166
Thomas Brooks

ser rastreados chegando à falta de certeza. Brooks expõe em


detalhe as maravilhas da certeza da fé neste livro.
O capítulo 1 assevera que os crentes podem alcançar a
certeza, e o capítulo 2 diz por que alguns crentes não têm certeza,
enquanto que outros a gozam em medida particularmente
grande. O capítulo 3 pega firme os obstáculos que impedem
a certeza, e como removê-los. O capítulo 4 apresenta motivos
para animar os crentes a não estacarem, desistindo de obter
bem fundada certeza. As dez vantagens da certeza de que fala
Brooks deveríam motivar todo e qualquer crente - a certeza
da fé oferece o céu na terra, abranda as mudanças da vida,
guarda o coração impedindo-o de desejar o mundo, ajuda a
comunhão com Deus, preserva o crente de extravíos, produz
santa ousadia, prepara 0 homem para a morte, faz com que as
misericórdias tenham o gosto de misericórdia, infunde vigor
no serviço cristão, e conduz a alma à alegria de Cristo.
O capítulo 5, o coração do livro, expõe “modos e meios
de obter uma certeza bem fundamentada”. A seção em que
Brooks trata das “coisas que acompanham a salvação” -
conhecimento, fé, arrependimento, obediência, amor, oração,
perseverança, e esperança - apresenta mais de cem páginas de
saborosa teologia. Essa parte, em si, serve como um manual
prático sobre as marcas da graça. O capítulo 6 desmascara a
falsa certeza descrevendo as características do testemunho
interno do Espírito Santo. O capítulo final mostra como
fortalecer a certeza e como recuperar a certeza perdida.

The Mute Christian under the Smarting Rod (GM; 118


páginas; sem data). Esta obra foi publicada originalmente
em 1658 com o subtítulo, “A Alma Silente com Antídotos
Soberanos” . Uma segunda edição apareceu em 1660, e daí por
diante o livro foi objeto de grande demanda. Brooks apresenta
muitos pontos para provar o seu tema, que é, “o grande dever
e interesse das almas graciosas de permanecerem mudas e
silentes sob as maiores aflições, as mais tristes providências

167
PAIXAO P E L A PUREZA

e as mais agudas provações com que se defrontam neste


mundo”. Ele responde a todas as objeções imagináveis contra
o exercício da submissão espiritual na aflição. Este clássico
é altamente recomendado para todos aqueles que passam por
tribulações que eles não podem mudar.

Precious Remedies Against Satan’s Devices (BTT; 256 páginas;


1984). Este livro oferece aos dolorosamente necessitados lições
sobre as sutilezas das artimanhas de satanás. “A estranha
oposição de satanás com que me defronto, no estudo do
seguinte discurso, colocou uma espada sobre meu espírito,
sabendo que satanás luta fortemente para impedir que estas
coisas vejam a luz pela qual elas tendem a abalar e a romper
o seu reino de trevas, e a elevar o reino e a glória do Senhor
Jesus Cristo nas almas e nas vidas dos filhos dos homens”,
escreve Brooks no prefácio deste livro.
Brooks descreve doze artimanhas de satanás e seus
remédios, e depois focaliza oito estratagemas que satanás usa
para impedir que os crentes usem os meios de graça. Ele provê
remédios para aqueles estratagemas que mantêm os santos
numa condição triste e marcada pela dúvida. Finalmente, ele
provê remédios para 0 mau uso das riquezas, para o orgulho
do saber, para as divisões entre os piedosos, e para a desculpa
de ignorância. Um apêndice considera mais cinco artimanhas
de satanás, sete características dos falsos mestres, seis
proposições concernentes a satanás, e dez ajudas contra essas
artimanhas. As dez ajudas provêm um adequado sumário do
livro: andar pela norma da Palavra de Deus, não entristecer o
Espírito, lutar por sabedoria celestial, resistir aos primeiros
movimentos de satanás, trabalhar para ser cheio do Espírito,
permanecer humilde, buscar a vigilância, reter a comunhão
com Deus, lutar contra satanás recebendo força do Senhor
Jesus, e estar em muita oração.
Um motivo para esta reimpressão, de acordo com George
Smeaton, é que os autores cristãos de tempos passados

168
Thomas Brooks

tratavam da influência sedutora e do terrível poder de satanás


de maneiras “grandemente mais completas e sugestivas do
que na literatura dos dias atuais”. Temos grande necessidade
da orientação que Brooks provê neste livro. Embora os
instrumentos de satanás tenham mudado através dos séculos,
seus estratagemas continuam constantes; por conseguinte,
este clássico jamais será obsoleto.

Smooth Stones Taken from Ancient Brooks1 (SDG; 269


páginas; 2001). Este livro de citações dos escritos e sermões
de Thomas Brooks foi compilado por Charles Spurgeon, um
grande admirador dos puritanos. Em seu prefácio do livro,
Spurgeon escreve: “Como escritor, Brooks semeia estrelas
com as duas mãos. Ele tem pó de ouro: em seu depósito há
toda espécie de pedras preciosas. Um gênio é sempre mara­
vilhoso, mas quando santificado é incomparável” . Eis uma
pedra preciosa: “Não há melhor modo de alcançar maiores
porções da graça do que 0 homem pôr em prática a escassa
graça que ele tem” .

1 J o g o d e p a la v ra s: B ro o k s, ria c h o s. N o ta d o trad u to r.

169
John Bunyan
(1628-1688)

respeito de João1 Bunyan, poderoso pregador e o mais


A conhecido de todos os puritanos, disse John Owen que
alegremente trocaria toda a sua cultura pelo poder que Bunyan
tinha de tocar o coração dos homens. João Bunyan nasceu de
Thomas Bunyan e de Margaret Bentley em 1628, em Elstow,
perto de Bedford. Thomas Bunyan, latoeiro ou funileiro, era
pobre mas não destituído de recursos. Ainda assim, na maior
parte, João Bunyan não recebeu boa educação. Tornou-se
rebelde e muitas vezes se punha a blasfemar. Posteriormente
ele escreveu: “Era meu deleite deixar-me levar cativo pelo
diabo, à sua vontade; cheio de todo tipo de iniquidade;
desde criança poucos me igualavam em lançar maldições, em
praguejar, em mentir e em blasfemar 0 santo nome de Deus”
(Works of Runyan, ed. George Offor, 1:6). Contudo, períodos
esporádicos de convicção de pecado ajudaram a restringir
parte dessa rebelião.
Quando Bunyan tinha dezesseis anos de idade, sua mãe e
sua irmã morreram com um mês de diferença. Seu pai tornou
1 C a s o s d e v u lto s m a is c o n h e c id o c o m o B u n y a n , L u te m , C a lv in o e tc ., a d o to
a form a d o s n o m e s u sad a em p o rtu g u ês. N o caso . m a n tiv e a fo rm a in g lesa
n o titu lo p o r m a n te r a u n ifo rm id a d e g eral. N o ta d o trad u ato r.

170
JOAO BUNYAN
PAIXAO PHLA PUREZA

a casar-se um mês depois. O jovem Bunyan alistou-se no


Novo Exército Modelo de Cromwell, onde continuou suas
rebeldes maneiras de agir. Mas, sua participação nos combates
da Guerra Civil o moderou consideravelmente. Certa ocasião,
sua vida foi poupada maravilhosamente. “Quando eu era
soldado, eu e outros fomos convocados para ir a um certo
lugar para sitiá-lo. Mas, quando eu estava quase pronto para
ir, um elemento da companhia quis ir no meu quarto de
hora; consentindo nisso, ele tomou meu lugar e, indo ao local
do sítio, quando atuou como sentinela levou um tiro de
mosquete na cabeça e morreu” (ibid).
Bunyan foi dispensado do exército em 1646 ou 1647.
Sua experiência militar reíletiu-se mais tarde em seu livro
intitulado The Holy War.
Em 1648 Bunyan casou-se com uma mulher temente a
Deus, cujo nome permanece ignorado e cujo único dote foram
dois livros: o de Arthur Dent, The Plain Man’s Pathway to
Heaven e 0 de Lewis Bayly, The Practice of Piety {A Prática
da Piedade}. Quando Bunyan leu esses livros, foi convencido
do pecado. Começou a frequentar a igreja paroquial, parou
de blasfemar (quando repreendido por uma mulher dissoluta
da cidade), e procurou honrar a separação do domingo como
o dia de descanso. Depois de alguns meses, Bunyan entrou
em contato com algumas mulheres cuja alegre conversa
sohre 0 novo nascimento e sobre Cristo o impressionou
profundamente. Lamentou sua triste existência quando
percebeu que estava perdido e fora de Cristo. “ Não posso
expressar com que anseio e quebrantamento em minha alma
clamei a Cristo que viesse ter comigo”, ele escreveu. Ele sentiu
que tinha o pior coração de toda a Inglaterra. Confessou que
tinha inveja dos animais porque eles não têm alma da qual
dar contas a Deus.
Em 1651, as mulheres apresentaram Bunyan a John
Gifford, pastor delas em Bedford. Deus usou Gifford para levar
Bunyan ao arrependimento e à fé. Bunyan foi particularmente

172
John tíunyan

influenciado por um sermão que Gifford pregou sobre


Cantares de Salomão 4:1: “Eis que és formosa, meu amor, eis
que és formosa”, como também pela leitura do comentário de
Lutero sobre Gaiatas, no qual ele viu sua própria experiência
“ retratada” grande e profundamente como se o livro [de
Lutero] tivesse sido escrito a partir do meu coração” (citado
por Greaves, John Bunyan, p. 18). Um dia quando Bunyan
caminhava por um campo, a justiça de Cristo foi revelada à sua
alma e obteve a vitória. Sobre essa experiência inesquecível
Bunyan escreve:

Um dia, quando passava pelo campo, esta


frase caiu sobre a minha alma: a Tua justiça está
no céu; e também achei que vi com os olhos da
minha alma Jesus Cristo à direita de Deus; ali,
digo, {vi-O} como a minha justiça; assim, onde
quer que eu estivesse, ou seja o que for que eu
estivesse fazendo, Deus não podería dizer de mim
que Ele queria a minha justiça, pois essa estava
diante dEle. Vi também, além disso, que não foi
a minha boa constituição do coração que tornou
melhor a minha justiça, nem tampouco a minha
má constituição que tornou pior a minha justiça;
pois a minha justiça era o próprio Jesus Cristo, que
é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Agora os
meus grilhões caíram de fato das minhas pernas.
Fui solto das minhas aflições e dos ferros; foram-se
também as minhas tentações. Agora fui para casa
regozijando-me pela graça e pelo amor de Deus.
Viví por algum tempo suavemente em paz com
Deus mediante Cristo. Oh, eu pensava comigo,
Cristo! Cristo! Não havia nada senão Cristo diante
dos meus olhos. Agora eu via e contemplava não
somente este e os outros benefícios separadamente,
como os de Seu sangue, Seu sepultamento e Sua

173
PA IXA ü P E L A PUREZA

ressurreição, mas O considerava como um Cristo


completo! Para mim foi urna gloria ver Sua
exaltação, e o valor e o predominio de todos os
Seus benefícios, e isso porque agora eu podia olhar
de mim mesmo para Ele, e reconhecia que todas
aquelas graças de Deus, que agora reverdeciam em
mim, ainda eram apenas como a ridícula ninharia
dos míseros tostões que os ricos carregam em seus
porta-níqueis, quando seu ouro está em seu cofre
em casa! Oh, eu vi que o meu ouro estava em meu
cofre em casa! Em Cristo, meu Senhor e Salvador!
Agora Cristo veio a ser tudo (Grace Abounding,
parágrafos 229-232, pp. 129-131).

O ano de 1654 foi momentoso para Bunyan. Ele se mudou


para Bedford com sua mulher e quatro filhos, estes com
menos de seis anos de idade; Mary, a primogênita, era cega de
nascença. Nesse mesmo ano ele se tornou membro da igreja
de Gifford, e logo foi designado diácono. Seu testemunho
tornou-se o assunto das conversas da cidade. Várias pessoas
foram levadas à conversão em resposta ao seu testemunho.
Próximo do fim do ano ele havia perdido seu amado pastor,
que tinha falecido.
Em 1655, Bunyan começou a pregar para várias
congregações em Bedford. Centenas vinham ouvi-lo. Ele
publicou seu primeiro livro no ano seguinte, Some Gospel
Truths Opened, escrito para proteger os crentes, evitando que
fossem desviados pelos ensinos dos Quaeres e dos Ranters
sobre a Pessoa e a obra de Cristo. Dois anos mais tarde, Bunyan
publicou/1 Few Sighs from Hell, uma exposição de Lucas 16:19­
31, acerca do rico e Lázaro. O livro ataca o clero profissional
e os ricos que promovem a carnalidade. Eoi bem recebido, e
ajudou a estabelecer Bunyan como um respeitável escritor

174
John Runyan

puritano. Por volta desse mesmo tempo, sua mulher faleceu.


Em 1659, Bunyan publicou o livro The Doctrine of the Law
and Grace Unfolded, que expõe a sua maneira de ver a teología
da aliança, salientando a promissora natureza da aliança
da graça e a dicotomía entre lei e graça. Essa obra ajudou a
estabelecê-lo como um profundo calvinista, embora 0 tenha
levado a tornar-se objeto de falsas acusações de antinomismo
atribuídas erroneamente por Richard Baxter.
Em 1660, quando estava pregando numa casa de fazenda
em Lower Samsell, Bunyan foi detido sob a acusação de pregar
sem as devidas credenciais dadas pelo rei. Quando lhe foi dito
que seria solto se não pregasse mais, ele replicou: “ Se for solto
hoje, pregarei amanhã” . Eoi então lançado na prisão, onde
escreveu prolificamente e fabricou cordões de sapatos para
prover algum rendimento durante doze anos e meio (1660­
1672).
Anteriormente a sua detenção, Bunyan tinha se casado
com uma jovem e piedosa mulher chamada Elizabeth. Ela
pleiteou repetidamente a sua libertação, mas os juizes, entre
os quais Sir Matthew Hale e Thomas Twisden, rejeitaram seu
apelo. E assim Bunyan permaneceu na prisão sem nenhuma
acusação formal e sem nenhuma sentença legal, em desafio às
provisões do direito ao habeas corpus da Magna Carta, porque
ele se negou a desistir de pregar 0 evangelho e denunciou
a Igreja da Inglaterra como falsa (ver o livro de Bunyan, A
Relation of My hnprisonment, publicado postumamente, em
1765).
Em 1661 c de 1668 a 1672, alguns carcereiros permitiram
que Bunyan saísse às vezes da prisão para pregar. George
Offor observa: “Dizem que muitas das congregações batistas
de Bedfordshire devem suas origens à pregação que Bunyan
fazia à meia-noite” {Works of Bunyan, l:lix). Seus anos na
prisão por vezes foram duras tribulações; contudo, Bunyan
experimentou o que os personagens de sua obra Pilgrim’s
Progress {O Peregrino), Cristão e Fiel, mais tarde sofreriam

175
PAIXAO P E L A PUREZA

nas mãos do Gigante Desespero, que lançava os peregrinos


“numa masmorra muito escura, sórdida e fétida”. Bunyan
sentia principalmente a dor da separação de sua esposa e
de seus filhos, em particular “Mary, cega”, descrevendo seu
sofrimento como se sua carne fosse arrancada dos seus ossos.
Todavia, os anos de prisão foram produtivos para Bunyan. Na
década de 1660 Bunyan escreveu extensamente, tendo a seu lado
apenas a Bíblia e o Book ofMartyrs {Livro dos Mártires}, de Foxe.
Em 1663, ele escreveu Christian Behaviour, com a intenção de que
fosse um manual para o viver cristão e uma resposta às acusações
de antinomismo, como também um derradeiro testamento, visto
que a expectativa de Bunyan era de que ia morrer na prisão.
Concluiu também, I Will Pray with the Spirit, livro que expunha
1 Corintios 14:15 e focalizava a obra interna do Espírito em toda
oração verdadeira. Em 1664, ele publicou Profitable Meditations;
em 1665, One Thing Needful, The Holy City, (sua compreensão da
historia da Igreja e dos últimos tempos) e The Ressurectwn of the
Dead. Esta última obra é a continuação de The Holy City, obra na
qual Bunyan faz uma exposição sobre a ressurreição baseada em
Atos 24:14,15 de maneira tradicional, e depois faz uso dos seus
tormentos na prisão para ilustrar os horrores que esperam os
condenados após 0 juízo final. Em 1666, no meio do seu tempo
na prisão, ele escreveu Grace Abounding to the Chief of Sinners, na
qual ele declara: “Sendo o todo-poderoso Deus o meu auxílio e
o meu escudo, estou determinado a continuar a sofrer, se a frágil
vida durar tempo para isso, mesmo que cresça musgo na minha
sobrancelha, antes que violar a minha fé e os meus principios”.
Durante a última parte do seu encarceramento, ele terminou A
Confession of My Faith, A Reason for Λίν Practice, e A Defence of
the Doctrine ofJustification, crítica inflexível à maré crescente do
pelagianismo entre os não conformistas, e do latitudinarianismo2
entre os pertencentes ao anglicanismo oficial.
2 E sco la te o ló g ic a d o sé c u lo d e z e s s e te q u e p ro c u ra v a in cu lcar um esp irito
lib eral. O p u n h a - s e ta n to à A lta Ig re ja a n g l i c a n a c o n t o a o s d is s id e n te s . N o ta
d o tra d u to r.

176
John Runyan

A congregação de Bedford, percebendo algum abranda­


mento da lei contra a pregação, nomeou Bunyan como pastor
em 21 de janeiro de 1672, mas Bunyan não foi libertado até
o mês de maio. Ele foi o primeiro a sofrer sob Charles II e o
último a ser solto. Seus longos anos na prisão do condado
de Bedford fizeram dele um mártir as olhos de muitos.
Bunyan tinha desfrutado apenas uns poucos anos de
liberdade quando foi de novo detido por pregar e posto na
cadeia da cidade. Ali escreveu Instruction for the Ignorant, (um
catecismo para salvos e não salvos que enfatiza a necessidade
de abnegação), Saved by Grace, (exposição de Efésios 2:5 que
anima os piedosos a que perseverem na fé, não obstante a
perseguição), The Strait Gate, (exposição de Lucas 13:24 que
procura despertar os pecadores para a mensagem do evangelho),
Light for Them That Sit in Darkness, (obra polêmica contra os
que se opõe à satisfação e justificação pela expiação de Cristo
por Sua justiça imputada, especialmente contra os Quaeres e
os latitudinarianistas), e a primeira parte do seu famoso livro
Pilgrim’s Progress. Esse livro, do qual foram vendidos mais de
100.000 exemplares em sua primeira década de circulação, tem
sido reimpresso em ao menos 1.500 edições e traduções em
mais de duzentas línguas, com edições em holandês, francês e
galês aparecendo durante a vida de Bunyan. Alguns eruditos
têm dito que, com a exceção da Bíblia e talvez a A Imitação de
Cristo, de Thomas à Kempis, este clássico de Bunyan vendeu
mais exemplares do que qualquer outro livro já escrito.
John Owen, ministro de uma congregação independente
localizada na Leadenhall Street, Londres, apelou com êxito
a Thomas Barlow, bispo de Lincoln, que usou sua influência
no tribunal para assegurar a libertação de Bunyan da prisão
no dia 21 de junho de 1677. Bunyan passou seus últimos anos
ministrando para os não conformistas e escrevendo. Em 1678,
publicou Come and Welcome to Jesus Christ, uma exposição
popular de João 6:37 que de maneira emocionante proclama
uma forte e livre oferta da graça aos pecadores, para que fujam
para Jesus Cristo e sejam salvos. Esse livro passou por seis
edições na última década da vida de Bunyan. Em 1680, ele

177
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

escreveu The Life and Death ofMr. Badman, descrito como “ uma
série de instantâneos retratando as atitudes e práticas comuns
contra as quais Bunyan pregava regularmente” (Oxford DNB,
8:707). Dois anos depois ele publicou The Greatness of the Soul
e The Holy War. Hm 1685, ele publicou a segunda parte de
Pilgrim’s Progress, que fala da peregrinação de Cristiana, A
Caution to Stir Up to Watch Against Sin, e Questions About
the Nature and the Perpetuity of the Seventh-day Sabbath.
Nos últimos três anos de sua vida, Bunyan escreveu mais
dez livros, dos quais os mais conhecidos são The Pharisee and
the Publican, The Jerusalem Sinner Saved, The Work of Jesus
Christ as an Advocate, The Water of Life, Solomon’s Temple
Spiritualized e The Acceptable Sacrifice. Muitos desses livros
foram reproduzidos em brochura por William Frasher na
década de 1960 por meio da Reiner Press, em Swengel,
Pennsylvania. Não estão listados separadamente neste livro
porque estão incluídos nas Works de Bunyan.
Em 1688, Bunyan morreu subitamente, devido a uma febre
que 0 apanhou quando viajava num tempo frio. No seu leito de
morte ele disse aos que se reuniram ao redor dele: “Chorem,
não por mim, mas por vocês. Eu vou para o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, sem dúvida, pela mediação do seu bendito
Filho, vai me receber, embora sendo eu um pecador; ali espero
que dentro de não muito tempo nos encontraremos para
cantarmos o novo cântico e ali permanecermos eternamente
felizes, {no} mundo sem fim” (Works of Bunyan, l:lxxviii).
Depois de dizer a seus amigos que o seu maior desejo era estar
com Cristo, ergueu as mãos para o céu e clamou: “Toma-me,
pois eu venho a Ti!” e então morreu. Foi sepultado em Bunhill
Fields, perto de Thomas Goodwin e de John Owen.

The Works of John Bunyan (BTT; 3 volumes, 2.400 páginas;


1999). Bunyan foi incomum entre os puritanos no sentido
de que teve pouca educação formal. Não obstante, ele lia

178
John Butty a η

exaustivamente, e o Espírito Santo abençoou os seus estudos.


Tornou-se um escritor prolífico e escreveu mais de sessenta
obras em sessenta anos. Muitas delas têm sido eclipsadas pelos
livros Pilgrim’s Progress e The Holy War, mas ainda merecem
ser lidas. As obras de Bunyan são um tesouro de verdade
bíblica e experimental. Ele foi um teólogo ensinado pelo
Espírito e tinha o dom de interpretar a verdade evangélica
para as massas.
Sem dúvida, Bunyan foi um dos escritores puritanos mais
populares porque, conquanto possuindo a centralidade da
Palavra e a profundidade de doutrina e experiência dos outros
puritanos, apresentava a verdade com cálida simplicidade.
Diversos publicadores reimprimiram obras individuais de
Bunyan. Mais recentemente, a SDG reimprimiu The Fear of
God, no qual Bunyan fala dos objetivos e motivos para temer
Deus, das várias espécies de temor, do caráter e dos efeitos do
santo temor e dos privilégios e usos desta doutrina. A BTT
também reimprimiu cinco obras de Bunyan {The Acceptable
Sacrifice, All Loves Excelling, Come and Welcome to Jesus
Christ, The Jerusalem Sinner Saved, e Prayer), na série Puritan
Paperback. A GM reimprimiu Groans of a Lost Soul, Solomon’s
Temple Spiritualized e Advice to Sufferers, entre outros.
Para os que desejam ter o melhor do que Bunyan escreveu,
a edição da BTT de compilações feita por George Offor em
1854 é a melhor opção. Ela apresenta cinquenta e cinco obras
de Bunyan em três volumes. O primeiro volume contém
valiosas introduções e, em oitenta páginas, memórias da vida
e tempos de Bunyan. Os volumes 1 e 2 contêm suas obras
experimentais, doutrinárias e práticas, tais como Christ a
Complete Saviour e The Fear of God. O volume 3 contém obras
alegóricas, figurativas e simbólicas de Bunyan, tais como
Pilgrim’s Progress, The Holy War e The Life and Death of Mr.
Badmanf bem como um índice resumido.

Christiana’s Journey; Or, The Pilgrim’s Progress, The second


Part (BP; 150 páginas; 1993). Esta edição contém o texto de3
3 P u b lic a d o p e la P E S so b o títu lo .Jornada p ara o Inferno.
179
PAIXAO P E L A PUREZA

Christiana's Journey e setenta e três páginas inteiras de belas


pinturas a óleo de Albert Wessels, que atraem especialmente
as crianças.
Bunvan pode ter sido motivado a escrever a segunda parte
de Pilgrim’s Progress, na qual Cristiana e outras personagens
femininas, bem como crianças, têm papel proeminente, para
retratar um modo mais suave pelo qual o Espírito Santo
muitas vezes opera a conversão em típicos membros de
igreja. Daí, Cristiana e seus filhos não caem no Lamaçal do
Desânimo, nem têm a mesma experiência dramática junto à
cruz que Cristão teve. Cristão e Cristiana percorrem grande
parte do mesmo terreno, o que mostra a universalidade das
experiências espirituais dos crentes, mas a seção sobre Cristão
é mais autobiográfica, ao passo que a seção sobre Cristiana
é mais coletiva e normativa, mostrando uma estrutura mais
típica da conversão.

Grace Abounding to the Chief o f Sinners (AP; 243 páginas;


sem data). Uma indispensável fonte de informações sobre a
vida e a conversão de Bunyan, este clássico autobiográfico
narra a sua vida desde a infância até o seu encarceramento
ocorrido em 1660. Um texto sobre o restante da vida de
Bunyan é oferecido pelo editor. A obra provê um franco
e sincero exame das lutas de sua vida, mostrando que a
graça de Deus é abundante até para o maior dos pecadores.
Richard Greaves escreve: “ Embora convencional em sua
estrutura, o livro Grace Abounding transcende os exemplos
contemporâneos do gênero em sua profundidade de
experiência psicológica, seu penetrante relato da luta de
Bunyan para guardar-se de sucumbir ao desespero invasivo
e paralisante, e sua agonizante peleja com textos bíblicos”
{Oxford DNB, 8:705).
A obra Grace Abounding foi publicada seis vezes durante
a vida de Bunyan, e tem sido reimpressa muitas vezes através
dos séculos. Esta reimpressão é tomada da oitava edição.

180
John Runyan

The Holy War (Reiner; 454 páginas; 1974). Esta alegoria,


só superada por Pilgrim’s Progress, traz 0 título completo de
The Holy War, made by King Shaddai upon Diabolus,4 for the
Regaining of the Metropolis of the World; or, the Losing and Taking
again of The Town of Mansoul. A edição de Reiner contém
as valiosas “ notas explicativas, experimentais e práticas” de
George Burder e sessenta e oito gravuras.
Macauley afirma que The Holy War, escrita por Bunyan
depois do tempo em que ficou na prisão, “seria a melhor
alegoria já escrita, se não existisse Pilgrim’s Progress". The Holy
War é mais difícil de 1er, mas também é, em certos lugares,
mais profunda do que Pilgrim’s Progress, em parte porque
envolve vários níveis de alegoria. “A Alma-humana não é
somente a alma de cada crente e a personificação alegórica do
cristianismo, mas é o símbolo da própria Inglaterra” (Oxford
DNB, 8:707). The Holy War contém valiosos conselhos sobre
como combater o bom combate da fé. Recompensará rica­
mente o leitor meditativo.

The Pilgrim’s Progress (Reiner, 1974; BTT, 1983; BP, 1999).


Este é um comovente relato alegórico da guerra espiritual
experimentada por um caminhante peregrino que viaja da
Cidade da Destruição para a Cidade Celestial, no qual Bunyan
alegoriza a sua própria experiência religiosa como um guia
para outros. “Cristão é tanto um peregrino como um guerreiro,
e a mensagem de The Pilgrim’s Progress não é somente um
chamado para que a pessoa abrace a vida cristã e nela persista,
mas também uma convocação para combater as forças do
mal” (Oxford DNB, 8:705). ’
As percepções de Bunyan na desesperadora luta da
humanidade e na graça redentora de Deus fizeram deste livro
um clássico popular. A regeneração, a fé, o arrependimento,
a justificação, a mortificação, a santificação e a perseverança

4 T e r m o la tin o . N o ta d o tra d u to r.

181
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

são pungentemente retratados para nós com pormenores


bíblicos, doutrinários, experimentais e práticos.
Dentre as mais de duas dúzias de reimpressões do clássico
de Bunyan desde 1960, três são dignas de menção. A primeira,
uma excelente edição das duas partes de Pilgrim’s Progress
contendo as inapreciáveis notas explicativas de Thomas Scott,
notas marginais originais, e suporte textual, foi reimpressa
por Reiner (1974), e é a edição mais útil. Inclui 50 páginas de
úteis memórias de Bunyan escritas por Josiah Condor.
A segunda é uma edição de luxo que a Banner of Truth
Trust publicou em 1983. Inclui notas marginais originais e
referências das Escrituras, as duas partes de Pilgrim’s Progress
e uma série de esboços produzidos por William Strang.
A terceira é um belo volume, próprio para se deixar sobre
uma mesa de centro, lançada pela Bunyan Press, contendo o
texto completo de Pilgrim’s Progress ao lado de uma bela coleção
de mais de setenta pinturas a óleo de Albert Wessels. É uma
edição excelente para ajudar as crianças a compreenderem a
clássica história. Diversas reimpressões da famosa história
de Bunyan têm sido editadas para crianças por outras
publicadoras.

182
Anthony Burgess
(m. 1664)

nthony Burgess, “piedoso, culto e competente erudito,


A bom polemista, bom preceptor, eminente pregador,
teólogo firme, ortodoxo” (Wallis, Sermons, p. 15), era filho
de um mestre-escola de Watford, Hertfordshire. Ingressou
no St. John’s College, Cambridge, em 1623, e recebeu 0 grau
de Bacharel em Artes em 1627. Transferiu-se depois para o
Emmanuel College, onde foi eleito conselheiro universi­
tário e obteve o grau de Mestre em Artes em 1630. No início
da década de 1630, Burgess foi preceptor de John Wallis, o
futuro professor Savillian1 de geometria que, como Burgess,
se tornaria membro da Assemhleia de Westminster, e de
William Jenkyn, mais conhecido como autor de uma completa
exposição {da Epístola) de Judas.
Burgess serviu como vigário de Sutton Coldfield, Warwick­
shire, de 1635 a 1662, exceto por alguns anos da década de 1640.
Durante a Guerra Civil, os soldados do rei perseguiram sem
misericordia os ministros puritanos, saqueando suas casas e

1 S a v illia n . sa v illia n o . P ro v á v e l re fe re n c ia a G e o rg e S a v ile o u S a v ille (1 6 3 3 ­


16 6 5 ) , p r i m e i r o m a r q u ê s d e I lu í i f a x . p o l í t i c o i n g l é s , l o i m e m h r o d o C o n s e l h o
P riv ad o em 1 6 7 2 . 1 6 7 3 e t i e 1 6 7 6 a 1 6 8 5 . F e / o p o s i ç ã o à le i d e e x c l u s ã o d e
1 6 7 6 . 1 6 X 0 e a o s e x e e s s o s d e J a m e s II. . A l i a d o d e W i l l i a m I I I . d a I n g l a t e r r a .
Ib i l o r d e d a C a m a r a e m i n i s t r o p r i n c i p a l d a c o r t e re a l ( 1 6 X 6 . 1 6 6 0 ) . N o t a d o
tra d u to r.

183
PAIXAO P EL A PUREZA

desalojando suas famílias. Burgess fugiu para Coventry para


livrar-se do exército do rei, e ali veio a ser um dos capelães
das guarnições parlamentares e se associou a vários ministros
piedosos, inclusive Richard Baxter.
De Coventry, Burgess juntou-se à Assembléia de Teólogos
de Westminster, onde ficou sendo conhecido por sua argúcia
teológica e por sua piedade. Durante os anos que passou em
Londres, pregou ao parlamento em ao menos seis ocasiões;
esses sermões mostram uma ênfase inteiramente bíblica, uma
ênfase à manutenção da disciplina da Igreja, e uma aversão
pelos erros antinomistas. Em 1645, substituiu Thomas Crane,
expulso, como vigário da igreja de St. Lawrence Jewry, que
se reunia no Guildhall, e ali estabeleceu um presbitério
congregacional. Em 1647, ele assinou o documento Testimony
{Testemunho} dos ministros presbiterianos contra a tolerân­
cia da heresia. Por onde ia, era estimado como eminente
pregador, e também como um sólido teólogo.
Depois que a Assembléia de Westminster terminou o
seu trabalho em 1649, Burgess voltou para Sutton Coldfield.
Notando o seu potencial para a docência universitária, o
bispo Hacket de Lichfield supostamente pediu a Burgess
que desistisse de seus conceitos não conformistas. Hacket
conhecia Burgess por meio dos seus escritos, dos quais
analisava completamente cada assunto neles tratado. Durante
um período de quinze anos (1646-1661), Burgess escreveu
ao menos uma dúzia de livros, baseados principalmente
em seus sermões e em suas preleções. Seus escritos revelam
familiaridade acadêmica com Aristóteles, Séneca, Agostinho,
Aquino, Lutero e Calvino. Ele fazia um judicioso uso de
citações gregas e latinas, enquanto que, ao mesmo tempo,
argumentava no claro estilo da pregação puritana. Em Burgess
o culto erudito e o pregador experimental combinavam para
produzir escritos perspicazes, ardentes, devotos.
Várias obras importantes de Burgess têm forte ênfase
polêmica. Seu primeiro tratado importante, Vindiciae Legis,

184
Anthony Burgess

(1646), baseado em vinte e nove preleções feitas em Lawrence


Jewry, vindicava a conceituação puritana da lei moral e
das alianças das obras e da graça em oposição aos católicos
romanos, aos arminianos, aos socinianos, e especialmente
aos antinomistas. Dois anos mais tarde, Burgess escreveu
contra os mesmos oponentes, inclusive Baxter, em seu
primeiro volume sobre justificação. Ele refutou a obra de
Baxter por suas tendências arminianas, que promoviam
um processo que envolvia a cooperação da graça divina e
as obras humanas. Seu segundo volume sobre justificação,
que apareceu seis anos mais tarde (1654), discute a justiça
natural de Deus e a justiça imputada de Cristo. Esses dois
volumes contêm setenta e cinco sermões. Seu livro de 555
páginas intitulado Doctrine of Original Sin, (1659), chamou os
anabatistas para a briga.
Burgess escrevia como um fiel despenseiro dos mistérios
de Deus. Além de ser um formidável polemista, ele sobressaía
como escritor experimental. Distinguiu magistralmente o
precioso do vil no livro The Godly Man’s Choice, baseado em
treze sermões sobre o Salmo 4:6-8. Sua minuciosa exegese
em sua obra composta de 145 sermões sobre João, capítulo
17, seu comentário de 300 páginas sobre 1 Corintios, capítulo
3, e seu comentário de 700 páginas sobre 2 Corintios, capítulo
1, aquecem e sondam 0 coração. Eles cumprem a meta de
Burgess de “empenhar-me na verdadeira e sã exposição... com
vistas a reduzir todo o conteúdo doutrinário e controvertido
a um conteúdo prático e experimental, o que constitui a vida
e a alma de tudo” (Burgess, Second Corinthians, chapter 1,
intro.)
Burgess foi expulso pelo Ato de Uniformidade de 1662.
Resistindo ao desejo de formar um conventículo, retirou-
-se para Tamworth, Staffordshire, onde frequentou até sua
morte, ocorrida em 1664, a igreja paroquial de seu amigo,
Samuel Langley, um ministro piedoso, mas conformista.
Burgess tem sido gravemente subestimado na história

185
PAIXAO PHLA PUREZA

da Igreja. Hle é um dos bem poucos autores puritanos que


não têm uma reimpressão das suas obras no século dezenove.
Muitos dos seus livros merecem ser reimpressos atualmente.

Spiritual Refining: The Anatomy of the True and False


Conversion (10, 2 volumes, 1.100 pãginas; 1986-1996).
Recentemente IO fez duas edições de dois volumes da obra
Spiritual Refining, de Burgess (1652-1654). A primeira edição,
um fac-símile, contém o texto completo, sem reduções, de 1658.
A segunda edição de Spiritual Refining, edição condensada,
vale o investimento por aqueles que têm dificuldade de ler o
impresso em fac-símile, apesar de que partes preciosas foram
removidas.
A magnum opus de Burgess tem sido descrita como
uma “incomparável anatomia da religião experimental” . O
primeiro volume, que tem como subtítulo Zl Treatise of Grace
and Assurance, contém 120 sermões; o segundo, com o subtítulo
A Treatise of Sin, with its Causes, Differences, Mitigations and
Aggravations, contém 42 sermões.
Na primeira seção do primeiro volume, Burgess discute a
certeza e refuta o erro antinomista que declara que as marcas
internas da graça no crente não são provas da sua justificação.
Em nossa opinião, as sessenta páginas iniciais da edição em
fac-símile é o melhor tratamento dado à certeza da fé em toda
a literatura puritana. Aqui está uma preciosa citação na qual
Burgess mostra a necessidade de se dar prioridade a Cristo e a
Suas promessas, antes que às marcas da graça, na verificação
da certeza da pessoa:

Devemos ter 0 cuidado de não fixar a atenção em


nós mesmos para encontrar graças em nossos corações
e com isso esquecer aqueles Atos de Fé pelos quais nos
unimos a Cristo imediatamente e confiamos somente

186
Anthony Burgess

nele para a nossa justificação. ... O temor disto tem


levado alguns a depreciarem totalmente o uso de
sinais que evidenciem a nossa justificação. E a
verdade é que não se pode negar que muitos filhos
de Deus, enquanto estudam e examinam para ver
se há graça em suas almas, ao descobrirem isso,
podem ter reconfortantes elementos de persuasão
da sua justificação, e então negligenciam aqueles
preciosos e importantes atos de fé, mediante os
quais temos uma aquiescência ou um seguro
descanso em Cristo quanto à nossa aceitação por
parte de Deus. É como se 0 velho Jacó se alegrasse
tanto com os carros enviados por José, pelos quais
ficou sabendo que ele vivia, que não teria desejado
ver José pessoalmente. Assim também, enquanto
te enches de alegria ao perceberes a graça em ti,
esqueces a alegria em Cristo, que é mais excelente
que todas as tuas graças (1:41).

As seções dois e três descrevem numerosos sinais da


graça. As nove seções restantes desse volume discutem a
graça em termos da regeneração, da nova criatura, da obra das
mãos de Deus, da graça no coração e da graça purificadora
ou santificante, da conversão ou o voltar-se para Deus, da
remoção do coração de pedra, do Espírito de Deus em nós e
da vocação ou chamada. Em todo 0 curso de sua exposição
Burgess distingue a graça salvadora de suas imitações.
No segundo volume de Spiritual Refinitig, Burgess focaliza
0 pecado. Ele fala do caráter enganoso do coração humano,
dos pecados da presunção e da ambição de poder, da hipocrisia
e do formalismo na religião, da consciência mal orientada,
e dos pecados secretos que muitas vezes passam sem serem
reconhecidos. Positivamente, ele explica a ternura de um
coração bondoso, mostrando “que um rigoroso exame do
coracão
-5 e dos caminhos do homem,' com um santo temor de

187
PAIXAC) P E L A PU R EZA

pecar, harmonizam-se com uma vida de fé no evangelho e com


a alegria no Espírito Santo”. Seu alvo, como vem declarado
na página do título, é “desmascarar falsos cristãos, assustar
os ímpios, confortar e dirigir o santo e humilde homem que
duvida, [e] exaltar a graça de Deus”.
Falando da regeneração, Burgess escreve: “Se Deus operar
(isto) em você, você se surpreenderá ao ver a diferença entre
você agora e você antes; tudo 0 que você ouviu, leu, ou pregou,
não é nada em face do que você sente; mas, quanto há que
temer que muitos só viram a piedade no papel, e nunca tiveram
experiência da realidade propriamente dita!”
Em seu livro, Student and Preacher, Cotton Mather escreve:
“De A. Burgess, posso dizer que ele escreveu para ti coisas
excelentes”.

188
ft
Jeremiah
Burroughs

J 'e r e m ia h B u rro u g h s (ou B u rro u g h e s ) foi b a tiz a d o em 1601


e foi a d m itid o co m o p e n s io n is ta n o E m m a n u e l C ollege,
a m b rid g e , em 1617. R ece b eu o g ra u de B ach a rel em A rtes
em 1621 e de M e s tre em A rte s em 1624. Seu p re c e p to r foi
T h o m a s H o o k er.
O m in is té rio de B u rro u g h s d e u -se em q u a tro p e río d o s,
to d o s os q u a is o re v e la m co m o u m p a s to r zeloso e fiel.
P rim e iro , de cerca de 1627 até 1631, foi a s s is te n te de E d m u n d
C alam y, em B u ry St. E d m u n d s , Suffolk. O s d o is h o m e n s
fo ram m e m b ro s da A ssem b léia de W estm in ste r. O s dois se
o p u se ra m fo rte m e n te ao Book of Sports, do re i Jam es. O s d o is
se re c u s a r a m a le r n a ig re ja a p ro c la m a ç ã o do re i d e q u e a
d a n ç a , a p r á tic a d e a rc o e fle c h a , o e s p o r te d e s a lto s e o u tro s
jo g o s e ra m re c re a ç õ e s le g ítim a s n o d ia d o S e n h o r.
S e g u n d o , de 1631 a 1636, B u rro u g h s foi re ito r de T iv e tsh a ll,
N o rfo lk , u m a igreja q u e a in d a h o je está de pé. A p esar dos
m e lh o re s esforços do seu d efen so r, B u rro u g h s foi su sp e n so
em 1636 e d e sp o ja d o em 1637 p o r re c u sa r-se a o b e d e c e r às
in ju n ç õ e s do b isp o M a tth e w W re n , p r in c ip a lm e n te q u a n to à
le itu ra do Book of Sports (L iv ro d o s E sp o rte s) e às exig ên cias
de in c lin a r-s e ao n o m e de Jesu s e a le r oraçõ es, em vez de fazê­
-las e x te m p o rá n e a m e n te .

189
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

Terceiro, de 1638 a 1640, Burroughs viveu na Holanda,


onde foi mestre de uma congregação de ingleses independentes
em Rotterdam, anteriormente ministrada por William
Ames. William Bridge era o pastor e Sidrach Simpson tinha
estabelecido uma segunda igreja da mesma linha de pensamento
na cidade. Sucedeu, pois, que três futuros irmãos dissidentes
foram reunidos, todos os quais serviríam como propagandistas
do congregacionalismo mais tarde, na década de 1640.
No período final, de 1640 até sua morte em 1646,
Burroughs conquistou grande reconhecimento como pregador
popular e como um líder puritano em Londres. Voltou para a
Inglaterra durante o período da República e foi pastor de duas
das maiores congregações de Londres: Stepney e St. Giles,
Cripplegate. Em Stepney, ele pregava logo cedo, de manhã, e
se tornou conhecido como “a estrela da manhã de Stepney”.
Foi convidado para pregar diante da Casa dos Comuns e da
Casa dos Lordes várias vezes. Thomas Brooks lhe chamou
“um príncipe dos pregadores” .
Como membro da Assembléia de Westminster, Burroughs
acompanhou os independentes, mas continuou com tom
moderado, agindo de acordo com o moto fixado na porta do
seu escritório: “ Opinionum varietas et opinantium unitas non sunt
hasustata” { variedade de opiniões e unidade de opiniões não são
incompatíveis}. Richard Baxter disse: “Se todos os episcopais
fossem como o arcebispo Ussher, todos os presbiterianos como
Stephen Marshall e todos os independentes como Jeremiah
Burroughs, as rupturas da Igreja logo seriam sanadas” .
Em 1644, Burroughs e diversos colegas apresentaram ao
parlamento a sua Apologetical Narration, que defendia a in­
dependência {da Igreja}. Era uma tentativa de determinar um
termo médio entre o presbiterianismo, que eles consideravam
demasiado autoritário, e o brownismo,1que eles consideravam
1 F u n d a d o p o r R o b e rt B r o w n e (c. 1 5 5 0 -1 6 3 3 ), a u to r d e u m liv ro e m q u e e x p ô s
id éias q u e se rv ir a m d e b a s e p a ra o c o n g r e g a c io n a lis m o m o d e r n o . T ítu lo d o
liv ro : I Hooke which Showelh lhe Life and Manners o f all True Christians.
N o ta d o tradutor.

190
Jeremiah Burroughs

demasiado democrático. Isso levou a uma divisão entre os


presbiterianos e os independentes. Burroughs serviu no comitê
de adaptação que tentou conciliar as diferenças, mas em 9 de
março de 1646 ele declarou, em favor dos independentes, que
os presbitérios eram “instituições coercivas” . Burroughs disse
que preferia sofrer ou emigrar a sujeitar-se a presbitérios.
Finalmente, a divisão entre presbiterianos e independentes
ajudou a promover a causa episcopal, depois da morte de
Oliver Cromwell.
Burroughs buscou a paz até o ñm. Morreu em 1646, duas
semanas depois de cair do seu cavalo. O último assunto sobre
o qual pregou tornou-se o seu Irenicum to the Lovers of Truth
and Peace, urna tentativa de curar as divisões entre os crentes.
Muitos dos seus amigos acreditavam que os problemas da
Igreja apressaram sua morte.
Burroughs foi um escritor prolífico, altamente estimado
pelos líderes puritanos de seu tempo, alguns dos quais
publicaram seus escritos depois de sua morte. Quase todos os
seus livros são compilações de sermões.

The Evil of Evils, or The Exceeding Sinfulness of Sin (SDG;


345 páginas; 1999). Este livro, impresso pela primeira vez em
1654, consiste de sessenta e sete breves capítulos que expõem
o pecado e concitan! os crentes a preferirem a aflição a pecar.
Burroughs arranja o seu material em torno de sete principais
pensamentos: (1) há maior mal no menor pecado do que na
maior aflição; (2) o pecado e Deus são antagônicos entre si; (3)
o pecado é diretamente contrário ao nosso bem; (4) o pecado
se opõe a tudo o que é bom; (5) o pecado é o mal de todos os
outros males; (6) o pecado tem dimensão e caráter infinitos; e
(7) o pecado nos deixa à vontade com o diabo. O livro The Evil
of Evils é inapreciável por sensibilizar as nossas consciências
para a “excessiva gravidade do pecado” (cf. Rom. 7:13).

191
PAIXAO P E L A PUREZA

The Excellency of a Gracious Spirit (SDG; 260 páginas; 1995).


Baseado em Números 14:24 (em Calebe “ houve outro espírito,
e perseverou em seguir-me”), este livro está dividido em duas
partes: (1) em que consiste este espírito gracioso, e (2) que
significa seguir Deus plenamente (VA). Burroughs diz que
devemos lutar por viver no temor do Senhor para afastar-nos
do mal e chegar mais perto dEle. Viver no temor do Senhor
é a soma e a substância de um espírito gracioso.

An Exposition of the Prophecy of Hosea (SDG; 699 páginas;


1990). Esta gigantesca exposição de Oséias é uma das mais
excelentes obras de Burroughs. Esta edição é uma reimpressão
em fac-símile da edição de James Sherman, de 1863.
Burroughs morreu antes de completar o livro, mas dois dos
seus amigos mais chegados, Thomas Hall e Edward Reynolds,
concluíram o comentário. Spurgeon descreveu esta obra como
“magistral”, observando que é “uma imensa casa do tesouro
de exposição experimental”. Desde então nenhuma obra sobre
Oséias superou este comentário.

Gospel Conversation (SDG; 310 páginas; 1995). Este magistral


tratado trata do correto viver dos crentes. Inclui sete sermões
sobre Filipenses 1:27 (“Deveis portar-vos dignamente
conforme o evangelho de Cristo”), três sobre João 8:36 (“O
meu reino não é deste mundo”), e um sermão sobre Êxodo
14:13, intitulado “The Saints’ Duty in Times of Extremity”.
Burroughs leva o leitor a lamentar 0 seu estado alienado e a
ter anseio pelo surgimento da santidade, da união e da comunhão
com Cristo. Ele enfatiza que não pode haver obras de santificação
antes de existir união com Cristo. Mas, uma vez em Cristo, o cris­
tão deve dar prova dessa união buscando fervorosamente a vida
piedosa para a qual Deus o chama. As boas obras são perigosas,
se feitas o fundamento da justificação, mas são necessárias e
úteis na santificação. A conversação e a conduta dos crentes
devem estar num plano mais alto do que as dos incrédulos.

192
Jeremiah Burroughs

Gospel Fear: Developing a Tender Heart that Trembles at


the Word of God (SDG; 147 páginas; 2001). O conceito dc
reverência quase ficou esquecido em nossos dias, mesmo por
muitos que se consideram cristãos. Somos irreverentes porque
ignoramos Deus e Sua santidade. Como escreve Burroughs,
“O motivo pelo qual os homens cultuam Deus de maneira
leviana é que eles não veem Deus em Sua glória”, Estes
sermões (sobre Isaías 66:2, “e que treme da minha palavra” e
sobre 2 Reis 22:19 “Porquanto o teu coração se enterneceu”)
são um corretivo para a ignorância que prevalece. O volume
inteiro mostra a necessidade que temos de reverência e temor
para com Deus e Sua Palavra.

Gospel Reconciliation (SDG; 379 páginas; 1997). Não há


questão mais importante para qualquer pessoa do que estar de
bem com Deus. Neste tratado de oitenta e um capítulos sobre
2 Corintios 5:19,20 (“Deus estava em Cristo reconciliando
consigo 0 mundo”), Burroughs responde a perguntas sobre
a reconciliação. A obra expiatória de Cristo é 0 único meio
pelo qual os homens podem ser reconciliados com Deus,
pois uma criatura finita jamais pode satisfazer a justiça de
um Deus infinito. Burroughs explica os resultados da nossa
reconciliação em Cristo mostrando que esta reconciliação é
um profundo mistério, é de graça, segura, completa, honrosa,
firme e eterna, mas também é uma obra difícil, pois só somos
salvos pela consumada realização divina, não pela realização
humana.

Gospel Remission (SDG; 310 páginas; 1995). Com o subtítulo


Irue Blessedness Consists in Pardon of Sin , esta reimpressão,
feita pela primeira vez, consiste de uma série de sermões sobre
o Salmo 32:1, que Burroughs pregou depois de ter completado
sua obra prima sobre o pecado, The Evil ofEvils. Como um terno
pastor, Burroughs sabia que depois de ouvir sobre a natureza
mortífera do pecado, sua congregação precisaria ouvir sobre

193
PAIXAO PEL A PU R EZA

a remissão de pecados oferecida no evangelho. Burroughs


cobre cinco áreas do perdão: (1) os numerosos mistérios do
evangelho na remissão; (2) os gloriosos efeitos procedentes da
remissão; (3) os grandes erros cometidos sobre a remissão; (4)
os verdadeiros sinais e sintomas da remissão; e (5) os métodos
e meios para obter a remissão. Burroughs salienta a desonra
feita a Deus por não descansarmos na bênção misericordiosa
da Sua remissão.

Gospel Worship (SDG; 400 páginas; 1990). Subtítulo: The


Right Manner of Sanctifying the Name of God in General. Este
tratado sobre Levítico 10:1-3 é um chamado à dignidade
e sobriedade no culto de Deus. Ele trata da santificação do
crente por meio de “três grandes ordenanças” : (1) ouvir
a Palavra, (2) receber a Ceia do Senhor, e (3) oração. Numa
época que promove formas de culto elaboradas pelo homem,
Gospel Worship é um chamado ao culto bíblico do Triúno Deus
pelo uso dos meios que Ele instituiu. Burroughs mostra como
o culto é importante para Deus e nos ensina a dar “ao Senhor
a glória devida ao seu nome” (Salmo 29:2). Ele deixa claro
que não precisamos de novas formas de culto para sermos
relevantes, mas, sim, de renovar as antigas formas de culto.

Hope (SDG; 150 páginas; 2005). Este tratado sobre 1 João


3:3, “ E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si
mesmo”, primeiro estabelece que todo crente é uma pessoa
esperançosa; segundo, explica que, onde reside a verdadeira
esperança, ela purificará o coração; e terceiro, provê dez
meios pelos quais os crentes podem purificar-se pela
esperança. Burroughs mostra também a origem, o objeto e
a base da esperança. O livro conclui com uma exortação a
abandonar o pecado. Esta é uma obra de mestre oportuna
e sucinta para o nosso m undo im puro, perdido no
pecado e dominado pelo desespero.
Anexado como apêndice ao livro Hope há um sermão de

194
Jeremiah Burroughs

63 páginas, de Burroughs, sobre a miséria dos que só têm


esperança nesta vida, baseado no Salmo 17:14b: “ {livra-nos}
dos homens do mundo, cuja porção está nesta vida” .

Irenicum to the Lovers of Truth and Peace (SDG; 440 páginas;


1998). Com o subtítulo, Heart-divisions opened in the causes and
evils of them, with cautions that we may not be hurt by them, and
endeavors to heal them, este volume contém os últimos sermões
que Burroughs pregou antes de sua morte. Burroughs luta
pela unidade entre os seus irmãos na fé, considera as questões
que dividiam gravemente os crentes em seu tempo e oferece
meios práticos para promover a unidade. Ele explica quando
a pessoa deve argüir sua própria consciência, provê regras
para sabermos em que área devemos tolerar os nossos irmãos,
e mostra que “nem toda diferença em religião é religião
diferente”. Ele discute o papel do orgulho, do amor próprio,
da inveja, da ira, da rigidez, da precipitação, da teimosia, da
incoerência, do ciúme, do espírito contencioso, da cobiça e da
murmuração sobre divisão. Ele conclui que a resposta à divisão
não está na dissimulada tolerância de todas as religiões, nem
numa atitude de transigência para com o pecado, mas numa
luta bíblica pela paz. Dada a realidade do divisionismo em
todas as gerações, este tratado é extremamente aplicável.

The Rare Jew el of Christian Contentment {A Joia Rara do


Contentamento Cristão}2, (BTT; 228 páginas; 2000). Neste
livro sobre o contentamento (Filipenses 4:11: “Já aprendí a
contentar-me com o que tenho”), Burroughs apresenta dois
temas importantes: (1) paz entre crentes de diversas crenças,
e (2) paz e contentamento no coração dos crentes durante
“tempos de tristeza e abatimento”.
Burroughs expõe o que é o contentamento cristão
(capítulo 1), expõe o seu mistério (capítulos, 2-4), mostra que
2 V ersão sim p lific a d a d e sta o b ra, pela PH S, in titu la d a Apréndanlo a Estar
Contente.

195
PAIXAC) P E L A PUREZA

Cristo no-lo ensina (capítulos, 5,6), e descreve dez dos seus


frutos (capítulo, 7). Depois ele fala dos males e agravantes do
descontentamento (capítulos, 8-11). Ele conclui mostrando
como alcançar o contentamento (capítulos, 12,13). Este
clássico provê numerosos remédios práticos para a doença
espiritual do descontentamento.

The Saints’ Happiness (SDG; 264 páginas; 1988). Este livro


oferece uma detalhada exposição sobre as bem-aventuranças
em quarenta e um sermões. Embora Burroughs não se
iguale a Thomas Watson em apelo popular, nem a Robert
Harris na habilidade exegética sobre as bem-aventuranças,
sua obra é uma significativa contribuição para o apropriado
entendimento dessas importantes marcas da vida espiritual.

The Saints’ Treasury (SDG; 175 páginas; 1994). Este livro é


uma compilação de cinco sermões sobre a santidade de Deus,
Cristo como tudo em todos, 0 gozo que a fé frui das coisas
celestiais, a escravidão do homem natural à lei e a liberdade
dos crentes pelo evangelho, e a preparação para 0 juízo.

A Treatise of Earthly-Mindedness (SDG; 220 páginas; 1998).


Uma oportuna reimpressão para a nossa época rendida à
mentalidade mundana, este livro contém dois tratados:
uma séria advertência contra os males de nos rendermos à
mentalidade mundana; uma explanação sobre como “manter
nossos corações livres da mentalidade mundana” ; e uma
discussão sobre o que significa ter mentalidade celestial, com
uma ênfase ao viver piedoso em Cristo Jesus. Vários capítulos
falam sobre como fomentar uma conversação celestial e um
andar celestial.

196
Nicholas Byfield
(1579-1622)

N icholas Byfield nasceu em 1579 em Warwickshire, e


era filho de Richard Byfield, que mais tarde foi vigário
de Stratford-upon-Avon. Ele ingressou no Exeter College,
Oxford, em 1596, onde estudou quatro anos sem se graduar.
Eventualmente, determinou-se a obter um direito a moradia
na Irlanda; a caminho de lá, parou para pregar na St. Peter’s
em Chester. Depois de pregar ali, aceitou um convite para
tornar-se preletor, e em 1608 se tornou pároco adjunto. Seu
ministério foi altamente estimado, apesar da oposição do
bispo de Chester.
Nessa época Byfield casou-se com Elizabeth Tomkyns,
que lhe deu dez filhos, o último dos quais ele não viveu
para ver. Em 1615, foi concedida a Byfield uma verba
para sustento como vigário de Isleworth, Middlesex, onde
trabalhou com considerável fruto até sua morte. Ele pregava
duas vezes por domingo, e nas quartas e sextas-feiras no
verão, apesar de sofrer quinze anos com problema de cálculos
renais. Morreu no dia 8 de setembro de 1622, devido a um
enorme cálculo renal.
Além de sua extensa obra sobre Colossenses mencionoada
abaixo, Byfield escreveu ao menos dezesseis livros, inclusive

197
PAIXAO P E L A PUREZA

clássicos devocionais puritanos, como The Pattern of Wholesome


Words, (1618), The Marrow of the Oracles of God, (1627), e um
extenso comentário de 1 Pedro, finalmente publicado em
sua forma completa em 1637. Seu livro The Beginning of the
Doctrine of Christ, or, A Catalogue of Sins, (1619), fortaleceu
entre muitos puritanos a convicção de que a pessoa conhecer
a si mesma é requisito para conhecer Cristo. Em resposta
às objeções apresentadas contra as estritas idéias de Byfield
sobre o Sabbath, objeções feitas por Edward Brerewood, um
astrônomo e matemático, Byfield escreveu uma das primeiras
dentre diversas apologias puritanas em prol da guarda do
santo repouso semanal no domingo (1626).
Byfield era um puritano moderado e um “não conformista
de coração que se conformava por amor do evangelho e da
Igreja, desaprovando o “zelo contencioso” dos que “ fazem
rupturas desnecessários na Igreja” (Exposition upon Colossians,
edição de 1628, p. 194), e aconselhando os seus paroquianos
a se conformarem na medida em que as cerimônias e os
costumes exigidos não estivessem em oposição à Palavra
de Deus” (Oxford DNB, 9:305). Byfield era conhecido por
sua excelente erudição, juízo e aptidão, em acréscimo a suas
habilidades ministeriais. William Gouge escreveu sobre ele
como pastor: “Quando tinha que lidar com tenras e atribuladas
consciências, ele era um Barnabé, um filho da consolação,
mas quando tinha que lidar com pecadores despudorados e
obstinados, ele podia tornar seu rosto duro e forte, e mostrar-se
como um Boanerges, o filho do trovão” (prefácio dos sermões
sobre 1 Pedro, capítulo 2).

An Exposition upon the Epistle to the Colossians (TENT; 413


páginas; 2002). Durante quase sete anos Byfield pregou toda
semana sobre Colossenses. Este extenso comentário baseia-se
nesses mais de 300 sermões. Foi publicado pela primeira vez

198
Nicholas By field

em Londres,em 16l5,ereimpressoem 1617,1627,1628e 1649.


Em 1869, 0 livro foi incluído na série de Nichol sobre teólogos
modelares. Os contemporâneos de Byfíeld consideravam a
obra urna clara e fiel exposição da Epístola de Paulo.
A respeito de Byfíeld, Spurgeon escreveu: “O autor
viveu intensa dor e morreu com 44 anos de idade; todavia,
produziu uma verdadeira montanha de literatura. Ele escreve
como um homem sério, fiel, resolvido a não omitir nada do
conselho de Deus; mas pouco se importa com a brevidade e,
consequentemente, cansa muitos leitores, mas sempre vale
a pena consultá-lo”.

199
Thomas Cartwright
(1535-1603)

T homas Cartwright, líder do movimento presbiteriano


elizabetano e do nascente puritanismo inglês, nasceu
provavelmente em Royston, Hertfordshire, em 1535. Foi
educado em Clare Hall e depois em St. John’s College,
Cambridge, onde foi eleito acadêmico em 1550, e recebeu 0
grau de Bacharel em Artes em 1554. Provavelmente saiu da
universidade mariana em 1556 para obter seu sustento como
secretário de um conselheiro jurídico.
Depois que Elizabeth chegou ao trono, em 1558,
Cartwright voltou ao St. John’s {College}, Cambridge; foi
admitido num cargo na universidade em 1560. Em junho ele
começou um curso de Mestre em Artes no Trinity College
e se tornou membro do corpo docente diretivo ali em 1562.
Quando Elizabeth visitou o College em 1564, supostamente
ouviu um debate no qual Cartwright argumentou no sentido
de que a soberania de Deus não precisa de apoio de uma forma
monárquica de governo. A rainha não gostou, mas nada fez
contra ele.
A volta dos exilados no reinado de Maria gerou considerável
agitação quando muitos deles procuraram uma reforma mais
ampla da Igreja da Inglaterra. Questões sobre o culto e sobre a

200
Thomas Cartwright

estrutura da Igreja da Inglaterra levaram Cartwright a pregar


na capela do College três sermões que promoviam reforma
adicional. Trezentos eruditos e diretores docentes do St. John’s
e do Trinity participaram desses cultos sem suas sobrepelizes
- feito ousado e perigoso naqueles dias.
Em parte devido à tensa atmosfera que se seguiu, Cartwright
deixou Cambridge em 1565 para servir como capelão de Adam
Loftus, o novo arcebispo de Armagh, na Irlanda. Voltou para
Cambridge em 1567, onde recebeu 0 grau de Bacharel em
Teologia e veio a ser um renomado professor universitário.
Dois anos depois, foi designado Professor de Teologia em Lady
Margaret. Logo provocou controvérsia com suas preleções
sobre o livro de Atos, nas quais ele argumentou, com base
em princípios do Novo Testamento, que 0 presbiterianismo
deveria substituir o sistema episcopal da Igreja da Inglaterra.
Disse ele que prelados como arcebispos e arquidiáconos
deveríam ser removidos e uma forma presbiteriana de
governo da Igreja deveria ser adotada. Toda igreja deveria ser
governada por seu(s) próprio(s) ministro(s) e presbíteros, que
seriam escolhidos pela igreja, não pelo Estado. Além disso, os
ministros deveríam ser responsáveis por somente uma igreja.
Disse também que a observância da quaresma, o sinal da cruz
no batismo e o ato de ajoelhar-se diante da mesa da Ceia do
Senhor, deveríam ser abolidos, visto que eram remanescentes
da superstição papal. Enquanto esses tipos de reforma não
fossem implementados, concluiu ele, a reforma da Igreja da
Inglaterra continuaria incompleta.
John Whitgift, diretor e vice-chanceler do Trinity e um
notório inimigo do puritanismo, opôs-se a Cartwright do
púlpito. Outras autoridades censuraram Cartwright, em
parte para evitar maior ruptura da paz. Cartwright perdeu
seu cargo de professor em 1570, e quando Whitgift se tornou
vice-chanceler em 1571, perdeu também o seu cargo na
universidade. As razões dadas para a sua expulsão foram
que ele sustentava (1) que era necessário reduzir todas as

201
PAIXAO P E L A PU R EZA

coisas à instituição apostólica, (2) que só ministros deveriam


orar publicamente na igreja e administrar as ordenanças;
(3) que somente as Escrituras canónicas deveriam ser lidas
publicamente na igreja; (4) que todos os crentes deveriam
acompanhar as orações do ministro, e não as suas próprias;
e (5) que ficar em pé ou curvar-se quando as Escrituras eram
lidas era superstição.
Os puritanos elizabetanos viam Cartwright como um herói
da sua causa e faziam pressão para que fosse implementado
o seu programa de reforma. Nesse meio tempo, expulso de
Cambridge, Cartwright viajou para Genebra, onde Theodore
Beza disse dele: “Penso que o sol não vê ninguém mais culto”.
Quando Cartwright voltou para a Inglaterra um ano mais
tarde, de novo enfrentou a ira de Whitgift ao defender a causa
dos escritores de An Admonition to the Parlament, John Field e
Thomas Wilcocks, dois jovens ministros puritanos que tinham
sido lançados na prisão. Ele publicou também A Second
Admonition, que solicitava a isenção da subscrição exigida
pelos comissários eclesiásticos. Cartwright envolveu-se numa
guerra de panfletos contra Whitgift que finalmente levou à
emissão de uma autorização para sua detenção em 1573.
Novamente forçado ao exílio, Cartwright foi mais uma
vez para o exterior, primeiro para Heidelberg e depois para
Basel. Dali foi para Antuérpia, onde serviu como ministro
numa igreja inglesa estruturada nas linhas presbiterianas e
fundada por uma companhia de mercadores ingleses, e depois
acompanhou os mercadores para Middelburg, quando eles
se transferiram para lá. Em meio a todas essas mudanças e
tribulações, Cartwright casou-se com Alice Stubbs, irmã de
um amigo. Alice foi sua auxiliadora apta e piedosa pelo resto
de sua vida.
Embora permanecendo presbiteriano por convicção até
o fim da sua vida, Cartwright não se separou da Igreja da
Inglaterra. Durante sua permanência no exterior, ganhou
aversão pelo separatismo e sectarismo que encontrou.

202
Thomas Carticrighl

Continuou considerando a Igreja da Inglaterra como urna


igreja verdadeira e pelos idos de 1575 sustentou que os
ministros não deveríam abandonar seus postos por causa de
cerimônias que lhes eram ofensivas, urna vez que a pregação
é sempre mais importante que rituais ou cerimônias. Até o
fim, ele procurou balancear a autonomia da igreja local com
a necessidade de uma unidade mais ampla e mais visível,
sem recorrer a um sistema episcopal.
Em 1582, Robert Dudley, conde de Leicester, a conselho
de Theodore de Beza, comissionou Cartwright a escrever uma
crítica ao Novo Testamento de Douai,1 tradução católico­
-romana publicada naquele ano. Cartwright foi até Apocalipse,
capítulo 15, antes de sua morte. Sua obra foi afinal publicada
postumamente em 1618 como A Confutation of the Rhemist’s
Translation.
Cartwright voltou para a Inglaterra sem a permissão de
Elizabeth em 1585 devido a seu mau estado de saúde, e foi
preso por pouco tempo. Depois da libertação de Cartwright,
0 conde de Leicester o nomeou diretor de um novo hospital
em Warwick. Ele pregava frequentemente nessa área e ali
permaneceu até o golpe final dado por Whitgift sobre os
presbiterianos em 1590. Preso outra vez (1591,1592), a soltura
de Cartwright foi obtida pelo rei James e por Lord Burghley.
Aparentemente ele voltou para área de Warwick, mas também
pregou em diversos lugares, inclusive Cambridge, onde levava
a Palavra de Deus a grandes congregações.
Em 1595, Lorde Zouche de Guernsey convidou Cartwright
para acompanhá-lo às Ilhas do Canal,12 que se davam bem
com o presbiterianismo. Ali Cartwright conheceu William
Bradshaw. Também se correspondeu com numerosos teólogos
puritanos, inclusive Laurence Chaderton.
1 D o u a i. c i d a d e f ra n c e s a o n d e e x is tiu u m a a h a d i a (lio je m u s e u , b ib lio te c a e tc .)
e u m a a c a d e m i a ( t r a n s f e r i d a p a r a I .¡lie e m 1 880). N o ta d o tra d u to r.
2 C h a n n e l Islan d s. G ru p o d e ilhas situ a d a s n o C a n a l In g lês (C a n a l d a M a n c h a ).
Nota do tradutor.

203
PAIXAÜ P E L A PU R EZA

Cartwright voltou para Warwick, onde passou seus dias


finais. No dia 25 de dezembro de 1603, ele pregou sobre
Eclesiastes 12:7: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito
volte a Deus, que o deu”. Dois dias mais tarde, depois de
passar duas horas em oração, ele disse a sua esposa, momentos
antes de morrer, que encontrara “maravilhosa e indescritível
alegria e consolação, pois Deus lhe tinha dado um vislumbre
do céu”. Dos seus sessenta e oito anos de vida, Cartwright
passou vinte no exílio e três na prisão.
A influência de Cartwright foi fundamental para o
presbiterianismo e o puritanismo. Charles Briggs escreveu:
“Thomas Cartwright é 0 herói do presbiterianismo da
Inglaterra, lançando os alicerces do puritanismo amplo e
profundo sobre os quais subsequentemente uma grande
estrutura foi erigida” . John Strype disse: “Cartwright foi
o cabeça e o mais culto daquela seita de dissidentes então
chamados puritanos”. E Patrick Collinson conclui que
Cartwright “foi o verdadeiro progenitor do presbiterianismo
inglês” (Oxford DNB, 9:413).

A Commentary on the Epistle to the Colossians [Encadernado


junto com o Comentário de Henry Airay sobre FilipensesJ,
(TENT; 67 páginas; 2001). Embora pequeno e compilado
com base em anotações de ouvintes de trinta e um sermões,
o livro contém, como diz Spurgeon, “o verdadeiro toque”
de uma rica espiritualidade. Infelizamente, a coleção nunca
foi lida pelo pregador, e assim lhe falta refinamento. Não
obstante, Alexander B. Grosart, um editor posterior de
Cartwright, disse que o comentário era “ bem expresso e
sugestivo”.

204
Joseph Caryl
(1602-1673)

oseph Caryl nasceu em Londres, em 1602, de pais


aristocráticos. Teve sua educação no Exeter College, Oxford,
onde se tornou um notável polemista, obtendo seu grau de
Bacharel em Artes em 1625, e um grau de mestre em 1627.
Primeiro ele serviu como vigário de Battersea, Surrey. De 1632 a
1648 serviu como preletor em Lincoln’s Inn, Londres, nomeação
que recebeu porque era “afetado puritanicamente”, e foi recebido
com “simpatia e aplauso” (Wood,Athenae Oxonienses1, 3:979).
Caryl pregou diante do Longo Parlamento catorze vezes na
década de 1640. Só foi o segundo em relação a Stephen Marshall
no número de vezes em que compareceu diante daquelas
autoridades. Em abril de 1642, o parlamento convocou uma
assembléia de teólogos para deliberar sobre a fé, o governo
e a liturgia da Igreja nacional. Os independentes hesitaram,
temendo que as suas consciências fossem constrangidas.
Thomas Goodwin e Joseph Caryl até usaram o púlpito do
parlamento para pregar contra a adoção de urna política
eclesiástica que ameaçasse as suas crenças concernentes ao
verdadeiro culto e serviço de Deus.
Caryl foi designado membro da Assembléia de Teólogos
1 D e O x o n . o u tr o n o m e d e O x f o r d s h i r e , lint la tim n o o rig in a l. N o ta d o tra d u to r.

205
PAIXAO P E L A PUREZA

de Westminster. Ficou sendo conhecido como um zeloso


partidário da Solene Liga e Aliança, um independente
moderado e um defensor da ideia de que deveria haver um
ofício de mestre da igreja (“doutor” ) ao lado do ofício de
pastor e distinto desse. File foi o único independente a quem
o parlamento pediu que servisse num comitê destinado a
refrear a ascensão do antinomianismo. Caryl veio a ser um
dos examinadores responsáveis pela aprovação dos ministros
que deveríam ocupar igrejas vagas. Foi também um ministro
responsável por aprovar material teológico para publicação.
Fm 1645, Caryl sucedeu a Cornelius Burgess como
ministro de St. Magnus the Martyr, situada perto da Ponte
de Londres, onde serviu por dezessete anos. Durante esses
anos ele empreendeu impressionante número de trabalhos.
Publicou uma gramática grega em 1658, e três anos mais
tarde foi o principal autor de um léxico inglês-grego. De
1649 a 1660, ele serviu como um dos pregadores da Abadia de
Westminster. Também serviu ao parlamento numa variedade
de maneiras, e se tornou amigo de Oliver Cromwell. Após a
restauração da monarquia, Caryl foi expulso do seu cargo e
fonte de sustento em 1662, por suas idéias não conformistas.
Na última década de sua vida, ele serviu a uma congregação
independente em Londres. Em 1672, foi licenciado para
pregar para uma congregação de 136 membros comungantes
na Leadenhall Street, Londres.
Caryl morreu pacificamente, em plena certeza da fé, no
dia 25 de fevereiro de 1673, e foi sepultado em College Hill.
Fm seus últimos momentos, ele pediu para ficar sozinho.
Depois da sua morte a sua congregação e a de John Owen
se fundiram na Leadenhall Street. Sucederam-no David
Clarkson e Isaac Watts. Henry Dorney, autor de Divine
Contemplation, disse do seu colega: “Ele viveu os seus
sermões” .

206
Joseph Caryl

Bible Thoughts (SDG; 252 páginas; 1995). Hoje Caryl é mais


conhecido por sua pregação sobre Jó. Esses sermões foram
publicados num período de dezesseis anos (1651-1666), em
doze volumes de mais de oito mil páginas. No século dezenove,
Ingram Cobbin selecionou excertos dos sermões de Caryl
sobre Jó e os arranjou sob títulos bíblicos. Bible Thoughts,
é o resultado desse trabalho.
Quanto a 1 Corintios 13:7 (“A caridade tudo crê”), Caryl
escreve: “Não que a caridade seja tão crédula que aceite como
verdade tudo o que é espalhado por qualquer informação
comum e sem base; isso não recomenda ninguém, muito
menos um homem piedoso. O sentido é que a caridade
interpreta tudo no melhor sentido que se lhe pode atribuir;
e faz a mais justa construção cabível no caso e na condição
de todo homem”.

An Exposition of Job (SGP; 367 páginas; 1959). Este livro


é uma condensação num sõ volume da obra de 12 volumes
abaixo comentada. Como sucede com muitas condensações,
esta é útil quanto aos pensamentos centrais, mas não substitui
a obra maior.

An Exposition upon the Book of Job (RHB e DA; 12 volumes,


8.000 páginas; 2001). E a primeira vez que esta reimpressão em
fac-símile desta obra gigantesca de Caryl sobre Jó é reimpressa
desde o século dezenove. Os dez primeiros volumes da obra
de Caryl são sermões que ele pregou em St. Magnus; os dois
últimos foram completados depois do Ato de Uniformidade.
Acreditando que o livro de Jó era relevante para todos os
tempos, Caryl pregou baseado nele 424 vezes num período de
vinte e quatro anos, na média de dez sermões por capítulo.
Dizem que a sua congregação diminuiu significativa­
mente durante esse tempo. Contudo, a história não fornece
prova que confirme essa informação. Além disso, é preciso

207
PAIXAO P E L A PU REZA

ter em mente que, nesses vinte e quatro anos, Caryl


pregou em média três sermões sobre Jó em cada dois meses.
Os sermões de Caryl estão cheios de percepções
exegéticas, descrições experimentais e pungentes aplicações.
No verdadeiro estilo puritano ele relaciona tudo o que há
nas Escrituras e na doutrina reformada com cada texto. Sua
obra é, pois, um comentário combinado com um abrangente
trabalho sobre o viver cristão prático; é um tesouro de
teologia prática. Por causa da sua exposição, do seu conteúdo
doutrinário, da sua organização e do seu foco cristocêntrico,
a obra de Caryl sobre Jó tem sido chamada “a joia da coroa
da pregação puritana” .
Seus prefácios também são de valor inestimável. Eles
resumem os capítulos explicados no volume e derramam luz
sobre a sua interpretação e sobre as suas perspectivas pastorais.
Por exemplo, no primeiro prefácio, Caryl explana a relevância
contemporânea do livro de Jó. No prefácio do sexto volume,
ele acentua que os pregadores devem promover a justiça ou
retidão expondo a verdadeira doutrina, reprovando o erro,
corrigindo os maus hábitos e promovendo a santidade. Ele
salienta a necessidade de comparar Escritura com Escritura
e refuta a ideia segundo a qual Deus não usa comentaristas
e pregadores para derramar luz sobre a Sua Palavra através
das gerações. Ele reconhece que os expositores humanos, de
maneira nenhuma infalíveis, não são mais que óculos para a
vista fraca, comparados com a clara visão da verdade que os
santos gozarão na glória vindoura. Mas, argumenta ele, “Não
é sabedoria nenhuma o homem que enxerga mal jogar fora
os seus óculos, mesmo estando certo de que dentro de pouco
tempo sua acuidade visual será aclarada”.
No prefácio do décimo volume (Jó, capítulos 32-34), Caryl
defende Eliú e assevera que o discurso dele, bem como todo
o livro de Jó, pode ser sumariado em seis proposições:1

1. Nenhum homem pode pôr-se diante de

208
Joseph Caryl

Deus por sua justiça própria.


2. Deus pode afligir pessoas, não importa quão
piedosas sejam, de qualquer modo e em qualquer
grau que Ele julgue próprios.

3. As metas de Deus quando aflige os crentes


são sempre sábias e bondosas.

4. Os crentes não devem queixar-se de Deus,


como se Ele fosse “ rigoroso ou injusto no pouco”,
não importa quanto e por quão longo tempo são
afligidos.

5. Não adianta nada queixar-se da mão de


Deus que aflige, nem lutar contra ela.

6. Devemos possuir nossas almas com


paciência glorificando a Deus como justo e bom,
mesmo quando tudo parece ir terrivelmente mal
conosco. Devemos esperar em Deus pela fé até
que Ele nos conceda uma nova experiência da Sua
bondade, quer “suavizando nossas aflições” e nos
dando suporte sob elas, quer tirando-nos delas a
Seu tempo.

Eis o que outros disseram acerca da obra de Caryl sobre


Jó:

Spurgeon: “Caryl deve ter herdado a paciência


de Jó para completar sua estupenda tarefa. Seria
um erro supor que ele é prolixo ou redundante; ele
é só completo. No curso da sua exposição ele ilustra
uma grande porção da Bíblia com grande clareza e
poder. Ele é profundamente devoto e espiritual. Ele
nos dá muito, mas nunca demasiado. Dificilmente

209
PAIXÃO PELA PU REZA

sua obra será substituída ou sobrepujada” .


James Reid, um historiador do início do século
dezenove: “A obra é, toda ela, assinalada [por]
são juízo, extensa erudição e genuína piedade”.
Numa narrativa sobre Caryl, Reid disse que tinha
visto as duas edições do comentário de Caryl nas
bibliotecas de ministros do evangelho em várias
partes da Escócia e em muitas casas de família. Ele
recomendava que ele fosse incluído na biblioteca
de todos os ministros e de todos os estudantes de
teologia.
James I. Packer: “O controle de Caryl sobre
sua vasta e complexa tela é magistral; ele nunca
perde os fios do seu argumento, nem permite que
os seus leitores os percam, nem, em todo o seu
microscópico estudo dos detalhes verbais e da
proliferação de edificantes inferências, ele vai além
do escopo do seu texto. Suas análises do debate
entre Jó e seus amigos, em particular, são modelos
de lúcida exposição”.

210
Thomas Case
(1598-1682)

h o m a s C ase n asc e u em 1598, em Boxley, K en t. Seu pai,


T G eo rg e C ase, era v ig á rio de Boxley. T h o m a s co m eço u a
o ra r p o r su a salvação com fe rv o r q u a n d o tin h a seis an o s de
id a d e. E m 1616, ele in ic io u seus e stu d o s no C h ris t C h u rc h
C ollege, O x fo rd , o n d e o b te v e o g ra u de B ach a rel em A rtes em
1620, e u m g rau de m e stre em 1623. Ble ficou p o r m ais alg u n s
a n o s n a u n iv e rs id a d e , p re g a n d o n a s v iz in h a n ç a s d e O x fo rd
e d ep o is em K e n t.
E m 1626, C ase foi o rd e n a d o na d io cese de N o rw ic h . D ep o is
a s s u m iu su a fu n ç ã o de v ig á rio em N o rth re p p s , N o rfo lk ,
co m R ic h a rd H e y ric k , am ig o ín tim o de C ase dos te m p o s de
O x fo rd , q u e ta m b é m se to rn a ria m e m b ro da A ssem b léia de
W e stm in ste r. E m 1629, C ase m u d o u -s e p a ra u m lu g a r a seis
m ilh a s de d is tâ n c ia p a ra to rn a r-s e re ito r em E rp in g h a m ,
N o rfo lk . S erv iu ali p o r q u ase dez anos. E m seus ú ltim o s anos
ali, d e fro n to u -s e co m c o n sid e rá v e l o p o sição do b isp o M a tth e w
W re n , q u e d e u in íc io a um p ro cesso c o n tra ele n a A lta C o rte
de C on cessõ es. E sse trib u n a l foi a b o lid o q u a n d o as acusações
c o n tra C ase a in d a estav a m p e n d e n te s .
E n q u a n to v ivia em E rp in g h a m , C ase caso u -se com A n n
P ots. E la m o rre u p o u c o s an o s d e p o is, a n te s de te r filhos.

211
PAIXAO P E L A PU REZA

Em 1635, Case tornou-se ministro da igreja do College de


Manchester. Muitas igrejas abriram seus púlpitos para ele
naquela área; grandes multidões compareciam a sua pregação.
Em 1637, casou-se com Ann Mosley, oriunda de uma família
de considerável influência puritana do noroeste da Inglaterra.
Por meio de sua mulher, ele se introduziu em círculos de
ainda maior influência, embora também enfrentasse mais
perseguição.
A Casa dos Comuns recomendou Case como preletor de St.
Martin’s-in-the-Fields em 1641. Ele pregou ali por quase vinte
anos nas tardes do dia de domingo e nas noites de quinta-feira.
Também foi designado preletor em St. Mary Aldermanbury,
onde Edmund Calamy servia como reitor. Nessas posições,
Case promoveu zelosamente a Solene Liga e Aliança. Muitas
vezes pregou diante do Longo Parlamento, salientando a
necessidade de que as leis da igreja e da comunidade fossem
coerentes com as leis de Deus.
Case serviu na Assembléia de Westminster, onde desempe­
nhou um importante papel nas discussões, especialmente
promovendo 0 presbiterianismo. Desde o início da Assembléia,
ele foi um dos mais ardorosos puritanos ingleses favoráveis ao
presbiterianismo.
Em 1645, Case tornou-se reitor nas vizinhanças de
Stockport, Cheshire, cidade natal de sua esposa. Mas essa
nomeação durou somente nove meses; pediram-lhe que fosse
pastor de St. Magdalene Church, na Milk Street, Londres,
onde ele tinha pregado ocasionalmente. Case tornou-se mais
contrário ao governo episcopal durante esse tempo. Estava
convencido de que a Igreja da Inglaterra era a Babilonia do
Apocalipse 18:4, com todas as suas “idolátricas inclinações,
adulações, altares, cruzes e malditas cerimônias, seu falso
culto [e] sua falsa doutrina” .
Durante a Guerra Civil, Case recebeu mais pedidos de
oração de membros de igreja em favor de parentes e amigos
do exército do conde de Essex do que podia realizar nos

212
Thomas Case

cultos regulares. Então começou a realizar um culto cedo de


manhã com esse propósito. Os cultos logo se multiplicaram
e se espalharam a outras partes de Londres. Os ministros
acompanhavam estes “Exercícios Matinais”, como vieram a ser
chamados, com fervente oração pelos soldados e suas famílias.
Depois que a guerra acabou, os cultos continuaram, mas
focalizados no trabalho de eminentes ministros oferecendo
aconselhamento espiritual sobre questões pertinentes
mediante pregação e preleções. Eventualmente, os Exercícios
Matinais foram transferidos para Cripplegate, onde foram
continuados por Samuel Annesley, avô de João e Charles
Wesley. Mais tarde foram publicados, e recentemente foram
republicados em seis volumes por Richard Owen Roberts
como Puritan Sermons (ver abaixo).
Em 1648, Case falou aberta e fortemente contra os
independentes, tanto no exército como no parlamento.
Ele assinou um documento intitulado, A Vindication of the
Ministers of the Gospel in and about London, oposto às ações
do exército que levaram ao julgamento e à execução do rei.
Em 1651 Case foi encarcerado na Torre de Londres e lá ficou
durante cinco meses por pregar contra os procedimentos do
parlamento e por sua notória associação com Christopher
Love. Sua propriedade também foi tomada. Sua mulher teve
permissão de viver com ele na torre. Pouco antes da data do
seu julgamento, Case dirigiu-se ao parlamento, e o que ele
disse foi julgado “suficientemente humilde” para obter a sua
libertação. Suas meditações na prisão foram publicadas como
Correction, Instruction, no ano seguinte.
Depois de solto, Case tornou-se preletor na grande
igreja de St. Giles in the Fields. Quando 0 reitor, Abraham
Molyne, morreu, em 1654, Case o sucedeu no pastorado,
posição que manteve até quando foi expulso em 1662, por não
conformidade. Enquanto ainda estava em St. Giles, em 1660,
Case fez parte da delegação presbiteriana enviada à Holanda,
a Charles II, com Edmund Calamy, Thomas Mantón, Edward

213
ΡΑ ΙΧAO P E L A PU REZA

Reynolds e William Spurstowe. Eles foram hem recebidos,


e Case foi um dos ministros presbiterianos nomeados como
capelães reais.
Case foi também membro da Conferência de Savoy
(1661). Depois de sua expulsão do púlpito, ele permaneceu
em Londres, pregando sempre que tinha oportunidade e
promovendo as causas puritana e presbiteriana. Em 1676, Case
foi um dos signatários do documento de Baxter, The Judgment
of Nonconformists of the Interest of Reason in Matters of Religion,
que apelava para a unidade entre os irmãos.
Case sobreviveu a todos os membros da Assembléia de
Westminster, exceto um, vindo a morrer na madura idade de
84 anos. Foi sepultado em Christ Church, em Londres, perto
de Richard Baxter, que tinha chamado Case um “ velho servo
fiel de Deus”.
Edmund Calamy descreveu Case como “um homem de
espírito vivo e fervoroso, de coração simples e aberto, um
homem que amava sinceramente a Deus, a bondade e todos
os homens bons”. Calamy acrescentou: “Ele era um pregador
bíblico, um grande homem de oração, um homem que levou
muitas almas ao conhecimento de Deus” (Nonconformist’s
Memorial, 1:154).

The Select Works of Thomas Case (SDG; 432 páginas; 1997).


As duas principais obras de Case, A Treatise of Afflictions e A
Prospect of Heaven, foram reimpressas e atualizadas em 1836
pela Religious Tract Society de Londres. Soli Deo Gloria
reuniu essas obras num só volume, que é uma reprodução
fotolitográfica das edições de 1836. A Treatise of Afflictions
baseia-se no Salmo 94:12: “Bem-aventurado é o homem a
quem tu repreendes, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei”. O
tema do livro é: “ bem-aventurado é o homem cujas repreensões
são unidas aos ensinos divinos; ou, bem-aventurada coisa

214
Thomas Case

é quando a correção e a instrução andam juntas. A vara e a


Palavra formam uma bênção completa” (p. 14). Case pôs
este tratado no papel enquanto estava preso na Torre de
Londres. Acreditando que essa experiência foi grandemente
usada por Deus para a sua alma, Case pregou sobre ela
tão convincentemente que Thomas Mantón escreveu no
prefácio do livro: “Cheguei até a invejar as suas consolações
na prisão”.
A Prospect of Heaven baseia-se em 1 Tessalonicenses
4:13-18 e seu subtítulo é: Mount Pisgah; or, Words of Comfort
on the Death of our Gracious Relations. Depois de explicar os
fundamentos das perspectivas do crente quanto ao céu na
união vital da alma com Cristo (pp. 13-36), o que, só isso,
vale o preço do livro, Case oferece valiosa instrução sobre a
Segunda Vinda de Cristo, a ressurreição de todos, o juízo final,
e a consolação dos crentes no céu.

215
Stephen Charnock

S te p h e n C h a rn o c k n asceu em 1628 e era filh o de R ic h a rd


C h a rn o c k , ad v o g ad o p e rte n c e n te à p a ró q u ia de St.
K a th a rin e C ree, L o n d re s . A pós os e stu d o s p re p a ra to rio s ,
C h a rn o c k in g re sso u n o E m m a n u e l C ollege, C a m b rid g e ,
em 1642, te n d o co m o seu p re c e p to r W illia m S a n c ro ft, q u e
p o s te rio rm e n te foi arc e b isp o de C a n tu á ria . E n q u a n to estava
em C a m b rid g e , C h a rn o c k e x p e rim e n to u o novo n a s c im e n to
em C risto e foi im b u íd o do desejo de e s p a lh a r o e v a n g e lh o
p ara to d a s as pessoas. E le o b te v e o g ra u de B a c h a re l em A rtes
em 1646. N o fim da d éca d a de 1640, ele p asso u u m te m p o
co m o cap e lão d e u rn a fa m ilia em p a r tic u la r e e m p re e n d e u
u m m in is té r io em S o u th w a rk , L o n d re s .
C h a rn o c k m u d o u -s e p a ra O x fo rd p a ra to rn a r-s e m e m b ro
do co rp o d o c e n te do N ew C ollege (1650), o n d e rec e b e u o
g rau de M e stre em A rte s em 1652 e foi d e sig n a d o p ro c u ra d o r
em 1654. E le era u m e s tu d a n te d ilig e n te , e s p e c ia liz a n d o ­
-se nas lín g u a s b íb lic a s, em te o lo g ia re fo rm a d a e esco lá stica ,
em p a trís tic a e em filosofia. E n q u a n to estev e em O x fo rd ,
p e rte n c e u a u m a igreja q u e se re u n ia d e n tro da u n iv e rs id a d e ,
d irig id a p o r T h o m a s G o o d w in .
E m 1655, C h a rn o c k a c o m p a n h o u H e n ry C ro m w e ll (filh o

216
Stephen Chamock

de Oliver Cromwell e governador da Irlanda) à Irlanda como


capelão, onde, escreve Calamy, ele tinha “pessoas da classe
alta e pessoas de qualidade da cidade como seus ouvintes”.
Seus sermões, pregados sem o uso de anotações, causavam um
profundo impacto.
Charnock voltou para a Inglaterra em 1660. Perdeu seu
posto durante a Restauração e viveu quinze anos na área de
Londres sem cargo pastoral, provendo, segundo se dizia,
rendimento pela prática da medicina. Ele realizou várias
viagens de pregação na Holanda e na França, possivelmente
em parte para evitar detenção, em face das insinuações do
governo de que ele estava envolvido numa conspiração
para apoderar-se do castelo de Dublin. Em 1666, Charnock
perdeu toda a sua biblioteca no grande incêndio de Londres.
Todavia, através desses anos ele continuou a estudar e a
escrever, vindo a ser, nas palavras de Calamy, “um erudito
bastante considerável e um teólogo eminente”, famoso por
sua piedade pessoal e por seu extraordinário domínio das
línguas originais das Escrituras.
Em 1675, Charnock tornou-se co-pastor com Thomas
Watson de uma congregação não conformista de Crosby Hall,
Bishopsgate Street, Londres. Permaneceu ali até sua morte,
em 1680. Durante os seus últimos anos seu ministério hesitou
quando lhe falharam a memória e a visão. Ele recorreu ao
uso de extensas anotações no púlpito, e teve que usar lente
de aumento para lê-las. Seus sermões também se tornaram
difíceis para as pessoas comuns acompanharem. Contudo,
ministros e leigos dotados de discernimento continuaram a
beneficiar-se dos seus sermões até o fim.
A única obra que Charnock publicou durante a sua vida
foi o sermão “The Sinfulness and Cure of Evil Thoughts”.
Foi incluído nos Exercícios de Cripplegate, republicados
por Richard Owen Roberts como Puritan Sermons. Depois
da morte de Charnock, seus amigos de Oxford, Richard
Adams e Edward Veal, prepararam os seus manuscritos para

217
PAIXAO P E L A PU R EZA

publicação. Encheram dois grandes volumes infolios, que


subsequentemente vieram a ser cinco volumes reimpressos
em oitavo.1

Christ Crucified: A Puritan’s View of Atonement (CFP; 207


páginas; 1996). Editado e apresentado por Maurice Roberts,
esta edição é mais fácil de ler do que a obra original. Ligando
0 Velho e o Novo Testamentos, Charnock explica como o
sacrifício de Cristo cumpre as exigências do Velho Testamento.
Ele ilustra particularmente a importância da Páscoa e mostra
que Cristo é a Páscoa para os crentes. Estes sermões focalizam
a Ceia do Senhor (seu fim, seus objetos, a indignidade de
tomá-la, o exame próprio) e a morte de Cristo (seu caráter
voluntário, sua aceitabilidade e sua necessidade).

Divine Providence (ΙΟ; 150 páginas; 2005). Baseado em 2


Crônicas 16:9, Charnock explica a providência de Deus com
profundidade e perspicácia, e apresenta seus vários usos com
cuidado pastoral e experimental. Este livro é um tratamento
modelar puritano da providência, só superado pelo de John
Flavel, The Mystery of Providence {Se Deus Quiser}. Esta
reimpressão atual é tirada da edição de 1864 das Complete
Works, de James Nichol.

The Doctrine of Regeneration (GM; 306 páginas; 2000).


Este tratado parte da necessidade da regeneração para a sua
natureza, o seu autor (Deus como o autor suficiente e o único
agente), e 0 seu instrumento, 0 evangelho. Charnock encerra
o livro com estas palavras: “Antes de esperar em Deus em
qualquer ordenança, pleiteie com Ele como fez Moisés numa

1 Im p re s so e m o ita v o : livro c u ja s fo lh a s sã o d iv id id a s e m o ito p artes. N o ta d o


trad u to r.

218
Stephen Charnock

outra situação: que adianta eu prosseguir, se a tua presença


não for comigo?”

The Existence and Attributes of God (Baker; 1.149 páginas;


2000). Originalmente um diário particular, esta volumosa
obra magisterial foi publicada pela primeira vez em 1681,1682
como volumes 1 e 2 de suas obras na série de Nichol (sem
o ensaio de Charnock sobre a providência). É um tesouro de
firme teologia, pensamento profundo e humilde adoração a
Deus. Estão incluídos os seguintes discursos: a existência de
Deus, 0 ateísmo prático, Deus como Espírito, culto espiritual,
a eternidade de Deus, a imutabilidade de Deus, a onipresença
de Deus, 0 conhecimento de Deus, a sabedoria de Deus, o
poder de Deus, a santidade de Deus, a bondade de Deus,
o domínio de Deus, e a paciência de Deus.
J. I. Packer escreve a respeito deste clássico: “Os discursos
são 0 produto de uma mente grande, forte, profunda e reverente;
são, em todos os seus aspectos, dignos do seu sublime assunto
e são uma das mais nobres produções da época puritana.
Charnock demonstra que os atributos de Deus são qualidades
observáveis nos atos concretos do Deus vivo dos quais a Bíblia
fala. Os termos técnicos e, às vezes, argumentos da teologia
escolástica são empregados, mas sempre com orientação
bíblica. Charnock não deseja especular, mas unicamente
proclamar as obras, os métodos, a natureza e 0 caráter do
Deus da Bíblia” (Encyclopedia of Christianity, 2:411).
Esta é a obra sobre o caráter e os atributos de Deus. Deveria
ser lida por todos os cristãos sérios. O décimo-segundo discurso,
sobre a bondade de Deus, cobrindo perto de 150 páginas, não
é superada em toda a literatura na língua inglesa.
Esta edição é prefaciada com um interessante relato sobre
a vida e o caráter de Charnock feito por William Symington.
Charnock passou os últimos três anos de sua vida escrevendo
sua magnum opus. Aparentemente, ele tinha a intenção de
pregar todos os “temas da teologia”, mas não foi além dos

219
PAIXAO P E L A PUREZA

atributos de Deus, antes de passar para a gloria com a idade


de cinquenta e dois anos.

The Knowledge of God (BTT; 604 páginas; 1995). Este quarto


volume das obras de Charnock contém os seguintes discursos
sobre o conhecimento de Deus: o conhecimento de Deus, o
conhecimento de Deus em Cristo, a convicção do pecado, a
incredulidade, a miséria dos incrédulos, sinais dos incrédulos,
o propósito da Ceia do Senhor, o autoexame, o conhecimento
de Cristo crucificado, Cristo nossa Páscoa, a morte voluntária
de Cristo, a aceitabilidade da morte de Cristo, e a obediência.
Este volume é pesado e tedioso, se bem que eminentemente
bíblico e experimental.

The New Birth (BTT; 544 páginas; 1996). Originalmente o


terceiro volume das obras de Charnock, esta coleção contém
discursos sobre a regeneração, a Palavra como instrumento
da regeneração, Deus como autor da regeneração, e a virtude
purificadora do sangue de Cristo. Embora repetitivo, este
volume provê uma exposição de primeira linha de uma das
doutrinas mais fundamentais do cristianismo.

Truth and Life (BTT; 592 páginas; 1997). Este quinto e


concludente volume das obras de Charnock contém discursos
sobre a necessidade da morte de Cristo, a exaltação de Cristo,
a intercessão de Cristo, o objeto da fé, as aflições, a remoção
do evangelho, misericórdia recebida, a mortificação, a graça
vitoriosa para os fracos em prova, a pecaminosidade e a cura
dos {maus} pensamentos, a estabilidade da Igreja, 0 dia cinco
de novembro (aniversário de um livramento inglês), deleite
na oração, lamentação pelos pecados de outros, conforto para
as mulheres grávidas, os pecados dos regenerados, o perdão
do pecado, a inimizade do homem contra Deus, e os maiores
pecadores como objetos da mais excelente misericórdia. Inclui-se
também um índice das obras de Charnock da série de Nichol.

220
David Clarkson
( 1622 ‫ ־‬1686 )

R ic h ard B axter recom endou D avid C larkson po r “sólido


juízo, p rin cip io s m oderados sobre cura, fam iliaridade com
os Pais {da Igreja}, grandes habilidades m in isteriais, e vida
piedosa e ín teg ra” (Reliquiae Baxterianae, 1696, 3:97). N ascido em
B radford, Y orkshire, C larkson recebeu sua educação no T rinity
College, C am bridge (1 6 4 1 1 6 4 5 ‫)־‬, e se to rn o u um m em bro do
corpo docente do C lare H all, C am bridge, em 1645. Um dos seus
alunos foi Jo h n T illo tso n , p o sterio rm en te arcebispo de C antuária.
C larkson serviu com o reito r de C rayford, K ent, de 1650 a
1655, e de M ortlake, Surrey, de 1656 a 1661. D u ra n te quase um
ano ele serviu com o assistente de Sam uel C lark em St. B enet Fink,
L o n d res, até ser expulso por não conform idade em 1662. D urante
a década seguinte, ele m in istro u tran q u ila m e n te onde quer que
pudesse e c o n tin u o u estu d an d o e escrevendo. F in alm en te, em
1672, depois da D eclaração de Ind u lg ên cia, ele se to rn o u pastor
de um a congregação u n id a, p resb iterian a e ind ep en d en te, em
M ortlake. Em 1682, tornou-se co-pastor com Jo h n Owen na
L eadenhall S treet, L ondres. Com a m orte de O w en no ano
seguinte, C larkson torn o u -se 0 único pastor. Ele m orreu no dia
14 de ju n h o de 1686. O serm ão em seus fu n e ra is foi pregado
p o r W illiam Bates.

221
PAIXAO P E L A PUREZA

The Works of David Clarkson (BTT; 3 volumes, 1400 páginas;


1988). Esta reimpressão da edição de 1864,1865 está repleta de
sermões bíblicos e práticos cobrindo uma ampla variedade de
tópicos. O volume 1 contém sermões sobre temas como pecado
e arrependimento, a obra de Cristo, a natureza da fé, a oração,
vivendo como estrangeiros, levando a cruz, e conhecendo Cristo.
O volume 2 cobre assuntos como a depravação, a incapacidade
e a culpa do homem, como também ricas exposições sobre a
nova criatura (Gál. 6:15), os propósitos de Deus nas aflições
do crente (Is. 27:9), e como ser livre da ansiedade. O volume
3 contém notáveis sermões sobre 0 amor, a humanidade, o
sacrifício e a intercessão de Cristo, junto com um tratado
polêmico contra o catolicismo romano (The Practical Divinity
of the Papists discovered to he the destruction of Christianity and
men's souls), que Barry Till assevera ser o livro mais importante
de Clarkson: “A obra evita as questões doutrinárias debatidas
normalmente entre protestantes e católicos romanos. É, antes,
um elaborado ataque à casuística católico-romana que “fere 0
coração do cristianismo” (Oxford DNB, 11:933).
Em toda a sua obra, 0 estilo de Clarkson é claro, vigoroso
e evangélico, embora não tão calorosamente experimental como
acontece com alguns dos seus colegas. Ele focaliza os grandes temas
do evangelho: 0 pecado, Cristo como Mediador, a justificação,
a fé, e 0 arrependimento. Maneja competentemente os grandes
textos das Escrituras e as questões centrais da vida cristã.
O livro de Clarkson, Sermons and Discourses on Several
Divine Subjects, publicado depois de sua morte, muitas vezes
podia ser visto preso com uma corrente nas mesas de leitura
das capelas dos dissidentes no século dezoito. Seus sermões
intitulados “ Christ's Gracious Invitation to Sinners”, (sobre
Apoc. 3:20) provêm uma clara ideia puritana da oferta
da graça (3:34-100). Um dos seus escritos mais notáveis é
um sermão intitulado “ Public Worship to be Preferred before
Private” (3:187-209), que salienta o grande prazer de Deus
em ter comunhão com Seu povo no culto coletivo.

222
Thomas Cobbet
(1608-1686)

T homas Cobbet nasceu em Newbury, Berkshire, em 1608.


Estudou em Oxford por alguns anos, e então foi aluno de
William Twisse, orador da Assembléia de Westminster. Cobbet
foi ordenado ao ministério em Lincolnshire, Inglaterra, mas
foi retirado do seu rebanho quando se recusou a conformar-se
com os usos e costumes estabelecidos pela Igreja da Inglaterra.
Buscou refúgio na América, embarcando para lá em 1637,
no mesmo navio em que viajou John Davenport.
Na América, Cobbet e seu amigo, Samuel Whiting, serviram
como pastor e mestre na igreja de Lynn, Massachussetts. Os
dois homens serviram ali harmoniosamente durante vários
anos, promovendo a causa da religião pura. Cobbet aceitou
depois o pastorado de Ipswich, Massachussetts, sucedendo a
Nathaniel Rogers, que morreu em 1655.
Em 1657, Cobbet e outros doze pastores se reuniram
em Boston para discutir diversas questões propostas pelo
poder legislativo de Connecticut. O principal assunto para
deliberação era o batismo de crianças. O livro de Cobbet, A
Defense of Infant Baptism, foi uma grande ajuda para a solução
dos itens levantados pelos batistas. O Tribunal Geral nomeou
então Cobbet como um dos cinco ministros para um debate
com diversos batistas em Boston.

223
ΡΑΙΧ AO ΡΗ LA PUREZA

Cobbet serviu a congregação de Ipswich até sua morte, em


1686. No transcurso das três décadas desse pastorado, ele se
tornou benquisto pelo rebanho. Era um pregador competente,
um pastor consciencioso e um habilidoso escritor. Muitas
pessoas foram convertidas sob o seu ministério. O povo de Deus
confiava em seu juízo, dentro e fora de Ipswich; seus escritos
também espalharam sua fama por toda a Nova Inglaterra.
Atualmente, Cobbet é o menos conhecido dos cinco
pastores puritanos da Nova Inglaterra, os outros sendo Thomas
Shepard, Thomas Hooker, John Cotton e Peter Bulkeley. Não
obstante, em seu tempo eles tinham alta consideração por ele.
Seu epitáfio diz: “Pare, viajante! Jaz aqui um tesouro, Thomas
Cobbet, cujas orações eficazes e cuja vida sumamente exemplar,
tu, se és da Nova Inglaterra, só podes ter conhecido. Admira, se
tens respeito pela piedade; segue-o, se anseias por felicidade!”

Gospel Incense, or A Practical Treatise on Prayer (SDG; 436


páginas; 1997). Este livro é um tratamento prático e magistral
da doutrina e dos benefícios da oração. Ele trata de assuntos
como a oração em família, a oração privada, a importunidade
na oração, a constância na oração, a humildade e a sinceridade
na oração, distrações na oração, o uso de meios com a oração,
o tempo passado em oração, “expansão” e “enternecimentos”
da alma na oração, e como pensar em Deus na oração.
Cobbet foi conhecido por sua vida de oração. Cotton
Mather escreveu: “De todos os livros escritos pelo Sr. Cobbet,
nenhum mais merece ser lido pelo mundo, ou sobreviver
até a queima total do mundo, do que o livro sobre a oração,
e, na verdade, a oração, o tema tão experimentalmente e,
pois, tão sensato, e, pois, tão proveitosamente manuseado
nele, não foi a menor das coisas pelas quais o Sr. Cobbet foi
extraordinário. Ele foi um homem de oração, e suas orações
não foram mais notáveis em toda a Nova Inglaterra por seus
tons argumentativos, importunos, e quase eu diría, por seus
tons filialmente familiares, do que pelas vitórias que houve
em seus atendimentos” {Magnolia, 1:520).

224
Elisha Coles
(c. 1608-1688)

E lisha Coles era natural de Northamptonshire. Recebeu


alguma instrução sobre os princípios calvinistas em sua
juventude, mas não recebeu nenhuma instrução universitária
formal. Originalmente um negociante em Londres, Coles
mudou-se para Oxford em 1651, tendo sido nomeado vice-
-arquivista da universidade. Em 1657, tornou-se mordomo do
Magdalen College graças à influência de Thomas Goodwin,
presidente dessa escola durante os anos da República. Coles
serviu também como membro da Comissão pró-Expulsão de
Ministros Escandalosos em Oxfordshire.
Depois da Restauração, porém, Cole foi forçado a deixar
sua posição de mordomo com base em que fora admitido
impropriamente. Passou o resto de sua vida ativa como
funcionário da Companhia da índia Oriental.
Coles casou-se e o casal teve um só filho, Elisha. Coles
morreu em sua casa, em Londres, no dia 28 de outubro de
1688. Ele é mais conhecido por seu livro sobre a soberania
de Deus, um dos livros mais populares do século dezessete
escritos por um teólogo leigo.

225
PAIXAO P E L A PUREZA

A Practical Discourse of God’s Sovereignty (GM; 298 páginas;


1999). Escrito em resposta a umas discussões que o autor teve
com alguns arminianos, e originalmente com a intenção de
ser um legado para os seus filhos, este livro foi publicado
pela primeira vez em 1673. Através dos séculos, passou por
mais de cinquenta edições. Era popular entre os dissidentes e
foi recomendado por Thomas Goodwin, John Owen e Samuel
Annesley no prefácio da sua terceira edição (1678).
A obra, que se apoia fortemente nas Escrituras, explica as
implicações doutrinárias e práticas da soberania de Deus. Sua
premissa é que “o grande Deus, bendito para sempre, tem poder
absoluto e direito de domínio sobre Suas criaturas, para dispor
delas e determiná-las como bem Lhe parece” (p. 20). Coles
discute a soberania em suas operações práticas, a saber, na criação
do mundo (que Coles denomina o “grande ato de soberania”),
a providência universal pela qual a criação é sustentada, e a
redenção do mundo pelos méritos de Jesus Cristo.
Coles discute também a justiça de Deus, a eleição, a
redenção, a vocação eficaz e a perseverança dos santos em
suas relações com a soberania de Deus. O tratamento que ele
dá ao assunto é firme, cuidadoso e exaustivo. Ele nos adverte
contra esquemas que “ fariam de Deus o autor do pecado” ou
que levariam a um viver licencioso. Sua consecutiva polêmica
contra o arminianismo é conduzida habilidosamente.
A atual edição desta obra é reimpressa de uma edição do
século dezenove, com uma recomendação feita por William
Romaine, que escreve: “ Na conceituação prática das [doutrinas
da graça], Elisha Coles é singularmente excelente. Ele trouxe
essas coisas profundas ao uso diário e provou que elas são
absolutamente necessárias na experiência diária”. E leitura
própria tanto para o leitor principiante como para o avançado.

226
John Cotton
(1584-1652)

ohn Cotton é relembrado como “o patriarca da Nova


Inglaterra” . Nasceu em Derby, em 4 de dezembro de
1584, e era filho de um advogado, Roland Cotton, e de Mary
Hurlbert. Seus pais tinham simpatia pelo puritanismo. Cotton
ingressou no Trinity College, Cambridge, com a idade de
treze anos, recebendo um grau de bacharel em 1603. Ainda
não era convertido. Mais tarde ele contou que se alegrou
interiormente quando ouviu os sinos dobrarem pela morte de
William Perkins, porquanto a forte pregação de Perkins sobre
o pecado humano e o juízo divino “sitiaram e bloquearam o
coração [de Cotton]”.
Cotton se tornou membro do corpo docente diretivo
do Emmanuel College, Cambridge, caracterizado por uma
mentalidade mais puritana, sob Laurence Chaderlon, onde
obteve seu grau de mestre em 1606. Durante os seis anos
seguintes, segundo seu amigo e biógrafo, Samuel Whiting,
Cotton “ foi o preletor chefe, reitor e catequista”, e “um
diligente preceptor de muitos alunos” . No transcorrer desses
anos, Cotton foi convertido sob o ministério de Richard Sibbes,
cujos sermões o convenceram de que ele estivera construindo
sua salvação baseado em suas proezas intelectuais, e não

227
JOHN COTTON
John Colton

unicamente sobre Cristo. Por meio dos sermões de Sibbes


sobre a regeneração, Cotton abraçou a promessa divina de
salvação.
A conversão de Cotton teve consequências privadas e
públicas, pois ele não pôde continuar usando 0 estilo elegante
de púlpito que tinha impressionado outros. Rejeitando suas
inclinações naturais, optou pelo método de Perkins, de
pregação num estilo simples.
Cotton obteve 0 grau de Bacharel em Teologia do
Emmanuel College em 1610, e mais tarde, nesse ano, foi
ordenado em Lincoln. Em 1612, tornou-se pároco da grande
igreja paroquial de St. Botolph’s, em Boston, Lincolnshire,
quando estava com vinte e sete anos de idade, e ali permaneceu
durante vinte e um anos. Segundo Cotton Mather, Cotton
foi levado à plena certeza da fé no dia em que se casou com
Elizabeth Horrocks, pouco depois de ser empossado em St.
Botolph’s. Nesse dia, disse Mather, Cotton “ recebeu em sua
alma a certeza do amor de Deus pela ação do Espírito de Deus,
que lhe aplicou eficazmente a Sua promessa de graça e vida
eterna, certeza que, felizmente, ele manteve consigo pelo
resto dos seus dias; por essa causa ele mais tarde diria muitas
vezes: “Deus fez daquele dia, um dia de duplo casamento
para mim!” (Magnolia, 2:237).
Durante os anos que passou em St. Botolph’s, o não
conformismo de Cotton custou-lhe breves suspensões do seu
ministério em 1615 e em 1621, mas as relações de apoio que
tinha com os seus bispos diocesanos e com a comunidade de
Boston ajudaram a anular essas suspensões. A pregação de
Cotton (duas vezes no domingo, e também nas manhãs de
quinta e sexta-feira e nas tardes de sábado) e 0 seu ministério
derrotaram a facção arminiana local, ajudaram os crentes
reformados a crescerem na graça e no conhecimento de Cristo
e assistiram a numerosos colegas e estudantes de teologia que
eram molestados pelas políticas dos bispos ou que estavam
procurando mais profunda percepção em várias doutrinas. Por

229
ΡΑ ΙΧAO P E L A PUREZA

exemplo, James Ussher conversava longamente com Cotton


acerca da doutrina da predestinação. John Preston confiou
a Cotton a tarefa de completar a preparação ministerial
dos seus alunos. William Ames enviou de Franeker alguns
estudanes alemães a Cotton. Outros estudantes provenientes
do continente, tais como Maximiliaan Teellinck (o filho mais
velho de Willem Teellinck, pai da Pós-Reforma Holandesa),
vieram morar com Cotton e a estudar sob ele. John Norton,
que mais tarde seria sucessor de Cotton em Boston, Nova
Inglaterra, e seu primeiro biógrafo, disse que “Cotton
respondia a muitas cartas que lhe eram enviadas de perto e
de longe, nas quais eram tratados muitos casos de crises de
consciência, e muitas dúvidas eram por ele esclarecidas para
a maior satisfação” (Abel being Dead yet Speaketh, 1658).
Anthony Tuckney, primo da mulher de Cotton, foi nomeado
assistente de Cotton em 1629. Tuckney eventualmente sucedería
Cotton em St. Botolph’s e também serviría como membro
da Assembléia de Westminster. Esse acerto foi providencial,
porque no ano seguinte, tanto Cotton como sua esposa ficaram
inabilitados durante um ano devido à malária. Elizabeth
morreu em consequência dessa enfermidade em 1631.
Theophilus Clinton, quarto conde de Lincoln, hospedou
os Cotton enquanto estiveram doentes. Em sua propriedade
Cotton foi informado sobre a colonização da Nova Inglaterra.
Seu interesse já havia chegado ao auge, como se pode ver
no sermão de despedida que ele pregou ao grupo de John
Winthrop pouco antes de partirem para a América.
Depois da morte de sua esposa, Cotton viajou extensamente
pela Europa, enquanto se recuperava. Cada vez mais ele
compreendeu como ele e sua igreja haviam passados bem no
meio da crescente perseguição eclesiástica sofrida pelos não
conformistas. Mas a vez de Cotton sofrer perseguição ia chegar
logo. Pouco depois de se casar com Sarah Hawkridge, viúva
de John Story, em 1632, Cotton foi intimado a comparecer
perante a Alta Corte dc Concessões de William Laud. Mas

230
John Cotton

ele fugiu para Londres, onde ficou escondido durante vários


meses, enquanto pensava no futuro. A caminho de Londres,
ele consultou o venerável John Dod, que disse: “ Eu sou o velho
Pedro, e, portanto, devo ficar quieto, e aguentar o baque; mas
como você é o jovem Pedro [Cotton estava com quarenta e sete
anos de idade], pode ir para onde quiser, e, sendo perseguido
numa cidade, deve fugir para outra” .
Thomas Goodwin e John Davenport tentaram persuadir
Cotton de que conformar-se não era nenhum mal, mas, em
suas discussões, Cotton de fato os persuadiu de que a conformi­
dade não era mais uma opção. Cotton estava profundamente
interessado na colonização da Nova Inglaterra desde o começo
desta por sua amizade com John Davenport e com John
Winthrop. Esquivando-se da vigilância montada contra ele
em vários portos ingleses, ele emigrou para a colônia da Baía
de Massachusetts em julho de 1633 com seu colega Thomas
Hooker. Chegou a Boston no princípio de setembro.
Cotton foi recebido alegremente na Nova Inglaterra e
logo lhe foi dada a posição mais importante na maior igreja da
colônia. No dia 10 de outubro ele foi escolhido para ser mestre
da Primeira Igreja de Boston, da qual John Wilson (1588-1667)
era pastor. No primeiro ano do ministério de Cotton ali, a igreja
recebeu 117 novos membros. Winthrop comentou: “Mais
foram convertidos e acrescentados a essa igreja do que a todas
as outras igrejas da Baía” (Journal ofJohn Winthrop, p. 106).
Cotton ficou muitopopular em Boston. Sua influência, tan to
nos interesses eclesiásticos como nos civis, provavelmente foi
maior do que a de qualquer outro ministro na Nova Inglaterra
na época. Segundo o historiador William Hubbard, “O que
quer que ele dissesse do púlpito era logo fixado numa ordem
da corte, se fosse de teor civil, ou estabelecido como prática
na Igreja, se de interesse eclesiástico”. Vernon Parrington
comentou: “A Nova Inglaterra que a geração de imigrantes
legou a seus filhos trazia sobre si as marcas da modeladora
mão de John Cotton mais claramente do que as de qualquer

231
PAIXAO P E L A PUREZA

outro ministro” (Main Currents in American Thought, ρ. 27).


Cotton teve parte ativa em três importantes controvérsias
teológicas e políticas do seu tempo. Primeiro, ele esteve no
centro da controvérsia antinominiana que girou em torno
de Anne Hutchinson. Hutchinson, que tinha acompanhado
Cotton ao Novo Mundo e a Boston, afirmou que aderia à
ênfase de Cotton ao primado da graça e à soberania divina na
conversão, e acusou todos os outros ministros da Nova Ingla­
terra (exceto seu recém-chegado cunhado, John Wheelwright)
de pregarem a aliança das obras, antes que a aliança da
graça. Abraçando entusiasticamente a doutrina da revelação
imediata, ela afirmava que a certeza da fé é experimentada
antes por sentimentos interiores do testemunho imediato do
Espírito Santo que pela evidência das boas obras. Com isso ela
depreciava a necessidade de santificação e da lei como norma
de vida. Essa mulher muito capaz atraiu muitos crentes para
0 seu grupo e manipulou as coisas para provocar tensão entre
Cotton e outros ministros, chegando ao ponto de alguns dos
ministros, particularmente Thomas Shepard, começarem a
questionar a ortodoxia de Cotton. Cotton inicialmente parecia
apoiar Hutchinson e algumas de suas idéias, em particular
sua crítica a uma exagerada ênfase clerical à santificação
como evidência da eleição e a preparação para a salvação.
Evidentemente, Cotton abraçava ambas estas doutrinas, mas
se sentia mal com 0 tanto de ênfase que elas estavam recebendo
do clero da Nova Inglaterra.
Todavia, as idéias aberrantes de Hutchinson foram se
tornando gradativamente manifestas, e quando ela caiu
abertamente no misticismo, Cotton posicionou-se ao lado
dos outros ministros contra ela. Isso ficou evidente quando
os colegas de ministério de Cotton lhe apresentaram uma
lista de perguntas para esclarecer suas idéias em relação
a Hutchinson, depois do que o sínodo detalhou uma lista
dos erros ligados ao ensino de Hutchinson. A controvérsia
terminou dramaticamente com o julgamento e declaração de

2 32
John Cotton

culpa de Hutchinson, tanto pela corte geral da colônia como


pela igreja de Boston, o que levou a seu banimento da colonia.
Segundo, Cotton debateu extensamente com Roger
Williams sobre questões como a separação de Igreja e Estado, e
liberdade da consciência individual. Williams sustentava que
o precedente bíblico para a autoridade espiritual do Estado
não era mais válido depois da vinda de Cristo porque tinha
sido só simbólica. Cotton respondeu que esse argumento
poderia ser usado para negar a sanção divina de todo governo
civil. Cotton rejeitou também a tentativa feita por Williams de
negar 0 poder religioso do estado porque acreditava que sem
esse poder não poderia haver reforma. Se Williams conseguisse
impor seu modo de pensar, Cotton argumentou, não havería
meio eclesiástico de desarraigar a heresia, 0 que poderia levar
Deus a destruir totalmente a sociedade. Cotton acreditava que
a punição por falsa doutrina, por mais sinceramente que essa
doutrina fosse aceita, era permissível após várias admoestações,
porquanto o indivíduo, tendo recebido melhor instrução, “não
é perseguido por causa da consciência, mas por pecar contra a
sua própria consciência”. Cotton tentou impedir o banimento
de Williams, mas finalmente o aprovou, entendendo que era
“ justo os olhos de Deus”. Seu banimento foi um grande alivio
para todos os envolvidos.
Terceiro, em 1646, Cotton foi um dos três escolhidos para
compor uma comissão destinada a estruturar um modelo de
governo da Igreja. A escolha não foi surpresa, pois ele já havia
escrito The Way of the Churches of Christ in New England, (1641)
e The Keys of the Kingdom of Heaven, and the Power Thereof,
(1644). Esses livros, que passaram por várias edições, foram
usados extensamente pelos independentes na Assembléia
de Westminster. Depois de atacados por Robert Baillie, um
participante escocês que defendia uma ordem de governo
presbiteriano para a Inglaterra, Cotton respondeu em 1648
com sua obra The Way of Congregational Churches Cleared, na
qual ele apresentou uma forma de governo intermediária,

233
ΡΑ ΙΧAO PELA PUREZA

entre a independente e a presbiteriana. Todos esses escritos


foram seguidos por um chamado final a um ajuste no livro
de Cotton, Certain Queries Tending to Accomodation, (1655).
Nenhum ministro da Nova Inglaterra foi tão influente como
Cotton na promoção da prática eclesiástica congregacional.
Cotton escreveu perto de quarenta livros durante a sua vida,
muitos dos quais nunca foram reimpressos. Seu catecismo,
Milk for Babes, (1646), ligado ao “Primer” {primeiro livro de
instrução} da Nova Inglaterra, veio a ser o alimento padrão
para as crianças da Nova Inglaterra até o final do século
dezenove. Seu livro intitulado Exposition upon the Thirteenth
Chapter of Revelation, (1655), trata de questões relacionadas
com o milênio, e, junto com The Pouring Out of the Seven
Vials, (1642), e The Churches Ressurection, (1642), opunham­
-se fortemente ao catolicismo-romano. Esses escritos e outros
frequentemente tocavam em questões que aconteciam na
Inglaterra, nas quais Cotton sempre estava competente.
Cotton era igualmente conhecido por sua humildade
semelhante à de Cristo. Por exemplo, quando um dos seus
paroquianos o advertiu de que a sua pregação estava ficando
obscura ou chata, Cotton respondeu: “As duas coisas, irmão,
Cotton permaneceu na Primeira Igreja até sua morte, ocorrida
em 23 de dezembro de 1652. John Wilson estava ao seu lado
em seus últimos momentos, e orou rogando a Deus que
levantasse a luz do seu rosto sobre seu colega moribundo.
Cotton replicou: “Ele já fez isso, irmão”. Então confiou
seus filhos à misericordiosa aliança de Deus como a porção
imperecível deles, depois do que pediu que o deixassem a sós.
Morreu poucas horas depois.
Sobreviveram a Cotton sua segunda esposa, Sarah (que
subsequentemente se casou com Richard Mather) e diversos
filhos. Um filho, Seaborn, assim chamado porque nasceu
durante a viagem para a América, graduou-se em Harvard e
foi ministro em Hampton, New Hampshire, durante vinte e
seis anos. Outro filho, John, Jr., foi ministro em Plymouth,

234
John Cotton

Massachusetts e em Charleston, South Carolina. Ele pregou


aos índios e fez a revisão da tradução da Bíblia de John Eliot.
Uma filha, Mariah, casou-se com Increase Mather, e foi a mãe
de Cotton Mather. Increase e Cotton Mather, ambos notáveis
teólogos da Nova Inglaterra, vestiram o manto de Cotton.

Christ the Fountain of Life (Arno; 256 páginas; 1972).


Publicado pela primeira vez em 1651, estes sermões, baseados
em 1 João 5:12-17, focalizam a plenitude e a vida de Jesus
Cristo para os crentes. Cerca de dois terços do livro expõem o
versículo 12: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o
Filho de Deus não tem a vida” . Estes sermões são grandemente
condensados e são assimilados na forma de esboços no
comentário homilético maior, sobre 1 João (ver abaixo).

The Correspondence of John Cotton (UNC; 688 páginas;


2001). Este volume consiste de 125 cartas para ele e dele,
mais de cinquenta das quais nunca tinham sido impressas
antes. Elas cobrem os anos de 1621 a 1652, período de grande
mudança e atividade no progresso do puritanismo inglés.
Cuidadosamente editadas, anotadas e contextualizadas, as
cartas mapeiam a carreira de Cotton e revivem muitas vozes
dos turbulentos tempos do reinado de Charles I, inclusive as
de Oliver Cromwell, do bispo John Williams, de John Dod,
e de Thomas Hooker, como também de outros que escreviam
a Cotton pedindo conselho e orientação.

Eclesiastes e Song of Solomon (TKNT; 198 páginas; 2005).


Este volume, combinado com o livro de Peter Muffet sobre
Provérbios, é uma reimpressão da edição de 1868, feita na
série de comentários de Nichol. A útil obra de Cotton sobre
Eclesiastes percorre 135 páginas de duas colunas e reúne boas
apercepções homiléticas. Spurgeon escreve: “Eclesiastes não é

235
PAIXAO P E L A PU REZA

um livro para ser expostos versículo por versículo; mas Cotton


0 faz bem como ninguém”.
A obra de Cotton sobre Cantares de Salomão, que só tem
63 páginas, recebeu o seguinte subtítulo na edição original de
1652: “Descrevendo 0 estado da Igreja em todas as suas épocas,
tanto judaicas como cristãs, e modestamente apontando para o
esplendor do seu estado restaurado”. E um dos livros menores
de Cotton. Ele aborda Cantares de Salomão de uma perspectiva
histórica, vendo Salomão como “um tipo de Cristo, admitindo
os gentios no companheirismo do seu leito matrimonial” (p.
2). Spurgeon comenta que por usar essa abordagem, ele perde
“muito do seu dulçor”.

An Exposition of First John (SGP; 586 páginas; 2001). Cotton


pregou sobre todo 0 texto de 1 João enquanto ainda estava na
Inglaterra, em parte como reação à morte do seu amigo do
peito, John Preston, um famoso convertido mediante Cotton.
Os sermões foram publicados depois da morte de Cotton como
A Practical Commentary, or, An Exposition with Observations,
Reasons, and Uses upon the First Epistle General ofJohn, (1656).
E a maior coleção dos sermões de Cotton existentes. O
manuscrito foi dado primeiro a Christopher Scott, que depois
o deu ao famoso impressor, Thomas Parkhurst, de London.
A genuinidade do comentário foi confirmada por Thomas
Oresby, que tinha ouvido Cotton pregar sobre o assunto em
diversas ocasiões. No prefácio da primeira impressão, Scott
recomendou o autor como “uma luz incandescente e brilhante,
famosamente eminente no país e no exterior”.
O comentário, aprovado para publicação por Edmund
Calamy, trata primeiramente dos ensinos práticos de 1 João.
Cotton tem 0 cuidado de dirigir-se a todos os tipos de leitores,
inclusive os fracos na fé. Por exemplo, depois de explicar o
amor de Deus como o fundamento da reconciliação e de
mostrar como experimentar esse amor, Cotton diz como os
novos crentes podem saber se a sua experiência é operada

236
John Colton

pelo Espírito Santo. Sua resposta lembra muito a de Preston:


“Assim como uma mulher em quem foi gerada uma criança
sente náusea e indisposição e por isso sabe que está com uma
criança; assim também aqueles em cujos corações se processa
a geração do Espírito e se apercebem dos seus movimentos,
sabem mais do que qualquer outro [pois eles têmj uma
instrução científica acerca de certas coisas experimentadas”.
Cotton salientou que quando Deus coroou “o amor com a
experiência” e fez o crente saber que ele fora salvo, Ele 0 fez
de acordo com os princípios e marcas da graça que podem
ser estudados “cientificamente” . A certeza flui do correto
conhecimento obtido pela mente, experimentado no coração
e testemunhado pelo Espírito (pp. 176, 311).
A exegese de Colton é firme e confiável. Suas ênfases
experimentais e práticas são autenticadas pelos procedimentos
de Deus para com Seu povo. Spurgeon escreveu que, “na
doutrina e na experiência”, Cotton era um nobre mestre.
Partes deste livro nos fazem lembrar que os paroquianos de
Cotton achavam que ouvi-lo era, como alguém disse, “como
ouvir o Senhor Jesus Cristo falando em meu coração”.

Two Sermons: God’s Mercy Mixed with His Justice , and The
True Constitution of a Particular Visible Church (Arno; 150
páginas; 1972). Impresso primeiro em Londres em 1641 e em
1642 respectivamente, estes dois sermões mostram com clareza
as idéias de Cotton sobre os atributos de Deus e sobre a igreja
local. No livro The True Constitution, Cotton argumenta em
prol da sua causa baseado nas Escrituras, citando numerosos
textos como apoio. Estes dois sermões estão entre os mais
influentes que Cotton pregou.

237
Tobias Crisp
(1600-1643)

o bias C risp , “ clérig o da Ig re ja da In g la te rra e in c e n tiv a d o r


T de c o n tro v é rsia re lig io sa ” (Oxford DNB, 14:215), n asceu
n a B read S tre e t, L o n d re s , em 1600. F oi 0 te rc e iro filh o de E llis
C risp , rico n e g o c ia n te e h o m e m p ú b lic o da c ap ital. O irm ã o
m ais velh o de C risp , N ic h o la s, ta m b é m u m rico n e g o c ia n te ,
foi d e c la ra d o cav a leiro p elo rei C h a rle s I. T obias C risp rec e b e u
sua ed u ca ção n o E to n C ollege e d ep o is na U n iv e rs id a d e de
C a m b rid g e , o n d e rece b eu u m g ra u de B ach a rel em 1624. E m
1627, foi a d m itid o em B alliol C ollege, O x fo rd , e rec e b e u seu
g rau de M e stre em A rtes n esse m e sm o ano. P o u co s m eses m ais
ta rd e , to rn o u -s e re ito r em N e w in g to n , S urrey, e d o is an o s
dep o is, de B rin k w o rth , W ilts h ire . P o s te rio rm e n te , n o fim d a
d é c a d a d e 1 6 3 0 , o b te v e o g r a u d e B a c h a r e l e m T e o lo g ia
d e O x fo rd e u m d o u to ra d o em teo lo g ia de C a m b rid g e .
A esposa de C risp , M ary W ilso n , era filh a de R o w lan d
W ilso n , L o n d re s , u m n e g o c ia n te que teve a sse n to n o
p a rla m e n to d u ra n te a G u e rra C ivil. T iv e ra m treze filh o s, dois
dos quais m o rre ra m an te s de Tobias. C risp tin h a sua p ró p ria
fo n te de re n d a , q u e era g ra n d e , e c o n h e c id o com o u m lib e ra l
h o sp e d e iro de e stra n h o s. C o n sta q u e em c erta ocasião ele teve
cem pessoas em sua casa, d a n d o p ro v isão a elas e a seus cavalos.

238
Tobias Crisp

Depois de um período em que pregou sermões arminianos


legalistas, Crisp tornou-se um forte calvinista. Para evitar a
insolência dos soldados realistas na Guerra Civil, Crisp saiu
de Brinkworth e retirou-se para Londres, onde vários dos
seus sermões, depois reimpressos, foram pregados. Sofreu
muita oposição dos teólogos da cidade, e foi importunado
por cinquenta e dois oponentes numa disputa concernente à
gratuidade da graça em Jesus Cristo. Defendeu vigorosamente
a doutrina da livre graça de Cristo.
Crisp contraiu varíola e morreu no dia 27 de fevereiro de
1643, com quarenta e três anos de idade. Foi sepultado na cripta
da família na St. Mildred Church, na Bread Street, Londres.
Seu filho e editor, Samuel, escreveu sobre sua morte: “Assim
como ele viveu na livre graça de Deus, mediante Cristo, assim
também ele morreu, com confiança e grande alegria, quanto
pôde em sua presente condição. [Ele] resignou sua vida e
sua alma, deixando-as nas mãos do seu querido Pai” .

Christ Alone Exalted (GM; 4 volumes; 888 páginas; 1998).


Esta coleção de cinquenta e dois sermões, reimpressa de uma
edição do século dezenove, contém todos os sermões de Crisp,
como também notas explicativas de John Gill. Crisp trata de
tópicos como a preeminência de Cristo, o perdão de pecados,
a aliança da livre graça, a liberdade cristã, a livre oferta do
evangelho, a justiça de Cristo, a imputação do pecado a Cristo,
a certeza da fé, boas obras, e o uso da lei. Infelizmente, as
memórias que constam na edição original foram omitidas
nesta reimpressão.
Historicamente, os sermões de Crisp publicados
postumamente provocaram feroz debate, primeiro, entre
evangélicos e grecianos, que seguiam as idéias de Hugo
Grotius, jurista e teólogo holandês, sobre a expiação. Grotius
rejeitava tanto a posição ortodoxa como a sociniana sobre a

239
PAIXAO P E L A PUREZA

expiação, defendendo a cruz como um exemplo penal pelo


qual Deus revelou tanto a natureza inviolável da lei como
o Seu desprazer contra o pecado. Numa preleção pública
feita no Pembroke-Hall, Richard Baxter, que favorecia a
teoria grociana sobre a expiação, estigmatizou Crisp com o
infamante rótulo de “Jezabel” por ele crer que a justificação
precede a fé. William Twisse, que tinha lido os sermões de
Crisp, confessou que “não podia dar nenhuma razão para que
sofressem tanta oposição, a não ser pelo fato de que tantos
foram convertidos por sua pregação, e tão poucos pela nossa”.
Contudo, a Assembléia de Westminster em geral considerava
Crisp como heterodoxo. Apesar disso, poucos dos oponentes
de Crisp o atacaram pessoalmente, visto que era conhecido
por sua humildade, quietude e boas obras.
Segundo, anomalias presentes nos sermões de Crisp
moveram alguns puritanos a acusá-lo de antinomismo na
doutrina (a crença em que a lei foi abolida para 0 cristão
como norma de vida), embora ele não tenha sido antinomiano
na prática. Crisp negou-se a acreditar que sua teologia era
antinomista, e seu filho, Samuel Crisp, numa longa refutação
das acusações de Baxter intitulada Christ Made Sin, (1691),
recusou-se a aceitar o termo em referência a seu pai.
Terceiro, Samuel Rutherford e outros acusaram Crisp
de ser um hipercalvinista porque ele ensinava a doutrina
da real justificação dos eleitos desde a eternidade. Essas
preocupações levaram a muita confusão em torno da pregação
de Crisp no século dezessete. Alguns teólogos da Assembléia
de Westminster até propuseram que os seus sermões fossem
queimados. Outros teólogos, como Johannes Hoornbeek, um
teólogo da Pós-Reforma Holandesa, e, posteriormente, John
Gill, deram forte apoio a Crisp.
Finalmente, os sermões de Crisp continuaram a provocar
periódica controvérsia religiosa em todo o decorrer dos
séculos dezessete e dezoito. Alguns culparam esses sermões
pelo fracasso das congregações não conformistas de Londres

240
Tobias Crisp

em não se unirem na década de 1690. Um opúsculo intitulado,


Doctor Crisp’s ghost... being a bridle for antinomians and a
whip for Pelagians and Arminian-Methodists, publicado em
1773, mostra que os seus sermões continuaram a provocar
controvérsia mais de 135 anos depois de terem sido pregados.
Como devemos ver Crisp? As acusações de que ele era
doutrinariamente antinominiano e hipercalvinista são bas­
tante compreensíveis, embora, falando estritamente, são
apenas parcialmente verdadeiras. Embora Crisp enfatizasse
que a lei é “cruel e tirânica”, ele sustentava que a lei moral
é a norma cristã de vida (Christ Alone Exalted, 2:124, 526ss.)
e, em contraste com o hipercalvinismo, ele proclamava sem
reservas a livre oferta do evangelho (1:112ss, 213s.). Por outro
lado, Crisp fez algumas descuidadas, até extremas, declarações
sobre a unilateralidade da liberdade da graça soberana que,
compreensivelmente, provocaram outros teólogos e os
levaram a escrever e a pregar contra ele. Por exemplo, Crisp
declara: “Não há um só pecado que você cometa, depois de
ter recebido Cristo, que Deus possa lançar sobre sua pessoa”
(1:73); “antes de o crente confessar seu pecado, ele pode estar
tão seguro do perdão desse pecado, como após a confissão”
(1:359); e “aqueles que têm Deus como seu Deus, não há
nenhum pecado que acaso eles cometam que tenha alguma
possibilidade de lhes causar algum mal” (2:171).
Portanto, os sermões de Crisp devem ser lidos com cautela,
reconhecendo, como acertadamente Spurgeon observou, que
eles incluem algumas declarações descuidadas que podem
levar a grave erro doutrinário. Isso é particularmente certo
quanto às suas convicções sobre como os pecados do crente
são lançados sobre Cristo. Crisp escreveu que os “pecados dos
eleitos foram im putados a Cristo de tal maneira que,
ainda que Ele não os tenha cometido tornaram-se realmente
transgressões dEle, e deixaram de ser deles”. Rutherford
pregou fortemente contra a doutrina de Crisp segundo a
qual não somente a culpa do pecado, mas o próprio pecado é

241
PAIXAO P E L A PU R EZA

lançado sobre Cristo e a resultante confusão entre a justificação


e a santificação que pode decorrer.
Finalmente, devemos lembrar que muitos crentes têm
sido ricamente edificados por meio dos sermões de Crisp.
Samuel Crisp relata a historia de um fidalgo de mais idade que
“[0 ] puxou pela mão e, com lágrimas nos olhos, mostrou[-lhej
gratidão por ajudar a reimprimir [os sermões de seu paij, e disse
que ele tinha sido uma pobre criatura cheia de dúvidas por
dez anos” até ler os sermões de Crisp, sermões que lhe deram
livramento. James Hervey escreveu que os sermões de Crisp
eram de utilidade especial para a “angústia de consciência” .
Ele confessou: “Não conheço outros tratados mais próprios
ou planejados mais excelentemente para administrar sólida
consolação; eles são, sob a influência divina, um dos meus
primeiros conselheiros, e fortalecedores de princípios”.
Não é fácil avaliar Crisp. Quase todos os que o leem
reagem fortemente, positiva ou negativamente. Não há acordo
entre os eruditos quanto a ele poder ser classificado como
puritano. Fazemos bem em lembrar a modesta abordagem
que John Flavel faz das obras de Crisp quando afirma
que “ há muitas coisas ditas nelas com bom sabor, vida e
espírito que são bastante aptas para causar boa impressão
nos corações dos homens”, mas que, ao passo que muitas
partes de suas obras são “profundas”, outras são “ mais
superficiais” ( Works 3:413-418; cf. 6:353,354).

242
John Davenant

J
o h n D a v e n a n t e ra filh o de u m e m in e n te n e g o c ia n te , te n d o
n a sc id o n o d ia 20 de m a io de 1572, n a W a tlin g S treet,
L o n d re s . Q u a n d o estav a com q u in z e an o s de id a d e , D a v e n a n t
in g re sso u no Q u e e n ’s C ollege, C a m b rid g e , o n d e o b te v e o g rau
de B a c h a re l em A rte s em 1591 e u m g rau de m e stre em 1594,
E m 1597, foi e le ito m e m b ro do c o rp o d o cen te. R ecebeu o grau
de B a c h a re l em T eologia em 1601 e o d o u to ra d o em teologia
em 1609. N o m e sm o a n o ele foi n o m e a d o P ro fe sso r de Teologia
na escola L a d y M a rg a re t, p o sição q u e m a n te v e p o r doze anos.
E m 1609, D a v e n a n t foi in s titu íd o com o re ito r de F le e t,
L in c o ln s h ire , e em 1612, de L e a k e , N o ttin g h a m s h ire . M as
C a m b rid g e c o n tin u o u s e n d o seu lar, e p r in c ip a lm e n te ali ele
to rn o u -s e c o n h e c id o co m o d e fe n so r da o rto d o x ia c alv in ista.
D a v e n a n t se rv iu n u m a v a rie d a d e de p o sto s im p o rta n te s.
E m 1613, u rna c o m itiv a real, de v isita a C a m b rid g e pelo
c a sa m e n to da p rin c e sa E liz a b e th com F re d e ric k V, elegeu
D a v e n a n t m o d e ra d o r d e u m a d is p u ta te o ló g ica q u e o c o rria
c o s tu m e ira m e n te em tais ocasiões. E m 1614, ele foi eleito
p re s id e n te do Q u e e n ’s C ollege. E le p re s id iu as o b ra s de
c o n s tru ç ã o realiz a d a s n a escola, m as foi cada vez m ais afastado
das a tiv id a d e s da escola p o r sua c re sc e n te re p u ta ç ã o com o
teó logo e p o r seus d ev eres n a co rte.

243
PAIXAO P E L A PU REZA

Em 1618 Davenant tornou-se capelão real. Nesse mesmo


ano, o rei James I escolheu Davenant com outros três
delegados para representarem a Igreja da Inglaterra no Sínodo
de Dort. Davenant, calvinista moderado, teve papel ativo
nas deliberações sinodais. John Hales disse que Davenant
derrotou “douta e plenamente... certas distinções formuladas
pelos remonstrantes [arminianos]”. Johannes Bogerman,
presidente do sínodo, disse que a experiência e a habilidade
de Davenant nas “leis e nas histórias” ajudaram os delegados
“a ordenarem melhor seus debates e seus votos”.
Lamentavelmente, Davenant sustentava o “universalismo
hipotético”, mitigada forma de redenção universal, atestada
não somente por James Ussher e Richard Baxter, mas também
pelo livro do próprio Davenant, intitulado A Dissertation on
the Death of Christ, que ele concluiu logo depois de partir
de Dordrecht. Esse tratado apresenta a ideia que Davenant
defendeu no sínodo. Por último, Davenant e os delegados
ingleses prevaleceram sobre a ideia do sínodo de que o debate
sobre a redenção deveria ser elaborado em termos tanto da
suficiência como da eficiência, isto é, que a morte de Cristo
é suficiente em termos do seu mérito intrínseco para salvar
mil mundos, mas só é eficiente ou eficaz para salvar os eleitos.
Mas as ideias de Davenant foram além, afirmando que o Pai
e o Filho tinham uma intenção condicional de salvar todos,
embora essa condição não fosse absolutamente eficaz (ver
W. Robert Godfrey, “Tensions With International Calvinism:
The Debate on the Atonement at the Synod of Dort”,
[dissertação para Ph.D., Stanford University, 1974], pp. 179­
188).
Em 1620, Davenant recebeu a reitoria de Cottenham,
Cambridgeshire, e no ano seguinte, foi eleito bispo de
Salisbury, posição que fora deixada vaga pela morte do seu
cunhado, Robert Townson. Davenant manteve esse posto até
sua morte, em 1641, embora não sem períodos de dificuldade.
Em 1630, ele pregou diante da corte sobre a predestinação;

244
John D avenant

depois do sermão, foi intimado a comparecer ante o conselho


privado. O arcebispo de York falou fortemente contra ele.
Davenant se defendeu e foi despedido sem sentença, mas o
rei o proibiu privadamente de pregar sobre tal assunto na
presença da corte.
Na maior parte, porém, Davenant era bastante cordato
em relação às autoridades do Estado. Até aquiescía às ordens
da alta igreja sob o arcebispo Laud em questões eclesiásticas
como a ordem para que a mesa da Ceia do Senhor fosse
colocada atrás do coro, ocupando a posição de um altar.
Davenant manteve fortes laços com a Igreja inglesa. Certa
ocasião ele ofendeu firmes puritanos quando escreveu que
a igreja católica romana, embora miseravelmente corrupta,
ainda era uma igreja visível verdadeira. Contudo, amigos
e opositores igualmente ficavam impressionados com a
profunda cultura, o agudo intelecto, o espírito católico e a
benévola mansidão de Davenant. Referiam-se a ele como “o
bom bispo Davenant”, “o excelente bispo Davenant”, “o culto
bispo Davenant” e “a joia das igrejas reformadas”.

An Exposition of the Epistle of St. Paul to the Colossians


(BTT; 2 volumes em 1.856 páginas; 2005). Este clássico sobre
Colossenses, que inclui uma biografia de Davenant e copiosas
notas preparadas por Josiah Allport, ministro de S. James’s,
Birmingham (que também a traduziu do latim em 1831),
baseia-se em preleções feitas para estudantes em Cambridge.
A primeira edição foi publicada em Cambridge em 1627, a
segunda em 1630, e a terceira em 1639. A obra revela a fluência
de Davenant em grego e em latim, e seu conhecimento dos
pais da Igreja e dos reformadores. James Ussher disse que
Davenant entendia as controvérsias antigas melhor do que
ninguém, desde Agostinho.
Este livro é extenso, profundo, prático e cristocêntrico.

245
PAIXAO PELA PUREZA

Por exemplo, sobre a expressão nEle (Col. 2:10), Davenant


escreve: “Declaramo-nos completos não procedendo dEle,
nem por Ele somente, mas nEle: para que entendamos que
temos a sabedoria citada acima, justiça e santidade, não na
medida em que olhamos para Cristo, como se Ele estivesse
distante de nós; mas na medida em que estamos incorporados
em Cristo, na medida em que temos Cristo habitando em
nós e permanente em nós” (1:426).
James Hervey disse sobre este comentário: “Pela
perspicuidade de estilo e exatidão de método; pelo juízo
no discernir e pela fidelidade em apresentar o sentido do
apóstolo; pela força da argumentação na refutação de erros e
pela felicidade de invenção na dedução de doutrinas práticas,
tendendo tanto ao estabelecimento da fé como ao cultivo
da santidade, não é inferior a nenhum escrito do gênero; e
ricamente merece ser lido, ser estudado e ser imitado, pelos
nossos jovens teólogos”. Charles Bridges disse: “Não conheço
nenhuma exposição de uma porção separada das Escrituras
(com a única exceção de Owen sobre Hebreus) que se compare
com esta em todos os pontos” .

246
Arthur Dent
(1553-1607)

rthur Dent nasceu em Melton Mowbray, Leicestershire.


A Obteve um grau de bacharel do Christ’s College,
Cambridge, em 1576, e um grau de mestre em 1579. Em 1577,
ele foi ordenado como diácono em Peterborough. No ano
seguinte, foi ordenado, estando com vinte e quatro anos de
idade, como presbítero por John Aylmer, bispo de Londres.
Em 1580, Aylmer empossou Dent como reitor de South
Shoebury, Essex, onde ele serviu por vinte e sete anos, até sua
morte. Em 1582, foi convocado como urna das testemunhas
para apoiar as acusações feitas contra Robert Wright, notável
ministro puritano. Em 1584, o arquidiácono Walker e outros
começaram a perseguir Dent por ele se recusar a usar sobrepeliz
e por omitir o sinal da cruz no batismo. Essa perseguição
continuou durante ao menos cinco anos, mas, fora um breve
período de suspensão, Dent pôde continuar seu trabalho,
devido, em parte, a seu temperamento irônico e à leniência
de Aylmer.
Em meados da década de 1580, Dent foi designado para
diversas posições de liderança, inclusive sendo envolvido
em discussões acerca do Book of Discipline e sendo nomeado
como “ um dos sete delegados de Essex ao idealizado sínodo

247
PAIXAO PHLA PU R EZA

provincial designado para seguir o estabelecimento do


“presbitério em episcopado” (Oxford DNB, 15:844). Mas,
acima de tudo, Dent veio a ser conhecido como um grande
pregador; “sua capacidade de edificar congregações rurais foi
lendária”, escreve Brett Ussher (ibid).
O livro de Dent, The Ruin of Rome, or, An Exposition upon
the Whole Revelation, que foi reimpresso cerca de vinte vezes
no correr dos séculos, estava nas mãos do impressor quando
ele contraiu uma febre e morreu no dia 10 de janeiro de 1607,
depois de três dias de enfermidade. Em seu leito de morte ele
disse, sobre a fé reformada: “Esta fé tenho eu pregado; nesta
fé tenho crido; nesta fé morro; e esta fé eu teria selado com
meu sangue, se isso Deus achasse bom; e digam isso a meus
irmãos” . Suas últimas palavras foram: “A toda perfeição vi
limite, mas 0 teu mandamento é amplíssimo”. Dent deixou
sete manuscritos que foram publicados depois de sua morte.

Christ’s Miracles (PP; 20 páginas; 2000). Este sermão, pregado


em South Shoebury, baseia-se em João 9:16, que contém os
comentários dos fariseus acerca dos milagres de Cristo. Dent
expõe belamente 0 texto e apresenta estimulantes aplicações.
A essência do seu sermão, segundo Dent, é “conduzir-nos a
Deus para O reconhecermos como o nosso único Senhor e
Salvador e abraçarmos 0 Filho de Deus como o nosso Rei”.

The Plain M an’s Pathway to Heaven (SDG; 332 páginas;


1997). Este foi um dos clássicos de devoção puritanos mais
populares já escritos. Passou por vinte e cinco edições por
volta de 1640 e por cinquenta edições por volta de 1860.
Richard Baxter reformulou 0 livro em 1674 como The Poor
Man’s Family Book, “abandonando o diálogo familiar de Dent
e adotando prosa fluente” (ibid). João Bunyan também foi
profundamente influenciado por esta obra. A semelhança

248
Arthur Dent

de Pilgrim’s Progress {O Peregrino}, este livro usa o tema da


peregrinação com diálogo. Ele retrata quatro personagens:
Theologus, um pastor; Philagatus, um homem honesto e
temente a Deus; Asunetus, um homem ignorante; e Antilegon,
um enganador.1
Enquanto viajam, esses homens discutem tópicos religiosos
incluindo a miséria do homem, por natureza, a corrupção
do mundo, as marcas dos filhos de Deus, a dificuldade de
entrar na vida, a ignorância do mundo e a doces promessas
do evangelho “com as abundantes misericórdias de Deus a
todos quantos se arrependerem, crerem e verdadeiramente se
voltarem para Ele”. Diálogos individuais falam de assuntos
tais como a regeneração, 0 orgulho, o adultério, a cobiça, 0
desprezo do evangelho, 0 blasfemar, a mentira, a embriaguez,
a ociosidade, a opressão, efeitos do pecado, a predestinação,
obstáculos à salvação, e a segunda vinda de Cristo. O livro
ensina muito sobre Deus, o pecado e a salvação.

A Sermon of Repentance (PP, 38 páginas; 1996). Este sermão,


pregado em Leigh em 1582, foi reimpresso ao menos vinte e
duas vezes por volta de 1638. Ele ensina com grande clareza
a natureza e os resultados da conversão a Deus. Dent nos
lembra que tudo nesta vida nos chama ao arrependimento: a
misericórdia de Deus, os juízos de Deus, a Palavra de Deus,
os nossos pecados, a brevidade da vida, o pequeno número
dos salvos, o dia do juízo, e os tormentos do inferno.

1 T e r m o s g r e c o - la ti n o s c u jo s e n tid o literal é, r e s p e c ti v a m e n t e . T e ó lo g o . A m i g o
d a B o n d a d e ( q u e a m a a b o n d a d e ) . Ig n o ra n te , e C o n tr a d ito r (o q u e fala c o n tra ).
N o ta d o trad u to r.

249
Edward Dering
(c. 1540-1576)

E dward Dering nasceu numa antiga e distinta família.


Recebeu sua educação no Christ’s College, Cambridge,
onde obteve os graus de bacharel (1560) e de mestre, em
Artes (1563), como também o de Bacharel em Teologia
(1568). Também serviu ali como membro do corpo docente
de 1560 a 1570, e foi ordenado diácono pelo bispo Cox de
Ely em 1561.
Em 1564, a rainha Elizabeth visitou Cambridge e fez
um giro por suas escolas. No Emmanuel College, Dering,
que já havia conquistado reputação como erudito em grego,
presenteou à rainha com um exemplar congratulatorio de
versos gregos que ele tinha escrito. Essa foi a única evidência
dessa espécie de erudição que eventualmente levou Matthew
Parker, arcebispo de Cantuária, a chamá-lo “o homem mais
culto da Inglaterra”.
Em 1566, Dering foi nomeado procurador da universidade.
No ano seguinte ele pregou diante da universidade como
pregador de Lady Margaret, e foi nomeado reitor de Pluckley
pelo arcebispo Parker. Nessa época Dering ainda era anglicano;
mais tarde ele revelaria que, em sua própria avaliação, ainda
não era convertido. Nesse meio tempo, ele foi escolhido para

250
E dw ard Dering

refutar várias declarações que promoviam idéias presbiterianas


supostamente escritas por Thomas Cartwright. Dering foi
também um dos capelães do principal nobre da Inglaterra,
Thomas Howard, o quarto duque de Norfolk, e manteve uma
capelania na Torre de Londres.
No início de 1569, Dering começou a inclinar-se para
as idéias puritanas que eram correntes em Cambridge. Sua
primeira declaração pública de adoção dessas idéias parece que
foi em 25 de fevereiro de 1570, quando pregou forte sermão
sobre o Salmo 78:70 diante da corte real, reprovando a rainha
Elizabeth na face por tolerar clérigos cujas práticas e vidas eram
objetáveis. Ele descreveu os ministros como “ rufiões e tolos”,
guias cegos e cães raivosos que não ladram. “E todavia tu”, disse
ele à rainha, “ ficas aí sentada e negligente, e deixas os homens
fazerem o que quiserem.” Não surpreendentemente, a rainha o
suspendeu do ministério de pregação, mas não pôde removê-
-10 do cargo de preletor porque os seus auxiliares não puderam
chegar a um acordo sobre como compor a acusação feita contra
ele. Patrick Collinson observa: “Nenhum sermão elizabetano
foi reimpresso mais vezes, com dezesseis edições por volta do
ano da morte de Elizabeth, 1603” (Oxford DNB, 15:873).
No dia 20 de dezembro de 1571, Dering foi restaurado ao
púlpito da Catedral de Salisbury, provavelmente num esforço
para reconquistã-lo para a causa anglicana. Em 1572, Dering
pleiteou diante do Lord Burghley que Cartwright recebesse
permissão para voltar a Cambridge e lecionar ali. No mesmo
ano, Dering tornou-se leitor da preleção teológica na St. Paul’s
Cathedral, onde ele lecionou sobre a Epístola aos Hebreus.
Essas preleções atraíam grande número dos “piedosos de
Londres”, entre os quais ele “desfrutava de enorme reputação”
(Oxford DNB, 15:873). Antes de fazer a preleção, Dering
frequentemente orava: “Ó Senhor Deus, que nos deixaste
Tua santa Palavra para ser uma lâmpada para os nossos pés
e uma luz para os nossos passos, dá-nos, a todos nós, o Teu
Santo Espírito, para que da mesma Palavra aprendamos qual

251
PAIXAO P E L A PU R EZA

é a Tua vontade eterna, e formemos nossas vidas em toda a


santa obediência à mesma, para Tua honra e gloria, e aumenta
a nossa fé, mediante Jesus Cristo, o nosso Senhor. Amém”.
Depois de lecionar sobre Hebreus, Dering publicou sua
obra, A Brief and Necessaiy Catechism. No prefácio ele renovou
seus ataques ao clero, dizendo que nunca houve uma nação que
tivesse ministros tão ignorantes e na qual os párocos e os vigários
disputassem entre si, “todos para 0 bem do ventre”. Esse prefácio,
entre outros ataques ao clero, como a sua predição de que Parker
seria 0 último arcebispo de Cantuária, resultou em sua suspensão
do cargo de preletor e numa intimação para comparecer perante
a Câmara Principal.1 Contudo, depois de ter sido examinado,
Dering foi absolvido de todas as acusações e sua suspensão foi
anulada, apesar da aversão que a rainha lhe votava.
Dering foi um grande homem, com extraordinário domínio
do idioma. Apesar dos seus ataques ao clero da Igreja da
Inglaterra, ele era reverenciado como um cavalheiro que tinha
uma firme teologia e uma disposição cálida e afetuosa. Samuel
Rutherford listou Dering junto com Calvino, Cartwright e
Beza, como alguém diante de cujo critério de julgamento ele
estaria pronto a inclinar-se.
Dering perdeu a saúde em 1575. Sofreu ataques de um mal
que 0 fazia “cuspir sangue” e ter “dificuldade para respirar”.
Entre suas últimas palavras constam estas: “Não brinquem
com a Palavra de Deus, não a tratem levianamente; bem­
-aventurados os que usam bem suas línguas quando as têm” .
Ele morreu com a idade de trinta e seis anos em 26 de junho
de 1576, em Thoby, na paróquia de Mountnessing, rodeado de
pregadores e amigos que fielmente registraram suas últimas
palavras. Essex o pranteou.

1 C â m a r a d a E stre la . S u p r e m o T ribunal In g lê s q u e se o r ig in o u n o m í n i m o n o s
tem p o s d o rein ad o d e E d w a rd III ( q u e r e i n o u d e 1327 em d ian te). N e ssa
é p o c a a ju stiça era e x e r c id a e m W e s tm in s te r, n a " c h a m b r e d e e s to ilc s ” , n o m e
p r o v a v e lm e n te in sp ira d o p e la d e c o r a ç ã o d o teto . N o ta d o trad u to r.

252
E dw ard Dering

M. Dering’s Works (WJ; 800 páginas; 1972). Dering foi


um dos primeiros teólogos de mentalidade puritana a ter
impressos os seus escritos reunidos. Impresso primeiramente
em 1572, este facsímile começa com o sermão de Dering sobre
o Salmo 78:70: “Também elegeu a Davi, seu servo, e 0 tirou
dos apriscos das ovelhas”, pregado diante da rainha (referência
feita acima). Dering considera três itens: a misericórdia de
Deus em chamar Davi, o propósito e intenção de Deus em
chamar Davi, e o caráter de Davi em obedecer a seu chamado.
A próxima obra também é um sermão, que foi pregado na
Torre de Londres no dia 11 de dezembro de 1569. Baseia-se
em João 6:34: “Disseram-lhe pois: Senhor, dá-nos sempre
desse pão”. Dering reprova aqueles que costumam servir-se
do Pão da Vida por razões egoísticas, dizendo que eles ficam
desvairados por causa das “ vaidades transitórias” . Depois ele
apresenta a beleza do reino de Deus e a preciosidade de comer
e beber o Pão da Vida, Cristo, o que, diz ele, é sinônimo de
vir a Cristo e crer nEle.
A terceira obra de Dering, que consiste de vinte e sete
preleções sobre Hebreus, foi publicada em Londres em 1590.
E a melhor obra de Dering, repleta de exortações oportunas
e práticas. Dering expõe sistematicamente o texto, fazendo
amplas referências à história da Igreja. Ao considerar a autoria
de Hebreus, Dering diz que isso não importa, visto que toda
a Epístola foi inspirada e dirigida por Deus.
O restante do volume contém “algumas cartas piedosas
e confortadoras” escritas por Dering no transcurso de sua
vida para consolar crentes; A Brief and Necessary Catechism,
(produzido em colaboração com seu amigo John More,
chamado 0 “apóstolo” de Norwich) e que inclui ferinas
declarações contra o episcopado; e uma coleção de orações
e palestras, mais notavelmente a oração de Dering em seu
leito de morte.

253
Thomas Doolittle

h o m a s D o o little n asceu n a c id a d e de K id d e rm in s te r,
T W o rc e ste rsh ire . Q u a n d o estava na escola s e c u n d á ria
de K id d e rm in s te r, D o o little o u v iu R ic h a rd B a x te r p re g a r
serm õ es q u e p o s te rio rm e n te fo ram p u b lic a d o s co m o The
Saints’ Everlasting Rest, (1653). E sses d isc u rso s le v aram à
co n v ersão de D o o little n o in íc io da d écad a de 1640; d a í p o r
d ia n te ele ch a m a v a B ax ter de seu “ p ai em C ris to ” .
L ogo d ep o is da co n v e rsã o , D o o little d e ix o u sua o cu p aç ão
com o a s s is te n te de u m a d v o g ad o do c o n d a d o , q u e ex ig ia q u e
ele tra b a lh a sse n o d o m in g o . B ax ter in c e n tiv o u D o o little a
e n tra r n o m in is té rio . P a ra p re p a ra r-s e , D o o little e s tu d o u
n o P e m b ro k e H a ll, C a m b rid g e , o b te n d o 0 g ra u d e B a c h a re l
em A rte s e m 1653 e u m g ra u d e m e s tre e m 1656. S eu
p r e c e p to r foi W illia m M o ses, q u e p o s te rio rm e n te foi ex p u lso
de P em b ro k e .
D o o little ra p id a m e n te g a n h o u re p u ta ç ã o co m o um g ra n d e
p regador. E m 1653, rec e b e u a o rd e n a ç ã o p re s b ite ria n a , m as
a ssu m iu c o m p ro m is s o com St. A lfege, L o n d o n W all, u m a
co n g reg ação da Ig reja da In g la te rra q u e ele se rv iu até ser
expulso p o r não c o n fo rm id a d e em 1662. Seu m in is té rio ali
foi e m in e n te m e n te b e m su c e d id o . E m 1657, ele escrev eu

254
Thomas Doolittle

a Richard Baxter, que ele continuava a consultar para


aconselhar-se e por questões teológicas: “Deus me tem dado
abundante encorajamento em meu trabalho, concedendo-me
favor nos corações e nos sentimentos do povo... e de outros
da cidade” (Oxford DNB, 16.561).
Doolittle casou-se com Mary Gill em 1655. Eles tiveram
três filhos e estavam esperando o quarto quando Doolittle foi
expulso do seu cargo e residência. Depois da expulsão, eles
tiveram mais cinco filhos. Reduzido à pobreza, Doolittle
mudou-se para Moorfields, onde organizou em seu lar uma
escola com internato e lhe chamou Academia Não Conformista
Pioneira. Quando a escola cresceu, Doolittle tomou como seu
assistente Thomas Vincent, que tinha sido expulso de St.
Mary Magdalene, Milk Street.
Em 1665, o ano da grande peste, Doolittle e seus alunos
transferiram-se para Woodford Bridge, perto de Chigwell.
Vincent ficou em Moorfield para ministrar aos moribundos.
Quando Doolittle voltou para Londres, ele foi um dos
ministros não conformistas que desafiaram a lei erigindo
casas de reunião no lugar de igrejas arruinadas pelo Grande
Incêndio de 1666. A primeira delas foi em Bunhill Fields,
onde ele serviu sem ser perturbado. Quando se viu que esse
edifício ficou pequeno demais para a crescente congregação,
um maior foi construído na Monkwell Street. Doolittle
pregava duas vezes cada no domingo, e nas quartas-feiras fazia
sua exposição pessoal do Breve Catecismo da Assembléia de
Westminster. Essas falas foram publicadas postumamente em
1723 como A Complete Body of Practical Divinity. Ele também
estimulava outros ministros a catequizarem para promover
conhecimento, firmar os jovens na verdade e prepará-los para
lerem e ouvirem melhor os sermões.
Quando Doolittle estava servindo na Monkwell Street, as
autoridades agiram. O lorde prefeito instou com Doolittle que
parasse de pregar, mas ele se negou a fazê-lo. No sábado seguinte,
soldados arrombaram a porta da casa de Doolittle e entraram

255
PAIXAO P E L A PUREZA

para prendê-lo. Doolittle fugiu pulando um muro. Vários


amigos o persuadiram a não pregar no dia seguinte. Thomas
Sare, um ministro expulso, tomou seu lugar. Seu sermão foi
interrompido por tropas que lhe ordenaram que parasse de
pregar. Quando Sare não recuou, o oficial comandante das
tropas deu ordem de fogo. “Atire, se isso lhe agrada”, replicou
Sare. Grande confusão resultou, sem, contudo, ser derramado
sangue. As forças do rei sitiaram o edifício.
Quando Charles II editou sua Declaração de Indulgência,
Doolittle solicitou licença para a sua casa de reuniões.
Enquanto isso, a Academia Não Conformista Pioneira se
expandira constituindo uma escola que preparava estudantes
para a universidade. Quando Charles revogou sua Indulgência
em 1673, Doolittle transferiu sua escola para Wimbledon,
onde levou adiante, cautelosamente, o seu trabalho. Por pouco
não foi preso de novo.
Em 1680, Doolittle voltou para Islington. Depois de ser
multado várias vezes por pregar, foi obrigado a sair de lá em
1683. Ele foi para Battersea, onde todas as suas posses foram
confiscadas e vendidas pelas autoridades, e dali mudou-se
para Clapham. Em 1687, a perseguição 0 compeliu a mudar-se
mais uma vez - desta vez para St. John’s Court, Clerkenwell,
Middlesex.
As mudanças arruinaram tanto a sua academia que
Doolittle foi forçado a fechá-la temporariamente em 1687.
Após o Ato de Tolerância de 1689, ele restabeleceu sua escola e
seu ministério. Dirigia cultos na Monkwell Street duas vezes
todo domingo e fazia preleções nas quartas-feiras. Durante os
próximos dezoito anos, ele foi assistido por John Mottershead,
Samuel Doolittle (seu filho) e Daniel Wilcox, que mais tarde
0 sucedeu.
Sua esposa por quarenta anos morreu em 1692. Por volta
desse tempo, aparentemente Doolittle parou de receber
estudantes. Em seus aproximadamente trinta e cinco anos
de operação, a escola tivera grande impacto em centenas de

256
Thomas Doolittle

estudantes, entre os quais figuras notáveis como Matthew


Henry, Edmund Calamy e John Kerr, os quais seguiríam as
pegadas de Doolittle tornando-se influentes ministros não
conformistas.
Poucos anos mais tarde, Doolittle casou-se com outra
Mary, que o assistiu amorosamente no ministério e que
lhe sobreviveu por apenas cinco meses. Depois de uma
enfermidade relativamente breve, Doolittle morreu no dia 24
de maio de 1707, e foi enterrado em Bunhill Fields, Londres.
Dos clérigos de Londres expulsos ele foi o último a morrer.
Doolittle escreveu vinte e três edificantes tratados. Suas
cinco obras sobre catequese foram sumamente elogiadas
por seus pares. Muitos dos seus livros, todos os quais eram
tipicamente puritanos, passaram por numerosas edições.

Love to Christ Necessary to Escape the Curse of His Coming


(SDG; 216 páginas; 1997). Esta obra é uma série de sermões
baseados em 1 Corintios 16:22: “ Se alguém não ama ao
Senhor Jesus Cristo, seja anátema; maranata”. Doolittle
explica por que os pecadores devem odiar o pecado e amar
supremamente Cristo. Ele encoraja seus leitores a amarem
Cristo, e mostra as consequências de não amá-lo. Ele conclui
com dez diretrizes sobre como obter sincero amor por Cristo,
e “dez fontes de conforto espiritual fluindo para os corações
dos que amam Cristo” . O livro de Doolittle é um poderoso
tratado evangelístico para a pessoa não convertida e um tra­
tado exortativo bom para aquecer o coração do crente.

A Treatise Concerning the Lord’s Supper (SDG; 200 páginas;


1998). Este livro foi publicado pela primeira vez em 1665
como A Treatise Concerning the Lord’s Supper with Three
Dialogues for the More Full Information of the Weak, and in
the Nature and Use of this Sacrament. Foi tão popular que

257
PAIXAO PELA PUREZA

passou por ao menos vinte e oito edições inglesas, vinte e duas


edições escocesas, e vinte e seis edições na Nova Inglaterra, bem
como traduções para 0 alemão e para o galês. O livro discute
vinte qualidades do sangue de Cristo. Doolittle insta com os
seus leitores que se examinem antes e depois de receberem a
Ceia do Senhor. O propósito do livro, como Doolittle anota
em sua “Epistle to the Reader”, é promover a certeza “do
amor de Deus, e da vida eterna”. Muitos crentes têm sido
beneficiados pela leitura deste livro antes ou após a Ceia
do Senhor.

258
George Downame
(c. 1563-1634)

G eorge Downame (ou Downham), irmão de John Downame


(ver mais adiante), nasceu em Chester, Inglaterra, onde
seu pai era bispo. Recebeu sua educação no Christ’s College,
Cambridge. Tornou-se professor de lógica nessa escola em
1585, e posteriormente lhe foi concedido o grau de Doutor
em Teologia.
Downame, descrito por Thomas Fuller como um excelente
aristoteliano, foi feito prebendeiro1 de Chester em 1594, de
St. Paul em 1598, e de Wells em 1615. Seu sermão pregado
por ocasião da consagração de James Montague, bispo das
cidades de Bath e de Wells, em 17 de abril de 1608, provocou
uma controvérsia sobre a instituição divina do episcopado.
James I fez Downame um capelão da corte em 1603 e o
nomeou bispo de Derry, Irlanda, em 6 de setembro de 1616.
Downame foi empossado no dia 6 de outubro. Ele presidiu sua
diocese dezoito anos, até sua morte. Sua nomeação deveu-se,
em parte, a seus fortes sentimentos calvinistas, que o fizeram

1 P re b e n d a : d ire ito a v e s tu á rio , a lim e n ta ç ã o e o u tro s b e n e fic io s c o n c e d id o s a


d e te rm in a d o s c lé rig o s o rd e n a d o s o u lic en ciad o s, a critério d e se u s su p e rio res
e c le s iá stic o s . N o ta d o trad u to r.

259
EAIXAO PELA PUREZA

aceitável aos colonizadores escoceses em Ulster.2 Ele foi


também um zeloso signatário do protesto contra a tolerância
do papismo, lançado em 26 de novembro de 1626, por alguns
membros da hierarquia irlandesa.
No dia 11 de abril de 1627, Downame pregou diante do
lorde deputado em Dublin, lendo o protesto durante o seu
sermão e acrescentando: “e que todo o povo diga, Amém”.
A reação foi tão entusiástica que sacudiu o edifício. O lorde
deputado desaprovou a leitura do protesto e enviou cópias
dele ao rei.
Algum tempo antes, Downame tinha pregado um sermão
em St. Paul’s Cross contra os temas do arminianismo, sermão
que depois foi impresso em Dublin, em 1631. Quando
exemplares do sermão chegaram às mãos de William Laud,
então hispo de Londres, Laud instou com o rei que proibisse
a divulgação do documento, mas quando a carta real chegou
a James Ussher, arcebispo de Armagh, quase toda a edição
publicada fora distribuída.
Em 1633 foi dada uma catedral a Downame. Ele morreu
em Derry em 17 de abril de 1634 e foi sepultado, ou na catedral,
ou na velha igreja agostiniana.
Downame escreveu diversos livros influentes, inclusive
tratados sobre a Oração do Senhor, os Dez Mandamentos, a
aliança da graça, a perseverança, o anticristo, e o episcopado.
Sua obra mais notável é, talvez, A Treatise of Justification, no
qual ele refuta os argumentos de Robert Bellarmine3em favor
da doutrina católico-romana da justificação pela justiça infusa.
Downame argumenta que, visto que o homem é corrupto

2 U lste r: U m a d a s m a is a n tig a s d iv isõ e s d a Irlan d a, m a n te v e d u ra n te sé c u lo s


sua in d ep en d ên cia. P o ste rio rm e n te , a p a rtir d e 1603, Ib i c o l o n i z a d a por
in g lese s e e s e o e e s e s. v in d o a co n stitu ir a reg ião p ro testan te da Irlan d a.
A tu a lm e n te tem o n o m e d e Irla n d a d o N o rte , lig a d a à G r â -B re ta n h a . N o ta
d o tra d u to r.

’ R o b erto l'r a n c c s e o R o m o lo B e lla rm in o (1542-1621). je su íta italian o ,


te ó lo g o , p o le m is ta e o p rin c ip a l c o n s e lh e ir o d o p a p a . N o ta d o tra d u to r.

260
George Downtime

devido ao pecado imputado, somente a imputação da justiça


de Cristo pode fazê-lo justo. Ele acreditava que doutrina da
imputação tornava imperativo abraçar a doutrina de Adão
como cabeça federal (ver Edward Hindson, ed., Introduction
to Puritan Theology, pp. 197-217).

The Christian’s Freedom (SDG; 144 páginas; 1997). Com 0


subtítulo, The Doutrine of Christian Liberty, este livro se baseia
em João 8:36: “Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” . Downame explica a doutrina da liberdade cristã
em vinte e seis seções sob quatro títulos: o que é a liberdade
cristã; o autor desta liberdade; as pessoas às quais é conferida
esta liberdade; e a genuinidade desta liberdade.
Diz Downame que a liberdade cristã é a liberdade de fazer 0
que é certo, não o que é errado. E a lei da liberdade, significando
que há restrições, mas estas restrições devem provir de Deus,
não da mente estreita do homem. Downame navega entre 0
legalismo (muito pouca liberdade) eo antinomismo (demasiada
liberdade). Ele argumenta contra o epicurismo, que promove
a rendição às paixões pessoais, e contra o catolicismo romano,
que confunde a liberdade por confundir a justificação com a
santificação. No estilo puritano clássico, Downame argumenta
que o cristão verdadeiro desfruta da liberdade verdadeira
porque é plenamente justificado e se torna progressivamente
santificado. Não obstante, esta liberdade não anula os seus
deveres morais para com a lei como norma de vida.
A obra de Downame é profunda e precisa, e representa bem
a visão puritana da liberdade cristã, a qual será concretizada
plenamente na glorificação do crente. Downame escreve: “O
uso certo da doutrina concernente à liberdade da glória é crer
verdadeiramente nela, e viver como na expectativa dela” (p. 124).

261
John Downame
(m. 1652)

J 'ohn Downame, o segundo filho do bispo William Downame,


nasceu em Chester, Inglaterra. Recebeu sua educação no
hrist’s College, Cambridge, onde obteve o grau de Bacharel
em Teologia. Em 4 de agosto de 1599, Downame foi empossado
como vigário de St. Olave, Jewry; em 1601, transferiu-se para a
residência paroquial de St. Margaret, Lothbury, onde sucedeu
a seu irmão George como vigário. Desistiu desse posto em 1618.
Em 1623, Downame casou-se com Catherine, viúva de Thomas
Sutton. Eles tiveram três filhos, William, Francis e George, e várias
filhas. Em 1630, Downame tornou-se reitor de Great Allhallows,
Thames Street. Manteve essa posição até sua morte.
Na parte final da década de 1630, Downame começou a
fazer preleções nas terças-feiras na St. Bartholomew’s Church.
As preleções eram muito populares. Em 1640, Downame
juntou-se aos ministros puritanos da cidade na apresentação
de uma petição contra The Book of Canons, de Laud, ao
conselho privado.1 Em 1643, Downame foi nomeado censor
da imprensa. No ano seguinte, foi escolhido para examinar e
ordenar pregadores públicos.
1 P riv y C o u n c il ( C o n s e lh o P riv a tiv o o u S e c re to ). N a é p o c a , c o rp o c o n s u ltiv o
d a r e a le z a c o m p o d e r e s j u d ic ia is . N o ta d o tra d u to r.

262
John Downtime

Enquanto exerceu as funções de censor, Downame publicou


a obra de Thomas Sutton, Lectures on the Eleventh Chapter to the
Romans, (1632). No prefácio dessa obra Downame prometeu
mais publicações de obras de Sutton. Ele editou também Treatise
of Prayer escrito por seu irmão, e o livro do arcebispo James
Ussher, Body of Divinity. Com outros teólogos, Downame
escreveu Annotations upon all the books of the Old and
New Testament, (1645). Ele escreveu também, pessoalmente,
dez livros, dos quais os mais conhecidos são The Christian
Warfare, (1609-1618, ver abaixo), A Guide to Godliness, or a
Treatise of a Christian Life, (1622), The Sum of Sacred Divinity,
(1630), cA Treatise tending to direct the Weak Christian how He
may rightly Celebrate the Sacrament of the Lord’s Supper, (1645).
Nesses livros Downame desenvolve típicos temas puritanos,
entre os quais os que falam sobre como envolver-se no combate
cristão, como exercitar a autodisciplina, como viver pela fé
em Cristo, como obter certeza, e como viver para a gloria de
Deus em todas as esferas da vida.
Downame morreu em 1652. Foi sepultado em sua igreja
paroquial. Os historiadores da época o consideravam um
“teólogo culto e laborioso”. J. I. Packer escreveu: “Downame
está no mesmo nivel de Perkins, Greenham e Richard Rogers,
como um dos arquitetos da teologia puritana da piedade” .

The Christian’s Warfare (WJ; 674 páginas; 1974). Com a


possível exceção da obra Christian Armour, de Gurnall, este
livro é a primeira obra puritana sobre o tema do combate
cristão. E também a melhor obra de Downame. Cada urna
das quatro partes do livro foi publicada separadamente entre
1609 e 1618. (Esta reimpressão contém a edição de 1609 de The
Warfare, o qual contém os três primeiros livros). A primeira
parte é acerca da ameaça do diabo; a segunda e a terceira
partes, a ameaça do mundo; e a parte final, a ameaça da

263
PAIXAO P E L A PU R EZA

carne. Várias edições do livro foram impressas em Londres,


culminando com a edição definitiva, em quatro volumes, de
1634, que contém um dos mais extensos índices das Escrituras
e de assuntos do período. A obra completa tem 1.164 páginas
(mais os índices) impressas em coluna dupla.
Conforme a observação do impressor na edição de 1634, a
intenção de The Christian Warfare era “instruir... na disciplina
militar para [a] melhor capacitação {do crente} para estar firme
no dia da batalha como um soldado valente”. O próprio Downame
disse que o livro visava fazer três coisas: “dar alívio e consolo
aos pobres em espírito e que se humilham em vista do pecado”;
“conduzir 0 cristão num curso constante rumo ao porto da
felicidade eterna”; e “propiciar sólidas e substanciais consolações
firmemente alicerçadas na indubitável verdade de Deus”.
Uma história interessante é narrada acerca do livro de
Downame. Em 1637, John Harvard mudou-se da Inglaterra
para Charlestown, Massachusetts. Harvard morreu um ano
mais tarde, tendo doado todos os seus livros ao Harvard
College, a escola então recentemente fundada com 0 nome dele.
The Christian Warfare, de Downame, foi um dos poucos livros
que sobreviveram ao grande incêndio que destruiu a maior
parte da biblioteca de Harvard em 1763. Aparentemente, o
livro tinha sido retirado da biblioteca em 14 de outubro de
1763 por três semanas e houve longo atraso na devolução.
Ephraim Briggs, aluno do último ano, estava com 0 livro. Não
intencionalmente, ele tinha preservado o livro de Downame
para uma futura geração de leitores.

264
Daniel Dyke
(m. 1614)

D aniel Dyke nasceu em Hempstead, Essex, onde seu pai,


William Dyke, ministrava como vigário. Dyke recebeu
sua educação em Cambridge; obteve um grau de bacharel
no St. John’s College em 1596, e de mestre no Sidney Sussex
College em 1599. Por volta de 1606, tornou-se membro do
corpo docente e obteve o grau de Bacharel em Teologia.
Dyke foi ordenado em Coggeshall, Essex, onde serviu como
ministro até 1583; nesse ano John Aylmer, bispo de Londres,
suspendeu-0 do ministério. Aylmer tinha irritado os puritanos
por jogar boliche nos domingos e promover lassa observância
do Sabbath. Suas bases para suspender Dyke foram que Dyke
recusou-se a ser ordenado como presbítero, resistiu ao uso de
sobrepeliz, promoveu conventículos e procurou impulsionar
maior reforma da Igreja.
Aylmer feriu Dyke sem dó nem piedade, tanto que
Collinson descreve Dyke como “uma tempestuosa procelária
puritana cujos repetidos atritos com as autoridades
eclesiásticas o jogaram de Great Yarmouth para Coggeshall,
em Essex, para St. Michael’s, em St. Albans, e, finalmente, para
Hemel Hempstead” (Oxford DNB, 17:495). Quando Aylmer
suspendeu Dyke pela segunda vez, em 1589, em St. Albans, os

265
PAIXAO P E L A PUREZA

paroquianos fizeram uma petição ao Lord Burghley (William


Cecil) que interferisse em favor de Dyke. Eles alegaram
que a obra realizada por Dyke tinha reduzido a desordem e
promovido a piedade. Na verdade, ele “se havia conduzido tão
pacificamente e de tal modo cumprindo seus deveres entre
eles, tanto na vida como na doutrina, que ninguém poderia,
com justiça, achar falta nele, a não ser por maldade” . A carta
dos paroquianos concluía: “Houve, de fato, alguns que não
puderam suportar ouvir {dele} a reprovação das suas faltas;
mas, por meio da sua pregação, muitos foram trazidos da sua
ignorância e dos seus maus caminhos para uma vida melhor”.
A defesa feita pelo Lord Burghley não comoveu o bispo
Aylmer. Em vez disso, ele intensificou a sua investigação do
caráter de Dyke. Ele até persuadiu os presbíteros da igreja
de Dyke a apresentarem uma mulher que acusou Dyke de
infidelidade sexual. Felizmente, antes de a reputação de Dyke
ser prejudicada permanentemente, a mulher confessou que a
sua declaração fora tramada, e pediu perdão. Contudo, mesmo
depois da absolvição de Dyke, Aylmer negou-se a suspender
a sua censura. Finalmente, a influência de lorde Burghley e
de outros garantiu a Dyke 0 seguro posto e sustento de Hemel
Hempstead, na diocese de Lincoln, onde Thomas Wilcox era
seu pastor vizinho.
Todos os tratados de Dyke foram publicados postumamente
por seu irmão, Jeremiah Dyke, vigário de Epping, a maior
parte de 1614 a 1618. Cerca de vinte anos mais tarde, Jeremiah
publicou as obras reunidas de seu irmão em dois volumes
infolios. O livro de Daniel Dyke mais vezes reimpresso, The
Mystery of Self-Deceiving, baseado em Jeremias 17:9, é uma
minuciosa anatomia do “ hipócrita no evangelho”, isto é,
alguém que alega conhecer Cristo, mas cuja vida revela pouco
conhecimento de si e nenhum fruto. Thomas Fuller, notável
historiador e mais jovem contemporâneo de Dyke, disse que
o livro “será tido como verdade, enquanto os homens não
tenham maldade [neles], e será honrado como um tesouro,

266
D aniel D vke

enquanto os homens tenham qualquer bondade neles” .


Dyke morreu em 1614. Ele era altamente respeitado entre
os puritanos como um teólogo de peso e douto. Ele pregava
firme e experimentalmente, visando promover uma piedade
bíblica, reformada. John Wilkins, nascido no ano da morte de
Dyke e mais tarde bispo de Chester, considerava os sermões
de Dyke como “entre os mais excelentes do seu tempo”.

Michael and the Dragon; or, Christ Tempted and Satan Foiled
(OP; 253 páginas; 1996). Esta obra foi publicada pela primeira
vez em 1616 como parte de 7ivo Treatises, the one of Repentance,
the other of Christ’s Temptations. Foi reimpresso por John Beale
em 1635. Contém três partes: preparação para combater o
diabo, o combate propriamente dito, e a resposta de Cristo
às tentações de satanás.
Na primeira parte, Dyke mostra como o Senhor equipa
os verdadeiros crentes para a batalha contra satanás c como
a Palavra de Deus e os sacramentos {as ordenanças} nos
habilitam a progredir. Dyke explica catorze doutrinas nessa
preparação para a batalha. Na segunda parte, Dyke mostra
como o diabo procura desacreditar a Palavra de Deus e a nossa
confiança nessa Palavra. A última parte supre os crentes de
numerosas maneiras sobre como lidar com satanás e seus ardis.
Embora não tão detalhado como o livro de Thomas
Brooks, Precious Remedies against Satan’s Devices, o tratado de
Dyke é quase igualmente útil. Num aspecto ele supera Brooks,
pois coloca a tentação do crente num contexto cristocêntrico,
ensinando pelas Escrituras que devemos lidar com satanás
como Cristo lidou.
A linguagem deste livro é antiga, mas os assuntos de
que trata sáo relevantes para hoje. Dyke argumenta que é
impossível ser cristão sem confrontar-se com satanás e
sem travar guerra diariamente contra a tentação. Quando
Deus Se torna real na alma, satanás torna-se igualmente real.

267
PAIXAO P E L A PUREZA

Satanás não vai soltar facilmente a sua presa.


Embora muitos eruditos modernos aleguem que a
metodologia escolástica e ramista1 resultem em frieza e
impraticabilidade, os escritos de Dyke são calorosos e práticos.
Michael and the Dragon deve ser lido devagar e digerido com
oração. Temos aí teologia prática em sua melhor expressão.

1 D e P e t r u s R a m u s ( P i e r r e d e L a R a m e e , 151 .1 5 7 2 - ‫) ר‬. H u m a n i s t a , m a t e m á t i c o
e filó so fo fra n c ê s, c ritic o u fo rte m e n te A ristó te le s . " T u d o o q u e A r is tó te le s
d is s e é m e n tira " , d is s e ele. N o ta d o tra d u to r.

268
Jonathan Edwards
(1703-1758)

onathan Edwards, frequentemente descrito como 0 maior


teólogo e filósofo da América e o último puritano, foi
urna poderosa força atuante por trás do Primeiro Grande
Despertamento, como também um campeão no zelo e na
espiritualidade cristã. Tanto a erudição cristã como a secular
concordam sobre a sua importância na história americana. Os
tesouros da pena de Edwards têm sido minerados, ponderados
e avaliados até ao presente dia. Seu famoso sermão, Sinners in
the Hands of an Angry God {Pecadores nas Mãos de um Deus
Irado} continua sendo lido e estudado nas escolas públicas da
América como um exemplo da literatura do século dezoito.
Os estudiosos da história americana dão muita atenção aos
escritos científicos, filosóficos e psicológicos de Edwards;
os teólogos e os historiadores da Igreja consideram a obra
de Edwards sobre avivamentos como {algo} não superado
quanto à análise e abrangência. Os cristãos continuam a ler
os seus sermões com grande apreciação por sua rica doutrina,
por seu estilo claro e vigoroso e por sua poderosa descrição
da majestade de Deus, da grave malignidade do pecado, e do
poder de Cristo para salvar.
Contudo, nem todos concordam acerca do lugar de Edwards

269
JONATHAN EDWARDS
Jonathan Edwards

na historia do pensamento cristão. Os eruditos continuam a


debater as suas reflexões filosóficas, a sua fidelidade a certas
doutrinas calvinistas históricas, e a sua influência sobre
as gerações subsequentes. Como Iain H. Murray observa,
“Edwards dividiu os homens durante a sua vida, e em não
menor grau continua a dividir os seus biógrafos” . ( Jonathan
Edwards: A New Biography, p. xix).
Como o enorme corpo dos seus escritos mostra, Edwards
foi intelectualmente brilhante, multifacetado em seus
interesses, e abundantemente criativo. Espiritualmente,
ele foi profundo, reflexivo, experimental e intenso. Desde
cedo ele desenvolveu o hábito de domínio próprio e a
capacidade de incessante trabalho. Mesmo trabalhando em
lugares distantes dos centros culturais da sociedade a que
pertencia, Edwards influenciou muitas pessoas enquanto
viveu e impactou grandemente as gerações a seguir.
Jonathan Edwards nasceu no dia 5 de outubro de 1703
em East Windsor, Connecticut. Foi o único filho do sexo
masculino dos onze que nasceram de Timothy Edwards e
Esther Stoddard, filha de Solomon Stoddard. Tanto o pai de
Edwards como sua avó materna influenciaram sua educação e
sua carreira. Solomon Stoddard serviu por sessenta anos como
ministro da igreja paroquial de Northampton, Massachusetts.
Era uma poderosa força no púlpito, um líder das igrejas do
oeste de Massachusetts e ao longo do rio Connecticut, e foi um
vibrante escritor. Timothy Edwards teve educação superior
e também era conhecido como pregador, e, como Stoddard,
não era alheio a avivamentos religiosos.
Como muitos outros ministros daquele tempo, Timothy
Edwards dirigiu uma escola secundária preparando rapazes
para a Connecticut’s Collegiate School, escola conhecida
como Yale College depois de 1718. A escola foi fundada em
1701 como uma alternativa congregacional ortodoxa ao
Harvard College, onde os grupos dominantes eram hostis às
idéias propostas no livro de John Cotton, Way of the Churches

271
PAIXAO P E L A PU R EZA

of Christ in New England, ou, ao menos, eram favoráveis ao


movimento episcopal.
Edwards recebeu sua educação inicial na escola de seu pai,
onde foi criado e instruído na teologia reformada e na prática
da piedade puritana. Aos treze anos de idade, ele foi para a
Collegiate School, que até então não tinha sede permanente.
Várias cidades estavam competindo pela honra de abrigar
a nascente instituição. Edwards foi para a localização mais
próxima, em Wethersfield, descendo de Windsor rio abaixo,
para iniciar seus estudos com Elisha Williams. Quando a
escola finalmente se localizou em New Haven em 1716, sob
a reitoria de Timothy Cutler, Edwards foi para New Haven,
onde o programa de estudos incluía línguas clássicas e bíblicas,
lógica e filosofia natural. Foi-lhe outorgado o grau de Bacharel
em Artes em 1720, tendo concluído em primeiro lugar em
sua classe, e depois permaneceu em Yale para preparar-se
para o grau de mestre.
A vida espiritual de Edwards foi influenciada por diversos
fatores. Seus pais, cristãos vibrantes e inteligentes, deram-lhe
um bom exemplo e criaram Edwards com vistas à piedade.
Ele passou por vários períodos de convicção espiritual em
sua infância e em sua juventude, os quais culminaram em sua
conversão em 1721, depois de ter sido impactado pelas palavras
de 1 Timóteo 1:17: “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível,
ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” .
Mais tarde ele escreveu:

Quando li [estas] palavras, veio à minha


alma... uma percepção da glória do Divino Ser;
um novo sentimento, completamente diferente
de tudo quanto eu tinha experimentado até então.
...Eiquei dizendo e cantarolando aquelas palavras
das Escrituras para mim mesmo e fui orar a Deus,
rogando que me fosse dado desfrutá-10.... Daquela
hora em diante comecei a ter uma nova espécie

272
Jonathan Edwards

de compreensões e ideias de Cristo, da obra de


redenção, e do glorioso método de salvação por meio
dEle. E a minha mente se dedicou grandemente
a passar o meu tempo lendo e meditando sobre
Cristo, na beleza da Sua Pessoa e no prazeroso
plano de salvação pela livre graça nEle (transcrito
de Jonathan Edwards, A Personal Narrative).

A carreira ministerial de Edwards começou em 1722


com uma breve residência de oito meses na cidade de Nova
Iorque. Tinham ocorrido atritos entre os membros ingleses
da Primeira Igreja Presbiteriana e a maioria composta de
escoceses e irlandeses, sob a liderança do ministro escocés
James Anderson. Einalmente, os ingleses se retiraram e
passaram a reunir-se separadamente. Edwards aceitou seu
convite para pregar para eles. Mais tarde escreveu: “ Fui para
Nova Iorque para pregar, e os meus anseios por Deus e por
santidade aumentaram muito. Senti um ardente desejo de em
tudo me conformar à bendita imagem de Cristo... como eu
deveria ser mais santo e viver mais santamente. ... O céu que
eu desejava era um céu de santidade, estar com Deus e passar
a minha eternidade em santa comunhão com Cristo” (ibid.).
Em abril de 1723, Edwards foi persuadido por seu pai
a voltar para Connecticut. Depois de completar o trabalho
requerido para a obtenção de um grau de mestre em Yale, ele
falou no início da formatura. O título do seu discurso foi: “O
Pecador Não é Justificado diante de Deus, a não ser por meio
da Justiça de Cristo obtida pela Fé”. Em novembro desse ano,
Edwards aceitou um chamado para a igreja da paróquia de
Bolton, distante cerca de quinze milhas a leste de Hartford.
No ano seguinte, Edwards voltou para New Haven para
servir como tutor na escola. Yale estava em tumulto devido
à decisão do reitor Timothy Cutler, em 1722, de abandonar o
congregacionalismo e retornar à Igreja da Inglaterra. Nenhum
candidato adequado concordaria em tomar o lugar dele, e assim

273
PAIXAO PHLA PU R EZA

a escola ficou nas mãos de um reitor interino. Cada ministro


local servia um mês, rotativamente, ao passo que mais ou
menos quarenta estudantes eram deixados aos cuidados
de dois tutores. Os alunos eram um bando desordenado,
acrescentando labor disciplinar ao já pesado fardo dos deveres
docentes de Edwards. Ele permaneceu ali até 1726, quando
foi chamado insistentemente para subir o rio e servir como
assistente do seu idoso avô, Solomon Stoddard. Edwards foi
empossado ali no dia 15 de fevereiro de 1727, e veio a ser o
único ministro da igreja na paróquia após a morte de Stoddard,
ocorrida em 1729.
Enquanto estava em New Haven, Edwards ajudou a jovem
Sarah Pierrepont, que ele tinha conhecido quando ele tinha
dezesseis anos de idade, e ela só treze. A amizade floresceu
resultando em romance, e os dois se casaram oito anos
mais tarde, em 1727, depois que Edwards se estabeleceu em
Northampton. Posteriormente, Edwards descreveu sua esposa
como um modelo de verdadeira conversão em seu livro, Some
Thoughts Concerning the Present Revival of Religion (1743). Seus
onze filhos foram o princípio de uma grande progênie que
afetou grandemente vida e a história da Nova Inglaterra.
A vida espiritual de Edwards desenvolveu-se por meio
de várias provas e dificuldades. As vezes ele agonizava
perante decisões; às vezes padecia períodos de exaustão,
depressão e grave enfermidade; e muitas vezes ele enfrentou
problemas e desafios no pastorado, como também em sua vida
pessoal e familiar. Como um verdadeiro puritano, Edwards
procurava discernir a mensagem provinda de Deus em cada
acontecimento e melhorar a sua espiritualidade em tudo o que
lhe sucedia, bom ou ruim.
A primeira publicação de Edwards, baseada numa preleção
feita em Boston em 1731, foi intitulada God Glorified in the
Work of Redemption, by the Greatness of Man's Dependence upon
Him in the Whole of It. Ali Edwards falou sobre a fé como “uma
sensibilidade para 0 que é real”, e como uma dependência de
Deus “absoluta e universal”. Três anos depois, seu livro, Divine
and Supernatural Light, Immediately Imparted to the Soul by the

274
Jonathan Edwards

Spirit of God, descreveu a obra da verdadeira regeneração como


produzindo um novo “sentimento do coração... doce e jubiloso
acima de todos os demais”. Esse “novo sentimento”, apreendido
pela fé, viria a ser uma chave para a teologia de Edwards.
Os que ouviam os sermões de Edwards indubitavelmente
os apreciavam, mas Edwards ainda era deixado com 0 problema
de promover piedade numa congregação que parecia estar
caindo numa indiferença espiritual. Para corrigir os erros nos
quais alguns tinham caído nos últimos anos do pastorado de
Stoddard, Edwards focalizou a sua pregação, no início da década
de 1730, nos pecados específicos e comuns. Ele concitava seu
povo a arrepender-se e a abraçar o evangelho pela fé. Esse tema
foi repetido numa série de sermões que Edwards pregou sobre
a justificação pela fé em 1734 - sermões publicados em 1738
como Five Discourses on Important Subjects, 0 que incitou um
significativo despertamento em Northampton. Esses sermões
também deram início ao estágio preparatório para 0 iminente
avivamento conhecido como O Grande Despertamento.
No livro Faithful Narrative of Surprising Conversions,
Edwards descreve que, no inverno de 1734,1735, os jovens
e seus pais reagiram à sua pregação com renovado interesse,
desejando um genuíno exame da sua conduta pública e
privada. Os que visitavam Northampton notavam a mudança
da atmosfera espiritual e voltavam a seus lares levando a
mensagem de Edwards. Nesse meio tempo, independentemente
de Northampton, o Espírito operava o avivamento noutros
lugares também.
Depois de um acalento no fim da década de 1730, Edwards
foi totalmente ocupado com o Grande Despertamento,
que começou em 1740; ele veio a ser um dos mais capazes
instrumentos e defensores do avivamento. Ele pregou
“Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, 1 (Deut. 32:35), em
Enfield, Connecticut, no dia 8 de julho de 1741. A congregação1

1 Já n a q u in ta e d iç ã o e m p o r tu g u ê s , p e la P liS .

275
PAIXAO P E L A PU REZA

comoveu-se profundamente. Uma testemunha escreveu:


“Antes da conclusão do sermão, houve grande lamento e
pranto no auditório. Que devo fazer para ser salvo? Oh, eu
vou para o inferno! Oh, que farei para Cristo?” Edwards pediu
silêncio, mas o tumulto aumentou tanto que Edwards teve
que parar de pregar. Um monumento erguido, comemorando
o sermão, permaneceu de pé até o século vinte no local em
que se situava a casa de reuniões em Enfield (“The Diary of
Stephen Williams”), em Oliver Means, A Sketch of the Strict
Congregation Church of Enfield, Connecticut, [Hartford, 1899].
Edwards trabalhou arduamente para corrigir falsas noções
de piedade. Seu objetivo era duplo: cuidava imensamente do
bem-estar espiritual dasalmasdasuacongregação,equerialivrar
o Despertamento de má reputação. Mas quando proeminentes
líderes da igreja denunciaram o avivamento, Edwards sentiu­
-se compelido a defender a autêntica obra do Espírito nesse
movimento. Em setembro de 1741, Edwards explicou o
avivamento num sermão intitulado The Distinguishing Marks of
a Work of the Spirit of God. Ele insistiu em que cultos da igreja
não tradicionais, movimentos corporais incomuns e estranhas
fantasias entre os aparentemente piedosos não provavam
nem deixavam de provar reivindicaões da graça. Depois de
submeter à prova o avivamento pelas evidências da verdadeira
piedade, que envolviam essencialmente a devoção a Jesus como
Salvador, reverência pelas Escrituras e correta interpretação
delas, Edwards concluiu que 0 avivamento em foco era de fato
obra do Espírito de Deus. Mas advertiu que 0 diabo podia agir
e agiría contra esta obra, usando as imaginações dos homens
para produzir conduta irracional.
Nos fins de 1742, o congregacionalismo da Nova Inglaterra
dividiu-se em dois campos: 0 grupo da “Velha Luz”, contrário
ao Despertamento, e o partido da “Nova Luz”, favorável
ao Despertamento. Os presbiterianos coloniais também
tinham dois modos de pensar sobre o Despertamento. Os
presbiterianos da “Nova Ala” promoviam o Despertamento

276
Jonathan Edwards

contra as objeções dos tradicionalistas da “Velha Ala”. Num


esforço para pacificar a comunidade clerical, Edwards escreveu
Some Thoughts Concerning the Present Revival of Religion,
(1742), esforçando-se em denunciar os extremistas de todos
os lados. Ele até sugeriu que o extraordinário derramamento
do Espírito neste Despertamento poderia estar conduzindo
ao milênio. Empurrando a argumentação de Distinguishing
Marks {A Verdadeira Obra do Espírito Santo} um passo
adiante, ele insistiu em que a verdadeira vida espiritual não
era apenas questão de assentimento intelectual, mas também
uma questão de afeições. “Ora, se essas coisas são entusiasmo”,
escreveu ele, “que o meu cérebro seja sempre possuído por
esse feliz destempero! Se for distração, {então} rogo a Deus
que o mundo dos homens seja agarrado por esta distração
branda, benéfica, beatífica e gloriosa!”
Contudo, os da Velha Luz não foram persuadidos. Charles
Chauncy, um dos maiores oponentes do avivamento, escreveu
Seasonable Thoughts on the State ofReligion in New England, (1743),
denunciando as afeições como paixões carnais e necessariamente
profanas. Em resposta, Edwards publicou o Treatise Concerning
Religious Affections {A Genuína Experiência Espiritual}, (1746),
que fazia distinção entre verdadeira e falsa experiência religiosa.
Por longo tempo e por muitos historiadores, esta tem sido
considerada como sua obra mais influente.
A edição de 1749 do diário de um jovem missionário
chamado David Brainerd foi talvez sua publicação mais
comovente. Brainerd tinha sido expulso de Yale por difamar um
tutor durante o Despertamento. Foi-lhe negada o reingresso,
apesar do apoio de Edwards. Brainerd começou a trabalhar
entre os indios delaware, em New Jersey e na Pennsylvania,
mas a tuberculose o forçou a voltar para casa. Passou seus
dias finais na casa de Edwards, constantemente atendido por
Jerusha, filha de Edwards. A perda desse jovem, que era como
um filho para Edwards, comoveu-o profundamente. Sua obra
Life of Brainerd {A Vida de David Brainerd} foi um tributo

277
PAIXAO P E L A PU REZA

à verdadeira piedade, e também se tornou um modelo para


os missionários.
Nesse ínterim, na parte final da década de 1740, Edwards
envolveu-se em controvérsia sobre quem deveria participar das
ordenanças. Solomon Stoddard tinha ensinado que a Ceia do
Senhor podia ser uma “ordenança que converte”, à qual qual­
quer pessoa batizada deveria ser admitida. Edwards opôs-se
a essa ideia, dizendo que somente pessoas que se declarassem
convertidas e que estivessem produzindo frutos de conversão
em suas vidas deveríam ser recebidas à mesa da Ceia do Senhor.
Como corolário, Edwards dizia que só se deveria administrar
o batismo a filhos de crentes que tivessem feito uma confiável
profissão de fé. Isso era contrário à prática por longo tempo
estabelecida do assim chamado “Pacto do Meio Termo”, uma
forma modificada do esquema concernente aos membros da
igreja e que era usada em algumas igrejas congregacionais
da Nova Inglaterra. Adultos batizados que professavam uma
fé histórica sem declararem-se convertidos e que viviam
retamente, seriam considerados membros da igreja do tipo
“meio termo”, de modo que, portanto, podiam apresentar suas
crianças para o batismo, embora eles próprios não pudessem
participar da Ceia do Senhor nem votar nas questões da igreja.
Um momento de crise foi atingido em 1748, quando
Edwards disse aos interessados que lhes faltava a graça
salvadora necessária para participarem da Ceia do Senhor. Ao
mesmo tempo, Edwards publicou seu livro A« Humble Inquiry
into the Rules of and Qualifications for Communion, que insistia
em que uma conversão genuína dá frutos e é essencial quanto
aos privilégios sacramentais. Muitos moradores da cidade e
ministros fizeram objeção a The Humble Inquiry, concluindo
que Edwards tinha ido longe demais. Quando as objeções se
aliaram a rumores sobre como Edwards estava tratando alguns
jovens e sobre outras complicações que resultaram de vários
casos de disciplina, os membros da igreja de Northampton
votaram por demiti-lo do púlpito de Northampton. Em

278
Jonathan Edwards

seu sermão de despedida pregado em 22 de junho de 1750,


Edwards deu a entender que os casos de disciplina tinham feito
a cidade voltar-se contra ele. Privadamente, porém, ele disse
a um amigo que suspeitava que a real questão era sua recusa
a batizar crianças cujos pais eram membros que não podiam
professar a graça salvadora. Por uma grande maioria, a igreja de
Northampton votou por não mudar suas práticas sacramentais.
No ano seguinte, Edwards deixou Northampton com sua
família, refugiando-se na colônia fronteiriça de Stockbridge,
perto do limite ocidental de Massachusetts, onde serviu como
pastor de uma pequena congregação e como missionário entre
os índios housatonic. Ele aprendeu a acomodar-se bem ao
nível de entendimento dos nativos americanos. Eis aqui um
esboço simples de um sermão pregado para eles sobre Hebreus
11:14-16: “(1) Este mundo é uma aldeia ruim; (2) O céu é uma
aldeia melhor”. Os anos que passou em Stockbridge foram
complicados, porém, pelo irrompimento da guerra entre
franceses e indígenas, a qual chegou à cidade em 1754, quando
vários habitantes foram mortos.
Embora não se tenha concretizado o desejo de Edwards
de testemunhar avivamento entre os índios, de outra
perspectiva esses foram seus anos mais produtivos. Edwards
é frequentemente lembrado por passar treze horas por dia em
estudo. Os leitores modernos podem sentir-se inspirados ou
chocados por esse fato, mas devemos dar-nos conta de que
muitos obreiros daqueles tempos passavam quase igual período
procurando avançar em suas carreiras. Sob tais circunstâncias,
Edwards deveria parecer-nos diligente e fiel à sua vocação, não
demasiadamente entregue ao estudo ou sem equilíbrio no uso
do tempo. Dessas longas horas no escritório, e especialmente do
período de relativa isolação em Stockbridge, veio um imenso
corpo de escritos de Edwards. Sua maior realização literária
nesse período foi Freedom of the Will, (1754), na qual Edwards
argumenta que só a pessoa regenerada pode verdadeiramente
escolher o Deus transcendente; que essa escolha só pode

279
PAIXAO P E L A PU R EZA

ser feita mediante uma disposição que Deus infunde na


regeneração. Com isso, Edwards rejeitou o materialismo dos
filósofos britânicos junto com o utilitarismo dos defensores
do livre-arbítrio. Logicamente, Edwards consegue fazer do
arminianismo uma impossibilidade. Outras obras importantes
terminadas durante o seu período em Stockbridge incluem
Concerning the End for which God Created the World e The Nature
of True Virtue, (ambas publicadas postumamente, em 1765), e
The Great Christian Doctrine of Original Sin, (1758) - um tour de
force2 contra 0 pelagianismo.
Em 1758, Edwards concordou em tornar-se presidente do
College de New Jersey, em Princeton. Nesse mês de janeiro ele
deixou sua família tão “afetuosamente como se não fosse voltar
mais”, escreveu uma de suas filhas; quando ele partiu, voltou­
-se para sua esposa e disse: “Entrego você a Deus” (Karlson
and Crumpacker, editores, The Diary of Esther Edwards Bun:
1754-1757, 1984, p. 302).
Edwards pregou seu sermão inaugural em Princeton
sobre Hebreus 13:8: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje,
e eternamente”. O sermão durou duas horas e teve grande
impacto sobre os seus ouvintes. Enquanto esteve em Princeton,
Edwards esperava completar dois importantes tratados, um
mostrando a harmonia entre o Velho Testamento e o Novo, e o
outro, um muito extenso tratado sobre The History of the Work
of Redemption. Contudo, Edward não viveu para completar
essas obras. No dia 22 de março de 1758, depois de apenas
alguns meses em Princeton, ele morreu de complicações de
uma vacinação contra varíola.
O efeito da profundidade teológica deste gigante espiritual
sobre 0 cristianismo da Nova Inglaterra tem sido imenso e tem
sido debatido frequentemente. Alguns dizem que Edwards
proveu o ímpeto suficiente para mover a Nova Inglaterra
para além do pensamento dos seus fundadores. Nesse sentido,

2 G o lp e fo rtíssim o . E m fra n c ê s n o o rig in a l. N o ta d o trad u to r.

280
Jonathan Edwards

Edwards foi um verdadeiro filósofo. Outros dizem que Edwards


foi o último representante da teologia e do pensamento
puritanos no Novo Mundo, onde mais tarde o puritanismo
seria desdenhado. Um terceiro grupo acha pequenos erros em
Edwards e em sua teologia, mas acusa os seus seguidores de se
desviarem das verdades que inspiraram Edwards. Enquanto
Edwards, pessoalmente, salientava o viver piedoso, alguns dos
seus sucessores abriram mão da base bíblicamente reformada
que dava suporte a essa piedade, em sua tentativa de adotar
os conceitos e os métodos mais especulativos de Edwards.
Isso, por sua vez, fomentou um declínio tanto do calvinismo
doutrinário como do experimental na Nova Inglaterra. Este
grupo sustenta que Edwards foi um teólogo-filósofo cuja visão
morreu com ele, mas certamente isso não é verdade. A visão de
Edwards teve continuidade em Princeton e em muitos outros
lugares, e estava vivo no Segundo Grande Despertamento.
Talvez a mais acurada avaliação de Edwards seja uma
combinação de várias opiniões. Edwards foi um teólogo
profundo, como os leitores de The End for Which God Created
the World, podem atestar. Edwards foi também um ministro
com grande sensibilidade - considere 0 leitor sua obra
Religious Affections. A erudição recente tem focalizado a
metafísica de Edwards, evidenciando primariamente os seus
escritos filosóficos e científicos (e.g., a obra de Sang Hyun
Lee intitulada The Philophical Theology of Jonathan Edwards,
[2000] e a de Paul Helm, Jonathan Edwards: Philosophical
Theologian, [2003J. Seja qual for a opinião sustentada, todos
concordam que os seus escritos, específicamente os seus
sermões, são proveitosos espécimes de um dos melhores e
últimos puritanos.

The Works of Jonathan Edwards (BTT; 2 volumes; 1900


páginas; 1974). Esta é a edição padrão de consulta para pastores

281
Jonathan Edwards

e leigos, embora eruditos especializados prefiram a edição de


Yale, iniciada pelo trabalho de Perry Miller na década de 1950
(ver abaixo). A edição de Hickman, baseada na qual a edição
da BTT foi impressa, contém a maior parte dos escritos de
Edwards publicados. O primeiro volume nos traz: “Freedom
of Will”, “Original Sin Defended”, “Religious Affections”,
“Narrative of Surprising Conversions”, “Thoughts on the
Revival of Religion in New England”, “Qualfications for
Communion”, “History of the Work of Redemption”, “Five
Discourses on the Soul’s Eternal Salvation”, alguns tratados
menores, e uma biografia de 230 páginas de Edwards. O
segundo volume contém “ Life and Death of David Brainerd”
{Vida de David Brainerd}, várias dúzias de sermões e algumas
obras teológicas mais curtas.

The Works of Jonathan Edwards (Yale; 23 volumes no


presente; 1957). Perry Miller (1905-1963), historiador e
erudito literário, apresentou a Edição de Yale de The Works
of Jonathan Edwards em 1953, depois de examinar todos os
manuscritos de Edwards. Ele quería oferecer uma coleção
que pudesse fomentar mais investigação da mente deste gênio
do século dezoito. Tanto os eruditos conservadores como os
liberais continuam a reconhecer sua dívida a Miller, pois vêm a
público centenas de manuscritos que de outro modo poderíam
ter permanecido nos arquivos da Universidade de Yale.
Cada volume da série da edição de Yale tem sido editado
completamente por eruditos, e cada um inclui, em média, 35 a 150
páginas de introdução. Esta série é essencial para os aspirantes
a especialistas em Edwards. Os interessados em ler Edwards
visando benefício de natureza devocional fariam melhor em
adquirir a edição de dois volumes das suas obras Works, BTT,
visto que os volumes da edição de Yale são muito caros.
Presentemente, vinte e três dos vinte e oito volumes
projetados foram publicados. Eis um sumário do conjunto,
volume por volume, adaptado das descrições da edição de Yale:

282
Jonathan Edwards

1. Freedom of the Will (494 páginas; 1957,


1985), editado por Paul Ramsey (ver abaixo).

2. Religious Affections (526 páginas; 1957,


1987), editado por John E. Smith (ver abaixo).

3. Original Sin {Pecado Original), (448


páginas; 1970), editado por Clyde A. Holbrook.
A controvérsia sobre a depravação humana
que se travou durante o século dezoito foi uma
fase importante do entendimento filosófico da
América sobre a natureza humana e seu potencial.
Ao defender a odiada doutrina do pecado original,
Edwards combateu uma heresia que já havia
envolvido grande parte da Europa e agora estava
ameaçando a América. O iluminismo, saudado
como a maior realização do homem, tinha quase
erradicado a noção do pecado original.
O tratado de John Taylor, talvez 0 ataque mais
impressionante à doutrina do pecado original,
preocupou Edwards durante os anos que ele viveu
em Stockbridge. Por último, ele escreveu esta
refutação a Taylor, focalizando três pontos de maior
importância: o fato e a natureza do pecado original,
sua causa e sua transmissão, e a responsabilidade
de Deus pela pecaminosidade da humanidade.
Publicado pela primeira vez em 1758, 0 livro
The Great Christian Doctrine of Original Sin Defended
passou por ao menos treze edições e posteriormente
foi incluído em todas as coleções das obras de
Edwards. O texto da primeira edição foi adaptado
para os padrões da série de Yale no sentido de fazer
uso de todos os materiais relevantes. A introdução
e as anotações de Holbrook provêm informação
detalhada sobre as fontes, o desenvolvimento e a
recepção da obra.

283
PAIXAO PHLA PU R EZA

4. The Great Awakening (595 páginas; 1972),


editado por C. C. Goen. Estes escritos sobre o
Grande Despertamento definiram teologicamente
a tradição dos avivamentos na América. Passando
das descrições da “surpreendente obra de Deus”
na conversão para a busca da essência da religião
verdadeira, Edwards segue seu caminho através
das crescentes controvérsias sobre “erros na
doutrina e desordens na prática” . Ele procura
o cerne autêntico da experiência evangélica, e
depois o examina à luz da fé bíblica e da percepção
experimental para defendê-lo contra os zelotes
passionais e contra os críticos racionalistas. Seus
escritos (com correspondência relacionada),
apresentados aqui pela primeira vez num acurado
texto crítico, documentam um movimento tão
significativo que tem sido chamado “conversão
nacional”.
Na introdução, Goen explica a ameaça
arminiana à qual Edwards respondeu no princípio
do Despertamento, e delineia o entendimento de
Edwards sobre a religião vital como desenvolvida
no contexto do avivamento. Ademais, Goen
derrama luz sobre aspectos pouco conhecidos de
“A Faithful Narrative” e descreve a maneira casual
pela qual a obra alcançou seu auditório.

5. Apocaliptic Writings (501 páginas; 1977),


editado por Stephen J. Stein. Este é o primeiro texto
publicado do comentário privado de Edwards sobre
0 livro do Apocalipse. Escrito durante um período
de trinta e cinco anos, o livro de anotações de
Edwards revela seu fascínio, em toda a sua vida, pela
especulação apocalíptica (inclusive seus aspectos
bizarros), e sua convicção acerca da utilidade das

284
Jonathan Edwards

visões apocalípticas na vida da Igreja. Não é de


admirar, então, que Edwards visse o afundamento
de varios navios espanhóis no Atlántico como
prenúncio da morte do anticristo papal.
Este volume contém também a primeira edição
completa, desde 0 século dezoito, de “Humble
Attempt” (1748), que foi a resposta de Edwards
ao declínio do fervor religioso depois do Grande
Despertamento. Em sua introdução e comentário,
Stein examina o desenvolvimento do interesse
apocalíptico de Edwards pelos acontecimentos
do seu tempo, mostrando como as conjecturas
particulares de Edwards sobre o livro do Apocalipse
afetaram a sua atividade pastoral e teológica. Os
textos e a introdução apresentam uma faceta muito
ignorada do pensamento de Edwards.

6. Scientific and Philosophical Writings (433


páginas; 1980), editado por Wallace E. Anderson.
Este volume contém dois livros de anotações de
Edwards intitulados “Natural Philosophy” e “The
Mind”, bem como diversos manuscritos mais
curtos sobre ciência e filosofia. Vários dos ensaios
mais curtos não foram publicados previamente,
sendo de notar em especial a carta de Edwards sobre
a aranha voadora, um ensaio sobre raios de luz e
um breve mas importante conjunto de anotações
filosóficas escritas perto do fim da sua vida.
Cada obra importante deste volume e cada
grupo de escritos relacionados são precedidos
por uma detalhada discussão de fontes e datas
dos originais. Anderson faz desses dados a base
para uma revisão da cronologia dos primeiros
escritos de Edwards, e de uma investigação mais
profunda do seu contexto biográfico e histórico.

285
PAIXAO P E L A PUREZA

Também estão incluídas uma nova apreciação dos


esforços e realizações de Edwards na esfera da
ciência, e uma análise do desenvolvimento de suas
idéias filosóficas. Anderson conclui que Edwards
era um entusiástico, embora não especializado,
investigador ligado à tradição newtoniana e tinha
apego aos importantes problemas metafísicos
levantados por essa tradição. Os ensaios revelam
a mente fértil de Edwards que lhe granjeou
reconhecimento como o principal teólogo-filósofo
do século dezoito.

7. The Life of David Brainerd (620 páginas;


1985), editado por Norman Pettit (ver abaixo).

8. Ethical Writings (791 páginas; 1989),


editado por Paul Ramsey. Nesta compreensiva
obra teológica e filosófica, Ramsey inclui os dois
principais escritos éticos de Edwards. A série de
sermões que Edwards pregou em 1738, conhecida
como “Charity and Its Fruits” e “Two Dissertations:
I. Concerning the End for Which God Created the
World; II. “On the Nature of True Virtue”, dá-nos
os princípios das reflexões éticas de Edwards.

9. A History of the Work of Redemption (594


páginas; 1989), livro editado por John F. Wilson.
Em 1739, Edwards pregou uma série de trinta
sermões baseados em Isaías 51:8. Ele tencionava
desenvolvê-los produzindo um livro maior para
explicar a obra divina de redenção progressiva do
mundo. Este texto moderno, credenciado, desses
sermões baseia-se numa nova transcrição dos
opúsculos de pregações de Edwards.
O primeiro sermão trata da doutrina e do

286
Jonathan Edwards

desígnio da obra de redenção. Os onze próximos


sermões mostram que a obra divina de redenção foi
se tornando crescentemente clara no transcurso da
era do Velho Testamento. Os sermões 13 a 17 traçam
a redenção na vida e no ministério de Cristo, e os
três próximos sermões seguem a redenção através
do resto da era do Novo Testamento. Os sermões
21 a 25 mostram a obra redentora de Deus através
da história da Igreja, de Constantino aos dias de
Edwards, focalizando as batalhas de Cristo contra
o anticristo. Os sermões 26 a 29 apresentam as
idéias escatológicas de Edwards a respeito do que
vai acontecer até a queda do anticristo. O sermão
de conclusão focaliza o caráter de Deus, a felicidade
da Igreja e a miséria dos ímpios. A obra como um
todo é um reminiscência do livro de Agostinho,
City of God.

10. Sermons and Discourses 1220-1223, (670


páginas, 1992), obra editada por Wilson Η.
Kimmach. Esta obra contém os textos completos de
vinte e três sermões pregados por Edwards durante
os primeiros anos de sua carreira. Os sermões, não
publicados previamente, revelam um dos períodos
menos explorados da sua vida e do seu pensamento.
Estes originais plenamente anotados incluem um
prefácio do editor, que combina nova informação
com leituras recentes de textos relacionados. Os
sermões cobrem tópicos como a escravidão do
homem sob o pecado, pobreza de espirito, e a
necessidade de verdadeiro arrependimento, como
também a felicidade cristã, a santidade cristã e a
liberdade cristã.1

11. Typological Writings (349 páginas; 1993),

287
PAIXAO P E L A PU R EZA

obra editada por Wallace E. Anderson e Mason


L. Lowance, Jr. Este volume apresenta um texto
compreensivo, interessante e comentado das
anotações de Edwards intitulado “Images of
Divine Things”, “Types Notebook” e “Types of
the Messiah” (n° 1069 de “Miscellanies” ). Essas
obras mostram como Edwards desenvolveu sua
teoria de exegese tipológica. Essa teoria o ajudou a
entender a relação entre a Bíblia Hebraica e o Novo
Testamento, como também a correspondência
entre o mundo natural e o espiritual.
As teorias de Edwards sobre tipologia têm
exercido fascínio sobre eruditos de uma variedade
de campos. Estes documentos mostram claramente
a epistemología de Edwards e seu envolvimento nas
tendências exegéticas e filosóficas contemporâneas.
As introduções dos documentos explicam a
tipologia de Edwards dentro do contexto do
seu período e esclarecem alguns dos problemas
ocasionados pelo uso que ele fez dos tipos através
de toda a sua carreira. Eles discutem também as
suas defesas filosóficas dos tipos contra as alegações
dos materialistas, dos deístas e dos racionalistas.

12. Ecclesiastical Writings (596 páginas;


1994), editado por David D. Hall. Este volume
inclui quatro documentos de Edwards sobre a
natureza da Igreja. Eles mostram seus conceitos
sobre eclesiologia, autonomia congregacional,
ordenação, admissão de pessoas como membros
de igreja, e as ordenanças. O primeiro documento,
aqui reimpresso pela primeira vez desde o século
dezoito, é a defesa de colegas do ministério do
Condado de Hampshire na controvérsia com
Robert Breck de 1735,1736.

288
Jonathan Edwards

Os outros três documentos relatam os


esforços de Edwards para restringir a admissão
aos sacramentos em Northampton em 1749,1750.
Esses atos finalmente levaram à sua demissão
como 0 pastor. “An Humble Inquiry” explica os
motivos de Edwards para refutar a política de
franca admissão seguida por seu avô e predeces-
sor, Solomon Stoddard. “Misrepresentations
Corrected” é a resposta de Edwards às críticas do
seu primo Solomon Williams a Humble Inquiry.
A terceira obra é uma narrativa de Edwards, sem
título, anteriormente só disponível na edição
de 1829, de Sereno Dwight. Apresenta detalhes
sobre o conflito final com a sua congregação em
Northampton.
A introdução, feita por Hall, coloca estes
escritos em seu contexto histórico e teológico,
chamando a atenção para a herança congregacional,
puritana, de Edwards, e as tensões entre a piedade
clerical e a piedade laica. Também reavalia a relação
de Edwards com Stoddard à luz da experiência de
Edwards durante e após o Grande Despertamento.

13. The Miscellanies a-500 (596 páginas; 1994),


livro editado por Thomas A. Schafer. Esta é a
primeira coleção publicada dos livros de anotações
teológicas de Edwards, intitulada “Miscellanies”
ou “livros de generalidades” . No transcurso de
sua carreira ministerial, Edwards encheu cadernos
particulares de anotações com escritos sobre uma
variedade de tópicos teológicos, enumerando em
sequência os seus verbetes - uns 1.360 deles. Os
textos dos verbetes do volume 13 foram escritos
durante os primeiros anos do ministério de
Edwards (1722-1731) e cobrem uma variedade de

289
PAIXAO P E L A PU R EZA

assuntos. Eles revelam os pensamentos iniciais de


Edwards sobre tópicos tais como pecado original,
livre-arbítrio, a Trindade, e o propósito de Deus na
criação. Muitos verbetes cobrem também assuntos
não incluídos no corpo maior dos escritos de
Edwards publicados. Este volume inclui o índice
de Edwards de todo o conteúdo de “Miscellanies” .
Isso o torna um documento teológico valioso
por mostrar a relação existente entre os vários
componentes do sistema teológico de Edwards.
A introdução do editor inclui um ensaio
interligando o grande número de verbetes de
Edwards e os principais acontecimentos em sua
vida e carreira. Essa introdução mostra que, mesmo
antes do seu trabalho como tutor em Yale em
1724, Edwards tinha desenvolvido certas posições
e princípios distintivos fundamentais da sua
teologia. A introdução conclui com uma explicação
da metodologia utilizada para estabelecer a ordem
cronológica de “Miscellanies” . As conclusões
dessa pesquisa são sumariadas num roteiro que
marca a ordem dos itens da miscelânea de “a para
500”, como também dos sermões, ensaios e outros
manuscritos que Edwards produziu antes de 1731.

14. Sermons and Discourses 1723-1729, (575


páginas; 1996), editado por Kenneth E Minkema.
Este livro inclui sermões manuscritos, não
previamente publicados, de um período crucial
da vida de Edwards - os anos decorridos entre a
data em que ele completou seu mestrado em Yale
College e a morte de Solomon Stoddard. Estes
sermões mostram o desenvolvimento intelectual
e profissional do jovem Edwards durante seu
pasturado em Bolton, Connecticut; seu trabalho

290
Jonathan Edwards

como tutor em Yale; e sua obra em Northampton.


Os sermões cobrem temas como o caráter agradável
da religião, a nobreza mental, ouvindo a Palavra
proveitosamente, a tríplice obra do Espírito Santo,
e os tormentos do inferno.
Em sua introdução, Minkema conecta os
detalhes do início da carreira de Edwards com os
interesses expressos em seus sermões. Ele mostra
como Edwards lidou com os interesses locais e
provinciais, como também com os grandes debates
teológicos do seu tempo. Mostra também como
Edwards lutou para efetuar seu inovador conceito
de “excelência” e para desenvolver sua definição
de conversão como “ luz espiritual”.

15. Notes on Scripture (674 páginas; 1998),


livro editado por Stephen J. Stein. Esta é a
primeira edição completa dos livros particulares
de anotações sobre as Escrituras que Edwards
compilou no período de quase trinta e cinco anos.
O livro Notes on Scripture confirma a centralidade
da Bíblia no pensamento de Edwards. Ele equilibra
os primeiros escritos que apareceram para enfatizar
elementos científicos e filosóficos enquanto
negligenciava o exame das Escrituras. Nesta edição
crítica, os verbetes aparecem na ordem em que
Edwards escreveu sobre eles, começando com um
breve comentário sobre Gênesis 2:10-14 que ele
escreveu em 1724, e terminando com seu último
verbete (sobre Cantares de Salomão), escrito dois
anos antes de sua morte.
Os verbetes de Edwards cobrem a Bíblia toda,
revelando sua criatividade na interpretação do
texto e seu fascínio pela tipologia. As anotações
documentam igualmente a relação de Edwards

291
PAIXAO P E L A PU R EZA

com as tendências intelectuais do seu tempo,


particularmentesuareaçãoaodesafiodoiluminismo
quanto à revelação bíblica. A introdução de Stein
revela Edwards como um verdadeiro exegeta do
comentário bíblico no mundo do pensamento
ocidental do século dezoito.

16. Letters and Personal Writings (854 páginas;


1998), obra editada por George S. Claghorn.
Este volume contém todas as cartas de Edwards
juntamente com seus escritos pessoais. Durante
mais de três décadas, Claghorn percorreu a
América, a Grã-Bretanha e a Escócia em busca
destas cartas e documentos. O resultado é um
fascinante compêndio de 235 cartas, inclusive 116
nunca antes publicadas ou reimpressas desde a
morte de Edwards, e quatro textos autobiográficos
- uma meditação de Edwards “On Sarah Pierpont”,
sua futura esposa; “Diary” ; “Resolutions” ; e
“Personal Narrative” .
Esses escritos revelam o lado privado de
Edwards: suas relações com os pais, irmãos e irmãs,
colegas de escola, amigos, parentes, bem como o
intercâmbio com líderes educacionais, religiosos
e políticos do seu tempo. Estão incluídas cartas
que ele escreveu para Samuel Hopkins, Benjamin
Colman, George Whitefield, Isaac Chauncy, Joseph
Bellamy, Thomas Clap, Thomas Gillespie, John
Brainerd, Thomas Foxcroft, Timothy Dwight,
e Aaron Burr. Os novos documentos incluem a
única declaração conhecida de Edwards sobre a
escravatura, como também cartas que mostram o
interesse de Edwards pelos nativos americanos e
seus esforços pelo bem-estar deles.

292
Jonathan Edwards

17. Sermons and Discourses, 1730-1733, (480


páginas, 1999), obra editada por Mark Valeri.
Quando se tornou pastor da igreja de Northampton,
Edwards dirigiu sua atenção para as atividades
religiosas e sociais da sua congregação, modelando
sua pregação pelas ocorrências práticas, diárias,
nas vidas dos seus congregados. Este volume
contém dezoito sermões que Edwards pregou em
Northampton de 1730 a 1733, incluindo clássicos
como “God Glorified in Man’s Dependence” e “A
Divine and Supernatural Light”, ao lado de muitos
sermões não publicados anteriormente.
Os sermões mostram o desenvolvimento de
Edwards como pregador e como teólogo. Eles
provêm percepções únicas no desenvolvimento
de temas que um dia chegariam a um maduro
pensamento teológico, temas como a malignidade
da vida dos não regenerados, a importância da
auto-humilhação evangélica como um exercício
religioso, e a necessidade de uma genuína conversão
do mundanismo para a piedade.

18. The Miscellanies, 501-832, (578 páginas;


2000), obra editada por Ava Chamberlain. Este
livro, 0 segundo dos quatro livros dedicados a
“Miscellanies”, contém seus verbetes de julho de
1731 a aproximadamente janeiro de 1740, vésperas
do Grande Despertamento. Eles registram pensa-
mentos de Edwards que lhe ocorreram quando
defendia o calvinismo ortodoxo, desempenhava
um papel de liderança na política da Igreja colonial,
e se tornou um lutador incansável pelo avivamento
no vale do rio Connecticut de 1734 e 1735.
Edward usou “Miscellanies” para anotar idéias
que tinha a intenção de desenvolver em futuros

293
PAIXAO P E L A PU R EZA

sermões e tratados. Assim é que estes verbetes


contêm as sementes de obras contemporâneas
como Justification by Faith Alone e The History of the
Work of Redemption. Eles mostram também como
os avivamentos ocorridos no vale do Conecticut
influenciaram os pensamentos de Edwards em
tópicos importantes como a perseverança, a
natureza do conhecimento espiritual, a justificação
pela fé, a racionalidade da religião cristã, a história
da redenção, a conversão, e a vida religiosa.

19. Sermons and Discourses, 1734-1738, (849


páginas; 2001), tomo editado por Ava Chamberlain.
De acordo com Chamberlain, Edwards dominou
seu estilo e conteúdo da pregação entre 1734
e 1738, enquanto experimentava 0 primeiro
avivamento do seu ministério e seus resultados.
Edwards proferiu, provavelmente, quatrocentos
sermões e preleções durante esse tempo. Menos
da metade deles sobreviveram, mas os que temos
cobrem várias doutrinas teológicas, vida pastoral,
conversão, e, no devido tempo, declínio. Este
volume inclui também o relato feito por Edwards do
avivamento de Northampton, A Faithful Narrative
of the Surprising Work of God, publicado em 1737
em Londres e em Edimburgo. Dentro de um ano,
a obra foi reimpressa, lançada em Boston em três
impressões, e traduzida para o alemão. Einalmente,
este volume inclui também os Discourses on Various
Important Subjects, de Edwards, baseados em cinco
sermões acerca do Despertamento.

20. The Miscellanies, 833-1152, (592 páginas;


2002), obra editada por Amy Plantinga Pauw.
São verbetes das anotações que Edwards escreveu

294
Jonathan Edwards

durante os tumultuados anos de 1740 a 1751.


Durante esse período, Edwards liderou sua
congregação através do Grande Despertamento,
o qual resultou numa série de controvérsias com
sua congregação de Northampton, que finalmente
levaram à sua demissão.

21. Writings on the Trinity, Grace and Faith (592


páginas; 2003), obra editada por Sang Hyun Lee.
Nesta coleção de escritos extraídos de seus ensaios
e dos seus livros de anotações temáticos, Edwards
trata das doutrinas cristãs essenciais. O volume
inclui tratados há muito estabelecidos de Edwards,
recentemente editados com base nos manuscritos
originais, como também vários documentos
menores nunca publicados anteriormente; nalguns
casos, esses documentos revelam novos aspectos da
sua teologia que ainda precisam ser estudados.

22. Sermons and Discourses, 1739-1742, (608


páginas; 2003), obra editada por Harry S. Stout,
Nathan O. Hatch e Kyle P Farley. Os sermões e
discursos que há neste volume, pregados de 1739
a 1742, mapeiam o começo e o declínio do Grande
Despertamento ocorrido em Northampton e
em outras localidades. Vários sermões incluídos
neste volume nunca tinham sido impressos antes;
também, a transcrição do manuscrito original
de “ Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” é
reproduzido pela primeira vez, junto com o texto
de sua primeira edição impressa.

23. The Miscellanies, 1153-1360, (776 páginas;


2004), obra editada por Douglas A. Sweeney. Este
quarto e último volume de compilações cobre os

295
PAIXAO PELA PUREZA

anos finais de Edwards, de 1751 a 1758, período


no qual Edwards enfrentou o desafio de ministrar
na missão indígena de Stockbridge e a transição
para a presidência exercida em Princeton. Nestes
verbetes, Edwards responde ao naturalismo
moderno e ao iluminismo, mostrando-nos como
tornar a razão subserviente às Escrituras.

Altogether Lovely: Jonathan Edwards on the Glory and


Excellency of Jesus Christ (SDG; 231 páginas; 1998). Estes
sermões, coletados da Works de Edwards, focalizam a beleza
e a excelência de Cristo. São reconfortantes e inspiradores.
Incluem “God the Best Portion of the Christian”, “The
Excellency of Jesus Christ”, “Christ Exalted”, e “Praise, One
of the ChiefEmployments of Heaven”.

*The Blessing of God, editado por Michael D. McMullen


(B&H; 390 páginas; 2003). Este volume consiste de vinte e
dois sermões não publicados anteriormente, transcritos de
uma coleção de ensaios de Edwards mantida na Beinecke
Rare Book Room and Manuscript Library of Yale University.
Eles cobrem uma ampla gama de tópicos como confessando
e abandonado o pecado, deleitando-nos em exaltar Deus,
conhecendo o Redentor, conversão verdadeira, e o modo
como se recebe a bênção de Deus. Um sermão extraordinário
é intitulado, “ In True Conversion Men’s Bodies Are in Some
Respect Changed as Well as Their Souls”.

A Call to United, Extraordinary Prayer (CEP; 165 páginas;


2003). Historicamente, esta pequena brochura comprovou­
-se um livro muito importante. Foi publicado pela primeira
vez por Edwards em 1747 como An Humble Attempt to promote
an explicit agreement and visible union of God's people through
the world, in extraordinary prayer, for the revival of religion and
the advancement of Christ's kingdom on earth. Edwards dissc

296
Jonathan Edtvards

que foi motivado a escrever sobre “um esforço comum em


oração” por duas razões: primeiro, ele compreendeu que os
avivamentos de meados da década de 1730 e do início da
de 1740 não se repetiríam enquanto o povo de Deus não se
engajasse em fervorosa oração por avivamento. Segundo, ele
quis providenciar um suporte teológico adicional para um
documento chamado simplesmente Memorial, escrito por
alguns pastores escoceses.
Num proveitoso prefácio, David Bryant nos conta a
história do Memorial: “Como resultado do surgimento de
muitas sociedades de oração funcionando na Escócia em 1740,
especialmente entre os jovens, em 1744 um comitê de ministros
determinou que era tempo de fazer mais. Eles decidiram tentar
uma “experiência” de dois anos: unir todos os grupos de oração
e todos os cristãos que oravam em sua nação numa estratégia
comum de oração. Eles solicitaram que se focalizasse a oração
por avivamento todo sábado à noite e todo domingo de manhã,
como também na primeira terça-feira de cada trimestre. Por
volta de 1746 eles se sentiram tão gratificados pelo impacto
da sua experiência que compuseram um chamado à oração
à Igreja do mundo inteiro, principalmente das colônias.
Contudo, desta vez o “esforço comum em oração” deveria ser
por sete anos” (Memorial, pp. 16,17).
Citando Zacarias 8:20-22, Edwards diz que as ricas
promessas de Deus animam-nos a esperar grande sucesso
da oração coletiva: “Aquilo que Deus faz, abundantemente,
assunto de Suas promessas, o povo de Deus deve fazer,
abundantemente, assunto de suas orações”. Ele conclui que
quando os crentes perseveram em oração unida, esforçando-se
nela, Deus concede um novo avivamento, o qual “se propagará,
até que o despertamento alcance os que se acham nas mais altas
posições, e até que todas as nações sejam despertadas” (p. 18).
O livro de Edwards teve limitada influência durante a sua
vida. Republicado nos fins do século dezoito na Inglaterra,
influenciou William Carey (1761-1834) e seu grupo de

297
PAIXAO P E L A PUREZA

oração. Também afetou John Sutclif (1752-1814), conhecido


pastor batista em Olney, que dirigia reuniões de oração
semanais por avivamento nas igrejas batistas da Associação
de Northamptonshire, à qual a sua igreja pertencia. Essas
reuniões de oração se espalharam por todas as Ilhas Britânicas,
impactando particularmente avivamentos no século dezoito
em Gales. Heman Humphrey escreve em seu livro, Revival
Sketches and Manual: “Um dos mais importantes avivamentos
da religião, considerados os efeitos, é o que ocorreu no
“Principado de Gales”, sob Howell Harris e Daniel Rowlands;
e este foi levado adiante e fomentado por meio de sociedades
privadas que promoviam a oração e conferências religiosas”
(pp. 55,56). No fim, dezenas de milhares foram convertidas
em toda a Grã-Bretanha da década de 1790 à de 1840 - (Erroll
Hulse, Give Him No Rest: A call to prayer for revival, pp. 78,79).
Um tratado de Edwards tornou-se um importante
manifesto em prol do Segundo Grande Despertamento por
volta do início do século dezenove. Também alimentou outros
despertamentos na parte final da década de 1850. O livro
de Samuel Prime, The Power of Prayer, explica que a oração
coletiva introduziu o famoso avivamento de 1857-1859 (às
vezes chamado Terceiro Grande Despertamento) que ocorreu
ao longo da costa leste dos Estados Unidos e que depois se
espalhou para o oeste, resultando na conversão de centenas de
milhares de pessoas.
Em suma, 0 livro de Edwards é um poderoso chamado à
oração conjunta pela Igreja espelhada pelo mundo. Podería
ter extraordinário efeito, se os membros da Igreja juntos o
examinassem e pusessem em prática as suas sugestões, na
dependência do Espírito.

*Charity and Its Fruits (BTT; 368 páginas; 1988).


Originalmente pregados em Northampton em 1738, estes
dezesseis sermões sobre 1 Corintios, capítulo 13, foram
preparados para publicação por Edwards. Não foram

298
Jonathan hdwards

publicados até 1851, porém, e então sob a direção editorial


do bisneto de Hdwards, Tryon Hdwards. Jonathan Edwards
pregou estes sermões entre os avivamentos de 1734 e 1740,
logo depois de uma série sobre as virgens prudentes e as
néscias. Para Edwards, o princípio bíblico do texto da série
era claro: “Por seus frutos os conhecereis” . Edwards mostra
a natureza e a virtude do amor como a marca distintiva do
verdadeiro cristão - amor que se manifesta em preferir os
outros a si próprio. Em todo o curso do sermão ele navega
habilidosamente entre o arminianismo e o antinomismo. A
série conclui com um dos sermões mais populares de Edwards,
“Heaven is a World of Love”, que tem sido chamado o mais
belo de todos os seus escritos.
Embora um tanto repetitiva, esta obra está entre os
melhores escritos práticos de Edwards. Richard Alien disse
que Edwards se repetia tantas vezes porque estava “ batendo
em portas fechadas”.

*Day by Day with Jonathan Edwards , editado por Randall J.


Pederson (HP; 398 páginas; 2005). Salientando 365 reflexões
que fazem pensar, acompanhadas por passagens das Escrituras,
esta coleção oferece aos leitores uma porção diária de penetrante
discernimento e ponderado encorajamento procedente dos
escritos de Edwards. Este livro serve tanto como introdução
ao pensamento de Edwards como um vislumbre de um
coração consumido de paixão pela glória de Deus. Inclui uma
introdução sobre a vida e o ministério de Edwards.

*Devotions from the Pen of Jonathan Edwards (SDG.; 120


páginas; 2003). Compilado primeiramente por Ralph G.
Turnbull e publicado em 1959 como Devotions of Jonathan
Edwards, esta reimpressão ampliada inclui 120 excertos dos
escritos de Edwards. Notas no fim de cada seção informam
ao leitor de onde foram tomadas as leituras. O propósito deste
pequeno livro é “ fazer o povo ler Jonathan Edwards”, diz Don

299
I’AIXAO P E L A PUREZA

Kistler no prefácio. A única fraqueza deste livro é que só inclui


leituras diárias para quatro meses, e não para um ano completo.

The Freedom of the Will (SDG; 325 páginas; 1998). Muitos


eruditos acreditam que esta obra, publicada em 1754, é a mais
importante refutação do arminianismo publicado na América.
Freedom of the Will divide-se em quatro partes. A primeira
trata da terminologia; da natureza e determinação da vontade;
do sentido da necessidade, impossibilidade e contingência;
da distinção entre necessidade natural e moral; e da natureza
da agência moral e da liberdade. A segunda considera a
possibilidade da autodeterminação. A terceira analisa a agência
divina quanto aos seres humanos e ao mundo. Na conclusão,
Edwards antecipa a acolhida que a obra teria.
Digno de nota é o acordo essencial de Edwards com o
empirista John Locke em que a questão sobre se a vontade era
“livre” ou não estava mal colocada; a questão real, disse ele,
é se a pessoa é livre. Contudo, a maior parte da obra trata da
liberdade da vontade (em contraste com a liberdade da pessoa
completa) no sentido de procurar refutar a noção arminiana
da vontade. Para Edwards, os erros dos arminianos resultaram
essencialmente da negação da absoluta soberania de Deus; em
contraste com a ortodoxia calvinista, os arminianos insistiam
em que as causas secundárias podem operar no indivíduo
à parte da influência da vontade divina. Essa noção da
liberdade da vontade tinha raízes pelagianas, o que Edwards
corretamente denunciou. Além disso, a recusa dos arminianos
em reconhecer a corrupção total do indivíduo promovia
mais erros. A vontade não pode ser livre como os arminianos
gostariam que fosse, Edwards argumentava, pois a verdadeira
liberdade só pode pertencer a Deus, que é auto-sustentador e,
portanto, livre de outras influências.

*The Glory and Honor of God (B&H; 387 páginas; 2004). Este
é o segundo volume de uma série de sermões não publicados

300
Jonathan Hdioards

de Jonathan Edwards, todos adquiridos da Beinecke Rare


Book Room and Manuscript Library of Yale University. Há
nele vinte sermões: “That Wicked Men’s Sins Lie at Their
Door”, (Gên. 4:7); “The Glory and Honor of God Requires
That His Displeasure Be Manifested Against Sin”, (Núm.
14:21); “’Tis a Blessed Thing to Some Persons That God Is
to Be Their Judge”, (Sal. 7:8); “That Wicked Men Be Not
Apt to Be Sensible but That It Will Always Be With Them
as It is Now”, (Sal. 10:6); “God’s Manner Is First to Prepare
Men’s Hearts and Then to Answer Their Prayers”, (Sal. 10:7);
“That This Present World Shall One Day Come to an End”,
(Sal. 102:25,26); “It’s a Very Decent and Comely Thing That
Praise Should be Given to God”, (Sal. 147:1); “ Faith Renders
Those Things That Are Most Terrible in Their Own Nature
Harmless to Believers”, (Dan. 6:23); “It Is What May Well
Make Us Willing and Desirous to Go with God’s People,
That God Is with Them”, (Zac. 8:23); “When a Company or
Society of Christians Have Christ Present with Them, “Tis the
Greatest Cause of Joy to Them”, (Mat. 9:15); “That the Son of
God by Appearing in Our Nature Laid a Glorious Foundation
for Peace to the Inhabitants ofThis World”, (Luc. 2:14); “That
Hearing and Keeping the Word of God Renders a Person More
Blessed Than Any Other Privilege That Ever God Bestowed
on Any of the Children of Men”, (Luc. 11:27,28); “Even As
I Have Kept My Father’s Commandments”, (João 15:10);
“Jesus Christ Is the Shining Forth of the Father’s Glory”,
(Heb. 1:3); “Those Who Love Christ Shall Receive of Him a
Crown of Life”, (Tiago 1:12); “It Would Have Been Better for
Some Persons If Christ Never Had Come into the World to
Save Sinners, (1 Ped. 2:8); “That a Christian Spirit Is of Great
Price in the Sight of God”, (1 Ped. 3:4); “The Spirit of the
True Saints Is a Spirit of Divine Love”, (1 João 4:16); “Christ
Was Worthy of His Exaltation upon the Account of His Being
Slain”, (Apoc. 5:12); “In Hell Is Inflicted the Fierceness of the
Wrath of a Being That Is Almighty”, (Apoc. 19:15).

301
PAIXAO PHLA PURIÍZA

Growing in God’s Spirit , (P&R; 160 páginas; 2003). Este é


o volume inaugural de uma série dedicada a trazer as obras
de Jonathan Edwards para o leitor atual num formato de
fácil leitura. Inclui três dos seus mais importantes sermões,
divididos em seleções de treze capítulos, “A Divine and
Supernatural Light”, ensina qual é a obra do Espírito Santo
no coração do homem e fala da luz que Ele infunde por
meio da Palavra de Deus. “Christian Knowledge”, mostra a
responsabilidade que 0 homem tem de buscar o conhecimento
divino como sua vocação diária. “The Christian Pilgrim”,
chama o crente para viver mais na perspectiva da eternidade.

Λ History of the Work of Redemption (BTT; 448 páginas;


2003). Neste clássico, que consiste de trinta sermões pregados
em Northampton em 1739, Edwards revê o panorama geral
da história humana desde a queda do homem até o fim dos
tempos, concluindo que tudo o que ocorre na história humana é
subserviente à obra de redenção realizada por Cristo. Captamos
aqui a visão otimista de Edwards do irresistível progresso da
causa de Cristo no mundo, e ganhamos encorajamento para
os labores do evangelho.

Jonathan Edwards on Revival (BTT; 140 páginas; 1984).


Este livro contém “Narrative of Surprising Conversions”,
“Distinguishing Marks of a Work of the Spirit of God” e
“An Account of the Revival in Northampton in 1740-1742” .
O primeiro ensaio é a primeira avaliação feita por Edwards
do avivamento de 1735. Inclui uma fascinante narração de
diversas conversões, inclusive de crianças. O segundo, escrito
vários anos mais tarde, examina as marcas salvíficas da graça
de acordo com 1 João 4:1. A última parte foi inicialmente
uma carta escrita a um ministro de Boston em 1743 durante o
Grande Despertamento.
Esse é um bom livro para iniciar um estudo do conceito
de avivamento adotado por Edwards, mas deve ser seguido

302
Jonathan Edzcards

da leitura de Religious Affections {A Genuína Experiência


Espiritual}, que é uma avaliação mais madura e mais realista
da experiência espiritual.

A Jonathan Edwards Reader, editado por John R. Smith,


Harry S. Stout e Kenneth R Minkema (Yale; 335 páginas;
1995). As seleções deste livro estão divididas em duas categorias
principais. A primeira traça o desenvolvimento público do
pensamento de Edwards desde os seus primeiros dias em Yale,
como estudante, até o fim da sua vida e do seu ministério. Estes
escritos consistem de tratados e sermões que ele publicou,
estando incluídos Faithful Nairative, Religious Affections e
Freedom of the Will, como também notas que permaneceram
na forma de manuscrito até depois de sua morte.
A segunda categoria mostra o lado pessoal de Edwards
em escritos autobiográficos, na correspondência e em papéis
relacionados com a familia. Os papéis ligados á familia
incluem uma carta de Edwards a sua filha, Esther, que veio
a ser a mãe de Aaron Burr, Jr., vice-presidente dos Estados
Unidos. Edwards expressa suas esperanças de que “O Sr. Burr
e você aconselhassem frequentemente Timmy (o filho mais
velho de Edwards) quanto aos interesses da sua alma” (p. 313).

Jonathan Edwards’s Resolutions and Advice to Young


Converts (P&R; 37 páginas; 2001). Editado e introduzido por
Stephen J. Nichols, esta pequena brochura contém resoluções
pessoais de Edwards para o viver diário, bem como sua menos
conhecida obra, Advice to Young Converts. Resolutions mostra
um Edwards maduro (embora tendo apenas dezenove anos de
idade quando escreveu a maior parle dessa obra), refletindo
a piedade puritana da época. Esta pequena obra revela que
gigantes espirituais eram os puritanos, mesmo quando ainda
jovens.

Justification by Faith Alone (SDG; 154 páginas; 2000). Este

303
PAIXAO P E L A PUREZA

livro é a substância de duas preleções que Edwards proferiu


em 1738 para refutar o arminianismo, que estava afetando
Northampton, como também 0 antinomismo, que tinha
persistido nas colônias desde os dias de Anne Hutchinson.
Com argumentação sólida, bíblica, a obra salienta que Deus
justifica 0 ímpio (Rom. 4:5). John H. Gerstner escreveu sobre
Edwards: “Mais agudamente que ninguém, ele viu o sentido
em que a justificação pela fé somente baseia-se em última
análise na justificação pelas obras - pelas obras de Cristo”.

On Knowing Christ (BTT; 280 páginas. 1991). Este livro


contém dez sermões que explicam a obra do Espírito na
convicção de pecado e conduz os crentes a uma familiaridade
experimental com Cristo e com as maravilhas da vida cristã.
Inclui diversos sermões famosos, como “God Glorified in
Man’s Dependence”, “Pressing into the Kingdom of God”,
“ Sinners in the Hands of an Angry God” e “ Safety, Fullness,
and Sweet Refreshment, to be Found in Christ”. Nesses
sermões Edwards é mais claramente um pensador centrado
em Deus, um pregador investigativo, um teólogo preciso, um
pastor zeloso. Este livro é bom para quem quer ser introduzido
a Edwards.

*Knowing the Heart: Jonathan Edwards on True and False


Conversion (10; 441 páginas; 2003). Este volume consiste de
treze sermões de Edwards nunca antes publicado, com uma
exceção sobre o tema do coração do homem. Edwards mostra
que o coração natural do homem está em inimizade contra
Deus: o coração natural do homem é depravado, enganoso
e orgulhoso. William Nichols, como editor, estabelece a
premissa de que a evangelização eficiente depende de saber
como o coração funciona e de entender os sinais da verdadeira
e da falsa conversão. Os capítulos particularmente relevantes
para hoje incluem: “A Pretense of Trusting in Christ is Vain as
Long as Men Live Wicked Lives” ; “Particular Repentance is

304
Jonathan Edwards

Necessary to Salvation” ; e um sermão que talvez cause surpresa


a muitos em nossa época de prosperidade, “God Gives Plenty
of Earthly Things to Those He Hates”.

The Life and Diary of David Brainerd {A Vida de David


Brainerd}, (Baker; 385 páginas; 1989). Esta biografia descreve
a vida na América Pré-revolucionária, quando o avivamento
religioso se expandiu rapidamente na fronteira colonial.
De 1743 a 1747, Brainerd foi missionário entre os indios.
Gavalgando milhares de milhas, manteve um registro dos
acontecimentos diários até uma semana antes de sua morte,
ocorrida aos vinte e nove anos de idade, na casa de Edwards.
No diário há citações professando o amor de Brainerd pela
filha de Edwards, Jerusha. Quando Jerusha se apavora ante
a ideia de ir viver entre os índios, Brainerd a adverte: “Se
Deus quiser que você morra atingida por uma flecha, você
não deve querer outra coisa”.
Publicado em 1749, o livro Life of Brainerd tornou­
-se um clássico espiritual no seu próprio tempo. Eoi a
primeira biografia popular publicada na América. Passou
por numerosas edições e tem sido reimpresso mais vezes do
que qualquer outro livro de Edwards. Recentemente alguns
eruditos opinaram que Edwards alterou substancialmente o
diário original de Brainerd (cf. vol. 7 da edição de Yale das
obras de Edwards, onde uma cópia sobrevivente do diário de
Brainerd é comparada com o manuscrito de Edwards).
Independentemente disso, o diário de Brainerd, que se
compara às Confissões de Agostinho, revela o crescimento
espiritual e as intensas lutas pessoais de um jovem tomado
de grande zelo por Deus. Tanto os adolescentes como os
adultos devem ler este emocionante relato. A vida abnegada
de Brainerd, sua vida de oração e de zelo, convence e inspira.

Our Great and Glorious God (SDG; 212 páginas; 2003).


Este livro é uma compilação de material extraído de sermões

305
PAIXAO P E L A PUREZA

e de “Miscellanies” sobre a existência e o caráter de Deus,


particularmente Seus atributos de graça, soberania, sabedoria
e justiça. Há também capítulos sobre os decretos de Deus e
a glória de Deus. Esta é uma das muitas citações saborosas
do capítulo sobre a glória de Deus é como segue: “Deus é
glorificado não somente por Sua glória ser vista, mas também
por ser motivo de regozijo. Quando aqueles que a veem nela
se deleitam, Deus é mais glorificado do que se tão-somente a
veem. Sua glória é então recebida pela alma toda, tanto pelo
entendimento como pelo coração”.
O capítulo de conclusão, “Heaven is God’s House”, é um
fecho de ouro para o livro. Edwards, de maneira emocionante,
eleva as nossas concepções de Deus a níveis muito elevados,
o que é desesperadamente necessário em nossos dias, quando
muitos cristãos professos são dolorosamente deficientes no
entendimento da natureza e do caráter de Deus.

Pressing into the Kingdom (SDG; 350 páginas; 1998). Este


volume contém muitos dos sermões de Edwards sobre a busca
da salvação. Os onze sermões incluem: “Pressing into the
Kingdom of God”, (Luc. 16:16); “Preciousness of the Time,
(Ef. 5:16); “Procrastination”, (Prov. 27:1); “ Ruth’s Resolution”,
(Rute 1:16); “The Folly of Looking Back in Fleeing Out of
Sodom, (Luc. 17:32); “God Makes Men Sensible of Their
Misery”, (Os. 5:15); “Sinners in Zion Tenderly Warned”, (Is.
33:14); “The Manner in Which the Salvation of the Soul is
to be Sought”, (Gên. 6:22); “The Vain Self-Flatteries of the
Sinner”, (Sal. 36:2); “Christ’s Agony”, (Luc. 22:44), e “The
Christian Pilgrim”, (Heb. 11:13,14).
Estes sermões não deixam desculpa para a preguiça
espiritual. Avisos prevenindo com ternura combinados com
urgentes exortações atendem bem ao propósito de forçar os
pecadores a entrarem no reino de Deus.

* The Puritan Pulpit: Jonathan Edwards (1703-1758), (SDG;

306
Jonathan Edwards

285 páginas; 2004). Este livro abrange dezesseis sermões de


Edwards. Catorze desses sermões nunca foram publicados
antes, em nenhuma edição. Alguns dos títulos dos sermões
são: “It is Good for Us that God is Not as We are”, “God
Doesn’t Thank Men for Doing Their Duty”, “God Never
Changes His Mind”, “Men’s Addiction to Sin is No Excuse,
but an Aggravation”, “There is a Mutual Abhorrence Between
God and Wicked Men”, e “Christ is the Christian’s All”.

Pursuing Holiness in the Lord (P&R; 215 páginas, 2005).


A santidade é algo que devemos buscar, porém nunca por
nossas próprias forças. Os três sermões de Edwards postos à
disposição neste volume em treze capítulos, guiam-nos além
das dificuldades da ausência da lei e da justiça própria para
explorar o papel do crente na obra divina da santificação.

The Religious Affections {A Genuína Experiência Espiritual},


(BTT; 382 páginas; 2001). Muitas vezes esta obra tem sido
considerada o principal clássico da história americana sobre
a vida espiritual. Edwards apresenta aqui uma reflexão mais
madura sobre o avivamento do que em sua Faithful Narrative,
ponderando as forças e as fraquezas do Grande Despertamento
depois que este chegou ao topo. Fundamentalmente, Edwards
luta com muitas questões: que é que torna cristã uma pessoa? O
que se manifesta numa pessoa de tal forma que outras são levadas
a reconhecê-la como cristã? Edwards considera primeiro a
natureza das afeições e sua importância na religião, respondendo
às acusações de Charles Chauncy. Edwards vê as afeições como
desejos do coração baseados em reflexões intelectuais, e afirma
que a religião verdadeira consiste de afeições.
Na segunda parte de sua obra, Edwards descreve
doze sinais das afeições graciosas que podem não indicar,
necessariamente, a fé salvadora. Estes incluem emoções
intensas; experiências que produzem efeitos físicos; falar
muito das questões espirituais; afeições não causadas pela

307
PAIXAO P EL A PUREZA

própria pessoa, saber de memória versículos das Escrituras;


ter amor aparente; experimentar muitas afeições; ser movido
por afeições a gastar muito tempo com interesses religiosos;
afeições que levam a pessoa a louvar Deus; afeições que
conduzem a um forte senso de certeza da salvação; afeições que
levam a pessoa a agir em tudo de modo aceitável aos piedosos.
Edwards prossegue e argumenta no sentido de que os sinais
externos motivados por afeições religiosas nem negam nem
confirmam a genuinidade de uma experiência religiosa. Ele
assume uma posição intermediária entre os que afirmavam
que os fenômenos ocorridos em Northampton comprovavam
um verdadeiro avivamento e os que diziam que os fenômenos
mostravam que era falso.
Na seção final, Edwards explica as verdadeiras marcas
da conversão genuína, observando que todas elas surgem da
iluminação do Espírito de Deus. Ele descreve os verdadeiros
sinais dos sentimentos que expressam a graça de Deus:

• Novo nascimento, ou regeneração


• Nova e transcendental perspectiva na vida diária,
focalizada na glória de Deus
• Amor pela maravilha das realidades divinas
• Um “novo paladar”, que combina “calor com luz” ;
entendimento é essencial mas insuficiente em si
mesmo
• Profunda convicção de um senso imediato de Deus
e de um total controle de si mesmo mediante as
verdades do evangelho
• Quebrantamento evangélico, antes que legalista
• Radical mudança da natureza, que redunda em
conversão
• Genuíno amor e brandura para com os outros
• Amabilidade cristã para com os outros
• Boa simetria ou proporção de todas as afeições
precedentes

308
Jonathan Edwards

• Desejo de crescente relacionamento com Deus


» Generoso amor que se manifesta na conduta

* The Salvation of Souls: Nine Previously Unpublished


Sermons by Jonathan Edwards on the Call of Ministry and
the Gospel (Crossway; 190 páginas; 2003). Nesta nova coleção
de sermões, Edwards convoca os ministros para focalizarem a
salvação das almas. Eles não devem recuar desta importante
tarefa, mas, sim, perseverar na denúncia do pecado e em chamar
os pecadores ao arrependimento e à fé em Cristo. Não devem
ficar na dependência da sua sabedoria, e sim, na do Espírito
Santo, quando pregam fielmente a Palavra. Este desafiador e
reconfortante livro é destinado aos ministros do evangelho.
Os sermões incluem: “The Death of Eaithful Ministers
a Sign of God’s Displeasure” (Is. 3:12); “Ministers Need the
Power of God” (2 Cor. 4:7); “The Kind of Preaching People
Want (Miq. 2:11); “The Minister Before the Judgment Seat
of Christ” (Luc. 10:17,18); “Deacons do Care for the Body,
Ministers for the Soul” (Rom. 12:48‫“ ;)־‬Ministers to Preach
Not Their Own Wisdom but the Word of God” (1 Cor. 2:11­
13); “Pastor and People Must Look to God” (At. 14:23); e
“The Work of Ministry is Saving Sinners” (At. 20:28).

Seeking God: Jonathan’s Edwards’ Evangelism Contrasted


with Modern Methodologies, ed. William C. Nichols (IO; 564
páginas; 2001). Este livro torna a publicar dezesseis sermões
e tratados evangelísticos de Edwards. Cada documento vem
acompanhado de uma detalhada análise editorial dos métodos
de evangelização de Edwards em contraste com os métodos
de arminianos e naturalistas modernos. O editor conclui
repetidamente que a evangelização moderna engana os não
salvos, pois não diz aos pecadores impenitentes a verdade
sobre eles como inimigos de Deus, nem sobre a sua pendente
eternidade no inferno, se não se arrependerem. Em contraste,
Nichols salienta 0 contundente realismo bíblico de Edwards,

309
PAIXAO P E L A PUREZA

que focaliza quão terrível é 0 estado do homem natural como


essencial a uma evangelização que honre Deus.
O alvo do método evangelístico de Edwards é convidar
as pessoas a buscarem Deus. Nichols conclui que o conceito
de Edwards sobre “buscar Deus” - que salienta esperar em
Deus pelos meios de graça por Ele determinados, que são, ler,
ouvir, clamar por misericórdia, orar por um novo coração, e
abandonar todo pecado conhecido - aparece em quase todos
os sermões que ele pregou. Se bem que este livro serve como
útil antídoto contra muita evangelização moderna, é preciso
balanceá-lo com a igual ênfase que Edwards dá ao triúno
Deus buscando e encontrando pecadores por meio dos Seus
bondosos convites e das Suas promessas gloriosas.

The Selected Writings of Jonathan Edwards (Waveland


Press; 190 páginas; 1992). Editada por Harold P Simonson,
esta coleção de ensaios e sermões demonstra as perspectivas
de Edwards na teologia, na ética, na psicologia e na estética.
Estão incluídos “Personal Narrative”, “God Glorified in
Man’s Dependence”, “A Divine and Supernatural Light”, e
“A Farewell Sermon”. As interpretações de Edwards visam
questões filosóficas de sua época sobre a bondade natural
das pessoas e da crescente necessidade de que uma teologia
acurada informe as superficiais alegações filosóficas.

* Selections from the Unpublished Writings of Jonathan


Edwards, obra editada por Alexander Grosart (SDG; 212
páginas; 1997). Em 1854, Grosart, editor das reimpressões
puritanas da Nichols Series, começou trabalhando com os
manuscritos não publicados de Jonathan Edwards. Parte
desse material foi publicada em 1865 como Selections. Esta
obra inclui “A Treatise on Grace”, “Annotations on the Bible”,
“Directions for Judging Persons’ Experiences”, e sermões
sobre Mateus 7:14, 2 Timóteo 3:16, Romanos 6:1, Atos 24:25
e 1 Pedro 3:19,20.

310
Jonathan Edwards

Sermons of Jonathan Edwards (HP; 400 páginas; 2005).


Esta é uma coleção de vinte dos sermões mais famosos de
Edwards, muitos dos quais focalizam a majestade e a grandeza
de Deus e a desesperança de reforma e de avivamento
espiritual do homem sem a graça de Deus. A coleção inclui
“God Glorified in Man’s Dependence”, “ Wicked Men Useful
in Their Destruction Only”, “Pressing into the Kingdom of
God”, “The Excellency of Christ”, “Pardon for the Greatest
Sinners”, “Christ’s Agony”, e “Sinners in the Hands of an
Angry God” (Pecadores nas Mãos de um Deus Irado}. Este
livro será uma sábia aquisição para aqueles que desejam uma
introdução sobre os sermões de Edwards.

*The Sermons of Jonathan Edwards: A Reader (Yale; 281


páginas; 1999). Esta antologia mostra Edwards falando sobre
uma grande variedade de experiências cristãs. A coleção
contém quinze sermões (dos mais de 1.200 que Edwards
pregou), estando incluídos cinco que não foram publicados
anteriormente. Uma introdução descreve o contexto histórico
dos sermões (alguns foram pregados predominantemente
a congregações inglesas, outros a nativos americanos, todos
proferidos no período entre os julgamentos das feiticeiras
de Salem e a Revolução Americana) e sua estrutura literária.
Cada sermão começa com um texto das Escrituras e uma breve
interpretação; declara uma doutrina que vai ser explicada;
e então continua com várias defesas, aplicações e usos da
doutrina nas vidas dos ouvintes.
Um dos sermões mais interessantes, intitulado “The Way
of Holiness”, foi pregado quando Edwards era adolescente. O
sermão explica cada passo da peregrinação da alma e concita os
crentes a viverem de um modo que aprofunde a “semelhança
de natureza entre Deus e a alma do crente”. A jornada pessoal
de Edwards, descrita em Resolutions, revela seu compromisso
de viver, como adolescente, em todo o seu vigor, a santidade
da maneira sobre a qual ele prega aqui.

311
PAIXAO PKLA PUREZA

Standing in Grace (SDG; 70 páginas; 2002). Nesta obra,


Edwards examina a diferença entre a graça comum e a graça
salvadora, enfatizando que a graça é dada pelo Espírito de
Deus. Edwards explica também a natureza da relação do
Espírito Santo com a graça. Esta obra foi publicada pela
primeira vez em 1865 por Alexander Grosart como A Treatise
on Grace. Faz parte da Selections from the Unpublished Writings
ofJonathan Edwards.

Thoughts on the New England Revival: Vindicating the Great


Awakening (BTT; 294 páginas; 2005). D. Martyn Lloyd-
-Jones avisa: “ Se você quer saber algo sobre um verdadeiro
avivamento, Edwards é o homem que deve ser consultado”.
Edwards foi singularmente qualificado para escrever sobre
o tema do avivamento devido à sua compreensão teológica
e à sua experiência de primeira mão dos despertamentos
espirituais. Neste volume, publicado primeiro como Some
Thoughts Concerning the Present Revival of Religion i?1 New
England, (1742), ele expressa os seus pensamentos sobre “a
gloriosa obra de Deus” no Grande Despertamento, e mostra
por que foi preciso promover o Despertamento. Edwards
defende 0 avivamento contra seus críticos e contra os excessos
dos seus amigos. Que é avivamento? Como reconhecê-lo?
Seria uma genuína obra do Espírito de Deus? Se for, como
proteger o avivamento dos erros espúrios e das tendências
antibíblicas dos seus promotores exageradamente zelosos?
Que devemos fazer a respeito “da gritaria e dos efeitos
corporais” que ocorrem no avivamento? Como se pode evitar
0 orgulho espiritual, a revelação imediata e a injusta censura
feita a outros no avivamento? Todas essas perguntas, e outras,
são habilmente respondidas por Edwards.

To All Saints of God: Addresses to the Church (SDG; 401


páginas; 2003). Esta coleção de doze sermões explica 0 papel da
Igreja e sua relação com Deus. Edwards considera as questões

312
Jonathan Edwards

de eclesiologia e de filiação à Igreja sob uma perspectiva


prática. Ele focaliza também os deveres pessoais na igreja.
Tópicos como a oração, a nossa dependência de Deus, perdas,
autoexame, e a esperança para os penitentes são tratados
com fidelidade bíblica e com aguda perspicácia pastoral.
Particularmente úteis são os sermões “The Church’s Marriage
to Her Sons and to Her God”, (Is. 62:4,5), e “The Nature and
End of Excommunication”, (1 Cor. 5:11). Edwards nos mostra
que as soluções para todos os problemas da Igreja estão sempre
disponíveis pela graça e bondade de Deus, mas sempre devem
ser praticadas, se é que a Igreja há de ser “ formosa como a
luz, brilhante como o sol, formidável como um exército com
bandeiras” (Cant. 6:10).

*To the Rising Generation: Addresses Given to Children


and Young Adults (SDG; 183 páginas; 2005). Durante o
período em que serviu em Northampton, Edwards pregou
trinta sermões para crianças e para jovens. Este novo livro
contém treze desses discursos (nove dos quais publicados pela
primeira vez), além de uma carta a um recém-convertido e
uma lista de 115 perguntas bíblicas para crianças. Na maior
parte, estas mensagens focalizam a importância da obediência,
da disciplina e da busca de Deus. Os títulos dos capítulos
incluem: “Early Piety is Especially Acceptable to God”, “The
Sudden Death of Children”, “The Sins of the Youth Go With
Them to eternity”, “The Most Direct Way to Happiness”,
“Children Ought to Love the Lord Jesus Christ above All
Things in the World”, “Corrupt Communications”, “The
Danger of Sinful Mirth”, e mais.
Por toda parte deste livro Edwards insiste com os jovens
na constante necessidade de se arrependerem do pecado e de
viverem fielmente para o Senhor. Ele salienta que, quando os
jovens se dedicam a seguir a Cristo, habilitam-se a servir aos
propósitos do Seu reino na maior parte dos seus anos de vida.
“Presta-se uma peculiar honra a Deus”, escreve ele, “quando
as pessoas dedicam os anos da sua juventude a Deus”.

313
PAIXAO P E L A PUREZA

* Treatise on Grace and Other Posthumously Published


Writings (JC; 144 páginas; 2000). Esta coleção contém a
famosa obra de Edwards sobre a graça, que mostra que a graça
salvadora difere da comum quanto à natureza e quanto aos
frutos (ver acima). Contém também “Observations Concerning
the Trinity and the Covenant of Redemption”, (Miscellanies,
de Edwards, pp. 573-588, obra preparada para publicação pelo
filho de Edwards), e “An Essay on the Trinity”, (publicado
pela primeira vez em 1903 e editado por G.E Fisher), o
qual provê um argumento a priori em prol da existência da
Trindade. O livro é editado por Paul Helm, que provê uma
sucinta introdução à obra (23 páginas), analisando Edwards
sob as perspectivas da historia, da teologia e da filosofía.

The True Believer: Sermons of Jonathan Edwards on the


Marks and Benefits of True Faith (SDG; 315 páginas; 2003.
Esta antologia de oito sermões distingue entre as marcas do
verdadeiro convertido e do falso. Estão incluídos “Pardon for
the Greatest of Sinners”, “True Grace Distinguished from the
Experience of Devils”, “Hypocrites Deficient in the Duty of
Prayer, “A Warning to professors of Religion”, “Christian a
Chosen Generation, a Royal Priesthood, a Peculiar People”,
“The Peace which God Gives His True Followers”, “True
Saints, when Absent from the Body, are Present with the
Lord”, e “The Portion of the Righteous” .

*Unless You Repent (SDG; 232 páginas; 2005). Jonathan


Edwards é famoso por sermões como “Sinners in the Hands of
an Angiy God” {Pecadores nas Mãos de um Deus Irado}, que
retratam vividamente a realidade do inferno. Mas Edwards
não era um mero pregador do “ fogo e enxofre do inferno” ;
ele falava do juízo divino porque o seu desejo era ver muitos
virem a Cristo e serem poupados da ira de Deus. Este volume
contém quinze sermões não publicados anteriormente sobre
o juízo que aguarda os impenitentes. Os títulos dos sermões

314
Jonathan Edwards

incluem: “ Vengeance for Sin Properly Belongs to God”,


“All Wicked Men Shall Go to Hell”, “The Torments of Hell
are Exceedingly Great”, etc. Não sabemos da publicação de
nenhum livro mais profundamente sério que este.

The Wrath of Almighty God: Jonathan Edwards on God’s


Judgment Against Sinners (SDG; 390 páginas; 1998). Este
volume contém onze sermões e tratados extraídos do livro The
Works of Edwards e que falam sobre alguns aspectos do inferno
ou do juízo de Deus contra o pecado. Os sermões incluem:
“ Sinners in the Hands of an Angry God”, “ The Justice of God
in the Damnation of Sinners”, “Wrath to the Uttermost”,
“The Eternity of Hell’s Torments”, e “The End of the Wicked
Contemplated by the Righteous” .
Ao ler esses sermões, tenha em mente que Edwards não
deve ser classificado como um pregador “do fogo e enxofre do
inferno” . Embora pregasse regularmente sobre o inferno, ele
o fazia, não para fazer o ouvinte correr apavorado para o reino
de Deus, mas, sim, para despertar os pecadores dormentes. Se
esse livro não fizer o seu leitor incrédulo tremer, desesperar
de sua justiça própria e buscar refúgio em Cristo, a falha é
totalmente do leitor.

315
John Eliot
(1604-1690)

ohn Eliot, missionário entre os nativos americanos, nasceu na


Inglaterra, e era filho de Bennett Eliot, próspero agricultor,
e de Lettice Aggar. Foi batizado em Widford, Hertfordshire,
no día 5 de agosto de 1604. Antes de John completar seis anos
de idade, os Eliot mudaram-se para Nazeing, Essex, onde
Bennett Eliot possuía propriedade considerável. John gostava
de estudar literatura clássica e hebraica. Ele foi para o Jesus
College, Cambridge, em 1619, onde obteve o grau de Bacharel
em Artes em 1622. Enquanto estava nessa escola, seus pais
morreram - sua mãe em 1620 e seu pai em 1621.
Eliot foi ordenado na Igreja Anglicana, mas logo ficou
insatisfeito com suas regras e com os vários aspectos de sua
estrutura. Em vez de procurar uma paróquia, preferiu ensinar
na escola secundária de Little Baddow, Essex, onde Thomas
Hooker era diretor.
Eliot conviveu por algum tempo com Hooker e foi
fortemente influenciado por ele. Mais tarde ele explicou como
essa experiência na docência o levou à conversão: “A este lugar
fui chamado, graças às infinitas riquezas da misericórdia de
Deus em Cristo Jesus para com a minha pobre alma; pois aqui
o Senhor disse à minha alma morta: vive; e, pela graça de

316
John Eliot

Cristo, eu de fato vivo, e viverei para sempre! Quando vim


ter com esta abençoada família [de Hooker] vi, e nunca antes
vira, o poder da piedade em seu vivido vigor e eficácia”. Logo
após sua conversão, Eliot decidiu dedicar-se ao ministério.
Em 1630, Hooker deixou a Inglaterra, onde os pastores não
conformistas estavam sendo perseguidos, e foi para a Holanda.
Com o fechamento da escola de Hooker e as crescentes pressões
para ceder à conformidade, Eliot escolheu emigrar para
Massachusetts. Chegou a Boston em 3 de novembro de 1631.
Logo lhe pediram que substituísse o pastor John Wilson, que
tinha ido para a Inglaterra. A pregação e o trabalho pastoral de
Eliot causaram tal impressão que, quando Wilson voltou, em
maio de 1632, foi solicitado a Eliot que permanecesse como “o
mestre da congregação”. Ele declinou da oferta porque tinha
concordado em servir ao povo de Nazeing (Inglaterra) que se
estabelecera em Roxbury, Massachusetts. Roxbury tornou-se
o lar de Eliot pelo resto de sua vida.
Pouco depois da ordenação de Eliot, sua noiva, Hannah
Mumford, chegou à Nova Inglaterra. Seu casamento foi o
primeiro realizado em Roxbury. Hannah logo se tornou
conhecida por sua santidade e por seus serviços.
Os Eliot foram abençoados com cinco filhos e uma filha.
Dois filhos morreram na juventude. Os outros três filhos
homens - John, Joseph e Benjamin - viveram e se tornaram
missionários entre os nativos americanos. Contudo, somente
Joseph e sua irmã Hannah sobreviveram a seu pai. Cotton
Mather lembrava-se de que Eliot dissera acerca dos seus
filhos: “Meu desejo era que eles servissem a Deus na terra;
mas, se Deus preferir tê-los no céu, não tenho nenhuma
objeção contra isso, mas seja feita a Sua vontade!” (Magnalia
Christi Americana,' 1:530).
Eliot serviu à igreja de Roxbury como mestre, e depois
como pastor, por mais de cinquenta anos. Nos primeiros1

1 M a r a v i l h a s tie C r i s t o n a A m e r i c a . E m la t i m n o o r i g i n a l . N o t a d o tr a d u to r .

317
PAIXAO P EL A PU R EZA

quinze anos ele se dedicou totalmente ao trabalho da igreja, e


nos trinta e cinco anos seguintes, ao pastoreio da congregação
e ao trabalho entre os nativos americanos. Eliot tornou-
-se conhecido como habilidoso pregador e conselheiro. Sua
fluência no hebraico lhe propiciou uma posição na equipe de
tradução do Bay Psalm Book, publicado em 1640. Três anos
depois, ele começou a estudar o idioma algonquina.2Começou
a pregar nessa língua em 1646.
Eliot empreendeu a tarefa de convencer os filantropos da
Inglaterra da necessidade de converter os nativos americanos.
Primeiro dirigiu apelos a indivíduos, solicitando apoio, mas
depois que foi aprovada a República Puritana, Eliot começou
a trabalhar com a Corporação pró Promoção e Propagação do
Evangelho de Jesus Cristo na Nova Inglaterra. Nos próximos
vinte anos, Eliot escreveu ou patrocinou muitas obras que
vieram a ser conhecidas como Panfletos de Eliot pró índios.
Esses panfletos eram publicados em Londres como uma forma
de ajudar 0 levantamento de fundos. Logo Eliot teve o suporte
de que necessitava para trabalhar entre os nativos da América.
Eliot começou a estabelecer cidades de “índios que
oram”. Natick foi a primeira (1651). Em 1674 havia catorze
povoações que oravam, com uma população estimada em
3.600; aproximadamente 1.100 haviam sido convertidos.
Em cada povoação os nativos fizeram uma aliança solene de
entregar-se e de entregar seus filhos “a Deus para serem Seu
povo”, como base do novo governo civil. Eliot organizou o
novo governo seguindo o conselho que Jetro deu a Moisés
em Êxodo, capítulo 18; nomeou governadores sobre grupos
de cem, de cinquenta e de dez em cada povoação para a
manutenção da lei e da ordem. Essas povoações eram quase
inteiramente autogovernadas, embora as questões maiores
2 lín g u a a lg o n q u in a d e M a s s a c h u s e tts d á n o m e à fa m ília d e lín g u a s d o s n a tiv o s
q u e h a b ita v a m g ran d e p arte d o s E stad o s U n id o s e do C a n ad á. M a is ad ian te
se u sa o n o m e “ id io m a m a s s a c lu is e tt" p ara a lín g u a a lg o n q u in a falad a n essa
re g iã o . N o ta d o tra d u to r.

318
John Eliot

pudessem ser remetidas à Corte Geral de Massachusetts. Na


maior parte, esperava-se que os nativos adotassem o estilo de
vida puritano, juntamente com a fé cristã.
Depois de organizar o governo, Eliot começou a estabelecer
igrejas com a forma congregacional de governo. Depois de
superar numerosas dificuldades num período de quinze anos,
a primeira igreja nativa foi estabelecida oficialmente em
1660 em Natick. Seguiu-se logo o estabelecimento de outras
igrejas em cidades de oração.
Nesse ínterim, Eliot vinha trabalhando arduamente, desde
1653, na tradução da Bíblia para o idioma nativo americano.
Um dos trabalhos mais difíceis foi a invenção de um voca­
bulário bem como de uma gramática que expressassem as
relações de tempo e espaço, que não havia na língua nativa.
Com o auxílio dos mantenedores ingleses, Eliot estabeleceu
uma imprensa em Cambridge. Em 1661, Marmaduke
Johnson imprimiu 0 primeiro Novo Testamento na língua de
Massachusetts. O Velho Testamento com Salmos metrificados
seguiu-se em 1663, compondo a primeira Bíblia completa
impressa no continente americano. A Bíblia algonquiana é
considerada por muitos a maior realização de Eliot, mas para
ele mesmo essa Bíblia era simplesmente um auxílio para a
conversão dos nativos americanos.
Eliot traduziu mais obras para o idioma massachusett,
abrangendo desde os clássicos da piedade americana até aos
catecismos e cartilhas de uma só página. Nessa altura Eliot
tinha alguns colaboradores. Eles mantiveram a imprensa
ocupada até a Guerra do Rei Felipe. Também fundaram escolas
nas povoações dos nativos. Para ajudar o trabalho nas escolas,
Eliot publicou The Indian Grammar Begun, (1666), The Indian
Primer, (1669), e The Logic Primer, (1672). Até foi levantado
um edifício para um “Indian College” em Harvard. Contudo,
poucos índios foram para essa escola, devido à escassez de
professores e de estudantes.
O pensamento de Eliot foi tão dominado pelas almas dos

319
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

nativos que ele não temia por sua vida. Uma vez, quando foi
desafiado por um nativo americano, um cacique, com uma
faca, Eliot disse: “ Estou interessado na grande obra de
Deus, c Ele está comigo, de modo que não tenho medo dos
caciques peles-vermelhas. Eu vou em frente, e você, toque­
-me, se é que se atreve” (Ola Winslow, John Eliot: Apostle to the
Indians, p.l).
A obra de Eliot prosperou até o começo da Guerra do
Rei Felipe, em 1675. Temendo por suas vidas, numerosos
nativos convertidos mudaram-se para uma ilha situada na
enseada de Boston. Muitos morreram ali. O mesmo esquema
repetiu-se noutras cidades, onde os indios (“que oravam”)
eram destruídos, ou por guerreiros das tribos ou por colonos
irados. Tristemente, os índios que oravam eram considerados
inimigos tanto dos ingleses como dos índios nativos; só Eliot
e alguns outros lutaram por eles durante a guerra. Por fim,
as catorze povoações que oravam foram eliminadas.
Após a guerra, os nativos americanos sobreviventes
voltaram para Natick. Eliot tentou recomeçar, reconstruindo
Natick e outras três povoações, apesar da desconfiança dos
ingleses. A princípio parecia que a experiência de Eliot no Novo
Mundo ainda teria sucesso, mas o esforço anteriormente feito
nunca foi recuperado. No século dezenove não restou nenhum
convertido capaz de ler a Bíblia na língua massachusett.
Cotton Mather escreveu a primeira biografia de Eliot,
intitulada The Life and Death of the Renowned Mr. John Eliot,
who was the first preacher of the gospel to the Indians in America
with an account of the wonderful success which the gospel has had
amongst the heathen in that part of the world, and of the many
strange customs of the pagan indians in New England, (1691). Ele
retrata Eliot como um homem de grande piedade e de sincera
dedicação. “Ele foi um homem que viveu no céu estando na
terra”, Mather escreve. Eliot incentivava outros a orar. Seu
amor para com índios e ingleses só era limitado por seus
recursos; ele insistia com os membros de sua congregação

320
John Eliot

que ajudassem outros. Muitas vezes ele ia ouvir preleções nas


localidades vizinhas para “alimentar sua própria alma”. Ele
labutou para formar um “povo de bons princípios” pregando,
catequizando e fundando escolas; estabeleceu a primeira
escola gratuita da América (Sidney Rooy, The Theology of
Missions in the Puritan Tradition, p. 158). Ele serviu também
como supervisor de Harvard durante mais de quarenta anos,
introduzindo uma forte presença puritana na escola, mesmo
sem nunca ter ensinado ali.
Nos últimos dias da sua vida, Eliot padeceu de muita dor
física. Todavia, tudo o que ele podia era centralizar sua atenção
em Cristo, e os seus amados nativos americanos. “Há uma
nuvem, uma sombria nuvem entre os pobres índios”, disse
ele. “Reviva o Senhor e faça prosperar essa obra, e conceda
que ela esteja viva quando eu morrer. E uma obra pela qual
estive trabalhando muito e durante muito tempo. Mas, qual
foi a última palavra que falei? Recordo as palavras “minhas
realizações”. Infelizmente, elas foram pobres, pequenas e não
firmemente estabelecidas, e eu serei o primeiro homem a
atirar a primeira pedra em todas elas” ! (p. 127).
Mather descreve como foi que aquele interesse manteve
Eliot indo avante: “Por muitos meses antes de Eliot morrer,
frequentemente ele nos dizia alegremente que logo iria para
0 céu, e que ia levar consigo para lá muitas boas notícias; ele
dizia que ia levar as boas novas aos velhos fundadores da Nova
Inglaterra, que agora estavam na glória, dizendo que a obra da
Igreja continuava sendo efetuada entre nós, que 0 número de
nossas igrejas crescia continuadamente, e que as igrejas ainda
eram mantidas tão grandes como eram, graças ao acréscimo
daqueles que iam sendo salvos” (p. 130).
Eliot morreu no dia 20 de maio de 1690, com oitenta e seis
anos de idade. Suas últimas palavras, como registradas por
Mather, foram: “Bem-vinda alegria!”

321
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

The Eliot Tracts: with Letters from John Eliot to Thomas


Thorowgood and Richard Baxter (Greenwood; 175 páginas,
2003). Esta coleção contém 0 conjunto completo de panfletos
- onze ao todo - que foram publicados em Londres entre 1643
e 1671. Escritos por John Eliot, Thomas Shepard e outros
líderes entre os colonos, esses panfletos oferecem o mais
detalhado registro da atividade missionária dos ingleses no
Novo Mundo. Eles são também uma rica fonte de informações
etnográficas sobre os nativos americanos do sul da Nova
Inglaterra no século dezessete. O volume contém também
duas cartas nas quais Eliot argumenta em favor da significativa
importância da obra missionária.

The Indian Grammar Begun: Or, an Essay to Bring the Indian


Language into Rules, for Help of Such As Desire to Learn
the Same, for the Furtherance of the Gospel among Them3
(Applewood; 146 páginas; 2001). Publicada originalmente em
1666, esta edição da gramática de Eliot contém edições da
obra de Eliot, tanto em fac-símile como em remontagem.

■* E n t e n d o que sig n ifica: P u b licação da p rim e ira g ram ática da lín g u a dos
a b o r íg e n e s d a A m é r ic a d o N o rte . N o ta d o tra d u to r.

322
Edward Fisher
(m. 1655)

E preciso distinguir entre Edward Fisher de Londres,


de quem pouco se sabe, e Edward Fisher de Mickleton.
Provavelmente ele foi membro da associação de barbeiros
cirurgiões de Londres, frequentava a igreja presbiteriana ali
e foi convertido ao pensamento puritano depois de conversar
com Thomas Hooker. Apesar de lhe faltar uma educação
formal e de permanecer leigo, vê-se que Fisher era bastante
versado nos temas teológicos. Ele descrevia a si mesmo como
“um pobre habitante de Londres”, mas adquiriu bom número
de livros para escrever seu polêmico livro Marrow of Modem
Divinity, cuja história é narrada abaixo. Este livro obscurece
as suas outras obras, como A Touchstone for the Communicant,
(1647), e London's Gate to the Lord’s Table, (1648), ambos os
quais dizem respeito à questão da exclusão do sacramento, e
Faith in Five Fundamental Principles, (1650), forte defesa contra
as “diabólicas, ateísticas, blasfemas baterias [isto é, ataques à
verdade]” daqueles tempos.

The Marrow of Modem Divinity (SWRB; 370 páginas;

323
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

1991). Publicada pela primeira vez era 1645, esta obra foi
revista consideravelmente nos dois próximos anos e até 1650
passou por sete edições. Foi escrita na forma de diálogo,
no qual Evangelista desempenha o papel principal. Suas
respostas a perguntas e a objeções de outros apresentam
o “âmago / a medula” (“marrow”) ou os princípios mais
importantes da teologia reformada. Outros personagens
incluem: Neophytus (cristão recém-convertido), Nomista
(um legalista) e Antinomista (um antinomiano). A meta de
Fisher era intermediar entre os legalistas e os antinomistas,
assinalando “ 0 caminho intermediário, Jesus Cristo, recebido
verdadeiramente e trilhado responsavelmente”.
Os diálogos de Fisher atendiam a questões do seu tempo,
tais como a oferta da graça, a certeza e a fé salvadora, a aliança
da graça e a fé, a preparação para a graça e o arrependimento
evangélico, a necessidade de haver santidade, e as boas obras
em relação à salvação. Extensas notas feitas por Thomas
Boston e um apêndice de perguntas e respostas apresentadas
pelos doze homens do âmago “Marrowmen” são de valor
incalculável.
Esta obra desempenhou importante papel na chamada
“Controvérsia do Amago”, entre os teólogos escoceses (1717­
1723). Em 1717, William Craig, um estudante de teologia, fez
uma queixa à Assembléia Geral da Igreja da Escócia contra
uma das proposições que o Presbitério de Auchterarder exigia
que os candidatos ao ministério subscrevessem como “o Credo
de Auchterarder” . A proposição, cuja intenção era proteger
contra a preparação para a salvação,1 dizia: “Creio que não
é bom nem ortodoxo ensinar que precisamos abandonar 0
pecado para vir a Cristo e colocar-nos em aliança com Deus”.
A Assembléia Geral concordou com Craig, declarando a
proposição “errônea e muito detestável”. Disse ela que a

1 Em re su m o , os p re p a ra c io n ista s in sistiam e m q u e a o ferta da s a lv a ç ã o só


d e v ia s e r feita a o s p e c a d o r e s d e p o i s d e e l e s t e r e m s i d o p r e p a r a d o s d o u t r in a r i a
e e sp iritu a lm e n te . N o ta d o tra d u to r

324
Edw ard Fisher

declaração tendia a “incentivar a ociosidade dos cristãos e


a enfraquecer a obrigação de buscar a santidade evangélica”.
A comissão da Assembléia abrandou a dureza do
pronunciamento da Assembléia Geral declarando em seu
relatório à Assembléia de 1718 que o Presbitério fora firme
e ortodoxo em sua intenção, mas a escolha da palavra era
“injustificável” e não devia ser utilizada novamente. No
contexto do debate, Thomas Boston disse a John Drummond
de Crieff que tinha recebido ajuda, sobre a questão debatida,
de um livro relativamente desconhecido intitulado The
Marrow of Modem Divinity. Drummond mencionou 0 livro a
James Webster de Edimburgo, que falou com James Hog de
Carneck sobre ele. Hog escreveu um prefácio para uma nova
edição do livro em 1718.
Com exceção da sua simpatia pelo amyraldismo,2 0 livro
de Fisher reflete grandemente 0 pensamento reformado
ortodoxo do tempo em que ele 0 escreveu. A obra enfatiza
uma oferta imediata da salvação aos pecadores que olhem
para Cristo com fé. Isso era avidamente apoiado por Boston e
pelos Erskine, que eram líderes no seio da minoria evangélica.
Todavia, a ênfase de Fisher levantou objeções do partido
dominante na igreja, que, como neonomistas, sustentava que
0 evangelho é uma “nova lei” (neonomos) (ver acima, sobre
Richard Baxter). Seus representantes diziam que 0 evangelho

2 M o is é s A m y ra ld o de S a u m u r (A m y ra u t, p ro fe s so r na e sc o la d e te o lo g ia
d e S a u m u r , !■ 'rança, e m m e a d o s d o s é c u l o d e / e s s e t e ) . H l e a l t e r o u o e s q u e m a
calv in ista sobre a p red estin açã o em d o is p o n to s: (1) S u sten tav a que a
v o n tad e é su b serv ien te ao in te le c to , u m a v e z q u e o p e c a d o c o m e ç o u no
in telecto e d e p o is p a s s o u à v o n ta d e , e d iz ia q u e a a ç ã o irresistív el d e D eu s
so b re a v o n ta d e d o h o m e m d á -s e p e la ilu m in a ç ã o d o in telecto . (2 ) A m y ra ld o
in tro d u z iu a id eia do u n iv ersalism o h ip o tético da graça. Reconhecendo,
porém , a in escru tab ilid ad e da eleição d iv in a, A m y rald o en ten d ia que,
in d e p e n d e n te m e n te d o a n ú n c io d o e v a n g e lh o , h á n a n a tu re z a e na h istó ria
u m a in d istin ta re v e la ç ã o d a g ra ç a d e D e u s, só p o ssív e l d e v id o a o sa crifício de
C r is to , q u e p r e s t o u p e r f e ita s a t is f a ç ã o á ju s tiç a d iv in a , lis te é, n a t u r a l m e n t e ,
u m r e s u m o su c in to . N o ta d o trad u to r.

325
PAIXÃO PKLA PUREZA

substitui as condições legais de fé e arrependimento do Velho


Testamento, e que elas tinham que ser preenchidas antes de se
poder oferecer a salvação. Estes neonomistas, que se tornaram
conhecidos como moderados, sustentavam a necessidade de
abandonar o pecado antes de se poder receber Cristo, ao passo
que os Erskine e seus amigos evangélicos diziam que só a
união com Cristo pode capacitar o pecador a tornar-se santo.
Os moderados diziam que um chamado à imediata
confiança em Cristo e à plena certeza era perigosamente
antinomista. James Hadow, do St. Mary’s College, em St.
Andrews, encontrou algumas declarações supostamente
antinomistas no livro de Fisher. Disse ele que uma delas
sugeria que o crente não está sujeito à lei como norma de vida,
e outra, que o viver santo não era essencial à salvação. Hadow
disse também que o livro ensinava que a certeza é da essência
da fé, e que o temor do castigo e a esperança de recompensa
não são motivos apropriados para a obediência do crente.
Finalmente, Hadow afirmou que 0 livro de Fisher ensinava a
expiação universal porque asseverava que a morte de Cristo
foi “o ato de dádiva e de garantia à humanidade perdida” .
Liderada por Hadow, a Assembléia Geral condenou The
Marrow of Modem Divinity em 1720 e exigiu que todos os
ministros da Igreja advertissem seu povo contra a leitura dele.
Os Frskine, Boston e nove dos seus colegas, que se tornaram
conhecidos como os homens do âmago {“marrowmen” } ou
como os irmãos do âmago, por sua defesa do livro de Fisher,
protestaram contra essa decisão, mas não adiantou. Eles foram
censurados formalmente pela Assembléia Geral em 1722.
A “Marrow Controversy” serenou por volta de 1723, mas
os seus efeitos persistiram. Os irmãos “do âmago” sofreram
continuada rejeição na Igreja da Escócia. Eles perderam
muitos amigos e muitas oportunidades de virem a servir em
paróquias importantes. Nalguns presbitérios, a aprovação dos
atos da Assembléia contra o livro de Fisher tornou-se um
requisito para ordenação.

326
E dw ard Fisher

Os Erskine e outros irmãos “do âmago” continuaram


a ensinar e a escrever sobre as doutrinas condenadas pela
Assembléia. Thomas Boston publicou copiosas notas sobre
The Marrow of Modem Divinity na edição de 1726, e Ralph
Erskine3 escreveu vários panfletos defendendo a teologia
“marrow”. Os irmãos “marrow” apresentaram, também,
protestos formais à Assembléia, apelando para que revogasse
seu julgamento sobre o livro de Fisher.
Os “marrowmen” estavam convencidos de que, quando a
assembléia condenou o livro de Fisher, condenou a verdade
do evangelho. Doutrinariamente, a controvérsia centralizou­
-se em vários aspectos da relação entre a soberania de Deus e
a responsabilidade do homem na obra de salvação. Os irmãos
“do âmago” enfatizavam a graça de Deus, e a Asembleia insistia
no que é preciso fazer para obter a salvação. Os irmãos “do
âmago” descreviam a aliança da graça como um testamento
que continha as promessas da graça de Deus em Cristo, 0
que é oferecido gratuitamente a todos. A certeza acha-se pri­
mariamente em Cristo e Sua obra. A resposta do crente a isso
é amor e gratidão, eles diziam. Seus oponentes viam a aliança
como um contrato com obrigações mútuas. O evangelho só é
oferecido ao pecador preparado ou “sensível”, e a certeza
tem seu foco nas boas obras do crente. A obediência é uma
resposta às ameaças da ira de Deus, como também a Seu amor.
As divisões teológicas manifestas na controvérsia
“do âmago” refletiam as divisões similares ocorridas no
pensamento reformado. Contudo, os irmãos “do âmago”
estavam em maior harmonia com a ortodoxia reformada do
século dezesseis e do início do século dezessete, compilada

J O u t r o i m p o r t a n t e m e m b r o cia e n t ã o r e n o m a d a f a m í l i a E r s k i n e f o i K b e n z e r
(ou E benezer) E rsk in e (1 6 8 0-1756), um dos líd eres do m o v im en to
que o casio n o u a "M arro w C o n tro v ersy ". Segundo A. H. N ew m an, um
c o n t e m p o r â n e o d e E rs k in e d e c la r o u : " N u n c a vi ta n ta m a je s ta d e d e D e u s c m
n en h u m h o m e m c o m o em E b en ezer E rsk in e" (Λ Manual o f Church History,
V o l . 11, p . 6 0 8 ) . N o t a d o t r a d u t o r .

327
PAIXAO PEL A PUREZA

na Confissão de Fé e nos catecismos de Westminster. Os


que se opunham ao pensamento “do âmago (da medula)”,
embora representando a maioria dos ministros da Igreja da
Escócia no início do século dezoito, refletiam, entre outras
coisas, as tendências legalistas da teologia reformada que
se desenvolveu na parte final do século dezessete, embora,
sem dúvida, eles tinham alguma base para criticar a obra
de Fisher, particularmente sua tendência para o amyraldismo.

328
John Flavel
(1628-1691)

ohn Flavel (ou Flavell) nasceu em 1628 em Bromsgrove,


Worcestershire. Era filho de Richard Flavel, ministro
que morreu da peste em 1665 quando estava na prisão por
não conformidade. John Flavel foi educado por seu pai nos
caminhos da religião, e depois “deu duro em seus estudos” como
aluno sem subvenção no University College, Oxford. Em 1650,
ele foi ordenado pelo presbitério em Salisbury. Estabeleceu-se
em Diptford, onde aprimorou seus numerosos dons.
Casou-se com Joan Randall, mulher piedosa, que morreu
durante o parto do primeiro filho do casal em 1655. O bebê
também morreu. Após um ano de luto, Flavel casou-se com
Elizabeth Stapell, e foi de novo abençoado com um casamento
unido e inspirado pelo temor de Deus, como também com filhos.
Em 1656, Flavel aceitou um convite para ministrar no
próspero porto marítimo de Dartmouth. Tinha menor renda
ali, mas seu trabalho foi mais proveitoso; muitos foram
convertidos. Um dos paroquianos de Flavel escreveu sobre
ele: “Eu podería falar muito, mas não o suficiente, sobre a
excelência da sua pregação; dos seus assuntos oportunos,
pertinentes e espirituais; das suas diretas exposições das
Escrituras; do seu método de falar, das suas deduções naturais

329
JOHN FLAVEL
John Flavel

e genuínas, dos seus argumentos convincentes, das suas


demonstrações claras e poderosas, suas aplicações perspicazes
e suas palavras de reconfortante apoio aos que eram aflitos
em sua consciência. Em resumo, quem pudesse ficar sob o
seu ministério sem ser fortemente influenciado, ou tinha
miolo mole ou coração duro, ou ambos” (Erasmus Middleton,
Evangelical Biography, 4.50,51).
Flavel foi expulso do púlpito em 1662 por não
conformidade, mas continuou a reunir-se com os seus
paroquianos em conventículos. Havendo ocasião, ele pregava
para eles nas florestas, principalmente nos dias de jejum e
quebrantamento. Uma vez ele até se disfarçou de mulher a
cavalo para chegar a um local de reuniões secreto, onde pregou
e administrou 0 batismo. Outra vez, sendo perseguido pelas
autoridades, ele mergulhou seu cavalo no mar e conseguiu
escapar de ser preso nadando através de uma área rochosa
para chegar a Slapton Sands.
Em 1665, quando o Ato das Cinco Milhas entrou em vi-
gêneia, Flavel mudou-se para Slapton, que ficava fora do
limite de cinco milhas, e livre de perturbação legal. Ali Flavel
ministrou a muitas pessoas em sua congregação. Ocasional­
mente, ele pregava secretamente nas florestas para um número
maior de pessoas, às vezes cm plena meia-noite. Uma vez,
soldados irromperam e dispersaram a congregação. Vários
fugitivos foram capturados e multados, mas os restantes
levaram Flavel para outra área fechada da floresta onde ele
continuou seu sermão.
Flavel pregou de outros púlpitos importantes, tais
como Salstone Rock, ilha situada no Estuário de Salcombe,
que fica submersa durante a maré alta. Nesse refúgio a
congregação “ se demorava em devota assembléia, até a
maré alta os impelir para os seus barcos” .
Fm 1672, o rei Charles II emitiu a Declaração de Indul-
gêneia, dando aos não conformistas liberdade de culto. Flavel
voltou para Dartmouth, licenciado como congregacional.

331
PAIXAO P E L A PUREZA

Quando foi cancelada a indulgência, no ano seguinte, mais


uma vez Flavel recorreu ao expediente de pregar secretamente
nos lares particulares, em vizinhanças isoladas ou em florestas
remotas. A segunda esposa de Flavel morreu nesse tempo, e ele
desposou Ann Downe, filha de um ministro. Seu casamento
transcorreu feliz por onze anos, e eles tiveram dois filhos.
No final da década de 1670 e no início da de 1680, Flavel
levou adiante o seu ministério, mormente escrevendo. Publicou
ao menos nove livros nesse período. No verão de 1682, viu­
-se forçado a buscar segurança em Londres, onde se uniu à
congregação do seu amigo William Jenkyn, hoje conhecido
por seu comentário da Epístola de Judas. Em 1684, soldados
interromperam um culto de oração que Flavel estava dirigindo
com Jenkyn. Flavel escapou por pouco de ser preso. Durante
a sua permanência em Londres, a terceira esposa de Flavel
morreu. Ele se casou com Dorothy, filha viúva de George
Jefferies, ministro de Kingsbridge; ela sobreviveu ao marido.
Em 1685, Flavel retornou a Dartmouth, onde o seu
ministério ficou confinado em seu lar. Pregava todos os domingos
e em muitas noites no meio da semana a muitas pessoas que
se reuniam em sua casa. Nesse mesmo ano uma efígie sua foi
queimada por uma multidão desordenada, mas ele persistiu,
orando por sua amada Dartmouth: “Ó, se não houvesse nenhuma
família sem vida de oração nesta cidade!” Em 1687, o rei James
II decretou outra indulgência para os não conformistas, 0 que
permitiu a Flavel pregar publicamente outra vez. Essa liberdade
foi aumentada posteriormente, com a vinda de Guilherme de
Orange e a Revolução Gloriosa em 1688.
A congregação de Flavel edificou uma grande igreja em
seu retorno ao púlpito. Seus últimos quatro anos de pregação
pública, que começaram com seus sermões sobre Apocalipse
3:20, “Eis que estou à porta e bato”, foram grandemente
abençoados. Contudo, ele estava envelhecendo rapidamente.
Falando por si c por seus colegas, ele escreveu: “Temos
suportado 0 peso e o calor do dia; somos soldados veteranos

332
John Flavel

quase exauridos”. Em 6 de junho de 1691, quando visitava


Exeter para pregar, Flavel sofreu um forte derrame cerebral
e morreu naquela mesma noite, com sessenta e três anos de
idade. Suas palavras finais foram: “Eu sei que tudo vai estar
bem comigo”.
Flavel era humilde, piedoso e culto. Ele passava muito
tempo em estudo e oração. Um dos seus filhos escreveu:
“Ele sempre transbordava de oração, parecia constantemente
exceder a si mesmo, e raramente fazia uso duas vezes das
mesmas expressões” . Era bastante versado em disciplina da
Igreja, em batismo infantil e em vários idiomas orientais.
A pregação de Flavel foi abençoada pelo Espírito Santo.
Robert Murray M’Cheyne fala-nos sobre um imigrante ame­
ricano, Luke Short, que se lembrava de tê-lo ouvido pregar
na Inglaterra quando tinha quinze anos de idade. O texto
foi: “ Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema;
maranata”. Oitenta e cinco anos depois de ouvir Flavel pregar
sobre o horror de morrer sob a maldição de Deus, 0 Espírito
de Deus 0 converteu efetivamente quando estava com cem
anos de idade quando meditava nesse sermão!
O poder da pregação de Flavel vinha da sua profunda
experiência espiritual. Ele passava muitas horas em meditação
e em autoexame. Como Middleton escreve, “Ele [Flavel]
alcançou bem fundada certeza da fé, cujas arrebatadoras
consolações muitas vezes se derramavam em sua alma; isso
fazia dele um pregador muito poderoso e de muito sucesso,
como alguém que falava do seu coração ao coração dos outros.
Ele pregava o que sentia, e o que ele tinha experimentado, o
que tinha visto e provado da Palavra da Vida, e eles sentiam
isso também” (ibid., p. 58).
Certa ocasião, quando meditava sobre o céu, Flavel foi
arrebatado tão completamente pela alegria do céu que perdeu
de vista este mundo. Parando o cavalo perto de uma fonte,
viu a morte como 0 rosto mais amigável que já tinha visto,
exceto o de Cristo, que foi quem lhe propiciou isso. Quando

333
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

finalmente chegou a uma estalagem, o estalajadeiro lhe disse:


“Senhor, que há com sua pessoa? Parece morto” . “Amigo”,
respondeu-lhe Flavel, “nunca estive melhor em minha vida.”
Anos mais tarde, Flavel disse que tinha entendido mais sobre
o céu dessa experiência do que de todos os livros que lera
e de todos os sermões que ouvira sobre o assunto.

The Works of John Flavel (BTT; 6 volumes, 3.600 páginas;


1968). As obras completas de Flavel foram impressas cinco
vezes no século dezoito, três vezes no século dezenove e várias
vezes no século vinte. Repetidas publicações dos seus escritos
(também em edições individuais em brochura) testificam sua
firme instrução doutrinária e aplicação espiritual. Elas têm
sido usadas pelo Espírito para influenciar muitas pessoas,
inclusive teólogos notáveis como Jonathan Edwards c George
Whitefield, e líderes evangélicos escoceses como Robert
Murray M’Cheyne e Andrew Bonar. Archibald Alexander,
o primeiro professor do Seminário de Princeton, leu Flavel
quando era adolescente. Posteriormente ele escreveu: “A John
Flavel certamente eu devo mais do que a qualquer autor não
inspirado”. Edward Bickersteth escreveu: “Existem poucos
escritores de caráter mais experimental, afetuoso, prático,
popular e edificante do que Flavel” (cf. Iain Murray, “John
Flavel”, Banner of Truth, n60 ‫[ ״‬Setembro de 1968]: 3-5).
O primeiro volume das Works de Flavel descreve a vida
de John Flavel e inclui: “The Fountain of Life”. O volume 2
contém “The method of Grace” e “Pneumatologia: A Treatise
of the Soul of Man”. Flavel trata da origem, da natureza e das
capacidades da alma e sua união com o corpo. Ele prova a
imortalidade da alma e mostra como a alma ama o corpo e
“se inclina” para ele.
O volunte 3 contém a parte restante de “Pneumatologia”,
na qual Flavel salienta que devemos pensar frequentemente

334
John Flavel

na morte, em particular em nossa própria morte, antes que


ela venha. Como crentes, devemos lutar para começar a ser
o que esperamos ser, compreendendo que não há nada entre
nós e os que morreram senão um sopro e um breve momento.
Pensar no inferno também pode nos beneficiar, tornando-nos
mais cientes do terrível fim dos pecadores. Esses pensamentos
podem também fazer-nos mais conscientes do propósito da
nossa existência. Mais de cem páginas descrevem as almas dos
crentes no estado intermediário, e vinte páginas falam sobre as
almas dos incrédulos no estado intermediário. Elavel conclui
salientando o valor das nossas almas e a nossa necessidade de
remir 0 tempo. “A Practical Treatise on Fear”, baseado em Isaías
8:12-14, focaliza o medo e mostra que os temores da pessoa são
os mais cruéis atormentadores. “Alguns têm mais medo do que
deveríam, alguns antes do que deveríam, e outros quando não
deveríam ter absolutamente nenhum medo”, Flavel escreve.
“The Righteous Man’s Refuge”, baseado em Isaías 26:20,
acentua como o povo de Deus descansa em Deus, e como os
Seus atributos de sabedoria, fidelidade, imutabilidade e amor
são revelados quando Fie derrama a Sua ira sobre uma nação.
“The Causes and Remedies of Mental Errors” salienta as
diferenças entre questões de fé e opinião humana. Flavel expõe
os perigos dos erros que se insinuam na igreja. Este volume
conclui com “Gospel Unity”, sermão baseado em 1 Corintios
1:10, que promove a unidade na Igreja de Cristo.
Em acréscimo a “England’s Duty Under the Present
Gospel Liberty” [1689] e “The Mystery of Providence” {Se
Deus Quiser}, o volume 4 inclui “Mount Pisgah”, sermão
de ações de graças baseado em Deuteronômio 3:24,25; “A
Narrative of Some Late and Wonderful Sea Deliverances” ;
“Antipharmacum Salubenimum”, breve tratado que provê oito
maneiras pelas quais os crentes devem reagir à tentação e à
tribulação, particularmente às pressões especiais do momento
exercidas pelo catolicismo-romano; e “Tidings from Rome,
or England’s Alarm”, que acentua a necessidade de fazer

335
ΡΑΙΧ AO PKLA PUREZA

oposição ao papado e de preparação para um tempo em


que o catolicismo-romano podería prevalecer na Inglaterra.
O volume 5 contém “A Saint Indeed”, “The Touchstone
of Sincerity” e “A Token for Mourners”, como também a
obra impressionante “Husbandry Spiritualized”, que ilustra
verdades espirituais por meio de vários aspectos das práticas
agrícolas. Também inclui três tratados escritos primariamente
para marinheiros: “Navigation Spiritualized”, que dá sentido
espiritual à vida no mar; “A Caution to Seamen”, que adverte
contra “diversos pecados hórridos e detestáveis”; e “The Seaman’s
Companion”, cujo subtítulo é: “Seis Sermões sobre os Mistérios
da Providência Relacionados com os Homens do Mar”.
O volume 6 contém uma excelente exposição por meio de
perguntas e respostas sobre o Breve Catecismo da Assembléia
de Westminster, como também doze úteis meditações para
prepararem os crentes para a Ceia do Senhor, seguidas de
um diálogo entre um ministro e um cristão em dúvida sobre
a participação na Ceia do Senhor. O volume inclui também
diversos sermões adicionais e três tratados menores sobre
preparação para o sofrimento, defesa do batismo infantil, e a
necessidade de reforma e conversão pessoal.
Esta obra de Flavel inclui títulos cativantes, ditados
notáveis, citações pertinentes e ilustrações simples. Conhe­
cemos um pastor que tem desfrutado grandemente da leitura
de um sermão ou um capítulo de Flavel todas as manhãs,
durante décadas. Quando esse pastor termina a leitura do
volume 6, começa de novo com o volume 1. Se você puder
prover-se de somente umas poucas séries de obras dos
puritanos, a de Flavel deve ser incluída.

Christ Knocking at the Door of the Heart (GM; 400 páginas;


1978). Originalmente intitulado England’s Duty Under the
Present Gospel Liberty, (1689), este livro contém onze sermões
sobre Apocalipse 3:20. Ele explica 0 oferecimento que Deus
faz de Cristo aos pecadores, o coração natural que resiste a

336
John H avel

esse oferecimento e a paciência de Cristo em persistir no


oferecimento. Flavel sugere que toda convicção de consciência
é Cristo batendo para que se Lhe dê entrada na alma. Cristo
é alguém que “zelosamente busca união e comunhão com as
almas dos pecadores”, diz Flavel. Cristo não rejeitará o mais
vil pecador que se disponha a abrir a porta para Ele; antes, Sua
vivificante voz capacita o pecador a receber Cristo pela fé e a
ter comunhão com Ele. Essa é a grande meta do evangelho. O
último sermão, sobre “mútua, doce e íntima comunhão entre
Cristo e os crentes neste mundo”, merece repetida leitura.
Este livro é particularmente útil para convencer os pecadores
que estão lutando para encontrar liberdade em Cristo.

The Fountain of Life (GM; 556 páginas; 1977). Este livro, cujo
subtítulo é, “Uma Exibição de Cristo em Sua Glória Essencial
e Mediatária”, contém quarenta e dois sermões sobre as
riquezas dos ofícios e dos estados de Cristo. O livro oferece
uma abrangente cristologia com teor devocional. Só o capítulo
3, sobre a aliança entre o Pai e 0 Filho, já vale 0 preço do livro.
Também contém quinze sermões sobre os sofrimentos de
Cristo, desde o Jardim do Getsêmani até o Seu sepultamento.
O livro rivaliza com o de Friedrich W. Krummacher, The
Suffering Savior, quanto à paixão experimental e à profundidade.
Diz Flavel que este livro foi escrito “num tempo de grandes
“interrupções” [perseguições]”. Sem dúvida, sua fé foi
grandemente fortalecida por suas reflexões sobre os grandes
sofrimentos do seu glorioso Salvador.

Keeping the Heart (SDG; 170 páginas; 1998). Nesta obra,


originalmente intitulada A Saint Indeed, Flavel examina
como guardar 0 coração e por que esta é a grande vocação de
todos os crentes. Ele sugere seis maneiras de você guardar o
seu coração diante de Deus: (1) converse com o seu coração,
(2) deixe que os males do seu coração humilhem você, (3) ore
pedindo graça, (4) resolva andar mais cuidadosamente com

337
PAIXAO P E L A PUREZA

Deus, (5) seja zeloso da santidade e tenha medo do pecado,


e (6) mantenha-se consciente da onisciência de Deus.
Flavel nos supre de poderosos motivos para guardarmos
os nossos corações. Diz ele que isso nos ajudará a entender
“os profundos mistérios da religião” e a preservar-nos de erros
perigosos. Guardar o nosso coração provará que a nossa fé é
real e sincera. Manterá a alegria através dos meios de graça, tais
como orar, prestar culto e ouvir sermões. Fornecerá elementos
propícios à oração e nos fornecerá provisão para oração, e
nos fará lutar mais por avivamento. Guardar o coração nos
impedirá de cair em pecado, promoverá melhor comunhão
entre os crentes e nos habilitará a preservar as impressões que
nos foram causadas por verdades espirituais.
Deus tem feito uso deste livro para converter muitos. Por
exemplo, um fidalgo de Londres tentou adquirir algumas peças
teatrais numa livraria. O proprietário não tinha nenhuma, mas
recomendou o livro de Flavel, Keeping the Heart. O homem
de Londres blasfemou e ameaçou queimar o livro. Apesar
disso, comprou-o. Um mês depois, voltou dizendo que Deus
0 tinha usado para salvar sua alma. “Pode me vender cem
exemplares?”, ele perguntou.
A edição da SDG inclui uma útil introdução, um esboço e
um guia de estudo escritos por Maureen Bradley, que tornam
esta obra de Flavel um excelente livro para grupos de estudo
compostos de adultos.

The Method of Grace (GM; 560 páginas; 1977). Em cinco seções,


este livro descreve a obra do Espírito em aplicar a redenção a
pecadores. Ele consola 0 crente fraco e põe às claras os perigos
do falso consolo. Na primeira seção, começando com a união
com Cristo (João 17:23), Flavel mostra como 0 Espírito Santo
aplica Cristo à alma (João 6:44), para que a fé possa receber
Cristo e ter comunhão com Ele (João 1:12; Sal. 14:7).
Na segunda seção, Flavel convida os pecadores a virem
a Cristo por meio dos Seus títulos e benefícios. Esses títulos

338
John Flavel

incluem Médico, Misericórdia, Totalmente Amável, Desejado


de Todas as Nações, Senhor da Glória, e Consolação de Israel.
Os benefícios incluem perdão do pecado, aceitação por parte
de Deus, liberdade cristã, reconciliação, e glorificação. Flavel
mostra na terceira seção que a vinda do pecador a Cristo
implica verdadeira convicção de pecado, “ser morto pela lei”
(Rom. 7:9) e ser “ensinado por Deus” (João 6:45).
A seção quatro descreve evidências da união com Cristo,
inclusive a habitação do Espírito (1 João 3:24), tornar-se uma
nova criação (2 Cor. 5:17), mortificar o pecado (Gál. 5:24), e
imitar Cristo (1 João 2:6). A última seção mostra “o estado
lamentável dos incrédulos” em sua morte e miséria espiritual
(Ef. 5:14), sua condenação (João 3:18), e sua incredulidade (2
Cor. 4:3,4). Este livro sonda o coração do crente, desafia a fé
e enriquece o amor.

The Mystery of Providence {Se Deus Quiser}, (BTT; 221


páginas; 1963). Publicado pela primeira vez em 1678 como
Divine Conduct or the Mystety of Providence Opened, este
livro frequentemente reimpresso baseia-se no Salmo 57:2:
“Clamarei ao Deus altíssimo, ao Deus que por mim tudo
executa”. Ele explica a seguinte doutrina: “É dever dos santos,
principalmente em tempos penosos, refletir nas realizações da
Providência por eles em todos os estados e através de todos os
estágios das suas vidas” (p. 20).
Aediçãoda BTT divideestelivroem três seções. Naprimeira,
Flavel explica a evidência da providência no nascimento e
criação dos crentes, em sua conversão e em seu serviço, em suas
lides familiares, e em sua santificação e preservação do mal. Na
segunda, ele instrui os crentes na arte de meditar na providên­
cia de Deus, explicando o dever de tal meditação, como fazê-la,
e os benefícios de fazê-la. Essa meditação promove a comunhão
com Deus, a ternura de Cristo, e o deleite na vida cristã. Isso
dá suporte à vida de fé e provê matéria para louvor. Se não
meditarmos na providência, menosprezaremos os benefícios

339
PAIXAO P E L A PUREZA

de Deus, desconsideraremos a Deus e prejudicaremos a nossa


vida de oração, pois não poderemos orar inteligentemente
se não estivermos sintonizados com a providência de
Deus. Concluindo, Flavel aplica a doutrina da providência
mostrando suas implicações práticas para os crentes e os
problemas decorrentes de lutar contra ela. O livro conclui
com um capítulo intitulado “Vantagens de Registrar nossas
Experiências com a Providência”.
O livro de Flavel é rico de ilustrações. Por exemplo, ao
tratar da diferença entre 0 que Flavel chama “nosso tempo” e
“o tempo de Deus”, Flavel conclui que o nosso tempo não é o
período propício para recebermos as misericórdias destinadas
a nós, uma vez que a demora de Deus “outra coisa não é senão
0 tempo em que Ele prepara misericórdias para você, e o seu
coração para a misericórdia, para que você a tenha com maior
vantagem e conforto. A tola criança apanha a maçã ainda
verde; mas quando a fruta está madura cai por si, e é mais
gostosa e mais saudável” (p. 139).
Este excelente livro sobre a providência abre avenidas de
conhecimento e de experiência espiritual que poucos crentes
têm provado. E valiosíssima para entendermos os propósitos
de Deus para as nossas vidas. Flavel nos ensina a encontrar
prazer em discernir como Deus opera todas as coisas no
mundo para a Sua glória e 0 nosso bem.

True Professors and Mourners: Two Works by John Flavel


(Rhwym; 176 páginas; 1996). Este pequeno livro contém duas
obras: The Touchstone of Sincerity e A Token for Mourners. O
primeiro livro, baseado em Apocalipse 3:17,18, põe à prova
a sinceridade do nosso cristianismo e cruamente expõe a
hipocrisia. O segundo, baseado em Lucas 7:13, discute o
conselho de Cristo à viúva de Nairn, que pranteava a morte de
seu filho único. Flavel adverte contra a tristeza imoderada e
apresenta meios pelos quais sanar esse problema. A linguagem
deste livro foi atualizada para os leitores modernos, mas a
qualidade da encadernação e da diagramação da obra são
muito deficientes.

340
Thomas Ford
(1598-1674)

T homas Ford, ministro em Exeter e membro da Assem-


bleia de Teólogos de Westminster, nasceu em Brixton,
Devon. Frequentou a escola em Plympton e se matriculou
no Magdalen Hall, Oxford, obtendo o grau de Bacharel em
Artes em 1625 e o de Mestre em Artes em 1627. Foi ordenado
diácono em Salisbury em 1631 e presbítero em Bristol no
ano seguinte. Devido a seus sermões agressivos contra a
liturgia da Igreja, Ford foi censurado e forçado a renunciar
ao trabalho de preletor em Oxford. Voltou para Devon, onde
foi bem recebido pelos magistrados de Plymouth, que o
escolheram como seu vigário e preletor, mas o rei interferiu
e vetou as nomeações.
Ford associou-se à família Fleetwood por um tempo e
serviu como capelão do Coronel George Fleetwood. Ford
voltou para a Inglaterra em 1637 e lhe foi oferecido trabalho
e sustento em Aldwincle All Saints, Northamptonshire, por
Sir Miles Fleetwood, pai do coronel que lhe concedera a
capelania. Em 1640, Ford foi um dos representantes da diocese
de Peterborough. Sua primeira publicação, Reformation Sure
and Steadfast, foi impressa em 1641 por ordem da Casa dos
Comuns. No transcurso dos anos seguintes, Ford morou em

341
PAIXAO PKLA PURHZA

diversos lugares. Sua realização mais notável na década de


1640, além de sua obra publicada, The Times Anatomized, foi seu
continuado envolvimento com a Assembléia de Westminster.
Em 1648, Ford revelou o seu presbiterianismo endossando
O Testemunho Unido dos Ministros de Devon em apoio à Solene
Liga e Aliança. Ford tornou-se vigário de St. Lawrence,
Exeter, onde teve muita influência sobre o clero da cidade.
Ele conseguiu organizar uma preleção todas as terças-feiras,
com cada ministro participando de acordo com uma
escala, e a realização da Ceia do Senhor a cada duas semanas,
alternando entre as igrejas.
Nos poucos anos seguintes, Ford se envolveu num conflito
eclesiástico. Ele se engajou num conflito com Lewis Stuckley
sobre a excomunhão de duas mulheres, e eventualmentc
acabou sendo privado de seu posto em St. Lawrence em 1657.
Após a Restauração, Ford permaneceu em Exeter e pregou
um sermão de despedida em St. Mary Major, no dia 13 de agosto
de 1662, um dia antes de ser expulso por não conformidade.
Ele se mudou para Exmouth depois da promulgação do Ato das
Cinco Milhas e ocupou-se em escrever. Em 1667, ele publicou
Scriptures’ Self-Evidence, uma defesa da posição protestante,
seguida no ano seguinte por The Sinner Condemned of himself,
argumentando que os incrédulos merecem a sua condenação,
e The Bishops condemned Out of Their Own Mouths, mostrando
as trágicas consequências de um governo episcopal restaurado.
Ford voltou para Exeter depois da Declaração de
Indulgência de 1672. Sob os termos da indulgência, ele pôde
ministrar em sua casa, mas só pregou duas vezes antes de ser
consumido por uma enfermidade. Ele morreu em 1674 e foi
sepultado em St. Lawrence.

Singing of Psalms: The Duty of Christians under the New


Testament (PA; 121 páginas; 2005). Usando Efésios 5:19,

342
Thomas Ford

Ford considera 0 dever, a causa, 0 modo e a mela do canto da


igreja, salientando a pertinência dos Salmos como um meio de
instrução e de admoestação dos crentes na vida cristã. Muitas
vezes ele faz uma pausa para refletir sobre a mensagem de
Salmos individuais e para mostrar que eles podem ser entoados
com convicção de coração por aqueles que são exercitados nas
questões espirituais. O livro não serve somente para assinalar
o dever do cristão de cantar os Salmos, mas também provê
ajuda prática para o cumprimento desse dever. E contém
também memórias do autor escritas por James Reid.

343
William Gearing
(c. 1625-C.1690)

P ouco se sabe sobre William Gearing. Ao que parece, ele


serviu como ministro em Lymington na década de 1650,
e depois, em Christ Church, em Surrey. Ele pregou um
sermão em St. Mary Le Bow no dia 3 de setembro de 1688,
em memoria do Grande Incêndio de Londres.
Gearing publicou várias obras que revelam íntimo
conhecimento dos pais da igreja, do calvinismo experimental
e da necessidade espiritual dos crentes. Seu tratado meditativo
sobre a oração, A Key to Heaven, (1683), está entre os mais
finos exemplos da piedade do século dezessete. Ele foi ativo
também em publicar alguns dos escritos de John Maynard,
membro da Assembléia de Westminster.

The Glory o f H eaven ( S D G ; 304 p á g in a s ; 2 0 0 5 ). E s ta


o b ra foi p u b lic a d a p e la p r im e ir a vez em 1673 co m o
A Prospect of Heaven: A Treatise of the Happiness of the
Saints in Glory. E x p o n d o R o m a n o s 8 :1 8 , G e a r in g elev a
à c o n te m p la ç ã o d o le ito r ao céu e à b e m -a v e n tu ra n ç a
de v iv er ali. G e a r in g e x a m in a a n a tu re z a , a q u a lid a d e ,

344
William Gearing

a excelência e a certeza do céu. Ele descreve com alguns


detalhes a miséria daqueles que são privados do céu, a bem-
-aventurança dos que chegam lá e a disparidade entre os
sofrimentos presentes e a glória futura.
Gearing lembra-nos que o céu será um lugar de bem-
-aventurança duradoura, não somente por causa da presença
de Deus, mas também por causa da ausência do mal. Ele
explica habilmente que Deus vai mostrar-nos que Ele tinha
operado todas as coisas, conjuntamente, para o bem. Na seção
final, ele discute o emprego da violência para entrar no céu e
conclui: “Deus não designou 0 céu para os parasitas ociosos
nem para os vagabundos, mas sim para os que trabalham para
obtê-lo; o céu é uma coroa ou grinalda, conquiste-a e use-a; é
uma colheita, trabalhe por ela, se queres desfrutar dela; é um
campo em que há um tesouro, tens que adquiri-lo, se queres
possuí-lo; é uma cidade fortificada, e é preciso tomá-la à
força e com violência” .
E m b o r a G e a r in g te n h a re c e b id o p o u c a ate n ç ã o d o s
e ru d ito s, su a o b ra so b re o céu teve a lg u m a a te n ção da
lite ra tu ra e r u d ita (e .g ., P h ilip C . A la n d c o m e n ta a id e ia de
G e a rin g so b re o c o rp o c e le stia l e su a p e rfe iç ã o físic a , em
Heaven and Hell in Enlightenment England , [C a m b rid g e
U n iv e rsity P r e ss, 1994J, p. 108).

345
Richard Gilpin
(1625-1700)

R ichard Gilpin foi descendente de Bernard Gilpin (1517­


1583), um ministro da Igreja da Inglaterra muitas vezes
chamado “o Apóstolo do Norte”, devido a suas muitas viagens
evangelísticas pelos vales do norte do país, onde a Reforma
tinha feito pouco progresso. Richard nasceu em 1625 em
Strickland, em Westmorland. Matriculou-se na Universidade
de Edimburgo, onde primeiro estudou medicina, depois
teologia, obtendo um grau de mestre em 1646.
Gilpin começou seu ministério em Lambeth. A seguir,
tornou-se assistente de John Wilkins, e, posteriormente,
bispo de Chester, na Savoy{Chapel}, em Londres. Em 1652,
Gilpin tornou-se reitor da grande paróquia de Greystoke,
Cumberland, que incluía quatro capelas. Apesar de Gilpin
preferir o sistema presbiteriano de governo da igreja, ele
organizou a paróquia segundo as linhas congregacionais, em
consonância com 0 costume local. Em 1653, ele organizou
uma associação voluntária de ministros e igrejas nos condados
de Cumberland e Westmorland, similar à associação de Baxter
em Worcestershire, se bem que deu ao clero mais poder do
que 0 aprovado por Baxter. Gilpin, publicamente, se opôs aos
quaeres, que chegaram em grande número ao seu distrito e
ocasionalmente interrompiam os seus cultos.

346
Richard Gilpin

Gilpin casou-se duas vezes. Sua primeira esposa morreu


logo depois do casamento. Ele teve treze filhos com sua
segunda esposa, Susanna, filha de William Brisco de Crofton,
Yorkshire.
Depois da expulsão de 1662, primeiro Gilpin retirou-se
para a sua residência no Scaleby Castle, e depois mudou-se
para Newcastle, em 1668, para ministrar por trinta e dois anos
a uma congregação não conformista. Em diversas ocasiões,
na década de 1660, ele foi multado por dirigir cultos secretos
de adoração, mas escapou de perseguição mais séria. Ao que
parece, por volta de 1670 ele foi deixado em paz.
Gilpin continuou a praticar medicina na base de tempo
parcial, e obteve um grau em medicina em Leiden, Holanda,
em 1676. Especializou-se no entendimento médico do êxtase
e da melancolia. Parte da sua obra foi reimpressa recente­
mente no livro de Timothy Rogers, A Discourse on the Trouble
of the Mind and the Disease of Melancholy.
Em 1681, logo após a morte de William Durant, um
pregador independente, Gilpin absorveu a congregação de
Durant com a sua. O desafio de unir dois grupos “de diferentes
opiniões e temperamentos”, como Calamy o expressou, foi
grande. Gilpin aceitou a Declaração de Indulgência proclamada
pelo rei James II em 1687, e alegremente comunicou-se com
o rei. No início da década de 1690, Gilpin atrelou o seu apoio
à Venturosa União de Congregacionais e Presbiterianos, iniciada
em Londres. Depois do fracasso dessa união em 1695, a
congregação de Gilpin experimentou considerável tensão,
que por fim levou a uma dolorosa divisão que pesou sobre
Gilpin até o fim da sua vida.
Gilpin foi um pregador popular. Orador nato, seus sermões
eram bem organizados e eram proferidos extemporáneamente
com paixão e sentimento, pleiteando com os pecadores que
viessem a Cristo. “Na oração ele era solene e fervoroso,
empregando extensamente linguagem das Escrituras e ex­
temando torrentes de afeto que muitas vezes 0 forçavam a

347
PAIXAO P E L A PUREZA

calar-se até dar-lhes vazão pelas lágrimas” (citado em Oxford


DNB, 22:321).
O assistente de Gilpin de 1694 a 1698 foi William Pell,
seguido por Timothy Manlove (m. 1699) e Thomas Bradbury.
Gilpin morreu no dia 13 de fevereiro de 1700, de pneumonia.
Foi dito que o seu último sermão, baseado em 2 Corintios 5:2
(“E por isso também gememos, desejando ser revestidos da
nossa habitação, que é do céu”) foi “mais gemido que falado”.
Bradbury não conseguiu manter a congregação unida;
dentro de três anos deu-se uma divisão maior, o que Gilpin
tanto temia. Contudo, a lembrança de Gilpin foi duradoura.
Seus contemporâneos 0 viam como “o mais expressivo ministro
protestante dissidente dos quatro condados setentrionais do
período de 1660 a 1770” (ibid.).

A Treatise of Satan’s Temptations (SDG; 480 páginas; 2000).


Publicado pela primeira vez em Londres, em 1677, este livro
sobre o combate espiritual ilustra claramente a abordagem
puritana sobre o diabo - que ele é perigoso e que os cristãos
devem defender-se dos seus ataques. Como disse Peter Lewis:
“Os puritanos conheciam o seu pior inimigo melhor do que
muitos conhecem 0 seu melhor amigo”. Em quarenta e quatro
capítulos, Gilpin pormenoriza as artimanhas do diabo, com
muita semelhança com 0 que Brooks faz em seu livro Precious
Remedies Against Satan’s Devices. Contudo, a obra de Gilpin
sobrepuja a de Brooks no tamanho.
O livro de Gilpin tem três partes. A primeira trata
da malícia, do poder, do conhecimento, da crueldade, da
diligência, da astúcia e da falsidade de satanás. Gilpin mostra
numerosos meios de que satanás se utiliza para seduzir,
estorvar e desencorajar os crentes. Ele fala sobre as cobiças
que obscurecem as nossas mentes e pervertem a nossa razão.
Ele explica como satanás finge afastar-se, mantém tranquila

348
Richard Gilpin

a consciência do pecador e prejudica os cultos da igreja e os


deveres espirituais.
Na segunda parte, Gilpin descreve como satanás corrompe
as mentes das pessoas por meio dos seus entendimentos e dos
seus afetos. Ele mostra como satanás priva os crentes da paz
interior por meio de questões de personalidade, de temores e
de tristezas emocionais.
Na última parte, Gilpin mostra como Cristo enfrentou
as tentações de satanás e o que podemos aprender disso. Ele
conclui com cinco antídotos práticos contra os ataques de
satanás: resolva resistir à tentação; não discuta com o tentador
nem com as suas tentações; repila imediatamente a tentação;
resista à tentação com argumentos bíblicos; e use a oração
para rebater a tentação.
Depois que leu este livro, John Ryland escreveu: “ Se
alguma vez houve um homem que conheceu muito bem os
conselhos de gabinete do inferno, este autor é esse homem”.
Edward Bickersteth disse que 0 livro de Gilpin estava “repleto
de experiência cristã”.

349
Thomas Goodwin
(1600-1679)

T homas Goodwin nasceu em 5 de outubro de 1600


em Rollesby, perto de Yarmouth, em Norfolk, região
conhecida pela resistência puritana à perseguição do governo.
Essa atmosfera influenciou os pais de Thomas Goodwin,
Richard e Catherine Goodwin, tementes a Deus. Eles fizeram
o máximo que puderam para preparar seu filho no sentido
de torná-lo um ministro por meio do exemplo deles, como
também propiciando a ele a melhor educação oferecida pelas
escolas locais.
Quando ainda era apenas criança, Goodwin tinha
consciência sensível. Desde a idade de seis nos ele tinha tão
vividas impressões do Espírito Santo que chorava por seu
pecado e lhe vinham “lampejos de alegra quando pensava nas
coisas de Deus”. Quando tinha cerca de treze anos, Goodwin
foi matriculado no Christ’s College, Cambridge, um “ninho de
puritanos” . A lembrança de William Perkins ainda permeava
Cambridge. Richard Sibbes, o “doce destilador de Israel”,
também era urna forte influência. Sibbes pregava normalmente
na Trinity Church, atraindo os que ansiavam por edificação
espiritual, antes que por retórica imaginaria.
Quando tinha catorze anos de idade, Goodwin aguardou

350
THOMAS GOODWIN
PAIXAO P E L A PUREZA

a Páscoa, ocasião em que esperava participar da Ceia do


Senhor. Mas quando chegou o dia, seu preceptor, William
Power, amorosamente impediu o menino de receber a
comunhão por sua idade e imaturidade espiritual. Sentindo-se
rejeitado, Goodwin parou de ir ouvir os sermões e as preleções
de Sibbes, deixou de orar e de ler as Escrituras e a literatura
puritana, e pôs no coração tornar-se um pregador popular.
Determinou-se a estudar a retórica dos pregadores que
cuidavam mais do estilo que da substância e se inclinavam a
abraçar o arminianismo procedente da Holanda.
Goodwin graduou-se no Christ’s College como bacharel em
1616. Em 1619, continuou seus estudos no St. Catherine’s Hall
em Cambridge, provavelmente com esperanças de logo obter
promoção. Recebeu um grau de mestre em 1620 e tornou-se
membro do corpo docente e preletor. Outros companheiros de
docência e direção eram John Arrowsmith, William Spurstowe
e William Strong. Todos eles um dia serviríam com Goodwin na
Assmbleia de Westminster. Alguns desses puritanos tentaram
persuadir Goodwin de que a tal retórica e o arminianismo
não eram edificantes e não serviam à verdade. Acresce que
Goodwin não conseguiu abalar a influência da pregação de
Sibbes e dos sermões de John Preston na capela da escola.
Seu interesse pelo puritanismo oscilou mais um ano, muitas
vezes aumentando pouco antes da Ceia do Senhor.
Finalmente, Deus levou Goodwin a uma profunda
convicção de pecado. Ele foi convertido no dia 2 de outubro
de 1620, pouco depois do seu vigésimo aniversário. Naquela
mesma tarde ele se juntou a alguns amigos para com eles
passar bons momentos. Um dos amigos convenceu o grupo
de ir a um funeral. No culto ali realizado Thomas Bainbridge
pregou sobre Lucas 19:41,42, focalizando a necessidade de
arrependimento pessoal. Deus usou a mensagem para mostrar
a Goodwin os seus terríveis pecados, a depravação essencial do
seu coração, sua aversão a todo bem espiritual e sua condição
desesperadora, que 0 deixavam exposto à ira de Deus. Poucas

352
Thomas Goodwin

horas mais tarde, “diante de Deus, que depois de sermos


regenerados é tão fiel e zeloso de Sua Palavra”, Goodwin recebeu
uma “ rápida palavra” de livramento de Ezequiel, capítulo 16.
Como Goodwin descreve a experiência, foi-lhe dito:

“Vive, sim, eu te disse: vive” - assim aprouve


a Deus, de súbito, e por assim dizer num instante,
alterar todo o seu anterior tratamento para comigo,
e de minha alma e a minha alma disse: “ Sim, vive;
sim, vive”, digo Hu, disse Deus; e, assim como Ele
criou o mundo e a substância de todas as coisas com
uma palavra, assim também Ele criou e colocou
nova vida e novo espírito em minha alma, e tão
grande alteração foi estranha para mim. ...
[Depois] Deus me pôs de lado e como que
privadamente me disse: “Volta-te agora a Mim,
e Eu perdoarei todos os teus pecados, ainda que
sejam muitos, como perdoei e absolví meu servo
Paulo, e te converterei a Mim” (Works, 2:Ixi, lxii).

Depois da sua conversão, Goodwin alinhou-se à tradição


teológica puritana de Perkins, Baynes, Sibbes e Preston. Ele
resolveu não buscar fama pessoal, mas, antes, “apartar-se de
tudo por Cristo e fazer da glória de Deus a medida de todo
o tempo por vir” . Ele abandonou o estilo polido de pregação
preferido pelos teólogos anglicanos, visto que só servia para
chamar a atenção para o pregador, e adotou 0 “estilo franco
de pregação” dos puritanos, pregação que buscava dar toda a
glória a Deus. Sua pregação tornou-se enérgica, experimental
e pastoral.
De 1620 a 1627, Goodwin buscou a certeza pessoal da fé.
Por meio de cartas e conversas com um piedoso ministro, o
Rev. Price de King’s Lynn (que Goodwin dizia que “era o
maior homem quanto à familiaridade experimental com Cristo
que ele tinha conhecido”), foi levado a ver a sua necessidade

353
PAIXAO PHLA PUREZA

de “viver pela fé em Cristo e dEle derivar vida e força para


a santificação, e todo o conforto e alegría mediante a fé” .
Posteriormente ele disse, a respeito desse período de luta
espiritual: “Estive desviado de Cristo por diversos anos, só
procurando sinais da graça em mim. Eoram quase sete anos,
até que fui levado a viver pela fé em Cristo, e pelo generoso
amor de Deus, tanto um quanto outro sendo igualmente o
objeto da fé”.
Einalmente a alma de Goodwin encontrou repouso
em Cristo, e nEle somente. Sua pregação veio a ser mais
cristocêntrica. Ele podería concordar com o conselho de
Sibbes: “Jovem, se você gostaria de fazer algum bem, deve
pregar o evangelho e a livre graça de Deus em Cristo Jesus”.
Pouco antes desse tempo, em 1625, Goodwin tinha sido
licenciado como pregador. No ano seguinte, ele ajudou a trazer
Sibbes para o St. Catherine’s Hall como diretor. Em 1628,
Goodwin foi nomeado preletor na Trinity Church, sucedendo
a Sibbes e a Preston, tendo nessa ocasião a idade de vinte e sete
anos. De 1632 a 1634, Goodwin serviu como vigário da igreja.
Depois, por não querer submeter-se aos artigos do arcebispo
William Laud sobre conformidade, Goodwin foi forçado a
renunciar a seus ofícios. Saiu de Cambridge, apesar de muitas
pessoas, inclusive várias que depois se tornaram influentes
pastores puritanos, terem sido convertidos sob a pregação e
as preleçõesde Goodwin ali.
Em meados da década de 1630, em grande parte sob a
influência de John Cotton, Goodwin adotou princípios dos
independentes sobre o governo da Igreja. De 1634 a 1639 ele
foi um pregador separatista em Londres. Em 1639, devido a
crescentes restrições contra a pregação, com ameaças de multa
e prisão, Goodwin refugiou-se na Holanda. Trabalhou em
Arnhem com outros conhecidos ministros independentes,
servindo a mais de cem pessoas que tinham fugido da
perseguição de Laud. Durante dois anos Goodwin trocou
idéias com seus colegas holandeses. Logo se deu conta de que

354
Thomas Goodwin

os teólogos da Pós-Reforma Holandesa (Naciere Reformaúe)


estavam enfatizando a mesma espécie de verdades na pregação
e no pastoreio que os puritanos ingleses enfatizavam, e com
a mesma espécie de reações dos colegas. Justamente como
alguns calvinistas ortodoxos holandeses viam com desdém a
piedade de Gisbertus Voetius, assim também alguns clérigos
calvinistas da Inglaterra viam os puritanos com suspeita.
Contudo, na Holanda havia mais liberdade para se fazerem
experiências com o governo da igreja entre as congregações
de refugiados. Por isso Goodwin explorou o “caminho
congregacional”, sabendo que os independentes eram minoria
entre os puritanos da Inglaterra, como também entre os
reformados da Holanda.
Em 1641, depois que Laud foi impugnado, Goodwin aten­
deu ao convite dirigido pelo parlamento aos não conformistas
para voltarem para a Inglaterra. Goodwin pregou diante do
parlamento no dia 27 de abril de 1642. Subsequentemente ele foi
nomeado membro da Assembléia de Westminster. Dele se diz
que ali ele foi “a figura mais decisiva e o grande perturbador
da Assembléia de Westminster”, por sua constante promoção
do governo eclesiástico independente. Os registros das
243 sessões da Assembléia indicam que Goodwin fez uso
da palavra mais vezes do que qualquer outro teólogo - 357
ao todo. Goodwin, Philip Nye, Sidrach Simpson, William
Bridge e Jeremiah Burroughs ficaram conhecidos como os
cinco “ Irmãos Dissidentes” . Eles apresentaram à Assembléia
de Westminster sua Apologetical Narration, (1644).
A despeito do prolongado debate de Goodwin sobre
governo da Igreja, ele reteve o respeito da maioria presbiteriana
como um puritano capaz e pacífico. Ele foi escolhido para orar
na solene reunião de oração de sete horas antes da discussão da
assembléia sobre a disciplina da Igreja. Pediram-lhe também,
em 1644, que apresentasse ao parlamento The Directory for the
Public Worship of God. Essa foi uma das diversas vezes que
Goodwin pregou diante do parlamento. Também foi solicitado,

355
Thomas Goodwin

pela Casa dos Lordes, a Goodwin e a Jeremiah Whitaker,


que inspecionassem os papéis que iam ser impressos para a
Assembleia.
Depois que a Assembleia entrou em recesso, Goodwin
recebeu nomeações adicionais. Em 1649, Goodwin, Joseph
Caryl e Edward Reynolds foram nomeados preletores em
Oxford. No dia 7 de junho de 1649, tanto Goodwin como
Owen pregaram diante da Casa dos Comuns num dia especial
de pública ação de graças. No dia seguinte os seus nomes foram
apresentados pela Casa para promoção à presidência dos dois
colégios de Oxford. Em 1650, Goodwin tornou-se presidente
do Magdalen College, Oxford, e Owen se tornou deão da
Christ Church. Certamente ambos tiveram considerável
influência, visto que Cromwell logo rendeu seu poder como
chanceler a uma comissão chefiada por Owen. Goodwin foi
feito conselheiro imediato de Cromwell e comissário em
Oxford do Lorde Protetor.
Goodwin ajudou a modelar 0 Magdalen College para ser
uma instituição que aderisse à verdade bíblica e à doutrina
calvinista experimental. Ele exigia tal excelência acadêmica
e tratava tão francamente da vida espiritual dos estudantes
que era acusado de operar “uma loja de escrúpulo” por
aqueles que não apreciavam sua ênfase puritana. Entretanto,
foi durante esses anos que, como posteriormente 0 Lorde
Clarendon declarou, “A Universidade de Oxford produziu
uma colheita de extraordinário bem e de sólido conhecí-
mento em todos os aspectos do saber”.
Quando iniciou a sua presidência do College, Goodwin
casou-se pela segunda vez. Em 1638, ele havia desposado
Elizabeth Prescott, piedosa filha de um magistrado londrino,
mas ela morreu na década de 1640, deixando-o com uma filha.
Em 1649, ele se casou com Mary Hammond, “de antiga e
honorável linhagem de Shropshire”. Goodwin tinha quarenta
e nove anos de idade, e Mary Hammond tinha dezessete,
mas ela era sábia além de sua idade. Os Goodwin tiveram

356
PAIXAO P E L A PU R EZA

dois filhos, Thomas e Richard, e duas filhas, ambas as quais


faleceram na infância. Richard morreu jovem, durante uma
viagem às índias Orientais. Thomas seguiu os passos de seu
pai como pastor independente, e mais tarde estabeleceu uma
academia particular para treinar ministros.
Os anos de Goodwin em Oxford foram produtivos. Ele
e John Owen faziam preleções para estudantes nas tardes de
domingo, e ambos eram capelães de Cromwell. Um fervor
espiritual espalhou-se entre os estudantes. Philip Henry, pai de
Matthew Henry, 0 famoso comentarista da Bíblia, frequentava
Oxford nessa época. Disse ele: “Uma séria piedade estava em
alta reputação, e ao lado das oportunidades públicas que eles
tinham, muitos dos universitários costumavam reunir-se
para oração e para conferência cristã, para grande conforto
dos corações uns dos outros no temor e amor de Deus, e
para seu preparo para o serviço da Igreja” (J.B. Williams,
The Lives of Philip and Matthew Henry, p. 19).
Goodwin também começou uma igreja independente,
pregando a uma singular congregação que incluía Stephen
Charnock, membro do corpo docente do New College, e
Thankful Owen, presidente do St. John’s. Em 1653, foi­
-lhe outorgado o doutorado em teologia pela Universidade
de Oxford. No ano seguinte ele foi escolhido por Cromwell
para fazer parte da junta de inspetores da Universidade de
Oxford, como também para ser um dos examinadores da
junta encarregada da aprovação dos pregadores públicos, a
qual examinava os homens para o púlpito e para a obra de
instrução pública. A seguir Goodwin foi designado para a
comissão de Oxfordshire incumbida da expulsão de ministros
reprováveis. Durante essa década, Goodwin, provavelmente,
estava mais próximo de Cromwell do que qualquer outro
teólogo independente. Ele assistiu o Lorde Protetor em seu
leito de morte.
Antes de Cromwell morrer, no dia 3 de setembro de 1658,
Goodwin obteve sua permissão para organizar um sínodo

357
Thomas Goodwin

de independentes e para preparar uma confissão de fé. No


dia 29 de setembro de 1658, Goodwin, Owen, Philip Nye,
William Bridge, Joseph Caryl e William Greenhill lavraram
a Declaração de Savoy sobre Fé e Ordem, e editaram uma
versão da Confissão de Fé de Westminster, para umas 120
igrejas independentes. E quase certo que Owen redigiu
a longa introdução, mas, provavelmente, Goodwin foi
responsável pela maior parte do anteprojeto. O documento
foi apresentado para aprovação dos representantes das igrejas
independentes, e foi aprovado por unanimidade no dia 12 de
outubro de 1658. No dia 14 de outubro, Goodwin liderou uma
delegação encarregada de apresentar a declaração a Richard
Cromwell; o documento tornou-se o padrão confessional para
0 congregacionalismo britânico. Com ligeiras modificações,
foi adotado pelas igrejas congregacionais americanas em
Boston, no dia 12 de maio de 1680.
Com a acessão de Charles II em 1660 e o consequente fim
do poder puritano, Goodwin foi compelido a sair de Oxford.
Ele e muitos da sua congregação independente mudaram-se
para Londres, onde começaram uma nova igreja. Apesar das
garantias dadas em contrário, o novo rei emitiu rigorosas leis
de conformidade. Fm 1662, dois mil ministros piedosos foram
expulsos da Igreja nacional. Visto que estava numa igreja
independente e não exercia ofícios designados para governo,
Goodwin não sofreu muito com a expulsão. Ele continuou
a pregar através de muitos anos de perseguição sob Charles
II. Também permaneceu com a sua congregação londrina
durante a terrível peste, quando muitos clérigos da Igreja
estabelecida abandonaram a cidade. Ele dedicou os últimos
anos de sua existência pregando, realizando a obra pastoral
e escrevendo.
Goodwin morreu em Londres com oitenta anos de idade.
Seu filho escreveu a respeito do seu piedoso pai:

Em toda a violência da [sua febre], ele discursava

358
PAIXAO P E L A PUREZA

com aquele fervor de fé e certeza do amor de Cristo,


com aquela admiração pela livre graça, com aquele
gozo por crer, com tais ações de graças e louvores
que comoviam e influenciavam em extremo todos
os que o ouviam. ... Ele se regozijava em pensar
que ia morrer e que ia ter plena e ininterrupta
comunhão com Deus. “Vou indo ter com as três
Pessoas com as quais tive comunhão”, disse ele.
“Elas me tomaram; não fui eu que as tomei. ...
Eu nem podia imaginar que teria tal medida de fé
nesta hora.... Cristo não podería amar-me mais do
que me ama; penso que eu não poderia amar Cristo
mais do que O amo; estou extasiado em Deus...”.
Com esta certeza de fé, e plenitude de alegria, sua
alma deixou este mundo (Works, 2:lxxiv, lxxv).

Goodwin alcançou reconhecimento como líder do


movimento independente durante a Guerra Civil e no período
do Interregno, e foi conhecido também entre os teólogos
puritanos do século dezessete como crente eminente, hábil
pregador, pastor atencioso e escritor profundamente espiritual.
Sepultado em Bunhill Eields, o epitáfio sobre ele, redigido em
latim, é mais comovente quando lido completamente. Seu
texto resume bem os seus dons mais importantes, declarando
que era grande conhecedor das Escrituras, seguro em seu juízo,
iluminado pelo Espírito, podendo penetrar os mistérios do
evangelho; ele foi um pacificador de consciências atribuladas,
um desbaratador do erro e um pastor verdadeiramente cristão;
ele edificou muitas almas que primeiramente conquistara
para Cristo. A parte final do seu epitáfio está se cumprindo
realmente hoje pela reimpressão de suas obras:

Seus escritos..., o mais nobre monumento de


louvor a este grande homem, propagará seu nome
com um odor mais fragranté do que 0 do mais rico

359
Thomas Goodwin

perfume, para florescer nas distantes eras nas quais


este mármore, inscrito com sua justa honra, terá
virado pó.

The Works of Thomas Goodwin (RHB; 12 volumes; 2006).


Goodwin foi um prolífico escritor e editor. Durante a década
de 1630, ele e John Bali editaram as obras de John Preston
e de Richard Sibbes. Goodwin começou a publicar seus
próprios sermões em 1636. Por ocasião de sua morte, ele
tinha publicado ao menos doze obras devocionais, na maioria
coleções de sermões. Elas foram relançadas quarenta e sete
vezes, indicando uma grande demanda por suas publicações.
Muitos dos escritos teológicos de Goodwin foram escritos
quando ele era mais velho, e foram publicados depois do
seu falecimento. Seu grande corpus de publicações revela um
zelo pastoral, literário e cultural raramente rivalizado por
puritanos.
A primeira coleção das obras de Goodwin foi publicada
em cinco volumes infolios em Londres, de 1681 a 1704, sob a
responsabilidade editorial de Thankful Owen, Thomas Baron
e Thomas Goodwin, Jr. Uma versão resumida dessas obras
foi impressa mais tarde em quatro volumes (Londres, 1847­
1850). A presente edição republicada de doze volumes foi
impressa por James Nichol (Edimburgo, 1861-1866) na Série
of Standard Divines, de Nichol. E muito superior aos cinco
volumes infolios originais.
A exegese de Goodwin é sólida; ele não deixa pedra alguma
sem ser remexida. Seus primeiros editores (1681) disseram de
sua obra: “Ele era um gênio capaz de ir ao fundo das questões,
para “estudá-las abaixo da superfície”, como ele costumava
expressar-se a respeito, não se contentando com um conhe­
cimento superficial, sem mergulhar nas profundezas das
coisas”. Edmund Calamy o diz desta maneira: “É evidente,

360
PAIXAO P E L A PU R EZA

dos seus escritos, que ele não estudava palavras, mas sim
assuntos. Seu estilo é simples e familiar; mas muito difuso,
rústico e tedioso”. E preciso ter paciência para ler Goodwin;
contudo, juntando profundidade e redundância, cie dá uma
sensação de paixão e experiência. A paciência do leitor será
amplamente recompensada.
Como 0 principiante deve proceder na leitura das obras de
Goodwin? Eis a sugestão de um plano: Observação: os livros
assinalados com f foram impressos ao menos uma vez desde
a década de 1950.

1. Comece lendo algum dos escritos mais curtos e


mais práticos de Goodwin, como por exemplo
Patience and Its Perfect Workf, que inclui quatro
sermões sobre Tiago 1:1-5. Essa obra foi escrita
depois que grande parte da biblioteca pessoal
de Goodwin foi destruída pelo fogo (2:429­
467). Ele contém muita instrução prática sobre
aumentar o espírito de submissão.
Leia Certain Select Cases Resolved, que
apresenta três tratados experimentais. Estes
revelam 0 coração pastoral de Goodwin pelos
cristãos aflitos. Cada um deles visa lutas
específicas que se dão na alma do crente: (a)
“A Child of Light Walking in Darkness” é
uma obra clássica sobre encorajamento para os
espiritualmente deprimidos, baseada em Isaías
50:10,11 (3:231-350). O subtítulo resume o seu
conteúdo: “A Treatise shewing The Causes by
which, The Cases wherein, and the Ends for
which, God leaves His Children to Distress of
Conscience, Together with Directions How to
Walk so as to Come Eorth of Such a Condition”.
(b) “The Return of Prayers” f, baseado no
Salmo 85:8, é uma obra singularmente prática.

361
Thomas Goodwin

Oferece ajuda afirmando que “Deus Responde


as Nossas Orações”, (3:353-429). (c) “The
Trial of a Christian’s Growth”, (3:433-506),
baseado em João 15:1,2, é uma obra-prima
sobre a santificação. Focaliza a mortificação e
a vivificação. Quanto a um pequeno clássico
sobre crescimento espiritual, esta joia continua
não superada.
Você podería ler também The Vanity of
Thoughts f, baseado em Jeremias 4:14, (3:509­
528). Esta obra, frequentemente republicada em
brochura, salienta a necessidade de levar cativo
todo pensamento a Cristo. Também prescreve
os meios pelos quais fomentar essa obediência.

2. Leia alguns dos grandes sermões de Goodwin.


Inevitavelmente, eles são fortes, bíblicos,
cristológicos e experimentais (2:359-425;
4:151-224; 5:439-548; 7:473-576; 9:499-514;
12:1-127).

3. Examine bem as obras de Goodwin que


explicam doutrinas importantes, tais como :
• A Unregenerate Man’s Guiltiness Before God
in Respect of Sin and Punishment f (10:1-567).
Este é um tratado de peso sobre a culpa, a
corrupção e a imputação e punição do pecado.
Ao expor a depravação total do coração do
homem natural, este livro não tem paralelo. Seu
objetivo é produzir uma sentida necessidade da
fé salvadora em Cristo, antes que oferecer uma
solução rápida e instantânea da cristandade
superficial.
• The Object and Acts ofJustifying Faith f (8:1 -
593). Este é um clássico sobre a fé frequentemente

362
ΡΛΙΧΑΟ PI-LA PIJRLZA

reimpresso. A Parte 1, sobre os objetos da fé,


focaliza a natureza de Deus, Cristo, e a livre graça
de Deus revelada em Suas promessas absolutas.
A Parte 2 trata dos atos da fé - o que significa
crer em Cristo, obter certeza, encontrar alegria
no Espírito Santo e fazer uso do amor eletivo
de Deus. Uma seção explica belamente “as
atividades da fé na oração”. A Parte 3 fala das
propriedades da fé - sua excelência em dar toda
a honra a Deus e a Cristo; sua dificuldade em ir
além das capacidades naturais do homem; sua
necessidade de requerer de nós que creiamos
na força de Deus. A conclusão provê “diretrizes
para nos guiarem em nossos esforços para crer” .
• Christ the Mediator f (2 Cor. 5:18,19), Christ
Set Forth (Rom. 8:34), e The Heart of Christ in
Heaven Towards Sinners on Earth, são grandes
obras sobre a cristologia (5:1-438; 4 :1 9 2 ‫;־‬
4:93-150). Christ the Mediator apresenta Jesus
em Sua obra substitutiva de humilhação.
Merece que se lhe chame um clássico. Christ
Set Forth proclama Cristo em Sua exaltação,
e The Heart of Christ explora a ternura que a
natureza humana de Cristo glorificada mostra
por .Seu povo na terra. Goodwin é mais místico
nesta obra do que em qualquer outra parte dos
seus escritos, mas como Paul Cook mostrou
habilmente, 0 seu misticismo é mantido dentro
dos limites das Escrituras. Cook declara que
Goodwin não tem paralelo “em sua combinação
do poder intelectual e teológico com o conforto
evangélico e homilético”.
• Gospel Holiness in Heart and Life (7:129-336),
é uma convincente obra-prima, baseada em
Filipenses 1:9-11. Ela explica a doutrina da

363
Thomas Goodwin

santificação em todas as esferas da vida.


• The Knowledge of God the Father, and His Son
Jesus Christ (4:347-569), combinado com The
Work of the Holy Spirit f (6:1-522), exploram
a profunda obra de cada uma das três pessoas
divinas na alma do crente. The Work of the
Spirit é um livro particularmente útil para o
entendimento das doutrinas da regeneração e
da conversão. Ele distingue cuidadosamente a
obra da “consciência natural” da obra salvadora
do Espírito.
• The Glory of the Gospel, (4:227-346), consiste
de dois sermões e um tratado, baseados em
Colossenses 1:26,27. Este livro deve ser lido
junto com The Blessed State of Glory Which the
Saints Possess After Death, (7:339-472), baseado
em Apocalipse 14:13.
• A Discourse of Election f (9:1-498), sonda
profundamente questões como a do debate
supralapsariano-infralapsariano, que discute
a ordem ética ou racional dos decretos de
Deus. Trata também dos frutos da eleição (por
exemplo, ver Livro IV, sobre 1 Pedro 5:10, e
Livro V, sobre como Deus cumpre a Sua aliança
da graça nas gerações de crentes).
• The Creatures and the Condition of Their State
by Creation (7:1-128). Goodwin é mais filosófico
nesta obra do que nas outras.

4. Medite devota e lentamente na exposição de


mais de 900 páginas da exposição de Goodwin
sobre Efésios 1:1 a 2:11 f (1:1-564; 2:1-355).
Alexander Whyte escreveu sobre esta obra:
“Nem Lutero sobre Gálatas é tão capaz exposi­
tor da mente e do coração do apóstolo Paulo

364
PAIXÃO PKLA PUREZA

como Goodwin o é sobre Efésios”.

5. Reserve para o fim a exposição de Goodwin do


livro do Apocalipse f (3:1-226) e sua única obra
polémica, The Constitution, Right Order, and
Government of the Churches of Christ (11.1546‫)־‬.
Os independentes valorizavam altamente esta
polêmica, ao passo que os presbiterianos não,
provavelmente dizendo que Goodwin é digno
de confiança em todos os assuntos, exceto no
do governo eclesiástico. Todavia, a obra de
Goodwin não ofende os presbiterianos. Um dos
seus contemporâneos, que argumentou contra 0
conceito de Goodwin sobre o governo da Igreja,
confessou que Goodwin veiculou “um espírito
verdadeiramente grande e nobre” em toda a
obra.

Goodwin representa o que há de melhor no puritanismo


na atenção ao intelecto, à vontade e ao coração. Seus escritos
revelam o vigor dos primeiros puritanos, como William
Perkins e Richard Sibbes, como também o pensamento
maduro dos teólogos puritanos posteriores, supremamente
representados por Owen.
Homens posteriormente influenciados pelos escritos de
Goodwin incluem John Cotton, Jonathan Edwards, George
Whitefield e John Gill. Alexander Whyte confessou: “Não li
outro autor tanto nem tantas vezes. E continuo a lê-lo até este
dia, como se nunca o tivesse lido antes”. Whyte disse que 0
sermão de Goodwin intitulado “Christ Dwelling in Our Hearts
by Faith”, foi um dos “dois sermões mais grandiosíssimos
da língua inglesa”. E acrescentou:

Goodwin é sempre um intérprete, e o tal


dentre mil. ... Toda a sua obra, através dos seus

365
PAIXAO P E L A PUREZA

doze volumes, tanto é exposição feita do púlpito,


como aplicação feita do púlpito, da Palavra de
Deus. ... Abundante como Goodwin sempre está
da mais madura erudição bíblica e reformada;
cheio como sempre está da melhor cultura
teológica e filosófica dos seus dias e de todos os
dias anteriores; abundante, também, como sempre
está de experiência espiritual a mais profunda - em
tudo se vê a mesma coisa, ele é sempre igualmente
claro, igualmente direto, igualmente não-técnico,
igualmente pessoal e igualmente pastoral {Thirteen
Appreciations, pp. 158ss.).

J.I. Packer concorda: “Whyte descreveu Goodwin


como “o maior exegeta de Paulo, no púlpito, que já viveu”, e
talvez com justiça” , diz ele. “As exposições bíblicas de
Goodwin são inteiramente únicas [ou seja, extraordinárias],
mesmo entre os puritanos, na medida em que combinam
amplitude teológica com profundidade experimental. John
Owen descortinou a mente de Paulo tão claramente como
Goodwin - à vezes, em pormenores, mais claramente - mas
nem Owen descortinou com tanta profundidade o coração
de Paulo”.

366
Thomas Gouge
( 1605 ‫ ־‬1681 )

h o m a s G o u g e, o filh o m ais v elh o de W illia m G ou g e (ver


T m a is a d ia n te ), n asceu em 1605 em S tra tfo rd ‫־‬le ‫־‬Bow,
M id d le se x . Seu pai o in s tr u iu no c o n h e c im e n to e no te m o r de
D e u s; com b e m p o u ca id a d e , T h o m a s d e d ic o u -se ao serviço
do R e d e n to r. R eceb eu p r im e ira m e n te sua ed u ca ção no E to n , e
d ep o is n o K in g ’s G ollege, C a m b rid g e , o n d e se to rn o u m e m b ro
do c o rp o d o c e n te em 1628, e o b te v e u m g ra u de b a c h a re l em
1629 e u m de m e stre em 1633.
Q u a n d o ia m em m e io os seus e stu d o s, ele se to rn o u p ároco
a d ju n to e p re le to r n a St. A n n e B la c k fria rs, o n d e seu pai
m in istra v a . E m 1632, a c e ito u u m a n o m e a ç ã o no Sion C ollege.
E m 1637, foi a d m itid o co m o p áro c o a d ju n to p e rm a n e n te em
T e d d in g to n , M id d le se x , e n o a n o s e g u in te m u d o u -s e p ara
L o n d re s e se to rn o u re ito r da igreja do St. S e p u lc h re , H o lb o rn .
P o u c o d e p o is d a su a c h e g a d a , c a so u -se co m A n n e D arcy,
filh a d e Sir R o b e rt D arcy. E les e s tiv e ra m c a sa d o s tr in ta e
d o is a n o s e tiv e ra m d iv e rso s filhos.
O m in is té rio de v in te e q u a tro an o s de T h o m a s G ouge
na igreja do St. S e p u lc re foi g ra n d e m e n te ab en ç o ad o . Ele
era c o n h e c id o p o r seu fiel a te n d im e n to aos d o e n te s e p o r sua
g e n e ro sid a d e p a ra com os p o b re s, d is trib u in d o doações e n tre

367
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

eles uma vez por semana. Providenciava cânhamo e linho


para os desempregados tecerem, e até vendia seus produtos
para favorecê-los! Todas as manhãs ele ensinava as crianças
da sua paróquia. Gouge se distinguía por sua modestia,
humildade, jovialidade, bondade e caridade.
Em 1661, o importante sermão de Gouge sobre a caridade,
“After what manner must we give alms?”, foi publicado por
Samuel Annesley em The Morning Exercise at Cripplegate,
(agora reimpresso por Richard Owen Roberts como Puritan
Sermons). Nesse mesmo ano Gouge publicou sua obra Christian
Directions Showing How to Walk with God All the Day Long,
influente guia para oração, leitura da Bíblia, observância do
Sabbath (o santo repouso semanal), e a conduta cristã. Na
última seção ele argumenta contra o jogo, a briga de galo e
os esportes perigosos. Ele providenciou um exemplar gratuito
para cada família da sua paróquia.
Gouge foi expulso por não conformidade em 1662.
Uma antiga licença universitária habilitou-o a pregar perio­
dicamente, mas, sendo um não conformista moderado, não
tentou formar uma congregação não conformista. Se não fosse
dissuadido por Thomas Mantón, Gouge teria assumido o
juramento da Lei das Cinco Milhas, de 1665, que comprometia
a não fazer nada que provocasse o governo vigente da Igreja
ou do Estado. Embora pareça que ele ministrou por algum
tempo a uma congregação de duzentos membros que realizava
cultos perto da igreja do St. Sepulchre na parte final da
década de 1660, e que foi licenciado para pregar como
presbiteriano em Snow Hill, Londres, em 1672, Gouge
passou grande parte dos últimos vinte anos de sua vida
evangelizando e praticando atos de caridade. Ele levantou
fundos de considerável monta para ajudar ministros não
conformistas que haviam sido expulsos dos seus púlpitos.
Thomas Gouge perdeu muitos dos seus bens no Grande
Incêndio de Londres, mas suportou a perda com paciência e
humildade. Ele possuía uma grande propriedade herdada de

368
Thomas Gouge

seu pai, que ele usava para ajudar os pobres. Depois de dar
partes dessa propriedade a seus filhos, ficou com uma renda
de 150 libras por ano. Dessa quantia ele dava dois terços
para a obra de caridade e vivia com 50 libras.
Seguindo as pegadas de seu pai, Gouge publicou adicionais
manuais de cristianismo prático, inclusive A Word to Sinners
and a Word to Saints (1668), livro que aguilhoa as consciências
dos salvos e dos que não são salvos, instigando-os à prática
dos seus deveres morais, e The Young Man’s Guide Through the
Wilderness oj this World to the Heavenly Canaan, (1670), tratado
sobre conduta e sobre deveres espirituais para aprendizes.
Em 1672, ele publicou The Principles of the Christian Religion
Explained to the Capacity of the Meanest, catecismo prático
baseado em parte no Breve Catecismo de Westminster.
Nesse mesmo ano, Thomas Gouge decidiu seguir o plano
de Joseph Alleine para a evangelização de Gales; passou
grande parte dos últimos anos de sua vida trabalhando ali. A
miséria e a ignorância das pessoas incitaram a sua compaixão.
Ele tinha dois alvos. Primeiro, queria ensinar as crianças
pobres a ler e escrever inglês e instruí-las no Breve Catecismo
e nos princípios da fé reformada. Por isso estabeleceu escolas,
contratou professores e educou milhares de crianças. Por
volta de 1675, ele tinha estabelecido oitenta e sete escolas
para caridade em todo o território, com exceção de um único
condado. Segundo, queria providenciar livros edificantes
para adultos pobres. Para implementar isso, ele fundou o
Associação Galesa em 1674, junto com Stephen Hughes e
Charles Edwards, por meio da qual levantava fundos dentre
pessoas de bom nível social e comerciantes de Londres e de
Gales para imprimir e distribuir milhares de Bíblias, folhetos
e livros na língua galesa, material produzido por ele e por
escritores como Richard Baxter, Lewis Bayly e Arthur Dent.
Depois de queixar-se de problemas do coração durante
algumas semanas, Thomas Gouge morreu enquanto dormia
no dia 29 de outubro de 1681, com setenta e seis anos de idade.

369
PAIXAO P E L A PUREZA

Foi sepultado no jazigo de seu pai, em St. Anne Blackfriars.


John Tillotson, na época deão de St. Paul’s, pregou nos
funerais.
A distribuição de livros na língua galesa de Thomas
Gouge continuou por décadas depois da sua morte, mas as suas
escolas galesas não sobreviveram. Suas obras completas foram
publicadas em 1706 num grande volume infolio. Diversos
livros dele foram traduzidos para o galés.

Riches Increased by Giving (SPR; 234 páginas; 1992).


Baseado em Mateus 10:41,42 e tendo como subtítulo “o uso
correto de mamom: sendo o meio mais seguro e confiável de
prosperar”, este livro revela a importância de doar de coração.
Esta edição, prefaciada com uma breve biografia do autor,
contém recomendações feitas por teólogos da estatura de
John Owen, Thomas Mantón e William Bates.

370
William Gouge
(1575-1653)

illia m G ou g e n asceu em Bow, p e rto de S tra tfo rd , no


W c o n d a d o de M id d le se x . R eceb eu u m a ed u cação clássica
na St. P a u l’s S ch o o l, em L o n d re s , e n a F e lste d , em Essex. Foi
c o n v e rtid o sob o m in is té rio de seu tio líz e k ie l C ulv erw ell,
c o n h e c id o p u rita n o . F oi d ep o is p a ra 0 E to n C ollege, o n d e
se e n tre g o u ao e s tu d o , à oração e à p e sq u isa na P alav ra de
D eus. N os an o s q u e p asso u no K in g ’s C ollege, C a m b rid g e ,
G ouge ficou se n d o c o n h e c id o co m o u m ex c e le n te esp ecialista
em lógica e co m o d e fe n s o r do ra m ism o . E le era c h a m a d o
“a rq u ip u r ita n o ” p o r a lg u n s e s tu d a n te s d ev id o à sua p ie d a d e
e strita . A p a re n te m e n te , ele n u n c a p e rd e u s e q u e r um dos
cu lto s de oração d irig id o s to d a s as m a n h ã s, às 5h30. L ia q u in z e
c a p ítu lo s da B íb lia d ia ria m e n te - c in c o de m a n h ã , an te s de ir à
capela, c in c o d ep o is do ja n ta r e cin co an te s de ir p a ra a cam a.
G ou g e o b te v e um g rau de b a c h a re l do K in g ’s C ollege em
1598, e u m de m e stre em 1602. T o rn o u -se m e m b ro do corpo
d o c e n te e im p o rta n te esp e e ia lista em h e b ra ic o , e foi n o m e ad o
p re le to r em lógica e em filosofia. E m 1603, seu p ai o p e rsu a d iu
a v iajar de C a m b rid g e p a ra L o n d re s p a ra c o n h e c e r E liz a b e th
C a u lto n , m o ça te m e n te a D e u s, filh a de H e n ry C a u lto n ,
an tig o c o m e rc ia n te em L o n d re s . O p a r logo se casou e teve

371
PAIXAO P E L A PUREZA

treze filhos, oito dos quais chegaram à maturidade. O biógrafo


de Gouge descreve em detalhe o cuidado que Gouge tinha na
condução do culto doméstico.
Em 1608, Gouge tornou-se preletor na igreja paroquial de
St. Anne Blackfriars, Londres, onde ele serviu por quarenta e
cinco anos, até sua morte. Ele foi designado reitor por ocasião
da morte de Stephen Egerton em 1621. Pregava normalmente
duas vezes no dia do Senhor e uma vez toda quarta-feira. Depois
dos seus sermões nos domingos de manhã, ele convidava as
pessoas pobres das vizinhanças para o almoço em sua casa,
após o que discutiam 0 seu sermão. Suas preleções nas quartas­
-feiras atraíam grandes multidões que, de acordo com o seu
biógrafo, “Quando os cristãos piedosos daqueles dias vinham
a Londres, consideravam a sua atividade inacabada, se não
fossem ouvir uma das preleções na Blackfriars”. Centenas
de pessoas foram convertidas e alimentadas na fé por meio
do seu ministério. Brett Usher conclui: “O púlpito de Gouge
tornou-se o mais célebre de Londres” (Oxford DNB, 23.37).
Gouge era um trabalhador ardoroso, um jovial filantropo,
um afável amigo, um grande pacificador, e um fervoroso lutador
com Deus. Ele escreveu onze tratados, alguns dos quais eram
extensos. Ele sustentava estudantes pobres na universidade e
contribuía generosamente para os necessitados. Ele tinha uma
disposição tão branda que o seu biógrafo escreveu: “Ninguém,
nem sua mulher, nem seus filhos, nem os serviçais com os
quais ele vivia e trabalhava todos aqueles anos, jamais viram
semblante irado nele, nem ouviram uma palavra zangada
procedente dele para qualquer deles”.
Gouge era “um suave consolador de almas abatidas e de
consciências aflitas”, segundo o seu biógrafo. Ele veio a ser
um mentor espiritual para muitos ministros de Londres,
ajudando muitos a manterem a paz em suas congregações.
Suas confissões de pecado eram acompanhadas por “muito
quebrantamento de coração, indignação consigo mesmo e
atribuição de razão a Deus”. Na oração, ele era “pertinente,

372
PAIXAO P E L A PUREZA

judicioso, espiritual, oportuno, qualidades seguidas de fé e


fervor, como um verdadeiro filho de Jaco, lutando com Deus
com lágrimas e súplicas”.
Um contemporâneo escreveu sobre William Gouge: “Ele
estudava com muito empenho para engrandecer Cristo e
rebaixar a si próprio”. E Gouge disse dele mesmo: “Quando
olho para mim mesmo, nada vejo senão vácuo e fraqueza;
mas quando olho para Cristo, nada vejo senão plenitude e
suficiência” .
No transcurso dos seus anos de trabalho pastoral, Gouge
continuou com seus estudos. Ele obteve o grau de Bacharel
em Teologia em Cambridge em 1611, e finalmente o de
doutorado em teologia em 1628. Mas a sua esposa Elizabeth
não viveu para testemunhar essa ocasião, pois morreu em
1625, durante o parto do seu décimo terceiro filho. William
Gouge nunca mais se casou.
Na maior parte do tempo, Gouge trabalhou sem sofrer
interferência do governo. Contudo, era importunado pelas
autoridades devido a suas simpatias puritanas em oposição às
novas cerimônias ordenadas pelo bispo Laud e por opor-se ao
arminianismo. Certa ocasião ele passou dois meses na prisão
por republicar a obra de Finch, The Calling of the Jews.
William Gouge foi um escritor prolífico. Em acréscimo às
suas duas obras maciças que foram reimpressas, ele publicou
uma diversidade de títulos, estendendo-se de The WholeAmour
of God (1616) - importante obra sobre a armadura cristã de
Efésios 6:10-20, obscurecida somente pela obra-prima ainda
mais volumosa de William Gurnall - a A Short Catechism,
que foi impresso seis vezes por volta de 1636. Outros títulos
incluem uma exposição do Evangelho de João (1630), God’s
Three Anows (1631), e The Saint’s Sacrifice (1632).
Em 1643, William Gouge foi nomeado para a Assembleia
de Westminster. Ele alternou com Cornelius Burgess a direção
das sessões quando o moderador ou prolocutor, William
Twisse, não estava presente. Em 1644, Gouge foi designado

373
William Gouge

para 0 comitê que examinava os ministros; em 1645, ele foi


designado para o comité que lavrou a Confissão de Fé, e em
1647, foi eleito assessor, após a morte de Herbert Palmer.
Em 1648, ele esteve no comitê que dava apoio ao sistema
presbiteriano de jure divino, ou por direito divino, que
sustentava que 01 governo presbiteriano da Igreja é ordenado
por Deus (“pela lei divina”) nas Escrituras. Mais tarde, nesse
ano, foi solicitado a Gouge que colaborasse com notas sobre
1 Reis e até Ester para o que viria a ser a segunda edição das
Annotations on the Bible da Assembléia de Westminster.
Em seus últimos anos de vida, Gouge sofreu de asma e
de pedras nos rins. Contudo, sua fé se manteve firme, em
meio a agudo sofrimento até a morte. Ele dizia: “[Eu sou]
um grande pecador, mas me consolo num grande Salvador”.
Frequentemente ele repetia as palavras dejó: “ Receberemos o
bem de Deus, e não receberiamos o mal?” Quando um amigo
procurava confortá-lo apontando para a graça que ele tinha
recebido ou para as obras que ele tinha praticado, sua resposta
foi: “Não me atrevo a pensar em nada dessas coisas para
consolar-me. Jesus Cristo, e o que Ele fez e suportou, é a única
base do meu seguro conforto”. Quando ele se aproximava da
morte, disse: “Morte, depois de Jesus Cristo, o meu melhor
amigo é você. Quando eu morrer, estou certo de que vou estar
com Jesus Cristo. Jesus Cristo é a minha alegria”.
William Gouge morreu em 12 de dezembro de 1653, com
setenta e oito anos de idade. Em seus funerais o sermão foi
pregado por William Jenkyn, seu amigo, assistente pastoral
e sucessor. De acordo com William Haller, Gouge se igualava
a Sibbes e a Preston entre os ministros puritanos influentes
de Londres da geração anterior.

A Commentary on the Epistle to the Hebrews (Kregel; 1.148


páginas; 1980). Este volumoso livro, originalmente publicado

374
William Gouge

em três tomos, contém as anotações de mais de mil sermões


pregados durante um período de trinta anos em Blaekfriars. O
primeiro volume foi publicado em 1655; Gouge ainda estava
trabalhando na segunda metade do último capítulo de Hebreus
quando morreu. Seu filho Thomas o completou, fazendo uso
das anotações de seu pai. E uma preciosa exposição sobre a
plenitude de Cristo, sõ ocupando 0 segundo lugar depois de
Owen sobre Hebreus.
Há muita aplicação útil na obra de Gouge. Por exemplo,
comentando Hebreus 11:17, que descreve a oferta que Abraão
fez de Isaque, Gouge, que sepultou vários filhos seus (inclusive
uma filha assassinada), tem uma seção sobre “entregando os mais
queridos a Deus”. Ele escreve: “As bases da nossa entrega dos
nossos entes mais queridos são estas: 1. A suprema soberania de
Deus, pela qual Ele tem poder de mandar em nós e em tudo 0 que
é nosso; e ao que Ele ordenar, temos que ceder. 2. O direito que
Deus tem a tudo o que temos. 3. A força e o poder que Deus tem
de levar tudo embora. Entregar voluntariamente tudo 0 que Ele
quer ter é fazer da necessidade uma virtude. 4. 0 que é devido, é
devido a Deus como gratidão. Aqueles que consideram alguma
coisa querida demais para dar a Deus não são dignos de Deus.
5. A liberalidade de Deus pode recompensar sem comparação
qualquer coisa que Lhe é dada, e 0 fará. Ninguém perderá por
dar a Deus” (p. 806).

Of Domestical Duties (WJ fac-símile; 693 páginas; 1976).


Publicada pela primeira vez em 1622, esta penetrante análise
da família piedosa devido à qual Gouge se tornou mais bem
conhecido, é dividida em oito seções que tratam dos deveres
da vida em família. Na primeira parte, Gouge explica o
fundamento dos deveres domésticos com base em Efésios
5:21-6:9. A segunda parte trata da relação marido-esposa. A
terceira focaliza os deveres das esposas, e a quarta fala dos
deveres dos maridos. A quinta examina os deveres dos filhos,
e a sexta, dos deveres dos pais. As partes finais examinam

375
PAIXAO P E L A PUREZA

as relações e os deveres dos servos e seus senhores.


Embora parte do material de Gouge seja obsoleta, sua
ênfase e seus conselhos são em geral atemporais. Ussher
afirma que finalmente Gouge está sendo “ reconhecido
como um dos mais penetrantes escritores pré-modernos na
articulação do conceito sobre o casamento como “competente
companheirismo” - seu próprio casamento era considerado
exemplar - e sobre paternidade atenciosa, não meramente
prescritiva. Suas percepções psicológicas da natureza da
infância e da adolescência podem ser de tirar o fôlego,
por sua modernidade. Ele toca até na questão da violência
contra as crianças, assunto efetivamente considerado um
tabu até a década de 1970” (Oxford D N B , 23.38).
Gouge é um expositor habilidoso, que extrai aplicações
das Epístolas ao instruir as famílias sobre como andar de
maneira digna do Senhor. Como pai de sete filhos e de seis
filhas, Gouge sabia do que estava falando.

The Sabbath’s Sanctification (PA: 34 páginas; 2002). Original­


mente, Gouge escreveu este breve tratado para uso da sua
família. Depois de tocar brevemente nas bases da moralidade
do descanso no domingo, ele provê judiciosas diretrizes
para a santificação do domingo, delineando cuidadosamente
a distinção entre obras de piedade, de misericórdia e de
necessidade. Essas diretrizes são seguidas de algumas provas
de que o dia do Senhor é o Sabbath cristão - 0 dia cristão de
santo repouso semanal, com pertinentes observações sobre a
hora do dia em que começa o Sabbath. A seção subsequente,
sobre as aberrações do Sabbath, põe às claras as opiniões e
práticas ímpias daqueles que desejam santificar 0 Sabbath
apenas externamente. Gouge conclui sua obra com bom
número de motivos que animam os cristãos a manterem
santo ao Senhor este dia.

376
Richard Greenham
(c. 1542-1594)

como “sizar” 1 no‫״‬ ‫־‬


1559. Obteve 0 grau
de Bacharel em Artes em 1564 e o grau de mestre em 1567.
Nesse mesmo ano foi eleito membro do corpo docente. Em
1570, tornou-se reitor na pequena vila campestre de Dry
Drayton, a cinco milhas a noroeste de Cambridge. Quando
chegou, havia trinta e uma famílias arroladas na congregação,
com cerca de 250 pessoas.
Em 1573, Greenham casou-se com Katherine Bownd,
viúva de um médico, que quando se casou trouxe consigo
quatro filhos. As vezes Greenham parecia ter antipatia pelo
casamento, vendo-o quase como o último recurso contra a
fornicação (“Practical Divinity”, pp. 77-79); por outro lado,
suas demoradas sessões de aconselhamento pré-conjugal
indicam que ele tinha alta consideração pelo casamento.
Greenham tinha muito trabalho a sua espera em Drayton.
As pessoas tinham pouco entendimento e até pouco interesse
pela piedade reformada e pelas diferenças existentes entre
0 catolicismo e o protestantismo. Greenham queixava-se
1 “ S iz a r” , a lu n o b o lsista e m C a m b rid g e e e m D u b lin c o m o b rig a ç õ e s de p re s­
ta ç ã o d e s e rv iç o s . C o r r e s p o n d e a o " s e rv ito r '' d e O x f o rd . N o ta d o trad u to r.

377
PAIXAC) P E L A PUREZA

daqueles que “profanam os santos exercícios”, dos seus defeitos


na prática da oração e no ouvir a Palavra, da superstição no
uso das ordenanças e da negligência quanto à guarda do
domingo, (The Works of M. Richard Greenham, p. 54).
Greenham logo se tornou conhecido pela devoção a
Deus em sua vida, em seu ministério e em seus escritos. Foi
conhecido especialmente por sua defesa da manutenção da
santidade do dia de domingo, ou seja, do Sabbath. Seu tratado
sobre o Sabbath foi publicado postumamente, em 1599, mas
teve circulação em forma não publicada enquanto ele vivia
(Richard L. Greaves, “The Origins of English Sabbatarian
Thought”, (Sixteenth Century Journal 12, no. 3 [1981]: 27).
O ensino foi uma parte importante de Greenham. Durante
duas horas toda quinta-feira e nos domingos, entre os dois cultos,
ele catequizava seu rebanho. Ele estava convencido de que o
ensino preparava os corações das pessoas para a pregação pública,
dado que de outro modo eles não a entenderíam bem. Ele via 0
propósito do catequista tornar a doutrina fácil de entender, e o
papel do aluno interiorizá-la por meio de repetição. Greenham
adaptou o catecismo do Livro de Oração, de 1549, às necessidades
dos seus paroquianos (A Short Form of Catechising, de Greenham,
foi publicada em Practical Divinity, pp. 265-297). Seguindo mais
Lutero que Calvino, Greenham colocou primeiro o Decálogo,
porque acreditava que 0 principal propósito dos Dez Mandamentos
era tornar os pecadores cientes da sua pecaminosidade para levá­
-los a Cristo. Embora seguisse a ordem estabelecida por Lutero,
seu conteúdo era muito diferente. Seu catecismo tinha muitas
perguntas seguidas de muitas respostas breves.
Greenham foi um pregador incansável. Pregava seis vezes
por semana: duas vezes no domingo e em quatro reuniões
matinais durante a semana. Para realizar isso, ele se levantava
todo dia às quatro da madrugada. Ele descreve a pregação
como uma experiência penosa e temível. Ele gesticulava tanto
no púlpito que muitas vezes encharcava a camisa de suor.
Os amigos às vezes o aconselhavam a ficar mais calmo.

378
Richard Greenham

Greenham foi um pioneiro. Primeiro, pioneiro na


casuística reformada e puritana. Ele ficou mais conhecido
como conselheiro espiritual no trato de consciências aflitas e nas
respostas a diversas perguntas das pessoas. Essas discussões foram
coligidas num grupo de escritos conhecidos como “conversa de
mesa” e foram publicadas como Rylands2English Manuscript 524
(republicadas em “Practical Divinity”, pp. 129259‫)־‬. Os escritos
tratam de matérias espirituais e práticas, antes que doutrinária.
John Primus escreve que “o estilo de Greenham, quando se
referia a pecadores, era uma honesta confrontação temperada
pela gentileza” (Richard Greenham, p. 41).
Greenham foi também pioneiro em estabelecer um
seminário para formação de párocos. Um bom número de
homens foi preparado para o ministério sob ele. Alguns
deles, como Arthur Hildersham e Henry Smith, tornaram-se
pregadores e escritores puritanos bastante conhecidos. Como
suas anotações para as preleções eram copiadas e circulavam
amplamente por meio dos estudantes, sua prática e cativante
abordagem do estudo teológico veio a ser altamente respeitada
no movimento puritano primitivo.
Greenham foi também sensível aos interesses materiais da
comunidade. Quando a alimentação era escassa, ele animou
os ricos a estabelecerem um celeiro comunitário para que os
pobres pudessem comprar cereais a baixo custo. O próprio
Greenham contribuiu generosamente para esse esforço. Ele
era tão generoso para doar dinheiro por onde ia que às vezes
tinha que pegar dinheiro emprestado para cumprir seus
compromissos de doação.
Em 1591, Greenham mudou-se para Londres. Antes de
mudar-se, porém, teve influência sobre a escolha de Richard
Warfield como seu sucessor em Dry Drayton. As palavras de
despedida de Greenham a Warfield foram: “ Deus o abençoe, e
envie a você mais frutos do seu labor do que eu tive, pois vejo
que não houve nenhum benefício do [meu] ministério senão
a uma só família” (“Practical Divinity”, p. 23). Samuel Clarke

‫ ’־‬J o h n R y l a n d s ( I SO I - 1 S S S ) . i n d u s t r i a l e f i l a n t r o p o b r i t â n i c o . N o t a d o t r a d u t o r .

379
PAIXAO PHLA PUREZA

relata que Greenham saiu de lá por causa da “intratabilidade


e incapacidade de deixar-se ensinar daquela gente no meio da
qual ele tivera tão grandes mágoas”. Contudo, a história mostra
que, embora Greenham tenha ficado desanimado pela falta de
fruto do seu ministério em Dry Drayton e sem dúvida tenha
esperado que seria mais útil em Londres, o seu ministério em
Dry Drayton teve muito mais sucesso do que ele imaginou.
Inicialmente Greenham não teve uma paróquia em Londres,
mas eventualmente se estabeleceu como preletor na Christ
Church Greyfriars, New Gate. Por volta de setembro de 1593,
a peste negra tinha irrompido na paróquia. Greenham pregou
com firmeza vários sermões, com bom número de ouvintes,
e continuou a trabalhar diligentemente entre o povo,
pregando e visitando. Thomas Fuller acha que ele sucumbiu
à peste em 1594, mas muitos eruditos modernos acham que
mais provavelmente ele morreu de uma combinação de diversos
problemas de saúde - “inclusive sérias dores de dentes, uma
fistula e problemas estomacais” - que ele tinha combatido por
ao menos uma década.
O legado de Greenham como médico de almas continuou
após sua morte. Em 1599, Henry Holland o assemelhou a Elias, e
disse que, quanto “à teologia prática, ele era inferior a poucos ou
a nenhum em seu tempo” ( Works, 1605, p. 724). Thomas Fuller
disse que a “obra-prima” de Greenham consistia “em confortar
consciências feridas; muitos que vinham ter com ele com
olhos chorosos saíam com almas alegres” {The Church History
of Britain, 1655, pp. 219,220). Joseph Hall o chamou “aquele
nosso santo”. Essa impressão dele continuou, especialmente
por meio dos seus pronunciamentos coligidos, dos quais se diz
que ressoam “com uma veracidade e uma força que deram a
Greenham um lugar não inferior a ninguém entre os teólogos
ingleses” (“Practical Divinity”, pp. 35,36). Seus escritos eram
citados frequentemente por puritanos posteriores, e os diários
puritanos revelam que muitos possuíam e liam suas Works.

380
Richard Greenham

“Practical Divinity The Works and Life of Revd. Richard


Greenham (Ashgate; 410 páginas; 1998). Este livro contém
diversos escritos importantes extraídos das Works de Greenham.
Ele focaliza particularmente as primeiras composições de
Greenham, inclusive seu catecismo inacabado, tratados sobre
0 Sabbath (resumido) e sobre o casamento, e conselhos sobre
a leitura das Escrituras e a educação dos filhos. Este volume
inclui também “the sayings”, os ditos de Richard Greenham,
que, seguindo o modelo de “ Table Talk” de Lutero, contêm
numerosos parágrafos sobre vários assuntos práticos que
Greenham comentou de 1581 a 1584.
Quase cada um dos tratados de Greenham merece menção,
mas nos limitamos a comentar “A Profitable Treatise, Containing
a Direction for the Reading and Understanding oj the Holy
Scriptures‫ ״‬. Depois de estabelecer que a pregação e a leitura
da Palavra de Deus são inseparavelmente unidas por Deus na
obra de salvação daquele que crê, Greenham focaliza o nosso
dever de ler as Escrituras, buscando suporte em Deuteronômio
6:6, 11:18; Neemias 8:8; Salmo 1:2; Atos 15:21; e 2 Pedro
1:19. Ele sugere oito maneiras de ler as Escrituras:1

1. Com diligência. Devemos ser mais diligentes na


leitura das Escrituras do que em qualquer outra
coisa - mais do que os homens cavam em busca
de um tesouro escondido. Diligência torna
lugares pedregosos em aplanados; torna o difícil
em fácil; torna 0 insípido em saboroso.
2. Com sabedoria. Devemos ser sábios na escolha
do assunto, da ordem e do tempo. Em termos
do assunto, não devemos tentar passar do que
é revelado para o que não é revelado, nem
passar mais tempo com as porções mais difíceis
das Escrituras. Em termos da ordem, o sábio
leitor das Escrituras deve estar firmemente

381
PAIXAO P E L A PUREZA

fundamentado em todos os pontos importantes


da doutrina crista. Além disso, a leitura das
Escrituras deve seguir alguma forma de ordem,
porque urna Biblia completa faz um cristão
completo. Em termos do tempo, todo o dia de
domingo deve ser dedicado a exercícios tais
como o da leitura das Escrituras. Nos outros
dias, deve-se ler uma porção das Escrituras de
manhã, ao meio-dia e de noite.
3. Com preparação. Para atender ao desejo de
aprender de Deus, devemos abordar as
Escrituras com reverente temor de Deus e Sua
majestade, com fé em Cristo e com sinceridade.
4. Com meditação. Isso é tão decisivo como a
preparação antes da leitura das Escrituras.
A leitura pode dar alguma amplitude, mas
só a meditação propiciará profundidade. “A
meditação sem a leitura é errônea, e a leitura
sem a meditação é estéril”, escreve Greenham.
“A meditação faz com que o que lemos seja
pessoalmente nosso.” Ela ajuda a infundir as
Escrituras através de toda a textura da alma.
5. Com conferência. Significa conversação piedosa
com ministros ou com outros crentes. Os
piedosos devem compartilhar com outras
pessoas aquilo que aprendem das Escrituras,
não de maneira orgulhosa, mas com humildade,
confiando em que onde dois ou três se reunirem
para conversação espiritual, Deus estará entre
eles.
6. Com fé. Como diz Hebreus 4:2, a fé é a chave
para o proveitoso recebimento da Palavra.
Por intermédio da leitura da Palavra pela fé, a
nossa fé será refinada. E preciso que a leitura

382
Richard Greenham

das Escrituras prove a nossa fé, não só nas


generalidades sobre nossas vidas, mas também
nas aflições particulares. Assim como o ouro
é provado no fogo, assim também a nossa fé
resistirá ao fogo da aflição.
7. Com a prática. A prática “produzirá aumento da
fé e do arrependimento”, escreve Greenham.
A prática é a melhor maneira de aprender;
quanto mais pomos em prática a Palavra pela
obediência da fé diariamente, tanto mais Deus
aumentará os nossos dons para o Seu serviço e
para a prática adicional.
8. Com oração. Na leitura das Escrituras a oraçào é
indispensável. Ela deve preceder, acompanhar e
seguir a nossa leitura. A oração também envolve,
necessariamente, a ação de graças. “ Se devemos
louvar Deus quando Ele alimenta os nossos
corpos, quanto mais quando Ele alimenta as
nossas almas?”, Greenham pergunta.

Em resumo, se é que a Bíblia deve inserir-se em nós, temos


que inserir-nos nela. Negligenciar a Palavra é negligenciar 0
Senhor, mas os que leem as Escrituras “como uma carta de
amor que Deus enviou a você”, experimentará 0 seu poder
passional e transformador.
Kenneth L. Parker e Eric J. Carlson editaram competente­
mente este volume, que inclui uma douta introdução de 126
páginas de Greenham, que abrange sua vida e seu legado. Eles
mostram o lugar que Greenham ocupou no desenvolvimento do
ministério paroquial reformado elizabetano. Particularmente
úteis são a sua análise do estilo pastoral de Greenham e o
seu estudo da abordagem de Greenham no tratamento dos
casos de consciência.

383
PAIXAO P E L A PUREZA

The Works of the Reverend and Faithful Servant of Jesus


Christ M. Richard Greenham (Da Capo; 500 páginas; 1973).
Este livro é um fac-símile da edição de 1599 das Works de
Greenham, publicado por Henry Holland. Em acréscimo aos
títulos listados em “Practical Divinity ” (ver acima), esta obra
inclui o tratado completo de Greenham sobre o Sahhath, urna
das primeiras e mais profundamente influentes obras em
apoio da sua estrita observância; sermões sobre murmuração,
zelo, um bom nome, a humildade, o arrependimento, e não
extinguir o Espírito; algumas meditações sobre Provérbios,
capítulo 4; e um tratado e diversas cartas para os espiritual­
mente aflitos, escritos pelos quais ele ficou merecidamente
famoso.
Estes escritos revelam a teologia prática e experimental do
puritanismo primitivo. Eles mostram por que Greenham foi
uma figura respeitada, um pastor exemplar e um importante
casuista entre os clérigos elizabetanos.
Sobre as Works de Greenham, Eric Josef Carlson observa
que “adicionais sermões, cartas e coleções de pronunciamentos
foram incorporados em edições posteriores. Depois da morte
de Holland, em 1603, Stephen Egerton assumiu os deveres
editoriais, e em 1612 produziu uma quinta e final edição,
organizada mais racionalmente, e com um soberbo índice”
(Oxford DNB, 23:595).

384
William Greenhill
(1598-1671)

illiam Greenhill foi, provavelmente, filho de John


W Greenhill, um agricultor de Harrow on the Hill,
Middlesex. Hie ingressou no Gonville and Caius College,
Cambridge, com a idade de dezessete anos. Em 1619, obteve
um grau de bacharel e, em 1622, um grau de mestre, tendo
alcançado proficiência nas línguas clássicas e em história.
Foi ordenado em 1628 e no ano seguinte tornou-se reitor
de Oakley, Suffolk. John Preston, de quem ele foi amigo até
a morte de Preston, em 1628, foi a primeira influência na
formação das suas convicções puritanas. Na parte inicial da
década de 1630, Greenhill realizou em Mendlesham, Suffolk,
e em St. George’s Tombland, Norwich, junto com Jeremiah
Burroughs e outros puritanos. Tudo isso acabou de repente em
1636, quando o bispo Matthew Wren, de Norwich, destituiu
Greenhill por recusar-se a ler 0 Book of Sports.
Greenhill e Burroughs refugiaram-se em Rotterdam, onde
cultuaram na igreja independente pastoreada por William
Bridge. Por volta de 1641, Greenhill e Burroughs retornaram
à Inglaterra e se estabeleceram em Londres, onde se tornaram
preletores em Stepney, Middlesex. Burroughs fazia sua
preleção às 7 da manhã e Greenhill às 3 da tarde. Devido a

385
PAIXAO P E L A PUREZA

seus dons de pregação, os dois ficaram conhecidos como “a


estrela matutina” e “a estrela vespertina”.
Depois que irrompeu a guerra civil na Inglaterra, Greenhill
pregou vários firmes sermões diante do parlamento, insistindo
no reforço da justiça e na implementação de reformas. Ele
defendia a Magna Carta e os privilégios parlamentares. Quando
a derrocada da autoridade real promoveu mais congregações
separatistas, Greenhill uniu-se a diversos presbiterianos e
independentes para juntos redigirem Certain Considerations to
Dissuade Men from Furthering Gathering Churches (1643), mas
no ano seguinte ele aceitou o pastorado de uma congregação
recém-formada em Stepney, sendo ele 0 seu primeiro ministro.
Greenhill serviu como teólogo na Assembléia de West­
minster. Ele se opôs à maioria presbiteriana e se pôs ao
lado da minoria independente, se bem que, diversamente
de Burroughs, Bridge, Thomas Goodwin e outros, ele não
assinou a Narration Apologetical (1643). Mas ele se juntou
aos independentes no ano seguinte, quando eles publicaram
A Copy of a Remonstrance Lately Delivered in to the Assembly,
protesto que “explicava que eles não queriam providenciar
um modelo alternativo de governo congregacional da Igreja.
Não somente o parlamento já havia implementado, nessa
altura, uma forma de governo presbiteriano, mas também os
“queixosos” achavam que a Assembléia não tinha considerado
seriamente os seus relatórios anteriores” (Oxford DNB,
23:601,602).
Enquanto servia na Assembléia, Greenhill dedicou 0
primeiro volume do seu extenso comentário sobre Ezequiel à
princesa Elizabeth, filha de Charles I e da rainha da Boêmia,
em 1645. Após a execução de Charles I em 1649, o parlamento
nomeou Greenhill capelão de três dos filhos reais: James,
duque de York (posteriormente James II); Henry, duque de
Gloucester; e Henrietta Maria. Os quatro volumes restantes
da opus magnum de Greenhill sobre Ezequiel apareceram
entre 1649 e 1662.

386
William Greenhill

Greenhill foi um amante da literatura reformada e


escreveu numerosas recomendações de tratados de colegas no
ministério, tais como Burroughs, Bridge e Thomas Shepard.
Ao prefaciar a obra de Burroughs, The Excellency of a Gracious
Spirit (1657), diz ele que os livros “são mais necessários que
as armas; aquelas defendem o corpo, estas a alma” (ibid.,
p. 602).
Greenhill foi envolvido em numerosos tipos de atividades
na parte final da década de 1640 e durante a década seguinte.
Para mencionar só algumas, ele e outros, inclusive Goodwin e
Simpson, escreveram ao parlamento iniciando-os a dar apoio
à obra missionária entre os nativos americanos. Mais tarde
a carta foi publicada como The Day Breaking, if not the Sun
Rising of the Gospel with the Indians in New England. Em 1652,
Greenhill foi envolvido com outros nove teólogos, entre eles
Owen e Bridge, na elaboração de uma proposição visando que o
parlamento condenasse o catecismo racoviano,' um documento
sociniano. No mesmo ano Cromwell fez de Greenhill um
comissário, ou examinador, para a aprovação de pregadores,
e também 0 nomeou vigário de St. Dunstan’s-in-the-East, a
velha paróquia de Stepney. Nesse ínterim, Greenhill continuou
a servir como pastor a uma congregação independente. Com
Owen, Goodwin, Nye, Caryl e Bridge, Greenhill esboçou 0
documento de fé e ordem que a Conferência de Savoy aprovou
em 1658.
Greenhill foi expulso da sua igreja paroquial em 1660
depois da Restauração, mas conseguiu continuar a servir a
sua congregação formada em Stepney - às vezes reunindo os
crentes em sua casa, adjacente à igreja, e às vezes num sótão
secreto - até sua morte. Em 1669, quando a congregação
contava quinhentas pessoas, ele chamou Matthew Mead
para ser seu assistente. Mead veio a ser seu sucessor após a1

1 C a te c is m o R a c o v ia n o : C ra c o v ia n o , d e C ra c o v ia . K ra c ó w e m po lo n ês. N ota
d o trad u to r.

387
PAIXÃO PHLA PUREZA

morte de Greenhill em 1671. Nessa época os dois pregadoares


serviam também a um conventículo de trezentas pessoas em
Meetinghouse Alley, Wapping.
Tendo estabelecido uma ampla rede de contatos
ministeriais durante décadas, a perda de Greenhill foi
pranteada em toda a Inglaterra, e até na América. Poucos anos
antes de sua morte, ele ainda mantinha ativa correspondência
com o governador de Massachusetts, insistindo com ele que
parasse de perseguir os batistas. Ele trabalhou arduamente até
o fim. Apenas semanas antes de Greenhill morrer, um grupo
de magistrados e de ministros de Massachusetts escreveu-lhe
solicitando ajuda para o Harvard College (ibid., p. 603).
John Howe referiu-se a Greenhill como “aquele eminente
servo de Deus cujo louvor ainda permanece nas igrejas” .
James Reid, em Memoirs of the Westminster Divines, descreveu
Greenhill como “um zeloso puritano, grandemente contrário
aos episcopais, às cerimônias supersticiosas e às diversas
formas de corrupção da Igreja da Inglaterra” .

An Exposition of Ezekiel (ΒΊΤ; 860 páginas; 1995). Uma das


proeminentes obras puritanas quanto à exposição do Velho
Testamento, este livro continua sendo um dos mais úteis
comentários em forma de sermões sobre Ezequiel em inglês.
Aqui Greenhill deixa ver sua habilidade como pregador
popular. Esta edição é uma reimpressão da edição de Nichol, de
1863. Sobre esta obra disse Spurgeon: “Sempre obtemos algo
de Greenhill, onde quer que o consultemos. Naturalmente,
ele não tinha a habilidade crítica dos dias atuais, mas sua
percepção espiritual era aguda. Ele mais comentava uma
passagem do que a expunha”.

Christ’s Last Disclosure of Himself (SDG; 211 páginas;


1999). Esta obra, baseada em Apocalipse 22:16,17, examina

388
William Greenhill

o derradeiro convite da Bíblia em doze sermões. Greenhill


mostra Cristo como a raiz e o rebento de Davi, e igualmente
como a brilhante estrela da manhã, revelando o coração
de Cristo aos pecadores. Estes sermões apresentam algum
excelente material sobre sede espiritual, o desejo de Cristo de
salvar pecadores e a livre oferta do evangelho. Eis um exemplo:

Suponham que um homem está num barco em


mau estado no mar. Levanta-se grande temporal e
há muitos piratas por perto. O almirante, vendo sua
situação, envia-lhe a mensagem: “Amigo, amigo,
venha até mim e eu lhe darei segurança”. Mas o
homem recusa a oferta, e logo é arrebatado pelos
piratas, levado embora, e posto numa masmorra.
Ora, o que é que perturba tanto esse homem? A
bondade do almirante que ele desprezou. E 0
que se dá com os pecadores. Cristo, 0 Almirante,
chama os pobres pecadores: “Venham a Mim, e
eu os salvarei da tempestade. Salvarei a alma e o
corpo por toda a eternidade”. Mas vocês recusam
o oferecimento, e por fim serão levados e lançados
no inferno; e ali terão isto em suas almas: que
vocês poderíam ter recebido misericórdia, e não
quiseram. Oh, portanto, venham a Jesus Cristo!
Não se demorem mais. Venham e entreguem-se a
Ele. Vivam como Cristo, e vocês terão um céu aqui,
e um céu no porvir (pp. 161,162).

389
Obadiah Grew
(1607-1689)

O badiah Grew nasceu no dia primeiro de novembro de


1607 e foi batizado três semanas depois em Mancetter,
Atherstone, Warwickshire. Ele foi o terceiro filho de Francis
Grew e de Elizabeth Denison. Depois de ser educado por
seu tio, John Denison, um mestre-escola em Reading,1 foi
enviado ao Balliol College, Oxford, onde obteve tanto o grau
de Bacharel em Artes em 1629 como o de Mestre em Artes em
1632. Depois da graduação, ele serviu como diretor de uma
escola secundária em Mancetter por três anos e foi ordenado
ao ministério em 1635. Casou-se com Ellen Vicars no dia
de Natal de 1637. Tiveram dois filhos, Mary e Nehemiah, e
esse se tornou um distinguido botânico, autor do livro The
Anatomy of Plants, publicado em 1682.
Em 1642, Obadiah Grew mudou-se para a fortaleza
parlamentar de Coventry e, ao lado de Richard Vines, pregou
para as tropas. Por volta de 1644 ele se tornou vigário de
St. Michael’s, substituindo William Panting, um ministro
realista. Na próxima década, Grew estabeleceu-se como um
pastor piedoso e ortodoxo, debateu com batistas notáveis
( apila! d e B e rk s h ire . In g la te rra , a 3 6 m ilh a s d e L o n d re s p o r v ia férrea. N o ta
d o tra d u to r.

390
Obadiah Grew

como Hanserd Knollys e Benjamin Cox sobre 0 batismo


e sobre o governo eclesiástico, e foi influente nos círculos
presbiterianos, servindo numa variedade de comitês para
promoção da prosperidade do presbiterianismo. Grew recebeu
de Oxford, em 1651, os graus de Bacharel em Teologia e de
Doutor em Teologia.
Grew foi expulso da sua posição e de sua residência
por não conformidade em 1662, mas permaneceu na área
de Coventry, pregando privadamente quando lhe era
dada oportunidade. Por volta de 1665 ele estabeleceu um
conventículo. Posteriormente, nesse ano, quando irrompeu
a Grande Peste e muitos ministros abandonaram seus
rebanhos, Grew pregou livremente em muitas áreas. Ele foi
um dos quatro pregadores no Grande Encontro Presbiteriano
de 1669. Três anos depois, ele foi licenciado como pregador
presbiteriano, porém mais adiante enfrentou perseguição
outra vez, na década de 1670.
Em 1682, Grew, que quase perdera a visão, foi condenado
por quebrar a Lei das Cinco Milhas e foi preso, ficando
encarcerado durante seis meses na cadeia de Coventry.
Enquanto esteve preso, ditou diversos sermões a um
assistente; tantas cópias foram postas em disponibilidade
que os conventículos puderam ser mantidos. Quase duzentas
pessoas foram detidas por frequentarem reuniões nas quais
os sermões de Grew eram lidos em voz alta.
Depois da indulgência decretada por James II em 1687,
Grew pregou com regularidade, apesar da sua cegueira e da sua
velhice, para a sua antiga e grande congregação no Coventry’s
Leather Hall. Ele ministrou até setembro de 1689, quando
sua saúde decaiu. Morreu em 22 de outubro de 1689, e foi
sepultado na capela de St. Michael.
Grew publicou três obras durante a sua vida: A Farewell
Sermon (1663 ),A Sinner’s Justification (1670) e Meditations Upon
Our Saviour’s Parable of the Prodigal (1678). Sua obra sobre o
pródigo foi reimpresso várias vezes no fim do século dezessete.

391
PAIXAO P E L A PUREZA

The Lord Our Righteousness: The Old Perspective on Paul


(SDG; 102 páginas; 2005). Publicado pela primeira vez em
1670 como/I Sinner’s Justification, este tratado foi compilado
como reflexões pessoais e depois foi publicado por insistência
de amigos. A obra se divide em oito capítulos e, da maneira
puritana típica, expõe a doutrina, faz exegese dela e depois
encerra com aplicação. A obra de Grew é importante porque
propicia uma sólida exposição da doutrina da justificação
pela fé somente. “O homem não é justificado para a fé, mas
pela fé”, diz Grew.
Com zelo e clareza, Grew mostra pelas Escrituras que
a justificação do homem diante de Deus não depende de
nenhuma justiça inerente a ele, mas, sim, depende totalmente
da justiça de Cristo creditada ao que crê. Ele provê uma sólida
ênfase reformada à justiça de Cristo imputada, concluindo:
“Oh, queira Deus esta doutrina da justiça de Cristo nos encha
de admiração por ter dado 0 Senhor a Seu único e querido
Filho este nome: “O Senhor, Justiça nossa!”

392
William Gurnall
(1616-1679)

Gurnall nasceu na paróquia de St. Margaret,


Lynn, e foi batizado em 17 de novembro de
1616. Foi o segundo filho de Gregory Gurnall e de Catherine
Dressyt. Seu pai era um magistrado em Lynn quando William
nasceu, e se tornou prefeito quando William estava com
oito anos de idade. William recebeu educação na escola
secundária gratuita de Lynn e depois foi para o Emmanuel
College, Cambridge, “ berçário dos puritanos” . Obteve um
grau de bacharel em 1635 e um de mestre em 1639.
Provavelmente Gurnall começou o seu ministério em
Sudbury, Suffolk. Em 1644, pediram-lhe que servisse como
vigário de Lavenham, a maior igreja de West Suffolk. Ele se
tornou reitor depois da morte do titular, Ambrose Copinger.
Apesar de sua fraca saúde, Gurnall passou os próximos trinta
e cinco anos ministrando ali.
Em 1646, Gurnall casou-se com Sarah Mott, filha do
vigário Thomas Mott, de Stoke, perto de Nayland, Suffolk.
O casal teve ao menos catorze filhos, seis dos quais sobrevi­
veram aos pais.
Gurnall não recebeu a ordenação episcopal até ao tempo
da Restauração. Ele era puritano na doutrina, mas desejava

393
PAIXAO P E L A PUREZA

permanecer na Igreja da Inglaterra, principalmente sob


o hispo Edward Reynolds, de Norwich, que professava
simpatias puritanas. Finalmente Reynolds ordenou Gurnall
em 1662, depois que ele se submeteu o Ato de Uniformidade;
consequentemente, Gurnall não foi expulso do pulpito em
1662. Embora o ministério paroquial parecesse não afetado
por essa submissão, a reputação entre os puritanos sofreu. Em
1665, ele foi denunciado num panfleto anônimo intitulado
Covenant Renouncers, Desperate Apostates, que declarava que
ele não estava “só nessas horríveis violações, odiosas para a
alma de Deus e de Seus santos” (p. 6; citado em Oxford DNB,
24:271).
Gurnall publicou uns poucos sermões em 1660, mas é
mais bem conhecido por sua imensa obra intitulada The
Christian in Complete Armour. Ele morreu em 12 de outubro
de 1679, com sessenta e três anos de idade, e foi sepultado no
cemitério da igreja de Lavenham. Logo depois dos funerais,
William Burkitt, pároco da vizinha Milden, pregou um sermão
sobre Hebreus 13:7, concitando a sua congregação a seguir o
exemplo de Gurnall na firmeza e vigor da fé, e a imitar o seu
andar com humildade, amor caridade, diligência e simpatia
para com a aflita Igreja de Cristo.

The Christian in Complete Armour (BTT; 1.189 páginas; 1995).


Este comentário sobre Efésios 6:10-20, foi publicado primeiro
em três partes, em 1655, 1658 e 1662, e foi reimpresso muitas
vezes através dos séculos. Foi traduzido para muitas línguas;
só a tradução para o galês passou por quatro reimpressões no
período de trinta e cinco anos, até a virada do século dezenove.
Uma edição com uma introdução biográfica escrita por J.C.
Ryle apareceu primeiro em 1844, e foi relançada em 1865, e
essa edição foi reimpressa pela BTT. E 0 mais conhecido dos
manuais puritanos sobre combate espiritual, e tem dado muito

394
William Gurnall

conforto espiritual aos santos aflitos através dos séculos.


A respeito deste trabalho Gurnall disse: “O assunto é
sério: uma guerra entre 0 santo e satanás, guerra tão sangrenta
que a mais cruel guerra que fosse travada pelos homens seria
considerada apenas como simples esporte e brincadeira de
criança [comparada] com esta. E sobre uma guerra espiritual
que você vai ler, uma guerra que lhe interessa e também
interessa a quem quer que o leia. O palco no qual esta guerra
é travada é a alma de todos os homens. Ninguém é neutro
nesta guerra. O mundo inteiro está engajado no conflito,
seja a favor de Deus e contra satanás, seja a favor de satanás
e contra Deus” .
A obra é composta de duas partes: “A Short but Powerful
Encouragement to the War” e “Directions for Managing the
War Successfully”. Depois de descrever os inimigos espirituais
do crente, Gurnall pormenoriza a obra de satanás na tentação,
na depressão e no desánimo. A última metade da obra fala
como usar todos os componentes da armadura listados em
Efésios 6:10-20.
A magnum opus de Gurnall é balanceada doutrinariamente
e vem carregada de orientações para o viver cristão. E
notavelmente livre de repetição. Sobre esta obra J.C. Ryle
escreveu: “Muitas vezes você vai encontrar numa linha e
meia uma grande verdade expressa tão concisa e, contudo, tão
completamente, que você ficará realmente maravilhado sobre
como se pode conseguir tanto pensamento em tão poucas
palavras”. Sobre a obra de Gurnall, Spurgeon disse que “é sem
igual e sem preço; cada linha está cheia de sabedoria; cada
frase é sugestiva; 0 livro todo tem sido pregado dezenas de
vezes, e, em nosso juízo, é o melhor formador de conceitos
de nossa biblioteca”. John Newton acrescentou: “ Se eu só
pudesse ler apenas um livro além da Bíblia, escolhería The
Christian in Complete Armour".
Em 1986, a BTT publicou um resumo em três volumes,
em brochura, em The Chritian in Complete Armour. E útil para

395
PAIXAO P E L A PUREZA

os leitores não familiarizados com o estilo e com o vocabulário


de Gurnall.

The Christian’s Labor and Reward (SDG; 180 páginas;


2004). Neste volume, publicado pela primeira vez em 1672,
Gurnall expõe 1 Corintios 15:58 e encoraja os cristãos,
assegurando-lhes: “O labor de vocês não é vão no Senhor” .
Ele analisa a natureza e a qualidade desse labor, como
também da recompensa. Apenso vem seu sermão, “The Civil
Magistrate’s Portrait Drawn from God’s Word”, junto com
um escorço biográfico de Gurnall escrito por J.C. Ryle.

Gleanings from William Gurnall (SDG; 147 páginas; 1996).


Publicado primeiramente em 1914 como Gleanings from the
Past: Extracts from the Writings of William Gurnall, esta coleção
de extratos selecionados por Hamilton Smith, põe em relevo
preciosos ditados que constam em The Christian in Complete
Armour. Pepitas como a seguinte aquecem o coração e sondam
a consciência: “Muitos homens cuidam com mais ternura
de sua pele do que de sua consciência, e preferiríam que o
evangelho lhes desse uma armadura para defender seus
corpos da morte do que suas almas do perigo e da morte” .
Este livro é excelente para devoções diárias.

396
Joseph Hall

i re s p e ita d o b isp o in g lês J o se p h H a ll n asceu n o d ia p rim e iro


O : de ju lh o de 1574 em B risto w P a rk , n as p ro x im id a d e s de
A sh b y -d e -la -Z o u c h , L e ic e s te rs h ire . Seu pai, J o h h n H a ll, foi
a d m in is tra d o r de H e n ry , c o n d e de H u n tin g d o n , na cidade.
Sua m ãe, W in ifre d B a m b rid g e , era u m a m u lh e r p ie d o sa,
co m p a rá v e l, na o p in iã o de H a ll, à m ãe de A g o stin h o , M ôn ica.
H all teve co m o seu p re c e p to r p a rtic u la r, p o r vário s anos,
W illiam P c lse tt, re ito r da igreja de M a rk e t B o sw o rth , e depois
foi e n v ia d o p a ra o E m m a n u e l C ollege, C a m b rid g e , em 1589.
A li a d q u iriu u m a m o r im o rre d o u ro pela p ie d a d e p u rita n a ,
ap esar de a p o ia r m a is a eclesio lo g ia a n g lic a n a do que a
p re s b ite ria n a . E m 1595, to rn o u -s e m e m b ro do c o rp o d o cen te
d ire tiv o da re fe rid a escola; no an o s e g u in te o b te v e 0 g rau de
M e stre em A rtes e foi e leito p re le to r u n iv e rs itá rio em retó rica.
D u ra n te 0 te m p o q u e passo u em C a m b rid g e , H a ll escreveu
Virgidemiarum (1597, “A C o lle c tio n o f S o u n d T h r a s h in g s ” ),
c o letân e a de sá tira s em versos la tin o s. E m 1599, o a rce b isp o
de C a n tu á ria o rd e n o u q u e as sá tira s de H a ll fossem q u e im a d a s
p o r serem licen cio sa s, m as essa o rd e m logo foi revogada.
E m 1601, H a ll to rn o u -s e p áro c o de H a w ste a d , S uffolk, sob
o p a tro c ín io de Sir R o b e n e Lady A n n e D ru ry . A li ele escreveu

397
PAIXAO PKLA PURI-ZA

Contemplations, obra que, impressa dezenas de vezes, tornou-o


memorável para as gerações futuras. Em 1603, ele recebeu 0
grau de Bacharel em Teologia. Nesse mesmo ano ele se casou
com Elizabeth Winiffe; o casal teve seis filhos e duas filhas.
Quatro dos seus filhos seguiram seu pai servindo a Igreja.
Em 1605, Hall acompanhou Sir Edmund Bacon à Holanda,
em parte para obter conhecimento das condições e práticas
da igreja católica romana. Hall tomou parte em debates
na faculdade jesuíta de Bruxelas sobre a autenticidade dos
milagres modernos. Quando suas habilidades para debate se
tornaram demasiado convincentes, o patrono de Hall pediu­
-lhe que não participasse de outras discussões.
Os escritos devocionais de Hall impressionaram Henry
Erederick, 0 filho mais velho do rei James I da Inglaterra
e posterior Príncipe de Gales. Henry nomeou Hall como
um dos seus capelães em 1608. Dois anos mais tarde, ele
recebeu seu doutorado em teologia. Em 1612, o Lord Denny,
posteriormente conde de Norwich, confiou a Hall o cargo de
vigário de Waltham Holy Cross, Essex. Nesse mesmo ano ele
se tornou prebendeiro de Willenhall na igreja da escola de
Wolverhampton.
Em 1616, Hall acompanhou James Hay, Lord Doncaster,
mais tarde conde de Carlisle, à França, para congratular-se com
Louis XIII por seu casamento. Uma enfermidade apressou
0 seu retorno. Em sua ausência, o rei James 0 nomeou deão
de Worcester. Em 1617, Hall foi com o rei à Escócia, onde
defendeu os cinco pontos do cerimonial do culto que o rei
queria impor aos escoceses. Embora o rei se tenha tornado
muito impopular por seus esforços para construir o episco­
pado sobre o presbiterianismo derrotado, a reputação de Hall
nada sofreu. Seu caráter conquistou o respeito dos escoceses
mais eminentes do seu tempo.
Em 1618, o rei James solicitou a Hall que fosse um re­
presentante inglês no Sínodo de Dort, onde ele “trabalhou por
um acordo confessional entre os reformados e os arminianos,

398
Joseph H all

embora baseado numa perspectiva distintivamente reformada,


com base na teologia de Musculus, Zanchius, Polanus e outros
teólogos reformados da época” (Richard Muller, em Solomon’s
Divine Arts, p. 14). Contudo, as longas reuniões afetaram sua
saúde, de modo que depois de alguns meses ele voltou para a
Inglaterra.
Em 1627, Hall foi nomeado bispo de Exeter, onde
continuou a ter parte ativa na controvérsia entre calvinistas e
arminianos que ocorria na Igreja inglesa. Ele fez o melhor que
pôde em sua obra Via media: The Way of Peace para persuadir
os dois partidos a fazerem concessões. Não obstante suas
convicções calvinistas, ele sustentava que reconhecer os erros
que tinham surgido na igreja católica romana não é negar,
necessariamente, a sua catolicidade. Disse ele também que a
Igreja da Inglaterra, tendo repudiado esses erros, não deveria
negar as alegações da igreja católica romana de que era urna
igreja verdadeira. Essa era também a opinião de Charles I (que
se casara com uma católica romana) e dos seus conselheiros
episcopais. Entretanto, o arcebispo Laud, firme arminiano,
enviou agentes à diocese de Hall para investigar as tendências
calvinistas do bispo e sua tolerância com os puritanos e com o
clero da Igreja baixa. Diz Hall que muitas vezes ele esteve de
joelhos diante do rei respondendo às acusações de Laud. Com
o tempo ele ficou tão cansado com as críticas que ameaçou
“desfazer-se da sua veste de linho” (veste semelhante a uma
sobrepeliz, usada pelos bispos), antes que submeter-se a eles.
Contudo, Hall era geralmente paciente com a crítica. Sua
defesa da Igreja inglesa, Episcopacy by Divine Right, (1640),
foi revisado duas vezes sob a orientação de Laud. Depois ele
escreveuAn Humble Remonstrance to the High Court ofParliament,
(1640,1641), vigorosa defesa do episcopado. Cinco teólogos
puritanos, escrevendo sob o pseudônimo de “ Smectymnuus”,
responderam ao livro acusando Hall de tentar evitar ser
chamado puritano durante doze anos, quando na verdade ele
era um puritano em tudo, “menos no episcopado” (Oxford

399
PAIXÃO P E L A PUREZA

DNB, 24:636). Seguiu-se uma longa controvérsia. Somente


John Milton, sem contar outros, escreveu cinco panfletos
atacando Hall e suas sátiras.
Em 1641, Hall serviu no comitê dos Lordes sobre religião.
Posteriormente, nesse ano, ele e outros bispos foram levados
diante do tribunal da Casa dos Lordes para responderem à
acusação de alta traição. Foram condenados, requisitaram­
-lhes os bens e foram encarcerados. Depois de vários meses de
prisão, finalmente foram soltos sob fiança.
Hall pagou uma fiança de 5.000 libras para assegurar sua
liberdade e sua transferência para a sé de Norwich. Como
bispo de Norwich, parece que ele recebeu alguma renda da sé
por um tempo, mas em 1643 as propriedades dos “malignos”,
Hall inclusive, foram sequestradas sob o Ato do Sequestro. A
mulher de Hall teve dificuldade para manter a quinta parte da
verba de manutenção atribuída ao seu marido pelo parlamento.
Finalmente os Hall foram expulsos do palacete, por volta de
1647, e a catedral foi reduzida à condição de igreja paroquial.
A casa, a biblioteca e alguns bens de Hall foram vendidos
para benefício da causa parlamentar.
Hall retirou-se para a vila de Higham, nas vizinhanças,
onde ele passava o tempo pregando c escrevendo, até que ficou
doente demais para continuar. Como ele disse, “ Primeiro fui
proibido pelo homem, e por fim fui incapacitado por Deus”.
Hall suportou pacientemente as suas dificuldades, a sua
pobreza e os seus sofrimentos, vindo a morrer no dia 8 de
setembro de 1656, com oitenta e um anos de idade.
Thomas Fuller escreveu sobre Hall: “Ele era comumente
chamado de nosso Séneca inglês, pela pureza, clareza
e completitude do seu estilo. [Fie era] não infeliz nas
controvérsias, era mais feliz nos comentários, muito bom em
suas recomendações, melhor em seus sermões e melhor que
tudo em suas meditações” . Os escritos polêmicos de Hall,
embora vigorosos e eficientes, eram de interesse passageiro,
mas muitos dos seus escritos devocionais têm sido reimpressos

400
Joseph Hal!

muitas vezes. Hie é conhecido igualmente por sua obra


inicial censurando a moral e por sua crítica às extravagancias
literarias. Nisto ele e os puritanos estavam de acordo, com­
parando refinadas palavras com finas roupas: quanto mais
ornamentais são, mais ímpias devem ser. Em suas convicções
puritanas ele se empenhava pela paz, pela edificação e pelo
conservadorismo em seus comentários, em suas meditações
e em seus panfletos polêmicos.

Contemplations on the Historícal Passages of the Old and


New Testaments (SDG; 3 volumes, 1.600 páginas; 1995). Esta
reimpressão em três volumes é tomada da série de dez volumes
das Works de Hall publicada em 1837. Embora Hall não se
tenha associado aos puritanos, ele compartilhava a herança
experimental deles. Isso é exemplificado claramente nesta
obra, que ele levou vinte anos para completar.
Os vinte e cinco tomos de Contemplations incluem nume­
rosas narrativas históricas das Escrituras. Hall usa linguagem
simples e precisa para expor suas idéias, incentivando os seus
leitores a adorar as verdades bíblicas e o Deus das Escrituras.
Ler as Contemplations, de Hall é “ler as passagens narrativas da
Bíblia através dos olhos de um santo deleitável e de um pastor
veterano. E acompanhar o grande homem numa caminhada
pelos atalhos e vilas de todos os acontecimentos presentes
no sagrado registro e ouvir suas reflexões e as reações do
seu coração. Raramente alguém tem conseguido combinar
linguagem tão simples com tantos comentários profundos”.
A obra Contemplations tem sido apreciada através dos
séculos. Por exemplo, no século dezenove, Charles H. Spurgeon
escreveu: “Preciso recomendar o livro Contemplations, do
bispo Hall, à afetuosa atenção de vocês? Que espírito! Que
percepção! Que cultura! Seu estilo é substancial e arguto como
o de Thomas Fuller, e tem em torno de si uma unção quanto

401
PAIXAO P E L A PU R EZA

à qual Fuller não tem nenhuma pretensão”. Um século antes,


George Whitefield tinha escrito: “Embora fraco, muitas vezes
eu passava duas horas em meus retiros noturnos, e orava,
firmado em meu {Novo} Testamento Grego e na sumamente
excelente obra do bispo Hall intitulada Contemplations‫ ״‬.

Solomon’s Divine Arts, editado por Gerald T. Sheppard


(Pilgrim; 374 páginas; 1991). Este livro transmite a abordagem
realmente singular de Hall ao comentar Provérbios,
Eclesiastes e Cantares de Salomão. Em vez de expor cada texto
separadamente, Hall seleciona textos bíblicos sob um dado
tema, muitas vezes agrupando textos e depois apresentando
os pontos resultantes sobre ética, economia e política.

402
George Hamond
(c. 1620-1705)

G eorge Hamond ingressou no Trinity College, Dublin,


em 1637, e recebeu 0 grau de Bacharel em Artes.
Reconhecendo seus talentos em precoce idade, o arcebispo
James Ussher assinalou que Hamond seria “um homem
notável”. Em 1639, Hamond ingressou no Exeter College,
Oxford, onde obteve o grau de Mestre em Artes em 1641.
Foi ordenado em Exeter no dia 26 de outubro de 1645, e se
tornou reitor de Mamhead, Devon.
Em 1648, Hamond assinou, com outros setenta e dois
ministros de Devon, um testemunho que dava apoio ao
presbiterianismo. Nesse mesmo ano, tornou-se vigário na
paróquia de Kenton, Devon, e depois, em 1654, preletor e
ministro de Totnes. Em 1658, tornou-se 0 reitor de Bigbury,
Devon, e dois anos mais tarde, reitor da paróquia unida
de Holy Trinity e St. Peter, Dorchester. Foi expulso do seu
púlpito pelo Ato de Uniformidade, mas permaneceu no ofício
até 1663. Ele subscreveu o juramento de Oxford em 1665, e
assim evitou as consequências da Lei das Cinco Milhas. Em
1672, ele foi licenciado como mestre presbiteriano.
Em 1667, Hamond tornou-se co-ministro com George
Newton, em Taunton. Enquanto esteve ministrando ali,

403
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

Hamond manteve uma escola com internato. Embora vários


condados admitissem tolerância para com os não conformistas,
os ministros dos dissidentes em Taunton eram perseguidos
severamente. Hamond e Newton foram levados à presença do
tribunal do júri de Somerset em 1680 e foram proibidos de
atividades não conformistas. Newton morreu alguns meses
mais tarde, mas Hamond continuou a desafiar a proibição. A
igreja deles, Paul’s Meeting Presbyterian Church finalmente
foi destruída, em 1683, por ordem do prefeito da cidade.
Hamond lutou para manter unida a congregação, mas depois
mudou para Londres, para evitar a perseguição.
Em Londres, Hamond tornou-se colega de Richard
Steele no Armourers’ Half, situada na Coleman Street.
Recebeu o certificado de ministro em 1689. Steele morreu
no dia 16 de novembro de 1692; Hamond pregou o sermão
em seus funerais no dia seguinte (posteriormente publicado
como A Good Minister of Jesus Christ, [1693]), e se tornou o
único pastor. Ao pedido de colegas, ele escreveu A Discourse
on Family Worship, (1694), obra que em muitos aspectos foi
conciliadora, tentando unir as facções que se multiplicavam
entre os ministros presbiterianos e os independentes.
Em 1699, Hamond sucedeu a William Bates como um dos
preletores das terças-feiras no Salters’ Hall. Ele morreu em
1705, deixando vivos dois filhos e uma filha.

The Case for Family Worship (SDG; 130 páginas; 2005).


Publicado primeiro em 1694 como A Discourse on Family
Worship, o livro de Hamond incluía um apéndice escrito
pelo ministro independente Matthew Barker. Nesta edição
da SDG o apêndice foi considerado como capítulo 12 e
erradamente apresentado como obra de Hamond. O efeito
de unir os pensamentos de Barker sobre o culto em família
à obra maior de Hamond foi também unir ministros sobre

404
George Hamond

a base comum da sincera adoração a Deus sob um mesmo


teto. Lamentavelmente, este esforço foi demasiado tardio,
pois a união entre ministros presbiterianos e independentes
dissolveu-se antes desta publicação.
A apresentação feita por Hamond da causa bíblica em
prol do culto em família continua sendo relevante nos dias
atuais. Argumentando com base tanto nos exemplos de
Abrão, Jó e Josué, no Velho Testamento, como nos exemplos
de Cristo e Cornélio, no Novo Testamento, ele mostra que,
se não passarmos tempo realizando culto em casa, o mais
provável é que os nossos filhos achem irrelevante o culto
coletivo. Positivamente, quando tomarmos tempo a fim de
catequizar nossas famílias e para prestar culto com elas além
dos domingos, eles entenderão que se deve adorar a Deus
em todo o tempo da vida.

405
Nathanael Hardy
(1619-1670)

N athanael Hardy, um escritor prolífico, nasceu no dia 14 de


setembro de 1619, e foi batizado na igreja de St. Martin’s,
Ludgate. Ele recebeu sua educação em Londres e tornou-se
aluno bolsista1 do Magdalen Hall, Oxford, em 1633. Recebeu
um grau de bacharel em 1635 e um grau de mestre em Hart
Hall em 1638. Tinha vinte anos de idade quando foi ordenado,
tornando-se um dos pregadores mais jovens do seu tempo.
Hardy tornou-se um pregador popular no início da década
de 1640, conhecido por seus sentimentos presbiterianos, até
que Henry Hammond o persuadiu dos méritos do governo
episcopal. Isso aconteceu durante um encontro entre realistas
e parlamentares em Uxbridge em 1645. Dois anos antes, Hardy
havia sido nomeado preletor em St. Dionis Backchurch, na
Fenchurch Street. A maioria da congregação era constituída de
presbiterianos. Depois do referido encontro com Hammond,
Hardy pregou um sermão renunciando ao presbiterianismo
e endossando o sistema episcopal.
Hardy não foi silenciado durante os anos da República,
muito embora às vezes questionasse publicamente a

1 Commoner e m O xford; pensioner e m C a m b r id g e . N o ta d o tra d u to r.

406
Nathanael Ilardv

legitimidade do protetorado. Ele era apreciado, tanto por


realistas como por parlamentares, por sua sólida pregação
bíblica e por sua ênfase experimental.
Após a restauração de Charles II, foi dada a Hardy uma
capelania, e ele pregava frequentemente na capela real. Sendo­
-lhe outorgado um grau de doutor em Oxford em 1660, ele
foi nomeado reitor de St. Dionis, onde tinha pregado durante
vários anos. Posteriormente nesse ano, ele se tornou deão de
Rochester. Ele foi empossado como arquidiácono de Lewes,
na diocese de Chichester, em 1667, e manteve uma casa
paroquial em Leybourne, Kent, por breve tempo. Após grave
enfermidade, ele morreu em sua casa no dia primeiro de
junho de 1670.

Commentary on l John (TENT; 390 páginas; 2002). Este


comentário, como observa o editor da edição de 1865, “foi
projetado para consistir de cinco partes, correspondendo aos
cinco capítulos da Epístola”, mas apenas dois capítulos foram
terminados. O editor apresentou os sermões como evangélicos
no conteúdo, sérios e afetuosos no espírito, e eloquentes
e comoventes no estilo. Desde a sua primeira publicação, 0
comentário foi tão apreciado pelos estudiosos da Primeira
Epístola de João que era difícil achar. Contudo, o livro recebeu
críticas. No século dezenove, Charles Spurgeon observou que
o elogio do editor foi “uma recomendação muito ardorosa”.

407
Robert Harris
(1581-1658)

R obert Harris nasceu em Broad Campden, Gloucestershire,


em 1581. Recebeu sua educação nas escolas gratuitas
de Chipping Campden e de Worcester. Quando estava com
dezesseis anos de idade, ingressou no Magdalen Hall, Oxford,
onde seu parente Robert Lyster era diretor. Harris tinha
grande sede de conhecimento e logo se tornou conhecido
como excelente erudito e especialista em lógica. Porque seus
pais eram pobres demais para poderem pagar pela educação
superior, Harris ensinava grego e hebraico para financiar
seus estudos em filosofia. Ele obteve um grau de bacharel
em 1600, mas decidiu seguir o ministério pastoral, em vez
de se tornar advogado, como seu pai desejava.
Quando a universidade fechou em 1604, devido à peste,
Harris foi para casa e pregou seu primeiro sermão em
Chipping Campden. A maré baixa da espiritualidade ali era
exposta dramaticamente por não haver uma só Bíblia na
igreja. Finalmente, depois de uma fútil busca nos lares das
vizinhanças, uma Bíblia foi localizada na casa do vigário
da paróquia. Harris pregou baseado em Romanos 10:1, e o
sermão foi tão bem recebido que muitos insistiram com ele
que desistisse de continuar seus estudos. Harris voltou para

408
Roben Hanis

Oxford, porém, onde estudou teologia durante dez anos,


e em 1614 recebeu o grau de Bacharel em Teologia. Logo
depois, Sir Anthony Coke ofereceu a Harris um benefício
eclesiástico em Hanwell, Oxfordshire, que estava vago por
causa da expulsão de John Dod. Contudo, o arcebispo Richard
Bancroft tinha seus próprios candidatos. Só depois de ter
sido examinado rigorosamente sobre questões teológicas por
Wilson Barlow, bispo de Rochester é que a designação de
Harris foi confirmada.
O vicariato de Hanwell veio a ser um local de reuniões
favorito para os estudantes. Harris tornou-se um pregador
popular na St. Paul’s, na St. Saviour’s Southwark e noutras
igrejas de Londres, como também em sua própria vizinhança.
Puritano e parlamentarista leal, ele foi objeto de ampla
demanda como pregador visitante. Em 1642, ele se tornou um
dos teólogos puritanos consultados pelo parlamento, e pregou
diante da Casa dos Comuns por ocasião de um jejum público.
Harris tinha um estilo de vida disciplinado, e não temia
homem algum. Trabalhava arduamente todos os dias, mas se
permitia usar o sábado à tarde para recreação. Quanto ao álcool,
ele dizia que preferia despejá-lo nas suas botinas, entre as
refeições, a despejá-lo em sua boca. Uma vez, em 1642, depois
de pregar sobre Tiago 5:12, “Não jureis”, alguns soldados
realistas o advertiram de que atirariam nele, se pregasse
sobre esse texto outra vez. Intrépido, fez justamente isso no
domingo seguinte. Quando notou que um soldado preparava
sua arma para atirar nele, continuou pregando e completou
seu sermão sem nenhuma digressão.
Mais tarde, nesse mesmo ano, soldados realistas de Hanwell
expulsaram Harris e sua família da igreja e queimaram suas
posses. Os Harris fugiram para Londres, onde foi dado a
Robert um benefício eclesiástico na St. Botolph’s, Bishopgate,
em 1644.
No ano seguinte, Harris foi convocado como delegado à
Assembléia de Teólogos de Westminster, e logo foi nomeado

409
PAIXAO P E L A PUREZA

como um dos sete teólogos encarregados de organizar o que


ficou conhecida como Confissão de Fé de Westminster. Foi
dito que quando Harris estava na assembléia, ele “ouvia
tudo, e dizia pouco”. Durante esses anos, ele foi convidado
frequentemente para pregar diante do parlamento.
Em 1646, o comitê de Hampshire designou Harris para
Petersfield. Antes de poder chegar lá, recebeu ordens de ir
para Oxford como um dos seis teólogos comissionados para
pregar em qualquer púlpito que desejassem. De 1647 a 1658,
ele foi pregador visitante da universidade. Em seu primeiro
sermão como visitante, ele se defendeu da acusação de
pluralismo. Em 1648, o chanceler, Lord, Pembroke, premiou
Harris com o doutorado em teologia e o nomeou presidente
do Trinity College, Oxford.
Embora envelhecido nesse tempo, Harris realizou diligen­
temente seus deveres como presidente durante os últimos
dez anos de sua vida. Ele fez também preleções uma vez por
semana no All Soul’s College, tanto em inglês como em latim,
e nos domingos pregava em Garsington. Harris foi um bom
especialista em hebraico e era bastante versado em história
da Igreja. O bispo John Wilkins, que se casou com a irmã de
Oliver Cromwell, dizia que Harris era um dos mais eminentes
teólogos na pregação e em teologia prática.
Harris morreu em dezembro de 1658, com a idade de
setenta e sete anos. Antes de sua morte, ele confessou: “Para
mim dá na mesma se estou sozinho ou se tenho amigos em
minha companhia. Meu trabalho agora é preparar-me para
a morte, que vem contra mim, e concentrar-me muito bem
nesse encontro”. Quando estava morrendo, Harris disse a seus
amigos: “Agora vou para casa, com toda a energia gasta. Agora
estou na praia, mas deixo vocês ainda se agitando no mar. Oh,
que boa hora para morrer! Nunca, em toda a minha vida, vi
tanto a ira de Cristo, nem provei tanto a doçura do amor de
Deus como agora”.
Harris deixou várias cartas de conselhos a sua esposa e

410
Roben 11anis

aos seus filhos, animando-os a esperar c confiar no Senhor.


A seu pedido, foi sepultado no cemitério do Trinity College.

The Way to True Happiness (SDG; 450 páginas; 1998).


Publicada primeiramente em Londres (1653), esta obra
sobre as bem-aventuranças contém vinte e quatro sermões
impregnados de profundidade e discernimento prático. Harris
mostra que a verdadeira felicidade só pode vir da verdadeira
bem-aventurança que só pode fluir do próprio Deus. Se
Deus é infinitamente bem-aventurado, então, conhecê-10 há
de produzir a felicidade que o homem busca eternamente.
Conhecer Deus oferece, não somente a vida eterna, mas
também a felicidade eterna.
Este livro sobre como encontrar real felicidade é caracteri­
zado por cuidadosa exposição e sólido conforto. Com justiça
ele tem seu lugar entre outras importantes obras puritanas
sobre as bem-aventuranças, como as de Thomas Watson e
Jeremiah Burroughs.

411
Matthew Henry
(1662-1714)

M atthew Henry, o célebre comentarista da Bíblia, nasceu


em Broad Oak, Flintshire, no dia 18 de outubro de 1662,
menos de dois meses depois de seu pai, Philip Henry, ter sido
expulso do ministério que exercia na Igreja da Inglaterra. Nascido
prematuramente, era uma criança fraca, mas espiritualmente
robusta e bem dotada para o saber. Ele foi educado primaria­
mente por seu pai, com a assistência de tutores.
Henry ingressou na academia de Thomas Doolittle
em Islington em 1680. Estudou ali sob Doolittle e Thomas
Vincent durante dois anos; depois, quando a perseguição
forçou a academia a remover-se, Henry mudou-se para a
propriedade de Bronington, Flintshire, que ele tinha herdado
de Daniel Matthews, seu avô materno. Apercebido de que as
suas chances de ser chamado para o ministério eram remotas,
Henry decidiu ingressar na profissão do direito. Atendendo
o conselho de Rowland Hunt, ele foi admitido na Gray’s Inn
em 1685 para estudar direito, embora continuando a estudar
teologia particularmente.
Em 1686, Henry começou a pregar nas vizinhanças de seu
pai. Por questões de trabalho, ele mudou-se para Chester em
1687. Pregou ali em casas particulares, até quando lhe pediram

412
M A TTH EW HENRY
PAIXÃO PHLA PUREZA

que se tornasse o ministro local. Em 9 de maio de 1687, ele foi


ordenado reservadamente em Londres por seis ministros na
casa de Richard Steele. Depois voltou para Chester para dar
início a seu ministério. Dentro de poucos anos, o número de
comungantes da sua congregação subiu para 250.
Em setembro, James II visitou Chester para ouvir os
não conformistas da cidade oferecerem públicas graças
“pela paz e liberdade que nesse tempo gozavam sob a sua
proteção” . Uma nova carta-régia foi outorgada à cidade (a
antiga tinha sido revogada em 1684), a qual dava poder à
coroa de remover e nomear magistrados. Henry recusou-se
a consentir aos termos da nova carta, e, ao lado de outros,
requereu a restauração da antiga.Finalmente o requerimento
foi deferido.
Em 1687, Henry casou-se com Katherine, filha única de
Samuel Hardware, de Bromborough, Cheshire. Ela morreu
no parto em fevereiro de 1689, com vinte e cinco anos de
idade. Em 1690, Henry desposou Mary Warburton. O casal
teve somente um filho, Philip, e oito filhas, três das quais
morreram na infância.
Uma casa de reuniões construída para Henry em Crook
Lane foi aberta em 1700. Em 1706 foi acrescentada uma
galeria para acomodar outra congregação que se juntou à de
Henry. O número de comungantes subiu a 350. Em acréscimo
ao seu trabalho congregacional, Henry realizava dois cultos
por mês em cinco vilas vizinhas e pregava regularmente aos
prisioneiros do castelo.
O escritório de Henry era uma casa de verão de dois andares
nos fundos de sua residência em Bolland Court, Whitefriars,
Chester. Em 1704, quando estava com quarenta e dois anos
de idade, Henry começou a trabalhar num comentário da
Bíblia, baseado em seu sistema de pregação expositiva e nos
copiosos escritos e anotações que ele tinha compilado durante
0 seu ministério. Ele tinha aprendido latim, grego e hebraico
quando menino, e também tinha um conhecimento funcional

414
M atthew Henry

de francês; isso lhe propiciou uma ampla gama de leitura.


Adicionalmente, ele tinha um perspicaz espírito de pesquisa,
um conhecimento profundo e a capacidade de comunicar
assuntos doutrinários de maneira simples e profunda.
Em 1710, Henry foi convidado para Hackney, uma das
mais importantes congregações nas proximidades de Londres.
Ele concordou em mudar-se para lá, mas não imediatamente.
Por fim pregou seu sermão de despedida em Chester no dia 11
de maio de 1712, em meio a muitas lágrimas. Seu ministério
na Mare Street, Hackney, teve início na semana seguinte.
Em maio de 1714, Henry tornou a visitar Cheshire. Quando
cavalgava de volta a Londres, caiu do cavalo em Tarporley
e foi levado para a casa de um ministro não conformista da
redondeza, Joseph Mottershead. Morreu no dia seguinte.
Eoi sepultado na capela da Trinity Church, Chester; Peter
Withington, John Gardner, Daniel Williams, William Tong
(0 primeiro biógrafo de Henry), Isaac Bates e John Reynolds
pregaram nos funerais.
Embora Matthew Henry seja mais lembrado por
seu comentário da Bíblia, ele escreveu mais trinta obras,
focalizando primariamente a piedade prática. Ele manteve
um diário desde 1690 até quando morreu, mas somente a
última parte, de 1705 a 1714, sobrevive. Ele foi também um
pregador zeloso e um devotado marido, pai e amigo. O primeiro
biógrafo de Henry disse: “Os que 0 conheceram ambicionavam
sua companhia e com ela se deleitavam”. A mensagem que
Henry salientava a seus amigos e a sua família era simples:
“Uma vida gasta no serviço de Deus, e em comunhão com
ele, é a melhor vida que se pode viver neste mundo”.

The Complete Works of Matthew Henry (Baker; 2 volumes,


1.392 páginas; 1997). Esta reimpressão contém todos os tratados,
sermões, panfletos e biografias de Henry. Excluídos estão 0 seu

415
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

Commentary, a obra Covenant of Grace e os diários pessoais.


Em 1690, Henry publicou o seu primeiro livro, A Brief
Inquiry into the True Nature of Schism. Depois de provar pelas
Escrituras que cisma significa “uma descaridosa distância,
divisão ou alienação dos afetos entre os que são chamados
cristãos e que concordam nos aspectos fundamentais da
religião, ocasionado por suas diferentes apreensões das
pequenas coisas”, Henry explica que pode haver cisma onde
não há separação de comunhão, e que pode haver separação
de comunhão onde não há nenhum cisma.
Em 1694, Henry publicou Family Hymns, uma compilação
de obras por vários autores, prefaciada por seu breve ensaio
sobre salmodia. Esta seleção de versões métricas dos Salmos
e outras passagens das Escrituras foram omitidas em diversas
edições das Works de Henry, mas foram incluídas na edição
definitiva, de 1855, da qual este conjunto de obras é reimpresso.
Em 1698 Henry publicou An Account of the Life and Death
of Philip Henry. Thomas Chalmers descreveu esta biografia do
pai de Matthew Henry como “uma das biografias religiosas
mais preciosas da nossa língua” . Em 1974, a Banner of Truth
Trust reimprimiu esta obra junto com a de J.B. Williams,
Memoirs of the Life, Character, and Writings of the Rev. Matthew
Henry (1828).
Uma da melhores obras de Henry, não reimpressa noutro
lugar, éA Church in the House: Family Religion (1704). Esta obra
contém o sermão de Henry pregado em Londres e baseado em
1 Corintios 16:19, “Com a igreja que está em sua casa”. Henry
delineia a grande necessidade e dever da religião na familia,
acentuando como as famílias podem ser chamadas “igrejas” .
Ele então concita os membros de família a transformarem
seus lares em pequenas igrejas. A casa “deve ser consagrada
a Deus” como uma sociedade que é chamada para fora do
mundo, diz Henry.
Henry fez isso com sua própria família. Todo dia ele se
levantava cedo para orar com sua família, e revia partes dos

416
M atthew Henrv

sermões que a família tinha ouvido no Dia do Senhor anterior.


Nos períodos da tarde, ele catequizava seus filhos menores. A
noite, quando os pequenos estavam na cama, Henry ensinava
seus filhos mais velhos. Ele juntou os Family Hymns {Hinos
para a Família} primariamente para uso de sua própria família.
Os pais fariam bem em usar este excelente livro.
Outras obras de Henry não reimpressas noutro lugar
incluem: Against Vice and Profaneness; Self-Consideration and
Self-Preservation; The Right Management ofFriendly Visits; Great
Britain’s Present Joys and Hopes; England’s Hopes; The Work
and Success of the Ministry; Baptism; The Catechizing of Youth;
A Scripture Catechism; Faith in Christ and Faith in God; Hope
and Fear Balanced; The Forgiveness of Sin as a Debt; Popery: A
Spiritual Tyranny; The True Nature of Schism, vários sermões
para funerais, e biografias de indivíduos menos conhecidos.

* Commentary on the Whole Bible {Comentário Bíblico{, (HP;


6 volumes, 2.485 páginas; 1991). Henry começou sua magnum
opus em novembro de 1704. Depois de dez anos de diligente
estudo, ele pôde terminar seus comentários expositivos de
Gênesis a Atos. O primeiro volume do Commentary (publicado
como Exposition of the Old and New Testaments), que cobriu
o Pentateuco, foi publicado em 1707. Esse, e mais quatro
volumes, cobrindo juntos de Gênesis a Atos, foram completados
próximo de sua morte. Depois de seu falecimento, treze
colegas de ministério de Henry compilaram um comentário
primariamente baseado nas notas e nos escritos de Henry sobre
os livros de Romanos a Apocalipse. A edição de seis volumes,
de 1811, editada por George Burder e John Hughes, contém
material adicional extraído dos manuscritos de Henry.
O Commentary de Matthew Henry, embora em certa
medida ultrapassado na área da exegese, nunca foi sobrepujado
em sua ênfase prática. Suas divisões, seus pontos principais e
suas aplicações práticas são inapreciáveis. E interessante que
algumas das incisivas afirmações e alguns dos belos ditados

417
M atthew Henry

presentes em toda parte no texto eram fundamentados no


que o pai de Henry dizia durante o culto doméstico.
Por volta de 1855, o popular comentário de Henry
tinha sido reimpresso vinte e cinco vezes, e daí para cá
tem sido reimpresso numerosas vezes, às vezes por mais de
um publicador ao mesmo tempo. Esta obra continua sendo
um instrumento de consulta indispensável para pastores,
estudantes e teólogos, como também para as famílias em suas
devoções. Está disponível numa variedade de edições: a edição
completa em seis volumes (1811) um único volume integral, e
diversas edições condensadas - a maioria das quais eliminam
da obra de Henry sua ênfase calvinista.
Dezenas de ministros têm elogiado o Commentary de
Matthew Henry. Aqui está uma amostra:

• Philip Doddridge, que educou o neto de Henry,


Charles Bulkley: “Henry é, talvez, o único co­
mentarista que, sendo tão extenso, merece ser
lido inteiramente e com muita atenção”.
• Charles Spurgeon: “O primeiro entre os grandes
por sua utilidade geral, somos obrigados a men­
cionar o homem cujo nome é uma palavra
familiar, Matthew Henry. Ele é sumamente
piedoso e incisivo, firme e sensível, sugestivo e
sóbrio, conciso e fidedigno”.
• William Romaine: “Não há nenhum comentário
da Bíblia, quer antigo quer moderno, que em
todos os aspectos se iguale ao do Sr. Henry”.
• William Tong: “Enquanto a Bíblia tiver continui­
dade na Inglaterra, as admiráveis exposições do Sr.
Henry serão bem apreciadas por todos os cristãos
sérios; nelas aparecem a sua mente esclarecida, 0
seu ardente coração, a sua vida, a sua alma”.

418
M atthew Henry

*The Covenant of Grace (CFP; 420 páginas; 2003). Durante


cinquenta anos, Allan Harman, um professor de pesquisa
do Presbyterian Theological College, Melbourne, teve uma
cópia das anotações manuscritas do sermão sobre a aliança da
graça, de Matthew Henry, abrangendo vinte e oito sermões
pregados em Chester em 1691 e 1692. Convicto do valor dessas
anotações, Harman começou a laboriosa tarefa de transcrever
as anotações para uma forma publicável. A obra resultante,
The Covenant of Grace, apresenta um exame profundamente
espiritual de uma das doutrinas fundamentais - a promessa
de Deus de favor imerecido à humanidade.
O livro explica temas pactuais como perdão, paz, graça,
acesso, ordenanças, providências, anjos, criaturas, aflições,
morte, e céu. O último sermão, intitulado “Repetition”, é
um sumário dos sermões. Recomendamos fortemente este
livro por sua profundidade, seu valor prático e pelo poder de
inflamar o coração.

How to Prepare for Communion (SGT; 128 páginas; 2001).


Originalmente intitulado The Communicant’s Companion, or
Instructions and Helps for the right receiving of the Lord’s Supper
(1704), esta pequena obra foi popular desde 0 princípio. Em seu
diário de 31 de dezembro de 1705, Henry confessou: “Desejo,
com toda a humildade, dar louvores a Deus pela aceitação
que o meu livro sobre a ordenança obteve; as comunicações
amigáveis que a respeito tenho recebido de pessoas diversas,
desejo que jamais venham a ser objeto de orgulho pessoal meu
(queira 0 Senhor mortificar isso em mim), mas que sejam
sempre, e sempre, objeto do meu louvor”.
Henry provê várias formas de ajuda ao comungante sério:
uma descrição da ordenança, qualificações que constituem
requisitos para compartilhá-la, ajuda para o autoexame,
para meditação e oração, a disposição mental apropriada, os
preciosos benefícios recebidos, ajuda quanto aos sentimentos
devotos, e, finalmente, meios pelos quais “melhorar a

419
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

ordenança” (i.e., derivar maior proveito do recebimento da


ordenança).

A Method for Prayer (RAP; 390 páginas; 1994). Editada e


revisada por J. Ligón Duncan III, esta magnífica obra sobre
a oração foi originalmente intitulada A Method for Prayer
with Scripture Expressions proper to be used under each head.
Terminada antes de Henry sair de Chester, reflete uma vida
inteira de oração, de ministério e de experiência cristã.
Para aqueles que conduzem a igreja na oração pública, ou
que querem ser mais dedicados em sua vida de oração, este
livro provê a ordem, a proporção e a variedade necessárias.
Esta edição de A Method for Prayer contém duas partes: o
texto completo da obra original de Henry, e os três sermões
de Henry sobre a oração apresentados resumidamente após
sua chegada a Londres em 1712. Também inclui um
esboço do plano para oração, de Henry, orientações para a
oração pública (extraídas da obra de Samuel Miller, Thoughts
on Public Prayer), e uma breve versão do esboço de Henry,
em páginas perfuradas para fácil remoção.
Em termos gerais, esta edição é impressionante. A letra é
grande e bem legível, e as divisões são fáceis de seguir. O plano
de Henry para a oração (adoração, confissão, petição, ação
de graças, intercessão e conclusão) deve enriquecer a vida
do discípulo sério.
A editora Christian Focus Publications imprimiu uma
edição mais curta desta obra (1994) em sua série Christian
Heritage.

The Pleasantness of a Religious Life (SDG; 192 páginas;


1996). Impressa em Londres em 1714, e em New York por
Robert Carter em 1847 (publicação da qual esta edição é
reproduzida), a obra de Henry sobre 0 prazer da vida religiosa
é um verdadeiro tesouro. Em seis capítulos sobre Provérbios
3:17 (“Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas

420
M atthew Henry

as suas veredas, paz”), Henry prova e ilustra a doutrina do


prazer religioso, dizendo que a vida religiosa é a tínica vida
digna de ser vivida. “O que foi a queda e apostasia do homem,
e o que aínda é seu pecado e miséria, senão a revolta da
alma repudiando a vida divina e se entregando totalmente
à vida animal?”, Henry escreve.
Numa época em que as tentações de um mundo
transitório afligem os viajantes que caminham para o céu,
não somos capazes de recomendar suficientemente esta obra,
pois Henry mostra claramente quão agradável, desejável
e excepcionalmente valiosa é uma vida de temor de Deus.
Ele escreve: “Ainda não estamos em casa, mas devemos
anelar estar lá, e manter perseverantemente santos desejos
dessa glória que está para ser revelada, para que, enquanto
estivermos aqui, sejamos incentivados a prosseguir “para o
alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus” (p. 192).
Muitos ministros, inclusive James Hervey, têm reco­
mendado este livro para os jovens. É um grande auxílio na
obra de demolir a insinuação de satanás de que a verdadeira
religião é um aborrecimento e um fardo.

The Quest for Meekness and Quietness of Spirit (SDG; 144


páginas; 1996). Publicada pela primeira vez em 1699 com A
Sermon on Acts 28:22 showing that the Christian Religion is Not a
Sect, esta obra explica a natureza da mansidão e serenidade de
espírito (contentamento) em três capítulos, descrevendo sua
natureza, excelência e aplicação. A mansidão impacta nossa
vida inteira, governando até as nossas maiores imperfeições
de caráter, Henry afirma.
Henry declara que Paulo apresenta dois alvos do
contentamento: (1) livrar 0 cristão da vaidade da excessiva
preocupação com a aparência externa, em vez de com as
sugestões do coração, e (2) ajudar os cristãos a amarem os
tesouros da piedade. Em sua aplicação final, Henry faz uma

421
PAIXAO P EL A PUREZA

observação sobre o propósito de sua obra: “O que tanto


eu tenho visado neste discurso é tão-somente persuadir
vocês a não serem os seus próprios atormentadores, mas
sim a governarem suas paixões para que estas não se voltem
freneticamente contra vocês” (p. 143).
Esta edição moderna contém apenas a obra Quest for
Meekness, por Henry. Originalmente, a obra incluía um
prefacio produzido pelo puritano John Howe, que escreveu:
“Estive com real dificuldade, com um desgosto não facilmente
dominável pelo reverendo autor pelo fato destes dois discursos
não estarem agora completos e juntos, para a apreciação
pública”. Aparentemente, o modesto Henry não considerava a
obra digna de que fosse impressa. Mas Howe disse que o livro
tinha “verdadeiro valor em si, e grande utilidade para o bem
comum” . Por isso vários indivíduos lutaram e o arrancaram
“das mãos que o escreveram” e o publicaram.
Howe não economiza seus elogios à obra, dizendo: “ Se
fosse desígnio comum ter as mentes habitadas e vestidas de
acordo com ela [com a mansidão cristã], que abençoado sossego
ela introduziría em nosso mundo! Em que região serena e
pacífica ela transformaria a alma de cada alma para si mesma,
e para todos os que a rodeiam! Então com veracidade se diria
da Igreja Cristã: “esta é a casa de Deus; e esta é a porta do céu”.

*Revelation (Crossway; 191 páginas; 1991). O livro do


Apocalipse coloca um sério desafio interpretativo para qual-
quer escritor. Repleto de vividas imagens e de simbolismo,
lembra supremamente à Igreja a soberania de Deus na reali-
zação dos Seus propósitos sem considerar qualquer oposição.
Editado e condensado para os leitores modernos, este
comentário do Apocalipse oferece clássicas percepções deste
livro da Bíblia realmente intimidante. O comentário retrata
a derradeira batalha da história humana, a carreira e derrota
do Anticristo, o reino milenar de Cristo, e o juízo de Cristo
sobre ímpios e justos.

422
M atthew Henry

The Secret of Communion with God (Kregcl; 123 páginas;


1991). Esta pequena obra mostra como começar o dia com
Deus, como passar o dia com Deus e como terminá-lo com
Deus. Foi publicado pnmeiramente em 1714 sob 0 título
Directions for Beginning, Spending, and Closing Each Day with
God, sendo ele a versão escrita de três palestras que Henry
fez na série de preleções mantidas em Bednal Green (atual­
mente Bethnal Green), Londres. Este manual é útil para a
prática da piedade diária.

The Young Christian (CFP; 64 páginas; 1993). Publicado


primeiro em 1713 como Sober-mindedness Pressed upon Young
People, este pequeno livro concita os jovens a serem prudentes,
cautelosos, humildes, abnegados, gentis, moderados, calmos,
contentes e sérios. Henry explica a necessidade de cultivo
espiritual e conclui sua obra mencionando vários benefícios
de uma mentalidade sóbria, benefícios tais como uma vida útil
e uma morte feliz. Inclui meios práticos pelos quais promover
mentalidade sóbria em nossas vidas.
Um dos melhores meios de cultivar esta graça, diz Henry,
é escolher cuidadosamente 0 que ler. “Leiam livros sérios”, diz
ele. “Os que são dados à leitura sofrem tanta influência dos livros
que lêem, como das pessoas com as quais convivem, e, portanto,
na escolha deles vocês precisam ser cautelosos e aceitar conselho.
Nada dá mais azo à vaidade, especialmente entre a parte mais
culta da humanidade, do que os romances, as peças teatrais e
os poemas levianos. ... Não busquem somente livros, canções
e brincadeiras alegres, mas sim livros sérios, que os ajudem a
colocá-los e mantê-los numa estrutura séria” (p. 63).

423
Philip Henry
(1631-1696)

h ilip H e n ry n asc e u em W h ite h a ll n o dia 24 de ag o sto de


P 1631, se n d o seus p ais J o h n e M a g d a le n H enry. Seu pai,
de a sc e n d ê n c ia galesa, e sta h e lc c e u -se n a In g la te rra ced o na
vida. In g re sso u no serv iço do c o n d e de P e m b ro k e e d e p o is de
C h arles I, q u e veio a ser seu am ig o ch eg ad o . Q u a n d o c ria n ç a ,
P h ilip foi a m ig u in h o do P r ín c ip e C h a rle s (d e p o is C h a rle s
II) e do P r ín c ip e Ja m e s. P o s te r io r m e n te H e n r y d e u g ra ç a s a
D e u s p o r liv rá -lo das a rm a d ilh a s d a co rte .
D e p o is dos e stu d o s p re lim in a re s q u e fo calizav am o la tim ,
P h ilip foi a d m itid o em 1643 na W e s tm in s te r S ch o o l, o n d e
e s tu d o u sob T h o m a s V in c e n t e m ais ta rd e foi o a lu n o fav o rito
de R ic h a rd B usby, u m p u rita n o . A m ãe de H e n ry , p u rita n a
zelosa, o b te v e p e rm issã o p a ra H e n ry o u v ir as prele çõ es
m a tu tin a s n a A b ad ia de W estm in ste r. P ela in flu ê n c ia de
seus pais, das p rele çõ es de B u sb y e da p reg ação de S te p h e n
M a rsh a ll, H e n ry foi c o n v e rtid o e se to rn o u p u rita n o .
H e n ry foi a d m itid o na C h ris t C h u rc h , O x fo rd , em 1647,
p o u co a n te s de seu p re c e p to r ser exp u lso . Q u a n d o H e n ry
estava em casa em ja n e iro de 1649, viu q u e C h a rle s I, que
“ todo d ia ia à n o ssa casa a p é ” , foi a ju lg a m e n to d ia n te do
p a rla m e n to , e d ep o is foi ex ec u ta d o .

424
Philip ¡lenrv

Henry obteve um grau de bacharel em 1651 c um de


mestre em 1652. A morte de seu pai em 1652 deixou a família
em grandes apuros financeiros, aliviados unicamente pelas
ocasionais doações de amigos.
Henry pregou seu primeiro sermão em South Hinksey,
Oxfordshire, no dia 9 de janeiro de 1653. Durante vários
meses serviu como preceptor dos filhos de John Paleston, um
juiz em Emral Hall, Flintshire, servindo ao mesmo tempo
como pregador na próspera Worthenbury Chapei, pertencente
à paróquia de Banger-is-y-coed. Em 1654, ele trabalhou
com alunos em Oxford, mas de 1655 em diante trabalhou
exclusivamente em Worthenbury.
Depois de um exame rigoroso feito em 1657 pelo presbitério
local (que incluía Richard Steele), Henry foi ordenado em
Prees, Shropshire. Fez uma forte confissão calvinista, embora
não apoiava o sistema presbiteriano. Em 1658, Henry ajudou
a organizar uma associação de clérigos, no norte de Gales,
que consistia de episcopais, presbiterianos e independentes.
Ele foi o autor da seção do acordo da associação que tratava
do culto.
Ao que parece, Henry teve simpatia pelo levante realista,
sob Sir George Booth, em gosto de 1659. Na Restauração,
Henry acolheu bem a mudança política, considerando-a uma
“misericórdia nacional pública” . Em 1660, porém, ele foi
chamado à presença do tribunal do júri por não ler O Livro de
Oração Comum. Ele foi castigado novamente, na sessão do júri
na primavera, mas sem efeito. Ele tinha assumido o juramento
de lealdade, mas recusou a reordenação. No dia 24 de outubro
de 1661, Henry foi expulso do seu púlpito; pregou seu sermão
de despedida três dias depois.
Nesse ínterim, em 1660, Henry casou-se com Katherine,
filha e herdeira única de Daniel Matthews, de Broad Oak e
Bronington, Flintshire. O casamento seria abençoado com
seis filhos.
Os sete anos de Henry em Worthenbury renderam

425
ΡΑΙΧ AO R ELA PUREZA

numerosas conversões. Seu ministério foi zeloso e amoroso.


Seu filho Matthew Henry escreveu: “Ele adaptava seu método
e estilo às capacidades dos seus ouvintes, buscando obter suas
comparações para ilustrações das coisas que eles conheciam
bem. Não lançava a seta da palavra sobre suas cabeças com
altas noções, nem a floreava com afetada retórica; tampouco
as atirava sob seus pés com expressões vulgares; mas aos seus
corações com aplicações próprias e vividas. Sua alocução era
elegante e agradável, não barulhenta e precipitada por um
lado, nem insípida e lerda por outro. Sua doutrina caía como
orvalho e gotejava como densa chuva, e vinha com um poder
encantador e agradável, como disso dão testemunho muitos
que se maravilharam com as palavras de graça que procediam
de sua boca”.
Quando o Ato de Uniformidade entrou em vigência,
no Dia de São Bartolomeu, 24 de agosto de 1662, Henry foi
silenciado como ministro. “Os nossos pecados fizeram do dia
de São Bartolomeu, no ano de 1662, o dia mais triste da Ingla­
terra desde a morte de Eduardo VI, mas até mesmo isso [éj
para o bem”, escreveu ele. Henry renunciou a sua casa e saiu
de Worthenbury, transferindo sua família para uma proprie­
dade herdada por sua mulher em Broad Oak, Flintshire. Com
alguns breves intervalos, os Henry permaneceram ali durante
os próximos trinta e quatro anos.
Em 1663, Henry e outros treze pregadores foram
aprisionados por quatro dias em Hanmer, Flintshire, por
suspeita de insurreição. Em 1665, Henry foi chamado a
Malpas, Cheshire, para batizar um dos seus próprios filhos.
No fim do mês, ele foi tratado como leigo e foi instaurado
como coletor de impostos pela jurisdição de Iscoyd. A Lei
das Cinco Milhas, de 1665, colocou-o num dilema, pois
Broad Oak estava a apenas quatro milhas de Worthenbury.
Por isso Henry mudou-se para Whitchurch, Shropshire,
onde atendeu regularmente as igrejas locais. Em 1668, ele
pregou na igreja paroquial de Betley, Staffordshire; informes

426
Philip Henry'

distorcidos desse acontecimento foram reportados à Casa


dos Comuns, e Henry teve que esperar até 1672, antes de lhe
ser permitido reassumir o ministério público em sua própria
casa. Depois que a indulgência foi retirada, ele pregou sem
sofrer interferência até 1681, quando foi multado por manter
não autorizadas reuniões para culto.
Henry falava publicamente sobre questões contempo­
râneas. Em 1682, ele se envolveu numa discussão pública
com os quaeres de Llanfyllin, Montgomeryshire. Participou
de um debate sobre ordenação em Oswestry, Shropshire,
com William Lloyd, então bispo de St. Asaph, e com Henry
Dodwell. No tempo da rebelião de Monmouth, Henry lbi
confinado no Chester Castle por três semanas, sob as ordens
gerais do lorde governador da província. Ele acrescentou seu
nome a um documento redigido cautelosamente e enviado
a James II eml687.
Com a acessão de William e Mary e a promulgação da Lei
de Tolerância, Henry pôde voltar a pregar abertamente. Ele
aceitou os termos da tolerância, embora preferindo tolerância
sem subscrição. Erequentemente pregava em Broad Oak,
perto de sua casa, e nas cidades vizinhas, mas não aceitou
outro chamado pastoral.
Henry continuou a trabalhar arduamente, mas a sua saúde
estava declinando. Morreu de cólica em Broad Oak no dia 24
de junho de 1696. Suas últimas palavras foram: “Onde está,
ó morte, o teu aguilhão?” Foi sepultado em Whitchurch,
onde foi erigida uma placa de mármore em sua memória.
Sobreviveu a ele sua mulher, Katherine Matthews, com quem
tivera dois filhos, John e Matthew, e quatro filhas, todos os
quais professaram a salvação em Cristo somente.
Henry foi notável por seu culto cristocêntrico e
exemplar, e por sua conduta piedosa. “ Veja cada vez mais a
sua necessidade de Cristo”, escreveu uma vez a seu filho, “e
viva firmado nEle. Não há vida como esta; tão deleitosa, tão
segura. Meu Salvador é meu em todas as coisas. Não podemos

427
ΡΛΙΧΑΟ P E L A PUREZA

descartar-nos da culpa de nenhum mal que praticamos, sem


Seu mérito para prestar satisfação; não podemos induz-
-nos para a realização de qualquer bem requerido, sem o Seu
Espírito e a Sua graça para nos assistirem e nos capacitarem
para isso; e quando tivermos feito tudo, esse tudo nada
será sem a Sua mediação e a sua intercessão para torná-lo
aceitável, de modo que possamos dizer: todos os dias e em
tudo, Ele é Tudo em Tudo”.
Henry comprometeu-se profundamente a buscar a paz
entre seus irmãos na fé a qualquer custo pessoal. Ele amava a
verdade e morreu na certeza dela.
Embora não sendo um escritor tão prolífico como seu
filho, o livro mais famoso de Philip Henry, Christ All in All, foi
reimpresso diversas vezes. John B. Williams publicou outras
obras de Philip Henry com base em seus manuscritos. Eighteen
Sermons, (1816), Skeletons of Sermons, (1834), Expositions upon
Genesis, (1839), Remains, (1848), e Diaries and Letters, (1882).

Christ All in All (Reiner; 380 páginas; 1976). Henry não


publicou nenhum livro durante a sua vida. Contudo, ele legou
vários originais escritos à mão a seus filhos e filhas, cada um
dos quais deveria escolher um para ser “transcrito em seus
corações e em suas vidas” . Deles a Sra. Savage, uma filha
temente a Deus, selecionou quarenta e um sermões e deu à
seleção o título de What Christ is Made of God to True Believers
in Forty Real Benefits, (baseada cm Colossenses 3:11, “Cristo
é tudo em todos”). Essa obra não foi publicada até 1830.
Savage escreveu em sua autobiografia que “as doces e salutares
verdades” deste livro são “ um alimento para a minha pobre
alma. Ele, “estando morto, ainda fala”. E que é que ele diz,
senão aquilo de que seu coração estava sempre cheio? Cristo
- Cristo - Cristo. Ainda me parece ouvi-lo: oh, faça Cristo 0
seu tudo!”

428
Philip Henry

Esta notável exposição de Colossenses 3:11 considera


Cristo em quarenta ofícios: 0 alicerce, alimento, raiz, veste,
cabeça, esperança, refúgio, justiça, luz, vida, paz, páscoa,
porção, propiciação, liberdade, fonte, sabedoria, caminho,
insígnia, exemplo, porta, orvalho, sol, escudo, força, canção,
trompa, honra, santificação, suprimento, ressurreição,
redenção, lição, escada, verdade, tesouro, templo, arca, altar,
e tudo. É uma obra convincente sobre a suficiência de Cristo
em todas as situações da vida.
Cada capítulo se baseia nas anotações de um sermão. Os
capítulos são pungentes, edificantes e experimentais. A edição
de Reiner desta obra inclui uma breve memória de Henry.

429
Oliver Heywood

O¡ ‫ ן‬liver H ey w o o d foi o te re e iro filh o de R ic h a rd e de A liee


H ey w o o d , n a sc id o cm L ittle L ever, p e rto de B o lto n ,
L a n c a s h ire , em 1630. Seus pais o c ria ra m sob u m a c o n tín u a
ro tin a de o u v ir serm õ es, c o stu m e c a ra c te rístic o dos p u rita n o s
m ais zelosos, e com u m a b ib lio te c a de p ie d o so s e s c rito re s da
R efo rm a e p u rita n o s . E les e n v ia ra m O liv e r à escola s e c u n d á ria
de B o lto n p a ra e s tu d a r com W illia m R a th b a n d , o su sp e n so
v ig á rio de L ittle L ever, e d ep o is com G eo rg e R u d h a ll,
m e stre -e sc o la de H o rw ic h na a d ja c e n te p a ró q u ia de D e a n e ,
cuja e s p iritu a lid a d e o im p a c to u p ro fu n d a m e n te . H ey w o o d
m a tric u lo u -se no T rin ity C ollege, C a m b rid g e , em 1647,
o n d e foi g ra n d e m e n te in flu e n c ia d o pela p reg ação de S am uel
H a m m o n d na igreja de St. G iles. E le d e s fru to u ta m b é m
c o m u n h ã o e s p iritu a l com o u tro s e s tu d a n te s . P o s te rio rm e n te
escreveu so b re os seus an o s na u n iv e rs id a d e : “ M eu te m p o e
m eus p e n s a m e n to s era m g ra n d e m e n te em p re g a d o s na te o lo g ia
p rá tic a , e as v erd a d e s e x p e rim e n ta is era m m u ito v iv ific a n te s
p ara a m in h a alm a: eu p re fe ria P e rk in s , B o lto n , P re s to n e
S ibbes, c o lo c a n d o -o s m u ito acim a de A ristó te le s [ej P la tã o ” .
D e p o is de o b te r o g rau de B ach arel em A rte s em 1650,
H ey w o o d com eçou a pregar. Seu tio , E ra n e is C ritc h la w ,

430
Oliver Ilevwood

recomendou-o como pregador para a Coley Chapel, perto da


vila de Northowram, na paróquia de Halifax, West Riding.
Heywood aceitou a posição e foi ordenado com a idade de
vinte e um anos em Bury, Lancashire. Seu irmão mais novo,
Nathaniel, era pastor na Illingworth Chapel, na mesma
paróquia de Halifax. Os dois ocuparam a mesma moradia
durante quase um ano.
Em 1655, Heywood mudou-se para Northowram depois
de casar-se com Elizabeth, filha de John Angier. Ela morreu
depois de dar nascimento a três filhos homens. Um dos filhos
morreu na infância; os outros dois, John e Ebenezer, tornaram­
-se ministros.
Heywood introduziu a ordem eclesiástica presbiteriana
em sua congregação em 1657, incluindo o estabelecimento de
um presbiterato, da disciplina na igreja e da Ceia do Senhor
mensalmente. Essas mudanças provocaram considerável
oposição, particularmente dos membros mais prósperos
da igreja, que se opunham a seu ministério, mas Heywood
perseverou, a despeito da subsequente divisão da sua
congregação.
Heywood era realista, bem como presbiteriano. Embora
não tenha tomado parte na insurreição liderada por George
Booth em 1659, Heywood desobedeceu à ordem que exigia
pública ação de graças pela supressão da referida revolta.
Consequentemente, ele foi preso e ameaçado de apreensão dos
seus bens. Tendo ouvido a notícia de que o general Monck se
pusera ao lado do rei, Heywood particularmente alegrou­
-se. Escreveu um salmo de louvor em seu diário.
Com a Restauração, começaram os reais problemas de
Heywood. Richard Hooke, o novo vigário de Halifax, proibiu
o batismo nas capelas distantes. Contudo, Heywood continuou
a batizar, esperando manter a paz enviando periódicas doações
ao vigário. No dia 23 de janeiro de 1661, as autoridades
interromperam o seu “ jejum particular” contra as práticas
eclesiásticas que violavam os seus princípios presbiterianos.

431
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

Stephen Ellis, um paroquiano rico que, com outros, favorecia


a restauração do livro de oração, colocou um exemplar de
O Livro de Oração Comum no púlpito no dia 25 de agosto de
1661. Heywood calmamente o pôs de lado.
Ellis reportou a questão, e Heywood recebeu ordens de
reportar-se a York no dia 13 de setembro. Depois de várias
audiências, ele foi suspenso e proibido de ministrar na diocese
de York. Ele continuou a pregar durante algumas semanas,
mas dentro de um mês da vigência do Ato de Uniformidade
(24 de agosto de 1662), ele foi excomungado. Essa sentença
foi lida publicamente em diversas igrejas nos meses seguintes.
Tentativas foram feitas até de proibi-lo de frequentar igreja.
Enquanto isso, Ellis, que servia como mordomo da igreja,
exigiu que Heywood pagasse multas por deixar de comparecer
aos cultos na Coley Chapel.
Embora por lei Heywood fosse um ministro “silenciado”,
dirigiu regularmente serviços de culto secretos nas casas de
proprietários de terras e fazendeiros presbiterianos. Seus
sermões agrupavam grandes multidões, atraindo todos os
tipos de pessoas. Quando foi efetivada a Lei das Cinco Milhas,
Heywood tornou-se um evangelista itinerante nos condados
da região norte. Ele dava graças por seu novo trabalho,
acreditando que a lei que forçava os ministros expulsos a
irem para novas localidades promovia a causa não confor­
mista, ao invés de impedi-la.
Em 1667, Heywood casou-se com Abigail, filha de James
Crompton, de Breightmet, na paróquia de Bolton, Lancashire.
Três anos mais tarde, ele foi preso depois de pregar em Little
Woodhouse, perto de Leeds. Eoi solto dois dias depois, porém
seus bens foram apreendidos para cobrir a multa imposta
pelo novo Ato dos Conventículos.
Durante os anos de seu ministério itinerante, Heywood
escreveu vários livros sobre teologia prática, os quais ele
distribuía gratuitamente entre seus amigos e onde quer que
pregasse. Os mais importantes deles eram Heart Treasure{ 1667)

432
Oliver Heywood

Closet Prayer, a Christian Duty (1671), e Life in God’s Favour


(1679). Ele também se tornou conhecido por seu coração
pastoral e como um homem de oração, ambas essas qualidades
são afirmadas em seu diário.
Quando a indulgência real de 1672 entrou em vigência,
Heywood solicitou duas licenças, como mestre presbiteriano:
uma para sua própria casa, em Northowram, e a outra para a
casa de John Butterworth, em Warley, na paróquia de Halifax.
Mais de cem dos seus ex-paroquianos entraram com ele numa
aliança eclesiástica. Quando as licenças foram revogadas, em
1675, Heywood novamente se tornou um pregador itinerante.
Em 1685, Heywood foi multado nas sessões de Wakefield
por dirigir “uma assembléia tumultuada” em sua casa, mas ele
se recusou a pagar a multa. Consequentemente, ficou preso
no Castelo de York durante quase um ano. Ele aprovou a
declaração de James II em prol da liberdade de consciência
em 1687, e imediatamente construiu uma casa de reuniões em
Northowram, à qual mais tarde ele acrescentou uma escola.
O acordo entre presbiterianos e congregacionais em
Londres (1691), conhecido como “ venturosa união”, íoi
introduzido em Yorkshire principalmente através da influência
de Heywood. No dia 2 de setembro de 1691, Heywood pregou
numa casa de Wakefield para vinte e quatro pregadores
das duas denominações, local onde o acordo foi adotado. A
reunião foi a primeira de várias assembléias de teólogos não
conformistas de West Riding, as quais concediam licenças
para pregar e providenciavam ordenações.
Nos últimos dez anos de sua vida, Heywood angustiou-se
grandemente pelo gradativo declínio da ortodoxia em alguns
dos seus colegas. Ele manteve sua obra evangelística com
vigor sem par até o fim de 1699.
Em 1700, as condições asmáticas de Heywood pioraram,
de modo que o seu ministério se limitou à área de Northowram
e redondezas. Não obstante, seu diário correspondente a
1700 registra que, em acréscimo ao seu ministério exercido

433
PAIXAO P E L A PUREZA

regularmente no dia do Senhor, ele ainda conseguiu pregar


quarenta e cinco sermões em dias úteis, dirigir vinte e dois
jejuns e frequentar oito conferências de ministros. Nos fms
de 1701, ele teve que ser carregado numa cadeira para a sua
casa de reuniões - “como também no caso de Calvino”, ele
anota em seu diario. Ele escreveu a um amigo: “Já estive
trabalhando durante mais de cinquenta anos na vinha do
Senhor, estudando, orando e pregando em casa e fora, onde
quer que a providência de Deus me enviasse. Cheguei a quase
dois anos acima da idade dos homens, e, como bem se pode
imaginar, estou incapacitado para viajar. Urna asma muito
dolorosa, ou seja, uma dificuldade para respirar, aumenta
consideravelmente o peso de minhas outras enfermidades, e
assim, na maior parte do tempo fico confinado em minha casa,
e sõ posso estudar, pregar em minha capela e exercitar-me na
produção de livros e sermões para aqueles que os desejam” .
Heywood morreu em Northowram no dia 4 de maio de
1702. Foi sepultado na capela da Halifax Church, no túmulo de
sua mãe. Durante quase meio século de ministério, Heywood
manteve o ofício ministerial em alta estima. “ Ser instrumento
na conversão de um pecador é fazer mais do que Alexandre
fez ao conquistar o mundo”, disse ele.
Richard Slate compilou as Works de Heywood no início
do século dezenove e as publicou em 1825 em cinco volumes.
Embora Heywood não seja grandemente conhecido hoje em
dia, ele teve sólida influência em Lancashire. Seus diários,
impressos em quatro volumes, apresentam um excelente relato
da história de Lancashire. Eles revelam que o seu autor era um
homem de sentimento, profundidade e dedicado a trabalhar
pesado. Heywood pregou 3.027 sermões, manteve 1.256
jejuns, observou 314 dias de ação de graças e viajou 31.345
milhas (cerca de 50.000 quilômetros) durante o transcurso do
seu ministério. Fazendo um exame retrospectivo de sua vida,
Heywood registra sua dívida de gratidão à graça de Deus desta
maneira: “Que eu tenha sido um pregador durante mais de

434
O liver Heywood

44 anos, tenha tido tão boa saúde, liberdade, oportunidades,


mais do que a maioria dos meus irmãos na fé, algum bom êxito
e fruto dos meus pobres labores, tenha desposado a filha do
famoso Sr. Angier, tenha imprimido tantos livros, desfrutado
muitas comodidades da vida, criado dois filhos para serem
ministros, edificado uma capela, ajudado tantos ministros
e outros cristãos em suas necessidades por minhas mãos ou
por outras, ... não registro para ostentação, mas para expor
abertamente as riquezas da graça” ( The Rev. Oliver Heywood...
his autobiography, diaries, anecdote and event books, ed. J.H.
Turner, 3:297).
William Sheils conclui: “A vida de Heywood formou
uma ponte entre a tradição puritana de quase meio século na
Inglaterra, os anos subsequentes à Restauração, quando os
dissidentes eram considerados fora da lei e muitos ministros,
Heywood inclusive, sofreram prisão em consequência de sua
pregação, e os anos posteriores à revolução de 1688, quando foi
assegurada a tolerância e os ministros dissidentes puderam agir
em congregações estabelecidas com suas próprias capelas”. No
transcorrer desses anos, Heywood foi “a figura proeminente
na não conformidade da região norte” (Oxford, DNB, 26:975).

The Family Altar (SOO 568 ,‫׳‬páginas; 1999). Nesta obra extensa
(volume 4 de suas Works), Heywood trata primariamente da
família. Começa com a aliança pessoal feita com Deus no
batismo, e depois descreve a importância e 0 dever do culto
em família. Ele fala das maneiras pelas quais Deus lida com as
famílias em todas as Escrituras e na história, e então encerra
com a relação entre os que permanecem na terra enquanto
seus entes queridos estão no céu.
Sobre esta obra John Howe escreveu: “O propósito é
persuadir e engajar os que são cabeças e dirigentes de famílias
a tomarem a resolução de Josué de que, façam 0 que fizerem

435
PAIXAO P E L A PUREZA

os outros, todavia, “eles e toda a casa deles servirão o Senhor;


com oração diária, fiel, fervorosa, e com ações de graças”.

Heart Treasure (SDG; 528 páginas; 1997). Neste tratado


sobre Mateus 12:35 (“O homem bom tira boas coisas do
seu tesouro”, pp. 1-245), Heywood descreve as disposições
internas do coração, depois mostra como cultivá-las visando
a piedade. Ele diz como adquirir o tesouro cristão; como
armazená-lo com diversos pensamentos, verdades, graças,
experiências e conforto, e como “ tirar boa coisas do bom
tesouro do crente”.
Um apêndice referente à primeira parte de Heart Treasure
oferece um excelente ensaio sobre o uso da meditação (pp.
246-282). Ele inclui vinte assuntos para meditação, e mais
instruções sobre como fazê-la. Também oferece trinta pontos
práticos para meditação durante um dia típico. O ensaio
conclui com vinte motivações para o leitor meditar sobre
assuntos proveitosos.
A segunda parte de Heart Treasure, intitulada “The Sure
Meercies of David”, baseia-se em Isaías 55:3. Depois de
explicar as misericordias oferecidas na aliança de Deus com
Seu povo (pp. 283-500), Heywood mostra como ter certeza
dessas misericórdias, como são confirmadas e comunicadas,
e como Deus usa as misericórdias para instruir, refutar erro
e incentivar o autoexame, a convicção e o bom ânimo. Este é
o segundo dos cinco volumes da série de Works de Heywood.

436
Arthur Hildersham

A r th u r H ild e rs h a m n asceu n o d ia 6 de o u tu b ro de 1563 em


!.S techw orth, C a m b rid g e s h ire , e foi b a tiz a d o com o católico
ro m a n o . Seus p ais, T h o m a s e A n n e , cató lic o s ro m a n o s devotos,
e d u c a ra m -n o n a fé c ató lic a, m as H ild e rs h a m foi in flu e n c ia d o
p o r u m s in c e ro m e stre p ro te s ta n te na escola s e c u n d á ria de
S affron W ald en , E ssex, se n d o m o v id o a a b ra ç a r os p rin c íp io s
p ro te s ta n te s . E m 1576, ele in g re sso u no C h r is t’s C ollege,
C a m b rid g e , o n d e p ro v a v e lm e n te esteve sob a in flu ê n c ia de
L a u re n c e C h a d e rto n , u m p ro e m in e n te p ro m o to r do p u r ita n is ­
m o. D e v id o aos c re sc e n te s s e n tim e n to s p u rita n o s de A rth u r,
seu pai o fo rço u a v o lta r p a ra L o n d re s , e s p e ra n d o q u e os
am igos ca tó lic o s o c o n v e n c e sse m a ir p a ra R o m a e q u e fosse
re c u p e ra d o p a ra a fé cató lica. Q u a n d o esses esforços falh a ram ,
ele foi d e se rd a d o . C o n tu d o , ele p ô d e te rm in a r seus estu d o s
no C h r is t’s C ollege com a a ssistê n c ia de um p a re n te , H e n ry
H a s tin g s , te rc e iro c o n d e de H u n tin g d o n . E le o b te v e o g rau de
B ach a rel em A rte s em 1581 e o de M e stre em A rte s em 1584.
P o r v o lta d e s s e te m p o e le foi n o m e a d o le ito r d e te o lo g ia
n o T rin ity H a ll p o r Lord B u rle ig h .
H ild e rs h a m foi d is c ip lin a d o p o r p re g a r a n te s de sua
o rd e n a ç ã o e teve q u e re tra ta r-s e no d ia 10 de ja n e iro de 1588,

437
PAIXAO P E L A PUREZA

mas logo depois assumiu o trabalho de preletor em Ashby-


-de-la-Zouch, Leicestershire. Hm 1593, Hildersham sucedeu
a Thomas Wyddowes como vigário de St. Helen’s, Ashby. Seu
sermão de prova em Leicester sobre 1 Reis 18:17,18, pregado
em 1596, ofendeu o juiz Sir Edmund Anderson; apesar
das ameaças de indiciamento feitas pelo grande júri, nada
aconteceu com ele.
Os laços com o puritanismo não favoreceram eclesiasti-
cántente a posição de Hildersham. Em 1603, ele foi um dos
promotores da petição milenar a James E Essa petição buscava
mais reformas na política e na liturgia da Igreja. Dois anos
depois, William Chaderton, bispo de Lincoln, exonerou-o
por não conformidade. Mas ele foi favorecido por William
Overton, bispo de Coventry e Lichfield, e lhe foi permitido
pregar nos exercícios piedosos que eram realizados em
Burton upon Trent and Repton. Posteriormente ele foi
restaurado a sua posição em Ashby, mas em 1613 foi suspenso,
supostamente por incentivar os pensamentos dissidentes
de Edward Wightman, homem mal-afamado por ter sido a
última pessoa a morrer queimada na Inglaterra por heresia.
Dois anos depois, Hildersham foi confinado na prisão de
Eleet e a seguir na prisão de King’s Bench por se recusar a
fazer um juramento oficial. Também foi acusado de negar-se a
ficar de joelhos para a comunhão, e no día 28 de novembro de
1616 novamente foi sentenciado à prisão, porém dessa vez foi
sentenciado também a ser degradado do ministério e a pagar
vultosa multa. Contudo, ele esquivou-se da captura, e depois
da morte de James I foi licenciado por Sir Thomas Ridley,
vigário geral da Canterbury, para pregar.
Hildersham voltou para Ashby e deu início a uma série
de sermões sobre o Salmo 51 em 1625, série que durou vários
anos. Em 1630, ele foi suspenso por deixar de usar uma
sobrepeliz e um capuz para o culto público, mas foi restaurado
no ano seguinte.
O derradeiro sermão de Hildersham foi pregado no dia

438
Arthur Hildenham

27 de agosto de 1631. Hle contraiu febre escorbútica e morreu


em Ashby no dia 4 de março de 1632. Ele solicitou que não se
pregasse nenhum sermão em seu funeral, e foi sepultado na
capela da Ashby Church.

Dealing with Sin in Our Children (SDG; 29 páginas; 2004).


Três anos após a morte de Hildersham, seu filho Samuel
publicou os 152 sermões que seu pai tinha pregado sobre
o Salmo 51. Alguns desses sermões foram baseados no
versículo 7, onde Davi focaliza a sua concepção em pecado.
Este livreto é tirado desses sermões, tendo o objetivo de que
Deus abençoasse uma adequada resposta bíblica ao pecado das
crianças, de modo que elas nascessem de novo e se tornassem
robustos filhos e filhas na Igreja de Jesus Cristo.

439
Robert Hill
(m .1623)

R obert Hill nasceu em Ashbourne, Derbyshire. Matriculou­


-se como pensionista no Christ’s College, Cambridge, em
1581, e obteve o grau de Bacharel em Artes em 1585 e 0 de
Mestre em Artes em 1588. Hie foi admitido como membro do
corpo docente do St. John’s College em 1589, e mostrou claras
simpatias puritanas, provavelmente devido à influência de
William Perkins. Enquanto esteve no St. John’s, Hill associou­
-se a vários jovens que mais tarde tornaram-se notáveis
puritanos, tais como William Crashawe e Abdias Ashton.
Em 1596, Hill envolveu-se numa breve controvérsia
sobre um sermão pregado pelo régio professor John Overall,
que aparentemente havia feito declarações questionáveis
sobre a extensão da expiação. Hill reagiu levando a questão
ao conhecimento de Richard Bancroft, bispo e supervisor de
Londres.
Hill serviu como vigário adjunto de St. Andrews, Norwich,
de 1591 a 1602, e continuou servindo como membro do corpo
do St. John’s College até 1609. Nesse mesmo ano foi-lhe
outorgado o doutorado em teologia. De 1602 a 1613, ele foi
prclctor na paróquia dc St. Martin-in-the-Fields. Nesse meio
tempo, ele passou a residir em St. Margaret Moses em 1607,

440
Roben H ill

mas continuou passando dificuldades financeiras inseguro


por muitos anos. Finalmente, obteve um melhor sustento
financeiro e uma residência em seu último cargo, em St.
Bartholomew, em Londres, perto da Bolsa de Valores, onde
permaneceu até sua morte, em 1623.
Hill foi um incentivador da piedade em vários aspectos.
Primeiro, ele se entregou à produção de obras sobre piedade
prática. Em 1606, enquanto foi pregador na paróquia de St.
Martin, ele publicou Christ’s Prayer Expounded, obra na qual
ele conduz o cristão nos passos próprios para a comunhão,
tais como a oração e a ação de graças. Três anos depois ele
expandiu grandemente esta obra em seu livro Pathway to
Prayer and Piety. Segundo, Hill foi um zeloso tradutor e
divulgador dos teólogos protestantes, tanto británicos como
do continente. Em 1591, ele traduziu a obra de William
Perkins, A Golden Chain para o inglês (a pedido de Perkins);
em 1596, ele publicou The Contents of Scripture, uma explicação
da Bíblia resultante da compilação de comentários feitos por
homens como Isaac Tremelius, Erancis Junius, Theodore
Beza, Johannes Piscator e João Calvino; em 1604, ele publicou
a obra de Perkins intitulada Lectures upon First Three Chapters
of Revelation; e em 1620, editou as obras de Samuel Hieron.

The Pathway to Prayer and Piety (WJ; 350 páginas; 1792).


Hill faz uma exposição catequética da Oração do Senhor,
uma preparação para a Ceia do Senhor, dá orientação para a
vida cristã, e oferece instruções para a pessoa morrer bem.
Diferentes orações e ações de graças são acrescentadas.
J.F. Merritt escreve: “Este catecismo exibe as superiores
habilidades pastorais de Hill e se distingue por sua clareza
de exposição, seu uso de símiles comuns e sua disposição
para enfrentar difíceis questões pastorais” (Oxford DNB,
27:174).

441
I’AIXAO P E L A PUREZA

Esta reimpressão de 1972 é um fac-símile da edição de


1613. Foi de longe a obra mais popular de Hill, tendo sido
reimpressa oito vezes em inglés, como também traduzida
para o holandés.

442
Thomas Hooker
(1608-1680)

τ: 'homas Hooker nasceu em 1586 em Leicestershire. Seu


pai era um pequeno proprietário rural. Hooker ingressou
no Queen’s College quando tinha dezenove anos de idade, e
depois se transferiu para o Emmanuel College, considerado
por muitos como um berçário de puritanos. Obteve o grau
de Bacharel em Artes em 1608, tornou-se membro do corpo
docente diretivo em 1609 e obteve um grau de mestre em
1611.
Enquanto esteve no Emmanuel College, Hooker foi
afligido agudamente “pelo espírito de escravidão” (Rom. 8:15).
Angustiava-se tanto com seus pensamentos sobre a justa ira
do céu que chegou a gritar: “Enquanto sofro Teus terrores, ó
Senhor, estou perdido!” Simeon Ash, examinador de Hooker e
depois membro da Assembléia de Westminster, passou muitas
noites tentando consolar Hooker direcionando-o ao Salvador.
Hooker agarrou-se às promessas das Escrituras até ser
convertido firmemente. Com a certeza nascida da experiência,
depois ele diría a outros: “A promessa do evangelho é
o barco que deve levar um pecador que está perecendo ao
Senhor Jesus Cristo” (Mather, Great Works of Christ in America,
1:334). Suas experiências deram-lhe permanente simpatia

443
PAIXAO P E L A PU R EZA

por outros passando por angústias da alma parecidas.


Após sua conversão, Hooker serviu como preletor e
catequista no Emmanuel, onde muitos dos líderes espirituais
da Inglaterra (inclusive Stephen Marshall, Anthony Burgess,
Jeremiah Burroughs e William Bridge) ouviam-no pregar.
Hooker enfatizava a aplicação da salvação, o que, escreveu
Cotton Mather, foi um fruto natural “da tormenta da alma
que o tinha ajudado a chegar a uma familiaridade mais
experimental com as verdades do evangelho”. Seus alunos
preservaram muitas anotações desses sermões, algumas das
quais depois foram impressas sem a aprovação de Hooker.
Em 1619, Hooker aceitou um chamado para servir como
reitor de St. George, uma pequena paróquia em Esher, Surrey,
distante cerca de quinze milhas {vinte e quatro quilômetros}
de Londres. Francis Drake, patrono de Hooker e parente do
famoso marinheiro elizabetano que tinha 0 mesmo nome, dava
a Hooker um pequeno salário. Também convidou Hooker
para morar em sua casa. Ali Hooker ministrou longamente
à esposa de Drake, Joan, que temia ter sido reprovada por
Deus por cometer o pecado imperdoável. Pouco antes de sua
morte, em 18 de abril de 1625, os esforços de Hooker deram
fruto; ela morreu em paz no Senhor.
Em 1621, Hooker casou-se com a criada da Sra. Drake,
Susannah Garbrand. Ele e sua esposa mudaram-se para Essex
em 1625. Os Hooker tiveram cinco filhos, dois dos quais
morreram na infância. Deram à sua filha primogênita 0
nome de Johanna, como o da Sra. Drake; posteriormente ela
se casaria com Thomas Shepard.
Hooker serviu como preletor e pároco adjunto na St.
Mary’s, em Chelmsford, a aproximadamente trinta milhas
{quarenta e oito quilômetros} a leste de Londres, onde seu
trabalho foi grandemente abençoado. A moralidade e a guarda
do domingo melhoraram durante aquele período. O povo
aglomerava-se para ouvi-lo, muito embora ele desafiasse suas
consciências com penetrantes “usos” ou aplicações. Disse um

444
Thomas Hooker

ouvinte que “ Ele era o melhor nas aplicações de quantos


tinha ouvido”. Mather disse: “Operou-se uma grande reforma,
não somente na cidade, mas também na região adjacente, de
todas as partes da qual vinham ouvi-lo”.
“Se já veio no espírito e no poder de João Batista algum dos
finados pregadores e teólogos, foi esse homem”, escreveram
Thomas Goodwin e Philip Nye. Giles Firmin, um colega
puritano, disse que os sermões de Hooker eram tão poderosos que
ele podia “por um rei no bolso” (The Real Christian, p. 38).
Em 1629, contudo, a pregação de Hooker contra alguns
rituais anglicanos 0 colocou em conflito com o arcebispo
William Laud, de Cantuárria. Depois de varias disputas,
Hooker foi expulso do seu posto de preletor em Chelmsford.
Ele iniciou uma escola secundaria ñas proximidades de
Little Baddow com o auxilio de John Eliot, um convertido
mediante o ministerio de Hooker que um dia viria a ser um
famoso missionário entre os indios norteamericanos.
A academia de Hooker tornou-se influente, e assim não
demorou para que a Alta Corte de Concessões o convocasse
para comparecer diante déla. Na data fixada, Hooker estava
de cama, com febre. A Corte marcou outra data. Hooker
simplesmente fugiu para a Holanda antes dessa data. O navio
em que ele viajava tinha acabado de sair do alcance da vista
quando os oficiáis da corte, perseguindo Hooker, chegaram
no cais perguntando por seu paradeiro.
Primeiro Hooker foi para Amsterdam, onde ele tinha
sido convidado por vários presbíteros para servir a uma igreja
presbiteriana de refugiados ingleses pastoreada por John
Paget. Mas Paget não concordou com seus presbíteros. Ele era
um presbiteriano ferrenho, e levou as idéias de congregaciona-
lismo não separatista de Hooker para a sua classis.' Hooker
ocupava um terreno intermediário entre o presbiterianismo1

1 P alav ra latin a que no caso se refe ria a um a a ssem b léia ou convenção


e c le s iá s tic a q u e e x e r c ia f u n ç õ e s d e trib u n a l. N o ta d o tra d u to r.

445
FA IX AO PH LA PURHZA

e a posição dos brownistas, que representavam uma forma


extrema de congregacionalismo. Depois de entrevistar Hooker,
a classis recusou-se a permitir que ele fosse instalado como
assistente de Paget porque Hooker acreditava que a classis
não tinha poder para instaurar ministros. A classis disse
também a Hooker que ele era tolerante demais em aceitar ex-
-brownistas numa congregação, muito embora ele repudiasse
sua separação da Igreja da Inglaterra.
De Amsterdam, Hooker foi para Delft, onde foi bem
acolhido pelo ministro da Igreja Presbiteriana Escocesa, John
Forbes, que trabalhava com mercadores de língua inglesa na
Prinsenhof Church. Ele trabalhou tão harmoniosamente
com Forbes que um observador disse que os dois ministros
eram como “uma alma em dois corpos” .
Depois de dois anos, Hooker aceitou um convite para
Roterdam, para trabalhar como associado de William Ames.
Hooker respeitava profundamente Ames, e dizia: “ Se um
erudito fosse apenas bem versado nas obras Manow of Theology
e Cases of Conscience, entendendo-as completamente, seria um
bom teólogo, ainda que não existisse mais nenhum livro no
mundo” . Hooker escreveu um prefácio complementar para o
livro de Ames, A Fresh Suit against Human Ceremonies in God’s
Worship. Ames, por sua vez, escreveu sobre Hooker dizendo
que, embora estivesse “familiarizado com muitos eruditos
de diversas nações, nunca tinha encontrado ninguém igual
ao Sr. Hooker, quer na pregação quer nos debates” (Mather,
“Piscator Evangelicus”, em Johannes in Eremo, pp. 20,21).
Hooker logo se afligiu por Roterdam não ser receptiva
à “ religião do coração”. Sua participação na experiência
congregacional que ali teve ajudou a amadurecê-lo como não
separatista. Mas ele não se sentia em casa. Quando alguns
mercadores disseram a Hooker que alguns dos seus antigos
paroquianos de Chelmsford estavam planejando emigrar para a
América do Norte e queriam que ele os acompanhasse, Hooker
juntou-se a eles.

446
Thomas Hooker

Em 1633, o êxodo puritano para Massachusetts estava no


auge. Hooker viajou para a América a bordo do Griffin junto
com Samuel Stone (1602-1663), querido amigo e colega;
John Cotton; e mais duzentas pessoas, muitas das quais eram
crentes. Durante a viagem de oito semanas, as pessoas a bordo
desfrutaram quase três sermões quase cada dia. Ouviam
Cotton de manhã, Hooker de tarde e Stone de noite. O povo de
Massachusetts exultou ao receber tão notáveis ministros. Eles
brincavam por meio de um jogo de palavras dizendo que agora
tinham “Cotton para suas roupas, Hooker para a sua pescaria
e Stone para as suas construções”.2 Logo depois de chegarem
a Boston, solicitaram a Hooker e a Stone que servissem na
primeira igreja de Newtown (atual Cambridge). Pregações,
preleções semanais, deveres pastorais, aconselhamento
nos “casos de consciência”, e opiniões quanto às atividades
políticas e civis mantinham Hooker ocupado. A igreja de
Newtown foi grandemente abençoada sob a sua liderança.
Um dos seus principais membros, John Haynes, foi eleito
governador da Baía de Massachusetts.
Com o tempo, o desejo de Hooker de mais e melhor terra,
0 crescente descontentamento com a situação política da Baía
de Massachusetts, e as tensas relações com John Cotton e John
Winthrop, levaram Hooker a considerar possível mudança.
Ele tinha também sérias divergências com vários líderes
de Massachusetts sobre o governo civil. Como Iain Murray
escreve, “O conselho que prevalecia em Boston, influenciado
pela suposição de que em vários pontos um Estado cristão
deve seguir a teocracia do Velho Testamento, restringia o voto
aos membros de igreja e tinha a incumbência de tratar das
diferenças de opinião por meio da força da lei” (“Thomas
Hooker and the Doctrine of Conversion”), Banner of Truth,
n° 195 [dezembro de 1979]: 29). Defensores dessa posição,
liderados por Winthrop, opuseram-se veementemente à teoria

2 " C o tto n ” , a lg o d ã o ; “ H o o k e r ” , a n z o l: " S t o n e " , p e d ra . N o ta d o tra d u to r.

447
PAIXAO P E L A PUREZA

política democrática que Hooker favorecia. Winthrop e Hooker


debateram demoradamente esse tema, tanto pessoalmente
como em correspondência escrita.
Por último, Hooker e trinta e cinco famílias - a maioria
da sua congregação - saíram da colônia e se estabeleceram no
vale do Connecticut, em Hartford. Eles venderam suas casas
aos recém-chegados da Inglaterra, que eram liderados por
Thomas Shepard.
Apesar de Hooker ter-se oposto aos principais líderes
da Colônia da Baía e de ter induzido uma secessão, ainda
desfrutava de boa reputação em Massachusetts. Em 1637, ele
voltou a Boston para servir como um dos moderadores do
sínodo que condenou os ensinos de Anne Hutchinson e seus
seguidores.
Hooker dedicou considerável tempo às questões políticas.
Como Albert Hart escreveu, “Ele foi para Connecticut o que
John Winthrop foi para Massachusetts e 0 que Roger Williams
foi para Rhode Island - o grande pai, o líder de confiança”
(“Thomas Hooker”, na obra de Charles Perry, Founders and
Leaders of Connecticut, 1633-1783 e Líderes de Connecticut,
1633-1783}, PP· 52,53. Quando a Corte de Connecticut
começou a lavrar uma constituição, Hooker pregou um
sermão sobre Deuteronômio 1:13, que defendia os princípios
democráticos. A constituição que Connecticut adotou em
1639, chamada Ordens Fundamentais, incorporou essas idéias
democráticas. Todavia, é uma extravagância chamar Hooker
de “o pai da democracia americana”, como alguém fez.
Em 1642, Hooker, John Davenport e John Cotton foram
convidados para representar a Nova Inglaterra na Assembléia
de Teólogos de Westminster. Hooker declinou da oferta, mas
procurou influenciar a assembléia com a publicação de três
livros em Londres, dois sobre Oração do Senhor (A Rrief
Exposition of the Lord's Prayer e Heaven's Treasuiy Opened), e
um catecismo sobre os princípios fundamentais da religião
(An Exposition of the Principles of Religion). Embora esses livros

448
Thomas Hooker

concordem com os padrões de Westminster em quase todos os


pontos, não há prova de que os teólogos de Westminster foram
grandemente impactados por eles. Esses três livros, junto
com as obras de Hooker intituladas The Immortality of Man’s
Soul e The Saint’s Guide in Three Treatises, foram publicados
em Londres em 1645.
Nesse ínterim, Hooker estava totalmente envolvido
em conduzir a sua congregação e em contribuir para a vida
eclesiástica das colônias. Em 1643, ele serviu como moderador
de uma conferência reunida para combater tendências
presbiterianas, que estavam começando a despontar em
algumas igrejas. Ele escreveu um livro para refutar essas
tendências e para promover o congregacionalismo; foi uma
refutação item por item da obra de 800 páginas de Samuel
Rutherford, The Due Right of Presbyteries, (1644). O livro
foi enviado para a Inglaterra, mas o navio que levava os
manuscritos originais perdeu-se no mar. Relutantemente,
Hooker reescreveu seu livro. Só foi publicado depois da
morte de Hooker (A Survey of the Sum of Church Discipline),
(1648). Esse livro tem sido descrito como a mais profunda e
“arrazoada declaração do programa prático do puritanismo
da Nova Inglaterra” (Miller e Johnson, The Puritans, p. 802).
Nas trinta e seis publicações de 5.000 páginas de sermões
e tratados que ele escreveu, Hooker tratou primariamente da
doutrina da salvação; seus temas favoritos eram a regeneração
e a graça experimental, ou, como ele chamava, a aplicação da
redenção. Sua importante série de livros derivados de uma
longa série de sermões pregados em Cambridge, Chelmsford e
Hartford, investiga a obra experimental do Espírito Santo na
alma desde os estágios preparatórios da convição (de pecado},
através de toda a ordem da salvação, até a glorificação. Os
sermões foram publicados primeiro com base nas anotações
de ouvintes, e são: The Soul's Preparation, (1632), The Soul’s
Humiliation, (1637), The Soul’s Effectual Calling, (1637), The
Soul’s Implantation, (1637), The Soul’s Exaltation, (1638), e The

449
PA IX ΛΟ PHI. A PURHZA

Soul’s Possession of Christ, (1638). Na Nova Inglaterra Hooker


revisou esses sermões para publicação como The Application of
Redemption. Hies foram publicados em dois volumes depois da
sua morte, em 1656, como se deu com seu tratado sobre
a glorificação, o passo final da ascensão da alma ao céu.
Hooker promoveu a teologia pactuai ou federal com suas
implicações éticas e sociais. Hle ensinava que a aliança da graça,
inserida salvífícamente na regeneração, provê uma base para
motivação ética. Consequentemente, ele sustentava fortemente
a aliança eclesial, que veio a ser a política congregacional da
Nova Inglaterra, e a aliança social, que se tornou a base de
um sistema político que submete os magistrados e os cidadãos
às exigências da justiça de Deus.
Hm 1647, Hooker adoeceu durante uma epidemia que se
propagava pela região. Em seu leito de morte, ele comunicou
a Thomas Goodwin que “sua paz tinha sido feita no céu e
que tinha persistido durante trinta anos sem alteração”. Um
amigo chegado lhe disse pouco antes de ele morrer: “Você
vai receber a recompensa de todos os seus labores” . Hooker
respondeu: “Irmão, eu vou receber misericórdia” . Hle morreu
em 7 de julho de 1647, dia em que completou sessenta e um
anos de idade.
Os contemporâneos de Hooker frequentemente 0
chamavam de “O Cutero da Nova Inglaterra” . Hooker foi um
homem de muitos dons: estadista arguto, dedicado homem
da igreja {ou seja, anglicano}, firme teólogo, prolífico escritor
e amado pastor. Ele desempenhou um papel formativo no
desenvolvimento da religião no Novo Mundo. Contudo, foi
como pregador que ele se elevou “à sua maior estatura” . Seus
sermões eram repletos de ilustrações atraentes que tornavam
fáceis de entender as verdades do evangelho para os seus
ouvintes.
Hooker foi um vigoroso líder, dotado de graça e humildade.
Tinha grande habilidade para debates, mas também era
engenhoso na conciliação de diferenças. Sua influência

450
Thomas Hooker

tem sido considerável no cristianismo experimental, na


homilética, na evangelização, na colonização, na filosofía
política e na política eclesiástica. “Os frutos dos seus labores
nas duas Inglaterras”, escreveu John Winthrop em seu Journal,
“preservará para sempre uma honrosa e feliz lembrança dele”.

The Christian’s Two Chief Lessons: Self-Denial and Self­


-Trial (10; 174 páginas; 1997). Neste livro Hooker sonda os
íntimos recessos do coração humano. Ele explica a natureza de
urna sólida resolução e seu dever, o significado da abnegação,
e a necessidade de o crente levar sua cruz. Descreve também
o homem como cidadão, o formalista, o crente temporário, as
graças cristãs essenciais, e a adoção.

The Poor Doubting Christian Drawn to Christ (SDG; 129


páginas; 2001). Esta primeira obra publicada de Hooker
baseou-se em grande parte em sua experiência pastoral quando
cuidou da esposa de Francis Drake. Hooker passou muitas
horas aconselhando Joan Drake em sua extrema melancolia.
Para quem luta com dúvidas e perplexidades, este livro é
um tesouro. Tem sido útil, durante séculos, para animar os
crentes a buscarem refúgio em Cristo pela fé.

Redemption: Three Sermons, 1637-1656 (SF; 160 páginas;


1977). Este fac-símile consiste de três sermões extraídos
de três volumes: “No Man by Nature Can Will Christ and
Grace”, (1638); “The Heart Must be Humble and Contrite”,
extraídos de The Application of Redemption (1656); e “The
Soul’s Ingrafting into Christ”, de The Soul's Implantation
(1637). Os sermões explicam como Deus converte Seu povo.

The Soul’s Humiliation (ΙΟ; 167 páginas; 2000). Nesta obra


Hooker explica a necessidade de quebrantamento da alma

451
ΡΑΙΧAO P E L A PUREZA

antes que a conversão possa ocorrer. Hooker escreve sobre


o quebrantamento do coração, o remédio da alma, provas
interiores, quebrantamento verdadeiro, o tratamento que
Deus dá à alma, provas pessoais, e a consciência da miséria.

The Soul’s Preparation for Christ (ΙΟ; 204 páginas; 1994).


Este livro, originalmente impresso em 1632, desenvolveu-se
de uma longa série de sermões que Hooker pregou sobre Atos
2:37. Descreve a preparação da alma para a graça, examinando
conceitos tais como o quebrantamento do coração, a verdadeira
visão do pecado, os meios pelos quais se vê o pecado, o mal
dos pecados particulares, meditação sobre pecados, pungente
tristeza de alma, preparação do coração, os auxílios de Cristo,
e contrição salutar.
Embora os livros de Hooker apresentem ensino de grande
valor espiritual, alguns dos seus escritos sobre como a alma é
conduzida a Cristo (como, por exemplo, The Soul’s Prepartion)
podem ser pesados demais para crentes novos. Giles Firmin
diz em sua obra The Real Christian: “Quando o Sr. Hooker
estava pregando os sermões sobre a preparação da alma para
Cristo e sobre quebrantamento, meu sogro, o Sr. Nath Ward,
disse a ele: “ Sr. Hooker, o senhor faz cristãos tão bons antes
de eles estarem em Cristo como se fosse depois de estarem
nElc”; e “eu gostaria de ser apenas tão bom cristão agora
como 0 senhor descreve os homens enquanto estão apenas se
preparando para Cristo” (p. 19).

Thomas Hooker, Writings in England and Holland, 1626­


1633, editores: George H. Williams, Norman Pettit, Winfried
Herget e Sargent Bush, Jr. (Harvard; 445 páginas; 1975). Este
importante texto da obra inicial de Hooker contém dez dos
seus escritos compostos antes de sua partida para a América
em 1633. Esta coleção inclui dois prefácios às obras de dois
contemporâneos de Hooker (John Rogers e William Ames),
o fragmento de uma carta, o primeiro rascunho da teoria de

452
Thomas Hooker

Hooker sobre a organização da Igreja, e seis sermões, inclusive


ura sermão para funerais e um sermão de despedida, pregado
quando da partida de Hooker da Inglaterra para a Holanda.
Para facilitar a leitura destes documentos, os editores oferecem
úteis e extensos ensaios que (1) colocam os escritos em seu
cenário histórico; (2) falam da ordem da salvação com relação
à teologia puritana, (3) descrevem a transcrição dos sermões
de Hooker, e (4) fornecem uma visão geral dos problemas
enfrentados em resolver o que Hooker de fato escreveu. C)
livro conclui com uma detalhada bibliografia dos escritos
de Hooker.

453
Ezekiel Hopkins

zekiel H o p k in s nasceu n o d ia 3 de d e z e m b ro de 1634 em


E S a n d fo rd , na p a ró q u ia de C re d ito n , D e v o n sh ire . Seu pai,
J o h n H o p k in s , tin h a m in is tra d o ali com o p áro c o a d ju n to
d u ra n te m u ito s anos. E ze k iel rec e b e u sua ed u c a ç ã o na
M e rc h a n t T ay lo rs’ S chool (1646-1648) e no M a g d a le n C ollege,
O x fo rd , o n d e o b te v e u m g ra u d e b a c h a re l cm 1653 e u m
g ra u de m e s tre e m 1656.
H o p k in s to rn o u -s e capelão no M a g d a le n C ollege e c o n ­
tin u o u a e s tu d a r ali até a R esta u ra ç ã o (1660). D e p o is foi
a ssiste n te de W illiam S p u rsto w e , na St. J o h n ’s, H a ck n ey , p e rto
de L o n d re s . A ca ta n d o o A to de U n ifo rm id a d e em 1662, p e rd e u
sua p o sição q u a n d o S p u rsto w e se re c u so u a c o n fo rm a r-s e e
foi e x p u lso , e seu s u c e sso r n ã o se p re o c u p o u co m H o p k in s .
H o p k in s foi e n tã o e le ito p re g a d o r, ou de St. E d m u n d , na
L o m b a rd S tre e t, o u d a d e St. M a ry W o o ln o th .
E m 1666, H o p k in s v o lto u p a ra D e v o n s h ire . T o rn o u -se
m in is tro em St. M a ry A rch es, E x eter, o n d e a tra iu a a te n ç ã o
de Lord R o b e rts (p o s te rio rm e n te c o n d e de R a d n o r e sogro
de H o p k in s ). Q u a n d o Lord R o b e rts to rn o u -s e Lord T e n e n te
da Irla n d a em 1669, ele n o m e o u H o p k in s co m o seu capelão.
M ais ta rd e , nesse an o , ele se to rn o u a rq u id iá c o n o e te so u re iro

454
Ezekiel Hopkins

de Waterford e prehendeiro de Rathmichael, Dublin. No ano


seguinte, Hopkins foi nomeado deão de Raphoe, e, em 1671,
foi consagrado bispo de Raphoe.
Hopkins casou-se duas vezes - primeiro com Alice, fdha
única de Samuel Moore, de Londres, e sobrinha de Thomas
Vyner, ex-prefeito de Londres. Tiveram dois filhos, Charles e
John. Depois que sua esposa morreu, Hopkins casou-se com
Lady Araminta Roberts, filha do conde de Radnor.
Quando Michael Ward, bispo de Derry, morreu, em 1681,
Hopkins foi transferido para o bispado de Derry, Irlanda i do
Norte}. A religião tinha decaído nessa grande cidade quando
Hopkins chegou. Ele pregou contra a vida desordenada em
seus sermões sobre “Practical Christianity” e “The almost
Christian Discovered”, ambos os quais fazem parte do segundo
volume de suas Works. Depois da deflagração da rebelião de
1688, quando muitas forças católico-romanas, irlandesas,
deram apoio a James II, Hopkins escandalizou o povo da sua
diocese por defender a não resistência. Conforme fizeram
muitos protestantes nesse tempo, ele se refugiou na Inglaterra
por causa da ameaçada perseguição.
Em 1689, Hopkins foi eleito pregador da pequena igreja
paroquial de St. Mary Aldermanbury, em Londres. Logo
adoeceu gravemente, porém, e morreu no dia 19 de junho de
1690, apenas nove meses após sua posse. Richard Tenison,
bispo de Clogher, falou nos funerais de Hopkins, elogiando
seu agudo juízo, sua humildade e sua caridade.
Apesar de manter o conceito da Igreja da Inglaterra sobre
governo da Igreja, os livros de Hopkins, dos quais vários foram
publicados durante sua vida, transmitem forte sentimento
de piedade puritana. Esses e outros livros foram publicados
numa primeira edição de suas obras em 1701. Numa edição
de 1712, foram acrescentadas suas obras Doctrine of the Two
Covenants, Doctrine of the Two Sacraments e Death Disarmed of
Sting. Josiah Pratt publicou uma edição de quatro volumes
em 1809.

455
FAI X AO P E L A PUREZA

The Works of Ezekiel Hopkins (SDG; 3 volumes, 2.076


páginas; 2001). O primeiro volume de suas obras apresenta um
breve esboço biográfico de Hopkins, seguido de importantes
tratados sobre a Oração do Senhor, os Dez Mandamentos, e
vários sermões sobre a lei e sobre o pecado. O volume 2 contém
discursos de Hopkins sobre o pecado e apresenta seu ensino
sobre as alianças, a regeneração, as ordenanças e os atributos
de Deus. Ele inclui também sermões sobre a certeza da fé, o
cristianismo prático na efetuação da salvação, a suficiência
de Cristo, e a excelência dos tesouros celestiais. O volume 3
contém tratados sobre a consciência, a mortificação do pecado,
e a confrontação com a morte; sermões diversos; e um índice
completo de assuntos e de passagens das Escrituras.
Os escritos de Hopkins são de fácil leitura; ele é claro,
persuasivo, pessoal e experimental. Apresenta um estilo de
redação simples e impositivo, sem sacrificar a profundidade.
Seus livros sobre os Dez Mandamentos e sobre as alianças
são de grande valor. Ele sonda as profundezas da alma. Por
exemplo, ao discorrer sobre 0 sexto mandamento, ele examina
o orgulho como uma das motivações para os pecados de que
trata o mandamento, e então diz: “O orgulho é mãe prolifera
de muitos males, mas nenhum ele nutre com mais cuidado e
ternura do que a ira. O homem orgulhoso é o maior amante
de si mesmo no mundo; ama a si mesmo sem rival” .
Charles Spurgeon disse, a respeito desses livros: “Hopkins
sonda o coração inteiramente, e faz aplicações muito práticas
às situações e circunstâncias da vida diária. Sua eloquência
singela fará suas obras sempre valiosas” .

456
John Howe
(1630 -1705)

J
o h n H o w e n asceu no d ia 17 de m a io de 1630, em
L o u g h b o ro u g h , L e ic e s te rs h ire . Seu pai era um m in is tro
q u e tin h a s im p a tia s pelo p u rita n is m o e que, em 1634, foi
s u sp e n so do m in is té rio p ela A lta C o rte de C oncessões p o r o ra r
p u b lic a m e n te ro g a n d o “q u e D e u s m a n tiv e sse o p rín c ip e na
relig iã o v e rd a d e ira , do q u e h o u v e m o tiv o p a ra te m o r” , p ara
q u e não se desse o caso de q u e “ o jovem p rín c ip e não fosse
c ria d o n o p a p is m o ” . O s H o w e fu g ira m p ara a Irla n d a em
1635, v iv e ra m lã d u ra n te a re b e liã o irla n d e s a de 1641 e depois
v o lta ra m p a ra a In g la te rra a in d a no in ic io da d éca d a de 1640
p ara se e sta b e le c e re m em L a n c a sh ire .
H o w e o b te v e u m g rau de b a c h a re l cm 1648 no C h ris t’s
C ollege, C a m b rid g e . F oi in flu e n c ia d o ali pelo p u rita n o
H e n ry F ie ld , e p o r H e n ry M o re e R a lp h C u d w o rth , q u e eram
se g u id o re s de P la tã o em C a m b rid g e . D e p o is H o w e foi p ara 0
B rase n o se C ollege, O x fo rd , o n d e o b te v e u m g rau de m e stre
em 1652. N esse an o ele ta m b é m foi e leito m e m b ro do corpo
d o c e n te n o M a g d a le n C ollege, o n d e T h o m a s G o o d w in era
p re s id e n te . Hie se to rn o u m e m b ro da igreja c o n g reg a cio n al
q u e G o o d w in p asto rea v a. D u ra n te esses an o s, ele esboçou um
liv ro de te o lo g ia p a ra seu uso p a rtic u la r, e p o u co se d esviou
das suas ênfases no tra n s c o rre r da sua vida.

457
PAIXAO PEL A PUREZA

Com vinte e três anos de idade, Hovve voltou para


Lancashire. Foi ordenado por Charles Herle, reitor de
Winwick, que tinha abraçado convicções presbiterianas.
No ano seguinte, pediram a Howe que fosse ministro da
igreja paroquial de Great Torrington, Devonshire. Ele se
associou a uma fraternidade ministerial naquela localidade e
se tornou amigo chegado de George Ffughes, de Plymouth,
ministro conhecido por sua piedade e cultura. Howe manteve
correspondência semanal, em latim, com Hughes; também
conheceu a filha de Hughes, Catherine, e se casou com ela
um ano depois. Eles foram abençoados com quatro filhos
homens e uma filha.
Quando os puritanos celebravam dias de jejum, Howe
realizava o culto com 0 seu rebanho das 9 da manhã às 4
da tarde. Começava com quinze minutos de oração, e depois
passava quarenta e cinco minutos lendo e expondo passagens
das Escrituras. Depois disso, orava durante uma hora, pregava
durante uma hora e de novo orava durante meia hora. Depois
de meia hora de intervalo, orava e pregava durante outras
três horas.
Em 1656, Oliver Cromwell pediu a Howe que fosse um
dos seus capelães. Howe empreendeu esse trabalho com
profundo entendimento das responsabilidades proféticas do
seu ministério. Por exemplo, ele escreveu a Richard Baxter:
“Eu gostaria de ouvir de você o que entende que são os
maiores males da nação que julga que o atual governo pode
reparar. O que você concebe que alguém em minha posição
tem a obrigação de exigir deles como questão de dever?”
Howe era um grande pacificador. Ele fez tudo o que pôde
para reconciliar presbiterianos e congregacionais. Mas não
tinha medo de falar contra os que procediam mal, Cromwell
inclusive. Depois de um sermão particularmente mordaz,
alguém disse a Howe que temia que este pudesse ter perdido
irrecuperavelmente o favor de Cromwell. Howe replicou:
“Desincumbi‫־‬me do meu dever, e confio o desfecho a Deus”.

458
John Howe

Cromwell venceu o seu ressentimento, e Howe permaneceu


com ele até quando Cromwell morreu, em 1658.
O filho de Oliver Cromwell, Richard, não pôde preencher
o lugar do seu pai com sucesso. Nos dezoito meses após a
morte de Cromwell, uma crise seguiu-se a outra. Finalmente
Richard renunciou, e os presbiterianos juntaram-se ao exército
de Monk no convite a Charles II para retornar. Howe, com o
coração partido, escreveu a Baxter: “A religião perdeu-se na
Inglaterra, salvo o que puder arrastar-se pelos cantos.... Estou
voltando à minha antiga situação, estando agora em liberdade
fora de contestação”.
Howe retornou a seu antigo pastorado em Torrington
até a promulgação do Ato de Uniformidade, em 1662. Então
ele deixou a sua congregação, dizendo: “Consultei minha
consciência, e não posso ficar satisfeito com os termos
de conformidade estabelecidos por lei” . Em 1665, ele fez
juramento de obediência passiva prescrita pela Lei das Cinco
Milhas. Durante vários anos ele continuou a pregar em casas
particulares. A vida ficou difícil para ele, como aconteceu
com muitos não conformistas. Howe escreveu: “Muitos deles
vivem da caridade, alguns deles com dificuldade conseguem
seu pão”. Não podendo pregar publicamente, Howe preparou
para publicação sermões que ele tinha pregado em Torrington.
Em 1668, ele publicou The Blessedness of the Righteous.
Em 1671, Lord Massereene, do Antrim Castle, convidou
Howe para ser seu capelão na Irlanda !do Norte}. Na viagem
para a Irlanda, fortes ventos desviaram o navio da rota para
Holyhead. Tendo chegado a terra, Howe recebeu um in-
comum convite de um estranho a cavalo para pregar no
domingo seguinte. Ele pregou duas vezes naquele Sabbath. O
navio não pôde zarpar na semana seguinte por causa dos for­
tes ventos.Uma multidão muito maior se reuniu para ouvi-lo
no domingo seguinte, mas Howe adoecera e ficou de cama. O
ministro local ficou tão espantado ao ver tantas pessoas que
imediatamente mandou buscar Howe, que saiu da cama e foi

459
EAIXAO P E L A PUREZA

pregar mais dois sermões. Pregou sem anotações - como um


moribundo a pecadores necessitados. Howe disse depois: “ Se
alguma vez o meu ministério teve alguma utilidade, deve ter
sido naquela ocasião”.
Howe achou a Igreja irlandesa menos hostil aos não
conformistas do que a Igreja inglesa. O bispo de Down deu­
-lhe permissão para pregar em qualquer igreja paroquial de sua
diocese. Os ministros presbiterianos valorizaram imensamente
a presença de Ilowe que lhe pediram que ajudasse a dirigir o
seu seminário teológico.
Em 1674, Howe publicou Delighting in God, escrito a partir
de anotações de sermões pregados em Torrington vinte anos
antes. Dois anos depois, ele publicou a primeira parte de The
Living Temple, que viría a ser o seu livro mais conhecido.
Em 1676, Howe aceitou o convite para a Silver Street
Presbyterian Church, em Londres. A princípio tudo ia bem.
Ele pregou a grande número de pessoas e era estimado tanto
por anglicanos como por dissidentes. Todavia, gradativamente
foi intensificada a perseguição movida contra os dissidentes.
Em 1683, quando o bispo de Lincoln escreveu uma carta
pastoral instando que a lei penal contra os dissidentes fosse
ativada, Howe protestou.
Por volta de 1685, a vida de Howe corria tanto perigo
que ele não podia andar abertamente pelas ruas de Londres.
Sua saúde ia mal. A ascensão de James II ao trono prometia
coisas ainda piores, pelo que Howe aceitou um convite de
Philip, Lord Wharton, para fazer um giro pela Europa com
ele. Os arranjos foram feitos tão secretamente que ele só pôde
despedir-se da sua congregação por carta, na qual os exortou a
não se amargurarem sob a perseguição.
Depois de viajar na Europa durante um ano, Howe
percebeu que ainda não podia voltar para a Inglaterra, e então
se estabeleceu em Utrecht, Holanda. Pregou ocasionalmente na
igreja inglesa de Utrecht e supervisionou os estudos teológicos
de vários alunos ingleses da Universidade de Utrecht. O bispo

460
John H(ruie

Burnet, o historiador, visitou Howe em Utrecht. William de


Orange, que posteriormente foi rei da Inglaterra, também 0
favoreceu. O príncipe admirava Cromwell e queria ouvir tudo
o que Howe pudesse dizer acerca do Protetor.
Em 1687, James II publicou a Declaração de Indulgência,
suspendendo as leis penais contra os católicos romanos c os
protestantes dissidentes. A congregação de Howe enviou­
-lhe cartas, pleiteando com ele que voltasse, mas William
advertiu Howe de que esta era outra estratégia para que os
católicos romanos obtivessem influência. Howe voltou para
casa só para descobrir que William estava certo. O rei seria
grandemente fortalecido se Howe estivesse disposto a declarar
a legalidade do poder real de administrar a justiça, mas Howe
recusou-se a fazê-lo. Ele e a maioria dos dissidentes viram que
a tolerância baseada no domínio do rei sobre o parlamento
não teria força duradoura. Logo o rei ofendeu a maioria dos
seus súditos atacando a liberdade da Igreja e as prerrogativas
do parlamento. Homens proeminentes do reino convidaram
William para ocupar 0 trono. No dia 5 de novembro de 1688,
William aportou em Torbay. Howe liderou a delegação de
ministros dissidentes que deu as boas vindas a William, e,
num discurso comovente, garantiu-lhe o apoio deles.
Howe esperava que fosse aprovada uma determinação
governamental que garantiría a tolerância dos dissidentes
dentro da Igreja da Inglaterra, mas a Casa dos Comuns
derrubou o projeto de lei. Howe publicou as suas preocupações
na obra The Case of lhe Protestant Dissenters Represented and
Argued, enfatizando o acordo em doutrina entre a Igreja e os
dissidentes, e que era um erro impor uniformidade de culto
àqueles cuja consciência os conduzia noutra direção.
Apesar dos esforços dos dissidentes, eles obtiveram
tolerância mínima. O Ato de Tolerância os isentava de
perseguição por não atenderem as suas igrejas paroquiais.
Eles podiam construir casas de reunião e usá-las para culto,
desde que as registrassem perante as autoridades. Contudo,

461
PAIXAO P E L A PUREZA

os dissidentes ainda eram impedidos de exercer ofícios no


município ou no Estado, e as universidades estavam fechadas
para eles. Não obstante, estavam agradecidos pelo alívio
oferecido pela lei. Em reação, Howe publicou Humble Request
to both Conformists and Dissenters touching their temper and
behaviour towards each other upon the lately passed Indulgence,
mostrando que ele estava mais interessado na comunhão
dos cristãos do que na vantagem deste ou daquele partido
eclesiástico.
Howe tinha cinquenta e nove anos de idade quando
0 Ato de Tolerância foi promulgado. Em 1690, ele e outros
preparassem o documento “Termos Básicos de um Acordo
entre Presbiterianos e Congregacionais”, mas foi em vão. As
disputas entre calvinistas e arminianos e as discussões sobre
os escritos de Tobias Crisp complicaram a situação. Panfletos
teológicos combatíveis e debates arraigaram a briga. Howe
permaneceu afiado quanto às discussões correntes sobre a
predestinação, a Trindade e a conformidade, frequentemente
escrevendo livros ou fazendo preleções na reunião semanal
na Broad Street Merchant’s Lecture sobre esses assuntos. Seu
último livro, Of Patience in Expectation of Future Blessedness,
foi publicado em 1705, ano de sua morte.
Nesse meio tempo, Howe continuou a pregar duas vezes
todo domingo na Silver Street. Quanto mais ele se aproximava
da morte, mais aumentava a sua comunhão com Deus. Na
última Ceia do Senhor que ele administrou, achava-se de tal
modo no céu que algumas pessoas temeram que ele morresse
durante o culto.
A semelhança de muitos puritanos, Howe foi abençoado
com a presença de Deus em meio a excruciante dor. “Espero
minha salvação”, disse Howe, “não como um servo proveitoso,
mas como um pecador perdoado”. Uma vez ele disse a sua
esposa que, embora achasse que “a amava tanto como era
própria uma criatura amar outra”, contudo, se tivesse que
escolher entre morrer naquele momento ou viver mais sete

462
John Ilow e

anos, preferiría morrer. Após breve pausa, ele apontou para


seu próprio corpo e disse: “Disponho-me a sentir-me vivo,
mas estou mais desejoso de morrer e pôr de lado este estorvo”.
Antes de morrer, Howe fez seu filho George prometer
que queimaria seus papéis particulares, exceto seus sermões e
outros manuscritos “costurados em vários volumes pequenos”.
Consequentemente, das numerosas cartas de Howe poucas
sobreviveram. As que sobreviveram foram impressas na obra
de Henry Rogers, Life and Character of John Howe, (Londres:
Religious Tract Society, 1863), a biografia definitiva de Howe.
As palavras ditas por Howe quando estava morrendo
foram as de alguém que já pertencia a outro mundo. Como
diz um biógrafo, “Ele se demorava com grande frequência, e
quase com sobre-humana eloquência, em seu tema favorito, a
felicidade do céu, e falava como se já estivesse sob o véu Ida
glória; 2 Cor. 3:15,16}. Howe teve diversas notáveis conversas
com Richard Cromwell, nas quais as lágrimas dos dois homens
fluíam livremente quando falavam sobre a glória da vida
por vir. No dia 2 de abril de 1705, Deus concedeu a Howe o
que ele desejava: morreu sem agonia.
Howe foi um escritor prolífico, tendo publicado mais
de trinta tratados durante sua vida. Dezenas de preleções e
sermões adicionais foram publicados postumamente na edição
de Edmund Calamy das obras de Howe coletadas, lançada
primeiramente em 1724. Várias edições de muitos volumes
foram lançadas no século dezenove.

The Works of John Howe (SDG; 3 volumes, 1.950 páginas;


1990). Este conjunto de obras eontém grande parte dos escritos
de Howe. Tratados merecedores de comentários são:
The Living Temple (1:1-344). Este é o maior livro de
Howe, e o mais profundo. Foi publicado originalmente em
duas partes (1676 e 1702). Sua meta, Howe escreve, é mostrar

463
ΡΑΙΧ AO PH LA PUREZA

que “o homem hom é templo de Deus”. O livro apresenta


uma miniatura do sistema de teologia expondo varias das
grandes verdades do cristianismo. Desde que a ideia de que
o crente é um templo pressupõe um objeto de culto, Howe
dedica a primeira parte à demonstração da existência e das
perfeições de Deus e Sua disposição para manter comunhão
com adoradores. Ele refuta Hobbes e outros que publicaram
especulações heréticas sobre Deus e sobre o culto bíblico. Na
segunda parte, Howe opõe-se à tentativa de Spinoza de deificar
tudo. Depois de estabelecer a autoridade das Escrituras, Howe
apresenta o homem como um “ templo em ruínas”, depois usa
o restante do livro para explicar a grande doutrina da reconci­
liação com Deus. As porções mais notáveis destes capítulos são
sua descrição do Messias encarnado, sua defesa da doutrina da
expiação substitutiva, e a sua delineação do caráter de Cristo,
que finalmente todo crente deve refletir. Os corações dos
crentes como templos de Deus devem corresponder a Cristo,
0 templo perfeito. Howe conclui remetendo seus leitores à
leitura dos seus sermões sobre “A própria dedicação” (1:345­
378) e “Rendendo-nos a Deus” (1:378-405), os quais explicam
mais o assunto.
Delighting i?1 God (1:474-664), baseia-se no Salmo 37:4:
“Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja
o teu coração”. O livro consta de duas partes: “A importância
do preceito” e “A prática do preceito” . Na primeira parte,
Howe mostra que Deus é “um Senhor que deve ser obedecido,
e uma Porção que deve ser desfrutada”. Deus, por Sua própria
natureza, anela comunicar bondade a Seu povo fazendo­
-se objeto de deleite. Depois Howe discute a comunicação
divina sob três títulos importantes: uma revelação interior
iluminadora de Deus à mente; uma impressão transformadora
de Sua imagem; e a manifestação do amor divino à alma. Na
segunda parte, Howe explica 0 exercício do deleitar-se em
Deus que, primeiro, relaciona-se com todos os outros deveres
da vida cristã, e, segundo, é em si um dever. Em toda essa

464
John Howe

parte Howe desafia os erentes a aspirarem a alegria de Deus


em Cristo, uma alegria sentida mais pelo coração. Os crentes
não devem firmar-se em devoções com um coração indiferente,
mas, sim, devem buscar o arrebatamento de uma comunhão
com Deus que os santos do passado experimentavam. O restante
do volume 1 contém sermões sobre a criação do homem, sua
inimizade natural contra Deus, e sua reconciliação com Deus
pela graça. Também inclui uma biografia de 30 páginas sobre
Howe escrita por J.E Hewlett.
O volume 2 começa com a terceira obra importante de Howe,
The Blessedness of the Righteous (pp. 1-260), que foi publicada
pela primeira vez em 1688 com um prefácio de Richard Baxter.
Baseia-se no Salmo 17:15, “Quanto a mim, contemplarei a tua
face na justiça; satisfazer-me-ei da tua semelhança quando
acordar”. O capítulo introdutório reflete sobre a tolice de
supor que o homem foi criado só para a presente vida. Depois
de examinar o texto, Howe introduz a gloriosa doutrina do céu
no capítulo 2, o caráter dos seus habitantes, seus preparativos
para entrar na glória, e as ocupações e as alegrias do céu. Os
capítulos 3 e 4 mostram a bem-aventurança do céu como “a
visão da face de Deus, na assimilação do caráter de Deus, e
na satisfação resultante” dessa assimilação. Os capítulos 5
a 9 mostram a felicidade do céu que flui da “visão da glória
divina” . Howe mostra que contemplar a glória divina leva a
alma a assemelhar-se ao caráter de Deus, o que, por sua vez,
enriquece a comunhão eterna com Deus. O capítulo 10 prova
pelas Escrituras que a alma do crente adentra a felicidade
imortal no momento da morte física. Os dez últimos capítulos
estão repletos de aplicações.
O próximo tratado, The Vanity of Man as Mortal, é um
tratamento mais extenso do capítulo introdutório de Howe da
obra The Blessedness of the Righteous. Segue-se-lhe o livro The
Redeemer's Tears Wept over Lost Souls, (ver mais adiante a edição
em brochura), alguns pequenos trechos sobre a Trindade, e
uma pequena miscelânea de sermões. “Charity in Reference to

465
PAIXAO P E L A PUREZA

Other Men’s Sins”, é partieularmente esclarecedor.


The Redeemer’s Dominion over the Invisible World, é o tratado
mais importante de Howe no volume 3. Baseado nas palavras
de Cristo, “Tenho as chaves da morte e do inferno” (Apoc.
1:18). Howe mostra que a palavra morte deveria ser traduzida
por “o mundo invisível”, e depois descreve o mundo invisível.
Howe tem passagens incrivelmente belas sobre 0 propósito
supremo do evangelho em libertar os pecadores do pecado,
sobre a compostura com a qual o cristão deve consagrar-se à
disposição dAquele “que vive” e que tem “as chaves do Hades
e da morte”, e sobre o domínio do Redentor do vasto e in-
visível mundo do Hades.
O resto do volume 3 contém tratados menores sobre a
paciência em esperar a futura bem-aventurança, a carnalidade
da contenda religiosa, a união entre os protestantes, a libertação
do jugo de satanás, a paz verdadeira, o dever dos magistrados
civis, e sobre como a pessoa pode saber se ama verdadeiramente
o Senhor. Também estão incluídos sermões para funerais,
papéis sobre a não conformidade, prefácios de obras alheias,
e cartas confortadoras impregnadas de sábios conselhos. As
obras concluem com o sermão de John Spademan pregando
nos funerais de Howe.
Os escritos de Howe mostram uma mente original,
contemplativa e dotada de discernimento. Falta-lhes concisão,
0 que representa um afastamento do antigo estilo puritano,
mas em algumas áreas eles são muitíssimos valiosos. Ele provê
numerosas declarações para serem citadas, tais como:

• Deixar-se levar muito por coisas vazias denota


um espírito vazio.
• O prazer de vocês em Deus não pode achar
caminho para os seus corações senão pela
introdução de suas mentes exercitadas.
• Seria razoável uma pessoa permanecer criança e

466
John Ilow e

pequena nas coisas de Deus e na religião iodos


os seus dias - sempre na menoridade?
• Quanto mais luz houver, desacompanhada de
uma inclinação piedosa, mais forte, mais intenso
e ardente, mais refinado e sutil será o veneno
contra Cristo e contra o real cristianismo.
• Os cristãos não devem ter suas almas in­
comodadas ou postas em desordem, nem
permitir que nuvem alguma cubra os seus
semblantes, por mais negras e funestas nuvens
pareçam pender sobre as suas cabeças.
• Os juízos de Deus são sermões audíveis: eles
têm voz.

The Redeemer’’s Tears Wept Over Lost Souls (Baker; 120


páginas; 1978). Impresso primeiramente em 1683, esta
reimpressão contém o ensaio de Howe sobre Lucas 19:41,42,
que narra que Jesus chorou sobre Jerusalém porque a cidade
não reconheceu que pertencia à paz naqueles dias. Começa com
uma longa exposição sobre as grandes verdades do evangelho,
que “pertencem aos homens de paz”. Depois focaliza o curto
“dia” que temos nesta existência, o qual decidirá sobre o nosso
destino eterno. A mensagem admoesta os leitores a fugirem
para o disposto e anclante Salvador.
Este é o livro mais penetrante e compulsivo de Howe
quanto ao empenho em atrair o pecador trazendo-o a Cristo.
Ele salienta a responsabilidade do homem dentro da estrutura
produzida pela soberania divina. Também está incluído um
ensaio de 53 páginas sobre a vida de Howe escrito por William
Urwick (1791-1868), um ministro congregacional de Dublin.

467
h o m a s Ja c o m b n asc e u em 1623 n as p ro x im id a d e s de
T M e lto n M ow bray, L e ic e s te rs h ire . R eceb eu su a ed u ca ção
no M agdalen H all, O x fo rd , e no St. J o h n ’s, C am b rid g e,
receb en d o um grau de b ach a rel em 1644. Foi eleito p ara fazer
p a rte e se to rn a r m e m b ro do T rin ity C ollege, o n d e obteve
um g rau de m e stre em 1647. N esse m esm o ano recebeu um a
o rd en ação p re s b ite ria n a e se m u d o u para L o n d re s p ara serv ir
com o capelão de E liz a b e th C ecil, a C o n d essa de Exeter. P ersistiu
no serviço a esta p iedosa m u lh e r d u ra n te q u a re n ta anos.
Ja c o m b to rn o u -s e p a s to r de St. M a rtin L u d g a te , L o n d re s ,
em 1650. Q u a tro an o s d ep o is, caso u -se com P h e b e M e lla r na
St. B rid e, L o n d re s . E m 1659, foi n o m e a d o c o n s u lto r de u m a
com issão in c u m b id a de e x p u lsa r “ m in is tro s in s u fic ie n te s e
ig n o ra n te s ” . M ais ta rd e n esse an o e no in íc io de 1660, ele foi
um dos m in is tro s q u e d e ra m b o a s-v in d a s à p o s sib ilid a d e da
v olta do rei ao tro n o . N o an o s e g u in te , ele foi la u re a d o com
u m d o u to ra d o cm teo lo g ia em C a m b rid g e p o r m a n d a to real, e
foi d e sig n a d o p a ra re v isa r o Livro de Oração Comum. V isto q u e
era um p re s b ite ria n o d e v o to , le v a n to u m u ita s o bjeções ao liv ro
de oração. Seus c o m e n tá rio s fo ram re c e b id o s com re sp e ito até
p o r aqueles q u e d isc o rd a v a m dele. N esse m e sm o a n o ele se rv iu
com o m e m b ro de u m a co m issã o ju n to à C o n fe rê n c ia de Savoy.

468
Thomas Jacomb

Jacomb foi expulso do ministério em 1662 por sua não


conformidade. Seus dois sermões de despedida, pregados
no dia de São Bartolomeu, depois foram impressos em The
London Minister's Legacy (1662) e em The Farewell Sermons of
some of the most eminent of the Nonconformists Ministers, (1816).
Como outros ministros puritanos, Jacomb continuou
a pregar. Em 1672, ele recebeu licença para pregar para a
congregação presbiteriana que se reunia no Haberdasher’s
Hall, Staining Lane, Cheapside, em associação com o pastor
dessa congregação, Lazarus Seaman. Depois da morte de
Seaman, em 1675, Jacomb continuou a pregar ali para o
sucessor de Seaman, John Howe. Também continuou a pregar
um sermão semanal, às quintas-feiras, na casa de sua idosa
patrona, a Condessa de Exeter, que o protegeu livrando-o do
aprisionamento.
Jacomb morreu de câncer em 1687. Sua “incomparável
biblioteca” , de mais de 5.000 livros, foi vendida por 1.300
libras. Dirigindo seus funerais, William Bates disse que
Jacomb era “um servo de Cristo na relação mais peculiar e
sagrada, e que era fiel a seu título, tanto em sua doutrina como
em sua vida. Era um excelente pregador do evangelho e tinha
uma bem-aventurada arte de transmitir verdades salvadoras
às mentes e aos corações dos homens”.
Jacomb foi um homem de vida exemplar e de grande
cultura. Ele foi um dos oito ministros não conformistas que
ajudaram a completar a obra Annotations on the Bible, iniciada
por Matthew Poole.

Romans 8, (BTT; 392 páginas; 1998). Os sermões desta coleção


foram pregados por Jacomb primeiramente na casa da Condessa
de Exeter. A coleção foi publicada em 1672 a pedido dela e foi
dedicada à sua honra. A edição da BTT é uma reimpressão da
edição de Nichol, publicada primeiro em 1868.

469
PA IXAO P E I .A PIJRHZA

Jacomb provê uma nolável exposição de Romanos 8:1­


4. Todas as importantes verdades do evangelho estão aqui de
maneira extraordinariamente clara. Sua obra prende o coração
e 0 entendimento. C) propósito deste livro é claramente
exposto no prefácio: “ Se queres me esquecer, espero não me
esquecer de ti em minhas pobres orações, rogando a I)eus
que te abençoe com uma revelação mais clara do evangelho
a ti, com a mais completa iluminação do teu entendimento
nas coisas espirituais, a confirmação e o estabelecimento de
tua pessoa nas grandes verdades de Deus, a diária elevação
e aperfeiçoamento de tuas graças, a santificação de todas as
formas de ajuda e de todos os meios, públicos e privados, para
o encaminhamento da tua salvação; numa palavra, que sejas
a pessoa em Cristo Jesus que viva a vida espiritual e que, por
isso, a “não condenação” e todos os demais ramos da preciosa
graça de Deus referidos nestes versículos, na verdade, no
capítulo todo, sejam teus”.
Thomas Smith, editor geral da série de Nichol, disse a
respeito do livro de Jacomb: “Conhecemos poucos livros nos
quais se vê mais excelente fusão da doutrina com a prática,
mais rica exibição da plenitude da graça que há em Cristo” .
Lamentavelmente, Jacomb morreu antes de poder revisar
suas anotações de sermões para adicionais tomos sobre
Romanos, capítulo 8.

470
James Janeway
(1636-1674)

ames Janeway nasceu em Lilley, Hertfordshire. Foi 0 quarto


dos nove filhos homens de um ministro, William Janeway,
e o irmão menor de John, que também se tornou um ministro
puritano. Recebeu sua educação na Christ’s Church, Oxford,
onde obteve um grau de bacharel em 1659. Depois passou
algum tempo como preceptor em Windsor.
Ordenado diácono em 1661, Janeway foi expulso em 1662
por não conformidade. Contudo, ministrou em conventículos,
em meio a desastres nacionais como a peste c o grande incêndio
de Londres em 1666. Depois que Charles II promulgou sua
Declaração de Indulgência, Janeway foi licenciado como
ministro presbiteriano em 1672.
Os últimos anos de Janeway como pregador em Rotherhithe
foram os mais frutíferos e, contudo, os mais difíceis. Em 1672,
os que o apoiavam construíram uma grande casa de reuniões
para ele na Jamaica Row, Rotherhithe, Surrey. A popularidade
de Janeway enraiveceu tanto os anglicanos que várias vezes eles
ameaçaram atirar nele, e tentaram fazê-lo duas vezes. Uma vez
o projétil furou seu chapéu. Outra vez, soldados destruíram
o edifício de sua igreja. Posteriormente sua congregação o
substituiu por um edifício maior.

471
PAIXÃO P E L A PUREZA

Depois de lutar vários anos contra a depressão, Janeway


contraiu tuberculose. Morreu quando estava com trinta e
oito anos de idade. Ao menos cinco de seus irmãos também
morreram de tuberculose antes de atingirem os quarenta anos
de idade.
A experiência de Janeway com o sofrimento, a perseguição
e a morte refletiu-se em grande parte de sua obra. Sua aguda
consciência da mortalidade do homem carrega sua obra de
intensidade espiritual e focaada na eternidade.

The Saints’ Encouragement to Diligence in Christ’s Service


(SDG; 140 páginas; 1994). Este tratado sobre 2 Pedro 1:11,
publicado pela primeira vez em 1674, é “uma admoestação
aos pecadores a se reformarem e uma exortação a zelosa
conscientização nos convertidos, na realização dos seus
deveres, no exame introspectivo minucioso e na meditação
nos atos providenciais de Deus” (Oxford DNB, 29: 782). O
livro exorta vigorosamente os crentes a não se afadigarem na
busca do que é bom, mas sim a serem diligentes no serviço de
Cristo. Está cheio de sugestões e aplicações práticas. “O tempo
é curto”, escreve Janeway. “A nossa obra, o nosso Mestre e a
nossa recompensa são grandes, e, para não reduzir a questão,
ainda fizemos pouco. Em vez de ir engatinhando, corramos;
em vez de dormir e sonhar, despertemo-nos e trabalhemos
diligentemente” .
Um apêndice no livro descreve as experiências centrali­
zadas em Cristo no leito de morte de uma piedosa mulher
(chamada Sra. B.) para enriquecer o tema do livro, que é
perseverar na diligência cristã. Em seu prefácio, diz Richard
Baxter que tais testemunhos “ajudam a confirmar a fé do
leitor” .

472
James Janeway

A Token for Children (SDG; 176 páginas; 2001). Aqui Janeway


compilou numerosos relatos das conversões de crianças e dos
testemunhos que elas deram antes de suas mortes precoces.
Seu propósito é livrar as crianças da sua “condição miserável
por natureza” e “de caírem no fogo eterno” (prefácio). Depois
das Escrituras e da obra Pilgrim’s Progress, esta obra de Janeway
foi o livro infantil mais amplamente lido no século dezessete.
Cotton Mather escreveu sua própria narrativa sobre crianças
convertidas por Deus e a intitulou A Token for the Children of
New England. Esse livro mais o de Janeway estão impressos
juntos no presente volume. São muito eficientes em mostrar
como os pais puritanos evangelizavam seus filhos em casa.
John Gerstner diz no prólogo deste livro: “ Se os “cristãos”
contemporâneos quiserem saber em que consiste a experiência
cristã, não podemos fazer melhor do que deixar que estas
crianças de séculos atrás nos ensinem. Todo pai cristão
moderno, homem ou mulher, deveria comprar este livro e
estudá-lo, antes de fazer dele uma leitura obrigatória para
todos os seus filhos”.

473
William Jenkyn
( 1613 ‫ ־‬1685 )

W illia m J e n k y n nasceu em 1613 n o seio de u m a fa m ília


so lid a m e n te p u rita n a em S u d b u ry , o n d e seu pai,
W illiam J e n k y n , era v ig á rio ; ele foi d e se rd a d o p o r suas
co n v icçõ es p u rita n a s . S ua m ãe era filh a de R ic h a rd R o g ers,
o p ie d o so p re g a d o r de W e th e rsfie ld , E ssex, e n e ta de J o h n
R ogers, m á rtir p ro te s ta n te sob o re in a d o de M a ria T udor.
C om a id a d e de q u in z e an o s, W illia m , Jr., foi p a ra o St.
J o h n ’s, C a m b rid g e , p a ra e s tu d a r sob A n th o n y B urgess. D e p o is
de o b te r u m g rau de b a c h a re l em 1632, ele se tra n s fe riu com
B urgess, em 1634, p a ra 0 E m m a n u e l C ollege, o b te n d o ali um
g rau de m e stre em 1635. E m 1639, ele se to rn o u p re le to r em
St. N ic h o la s A eons, em I.o n d re s , e d ep o is m in is tro da St.
L e o n a rd ’s, C o lch ester. E m 1643, ele foi n o m e a d o v ig á rio da
C h ris tc h u rc h , N ew g ate S treet.
J e n k y n foi u m dos m ais zelosos p re s b ite ria n o s de
L o n d re s. Sua co n g reg a ção logo se to rn o u u m fe rv o ro so c e n tro
p re s b ite ria n o . Sua p a ró q u ia elegeu cin c o p re s b íte ro s , e n tre
eles W illia m G re e n h ill, u m p ie d o so p u b lic a d o r, e J o h n V icars,
um a tiv ista p u rita n o .
J e n k y n foi ta m b é m u m dos m in is tro s de L o n d re s q u e, ju n to
com C h ris to p h e r L o v e e T h o m a s W atso n , fo ram a p ris io n a d o s

474
William Jfcnkyn

em 1651 por suas tentativas de ajudar na restauração de


Charles II ao trono por meio do poder do exército escocês.
O parlamento usou o fracasso da conspiração para silenciar
os ministros presbiterianos de Londres que lhe tinham dado
apoio. Enquanto que Love foi executado, Jenkyn escapou com
vida porque assinou uma retratação, em submissão. Depois
que foi restaurado ao seu ministério na Christchurch, Jenkyn
pregou durante alguns anos sobre os nomes de Cristo.
Sob o protetorado de Cromwell, a reputação de Jenkyn
foi restabelecida publicamente. Em 1654, ele substituiu
William Gouge como ministro em St. Anne Blackfriars. Sua
primeira tarefa foi pregar nos funerais de Gouge. Jenkyn
voltou para a Christchurch poucos anos mais tarde, e foi
oficialmente restabelecido ali em 1658. Nessa época ele pregou
sua renomada série de sermões sobre a Epístola de Judas.
Embora provavelmente Jenkyn tenha acolhido bem
a restauração de Charles II, logo deixou de ser favorecido
pelo novo regime e foi expulso do púlpito em 1662 como
não conformista. Estabeleceu-se numa casa que ele possuía
em Hertfordshire onde manteve conventículos, pregando
privadamente a seus vizinhos e nas redondezas até quando foi
restaurado ao ministério público em 1672. Então voltou para
Londres, onde seus amigos construíram uma capela para ele na
Jewin Street. Pregou a uma grande congregação ali, e também
serviu como preletor no Pinner’s Hall. Contudo, em 1682,
foram revogados os direitos dos pregadores não conformistas,
e Jenkyn foi destituído do seu ministério. Continuou a reunir-
-se com elementos da congregação em casas particulares para
proclamar as verdades do evangelho.
Em setembro de 1684, oficiais tomaram de assalto a casa
em que Jenkyn estava pregando. Todos os outros ministros
fugiram, inclusive John Elavel e Edward Reynolds. Mas
Jenkyn não escapou porque estava ocupado ajudando uma
senhora a sair da casa. Com a idade de setenta e um anos, Jenkyn
ficou preso em Newgate sob severas restrições. Proibiram-lhe

475
PAIXAO P E L A PUREZA

orar com toda e qualquer visita, até com sua filha, e nem para
batizar seu pequeno neto lhe permitiram sair da prisão. Ele
lamentou: “Um homem tanto pode ser efetivamente morto
em Newgate como em Tyburn”.1
A saúde de Jenkyn deteriorou-se rapidamente na cadeia.
A corte real não mostrou misericórdia. “Jenkyn será um
prisioneiro enquanto ele viver”, foi a resposta à petição
enviada à corte para a sua soltura.
Quatro meses após sua detenção, Charles zombeteiramente
pediu a seus músicos para tocarem Jenkyn’s Farewell, certa
noite no Palácio de Whitehall. “Por favor, Majestade”, disse
um nobre, “Jenkyn tem sua liberdade” . Surpreso, o rei
respondeu: “Ora, e quem lhe deu a liberdade?” O homem
replicou: “Alguém maior que Vossa Majestade, o Rei dos reis
- Jenkyn morreu”. A data foi 19 de janeiro de 1685.
Mais de 150 carruagens acompanharam o corpo de Jenkyn
ao cemitério não conformista de Bunhill Fields. Ali, a filha de
Jenkyn, Elizabeth, distribuiu anéis de luto com a inscrição:
“William Jenkyn, assassinado em Newgate”. A inscrição em
latim no túmulo de Jenkyn assim se traduz:

Dedicado aos restos de WILLIAM JEN KY N ,


Ministro do evangelho,
que durante as pesadas tempestades da Igreja
foi aprisionado em Newgate.
Sofreu martírio ali com 72 anos de idade
e com 52 anos de ministério, 1685.

A mulher de Jenkyn, Elizabeth Lovekin, precedeu-o na


morte, falecendo dez anos antes. Juntos, eles tiveram dez
filhos.

1 N o m e d a d o à fo rca in stalad a e m M id d le s e x . In g laterra, n o e x tre m o o e s te da


m a O x f o r d . A ú l t i m a e x e c u ç ã o f e ita ali foi e m I 7X3. N o t a d o tr a d u to r.

476
William Jenkyn

Exposition of the Epistle of Jude (SDG; 367 páginas; 1990).


Este livro é o que exibe melhor a piedade e a cultura de Jenkyn.
Inclui uma série de sermões que ele pregou em Christchurch,
Newgate Street. Sobre ele diz Spurgeon: “ Sério e popular,
mas pleno de conteúdo e profundamente sábio. Uma casa do
tesouro de boas coisas”.
Eis uma amostra de como Jenkyn escreve: “Não há
inimigos dos incrédulos como eles próprios; nem há maior
loucura que a incredulidade. A atividade e o próprio desígnio
da incredulidade, e apenas aquilo que é necessário fazer,
consistem em deter a misericórdia e impedir a felicidade.
Cada passo que o incrédulo dá é um afastamento da bondade”
(p. 123).
Thomas Mantón disse que o “elaborado comentário do
[seu] homenageado, Sr. William Jenkyn”, foi tão bem feito que
por algum tempo ele considerou desnecessária a publicação
de sua obra sobre Judas.

477
Edward Johnson
(1598-1672)

E dward Johnson nasceu em 1598 em Cantuária, Kent, sendo


fdho de William Johnson, clérigo que atendia à paróquia
de St. George, em Cantuária. William treinou seu filho como
marceneiro. Edward Johnson casou-se com Susan Munnter
por volta de 1620; tiveram oito filhos. Em 1637 Johnson viajou
com a mulher e os filhos para a Nova Inglaterra.
Johnson logo se tornou um líder da Colônia da Baia de
Massachusetts, residindo primeiro em Charlestown, perto
de Boston, mudando-se depois, em 1642, para Woburn,
Massachusetts, onde ajudou a estabelecer a cidade e a igreja
local. Ele manteve a secretaria da cidade de 1642 até sua morte,
trinta anos depois. Na maior parte da sua vida, ele se ocupou
das atividades governamentais; no tempo que lhe sobrava,
estudou história. Foi deputado na corte geral e, por algum
tempo, foi comandante da companhia de milicianos local.
Também foi impressor; ele publicou o documento de 1648,
conhecido como Plataforma de Cambridge, a regra da Igreja
congregacional. Morreu em 1672.
Johnson veio a ser conhecido como um historiador
puritano. Como os relatos escritos por Winthrop e por William
Bradford, as narrativas de Johnson revelam seu envolvimento

478
Edward Johnson

em atividades do governo. Ele escreveu A History’ of New


England from the English Planting in the Year 1628, until the Year
1652, (1653; com 0 novo título de Johnson’s Wonder-working
Providence; esta obra, juntamente com o Journal de Winthrop
e a Histoiy of Plymouth Plantation, de Bradford, compartilham
uma visão comum da Colônia da Baia de Massachusetts
primitiva. Comparando a experiência dos primeiros colonos
à dos israelitas antigos, Johnson, Winthrop e Bradford se
esforçam para mostrar que 0 povo saiu do Egito (Inglaterra)
numa migração divinamente ordenada através do deserto
do Atlântico para estabelecer-se na terra prometida do Novo
Mundo e para construir a Nova Jerusalém.

Johnson’s Wonder-Working Providence (SE; 284 páginas;


1974). Nesta obra, Johnson mostra que Deus estabeleceu
o Novo Mundo como uma cidade num monte. Johnson vê
a América como o novo Israel de Deus. Diferentemente de
Winthrop e de Bradford, que narram suas historias através das
vidas de homens eminentes, Johnson relata as experiências
de um grupo inteiro. O subtítulo de seu livro, Wonder-Working
Providence of Sion’s Saviour in New England reflete dita
ênfase. Embora escrita em prosa, a obra inclui versos, que são
utilizados como epígrafes ou divisão de títulos. O estilo é um
tanto truncado, mas vale a pena ler o livro. E a mais antiga
história publicada da Nova Inglaterra (o Journal de Winthrop
não foi publicado até 1790, e a obra Plymouth Plantation de
Bradford, até 1856). O livro de Johnson contém alguns erros
históricos, mas dá ao leitor o que nem Bradford nem Winthrop
puderam dar: a história da colônia de Massachusetts vista
pelos olhos de um cidadão comum.
A obra de Johnson, Wonder-Working Providence, influen­
ciou histórias puritanas mais recentes, como a obra de Cotton
Mather, Magnolia Christi Amencana (1702). A crônica de

479
ΡΑΙΧ AO PKLA PUREZA

Johnson proveu o modelo pelo qual se pode narrar urna historia


que reflita o sentimento que os colonizadores primitivos
tinham de uma missão divina no Novo Mundo.

480
Benjamin Keach

le‘ n ja m in K e ach , u m b a tis ta p a rtic u la r de p ersuasão

B ^p1 u r ita n a , n asceu n o d ia 29 de fev ereiro de 1640. Seus


pais não p u d e ra m p ro p ic ia r-lh e in s tru ç ã o escolar, e assim ele
tra b a lh o u co m o a p re n d iz de alfaiate. N ão o b s ta n te , K each
e s tu d o u a B íb lia e e d u c o u -se p e sso a lm e n te com rigor. E m b o ra
b a tiz a d o n a in fâ n c ia , veio a te r co n v icçõ es b a tis ta s q u a n d o era
a in d a b e m jovem , e s u b s e q u e n te m e n te foi b a tiz a d o q u a n d o
tin h a q u in z e a n o s de id ad e. N ão d e m o ro u , e se d is tin g u iu
co m o a lg u ém d o ta d o p a ra o m in is té rio do ev an g e lh o , e aos
d ezo ito an o s se to rn o u u m p re g a d o r não o rd e n a d o n u m a
igreja b a tis ta geral em W inslow , B u c k in g h a m s h ire . A pós a
R e sta u ra ç ã o , K each foi p re so m u ita s vezes p o r suas a tiv id a d e s
não lic e n c ia d a s. E m 1664, m a l escap o u de ser p iso te a d o q u a n d o
so ld a d o s in te rro m p e ra m u m a de suas re u n iõ e s. F oi salvo pela
in te rv e n ç ã o de u m oficial, e s u b s e q u e n te m e n te foi preso.
E m d ad a a ltu ra de 1664, K each p u b lic o u u m liv ro a n ô n im o ,
The Child's Instructor, q u e atacava o p e d o b a tis m o , en d o ssav a
a p reg aç ão laica e ex p ressav a co n v icçõ es m ile n ista s. O livro
foi d e sc o b e rto p o r u m m in is tro a n g lic a n o local, e K each foi
levado a ju lg a m e n to p o r sedição. E le se re c u so u a re n u n c ia r
às d o u trin a s do seu liv ro e p o r isso foi p reso e colocado no

481
PAIXAO P E L A PUREZA

pelourinho. O pelourinho destinava-se a ser uma dura punição


e consistia no criminoso ter a cabeça e os braços presos numa
armação de madeira. As multidões eram incentivadas a atirar
objetos que frequentemente causavam permanente dano
{ao preso}; os objetos costumeiros eram vegetais, animais
mortos e pedras. Mas Keach usou essa ocasião para pregar a
uma multidão que lhe foi favorável. Quando Daniel Defoe
foi colocado no pelourinho em Charing Cross por ter escrito
uma sátira, a simpatia geral venceu e as multidões atiraram
flores em vez de pedras. Em ambos os casos o propósito do
pelourinho foi frustrado. No caso de Keach, porém, os oficiais
públicos decidiram executar o pelourinho mais estritamente,
e em Winslow, uma semana depois do primeiro pelourinho,
Keach foi humilhado com a queima do seu livro pelas mãos
do carrasco. De todos os exemplares impressos, uns 1.500,
nenhum sobreviveu. Keach finalmente foi solto e obrigado a
portar-se bem.
Incapaz de estabelecer-se em Buckinghamshire, Keach
pregou noutros condados com base num trabalho itinerante,
de 1664 a 1668. Durante esses anos, ele foi aprisionado ao
menos uma vez mais. Mudou-se para Londres em 1668 e
foi ordenado como presbítero de uma congregação batista
geral sediada na Tooley Street, Southwark. Influenciado ali
por William Kiffin e por Hanserd Knollys, as convicções
teológicas da Keach tornaram-se crescentemente calvinistas.
Um rompimento ocorreu em 1672, quando Keach decía-
rou-se calvinista e fundou uma igreja batista particular em
Horselydown, Southwark. A Declaração de Indulgência,
que permitiu liberdade limitada aos ministros dissidentes,
possibilitou que Keach usasse uma casa de reuniões na Goat
Street, Horselydown. A congregação cresceu rapidamente
nas décadas subsequentes, e posteriormente esteve sob o
ministério pastoral de pastores famosos como John Gill e
Charles Spurgeon.
Os anos subsequentes de Keach foram marcados por seu

482
Benjamin Keach

envolvimento em várias disputas, na liderança entre as igrejas


batistas particulares e em labores pastorais entre o seu rebanho.
Quanto às disputas, Keach entrou em numerosos debates
contra os pedobatistas, os quaeres, os batistas do sétimo dia, e
até contra alguns dentre os círculos dos seus próprios batistas
particulares, especialmente por ele promover 0 cântico
de hinos, que ele tinha defendido em sua edição reescrita
de The Child’s Instructor. Embora se afastando de algumas
doutrinas característicamente puritanas como o batismo
infantil e a salmodia exclusiva, ele se posicionou entre outros
puritanos como um firme defensor da verdade do evangelho
contra os conceitos não ortodoxos de Richard Baxter sobre
a justificação. Como um líder entre os batistas particulares,
ele se empenhou em lutar por um ministério que estivesse
preparado para mostrar-se aprovado. Por subscrever a Segunda
Confissão de Londres, de 1689, e por sua associação com um
catecismo batista, Keach defendeu uma tradição confessional
fortemente moldada pelos padrões de Westminster. Quanto
a seu ministério pastoral, sua pregação experimental e sua
promoção do treinamento catequético estavam marcante­
mente dentro da tradição puritana e serviram para conquistar
muitas pessoas para Cristo.
Keach passou seus últimos anos ministrando e publicando
uma variedade de obras práticas, teológicas e seminais (ao que
parece ele dirigiu um negócio de imprensa e de venda de livros
com sede em sua casa em Horselydovvn). Dessas obras as mais
notáveis são: War with the Devil, (1673); The Glorious Lover,
(1679); Tropología: Or, A Key to Open Scripture Metaphors, 1681,
sua famosa obra sobre tipos e metáforas da Bíblia, tendo como
co-autor Thomas Delaune - urna coisa que as reimpressões
modernas deixam de mencionar; The Travels of True Godliness,
(1684), alegoria de veio similar ao de Pilgrim’s Progress, de
Bunyan; The Marrow of True Justification, (1692), The Display
of Glorious Grace, (1698), que contém catorxe sermões sobre a
aliança da graça; e Spiritual Songs, (1700).

483
PAIXAO PHLA PU R EZA

Reach morreu em Londres em 1704, e foi sepultado em


Southwark Park. De acordo com parentes, Reach era um
homem bondoso, gentil e equilibrado, mas tendente a ter
explosões de temperamento. Dizia-se que ele era intolerante
para com pontos de vista alternativos e que foi propenso
a fixar-se num só pensamento ou propósito, o que, num
certo sentido, foi útil para o estabelecimento dos batistas
particulares na segunda metade do século dezessete.

Exposition of the Parables (Rregel; 918 páginas; 1974).


Reach introduz esta obra com diretrizes e princípios para
distinguir as passagens parabólicas das Escrituras e explicá-las
eficientemente. Depois se aventura a tratar de 147 mensagens,
cobrindo quarenta e oito diferentes passagens dos Evangelhos
onde o nosso Senhor faz uso de comparação e de parábola em
Seu ensino. Reach determina cuidadosamente o escopo de
cada parábola, extrai as doutrinas apropriadas, e faz proveitosa
aplicação. Esta obra provê grande perspicácia na pregação
de parábolas, e continua sendo um valioso recurso para os
ministros até 0 dia de hoje.

Preaching from the Types and Metaphors of the Bible


(Rregel; 1034 páginas; 1972). Originalmente publicada como
Tropología: Or, A Key to Open Scripture Metaphors, a primeira
parte da obra clássica de Reach distingue e descreve as diversas
figuras de linguagem utilizadas nas Escrituras. Definindo e
demonstrando usos de elementos literários como metáfora,
sinédoque, hipérbole, tipos e parábolas, Reach ajuda seus
leitores a navegarem pelo vivido conjunto de imagens das
Escrituras Sagradas. Na segunda parte, ele cataloga numerosos
elementos da linguagem figurada das Escrituras, mostrando
seu significado próprio e seu valor experimental.

484
Benjamin Keach

The Travels of True Godliness (SG; 210 páginas; 2005).


Depois de definir a piedade e de mostrar sua nobre linhagem
e sua antiguidade, “o excelente Benjamin Keach” (como
era carinhosamente chamado), personifica alegóricamente
a “Piedade”, de modo muito semelhante como Bunyan
criou “Cristão”. Ele nos apresenta mais de duas dúzias de
inimigos da piedade e depois pormenoriza encontros com
vários deles, inclusive a apostasia, a hipocrisia, o legalismo,
o antinomianismo, o mundanismo e satanás. Vemos em
dramáticos detalhes as tentações da juventude e da vida
adulta, das riquezas e da pobreza, bem como as alegrias do
contentamento, da reflexão, da bondade e do amor. Este é
um livro fascinante, produzido por um dos mais importantes
pensadores batistas da parte final do século dezessete, um
livro destinado a despertar-nos para maior busca da piedade.

485
Edward Lawrence
(1627-1695)

E dward Lawrence nasceu em 1627 em Moston, em


Hawkstone, Shropshire. Recebeu sua educação na
escola de Whitchurch, e depois foi para o Magdalen College,
Cambridge, onde obteve o grau de Bacharel em Artes em 1648
e o de Mestre em Artes em 1654. Enquanto se aplicava aos
estudos, distinguiu-se como erudito.
Em 1648, tendo recebido a ordenação presbiteriana,
Lawrence foi constituído vigário da Baschurch, Shropshire.
Lawrence recebeu diversas ofertas para servir noutros lugares,
mas permaneceu em Shropshire até ser expulso do púlpito
pelo Ato de Uniformidade, em 1662.
Depois da expulsão, Lawrence alojou-se na casa de
um fidalgo em sua paróquia até 1666, quando a Lei das
Cinco Milhas o forçou a mudar-se para fora da paróquia.
Estabeleceu-se em Tilstock, aldeia situada em Whitchurch, nas
proximidades da paróquia, onde tinha numerosos amigos. No
ano seguinte, ele e seu amigo, Philip Henry, foram convidados
para Betley, em Staffordshire, onde reassumiram a pregação.
Isso foi reportado à Casa dos Comuns com um apelo a que
o rei Charles II indiciasse todos os não conformistas por
desobediência.

486
E dw ard Lawrence

Em 167U, quando pregava na casa de um vizinho,


Lawrence foi detido e acusado de desafiar 0 Segundo Ato dos
Conventículos que proibia que grupos de mais de cinco pessoas
se reunissem para culto que não fosse prescrito pela Igreja
Estabelecida. A condenação de Lawrence levou ao confisco
dos seus bens. Ele apelou da decisão, sem sucesso. Quando
lhe perguntaram como ia sustentar sua mulher, Deborah,
e seus nove filhos, Lawrence replicou que eles tinham que
viver baseados no capítulo seis de Mateus, confiando na
providência de Deus para o seu bem-estar.
A família Lawrence mudou-se para Londres em 1671,
onde Lawrence passaria os últimos vinte e cinco anos da
sua vida. Depois de ser licenciado em 1672, como ministro
presbiteriano sob a Declaração de Indulgência, ele se tornou
pastor de uma congregação que se reunia perto do Royal
Exchange. Apesar das multas periódicas, ele continuou a
pregar ali e nas vizinhanças até 1685, quando foi detido em
Middlesex por atender um conventículo. Depois da Lei de
Tolerância, de 1689, Lawrence foi licenciado como pregador
em sua casa em Moorfields. Ele morreu em 1695, grande­
mente pranteado e respeitado por seus paroquianos.
Nathaniel Vincent pregou nos funerais um sermão
posteriormente publicado como The Perfect Man Described in
His Life and End, (1696). Disse ele: “Eu realmente acredito que
não houve nenhum homem na terra que mais merecesse ser
descrito como um homem perfeito, do que 0 nosso amigo, 0 Sr.
Edward Lawrence” . Noutro lugar Vincent escreveu: “Nunca
ouvi ninguém falar mal do Sr. Edward Lawrence, mas todos
os que o conheciam estavam prontos a reconhecer que ele era
um homem de eminente piedade, de temperamento muito
pacífico e de imensa integridade” . Richard Baxter descreveu
Lawrence como “um homem firme, calmo, pacífico, piedoso e
bom pregador” (Relíquia Baxteriance, 3:94).

487
PAIXAO P E L A PUREZA

Parents’ Concerns for their Unsaved Children (SDG; 68


páginas; 2003). Publicado cm Londres, 1681, como Parents’
Groans over Their Wicked Children, este opúsculo foi extraído
de diversos sermões que Lawrence pregou sobre Provérbios
17:25. Em sete curtos capítulos, Lawrence explica os deveres
dos pais e dos filhos uns para com os outros. Ele concita os
pais a criarem seus filhos no Senhor, pondo sua confiança
na fidelidade pactuai de Deus para converter os seus filhos.
Ele aconselha os filhos impenitentes a que se lembrem dos
laços que eles romperam e pede que retornem à comunhão
da aliança. Lawrence termina sua obra com estas palavras: “E
agora, filhos, vou deixá-los, e vou deixá-los entregues ao Deus
com quem vocês têm que lidar, e com quem vocês têm que
lidar para sempre” (p. 68).
Lawrence escreveu baseado em experiência pessoal. A
conduta de seus dois filhos causou-lhe tanta dor que ele
disse que eles fizeram dele “ 0 pai de tolos”. Contudo, como
aconteceu com muitos servos fiéis das gerações passadas, ele
não pôde abandonar seu chamado para o ministério. Antes,
ele orava fervorosamente rogando a Deus que o usasse
poderosamente como um vaso quebrado, tanto no púlpito
como no aconselhamento pastoral. A oração foi ricamente
atendida.

488
John Lightfoot
(1602-1675)

J
o h n L ig h tfo o t, h e b ra ísta e e ru d ito b íb lic o , n asceu em 1602
em S to k e -o n -T re n t. Seu pai foi T h o m a s L ig h tfo o t, que
se rv iu co m o v ig á rio d u ra n te tr in ta e seis an o s em U tto x e ter,
S ta ffo rd sh ire . Sua m ãe, E liz a b e th B ag n all, e ra p ro c e d e n te de
u m a fa m ília p ro e m in e n te em N e w c a stle -u n d e r-L y m e . Em
1617, L ig h tfo o t in g re sso u no C h r is t’s C ollege, C a m b rid g e ,
o n d e p asso u a te r im e n sa ap rec iaçã o p elas lín g u a s an tig a s e
so b re ssa ía em o ra to ria .
D e p o is de re c e b e r seu g rau de b a c h a re l em 1621, L ig h tfo o t
se rv iu p o r d o is an o s co m o a s s is te n te n u m a escola em R ep to n ,
D e rb y s h ire . F o i o rd e n a d o d iá c o n o em L ic h fie ld , e recebeu
o g ra u de M e stre em A rtes no a n o se g u in te . E m 1626, foi
e m p o ss a d o n a p a ró q u ia d e N o r to n - in - H a le s , S h ro p s h ire ,
o n d e Sir R o w lan d C o tto n 0 n o m e o u com o seu capelão
d o m é stic o . C o tto n a n im o u L ig h tfo o t a e s tu d a r h e b ra ic o e
lín g u a s re la c io n a d a s.
L ig h tfo o t to rn o u -s e re ito r de S to n e, S ta ffo rd h ire , p or
v o lta de 1627. C o m e ço u sua c a rre ira de e s c rito r q u a n d o estava
ali. A li ta m b é m se casou com u m a v iúva, Joyce C o p w o o d , em
1628, com q u e m teve q u a tro filh o s e d u as filh as, em acréscim o
aos três filh o s q u e ela tro u x e ra c o n sig o q u a n d o se casou.

489
PA1XA0 PI-LA PURKZA

Em 1628, Lightfoot aceitou um chamado para Hornsey,


Middlesex, em parte porque isso lhe dava acesso a um
sólido material rabínico na biblioteca do Sion College, em
Londres. Dois anos depois, ele mudou-se para Uttoxeter;
passou doze anos (1631-1642) no pastorado na cidade de
Ashley, Staffordshire, onde se dedicou à obra pastoral e a
estudos rabínicos.
Em 1643, ele foi nomeado para a Assembléia de Teólogos
de Westminster. Foi muito ativo nos debates, frequentemente
fazendo longas e eruditas alocuções sobre diversos pontos.
Ele foi um dos poucos delegados que se puseram ao lado dos
erastianos nas questões relacionadas com o governo da Igreja.
Ele se considerava um presbiteriano moderado, resistindo
estrenuamente ao que ele descrevia como a “veemência,
calor e retesamentos” dos independentes. Ele foi uma voz
influente sobre os sacramentos e sobre a capacitação e
pregação dos ministros. Ele manteve um registro das minutas;
estas minutas ainda são extremamente úteis no estudo dos
procedimentos daquela assembléia (ver o volume 13 da edição
de John Rogers Pitman das Works [1825]). Elas apresentam
“seu relato pessoal e devem ser suplementadas pelas cartas de
Robert Baillie e pelas anotações de George Gillespie, como
também pelas Minutas oficiais, mas quanto a algumas sessões,
quando faltam as Minutas, elas {as de Lightfoot¡ nos dão
nossa única informação confiável” (Barker, Puritan Profiles,
ρ. 62). Lightfoot era frequentemente convidado para pregar
diante da Casa dos Comuns. Muitos líderes dali apreciavam
suas convicções presbiterianas.
Nesse ínterim, em 1643, foi confiado a Lightfoot a reitoria
da igreja de St. Bartholomew, em Moor Lane, Londres, onde
viveu pouco tempo, até 1644, quando se transferiu para o
pastorado de Great Munden, em Hertfordshire, sucedendo
a Samuel Ward. Ali ele continuou sua carreira de escritor e
seus deveres ministeriais.
Em 1650, Lightfoot foi nomeado diretor do St. Catherine
Hall, Cambridge, sucedendo a William Spurstowe, que fora

490
John Lightfoot

expulso. Em 1652, a universidade o laureou com o grau de


Doutor em Teologia. Dois anos depois, foi nomeado vice-
-chanceler da Universidade de Cambridge.
Depois que sua esposa morreu, em 1656, Lightfoot casou­
-se com outra viúva, Anne Brograve. Ela morreu em 1666. Nos
últimos dez anos de sua vida, Lightfoot permaneceu viúvo.
Lightfoot tomou parte na Conferência de Savoy, em 1661,
ladeando-se com os presbiterianos. Ele aquiesceu ao Ato de
Uniformidade em 1662, mas aderiu descuidadamente às suas
exigências. Em 1668, foi nomeado como prebendarlo em Ely.
Lightfoot era incansável em todas as suas responsabili­
dades. Era um homem de grande cultura, humildade,
imparcialidade e gratidão. Morreu em Ely, deixando
uma coleção consideravelmente volumosa de obras, que
posteriormente foram publicadas como The Whole Works of
the Rev. John Lightfoot, D.D., ed. John Rogers Pitman, 13
volumes (Londres: J. F. Dove, 1822-1825; ver em 1:43-62 um
sumário biográfico). Ele contribuiu também extensamente
para os escritos de outros projetos, tais como os de Brian Walton,
Polyglot Bible, de Edmund Castell, Lexicon Ileptaglotton, e de
Matthew Poole, Synopsis Criticorum (5 volumes). Lightfoot
doou sua impressionante coleção de livros orientais ao
Harvard College, mas esses livros foram perdidos no incêndio
de 1769, que destruiu grande parte da biblioteca de Harvard.
Archibald Alexander escreveu: “Que a cultura do
Dr. Lightfoot era profunda e extensa, é uma coisa tão
plenamente estabelecida através do mundo cristão, que seria
supérfluo dizer qualquer coisa sobre o assunto. Em todos os
departamentos do saber bíblico ele estava ricamente suprido;
mas no saber hebraico e rabínico, é duvidoso que houvesse
alguém superior a ele no mundo” (citado em Barker, Puritan
Profiles, p. 64). Tem-se dito que a erudição hebraica moderna
“data de Lightfoot” (Oxford DNB, 33:756).

491
PAIXAO PHI. A PUREZA

A Commentary on the New Testament from the Talmud and


Hebraica (HP; 5 volumes, 1.675 páginas; 1985). Esta obra
clássica, publicada pela primeira vez em inglês em quatro
volumes em 1859, explica o Novo Testamento da perspectiva
da tradição rabínica, fornecendo um colorido cenário de
fundo para o texto bíblico. Lightfoot cobre a parte que
vai de Mateus a 1 Corintios, dedicando um volume só aos
nomes de lugares mencionados nos Evangelhos. Esta obra,
escrita mais para o especialista do que para 0 leitor comum,
oferece ricas informações e continua sendo a única obra dc
seu gênero em inglês.

492
Christopher Love
(1618-1651)

C h r is to p h e r L o v e n asceu em C ard iff, G ales, em 1618. C om a


id a d e d e c ato rze an o s, ele foi o u v ir W illia m E rb u ry , v igário
de St. M a ry ’s, em C ard iff, q u e p o s te rio rm e n te se d esv iaria
p a ra o m istic ism o . T em pos d e p o is, su a esp o sa escrev eu com o
L ove reag iu a esse serm ão : “ D e u s Se e n c o n tro u com ele e lhe
deu tal visão dos seus pecad o s e da sua ru in o s a c o n d iç ã o que
ele v o lto u p a ra casa com um in fe rn o em sua c o n sc iê n c ia ” . Seu
pai n o to u a d e p ressão de seu filh o e o tra n c o u n u m q u a rto do
se g u n d o p iso da casa p a ra im p e d i-lo de ir à igreja no d o m in g o
se g u in te . L o v e a m a rro u u m a c o rd a na janela, d esceu p o r ela
e foi p a ra a igreja. Suas a n te rio re s co n v icçõ es de p ecado se
a p ro fu n d a ra m , e logo ele foi c o n v e rtid o .
C o n tra os desejos de seu pai, m as co m 0 in c e n tiv o de
E rb u ry , L o v e foi a d m itid o no N ew In n H a ll, O x fo rd , em 1635,
e o b te v e um g rau de b a c h a re l em 1639. L ove m u d o u -se en tão
p a ra L o n d re s e se to rn o u capelão do x erife W arner. C o n h ece u
a p ro te g id a do xerife, M a ry S to n e, filh a de um n e g o c ia n te de
L o n d re s ; d e sp o so u -a, e os L o v e tiv e ra m cin co filhos: duas
m e n in a s , q u e m o rre ra m em te n ra id a d e, e três m e n in o s. O
ú ltim o filh o n asceu trez e dias após a m o rte de L ove.

493
FAIXA() P E L A PUREZA

Love foi o primeiro clérigo a recusar-se a subscrever os


cânones do arcebispo Laud (1640). Esse ato resultou em sua
suspensão, mas pouco antes de ser efetivada a suspensão,
Love recebeu o chamado da paróquia de St. Anne e St Agnes,
dentro de Aldersgate, Londres. Mas 0 bispo de Londres não
permitiu que Love aceitasse esse convite porque Love não
tinha sido ordenado. Presbiteriano firme, Love declinou da
ordenação episcopal. Foi para a Escócia em busca da ordenação
presbiteriana, porém esta lhe foi recusada porque ele não
tinha recebido convite de nenhuma igreja ali.
Regressando da Escócia em 1641, Love foi posto na
prisão por causa do sermão que pregou em Newcastle
denunciando os erros do Livro de Oração Comum e as
cerimônias supersticiosas da Igreja da Inglaterra. Por alguns
meses Love pregou a grandes multidões através das barras da
prisão. Finalmente, foi transferido para Londres, julgado na
corte do rei e absolvido.
Love voltou para Oxford em 1642 para adquirir o grau
de Mestre em Artes, mas foi expulso da universidade por
sua não conformidade. Quando irrompeu a Guerra Civil, ele
foi feito capelão do regimento do Coronel John Venn. Love
foi pregador da guarnição do Windsor Castle, ministrando
a muitas pessoas durante a peste. Alguns líderes políticos
se ofendiam com os sermões de Love, enquanto que os de
persuasão puritana geralmente ficavam bem impressionados.
William Twissc, posteriormente presidente da Assembléia de
Westminster, ficou tão comovido com a pregação de Love que
o convidou para morar em sua casa e usar a sua biblioteca, se
bem que isso efetivamente nunca se ocorreu.
Love afinal foi ordenado como presbiteriano em 1645, na
St. Mary’s Aldemanbury, Londres, o que o habilitou a trabalhar
como pastor em St. Anne e St. Agnes, Aldersgate. Depois de
pregar ali durante três anos, Love tornou-se ministro de St.
Lawrence Jewry (aproximadamente 200 metros da igreja de
St. Anne). Ele ganhou grande reputação por sua eloquência

494
Christopher Love

e vigor na pregação, apesar de continuar a causar ofensa aos


independentes.
Love foi um dos mais jovens membros da Assembléia de
Westminster, mas não foi muito ativo nos procedimentos ali
seguidos. Seu comparecimento foi esporádico.
Love foi detido no dia 2 de maio de 1651 pelas forças
de Oliver Cromwell por alegado envolvimento com os
presbiterianos da Escócia que estavam levantando dinheiro
para a restauração da monarquia sob Charles II. Love negou a
acusação, mas ele foi julgado e condenado por traição pelo que
passou a ser conhecido como “complô de Love”. A mulher
de Love e numerosos amigos, inclusive vários ministros
proeminentes de Londres, intercederam em seu favor, mas
não adiantou. Apaixonados independentes republicanos
estavam determinados a destruí-lo. Love foi decapitado na
Tower Hill, Londres, no dia 22 de agosto de 1651, com trinta
e três anos de idade. Os presbiterianos se dividiram sobre a
questão. Alguns se inflamaram e consideraram Love como
heróico mártir. Outros simpatizaram menos com a causa de
Love. Por fim, os escoceses e alguns ingleses, como Love,
ficaram decepcionados com a suposta adesão de Charles II à
“Aliança”. Até mesmo Thomas Watson, que em certa medida
esteve envolvido com Love no complô, mais tarde mudou de
pensamento sobre o caso.
Num comovente discurso feito do patíbulo, Love respondeu
às acusações feitas contra ele e conclamou os cidadãos de
Londres a cuidarem dos seus ministros piedosos e a amá-los.
O xerife Tichburn deu-lhe permissão para orar. Ele orou:

Gloriosíssima e eterna Majestade, Tu és justo e


santo em tudo o que fazes aos filhos dos homens;
embora suportaste que os homens condenassem
Teu servo, Teu servo não Te condenará. Ele Te
justificará, apesar de o eliminares no meio dos seus
dias e no meio do seu ministério, bendizendo Teu

495
PAIXAO P E L A PUREZA

glorioso nome porque, embora seja tirado da terra


dos viventes, não o apagaste do Livro da Vida. ...
O Tu, Deus bendito, a quem Tua criatura tem
servido, que fez de Ti sua esperança e sua confiança
desde a sua juventude, não 0 abandones agora,
quando ele está sendo levado para perto de Ti. Agora
ele está no vale da sombra da morte; Senhor, peço­
-Te que sejas vida para ele. Sorri para ele, enquanto
os homens olham para ele com desdém. Senhor, Tu
firmaste esta persuasão em seu coração, que tão logo
o golpe separe sua cabeça do seu corpo, ele estará
unido à sua Cabeça no céu. Bendito seja Deus por
Teu servo morrer firmado nestas esperanças.
Suplicamos-Te, ó Senhor, que penses em Tuas
pobres igrejas. O, que a Inglaterra viva sob as Tuas
vistas! E ó, que Londres seja uma cidade fiel a
Ti! Que a justiça esteja entre os seus habitantes,
que a paz e a abundância estejam dentro dos seus
muros e a prosperidade dentro de suas habitações.
Senhor, cura as rupturas destas nações; faze a
Inglaterra e a Escócia como um só bordão em Tuas
mãos, que Efraim não tenha ciúmes de Judá, nem
Judá persiga Efraim, mas que ambos voem sob os
ombros dos filisteus. Ó, que os homens da religião
protestante, engajados na mesma causa e na mesma
aliança, não se deleitem em derramar o sangue uns
dos outros, mas se engajem contra os adversários
comuns da nossa religião e da nossa liberdade!
Deus, tem misericórdia de todos os que Te temem!
Pensa, ó Senhor em nossos irmãos do Reino da
Escócia que guardam a nossa aliança; mantenha
esses nossos irmãos fiéis a Ti, e não permitas que
aqueles que os invadirem se espalhem por toda a
sua terra. Impede o derramamento de mais sangue
cristão, se isto parece bem a Teus olhos...

496
Christopher Love

Após a oração pública, Love agradeceu ao xerife, e disse:


“Do cepo eu vou para 0 seio do meu Salvador”. Love chamou
o carrasco e deu-lhe uma gorjeta para animá-lo a decapitá-lo
com um só golpe. Love caiu de joelhos e disse: “Deito-me
repleto de conforto, como se me deitasse em meu leito. Em
meu leito desfruto breve sono, mas esta morte é um longo
sono onde vou repousar no seio de Abraão e nos braços do
Senhor Jesus”. Suas últimas palavras, antes de pôr sua cabeça
no cepo, foram: “Bendito seja Deus por Jesus Cristo” .
Thomas Mantón, colega presbiteriano e bom amigo de
Love, pregou nos funerais de Love a um enorme auditório.
A mulher de Love escreveu 140 páginas de memórias acerca
do seu marido. “ Sua família o via como um Moisés por sua
mansidão e como um Jó por sua paciência”, escreveu ela. “Ele
viveu tanto tempo dentro do céu que não pôde viver muito
tempo fora dele”.
Quinze volumes de sermões de Love foram publicados
por Edmund Calamy, Matthew Poole e outros logo depois da
morte de Love. Quanto a um detalhado relato de sua vida, ver
a obra de Don Kistler,zl Spectacle unto God: The Life and Death
of Christopher Love. O título foi extraído da resposta de Love às
acusações do oficial que presidiu seu julgamento: “No dia de
hoje sou feito um espetáculo para Deus, para os anjos e para
os homens, e sou separado dentre meus irmãos na fé para
ser o obejeto da indignação e dos insultos de alguns homens”.

The Dejected Soul’s Cure (SDG; 306 páginas; 2001). Os


verdadeiros crentes lutam contra o pecado e seus devastadores
efeitos. Isso pode levar ao que os puritanos descreviam como
“a melancolia da alma”, uma profunda depressão na qual a
luz do semblante de Deus aparentemente foi removida. Em
dezessete sermões sobre o Salmo 42:11, “Por que estás abatida,
ó minha alma”, Love examina vários motivos para a deserção

497
PAIXÃO PKLA PURHZA

espiritual e provê soluções pastorais. Ele mostra que satanás


fará tudo o que puder para distanciar os crentes do seu Salvador,
mesmo que isso signifique uma mórbida preocupação com o
pecado e o próprio ser.
Este livro apresenta diretrizes escriturísticas para a
recuperação da percepção do amor de Deus, convence
de pecado aqueles que talvez estejam sendo confortados
falsamente, e provê consolador fortalecimento aos convictos
de seus pecados. Está incluída também a obra de Love, “A
Treatise of Angels”, baseado em Hebreus 1:14.

Grace: The Truth, Growth, and Different Degrees (SDG;


173 páginas; 1997). Esta extensa obra sobre a graça contém
sermões de Love sobre os exemplos de Abias (sermões 1-5) e
de Timoteo (sermões 6-13). O décimo quarto sermão mostra
de modo reconfortante o que Cristo é para todos os crentes,
e a mensagem de conclusão exorta-nos a glorificar Deus e a
rebaixar a nós mesmos.
Cinco sermões mostram como Deus nota o mínimo grau
de graça em Seu povo, e dez sermões incentivam os cristãos a
crescerem na graça. Os seguintes assuntos são considerados:
os começos da graça, a menor medida da verdadeira graça, o
fato de que Deus nota a graça em Seu povo, trabalhando na
graça, as marcas dos cristãos fortes, fortes tentações e forte
graça, as consolações da graça, e aplicações. “Nada é tão livre
como a graça”, Love concluiu.
A obra de Love é prática e encorajadora; ele aplica a
doutrina com calor pastoral. Como um habilidoso médico
espiritual, ele mostra que o Deus da graça ama até mesmo
a fraca mas sincera graça de Seus filhos. Ele explica que a
verdadeira graça não é incoerente com as fortes tentações e
com os fracos afetos. Este estudo da graça de Deus no crente
trata de pontos que estão na raiz de toda verdadeira expe­
riência do cristão.

498
Christopher Love

The Mortified Christian: A Treatise on the Mortification of


Sin (SDG; 148 páginas; 1998). Esta penetrante obra sobre
a mortificação contém dez sermões sobre Romanos 8:13:
“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se
pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”. Love
mostra a natureza, os sinais, a necessidade e a dificuldade da
verdadeira mortificação. Ele explica a obra do Espírito na
mortificação e trata de diversos casos de consciência. O último
sermão, “Special Helps for Special Corruptions ”, revela parte da
experiência pessoal de Love com a mortificação. Como ele
escreve, “Os sermões concernem à mortificação, na qual 0
juízo do autor deve ser avaliado mais porque o seu coração foi
um comentário do seu texto, e sua experiência pessoal foi um
selo para a sua doutrina” .
Dois sermões apensos por Love sobre como tirar proveito
do ouvir a Palavra de Deus são também dignos de nota. Eles
ilustram a preocupação puritana, não somente com a pregação,
mas também com ouvir bem.

The Penitent Pardoned (SDG; 144 páginas; 2002). Esta


compulsiva exposição do Salmo 32:5 concita os leitores a
confessarem seus pecados (capítulo 1), e descreve a fidelidade
de Deus em perdoá-los (capítulo 2). Love responde a objeçães
contra o perdão (capítulo 3), apresenta as riquezas da graça
pcrdoadora de Deus (capítulo 4) e trata de vários casos de
consciência (capítulo 5).
Os referidos casos de consciência lidam com perguntas
como: Deus pode perdoar um crente sem ele estar ciente do seu
pecado? Deus pode afligir e punir o crente depois de perdoar
esse pecado? O perdão precede ou segue o arrependimento?
Aqueles que são perdoados podem cometer repetidamente os
mesmos pecados? Os piedosos que são perdoados devem orar
pedindo perdão? Quando nos achegamos a Deus em busca
de perdão, devemos fazer distinção entre pecados grandes e
pequenos?

499
PAIXAO P E L A PUREZA

Este livro oferece muito conforto para aqueles que estão


lutando com pecado permanente e repetido. Muito semelhante
à obra de Bunyan, Jerusalem Sinner Saved, a de Love mostra
o maravilhoso e incalculável perdão fundado na confissão,
pelo amor de Cristo. “Ainda que os seus pecados sejam
muito grandes”, Love conclui, “as misericórdias de Deus são
maiores.”

Preacher of God's Word: Sermons by Christopher Love


(SDG; 178 páginas; 2000). Este livro contém os seguintes
sermões: “Christ’s Prayer the Saint’s Support” (João 17:15),
“A Divine Balance to Weigh all Doctrines By” (1 Tess.
5:21), “Directions Concerning Immoderate Joy for Wordly
Comforts”, “Directions Concerning the Nature and Ends of
Sorrow and Affliction” (1 Cor. 7:30)., “A Christian’s Great
Inquiry” (At. 16:30,31), “A Description of True Blessedness”
(Luc. 11:28), e “Wrath and Mercy”, (quatro sermões sobre 1
Tess. 5:9). Eles revelam o dom de Love de aplicar prática e
experimentalmente as verdades doutrinárias.

A Treatise of Effectual Calling and Election (SDG; 300


páginas; 1998). O objetivo destes dezesseis sermões sobre 2
Pedro 1:10 é despertar as pessoas de uma falsa segurança e
impulsioná-las a lutar para tornar sua vocação e eleição mais
segura e certa. Vendo que há tão grande glória preparada para
os eleitos e tão grande tormento preparado para os réprobos,
não deveríam todos esforçar-se para estar preparados para a
glória?
Neste livro Love maneja muitos casos práticos para
conforto dos crentes sinceros e desconforto dos que não são
crentes verdadeiros. Ele se sobressai ao mostrar aos crentes
como eles podem, sem reconhecer isto, opor-se à segurança,
e como podem obtê-la. Ele provê ilustrações notáveis, tais
como a comparação da recusa do incrédulo a receber a oferta
gratuita que Deus faz de Seu Filho, com o doente jogando
um vidro de remédio contra a parede (p. 215).

The Works of Christopher Love, Volume I ( SDG; 720 páginas;

500
Christopher Love

1995). Este volume contém três blocos de sermões: “The


Combat between the Flesh and the Spirit”, (vinte e sete
sermões sobre Gál. 5:17); “Heaven’s Glory”, (dez sermões
sobre Col. 3:4); e “Hell’s Terror”, (sete sermões sobre Mat.
10:28). O pesado conteúdo é apresentado num estilo tão vivido
e é aplicado tão cuidadosamente que os leitores só podem
ser edificados.
Muitos dos outros livros de Love, originalmente destinados
a serem coligidos num segundo e num terceiro volumes de
suas obras, têm sido publicados como títulos individuais
pela Soli Deo Gloria.

The Zealous Christian (SDG; 137 páginas; 2002). Love explica


em treze sermões como o cristão deve lutar contra o pecado
e fazê-lo por meio da oração. A obra está dividida em duas
partes: “Taking Heaven by Holy Violence in Wrestling”, (cinco
sermões sobre Mat. 11:12), e “Holding Communion with God
in Importunate Prayer”, (oito sermões sobre Luc. 11:8).
Como faz Thomas Watson em seu livro Heaven Taken
by Storm, Love insiste em que 0 crente deve tomar o reino
do céu com uma espécie de santa violência ou persistência.
Zelosa e fervente oração, e diligente recebimento da Palavra
pregada, são as melhores armas para o exercício desta santa
violência. Love escreve: “Quanto mais tempo você continuar
no pecado, mais tempo Deus manterá você sob suspensão; e
demorará muito para que Ele lhe conceda as consolações do
Seu Espírito. Ele o encherá de indignação e de horror. Embora
os grandes pecados não possam arruinar a graça de Deus,
podem, no entanto, arruinar a paz de consciência. Embora
não o coloquem num estado de rejeição, eles o colocarão num
estado de prostração. Se você não for posto fora, será posto
abaixo. Portanto, tenha o cuidado de não abusar esta preciosa
doutrina” .

501
William Lyford
(1597-1653)

illiam Lyford nasceu em 1597 em Peasamore,


W Berkshire, onde seu pai era pároco da igreja paroquial.
Ele ingressou no Magdalen College em 1615, onde obteve um
grau de bacharel em 1618, um de mestre em 1621, e o grau de
Bacharel em Teologia em 1631. Tornou-se membro do corpo
docente do Magdalen College em 1620, como também do
Pembroke College em 1624.
Em seguida à morte de seu pai em 1632, Lyford se tornou
reitor da sua paróquia natal, em Peasemore. Ele renunciou
a seu cargo diretivo no Magdalen em 1633, e logo depois se
casou, e sua esposa, Elizabeth, sobreviveu à sua morte. Em
1642, Lyford publicou seus Principles of Faith and a Good
Conscience, um catecismo completo destinado a preparar as
pessoas para a Ceia em um período de três anos de estudo. Sete
anos depois ele resumiu sua obra para uso dos jovens.
Em 1643, Lyford foi chamado para ser um dos membros
da Assembléia de Teólogos de Westminster, mas ele preferiu
ficar em casa para cumprir seus deveres pastorais. Parece
que ele sofreu poucas consequências por rejeitar essa con­
vocação. Em 1647, ele foi nomeado membro do comitê de
examinadores de ministros. Mais tarde, nesse ano, ele pregou
um sermão seguindo 0 pensamento tradicional puritano sobre

502
William Lyford

a regeneração e a santificação que transformou num livro


intitulado The Translation of the Sinnerfrom Death to Life, (1648).
Na parte final da década de 1640, Lyford também foi se
envolvendo cada vez mais nas controvérsias que giravam em
torno da tolerância. Lie visava despertar seus paroquianos
para “o que, segundo esperava, era um curso moderado e
sóbrio entre o dever do magistrado de promover a pregação e
restringir a idolatria, e a liberdade do povo de não ser forçado
a atos particulares de culto” (Oxford DNB, 34:859).
Lyford morreu em 1653 e foi sepultado sob a mesa da Ceia
do Senhor, perto do altar da sua igreja. Lyford foi um ministro
fiel. Wood, o historiador de Oxford, descreveu Lyford como
alguém cujos labores “tem o sabor da piedade, do zelo e da
sinceridade, e mostram que ele foi um calvinista zeloso”. Foi
um catequista devoto e totalmente dedicado aos deveres de
seu ofício pastoral. Sua alegria, jovialidade e devoção demons­
tradas no serviço do seu Mestre eram muito admiradas.

The Instructed Christian (SDG; 345 páginas; 1999). Lyford


escreveu este livro para ajudar os leigos a discernirem a
verdade distinguindo-a do erro. Uma vez lhe perguntaram
como ele podia ser tão firme em sua doutrina quando tantos
ao redor dele estavam mudando suas opiniões. Fie respondeu:
“Porque eu me baseio na Palavra de Deus, que não muda”.
Fste livro, reproduzido de uma edição americana de
1847, foi publicado originalmente em 1655, como The Plain
Man’s Senses Exercised to Discern Both Good and Evil. Ele expõe
erros sobre tópicos como a autoridade divina das Escrituras
Sagradas, a natureza e a essência de Deus, a Deidade do Filho
de Deus, a união entre Deus e Cristo, os decretos eternos de
Deus quanto à eleição e à reprovação, o pecado original, a
redenção universal e particular, a questão do livre-arbítrio, e
a justificação pela fé. Lyford responde escrituristicamente às
objeções práticas vez por vez, ilustrando e aplicando a verdade
à mente e à consciência.

503
Thomas Mantón
(1620-1677)

T homas Mantón foi batizado no dia 31 de março de 1620


em Lydeard St. Lawrence, Somerset, onde seu pai,
Thomas Mantón, provavelmente era pároco adjunto. O jovem
Thomas recebeu sua educação na escola livre de Tiverton,
Devon; depois, aos dezesseis anos de idade, foi estudar no
Wadham College, Oxford, Graduou-se em Oxford com o grau
de Bacharel em Artes em 1639, o de Bacharel em Teologia
em 1654, e o de Doutor em Teologia em 1660.
Mantón foi ordenado para 0 diaconato em 1640 quando
estava com vinte anos de idade por Joseph Hall, e serviu por
três anos como preletor na igreja paroquial de Sowton, perto
de Exeter, Devonshire, onde se casou com Mary Morgan, de
Sidbury, em 1643. Mediante o patrocínio do Coronel Popham,
ele passou a residir na St. Mary’s, Stoke Newington, Londres,
onde 0 seu pastorado veio a ser um modelo de calvinismo
coerente e rigoroso. Logo se tornou um proeminente
presbiteriano em Londres, e usou sua influência para
animar os ministros a estabelecerem o governo eclesiástico
presbiteriano e a promoverem tranquilidade pública em
tempos tormentosos. Foi nomeado um dos três secretários da
Assembléia de Westminster e pregou muitas vezes diante do
parlamento durante o período da República.

504
THOM AS M ANTON
PAIXAO P E L A PUREZA

Uma vez, depois que Mantón escolheu um texto difícil


para pregar diante do Lorde Prefeito, um pobre crente
o censurou, queixando-se de que tinha vindo em busca
de alimento espiritual, mas ficara decepcionado. Mantón
replicou: “Amigo, se eu não te dei um sermão, você acaba de
me dar um; e pela graça de Deus, nunca mais serei tão tolo de
pregar diante do meu Lorde Prefeito dessa maneira” (Hulse,
Who are the Puritans? {Quem São os Puritanos?}1, p. 93).
Mantón proveu aconselhamento espiritual a Christopher
Love antes da sua execução pela insurreição em 1652, e esteve
com Love quando este foi decapitado. Apesar das ameaças de
ser baleado por soldados do exército que estavam presentes
naquela noite, Mantón pregou uma mensagem própria para
funerais a um grande auditório à meia-noite na paróquia de
Love em St. Lawrence Jewry.
Apesar de desaprovar fortemente a execução do rei,
Mantón reteve o favor de Cromwell e do seu parlamento.
Em meio à década de 1650, ele serviu em diversas comissões
importantes, sendo, inclusive, comissário responsável pela
aprovação de pregadores públicos, ou de “examinadores” . Com
Edmund Calamy, Stephen Marshall e outros presbiterianos,
ele serviu mantendo conversas sobre possíveis ajustes com os
congregacionais como Joseph Caryl eSidrach Simpson. Mantón
serviu numa comissão cujo propósito era ajudar a resolver a
divisão da Igreja da Escócia entre os “Resolucionários” e os
“Remonstrantes”. Depois serviu também num comitê, com
Thomas Goodwin, John Owen, Henry Jessey e Richard Baxter,
para a composição de artigos sobre “os pontos fundamentais
da religião” essenciais à subscrição à igreja do protetorado.
Em 1656, Mantón foi escolhido como preletor na Abadia
de Westminster e se tornou reitor da St. Paul’s, Covent
Garden, Londres, como sucessor de Obadiah Sedgwick.
Mantón desejava estabelecer a disciplina presbiteriana na

1 P u b l i c a d o p o r PI S s o b o t í t u l o Quem }·’oram os ¡ 1m ilanos/ ( v e r p . 11 I ).

506
Thomas Mamou

St. Paul’s, mas foi impedido de fazê-lo por seu assistente


Abraham Pinehbecke, e seus paroquianos. Hie aceitou isso
bondosamente, e foi sempre nobre, mostrando caridade para
com todos, inclusive para com ministros de outras persuasões.
Quando a Oliver Cromwell foi oferecida a coroa pelo
parlamento em 1657, Mantón foi escolhido, como o foram
John Owen, Joseph Caryl, Philip Nye e George Gilllespie,
para orarem com o Lorde Protetor buscando a direção divina.
Finalmente, Cromwell recusou a coroa. Mantón impetrou a
bênção pública na inauguração do segundo parlamento do
protetorado (Oxford DNB, 36:366).
Depois do fracasso do protetorado de Richard Cromwell,
Mantón foi a favor da restauração de Charles II. Ele esteve
com Charles em Breda2 e fez um juramento de lealdade ao
rei. Mantón foi nomeado um dos doze capelães do rei Charles
II, se bem que nunca realizou os deveres nem recebeu os
benefícios do ofício. Em todo esse tempo, Mantón permaneceu
firmemente presbiteriano em suas convicções e advertiu
contra a restauração do episcopado e da liturgia anglicana.
Depois que Mantón foi expulso dos púlpitos da Igreja da
Inglaterra por não conformidade em 1662, ele pregou em sua
casa, na King Street, Covent Garden, e noutros locais privados.
A frequência manteve um ritmo crescente até quando ele foi
detido e preso em 1670, ficando encarcerado durante seis
meses. Quando a Declaração de Indulgência foi outorgada em
1672, Mantón foi licenciado como presbiteriano em sua casa
em Covent Garden. Também foi preletor para comerciantes
londrinos no Pinner’s Hall e pregador no avivamento dos
exercícios matinais do presbiterianismo.
Quando a indulgência do rei foi anulada em 1675, a
congregação de Mantón rompeu-se. Mas ele continuou a
’ B reda, cid ad e da H o lan d a onde foram feito s v ário s c o n v ên io s en tre a
In g laterra e a H o la n d a (te rm o s d e c o m p ro m is s o , d e c la ra ç ã o , e tratad o . 1566.
1 6 6 0 e 16 6 7 ) , (‫ י‬ú l t i m o e n t r e a I n g l a t e r r a , a I l o l a n d a . a F r a n ç a e a D i n a m a r c a .
N o ta d o trad u to r.

507
PAIXAO PHLA PUREZA

pregar a seus seguidores aristocráticos em Covent Garden,


até sua morte ocorrida em 1677. William Bates pregou nos
funerais de Mantón.
Em seus funerais, Mantón foi lembrado como “o rei dos
pregadores” . Bates disse que nunca o ouviu pregar um sermão
fraco e elogiou a sua capacidade de “ representar a conexão
inseparável que há entre deveres e privilégios cristãos”. O
arcebispo James Ussher descreveu Mantón “com um volumoso
pregador” e “um dos melhores da Inglaterra” . Isso certamente
está evidente em muitos escritos de Mantón, a maior parte
dos quais são sermões.

The Complete Works of Thomas Mantón (MP; 22 volumes,


10.500 páginas; 1975). Os sermões de Mantón enchem vinte
dos seus vinte e dois volumes. Constituem o legado de um
pregador devotado ao sistemático ensino e aplicação da Palavra
de Deus. Mantón nos apresenta o melhor que os puritanos
ingleses tinham para oferecer em cuidadosa, sólida e ardente
exposição das Escrituras.
As Works de Mantón incluem exposições da Oração do
Senhor, de Isaías, capítulo 53, das Epístolas de Tiago e de Judas.
Estes volumes oferecem numerosos tratados sobre dezenas de
assuntos, tais como a vida de fé e a abnegação. Seus sermões
provêm detalhada exposição de passagens como o Salmo 119,
Mateus, capítulo 25, João, capítulo 17, Romanos, capítulos 6
e 8, 2 Corintios, capítulo 5, e Hebreus, capítulo 11. Também
contêm vários sermões pregados em ocasiões públicas,
inclusive os que ele pregou diante do parlamento. Um relato
sobre Mantón, escrito por William Harris, está no prefácio
do primeiro volume; um ensaio sobre Mantón, produzido
por J.C. Ryle, está no prefácio do segundo. Os primeiros oito
volumes, como também boa parte dos volumes 13-15, foram

508
Thomas Mantón

republicados pela Banner of Truth Trust na década de 1990.

By Faith: Sermons on Hebrews 11 (BTT; 712 páginas;


2001). Tirado dos volumes 13-15 das Works de Mantón, este
volume contém todos os sermões (sessenta e cinco no total)
que Mantón pregou sobre Hebreus, capítulo 11, a passagem
dos “ heróis da fé” . O tratamento de um assunto tão prático e
experimental dado por este dotado pregador, outra coisa não
pode fazer senão beneficiar o leitor. Spurgeon disse: “Mantón
não é brilhante, mas é sempre claro; não se distingue pela
oratória, mas é poderoso; não é notável, mas é profundo”.

The Epistle of Jam es (BTT; 481 páginas; 1998). Publicado


pela primeira vez em 1653, o comentário de Mantón é uma
das melhores exposições já escritas sobre Tiago. Mantón
provê sólida exegese, aplicações penetrantes e sábia orientação
espiritual.
Spurgeon disse que Mantón estava em seu melhor nível
neste comentário. J.C. Ryle disse: “Cada versículo e cada frase
[de Tiago são] explicados, expostos e aplicados singela, clara
e proveitosamente, e muito mais completamente do que em
muitos comentários” .

The Epistle ofJude (BTT; 380 páginas; 1989). Quando William


Jenkyn publicou seu comentário sobre a Epístola de Judas,
Mantón primeiro hesitou em publicar 0 seu. Depois decidiu
ir avante com uma obra que complementava a de Jenkyn.
Mantón escreveu: “Consultei o livro do meu reverendo irmão,
e quando encontrava algum ponto largamente discutido por
ele, eu ou omitia essa parte ou a mencionava abreviadamente;
assim é que os seus labores serão necessários para suprir as
fraquezas dos meus”.
Originalmente publicado em 1658, este comentário tem
abundantes percepções exegéticas e observações práticas.

509
PAIXAO P E L A PURKZA

Manlon cobre completamente os problemas do orgulho, da


guarda angélica dos crentes, da conduta certa sob a opressão,
da idolatria e o culto, da reverência cristã, das paixões indignas
atuantes em pregadores, os métodos corretos de repreensão,
e a anomia apóstata.
Mantón sonda cada versículo - às vezes cada palavra. Por
exemplo, ele dedica onze páginas do texto de seu comentário
para explicar o sentido da palavra “chamados”, e depois vinte
e quatro páginas sobre o resultado de sermos chamados.
Historicamente, este livro precedeu o infame Ato de
Uniformidade e derrama luz sobre como a igreja deve
defender a fé em tempos de crescentes crises. O exaustivo
estudo de Mantón põe em relevo a especial relevância desta
Epístola em situações que ainda hoje desafiam a Igreja.

Art Exposition of John 17 (SGP; 550 páginas; 1958). Esta


obra, extraída dos volumes 11 e 12 das Works de Mantón,
explica os frutos e benefícios da intercessão de Cristo em favor
dos crentes. Mantón mostra que esta intercessão assegura a
justificação e o perdão dos pecados dos crentes, move Deus a
aceitar as pessoas e suas obras, e os anima a irem ao trono da
graça com a ousadia de Cristo.
Este livro de Mantón é de ótima qualidade. As observações
pastorais e doutrinárias que ele deriva de um único e glorioso
capítulo da Bíblia educam-nos sobre como usar um texto.

One Hundred and Ninety Sermons on Psalm 119 (BTT; 3


volumes, 1.475 páginas; 1991). Esta coleção de sermões, que
preenche grande parte dos volumes 6-9 das Works de Mantón,
foi publicado pela primeira vez três anos depois da morte
do autor. Neles, Mantón demonstra as bênçãos de urna vida
vivida à luz da Palavra de Deus e insiste vigorosamente na
fidelidade a esta Palavra. Os sermões são fiéis ao texto das
Escrituras e nunca abandonam os equilibrados conceitos
calvinistas. São delineados de forma convincente, escritos

510
Thomas Mantón

com simplicidade e intensamente profundos. Spurgeon disse


deles: “Não há nenhum discurso pobre em toda a coleção: ele
é uniformemente bom, constantemente excelente”.

Temptation of Christ (CEP; 176 páginas; 1996). Esta obra


consiste de vários discursos originalmente preparados por
Mantón como esboços homiléticos. Mantón considera a tentação
de Cristo no deserto e depois mostra a origem e o propósito
da tentação. Ele examina a questão sobre como Jesus pode ser
Deus e, contudo, ser tentado, e demonstra que a tentação existe
para o nosso bem e para a glória de Deus. Ele explica também
como combater a tentação, descrevendo os papéis que os anjos
e nós mesmos desempenhamos na vitória sobre a tentação. A
relevância do assunto e o dom do autor que o habilita a explicá­
-lo c aplicá-lo, torna-o muito útil ao cristão atual.

A Treatise of Self-Denial (PA; 219 páginas; 2005). Neste livro,


reimpresso do volume 15 de suas Works, Mantón mostra que
o dever da abnegação ou autonegação é aplicável a todos e a
cada um, seja qual for sua idade ou condição. Ele expõe sete
meios de abnegação e descreve vários tipos de abnegação para
com Deus, nosso próximo e nós mesmos.
Mantón salienta que a abnegação envolve o “ego todo”,
incluindo tudo o que o homem é, tem e faz - não apenas
algumas proibições. Seguir Cristo significa obedecer a Ele
como Senhor, o que significa que devemos negar nossas
vontades quando elas pretendem usurpar a prerrogativa que
o Senhor tem de comandar nossas vidas. Este tratado prático
provê sólido conselho para a realização da obra de abnegação,
como também sinais pelos quais os crentes podem verificar
se estão exercendo ou não esta graça essencial.

The Works of Thomas Mantón, volumes 1-3 (BTT; 1.500


páginas; 1993). O volume 1 desta coleção inclui a exposição

511
PA IXAO P E L A PUREZA

de Mantón sobre a Oração do Senhor, sete sermões sobre a


tentação de Cristo, sete sobre a Sua transfiguração, e oito sobre
a Sua redenção e sobre a Sua existência eterna. O volume 2
inclui sermões “ tendentes a promover a paz e a santidade entre
os cristãos”, vinte sermões sobre diferentes assuntos, um
sermão de despedida, a mensagem apresentada nos funerais
de Christopher Love, um sermão sobre a vitória do santo
sobre a morte, e um sermão sobre 0 bem-aventurado futuro
dos que morrem no Senhor. O volume 3 contém dezoito
sermões sobre 2 Tessalonicenses, capítulo 2, e uma detalhada
exposição de Isaías, capítulo 53.

512
Edward Marbury
(m. 1655)

P ouco se sabe sobre Edward Marbury. Ele se tornou reitor


de St. James, Garlickhithe, Londres, em 1613, e depois
serviu como reitor de St. Peter’s, Paul’s Wharf. Retirou-se
do ministério público durante a Rebelião. Seus comentários
sobre Obadias e Habacuque foram escritos perto do fim de
sua vida (1649, 1650). Ele morreu em 1655.

Obadiah and Habakkuk (TENT; 763 páginas; 2002). Estes


comentários sobre Obadias e Habacuque sáo exaustivos,
homiléticos e práticos. Contêm extensos esboços e aplicações
para uso no púlpito. Por exemplo, ao explicar Habacuque 2:4,
Marbury admoesta os pecadores a fugirem para a “justiça
evangélica” . Essa justiça inclui a justiça da fé e a justiça de
uma boa consciência. Ele prossegue e explica os benefícios de
cada uma delas, dizendo que a justiça de uma boa consciência
dá forças para proteger-nos da tentação, ajuda a tornar segura
e certa a nossa vocação e eleição, honra Deus neste mundo,
mostra nossa sinceridade no amor e no serviço a Deus, e dá
conforto na hora da morte. Lutar por uma boa consciência

513
PAIXAO P E L A PU R EZA

com base na justiça de Cristo é uma tarefa agradável, não


um trabalho penoso e legalista.
Spurgeon diz sobre Marbury: “Sua espiritualidade mental
impede que a sua cultura se torne insípida. ... Marbury
mantém-se entre os melhores escritores ingleses do passado,
e 0 faz com muita dignidade. Há em torno dele um delicado
encanto que torna suas páginas apaixonantes” .

514
Walter Marshall
(1628-1680)

alter Marshall nasceu em 1628, em Bishops Wearmouth,


W em Durham, Inglaterra. Com onze anos de idade, foi
estudar no Winchester College. Depois foi membro do corpo
docente no New College, Oxford, de 1648 a 1657. Dois anos
depois, foi destacado para residir em Fawley, Hampshire. Em
1656, foi nomeado para o vicariato de Hursley, Hampshire, a
quatro milhas {cerca de seis quilômetros} de Winchester. De
1657 a 1661, serviu como membro do corpo docente diretivo
no Winchester College. Casou-se e teve duas filhas.
Quando foi promulgado o Ato de Uniformidade em 1662,
foi solicitado aos ministros da Igreja da Inglaterra que dessem
prova de sua ordenação episcopal e de sua conformidade com
o Livro de O,ração Comum. Como aconteceu com centenas de
seus colegas puritanos, Marshall decidiu, com base em sua
consciência, não se conformar. Ele e outros não conformistas
foram expulsos de suas paróquias no Dia de S. Bartolomeu,
24 de agosto de 1662. No prefácio da obra de Marshall sobre a
santificação, um amigo escreveu: “No Dia de São Bartolomeu,
ele [Marshall] foi colocado “debaixo do alqueire” com mais
quase duas mil luzes, cuja iluminação transformou a terra
numa Gósen”.

515
PAIXAO P E L A PU R EZA

Logo depois disso, Marshall foi empossado como ministro


de uma congregação independente em Gosport, Hampshire,
onde serviu os últimos dezoito anos de sua vida. Em Gosport,
ele escreveu um livro sobre a santificação, intitulando-o
Gospel Mystery, com base na declaração de Paulo em 1 Timoteo
3:16: “Grande é o mistério da piedade”.
Durante esse período, Marshall experimentou profunda
depressão espiritual. Durante anos ele buscou santidade e
paz. Ele leu Richard Baxter extensamente e depois questionou
Baxter, que disse que Marshall o tinha tomado em termos
exageradamente legalistas. Foi depois encontrar com Thomas
Goodwin e lhe falou sobre os pecados que pesavam duramente
em sua consciência. A resposta de Goodwin foi que Marshall
tinha se esquecido de mencionar o pior pecado de todos: não
crer no Senhor Jesus Cristo para a remissão de todos os seus
pecados e para a santificação da sua natureza.
Marshall passou a concentrar mais em estudar e pregar
Cristo. Ele se deu conta de que estivera tentando fazer da justiça
pessoal a base das suas relações com Deus e o fundamento da
sua paz. Consequentemente, não se havia submetido à justiça
de Deus em Jesus Cristo. Quando passou a se focalizar em
Cristo, encontrou santidade, paz de consciência e alegria no
Espírito Santo. The Gospel Mystery of Sanctification foi fruto
dessa experiência. Desse livro James Hervey declarou que,
se ele fosse banido para uma ilha deserta e só pudesse levar
consigo uma Bíblia e mais dois outros livros, o clássico de
Marshall seria um deles.
A pregação de Marshall era edificante, embora não lhe
tenha granjeado grande reconhecimento. Contudo, ele pregou
em muitos lugares nos últimos anos de sua vida, inclusive
Winchester, Alton, Winton, Taunton e Crewekerne.
Marshall morreu em Gosport em 1680. Antes de morrer
ele disse aos que o visitavam: “Morro na plena persuasão
da verdade e na consolação da doutrina que tenho pregado
a vocês” . Pronunciou então suas últimas palavras: “O salário

516
Waller M arshall

do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna por


Cristo Jesus nosso Senhor” (Rom. 6:23). Samuel Tomlyns, de
Andover, pregou em seus funerais. Na introdução do sermão,
Tomlyns disse a respeito do seu amigo: “Ele cortejava {as
pessoas} para Cristo em sua pregação, c as atraía para Cristo
por seu andar”.

The Gospel Mystery of Sanctification (RHB; 247 páginas;


1999). Publicado pela primeira vez postumamente em 1692 e
então muitas vezes daí por diante, esta obra clássica puritana
sobre a santificação também trata da justificação. Está divida
em catorze seções que Marshall chamou “instruções”. Na
primeira instrução, Marshall assevera que “a santificação, pela
qual os nossos corações e as nossas vidas se conformam à lei, é
a graça de Deus que Ele nos comunica por meios” . As Sagradas
Escrituras são os meios. Devemos sentar-nos aos pés de Cristo
para aprender dEle o caminho da santidade. A segunda
instrução salienta que, se as nossas obras não são motivadas
pelo amor de Deus por nõs e não fluem da reconciliação com
Ele, então estamos ainda em inimizade contra Ele. A terceira
instrução declara que, assim como somos justificados pela
justiça de Cristo efetuada por Ele e imputada a nós, assim
também somos santificados pela santidade realizada em Cristo
e infundida em nós. Pomos a santidade em prática usando o
que já tínhamos recebido por estarmos em união com Cristo.
A quarta instrução diz: “Os meios ou instrumentos pelos
quais o Espírito de Deus realiza a nossa união com Cristo e a
nossa comunhão com Ele em toda a santidade, são o evangelho,
pelo qual Cristo entra em nossos corações para produzir em
nós a fé; e a fé, pela qual recebemos realmente Cristo, com
toda a Sua plenitude, em nossos corações” . Sem a fé salvadora,
nenhum esforço humano pode produzir nenhuma verdadeira
santidade (instruções cinco e seis).

517
PAIXAO P E L A PUREZA

Na sétima instrução, Marshall trata do que antecede a fé.


Ele argumenta que o que o povo considera como preparação
para a fé, ou é a fé propriamente dita, ou 0 resultado da fé.
Tentarmos, {porém}, fazer-nos aptos para Cristo é sermos
levado para longe de Cristo por uma ilusão satânica.
Depois de enfatizar a importância de colocar a fé e a
santidade na ordem correta, Marshall lança uma severa
advertência na oitava instrução contra o antinomismo.
O melhor meio de fazer oposição ao antinomismo é “não
negar, como alguns fazem, que a confiança em Cristo para
a salvação é um ato salvífico de fé, mas, antes, mostrar que
ninguém confia nem pode confiar em Cristo para a verdadeira
salvação, a não ser que confie nEle para a santidade; nem
tampouco as pessoas que desejam de coração a verdadeira
salvação têm a verdadeira confiança, se não desejam ser feitos
verdadeiramente justos em seus corações e em suas vidas”.
A nona instrução diz: “Primeiro precisamos receber
as consolações do evangelho, para então podermos realizar
sinceramente os deveres da lei” . Para atingir esse propósito,
temos que ter alguma certeza de salvação naquela mesma fé
pela qual Cristo é recebido em nossos corações; portanto,
precisamos esforçar-nos para crer em Cristo confiantemente,
“persuadindo e garantindo a nós mesmos, no ato de crer,
que Deus nos dá de graça um interesse por Cristo e por Sua
salvação, de acordo com Sua graciosa promessa” (décima
instrução). Crer corretamente em Cristo, diz a décima primeira
instrução, significa recebê-10 como um dom gratuito com
ardente afeto, confiando somente nEle para a salvação. Não
devemos retardar a nossa vinda a Cristo com certeza de fé,
com vistas a um novo coração e a uma vida santa.
Os crentes devem pelejar para obedecer à lei pelos
“princípios e meios do evangelho”, diz Marshall na décima
segunda instrução. Ele vai adiante e explica, na décima
terceira instrução, como devemos usar os meios da graça na
luta pela santidade. Devemos esforçar-nos diligentemente

518
Waller M arshall

para conhecer a Palavra de Deus, examinar o nosso estado e a


nossa vida diária por meio dela, e meditar nela regularmente.
Devemos usar as ordenanças como uma festa espiritual para
promover a vida de fé. Devemos orar de tal maneira que
possamos viver pela fé em Cristo, segundo o novo homem.
Tudo isso deve ser acompanhado pelo cântico de Salmos,
entoados de coração, por jejum periódico e frequente
comunhão com os santos. Em todos esses meios, entretanto,
devemos ter o cuidado de usá-los sem abusar deles, colocando­
-os indevidamente no lugar de Cristo.
Marshall conclui na última instrução que a santidade,
baseada na união com Cristo e combinada com o diligente uso
dos meios da graça, resultará numa vida abençoada e frutífera.
Essa busca rebaixará a nossa carne, exaltará Deus e se ligará
com todas as doutrinas da graça. Esta é a única maneira
agradável e segura de chegar à verdadeira santidade.
Em suma, o livro de Marshall ensina-nos a inseparabilidade
da união com Cristo e a santificação, a inseparabilidade da
justificação e a santificação, e a inseparabilidade de Cristo e
Sua Palavra.

519
Cotton Mather
(1663-1728)

C otton Mather, nascido em Boston, Massachusetts, no


dia 12 de fevereiro de 1663, foi destinado a tornar-se o
membro mais renomado da família Mather. Ele foi o filho
mais velho de Increase Mather e neto de Richard Mather e de
John Cotton, do qual lhe veio o nome. Os seus dois avôs foram
ministros fundadores de Massachusetts.
Mather dominava o hebraico, o grego e o latim quando
ainda criança, e então ingressou em Harvard com a idade
sem precedentes de onze anos, onde demonstrou seriedade,
mente aguda e capacidade para estrito autoexame. Recebeu
em Harvard o grau de Bacharel em Artes em 1678, com quinze
anos de idade, e o grau de Mestre em Artes em 1681.
Mather foi convertido na adolescência. Dominou uma
dificuldade na fala e começou a pregar em Dorchester e em
Boston aos dezessete anos de idade. Foi ordenado em 1685
e começou trabalhando com seu pai na North Church, em
Boston. Seu pai serviu como pregador e Cotton Mather serviu
como mestre, mas isso também envolvia pregação regular.
Também serviu como pastor durante as ausências de seu pai.
A primeira mulher de Cotton Mather, Abigail, com que
ele ficou casado dezesseis anos, morreu, depois de sofrer um

520
COTTON M ATHER
PAIXAO P E L A PURHZA

aborto e uma longa enfermidade, em 1702. No ano seguinte,


Mather casou-se com Elizabeth Clark, filha de um médico
de Boston, e com ela teve seis filhos, dos quais um morreu
na infância. A própria Elizabeth e mais três filhos morreram
num curto espaço de tempo, de sarampo e de varíola, em
1713, mergulhando Mather numa profunda tristeza. Em 1715,
Mather casou-se com Lydia, filha de um conhecido puritano,
Samuel Lee, e viúva de um rico negociante de Boston. Lydia
demonstrou ser uma pessoa emocionalmente instável. Suas
selvagens oscilações de temperamento atormentaram Mather
até o dia da sua morte.
Após a morte de seu pai em 1723, Cotton Mather tornou­
-se o principal pastor da North Church, em Boston, posição
que manteve até sua própria morte, cinco anos depois. Ele
escreveu uma longa biografia de seu pai, intitulada Parentator,'
imitando a biografia que seu pai, Increase, escrevera do pai
dele, Richard. Contudo, os dois livros são muito diferentes no
estilo. O de Increase é curto, modesto e anônimo; o de Cotton
é efusivo, poético e volumoso. Posteriormente, o filho de
Cotton Mather, Samuel, publicaria uma biografia de seu pai,
The Life of the Very Reverend and Learned Cotton Mather, (1729),
completando a trilogia de biografias da família Mather.
Cotton Mather partilhou o compromisso de seu pai de
promover o calvinismo ortodoxo e evangélico, e de opor-se
a seus detratores. Todavia, pai e filho eram muito diferentes.
Increase Mather focalizou a pregação e o culto coletivo; Cotton
Mather focalizou a atividade portas afora, indo de porta em
porta em Boston, evangelizando os de fora da Igreja. Também
organizou sociedades de pequenos grupos para estudo da
Bíblia e comunhão espiritual. Diversamente de seu pai, Cotton
nunca desistiu da visão de uma nação restaurada e renovada.
Ao contrário, a ideia de uma nação fiel, pactuai, elevava suas1

1 A q u ele q u e h o m e n a g e ia 011 c e le b ra se u s p ais falecidos. O riu n d o d o v e rb o


latin o /)árenlo. N o ta d o trad u to r.

522
Cotton Mather

esperanças e o mantinha ativo. Além disso, Cotton viajou


muito menos que seu pai, que passou considerável espaço de
tempo na Inglaterra.
Depois, também, diferentemente de seu pai, Cotton
Mather mergulhou no misticismo. Essas tendências místicas,
registradas nos diários de Mather, às vezes eram um tanto
estranhas. Por exemplo, ele escreveu que tinha encontros com
anjos, e até afirmou que um anjo lhe dissera que Cristo ia
voltar em 1716.
Apesar dessas tendências místicas, Mather foi um
pregador talentoso e um pastor zeloso. Todo dia do Senhor
ele se perguntava: “Que farei, como pastor de igreja, pelo bem
do rebanho que está sob os meus cuidados?” Contudo, foi
seu infatigável labor escrevendo que fez de Mather um dos
mais célebres ministros da Nova Inglaterra. Como erudito
de considerável cultura, Mather reuniu uma biblioteca
impressionante, foi um leitor voraz e escreveu 469 obras
publicadas sobre assuntos bíblicos, teologia, história da Igreja,
biografia, ciência e filosofia. Seus escritos teológicos, agora
em grande parte esquecidos, foram muito influentes em seu
tempo. Continham muitas citações de eruditos da patrística
e da Reforma, como também da literatura grega e romana.
Hoje em dia Mather é geralmente considerado o arquétipo
do puritano tacanho, intolerante, severo, que tomou parte nos
julgamentos das bruxas feitos em Salem em 1692. Embora
Mather nào tenha aprovado todos os julgamentos, ele ajudou
a aumentar a onda de histeria com seu livro Memorable
Providences Relating to Witchcraft and Possessions, (1689).
Posteriormente, ele examinou em mais detalhe a possessão
demoníaca em sua obra Wonders of the Invisible World, (1693,
nova edição 1956), na qual defendeu os juizes que atuaram nos
julgamentos das bruxas realizados em Salem, como também
o uso de prova espectral (invisível).
Não obstante, Mather foi um homem de mentalidade
bem tolerante. Ele trabalhou num mundo protestante

523
ΡΑΙΧ AO PKLA PUREZA

muito menos diversificado do que o que hoje conhecemos,


e assim devemos apreciar sua abertura em relação a colegas
de outras denominações. Por exemplo, em 1718, ele par­
ticipou da ordenação de um ministro batista. Para muitos
congregacionais, foi um escândalo; para Mather, foi um
ato que significava a unidade em Cristo fora das diferenças
eclesiásticas. Ele também achava que era antiético que os
puritanos perseguissem os quaeres.
Mather procurou focalizar os pontos essenciais da fé. Ele
dizia que, afinal, as três coisas necessárias para o cristão são
o temor a Deus, aceitar a justiça de Cristo para justificar os
pecadores pela fé, e honrar a Deus amando cada um o seu
semelhante. Expressando breve e singelamente o que era
essencial, ele procurou incentivar meios pelos quais mostrar
a unidade cristã. Por isso ele se correspondia com August
Hermann Erancke, um proeminente pietista da Alemanha, e
se deleitava com algumas das histórias de progresso cristão
que Erancke lhe enviava.
Mather tentou também simplificar as exigências para
recepção de membros à comunhão da igreja, conquanto
mantendo a pureza da igreja. Ele não exigia que a pessoa
que queria unir-se à igreja para participar da Ceia do Senhor
tivesse a certeza da fé; mas achava que era suficiente que a
pessoa odiasse o seu pecado e tivesse alguma esperança em
Cristo.
O cristianismo tinha que ter impacto na sociedade por
meio das boas obras dos cristãos, acreditava Mather. Disse um
escritor que a grande ambição de Mather era “ fazer o bem” .
Ele era um ávido filantropo e defendia os melhoramentos de
Massachusetts, inclusive o cuidado com os órfãos e com as
mulheres sem lar, a prevenção do alcoolismo e a supressão do
duelo. A benevolência de Mather refletiu-se em seus escritos,
por exemplo, sua obra intitulada Essays to do Good (1710).
M ath er prom oveu tam bém a cu ltu ra e a edu cação , e
trabalhou estren u am en te para fa /e r da N ova Tmrlaierra 11 m
S .’ l
Cotton Mather

centro cultural. Ele foi frustrado em suas esperanças de ser


presidente de Harvard, mas foi influente na fundação de Yale.
Ele se interessava profundamente pela ciência, e foi o primeiro
americano nato a ser membro do corpo diretivo da Sociedade
Real. Ele persuadiu Zabdiel Boylston a proceder à inoculação
contra a varíola, apoiando 0 impopular procedimento mesmo
quando punha em risco a vida.
Por algum tempo Mather deu ênfase à racionalidade do
cristianismo, mas posteriormente se assustou com o deísmo,
que estava afetando a Igreja em geral na Inglaterra. Então,
enquanto continuava a dizer que a razão podia prestar grande
ajuda e apoio à fé do crente, teve o cuidado de subordinar a
razão às Escrituras.
Mather foi um ministro de ministros, um pastor de
pastores. Seu livro Manuductio ad ministerium: Directions for a
Candidate to the Ministry (1726), obra modelo para os estudantes
de teologia, aconselha os jovens a realizarem um consistente
ministério evangélico, estudando fiel e amplamente e “ fazendo
o bem” em seu falar e em seu andar. Em acréscimo à teologia,
Mather concita os estudantes de teologia a estudarem idiomas,
história, ciências, poesia, filosofia e matemática - em suma, a
que o imitem.
Frequentemente Mather mergulhava no pensamento
milenarista. Michael Hall observa: “ Entre 1720 e 1726 ele se
afastou das interpretações literalistas de seu pai rumo a uma
posição preterista similar às novas interpretações filológicas
que se faziam na Europa. Esse decisivo rompimento com a
geração de seu pai e com o seu próprio pensamento anterior
provê um elo de ligação com o pós-milenarismo de Jonathan
Edwards da década de 1740 em diante” (Oxford DNB, 37:268).
Mather foi influente no Estado bem como na Igreja; ele
ajudou a conduzir a revolta contra o governo de Sir Edmund
Andros. Depois apoiou a nova carta-régia e 0 governador
real da Colônia da Baía de Massachusetts, Sir William Phips
(1692-1702).

525
PAIXAC) P E L A PUREZA

No dia 13 de fevereiro de 1728, Cotton Mather, aos sessenta


e cinco anos de idade, morreu pacificamente em casa, rodeado
pela familia e por amigos e deixando dois filhos. Foi sepultado
na cripta da família em Copp’s Hill, em North End, Boston.
Mather foi facilmente o escritor mais influente da América
em sua geração. Veio a ser muito conhecido por seus numerosos
livros, que cobrem uma ampla gama de assuntos. O livro de
Thomas James Holmes, Cotton Mather: A Bibliography of His
Works, (1940; reimpresso por Newton, Mass.: Crofton, 1974), é
uma extensa e útil obra de três volumes que registra os livros
de Mather e mostra muitas páginas de títulos originais dos
livros.
As três gerações dos Mather foram fortes líderes puritanos
em Massachusetts. Desde a chegada de Richard Mather em 1635
até a morte de Cotton Mather em 1728, os Mather formaram
uma dinastia espiritual preocupada com a espiritualidade, a
fidelidade e a pureza da Igreja, embora tenham sido muito
diferentes sobre em que medida os interesses da Igreja
estavam ligados ao sucesso da Nova Inglaterra como colônia
e como comunidade santa. Cotton Mather, em particular,
orou zelosamente durante toda a sua vida rogando a Deus que
realizasse uma grande e reavivadora obra na Nova Inglaterra
com ramificações de âmbito mundial. Hle acreditava que, por
meio de um despertamento espiritual, a Nova Inglaterra se
tornaria um modelo de fidelidade e devoção para o mundo.
Somente doze anos depois da morte de Cotton Mather,
ocorreu o grande avivamento na Nova Inglaterra. O Grande
Despertamento que se seguiu estendeu a visão de Mather a
todas as colônias.

The Angel of Bethesda (AAS; 384 páginas; 1972). Este livro é


o primeiro guia médico completo das colônias; está repleto de
sugestões interessantes. Além de prover resenhas da obra de

526
Cotton M ather

dezenas de cientistas europeus e de oferecer conselho médico,


Mather conta histórias de várias pessoas que souberam de
remédios recomendados a elas em sonhos que tiveram quando
dormiam, ou de homens e mulheres tão miseravelmente
enfermos que os médicos não puderam fazer mais nada por elas,
as quais, todavia, tiveram completa e dramática recuperação,
graças “à maravilhosa obra que Ele {Deus} tinha realizado”
nelas.
Mather sugere cautelosamente a possibilidade do direto
envolvimento de anjos, embora tema despertar “ insustentáveis
superstições oufantasiosas imaginações". Não obstante, ele conclui
que “é possível que haja mais do ministério angélico do que o
de que ordinariamente temos consciência”. Ele sugere que os
anjos agem secretamente, ou “por trás da cortina”, deixando
“impressões na mente” dos médicos, dando-lhes informações
sobre possíveis curas. Ele até insinua que seu próprio livro,
The Angel ofBethesda, pode ter sido de fato produto da direção
dada por meio de anjos.

Bonifacius: An Essay To Do Good (SE; 220 páginas; 1967).


Este fac-símile do livro mais largamente lido de Mather,
publicado primeiro anonimamente em Boston em 1710, é
um guia para homens comuns. Foi escrito no “claro e franco
estilo” puritano, promove o que é bom em circunstâncias
privadas (marido e mulher, filhos, parentes, servos ou criados,
vizinhos) e em circunstâncias públicas (o ministro, o mestre,
0 oficial público, o médico, o advogado). Este livro ajudou
Benjamin Franklin e outros a desenvolverem idéias práticas
para a obra humanitária. Michael Hall escreve: “ Foi 0 livro
perfeito para introduzir o novo século de pietismo e de religião
experimental” (OxfordDNB, 37:267).

The Christian Philosopher (UIP; 632 páginas; 2000). Neste


longo estudo, originalmente publicado em 1721, Mather
examina as Escrituras e a criação - os dois grandes livros

527
PAIXAO P E L A PUREZA

de Deus - para mostrar que eles não estão em desavença


com a ciência de Newton e seus contemporâneos. Theodore
Hornberger declara que o capítulo de Mather sobre a
astronomia neste livro é “o melhor exemplo de como a ciência
de Newton chegou à América e foi disseminada” (Oxford
DNB, 37:267). Embora partes deste livro sejam ultrapassadas,
ele ainda requer atenção por causa das observações de Mather,
particularmente sobre a fauna e a flora da Nova Inglaterra,
como também pelos fatos e lições sobre como a obra de Deus
brilha através da obra da criação.
O editor fornece notas identificando fontes de citações
clássicas de Mather bem como um registro biográfico. Seu
ensaio introdutório explica Mather dentro do contexto do
seu tempo.

Cotton Mather on Witchcraft (Dorset Press; 172 páginas;


1991). Publicado primeiramente em Boston em outubro
del692, este livro estranho contém reflexões de Mather sobre a
bruxaria. Altamente especulativo, esta obra deve ser lida com a
máxima cautela e discrição. Embora Mather tivesse o coração
dedicado à firme piedade, muitas vezes condescendeu com a
especulação. Este livro é Mather em seu nível mais infeliz.

Days of Humiliation, Times of Affliction and Disaster (SE,


9 volumes com 1400 páginas; 1970). Este livro composto de
fac-símiles contém nove sermões, pregados de 1696 a 1727,
sobre como restaurar o favor ou a aceitação de um Deus irado,
salientando lições extraídas das aflições causadas por incêndios
e tempestades. Os títulos dos sermões incluem: “Things for
a Distressed People to think upon”, “Humiliations followed
with Deliverances”, “Advice from Taberah”, “Advice from the
Watch Tower”, “The Saviour with His Rainbow”, “A Voice
from Heaven”, “The Voice of God in a Tempest”, “The Terror
of the Lord”, e “ Boanerges” .

528
Cotton Mather

The Diary of Cotton Mather (FUP; 2 volumes, 1504 páginas;


1957). O diário de Mather revela um homem de imensas
realizações e constitui uma importante contribuição para
a história da Massachusetts colonial. Foi editado às pressas
por Mather pouco antes de sua morte, e, portanto, o que nos
fica é o que ele quis preservar. Embora diferentes edições do
diário de Mather tenham aparecido no século vinte, a edição
de Ungar, 1957, é a melhor e a mais completa.
The Diary mostra um Mather enigmático. Ele amava o
seu Salvador, lutou para preservar a ortodoxia puritana, e,
todavia, às vezes se aventurava por veredas místicas. Embora
muitas joias possam ser recolhidas da prosa particular de
Mather, sua propensão mística e seu ascetismo estrito, que
por vezes quase acabaram com sua vida, certamente são
desvios da corrente principal do pensamento puritano. Nele
encontramos também um homem de severos princípios e
de incansável auto-humilhação, persistente na produção
de livros. Quanto ao leitor moderno, The Diaty provê um
fascinante vislumbre do coração e da mente de um dos
primeiros gigantes puritanos da América.

Λ Family Well-Ordered (SDG; 53 páginas; 2001). Publicado


em Boston em 1699, este breve ensaio sobre a família considera
os deveres dos pais para com seus filhos (com base em Gên.
18:19) e os deveres dos filhos para com seus pais (com base em
Deut. 27:14, 16). A ênfase em todo o ensaio é em como formar
uma família bem ordenada e agradável a Deus.
Mather vê a família de um modo tipicamente puritano.
Como Don Kistler escreve, “O puritano via a família como
uma pequena igreja. Assim como é preciso que haja ordem
na Igreja, assim também é preciso haver ordem na família. E,
para os puritanos, essa ordem estava exposta nas Escrituras,
e, portanto, sendo de inspiração divina, era ilimitadamente
obrigatória, tanto para os pais como para os filhos”.

529
PAIXAO P E L A PUREZA

The Great Works of Christ in America (BTT; 2 volumes, 1.308


páginas; 1979). Iniciada em 1690, completada em 1700, e
publicada pela primeira vez em 1702 como Magnalia Christi
Americana, or, The Ecclesiastical History of New England, esta
sólida historia dos primordios da América em sete “livros” está
repleta de nuances históricas, de memorias biográficas e de
percepções impressionantes sobre a obra de Deus na América.
A obra é sem igual em seu caráter, incluindo “importantes
biografías de governadores e ministros, historias sobre o
Harvard College, sobre os conflitos com os indios americanos
e sobre um grupo seleto de igrejas, e a gravura de “Um mapa
eclesiástico do país” (Oxford DNB, 37.266).
A intenção de Mather é mostrar que a colonia de
Massachusetts demonstrava a execução da vontade de Deus.
Na essência, este é um livro de história da Igreja puritana,
cobrindo grande parte do século dezessete e suprindo um
comentário único sobre muitos dos seus líderes. Barrett
Wendell descreveu este livro como uma das “grandes obras
da literatura inglesa do século dezessete” .
A magnum opus de Mather logo se tornou objeto de
controvérsia. Alguns autores de resenhas enfatizaram erros
históricos de Mather, estilo confuso e linguagem pretensiosa.
Outros a admiraram por sua coerência, seus detalhes e seu
zelo. Entre outros escritores americanos do século 19 Ralph
Waldo Emerson, Nathaniel Hawthorne e Harriet Beecher
Stowe sentiram-se inspirados pela “influência e pelo poder
de sua visão” (ibid).

Help for Distressed Parents (SDG; 36 páginas; 2004). Neste


opúsculo, baseado em Provérbios 10:1, “O filho sábio alegra
a seu pai, mas o filho louco é a tristeza de sua mãe”, Mather
procura realizar duas coisas importantes: a primeira é dar
conselho e conforto aos pais piedosos aflitos por seus filhos
ímpios, e a segunda é persuadir os filhos a não manterem
esses maus caminhos, que só trariam infortúnio a seus pais.

530
Cotton Mather

Este é um opúsculo muito útil para os pais que se sentem


angustiados por seus filhos e filhas pródigos e rebeldes.

Ornaments for the Daughters of Zion; or, The Character and


Happiness of a Virtuous Woman (SF; 128 páginas; 1978). Este
fac-símile é tomado da terceira edição do influente tratado de
Mather. Procura indicar bíblicamente as modas de vestuário,
maquiagem, atitudes e conduta social para as mulheres da
América colonial.

Paterna: The Autobiography of Cotton Mather (SF; 504


páginas; 1978). Mather escreveu esta autobiografía para
registrar “ bom número de experiências e ideias que tive em
meu pobre andar com Deus”, para que seus filhos, Increase
e Samuel, e os amigos, recebessem instrução delas, e para
promover seu autoexame e meditação pessoal. Notavelmente,
esta é a primeira vez que o texto completo foi impresso. Os
estudiosos em geral têm subestimado o seu valor.
Como na outra obra autobiográfica extensa de Mather,
The Diaty, a especificidade concernente a importantes eventos
ocorridos durante a sua vida muitas vezes está ausente nesta.
O editor, Ronald A. Bosco, compensou o desejo de Mather
de não manter o seu leitor informado de significativas datas
e eventos de sua vida provendo um roteiro cronológico
da vida de Mather no prefácio e detalhadas anotações que
acompanham o texto de Paterna.

Selected Letters of Cotton Mather (LUP; 446 páginas; 1971).


Editada por Kenneth Silverman, esta coleção de cartas
apresenta Mather como homem, clérigo e pai. Embora haja
um alto teor devocional nas cartas, talvez seu melhor uso seja
para entendermos melhor o próprio Mather.

The Threefold Paradise of Cotton Mather: An edition of

531
PAIXAO P E L A PU R EZA

“Triparadisus” (UGP, 526 páginas; 1995), Esta impressão


editada de “Triparadisus”, a maior obra colonial sobre o
milênio, contém idéias de Mather sobre os últimos dias e 0
reinado de Cristo. Numa introdução crítica, Reiner Smolinski
mostra que a defesa hermenêutica que Mather faz da religião
revelada procura um acerto entre a posição ortodoxa literalista
dos seus predecessores da Nova Inglaterra e os novos desafios
filológicos feitos às Escrituras por homens tão diferentes entre
si como Hugo Grotius, Thomas Hobbes, Isaac de La Peyrere,
Benedict Spinoza, Richard Simon, Henry Hammond,
Thomas Burnet, William Whiston, Anthony Collins e Isaac
Newton.
Triparadisus mostra a hermenêutica de Mather experimen­
tando uma mudança de uma interpretação futurista das
profecias para uma posição semipreterista quando concorda
com o campo um tanto alegórico de Grotius, Hammond,
Lightfoot e Baxter. A obra propicia importantes percepções
biográficas dos derradeiros anos da vida de Mather e serve
como um importante elo entre o pré-milenismo de Mather
no final do século dezessete e o pós-milenismo de Jonathan
Edwards no Grande Despertamento.

532
Increase Mather
(1639-1723)

I n c re a se M a th e r n asceu no d ia 21 de ju n h o dc 1639 em
D o rc h e s te r, M a ssa c h u se tts. F oi c ria d o c o n fo rm e o e x p lícito
p u r ita n is m o de seu p ai, R ic h a rd M a th e r. E le e s tu d o u sob Jo h n
N o rto n cm B o sto n , d e p o is in g re sso u no H a rv a rd C ollege com
a id a d e de doze an o s e rec e b e u o g rau de B ach a rel em A rtes
em 1656. A lg u n s m eses a n te s da sua g ra d u a ç ã o , su a m ãe, à
m o rte , p e d iu -lh e q u e se to rn a sse m in is tro , m a is ou m e n o s na
m e sm a o casião em q u e ele c h eg o u à c erteza da fé. S eg u in d o
os desejos de sua m ãe, ele p re g o u seu p rim e iro serm ão no dia
cm q u e c o m p le to u d e z o ito an o s de id ad e. S em an as d e p o is, ele
foi p a ra a In g la te rra e d e p o is p a ra a Irla n d a , o n d e com eçou a
e s tu d a r n o T rin ity C ollege, em D u b lin . O b te v e u m g rau de
m e s tre em 1658, e e n tã o p a sso u a p re g a r n a I n g la te rra e na
ilh a d e G u e rn s e y a té à R e sta u ra ç ã o .
M a th e r v o lto u p a ra B o sto n , M a ssa c h u se tts, em 1661.
Seis ig rejas lh e p e d ira m q u e fosse seu p asto r, m as ele p re fe riu
tra b a lh a r com seu p ai em D o rc h e ste r. E m m a rç o de 1662,
M a th e r c aso u -se com M ary, filh a de J o h n C o tto n , e s tre ita n d o
os laços d e u n iã o de d u a s in flu e n te s fa m ília s p u rita n a s .
T iv e ra m sete filh a s e trè s filh o s q u e so b re v iv e ra m à in fân cia.
U m filh o , N a th a n ie l, m o rre u com a id a d e de d eze n o v e anos,
os o u tro s d o is, C o tto n e S am u el, to rn a ra m -s e m in is tro s .

533
PAIXAO PHI,A PIJRHZA

Mather serviu como delegado junto ao Sínodo “do Meio


Termo”, reunido em 1662. Ali ele se opôs a seu pai e a outros
ministros, argumentando contra o Pacto do Meio Termo, a
qual ele achava que enfraquecería o congregacionalismo ao
diminir os padrões para as pessoas se tornarem membros
de igreja. Contudo, por volta da década de 1670, ele ficou
convencido de que as igrejas não prosperariam, a não ser
que os seus padrões concedessem a admissão à comunhão da
igreja a pessoas que não podiam dar claro testemunho de sua
experiência de conversão. Em 1675, ele publicou dois livros
defendendo a Pacto do Meio Termo.
Em 1664, Mather foi chamado para pastorear a Segunda
Igreja “Old North”, em Boston, uma grande congregação de
1.500 membros. Serviu ali quase sessenta anos, até sua morte
em 1723, sendo ele um dos principais ministros da sua geração.
Durante décadas, ele exerceu um papel de liderança em várias
reuniões sinodais que procuravam reformar a Igreja. Ele
presidiu à reunião do Sínodo de Boston de 1680 e escreveu o
prefácio da Confissão de Fé, versão ali produzida da Declaração
de Savoy, sobre a qual houve acordo naquele sínodo.
Nos primeiros dias do seu ministério, Mather acreditava
que a Nova Inglaterra tinha um papel crucial no esperado
crescimento do reino de Deus. Além da Igreja, a própria Nova
Inglaterra era importante, pois somente a Nova Inglaterra
tinha a oportunidade de fazer 0 que Deus queria que fosse
feito, e de servir de inspiração para o mundo. Mather e
outros tinham por essa crença uma paixão escatológica. Por
isso, quando as coisas não corriam bem na Nova Inglaterra
e as igrejas começaram a decair espiritualmente, Mather
esteve profundamente aflito e teve grande temor de que
a Nova Inglaterra deixasse de existir como nação piedosa e
pactuai. Em sua pregação, ele frequentemente comparava a
Nova Inglaterra com Israel, argumentando que, assim como
a aliança de Deus com Seu povo não falhou, assim também a
aliança de Deus com a Nova Inglaterra não falharia.

534
Increase M ather

Na década de 1670, as jeremiadas de Mather, isto é, sermões


de advertência e de chamados ao arrependimento, tornaram­
-se mais específicas. Na década de 1660, ele tivera a tendência
de criticar a colonia em geral por seu fracasso, mas na de 1670,
ele focalizou elementos particulares dentro da colonia que ele
considerava responsáveis pelo declínio espiritual, elementos
tais como negociantes, marinheiros e jovens, que tinham
menor probabilidade de honrar a aliança.
O filho de Increase Mather, Cotton, uniu-se a seu pai no
ministério pastoral em 1683. Juntos eles defendiam a velha
teocracia puritana e a ordem estabelecida na Igreja e no Estado.
Este conservadorismo levou a um problema com o governo
durante o período da Restauração. Increase Mather favorecia
o governo de Sir William Phips e foi forte oponente de
Edward Randolph e de Sir Edmund Andros sobre a revogação
da carta-régia de Massachusetts e sobre a conduta do governo
real. Em 1688, Mather foi para a Inglaterra para apresentar
os agravos sofridos por Massachusetts. Depois da Revolução
Gloriosa e da subsequente revolta ocorrida em Massachusetts
contra Andros, ele obteve uma nova carta em 1691, que uniu
a Colônia de Plymouth à da Baía de Massachusetts.
Mather se opôs ao que ele via como um liberalismo
insinuando-se na igreja por meio da ideia de Solomon
Stoddard de que a comunhão podería ser uma ordenança de
conversão.1 Mather achava que a abertura da Ceia do Senhor
para pessoas incrédulas solaparia a pureza da igreja. Ele via
também a restrição quanto aos membros de igreja como o meio
central para manter a experiência puritana que se fazia na Nova
Inglaterra. Depois de 1691, quando a nova carta redefiniu
a cidadania, não mais em termos da relação de membros de
igreja, mas sim em termos de propriedade, ele ficou profunda­
mente angustiado. Ele falava com os jovens, advertindo-os de

1 Λ C e ia v ista c o m o m e io d e c o n v e rsã o : p o r p a rtic ip a r d e la o in c ré d u lo p o d e ría


s e r c o n v e r tid o . N o ta d o tra d u to r.

535
PAIXAO P E L A PUREZA

que não viviam à altura da sua responsabilidade para unir­


-se à igreja. Esses jovens geralmente não eram desordeiros
em seu viver, mas simplesmente não se apresentavam para
unir-se à igreja porque não podiam dar testemunho da sua
experiência de conversão.
Em 1692, Mather desempenhou uma função chave na
redução da histeria pública que acompanhou os julgamentos
das bruxas de Salem. Uma das importantes decisões tomadas
por Mather e por outros ministros puritanos foi não permitir
que o testemunho de certas pessoas acerca da visão de
fantasmas fosse usado como prova contra os acusados. Os
oficiais precisavam de prova mais concreta para colocar
alguém como réu da prática de bruxaria.
Mather e outros ministros acreditavam na possibilidade
da bruxaria e estavam dispostos a ver pessoas julgadas como
bruxas, porém, reprovavam a histeria gerada pelos julgamentos.
Mather preferia que uma bruxa culpada escapasse, a arriscar
condenar à morte uma pessoa inocente. Durante o ano dos
julgamentos das bruxas, ele publicou 0 livro Cases of Conscience
Concerning Evil Spirits, (1692), no qual ele denunciou a “prova
espectral” nos julgamentos das bruxas. O livro desempenhou
um papel chave em levar os julgamentos ao fim, e, de acordo
com Cotton Mather, foi um útil instrumento para pôr termo
às execuções por bruxaria em Massachusetts.2
Depois de 1692, a influência de Mather declinou porque
muitos colonos se opuseram à carta-régia que ele tinha
2 Para o leilor brasileiro é bom lembrar que a condenação da bruxaria era
muito antiga. Era muito comum durante a Idade Média. Na Inglaterra, o
registro mais antigo de condenação da bruxaria deu-se em 1324, quando
a “Dama Alice Kyteler” foi julgada sob a autoridade eclesiástica e secular
do bispo de Ossory (durante a Idade Média, a igreja servia de braço do
Estado, e ele servia de braço da Igreja). A crise sobre a bruxaria ocorrida
na Nova Inglaterra no século dezessete refletiu a crise final que nessa
área ocorreu na Grã-Bretanha. Os julgamentos de pessoas acusadas de
bruxaria obedeciam a leis específicas decretadas ou promulgadas pelo
governo real britânico. Nota do tradutor.

536
Increase Mather

recomendado. Não obstante, Mather continuou poderoso


até o fim. Tornou-se presidente do Harvard College em
1685. Enquanto desempenhou essa função, ele reorganizou e
vitalizou 0 colégio; ele impulsionou a expansão do estudo de
ciência em Harvard, 0 que alargou 0 escopo da escola indo
além de sua função de preparar alunos para o ministério. Em
1701, forças liberais que rejeitavam a ortodoxia calvinista
tiveram sucesso em obter sua exoneração.
Posteriormente, em seu ministério, Mather começou
a focalizar a pregação mais nos eleitos do que na nação.
Retornou à ênfase de seu pai à importância da Igreja, antes
que da nação, quando foi ficando cada vez mais desanimado
com as esperanças de renovação nacional. Ele lamentou que
sua pregação anterior tenha sido demasiado moralista e não
tivesse focalizado Cristo suficientemente.
Mather morreu em 1723 com oitenta e quatro anos
de idade. Muitos prantearam seu passamento, inclusive
Benjamin Colman, antigo inimigo, que disse de Mather: “Ele
foi o patriarca e profeta entre nós, se se pode descrever alguém
assim” (The Prophet’s Death, 1723, p. 32). George Harper
corretamente observa: “Increase Mather foi uma figura
dominante e a voz condutora para o calvinismo ortodoxo
numa época em que o racionalismo estava começando a
solapar os fundamentos religiosos da Colônia da Baía” (“New
England Dynasty”, Christian History, n° 41, p. 21).
Mather escreveu 175 livros e panfletos sobre uma variedade
de assuntos. Publicou uma biografia de seu pai em 1670 eA
Histoiy of the War with the Indians, (1676), logo após a Guerra do
Rei Philip. Escreveu também o livro Remarkable Providences,
(1684), baseado numa obra prévia escrita por outros escritores,
e várias obras sobre o declínio da Nova Inglaterra.

537
PAIXAO P E L A PUREZA

Departing Glory: Eight Jeremiads by Increase Mather (SF;


8 volumes com 1.328 páginas; 1987). O termo jeremiada refere­
-se a um sermão ou a outra obra que relata os infortúnios
de uma era como uma justa penalidade pelos grandes males
sociais e morais, mas mantém a esperança de mudanças que
trariam um futuro mais feliz. O termo deriva do profeta
Jeremias, que atribuía as calamidades de Israel a seu aban­
dono da aliança com Jeová e a seu retorno à idolatria
pagã, denunciava as suas iniquidades religiosas e morais
e convocava o povo ao arrependimento e à reforma a fim
de que Deus o restaurasse o Seu favor e renovasse a antiga
aliança.
O termo tem sido empregado também num sentido mais
amplo, de acordo com Emory Elliott: “Tomando seus textos
de Jeremias e de Isaías, estas orações seguiam - e reescreviam
- uma fórmula retórica que incluía a recordação da coragem
e piedade dos fundadores, lamentando recentes e presentes
males, e clamando por um retorno à conduta e ao zelo originais.
Nos meios eruditos atuais o termo “ jeremiada” expandiu-se
para incluir, não somente sermões, mas também outros textos
que rememoram os familiares tropos da fórmula, tais como
narrativas do cativeiro, renovações da aliança, como também
algumas histórias e biografias” (Cambridge History of American
Literture, 1: 257).
Os fac-símiles deste volume incluem: “The Day of Trouble
is Near”, (1674), “An Earnest Exhortation”, (1676), “Heaven’s
Alarm to the World”, (1682), “Renewal of Covenant”, (1682),
“Returning unto God”, (1684), “Ichabod”, (1702), “Burnings
Bewailed in a Sermon”, (1711), e “Advice to the Children”, (1721).

A History of God’s Remarkable Providences in Colonial


New England (Back Home Industries; 262 páginas; 1997). Esta
obra sobre a providência, publicada pela primeira vez em 1684
e ampliada em 1856, cobre os seguintes tópicos: livramentos
no mar, preservações, histórias de raios e trovões, meditações

538
Increase Mather

filosóficas, eventos sobrenaturais, narrativas sobre demônios


e sobre pessoas possessas, aparições, casos de consciência,
tempestades e juízos. Este livro leve sua origem na mente
de Matthew Poole, que sugeriu que deveria existir uma obra
desse tipo para firmar regras e diretrizes para o registro de
maravilhosos prodígios de Deus. Mather respondeu com este
livro, que não somente estabelece certas regras, mas também
as aplica a vários exemplos. As vezes parece que Mather
exagera os fatos e se torna um tanto hagiografía).

Jeremiads (AMS; 320 páginas; 1985). Estas jeremiadas de


Increase Mather incluem “The Day of Trouble is Near” ;
“Renewal of Covenant” ; “A Call Erom Heaven” ; “The
Greatest Blessing of Primitive Counselors” ; “David Serving
His Generation” ; e “The Surest Way to the Greatest Honor”.

Two Mather Biographies: Life and Deth and Parentator,


ed. William J. Scheick (LUP; 241 páginas; 1989). Esta obra
contém a primeira edição moderna da biografia escrita por
Increase Mather sobre seu pai, Richard Mather. Igualmente
contém a biografia de Increase Mather escrita por seu filho
Cotton Mather. As duas obras foram publicadas com esmero
e propiciam inestimável percepação das vidas de dois dos
patriarcas puritanos da Nova Inglaterra.

539
Richard Mather
(1596-1669)

R ichard Mather nasceu em Lowtown, perto de Liverpool.


Com a idade de quinze anos ele estava preparado para
Oxford, mas seus pais não tinham recursos para enviá-lo para
lá. Em vez disso, Mather tornou-se professor numa escola
secundária em Toxteth Park. Durante a docência, ele morou
com um culto fazendeiro puritano, Edward Aspinwall. Ele
ouvia sermões puritanos e lia os escritos de teólogos puritanos,
e, depois de um período de três anos (dos quinze aos dezoito
anos), teve uma longa e intensa experiência de conversão
“segundo o clássico modelo puritano: tentativas de obedecer à
lei de Deus baseado na justiça própria, desespero ao comparar
seus débeis esforços com os dos santos maduros, e finalmente
uma iluminação”, quando o Espírito Santo derramou as
promessas evangélicas em sua alma (George W. Harper, “New
England Dynasty”, Church History, n41 .‫ ״‬, p. 20).
Em 1618, Mather foi estudar no Brasenose College,
Oxford, mas sua educação universitária foi abreviada quando
o povo de Toxteh lhe pediu que voltasse para lhes ministrar.
Assim, em 1619, Mather foi ordenado na Igreja da Inglaterra
por Thomas Morton, bispo de Chester. Ele pregou em
Toxteh durante quinze anos com crescente sucesso. William
Gellibrand, ministro puritano de Warrington, depois de ouvir

540
Richard M ather

Mather pregar, disse: “Chamem-lhe Matter {Matéria}, pois,


acreditem, este homem tem conteúdo” .
Em 1624, Mather casou-se com Katherine Hoult, de Bury,
Lancashire. Eles tiveram seis filhos homens. Um morreu
durante o parto e quatro se tornaram ministros. Os dois mais
velhos voltaram para a Inglaterra depois de se graduarem em
Harvard, enquanto que Eleazer e Increase se tornaram bem
conhecidos pregadores em Massachusetts.
O sucessor de Thomas Morton, John Bridgeman,
suspendeu Mather em 1633 acusando-o de denegrir as
cerimônias da Igreja da Inglaterra, mas Mather foi restaurado
ao púlpito depois de alguns meses. Mather tinha desenvolvido
idéias não conformistas e defendia idéias congregacionais
sobre o governo da Igreja. Depois que ele foi suspenso uma
segunda vez, em 1634, por recusar-se a usar uma sobrepeliz,
houve pouca esperança de ele ser restaurado ao púlpito.
Por isso John Cotton, Thomas Hooker e outros líderes não
conformistas persuadiram Mather a emigrar para a América.
Em 1635, Mather navegou para a América e se estabeleceu
na colônia da Baía de Massachusetts. No ano seguinte ele
ajudou a fundar a igreja de Dorchester, Massachusetts, onde
ministrou até sua morte, ocorrida em 1669. Como se pode
dizer de muitos emigrantes da primeira geração, Mather se
via como um inglês no exílio devido a problemas na Inglaterra.
Ele não veio para a Nova Inglaterra por não gostar da Ingla­
terra; só não gostava de certas práticas que lhe tornaram
difícil permanecer ali. Para ele, a Nova Inglaterra era a igreja,
em vez de uma localização geográfica.
Mather ajudou a produzir The Bay Psalm Book, (1637),
mas ficou sendo mais conhecido por sua defesa do “Modo
Congregacional” de governo da Igreja nos debates ocorridos
na década de 1640 com Samuel Rutherford, um vigoroso
presbiteriano escocês. Mather projetou uma forma de governo
da Igreja para a colônia da Baía de Massachusetts, a qual, após
modificação feita pelo Sínodo de Cambridge, emergiu como “A
Plataforma de Cambridge sobre 0 Governo da Igreja”, (1648).

541
PAIXAO RELA PUREZA

Mather ficou convencido de que a Nova Inglaterra seria


uma inspiração e um modelo para o mundo. Ele se tornou um
amigo chegado de John Cotton, outro ministro puritano da
Nova Inglaterra da primeira geração. Mas, diferentemente
de Cotton, Mather se opôs firmemente ao que ele via como
tendências antinomistas na Igreja. Ele sustentava uma
Igreja visivelmente pura e defendia uma Igreja com limites,
que exigisse dos candidatos a membros um testemunho de
experiência religiosa.
Cotton achava extremista a posição de Mather. Uma
vez Cotton disse a Mather que era preferível admitir dez
hipócritas na Igreja a excluir um cristão. Mather respondeu
que era preferível manter muitos cristãos fora a admitir um
hipócrita. Para Mather, a pureza visível da Igreja era sinônima
da experiência puritana que se levava a efeito. Se não se pudesse
manter essa pureza, essa experiência falharia.
Pouco depois da morte de sua esposa em 1655, Mather
casou-se com Sarah Cotton, viúva de John Cotton. No fim
da década de 1650 Mather envolveu-se profundamente
na controvérsia batismal que dominou as igrejas da Nova
Inglaterra. Ele participou do Sínodo “do Meio Termo” de 1662
e escreveu um opúsculo defendendo suas conclusões. Também
escreveu dez obras, a maior parte sobre pontos relacionados
com eclesiologia.
Mather foi um vigoroso pregador. “ Seu modo de pregar era
muito direto”, escreveu Cotton Mather sobre a pregação de seu
avô, “visando atirar suas flechas, não acima das cabeças, mas
dentro nos corações dos seus ouvintes. Todavia, ele pregava tão
bíblica e poderosamente, que... ele viu um grande sucesso de
seus labores nas duas Inglaterras (Velha e Nova), na conversão
de muitas almas a Deus” (citado em Harper, p. 20).
Quando estava presidindo uma reunião conciliar de
igrejas em Boston em 1669, Mather sofreu uma crise de
cálculo renal. Voltou para Dorchester, onde morreu uma
semana depois.

542
Richard Mather

Church Covenant: Two Tracts (Arno; 162 páginas; 1972).


Mather não era comum, nem como homem nem como
ministro. Uma coisa extraordinária que ele fez foi assumir
a liderança no estabelecimento do congregacionalismo em
Massachusetts e em defendê-lo contra os críticos.
Muitos puritanos de Massachusetts consideravam suas
igrejas como parte da Igreja da Inglaterra {anglicana}; assim,
não eram congregacionais separatistas. Eles formavam suas
igrejas por meio de pactos ou acordos entre os membros que
tinham dado prova de suas experiências de conversão. Como
“uma companhia dos fiéis reunidos fora do mundo”, uma
igreja congregacional só administrava as ordenanças aos que
eram julgados qualificados. Também a igreja disciplinava os
membros que caíam em pecado. Cada igreja era inteiramente
autônoma; não havia nenhuma hierarquia de bispos sobre
elas. O Novo Testamento não tinha tal hierarquia, diziam os
puritanos; e assim eles tampouco a tinham.
Mather defendia esse sistema sempre que era desafiado.
Alguns dos mais proeminentes críticos eram Samuel
Rutherford e Charles Herle, presbiterianos que atacavam a
autonomia do congregacionalismo, dizendo que cada igreja
deveria ser colocada sob a autoridade de um sínodo. Seu
modelo era 0 presbiterianismo da Escócia.
Mather respondeu a ambos os críticos nas obras publicadas
em Londres, intituladas A Reply to Mr. Rutherford (1647) e A
Modest and Brotherly Answer to Mr. Charles Herle (1644). Ele
acrescentou outras exposições sobre o congregacionalismo
em duas vigorosas obras (aqui reimpressas) publicadas em
1643: An Apology for Church Covenant and Church Government
e Church Covenant Discussed in Answer to Two and Thirty
Questions. Nessas obras Mather explica a base bíblica para as
igrejas congregacionais, embora insistindo em que as igrejas
da Nova Inglaterra permanecessem dentro da grande tradição
da Igreja da Inglaterra, antes de começar o declínio dela.

543
Samuel Mather
(1626-1671)

S amuel Mather nasceu em Much Woolton, Lancashire,


no dia 13 de maio de 1626. Ele emigrou para a Nova
Inglaterra com seus pais, Richard (ver p.541) e Katherine,
e seus três irmãos mais novos, quando tinha nove anos de
idade. Graduou-se no Harvard College, obtendo o grau de
Mestre em Artes em 1643, e foi o primeiro graduado que se
tornou membro do corpo docente.
Mather pregou durante vários anos na Nova Inglaterra,
principalmente para a Segunda Igreja de Boston (North
Church). Finalmente a igreja o chamou para ser seu pastor,
mas ele declinou, preferindo voltar para a Inglaterra, onde, em
1650, foi constituído capelão do Magdalen College, Oxford,
sob a presidência de Thomas Goodwin.
Em 1654, Mather foi enviado numa missão à Irlanda com
o filho de Oliver Cromwell, Henry, e subsequentemente foi
nomeado membro sênior do corpo docente do Trinity College,
Dublin. Dois anos depois ele aceitou um chamado ministerial
para servir como co-pastor junto com Samuel Winter da igreja
de St. Nicholas, Dublin, onde entre os adoradores muitos
exerciam altos cargos públicos. A sua solicitação, ele foi
ordenado como ministro congregacional, o que certamente
indica que ele foi aceito como pregador puritano. Além de

544
Samuel Mather

pregar todo domingo de manhã na igreja de St. Nicholas, a cada


seis semanas ele pregava diante do Lord Deputado Cromwell,
e veio a ser um dos principais clérigos puritanos da Irlanda.
Durante o Protetorado, ele manteve cordiais relações com
teólogos anglicanos, mas depois da Restauração foi ficando
cada vez mais impaciente com as cerimônias anglicanas. Em
1660, ele pregou dois fortes sermões clamando por reforma
de vários ritos anglicanos, inclusive o uso de sobrepeliz, o
sinal da cruz no batismo, o ato de ajoelhar-se ao participar
da Ceia e o de inclinar-se diante do altar. Em consequência,
foi exonerado do seu púlpito e recebeu ordem de entregar as
anotações dos seus sermões. Em vez disso, ele enviou suas
anotações para a Nova Inglaterra, onde eventualmente foram
publicadas, em 1670, por meio da influência de seu irmão
Increase. Esses sermões mostram 0 desenvolvimento de sua
concepção da tipologia, posteriormente documentada em
sua influente obra intitulada The Figures or Types of the Old
Testament, publicada postumamente por seu irmão Nathaniel,
em 1683.
Mather voltou para Lancashire e pregou na área da sua
terra natal até ser expulso em 1662. Ouvindo que a Irlanda era
mais tolerante para com os dissidentes do que a Inglaterra,
ele voltou para Dublin onde pregou a uma congregação em
New Row. Em 1664, ele foi preso por breve tempo por manter
conventículos. Poucos anos depois, ele pregou um sermão
justificando o retirar-se da Igreja da Irlanda, que ele chamou
de “ facção ímpia”, e convocou dissidentes congregacionais,
batistas e presbiterianos para colaborarem com a fé reformada.
Essas convicções foram publicadas postumamente em sua
obra intitulada Irenicum, or, An Essay for Union (1680).
Mather morreu no dia 29 de outubro de 1671, com
quarenta e seis anos de idade, deixando sua segunda mulher,
Hannah, e sua filha, Catherine, que foi fruto do seu primeiro
casamento com uma irmã de Sir John Stevens. Três ou quatro
filhos faleceram antes dele.

545
PAIXAO P E L A PUREZA

The Figures or Types of the Old Testament (Johnson;


585 páginas; 1969). Nos sermões iniciais deste fac-símile
reimpresso da segunda edição desta obra (1705), Mather
mostra por que algumas passagens das Escrituras devem
ser lidas tipológicamente. Depois ele discute as origens e o
valor da exegese feita mediante a tipologia, pondo às claras
as distinções entre a revelação da antiga aliança e da nova
aliança, e mostrando a superioridade do evangelho sobre
a lei. Cristo, diz ele, foi “parcial, embora não plenamente,
revelado” nos “ tipos e sombras da lei” e em outros modos
vetero-testamentários de revelação.
Na seção principal do seu livro, Mather discute os tipos
do Velho Testamento sob duas divisões importantes: “tipos
pessoais” e “tipos reais”. Os tipos pessoais incluem figuras
como Adão, Noé, Melquisedeque, Abraão, Isaque, Jacó e José.
Esta seção inclui discussão sobre “tipos coletivos”, como a
nação de Israel, os nazireus, profetas, sacerdotes e reis. Sob os
tipos reais Mather distingue os “ tipos ocasionais” (tais como
a arca de Noé, a escada de Jacõ, a sarça ardente, e o maná) dos
“tipos perpétuos”, que “tinham um valor mais duradouro e
eram exemplificados pela lei cerimonial do Velho Testamento” .
Mather prossegue e mostra como os princípios e exemplos
morais que ainda têm relevância para nós hoje podem ser
recolhidos dos tipos e figuras instituídos nos tempos do Velho
Testamento (pp. xvi-xix).
Mason Lowance conclui: “Conquanto Mather, à
semelhança de Thomas Shepard, tenha feito muito para
diminuir as diferenças entre as dispensações, ele também
levantou algumas sérias questões acerca da ab-rogação dos
tipos que Shepard tinha considerado mais completamente
em sua obra Theses Sahhaticce {Teses Sabáticas} uma geração
antes” (p. xix).

546
Matthew Mead
(1629-1699)

M a tth e w M ead n aseeu em 1629, em L e ig h to n B uzzard,


B e d fo rd sh ire . E ra filh o de R ic h a rd e J o a n n e M ead.
D e p o is de e s tu d a r no E to n C ollege (1645-1648), M ead foi
e le ito a c a d ê m ic o esp e c ia lista ou p e s q u is a d o r (sch o lar) no
K in g ’s C olleg e, C a m b rid g e (1649), m as re n u n c io u em 1651,
p ro v a v e lm e n te “p a ra e v ita r e x p u lsão p o r re c u sa r c o m p ro m e te r­
-se com a R e p ú b lic a ” .
M e a d c aso u -se com E liz a b e th W alto n , da p a ró q u ia de All
H a llo w s, L o n d re s , em 1655. N esse m e sm o an o ele se to rn o u
p re le to r m a tin a l na St. S u n s ta n a n d A ll S a in ts, S tepney, o n d e
W illia m G re e n h ill era v ig á rio . N o a n o s e g u in te ele se ju n to u
à c o n g reg a ção u n id a q u e G re e n h ill p asto rea v a.
D u r a n te o p e río d o do g o v e rn o de O liv e r C ro m w ell, M ead
id e n tific o u -se com os in d e p e n d e n te s . E m 1658, C ro m w ell
n o m e o u M ead v ig á rio a d ju n to da N ew C h a p e l, S hadw ell,
s itu a d a ñ as p ro x im id a d e s de S te p n e y ; c o n tu d o , M ead p e rd e u
essa p o siç ã o após a R esta u ra ção . E m 1659, M ead to rn o u -s e
p re le to r n a St. B rid e ’s em F le e t S treet.
M e a d e o u tro s sete m in is tro s n ão c o n fo rm ista s p u b lic a ra m
An English-Greek Lexicon em 1661. N a q u e le verão, com o
p re le to r na igreja de St. S e p u lc h re , H o lb o rn , M ead p reg o u

547
PAIXAO P E L A PU R EZA

sete sermões para desmascarar hipócritas e despertar crentes


professos sonolentos. No ano seguinte, eles foram publicados
como The Almost Christian Discovered, que veio a ser a obra
mais popular de Mead; ela tem sido reimpressa numerosas
vezes até hoje. Poucos meses depois da publicação deste
clássico, Mead foi expulso da sua posição como preletor e
de outros cargos por sua não conformidade. Seu sermão de
despedida, The Pastor’s Valediction, exortou seu auditório a
sofrer, antes que se conformar.
Em 1663, Mead estava trabalhando outra vez em Stepney,
provavelmente prestando assistência a Greenhill. A Lei dos
Conventículos e a Lei das Cinco Milhas forçaram-no a sair de
Stepney. Ele vistiou a Holanda, pregando em várias ocasiões
em Utrecht, antes de voltar para a Inglaterra. Em 1669, ele
se tornou formalmente pastor assistente de William Greenhill
em Stepney. Logo depois da morte de Greenhill em 1671, foi
pedido a Mead que 0 sucedesse como pastor. Eoi empossado
por John Owen no dia 14 de dezembro.
Nos últimos vinte e oito anos de sua vida, Mead pregou a
uma congregação independente de Stepney que era anunciada
como a maior de Londres. Sua pregação era altamente
considerada, mas ele enfrentou sua cota de tribulações. Em
1682, Sir William Smith invadiu a igreja de Stepney com uma
forte guarda, pôs abaixo 0 púlpito e quebrou os bancos da
igreja. No ano seguinte, Mead foi preso sob a suspeita de estar
envolvido no complô da Rye House.1Junto com John Owen,
ele foi levado à presença do Conselho Privado. As respostas de
Mead foram tão satisfatórias que 0 rei ordenou a sua soltura.
Contudo, quando o rei James II chegou ao trono, as velhas
acusações foram ressuscitadas. No fim das contas foram
descartadas.
Mead sucedeu a Owen em 1683 como preletor das terças-
1 The Rye House Plot, n o m e d ad o a u m a co n sp iraçã o tra m a d a em I6<S3 p a r a
m a l a r o rei O t a r l e s I l e o d u q u e d e Y o rk . Rve House é o n o m e d o local o n d e
a c o n s p i r a ç ã o íbi p l a n e j a d a . N o t a d o tr a d u to r.

548
M atthew Alead

-feiras de manhã no Pinner’s Hall, posição mantida até sua


morte. Ele apoiou de todo o coração a tentativa que John
Howe fez, em 1690 de unir presbiterianos e congregacionais.
Foi solicitado a Mead que pregasse no culto de inauguração
da “Venturosa União de Independentes e Presbiterianos” .
Ele pregou seu sermão, talvez 0 mais famoso, Iwo Sticks Made
One (1691), baseado em Ezequiel 37:19, no qual salientou que
as divisões não essenciais eram muito desonrosas para Jesus
Cristo. Quando a união se dissolveu, em 1694, em grande
parte devido às alegadas heresias de Daniel Williams, Mead
manteve um papel neutro. Continuou fazendo preleções no
Pinner’s Hall depois que os presbiterianos se retiraram.
Mead morreu com a idade de setenta anos no dia 16 de
outubro de 1699. John Howe, que pregou nos funerais de
Mead, referiu-se a seu amigo como um “ reverendíssimo e
muito laborioso servo de Cristo”.
Mead escreveu vários livros que foram publicados
postumamente, sendo mais notáveis os seguintes: The Young
Man’s Remembrancer, and Youth’s Best Choice (1701), e
Original Sermons on the Jews: and on Falling into the Hands of
the Living God, (1836), agora reimpressos como The Sermons
of Matthew Mead. Mead também esteve muito ocupado como
pai de treze filhos. Seu décimo primeiro filho, Richard
Mead, veio a ser um conhecido médico e ativista político.

The Almost Christian Discovered (SDG; 186 páginas; 1993).


Esta obra mostra vinte maneiras pelas quais uma pessoa
pode ser levada a enganar-se pensando que é cristã, quando na
realidade é “quase cristã” (At. 26:28). Mead explica a necessidade
de autoexame (pp. 126-134), sinais do pecado imperdoável
(pp. 142-146), e motivos para a falta de conforto do crente (pp.
155-163). Ele conclui com três pontos dos quais todo leitor
deve ficar convencido: a natureza má e corrupta do pecado; a

549
PAIXÃO PHI.A PUREZA

miséria e o perigo desesperador dos iregenerados; e a “completa


insuficiência e incapacidade de qualquer coisa que esteja abaixo
de Cristo Jesus de ministrar real alívio” (pp. 163,164).
O propósito duplo deste clássico curto e fácil de ler é sacudir
os crentes nominais, fazendo-os sair da sua complacência, e
confortar os verdadeiros crentes. E preciso exercer cautela
quanto a dar este livro a pessoas recém-convertidas, porque
0 seu conteúdo pode desanimá-las.

A Name in Heaven the Truest Ground of Jo y (SDG; 144


páginas; 2001). Esta reimpressão contém dois discursos: “A
Name in Heaven the Truest Ground of Joy”, sobre Lucas
10:20 (“Alegrai-vos por estarem os vossos nomes escritos nos
céus”), e “The Power of Grace in Weaning the Heart from the
World”, sobre o Salmo 131:2 (“Qual criança desmamada, tal
é a minha alma” ). Augustus Toplady, que resumiu esta obra,
disse dela: “Nada tende tão efetivamente a desmamar a alma de
toda ligação indigna, como o conhecimento de que os nossos
nomes estão escritos no céu” . A natureza prática da substância
e do estilo desta obra seria muito útil para os leitores.

The Sermons of Matthew Mead (SDG; 435 páginas; 1997).


Esta rara coleção inclui cinco sermões sobre a restauração
dos judeus, baseados em Ezequiel, capítulo 37, doze sermões
sobre “ Palling Into the Hands of the Living God”, baseados
em Hebreus 10:31, e um sermão de despedida, baseado em
1 Corintios 1:3. Alguns dos sermões foram transcritos dos
originais escritos à mão pelo próprio Mead, e “trazem a
estampa da mente vigorosa, ampla e devota do autor”.

550
Christopher Ness
(1621-1705)

h r is to p h e r N ess (N esse), m in is tro in d e p e n d e n te , nasceu


C em N o rth C ave, Y o rk sh ire, no d ia 26 de d e z e m b ro de
1621. D e p o is de p a ssa r a lg u m te m p o n a escola se c u n d á ria
de J o h n S eam an , N ess foi a d m itid o n o St. J o h n ’s C ollege,
C a m b rid g e , o n d e o b te v e o g ra u de M e stre em A rte s em 1642.
E le foi v ig á rio a d ju n to com seu tio em S o u th C liff e p reg o u
em H o ld e rn e s s e B everley, o n d e d ep o is foi n o m e a d o d ire to r
d a escola se c u n d á ria , em 1649.
E m 1651, N ess to rn o u -s e re ito r de C o ttin g h a m e, em
1656, p re g a d o r em L eed s. F oi ex p u lso em 1662 pelo A to de
U n ifo rm id a d e e se e n v o lv e u em c o n tro v é rsia com n o tá v eis
a rm in ia n o s da época. Sem d ú v id a , as s e m e n te s da sua ú ltim a
p u b lic a ç ã o , An Antidote Against Arminianism, (1700), foram
p la n ta d a s n a q u e le te m p o .
N o re s ta n te da d éca d a de 1660, N ess se rv iu com o
p ro fe sso r e sco la r e p re c e p to r n o c o n d a d o de Y o rk sh ire, em
C la y to n , M o tle y e H u n s le t. F oi lic e n c ia d o co m o m in is tro
in d e p e n d e n te em L e e d s em 1672, o n d e a b riu u m a igreja dois
an o s m a is ta rd e ; to d a v ia , ele foi e x c o m u n g a d o q u a tro vezes e
c o n d e n a d o p o r p ro m o v e r assem b léias cism áticas. N ess fugiu
p a ra L o n d re s em 1675 p a ra e v ita r p risã o e p re g o u ali a um a

551
PAIXAO PHLA PUREZA

congregação particular em Salisbury Court, na Fleet Street.


Publicou diversas obras sobre teologia prática, tais como The
Crown and Gloiy of a Christian (1676) e A Christian’s Walk and
Work on Earth until He Attain to Heaven (1678), como também
algumas obras antipapais. Talvez a mais notável destas
obras seja uma biografia do papa Inocente (Inocêncio) XI,
The Devil’s Patriarch (1683), cuja edição inteira, segundo o
publicador John Dutton, foi vendida em duas semanas.
Depois de sofrer alguma perseguição após a derrota
do partido Whig,1 Ness fugiu para Londres por um tempo.
Quando voltou, em 1690, estabeleceu um local de reuniões
no Woodmonger’s Hall, Duke’s Place. Ness publicou um
comentário da Bíblia em quatro volumes, A Complete History
and Mystery of the Old and New Testaments (1690-1696). Morreu
no dia do seu aniversário em 1705 e foi sepultado no cemi­
tério localizado em Bunhill Fields.

An Antidote Against Arminianism (SWRB; 130 páginas;


1988). Frequentemente reimpresso através dos séculos, este
pequeno livro tornou-se uma defesa clássica do calvinismo.
Suas quatro seções defendem convincentemente as doutrinas
da predestinação soberana, da expiação particular, da graça
irresistível na conversão, e da perseverança final dos santos.
Ness agrupa ordenadamente mais de 450 textos para dar
suporte à sua causa dentro dos limites desta curta obra. O livro
foi calorosamente recomendado por seu amigo, John Owen,
como também por Matthew Henry.

1 D e r r o t a d o s p a r t i d á r i o s d o p a r t i d o W hig;, u m d o s p artid o s político s m ais


am ig o s da G rã-B re tan h a. O term o é de o rig em e s c o c e s a e Ibi e m p r e g a d o
p e l a p r i m e i r a v e z n o p e r í o d o d o r e i n a d o d e C h a r l e s II. N o t a d o t r a d u t o r .

552
John Norton
(1606-1663)

ohn Norton nasceu em 1606, cm Bishop’s Slortford,


Hertfordshire. Foi filho de William Norton e de Alice
owest. Ingressou no Peterhouse College, Cambridge, em
1620, obtendo o grau de Bacharel em Artes em 1624 e o de
Mestre em Artes em 1627. Depois da graduação ele serviu como
administrador na escola secundaria c como vigário adjunto
na igreja de Storford. Durante esse período, a pregação de
Jeremiah Dykes e de outros puritanos o levaram à conversão.
Como resultado de suas novas convicções puritanas, ele
declinou do generoso sustento dado por seu tío, de urna bolsa
em Cambridge e de um beneficio eclesiástico, preferindo, em
vez disso, estudar teologia e tornar-se capelão na casa de
Sir William Masham, de High Lever, Essex.
A crescente intolerância da Inglaterra para com os
dissidentes levou Norton a emigrar para o Novo Mundo.
Recém-casados, ele e sua esposa preparam-se para embarcar
para a Baía de Massachusetts no mesmo navio em que iría
Thomas Shepard. Uma violenta tempestade frustrou sua
tentativa de partirem da Inglaterra em 1634, mas no ano
seguinte seu navio zarpou sem incidentes. Norton e sua
mulher desembarcaram em Plymouth em outubro de 1635.

553
PAIXAO P E L A PURKZA

Durante todo o inverno ele serviu como ministro da igreja


da Colônia de Plymouth, mas um ano depois os Norton se
estabeleceram em Boston.
A chegada de Norton em Massachusetts coincidiu com a
crise antinomista centrada em Anne Hutchinson. Ela defendia
que a eleição de alguém deveria ser apreendida místicamente
e afirmava que o clero da região, Norton inclusive, ensinava
erroneamente que as obras e os frutos das pessoas são os
meios pelos quais se determina se elas estão entre os eleitos;
consequentemente, dizia ela, Norton e seus colegas estavam
pregando um tipo arminiano de aliança das obras. Além disso,
Hutchinson questionava a autoridade dos ministros, alegando
que as pessoas comuns podiam receber revelações especiais
diretamente de Deus. Tais crenças ameaçavam 0 alicerce da
teologia puritana, e, na verdade, a estrutura social da América
primitiva.
Norton foi membro do Sínodo reunido em 1637, convocado
pelos líderes da colônia para tratar da controvérsia. O Sínodo
denunciou a religião que Hutchinson e seus seguidores
esposavam e a exilou, com o apoio de Norton.
Em 1638, Norton foi empossado como mestre da igreja
de Ipswich, onde Nathaniel Rogers era pastor. Em meio
à década de 1640, Norton foi envolvido nos debates sobre
política eclesiástica na Assembléia de Westminster. Alguns
teólogos de Westminster solicitaram o apoio de vários teólogos
do continente, como William Apollonius, ministro em
Middelburg, que escreveu uma defesa do presbiterianismo.
Independentes como Thomas Goodwin e Philip Nye, citaram
o estilo de ser da Nova Inglaterra, e buscaram apoio de seus
ministros. Norton escreveu um tomo em latim, Responsio ad
totam questionum (1648), que era uma réplica a Apollonius.1
Impresso em Londres e prefaciado por Goodwin, Nye e
Sidrach Simpson, Norton demonstrou a coerência da política

N a m e s m a p á g in a . A p o llo n iu s , A p p o lo n iu s . N o ta d o trad u to r.

554
John Norton

congregacional com a crença e prática continental e deu


apoio aos irmãos dissidentes.
Norton pregou o sermão sobre a eleição para a colônia em
1645. Participou do Sínodo em 1648, que adotou a Plataforma
de Cambridge, a ordem da igreja para as congregações de
Massachusetts. Nesse mesmo ano, Norton publicou A Brief
and Excellent Treatise Containing the Doctrine of Godliness, um
dos seus livros mais proveitosos.
Antes de John Cotton morrer em 1652, ele disse que
Norton deveria sucedê-lo como ministro da Primeira Igreja
de Boston depois de sua morte. Depois de mais de três anos
de controvérsia entre as congregações de Boston e de Ipswich,
ambas as quais queriam Norton como seu pastor, Ipswich
cedeu, e Norton foi ordenado em Boston em 23 de julho de
1656. No mesmo dia, Norton, cuja primeira esposa tinha
falecido, casou-se com Mary Mason, que sobreviveu a ele.
Após a Restauração em 1660, Norton clamou por
reconciliação com a coroa em seu sermão sobre a eleição,
“ Sion the Outcast Healed of Her Wounds”. Em 1662, Norton
e o governador Simon Bradstreet (marido de Anne Bradstreet)
foram para a Inglaterra como deputados de Massachusetts
para apresentarem a Charles II uma petição para confirmar sua
carta-régia e para responder a perguntas sobre como a colonia
deveria tratar os quaeres. Embora o rei tenha assegurado
que a carta seria cumprida, as condições do acordo levaram
os colonos a achar que Norton e Bradstreet tinham feito
concessões demais e com isso tinham prejudicado a colônia,
restringindo os seus direitos. O rei Charles queria restabelecer
o controle da Inglaterra sobre as práticas legais e religiosas da
colônia, e assim exigiu que os procedimentos dos tribunais
fossem mantidos em nome do rei, fez da posse de propriedade
a condição para voto, impôs tolerância para com os dissidentes
religiosos e implementou as Leis de Navegação.
Seis meses depois, em 5 de abril de 1663, Norton morreu,
aparentemente de um derrame, depois de pregar num domingo

555
PAIXAO P E L A PU R EZA

de manhã. O sermão intitulado “The Believer’s Consolation


in the Remembrance of His Holy Mansion Prepared for Him
by Christ”, baseado em João 14:3 e pregado pouco antes de
seu derrame, foi um tanto profético em relação à partida de
Norton. Perto do fim do sermão, ele disse: “Não tenho vivido
tanto, que me envergonhe de viver mais, nem tenho medo de
morrer”. Alguns afirmaram que sua angústia pelas críticas
das colônias contribuía para a sua morte, mas não há prova
que dê suporte a isso.
Norton foi muito conhecido por sua ortodoxia, por seus
escritos e pela perseguição que moveu aos quaeres. Ele até dava
apoio à pena de morte para os quaeres que violassem a ordem
de banimento da colônia. Norton escreveu também opúsculos
teológicos oficiais para a corte geral, mais notavelmente
os seguintes: “The Heart of New England Rent at the
Blasphemies of the Present Generation, Or, a Brief Tractate
Concerning the Doctrine of the Quakers”, (1659) - importante
crítica aos quaeres. Seu tratado, The Ortodox Evangelist, (1654),
é uma explanação crítica e técnica da teologia puritana,
provendo uma compreensão da fé puritana e das crenças do
próprio Norton. Ensinava vigorosamente a “ineficácia da obra
do homem” na salvação, como também os frutos inevitáveis
do amor divino nas vidas dos eleitos de Deus. Ele escreveu
também A Catechistical guide to sinners, and to such converts that
are babes in Christ (1680), um compêndio de doutrina puritana.
Norton lutou pelo coração da adoração: fidelidade à
Bíblia. Ele desconfiava das tendências que influenciavam
a América primitiva, especialmente o crescente volume de
“evidências” ou “provas” de premonições e revelações. Ele
dizia que essas coisas iriam desfazer o país e solapar a obra
de Deus na cidade que ele e outros tinham trabalhado tão
arduamente para fazer prosperar.

556
John Norton

Abel Being Dead, Yet Speaketh (SF; 80 páginas; 1978). Este


livro, que recebe o crédito de ser a primeira biografia escrita
na América, é urna breve historia da vida de John Cotton.
Norton foi amigo íntimo de Cotton, ministro puritano e autor
de mais de quarenta obras. Cotton, ao lado de Thomas Hooker
e de Thomas Shepard, estava na linha de frente da teologia
puritana desta primeira geração. Norton começou sua obra
com estas palavras: “É o privilégio dos que viviam no céu
enquanto viviam na terra, que vivam na terra enquanto vivem
no céu”. Essas palavras foram uma referência à piedade e à
prolifera produção literária de Cotton; apesar de Cotton ter
partido para o seu repouso, ainda falava do túmulo à Nova
Inglaterra em sua linguagem escrita. Dessa forma, 0 título
infere que Cotton, estando morto, como Abel, ainda fala.

557
John Owen
(1616-1683)

ohn Owen, conhecido como o “príncipe dos teólogos


ingleses”, “a figura principal entre os teólogos congrega-
cionais”, “um gênio com cultura erudita em segundo lugar
só em relação a Calvino” e “incontestavelmente, o principal
proponente do alto calvinismo na Inglaterra na segunda metade
do século dezessete”, nasceu em Stadham (Stadhampton),
perto de Oxford. Ele era o segundo filho de Henry Owen,
vigário puritano local. Owen revelou tendências piedosas e de
saber erudito desde criança. Ele ingressou no Queen’s College,
Oxford, com a idade de doze anos e estudou os clássicos,
matemática, filosofia, teologia, a língua hebraica e os escritos
rabínicos. Obteve o grau de Bacharel em Artes em 1632 e o
de Mestre em Artes em 1635. Em sua adolescência o jovem
Owen estudava dezoito a vinte horas por dia.
Pressionado a aceitar os novos estatutos do arcebispo
Laud, Owen saiu de Oxford em 1637. Foi capelão e preceptor
privado, servindo primeiro a Sir William Dormer, de Ascot,
e depois a John Lord Lovelace, em Hurley, Berkshire.
Trabalhou para Lovelace até 1643. Esses anos de capelania lhe
propiciaram muito tempo para estudo, o que Deus abençoou
ricamente. Aos vinte e seis anos de idade, Owen começou

558
JO H N O W EN
PAIXAO P E L A PU R EZA

um período de quarenta e um anos de produção literária que


resultou em mais de oitenta obras. Muitas delas se tornariam
grandes clássicos e seriam grandemente usadas por Deus.
Embora tenha abraçado as convicções puritanas desde a
juventude, faltava a Owen a certeza pessoal da fé, até quando
Deus 0 dirigiu, em 1642, a um culto realizado na igreja de
St. Mary Aldermanbury, Londres. Esperava ouvir Edmund
Calamy pregar, mas um substituto estava no púlpito. Um
amigo de Owen insistiu em que fossem ouvir um ministro
mais famoso a certa distância dali, mas Owen decidiu ficar. O
pregador substituto escolhera para texto do seu sermão, “Por
que temeis, homens de pouca fé?”. Deus usou esse sermão
para levar Owen à certeza da fé. Posteriormente, Owen tentou
em vão saber a identidade daquele pregador.
Em 1643, Owen publicou A Display of Arminianism,
vigorosa exposição do calvinismo clássico que refutou o
arminianismo examinando as doutrinas da predestinação, do
pecado original, da graça irresistível, da extensão da expiação,
e do papel da vontade humana na salvação. Este livro adquiriu
para Owen quase instantâneo reconhecimento, como também
a preferência para morar em Fordham e um cargo pastoral em
Essex. Seu ministério foi bem recebido em Fordham, e muitas
pessoas vinham de distritos distantes para ouvi-lo. Ele também
foi excelente no trabalho de catequizar seus paroquianos e
escreveu dois livros catequéticos, um para crianças e um para
adultos.
Em Fordham, Owen afiliou-se à Solene Liga e Aliança.
Também sucedeu ali que ele recebeu Mary Rooke como
esposa. Dos onze filhos que lhes nasceram, só uma filha
chegou à idade adulta. Depois de um infeliz casamento
com um galês, a filha voltou a morar com seus pais. Pouco
depois morreu de tuberculose.
Quando o titular responsável de Fordham morreu,
os direitos de representação retornaram ao patrono, que
destituiu Owen e nomeou Richard Pulley em seu lugar. Owen

560
John Owen

tornou-se vigário do famoso púlpito da St. Peter’s, Coggeshall


(1646), onde o seu predecessor, Obadiah Sedgwick, tinha
ministrado a quase duas mil almas. Em Coggeshall, graças à
obra de John Cotton, Keys of the Kingdom of Heaven (1644) e
de outras influências políticas, Owen mudou publicamente do
presbiterianismo para congregacionalismo. Ele escreveu sobre
essa mudança em Eshcol; or, Rules ofDirection for the Walking of
the Saints in Fellowship. E também começou a remodelar a sua
igreja segundo os princípios congregacionais.
A fama de Owen espalhou-se rapidamente no final da
década de 1640 por sua pregação e seus escritos, propiciando­
-lhe gradativamente a reputação de proeminente teólogo
independente. Quando ainda estava com trinta e poucos anos
de idade, mais de mil pessoas vinham ouvir seus sermões
semanais. Todavia, muitas vezes Owen se afligiu por ver pouco
fruto dos seus trabalhos. Uma vez ele disse que trocaria toda
a sua cultura pelo dom que João Bunyan tinha de pregar
claramente. E evidente que ele subestimava seus próprios dons.
Foi solicitado a Owen que pregasse diante do parlamento
em várias ocasiões, inclusive no dia seguinte ao da execução do
rei Charles I. O sermão que ele pregou perante 0 parlamento,
sobre Hebreus 12:27, impressionou grandemente Oliver
Cromwell. No dia seguinte Cromwell persuadiu Owen a
acompanhá-lo como capelão à Irlanda para regulamentar as
atividades do Trinity College em Dublin. Owen viajou com
12.000 soldados puritanos de ascendência irlandesa, cantando
salmos. Embora tenha passado a maior parte do seu tempo
no Trinity College reorganizando a escola segundo as linhas
puritanas, Owen também realizou considerável trabalho de
pregação. Ele ministrou às tropas durante o terrível massacre
feito em Drogheda. Esse horrível acontecimento mexeu tanto
com sua alma que, após seu regresso à Inglaterra depois de
uma permanência de sete meses fora, Owen instou com 0
parlamento que tivesse misericórdia dos irlandeses.
Em 1650, Owen foi nomeado pregador oficial do Estado.

561
PAIXAO P E L A PU R EZA

A posição garantiu-lhe alojamentos em Whitehall. Os deveres


consistiam primariamente de pregar nas tardes de sexta-feira
na Whitehall Chapel e de fazer orações diárias nas reuniões
do Conselho de Estado.
No verão de 1650, Owen acompanhou Cromwell em sua
expedição escocesa. Ele assistiu Cromwell na tentativa de
convencer os líderes e o povo da Escócia de que era certo e
correto eliminar a monarquia.
Os anos da década de 1650 foram os mais produtivos de
Owen. Em 1651, ele se tornou deão do Christ Church College,
Oxford, e dezoito meses depois foi feito vice-chanceler da
universidade de Oxford sob a chancelaria de Cromwell. Ele
substituiu Daniel Greenwood, que, sendo presbiteriano,
não era considerado suficientemente favorável ao governo.
Owen presidiu a muitas reuniões da universidade, serviu
como administrador e restringiu os excessos dos estudantes
mundanos. Por meio de suas preleções sobre teologia, ele
promoveu a teologia reformada e a piedade puritana. Ele
instituiu várias juntas para disciplinar a vida religiosa da
universidade. Exigia-se dos estudantes ainda não graduados
que repetissem os sermões de domingo para “algumas pessoas
de reconhecida capacidade e piedade” . Eles deviam ter reuniões
particulares à noite com os seus tutores, e toda casa em que
se hospedavam estudantes devia oferecer frequente pregação.
O próprio Owen pregava normalmente em Christ Church,
em Oxford, e, em domingos alternados com Thomas Goodwin,
em St. Mary’s. Esses sermões foram as sementes dos futuros
tratados sobre mortificação e tentação. Owen era um bom
administrador; sob a sua liderança, o movimento financeiro
da universidade “aumentou dez vezes, seus salários foram
restaurados, seus direitos foram mantidos, seus estudos e sua
disciplina melhoraram” (Mallet, 2:396). A liderança piedosa
de Owen trouxe paz, segurança e crescimento espiritual à
universidade durante a difícil recuperação dos caóticos anos
da guerra civil.

562
John Owen

Em 1653, foi concedido a Owen o grau de Doutor em


Teologia pela universidade. Segundo o seu testemunho pessoal,
isso foi contra os seus desejos. No transcurso da década de 1650,
Owen foi chamado frequentemente a Londres por Cromwell
para resolver uma variedade de disputas e para participar de
várias tentativas relacionadas com o estabelecimento da Igreja.
Owen publicou numerosos livros na década de 1650,
inclusive importantes obras sobre a perseverança dos santos,
a obra satisfatória de Cristo, a mortificação do pecado, a
comunhão com a Trindade, cisma, tentação, e a autoridade das
Escrituras. Em 1658, Owen ajudou a escrever a Declaração de
Savoy. Provavelmente ele foi o autor primário do seu longo
prefácio.
Owen deixou de ser favorecido por Cromwell no último
ano do Protetorado, quando se opôs a que Cromwell se tornas­
se rei. A influência de Owen diminuiu mais quando Cromwell
renunciou à chancelaria e seu filho, Richard, foi designado
para sucedê-lo. Sob a liderança de Richard Cromwell, Owen
e seu grupo logo perderam as suas posições eclesiásticas para
teólogos presbiterianos. Dentro de dois meses, Richard tinha
substituído Owen como vice-chanceler por John Conant,
reitor presbiteriano do Exeter College. Os sermões das tardes
de domingo, de Owen e de Goodwin, em St. Mary’s, foram
abolidos logo depois disso.
Em 1660, Owen foi substituído como Deão da Christ
Church, por Edward Reynolds. Aparentemente, Owen retirou­
-se então para sua pequena propriedade em Stadhampton,
onde continuou a pregar, a despeito da Grande Expulsão
de 1662. Viveu ali em reclusão relativa. Toda posição de
influência lhe fora tirada. Foi-lhe oferecido um bispado como
também lhe foi feito um convite para a igreja de John Cotton,
em Boston, Massachusetts, mas ele declinou de ambos.
Em 1665, Owen foi indiciado em Oxford por manter
conventículos religiosos em sua casa. Ele fugiu e não foi
preso. Contudo, como muitos outros pastores puritanos, ele

563
PAIXAO P E L A PU R EZA

voltou para Londres para pregar depois da Peste e do Grande


Incêndio. Deu início a uma pequena congregação, envolveu­
-se em continuadas batalhas teológicas contra os arminianos
e escreveu diversos panfletos anônimos em favor da liber­
dade religiosa, como também numerosos tratados edificantes
para promover o crescimento espiritual dos crentes. Sua
obra, Indwelling Sin, Exposition of Psalm 130 e o primeiro
tomo do seu volumoso comentário sobre Hebreus, foram
escritos nesse período.
Em 1673, a congregação de Owen em Londres fundiu-se
com 0 grupo a que Joseph Caryl tinha servido como pastor.
David Clarkson e outros puritanos lhe prestaram assistência.
Ele dedicou muito tempo a ajudar ministros independentes,
como Robert Asty e João Bunyan, oferecendo-lhes assis­
tência financeira bem como aconselhamento espiritual.
Isso lhe granjeou 0 título de “príncipe e metropolitano da
independência”.
Em 1674, Owen publicou Pneumatology, um clássico sobre
a obra do Espírito Santo. Dois anos depois, sua esposa morreu.
Em menos de dezoito meses ele casou-se com Dorothy, viúva
de Thomas D’Oyley, de Chislehampton, perto de Stadham.
Nos últimos anos de sua vida, Owen sofreu muito de
asma e de pedra na vesícula biliar, enfermidades que muitas
vezes 0 impediram de pregar. Todavia, continuou escrevendo,
produzindo importantes obras sobre justificação, pensamento
espiritual, e sobre a glória de Cristo. No dia anterior ao de sua
morte, Owen escreveu a um amigo: “Vou estar com Aquele a
quem minha alma ama, ou melhor, que me amou com amor
eterno - sendo Ele a base completa da minha consolação. ...
Estou deixando 0 barco da Igreja numa tempestade; mas,
enquanto 0 grande Piloto estiver nele, a perda de um pobre
elemento de ordem inferior não terá importância. Viva, ore,
tenha esperança e aguarde pacientemente, e não se desanime;
permanece firme a promessa de que Ele nunca nos deixará,
nunca nos desamparará” .

564
John Owen

No dia 24 de agosto de 1683, William Payne, um ministro


puritano de Safron Waldon, chegou para dizer a Owen que
as primeiras folhas da obra Meditations on the Glory of Christ
{A Gloria de Cristo} tinham passado pelo prelo. Erguendo os
olhos e as mãos, Owen respondeu: “Alegra-me ouvir isso; mas,
irmão Payne, chegou afinal o dia por tanto tempo desejado e
esperado em que vou ver essa glória de outra maneira, bem
diferente de como jamais a vi, nem fui capaz de ver, neste
mundo”. Owen foi sepultado em Bunhill Fields, ao lado de
muitos dos seus contemporâneos puritanos.

The Works of John Owen (BTT; 16 volumes, 9.000 páginas;


1996). O conteúdo destes volumes, reimpressos da edição de
Goold, de 1850-1855, inclui os seguintes escritos:
Doctrinal, (volumes 1-5). De particular valor nesta parte
são: On the Person and Glory of Christ (vol. 1); Communion with
God (vol. 2); Discourse on the Holy Spirit (vol. 3); Justification by
Faith (vol. 5). Dominar obras como estas, Spurgeon escreveu,
“é ser um teólogo profundo”.
Practical (volumes 6-9). Especialmente valiosos aqui são
Mortification of Sin, Temptation, Exposition of Psalm 130 (vol.
6); e Spiritual Mindedness {Pensando Espiritualmente} (vol. 7).
Os volumes 8 e 9 são constituídos de sermões. Os volumes
desta parte são próprios para os leigos leiga e trazem grandes
benefícios práticos.
Controversial (volumes 10-16). Dignos de nota são The
Death of Death in the Death of Christ e Divine Justice (vol. 10);
The Doctrine of the Saints’ Perseverance (vol. 11); True Nature
of a Gospel Church e The Divine Original of the Scriptures
(vol. 16). Vários volumes desta parte são de grande valor
histórico (particularmente os escritos contra o arminianismo
e o socinianismo), mas podem ser tediosos para quem não é
teólogo.

565
PAIXAO P E L A PU REZA

A ampla gama de assuntos tratados por Owen, a


perspicácia que há no que escreve, a natureza exaustiva dos
seus estudos doutrinários, a profundidade de sua teologia,
e 0 fervor de sua devoção explicam a alta consideração que
ele desfruta entre os que estão familiarizados com suas obras.
Ocasionalmente Owen pode ser prolixo, mas nunca é árido.
Estes volumes provêm um inapreciável recurso para todos os
que desejam descobrir e explorar o rico legado que um dos
maiores teólogos británicos de todos os tempos nos deixou.
Úteis índices concluem o último volume.
Dúzias de tratados de Owen foram publicadas individual­
mente durante o meio século passado, Mas gostaríamos de
aconselhar os leitores sérios da literatura puritana a deixarem
de lado esses e a comprarem o conjunto de dezesseis volumes
da obras de Owen. Aos que têm dificuldade para 1er Owen,
recomendamos as simplificações resumidas por R.J.K. Law
sobre Communion with God (1991), Apostasy from the Gospel
{Apostasia do Evangelho} (1992), The Gloiy of Christ {A Glória
de Cristo} (1994) e The Holy Spirit (1998), todas publicadas
por Banner of Truth Trust. Brochuras não resumidas dos
dois últimos títulos, com proveitosas introduções de Sinclair
Ferguson, foram publicadas em 2004 pela Christian Focus.

*Biblical Theology (SDG; 912 páginas; 1994). Owen escreveu


vinte e quatro volumes sobre temas bíblicos e devocionais,
inclusive suas Works em dezesseis volumes, sua exposição de
Hebreus em sete volumes, e o volume único intitulado Biblical
Theology. Este livro foi finalmente traduzido do latim por
Stephen Westcott em 1994. Biblical Theology inclui seis livros que
seguem a teologia bíblica de Adão a Cristo. Inclui um apêndice
com a obra de Owen, Defense of Scripture against Fanaticism, que
afirma que a Bíblia é a perfeita, autorizada e completa Palavra de
Deus. Embora Owen tenha considerado esta obra sua magnum
opus, veio a ser uma de suas obras menos conhecidas.
Contudo, como J.I. Packer escreve sobre este livro,

566
John Owen

“Todas as qualidades que esperamos ver era Owen - o


foco em Deus, paixão por Cristo, a honra dada ao Espirito
Santo, a esmagadora profundidade de discernimento da
pecaminosidade e perversidade humana, o interesse pela
santidade, a idéia radical da regeneração, a visão da Igreja
como uma comunidade espiritual que adora, a desconfiança
dos esquemas e estilos filosóficos empregados para lidar com
coisas divinas, a celebração da sabedoria de Deus em dar-nos
as Escrituras na forma em que as temos - vê-se tudo isso aqui.
O presente tratado é a melhor safra de Owen, investigativo e
espiritual, devoto e doxológico, produto de mente magistral
e coração humilde”.
* The Correspondence of John Owen, 1616-1683 (JC; 190
páginas; 1970). Enquanto este livro não foi impresso,
conheciam-se poucas cartas de Owen; admitia-se que não
existiam. Peter Toon aqui nos apresenta grande parte da
correspondência de Owen, incluindo cartas e respostas a Oliver
Cromwell. Conquanto não sejam úteis para uso devocional,
os que estudam Owen apreciarão seu valor histórico. O livro
inclui também um ensaio sobre a vida e a obra de Owen.

*An Exposition of the Epistle to the Hebrews (BTT; 7 volumes,


4.000 páginas; 1985). Esta exposição de Hebreus é o comentário
definitivo da Epístola. Como Thomas Chalmers observou: “Obra
de gigantesca força e tamanho; quem a domina está muitíssimo
perto de ser, tanto no aspecto prático como no doutrinário, um
teólogo erudito e competente”. Bogue e Bennett, em History
of Dissenters, também recomendam esta obra, dizendo: “Se 0
estudante de teologia deveria desprender-se de seu casaco ou
de sua cama para conseguir as obras de Howe, aquele que não
quiser vender sua camisa para obter as obras de John Owen,
especialmente sua Exposição de Hebreus, da qual toda frase
é preciosa, mostra demasiada consideração por seu corpo e
pouquíssima consideração por sua alma imortal” .

567
Edward Pearse
(c. 1633-1673)

d w ard P earse rec e b e u o g ra u d e B a c h a re l em A rte s do St.


E J o h n ’s C ollege em 1654. E m 1657, foi n o m e a d o p re g a d o r
n a St. M a rg a re t’s W e stm in ste r, a h is tó ric a ig reja a d ja c e n te à
A b ad ia de W e stm in ste r, em L o n d re s . N o an o se g u in te ele foi
n o m e a d o p re le to r da A b a d ia de W e stm in ste r.
E x p u lso do o fício em 1660, P earse p ro v a v e lm e n te
c o n tin u o u a v iv e r em L o n d re s . H á escassa e v id ê n c ia de q u e
P earse te n h a re a s s u m id o a p reg aç ão co m o m in is tro d e u m a
con g reg ação d is s id e n te em H a m p s te a d ou p e rto dali.
P e arse m o rre u de tu b e rc u lo s e com cerca de q u a re n ta an o s
de id ad e. Q u a n d o so u b e q u e a m o rte era im in e n te , a b o rre c e u ­
-se p o r te r feito tão p o u c o do q u e te n c io n a v a p a ra 0 S e n h o r,
e o ro u ro g a n d o q u e algo da su a o b ra fosse ú til d ep o is de su a
m o rte .
P ouco se sabe da fa m ília de P earse. O n o m e de su a m u lh e r
era G race, e ele d e ix o u p ro v isã o em seu te s ta m e n to p a ra su a
filh a , S arah, e n tã o com cerca de n o v e an o s de id ad e.

A Beam, of Divine Glory (S D G ; 190 p á g in a s; 1998). E s ta é

568
E dw ard Pearse

a obra-prima de Pearse sobre a imutabilidade de Deus. Nela


ele mostra que a imutabilidade de Deus é o maior conforto
para os santos e o maior terror para os pecadores. Ligado a
esta obra vem um tratado sobre o repouso da alma em Deus,
baseado no Salmo 116:7. Este assunto procede naturalmente
do estudo de Pearse sobre a natureza imutável de Deus e
com ele se harmoniza belamente. A imutabilidade de Deus
é 0 manancial do qual flui o conforto que as almas crentes
encontram nEle.
No prólogo desta obra, John Howe escreve sobre Pearse:
“Enquanto viveu na terra, ele viu muitas mudanças passarem
por ele, tanto em sua pessoa como em suas condições. Isso o
fez aplicar-se à contemplação da imutabilidade de Deus e a
buscar aquele repouso em Deus que não conseguia encontrar
em si mesmo nem em coisa alguma aqui embaixo. Os que
observavam seu espírito percebiam claramente que ele recebia
muita vida e ajuda por meditar muito no santo repouso em
Deus”.

The Best Match (SDG; 216 páginas; 2001). Com o subtítulo,


“União da Alma com Cristo”, esta é a obra mais conhecida
de Pearse. Mostra como Cristo corteja Sua noiva, a Igreja;
o que significa ser esposado por Cristo; e que Cristo é
um grande Esposo para Sua noiva. Pearse trata deste
assunto calorosamente. A obra está carregada de vitalidade
experimental e liberalmente aspergida de exortações inspi­
radas no evangelho. E obra de grande valor espiritual.

569
William Pemble
(1591-1623)

illia m P e m b le , e ru d ito te ó lo g o e a u to r c a lv in is ta , n a sc e u
W filh o de u m clérig o p o b re em 1591, em E g e rto n , K e n t.
R eceb eu su a ed u ca ção no M a g d a le n C ollege, O x fo rd , o n d e
R ic h a rd C ap el, u m p u r ita n o , foi seu p re c e p to r. P e m b le o b te v e
0 g ra u de B a c h a re l em A rte s em 1614 e e n tã o se tra n s fe riu p a ra
0 M a g d a le n H a ll, o n d e se to rn o u u m n o tá v e l le ito r e p re c e p to r
em teologia. R ec e b e u seu g ra u de M e s tre em A rte s em 1618.
P e m b le foi u m b e m d o ta d o e sp e c ia lista em h e b ra ic o .
E le u sava esse c o n h e c im e n to com g ra n d e v a n ta g e m p a ra
e x p lic a r p assag en s d ifíceis das E s c ritu ra s , co m o se vê em
Solom on’s R ecantation a n d Repentance (1627), u m c o m e n tá rio
de E clesiaste s; A Short a n d Sw eet Exposition upon the First
N in e Chapters o f Z a ch a n a h (1629); e The Period o f the Persian
M onarchy (1631), exp licação das p a rte s m a is d e sa fia d o ra s de
E sd ras, N e e m ia s e D a n ie l.
E le foi ta m b é m u m fam oso p re g a d o r e u m e x c e le n te
escrito r. E m A n Introduction to the Worthy R eceiving the
Sacram ent (1628), P e m b le a rg u m e n ta em fav o r d e fre q u e n te
c o m u n h ã o e de c u id a d o so ex am e p essoal. E m Tractatus de
providential D e i (1631), P e m b le e x p lica a p ro v id ê n c ia com o
“ a ação de D e u s n a p re se rv a ç ã o , n o g o v e rn o e n a d isp o siç ã o

570
William Pemble

de todas as coisas, incluindo Seus propósitos intermediários


bem como Seus propósitos finais”.
Em vista de sua ênfase à justificação eterna do pecador
eleito realizada por Deus, algumas vezes Pemble tem sido
chamado “extremo” ou “hiper” calvinista. Essas tendências
aparecem mais claramente em sua obra Vindicia gi-atice (1627),
na qual ele advoga a ideia supralapsária da predestinação,
assevera que a justificação precede a fé, e argumenta que a
santificação opera sem nenhuma assistência do crente devido
à sua natureza corrupta. Richard Baxter posteriormente
criticou Pemble em seus escritos por essas opiniões calvinistas
extremadas.
A filosofia e a geografia eram outros interesses de Pemble,
aos quais ele dedicou diversos livros. Seus esforços na pregação
e sua extrema dedicação aos seus estudos e escritos cobraram
seus direitos sobre seu corpo. Quando visitava o lar de Capei,
seu antigo preceptor, caiu de cama com febre e morreu no dia
14 de abril de 1623.
Todos os escritos de Pemble foram publicados
postumamente, graças aos esforços de Capei. Depois eles
foram coligidos e publicados num só volume em 1635 como
The Works of William, Pemble, que foi reimpresso várias vezes
no século dezessete. Eles influenciaram Richard Baxter com
seu conteúdo contrário ao arminianismo e ajudaram a moldar
as tendências hiper-calvinistas de John Gill e de John Brine.

The Justification of a Sinner: A Treatise on Justification by


Faith Alone (SDG; 257 páginas; 2002). Publicado pela primeira
vez em 1625 como Vindicite Fidei, este livro contém escritos
originalmente apresentados como preleções no Magdalen
Hall, Oxford. Neles Pemble mostra que a fé na consumada
obra de Cristo, é o que justifica o pecador. “Quem satisfaz a
justiça de Deus pelo pecador, Cristo ou nós?”, ele pergunta.

571
PAIXAO P E L A PU R EZA

Ele assevera que o entendimento protestante da justificação


é inconciliável com as posições católico-romana e arminiana.
Pemble refuta a posição de Robert Bellarmino (1542-1621),
o campeão da igreja romana daquela época, descrevendo-a
como “o pilar podre da sinagoga anticristã” (p. 167). Mas ele
também desafia a posição arminiana nos termos esposados
por Socinus, Servetus e Arminius.
Todas as verdades bíblicas essenciais acerca da justificação
estão aqui. Pemble prova que a justificação é pela fé somente,
refutando solidamente a noção arminiana de que a fé
propriamente dita é imputada aos crentes, e não a justiça
de Cristo. Ele mostra que a fé não tem nenhum mérito
para merecer ou obter a justificação, distingue corretamente
entre justificação e santificação (p. 21), e habilm ente
trata das diferenças entre Paulo e Tiago sobre a justificação.
Ele afirma que as boas obras são em parte pecaminosas (p.
134), e nos lembra a ênfase puritana em que a inclinação ou
propensão para pecar é pecado. A culpa do pecado original é
imputada a nós por meio de Adão como nosso cabeça pactuai,
e sua corrupção passa a nós, vinda de Adão como pai de
todos nós.
Embora Pemble confronte as doutrinas errôneas sobre a
justificação existentes no seu tempo, a obra ainda é valiosa
para nós hoje, uma vez que qualquer tratamento bíblico da
doutrina da justificação nunca podería ser totalmente obsoleto.
Além disso, os erros refutados por Pemble não desapareceram.
Temos grande necessidade de um arsenal bíblico de armas
espirituais para combater as heresias modernas que assediam
a Igreja. A obra de Pemble recompensará grandemente o
leitor atento com tais armas.

572
William Perkins
(1558-1602)

W illliam Perkins, filho de Thomas e de Hannah Perkins,


nasceu em 1558 na vila de Marston Jabbett, na paróquia
de Bulkington, Warwickshire. Quando jovem, cedeu a
práticas desordenadas, à profanidade e à embriaguez. Em
1577, ele ingressou no Christ’s College, em Cambridge, como
pensionista, o que dá a ideia de que ele era socialmente da
baixa nobreza. Ele obteve um grau de bacharel em 1581 e um
de mestre em 1584.
Enquanto estudante, Perkins experimentou uma extra­
ordinária conversão, que provavelmente começou quando
ouviu casualmente na rua uma mulher repreender seu filho
desobediente fazendo alusão ao “ beberrão Perkins,” . Esse
incidente humilhou tanto Perkins que ele abandonou seus
maus caminhos e fugiu para Cristo em busca da salvação.
Renunciou ao estudo de matemática e a seu fascínio pela
magia negra e pelo ocultismo, e se dedicou à teologia. Com
o tempo ele se ligou a Laurence Chaderton (1536-1640),
que veio a ser seu preceptor pessoal e amigo para a vida toda.
Perkins e Chaderton se reuniam com Richard Greenham,
Richard Rogers e outros numa irmandade espiritual em
Cambridge que abraçava convicções calvinistas e puritanas.

573
W IL L IA M P E R K IN S
W illiam Perkins

Cambridge era 0 principal centro puritano naqueles dias.


O preparo formal de Perkins foi calvinista dentro de urna
estrutura escolástica. Entretanto, a educação escolástica em
Cambridge foi um tanto modificada por influência de Peter
Ramus. O ramismo tinha obtido apoio dos puritanos devido
à sua praticabilidade. Ramus, um convertido do catolicismo­
-romano, tinha reformado 0 currículo das artes aplicando-o
à vida diária. Ele propôs um método para simplificar todos
os assuntos acadêmicos, oferecendo uma lógica simples,
tanto para a dialética como para a retórica, a fim de torná­
-las fáceis a entender e a memorizar. Chaderton introduziu
primeiramente a obra de Ramus, Art of Logic a alunos de
Cambridge, particularmente a Gabriel Harvey, um preletor
que usou os métodos de Ramus para reformar as disciplinas
de gramática, retórica e lógica no curso de artes.1
Perkins ficou impressionado com a apresentação de
Harvey e a aplicou ao seu manual sobre pregação intitulado
The Art of Prophesying, or a treatise concerning the sacred and only
true manner and method of preaching. O treinamento de Perkins
pelo método de Ramus orientou-o em direção à aplicação
prática, antes que à teoria especulativa, e lhe deu habilidades
para tornar-se um pregador e teólogo popular.
Desde 1584 até sua morte, Perkins serviu como preletor,
ou pregador, na Great St. Andrew’s Church, em Cambridge,
um púlpito muito influente do outro lado da rua do Christ’s
College. Ele serviu também como membro do corpo docente
do Christ’s College de 1584 a 1595. Requeria-se dos membros
do corpo docente que pregassem, fizessem preleções e agissem
como preceptores dos estudantes, atuando como guias para
a aprendizagem e também como guardiães das finanças, da
moral e dos costumes.
No dia 2 de julho de 1595, Perkins renunciou a esse cargo
diretivo para casar-se com uma jovem viúva. Isso motivou

1 M a té r ia s e n tã o n ã o c o n s id e r a d a s p r o p r ia m e n te c ie n tífic a s . N o ta d o tra d u to r.

575
PAIXAO P E L A PU R EZA

Samuel Ward, posteriormente professor de Teologia no


{Colégio} Lady Margaret, a registrar sua reação em seu diário,
dizendo: “Bom Senhor, concede... que não ocorra nenhum
estrago no college”. Homens da estirpe de Ward consideravam
dar testemunho da sua vida exemplar.
Perkins prestou serviço à universidade noutras capacidades.
Foi deão do Christ’s College de 1590 a 1591. Catequizava os
estudantes no Corpus Christ’s College nas tardes de quinta­
-feira, lecionando sobre os Dez Mandamentos de um modo
que impressionava profundamente os estudantes. Nas tardes
de domingo ele trabalhava como preceptor, aconselhando os
que se achavam angustiados espiritualmente.
Perkins tinha excepcionais dons para a pregação e uma
fantástica capacidade de alcançar as pessoas comuns com
pregação e teologia simples e direta. Ele foi pioneiro na casuística
puritana - a arte de lidar com “casos de consciência” mediante
autoexame e diagnose escriturística. Muitos foram convencidos
do pecado e libertados da escravidão sob sua pregação. Os
prisioneiros da cadeia de Cambridge estavam entre os primeiros a
se beneficiarem de sua poderosa pregação. Perkins “pronunciava
a palavra maldição com tal ênfase que deixava um lúgubre eco
nos ouvidos dos ouvintes por um bom tempo”, escreveu Thomas
Fuller. “Muitas pessoas escravizadas, como Onésimo, foram
convertidas a Cristo” (Abel Redevivus, 2:145,146).
Samuel Clarke dá-nos um notável exemplo do cuidado
pastoral de Perkins. Diz ele que um prisioneiro condenado
estava subindo ao patíbulo parecendo meio morto, quando
Perkins lhe disse: “Que é isso, homem? Que é que há contigo?
Estás com medo da morte?” O prisioneiro confessou que tinha
menos medo da morte do que do que viría depois. “Sendo o
que dizes”, disse Perkins, “desce para cá de novo, homem, e
verás o que a graça de Deus vai fazer para te fortalecer”.
Quando o prisioneiro desceu, os dois se ajoelharam juntos,
dando as mãos, e Perkins elevou “uma oração tão eficaz de
confissão de pecados... que fez o pobre prisioneiro explodir

576
William Perkins

em abundantes lágrimas”. Convicto que o prisioneiro foi


“ levado abaixo, até às portas do inferno”, Perkins mostrou­
-lhe o evangelho em oração. Clarke escreve que os olhos
do prisioneiro foram abertos e ele pôde “ver que as negras
linhas de todos os seus pecados foram cruzadas e canceladas
pelas linhas vermelhas do precioso sangue do Seu Salvador
crucificado, aplicando-o tão amorosamente à sua consciência
ferida que o fez romper-se outra vez em novas torrentes
de lágrimas pela alegria da consolação interior que ele
encontrou”. O prisioneiro levantou-se, subiu honrosamente
a escada, deu testemunho da salvação que há no sangue de
Cristo e suportou pacientemente a morte, “como que se vendo
de fato libertado do inferno que antes temia, e o céu aberto
para receber sua alma, para grande regozijo dos espectadores”
(The Marrow of Ecclesiastical History, pp. 416,417).
Os sermões de Perkins eram de muitas “cores”, escreve
Fuller. Pareciam ser “tudo lei, tudo evangelho, tudo afeto, tudo
cruciante, conforme os captavam as diferentes necessidades
das pessoas” . Ele era capaz de alcançar muitos tipos de
pessoas, de diversas classes, sendo “sistemático, erudito,
firme e simples ao mesmo tempo” . Como diz Fuller, “Sua
igreja era constituída da universidade e da cidade; 0 erudito
não poderia encontrar sermões mais instrutivos, os homens
da cidade não poderíam encontrar sermões mais simples”. O
que é mais importante, ele vivia seus sermões. “Assim como
a prédica era um comentário do seu texto, assim também a
sua prática era um comentário da sua prédica”, conclui Fuller
(Abel Redevivus, 2:148,151).
Perkins visava unir a pregação predestinacionista ao viver
prático e experimental. Ele se recusava a ver a relação entre
a soberania de Deus e a responsabilidade do homem como
antagônicas, mas, sim, tratava ambas como “amigas” não
necessitadas de conciliação.
A semelhança de Chaderton, seu mentor, Perkins se
esforçava para purificar a Igreja estabelecida de dentro, antes

577
PAIXAO P E L A PU R EZA

que juntar-se àqueles puritanos que defendiam uma separação.


Em vez de falar da política eclesiástica, ele focalizava o
trato das inadequações pastorais, das deficiências espirituais
e da ignorância destruidora da alma presentes na Igreja.
Com 0 tempo, na qualidade de retórico, expositor, teólogo
e pastor, Perkins tornou-se 0 arquiteto dos princípios do
movimento puritano. Sua visão quanto à reforma da Igreja,
combinada com seu intelecto, sua piedade, sua forma de
escrever, seu aconselhamento espiritual e suas habilidades de
comunicação, capacitaram-no a fixar o tom da ênfase puritana
do século dezessete à verdade experimental e ao autoexame,
e à polêmica que mantinham contra o catolicismo romano e
o arminianismo. A respeito de Perkins, que ficou com a mão
direita inválida, Fuller disse: “Este Eúde, com a pena na mão
esquerda, esfaqueou a causa romana” . Por ocasião de sua morte,
os escritos de Perkins na Inglaterra vendiam mais que os de
Calvino, Beza e Bullinger juntos. Ele “moldou a piedade de
toda uma nação”, disse H.C. Porter (Reformation and Reaction
in Tudor Cambridge, p. 260).
Perkins morreu de complicações de cálculo renal em 1602,
pouco antes do fim do reinado da rainha Elizabeth. Sua mulher,
com quem se casara sete anos antes, estava grávida nessa ocasião;
ela cuidava de três filhos pequenos e pranteava a morte de três
filhos, recentemente vencidos por várias enfermidades. O amigo
mais chegado de Perkins, James Montagu, posteriormente
bispo de Winchester, pregou 0 sermão fúnebre, baseado em
Josué 1:2: “Moisés, meu servo, é morto”. Ward, profundamente
entristecido, escreveu por muitos: “Deus sabe que sua morte é,
provavelmente, uma perda irreparável e um grande juízo sobre
a universidade, visto que não há ninguém que possa tomar seu
lugar”. (M.M. Knappen, ed., Two Elizabethan Puritan Diaries, p.
130). Perkins foi sepultado no cemitério da Great St. Andrew’s.
Sua biblioteca, de considerável porte, foi adquirida por William
Bedell, um dos alunos de Perkins, que veio a ser bispo de
Kilmore and Ardagh.

578
William Perkins

Onze edições dos escritos de Perkins, contendo quase


cinquenta tratados, foram impressos após sua morte.
Seus importantes escritos incluem exposições de Gálatas,
capítulos 1-5, Mateus, capítulos 5-7, Hebreus, capítulo 11,
Judas, e Apocalipse, capítulos 1-3, como também tratados
sobre a predestinação, a ordem de salvação, a certeza da fé,
o Credo dos Apóstolos, a Oração do Senhor, o culto a Deus,
a vida e vocação cristã, o ministério e a pregação, os erros do
catolicismo romano, e os vários casos de consciência. Seus
escritos, popularizados para leitores leigos, são baseados
na Bíblia segundo os princípios de interpretação literal
e contextual estabelecidos pelos reformadores. Eles são
prática e experimentalmente calvinistas, continuadamente
focalizando motivos, desejos e aflições do coração e da vida
dos pecadores, sempre visando encontrar e seguir as veredas
da vida eterna. Quanto à ênfase pietista, Perkins emprega
usualmente o método ramista que apresenta a definição do
assunto e sua divisão posterior, frequentemente por meio
de dicotomías, adentrando gradativamente mais títulos ou
tópicos, aplicando cada verdade exposta.
A influência de Perkins persistiu por meio de teólogos
como William Ames (1576-1633), Richard Sibbes (1577-1635),
John Cotton (1585-1652) e John Preston (1587-1628). Cotton
considerava 0 ministério de Perkins “uma boa razão pela qual
saíram tantos pregadores excelentes de Cambridge, mais do
que de Oxford”. Thomas Goodwin (1600-1680) escreveu que
quando entrou em Cambridge, seis dos seus instrutores que
tinham sentado para ouvir Perkins ainda transmitiam seu
ensino. Dez anos após a morte de Perkins, Cambridge ainda
estava “impregnada pelo discurso de poder do ministério do
Sr. William Perkins”, disse Goodwin.
A tradução dos escritos de Perkins gerou mais discussão
teológica entre a Inglaterra e o continente. J. van der Haar
registra 185 publicações do século dezessete, em holandês,
das obras individuais ou reunidas de Perkins, duas vezes mais

579
PAIXAO P E L A PU R EZA

que a de qualquer outro puritano {From Abbadie to Young:


A Bibliography of English, mostly Puritan, Works, Translated
Ho Dutch Language, 1:96-108). Ele e Ames, seu aluno mais
influente no continente, influenciaram Gisbertus Voetius
(1589-1676) e numerosos teólogos da Nadere Reformatie
{Segunda Reforma Holandesa}. Ao menos cinquenta edições
das obras de Perkins foram impressas na Suíça e em várias
partes da Alemanha. Seus escritos foram traduzidos também
para 0 espanhol, o francês, o italiano, o gaélico, o galês, o
húngaro e o tcheco.
Quase cem homens de Cambridge, que cresceram à
sombra de Perkins, lideraram primitivas migrações para a
Nova Inglaterra, inclusive William Brewster, de Plymouth,
Thomas Hooker, de Connecticut, John Winthrop, da Baía de
Massachusetts, e Roger Williams, de Rhode Island. Richard
Mather foi convertido quando lia Perkins, e Jonathan
Edwards gostava de ler Perkins mais de um século depois.
Samuel Morison observou que “a vossa típica biblioteca da
Colônia de Plymouth compreendia uma Bíblia grande e uma
pequena, a tradução de Salmos feita por Ainsworth, e as obras
de William Perkins, um teólogo favorito” {The Intellectual Life
of New England, 2a edição, p. 134).
“Quem quer que leia os escritos da Nova Inglaterra
primitiva sabe que Perkins foi a mais proeminente
personagem aos seus olhos”, escreveu Perry Miller. Perkins
e seus seguidores foram “os mais citados e respeitados, e os
mais influentes dos autores contemporâneos nos escritos e
nos sermões da Massachusetts primitiva”.

The Works of William Perkins (Sutton Courtenay Press;


646 páginas; 1970). Editado e introduzido por Ian Breward,
este volume contém quinhentas páginas cuidadosamente
selecionadas e extraídas dos escritos de Perkins. Está dividido

580
W illiam Perkins

em quatro seções: escritos teológicos, escritos sobre culto


e pregação, escritos práticos e escritos polêmicos. O livro
todo é prefaciado com uma introdução magistral de 131
páginas, cobrindo cinco tópicos: a vida de Perkins, Perkins
e a Igreja elizabetana, 0 ministério do evangelho, a direção
da consciência, e graça e certeza. Breward era altamente
qualificado para escrever esta introdução, visto que sua
dissertação doutorai foi sobre a vida e a teologia de Perkins.
Breward procura “ilustrar algo da extensão da atividade de
Perkins e da estrutura de sua teologia” com as obras que ele
inclui. Por essa razão, quem quiser apreciar a significação da
obra de William Perkins verá que este é um proveitoso lugar
para começar, embora este volume não substitua a leitura
das obras completas de Perkins no original.

*The Art of Prophesying (BTT; 191 páginas; 1996). Este


livro dá-nos uma exposição clássica da prática puritana de
“profetizar”, isto é, pregar, ou “expor a verdade da Palavra de
Deus”. Três idéias motivaram Perkins a escrevê-lo: a escassez
de pregadores capazes na Inglaterra elizabetana, a provisão
inadequada para o treinamento de ministros, e sua aversão
pelo estilo homilético e pela estrutura dos “anglicanos da Alta
Igreja” {anglicanos-católicos}.
Perkins explica como se deve pregar. Ele apresenta o
método pelo qual se deve interpretar as Escrituras, expõe os
princípios pelos quais se deve expor as Escrituras, e descreve
vários meios pelos quais se deve aplicar as Escrituras aos
diversos tipos de ouvintes. Perkins divide os ouvintes em
sete categorias:
(1 )Incrédulos ignorantes e não ensináveis. E preciso prepará­
-los para aceitarem a doutrina da Palavra ministrando­
-lhes ensino racional e claro, como também reprovando e
aguilhoando as suas consciências.
(2) Incrédulos ignorantes, mas ensináveis. Diz Pekins que
estes precisam ser catequizados nas doutrinas fundamentais

581
PAIXAO P E L A PU R EZA

da religião cristã. Ele recomenda seu livro escrito com esse


propósito, Foundations of the Christian Religion, que cobre os
seguintes assuntos: arrependimento, fé, as ordenanças, a
aplicação da Palavra, a ressurreição, e o juízo final.
(3) Os que têm algum conhecimento, mas ainda não se
humilharam. A estes 0 pregador deve proclamar especialmente
a lei, para despertar dentro deles a tristeza e 0 arrependimento
pelo pecado, seguido pela pregação do evangelho.
(4) Os que se humilharam. O pregador não deve apressar­
-se muito em dar conforto a essas pessoas, mas deve primeiro
determinar se a sua humildade resulta da obra salvadora de
Deus arraigada na fé, ou se vem de mera convicção comum
de pecado. Aos parcialmente humilhados, que ainda não se
despiram da sua justiça própria, diz Perkins que a lei deve
ser apresentada ainda mais, conquanto temperada pelo
evangelho, a fim de que, “aterrorizados com os seus pecados,
e com a meditação no juízo de Deus, juntamente e ao mesmo
tempo recebam consolação pelo evangelho”. Aos plenamente
humilhados, “a doutrina da fé e arrependimento, e os confortos
do evangelho devem ser proclamadas e oferecidas” .
(5) Os que crêem. E preciso ensinar aos crentes as doutrinas
chaves da justificação, da santificação da perseverança,
juntamente com a lei como norma de conduta, antes que
como aguilhão e maldição. “Antes da fé, deve-se pregar a lei
com a maldição; depois da conversão, a lei sem a maldição”,
escreve Perkins.
(6) Os que caíram, quer na fé quer na prática. Os que se
extraviam na fé, caem no conhecimento ou na compreensão
de Cristo. Se caem no conhecimento, devem receber instrução
na doutrina particular da qual se desviaram. Se falham na
compreensão de Cristo, devem examinar-se por meio das
marcas da graça e então fugir para Cristo como o remédio do
evangelho. Os que caem na prática são os que caem nalguma
conduta pecaminosa. E preciso levá-los ao arrependimento,
pela pregação da lei e do evangelho.

582
W illiam Perkins

(7) Um grupo misto. Não é fácil classificar essas pessoas,


porque são uma combinação dos primeiros seis tipos de
ouvintes. Muita sabedoria é necessária para saber quanta lei
e quanto evangelho se lhes deve apresentar.
A natureza prática desta obra, a linguagem clara com a
qual 0 assunto é apresentado, e a profundidade de visão que 0
autor possui, todas essas qualidades são motivos pelos quais o
leitor deve familiarizar-se com esta valiosa obra.
Esta edição foi extensamente editada por Sinclair
Ferguson para os leitores modernos. Anexado a ela há um
opúsculo intitulado The Calling of the Ministry. Esse opúsculo
apresenta exposições de Jó 33:23-34 e de Isaías, capítulo 6, ñas
quais Perkins direciona o leitor para os deveres do ministro
do evangelho.

*A Commentary on Galatians, editado por Gerald T. Sheppard


(Pilgrim; 700 páginas; 1989). Este volume contém um fac­
-símile do último livro que Perkins escreveu, uma volumosa
obra sobre Gálatas (edição de 1617). Ralph Cudworth, editor
póstumo de Perkins, acrescentou um comentário sobre os
últimos capítulos de Gálatas.
Este livro inclui quatro ensaios introdutórios, dois dos
quais refletem sobre as habilidades expositivas de Perkins.
O ensaio escrito por John H. Augustine, “Authority and
Interpretation in Perkin’s Commentary on Galatians”, (pp.
xvii-xlvii), é particularmene perspicaz.

*A Commentary on Hebrews 11, editado por John H.


Augustine (Pilgrim; 300 páginas; 1991). Este volume contém
um fac-símile dos sermões de Perkins sobre Hebreus, capítulo
11 (edição de 1609) e inclui quatro ensaios introdutórios.
Muito útil é o de Richard Muller, “William Perkins and the
Protestant Exegetical Tradition: Interpretation, Style and
Method”, (pp. 71-94).
A obra de Perkins sobre Hebreus, capítulo 11, serve

583
PAIXAO P E L A PU R EZA

como uma janela que nos permite ver como os puritanos


usavam efetivamente ilustrações bibliográficas como modelo
na pregação, tanto na Inglaterra como na Nova Inglaterra.
Ao longo do livro, Perkins funde a doutrina reformada da
justificação divina com o viver santificado.

*The Foundation o f Christian Religion, Gathered into Six


Principles (PA; 40 páginas; 2004). Esta obra foi escrita para
combater a ignorância dos ensinos essenciais do cristianismo,
a fim de que os membros da igreja sejam habilitados, como
escreve Perkins na página de rosto, “a ouvir sermões com
proveito, e a receber a Ceia do Senhor com reconfortante
consolação”. A primeira parte do livro declara seis claros e
fáceis princípios no formato de pergunta e resposta, e dá breve
prova de cada resposta com base na Palavra de Deus. Os seis
princípios falam sobre Deus, sobre a condição decaída, sobre
Jesus Cristo, o caminho da salvação pela fé, os meios de graça,
e 0 estado dos homens após a morte. A segunda parte, também
apresentada catequeticamente, investiga mais completamente
os princípios.

* William Perkins, 1558-1602: English Puritanist. H is Pioneer


Works on Casuistry: “A Discourse o f Conscience” and “The
Whole Treatise o f Cases o f Conscience”, editado por Thomas
Merrill, (DeGraaf; 242 páginas; 1966). Neste volume Merrill
inclui duas obras de Perkins sobre casuística (i.e., que tratam
de “casos de consciência”). A primeira é de natureza teórica.
Seu título completo é: A Discourse of Conscience Wherein is Set
Down the Nature, Properties, and Differences thereof: as also the
Way to Get and Keep a Good Conscience. Foi escrita em grande
parte para ajudar os que lutam com a questão da certeza.
A segunda obra focaliza mais o interesse de Perkins
pelos aspectos individuais e sociais da moralidade cristã.
Merrill observa: “Esta obra preocupa-se com a apresentação
de diretrizes para a solução de dilemas morais típicos que

584
William Perkins

confrontam os cristãos em todas as fases de suas vidas. Visto


que geralmente se reconhecia que o homem era membro
de três sociedades: a família, a igreja e a república, a obra é
dividida em três livros, o primeiro concernente ao “Homem
simplesmente considerado em si mesmo, sem relação a
outrem” ; o segundo, “O homem em sua relação com Deus”, e
finalmente, “O homem em relação aos demais homens”. Nesta
última seção, Perkins discute extensamente questões correntes
em seus dias, tais como “o correto uso do dinheiro, verdade e
falsidade, o correto uso do lazer, a atitude cristã para com a
guerra, votos e promessas, vestuário próprio, a legitimidade
da recreação, política e prudência”.
A arte da casuística tem sido muito negligenciada pela Igreja
moderna. Muitos que se dizem firmemente comprometidos
com a Palavra de Deus esposam, não obstante, o uso de uma
ética subjetiva, situacional e autônoma em casos específicos
de consciência. Contudo, para os cristãos que desejam ser
fiéis a Deus nos detalhes da vida, sem perder de vista as
“questões mais pesadas da lei”, a obra de Perkins é um
bom lugar para começar.

585
Edward Polhill
(c. 1622-c. 1694)

E dward Polhill provavelmente nasceu em 1622 em


Burwash, Sussex. Foi filho de Edward Polhill, Sr., reitor
da paróquia das vizinhanças de Etchingham, e de sua segunda
esposa, Jane, filha de William Newton, de Lewes. O jovem
Edward ingressou no Gray’s Inn em 1638 para estudar direito,
mas depois passou muito tempo cuidando da propriedade de
sua família em Burwash, Sussex, e trabalhando ativamente
nas causas legais e civis locais. Em 1653, ele foi nomeado
juiz do condado de Sussex, supervisionando a assistência a
credores e a prisioneiros. Provavelmente serviu também
como juiz de paz durante alguns anos.
Polhill dedicou muito de suas horas privadas à ler,
analisar e escrever tratados religiosos. Apesar de sentir
afinidade pela teologia puritana e de ter simpatia pelos
ministros não conformistas depois da Restauração, Polhill
parece ter permanecido como membro conformista da Igreja
da Inglaterra.
O primeiro tratado de Polhill, The Divine Will (1673),
incluía um prefácio escrito pelo líder independente, John
Owen. Em sua obra An Answer to the Discourse of William
Sherlock (1675), Polhill defendeu a posição de Owen sobre a

586
E dw ard Polhill

suficiência da fé para a salvação. Sete anos mais tarde, em seu


livro The Samaritan, (1682), Polhill escreveu que “somente a
Igreja da Inglaterra tinha que se culpar pelas divisões que se
estavam processando com os não conformistas moderados por
insistir em condições irracionais para comunhão”. Seu Discourse
of Schism (1694), defende explícitamente os não conformistas
das acusações de cisma (Oxford DNB, 44:742, 743).
Nos anos finais de sua vida Polhill ficou cego. Morreu
no fim de 1693 ou no começo de 1694. Lazarus Seamen, que
dizia que o conhecia desde a sua infância, deu testemunho da
profunda piedade de Polhill, influenciado pelo puritanismo.

The Works o f Edward Polhill (SDG; 359 páginas; 1998).


Nenhuma edição coligida das obras de Polhill existiu até 1844,
da qual esta edição é reimpressa. O livro The Works contém
quatro escritos de Polhill. “A View of Some Divine Truths”,
obra publicada em 1678, é a elaborada defesa que Polhill
faz sobre teologia evangélica. Discute a natureza de Deus, a
justiça, 0 amor, 0 poder, a verdade, a providência, e o dever
do cristão para com uma vida santa. No prefácio de sua obra
Polhill escreveu: “O devotado Pai não podia senão ter satis­
fação em Jesus Cristo; que os nossos corações sempre ardam,
inflamados de amor por Aquele em quem estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” .
A segunda obra, “The Divine Will Considered in Its
Decrees”, publicada em 1673, explica a natureza da vontade
de Deus e os decretos eternos da eleição e da predestinação.
Lamentavelmente, nesse tratado Polhill argumenta em prol
de alguma forma de redenção universal, de modo muito
parecido como o fazem John Davenant e John Preston. John
Owen, que leu a obra de Pollhill, criticou-o nesse ponto,
mas ainda assim recomendou fortemente este livro.
A terceira obra, “Precious Faith Considered in its Nature,

587
PAIXAO P E L A PU R EZA

Working, and Growth”, foi publicada em 1675. Contém


parte do melhor trabalho de Polhill. Em catorze capítulos,
Polhill redige uma crônica da vida da fé, culminando numa
discussão sobre a certeza da fé e sobre como ela é alcançada.
Ele oferece treze ajudas práticas a seus leitores. Polhill con­
clui escrevendo: “Tendo chegado à certeza, que é o passo mais
alto que se pode dar deste lado do céu, o crente pode sentar­
-se com alegria em sua cabeça, e começar aquele cântico sobre
a livre graça e sobre o Cordeiro, cântico que é entoado no
alto, e em tons mais elevados, naquele coro celestial de anjos
e de santos glorificados para sempre e sempre” (p. 324).
A quarta obra, “A Preparation for Suffering in the Evil
Day and in an Evil Day, Showing How Christians are to Bear
Sufferings, and What Graces are Requisite Thereunto”, foi
impressa em 1682. Neste escrito extremamente reconfortante,
Polhill observa que não tem outro propósito senão mostrar
que os cristãos devem suportar sofrimentos, e quais são as
graças necessárias para poderem suportá-los.
Cotton Mather escreveu: “Em Polhill, tudo é evangélico
e valioso”.

588
Matthew Poole
(1624-1679)

M atthew Poole, famoso por seu conciso comentário sobre


a Bíblia, nasceu em York em 1624. Depois de obter 0
grau de Bacharel em Artes do Emmanuel College, Cambridge,
em 1649, ele aceitou um chamado para o ministério numa
paróquia presbiteriana, St. Michael le Queme, em Londres,
onde sucedeu a Anthony Tuckney. Em 1657, Poole obteve 0
grau de Mestre em Artes de Oxford.
Em 1658, Poole publicou o livro A Modelfor the Mantaining
of Students of Choice Abilities at the University, and principally
in order to the Ministry, no qual ele defendeu que certos
estudantes ministeriais deveríam receber auxílio de um fundo
permanente. O plano atraiu considerável atenção. Foi apoiado
por John Arrowsmith, Ralph Cudworth e outros teólogos.
Embora interrompido após a Restauração, esse plano deu a
Poole o reconhecimento geral na Inglaterra, pavimentando
o caminho para a posterior aceitação dos seus escritos.
Depois da Restauração, ocorrida em 1660, Poole publicou
um sermão que já havia pregado diante do prefeito de Londres,
no qual ele afirmou que a liturgia da Igreja da Inglaterra não
deveria ser restabelecida. Em 1662, Poole recusou-se a cumprir
0 Ato de Uniformidade e foi expulso do seu pastorado. Nos

589
M ATTH EW POO LE
M atthew Poole

vinte anos seguintes, aparentemente ele não fez nenhuma


tentativa de reunir uma congregação, mas, em vez disso,
trabalhou sobretudo na solidão.
Durante esse período, Poole escreveu prolificamente. Sua
primeira obra importante foi Synopsis Criticorum aliorumque
Saem Scriptum Interpretum (1669-1676), uma obra de cinco
volumes que constitui uma compilação e resumo do trabalho
de comentaristas bíblicos de todas as épocas e nações. Os
primeiros quatro mil conjuntos da obra foram vendidos
rapidamente, e por volta de 1712 já havia passado por cinco
impressões. O mérito desta obra é, em parte, a sua ampla gama
de colaboradores, incluindo fontes rabínicas e até alguns
comentaristas católico-romanos. O outro ponto forte é a
habilidade que Poole tinha de condensar longos comentários
em incisivas e proveitosas notas. Esta obra, embora famosa
em sua época, nunca foi traduzida do latim para o inglês.
Poole começou a compilar a Synopsis Cúticorum em 1666
e trabalhou nisso todos os dias, durante dez anos. Seu plano
consistia em estudar das 4 da manhã até à ceia da tarde,
parando para comer um ovo cru às 8h30 da manhã e outro
ovo ao meio-dia. De noite visitava amigos.
Depois de completar a Synopsis, Poole iniciou uma pequena
série de anotações em inglês. Hoje, esse comentário, publicado
pela primeira vez como Annotations Upon the Holy Bible, em
1683-1685, só é ultrapassado em fama pelo comentário de
Matthew Henry entre os ministros e leigos reformados.
Poole escreveu muitas vezes contra o catolicismo
romano, particularmente nas obras The Nullity of the Romish
Faith concerning the Church's Infallibility (1666) e Dialogues
Between a Popish Priest and an English Protestant (1667). Não
surpreendentemente, seu nome foi acrescentado à lista dos
que Roma quis destruir na Conspiração Papal, lista publicada
em 1679 por Titus Oates.
Posteriormente nesse ano, Poole e um companheiro
saíram tarde da casa de um amigo certa noite. A caminho de

591
PAIXAO P E L A PU R EZA

casa, numa viela, dois homens estavam à espera para emboscá-


-10. Quando um gritou, “Aí vem ele!”, o outro respondeu,
“Deixemos que se vá, pois há alguém com ele”. Ao chegar em
casa, Poole disse a seu amigo: “ Se você não estivesse comigo,
eu teria sido assassinado esta noite”. Tendo escapado por
pouco do assassinato, Poole decidiu mudar-se para a Holanda.
Ele morreu pouco depois em Amsterdam, possivelmente
envenenado.
Poole foi conhecido pela profundidade da sua cultura,
por seu habilidoso comentário bíblico e por seus dons ligados
à casuística. Calamy escreveu que Poole era “um amigo fiel,
muito rigoroso em sua piedade, e universal em seu caridoso
amor”.

A Commentary on the Whole Bible (BTT; 3 volumes, 3.000


páginas; 1983). O comentário de Poole é claro e conciso. Ele
é um excelente exegeta. Spurgeon comenta: “Poole não é tão
penetrante, claro e talentoso quanto Matthew Henry, mas é,
talvez, mais acurado, menos comentarista e mais expositor” .
Como aconteceu com Henry, Poole não viveu para completar
sua obra. Ele morreu depois de chegar em Isaías, capítulo 58,
em seu trabalho. Felizmente, Poole deixou muitas anotações,
e também sua obra Synopsis Criticorum, das quais foi recolhido
material para terminar o comentário.
O comentário de Poole é um pouco mais curto que o de
Henry e um pouco mais longo que a obra The Dutch Annotations,
muito conhecida na Holanda. Richard Cecil observou: “Os
comentaristas são excelentes nas partes em que as dificuldades
são poucas; mas deixam os nós mais duros sem desatar; mas,
afinal de contas, Poole é incomparável”.
Em nossa opinião, esse é o comentário puritano mais
básico para 0 estudo diário da Bíblia.

592
John Preston
(1587-1628)

T o h n P re s to n n asc e u no d ia 27 de o u tu b ro de 1587 em U p p e r
J H e y fo rd , n a p a ró q u ia de B u g b ro o k e , N o rth a m p to n s h ire .
Seu p ai, u m a g ric u lto r, m o rre u q u a n d o P re s to n tin h a doze
an o s de id a d e . U m tio m a te rn o p ro v e u os e stu d o s de P re s to n no
K in g ’s C ollege (1604-1606) e n o Q u e e n ’s C ollege, C a m b rid g e
(1606,1607), o n d e p rim a ria m e n te e s tu d o u filosofia. D e p o is de
o b te r 0 g ra u de B a c h a re l em A rte s em 1607, P re s to n to rn o u -s e
m e m b ro do c o rp o d o c e n te do Q u e e n ’s (1609) e p re b e n d e iro
da L in c o ln C a th e d ra l (1610). M ais o u m e n o s n essa época, ele
d e c id iu e s tu d a r m e d ic in a e a s tro lo g ia [isto é, a stro n o m ia ],
q u e n e sse te m p o e ra tid a c o m o serv a da m e d ic in a .
E m 1611, P re s to n re c e b e u o g ra u d e M e s tre e m A rtes.
P o u co d e p o is d isso , D e u s le v o u P re s to n à co n v e rsã o p o r
m e io d a p re g a ç ã o de J o h n C o tto n . P re s to n , ju n to co m o u tro s
e s tu d a n te s , v in h a m o u v ir C o tto n p a ra rid ic u la riz a r seu estilo
sim p le s d e ex p o sição . D u r a n te esse p e río d o , C o tto n s e n tiu -s e
le v ad o p o r D e u s p a ra p ro c la m a r u m s e rm ã o sim p le s e d ire to ,
m u ito e m b o ra s a b e n d o q u e n ã o re c e b e ría m u ito aplau so .
S u s p iro u ro g a n d o ao S e n h o r: “ S e n h o r, te n h o c a lc u la d o 0
c u s to , p e rm ite -m e c a lc u la r isto co m o u m a p e rd a p a ra T i” . M ais
ta rd e n e ssa n o ite , P re s to n b a te u à su a p o rta . D e u s lh e tin h a

593
PAIXAO P E L A PU R EZA

dito que uma só coisa era necessária - não uma nomeação


para oratória na corte, nem alguma prática lucrativa como
médico, mas a salvação de sua alma. Veio ter com Cotton
trazendo perguntas penetrantes. Os dois se tornaram amigos
por toda a vida.
Na devida ocasião, 0 Senhor propiciou conforto em Cristo
para o jovem Preston. Ele mudou o rumo dos seus estudos para
0 de teologia, especializando-se em Tomás de Aquino, Duns
Scotus e William de Ockam, seguidos pelos reformadores,
em especial Calvino. Após sua conversão, Preston veio a ser
uma grande influência em vários aspectos notáveis.
Primeiramente, Preston tornou-se um apreciado político.
Obteve inicial atenção da corte real em 1615 por meio do Duque
de Buckingham que desejava fortalecer a influência puritana
na corte. Como capelão da corte, Preston frequentemente
convocava os crentes para “conspirarem” - isto é, para orarem
e jejuarem em tempos de crise política, particularmente
sobre questões debatidas entre os puritanos e os homens da
Alta Igreja {Anglicana-católica}. Ele usava sua influência
também para promover a nomeação de puritanos para ofícios
públicos. Até esse tempo, os puritanos não tinham conseguido
estabelecer 0 governo presbiteriano na Igreja e tinham visto
frustrados os seus esforços políticos. Muitos dos puritanos
mais fortes tinham sido exilados. Mas, sob a influência de
Preston, 0 espírito puritano reviveu politicamente. Na obra
intitulada Prince Charles’s Puritan Chaplain, Irvonwy Morgan
declarou que a real importância de Preston para o movimento
puritano foi na esfera da política (p. 206).
Preston foi também um mestre influente. Como membro
do corpo docente diretivo no Queen’s, ele como preceptor
instruiu numerosos homens que se tornariam pregadores ou
políticos influentes. Em 1622, dois anos depois de obter o
grau de Bacharel em Teologia, Preston tornou-se diretor do
Emmanuel College, em Cambridge, levando consigo doze
alunos do Queen’s, os quais eram frequentemente mencionados
como “doze discípulos”. No ano subsequente, ele foi laureado

594
John Preston

com o grau de doutor em teologia por mandato real.


O trabalho de Preston no Emmanuel veio a fazer parte
do continuado conflito entre o calvinismo e o arminianismo.
Em 1626, Richard Montague, um arminiano, influenciou
a corte levando-a a reunir uma conferência para discutir as
doutrinas da Igreja da Inglaterra com relação aos Cânones de
Dort. Apesar dos esforços de Preston, a conferência decidiu
que a Igreja da Inglaterra não “se apropriaria de nenhuma fé
oriunda de nenhuma vila da Holanda”. Em reação, Preston
motivou vários puritanos a iniciarem uma significativa
guerra de panfletos condenando o arminianismo, que estava
crescendo rapidamente.
Preston treinou seus alunos a iniciarem seus estudos de
teologia pela leitura de teólogos então modernos como Calvino
e sua próprio Sum of Theology, e depois ampliassem seu estudo
pela leitura dos escolásticos e dos Pais da Igreja, invertendo
assim a ordem comumente seguida em seu tempo.
Em sua teologia Preston dava ênfase à aliança (ver sua
obra The New Covenant, or The Saint’s Portion) e à certeza da
fé. Ele ensinava que o mais importante sinal da graça era o
zelo, que ele definia como “ a intenção de todos os santos
afetos e de todas as santas ações”. A suprema “intenção” é
conhecer Cristo e viver para Ele, por amor, Preston dizia.
Tal zelo diferencia o cristão vivo do cristão formal por vitais
impulsos interiores. Em The New Covenant, Preston explicou:
“Muitas vezes uma mulher acha que está com um filho em
seu ventre, mas, se ela não sente nenhum impulso, nenhuma
agitação, tem-se aí um argumento de que ela estava enganada.
Assim, quando um homem acha que tem fé em seu coração,
mas ainda não sente nenhum movimento, nenhuma agitação,
e não há nenhuma obra procedente de sua fé, tem-se aí um
argumento de que ele estava enganado, de que estava iludido
nisso; pois, se houver fé real, ela funcionará, haverá vida e
impulso nela” .
Preston tornou-se também um grande pregador. Por volta

595
PAIXAO P E L A PU R EZA

de 1618, ele foi nomeado deão e catequista do Queen’s College.


Ele pregou uma série de sermões que mais tarde seriam o
alicerce de seu resumo teológico. Esses sermões tornaram­
-se tão populares que quem quer que não fosse membro do
corpo docente ou aluno do college estava proibido de ouvi-los.
Preston começou então uma preleção à tarde na igreja de St.
Botolph, 0 que o colocou em conflito com o Dr. Newcombe,
um comissário do chanceler Ely, que o denunciou como não
conformista. Seguindo uma sugestão de Lancelot Andrewes,
então bispo de Ely, Preston explicou 0 que ele pensava das
orações formais num sermão pregado na igreja de St. Botolph.
Isso silenciou os queixosos.
Em 1622, Preston sucedeu a John Donne (1573-1631)
como pregador na Lincoln’s Inn. Como capelão, Preston
pregava frequentemente diante do rei e da corte. Em 1624, foi­
-lhe oferecido 0 trabalho de preletor na Trinity Church. Essa
nomeação reconquistou para os puritanos a posição de pregação
mais influente em Cambridge, que tivera sua origem em Sibbes.
Foi uma das derradeiras vitórias dos puritanos na corte.
Preston esteve na corrente maior dos “pregadores
espirituais” puritanos, que visava a salvação das almas e a
santificação dos crentes, antes que teorizar sobre teologia.
Richard Sibbes e John Cotton foram mentores de Preston. Por
sua vez, a pregação deste influenciou homens da têmpera de
Thomas Goodwin e Thomas Shepard.
Alguns têm chamado Preston o principal puritano da
década de 1620, primariamente por causa da sua pregação.
Depois de ouvir um sermão de Preston perante o rei, o
bispo Neile reclamou: “Ele falou como alguém que está
familiarizado com Deus”.
Finalmente, Preston tornou-se um escritor de renome.
Seus numerosos livros foram extremamente populares. Onze
volumes de seus sermões foram publicados no período de
uma década após sua morte; alguns destes foram reimpressos
dez ou mais vezes. Surpreendentemente, nenhum publicador

596
John Preston

reformatou seus livros nem lançou um conjunto de muitos


volumes de suas obras.
Os intensos labores de Preston lhe foram pesados; ele
morreu em 1628 com quarenta anos de idade. John Dod,
ministro em Fawsley, pregou em seus funerais; Preston
foi sepultado na igreja de Fawsley. Muitos que haviam sido
beneficiados por seus vários ministérios 0 prantearam.
Preston esposou uma forma de calvinismo modificado e
moderado. Especialmente seus últimos sermões revelam que
ele abraçou o sistema do universalismo hipotético inglês,
ensinando que Cristo morreu por todos, sem exceção, e dando
grande ênfase à responsabilidade humana na relação pactuai.
Ele deu ênfase também a temas mais tradicionais, tais como a
certeza da fé e a necessidade de exame introspectivo anterior
à participação na Ceia do Senhor. Em seu leito de morte,
Preston escolheu quatro homens para serem os editores de
seus escritos, nenhum dos quais ainda tinha sido publicado:
Richard Sibbes, John Davenport, Thomas Goodwin e John
Ball. Inquestionavelmente, o maior legado de Preston “foi a
subsequente enxurrada de edições publicadas dos seus sermões,
por meio dos quais ele continuou a exercer grande influência
sobre “os piedosos” da Inglaterra e da Nova Inglaterra. Suas
obras... foram decisivas no sentido de estabelecerem um
novo gênero espiritual de publicação devocional protestante,
através das edições na língua holandesa, entre outras” (Oxford
DNB, 45:263).

The Breastplate of Faith and Love (BTT; 560 páginas; 1979).


Os sermões escritos de Preston foram quase tão populares
como seus sermões pregados. Este livro consiste de dezoito
sermões (expondo Romanos 1:17; 1 Tessalonicenses 1:3;
Gálatas 5:6) e é rico de instrução espiritual para os que se
dispõem a ler um fac-símile.

597
John Preston

The Golden Scepter Held Forth to the Humble (SDG; 248


páginas; 1990). Baseado em 2 Crônicas 7:14, esta obra discute
a aflição, o quebrantamento, a busca da face de Deus, o voltar­
-se do mal, o perdão e o pecado. Preston conclui: “Sejam
quais forem os pecados de um homem, se ele se humilhar
verdadeiramente por causa deles e os abandonar, ser-lhe-ão
perdoados” (p. 216).
Esta obra de Preston é excelente em ilustrações. Eis um
exemplo: “Aprenda a ver o pecado em suas próprias cores. O
pecado é um mal secreto e invisível, e em si mesmo é difícil
que 0 veja mesmo 0 mais experimentado. Portanto, observe
0 pecado como ele vem vestido de calamidades; e quando o
enxergar por baixo da roupa, você terá outra opinião, diferente
da que tinha antes” (p. 240).

Irresistibleness of Converting Grace (PA; 26 páginas; 2005).


Preston nos propicia uma defesa do ensino reformado
segundo o qual Deus “converte a Si os pecadores de maneira
irresistível”. Depois de explicar os conceitos arminiano e
reformado, Preston mostra que 0 conceito reformado sobre
a irresistibilidade da graça salvadora é bíblico.

The Sain t’s D aily Exercise (WJ; 150 páginas; 1976). O


subtítulo da publicação desta obra em Londres, em 1629, é: “A
Treatise concerning the whole duty of prayer. Delivered in Five
Sermons upon 1 Thessalonians 5:17”. Apesar de ser um fac­
-símile reimpresso, sua instrução prática merece o esforço de
lê-lo. Basta um exemplo no qual Preston responde às objeções
de quem se acha inepto para orar e por isso procura habilitar­
-se para a oração por meio de meditação. Ele aconselha que a
melhor preparação para orar é simplesmente orar de imediato:

A própria prática do dever é a primeira


preparação para isso. Por exemplo, se um homem
tivesse que participar de uma corrida, se lhe fosse

598
John Preston

necessário fazer algum exercício físico, seria


fortalecer 0 corpo, alimentar-se bem, para ter
capacidade, mas 0 uso do exercício propriamente
dito, o próprio ato particular, 0 qual é da mesma
espécie do exercício, é a melhor coisa para habilitá-
-10 para 0 mesmo; assim também neste dever de
oração, é verdade; estar forte no homem interior,
ter muito conhecimento, ter muita graça, tudo
isso capacita o homem e o faz apto para 0 dever,
entretanto, se você falar da preparação imediata para
isso, eu digo: 0 melhor meio de nos prepararmos é
o próprio dever; como todas as ações, da mesma
espécie, aumentam os hábitos, assim também a
oração nos torna aptos para orações; e isso é uma
regra, o caminho para a piedade está dentro do
âmbito da própria piedade, isto é, o meio de crescer
em qualquer graça é o exercício dessa graça.

599
Nathanael Ranew
(c. 1602-1677)

N athanael Ranew foi admitido no Emmanuel College,


Cambridge, em 1617. Graduou-se como Bacharel em
Artes em 1621 e como Mestre em Artes em 1624. Três anos
depois, foi ordenado em Peterborough e se tornou ministro
de St. Andrew Hubbard, Little Eastcheap, Londres, por
volta de 1644. No ano seguinte ele se tornou reitor de West
Hanningfield, Essex. Em 1648, por ordem do parlamento,
foi empossado no vicariato de Felsted, Essex, preenchendo a
vaga deixada pela morte de Samuel Wharton.
Nesse mesmo ano Ranew subscreveu os termos da Solene
Liga e Aliança. Dois anos mais tarde, os examinadores
relataram que ele era “um ministro capaz e piedoso”.
Depois de expulso de Felsted em 1662 por não
conformidade, Ranew se estabeleceu em Billericay. Em 1672,
foi licenciado localmente como mestre na casa de certo Sr.
Finch, local que foi licenciado no mesmo dia como uma casa
presbiteriana de reuniões.
Ranew morreu em Billericay em 1677 e foi sepultado ali.
Edmund Calamy escreveu sobre ele: “Ranew foi um teólogo
criterioso e um bom historiador, e sua conversação era
agradável. Ele era geralmente estimado e valorizado” .

600
Nathanael Ranew

Solitude Improved, by Divine Meditation (SDG; 350 páginas;


1995). Este tratado baseia-se na premissa de que o tempo
passado a sós é proveitoso para meditação. Com o subtítulo,
A Treatise proving the Duty, and demonstrating the Necessity,
Excellency, Usefulness, Natures, Kinds, e Requisites of Divine
Meditation, o livro explica completamente o que é meditação,
por que meditar é dever do crente, e como meditar para
proveito e prazer espiritual.
O livro de Ranew é urna típica obra puritana sobre a
meditação, embora mais longa que a maioria. Diz ele que a
meditação exercita tanto a mente como o coração, porquanto
aquele que medita aborda o assunto com o seu intelecto e
também com os seus afetos. A meditação é um dever diário
que eleva todos os outros deveres da vida cristã. Assim como
o óleo lubrifica o motor, assim também a meditação facilita
0 uso dos meios de graça, tais como a leitura das Escrituras,
ouvir sermões, orar, e outras ordenanças de Cristo. A meditação
aprofunda as marcas da graça, tais como o arrependimento, a
fé e a humildade, e fortalece as relações com Deus, com os
companheiros cristãos e com o próximo em geral.
De acordo com Ranew, há duas espécies de meditação:
ocasional e deliberada. A meditação ocasional toma 0 que
se observa com os sentidos e eleva os pensamentos a uma
meditação celestial. Pode ser praticada a qualquer hora e em
qualquer lugar. Um homem de mentalidade espiritual pode
aprender rapidamente a espiritualizar coisas naturais, pois
os seus desejos vão contra uma mentalidade mundana, que
carnalizam até as coisas espirituais. Todavia, 0 crente precisa
ser cauteloso, governando a sua imaginação pelas Escrituras
quando envolvido em meditação ocasional, a fim de evitar 0
misticismo.
A espécie mais importante de meditação é a meditação
deliberada, diária, na verdade sagrada. A meditação de­
liberada extrai elementos de quatro fontes: as Escrituras, as
verdades práticas do cristianismo, ocasiões (experiências)

601
PAIXAO P E L A PU R EZA

providenciais e sermões. Ranew diz que o crente deve meditar


deliberadamente em tópicos tais como as promessas da
Palavra de Deus, o poder persuasivo do Espírito, a abnegação,
o caráter enganoso do coração, a morte, o juízo, o inferno, e
o céu.
Finalmente, Ranew oferece diretrizes ao crente sobre
como melhorar a sua vida de meditação. Particularmente úteis
são as suas diretrizes específicas para os recém-convertidos,
os cristãos jovens e os crentes mais experientes.

602
Edward Reynolds
(1599-1676)

, d w a rd R e y n o ld s, b isp o de N o rw ic h , n asceu em
‫ ׳‬S o u th a m p to n em 1599. R ece b eu sua e d u ca ção n o M e rto n
C o lle g e , O x fo rd , o n d e o b te v e o g ra u de B a c h a re l e m A rte s
em 1618. T o rn o u -se m e m b ro do c o rp o d o c e n te em 1620,
graças à su a h a b ilid a d e em greg o , n o s d eb ates e em o ra tó ria .
M a is ta rd e , re c e b e u o g ra u d e M e s tre em A rte s (1624) e o
g ra u de D o u to r em T eologia (1648) em C a m b rid g e .
R e y n o ld s to rn o u -s e p re g a d o r n a L in c o ln I n n , L o n d re s , e
u m d o s cap elães do rei em 1622. E m 1628, to rn o u -s e v ig á rio de
A ll S a in ts, N o r th a m p to n ; d e p o is, em 1631, re ito r de B ra u n s to n ,
N o r th a m p to n s h ir e , o n d e p e rm a n e c e u p o r q u ase tr in ta anos.
Q u a n d o irro m p e u a g u e rra civ il, ele o b te v e a re p u ta ç ã o de ser
u m a voz de m o d e ra ç ã o , m o s tra n d o -s e d isp o sto a a c o m o d a r
su as id é ia s à p o lític a da Ig reja. P re s b ite ria n o p o r convicção,
não o b s ta n te q u is m a n te r a u n id a d e da Ig re ja n a c io n a l, e
a rg u m e n ta v a em p ro l de u m a fo rm a u m ta n to m a is b ra n d a
de e p isc o p a d o q u e a c o m o d asse cren ç as p re s b ite ria n a s . E le
e m itiu su as co n v icçõ es n o liv ro A Sermon Touching the Peace
and Edification of the Church (1638).
E m 1643, ele foi d e sig n a d o p a ra s e rv ir com o teó lo g o na
A ssem b leia de W e stm in ste r. E m b o ra fosse de p o u c o falar,

603
PAIXAO P E L A PU R EZA

Reynolds desempenhou um papel importante nos trabalhos


das comissões em prol da Assembléia. Ele foi o único teólogo
que foi membro de todos os três mais importantes comitês
relacionados com a Confissão de Fé: o grande comitê dos
dezenove, com quatro acréscimos posteriores, constituído
para estabelecer os parâmetros; o comitê dos sete, constituído
para esboçar os elementos da primeira composição; e o comitê
dos três, com quatro acréscimos posteriores, para exame
dos textos e edição final. Mais do que ninguém, Reynolds
proveu continuidade através dos vinte e sete meses que foram
necessários para escrever a Confissão. William Barker conclui:
“É uma ironia, porém, que, ao que parece, aquele que contri­
buiu com a maior parte da confissão doutrinária presbiteriana
foi o único teólogo de Westminster a tornar-se bispo depois
da Restauração, e um dos únicos quatro que, tendo sido
ativos na Assembléia, adotaram a posição de conformidade”
(Puritan Profiles, p. 180).
Reynolds serviu também no “Grande Comitê” que
trabalhou com as obrigações pactuais com os escoceses,
no comitê que considerou as “Razões” apresentadas pelos
independentes, e no comitê nomeado para dar resposta ao
parlamento concernente ao direito divino do governo da
Igreja. Repetidamente, a moderação de Reynolds compeliu-o
a lutar para acomodar diferentes facções.
Reynolds foi escolhido para ser deão do Christ Church
College (1648-1651, 1659) e para vice-chanceler da universidade
(de Oxford} (1648-1650). De 1657 a 1661, ele serviu como
vigário de St. Lawrence Jewry, e assim ele foi novamente ouvido
em Londres. Após a morte de Cromwell em 1658, Reynolds
tornou-se um líder do clero presbiteriano. Ele pregou ao
parlamento de Richard Cromwell várias vezes em 1659 e 1660,
aconselhando que as opiniões doutrinárias e políticas radicais
fossem suprimidas, mas que as diferenças sobre questões
secundárias fossem toleradas. Quando da Restauração, ele e
Edmund Calamy foram nomeados capelães do rei.

604
E dw ard Reynolds

Reynolds e outros conformistas presbiterianos foram os


propagadores de um partido da Baixa Igreja permanecendo
leais aos ideais puritanos e tolerando os dissidentes dentro
da Igreja Anglicana. Paul Seaver conclui: “Numa época de
feroz partidarismo, sua vida apresenta, na verdade, uma
figura anti-eróica, mas a popularidade que ele gozava com
os homens da sacristía, em Londres, sugere que a moderação
na doutrina e nos atos era considerada uma virtude por
muitos leigos” (Puritan Lectureships, p. 287).
Em 1661, depois de consultar Calamy, Chalmers e
Baxter, Reynolds aceitou a oferta que o rei lhe fez do bispado
de Norwich, posição que manteve até sua morte, ocorrida
em 1676. Baxter achou que ele aceitou essa posição muito
prontamente, ao passo que o historiador Wood atribuiu o
fato às manobras políticas da mulher de Reynolds. Seja qual
for 0 caso, a aceitação por parte de Reynolds não é incoerente
com o seu caráter e com os seus desejos de conciliação.
Reynolds morreu de cálculos renais em 1676, quando se
encontrava em sua residência episcopal. Sua mulher, Mary,
provavelmente filha de John Harding, presidente do Magdalen
College, Oxford, sobreviveu a ele por sete anos. O casal teve
ao menos duas filhas e um filho, Edward, que serviu durante
quarenta anos como arquidiácono de Norfolk.
Reynolds foi considerado por seus contemporâneos como
um homem de bom critério de julgamento, um pregador bem
dotado, um erudito de considerável talento e um escritor de
estilo claro. Foi autor de mais de trinta livros. Sobre Reynolds
Daniel Neal escreveu: “Ele foi considerado como um dos
homens de púlpito mais eloquentes de sua época, e como um
bom puritano, dos antigos”.

The Works of Edward Reynolds (SDG; 6 volumes, 2.875


páginas; 1992-2000). Reynolds foi altamente estimado como

605
PAIXAO P E L A PU R EZA

pregador. Muitos prezavam seus sermões escritos e seus


tratados religiosos. Coleções de suas obras foram publicadas
pela primeira vez em 1658 e em 1679, seguidas por uma
edição completa, em seis volumes, em 1826. O volume 1
inclui memórias do autor e três tratados: “The Vanity of the
Creature”, “The Sinfulness of Sin”, e “The Life of Christ”.
Sobre os dois primeiros tratados J.I. Packer escreve: “A rara
verdade é que nenhuma disciplina é tão necessária para a
real piedade como a pessoa encarar com profundidade a sua
própria pecaminosidade, que é o que Reynolds nos leva a
fazer”.
O volume 2 apresenta uma detalhada exposição do Salmo
110. Reynolds explica o cetro do reino de Cristo; o caráter
dos Seus súditos; o sacerdócio, as vitórias, os sofrimentos e
a ressurreição de Cristo. Sobre esta obra Spurgeon escreveu:
“ Superiormente clara e elaborada. Reynolds foi um homem
de vasta cultura e de espírito inteiramente evangélico”.
O volume 3 contém sete sermões sobre Oséias, capítulo
14, desvendando o amor soberano de Deus votado a pecadores
indignos, e “Meditations on the Holy Sacrament of the Lord’s
Supper”. E sucinto e rico na explanação que faz sobre a nossa
comunhão com Cristo e sobre como os crentes participam de
Cristo na Ceia. Reynolds começa esta seção dizendo: “Primeiro
tomamos Cristo e depois O comemos. Não há ninguém que
encontre alguma nutrição ou algum sabor no sangue de Cristo,
senão aqueles que O receberam e que, portanto, têm interesse e
propriedade nEle e têm direito a Ele; nosso, primeiro, quanto
à posse e à reivindicação; e, depois, nosso quanto à fruição
e ao conforto” (p. 37).
O volume 4 contém um comentário de 230 páginas de
Eclesiastes, breves meditações sobre a queda e a restauração
de Pedro, e oito sermões. Os sermões sobre abnegação (Mat.
16:24), alegria no Senhor (Fil. 4:4), e “Death’s Advantage”
(Fil. 1:21) são muito práticos.
O volume 5 apresenta vinte e dois sermões que expõem

606
E dw ard Reynolds

a pecaminosidade do homem e exaltam a justiça de Deus.


Alguns destes sermões foram pregados diante do rei ou de
outras autoridades políticas. Dignos de menção são os tratados
sobe a pregação de Cristo (2 Cor. 4:5), a harmonia fraternal
(Fil. 3:15) e a moderação (Fil. 4:5).
O volume 6 contém a obra mais profundamente teológica
de Reynolds, “Treatise on the Passions and Faculties of the
Soul”, que serviu como texto básico para os alunos ainda não
graduados de Oxford até o século dezoito. Em quarenta e dois
capítulos, primeiro Reynolds cobre a memória humana e suas
fraquezas; a imaginação e sua relação com a vontade e com a
razão; e as paixões e como elas podem ser usadas para promover
a virtude. Depois ele focaliza as afeições humanas, como
amor, ódio, desejo, alegria, prazer, tristeza, esperança, ousadia,
temor, ira. Ele analisa a imagem de Deus e a imortalidade da
alma, e então conclui examinando as faculdades da alma, tais
como 0 entendimento, a vontade e a consciência. O livro é
concluído com um sermão pregado nos funerais de Reynolds
por B. Riveley, um seu colega de Norwich.

607
Thomas Ridgley
(1667-1734)

T homas Ridgley nasceu em 1667 em Londres. Ele estudou


num seminário particular de Wiltshire, “presumivelmente
na academia de John Davison, em Trowbridge, e também
em Islington, sob a docência de Thomas Doolittle” (Oxford
DNB,46:934). Depois voltou para Londres, onde foi ordenado
ao ministério em 1695, como assistente de Thomas Gouge
(c. 1665-1700), filho de Robert Gouge. Eles ministraram numa
igreja independente que se reunia em Three Cranes, perto
da Thames Street. Em 1697 surgiram dificuldades, depois
que um ministro visitante teceu alguns comentários políticos
durante preleções feitas em dias da semana à noite. Também,
depois que vieram à tona desacordos entre Gouge e vários
membros da igreja sobre a recepção de certa pessoa como
membro, a saúde de Gouge foi tão afetada pelas controvérsias
que ele morreu em 1700, quando estava com cerca de trinta
e cinco anos de idade.
Ridgley tornou-se o sucessor de Gouge e a congregação
logo se estabilizou sob os seus cuidados. Ele permaneceu
em Three Cranes, Londres, quase quarenta anos. Em seus
derradeiros anos de vida ele teve vários assistentes.
Logo depois de se tornar ministro, foi-lhe solicitado que

608
Thomas Ridgley

fizesse preleções semanais em vários lugares. Ele foi um dos


seis ministros que falavam na Merchant’s Lecture toda terça-
-feira de manhã, no Salters’ Hall. Ele fazia preleções também
nas quintas-feiras à noite na Jewin Street e, durante a maior
parte de sua vida, fez uma preleção à noite para jovens em
muitos domingos em Old Jewry.
Quando Isaac Chauncy, o primeiro preceptor do colégio
independente mais antigo da Grã-Bretanha, morreu em
1712, Ridgley foi seu sucessor como preceptor teológico. Os
estudantes se reuniam na Tenter Alley, em Moorfields. Ali
Ridgley fez detalhadas preleções sobre o Catecismo Maior
de Westminster, cujo conteúdo veio a ser sua magunm opus
quando publicado em 1731. Durante esse período, Ridgley
envolveu-se profundamente na oposição ao arianismo,
que nesse tempo estava começando a aparecer em igrejas
presbiterianas. Contudo, mesmo quando engajado em
polêmica, ele demonstrava a moderação e a compreensão que
também caracterizavam seus escritos.
Ridgley morreu no dia 27 de março de 1734, com sessenta
e sete anos de idade, e foi sepultado em Bunhill Fields. Por
ocasião de sua morte, Ridgley se tornara bastante conhecido
pela profundidade e amplitude do seu pensamento, e tinha
publicado numerosas obras teológicas e muitos sermões. Seu
sucessor na cadeira de teologia foi John Eames, que Isaac
Watts disse que era “o homem mais culto” que ele conheceu.

A Body o f Divinity on the Assembly’s Larger Catechism


(SWRB; 4 volumes em 2, 1.350 páginas; 1993). Esta foi a
obra mais importante de Ridgley, pela qual foi premiado com
o doutorado em teologia pelo King’s College, Aberdeen, em
1728. E incontestavelmente a melhor obra sobre o Catecismo
Maior. Ridgley faz pelo Catecismo Maior 0 que Boston e
Watson fizeram pelo Breve Catecismo: prendendo a mente
do leitor quando visam o coração.

609
PAIXAO P E L A PU R EZA

Há ocasiões em que a obra de Ridgley é excepcional;


por exemplo, veja 0 leitor sua magistral defesa da expiação
limitada baseada nos nomes que Cristo deu aos Seus -
“ovelhas”, “amigos”, “ filhos de Deus” e “igreja” (1:519-522).
Recomendamos de coração esta reimpressão, se bem que a
letra pequena em partes dela é um tanto difícil de ler.

610
Ralph Robinson
(1614-1655)

R alph Robinson, natural de Heswall, Cheshire, recebeu


sua educação no St. Catharine’s College, Cambridge.
Recebeu o grau de Bacharel em Artes em 1639 e o de Mestre
em Artes em 1642. Foi ordenado em St. Mary Woolnoth,
Lombard Street, Londres, em 1643, por um presbitério ad
hoc, convocado por ministros de Londres com esse propósito.
Um dedicado presbiteriano, Robinson instituiu o governo de
presbíteros em sua congregação, em 1646, e no ano seguinte
serviu como secretário da primeira assembléia dos ministros
provinciais de Londres.
Robinson juntou-se aos ministros provinciais no protesto
contra a morte do rei em 1649. Dois anos mais tarde ele foi
detido por envolver-se com a conspiração de Christopher
Love que visava fazer Charles II voltar ao trono. Ele foi
mantido na Torre de Londres por algumas semanas, mas
foi solto antes do julgamento quando prometeu submeter­
-se ao governo. Embora tenha voltado a pastorear St. Mary
Woolnoth, nunca se recuperou plenamente dos efeitos da
prisão. Ele morreu em 1655 com quarenta e um anos de idade
e foi sepultado perto do altar na sua igreja. Simeon Ashe
pregou em seu funeral.

611
PAIXAO P E L A PU R EZA

Robinson era um pregador dedicado, um marido fiel e


um pai devotado. Ele e sua mulher, Mary, só tiveram uma
filha, Rebeca, que morreu com dezessete anos de idade.

Christ All and In All (SDG; 627 páginas; 1992). Esta obra
foi impressa pela primeira vez em 1660, após a morte de
Robinson, sob a direção de Simeon Ashe, Edmund Calamy e
William Taylor. Foi reimpressa em 1834 e em 1868.
O volume contém cinquenta e três sermões sobre Cristo
como a verdadeira vida do crente, e manto, protetor, médico,
luz, pastor, videira, poderoso salvador, orvalho, principal
pedra angular, sol da justiça, ungüento precioso, consolação,
e mirra.
A exposição que Robinson faz deste assunto vai ao cerne
da fé e da certeza do crente. Os editores escrevem em sua
introdução: “Com a exposição que o autor faz das metáforas
das Escrituras que revelam Cristo familiarmente, além das
numerosas noções que raiarão no entendimento, o cristão
sério e reflexivo terá grande proveito em suas meditações
ocasionais” .
A suficiência de nosso Senhor e Salvador é continuamente
questionada hoje em dia. Os leitores da obra de Robinson
certamente terão seus corações aquecidos e suas vidas
desafiadas por sua clara apresentação de Cristo. Em vista da
plena suficiência de Cristo, o pecador só pode ser impressionado
por sua própria insuficiência e sentir-se concitado a unir-se
Àquele que é tudo e em tudo.

612
Richard Rogers
(1551-1618)

R ichard Rogers nasceu em 1551, sendo filho de um


fabricante de móveis em Chelmsford, Essex. Em 1566, ele
foi enviado por um rico patrocinador como sizar,' ao Christ’s
College, Cambridge. Enquanto esteve lá, Rogers experimentou
a agitação gerada pela expulsão de Thomas Cartwright.
Rogers ganhou o grau de Bacharel em Artes em 1571
e o de Mestre em Artes no Caius College em 1574. No ano
seguinte, ele se tornou vigário adjunto de Radminster, em
Essex, e obteve considerável sucesso. Em 1577, foi nomeado
preletor em Wethersfield, Essex, onde permaneceu nos
próximos quarenta anos. Ele estabeleceu um presbitério em
Dedham, organizou reuniões em sua vizinhança para oração
e comunhão espiritual, e dirigiu uma escola em sua casa para
preparar jovens para Cambridge e para o ministério.
Rogers, homem de considerável cultura, teve uma
vida humilde, pacífica e exemplar. Todavia, sofreu muito
por suas idéias não conformistas. Quando as exigências
de conformidade se tornaram muito estritas em 1583, em
consequência dos esforços do arcebispo Whitgift para forçar1
1 Termo derivado de "size”, tamanho, indicando, no caso, lima pequena ajuda
financeira. Nota do tradutor.

613
PAIXAO P E L A PU R EZA

a subscrição de vários artigos da Igreja Estabelecida, Rogers e


outros vinte e seis ministros fizeram petição de abrandamento
ao governo. Todos foram suspensos do ministério enquanto
não prometessem fazer a subscrição e sujeitar-se a plena
conformidade. Só depois que Sir Robert Wroth, homem nobre
de influência, interveio, foi concedida a Rogers a permissão
para pregar novamente.
Em 1603, Rogers foi suspenso outra vez e foi intimado
a comparecer diante do arcebispo. Em seu diário, Rogers
escreveu sobre as suas tribulações: “Grandemente me
inquieta que, depois de labutar entre trinta e quarenta anos no
ministério, agora sou considerado indigno de pregar, enquanto
tantas pessoas ociosas e escandalosas gozam tranquilidade
e liberdade” . O arcebispo morreu no dia dessa nomeação, e
Rogers foi liberado.
Rogers casou-se duas vezes, primeiramente com uma
mulher chamada Bárbara (não se sabe 0 seu nome de família),
com quem ele teve ao menos sete filhos, seis dos quais
sobreviveram a ele. Dois de seus filhos, Daniel e Ezekiel,
tornaram-se ministros puritanos. Sua segunda mulher foi
Susan Ward, viúva de um ministro das vizinhanças. Ele não
teve nenhum filho com ela, mas foi padrasto de seis filhos que
ela tivera de seu primeiro casamento. Destes filhos, mais três -
Samuel, John e Nathaniel - tornaram-se ministros puritanos.
Quando Rogers morreu, em 1618, John Knewstub pregou em
seu funeral. Stephen Marshall foi o sucessor de Rogers em
Wethersfield.
O livro mais conhecido de Rogers, Seven Treatises (1604),
foi reimpresso cinco vezes no século dezessete, mas depois
disso, nunca mais. E uma obra pioneira sobre a casuística
puritana, prática, mostrando que o cristão deve governar
sua vida empregando sete meios: exercendo a vigilância,
praticando a meditação, usando a armadura cristã de Efésios,
capítulo 6, aplicando-se à oração, lendo as Escrituras e
autores piedosos, oferecendo ações de graças, e praticando

614
Richard Rogers

jejum. William Haller escreve: “O livro Seven Treatises foi a


primeira exposição importante do código de conduta que deu
expressão ao calvinismo inglês, ou, falando mais amplamente,
à concepção puritana da vida moral e espiritual. Como tal,
inaugurou uma literatura cujo alcance e influência em todas
as áreas da vida dificilmente será possível exagerar” ( The Rise
of Puritanism, p. 36).
O Diary de Rogers, usado como confessional para proteger­
-se do grande adversário satanás e para comunhão com Deus,
revela seu lamento por não exercitar, coerentemente, as
suas diretrizes diárias. Por exemplo, o registro do seu diário
referente a 12 de setembro de 1587, diz: “Ao meio-dia de hoje
senti forte desejo de desfrutar mais liberdade para pensar em
algumas coisas vãs das quais eu conseguira desapegar-me”
(M.M. Knappen, ed., Two Elizabethan Puritan Diaries, p. 59).
Não obstante, o diário afirma o que Steve Egerton, 0 grande
pregador puritano de Blackfriars, Londres, declarou: Rogers
“labutou muito [pela] conversão de muitos outros; mas
especialmente [pela] mortificação e vivificação da sua própria
alma e consciência” . Giles Firmin, outro contemporâneo,
disse que Rogers não foi um “João Crisóstomo” (isto é, um
orador com boca de ouro), mas era demasiadamente austero
com os profanos. Não obstante concluiu que “Deus não
honrou ninguém nestas partes da Inglaterra mais do que ele
com a conversão de almas” .
O neto de Rogers, William Jenkyn, chamou-o de “o
Enoque de sua época”, no sentido de que ele andava com
Deus e frequentemente lamentava que cada dia não fosse 0
seu último dia. Numa conhecida história sobre Rogers, um
cavalheiro uma vez disse a ele: “Sr. Rogers, gosto muito do
senhor e de sua companhia, só que 0 senhor é preciso demais”.
A resposta de Rogers foi: “Oh, senhor, eu sirvo a um Deus
muito preciso” !

615
PAIXAO P E L A PU R EZA

Judges (BTT; 990 páginas; 1983). Este volumoso fólio sobre


Juizes, publicado em 1615, foi formado de uma coleção de 103
sermões que Rogers pregou à sua congregação de Wethersfield,
em Essex. Sobre esta obra Spurgeon escreveu: “Quanto ao
período puritano, esta é a obra sobre Juizes. E inteiramente
clara e eminentemente prática” .
Os sermões de Rogers sobre Juizes são classicamente
puritanos. Ele apresenta ensino, e logo se apressa a aplicá-lo.
Por exemplo, em seu sermão sobre Juizes 13:25-14:4, Rogers
estabelece a doutrina de que o homem deve solicitar 0 conselho
de seus pais quando vai escolher companhia conjugal. E então
condena imediatamente a desatenção dos filhos nesta questão.
Algumas das doutrinas de Rogers são tão práticas que
dificilmente dá para distingui-las dos “usos” puritanos de
tempos posteriores. Por exemplo, quando Rogers apresenta
sua doutrina na discussão que faz sobre a oposição que os pais
de Sansão fizeram a seu casamento com uma filisteia, ele nos
oferece esta exortação ao dever: “E o exemplo deles dever ser
a nossa instrução, no sentido de que devemos agir como eles
agiram, isto é, que sigamos a luz e 0 conhecimento que temos
da vontade de Deus” (Commentary on Judges, p. 661).
Rogers também insiste com as pessoas sobre a doutrina da
certeza da fé, indicando-lhes a “corrente de ouro” de Romanos
8:29,30 (p. 656). Citando Sansão enchendo-se do Espírito,
Rogers observa que os que são de Deus podem obter a certeza da
sua condição espiritual como eleitos “pelos meios que servem
para a nossa vocação. Assim é que a própria predestinação
se manifesta no devido tempo pela iluminação e abertura do
coração para receber as boas novas da salvação” . Com isso
Rogers leva seu leitor à corrente de ouro tão eloquentemente
descrita por William Perkins. Descobrindo as evidências da
vocação eficaz realizda pelo Espírito, podemos ficar certos do
beneplácito eterno de Deus para conosco.
Esta edição em fac-símile, lindamente produzida, será
grandemente apreciada por todos quantos gostam da pregação
prática.

616
Timothy Rogers
(1658-1728)

T imothy Rogers era filho de John Rogers, um ministro


não conformista que servia na diocese de Durham. Ele
nasceu em Barnard Castle, Durham, no dia 24 de maio de
1658. Seu pai ensinou-lhe os princípios da religião e depois o
enviou à Universidade de Glasgow, na Escócia, onde começou
a preparar-se para o ministério. Ele viveu também por algum
tempo na casa do culto Edward Veel, eminente preceptor
puritano. Veel residia em Wapping e dirigia uma academia
para estudantes ministeriais.
Rogers ingressou no ministério como preletor nos cultos
noturnos, na Crosby Square, Bishopsgate, posição que ele
compartilhou durante vários anos com Thomas Kentish, que
posteriormente ministrou a uma congregação em Southwark.
Rogers adquiriu sólida reputação como pregador enquanto
ministrava suas preleções na Crosby Square, contando com 0
apoio de comerciantes e outros respeitáveis líderes da cidade.
Ele se sentia bem no púlpito, articulava seus pensamentos
com clareza e discursava de maneira notável.
Em 1683, Rogers publicou seu primeiro sermão, Early
Religion, or, The Wayfor a Young Man to Remember His Creator.
O sermão foi motivado pela morte súbita de Robert Linager,

617
PAIXAO P E L A PU REZA

aluno em preparo para o ministério e membro da academia


de Veel. As palavras de Rogers aos que se reuniram para os
funerais foram sobrias: “A vocês, que conheciam o falecido, só
direi isto: agora vocês têm obrigações mais fortes sobre vocês
para se lembrarem do seu Criador que os que tinham antes,
pois, pela morte do seu companheiro, Ele lhes enviou uma
advertência mais próxima e mais calorosa para que vocês se
preparem para a sua própria morte”.
Mais ou menos nessa época, Rogers caiu em depressão
profunda, que durou quase dois anos. Perdeu toda a esperança
da misericórdia de Deus e se considerou “um vaso da ira,
preparado para perdição” (Rom. 9:22). Ele descreveu a condição
de sua mente como uma terra tenebrosa na qual nunca se via
0 sol brilhar. Nada parecia consolar Rogers; ele se sentia preso
numa armadilha. Tempos depois ele escreveu: “Quem pode
descrever a angústia e a tribulação que tais apreensões [do
desprazer de Deus] causam a uma alma desolada e chorosa?”
Noutra ocasião ele disse: “É impossível fazer um relato
completo, pois as minhas tristezas iam além da possibilidade
de expressão”. O sofrimento da sua mente enfraqueceu tanto
0 seu corpo que ele não pôde mais fazer preleções. Muitos
parentes de Rogers padeceram problemas similares, levando
alguns a especularem se a sua doença não seria hereditária.
Muitas pessoas tementes a Deus em todo o país ficaram
sabendo das condições em que Rogers se achava, e oravam
incessantemente por ele. Deus ouviu os seus clamores: a luz
do semblante divino restaurou Rogers, e ele pôde ver o amor
e 0 prazer do Salvador sobre a sua alma. “Deus... realizou uma
dupla salvação para mim”, disse ele.
Rogers recomeçou seu trabalho como preletor,
reconhecendo agradecidamente a bondade de Deus em
restaurá-lo. Em seu primeiro sermão sobre o Salmo 30:3,4
(“ Senhor, fizeste subir a minha alma da sepultura”, etc.),
Rogers declarou: “ Venho à presença de vocês como alguém
que vem dentre os mortos, para não dizer mais” . Ele pregou

618
Timothy Rogers

mais quatro sermões sobre o mesmo texto e os publicou


como Practical Discourses on Sickness and Recovery, em 1690.
Ele dedicou a obra a William Ashurst e a Thomas Lane com
quem ele tinha residido no campo durante os seus “ tempos
atribulados e difíceis”.
Na obra Practical Discourses, Rogers trata primariamente
da reação do cristão às indisposições corporais. Ele adverte
os que estão bem de saúde que não exultem nisso, pois
“aquele que se orgulha de seu corpo é tão tolo como se amasse
cegamente uma flor, que numa tempestade imprevista pode
ser despojada de toda sua glória”. Ele lembra também aos
doentes que sejam agradecidos a Deus por Sua misericórdia:
“Quantos há que estão mortos desde que você ficou doente
pela primeira vez! Quantos ministros excelentes que você não
vai ouvir nunca mais! Quantos dos seus amigos mais queridos
estão agora na fria tumba, com os quais agora você não pode
conversar, e cujos rostos você nunca mais vai ver, até o Grande
Dia... Isso deveria levar-nos a dar adequadas respostas Aquele
Deus que nos poupou quando os levou desta existência”. No
ano seguinte, Rogers publicou A Discourse on Trouble of Mind
and the Disease of Melancholy, no qual ele ofereceu ajudas para
o conforto de almas desalentadas.
Em 1692, Rogers tornou-se assistente de John Shower,
ministro da congregação presbiteriana da Jewin Street. Eles
se transferiram para urna casa de reuniões maior situada na
Old Jewry em 1701. Shower era um brilhante orador puritano
que tinha pregado nos funerais de Mary Doolittle, mulher de
Thomas Doolittle, em 1692. Os dois ministros respeitavam
altamente um ao outro.
Durante vários anos, Timothy Rogers, homem piedoso,
modesto, muito amado por seu povo, pregou com grande
sucesso. Em 1692, ele pregou Fall Not Out by the Way, or, A
Persuasion to a Friendly Conespondence between the Conformists
and Non-Conformists, motivado pela morte de Anthony
Dunwell. O discurso (constituído de dois sermões sobre

619
PAIXAO P E L A PU REZA

Gênesis 45:24, “Não contendais pelo caminho”) concitava


os cristãos a lutarem por unidade. Nesse mesmo ano, Rogers
pregou nos funerais de Edmund Hill. O sermão, sobre 1
Corintios 7:31 (“Porque a aparência deste mundo passa”) foi
impresso como The Changeableness of this World with Respect
to Nations, Families, and Particular Persons (1692). O sermão
enfatizava a brevidade do presente mundo e a realidade do
mundo por vir.
Rogers publicou mais alguns sermões próprios para
funerais, inclusive o intitulado The Character of a Good Woman,
both in a Single and a Manied State (1697), baseado em Provérbios
31:10 (“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito
excede 0 de rubis”), que ele pregou nos funerais de Elizabeth
Dunton, filha de Samuel Annesley. Rogers começou o sermão
com uma história sobre mulheres notáveis e concluiu com um
relato sobre a vida da Sra. Dunton, incluindo extratos do diário
dela. O sermão está repleto de aplicações práticas. Por exemplo,
Rogers declara que os que se casam devem fazê-lo por amor,
mas a sua esposa em perspectiva deve ser julgada pelo entendí-
mento e pelas graças do coração, não pela atração física.
A propensão de Rogers para 0 desânimo tornou a estorvar
a sua utilidade em 1707. Ficou tão deprimido - vendo-se
“como uma lâmpada desprezada, um vaso quebrado, e como
um homem morto e esquecido” - que ele deixou o ministério
e se aposentou em Wantage, Berkshire. Apesar de passar os
últimos vinte anos de sua vida na obscuridade, continuou a
justificar Deus em todas as dispensações da Sua providência,
mesmo no meio das trevas. Rogers entrou triunfalmente nos
braços de seu Pai em novembro de 1728, e foi sepultado no
cemitério da igreja de Wantage. Ele nunca se casou.

A Discourse on Trouble of Mind and the Disease of


Melancholy (SDG; 441 páginas; 2002). Esta obra apareceu na

620
Timothy Rogers

imprensa pela última vez em 1808. O editor dessa publicação


escreveu: “Os que estão familiarizados com as circunstâncias
depressivas nas quais o piedoso autor foi colocado antes de
escrever o presente tratado, prontamente admitirão que ele
foi a pessoa mais apta para escrever sobre esse assunto. Ele
não tinha mais nada que fazer senão detalhar sua experiência
pessoal. Ao fazê-lo, registrou a experiência de muitos milhares
de pessoas que, em todos os períodos da Igreja, sofreram maior
ou menor aflição por um desânimo de espírito que tem sido
muito apropriadamente descrito como melancolia religiosa”.
No prefácio, Rogers oferece treze diretrizes aos familiares
e aos amigos de pessoas melancólicas, e discute a melhor
maneira de tratá-las. Várias cartas de ministros pela primeira
edição do livro expressam gratidão pela recuperação do autor
e recomendam calorosamente 0 livro. Entre as referidas cartas
há uma de Joseph Hussey, que escreveu: “Sem dúvida Deus
o vestiu dessa forma com as vestes da salvação, para que você
animasse outros a se revestirem de Cristo, embora 0 inferno
se lhes apresente nu e cru, sendo que não há nenhuma cober­
tura da destruição daqueles que não se abrigam nEle” .
Muitos livros têm sido escritos sobre a melancolia
religiosa, mas muitos dos seus autores não experimentaram
realmente essa condição. Em contraste, Rogers escreveu do
fundo do seu coração, expressando gratidão em cada página e
dando testemunho da beleza de Cristo, a melhor cura para a
depressão espiritual. Ele teve uma perspectiva única, pois ele
passou por terrível escuridão de alma para ajudar outros com
vistas à cura. Ele ansiava pela vinda do Libertador e anelava
pelos lugares celestiais em Cristo Jesus.
Rogers nos lembra que no céu “sentiremos o amor de Deus
de maneira tão doce e arrebatadora que jamais ficaremos em
dúvida se Ele [nos] ama ou não”. Os santos não lutarão mais
com as quedas em pecado, com dúvidas sobre 0 amor do seu
Salvador, nem com a perda da esperança de Sua misericórdia.
Recomendamos fortemente este livro aos crentes que lutam
com a depressão.

621
Henry Scudder
(c. 1 5 8 5 1 6 5 2 ‫) ־‬

e n ry S c u d d e r re c e b e u o g ra u de B a c h a re l em A rte s em
H 1603 e o de M e s tre em A rte s em 1606 do C h r is t’s C ollege,
C am b rid g e . D o is an o s d e p o is, ele se casou com B rid g e tt, filh a
de G eo rg e H u n t, re ito r de C o llin g b o u rn e D u c is , W ilts h ire , e
c u n h a d a de W illia m W h ately . Fda m o rre u q u a n d o tin h a p o u c o
m ais de v in te anos de id a d e , d e ix a n d o u m a filha.
D e p o is S c u d d e r se rv iu co m o m in is tro em D ra y to n ,
O x fo rd sh ire , d u ra n te a lg u n s a n o s, e ali foi m u ito a p re c ia d o
p o r su a p ie d a d e ex em plar. E m D ra y to n ele se to rn o u am ig o
ch eg a d o de R o b e rt H a rris e de W illia m W h ately . E les se
e n c o n tra v a m s e m a n a lm e n te p a ra e s tu d o da B íblia.
E m 1631, S c u d d e r p u b lic o u su a m a is c é le b re o b ra , The
Christian’s Daily Walk. D o is an o s m a is ta rd e , em s e g u id a
à m o rte de seu sogro, S c u d d e r se to rn o u re ito r do g ra n d e
re b a n h o de C o llin g b o u rn e D u c is , o n d e p e rm a n e c e u d u r a n te
v in te an o s, até su a m o rte .
E m m aio de 1642, S cudder foi ratificado pelo p arla m en to
com o p re le to r para W arm inster. N o m ês seg u in te ele foi co m is­
sionado p ara agir com o m em b ro da A ssem bléia de W estm inster.
Serviu ali fielm ente, p re sid in d o um com itê que fez a revisão de
provas dos textos p rep arad o s p ara a C onfissão de Fé.

622
Henry Scudder

Scudder pregou sobre Miquéias 6:9 diante da Casa dos


Comuns num dia de jejum em 1644. Posteriormente esse
sermão foi impresso, por solicitação da referida Casa, como
“God’s Warnings to England by the Voice of His Rod”. No ano
seguinte, ele serviu como pastor interino de St. Mildred Poultry,
Londres. Por volta desse tempo ele assinou “a petição dirigida
ao conselho comum da cidade pelos ministros que estavam
insatisfeitos com a proposta de organização presbiteriana das
paróquias de Londres” (Oxford DNB, 49:582).
Scudder morreu em 1652. Foi sepultado em Collingbourne.

The Christian’s D aily Walk, in Holy Security and Peace


(SPR; 342 páginas; 1984). Scudder é lembrado melhor por
este livro, que é como que um manual de devoção puritana.
Fala de assuntos como andar com Deus, começar o dia com
Deus, jejuns religiosos, o Dia do Senhor, andar em solitude
com Deus, regras para a conduta religiosa na prosperidade,
diretrizes para andar com Deus na adversidade, integridade,
estar livre de ansiosa preocupação, a paz com Deus, empecilhos
à paz, e falsos temores.
O livro obteve o louvor de numerosos teólogos. Richard
Baxter disse que esse foi o melhor devocional puritano que já
se escreveu. Sobre ele John Owen escreveu: “Devo dizer que
vejo neste [livro] a autoridade e a poderosa prova da verdade
que brotam da transmissão do sentido sagrado das Escrituras
com palavras e expressões adequadas à experiência das almas
generosas, sinceras e humildes, à qual os discursos mais
acurados e enfeitados não chegam nem sobem” .
Theodore Haak traduziu The Christian’s Daily Walk, para
0 holandês em 1636. O livro tem sido reimpresso numerosas
vezes, tanto em inglês como em holandês.

623
Obadiah Sedgwick
(c. 1600-1650)

ascido p o r v o lta de 1600, O b a d ia h S edgw ick era filh o de


N J o se p h S ed g w ick , v ig á rio da St. P e te r’s M a rlb o ro u g h ,
W iltsh ire . In g re sso u n o Q u e e n ’s C ollege, O x fo rd , em 1619,
m as tra n s fe riu -se p a ra 0 M a g d a le n H a ll, o n d e re c e b e u 0 g rau
de B acharel em A rtes em 1620, e o de M e stre em A rte s em 1623.
P o r u n s p o u co s anos Sedgw ick se rv iu co m o capelão do g en era l
Lord H o ra c e Vere o f T ilb u ry , q u e o a c o m p a n h o u à H o la n d a .
E m 1626, S edgw ick foi p re c e p to r de M a tth e w H a le , q u e v iria
a ser u m dos advogados m ais re sp e ita d o s da época. T em pos
d epois, H ale d e fe n d e u C h ris to p h e r L ove d ia n te da a lta co rte.
D e p o is de sua o rd e n a ç ã o , em 1628-1629, S edgw ick se rv iu
co m o capelão de H o ra c e , Lord Vere o f T ilb u ry , n o s P aíses
B aixos. E m 1630, S edgw ick rec e b e u 0 g ra u de B a c h a re l em
Teologia de O x fo rd . N e sse m e sm o an o ele se to rn o u v ig á rio
a d ju n to e p re le to r em St. M ild re d ’s, n a B re a d S tre e t, L o n d re s ,
o n d e foi u m p re g a d o r m u ito p o p u la r, m as o b isp o J u x o n
0 c e n s u ro u e o s u s p e n d e u em 1637 p o r n ão c o n fo rm id a d e .
S edgw ick re fu g io u -se n a casa do c o n d e de W arw ic k , em
Essex. E m 1639, S edgw ick su c e d e u a J o h n D o d n o m in is té rio
em C og g esh all, E ssex. C om a a b e rtu ra do L o n g o P a rla m e n to ,
Sedgw ick re c o n q u is to u o p o sto de p re le to r n a St. M ild r e d ’s.

624
Obadiah Sedgwick

Em 1642, Sedgwick foi comissionado como membro da


Assembleia de Westminster, na qual desempenhou um papel
proeminen te. Foi designado para o grande comitê de dezenove,
encarregado de trabalhar na Confissão de Fé, e para um comitê
de vinte para responder às “Razões” dos independentes. Ele
deu apoio aos presbiterianos, mas sentia alguma simpatia
pelos independentes, embora se opusesse fortemente às
idéias independentes rígidas. Quando Philip Nye, um franco
independente, apelou em prol da liberdade de consciência do que
ele descrevia como perigos do presbiterianismo estabelecido,
Sedgwick requereu que Nye fosse expulso da Assembleia.
Robert Norris descreve Sedgwick como um dos mais
“vividos e estimulantes pregadores” da Assembleia (“The
Preaching of the Assembly”, em To Glorify and Enjoy God, ed.
John L. Carson e David W. Hall, p. 74). Durante as guerras
civis ele foi chamado para pregar diante do parlamento ao
menos catorze vezes - mais que qualquer outro ministro, exceto
Stephen Marshall. Cinco desses sermões foram publicados.
Também lhe foi solicitado que fosse um licenciador a imprensa
para publicação de livros teológicos.
Sedgwick não atenuava as palavras quando pregava diante
do parlamento. No sermão An Ark Against a Deluge (1644)
(Uma Arca Contra um Dilúvio}, ele disse aos membros
da Casa dos Comuns que eles deveriam detestar “ 0 simples
pensamento de tolerar todas as opiniões da Igreja. Isso era um
prodígio realmente monstruoso, um intolerável modo de se
fazer confusão, uma verdadeira zombaria contra o povo de
Deus”. O resultado final dessa tolerância, concluiu ele, seria
que cada pessoa iria “ fazer uma arca vinda da sua própria
fantasia” (p. 19).
Em 1645, Sedgwick renunciou a seu posto em Coggeshall,
onde seu sucessor foi John Owen, e se tornou reitor da St.
Andrew’s, Holborn, Londres. No ano seguinte ele se transferiu
para a St. Paul’s, Covent Garden, onde foi instrumento para a
conversão de muitas almas.

625
PAIXAO P E L A PU R EZA

Em 1651, Sedgwick fez uma petição ao parlamento para


que fosse libertado um seu amigo presbiteriano, Christopher
Love. Dois anos depois, ele foi nomeado membro da comissão
de juizes que deveríam examinar candidatos ao ministério. Seu
mau estado de saúde 0 forçou a renunciar ao pastorado da St.
Paul’s em 1656. Seu sucessor foi seu genro Thomas Mantón.
Sedgwick retirou-se para Marlborough, onde morreu
em 1658. Deixou a cada um de seus filhos uma herança de
considerável porte, e foi sepultado ao lado de seu pai em
Ogbourne St. Andrew, Wiltshire. Seu irmão mais velho, John,
também foi um ministro puritano.

The Anatomy of Secret Sins (SDG; 382 páginas; 1999). Esta


obra baseia-se em sermões que Sedgwick pregou originalmente
a sua congregação na St. Mildred’s. Usando o Salmo 19:12,13
como texto do seu sermão, ele mostra como identificar os
pecados ocultos do coração e como lidar com eles antes que
destruam a nossa alma. Se não conhecermos a nossa própria
depravação, estaremos mal equipados para a guerra que é
preciso travar contra o inimigo em nosso próprio coração.
Todo crente que desejar investir contra o pecado em sua vida
achará esta obra útil.
Sedgwick merece ser citado. Eis algumas amostras:

• Amados, a maior batalha do cristão não é a


de campo aberto. Suas lutas são mormente
interiores, e seus inimigos estão em seu próprio
peito.
• Se as tentações não fizerem você cair de joelhos,
elas jogarão você por terra.
• O menor pecado é 0 homem ir mais longe do
que deve, e quanto mais ele subir cavalgando o

626
Obadiah Sedgwick

pecado, mais profundas serão as suas feridas.


‫ ״‬O jeito de se proteger de um grande pecado é
temer 0 menor pecado.
• Os homens que estiveram vadeando em pecados
menores, agora estão mergulhando em grandes
transgressões.

Ao longo desta obra há dois sermões sobre Mateus 12:31,


“The Throne of Mercy” e “The Tribunal of Justice”, os quais
tratam do pecado contra 0 Espírito Santo.

Christ’s Counsel to His Languishing Church (SDG; 149


páginas; 2001). Fazendo uso das palavras de Cristo à igreja
de Sardes, em Apocalipse, capítulo 3, Sedgwick identifica
o estado de decadência espiritual que pode afligir cristãos
negligentes. Depois ele descreve os meios pelos quais podemos
escapar disso e perseverar num estado de boa saúde espiritual.
Ele incentiva os cristãos a se arrependerem e a praticarem
as suas primeiras obras, pelas quais poderão manter em viva
chama o seu amor a Cristo.
Num apêndice desta obra consta um sermão intitulado
England’s Preservation, que fala sobre o extravio da Inglaterra
em seu afastamento de Deus e sobre como 0 país podería ser
trazido de volta a Ele.

The Doubting Believer (SDG; 212 páginas; 1997). O propósito


desta obra é aumentar nos crentes a certeza pessoal da fé.
O livro explica catorze motivos para as dúvidas do crente e
depois provê a cura para cada uma delas. Com 0 subtítulo,
A Treatise containing lhe nature, the kinds, the spnngs and the
remedies of doubtings incident to weak beleivers, este livro oferece
aos crentes em dúvida orientação e encorajamento.
Na dedicatória, Sedgwick escreve: “Em meu fraco juízo,
seria grande prudência garantir que aquilo que, sendo

627
PAIXAO P E L A PU R EZA

assegurado, agora dá segurança a tudo. Nada se enfraquece


onde a fé se fortalece. Este pobre tratado é como Arão e Hur,
que mantiveram erguidas as mãos de Moisés. Assim este
tratado se esforça para manter erguida a mão da fé do crente
fraco, que possui ampla propriedade na praia e em terra firme,
mas que as ondas da dúvida muitas vezes fazem retroceder e
cambalear” .
O apêndice do livro inclui um sermão que Sedgwick
pregou diante do parlamento sobre a natureza e o perigo
das heresias.

628
Samuel Sewall
(1652-1730)

S amuel Sewall, juiz e cronista muito conceituado, é


pouco conhecido fora dos círculos literários e da história
colonial americana primitiva. Sewall nasceu em Bishop Stoke,
Hampshire, Inglaterra, em 1652. Era filho de Henry Sewall,
pastor, e de Jane Dummer. O pai de Sewall tinha emigrado
para Newbury, Massachusetts, em 1634. Embora reconhecido
o seu direito a voto em 1637, ele voltou para a Inglaterra em
1646 e subsequentemente assumiu o encargo do púlpito de
North Baddesley. Os Sewall voltaram para Massachusetts
quando Samuel tinha sete anos de idade.
Samuel frequentou a escola secundária em Romsey,
Hampshire, Inglaterra. Continuou sua vida escolar em
Massachusetts com Thomas Parker, pastor da Newbury
Church, que 0 preparou para Harvard College, no qual obteve
0 grau de Bacharel em Artes em 1671. Entre os seus colegas
estavam Edward Taylor, Samuel Mather e William Adams.
Indeciso entre uma carreira no comércio e o ministério,
Sewall foi nomeado membro residente do corpo docente, ou
preceptor, de Harvard, onde um dos seus deveres era trabalhar
na biblioteca.
Em 1674, ele recebeu o grau de Mestre em Artes. Nesse

629
PAIXAO P E L A PU R EZA

mesmo ano, Sewal declinou de um chamado ministerial de


Woodbridge, New Jersey. Isso parecia favorecer sua maior
inclinação para os negócios do que para o ministério. Outro
evento que influiu nessa decisão foi sua pregação no púlpito
de Thomas Parker. Certa ocasião, Sewall pregou durante
duas horas e meia, excedendo 0 limite de uma hora porque
relutou em observar a ampulheta.
Sewall casou-se em 1676 com Hannah Hull, filha de
John Hull, o homem mais rico da Nova Inglaterra. O casal
teve catorze filhos, seis dos quais chegaram à idade adulta.
A mulher de Sewall trouxe um grande dote ao casamento,
o que o influenciou para focalizar sua vocação nos negócios,
e nisso trabalhou sob a liderança de John Hull. Logo Sewall
assumiu muitas das atividades do seu sogro.
Quando 0 velho Hull morreu, em 1683, Hannah Sewall
recebeu dois terços das posses, ao passo que sua mãe recebeu
um terço. Sewall tornou-se um dos homens mais ricos de
Boston, obtendo rendimentos de propriedades na cidade e
em diversas outras partes da colônia. Contudo, ele não usou
frivolamente a sua riqueza. Diligente leitor dos puritanos mais
antigos, ele comprou vários exemplares das obras de John
Owen e os distribuiu a pessoas que ele conhecia. Também deu
obras de Owen e outros livros puritanos a Samuel Willard,
pastor da South Church, da qual Sewall era membro.
Depois de 1683, Sewall tornou-se uma importante força
política. Foi eleito para a Corte Geral de Westfield, no condado
de Hampden, e depois para a Corte de Assistentes, em 1684.
Com a revogação da carta-régia em 1684, ele continuou a
servir como juiz de paz e como oficial da milícia (tornou­
-se capitão em 1701), embora tenha sido preterido numa das
nomeações do novo conselho.
Em 1688, seu interesse pelos títulos de sua propriedade
na Nova Inglaterra e a necessidade de administrar bens na
Inglaterra levou-o a Londres. Enquanto esteve em Londres,
Sewall ajudou Increase Mather a exercer influência em

630
Sam uel Sew all

favor da antiga carta-régia. Durante a ausência de Sewall de


Massachusetts, 0 governador Edmund Andros e o Domínio
da Nova Inglaterra foram substituídos por um conselho
interino. Quando voltou a Boston, Sewall foi feito membro
desse conselho. Com a adoção da nova carta, Sewall foi man­
tido na câmara dos pares em 1691, posto no qual ficou até
quando declinou da candidatura à eleição em 1725.
Um dos primeiros atos de Sir William Phips, 0 primeiro
governador sob a nova carta, foi nomear uma corte especial
para ouvir as acusações contra a bruxaria, que se haviam
acumulado em Salem no decorrer do inverno de 1691. Phips
pediu a Sewall que servisse na corte. A corte usou prova
espectral - a “aparição” das acusadas aos aflitos - como
prova na condenação das bruxas. Esse tipo de procedimento
foi incompreensivo e controvertido, 0 que eventualmente
levou Sewall a lamentar haver participado dos julgamentos.
Ele pediu desculpas publicamente em 1697 na Old South
Meeting House, onde Samuel Willard, incessante opositor
dos julgamentos, era pastor.
Em acréscimo às suas atividades como juiz de paz e membro
da corte, Sewall teve uma longa carreira como juiz. Em 1692,
ele foi designado para a Corte Superior de Magistratura, o
supremo tribunal de Massachusetts. Ele foi o principal juiz
desse tribunal em 1718. Em 1715, ele também tinha sido
juiz da corte probatória do condado de Suffolk.
Sewall foi um conhecido filantropo. Em 1699, ele se
tornou tesoureiro e comissário da puritana Sociedade pela
Propagação do Evangelho (que não deve ser confundida com
a controversa Sociedade em prol da Propagação do Evangelho
em Terras Estrangeiras, de mentalidade anglicana, fundada
em 1701). Ele foi responsável pela administração das terras de
propriedade da sociedade e pela supervisão do desembolso dos
fundos para suprir igrejas cristãs americanas nativas. Sewall
fez grandes contribuições para os cristãos americanos nativos
no transcurso da sua vida. Já em 1691, ele usara um débito

631
PAIXAO P E L A PU R EZA

não pago para conseguir terra que a seguir foi transferida para
um ministério americano nativo. Ele doou terras também
para uma casa de reuniões em Kingston e para Harvard, para
expansão da área edificada, e fez doações generosas para um
fundo escolar para alunos americanos nativos em Harvard.
Em 1700, Sewall escreveu The Selling ofJoseph: A Memorial
(1700), em oposição ao tráfico de escravos africanos na colônia.
O livro de Sewall descrevia diversos casos em que a liberdade
era prometida por proprietários de escravos, somente para
ser negada depois. Embora as idéias de Sewall tenham sido
rejeitadas pela sociedade do seu tempo, ele conseguiu ajudar
na promulgação de uma lei que legalizou os casamentos dos
afro-americanos.
Hannah Sewall morreu em 1717. Dois anos mais tarde,
Sewall casou-se com Abigail, viúva de James Woodmansy e
de William Tilley. Em 1722, Sewall casou-se com Mary Gibbs,
viúva de Robert Gibbs, comerciante de Boston.
Sewall morreu em Boston em 1730. Em seu trabalho
público, ele sempre promoveu os ideais puritanos. Quando
Harvard perdeu suas amarras conservadoras no início da
década de 1700, Sewall ajudou a estabelecer Yale com base em
princípios puritanos. Entre as suas últimas palavras houve a
expressão do seu desejo de “seguir o Comandante da minha
salvação” até o fim.

The Diary o f Sam uel Sew all (Farrar, Straus & Giroux;
1.254 páginas; 1973). Sewall escreveu muitas obras, mas este
diário foi sua maior realização literária. Aqui Sewall revela as
complexidades de suas múltiplas atividades e dos interesses e
realizações da colônia numa época crucial. Cobrindo o período
de 1674 a 1729 (com uma lacuna entre 1677 e 1684), 0 diário
provê também uma sondagem íntima de sua vida e do seu
tempo. É de incalculável valor ver Sewall, não somente como

632
Sam uel Sew all

um negociante e um político que estava no centro da Colônia


da Baía de Massachusetts, mas também como um entristecido
pai, um temeroso habitante da cidade, um pecador inquieto
e um crente piedoso. O diário nos oferece uma janela aberta
para o mundo do laicato aristocrático puritano da América
primitiva.

The Diary and Life of Samuel Sewall (Bedford; 260 páginas;


1998). Um resumo do diário de dois volumes de Sewall, esta
obra anotada é o melhor lugar por onde começar a estudar a
vida de Sewall. O editor, Mel Yazawa, seleciona as melhores
porções do diário de Sewall e acrescidas de notas para 0
leitor. O resultado é um volume altamente acessível que
é historicamente fiel ao diário de Sewall e revela um dos
corações mais magnânimos da América primitiva.

633
Thomas Shepard
(1605-1649)

T homas Shepard nasceu em Towcester, Northamptonshire,


no Dia da Conspiração da Pólvora, 5 de novembro de
1605.1 Seu pai, William, aprendiz de merceeiro, casou-se com
a filha do merceeiro. Thomas foi o caçula dos nove filhos. Sua
mãe morreu quando ele tinha cerca de quatro anos de idade.
Seu pai tornou a casar-se, mas a madrasta tinha pouco tempo
para as crianças. A respeito dela, Thomas escreveu: “Ela me
fez ver a diferença entre minha mãe e uma madrasta”.
Thomas recebeu sua educação na Free School sob um
galés que era excessivamente cruel e que fez muita coisa para
dissuadi-lo de estudar. Quando Thomas Shepard estava com
dez anos de idade, seu pai morreu. Sua educação passou a
ser responsabilidade de sua madrasta, mas ela negligenciou
a provisão de sua escolaridade. Tempos depois, Shepard
foi colocado aos cuidados de seu irmão mais velho, John.

1 D ata d a fru s tra d a c o n s p ira ç ã o ro m a n ista , p la n e ja d a d e s d e o s p rim e iro s m e s e s


d e 1603 e d e s c o b e rta em o u tu b ro d e 1605 m e d ia n te u m a c a rta a n ô n im a (de
1 6 /1 0 ). A in te n ç ã o d o c o m p l ô e r a d e s tr u ir a s c a s a s d o p a r l a m e n t o n o d ia
e m q u e o rei T ia g o I d e v e r i a d e c l a r a r a b e r t o o p a r l a m e n t o ( 0 5 / 1 1 /1 6 0 5 ) . O s
c o n s p ira d o re s tin h a m a rm a z e n a d o n u m a c a sa p ró x im a 3 6 barris d e p ó lv o ra .
N o ta d o trad u to r.

634
Thomas Shepard

Thomas disse: “Deus fez de meu irmão meu pai e minha


mãe” (Shepard’s Autobiography, na obra editada por Michael
McGiffert, God’s Plot: Puritan Spirituality in Thomas Shepard’s
Cambridge, p. 41). O mau professor de Shepard morreu e
foi substituído por um que instilou em Shepard o desejo de
buscar educar-se mais.
Com a idade de quinze anos, Shepard foi admitido no
Emmanuel College, Cambridge, como pensionista. Durante
os seus dois primeiros anos em Cambridge, ele negligenciou
Deus e a oração. As vezes ele era afetado pela pregação de
homens como Laurence Chaderton, mas essa influência
tinha vida curta. Shepard deixou-se levar por má companhia,
colegas de escola que eram dados à luxúria, ao orgulho, ao
jogo e à bebida.
Eventualmente Shepard era trazido a profunda convicção
de pecado, o que às vezes o levava a pensar em suicídio. A
pregação de John Preston, em particular, foi empregada para
“Abrir os segredos de minha alma diante de mim - a hipocrisia
de todas as coisas boas que eu achava que havia em mim - como
se alguém lhe tivesse contado [isto é, a Preston] tudo o que eu
tinha feito” (Autobiograpy, ρ. 44). Finalmente, quando Preston
pregou sobre 1 Corintios 1:30, expondo a plenitude que há na
redenção de Cristo, Shepard foi despertado para o suave encanto
de Cristo e O abraçou como seu Salvador e seu Senhor.
Shepard obteve o grau de Bacharel em Artes em 1624 e o
de Mestre em Artes em 1627, e depois nesse mesmo ano foi
ordenado diácono e presbítero em Peterborough. Entrementes,
ele trabalhou algum tempo (1626-1627) sob a supervisão de
um tutor, Thomas Weld, vigário em Terling, Essex, que lhe
ofereceu valioso treinamento pastoral e prático. Ali ele ficou
também sob a influência de Thomas Hooker, que nesse tempo
pregava em Chelmsford.
Shepard tornou-se preletor ocasional em 1627, em Earls
Colne, perto de Coggeshall, Essex, onde trabalhou com grande
sucesso até 1630. Ele desejava continuar ali, mas em dezembro

635
PAIXAO P E L A PU REZA

de 1630 foi intimado a comparecer diante de William Laud,


então bispo de Londres, por não conformidade, e foi proibido
de exercer os deveres ministeriais na diocese de Londres. Ao
examinar as cerimônias e os deveres aos quais se lhe exigia
que se conformasse, Shepard ficou cada vez mais desencantado
com a Igreja estabelecida. Ele escreve que passou a “ ver o mal
das cerimônias inglesas, da cruz, da sobrepeliz e do ajoelhar-se”
(ibid., p. 52). Quando foi chamado segunda vez a comparecer
perante Laud, foi-lhe pedido que saísse da diocese.
Após um terceiro encontro com Laud, Shepard se refugiou
em Yorkshire, onde foi nomeado capelão de Sir Richard
Darley, Cavaleiro de Buttercrambe, no North Riding de
Yorkshire. Em 1632, Shepard casou- se com a prima de Darley,
Margaret Tauterville. Logo depois ele aceitou um convite
para 0 ministério em Heddon, Northumberland. Quando se
recusou a subscrever os Trinta e Nove Artigos, foi silenciado
pelo arcebispo Richard Neile, de York, mas continuou a pregar
até quando John Cotton, Thomas Hooker, Thomas Weld e
Samuel Stone emigraram da Inglaterra.
Foi só com dificuldade que Shepard, que sofreu muito
por sua saúde frágil, agora evitou a prisão por seus princípios
não conformistas. Em 1634, ele embarcou para Boston, mas
foi trazido de volta por uma tempestade. Permaneceu num
esconderijo na Inglaterra até agosto de 1635, quando tornou a
embarcar. Nesse ínterim, seu primeiro filho tinha morrido, e
um segundo, Thomas, tinha nascido. Finalmente os Shepard
chegaram a seu destino, no dia 3 de outubro de 1635. Sua
mulher adoeceu e morreu de tuberculose quatro meses depois.
Nesse meio tempo, Shepard estabeleceu-se em Newtown
(atualmente Cambridge), Massachusetts, onde foi pastor da
igreja congregacional recém-estabelecida. Ali permaneceu
até sua morte.
Em Cambridge, Shepard adquiriu a reputação de
eficiente evangelista. Cotton Mather 0 descreveu como
“Pastor Evangelicus” (Magnolia Christi Americana, 1:380) e

636
Thomas Shepard

Edward Johnson, o cronista da Nova Inglaterra primitiva,


rememorou-o como “aquele ministro de encantadora graça, de
mentalidade celestial e de alma arrebatadora, em cuja alma o
Senhor derramou Seu amor tão abundantemente que milhares
de almas tiveram motivo para bendizer a Deus por ele”
{Wonder-Working Providence, 201). De acordo com o pregador
do século dezoito Thomas Prince, que publicou uma parte
do Journal de Shepard, não era raro, quando alguém que
ouvia Shepard pregar, bradar em agonia: “Que farei para ser
salvo?” (citado por John A. Albro, “Life of Thomas Shepard”,
em The Works of Thomas Shepard, Lclxxx).
Shepard era amigo de John Harvard e ajudou a estabelecer
o Harvard College em 1636. Provavelmente ele serviu de
instrumento para assegurar a sua localização em Cambridge.
Shepard envolveu-se nas controvérsias do seu tempo,
argumentando com base em sua posição como um calvinista
que refletia a doutrina da soberania de Deus. Ele definiu o
congregacionalismo como urna via media entre o brownismo,
que colocava o governo da Igreja inteiramente nas mãos
dos membros, e o presbiterianismo, que dava esse poder ao
presbitério da igreja local. Ele foi inabalável em sua oposição
aos antinomistas e foi um dos líderes do sínodo reunido em
Cambridge que os condenou. Ele sustentava firmemente,
como escreveu a Cotton, que “não se pode separar a revelação
de Deus na Palavra (a Bíblia) da revelação de Deus no
Espírito Santo” {OxfordDNB, 50:233).
Shepard preocupava-se particularmente com a educação
dos jovens. Em 1644, ele abordou os comissários das Colônias
Unidas da Nova Inglaterra e lhes pediu que aprovassem um
plano segundo o qual cada família da colônia ofertasse ao
college um quarto de alqueire de trigo {cerca de nove litros},
ou seu equivalente monetário, anualmente, para estudantes
necessitados. Esse foi o princípio do programa de educação
escolar da América. Shepard instituiu também uma confissão
de fé pública e um plano de governo da Igreja que, depois de

637
PAIXAO P E L A PU R EZA

algumas protelações no Sínodo de 1637, passaram a fazer parte


das leis da República de Massachusetts e uma importante
plataforma para as igrejas congregacionais da América.
Coerentemente, ele se interessou pela conversão dos nativos
americanos e manteve amistosa vigilância sobre a primeira
Missão Indígena de Cambridge, estabelecida por seu amigo
John Eliot.
Em 1637, Shepard casou-se com Joanna Hooker, filha
de Thomas Hooker. Eles tiveram quatro filhos, um dos
quais morreu no parto e outro na infância. Samuel e John
sobreviveram a seu pai. Depois da morte de sua segunda
esposa, Shepard casou-se em 1647 com Margaret Boradel, que
lhe deu um só filho, Jeremiah. Shepard morreu em Cambridge
no dia 25 de agosto de 1649 e foi sepultado ali. Sua influência
continuou viva no Novo Mundo, particularmente por meio
de Jonathan Edwards.

God’s Plot: Spirituality in Thomas Shepard’s Cambridge,


edição revista e ampliada, ed. Michael McGiffert (UMP; 237
páginas; 1994). Contém a autobiografia completa de Shepard
e parte do seu Journal. Ambos são profundamente pessoais
e espirituais. Num prefácio intitulado “Thomas Shepard: A
Prática da Piedade”, McGiffert, lamentavelmente, sugere que
o puritanismo foi 0 refúgio para o qual Shepard fugiu para
escapar das ansiedades e da culpa de uma meninice atribulada,
e para ter satisfeitas as suas necessidades emocionais.
De maior interesse neste volume são os relatos da
conversão pela perspectiva dos membros de igreja. São
narrativas simples da fé salvadora, não uma sondagem nos
corações dos candidatos em busca do fermento de hipocrisia,
como as que temos lido sobre muitas caricaturas do que se
poderia esperar do puritanismo.

638
Thomas Shepard

The Parable of the Ten Virgins (SDG; 640 páginas; 1994). Este
livro, publicado dez anos após a morte de Shepard (1660), é o
desenvolvimento de uma série de sermões que Shepard pregou
entre 1636 e 1640, destinados a repelir 0 erro antinomista
promovido por Anne Hutchinson e seus seguidores, segundo
0 qual a santificação não é criticamente decisiva quanto à
certeza da fé. Por exemplo, Shepard escreve: “A poderosa
operação realizada por Cristo há de vencer tuas luxúrias, mas
isso deve levar-te a negligenciar a luta?” (pp. 250, 251).
A presente edição de Ten Virgins é reimpressa do volume
2 de um conjunto de três volumes das obras de Shepard
publicado em 1853. Em quarenta e um penetrantes sermões
sobre Mateus 25:1-13, Shepard considera a diferença entre
conversões verdadeiras e espúrias. Este livro é de particular
importância hoje no sentido de que confronta o clima
dominante do “crença fácil”.
Ten Virgins não é uma leitura fácil, porém, e pode
desanimar os crentes recém-convertidos que buscam certeza.
Seria melhor que eles lessem primeiro Religious Affections
{A Genuína Experiência Espiritual}, de Jonathan Edwards.
Como a respeito se expressa Lloyd-Jones, “Edwards... com
toda a análise que faz, e com todo o seu exame, interrogatorio
e questionamento, nunca nos deixa confusos e desanimados
como faz Thomas Shepard em seu estudo da parábola das
Dez Virgens”. (“Jonathan Edwards e a Crucial Importancia de
Avivamento” , em Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores,
p.372).2
De maneira interessante, Jonathan Edwards, em sua obra
Religious Affections, citou mais vezes a obra de Shepard, Ten
Virgins, do que qualquer outra fonte. Contudo, a obra Ten
Virgins continua constituindo um desafio pelo qual os crentes
maduros podem mapear o crescimento na fé e na graça,
atentos à advertência de John Gerstner em seu prefácio da

2 E sta p a le s tra e stá e m O s P u rita n o s: S u a s O rig e n s e S e u s S u c e s so re s...P E S .

639
PAIXAO P E L A PU R EZA

reimpressão: “Esta obra é valiosa na proporção inversa de sua


legibilidade. Não a leia! Estude-a, algumas páginas de cada
vez. Decifre-a. Viva com ela, morra com ela. Ela pode não
salvar você, mas não o deixará com dúvida alguma sobre
se você é cristão ou não”.

The Sincere Convert and the Sound Believer (SDG; 543


páginas; 1999). Este livro, reimpresso do primeiro volume
do conjunto de três volumes de 1853, contém duas das
melhores obras de Shepard conhecidas. The Sincere Convert
mostra que é pequeno o número de crentes verdadeiros, ao
passo que The Sound Believer demonstra a obra do Espírito de
Cristo reconciliando o pecador com Deus. Este livro contém,
ademais, uma consideração biográfica de 185 páginas da vida
de Shepard, escrita por John A. Albro.

Theses Sabbaticce (SDG; 540 páginas; 1992). Este livro é o


volume final da trilogia de The Works of Thomas Shepard. Nesta
obra, Shepard defende a observância do Sabbath como um ato
racional de culto e serviço do cristão a Deus. Ele o faz em
quatro seções: a moralidade do Sabbath, a mudança do Sabbath,
0 início do Sabbath, e a santificação do Sabbath. No prefácio do
autor, vemos algumas das condições e atitudes prevalecentes
em seu tempo e que o motivaram a escrever esta obra: “É
fácil demonstrar pelas Escrituras e pela argumentação geral,
como também pela experiência, que a religião é simplesmente
como 0 Sabbath, e que decai ou cresce conforme o valor que
se dá ao Sabbath: a imediata honra e adoração a Deus levada
adiante e reunida nos primeiros três mandamentos é nutrida
e amamentada no seio do Sabbath”.
Shepard passa então a confrontar aqueles que, na
Igreja, “cerimonializaram” e “espiritualizaram” o Sabbath,
extraindo-o do Decálogo. Acaso não poderia ser que o declínio
moral que vemos hoje se relacione, ao menos em parte, com
a dessacralização do Sabbath? E evidente que os antinomistas

640
Thomas Shepard

exegéticos estavam por traz disso significativamente no


mesmo período.
O livro contém uma seção intitulada “Meditations and
Spiritual Experiences”, que são extratos do diário pessoal de
Shepard. Sobre esse registro do diário Brainerd diz: “Quem
quer que o leia com atenção... há de notar que ele vê maior
grandeza na verdadeira humildade, no esvaziamento próprio,
no desprezo de si próprio, no senso de infrutuosidade,
de egoísmo, de excessiva vileza do coração e de diminuto
progresso nas conquistas da graça”. No fim do livro consta
um relato da obra realizada entre os nativos americanos,
revelando o anseio de Shepard pela evangelização das nações
não salvas.

641
John Shower

o h n S h o w e r n a sc e u em E x e te r em 1657. E le e seu s três


irm ã o s p e rd e ra m seu p a i, u m c o m e rc ia n te ric o , q u a n d o
J o h n tin h a m a is ou m e n o s q u a tro a n o s d e id a d e . J o h n re c e b e u
su a e d u c a ç ã o s u c e s s iv a m e n te em E x e te r e em O tte rfo rd ,
S o m e rse t, e d e p o is n a a c a d e m ia de N e w in g to n G re e n ,
M id d le se x , a n te s de c o m p le ta r seu c u rso de c a p a c ita ç ã o
m in is te ria l n a a c a d e m ia de E d w a rd V eal, em W ap p in g .
S e g u in d o o c o n se lh o de T h o m a s M a n tó n , ele c o m e ç o u
a p re g a r a n te s dos v in te an o s de id ad e. Seu p rim e iro se rm ã o
foi p re g a d o n a ig reja de T h o m a s V in c e n t, em B ish o p sg a te ,
L o n d re s . S ua re p u ta ç ã o q u a n to à p reg aç ão cresceu , e em 1678
S h o w er foi e sc o lh id o co m o p re le to r n o tu r n o n a E x c h a n g e
Alley. N o an o se g u in te ele foi o rd e n a d o p o r c in c o m in is tro s
ex o n e ra d o s, e se to rn o u a s s is te n te de V in c e n t A lso p , na
T o th ill S tre e t, W e tm in ste r. S h o w e r d e u a ssistê n c ia a A lsop até
1683, q u a n d o ele foi e n v ia d o ao e x te rio r co m o c o m p a n h e iro
de S am u e l B a rn a rd is to n , p o lític o do p a rtid o W h ig e vice-
-g o v e rn a d o r d a C o m p a n h ia das ín d ia s O rie n ta is . E les
v ia jaram com o u tro s d o is m in is tro s e e x p lo ra ra m n a E u ro p a ,
ch eg a d o à H o la n d a em 1684, o n d e S h o w e r p e rm a n e c e u
d u ra n te d o is an o s. D e p o is v o lto u p a ra L o n d r e s e r e a s s u m iu

642
John Shower

seu trabalho de preletor na Exchange Alley por um ano,


antes de voltar para a Holanda, devido à perseguição contra
os não conformistas. Ele se juntou a John Howe em Utrecht
durante alguns meses, e então trabalhou como preletor em
Roterdam na Presbiteriana Church of England, onde Joseph
Hill servia como pastor.
Em 1687 Shower casou-se com Elizabeth Falkener,
sobrinha de Thomas Papillon, membro do parlamento.
Depois da prematura morte dela em 1691, Shower regressou a
Londres para servir como assistente de John Howe na Silver
Street. Depois de alguns meses, ele aceitou um chamado para
atender à Igreja Presbiteriana na Currier’s Hall, Cripplegate,
onde permaneceu por quase vinte e cinco anos, até sua morte.
Sua pregação era tão bem recebida que a congregação teve
que construir edifícios maiores em 1692 (na Jewin Street)
e novamente, em 1701 (na Old Jewry), para acomodar o
povo. Timothy Rogers e Joseph Bennet estavam entre os
seus auxiliares. Em 1697, Shower foi nomeado preletor para
as terças-feiras no Salters’ Hall, como sucessor de Samuel
Annesley.
Nesse ínterim, Shower casou-se com Constance White em
1692. Em 1701, ficou viúvo outra vez. Em 1706, desenvolveu­
-se em Shower uma febre alta que o deixou fisicamente fraco
para o resto dos seus anos de vida. Sofreu um derrame em
1713, e morreu dois anos mais tarde em sua casa em Stoke
Newington, Middlesex.
Shower escreveu nove livros e publicou vinte e um
sermões individuais. Entre os seus melhores escritos estão
An Exhortation to Youth to Prepare for Judgment (1681), que foi
reimpresso vinte vezes por volta de 1826, Serious Reflections
on Time and Eternity (1689), The Mourner's Companion (1692),
Sacramental Discourses (1693), e Family Religion (1694).

643
PAIXAO P E L A PU R EZA

God’s Thoughts and Ways are Above Ours: Especially in the


Forgiveness of Sins (SDG; 127 páginas; 2003). Este comovente
livro contém cinco sermões sobre a natureza e a virtude da
misericórdia perdoadora, baseados em Isaías 55:7-9. Três
conceitos dominam o pensamento de Shower: o chamado ao
arrependimento, a promessa de perdão aos que se arrependem,
e a efetividade da fé na misericórdia perdoadora. E mais,
Shower mostra que o perdão de Deus difere do nosso em sua
completitude e em sua gratuidade. Depois ele dedicou um
sermão completo à aplicação desta doutrina. Argumentando
com base em Isaías 55:7 (“Deixe o ímpio o seu caminho, e o
homem maligno os seus pensamentos, e se volte ao Senhor,
que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque
grandioso é em perdoar”), Shower afirma que não devemos
abusar do perdão de Deus, que está pronto a perdoar as piores
ofensas, e que devemos ser agradecidos a Deus pela dádiva do
perdão propriamente dito. Se não houvesse perdão, estaríamos
todos perdidos e destruídos.
Numa época em que o perdão de pecados tem sido
frequentemente mal entendido e trivializado, e quando os
próprios cristãos muitas vezes não perdoam real e com­
pletamente, este livro nos ajuda a ver que o estupendo perdão
de Deus aos pecadores deveria ser apreciado mais do que a
cura de moléstias físicas, sinais e prodígios extraordinários,
e 0 reconhecimento de outros. Sermos perdoados verdadeira­
mente nos reconcilia com um Pai bondoso e amoroso, por
meio de Seu Filho redentor e do Espírito, que faz aplicação da
redenção em nós e nos motiva a perdoar os que nos ofenderam
sem causa.

644
ic h a rd S ib b es n asc e u em 1577 em T o sto ck , S uffolk, no
^co n d ad o p u r ita n o da v e lh a In g la te rra . F o i b a tiz a d o na
ig reja p a ro q u ia l de T h u r s to n , e foi à escola ali. Q u a n d o cria n ça,
ele am av a os liv ro s. Seu p a i, P a u l S ib b es, tra b a lh a v a d u ro com o
c a rp in te iro de c a rrru a g e n s e ro d a s, e, de a c o rd o com Z a c h a ry
C a tlin , u m b ió g ra fo de S ib b es, seu c o n te m p o râ n e o , e ra “ u m
b o m e ín te g ro c ris tã o ” , m a s ficou irrita d o com 0 in te re s se de
seu filh o p o r liv ro s. E le p ro c u ro u c u ra r seu filh o da c o m p ra
de liv ro s o fe re c e n d o -lh e fe rra m e n ta s de c a rp in ta ria de ro d as,
m as o ra p a z n ão foi d issu a d id o . C o m 0 ap o io de o u tro s,
S ib b es foi a d m itid o no St. J o h n ’s C ollege, em C a m b rid g e ,
co m d e z o ito an o s de id a d e. R ece b eu o g ra u de B a c h a re l em
A rte s em 1599, u m a b o lsa u n iv e rs itá ria em 1601 e 0 g ra u de
M e s tre em A rte s em 1602. E m 1603, ele foi c o n v e rtid o sob
a p re g a ç ã o de P a u l B ay n es, a q u e m S ib b es ch a m a v a seu “ pai
n o e v a n g e lh o ” . B ay n es, le m b ra d o m a is p o r seu c o m e n tá rio
s o b re a E p ís to la aos E fésio s, s u c e d e u a W illia m P e rk in s n a
St. A n d re w s C h u rc h , em C a m b rid g e .
I n g la te rra em N o rw ic h , em 1608. E le foi e sc o lh id o com o
u m dos p re g a d o re s do college em 1609 e o b te v e 0 g ra u de
B a c h a re l em T eologia em 1610. D e 1611 a 1616, ele se rv iu com o

645
PAIXAO P E L A PU R EZA

preletor na Holy Trinity Church, Cambridge. Sua pregação


despertou Cambridge da indiferença espiritual em que tinha
caído depois da morte de Perkins. Foi preciso construir uma
galeria para acomodar na igreja os visitantes. John Cotton
e Hugh Peters foram convertidos sob a pregação de Sibbes.
Durante os anos que ele passou na Holy Trinity, Sibbes
ajudou a mudança de Thomas Goodwin do arminianismo e
levou John Preston a mudar da “pregação engenhosa” para a
pregação clara e espiritual.
Sibbes chegou a Londres em 1617 como preletor para o
Gray’s Inn, 0 maior dos quatro Inns of Court {Colégios de
Advogados} e que continua sendo um dos mais importantes
centros da Inglaterra para estudo e prática do direito. Em 1626,
ele foi também diretor do St. Catharine’s College, Cambridge.
Sob a sua liderança, o colégio recuperou algo do seu antigo
prestígio. Propiciou graduação a diversos homens que um dia
serviríam proeminentemente na Assembléia de Westminster:
John Arrowsmith, William Spurstowe e William Strong. Logo
depois da sua nomeação, Sibbes recebeu o grau de Doutor em
Teologia em Cambridge. Ele veio a ser conhecido como “o
doutor celestial”, devido à sua pregação piedosa e a seu modo
celestial de viver. Izaac Walton escreveu sobre Sibbes:

A este homem abençoado é justo este louvor:


O céu nele estava, antes de ele estar no céu.

Em 1633, o rei Charles I ofereceu a Sibbes o encargo


da Holy Trinity, Cambridge. Sibbes continuou a servir como
pregador no Gray’s Inn, como diretor do St. Catharine’s Hall e
como vigário da Holy Trinity até sua morte, ocorrida em 1635.
Sibbes nunca se casou, mas estabeleceu uma surpreendente
rede de amizades que incluía ministros piedosos, notáveis
advogados e líderes parlamentares do período inicial da era
Stuart. “Amigos piedosos são sermões caminhando”, ele dizia.
Ele escreveu ao menos treze introduções aos escritos de seus
colegas puritanos.

646
Richard Sibbes

Sibbes era um homem gentil, que evitava o quanto possível


as controvérsias do seu tempo. “Fraturas geram fraturas”, ele
insistia. Suas batalhas com o arcebispo Laud, com os católicos
romanos e com os arminianos foram exceções. Ele manteve
também estreita amizade com muitos pastores e líderes que
desejavam reforma bem mais radical do que ele desejava
para a Igreja da Inglaterra.
Sibbes foi uma inspiração para muitos. Ele influenciou 0
anglicanismo, 0 presbiterianismo e os independentes, os três
grupos dominantes da Igreja da Inglaterra naquele tempo.
Ele foi um pastor de pastores e teve uma vida de moderação.
“Onde há mais santidade, há mais moderação, quando essa
existe sem prejuízo da piedade para com Deus e 0 bem de
outros”, ele escreveu.
O historiador Daniel Neal descreveu Sibbes como um
pregador célebre, um teólogo douto e um homem caridoso
e humilde, que repetidamente subestimava os seus dons.
Todavia, em toda parte os puritanos reconheciam Sibbes como
um pregador cristocêntrico, experimental. Tanto os cultos
como os incultos, das classes altas e baixas, tiravam proveito
da cativante pregação de Sibbes.
Sibbes escreveu: “Pregar é galantear... O principal alvo de
toda [pregação] é cativar-nos para receber 0 governo suave,
seguro, sábio de Cristo”. Ele trazia a verdade clara “para a vida
e para 0 peito dos homens”, como dizia Robert Burns. Sobre
Sibbes, Catlin escreveu: “Nenhuma das pessoas que conheci
de perto foi tão fundo ao meu coração, nem se achegou tão
junto a ele”. Em nossos dias, Maurice Roberts diz de Sibbes:
“Sua teologia é inteiramente ortodoxa, é claro, mas ele é como
o combustível de um grande motor de combustão, sempre
se inflamando e sendo convertido em energia para, com ela,
servir a Deus e, ainda mais, para usufruir Deus com prazer
de alma” .
David Masson, biógrafo de John Milton, escreveu:
“Nenhum escrito sobre teologia prática parece ter sido tão lido

647
PAIXAO P E L A PU R EZA

em meados do século dezessete entre a classe média inglesa


piedosa como os escritos de Sibbes”. O historiador do século
vinte, William Haller, disse que os sermões de Sibbes foram
“as mais brilhantes e mais populares de todas as expressões da
igreja militante puritana” .
Os últimos sermões de Sibbes, pregados uma semana
antes de sua morte, foram sobre João 14:2: “Na casa de meu
Pai há muitas moradas... vou preparar-vos lugar”. Quando lhe
perguntaram, em seus dias finais, como ia sua alma, Sibbes
respondeu: “Eu faria muito mal a Deus se não dissesse: vai muito
bem”. Sibbes começou seu testamento, ditado no dia 4 de julho
de 1635, na véspera de sua morte, dizendo: “Encomendo e lego
minha alma às mãos do meu bondoso Salvador, que a redimiu
com seu preciosíssimo sangue, e agora está presente no céu para
recebê-la”. William Gouge pregou nos funerais de Sibbes.

The Works of Richard Sibbes (BTT; 7 volumes, 3.850 páginas;


2001). Estes sete volumes, meticulosamente ditados com
uma biografia de 110 páginas escrita por Alexander Grosart,
foram publicados por James Nichol, de Edimburgo, na
década de 1860, e reimpressos por Banner of Truth Trust na
década de 1970. Eles revelam a convicção de Sibbes de que
o melhor aconselhamento do cristão é feito pelo Espírito
Santo mediante paciente e vivida exposição da Palavra de
Deus. Isso não deve surpreender ninguém que conheça os
temas dos sermões de Sibbes. J.I. Packer escreveu: “ Sibbes se
concentrava em explorar 0 tema do amor, poder e paciência
de Cristo, e das riquezas das promessas de Deus. Ele foi um
pioneiro na efetuação da aplicação devocional da doutrina da
aliança da graça de Deus”.
O primeiro volume das Works contém: “The Bruised
Reed” (ver abaixo) e “The Soul’s Conflict”, um tratado de 175
páginas sobre o Salmo 42:11, mostrando que o crente pode,

648
Richard Sibbes

pela fé em Cristo, obter vitória sobre o desespero espiritual.


O volume conclui com cinco sermões sobre 1 Pedro 4:17-19 e
outros quatro sermões. O sermão “Christ is Best” (Fil. 1:23,24)
já vale, sozinho, o preço do livro.
O segundo volume da série contém tratados maiores,
baseados em passagens do Velho Testamento, inclusive
“Bowels Opened”, (sermões expositivos sobre Cantares de
Salomão 4:16 a 6:13), “A Breathing after God” (Salmo 27:4), o
bem conhecido “Returning Backslider” (Oséias, capítulo 14),
e “The Glorious Feast of the Gospel” (Isaías 25:79‫;)־‬
O terceiro volume é dedicado à exposição que Sibbes
fez de 2 Corintios, capítulo 1. Sólida doutrina, amor a
Cristo e calorosas aplicações pastorais são abundantes neste
comentário. Sibbes transborda de Cristo quando descreve 0
cristão em seus sofrimentos e o prometido conforto de Deus,
dizendo que os sofrimentos precedem os confortos porque
foi esse o padrão que Cristo estabeleceu para nós. Esta obra
contém também notável ensino de Sibbes sobre 0 selo do
Espírito Santo (2 Cor. 1: 21,22).
De acordo com Sibbes, estudar a função do Espírito em
selar a alma dos crentes é como examinar Sua obra na certeza
pessoal da fé. Contudo, Sibbes via a selagem do Espírito
como dois assuntos diferentes. Ele distinguía entre o ofício
ou a função do Espírito como um selo dado ao pecador na
regeneração, e a obra do Espírito na aplicação desse selo à
consciência do crente.
A selagem definitiva e completa da salvação é assegurada
quando, primeiramente, a pessoa crê em Cristo. Sibbes ensinava
que, assim como a imagem do rei é estampada no lacre, assim
também 0 Espírito estampa nas almas dos crentes a imagem
de Cristo desde o momento em que eles creem. Tal selagem
produz em todos os crentes o desejo, que dura a vida toda, de
serem transformados plenamente na imagem de Cristo.
Este selo, que todo crente tem, esteja consciente disso
ou não, é uma marca de autenticidade que distingue entre

649
PAIXAO P E L A PU R EZA

0 crente e o mundo. Como os comerciantes marcam seus


artigos e os donos de rebanhos marcam suas ovelhas, assim
Deus sela Seu povo para declarar que ele é Sua propriedade
de pleno direito, e que Ele tem autoridade sobre Seu povo,
dizia Sibbes.
A segunda espécie de selagem é um processo. É a espécie
de segurança que pode crescer gradativamente no transcurso
da vida do crente por meio de experiências singulares e
por um crescimento espiritual diário. Só se pode observar
esta selagem nos frutos da santificação, tais como a paz de
consciência; o espírito de adoção pelo qual clamamos “Aba,
Pai” ; orações de fervorosas súplicas; e a conformidade com
a imagem celestial de Cristo. Dessa forma Sibbes enfatizava
tanto o testemunho intuitivo do Espírito como os frutos
santificadores do Espírito.
O Espírito concede esta selagem especial aos santos em
tempos de grande tribulação, dizia Sibbes. O Espírito dá tais
selos “exatamente como os pais [que] sorriem para seus filhos
quando eles mais necessitam disso”. Tal selagem é “como um
beijo dado à alma”. Paulo na prisão, Daniel na cova dos leões,
e seus três amigos na fornalha ardente experimentaram essa
espécie de encorajamento.
O volume 4 contém outros sermões sobre textos ou
trechos das duas Epístolas aos corintios, incluindo “Glorious
Freedom: The Excellency of the Gospel Above the Law”
(ver abaixo), e uma exposição de 2 Corintios, capítulo 4. Este
volume enfatiza a centralidade de Cristo e o papel do Espirito
ñas vidas dos crentes. De acordo com Sibbes, o Espirito deve
ser parte integrante de nossas vidas, de nossas igrejas e do
nosso mundo. Devemos deleitar-nos em Sua habitação em
nós e em Sua obra de consolação, enquanto nos empenhamos
em não entristecê-10. Devemos andar em diária comunicação
com 0 Espírito Santo por meio da Palavra, confiantes em
todos os ofícios que o Espírito provê, como descritos nas
Escrituras. Como Sibbes escreve: “O Espírito Santo estando

650
Richard Sibbes

em nós, depois que Ele nos preparou como uma casa para
Ele morar e para nela ter descanso e prazer, Ele também se
faz, de fato, um conselheiro em todas as nossas dúvidas, um
consolador em todas as nossas tristezas, um procurador em
todos os nossos deveres, um guia em todo o curso da nossa
vida, até quando passarmos a morar com Ele para sempre no
céu, para o que tende a sua habitação aqui em nós”.
O quinto volume oferece ensino sobre passagens de
Romanos, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses e 1
Timóteo. Contém sermões sobre várias das mais ricas e mais
conhecidas palavras de Paulo, tais como Romanos 8:28 e
Gálatas 2:20, e trata de assuntos como a arte do contentamento,
a vida de fé, 0 poder da ressurreição de Cristo, 0 fim do cristão,
a obra do cristão, e a providência de Deus. Mais conhecidos
são seus sermões intitulados “A Fountain Sealed” (Ef. 4:30)
e “The Fountain Opened” (1 Tim. 3:16).
Este volume salienta os privilégios dos crentes, tais como
a comunhão com Cristo, a habitação do Espírito, a certeza da
fé, e a glória futura. Quase duzentas páginas são dedicadas aos
ensinos em Filipenses que salientam a cidadania celestial. Em
toda parte, neste volume, Sibbes comprova sua reputação como
“um pregador cristocêntrico”. Ele escreve: “A obra especial
do nosso ministério é expor abertamente Cristo, erguer a
tapeçaria e desdobrar os mistérios de Cristo. Labutemos, pois,
para falar sempre algo sobre Cristo ou sobre o que tenda a isso.
Quando falarmos da lei, que ela nos conduza a Cristo, quando
tratarmos dos deveres morais, que estes nos ensinem a andar
de modo digno de Cristo”.
O sexto volume contém dezoito sermões sobre uma grande
variedade de assuntos, incluindo a vida pactuai fiel, a reforma
de Josias, a busca de Deus com bom êxito, as consolações do
santo, luto espiritual, e a conversão de Lídia. “A Heavenly
Conference between Christ and Mary after His Ressurrection”
(João 20:16) representa a teologia puritana em sua melhor
expressão. Por exemplo, quando fala da constância do amor

651
PAIXAO P E L A PU R EZA

de Cristo por Maria e pela Igreja, Sibbes escreve: “Toda


a corrente [do amor de Deus] é tão firme e forte, que nem
todas as criaturas do céu e da terra podem quebrar-lhe um
só elo sequer. Portanto, nunca duvides da sua continuidade,
pois a firmeza da segurança é da parte de Deus, não da tua.
Deus nos abraça com Seus braços de amor eterno. Quando a
criança não cai, é pela firmeza com que sua mãe a segura, não
pela forma como a criança se segura na mãe. Assim também
é Deus segurando-nos, conhecendo-nos, abraçando-nos e
justificando-nos que dá firmeza ao nosso estado, não nós;
pois o nosso poder é apenas reflexo e resultado do poder de
Deus, que é invariável” (p. 439).
O volume final contém trinta e cinco sermões sobre temas
práticos tais como a recuperação do desanimado, a verdadeira
felicidade, a oração, 0 sucesso do evangelho, 0 retorno de Cristo,
0 perigo da apostasia, e a ressurreição. O sermão intitulado
“The Matchless Mercy” (Miq. 7:18-20) exalta a misericórdia
de Deus. Os dois últimos sermões de Sibbes, sobre João 14:2,
também estão incluídos.

The Bruised Reed (BTT; 128 páginas; 1998). Este tratado sobre
0 pecador abatido é uma das melhores obras de sua espécie. Em
dezesseis capítulos, Sibbes expõe Isaías 42:3: “A cana trilhada
não quebrará, nem apagará o pavio que fumega: em verdade
produzirá o juízo”. Richard Baxter disse que Deus usou a
leitura deste tratado para efetuar a sua conversão. Martyn
Lloyd-Jones escreveu: “Nunca deixarei de ser agradecido
a Richard Sibbes, que foi um bálsamo para a minha alma
num período da minha vida em que eu trabalhava demais e
estava dolorosamente exausto, e, por isso, estava, de maneira
incomum, sujeito às investidas do diabo... Vi nesse tempo que
Richard Sibbes, conhecido em Londres, no início do século
dezessete, como 0 “Celestial Doutor Sibbes”, foi um remédio
infalível... The Bruised Reed me aquietou, me abrandou, me
confortou, me encorajou e me curou” .

652
Richard Sibbes

Glorious Freedom (BTT; 194 páginas; 2000). Este livro foi


publicado sob a supervisão de Thomas Goodwin e Philip Nye
quatro anos após a morte de Sibbes. Eles disseram que esta
obra mostra “a liberdade dos filhos de Deus... a imagem das
suas graças aqui e da glória no por vir”, e provê “muito con­
forto e grande encorajamento para todos [os que] começam
a seu tempo e continuam constantemente nos caminhos de
Deus”.
Glorious Freedom explica a relação do crente com a lei
baseada em 2 Corintios 3:17,18. Sibbes descreve a revelação
mais completa de Deus na vinda de Cristo e seu efeito
sobre aqueles que contemplam essa glória pelo Espírito. A
vitalidade da nova aliança redunda em liberdade espiritual e
em semelhança com Cristo. O livro trata de assuntos como
0 Espírito de Cristo, a liberdade, o evangelho acima da lei,
a comunhão com Deus em Cristo, e a conformidade com
a imagem de Cristo. “ Sibbes nunca desperdiça o tempo
do estudioso”, Spurgeon escreveu; “ele espalha pérolas e
diamantes com as duas mãos”.

653
Henry Smith
(1560-1591)

e n ry S m ith , u m dos p re g a d o re s m a is p o p u la re s da
H In g la te rra n o século d ezesseis, foi c h a m a d o p o r seus
c o n te m p o râ n e o s de “o lín g u a de p ra ta S m ith ” , p o r sua
e x tra o rd in á ria o ra tó ria . N a tu ra l de W ith c o te , L e ic e s te rs h ire ,
p o r v olta de 1560, S m ith era 0 filh o m a is velh o de E ra s m u s
S m ith . P ro c e d e n te de u m a h o n o rá v e l lin h a g e m fa m ilia r de
L e ic e s te rs h ire , foi h e rd e iro de u m p a trim ô n io co n sid e rá v e l.
E m 1573, ele foi a d m itid o com o m e m b ro c o m u m do Q u e e n s
C ollege, C a m b rid g e , m as n ão p e rm a n e c e u ali m u ito tem p o .
Três an o s d ep o is, ele se tra n s fe riu p a ra o L in c o ln C ollege,
O x fo rd , o n d e se g ra d u o u co m o B ach a rel em A rtes em 1579. E le
c o n tin u o u co m seus estu d o s sob R ic h a rd G re e n h a m , re ito r de
D ry D ra y to n , C a m b rid g e s h ire , com q u e m ele re s id iu e de q u em
a p re n d e u m ais c o m p le ta m e n te os p rin c íp io s do p u rita n is m o .
In ic ia lm e n te S m ith foi m in is tro da Ig re ja da In g la te rra ,
m as fico u c re s c e n te m e n te in s a tis fe ito co m v ária s p rá tic a s e
c e rim ô n ia s, logo se d e c id in d o p e lo tra b a lh o de p re le to r. P o r
alg u m te m p o S m ith foi ativ o n a H u s b a n d s B o sw o rth C h u rc h ,
q u e o p e ra v a sob o p a tro c ín io d e seu p a i, e m b o ra n ã o seja c e rto
se ele se to r n o u re ito r ali. E n q u a n to e s tu d a v a co m G re e n h a m ,
as suas te n d ê n c ia s a n tie p is c o p a is se in te n s ific a ra m . E n tr e ta n to ,

654
Henry Smith

como Greenham, Smith assumiu uma postura estrita quanto


a sair da igreja, acreditando que a Igreja da Inglaterra deveria
ser reformada de dentro. Ele via os separatistas, como os
brownistas e os barrowistas, como inimigos da verdadeira
Igreja e, com justiça, passíveis de perseguição.
Em 1582, o tio de Smith, Bryant Cave, principal xerife
de Leicestershire, conheceu Robert Dickons, um aprendiz
em Mansell, em Nottinghamshire. Dickons, embora
inteligente e dono de muito conhecimento, acreditava que
era o profeta Elias e que tinha sido visitado por anjos numa
série de visões. Presumivelmente, Cave providenciou para
que Smith aconselhasse Dickons. Smith expôs as Escrituras
para Dickons e 0 convenceu do seu erro. Fuller anotou que
Dickons “foi recuperado, renunciando a suas blasfêmias,
fazendo a subscrição com suas próprias mãos”. Smith então
pregou o sermão, “The Lost Sheep Is Found”, sobre 1 João
4:1: “Provai se os espíritos são de Deus”.
A pregação de Smith na área de Londres foi muito bem
sucedida. Em 1587, à recomendação de Greenham, ele foi
eleito preletor na St. Clement Danes, Londres. Thomas
Fuller observou que “pessoas de boa qualidade traziam seus
próprios bancos, refiro-me a suas pernas, para ficarem de pé
nos corredores da nave, [e] de tal modo seus ouvidos atendiam
aos lábios do pregador, e seus corações a seus ouvidos, que
ele tinha em suas mãos os de mais rudes sentimentos, de
modo que os podia guiar para onde quisesse, e ele só queria
guiá-los para a glória de Deus e para o próprio bem deles”.
Smith ficou sendo tão popular que às vezes se referiam a ele
como “o principal pregador da nação”. Wood disse que ele era
“considerado o milagre e a maravilha de sua época, por sua
memória prodigiosa, e por sua maneira fluente, eloquente e
prática de pregar”.
A liberdade que os preletores puritanos desfrutavam no
início da década de 1570 diminuiu em 1577, quando o arce­
bispo Grindal, que tinha alguma simpatia pela causa puritana,

655
PAIXAO P E L A PU R EZA

caiu no desfavor da rainha. Consequentemente, 0 bispo


de Londres, John Aylmer, fez uma série de investigações
para assegurar-se de que os pregadores estavam aderindo à
“apropriada conformidade” . Os puritanos sofreram tremen­
damente sob o substituto de Grindal, o enérgico arcebispo
John Whitgift, que se opunha ao puritanismo em todas as
suas formas.
Em 1588, 0 bispo Aylmer foi erroneamente informado de
que Smith havia difamado o Livro de Oração Comum num dos
seus sermões. Supostamente, Smith tinha recusado subscrever
os artigos de Whitgift, que insistiam na suprema autoridade,
sob Deus, da monarquia, no uso e promoção do Livro de Oração,
e na subscrição dos Trinta e Nove Artigos. Por conseguinte,
Smith foi suspenso da pregação.
Smith tentou defender-se diante do Lord Tesoureiro
Burghley, 0 conselheiro em quem Elizabeth mais confiava,
declarando que Aylmer o tinha chamado pessoalmente para
pregar na St. Paul’s Cross. Smith negou também a acusação
de que falara contra 0 Livro de Oração‫׳‬, disse ele que tinha
subscrito todos os artigos de “ fé e doutrina”, mas evitara o
item da disciplina. Os paroquianos da igreja de St. Clement
Danes enviaram um documento testemunhai e uma súplica
em seu favor. Esses esforços e a influência de Burghley na
corte foram eficazes em conseguir que Smith fosse restaurado
à sua posição de preletor.
No final da década de 1580, o reitor da St. Clement Danes,
William Harward, ficou muito doente. Os paroquianos da
St. Clement Danes tentaram conseguir Smith como seu
reitor, mas ele recusou a posição. Subsequentemente, Smith
renunciou a seu cargo de preletor, em 1590, por não estar bem
de saúde. Retirou-se para Husbands Bosworth, Leicestershire,
onde preparou os seus escritos para publicação e revisou
seus sermões. Ele dedicou a sua coleção de sermões ao Lord
Burghley, mas morreu com trinta e um anos de idade, antes
da publicação da coleção.
Smith foi sepultado em Husbands Bosworth no dia 4 de

656
Henry Smith

julho de 1591. Puritanos e anglicanos igualmente prantearam


a perda de um grande pregador e pacificador. Mesmo Thomas
Nashe, conhecido por sua feroz oposição aos puritanos, viu a
morte de Smith como uma ocasião para “as lágrimas gerais
dos que meditam”.
Henry Smith promoveu um puritanismo moderado de
dentro da Igreja Estabelecida, acreditando que, enquanto
a Igreja da Inglaterra não se separasse de Cristo, ninguém
deveria separar-se dela. Ele esteve sempre cônscio dos erros
da Igreja, mas, de forma bastante semelhante a Greenham e
Perkins, ele procurava primeiro a reforma de indivíduos e,
depois, secundariamente, a reforma das igrejas. Essa postura
constituiu o cerne do puritanismo moderado durante 0
reinado de Elizabeth.

The Works o f Henry Smith (TENT; 2 volumes, 1.050 páginas;


2002). Os sermões de Smith foram tão populares que, no
início do século dezessete, coleções deles já haviam passado
por mais de oitenta e cinco edições. Conquanto muitos dos
sermões de Smith tenham sido publicados durante a sua vida
(alguns deles sem seu consentimento), uma coleção completa
não foi posta à disposição dos leitores até 1675, e então sob 0
trabalho editorial de Thomas Fuller. Fuller proveu também a
primeira biografia de Smith, derivada da história de Wood1e
da correspondência com indivíduos que ainda se lembravam
dele. Thomas Smith relançou a edição de Fuller em 1866 com
mudanças insignificantes e com a adição de várias páginas
com notas. Esta edição, publicada na Series of Standard
Divines editada por James Nichol em dois volumes, e agora
reimpressa por Tentmaker, continua sendo “a mais completa,
1 Anthony Wood (1632-1695). antiquário c historiador inglês, autor de, entre
outras obras, History and Antiquities of the University of Oxford. Nota do
tradutor.

657
PAIXAO P E L A PU R EZA

a mais acurada e a mais elegante” edição publicada.


Uma edição similar foi publicada em 1866 por William
Tegg como “uma exata reimpressão da edição que foi publicada
de acordo com os exemplares corrigidos pelo autor durante a
sua vida” . Contudo, como não foi feita segundo 0 trabalho
editorial de Thomas Smith, falta-lhe o comentário sobre a
biografia por Fuller. Edwin Davies, que publicou a edição
de Tegg, fez diminutas alterações linguísticas no texto (por
exemplo, “thorow” foi alterado para “thorough”), mas não
mexeu nos arcaísmos de Fuller.
O conjunto de dois volumes de Nichol contém todas as
obras existentes de Smith: cinquenta e seis sermões com seus
prefácios originais; um informe aos Lord Justices2concernente
a Robert Dickons; “God’s Arrow Against Atheism and
Irreligión”, oito orações para várias ocasiões; “A Comfortable
Speech taken from a Godly Preacher lying upon his Deathbed,
Written for the Sick” ; “A Letter to One’s Friend in Sickness”,
oito epigramas; o poema “Microcosmographia: The Little
World’s Description; or, the Map of Man” ; a biografia original
de Smith, de autoria de Fuller; onze páginas de anotações feitas
por Thomas Smith, e extensos indices e referências textuais.
Os sermões de Smith abordam assuntos tais como a Ceia
do Senhor, usura, o sacrifício do cristão, a prova dos espíritos,
0 caminho em que se deve andar, dissuasões do orgulho,
a tarefa do jovem, a prova dos justos, a prática do cristão, 0
desejo do peregrino, a petição do homem piedoso, o espelho
dos cristãos, as lágrimas do pobre, a conversão do pecador e
a busca do homem pecador.
E impossível determinar as datas ou a ordem cronológica
de todos os sermões de Smith, se bem que R. B. Jenkins,
apoiando-se um tanto na obra de Thomas Ehret, tenta fazer
isso. Em resumo, aqui está o que ele diz:

2 Lords Justices: coipo de juizes (oito) que compunham um tribunal superior


de apelação. Nota do tradutor

658
Henry Smith

1 . “The Lost Sheep is Found” é datado como


de 1582, logo depois que Smith examinou
Robert Dickons, e trata diretamente desse
acontecimento.
2. Os dois sermões sobre “The Art of Hearing”
são datados como de 1587 por Ehret. Jenkins
observa que “é impossível definir o ano no qual
estes sermões foram pregados, mas certamente
um seguiu-se ao outro”.
3. “The Sinful Man’s Search” é datado como de
primeiro de janeiro de 1588 por Ehret, com a
confirmação de Jenkins.
4. “Satan’s Compassing the Earth” e “The Trial of
the Righteous” são datados como de algum ponto
de 1588, devido a suas aparentes referências à
Armada Espanhola.
5. “The Dialogue between Paul and King Agrippa”,
“The Ladder of Peace”, e os quatro sermões
sobre Jonas foram pregados, presumivelmente,
depois de 29 de julho de 1588, quando a Armada
foi destroçada, pois eles se referem a esse
acontecimento.
6. “The Godly Man’s Request”, sermão para o Ano
Novo, foi pregado no dia primeiro de janeiro de
1589.
7. A série de sermões sobre Nabucodonosor é
datada como ñas proximidades do ocorrido com
a Armada.
8. “The Christian’s Sacrifice”, que Smith descreveu
como um sumário de “todas as lições juntas que
ouvistes desde quando cheguei [a St. Clement
Danes]”, é datado como pouco antes de Smith
retirar-se; sua primeira impressão foi feita logo

659
PAIXAO P E L A PU R EZA

depois de sua aposentadoria.


9. “The Petition of Moses to God” é classificado
como o último sermão de Smith em St. Clement
Danes, embora dificilmente contenha sinais de
um sermão de despedida. Contudo, perto da
conclusão do sermão, Smith diz: “Agora resta
que eu anime Josué, que me sucede” .

É impossível datar os 39 sermões restantes, e nem Ehret


nem Jenkins tentam fazê-lo. É razoavelmente certo que eles
foram pregados durante os trabalhos de preletor de Smith
na igreja de Clement Danes, com a possível exceção de “The
Trumpet of the Soul Sounding to Judgment” .
Os sermões de Smith devem ser estudados por vários
motivos. Primeiro, quanto aos estudiosos, não existe nenhum
livro que examine exaustivamente 0 lugar de Smith dentro
do contexto elizabetano. A obra de Ehret, embora examine
criticamente quatro sermões de Smith, não trata do corpus
inteiro de suas obras. A melhor obra sobre Smith até a
presente data é a de R. B. Jenkins (1983); ela preenche muitas
lacunas da edição de Ehret e suplementa essa obra com uma
compreensão mais inclusiva do lugar de Smith na Inglaterra
elizabetana. Mas mesmo a obra de Jenkins é incompleta às
vezes, e não considera plenamente as complicações da política
e da religião na década de 1580.
Segundo, quanto aos pastores, Smith exemplifica
o primitivo ideal puritano: simplicidade e inteligência
combinadas com apelo ao coração. Eis um exemplo: “Hoje
em dia”, disse Smith, “os homens se incumbem de reprovar
outros por cometerem as mesmas coisas que eles mesmos
praticaram, e realmente praticam sem se corrigirem, não
obstante sua diligência em ensinar a outros o seu dever; eles
podem ensinar toda a doutrina de Cristo, menos três sílabas:
“ Segue-me” . Dezenas de outros exemplos, semelhantes a
esse, poderíam ser citados, os quais poderíam estimular os

660
Henry Smith

pastores na desafiadora tarefa da pregação.


Terceiro, quanto aos leigos, os sermões de Smith provêm
um tesouro de inspiração e meditação. Por exemplo, no
sermão de Smith “The Art of Hearing”, ele admoesta os que
são rápidos para lembrar velhos contos e igualmente rápidos
para esquecer sermões. “Portanto, para que você não nos ouça
em vão, como têm ouvido outros, minha exortação é que anote
depois de sair 0 que ouviu” . Também, com referência ao amor
conjugal, Smith admoesta no sentido de que “ 0 homem deve
ter o cuidado de que o seu amor para com sua esposa não seja
maior do que 0 seu amor para com Deus, como foram 0 de
Adão e o de Sansão”.
Smith conclamava às multidões que considerassem
0 mundo como um lugar de vaidade e tristeza, e assim
pelejassem para seguir seu caminho rumo à cidade celestial,
lugar de verdadeira felicidade. Seus ouvintes, pertencentes
a todas as faixas etárias, asseveravam que “sua pregação, sua
vida e sua firme doutrina tinham feito mais bem entre eles do
que qualquer outra que tinham ouvido antes, ou, do que eles
duvidavam, que ouviríam depois”. Não é de admirar, então,
que Richard Baxter recomende os sermões de Smith em sua
obra The Christian Directory, como essencial até para “a menor
biblioteca que se possa tolerar”.

661
William Spurstowe
(c. 1605-1666)

illiam Spurstowe era filho de um comerciante londrino,


W William Spurstowe, e descendente dos Spurstowe
de Bunbury, Cheshire. William foi admitido no Emmanuel
College, Cambridge, em 1623, onde obteve um grau de bacharel
em 1627. Transferiu-se, então, para o St. Catharine’s College,
Cambridge, onde recebeu um grau de mestre três anos depois.
Em 1638, Spurstowe ingressou no ministério na Great
Hampden, Buckinghamshire, a igreja do célebre líder parlamen­
tar John Hampden. No mesmo ano ele foi também eleito membro
do corpo docente do St. Catharine’s College. Um ou dois anos
mais tarde, casou-se com uma jovem chamada Sarah.
Quando começou a guerra civil, Spurstowe se pôs ao lado
do parlamento e serviu como capelão (16421643‫ )־‬no regi­
mento de John Hampden, sob o comando do Conde de Essex.
Spurstowe, como Hampden, esperava vencer as forças do rei a
fim de empurrar o soberano para uma posição mais favorável
à consciência puritana. Com a maioria dos puritanos realistas,
nem Spurstowe nem Hampden eram contra a pessoa do rei -
eles nunca apoiaram a ideia de sua execução. Após a morte
prematura de Hampden em 1643, porém, aconteceu uma série
de eventos que culminariam com o julgamento do rei.

662
W illiam Spurstowe

Spurstowe foi um dos cinco teólogos que escreveram


opúsculos contra o governo episcopal da igreja em 1641,
sob o acrônimo Smectymnuus, as últimas três letras dessa
palavra formando as suas iniciais (W S ).1 Os outros autores
eram Stephen Marshall, Edmund Calamy, Thomas Young
e Matthew Newcomen. Reimpresso ao menos quatro vezes
por volta de 1680, Smectymnuus contribuiu com uma nota
de conciliação no continuado debate entre o episcopado e o
presbiterianismo. Negando a origem apostólica das liturgias
e o direito divino do episcopado, seus autores desejavam dar
suporte à existência de bispos, se o ofício fosse reduzido à sua
simplicidade primitiva. Além disso, eles estavam dispostos
a admitir a liturgia com a condição de que alguns teólogos
as reformassem de acordo com a Palavra de Deus. Todavia,
essas condições foram inaceitáveis aos eclesiásticos da Igreja
Alta.
Junto com os outros autores de Smectymnuus, Spurstowe
foi convocado para a Assembléia de Teólogos de Westminster.
Pouco antes da Assembléia reunida em 3 de maio de 1643,
ele sucedeu a Calybute Downing como pregador na St. John’s,
Hackney, Middlesex. No ano seguinte ele fez a subscrição
para a Solene Liga e Aliança. Spurstowe serviu fielmente à
Assembleia durante vários anos, exceto por breves ausências
justificadas, em 1645 para atender a deveres associados a
sua nova nomeação como diretor do St. Catharine’s College,
Cambridge, e, em 1646 para um itinerário de pregação em
Cambridge.
Durante os anos em que esteve com a Assembleia,
Spurstowe pregou diante do parlamento ao menos em quatro
ocasiões. No dia 21 de julho de 1643, ele pregou um sermão
intitulado England’s Pattern and Duty a uma sessão conjunta
dos lordes e dos comuns sobre 1 Samuel 7:6, para um dia de
' Naturalmente, na época o duplo V (dábliu) redigia-se com as duas letras
separadas, hoje W. Lembremos também que a letra v equivalia à letra u.
Nota do tradutor.

663
PAIXAO P E L A PU R EZA

jejum e contrição. Nesse sermão, ele salientou a necessidade


de jejum mensal; ele asseverou que os verdadeiros praticantes
do jejum deveríam ser pranteadores, e que o jejum deveria
envolver reconhecimento e confissão de pecado. Segundo, ele
pregou um sermão sobre Esdras 9:13,14, England’s eminent
Judgments caused by the abuse of God’s eminent Mercies, diante da
Casa dos Lordes, no dia 5 de novembro de 1644, o aniversário
da Conspiração da Pólvora de 1605. Ele admoestou a Casa dos
Lordes a mostrar seu zelo pela reforma obtida ao viverem o
seu cristianismo como urna “túnica inconsútil de Cristo, [e
não] como urna capa de mendigo, marcada por mil remendos” .
Ele os incentivou a verem a igreja como “o jardim murado
de Cristo”, que não se deve permitir seja tomado por ervas
daninhas que “num curto espaço de tempo devorariam [sua]
vida de santidade e seu poder” . Ele pregou também à Casa
dos Comuns no dia 24 de junho de 1646, e à Casa dos Lordes
no dia 25 de agosto de 1647, mas os sermões não foram
impressos.
Chamado um “grande presbiteriano” por seus contempo­
râneos, Spurstowe participou do comitê nomeado para
considerar as razões dadas pelos independentes para suas
idéias sobre governo de Igreja. Ele foi nomeado comissário
para Newport, para conferenciar com o rei Charles I na Ilha
de Wight em 1648. Perto do fim desse ano, ele foi um dos
signatários de um documento escrito por Cornelius Burges (A
Vindication of the Ministers of the Gospel in and about London),
vindicando os ministros do evangelho em Londres que se
opunham ao antecipado julgamento de Charles I. No entanto,
as suas demandas não foram atendidas; o rei foi executado
por alta traição em Londres no dia 30 de janeiro de 1649.
Spurstowe foi laureado com o doutorado em teologia em
1649. No ano seguinte, ele foi destituído de sua posição como
diretor do St. Catharine’s por recusar lealdade ao governo
vigente sem rei ou sem uma Casa de Lordes. O renomado
John Lightfoot foi seu sucessor. Logo após a Restauração,

664
William Spurstowe

Lightfoot ofereceu-se para renunciar em favor de Spurstowe,


mas Spurstowe declinou.
Em 1654, os Spurstowe perderam seu único filho, William,
com nove anos de idade, de cólera. Simeon Ashe, amigo
chegado, pregou no funeral a mensagem intitulada, “Christ:
The Riches of the Gospel and the Hope of Christians”. No
sermão, ele descreve como muitas vezes o jovem William era
influenciado pela gloria do céu e frequentemente falava da
bem-aventurança de estar com Cristo para sempre.
No final da década de 1650, Spurstowe e vários ministros
presbiterianos deram apoio a Richard Cromwell. Spurstowe foi
nomeado membro de uma comissão incumbida da aprovação
de ministros em 1660, mas o comitê foi dispensado com a
instauração do Parlamento da Convenção.
Spurstowe ajudou nas negociações com Charles II na
Holanda, em maio de 1660. Posteriormente, ele foi nomeado
capelão temporário de Charles II, junto com outros dez
ministros presbiterianos. Destes, o rei selecionou Spurstowe
como um dos quatro ministros que deveríam pregar diante
dele; os outros eram Edmund Calamy, Edward Reynolds e
Richard Baxter.
Ezekiel Hopkins tornou-se assistente de Spurstowe em
Hackney em 1660. No ano seguinte, Spurstowe serviu como
comissário junto à Conferência de Savoy. Quando 0 Ato de
Uniformidade entrou em vigência, no dia 24 de agosto de
1662, Spurstowe renunciou ao seu cargo em Hackney, que
passou então para Thomas Jeamson. Spurstowe retirou-se
para sua casa em Hackney, vivendo de seus próprios recursos.
Tendo sobrevivido à peste de 1665, Spustowe morreu de
repente no ano seguinte. Sua viúva casou-se com Anthony
Tuckney, um colega na Assembléia de Westminster.
Richard Baxter descreveu Spurstowe como “um ministro
idoso, calmo e reverendo”. Edmund Calamy o elogiou como
“um homem de grande humildade e brandura; e de grande
caridade, tanto em dar como em perdoar” . De acordo com

665
PAIXAO P E L A PU R EZA

James Reid, Spurstowe foi um homem de disposição pacífica.


Spurstowe escreveu três livros: The Wells of Salvation
Opened: Or, A Treatise Discovering the nature, preciousness,
usefulness of Gospel-Promises, and Rules for the right application
of them (1655); The Spiritual Chymist; or, Six Decades of Divine
Meditations (1666) e The Wiles of Satan (1666). Somente o
livro The Wells of Salvation foi reimpresso no século dezessete
(1659), e pode muito bem ser o melhor livro já escrito sobre
as promessas de Deus. O livro contém o conteúdo de diversos
sermões, que Spurstowe apresenta num prefácio, dizendo:
“As promessas são um grande campo no qual o comerciante
prudente pode achar mais pérolas ocultas do que as até então
descobertas. Uma rica mina, na qual o trabalhador diligente
pode desencavar mais ouro fino do que até então se extraiu” .

The Wiles of Satan (SDG; 118 páginas; 2004). Publicado


postumamente como Satana Nohmata;2 Or, The Wiles of Satan,
Spurstowe apresenta um excelente discurso sobre 2 Corintios
2:11: “Para que satanás não alcance vantagem sobre nós,
pois não lhe ignoramos os desígnios”. Ele demonstra as
habilidades de satanás como tentador, expõe um bom número
de suas estratégias, e supre o cristão de antídotos bíblicos
para esses diversos esquemas.
Spurstowe é particularmente vigoroso quando enumera
seis razões pelas quais satanás é tão habilidoso quando tenta
induzir-nos a pecar: (1) A natureza espiritual e o poder
intelectual de satanás; (2) A experiência e o trabalho de
satanás; (3) A incansável energia de satanás na promoção
do mal; (4) O reino demoníaco de satanás; (5) As sugestões
malignas de satanás, que é quase impossível distinguir dos
nossos próprios desejos corruptos; e (6) A capacidade de

2 Noemata, grego: pensamentos, propósitos. Nota do tradutor.

666
W illiam Spurstowe

satanás de harmonizar as suas sugestões com a nossa própria


razão corrupta.
Embora não exaustivo como outros clássicos puritanos
afins, como o de Thomas Brooks, Precious Remedies, o
de Richard Gilpin, A Treatise on Satan’s Temptations, o de
William Gurnall, The Christian in Complete Armour, e o de
John Downame, The Chiistian Warfare, o pequeno livro de
Spurstowe é igualmente proveitoso em cada trecho. Sua
concisão pode ser algo de valor para aqueles que se véem
envolvidos pesadamente na luta contra tentações, pois quem
está sendo dolorosamente tentado raramente vai procurar
um tomo volumoso.
Spurstowe estava a meio caminho da preparação do
capítulo 4 de The Wiles para publicação quando morreu. O
restante desse capítulo e os capítulos finais foram desenvol­
vidos com base em suas extensas anotações.

667
R ic h a rd S teele, filh o de u m a g ric u lto r c h a m a d o R o b e rt
S teele, n asceu n a lo c a lid a d e de C la y cro ft, em B a rth o m le y ,
C h e sh ire , em 1629. R ece b eu sua ed u ca ção n a escola s e c u n d á ria
de N o rw ic h e d e p o is foi a d m itid o n o St. J o h n ’s C ollege,
C a m b rid g e , em 1642, o n d e re c e b e u 0 g ra u de B a c h a re l em
A rtes em 1650, e o de M e s tre em A rte s n o a n o se g u in te . E m
1656, rec e b e u 0 g ra u de M e s tre em A rte s de O x fo rd .
S teele foi su ce sso r de T h o m a s P o rte r co m o r e ito r em
H a n m e r, F lin ts h ir e , em 1654. P re s b ite ria n o n a p rá tic a , S teele
asso cio u su a p a ró q u ia co m 0 clássico q u a rto p re s b ité rio , de
S h ro p sh ire , q u e 0 h a b ilito u a e sta r e n tre os p re s b íte ro s q u e
p a rtic ip a ra m d a o rd e n a ç ã o do seu am ig o de to d a a v id a ,
P h ilip H e n ry . T rin ta an o s d e p o is, ele p a rtic ip o u ta m b é m da
o rd e n a ç ã o do filh o de P h ilip , M a tth e w H en ry .
E m 1660, S teele foi in tim a d o a c o m p a re c e r às Sessões
do T rib u n a l de F lin t (A ssizes) com P h ilip H e n ry , p o r n ão
le re m 0 Livro de Oração Comum. S ua c o n d iç ã o de ré u s c aiu no
m ês s e g u in te , q u a n d o C h a rle s d e c la ro u u m a in d u lg ê n c ia de
to le râ n c ia . N a p rim a v e ra s e g u in te , S teele foi o u tr a vez le v ad o
à p re s e n ç a do tr ib u n a l, d e sta vez em H a w a rd e n . E le r e n u n ­
c io u a seu p o sto e s u s te n to d e v id o ao A to d e U n ifo rm id a d e ,

668
Richard Steele

em 1662. Em seu sermão de despedida, ele declarou que fora


expulso por não subscrever um livro de oração que ele ainda
não teve oportunidade de ver.
Steele mudou-se para Hanmer, onde continuou a pregar
privadamente. Em 1663, ele foi questionado por batizar seus
próprios filhos. Alguns meses mais tarde, ele foi preso sob
suspeita de traição, mas foi logo solto. Dezoito meses depois,
quando foi novamente preso, passagens do seu diário de bolso,
que foi tomado dele, foram distorcidas e usadas para acusá-
-10 falsamente de práticas adúlteras. Depois de considerável
murmuração “para sua grande desonra e ofensa”, (Calamy,
Abridgement, 2:708), a questão foi posta de lado.
Em 1666, com a aprovação da Lei das Cinco Milhas,
Steele foi forçado a sair de Hanmer, e passou a morar perto de
Betley, Staffordshire. Por volta de 1672, ele tinha mudado para
Londres, onde passou 0 restante dos anos de sua vida como
ministro do evangelho. Foi-lhe concedida licença para pregar
nos domingos de manhã na Armourers’ Hall, na Coleman
Street, e nas tardes em Hoxton. Também pregou regularmente
nos exercícios matinais não conformistas. Ele se registrou
como pregador em Hoxton em 1688, quando a Revolução
{Gloriosa} trouxe tolerância.
Steele padeceu tuberculose durante diversos anos, mas
continuou trabalhando. No dia 14 de novembro de 1692,
visitou vários amigos em Londres. Nessa noite suas condições
físicas começaram a deteriorar-se; ele foi levado para casa num
coche e faleceu dois dias depois, com sessenta e quatro anos de
idade. Suas últimas palavras foram: “Não podeis fazer melhor
escolha [do que Deus], e sereis destruídos eternamente, se
fizerdes uma escolha pior”. George Hamond, seu colega e
sucessor, pregou em seu funeral um sermão que foi impresso
comoH Good Minister ofJesus Christ (1692), no qual concitou a
congregação de Steele a viver como o seu pastor tinha vivido.
Antes de sua morte, Steele estivera pregando sobre
os atributos de Deus. No domingo antes de morrer, ele

669
PAIXAO P E L A PU R EZA

ofereceu uma “ rica mina de tesouros espirituais” procedentes


da bondade de Deus. O assistente de Steele escreveu: “A
meditação nos atributos de Deus deve, necessariamente, tê-lo
feito transbordar de enlevo, enquanto os contemplava, apesar
de vê-los como num espelho, obscuramente, mas agora ele
foi para aquelas regiões de luz e de amor onde as névoas são
dissipadas, e ali ele tem tal conhecimento deles que aqueles que
estão cobertos pela mortalidade não podem compreender”.
O caráter de Steele foi semelhante ao de Calebe, “um
homem de outro espírito”. Ele era constante na pregação e
disciplinado no estudo. Suas anotações manuscritas eram
“muitíssimas”, mas a maior parte foi perdida. Em acréscimo
aos seus sermões, Steele compilou e editou vários tratados
(anotados abaixo). Seus escritos mostram habilidade na
exposição da Palavra de Deus e rara e profunda percepção
do coração humano. Ele foi um pastor compassivo para sua
família de dez filhos (cinco dos quais ele sepultou) e para o
seu rebanho.

The Character of an Upright Man (SDG; 120 páginas; 2004).


Originariamente publicado como A Plain Discurse upon
Uprightness, (1670), esta coleção de sermões foi originalmente
escrita só para a congregação de Steele, mas com o tempo sua
influência teve muito maior alcance. O bispo de Chichester,
Robert Grove (1634-1696), que se opunha à não conformidade
em quase todas as suas formas, deu seu imprimatur (“seja
impresso”) ao tratado de Steele, o que mostra quão influente
0 ensino de Steele tinha se tornado.
Escrito com vistas ao progresso dos “órgãos vitais da
genuína piedade”, Steele combateu fortemente as controvérsias
“que queimam em fogo lento todo verdadeiro amor e zelo, e
afligem os que amam a paz”. Se as pessoas pudessem reunir-se
para promover a honra, o amor e o temor a Deus, e o aumento

670
Richard Steele

da santidade, logo estariam de acordo, ou ao menos seriam


indulgentes umas para com as outras nas coisas de menor
importância, Steele dizia. “ São os hipócritas de todos os lados
que tornam incurável a nossa ferida”, escreveu ele. Em muitos
aspectos, este livro procurou moderar o feroz debate entre
conformistas e não conformistas.
O livro The Character of an Upright Man tem três capítulos.
O primeiro fala da integridade do homem, o segundo, da
integridade de Deus, e o terceiro aplica o ensino dos primeiros
capítulos para informar a mente e reformar a maneira de
conversar. Característico do estilo puritano, há algo para
cada pessoa nestas páginas. O cristão fiel verá um mapa
que mostra o caminho da piedade; o crente extraviado verá
o perigo de protelar 0 arrependimento; e 0 incrédulo será
desafiado pela integridade e compaixão da vida cristã.
Steele argumenta que é impossível ser cristão e não lutar
para viver com integridade. Assim é que o hipócrita fica num
terreno escorregadio. Steele expressa este ponto desta maneira:
“Você vê uma teia de aranha e acha que é um trabalho curioso,
mas o seu original vem das entranhas da aranha, e o seu
propósito é caçar moscas; e, embora ela se sinta segura na teia
como num castelo, quando lhe passam a vassoura, vai tudo
por água abaixo”. Quando Deus vier em juízo, o hipócrita
será destruído.

The Religious Tradesman (SPR; 216 páginas; 1989).


Originalmente impresso como The Tradesman’s Calling,
(1684), Steele trata dos deveres dos que trabalham em lojas no
meio do tumulto da vida diária, mostrando que o trabalho de
glorificar Deus na vocação deles pode servir como prova da
graça salvadora de Deus operando em suas vidas. Depois de
dar razões para o trabalho e de dar orientação sobre a busca
e o cumprimento de uma vocação, Steele mostra elabora­
damente que a prudência, a diligência, a justiça, a verdade,
0 contentamento e a fé caracterizam o comerciante religioso.

671
PAIXAO P E L A PU R EZA

O livro The Religious Tradesman é evangélico e prático


do começo ao fim. Prefaciado por Isaac Watts, foi um dos
primeiros livros distribuídos pela Sociedade para Promoção
do Conhecimento Religioso. Recentemente Randall Caldwell
relançou o clássico de Steele numa versão no inglês moderno
(VH; 159 páginas; 2005).

A Remedy for Wandering Thoughts in Worship (SPR; 239


páginas; 1988). Publicado pela primeira vez em 1667 como
An Antidote against Distractions, or An Endeavor to Serve the
Church in the Daily Case of Wanderings in the Worship of God,
esta é a obra mais famosa de Steele. E um extenso tratamento
puritano das distrações mentais. Baseado em 1 Corintios 7:35,
propicia um corretivo muito necessário aos pensamentos
intrusos, não desejados e que distraem-nos no culto público.
É interessante que esta obra foi escrita quando Steele estava
numa prisão galesa, sofrendo por sua inconformidade. Entre
escrever e dormir, ele testificava aos guardas, zeloso pela
felicidade eterna deles.
Característica desta obra é sua ênfase aos elementos
básicos da religião e piedade de coração própria dos
puritanos. O livro de Steele é tão experimental e prático como
0 de Nathaniel Vincent, The Cure of Distractions in Attending
upon God (1695). Para os atormentados por pensamentos
indisciplinados, a obra de Steele é uma grande ajuda.

672
Solomon Stoddard
(1643-1729)

S olomon Stoddard nasceu em Boston, Massachusetts,


como um dos quinze filhos de Anthony Stoddard, um
proeminente comerciante, e de Mary Downing, sobrinha do
Governador John Winthrop e irmã da mulher do Governador
Simon Bradstreet. Stoddard graduou-se no Harvard College
em 1662. Foi nomeado membro do corpo docente, oupreceptor,
no college em 1666 e se tornou o seu primeiro bibliotecário.
Depois ele passou dois anos como capelão em Barbados.
S toddard estava prestes a partir de navio para a Inglaterra em
1669, quando uma delegação de Northampton, Massachusetts,
persuadiu-0 a ser 0 sucessor do seu recentemente falecido
pastor, Eleazar Mather, irmão do conhecido Increase Mather.
Vários meses depois de chegar a Northampton, casou-se
com a viúva do seu antecessor, Esther. Ela era filha de John
Warham, um eminente ministro em Connecticut. O casal
criou doze filhos, três deles do casamento anterior de Esther.
Durante os sessenta anos nos quais Stoddard foi pastor,
Northampton cresceu, passando de uma pequena comunidade
a uma próspera cidade. A cidade foi abençoada com excelentes
terras agriculturáveis no irrigado vale do rio Connecticut e
com uma localização estratégica no cruzamento das rotas de

673
PAIXAO P E L A PU R EZA

viagem no interior da Nova Inglaterra. Delegados oriundos


de Northampton tornaram-se porta-vozes da região ocidental
na Corte Geral de Massachusetts, e o filho de Solomon
Stoddard, John, tornou-se o mais proeminente negociante de
terras, magistrado e comandante militar. Providencialmente,
Stoddard estava no centro de uma enorme rede de pessoas
influentes da Nova Inglaterra. Ele fazia uso dessa posição
para promover a piedade e para resistir às crescentes práticas
da impiedade.
A pregação de Stoddard fez de Northampton uma das
cidades mais famosas da Nova Inglaterra. Sua igreja tornou­
-se conhecida por periódicos avivamentos da piedade (cinco
“colheitas”, como lhes chamavam) e a sua eclesiologia favoreceu
a experiência puritana nas comunidades. Sobre Stoddard,
John Erskine escreveu: “ Seus sermões eram penetrantes e
experimentais, ainda que racionais e argumentativos; e muitas
vezes peculiarmente próprios para despertar os seguros,
dirigindo-os na grande obra de salvação, e para assistir os
vacilantes na avaliação do seu estado espiritual”.
Tendo chegado a Northampton, Stoddard aceitou o
Pacto do Meio Termo, ao qual o seu antecessor se opusera
violentamente. Pastoralmente, ele viu que faltava intensidade
espiritual a muitos dos filhos dos fundadores. Ele oferecia
plenos direitos de membros da igreja a qualquer cristão
professo, mesmo quando a pessoa tivesse pouca ou nenhuma
certeza de estar num estado de graça. Ele pregava o amor de
Deus, como também a ira de Deus, e concitava a todos os que
achavam em seu coração algum princípio da esperança da
salvação a ingressarem na igreja.
Isso constituiu uma substancial ruptura com as práticas
das primeiras gerações. Punha de lado, não só o testemunho
da graça experimental como critério para admitir alguém
como membro de igreja em plena comunhão, mas também
o compromisso da segunda geração em atribuir a condição
de membros do “meio termo” àqueles que concordavam em

674
Solo »1071 Stoddard

ser governados por normas cristãs, mas aos quais faltava uma
verdadeira experiência religiosa. Após anos de argumentação,
Stoddard persuadiu também a sua igreja a oferecer a Ceia
do Senhor para todos os que não tinham abertamente
uma vida pecaminosa e a acatar essa ordenança como um
possível meio de receber a graça salvífica de Deus.
A abordagem de Stoddard foi sem precedentes, e logo a
maioria das igrejas da Nova Inglaterra estava tomando essa
direção. Chamada “stoddardismo” pelos estudiosos modernos,
os críticos corretamente argumentavam que essa prática
diminuía a santidade das ordenanças como símbolos e selos
para o povo pactuai de Deus e abria a porta para uma geração
de indivíduos espiritualmente presunçosos. Seus efeitos
de longo alcance foram desastrosos, como posteriormente
Jonathan Edwards descobriría.
O stoddardismo não foi adiante sem oposição. Increase e
Cotton Mather fizeram veemente resistência a ele em público
e pela imprensa. Increase Mather denunciou Stoddard por
levar o congregacionalismo em direção ao presbiterianismo e
por perder a distinção entre a igreja como uma comunidade
de pessoas regeneradas e a comunidade secular. Não obstante,
Stoddard foi amplamente seguido por ministros e igrejas
no oeste de Massachusetts e de Connecticut. Sua influência
espalhou-se particularmente por meio do ministério de seu
filho mais velho, Anthony, em Connecticut, e do trabalho de
cinco pastores que se casaram com suas filhas. Por intermédio
dessas filhas, 0 clã Stoddard veio a ser a elite socio-religiosa do
oeste da Nova Inglaterra na primeira metade do século dezoito.
Dizia-se que a fama de Stoddard ultrapassou a dos dois Mather.
Timothy Dwight, neto de Stoddard, disse que Stoddard tinha
“mais influência do qualquer outro clérigo da província”.
Quando Stoddard morreu, foi elogiado na região onde morava
e na outrora hostil Boston como um patriarca que caíra.
Stoddard publicou vigorosos argumentos em prol das
suas inovações doutrinárias em dois temas que refletem os
dois lados de sua personalidade profissional. Um motivo era

675
PAIXAO P E L A PU R EZ A

evangélico: ele exortava os leigos a confiarem na misericordia


de Cristo e aconselhava os ministros a verem Cristo dentro
de seus corações, não apenas erudição dentro de suas cabeças.
As publicações mais significativas que falavam desse motivo
eram The Safety of Appearing at the Day of Judgment in the
Righteousness of Christ (1687); An Appeal to the Learned (1709);
A Guide to Christ (1714); e The Defects of Preachers Reproved
(1724). O segundo motivo, a atração que Stoddard sentia
por um governo eclesiástico hierárquico e seu desdém pela
presunção dos leigos de serem juizes de almas, é evidente em
The Doctrine of Instituted Churches (1700) e An examination of
the Power of the Fraternity (1718).
Noutra obra, The Trial of Assurance (1698), Stoddard trata
extensamente da inquirição do Senhor: “ Simão, filho de
João, tu me amas?”. Este livro mostra 0 cuidado pastoral de
Stoddard pelas almas perplexas, apesar de suas falhas como
médico espiritual.
A crescente ênfase de Stoddard ao poder de governo do
ministro e dos presbíteros dentro da congregação granjeou-
-lhe o epíteto de “papa do Vale do Rio Connecticut” . Algumas
igrejas recusaram apoio a essa forma de governo eclesiástico
e aderiram à Plataforma de Cambridge, de 1648, mais
democrática, que dava aos membros maior controle sobre
a admissão de membros e sobre a disciplina dos faltosos.
Um dos argumentos mais claros sobre estas políticas surgiu
em East Windsor, Connecticut, onde o genro de Stoddard,
Timothy Edwards, defendeu incansavelmente 0 sistema de
Stoddard como expressa em Connecticut como a Plataforma
de Saybrook contra uma congregação resistente.
Stoddard morreu em 1729. Dentro de vinte anos após sua
morte, o stoddardismo começou a declinar, embora muitos
dos seus elementos tenham continuado noutros sistemas
teológicos. Em última análise, 0 stoddardismo falhou em sua
tentativa de ter uma igreja unida e regenerada que abrangesse
toda a comunidade.

676
Solomon Stoddard

The Fear of Hell Restrains Men from, Sin (SDG; 20 páginas;


2003). Em todo avivamento que mereça atenção, dois temas
têm sido comuns na pregação: a justificação pela fé somente
e a certeza do inferno para os impenitentes. Stoddard
desejava zelosamente ver almas salvas por Jesus Cristo, e
assim ele pregava muitas vezes sobre 0 inferno, dizendo: “ Se
os pecadores não ouvirem frequentemente sobre o juízo e a
condenação, poucos serão convertidos”.
Originalmente publicado em 1713 como The Efficacy of
the Fear of Hell to Restrain Men from Sin, este é um poderoso
sermão que explica que o temor do inferno pode beneficiar
pais, ministros, magistrados, chefes de escritórios, homens
de negócio e jovens. Ele conclui considerando as grandes
misérias do inferno e a impossibilidade de os condenados
fugirem do inferno.

A Guide to Christ (SDG; 120 páginas; 1997). Este manual


foi escrito “para ajudar jovens ministros a guiarem almas
anelantes na obra de conversão” . E principalmente um tratado
que considera a pergunta: “Que deve fazer uma pessoa que
deseja a salvação mas não a encontra em seu coração, para
crer no Senhor Jesus Cristo e ser salva?” Embora seja dado
muito conselho profundo, Stoddard, neste livro, depende
exageradamente na preparação para a salvação.
O livro contém um prefácio escrito por Increase Mather
e dois sermões adicionais de Stoddard sobre a pregação do
evangelho aos pobres e aos necessitados, ambos baseados em
Lucas 4:18.

The Nature of Saving Conversion (SDG; 180 páginas; 1999).


Em dezesseis capítulos, Stoddard mostra o que é conversão,
como esta afeta a alma, quais são suas marcas distintivas e
como a pessoa pode saber se foi verdadeiramente convertida.
Stoddard é pastoral e reconfortante. Eis um exemplo:
“Quando vocês examinam a Bíblia a fundo, nela podem ver

677
PA IXA O P E L A PU R EZA

seus direitos. Quando ouvirem a Palavra, ouvirão muito


assunto que envolve consolação. Quando vocês estiverem
exercitados sobre as suas corrupções, poderão confortar­
-se com o fato de que, depois de algum tempo, Cristo os
apresentará sem mancha nem defeito. Quando satanás os
estiver tentando, vocês poderão regozijar-se em que, em
breve, Deus esmagará satanás debaixo dos seus pés. Quando
você pranteia os afastamentos de Deus, você pode animar-se
pela consideração de que em breve contemplará a Sua face
em justiça” .
Um apêndice desta obra oferece quatro sermões de
Stoddard: “The Way to Know Sincerity and Hypocrisy Cleared
Up”; “The Defects of Preachers Reproved” ; “The Presence of
Christ with Ministers of the Gospel” ; e “The Duty of Gospel
Ministers to Preserve a People from Corruption”.

The Puritan Pulpit: Solomon Stoddard (1643-1729), (SDG;


315 páginas; 2005). O material reimpresso neste volume
contém quase todos os restantes sermões de Stoddard não
publicados, inclusive sete excelentes mensagens sobre “o
benefício do evangelho para os feridos no espirito”, como
também dez sermões individuais que cobrem assuntos como
0 poder purificador do sangue de Cristo, 0 evangelho como
meio de conversão, como os jovens podem louvar o Senhor,
falsas esperanças de salvação, a prova da certeza, e 0 perigo da
apostasia. Este é o segundo volume da série sobre o púlpito
puritano na América (The Puntan Pulpit: The American
Puritans Series).

The Safety of Appearing on the Day of Judgment in the


Righteousness of Christ (SDG; 360 páginas; 1997). Impresso
primeiramente em 1729, este livro foi a exposição final de
Stoddard sobre a imputação da justiça de Cristo, antes de
sua morte. Não há nenhuma questão mais importante do que
saber como o homem pode ser feito justo para com Deus.

678
Solomon Stoddard

Seria por meio dos méritos de Cristo, ou por seus próprios


méritos? Stoddard mostra que no fim da nossa vida devemos
ser encontrados “na justiça de Cristo”, porque a salvação é
experimentada unicamente por meio dos méritos de Cristo.
John Erskine escreve no prefácio: “Este livro examina, não
as objeções cultas, críticas ou filosóficas, mas, seguindo uma
linha clara e prática, revela os fundamentos e os estímulos da
fé, resolve as dúvidas do coração desconfiado e incrédulo, e
põe a descoberto a ação sutil do espírito de justiça própria.
Com relação a essas idéias, este é o melhor tratado que eu
conheço sobre o assunto, embora pensem de outro modo os
que apreciam mais a beleza de linguagem e de composição
do que a importância e a justeza dos sentimentos” .

679
Lewis Stuckley
(c. 1621-1687)

N ascido por volta de 1621, Lewis Stuckley era descendente


de uma honorável família de Devonshire. O patrimonio
da familia era razoavelmente grande; da entrada de sua casa
podia-se ver treze mansões. Um dos ancestrais de Stuckley,
Lewis Stuckley, de Affeton, foi porta-estandarte a serviço da
rainha Elizabeth. Sir Thomas Stuckley, o aventureiro inglês,
era seu irmão.
Em 1646, a comissão permanente de Devon nomeou
Stuckley para a reitoria de Newton Ferrers, nas proximidades
de Plymouth. E incerto se ele aceitou a nomeação, pois logo
depois ele foi nomeado para residir em Great Torrington. De
Great Torrington ele se transferiu para Exeter, onde primeiro
pregou na catedral e depois formou sua própria igreja
congregacional, em 1650.
Em 1658, Thomas Mall, assistente de Stuckley em Exeter,
publicou anonimamente A True Account Of What was done
by a Church of Christ in Exon (whereof Mr. Lewis Stuckley
is Pastor) the eighth day of March, 1657, when two members
thereof were Excommunicated. Em resposta, Toby Alleine,
irmão de Joseph Alleine, e marido de um dos membros
excluídos, escreveu Truths Manifest (1658). Stuckley replicou

680
L ew is Stuckley

com Manifest Truth (1658), após o que Alleine reimprimiu


seu prévio tratado, com o acréscimo de notas, como Truth
Manifest Revived (1659). Susanna Parr, a outra mulher que
tinha sido excluída, publicou sua própria defesa em Susanna’s
Apology against the Elders (1659).
Stuckley foi forçado a largar a obra que realizava na
catedral depois da Restauração de Charles Stuart. Ele foi
silenciado com o restante de seus irmãos não conformistas
no Dia de São Bartolomeu, 1662. Se tivesse concordado em
conformar-se, teria uma carreira pomposa e ilustre, visto que
era parente de George Monk, duque de Albemarle e influente
no apoio que dava ao rei. Mas Stuckley recusou a honra e
preferiu ocupar-se em pregar privadamente.
Stuckley casou-se com Susanna Dennis em 1672; eles
tiveram cinco filhos. Alguns anos mais tarde, os Stuckley
transferiram-se para Bideford. Stuckley adoeceu gravemente
no verão de 1687 e morreu no dia 21 de julho.

A Gospel Glass (Ebenezer; 306 páginas; 2002). Fora a peça


sobre política eclesiástica mencionada acima, a obra 21 Gospel­
-glass, Representing the Miscarriages of English Professors both in
their Personal and Relative Capacities; or A Call from Heaven
to Sinners and Saints by Repentance and Reformation to Prepare
to Meet Cod (1667), foi seu único livro. Tornou-se para o
evangélico hipócrita o que a obra de Peter DuMoulin, The
Anatomy ofArminianism (1619) foi para o arminiano.
Presumivelmente, a substância desta obra fora pregada
na igreja congregacional de Exeter. Thomas Mall pregou algo
similar ao A Gospel Glass mais ou menos na mesma época em
que esse livro foi publicado, o que parece confirmar isso. O
livro de Mall, The Axe at the Root of Professors Miscarriages in a
Plain Detection of, and a Whole Caveat against the Miscaniages
Opposite to Eaith in God (1668), igualmente reprova os professos
religiosos contra o “descaminho” ou 0 mau uso do evangelho.

681
PAIXAO P E L A PU R EZA

À semelhança de muitos tratados do período em foco, o


intitulado A Gospel Glass, de Stuckley, visa reprovar, corrigir
e mudar a percepção do pecador. Muitas vezes Stuckley diz a
seus leitores que considerem quem e o que eles realmente são,
e não se escondam por trás de uma nuvem de autoengano.
Como ele escreve no prefácio: “Meu propósito neste em­
preendimento é evitar este destempero e levar vocês, todos
vocês, à percepção da sua iniquidade pessoal” (p. x). Ele
queria que o leitor visse o “catálogo completo” dos seus
pecados, os quais são “provocações aos olhos do Senhor” .
O objetivo desta percepção não era simplesmente a
convicção de pecado, mas sim o arrependimento e o perdão.
“Eu desejo que vocês levem consigo este catálogo para o seu
quarto, e, conforme o leiam, marquem um sinal especial
naqueles pecados que são principalmente seus, com vistas
ao arrependimento e à correção, e então não deem descanso
ao Senhor enquanto Ele não pegar Sua pena, mergulhá­
-la no sangue de Seu Filho, e os cancelar do Seu diário e da
Sua memória” (p. xii). Contrariamente à opinião popular
moderna, os que advogavam uma preparação para a salvação
na Inglaterra tinham uma teologia da graça.
Muitos admiravam a obra de Stuckley. John Ryland, Jr.,
por exemplo, escreveu: “Já faz muitos anos que venho dando
muito valor ao livro Gospel-glass, do Sr. Stuckley. Vejo, pelas
notas nas margens do meu exemplar, que o meu querido e
honrado pai começou a lê-lo, com muita atenção, no ano de
1745, e ele me deu o livro de presente em 1771. Em minha
juventude eu o empregava muitas vezes, privadamente,
como um auxiliar muito valioso no dever de examinar a mim
mesmo, e frequentemente lia partes dele para meus amigos,
ou recomendava que o examinassem com atenção” .

682
George Swinnock
(1627-1673)

N atural de Maidstone, Kent, George Swinnock perdeu seu


pai quando ainda pequeno. Ele foi criado na casa de seu
tio, Robert Swinnock, um firme puritano. Teve sua educação
em vários colégios, em Cambridge e em Oxford, obtendo o
grau de Bacharel em Artes em 1648, e o de Mestre em Artes
em 1650.
No ano seguinte Swinnock foi ordenado e se tornou vigário
da igreja de Rickmansworth. Em 1655, foi nomeado para a St.
Leonard’s Chapel, em Aston Clinton, Buckinghamshire. Em
1661, tornou-se vigário em Great Kimble, Buckinghamshire.
Foi exonerado desse cargo em 1662 por não conformidade.
Durante vários anos ele pregou em casas particulares na
área circunvizinha e preparou uma coleção de suas obras
para publicação (1665). Ele as dedicou a um político local,
Richard Hampden, a quem ele serviu também como capelão
intermitentemente, até 1672. Depois, valendo-se da Declaração
de Indulgência, voltou para sua cidade natal de Maidstone
para pastorear um grande rebanho até sua morte, ocorrida no
dia 10 de novembro de 1673. Deixou vivos sua mulher e seus
nove filhos.
Swinnock tem sido descrito como “um homem de boas
habilidades, e um pregador sério, ardoroso e prático”.

683
PA IXA O P E L A PU R EZA

The Works of George Swinnock (BTT; 5 volumes, 2.500


páginas; 1996). Densa, ainda que calorosa, simplicidade e
numerosas ilustrações caracterizam os escritos de Swinnock.
Sua principal obra, “The Christian Man’s Calling”, que se
encontra nos volumes 1 e 2 e em parte do volume 3 (mais
de mil páginas), explora magistralmente a vocação do crente
verdadeiro em “disciplinas espirituais, estilo de vida pessoal,
relações no lar, no casamento e no trabalho diário, em tempos
de prosperidade e de adversidade, num mundo hostil, e na
hora da morte”. Os editores dizem que esta obra “é urna das
mais completas e melhores demonstrações do evangelho em
sua aplicação aos quefazeres da vida comum”.
O volume 3 contém também “Heaven and Hell
Epitomized”, e a primeira parte de “The Fading of the
Flesh”, judicioso tratado sobre a preparação para a morte.
No volume 4, conclui-se “The Fading of the Flesh”, seguido
por três tratados sobre o trabalho dos magistrados e um rico
e prático estudo sobre os atributos divinos intitulado “The
Incomparableness of God” . O volume 5 contém “The Door
of Salvation Opened by the Key of Regeneration” e “The
Sinner’s Last Sentence” - sermões sobre Mateus 25:41,42 com
duzentas páginas de conselho sobre a gravidade do pecado.
As obras de Swinnock mostram aguda sensibilidade face
às Escrituras e em sua aplicação à vida diária. Nossa única
crítica é que falta organização a esses longos tratados; sua
real força é a ilustração. Como Spurgeon escreveu, “George
Swinnock tinha desenvolvido grandemente a arte de ilustrar,
como suas obras provam - [o que] tornou seu ensino cativante.
Permanece ali “uma rara soma de talento e de sabedoria” .

684
Joseph Symonds
(m. 1652)

uando jovem, Joseph Symonds foi assistente de Thomas


Gataker, em Rotherhithe, perto de Londres. Em 1632, ele
foi nomeado reitor em St. Martin’s, Londres. Adotou as idéias
dos independentes sobre governo de Igreja, razão pela qual
foi perseguido pelo arcebispo Laud. Symonds refugiou-se na
Holanda em 1639, onde foi nomeado pastor de uma congregação
de língua inglesa em Roterdam, ao lado de William Bridge
e de Jeremiah Burroughs. Seu trabalho ali foi grandemente
abençoado, mas teve algumas lutas. Ele escreveu a seus amigos
que estava sendo “tão atormentado pelos anabatistas que não
sabia 0 que fazer” .
Em 1647, Symonds voltou para a Inglaterra para exercer
o cargo de vice-presidente e membro do corpo docente do
Eton College. Manteve-se nesse ofício por cinco anos até sua
morte, em 1652.

The Case and Cure of a Deserted Soul (SDG; 360 páginas;


1997). De acordo com J. I. Packer, a obra de Symonds é 0
clássico tratamento da depressão espiritual. Neste livro,

685
PAIXAO P E L A PU R EZA

Symonds descreve o estado da alma desamparada. Delineia


as razões de tal condição, os meios pelos quais recuperar-se
de tal condição, e como evitar cair em tal condição. Diz Peter
Lewis que este livro “mostra uma mente e um coração repletos
das melhores qualidades do saber e da devoção característicos
dos puritanos”.

686
Edward Taylor
(c. 1642-1729)

E dward Taylor nasceu numa fazenda de Sketchley,


Leicestershire, muito provavelmente em 1642.
Aparentemente estudou na Universidade de Cambridge e
depois exerceu 0 magistério em Bagworth, Leicestershire,
durante um curto período. Seu neto, Ezra Stiles, que serviu
como um dos presidentes de Yale, disse que o seu avô foi “um
vigoroso defensor de Oliver Cromwell” . Taylor fez oposição à
Restauração, e tinha pouca simpatia pela Igreja da Inglaterra.
O Ato de Uniformidade, de 1662, que também compelia os
mestres-escolas a aceitarem 0 Livro de Oração Comum em
sua inteireza e a rejeitarem a Solene Liga e Aliança, deixou
Taylor intranquilo. Mas foi a Lei dos Conventículos, de 1664,
que declarou ilegais os conventículos, que motivou Taylor a
começar a considerar a emigração para a Colonia da Baía de
Massachusetts, onde poderia cultuar a Deus em paz (Oxford
DNB, 53:878).
Taylor partiu da Inglaterra para a Colônia da Baía de
Massachusetts em 1668. Ele passou a viagem toda lendo 0
Novo Testamento Grego, observando a beleza das aves e
dos peixes encontrados pela embarcação e registrando seus
ataques de enjoo do mar em seu diário, chegando, finalmente,

687
PAIXAO P E L A PU R EZA

à casa de Increase Mather em Boston. Dentro de três semanas,


e depois de consultar Charles Chauncy, presidente do Harvard
College, Taylor matriculou-se na escola. Foi-lhe dada a
posição de mordomo do colégio em reconhecimento de sua
idade e experiência. Seu companheiro de quarto era Samuel
Sewall, que veio a ser um amigo e correspondente por toda a
vida. Taylor completou seu curso de medicina e o de teologia,
comprovando-se um destacado erudito. Ele foi um dos quatro
estudantes aos quais foi solicitado que discursassem em sua
colação de grau quando recebeu o grau de Bacharel em Artes,
em 1671. Três anos depois, ele recebeu o grau de Mestre em
Artes de Harvard.
Embora Taylor planejasse permanecer como preceptor em
Harvard, uma delegação de Westfield, Massachusetts, uma
vila localizada no vale de Connecticut, pediu-lhe que fosse 0
ministro de sua congregação. Apesar dos seus temores, Taylor
assumiu múltiplos papéis como fazendeiro, médico rural e
ministro. Mal sabia ele que iria presidir esse rebanho por mais
de cinquenta e sete anos como guia espiritual, e servir como
douto teólogo e como estadista disciplinar na comunidade.
Taylor pregou seu primeiro sermão em Westfield no dia 3 de
dezembro de 1671. Por volta de 1673, uma casa paroquial e uma
igreja, as quais também dobraram suas funções servindo como
um forte para proteção contra os inimigos, foram construídos.
Devido a atrasos causados por guerras contra os índios e por
outras dificuldades, a igreja de Westfield não foi organizada
formalmente até 1679, e logo depois Taylor foi ordenado. A
reunião de presbíteros e do clero das redondezas nesse culto
incluiu Solomon Stoddard, com quem Taylor posteriormente
discutiría acremente sobre divergências concernentes à Ceia
do Senhor. Os escritos de Taylor, “Relation” e “ Foundation
Day”, distribuídos naquela ocasião, estão entre os seus mais
primitivos escritos ainda disponsáveis. Neles Taylor descreveu
a sua conversão pessoal.
Nesse ínterim, em 1674, Taylor casou-se com Elizabeth

688
E dw ard Taylor

Fitch, de Norwich, Massachusetts; ele registrou o cortejo que


lhe fez, tanto numa carta como num longo poema acróstico.
Ela lhe deu oito filhos, cinco dos quais morreram na infância.
Sua elegia, em 1689, pelos funerais da esposa, intitulada “Only
Dove”, apresenta o costumeiro louvor puritano pela mulher
como esposa, mãe e dona de casa. Sua segunda esposa, Ruth
Wyllys, de Hartford, Connecticut, que ele desposou três anos
depois, deu à luz a seis filhos. Como ministro e poeta, Taylor
escreveu “Upon Wedlock, & Death of Children”, poema
que se parece com as elegías de Anne Bradstreet, cujas obras
poéticas Taylor possuía e apreciava.
Durante esse período inicial, Taylor escreveu paráfrases
metrificadas de muitos Salmos. Ele transcreveu uma segunda
versão de diferentes Salmos durante a parte inicial da década
de 1680. Contudo, o trabalho poético privado de Taylor esteve
oculto do público por 250 anos. R. S. Clark escreve: “Em seu
testamento ele proibiu a publicação dos seus poemas, e então
o seu neto, Ezra Stiles, cumpriu seus desejos e os manteve
depositados discretamente na biblioteca de Yale. A descoberta
feita por Thomas H. Johnson do material em 1937 pôs fim ao
anonimato e Taylor emergiu como 0 grande poeta colonial,
só rivalizado por Anne Bradstreet (1612-1672). Desde a
descoberta feita por Johnson, a Editora da Universidade de
Princeton e a Editora da Universidade de Yale publicaram
edições autorizadas das suas poesias, e numerosos estudantes
acadêmicos acompanharam” (“An Early Response to Open
Theism”, Reformation and Revival 12, 2 [Spr 2003]: 119).
A primeira coleção importante de poemas de Taylor, escritos
durante a década de 1680, foi intitulada God’s Determinations
Touching His Elect: and The Elect’s Combat in their Conversion and
Coming up to God in Christ together ■ with the Comfortable Effects
thereof Nesta coleção de trinta e cinco poemas, Taylor revela
seu conceito sobre a história da salvação e sobre a criação,
com um debate entre a Justiça e a Misericórdia quanto ao
destino da humanidade. Taylor detalha a guerra de Cristo

689
PAIXAO P E L A PU R EZA

com satanás pelos eleitos, e termina com a alegre recepção dos


eleitos à comunhão da igreja. A vontade eterna e soberana de
Deus explica o porquê e o como de todos os eventos, inclusive
os que são difíceis para a mente humana aceitar e entender.
Não alheio à tristeza, Taylor abraçava os seus pesares como
mensageiros do céu.
Karen Rowe, a quem devemos grande parte deste registro,
diz que Taylor teve ao menos três estímulos para esta obra:
primeiro, sua luta para livrar o seu rebanho, em Westfield,
dos ataques índios; segundo, a apostasia dentre a segunda
geração da igreja; e terceiro, a necessidade de manter a pureza
doutrinária só admitindo verdadeiros convertidos na igreja e
na Ceia do Senhor ( The Heath Anthology ofAmerican Literature,
4a ed., ed. Paul Lauter, pp. 456-459). J. Daniel Patterson sugere
que a estrutura da obra God’s Determinations segue o padrão
do sermão puritano típico. R. S. Clark acha que vale a pena
seguir a tese de Patterson, pois ela mostra que “o abundante
uso de diálogo” que Taylor fez revela “as esperanças e os
temores daqueles membros de sua congregação” refletidos
na parte que trata do “uso” ou da “aplicação” dos sermões
puritanos. Clark conclui que “este foco na aplicação permite
a Taylor expressar poeticamente suas preocupações com seus
congregados na medida em que elas envolvem a soberania de
Deus em seu trabalho no mundo” (.Reformation and Revival,
12,2 [Spr 2003]: 120).
Em 1682, Taylor começou uma sequência de poemas sobre
a Ceia do Senhor intitulada Preparatory Meditations before my
Approach to the Lord’s Supper que, por fim, somavam 217. Estes
poemas eram geralmente escritos depois de ele ter esboçado ou
pregado um sermão, e foram uma das suas maiores realizações
poéticas. Característico do ministro puritano, Taylor aplicava
à sua própria alma a lição recolhida do texto sacramental,
sempre objetivando detestar o pecado, amar a Deus o máximo,
e contemplar e aguardar a comunhão eterna com Cristo Jesus
como 0 Esposo celestial.

690
E dw ard Taylor

Em 1720, Taylor sofreu grave enfermidade. Durante


a recuperação, ele escreveu três poemas renunciando à
mundanidade e dando as boas vindas à morte. Estes poemas
se harmonizam muito bem com sua obra poética baseada em
Cantares de Salomão e escrita aproximadamente naquela
época. Taylor escreveu também A Metrical History of Christianity
em 1692, como também diversas paráfrases de Salmos e de
Jó, e incontáveis elegías, acrósticos, poemas de amor, historias
alegóricas, meditações e poemas líricos. O volume dos seus
escritos é espantoso, considerando quão diligente ele foi em
seu ministério pastoral.
Taylor era um leitor voraz, que copiava livros à mão para
uso pessoal. Também transcreveu em 400 páginas os poemas
“God’s Determinations” e “Preparatory Meditations”, e
os incluiu nas “Poetical Works” reunidas num invólucro
de couro para preservá-los. Embora jamais publicados, são
verdadeiramente um achado raro.
Como médico de Westfield, Taylor também se interessou
por ciência natural, principalmente botânica e ervas
medicinais. Também foi ativo nas questões cívicas. Ele ajudou
a preparar a defesa de Westfield durante a Guerra do Rei
Felipe.
Taylor morreu em 1729, em Westfield, Massachusetts,
onde foi sepultado. Ele foi descrito por seu neto Ezra Stiles
como um homem “de vivas paixões e, contudo, sério e solene.
[Ele foi] exemplar por sua piedade, e por uma observância
verdadeiramente santa do Dia do Senhor” (Rowe, p. 459). John
Shields conclui: “Ele deixou à sua paróquia o sólido legado
de uma teologia puritana, ortodoxa, uma tradição de meticu­
losos cuidados médicos, e um conjunto consideravelmente
volumoso de obras poéticas sensíveis e intelectualmente
desafiadoras” {OxfordDNB, 53:880).

691
PAIXAO P E L A PU R EZA

The Diary o f Edward Taylor (CVHM; 40 páginas; 1964). O


diário de Taylor compreende só dezesseis páginas; o resto é
dedicado à uma introdução histórica e comentário. Taylor
descreve jornalisticamente sua viagem marítima e seus
primeiros anos na escola. Fora isso há pouca coisa aqui para
leitura devocional.

Edward Taylor’s Chrístographia, editado por Norman S.


Grabo (Yale; 507 páginas; 1962). Em catorze sermões, Taylor
expõe as duas naturezas de Cristo, provendo um retrato
de Cristo como um modelo a ser seguido. Ele nos informa
repetidamente que “Cristo é o exemplo perfeito para todos
viverem à sua altura”. E impossível, diz ele, atingir tão alto
padrão; há plenitude de vida em Cristo, e em ninguém mais.
Neste livro, Taylor se assemelha aos seus equivalentes
anglicanos na Inglaterra, que frequentemente pregavam
sobre 0 tema “a imitação de Cristo” . A teologia puritana
primitiva negligenciou um pouco esse tema. Mantendo-se em
consonância com os reformadores, os sermões focalizavam
frequentemente a justa imputação de Cristo, antes que a
santificação à semelhança de Cristo. Contudo, a segunda e a
terceira gerações puritanas focalizavam, como Taylor, mais a
importância de imitarmos Cristo. Eles diferiam dos autores
católico-romanos e anglicanos por expressarem que toda
imitação de Cristo depende da graça capacitadora do Espírito
no coração do crente. Ninguém poderá viver como Cristo
viveu se não nascer de novo, dizia Taylor.

Upon the Types o f the Old Testament (NUP; 2 volumes, 1.005


páginas; 1989). Em 1977, um dos manuscritos de Taylor,
supostamente perdido, envolto num pano, foi descoberto na
biblioteca de um parente em Lincoln, Nebraska. Nos dez anos
seguintes, Upon Types of the Old Testament foi cuidadosamente
editado. O livro foi publicado em 1989, revelando algo
da melhor obra de Taylor. Em trinta e seis sermões, Taylor

692
E dw ard Taylor

tece crônicas sobre tipos cristológicos como Abraão, Isaque,


Jaco, José, Moisés, Josué, Salomão e Sansão. Os sermões são
excelentes, tanto na linguagem como na perspicácia. Como
herdeiro da tradição puritana, Taylor consultou as melhores
fontes a ele disponíveis. Ele cita Agostinho, Matthew Poole
e Henry Ainsworth. Taylor fez também cuidadosas anotações
de outra obra sobre tipos, Christ Revealed, or, the Old Testament
Explained, escrita por Thomas Taylor em 1635.
A teologia de Edward Taylor, como se vê revelada em Types,
é uma teologia constituída pelo pensamento puritano. Mas
ele não hesitava em modificar as fontes que consultava. Seu
grande propósito nesses sermões era instruir sua congregação
sobre como ler o Velho Testamento para ver Cristo.

693
Thomas Taylor
(1576-1632)

h o m a s T ay lo r n a sc e u em 1576 em R ic h m o n d , Y o rk sh ire.
T Seu p a i, u m m a g is tra d o local, m o s tra v a g ra n d e b o n d a d e
p a ra co m os p u rita n o s e o u tro s m in is tro s d a p a rte n o rte da
In g la te rra , q u e tin h a m sid o ex p u lso s d e seus p ú lp ito s . T h o m a s
o b te v e do C h r is t’s C ollege, C a m b rid g e , o g ra u de B a c h a re l em
A rtes em 1595 e 0 de M e stre em A rte s em 1598. E le se rv iu
com o m e m b ro do c o rp o d o c e n te (1599-1604) e co m o p re le to r
em h e b ra ic o (1601-1604), a n te s d e in g re s s a r n o m in is té r io , se
b e m q u e te n h a co m e ç a d o a p re g a r com v in te e u m a n o s de
id ad e. P ro v a v e lm e n te se rv iu co m o cap elão de W illia m , Lord
R u ssell, de T h o r n h a u g h , a q u e m d e d ic o u sua ed ição da o b ra
de W illia m P e rk in s , Exposition upon Jude. T ay lo r foi u m dos
m ais áv id o s d isc íp u lo s de P e rk in s .
Q u a n d o estava com v in te e cin co anos de id a d e, T aylor
p reg o u d ia n te da ra in h a E liz a b e th u m serm ão que lh e g ran je o u
a rep u ta ção de “ u m m u ro de b ro n z e c o n tra 0 p a p a d o ” . E m 1608,
ele d e n u n c io u o d u ro tra ta m e n to d ad o pelo b isp o B a n cro ft
aos p u rita n o s . Taylor foi sile n c ia d o p o r alg u m te m p o p o r
S am uel H a rs n e tt, q u e aco m p a n h a v a B a n cro ft n as suas v isitas
m e tro p o lita n a s.
E provável que T aylor te n h a serv id o com o m in is tro

694
Thomas Taylor

primeiramente em Watford, Hertfordshire (1612), também


pregando com frequência em Reading, Berkshire. Em acréscimo,
ele formou e dirigiu um seminário puritano, descrito como um
“berçário de novos pregadores”. Entre estes pregadores estava 0
irmão de Thomas, Theophilus, que foi pastor da St. Lawrence
Church, em Reading, de 1618 a 1640, e William Jemmat, que
mais tarde editaria as obras de Thomas Taylor.
Nalgum ponto da década de 1620, Taylor serviu
como capelão de Edward Conway, secretário de estado e
posteriormente Visconde Conway. Taylor compartilhava a
perspectiva antiespanhola de Conway, o que ele detalhou em
sua obra Map of Rome (1620), e em dois sermões (1624) que
condenava completamente toda a ideia de aliança da Ingla­
terra com a Espanha.
Em 1625 foi solicitado a Taylor que fosse pároco adjunto
e preletor na igreja de St. Mary Aldermanbury, Londres. Aí
também ele estabeleceu um seminário puritano e trabalhou
arduamente pela causa protestante. Em 1627, ele juntou­
-se a William Gouge, Richard Sibbes e John Davenport em
esforços para aliviar a situação dos calvinistas do Palatinado,1
{na Alemanha} pelo que eles foram condenados por William
Laud, o novo bispo de Londres, no ano seguinte. No mesmo
ano, ele foi laureado com o grau de Doutor em Teologia por
Cambridge, apesar da oposição do bispo antipuritano Matthew
Wren. Chamado “um doutor iluminado” por Wood, Taylor
trabalhou diligentemente, no tempo que podia reservar para
isso, escrevendo sete livros e numerosos sermões e panfletos.
Taylor se opunha ao separatismo e ao antinomianismo tão
vigorosamente como se opunha ao catolicismo romano e ao
arminianismo. Quem quer que duvidasse da presença de Deus
ñas comunidades eclesiásticas, ele satirizava, “é cegó como
uma toupeira, e palpavelmente iludido” (OxfordDNB, 53:986).

1 R e g iã o e x te n s a e fo rte n a I d a d e M é d ia , re d u z id a a u rn a z o n a d o b a ix o R e n o
d e p o is d o s T r a ta d o s d e V e s te la lia ( 1 6 4 8 ). N o t a d o tra d u to r.

695
PAIXAO P E L A PU R EZ A

Taylor aposentou-se em 1630 devido à perda de saúde.


Ele ficou de cama durante um longo e abençoado período.
Em seu leito de morte, ele exclamou: “Em Cristo, sou mais
que vencedor. Oh, eu sirvo a um bom Deus, que cobre todas
as imperfeições e dá um grande salário por diminuto serviço;
e, em Sua misericórdia, providenciou para mim um dos
maiores!”
Ele morreu de pleurisia em 1632, em Ilseworth, deixando
vivos sua esposa, Anne, e ao menos seis fillhos. O ofício
fúnebre em seu funeral foi dirigido por William Jemmat,
ex-assistente de Taylor em Reading e editor de bom número
de seus livros. Em 1653, Edmund Calamy e outros onze
proemintes colegas puritanos prepararam para publicação a
primeira de diversas edições das obras de Taylor.

Chñst Revealed: or, The Old Testament Explained (SF;


384 páginas; 1979). Um fac-símile reimpresso da edição de
1635, este livro foi o mais popular estudo puritano sobre os
tipos semelhantes a Cristo no Velho Testamento, indivíduos,
eventos e cerimônias. Baseando sua obra em João 14:6 (“Eu
sou a verdade”), 0 expresso propósito de Taylor é “demonstrar
que Cristo é a Verdade em oposição às sombras e às figuras
da velha lei” . O Novo Testamento cumpre ou manifesta mais
perfeitamente a velha lei mosaica, diz Taylor.
Na primeira terça parte do livro, Taylor mostra como
Adão, Noé, Melquisedeque, Isaque, José, Moisés, Josué,
Sansão, Davi, Salomão e Jonas prefiguraram Cristo. Depois
ele considera outros tipos de Cristo: 0 primogênito, o
sacerdócio, os nazireus, a Páscoa, a coluna de nuvem e fogo, 0
Mar Vermelho, 0 maná, a água que fluiu da rocha, e a serpente
de bronze.
Em toda a sua obra, Taylor se apoia em poucas fontes
então contemporâneas; ele nem sequer cita as anotações de

696
Thomas Taylor

Ainsworth sobre a Bíblia, nem as discussões de Thomas


Goodwin sobre as leis cerimoniais. Embora nem sempre
se possa concordar com a exegese de Taylor, sua instrução
prática é muito valiosa.

An Exposition o f Titus (K& K; 565 páginas; 1980). Publicado


primeiramente em 1612, reimpresso depois numa edição
ampliada em 1619, este livro continua sendo a obra mais
famosa e o guia mais seguro sobre Tito. Reimpresso numerosas
vezes no correr dos séculos, este livro está repleto de valiosos
pensamentos homiléticos para os ministros e, como diz
Spurgeon, “ recompensará bem o leitor”.
O comentário de Tito, por Taylor, é uma obra volumosa que
visa mostrar que esta curta Epístola é uma espécie de sinopse da
completa doutrina e prática da salvação. Na introdução, Taylor
escreve: “Pelas pessoas cultas [esta Epístola] é considerada
um sumário de todas as Epístolas de Paulo... Nesta Epístola,
como que num mapa ou modelo, ele quis colocar todo o seu
espírito, estilo e entendimento da doutrina da salvação, e
pretendeu deixá-la à Igreja como um manual na qualidade de
um sumário compendiado de toda a religião cristã, de maneira
que, quando os cristãos receberem instrução em matéria de
fé e costumes, eles sejam feitos, não somente sábios para a
salvação, mas também proveitosos e aptos para o lugar que
Deus lhes designou na igreja, na nação ou na família”.

697
Robert Traill
(1642-1716)

R obert Traill nasceu em 1642 em Elie, Fifeshire. Seu pai,


Robert, supervisionou cuidadosamente a educação inicial
de seu filho. Seu pai serviu primeiro como ministro em
Elie, e depois foi para a Greyfriars Church, em Edimburgo,
pastoreando ali com fidelidade e zelo. Durante a Guerra
Civil, ele se alistou como capelão junto ao exército escocês na
Inglaterra. Posteriormente foi aprisionado por sete meses por
fazer Charles II lembrar-se, na Restauração, da sua obrigação
de cumprir a Aliança. Em 1662, Traill fugiu para a Holanda,
deixando para trás sua esposa Jean Annan, mulher temente
a Deus, e seis filhos. Três anos depois, Jean foi presa por
corresponder-se com seu marido exilado.
Nesse meio tempo, o jovem Robert Traill estudou na
Universidade de Edimburgo, onde foi bom aluno. William
Guthrie, de Fenwick, autor de The Christian’s Great Interest,
tornou-se o seu mentor e bom amigo. Com a idade de dezenove
anos, Traill foi assistente de James Guthrie, de Stirling, amigo
de seu pai e o “pequeno homem” de Cromwell “que não pôde
curvar-se” quando Guthrie foi decapitado. Traill serviu por
pouco tempo como capelão da família de Scotstarvet e passou
algum tempo com John Welsh, ministro de Irongray, que

698
Roben Traill

foi o primeiro a realizar “conventículos armados”, isto é,


comunidades espirituais onde vários frequentadores usavam
armas para defender o grupo e impedir sua prisão.
Em 1666, agentes da facção episcopal da Escócia
descobriram na casa de Traill exemplares do livro proibido An
Apologetic Relation, (1660). A família inteira foi obrigada a ter
cautela. A crise culminou durante a A Levante de Pentland1
nesse mesmo ano, quando o jovem Traill foi denunciado como
um “ rebelde de Pentland”. Antecipando a detenção, ele fugiu
para a Holanda, onde seu pai e outros teólogos britânicos
estavam refugiados, evitando o absolutismo dos Stuart. O
jovem Traill continuou seus estudos teológicos ali, prestando
assistência a Matthias Nethenus, professor de teologia em
Utrecht, e ajudando a preparar a obra de Samuel Rutherford,
Examination ofArminianism para publicação.
Em 1669, 0 jovem Traill voltou para a Grã-Bretanha e se
estabeleceu em Londres. No ano seguinte ele foi empossado
numa congregação presbiteriana em Cranbrook, Kent. Em
1677, Traill foi novamente preso em Edimburgo, desta vez por
pregar em lares privados e por dar assistência a conventículos.
Enquanto estava encarcerado na Bass Rock, em Firth, ele
conheceu James Fraser, de Brea, e Alexander Peden. Foi solto
da prisão poucos meses mais tarde e voltou para o seu rebanho
em Cranbrook. Passados alguns anos, ele se transferiu para
uma congregação escocesa em Londres, onde ministrou pelo
resto de sua vida. Sua abordagem cristocêntrica da oração e
do ministério é evidenciada por esta confissão:

Não conto com nenhum nome para vir a


Deus, senão em Cristo. Meu nome para mim é
abominável. Nenhum outro nome é dado abaixo
do céu, senão o de Jesus Cristo, no qual 0 pecador

1 P en tlan d : N o m e d e u m can al e d e u m a cad eia d e c o lin as d a E scó cia. N o ta do


trad u to r.

699
PAIXAO P E L A PU R EZA

pode aproximar-se de Deus com segurança. Visto


que o Pai agrada-se deste nome, o Filho me manda
pedir em Seu nome, e 0 Espírito Santo me trouxe
este nome e o usou como ungüento derramado
(Cantares 1:3), e visto que o seu sabor chegou à
minha alma, vou tentar elevá-la como incenso para
perfumar o altar entronizado no alto; uma vez que
todos que sempre vem neste nome são bem-vindos,
eu também virei, não tendo o que alegar senão o
nome de Cristo, sem nada que me cubra senão a
Sua veste de justiça emprestada e dada. De nada
tenho precisão, nada pedirei, senão o que o Seu
sangue comprou (é tudo 0 que pedirei); aguardarei
respostas de paz e de aceitação somente nesse
bendito Amado - amado do Pai como Seu Filho
e como nosso Salvador, e amado de todos os que
já viram ainda que pouco de Sua graça e de Sua
glória.

Em 1682, Traill publicou um poderoso sermão, “By


what means can ministers best win souls?” (sobre 1 Tim.
4:16), que continua sendo uma “leitura obrigatória para
os conquistadores de almas”. Posteriormente ele publicou
Justification Vindicated (ver abaixo). Thirteen Sermons on the
Throne of Grace (sobre Hebreus 4:16) e Sixteen Sermons on the
Prayer of Our Savior (sobre João 17:24). Estes livros passaram
por numerosas publicações, tornando-se muito populares
entre os evangélicos de sucessivas gerações.
Traill morreu em 1716, com setenta e quatro anos de
idade. Ele jamais se casou. Foi um grande colaborador da era
puritana; seu nome está ligado aos melhores representantes
das tradições puritanas escocesa, holandesa e inglesa.

700
Roberl Traill

The Works o f Robert Traill (BTT; 4 volumes em 2, 1.356


páginas; 1975). Estas obras foram publicadas primeiramente
em 1745 (Edimburgo, em 4 volumes). Posteriormente, três
edições diferentes foram impressas em Glasgow (1776, 3
volumes; 1795, 4 volumes; 1806, 4 volumes). A edição de
1975, de quatro volumes em duas encadernações, é uma
reimpressão da edição de 1810, Edimburgo, e é a edição mais
completa já publicada. Ela contém: “An Account of the Life
and Character of Robert Traill” ; “Concerning the Throne of
Grace” ; “By What Means May Ministers Best Win Souls” ;
“A Vindication of the Protestant Doctrine of Justification
from the Unjust Charge of Antinomianism” ; “Concerning
the Lord’s Prayer” ; “Steadfast Adherence to the Profession of
our Faith” - doze sermões sobre Hebreus 10:20-24; “Eleven
Sermons on Important Subjects, baseados em 1 Pedro 1:1-4;
“Righteousness in Christ” - seis sermões sobre Gálatas 2:21; e
duas cartas à mulher e aos filhos de Traill.
Apesar de Traill possuir uma mente excelente e de ter
recebido uma educação teológica completa, seus sermões não
foram destinados a leitores acadêmicos. Em todos eles Traill
procurava promover a piedade popular e prática. Seus leitores
o acharão ardoroso, instrutivo, espiritual e encorajador. Seus
sermões são convincentes e vigorosos, sem serem impositivos.
Ele é um puritano edificante para leitura diária.

Justification Vindicated (BTT; 77 páginas; 2002). Nesta


pequena brochura, originalmente escrita em 1692 para
seu irmão mais velho, William, ministro de Borthwick,
Midlothian, Traill defende a doutrina da justificação pela fé
somente. Em oito capítulos, ele cobre a nascente controvérsia
sobre a justificação; justificação pela fé somente, não ausência
da lei; reais diferenças da justificação; vantagens da verdadeira
doutrina da justificação; desvantagens da verdadeira doutrina
da justificação; a acusação de antinomianismo mal aplicada;
“o velho bom caminho da doutrina protestante” ; e a vital
importância da doutrina da justificação.

701
PA IXA O P E L A PU R EZA

O livro foi ocasionado pela controvérsia que tinha irrompido


entre ministros dissidentes depois da publicação dos livros de
Tobias Crisp. Traill se opõe ao antinomianismo por um lado,
e ao arminianismo e ao neonomismo por outro. “Todo o meu
propósito ao publicar esta obra é, clara e sucintamente, dar
alguma informação às pessoas comuns e simples, às quais
falta ou tempo ou o critério para examinar longos e eruditos
tratados sobre a justificação, com a qual todos e cada um se
acham igualmente preocupados”, Traill escreveu.
O livro de Traill foi muito popular na década de 1720 na
Escócia entre os Homens da Medula e seus seguidores. Ralph
e Ebenezer Erskine e outros deram apoio à posição básica
de Traill sobre a justificação e receberam considerável ajuda
deste pequeno livro. Contudo, Thomas Boston não concordou
com tudo o que Traill escreveu. Diversamente de Boston, que
sustentava a ideia de duas alianças (a aliança das obras e a da
graça), Traill afirmava um conceito tríplice sobre as alianças
(alianças da redenção, das obras e da graça). Mas, como
Boston, Traill evitou o condicionalismo na aliança da graça,
salientando sua absoluta gratuidade, apesar do uso ocasional
de linguagem comercial.
Nos anos 1800, J. C. Ryle citou extensamente o pequeno
livro de Traill, usando suas claras distinções entre justificação
e santificação para defender a igreja contra o {Movimento pró-
-Santidade}, liderado por Hannah Pearsall Smith. Atualmente
a justificação pela fé sofre novo ataque. Oramos no sentido de
que Traill ainda seja utilizado, nos dias de hoje, para dissipar
muita confusão que macula os círculos evangélicos.

702
John Trapp

J o h n T ra p p n a sc e u em 1601 em C ro o m e d ’A b ito t,
W o rc e ste rsh ire . E ra filh o de N ic h o la s T ra p p , de K em psey,
a rw ic k sh ire . Seu tio , S im o n T rap p , e seu p a sto r, J o h n B allam ,
fo ram os p rim e iro s p ro fe sso re s de T rap p . D e u s u so u B allam ,
q u e p o s te rio rm e n te T ra p p c h a m a v a “m e u p a i e s p iritu a l”,
co m o u m in s tr u m e n to em sua co n v ersão .
T ra p p foi p a ra W o rc e ste r co m o a lu n o da escola real p a ra sua
ed u ca ção p ré -u n iv e rs itá ria . D e p o is de se r “ o p rim e iro a lu n o
da escola” , ele foi p a ra o C h r is t’s C h u rc h , em O x fo rd , com a
id a d e de d eze ssete an o s. T ra p p o b te v e o g ra u de B a ch a rel em
A rtes em 1622 e 0 de M e s tre em A rte s em 1624.
E m 1622 T rap p foi m o n ito r d o c e n te da escola de S tra tfo rd ­
-u p o n -A v o n . D o is a n o s m a is ta rd e , ele se to r n o u o d ire to r.
T ra p p c o n tin u o u a s e rv ir à escola em d ife re n te s e sp e c ia lid a d e s
“ até c h e g a r à id a d e dos cabelos b ra n c o s ” . E le foi m u ito
re s p e ita d o p o r m u ito s , in c lu s iv e p elo g e n ro de W illia m S h a k e s­
p eare , q u e e ra u m dos a lu n o s de T rap p . E le d escrev eu T rapp
co m o “ n ã o in fe rio r a n in g u é m p o r su a p ie d a d e e c u ltu ra ” .
E m 1624, T rap p c aso u -se com M a ry G ib b a rd , com q u em
teve d o ze filh o s. Q u a tro de seu s filh o s m o rre ra m d u ra n te os
doze p rim e iro s an o s de seu c a sa m e n to . E ssas p e rd a s m o tiv a ra m

703
PA IXA O P E L A PU R EZA

Trapp a escrever o seu primeiro livro, God’s Love-Tokens, (1637).


Alexander Grosart descreveu essa obra como um “pequeno
livro incomumente suave, agradável e tranquilizante” e cheio
do evangelho.
Trapp tornou-se vigário da capelania de Luddington,
Stratford, por volta de 1631. Cinco anos mais tarde, ele se
mudou para Weston-on-Avon, Gloucestershire, situada
dentro de duas milhas da escola de Stratford-upon-Avon. Ele
deixou de lado posições mais prestigiosas para trabalhar com
diligência em sua amada igreja e escola. Durante esses anos,
Trapp recebeu tratamento para depressão por algum tempo
de John Hall, um vizinho temente a Deus.
Trapp posicionou-se ao lado do parlamento quando do
irrompimento da guerra civil e subscreveu a Solene Liga e
Aliança em 1643. De 1644 a 1646, ele serviu como capelão
dos soldados parlamentares na guarnição de Warwick Castle.
Sua posição às vezes o punha em sérias dificuldades. Uma vez
ele foi levado cativo e libertado numa troca de prisioneiros.
Embora não fosse um radical, teve que abandonar seu trabalho
na escola depois da restauração de Charles II porque se fizera
“odioso para os Cavaleiros” .1
Essas dificuldades não impediram a produtividade de
Trapp. “Eu trabalhava noite e dia”, Trapp disse a respeito
desse período. “Quantas horas eu pudesse poupar nessa época,
eu passei alegremente fazendo estas anotações sobre o Novo
Testamento”. Ele publicou dez comentários sobre vários livros
da Bíblia (1646-1656), os quais foram reunidos na obra de
cinco volumes, A Commentary on the Old and New Testaments
(1662). Samuel Clark disse que o profundo interesse de Trapp
pela Igreja foi evidenciado por seus labores na igreja e na
escola, como também por seus comentários, que ele escreveu
“em meio ao barulho de tiroteios e tambores” .

1 C h a rles I tin h a e le v a d o a c a v a la ria m ilita r a u m a alta po sição . N o ta do


trad u to r.

704
John Trapp

Na Grande Ejeção de 1662, Trapp, cujos sentimentos


estavam ao lado dos dois mil ministros expulsos, não obstante
procurou conformar-se. Foi-lhe permitido manter sua resi­
dência pastoral e seu ministério em Stratford e em Weston.
Trapp morreu em 1669 e foi sepultado em Weston. Seu
amigo Thomas Dugard disse que ele foi “um dos maiores
menores homens da época” - pois era de pequena estatura,
porém grande na piedade e na produção literária” (ibid.).

A Commentary on the Old and New Testament (TP; 5 volumes,


3.620 páginas; 1997). A exegese de Trapp é ortodoxa, mas às
vezes irregular. Ele se supera, contudo, no uso de variegadas
paráfrases e cativantes ilustrações. Seu estilo expressivo faz com
que ele seja muito citável. Embora seu tratamento do Velho
Testamento seja superior ao do Novo, sempre vale a pena ler suas
observações, se bem que, às vezes, seus comentários podem ser
um tanto obsoletos, particularmente quando se estende sobre
as polêmicas que ocorreram em meados do século dezessete.
Trapp não é tão completo como Henry e Poole. Spurgeon
disse que os pregadores devem usar Trapp para “condimentar”
os sermões. “Trapp será valioso para os homens dotados de
discernimento”, Spurgeon escreveu.
Com a exceção de dois sermões, os outros escritos de Trapp
estão incluídos na edição que Tanski fez dos seus comentários.
Estes incluem God’s Love Tokens (ver acima), que explica
Apocalipse 3:19 para confortar os crentes em suas perdas;
Theologia Theologice (1641), um discurso estruturado em torno
de Hebreus 1:1-3 sobre as Escrituras - seus atributos, objeções
levantadas contra elas, e como devemos usá-las. The Righteous
Man’s Recompense (1654), obra que, baseada em Malaquias 3:16­
18, caracteriza e encoraja os crentes verdadeiros; eA Decade
of Common Places (1656), que trata dos seguintes assuntos de
uma perspectiva cristã: abstinência, admoestação, donativos,
ambição, anjos, ira, apostasia, arrogância, artes e ateísmo.

705
George Trosse
( 1631‫־‬1713)

ora as viagens ao exterior e um período que passou no


F Pembroke College, Oxford, George Trosse passou a maior
parte de sua vida em Exeter. Ele nasceu ali em 1631. Sua
mãe, Rebekah Burrow, era filha de um próspero comerciante
e prefeito. Seu pai, um advogado, legou a seu filho uma
biblioteca de livros de direito, com a intenção de que ele se
tornasse advogado.
Depois que saiu da escola secundária, Trosse teve uma
vida ímpia, muitas vezes rendendo-se a excessos alcoólicos.
Ele era rico, mas roubava, bebía, jogava, flertava e gastava seu
dinheiro em todo tipo de frivolidades para agradar a si mesmo.
Seus vícios pioraram e seu estado mental faliu. Sua estranha
moléstia, chamada “ delirium, tremens” por seu biógrafo do século
dezenove, era provavelmente uma forma de alucinação ou de
esquizofrenia. Como Trosse confessa em sua autobiografia
surpreendentemente franca, muitas vezes ele via coisas que
não existiam e ouvia vozes. Primeiro ele achou que as vozes
eram de Deus, mas depois concluiu que eram de satanás.
Seu sofrimento causou-lhe imensa dor e aflição espiritual.
Várias vezes seus amigos tiveram que impedi-lo de se ferir e
de tentar o suicídio. Finalmente foi levado por amigos a um

706
George Trosse

atencioso médico de Glastonbury. Ele recobrava os sentidos


várias vezes, só para recair em períodos de insanidade. Entre
essas recaídas, ele ouviu a pregação do presbiteriano Thomas
Ford. Eventualmente encontrou alívio de sua enfermidade
por meio dos sermões, aconselhamentos e orações de Ford.
Com uma substancial soma de dinheiro recebido de
sua mãe, Trosse ingressou no Pembroke College em 1657.
Seu preceptor foi Thomas Cheeseman, um acadêmico cego.
Trosse frequentemente ouvia as preleções de Robert Harris,
presidente do Trinity College. Ele passou vários anos em
Oxford especializando-se em grego e hebraico.
Tendo a intenção de ingressar no ministério, Trosse
estudou cuidadosamente a questão da conformidade sob a
direção de Henry Hickman. Contudo, cada vez mais ele ficou
convicto da validade da não conformidade. Voltou para Exeter
e começou a frequentar a igreja com sua mãe. Privadamente,
começou a pregar a um crescente número de ouvintes. Robert
Atkins, ministro exonerado da igreja de St. John, concitou-o
a buscar ordenação. Trosse seguiu o conselho de seu amigo e
foi ordenado em 1666 por Joseph Alleine, em Somerset.
Trosse decidiu levar avante o seu ministério em Exeter
porque queria “ viver como um pecador regenerado na mesma
cidade em que suas maiores insolências tinham sido um
espetáculo público e onde sua reputação tinha sido notória”
(A. Brink, The Life of the Reverend George Trosse, p. 6). Durante
vinte anos, ele pregou privada e secretamente, em geral várias
vezes por semana. Durante o ano da indulgência de Charles II,
Trosse pregou publicamente numa casa para isso licenciada.
Em 1673, ele foi multado três vezes por manter conventículos,
mas continuou a pregar, sem diminuir o ritmo.
Em 1680, Trosse casou-se com Susanna, filha de Richard
White, um rico negociante que prestava grande ajuda aos
presbiterianos em Exeter. Em 1685, ele foi detido por pregar
num conventículo. Encarcerado durante seis meses, Trosse
confessou: “Desfrutei considerável boa saúde enquanto preso.

707
PA IXA O P E L A PU R EZA

Continuei meus estudos, servi e cultuei a Deus com os meus


demais irmãos na fé, e muitas vezes encontrei oportunidades
de fazer, em secreto, minhas devoções ao Deus bendito” (Life,
pp. 127, 128). Quando James I subiu ao trono e proclamou
liberdade de consciência, Trosse declinou de aproveitar­
-se disso. Ele escreveu: “No fim de seis meses fui libertado
do meu confinamento, que foi o lugar onde eu mais me
engrandecí”.
Depois de aprovada a Lei de Tolerância, Trosse sucedeu a
Joseph Hallet como ministro da James’s Meeting, em Exeter,
em 1689. Ele dirigia os cultos regularmente e recebia um
estipêndio do qual mais tarde declinou. Foi assistido pelo
filho do pastor anterior, também {chamado} Joseph, que foi o
sucessor de Trosse quando esse morreu, e mais tarde preparou
a narração da vida de Trosse para publicação.
Em 1691, Trosse pregou no funeral de John Flavel e
concluiu a exposição do Breve Catecismo, de autoria de
Flavel. No ano seguinte, ele publicou sua obra The Lord’s Day
Vindicated, desafiando as idéias de Francis Bampfield sobre o
sábado, não o domingo, como o Sabbath. No resto do século
dezessete e já bem dentro do século seguinte, Trosse assumiu
um papel de liderança na formação da união dos ministros
de Devonshire. Frequentemente atuou como moderador e
submetia as questões levantadas para discussão.
Por quase cinquenta anos, Trosse pregou o evangelho, às
vezes oito vezes por semana, em cultos que raramente duravam
menos de duas horas. Ele se levantava às 4 da madrugada e
orava seis ou sete vezes durante o dia. Contudo, ele via toda
essa devoção como dons das mãos de seu Pai.
Quando estava com oitenta e dois anos de idade, Trosse
pregou no culto matutino no domingo, dia 11 de janeiro de
1713, voltou para casa, e morreu dois dias depois. Cotton
Mather pregou no funeral “a uma multidão muito grande, no
meio da qual havia muitas pessoas das classes média e baixa,
da cidade e do campo” (I. Gilling, The Life of Mr. George Trosse,

708
George Trosse

late minister of the gospel in Exon {pp. 120, 121). Trosse foi
sepultado no cemitério da igreja de St. Bartholomew, Exeter.
Edmund Calamy, amigo chegado de Trosse, escreveu: “Muito
lhe foi perdoado, e ele muito amou” .

The Life o f the Reverend Mr. George Trosse (MQ; 140


páginas; 1974). Editado por A. W. Brink, esta edição de 1714
da autobiografia de Trosse foi publicada atendendo ao pedido
feito por Trosse em seu testamento. No livro, Trosse confessa
suas grandes lutas com o pecado, sua busca de segurança
pessoal e sua queda na esquizofrenia. Alexander Grosart disse
que “a narrativa {de Trosse} dos seus primeiros anos é urna
das mais estranhas peças de realismo na língua {inglesa},
entrando em detalhes das práticas viciosas com extraordinária
franqueza”.
The Life of Trosse apresenta percepções, na primeira pessoa,
de um paciente mentalmente enfermo do século dezessete
na Inglaterra, mas também expõe a estupenda graça de
Deus na salvação de um miserável pecador e provê valiosa
informação sobre a atmosfera política e religiosa da época.

709
Ralph Venning
(1622-1674)

m a p e q u e n a ejeção de m in is tro s p u rita n o s o c o rre u em


U 1633. E n tre os p a sto re s q u e tiv e ra m q u e d e ix a r de p re g a r
p o r n ão c o n fo rm id a d e estava G eo rg e H u g h e s , de tr in ta an o s
;ar

de id ad e. P e rs u a d id o p o r J o h n D o d a n ã o e m ig ra r p a ra a N o v a
In g la te rra , H u g h e s m u d o u -s e p a ra D e v o n , o n d e foi r e ito r de
T avistock. Seu p rim e iro c o n v e rtid o ali foi R a lp h V en n in g .
M ais ta rd e V e n n in g escrev eu q u e H u g h e s foi “g e n til co m ig o
com o u m a am a c a rin h o s a m e n te c u id a de su as c ria n ç a s ”
(V enning, Mysteries and Revelations, p refácio ).
N a sc id o em D e v o n s h ire , filh o de F ra n c is e J o a n V en n in g ,
R a lp h V e n n in g rec e b e u sua ed u ca ção n o E m m a n u e l C ollege,
C a m b rid g e . E le o b te v e o g ra u de B a c h a re l em A rte s e m 1646
e 0 de M e s tre em A rte s em 1650.
V e n n in g se rv iu co m o p re le to r em St. O la v e ’s, S o u th w a rk ,
p o r cerca de doze a n o s, o n d e veio a se r c o n h e c id o co m o u m
p re g a d o r ex ce len te. A li ele p u b lic o u v ário s liv ro s, in c lu s iv e
The New Command Renewed (1650) e Canaan's Flowings,
(1653). E m seu m in is té rio , ele d e u ên fase à v id a c ris tã p rá tic a ,
p rin c ip a lm e n te em d a r a ju d a aos p o b res. E le c o le to u m ilh a re s
de lib ra s p a ra os n ece ssitad o s.
D u ra n te 0 p e río d o do P ro te to ra d o , V e n n in g foi d e sig n a d o

710
Ralph Venning

para examinar candidatos a capelães da marinha. Ele pregou


também bom número de sermões na St. Paul’s diante de vários
prefeitos de Londres. Em 1657 ele foi preletor na St. Mary
Magdalen.
Em 1661, Venning casou-se com Hannah, viúva de John
Cope, de Londres. Eles tiveram ao menos dois filhos. No ano
seguinte, Venning foi exonerado por não conformidade. Ele
foi assistente de Robert Bragge (1627-1704), pastor de uma
congregação independente em Pewterers’ Hall, na Fenchurch
Street. Venning serviu ali até sua morte, em 1674. Foi sepultado
em Bunhill Fields entre outros não conformistas. ·
Venning passava muito tempo escrevendo. Publicou ao
menos dez livros, como também uma miscelânia de sermões e
panfletos. Um livro intitulado Venning’s Remains, que contém
parte de seus escritos mais curtos, foi publicado um ano depois
de sua morte, como aconteceu com o livro Mr. Venning’s Alarm
to Unconverted Sinners. Seus livros manejam bem a Palavra da
Verdade; são convincentes, cativantes e engenhosos. Venning
é excelente no uso de epigramas e de jogos de palavras, o que
é demonstrado fortemente em sua obra Ortodox Paradoxes
(Paradoxos Ortodoxos}, (1647). John Edwards disse a respeito
de Venning: “Ele joga as frases para cima e para baixo, e causa
prazer com breves cadências e harmonias de palavras” .

Learning in Chñst’s School (BTT; 297 páginas; 2000). Esta


obra, republicada na série de Puritan Paperbacks, baseia­
-se em 1 João 2:12-14, como também em 1 Corintios 3:1,2
e em Hebreus 5:12-14. Venning descreve quatro estágios
do crescimento na graça: bebês, crianças, jovens e pais. Ele
escreve para confortar, exortar e incentivar o cristão em seu
crescimento. Como Hywel Jones diz no prólogo do publicador,
“Observando a avidez do bebê, o prazer da criança, a energia
do jovem e a sabedoria do homem maduro, ele não pode

711
PAIXAO P E L A PU R EZA

senão desafiar a mediocridade; vendo suas debilidades, suas


fraquezas e sua vulnerabilidade, desafiará, por outro lado, a
presunção. O livro contém uma mensagem muito necessária
atualmente” .
A maior fraqueza deste livro é sua breve discussão - menos
de duas páginas - dos pais na graça. Contudo, a explanação
feita por Venning dos outros três estágios é superlativa; ele
mostra vividamente como Deus conduz o Seu povo mediante
experiência para confiarem mais plenamente em Cristo e
conhecerem mais pessoalmente o Deus Triuno. E muito
instrutivo comparar o tratamento dado por Venning a 1
João 2:1214‫ ־‬com o de Willem Teellinck em The Path of True
Godliness (pp. 136-143).

The Sinfulness o f Sin (BTT; 288 páginas; 1996). Este livro


foi publicado primeiro como Sin, The Plague of Plagues, em
1669, após a Grande Peste de Londres. E uma obra prática e
perscrutadora, baseada em Romanos 7:13 (“A fim de que, pelo
mandamento, o pecado se fizesse excessivamente maligno”).
O livro explica claramente o que é o pecado, por que é tão
grave, e qual é seu único remédio. Diz Venning que a pior
pestilência física é inconsequente quando mensurado em
contraste com a peste do pecado, que destrói a alma.
Argumentando que o pecado é sempre “contra 0 bem e a
felicidade do homem”, Venning apela para o interesse próprio
do leitor. Ele justifica essa abordagem dizendo que Deus “é
tão condescendente que Se agrada em tratar 0 homem como
alguém que ama a si mesmo, e assim conquistá-lo e ganhá-
-10”. Eis um exemplo de como Venning nos confronta com
a letalidade do pecado: “Porventura preciso rogar-lhes que
considerem o que foi dito, e que coisa abominável e feia é o
pecado? E o pior dos males, pior do que a pior palavra pode
expressá-lo. Já lhes mostrei que o pecado é contrário a Deus
e ao homem. Para provar isso eu trouxe o testemunho do
céu, da terra e do inferno. Mostrei-lhes quão caro custou para

712
Ralph Venning

Cristo, que morreu por causa do pecado, e quão caro custará


para vocês, se viverem e morrerem nele. Portanto, temam e
não pequem. Firmem-se nas ordens, promessas e ameaças
da Palavra de Deus, para não pecarem contra Ele. Tenham 0
cuidado de não pecar, pois, pecar contra Deus é pecar contra
vocês mesmos.”

713
a th a n ie l V in c e n t n asc e u em C o rn w a ll, d e J o h n V in c e n t,
N u m m in is tro n ã o c o n fo rm ista , e de sua m u lh e r, S arah .
E le foi o irm ã o m ais novo de T h o m a s (v er abaixo). M e n in o
b r ilh a n te , N a th a n ie l m e m o riz a v a e re p e tia se rm õ e s co m sete
an o s de id ad e. G ra d u o u -s e n a C h ris t C h u rc h , em O x fo rd ,
com o B a c h a re l em A rte s em 1656 e co m o M e s tre em A rte s em
1657. F o i e n tã o n o m e a d o capelão do C o rp u s C h ris ti C ollege.
V in c e n t foi o rd e n a d o co m a id a d e de v in te e u m a n o s e
se to rn o u p á ro c o de L a n g le y M a ris h , B u c k in g h a m s h ire .
E x o n e ra d o pelo A to de U n ifo rm id a d e de 1662, p a sso u trê s an o s
com o capelão p a rtic u la r do Sir H e n ry B lo u n t e de su a m u lh e r,
H e ste r, em T itte n h a n g e r, H e r tfo rd s h ire , a n te s de m u d a r ­
-se p a ra L o n d re s , em 1666. U m a g ra n d e casa de re u n iõ e s foi
c o n s tru íd a n a F a r th in g A lley, S o u th w a rk , p a ra a c o m o d a r as
m u ltid õ e s q u e v in h a m o u v i-lo pregar. Isso c h a m o u a a te n ç ã o
das a u to rid a d e s , q u e se p u s e ra m a acossá-lo. C e rta o casião ,
so ld ad o s com m o sq u e te s c e rc a ra m seu p ú lp ito . Q u a n d o
V in c e n t se n e g o u a p a ra r de p reg ar, os so ld a d o s o tira ra m do
p ú lp ito p u x a n d o -o p elo s cabelos e o a rra s ta ra m p elas rú as. E le
foi m u lta d o e m a n d a d o p a ra a p risã o . A pós v ário s m e ses de
e n c a rc e ra m e n to , foi se n te n c ia d o ao b a n im e n to do p a ís, m as
u m a falh a do p ro c e sso im p e d iu a execu ção da se n te n ç a .

714
Nathaniel Viticent

Em 1672, Vincent foi licenciado como pregador


presbiteriano. Não demorou, porém, a ser perseguido de novo
por pregar. Numa ocasião, em 1681, sua casa de reuniões foi
visitada por “três magistrados, policiais e outros oficiais”.
Vincent continuou a pregar, muito embora 0 barulho do
vozerio do auditório tenha sido tão alto que ele mal podia ser
ouvido. Então, quando os magistrados ordenaram ao povo
que se dispersasse, toda a congregação começou a cantar, e
enquanto isso Vincent conseguiu dar um jeito e escapar por
uma saída lateral. Dois anos depois, Vincent foi acusado por
trabalhar com conventículos e sentenciado a um período de
três meses de cárcere. Quatro anos mais tarde, ele foi detido e
acusado falsamente de tomar parte na Rebelião de Monmouth.
Os encarceramentos de Vincent o deixaram tão fraco
que por um tempo ficou incapacitado de pregar, e recorreu
à produção de textos. Muitos dos seus catorze livros foram
escritos na prisão. Seus livros refletem uma piedade calorosa,
experimental, expressa de acordo com 0 método esquemático
ramista. Seu amor e seu interesse pelo corpo de Cristo são
evidentes em cada um de seus livros.
Vincent morreu de repente em 1697, com cinquenta e oito
anos de idade; deixou vivos sua esposa, Anna, e seus filhos.
Seus funerais foram dirigidos por Nathaniel Taylor. Vincent foi
sepultado no cemitério não conformista de Bunhill Fields. Até
o historiador antipuritano Anthony Wood teve que confessar
a respeito de Vincent: “Ele foi mais habilidoso, intenso e
floreado do que a maioria da sua obtusa e indolente fraterni­
dade poderia razoavelmente reivindicar; ele foi espirituoso e
alegre, e um considerável erudito” (Athence Oxonienses, ,4:617).

A Dicourse Concerning Love (SDG; 113 páginas; 1999). Esta


obra inclui sete capítulos sobre a importância do amor entre
os cristãos na igreja. Os assuntos tratados incluem: a Igreja

715
PAIXAO P E L A PU R EZA

deve edificar-se pelo amor, as propriedades do amor, e como


não há desculpa para a falta de amor na Igreja.
Vincent descreve pormenorizadamente as propriedades
do amor. O amor deve fluir de um coração puro e deve ser
fervoroso. Deve fluir da fé, ser misturado com boa consciência,
ser de natureza fraternal e abranger todo o corpo de Cristo.
A Igreja deve crescer em amor para a gloria do Pai, a honra
de Cristo, o incremento do Espírito, o proveito da própria
Igreja e o beneficio do mundo. Vincent lamenta a falta de
amor na Igreja: “Ó, amor! Quanta falta há de ti na Igreja de
Cristo! E quanta falta a Igreja sente de ti! Ela geme, fenece
e morre diariamente por causa de tua ausência. Volta, ó
amor, volta! Repara as fendas, restaura as veredas para que
o amor venha e fique, edifica os velhos caminhos e lugares, e
firma as fundações de muitas gerações, pois, depois de todas
as invencionices políticas, ver-se-á que tu és o mestre das
obras.”
Seu capítulo sobre “a vacuidade das escusas pela falta de
amor” é convincente. Quão desesperadamente o corpo de
Cristo ainda necessita ler este capítulo hoje, convencer-se do
seu pecado e correr em busca do único remédio, Cristo Jesus!
Vincent prossegue e oferece esperança em Cristo, salientando
que Cristo é a cabeça da Igreja e a fonte do amor. Ele escreve:
“Embora a situação seja deplorável, não é desesperadora.
Cristo é a Cabeça da Igreja e Aquele que cura, e, se 0 amor
fosse revivido, rapidamente levaria o corpo a uma disposição
melhor e mais sadia. A luz pode fazer muita coisa, mas o amor
pode fazer muito mais”.
Vincent conclui com dois consolos para aqueles que se
acham desanimados pela falta de amor na Igreja. Ele nos
aconselha a lembrar que 0 amor de Cristo é imutável e que
não vai haver falta de amor no céu.

716
Thomas Vincent
(1634-1678)

T homas Vincent nasceu em 1634, em Hertford, Inglaterra.


Ele foi o segundo filho de John Vincent e o irmão mais
velho de Nathaniel Vincent (ver antes). Ele recebeu sua
educação, primeiro na Westminster School, depois na Felsted
School, Great Dunmow, Essex, uma instituição de fortes
convicções puritanas. Em 1648 ele foi eleito para o Christ
Church College, em Oxford, onde obteve o grau de Bacharel
em Artes em 1652 e o de Mestre em Artes em 1654. Ele foi
escolhido para ser o catequista para John Owen. Depois disso,
serviu como capelão de Robert Sidney, segundo conde de
Leicester. Em 1657, Vincent sucedeu a Thomas Case como
reitor da St. Mary Magdalen, na Milk Street, Londres, onde
permaneceu até ser expulso por não conformidade em 1662.
Entre sua expulsão e a Grande Peste de 1665, Vicent assistiu
a Thomas Doolittle na educação de crianças na academia não
conformista fundado por Doolittle, em Islington. Durante
a peste de 1665, Vincent mostrou grande coragem e piedoso
zelo, atendendo os doentes deixados para trás pelos ministros
conformistas que fugiram da cidade. Deus 0 protegeu durante
esse ano, pois 68.000 pessoas morreram em Londres da
peste, inclusive sete na casa em que Vincent morava, mas ele

717
PAIXAO P E L A PU R EZA

permaneceu com boa saúde durante toda aquela provação.


Devido à escassez de pregadores, foi-lhe solicitado que pregasse
todo domingo a grandes multidões de pessoas necessitadas.
Deus abençoou esse trabalho; um biógrafo disse a respeito
da pregação de Vincent durante a Grande Peste: “É notável
que ele não pregava um sermão no qual não houvesse alguns
selos credenciando o seu ministério” .
Durante os últimos doze anos de sua vida, Vincent pregou
a uma grande congregação que se reunia na Hand Alley, ao
largo da Bishopsgate Street. Ele foi multado e provavelmente
encarcerado ao menos uma vez durante esses anos. Ele se
dedicou extensamente à educação dos jovens. Também
passava muito tempo com as Escrituras - supostamente,
memorizou todo o Novo Testamento e 0 livro de Salmos. Essa
estreita familiaridade com a Palavra de Deus é evidente em
seus numerosos livros.
Vincent morreu em 1678, deixando vivos sua esposa,
Mary, e ao menos quatro filhos. Samuel Slater pregou em seus
funerais, baseando sua mensagem em Hebreus 13:7. Slater
disse ao grande auditório que Vincent “ livre e voluntariamente
levou sua vida a aventurar-se pela salvação das almas” . Das
últimas horas de Vincent, Slater disse: “Na noite anterior a
sua morte, ele irrompeu na seguinte linguagem, expressiva
de seu conforto, paz e alegria: “Dou adeus ao mundo, aos
prazeres, aos proveitos e às honras do mundo; dou adeus ao
pecado, vou estar para sempre com 0 Senhor. Adeus à minha
querida esposa, adeus aos meus queridos filhos, adeus aos
meus criados, e adeus aos meus filhos espirituais”.
Segundo 0 prefácio de sua obra The True Christian's Love
to the Unseen Christ, Vincent teve palavras também para a
sua congregação: “Sejam cuidadosos na escolha de pastor,
escolham um que, em sua doutrina, vida e costumes, adorne o
evangelho. Alegrar-me-ei em encontrar todos vocês no céu”.
Quando a morte se aproximou, Vincent gritou: “Ó
nobre morte, és bem-vinda, és bem-vinda! A morte feriu

718
Thomas Vincent

minha cabeça, a morte feriu meu peito, mas não feriu


minha consciência, bendito seja Deus”. Suas palavras finais
expressavam seu anelo por estar com Cristo: “Amado Jesus,
vem buscar-me e levar-me. Não tenho mais nenhum interesse
aqui; meu trabalho foi feito, minha ampulheta se esgotou,
minha força esvaiu-se, por que deveria ficar? Por quanto tempo
ficarei ausente de Ti! O, vem e leva-me para junto de Ti, e dá­
-me a posse daquela felicidade do alto, a visão pessoal de Ti,
a perfeita semelhança Contigo, a plena fruição do Teu Ser,
sem nenhuma interrupção nem conclusão” (ibid., pp. ix-xi).

Christ’s Sudden and Certain Appearances to Judgment (SDG;


300 páginas; 2001). Escrito após a Grande Peste de Londres, este
livro fala do iminente juízo que aguarda ospecadores impenitentes.
Os argumentos de Vincent são lúcidos, seu pensamento é claro,
e sua mensagem ameaçadora. Ele pede seriamente aos pecadores
que venham a Cristo em amor, antes que Ele venha a eles em
juízo. O prefácio de Vincent expõe sucintamente o seu propósito.
“A finalidade destas páginas é expor a gloriosa manifestação de
Cristo com segura certeza e surpresa, para que os pecadores sejam
despertados para arrepender-se, os crentes sejam confortados
com esperanças do evento, e todos estejam em prontidão para o
dia que é absolutamente certo e próximo”.

Fire and Brimstone (SDG; 250 páginas; 1999). Como um


clássico puritano, Vincent adverte os pecadores que fujam da
ira vindoura. Ele apresenta o tema do fogo e enxofre, mostrando
primeiro o castigo dado à ímpia Sodoma. Depois cita uma
catástrofe que aconteceu em seus próprios dias: a erupção do
Monte Etna, e mostra que 0 povo foi surpreendido por aquela
tragédia. Finalmente, ele mostra quão insignificantes esses
dois acontecimentos são, comparados com o juízo que virá
sobre os pecadores impenitentes.

719
PAIXAO P E L A PU R EZA

O livro conclui com dois sermões que falam sobre uma


promessa de livramento muitíssimo necessária: (“The Only
Deliverer from Wrath to Come”, sobre 1 Tessalonicenses 1:10)
e da santificação (“Godliness in Principle and Conversation”,
sobre 2 Pedro 3:11).

God’s Terrible Voice in the City (SDG; 236 páginas; 1997).


Vincent agiu heroicamente durante o Grande Incêndio e
a Grande Peste de Londres. Este livro é seu testemunho
ocular daqueles horríveis eventos e sua análise espiritual
de como Deus julga a impiedade numa cidade. Publicado
primeiramente em 1667, este livro foi reimpresso quinze vezes
em oito anos.
God’s Terrible Voice está carregado de pertinentes aplicações
a qualquer cidade ou nação que enfrente grandes tragédias,
tais como a destruição do World Trade Center, da cidade de
New York, em 11 de setembro de 2001. Vincent concita o povo
a ouvir a voz terrível do seu Criador. A relevância da obra
de Vincent para os eventos do seu tempo constitui um bom
padrão para os pregadores modernos seguirem.

The Good Work Begun: A Puritan Pastor Speaks to Teenagers


(SDG; 150 páginas; 1999). Esta obra, com o título completo,
The Good Work Begun in the Day of Grace Performed until the
Day of Christ, tem a intenção de instruir os jovens e de levá-
los à salvação. O livro diz como Deus salva os pecadores e os
preserva para Si.
Vincent se reunia frequentemente com os jovens de sua
igreja para ensinar-lhes os caminhos de Deus. Essa experiência
é evidenciada por sua calorosa e prática abordagem neste livro.
Num apêndice do livro constam dois sermões escritos para
jovens: “Christ the Best Husband: An Invitation to Young
Women unto Christ”, e “The Best Gift: God’s Call upon
Young Men for their Hearts”.

720
Thomas Vincent

The Shorter Catechism Explained from Scripture (BTT; 280


páginas; 1991). Quando esta explicação do Breve Catecismo
de Westminster foi publicada pela primeira vez em 1674,
John Owen, Joseph Caryl, Thomas Mantón, Thomas Brooks
e Thomas Watson, juntamente com outros trinta e cinco
puritanos, declararam que ela “seria grandemente útil para
todos os cristãos, em geral”.
Durante mais de cem anos as crianças memorizavam
o “Catecismo de Vincent”. Esta obra de Vincent exibe
claramente seus dons de comunicação com os jovens, como
também o seu interesse pela saúde espiritual e pela salvação
deles. A negligência na instrução catequética nas igrejas atuais
tem solapado a obra do povo de Deus, tirando dele muito de
sua força. As mentes jovens, profundamente arraigadas no
solo bíblico provido por este livro, não cairão facilmente
presas dos débeis ventos de doutrina.

The True Christian’s Love to the Unseen Christ (SDG; 140


páginas; 1994). Esta obra tem o subtítulo: A discourse chiefly
tending to excite and promote the decaying love of Christ in the hearts
of Christians with an appendix concerning Christ’s manifestation
of Himself to them that love Him. A obra focaliza 1 Pedro 1:8:
“Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo
agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso”.
O amor a Cristo flui de cada página deste tratado.
John MacArthur escreve no prólogo desta obra: “A história
secular geralmente retrata o puritanismo como um forma
realmente não sofisticada de religião. Os puritanos usualmente
são caricaturados como frios, austeros e simplistas, vazios de
qualquer apreciação pelo amor e pela beleza, obcecados pela
lei e pelo juízo. Este livro certamente desbanca esse mito. Ele
revela a paixão puritana pelo “gozo indescritível e cheio de
glória” que brota de um sincero, profundo e fervente amor
a Cristo”. Um esboço biográfico de Vincent é incluído no
prefácio desta obra.

721
Thomas Watson
(c. 1620-1686)

T homas Watson provavelmente nasceu em Yorkshire.


Estudou no Emmanuel College, Cambridge, obtendo 0
grau de Bacharel em Artes em 1639 e 0 de Mestre em Artes
em 1642. Durante o tempo que passou em Cambridge, Watson
foi um aluno dedicado. Depois de completar os seus estudos,
Watson residiu por algum tempo com a família puritana de
Lady Mary Vere, viúva de Sir Horace Vere, barão de Tilbury.
Em 1646, Watson foi para a St. Stephen’s, Walbrook, Londres,
onde serviu como preletor durante cerca de dez anos e como
reitor durante outros seis anos, ocupando o lugar deixado
por Ralph Robinson.
Em meados de 1647, Watson casou-se com Abigail Beadle,
filha de John Beadle, um ministro em Essex de convicções
puritanas. Eles tiveram ao menos sete filhos nos próximos
treze anos; quatro deles morreram jovens.
Durante a Guerra Civil, Watson começou a expressar
fortes conceitos presbiterianos. No entanto, tinha simpatia
pelo rei. Ele era um dos ministros presbiterianos que foram
ter com Oliver Cromwell para protestar contra a execução
de Charles I. Junto com Christopher Love, William Jenkyn
e outros, ele foi feito prisioneiro em 1651 por participar do

722
TH O M A S W A TSO N
PAIXAO P E L A PU R EZA

complô para a restauração da monarquia. Embora Love fosse


decapitado, Watson e os outros foram poupados, após pedirem
clemência. Watson foi reempossado formalmente em seu
pastorado em Wallbrook em 1652.
Quando o Ato de Uniformidade foi aprovado, em 1662,
Watson foi exonerado do seu pastorado. Ele continuou a pregar
privadamente - em celeiros, em casas e nas matas - onde se
lhe dava oportunidade. Em 1666, após o Grande Incêndio
de Londres, Watson preparou uma grande sala para o culto
público, acolhendo qualquer pessoa que quisesse frequentá-lo.
Depois que a Declaração de Indulgência entrou em vigor, em
1672, Watson obteve licença para Crosby Hall, Bishopsgate,
que pertencia ao Sir John Langham, um patrono dos não
conformistas. Watson pregou ali durante três anos, antes de
Stephen Charnock juntar-se a ele. Eles ministraram juntos até
a morte de Charnock, em 1680. Watson continuou trabalhando
até quando lhe faltou saúde. Então se retirou para Barnston,
em Essex, onde morreu de repente em 1686, enquanto orava
privadamente. Ele está enterrado no mesmo túmulo de seu
sogro, que tinha servido como ministro em Barnston.
A profundidade da doutrina, a clareza de expressão, o calor
da espiritualidade, o amor pela aplicação e o dom da ilustração
de Watson favoreceram sua reputação como pregador e escritor.
Seus livros ainda são lidos amplamente nos dias de hoje.

A ll Thingsfor Good (BTT; 128 páginas; 1988). Uma vez Watson


disse que enfrentava duas dificuldades em seu ministério: fazer
0 incrédulo ficar triste sem a graça, e fazer o crente ficar alegre
com a graça. Neste estudo de Romanos 8:28, anteriormente
intitulado A Divine Cordial, (impresso pela primeira vez em
1663, só um ano depois que dois mil ministros foram expulsos
da Igreja da Inglaterra), Watson encoraja o povo de Deus a
alegrar-se. Ele explica que as melhores e as piores experiências

724
Thomas Watson

agem para o bem. Ele escreve: “Saber que nada causa real daño
aos piedosos é motivo de consolação, mas receber a certeza
de que todas as coisas que acontecem irão cooperar para o seu
bem, que suas cruzes serão transformadas em bênçãos, que
as chuvas de aflições vão aguar a seca raiz com sua graça
e a farão florescer mais - isso pode encher seus corações de
alegria até transbordarem” .
Se alguém perguntar, “Por que acontecem coisas más a boas
pessoas?”, ou, “Como posso saber se fui chamado por Deus?”,
ofereça-lhes este livro. Seus capítulos sobre o amor de Deus, a
vocação eficaz, e 0 propósito de Deus, são especialmente úteis
para o entendimento de Romanos 8:28. O capítulo 5, sobre
“testes do amor de Deus”, é particularmente penetrante.

The Art o f Divine Contentment (SDG; 133 páginas; 2001).


As obras de Watson são todas marcadas por profunda
espiritualidade, estilo conciso, observações impressionantes
e ilustrações práticas. Este livro, impresso primeiramente em
1653, não é exceção. Baseado em Filipenses 4:11, “Aprendí a
contentar-me com o que tenho”, Watson escreve: “De minha
parte, não conheço nenhum ornamento da religião que mais
enfeite o cristão, ou que mais brilhe aos olhos de Deus e do
homem, do que o contentamento. E certamente tampouco há
qualquer coisa na qual todas as virtudes cristãs operem mais
harmoniosamente, ou resplandeça mais transparentemente
neste mundo. Se existe uma vida bem-aventurada antes de
irmos para o céu, é a vida vivida com contentamento” .
O contentamento piedoso é um tema ausente de muitos
púlpitos atualmente. Uma séria leitura deste tratado ou do de
Jeremiah Burroughs, Rare Jewel of Christian Contentment daria
grande contribuição para preencher esse vazio.

The Beatitudes (BTT; 307 páginas; 1971). Obra publicada pela


primeira vez em 1660, esta exposição de Mateus 5:1-12 é rica
de instrução. Por exemplo, ao explicar a bem-aventurança da

725
PAIXAO P E L A PU R EZA

mansidão (5:5), Watson explica a mansidão para com Deus


como submissão à Sua vontade e flexibilidade face a Sua Palavra.
A mansidão para com 0 homem, diz ele, envolve suportar
injúrias, perdoar injúrias e recompensar o mal com o bem.
Ao suportar injúrias, a mansidão se opõe ao espírito violento,
à maldade, à vingança e a falar mal dos outros. Ao perdoar
injúrias, a mansidão perdoa verdadeira e completamente,
e muitas vezes. Ao recompensar 0 mal com 0 bem, Watson
diz: “Pagar o mal com 0 mal é brutal; pagar 0 bem com o mal
é demoníaco; pagar o mal com o bem é cristão”. Watson dá
numerosas razões pelas quais os cristãos devem ser mansos:
Jesus Cristo é manso; a mansidão é um grande ornamento
para 0 cristão; a mansidão é 0 meio pelo qual o cristão pode
ser semelhante a Deus; a mansidão sustenta um espírito
nobre e excelente; a mansidão é 0 melhor meio de vencer e
derreter o coração do inimigo; a mansidão contém grandes
promessas, pois os mansos herdarão a terra; e 0 coração não
manso impede a paz. Tudo isso é convincentemente explicado
em apenas quinze páginas (pp. 105119‫)־‬.

A Body o f Divinity (BTT; 316 páginas; 1998). Este livro,


publicado pela primeira vez depois da morte de Watson
em 1692, foi sua magnum opus e se tornou sua obra mais
famosa. Seguindo 0 formato de pergunta e resposta do Breve
Catecismo de Westminster, ela apresenta 176 sermões sobre
os ensinamentos essenciais do cristianismo. O livro mostra 0
profundo entendimento das verdades espirituais do autor, e sua
capacidade de fazê-las claras para qualquer um. Diversamente
de muitas outras teologías sistemáticas, este livro entrelaça o
conhecimento e a piedade, e pode ser utilizada efetivamente
nas devoções diárias. E talvez a teologia sistemática mais
experimental já escrita, com exceção da de Wilhelmus à
Brakel, The Christian’s Reasonable Service.
The Lord’s Prayer e The Ten Commandments (cf. a seguir)
completam a exposição do Breve Catecismo feita por Watson.

726
Thomas Watson

Esta trilogia sobre o Breve Catecismo tem sido reimpressa


muitas vezes no passar dos séculos, em um ou em três volumes.

The Duty o f Self-Denial and Ten Other Sermons (SDG;


210 páginas; 2001). Este livro inclui oito capítulos sobre a
abnegação, baseados em Lucas 9:23, e dez sermões adicionais,
sete dos quais não têm sido reimpressos desde o século
dezessete. Watson ensina que “a abnegação é 0 primeiro
princípio do cristianismo”. Ele descreve o que é abnegação, e
depois demonstra a natureza afirmativa de Cristo de todo ato
abnegado. Os sermões adicionais deste volume também são
valiosos, particularmente os que falam sobre Deus como a
recompensa de Seu povo (Gên. 15:1), “beijando” 0 Filho (Sal.
2:12), a vara consoladora (Sal. 23:4), e 0 Dia do Juízo (At. 17:31).

The Fight o f Faith Crowned (SDG; 191 páginas; 1996). Este


livro contém seis sermões que ainda não tinham sido impressos
no século vinte. Eles incluem, “The Crown of Righteousness”
(2 Tim. 4:8), “The Righteous Man’s Weal and the Wicked
Man’s Woe” (Is. 3:10,11), “Time’s Shortness” (sermão para
ofício fúnebre, do pregador puritano John Wells, baseado em
1 Corintios 7:29), “The Fight of Faith Crowned”, (sermão
para ofício fúnebre, referente a Henry Stubbs, baseado em 1
Timóteo 4:7,8), “A Plea for Alms” (Sal. 112:9) e “The One
Thing Necessary” (Fil. 2:12). O último sermão desnuda toda
desculpa para não buscar Deus e roga que nos dobremos ante
as exigências do evangelho. Watson conclui explicando seis
formas de ajuda para a pessoa desenvolver a sua salvação -
a força, a diligência, o amor, a humildade, a esperança, e a
oração de Cristo.

Gleanings from Thomas Watson (SDG; 144 páginas; 2001.


Esta obra apresenta citações dos escritos de Watson. A seleção
é feita de acordo com quinze áreas do andar do crente com
Cristo, incluindo contentamento, perseguição, tentação,

727
PAIXAO P E L A PU R EZA

pregação, oração, e meditação. Watson tinha o dom de


apresentar profunda verdade doutrinária com vividas imagens
e interessantes metáforas particularmente memoráveis.
Eis alguns exemplos:

• Quem se envergonha de Cristo é uma vergonha


para Cristo.
• As tristezas mundanas apressam os nossos
funerais.
• Os que suportam a cruz pacientemente usarão a
coroa triunfantemente.

The Godly M an’s Picture (BTT; 252 páginas; 1992). Esta


obra traz o subtítulo, Drawn with a Scripture Pencil, or, Some
Characteristics of a Man Who is Going to Heaven. Depois de
explicar a natureza da piedade, Watson descreve vinte e
quatro marcas do homem piedoso, incluindo “movido pela
fé”, “inflamado de amor”, “preza Cristo”, “ama a Palavra”, “é
humilde”, “é paciente”, e “ama os santos” . Os capítulos finais
oferecem formas de ajuda para a piedade, informação sobre
como perseverar na piedade, conselho e consolo aos piedosos,
e ensino sobre a união mística entre Cristo e Seu povo.

Harmless as Doves: A Puritan’s View o f the Christian Life


(CFP; 188 páginas; 1994). Este livro contém dez excelentes
sermões que provêm um retrato bíblico do viver cristão. Eles
incluem: “Christian Prudence and Innocency”, “On Becoming
a New Creature”, “The Evil Tongue”, “Not Being Weary in
Well-Doing, “On Knowing God and Doing Good”, “Christ All
in All”, “The Preciousness of the Soul”, “The Soul’s Malady and
Cure”, “The Beauty of Grace”, e “The Tree of Righteousness
Blossoming”. Estes sermões revelam o estilo estimulante e
impositivo da pregação de Watson. Eles são experimentais e
práticos, e propiciam excelente leitura devocional.

728
Thomas Watson

Heaven Taken by Storm (SDG; 135 páginas; 1992). Este livro


é um excelente manual - talvez o melhor já escrito - sobre
como usar os vários meios de graça. Baseado em Mateus 11:12,
Watson descreve como o cristão deve tomar o reino do céu por
santa violência mediante a leitura e exposição das Escrituras,
a oração, a meditação, o exame de si mesmo, a conversação e a
observância do Dia do Senhor. Ele explica como o crente deve
batalhar contra si mesmo, satanás e 0 mundo, e se contrapõe
às objeções e aos empecilhos a que usemos tal violência.
Um apêndice do livro inclui dois sermões adicionais: “The
Happines of Drawing Near to God” e “ How We May Read
the Scriptures with Most Spiritual Profit”.
Este livro ajudou a levar o Coronel James Gardiner
{1688-1745}, como também muitos outros, à conversão. E
um excelente livro para dar aos que querem começar a ler os
puritanos.

The Lord’s Prayer (BTT; 332 páginas; 1994). Originalmente


produzido para ser uma continuação de A Body of Divinity
sobre o Breve Catecismo, Watson dá sequência ao formato de
pergunta e resposta, para explicar as petições que constam na
oração modelo de Jesus. Em nossa opinião, este livro iguala-se
em utilidade ao de Herman Witsius The Lord’s Prayer. A obra
de Witsius é mais ponderada e teológica, ao passo que a de
Watson é mais devocional e prática.

The Mischief of Sin (SDG; 176 páginas; 1994). Este é o


tratamento mais definitivo do pecado feito por Watson. Inclui
quatro partes: “The Mischief of Sin” ; “The Desperateness of
Sinners”, “An Alarm to Sinners”, e “Hell’s Furnace Heated
Hotter”. “The Mystery of the Lord’s Supper” está incluído
num apêndice.
John MacArthur escreve: “O estudo de Thomas Watson
sobre o pecado é profundo, leva à convicção de pecado,
estimula o pensamento e transborda de rica perspicácia

729
PAIXAO P E L A PU R EZA

espiritual. Destila os melhores atributos da produção literária


puritana. Tão devocional como doutrinário, tão prático como
bíblicamente firme, e tão deleitável como apto para a convicção
de pecado, este livro fere o próprio coração dos pontos bíblicos
quanto ao pecado. Você não poderá lê-lo e permanecer
indiferente quanto ao pecado em sua própria vida” .

A Plea for the Godly and Other Sermons (SDG; 480 páginas;
1997). Esta coleção, que contém parte da melhor obra de
Watson, inclui: “Comfort for the Church”, “The Happiness
of Drawing Near to God”, “The Tongue, a World of Iniquity”,
“The Mystical Temple”, “Christ All in All”, “The Perfume of
Love”, “A New Creature”, “The Heavenly Race” , “The Fiery
Serpents”, e o sermão de despedida de Watson.

The Puntan Pulpit: Thomas Watson (c. 1620-1686) (SDG;


233 páginas; 2004). Este livro, o segundo da série Puritan
Pulpit, é uma coleção de dez sermões não encontrados em
nenhuma outra obra de Watson impressa atualmente. “A
Christian on Earth Still in Heaven”, “Christ’s Loveliness”,
“God’s Anatomy Upon Man’s Heart”, “The Beauty of Grace”,
“The Preciousness of the Soul”, “The Saint’s Desire to be
with Christ”, “The Saint’s Spiritual Delight”, “The Soul’s
Malady and Cure”, “The Trees of Righteousness Blossoming
and Bringing Forth Fruit” e “The Spiritual Watch”. Estes
sermões são da safra das vinhas de Watson - pastorais e fáceis
de entender, ricos de ilustração e com abundantes aplicações.

Religion Our True Interest (BB; 144 páginas; 1992). Esta obra
consiste de anotações de Watson sobre Malaquias 3:16-18.
Oferece útil ensino sobre conversação religiosa, pensamento
centralizado em Deus, a disposição de Deus para com Seu
povo, e o temor da Deus, que Watson define como “ reverenciar
e adorar a santidade de Deus, e colocar-nos sempre sob a Sua
sagrada inspeção”. Hoje estamos dolorosamente necessitados

730
Thomas Watson

desse ensino, pois muitíssimas pessoas que se dizem cristãs


têm falta desta marca da graça, que Watson denomina “o
melhor certificado com vistas ao céu” ; embora “o temor a
Deus não seja objeto do nosso pleito, [é], todavia, nossa prova
com vistas ao céu” .
O caráter de Deus no cumprimento da Sua aliança é
evidente quando Watson explica a promessa de Deus “Eles
serão meus”, do livro de Malaquias. Os crentes pertencem
a Deus, diz Watson, mas Deus e Suas riquezas também
pertencem aos crentes. Deus diz: “Minha sabedoria será vossa
para ensinar-vos, Minha santidade será vossa para santificar­
-vos, Minha misericórdia será vossa para salvar-vos”, e a isso
Watson responde: “Que dote é mais rico que a Deidade?
Deus é todo um oceano de felicidade. Se há nEle o suficiente
para encher os anjos, então, certamente, Ele tem o suficiente
para encher todos nós”. Este livro é rico alimento para 0
encorajamento, a iluminação e a admoestação dos crentes.

Sermons of Thomas Watson (SDG; 745 páginas; 1997).


Originalmente esta obra era intitulada Discourses on Interesting
and Important Subjects, being the Select Works of the Reverend
Thomas Watson (2 volumes). Com exceção do livro The
Beatitudes, esta reimpressão coloca tudo o que havia nos
dois volumes originais sob uma só capa. Ela inclui: “The
Christian’s Charter of Privileges”, “The Saint’s Spiritual
Delight”, “A Treatise Concerning Meditation”, “The Upright
Man’s Character”, e “The Godly Man’s Picture Drawn
with a Scripture Pencil” . O tratado sobre a meditação é
particularmente valioso. Edward Reynolds escreve na parte
introdutória: “A meditação é o paladar da alma pelo qual
saboreamos a bondade de Deus; os olhos da alma pelos quais
contemplamos as belezas da santidade; a askesis e a gimnasya'
pelas quais os nossos sentidos espirituais são exercitados... é a1

1 O e x e r c í c i o e a g i n á s t i c a . N o t a cio t r a d u t o r .

731
PAIXAO P E L A PU R EZA

chave para a adega, para a casa do banquete, para a horta das


especiarias, o que nos leva para Aquele que a nossa alma ama;
é o braço com o qual abraçamos as promessas à distância, e
juntamos Cristo e nossas almas”.

The Ten Commandments (BTT; 245 páginas; 1998). Este


terceiro volume que Watson escreveu sobre o Breve Catecismo
examina a lei moral em geral e também cada um dos seus
mandamentos. Watson mostra repetidamente os diversos
ardis do pecado que há em nós. Em vista da importância da
lei no viver cristão, esta é uma obra extremamente valiosa.

732
illia m W h ita k e r n asc e u em 1548 em H o lm e , nas
W p ro x im id a d e s de B u rn le y , L a n c a s h ire , se n d o ele 0
te rc e iro filh o de T h o m a s W h ita k e r, ch efe de u m a fam ília
da classe m é d ia co m su as ra íz e s ali d esd e 0 sécu lo catorze.
W illia m re c e b e u su a ed u ca ção a c a d ê m ic a n a St. P a u l’s
S chool e n o T rin ity C ollege, C a m b rid g e , o n d e o b te v e o g rau
de B a c h a re l em A rte s em 1568 e o de M e stre em A rtes em
1571. E le foi n o m e a d o m e m b ro in fe rio r do c o rp o d o c e n te
em 1569 e m e m b ro s u p e rio r do c o rp o d o c e n te em 1571. E le
o b te v e u m g ra u de te o lo g ia em O x fo rd em 1578. W h ita k e r era
u m in fa tig á v e l e s tu d io so das E s c ritu ra s , de c o m e n ta rista s da
B íb lia e dos esco lá stico s m e d iev ais. E le se to rn o u p ro fesso r
de te o lo g ia em C a m b rid g e , em 1579, e n o a n o s e g u in te foi
n o m e a d o c h a n c e le r em St. P a u l’s. T o rn o u -s e d ire to r do St.
J o h n ’s C ollege, C a m b rid g e , em 1586, e foi la u re a d o com 0 g rau
de D o u to r em T eologia em 1587.
W h ita k e r foi u m h á b il e s c rito r c a lv in is ta e u m p o d ero so
cam p eão p r o te s ta n te c o n tra 0 p a p a d o . C o m o d ire to r do St.
J o h n ’s C ollege, su a e s c ru p u lo s a im p a rc ia lid a d e g ra n je o u -lh e
o afeto dos m e m b ro s do colégio, m u ito s dos q u a is se h a v ia m
o p o sto à su a n o m e a ç ã o d e v id o a su as co n v icçõ es p u rita n a s .

733
PAIXAO P E L A PU R EZA

Sob a sua influência, o colégio aumentou em número e em


reputação, e 0 partido puritano cresceu em poder.
Em 1593, Whitaker foi designado para a direção do Trinity
College, mas não aceitou o cargo. Dois anos mais tarde, foi
nomeado cônego de Canterbury. Logo ficou gravemente
enfermo. Sua morte, ocorrida no dia 4 de dezembro de 1595,
foi uma considerável perda para a Universidade de Cambridge
e para a causa da Reforma na Inglaterra.
A primeira mulher de Whitaker era uma Culverwell e era
cunhada de Laurence Chaderton, e sua segunda esposa era
a viúva de Dudley Fenner. Foram oito os filhos de Whitaker.
Um deles, Alexander, tornou-se um bem conhecido ministro
na Virgínia; outro, Richard, tornou-se um bem conhecido
impressor e livreiro em Londres.
Whitaker escreveu mais de vinte livros. Ele foi descrito
como “ 0 orgulho e o ornamento de Cambridge” . Poucos
teólogos ingleses foram tidos em mais alta estima por seus
contemporâneos. Até Robert Bellarmino, erudito católico­
-romano, ficou tão impressionado com a acuidade de Whitaker
que pendurou um retrato de Whitaker em seu escritório.

Disputations on Holy Scripture (SDG; 718 páginas; 2000).


Um dos pontos chaves que distinguiam os protestantes
dos católicos romanos era o papel das Escrituras na vida
do crente. Os protestantes declaravam que as Escrituras
eram a única regra de fé e prática, ao passo que os católicos
romanos ensinavam que as Escrituras e as tradições da igreja
tinham igual autoridade. Nesta volumosa obra, impressa
pela primeira vez em 1588, Whitaker argumenta em favor da
posição protestante. Ele trata do número dos livros canônicos,
sobre a autoridade das Escrituras, a perspicuidade ou clareza
das Escrituras, a adequada interpretação das Escrituras (isto é,
hermenêutica), e a perfeição das Escrituras.

734
Michael Wigglesworth
(1631-1705)

M ichael Wigglesworth foi um ministro puritano que se


tornou famoso por sua poesia. Ele nasceu em 1631 em
Yorkshire, Inglaterra, de Edward e Esther Wigglesworth,
comerciantes de sucesso. Em 1638, os Wigglesworth saíram
de Yorkshire devido a uma perseguição religiosa. Foram para
Charlestown, Massachusetts, onde ficaram pouco tempo, e se
mudaram para New Haven, Connecticut.
Quando Michael estava com sete anos de idade, seus pais
0 enviaram a Ezekiel Cheever para estudos formais. Dois anos
depois ele voltou para casa para ajudar seu pai, que tinha sido
acidentado na fazenda. Todavia, o trabalho agrícola não lhe
ia bem; ele voltou para Cheever em 1644, e estudou até poder
ingressar em Harvard, três anos depois. Inicialmente ele queria
ser médico, mas durante o seu quarto ano em Harvard ele foi
convertido e decidiu estudar para 0 ministério. Recebeu 0 grau
de Bacharel em Artes em 1651 e serviu como membro do corpo
docente de 1652 a 1654. Um dos seus alunos foi Increase Mather,
que se tornou seu amigo para toda a vida. Pouco depois disso, foi
oferecido a Wigglesworth 0 púlpito de Malden, Massachusetts.
Inseguro quanto à sua vocação, ele pregou em Malden por
mais de um ano, mas se refreou quanto a comprometer-se.

735
PAIXAO P E L A PU R EZA

Enquanto esteve em Malden, Wigglesworth manteve um


diário, documentando incertezas espirituais causadas por
enfermidade (ele foi afligido por várias indisposições físicas
toda a sua vida), suas lutas sexuais e suas dúvidas acerca da
sua vocação. Um recorrente pesadelo registrado no diário
mostrava Deus em Seu trono separando as ovelhas dos bodes.
Essa visão causou tanto terror a Wigglesworth que ela veio a
ser a imagem dominante do seu primeiro poema importante.
Em 1655, Wigglesworth casou-se com Mary Reyner, uma
prima, e se estabeleceu em Malden com sua mãe e sua irmã,
Abigail. Mercy, filha única, nasceu no ano seguinte.
Wigglesworth não foi ordenado formalmente até 1657.
Um ano depois disso, uma enfermidade o impediu de cumprir
seus deveres ministeriais. Durante vários anos, Wigglesworth
lutou com sua frágil saúde e com a pressão dos deveres
paroquiais. Em 1659, sua mulher morreu, aumentando suas
dificuldades. Por volta de 1661, teve tantas diferenças com
sua congregação e ficou tão deprimido acerca do seu estado
pessoal e o da sua comunidade que escreveu The Day of Doom,
uma alegoria poética descrevendo 0 Dia do Juízo.
A obra, publicada em 1662, teve sucesso imediato. A
primeira edição, de 1.800 exemplares, foi vendida dentro de
um ano. Evidentemente, a alegoria poética apelava aos temores
e necessidades do seu auditório. Wigglesworth descreveu
0 Juízo Final com detalhes impressionantes, apoiando-se
em conhecidas imagens bíblicas, como também em métrica
comum e rima interna. Era fácil memorizar a poesia, e muitas
pessoas 0 fizeram.
Três edições inglesas e duas edições americanas de The Day
of Doom, foram publicadas antes do fim do século dezessete. A
última edição de Wigglesworth (1701) foi seguida por mais
oito edições nos séculos dezoito e dezenove.
A próxima obra poética de Wigglesworth foi God’s
Controversy with New England. Empregando a linguagem de
Isaías e de Deuteronómio, o poema concita os habitantes da

736
M ichael Wigglesworth

Nova Inglaterra a considerarem sua conduta à luz dos “anos


de muitas gerações”. Wigglesworth compara sua comunidade
com a dos israelitas, e a migração para a Nova Inglaterra
com o Exodo.
Em 1663, Wigglesworth saiu de Malden indo para as
Bermudas por causa de sua saúde, mas com pouco efeito. Voltou
no ano seguinte para descobrir que Malden tinha chamado um
ministro assistente, Benjamin Bunker. Wigglesworth atendia
às necessidades médicas da comunidade e, como preceptor,
começou a preparar rapazes locais para Harvard.
Em 1669, Wigglesworth escreveu Meat Out of the Eater;
or, Meditations Concerning the Necessity, End, and Usefulness of
Afflictions unto God’s Children, publicado em 1670. Diferente
da obra God’s Controversy with New England, {0 livro} Meat
out the Eater enfatizava a edificação das almas individuais. O
poema consiste de dez meditações e de uma seção de conclusão
sobre a natureza purificadora das aflições para o indivíduo.
Combina paráfrase bíblica com alusões na explicação do efeito
das aflições sobre a alma. O poema foi impresso quatro vezes
durante a vida de Wigglesworth e novamente em 1717 e 1770.
Wigglesworth não reassumiu os deveres do púlpito
quando Bunker morreu, em 1670. Quatro anos mais tarde,
Benjamin Blackman chegou e ministrou durante quatro anos,
retirando-se em 1678. No ano seguinte, apesar das objeções
de Increase Mather e de outros, Wigglesworth casou-se com
sua jovem governanta, não batizada; eles tiveram seis filhos.
O escândalo do casamento levou Wigglesworth a renunciar a
seu trabalho como pastor e mestre em Malden, mas a cidade
nunca aceitou oficialmente a sua renúncia. Dentro de poucos
anos, a saúde de Wigglesworth melhorou extraordinariamente.
Nesse ínterim, outro ministro, Thomas Cheever, serviu como
ministro em Malden de 1680 a 1686. Depois da partida deste,
Wigglesworth reassumiu seus deveres como único pastor e
como mestre em Malden. Quando sua jovem esposa morreu,
em 1690, Wigglesworth aumentou os seus deveres. Envolveu-

737
PAIXAO P E L A PU R EZA

-se nas atividades da Nova Inglaterra, aliando-se à Associação


de Cambridge, dos ministros de Boston, em seu interesse
pela vida espiritual da comunidade.
Em 1691, Wigglesworth casou-se com Sybil Avery
Sparhawk, viúva de Jonathan Avery. O filho do casal, Edward,
iria tornar-se o primeiro Hollis Professor em Harvard.
Até sua morte, Wigglesworth permaneceu no púlpito
de Malden, Ele foi um líder ativo na Colônia da Baía de
Massachusetts e, em 1697, mais uma vez assumiu a posição de
membro do corpo diretivo e preceptor em Harvard, posição
que manteve pelo resto de sua vida. Também fez estreita
amizade com Samuel Sewall e outros líderes importantes.
Increase Mather esteve com Wigglesworth em suas
horas finais. Consta que Wigglesworth disse: “Por mais de
cinquenta anos juntos, estive labutando para manter uma
vida de comunhão com Deus, e, dou graças a Deus, agora
acho nela conforto”. Quando ele morreu, em 1705, tinha
sobrevivido a todos os seus colegas de classe de Harvard,
exceto Isaac Chauncy, que viveu na Inglaterra. No princípio
de sua carreira, Wigglesworth foi um tanto desprezado por
suas frequentes indisposições de saúde, mas no período final
de sua vida foi considerado um patriarca da Nova Inglaterra.
Wigglesworth é bem mais lembrado hoje como poeta.
Sua obra não demonstra a sensibilidade poética de Anne
Bradstreet ou de Edward Taylor, mas realmente ilustra
seus ideais puritanos: amor a Deus, à comunidade e à
família. Devido a sua obra The Day of Doom, muitas vezes
Wigglesworth é considerado uma pessoa melancólica, sem
alegria. Mas Wigglesworth não foi esse tipo de homem. Ele
apreciava a criação, o lazer edificante e as sublimes belezas da
vida. Pode-se até dizer que ele era muito romântico. Quando
ele estava cortejando Sybil, deu-lhe um broche com estas
palavras inscritas: “Teu para sempre”.

738
M ichael Wigglesworth

The Diary of Michael Wigglesworth, 1653-1657: The


Conscience of a Puritan (Smith; 125 páginas; 1970). Edmund
Morgan descobriu o diário de Wigglesworth na década de
1960, editou-o cuidadosamente, e depois publicou esta obra.
O Diary registra os pensamentos de Wigglesworth e sua
comunhão com Deus durante seu trabalho como preceptor
em Harvard, seu casamento com Mary Reyner, e sua agonia
ao decidir se tornar pastor em Malden. Os registros revelam
sua incessante busca de sinais do favor ou do desprazer de
Deus. Repetidamente volta a escrever sobre os seus pecados
mais persistentes: orgulho, falta de afeto por seus pais,
principalmente por seu pai, e apego às coisas do mundo, mais
do que às coisas celestiais. Com intensidade emocional, ele
descreve aborrecimentos acerca de sua sexualidade e de seus
frequentes períodos de enfermidade.

Poems of Michael Wigglesworth (UPA; 330 páginas; 1989).


Wigglesworth produziu mais de setenta poemas. Esta coleção
apresenta todos os seus poemas conhecidos. Inclui um longo
prefácio que contém ensaios sobre sua vida, bem como sobre
os contextos histórico e teológico nos quais ele escreveu.

739
John Winthrop
(1588-1649)

Tohn Winthrop nasceu em Edwardstone, Suffolk, em 1588.


IFoi 0 único filho de Adam Winthrop, lorde de Groton
Manor, uma pequena propriedade na zona campestre inglesa.
Inicialmente, John estudou em casa, com um preceptor
particular. Com a idade de catorze anos, ele foi para o Trinity
College, Cambridge, onde estudou dois anos. Depois voltou
para Groton, para aprender a administrar a propriedade do pai.
Quando voltou para casa, ele foi apresentado a Mary Forth,
filha de um distinto nobre de Essex; casou-se com ela três
semanas depois. O jovem casal residiu em Great Stambridge,
e e beneficiaram do ministério de Ezekiel Culverwell, por
meio de quem Deus abençoou grandemente Winthrop. Seu
diário desse tempo registra “intensas experiências de união
com Deus que periodicamente renovavam sua fé e que ele
descrevia em termos de união conjugal com Cristo” {Oxford,
DNB, 59:802).
Quando fez dezoito anos de idade, logo após o seu
aniversário, Winthrop tornou-se pai. Depois de dar à luz
seis filhos em dez anos, Mary morreu em 1615. Winthrop
desposou Thomasine Clopton, de Groton, seis meses mais
tarde, mas ela morreu dentro de um ano. Seu diário mostra

740
John Winthrop

que a morte demorada e sofrida de Thomasine causou-lhe


grande impacto emocional e espiritual. Em 1618, Winthrop
casou-se novamente, desta vez com Margaret, fdha de Sir John
Tyndal, de Great Maplestead, Essex. Margaret era uma mulher
de grande fé, e Winthrop amou-a profundamente. Quando ele
viajava, lhe enviava cartas, expressando seu intenso amor por
ela e encorajando-a na fé.
Winthrop estudou direito desde os seus vinte e tantos anos
até os seus trinta e poucos. Isso 0 equipou com a perícia legal
necessária para lidar com as contendas entre arrendatários
e proprietários de terras, coletar aluguéis e para tratar com
autoridades do governo. Ele se tornou um advogado influente,
chamado frequentemente para lavrar petições dirigidas ao
parlamento. No devido tempo, ele seguiría os passos de seu
pai como senhor de Groton Manor. O pai de Winthrop fez o
melhor que pôde para treinar seu filho como um fidalgo da
zona campestre, mas o filho nunca se igualou ao pai. Nalgum
ponto daqueles primeiros tempos, Winthrop foi inflamado pelo
fogo do puritanismo. Eis uma amostra dos registros no diário:
“Ó Senhor, crucifica o mundo para mim para que, ainda que
eu não consiga deixar de viver entre as iscas e armadilhas do
mundo, esse esteja real e verdadeiramente morto para mim,
e eu para ele” (citado em Mark Galli, “Gifted Founders”,
Christian History, n° 41, p. 29).
Winthrop decidiu emigrar para a América. A mais remota
indicação dessa decisão é 0 que ele escreveu numa carta a
sua esposa no dia 15 de maio de 1629. Ele escreve: “Minha
querida esposa, estou verdadeiramente persuadido de que
Deus vai trazer pesada aflição sobre esta terra, e rápido; mas,
anime-se, por mais dura que seja, será um meio de mortificar
este corpo de corrupção, 0 qual é mil vezes mais perigoso para
nós do que qualquer tribulação externa, e servirá para colocar­
-nos numa comunhão mais chegada com o nosso Senhor
Jesus Cristo e para dar-nos mais certeza sobre 0 seu reino”.
Nesse tempo, Winthrop já estava preparando uma declaração

741
PAIXAO P E L A PU R EZA

de “Ponderáveis razões para justificar os empreendedores


da pretendida Plantação na Nova Inglaterra, e para animar
aqueles em cujos corações Deus opera para juntar-se a eles
nesse empreendimento”.
Winthrop partilhou esse papel com o filho mais velho (que
posteriormente foi feito governador de Connecticut) em agosto
de 1629. O filho respondeu: “Quanto aos empreendimentos
na Nova Inglaterra, não posso dizer outra coisa senão que
creio confiantemente que todo o desenrolar disso é do Senhor,
que dispõe todas as alterações por Sua bendita vontade, para a
Sua glória e para o bem dos Seus; todas as coisas contribuem
juntamente para 0 melhor que nisso há” (Life and Letters,
1:309-337).
O ímpeto para Winthrop e outros deixarem a Inglaterra
deveu-se à condição religiosa e política da Inglaterra. O rei
afirmando sistematicamente a sua autoridade, reduzindo a
quase nada o poder do parlamento. Foi uma época de altos
comissariados, de empréstimos obrigatórios e de taxação sem
representação. Muitos homens distintos, que se opunham a
esses atos políticos, foram detidos e encarcerados. Sir John
Eliot, um amigo de Winthrop, foi mandado para a Torre de
Londres depois de falar ousadamente no parlamento. Ele
morreu ali depois de sofrer por alguns anos.
As crenças puritanas, que Winthrop abraçava fortemente,
também foram reprimidas. Laud, o bispo de Londres, já
estava mostrando a intolerância que ele imporia poucos anos
mais tarde como arcebispo de Cantuária. Nesse meio tempo, o
Novo Mundo estava aberto para os que procuravam liberdade
religiosa. Especialmente os peregrinos estavam convidando os
puritanos para virem. Tudo isso encorajou a grande emigração
de Suffolk que Winthrop liderou.
A Companhia de Massachusetts já havia estabelecido uma
plantação em Salem. John Endicott foi designado para governar
aquela colônia subordinado ao governador e à companhia
em Londres. Mas agora a companhia queria transferir tudo

742
John Winthrop

0 que era relacionado com o governo para solo americano,


e assim pediu a Winthrop que efetuasse essa transferência
como o recém-nomeado governador da colonia. Menos de um
ano depois, em abril de 1630, Winthrop rumou para Salem
com uma carta régia e na companhia de 700 pessoas numa
frota de vários navios. Winthrop fez seu famoso discurso, “A
Model of Christian Charity”, a bordo do navio Arabella. A
Nova Inglaterra, disse ele, foi chamada para ser uma “cidade
edificada sobre um monte”. Quando os navios chegaram
ao Novo Mundo, Winthrop foi primeiro para um lugar
atualmente chamado Charlestown, mas logo se estabeleceu
numa área que viria a ser Boston.
Winthrop governou a Colônia da Baía de Massachusetts
durante doze anos com mão firme, acreditando que a liberdade
requer autoridade. Para ele, a democracia era governo feito
pelo povo. Ele acreditava num governo representativo, mas
que os eleitos governassem primariamente pelas Escrituras
e por suas consciências. Os anos mais difíceis foram 1646
e 1647, devido às contendas com Robert Childe e Samuel
Gorton. Winthrop tomou fortes medidas contra esses dois, o
que provocou mais oposição. E mais, Winthrop perdeu sua
terceira esposa, Margaret, em 1647.
Mais adiante, nesse ano, Winthrop casou-se com Martha,
filha do Capitão William Ransborough e viúva de Thomas
Coytmore, de Boston. Em 1649, Winthrop morreu em Boston
com a idade de sessenta e um anos, depois de muito trabalho
pesado, ansiedade e tristeza. John Cotton, que esteve com
Winthrop durante as suas últimas horas, elogiou seu amigo
como “um governador que foi um irmão para nós” .
Winthrop tinha sido membro da Igreja da Inglaterra
enquanto estivera na Inglaterra, mas no novo país ele achou
que o congregacionalismo era o melhor meio de propagar o
cristianismo. Tornou-se congregacional, e ficou congregacional
até sua morte. Em toda a sua vida, Winthrop empenhou-se em
estabelecer 0 que ele chamava “uma cidade edificada sobre um

743
PAIXAO P E L A PU R EZA

monte”. Com essa finalidade, ele se opôs a todas as formas de


desvio doutrinário, inclusive os de Roger Williams e de Anne
Hutchinson. Winthrop dizia que a verdadeira liberdade só
podia ser achada na guarda das leis que Deus tinha ordenado.
Winthrop teve proeminente influência sobre os ideais
americanos. Ele viveu para ver Boston, que ele tinha
fundado, tornar-se uma florescente e próspera capital, e um
Estado, cuja carta régia ele fizera impor-se, um Estado que se
expandiu através de sucessivas povoações num vasto território
e representado em sua legislatura por deputados provenientes
de trinta cidades separadas. Outras colônias se haviam
estabelecido em torno de Massachusetts, e uma Confederação
da Nova Inglaterra, da qual ele foi o primeiro presidente,
tinha sido formada sob o seu patrocínio. Escolas gratuitas
tinham sido estabelecidas e um colégio tinha sido incorporado
e organizado. Acima de tudo, a religião tinha firmado raízes
profundas em todas as povoações, e igrejas eram formadas
onde quer que houvesse adequada população.

The Journal of John Winthrop, 1630-1649 (Harvard; 704 páginas,


1996). De há muito este diário tem sido reconhecido como a principal
fonte para a história de Massachusetts referente às décadas de 1630
e 1640. Winthrop registrou eventos, tanto religiosos como políticos,
mais completa e francamente do que qualquer outro observador.
O diário foi publicado três vezes desde 1790, mas essas edições
são obsoletas. Richard Dunn e Laetitia Yeandle apresentam esta
edição há muito tempo esperada, edição erudita, completa e que
inclui introdução, notas e apêndices. Não resumida, esta edição faz
uso dos originais manuscritos do primeiro e do terceiro cadernos
(ambos preservados na Sociedade Histórica de Massachusetts),
mantendo sua ortografia e sua pontuação, e a transcrição que James
Savage fez do caderno intermediário (acidentalmente destruído
em 1825).

744
John Winthrop

A narrativa de Winthrop começou como um diário e


desenvolveu-se, redundando numa história. Pouco antes
da partida da embarcação, ele começou um relato diário da
viagem. Continuou seu diário quando chegou a Massachusetts,
inicialmente fazendo registros breves e irregulares, mas depois
fazendo anotações mais longas e mais frequentes. De 1643
em diante, ele voltou a escrever trechos irregulares e a fazer
registros retrospectivos. Winthrop tinha a intenção de editar
e revisar seu diário, mas antes disso a sua saúde se deteriorou.
Uma edição resumida do diário, publicada separadamente
(Harvard; 354 páginas; 1996), apresenta quase a metade do
texto de Winthrop, com ortografia e pontuação modernas.
O sermão de Winthrop intitulado “A Model of Christian
Charity” (1630), foi incluído, junto com uma introdução e
anotações. Para os interessados em estudar a vida e os escritos
de Winthrop, 0 diário resumido é 0 lugar por onde começar.
Também recomendamos 0 livro de Edmund Morgan, The
Puritan Dilemma, que propicia um fascinante exame da vida
e dos tempos do governador.

745
APÊNDICE 1
Coleções de Escritos P úntanos
[Os puritanos] foram grandes eruditos, alguns dos maiores
que a Igreja da Inglaterra produziu, eruditos proeminentes,
homens piedosos, retos e santos. Eis aqui uma descrição deles
nas palavras do Rev. Robert Halle}‫■׳‬: “Elogiar a pregação de
Baxter, a teologia de Owen, o gênio de Howe, a cultura de
Goodwin, o raciocínio de Charnock, os sermões de Bates,
a devoção de Flavel, as meditações de Isaac Ambrose, as
exposições de Matthew Poole, os labores de Oliver Heywood,
a vida de Joseph Alleine! Não, certamente não! Não cabe
a mim elogiar os homens que tanto fizeram para tornar
a Inglaterra 0 que ela é... Eles deixaram suas profundas e
indeléveis impressões na história da nossa terra, e em todas
as suas instituições... Eles deram a seu país e a seus domínios,
numa linguagem que, mais do que qualquer outra, promete
tornar-se universal, uma literatura religiosa tão reflexiva,
tão devota e tão prática, que tanto os conformistas como os
não conformistas piedosos reconhecem, tão subordinada às
Escrituras que ela constitui a riqueza da nossa Igreja [e] e a
força dos nossos pregadores”
Assim foram estes homens, grandes e poderosos eruditos,
vigorosos pregadores, homens de caráter e força de convicção,
homens de coragem. Eles provaram isso. Quando tantos
episcopais fugiam em busca de segurança e para preservar
suas vidas, da Peste e, uns três anos mais tarde, do Incêndio
de Londres, estes foram os homens que permaneceram e
pregaram ao povo, e formaram congregações em torno de si,
provando quão maravilhosos e nobres homens eles eram.

- D. Martyn Lloyd-Jones
(1662-1962, Evangelical Library Lecture, 1962)

748
Coleções de Escritos Puritanos

Worthy is the Lamb: Puritan Poetry in Honor o f the Saviour ,


compilada por Maureen Bradley (SDG; 380 páginas; 2004).
Temos aqui centenas de poemas escritos por alguns dos mais
excelentes servos de Cristo, muitos dos quais focalizando
Cristo. As seleções são ordenadas sistematicamente e incluem
numerosos temas doutrinários não implícitos nos títulos,
tais como Deus o Criador, a pecaminosidade do homem, a
soberania de Deus na salvação, a lei de Deus, a santificação,
os meios de graça, a oração, os sacramentos, o exame intros­
pectivo, a mortificação, o Sabbath, a morte e o céu.
Embora alguns dos autores inclusos sejam puritanos,
tais como Richard Baxter, Mather Byles, John Flavel, Oliver
Heywood e Nathaniel Vincent, muitos dos poemas são de
homens que viveram uma ou duas gerações depois da era
puritana, mas que transmitem as mesmas ênfases experimentais
dos puritanos, contando entre eles John Mason, John Newton
e Augustus Toplady.

Anthology o f Presbyterian and Reformed Literature, Volume


One, editada por Christopher Coldwell (NP; 326 páginas;
1988). Esta obra inclui três sermões de Alexander Henderson,
pregados nos dias 27 de dezembro de 1643,18 de julho de 1644
e 28 de maio de 1645; dois sermões de Samuel Rutherford; 0
sermão de James Durham intitulado Sermon on Death; uma
parte do Commentary on Colossians, de Paul Bayne, e 0 sermão
de John Welsh sobre o arrependimento.

Anthology o f Presbyterian and Reformed Literature, Volume


Two, editado por Christopher Coldwell (NP; 340 páginas;

749
PAIXAO P E L A PU R EZA

1989) . Incluídas estão a obra de James Durham, The Fourth


Commandment, a de Robert Harris, Samuel’s Funeral, 17
Sermons on Isaiah 5:1 , por James Durham, e a obra de Samuel
Rutherford, Separation from Corrupt Churches.

Anthology of Presbyterian and Reformed Literature, Volume


Three, editado por Christopher Coldwell (NP, 330 páginas,
1990) . Esta obra contém o livro de David Calderwood,Hgamsí
Festival Days, o de Alexander Henderson, Communion at
Leuchars,' o de Cornelius Burges, A Chain of Graces, o de Ralph
Erskine, A Short Paraphrase of Lamentations, e a primeira parte
da obra de Samuel Rutherford Trial & Triumph of Faith.

Anthology of Presbyterian and Reformed Literature, Volume


Four, editado por Christopher Coldwell (NP; 313 páginas;
1991) . Este volume contém a obra de John Sedgwick,
Antinomianism Anatomized, a de George Gillespie, Wholesome
Severity Reconciled with Christian Liberty, e a de David Hay
Fleming, Hymnology of the Scottish Reformation.

Anthology o f Presbyterian and Reformed Literature, Volume


Five, editado por Christopher Coldwell (NP; 328 páginas,
1992) . Inclui a obra de Samuel Hudson, The Doctrine of the
Catholic Church Visible, como também a de Samuel Rutherford,
The Last Heavenly Speeches of John Viscount Kenmure, a de
D. James Fisher, Catechism on the Fourth Commandment e os
Sermons Preached at a Communion in Irvine, por David Dickson.
Foi feito bom trabalho de edição e de composição
destes volumes, impressos num atraente formato de coluna
dupla e com letra grande. Lamentamos que a série não teve
continuidade de 1992 em diante.

The Valley of Vision: A Collection o f Puritan Prayers and 1

1 V ila e P a ró q u ia d e F ife sh irc , E sc ó c ia . N o ta d o trad u to r.

750
Coleções de Escritos Puritanos

Devotions, editada por Arthur Bennett (BTT; 230 páginas;


2002). Publicada pela primeira vez em 1975, estas orações
foram tiradas das obras de Thomas Shepard, Thomas Watson,
Richard Baxter, John Bunyan e outros puritanos. Bennett
enfatizou que 0 livro não visava “ser lido como um manual de
oração” . As orações são mais bem usadas pelo crente como um
trampolim para uma “comunhão com o Deus transcendente
e imánente que, com base em Sua natureza e Seus atributos,
extrai todos os poderes da alma redimida em atos de total
adoração e dedicação” (Prefácio, p. xi). A divisão das orações
em categorias, títulos e numa espécie de estrutura poética
promove o seu uso meditativo.

A Golden Treasury o f Puritan Devotion: Selections from the


Writings o f Thirteen Puritan Divines, compiladas e editadas
por Mariano Di Gangi (P&R; 183 páginas; 1999). Desde a
doutrina de Deus até aos aspectos práticos da vida e da morte,
Di Gangi nos supre de mais de quinhentos excertos das obras
de treze puritanos: Richard Baxter, John Bunyan, Stephen
Charnock, William Gouge, William Gurnal, John Howe,
James Janeway, Robert Leighton, Thomas Mantón, John
Owen, Richard Sibbes, Henry Smith e Thomas Watson.
William S. Barker diz desta obra: “Quem quiser sentir
0 gosto do movimento que enfatizava “uma ousada não
conformidade com esta má era presente, e uma completa
conformidade com o Filho amado de Deus” (como Di Gangi
se expressa no epílogo), este livro é um bom ponto de partida” .

The Puritans in America: A Narrative Anthology, editada


por Andrew Delbanco e Alan Heimert (Harvard; 456
páginas; 2005). Publicada primeiramente em 1985, este
livro, agora lançado ao público em brochura, contém uma
ampla amostragem da literatura puritana americana de
trinta e oito escritores, entre os quais John Cotton, Anne
Bradstreet, Edward Taylor e Cotton Mather. Muitas seleções

751
PAIXAO P E L A PU R EZA

são reimpressas pela primeira vez desde o século dezessete,


como acontece com a de Peter Bulkeley, The Gospel Covenant.
O livro é dividido em quatro seções: Miragens; A Migração;
Cidade sobre um Monte; e Ó Nova Inglaterra! Diversamente
de muitas antologias acadêmicas modernas, os textos desta
foram modernizados na pontuação e na ortografia.
A revista Virginia Quarterly Review observa que “apresen­
tando sermões, reminiscências, poesia e outros escritos numa
certa ordem cronológica, Heimert e Delbanco capturaram 0
espírito de uma vibrante Nova Inglaterra, que experimentava
mudanças sócias, religiosas e econômicas. As breves
introduções de muitas das seleções tornam este volume
especialmente cativante para estudiosos da história e da
literatura puritanas”.

Farewell Sermons (SDG; 465 páginas1992 ,‫)׳‬. Em 1662, mais de


dois mil ministros puritanos foram expulsos dos seus púlpitos
por se recusarem a sujeitar-se ao Ato de Uniformidade, que
exigia 0 uso do Livro de Oração Comum e 0 assentimento a
todos os ritos e cerimônias da Igreja da Inglaterra. Dentro de
dois anos, dois volumes cujo conteúdo consistia de trinta e
um sermões de teólogos exonerados foram publicados. Em
1816, Gale e Fenner imprimiram dezoito desses sermões
em Londres. Este volume é uma reimpressão dessa edição.
Um prefácio inclui breves notas gráficas sobre dezoito
pastores, incluindo William Bates, Thomas Brooks, Edmund
Calamy, Joseph Caryl, Thomas Jacomb, William Jenkyn,
Thomas Mantón, Matthew Mead e Thomas Watson. Seus
notáveis sermões são firmes denúncias pastorais, ainda que
ternas, com 0 propósito de que os crentes permanecessem fiéis
às Escrituras a todo custo e suportassem a perseguição por amor
a Cristo. Duas notáveis porções são os vinte pontos de “conselho
às vossas almas”, de Thomas Watson, e vinte e sete alegações e
razões de Thomas Brooks defendendo sua confiança em que o
evangelho não seria removido da Inglaterra, apesar das terríveis

752
Coleções de Escritos Puritanos

trevas que se seguiram à promulgação da Lei de Uniformidade.

Fast Sermons to Parliament, 1640-1653: The English


Revolution (CMP; 34 volumes; 1971). Esta obra é uma coleção
de sermões pregados ao parlamento durante os tempos de
glória da pregação puritana em dias de contrição pública sob
0 governo de Oliver Cromwell. Nestes volumes, o editor geral,
Robin Jeffs, documentou 448 sermões, dos quais a maior
parte reproduzida aqui em fac-símile. O governo inglês não
imprimiu os sermões restantes.
Estes sermões combinam ricamente oração e ação de
graças em favor da Inglaterra. Eles encorajam e admoestam
0 parlamento a governarem com temor a Deus. Os volumes
incluem sermões de pregadores que eram frequentemente
convidados a pregar diante do parlamento, incluindo William
Ames, Samuel Bolton, William Bridge, Thomas Brooks,
Anthony Burgess, Jeremiah Burroughs, Joseph Caryl, Thomas
Goodwin, William Greenhill, Christopher Love, Thomas
Mantón, Stephen Marshall, Philip Nye, John Owen, Obadiah
Sedgwick e Ralph Venning.

The Godly Family: Λ señes of Essays on the Duties o f Parents


and Children, de autoria de George Whitefield, Henry Venn e
outros (SDG; 360 páginas; 1999). E uma notável compilação
de quinze ensaios e sermões de pastores dos séculos dezessete e
dezoito, incluindo vários puritanos, sobre a direção de um lar
piedoso. A obra se divide em quatro seções: (1) A Importância
da Religião na Família; (2) Os Deveres dos Pais; (3) Os Deveres
dos Filhos; e (4) A Família Eterna. Os autores incluem Samuel
Davies, Philip Doddridge; Arthur Hildersham, Thomas
Houston, Samuel Stennett, Henry Venn, George Whitefield
e Samuel Worcester. Os sermões de Doddridge sobre educar
os filhos na fé são particularmente úteis. Não conhecemos
melhor livro impresso atualmente para promover o culto e a
piedade na família.

753
PAIXAO P E L A PU R EZA

Ju s Divinum Regiminis Ecclesiastici or The Divine Right


of Church Government, editado por David W. Hall (NP; 285
páginas; 1995). Com o subtítulo, Originally asserted by the
Ministers of Sion College, London, December 1646, esta obra por
ministros de Londres sobre o governo eclesiástico promove um
conceito presbiteriano sobre o governo da igreja. Seus escritos
foram instigados pela oposição presbiteriana aos erastianos
e aos independentes na Assembleia de Westminster.

Puritans in the New World: A Critical Anthology, editada por


David D. Hall (PUP; 392 páginas; 2004). A antologia de Hall
capta uma ampla gama de literatura puritana e ajuda o leitor
a compreender a complexidade do pensamento e da prática
puritanas. Esta antologia é diferente das outras em que aborda
o seu assunto historicamente, antes que literariamente. O tema
dominante da obra é os puritanos em sua “missão no deserto” e
as numerosas provações e vitórias que eles experimentaram. O
livro é dividido em sete partes principais (I. Do Velho Mundo
para o Novo; II. A Teologia na Nova Inglaterra: A condição
dos Pecadores e os Estágios da Redenção; III. Padrões de
Piedade e Devoção; IV. A Boa Sociedade; V. Os Dissidentes;
VI. Encontro com os Nativos Americanos; VII. Missão no
Deserto) com seleções representativas sob cada um, tais como
a obra Of Plymouth Plantation, de William Bradford, (I) e a de
Mary Rowlandson, sobre a narrativa do cativeiro (VI).
Hall provê também introduções eruditas dos capítulos,
as quais narram a vigorosa história e erudição puritanas.
Sobretudo, este livro é uma importante contribuição para
a erudição moderna e provê uma acurada e esclarecedora
exposição da vida na Nova Inglaterra primitiva.

Lessons for the Children o f Godly Ancestors: Sermons for and


about New England’s Rising Generations, 1670-1750 (SF; 7
volumes em 1, 416 páginas; 1982). Este fac-símile inclui as
obras de Increase Mather: “Pray for the Rising Generation”

754
Coleções de Escritos Puritanos

(1679), de Cotton Mather: “The Best Ornaments of Youth”


(1707), de William Cooper: “How and Why Young People
Should Cleanse Their Way” (1716), de Benjamin Colman e
William Cooper: “Two Sermons Preached in Boston, March
5” (1723), de Charles Chauncy: “Early Piety Recommended
and Exemplified” (1732), de John Barnard: “A Call to Parents
and Children” (1737), e de Jonathan Todd: “The Young
People Warned” (1740).

The Puritans: A Sourcebook o f Their Writings, editado por


Perry Miller e Thomas Johnson (Dover; 846 páginas; 2002).
Impresso pela primeira vez em 1938, quando os estudos
puritanos eram novidade, esta coleção inclui parte da melhor
prosa da América Primitiva. Em acréscimo aos escritos, este
livro inclui extensa bibliografia apresentando uma abrangente
introdução ao puritanismo americano primitivo. Os escritos
estão divididos em nove seções: História; A Teoria do Estado
e a Sociedade; Este mundo e o Próximo; Hábitos, Costumes
e Conduta; Biografias e Cartas; Poesia; Teoria Literária;
Educação; e Ciência. Apesar de não concordarmos com
algumas das conclusões de Miller, recomendamos a obra como
uma visão panorâmica da sociedade puritana americana.

The Puntan Sermon in America, 1630-1750 (SF; 4 volumes,


1.840 páginas; 1978). Este fac-símile de quatro volumes,
editado por Ronald A. Bosco, contém trinta e nove sermões.
O volume I, intitulado Sermons for Days of Fast, Prayer, and
Humiliation, and Execution Sermons, contém sermões de:

‫ ״‬Thomas Shepard, “Wine for Gospel Wantons”


(1668).
• Increase Mather, “The Day of Trouble is Near”
(1675).
• Increase Mather, “Pray for the Rising

755
PAIXAO P E L A PU R EZA

Generation” (1679).
• John Danforth, “The Vile Profanations of
Prosperity by the Degenerate among the People
of God” (1704).
• Thomas Prince, “Earthquakes the Works of God
and Tokens of His Just Displeasure” (1727).
‫״‬ John Webb, “The Duty of a Degenerate People
to Pray for the Reviving of God’s Work” (1734).
• Increase Mather, “The Wicked Man’s Portion”
(1675).
• Samuel Willard, “Impenitent Sinners Warned
of Their Misery and Summoned to Judgment”
(1698) .
• John Williams, “Warnings to the Unclean”
(1699) .
• Cotton Mather, “The Valley of Hinnom” (1717).
• Benjamin Colman, “It is a Fearful Thing to Fall
into the Hands of the Living God” (1726).
• Thomas Foxcroft, “A Lesson of Caution to
Young Sinners” (1733).

O volume 2, intitulado Connecticut and Massachusetts


Election Sermons, contém sermões de:

• John Whiting, “The Way of Israel’s Welfare”,


(1686).
• William Burnham, “God’s Providence in
Placing Men in Their Respective Stations”
(1722).
• Azariah Mather, “Good Rulers a Choice
Blessing” (1725).

756
Coleções de Escritos Puritanos

• Thomas Buckingham, “Moses and Aaron:


God’s Favour to His Chosen People” (1729).
‫ ״‬Isaac Stiles, “A Prospect of the City of Jerusalém”
(1742).
• Jonathan Todd, “Civil Rulers the Ministers of
God” (1749).

O volume 3, intitulado Massachusetts Election Sermons,


inclui sermões de:

• Increase Mather, “A Discourse Concerning the


Danger of Apostasy” (1685).
• Samuel Torrey, “A Plea for the Life of a Dying
Religion” (1683).
» Cotton Mather, “Things for a Distressed People
To Think Upon” (1696).
• Samuel Belcher, “An Essay Tending to Promote
the Kingdom of Our Lord Jesus Christ” (1707).
• Benjamin Colman, “The Religious Regards We
Owe to Our Country, and the Blessing of Heaven
Assured Thereunto” (1718).
• Thomas Prince, “The People of New England”
(1730).
‫ ״‬Samuel Wigglesworth, “An Essay for Reviving
Religion” (1733).
• Charles Chauncy, “Civil Magistrates Must Be
Just” (1747).

O volume 4, intitulado New England Funeral Sermons,


inclui sermões de:

757
PAIXAO P E L A PU R EZA

• Samuel Willard, “The High Esteem which God


Hath of the Death of His Saints” (1683).
• Benjamin Colman, “A Devout Contemplation
on the Meaning of Divine Providence in the
Early Death of Pious and Lovely Children”
(1714).
• Cotton Mather, “Maternal Consolations” (1714).
• Cotton Mather, “Hades Looked Into” (1717).
• Benjamin Colman, “The Prophet’s Death
Lamented and Improved” (1723).
• Nathaniel Appleton, “A Great Man Fallen in
Israel” (1724).
‫ ״‬Thomas Prince, “The Departure of Elijah
Lamented” (1728).
• Thomas Prince, “A Sermon at the Public
Lecture in Boston” (1730).
• Charles Chauncy, “Man’s Life Considered under
the Similitude of a Vapour” (1731).
• Jonathan Edwards, “The Resort and Remedy of
Those That Are Bereaved by the Death of an
Eminent Minister” (1741).
• Charles Chauncy, “The Blessedness of the
Dead” (1749).

Puritan Sermons, 1659-1689 (ROR; 6 volumes, 4.150


páginas; 1981). Esta coleção de sermões puritanos tem sido
historicamente conhecida como “The Morning Exercises”,
visto que muitos deles foram pregados às 5h30 ou às 6 horas
da manhã. Muitas vezes se reuniam grandes multidões para
estas exposições das Escrituras.
Esta série de seis volumes foi publicada aos poucos em
Londres, de 1661 até a década de 1690. James Nichols atualizou
e republicou a coleção em 1844; a reimpressão de Roberts em

758
Coleções de Escritos Puritanos

1981 é d essa ed ição de 1844. O s e g u in te s u m á rio do c o n te ú d o


de Morning Exercises é a d a p ta d o da ed ição de N ic h o ls:

• O s q u a tro v o lu m e s de se rm õ e s p re g a d o s em
C rip p le g a te fo ra m p u b lic a d o s s e p a ra d a m e n te . O
p rim e iro v o lu m e foi p u b lic a d o em 1661 com o
The Morning Exercise at Cripplegate: or several
Cases of Conscience practically resolved by sundry
Ministers. O se g u n d o v o lu m e , A Supplement
to the Morning exercise at Cripplegate: or several
more Cases of Conscience practically resolved, foi
p u b lic a d o em 1674. O te rc e iro , p u b lic a d o em
1682, foi A Continuation of Morning Exercise
Questions and Cases of Conscience, e o q u a rto ,
p u b lic a d o em 1690, foi Casuistical Morning
Exercises. C ada v o lu m e in c lu i u m p refácio e
se rm ã o de S am u e l A nnesley.
‫ ״‬O v o lu m e 5, in titu la d o The Morning Exercise
methodized; or certain chiefHeads and Points of the
Christian Religion opened and improved in divers
Sermons, in c lu i se rm õ e s p re g a d o s em St. G iles-
in - th e F ie ld s em 1659. E les fo ra m p u b lic a d o s
o rig in a lm e n te em 1660. T h o m a s C ase escrev eu
o p re fá c io e o p rim e iro se rm ã o d e ste v o lu m e.
E a m e lh o r c o m p ila ç ã o de te o lo g ia s is te m á tic a
p u r ita n a já e sc rita , m as, d e s a fo rtu n a d a m e n te ,
é f re q u e n te m e n te n e g lig e n c ia d o n o s e stu d o s
p u rita n o s . O s ú ltim o s seis se rm õ e s co m eçam
a e x p o r os e rro s d o u trin á rio s do c a to lic ism o
ro m a n o .
• O ú ltim o v o lu m e , in titu la d o The Morning Exercise
against Popery: or the principal Enors of the Church
ofRome detected and Confuted, in a Morning Lecture
preached lately in Southwark (1675), foi e d ita d o

759
PAIXAO P E L A PU R EZA

p o r N a th a n ie l V in c e n t. N ic h o ls e screv eu so b re
e ste v o lu m e : “ P o r c o m p e te n te s ju izes ele s e m p re
te m sid o ju lg a d o u m liv ro p a d rã o so b re a q u ela
g ra n d e c o n tro v é rsia , re c e n te m e n te re a v iv a d a ” .
A crescid o s ao v o lu m e 6 c o n s ta m ex c e le n te s
ín d ic e s de a u to re s, de te x to s e d e a ssu n to s.

E ste c o n ju n to de seis v o lu m e s re p re s e n ta a p reg ação


p u rita n a em su a m e lh o r ex p ressão . A o b ra Morning Exercises
m o s tra o c u id a d o q u e os p a s to re s o b je tiv a v a m n a p re g a ç ã o
d as s e g u in te s m a n e ira s :

1. Equilíbrio. O s p u rita n o s n ã o in s is tia m em q u e


to d o se rm ã o e q u ilib ra s s e v e rd a d e s d o u trin á ria s
ta is co m o a so b e ra n ia d iv in a e a re s p o n s a b ilid a d e
h u m a n a . A n te s , eles d eix av am q u e o te x to d ita sse
a su a ên fase p a rtic u la r. P o r e x e m p lo , q u a n d o
os p u rita n o s p re g a v a m so b re o in fe rn o , faziam
escassa m e n ç ã o do céu, e q u a n d o p re g a v a m
so b re 0 céu, n ão se d e m o ra v a m s o b re o in fe rn o .
O s p u rita n o s p re g a v a m e x a u s tiv a m e n te o te m a
de cad a tex to . E les d e d ic a v a m m a is te m p o a
tr a ta r dos p rin c ip a is te m a s das E s c ritu ra s .
2. Apreciação. O s p a s to re s p u rita n o s p ro c u ra v a m
re a lç a r a a p rec iaçã o de cad a d o u trin a b íb lic a .
O s o u v in te s p o d ia m g o s ta r de o u v ir u m se rm ã o
in titu la d o “A p re ssa -te p o r a m o r d e tu a v id a ”
p o r su a n o ta de a d v e rtê n c ia q u a n to à u rg ê n c ia
e à re s p o n s a b ilid a d e n u m d o m in g o , e s a b o re a r
com ig u a l in te n s id a d e a m e n sa g e m da se m a n a
se g u in te so b re “ T odo o q u e o P ai m e dá v irá a
m im ” . O s p u rita n o s v a lo riz a v a m a lta m e n te o
escop o c o m p le to do c o n se lh o d e D eu s.
3. Variedade. S ua ap re c ia ç ã o p o r to d a a d o u trin a

760
Coleções de Escritos Puritanos

b íb lic a p e rm itia aos p u rita n o s c o b rire m u m a


a m p la v a rie d a d e de tó p ico s. P o r ex e m p lo , 0
v o lu m e 3 de Puritan Sermons c o n té m “ H o w M ay
W e E x p e rie n c e in O u rse lv e s, a n d E v id e n c e to
O th e rs , th a t S e rio u s G o d lin e ss is m o re th a n a
F a n c y ? ” , co m o ta m b é m :

‫ “ ״‬W h a t A re th e B est P re s e rv a tiv e s A g a in st


M e la n c h o ly a n d O v e rm u c h S o rro w ? ”
• “H o w M a y W e G ro w in th e K n o w le d g e o f
C h ris t? ”
• “W h a t M u s t W e D o to P re v e n t a n d C u re
S p iritu a l P r id e ? ”
‫ “ ״‬H o w M ay W e G ra c io u sly Im p ro v e T h o s e
D o c trin e s a n d P ro v id e n c e s T h a t T ra n sc e n d
O u r U n d e r s ta n d in g ? ”
• “W h a t D is ta n c e O u g h t W e to K eep in
F o llo w in g th e S tra n g e F a s h io n s ...? ”
• “ H o w M ay W e B est K n o w th e W o rth o f th e
S o u l?”

4. Excelência. Você p o d e im a g in a r u m serm ão


in te iro so b re “ os m e lh o re s m e io s de p re s e rv a r­
-n o s c o n tra a m e la n c o lia e c o n tra a triste z a
ex ag e ra d a ” ? S em u m a p e sq u isa ex au stiv a e
u m d e s e n v o lv im e n to e x c e le n te , este tó p ico
d ific ilm e n te m a n te ria a a te n ç ã o d o s o u v in te s. Os
p a s to re s p u rita n o s lu ta v a m p o r tal ex celência.
T a m b é m faziam os seus se rm õ es s u fic ie n te ­
m e n te p rá tic o s p a ra re s p o n d e r às p e rg u n ta s dos
o u v in te s d e m a n e ira in te ira m e n te b íb lic a .

Os Puritanos e a Conversão (P E S ; 143 p á g in a s; 1993).

761
PAIXAO P E L A PU R EZA

C o m p ila ç ã o d e trê s tr a ta d o s p u r ita n o s , c a d a q u a l tr a ta n d o


d e u m a d ife re n te esp écie de c o n v ersão :

• S am u e l B o lto n so b re o c a rá te r te rrív e l do
p e c a d o (“ P ecad o : O M al sem P a r ” ).
‫ ״‬N a th a n ie l V in c e n t so b re os passo s da
co n v e rsã o (“A C o n v e rsã o d e u m P e c a d o r” ).
• T h o m a s W atso n so b re o h o m e m em b u sc a de
D e u s (“A C oisa In d is p e n s á v e l” ).

A lb e rt M a rtin escrev e n o p ró lo g o d e sta o b ra : “A v a n ta g e m


d e sta trilo g ia é q u e cad a se rm ã o te m su a área d is tin ta de
força na a p re se n ta ç ã o d e u m a sã te o lo g ia da c o n v e rsã o , e
u m p ro fu n d o d is c e rn im e n to p a s to ra l do m é to d o d e c o n v e r­
são. C o n tra s ta n d o co m m u ita s p reg aç õ es e p u b lic a ç õ e s
ev an g élicas em n o sso s d ias, estes trê s se rm õ e s são m a rc a d o s
p o r c a ra c te rístic a s d is tin tiv a s n o e x te n so conteúdo d a d o u tr in a
p u rita n a da co n v e rsã o , e n a maneira p ela q u a l eles p re g a ra m
essa d o u tr in a ” .

The Puritans on the Lord’s Supper (S D G ; 196 p á g in a s; 1999).


E sta o b ra c o n té m sete c a p ítu lo s so b re a te o lo g ia e a ap licaç ão
p rá tic a da C eia do S en h o r, in c lu in d o :

• R ic h a rd V ines so b re “ T h e P a sso v e r” e “ T h e
F r u it a n d B e n e fit o f W o rth y R e c e iv in g ” .
‫ ״‬E d m u n d C alam y so b re “ T h e L o r d ’s S u p p e r is a
F e d e ra l O r d in a n c e ” e “ T h e E x p re ss R en ew al o f
O u r C h ris tia n V ows” .
• T h o m a s W a d sw o rth s o b re “ I t is E v e ry
C h ris tia n ’s In d is p e n s a b le D u ty to P a rta k e o f th e
L o r d ’s S u p p e r” .
‫ ״‬J o se p h A lle in e so b re “ S e lf-E x a m in a tio n ” .

762
Coleçoes de Escritos Puritanos

• T h o m a s W a tso n so b re “ T h e M y ste ry o f th e
L o r d ’s S u p p e r” .

E s ta n o tá v e l a n to lo g ia so b re a C eia do S e n h o r re ú n e
m u ito m a te ria l raro . A o b ra m o s tra q u e os m in is tro s p u ri-
ta ñ o s e q u ilib ra v a m as ên fases e x p e rim e n ta is e p rá tic a s ao
p ro m o v e re m a e s p iritu a lid a d e re fo rm a d a co m rela ção à Ceia.

The Puritans on Loving One Another (S D G ; 130 p á g in a s;


1999). E ste v o lu m e c o n té m q u a tro tra ta d o s so b re a d o u trin a
do a m o r m ú tu o :

‫ י‬D e R a lp h V en n in g , “ T h e N ew C o m m a n d m e n t
R e n e w e d ”, q u e s a lie n ta o m a n d a m e n to de C risto
q u e n o s im p e le a a m a r o n o sso p ró x im o com o a
n ó s m esm o s.
• D e T h o m a s M a n tó n , “ L o v e O n e A n o th e r ” , que
ex p õ e 1 Jo ão 3:11, s a lie n ta n d o q u e a q u ele n ão
a m a n ão é n a s c id o d e D e u s.
• D e J o se p h C ary l, “ T h e N a tu re a n d P rin c ip le s
o f L o v e as th e E n d o f th e C o m m a n d m e n t”, q u e
e x p lica q u e o a m o r flu i de u m co raç ão p u ro , de
u rn a b o a c o n s c iê n c ia e de fé n ã o fin g id a (1 T im .
1:5).
• D e J o h n B all, “ T h e H o ly E x e rc ise o f L o v e ”,
q u e d e fin e o q u e é a m o r s a n to , m o s tra com o
in c itá -lo e q u a is são os s in a is q u e p ro v a m q u e é
o v e rd a d e iro am or.

E ste s e sc rito s p u rita n o s m o s tra m de q u e c o n siste o


v e rd a d e iro am or. O a m o r flu í co m o u rna c o rre n te d e o u ro : o
P ai a m a o F ilh o , a T rin d a d e a m a os c re n te s, e os c re n te s am am
u n s aos o u tro s e seu p ró x im o .

763
PAIXAO P E L A PU R EZA

The Puritans on Prayer (S D G ; 300 p á g in a s; 1998). O s p u rita n o s


lu tav am com D e u s na p rá tic a do q u e eles ch am av am oração
“ secreta” ou “ no q u a rto ” . E ste liv ro oferece c o n selh o p rá tic o
sob re com o m e lh o ra r a q u a lid a d e e 0 ferv o r da oração em :

• T h e S a in ts ’ D a ily E x e rc ise ” , de J o h n P re s to n
(cin c o se rm õ e s so b re 1 Tess. 5:17).
• “T h e S p irit o f P ra y e r” , de N a th a n ie l V in c e n t
(so b re Ef. 6:18).
• “ S ecret P ra y e r” , de S am u e l L e e (so b re M at. 6:6).

Se a esp écie de o raçã o d e s c rita n e s te s e sc rito s c a ra c te riz a sse


os c re n te s a tu a is, o m u n d o se ria u m lu g a r d ife re n te . N u m a
n o ta e d ito ria l, D o n K is tle r escreve: “ P re s to n n o s c h a m a à
oração, e a d efin e. V in c e n t n o s d iz q u e o re m o s c o n tin u a m e n te
e dá in s tru ç ã o so b re co m o fazê-lo. L e e d á -n o s a d o ç u ra da
oração se c re ta , e d e p o is a c re sc e n ta u m a seção s o b re o raçõ es
e sp o n tâ n e a s re p e n tin a s . C o m b in a d o s , estes trê s tra ta d o s d ã o ­
-no s e n c o ra ja m e n to e in s tru ç ã o so b re 0 d e v e r e p riv ilé g io da
oração, essa “ s a n ta re sp ira ç ã o da a lm a ” .

Sermons and Cannonballs: Eleven Sermons on Military


Events of Historic Significance during the French and Indian
Wars, 1689-1670 (S F ; 448 p á g in a s; 1982). E ste liv ro re u n e
o n ze d isc u rso s n u m só v o lu m e , a lg u n s d o s q u a is e sc rito s p o r
p u rita n o s . E les in c lu e m os d isc u rso s de:

‫ ״‬C o tto n M a th e r, “ T h e P re s e n t S ta te o f N ew -
-E n g la n d ” (1690).
» J o h n W illia m s, “ G o d in th e C am p ” (1707).
• T h o m a s S y m m e s, “ L o v ew ell L a m e n te d ” (1723).
• W illia m M c C le n a c h a n , “ th e C h ris tia n W a rrio r”
(1745).
• G ilb e rt T e n n e n t, “ T h e N e c e ssity o f P ra is in g

764
Coleções de Escritos Puritanos

G o d fo r M e rc ie s R e c e iv e d ” (1745).
• S am u e l D a v ie s, “ V irg in ia ’s D a n g e r a n d R e m e d y ” .

Soldiery Spritualized: Seven Sermons Preached before the


Artillery Companies of New England, 1674-1774 (S F ; 384
p á g in a s; 1979). E ste liv ro coloca sete v o lu m e s n u m só, a lg u n s
dos q u a is fo ra m e sc rito s p o r p u rita n o s . E les in c lu e m os de:

• J o s h u a M oodey, “ S o ld ie ry S p iritu a liz e d ; or,


th e C h ris tia n S o ld ie r O rd e rly , a n d S tre n u o u s ly
E n g a g e d in th e E s p iritu a l W ar, a n d So F ig h tin g
th e G o o d F ig h t” (1674).
• S am u e l N o w e ll, “A b ra h a m in A rm s ” (1678).
• C o tto n M a th e r, “ M ilita ry D u tie s , R e c o m m e n d e d
to an A rtille ry C o m p a n y ” (1687).
• T h o m a s B rid g e , “ T h e K n o w le d g e o f G od,
S e c u re d fro m F la tte ry , a n d S tre n g th e n in g to th e
M o st N o b le E x p lo its ” (1705).

Daily Devotions from the Puritans, de a u to ria de I.D .E . T h o m a s


(G w asg B ry n tirio n P re ss; 383 p á g in a s; 2001). E ste liv ro co n tém
ú te is seleções de devoções d iá rias, c o lh id a s ta n to de p u rita n o s
b em co n h e c id o s com o de m e n o s co n h ec id o s. C ada títu lo cita
ta m b é m u m v ersícu lo das E sc ritu ra s. U m a b rev e n o ta biográfica
dos au to re s citad o s seria ú til. N ão o b sta n te , este devocional
serv irá com o u m a valiosa in tro d u ç ã o à lite ra tu ra p u rita n a , e
ta m b é m e m o c io n a rá as alm as dos q u e já estão fam iliarizad o s
com 0 calo r e a p ro fu n d id a d e dos escrito s p u rita n o s.

A Golden Treasury of Puritan Quotations, d e a u to ria de I.D .E .


T h o m a s (B T T ; 320 p á g in a s; 1977). M a g is tra l seleção de 1.500
citaçõ e s de e s c rito re s p u rita n o s . C ad a citaçã o é in c lu íd a sob
u m títu lo te m á tic o . L o n g o s tó p ic o s são d iv id id o s em ú te is
s u b títu lo s . P o r e x e m p lo , o tó p ic o “ C o n sc iê n c ia ” é d iv id id o
n e s te s s u b títu lo s :

765
PAIXAO P E L A PU R EZA

• S ua ex ce lên cia
• Seu m in is té rio
• Suas lim ita ç õ e s

O re fe rid o tó p ic o in c lu i c itaçõ e s n o tá v e is, co m o “A


C o n sc iê n c ia é o esp ia de D e u s e o s u p e rv is o r do h o m e m ”, e
“U m a b o a c o n sc iê n c ia e u m a b o a c o n fia n ç a a n d a m ju n ta s ” .
E sta s citaçõ e s são u m a in tro d u ç ã o id e al aos e sc rito s
p u rita n o s . São e x c e le n te s p a ra as devoções e a c re sc e n ta rã o
b rilh o aos serm õ es. N ão c o n h e c e m o s n e n h u m o u tro liv ro de
citaçõ es tã o p ro v e ito so com o este.

The Bible and the Closet, e s c rito p o r T h o m a s W a tso n e S am u e l


L e e (S P R ; 256 p á g in a s; 1998). E s te v o lu m e c o n té m trê s p a rte s:

‫“ ״‬H o w W e M ay R ead th e S c rip tu re s w ith M o st


S p iritu a l P ro f it” , de T h o m a s W atso n .
• “ S ecret P ra y e r S u c cessfu lly M a n a g e d ” , p o r
S am u e l L ee , u m p u r ita n o do sécu lo dezessete.
• “T h e F a m ily A lta r ”, u m a coleção d e m e io s
de aju d a e de e n c o ra ja m e n to p a ra d ire ç ã o do
c u lto em fa m ília , d ad o s p o r Isaac W atts, P h ilip
D o d d rid g e , e o u tro s.

N o p re fá c io , G eo rg e M c C e a rm o n d iz q u e e sta o b ra a ju d a
“ os c re n te s a d e se n v o lv e re m e s u s te n ta re m efetiv a c o m u n h ã o
c o n te m p la tiv a com D e u s p o r m e io d a le itu ra d a B íb lia e
de oração p riv a d a .” [Ela] tra z as m a rc a s de u m a ex p ressão
a m a d u re c id a e de p ro fu n d a e s p iritu a lid a d e . E a b e n ç o a d a e
d is tin ta m e n te d ife re n te d a p lé to ra d e le v ia n o s e frív o lo s
g u ia s d e v o c io n a is d is p o n ív e is em n o sso s dias.

766
APENDICE 2
Teólogos Escoceses
N ão p e d im o s d esc u lp a s p o r tr a ta r os escoceses sob o te rm o
geral “ P u r ita n o s ” . É su fic ie n te ju s tific a tiv a q u e a p a la v ra foi
e m p re g a d a co m re fe rê n c ia aos escoceses n o p ró p rio sécu lo
d ezessete. P o r e x em p lo , R o b e rt B oyd, d ire to r do G lasgow
C ollege, foi a c u sa d o d e ser p u r ita n o em 1621, e S am u e l
R u th e rfo rd , p re g a n d o n a E scó cia, p ro v a v e lm e n te n a d écad a
de 1630, d iz: “ M u ito s se e n v e rg o n h a m de p ro fe s s a r C ris to e
de co n fe ssa r Seu n o m e ; n ã o q u e re m s e r c h a m a d o s p u r ita n o s ” .
P o r c o n s e g u in te , P e te r H e y ly n n ão estav a c ria n d o n e n h u m
p re c e d e n te q u a n d o , em sua History of the Presbyterians,
p u b lic a d a em 1670, ele fala dos “p re s b ite ria n o s o u facção
p u rita n a , n o d o m ín io da E scó cia” .
- Ia in H . M u rra y , The Puritan Hope, p p . xxiv, xxv.

768
Introdução: Os Puritanos da Inglaterra e
os Presbiterianos da Escócia

O s le ito re s d e ste g u ia ta lv e z se s u rp re e n d a m ao v er que,


ao la d o dos p u rita n o s d a In g la te rra e da N o v a In g la te rra ,
h á u m s ig n ific a tiv o n ú m e ro de p re s b ite ria n o s escoceses
in c lu íd o s n e s te a p ê n d ic e . E m b o ra se p a ra d o s p o r lin h a s de
h is tó ria , n a c io n a lid a d e e raça , e, a té c e rto p o n to , id io m a , os
p u rita n o s d a I n g la te rra e os p re s b ite ria n o s da E scó cia fo ram
u n id o s p elo s m a is e s tre ito s laços e s p iritu a is de d o u trin a , cu lto
e o rd e m e clesiástica.
M e sm o m u ito s p u rita n o s in g leses e ra m p re s b ite ria n o s ,
e a n e la v a m v er a Ig re ja da In g la te rra , im p e rfe ita m e n te
re fo rm a d a , le v ad a a c o n fo rm a r-s e à fé e à o rd e m da Ig re ja da
E scócia. E sse foi o desejo e x p resso n a S o len e L ig a e A lia n ç a de
1643, q u e clam av a p ela “p re se rv a ç ã o da re lig iã o re fo rm a d a na
Ig re ja da E scó cia, em d o u trin a , c u lto , d is c ip lin a e g o v e rn o , e
a re fo rm a d a re lig iã o n o s re in o s d a In g la te rra e d a I rla n d a em
d o u trin a , c u lto , d is c ip lin a e g o v e rn o , de aco rd o co m a P ala v ra
de DEUS e o ex e m p lo das m e lh o re s ig rejas re fo rm a d a s ” .
D e su a p a rte , os p re s b ite ria n o s escoceses a v id a m e n te
ab ra ç a ra m a o b ra dos teólogos da A ssem b léia de W estm in ster.
A C o n fissão de F é e os C atecism o s M a io r e B reve, a F o rm a de
G o v e rn o P re s b ite ria l d a Ig reja , e o D ire tó rio de C u lto P ú b lic o
a D e u s, fo ram to d o s levados p a ra a E scócia e ra p id a m e n te
a p ro v ad o s com o p a d rõ e s da Ig re ja da E scócia. Ig u a lm e n te
im p o rta n te foi a d ecisão de a d o ta r a n o v a versão m e trific a d a
dos S alm os, p ro d u z id a p ela A ssem b léia, a qual, d epois de
p assar p o r rev isão e acré scim o s, a p are ceu com o 0 S altério

769
PAIXAO P E L A PU R EZA

E scocês de 1650, p o s te rio rm e n te s e m p re p u b lic a d o co m o “ a


versão a p ro v a d a p e la Ig re ja da E scó cia e d e s ig n a d a p a ra u so
n o c u lto ” .
D e p o is da re sta u ra ç ã o d a m o n a rq u ia , o p u r ita n is m o foi
q u ase e x tin to n a Ig re ja da In g la te rra , e foi o b rig a d o a v iv e r n u m a
c o n d iç ã o m ise rá v e l e m u ita s vezes in s e g u ra n o s c o n v e n tíc u lo s
e capelas dos d is s id e n te s . N ão foi a ssim n a E scó cia, o n d e os
p re s b ite ria n o s se le v a n ta ra m em defesa da fé, do c u lto e da
o rd e m de sua Ig re ja n a c io n a l. O s escoceses re s is tira m , ao
p o n to do d e rra m a m e n to d e sa n g u e , à p ro lo n g a d a c a m p a n h a
dos reis da lin h a g e m d o s S tu a rt p a ra in tr o d u z ir os m o d o s e
usos a n g lic a n o s ao n o rte da fro n te ira . Q u a n d o a fu m a ç a da
b a ta lh a c la re o u e o s a n g u e cesso u de co rre r, os p re s b ite ria n o s
da E scó cia v ira m q u e tin h a m p re v a le c id o n o g ra n d e c o n flito ,
e a ssim d e te rm in a ra m q u e a fé p ro c la m a d a p elo s re fo rm a d o re s
e pelos p u rita n o s c o n tin u a ria s e n d o a fé da Ig re ja d a E scócia.
D e s e n v o lv im e n to s p o s te rio re s, co m o o s u rg im e n to dos
c a m e ro n ia n o s ,' da C o n tro v é rs ia do  m ag o e da S ecessão de
1733,12 fo ra m tã o s o m e n te c a p ítu lo s ag reg a d o s à h is tó ria da
fé dos p u rita n o s d a E scócia. E m cad a caso, os a s s u n to s em
q u e s tã o e ra m to d a s c e n tr a is n a fé d o s p u r ita n o s e e m sua
v isão do q u e deve s e r u m a Ig re ja n a c io n a l.
Q u a n d o a g ra n d e m a ré da e m ig ra ç ã o escocesa co m eço u ,
os escoceses a lé m -fro n te ira le v a ra m a le g re m e n te os p a d rõ e s
de W e stm in ste r, p rim e iro p a ra a A m é ric a do N o rte , e d ep o is
até os c o n fin s d a te rra , fu n d a n d o ig rejas p re s b ite ria n a s p o r
to d a p a rte . Se o p u rita n is m o te m sid o u m a força n o s E sta d o s
U n id o s , n o C a n a d á , n a A u strá lia e em o u tro s lu g a re s, em
g ra n d e p a rte é d e v id o à te n a c id a d e d a q u e le s m ig ra n te s
escoceses em m a n te r a fé p u r ita n a , o c u lto e a o rd e m da Ig reja
p u rita n a do seu p a ís n a ta l.

1 Seguidores de Richard Cameron, pactuário escocês que se separou da


Igreja da Inglaterra nos fins do século dezessete por questões relacionadas
com a política da Igreja - relação de Igreja e Estado. Eles subscreveram
os termos da Solene Liga e Aliança de 1643. Nota do tradutor.
2 Que deu origem à Igreja Livre Unida da Escócia. Nota do tradutor.

770
Hugh Binning
( 1627 ‫ ־‬1653 )

u g h B in n in g n asceu em 1627 em D a lv e n n a n , A y rsh ire ,


H e era filh o de u m ric o p r o p rie tá rio de te rra s q u e lh e
d e u e x c e le n te ed u cação . A le x a n d e r G ro s a rt escreveu: “ E le
f a c ilm e n te s u p e r o u se u s co le g a s c o m o d o b ro e o tr ip lo d e
su a id a d e , e q u a n d o estav a co m trez e ou c ato rze an o s, sua
se rie d a d e e p ie d a d e e ra m re c o n h e c id a s p o r to d o s co m u m a
esp écie d e te m o r ” (DNB, 2:521).
B in n in g in g re sso u n a U n iv e rs id a d e de G lasgow com treze
anos de id a d e , o b te n d o 0 g ra u d e M e s tre em A rte s em 1646.
Q u a n d o e stav a com d eze n o v e an o s de id a d e , foi n o m e a d o
p ro fe sso r de filo so fia p o rq u e 0 o u tro c a n d id a to à p o sição não
q u e ria e n fre n ta r u m “ tão capaz a n ta g o n is ta ” co m o B in n in g .
E n q u a n to e n sin a v a , e stu d a v a te o lo g ia com a in te n ç ã o de
in g re s s a r n o m in is té rio da Ig re ja da E scócia. P o r to d o s os
asp ecto s q u e se c o n s id e re m e a p e sa r de a s s u m ir d u as c a rre ira s
de te m p o in te g ra l s im u lta n e a m e n te , as p rele çõ es de B in n in g
e ra m tão p ro fu n d a s co m o p rá tic a s. P a ra B in n in g , a filosofia
era serv a da teologia.
O rd e n a d o em 1650, B in n in g se rv iu co m o m in is tro
em G o v an , E scó cia, p o r trê s a n o s, ra p id a m e n te v in d o a ser
c o n h e c id o co m o u m p re g a d o r te m e n te a D e u s e e m in e n te ,

771
PAIXAO P E L A PU R EZA

e co m o u m e ru d ito capaz. S eus se rm õ e s, q u e “ n o rm a lm e n te


a tra ía m g ra n d e s m u ltid õ e s ” , e ra m a rd o ro so s, p a s to ra is e
e x p e rim e n ta is . E le se d irig ia à c o n sc iê n c ia , c o n c ita n d o os
p eca d o res a v ire m im e d ia ta m e n te a C risto . Seu e s tilo era
in te ira m e n te d ife re n te do de seu s c o n te m p o râ n e o s , p o is
B in n in g n ã o ap ro v av a o “ m é to d o c o m u m de p ic a r [a p a la v ra
da v e rd ad e ] to d a em p e d aç o s, d e s m e m b ra n d o -a em m u l ti­
fo rm e s d iv isõ e s” . Ja m e s D u r h a m d isse: “ N ã o h a v ia o q u e fala r
d ep o is de B in n in g ” .
L o g o d e p o is de o rd e n a d o , B in n in g caso u -se co m M a ry
S im p so n , filh a de Ja m e s S im p so n , m in is tro p a ro q u ia l de
A irth , S tirlin g s h ire . O casal tev e so m e n te u m filh o , J o h n .
B in n in g foi p r o e m in e n te n o s d e b a te s de 1651 e n tre os
Resolucionistas1e os Protestores, p o s ic io n a n d o -s e ao la d o d este s;
c o n tu d o , c u ltiv a v a u m e s p írito irê n ic o . Seu liv ro , Treatise of
Christian Love, ilu stra v a essa a b o rd a g e m , e se rv iu co m o “ u m
c o m o v e n te e c o n s tra n g e d o r ap elo p a ra os c ristã o s v e n c e re m
su as d ife re n ç a s e se u n ir e m n o a m o r d e D e u s e n a c o m u n h ã o
re c íp ro c a ” ( Oxford, DNB, 5:773).
M a is ta rd e , n esse a n o , B in n in g to m o u p a r te n o s
d eb a te s o c o rrid o s em G lasgow e n tre os in d e p e n d e n te s e
os p re s b ite ria n o s n a p re s e n ç a d e O liv e r C ro m w ell. Seu
c o n h e c im e n to te o ló g ic o e seu e lo q u e n te fe rv o r p u s e ra m
a b a ix o to d a a o posição. C ro m w e ll fico u p r o f u n d a m e n te im ­
p re s s io n a d o ao v e r q u ão c o m p le ta m e n te B in n in g e m b a ra ç o u
0 p a rtid o d o s in d e p e n d e n te s , p a rtic u la rm e n te q u a n d o so u b e
q u e B in n in g só tin h a v in te e q u a tro an o s de id a d e. F a z e n d o u m
tro c a d ilh o e n tre B in n in g e “ B in d in g ” { a m a rra d o } , C ro m w ell
disse: “ E le a m a rro u b e m de fato , m a s” - p o n d o a m ã o em sua
esp ad a - “ isto s o lta rá tu d o de n o v o ” (ib id ).
B in n in g m o rre u d e tu b e rc u lo s e em G o v a n em 1653
q u a n d o tin h a v in te e seis an o s de id a d e , e foi s e p u lta d o no
1 Partidários da ideia de que todos os casos deveríam ser resolvidos cm
concórdia, ou seja, por consenso, ao contrário dos protestores, que não
cediam só para fazer consenso. Nota do tradutor.

772
Hugh Binning

c e m ité rio d a su a ig reja. S eus e s c rito s fo ra m p ro lífic o s p a ra


u m jo v e m ; n e n h u m d eles foi im p re s so d u ra n te su a v id a , se
b e m q u e m u ito s fo ra m p u b lic a d o s d e p o is de sua m o rte .

The Works of the Rev. Hugh Binning (S D G ; 659 p á g in a s;


1992). A s o b ra s re u n id a s d e B in n in g fo ra m im p re ssa s em
c in c o ed iç õ e s, n u m a sé rie de u m a trê s v o lu m e s, e ta m b é m
fo ra m tra d u z id a s p a ra o h o la n d ê s p o r Ja c o b u s K o e lm a n ,
m in is tr o d e S luys, em F la n d re s , e p u b lic a d a s em A m s te rd a m
em ao m e n o s q u a tro edições.
E ste g ro sso v o lu m e , im p re s so em le tra s p e q u e n a s, é u m a
re im p re s sã o fo to lito g rá fic a da e d ição de 1851, e d ita d a p o r M .
L e is h m a n . In c lu i 133 se rm õ e s, d iv id id o s co m o segue: (1) “ T h e
C o m m o n P rin c ip le s o f th e C h ris tia n R e lig io n ” , u m a série de
v in te e c in c o se rm õ es so b re D e u s e S ua G ló ria , os a trib u to s
de D e u s, a T rin d a d e , os d e c re to s e a p re d e s tin a ç ã o , a criação,
a p ro v id ê n c ia a a lia n ç a das o b ra s, o p eca d o , e o c a m in h o
da lib e rta ç ã o ; (2) “ T h e S in n e r ’s S a n c tu a ry ” , u m a série de
q u a re n ta se rm õ e s so b re R o m a n o s 8:1-15, p a rtic u la rm e n te
p o d e ro so s e re c o n fo rta n te s p a ra os c re n te s ; (3) “ F ello w sh ip
w ith G o d ” , u m a sé rie de v in te e o ito se rm õ e s so b re 1 Jo ão 1 :1­
2:3 ; e (4) q u a re n ta se rm õ e s a d ic io n a is. In c lu e m -s e ta m b é m
d o is p e q u e n o s tra ta d o s : “A n U se fu l C ase o f C o n sc ie n c e ” e “A
T rea tise o f C h ris tia n L o v e ” .

A Treatise of Christian Love (B T T ; 106 p á g in a s; 2004).


B in n in g m o s tra q u e o a m o r é a in s ig n ia do c ris tia n is m o e
deve m o tiv a r to d o s os c ristã o s, m o v e n d o -o s a d e m o n s tra r sua
p re s e n ç a em su as v id a s. E le descrev e co m o o a m o r se realiza
em ato s p rá tic o s de ju stiç a e d e m ise ric o rd ia , e m o s tra que
a h u m ild a d e e a b r a n d u r a são su a ra iz e seu fru to . T am b ém
h á , in c lu so s n e s te liv ro , trê s dos seu s q u a re n ta serm õ es so b re
R o m a n o s 8:1-15, in titu la d o s The Sinner’s Sanctuary (1670).

773
Thomas Boston
(1676-1732)

h o m a s B o sto n n a sc e u em D u n s , B e rw ic k s h ire , e foi 0


T m ais n o v o de sete filh o s. S eus p a is e n v ia ra m B o sto n , dos
n o v e ao s tre z e a n o s d e id a d e , p a ra a e sc o la s e c u n d á r ia de
D u n s , o n d e ele g o stav a de le r a B íb lia e c o m eço u a e s tu d a r
la tim e o N o v o T e sta m e n to G rego.
J o h n B o sto n , p ai de T h o m a s , ex erc ia o o fício de ta n o e iro
e era u m p re s b ite ria n o e s trito . F o i p re so p o r u m te m p o p o r
re c u sa r-se a c o n fo rm a r-s e às m u d a n ç a s n o c u lto e n o g o v ern o
q u e os reis da lin h a g e m dos S tu a rt im p u s e ra m à Ig re ja da
E scócia. U m a das m a is re m o ta s le m b ra n ç a s de T h o m a s
foi a v isita q u e fez ao p a i n a p risã o . D e p o is q u e a L e i de
T o lerân cia de 1687 p e r m itiu q u e os p re s b ite ria n o s q u e não
se c o n fo rm a ra m m a n tiv e s s e m c u lto s em casas p a rtic u la re s ,
J o h n B o sto n c o m eço u a ir co m su a fa m ília a W h its o m e p ara
o u v ir a p reg aç ão de H e n ry E rs k in e , p a i de E b e n e z e r e de
R a lp h E rs k in e . T h o m a s B o sto n foi d e s p e rta d o co m a id a d e
d e o n z e a n o s q u a n d o o u v iu m e n s a g e n s d e E r s k i n e s o b r e
J o ã o 1:29 e M a te u s 3:7.
O m in is té rio de E rs k in e c o n tin u o u a in flu e n c ia r a fa m ília
B o sto n . I n d e p e n d e n te do te m p o , B o sto n a n d a v a q u a tro ou
c in c o m ilh a s to d o s os d o m in g o s p a ra o b te r a lim e n to p a ra sua

774
TH O M A S BOSTON
PAIXAO P E L A PU R EZA

alm a. M a is ta rd e ele escrev eu : “ N o in v e rn o às vezes eu tin h a


q u e ir s o z in h o , sem se q u e r u m cavalo p a ra m e tr a n s p o r ta r
atrav és da ág u a do B la c k a d d e r, de cu ja tra v e ssia a p é , n o gelo
do in v e rn o , eu m e le m b ro m u ito b e m . M as essas coisas e ra m
e n tã o fáceis, p elo b e n e fíc io da P a la v ra , q u e v in h a c o m p o d e r ”
(Memoirs, p. 10).
A v id a e s p iritu a l de B o sto n cresceu d u r a n te a su a
ad o le sc ê n c ia , com re g u la r e s tu d o da B íb lia e c o n v ersas
e s p iritu a is co m d o is rap az es d a escola. N ão d e m o ro u , e ele
se s e n tiu c o n v e n c id o de q u e D e u s o e stav a c h a m a n d o p a ra o
m in is té rio . P a ra fazer fre n te ao cu sto de m a is e s tu d o , J o h n
B o sto n fez de seu filh o u m a p re n d iz d e A le x a n d e r C o c k b u rn ,
u m escriv ã o d a c id ad e. T h o m a s B o sto n tra b a lh o u n isso
d u ra n te d o is anos. E sse tre in a m e n to lh e p re s to u b o n s serv iço s
em a n o s p o s te rio re s, ta n to q u a n to ao e s tu d o d is c ip lin a d o co m o
no tra b a lh o de se c re tá rio p a ra 0 seu p re s b ité rio e seu sín o d o .
B o sto n foi e s tu d a r n a U n iv e rs id a d e de E d im b u r g o em
1691. A lé m de la tim e g reg o , ele e s tu d o u ló g ic a , m e ta físic a ,
ética e físic a c o m u m . E le e s tu d a v a in c e s s a n te m e n te e se
a lim e n ta v a tã o p o u c o q u e a su a s a ú d e fic o u p re ju d ic a d a .
D e p o is d e o b te r o g ra u d e M e s tre em A rte s em 1694, B o sto n
re c e b e u u m a v e rb a (co n c e ssã o fin a n c e ira ) do P re s b ité rio
de D u n s . E le e s tu d o u re lig iã o p o r su a in ic ia tiv a d u r a n te
u m s e m e s tre , e d e p o is v o lto u p a ra E d im b u rg o p a ra e s tu d a r
te o lo g ia sob G eo rg e C a m p b e ll. B o s to n p a sso u u m s e m e s tre
ali, e d e p o is c o m p le to u os e s tu d o s so b a s u p e rv is ã o do seu
p re s b ité rio . D u r a n te esse p e río d o , ele se m a n te v e p o r sua
c o n ta tr a b a lh a n d o co m o p re c e p to r n a casa d e A n d re w
F le tc h e r, e n te a d o do te n e n te -c o ro n e l B ru c e de K e n n e t. E sse
tra b a lh o foi u m a b o a p re p a ra ç ã o p a ra o m in is té rio , p o is ele
“ m a n tin h a o c u lto d o m é stic o , c a te q u iz a v a os c ria d o s, in s is tia
co m os n e g lig e n te s q u e fize ssem a o raçã o s e c re ta , re p ro v a v a
as p rá tic a s p e c a m in o s a s e a d v e rtia c o n tra elas, e z e lo sa m e n te
se esfo rçav a p ela re fo rm a d o s v ic ia d o s ” (Memoirs, p. 25).
B o sto n foi lic e n c ia d o em 1697 p elo P re s b ité rio de D u n s

776
Thomas Boston

e C h irn s id e . O p o d e r e o v ig o r d e su a p reg aç ão logo a tra íra m


ate n ç ã o . T o d av ia, B o sto n n ã o se estab e lece u im e d ia ta m e n te
n u m a p a ró q u ia . A s p essoas c o m u n s q u e o o u v ia m o te ria m
c h a m a d o , m a s a a u to rid a d e p a ra fazê-lo estav a n as m ãos do
h e rd e iro o u p ro p rie tá rio de te rra s. E m sete p a ró q u ia s nas
q u a is o p o v o q u e ria e sc o lh e r B o sto n , o p ro p rie tá rio de te rra s
in te rv e io p a ra im p e d i-lo . E assim ele p e rm a n e c e u em p ro v a
d u r a n te m a is de d o is an o s. F in a lm e n te , em 1699 ,0 p ro p rie tá rio
de S im p rin , B e rw ic k s h ire , u m a p e q u e n a p a ró q u ia d is ta n te
o ito m ilh a s a s u d e s te de D u n s , c o n c o rd o u em c o n v id a r
B o sto n . A n te s d e s e r o r d e n a d o , B o s to n re n o v o u s u a a lia n ç a
co m D e u s , c o n fe ssa n d o q u e estav a “ c o m p le ta m e n te p e rd id o e
d e s tru íd o em seu s e r” , q u e c o n tin u a v a te n d o “a b s o lu ta n e c e s ­
s id a d e d e u m S a lv a d o r” , e q u e “d e c o ra ç ã o re c e b e u C ris to
e m to d o s os S eus o fícios, a c e ita n d o os te rm o s d a a lia n ç a ” .
O m in is té rio de B o sto n em S im p rin foi desafiad o r. O
povo da su a co n g re g a ç ã o ig n o ra v a a v e rd a d e e s p iritu a l e
p rec isa v a re c e b e r in s tru ç ã o so b re as coisas m a is sim p les. E les
se p re o c u p a v a m m a is em g a r a n tir su a v id a n a te rra do que
co m su as alm as. B o sto n fico u c o n s te rn a d o q u a n d o so u b e que
só u m a fa m ília o b se rv a v a o c u lto d o m é stic o . E a in d a m ais, a
C eia do S e n h o r n ão h a v ia sid o a d m in is tra d a p o r v á rio s anos.
D e n tr o de u m a n o , B o sto n tin h a re o rg a n iz a d o sua
co n g reg a ção . E le re sta b e le c e u d o is c u lto s d o m in ic a is. E le
fazia u m a p re le ç ã o so b re u m c a p ítu lo da B íb lia de m a n h ã e
p re g a v a so b re v á rio s te x to s a v u lso s de ta rd e . D e n o ite , B o sto n
e n s in a v a ao p o v o 0 B reve C a te c ism o ou e x p a n d ia os serm õ es
p re g a d o s n a q u e le dia.
B o sto n m a n tin h a ta m b é m u m p ro g ra m a rig o ro so
d u r a n te a se m a n a . L e v a n ta v a -s e ced o to d a s e g u n d a -fe ira e
d e d ic a v a h o ra s à oração e à reflexão. E le se d e d icav a à oração
a se m a n a to d a . E m q u a se c ad a p á g in a da su a a u to b io g ra fia ,
B o sto n m e n c io n a a a p re se n ta ç ã o de u m a s s u n to ou o u tro ao
S e n h o r em o ração . E le esta b e le c e u p e río d o s re g u la re s p ara
je ju m . S e p a ro u as n o ite s d e te rç a -fe ira p a ra oração e louvor.

777
PAIXAO P E L A PU R EZA

T oda q u in ta -fe ira ele d irig ia c u lto p ú b lic o . T am b ém v isita v a


as p esso as em suas casas, fa la n d o in tim a m e n te co m elas e
c o n c ita n d o as in d ife re n te s a “ se u n ire m a C ris to ” .
B o sto n c o n tin u o u e s tu d a n d o te o lo g ia e id io m a s . E le
d o m in o u as lín g u a s clássicas, fra n c ê s e h o la n d ê s. F r e q u e n ­
te m e n te c o n s u lta v a a Statenbijbel, a tra d u ç ã o h o la n d e sa
da B íb lia o rd e n a d a p elo p a rla m e n to h o la n d ê s , c o n h e c id a
co m o The Dutch Annotations. E la c o n té m ú te is g lo ssá rio s
e x p la n a tó rio s, n o ta s e re fe rê n c ia s rem issiv as.
A c o n g reg a ção d e B o sto n cresc e u além d a c a p a c id a d e
do e d ifíc io da ig reja, p rin c ip a lm e n te n o s d o m in g o s em q u e
c e leb rav a a C eia d o S en h o r. D e p o is de sete a n o s n e n h u m a
fam ília n e g lig e n c ia v a o c u lto d o m é stic o . “ S im p rin ! O , b e n d ito
seja o S e n h o r p o r S ua b o n d a d e em S im p rin ”, B o sto n e screv eu ,
“ se m p re m e le m b ra re i de S im p rin co m o u m c a m p o q u e o
S e n h o r tin h a a b e n ç o a d o ” .
Q u a n d o B o sto n re c e b e u u m c h a m a d o de E ttr ic k , a p o b re
c o n d iç ã o e s p iritu a l do p o v o d a li v e n c e u a re lu tâ n c ia de
B o sto n em s a ir de S im p rin . {A co n g re g a ç ã o de} E tric k tin h a
m e n o s de q u a tro c e n ta s p essoas. A s vias p ú b lic a s e ra m q u ase
in tra n s itá v e is . A sed e da p a ró q u ia fo ra d ila p id a d a . O s c u lto s
era m irre g u la re s. A e s te rilid a d e e s p iritu a l, o o rg u lh o , a fra u d e ,
as b la sfê m ia s e a fo rn ic a ç ã o a b u n d a v a m .
B o sto n teve q u e r e c o n s tr u ir e re o rg a n iz a r a p a ró q u ia . O s
p rim e iro s dez a n o s fo ra m d ifíceis. D e p o is de o ito a n o s, ele
d isse a sua m u lh e r: “ M e u coração e stá a lie n a d o d e ste lu g a r” .
M as ele n ão p ô d e sair. G ra d a tiv a m e n te , o E s p írito c o m e ç o u
a a b e n ç o a r 0 seu tra b a lh o . Sua p reg aç ão a tra iu c re s c e n te
n ú m e ro de pessoas. D e p o is q u e a lg u n s dos seu s se rm õ e s
fo ra m p u b lic a d o s , pessoas de E d im b u rg o c o m e ç a ra m a to m a r
c o n h e c im e n to . Q u a n d o B o sto n re c e b e u u m c h a m a d o p a ra
C lo s e b u rn em 1716, o c o n se lh o de E ttr ic k p ro c la m o u je ju m .
Isso c o m p ro v o u -se o p o n to d ecisiv o p a ra o m in is té rio d e
B o sto n ali, p o is n o s p ró x im o s dezesseis a n o s ele tra b a lh o u
co m re n o v a d a a u to rid a d e .

778
Thomas Boston

T an to em S im p rin co m o em E ttr ic k , B o sto n foi cau telo so


n a a d m in is tra ç ã o d a C eia do S en h o r. E le e sp e ro u m ais de
trê s an o s em E ttr ic k , e d ep o is e n tre v is to u cada c a n d id a to
a n te s d e d e c id ir se a p esso a p o d ia p a rtic ip a r da C eia do
S en h o r. O p rim e iro c u lto d a C eia q u e B o sto n d irig iu em
E ttr ic k teve c in q u e n ta e sete p a rtic ip a n te s ; n a ocasião em
q u e B o sto n c e le b ro u a C eia p ela ú ltim a vez, em 1731, h o u v e
777 c o m u n g a n te s , in c lu s iv e to d o s os seus q u a tro filh o s que
a in d a v iv iam .
B o sto n n ã o teve v id a fácil. E le p e rd e u sua m ã e q u a n d o
estava co m q u in z e a n o s de id a d e e seu p ai u m a d écada
d ep o is. E n q u a n to estav a em S im p rin , B o sto n caso u -se com
K a th a rin e B ro w n , a q u in ta filh a de R o b e rt B ro w n , de B a rh ill,
C la c k m a n n a n , em q u e m B o sto n via “ c e n te lh a s da g raça” .
B o sto n c o n sid e ra v a o seu c a sa m e n to u m a d á d iv a do S en h o r,
m u ito e m b o ra ela so fresse re p e tid a s crises de d ep ressão e
de in s a n id a d e . D e 1720 em d ia n te , fico u c o n fin a d a n u m
a p a rta m e n to q u e ela c h a m a v a “p ris ã o in te r n a ” . P assava m eses
e an o s sem alív io , “ u m alvo fácil p a ra os assalto s de satan á s,
ta n to n o c o n c e rn e n te à su a c e rte z a da salvação com o em sua
paz co m D e u s ” . B o sto n teve q u e s e p u lta r seis dos seus dez
filh o s, d o is em S im p rin e q u a tro em E ttric k . E ta m b é m 0
p ró p rio B o sto n n ã o tin h a b o a saú d e. M u ita s vezes ele lu ta v a
com d o re s e fraqueza.
B o sto n via essas trib u la ç õ e s co m o d is c ip lin a v in d a
das m ã o s de seu P a i celeste. E le c o n tin u o u a d e sc re v e r sua
esposa co m o “ u m a m u lh e r de g ra n d e valor, p e lo q u e a
am e i a p a ix o n a d a m e n te , e in te r io r m e n te a h o n ra v a : u m a
p e rs o n a lid a d e a lta n e ira , b ela e g racio sa , v e rd a d e ira m e n te
p ie d o sa , te m e n te ao S en h o r... p a c ie n te em n o ssas trib u la ç õ e s
c o m u n s, e sob as suas aflições p e sso a is” (C ook, Singing in the
Fire, p. 122). E le escrev eu a W illia m H o g em E d im b u rg o : “ E
u m a visão m u ito a g rad á v el da aflição, vê-la com o a d isc ip lin a
da a lia n ç a ; e a ssim é n a v e rd a d e ; e o u tra coisa n ã o é p a ra os
filh o s da fa m ília d e n o sso P ai. N esse asp e c to , é m e d ic in a l;

779
PAIXAO P E L A PU R EZA

re fu lg e ro d e a d a de m u ito s p ro p ó s ito s g rac io so s; e, te rm in e


com o te rm in a r, p o d e -s e te r a c o n fia n ç a da fé e m q u e te rm in a r á
b e m ” (Memoirs, p. 499). B o sto n ach a v a q u e os p ro p ó s ito s
g racio so s de D e u s in c lu ía m “ m a is s u b lim id a d e s n a e s tr u tu ra
do m e u c o ra ç ã o , m a is d e s p re z o p e lo m u n d o , m a is c u id a d o
n o a n d a r co m D e u s , e m a is re s o lu ç ã o p e la o b ra d o S e n h o r
n o seio d as d ific u ld a d e s ” .
P h ilip G. R y k en d iz q u e B o sto n foi “ p re g a d o r a té o d ia
de sua m o rte ” ( Thomas Boston as Preacher of the Fourfold State,
p. 1). T oda a v id a de B o sto n g ira v a em to rn o d a p reg aç ão .
Suas m e ta s n a p reg aç ão e ra m o fe re c e r a se g u ra n ç a da salvação
em C risto aos re g e n e ra d o s, e v e r q u e os in c ré d u lo s fossem
c o n v e rtid o s a C risto . E a ssim ele p re g a v a u m a te o lo g ia da
“g raça em sua s o b e ra n ia ; a g raça em su a lib e rd a d e , o fe re c id a
a to d o s sem d in h e iro e sem p re ç o ; a g raça em su a p le n itu d e ,
g raça q u e p e rd o a , a d o ta , s a n tific a e g lo rific a ; a g raça em sua
s im p lic id a d e , sem as o b ra s d a le i; a g raça em su a s e g u ra n ç a ,
ra tific a d a p o r u m a a lia n ç a e te rn a ; a g raça em seus can a is
d e t e r m in a d o s , v in d o p r i n c i p a l m e n t e p o r m e io d a p a l a v r a
e d a o rd e n a n ç a ; a g raça em seu fru to p rá tic o ”, e screv eu
W illia m G. B la ik ie (The Preachers of Scotland, p p . 201,202).
B o sto n estev e r e lu ta n te em e n v o lv e r-se n a s c o n tro v é rsia s
teo ló g icas do seu te m p o ; n ã o o b s ta n te , p o r vezes foi c o m p e lid o
a d e fe n d e r a v e rd a d e . E le p re g o u v ária s vezes c o n tra os e rro s
dos c a m e ro n ia n o s q u e v o lu n ta ria m e n te se s e p a ra ra m de
o u tro s cristã o s. E m seu se rm ã o “ T h e E v il a n d D a n g e r o f
S ch ism ” , B o sto n a rg u m e n to u no s e n tid o de q u e os c ristã o s
d e v e ría m im ita r C ris to , q u e ia ao te m p lo e à s in a g o g a , a p e s a r
d o s líd e re s c o rru p to s .
B o sto n re c u so u -se a a s s in a r 0 J u r a m e n to d e R e n ú n c ia ,
a s s in a tu ra re q u e rid a d o s o ficiais da Ig re ja e do E s ta d o , e de
o u tro s, r e n u n c ia n d o às re iv in d ic a ç õ e s d a q u e le q u e se a rro g a v a
o d ire ito d e o c u p a r 0 tro n o b ritâ n ic o , Ja m e s, da lin h a de
S tu a rt. O ju ra m e n to re a firm a v a leis a n te rio re s do p a rla m e n to
e x ig in d o q u e o s o b e ra n o re in a n te p e rte n c e s s e à Ig re ja da

780
Thomas Boston

In g la te rra . Isso era v isto co m o u m e n d o sso do ep isco p a d o ,


ou do g o v e rn o da Ig re ja p o r b isp o s. Isso m o tiv o u B o sto n a
p u b lic a r seu p a n fle to , Reasons for refusing the Abjuration Oath
in its latest form.
O c o n flito q u e to m o u m u ito te m p o de B o sto n foi a
C o n tro v é rs ia da M e d u la (1717-1723). Isso lev o u à c u lm in â n c ia
as d ife re n ç a s e n tre d u as escolas de p e n s a m e n to n a teo lo g ia
escocesa. A c o rre n te legal, lid e ra d a p o r Ja m e s H a d o w (1670­
1747), d ir e to r d e St. A n d re w s, te n ta v a d e s a c re d ita r os e n sin o s
“ a n tin o m is ta s ” d a o b ra The Marrow of Modem Divinity.
E sse liv ro , e sc rito p o r E d w a rd F is h e r em 1645, c o n tin h a
e x tra to s das o b ra s de e s c rito re s re fo rm a d o s e p u rita n o s . O s
e v an g é lic o s, o u “ H o m e n s da M e d u la ”, p ro c u ra v a m c o rrig ir
a te n d ê n c ia le g a lista da p re g a ç ã o escocesa e n fa tiz a n d o a liv re
o fe rta d a g ra ç a d e D e u s e a o b ra m e ritó ria de C ris to em favor
do p eca d o r.
A te n sã o a u m e n to u q u a n d o a A sse m b lé ia G eral da Ig reja
da E scó cia d e b a te u a ação do P re s b ité rio de A u c h te ra rd e r
e x ig in d o q u e os c a n d id a to s ao m in is té rio a d e risse m a certas
p ro p o siç õ e s c o n h e c id a s co m o “ C re d o de A u c h te ra rd e r” . U m a
seção d iz : “ C reio q u e n ã o é b o m n e m o rto d o x o e n s in a r que
te m o s q u e a b a n d o n a r os n o sso s p e c a d o s p a ra e n tã o v irm o s a
C ris to ” . B o sto n via estas p a la v ra s co m o u m a co n fu sa te n ta tiv a
de d e fe n d e r a liv re g raça, e n ão d e p ro m o v e r o a n tin o m ia n is m o ,
m as a A sse m b lé ia c o n d e n o u a p ro p o siç ã o . B o sto n v iu esta
d e c is ã o c o m o u m g o lp e d ir e to n a d o u tr i n a d a liv re g ra ç a ;
ele a f ir m o u q u e o a to d a A s s e m b lé ia p u n h a e m p e rig o a
d o u tr in a d a ju stific a ç ã o p ela fé so m e n te .
N essa d is p u ta e n tro u u m a n o v a ed ição de Manow,
p u b lic a d a p o r Ja m e s H o g (1658-1734), m in is tro de C arn o c k
in F ife. A p u b lic a ç ã o foi im e d ia ta m e n te a ta c a d a p o r seus
o p o n e n te s. S ua riq u e z a de d eclaraçõ e s p a ra d o x a is m o tiv o u
J a m e s H a d o w , A la n L o g a n e R o b e r t W o d ro w a fa la re m
c o n tra ela. E les tiv e ra m êx ito em c o n v e n c e r a A ssem b léia
G e ra l d e 1720 d e q u e o liv ro e n s in a v a e rro s ta is co m o

781
PAIXAO P E L A PU R EZA

e x p iação u n iv e rs a l, c e rte z a co m o a essê n c ia d a fé, s a n tid a d e


não im p líc ita n a salvação, e a n tin o m ia n is m o .
N a A ssem b léia d e 1721, os “ H o m e n s da M e d u la ” re s p o n ­
d e ra m co m u m d o c u m e n to in titu la d o “ T h e R e p re s e n ta tio n ” .
E ste d o c u m e n to a rg u m e n ta v a c o n tra a c o n d e n a ç ã o de Marrow
e a p ro ib iç ã o im p o sta aos m in is tro s , p ro ib in d o -o s de fazer
c irc u la r q u a lq u e r co isa em seu favor. A A sse m b lé ia re je ito u
0 d o c u m e n to e c e n s u ro u os “ H o m e n s da M e d u la ” . B o sto n
escrev eu em seu d iá rio : “ R ece b i a c e n s u ra e a a d m o e sta ç ã o
com o u m o rn a m e n to co lo cad o em m im p ela causa d a v e rd a d e ” .
B o sto n se rv iu co m o se c re tá rio do S ín o d o d e M e rse
e de T e v io td ale e fre q u e n to u a A sse m b lé ia G e ra l q u a n d o
n ecessário . E m 1728, ele a tra iu a a te n ç ã o da A sse m b lé ia
q u a n d o se le v a n to u p a ra p ro te s ta r c o n tra a c o m p la c ê n c ia da
A ssem bléia com J o h n S im son; B oston disse que S im son m erecia
deposição, não apenas u m a breve suspensão. S im son, professor
de teologia na U n iv ersid ad e de Glasgow, tin h a se envolvido
em dois julgam entos p o r heresia; 0 p rim e iro (1715-1717),
envolvendo acusações de a rm in ia n ism o , e o segundo (1727­
1729), acusações de arian ism o . A fam ília e os am igos de S im son
serviram de escudo, liv ran d o -o de c e n su ra m aior. E m b o ra
su sp en so p e rm a n e n te m e n te em 1729, ele p e rm a n e c e u com o
m e m b ro do co rp o d o c e n te de G lasgow até sua m o rte em 1740.
■Os ú ltim o s se rm õ e s de B o sto n , p re g a d o s co m b ase em 2
C o rin tio s 13:5 n o s p rim e iro s d o is d o m in g o s de 1732, fo ra m
so b re o ex am e in tro sp e c tiv o . Isso e ra típ ic o de su a p re g a ç ã o ,
co m o ta m b é m de su a v id a p essoal. C o m o estav a m u ito fraco ,
ele os p re g o u “do seu le ito de m o rte , q u a n d o as p esso as de
E ttric k se r e u n ira m ju n to à ja n e la da casa p a s to ra l p a ra o u v ir
seu a m a d o m in is tr o p re g a r” n e sta s d e rra d e ira s o p o rtu n id a d e s
( 1Oxford DNB, 6 :7 2 3 ). E le m o r r e u c o m a id a d e d e c i n q u e n ta
e seis an o s n o d ia 20 d e m a io de 1732. F o i s e p u lta d o no
c e m ité rio da ig reja d e E ttric k .
A pós a m o rte d e B o sto n , a c re s c e n te h o s tilid a d e e n tre os
le g alistas (c o n h e c id o s co m o “ m o d e ra d o s ” ) e os e v a n g é lic o s

782
Thomas Boston

le v a ra m a irre p a rá v e is ru p tu ra s n a Ig re ja escocesa. E m 1733,


m u ito s d o s “ H o m e n s da M e d u la ” d e ix a ra m a Ig re ja da E scócia
p a ra ju n ta r-s e ao c o n c ilio d e n o m in a d o P re s b ité rio A sso ciad o ,
d a n d o n a s c im e n to à Ig re ja da Secessão.

The Complete Works of the Late Rev. Thomas Boston (T E N T ;


12 v o lu m e s, 7.500 p á g in a s; 2002). A s o b ra s de B o sto n fo ram
c o lig id a s e p u b lic a d a s p ela p rim e ira vez em 1767, e depois
re im p re s sa s em 1773. The Complete Works, coleção e d ita d a
p o r S am u e l M ’M illa n e p u b lic a d a em d o ze v o lu m e s em 1853,
foi re p ro d u z id a a tu a lm e n te g raças a T e n tm a k e r P u b lic a tio n s.
E sp e ra m o s q u e os e sc rito s de B o sto n façam co m q u e m u ito s
c o n c o rd e m co m J o h n D u n c a n , q u e escrev eu : “T h o m a s B o sto n
foi u m g ê n io em lu g a r c o m u m - n ã o u m h o m e m c o m u m , m as
u m g ê n io em lu g a r c o m u m ” . O u q u e c o n c o rd e m co m o u tro
e s c r it o r q u e d is s e q u e B o s to n fe z m a is “ p a r a a tiç a r o fogo
da v e rd a d e ira p ie d a d e n a E sc o c ia d o q u e q u a lq u e r o u tro
m in is tro in d iv id u a l de su a g era ç ã o ” .
O s p rim e iro s d o is v o lu m e s c o n tê m se rm õ e s de B o sto n
so b re o B rev e C a te c ism o e “ F o rm s o f P e rs o n a l C o n v e n a n tin g ” .
O v o lu m e 3 c o n té m tr in ta e sete se rm õ e s e d o is tra ta d o s : “T h e
C ro o k in th e L o t” e “ T h e U n ity o f th e B o d y o f C h ris t, a n d
th e D u tie s th e M e m b e rs O w e O n e to A n o th e r, (so b re 1 Cor.
10:17). “ U n ity ” é u m e x c e le n te tra ta m e n to , em 65 p á g in a s, da
c o m u n h ã o d o s sa n to s, m e re c e d o r d e p u b lic a ç ã o em separata.
O v o lu m e 4 c o n té m q u a re n ta se rm õ e s em m isc elân e a. Os
o ito se rm õ e s so b re F ilip e n s e s 3:8 são u m a n o tá v e l exposição da
e x ce lên cia de Je su s C risto e do d e v e r d o s c re n te s d e estim á-1 0 .
T a m b é m in c lu i u m b re v e tra ta d o so b re “ T h e D is tin g u is h in g
C h a ra c te rs o f R eal C h r is tia n s ” . O v o lu m e 5 e x p a n d e esse
te m a co m m a is d o is lo n g o s tra ta d o s : “ T h e D is tin g u is h in g
C h a ra c te rs o f T ru e B e lie v e rs” e “ T h e S ta te a n d C h a ra c te r
o f B e lie v e rs” . B o sto n escrev e so b re a relação do c re n te com
D e u s, a Ig re ja , a c o n v ersaçã o , os in im ig o s , os m a u s te m p o s,

783
PAIXAO P E L A PU R EZA

o tra b a lh o , e 0 m u n d o v in d o u ro . E ste v o lu m e in c lu i ta m b é m
“ T h e A rt o f M a n -fis h in g ” .
O v o lu m e 6 c o n té m 280 p á g in a s so b re “ M isc e lla n e o u s
Q u e s tio n s ” e “ M isc e lla n e o u s T ra c ts” , dos q u a is q u a se cem
p á g in a s são d e d ic a d a s ao a s s u n to do b a tism o . E ste v o lu m e
in c lu i ta m b é m d ezesseis se rm õ e s s o b re v á rio s a s s u n to s ;
os serm õ es so b re ab n e g a ç ã o e a r re p e n d im e n to são o b ra s
m a g istra is.
O v o lu m e 7 in c lu i b re v e o b ra de B o sto n in titu la d a
“ E x p lic a tio n o f th e F ir s t P a rt o f th e A sse m b ly ’s S h o rte r
C a te c h ism ” , “ T h e M a rro w o f M o d e rn D iv in ity ”, de E d w a rd
F ish e r, a c o m p a n h a d a de n o ta s de B o sto n (v er a c im a ), e n o v e
serm õ es. A lta m e n te re c o m e n d á v e is são os se rm õ e s de B o sto n ,
“ T h e E v e rla s tin g E s p o u s a ls ” (O s. 2:19) e “ T h e M y ste ry o f
C h ris t in th e F o rm o f a S e rv a n t” (F il. 2:7).
O v o lu m e 8 c o n té m “ H u m a n N a tu r e ” e “ T h e C o v e n a n t
o f G ra c e ” (v er a b aix o ); o v o lu m e 9, c in q u e n ta e cin c o se rm õ e s
co m m e scla de a s s u n to s ; o v o lu m e 10, d e z o ito s e rm õ e s so b re
os n o m e s e os a trib u to s de C risto , c in c o se rm õ e s so b re a v id a
c ris tã e dez serm õ es s o b re v á rio s a s su n to s. O v o lu m e 11 o ferece
seis d isc u rso s so b re a oração , u m lo n g o tra ta d o so b re a a lia n ç a
das o b ra s, e u m tra ta d o so b re je ju m e c o n triç ã o n a v id a p esso al
e n a da fam ília. O v o lu m e fin a l c o n té m as fam osas Memoirs de
B o sto n (v er abaixo).
E ste é u m e x c e le n te c o n ju n to de liv ro s p a ra le itu ra ,
p a r tic u la rm e n te p a ra os m in is tro s do ev an g e lh o . O s se rm õ e s
d e B o sto n são m o d e lo s d e só lid a exegese c o m b in a d a com
p ie d a d e e a d m o e sta ç ã o e x p e rim e n ta is .

The Art of Man-fishing: A Puritan’s View of Evangelism


(C F P ; 110 p á g in a s; 1998). P u b lic a d a p rim e ira m e n te em 1773,
esta o b ra foi e s c rita q u a n d o B o sto n tin h a v in te e d o is a n o s
d e id a d e. E ra u m a sé rie de m e d ita ç õ e s p esso ais s o b re C ris to
co m o o m o d e lo p a ra o m in is té rio , em re sp o sta a M a te u s 4 :19:
“ V in d e ap ó s m im , e eu vos farei p e sc a d o re s d e h o m e n s ” .

784
Thomas Boston

S o b re esta o b ra J. I. P a c k e r e screv eu : “A id e ia de B o sto n so b re


o m in is tr o co m o u m “p e s c a d o r de h o m e n s ” é q u e, p o r m e io do
seu m in is té rio no p ú lp ito e do seu m in is té rio de adm oestação
de pessoa em pessoa, D e u s tra b a lh a rá nos corações das pessoas
p a ra traz ê-las a este lu g a r de firm e c o m p ro m e tim e n to , o n d e
elas p o d e m c o n f ir m a r s u a c e rte z a d e q u e e stã o v iv a s p a ra
D e u s p o r o b se rv a re m a cresc e n te m u d a n ç a do seu ser in te rio r”
(PP- 8,12).
E ste p o d e ro so p e q u e n o liv ro c o n v e n c e rá , h u m ilh a rá
e e n c o ra ja rá m in is tro s do e v a n g e lh o e os q u e se a p lic a m à
ev an g e liz ação . E le desafia to d o s a p e rm a n e c e re m d ed ic a d o s
e a p e rs is tire m em a p re s e n ta r o e v a n g e lh o aos p e rd id o s. O s
q u e ev a n g e liz a m d ev em s e g u ir o ex e m p lo de Je su s no tra to
co m os p e c a d o re s, o ra n d o fe rv o ro s a m e n te n o s e n tid o de que
o E s p ír ito a b e n ç o e seu s e sfo rç o s tr a z e n d o p e c a d o re s à re d e
d o ev a n g e lh o .

The Beauties of Thomas Boston: A selection of his writings


(C F P ; 616 p á g in a s; 1979). E d ita d o p o r S am u e l M ’M illa n e
p u b lic a d a s p rim e ira m e n te em 1831, estas seleções co b rem
os s e g u in te s tó p ic o s: as E s c ritu ra s , o raçã o , D e u s, o rd e n a n ç a s
p ú b lic a s , os d e c re to s de D e u s, o C ria d o r, o sa cerd ó cio de
C risto , fé em C ris to , a p ro v id ê n c ia de D e u s, a eleição, a a lian ça
das o b ra s, a q u e d a do h o m e m , o ju lg a m e n to d o s ím p io s, e a
a lia n ç a da graça. E ste liv ro n ão s u b s titu i Complete Works de
B o sto n , m as é u m g u ia de c o n s u lta acessível e p o d e se rv ir
co m o só lid o d ev o c io n a l d iá rio .

Church Communion (P A ; 111 p á g in a s; 2005). Q u e é a


c o m u n h ã o dos sa n to s? C o m o a c o m u n h ã o d o s sa n to s se m o stra
n a p a rtic ip a ç ã o da C eia do S e n h o r? C o m o m e m b ro s de u m só
c o rp o , q u e d ev ere s cad a u m dos sa n to s tê m u n s p a ra com os
o u tro s ? P o r q u e a a d m issã o à M esa do S e n h o r deve se r a ssu n to
tão sé rio ? N e ste liv ro B o sto n re s p o n d e essas p e rg u n ta s e m u ita s
o u tra s m a is de m a n e ira in te ira m e n te b íb lic a . E le a c e n tu a

785
PAIXAO P E L A PU R EZA

q u e os c re n te s em C risto estão u n id o s u n s aos o u tro s e tê m


re s p o n s a b ilid a d e p e lo b e m -e s ta r d e o u tro s c ris tã o s. E le s tê m
o d e v e r d e a m a r u n s aos o u tro s s in c e r a m e n te , d e s u p o r ta r as
fraq u eza s u n s dos o u tro s , de v ig ia r e e d ific a r u n s aos o u tro s ,
d e le v a r os fa rd o s u n s dos o u tro s , e de te r c o m p a n h e iris m o
u n s co m os o u tro s.

Commentary on the Shorter Catechism (S W R B ; 2 v o lu m e s,


1.350 p á g in a s; 1987). E s ta o b ra re im p re s sa foi p u b lic a d a
p rim e ira m e n te em trê s v o lu m e s co m o An Illustration of the
Doctrine of the Chistian Religion (1755), e ta m b é m faz p a rte
do c o n te ú d o dos p rim e iro s d o is v o lu m e s do liv ro Works
d e B o sto n . C o n té m n o v e n ta se rm õ e s q u e e x p õ e m o B reve
C atecism o de W e stm in ste r. A q u i se vê B o sto n em su a m e lh o r
fo rm a - b íb lic o , d o u tr in á r io , e x p e rim e n ta l e p rá tic o . D ig n o s
d e m e n ç ã o esp ecial são os c a p ítu lo s “ T h e D iv in e C all to L ea v e
th e D e v il’s F a m ily ” , “ T h e B e n e fits F lo w in g fro m J u s tific a tio n ,
A d o p tio n , a n d S a n c tific a tio n ”, “T h e D u ty o f R u lin g E ld e rs
a n d P e o p le ”, “ T h e D a n g e r o f N o t C o m p ly in g w ith th e G o sp e l
C all” , e “ T h e R ig h t Im p ro v e m e n t o f a T im e o f S ic k n e ss a n d
M o r tlity ” . N esse s se rm õ e s B o sto n p ro c la m a sem te m o r as
p ro fu n d e z a s d a d ep rav a ção do h o m e m , a g rac io sa s o b e ra n ia
de D e u s, a p le n a re s p o n s a b ilid a d e do h o m e m , e a o fe rta
in c o n d ic io n a l da graça. E sta o b ra m e re c e se r c o n s id e ra d a
co m o u m clássico m u ito m a is do q u e é.

The Crook in the Lot (S D G ; 168 p á g in a s; 2001). B o sto n


c o n c lu iu e sta o b ra n o s m eses fin a is d e su a v id a , d a n d o -lh e o
s e g u in te s u b títu lo : “A S o b e ra n ia e a S a b e d o ria d e D e u s ñ as
A flições d o s H o m e n s , em C o n s o n â n c ia com u m P ro c e d im e n to
C ristã o sob elas” . E ste liv ro e x a m in a a c o n d u ta d o c re n te sob
c irc u n s tâ n c ia s o p ressiv as. O s trê s te m a s do liv ro são: seja q u a l
for a situ a ç ã o d ifíc il q u e e sta m o s p a s s a n d o , é e feito da ação de
D e u s; seja q u a l fo r o e stra g o q u e D e u s faça, n e n h u m a v o n ta d e
h u m a n a c o n se g u irá c o n s e rta r; e, v e r a e n c re n c a n a s no ssa s

786
Thomas Boston

c irc u n s tâ n c ia s co m o o b ra de D e u s é o ú n ic o m e io de o b te r
v e rd a d e iro c o n te n ta m e n to .
D o n K is tle r escrev e so b re e sta o b ra : “ B o sto n n ã o c o m ete
o e rro de te n ta r d e s n e c e ss a ria m e n te p ro te g e r a re p u ta ç ã o
d e D e u s , n e m de ir ao e x tre m o o p o sto de faze r de D e u s u m
e s p e c ta d o r c o m p assiv o , m as in ú til. A n te s, B o sto n coloca D eu s
n o c e n tro e m o s tra q u e E le e stá a tiv a m e n te en v o lv id o ta n to
n o s a c o n te c im e n to s co m o n a so lu ção d e le s” . The Crook in the
Lot, q u e c o n té m u m n o v o g u ia de e s tu d o , se ria u m ex ce len te
p re s e n te p a ra a lg u é m q u e e stá p a s s a n d o p o r ág u as tu rb u le n ta s .

Human Nature in its Fourfold State (B T T ; 506 p á g in a s; 1964).


E ste liv ro , p u b lic a d o p ela p rim e ira vez em 1720 (u m a edição
re v is ta em 1729) u m “ sim p le s, p rá tic o e m e m o rá v e l s u m á rio da
d o u tr in a c ris tã ” , v eio a se r o tra ta d o m a is in flu e n te de B o sto n ,
p a ssa n d o p o r cem ed içõ es só n o sécu lo d e z o ito , n a Escócia.
C o n s ta n d o de se rm õ e s p re g a d o s em S im p rin e a m p lia d o s em
E ttric k , tra ç a a c o n d iç ã o do h o m e m a tra v é s de q u a tro estados:
seu e sta d o o rig in a l de re tid ã o o u in o c ê n c ia ; seu e stad o com o
c ria tu ra ca íd a ; seu e sta d o co m o u m se r re d im id o e re g e n e ra d o ;
e fin a lm e n te , seu e sta d o e te rn o , seja n o céu ou n o in fe rn o .
B o sto n os a b re v io u co m o e sta d o s d e in o c ê n c ia , n a tu re z a ,
g ra ç a e e te rn id a d e .
P a rte s d e ste liv ro são sem p a ra le lo . P o r ex em p lo , B o sto n
m o s tra p o d e ro s a m e n te q u e o p e c a d o de A dão a n ó s im p u ta d o
faz-n o s c u lp a d o s de p e c a r c o n tra a to ta lid a d e dos D ez
M a n d a m e n to s . N e n h u m o u tro liv ro expõe tão m a g is tra lm e n te
a n o ssa trá g ic a q u e d a em A dão. Se a lg u é m q u e você c o n h ec e
d u v id a da c o rru p ç ã o do p e c a d o o rig in a l, d ê -lh e e ste livro.
A lém d isso , 0 c a p ítu lo de 68 p á g in a s so b re a u n iã o m ístic a
e n tre C ris to e o c r e n te te m a ju d a d o g r a n d e n ú m e ro de
c ris tã o s a tra v é s d o s sé c u lo s a v a lo riz a r c o m o u m te s o u ro a
su a u n id a d e co m seu Irm ã o m a is v elh o .
The Fourfold State foi tra d u z id o em v á rio s id io m a s, e n tre
as q u a is o g aélico e o galês. J o h n M a c L e o d escrev eu a seu

787
PAIXAO P E L A PU R EZA

re sp e ito : “N ão h á n e n h u m liv ro so b re te o lo g ia p rá tic a , n e m


m e sm o o d e W illia m G u th rie , Trial of Saving Interest in Christ,
n e m o de R u th e rfo rd , Letters, q u e te n h a sid o m a is lid o n o s
lares p ie d o so s d a E scó cia do q u e este tra ta d o . E le fez m a is p a ra
m o ld a r o p e n s a m e n to dos seu s c o n c id a d ã o s do q u e n e n h u m
o u tro , exceto 0 B reve C a te c ism o de W e stm in ste r. E so b re esta
o b ra q u e J o n a th a n E d w a rd s d iz q u e ela “m o s tro u q u e o Sr.
B o sto n foi v e rd a d e ira m e n te u m g ra n d e te ó lo g o ” (cf. Works of
Jonathan Edwards [B T T ], 2:489).
P h il R y k e n c o rre ta m e n te o b se rv o u : “A s ên fases do liv ro
The Fourfold State à to ta lid a d e do p e c a d o , à n e c e ss id a d e de
n a sc e r de n o v o , ao a n se io de o h o m e m em e s ta r u n id o a C risto ,
e à re a lid a d e da v id a p o r vir, ta m b é m fiz e ra m d ele u m te x to
c e n tra l p a ra 0 s u rg im e n to do m o v im e n to v e rd a d e ira m e n te
ev an g élico n a G rã -B re ta n h a e n a A m éric a. F o i o liv ro m a is
v e n d id o d u r a n te 0 G ra n d e D e s p e rta m e n to , em p a rte p o rq u e
foi a lta m e n te re c o m e n d a d o , ta n to p o r Jo ão W esley co m o p o r
G eo rg e W h ite fie ld ” ( OxfordDNB, 6:723).

Memoirs of Thomas Boston (B T T ; 556 p á g in a s; 1988).


E ste clássico da d evoção e s p iritu a l c a lv in is ta foi p u b lic a d o
o rig in a lm e n te em 1776, p elo n e to de B o sto n , M ic h a e l B o sto n ,
co m o Memoirs of the Life, Time and Writings. A o b ra rev ela
“ u m h o m e m zeloso n o m in is té rio , de d isp o siç ã o m e la n c ó lic a ,
de d o u ta e ru d iç ã o n o in te re sse , m o d e sto em su a a sp ira ç ã o ,
só b rio n o ju lg a m e n to , se n sív e l em su a c o n sc iê n c ia , e d ev o to
n a o raçã o ” (ib id .).
A o b ra Memoirs c o n s is te de d o is re la to s e sc rito s p a ra a
p o s te rid a d e de B o sto n : A General Account of My Life e Passages
of My Life. C o n ta m u ita coisa da v id a de B o sto n e se b aseia ,
co m o W illia m B la ik ie e screv eu , “ n u m a fé n a p ro v id ê n c ia
p a rtic u la r de D e u s, n a in tim id a d e do Seu c o m p a n h e iris m o
co m o S eus filh o s, e n a e s tre ita co n ex ã o e n tre a v id a e s p iritu a l e
a v id a n a tu ra l d eles, a se m e lh a n ç a co m a q u a l, talvez, n e n h u m
h o m e m de ig u a l p o d e r in te le c tu a l ja m ais a tin g iu ” .

788
Thomas Boston

B o sto n e ra e s p iritu a lm e n te rig o ro so co n sig o m e sm o . U m


típ ic o re g is tro em Memoirs d iz: “ T en d o re se rv a d o a m a n h ã
in te ir a m e n te p a ra o raçã o e m e d ita ç ã o , a lg u n s p e n s a m e n to s
m u n d a n o s se in s in u a ra m . D e ta rd e re c u p e re i u m p o u co
da p e rd a s o frid a d e m a n h ã ” (p. 97). Tais “ la p so s” levavam
B o sto n a jejuar, a in te n s o c rité rio de a u to -e x a m e e a lá g rim a s
a p a ix o n a d a s. “O h , co m o o m e u co ração o d e ia o m e u co raç ão !”,
ele gem ia.
M as ele tin h a ta m b é m m o m e n to s de ale g ria , q u e ele
d e sc re v e co m o “esca p e s” da esc ra v id ã o e s p iritu a l. U m a vez,
ao a p lic a r a si m e sm o as p a la v ra s do S alm o 14, ele escreveu:
“ M in h a a lm a b e n d is s e D e u s p o r S ua p a la v ra , e p o r essa p alav ra
em p a rtic u la r, p o r te r sid o co lo cad a n a B íb lia. E la so lto u as
co rre ia s q u e m e p re n d ia m , p ô s-m e d e n o v o so b re os m e u s pés
e d e u c o ra g e m a m e u co ração . M e u co raç ão re g o z ija -se em
S ua o b ra de salvação e em Seu s e r” (p. 115).
E s ta e d ição é u m a re im p re s sã o d a e d ição de 1899. In c lu i
u m a in tro d u ç ã o e n o ta s de G eo rg e H . M o rris o n , de D u n d e e . As
m e m ó ria s d e B o sto n e q u ip a ra m -s e às de A g o stin h o , B u n y a n
e H a ly b u rto n co m o u m a das m a is d u ra d o u ra s a u to b io g ra fia s
e s p iritu a is da Ig reja.

A View of the Covenant of Grace (F C M ; 232 p á g in a s; 1994).


B o sto n foi u m m in is tr o p a ro q u ia l, m as foi ta m b é m u m
teólogo. T alvez su a m a is sig n ific a tiv a c o n trib u iç ã o à teologia
te n h a sid o a su a ex p licaç ão da te o lo g ia p a c tu a i o u “ fe d e ra l” (do
la tim foedus, q u e sig n ific a “p a c to ” ou “ a lia n ç a ” ), dos p ad rõ es
de W e stm in ste r. E le e screv eu seu s tra ta d o s so b re as alian ças
das o b ra s e da g raça co m o c o rre tiv o s p a ra os e rro s p elag ian o s
e a rm in ia n o s do seu te m p o . U m a p ro p ria d o e n te n d im e n to
das d u a s alia n ç a s é n e c e ssá rio d e v id o a seu p a p e l n a salvação
do h o m e m , d isse B o sto n . A p rim e ira a lia n ç a m o s tra o nosso
e sta d o de p e rd id o s em A d ão , e a s e g u n d a o ferece o rem é d io
em Je su s C risto .
A View of the Covenant of Grace (1734), q u e c o n siste de

789
PAIXAO P E L A PU R EZA

u m a série de se rm õ e s p re g a d o s em m a is de d o is a n o s s o b re o
S alm o 89:3 e 1 C o rin tio s 15:45, foi o p rim e iro liv ro d e B o sto n
p u b lic a d o d ep o is da su a m o rte . B o sto n se s e n tiu m o v id o a
p re g a r so b re a a lia n ç a d a g raça d ep o is de le r a o b ra de H e r m a n
W its iu s in titu la d a Economy of the Covenants. B o sto n d iv id iu
su a o b ra n o s s e g u in te s títu lo s : as p a rte s da a lia n ç a ; a e s tr u tu ra
da a lia n ç a da g raça ; as p a rte s c o m p o n e n te s da a lia n ç a ; a
a d m in is tra ç ã o da a lia n ç a ; a p ro v a salv ífica p esso al, s o b re o
“ e sta r em ” a lia n ç a , e o m e io p a ra “ fazer e s ta r e m ” - faze r os
p e c a d o re s e sta re m p esso al e sa lv ific a m e n te n a a lian ça .
B o sto n e x p lica q u e a a lia n ç a da g raça visa s o m e n te aos
eleito s; é a re sp o sta d e D e u s ao ro m p im e n to q u e o h o m e m
fez com a a lia n ç a das o b ras. E le e m p re g a as ex p ressõ es a lia n ç a
da re d e n ç ã o e a lia n ç a da g raça p a ra d e n o m in a r os d o is la d o s
da alian ça . B o sto n n ão a c re d ita v a q u e a a lia n ç a da re d e n ç ã o
é s e p a ra d a da a lia n ç a da g raça , n e m q u e seja “ u m a a lia n ç a
d e n tro da a lia n ç a ”, co m o a lg u n s teó lo g o s e n s in a v a m . C o m o
ac o n te c e com a a lia n ç a das o b ra s, h á d o is p a rtic ip a n te s n e s ta
a lian ça : D e u s o P a i, re p re s e n ta n d o a p a rte o fe n d id a , e C risto ,
o se g u n d o (o u 0 ú ltim o ) A dão, re p re s e n ta n d o os eleito s.
A a lia n ç a da g raça foi e s ta b e le c id a n a e te rn id a d e s e g u n d o
0 c o n se lh o da T rin d a d e , d iz B o sto n . O p la n o e os o b je to s da
salvação fo ra m e sta b e le c id o s a n te s de o h o m e m se r c ria d o .
As Pessoas da D e id a d e tê m fu n ç õ e s d ife re n te s n o p la n o de
salvação: 0 P ai e sc o lh e os o b je to s da salvação, 0 F ilh o os
re d im e , e 0 E s p írito os s a n tific a , a p lic a n d o a re d e n ç ã o .
C ris to é a C abeça re p re s e n ta tiv a da S ua s e m e n te do
m e sm o m o d o co m o A dão o foi da su a s e m e n te , d iz B o sto n .
As c o n d iç õ e s da a lia n ç a e n tre o P ai e o F ilh o são as m a is
im p o rta n te s ex ig id as n a p rim e ira a lia n ç a - a o b e d iê n c ia
p e rfe ita - e a penalidade da d e s o b e d iê n c ia de A d ão a s e r p ag a
em C risto . O s e g u n d o A d ão e n tro u em a lia n ç a co m D e u s em
favor dos S eus eleito s. E le estev e o n d e o p rim e iro A d ão estev e,
m as foi b e m s u c e d id o o n d e o p rim e iro A d ão fracasso u .
N a ú ltim a seção do seu tra ta d o so b re a a lian ça da graça,

790
Thomas Boston

B o sto n explica com o os p ecad o res se to rn a m p a rte dessa


alian ça. M u ita s pessoas são alh eias à alian ça da g raça e não têm
in te re sse salv ífico em C ris to , d iz B o sto n , m as n ó s p o d em o s
o fe re c e r a eles 0 e v an g e lh o da reconciliação. D evem os, na
v e r d a d e , c o m p e lir p e c a d o re s a e n t r a r n a a lia n ç a d a g ra ç a
( L u c . 14:23).
B o sto n e n s in a v a q u e a fé sa lv a d o ra , n e c e ssá ria p a ra que
0 p e c a d o r se ap o sse de C risto , te m q u a tro c o m p o n e n te s:
p rim e iro , fé n a s u fic iê n c ia de C risto , p ela q u a l o p e c a d o r crê
q u e C ris to é p le n a m e n te capaz de sa lv a r os h o m e n s dos seus
p e c a d o s; s e g u n d o , fé n o e v a n g e lh o , p ela q u a l o p e c a d o r crê que
C ris to é o fe re c id o a p e c a d o re s co m o ele; te rc e iro , fé n o d ire ito
q u e o p e c a d o r te m de b e n e fic ia r-s e d e C risto , p ela q u a l ele se
a n im a a i r a C r is to , e q u a r to , fé p a r a sa lv a ç ã o , p e la q u a l a
p e s s o a se a p r o p r ia d e C r is to c o m o se u S a lv a d o r p e sso a l.

791
David Dickson
(1583-1662)

av id D ic k s o n (D ic k ) n a sc e u p o r v o lta de 1583 em G lasgow ,


D E scocia. E le foi o filh o ú n ic o de J o h n D ic k , o u D ic k s o n ,
rico e p ie d o so m e rc a d o r. E le o b te v e o g ra u d e M e s tre em A rte s
da U n iv e rs id a d e d e G lasgow , o n d e e s tu d o u sob R o b e rt B o y d ,
o g ra n d e ex egeta de T ro c h rig . E m 1610, D ic k s o n foi n o m e a d o
p ro fe sso r de filo so fia e d e g rego n a u n iv e rs id a d e . E le e n s in o u
d u ra n te o ito anos.
E m 1617, D ic k s o n caso u -se co m M a rg a re t R o b e rto n ,
filh a de A rc h ib a ld R o b e rto n , de S to n e h a ll. O casal te v e trê s
filhos. O se g u n d o filh o , A le x a n d e r, foi p ro fe sso r de h e b ra ic o
n a U n iv e rs id a d e de E d im b u rg o .
E m 1618, D ic k s o n foi o rd e n a d o m in is tr o em Irv in e ,
A y rsh ire . Seu m in is té rio ali foi e x tra o rd in a ria m e n te fru tífe ro
d u ra n te v in te e trê s an o s. S eu tra b a lh o foi in te r r o m p id o e n tre
1622 e 1623, p o ré m , q u a n d o ele foi s u sp e n so p e lo a rc e b isp o
S p o ttisw o o d p o r su a e s trita defesa do p re s b ite ria n is m o .
D ic k s o n foi b a n id o p a ra T u rriff, em A b e rd e e n s h ire , p o r
o p o r-se às c e rim ô n ia s a n g lic a n a s im p o sta s p elo s A rtig o s de
P e rth . E sses a rtig o s ex ig iam a jo e lh a r-se , em vez d e a s s e n ta r­
-se d u r a n te a C eia do S e n h o r, c o m u n h ã o p riv a d a , b a tis m o
n ão s u sp e n so p o r m a is do q u e u m d o m in g o e a d m in is tra d o

792
D a v id Dickson

p r iv a d a m e n te q u a n d o n e c e s s á rio , a p a rtic ip a ç ã o d e b isp o s


n a c o n firm a ç ã o , e a o b s e rv â n c ia d o s d ia s d e festa d a Ig reja ,
ta is co m o o N a ta l e a P áscoa.
Q u a n d o D ic k s o n v o lto u , ap ó s q u a se u m a n o de exílio,
in ic io u -s e u m n o tá v e l a v iv a m e n to . E le c o m e ç o u a p re g a r na
ru a n o d ia em q u e o m e rc a d o fu n c io n a v a , e m u ita s pessoas
fo ra m lev ad as à co n v ic ç ã o de p eca d o .
A re s is tê n c ia aos esforços do re i p a ra im p o r u m cu lto
com a litu rg ia e x ig id a c u lm in o u n a A ssem b léia de 1638, em
G lasgow , e n a su b sc riç ã o d a A lia n ç a N a c io n a l. D ic k s o n foi u m
dos p rin c ip a is p ro p o n e n te s n a p re p a ra ç ã o p a ra a A ssem b léia,
la v ra n d o u m d o c u m e n to no q u a l in s is tia q u e p re s b íte ro s
re g e n te s re p re s e n ta tiv o s fossem c o m issio n a d o s p a ra a
A sse m b lé ia , ao lad o dos m in is tro s . E le veio a ser u m líd e r do
m o v im e n to p re s b ite ria n o e foi im p o rta n te in s tr u m e n to na
su ste n ta ç ã o do p re s b ite ria n is m o n a E scócia. N o a n o se g u in te ,
ele foi m o d e ra d o r d a A sse m b lé ia G eral, q u a n d o o re i fez
im p o rta n te s co n ce ssõ es a te n d e n d o à re v o lta p o p u la r.
E m 1640, D ic k s o n to rn o u -s e p ro fe sso r d e te o lo g ia n a
U n iv e rs id a d e d e G lasgow . D e z a n o s m a is ta rd e , ele ace ito u
a m e sm a p o siç ã o n a U n iv e rs id a d e de E d im b u rg o e foi
n o m e a d o p a ra 0 s e g u n d o e n c a rre g a d o em St. G iles. G ra n d e
p a rte dos m in is tro s d a Ig re ja da E scó cia, d u r a n te o p e río d o
da A sse m b lé ia de W e stm in ste r, re c e b e u seu tre in a m e n to
te o ló g ico de D ic k s o n .
M ais o u m e n o s n a ép o ca de su a tra n s fe rê n c ia p ara
E d im b u rg o , D ic k s o n e Ja m e s D u r h a m p ro d u z ira m su a fam osa
The Sum of Saving Knowledge (1650), im p o rta n te a p re se n ta ç ã o
fe d e ra lista do ev a n g e lh o . O liv ro c o n tin u a se n d o im p re sso
n as ed içõ es escocesas dos p a d rõ e s de W e stm in ste r. The Sum
v iria a ser u m in s tr u m e n to n a c o n v e rsã o de R o b e rt M u rra y
M ’C h e y n e e d e m u ito s o u tro s.
D e p o is d a R e sta u ra ç ã o , D ic k s o n re c u so u -se a fazer 0
ju ra m e n to d e s u p re m a c ia e foi e x o n e ra d o de su a c á te d ra
u n iv e rs itá ria em E d im b u rg o e das suas fu n ç õ e s m in is te ria is

793
PAIXAO P E L A PU R EZA

em o u tu b ro de 1662. E sta s d ific u ld a d e s a r r u in a r a m su a sa ú d e ,


m as ele a c re d ita v a q u e a cau sa do e v a n g e lh o n ão e stav a p e rd id a
n a E scócia. Q u a n d o lh e p e rg u n ta ra m , “Q u a l será o re s u lta d o
de to d o s a n g u e e de to d a s as o raçõ es de m u ito s a n o s, ag o ra,
q u a n d o tu d o foi p o s to a b a ix o ? ” , ele re s p o n d e u : “A í estão a
C o n fissão de F é e os C a te c ism o s, e eles v alem m a is do q u e
to d o o sa n g u e e d o q u e to d a s as o raçõ e s q u e h o u v e !”
D ic k s o n m o rre u d o is m eses d e p o is de su a e x o n era ção . E m
seu le ito d e m o rte ele disse: “ P eg u e i to d a s as m in h a s b o as o b ra s,
e to d a s as m á s, e as la n c e i, u m a s ju n to das o u tra s , fo rm a n d o
u m a p ilh a d ia n te do S e n h o r, fu g i de am b a s e e n tre g u e i-m e ao
S e n h o r Je su s C ris to , e n E le te n h o doce p a z ” (W .K . T w eedie,
ed ., Select Biographies, 2:12). E le foi s e p u lta d o n o d ia 31 de
d e z e m b ro de 1662.
D u r a n te seus an o s co m o p ro fesso r, D ic k s o n d e s e m p e n h o u
u m im p o rta n te p a p e l n o e s ta b e le c im e n to do c ris tia n is m o
o rto d o x o em to d a a E scócia. S eus e sc rito s c o n trib u ír a m p a ra
essa in flu ê n c ia , p a rtic u la rm e n te a o b ra Therapeutica Sacra,
p u b lic a d a p rim e ira m e n te em la tim em 1656, e d e p o is em
inglês, em 1664, e p o r ú ltim o , re im p re ssa no liv ro Select Practical
Writings, no século dezenove. O s u b títu lo inglês dessa o b ra
era O Método de Curar as Doenças da Consciência com Respeito
à Regeneração. D ic k so n escreveu Praelectiones in Confessionem
Fidei, (liv ro p o s te rio rm e n te p u b lic a d o em in g lês com o Truth’s
Victory OverEnor), o p rim e iro c o m e n tá rio c o m p leto da C onfissão
de F é; c o m e n tá rio s so b re Salm os, M ate u s, as E p ísto las de
P aulo e H e b re u s ; e A Treatise on the Promises. T am bém a ju d o u
A lex an d e r E len d erso n e D a v id C ald erw o o d a escrev ere m u m
D ire c to ry for P u b lic W o rsh ip (c. 1643).
Seis dos se rm õ e s so b re a C eia do S e n h o r estão in c lu íd o s n a
o b ra Select Practical Writings. N as p a la v ra s de R o b e rt W odrow ,
esses se rm õ e s estão “c h e io s d e só lid o e s u b s ta n c ia l c o n te ú d o ,
m u ito b íb lic o , e n u m e stilo m u ito fa m ilia r, sem s e r s im p lis ta ,
m as e x tre m a m e n te v ig o ro so , claro e in f lu e n te ” . D ic k s o n foi
g ra n d e m e n te u sa d o p o r D e u s , ta n to n o m in is té rio p riv a d o

794
D a v id Dickson

c o m o n o p ú b lic o . A s pessoas v a lo riz a v a m g ra n d e m e n te seu


c o n s e lh o e s a b e d o ria e s p iritu a l. E le tin h a o d o m d e ap licar
p ie d o so c o n fo rto e e n c o ra ja m e n to às alm as n ece ssitad as.

The Epistles of Paul (p o r Ja m e s F e rg u s so n ) e Hebrews


(p o r D a v id D ic k s o n ) (B T T ; 600 p á g in a s; 1978), ta m b é m
p u b lic a d o s se p a ra d a m e n te , SG ; 82 p á g in a s; 2005). A pregação
de D ic k s o n e ra tão p o p u la r q u e os seu s p a ro q u ia n o s faziam
a n o ta ç õ e s dos seu s se rm õ e s e d e p o is as faziam c irc u la r e n tre
os seu s am ig o s. S e n tin d o a n e c e ssid a d e d e p u b lic a r exposições
claras e sim p le s das E s c ritu ra s , D ic k s o n c o m eço u u m p ro je to
d e s tin a d o “ a le v a r p a ra o h o m e m c o m u m o fru to m a d u ro do
tra b a lh o a c a d ê m ic o ” . Seu p rim e iro esforço, so b re H e b re u s
(1635), e sta b e le c e u o p a d rã o p a ra u m a sé rie de c o m e n tá rio s.
Seu m é to d o c o n s is tia em s u m a ria r c ad a seção da E p ísto la ,
d ep o is p ro v e r u m a exp o sição d o u trin á ria , e fin a lm e n te
d a r ap licaç õ es p rá tic a s. O c u rto v o lu m e so b re H e b re u s foi
im p re s so co m a e sp e ra n ç a de q u e “ a lg u m sucesso q u e fosse
d ad o a e ste “ p e d a ç o de c a rn e d u ra ” a n im a ria o u tro s a te n ta re m
p assag en s m e n o s d ifíceis das E s c ritu ra s ” .
Jam es F e rg u sso n (1621-1667), m in is tro em K ilw in n in g , foi
0 p rim e iro a a ju d a r D ic k so n nesse p ro jeto . N u m p e río d o de cerca
de dez anos, F erg u sso n p ro d u z iu c o m e n tá rio s so b re G álatas,
E fésios, F ilip e n se s, C olossenses e 1 e 2 T essalonicenses. Todos
eles fo ram in c lu íd o s, com a o b ra de D ic k so n so b re H eb reu s,
n u m v o lu m e p u b lic a d o em 1850 n a W ard ’s L ib ra ry o f S tan d a rd
D iv in ity . E ste v o lu m e é u m a reim p re ssã o dessa edição.
S o b re os e s c rito s de F e rg u s so n S p u rg e o n d iz: “Q u e m
p o ssu i esta o b ra está rico . O a u to r m a n e ja seu a ssu n to do
m e sm o m o d o de H u tc h e s o n e D ic k s o n , e ele é ta m b é m do
n ív e l d eles - u m g ra n d e , g rac io so e sab o ro so te ó lo g o ” . A
re sp e ito da p a rte de D ic k s o n , 0 c o m e n tá rio de H e b re u s , ele
escreve: “ P e g u e-o , e você e n c o n tra rá a b u n d a n te s su g estõ es de
u m a fie ira d e p ro v e ito so s p e n s a m e n to s ” .

795
PAIXAO P E L A PU R EZA

The Gospel of Matthew (B T T ; 416 p á g in a s; 1981). P u b lic a d o


p ela p rim e ira vez em 1647, e ste c o m e n tá rio é a c u ra d o e
o b rig a tó rio . D ic k s o n focaliza os e le m e n to s e sse n c ia is de u m a
p assag em das E s c ritu ra s , e x p lic a n d o 0 flu x o p rin c ip a l do
te x to sem se p e rd e r em m in ú c ia s exegéticas. D e p o is o ferece
a b u n d a n te s ap licaçõ es p rá tic a s . P o r e x e m p lo , q u a n d o e x p lica
M a te u s 16:25-28, D ic k s o n o ferece sete s u c in ta s razões p elas
q u ais os c ristã o s d ev em d is p o r-s e a p e rd e r suas v id a s p o r a m o r
a C risto . E sta o b ra está c a rre g a d a de firm e te o lo g ia, p ro fu n d o
a m o r a C risto e a g u d a s p e rc e p ç õ e s e sp iritu a is . E d ific a rá ta n to
0 p re g a d o r co m o o le ito r c o m u m .
S p u rg e o n c o n sid e ra v a e ste c o m e n tá rio u m a joia. “ P a ra
h o m e n s d a n o ssa escola, a o b ra c o n té m m a is su g e stõ e s
de serm õ es do q u e q u a lq u e r o u tra q u e já c o n h e c i” , d iz ele.
P o s te rio rm e n te ele escrev eu : “ D ic k s o n é u m e s c rito r s e g u n d o
0 n o sso coração. P a ra os p re g a d o re s ele é u m g ra n d e aliad o .
N ão h á n a d a de b r ilh a n te e p r o fu n d o ; m a s tu d o é claro e b e m
o rd e n a d o , e a u n ç ã o e sc o rre co m o o óleo d a cabeça de A rã o ” .

The Psalms (B T T ; 1.064 p á g in a s; 1959). O c o m e n tá rio foi


e sc rito n o au g e da c o n tro v é rsia e n tre os “ R e s o lu c io n is ta s ”
e os “ P ro te s ta d o re s ”, e foi p u b lic a d o e m trê s v o lu m e s em
1653,1654. T em p e rm a n e c id o atra v é s dos sécu lo s co m o u m
clássico d a ex p o siçã o escocesa. D ic k s o n oferece p e rc e p ç õ e s
de v á rio s S alm o s, e m b o ra seus c o m e n tá rio s n ã o se ja m tão
c o m p le to s co m o os de H e n ry A in s w o rth , em Annotations on
the Pentateuch and the Psalms, o u os de C h a rle s S p u rg e o n , em
The Treasury of David. A o b ra de D ic k s o n foi e s c rita m a is p a ra
o s a n to do q u e p a ra o e ru d ito . E u m a ale g ria 1er seu c o n c iso
tra ta m e n to dos S alm os e seu e stilo sin g elo .
S p u rg e o n o d e screv e co m o “ u m ric o v o lu m e , q u e g o te ja
g o rd u ra . In e s tim á v e l p a ra o p re g a d o r. T e n d o -o lid o e re lid o ,
p o d e m o s fala r de seu s a n to sa b o r e de su a riq u e z a d e su g estõ es.
N ós o re c o m e n d a m o s co m m u ito fe rv o r” .

796
D a v id Dickson

Truth’s Victory over Error (PA : 239 p á g in a s; 2002). D ic k s o n se


d is tin g u e p o r te r e sc rito o p rim e iro c o m e n tá rio da C onfissão
de F é d e W e stm in ste r. E le coloca as p ro p o siç õ e s da C onfissão
em fo rm a de p e rg u n ta s , re s p o n d e n d o -a s a firm a tiv a ou
n e g a tiv a m e n te . D e p o is ele ex p õ e o p in iõ e s c o n trá ria s à p o sição
c o n fe ssio n a l e as re fu ta p o r m e io de co n c iso s a rg u m e n to s
b íb lic o s. O g lo ssá rio de h e re sia s, fe ito p o r D ic k s o n , foi
m a n tid o , e u m a b io g ra fia do a u to r, da la v ra d e R o b e rt W odrow ,
ta m b é m foi in c lu íd a .

797
James Durham
(1622-1658)

a m e s D u r h a m , u m a d a s m a is b r i l h a n t e s m e n te s
d a E s c ó c ia , n a s c e u n u m la r ric o . F o i o f ilh o m a is
v e lh o d e A le x a n d e r D u r h a m e d e H e le n R a m s a y , f ilh a
d o a r q u id iá c o n o d e D u n k e ld . D u r h a m e s tu d o u n a
U n iv e r s id a d e d e S t. A n d re w , m a s n ã o se g r a d u o u , e a fim
d e p o d e r s e g u ir n a v id a c o m o u m fid a lg o r u r a l.
D u r h a m fo i c o n v e r tid o lo g o d e p o is d e h a v e r se c a sa d o
co m A n n a D u r h a m , d e D u n ta r v ie . E le c h e g o u a u m a p r o f u n d a
c o n v ic ç ã o re lig io s a q u a n d o e s ta v a v is ita n d o p a r e n te s d e
su a e sp o sa e m A b e r c o r n , p e r to d e E d im b u r g o . S u a s o g ra o
p e r s u a d iu a ir à ig re ja n o s á b a d o a n te r io r à c e le b ra ç ã o da
C eia d o S e n h o r. D u r h a m r e lu ta n te m e n te fo i, m a s fic o u
m u ito im p r e s s io n a d o c o m o c u lto . T e n d o v o lta d o p a ra casa,
d isse , à so g ra : “ O m in is tr o p re g o u m u ito s e r ia m e n te h o je ,
e n ã o é p re c is o in s is tir c o m ig o p a r a e u ir à ig re ja a m a n h ã ” .
N a m a n h ã s e g u in te , E p h r a im M e lv ille p re g o u b a s e a d o e m
1 P e d ro 2 :7 : “ E a s s im , p a r a v ó s, os q u e c re d e s , é p re c io s a ” .
D e p o is d e o u v ir a p re g a ç ã o s o b re a p le n itu d e e a p re c io s i-
d a d e d e C ris to , D u r h a m fo i h a b ilita d o a “ u n ir - s e a C r is to ”
p e la fé e a s e n ta r - s e à M e s a d o S e n h o r. P o s te r io r m e n te
D u r h a m ir ia re fe rir-s e a M e lv ille c o m o “ m e u p a i” .

798
Jam es Durham

As e x p eriên cia s de D u rh a m nesse e x tra o rd in á rio d o m in g o ,


c o m b in a d a s com seu in te n s o e stu d o das E sc ritu ra s e com
suas d iv ersas ex p eriên cia s com o cap itão n o ex ército escocês
d u ra n te a G u e rra C ivil da década de 1640, lev aram D u rh a m
à certeza da salvação em C risto . Q u a n d o , c a su alm en te, D av id
D ic k so n o u v iu D u rh a m o ra r com os seus soldados, ficou tão
im p re ssio n a d o q u e in s is tiu com D u rh a m q u e estu d asse p ara
0 m in is té rio , d iz en d o : “ V á p a ra casa, sen h o r, p o is parece que
foi c h a m a d o p a ra o u tro tra b a lh o , n ão p a ra e ste!” (R. W odrow ,
Analecta, 3:109). P ouco depois disso, a v id a de D u rh a m foi
p o u p a d a n o ta v e lm e n te , p rim e iro , ao ser baleado e m o rto 0 seu
cavalo e n q u a n to ele cavalgava, e, seg u n d o , q u a n d o um soldado
inglês q u e estava p re ste s a m a ta r D u rh a m o v iu v e stid o de
ro u p a p re ta e, p e n sa n d o q u e ele era u m m in is tro , p o u p o u -lh e
a vida.
A cresc e n te percep ção q u e D u rh a m teve de q u e D eu s 0
ch am av a p a ra o m in is té rio o p e rs u a d iu a m a tric u la r-se na
U n iv e rsid a d e de G lasgow p a ra e s tu d a r teologia sob D ick so n .
Os v iz in h o s e os am igos se m a ra v ilh a ra m ao ver u m h o m e m da
sua e stirp e social re n u n c ia r a u m a v id a de luxo e e n tre g a r-se
aos e stu d o s teológicos, m as D u rh a m p e rm a n e c e u irre d u tív e l.
N a ocasião em q u e o b te v e o g rau de M e stre em A rtes, em 1647,
ele estava co m v in te e cin co an o s de id a d e. N esse m esm o
ano , ele foi o rd e n a d o m in is tro p a ra a zo n a su l da p a ró q u ia de
B la c k fria rs , G lasgow , o n d e s e rv iu fie lm e n te p o r q u a s e trê s
anos.
E m 1650, D u r h a m foi n o m e a d o p ro fe s s o r de teo lo g ia
n a U n iv e rs id a d e de G lasgow p a ra s u b s titu ir seu an tig o
p ro fesso r, D a v id D ic k s o n . A n te s de p o d e r a s s u m ir seus
dev eres, a A sse m b lé ia G eral o n o m e o u capelão da casa real
dos S tu a rt, p a rtic u la rm e n te de C h a rle s, filh o do re i q u e tin h a
sido e x e c u ta d o n o a n o a n te rio r. N esse ín te r im , fo rm a v a m ­
-se p ro b le m a s e n tre a I n g la te rra e a E scócia. O liv e r C ro m w ell
veio à E sc ó c ia e d e rro to u os escoceses n a b a ta lh a de D u n b a r.
D u r a n te su a p e rm a n ê n c ia n a E scó cia, C ro m w e ll o u v iu

799
PAIXAO P E L A PU R EZA

D u rh a m p re g a r e ficou g ra n d e m e n te im p re s sio n a d o . C h a rle s


S tu a rt logo e n tro u n a I n g la te rra co m o e x é rc ito escocês, m as
C ro m w ell o d e rro to u n a b a ta lh a de W orcester. C h a rle s fu g iu
p a ra o c o n tin e n te .
D e p o is de p e rd e r seu p o sto d e capelão d a casa real,
D u rh a m in q u ir iu s o b re a p o s s ib ilid a d e de re to m a r suas
fu n çõ es n a U n iv e rs id a d e d e G lasgow , m as essa o p o rtu n id a d e
lh e foi n eg ad a . E m vez d isso , em 1651, ele se to rn o u m in is tr o
em St. M u n g o ’s, G lasgow , u m re b a n h o d e u m a s 1.500 alm as,
e lá p e rm a n e c e u p elo re s ta n te de su a vida. L o g o ele se to rn o u
c o n h e c id o ali p o r su a p ie d a d e , sa b e d o ria e e ru d iç ã o . E le foi
u m p re g a d o r p o d e ro so e e s p e c ia lm e n te d o ta d o p a ra re s o lv e r
casos de c o n sc iê n c ia . J o h n C a rsta irs d e s c re v e u -0 c o m o “ u m
p re g a d o r m u ito fra n c o e p e n e tr a n te q u e [ia] aos m a is ín tim o s
re c a n to s d o ser in te r io r d as pessoas, [em b o ra] co m c a u te la e
m a n s id ã o , sem d a r a n e n h u m d o s seu s o u v in te s a m ín im a
b a se p a ra se a b o rre c e r o u se im p a c ie n ta r c o m a lib e rd a d e
c o m q u e ele o tra ta v a ” .
D u rh a m e ra u m h o m e m h u m ild e . C o m o c o rre u m a
h is tó ria , ele e A n d re w G ra y estav a m a n d a n d o ju n to s n u m c e rto
d o m in g o , cad a u m p a ra p re g a r n u m a ig reja d ife re n te . N o ta n d o
q u e m u ita s pessoas ia m p a ra a ig reja n a q u a l G ra y ia p reg ar,
D u rh a m o b se rv o u : “Irm ã o , p e rc e b o q u e p ro v a v e lm e n te você
vai te r u m a ig reja s u p e rlo ta d a h o je ” .
G ray, q u e tin h a u n s v in te an o s de id a d e , re p lic o u : “ É
v e rd a d e , irm ã o ; eles são b o b o s de d e ix a r você e v ir a m im ” .
D u rh a m re p lic o u : “ N ão é assim , c aro irm ã o , p o is n in g u é m
p o d e re c e b e r tal h o n ra e tal su cesso em seu m in is té rio , a
não ser q u e lh e s sejam d a d o s do céu. A le g ro -m e q u e C risto
seja p re g a d o e q u e Seu re in o e 0 in te re s se p o r E le este ja m
[g a n h a n d o ] te rre n o , e q u e Sua h o n ra e Sua e s tim a c resçam ,
a in d a q u e a e s tim a a m im v o ta d a d im in u a n o s co raç õ es do
p o v o ; p o is fic o c o n t e n te e m s e r q u a lq u e r c o is a o u n a d a ,
p a r a q u e C ris to seja tu d o em to d o s ” .
D u rh a m era u m h o m e m m u ito sério. A lg u n s d iz ia m q u e

800
Jam es Durham

ele “p a re c ia u m v elh o q u e ra ra m e n te s o rria ” . C o n tu d o , certa


n o ite , n a casa de u m p a ro q u ia n o , ele estav a g o sta n d o ta n to da
c o m p a n h ia de W illia m G u th r ie q u e riu m u ita s vezes. Q u a n d o
p e d ira m a G u th rie q u e o rasse d ep o is do ja n ta r e ele 0 fez com
g ra n d e fervor, D u r h a m lh e disse: “ W illia m , você é u m h o m e m
fe liz ; se e u fo sse tã o a le g re c o m o v o c ê , e u n ã o p o d e r ia fic a r
tã o s é r io e n ã o t e r i a c o n d i ç õ e s d e o r a r s e n ã o d e p o i s d e
q u a r e n t a e o ito h o ra s ” .
A h u m ild a d e e a seried a d e de D u rh a m eram especialm ente
ev id en tes em sua pregação e d u ra n te as ocasiões de a d m in is ­
tração da C eia do S enhor. A lguns d iziam que nessas ocasiões
ele lhes falava “ com o u m h o m e m que tin h a estado no céu,
re c o m e n d a n d o Jesus C risto , d esfrald a n d o g lo rio sa m en te a
b a n d e ira da liv re graça, expo n d o m u ito clara e c o n v in c e n te m e n te
suas riq u ezas e a b ra n d a n d o c o n d e sc e n d e n te m e n te suas ofertas” .
Q u a n d o ele estava p reg a n d o sobre M ateu s 22:4, “ 0 cordel ou
a corda da o ferta da salvação foi baixada e ficou p e n d e n d o tão
p erto dos p ecadores que, m esm o os de m ais baixa e sta tu ra que,
d e n tre eles, m o tiv ad o s pela graça, tin h a m algum a in ten ção de
agarrá-la, fizeram isso” . N a verd ad e alg u n s se p erg u n ta v am
com o alguém p o d e ria re cu sar o evangelho q u a n d o esse era “ tão
forte e u rg e n te m e n te ap resen tad o , e em term os tão suaves e
fáceis de ab raçá-lo ” .
A m u lh e r de D u rh a m m o rre u em 1648. E le caso u -se
n o v a m e n te c in c o a n o s m a is ta rd e . A se g u n d a esposa foi
M a rg a re t M u re , v iú v a de Z a c h a ry B oyd, n o tá v e l m in is tro
em G lasgow . A p en as c in c o an o s d ep o is d e casados, a saú d e
de D u rh a m d e c lin o u . N a p rim e ira m e ta d e do a n o de 1658,
ele fico u c o n fin a d o em casa. D u r a n te os ú ltim o s m eses desse
p e río d o , ele c o n c lu iu seu v o lu m o so c o m e n tá rio do A p o calip se
e e screv eu seu clássico so b re e scân d a lo com o u m ú ltim o
esforço p a ra e sta b e le c e r a p a z e n tre os “ R e s o lu c io n is ta s ” e os
“ P ro te s ta d o re s ” n a q u e le s tu m u ltu a d o s te m p o s.
D u r h a m foi a to rm e n ta d o p ela d ú v id a em seu le ito de
m o rte . E le d isse a J o h n C a rsta irs, seu c u n h a d o e colega:

801
PAIXAO P E L A PU R EZA

“ Irm ã o , com tu d o o q u e te n h o p re g a d o e e sc rito , h á só u m a


passagem das E s c ritu ra s q u e posso le m b ra r ou c a p ta r; d ig a -m e
se posso c o lo car to d o 0 peso da m in h a salvação so b re ela: “O
que vem a mim de maneira nenhuma 0 lançarei fora”. N o fim , a
graça triu n fo u . P o u co a n te s de m o rre r, D u rh a m b ra d o u com
sa n to gozo: “A caso o S e n h o r n ão é b o m ? P o rv e n tu ra E le n ã o é
in f in ita m e n te b o m ? V ejam c o m o E le so rri! Isso é o q u e d ig o
e p ro c la m o ” (J o h n H o w ie, Lives of Scottish Covenanters, p. 216).
Ja m e s D u rh a m m o rre u q u a n d o estav a com tr in ta e c in c o
an o s de id a d e , n o d ia 25 de ju n h o de 1658. F oi p a s to r p o r
ap en a s o n ze a n o s, m a s se rv iu b e m d u r a n te esse te m p o . E le
e stu d a v a e tra b a lh a v a tã o a rd u a m e n te q u e a lg u n s a c h a v a m
q u e isso a p re ssa ra sua m o rte . M as ele g o stav a de tra b a lh a r.
E le d iz ia q u e se p u d e sse v iv e r m a is d ez an o s, g o sta ria de v iv e r
nove an o s p a ra os e stu d o s p a ra p re g a r n o d é c im o ano.
D u rh a m foi ta m b é m u m e s c rito r p ro lífic o . M u ito s d o s seus
liv ro s fo ra m p u b lic a d o s d ep o is de su a m o rte . A lg u n s d o s seus
liv ro s in é d ito s a in d a e x iste m , e eles s u p o s ta m e n te in c lu e m
b o m n ú m e ro de se rm õ e s so b re o E s p írito S an to e c in q u e n ta
e trê s serm õ es p re g a d o s so b re o c a p ítu lo c in c o d e C a n ta re s
de S alom ão. O s e sc rito s de D u rh a m são a rd o ro s a m e n te
d ev o cio n ais e im p re g n a d o s de b o n s c o n selh o s.

The Blessed Death o f Those Who Die in the Lord ( S D G ;


129 p á g in a s ; 2003). D e p o is d e e s ta b e le c e r a c e rte z a d a
m o r te , e s ta e x p o s iç ã o d e A p o c a lip s e 14:13 m o s tr a a b e m -
-a v e n tu r a n ç a d o s c r e n te s q u e m o r r e m n o S e n h o r e a m is é r ia
d o s q u e r e je ita m C ris to . A o b r a p r o m o v e m e d ita ç ã o s o b re
a m o r te e a n o s s a p r e p a ra ç ã o p a ra ela. D u r h a m p ro v ê
n u m e ro s a s d ire triz e s p a ra as p e sso a s m o rre re m n o
S e n h o r e m o s tr a o q u e fa z e r q u a n d o a m o r te c h e g a d e
r e p e n te . O liv ro c o n c lu i c o m u m v ib r a n te c a p ítu lo s o b re
“ e n c o r a ja m e n to n a h o r a d a m o r t e ” , o q u a l m o s tr a c o m o

802
James Durham

c a d a p e s s o a d a T r in d a d e s a n tif ic a a m o r te p a ra o cren te.

The Book of Revelation (O P ; 1.035 p á g in a s; 2000). E ste


v o lu m o so c o m e n tá rio , o rig in a lm e n te im p re sso em 1658
e re im p re s so o ito vezes n o século s e g u in te , baseia-se
em o b serv açõ es so b re a le itu ra das E s c ritu ra s (c h a m a d a
“ p re le ç ã o ” ) q u e D u rh a m fazia to d o s os d o m in g o s pouco
a n te s do serm ão . R o b e rt B aillie, escocês c o m issio n a d o p ara
a A sse m b lé ia de W e stm in ste r, escrev eu : “ N ão q u e r d iz er
n a d a q u e o s u m a m e n te ju d ic io so C alv in e 0 ag u d o Beza, com
m u ito s o u tro s p ro fu n d o s teólo g o s, n u n c a se s e n tira m m o v id o s
a te n ta r a lg u m á ex p licaç ão desse liv ro {do A p o calip se }, m as
esp ero p o d e r a firm a r o u s a d a m e n te , sem risco de n e n h u m a
c e n s u ra p e sa d a , q u e aí está la n ç a d a u m a ta l p o n te so b re esse
fu n d o rio , q u e q u e m p a ssa r p o r ela te rá m o tiv o p a ra b e n d iz e r
D e u s p elo tra b a lh o do a u to r ” .
Você n ã o p re c isa c o n c o rd a r com to d a s as in te rp re ta ç õ e s
de D u r h a m p a ra b e n e fic ia r-s e da le itu ra d e sta ob ra. C om o
d isse S p u rg e o n , “ D e p o is de tu d o o q u e te m sid o e sc rito {sobre
A p o calip se }, n ão se ria fácil e n c o n tra r o b ra m ais sen sív el e
m a is in s tr u tiv a do q u e esta a n tiq u a d a exposição. N ão p o d e m o s
a c e ita r suas in te rp re ta ç õ e s dos m isté rio s , m as 0 m isté rio do
e v a n g e lh o o deix a im p re g n a d o de ag rad á v el s a b o r” .
U m b ô n u s p a ra este c o m e n tá rio de D u rh a m é seu escrito
so b re u m a v a rie d a d e de “Q u e stõ e s e C o n tro v é rs ia s ” . P o r
ex em p lo , su a e x p lan ação so b re a vocação p a ra 0 m in is té rio
(pp. 66-83) é u m a das m a is claras já escrita s so b re este
a s s u n to fre q u e n te m e n te m al c o m p re e n d id o . E sses escursos,
in s e rid o s a p e d id o de D u r h a m , a b ra n g e m q u ase u m q u a rto
do c o m e n tá rio .

Christ Crucified: Or the Marrow of the Gospel in 72


Sermons on Isaiah S3 (N P ; 704 p á g in a s; 2000). P u b lic a d o
p rim e ira m e n te em 1683, d ep o is em 1686, esta coleção de
s e rm õ e s foi re im p re s s a seis vezes n o sé c u lo d e z o ito . A

803
PAIXAO P E L A PU R EZA

p re s e n te re im p re ssã o foi p re p a ra d a b ela e c u id a d o s a m e n te ;


u tiliz a a e d iç ã o d e 1702, c o m o b a se d o te x to , m a s ta m b é m
lev a em c o n ta o u tra s edições.
E ste liv ro p e rte n c e à classe da o b ra d e F rie d ric h
K ru m m a c h e r, The Suffering Savior. C o m o K ru m m a c h e r,
D u rh a m teve o d o m de d e sc re v e r os so frim e n to s de C risto
m e d ia n te ilu stra ç õ e s, e m b o ra su a lin g u a g e m seja a tu a lm e n te
a n tiq u a d a . P o r ex e m p lo , ao d e sc re v e r a a g o n ia de C ris to no
G e tsê m a n i, ele escreve, “ H o u v e ta l lu ta , peleja e c o n flito , n ão
com o h o m e m e x te rio r a ele, m a s com p ressõ es in te rn a s so b re
0 seu e s p írito , q u e ele, co m o q u e em m e io a u m a b a rra g e m
de a rtilh a ria , o u n u m a a re n a de b rig a de galo, o u e n v o lv id o
n u m d u e lo co m u m fo rte c o m b a te n te , co m aflição m u ito
além da p o s s ib ilid a d e de se co n ce b er, c h e g o u a s u a r g otas
com o de s a n g u e ” . O sex ag ésim o n o n o se rm ã o , so b re 0 uso da
in te rc e ssã o , é u m a o b ra -p rim a .
E ste é u m liv ro e x c e le n te p a ra os c re n te s q u e a n e la m m a is
ín tim a c o m u n h ã o co m C risto em S eus s o frim e n to s . J o h n
D u n c a n d isse a u m am ig o q u e q u e ria c h e g a r m a is p e rto de
C risto : “ L e ia D u rh a m so b re o c a p ítu lo c in q u e n ta e trê s de
Isaías a m e u p e d id o . E le é re p e titiv o e ta lv ez você se a b o rre ç a
com isso. M as é re p e tiç ã o de algo m u ito ag ra d á v e l, algo q u e
fala em c o m e r a c a rn e de C risto e em b e b e r Seu san g u e. B em ,
é isso q u e te m o s q u e re p e tir, de fato , to d a a n o ssa v id a ” .
The Manow of the Gospel é u m dos m e lh o re s c o m e n tá rio s
já e sc rito s so b re a P essoa de C risto e S ua o b ra n a re d e n ç ã o .
C h arles S p u rg e o n re c o m e n d o u fo rte m e n te e ste liv ro , d iz e n d o :
“ V e rd a d e ira m e n te , isto é m e d u la . N ão p re c isa m o s d iz e r m a is
n ad a: D u rh a m é u m p rín c ip e e n tre os e x p o sito re s e s p iritu a is ” .
O u tro s tê m d ito q u e e sta o b ra ig u ala, se n ã o su p e ra , to d a s as
d e m a is p u b lic a ç õ e s d e D u rh a m .

Concerning Scandal (N P ; 400 p á g in a s; 1990). E sta o b ra foi


p u b lic a d a p o s tu m a m e n te co m o A Dying Man’s Testament to the
Church of Scotland (1659). D u rh a m d ito u a ú ltim a p a re d éla de

804
Jam es Durham

seu le ito de m o rte . O liv ro exp lica as ofensas e os escân d a lo s


p a rtic u la re s, a d is c ip lin a da Ig reja, o p eca d o de e sp a lh a r
ru m o re s e sc a n d a lo so s, e as d iv isõ e s e n tre as ig rejas e os m eios
p a ra u n i-la s . D u r h a m fala ta m b é m d e e rro s esca n d a lo so s:
co m o eles se e s p a lh a m , 0 p ro p ó s ito de D e u s co m eles, as a s tú ­
cias de sa ta n á s n a p ro p ag aç ão do e rro , e o d e v e r dos c re n te s
q u a n d o o e rro prev alece. O c o n se lh o de D u rh a m aos m in is tro s
so b re co m o d ev em a g ir com q u e m e rra é p a rtic u la rm e n te
esclarecedor. E le d is c u te q u a tro passos: d e sc o b e rta (ou exam e),
c o n v icção , a d m o e sta ç ã o e rejeição.
E m b o ra d ifíc il de le r às vezes, este liv ro m ere ce e sm era d o
e stu d o . D u rh a m s a lie n ta q u ão lo n g e cada m e m b ro e cada
oficial da Ig re ja d ev em ir ao se rv ir o u tro s p a ra a edificação do
c o rp o d e C risto . E sta o b ra foi e sc rita p a ra a ju d a r a re c o n c ilia r
p a rtid o s d iv id id o s (os “ R e s o lu c io n is ta s ” e os “ P ro te s ta d o re s ” )
d e n tro da Ig re ja da E scó cia, da q u a l D u rh a m era m e m b ro .
J o h n M a c L e o d d isse a re s p e ito d e s te liv ro : “ D e h á m u ito
te m sid o c o n s id e ra d o co m o o clássico escocês so b re 0 seu
tó p ic o ” (Scottish Theolgy, p. 95).

Lectures on Jo b (N P ; 240 p á g in a s; 1995). E sta o b ra tra ta de


to d o s os c a p ítu lo s de Jó e in c lu i aplicações p rá tic a s no fim
de cada c a p ítu lo . O c o m e n tá rio de D u rh a m foi im p resso
p ela ú ltim a vez em 1759, e so b re essa p u b lic a ç ã o esta edição
e stá b aseada. O s d iv e rso s acré sc im o s e d ito ria is feitos p o r
C h ris to p h e r C oldw ell são ú te is p a ra o le ito r m o d e rn o .
O liv ro está re p le to de c o n te ú d o e s p iritu a l. D u rh a m não
te m m e d o de a d v e rtir os seus le ito re s da ira v in d o u ra . Eis
u m ex e m p lo , e x tra íd o da expo sição q u e D u rh a m faz de Jó,
c a p ítu lo 3: “O b se rv e q u e n ão há n a d a tão te rrív e l co m o a ira
de D e u s q u a n d o ela o lh a de fre n te a alm a. Isso fez D av i urrar.
E se D e u s é tão te rrív e l p a ra com Seus filh o s na m a n e ira de
p ro v á -lo s, q u ão te rrív e l E le será p a ra com os ím p io s, q u a n d o
E le vai s o lta r n ão só u m d e m ô n io , m as to d o s os d e m ô n io s do
in fe rn o , sem lh e s im p o r n e n h u m a lim ita ç ã o , e os c o n d e n a d o s
n ã o te rã o n e m paz n e m boa c o n sc iê n c ia co m o Jó as teve?

805
ΡΑΙΧ AO ΡΗ LA PUREZA

Q u a n d o o p o u c o q u e Jó s e n tiu é tão te rrív e l, q u e será q u a n d o


a ira do g ra n d e e vivo D e u s e o p e c a d o r não re c o n c ilia d o se
e n c o n tr a r e m ? T em a e n c o n tr a r - s e c o m D e u s [co m ] o cálic e
de sua ira p a ra {você] b e b e r ” .

A Practcial Exposition of the Ten Commandments (N P ; 425


p á g in a s; 2002). O s e sc rito s de D u rh a m fo ram p o p u la re s d u ra n te
q uase dois sécu lo s d ep o is de sua m o rte. G eo rg e C h ris tie d isse
q u e v in te e seis im p re n s a s p u b lic a d o ra s em o ito c id a d e s da
E scócia, da In g la te rra e da H o la n d a estav a m e n v o lv id a s no
tra b a lh o de p u b lic a r u m ou m ais liv ro s de D u rh a m . “ E m
cada d écad a e n tre sua m o rte e o p rin c íp io do século d eze n o v e,
pelo m e n o s u m dos seus liv ro s foi p u b lic a d o ” , d isse C h ris tie ,
(“A B ib lio g ra p h y o f Ja m e s D u rh a m ” ) Papers of the Edinburgh
Bibliographical Society, 1918, p. 35). D as s e te n ta p u b lic a ç õ e s de
livros de D u rh a m n aq u e le s p rim e iro s sécu lo s, sua exp o sição
dos D ez M a n d a m e n to s , fre q u e n te m e n te p u b lic a d a co m o The
Law Unsealed, foi o títu lo m ais p o p u la r.
0 tra ta m e n to d ad o p o r D u rh a m à lei m o ra l é ex c e le n te ,
e m b o ra nào p o r ig u a l; o ite n ta e seis p á g in a s são d e d ic a d a s
ao q u a rto m a n d a m e n to , ao passo q u e só o ito p á g in a s são
d e d icad as ao sexto e ao n o n o m a n d a m e n to s. Suas seções so b re
o c u lto em fa m ília (pp. 221-235) e so b re a m u d a n ç a do sé tim o
d ia p a ra o p rim e iro (pp. 249-264) são p a r tic u la rm e n te úteis.
A p re s e n te edição é a p rim e ira re im p re ssã o em d u z e n to s
anos. O te x to , basead o em d iv e rsas p u b lic a ç õ e s a n te rio re s ,
foi b em p re p a ra d o e d ito ria lm e n te . P ela p rim e ira vez este
liv ro in c lu i ín d ic e s de a u to re s e de p assag en s das E s c ritu ra s .
E ste é u m belo v o lu m e , d e s tin a d o a u m a g ra n d e v a rie d a d e de
a u d iê n c ia s, e essen cia l p a ra os p re g a d o re s. P oucas p a rle s d este
liv ro p are c e m d atadas.

The Song of Solomon (B T T ; 460 p á g in a s; 1982). P u b lic a d o


pela p rim e ira vez em 1668, este c o m e n tá rio de C a n ta re s de
S alom ão é in te ira m e n te e v an g é lic o , e s p iritu a l e p e n e tra n te .

806
James Durham

D u rh a m c o n s id e ro u o c â n tic o em seu s e n tid o h istó ric o e


ale g ó ric o , d a n d o to d o o peso à relação e n tre C risto e Sua Igreja.
D u rh a m diz q u e q u a tro p ré -re q u isito s h a b ilita m os cre n te s
a se b e n e fic ia re m de C a n ta re s de S alom ão: c o n h e c im e n to de
to d a s as E s c ritu ra s , u m c o n h e c im e n to pessoal dos c a m in h o s
de D e u s com v ista aos corações dos h o m e n s, um e sp írito
d is c ip lin a d o e te rn o , e c o m u n h ã o com C risto em oração
ro g a n d o o p o d e r ilu m in a d o r do E s p írito Santo.
S p u rg e o n escrev eu so b re este livro: “ D u rh a m é sem p re
b o m , e está em seu m e lh o r n ív e l esc re v e n d o so b re C an tares.
E le dá a essên cia da boa m a té ria . Q u a n to ao uso p rá tic o ,
esta o b ra é, talvez, m ais ú til do q u e q u a lq u e r o u tra chave de
C a n ta re s ” .

The Unsearchable Riches of Christ (S D G ; 375 p á g in a s; 2002).


D u rh a m p re g o u o rig in a lm e n te os c a to rz e serm õ es deste
v o lu m e p a ra a sua co n g reg ação de G lasgow com o serm ões
p a ra os c u lto s da C eia do S en h o r. C ada serm ão exp lica as
riq u e z a s da graça q u e se a ch a m em C risto Jesus. A lém de
q u a tro se rm õ e s so b re a relação p a c tu a i com D e u s, os serm õ es
a b ra n g e m o p e rig o da p a rtic ip a ç ã o in d ig n a na C eia, o pecado
de n ão d is c e rn ir o c o rp o de C risto , os fo rtes c o n v ite s c o n tid o s
nas p ro c la m a ç õ e s do e v a n g e lh o , 0 p e rig o de re to rn a r à lo u c u ra
d e p o is de c o n h e c e r a paz de D e u s, a ad esão a C ris to p ela fé,
a r e m is s ã o d o s p e c a d o s m e d ia n te o s a n g u e d e C r is to , e a
d o c e c o m u n h ã o com C risto no céu.

807
Ebenezer Erskine Ralph Erskine
(1680-1754) (1685-1752)

ev id o ao e n tre la ç a m e n to de seus m in is té rio s , os irm ã o s


D E rs k in e são c o n s id e ra d o s ju n to s. E b e n e z e r E rs k in e
n asceu em D ry b u rg h , E scó cia, em 1680. C in c o a n o s m a is
ta rd e , seu irm ã o , R a lp h , n asceu em M o n ila w s, p e rto de
C o rn h ill, N o rth u m b e rla n d , o c o n d a d o do e x tre m o n o rte da
In g la te rra . O p ai d eles, H e n ry , era u m m in is tro p u r ita n o q u e
tin h a sid o fo rçad o pelo A to de U n ifo rm id a d e a d e s o c u p a r su a
casa e seu p a s to ra d o em C o rn h ill em 1662. A m ãe de E b e n e z e r
e de R a lp h foi M a rg a re t H a lc ro , s e g u n d a esp o sa de H e n ry
E rsk in e . A m b o s os pais era m de p re stig io so s a n te c e d e n te s e
e s tre ita m e n te lig ad o s à n o b re z a escocesa.
As v idas dos m e n in o s so fre ra m tra n s to rn o q u a n d o seu p ai
se rec u so u a r e n u n c ia r à S olene L ig a e A lian ça. A A sse m b lé ia
E scocesa m e n o sp re z o u os p rin c íp io s p u rita n o s do p reg ad o r.
Q u a n d o E b e n e z e r estava com d o is an o s de id a d e , seu p ai foi
d e tid o e c o n d e n a d o ao e n c a rc e ra m e n to n a Bass R o ck p o r
ex erc er seu ofício m in is te ria l ile g a lm e n te “ a b s te n d o -s e das
o rd e n a n ç a s, m a n te n d o c o n v e n tíc u lo s, e te n d o so b re si a c u lp a
de m in is tra r b a tism o s d e s o rd e n a d a m e n te ” . O C o m itê do
C o n se lh o P riv a d o in te rro g o u H e n ry E rs k in e d u ra n te h o ra s
e fin a lm e n te p e rg u n to u se ele p ro m e tia não p re g a r m a is em

808
EAIXAO FHLA PUREZA

c o n v e n tíc u lo s. E rs k in e re p lic o u : “ M eu s e n h o r, a co m issã o


q u e te n h o , rece b i de C ris to , e, a in d a q u e eu estiv e sse a u m a
h o ra da m in h a m o rte , n ão o u s a ria d eix á-la c a ir aos p és de
n e n h u m m o rta l” .
A seu p e d id o , a s e n te n ç a de p risã o de E rs k in e , n a Bass
R ock, foi c o m u ta d a p a ra o exílio , d ev id o à su a p re c á ria
saúde. E le e sua fa m ília se m u d a ra m p a ra a In g la te rra e se
esta b e le c e ra m em P a rk rid g e , p e rto de C arlisle. D e lá eles
foram p a ra M o n ila w s, o n d e E rs k in e foi n o v a m e n te d e tid o e
e n c a rc e ra d o p o r a lg u n s m eses p o r p re g a r em c o n v e n tíc u lo s.
D ep o is E rs k in e p reg o u na p a ró q u ia fro n te iriç a de W h its o m e ,
o n d e a ju d o u a levar T h o m a s B o sto n a C risto , co m a id a d e de
onze anos. A in d u lg ê n c ia real de 1687 h a b ilito u -o a c o n tin u a r
seu m in is té rio sem te m o r de d e ten ção . E m 1690, q u a n d o
E b e n e z e r estava com dez anos de id a d e e R a lp h com c in c o , seu
pai foi a d m itid o na p a ró q u ia de C h irn s id e , p e rto de B erw ick ,
na reg ião su d e s te da E scó cia, o n d e ele m in is tr o u até sua
m o rte , o c o rrid a em 1696, com s e te n ta e d o is an o s de id ad e.
E b e n e z e r E rs k in e foi p a ra a U n iv e rs id a d e de E d im b u rg o ,
o n d e p rim e iro e s tu d o u filosofia e os clássicos, e d e p o is o b te v e
0 g rau de M e stre em T eologia, em 1697. E le serv iu co m o
p re c e p to r e cap elão da fam ília te m e n te a D e u s do C o n d e de
R o th e s até q u a n d o foi lic e n c ia d o , em 1703, pelo P re s b ité rio
de K irk c a ld y , e o rd e n a d o p a ra s e rv ir em P o rtm o a k , p e rto de
K in ro ss, o n d e m in is tra ria d u r a n te os p ró x im o s v in te e o ito
anos. N o an o em q u e foi o rd e n a d o , ele se casou com A liso n
T u rp ie, m u lh e r te m e n te a D e u s q u e teve p ro fu n d a in flu ê n c ia
e s p iritu a l so b re ele.
O s p rim e iro s an o s de E rs k in e em P o rtm o a k fo ram
d ifíceis, em g ra n d e p a rte d ev id o a u m a b a ta lh a e s p iritu a l q u e
ele tra v o u co n sig o m e sm o d ep o is de o u v ir c a s u a lm e n te u m a
co n v ersa so b re as “ p ro fu n d e z a s de D e u s ” e n tre R a lp h e sua
m u lh er. A d iscu ssão desse a ssu n to c o n v e n c e u E b e n e z e r de
que a in d a não era c o n v e rtid o . A pós um a n o de lu ta e s p iritu a l,
fin a lm e n te com eçou a e x p e rim e n ta r 0 q u e ele c h a m a v a “ a

810
Ebcnezer Erskinc & Ralph Erskine

v e rd a d e ira g raça de D e u s ” . N o verão de 1708, E rs k in e escreveu


em seu v o lu m o so d iá rio q u e fin a lm e n te “ c o n se g u iu elev ar sua
cabeça do T em po p a ra a E te rn id a d e ” . N o d ia 26 de agosto
ele e screv eu q u e D e u s “ tin h a levado o m eu coração a d a r-lh e
c o n s e n tim e n to ” e q u e agora estava certo de q u e D e u s n u n c a
p o d e ría “ n e g a r Sua a lia n ç a ” com ele. P o r o u tro la d o , E rs k in e
fez u m a a lia n ç a com D eu s. E le escreveu:

S en h o r, se p ra tiq u e i in iq u id a d e , esto u reso lv id o ,


m e d ia n te Tua graça, a não p ra tic á -la m ais. E ujo, em
b u sc a do sa n g u e de Je su s e su a ju stiça e te rn a com o
re fú g io , p o is é isso q u e Te agrada. O fereço m e u ser,
m in h a alm a e m eu co rp o a D eu s 0 P ai, o E ilh o e o
E s p írito S anto. O fereço m eu ser a C risto , o S en h o r,
co m o u m o b je to p ro p íc io a q u e so b re m eu ser
sejam ex erc id o s to d o s os seus ofícios. E u O escolho
co m o 0 m e u p ro fe ta p a ra d E le re c e b e r in s tru ç ã o ,
ilu m in a ç ã o e d ireção . E u o ab raç o com o o m eu
g ra n d e sa c e rd o te , p a ra ser lavado e ju stific a d o p o r
Seu san g u e e S ua ju stiça. E u O ab raç o com o m eu
rei p a ra re in a r e g o v e rn a r d e n tro de m im . R ecebo
u m C ris to c o m p le to , com to d a s as Suas leis, e com
to d a s as S uas c ru ze s e aflições. V iverei p ara E le;
m o rre re i p ara E le; q u ita re i tu d o o q u e te n h o n este
m u n d o p o r Sua causa e p ela v erd ad e .

D e sd e 0 te m p o da sua c o n v ersão , E rs k in e foi m ais


d ilig e n te q u e n u n c a no p re p a ro dos serm õ es. Sua execução
ta m b é m m e lh o ro u ; em vez de fix ar sua a te n ç ã o n u m a p ed ra
da p a re d e do fu n d o , ele agora o lh a v a d ire to n o s o lh o s dos seus
o u v in te s. O s re su lta d o s fo ram d ra m á tic o s. C e n te n a s de pessoas
se re u n ia m p a ra o u v i-lo , pessoas q u e v in h a m até de sessen ta
m ilh a s de d is tâ n c ia (cerca de 100 k m ), p a rtic u la rm e n te nas
ocasiões de a d m in is tra ç ã o da C eia do S en h o r. M u itíssim a s
pessoas fo ram c o n v e rtid a s a C risto .

811
PAIXAO P E L A PU R EZA

R a lp h , o irm ã o m a is n o v o de E b e n e z e r, foi c o n v e rtid o


com o n ze an o s de id a d e , q u a n d o seu p ai m o rre u . R a lp h
e x p e rim e n to u u m p ro fu n d o s e n tim e n to de p e c a d o e de
lib e rta ç ã o em C risto , co m o ta m b é m n o tá v e is re sp o sta s à
oração. C om essa co n v icção , ele fez ex ce le n te p ro g re sso na
escola. In g re sso u na U n iv e rs id a d e de E d im b u rg o co m q u in z e
anos de id a d e p a ra e s tu d a r teo lo g ia. D u r a n te as féria s, R a lp h
ficava com seu irm ã o em P o rtm o a k . D e p o is d e o b te r o g ra u
de M e stre em T eologia em 1704, R a lp h tra b a lh o u c in c o an o s
com o capelão p riv a d o do seu p a re n te , 0 C o ro n e l J o h n E rs k in e .
E m 1709 R a lp h p o ssu ía id a d e s u fic ie n te p a ra se r lic e n c ia d o
com o p reg ad o r. O P re s b ité rio de D u n fe rm lin e c o n c o rd o u em
o u v i-lo , com o b ase de p ro v a, e d e p o is de u m c u rto p e río d o
seus m e m b ro s se c o n v e n c e ra m de q u e este jovem era e n v ia d o
p o r D e u s p a ra p re g a r o e v an g e lh o . E rs k in e foi o rd e n a d o p a ra
se rv ir co m o 0 se g u n d o e n c a rre g a d o em D u n fe rm lin e em 1711,
e foi p ro m o v id o co m o p rim e iro e n c a rre g a d o em 1716.
D e p o is q u e E rs k in e se esta b e le c e u em D u n fe rm lin e , ele
foi d o m in a d o p o r d ú v id a s so b re o seu te s te m u n h o e vocação
cristã. E le se pôs a e x p lo ra r as o b ra s de h o m e n s p ie d o so s p a ra
e n c o n tra r co n fo rto . A o b ra de T h o m a s B o sto n so b re a a lia n ç a
da graça fin a lm e n te lh e tro u x e alívio. D e p o is de le r B o sto n ,
E rs k in e p ô d e re iv in d ic a r as p ro m e ssa s de D e u s e re c o n q u is ta r
a paz de coração.
A certeza c o lh id a dessa e x p e riê n c ia e n c h e u de e n e rg ia o
seu m in is té rio . T ã o re s o lu to esteve R a lp h E rs k in e no e s tu d o
da P ala v ra , n a oração e n a p reg ação , q u e ig n o ra v a o so n o e
tra b a lh a v a até altas h o ras. E le iria s e rv ir a c o n g reg a ção de
D u n fe rm lin e m a is de q u a re n ta an o s, até sua m o rte em 1752.
D e u s ab e n ç o o u e x tra o rd in a ria m e n te esse tra b a lh o . D e n tro de
d o is an o s após a o rd e n a ç ã o de E rs k in e , o E s p írito o p e ro u tão
p o d e ro s a m e n te p o r m eio da sua p reg aç ão , q u e os a d o ra d o re s
lo tav am a igreja e o seu p átio . U m a ig reja a n te s m o rta g a n h o u
vida. D e p o is do c u lto v e s p e rtin o , oração e ações de graças
c o n tin u a v a m em p e q u e n o s g ru p o s , às vezes até d e p o is da

812
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

m e ia -n o ite . U m in te re ssa d o le v a n to u -se às d u a s da m a d ru g a d a


p a ra o ra r em se c re to , e v iu n a c id ad e ta n ta g e n te de joelhos,
q u e a z o n a c a m p e s tre z u m b ia com o um g ig a n te sc o en x a m e de
ab elh as. C e n te n a s de p eca d o res p e n ite n te s d e rra m a v a m seus
co raçõ es p a ra D eu s. F ic o u c o m p ro v a d o q u e o a v iv a m e n to
e ra g e n u ín o e d u ra d o u ro , e m b o ra p e rm a n e c e sse co n fin a d o
p r in c ip a lm e n te em D u n fe rm lin e .
R a lp h E rs k in e c aso u -se com M a rg a re t D ew er, filh a de
u m fid alg o , em 1714. M a rg a re t era n o tá v e l p o r sua b o n d a d e .
E la se rv iu ao lado de R a lp h p o r dezesseis an o s e lh e deu
dez filh o s, c in c o dos q u a is m o rre ra m n a in fâ n c ia . E rs k in e
foi p r o f u n d a m e n te q u e b ra n ta d o p ela m o rte da esp o sa, aos
tr i n ta e d o is a n o s d e id a d e . D o is a n o s d e p o is, ele se casou
co m M a rg a re t S im so n , de E d im b u rg o . T rês dos q u a tro s filh o s
h o m e n s d e s te s e g u n d o c a s a m e n to m o rre ra m n a in fâ n c ia .
C o n q u a n to o m in is té rio de R a lp h fosse e m o c io n a n te , seu
irm ã o , E b e n e z e r, foi c h a m a d o p a ra u m n o v o cargo em S tirlin g
(1731), o n d e se rv iu d u ra n te v in te e d o is anos. C e n te n a s de
p essoas de p a ró q u ia s v iz in h a s filia ra m -se à co n g reg ação de
E rs k in e . A s vezes os E rs k in e s e rv ia m m a is de tr in ta m esas
n o s c u lto s d a C eia do S en h o r.
A q u eles q u e D e u s g ra n d e m e n te a b en ç o a, E le ta m b é m
pro v a. A s a n g ú s tia s p a ra os E rs k in e v ie ra m em três o n d as
m a io re s, co m e ç a n d o n o in íc io da déca d a de 1720 e c o n tin u a n d o
p o r m a is do q u e d u a s décadas.
A p rim e ira g ra n d e p ro v a , q u e ficou c o n h e c id a com o a
C o n tro v é rs ia d a M e d u la , a g ito u a Ig reja escocesa d e l 7 1 7 a l7 2 3 .
A c o n tro v é rsia c e n tra liz o u -se n o C re d o de A u c h te ra rd e r. E m
1717, W illia m C raig , u m e s tu d a n te de te o lo g ia, q u e s tio n o u a
A ssem b léia G eral so b re u m a das p ro p o siç õ e s q u e o P re s b ité rio
de A u c h te ra rd e r exigia q u e to d o s os c a n d id a to s à o rd e n a ç ã o
su b sc rev esse m . A p ro p o siç ã o , cuja in te n ç ã o era u m a p ro teç ão
c o n tra o a rm in ia n is m o , d izia: “ C reio q u e n ão é b o m n em
o rto d o x o e n s in a r q u e d ev em o s a b a n d o n a r o p eca d o a fim de
v irm o s p a ra C ris to e n o s in s e rirm o s n a a lia n ç a co m D e u s ” . A

813
ΡΑ ΙΧAtO P E L A PUREZA

A ssem b léia se pôs ao lado de C raig, d e c la ra n d o q u e a re fe rid a


p ro p o siç ã o era “ falsa e m u ito d e te stá v e l” .
N o c o n te x to desse d e b a te , T h o m a s B o sto n d isse a J o h n
D ru m m o n d , de C rieff, q u e an o s a n te s re c e b e ra a ju d a so b re a
q u estão em d is p u ta de u m liv ro re la tiv a m e n te d e sc o n h e c id o
“ in titu la d o The Manow of Modem Divinity, e sc rito em 1645
p o r E d w a rd F ish e r, u m p re s b ite ria n o de L o n d re s . D ru m m o n d
m e n c io n o u o liv ro p a ra Ja m e s W ebster, de E d im b u rg o , e
este c o n v e rso u so b re isso com Ja m e s H og, de C a rn o c k . H o g
p refacio u u m a re im p re ssã o do liv ro em 1718.
O liv ro de F is h e r e n fatizav a u m a im e d ia ta o fe rta da
salvação aos p eca d o res q u e o lh a sse m p a ra C ris to com fé. F ssa
ênfase foi a v id a m e n te ap o iad a p o r B o sto n e pelos E rs k in e ,
q u e eram líd e re s e n tre a m in o ria v e rd a d e ira m e n te ev an g é lic a
da Igreja. T odavia, a ênfase de F is h e r le v a n to u a o p o sição
da facção d o m in a n te na igreja, p o s te rio rm e n te c o n h e c id a
co m o m o d e ra d a . O s m o d e ra d o s c o n sid e ra v a m o c h a m a d o
p ara im e d ia ta c o n fia n ç a em C ris to e p a ra p le n a c erteza com o
p e rig o sa m e n te a n tin o m is ta .
A A ssem b léia G eral da Ig re ja c o n d e n o u o liv ro The Marrow
of Modem Divinity em 1720 e ex ig iu q u e to d o s os m in is tro s
da igreja a d v e rtisse m seus re b a n h o s c o n tra a su a le itu ra . O s
E rs k in e , B o sto n e nove dos seus colegas, c o n h e c id o s co m o
os H o m e n s da M e d u la ou Irm ã o s da M e d u la p o r sua defesa
do liv ro de F ish e r, p ro te s ta ra m c o n tra o ato da A ssem b léia,
m as não a d ia n to u . E les foram c e n su ra d o s fo rm a lm e n te pela
A ssem b léia G eral em 1722.
A C o n tro v é rsia da M e d u la se re n o u em 1723, m as os
seus efeito s se p ro lo n g a ra m . O s Irm ã o s da M e d u la so fre ra m
c o n tin u a d a o p o sição na Ig reja da E scó cia; não o b s ta n te , eles
c o n tin u a ra m a e n s in a r e a escre v e r so b re as d o u trin a s q u e
a A ssem b léia tin h a c o n d e n a d o . T h o m a s B o sto n p u b lic o u
suas a b u n d a n te s n o ta s so b re o liv ro The Marrow of Modem
Divinity na ed ição de 1726, e R a lp h E rs k in e escrev eu d iv e rso s
o p ú scu lo s d e fe n d e n d o a te o lo g ia da M ed u la.

814
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

A se g u n d a g ra n d e p ro v a q u e afeto u os H rsk in e estava


c e n tra liz a d a n a q u e stã o do p a tro n a d o . A A ssem b leia de 1731,
ao tra ta r de u m a d eclaraçã o “c o n c e rn e n te ao M éto d o de
F u n d a r Ig reja s V acan tes” , legalizou a n o m e a ç ã o de m in is tro s
p o r p a tro n o s (rico s p ro p rie tá rio s de te rra s), e não pelo voto
dos m e m b ro s da igreja. O s d o is E rs k in e falaram c o n tra a
re so lu çã o , a rg u m e n ta n d o te n a z m e n te em favor do d ire ito
do povo de e sc o lh e r seus p ró p rio s m in is tro s . A A ssem b leia
de 1732 ra tific o u o ap o io ao p a tro n a d o , a p e sa r de a m a io ria
dos p re s b ité rio s q u e re s p o n d e ra m te r tid o p ro b le m a s com o
re fe rid o siste m a ou te r se o p o sto firm e m e n te ao m esm o.
H b en ezer E rs k in e p re g o u c o n tra a d ecisão da A ssem b leia
de 1732 q u a n d o v o lto u p a ra a su a co n g re g a ç ã o em S tirlin g .
E m reação, o S ín o d o v o to u c e n s u ra r E rs k in e . Q u a n d o a
A ssem b leia de 1733 ra tific o u a c e n s u ra v o ta d a pelo S ín o d o ,
E rs k in e e três dos seus colegas a p re s e n ta ra m u m p ro testo .
A A ssem b leia re s p o n d e u in s is tin d o em q u e os q u a tro se
a rre p e n d e ss e m do p ro te sto . Se se recu sassem a re tra ta r-s e ,
urna c e n su ra m a is a lta seria a p lic a d a c o n tra eles.
M ais ta rd e , nesse a n o , a A ssem b leia efetu o u essa am eaça
co m a m a io ria d e a p e n a s u m voto . S u s p e n d e u E rs k in e e
o u tro s trê s m in is tr o s d as su as p a ró q u ia s, d e c la ro u vagas as
su as ig rejas e os p ro ib iu de a c e ita r en c a rg o d ad o p o r q u a l­
q u e r igreja da Ig reja da E scócia.
O s q u a tro m in is tro s (E b e n e z e r E rs k in e , Ja m e s F ish er,
A le x a n d e r M o n c rie ff e W illia m W ilso n ), re u n ira m -s e em
G a irn e y B rid g e , p e rto de K in ro s s , em d e z e m b ro de 1733, o n d e
fo rm a ra m o P re s b ité rio A sso ciad o , d a n d o s u rg im e n to à Igreja
da Secessão E scocesa. R a lp h E rs k in e , q u e esteve na re u n iã o
de G a irn e y B rid g e, c o n tin u o u a m a n te r o c o m p a n h e irism o
e a e o rre s p o n d e r-s e com os o u tro s m in is tro s , e m b o ra não se
te n h a filiad o ao P re s b ité rio A ssociado n essa ocasião.
E m 1734, a A ssem b leia G eral a b ra n d o u su a p o sição c o n tra
os m in is tro s su sp e n so s. E m 1735 esse c o n c ilio c o n v id o u
E b e n e z e r E rs k in e p a ra n o v a m e n te s e rv ir com o m o d e ra d o r

815
PAIXAO P E L A PUREZA

do P re s b ité rio de S tirlin g . A pós longas d e lib e ra ç õ e s, E rs k in e


e seus três am ig o s d e c lin a ra m do c o n v ite p a ra v o lta re m ,
d e c la ra n d o q u e n e n h u m a das ofensas p o r eles so frid a s tin h a
sido tra ta d a . D e p o is de m u ito c o n flito in te rio r, R a lp h E rs k in e
u n iu -s e fo rm a lm e n te a seu irm ã o na Secessão em 1737.
N o d ia 12 de m a io de 1740, os d o is irm ã o s E rs k in e e
seus colegas fo ram d e p o sto s p ela A ssem b léia G eral. M u ito s
m e m b ro s da co n g reg a ção de R a lp h E rs k in e s a íra m co m ele
da Ig reja estab e lecid a. U m n o v o ed ifíc io , p a ra 2.000 pessoas
se n ta d a s, foi c o m p le ta d o em 1741. E m 1742, u m n o v o
m in is tro foi o rd e n a d o n a igreja p a ro q u ia l, to d o s os laços
fo ram ro m p id o s, e v ária s c e n te n a s de pessoas r e to rn a ra m à
igreja p a ro q u ia l.
D iv e rs a m e n te do q u e a c o n te c e u com R a lp h , E b e n e z e r
E rs k in e foi im e d ia ta m e n te p o sto p a ra fora de sua igreja d ep o is
de te r sid o d ep o sto . E m vez de d e ix a r q u e a sua c o n g reg a ção
a rro m b a sse as p o rta s, E rs k in e co m eço u a p re g a r fora, ao ar livre.
Sua co n g reg ação cresceu ra p id a m e n te n o s m eses se g u in te s . O s
E rs k in e fo ram fic a n d o cada vez m ais o cu p ad o s. M in is tra n d o
eles p a ra suas g ra n d e s igrejas e p a ra u m a v a rie d a d e de o u tra s
p a ró q u ia s em to d a a E scócia, a causa da Secessão a u m e n to u
d ra m a tic a m e n te , p ro m o v e n d o a te o lo g ia da M ed u la .
A ú ltim a g ra n d e p ro v a p a ra os E rs k in e e n v o lv e u 0 assim
c h a m a d o c o n flito de B u rg h e r, assim c h a m a d o . O J u ra m e n to
B u rg u ês, de 1744, q u e e n d o sso u a relig iã o do re in o , foi
ex ig id o de to d o s os cid a d ã o s de E d im b u rg o , G lasgow e P e rth .
O ju ra m e n to d eclarav a: “A q u i eu d eclaro d ia n te de D e u s e
dos lo rd e s re p re s e n ta n te s , q u e p ro fesso e ace ito de coração
a v e rd a d e ira relig iã o p re s e n te m e n te p ro fe ssa d a d e n tro
d e ste re in o e a u to riz a d a p o r su as leis: p e rm a n e c e re i n ela,
e a d e fe n d e re i até o fim da m in h a v id a ; re n u n c io à relig ião
ro m a n a c h a m a d a p a p is m o ” .
O ju ra m e n to era im p o rta n te p o rq u e so m e n te b u rg u e s e s
tin h a m p e rm issã o p a ra votar, e n v o lv e r-se no c o m é rc io ou
p e rte n c e r a u m a co rp o ra ç ã o de in d ú s tria e c o m ércio . A lg u n s

816
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

m e m b ro s do S ín o d o A ssociado (da Secessão) fizeram objeção


ao ju ra m e n to , d iz e n d o q u e esse d o c u m e n to en d o ssav a p rá tic a s
v ig e n te s n a Ig reja e sta b e le c id a da E scócia q u e os ad ep to s da
S ecessão tin h a m ac h a d o o b jetáv eis. O u tro s , in c lu siv e os
irm ã o s E rs k in e , c o n sid e ra v a m o ju ra m e n to u m a aprovação
da fé re fo rm a d a , e x c lu in d o s o m e n te os c a tó lic o s ro m a n o s da
p o s s ib ilid a d e de se to rn a re m b u rg u e se s. O s E rs k in e a firm av am
o d ire ito de fazer o ju ra m e n to b u rg u ê s , a c re d ita n d o que
u m a p o siç ã o a n tib u r g u e s a le v a ria ao a b a n d o n o d o s d ev ere s
cív ic o s e p o lític o s. R a lp h E rs k in e escrev eu m a io r n ú m e ro de
p a n fle to s do q u e q u a lq u e r o u tro m e m b ro do S ín o d o B u rg u ês
em defesa dessa posição.
A pós três an o s de re u n iõ e s s in o d a is, a q u e stã o d iv id iu a
jovem d e n o m in a ç ã o . V in te e trê s líd e re s da igreja p e rte n c e n te s
ao p a rtid o A n ti-b u rg u ê s , sob a lid e ra n ç a de A d am G ib e de
A le x a n d e r M o n c rie ff, d e ra m in íc io a u m a n o v a d e n o m in a ç ã o ,
c o n h e c id a co m o S ín o d o A n ti-b u rg u ê s , a s s u m in d o d e c la ra d a ­
m e n te a p o sição de le g ítim o s c o n tin u a d o re s da Secessão.
O q u e to rn o u a cisão p a r tic u la rm e n te d o lo ro sa p a ra R alph
E rs k in e foi q u e seu filh o J o h n p o s ic io n o u -se ao lado dos a n ti-
b u rg u ê s e s e até p a rtic ip o u da d ecisão do S ín o d o de e x c o m u n g a r
os E rs k in e ju n to com o u tro s m e m b ro s do S ín o d o B urguês.
N os a n o s s u b se q u e n te s à c o n tro v é rsia , o S ín o d o B u rg u ês
re d e fin iu su a p o sição (n u m T e s te m u n h o R ev isad o ), aos p oucos
a b a n d o n o u a p rá tic a de relações p a c tu a is e re a s s u m iu relações
am ig áv eis com m in is tro s e v an g é lic o s n a Ig reja da E scócia.
E m b o ra p ro fu n d a m e n te afetados pelas co n tro v é rsias, estas
não c o n s titu íra m p rio rid a d e p ara os E rsk in e. Seu trab a lh o
c o n tin u o u , c e n tra liz a d o na c o n q u ista de alm as, e, p o r algum
tem p o , no tre in a m e n to de novos m in istro s. Q u a n d o A lexander
M o n c rie ff filio u -se ao S ínodo A n ti-b u rg u ê s, foi p ed id o a
E b e n e z e r E rs k in e que e n sin asse teologia a serviço do Sínodo
A ssociado; ele serviu nessa capacid ad e so m en te até 1749,
q u a n d o re n u n c io u p o r p ro b le m a s de saúde. R alph E rsk in e
passava m ais te m p o p re p a ra n d o h o m e n s p ara 0 m in isté rio ,

817
PAIXÃO P E L A PU R EZA

ao p o n to de, no o u to n o de 1752, a m u lh e r de R a lp h E rs k in e
p e d ir-lh e que d im in u ísse o ritm o e passasse m ais te m p o com a
fam ília, pois agora ele estava com sessen ta e sete anos de idade.
E le p ro m e te u fazê-lo, m as n o m ês se g u in te ficou m u ito d o e n te
e m o rreu . Suas ú ltim a s palavras foram : “ V itó ria, v itó ria ,
v itó ria !”
M as E b e n e z e r logo o seg u iría. D e p o is de d e z o ito m eses
de fraq u eza e d o en ça , ele m o rre u no d ia p rim e iro de ju n h o de
1754, com s e te n ta e trê s a n o s de id a d e , após q u a se c in q u e n ta
e u m an o s fiéis v iv id o s no m in is té rio .

The Works of Ebenezer Erskine (F P P ; 3 v o lu m e s, 1.500


p ág in a s; 2001); The Works of Ralph Erskine ( F P P ; 6 v o lu m es,
3.800 p á g in a s; 1991). O s trê s v o lu m e s de se rm õ e s de E b e n e z e r
E rs k in e (52 serm õ es) e os seis v o lu m e s dos se rm õ es de R a lp h
E rs k in e (168 serm õ es) in flu e n c ia ra m p r o fu n d a m e n te m in is tro s
e leigos p e rte n c e n te s à fé re fo rm a d a em d iv e rso s países.
A fetaram d eze n as de m ilh a re s de pessoas na E scó cia p o r m ais
de u m sécu lo , e d e ra m o rie n ta ç ã o ao m o v im e n to da Secessão,
p a ssa n d o a essên cia da teo lo g ia da M e d u la às su b se q u e n te s
gerações. As o b ras c o m p le ta s de E b e n e z e r E rs k in e ( Whole
Works), im p ressas pela p rim e ira vez em E d im b u rg o em 1761,
fo ram re im p re ssa s m ais seis vezes n a E scócia. O s e sc rito s de
R a lp h E rs k in e , p u b lic a d o s p r im e ira m e n te em 1764, fo ram
re im p re sso s q u a tro vezes n a E scócia. J o h n K e rr e screv eu em
1887 q u e os serm õ es dos E rs k in e se e s p a lh a ra m p o r to d a a
E scó cia, e n c o n tra n d o -s e “em q u a se to d a s as casas d e faz e n d a
e cab a n as o n d e h av ia alg u m in te re s se p o r re lig iã o ” .
A Ig reja L iv re da E scócia, q u e teve in íc io em 1843,
ta m b é m foi in flu e n c ia d a p elo s E rs k in e . G eo rg e S m e a to n ,
e m in e n te e ru d ito da Ig re ja L iv re , p re fa c io u c a lo ro sa m e n te
u m a re im p re ssã o da o b ra The Beauties of Ralph Erskine. R o b e rt
C a n d lis h , p ro e m in e n te p re g a d o r da Ig re ja L iv re , re c o m e n d o u

818
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

a le itu ra dos E rs k in e , co m o o fez ta m b é m o m in is tro e teólogo


d a Ig re ja L iv re , H u g h M a rtin , q u e escreveu em 1875 que os
E rs k in e a in d a era m a m ad o s p elo povo escocés.
N a In g la te rra , h o m e n s da e sta tu ra de G eorge W h ite ñ e ld ,
A u g u stu s T o p lad y e Ja m e s H ervey, e lo g iaram os E rs k in e
p o r p re g a re m liv re m e n te o e v an g e lh o sem sa c rific a re m a
p r o fu n d id a d e e x p e rim e n ta l. U m a das ú ltim a s tarefas de
H e rv e y foi d ita r u m p refácio de u m a nova edição das o b ra s de
R a lp h E rs k in e , n o q u a l escrev eu q u e não tin h a e n c o n tra d o ,
em to d a a sua v id a , n e n h u m a o b ra h u m a n a “ m ais ev an g élica,
m a is re c o n fo rta n te n e m m a is ú til” do q u e a de R a lp h E rsk in e .
S eus se rm õ e s fo ram tão a lta m e n te v alo rizad o s q u e a in d a em
1879 c o n tin u a v a m se n d o os liv ro s relig io so s m ais v e n d id o s
em L o n d re s .
M u ito s dos se rm õ es dos E rs k in e , tra d u z id o s p a ra o galés,
a ju d a ra m a m o d e la r a p reg ação de d o is p re g a d o re s galeses
do sécu lo d e z o ito , H o w e ll H a rris e D a n ie l R o w lan d , cujas
m e n sa g e n s se rv ira m de in s tru m e n to p a ra a co n v ersão de
m ilh a re s. O s m e to d is ta s de G ales “ lia m , to m a v a m e m p re sta d o s,
tra d u z ia m , u sav am e re c o m e n d a v a m os irm ã o s E rs k in e ”,
escrev eu E ifio n E v an s. O s E rs k in e in flu e n c ia ra m pessoas da
Irla n d a ta m b é m , p a r tic u la rm e n te p o r m eio dos m in is té rio s
de J o h n E rs k in e , filh o de R a lp h E rs k in e , e de Jam es F ish er,
g e n ro de E b e n e z e r E rs k in e , a m b o s os q u ais tra b a lh a ra m lá
d u r a n te a lg u n s anos.
D e 1740 em d ia n te , os e sc rito s dos E rs k in e foram
tra d u z id o s p a ra o h o la n d ê s e tiv e ra m p ro n ta recepção através
de to d a a H o la n d a . N u m típ ic o d ia de feira do século dezo ito
em R o te rd ã , fa z e n d e iro s in q u iria m n as liv ra ria s pelos serm ões
dos Erskeyna (d o s E rs k in e ). A le x a n d e r C o m rie e T h e o d o ru s
v an d e r G ro e fo ram g ra n d e m e n te in flu e n c ia d o s pelos E rsk in e .
Van d e r G ro e in tro d u z iu d iv e rso s liv ro s tra d u z id o s dos
E rs k in e , e m b o ra tiv esse u m a visão m ais e s tre ita das p ro m essas
de D e u s do q u e os E rs k in e . P o r ocasião da m o rte de van d er
G ro e , em 1784, os s e rm õ e s de E r s k in e e ra m m a is v e n d id o s

819
PAIXAO P E L A PU R EZA

do que os de q u a lq u e r teó lo g o in g lés ou escocés n a H o la n d a .


N a d écad a de 1830, H e n d r ik S ch o lte, c o n h e c id o líd e r da
Secessão q u e e m ig ro u p a ra P ella, Iow a, n o s E sta d o s U n id o s ,
p u b lic o u v ário s serm õ es de R a lp h E rsk in e . E m m e ad o s do
século d eze n o v e, v o lu m e s dos se rm õ es dos E rs k in e fo ram
p u b lic a d o s trê s vezes, e n c o n tra n d o p ro n ta a c o lh id a e n tre os
c re n te s da Ig reja R e fo rm a d a H o la n d e s a , co m o ta m b é m e n tre
os q u e se h a v ia m sep arad o . E n tre os se p a ra tis ta s , aq u e le s q u e
ap ro v av a m os serm õ es dos E rs k in e d e fe n d ia m u m a o fe rta
liv re e in c o n d ic io n a l da g raça ; aq u eles q u e se o p u n h a m aos
re ferid o s serm õ es ju lg a v a m -n o s m a c u la d o s p elo a rm in ia n is m o .
E m 1904, H e rm a n B a v in ck , p r o e m in e n te teó lo g o h o la n d é s e
p ro fesso r em K a m p e n e n a U n iv e rs id a d e L iv re de A m s te rd a m ,
escrev eu u m p ró lo g o no q u a l re c o m e n d a g ra n d e m e n te u m a
c o m p ilaç ão de serm õ es de E b e n e z e r e R a lp h E rs k in e .
N o tra n s c o rre r do sécu lo v in te , os e sc rito s dos E rs k in e
fo ram re im p re sso s fre q u e n te m e n te n a H o la n d a . E les c o n ­
tin u a m a fo m e n ta r d iscu ssão n o s c írc u lo s re fo rm a d o s
h o la n d e se s, p a rtic u la rm e n te em a ssu n to s so b re co m o p re g a r
a graça aos in c ré d u lo s e co m o in s tr u ir as pessoas so b re as
p ro m e ssa s de D eus.
E m b o ra os se rm õ es de E b e n e z e r e de R a lp h E rs k in e
p o ssam te r sid o e sc rito s p o r u m a só m ão, é cla ro q u e os
irm ão s d ife ria m u m ta n to . O s d o n s de E b e n e z e r não e ra m tão
n o tá v eis com o os de R a lp h , m as E b e n e z e r tin h a u m a força,
calm a e seg u ra, q u e fez dele u m líd e r m e lh o r; R a lp h era m ais
reserv ad o , m ais d ev o to e m a is e x p e rim e n ta l q u e seu irm ã o ,
e b u scav a m ais a o rie n ta ç ã o dos p u rita n o s . N ão o b s ta n te , o
c o n te ú d o e o e s p írito dos se rm õ e s de am b o s e ra m tão p a re c id o s
- e assim p e rm a n e c e ra m atra v és de to d a a c a rre ira d eles - q u e
e x a m in á - lo s ju n to s n ão d e sm e re c e n e m u m n e m o u tro .
O s E rs k in e c o m e ç a ra m a p u b lic a r se rm õ es e o u tro s e sc rito s
n a d écad a de 1720 com v istas a ilu s tra r as d o u trin a s re fo rm a d a s
da graça, e x p lic a r a te o lo g ia da M e d u la , e d a r p ro te ç ã o c o n tra
0 legalism o. S eus e sc rito s in c lu e m a ênfase da R e fo rm a às

820
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

p ro m e ssa s de D e u s, a ên fase p u r ita n a à p ie d a d e e x p e rim e n ta l


e a ê n fase da S e g u n d a R e fo rm a E scocesa à te o lo g ia da aliança.
Seus se rm õ e s fu lg u ra m de e n sin o s so b re o a m o r de D e u s e
so b re as o ferta s in d is c rim in a d a s de C risto .
O s E rs k in e se a m p a ra v a m n o s re fo rm a d o re s e nos
p u rita n o s em b u sca de a ju d a exegética. L u te ro e C alv in o eram
seu s c o m e n ta ris ta s fav o rito s e n tre os re fo rm a d o re s, e Jam es
D u r h a m e M a tth e w H e n ry e n tre os p u rita n o s . A lg u n s e ru d ito s
tê m c ritic a d o os E rs k in e p o r fo calizarem m ais as d o u trin a s que
flu e m do te x to do q u e a exegese do te x to , d iv a g a n d o às vezes
fora d o s lim ite s do te x to , p e rd e n d o assim su a in te n ç ã o o rig in a l.
M a is c o m u m e n te , p o ré m , os E rs k in e m o stra v a m c o n sid e rá v e l
h a b ilid a d e ex eg ética em seus serm õ es, p a rtic u la rm e n te na
exp o sição de te x to s so b re a salvação em Jesu s C risto .
H o m ile tic a m e n te , os E rs k in e seg u iam o e stilo “ s im p le s ”
de preg ação . E sse e stilo de p reg ação , de aco rd o com W illiam
P e rk in s , fazia trê s coisas:

1. D av a o s e n tid o b ásico do te x to em foco d e n tro


do seu c o n te x to ;
2. E x p licav a p o n to s de d o u trin a c o lh id o s do
s e n tid o n a tu ra l do te x to ;
3. A p licav a as d o u trin a s , “ c o rre ta m e n te ap licad a s,
à v id a e à m a n e ira de v iv e r dos h o m e n s ” .

P o rta n to , a p rim e ira p a rte de u m serm ão típ ic o dos


E rs k in e era ex eg ética, n o rm a lm e n te p ro v e n d o u m a b reve
an á lise do te x to ; a se g u n d a era d o u trin á ria , d e c la ra n d o
e e x p o n d o a lg u m a d o u trin a ou a lg u m a “ o b se rv a ç ã o ” ; e a
te rc e ira era a p licativ a. N o rm a lm e n te , os E rs k in e d iv id ia m
a te rc e ira p a rte , fre q u e n te m e n te m e n c io n a d a s co m o “ u so s”
da d o u trin a d e riv a d a do te x to , em seções co m o in fo rm ação ,
p ro v a (ex am e in tro sp e c tiv o ), co n so lo , ex o rta ção , e co n selh o .
P o r ex em p lo , n u m se rm ã o in titu la d o “ P re s e n t D u ty B efore

821
ΡΑ ΙΧAO P E L A PUREZA

A p p ro a c h in g D a rk n e s s ” , b a sead o em Je re m ia s 13:16 (“ D ai
g ló ria ao S e n h o r vosso D e u s, a n te s q u e v e n h a a e s c u rid ã o ” ),
R a lp h E rs k in e a p re s e n to u seis p o n to s de in fo rm a ç ã o , d o is de
exam e in tro sp e c tiv o , cin co p o n to s de ex o rta ção e seis p o n to s
de c o n selh o . P o r causa da n a tu re z a do te x to , n e n h u m a seção
de co n so lo foi o ferecida.
E sse m é to d o h o m ilé tic o m u ita s vezes levava a u m a ex te n sa
série de serm õ es so b re u m só texto. P o r ex e m p lo , R a lp h
E rs k in e p ro fe riu c ato rze serm õ es so b re a oração b asead o s em
R o m a n o s 12:12, treze se rm õ es so b re o v iv e r c ristã o b asead o s
em C o lossenses 2:6 ; n o v e serm õ es so b re u m c o n c e ito p ró p rio
elevado, b asead o s em P ro v é rb io s 30:12; e o ito se rm õ es so b re
“T h e H a p p y C o n g re g a tio n ” , b asead o s em G ên esis 49:10.
O s serm õ es de E rs k in e c o m b in a v a m exp o sição d o u trin á ria
e e x p e rim e n ta l. D o u trin a ria m e n te , eles fo calizav am os
g ra n d e s e c e n tra is te m a s do c ris tia n is m o : a P essoa e a o b ra
de C risto , o p eca d o e a salvação, fé e e sp e ra n ç a , e a g raça de
D eu s. E x p e rim e n ta lm e n te , eles tra ta v a m de a s s u n to s co m o
con so lação , certeza, a ssistê n c ia nas trib u la ç õ e s e os p riv ilé g io s
de serm o s cristãos.
O s E rs k in e são m ais c o n h e c id o s p o r se rm õ e s que,
m a n te n d o -s e na lin h a da tra d iç ã o escocesa, fo calizam as
pro m essas de D eu s. A C o n fissão E scocesa, de 1560, falava
de u m a “ fé se g u ra n as p ro m e ssa s de D e u s ” . E s c rito s com o
Exposition of the X II Small Prophets, de G eo rg e H u tc h e s o n ,
Great and Precious Promises, de A n d re w G ray, e Great Concern
of Salvation, de T h o m a s H a ly b u rto n , e n g ra n d e c e ra m as
p ro m e ssa s de D eu s. “ D e u s o b rig a -S e a n ó s com as Suas
p ro m e ssa s”, H a ly b u rto n escrevera.
M as os E rs k in e en fa tiz a v a m as p ro m e ssa s até m a is do
q u e esses e sc rito re s. “ Q u e é o e v a n g e lh o sen ão u m a p alav ra
de p ro m e ssa ? ” , in d a g o u E b e n e z e r E rs k in e (1:262). “ T ire m
a p ro m e ssa da B íb lia ” , escrev eu R a lp h E rs k in e , e tira rã o o
e v a n g e lh o ” (5 :1 1 8 ), p o is “ 0 e v a n g e lh o e a p ro m e s s a são u m a
e a m e sm a coisa” (5:235).

822
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

O s E rs k in e ja m ais se c an sav a m de p re g a r so b re as p ro m essas


das E s c ritu ra s . R a lp h E rs k in e escreveu: “ E x a m in a re i a
p ro m e ssa , d are i ênfase a ela e a u m D e u s q u e p ro m e te ” (5:236).
Eles e n c o n tra v a m p ro m e ssa s em to d a p a rte n a B íb lia, até em
tex tos co m o João 17:17, q u e diz: “ S a n tifíca-o s p o r m e io de tua
v e rd a d e ; a tu a p alav ra é a v e rd a d e ” (5:103). C o m o E b e n e z e r
E rs k in e escrev eu , “ T odas as h is tó ria s , p ro fecias e so m b ras,
e tip o s, da P ala v ra - q u e são, senão u m a a b e rtu ra e um a
exposição das p ro m e ssa s? ” (1:512).
E sta colocação das p ro m e ssa s co m o foco im p a c to u a
te o lo g ia dos E rs k in e n u m a v a rie d a d e de d o u trin a s chaves.
E les c o n c e b ia m as p ro m e ssa s de D e u s co m o a rra ig a d a s na
e te rn id a d e p a ssa d a e, c o n s e q u e n te m e n te , com o in se p a rá v e is
de cada p esso a da T rin d a d e . As p ro m e ssa s p e rte n c e m à p ró p ria
essên cia do e v an g e lh o . H á p ro m e ssa s in c o n d ic io n a is p a ra lodo
tip o de p eca d o r, eles e n sin a v a m . E les sab iam com o re la c io n a r
as p ro m e ssa s de D e u s com a fé, o a rre p e n d im e n to , a convicção
de p eca d o , a liv re o fe rta , o ex am e in tro sp e c tiv o , a c erteza da fé
e a san tific a ç ã o . L e ia os se rm õ es dos E rs k in e , se você q u ise r
ser c o n fo rta d o co m u m a p e rc e p ç ã o e x p e rim e n ta l d o v alo r e
da re a lid a d e d as p ro m e ssa s d e D e u s.

The Beauties of Ebenezer Erskine, ed. S am u el M ’M illa n


(R H B /C E P ; 700 p á g in a s; 2001).
Q u a n d o S am u el M ’M illa n , q u e m in is tra v a em A b e rd e e n ,
p u b lic o u The Beauties of Ralph Erskine, (2 v o lu m es), em 1812,
se g u id o de The Beauties ofEbenezer Erskine em 1 8 3 0 (re im p re sso
em 1850), ele co lig iu v e rd a d e ira s gem as e s p iritu a is dos seus
se rm õ e s c ris to c ê n tric o s . A re im p re ssã o de 2001 é to m a d a da
ed ição de 1850; in c lu i u m a nova in tro d u ç ã o de c in q u e n ta
p á g in a s so b re os E rs k in e , e sc rita p o r Joel R. B eeke.
O liv ro The Beauties of Ebenezer Erskine, a p re s e n ta as
m e lh o re s p o rç õ e s d o s se u s s e rm õ e s. A s seleç õ es fo c a liz a m
p a r tic u la r m e n te d ife re n te s a s p e c to s d e C ris to e S eu m i n is ­
té rio , b e m c o m o a d o u tr in a d a v id a d e fé. A seção so b re

823
PAIXAO P E L A PUREZA

a c e rte z a d a fé ta m b é m é m u ito ú til. E s te v o lu m e vale


p o r u m e x c e le n te d e v o c io n á rio d iá rio . P r e te n d e q u e seja
lid o v a g a ro sa m e n te ; é p a ra m e d ita r, a p lic a r e p ra tic a r suas
p o n d e rá v e is e sab o ro sas v erd ad e s.

The Assembly’s Shorter Catechism Explained by Way of


Question and Answer, E b e n e z e r e R a lp h E rs k in e , e Ja m e s
F is h e r (B e rith ; 477 p á g in a s; 1998). E ste e x c e le n te liv ro , q u e
c o n siste de m ilh a re s de b rev es p e rg u n ta s e b rev es re sp o sta s
so b re o B reve C a te c ism o , to rn o u -s e u m clássico logo d e p o is da
sua p u b licaçã o . F o i p u b lic a d o o rig in a lm e n te em d o is v o lu m e s,
0 p rim e iro dos q u a is foi p ro d u z id o pelos irm ã o s E rs k in e
(1753), o se g u n d o , p o r Ja m e s F is h e r (1765). N e sta re im p re s sã o
de 1998, os d o is v o lu m e s fo ram c o m p o sto s n o v a m e n te e
c o n v e n ie n te -m e n te re u n id o s n u m só v o lu m e.
A força do c a tecism o de E rs k in e -F is h e r e stá n a co n cisã o
das resp o stas d ad as a d esafia d o ras p e rg u n ta s. E is u m típ ic o
e x e m p lo e x tra íd o d a seção s o b re c e rte z a , sob a P e r g u n ta 36
do B rev e C a te c ism o :

Perg. 8. Q u al a d ife re n ç a e n tre a c erteza da fé, e


a c erteza do s e n tim e n to ?
R esp. O o b je to da c e rte z a da fé é “ C ris to n a
p ro m e ssa ” (T iag o 2:23), m as o o b je to da c erteza
do s e n tim e n to é “ C risto fo rm a d o n a a lm a ” (2 T im .
2:12); o u , o q u e é a m e sm a coisa, a c erteza da fé
fu n d a -s e na p alav ra in falív el de D e u s, q u e n ão p o d e
m e n tir ; m as a c erteza do s e n tim e n to , n a p re s e n te
e x p e riê n c ia q u e a pessoa te m das c o m u n ic a ç õ e s do
a m o r d iv in o (p. 195).

A in flu ê n c ia d e ste valioso c a te c ism o foi m u ito além


da E scócia. O liv ro foi tra d u z id o p a ra d iv e rsas lín g u a s. N a
A m éric a, c o n v e rtid o s do G ra n d e D e s p e rta m e n to to r n a r a m ­
-se áv id o s le ito re s do C atecism o dos E rs k in e -F is h e r. C erca de

824
Ebenezer Erskine & Ralph Erskine

30.000 e x e m p la re s d e s tin a d o s a c ria n ç a s fo ram v e n d id o s na


A m é ric a p ela J u n ta P re s b ite ria n a em F ila d é lfia . J o h n M ason,
p re g a d o r escocês em N ew York e líd e r n a Ig reja R efo rm a d a
A sso ciad a, a q u al ele a ju d o u a estab elecer, n u triu -s e deste
liv ro , co m o ta m b é m m u itís s im o s o u tro s m in is tro s .

Select Sermons of Ralph Erskine (G M ; 2 v o lu m e s, 560


p á g in a s; 2000). O s v in te e trê s serm õ es d estas d u a s b ro c h u ra s
são a lg u n s dos m e lh o re s serm õ es e x tra íd o s da coleção de seis
v o lu m es de suas o b ra s (v er acim a).

825
George Gillespie
(1613-1648)

G eorge G illesp ie n asceu no d ia 21 de ja n e iro de 1613, cm


K irk c a ld y , F ife. F o i o se g u n d o filh o h o m e m de J o h n
G illesp ie, “o tro v e ja n te p re g a d o r” de K irk c a ld y , e de L ilia s,
filh a de P a tric k S im so n , m in is tro de S tirlin g . Q u a n d o m e n in o ,
p arec ia fa lta r a G eorge o p o te n c ia l p a ra to rn a r-s e p asto r, m as
seu pai, no le ito de m o rte , disse a ele: “ G eorge, G eo rg e, te n h o
m u ita p ro m e ssa a n im a d o ra q u a n to a ti!” A n te s de m o rre r, seu
pai p ro fe tiz o u q u e ele seria “ um g ra n d e h o m e m ” na Ig re ja da
E scócia (Wodrow, Analecta, 3:110).
G ille sp ie g ra d u o u -s e na U n iv e rs id a d e de St. A n d re w s aos
dezesseis an o s de idade. O p re s b ité rio c o n c e d e u a ele u m a b o lsa
de e stu d o s na u n iv e rs id a d e , de 1629 a 1631. C o n tu d o , n ão q u e ria
ser o rd e n a d o p o r u m b isp o . E m vez d isso , e p ro v a v e lm e n te p o r
in flu ê n c ia de S am u el R u th e rfo rd , G ille sp ie o b te v e tra b a lh o
com o capelão d o m é stic o de J o h n G o rd o n o p rim e iro V isco n d e
de K e n m u re (1599-1634). A lg u n s anos m ais ta rd e , a m u lh e r
de K e n m u re , J a n e C a m p b e ll, seria d e s tin a tá ria de m u ita s
célebres cartas de R u th e rfo rd . E m 1634, K e n m u re m o rre u ,
o q u e m o tiv o u R u th e rfo rd a escrev er The Last and Heavenly
Speeches ofJohn Gordon Viscount Kenmure. G ille sp ie c o n s tru iu
u m a a m iz a d e p a rtic u la rm e n te e s tre ita com R u th e rfo rd . Eles

826
George Gillespie

c o m b in a ra m o ra r re g u la rm e n te u m pelo o u tro e escrev er um


ao o u tro so b re a v id a de D e u s em suas alm as.
E m 1634, G ile sp ie m u d o u -s e p a ra a casa do n o b re
p re s b ite ria n o J o h n K e n n e d y (1595-1668), o sex to c o n d e de
C assilis, p a ra tra b a lh a r co m o p re c e p to r do seu filh o m ais
v elh o , Lord K en n ed y . A n d re w B o n a r d escrev eu K e n n e d y
co m o “ u m só lid o p re s b ite ria n o e ig u a lm e n te u m p a c tu á rio
le al” . E n q u a n to era capelão d o m é stic o , G ille sp ie escrev ia seus
se rm õ e s in te g ra lm e n te e d ep o is ex am in av a as c ria n ç a s e os
c ria d o s da casa to d o d o m in g o à n o ite , com b ase no c o n te ú d o
dos seus serm ões.
E n q u a n to estava na casa de K en n ed y , G ille sp ie p u b lic o u
a n o n im a m e n te , na H o la n d a , sua p rim e ira o b ra im p o rta n te ,
Dispute Against the English Popish Ceremonies, q u e to m a um a
fo rte p o sição c o n tra o ep isc o p a d o e as c e rim ô n ia s an g lican a s.
O liv ro “ a p are ceu n a E scócia no v erão de 1637, e x a ta m e n te
q u a n d o o re in o to d o estava em tu m u lto pela in tro d u ç ã o do
novo Livro de Oração Comum escocês. O Dispute crio u tal
sensação q u e em o u tu b ro do m e sm o an o o c o n se lh o p riv a d o
escocês o rd e n o u q u e to d o s os ex e m p la re s do seu liv ro fossem
c o letad o s e q u e im a d o s pelo carrasco g e ra l” {Oxford DNB,
22:257). E o g o se e sp a lh o u q u e G ille sp ie era o seu autor.
E m b o ra d isc o rd a sse de m u ita coisa do liv ro de G illesp ie,
R o b e rt B aillie escreveu q u e os p re s b ite ria n o s da E scocia se
e s p a n ta ra m co m o fato de q u e um jovem de v in te e q u a tro
an o s p u d e sse escrevê-lo: “ P enso q u e ele p ô d e d e ix a r p ro v ad o
q u e é um dos m ais h a b ilita d o s e s p írito s desta ilh a ” {Letters and
Journal of Robert Baillie, 1:90).
E m 1638, G ille sp ie foi o rd e n a d o p a ra a p a ró q u ia de
W em yss, em E ife sh ire , sem a n a s d ep o is de a A lia n ça N acio n a l
te r s id o a s s in a d a e ju r a m e n ta d a p o r m ilh a r e s n a E scó cia.
N u m desafio ao e p isco p a d o , G ille sp ie so lic ito u q u e a sua
o rd e n a ç ã o fosse re alizad a n o s d e g ra u s da p o rta da sede
ep isco p a l de St. A n d re w s. S ua o rd e n a ç ã o foi a s e g u n d a não
e p isc o p a l d e p o is da a s s in a tu ra da alia n ç a .

827
PAIXAO P E L A PUREZA

E m n o v e m b ro de 1638, a A ssem b léia G eral se re u n iu


em G lasgow no q u e a in d a é c o n s id e ra d o o p o n to a lto do
p re s b ite ria n is m o escocês. A A ssem b léia in c lu iu 140 m in is tro s
e n o v e n ta e o ito p re s b íte ro s reg en tes. A A ssem b léia d ep ô s os
b isp o s q u e tin h a m g o v e rn a d o a Ig reja , c o n d e n o u as c e rim ô n ia s
inglesas q u e G ille sp ie tin h a ex p o sto , e re s ta u ro u o g o v e rn o
p re s b ite ria n o . A p esar de fazer a p en a s sete m eses q u e G ille sp ie
era m in is tro , p e d ira m -lh e q u e fosse u m dos p re g a d o re s
n aq u e le c éleb re e n c o n tro .
Logo depois disso, G illespie torn o u -se capelão no exército
escocês. Em 1640, foi enviado a L o n d res com o p arte de um a
com issão incu m b id a de elaborar um acordo de paz. Em 1642,
p ediram -lhe que assum isse um im p o rtan te encargo em G reyfriars
C hurch, em E dim burgo. N os ú ltim os seis anos de sua vida,
G illespie exerceu um papel de liderança nas batalhas teológicas do
seu tem po. Seu conh ecim en to de grego, hebraico e outras línguas
antigas ajudou-o nisso, com o tam bém 0 seu ex tra o rd in ário talento
para argum entação escrita e para debate extem porâneo.
G ile sp ie foi u m dos q u a tro c o m p o n e n te s de u m a co m issã o
(ao lado de R o b e rt B aillie, A le x a n d e r H e n d e rs o n e S am u e l
R u th e rfo rd ) e n v ia d o s co m o d eleg ad o s da Ig re ja escocesa
à A ssem b léia de T eólogos de W e stm in ste r, em 1643. E le
p a rtic ip o u da A ssem b léia d u ra n te q u a tro an o s, v o lta n d o à
E scócia so m e n te u m a vez p a ra p re s ta r re la tó rio à A ssem b léia
G eral. A d e sp e ito de ser o d eleg ad o m a is jovem (tin h a tr in ta
an o s de id a d e), foi u m p a rtic ip a n te n o tá v el. E m Letters and
Journals, R o b e rt B aillie escrev eu so b re G ille sp ie : “ N ão h á
h o m e m cujas p a rte s [dons] p a ra d is p u ta p ú b lic a eu a d m ire
ta n to . E le h av ia e s tu d a d o tão a c u ra d a m e n te to d o s os p o n to s
q u e a in d a se ria m tra z id o s à n o ssa asse m b lé ia , e seu m é to d o de
d e b a te p ú b lic o é tão p ro n to , tã o seg u ro e tão só lid o , q u e , a p e sa r
de h a v e r n a d iv e rsific a d a asse m b lé ia h o m e n s v e rd a d e ira m e n te
ex ce len tes, em m e u p o b re juízo, não há n in g u é m q u e fale m ais
ra c io n a lm e n te e q u e vá ao p o n to com m ais p re c isã o do q u e
esse b rav o jovem te m fe ito ” (2:160).

828
George Gillespie

D e ac o rd o com u m re la to , G ille sp ie estava to m a n d o p a rte


n u m in te n s o d e b a te , a p a re n te m e n te fala n d o ap o iad o em
e x te n sa s an o taçõ es. T odavia, os q u e estav a m se n ta d o s p e rto
d ele n ão p u d e ra m d e ix a r de v er o q u e ele tin h a escrito. As
se g u in te s p alav ras estav a m re d ig id a s em la tim : “ S en h o r, en v ia
luz. S e n h o r, dá assistên cia. S en h o r, d e fe n d e T ua causa” .
E m 1645, G ille sp ie e R o b e rt B aillie a p re s e n ta ra m o
D ire tó rio do C u lto P ú b lic o à A ssem b léia G eral em E d im b u rg o .
D o is a n o s m a is ta rd e , G ille s p ie a p re s e n to u a C o n fissão de Fé
à A sse m b lé ia , a q u a l foi a p ro v a d a fo rm a lm e n te .
E m 1647, ele v o lto u p a ra a E scócia com a re p u ta ç ã o de ser
0 p rin c ip a l teólogo da E scócia. D e n tro de p o u co s m eses, ele
foi e sc o lh id o p a ra o c u p a r 0 lu g a r de A le x a n d e r H e n d e rs o n ,
re c é m -fa le c id o , p a ra m in is tr a r co m o p rim e iro en c a rre g a d o
da St. G ile s, E d im b u rg o , u m dos m a is p re stig io so s p ú lp ito s
da E scócia. N o a n o s e g u in te ele foi n o m e a d o m o d e ra d o r da
A ssem b léia G eral. T am b ém foi d e sig n a d o p a ra a com issão
in c u m b id a de p ro m o v e r c o n fo rm id a d e relig io sa com a
In g la te rra . C o n tu d o , a lg u n s m eses d e p o is, G ille sp ie c o n tra iu
tu b e rc u lo s e e ficou tão d o e n te q u e p a re c ia q u e ia m o rre r logo.
R e tira n d o -s e p a ra K irk c a ld y , G ille sp ie e m itiu dois
“ te s te m u n h o s de u m m o r ib u n d o ”, p u b lic a d o s p o s tu m a m e n te
p o r seu irm ã o P a tric k em 1649, e m a is ta rd e in c lu íd o s em
suas Works. K . D. H o lfe ld e r faz este su m á rio : “ N eles ele
a d v e rtiu c o n tra co n fed e ra ç õ e s q u e in c lu e m “ m a lig n o s ”
e c o n c ito u a kirk, {a Ig reja da E scócia}, a “ p u rg a r-s e ” de
to d o s “ os in im ig o s de D e u s e de Sua cau sa” . N os an o s que
se s e g u ira m , estes te s te m u n h o s tiv e ra m p ro fu n d a in flu ê n c ia
no c u rso do m o v im e n to p a c tu á rio , p a v im e n ta n d o 0 c a m in h o
p a ra a “ e x c o m u n h ã o ” p o lític a e m ilita r im p o sta p ela L ei da
C lassis, em 1649, e, fin a lm e n te , p a ra a d iv isão da igreja e n tre
ra d ic a is e m o d e ra d o s d u r a n te a c o n tro v é rsia “p ro te sta d o ra -
-re s o lu c io n is ta ” (OxfordDNB, 22:258).
S am u e l R u th e rfo rd escrev eu p a ra G illesp ie, a n im a n d o -o
a só o lh a r p a ra Jesus. E le a c re sc e n to u : “ C risto em você e p o r

829
PAIXAO P E L A PUREZA

m eio de você te m feito m ais do q u e p o r m e io de v in te , sim ,


m ais do q u e p o r m eio de cem p a sto re s g risa lh o s e p ie d o so s.
A c re d ita n d o q u e agora é su a ú ltim a (tarefa). P o n h a ate n ç ã o
nessa p alav ra - G aiatas 2 :2 0 ” . N o d ia 21 de d e z e m b ro de 1648,
com a id a d e de tr in ta e cin co an o s, G ille sp ie m o rre u , c h e io de
fé em Jesu s C risto e na força da Sua ju stiça. D e ix o u viva sua
m u lh e r, M a rg a re t M urray. D o ze an o s m ais ta rd e , o P a rla m e n to
da R e sta u ra ção re tiro u sua lá p id e e fez o carra sc o p ú b lic o de
K irk c a ld y “q u e b rá -la so le n e m e n te com u m a m a rre ta ” .

The Works of George Gillespie (S W R B ; 2 v o lu m e s, 650 p á g in a s;


1991). A lém dos títu lo s a n o ta d o s acim a, o to m o Works in c lu i
as s e g u in te s p ro d u ç õ e s de G illesp ie: “A T rea tise o f M isc e lla n y
Q u e stio n s, N o tes o f D e b a te s a n d P ro c e e d in g s o f th e A sse m b ly
o f D iv in e s a t W e s tm in s te r” - o b ra de im p o rtâ n c ia h is tó ric a , q u e
c o n té m a lg u n s dos m e lh o re s e sc rito s de G ille sp ie ; “A H u m b le
A c k n o w le d g m e n t o f th e S in s o f th e M in is try o f S c o tla n d ” ;
“O n e H u n d re d a n d E lev en P ro p o s itio n s C o n c e rn in g th e
M in is try a n d G o v e rn m e n t o f th e C h u rc h ” ; e a lg u n s se rm õ e s e
fra g m e n to s p o lê m ic o s so b re v ário s a ssu n to s. U m a p ro v e ito sa
m e m ó ria de 40 p á g in a s so b re G illesp ie, e sc rita p elo h is to ria d o r
escocês W illia m H . H e th e r in g to n , p refacia as obras.

*Aaron,s Rod Blossoming; Or, The Divine Ordinance of


Church Government Vindicated (S P R ; 276 p á g in a s; 1985).
E sta o b ra , pela q u al G ille sp ie é m a is c o n h e c id o , foi p u b lic a d a
pela p rim e ira vez em 1646. Eala so b re a n a tu re z a e as relaçõ es
p ró p ria s d os po d e re s civil e eclesiástico . Ja m e s W alk er c h a m o u ­
-lhe “ th e chef d’ceuvre (a o b ra p e rfe ita ) da te o lo g ia eclesiástica
escocesa” (Theology and Theologians of Scotland, p. 14).
U m dos e rro s teo ló g ico s p re d o m in a n te s no te m p o de
G illesp ie era o e ra s tia n is m o , q u e e n sin a v a q u e o p rin c ip a l
m a g istra d o de u m E sta d o c ristã o d ev eria ser o ch efe da Ig reja

830
b em co m o do E sta d o ; c o n s e q u e n te m e n te , não d ev eria e x istir
n e n h u m g o v e rn o ou d is c ip lin a eclesiástica in d e p e n d e n te .
E m re sp o sta , G ille sp ie a rg u m e n to u re a firm a n d o o clássico
c o n -c e ito re fo rm a d o se g u n d o o q u a l, d esd e q u e o E sta d o e a
Ig reja fo ra m in s titu íd o s p o r D e u s, seg u e -se q u e “ a fin a lid a d e
s u p re m a do m a g is tra d o é a g ló ria de D e u s com o R ei das
n açõ e s” , e q u e a S ua g ló ria é m e lh o r se rv id a p o r “ u m a Igreja
livre n u m E sta d o liv re ” . C o m o o m a g istra d o g o v ern a no
in te re s se de D e u s, ele deve im p o r o b e d iê n c ia à lei m o ra l, à
q u al to d o s os h o m e n s e n açõ es estão o b rig a d o s em v irtu d e de
seu re la c io n a m e n to com D e u s co m o C riad o r.

*A Dispute Against the English Popish Ceremonies (N P ; 575


p á g in a s; 1993). E ste b elo liv ro foi p u b lic a d o p a ra c o in c id ir
com o 350° a n iv e rsá rio da A ssem b léia de W estm in ste r. E a
p rim e ira de u m a série de re im p re ssõ e s p re s b ite ria n a s do século
d ezessete, feita p o r N a fta li P ress, de a u to re s escoceses que
c o n trib u íra m sig n ific a tiv a m e n te p ara a lite ra tu ra teológica.
O liv ro English Popish Ceremonies está d iv id id o em q u atro
p arte s e a rg u m e n ta c o n tra (1) a necessidade, (2) a expediéncia,
(3) a le g a lid a d e , e (4) a in d ife re n ç a das c e rim ô n ia s p ap ais
in g le s a s q u e C h a r l e s I e s ta v a p r o c u r a n d o i m p o r à I g r e ja
escocesa. E u rn a m a g is tra l p o lé m ic a c o n tra in o v a ç ã o h u m a n a
no c u lto p ú b lic o . O liv ro “ c a iu c o m o u m tro v ã o , s ile n c ia n d o
q u a lq u e r a rg u m e n to , e x ce to o da fo rça, c o n tra a q u a l os
escoceses se le v a n ta ra m n u m a g u e rra d e fe n s iv a ” , co m o R oy
M id d le to n escre v e n u m a lo n g a e ú til in tro d u ç ã o . O g o v e rn o
civ il q u e im o u e b a n iu o liv ro , m a s n u n c a lh e d e u re sp o sta
fo rm al.
O te x to da p rim e ira ed ição de 1637 foi c u id a d o sa m e n te
c o m p a ra d a e c o n fe rid a com a e d ição de 1845. N u m e ro so s
d efeito s e e rro s das ed içõ es a n te rio re s , p a rtic u la rm e n te nas
n o ta s de ro d a p é , fo ram c o rrig id o s. E x te n sa s citaçõ e s la tin as
fo ram tra d u z id a s , m as o la tim é m a n tid o nas n o ta s de rodapé.
Ú teis n o ta s e d ito ria is e d efin içõ es de te rm o s arcaico s ou

831
George Gillespie

escoceses e n riq u e c e m esta edição. U m g lo ssá rio de ta is te rm o s


ta m b é m foi p ro v id e n c ia d o , co m o ta m b é m u m ín d ic e c o m p le to
de p assag en s das E s c ritu ra s c ita d a s, u m lo n g o ín d ic e de
a s s u n to s e u m a e x te n sa b ib lio g ra fia d o s e s c rito s de G ille s p ie
e das o b ra s q u e ele cita.
U m p ro b le m a é q u e G ille sp ie tra ta tão b e m o seu a s s u n to
q u e às vezes fica e n fa d o n h o . C o m o J o h n M ac le o d escrev eu ,
“ E le v ir t u a lm e n te tr a v o u to d a s as s u a s b a ta lh a s o u tr a v ez,
e m a to u trê s vezes os m o r to s ” .

832
Andrew Gray
(1633-1656)

n d re w G ray n asceu em L a w n m a rk e t, E d im b u rg o , de Sir


A W illia m de P itte n d r u m , u m c o m e rc ia n te e fo rte realista,
e de E g id ia S m y th . F o i o d é c im o p rim e iro filh o n u m a fam ília
de v in te e u m . Q u a n d o c ria n ç a , foi c o n v e n c id o do p ecad o de
in g ra tid ã o p o r te s te m u n h a r in e s p e ra d a m e n te u m m e n d ig o
d e rra m a r seu coração a D e u s n u m cam p o p ró x im o de L e ith .
N ão d e m o ro u m u ito , G ra y foi lev ad o a d e sc a n sa r n a o b ra de
C risto c o n s u m a d a p o r sua c o n tu rb a d a alm a.
G ra y s e n tiu -s e c h a m a d o p a ra o m in is té rio q u a n d o a in d a
era m e n in o . Isso d eu ím p e to a seus e stu d o s nas u n iv e rs id a d e s
de E d im b u rg o e de St. A n d rew s. E le o b te v e 0 g ra u de M e stre
em A rte s em 1651 e, com d eze n o v e an o s de id a d e , foi d e clarad o
c a n d id a to ao m in is té rio . F o i o rd e n a d o n a O u te r H ig h K irk ,
em G lasgow , p elo s “ P ro te s ta d o re s ” , n o d ia 3 de n o v e m b ro
de 1653, a p e sa r das objeções de R o b e rt B aillie e de o u tro s
“ R e s o lu c io n is ta s ” .
G ra y foi c o n s id e ra d o u rna lu z in c a n d e s c e n te p o r m ilh a re s
que o o u v ira m pregar. W illia m B la ik ie , a u to r de The Preachers
of Scotland, escrev eu : “ Seu c o n h e c im e n to da e x p e riê n c ia c ristã
foi m a ra v ilh o s a m e n te ex te n so e m in u c io s o ; ele c o n h e c ia bem
as a le g ria s e as a n g ú s tia s , as fo rm a s d e a ju d a e os o b s tá c u lo s , as

833
U n iv e rs id a d e de St. A n d rew s

C a te d ra l de G lasgow
PAIXÃO P E L A PUREZA

te n ta ç õ e s e as ilu sõ e s da v id a c ris tã ” . T in h a u m e x tra o rd in á rio


p o d e r de p ro v a r a c o n sc iê n c ia ; co m o Ja m e s D u r h a m observa,
“ ele p o d ia fazer a pessoa fic a r de cabelo em p é ” .
T an to n a p reg aç ão co m o em sua v id a p essoal, G ray m o stra v a
a n e c e ssid a d e de s a n tid a d e . E ra u m h o m e m g e n u in a m e n te
p ie d o so . G eo rg e H u tc h e s o n falava dele co m o “ u m a c e n te lh a
do céu ” .
E ssa c e n te lh a n ão d u ro u m u ito te m p o . G ray fre q u e n te ­
m e n te p reg av a so b re a g ló ria do céu e p o r ela ansiava. Q u a n d o
estava com v in te e d o is an o s de id a d e , e x p resso u o desejo de
e sta r com o seu S e n h o r na fe lic id a d e do céu a n te s de c h e g a r ao
seu p ró x im o a n iv e rsá rio . Seis m eses d e p o is, após a lg u n s dias
de feb re, D e u s a te n d e u a seu desejo. G ray p a rtiu d e ix a n d o
u m a esp o sa te m e n te a D e u s, R ach el B aille (q u e m ais ta rd e
caso u -se com G eo rg e H u tc h e s o n ), e d o is filh o s, R o b e rt (que
logo m o rre ría , a in d a m e n in o ) e R ach el. O c o rp o de G ray foi
e n te rra d o n a c a te d ra l de G lasgow .
“ P o d e m o s d iz e r com s e g u ra n ç a q u e, n a h is tó ria do nosso
país, n u n c a u m h o m e m de sua id a d e im p rim iu tão p ro fu n d a
m a rc a ” , d isse B laikie. D e u s u so u G ra y e x tra o rd in a ria m e n te
em seus v in te e sete m eses de m in is té rio .

The Works of Andrew Gray (S D G ; 505 p á g in a s; 1992). M u ito s


dos se rm õ e s de G ray fo ram a n o ta d o s p o r m eio de ta q u ig rafía .
E stes se rm õ e s fo ram p u b lic a d o s p ela p rim e ira vez com base
em a n o ta ç õ e s de e s tu d a n te s , m as c o n tin h a m n u m e ro so s
erros. P o s te rio rm e n te , fo ram rev isto s a p a r tir de a d ic io n a is
c o n ju n to s de n o ta s, in c lu siv e as q u e a esposa de G ray p o ssu ía,
e fo ram la n ç a d o s p o r R o b e rt T raill e J o h n S tirlin g . P u b lic a d o s
com o o p ú sc u lo s ( The Mystery of Faith Opened [1659]; Great
and Precious Promises [1 6 6 9 ]; Directions and Instigations to
the Duty of Prayer [1669]; The Spiritual Warfare [1671], etc.).
O s se rm õ e s e sc rito s de G ra y e v id e n c ia ra m -s e tão p o p u la re s

835
A ndrew Gray

co m o a sua p reg ação , não so m e n te n a In g la te rra , n a E scó cia


e na A m éric a do N o rte , m as ta m b é m n a H o la n d a . M u ita s das
suas o b ras fo ram tra d u z id a s p a ra o h o la n d ê s e c o n tin u a m
sen d o re im p re ssa s a tu a lm e n te .
D u ra n te m ais de u m século estes p e q u e n o s liv ro s p a ssa ra m
p o r n u m e ro sa s ed içõ es, até se re m co letad o s e im p re sso s em
1762, em G lasgow , com o The Works of the Reverend and Pious
Mr. Andrew Gray. E sta o b ra ta m b é m p asso u p o r d iv e rsas
im p ressõ es, a m a is n o tá v e l se n d o a ed ição d e fin itiv a de 1839,
p u b lic a d a p o r G eo rg e K in g em A b e rd e e n , e da q u a l a p re s e n te
re im p re ssã o foi tirad a.
D e sd e q u e os e sc rito s de G ray são serm õ es a n te s q u e
tra ta d o s, eles não a p re s e n ta m e x au stiv o s tra ta m e n to s de cada
assu n to . T am p o u co a p re s e n ta m lin g u a g e m p re c isa , v isto q u e
G ray n ão teve a o p o rtu n id a d e de e d ita r os seus serm õ es. P o r
o u tro lado, os se rm õ es de G ray fo ram “ e stu d a d o s com oração ,
p ro fe rid o s com p o d e r e re c o m p e n sa d o s com 0 su ce sso ” . A lém
d isso , suas p ro fu n d a s p e rce p çõ es, suas declaraçõ e s p u n g e n te s
e seus s u c in to s su m á rio s so b re várias v e rd a d e s não tê m preço.
O s d o n s de G ray não estão na p ro p o s ta de n ovas p e rce p çõ es
teológicas, m as n a a p re se n ta ç ã o da “ v elh a v e rd a d e ” de novas
m a n eiras.
P o r e x em p lo , q u a n d o ex p lica a c erteza da fé, G ray a p re s e n ta
a s e g u in te c o m p ro v a ção : (1) as vidas dos sa n to s b íb lic o s q u e
m o s tra ra m ce rte z a ; (2) “o g ra n d e alcan ce de m u ita s p assag en s
das E sc ritu ra s , p a ra m o s tra r com o os c ristã o s p o d e m a lc a n ç a r
a c erteza” ; (3) “ o rd e n s p re s e n te s nas E s c ritu ra s q u e m a n d a m
os cristão s serem sério s na b u sca da c e rte z a ” , m u ito n o tá v e l­
m e n te 2 P e d ro 1:10; (4) “ a a b e n ç o a d a fin a lid a d e do ju ra m e n to
de D e u s n a a lia n ç a e te rn a , q u e 0 c ristã o o b te n h a c e rte z a ” ;
(5) “ os fins dos sa c ra m e n to s {ou seja, das o rd e n a n ç a s} , q u e
a n o ssa c e rte z a seja c o n firm a d a ” ; e (6) os p ró p rio s e x e rc íc io s
das graças d iv in a s q u e a firm a m a n e c e ssid a d e da certeza.
N e n h u m desses p o n to s é n ovo, m as, a n te s de G ray, n in g u é m
tin h a c o m p ila d o essa lista.

836
PAIXAO P E L A PUREZA

O s e sc rito s de G ray a q u ec erão a sua alm a, co n v en c erão


você de n e g lig ê n c ia , e o c o n c ita rã o à p ie d ad e. E stão re p le to s de
e s p írito e vida. D ife re n te m e n te de m u ita s coleções de Works,
G ray é s e m p re fácil de ler, d esd e a série in icial de serm ões
so b re o m is té rio da fé até a c a rta fin a l, d irig id a do seu le ito
de m o rte.

* Select Sermons (R U B ; 625 p á g in a s; 2007). E stes c in q u e n ta


e u m serm õ es, dos q u a is sõ u n s p o u co s estão no liv ro Works,
de G ray, m o s tra m p o r q u e G ray foi um p re g a d o r tão pop u lar.
E les to rn a m a d o u trin a in te lig ív e l e p rá tic a . E les falam
p o d e ro s a m e n te ao in te le c to e à c o n sc iê n c ia , c o n fo rta n d o
os re g e n e ra d o s, c a p tu ra n d o os ex tra v ia d o s, c o n v id a n d o os
in c ré d u lo s e d e s m a sc a ra n d o os h ip ó c rita s. A cim a de tu d o ,
eles p ro c u ra m c o n q u is ta r alm as p a ra C risto . C o m o W illiam
Tw eedie escrev eu : “ C risto estava n o com eço, no m eio e no fim
de to d o s os seus se rm õ e s ” .
A o b ra Select Sermons foi p u b lic a d a p ela p rim e ira vez
em 1765, co m b ase em o rig in a is m a n u s c rito s o b tid o s pela
v iú v a d e G ray. U m a se g u n d a edição foi p u b lic a d a em 1792
p o r P a tric k M air, em F a lk irk . A p re s e n te edição foi co m p o sta
n o v a m e n te a p a r tir da ed ição m ais a c u ra d a de 1792. (U m a
seleção de doze serm õ es d e ste v o lu m e foi re im p re ssa com o
Twelve Select Sermons, p o r W e s tm in s te r S ta n d a rd , em G isb o rn e ,
N ova Z e la n d ia , em 1961).
A o b ra Select Sermons in c lu i os se g u in te s:

• C in c o serm õ es so b re com o c o m b a te r 0 o rg u lh o
e s p iritu a l (2 Cor. 12:7a)
• Q u a tro so b re o ra r c o n tra a te n ta ç ã o (2 Cor. 12:8)
• T rês so b re o m é to d o pelo q u al D e u s re s p o n d e à
oração (2 Cor. 12:9)
• T rês so b re p rec io so s re m é d io s c o n tra as
a rtim a n h a s de sa ta n á s (2 Cor. 2:11)

837
Andrew Gray

• T rês so b re re s is tir ao d ia b o (T iag o 4:7)


• D o is so b re c o n te m p la r C ris to (Is. 65:1)
• D o is so b re o p ap el da ação d ilig e n te do c ristã o
na o b te n ç ã o da certeza da fé (2 P ed. 1:10)
• D o is so b re a p re c io sid a d e de C ris to p a ra os
c r e n t e s (1 P e d . 2:7)
• V ário s so b re ocasiões da C eia do S e n h o r
• U m a v a rie d a d e de serm õ es in d iv id u a is.

A lg u n s dos serm õ es in d iv id u a is m a is n o tá v e is in c lu e m
“ T h e N e c e ssity a n d E x ce lle n cy o f D e lig h tin g in G o d ” (Sal.
37:4), “ T h e M a n s io n s o f G lo ry P re p a re d for B eliev ers (João
14:2), “ T h e C h ris tia n ’s C ase a n d E x e rc ise in th e N ig h t o f
D e s e rtio n (C an t. 3:1), “ T h e In te rc o u rs e o f D iv in e L o v e
B etw een C h ris t a n d H is C h u rc h ” (C an t. 2:1,2), e “ T h e
N ecessity a n d A d v a n ta g e o f L o o k in g U n to J e s u s ” (Is. 45:22).
O v o lu m e c o n c lu i co m u m a c a rta e n v ia d a p o r G ray, do le ito
d e m o rte , p a ra Lord W aristo n .
R e c o m e n d a m o s fo rte m e n te esta ob ra. J u n ta m e n te com
The Works, ela c o m p le ta a re im p re ssã o dos e sc rito s de G ray,
com exceção de u n s p o u co s serm ões.

838
William Guthrie
(1620-1665)

illia m G u th rie n asceu em 1620 de Ja m e s G u th rie ,


W p ro p rie tá rio de te rra s em P itfo rth y , A n g u s. F oi o m ais
v elh o de c in c o filh o s h o m e n s, dos q u a is três se to rn a ra m
m in is tro s do e v an g e lh o . E le e s tu d o u sob seu p rim o , Jam es
G u th rie , n a U n iv e rs id a d e de St. A n d re w s, g ra d u a n d o -s e
com o M e stre em A rtes em 1638. P e rm a n e c e u na St. A n d rew s
p a ra e s tu d a r te o lo g ia sob S am uel R u th e rfo rd , q u e D eu s
uso u p a ra c h a m a r G u th rie ta n to p a ra a salvação com o p a ra o
m in is té rio . U m a vez c h a m a d o , G u th rie d e c id iu d a r a h e ra n ç a
de su a fa m ília a u m irm ã o m ais n o v o p a ra ficar liv re p a ra o
m in is té rio d e se m b a ra ç a d o dos c u id a d o s te rre n o s. E n q u a n to
isso, ele c o n tin u o u em e s tre ita a m iz a d e com seu p rim o Jam es,
até q u a n d o esse m o rre u n a forca, u m dos p rim e iro s a serem
e x e c u ta d o s n a p e rse g u iç ã o q u e se seg u iu à re sta u ra ç ã o de
C h a rle s II.
G u th rie foi lic e n c ia d o p a ra p re g a r pelo p re s b ité rio de St.
A n d re w s em 1642. D u ra n te d o is an o s ele foi p re c e p to r de Lord
M a u c h lin , filh o m a is v elh o do c o n d e de L o u d o u n , um dos
p rin c ip a is p a c tu á rio s. E m 1644, ele foi o rd e n a d o co m o m in is tro
em F e n w ic k , u m a p a ró q u ia de A y rsh ire q u e re c e n te m e n te
fora e sta b e le c id a com o ex ten sã o de K ilm a rn o c k . As co n d içõ es

839
PAIXAO P E L A PUREZA

da p a ró q u ia e ra m h o rro ro sa s. Im p e ra v a a ig n o râ n c ia . As
pessoas n ão te m ia m a D eu s. M u ito s ald eães se re c u sa v a m a
c o m p a re c e r aos cu lto s n a igreja e não q u e ria m to m a r te m p o
com c a teq u ese ou com c u lto fam iliar. N ão o b s ta n te , G u th rie
serv iu d ilig e n te m e n te co m o p astor. A té o ferece u d o is x e lin s a
u m h o m e m q u e p re fe ria ir caçar p a s s a rin h o s , se ele p ro m e te sse
fre q u e n ta r a igreja. N o p ró x im o D ia do S e n h o r, o h o m e m
veio à igreja. G u th rie p ro m e te u -lh e a m e sm a q u a n tia p a ra a
se m a n a se g u in te . O h o m e m n u n c a m ais falto u à igreja. F oi
c o n v e rtid o e m ais ta rd e to rn o u -s e p re s b íte ro da igreja.
Sob os v in te e u m an o s do seu m in is té rio em F e n w ic k ,
a c id a d e re c e b e u n o v o d e r r a m a m e n to d o E s p ír ito . A n o v a
ig re ja ficava rep le ta . C e n te n a s de p essoas to rn a ra m -s e
fre q u e n ta d o re s re g u la re s, re n a s c e ra m , e cresc e ra m n a graça
e no c o n h e c im e n to de C risto Jesu s. M a tth e w C ra w fo rd , q u e
era o m in is tro em E astw o o d , d isse q u e G u th rie “ c o n v e rte u
e c o n firm o u m u ito s m ilh a re s d e alm as, e foi c o n s id e ra d o
o m a io r p re g a d o r p rá tic o da E scó cia” (c ita d o p o r M a tth e w
V ogan, “ W illia m G u th r ie ” , Free Church Witness, [M arço
de 2003J, p. 4. G eo rg e H u tc h e s o n , q u e a ssistia G u th rie na
c e le b ra ç ã o da C e ia do S e n h o r, d isse q u e , se h o u v e u m a ig re ja
ch eia de sa n to s n a face da te rra , foi em F en w ick .
G u th rie caso u -se com A gnes C a m p b e ll u m an o d ep o is de
se e sta b e le c e r em F en w ick . M e n o s de u m an o d e p o is de casado,
ele foi c h a m a d o p a ra s e rv ir co m o capelão do e x é rc ito escocês,
d u ra n te a G u e rra C ivil. Q u a n d o G u th rie ficou g ra v e m e n te
e n fe rm o , a n te s de p a rtir, sua esposa d eix o u de p re o c u p a r-s e
com sua se g u ra n ç a na g u erra. E la s u je ito u -s e à s o b e ra n ia de
D eu s, c o m p re e n d e n d o q u e seu m a rid o estav a n as m ã o s de
D e u s em to d o e q u a lq u e r lugar. G u th rie foi p re se rv a d o d u ra n te
0 te m p o q u e p asso u no e x é rc ito e v o lto u p a ra a su a p a ró q u ia .
G u th rie so freu n u m e ro so s m ales físicos re la c io n a d o s com
estresse. E le p ro c u ro u v en cê-lo s, em p a rte , p ra tic a n d o a pesca
e a caça de aves. M esm o d u ra n te a caça ele d is c u tia v erd a d e s
e s p iritu a is com seus c o m p a n h e iro s de esp o rte.

840
William Guthrie

O tra b a lh o de G u th rie e ra a ssin a la d o p o r zelo e coragem .


C e rta ocasião, a lg u n s so ld a d o s q u e n ão tin h a m as cred e n c ia is
a d e q u a d a s, a p ro x im a ra m -s e da M esa do S enhor. G u th rie
fa lo u -lh e s com tão a m o ro sa se rie d a d e q u e eles im e d ia ta m e n te
v o lta ra m a seus assentos.
E m 1647, foi a ssin a d o u m tra ta d o e n tre C h a rle s I e alg u n s
n o b re s escoceses, q u e o b rig a v a o rei a u m ap o io lim ita d o
ao p re s b ite ria n is m o em tro c a da lib e rd a d e p a ra v o lta r ao
tro n o . E n tã o G u th rie ju n to u -se a seu p rim o Ja m e s, a S am uel
R u th e rfo rd e a J o h n L iv in g s to n , q u e ap o iav am a m in o ria
“ P ro te s ta d o ra ” em o p o sição aos “ R e s o lu c io n is ta s ” . E m 1654,
G u h trie se rv iu co m o M o d e ra d o r do S ín o d o “ P ro te s ta d o r” de
G lasgow em Ayr.
O u tra s n o m eaçõ es ta m b é m v ieram ao e n c o n tro de G u th rie .
E m 1649, foi d e sig n a d o p ara c o m p o r u m a co m issão que
d ev eria v is ita r a U n iv e rsid a d e de G lasgow . Poucos anos m ais
ta rd e , ele foi um dos e x a m in a d o re s en c a rre g a d o s de ap ro v ar
m in is tro s e p re le to re s an te s de eles a ssu m ire m as suas posições
eclesiásticas. N essa época ele recebeu c h a m a d o s p asto rais para
d iv ersas igrejas de g ra n d e p o rte , m as d ec lin o u de todos.
P5m 1657, u m a coleção de a n o taçõ es in é d ita s dos serm õ es
de G u th rie foi p u b lic a d a sem seu c o n s e n tim e n to , com o A
Clear Attractive, Warning Beam of Light. R e a g in d o a isso,
G u th rie p u b lic o u no a n o s e g u in te os seus serm õ es com o The
Christian’s Great Interest {As Raízes de uma Fé Autêntica). J o h n
O w en ficou m u ito im p re s sio n a d o com esses escrito s. Ele disse
a G u th rie q u e o seu p e q u e n o liv ro c o n tin h a m ais teologia do
q u e to d o s os e s c rito s d e le ju n to s . “ E le é u m d o s m a io re s
te ó lo g o s q u e já esc re v e ra m ” , disse O w en.
D e v id o a sua relação com W illia m C u n n in g h a m , co n d e
de G le n c a irn , foi p e rm itid o a G u th rie m a n te r seu p ú lp ito
d u ra n te vário s an o s d ep o is da re sta u ra ç ã o de C h arles II.
M as o a rc e b isp o de G lasgow , A le x a n d e r B u rn e t, e m b araçad o
d ia n te da recu sa de G u th rie a s u b m e te r-se ao episco p ad o
e com in v e ja das m u ltid õ e s q u e iam aos c u lto s de G u th rie ,

841
PAIXAO P E L A PUREZA

p riv o u -o do seu m in is té r io em 1664. N a q u a rta -fe ira a n te r io r


ao d o m in g o n o q u a l d e v e ria e fe tu a r-se a su sp e n sã o , o p o v o
de F e n w ic k o b s e rv o u u m d ia d e o ra ç ã o e je ju m . G u th r ie lh e s
p re g o u s o b re O sé ias 13:9: “ Ó Isra e l, d e s tr u ís te a ti m e s m o ” .
N o d o m in g o s e g u in te ele p re g o u seu ú ltim o s e rm ã o , b a se a d o
n o re s ta n te do te x to : “ M a s em m im e stá o te u s o c o rro ” . N o
Fim do s e rm ã o a c o n g re g a ç ã o e stav a em lá g rim a s.
Q u a n d o doze so ld a d o s p re n d e ra m G u th rie ao m e io -d ia
d aq u e le d o m in g o , ele d isse a u m deles: “O S e n h o r p e rd o e o
seu apoio a esta açã o ” . Q u a n d o o so ld a d o re s p o n d e u : “ E sp e ro
n u n c a c o m e te r m a io r falta” , G u th rie re s p o n d e u : “ U m p e q u e n o
p ecad o p o d e c o n d e n a r a alm a de u m h o m e m ” (J o h n H o w ie,
Lives of the Scottish Covenanters, p. 287).
G u th rie m o ro u q u ase u m an o na casa p a sto ra l de F en w ic k .
Q u a n d o v isitav a P itfo rth y p a ra c u id a r da p ro p rie d a d e da
fam ília d e v id o à m o rte do irm ã o , ele ad o ec eu g ra v e m e n te e
m o rre u de e n fe rm id a d e re n a l n o d ia 10 de o u tu b ro de 1665,
com a id a d e de q u a re n ta e cin co anos. D e ix o u vivas su a m u lh e r
e du as filhas. Q u a tro dos seus filh o s o p re c e d e ra m {n a m o rte ).
M u ito s dos e sc rito s de G u th rie fo ram c o n fisc a d o s e
d e s tru íd o s em 1682 p o r u m so ld a d o q u e v a sc u lh o u a casa
de sua viúva. U m a coleção de deze ssete dos seus se rm õ e s foi
im p ressa em 1779, e d ep o is em 1880, co m o Sermons Delivered
in Times of Persecution in Scotland.

The Christian’s Great Interest ( B I T ; 207 p á g in a s; 1969). E ste


liv ro é um clássico so b re a c erteza da fé. F oi im p re sso m a is de
o ite n ta vezes e foi tra d u z id o p a ra d iv e rsas lín g u a s, in c lu siv e
fran cês, alem ão , h o la n d ê s e g a é lic o .1
O liv ro de G u th rie está d iv id id o em d u a s seções. A
p rim e ira p ro v ê n u m e ro s o s te stes b íb lic o s s o b re c o m o a
1 L ín g u a o rig in a l d a Irla n d a e d a E sc ó c ia , a in d a falad a p o r p a rte s d e s s e s p aíses
( g a é lic o e s c o c ê s e g a é lic o irla n d ês). E u m r a m o d o c é ltic o . N o ta d o tra d u to r.

842
William Guthrie

pesso a p o d e sa b e r se é c ris ta ou não. O uso q u e G u th rie faz do


te rm o “ I n te r e s t” n o títu lo re fe re -se a u m a re iv in d ic a ç ã o legal
da a lia n ç a q u e C ris to faz com os cren tes. E le nos coloca no
c e n ã rio de u m a sala de trib u n a l p a ra serm o s e x a m in a d o s pelas
E s c ritu ra s p a ra d e te rm in a r se p o ssu ím o s a g raça salv ad o ra ou
não. D e p o is de p ro v a r q u e se p o d e d a r aos c re n te s a certeza
da sua salvação, G u th rie e x a m in a vários m eios pelos quais
os p e c a d o re s são tra z id o s a C risto . A se g u ir ele focaliza a fé
sa lv a d o ra co m o u m a e v id ê n c ia m u ito se g u ra de q u e a pessoa
te m u m in te re s se salvífico em C risto . E le d is tin g u e ta m b é m
essa fé da dos h ip ó c rita s. E le c o n c lu i a p rim e ira p a rte ex­
p ilc a n d o p o r q u e a lg u n s c re n te s d u v id a m do seu in te re s se
em C risto .
A se g u n d a p a rte fala so b re com o p o d e m o s alcan çar um
in te re sse salvífico em C risto . N o c a p ítu lo dois, “ W h a t it is to
C lose w ith G o d ’s G ospel P la n o f S aving S in n e rs by Jesus C h rist,
a n d th e D u ty o f So D o in g ” , G u th rie chega ao p o n to essencial
do seu tra ta d o . E ste c a p ítu lo é ú til p a ra aqueles que lu ta m para
v erific a r a re a lid a d e da sua fé. O c a p ítu lo se g u in te tra ta das
objeções q u e se p o d e le v a n ta r c o n tra a u n iã o com C risto , tais
com o excessiva p e c a m in o sid a d e , in c a p a c id a d e de crer, falta de
fru to s, e ig n o râ n c ia . O c a p ítu lo final d escreve a relação pactu ai
pessoal com D e u s em C risto . O liv ro c o n c lu i com um su m á rio
da o b ra em q u a tro p ág in as, na fo rm a de p e rg u n ta e resposta.
E m to d o este liv ro , G u th rie d is tin g u e e n tre as ex p e riê n c ia s
e x t r a o r d i n á r i a s d o c r e n t e e as c o m u n s . C o m is s o e le
a ju d a o s c re n te s sin c e ro s, q u e tê m m e n o sp re z a d o a sua
p ró p ria salvação p o rq u e e stiv e ra m p ro c u ra n d o e x p eriên cia s
e x tra o rd in á ria s so b re as q u a is firm a r a su a salvação, em
vez de d e sc a n sa re m n u m a fé co m o q u e in fa n til, c o n fia n d o
u n ic a m e n te em C risto .
Este é um livro m aravilhoso para os que estão buscando
certeza espiritual. T h o m as C halm ers afirm ou que este foi “0
m e lh o r livro que já li” . E acrescentou: “ Faz m u ito tem po que este
livro tem sido a obra favorita do povo sim ples da Escócia. Um a
adm irável pro p ried ad e desta obra é que, en q u an to guia, p u rific a ” .

843
Thomas Halyburton
(1674-1712)

h o m a s H a ly b u rto n n asceu no d ia 25 de d e z e m b ro de 1674


T em D u p p lin , P e rth s h ire . F oi um de o n ze filh o s, todos
m enos dois dos quais m o rreram na juventude. Seu pai, G eorge
H a ly b u rto n , foi m in istro de A berdalgie, P e rth sh ire , até sua
exoneração em 1676 p or m a n te r conventículos. M o rreu q u an d o
T h o m as estava com apenas sete anos de idade. A m ãe de T h o m a s,
M argaret, m u lh e r de p ro fu n d a piedade, tran sferiu a fam ília para
R o tterd am cm 1685 para escapar da perseguição. Ali T h o m as
recebeu um a breve educação clãssica na E rasm us School.
Q u a n d o as leis p enais c o n tra os p ro te s ta n te s d issid e n te s
foram revogadas sob a D eclaração de In d u lg ê n c ia em 1687, os
H a ly b u rto n vo ltaram para a Escócia. T h o m a s fre q u e n to u escola
em P e rth três ou q u a tro anos an te s de ir p ara a escola de G avin
W eir, em E d im b u rg o . L á p o r volta dos q u in z e anos de idade,
já era versado em grego, la tim e h o lan d ês. R ecebeu ta m b ém
co m p leta d o u trin a ç ã o religiosa. H a ly b u rto n diz em suas
Memoirs que ouvia três serm ões e duas preleções d o m in ic a is,
além de serm ões nas terças c q u arta s-fe ira s e de p releções nas
segundas e sextas. Q u arta-feira era d ia de re u n iã o de oração, e
sábado, de catecism o. N ão é de a d m ira r q u e ele se te n h a can sad o
dessas reu n iõ e s diárias e n q u a n to a in d a não era c o n v e rtid o .

844
Thomas Halyburton

E m 1692, H a ly b u rto n in g re sso u na U n iv e rsid a d e de


E d im b u rg o , o n d e p rim e iro co m eço u a p a d e c e r d e b ilita n te
im o b ilid a d e re s u lta n te , m u ito p ro v a v e lm e n te , de a rtrite
re u m á tic a . P o r razões de saú d e, ele se tra n s fe riu e n tã o p ara o
St. L e o n a r d ’s C ollege, St. A n d re w s, o n d e e s tu d o u sob T h o m a s
T ay lo r e se g ra d u o u re c e b e n d o o g ra u de M e stre em A rtes em
1696. E m to d o s os an o s q u e passou na u n iv e rs id a d e , ele lu to u
e s p iritu a lm e n te , em especial com d ú v id a s re lig io sas q u e ele
p ro c u ra v a re so lv e r - em vão - pelo e stu d o de filosofia. N ão
o b s ta n te , se n d o p ro fu n d a m e n te in flu e n c ia d o pela pregação
de T h o m a s E o rre s te r em St. A n d rew s, e a c h a n d o q u e dev eria
se g u ir seu p ai e seu c u n h a d o no m in is té rio , co m eço u a e s tu d a r
p a ra o m in is té rio q u a n d o serv ia co m o capelão de fam ília para
M a rg a re t W em yss, c o n d essa de W em yss. C o n tu d o , ele se se n tia
fora do seu e le m e n to e n tre a a ris to c ra c ia , e ta m b é m lu tav a
co m a d ific u ld a d e de lid a r com d iv e rsas q u estõ es teológicas
com as q u a is se d e fro n to u - cm p a rtic u la r os desafios o deísm o.
N o in íc io de 1698, fin a lm e n te H a ly b u rto n p ô d e ab raç ar
o S alv ad o r pela fé e obtev e a lg u m a certeza de q u e era um
c o n v e rtid o . E n tã o “ passou a ver a fé e a filosofia com o a n tité ti­
cas e a re je ita r q u a lq u e r te n ta tiv a de fu n d a r as convicções
do coração nas p ro d u ç õ e s da cabeça, c o n s id e ra n d o -a s um a
te n ta ç ã o d ia b ó lic a ” (Oxford DNH, 24.732).
N o an o se g u in te , H a ly b u rto n foi lic e n c ia d o p a ra p reg ar
o e v a n g e lh o pelo p re s b ité rio de K irk ald y . F oi o rd e n a d o em
1700, co m o m in is tro de C eres, F ife, a p o u cas m ilh a s de St.
A n d rew s. N o an o se g u in te , ele se casou com J a n e t, filh a e
h e rd e ira de D a v id W atso n , u m h e r it o r 1 em St. A n d rew s. O
casal teve ao m e n o s seis filh o s, três dos q u a is m o rre ra m na
in fân c ia. A o b ra Memoirs )M e m ó ria s} , de H a ly b u rto n m o stra
suas lu ta s sa n tific a d a s d u ra n te esses triste s tem p o s.
O m in is té rio de H a ly b u rto n foi fru tífe ro , m as d e n tro de
p o u co s an o s sua saú d e co m eço u a d eclin ar. A n tes do fim da

1 N ;1 H s e ó e i a . p r o p rie tá r io d e te rra s e m u m a p a ró q u ia . N o ta d o trad u to r.

845
PAIXAO P E L A PUREZA

década, p re g a r p asso u a ser d ifíc il p a ra ele. P ela p re o c u p a ç ã o


com su a saú d e, com o ta m b é m em re c o n h e c im e n to d e suas
h a b ilid a d e s, o p re s b ité rio e m p o sso u H a ly b u rto n co m o
p ro fesso r de te o lo g ia em St. A n d re w s em 1710. E ra m u ito
ta rd e ; H a ly b u rto n m o rre u no d ia 23 de s e te m b ro de 1712,
com tr in ta e sete an o s de idade. A seu p e d id o , foi s e p u lta d o
ao lado de S am uel R u th e rfo rd . S uas lá p id es, se p a ra d a s a p en a s
p o r p o le g ad as, a in d a p o d e m ser v istas h o je no c e m ité rio da
velh a c a te d ra l de St. A n d rew s.
A p esar de H a ly b u rto n te r sid o p a s to r p o r so m e n te doze
an o s, de h á m u ito vem se n d o c o n s id e ra d o co m o u m d o s m ais
d is tin to s teólogos da E scócia. J o h n D u n c a n c h a m o u -lh e “ um
J o h n O w en m e n o r” . H u g h M a rtin o classifico u , e a W illia m
C u n n in g h a m , co m o “ os d o is m a io re s te ólogos q u e a E scó cia
já p ro d u z iu ” .

Haliburton’s Works, Volume 1: Faith and Justification (JB ; 370


p á g in a s; 2000); Volume 2: Faith and Salvation (JB ; 425 p á g in a s;
2002); Volume 3: Faith and Revelation (JB ; 431 p á g in a s; 2003);
Volume 4: Faith and Experience (JB ; 387 p á g in a s; 2005).
O v o lu m e 1 d esta re im p re ssã o em q u a tro v o lu m es
dos e sc rito s de H a ly b u rto n c o n té m trê s b rev es tra ta d o s
re la c io n a d o s com a fé e a ju stificaç ão : 1

1. “A n E ssay C o n c e rn in g th e N a tu re o f F a ith ; or,


T h e G ro u n d u p o n w h ic h F a ith A sse n ts to th e
S c rip tu re s ” , (pp. 1-74), ex p lica a d e te rm in a ç ã o
do ap ó sto lo de p re g a r de tal m a n e ira “q u e a fé
q u e você p o ssu i n ão se firm e n a sa b e d o ria dos
h o m e n s, m as sim no p o d e r de D e u s ” (1 C o r 2:5).
C o n tra o filósofo in g lé s J o h n L o c k e (1632-1704),
q u e e n sin a v a q u e a razão deve ser o g u ia em to d a s

846
Thomas Halyhunon

as coisas, H a ly b u rto n d eclara q u e a v e rd a d e ira fé


re p o u sa na a u to rid a d e de D eu s. Hle escreve: “A
fé se ap o ia u n ic a m e n te n o te s te m u n h o de D eu s,
q u e se c o n firm a tal p a ra as alm a s dos c re n te s p o r
seu g lo rio so p o d e r, pelo q u a l, sem se a p ro p ria r
da a ju d a de n e n h u m o u tro sin a l, ele se ev id e n c ia
co m o a p alav ra do S en h o r, com u m a luz tão forte
q u e leva a alm a ao a s s e n tim e n to ” .
2. “A M o d e st In q u iry w h e th e r R e g e n e ra tio n o r
J u s tific a tio n h ás th e P re c e d e n c y in O rd e r o f
N a tu r e ” , p p . 75-98), m o stra q u e as b ên çã o s
da salvação estão re la c io n a d a s com a u n iã o do
c re n te com C ris to p a ra a q u al h á p ro v isã o na
a lia n ç a da graça.
3. “A n I n q u ir y in to th e N a tu re o f G o d ’s A ct o f
J u s tific a tio n ” (pp. 99-114), revela co m o D eu s
dá a c o n h e c e r a ju stificaç ão a Seu p ovo, ou , nas
p a la v ra s de H a ly b u rto n , “ co m o D e u s p ro fere
s e n te n ç a a favor do p e c a d o r” .
O v o lu m e 1 c o n té m ta m b é m dez serm õ es
(pp. 115-347) q u e m o stra m as seg u ras ân co ra s
b íb lic a s e o c a rá te r e x p e rim e n ta l da teologia
de H a ly b u rto n . O in te re s se d estes serm õ es
está em m a g n ific a r a g ra ç a de D e u s e le v a r os
p e c a d o re s a se h u m ilh a re m d ia n te do tro n o
da m is e ric ó rd ia 2 de D eu s. O foco cristo ló g ic o
de H a ly b u rto n é p a rtic u la rm e n te e v id e n te em
seus serm õ es in titu la d o s “ C h ris t C ru c ifie d ” ,
“ C o m m u n io n w ith C h r is t” e “ C h ris t th e B eau ty
a n d S afety o f B elie v e rs” .

O v o lu m e 2 c o n té m “ T h e G re a t C o n c e rn o f S alv a tio n ” , que

2 P ro p ic ia to r io . N o ta d o tra d u to r.

847
PAIXAO P E L A PUREZA

p o rm e n o riz a com n o tá v el clareza co m o o E s p írito S an to o p e ra


a salvação n o s p eca d o res. O liv ro é d iv id id o em trê s seções
q u e c o rre s p o n d e m à e s tru tu ra do C atecism o de H e id e lb e rg ,
que c o n siste em o h o m e m c o n h e c e r o seu p e c a d o e a sua
m isé ria , em e x p e rim e n ta r liv ra m e n to u n ic a m e n te em C risto ,
e em e x p re ssa r g ra tid ã o a D e u s p elo e stilo de v id a g e ra d o pela
sa n tid a d e . T u d o isso é p re c e d id o p o r u m serm ão in tr o d u tó r io
so b re A tos 10:29 (“ P e rg u n to p o is; p o r q u e razão m a n d a ste s
c h a m a r-m e ? ” ), c o n s id e ra n d o os p ro p ó s ito s e os m o tiv o s de
u m a co n g reg a ção q u a n d o c h a m a u m m in is tro .
A p rim e ira p a rte , “ U m a d e sc o b e rta do e sta d o n a tu ra l
do h o m e m , ou, o p e c a d o r c u lp a d o , c o n v ic to do seu p e c a d o ” ,
b asead o em R o m a n o s 3:23, c o n v e n c e p o d e ro s a m e n te o
h o m e m do p ecad o e n ão to lera n e n h u m a d e sc u lp a pelo
p eca d o , m o s tra n d o os d ra m á tic o s re s u lta d o s da c o n d e n a ç ã o
p ara os im p e n ite n te s . A se g u n d a p a rte , “A R ecu p e ra ç ã o do
h o m e m pela fé em C ris to ; ou a situ a ção e a c u ra do p e c a d o r
c o n v ic to ” , b asead o em A tos 16:29-31, o ferece liv re ou
g ra tu ita m e n te C ris to aos p e c a d o re s e b e la m e n te e q u ilib ra o
uso q u e o E s p írito faz da L e i e do e v a n g e lh o na salvação. A
p a rte fin al, “O d e v e r do c ristã o com re sp e ito à relig iã o pessoal
e fa m ilia r” , b asead a em Jo su é 24:15, d is c u te asp ecto s da v id a
em fam ília, fo c alizan d o e s p e c ia lm e n te o c u lto , a a u to rid a d e e
os votos b a tism a is. E ste v o lu m e é ex c e le n te em re lig io s id a d e
p rá tic a , e x p e rim e n ta l.
O v o lu m e 3 c o n té m a magnum opus de I la ly b u r to n ,
“ N a tu ra l a n d R evealed R e lig io n ” , im p o rta n te p o lê m ic a c o n tra
o deísm o . Seu títu lo c o m p le to é “ N a tu ra l R elig io n In s u ffic ie n t,
a n d R evealed {R elig io n ¡ N ecesary to M a n ’s E n q u iry in to th e
P rin c ip le s o f th e M o d e rn D e is ts ” . P u b lic a d o p rim e ira m e n te
em 1714 e fre q u e n te m e n te re im p re ssa , veio a ser u m a o b ra
p a d rã o so b re ap o lo g étic a. F az clara afirm a ç ã o da fé c ristã ,
d e fe n d e n d o -a com c u id a d o so e s tu d o , com só lid o ra c io c ín io
e com ardor.
S eg u n d o H a ly b u rto n , o d eísm o tem suas raízes no

848
Thomas Halyburton

c a to lic ism o ro m a n o e u ro p e u , q u e logo se e sp a lh o u ru m o ao


n o rte , a d e n tra n d o várias p a rte s da E u ro p a p ro te s ta n te . N o
sé c u lo d e z e sse te , o d e ísm o foi tra z id o p a ra a In g la te rra ,
o n d e foi a b ra ç a d o pelas pessoas das classes g o v e rn a n te s, em
p a rtic u la r e n tre os C av aleiro s, os p a rtid a rio s a risto c rá tic o s
dos re ís da casa dos S tu a rt, e m e m b ro s n o m in a is da Ig reja da
In g la te rra . E sses m e m b ro s da elite c u ltu ra l d esp rezav a m a fé
r e fo rm a d a d a I n g la te r r a p u r ita n a e d a E sc ó c ia p re s b ite r ia n a ,
e a c h a v a m q u e as n o v a s id é ia s v in d a s do c o n tin e n te e ra m
m a is ú te is n a lu ta c o n tra o p u rita n is m o . C o m o o a rm in ia -
n is m o , o d e ísm o veio a se r u m a a lte rn a tiv a m o d e rn a face às
c re n ç a s a n tig a s e à m o ra lid a d e c o n se rv a d o ra do c alv in ism o .
C o n tu d o , o d e ísm o era u m cam p o m isto . A lg u n s
p ro fe ssa v a m a lta c o n sid e ra ç ã o p ela fé c ristã , só p ro c u ra n d o
e x p u rg á -la de e le m e n to s irra c io n a is. O u tro s estav a m m u ito
d isp o sto s a u sar “d e sp rezo , g ro sse ria , iro n ia e s á tira ” p ara
a ta c a r o c ris tia n is m o . H a ly b u rto n re c o n h e c ia v ário s tip o s de
d e ísta s, m as p o r fim c o n c lu iu q u e o d e ísm o era, na m e lh o r
e x p re ssã o , u m a fé e rrô n e a , d e s titu íd a d e p o d e r e s p iritu a l e,
n a p io r, u m lib e rtin is m o m o ra lm e n te falido e u m ateísm o
p rá tic o .
O d e ísm o to rn o u -s e u m c re d o nas m ãos do “ pai do d e ísm o ” ,
L o rd H e rb e rt de C h e rb u ry (1581-1648), q u e p ro p u n h a cinco
a rtig o s de fé com o valores u n iv e rsa is da relig iã o n a tu ra l:
a fé n u m ser s u p re m o , a o b rig aç ão de a d o rar, a valorização
de u m a c o n d u ta ética, a n e c e ssid a d e de a rre p e n d im e n to , e
re c o m p e n sa s e p u n iç õ e s d iv in a s n e sta vida e n a v in d o u ra .
C om C h a rle s B lo u n t (1654-1693), o d eísm o to rn o u -s e urna
p la ta fo rm a a p a r tir da q u al se rid ic u la riz a v a m os e n sin o s do
c ris tia n is m o h istó ric o . O u tro s levam a d ia n te essas idéias,
a ta c a n d o v ig o ro s a m e n te o c ris tia n is m o h is tó ric o em n o m e
d a razão.
O d e ísm o flo resceu p o r u m te m p o , e d ep o is caiu sob seu
p ró p rio p eso , co m o u m a á rv o re q u e adoece e m o rre . T am bém
caiu p o rq u e h o m e n s co m o T h o m a s H a ly b u rto n se le v a n ta ra m

849
PAIXAO P E L A PUREZA

p ara d e fe n d e r o c ris tia n is m o , e x p o n d o os e rro s e a p re s u n ç ã o


do d eísm o . H o je vem os o leg ad o do d e ísm o n a te n d ê n c ia de
e x p lic a r q u ase tu d o em te rm o s m e c â n ic o s ou n a tu ra lis ta s.
J o h n N e w to n re c o m e n d o u o tra ta d o de H a ly b u rto n c o n tra
o d eísm o a T h o m a s S co tt, d e c la ra n d o : “ D o u tão a lto v a lo r a
este liv ro de H a ly b u rto n q u e , a in d a q u e eu p u d e s s e s u b s titu í-
-10 p o r o u tro , n ão sei se o c e d e ría p o r seu peso em o u ro ”
(B u rn s, “ In tro d u c to ry E ssa y ” , Works, ed ição de 1835, p. xxv).
O v o lu m e 4 c o n té m as m e m o ria s de H a ly b u rto n (v er
a b aix o ), m a is trê s fra g m e n to s c u rto s n ã o p u b lic a d o s a n te s
n u m v o lu m e das o b ra s de H a ly b u rto n : “ T h e O b lig a tio n
o f O a th s to P o s te rity ” e d o is serm õ es, b e m co m o “A S h o rt
A c c o u n t o f L a d y A n n e E lc h o ’s D e a th ” . O v o lu m e fin al c o n té m
ta m b é m ín d ic e s d e a s s u n to s e d e te x to s das E s c ritu ra s v á lid o s
p a ra to d a a s é rie de v o lu m es.

Memoirs of Thomas Halyburton, o b ra e d ita d a p o r Jo el R. B eeke


(R H B ; 344 p á g in a s; 1996). O liv ro Memoirs de H a ly b u rto n ,
o rig in a lm e n te e sc rito p a ra o p ró p rio a u to r e p a ra su a fa m ilia ,
foi to rn a d o p ú b lic o p rim e iro p o r sua esposa em 1715, e foi
re im p re sso m u ita s vezes. M u ita s ed içõ es p o s te rio re s a 1718
in c lu e m u m p refácio e sc rito p o r Isaac W atts, J o h n W esley e
G eorge W h ite fíe ld , a c re sc e n ta d o de u m p ró lo g o n u m a ed ição
a b re v ia d a em 1739.
As Memoirs de H a ly b u rto n re g is tra m u m a n o tá v e l jo rn a d a
e s p iritu a l, c u lm in a n d o n u m dos e x tra o rd in á rio s te s te m u n h o s
n o le ito de m o rte re g is tra d o s n a h is tó ria da Ig reja. E m seu
le ito de m o rte , H a ly b u rto n escrev eu : “ B en d ig o o S e n h o r que,
q u a n d o eu estava tre m e n d o sob os te rro re s da lei de D e u s,
E le o p o rtu n a m e n te m e liv ro u do d e se sp e ro p ela d e sc o b e rta
do ab e n ç o a d o c a m in h o da salvação p o r m e io de u m S alv a d o r
c ru c ific a d o , p a ra os p e c a d o re s q u e d e s tru ía m a si m e sm o s.
{Essa foi} u m a d e sc o b e rta tal q u e m e fez re so lv e r re n u n c ia r
a tu d o , p a ra p o d e r te r o c a m p o , C risto , 0 te so u ro n E le o c u lto ,
e a p e d ra de g ra n d e p reço . N ão há n a d a q u e eu te m a ta n to

850
Thomas Halyburton

co m o c o m e te r u m e rro n e s ta q u estão . É so m e n te C risto que


re s p o n d e a d e q u a d a m e n te à m in h a situ a ç ã o , e sem Ele eu
e s ta ria d e s tru íd o ; n E le - na eficácia dos Seus so frim e n to s,
n o p o d e r da Sua re ssu rre iç ã o e da Sua c o m p le ta m ediação,
re v e la d o s no e v a n g e lh o - c o n s tru o re a lm e n te to d a a m in h a
e s p e ra n ç a ” .
Q u a se s e te n ta p á g in a s d estas a n o taçõ es feitas p o r
H a ly b u rto n em seu le ito de m o rte levam o le ito r p a ra p e rto das
p o rta s do céu. E is u m ex em p lo : “ V em , a m a d o S e n h o r Jesus,
rece b e este e s p írito , q u e esvoaça co m o u m p ássa ro d e n tro
do m e u p e ito p a ra e sc a p a r de u m laço. E sp e ro Tua salvação
co m o a s e n tin e la v ig ia à e sp era da m a n h ã . C an sa d o e sto u das
d e m o ra s. D esfaleço p o r T ua salvação. P o r q u e as ro d as de Tua
c a rru a g e m são tão le n ta s ? ” (pp. 266,267).
T alvez o tra ç o m a is s in g u la r d e sta a u to b io g ra fia seja a
c e n tra liz a ç ã o n a P alavra. D e p o is de q u ase cada e x p e riê n c ia
re g is tra d a , H a ly b u rto n p ro v ê u m te x to q u e ilu m in a essa
p a rtic u la r e x p e riê n c ia . M u ita s vezes a seleção é n o ta v e lm e n te
b e m feita, o q u e a ju d a o le ito r a v e r o v alo r d e se e x a m in a r
to d a e x p e riê n c ia à lu z da P a la v ra de D e u s (Is. 8:20).
O liv ro foi lid o la rg a m e n te n a E scócia, n a In g la te rra e
na A m é ric a , e a in d a h o je é elogiado. J o h n D u n c a n o ig u alo u
a Confissões de A g o stin h o e a Grace Abounding {G raça
A b u n d a n te ) , de B u n y a n . A rc h ib a ld A le x a n d e r escreveu:
“ N ão h á p ro d u ç ã o , n o g ê n e ro , n a q u a l os ex erc ício s do coração
h u m a n o , ta n to a n te s co m o d ep o is da reg e n e ra ç ã o , sejam
tão n itid a m e n te d e s c rito s ” . S am u el M ille r e C h a rle s H o d g e
d isse ra m : “ E ste liv ro m e re ce u m lu g a r no seio de cad a fa m ília ” .

851
Samuel Rutherford

i l h o m a i s v e lh o d e u m c o n h e c i d o f a z e n d e ir o , S a m u e l
F R u th e rfo rd n a sce u em 1600 e m N is b e t, R o x b u rg h s h ire .
S e u s p a is n o t a r a m s e u s d o n s i n t e l e c t u a i s e a c r e d i t a r a m q u e
D e u s o c h a m a ria p a ra o m in is té rio , a p e sa r d e r a ra m e n te
fa la re m s o b re C ris to d e m a n e ir a e x p e rim e n ta l. P o s te r io r m e n te
R u th e r f o r d e s c re v e u q u e e m se u lu g a r d e n a s c im e n to “ C ris to
e r a r a r a m e n t e m e n c i o n a d o n o t o c a n t e a a lg u m a r e a l i d a d e o u
p o d e r d a p i e d a d e ” ( Letters , p . 6 8 0 ). R u t h e r f o r d fo i e d u c a d o ,
p rim e iro em Je d b o ro u g h , e d e p o is na U n iv e rs id a d e de
E d i m b u r g o , o n d e fo i e x c e l e n te c m l a t i m e g r e g o , e o b t e v e o
g r a u d e M e s t r e e m A r t e s e m 16 2 1 .
E m 1 6 2 3 , R u t h e r f o r d fo i e l e i t o p a r a s e r v i r c o m o p r o f e s s o r
de h u m a n id a d e s e m E d im b u r g o , c o m r e s p o n s a b ilid a d e s d e
p r e c e p t o r q u a n t o a o l a t i m . D o i s a n o s d e p o is , e le fo i f o r ç a d o a
r e n u n c i a r p o r t e r p r o c e d i d o i m p r o p r i a m e n t e c o m u m a jo v e m
c h a m a d a E u p h a m e H a m ilto n , c o m q u e m s u b s e q u e n te m e n te
se c a s o u . A p a r e n t e m e n t e , D e u s usou esse in c id e n te p a ra
in ic ia r o u p ro m o v e r a su a c o n v e rsã o . N u m a c a rta a R o b e rt
S tu a rt (1 6 3 7 ), R u th e r f o r d escrev eu : “T endes um a g ran d e
v a n ta g e m n a c a m in h a d a p a ra 0 céu p o r te rd e s p a rtid o p a ra a
p o r t a lo g o c e d o . A g i n d o c o m o u m to lo , c o m o a g i, e u p e r m i t i

852
Samuel Rutherford

q u e o m e u sol c h e g a sse às a llu ra s d o céu, e n o in íc io d a ta rd e ,


a n te s de já m e g u ia r p a ra a p o rta até 0 fin a l” .
E m 1625, R u th e rfo rd e s tu d o u teo lo g ia em E d im b u rg o
sob A n d re w R am say. D o is an o s m ais ta rd e , p e d ira m -lh e
q u e p a sto re a sse a igreja de A n w o th , nas p ro x im id a d e s de
Solw ay, em K ir k c u d b r ig h ts h ir e - cargo ao q ual seu n o m e
ficou in s e p a ra v e lm e n te ligado. J o h n W elsh, o p ie d o so g en ro
de J o h n K n o x , tin h a m in is tra d o nessa igreja de 1595 a 1600.
A n w o th era u m a p a ró q u ia ru ra l; seu povo estava esp alh a d o
em fa ze n d as n u m a região m o n ta n h o s a .
R u th e rfo rd le v a n ta v a -se d ia ria m e n te às 3 da m a d ru g a d a ,
d e d ic a n d o m u ita s h o ra s à oração e à m e d ita ç ã o . E le escreveu
so b re u m lu g a r fa v o rito p a ra o n d e fre q u e n te m e n te ia a pé a
fim de p o n d e ra r so b re as v e rd a d e s e s p iritu a is . “A li eu lu tav a
com o a n jo e p rev alecia . M atas, árv o res, c a m p in a s e m o n te s
são m in h a s te s te m u n h a s de q u e eu a u fe ria b elo e n c o n tro
e n tre C ris to e A n w o th ” (c ita d o em Christian Preachers, de
N ig el C liffo rd , p. 132).
R u th e rfo rd tra b a lh o u e fic ie n te e in c a n sa v e lm e n te p o r
sua c o n g reg a ção d u ra n te q u ase u m a década. U m id o so p a s to r
c o n te m p o râ n e o escrev eu : “C o n h e c í m u ito s g ra n d e s e bo n s
m in is tro s n e s ta ig reja, m as q u a n to a u m a p eça de b a rro com o
foi o sr. R u th e rfo rd , n u n c a c o n h e c í n in g u é m se m e lh a n te a
ele, a q u e m fo ram d ad o s ta n to s d o n s, p o is p a re c ia to ta lm e n te
to m a d o p o r tu d o o q u e é b o m , e x ce len te e ú til. P arecia que
ele estav a s e m p re o ra n d o , se m p re p re g a n d o , s e m p re v isita n d o
os d o e n te s, s e m p re c a te q u iz a n d o , se m p re esc re v e n d o e
e stu d a n d o ... M u ita s vezes eu ach av a q u e ele iria sa ir v o an d o
do p ú lp ito q u a n d o v in h a falar so b re Je su s C risto . E le n u n c a se
s e n tiu à v o n ta d e , sen ão q u a n d o estava re c o m e n d a n d o C risto.
N a cam a, ele caía no so n o fala n d o de C ris to ” (T h o m a s M ’C rie,
The Story of the Scottish Church, p. 48).
U m c o m e rc ia n te in g lês falou so b re isso d esta m a n eira:
“ V im a Irv in e e o uvi u m b e m fav o recid o e b em p o sto ancião
[D a v id D ic k s o n ], com su a lo n g a b a rb a , e esse h o m e m m e fez

853
PAIXAO P E L A PUREZA

v er to d o o m e u coração. D e p o is fui à igreja de St. A n d re w s,


o n d e o uvi u m h o m e m de suave e m a jesto sa a p a rê n c ia [R o b e rt
B la ir], e e le m e fez v e r a m a je s ta d e d e D e u s . D e p o is o u v i
u m baix o e b o m h o m e m [R u th e rfo rd ], e ele m e fez v er a
fo rm o su ra de C ris to ” .
M a rc u s L o a n e escreve: “O m in is té rio de R u th e rfo rd em
A n w o th foi u m a n o b re a p ro x im a ç ã o do e s p lê n d id o id e al do
Reformed Pastor, de B a x te r” ou do Country Parson, de H e r b e r t
(.Makers of Puritan Histoiy, p. 70). T odavia, os an o s q u e ele
passou em A n w o th fo ram c a rre g a d o s de aflição. A co n so laç ão
q u e o seu m in is té rio e as suas cartas le v a ra m a m ilh a re s foi
fo rjad a n o c riso l das p e rd a s pessoais. Sua m u lh e r, E u p h a m e ,
m o rre u em 1630, d e p o is de so fre r in te n s a m e n te p o r trez e
m eses. C om exceção de u m a filh a , to d o s os filh o s q u e ela e
R u th e rfo rd tiv e ra m m o rre ra m cedo. D u ra n te este te m p o o
p ró p rio R u th e rfo rd caiu g ra v e m e n te e n fe rm o , d e v id o à feb re
alta. D e p o is, em 1635, a m ãe de R u th e rfo rd , q u e v ie ra m o ra r
com eles, ta m b é m m o rre u .
N em s e m p re R u th e rfo rd a c h o u fácil c o n v iv e r com isso. P o r
u m la d o , ele era p ie d o so e h u m ild e . P o r o u tro , e ra u m h o m e m
de fo rtes em o çõ es q u e o c a s io n a lm e n te p e rd ia as e s trib e ira s
e a m o n to a v a ofensas so b re os seu s o p o n e n te s. O p ró p rio
R u th e rfo rd u m a vez d isse a D a v id D ic k s o n : “ Sou feito de
e x tre m o s ” . T am b ém so fria de d e p re ssã o fre q u e n te m e n te . N ão
o b s ta n te , D e u s u so u esses p e río d o s p a ra p re p a ra r R u th e rfo rd
p a ra c o n fo rta r o u tro s c re n te s so fred o res.
R u th e rfo rd foi p o litic a m e n te ativ o d u r a n te o seu m in is ­
tério . E m b o ra s e n d o u m a p a ró q u ia de m e n o r p o rte , A n w o th
era e stra te g ic a m e n te localizada. E ra re s id ê n c ia de d iv e rsas
pessoas in flu e n te s , p a r tic u la rm e n te a fa m ília G o rd o n ,
com a q u al R u th e rfo rd se a lio u . F a z e n d o uso dessa relação ,
R u th e rfo rd logo se to rn o u u m fo rte o p o n e n te do e p isco p a d o .
E sc re v e u seu p r ó p r io c a te c ism o e o rg a n iz o u o casiõ e s de
je ju m e oração em reação à c o rru p ç ã o da Igreja.
E m 1630, R u th e rfo rd rec e b e u c h a m a d o p a ra c o m p a re c e r

854
Sam uel Rutherford

d ia n te d a A lta C o rte de C o n cessõ es em E d im b u rg o p o r


n ã o c o n fo rm id a d e aos A rtig o s de P e rth . Isso n ão o deteve.
C o m o escrev e J o h n Coffey, “ E le se en v o lv eu n a c o n tro v é rsia
a rm in ia n a , d is s e m in a n d o in fo rm a ç ã o p o lític a , in te rfe rin d o
n as eleições m u n ic ip a is ... [Ele] p re p a ro u um tra ta d o em la tim
c o n tra a te o lo g ia dos a rm in ia n o s e dos je su íta s, e fez c irc u la r
tra ta d o s m a n u s c rito s q u e tin h a e sc rito p a ra ju s tific a r os
c o n v e n tíc u lo s ” (Politics, Religion, and the British Revolutions:
The Mind of Samuel Rutherford, pp. 41,42).
Isso p ô s R u th e rfo rd em c o n flito com as a u to rid a d e s da
Ig reja , q u e era m d o m in a d a s p elo e p isc o p a d o inglês. E le foi
c h a m a d o a c o m p a re c e r p e ra n te a A lta C o rte em ju lh o de 1636.
A p ó s u m ju lg a m e n to d e trê s d ia s, ele foi p riv a d o do seu
o fíc io m in is te ria l, p ro ib id o de p re g a r em q u a lq u e r p a rte da
E scó cia e c o n fin a d o em A b e rd e e n .
A b e rd e e n e ra u m b a stiã o do a rm in ia n is m o , estava
c o m p ro m e tid a com o e p isc o p a d o e se o p u n h a fo rte m e n te ao
p re s b ite ria n is m o re fo rm a d o q u e R u th e rfo rd ta n to prezava.
T u d o isso, a c re sc id o da sep araçã o da sua co n g reg a ção ,
foi u m a d u ra p ro v a p a ra R u th e rfo rd . O s d o m in g o s eram
p a rtic u la rm e n te d ifíceis. “A le m b ra n ç a da c o m u n h ã o q u e eu
m a n tin h a com C risto , em m u itís s im o s belos dias em A n w o th ,
q u ase p a rtira m em d o is p ed aç o s a m in h a fé” , escrev eu ele ao
p re fe ito de Ayr. D u ra n te 0 seu e x ílio , R u th e rfo rd d e b a te u
o a rm in ia n is m o e as c e rim ô n ia s com R o b e rt B a rro n , um
m é d ic o de A b e rd e e n , d a n d o m o stra s de ser u m d is p u ta d o r
n o ta v e lm e n te e fic ien te.
T am b ém escrev eu m u ita s carta s p a ra a su a congregação.
A in d a h o je so m o s a b e n ç o a d o s p o r suas carta s, p a rtic u la rm e n te
p o r su a c e n tra lid a d e em C risto . Ao p ro p rie tá rio de te rra s de
C ally ele escrev eu em 1637: “ D e d iq u e a C risto o seu casto
a m o r; você n ão p o d e co lo car seu a m o r e seu coração em
m e lh o re s m ãos. O h , se você O co n h e c e sse e visse Sua beleza,
o seu am o r, o seu p raze r, o seu co ração , os seus desejos se
u n iría m a E le e se a p e g a ria m a E le !” R u th e rfo rd teve m u ito s

855
PAIXAO P E L A PUREZA

p e río d o s de a g rad á v el c o m u n h ã o com C ris to em A b e rd e e n .


“ N u n c a c o n h e c í, n o s m e u s n o v e an o s de p reg aç ão , ta n to do
a m o r de C risto co m o o q u e Hie m e e n s in o u em A b e rd e e n ” , ele
escreveu à sua co n g reg ação . “ D o ces, doces tê m sid o as Suas
co nsolações p a ra a m in h a a lm a ; m in h a p e n a , m in h a lín g u a
e m e u coração não tê m p alav ras p a ra e x p re ssa r a b o n d a d e ,
o a m o r e a m is e ric ó rd ia d o m e u B e m -a m a d o p a ra c o m ig o ,
n e s ta casa da m in h a p e re g rin a ç ã o ” {Letters, p p . 227, 357).
E m 1638, h o u v e u m a escalad a dos c o n flito s e n tre 0
p a rla m e n to e o re i n a In g la te rra , b em co m o e n tre o p re s b ite ria -
n is m o e o ep isc o p a d o n a E scócia. D e p o is q u e a A lia n ç a N a c io n a i
foi a s s in a d a , o a c o rd o q u e a n u n c io u u m a n o v a a u r o r a p a ra
a causa de C risto na E scócia, R u th e rfo rd saiu e s c o n d id o de
A b e rd e e n e v o lto u p a ra A n w o th , p o ré m , não p o r m u ito te m p o .
A A ssem b léia G eral da Ig re ja da E scócia logo re s ta u ro u 0
p re s b ite ria n is m o n o te rritó rio e n o m e o u R u th e rfo rd p a ra
a posição e stra té g ic a de p ro fe sso r de teo lo g ia n o St. M a ry ’s
C ollege, St. A n d rew s. E le a c e ito u com re lu tâ n c ia a p o siç ã o , e
só com a c o n d iç ã o d e q u e lh e fosse p e r m itid o p re g a r ao m e n o s
u m a vez to d o s os d o m in g o s. S air de A n w o th lhe foi difícil.
“ N u n c a desejei ta n to a m o rte ” , escrev eu ele. “O S e n h o r a ju d e
e s u s te n te este triste b a rro .” R u th e rfo rd c o m p a rtilh o u um
p ú lp ito na igreja da u n iv e rs id a d e com R o b e rt B la ir e p re g o u
com razoável re g u la rid a d e em v ário s p ú lp ito s de St. A n d rew s.
Suas p rele çõ es e p reg açõ es cau sa ra m g r a n d e im p a c to n o s
e s tu d a n te s d e te o lo g ia . U m a lu n o fa lo u p o r m u ito s q u a n d o
escreveu: “ D e u s s e c u n d o u tão s in g u la rm e n te seus la b o re s,
ta n to n o e n s in o com o n a p reg aç ão , q u e a u n iv e rs id a d e to r n o u ­
-se d e im e d ia to u m L íb a n o d o q u a l e ra m e x tra íd o s c e d ro s
p a ra a ed ificaçã o da casa do S e n h o r p o r to d o 0 te r r itó r io ”
(c ita d o em C liffo rd , {Christian Preachers], p. 135).
E m 1640, R u th e rfo rd casou-se com Je a n M ’M a th , d e sc rita
com o “ u m a m u lh e r de g ra n d e valor e p ie d a d e ” . D o seu
casam en to a n te rio r ele teve u m a filh a, A gnes, e do se g u n d o
casam en to , m ais seis filh o s, to d o s os q u ais m o rre ra m a n te s de

856
Sam uel Rutherford

S am u el R u th e rfo rd . D o is deles m o rre ra m n a in fâ n c ia , an te s de


ele sa ir p a ra c o m p a re c e r à A ssem b léia de W estm in ster. O u tro s
d o is m o rre ra m e n q u a n to ele e sua m u lh e r estavam em L o n d res.
Q u a n d o , em 1643, c o m eço u a A ssem b léia de W e stm in ster,
R u th e rfo rd foi u m dos seis escoceses c o m issio n a d o s
c o n v id a d o s p a ra p a rtic ip a r; ele p e rm a n e c e u até o u tu b ro de
1647, m a is te m p o do q u e q u a lq u e r dos o u tro s. E m b o ra os
escoceses p re fe risse m não votar, tiv e ra m g ra n d e in flu ên cia .
R u th e rfo rd , em p a rtic u la r, c o n trib u iu s u b s ta n c ia lm e n te p ara
as d e lib e ra ç õ e s teo ló g icas e p a ra o B reve C atecism o . T am bém
p re g o u o c a s io n a lm e n te d ia n te do L o n g o P a rla m e n to .
D u r a n te esse p e río d o , R u th e rfo rd escrev eu ao m e n o s cinco
liv ro s, in c lu s iv e Lex Rex (1644). E ste liv ro tra ta do d ire ito
do m a g is tra d o de re q u e re r o b e d iê n c ia dos seus s ú d ito s e das
o b rig aç õ es dos s ú d ito s p a ra com os m a g istra d o s. E le se d eb ate
com q u e stõ e s re la c io n a d a s com os d ire ito s n a tu ra is , a lei civil,
a o b e d iê n c ia c ristã , e a ética c ristã. R u th e rfo rd d e fe n d e as
lim ita ç õ e s do d ire ito d iv in o dos reis. A co ro a é o u to rg a d a pelo
c o n s e n tim e n to v o lu n tá rio do p ovo; logo, o povo te m lib e rd a d e
p ara re s is tir ao tira n o .
O u tro s liv ro s q u e R u th e rfo rd escrev eu d u ra n te os anos
em q u e p a rtic ip o u da A ssem b léia in c lu e m The Due Right
of Presbyteries, (u m a defesa do p re s b ite ria n is m o c o n tra os
in d e p e n d e n te s ), The Divine Right of Church Government and
Excommunication, (u m a defesa da re g u la m e n ta ç ã o do cu lto e
das p e rm a n e n te s o b rig aç õ es do g o v e rn o eclesial ex erc id o p o r
p re s b íte ro s e p re s b ité rio s ), Survey of the Spiritual Antichrist
(u m a defesa c o n tra o a n tin o m ia n is m o e d iv e rsas seitas), e The
Trial and Triumph of Faith (u m liv ro de serm õ es so b re a o b ra
sa lv ad o ra q u e C ris to realizo u n a m u lh e r can an éia).
M enos de dois anos depois de ter voltado p ara St. A ndrew s,
no o u to n o de 1647, R u th e rfo rd foi n om eado d ire to r do St. M a ry ’s
College e, em 1651, re ito r da U n iv ersid ad e . Passou os últim o s
catorze anos de sua vida e n sin a n d o e p reg an d o em St. A ndrew s.
Seus livros lhe tro u x era m fam a e convites no fim da década

857
PAIXAO P E L A PUREZA

de 1640 e no p rin c íp io da de 1650 p ara ligar-se a prestigiosas


faculdades na H o la n d a , U tre c h t inclusive, o n d e V oetius estava
e n sin an d o . R u th e rfo rd d eclin o u de todos os convites.
In fe liz m e n te , a d écad a de 1650 não foi p a cífica; a Ig reja
da E scocia c in d iu -s e em d o is p a rtid o s . O s “ R e s o lu c io n is ta s ”
a p o ia ra m a coroação escocesa de C h a rle s II e as reso lu çõ e s
p ú b lic a s a p re s e n ta d a s à A ssem b léia G eral de 1651, p e r m itin d o
q u e os q u e a p o ia ra m C h a rle s I v o ltasse m a seus oficios.
R u th e rfo rd e seus colegas “ P ro te s ta d o re s ” o p u s e ra m -s e a
esses atos. A lu ta s u b se q u e n te sep a ro u R u th e rfo rd de a lg u n s
dos seus am ig o s m ais c h eg a d o s, in c lu siv e D a v id D ic k s o n e
R o b e rt Blair.
Q u a n d o , em 1660, a m o n a rq u ia foi re s ta u ra d a , R u th e rfo rd
sabia q u e a p e rse g u iç ã o esp erav a p o r ele. E m 1661, ele foi
acu sad o de tra iç ã o e foi p riv a d o de su a igreja, de sua c á te d ra na
u n iv e rs id a d e e do seu e stip ê n d io . M a n d a ra m q u e im a r seu liv ro
Lex Rex e desfazer seu p re s b ité rio . O p ró p rio R u th e rfo rd so freu
p risã o d o m ic ilia r. F in a lm e n te , o p a rla m e n to , p ro c u ra n d o
e lim in a r to d a a re s is tê n c ia a C h a rle s II, s e n te n c io u os líd e re s
p a c tu á rio s m ais p ro e m in e n te s à forca. R u th e rfo rd a n te c ip a n d o
isso c o n s id e ro u u m p riv ilé g io d a r sua v id a p o r seu Salvador.
C o n so lo u -o sa b e r q u e Lady K e n m u re c o n c o rd a ra em c u id a r
de sua esposa e da filh a A gnes, de doze an o s de id ad e.
N esse te m p o , em 1661, c h eg o u a in tim a ç ã o do C o n se lh o
a c u sa n d o -o de tra iç ã o e e x ig in d o 0 seu c o m p a re c im e n to .
R u th e rfo rd já estav a em seu le ito de m o rte . E le a p e lo u p a ra
u m trib u n a l s u p e rio r o fe re c e n d o a m e m o rá v e l re sp o sta:
“ D izei a eles q u e já rece b í a in tim a ç ã o de um s u p e rio r juiz e
trib u n a l, e devo a te n d e r à m in h a p rim e ira co n v o ca ção ; e a n te s
de c h e g a r o vosso d ia , e sta re i a o n d e c h e g a rã o p o u c o s reis e
pessoas p ro e m in e n te s ” . Q u a n d o o C o n se lh o v o lto u e re la to u
ao p a rla m e n to q u e R u th e rfo rd estava à b e ira da m o rte , o
p a rla m e n to d e c id iu q u ase u n á n im e m e n te não p e r m itir q u e ele
m o rre sse no college. A isso, Lord B u rle ig h re s p o n d e u : “ Vocês
têm v o ta d o q u e esse h o m e m h o n e s to fiq u e fora do seu college,
m as não p o d e m v otá-lo p a ra fora do c é u ” (M ’C rie , pp. 51-53).

858
Sam uel Rutherford

R u th e rfo rd p ro c u ro u re c o n c ilia r-se com a q u eles com


q u e m h av ia c o n te n d id o , e m o rre u em paz no d ia 30 de m arço
de 1661, n o St. M a ry ’s C ollege, St. A n d rew s. A lg u m a s de suas
ú ltim a s p a la v ra s fo ram : “ V iverei e a d o ra re i a C ris to ; g ló ria a
m e u R e d e n to r p a ra se m p re . G ló ria , a g ló ria, h a b ita n a te rra de
E m a n u e l” . A seu s colegas m in is tro s ele disse: “C aro s irm ão s,
façam tu d o p o r C risto . O re m p o r C risto . P re g u e m p o r C risto.
C u id a d o p a ra n ão q u e re re m a g ra d a r os h o m e n s ” . C o m sua
m o rte , a E scócia p e rd e u u m dos m a io res teólogos, u m dos m ais
p o d e ro so s p re g a d o re s, u m dos e sc rito re s m ais d e v o c io n a is e
um dos m a io re s p e n s a d o re s p o lític o s.
R u th e rfo rd foi s e p u lta d o no c e m ité rio da velh a c a te d ra l,
em St. A n d rew s. Sua lá p id e , q u e a in d a se p o d e ver a tu a lm e n te ,
tra z estas p a la v ra s m e m o ráv eis:

Que língua ou pena ou habilidade humana


Pode 0 ilustre Rutherford recomendar?
Sua cultura com justiça elevou sua fama,
Vera piedade ornamentou seu nome.

Coloquio teve com 0 amor de Emanuel.


Muito ortodoxo e firme se posicionou,
E muitos erros em confusão colocou.

Pelo rei e pela causa de Sião,


E também pelas leis pactuais da Escócia,
Constantemente lutou com bravo coração,
Até quando sua hora final chegou.
Então obteve plena fruição
Da glória que já vira em visão.

Communion Sermons (B B ; 362 p á g in a s; 1986). E d ita d o p o r


A n d re w B o n a r n a d écad a de 1870, este liv ro c o n té m cato rze

859
ΡΑ ΙΧA ü P E L A PUREZA

serm õ es p a ra as ocasiões da C eia do S en h o r, p u b lic a d o s a


p a rtir de a n o taçõ es feitas p o r o u v in te s de R u th e rfo rd . B o n a r
escreveu no prefácio : “ T odos os q u e a p re c ia m as c a rta s de
R u th e rfo rd ac o lh e rã o de b o m g ra d o a re im p re ssã o d e ste liv ro ,
in titu la d o (q u a n d o de sua p rim e ira im p re ssã o ) Collection of
Valuable Sermons Preached on Sacramental Occasions, in the
years 1630, 1634 and 1637‫ ״‬.
His u m ex em p lo co lh id o dessa o b ra : “ M u ito s tê m luz, com o
os e n fe rm o s têm c a rn e p e rto de sua cam a, m as não a p o d e m
u s a r” . D e aco rd o com R u th e rfo rd , m u ito s tê m lu z em suas
alm as, p o ré m não p o d e m d is c e rn i-la p a ra seu fo rta le c im e n to
e consolo. E stes serm õ es a ju d a m os c re n te s com vistas a este
fo rta le c im e n to e consolo. S obre estes se rm õ es B o n a r escrev eu :
“ T odos eles re s p ira m o m e sm o e s p írito q u e as fam osas Letters
{Cartas), e estão ch eio s de sa b o ro sas ob serv açõ es e ilu stra ç õ e s,
com base n a d o u trin a b íb lic a e na e x p e riê n c ia c ris tã ” .

The Covenant of Life Opened ( P u r P u b ; 518 p á g in a s; 2005).


C om ag u d a p erce p ção , R u th e rfo rd rev ela a m a n e ira p ela q u al
D eu s e n tra em a lia n ç a com o h o m e m . E le in v e stig a a n a tu re z a
das alian ça s das o b ra s, da g raça e da re d e n ç ã o . A o lo n g o do
te x to , ele m o stra co m o a s o b e ra n ia de D e u s, a e x te n sã o da o b ra
de C risto na satisfação, n a ju stificaç ão , n a sa n tific a ç ã o e no
b a tis m o in f a n til, re la c io n a m -s e co m a a lia n ç a . E s ta e d iç ã o
foi re c o m p o sta a p a r tir da ed ição o rig in a l de 1655, o q u e a
to rn o u m ais fácil p a ra 0 leitor.

The Letters of Samuel Rutherford (B T T ; 768 p á g in a s; 1984).


U m fa c-sím ile da ed ição de O lip h a n t do fin al do século
dezenove, esta e d ição c o n té m to d a s as c a rta s de R u th e rfo rd .
Elas fo ram o rig in a lm e n te c o letad a s e p u b lic a d a s p o r R o b e rt
M acW ard, e x -alu n o , e e d ita d a s no século d eze n o v e p o r
A n d re w A. B onar. E m acré sc im o a esta edição de capa d u ra da
B a n n e r o f T ru th , u m a b ro c h u ra re s u m id a foi p u b lic a d a pela
T rust. Suas 206 p ág in a s c o n tê m e x tra to s seleto s das c a rta s de

860
Samuel Rutherford

R u th e rfo rd . O u tra s e d ito ra s im p rim ira m seleções m e n o re s


das cartas com títu lo s com o Loveliness of Christ e Gleanings
from the Past.
M u ita s das cartas de R u th e rfo rd (220 de 365) foram
escrita s e n q u a n to ele estava no exílio em A b erd een . As cartas
h a rm o n iz a m m a g n ífic a m e n te a d o u trin a refo rm a d a com as
ex p e riê n c ia s e s p iritu a is do cren te. Seis tópicos d o m in a m as
cartas: ( 1 ) 0 a m o r de R u th e rfo rd p o r C risto e seu desejo de
C risto (“ E u não d esejaria n a d a m ais p a ra m eu céu debaixo
da lua, e n q u a n to su sp iro n e sta casa de b a rro , senão festas de
a m o r com C risto , ren o v ad a s d ia ria m e n te ”, ele escreveu); (2)
seu p r o f u n d o se n so da h e d io n d e z do p e c a d o (m u ita s vezes
ele falava d a su a p ró p ria “ v ileza a b o m in á v e l” : “ S o m e n te
as m in h a s a sq u e ro sa s m isé ria s e as m in h a s c a rê n c ia s m e
q u a lific a ra m p a ra C ris to !” ); (3) seu d e v o ta d o in te re s se
p ela c au sa d e C ris to (a D a v id D ic k s o n ele esc re v e u n o d ia
p r im e ir o de m a io de 1637: “ M in h a tris te z a é q u e n ã o posso
te r C ris to elev ad o a c im a do p ó da E sc ó c ia , e p o s to n o a lto ,
a c im a do f irm a m e n to e do céu d o s c é u s ” ); (4) su a p ro fu n d a
c o m p a ix ã o p ela s a lm a s s o b re c a rre g a d a s e a n g u s tia d a s (a um
s a n to a n g u s tia d o ele esc re v e u : “ N o ssa s c ru z e s são co m o
lu fa d a s d e v e n to im p e lin d o n o sso n a v io p a ra casa; elas nos
c o n d u z e m a té a p o rta do céu , m as n ã o p o d e m s e g u ir-n o s
p a ra d e n tr o d o c é u ” ); (5) seu p r o f u n d o a m o r p o r seu re b a n h o
(ele e sc re v e u p a ra A n w o th n o d ia 13 de ju lh o de 1632: “O
m e u te s te m u n h o está a c im a , o céu de vocês se ria d o is céus
p a ra m im , e a salv aç ão d e vocês, d u a s salv a ç õ e s” ); e (6) seus
a rd e n te s a n s e io s p e lo céu (“O h , q u a n to te m p o vai d e m o ra r a
ra ia r do d ia do c a sa m e n to ! O d o ce Je s u s, v em a p asso s largos!
O m e u S e n h o r, v em a g a lo p e s o b re os m o n te s ” ).
D u r a n te os an o s q u e p asso u em A b e rd e e n , R u th e rfo rd
e x p e rim e n to u p ro fu n d a c o m u n h ã o com D eu s. E le escreveu
so b re esses e n c o n tro s com m a ra v ilh o s a lib e rd a d e . E is um
ex e m p lo do q u e ele p a rtilh o u com J o h n N ev ay em 1637: “ E u
e sta ria d isp o sto a su b sc re v e r u m a am p la re n ú n c ia ao C risto

861
PAIXAO P E L A PUREZA

dos C ato rze P relad o s... p a ra n ã o te r o u tro ex erc íc io q u e n ão


o de m e d e ita r no le ito de a m o r com C risto , e e n c h e r esta
alm a fa m in ta , esfo m ea d a, de beijo s, a b ra ç a n d o , e re a lm e n te
d e s fru ta n d o o F ilh o de D e u s: e p e n so q u e , n esse caso, eu
p o d e ría escre v e r a m eus am ig o s q u e e n c o n tre i o M u n d o de
O u ro ” (C arta 272).
C artas a d ic io n a is te stific a m do c u id a d o esp ecial d e D e u s,
e n c o ra ja n d o os c re n te s a p e rse v e ra re m na fé. A beleza da
o b ra de R u th e rfo rd está em q u e ele se via co m o o m a io r dos
p eca d o res e C risto com o o ú n ic o Salvador. Seu te m a fa v o rito
é a u n iã o de C ris to com Seu povo, ilu s tra d a p elo n a m o ro e
casam en to . R ic h a rd B axter, u m dos m ais p e rs is te n te s c rític o s
de R u th e rfo rd , co n fesso u q u e “ u m liv ro de c a rta s co m o esse o
m u n d o n u n c a v iu ig u a l” . R o b e rt M u rra y M ’C h e y n e u sava as
cartas de R u th e rfo rd co m o m a te ria l d ev o c io n a l e via C ris to
em cad a p á g in a . S p u rg e o n c o n s id e ra v a e sta s c a rta s c o m o
m a is p ró x im a s d a in s p ira ç ã o d o q u e q u a lq u e r o u tr a co isa
q u e já foi escrito .
E m b o ra ele n ão te n h a e sc rito estas cartas p a ra p u b lic a ç ã o ,
elas c o n s titu e m a o b ra m a is p o p u la r de R u th e rfo rd . E o ram
im p ressas m ais de o ite n ta vezes em in g lê s, q u in z e vezes em
h o la n d ê s e d iv e rsas vezes em alem ão , fran cês e gaélico.

Lex Rex, or The Law and the Prince ( S P R ; 307 p á g in a s; 1982).


E ste liv ro re fu ta o de J o h n M ax w ell, Sacro-Sancta Regnum
Majestus, q u e su ste n ta v a o d ire ito d iv in o dos reis. R e s p o n d e n d o
a q u a re n ta e q u a tro p e rg u n ta s, Lex Rex s u s te n ta as teses do
g o v ern o lim ita d o e da re s triç ã o do p o d e r m o n á rq u ic o . V in d ic a
os d ire ito s p a c tu a is do p o v o c o n tra a m o n a rq u ia ab so lu ta .
Q u ase to d o s os m e m b ro s da A ssem b léia de W e s tm in s te r
p o ssu ía m u m e x e m p la r de Lex Rex. E sta o b ra c o n tin u a se n d o
u m a das ex p ressõ es m ais a b ra n g e n te s da te o ria p o lític a
calv in ista. A lg u n s e ru d ito s d iz em q u e ela foi u m a im p o rta n te
in flu ê n c ia na fo rm aç ão da te o ria p o lític a m o d e rn a .

862
Sam uel Rutherford

The Power of Faith and Prayer (R P ; 88 p á g in a s; 1991).


E sta m a g ra b ro c h u ra , re im p re ssa pela p rim e ira vez d esde
1713, o fe re c e e n s in o s o b re o m ila g re de C ris to n a c u ra d o s
d o is ceg o s (M at. 9:27-31). E sp e c ia lm e n te in s tru tiv o s são
os c o m e n tá rio s de R u th e rfo rd no c a p ítu lo 5 so b re a ação
reflexa da fé do cego. O liv ro foi e sc rito no e stilo d ev o cio n al,
c ris to c ê n tric o e in c o m u m de R u th e rfo rd .

Quaint Sermons of Samuel Rutherford (S D G ; 384 p ág in a s;


1999). E s ta co leção d e s e rm õ e s , p u b lic a d a p ela p rim e ira
vez em 1885, foi e x tra íd a de u m v o lu m e de m a n u sc rito s
c o m p ila d o s p o r um o u v in te u s a n d o o siste m a de ta q u ig rafía .
E n tre os d e z o ito se rm õ e s c o n sta m : “ E ear N o t” , “ W eeping
M ary a t th e S e p u lc h e r” , “ T h e F o rlo rn S on” , “ T h e A p o stle ’s
C h o ic e ” , e “ T h e S p o u se ’s L o n g in g fo r C h ris t” . O a rd o r da
p reg ação de R u th e rfo rd é e v id e n te n e sta coleção.

Rutherford’s Catechism: or, The Sum of Christian Religion


(B B ; 105 p á g in a s; 1998). C o m o se dava com m u ito s teólogos
escoceses, R u th e rfo rd era u m e x c e p cio n al c a te q u ista . Ele
re d ig iu este c a te c ism o p a ra o seu re b a n h o de A n w o th . E u m a
c o m p a c ta in tro d u ç ã o à te o lo g ia refo rm a d a .
E sta ed ição do c a te c ism o de R u th e rfo rd b aseia -se na
coleção de A le x a n d e r M itc h e ll in titu la d a Catechisms of the
Second Reformation, (1886). E da safra de R u th e rfo rd ; m u ita s
das m e tá fo ra s e das in c o m u n s p alav ras a c h a m -se ta m b é m em
Letters. D ig n o de n o ta p o r seu ferv o r e p o r seus n u m e ro so s
te x to s p ro v a s das E s c ritu ra s , p ro v a v e lm e n te e ste c a tecism o
foi c o m p le ta d o n a A ssem b leia de W e stm in ste r, o n d e foi
so lic ita d o a R u th e rfo rd q u e su g erisse m a te ria l cateq u ético .
C a te q u iz a r era m u ito im p o rta n te p a ra R u th e rfo rd . N u m a
c a rta a seu re b a n h o de A n w o th , ele escreveu: “ Se a b a n d o n a rd e s
e e sq u e c e rd e s [a b o a d o u trin a ] e o c a tecism o q u e vos e n sin e i,
ju lg u e o S e n h o r e n tre vós e m im ” (C arta 167).

863
PAIXAO P E L A PUREZA

The Trial and Triumph of Faith (B T T ; 406 p á g in a s; 2001).


O rig in a lm e n te p u b lic a d o em 1645, este liv ro c o n té m v in te
e sete serm õ es so b re a o b ra salv a d o ra re a liz a d a p o r C risto
na m u lh e r c a n a n é ia (M a t., c a p ítu lo 15 e M ar., c a p ítu lo 7).
R u th e rfo rd vê a m u lh e r co m o u m ex em p lo da n o v a cria ção
de C risto , “ u m a flo r p la n ta d a e reg ad a p ela m ão de C ris to ” .
E le diz: “A q u a lq u e r q u e b u s q u e Je su s C risto , este te x to
g rita : “ Vem e vê” . E m q u ase cada se rm ã o , R u th e rfo rd m o stra
a tra n s b o rd a n te g raça de C risto p a ra com os g e n tio s. E le
d e s c o rtin a a n a tu re z a da oração g e n u ín a e tra ta de asp ecto s
p rá tic o s d a p ro v a d a fé. N o liv ro to d o e le fala ta m b é m c o n tr a
o a n tin o m ia n is m o e o u tro s e rro s d o u trin á rio s .
C o m o a c o n te c e com Letters, e stes se rm õ e s m o s tra m a
devoção de R u th e rfo rd a C ris to , co m o ta m b é m os d o n s
p o é tic o s e e x p e rim e n ta is q u e to rn a v a m a su a p reg aç ão tão
c o m o v e n te . E is u m ex em p lo : “ C ris to , e s p e c ia lm e n te p o r e sta
causa, d e ix o u o seio de D e u s e se re v e s tiu de c a rn e e da n o ssa
n a tu re z a p a ra faze r-se u m a m assa, u m o c e a n o , u m ilim ita d o
rio de v isív e l, v iv id a e in s p ira d o ra g raça , su as ág u as s u b in d o
até as m a is altas rib a n c e ira s , n ão s o m e n te do m u n d o h a b í-
tável, m as ta m b é m tra n s p o n d o os d ecliv es do céu d o s céu s,
p a ra in u n d a r h o m e n s e a n jo s ” (p. 11).

864
Henry Scougal
(1650-1678)

e n ry Scougal n asceu em 1650 em L e u c h a rs , F ife, sen d o


H ele o se g u n d o filh o de P a tric k Scougal e de M a rg a re t
W em yss. Seu p ai, b isp o d e A b e rd e e n d u ra n te m a is de v in te anos
após a re s ta u ra ç ã o , foi am ig o ch eg a d o de R o b e rt L e ig h to n . Ele
foi b a s ta n te c o n h e c id o p o r su a p u re z a , h u m ild a d e e b o n d a d e .
D e sd e a su a ju v e n tu d e , H e n ry Scougal v alo rizav a os e x e rc í­
cios relig io so s e o e s tu d o á rd u o . M o stro u n o tá v el p ro fic iê n c ia
p a ra 0 la tim , o g rego e o h e b ra ic o , e fazia a n o taçõ es c o m p leta s
de serm õ es. G ostava, p rin c ip a lm e n te , de e s tu d a r as passag en s
h is tó ric a s do V elho T e sta m e n to . M u ita s vezes recitav a longas
p assag en s da B íblia. E le gostava de m a n te r c o m u n h ã o com
c re n te s e o u v ia com m u ita a te n ç ã o os m in is tro s , se m p re que
v isita v a m a casa de seu pai.
E m 1664, Scougal in g re sso u no K in g ’s C ollege, A b erd een .
E le to rn o u -s e u m líd e r e n tre seus p ares, os q u ais lh e a trib u ía m
“ a s a b e d o ria de u m s e n a d o r” . F re q u e n te m e n te lh e p e d ia m que
d irig isse as suas re u n iõ e s p ú b licas.
E m 1668, Scougal re u n iu u m a coleção de suas reflexões
p riv a d a s. P o s te rio rm e n te , estas fo ram p u b lic a d a s em A b erd een
co m o Private Reflections and Occasional Meditations and Essays,
Moral and Divine. A p esar de Scougal ser u m ad o le sc e n te

865
PAIXAO P E L A PU R EZA

q u a n d o escrev eu essas reflexões, seu c o n h e c im e n to de filosofia


e seu a m o r p ela sa b e d o ria tra n s p a re c e m em cad a p á g in a.
D epois de g ra d u a r-se no college com 0 grau de M estre
em A rtes em 1668, foi so lic ita d o a Scougal q u e servisse com o
p ro fesso r de filosofia q u a n d o estava com dezenove anos de idade.
P ro v av e lm e n te ele foi o p rim e iro p ro fesso r da E scócia a e n s in a r
a filosofia b aco n ian a. E le refu tav a a b e rta m e n te as d o u trin a s
e rrô n eas do filósofo inglês T h o m a s H o b b es (1588-1679). M as,
acim a de tu d o , ele e n sin av a u m a d e te rm in a d a e irre d u tív e l
religião arraig ad a no coração. C u id a d o sa m e n te p ro te g e n d o os
seus alu n o s das sutilezas da in fid e lid a d e , en sin a v a -lh e s q u e a
filosofia e a religião são am igas, não inim igas.
D e p o is de e n s in a r d u ra n te q u a tro a n o s, S cougal foi
o rd e n a d o em 1673 co m o m in is tro da igreja de A u c h te rle ss,
A b e rd e e n s h ire , p e q u e n a ald e ia s itu a d a a v in te m ilh a s de
A b erd een . A li ele rev iv e u a p rá tic a das p rele çõ es, isto é, e x p o r
u m c a p ítu lo in te iro ou u m a lo n g a p o rç ã o das E s c ritu ra s ,
a c re d ita n d o q u e esse é 0 e stilo m a is e d ific a n te de preg ação .
E le c o n sid e ra v a o b rig a tó rio q u e o p a s to r se d irig is se a seus
o u v in te s de aco rd o com as p a rtic u la re s d isp o siçõ e s d estes,
p a ra im p r im ir m e lh o r a v e rd a d e n eles. N essa p rá tic a ele se
c o m p ro v o u u m firm e s u ste n tá c u lo da c a su ístic a p u rita n a .
U m a n o d ep o is de a c e ita r o c h a m a d o p a ra A u c h te rle s s,
Scougal v o lto u p a ra A b e rd e e n p a ra to rn a r-s e p ro fe sso r
de te o lo g ia n o K in g ’s C o lleg e sob o p a tro c ín io de R o b e rt
L e ig h to n (1611-1684), a rc e b isp o de G lasgow . S cougal im ­
p rim iu n o s e s tu d a n te s a s a n tid a d e do oficio p a s to ra l e do
p ap el v ital da teologia. N u m se rm ã o p re g a d o d ia n te do S ín o d o
de A b e rd e e n , in titu la d o “O f th e Im p o rta n c e a n d D ific u lty o f
th e M in is te ria l F u n c tio n ” , d isse Scougal: “O m in is tro deve
ap lic a r-se ao e x erc ício da devoção n o in te re s se do p ro g re sso
da p ie d a d e e p a ra a h o n ra do n o sso C ria d o r” .
S cougal e n s in o u d u ra n te cin c o an o s, até q u e m o rre u
de tu b e rc u lo s e , n o d ia 13 de ju n h o de 1678. F o i s e p u lta d o
na cap e la da u n iv e rs id a d e . N u n c a se casou. P o u co a n te s de

866
Henry Scougal

su a m o rte , ele d isse a seus am igos: “ Q u a n d o vocês fizerem


a c a rid a d e de le m b ra r-s e de m im em suas oraçõ es, não
p e n se m em m im co m o se n d o u m h o m e m m e lh o r do q u e sou;
m as o lh e m p a ra m im e m e vejam com o re a lm e n te sou, um
m ise rá v e l p e c a d o r” .
G eo rg e G a ird e n p re g o u nos fu n e ra is de S cougal, b asean d o
seu se rm ã o em F ilip e n s e s 1:21: “ P o rq u e p a ra m im o v iv e r é
C ris to , e o m o rre r é g a n h o ” . A re sp e ito da b re v e v id a de Scougal,
G a ird e n disse: “A d u ra ç ã o da v id a n ão deve ser m e d id a p o r
m u ita s rev o lu ç õ es dos co rp o s celestes [isto é,' m u ito s anos],
m as p e lo p ro g re sso q u e te n h a m o s feito no g ra n d e p ro p ó sito
p a ra o q u al so m o s e n v ia d o s ao m u n d o . [ScougalJ viveu
v e rd a d e ira m e n te m u ito em p o u co s an o s, e m o rre u id o so com
v in te e o ito an o s de id a d e ” .
Scougal legou sua b ib lio te c a ao colégio, a qual revela a
am p la gam a dos seus in teresses. E ra bem versado em filosofia, e
ad m ira v a os P ais da Igreja, p rin c ip a lm e n te A g o stin h o . G ostava
m u ito da o b ra de T h o m a s à K em p is (1379-1471), A Imitação de
Cristo; não o b sta n te ser um zeloso calvinista. A pesar de Scougal
te r sid o um episcopal n u m a te rra p re sb ite ria n a , a Igreja escocesa
o re iv in d ic o u com o u m a das suas m ais radiosas luzes.

The Works of Henry Scougal (S D G ; 378 p á g in a s; 2002). O s


tra ta d o s e os serm õ es d e ste liv ro ilu s tra m a p ro fu n d id a d e
te o ló g ica , a e x p e riê n c ia e o a rd o r do au to r. O s escrito s de
S cougal tê m in flu e n c ia d o c e n te n a s d esd e a sua p rim e ira
p u b licaçã o . V árias ed içõ es de suas o b ra s a p a re c e ra m em 1765,
1773, 1818 e 1830. P a tric k C o c k b u rn , q u e p u b lic o u u m a edição
de The Life of God {A Vida de Deus na Alma do Homem em
1726, in fo rm a q u e S cougal escrev eu a lg u n s tra ta d o s em la tim , 1

1 N o o r i g i n a l . | v i z . |. d e videlicet, " e v i d e n t e m e n t e ” . “ c o m o ” , “ isto é ". N o ta do


tra d u to r.

867
PAIXAO P E L A PU R EZA

q u ais sejam : “A S h o rt S ystem o f E th ic s ”, “A P re se rv a tiv e


a g a in st th e A rtific e s o f th e R o m is h M is s io n a rie s ” , e o c o m e ç o
d e u m a o b r a s o b r e c u i d a d o p a s to r a l , m a s e s s e s e s c r ito s
f o r a m p e rd id o s .
The Life of God in the Soul of Man {A Vida de Deus naAlma
do Homem],1 o rig in a lm e n te era u m a c a rta e sc rita a u m am ig o
e x p lic a n d o a relig ião c ris tã e o fe re c e n d o c o n se lh o e s p iritu a l.
D u ra n te 0 verão de 1667, Scougal e n c o n tro u -s e com u m
am igo ch eg a d o , G ilb e rt B u rn e tt, q u e in s is tiu com ele q u e a
p u b licasse. Scougal c o n s e n tiu , m as só se ele p e rm a n e c e sse
a n ô n im o . B u rn e tt e n v io u à im p re n s a a ed ição , sem se d a r
c o n ta de q u ão in flu e n te a o b ra se to rn a ria .
D a li p a ra cá d iv e rsas ed içõ es d esta o b ra te m sid o
p u b lic a d a s. A edição de B u rn e tt foi re im p re ssa n ão m e n o s de
d ezessete vezes em 1819, m u ita s ed iç õ e s em b r o c h u r a te m
sid o la n ç a d a d esd e 1739. Jo ão W esley (1707-1791) d isse q u e
esta o b ra afeto u g ra n d e m e n te su a vida. E le p u b lic o u u m a
e d iç ã o r e s u m id a d e la e m 1742, a q u a l foi r e im p r e s s a s e te
v ezes n o s p ró x im o s sesse n ta e seis anos.
The Life ofGod in the Soul ofMan te m sid o a p re c ia d a em to d a s
as épocas. G eo rg e W h ite fie ld d isse a seu re sp e ito : “ E m b o ra
eu te n h a je ju ad o , v ig iad o , o ra d o e re c e b id o o sa c ra m e n to {a
Ceia} p o r m u ito te m p o , eu não sab ia o q u e era a v e rd a d e ira
relig ião , até q u e D e u s m e e n v io u esse e x c e le n te tra ta d o p elas
m ãos do m eu in e sq u e c ív e l a m ig o ” , C h a rle s W esley.
O clássico de Scougal foi tra d u z id o p a ra o fran cês (1722),
o alem ão (1755) e o galês (1779). E m 1756, B e n ja m in F ra n k lin
p u b lic o u o u tr a c ó p ia da tra d u ç ã o a le m ã e a d is tr ib u iu e n tre
os co lo n o s de fala alem ã da P e n n sy lv a n ia .
O liv ro é d iv id id o em três p a rte s, cad a u m a delas
te rm in a n d o com u m a oração. O p rim e iro a ssu n to q u e S cougal
c o n sid e ra é a n a tu re z a da relig iã o v e rd a d e ira . E le la m e n ta q u e

‫ ’־‬P u b l i c a d o c m p o r t u g u ê s p o r P u b l i c a ç õ e s K v a n g é l i c a s S e l e c i o n a d a s , t r a d u ç ã o
d e O d a y r O liv e tti. P rim e ir a e d iç ã o :2 0 0 7 . N o ta d o tra d u to r.

868
Henry Scougal

m u ita s p essoas vejam a relig iã o ap en a s com o a s s u n to da m e n te ,


com o m e ro fo rm a lism o , ou dos afetos. Ao in v é s d isso , Scougal
se e m p e n h a em d e m o n s tra r q u e a relig ião v e rd a d e ira é u m a
“ u n iã o da alm a com D e u s ” , n a q u al 0 c ristã o p a rtic ip a da vida
d iv in a. P o r c o n s e g u in te , a v id a de D e u s n a a lm a do h o m e m é
p e rm a n e n te e d u ra d o u ra ; aq u eles q u e cree m n o ev an g e lh o em
suas m e n te s , m as não a p ra tic a m de coração, estão en g an a d o s.
Ig u a lm e n te ilu d id o s estão aq u eles q u e se se n te m a rre b a ta d o s
n u m m o m e n to e n c a n ta d o r, e d ep o is se a b a n d o n a m aos seus
s e n tim e n to s c o rru p to s .
O s e g u n d o a ssu n to de q u e Scougal tra ta é o v alo r e o
p ro v e ito da relig ião . F u n d a m e n ta l p a ra a relig iã o é o cu ltiv o
q u e faz da s a n tid a d e . A s a n tid a d e é “ a c o rre ta d isp o siçã o , a
v ig o ro sa e sa u d áv el c o n s titu iç ã o da alm a ” . A n te s da u n iã o da
alm a com D e u s, a alm a “ se can sav a em suas in te rm in á v e is e
a g itad as idas e v in d a s, n u n c a p o d e n d o e n c o n tra r re p o u s o ” ,
m as, d e p o is da u n iã o , “ re m o v id o 0 m al, ela se s e n te b e m ” .
S en d o assim , o h o m e m re n o v a d o p o d e te r u m a v id a liv re
da e sc ra v id ã o dos s e n tid o s e dos desejos c arn a is. E le agora
p o d e d is c e rn ir o s e n tid o das “ coisas in v isív e is ” e d esfru ta-
-Ias de m a n e ira p ró p ria . A s u p e rio r ex ce lên cia da relig ião ,
diz S cougal, é o am or. “O a m o r é a q u ela paix ão p o d e ro sa e
d o m in a n te , p ela q u al to d a s as facu ld ad es e in c lin a ç õ e s da
a lm a são d e te rm in a d a s e d a q u a l to d a s as su as p e rfe iç õ e s e
su a fe lic id a d e d e p e n d e m ” .
A te rc e ira área q u e S cougal c o n fro n ta in c lu i o d e sâ n im o ,
a m o rtific a ç ã o do p eca d o , a v ig ilâ n c ia , o exam e in tro sp e c tiv o ,
a c o n te m p la ç ã o , e a oração. E s p e c ia lm e n te d ig n a de n o ta
é su a a n á lise da m e d ita ç ã o . P a ra o p ro g re sso da v ida d iv in a
em n o ssas alm as, S cougal re c o m e n d a “ u m a p ro fu n d a e séria
c o n sid e ra ç ã o das v e rd a d e s da n o ssa relig ião , e isso ta n to
q u a n to à c e rte z a com o q u a n to à im p o rtâ n c ia d ela s” . O c re n te
deve in s tig a r sua m e n te a u m a séria c ren ç a n a v e rd a d e d iv in a
e a u m a p le n a p e rsu a sã o d ela, até ao p o n to de as v erd ad e s
d iv in a s fazerem d u ra d o u ra im p re ssã o em seus s e n tim e n to s.

869
PAIXAO P E L A PUREZA

A o b ra Nine Discourses on Important Subjects, c o n s is te de


nove serm õ es p re g a d o s em várias ocasiões. São os ú n ic o s
serm õ es de Scougal q u e so b re v iv e ra m . C ada se rm ã o com eça
com u m a d eclaraçã o do p ro b le m a . D e p o is de u m a b rev e
ex plicação do te x to , S cougal ex p lo ra os v ário s asp ecto s do
p ro b le m a . E le c o n c lu i com u m a aplicação. P o d e -se s u m a ria r
b re v e m e n te os seus serm õ es co m o segue:

• “T h e S u p e rio r E x ce lle n cy o f th e R e lig io u s” ,


so b re P ro v é rb io s 12:16, fala so b re o d e se n fre a d o
d esp rezo p ela relig iã o q u e se vê no m u n d o .
• " T h e In d is p e n s a b le D u ty o f L o v in g O u r
E n e m ie s ” , so b re L u c a s 6:27, d is c u te a a titu d e
q u e se deve te r p a ra com os in im ig o s.
• “T h e N e c e ssity a n d A d v a n ta g e o f E a rly
A fflic tio n s ”, so b re L a m e n ta ç õ e s 3:27,28, exp lica
co m o ex erc er a re sig n a ç ã o c ris to c ê n tric a d u ra n te
te m p o s difíceis.
• “A S m all N u m b e r S av ed ” , so b re L u c a s 13:23,
fala so b re o c a m in h o e s tre ito da salvação.
• “ T h e D u ty a n d P le a su re o f P ra ise a n d
T h a n k s g iv in g ” , so b re o S alm o 107:15, rev ela a
e x p e riê n c ia de Scougal n a c o n fro n ta ç ã o co m um
tó p ic o m u ito n e g lig e n c ia d o .
• “T h e N a tiv ity o f O u r S a v io r” , so b re o S alm o
2:11, d e fe n d e a celeb raçã o do n a s c im e n to de
C risto , e m b o ra a d v e rtin d o q u e isso deve ser
feito com s in c e rid a d e e rev erên c ia.
• “T h e P assio n o f O u r S a v io r” , so b re L a m e n ta ç õ e s
1:12, c o n sid e ra os so frim e n to s do S a lv a d o r e a
n e c e ssid a d e q u e te m o s de fazer uso d ilig e n te e
salvífico deles.
• “ A P re p a ra tio n for th e H o ly S a c ra m e n t”, so b re

870
Henry Scougal

Jo su é 3:5, está in c o m p le to , m as o q u e dele foi


p re se rv a d o é de c o n sid e rá v e l v alo r p a ra os q u e se
p re p a ra m p a ra a C eia do S en h o r. P o r exem plo,
Scougal n o s le m b ra q u e “A q u ele que está
a sse n ta d o com o P ai em cim a, está, ao m esm o
te m p o , p re s e n te a q u i e m b a ix o , e E le Se dá a
to d o s os q u e q u is e re m rece b ê-1 0 e a b ra ç á -1 0 ” .
• “ T h e Im p o rta n c e a n d D ific u lty o f th e M in is te ­
ria l F u n c tio n ” , p re g a d o d ia n te do S ín o d o de
A b e rd e e n so b re 2 C o rin tio s 2:16, é u m dos
m e lh o re s serm õ es de S cougal. E le a firm a q u e o
m in is té rio “ é u m fard o so b re os no sso s o m b ro s
m a io r do q u e se as m a io re s a tiv id a d e s deste
m u n d o fossem p o stas so b re n ó s, e tiv ésse m o s
q u e s u s te n ta r as c o lu n a s da te rra ” . S obre a
d ific u ld a d e do la b o r m in is te ria l, ele escreve:
“O m u n d o jaz no p eca d o , e o nosso tra b a lh o
c o n siste em d e s p e rta r os h o m e n s do seu so n o
m o rta l - resg atá -lo s dessa lú g u b re c o n d iç ã o ” . A
ta re fa m a is d ifíc il do m in is tro , se g u n d o S cougal,
e stá “ em a p lic a r-se p a rtic u la rm e n te às d iv e rsas
pessoas q u e estão sob os seu s c u id a d o s, c o n h e c e r
b e m su a c o n d u ta e a d isp o siçã o de suas alm as
- p a ra c o rrig ir o e rro e p re v e n ir seus ex tra v ío s
fu tu ro s ” .

F in a lm e n te , Private Reflections and Occasional Meditations


and Essays, Moral and Divine, c o n siste de reflexões pessoais
e d e e n sa io s re g istra d o s p o r Scougal q u a n d o e s tu d a n te no
K in g ’s C ollege. E sses la n ç a m e n to s tra z e m a m a rc a de u m a
m e n te séria q u e já h av ia c h eg a d o ao p o n to de v ista afirm ad o
na o b ra The Life of God in the Soul of Man.

871
APÊNDICE 3
Teólogos da Pós-R eform a H olandesa
P ara p ro m o v e r seu p ro g ra m a de re fo rm a ativ a , p esso al,
e s p iritu a l eclesiástiea e soeial, os e sc rito re s da Nadere
Reformatie { P ó s-R e fo rm a H o la n d e sa } p ro d u z ira m p a rte da
m e lh o r e m ais p ro fu n d a lite ra tu ra da tra d iç ã o p ro te s ta n te .
A lém d isso , urna vez q u e a p ie d a d e re fo rm a d a h o la n d e sa se
d e sen v o lv e u da o rto d o x ia re fo rm a d a e in c lu iu e n tre os seus
fu n d a d o re s e e x p o e n te s v á rio s te ólogos o rto d o x o s e ru d ito s -
tais co m o G is b e rtu s V oetius, P e tru s van M a s trie h t e J o h a n n e s
H o o rn b e e k - as o b ras da Nadere Reformatie n ão dão e v id ê n c ia
do tip o de a n ta g o n is m o e n tre a te o lo g ia e a p ie d a d e p ró p ria
da fase p ie tis ta do lu te ra n is m o alem ão. A n te s, os p ro p o n e n te s
da Nadere Reformatie o fe re c ia m um e q u ilíb rio de d o u tr in a e
p ie d a d e , com o ta m b é m de te o lo g ia e v id a , ra ra m e n te ig u a la d o
na h is to ria da Igreja.
- T h e D u tc h R e fo rm e d T ra n s la tio n S ociety

874
Introdução à Pós-Reforma Holandesa

O c a lv in is m o h o la n d ê s n ã o flo re s c e u p r o f u s a m e n te a té q u e
foi c u ltiv a d o p e lo S ín o d o d e D o r t (1618,1619) e fo rta le c id o
p e la Nadere Refórmente, p rim a ria m e n te um m o v im e n to do
sécu lo d eze ssete e do in íc io do século d ezo ito p aralelo ao
p u rita n is m o in g lês, ta n to no te m p o com o no c o n te ú d o . A
Nadere Refomiatie d a ta de W ille m T ee llin c k (1579-1629), m u ita s
vezes c h a m a d o de p ai do re fe rid o m o v im e n to , e ste n d e n d o -se
até seu s m a is b rilh a n te s c o la b o ra d o re s, A le x a n d e r C o m rie
(1706-1774) e T h e o d o ru s v an d e r G ro e (1705-1784).
O s e ru d ito s re sp o n sá v e is pelo p e rió d ic o Documentaúeblad
Nadere Reformatie o ferecem a se g u in te d e fin iç ã o da Nadere
Reformatie:

A Nadere Reformatie é o m o v im e n to o c o rrid o


d e n tro da N e d e rd u its G e re fo rm e e rd e K erk
{Igreja R e fo rm a d a H o la n d e sa } d u ra n te os
sécu lo s d ezessete e d e z o ito , q u e , co m o reação à
d e c a d ê n c ia ou a u sê n c ia de u m a fé viva, fez da
e x p e riê n c ia pessoal da fé e da p ie d a d e q u e stã o de
im p o rtâ n c ia c e n tra l. P a rtin d o dessa p e rsp e c tiv a ,
o m o v im e n to fo rm u lo u in ic ia tiv a s s u b sta n c ia is
e p ro c e ssu a is, su b m e te n d o -a s às c o m p e te n te s
a g ên c ias eclesiásticas, p o lític a s e sociais, e levou
a v a n te essas in ic ia tiv a s m e d ia n te u m a se g u n d a
re fo rm a da Ig reja , da so c ie d a d e e do E sta d o , ta n to
n a p alav ra co m o na p rá tic a (.Documentaúeblad
Nadere Reformatie 19, [1995]: 108).

A e x p ressão Nadere Reformatie c o n s titu i u m p ro b le m a p ara

875
ΡΑΙΧ AO P E L A PU R EZA

os e sc rito re s e le ito re s da lín g u a in g lesa p o rq u e n ão p e rm ite


n e n h u m a tra d u ç ã o p re c isa da p alav ra “ n a d e re ” . L ite ra lm e n te ,
Naciere Reformatie sig n ific a urna re fo rm a m a is p ró x im a , m ais
ín tim a ou m ais precisa. Sua ênfase está na realizaç ão da
R efo rm a de m o d o m a is in te n s o na v id a das pessoas, no c u lto
da Ig reja, e na sociedade.
D u ra n te m u ito s an o s te m o s a c h a d o q u e a m e lh o r tra d u ç ã o
p ara Nadere Refonnatie era “ P o s -R efo rm a H o la n d e s a ” ,
p a rtic u la rm e n te p o rq u e foi e m p re g a d a p o r a lg u n s teó lo g o s
h o la n d e se s p rim itiv o s , d a q u e la época, e ev ita a lg u m a s o p in iõ e s
ex ag erad as com relação à esco lh a de o u tra s ex p ressõ es. O s
p ro b le m a s com o uso dessa te rm in o lo g ia são q u e essa tra d u ç ã o
p e rd e de v ista a ên fase à R e fo rm a com o u m p ro c e sso em
c o n tin u id a d e , e p o d e c a u sa r c o n fu são , v isto q u e “ S e g u n d a
R e fo rm a ” é fre q u e n te m e n te asso ciad a a o u tro s fe n ô m e n o s
{ só cio -relig io so s! c ro n o ló g ic a e h is to ric a m e n te d is tin to s da
Nadere Reformatie. E x e m p lo s do uso de “ S e g u n d a R e fo rm a ”
in c lu e m , p rim e iro , a rev o lu ç ão o c o rrid a na E scó cia em 1638,
q u a n d o o e p isc o p a lism o foi s u b s titu íd o p elo p re s b ite ria n is m o
p o r in stig a ç ã o do rei e dos p a c tu á rio s ; e, se g u n d o , às vezes a
ex p ressão é e m p re g a d a em re fe rê n c ia a um a m p lo m o v im e n to
e u ro p e u de ra c io n a lista s e e s p iritu a lid a d e q u e a ta c a ra m a
a u to rid a d e das igrejas e sta ta is e do e s ta b e le c im e n to c le ric a l
d u ra n te o século d ezessete. E m an o s re c e n te s, F re d van
L ie b u rg , W ille m op’t H o f e o u tro s e ru d ito s h o la n d e se s aos
p o u co s nos p e rs u a d ira m de q u e a ex p ressão “ P ó s-R e fo rm a
H o la n d e s a ” é, p ro v a v e lm e n te , u m a tra d u ç ã o m a is a c u ra d a e
m ais p ró p ria , d esd e q u e n ão e n te n d a m o s isso co m o s ig n ific a n d o
q u e a p rim e ira R efo rm a n ão foi s u fic ie n te m e n te lo n g e em
te rm o s de re fo rm a d o u trin á ria . A Nadere Reformatie n ão teve
essa in te n ç ã o . Ao c o n trá rio , seus líd e re s p ro c u ra ra m aplicar
as v erd a d e s da R efo rm a ao v iv e r d iá rio , à p rá tic a ; d aí, eles
levaram a R efo rm a mais adiante em te rm o s das a p licaç õ es ao
coração c à vida. C o n s e q u e n te m e n te , n e ste liv ro n ó s p assam o s
a e m p re g a r a te rm in o lo g ia , P ó s-R e fo rm a H o la n d e sa .

876
Introdução à Pós-Reforma Holandesa

A P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a ta m b é m te m sid o c h a m a d a
“ P u r ita n is m o H o la n d ê s ” . L o g o à p rim e ira v ista isso parece
ú til, p o sto q u e a Nadere Reformatie é a c o n tra p a rte h o la n d e sa
do p u rita n is m o inglês. O elo e n tre esses d o is m o v im e n to s é
fo rte , h is tó ric a e te o lo g ic a m e n te . K e ith S p ru n g e r d e m o n stro u
q u e d u ra n te o sécu lo deze ssete d eze n as de m ilh a re s de cre n te s
a n g lo -e sc o ceses de p e rsu a sã o p u rita n a v iv e ra m n a H o la n d a .
E sses c re n te s re p re s e n ta v a m cerca de q u a re n ta congregações
e 350 m in is tro s .
O s teó lo g o s do p u rita n is m o in g lês e da P ó s-R efo rm a
H o la n d e s a se re sp e ita v a m m u tu a m e n te . E les e n riq u e c e ra m
u n s aos o u tro s pelo c o n ta to pessoal e p o r seu s esc rito s, ta n to
em seu s tra ta d o s em la tim co m o em m u ito s liv ro s tra d u z id o s
do in g lês p a ra o h o la n d ê s. F a la n d o dos e sc rito s p u rita n o s em
in g lês tra d u z id o s p a ra o h o la n d ê s de 1598 a 1622, W illem op’t
H o f d iz: “ U m to ta l de 114 ed içõ es foi la n ç a d o de 60 trad u ç õ es.
E sta s 60 tra d u ç õ e s d iz ia m re sp e ito a... v in te e d o is au to re s
ingleses... D o is a u to re s são n u m e ric a m e n te p re e m in e n te s
e n tre eles: C o w p er (18 ed içõ es de 10 tra d u ç õ e s) e P e rk in s (71
ed içõ es de 29 tra d u ç õ e s). R e a lm e n te , P e rk in s eclip sa, so z in h o ,
to d o s os d e m a is to m a d o s ju n to s... C atálo g o s de leilões m o stra m
q u e U d e m a n s p o ssu ía 20 liv ro s p u rita n o s em la tim e 57 em
in g lês. S im ila rm e n te , V oetius p o ssu ía 30 o b ras p u rita n a s em
la tim e 270 em inglês... U m a e s tim a tiv a a p ro x im a d a re fe re n te
ao p e río d o de 1623-1699 dá 260 n ovas tra d u ç õ e s, 580 edições
e 100 n o v o s tra d u to re s ” (Engelse piètislische geschriften in het
Nederlands, pp. 636-637, 640, 645). M ais liv ro s teológicos
re fo rm a d o s fo ra m p u b lic a d o s no século d ezessete n a H o la n d a
do q u e em to d o s os o u tro s países ju n to s.
O s te ólogo s p u rita n o s in g leses e os da P ó s-R efo rm a
H o la n d e s a tin h a m ta m b é m o b je tiv o s sim ila re s: fo m e n ta r
a p ie d a d e e x p e rim e n ta l p o r m eio da g lo rificaç ão de D eu s e
a p re c isã o ética nos in d iv íd u o s , nas igrejas e nas nações.
C o n tu d o , a p esar das p e rsp e c tiv a s sim ila re s , o p u rita n is m o
in g lê s e a Nadere Reformatie d e se n v o lv e ra m , h istó ric a e

877
PAIXAO P E L A PU R EZA

te o lo g ic a m e n te , id e n tid a d e s d is tin ta s . E m b o ra o p u rita n is m o


inglês te n h a sid o u m a in flu ê n c ia p rim á ria so b re a Nadere
Reformatie - p a rtic u la rm e n te em su a ênfase à n e c e ssid a d e de
u m a v id a de p ie d a d e p rá tic a , pessoal e c o n g re g a c io n a l - não
foi u m a in flu ê n c ia exclusiva. F a to re s n ão in g leses ta m b é m
c o n trib u íra m . N a lg u n s asp ecto s, 0 m o v im e n to h o la n d ê s
foi m ais p u rita n o q u e o p ró p rio p u r ita n is m o in g lês. C o m o
J o n a th a n G e rs tn e r d isse: “ N a In g la te rra , v e n d o -se a q u e stã o
so b u m a p e r s p e c tiv a r e f o r m a d a , n o te m p o to d o , m e n o s
n o c u r to p e río d o sob C ro m w ell, s e m p re h o u v e coisas
g ro s s e ira m e n te a n tib íb lic a s c o n tra as q u a is lu ta r: a p re s e n ç a
de b isp o s, rito s s u p e rs tic io s o s no Livro de Oração Comum,
v estes, etc. N a H o la n d a n e n h u m a dessas co isas e stev e
p re se n te . D e fe n so re s d o status quo n ão e ra m tão c la ra m e n te
não re fo rm a d o s co m o n a In g la te rra . N e sse c o n te x to , o v e rd a ­
d e iro e s p írito do p u r ita n is m o a flo ro u p r o e m in e n te m e n te ” .
O s te ólogos da P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a estav a m m e n o s
in te re ssa d o s q u e os seus irm ã o s in g leses n a re fo rm a do
g o v ern o e da Ig reja, m as a essê n c ia da P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a
se e q u ip a ra n o ta v e lm e n te com a ên fase do p u rita n is m o in g lês
so b re a e sp iritu a lid a d e . C o n s e q u e n te m e n te , in c lu im o s os
e sc rito re s da P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a n e ste liv ro , co m o um
ap ên d ice.

878
Wilhelmus à Brakel
(1635-1711)

ilh e lm u s à B rak el n asc e u n o d ia 2 de ja n e iro de 1635 em


W L e e u w a rd e n , filh o ú n ic o de M a rg a re th a H o m m a e de
T h e o d o ru s à B rak el, u m p a s to r re fo rm a d o de e x tra o rd in á ria
p ie d a d e e q u e veio a ser c o n h e c id o p o r sua o b ra in titu la d a De
Trappen des Geestelycken Levens {O s D e g ra u s da G raça n a V ida
E s p iritu a l} . W ilh e lm u s e suas c in c o irm ã s fo ram cria d o s n u m
la r e x tra o rd in a ria m e n te te m e n te a D eu s.
W ilh e lm u s foi c o n v e rtid o q u a n d o m e n in o , p ro v a v e lm e n te
sob a p reg aç ão de seu p ai e as o rações e rogos de sua m ãe.
E le fre q u e n to u a escola de la tim de L e e u w a rd e n , e depois
in g re sso u n a a c a d e m ia de F ra n e k e r com d eze n o v e an o s de
id a d e , em 1654. T en d o c o m p le ta d o os seus e stu d o s em 1659,
a Classis1 de L e e u w a rd e n o a d m itiu n o m in is té rio . D e v id o à
falta de vagas n a época, à B rak el c o n tin u o u seu tre in a m e n to
te o ló g ico p o r a lg u n s a n o s em U tre c h t, sob G is b e rtu s V oetius
e A n d re a s E ssen iu s.
A B rak el se rv iu cin co co n g reg a çõ es da igreja n acio n al
da H o la n d a d u ra n te u m m in is té rio de q u ase c in q u e n ta anos.
Seu p rim e iro en c a rg o foi em E x m o rra , F rie s la n d (1662-1665),

1 A s se m b lé ia ou c o n s e lh o eclesiástico c o m c a p a c id a d e d e trib u n a l. N o ta d o
trad u to r.

879
W IL H E L M U S A B R A K E I
Wilhelmus à Brakel

u m a c o n g reg a ção d ifíc il p o r causa da in d ife re n ç a e s p iritu a l


g e n e ra liz a d a . D u ra n te 0 seu m in is té rio ali, ele casou-se com
S ara N e v iu s, v iú v a de H e n ric u s Vege, q u e tin h a sid o p a s to r
em B e n th u iz e n . A pós a p e rd a do seu p rim e iro m a rid o , Sara
m o ro u em U tre c h t, o n d e p a rtic ip o u dos c o n v e n tíc u lo s de
V oetius e a m a d u re c e u e s p iritu a lm e n te . E la foi u m a g ra n d e
d á d iv a p a ra à B rak el e seu m in is té rio .
A s e g u n d a co n g reg a ção de à B rak el, em S tav o ren (1665­
1670), era m a io r e lh e p ro p ic io u u m p a sto ra d o m ais fru tífe ro .
A seguir, à B rak el foi p a ra a flo re sc e n te c id a d e p o rtu á ria de
H a r lin g e n (1 6 7 0 -1 6 7 3 ), o n d e o se u m in is té r io e o d e seus
trê s colegas fo ram a b e n ç o a d o s com n u m e ro s a s conversões.
D e 1673 a 1683, à B rak el serv iu a g ra n d e co n g reg ação
re fo rm a d a de L e e u w a rd e n , q u e se re u n ia em três ed ifício s de
igreja d ife re n te s , tin h a seis m in is tro s e m ilh a re s de m e m h ro s.
T odos os d o m in g o s três c u lto s era m d irig id o s na G ro te K erk
{a G ra n d e Ig re ja [, d o is na G a lile e rk e rk {a Ig reja da G a lilé ia ) e
dois n a W e ste rk e rk {a Ig reja do O e s te ). Três c u lto s em dias de
se m a n a ta m b é m era m m a n tid o s a cada sem an a. C id a d e o n d e
nasceu e a m a io r c id a d e da F rie s la n d , L e e u w a rd e n se gabava
de te r u m a p o p u la ç ã o de q u ase 20.000 h a b ita n te s.
N a p a rte final da d écada de 1670, à B rakel e n v o lv e u ­
-se em três co n tro v é rsia s. P rim e iro , com o ele tin h a feito em
S tavoren e em H a rlin g e n , à B rakel estab eleceu c o n v e n tíc u lo s
em vário s locais de L e e u w a rd e n . E ssas re u n iõ e s co n sistia m
p rim a ria m e n te de pessoas p e rte n c e n te s a D e u s q ue p a rtilh a v a m
suas e x p e riê n c ia s da v id a in te rio r da fé e q u e ex o rta v am um as
às o u tra s à p ie d ad e. E n tre ta n to , o C o n s is to rio 2 de à B rakel
te m ia q u e esses c o n v e n tíc u lo s p ro m o v essem a id e ia de igrejas
d e n tro da Ig reja e acabassem le v an d o a cism a; em v ista disso,
o C o n s is to rio d e sen co rajo u a p rá tic a e, em 1676, a Classis de
L e e u w a rd e n re p re e n d e u à B rakel p o r c o n tin u a r a prom ovê-los.
S e g u n d o , à B rak el e n v o lv e u -se na c o n tro v é rsia que

2 C o n selh o q u e e x e r c e o g o v e r n o d a ig re ja local. N o ta d o tra d u to r.

881
PAIXAO P E L A PU R EZA

g irav a em to rn o de Ja c o b u s K o e lm a n , a rd o ro s o teó lo g o da
P ó s-R e fo rm a q u e p ro m o v ia fo rtes m e d id a s se p a ra tista s.
Q u a n d o K o e lm a n v isito u L e e u w a rd e n , à B rak el o d e ix o u
p re g a r do seu p ú lp ito c o n tra os desejos do C o n s is to rio , pelo
q u e ele foi re p re e n d id o p ela Classis de L e e u w a rd e n em 1677.
H v e n tu a lm e n te , à B ra k e l e n tro u em c o n flito co m o g o v e rn o
so b re K o e lm a n p o rq u e o g o v e rn o h a v ia d e p o sto K o e lm a n
do ofício, e à B rak el a c re d ita v a q u e “ n e n h u m c o rp o p o lític o
tin h a a u to rid a d e p a ra d e p o r m in is tro s ” . O g o v e rn o s u sp e n d e u
à B rak el de to d o s os seus d ev eres m in is te ria is p o r q u a tro
sem an a s, m as à B rak el re c u so u -se a p a ra r de p re g a r e de
tra b a lh a r. P o r ú ltim o , à B rak el a ssin o u u m a d e claraçã o na
q u al p ro m e te u re s p e ita r o g o v e rn o e e x o rta r o u tro s a re sp e itá -
10‫ ־‬ta m b é m . O c o n flito to d o veio a se r c o n h e c id o p o r to d a
p a rte da H o la n d a , e a fam a de à B rak el e s p a lh o u -s e n as ig rejas
p o r su a defesa dos d ire ito s da Igreja.
F in a lm e n te , à B rak el c o m b a te u D a v id F lu d v an G iffe n ,
um m in is tro s e g u id o r de C o c c e iu s3 e q u e p re g o u do p ú lp ito de
à B rak el em 1679 q u e o S alm o 8 e ra u m a p ro fe c ia do a d v e n to
d e C risto . C o m o o se rm ã o g ero u in sa tisfa ç ã o , à B ra k e l p re g o u
so b re 0 m e sm o S alm o no d o m in g o se g u in te com b ase n u m a
p o sição m ais c la ssic a m e n te re fo rm a d a . E le p u b lic o u seu
serm ão sob o títu lo de Davids Hallelujah, ofte lof des Heeren
in den achtste Psalm, verklaert, (1680), {A leluia de D a v i, ou os
L o u v o re s do S e n h o r no S alm o 8 E x p o sto } . D e p o is q u e van
G iffen e à B rak el fo ram re c o n c ilia d o s, à B rak el a c re sc e n to u à
sua p rim e ira p u b lic a ç ã o u m e x te n so tra ta m e n to da a lia n ç a da
g raça em Halleluja, ofte Lof des Heeren over het genadeverbond
opgesteld (1681), { A leluia, ou os L o u v o re s do S e n h o r re la tiv o s
à A lia n ça da G raça}.
D e p o is de v in te e u m a n o s de m in is té rio e x e rc id o em
F rie s la n d , à B ra k e l a c e ito u u m c h a m a d o p a s to ra l em 1683
! Convém lem b rar q u e Jo h a n n e s C o e e e iu s (1 6 0 3 -1 6 6 9 ) . te ó lo g o e h eb raísta
h o lan d ês, foi u m dos p rin cip ais e x p o e n te s da te o lo g ia federal (siste m a
b a s e a d o n a a lia n ç a ). N o ta d o tra d u to r.

882
Wilhehnus à Brakel

p a ra R o tte rd a m , o n d e p e rm a n e c e u pelo resto de sua vida.


R o tte rd a m , u rna das m a io re s c id ad es da re p ú b lic a , com u m a
p o p u la ç ã o de 55.000 h a b ita n te s , p ro v e u -lh e u m im p o rta n te
c a m p o de tra b a lh o . A li ta m b é m os la b o re s de à B rak el foram
g ra n d e m e n te a b e n ç o a d o s, n a ed ificação dos p ie d o so s em
su a fé e n a co n v e rsã o dos in c ré d u lo s. E ssas b ên çã o s foram
in te rro m p id a s n a p a rte fin al da d éca d a de 1680 p o r dois
g ra n d e s co n flito s. O p rim e iro levou à B rak el a d is ta n c ia r­
-se de J e a n de L a b a d ie e seus se g u id o re s, os la b a d ista s, que
e stav a m te n ta n d o p ro m o v e r u m a “ Ig re ja id e a l” , o q u e os levou
a m u ito s excessos, in c lu siv e o de a c o n s e lh a r os c re n te s a não
p a rtic ip a re m da C eia do S e n h o r em igrejas o rg a n iz a d a s, todas
as q u a is eles im a g in a v a m ser c o rru p ta s. N o se g u n d o , à B rakel
e n g a jo u -se n u m novo c o n flito com o g o v ern o q u a n d o in s is tiu
em q u e a Ig re ja é in d e p e n d e n te do g o v ern o e, daí, o g o v ern o
n ão te m d ire ito de p ro ib ir a ex te n sã o de u m c h a m a d o p asto ral
v in d o de u m a c o n g reg a ção local a u m m in is tro p a rtic u la r.
O s a n o s tra n q u ilo s q u e à B rak el teve n a d écad a de 1690
ele d e d ic o u à p ro d u ç ã o da su a magnum opus, De Redelijke
Godsdienst { D isc u rso s F ra n c o s so b re o C u lto D iv in o } , (1700; 3
v o lu m e s - a te rc e ira , ed ição d e fin itiv a de 1707, foi lig e ira m e n te
a m p lia d a p a ra 2.350 p á g in a s), u m a v o lu m o sa série de livros
que c o b re m ta n to a te o lo g ia siste m á tic a re fo rm a d a co m o a ética
re fo rm a d a p a ra leigos in te re ssa d o s, e s tu d a n te s de teo lo g ia e
m in is tro s n u m n ív e l q u e to d o s p o d e m e n te n d e r. E m b o ra
ele tiv esse d ific u ld a d e p a ra e n c o n tra r u m im p re s so r p a ra a
p rim e ira e d ição (fin a lm e n te e n c o n tra n d o u m p u b lic a d o r
c a tó lic o -ro m a n o ), sua o b ra foi p ro c u ra d a p o r to d a a H o la n d a
d e n tro d e p o u c o te m p o . Redelijke Godsdienst se to rn o u quase
tão p o p u la r n o s c írc u lo s h o la n d e se s com o o Pilgrim’s Progress
de B u n y a n n o s c írc u lo s ingleses. P a ra o c u lto d o m é stic o , um
típ ic o a g ric u lto r h o la n d ê s do século d e z o ito c o stu m a v a le r um
“s tu k je v an V ader B ra k e l” [u m a p o rção ou u m a seleção do Pai
B rakel] to d a s as n o ite s, d ep o is de le r as E s c ritu ra s. Q u a n d o
c o m p le ta v a a le itu ra de à B rak el, v o ltav a ao com eço e o lia

883
PAIXAO P E L A PUREZA

c o m p le ta m e n te de novo. Redelijke Godsdienst p asso u p o r v in te


edições, só n o século d ezo ito . F oi re im p re s so v ária s vezes em
h o la n d ê s n o s séculos d eze n o v e e v in te ta m b é m . E sfo rço s p a ra
tra d u z ir esta v o lu m o sa o b ra p a ra o in g lês ( in c lu in d o u m a
decisão de fazê-lo to m a d a p elo S ín o d o da Ig reja R e fo rm a d a da
A m é ric a em fin s do sécu lo d ezo ito ) não se m a te ria liz a ra m , até
0 fin al da d éca d a de 1980, m as veio a ser d e s fru ta d a em 1995.
A s in g u la rid a d e da o b ra de à B rak el está no fato de q u e
ela é m ais do q u e u m a te o lo g ia siste m á tic a . A in te n ç ã o de à
B rakel ao escrevê-la é in e v itá v e l: ele deseja in te n s a m e n te q u e
a v e rd a d e ex p o sta se to rn e u m a re a lid a d e e x p e rim e n ta l nos
corações dos q u e a le re m . D e m a n e ira m a g is tra l, ele e stab e lece
a cru c ia l relação e n tre a v e rd a d e o b je tiv a e a e x p e riê n c ia
su b je tiv a dessa v erd ad e .
A lém d esta o b ra clássica, à B rak el foi m a is b e m c o n h e c id o
em seus dias co m o u m p o d e ro so e efetiv o p re g a d o r, q u e p o d ia
p re n d e r m ilh a re s de pessoas com su a e lo q u ê n c ia e c o m u n ic a ç ã o
in te n sa . Seu m é to d o de p reg ação era m ais a n a lític o q u e
sin té tic o , e era s e m p re c ris to c ê n tric o e e x p e rim e n ta l. C o m o
faziam os p u rita n o s in g leses, à B rak el ap licav a seus serm õ es
a d ife re n te s g ru p o s de p essoas, p a rtic u la rm e n te aos salvos,
aos in c ré d u lo s e aos h ip ó c rita s . A s vezes ele s u b d iv id ia a cias-
sificação. P o r ex em p lo , e n tre os in c ré d u lo s ele d is tin g u ía os
ig n o ra n te s , os in d ife re n te s , os ím p io s e o p e c a d o r in te re ssa d o .
E n tre os salvos, ele fre q u e n te m e n te p ro p ic ia v a d ife re n te s
aplicações aos q u e e stav a m in te re s sa d o s e tin h a m u m a fé
em C risto q u e os levava a “ b u s c a r re fú g io ” , e os q u e estav a m
firm es e p o ssu ía m p le n a c e rte z a da fé em C risto . E le p ro m o v ia
0 ex am e p essoal, in tro sp e c tiv o , c e n tra liz a d o em C ris to e
na P alav ra, e a d v e rtia m u ita s vezes c o n tra os p eca d o s da
lib e rtin a g e m e do m u n d a n is m o .
N o v erão de 1711, à B rak el ad o ec eu g ra v e m e n te . Q u a n d o
in q u irid o em seu le ito de m o rte so b re co m o estava su a a lm a , ele
re sp o n d e u : “M u ito b e m ; p osso re p o u s a r em m e u Jesu s. E sto u
u n id o a E le e a g u a rd o Sua V in d a p a ra m im ; e n q u a n to isso,

884
Wilhelmus à Brakel

eu m e s u b m e to s e re n a m e n te a E le ” . N o d ia 30 de o u tu b ro de
1711 à B ra k e l m o rre u , co m s e te n ta e seis an o s de idade. D a n ie l
L e R o y e A b ra h a m H e lle n b ro e k p re g a ra m em seu fu n eral.
A B rakel foi um po p u lar e p ro em in en te rep resen tan te da Pós-
-R eform a H olandesa de m en talid ad e p u ritan a. Ele foi tão am ado
en tre seu povo por seu m in istério paternal, tanto do p u lp ito como
em sua obra pastoral, que m uitos lhe cham avam carinhosam ente
“Pai B rakel” . Esse títu lo h o n o rário ainda hoje perm anece
indelével nos lares de m uitos holandeses na H olanda, os quais
ain d a leem sua obra clássica e apreciam a tradição pu ritan a
exp erim en tal, p ietista, que ele tão h ab ilm en te representou.

The Christian’s Reasonable Service, e d ita d o p o r Jo el R. B eeke,


tra d u ç ã o de B a rte l E ls h o u t (R H B ; 4 v o lu m e s, 2.675 p ág in a s;
1992-1995). A B rak el d e riv o u 0 títu lo p a ra seu clássico de
R o m a n o s 12:1: “ R ogo-vos, p o is, irm ã o s, p ela co m p aix ão de
D e u s, q u e a p re s e n te is os vossos co rp o s em sa crifício vivo,
s a n to e ag rad á v el a D e u s, q u e é o vosso c u lto ra c io n a l” . Esse
títu lo e x p ressa su a in te n ç ã o de a ju d a r os c re n te s em se rv ir a
D e u s em E s p ír ito e e m v e rd a d e - in te lig e n te , e x p e rim e n ta l
e p ra tic a m e n te , em su jeição às E s c ritu ra s.

The Christian’s Reasonable Service foi o rg a n iz a d o em três


p a rte s. A p rim e ira fo rm a u m a teologia siste m á tic a refo rm a d a
tra d ic io n a l, tra ta n d o p rin c ip a lm e n te do c o n h e c im e n to de
D e u s, d os ofício s e o b ra s de C risto , da so te rio lo g ia , das alian ças,
da Ig re ja , e da escatologia. A força d esta seção é trip la : clareza de
p e n s a m e n to , eficácia de a p re se n ta ç ã o e u tilid a d e de aplicação.
As seções c o n c lu siv a s, n o fim de cada c a p ítu lo , q u e ap licam
as d o u trin a s p a rtic u la re s d is c u tid a s às v idas dos c re n te s e
dos in c ré d u lo s , são fo rte m e n te ilu m in a d o ra s. A casu ística
p rá tic a de à B rak el nessas ap licaçõ es su p e ra q u a lq u e r o u tro
teólogo s iste m á tic o , ta n to da sua época co m o da atu a lid a d e .

885
PAIXAO P E L A PU REZA

Sua c a su ístic a re p re s e n ta a te o lo g ia e x p e rim e n ta l p u rita n a ,


re fo rm a d a , em su a m e lh o r expressão.
A se g u n d a p a rte expõe a ética c ristã e o v iv e r c ristã o . A
B rak el escreve: “ N o p rim e iro v o lu m e falam os da a q u isiç ã o da
salvação e da ap licação da salvação aos eleito s. N o se g u n d o
v o lu m e vam os tra ta r da vida do v e rd a d e iro povo da a lia n ç a ,
de su a q u a lid a d e e c o n d iç ã o ” . E sta p a rte in c lu i os c a p ítu lo s
42 a 99, a b ra n g e n d o a seção de c o n c lu sã o do v o lu m e 2, to d o
0 v o lu m e 3 e a m a io r p a rte do v o lu m e 4 n a tra d u ç ã o inglesa.
E a seção m a is ex te n sa e m a is fa s c in a n te da o b ra de à B rak el,
re u n in d o n o tá v e is ap licaçõ es so b re u m a v a rie d a d e de tó p ico s
p e rtin e n te s a com o o c ristã o deve v iv e r n e ste m u n d o . E m
a cré scim o a u m m a g istra l tra ta m e n to dos D ez M a n d a m e n to s
(caps. 45-55) e da O ração do S e n h o r (caps. 68-74), esta p a rte
tra ta de d iv e rso s tó p ico s, e n tre os q u a is estes: co m o v iv e r p ela fé
co m b ase n as p ro m e ssa s de D e u s (cap. 42); co m o e x e rc e r a m o r
a D e u s e ao Seu F ilh o (caps. 56,57); co m o te m e r e o b e d e c e r
a D e u s e e s p e ra r n E le (caps. 59-61); co m o p ro fe ssa r C risto
e Sua v e rd a d e (cap. 63); e co m o ex erc er u m a m u ltip lic id a d e
de graças e s p iritu a is , tais co m o a c o rag e m , o c o n te n ta m e n to ,
a ab n eg a ção , a p a c iê n c ia , a in te g rid a d e , a v ig ilâ n c ia , o a m o r
ao p ró x im o , a h u m ild a d e , a m a n sid ã o , o e s p írito p acífico , a
d ilig ê n c ia , a c o m p aix ão , e a p ru d ê n c ia (caps. 62, 64-67, 76,
82-88). O u tro s tó p ic o s tra ta d o s com m u ito p ro v e ito in c lu e m
0 jejum (cap. 75), a so litu d e (cap. 77), a m e d ita ç ã o e s p iritu a l
(cap. 78), o c a n to (cap. 79), os vo to s (cap. 80), a e x p e riê n c ia
e s p iritu a l (cap. 81), o c re s c im e n to e s p iritu a l (cap. 89), a
ap o stasia (cap .90), a deserção e s p iritu a l (cap. 91), as te n ta ç õ e s
(caps. 92-95), a c o rru p ç ã o in te r io r (cap. 96), e trev a s e m o rte
e s p iritu a is (caps. 97,98).
A te rc e ira p a rte (v o lu m e 4, p p . 373-538) é d e d ic a d a à
h is tó ria da o b ra p a c tu a i e r e d e n to ra d e D e u s, d e sd e o p r in c ip io
a té o fím do m u n d o . L e m b ra a o b ra d e J o n a th a n E d w a rd s ,
History of Redemption {A H is to r ia da R edenção¡·, e m b o ra n ão
seja tão d e ta lh a d a co m o a o b ra de E d w a rd s ; a de à B rak el

886
Wilhelmus à Brakel

c o n fm a -s e m a is às E s c ritu ra s e tem m a io r ên fase p actuai.


C o n c lu i com u m d e ta lh a d o e s tu d o da fu tu ra c o n v ersão dos
ju d e u s e x tra íd o de p assag en s das E s c ritu ra s (4:511-538). (N os
v o lu m e s em h o la n d ê s, u m a q u a rta p a rte , q u e serv e co m o u m a
esp écie de a p ê n d ic e de 350 p á g in a s e q u e ex p õ e o liv ro do
A p o c a lip se , n ão foi tra d u z id a p a ra o inglês.)
A o b ra The Christian’s Reasonable Service re p re s e n ta ,
talvez m ais d o q u e q u a lq u e r o u tra , 0 p u ls a r do coração
p u rita n o e o e q u ilíb rio da P ó s-R e fo rm a H o la n d e sa . A q u i a
te o lo g ia s is te m á tic a e o c ris tia n is m o e x p e rim e n ta l, v ital, são
e n tre la ç a d o s b íb lic a m e n te e p ra tic a m e n te d e n tro de u m a
e s tr u tu ra p a c tu a i, o c o n ju n to to d o tra z e n d o a m a rc a de u m
te ó lo g o -p a s to r p ro fu n d a m e n te e n s in a d o pelo E s p írito . The
Christian’s Reasonable Service c o m b in a a e ru d iç ã o e a p recisão
de G is b e rtu s V oetius, 0 e n s in o de W its iu s so b re as d o u trin a s
da fé e da a lia n ç a , e as m e lh o re s p erce p çõ es da teo lo g ia
b íb lic a p ro p ic ia d a s p o r J o h a n n e s C occeius. A v assalad o r na
a b ra n g ê n c ia , q u ase to d o s os a s s u n to s de in te re s se dos cristão s
são tra ta d o s de m a n e ira e x tra o rd in a ria m e n te p ro v e ito sa ,
s e m p re v isa n d o a p ro m o ç ã o da p ie d a d e . Se a pesso a p u d esse
a d q u irir so m e n te u m a coleção de v ário s v o lu m e s, esta coleção
seria u m a sá b ia escolha.

887
Alexander Comrie
(1 7 0 6 -1 7 7 4 )

l e x a n d e r C o m r i e n a s c e u n o d i a 16 d e d e z e m b r o d e 1 7 0 6
A e m P e r t h , f il h o d e P a t r i c k C o m r i e , u m a d v o g a d o , e d e
R a c h e ll V a u s e . S e u s p a is q u e r i a m q u e e le s e g u is s e a c a r r e i r a
d o se u b is a v ô , A n d re w G ray , e d o p a d ra s to d e s u a m ã e , G e o rg e
H u tc h e s o n , no m in is té rio p re s b ite ria n o . Q uando jo v e m ,
C o m r i e fo i c a t e q u i z a d o p o r E b e n e z e r e R a l p h E r s k i n e , e fo i
g r a n d e m e n t e i n f l u e n c i a d o p e lo s e s c r i t o s d e T h o m a s B o s to n .
C o m r i e a b a n d o n o u s e u s e s t u d o s q u a n d o e s ta v a c o m v i n t e
a n o s d e i d a d e p o r d i f i c u l d a d e s f i n a n c e i r a s . E l e fo i p a r a a
H o la n d a , o n d e tra b a lh o u p a ra u m c o m e rc ia n te d e R o tte r d a m .
T rês a n o s d e p o is , e le se m a t r i c u l o u na U n iv e rs id a d e de
G ro n in g e n , o n d e e s tu d o u so b A n th o n iu s D rie s s e n e C o rn e liu s
v a n V e ls e n . E m 1 7 3 3 , t r a n s f e r i u - s e p a r a L e i d e n p a r a e s t u d a r
f ilo s o f ia so b W . J. ,s - G r a v e n s a n d e . Foi la u re a d o com o
d o u t o r a d o e m f ilo s o f ia e m 1 7 3 4 d e p o i s d e h a v e r c o m p l e t a d o
u m e s tu d o c r ític o d o p e n s a m e n to d e D e s c a rte s , in titu la d o
D e moralitatis fundam ento et natura virtutis { D a m o r a l i d a d e
c o m o f u n d a m e n to e n a tu r e z a d a v ir tu d e ) .
C o m rie fo i e n tã o e le i to m in is tro da p a ró q u ia de
W o u b r u g g e , o n d e fo i p a s t o r p o r t r i n t a e o i to a n o s , a té 1 7 7 3 , o
a n o a n te r io r a su a m o rte , tr a b a lh a n d o f ie lm e n te e n tr e p e sso a s

888
Alexander Comrie

q u e a p re c ia v a m p r o fu n d a m e n te o seu zelo p ela fé calv in ista.


V isitav a trê s vezes p o r a n o cad a u m a das 125 fa m ília s da igreja.
C o m rie c aso u -se três vezes: a p rim e ira , em 1737, com
J o h a n n a de H e y d e , q u e m o rre u logo d ep o is de d a r à luz sua
ú n ic a filh a , R ach e l C o rn e lia , q u e m o rre u d o is m eses an tes
de C o m rie ; a se g u n d a , com M a ria v an de P ijll (m . 1764), em
1741; e, fin a lm e n te , com C a th a rin a de R eus, em 1766.
H á b il p re g a d o r e x p e rim e n ta l, C o m rie m u ita s vezes
focalizava a d o u trin a da fé e suas p ro p rie d a d e s , m e sm o q u a n d o
p ro c la m a v a alto e b o m so m a liv re o fe rta da g raça a to d o s os
o u v in te s do ev an g e lh o . A plicações p re s e n te s n o tra n s c u rs o
dos seus se rm õ e s flu e m d ire ta m e n te de su a exposição. Suas
ap licaç õ es n as c o n c lu sõ e s m u ita s vezes são c u rta s e específicas,
c o m u m e n te d irig id a s ao c re n te e ao n ão c re n te , e m b o ra às vezes
ele s u b d iv id is s e suas ap licaç õ es, d irig in d o -a s ao in te re ssa d o ,
ao in c ré d u lo , ao c re n te fo rte e ao c re n te fraco. O in te re ssa d o
é d ire c io n a d o a C risto , os in c ré d u lo s são a d v e rtid o s , 0 c re n te
fo rte é e x o rta d o à p ie d a d e , e o c re n te fraco é fo rta le c id o com
as p ro m e s s a s do e v a n g e lh o .
C o m rie foi m a is in flu e n te com o e s c rito r do que com o
p reg ad o r. C o m o a c o n te c e u com G is b e rtu s V oetius, ele
o b je tiv av a u n ir e p ro m o v e r a d o u trin a da R efo rm a, a
m e to d o lo g ia esco lá stica e a p ie d a d e b íb lic a p o r m eio do que
escrevia. E le a ssu m iu a realização de q u a tro im p o rta n te s
tarefas, a p rim e ira das q u a is era a ju d a r os m e m b ro s da igreja a
p ro g re d ire m n a v e rd a d e e x p e rim e n ta l, re fo rm a d a , fin a lid a d e
com a q u al u m a coleção dos seus serm õ es foi p u b lic a d a em
1749 (V erzam e lin g van le e rre d e n e n ) {D iscu ssã o de d o u tr in a s }.
S eg u n d o , ele d e d ic o u vário s tra ta d o s à d o u trin a da fé e sua
relação com a ju stificaç ão e a certeza. E le escrev eu um livro
so b re v ário s te rm o s b íb lic o s q u e descrev em a fé, p u b lic a d o
co m o Hei A.B.C. des geloofs em 1739 (tra d u z id o com o The
ABC of Faith, 1978, ver ab aix o ); u m a im p o rta n te o b ra sobre
as p ro p rie d a d e s e s c ritu rís tic a s da fé sa lv a d o ra ( Verhandeling
van eenige eigenschappen des zahgmakenden geloofs, 1744);

889
PAIXAO P E L A PU R EZA

um c o m e n tá rio so b re os p rim e iro s sete D ia s do S en h o r, do


C atecism o de H e id e lb e rg (Stellige en praktikale verklaaring van
den Heidelbergschen catechismus, 1753); e um ex te n so tra ta d o
so b re a ju stificação dos p eca d o res p o r im p u ta ç ã o d ire ta (Brief
over de rechtvaardigmakinge des zondaars, 1761). Sua d is tin ç ã o
e n tre 0 p rin c íp io ou h á b ito (habitus) da fé e 0 ex erc ício ou
ato (actus) da fé serv iu com o alicerce da su a d o u trin a da fé.
E n fa tiz a n d o o p rin c íp io da fé, ele p ro m o v e u a g raça d iv in a
c o m o a ú n ic a c a u sa d a fé. E le e n s in a v a q u e o p r in c íp io d a fé
é ex erc id o p o r c o n h e c im e n to , a ss e n tim e n to e co n fian ça.
P ara p ro m o v e r a p ie d a d e p u rita n a , q u e e ra o seu te rc e iro
o b je tiv o , C o m rie tra d u z iu v ário s liv ro s im p o rta n te s d o in g lê s
p a ra 0 h o la n d ê s. In c lu íd o s e n tre eles estão: The Ten Virgins, de
T h o m a s S h e p a rd , Gospel Mystery of Sanctification, de W a lte r
M a rsh a ll, The Covenant of Grace, de T h o m a s B o sto n , e Brief
Exposition of the Twelve Small Prophets, de G eo rg e H u tc h e s o n .
F in a lm e n te , C o m rie d e fe n d e u a te o lo g ia re fo rm a d a c o n tra o
n e o n o m is m o , o a rm in ia n is m o e o ra c io n a lism o . F o c a liz a n d o
o h á b ito da fé, C o m rie visava im p e d ir q u e o c a lv in is m o
caísse no n e o n o m is m o , q u e e n sin a v a q u e o e v a n g e lh o é urna
“ nova le i” (neonomos) q u e o p e c a d o r d ev e o b e d e c e r p ela fé, e
q u e essa o b e d iê n c ia , ju n to com a ju stiç a de C risto , é a base
da ju stificação . E m o p o sição ao a rm in ia n is m o , C o m rie , com
N ic o la u s H o ltiu s , p ro d u z iu d o is v o lu m es de d iá lo g o s c o n tra
esforços p a ra c o n c ilia r o c a lv in ism o com o a rm in ia n is m o ,
a fa sta n d o -se dos p a d rõ e s d o u trin á rio s da ig reja re fo rm a d a
h o la n d e sa (Examen van het ontwerp van lolerantie, 1753-1759).
T am b ém escrev eu c o n tra m in is tro s e p ro fe sso re s q u e e stav a m
d e fe n d e n d o o ra c io n a lism o , in c lu in d o A n to n iu s van d e r O s
(A a n sp ra a k aan A n to n iu s van d e r O s, 1752 e J o h a n n e s van
d en H o n e rt (Banieren vanwegen de waarheid opgeregt tegen den
Heerjan van den Honert, 1753).
Van d e r O s, m in is tro de Z w o lle, tin h a d e c la ra d o q u e
n e n h u m a co n fissão da igreja tin h a o p o d e r de d ecisã o em
q u e stõ e s de fé, p o is as E s c ritu ra s era m a v e rd a d e ira re g ra , e

890
Alexander Comrie

cad a h o m e m estava em lib e rd a d e p ara receb ê-las de aco rd o


com a su a in te rp re ta ç ã o in d iv id u a l. E le a rg u m e n ta v a ta m b é m
q u e o S ín o d o de D o rt n ão teve a in te n ç ã o de e x p o r a v e rd ad e
p a ra to d o s os te m p o s, m as so m e n te até q u a n d o se ob tiv esse
m ais luz. Van d e n H o n e rt q u e stio n a v a a d o u trin a fu n d a m e n ta l
da ju stificaç ão p ela fé, o q u e C o m rie achava q u e en v o lv ia a
re n d iç ã o de tu d o o q u e L u te ro e C alv in o tin h a m e n sin a d o
so b re o a ssu n to . A p esar da v a le n te o p o sição de C o m rie e
seus a m ig o s, o ra c io n a lism o a v an ç o u firm e e n tre 0 clero e os
p ro fesso re s. M as o povo da H o la n d a , n a m a io ria , p e rm a n e c ia
fiel ao e v a n g e lh o p re g a d o p o r C o m rie. H o je o seu n o m e
c o n tin u a se n d o re c o n h e c id o e os seus liv ro s c o n tin u a m sen d o
lid o s n a H o la n d a p o r aq u eles q u e d e fe n d e m a fé e x p e rim e n ta l,
refo rm a d a .
C o m rie p asso u os ú ltim o s m eses de sua v ida com o
a s s is te n te p a sto ra l em G o u d a. E le m o rre u no d ia 10 de
d e z e m b ro de 1774, e foi s e p u lta d o , a seu p e d id o , n u m tú m u lo
não a s s in a la d o em St. J a n s k e rk , em G o u d a. O se rm ã o p reg ad o
em seus fu n e ra is foi p ro fe rid o p o r seu sucessor, J a n O u b o te r,
basead o em H e b re u s 13:7.

The ABC of Faith , tra d u z id o p a ra o in g lês p o r J. M arcu s


B a n fie ld (Z o a r; 1978; 200 p ág in as). E ste tra ta d o , o rn á is p o p u la r
de C o m rie , põe às claras a d o u trin a e a v id a da fé d e d ic a n d o
um c a p ítu lo a cada descriç ão b íb lic a da fé, tais co m o confiar,
te r sede, b eb er, com er, ou v ir, escolher, beijar, to m ar, e n tre g ar,
etc. R e p e tid a m e n te , o a u to r d ire c io n a o in te re ssa d o e o salvo
p ara C risto e le v a n ta os fracos na fé.
E ste tra ta d o é d o u trin á ria e e x p e rim e n ta lm e n te rico.
E is u m e x em p lo : “A graça da fé, e n q u a n to se m a n té m , em
q u a lq u e r g ra u , em ex erc ício , m a n té m a alm a n u m a co n d ição
de im p o tê n c ia , co m o cria n ça. Q u a n d o o o rg u lh o , a altiv ez da
pessoa, su a p o s tu ra firm a d a nos seus p ró p rio s pés, se g u ir a sua

891
PAIXAO P E L A PU R EZA

p ró p ria v o n ta d e p o d e se r d is c e rn id o , é u m sin a l de q u e a fé
não está em ex ercício. D e u s de fato p e rm ite q u e as pessoas
se firm e m so b re seus p ró p rio s pés e d eem a lg u n s passos, até
b a te re m com a cabeça, to m b a re m e se fe rire m a tal p o n to q u e
terão q u e v o lta r com v e rg o n h a ; m as aq u ela p e q u e n a v id a , sem
poder, é re a lm e n te a v id a da fé, s u s te n ta d a co m o u m fraco
c o rd e iro n o s b raço s e n o colo de C risto (Is. 4 0 :1 1 )” (p. 88).

892
Theodorus Jacobus Frelinghuysen
(1691-1747)

fa m ília de T h e o d o ru s Ja c o b u s F re lin g h u y se n apoiava a


A R e fo rm a d esd e o século dezesseis. O bisav ô de T h e o d o ru s
foi p io n e iro da R e fo rm a L u te ra n a n a ald eia alem ã de E rgste.
Seu avô in tro d u z iu a fa m ília n a tra d iç ã o re fo rm a d a em
1669; eles se fd ia ra m a u m a p e q u e n a igreja re fo rm a d a nas
p ro x im id a d e s de S ch w erte. Seu p ai, J o h a n F le n ric h , to rn o u ­
-se p a s to r de u m a igreja re fo rm a d a alem ã re c é m -e sta b e le c id a ,
em 1683, em H a g e n , W estp h a lia . L o g o d ep o is q u e J o h a n foi
o rd e n a d o , ele caso u -se com A n n a M a rg a re th a B ru g g e m a n n ,
filh a de u m p a s to r refo rm a d o . E le b a tiz o u seu q u in to filh o ,
T h e o d o ru s Ja c o b u s, no d ia 6 de n o v e m b ro de 1692.
F re lin g h u y s e n fre q u e n to u o gymnasium em H a m m
(in flu e n c ia d o p o r J o h a n n e s C occeiu s) d u ra n te d o is anos,
p a ra e s tu d a r filosofia e te o lo g ia, e d ep o is se m a tric u lo u
na U n iv e rs id a d e de L in g e n (in flu e n c ia d o p o r G isb e rtu s
V oetius) p a ra o e s tu d o te ológico. E m L in g e n T h e o d o ru s
c o m p ro m e te u -se c o m p le ta m e n te com a p ie d a d e re fo rm a d a e
com a re lig io s id a d e e x p e rim e n ta l no estilo de V oetius, an tes
q u e n o de C occeius.
F re lin g h u y s e n foi o rd e n a d o ao m in is té rio em 1717 em
L o e g u m e r V oorw erk, em F rie s la n d O rie n ta l, p ró x im o de

893
ΡΑΙΧ AO PK LA PUREZA

E m d e n . C ato rze m eses m ais ta rd e , u m a e n c h e n te v a rre u a


área, re d u z in d o à p o b re z a os seus p a ro q u ia n o s. D e p o is de
se rv ir p o r v á rio s m eses com o c o -re g e n te da escola de la tim
em E n k h u iz e n , H o la n d a S e te n trio n a l, F re lin g h u y s e n a c e ito u
o c o n v ite da Classis de A m s te rd a m , da Ig reja R e fo rm a d a ,
p ara a te n d e r a q u a tro p e q u e n a s c o n g reg a çõ es re fo rm a d a s
h o la n d e sa s em R a rita n Valley, N ew Je rse y (as c o n g reg a çõ es de
R a rita n , Six M ile R u n , T h r e e M ile R u n e N o rth B ra n c h ).
L ogo d ep o is de c h e g a r a N ew B ru n sw ic k , N ew Jersey, em
1720, F re lin g h u y s e n c aso u -se com E va T e rh u n e , filh a órfã
de u m a b a sta d o fa z e n d e iro de L o n g Isla n d . S ua u n iã o foi
ab e n ç o a d a com cin c o filh o s h o m e n s e d u as filh as. T odos os
cin co filh o s se to rn a ra m m in is tro s e as d u as filh as se casaram
com m in is tro s .
T odavia, a lu a de m el de F re lin g h u y s e n na A m é ric a , em
qu e ele se a d a p ta v a , d u ro u p o u co . M u ito s o b je ta ra m d e sd e o
in íc io a sua ên fase à reg e n e ra ç ã o , à su a in te n s a p ie d a d e e a seu
e stilo p ro b a tó rio , e x p e rim e n ta l de pregação. E le, p o r su a vez,
o b je to u a a lg u n s m e m b ro s seu m o d o n e g lig e n te de viver, q u e
in c lu ía fraca fre q u ê n c ia à ig reja, c ris tia n is m o n o m in a l, co b iça
e, n a lg u n s casos, jogo e d e sre g ra m e n to .
E m b o ra F re lin g h u y s e n c o n v id a sse os p e c a d o re s a v ire m
a C risto tão fo rte m e n te co m o os a d v e rtia c o n tra o p eca d o ,
ele e n sin a v a q u e a p en a s aq u eles q u e são v e rd a d e ira m e n te
salvos experimentam a co n v ersão . O s te m as c o s tu m e iro s de
V oetius, da p o rta e s tre ita e do c a m in h o d ifíc il, a v id a de
p recisã o e a escassez da salvação, e a p rio rid a d e dos m o tiv o s
in te rio re s , os q u a is e fe tu a m a o b se rv â n c ia e x te rio r, ap a re c e m
fre q u e n te m e n te nos serm õ es de F re lin g h u y s e n co m o fru to s
in e v itáv e is da v id a cristã.
F re lin g h u y se n e n te n d ia as e v id ê n c ia s da c o n v e rsã o -
a rre p e n d im e n to , fé e s a n tid a d e - co m o testes p a ra a a d m issã o
à C eia do S en h o r. D e sd e q u e, em seu juízo, a falta de fru to s da
p ie d a d e revelava q u e m u ito s dos m e m b ro s da sua co n g re g a ç ã o
não era m c re n te s re g e n e ra d o s, ele se s e n tia o b rig a d o a

894
Theodorus Jacobus Frelinghuysen

a d v e rti-lo s c o n tra a p a rtic ip a ç ã o da M esa da C eia do S enhor.


O s atos d is c ip lin a re s de F re lin g h u y s e n e de seu c o n sisto rio
tra n s to rn a ra m m u ito s m e m b ro s da igreja, p a rtic u la rm e n te os
ricos, q u e fic a ra m re s s e n tid o s p o r suas a d m o estaçõ es c o n tra
a lu x ú ria ca rn a l. E les se q u e ix a ra m a in flu e n te s m in is tro s
de N o v a Io rq u e , a lg u n s dos q u a is se p u se ra m ao lado dos
queix o so s - m a is n o ta v e lm e n te , G u a lth e ru s D u B o is (1671­
1751) e H e n ric u s B oel (1692-1754). O u tro s colegas, p o ré m -
m ais n o ta v e lm e n te G u ilia m B a rth o lf (1656-1726), u m p a sto r
itin e ra n te , p io n e iro , q u e fora resp o n sá v e l p ela o rg an iz ação
das q u a tro co n g reg a çõ es p a ra as q u a is F re lin g h u y s e n fora
c h a m a d o - a p o ia ra m F re lin g h u y s e n , e m b o ra o a c a u te la n d o de
q u e n ão fosse d u ro d e m a is ao ju lg ar as v idas do seu povo. As
coisas fic a ra m e x tre m a m e n te te n sa s q u a n d o F re lin g h u y se n
re fe riu -se aos colegas q u e se o p u se ra m a ele com o “ m in is tro s
não c o n v e rtid o s ” .
E m 1723, v á rio s m e m b ro s d e s c o n te n te s da con g reg ação
de F re lin g h u y s e n , q u e se to rn a ra m c o n h e c id o s co m o Klagers
{ Q ueixosos ou C h o rõ e s} , a c u sa ra m F re lin g h u y s e n de p reg ar
falsas d o u trin a s . O s c o n s is to rio s de F re lin g h u y s e n la v ra ram
u m a in tim a ç ã o (daagbrief), q u e e n v ia ra m aos Klagers. N essa
in tim a ç ã o os Dagers (In tim a d o re s ), co m o v ie ra m a ser
c o n h e c id o s, fize ram u m a lista dos e rro s dos seus o p o n e n te s e
e v e n tu a lm e n te e x c o m u n g a ra m q u a tro dos seus cabeças - um
ato q u e e s p a lh o u o n d a s de com oção p o r to d a a c o m u n id a d e
re fo rm a d a h o la n d e sa .
E m 1725, os Klagers fin a lm e n te re s p o n d e ra m à in tim a ç ã o
com u m a Klagte {Q ueixa} - u m d o c u m e n to de 146 p ág in as
d irig id a s à Classis de A m ste rd a m . A Klagte foi a ssin a d a p o r
sesse n ta e q u a tro chefes de fa m ília , re p re s e n ta n d o u m q u a rto
das q u a tro co n g reg a çõ es de F re lin g h u y se n . A Klagte d e ta lh o u
cada u m a de to d a s as co n c e b ív e is c rític a s de F re lin g h u y se n
q u e p u d e s s e p ro v o c a r a re s is tê n c ia d a Classis c o n tra ele e
le v a r à sua dem issão .
A feroz o p o sição co b ro u seu p re ç o na sa ú d e de

895
PAIXAO P E L A PU R EZA

F re lin g h u y se n . E s p e c ia lm e n te no in íc io da d éca d a de 1730,


ele sofreu d iv e rso s a ta q u e s d e b ilita n te s de d e p re ssã o m e n ta l,
os q u ais o d eix av am in c a p a c ita d o p o r vário s m eses. M as
F re lin g h u y se n não ced eu . E n tr e os p e río d o s de a b a tim e n to ,
ele c o n tin u o u a e s p a lh a r os seus e n s in a m e n to s p ie tis ta s e
c o n tro v e rso s p ela p alav ra im p re ssa e falada.
A c o n tro v e rsia e n tre os Dagers e os Klagers g rasso u
in te rm ite n te m e n te até q u e , graças à a lfin e ta d a da Classis de
A m s te rd a m , eles c h e g a ra m a um aco rd o . N o d ia 18 d e n o v e m b ro
de 1733, as igrejas se rv id as p o r F re lin g h u y s e n a d o ta ra m
o n ze “A rtig o s de P a z ” , q u e fo ram lid o s dos p ú lp ito s n o s três
p rim e iro s d o m in g o s de 1734 e d ep o is fo ram e n c a m in h a d o s
a A m ste rd ã p a ra ap ro v aç ão fin al. O s a rtig o s, q u e os Klagers
su b sc re v e ra m , d e c la ra v a m q u e os c o n s is to rio s d e v e ría m
p e rd o a r as falhas dos Klagers e d esfazer su a e x c o m u n h ã o , d esd e
q u e os Klagers ace ita ssem F re lin g h u y s e n co m o u m m in is tro
re fo rm a d o o rto d o x o e re to rn a ss e m à igreja. E m b o ra a o p o sição
de Boel a F re lin g h u y s e n e ao a v iv a m e n to c o n tin u a s s e , D u B o is
la n ço u u m m o v im e n to v isa n d o ju n ta r-s e ao p a rtid o a v iv alista
n u m a p etição de in d e p e n d ê n c ia da Classis de A m s te rd a m .
D o is p a rtid o s e m e rg ira m em m e ad o s do sécu lo , o Coetus e
o Conferentie { C o n ferên cia} . O p a rtid o Coetus era c o m p o sta
p rin c ip a lm e n te de m in is tro s q u e re p re s e n ta v a m a p ie d a d e
av iv alista, p ro g re ssiv a , de F re lin g h u y s e n . O p a rtid o Conferentie
re p re s e n ta v a a o rto d o x ia tra d ic io n a l, a n tia v iv a lis ta , e c o n s is tia
d aq u eles q u e desejav am p e rm a n e c e r “ em c o n fe rê n c ia ” com
a Classis de A m ste rd ã . D u ra n te d éca d as, os d o is p a rtid o s
tro c a ra m u m a série de p a n fle to s c o n te sta d o re s. P o r fim , as
m e tas de F re lin g h u y s e n e do p a rtid o Coetus fo ram a lc an çad a s:
a pregação em in g lês foi sa n c io n a d a , os m in is tro s p a ssa ra m a
ser tre in a d o s e o rd e n a d o s na A m é ric a , e foi c o n c e d id a p le n a
a u to n o m ia à Ig re ja a m e ric a n a .
E m b o ra alg u m as pessoas se se n tisse m o fe n d id a s pela
p reg ação p ro b a tó ria dc F re lin g h u y s e n , a m a io ria do povo
ia a n im a d a m e n te a trá s dele. P elo q u e se sabe, ao m e n o s

8%
Theodoras Jacobus Frelinghuysen

tre z e n ta s pessoas fo ram c o n v e rtid a s sob 0 seu m in is té rio em


N ew Jersey. D iv e rso s p e q u e n o s a v iv a m e n to s sob o m in is té rio
de F re lin g h u y s e n p a v im e n ta ra m o c a m in h o p a ra o G ra n d e
D e s p e rta m e n to . Sua p reg aç ão e su a c o m u n h ã o im p a c ta ra m
G ilb e rt T e n n e n t, u m jovem m in is tro p re s b ite ria n o que
veio a N ew B ru n sw ic k p a ra tra b a lh a r e n tre os co lo n o s de
lín g u a in g lesa. O a v iv a m e n to in ic ia d o sob F re lin g h u y se n
n a c o m u n id a d e h o la n d e sa e sp a lh o u -se aos co lo n iz a d o re s
de lín g u a in g le sa sob 0 m in is té rio de T e n n e n t, e m ais ta rd e
d e s a b ro c h o u n o G ra n d e D e s p e rta m e n to . G eo rg e W h ite fie ld
c h a m o u a F re lin g h u y s e n “ o in ic ia d o r da g ra n d e o b ra ” .
E m seus ú ltim o s an o s, F re lin g h u y s e n p asso u a ju lg ar
m e n o s os o u tro s ; p e d iu d e scu lp a s p o r te r d ito q u e a lg u n s dos
seus colegas n ã o era m c o n v e rtid o s. O s esforços de reco n c iliação
e n tre F re lin g h u y s e n e D u B o is fo ram b e m su ced id o s. P o r
fim , o in fa tig á v e l labor, 0 zelo e a p ie d a d e de F re lin g h u y se n
v e n c e ra m ; até m u ito s dos seus a n tig o s in im ig o s v ie ra m a
aceitá-lo.

Forerunner o f the Great Awakening: Sermons by Theodorus


Jacobus Frelinghuysen , o b ra e d ita d a p o r J o e l R. B eeke. T h e
H is to r ic a l S e rie s o f th e R e fo rm e d C h u r c h in A m e ric a , n°
36 ( E e r d m a n s , 385 p á g in a s ; 2000). E s te liv ro c o n té m u m a
in tr o d u ç ã o b io g rá fic a , u m a tra d u ç ã o a tu a liz a d a d e to d o s
os v in te e d o is s e rm õ e s d e F r e lin g h u y s e n e x is te n te s , e u m a
b ib lio g ra fia a n o ta d a d as fo n te s in g le s a s s o b re F r e lin g h u y s e n .
F r e lin g h u y s e n s o b re s s a iu e m seu s s e rm õ e s em d is ­
tin g u ir e n tr e a re lig iã o v e rd a d e ira e a falsa em se u s serm õ es.
E le d e s e n v o lv e u e sta h a b ilid a d e c o m a a s s is tê n c ia de
m e n to re s p ie tis ta s p u r ita n o s h o la n d e s e s , q u e d iv id ia m
u m a c o n g re g a ç ã o e m v á rio s e s ta d o s e c o n d iç õ e s d e a lm a e
d e p o is fa z ia m a p lic a ç õ e s p e sso a is p re g a n d o a c a d a g ru p o .
O s p io n e ir o s d e sse m é to d o d e c la ssific a ç ã o n o p u r ita n is m o

897
PAIXAO P E L A PU R EZA

h o la n d ê s fo ra m J e a n T affín (1528-1602), G o d e frid u s


U d e m a n s (1581-1649) e W ille m T ee llin ck (1579-1629). O
p rin c ip a l m e n to r de F re lin g h u y s e n , J o h a n n e s V e rsc h u ir
(1680-1737), c o n h e c id o p r in c ip a lm e n te p o r su a o b ra ,
Waarheit in het Binnenste, of Bevindelyke godtgeleertheit {A
V erdade nas P a rte s I n te rn a s , ou R e lig io sid a d e E x p e rim e n ta l¡‫־‬,
e sc rita e sp e c ia lm e n te p a ra jovens p a sto re s, p a ra a ju d á-lo s
a c u id a r das alm as a eles c o n fia d as. V e rsc h u ir d is tin g u ía
e n tre d iv e rsas cate g o ria s de fre q u e n ta d o re s de ig reja, to d a s
as q u ais p re c isa v a m de m e n sa g e n s esp ecíficas do p re g a d o r:
( 1 ) 0 c ristã o fo rte (sterk Christen), q u e é c o n v e rtid o e c h e g o u
a certo g ra u de m a tu rid a d e na v id a e s p iritu a l; (2) o c ristã o
p re o c u p a d o (hekommerde Christen), q u e ta m b é m é c o n v e rtid o ,
m as lu ta com m u ita s d ú v id a s e falta de c erteza da fé; (3) os
“ le tra d o s ” (letterzvyse), q u e n ão são c o n v e rtid o s , m as são
pessoas in s tru íd a s e v ersad as n a v e rd a d e , não c o n h e c e n d o ,
p o ré m , n e m a e x p e riê n c ia n e m o p o d e r da v e rd a d e ; (4) os
ig n o ra n te s (onkunde), q u e n ão são c o n v e rtid o s e n ão tê m
in s tru ç ã o , m as q u e p o d e m se r p e rs u a d id o s a a p re n d e r p o rq u e
têm in te lig ê n c ia n a tu ra l. O u tra s d is tin ç õ e s m ais são feitas
e n tre os d iv e rso s tip o s de ím p io s.
O s s e rm õ e s d e F r e lin g h u y s e n m o s tra m q u e n o r m a l­
m e n te e le s e g u ia o m é to d o d e V e r s c h u ir d e c la s s ific a ç ã o .
M a is p re g a ç õ e s sã o d e d ic a d a s a a c o n s e lh a r o c r is tã o
p r e o c u p a d o d o q u e o fo rte . P e lo te m p o q u e e le p a s s a v a
e n c o r a ja n d o essa c la s s e d e o u v in te s , p o d e m o s c o n c l u ir
q u e F r e li n g h u y s e n a c r e d ita v a q u e a m a io r ia d o s c r e n te s
v e r d a d e ir o s d e s u a c o n g re g a ç ã o e r a c o n s t i t u í d a d e “ c r is tã o s
p r e o c u p a d o s ” . M u ita s d a s s u a s a d v e r tê n c ia s são d ir i g id a s
aos “ le tr a d o s ” . E s s e s são v is to s c o m o e s ta n d o e m g r a n d e
p e r ig o p o r q u e são “ q u a s e c r is tã o s ” , n ã o e s ta n d o lo n g e d o
r e in o d e D e u s . E le s a n d a m c o m c r is tã o s e fa la m c o m o
c ris tã o s , m a s n ã o p o s s u e m o n o v o n a s c im e n to . A p e s a r
d e s u a m o r a lid a d e e x te r io r e d e p r o f e s s a r e m a v e r d a d e ,
p e re c e rã o se lh e s s o b r e v ie r a m o r te .

898
Theodorus Jacobus Frelinghuysen

A co n v icção de F re lin g h u y s e n de q u e u m a coisa n ece ssária


é a re g e n e ra ç ã o c o n s titu i 0 coração da sua teologia. N u m
serm ão típ ic o , ele e x o rta os seu s o u v in te s a v erificarem se
p o ssu e m as e v id ê n c ia s do n o v o n a s c im e n to . E s tre ita m e n te
re la c io n a d o com esse p o n to é o c h a m a d o à co n v ersão , pela qual
F re lin g h u y s e n g e ra lm e n te n ão se refe re à c o n v ersão d iá ria do
c re n te , m as sim à co n v e rsã o in ic ia l do in c ré d u lo . E le falava da
co n v e rsã o n esse s e n tid o p e rm u ta v e lm e n te com a reg en e ra ção
o u o n o v o n a s c im e n to .
F re lin g h u y s e n p re g a v a q u e o n o v o n a s c im e n to deve ser
e x p e rim e n ta l. Q u e r d iz er, o c o n v e rtid o tin h a q u e sa b e r com o
ele p a s s a ra da m o rte p a ra a v id a , e se esp e ra v a q u e ele fosse
cap a z de re la ta r o q u e D e u s tin h a feito p o r su a alm a. E sta s
d u a s co isas - fo rte ên fase à n e c e ssid a d e do n o v o n a s c im e n to ,
e à classificaçã o dos fre q u e n ta d o re s de ig reja em várias
c a te g o ria s - im p re s s io n a ra m p a r tic u la r m e n te T e n n e n t,
W h ite fie ld e o u tro s p re g a d o re s lig a d o s a a v iv a m e n to .
T u d o isso é c o e re n te com a filosofia da p reg ação , de
F re lin g h u y s e n . N a ap licaç ão dela a u m serm ão , “ D u tie s o f
W a tc h m e n o n th e W alls o f Z io n ”, ele re fle te so b re 0 seu d ev er
co m o p re g a d o r:
E m b o ra eu n ã o p re s c re v a u m m é to d o de p re g a ç ã o p a ra
n in g u é m , so u , c o n tu d o , d a o p in iã o s e g u n d o a q u a l a a p licaç ão
d ev e s e r d is c r im in a tiv a , a d a p ta d a aos v á rio s e sta d o s d e to d o s
os o u v in te s (Ju d a s, v e rs íc u lo s 20,2 1 ; J e re m ia s , c a p ítu lo 15).
N a Ig re ja h á p e sso a s ím p ia s e n ã o c o n v e rtid a s , p esso as de
b o a m o ra lid a d e , c ris tã o s n a a p a rê n c ia e p o r p ro fissã o de
fé: e to d o s esses c o n s titu e m 0 m a io r n ú m e ro , p o is m u ito s
são c h a m a d o s , m a s p o u c o s são e sc o lh id o s . H á ta m b é m n a
ig re ja p e sso a s c o n v e rtid a s : c ria n ç a s e as d e m a is a v a n ç a d a
id a d e . C a d a u m a d ela s a n e la e c la m a , cad a u m a d e v e re c e b e r
a te n ç ã o e d ev e s e r tr a ta d a de a c o rd o c o m seu e s ta d o e sua
e s tr u tu r a , s e g u n d o J e re m ia s 15:19. M u ito s te ó lo g o s zelosos
tê m m o s tra d o co m o são p e rn ic io s a s as a p lic a ç õ e s g erais
(E z e q u ie l 13:19,20).

899
PAIXAO P E L A PU R EZA

O s serm õ es de F re lin g h u y s e n m o s tra m su a p e rs o n a lid a d e


fo rte e su a co n v icção de p e rm a n e c e r firm e p e la v e rd a d e ,
in d e p e n d e n te m e n te das c o n se q u ê n c ia s. “ E u p re fe riría so fre r
m il m o rte s ”, d e c la ro u ele a seu re b a n h o , “ a n ã o p re g a r a
v e rd a d e ” . E le e ra u m o ra d o r e lo q u e n te , u m e s c rito r v ig o ro so ,
u m teólogo cap a z e u m p re g a d o r zeloso. “ P elo fe rv o r d e sua
p re g a ç ã o ” , escrev eu L e o n a rd B aco n , “ ele d e v e ria re c e b e r a
a ssin a la d a g ló ria de in ic ia d o r do G ra n d e D e sp e rta m ie n to ” .
J o n a th a n E d w a rd s o c o n sid e ra v a u m dos m a io re s te ó lo g o s
da Ig reja a m e ric a n a , e, ab aix o de D e u s, a trib u iu o su cesso do
a v iv a m e n to em N ew Je rse y à su a in s tru m e n ta lid a d e .

900
Abraham Hellenbroek
(1658-1731)

b ra h a m H e lle n b ro e k n asc e u de p ais te m e n te s a D e u s no


A d ia 3 de d e z e m b ro d e 1658, em A m ste rd a m . T an to seu
pai, J a n , co m o sua m ã e, E liz a b e th K lu ft, d e sc e n d ia m de fortes
fam ílias re fo rm a d a s. A b ra h a m foi o sexto de dez filh o s. Seu
irm ã o m a is v e lh o n a sc e u m o rto e sua irm ã m a is v e lh a m o rre u
aos trê s a n o s d e id a d e. N e ssa ép o ca seu p a i escrev eu : “ E ssas
c ria n ç a s, m o rre n d o n a in fâ n c ia , tê m u m d e s tin o a b en ç o ad o ,
p o is estão co m D e u s m u ito m a is c e d o ” .
A b ra h a m tin h a h a b ilid a d e s c o g n itiv a s e x tra o rd in á ria s ,
p elo q u e seu s p a is o e n v ia ra m ced o à escola. E ssa ed u ca ção
esc o la r foi logo in te r r o m p id a p ela p e s te de 1664 em
A m s te rd a m , m a l q u e se p ro p a g o u d u r a n te q u a se u m ano
e q u e c e ifo u m a is d e 2 4 .0 0 0 v id a s. P e la g ra ç a d e D e u s , a
fa m ília H e lle n b r o e k fo i p o u p ad a.
Q u a n d o A b ra h a m estav a com d ez a n o s de id a d e , seus pais
o m a tric u la ra m n a m e lh o r escola de la tim de A m ste rd a m .
C in c o a n o s m a is ta rd e , ele p asso u em seu ex am e p a ra in g resso
n a U n iv e rs id a d e de A m s te rd a m . N essa ocasião ele fez u m
d isc u rso em la tim so b re a fra g ilid a d e da v id a h u m a n a (De
vitae humanae fragilítate).
H e lle n b ro e k e s tu d o u la tim , g rego, h e b ra ic o , re tó ric a ,

901
ABRAHAM H ELLEN BRO EK
Abraham Hellenbroek

filo so fia e h is tó ria sob a d o c ê n c ia d e H e rm a n W itsiu s, com o


ta m b é m de v á rio s p ro fesso re s da esco la de C occeius, cujos
c o n c e ito s m a is ta rd e ele re p u d ia r ia .1 E m 1667, tra n s fe riu ­
-se p a ra a U n iv e rs id a d e de L e id e n , o n d e e s tu d o u a filosofia
c a rte s ia n a p o r a lg u m te m p o , a n te s d e se v o lta r p a ra a teologia,
sob os c u id a d o s de F rie d ric h S p a n h e im co m o seu p rece p to r.
N a H o la n d a , S p a n h e im veio a se r c o n h e c id o co m o u m dos
m a is a rd o ro so s d efen so res d a p re d e s tin a ç ã o c a lv in is ta c o n tra
as id é ia s do a m y ra ld is m o .12
H e lle n b ro e k foi d e c la ra d o c a n d id a to ao m in is té rio
p ela Classis de L e id e n no d ia 17 de m a rç o d e 1682. D e v id o
a u m excesso d e m in is tro s , ele teve q u e e s p e ra r c in c o m eses
a n te s de re c e b e r u m c h a m a d o p a sto ra l. F o i e m p o ssa d o em
Z w a m m e rd a m n o d ia 28 de fev ereiro de 1683, p elo Rev.
V a n K ra lin g e n , de R ijn sa te rs w o u d e , e p re g o u o seu serm ão
in a u g u ra l b a se a d o em Isaías 40:6. E m Z w a m m e rd a m ,
H e lle n b ro e k e x p e rim e n to u p le n a c e rte z a da fé e re co n c iliação
p esso al co m o T riú n o D e u s.
H e lle n b ro e k c aso u -se co m G e e rtru id a Van d e r H o e v e n
em 1690. Q u a tro dos seu s seis filh o s m o rre ra m n a in fâ n c ia ; as
filh a s re s ta n te s , E liz a b e th e B a rb a ra , m o rre ra m aos dezen o v e
e aos v in te e c in c o an o s d e id a d e. A pós a p e rd a de su a ú ltim a
filh a em 1725, H e lle n b ro e k d isse a seu s am ig o s: “O S e n h o r

1 Cocceius, que Bcrkhof acha que c equivocadamente considerado “pai da


teologia federal”, tinha um conceito sobre as alianças um tanto semelhante
ao dos dispcnsacionalistas modernos. Com implicações em sua escatologia,
ele errou em fazer do esquema das alianças o fator determinante do estudo
total e global da teologia sistemática. Além disso, e acredito que esse foi o
fator determinante da sua rejeição na época de Hellenbroek, ele pôs de lado
o método escolástico reformado no estudo de teologia. Nota do tradutor.
2 Nome derivado de Moisés Amyraut, de Saumur, autor de um tratado
sobre a predestinação c seus princípios (1634). Ele modificou a doutrina
da predestinação, mais gravemente por introduzir 0 conceito do chamado
universalismo hipotético da graça, que implicitamente inclui a ideia de
que a graça é oferecida umversalmente e que os perdidos se perdem
porque rejeitam a graça. Nota do tradutor.

903
PAIXAO P E L A PU R EZA

d e te rm in o u q u e ficássem o s sem filh o s; vocês p o d e m c h a m a r­


-m e M ara, p o is, co m o N o e m i d isse aos c id a d ã o s de B elém ,
“g ra n d e a m a rg u ra m e te m d a d o o T o d o -p o d ero so . C h e ia p a rti,
p o ré m vazia 0 S e n h o r m e fez to r n a r ”, assim m e su ced eu .
T odavia, H e lle n b ro e k n ão se to rn o u am arg o . A n te s, ele foi
c o n h e c id o p o r s u a d is p o s iç ã o m a n s a , s e m e lh a n te à d e
C ris to .
D e 1691-1694, H e lle n b ro e k s e rv iu a co n g re g a ç ã o r e fo r­
m a d a d e Z w ijn d r e c h t. F o i e m p o s s a d o p o r A d r ia n u s
G e lo sse , d e R id d e r k e r k . E sse s a n o s fo ra m fru tífe ro s . E m
m a rç o d e 1694, ele a c e ito u u m c h a m a d o p a r a Z a ltb o m m e l
e foi e m p o ss a d o ali e m m a io p o r J u s tu s S c h a lk w ijk à V elde.
P o s te r io r m e n te , n e s s e m e s m o a n o , H e lle n b r o e k s e n tiu - s e
c o m p e lid o a a c e ita r u m c h a m a d o p a ra R o te rd ã . E le ti n h a
sid o c o n s id e ra d o p a ra u m c h a m a d o c in c o vezes ali, m a s
n u n c a h a v ia s id o e s c o lh id o ; o p o v o su sp e ita v a q u e ele e ra i n ­
flu e n c ia d o p ela filo so fia de R e n é D e s c a rte s e p e la te o lo g ia de
J o h a n n e s C o cce iu s, q u e eles sa b ia m q u e ele tin h a e s tu d a d o .
U m a vez q u e o p o v o se d e u c o n ta d e q u e H e lle n b r o e k
re je ita v a esses e n s in o s , p e d ira m -lh e q u e fosse se u m in is tro .
H e lle n b ro e k foi e m p o ssa d o em R o tte rd a m p o r L u d o lp h u s
de W ith em ja n e iro de 1695. S erv iu fie lm e n te o re b a n h o de
R o tte rd a m d u r a n te tr in ta e trê s a n o s, a té su a a p o s e n ta d o ria
em 1728. M u ito s jovens fo ra m c o n v e rtid o s sob 0 seu m in is té rio
d u ra n te aq u e le s anos. E le a lc a n ç o u a c o m u n id a d e ta m b é m . P o r
m u ito s an o s, ele falou s e m a n a lm e n te n u m o rfa n a to , m a n te v e
cu lto s p ú b lic o s m e n sa is de o raçã o e d irig iu re u n iõ e s em sua
casa em favor d o s p ie d o so s da su a c o m u n id a d e .
H e lle n b ro e k foi m a is c o n h e c id o p o r seu s e sc rito s, ta is
co m o 0 seu liv ro de c a te c ism o , A Specimen of Divine Truths
(Voorbeeld der Goddelyke Waarheden, v er ab aix o ), u m a o b ra em
q u a tro v o lu m e s so b re Isaías (De Evangelische Jesaja, 1702­
1710) e u m a o b ra em d o is v o lu m e s so b re C a n ta re s de S alo m ão
(Verhandeling van het Hooglied van Salomo, 1718-1720),
com o ta m b é m p o r seu s se rm õ es e scrito s. O s 279 se rm õ e s de

904
Abraham Hellenbroek

H e lle n b ro e k e x iste n te s são típ ic o s da P ó s-R efo rm a H o lan d esa.


São exposições c ris to c ê n tric a s b a n h a d a s p ela p ie d a d e p u rita n a ,
refo rm a d a . E les fo calizam as m arcas da graça e c o n tê m extensas
aplicações com vistas ao povo de D e u s e aos in c ré d u lo s.
E x eg ética, h o m ilé tic a e e x p e rim e n ta lm e n te , os c o m e n tá rio s e
os se rm õ es de H e lle n b ro e k m o s tra m a in flu ê n c ia de G isb e rtu s
V oetius, q u e p ro c u ra v a e n tre la ç a r a te o lo g ia escolástica
re fo rm a d a com u m a p ie d a d e sin c e ra , de coração.
H e lle n b ro e k ta m b é m foi c o n h e c id o p o r su a lid e ra n ç a . E le
se rv iu co m o p re s id e n te d o s sín o d o s p ro v in c ia is da H o la n d a
M e rid io n a l em 1709 e e m 1712, e m u ita s vezes co m o delegado
sin o d a l. O m a g is tra d o de R o tte rd a m o n o m e o u co m o m e m b ro
do c o n s e lh o de c u ra d o re s das escolas locais p o p u la re s
e ra sm ia n a s. T am b ém lh e foi o fere c id a a p o sição de p re g a d o r
da c o rte em H a ia { H o la n d a } , m as d e c lin o u d a h o n ra .
O ú ltim o se rm ã o q u e H e lle n b ro e k p re g o u foi b asead o
no S alm o 16:11: “ F a r-m e -á s v er a v e re d a da v id a ; n a tu a
p re s e n ç a h á a b u n d â n c ia de aleg ria ; à tu a m ão d ire ita há
d e líc ia s p e rp e tu a m e n te ” . E m casa, d e p o is q u e v o lto u do c u lto ,
ele d isse: “ T e n h o e x p e rim e n ta d o m a is dessa p le n itu d e de
a le g ria do q u e te n h o sid o capaz de e x p re ssa r do p ú lp ito ” . Suas
c o n d iç õ e s físicas se d e te rio ra ra m n o s m eses q u e se seg u iram .
C erca de dez se m a n a s a n te s de H e lle n b ro e k m o rre r, u m
a m ig o p e rg u n to u ao p re g a d o r o q u e ele p e n sa v a a resp eito .
H e lle n b ro e k re s p o n d e u : “ P en so n o q u e sig n ific a se r re c o n c i­
lia d o com o T rin o D e u s, e em com o foi q u e E le m e d eu base
p a ra crer, p a ra eu p o d e r te r p a rte n essa g ra n d e b ê n ç ã o ” .
D u r a n te as su as se m a n a s fin a is, H e lle n b ro e k fre q u e n te m e n te
falava d e seu a n se io p o r e s ta r com C risto . E le m o rre u em 14
de d e z e m b ro de 1731, a lta m e n te e s tim a d o p ela c o m u n id a d e
re fo rm a d a o rto d o x a de to d a a H o la n d a .

A Specimen of Divine Truths, tra d u ç ã o de Jo el R . B eeke

905
PA IXA O P E L A PU R EZA

p a ra 0 in g lês, (R H B ; 98 p á g in a s; 1998). E s te liv ro clássico


de p e rg u n ta s p a ra a d o le sc e n te s e a d u lto s p a sso u p o r m a is
de c in q u e n ta ed içõ es em h o la n d ê s d esd e a su a p rim e ira
p u b lic a ç ã o em 1706, co m o ta m b é m p o r n u m e ro s a s ed içõ es
em inglês. A Classis de N ew B ru n sw ic k (1783), da Ig re ja
R e fo rm a d a n a A m é ric a , su p e rv is o u sua p r im e ir a tra d u ç ã o
p a ra o in g lê s. E ssa tra d u ç ã o foi u tiliz a d a e x te n s a m e n te p o r
to d a s as d e n o m in a ç õ e s re fo rm a d a s d u r a n te m a is d e u m
sé c u lo , e foi re im p re s s a m u ita s vezes a té o fin a l d o sé c u lo
v in te .
D e p o is da m o rte de H e lle n b ro e k , trê s a rtig o s fo ra m
a c re sc e n ta d o s ao c a te c ism o co m o a p ê n d ic e s: u m c a p ítu lo
so b re 0 c o n se lh o de p az, u m a in tro d u ç ã o p a ra e s tu d a n te s
so b re com o tir a r p ro v e ito de aulas b a sead a s em c a te c ism o ,
e u m c o m p ê n d io dos p rin c ip a is e rro s d o u trin á rio s d o s q u e
não a d e re m à te o lo g ia re fo rm a d a . C o m os a p ê n d ic e s, o liv ro
de c a tecism o a m p lia d o veio a ser c o n h e c id o em h o la n d ê s
co m o “ o g ra n d e H e lle n b ro e k ” (groot Hellenbroek). A tra d u ç ã o
de 1998 b a se ia -se n a ed ição h o la n d e sa de 1918 de “ o g ra n d e
H e lle n b ro e k ” .
H e lle n b ro e k o rg a n iz o u 0 seu c a te c ism o de a c o rd o co m
as seis m a is im p o rta n te s d o u trin a s da te o lo g ia s is te m á tic a
re fo rm a d a : D e u s, 0 h o m e m , C risto , a salvação, a Ig re ja , e
as ú ltim a s coisas. N o p a ssa r dos sécu lo s, e sta e s tr u tu ra te m ­
-se p ro v a d o u m m e io eficaz de e n s in a r a jo v en s e a d u lto s as
v erd a d e s re fo rm a d a s das E s c ritu ra s.

906
Johannes
Hoornbeek
( 1 6 1 7 -1 6 6 6 )

Tohannes H o o r n b e e k ( o u H o o r n b e e c k ) n a s c e u e m H a a r le m
I e ra 1617, p o u c o a n te s d o in íc io d a r e u n iã o d o re n o m a d o
S í n o d o d e D o r t ( 1 6 1 8 ,1 6 1 9 ). U m d o s te ó lo g o s m a is c u lt o s
d a P ó s - R e f o r m a H o l a n d e s a , e le f o i u m a c r i a n ç a p r o d í g i o ,
t e n d o i n i c i a d o s e u e s t u d o d e l a t i m a o s s e is a n o s d e id a d e .
A o s d e z e s s e is , e s t u d o u t e o l o g ia e m L e i d e n , s o b a d o c ê n c ia d e
A n t o n i u s W a la e u s . S u b s e q u e n t e m e n t e , fo i e s t u d a r t e o lo g ia
n a U n i v e r s i d a d e d e U t r e c h t , s o b G i s b e r t u s V o e tiu s , p o r q u e m
e le fo i g r a n d e m e n t e i n f l u e n c i a d o .
H o o r n b e e k fo i o r d e n a d o p a r a 0 m i n i s té r i o e m M u h lh e im -
- o n - t h e - R h i n e e m 1639. L o g o d e p o is d e r e c e b e r 0 d o u to r a d o
e m te o lo g ia , e m 164 3 , t o r n o u - s e p r o f e s s o r d e V e lh o T e s ta m e n to
e m U t r e c h t , e t a m b é m fo i n o m e a d o p r e g a d o r a li e m 1645. E m
U t r e c h t (e s u b s e q u e n t e m e n te e m L e i d e n ) , H o o r n b e e k d e ix o u
p r o v a d e q u e e r a u m t r a b a l h a d o r in c a n s á v e l e u m te ó lo g o d e
m u it o s in te r e s s e s , fa m o s o p o r s u a e r u d i ç ã o o r to d o x a , s u a te o lo g ia
p r á t i c a e s e u a m o r p e la s m is s õ e s . P o s s u in d o m u ito s ta le n to s d a d o s
p o r D e u s , d o m i n o u tr e z e id io m a s e e s c r e v e u v o lu m o s a m e n te .
I m p o r t a n t e s o b r a s d o s a n o s q u e p a s s o u e m U t r e c h t , to d a s
a s q u a i s m u i t o b e m r e c e b i d a s p e lo s o r t o d o x o s d o s e u te m p o ,
in c lu e m as s e g u in te s : um m a n u a l p rá tic o d e h o m il é t i c a ,

907
PAIXAO P E L A PU REZA

Tratactus de ratione concionandi (1645); u m tra ta d o q u e se o p õ e


ao m istic ism o de W eigel, S ch w e n k fe ld e o u tro s , De paradoxis
e heterodoxies weigelianis commentaries (1646); u m liv ro so b re
co m o m o rre r b e m , Euthanasia ofte Welsterven; waar in veel
voorbeelden der stervenden en hun laatsten doodspreuken verhaald
warden (1651); u m e fic ie n te tra ta d o em trê s v o lu m e s c o n tra o
so c in ia n is m o , Socinianismus confutatus (1650-1664); u m co n c iso
m a n u a l de p o lê m ic a re fo rm a d a , em o p o sição aos “ in c ré d u lo s ”
(pagãos, ju d e u s e m u ç u lm a n o s ), aos “ h e re g e s” (cató lic o s
ro m a n o s, a n a b a tis ta s, lib e rtin o s , so c in ia n o s e e n tu sia s ta s ),
e aos “ c ism á tic o s ” (re m o n s tra n te s , lu te ra n o s , b ro w n is ta s e
o rto d o x o s g regos), Summa controversiarum religionis (1653);
e u m v o lu m e cujo c o n te ú d o é u m a co m p ila ç ã o d e te o lo g ia
e x tra íd a de o u tro s e sc rito re s o p o sto s à escola d e C o cce iu s,
Institutionis theologicae ex optimis auctoúbus concinnatae (1653).
E m 1654, H o o rn b e e k a c e ito u a p o sição d e p ro fe s s o r de
te o lo g ia em L e id e n . A li ele c o n tin u o u a tra b a lh a r a v id a m e n te ,
ta m b é m p re g a n d o r e g u la rm e n te e e m p re e n d e n d o a lg u m a
o b ra p a sto ra l.
I m p o rta n te s e sc rito s dos an o s q u e H o o rn b e e k p a sso u em
L e id e n in c lu e m : d o is v o lu m e s q u e re v e la m seu a m o r p elas
m issões, De convincendis et convertendis judaeis et gentilibus
libú VIII (1655) e De Cornerstone indorum et gentilium (1669);
trê s v o lu m es p ro m o v e n d o a e s trita o b se rv â n c ia do d o m in g o
(em o p o sição à ab o lição do q u a rto m a n d a m e n to d e fe n d id a
p o r C occeius), Heyliginghe van Godts name en dagh (1655), De
observando a Chñstianispraecepto Decalogi quarto (1659) e Nader
bewysinghe van des heeren daghsheyliginghe (1659); u rn a o b ra
c o n tra o a rm in ia n is m o e su a in flu ê n c ia so b re o s o c in ia n is m o ,
Van de oorsprongh der Arminiaensche nieuwigheden (1662),
urna o b ra em dois v o lu m e s de te o lo g ia s is te m á tic a e ética,
Theologica Practica (1663-1666), q u e foi e s c rita s e g u n d o as
lin h a s da R e fo rm a e q u e le m b ra os e sc rito s de V oetius e d e
W itte w ro n g e l; e u m v o lu m e q u e se o p u n h a à c a n o n ic id a d e
dos e sc rito s n ã o b íb lic o s, Miscellanea sacra (1674).

908
Johannes Hoorheek

H o o rn b e e k e sg o to u -se p o r v o lta de 1666, q u a n d o


m o rre u aos q u a re n ta e o ito an o s de id a d e. S ua v id a e o b ra
re p re s e n ta ra m b e m a escola de p e n s a m e n to de V oetius, que
c o m b in a v a exegese b íb lic a , te o lo g ia esco lá stica e zelo p ie d o so
n a p ro m o ç ã o da o rto d o x ia refo rm a d a . H á b il e m u ito b em
a p e rfe iç o a d o te ó lo g o , e ric a m e n te e n s in a d o p elo E s p írito ,
sua in flu ê n c ia foi c o m p re e n s iv e lm e n te g ra n d e s o b re os seus
a lu n o s. N a c a d e ira do s e m in á rio , do p ú lp ito e p o r u m a n d a r
p ie d o so , ele foi u m m o d e lo da d o u trin a e p ie d a d e p u r ita n a e
re fo rm a d a .

Spiritual Desertion {D eserção E sp iritu a l} , com G isb e rtu s


V oetius, o b ra e d ita d a p o r M . E u g e n e O ste rh a v e n , tra d u ç ã o de
J o h n V rie n d e H a rry B o o n stra (B ak er; 176 p ág in a s; 2003). E ste
liv ro foi in ic ia d o p o r G isb e rtu s V oetius que, e sta n d o n o m eio
de p re m e n te s d everes, p e d iu a H o o rn b e e k que o com pletasse. A
p rim e ira edição a p are ceu em 1646, e, n u m a edição m e lh o ra d a ,
foi p u b lic a d o em 1659. A ú ltim a im p re ssã o em h o la n d ê s foi
em 1898.
D a p re s e n te tra d u ç ã o , s u p e rv is io n a d a p ela D u tc h
R e fo rm e d T ra n s la tio n Society, V oetius escrev eu s o m e n te v in te
e sete p á g in a s, fo c a liz a n d o a d e fin iç ã o , as cau sas e as espécies
de d e serção e s p iritu a l. T a m b é m c o n s id e ro u a b re v ia d a m e n te
re m é d io s p a ra a d e serção e s p iritu a l e p e rg u n ta s ace rca de tal
d eserção , in c lu in d o p o r q u e D e u s a p e rm ite .
A c o n trib u iç ã o de H o o rn b e e k , de 118 p á g in a s, focaliza
co m m a io r p ro fu n d id a d e trê s ite n s: “ ( 1) 0 a b a n d o n o com o tal;
(2) as d ific u ld a d e s q u e su rg e m d isso p a ra a alm a a b a n d o n a d a ;
(3) o c o n flito q u e su rg e n a alm a em c o n se q u ê n c ia , e que
c o n tin u a m e n te a lim e n ta su a ação d e m o ld e a g e ra r c o n sta n te
in tr a n q u ilid a d e ” (p. 65). A o b ra d e H o o rn b e e k é m u ito ú til,
e le m b ra a m e lh o r c a su ístic a p u rita n a .
M . E u g e n e O s te rh a v e n escreve n a in tro d u ç ã o q u e 0 liv ro

909
PAIXAO P E L A PU R EZA

Spiritual Desertion, “ foi e sc rito p o r c au sa d a a d m o e sta ç ã o


b íb lic a a n o s a le g ra rm o s n o S e n h o r e a v iv e rm o s v ito rio sa -
m e n te com o S eus filh o s, ao passo q u e m u ito s c o m p a n h e iro s
c ristã o s m a n ife s ta v a m fa lta d e p ra z e r em D e u s e e sta v a m
ch eio s de te m o re s e a n sie d a d e s. A n o b re in te n ç ã o de V oetius e
de H o o rn b e e k é tão re le v a n te h o je co m o foi no sécu lo dezessete.
O colapso da m o ra lid a d e , p ro b le m a s a m b ie n ta is , o te rro ris m o ,
e, n a tu ra lm e n te , o p e rp é tu o p ro b le m a do p e c a d o re s id e n te n o
ser h u m a n o , p a ra n ã o m e n c io n a r o u tra s p re o c u p a ç õ e s, é c e rto
q u e g e ra m s e n tim e n to s de a b a n d o n o e s p iritu a l. A m e n sa g e m
de V oetius e de H o o rn b e e k é n e c e ssá ria h o je ” (p. 23).

910
Jacobus Koelman
(1 6 3 1 -1 6 9 5 )

a c o b u s K o e l m a n n a s c e u e m 1631 e f o i e d u c a d o e m U t r e c h t ,

J o n d e o b t e v e s e u d o u t o r a d o e m f ilo s o f ia q u a n d o e s ta v a c o m
v i n t e e q u a t r o a n o s d e i d a d e , e d e p o is e s tu d o u te o lo g ia s o b a
d o c ê n c i a d e G i s b e r t u s V o e tiu s , A n d r e a s E s s e n iu s e J o h a n n e s
H o o r n b e e k . E l e s a iu d a u n iv e rs id a d e e m 1656 c o m o um
c o n v i c t o s e g u i d o r d e V o e tiu s . N e s s e m e s m o a n o e le t r a d u z i u 0
l i v r o d e C h r i s t o p h e r L o v e , The Conflict between Flesh and Spirit.
D e 1 6 5 7 a 1 6 6 2 , K o e l m a n s e r v i u c o m o c a p e lã o n a s e m b a i x a ­
das h o la n d e s a s , p r im e ir o em C o p e n h a g u e , D in a m a rc a , e
d e p o is e m B r u x e la s . D e 1 6 6 2 a 1 6 7 4 , e le fo i m i n i s t r o d a
c o n g r e g a ç ã o r e f o r m a d a d e S lu is , a t u a l F l e m i s h Z e e la n d , m a s
n a q u e l e t e m p o e r a u m a d a s á r e a s g o v e r n a d a s p e lo s E s ta d o s
G e r a i s , c h a m a d o s T e r r i t ó r i o s G e r a is . E m S lu is , e le a m p l i o u
s u a v is ã o e m p r o l d a P ó s - R e f o r m a H o l a n d e s a . E le v e io a s e r
um f e r r e n h o d e f e n s o r d e s s a v is ã o p r e g a n d o , e s c r e v e n d o e
t r a d u z i n d o t e ó l o g o s i n g le s e s e e s c o c e s e s p a r a 0 h o la n d ê s .
K o e lm a n se o p u n h a à in te r f e r ê n c ia g o v e rn a m e n ta l n a
v i d a d a I g r e j a e m d i v e r s a s f r e n t e s . E le r e j e it a v a 0 d ire ito d o
g o v e r n o d e c h a m a r m i n i s t r o s e d e s e le c io n a r p r e s b í t e r o s e
d i á c o n o s . L u t a v a c o n t r a a s u a d e f i c i e n t e v is ã o d o v i v e r c r is tã o
e s u a n e g l i g ê n c i a q u a n t o à m a n u t e n ç ã o d a d i s c i p l i n a c r i s tã

911
PAIXAO P E L A PU R EZA

em c o n ju n to co m a a d m in is tra ç ã o d as o rd e n a n ç a s. O p u n h a -s e
fo rte m e n te à o b se rv â n c ia de dias de festa c e le b ra d o s n o s c u lto s,
co m o ta m b é m às o raçõ es fo rm a is, m e c â n ic a s e irre v e re n te s .
A o p o sição g e ro u oposição . D e 1673 a 1675, os o p o n e n te s
de K o e lm a n tra b a lh a ra m p elo seu d e s p o ja m e n to , e fin a lm e n te
tiv e ra m sucesso. E m ju n h o de 1675 K o e lm a n p e rd e u o seu
p a sto ra d o e foi b a n id o de F la n d re s , e em n o v e m b ro do m e sm o
an o p e rd e u sua esposa.
P o r alg u m te m p o , K o e lm a n n ã o teve n e n h u m m e io de v id a
estab e lecid o . Q u a n d o a p e rse g u iç ã o a u m e n to u , e v e n tu a lm e n te
se esta b e le c e u em A m s te rd a m sob a p ro te ç ã o do p re fe ito ,
C o n ra d v an B e u n in g e n . P assava o te m p o e n s in a n d o classes
em várias ig rejas, d irig in d o c o n v e n tíc u lo s em d iv e rsas
casas, e sc re v e n d o liv ro s ou tra d u z in d o o b ra s p u r ita n a s p a ra
0 h o la n d ê s e e n g a ja n d o -s e em itin e rá rio s d e p reg aç ão em
G ro n in g e n e em F rie s la n d , a b e rto s p a ra ele p o r W ilh e lm u s
à B rakel. E v e n tu a lm e n te , q u ase to d o s os sín o d o s le g isla ra m
c o n tra ele, p ro ib in d o q u e lh e p e rm itis s e m p reg ar, e n s in a r ou
re a liz a r c o n v e n tíc u lo s.
A lém do ap o io de à B ra k e l, K o e lm a n re c e b e u e n c o ra ja m e n to
de J o d o c u s Van L o d e n s te in . E m b o ra Van L o d e n s te in n ão
c o n c o rd a sse co m a fero z o p o sição à o b se rv â n c ia d o s dias de
festa da ig reja, ap o iav a p le n a m e n te su as ênfases e s p iritu a is e
su a co n v icção de q u e o g o v e rn o n ã o d e v e ria in te r f e r ir n a v id a
da Igreja.
E m 1691, K o e lm a n v o lto u p a ra U tre c h t, su a c id a d e
n a ta l, o n d e , e m b o ra a in d a im p e d id o de p re g a r e de d irig ir
c o n v e n tíc u lo s, teve p e rm is sã o p a ra p re g a r em la re s, d ir ig ir
ex posições b íb lic a s (“ B ijb e lle z in g e n ” ), e e n s in a r catecism o .
A li, ta m b é m , ele c o n tin u o u a e sc re v e r e tr a d u z ir liv ro s. P o r
ocasião de su a m o rte , em 1695, co m se sse n ta e trê s an o s de
id a d e, ele tin h a e s c rito q u a re n ta e q u a tro liv ro s e tra d u z id o
v in te e trê s v o lu m e s de teó lo g o s in g leses e escoceses
(in c lu siv e C h ris to p h e r L o v e , S am u e l R u th e rfo rd , T h o m a s
H o o k e r, W illia m G u th rie , H u g h B in n in g e J o h n B ro w n ).

912
Jacobus Koelman

P a rtic u la rm e n te p o r m e io d e su a p e n a , ele ex erc eu in flu ê n c ia


so b re os seus c o n te m p o râ n e o s , co m o se p o d e v e r p elas
n u m e ro s a s re im p re s sõ e s d o s liv ro s q u e escrev eu e tra d u z iu .
O s e sc rito s p ró p rio s e as tra d u ç õ e s de K o e lm a n rev elam
u m in d iv íd u o m u ltifa c e ta d o . E le escrev eu u m tra ta d o p rá tic o
e re n o m a d o so b re os d ev eres p a te rn o s (De pligten der ouders;
The Duties of Parents, v e r abaixo). E screv e u so b re filosofia,
p rin c ip a lm e n te c o n tra D e sc a rte s. E le se opôs a D e L ab a d ie.
E sc re v e u so b re a fé (De natuur en gronden des geloofs) e so b re a
a lia n ç a d a g raça (Hetverbonddergenade). E screv e u o b ra s p rá tic a s
p a ra os o ficiais (De wekker der leraren; Het ambt en de plicht van
ouderlingen en diakenen) e p a ra os m e stre s (Schoolmeesters). E le
expôs su a visão da P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a em seu liv ro Punten
van Nodige Reformatie, s a lie n ta n d o a n e c e ssid a d e de p ie d a d e
v ital em to d a s as área s da vida. E le a rg u m e n to u em fav o r de
u m e n te n d im e n to o rto d o x o , p u r ita n o e v o e tia n o do d o m in g o .
Suas s im p a tia s p elo s p u rita n o s e ra m p a rtic u la rm e n te fo rtes,
razão de su a tra d u ç ã o de ta n to s deles. S ua tra d u ç ã o de dois
v o lu m e s de F ra n c is R o u s rev ela su as te n d ê n c ia s m ístic a s, as
q u a is, c o n tu d o , ele n u n c a lev o u a n e n h u m e x tre m o .
K o e lm a n foi s e p u lta d o n a C a th e rin e C h u rc h , em U tre c h t,
o n d e os re sto s de V oetius ta m b é m d e scan sam . K o e lm a m n
foi u m d o s te ólogos m a is fran co s e m a is in flu e n te s da P ós-
-R e fo rm a H o la n d e s a , co m o ta m b é m u m d o s q u e so fre ra m
m a is d u ra oposição.

TheDuties o f Parents, o b ra e d ita d a p o r M . E u g e n e O s te rh a v e n ,


tr a d u z id a p a ra o in g lê s p o r J o h n V rie n d (B a k e r; 170 p á g in a s;
2003). P u b lic a d o p e la p r im e ir a vez e m 1679, e ste clássico de
K o e lm a n s o b re a c ria ç ã o d e filh o s foi re im p re s s o m u ita s
vezes e m h o la n d ê s , a té h o je , e é s ig n ific a tiv o p o rq u e foi u m a
d as p o u c a s o b ra s d e a ju d a d o m é s tic a e s c rita s p o r te ó lo g o s
d a P ó s -R e fo rm a H o la n d e s a . A o b ra d e P e te r W itte w ro n g e l,

913
PAIXAO P E L A PU REZA

Oeconomia Christiana, o u The Christian Household, (1655), é


u m a n o tá v e l exceção. K o e lm a n escrev eu su a o b ra co m o m a is
u m ite m d o seu p ro g ra m a q u e v isav a p ro m o v e r m a io r r e ­
fo rm a da ig reja re fo rm a d a h o la n d e sa .
C ada c a p ítu lo é d iv id id o em c e rto n ú m e ro de “ re g ra s ” ou
seções, so m a n d o 282 n o to ta l. R e a lm e n te K o e lm a n te n c io n a v a
q u e e ste liv ro fosse lid o ju n to co m o u tro s d o is q u e ele e screv eu :
p rim e iro , u m c a te c ism o p a ra c ria n ç a s, e, s e g u n d o , v in te
h is tó ria s de c ria n ç a s p ie d o sa s q u e m o rre ra m n a ju v e n tu d e . N a
m a io r p a rte , p o ré m , o liv ro Duties of Parents v ale p o r si só.
A o b ra de K o e lm a n c u m p re h a b ilm e n te o seu p ro p ó s ito
de in c u lc a r n o s p ais c ristã o s a g ra n d io s a ta re fa de c ria r seus
filh o s le v a n d o -o s a a b ra ç a re m a v id a p ie d o sa . Sem n e g a r
a n e c e ssid a d e do a c o m p a n h a m e n to d a g raça d e D e u s, ele
p ro v ê n u m e ro s a s d ire triz e s co m o fim de a ju d a r os p a is a
tra b a lh a re m p ela salvação das alm as de seu s filh o s. E m b o ra
alg u m as das suas d ire triz e s ag o ra p a re ç a m d u ra s , e s tra n h a s ou
até e n fa d o n h a s, a im e n sa m a io ria d elas oferece c o n s e lh o b o m
e d esafia d o r, q u e ra ra m e n te se vê n o s liv ro s m o d e rn o s so b re
criação de filh o s. O c a p ítu lo so b re o e n s in o d a p ie d a d e p o r
m e io da co n v ersaçã o é p a rtic u la rm e n te b o m . C o m o o b se rv a o
e d ito r: “ H á m u ito c o n se lh o b o m n e s te v o lu m e , c o n s e lh o b o m
p a ra q u a lq u e r época, e e s p e c ia lm e n te p a ra o n o sso te m p o de
fam ílias d e s e s tru tu ra d a s , de fa m ília s em q u e falta u m d o s p a is,
em q u e h á falta d e b o a d is c ip lin a e c ria n ç a s n as ru as. K o e lm a n
fala da n o ssa so cied a d e a tu a l em m u ita s de su as ên fases: a
im p o rtâ n c ia de faze r co m q u e as c ria n ç a s sa ib a m q u e os p ais
te m os m e lh o re s in te re s se s delas n o co raç ão ; a n e c e ss id a d e de
am o ro sa e p o n d e ra d a d is c ip lin a ; a n e c e ssid a d e de b o as escolas
e de b o n s p ro fe sso re s, esses d a n d o -s e c o n ta de su a g ra n d e
re s p o n s a b ilid a d e , e e n s in a n d o às c ria n ç a s q u e a rela ção d elas
com D e u s e a su a fe lic id a d e e te rn a c o n s titu e m o p ro p ó s ito
de to d a e d u ca ção e a d m o e sta ç ã o ” (p. 15). E is u m a citaçã o da
in tro d u ç ã o de K o e lm a n p a ra in s tig a r o seu a p e tite , se você é
p ai ou m ãe:

914
Jacobus Koelman

L e v e m seu s filh o s a D e u s e e n s in e m a eles


q u e d ev em se rv i-1 0 d u ra n te to d a a vida. E les são
m a is do S e n h o r do q u e de vocês. O S e n h o r é o
D o n o d eles, co m o ig u a lm e n te é seu C ria d o r e seu
S u ste n ta d o r. N o b a tis m o vocês os c o n sa g ra ra m
a D e u s. A li vocês fiz e ra m a so le n e p ro m e ssa de
q u e iria m criá -lo s co m o Sua po ssessão , n ão p a ra a
c a rn e , o m u n d o e o d ia b o , m as p a ra E le, p a ra O
s e rv ire m e p a ra v iv e re m p o r Ele. A a lia n ç a cujo
selo eles re c e b e ra m re q u e r fé e a rre p e n d im e n to .
P o rv e n tu ra vocês n ã o d ev em , e n tã o , ed u c á -lo s no
c o n h e c im e n to das re a lid a d e s d iv in a s e p a ra a fé e
a p ie d a d e ? P o is vocês n ão tiv e ra m a in te n ç ã o de
m e n tir p e ra n te 0 S en h o r, co m o m e cabe esp erar, e
n ão se e n tris te c e m p o r tê-lo s d e d ic a d o a D e u s no
sa c ra m e n to . S ig am , e n tã o , sua c o n sc iê n c ia n e sta
q u e stã o . P ro c u re m salvá-los p o r to d o s os m eios
a p ro p ria d o s , p re s c rito s p o r D e u s ; p ro c u re m des-
v iá -lo s do m a l e in c e n tiv á -lo s a to d a b o a ob ra. D e
vocês eles h e rd a ra m a o rig e m do m a l, q u e é m il
vezes p io r do q u e a le p ra , do q u e p e d ra n a v esícu la,
do q u e p e d ra n o s rin s e o u tro s m a les físicos sem e-
lh a n te s q u e acaso te n h a m h e rd a d o d e vocês. E,
p o r ta n to , ju sto q u e vocês façam o m á x im o p a ra
o b te r su a c u ra , te n ta n d o e n tre g á -lo s n as m ã o s do
m é d ic o de alm as, Jesu s C risto , fa z e n d o -o c o n h e -
cid o , re c o m e n d a n d o -o e c o n d u z in d o seus filh o s a
E le , co m o q u e p o r su as p ró p ria s m ãos (pp. 29,30).

É e x tra o r d in á r io o fato d e q u e e ste v o lu m e foi o p rim e iro


tr a ta d o q u e K o e lm a n p u b lic o u p a ra im p le m e n ta r su a
v isã o e se u p r o g r a m a e m p r o l d a c o n tin u id a d e d a re fo rm a
n a H o la n d a , v is to q u e ele m e sm o n u n c a te v e filh o s. Seu
c a s a m e n to co m A n n a H u s s d u ro u p o u c o , p o is ela m o rre u
p re c o c e m e n te .

915
Jean Taffin

e a n T a f f in , u m d o s p i o n e i r o s d a f r o u x a m e n t e o r g a n i z a d a

J P ó s-R e fo rm a H o la n d e sa , nasceu em 1529 no s e io


u m a r ic a f a m í li a c a t ó l i c o - r o m a n a e m T o u r n a i ( D o o r n i k , d e
id i o m a s f la m e n g o e h o l a n d ê s ) n a r e g i ã o s u l d a H o l a n d a ( h o je ,
de

n o c e n t r o - s u l d a B é lg ic a ) . D e n i s , s e u p a i, e r a u m p r o e m i n e n t e
a d v o g a d o , e u m m a g i s t r a d o m u n i c i p a l , e s u a m ã e fo i C a t h e r i n e
A le g a m b e . J e a n f o i u m d e s e te f ilh o s .
D e p o i s d e r e c e b e r e d u c a ç ã o p o r m e io d e u m p r e c e p t o r
f a m i l i a r a l t a m e n t e q u a l i f i c a d o , T a f fin fo i p a r a a U n i v e r s i d a d e
d e L e u v e n , o n d e f ic o u e x p o s to às f o n te s c lá s s ic a s e p a t r í s t i c a s e
ao h u m a n i s m o c r i s tã o d e E r a s m o . D e p o i s e le se t r a n s f e r i u p a r a
a U n i v e r s i d a d e d e P á d u a , n a I t á l i a , e d a li, e m 1 5 5 4 , fo i s e r v i r
c o m o s e c re tá rio e b ib lio te c á rio d e A n to in e P e r r e n o t, b is p o d e
A t r e c h t ( q u e p o s t e r i o r m e n t e v e io a s e r 0 c a r d e a l G r a n v e lle ) .
N e s s a p o s iç ã o , q u e e le m a n t e v e p o r t r ê s a n o s , T a f fin fo i a p r e s e n ­
ta d o a m u i t a s p e s s o a s p r o e m i n e n t e s , in c l u s iv e m e m b r o s d a
n o b r e z a e l í d e r e s p o l í t i c o s e c iv is . M u i t o p r o v a v e l m e n t e , e le
fo i c o n v e r t i d o à fé r e f o r m a d a d u r a n t e e s s e s a n o s .
C o n v e r t i d o , T a f f in r e n u n c i o u a s u a p o s iç ã o , d e u a s s i s ­
tê n c i a p o r c u r t o p e r í o d o d e t e m p o a u m a ig r e ja r e f o r m a d a
e m A n t u é r p i a ( 1 5 5 7 ) , e , t e n d o - s e t o r n a d o a ti v o n a s “ ig r e ja s

916
Jean Taffin

d eb a ix o d a c ru z ” , foi fo rç a d o a fu g ir de p erse g u iç ã o em 1558,


co m o u tro s re fu g ia d o s. P a sso u a lg u n s m eses em E stra sb u rg o ,
com B u c e r e C a p ito , e d ep o is foi p a ra G e n e b ra p a ra e s tu d a r
te o lo g ia sob a d o c ê n c ia d e C alv in o e de B eza (1558,1559). E le
p a s to re o u ig rejas em A a c h e n (1560,1561) e em M e tz (1561­
1566). E n q u a n to re s id iu em M e tz , caso u -se, lig a n d o -se à
fa m ília Q u in tin e . Seu ú n ic o filh o desse c a sa m e n to , S am uel,
m o rre u jovem . E n q u a n to isso, a ig reja de M e tz florescia
e a re p u ta ç ã o d e T affin co m o líd e r da ig reja se esp alh av a,
ta n to q u e ele e sta b e le c e u a m iz a d e com o u tro s im p o rta n te s
re fo rm a d o re s, in c lu s iv e G u id o d e B rès (1522-1567) e P e tru s
D a th e n u s (c. 1532-1588). E m 1564, ele p a rtic ip o u d e discu ssõ es,
in ic ia d a s p elo P rín c ip e W illia m de O ra n g e , q u e p ro c u ra v a m
u n ir lu te ra n o s e c a lv in ista s c o n tra u m c a to lic ism o ro m a n o
m ilita n te .
T affin a ju d o u a c o n s o lid a r a re fo rm a em A n tu é rp ia na
m a io r p a rte de 1566 e d e 1567, e n q u a n to lic e n c ia d o de sua
co n g re g a ç ã o em M etz. Q u a n d o a p e rse g u iç ã o civil c o n tra
os c a lv in is ta s a u m e n to u , ele v o lto u p a ra su a fa m ília e p ara
su a co n g re g a ç ã o em M e tz (1567-1569). P o r v o lta de 1569, a
situ a ç ã o p o lític a em M e tz tin h a se d e g e n e ra d o a tal p o n to
q u e o c u lto c a lv in is ta foi p ro ib id o . T affin e sta b e le c e u -se em
H e id e lb e rg (1570-1573), o n d e p a s to re o u u m a p e q u e n a igreja
de refu g ia d o s.
T affin foi ativo ta m b é m n a lid e ra n ç a da Igreja. Ele foi e n ­
viado com o delegado a vário s sín o d o s h o la n d ese s p ro e m in e n te s
(e.g., E m d e n , 1571; D o rt, 1574 e 1578; M id d e lb u rg , 1581),
o n d e m u ita s vezes foi n o m e ad o secretário , m as ficava d ista n te
das b a ta lh a s do seu te m p o , re fle tin d o seu c a rá te r b e n ig n o e
a m o ro s o . S u a ê n fa s e e ra à p re p a ra ç ã o p a ra a e te r n id a d e e
p a ra a g ra n d e re s s u rre iç ã o , e à id a do v e rd a d e iro c ristã o p ara
0 la r n a gló ria, o n d e fin a lm e n te v erá D eu s com o E le é.
T affin to rn o u -s e capelão de W illia m de O ra n g e no o u to n o
de 1573, p o sição q u e m a n te v e p o r m a is de u m a décad a, ju n to
com u m colega de c a p e la n ia , P ie rre L o y seleu r. O s p a sto res

917
PAIXAO P E L A PU REZA

d irig ia m c u lto s d iá rio s , d a v a m c o n se lh o p a s to ra l à fa m ília


e ao q u a d ro d e fu n c io n á rio s do p rín c ip e , a c o n s e lh a v a m -n o
e o rav am com ele so b re q u e stõ e s e clesiásticas e p o lític a s , e
e fetu av am a trib u iç õ e s co m o re p re s e n ta n te s do p rín c ip e .
T affin foi u m in s tr u m e n to n a s p ro v id ê n c ia s re la c io n a d a s
com 0 c a sa m e n to d e W illia m de O ra n g e com C a th e rin e de
B o u rb o n em 1575. N esse m e sm o a n o , a m u lh e r de T affin
m o rre u . P assa d o s d o is a n o s, ele se casou co m N ic o le C a s te lin ;
0 casal teve d o is filh o s.
G ra d a tiv a m e n te , T affin foi fic a n d o fru s tra d o co m a p o lític a
e clesiástica do p rín c ip e , a q u a l a in d a d eix av a u m c o n s id e rá v e l
c o n tro le das ig rejas aos c u id a d o s dos m a g istra d o s. Q u a n d o
W illia m d e c id iu re d u z ir seu q u a d ro de pesso al e tr a n s f e r ir su a
co rte da A n tu é rp ia p a ra D e lft, T affin reso lv e u p e rm a n e c e r em
A n tu é rp ia p a ra s e rv ir a flo re sc e n te c o n g reg a ção re fo rm a d a
de lá. Q u a n d o A n tu é rp ia c aiu e fico u sob 0 c o n tro le c ató lic o -
-e sp a n h o l em ago sto de 1585, T affin v o lto u a p ro c u r a r u m
refú g io p ro te s ta n te . V isto q u e o c a to lic ism o c o n tin u o u a
a v a n ç a r ta n to e n tre os p ro p rie tá rio s co m o e n tre a p o p u la ç ã o
c o m u m , T affin e su a fa m ília p a ssa ra m v á rio s m eses em E m d e n
p a ra se re c o b ra re m e m o c io n a lm e n te desses d e s d o b ra m e n to s
d e sa n im a d o re s. D u r a n te esse p e río d o d e recesso , ele e screv eu
The Marks of God’s Children em fra n c ê s (v e r ab aix o ), q u e tra ta
e x te n sa m e n te so b re co m o os c re n te s d ev em faze r fre n te às
aflições e à p erseg u iç ão .
D e 1585 a 1587, T affin se rv iu a ig reja de W a llo o n , em
H a a rle m . S o b re o seu m in is té rio ali, Ja m e s D e jo n g escreve:
“ E le re p re s e n to u m u ita s vezes a ig reja re fo rm a d a n o s E s ta d o s
G erais, o c o rp o p a rla m e n ta r q u e o p erav a n o s d o is n ív e is,
p ro v in c ia l e n a c io n a l, e so b re as q u e stõ e s v alô n ias. E le foi
e s p e c ia lm e n te a g ra d e c id o ao re g im e do D u q u e in g lê s de
L e ic e s te r n a H o la n d a , e lh e d e u a p o io , p o is e ste fo m e n to u a
ad oção, em 1586, de u m a o rd e m ecle siá stic a m a is p ró x im a da
eclesio lo g ia de T affin” (Marks of God’s Children, p. 17).
E m 1587, T affin a c e ito u u m c h a m a d o m in is te ria l p a ra

918
Jean Taffin

O u d e z ijd sk a p e l em A m s te rd a m p o sição q u e m a n te v e até sua


m o rte , o c o rrid a q u in z e a n o s d ep o is. A li T affin te v e in te ra g iu
co m Ja c o b u s A rm in iu s , o u tro p a s to r q u e h av ia de A m s te rd a m ,
d u ra n te os p rim e iro s estág io s do q u e veio a se r c o n h e c id o
com o c o n tro v é rsia a rm in ia n a .
T affin m o rre u d e re p e n te em 15 de ju lh o de 1602. Seu
n o m e veio a ser e x te n sa m e n te c o n h e c id o n o s c írc u lo s
p u rita n o s e re fo rm a d o s, e os seus e sc rito s fo ra m tra d u z id o s
ao m e n o s p a ra q u a tro id io m a s. T affin foi u m teó lo g o m ais
p rá tic o q u e siste m á tic o . P ie d a d e e sa n tific a ç ã o e x p e rim e n ta l
in te r io r m e n te p e rm e a v a m su a v id a e seus e scrito s. E sse te m a
re fle te -se em su as d u a s o b ra s m a is p ro e m in e n te s : Des Marques
des enfants de Dieu et des consolations en leurs afllictions {As
M arcas dos filh o s de D e u s e as co n so laç õ es em su as aflições},
(1586 - re im p re s s a sete vezes em fra n c ê s até 1616; tra d u z id a
co m o The Marks of the Children of God, and of Their Comforts
in Affliction, [L o n d re s , 1590; re im p re s sa sete vezes a té 1634, e
a g o ra n o v a m e n te tra d u z id a p a ra o in g lê s em 2003 com o The
Marks of God’s Children}), e Trátete de Tamendmant de vie (1594;
tra d u z id a p a ra o in g lê s co m o The Amendment of Life, [L o n d re s ,
1595], q u e tra ta do a rre p e n d im e n to co m o u m e stilo de vida).
T affin e screv eu ta m b é m u m liv ro c o n tra os a n a b a tis ta s e u m
o p ú sc u lo so b re esm olas.

The Marks of God’s Children, e d ita d o p o r Ja m e s A. D e jo n g ,


tra d u z id o p o r P e te r Y. D e jo n g (B a k e r; 155 p á g in a s; 2003).
E ste liv ro foi e sc rito p a ra “ c o n so la r o p o v o de D e u s em suas
a n g ú s tia s ”, d e p o is do a ssa ssin a to de W illia m de O ra n g e e
das c o n q u ista s c a tó lic o -e sp a n h o la s p o r to d a a H o la n d a . F oi
tra d u z id o do fra n c ê s p a ra o h o la n d ê s em 1588 co m o Van de
Merck-teeckenen der kinderen Gods, e re im p re s s o ao m e n o s
d o ze vezes a té 1659.
T affin d escrev e a fe lic id a d e d o s v e rd a d e iro s c ristã o s em

919
PAIXAO P E L A PU R EZA

trê s estág io s sucessiv o s: p rim e iro , “p az d e c o n sc iê n c ia e a le g ria


n o E s p írito S a n to ” n e s ta v id a ; se g u n d o , a alm a se p a ra d a com
C risto n o céu ; te rc e iro , o e sta d o s u p re m o de b e m -a v e n tu ra n ç a ,
q u a n d o a a lm a e 0 c o rp o serão re u n id o s p a ra s e rv ir a D e u s
e te rn a m e n te . P a ra e s ta r p re p a ra d a p a ra ta l v e n tu ra , a pesso a
p re c isa te r c o n h e c im e n to e e x p e riê n c ia p esso al das m a rc a s da
g raça salv a d o ra - m a rc a s e x te rio re s, tais co m o se r m e m b ro da
ig reja em c o n ju n ç ã o co m a boa v o n ta d e p a ra o u v ir a P a la v ra
p re g a d a c o m p u re z a , re c e b e r os s a c ra m e n to s a d m in is tra d o s
com p u re z a , e o ra r; e m a rc a s in te rio re s , ta is co m o “ 0 te ste
-m u n h o do E s p írito S a n to em n o sso s co raçõ es, a p a z e
s e re n id a d e de nossas c o n sc iê n c ia s d ia n te d e D e u s , s e n tin d o ­
-nos ju stific a d o s p ela fé” , a m o r a D e u s e a n o sso p ró x im o ,
m u d a n ç a n o coração, e u m firm e desejo de a n d a r n o te m o r
de D e u s e n a o b e d iê n c ia a E le. P a ra T affin, v id a e m o rte são
in se p a rá v e is: os c ristã o s v iv e m p a ra m o rre r e m o rre m p a ra
viver.
E sse e stilo de v id a in tr o d u z ir á o c ristã o n u m c o n flito
e s p iritu a l, te n ta n d o -o a d u v id a r, e ta m b é m o fará e n tra r em
aflição. T affin d is c u te seis te n ta ç õ e s, e d e p o is p assa a e m p re g a r
m ais da m e ta d e do seu tra ta d o so b re o te m a da aflição.
A q u i ta m b é m T affin e n fa tiz a fo rte m e n te a n e c e ssid a d e de
e x p e riê n c ia s e n tid a n o coração. “ S an to s afetos e sa n to s d e se jo s”
são seg u ras in d ic a ç õ e s de q u e os c re n te s tê m “ o E s p írito S an to
h a b ita n d o em n ó s e, c o n s e q u e n te m e n te , q u e ta m b é m te m o s
fé.” P a ra T affin, 0 c o n h e c im e n to é im p o rta n te , m as o a m o r
te m a ú ltim a p alav ra. E m e lh o r te r u m a “ ig n o râ n c ia sá b ia ”
do q u e u m “ c o n h e c im e n to im p r u d e n te ” . F in a lm e n te , T affin
su jeitav a to d o o c o n h e c im e n to , o am o r, os s e n tim e n to s e as
e x p e riê n c ia s às E s c ritu ra s co m o o g u ia su p re m o .

920
Willem Teellinck
( 1 5 7 9 -1 6 2 9 )

i ll e m T e e llin c k , f r e q u e n te m e n te c h a m a d o “0 pai da

W P ó s - R e f o r m a H o l a n d e s a ” , n a s c e u n o d ia 4 d e j a n e i r o d e
1579 e m Z e rik z e e , a c id a d e p r in c ip a l d a ilh a d e D u iv e la n d ,
Z e e l a n d , d e u m a f a m í l i a p i e d o s a e p r o e m i n e n t e . E l e fo i 0 m a is
n o v o d e o i t o f il h o s . S e u p a i, J o o s t T e e l l in c k , q u e s e r v i u c o m o
p r e f e i t o d e Z e r i k z e e d o i s a n o s a n t e s d o n a s c i m e n t o d e W ille m ,
m o rr e u q u a n d o W ille m tin h a q u in z e a n o s d e id a d e . S u a m ã e ,
J o h a n n a d e J o n g e , s o b re v iv e u a se u m a rid o q u in z e a n o s , m as
m u i t a s v e z e s f ic a v a d o e n t e q u a n d o W i l le m e r a jo v e m . W ille m
re c e b e u b o a e d u c a ç ã o e m su a ju v e n tu d e ; e s tu d o u d ire ito em
S t. A n d r e w s , n a E s c ó c ia ( 1 6 0 0 ) e n a U n i v e r s i d a d e d e P o i ti e r s ,
n a F r a n ç a , o n d e e le o b t e v e u m d o u t o r a d o e m 1 6 0 3 .
N o a n o s e g u in te , T e e llin c k p a s s o u n o v e m e se s c o m a
c o m u n i d a d e p u r i t a n a n a I n g l a t e r r a . O f a to d e le m o r a r c o m
u m a f a m í l i a p i e d o s a e m B a n b u r y e d e f ic a r e x p o s to à p i e d a d e
p u r i t a n a - v i v i d a p o r m e i o d e c u l t o d o m é s t ic o c o m to d a a
f a m í li a , o r a ç ã o p r i v a d a , d i s c u s s õ e s s o b r e s e r m õ e s , o b s e r v â n c ia
d o Sabbath, j e j u m , c o m p a n h e i r i s m o e s p iritu a l, e x a m e in ­
tro s p e c tiv o , p ie d a d e d e c o ra ç ã o , e b o a s o b ra s - im p re s s io n o u
p r o f u n d a m e n te T e e llin c k e fo i u s a d o p a ra a s u a c o n v e rsã o .
U m i n e x t i n g u í v e l z e lo p e la v e r d a d e d e D e u s e p e la p i e d a d e

921
PAIXAO P E L A PU R EZA

p u rita n a n a sc e u em seu coração. E le e n tre g o u su a v id a ao


S e n h o r e se d e c id iu a e s tu d a r te o lo g ia em L e id e n . E s tu d o u
ali d o is a n o s so b L u c a s T re lc a tiu s , F ra n c is c u s G o m a ru s e
J a c o b u s A rm in iu s.
E n q u a n to esteve n a In g la te rra , T e e llin c k c o n h e c e u M a rth a
G re e n d o n , u m a jovem p u r ita n a de D erb y , q u e se to rn o u su a
m u lh e r. E la c o m p a rtilh o u a m e ta d e v id a de T e e llin c k , de
v iv e r se g u n d o a praxis pietatis (“ p rá tic a d a p ie d a d e ” ) p u r ita n a
n a v id a em fa m ília , co m o ta m b é m n a o b ra p a ro q u ia l. Seu
p rim e iro filh o , J o h a n n e s , m o rre u n a in fâ n c ia . D e p o is o casal
foi a b e n ç o a d o com trê s filh o s - M a x im ilia a n , T h e o d o ru s e
J o h a n n e s - to d o s os q u a is v ie ra m a ser m in is tro s re fo rm a d o s
co m ênfases sim ila re s às d e seu pai. T am b ém te v e d u a s filh as:
J o h a n n a , q u e se caso u co m u m m in is tr o in g lê s, e M a ria , q u e
se casou co m u m o ficial p o lític o em M id d e lb u rg .
T ee llin c k e d ific o u su a fa m ília co m seu e x e m p lo de
v id a p ie d o sa . E le e ra h o s p ita le iro e f ila n tr ó p ic o , to d a v ia
in s is tiu n a s im p lic id a d e n o m o b iliá rio , n o v e s tu á rio e n a
a lim e n ta ç ã o . E m g eral ele g u ia v a a c o n v e rsa n a s h o ra s de
refeição n u m a d ireç ão e s p iritu a l. O c u lto d o m é stic o era
p ra tic a d o e s c ru p u lo s a m e n te n o s m o ld e s p u rita n o s . U m a ou
du as vezes p o r a n o , os T e e llin c k , co m o fa m ília , o b se rv a v a m
u m d ia de o ra ç ã o e je ju m . T e e llin c k a c h a v a essa p r á tic a ú ti l
p a ra m o tiv a r sua fa m ília a d e d ic a r-s e in te ira m e n te a D e u s.
T ee llin ck foi o rd e n a d o ao m in is té rio p a s to ra l em 1606 e
se rv iu a p a ró q u ia d e B u rg h -H a a m s te d e , n a ilh a d e D u iv e la n d ,
d u ra n te sete an o s u m ta n to fru tífe ro s. H o u v e ali d iv e rsas
co n v ersõ es, m as T ee llin c k , d e m o d o m u ito s e m e lh a n te ao
q u e a c o n te c e u co m seu p re d e c e sso r, G o d frid u s U d e m a n s ,
lu to u com a v id a q u e o p o v o d a a ld e ia levava, u m m o d o de
v iv e r ru d e e in d is c ip lin a d o . A s atas da Classis desse te m p o
fre q u e n te m e n te fala m dos p ro b le m a s de a b u so do álcool,
p ro fa n a ç ã o do Sabbath, b rig a s, p a rtic ip a ç ã o em fo lias, e u m
c o m p le to e s p írito d e so rd e iro .
D u r a n te esse p a s to ra d o , T ee llin c k esc re v e u os seu s

922
Willem Teellinck

p rim e iro s liv ro s. E m su a p rim e ira p u b licaçã o , Philopatris ofte


Christelijke Beúcht (1608; O A m o r p ela P á tria , ou U m In fo rm e
C ris tã o ), e le d e u ê n fa s e à n e c e s s id a d e d e o g o v e rn o h o la n d ê s
im p le m e n ta r leis rig o ro sa s p a ra c o m b a te r os p eca d o s e faltas
do povo. E m 1610, T ee llin c k v is ito u a In g la te rra p a ra re a ta r
os laços co m seus colegas p u rita n o s T h o m a s Taylor, D o d e
H ild e rs h a m . D u r a n te su a e sta d a ali, T e e llin c k p re g o u p a ra a
co n g re g a ç ã o h o la n d e sa em L o n d re s . E m 1612, ele foi a H aia,
co m o d e leg ad o p ela Z e e la n d , p a ra te n ta r in flu ir n o s E sta d o s
G erais co m v ista s à convocação de u m s ín o d o n acio n a l
d e d ic a d o a re so lv e r os c re sc e n te s p ro b le m a s asso ciad o s ao
a rm in ia n is m o .
D e 1613 até sua m o rte em 1629, T e e llin c k se rv iu com o
p a s to r em M id d e lb u rg , u m a flo re sc e n te c id a d e q u e tin h a seis
ig rejas re fo rm a d a s - q u a tro h o la n d e sa s, u m a in g le sa e u m a
fran cesa. O p o v o se s e n tiu a tra íd o p elo seu m in is té rio p o r sua
c o n v ersaçã o e p reg aç ão s in c e ra , su a fiel v isitação e cateq u ese,
seu a n d a r p ie d o so e su a c o n d u ta a ltru ís ta , e p o r seu s escrito s
p rá tic o s e sim p le s. E le d e m o n s tro u a c o n v ic ç ã o d e q u e 0
p a s to r deve se r a pesso a m a is p ie d o sa da co n g reg ação - e sua
p ie d a d e e n v o lv ia au to a b n e g a ç ã o . Q u a n d o , p o r e x em p lo , u m a
p e ste v a rre u M id d e lb u rg em 1624, T ee llin c k n ão so m e n te
c h a m o u o povo p a ra a rre p e n d im e n to p ú b lic o e p riv a d o , m as
ta m b é m v is ito u n u m e ro s o s lares in fe c ta d o s, m u ito e m b o ra
in s is tis se com o u tro s q u e n ã o se a rrisc a sse m com tal p rá tic a .
O d u ro tra b a lh o em M id d e lb u rg d eu fru to . C in c o anos
d e p o is de su a c h eg a d a, escrev eu p a ra su a co n g reg ação em
seu Noodwendig Vertoogh { D isc u rso U rg e n te } : “ T em os todos
os m o tiv o s p a ra d a r graças ao S en h o r. Vocês v êm à ig reja em
g ra n d e n ú m e ro to d o d o m in g o ; n o sso s q u a tro ed ifício s de
ig reja n ão p o d e m c o n te r to d o 0 povo. M u ita s das su as fam ílias
p o d e m ser d e s c rita s co m o “p e q u e n a s ig re ja s” . H á b o a o rd e m ,
c o n fo rm e b o as n o rm a s. M u ito s de vocês u sa m d ilig e n te m e n te
os m e io s de g raça e vocês o u v e m a le g re m e n te as nossas
a d m o e sta ç õ e s ao e x erc ício d a p ie d a d e ” . C o n tu d o , T eellin ck

923
PAIXAO P E L A PU R EZA

se n tia 0 peso da in d ife re n ç a q u e h av ia em seu re b a n h o e fora


dele. A “ c o n s ta n te fe rid a e d o r” q u e ele carreg a v a em seu
coração p o r cau sa da fro u x id ã o e s p iritu a l e d a c a rn a lid a d e
q u e p re v a le c ia m n a Ig re ja e n a so c ie d a d e im p e liu -0 a u s a r
seus p ro d ig io s o s d o n s e e n e rg ia p a ra fa la r e e s c re v e r a fim
d e p r o d u z ir u m a a b r a n g e n te r e f o r m a e m to d a s as e s fe ra s
d a vida.
E m su a p re g a ç ã o , T e e llin c k in f iltr o u n o c e n á rio h o la n d ê s
a s e n s ib ilid a d e p u r ita n a in g le sa , seu pathos. S eu s s e rm õ e s
fo calizav a m a p rá tic a da p ie d a d e , e m u ita s vezes ele p re g a v a
so b re a n e c e ss id a d e d e a rre p e n d im e n to . E le tin h a os d o n s
d e c e n s u ra r o p e c a d o e d e p r o n u n c ia r os im in e n te s ju íz o s
d e D e u s, e n q u a n to q u e , s im u lta n e a m e n te , a tra ía as p esso as
tra z e n d o -a s ao a m o r d e D e u s e c o n v id a n d o -a s a g ra d a v e l­
m e n te p a ra v ire m a C risto .
H o m ile tic a m e n te , T e e llin c k foi in flu e n c ia d o p o r W illia m
P e rk in s , q u e d e fe n d ia o m é to d o p u r ita n o “ p u ro e s im p le s ” de
p regação. D e p o is de fazer a exegese do te x to , T e e llin c k e x tra ía
v árias d o u trin a s , ex p licav a co m o essas d o u trin a s b e n e fic ia ria m
0 o u v in te m e d ia n te c o n so lo e a d m o e sta ç ã o , e d e p o is ap licav a
sa b e d o ria c o lh id a do te x to p a ra o u v in te s salvos e in c ré d u lo s .
A p esar de n ão se r u m p re g a d o r e lo q u e n te , era, p o ré m , u m
p re g a d o r efic ie n te . D e p o is de o u v ir T e e llin c k p re g a r n u m a s
p o u cas ocasiões, G is b e rtu s V oetius e screv eu : “ D a q u e le te m p o
em d ia n te , o desejo do m e u co raç ão te m sid o q u e eu e to d o s
os o u tro s p re g a d o re s d e sta te rr a p u d é sse m o s d u p lic a r esse
p o d e ro so tip o de p re g a ç ã o ” .
P ró x im o do fim d e su a v id a , T e e llin c k d e se n v o lv e u u m a
ênfase m ístic a q u e tin h a v in d o à to n a o c a s io n a lm e n te em seus
escrito s a n te rio re s . E sse m istic ism o to rn o u -s e e v id e n te n a
p u b lic a ç ã o p ó s tu m a de su as o b ra s Soliloquium { S o lilo q u io } e
Het Nieuwe Jeruzalem {A N o v a J e ru s a lé m } . E s te ú ltim o liv ro
é u m a re m in is c ê n c ia dos e sc rito s d e B e rn a rd o de C la irv au x .
S e n tim e n to s e em o çõ es são a c e n tu a d o s m a is q u e a fé; a a lm a
c re n te faz-se u m a co m C ris to em te rn a c o m u n h ã o .

924
Willem Teellinck

T e e llin c k lu to u co m u m a sa ú d e p re c á ria em g ra n d e p a rte


d o se u m in is té rio . E le m o rre u n o d ia 8 d e a b ril de 1629, com
c in q u e n ta a n o s d e id a d e . E le foi p ra n te a d o p o r m ilh a re s
e foi s e p u lta d o n o c e m ité rio d a ig re ja de St. P ie te rs , em
M id d e lb u rg .
N o e n ta n to , a H o la n d a n ã o e stav a p re p a ra d a p a ra
T e e llin c k , c o m o a In g la te rra n ã o e stav a p re p a ra d a p a ra
P e rk in s . A in s is tê n c ia d e T e e llin c k em lig a r os fru to s do a m o r
aos a to s d e ju stific a ç ã o p e la fé n ã o e x e rc ia m a tra ç ã o so b re
a lg u n s d o s seu s colegas. E les a c h a v a m q u e se u c la m o r p o r
re n o v a ç ã o n a Ig re ja , n a escola, n a fa m ília , n o g o v e rn o e na
so c ie d a d e e ra d e m a sia d o in te n s o . P o r u m la d o , a p reg aç ão
de T e e llin c k c o n tra u m a o rto d o x ia re fo rm a d a m o rta o fez
o b je to d e s u s p e ita d o s re fo rm a d o s o rto d o x o s. P o r o u tro la d o ,
os a r m in ia n o s o c e n s u ra v a m p o r su a d evoção à q u e la m e sm a
o rto d o x ia e se irrita v a m co m a p o p u la rid a d e q u e ele gozava
e n tre os leigos.
A s m e ta s d e T e e llin c k p a r a a re f o r m a d a Ig re ja
são m u ito e v id e n te s e m s e u s e s c rito s . S u as n u m e ro s a s
o b ra s p r o c u r a v a m e d ific a r o p o v o n a fé le v a n d o a Ig re ja
r e f o r m a d a p a r a a lé m d a re f o r m a n a d o u tr i n a e n a p o lític a ,
in d o à r e f o r m a n a v id a e n a p r á tic a . A té m a is q u e P e r k in s ,
T e e llin c k s a lie n ta v a o v iv e r p ie d o s o , o s f r u to s d o a m o r, as
m a rc a s d a g ra ç a e o p r im a z ia d a v o n ta d e .
T e e llin c k p ro d u z iu 127 m a n u s c rito s ao to d o , se sse n ta dos
q u ais fo ra m p u b lic a d o s . E sses se sse n ta in c lu ía m v in te e dois
lo n g o s liv ro s. F ra n c is c u s R id d e ru s p u b lic o u u m a a n to lo g ia
re p re s e n ta tiv a das o b ra s de T e e llin c k em 1656 in titu la d a
Uyt de Geschriften on Tradaten van Mr. Willem Teellinck {D os
E s c rito s e T ra ta d o s do Sr. W ille m T ee llin ck } . T rês an o s
d e p o is, os filh o s de T ee llin c k c o m e ç a ra m a p u b lic a r suas
o b ra s, m as n u n c a fo ra m além de trê s v o lu m e s, trê s in fo lio s,
in titu la d o s A lie de wercken van Mr. Willem Teellinck {As O b ra s
do Sr. W ille m T ee llin ck } . E m su a m a io r p a rte , os e sc rito s de
T ee llin c k p o d e m ser d iv id id o s em c in c o categ o rias:

925
PAIXAO P E L A PU R EZA

‫ ״‬Exegéticos. A exegese de R o m a n o s, c a p ítu lo 7, de


T ee llin ck , foi p u b lic a d a p o s tu m a m e n te co m o De Worstelinghe
eenes Bekeerden Sondaers {A L u ta do P e c a d o r C o n v e rtid o ). E le
p u b lic o u c o m e n tá rio s so b re M a la q u ia s, J u íz e s, c a p ítu lo s 13­
16, e Isaías 9:5. Seu c o m e n tá rio do P e n ta te u c o , Verklaeringe
Over de Vijf Boeken Moses {E x p o sição dos C in c o L iv ro s de
M o is é s ), q u e ficou p ro n to p a ra p u b lic a ç ã o p o u c o a n te s de
sua m o rte , foi p e rd id o . T o d as as su a s o b ra s e x e g é tic a s fo ra m
e sc rita s n u m n iv e l p o p u la r. S ua p re o c u p a ç ã o e ra s e m p re a
p rá tic a g e n u ín a do c ris tia n is m o .
• Catequéticos. O s e sc rito s c a te q u é tic o s de T e e llin c k
in c lu e m seu Huysboeck { M a n u a l d a F a m ília ), u m c o m e n tá rio
so b re o C o m p ê n d io do C a te c ism o de H e id e lb e rg d e s tin a d o às
devoções em fa m ília , e Sleutel der Devotie openende de Deure
des Hemels voor ons {A C h av e d a D ev o ção q u e A b re a P o rta do
C éu p a ra N ó s ) , o b ra de d o is v o lu m e s d e d iá lo g o s q u e tra ta m
de m u ita s q u e stõ e s acerca do v iv e r c ristã o e s p iritu a l e p rá tic o .
• Edificativos. A m a io ria dos liv ro s d e T e e llin c k foi e s c rita
p a ra e d ific a r e in s tr u ir os c re n te s , e u s u a lm e n te fo calizav a m
u m ú n ic o te m a. Een getrouwe Bericht hoe men sich in geva van
Sieckte Dragen Moet {U m F ie l R elato de C o m o a P esso a P o d e
C o n d u z ir a si M e sm a em T em po de E n fe rm id a d e ) d á ao c ristã o
u m g u ia p rá tic o p a ra faze r fre n te à aflição. D e n C h ris te lijc k e n
L e id s m a n , A a n w ijz e n d de P ra c ty c k e d e r W a re r B e k e e rin g h e
{O G u ia C ristã o , M o s tra n d o a P rá tic a da V e rd a d e ira
C o n v e rsã o ) foi e sc rito p a ra d e sa fia r e s p iritu a lm e n te os
c a lv in ista s e a d v e rti-lo s so b re id é ias a rm in ia n a s.
‫ ״‬Admonestatónos. Em Wraeck-Sweert { E sp a d a de
V in g a n ç a ) T ee llin c k faz a d v e rtê n c ia s so b re os ju ízo s d iv in o s
q u e d escerão so b re os q u e n ã o se a rre p e n d e m e n ã o são
c o n v e rtid o s a D eu s. E m Zions Basuijne {A T ro m b e ta de S iã o ),
ele d iz aos re p re s e n ta n te s das p ro v ín c ia s q u e a H o la n d a
n ão p o d e te r salvação sem u m a re fo rm a e s p iritu a l e m o ral.
F re q u e n te m e n te T ee llin ck escrev ia p e q u e n o s liv ro s p a ra
a d v e rtir c o n tra p e c a d o s específicos. E m Timotheus { T im ó te o ),

926
Willem Teellinck

ele a d v e rte c o n tra o uso de im a g e n s, e em Den Spiegel der


Zedicheyt {O E s p e lh o d a M o ra lid a d e } ele fala c o n tra a falta
de m o d é stia e a e x tra v a g â n c ia n o vestir.
• Polémicos. E m Balaam, T e e llin c k a d v e rte c o n tra o c a to li­
cism o ro m a n o , e em Den Volstandigen Christen {O C ristã o
M a d u ro } , c o n tra o a rm in ia n is m o . E m Eubulus T ee llin ck o p õ e ­
-se aos a rm in ia n o s p o r sua d o u tr in a c e n tra liz a d a n o h o m e m ,
e m b o ra ta m b é m a p o n te d efeito s dos ca lv in ista s. T ee llin ck
a c re d ita v a q u e m u ito s c a lv in ista s focalizavam sã d o u trin a em
d e trim e n to da p ie d a d e p rá tic a . E le achava q u e os c a lv in ista s
d e v e ria m 1er e sc rito s p rá tic o s (praktijk-schnjvers), ta is com
W illia m P e rk in s e J e a n T affin. E le ta m b é m a c e n tu a v a q u e a
o rto d o x ia firm e n ã o te m v alo r se a co n fissão n ão v em do coração.
P o r cau sa dessa ên fase, a lg u n s líd e re s re fo rm a d o s a c u saram
T ee llin c k de se r p o r d e m a is s u b je tiv o e m o c io n a lm e n te e 0
lig a ra m aos a rm in ia n o s . T ee llin c k re s p o n d e u a essas acusações
d iz e n d o q u e e n fa tiz a v a ta n to a firm e z a n a d o u trin a co m o a
p ie d a d e n o viver.
O s e sc rito s de T ee llin c k fo calizav am trê s im p o rta n te s
te m as: a sa n tific a ç ã o , a C eia do S e n h o r e a g u a rd a do Sabbath.
Q u a n to à s a n tific a ç ã o , a m a io r o b ra de T ee llin c k é The True
Path of Godliness (v e r abaixo). S ua o b ra m a is lo n g a , Sleutel
der Devotie {A C h av e d a D ev o ção } o ferece q u ase o ito c e n ta s
p á g in a s so b re o te m a da devoção, q u e é, p a ra T ee llin c k , u m
asp e c to da sa n tificaç ão . T e e llin c k vê a devoção co m o u m a
e n tre g a a D e u s em C risto , q u e é a s u p re m a vocação do h o m e m .
T e e llin c k e screv eu ta m b é m e x te n sa m e n te ace rca da C eia do
S e n h o r, p a rtic u la rm e n te em seu liv ro Hei Geestelijk Sieraad van
Christus’ Bruiloftskinderen, of de Praktijk van het H. Avondmaal
{O O rn a m e n to dos F ilh o s n a R e c á m a ra d e N o iv a d o de C risto ,
ou O U so d a S a n ta C eia}, q u e foi re im p re s so o n ze vezes de
1620 a 1665. O liv ro c o n siste d e q u a tro lo n g o s serm õ es, o
p rim e iro d o s q u a is d e ta lh a o d e v e r do c re n te p a ra com a C eia
do S e n h o r; o s e g u n d o , a p re p a ra ç ã o p a ra a C eia; o te rc e iro , a
p a rtic ip a ç ã o n a C eia; e o q u a rto , a c o n d u ta após a Ceia.

927
PAIXAO P E L A PU R EZA

T ee llin ck se esca n d a liz a v a p o r v er q u ão fa c ilm e n te o D ia


do S e n h o r era p ro fa n a d o n a H o la n d a . E m 1622, ele e screv eu
De Rusttijdt, ofte Tractaet van d’onderhoudinge des Christelijcke,
Rustdachs, diemen gemeynlijck den Sondach Noemt (O T em p o de
D e scan so , ou T ra ta d o so b re a M a n u te n ç ã o do D ia de D e sc a n so
C ristã o , G e ra lm e n te C h a m a d o D o m in g o } . D iv id id o em sete
liv ro s, De Rustijdt in s is te n a e s trita o b se rv â n c ia do Sabbath
e in c lu i d e ta lh e s da p ró p ria e x p e riê n c ia de T e e llin c k so b re
com o p re p a ra r-s e p a ra o Sabbath.
A m a io r in flu ê n c ia de T ee llin c k foi in tr o d u z ir o c a rá te r
p u rita n o n a P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a . A p e sa r de n u n c a te r
e n s in a d o te o lo g ia n u m a u n iv e rs id a d e , n e m te r sid o d ev e ra s u m
e ru d ito , e n ão te r sid o e lo q u e n te , sua v id a , seu s se rm õ e s e seus
escrito s a ju d a ra m a m o d e la r a p ie d a d e de to d o o m o v im e n to .
T e e llin c k foi u m d o s m a is in flu e n te s “ v e lh o s e s c rito re s ”
(oude schrijvers) do sécu lo d eze ssete. M a is d e 150 e d iç õ e s de
seus liv ro s fo ra m im p re s sa s em h o la n d ê s. A lé m d isso , su a
p ie d a d e p rá tic a foi le v ad a a d ia n te e foi re m o d e la d a p o r o u tro s
e sc rito re s da P ó s -R e fo rm a H o la n d e s a , ta is c o m o V oetius.
V ário s liv ro s de T e e llin c k fo ra m ta m b é m tra d u z id o s p a ra
0 alem ão. U m d o s p ie d s ta s m a is fam o so s d a A le m a n h a ,
F rie d ric h A d o lp h L a m p e (1683-1729), fre q u e n te m e n te fazia
uso de T e e llin c k p a ra p ro m o v e r a p rá tic a do v iv e r p ie d o so .
E assim T e e llin c k d e ix o u su a m a rc a , ta n to n o p ie tis m o
c o n tin e n ta l co m o n o a m e ric a n o .

The Path of True Godliness, e d ita d o p o r Jo e l R. B eeke,


tra d u z id o p a ra o in g lê s p o r A n n e m ie G o d b e h e re (B a k e r;
300 p á g in a s; 2003). The Path of True Godliness, o rig in a lm e n te
in titu la d o Noord-Sterre, aanwijzende de juiste richting van de
ware godzaligheid {A E s tre la do N o rte , M o s tra n d o a D ire ç ã o
c e rta p a ra a V e rd a d e ira P ie d a d e } , foi im p re s so q u a tro vezes
em h o la n d ê s: em 1621, e m M id d e lb u rg , p o r H a n s v an d e r

928
Willem Teellinck

H e lle n ; em 1636, em G ro n in g e n , p o r N a th a n a e l R o o m a n ;
em 1642, em G ro n in g e n , p o r J a n C la esen ; e em 1971, em
D o r d r e c h t, p o r J. E v an d e n Tol. E sse ú ltim o la n ç a m e n to ,
e d ita d o p o r J. v a n d e r H a a r (d a e d ição d e 1636), foi u sad a
c o m o a b a se p a ra e sta tra d u ç ã o .
The Path of True Godliness, a m a is im p o rta n te o b ra de
T e e llin c k s o b re a s a n tific a ç ã o , é, n o e s tilo p u r ita n o , u m
m a n u a l s o b re c o m o p r a tic a r a p ie d a d e . T e e llin c k d iv id iu
e s ta o b ra e m n o v e seçõ es, q u e ele c h a m o u “ liv ro s ” , e d ep o is
s u b d iv id iu os liv ro s em o ite n ta e u m “ c a p ítu lo s ” .
Livro 1. D e s d e q u e m u ito s se g a b a m d e su a fé, m a s não
tê m n e n h u m c o n h e c im e n to salv ífico da v e rd a d e , T e e llin c k
s e n te a n e c e ss id a d e de c o n s id e ra r trê s a s s u n to s n e s te liv ro :
( 1 ) 0 q u e é a v e rd a d e ira p ie d a d e ; (2) co m o os c re n te s d ev em
c o n d u z ir - s e n a p r á tic a d a p ie d a d e , e (3) p o r q u e o e x e rc íc io
d a v e rd a d e ira p ie d a d e é d a m á x im a im p o rtâ n c ia .
Livro 2. O se g u n d o liv ro d is c u te o re in o das tre v a s, que
se o p õ e à p rá tic a da p ie d a d e . O s trê s p rin c ip a is p o d e re s desse
re in o são a n o ssa p ró p ria c a rn e d e p ra v a d a , o m u n d o e 0 diabo.
Livro 3. T e e llin c k m o s tra co m o o re in o da graça, em
c o n tra s te co m o re in o das trev a s, p ro m o v e a p ie d a d e . 0
re in o da g raça p o s su i trê s p o d e re s: o e s p írito re n o v a d o , q u e
faz g u e rra c o n tra a c a rn e ; a Ig re ja de D e u s, q u e c o m b a te 0
m u n d o ; e o E s p írito de D e u s, q u e se o p õ e ao d iab o . C ad a u m
desses p o d e re s p o ssu i trê s d o n s q u e se o p õ e m a seu in im ig o no
re in o das tre v a s e o v en ce m .
Livro 4. O liv ro q u a tro m o s tra -n o s com o re a g ir a esses
d o is re in o s. S e m p re d ev em o s m a n te r em m e n te os trê s m ais
im p o rta n te s p ro p ó s ito s da v id a : a g ló ria de D e u s, a salvação de
n o ssa s p ró p ria s alm as e a p ro m o ç ã o da salvação de o u tro s. A
seg u ir, T e e llin c k ex p lica q u e 0 re in o das trev a s p ro c u ra d is tra ir
e a fa sta r as pessoas dos re a is p ro p ó s ito s da v id a in flu e n c ia n d o ­
-as a v iv e re m sem s e q u e r c o n h e c e re m esses p ro p ó s ito s , a
b u s c a re m p ro p ó s ito s e rrô n e o s o u a b u sc a re m os p ro p ó sito s
c e rto s, m a s co m u m coração d iv id id o .

929
PAIXAO P E L A PU R EZA

Livro 5. E ste liv ro d escrev e os m e io s p elo s q u a is p o d e m o s


c h e g a r a c u m p rir os v e rd a d e iro s p ro p ó s ito s d a v id a : as
o r d e n a n ç a s d e D e u s , as o b ra s d e D e u s e as p ro m e s s a s d e
D e u s . T am b ém d e screv e as pessoas às q u a is in c u m b e e s p e ­
c ia lm e n te u s a r esses m e io s: as a u to rid a d e s civ is, os o ficiais da
Ig reja (p a rtic u la rm e n te os p a sto re s) e os c ristã o s c o m u n s.
Livro 6. E ste liv ro m o s tra co m o os c ristã o s d e v e m a tin g ir
os p ro p ó s ito s certo s d a v id a m e d ia n te a a ssistê n c ia d o s m e io s
certo s d e sc rito s n o ú ltim o liv ro , v iv e n d o s e g u n d o esses m e io s
c o e re n te m e n te , v ig ia n d o d ilig e n te m e n te e lu ta n d o c o n tra
to d o e m p e c ilh o .
Livro 7. A q u i T e e llin c k n o s s u p re de u m a v a rie d a d e de
m o tiv açõ e s c e n tra liz a d a s em D e u s p a ra a p rá tic a da p ie d a d e .
E ssas m o tiv a ç õ e s in c lu e m a sa b e d o ria , a o n ip o tê n c ia e a
am o ro sa m a g n a n im id a d e do P ai; a e n c a rn a ç ã o do F ilh o , Sua
v id a e x e m p la r e S eus b o n d o s o s c o n v ite s a q u e v e n h a m a E le;
e a p ro m e ssa do E s p írito , d e d a r n o v o s co raçõ es, p e rd o a r as
fraq u eza s e re c o m p e n s a r g e n e ro s a m e n te a p rá tic a da p ie d a d e .
Livro 8. E ste liv ro c o n té m m o tiv a ç õ e s p a ra a p rá tic a da
p ie d a d e e e stá d iv id id o em trê s im p o rta n te s seções: n o ssa
c o n d iç ã o n a tu ra l, as m u ltifo rm e s b ê n ç ã o s de D e u s e as
p ro m e ssa s q u e fazem os a D eu s.
Livro 9. O ú ltim o liv ro a p re s e n ta m o tiv a ç õ e s p a ra a p rá tic a
da p ie d a d e basead a s n a e x ce lên cia da v id a p ie d o sa , in c lu in d o
o D e u s g lo rio so a q u e m se rv im o s, a g lo rio sa o b ra q u e é
re alizad a e os g lo rio so s fru to s re s u lta n te s ; a m isé ria da v id a
ím p ia , in c lu in d o o te rrív e l m e stre q u e é se rv id o , a d e te stá v e l
o b ra q u e é re a liz a d a e os v e rg o n h o so s fru to s re s u lta n te s ; e a
fu tilid a d e das coisas m a te ria is re la c io n a d a s co m e sta v id a ,
co m a m o rte e com a v id a após a m o rte .
E m to d a p a rte d e ste liv ro , T e e llin c k in s is te n a n e c e ssid a d e
da e x p e riê n c ia re lig io sa p esso al e d a d e ta lh a d a c o n fo rm a ç ã o
da c o n d u ta c ris tã n a v id a , p rin c ip a lm e n te q u a n to à o raçã o , ao
je ju m , à ed u ca ção c ris tã e à o b se rv â n c ia do Sabbath.
E ste liv ro d e v e ria se r a m p la m e n te lid o a tu a lm e n te . A

930
Willem Teellinck

ê n fase d e T e e llin c k à p ro m o ç ã o da e s p iritu a lid a d e re fo rm a d a ,


b íb lic a , serv e d e c o rre tiv o p a ra m u ita e s p iritu a lid a d e falsa
q u e e stá se n d o m e rc a d e ja d a h o je em dia. T am b ém serv e de
im p o r ta n te c o rre tiv o p a ra o e n s in o o rto d o x o q u e a p re s e n ta a
v e rd a d e à m e n te , m as n ão a ap lic a ao coração e à v id a d iá ria.
T e e llin k n o s a ju d a a “link”, {ligar} u m claro e n te n d im e n to
c o m u m co ração a rd o ro so , e a ju d a as m ãos a se rv ire m a D e u s
co m a p esso a c o m p le ta . E le faz so b re ssa ir a ênfase de T iago
d iz e n d o -n o s em cad a p á g in a : “M o stra -m e a tu a fé pelas
tu a s o b ra s ” (cf. T iag o 2:18). E ste é u m d o s m e lh o re s liv ro s
d is p o n ív e is a tu a lm e n te so b re co m o v iv e r u m a v id a c ristã
sa n tific a d a .

931
Theodoms
van der Groe
( 1 7 0 5 -1 7 8 4 )

h e o d o r u s v a n d e r G r o e é u m d o s ú l ti m o s e m a is c o n h e c id o s

T r e p r e s e n t a n te s d a P ó s - R e f o r m a H o la n d e s a . D e p o is d e f r e ­
q u e n ta r u rn a e s c o la e le m e n ta r e u rn a e sc o la p a ra o e s tu d o d e
la tim e m s u a c id a d e n a ta l, S w a m m e r d a m , e le e s tu d o u te o lo g ia
e m L e i d e n a p e d id o d e s e u p a i, q u e ta m b é m e ra m in is tr o . O s d o is
p ro fe s s o re s q u e m a is 0 i n f lu e n c ia r a m f o ra m J o h a n n e s à M a r c k ,
e m h i s t ó r ia d a I g re ja , e T aco H a jo v a n d e n H o n e r t, e m d o g m á tic a .
V an d e r G ro e to rn o u -s e c a n d id a to ao m in is té rio e m 1729.
E m 1730, fo i e m p o s s a d o c o m o p r e g a d o r e m R ijn s a te r w o u d e ,
u m a c id a d e z in h a ao s u l d a H o la n d a . D u r a n te o se u p r im e ir o
p a s to ra d o , fo i c o n v e rtid o p o d e r o s a m e n te p o r D e u s q u a n d o
e s ta v a c o m t r i n t a a n o s d e i d a d e , f a t o q u e i n f l u e n c i o u p r o ­
f u n d a m e n te a s u a p re g a ç ã o . A m o rte e m A d ã o e a v id a e m
C ris to v ie ra m a s e r o s se u s te m a s p r in c ip a is . C o m o o b s e rv a
u m b ió g ra fo , “ E c o a v a e m to d a a s u a p re g a ç ã o : c o n s id e r a r tu d o
c o m o p e r d a e e s te r c o , e x c e to o c o n h e c i m e n t o d e C r i s t o . N ã o
a d m i r a q u e s u a m a n e i r a d e p r e g a r t e n h a e n c o n t r a d o o p o s iç ã o ” .
E m 1740, v a n d e r G ro e a c e ito u u m c h a m a d o p a s to r a l p a ra
K ra lin g e n , o n d e p re g o u f ie lm e n te to d o 0 c o n s e lh o d e D e u s
n o s r e s t a n t e s q u a r e n t a e q u a t r o a n o s d e s u a v id a . E l e p r e g a v a
u m e v a n g e lh o se m g rilh õ e s , m a s ta m b é m a d v e rtia c o n tr a o

932
Theodorus van der Groe

p e c a d o e o m u n d a n is m o , e so b re o juízo d iv in o . E le foi urna


s e n tin e la so b re os m u ro s de Sião e u m a ra u to da lei e do
e v a n g e lh o , d e rru b a n d o a o b ra do h o m e m e e d ific a n d o a o b ra
d e D e u s, s e p a ra n d o a fé sa lv a d o ra de falsas fo rm as de fé.
N o d e b a te tra v a d o n o sécu lo d e z o ito s o b re se a certeza da fé
d ev e s e r c o n s id e ra d a d a essê n c ia da fé, v a n d e r G ro e e n fatizo u
a n e c e ss id a d e d a certeza. E le negava q u e a fé era salvadora,
se ficasse a q u é m da se g u ra e c e rta u n iã o com C risto . Van
T h u y n e n e T h e m m e n d e ra m ap o io a essa posição . W ilh e lm u s
à B ra k e l, D rie s s e n , G ro e n e w e g e n e L a m p e o p u s e ra m -s e a ela.
C o m rie o ferece u u m a p o sição in te rm e d iá ria , c o n c o rd a n d o
co m o p rim e iro g ru p o em s u s te n ta r q u e a c o n fia n ç a e a certeza
sem d ú v id a p e rte n c e m à essên cia da fé, p e n d e n d o o u tro s s im
p a r a o s e g u n d o g ru p o q u a n d o e n s in a v a q u e a lg u n s c re n te s
n ã o o b tê m p le n a c e rte z a d a fé n e s ta vida.
V an d e r G ro e tin h a q u a re n ta e n o v e an o s de id a d e q u a n d o
se caso u com J o h a n n a B ic h o n . D u r a n te su a v id a de casado,
m u ita s vezes ele fico u d o e n te , se n d o de c o n s titu iç ã o fraca.
F re q u e n te m e n te , do seu le ito de e n fe rm id a d e escrev ia cartas
in s tru tiv a s a seu s a m ig o s, cartas q u e c o n tin h a m d e rra m a m e n to s
e x p e rim e n ta is do seu coração co m o estes: “ C o m L o d e n s te in ,
s in to q u e so u a p e n a s u m cão m o rto d ia n te de D e u s. M as eu
m e ap o io em C ris to e so u c a rre g a d o p o r E le. T oda a m in h a
c u lp a re c e b e u re c o n c ilia ç ã o e satisfação m e d ia n te C risto . N ão
co n sig o ju n ta r d u a s p a la v ra s p a ra fo rm a r u m a v e rd a d e ira
o raçã o , m as C ris to é o m e u tu d o ” .
Van d e r G ro e m o rre u em 1784 c h e io de certeza da fé,
a b ra ç a n d o as p ro m e ssa s de D e u s em C risto Je su s com o sua
ú n ic a e x p ec tativ a.
A tra v é s de to d o s os seus e sc rito s, v a n d e r G ro e enfatizava
a n e c e ss id a d e de a p licaç ão e x p e rim e n ta l das trê s g ra n d e s
v e rd a d e s e x p o stas p elo C a te c ism o de H e id e lb e rg : co nvicção de
p e c a d o , lib e rta ç ã o em C ris to e c re s c im e n to em san tificaç ão . Sua
ex p o sição do C a te c ism o d e H e id e lb e rg em trê s v o lu m es (Des
Christens eenigen troost in leven en sterven of Verklaring van den
Heidelhergsen Catechismus) e a o b ra em d o is v o lu m es, Toetssteen

933
PAIXAO P E L A PU R EZA

der ware en valsche Genade { P e d ra d e T o q u e da V e rd a d e ira e da


F alsa G raça} são m u ito c o n h e c id a s n o s c írc u lo s h o la n d e se s,
com o su c e d e com seu liv ro Beschrijvinge van het oprecht en
ziel-zaligend Geloove {D escrição da V erd a d e ira F é S alvadora}.
L iv ro s de serm õ es in c lu e m De genezing van de blinde Bartimeus
{A C u ra do C ego B a rtim e u } ; u m c o n ju n to de d o is v o lu m e s
de q u a re n ta e o ito serm õ es so b re os so frim e n to s de C risto
(Acht-en-veertig Predikatien over het lijden van onzen Heere Jezus
Christus); u m v o lu m e de d ezessete serm õ es so b re c o n v ersão (De
Bekeering); e d o is v o lu m e s p a ra oração d iá ria c o n te n d o ao to d o
tr in ta serm õ es (Verzameling van zestien Biddags-Predikatien;
Veertien nagelatene Biddags-Predikatien). D o is v o lu m e s de suas
cartas (Brieven van Theodorus van der Groe) fo ram p u b lic a d o s
em 1838 e a p are ceram em u m v o lu m e em 1984.
Van d e r G ro e d e m o n s tro u seu ap o io à tra d u ç ã o dos
p u rita n o s in g leses p a ra o h o la n d ê s e sc re v e n d o u m e x te n so
p refácio p a ra a o b ra de d o is v o lu m e s de G eo rg e H u tc h e s o n ,
Practical Explanation of the Minor Prophets e p a ra a su a
Explanation of the Book of Job. E le p re fa c io u ta m b é m o u tra s
o b ras tra d u z id a s do in g lês - p o r e x e m p lo , as o b ra s de E b e n e z e r
e de R a lp h E rs k in e .

The Prayer of the Publican (Z o ar; 48 p ág in as; 1976). E ste


o púsculo, p u b licad o pela p rim e ira vez em h o la n d ê s com o De
gelijkenis van den Tollenaar, expõe c la ra m e n te 0 c o n tra ste e n tre a
oração do p u b lic a n o e a do fariseu. A h u m ild a d e do p u b lic a n o é
exposta p o r seus pés p e n ite n te s, seus olhos p e n ite n te s, e suas m ãos
p e n ite n te s, 0 que é en tão co n tra sta d o com o o rg u lh o do fariseu
exposto p o r seus pés atre v id o s, seus olh o s atre v id o s e suas m ãos
atrevidas. O p u b lic a n o p reo cu p a -se com sua relação com D eu s;
0 fariseu, com sua relação com 0 h o m em . O p u b lic a n o apela p ara
0 caráter m ise rico rd io so de D eu s; o fariseu na v e rd ad e n ão ora.
O p u b lic a n o vai p ara casa ju stificad o ; 0 fariseu v olta co n d en a d o .
Tem os aí u m clássico do m a teria l p u rita n o ex p erim en tal.

934
Johannes VanderKemp
(1664-1718)

J
o h a n n e s V a n d e rK e m p é m a is c o n h e c id o co m o u m “ a n tig o
e s c rito r” h o la n d ê s (oude schrijver) p o r seus serm õ es so b re
o C a te c ism o de H e id e lb e rg , q u e tê m sid o re im p re sso s em
h o la n d ê s m a is fre q u e n te m e n te do q u e q u a lq u e r das dezenas
de liv ro s d e se rm õ e s so b re o catecism o .
J o h a n n e s n a sc e u d e C o rn e lls V a n d e rK e m p e de T rijn tje van
A n d e l em m a rç o d e 1664, e foi b a tiz a d o em 20 de m arço. O pai
de J o h a n n e s m o rre u em 1673, e a m ãe dele s u s te n to u a fam ília
co m o fa b ric a n te de c h ap é u s. G raças à sua e n g e n h o s id a d e ,
J o h a n n e s p ô d e e s tu d a r teologia.
V a n d e rK e m p c a n d id a to u -s e ao m in is té rio em 1691, e
p a sso u em seu ex am e clássico n o d ia 18 de ju lh o de 1692. F oi
o rd e n a d o n esse m e sm o a n o com o p a s to r da ig reja re fo rm a d a
de D ir k s la n d , o n d e p e rm a n e c e u d u r a n te to d o s os v in te e seis
a n o s do seu m in is té rio . N o d ia 17 de n o v e m b ro de 1718, ele
c aiu b ru s c a m e n te so b re 0 p ú lp ito e n q u a n to estava p re g a n d o
so b re 1 P e d ro 4 :11: “ Se a lg u ém falar, fale se g u n d o as p alavras
d e D e u s ; se a lg u é m a d m in is tra r, a d m in is tre se g u n d o 0 p o d e r
q u e D e u s d á; p a ra q u e em tu d o D e u s seja g lo rific a d o p o r
{ m eio de} Jesu s C ris to , a q u e m p e rte n c e a g ló ria e 0 p o d e r
p a ra to d o o se m p re . A m é m ” . E le m o rre u p o u c a s h o ra s m ais
ta rd e , d e ix a n d o sua m u lh e r, A lid a R ogge.

935
PAIXAO P E L A PU R EZA

E m acré sc im o a su a magnum opus so b re o C a te c ism o de


H e id e lb e rg , V a n d e rK e m p e screv eu De Verborgentheyd van
de Verboden Gods, 1710; {O M is té rio das alia n ç a s de D e u s } ,
e Schets van’t Gebou der Voorbeelden: In zyne vaste gronden...ter
beschouwing v. waerheyt en betrachting v. Godtzaligheidt uit Godts
Woordt, 1715; {E sboço da E d ific a ç ã o de T ip o s, firm e m e n te
basead a n a P a la v ra de D e u s, p a ra a o b serv ação da v e rd a d e e a
p rá tic a da p ie d a d e } . E le p u b lic o u ta m b é m trê s b re v e s cartas
e x p e rim e n ta is (Drie Ondervindelyke Brieven), o rig in a lm e n te
escrita s a a m ig o s q u e ele tin h a p a sto re a d o . E ssas c a rta s, q u e
tra ta m da ju stificaç ão , fo ra m re im p re s sa s re c e n te m e n te , em
1991, sob 0 tra b a lh o e d ito ria l de C. R. V an d en B erg . F in a lm e n te ,
V a n d e rK e m p p re p a ro u u m b re v e tra b a lh o so b re o C a te c ism o
de H e id e lb e rg e m p re g a n d o p e rg u n ta s e re sp o sta s, q u e seu
n e to D id e ric u s p u b lic o u em 1746 (De Heidelbergse Catechismus
kortelyk geopend en verklaard by wyse van Vragen enAntwoorden).
D iv e rso s d e s c e n d e n te s d e J o h a n n e s V a n d e rK e m p h e r ­
d a ra m seu a m o r p ela teo lo g ia. Seu filh o C o rn e lls (1700-1772),
foi p a s to r em R o tte rd a m , e d e p o is foi p ro fe sso r da escola
de la tim de lá. O filh o de C o rn e lls, D id e ric u s (1731-1780),
p a sto re o u cin co co n g reg a çõ es re fo rm a d a s n a H o la n d a , a n te s
de to rn a r-s e p ro fe sso r de h is tó ria da Ig re ja e de te o lo g ia. O
irm ã o de D id e ric u s , J o h a n n e s (1747-1811), foi m iss io n á rio .
O n e to de D id e ric u s , C arel (1799-1862), foi u m c o n h e c id o
líd e r e n tre os h o m e n s do Reveil, isto é, aq u eles q u e e stiv e ra m
asso ciad o s ao a v iv a m e n to in ic ia d o sob a p reg aç ão e com o
ap oio fin a n c e iro de R o b e rt H a ld a n e .

The Christian Entirely the Property of Christ, in Life and in


Death, Exhibited in Fifty-three Sermons on the Heidelberg
Catechism, tra d u z id o p a ra 0 in g lê s p o r J o h n M . V an H a rlin g e n
(R H B ; 2 v o lu m e s, 1.060 p á g in a s; 1997). A ex p o sição do
c a te c ism o de V a n d e rK e m p foi p u b lic a d a p ela p r im e ir a vez

936
Johannes VanderKemp

em 1717, u m an o a n te s de su a m o rte . N esse m e sm o an o , o


c o rp o d o c e n te te o ló g ico da U n iv e rs id a d e de L e id e n ap ro v o u
a o b ra de V a n d e rK e m p p a ra le itu ra e estu d o . O c o m itê de
L e id e n escrev eu : “ L o u v a m o s e sta h o n o rá v e l d ilig ê n c ia e zelo
do h o m e m p o r b o ca e p e n a p a ra ed ificaçã o da Ig re ja de D e u s” .
P o r v o lta de 1779, a exp o sição tin h a sid o im p re s sa dezenove
vezes, e d aí p a ra cá te m sid o im p re s sa v ária s vezes. E m 1810,
J o h n V an H a rlin g e n , u m p a s to r re fo rm a d o h o la n d ê s, tra d u z iu
a o b ra de V a n d e rK e m p p a ra o in g lês. A im p re ssã o de 1997 é
u m a fo to lito g ra fía d essa edição.
O s serm õ es de V a n d e rK e m p so b re 0 catecism o são
e x tra o rd in a ria m e n te fáceis de ler, m e sm o hoje. E m seu prefácio,
V a n d e rK e m p declara q u e ele já se se n tira a tra íd o p elo catecism o
em su a m o c id ad e. D iz ele q u e se afligia q u a n d o o u v ia pessoas
d e g ra d a re m 0 catecism o . E m seus serm õ es, V an d erK em p
e n fa tiz a os aspectos b íb lic o s, d o u trin á rio s , e x p e rim e n ta is e
p rá tic o s do catecism o . E le tem g ra n d e sucesso em escrever
u m a o b ra e q u ilib ra d a , e v ita n d o os e x tre m o s do m istic ism o ,
da esp ecu lação e do a ca d em icism o . E n tre ta n to , d ad a a nossa
d is tâ n c ia do te m p o de V a n d e rK e m p , a lg u n s serm õ es p o d em
p a re c e r d e m a sia d o p o lê m ico s p a ra 0 nosso gosto.
O s se rm õ e s de V a n d e rk e m p são ex c e le n te s em suas
ap licaç õ es s in c e ra s, ag u d a s e d iv e rsificad as. O s p re g a d o re s
p o d e m a p re n d e r m u ito da sua h a b ilid a d e em to r n a r a v e rd ad e
d e D e u s v á lid a p a ra to d a s as esferas da n o ssa v id a d iá ria.
V a n d e rK e m p foi u m teó lo g o e ru d ito , p ie d o so e sáb io , que
a in d a h o je n o s fala.

937
Gisbertus Voetius
(1589-1676)

isb e rtu s V oetius re p re s e n ta o fru to m a d u ro d a P ós-


G -R efo rm a H o la n d e sa e se classifica e n tre os teólogos
re fo rm a d o s h o la n d e se s m a is in flu e n te s de to d o s os te m p o s.
Ele foi p a ra a P ó s-R e fo rm a H o la n d e sa o q u e J o h n O w e n ,
m u ita s vezes c h a m a d o “ o p rín c ip e dos p u r ita n o s ”, foi p a ra
o p u rita n is m o inglês. E m b o ra g ra n d e m e n te d e sc o n h e c id o e
ig n o ra d o pelos e ru d ito s da lín g u a in g lesa, V oetius é u m n o m e
fa m ilia r p a ra os e stu d io so s da o rto d o x ia da P ó s-R e fo rm a
H o lan d esa. V oetius u n ia u m a m e to d o lo g ia esco lástica
refo rm a d a com u m a p ie d a d e sin cera . E s ta n d o n o p in á c u lo
do e sco la sticism o im e d ia ta m e n te a n te s da sua d e sin te g ra ç ã o ,
V oetius ilu s tra a m a n e ira p ela q u al os teólogos re fo rm a d o s
o rto d o x o s u sav am o e sco la sticism o com o u m a m e to d o lo g ia
que, ao c o n trá rio da c a ric a tu ra fre q u e n te m e n te re p e tid a ,
p ro m o v ia , n ão u m a b a n d o n o da te o lo g ia de C alv in o , n e m u rna
o rto d o x ia m o rta . V oetius serve de p ro v a d e que, h is to ric a m e n te
falan d o , a expressão “o rto d o x ia m o rta ” é u m a c a ric a tu ra , p o is
tal o rto d o x ia n u n c a foi o rto d o x a. N u n c a foi a esco lá stica
refo rm a d a o rto d o x a com o V oetius se m p re fez re sso a r com
calo r v ital e com p ie d a d e sin cera .
G is b e rtu s V oetius n a sc e u n o d ia 3 de m a rç o d e 1589,

938
G IS B E R T U S V O E T IU S
PAIXAO P E L A PUREZA

em H e u s d e n , H o la n d a , no seio de u m a p ro e m in e n te fa m ília
o riu n d a da W estp h a lia e de p e rsu a sã o re fo rm a d a . Seu
avô tin h a m o rrid o n u m a p risã o e sp a n h o la p ela causa do
ev an g e lh o ; seu pai escap o u p o r p o u co de s im ila r d e s tin o no
m ês em q u e G is b e rtu s n a sc e u , a p en a s p a ra se r m o rto o ito
an os d ep o is, q u a n d o lu ta v a pelo p rín c ip e M a u ríc io . N ão
s u r p re e n d e n te m e n te , G is b e rtu s e m b e b e u -s e da d o u tr in a e
das conv icçõ es re fo rm a d a s d esd e ced o na in fân c ia.
V oetius e s tu d o u teo lo g ia na U n iv e rs id a d e de L e id e n
de 1604 a 1611, q u a n d o ali se c o n c e n tra v a o p o n to focal da
crise a rm in ia n a . E le foi p a rtic u la rm e n te in flu e n c ia d o pelas
preleçõ es de F ra n c is c u s G o m a ru s , u m só lid o c a lv in ista . E le
a ssistiu ta m b é m prele çõ es de J a c o b u s A rm in iu s e de o u tro s
p ro fe sso re s c u ja o rto d o x ia foi p o s ta em d ú v id a . M a is ta rd e
ele escre v e ría : “ S erei u m a g ra d e c id o d is c íp u lo d e G o m a ru s
até o fim da m in h a v id a ” .
N om eado p re le to r de lógica e n q u a n to era alu n o em L eid en ,
Voetius defendeu a teologia reform ada o rtodoxa em seu ensino.
Em term os de m etodologia, ele p en d eu para o a risto telism o
h u m a n ista de L eid en , antes que para 0 ram ism o, o qual insistia
no papel não au tô n o m o e p u ra m e n te in stru m e n ta l da filosofia.
Voetius não aceitou a convicção de ou tro s calvinistas, com o
W illiam A m es, os quais achavam que P eter R am us era um guia
m ais seguro do que A ristóteles, q u an to à m etodologia para
fazer teologia. Ele estava convencido de que 0 n eo -aristo telism o
tin h a absorvido tu d o o que havia de valor no ram ism o e,
co n seq u en tem en te, considerava a controvérsia ram ista supérflua.
Já em seus an o s em L e id e n , V oetius m o s tro u ag u d o
in te re sse p o r um m o d e lo m a is p ie tis ta de teologia. E le leu
A Imitação de Cristo, de T h o m a s à K e m p is, com p ro fu n d a
apreciação. D a q u e le te m p o em d ia n te , d o is e le m e n to s lu ta ra m
p o r p re e m in ê n c ia em su a v id a e o b ra : u m e sc o la stic ism o
re fo rm a d o in te le c tu a l e u m a p ie d a d e s e m e lh a n te ao e s p írito
da devotio moderna (devoção m o d e rn a ), u m a fo rm a de v id a
e s p iritu a l e x e m p lific a d a no clássico de à K em p is.

940
G¡sbertus Voetius

A v itó ria te m p o rá ria dos a rm in ia n o s em 1610 teve c o n ­


se q u ê n c ia s de lo n g o a lc a n c e p a ra V oetius. Seu m e n to r, G o m aru s,
foi s ile n c ia d o à força, a rm in ia n o s fo ram c o n tra ta d o s , e as e s­
p e ra n ç a s pesso ais de V oetius de u m a c a rre ira a c a d êm ica foram
p o r ág u a abaixo. P o r a p o ia r G o m a ru s e o p o r-se a A rm in iu s,
ele foi p o sto p a ra fora do seu d o rm itó rio e teve q u e alo jar-se
co m am ig o s. D e p o is q u e te rm in o u seus e stu d o s e v o lto u para
H e u s d e n , ele te n to u em vão o b te r licen ça dos m a g istra d o s
p a ra e s tu d a r na In g la te rra ou n o u tro s c e n tro s de teologia
re fo rm a d a . Hm lu g a r d isso a c e ito u , e n tã o , u m c o n v ite feito p o r
u m g ru p o in fo rm a l de p esso as d e m e n ta lid a d e p u r ita n a de
V lijm e n , u m a p e q u e n a c id a d e s itu a d a n a s p ro x im id a d e s de
’s -H e rto g e n b o s c h , às q u a is ele foi re c o m e n d a d o p o r G o m aru s.
V oetius foi o rd e n a d o ao m in is té rio no d ia 25 de s e te m b ro de
1611, co m v in te e d o is an o s de id ad e. N o an o s e g u in te , ele
o rg a n iz o u o re b a n h o de V lijm e n , in s titu in d o p re s b íte ro s e
d iá co n o s. Seu p rim e iro p a s to ra d o n ão foi fácil, p o is a ald eia
e ra p re d o m in a n te m e n te c a tó lic o -ro m a n a . A p esar de te r sido
o in s tr u m e n to p a ra tra z e r a lg u n s cató lic o s ro m a n o s p a ra a fé
re fo rm a d a , a ig reja de V lijm e n p e rm a n e c e u p e q u e n a d u ra n te
os seis a n o s do seu m in is té rio ali.
D u r a n te esses an o s, V oetius e n v o lv e u -se p ro fu n d a m e n te no
c o m b a te ao a rm in ia n is m o . C o n tin u o u a a p lic a r-se a d ilig e n te
e s tu d o , d o m in a n d o o á ra b e e le n d o as o b ra s de n u m e ro so s
teó lo g o s, in c lu s iv e u m e s tu d o esp ecial das o b ras p o p u la re s de
W illia m P e rk in s . E m 1612, c aso u -se com D e lia n a van D ie st,
com q u e m p asso u se sse n ta e q u a tro an o s de c a sa m e n to e teve
dez filh o s - d o is dos q u a is ta m b é m fo ram p ro fesso re s de
filo so fia em U tre c h t.
E m 1617, V oetius co m eço u u m p a sto ra d o de d ezessete an o s
em H e u s d e n . Seu c h a m a d o p a ra ser p a s to r ali so freu o posição
do m in is tro v e te ra n o J o h a n n e s G re v iu s, com o ta m b é m de
J o h a n van O ld e n b a rn e v e lt, e sta d ista p ro e m in e n te , a m b o s
os q u a is e ra m p a r tid á r io s d o s r e m o n s tra n te s . E m 1618, as
d ific u ld a d e s in te r n a s d e H e u s d e n g a n h a r a m p r o e m in ê n c ia

941
PAIXAO P E L A PU R EZA

n a c io n a l. U m a f r u s tr a d a te n ta tiv a fe ita p e lo g o v e rn o
n a c io n a l d e e n v ia r H u g o G r o tiu s , e s ta d is ta e te ó lo g o b a s ta n te
c o n h e c id o , a H e u s d e n p a ra in f lu e n c ia r a m a g is tr a tu r a lo cal
d u r a n te u m a e le iç ã o , le v o u o c o n s is to rio d e H e u s d e n a
v in g a r-s e d e m itin d o G re v iu s . O g o v e rn o , e n tã o , c o m p e liu a
re in s ta la ç ã o d e G re v iu s , o q u e le v o u a u m a c is m a d e c la ra d a
q u e só foi d e b e la d o p e la re v o lu ç ã o o ra n g is ta .
O d u ro tra b a lh o de V oetius n o c o m b a te aos e rro s do
ro m a n ism o e do a rm in ia n is m o o b te v e p a ra ele, a p e sa r da sua
ju v e n tu d e , u m a n o m e a ç ã o p a ra o S ín o d o in te rn a c io n a l de D o rt
(1618-1619). D u a s coisas de in te re s se vêm à to n a d u r a n te seu
te m p o em D o rt: p rim e iro , su a ação m ais p r o e m in e n te foi sua
defesa de J o h a n n e s M acco v iu s, cu ja c o n ce p ção su p ra la p s á ria da
p re d e s tin a ç ã o era de n a tu re z a m a is lo g ic a m e n te ríg id a do q u e
a de m u ito s o u tro s delegados. V oetius re c o rre u à a u to rid a d e de
W illiam A m es, q u e tin h a ex p re ssa d o c o n fia n ç a nas in te n ç õ e s
de M acco v iu s, e m b o ra la m e n ta sse a sua te rm in o lo g ia .
S eg u n d o , m ais ta rd e V oetius escrev eu a p re c ia tiv a m e n te so b re
a e s tre ita a m iz a d e e sta b e le c id a com v ário s d eleg ad o s in g leses
n o tá v eis p o r su a ênfase à te o lo g ia e à p rá tic a p u rita n a s .
A in flu ê n c ia e a e s ta tu ra de V oetius a u m e n ta ra m d ep o is
de D o rt. E m d iv e rsas ocasiões d u r a n te a d éc a d a de 1620,
o S ín o d o P ro v in c ia l da H o la n d a M e rid io n a l o n o m e o u
d e p u ta d o p a ra as q u e stõ e s re la c io n a d a s com o S ín o d o de D o rt,
tais com o c u id a r dos a rq u iv o s do S ín o d o ; e n v o lv im e n to com
a ap ro v ação do d o c u m e n to fin a l de D o r t so b re a O rd e m da
Ig reja ; p a rtic ip a ç ã o co m o m e m b ro da co m issã o e n c a rre g a d a
de e x p u rg a r L e id e n da in flu ê n c ia a rm in ia n a ; lid a r co m a
m a n u te n ç ã o de c o n v e n tíc u lo s pela facção a r m in ia n a em v ário s
lu g a re s; tra ta r do caso de G e rh a rd u s V ossius, p áro c o da escola
de la tim de D o rd re c h t, cu jo liv ro so b re o p e la g ia n ism o d eu
m u n iç ã o aos a rm in ia n o s p a ra suas co n v icçõ es n ão re fo rm a d a s.
S egue-se q u e, ig u a lm e n te , V oetius c o n q u is to u re n o m e
com o e s c rito r d u ra n te os an o s q u e p asso u em H e u s d e n . Suas
g u e rra s p a n fle tá ria s c o n tra c a tó lic o s ro m a n o s e a rm in ia n o s

942
Gisbenus Voetius

e lev aram sua e s ta tu ra e n tre os re fo rm a d o s co m o teólogo


e sco lá stico de p rim e ira lin h a . Sua o b ra c o n tra o a rm in ia n o
D a n ie l T ile n u s in flu e n c io u G ro tiu s. M ais im p o rta n te a in d a ,
sua Proeve van de Cracht der Godsaiichheydt (1627; P rova
do P o d e r da P ie d a d e ) e Meditatie van de Ware Practijcke der
Godsaiichheydt1 of der goede Werken, (1628; M e d ita ç ã o so b re a
V erd a d e ira P rá tic a da P ie d a d e ou Boas O b ra s), e stab e lece ram
V o etiu s c o m o u m e s c rito r d e p ie d a d e p rá tic a q u e in s is tia
n u m a v id a c o n v e rtid a co m o a te sta d o de fé o rto d o x a.
U m a das realizaçõ es m a is im p o rta n te s de V oetius d u ra n te
os seu s a n o s em H e u s d e n foi seu sig n ific a tiv o p ap el na
a s s is tê n c ia à re fo rm a da c id a d e de ’s-H e rto g e n b o s c h . Essa
re fo rm a , q u e ele se rv iu com o capelão do ex érc ito , levou-o
a d e b a te s e a g u e rra s de p a n fle to s com C o rn e lls J a n s e n is 12 e
S am u e l M a re siu s. Seus d eb ates com M a re siu s, v irtu a lm e n te
c o n c e rn e n te s a cad a u m a das q u estõ es teo ló g icas da época,
d u ra ria m q u a tro déca d as, até q u a n d o os d o is te ólogos se
u n ir a m p a ra c o m b a te r o e m e r g e n te c a rte s ia n is m o n o fin al
d a d é c a d a de 1660.
E n q u a n to p a sto re a v a em H e u s d e n , V oetius rev elo u que
tin h a co raç ão p a ra m issões. E le foi in flu e n te em p e rs u a d ir
v ária s c o m p a n h ia s c o m e rc ia is a e n v ia re m m issio n á rio s com
os n a v io s h o la n d e se s a p a rte s d is ta n te s do m u n d o . A lém disso,
co m o H . A. Van A n d e l a ssin ala, “ V oetius te n to u , n ão so m e n te
d e lin e a r os c o n to rn o s de u m a só lid a te o lo g ia de m issõ es, m as
ta m b é m foi o p rim e iro a p ro c u ra r s e ria m e n te d a r à m issio lo g ia
u m le g ítim o lu g a r c ie n tífic o n o c o rp o da te o lo g ia” (De
Zendingsleer van Gisbertus Voetius, p. 19). E n o tá v el q u e o m a io r
e sco lá stico h o la n d ê s da o rto d o x ia re fo rm a d a d e sen v o lv e u a
p rim e ira te o lo g ia p ro te s ta n te c o m p re e n siv a de m issões.
D u r a n te d ezessete an o s, V oetius m a n te v e u m rig o ro so
p ro g ra m a de a tiv id a d e s em H e u s d e n . E le p reg av a o ito vezes
1 C o m d u p l o /; . c o m o a c i m a . N o t a d o t r a d u t o r .
2 C o rn eliu s Jansen ( 1 5 8 5 - 1 6 3 8 ) , t|u e deu o rig em ao jan se n ism o . N o ta do
trad u to r.

943
PA IXA Ü PHLA I’ URKZA

p o r sem a n a e p a sto re a v a fie lm e n te e sem cessar, e s p e c ia lm e n te


d a n d o c o n se lh o às {pessoas com } c o n sc iê n c ia s fracas e
p e rtu rb a d a s . N esse m e io te m p o , c o n tin u a v a e s tu d a n d o
a v id a m e n te , m a n te n d o em d ia seu á ra b e e d a n d o in s tru ç ã o
com o p re c e p to r a e s tu d a n te s de teo lo g ia, lógica, m e ta físic a
e id io m a s o rie n ta is . D e p o is de d e c lin a r de c h a m a d o s p a ra
o u tra s g ra n d e s igrejas, in c lu siv e R o tte rd a m , D o r d r e c h t e
H a ia , V oetius a c e ito u u m c arg o d o c e n te n a n o v a A c a d e m ia
de U tre c h t, o n d e e n s in o u d u ra n te q u a re n ta e d o is a n o s, até
sua m o rte em 1676.
E m suas p rele çõ es, V oetius focalizava p a rtic u la rm e n te
teologia siste m á tic a , é tic a e p o lític a eclesiástica. T am b ém
e n s in o u lógica, m e ta físic a e os id io m a s se m ític a s: h e b ra ic o ,
á rab e e siríaco . D u ra n te tr in ta e seis dos seu s q u a re n ta e
d o is an o s co m o p ro fe s s o r em U tre c h t, V oetius c u m p ria
m e io p e río d o d e p reg aç ão e de a tiv id a d e p a s to ra l. E le se r e ­
cu sava a d e ix a r de lado a v isitação a e n fe rm o s e c a te q u iz a v a
re g u la rm e n te c ria n ç a s órfãs de U tre c h t.
N esse ín te rim , o e stu d o p riv a d o de V oetius e sua
p ro d u ç ã o lite rá ria c o n tin u a v a m em ritm o ace lerad o . E m
1664, ele p u b lic o u Exercitia et Bibliotheca studiosi theologae (O s
E x erc ício s e a B ib lio te c a de u m E s tu d io so de T eologia), u m a
a b ra n g e n te in tro d u ç ã o de 700 p á g in a s à lite ra tu ra te o ló g ica
e um p ro g ra m a de q u a tro a n o s de e s tu d o te ológico. O te m a
dessa o b ra é s o m e n te u m , com visão a b ra n g e n te : a te o lo g ia
d ev er ser c o n h e c id a e p ra tic a d a . As o b ra s m ais aca d ê m ic a s de
V oetius fo ram p u b lic a d a s n u m espaço de v in te e d o is an o s em
seus cin co v o lu m es de seleções dos seus d e b a te s teo ló g ico s,
Selectarum disputationum theologicarum, (1648-1669). E sses
v o lu m es re s u lta m do seus fam osos s e m in á rio s re a liz a d o s
n o s sábados. E sses s e m in á rio s to m a v a m a se g u in te fo rm a : o
p ró p rio V oetius c o m p u n h a as teses, e s p e c ia lm e n te to c a n te s
às q u estõ es p re m e n te s na época, e n o m e av a d e b a te d o re s q u e
era m in s tru íd o s so b re co m o d efen d ê -las. O u tro s e s tu d a n te s
p ro c u ra v a m d e safia r os d e b a te d o re s. O s c in c o v o lu m e s desses

944
Gisbertus Voetius

d e b a te s, s im ila re s aos te x to s de d e b a te m e d ie v a is, n ão c o n tê m


re la tó rio s lite ra is, m as a red aç ão fin a l do c o n te ú d o to d o feita
pelo p ró p rio V oetius. E m a c ré sc im o , V oetius p u b lic o u q u a tro
v o lu m e s so b re a p o lític a e clesiástica, Politicae Ecclesiasticae
(1663-1676), q u e ta m b é m se d ese n v o lv ia nos d eb a te s dos
sáb ad o s. E le e v id e n c io u u m d in â m ic o e p ro g re ssiv o c o n h e ­
c im e n to de to d a a lite ra tu ra so b re g o v e rn o da Ig re ja do seu
te m p o , in c lu in d o o b ra s p o lê m ic a s e o b ras q u e tra ta m dos
c red o s an tig o s. M ais do q u e q u a lq u e r o u tra o b ra im p o rta n te ,
Politicae Ecclesiasticae re p re s e n ta os id e ais e c lesiástico s da Pós-
-R e fo rm a H o la n d e sa . J u n to com essas o b ras, V oetius escreveu
sua Ta Asketika sive Exercitia Pietatis (1654); {“A sc étic a” , ou os
E x erc ício s da P ie d a d e } , u m d e ta lh a d o m a n u a l de p ie d a d e , na
te o ria e na p rá tic a . (C o rn e lls A. de N ie l p re p a ro u u m a edição
e ru d ita de Ta Asketika em 1996, a q u al in c lu i ta n to a versão
la tin a co m o u m a tra d u ç ã o h o la n d e sa .)
E m to d a s essas o b ra s, V oetius rev ela-se u m teólogo
e sco lá stico , p rá tic o , q u e n ão tin h a m e d o de c o n flito . E n q u a n to
esteve em U tre c h t, fez in c e ss a n te o p o sição a J o h a n n e s C occeius,
o teó lo g o n a tu ra l de B re m e n q u e e n s in a v a em F ra n e k e r e em
L e id e n , e cuja teo lo g ia da alia n ç a , n a o p in iã o de V oetius,
e n fa tiz a v a e x a g e ra d a m e n te o c a rá te r c o n te x tu a l e h is tó ric o
de eras específicas. E le a c re d ita v a q u e a nova a b o rd a g e m das
E s c ritu ra s feita p o r C occeius so la p a ria ta n to a d o g m á tic a
re fo rm a d a co m o 0 c ris tia n is m o p rá tic o . E le c o m b a te u a
filosofia de R e n é D e sc a rte s, a q u a l ele estava c o n v e n c id o
de q u e colocava a razão no m e sm o n ív e l das E s c ritu ra s em
d e trim e n to da fé, e, p o r c o n s e g u in te , era d e s tru tiv a p ara a
Ig reja. E le re c o n h e c ia o p e rig o p re s e n te no c a rte sia n ism o
de q u e o h o m e m aca b a ria se to rn a n d o a m e d id a de to d a s as
coisas. E le re s is tiu a Je a n de L a b a d ie , cuja p reg aç ão tin h a
sid o a o rig e m de u m d e s p e rta m e n to e s p iritu a l das igrejas
re fo rm a d a s da S uíça, p o r p ro m o v e r m ístic a s n o çõ es su b je tiv a s
e a sep araçã o da igreja in s titu íd a . E le falou o s te n s iv a m e n te
c o n tra o g o v e rn o q u a n d o os d ire ito s da Ig re ja estav am em
jogo, re je ita n d o 0 e ra s tia n is m o e e x ig in d o q u e a Ig re ja fosse

945
PAIXAO P E L A PU R EZA

c o m p le ta m e n te in d e p e n d e n te do E sta d o e de to d o p a tro n a to .
N a q u a lid a d e de teó lo g o p o lê m ic o , a p o sição firm e de
V oetius e seus v e e m e n te s a ta q u e s o iso la ram . A so lid ã o o
a tin g iu em tais ocasiõ es, m as ele via isso co m o o p re ç o q u e
ele fora c h a m a d o a p a g a r p o r a s s u m ir u m a p o sição de firm e
re sistê n c ia em p ro l da v e rd a d e re fo rm a d a , b íb lic a . C o n tu d o ,
p assad as a lg u m a s déca d as, em U tre c h t u m g ru p o de a m ig o s
e de e stu d a n te s , a p e lid a d o de “ c írc u lo de U tr e c h t” , p asso u a
a p re c ia r e a a p o ia r suas con v icçõ es. P o r o casião de su a m o rte ,
no d ia p rim e iro de n o v e m b ro de 1676, d e d ic a d o s v o ecian o s
se e n c o n tra v a m em to d a s as u n iv e rs id a d e s e em to d a s as
p ro v ín c ia s eclesiásticas da H o la n d a . E le foi p ra n te a d o p o r
m ilh a re s, p rin c ip a lm e n te p elo c írc u lo d e U tre c h t, e foi
se p u lta d o na ig reja q u e h oje é u m a c a te d ra l c a tó lic o -ro m a n a
de U tre c h t.
C o rn e lis G e n tm a n d isse a c e rta d a m e n te , a re s p e ito de
V oetius, em seus fu n e ra is, q u e ele foi “ u m g ig a n te e n tre
os p io n e iro s q u e a b rira m tr ilh a s ” . P o r m e io de seus d o is
im p o rta n te s ofícios de p ro fe sso r e p re g a d o r, V oetius fez de
U tre c h t u m a fo rtaleza da o rto d o x ia . S eus e sc rito s d is s e m in a ra m
o seu p e n s a m e n to p o r to d a p a rte da H o la n d a e a lé m -fro n te ira s .
Sua in flu ê n c ia n a u n iv e rs id a d e era tão g e n e ra liz a d a q u e
m u ita s vezes ela era c h a m a d a Academia Voeciana. V oetius
tem sid o s u b e s tim a d o com o teólogo e sco lá stico re fo rm a d o e
e x p e rim e n ta l n a H o la n d a e em to d a a E u ro p a , e m a is a in d a
pelos e ru d ito s b ritâ n ic o s e n o rte -a m e ric a n o s . E m b o ra não
sen d o c ria d o r de u m a n o v a te o lo g ia, ele foi u m c o m p e te n te
s is te m a tiz a d o r q u e in flu e n c io u m ilh a re s de cristã o s. A lém
disso , ele foi u m in s tr u m e n to n a p re p a ra ç ã o de c e n te n a s de
m in is tro s q u e, s e g u in d o su as p eg ad a s, lu ta ra m p a ra m a n te r
u m a h a rm o n io s a u n iã o do e sc o la stic ism o com a p ie d a d e .
Seu e n s in o ta m b é m a tra iu m u ito s e s tu d a n te s p re s b ite ria n o s
escoceses e n ão c o n fo rm ista s ingleses. P a ra m u ito s d o s seus
a lu n o s, su a te o lo g ia v eio a s e r u m p ro g ra m a d e ação. S eus
id e a is fo ram fo rm u la d o s n a q u ilo q u e se to rn o u c o n h e c id o

946
Gisbertus Voetius

(c o n tra seu s desejos) co m o “ os v o e c ia n o s” ou “ o p a rtid o


v o e c ia n o ” . C o m su a v ig o ro sa co m b in a ç ã o de d o u trin a o rto d o x a
e p ie d a d e v ita l, os v o ecian o s tiv e ra m m a is sucesso em alca n ç a r
o p o v o c o m u m do q u e os cocceianos.

Spiritual Desertion, com J o h a n n e s H o o rn b e e k , e d ita d o


p o r M . E u g e n e O s te rh a v e n , tra d u z id o p o r J o h n V rie n d e
H arr} ‫ ׳‬B o o n stra , (B a k e r; 176 p á g in a s; 2003). Ver re s e n h a sob
H o o rn b e e k .

947
Herman Witsius
(1 6 3 6 -1 7 0 8 )

e r m a n W it s ( l a t i n i z a d o c o m o W i t s i u s ) n a s c e u n o d ia 12
H d e f e v e r e ir o d e 1 6 3 6 c m E n k h u i z e n , d e p a is t e m e n t e s
a D e u s , q u e d e d i c a r a m s e u p r i m o g ê n i t o a o S e n h o r . S e u p a i,
N i c h o l a s W it s , e r a u m h o m e m d e a l g u m r e n o m e , t e n d o s id o
p r e s b íte r o p o r m a is d e v in te a n o s , m e m b r o d o c o n s e lh o d a
c id a d e d e E n k h u i z e n , e a u t o r d e p o e s ia d e v o c io n a l. A m ã e d e
W i t s i u s , J o h a n n a , e r a f il h a d e H e r m a n G e r a r d , p a s t o r d u r a n t e
t r i n t a a n o s d a ig r e ja r e f o r m a d a d e E n k h u i z e n . F o i d a d o a o
H e rm a n o m esm o n o m e que 0 seu avô, co m a o raç ã o d e q u e
e le i m i t a s s e s e u e x e m p l o d e p i e d a d e .
W i t s i u s c o m e ç o u s e u s e s t u d o s d e l a t im c o m c in c o a n o s d e
id a d e . T r ê s a n o s m a i s t a r d e , s e u t io , P e t e r G e r a r d , n o t a n d o o s
d o n s d o m e n i n o , c o m e ç o u a a g i r c o m o s e u p r e c e p to r . N a é p o c a
e m q u e W i t s i u s e m p r e e n d e u o s e s t u d o s t e o ló g ic o s e m U t r e c h t ,
c o m q u i n z e a n o s d e i d a d e , p o d i a f a la r l a t i m í l u e n t e m e n t e , le r
g reg o e h e b ra ic o , e tin h a m e m o riz a d o n u m e ro s a s p a s sa g e n s d as
E s c r i t u r a s e m s u a s l í n g u a s o r i g i n a i s . E m U t r e c h t , e le e s t u d o u
s ir í a c o e á r a b e s o b J o h a n n e s L e u s d e n e te o lo g ia s o b J o h a n n e s
H o o r n b e e k , a q u e m e le c h a m a v a “ m e u m e s t r e d e i m o r r e d o u r a
le m b ra n ç a ” . T a m b é m e s tu d o u so b A n d re a s E s s e n iu s , a q u e m
e le h o n r a v a c o m o “ m e u p a i n o S e n h o r ” , e s o b G i s b e r t u s
V o e tiu s , a q u e m e le c h a m a v a “ o g r a n d e V o e tiu s ” .

948
Herman Witsius

D e p o is de e s tu d a r te o lo g ia e h o m ilé tic a com S am uel


M a re s iu s em G ro n in g e n , W itsiu s v o lto u , em 165 3, p a ra U tre c h t,
o n d e foi p ro fu n d a m e n te in flu e n c ia d o pelo p a s to r local, Ju stu s
van d e r B o g aerd t. C o n fo rm e te s te m u n h o p o s te rio r de W itsiu s,
a p reg aç ão e o c o m p a n h e iris m o de B o g aerd t 0 lev aram a
e n te n d e r e x p e rim e n ta lm e n te a d ife re n ç a e n tre o c o n h e c im e n to
te o ló g ico o b tid o do e s tu d o e a sa b e d o ria celestial e n s in a d a pelo
E s p írito S an to m e d ia n te c o m u n h ã o com D e u s, am o r, oração
e m e d ita ç ã o . W itsiu s escrev eu q u e n asceu de novo no “ seio da
igreja de U tre c h t p o r m e io da P ala v ra de D e u s viva e e te rn a ” .
Pela in flu ê n c ia desse p ie d o so p asto r, W itsiu s a firm o u q u e foi
p re se rv a d o “do o rg u lh o da c iê n c ia , e n s in a d o a re c e b e r o re in o
do céu co m o c ria n ç a , levado p a ra além do p á tio e x te rn o , no
q u a l a n te rio rm e n te e stiv e ra in c lin a d o a se apoiar, e c o n d u z id o
aos sag ra d o s recessos do c ris tia n is m o v ita l” .
Q u a n d o a d o le sc e n te , W itsiu s tin h a d e m o n stra d o seus
d o n s em d e b a te p ú b lic o . E m 1655, ele d e rro to u a lg u n s dos
p rin c ip a is d e b a te d o re s da U n iv e rs id a d e de U tre c h t ao m o stra r
q u e se p o d e ría p ro v a r a d o u trin a da T rin d a d e com base nos
e sc rito s de a n tig o s ju d e u s. N o an o se g u in te , W itsiu s passou
em seus ex am es fin a is e foi d e c la ra d o c a n d id a to ao m in isté rio .
E m 1657, W its iu s foi o rd e n a d o ao m in is té rio em
W estw oud. Sua o b ra de ca te q u e se de jovens ali deu especial
fru to , m as ele ta m b é m e n c o n tro u o p o sição d e v id o à ig n o râ n c ia
q u e a c o n g reg a ção tin h a da su a h e ra n ç a refo rm a d a . C o stu m e s
m e d ie v a is, co m o a oração pelos m o rto s, a in d a era m e v id e n te s
e n tre o povo. E sses p ro b le m a s c o n v e n c e ra m W itsiu s, logo no
in íc io do seu m in is té rio , da n e c e ssid a d e de a p ro fu n d a r a o bra
da R e fo rm a e n tre 0 povo. T am b ém o m o tiv o u a p u b lic a r seu
p rim e iro liv ro , Ί bedroefde Nederlant (A E n tris te c id a H o la n d a ).
E m 1660, W itsiu s caso u -se co m A le tta van B o rc h o rn , filh a
de u m c o m e rc ia n te q u e era p re s b íte ro na igreja de W itsiu s.
E les fo ram ab e n ç o a d o s com v in te e q u a tro a n o s de vida
m a trim o n ia l. A le tta d iz ia q u e não sabia d iz e r o q u e era m a io r
- seu a m o r ou seu re sp e ito p o r seu m a rid o . O casal teve cin co

949
PAIXAO P E L A PU R EZA

filh o s - d o is filh o s h o m e n s, q u e m o rre ra m jovens, e trê s filh as,


M a rtin a , J o h a n n a e P e tro n e lla .
E m 1661, W itsiu s foi e m p o ssa d o na ig reja de W o rm e r -
u m a das m a io re s igrejas da H o la n d a - o n d e teve b o m sucesso
em u n ir facções em c o n flito e in s tr u ir 0 povo n o c o n h e c im e n to
d iv in o . E le e seu colega, P e tru s G o d d a e u s, se a lte rn a v a m no
e n s in o de u m a classe de d o u trin a to d a s as n o ite s dos d ia s de
sem a n a , d a n d o in s tru ç ã o p a ra sab e re m “d e fe n d e r a v e rd a d e
dos no sso s e n sin o s c o n tra as falsas d o u tr in a s ” e p a ra in c u lc a r
nos o u v in te s “ a s a n tid a d e de n o sso s e n s in o s em te rm o s
da c o n d u ta de te m o r a D e u s ” . A classe c o m eço u em casas
p riv a d a s, m as d ep o is ex ced eu o espaço e m u d o u -s e p a ra a
igreja. E v e n tu a lm e n te , a lg u n s tin h a m q u e fica r do lad o de fora
da igreja d e v id o à falta de lu g a r n o re c in to . E ssas p rele çõ es
de e n s in o fo ram fin a lm e n te p u b lic a d a s n u m liv ro in titu la d o
Practycke des Christendoms {A P rá tic a do C r is tia n is m o }, ao q u al
W itsiu s a n ex o u Geestelycke Printen van een Onwedergehorenen
op syn beste en een Wedergeborenen op syn slechste { Q u a d ro
E s p iritu a l dos In c ré d u lo s em S ua M e lh o r E x p re ssã o , e dos
R eg e n e ra d o s em Sua P io r E x p ressão {.
Pracktycke des Christendoms ex p lica as bases p rim á ria s
da p ie d a d e , ao passo q u e a o b ra a d ic io n a l ap lic a essas bases
e n s in a n d o o q u e é louv áv el nos in c ré d u lo s e o q u e é c o n d e n á v e l
n o s reg e n e ra d o s. J o h n O w en d iz ia q u e esp erav a p o d e r ser tão
c o e re n te co m o o in c ré d u lo de W itsiu s era em su a m e lh o r
ex p ressão , e q u e n u n c a caísse tã o fu n d o co m o o re g e n e ra d o
d e W itsiu s em su a p io r expressão.
W its iu s a c e ito u u m c h a m a d o p a ra G oes em 1666, o n d e
tra b a lh o u d o is anos. N o p refácio de Iwist des Heereen met
syn Wijngaert {A C o n tro v é rs ia do S e n h o r com a S ua V in h a } ,
p u b lic a d o em L e e u w a rd e n em 1669, d isse ele q u e tin h a
tra b a lh a d o com m u ita paz n essa c o n g reg a ção ju n to com três
colegas, “d o is d os q u a is e ra m v e n e ra d o s co m o p ais, e 0 te rc e iro
era am ad o co m o u m irm ã o ” . S o b re esses q u a tro m in is tro s
tra b a lh a n d o co m o c o m p a n h e iro s n a m e sm a c o n g reg a ção ,

950
Herman Witsius

W itsiu s o b se rv o u : “ C a m in h á v a m o s ju n to s, em c o m u n h ã o ,
p a ra a casa de D eu s. N ão so m e n te fre q u e n tá v a m o s os cu lto s
u n s dos o u tro s , m as ta m b é m as aulas de c a te c ism o u n s dos
o u tro s e o u tro s serv iço s p ú b lic o s, de m o d o q u e o q u e um
serv o de D e u s p o d ia te r e n s in a d o n o d ia a n te rio r, os o u tro s
c o n firm a v a m e re c o m e n d a v a m à co n g reg a ção no p ró x im o d ia” .
Sob a in flu ê n c ia desses q u a tro m in is tro s , “ to d a s as espécies
de p rá tic a s d e v o c io n a is flo re sc e ra m , a p ie d a d e a u m e n to u e a
u n id a d e do po vo de D e u s foi re a lç a d a ”, escrev eu W itsiu s.
D e p o is de se rv ir em G oes, W itsiu s foi p a ra 0 seu q u a rto
en c a rg o p a s to ra l, L e e u w a rd e n , o n d e se rv iu sete a n o s (1668­
1675). E m 1672, c h a m a d o “A n o do D e s a s tre ” (rampjaar)
p o rq u e a re p ú b lic a h o la n d e sa foi atac a d a p o r q u a tro in im ig o s
(F ra n ç a , In g la te rra , e os e le ito ra d o s alem ãe s de K o ln e
M ü n s te r), W its iu s g a n h o u re n o m e p o r seu fiel m in is té rio em
p le n a crise. J o h a n n e s à M a rc k , fu tu ro colega, d isse a resp e ito
de W its iu s q u e n ã o c o n h e c ia n e n h u m o u tro m in is tro cujos
la b o re s fossem tão a b e n ç o a d o s p o r D e u s. E m 1673, W itsiu s
de n o v o fo rm o u u m a e q u ip e co m u m re n o m a d o colega -
d e sta vez, W ilh e lm u s à B ra k e l, co m q u e m s e rv iu d o is anos.
E m L e e u w a rd e n , W its iu s d e s e m p e n h o u u m p a p e l c rític o ,
in te r m e d ia n d o d is p u ta s e n tre V oetius e M aresiu s.
E m 1675, W its iu s foi c h a m a d o p a ra ser p ro fe sso r de
teologia. E le se rv iu n essa o cu p aç ão o re sto de sua vida,
p rim e iro em F ra n e k e r (1675-1680) e d ep o is em U tre c h t (1680­
1698), e fin a lm e n te em L e id e n (1698-1707). L o g o d ep o is de
sua c h e g a d a a F ra n e k e r, a u n iv e rs id a d e de lá la u re o u W itsiu s
com u m d o u to ra d o em teologia. Seu d isc u rso in a u g u ra l,
On the Character of a True Theologian (1675), q u e foi o u v id o
p o r e s tu d a n te s e e s tu d io so s de to d a a p ro v ín c ia , d e u ênfase
à d ife re n ç a e n tre u m teó lo g o q u e só c o n h e c e o seu a ssu n to
e s c o lá stic a m e n te e u m teó lo g o q u e c o n h e c e o seu a ssu n to
e x p e rim e n ta lm e n te . Sob a lid e ra n ç a de W itsiu s a u n iv e rs id a d e
co m eço u a flo resce r co m o u m lu g a r p ró p rio p a ra e s tu d a r
te o lo g ia, p r in c ip a lm e n te d ep o is da c h eg a d a do p ro fe sso r de

951
PAIXAO P E L A PUREZA

v in te e u m a n o s de id a d e , J o h a n n e s à M a rc k , em 1678. A
escola logo a tra iu e s tu d a n te s de to d a a E u ro p a .
D u ra n te a su a d o c ê n c ia em F ra n e k e r, a te n sã o e n tre os
v oecianos e os co cc eian o s so freu u m a escalada. A p re o c u p a ç ã o
de W itsiu s co m essa c o n tro v é rsia m o v e u -o a p u b lic a r De
Oeconomia Foederum Dei cum Hominibus (1677), p u b lic a d o
pela p rim e ira vez em in g lês em 1736 co m o The Economy of
the Covenants between God and Man, comprehending a Complete
Body of Divinity. E sse liv ro foi re im p re s so n u m e ro s a s vezes,
m ais re c e n te m e n te em d o is v o lu m e s pela d e n D u lk C h ris tia n
F o u n d a tio n em 1990 (v er abaixo).
G o v e rn a n d o a sua te o lo g ia siste m á tic a pelo c o n c e ito
da a lian ça , W itsiu s faz uso de m é to d o s c o cc eian o s, e m b o ra
m a n te n d o e s s e n c ia lm e n te a te o lo g ia voeciana. E m su a o b ra
so b re as a lian ça s, W itsiu s a rg u m e n to u c o n tra o c a to lic ism o
ro m a n o , 0 a rm in ia n is m o , 0 so c in ia n is m o e aq u eles teó lo g o s
p ro te s ta n te s h o la n d e se s q u e, com H u g o G ro tiu s , tin h a m
tro c a d o u m a te o lo g ia b a s e a d a n a sola scriptura p o r u m a
v isã o s a c ra m e n ta l, in s titu c io n a liz a d a da Ig re ja b a se a d a nas
trad içõ es q u e p a v im e n ta v a m 0 c a m in h o de v o lta a R om a.
A se g u ir W itsiu s foi p a ra U tre c h t, o n d e tra b a lh o u p o r
d ezo ito an o s com o p ro fe sso r e p astor. E s tu d a n te s de to d a
p a rte do m u n d o p ro te s ta n te fre q u e n ta v a m suas p rele ç õ e s;
m a g istra d o s iam o u v ir os seus serm õ es. E m d u a s ocasiões,
seus colegas o h o n ra ra m c o n fia n d o -lh e a d ire ç ã o da u n iv e rs i­
d ad e (1686, 1697).
E m 1685, os E sta d o s G erais n o m e a ra m W itsiu s co m o
delegado p a ra re p re s e n ta r 0 g o v e rn o h o la n d ê s n a co ro ação de
Jam es II e p a ra s e rv ir co m o capelão da E m b a ix a d a da H o la n d a
em L o n d re s . E n q u a n to estava lá, ele c o n h e c e u o a rc e b isp o de
C a n tu á ria , co m o ta m b é m v ário s teó lo g o s p ro e m in e n te s . E le
e stu d o u a te o lo g ia p u rita n a e sua im p o rtâ n c ia co m o p a c ific a d o r
cresceu n a In g la te rra . P o s te rio rm e n te , a Ig reja in g lesa
c o n v id o u -o p a ra se rv ir co m o m e d ia d o r e n tre a n tin o m ia n is ta s
e n e o n o m ia n is ta s - os p rim e iro s a c u sa n d o os o u tro s de

952
Herman Witsius

e x a g e ra re m em sua ên fase à lei, os o u tro s a c u sa n d o os p rim e iro s


de m e n o sp re z a re m a lei. D isso re s u lto u seu e n saio Conciliatory
Animadversions, u m tra ta d o so b re a c o n tro v é rsia q u e se travava
n a In g la te rra . N esse tra ta d o , W itsiu s a rg u m e n to u q u e 0 p o n to
de p a rtid a de D e u s em Seus d e c re to s e te rn o s não rebaixa
S ua a tiv id a d e no te m p o . E le ta m b é m a ju d o u a p o s s ib ilita r a
tra d u ç ã o p a ra o h o la n d ê s de a lg u m a s das o b ras de T h o m a s
G o o d w in , W illia m C ave e T h o m a s G atak e r, e escreveu
p refácio s p a ra elas.
O s a n o s q u e W its iu s p asso u em U tre c h t não e stiv eram
liv res de luta. E le se s e n tiu o b rig a d o a o p o r-se à teologia
d o p ro fe sso r H e rm a n A. R oell, q u e d e fe n d ia u m a s in g u la r
m is tu ra da te o lo g ia b íb lic a de J o h a n n e s C o cceiu s com a
filo so fia ra c io n a lista de R e n é D escartes. W its iu s e n te n d ia
q u e essa c o m b in a ç ã o am eaçava a a u to rid a d e das E sc ritu ra s.
W itsiu s e n s in a v a a s u p e rio rid a d e da fé so b re a razão p ara
p ro te g e r a p u re z a das E s c ritu ra s. A razão p e rd e u sua p u reza
n a q u e d a , ele d izia. E m b o ra a razão seja u m a fa cu ld ad e c rític a ,
c o n tin u a im p e rfe ita , m e sm o n o s reg e n e ra d o s. E la não é um
ju iz a u tô n o m o , m as sim u m serv o da fé. E v id e n te m e n te ,
o e n te n d im e n to de W itsiu s de q u e m D e u s é afetava o seu
e n te n d im e n to de co m o sab em o s o q u e sab em o s e de que as
E s c ritu ra s são o p a d rã o fin a l da v e rd a d e , e n ão a n o ssa razão.
Seu c o n h e c im e n to de D e u s p o r m e io das E s c ritu ra s m o d e lo u
o seu p e n s a m e n to , co m o m o s tra c la ra m e n te a sua defesa da
s u b s titu iç ã o p e n a l de C risto e c o n tra o ra c io n a lista S ocinus.
S u b s e q u e n te m e n te , W itsiu s fez o p o sição ao ra c io n a lism o
p re s e n te n o s e n sin o s de B a lth a sa r B ekker, co m o ta m b é m às
id é ias s e p a ra tis ta s p o p u la re s de J e a n de L a b a d ie . E le a d m itia
q u e as ig re ja s re fo rm a d a s e sta v a m com g rav es d e fe ito s, m as
se o p u n h a fo rte m e n te a s e p a ra r-se da igreja.
Em U tre c h t, W itsiu s p u b lic o u três v o lu m es de
Exercitationes Sacrae (E x e rc íc io s S agrados), d o is so b re o C redo
dos A p ó sto lo s (1681) e u m so b re a O ração do S e n h o r (1689).
S o m e n te in fe rio r em im p o rtâ n c ia à sua o b ra Economy of the

953
PAIXAO P E L A PUREZA

Covenants, esses liv ro s sa lie n ta m as v e rd a d e s do e v a n g e lh o


de m a n e ira p u ra e clara. As três o b ra s, q u e tiv e ra m seu b e rç o
no c o n te x to do s e m in á rio , são c o n h e c id a s co m o a trilo g ia de
W itsiu s (v er abaixo).
E m m e io aos an o s m u ito a ta re fa d o s q u e ele p asso u
em U tre c h t (1684), a m u lh e r de W itsiu s m o rre u . S ua filh a
P e tro n e lla , q u e n u n c a se casou, p e rm a n e c e u com seu p ai,
c u id a n d o d ele d u r a n te os seus v in te e q u a tro an o s de viuvez.
Q u a n d o estava co m se sse n ta e d o is an o s d e id a d e ,
W itsiu s a c e ito u u m c o n v ite p a ra s e rv ir n a u n iv e rs id a d e , em
L e id e n , co m o professor. Sua p rele ç ã o in a u g u ra l foi so b re “O
Teólogo M o d e s to ” . E m L e id e n ele tre in o u h o m e n s da E u ro p a
c o n tin e n ta l, da G rã -B re ta n h a e da A m é ric a , in c lu s iv e d iv e rso s
n a tiv o s a m e ric a n o s q u e h a v ia m sid o c o n v e rtid o s p o r m e io do
tra b a lh o de J o h n E lio t.
E m 1699, a H o la n d a e a F rie s lâ n d ia O c id e n ta l n o m e a ra m
W itsiu s in s p e to r da fa c u ld a d e de te o lo g ia da u n iv e rs id a d e . F o i
u m a p o sição q u e ele m a n te v e até a p o s e n ta r-se p o r p ro b le m a s de
saú d e em 1707. E m seus ú ltim o s seis an o s ele so freu d o lo ro sa s
crises de gota, v e rtig e m e lapsos da m e m ó ria . D e p o is de u m a
séria crise em o u tu b ro de 1708, ele d isse a a m ig o s q u e su a ida
p a ra o lar estava p ró x im a . Q u a tro dias m ais ta rd e ele m o rre u ,
com s e te n ta e d o is a n o s de id a d e , d e p o is de q u ase c in q u e n ta e
do is an o s de m in is té rio . D u r a n te a su a ú ltim a h o ra , ele d isse a
seu am ig o ín tim o , J o h a n n e s à M a rc k , q u e estava p e rs e v e ra n d o
na fé q u e d u ra n te m u ito te m p o d e s fru ta ra em C risto .
W itsiu s tin h a m u ito s d o n s. E le foi, d u r a n te to d a a sua
vida, u m h u m ild e teó lo g o s is te m á tic o e b íb lic o , d e p e n d e n te
das E s c ritu ra s. F o i ta m b é m u m p re g a d o r fiel. P a ra ele, C risto
- na u n iv e rs id a d e , n o p ú lp ito , n o v iv e r d iá rio - tin h a a
p re e m in ê n c ia . C o m o exeg eta, ele d e m o n stra v a s im p lic id a d e e
p re c isã o b íb lic a s. C o m o h is to ria d o r,e le m e n s u ra v a m o v im e n to s
em c o n tra p o siç ã o à igreja id e al, a p o stó lic a , tra z e n d o a h is tó ria
e a teo lo g ia de n u m e ro s a s fo n te s p a ra m o ld a r seu ra c io c ín io .
C o m o teó lo g o , ele b aseava a v id a e s p iritu a l na re g e n e ra ç ã o

954
Herman Witsius

e ap lic a v a p a c tu a lm e n te a in te ira o rd e m da salvação ao


v iv e r p rá tic o , e x p e rim e n ta l. C o m o esp e c ia lista em ética, ele
e x p u n h a C ris to co m o o ex e m p lo p e rfe ito p a ra p ro v a r o coração
e g u ia r o c re n te n o a n d a r em seu viver. C o m o p o le m ista , ele
se op ô s ao c a rte s ia n ism o , ao la b a d ism o , ao a n tin o m ia n is m o ,
ao n e o n o m ia n is m o e aos excessos do c o cc eian ísm o . C om o
h o m ilé tic o , ele, co m o W illia m P e rk in s , sa lie n ta v a as m arcas
d a g raça p a ra e n c o ra ja r os c re n te s e c o n v e n c e r {do pecado} os
c ristã o s n o m in a is .
W itsiu s in flu e n c io u m u ito s te ólogos d u ra n te a sua vida:
C a m p e g iu s V itrin g a e B e rn a rd u s S m y te g e lt n a H o la n d a ,
F rie d ric h L a m p e na A le m a n h a e T h o m a s B o sto n e os irm ão s
E rs k in e (R a lp h e E b e n e z e r) na E scócia. Ja m e s H e rv e y 0
re c o m e n d o u co m o “ u m e x c e le n tíssim o a u to r, cujas obras,
to d a s elas, tê m tal d e licad e za de co m p o sição e tal d u lç o ro so
sa b o r de s a n tid a d e [com o] 0 p o te de m a n á , e era e x te rio r­
m e n te b r ilh a n te com seu re v e s tim e n to de o u ro p o lid o , e
in te r io r m e n te com a riq u e z a do pão c e le stia l” .

The Apostles’ Creed (P & R; 2 v o lu m e s, 1.170 p á g in a s; 1993).


M ais de u m sécu lo d ep o is da m o rte de W itsiu s, d u a s das suas
o b ra s m a is sig n ific a tiv a s fo ram tra d u z id a s p a ra o inglês:
Sacred Dissertations on what is commonly called The Apostles’
Creed, tra d u z id a p o r D o n a ld F raser, 2 v o lu m e s (G lasgow ,
1823), e Sacred Dissertations on the Lord’s Prayer, tra d u z id a pelo
Rev. W illia m P rin g le (E d im b u rg o , 1839; ver abaixo). A m bas
estas o b ra s são ju d icio sas, p rá tic a s , p e n e tra n te s e e d ifican tes.
São a lim e n to p a ra a alm a.
A o b ra de W itsiu s, em dois v o lu m es, so b re o C re d o dos
A p ó sto lo s, p u b lic a d a o rig in a lm e n te em la tim em F ra n e k e r,
em 1681, d e se n v o lv e u -se de preleçõ es q u e ele fez p a ra seus
a lu n o s na U n iv e rs id a d e de F ra n e k e r. Sua exp o sição do credo
c o m e ç a c o m e s tu d o s q u e d is c u te m se u títu lo , su a a u to ria e

955
PAIXAÜ P E L A PU R EZA

su a a u to rid a d e ; o p ap el fu n d a m e n ta l d o s a rtig o s; e a n a tu re z a
da fé salv ad o ra. A a u to rid a d e do c re d o é g ra n d e , m as não
su p re m a , d isse W itsiu s. E le c o n té m a rtig o s fu n d a m e n ta is
q u e se lim ita m às v e rd a d e s “ sem as q u a is n e m a fé n e m 0
a rre p e n d im e n to p o d e m e x is tir” e “ a cu ja rejeição D e u s a n e x o u
u m a am eaça de d e s tru iç õ e s ” . D ific ilm e n te se p o d e d e te rm in a r
o n ú m e ro d o s a rtig o s f u n d a m e n ta is . A lg u n s n ã o fa z e m
p a rte do c o n te ú d o do c re d o , m as são e x tra íd o s de p a d rõ e s
d o u trin á rio s m ais ex ten so s.
W itsiu s falou ta m b é m dos atos da fé salv a d o ra , a firm a n d o
qu e o “p rin c ip a l a to ” da fé é o de “ re c e b e r C risto p a ra
ju stificação , san tific a ç ã o e c o m p le ta salv aç ão ” . E le s a lie n to u
qu e a fé re ce b e “ u m C risto c o m p le to ”, e q u e “ E le n ão p o d e ser
Salvador, a n ão se r q u e ta m b é m seja S e n h o r” . E le re a firm o u a
v alid ad e da o b te n ç ã o da c erteza da fé p o r c o n c lu sõ e s silo g ístic a s
e d is tin g u iu a fé te m p o rá ria da fé salv ad o ra . V isto q u e a fé
te m p o rá ria p o d e p e rm a n e c e r até 0 fim da v id a da pesso a q u e
a te m , W itsiu s p re fe ria c h a m á -la fé p re s u m id a . E sses tip o s de
fé d ife re m em seu c o n h e c im e n to da v e rd a d e , em su a ap licaç ão
do ev an g e lh o , em seu gozo e em seus fru to s (1:56-60).
A p a rte re s ta n te da o b ra segue u m a ex p o sição de 800
p ág in as, p á g in a p o r p á g in a , do c re d o , se g u id a de m a is d e 200
p ág in as de n o ta s a c re sc e n ta d a s p elo tra d u to r. N a o b ra in te ira
o a u to r s u p e ra -se n a exegese, p e rm a n e c e fiel à d o g m á tic a
re fo rm a d a sem se to rn a r esco lá stico d e m a is, e, q u a n d o a
ocasião favorece, expõe v ária s h eresia s. Seu c a p ítu lo fin a l,
so b re a v id a e te rn a é, talvez, 0 m a is su b lim e . S uas ap licaç õ es,
na co n clu sã o , re su m e m sua a b o rd a g e m :

• D e sta su b lim e d o u trin a , a p re n d a m o s a o rig e m


d iv in a do ev an g e lh o .
• V erifiq u e m o s c u id a d o sa m e n te se n ó s m e sm o s
te m o s u m a só lid a e sp e ra n ç a d esta fe lic id a d e
gloriosa.

956
Herman Witsius

• T ra b a lh e m o s d ilig e n te m e n te p a ra n ão su c e d e r
q u e não c h e g u e m o s lá.
• C o n so le m o -n o s com a e sp e ra n ç a da g ló ria no
m e io de to d a s as nossas a d v e rsid a d e s.
• A n d e m o s de m o d o d ig n o d ela, le v a n d o u m a
v id a celestia l n e ste m u n d o (2 :x v i, 470-483).

The Economy of the Covenants Between God and Man


(P & R; 2 v o lu m e s, 960 p á g in a s; 1990). W itsiu s escreveu
su a magnum opus so b re as a lian ça s p a ra p ro m o v e r p az e n tre
teó lo g o s h o la n d e se s q u e estav am d iv id id o s so b re a teología
da alian ça . E le p ro c u ro u ser u m teó lo g o de sín te se , lu ta n d o
p a ra a m e n iz a r a te n são e n tre os v o ecian o s e os cocceian o s. E m
su a in tro d u ç ã o ele escrev eu q u e “ os in im ig o s da nossa igreja...
a le g ra m -se s e c re ta m e n te p o r h a v e r ta n ta s e tão acalo rad as
d is p u ta s e n tre n ó s, co m o com eles. E , na v e rd a d e , n e m tão
s e c re ta m e n te : p o is eles não p a ra m , n e m vão p a ra r jam ais, de
la n ç a r su a c e n s u ra so b re n ó s; a q u a l, tris te é dizer, não será
a p ag a d a tão fa c ilm e n te . O h , q u a n to m e lh o r seria se fizéssem os
os n o sso s m á x im o s esforços p a ra d im in u ir, fazer as pazes e, se
p o ssív el, e lim in a r to d a c o n tro v é rs ia !” (1:22,23).
A o b ra Economy of the Covenants não é u m a teologia
s is te m á tic a c o m p le ta , se b em q u e o seu títu lo alega q u e ela
c o m p re e n d e “ u m a c o m p le ta e s tru tu ra te o ló g ica” . D iv ersas
d o u trin a s im p o rta n te s n ão c o n s id e ra d a s a q u i, tais com o a
T rin d a d e , a criação e a p ro v id ê n c ia , fo ram tra ta d a s n a p o s te rio r
ex p o sição do C re d o dos A p ó sto lo s.
P a ra W itsiu s, a d o u trin a das alian ça s é a m e lh o r
m a n e ira de le r as E s c ritu ra s . As a lian ça s são p a ra ele o que
J. I. P a c k e r d e n o m in a “ u m a h e rm e n ê u tic a de su ce sso ” , ou
u m p ro c e d im e n to in te rp re ta tiv o c o e re n te q u e p ro p ic ia um
a p ro p ria d o e n te n d im e n to das E sc ritu ra s , ta n to da L e i com o
do ev a n g e lh o . A o b ra de W itsiu s está d iv id id a em q u a tro
livros:

957
PAIXAO P E L A PU R EZA

• L iv ro I: A A lia n ç a das O b ra s (120 p ág in a s)


• L iv ro II: A A lia n ç a da R e d e n ç ã o , ou A A lia n ça
da G raça o riu n d a da E te rn id a d e e n tre o P ai e o
F ilh o (118 p á g in a s)
• L iv ro III: A A lia n ça da G ra ç a no T em p o (295
p ág in a s)
• L iv ro IV: O rd e n a n ç a s P a c tu a is em T odas as
E s c ritu ra s (356 pág in as).

E m to d a a su a ex p o siçã o da te o lo g ia da a lia n ç a , W itsiu s


c o rrig iu p o n to s in a d e q u a d o s dos c o cc eian o s e in fu n d iu
c o n te ú d o v oeciano. E le tra to u cad a tó p ic o a n a lític a m e n te ,
e x tra in d o algo de o u tro s s iste m á tic o s p u rita n o s e re fo rm a d o s
p ara in c e n tiv a r o le ito r a te r clareza de p e n s a m e n to , c a lo r de
co ração e p ie d a d e do viver.
N o L iv ro I, W itsiu s d is c u te as alia n ç a s d iv in a s em
geral, fo calizan d o c o n sid e ra ç õ e s e tim o ló g ic a s e ex eg éticas
re la c io n a d a s co m elas (berith e diateke). E le faz a n o ta ç õ e s so b re
p ro m e ssa , ju ra m e n to , p e n h o r e g o v e rn o co m o ta m b é m um
pacto m ú tu o q u e c o m b in a p ro m e ssa e lei. E le c o n c lu i q u e a
alian ça , n o seu s e n tid o p ró p rio , “ sig n ific a u m a c o rd o m ú tu o
e n tre p a rtid o s co m re s p e ito a a lg u m a coisa (L iv ro I, cap. 1,
p arág rafo s 3-5 - d a q u i p o r d ia n te , 1.1.3-5). D e p o is ele d e fin e
a a lian ça co m o “ u m aco rd o e n tre D e u s e o h o m e m , ace rca do
m é to d o de o b te r b e m -a v e n tu ra n ç a s u p re m a , co m o a c ré sc im o
de u m a am eaça de d e s tru iç ã o e te rn a , c o n tra q u a lq u e r pesso a
q u e m e n o sp re z a r essa b e m -a v e n tu ra n ç a ” (1.1.9). A essê n c ia da
a lian ça é, p o is, a relação de a m o r e n tre D e u s e o h o m e m .
As a lian ça s e n tre D e u s e o h o m e m são e s s e n c ia lm e n te
monoplêuricas (u n ila te ra is ), n o s e n tid o de q u e só p o d e m ser
in ic ia d a s p o r D e u s e se b aseia m “ n a s u p re m a m a je sta d e do
a ltíssim o D e u s ” . E m b o ra in ic ia d a s p o r D e u s, estas alia n ç a s
re q u e re m c o n s e n tim e n to h u m a n o à a lia n ç a , e x e rc íc io da
re s p o n s a b ilid a d e de o b e d iê n c ia d e n tro d ela e a q u ie sc ê n c ia

958
Herman IVitsius

à p u n iç ã o , no caso de violação. N a a lia n ç a das o b ras, essa


r e s p o n s a b ilid a d e é em p a r te g ra c io sa e e m p a r te m e rito ria ,
ao p asso q u e n a a lia n ç a da graça, é to ta lm e n te g ra tu ita em
re sp o sta à eleição de D e u s e ao c u m p rim e n to de todas as
c o n d iç õ e s da a lia n ç a p o r C ris to (1.1.15).
N ão o b s ta n te , to d a s as alia n ç a s e n tre D e u s e o h o m e m são
diplêuricas (b ila te ra is ) n a a d m in is tra ç ã o . A m b o s os aspectos
são im p o rta n te s . Sem a ênfase m o n o p lê u ric a à p a rte de D eu s,
a in ic ia ç ã o e o c u m p rim e n to n ã o s e ria m so m e n te p ela graça;
sem a ên fase d ip lê u ric a à in ic ia ç ã o d iv in a e à re s p o n s a b ilid a d e
h u m a n a , o h o m e m se ria p assiv o n a a d m in is tra ç ã o da aliança.
A te n ta tiv a feita p o r e ru d ito s c o n te m p o râ n e o s de e n q u a d ra r
os teó lo g o s fed erais do sécu lo deze ssete n u m co n c e ito
m o n o p lê u ric o ou d ip lê u ric o da a lia n ç a e rra o alvo, com o
R ic h a rd M u lle r d e m o n stro u .
D e a c o rd o com W itsiu s, a a lia n ç a das o b ra s c o n siste dos
s e g u in te s e le m e n to s: as p a rte s c o n tra ta n te s (D eu s e A dão),
a lei o u c o n d iç ã o (o b e d iê n c ia p e rfe ita ), as p ro m essas (vida
e te rn a n o céu p a ra irr e s tr ita v en era ção da lei d iv in a ), a sanção
p e n a l (m o rte ), e os s a c ra m e n to s (o P ara íso , a á rv o re da vida,
a á rv o re do c o n h e c im e n to do b e m e do m a l, o Sabbath). N a
o b ra to d a W itsiu s d e u ên fase à rela ção das p a rte s da aliança
em te rm o s do c o n c e ito re fo rm a d o da alian ça . E le afirm av a
q u e n e g a r a a lia n ç a das o b ra s cau sa grav es e rro s c risto ló g ico s
e so terio ló g ico s.
P o r e x e m p lo , a violação da a lia n ç a das o b ra s p o r A dão
e E va to rn a ra as p ro m e ssa s da a lia n ç a in a cessív eis a seus
d e sc e n d e n te s. E ssas p ro m e ssa s fo ra m ab -ro g a d a s p o r D e u s, que
n ão p o d e d im in u ir seu p a d rã o da lei re fo rm u la n d o a alian ça
das o b ra s p a ra e x p lic a r a in ju stiç a do h o m e m caído. C o n tu d o ,
a ab -ro g a ç ã o d iv in a n ã o a n u la a ex ig ên cia d iv in a de o b e d iê n c ia
p e rfe ita . A n te s, d e v id o à e s ta b ilid a d e da p ro m e ssa de D eu s
e d e Sua lei, a a lia n ç a da graça to rn a -s e efetiv a em C risto , 0
p e rfe ito c u m p rid o r da L ei. Ao c u m p rir to d a s as c o n d iç õ e s da
a lia n ç a da g raça, C risto c u m p riu to d a s as c o n d iç õ e s da aliança

959
ΡΑ ΙΧAO P E L A PU REZA

das obras. A ssim , co m o W itsiu s escrev eu , “ a a lia n ç a da g raça


não é a ab o lição , m as sim a c o n firm a ç ã o da a lia n ç a das o b ra s,
te n d o em v ista q u e o M e d ia d o r c u m p riu to d a s as c o n d iç õ e s
dessa a lia n ç a , p a ra q u e to d o s os q u e cree m sejam ju stific a d o s
e sa lv o s d e a c o r d o c o m a a lia n ç a d a s o b r a s , c u ja s a tis fa ç ã o
foi feita p elo M e d ia d o r” , (1.11.23).
W itsiu s d e lin e ia a relação da a lia n ç a das o b ra s co m a
a lian ça da g raça em seu se g u n d o livro. E le d is c u te a a lia n ç a da
g raça o riu n d a da e te rn id a d e , ou, a a lia n ç a da re d e n ç ã o com o
o pactum salutis e n tre D e u s o P ai e D e u s 0 F ilh o (2.2-4). N o
pactum e te rn o , o P ai so lic ito u do F ilh o atos de o b e d iê n c ia
em favor dos eleito s, g a ra n tin d o ao m e sm o te m p o ao F ilh o o
d ire ito de p ro p rie d a d e dos eleito s. E ste “ aco rd o e n tre D e u s e
o M e d ia d o r” p o s sib ilita a a lia n ç a da g raça e n tre D e u s e Seus
eleitos. A a lia n ç a da g raça “ p re s s u p õ e ” a a lia n ç a da g raça d esd e
a e te rn id a d e e “ é b a sead a n e la ” (2.2.1).
A a lia n ç a da re d e n ç ã o estab e lece u o re m é d io de D e u s p a ra
0 p ro b le m a do pecad o . A a lia n ç a da re d e n ç ã o é a re sp o sta à
a lia n ç a d as o b ra s a b -ro g a d a p elo p e c a d o . O F ilh o se o b rig a a
e fe tu a r essa re s p o s ta c u m p r in d o as p ro m e s s a s e c o n d iç õ e s e
so fre n d o as p e n a lid a d e s da a lia n ç a em lu g a r dos eleito s.
E sta a lia n ç a da g raça e fe tu a d a n o te m p o (L iv ro III) é o
c e rn e da o b ra de W itsiu s e c o b re in te ira m e n te 0 c a m p o da
so terio lo g ia. T ra ta n d o da ordo salutis d e n tro da e s tr u tu ra
da a lian ça da graça, W itsiu s assev era q u e as a p re se n ta ç õ e s
a n te rio re s da d o u trin a da a lia n ç a e ra m su p e rio re s às m a is
novas. E le m o s tra co m o a te o lo g ia da a lia n ç a a p ro x im a e u n e
os teólogos, em vez de separá-los.
E m b o ra a “ c o m u n h ã o e s p iritu a l, m ístic a e in te r n a ”
da a lian ça seja e sta b e le c id a d e n tro dos eleito s, h á ta m b é m
u m a e c o n o m ia ou a d m in is tra ç ã o e x te rn a da alian ça . O s q u e
são b a tiz a d o s e e d ific a d o s com os m eios de g raça estã o na
alian ça e x te rn a m e n te , se b e m q u e m u ito s d eles “ n ão estão no
te sta m e n to de D e u s ” , em te rm o s de se re m salvos (3.1.5).
A v o caç ão efic az é o p r im e ir o fru to d a e le iç ã o q u e , p o r su a

960
Herman Witsius

vez, o p e ra a re g e n e ra ç ã o . A re g e n e ra ç ã o é a in fu s ã o d a n o v a
v id a n a p esso a e s p iritu a lm e n te m o rta . A ssim , a in c o rru p tív e l
s e m e n te da P ala v ra é to rn a d a fru tífe ra pelo p o d e r do E sp írito .
W its iu s a rg u m e n to u q u e os c h a m a d o s “ p re p a ra tiv o s ” p ara
a re g e n e ra ç ã o , tais co m o q u e b ra n ta m e n to da v o n ta d e , séria
c o n sid e ra ç ã o da lei e co n v icção do p eca d o , e te m o r do in fe rn o
e o d e se sp e ra r da salvação, são fru to s da reg en e ra ção , e não
dos p re p a ra tiv o s , q u a n d o o E s p írito os usa p a ra c o n d u z ir os
p e c a d o re s a C ris to (3.6.11-15).
O p rim e iro ato d e sta no v a v id a é a fé. P o r sua vez, a fé p ro d u z
v ário s atos: (1) c o n h e c e r C risto , (2) a s s e n tir ao ev an g e lh o , (3)
a m a r a v e rd a d e , (4) te r fo m e e sede de C risto , (5) re c e b e r C risto
p a ra a salvação, (6) re c lin a r-s e so b re C risto , (7) re c e b e r C risto
co m o S e n h o r, e (8) a p ro p ria r-s e das p ro m e ssa s do ev an g elh o .
O s trê s p rim e iro s atos são c h a m a d o s atos p re c e d e n te s ; os
o u tro s trê s, ato s essen c ia is, os dois ú ltim o s , atos su b se q u e n te s.
W its iu s é s o lid a m e n te re fo rm a d o so b re a ju stificaç ão pela
fé s o m e n te . E le fala so b re os eleito s d e c la ra n d o que esses são
ju stific a d o s, n ão so m e n te n a m o rte e re ssu rre iç ã o de C risto ,
m as já n a d ád iv a da p rim e ira p ro m e ssa do ev an g e lh o em
G ê n e sis 3:15. As ap licaçõ es da ju stificaç ão ao c re n te in d iv id u a l
o c o rre m em sua reg e n e ra ç ã o , n o trib u n a l da c o n sc iê n c ia , na
c o m u n h ã o d iá ria com D e u s, após a m o rte , e n o D ia do Juízo.
A sa n tific a ç ã o é a o b ra de D e u s pela q ual o p eca d o r
ju stific a d o é c re s c e n te m e n te “ tra n s fo rm a d o da to rp e z a do
p eca d o à p u re z a da im a g e m d iv in a ” (3.12.11). A m o rtific a ç ã o
e a vivificação m o s tra m a a m p la ex ten sã o da san tificação .
A g raça, a fé e o a m o r são m o tiv o s p a ra o c re sc im e n to em
s a n tid a d e . As m e tas e os m e io s da san tific a ç ã o são ex p licad o s
em d e ta lh e . N ão o b s ta n te , u m a vez q u e os c re n te s n ão alcan çam
a p erfeição n e sta vida, W itsiu s c o n c lu i e x a m in a n d o a d o u trin a
do p e rfe c c io n ism o . D e u s não n o s c o n ce d e perfeição n e sta vida
p o r q u a tro razões: p a ra m o s tra r a d ife re n ç a e n tre te rra e céu,
g u e rra e triu n fo , la b u ta e d e sc a n so ; p a ra n o s e n s in a r p aciên cia,
h u m ild a d e e c o m p a ix ã o ; p a ra n o s e n s in a r q u e a salvação é

961
PAIXAO P E L A PUREZA

so m e n te pela g raça; e p a ra d e m o n s tra r a sa b e d o ria de D e u s


em n o s ap e rfe iç o a r g ra d a tiv a m e n te (3.12.121-124).
D ep o is de e x p lic a r a d o u trin a da p e rse v e ra n ç a , W itsiu s
c o n c lu i o seu te rc e iro liv ro com u m d e ta lh a d o re la to da
g lorificação. A g lo rificaç ão co m eça n e sta v id a com os p rim e iro s
fru to s da graça: a s a n tid a d e , a visão de D e u s a p re e n d id a pela
fé e u m s e n tim e n to e x p e rim e n ta l da b o n d a d e de D e u s, 0
m ise ric o rd io so gozo de D e u s, a p le n a c erteza da fé, e aleg ria
in d e sc ritív e l. A g lo rificaç ão é c o n s u m a d a n a v id a v in d o u ra .
O L iv ro IV a p re s e n ta a te o lo g ia da a lia n ç a sob a p e rs p e c tiv a
da teologia b íb lic a . W its iu s o ferece a lg u n s asp ecto s do q u e
p o s te rio rm e n te seria c h a m a d a de revelação p ro g re ssiv a ,
e n fa tiz a n d o a fé q u e A b raão teve, a n a tu re z a da a lia n ç a
m osaica, o p ap el da lei, os sa c ra m e n to s do V elho T e sta m e n to ,
e as b ên çã o s e os im p e rfe iç õ e s do V elho T e sta m e n to . A lg u m a s
das suas m ais fa sc in a n te s seções tra ta m do D ecálo g o co m o
u m a a lia n ç a n a c io n a l com Isra e l, a n te s q u e u m a a lia n ç a fo rm al,
ou das o b ras, ou da graça, de su a defesa do V elho T e sta m e n to
c o n tra falsas acusações, e de su a ex p licaç ão da a b -ro g açã o da
lei c e rim o n ia l e da relação e n tre a a lia n ç a das o b ra s e a a lian ça
da graça. D e p o is ele ex p lica a relação e n tre os te sta m e n to s
e os s a c ra m e n to s n a era do N o v o T e sta m e n to . E le a p o io u
fo rte m e n te a re sta u ra ç ã o de Israel de aco rd o com R o m a n o s
11:25-27 (4.15.7). E le coloca a lib e rd a d e c ris tã n o c o n te x to
da lib e rd a d e da tira n ia do d ia b o , do p o d e r de d o m ín io e de
c o n d e n a ç ã o do p eca d o , do rig o r da lei, d as leis dos h o m e n s,
das coisas in d ife re n te s , e da m o rte .
E m re su m o , W itsiu s foi u m dos p rim e iro s teó lo g o s e n tre
os da P ó s-R e fo rm a H o la n d e s a a tra ç a r e s tre ito s laços e n tre as
d o u trin a s da eleição e da alian ça . E le visava a co n c ilia ç ã o e n tre
a o rto d o x ia e o fe d e ra lism o , e n q u a n to sa lie n ta v a a te o lo g ia
b íb lic a com o, em si m e sm a , u m e s tu d o a p ro p ria d o .
O s co cceian o s n ão re a g ira m b o n d o s a m e n te aos esforços de
W itsiu s de co n c iliá -lo s com os voecianos. E les o a c u sa ra m de
e s te n d e r a a lia n ç a da graça ao p assad o , in d o até à e te rn id a d e ,

962
Herman IVitsius

a ju d a n d o assim os re fo rm a d o s o rto d o x o s a n e g a re m o p rin c ip io


c o cc eian o do d e s e n v o lv im e n to h is tó ric o da red en ção .
A o b ra de W itsiu s so b re a te o lo g ia da a lia n ç a to rn o u -se
u rna o b ra p a d rã o n a H o la n d a , n a E sco cia, na In g la te rra e na
N o v a In g la te rra . E m to d a a sua o b ra , ele sa lie n ta v a q u e o lem a,
“ a Ig re ja re fo rm a d a p re c isa e sta r se n d o s e m p re re fo rm a d a ”
(ecclesia reformata, semper reformando), d ev eria ser aplicad o
à v id a da Ig reja , n ão à d o u trin a , d esd e q u e a d o u trin a da
R e fo rm a e ra v e rd a d e fu n d a m e n ta l. Sua ênfase era a que se
d e v e e x p e r im e n ta r a re a lid a d e d a a lia n ç a c o m D e u s p e la fé
e à n e c e s s id a d e d e u m v iv e r p ie d o so e p re c iso .

The Lord’s Prayer (P & R ; 420 p á g in a s; 1994). C o m o foi com


a o b ra de W itsiu s so b re o C re d o dos A p ó sto lo s, assim ta m b é m
o liv ro Sacred Dissertations on the Lord’s Prayer b aseo u -se em
p rele ç õ e s feitas p a ra os seus a lu n o s de teologia. C om o tal, é um
ta n to d e n sa , com as p alav ras h e b ra ic a s e gregas que tra z , m as a
tra d u ç ã o de P rin g le in c lu i u m a versão das p alav ras das lín g u as
o rig in a is p a ra o inglês.
The Lord’s Prayer c o n té m m ais do q u e seu títu lo revela.
E m seu p re fá c io de u m a exp o sição de 230 p á g in a s da O ração
do S e n h o r, W itsiu s d e d ic o u 150 p á g in a s ao te m a da oração.
“ P rim e iro , p a ra e x p lic a r o q u e é o raçã o ; d ep o is, em que
c o n siste n o ssa o b rig aç ão de o ra r; e p o r ú ltim o , de q u e m o d o se
deve o r a r ” . E m b o ra p a rte s dessa in tro d u ç ã o p are ç a m u m ta n to
u ltra p a s sa d a s (p rin c ip a lm e n te o c a p ítu lo 4), g ra n d e p a rte do
liv ro é p rá tic o e p e n e tra n te . P o r e x em p lo , a d isse rta ç ã o de
W itsiu s “ S obre a P re p a ra ç ã o da M e n te p a ra O ra r B em ” c o n té m
valiosa o rie n ta ç ã o so b re u m a s s u n to ra ra m e n te c o n sid e ra d o
h o je em dia.
E m to d a essa in tro d u ç ã o , W itsiu s estab e lece u que a oração
g e n u ín a é 0 p u lso da alm a ren o v ad a . A c o n s tâ n c ia do seu
b a tim e n to é o m e lh o r te ste da v ida e sp iritu a l.
A exp o sição q u e W itsiu s faz das p etiçõ es in d iv id u a is da
O ração do S e n h o r é u m a o b ra -p rim a . E m m u ito s casos, as

963
PAIXAO PHLA PU R EZA

p e rg u n ta s rec e b e m m a io r in s tru ç ã o da p e n a de W itsiu s do q u e


de q u a lq u e r o u tro até hoje. P o r ex em p lo , o n d e m a is se p o d e
e n c o n tra r tal d is c e rn im e n to so b re se o c re n te novo e o n ão
re g e n e ra d o p o d e u sa r o n o m e P ai ao d irig ir-s e a D e u s (pp.
168-170)?
W itsiu s sa lie n ta v a q u e aq u eles q u e d esejam q u e D e u s os o u ça
q u a n d o eles o ra m , d ev em o u v i-lo e s e r-lh e o b e d ie n te s q u a n d o
E le fala. É p re c iso e n g a ja r-n o s n o tra b a lh o e n a oração. O ra r
sem ag ir é z o m b a r de D e u s; a g ir sem o ra r é p riv a r D e u s de
Sua glória.

On the Character of a True Theologian (R A P; 59 p á g in a s;


1994). E ste e n saio de 1665 foi a fam o sa au la in a u g u ra l de
W itsiu s em F ra n e k e r. A Ig re ja L iv re da E scocia v a lo riz o u tão
fo rte m e n te este d isc u rso q u e d is tr ib u iu g ra tu ita m e n te q u ase
m il copias a seus a lu n o s de te o lo g ia em 1856.

On the Character of a True Theologian é u m a o b ra -p rim a


que ex em p lific a o d ita d o do p ró p rio W itsiu s: “ Só é teólogo
de v e rd a d e a q u ele q u e a c re sc e n ta u m a p a rte p rá tic a à p a rte
te ó ric a da re lig iã o ” . C o m o to d o s os e sc rito s de W itsiu s, este
d isc u rso m escla in te le c to p ro fu n d o com p aix ão e s p iritu a l.
T odos os m in is tro s e to d o s os m e stre s e e s tu d a n te s de te o lo g ia
farão b e m em e x a m in á -lo em p ro fu n d id a d e , com o raçã o e
re p e tid a m e n te .

964
APÊNDICE 4
Fontes Secundárias sobre os Puritanos
“N ossos liv ro s p o d e m ser v isto s o n d e n ó s ja m ais se rem o s
o u v id o s. E les p o d e m p re g a r o n d e o a u to r n ã o p o d e , e (o q u e
é m e lh o r) q u a n d o ele está a u s e n te .” E sta p re d iç ã o feita p o r
u m dos g ra n d e s p u rita n o s já se c u m p riu m u ita s vezes. U m
ím p io clérig o galês, faze n d o c o m p ra s n u m a feira n o século
d ezo ito , c o m p ro u u m a rtig o q u e p o r acaso foi e m b ru lh a d o
com u m a p á g in a rasg ad a de u m v elh o in fo lio p u rita n o . A
le itu ra d a q u e la p á g in a lev o u à real co n v e rsã o d a q u e le h o m e m .
C om o disse L u te ro : “ sa ta n á s o d eia o uso de p e n a s ” , e n u n c a
h o u v e p e n a s m a is p o d e ro sa s a serv iço da causa de D e u s do
que as q u e fo ram u tiliz a d a s p elo s te ólogos p u rita n o s do sécu lo
dezessete. T am p o u co seus liv ro s so b re v iv e ra m à su a u tilid a d e .
E m b o ra os v o lu m es o rig in a is e stejam d esg a sta d o s com a id a d e ,
as v erd a d e s q u e n eles se a ch a m são tão n ovas co m o os n o vos
fo rm ato s n o s q u ais eles estão se n d o d iv u lg a d o s a tu a lm e n te .

- J o h n B re n tn a ll

966
Fontes Secundárias sobre os Puritanos

Devido ao espaço, somente um limitado número defontes secundárias


sobre os puritanos e sobre o puritanismo, publicadas nos últimos
vinte anos, são aqui incluídas, seguindo a ordem alfabética por
sobrenome do autor. Para uma lista mais completa de livros escritos
sobre os puritanos, ver a bibliografia nas páginas 1007-1065.

Assurance of Faith: Calvin, English Puritanism and the


Dutch Second Reformation, p o r Jo el R. B eeke (P L ; 508
p á g in a s; 1991); re v is to e a tu a liz a d o c o m o The Quest for Full
Assurance of Faith: The Legacy of Calvin and His Sucessors (B T T ;
477 p á g in a s; 2003). F ace ao q u e n o s d e ix a ra m os re fo rm a d o re s
m a g is tra is , este liv ro e x a m in a o d e s e n v o lv im e n to teológico
da c e rte z a pesso al da fé de 1600 a 1760 no p u rita n is m o
in g lê s e em seu m o v im e n to p a ra le lo n a H o la n d a . E stu d o s
de W illia m P e rk in s e de W illia m T ee llin ck , da C on fissão de
W e s tm in s te r, de J o h n O w e n , A le x a n d e r C o m rie e T h o m a s
G o o d w in , d e m o n s tra m q u e as d ife re n ç a s e n tre C alv in o e os
p u rita n o s in g leses so b re a c e rte z a s u rg ira m p rin c ip a lm e n te
do re sp e c tiv o c o n te x to p a sto ra l, a n te s q u e de v ariações na
d o u trin a . A b ib lio g ra fia lista u n s m il e q u in h e n to s títu lo s.

A Short History of the Westminster Assembly, p o r W illiam


B ev erid g e, e d ita d a p o r J. L ig ó n D u n c a n III (R A P; 157
p á g in a s; 1993). E sta b rev e e p o p u la r h is to ria da A ssem b leia
d e W e s tm in s te r (1643-1649) é u m a rev isão d a o b ra o rig in a l,
d e 1904. Vem an ex a u m a p ro v e ito sa b ib lio g ra fía an o ta d a .

The Everyday Work of the Westminster Assembly, p o r S am uel


W illia m C a rru th e rs , e d ita d o p o r J. L ig ó n D u n c a n III (R A P;

967
PAIXAO P E L A PUREZA

284 p á g in a s; 1994). A p esar da o c u p a d a v id a de m é d ic o e


p re s b íte ro da Ig re ja P re s b ite ria n a da In g la te rra , C a rru th e rs
firm o u -se co m o o p rin c ip a l e ru d ito so b re a A sse m b lé ia de
W e stm in ster. E le p u b lic o u a edição p a d rã o da C o n fissão de
F é de W e stm in ste r, em 1937, e a seg u iu em 1943 co m este
e stu d o q u e a b o rd a u m asp ecto da A sse m b lé ia n ão tra ta d o
a d e q u a d a m e n te p o r n in g u é m m ais. C a rru th e rs in fo rm a q u e
a sua p e sq u isa te m p o r o b je tiv o re la ta r “de m o d o in te rlig a d o
as m u ita s o cu p açõ es d iá rias... q u e p re e n c h ia m g ra n d e p a rte
do te m p o dos teólogos, e q u e a te sta v a m e m a n ife s ta v a m su a
sa b e d o ria p rá tic a , b e m co m o as suas lim ita ç õ e s e fra q u e z a s” .

John Bunyan on the Order of Salvation, o b ra de P ie te r


D eV ries, tra d u z id a p a ra o in g lês p o r C. van H a a h fte n (P L ;
234 p á g in a s; 1994). E ste é u m e x c e le n te e s tu d o da so te rio lo g ia
de B u n y an . O liv ro faz ju stiç a às ên fases e x p e rim e n ta is de
B u n y an .

John Owen on the Christian Life, p o r S in c la ir B. F e rg u s o n


(B T T ; 300 p á g in a s; 1987). E ste liv ro expõe os e n s in o s de O w en
so b re o p la n o de salvação, a san tificaç ão , a c o m u n h ã o com D e u s,
a certeza da salvação, o c o n flito com o pecad o , a c o m u n h ã o dos
san to s, a in sp ira ç ã o e a a u to rid a d e das E s c ritu ra s , 0 m in is té rio ,
os sa c ra m e n to s, a oração, a ap o stasia, e a p ersev eran ç a. U m
c a p ítu lo in tro d u tó rio re su m e a v id a de O w en. E sta d isse rta ç ã o
d o u to ra i rev ista, de le itu ra a lta m e n te p ro v e ito sa , vem re c h e a d a
de percepções q u a n to à sa n tificaç ão pessoal e ao m in is té rio
pastoral. Serve com o c o m p a n h e iro ideal p a ra a le itu ra dos
volum osos escrito s de O w en. F e rg u so n escreve: “A in te n ç ã o
é que, em p a rte , seja um “ G u ia do L e ito r p a ra J o h n O w e n ”,
p ro v e n d o u m a e s tru tu ra ç ã o p a ra suas o b ras e u m a ex cu rsão
d irig id a p o r g ra n d e p a rte do seu e n s in o ” (p. xi).

Jonathan Edwards, Evangelist, p o r J o h n G e rs tn e r (S D G ;


192 p ág in a s; 1995). E sta b ro c h u ra , a n te rio rm e n te p u b lic a d a

968
Fontes Secundárias sobre os Puritanos

co m o Steps to Salvation: The Evangelistic Message of Jonathan


Edwards (1960), é u m e s tu d o c o m p le to so b re co m o o p lan o
de salvação era e n s in a d o nos serm õ es de J o n a th a n E dw ards.
A o b ra in c lu i c a p ítu lo s so b re co n v icção de p eca d o , b usca da
salvação, a p o stasia, reg e n e ra ç ã o , ju stificaç ão p ela fé, certeza,
e a alian ça . G e rs tn e r foi u m a p e rsp ic a z a u to rid a d e so b re os
serm õ es de E d w ard s.

The Puritans in America: A Narrative Anthology, o b ra e d ita d a


p o r A lan H e im e rt e A n d re w D e lb a n c o (H a rv a rd ; 438 p ág in a s;
1985). E ste s d o c u m e n to s o riu n d o s do p u rita n is m o a m e ric a n o
p rim itiv o c o b re m as m u d a n ç a s o c o rrid a s no p e n s a m e n to
p u rita n o n a N o v a In g la te rra . U m a in tro d u ç ã o geral d escrev e 0
m e io a m b ie n te p u rita n o , e in tro d u ç õ e s m ais b rev es prefaciam
as seis d iv isõ e s da coleção: M ira g e n s, A M ig raçã o , C id ad e
so b re o M o n te , O , N o v a In g la te rra !, C h e g a n d o à M a tu rid a d e ,
e A D is p e rs ã o do E stilo da N o v a In g la te rra . T rin ta e o ito
e s c rito re s são re tra ta d o s , in c lu in d o C o tto n , B rad fo rd ,
B ra d s tre e t, W in th ro p , T aylor c os M ath er. O te s te m u n h o de
A n n e H u tc h in s o n e d o c u m e n to s re la c io n a d o s com a crise da
b ru x a ria ta m b é m estão in c lu íd o s. E ste s tra b a lh o s , vário s dos
q u a is são p u b lic a d o s a q u i p ela p rim e ira vez, fo ram a tu aliz ad o s
n a g rafia e na p o n tu a ç ã o .
E ste liv ro m o s tra q u e o p u rita n is m o c o n tin u a sen d o
re s is te n te a categ o riza çõ es, q u e r feitas p o r P e rry M ille r ou
C h ris to p h e r H ill, q u e r p o r M ax W eber. C o m o an to lo g ia ,
esta o b ra a p re s e n ta a beleza e o p o d e r da lite ra tu ra p u rita n a .
E sp e c ia lm e n te d ig n o de a te n ç ã o é 0 liv ro de J o h n C o tto n ,
Christ the Fountain of Life (c. 1628), n o q u al C o tto n a rg u m e n ta
d iz e n d o q u e , a ssim co m o a ág u a a m e n iz a o calor, assim
ta m b é m o a m o r a b ra n d a corações g élid o s e d u ro s (p. 31).

History of the WestminsterAssembly of Divines, p o r W illiam H .


H e th e r in g to n , (S W R B ; 325 p á g in a s; 1993). E sta re im p re ssã o
da e d ição de 1843 c o n tin u a se n d o o re la to h is tó ric o m ais

969
PAIXAO P E L A PU R EZA

p o p u la r da A ssem b leia de W e stm in ste r. A b ra n g e n d o o


p e río d o de 1531 a 1662, H e th e r in g to n ex p lica m a g is tra lm e n te
o q u e levou à re u n iã o d e ste c o rp o de teólogos. E le d e ta lh a os
d eb ates e as reso lu çõ e s q u e c u lm in a ra m na C o n fissão de F é,
o B reve C atecism o e 0 C atecism o M a io r d e W e stm in ste r, e
o u tro s d o c u m e n to s p e rtin e n te s . T am b ém in c lu íd o s estão seis
valiosos a p ê n d ic e s e u m c a p ítu lo so b re p ro d u ç õ e s te o ló g ica s
da A ssem b leia de W estm in ste r.

Quem Foram os Puritanos?, p o r E rro ll H u ls e (P E S ; 220


p á g in a s; 2004). A s d u as p rim e ira s p a rte s d e ste liv ro so b re as
vidas dos p u rita n o s são u m a ex c e le n te in tro d u ç ã o ao e s tu d o
dos p rin c ip a is v u lto s e sua ob ra. A te rc e ira p a rte , in titu la d a ,
“A ju d a P ro v e n ie n te dos P u rita n o s ), será de in te re s se p r in c ip a l­
m e n te p a ra os q u e estão m a is a v a n ç a d o s n o s e s tu d o s p u ri-
ta ñ o s. Isso é p a rtic u la rm e n te g a ra n tid o q u a n to aos c a p ítu lo s
so b re e x p e riê n c ia e s p iritu a l e s o b re a g a ra n tia e o c a m in h o
d a fé.

The Devoted Life: An Invitation to the Puritan Classics,


o b ra e d ita d a p o r K elly M . K a p ic e R a n d a ll C. G leaso n (IV P ;
318 p ág in a s; 2004). E sta coleção de e n sa io s e ex ce rto s p ro v ê
u m a d e ta lh a d a e in trig a n te in tro d u ç ã o a a lg u n s dos m a io re s
clássicos da lite ra tu ra p u rita n a . E m se g u id a à in tro d u ç ã o ,
q ue p ro v ê u m ú til su m á rio da essên cia do p u rita n is m o , o
liv ro c o n té m d e z o ito c a p ítu lo s q u e a n a lisa m v ária s o b ra s
p u rita n a s , e u m posfácio c o n c e rn e n te à re n o v aç ão e s p iritu a l.
U m a a m o stra g e m dos c a p ítu lo s in c lu íd o s a p o n ta : “ T h e A rt
o f P ro p h e s y in g , p o r W illia m P e rk in s ”, (P a u l S ch aefer), “ T h e
M arro w o f T h eo lo g y , de W illia m A m es” (Joel R. B eeke & Ja n
van V liet), “O f th e O b je c t a n d A cts o f J u s tify in g F a ith , p o r
T h o m a s G o o d w in ” (M ic h a e l S. H o rto n ), “ P ilg rim ’s P ro g re ss,
p o r Jo ão B u n y a n ” (J. I. P a c k e r), “ T h e M y ste ry o f P ro v id e n c e ,
p o r J o h n F la v e l” (S in c la ir B. F e rg u so n ) e “ T h e P o e try o f A n n
B ra d stre e t a n d E d w a rd T a y lo r” (M a rk N oll).

970
Fontes Secundárias sobre os Puritanos

The Grace of Law: A Study in Puntan Theology, p o r E rn e st


F. K e v an (S D G ; 294 p á g in a s; 1993). K ev an , e x -d ire to r do
L o n d o n B ib le C ollege, s u p re -n o s de u m b e m d o c u m e n ta d o
e s tu d o so b re a te o lo g ia p u rita n a da L ei. E le n o s ap re se n ta
ta m b é m m u ito s p u rita n o s re la tiv a m e n te d esco n h ec id o s.
C a p ítu lo s n o tá v e is são “ T h e L aw o f G od fo r M a n ”, “ T h e
L aw a n d S in ” , “ T h e P lac e o f L aw in th e P u rp o se o f G o d ” ,
“ T h e C o n tin u a n c e o f M o ra l o b lig a tio n ”, “ T h e C h ris tia n
L a w -K e e p in g ” , e “C h ris tia n F re e d o m ” . O s c a p ítu lo s 3 e 4 sào
in e stim á v e is so b re o lu g a r da L e í n o s p ro p ó s ito s de D e u s e
do fim da L e i na ju stiç a de C risto . E ste é u m ex c e le n te livro
p a ra a ju d a r o le ito r a o b te r u m a c la ra c o m p re e n s ã o b íb lic a
d a r e la ç ã o e n t r e a L e i e e v a n g e lh o , c o m is s o e v i ta n d o
t a n t o o le g alism o co m o o a n tin o m is m o . K ev an com su cesso
a r g u m e n ta q u e a L e i d e D e u s e a g ra ç a d e D e u s n ã o são
in im ig a s , m a s a lia d a s em seu o b je tiv o c o m u m de le v ar
p e c a d o re s à fé e ao a rre p e n d im e n to , aos pés de C risto .

A Spectacle unto God: The Life and Death of Christopher


Love, p o r D o n K is tle r (S D G ; 212 p á g in a s ; 1994). E s te é u m
re la to b io g rá fic o b e m e s c rito e e s tim u la n te s o b re o g ra n d e
te ó lo g o d o p u r ita n is m o e d a A ss e m b lé ia d e W e s tm in s te r,
q u e foi e x e c u ta d o p ela s fo rças d e C ro m w e ll p o r su a le a l­
d a d e a C h a rle s II. A o b ra c o n té m n u m e ro s a s c a rta s q u e L o v e
e sc re v e u p a ra su a m u lh e r e p a ra o u tro s . E la a b re 0 n o sso
a p e tite p elo s e s c rito s d e L o v e.

The Genius of Puritanism, p o r P e te r L ew is (S D G ; 200


p á g in a s; 1996). E s te liv ro é u m a e x c e le n te in tro d u ç ã o aos
p u r ita n o s , aos seu s e sc rito s e à su a o b ra p a sto ra l. E x a m in a
os p u r ita n o s co m o p a s to re s , c o n s e lh e iro s e teó lo g o s, com o
ta m b é m em su as v id a p a rtic u la re s . A seção s o b re d ep ressão
e s p iritu a l é d e ta lh a d a e p ro v e ito sa .

971
PAIXAO PHLA PURKZA

O s Puritanos: Suas Origens e Seus Successores, p o r M a rty n


L lo y d -Jo n e s (P E S ; 432 p á g in a s; 1993). E ste liv ro re ú n e
p ale stra s feitas p o r L lo y d -Jo n e s nas C o n fe rê n c ia s P u r ita n a e
W e s tm in s te r e n tre 1959 e 1978. C o m o J. I. P a c k e r o b se rv o u ,
“ E stes e stu d o s tê m v alo r p rá tic o p o rq u e a a b o rd a g e m dos
p u rita n o s é feita com trê s p e rg u n ta s im p o rta n te s em m e n te :
q u e é q u e eles e n s in a ra m e fiz e ra m ? Seu e n s in o e ra b íb lic o ?
E , q u e é q u e p o d e m o s a p r e n d e r d e le s p a ra a n o s s a v id a e
p a ra o n o s so te s te m u n h o h o je ? ”

Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of


Divines, p o r A. E. M itc h e ll e p o r J o h n S tru th e rs (S W R B ;
650 p á g in a s; 1991). B. B. W arfield c o rre ta m e n te d escrev e
este re c u rso com o “ a a u to rid a d e fu n d a m e n ta l p a ra o e s tu d o
dos tra b a lh o s d a A sse m b le ia ” . A o b ra in c lu i n o ta s e ín d ic e s
so b re o D ir e tó r io p a ra G o v e rn o d a Ig re ja , a C o n fissã o d e F é
o B re v e C a te c is m o e o C a te c is m o M a io r d e W e s tm in s te r,
c o m o ta m b é m u m a in tro d u ç ã o de o ite n ta e seis p ág in as.

The Puritan Hope, p o r Ia in , H . M u rra y (B T T ; 325 p á g in a s;


1998). E ste e s tu d o so b re a v iv a m e n to e so b re a in te rp re ta ç ã o
de p ro fecia p o r m eio dos o lh o s p u rita n o s n a In g la te rra e na
E scócia n o s sécu lo s deze ssete e d e z o ito a rg u m e n ta em p ro l da
esp era n ç a de um a v iv a m e n to m u n d ia l a n te s da S e g u n d a V in d a
de C risto . E sta e sp e ra n ç a p u rita n a en v o lv e a m p la c o n v e rsã o
dos ju d e u s b e m co m o de m u ltid õ e s de g e n tio s pela p reg aç ão
do e v an g e lh o e pelo m in is té rio salvífico do E s p írito .

The Holy Spirit in Puritan Faith and Experience, p o r G eo ffrey


F. N u tta ll (U C ; 222 p á g in a s; 1992). E sta o b ra p a d rã o , p u b lic a d a
pela p rim e ira vez em 1946, ex p lica o c o n c e ito p u r ita n o so b re a
o b ra sa lv a d o ra do E s p írito S an to n as v id a s dos c re n te s. In c lu i
c a p ítu lo s so b re a relação do E s p írito com a P a la v ra e co m a
oração, 0 te s te m u n h o e a lib e rd a d e do E s p írito , e a v id a e a
c o m u n h ã o do E s p írito . N u tta ll p ro c u ra d e m o n s tra r a u n id a d e

972
Ponies Secundárias sobre os Puritanos

d a tra d iç ã o re fo rm a d a , às vezes c h e g a n d o até a tra d iç ã o


q u a e re . N ão o b s ta n te , h á n e s te v o lu m e m u ito m a te ria l valioso
q u e n ã o se e n c o n tra em n e n h u m o u tro lugar.

John Owen: The Man and His Theology, e d ita d o p o r R o b e rt


O liv e r (B T T ; 190 p á g in a s; 2002). E ste liv ro c o n siste de
p ro v e ito so s en saio s lid o s n a c o n fe rê n c ia do T h e J o h n O w en
C e n tre for T h e o lo g ic a l S tu d y em s e te m b ro de 2000, e in c lu i
u m re la to da v id a e dos te m p o s de J o h n O w en (e d ito r), O w en
co m o te ó lo g o (C arl R. T ru e m a n ), O w en so b re a Pessoa de
C ris to e so b re o E s p írito S an to (S in c la ir B. F e rg u so n ), O w en
s o b re a Ig re ja (G ra h a m S. H a r r is o n ) , e O w e n c o n f r o n ta n d o
o desafio d o s q u aere s (M ich ae l A. G. H a y k in ).

Entre os Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida


Cristã, p o r Ja m e s I. P a c k e r (F ie l; 389 p á g in a s; 1996). N esta
o b ra , P a c k e r “ põe às claras os te so u ro s o c u lto s da vida e
do p e n s a m e n to p u rita n o ... re v e la n d o a p ro fu n d id a d e e a
a m p litu d e da v id a e s p iritu a l p u rita n a , c o n tra s ta n d o com
a s u p e rfic ia lid a d e ” do nosso te m p o . M u ito s c a p ítu lo s são
p a le stra s feitas nas C o n fe rê n c ia s de E s tu d o s P u rita n o s e
R e fo rm a d o s, n a C apela de W e stm in ste r, em L o n d re s . V árias
p a le s tr a s fo c a liz a m u m o u o u tr o a s p e c to d a te o lo g ia d e
J o h n O w en . “O T e s te m u n h o do E s p írito no P e n sa m e n to
P u r ita n o ” é p a rtic u la rm e n te valioso.

Puntan Papers, o b ra e d ita d a p o r Ja m e s I. P a c k e r (P & R; 5


v o lu m e s, 250-320 p á g in a s cad a ; 2000-2005). E ste s v olum es
fo rm a m u m a a tra tiv a re im p re ssã o de s e te n ta e seis ensaios
lid o s n as C o n fe rê n c ia s P u rita n a s e R e fo rm a d as, realizad as
a n u a a lm e n te n a C apela de W e stm in ste r, L o n d re s , de 1956­
1969, to d o s os q u a is e d ita d o s p o r P acker. São id e ais p a ra os
q u e fo ram in tro d u z id o s re c e n te m e n te aos p u rita n o s e q u e re m
e s tim u la r seu a p e tite p a ra le re m p e sso a lm e n te os p u rita n o s .
N e n h u m a c o n fe rê n c ia foi re alizad a em 1970. R e u n id a

973
PAIXAO P E L A PU R EZA

n o v a m e n te co m o C o n fe rê n c ia W e s tm in s te r em 1971 sob a
lid e ra n ç a do D r. M a rty n L lo y d -Jo n e s, os en saio s, de 1971 até
hoje, tê m sid o re im p re sso s em b ro c h u ra s a n u a is de cerca de
cem p ág in a s cad a p o r T e n tm a k e r P u b lic a tio n s . J u n to s fo rm a m
u m p recio so recu rso .

Santos no Mundo: Os Puritanos como Eles Realmente Eram,


p o r L e la n d R y k en (F ie l; 288 p á g in a s; 1992). N e sta o b ra , R y k en
c u m p re seu tríp lic e p ro p ó s ito : “ (1) c o rrig ir u m e n te n d im e n to
e rrô n e o q u ase u n iv e rs a l d a q u ilo q u e os p u rita n o s re a lm e n te
re p re s e n ta ra m , (2) r e u n ir n u m a c o n v e n ie n te s ín te se o m e lh o r
que os p u rita n o s p e n s a ra m e d isse ra m so b re tó p ic o s seleto s,
e (3) re c u p e ra r a sa b e d o ria c ris tã dos p u rita n o s p a ra h o je ” .
E le não s o m e n te c o b re tó p ico s re lig io so s co m o o c o n c e ito
p u rita n o so b re a B íb lia, a Ig re ja , a p reg aç ão e o c u lto , m as
ta m b é m e x a m in a a fu n d o as a titu d e s p u rita n a s p a ra com o
tra b a lh o , o c a sa m e n to , o sexo, o d in h e iro , a fa m ília , a ed u ca ção
e a ação social. O s c a p ítu lo s q u e c o n c lu e m a o b ra fo calizam
as p rin c ip a is forças e fraq u eza s dos p u rita n o s . E ste é u m liv ro
p a ra se r lid o co m in tu ito d e a d q u ir ir u m a v isão p a n o râ m ic a
e a c u ra d a d o s p u rita n o s .

The Westminster Assembly and Its Work, liv ro de B e n ja m in B.


W arfield (S W R B ; 400 p á g in a s; 1991). E ste s seis a rtig o s so b re
a A ssem b leia de W e s tm in s te r fo ram e sc rito s p o r u m teó lo g o
de P rin c e to n a lta m e n te e s tim a d o , q u e se m a n te v e n a tra d iç ã o
de A rc h ib a ld A le x a n d e r e C h a rle s H o d g e. O s c a p ítu lo s q u e
tra ta m da in sp ira ç ã o das E s c ritu ra s , do d e c re to a b s o lu ta m e n te
so b e ra n o de D e u s e do E s p írito S a n to são e s p e c ia lm e n te
rele v a n te s p a ra hoje.

974
APÊNDICE 5
“A Grande Tradição” : Uma Palavra
final sobre o Puritanismo e sobre a
nossa necessidade atual

J. I. Packer nos ajuda com pertinentes palavras de conclusão


sobre o puritanismo e a nossa necessidade atual, aqui rennpressas
com permissão, extraídas do capítulo “The Great Tradition“, em
sua obra F a ith fu ln e s s a n d P lo lin ess ( Wheaton, Illinois: Crosway,
2002), páginas 81,82:

“Já faz ag o ra m a is de m e io sécu lo q u e co m ecei a d is c e rn ir


no d e se n v o lv id o p u rita n is m o h is tó ric o u m a d e fin itiv a
in c o rp o ra ç ã o do c ris tia n is m o do N o v o T estam en to . Por
p u rita n is m o h is tó ric o re firo -m e a um m o v im e n to pró-
-c o m u n id a d e b a se a d o na B íb lia, c e n tra liz a d o em C risto ,
c o n v e rs io n ista , d e v o c io n a l, focado n a Ig reja , q u e com eçou
a to m a r fo rm a com os e liz a b e ta n o s G re e h a m , P e rk in s e
R ic h a rd R og ers e q u e e fe tiv a m e n te te rm in o u com B axter,
H o w e e H e n ry , q u e v ira m os S tu a rt fora e a to le râ n c ia d e n tro ,
m o v im e n to q u e p ro d u z iu v u lto s co m o S ib b es, O w en e B u n y an
na a n tig a In g la te rra e T h o m a s H o o k e r, In c re a se e C o tto n
M a th e r, e fin a lm e n te J o n a th a n E d w a rd s, n a N o v a In g la te rra .
Pela ex p ressão , d e fin itiv a in c o rp o ra ç ã o do c ris tia n is m o do
N o v o T e sta m e n to , re firo -m e a u m co rp o de cren ç as e a um
e stilo de v id a q u e c o m b in a v a m , em g ra n d e escala, a re a lid a d e
o b je tiv a tr in itá ria dos P ais {da Igreja} o c o n h e c im e n to de si
m e sm o e do p ecad o ex p o sto p o r A g o stin h o , o c o n h e c im e n to
de C risto , da c ru z e da ju stificaç ão p ela fé q u e os re fo rm a d o re s
m a g is tra is tin h a m e c o m p a rtilh a ra m , e a p aix ão c ristã

977
PAIXAO PK LA PU R EZA

ilim ita d a p e la g lo ria d e D e u s n a v id a d e a d o ra ç ã o d a Ig re ja ,


co m a p erce p ção n a reg e n e ra ç ã o , n a sa n tific a ç ã o e n a v id a
in te rio r de si m e sm o s, q u e foi a c o n trib u iç ã o d is tin tiv a dos
p u rita n o s . R e firo -m e a u m co rp o de c re n ç a s e a u m e stilo
de v id a q u e fo ram in te n s a m e n te p rá tic o s , e x p e rim e n ta is ,
c o n scie n cio so s, d e te rm in a d o s , v ig o ro so s, e sp e ra n ç o so s, a r ­
d u a m e n te ativ o s n o tra b a lh o e v is io n á rio s em sua lu ta p a ra
a lc a n ç a r e m a n te r a s a n tid a d e em to d a s as c irc u n s tâ n c ia s ,
em to d o s as área s da v id a , em to d a s as c o n d iç õ e s, rela çõ es e
a tiv id a d e s p esso ais da v id a , e p a ra e sta b e le c e r tal s a n tid a d e
em to d a p a rte n a In g la te rra e em G ales (a E scó cia e a Irla n d a
tin h a m seus p ró p rio s m o v im e n to s p a ra le lo s), e ta m b é m além
da G rã -B re ta n h a , p o r to d o s os m eios d isp o n ív e is. M in h a
a d m ira ç ã o p e la re tid ã o e riq u e z a do c r is tia n is m o p u r ita n o
foi g ra n d e d esd e 0 in íc io , e só te m a u m e n ta d o com 0 p a ssa r
dos anos.
V endo n e ste ideal p u rita n o , e nas vidas p u rita n a s
in d iv id u a is q u e te n h o e s tu d a d o , a m a is c o m p le ta , p ro fu n d a
e m a g n ifíc e n te realizaç ão da relig iã o b íb lic a q u e o m u n d o já
c o n h e c e u , e c o n c e itu a n d o o p ie tis m o lu te ra n o a lem ão e os
m o v im e n to s ev an g é lic o s de lín g u a in g lesa dos sécu lo s d e z o ito
e d eze n o v e co m o eles p ró p rio s se c o n c e itu a v a m - a saber,
com o p a rc ia is e in c o m p le ta s c o n c re tiz a ç õ e s da visão p u rita n a
da p ie d a d e - só p u d e s o lta r d o is g rito s de aclam a ção àq u elas
n u m e ro sa s e re c e n te s ex p lo ra çõ es da h e ra n ç a e v an g é lic a q u e
tra ta m a relig ião ev an g é lic a com o c o m e ç a n d o n o sécu lo d ezo ito .
A v e rd a d e é q u e o assim c h a m a d o “e v a n g e lic a lis m o ” , o n te m
e hoje, deve ser v isto co m o a c o n tin u a ç ã o do p u rita n is m o ,
m as c o n s ta n te m e n te c o n s tra n g id o - in te le c tu a l, c u ltu ra l,
h u m a n ís tic a , e sté tic a , re la c io n a lm e n te - p elas p ressõ es e
p e rsp e c tiv a s se c u la riz a d o ra s do m u n d o p ro te s ta n te , de m o d o
q u e cada vez m ais p ro d u z p ig m e u s, e n ão g ig a n tes. É pelos
p a d rõ e s p u rita n o s q u e a n o ssa e s ta tu ra deve ser m e d id a , e
d e t e c ta d o s o s n o s s o s d e f e ito s , p o is a q u e le s p a d r õ e s sã o
o s d a B íb lia . O s p io n e ir o s d o A v iv a m e n to E v a n g é lic o n a

978
“A Grande Tradição”:...

G r ã - B r e ta n h a e do G ra n d e D e s p e rta m e n to n a N o v a In g la te rra
sa b ia m d isso m u ito b em , e lia m , p e n sa v a m , o rav am , falavam
e ag iam de ac o rd o com esse e n te n d im e n to . O fato de os
e v an g é lic o s a tu a is e s ta re m tão g ra n d e m e n te d e sco n ec tad o s
co m su a p r ó p r ia h is tó r ia , e a ssim n ã o p o d e re m d is c e rn ir
q u ã o p e q u e n o s , á rid o s, le v ia n o s, su p e rfic ia is e in fa n tis eles
são, c o m p a ra d o s com aq u eles de q u e m a ssu m e m esse n o m e , é
u m d o s m a is b e r r a n t e s d o s n o s s o s a t u a is d e f e ito s , q u a n to
m a is se c o n tin u a re m c o n s ta n te m e n te a serem sem seq u er
n o ta d o s ” .

Como autores de Paixão pela Pureza: Conheça os Puritanos,


nossa oração é no sentido de que 0 Espírito Santo abençoe este
livro para habilitar-nos, a todos nós, a notar a diferença entre a
era puritana e a nossa própria época, como também a nos levar
ao arrependimento e ao retorno ao Senhor, e a nos deixarmos
alimentar e renovar pelos gigantes puritanos que viveram antes
de nós. Soli D eo G lória!

979
Glossário de Termos, Expressões e
Eventos Presentes neste Guia
Ray B. Banning

A b re v ia tu ra s:
I.I. = Ig re ja da In g la te rra ; I.E . = Ig reja da E scocia;
q.v. = la tim : quod vide, “ v er isso ” .

Abjuration Oath { J u ra m e n to de R e n ú n c ia ou A bjuração}:


ju ra m e n to feito p o r m e m b ro s do p a rla m e n to , do clero e
p o r leigos, a b ju ra n d o ou re n u n c ia n d o o d ire ito da Casa
dos S tu a rt ao tro n o b ritâ n ic o .

Act of Toleration {A to de T o lerân cia} . Ver: T o le ra tio n , A ct


of.

Acts of Uniformity {A tos de U n ifo rm id a d e } . Ver: U n ifo rm ity ,


A cts of.

Amyraldianism - A m y ra ld ism o : d o u trin a do teólogo


re fo rm a d o fran cês M o isè A m y ra u t (1596-1664), da
A c a d e m ia de S au m u r, se g u n d o a q u al a expiação de
C risto foi de v alo r in fin ito e, p o rta n to , “ h ip o te tic a m e n te
u n iv e rs a l” , m as eficaz so m e n te p a ra os eleito s, d esd e que
so m e n te a estes é d a d a a fé p a ra c re re m e se re m salvos.

Antinomianism {A n tin o m is m o } : do g rego, anti (“ c o n tra ” ) +


nomos (“ le i” ), o e n s in o q u e re je ita a lei m o ra l do V elho

981
PAIXAO P E L A PU R EZA

T e sta m e n to co m o n o rm a de v id a p a ra os c re n te s sob o
N ovo T e sta m e n to , em o p o sição ao c o n c e ito so b re a lei
e n s in a d o n a C o n fissão de F é de W e stm in ste r, C ap. X IX ,
“D a L ei de D e u s ” .
Archdeacon {A rq u id iá c o n o } : (I.I.) oficial da Ig re ja abaix o
do b isp o q u a n to à h ie ra rq u ia , o q u a l s u p e rin te n d e os
deões (q.v.), n a q u e la p a rle da d iocese (q.v.) e sta b e le c id a
com o a rq u id ia c o n ia , com p o d e r p a ra im p o r c e n su ra s
eclesiásticas.
Aristotelianism {A ris to te lia n is m o } : re fe re -se à fo rm u la ç ã o
c ristã do c o n h e c im e n to e da teo lo g ia de a c o rd o com o
m é to d o do filósofo g rego A ristó te le s (384-322, a.C .),
fo rm u la ç ã o d e se n v o lv id a d u r a n te o p e río d o m e d ie v a l
e q u e era p ro p rie d a d e in te le c tu a l c o m u m de c a tó lic o s
ro m a n o s e p ro te s ta n te s n o te m p o da R eform a.
Arminianism {A r m in ia n is m o } : d o u trin a da salvação to rn a d a
p o p u la r p elo teólogo h o la n d ê s J a c o b u s A rm in iu s (1560­
1609), d e s c a rta n d o o e n te n d im e n to re fo rm a d o so b re
a s o b e ra n ia d iv in a , a in c a p a c id a d e h u m a n a , a eleição
g racio sa e a ex p iação p a rtic u la r, com o fim de a c o m o d a r­
-se à n o ção de a u to n o m ia h u m a n a , ou “ liv re -a rb ítrio ” , e
p ro p o r a no ção de ex p iação u n iv e rs a l, e m b o ra n e g a n d o
a salvação u n iv e rsa l. O s se g u id o re s h o la n d e se s de
A rm in iu s , q u e ta m b é m d e sc a rta ra m a d o u trin a re fo rm a d a
da p e rse v e ra n ç a dos sa n to s, era m c o n h e c id o s co m o
“ r e m o n s tra n te s ” p o rq u e re s u m ia m suas id é ia s em cin c o
p o n to s co m o sua “ re m o n s tra n c e ” ou p ro te s to c o n tra os
e n s in o s c o n fe ssio n a is da igreja n a c io n a l. O Synod of Don
(q.v.) r e u n iu - s e e m 1618 p a ra d e lib e ra r s o b re o d e safio
d o s r e m o n s tra n te s .
Articles of Perth { A rtig o s de P e rth } : (I.E .) c in c o a rtig o s
a d o ta d o s p ela A ssem b léia G eral da I.E ., re u n id a em P e rth
em 1618, p o r in stig a ç ã o do rei Ja m e s, im p o n d o usos da I.I.

982
Glossário

(“ c e rim ô n ia s p a p ista s in g le sa s” , com o G eo rg e G illesp ie


as d e n o m in o u ) à Ig reja escocesa, tais co m o ajo elh a r-se
p e ra n te a C eia do S en h o r, c o m u n h ã o p riv a d a , b a tism o de
c ria n ç a s n ão m a is após u m Sabbath d e p o is do n a sc im e n to ,
c o n firm a ç ã o ep isc o p a l, e a g u a rd a de dias de festa com o 0
N a ta l e a Páscoa. A A ssem b léia de G lasgow , re fo rm a d o ra ,
r e u n id a em 1618, c o n d e n o u a A ssem b léia de P e rth e pôs
de lad o os cin co artig o s.

Assizes: T rib u n a is de c o n d a d o , in g leses e escoceses, q u e se


e sta b e le c ia m em d atas d e te rm in a d a s p a ra a a d m in is tra ç ã o
da ju stiç a civil e c rim in a l.

Auchterarder Creed {C redo de A u c h te ra rd e r} : (I.E .)


p ro p o siç õ e s d o u trin á ria s im p o sta s aos c a n d id a to s à lic e n ­
c ia tu ra e à o rd e n a ç ã o pelo P re s b ité rio de A u c h te ra rd e r,
em P e rth s h ire , E scócia. A p ro p o siç ã o m ais im p o rta n te
diz: “ C reio q u e não é b o m n e m o rto d o x o e n s in a r que
te m o s q u e a b a n d o n a r o p ecad o a fim de v irm o s a C risto e
de co lo c a r-n o s n a a lia n ç a de D e u s ” . E sse a rtig o é d irig id o
c o n tra o preparalionism (q.v.). O ato da A ssem b léia G eral de
1717 c o n d e n o u essa p ro p o siç ã o co m o “ im p ró p ria e m u ito
d e te stá v e l” , d eu s u rg im e n to à Marrow Controversy (q.v.).

Barrowists { B a rro w ista s} : o te rm o re fere-se aos co ngre-


g a c io n a is q u e s u ste n ta v a m a fo rm a de Congregationalism
(q.v.) e n s in a d a p o r H e n ry B arro w (c. 1550-1593),
c o lo c a n d o o p o d e r de g o v e rn o da Ig re ja e o ex erc ício da
d is c ip lin a eclesiástica nas m ãos dos o ficiais da igreja local;
ver Brownists.

Benefice {B enefício}: (I.I.) 0 m e io de v id a , isto é, a posse de


p ro p rie d a d e e a re n d a de u m rector (q.v.) ou vicar (q.v.),
co m o b e n e fíc io d ad o p ela associação p a ro q u ia l ou p o r um
p a tro n o .

Book of Common Prayer { L iv ro de O ração C o m u m } :


(I.I.) litu rg ia da 1.1., la n ç a d a pela p rim e ira vez em 1549,

983
PAIXAO PKLA PUREZA

rev ista em 1552, e re la n ç a d a em su a fo rm a fin a l em 1662.


U so d ele feito o b rig a tó rio p elo s Acts of Uniformity (q.v.).
O b je tiv a n d o se r u m te rm o in te r m e d iá r io e n tr e R o m a e
as igrejas re fo rm a d a s, o Livro de Oração Comum o c a sio n o u
m u ito s p ro b le m a s de c o n sc iê n c ia aos p u rita n o s . A West­
minster Assembly of Divines (q.v.) p ro p ô s q u e o re fe rid o
liv ro fosse p o sto de lad o em fav o r do seu Directory for the
Public Worship of God (1645). S u b s e q u e n te m e n te à Savoy
Conference (q.v.) em 1661, R ic h a rd B ax ter p ro d u z iu sua
p ró p ria red aç ão do L O C , c o n h e c id a co m o “ L itu rg ia de
B a x te r” , q u e re fle tia as p re o c u p a ç õ e s q u e os p re s b ite ria n o s
tin h a m lev ad o à re u n iã o .
Book of Sports { L iv ro dos E sp o rte s} : D ec la ra ç ã o do rei
Jam es I { T ia g o I} , e m 1617, te n c io n a n d o r e s o lv e r
d is p u ta s s o b r e as recreaçõ es p ra tic a d a s no Sabbath,
p e rm itin d o a lg u m a s das d iv e rsõ e s m a is in o c e n te s da
época e b a n in d o o u tra s , d esd e q u e n ã o se p e rm itis s e q u e
n e n h u m a das a tiv id a d e s in v a d isse as h o ra s e sta b e le c id a s
p a ra o c u lto p ú b lic o , ou q u e levasse a n e g lig e n c iá -lo ;
q u a n to ao c o n c e ito p u rita n o m a is e s trito , v er a C o n fissão
de F é de W e stm in ste r, C ap. X X I, “ D o C u lto R elig io so
e D o D o m in g o ”, e o Directory for Public Worship, “ D a
S an tificaç ão do D ia do S e n h o r” .
Brownists { B ro w n istas} : C o n g re g a c io n a is q u e d e fe n d ia m
a fo rm a de Congregalionlism (q.v.) e n s in a d a p o r R o b e rt
B ro w n e (c. 1550-1633), q u e deix a o p o d e r de g o v e rn o da
Ig reja e o e x erc ício da d is c ip lin a n as m ãos dos m e m b ro s
c o m u n g a n te s da ig reja lo cal; v er Barrowists.

Cambridge Platform { P la ta fo rm a de C a m b r id g e ¡ : I n titu la d o


A Platform of Church Discipline, Gathered out of the Word
of God: and Agreed upon by the Elders and Messengers
of the Churches Assembled in the Synod at Cambridge
in New England {U rna P la ta fo rm a de D is c ip lin a da

984
Glossário

Ig reja , A u fe rid a da P ala v ra de D e u s com o A co rd o dos


P re s b íte ro s e M e n sa g e iro s das Ig reja s C o n g reg ad a s no
S ín o d o em C a m b rid g e , N o v a In g la te rra } , em 1648, este
d o c u m e n to so b re a p o lític a e clesiástica foi escrito p ara
p ro te g e r as ig rejas da N ova In g la te rra , p a ra não su ced er
q u e o e p isc o p a d o lhes fosse im p o sto p o r falta de algum a
o u tra o rd e m . R e p re s e n ta os esforços dos c o n g reg a cio n ais
Barrowistas (q.v.) p a ra sis te m a tiz a r a p rá tic a e so b re p u ja r
a lg u m a s das d e sv a n ta g e n s da in d e p e n d ê n c ia ; ver
Congregationalism.
Cambridge Platonists { P la to n ista s de C a m b rid g e } : um
g ru p o de a c a d êm ico s da U n iv e rs id a d e de C a m b rid g e que
re v iv e ra m o e s tu d o e a filosofia de P la tã o na p a rte final
do sécu lo dezessete. E les c o m p a rtilh a v a m alo ja m e n to s
com m u ito s p u rita n o s q u e e stu d a v a m no E m m a n u e l
C ollege, C a m b rid g e , e eles p ró p rio s eram de o rig em e
s im p a tia s p u rita n a s , m as p re fe ria m p e rm a n e c e r na Igreja
e s ta b e le c id a c o m o u m a fo rç a c o n c ilia d o ra , c la m a n d o
a p o r to le râ n c ia d e to d o s os la d o s. E m razã o disso
re c e b ia m a m a rc a de “ la titu d in á r io s ” .
Casuistry {C asu ística} : c iê n c ia teoló g ica de ap licação do
e n s in o g e ra l d as E s c ritu ra s e d as e x ig ê n c ia s da lei m o ra l
a casos ou p ro b le m a s específicos.

Catechist { C ate q u ista} : m in is tro da P ala v ra ou m e stre n u m a


co n g re g a ç ã o local, cujo d ev er específico é a in s tru ç ã o de
“ c a te c ú m e n o s ”, ou c ria n ç a s b a tiz a d a s, m as a in d a não
a d m itid a s co m o m e m b ro s c o m u n g a n te s , ou pessoas de
id a d e m a is m a d u ra q u e d esejam ser b a tiz a d a s e a d m itid a s
co m o m e m b ro s c o m u n g a n te s . O s m in is tro s p u rita n o s
e fetu av am a o b ra de ca te q u e se em d o m ic ílio e en v o lv iam
to d a s as faixas e tá ria s, q u a n d o eles v isita v a m as fam ílias
da c o n g reg a ção ou da p a ró q u ia aos seus cu id ad o s.
Cavalier {C avaleiro}: te rm o fran cês q u e sig n ific a “ cav a le iro ”

985
PAIXAO P E L A PU R EZA

ou “g in e te ”, p asso u a d e n o ta r 0 c a v a lh e iro , u m a de cujas


realizaçõ es e ra a b o a eq u ita ç ã o . E ra a p lic a d o aos a ris to c ra ta s
in g leses p a rtid á rio s da C asa de S tu a rt. O m o d o de ag ir
irre lig io so , d isso lu to e d e sp ó tic o desses C av aleiro s P ró -
-S tu a rt to rn o u 0 te rm o u m d ita d o c o m u m p a ra q u a lific a r
m o d o s p e tu la n te s , a rro g a n te s , e m u ita s vezes a titu d e s e
m o d o s im p ied o so s.
Chancel {C ancela}: do la tim cancelli, “ te rm o s ” ou “ lim ite s ” ,
n a a rq u ite tu ra da igreja a p a rte do e d ifíc io da ig reja o n d e
são co lo cad o s o a lta r ou a m esa da C eia do S en h o r, o p ú lp ito
e o a tril, g e ra lm e n te c o n s tru íd o s , c e rc ad o s e re se rv a d o s
p a ra o clero e 0 coro.
Chancellor { C h an celer} : títu lo a c a d êm ico p a ra 0 d ir e to r n ão
re s id e n te da u n iv e rs id a d e , m u ito s de cujos d ev ere s são
realiz a d o s p o r u m v ic e-ch an ce ler.

Commissary { C o m issário } : (I.I.) títu lo eclesiástico de a lg u é m


c o m issio n a d o p a ra a g ir co m o re p re s e n ta n te de u m b isp o
em p a rte de sua sé, ou n o lu g a r do b isp o em sua au sê n c ia .
Commonwealth { R ep ú b lica} : te rm o e m p re g a d o p a ra o
g o v e rn o re p u b lic a n o q u e p re v a le c e u na In g la te rra de 1649
a 1660 sob o P a rla m e n to e 0 “ L o rd P r o te c to r ” , p rim e iro
O liv e r C ro m w e ll, d ep o is seu filh o , R ic h a rd C ro m w e ll, e,
p o r isso, c h a m a d o “ th e P ro te c to ra te ” {o P ro te to ra d o } ; o
te rm o foi e m p re g a d o n a C o n fissão de F é de W e s tm in s te r
{no o rig in a l in g lês}, com re fe rê n c ia a u m a e n tid a d e
p o lític a (C ap. X X I I I .I I) ou a u m “ c o rp o p o lític o ” (X IX .
III); v e r ta m b é m Interregnum.
Confession of Faith: v er Westminster Standards { P ad rõ es de
W estm in ste r} .

Congregationalis, Congregationalists { C o n g re g a c io n a lism o ,


C o n g re g a c io n a is} : os c o n g re g a c io n a is s u s te n ta m q u e
cada igreja local é a u to ss u fic ie n te p a ra to d o s os fin s do

986
Glossário

g o v e rn o e da d is c ip lin a da igreja. A lg u n s co n g reg a c io n a is


( “ b ro w n is ta s ” ) d eix av am esse p o d e r nas m ãos dos m e m b ro s
c o m u n g a n te s da igreja. O u tro s (“ b a rro w is ta s ” ) colocavam
esse p o d e r nas m ãos dos m in is tro s e dos p re sb íte ro s
re g e n te s , eleito s p elo s m e m b ro s c o m u n g a n te s. E m sua
m o d a lid a d e m a is b ásica , o c o n g re g a c io n a lism o é ch am ad o
“ in d e p e n d ê n c ia ” , e seus p ro p o n e n te s , “ in d e p e n d e n te s ” .
P a ra s o b re p u ja r as d e sv a n ta g e n s da p u ra in d e p e n d ê n c ia ,
os c o n g re g a c io n a is ex p lo ra v a m d iv e rso s m eios p a ra que
as ig rejas in d e p e n d e n te s tra b a lh a sse m c o o p e ra tiv a m e n te ,
e com 0 te m p o d e se n v o lv e ra m u m siste m a de associações
lo cais, p ro v in c ia is e n a c io n a is, b e m p a re c id o s com os
c o n c ilio s ou asse m b lé ia s da p o lític a p re s b ite ria n a e
re fo rm a d a , e u m a liv re re d e de so cied a d es ou agências
p a ra m issõ es, p u b lic a ç õ e s, o b ra em escola d o m in ic a l, etc.
Ver ta m b é m Cambridge Platform, Savoy Declaration.

Conventicle, Conventicle Acts { C o n v e n tíc u lo , L eis de


C onventículos¡■ : do la tim conventiculum, “ p eq u e n a
r e u n iã o ” , “ p e q u e n o local de re u n iã o ” . T erm o e m p re g ad o
p a ra c a ra c te riz a r re u n iõ e s secretas p a ra o c u lto , m a n tid a s
p o r n ão c o n fo rm ista s da In g la te rra e pelos p a c tu á rio s da
E scócia. B a n id o s p o r su cessiv as L eis de C o n v e n tíc u lo s
após a Restoration (q.v.) p o r C h a rle s II, esforços fo ram feitos
p a ra s u p r im ir tais re u n iõ e s. D u ra s p e n a lid a d e s foram
im p o s ta s aos c u lp a d o s d e m a n tê -la s o u de p a rtic ip a r
d e la s, p r in c ip a lm e n te d u r a n te o p e río d o c o n h e c id o n a
E sc ó c ia co m o “ os T em pos de M a ta r” (1660-1688).

Dean { D e ã o ¡: (I.I.) títu lo do clérig o p rin c ip a l {senior} de


u m a c a te d ra l ou de u m a igreja co leg iad a, e de um oficial
da igreja q u e te m co m o seu “d e c a n a to ” , a su p erv isão de
p a rte das p a ró q u ia s e do clero p a ro q u ia l sob a su p erv isão
de u m archdeacon (q.v.)
Decalogue { D e c á lo g o ¡: lite ra lm e n te , “ D ez P a la v ra s” , a saber,

987
PAIXAO P E L A PU R EZA

os D ez M a n d a m e n to s de Ê x o d o 20:1 -1 7 ; ver ta m b é m
D e u te ro n ô m io 4:13 e 10:4.
Declarations of Indulgence: v er Indulgence, Declarations of
Diocese: (I. I.) te rrito rio g o v e rn a d o p o r u m b isp o p a rtic u la r,
ta m b é m c o n h e c id o co m o “ sé” ou “ b is p a d o ” , co m o a
u n id a d e b ásica do g o v e rn o ep isco p a l da Ig re ja , d iv id id a em
p a ró q u ia s, q u e p o d e m ser a g ru p a d a s em a rq u id ia c o n ia s e
d e c a n a to s co m o s u b -u n id a d e s da d io c ese ; ver Archdeacon,
Dean, Episcopacy (q.v.).
Dissent, Dissenters { D is s e n tim e n to , D is s id e n te s } : te rm o s
e m p re g a d o s p a ra in d ic a r v ário s g ru p o s e in d iv íd u o s q u e
ex p ressav am d esac o rd o ou d is s e n tim e n to q u a n to à fé, ao
cu lto ou à p o lític a “ co m o pela lei e s ta b e le c id o s ” p a ra as
igrejas n a c io n a is da In g la te rra e da E scócia. O s d is s id e n te s
ta m b é m era m c h a m a d o s Nonconformists (q.v.).

Divine, Divinity { D iv in o , D iv in d a d e } : a q u i e m p re g a d o s
com re fe rê n c ia a “ te ó lo g o ” e “ te o lo g ia ” . A A sse m b lé ia de
W e s tm in s te r foi u m c o rp o de teó lo g o s, n a m a io ria c lérig o s,
e m b o ra h a v e n d o e n tre eles a lg u n s te ólogos leigos.
Ejection: Ver Great Ejection.
Episcopacy, Episcopalians { E p isc o p a d o , E p isc o p a is} :
do g rego episkopos, q u e sig n ific a “ s u p e rv is o r” ou
“s u p e r in te n d e n te ” . O s ep isc o p a is co lo cam o p o d e r de
g o v ern o e de d is c ip lin a da Ig re ja n a s m ã o s de b isp o s,
cada q u al s o b e ra n o em sua sé ou d io cese, e to d o s u n id o s
com o h ie ra rq u ia da Ig re ja ou “g o v e rn a n te s s a c e rd o ta is ”
ou “ m in is te ria is ” . T odos os b isp o s p o d e m se r c h a m a d o s
“p re la d o s ” , m as a lg u n s b isp o s tê m m a is p re s tíg io e
a u to rid a d e e, d aí, são c h a m a d o s “ p re la d o s ” p o r se re m
e x altad o s acim a dos d em ais. A lg u n s são “ p rim a d o s ”
p o rq u e estão n u m a c a te g o ria s u p e rio r à de to d o s os
o u tro s. O a rc e b isp o de York é “ P rim a d o da I n g la te rra ” , e

988
Glossário

o a rc e b isp o da C a n tu á ria , “ P rim a d o de T oda a In g la te rra ” .


Ver Diocese.
Fellow {C olega}: n a s u n iv e rs id a d e s in g lesas, u m g ra d u a d o de
u m colégio (escola s u p e rio r) co m d ig n id a d e , p riv ilég io s
e e m o lu m e n to s a p ro p ria d o s; às vezes d is tin g u id o com
m a io r d ig n id a d e co m o “ m a io r” o u “ m e n o r ” (“ m a jo r”
ou “ m in o r ” ). M u ito s fellows tin h a m re sp o n sa b ilid a d e s
d o cen tes.
Five Mile Act {L ei das C in c o M ilh a s} : “ U m a lei q u e im p ed e
os não c o n fo rm ista s de h a b ita re m em c o rp o ra ç õ e s”
foi a p ro v a d a pelo p a rla m e n to in g lês em 1665. O s não
c o n fo rm ista s e ra m p ro ib id o s de re s id ir ou de a p ro x im a r-
-se d e n tro de c in c o m ilh a s de u m a “ c o rp o ra ç ã o ” , i.e.,
q u a lq u e r vila, c id a d e ou m e tró p o le re p re s e n ta d a no
p a rla m e n to . T am b ém se exigia q u e os n ão c o n fo rm ista s
fizessem 0 ju ra m e n to de n ão p e g a r em a rm a s c o n tra 0 rei,
ou de te n ta r a lg u m a “ alteraçã o do g o v e rn o ” n a Ig reja ou
n o E sta d o . As p e n a s in c lu ía m p esad as m u lta s e prisões.
Flint Assizes: sessões do tr ib u n a l de c o n d a d o d e n tro da
p ro v ín c ia de F lin t, em G ales, ou n o in te re s se dessa
p ro v ín c ia . Ver /L síses.
Glorious Revolution {R evolução G lo rio sa} : expressão
d e s c ritiv a da d ecisão “ re v o lu c io n á ria ” do p a rla m e n to
in g lê s, em 1688, de C o n v id a r W illia m , C o n d e de N assau,
P rín c ip e de O ra n g e , e S ta d h o ld e r {vice-rei p ro v in c ia l} 1
da H o la n d a , e su a esposa P rin c e s a M a ry S tu a rt, p ara
a s s u m ire m o tro n o do R e in o U n id o , d ad a a ab dicação de
Ja m e s II {T iago II} . O com eço do re in a d o de W illiam e
M a ry em 1689, co m o um p a r de so b e ra n o s e p ro te s ta n te s

1 Do holandês slad-houder, título amigamente designativo de alta posição


na realeza da Holanda (alto oficial das forças armadas, vice-rei de
província, alto magistrado). Veio a ser um título hereditário na Casa de
Orange. Nota do tradutor.

989
PAIXAO P E L A PU R EZA

c o m p ro m e tid o s, sig n ific o u o fim dos lo n g o s a n o s de


so frim e n to p a ra os p u rita n o s da In g la te rra e p a ra os
p re s b ite ria n o s da E scocia.
Great Ejection { G ra n d e E jeção, ou E x p u lsã o 1: no D ia d e S.
B a rto lo m e u , 24 de ag o sto de 1662, em c o n s e q u ê n c ia da
L ei de U n ifo rm id a d e a p ro v a d a p elo p a rla m e n to em m a io
do m e sm o a n o , m a is de 2.000 m in is tro s fo ram “ e je ta d o s ”
ou e x p u lso s de suas ig rejas, re s id ê n c ia s e re n d im e n to s
p o rq u e n ã o q u is e ra m c o n fo rm a r-s e ao u so d e The Book
of Common Prayer (q.v.) c o m o a o rd e m u n if o r m e p a ra o
c u lto na Ig re ja da In g la te rra .
Grotianism { G ro c ia n ism o } : d o u trin a do e s ta d is ta , a d v o g ad o
e teó lo g o h o la n d é s H u g o G ro tiu s (1583-1645), q u e
e sp o so u a cau sa dos “ r e m o n s tra n te s ” e de seu Arminianism
(q.v.). E le p ro p ô s a te o ria “g o v e rn a m e n ta l” da ex p iação ,
em lu g a r da clássica d o u trin a da s u b s titu iç ã o e satisfação
p e n a l, s u s te n ta n d o q u e a m o rte de C ris to tev e a in te n ç ã o
de ser urna m o n u m e n ta l m a n ife sta ç ã o do ó d io de D e u s ao
p eca d o , e u m te rrív e l ex e m p lo de p u n iç ã o , p a ra d is s u a d ir
os h o m e n s de p eca rem .
Habeas Corpus: frase la tin a , “q u e te n h a s o c o rp o ” , isto é,
e v id ê n c ia de q u e u m c rim e foi c o m e tid o ; fo rm u lá rio de
u m d e c re to c o m p e lin d o as a u to rid a d e s civis a e x p lic a re m
a u m trib u n a l de ju stiç a a d e te n ç ã o ou p risã o de u m
cid a d ã o , co m o u m a p ro te ç ã o c o n tra d e te n ç ã o ou p risã o
ilegal; u m dos d ire ito s dos s ú d ito s b ritâ n ic o s g a ra n tid o s
p ela Magna Carta (q.v.).
Hampton Court Conference { C o n fe rê n c ia do T rib u n a l
de H a m p to n } : re u n iã o re a liz a d a em ja n e iro de 1604 no
P alácio do T rib u n a l de H a m p to n , p ró x im o de L o n d re s ,
e n tre p u rita n o s re p re s e n ta tiv o s e m e m b ro s da h ie ra rq u ia
da Ig reja , p re s id id a p elo rei Ja m e s I, p a ra d is c u tir as
objeções p u rita n a s a várias p rá tic a s da Ig re ja n a c io n a l.

990
Glossário

M u ito p o u c a m u d a n ç a re s u lto u da c o n fe rê n c ia , salvo


a decisão do rei de a g ir b a sead o na p ro p o s ta do o ra d o r
p u r ita n o J o h n R e y n o ld s de q u e a tra d u ç ã o inglesa da
B íb lia fosse rev ista. A “ K in g Ja m e s V ersion” (Versão do
R ei T iag o ) da B íb lia foi c o m p le ta d a em 1611.
House of Commons {Casa dos C o m u n s [: casa de nivel
in fe rio r d o p a rla m e n to in g lê s, cujos m e m b ro s são eleitos
p elo povo c o m u m do te rritó rio , e o re p re se n ta m .
House of Lords {Casa dos L o rd e s} : casa de n iv e l s u p e rio r
do p a r la m e n to in g lê s, ta m b é m c h a m a d a H o u s e o f P eers
(C asa dos N o b re s), cujos m e m b ro s p e rte n c e m à a risto c ra c ia
da nação ou à h ie ra rq u ia da Igreja n ac io n a l.

Imprimatur: te rm o la tin o q u e sig n ific a “ im p rim a -s e ”,


e m p re g a d o n u m a fó rm u la cujo fim é c e rtific a r q u e o
a u to r de alg u m liv ro rece b eu licen ça ou san ção oficial de
a u to rid a d e s do e sta d o , da ig reja, ou de o u tra s in stitu iç õ e s,
p a ra p u b lic a r sua obra.

Independency, Independent: v er Congregationalism,


Congregationalist.
Indulgence, Declarations of {D eclaraçõ es de In d u lg ê n c ia [:
p ro c la m a ç õ e s e m itid a s o c a s io n a lm e n te n o s an o s 1669 a
1687, o fe re c e n d o in d u lg ê n c ia ou aco m o d ação a m in is tro s
d is s id e n te s n a fo rm a de a n is tia e de lib e rd a d e p a ra pregar.
O o b je tiv o era in d u z ir o tip o m ais a b e rto de m in is tro s
de v o lta à Ig re ja n a c io n a l, ao m e sm o te m p o iso la n d o
e m a rc a n d o co m o alvo de ataq u e s os d is s id e n te s m ais
re so lu to s. N os in te rv a lo s e n tre tais d eclaraçõ es, o go v ern o
m a n tin h a u m a d u ra p o lític a de rep re ssã o , te n ta n d o im p o r
a c o n fo rm id a d e às p rá tic a s d e te rm in a d a s p o r lei à Igreja
n a c io n a l.
Interregnum: la tim in d ic a n d o u m p e río d o e n tre (inter) o fim
do re in a d o (regnum) de u m rei e o in íc io de o u tro , com o

991
PAIXAO P E L A PUREZA

a c o n te c e u n o p e río d o da Commonwealth (q.v).

King Philip’s War {G u e rra do R ei P h i l i p }: “ P h ilip ” era o n o m e


d ad o pelos c o lo n iz a d o re s e u ro p e u s a M e ta c o m e t, filh o de
M assa so it e chefe da trib o W am p an o ag , q u e h a b ita v a o a tu a l
te rrito rio de R h o d e Isla n d . E m 1675, M e ta c o m e t lid e ro u
um le v a n ta m e n to c o n tra os c o lo n iz a d o re s. A s u b se q u e n te
c a m p a n h a de a ta q u e s, m o rte s e in c ê n d io s te rm in o u co m a
d e rro ta dos W am p an o ag e a m o rte de M e ta c o m e t em 1676.
Larger Catechism ·¡C atecism o M a io r} : ver Westminster
Standards.
Lecturer {P r e le to r } : os serm õ es dos m in is tro s p u rita n o s q u e
p reg av a m sob o p a tro c ín io de c o rp o ra ç õ e s, p a ró q u ia s e
in d iv íd u o s , g e ra lm e n te n o s dias de se m a n a e n o s d ia s de
feira, e ra m c h a m a d o s “ le c tu re s ” (p releçõ es). O s q u e os
p reg av a m so b re u m a base e sta b e le c id a , e ra m c h a m a d o s
“ le c tu re rs ” . E ssas p rele çõ es c o n s is tia m em “ ex p o sição e
ap licação d ire ta de p assag en s das E s c ritu ra s ” (R . J. G eo rg e),
isto é, era m d isc u rso s so b re p assag en s m ais lo n g a s das
E sc ritu ra s , e não e s trita m e n te te x tu a is , d o u trin á rio s ou
tópicos. Lectio continua {L ição c o n tín u a } era a ex p ressão
té c n ic a p a ra u m a sé rie de p rele ç õ e s so b re u m a p assag em ,
u m c a p ítu lo ou u m liv ro da B íblia.

License of the Press: ver Imprimatur.


Living: ver Benefice.
Long Parliament {L o n g o P a r la m e n to }: sessão do p a rla m e n to
in g lês assim c h a m a d a p o rq u e se re u n iu , a in te rv a lo s ,
de 1640 a 1660; z o m b e te ira m e n te c h a m a d o R u m p
P a rlia m e n t { P a rla m e n to da T ra se ira } , p o rq u e só os “de
trá s ” (os “ ru m p ” ) p e rm a n e c e ra m , d e p o is q u e o “ E x p u rg o
do O rg u lh o ” pôs fora os m e m b ro s p re s b ite ria n o s em 1648,
d e ix a n d o -o nas m ãos dos c o n g re g a c io n a is, m a is sim p á tic o s
às p o lític a s do “ L o rd P r o te c to r ” , v er Commowealth.

992
Glossário

Magna Carta: la tim , sig n ific a n d o “ G ra n d e C a rta ” , d o c u m e n to


c o n s titu c io n a l im p o sto pelos b a rõ es in g leses ao rei Jo h n
em 1215, fo rm u la n d o e a s se g u ra n d o os seus d ire ito s e
lib e rd a d e s c o n tra ria m e n te aos p o d e re s da m o n a rq u ia .
C o m o te m p o esses d ire ito s e lib e rd a d e s se e s te n d e ra m a
cada u m dos s ú d ito s b ritâ n ic o s , e a expressão Magna Carta
to rn o u -s e títu lo c o m u m de q u a lq u e r d o c u m e n to m a rc a n te
da h is tó ria de u m a nação , in s titu iç ã o ou m o v im e n to .
Marrow Controversy, Marrowmen {C o n tro v é rs ia da M ed u la,
H o m e n s da M e d u la }: (I.E .) O s te rm o s se re fe re m ao d eb ate
o c o rrid o n a E scócia n o in íc io do século d e z o ito so b re a livre
o fe rta do e v a n g e lh o , a fé, a ju stificaç ão p ela fé so m e n te ,
e a c e rte z a da fé, d e b a te o c a sio n a d o pela re p u b lic a ç ã o
de u m liv ro e sc rito p elo p u rita n o in g lês E d w a rd F ish er,
The Marrow of Modern Divinity (A M e d u la da Teologia
M o d e rn a ), em re sp o sta a u m a d ecisão da A ssem b léia
G eral, em 1717, q u e c o n d e n o u o Auchterarder Creed (q.v.).
A A sse m b lé ia G eral a se g u ir c o n d e n o u 0 liv ro ta m b é m , e
os “M a rro w m e n ” {Os H o m e n s da M e d u la } , lid e ra d o s p o r
T h o m a s B o sto n (1676-1732), le v a n ta ra m -se em sua defesa.
O c o n flito n u n c a foi p le n a m e n te reso lv id o . O s d efen so res
da M a rro w logo se v ira m em d e sv a n ta g e m q u a n d o
su c e d e u re c e b e re m c h a m a d o s p a ra igrejas vagas n as quais
0 “ h e r ito r ” { h e rd e iro e m a n te n e d o r do p a trim ô n io } ou o
p a tro n o tin h a p o d e r p a ra v e ta r a esco lh a da congregação,
se 0 desejasse. M u ito s “ h e rito re s ” era m “ m o d e ra d o s ”,
os q u a is c o n sid e ra v a m os M a rro w m e n eq u iv o cad o s e
fan ático s. O s efeito s re ta rd a d o s da c o n tro v é rsia M arrow
le v aram a o u tra c o n tro v é rsia , so b re o p a tro n a to , p rovocada
p elo M a rro w m a n E b e n e z e r E rs k in e , a q u al te rm in o u em
1733 com sua d ep o siçã o do m in is té rio , a secessão da I.E . e
a fo rm aç ão do P re s b ité rio A sso ciad o , v er Secession Church.
Massachusetts Bay Colony {C olônia da Baía de
M a s s a c h u s e tts }: u m a das d u as co lo n ias p u rita n a s fu n d ad as

993
PAIXAO PHI.A PUREZA

nas costas da B aía de M a s sa c h u s e tts , n a N o v a In g la te rra ,


se n d o a o u tra a P ly m o u th P la n ta tio n , c o n h e c id a co m o “ a
V elha C o lô n ia ” . A V elha C o lô n ia foi fu n d a d a p o r Separatists
(q.v.), e n q u a n to q u e os pais da C o lô n ia da B aía tin h a m
v ie ra m das fileiras do Non-Separating Conregaíionalistn
(q.v.). As d u a s c o lô n ia s p e rm a n e c e ra m d is tin ta s na
geografia, n a lei, na a d m in is tra ç ã o , nos c o stu m e s e n o s
s e n tim e n to s p o r lo n g o te m p o .
Monmouth’s Rebellion {A R eb elião de M o n m o u th } : u m a
rev o lta dos p a c tu á rio s escoceses esm ag a d a p ela forças do
D u q u e de M o n m o u th n a b a ta lh a de B o th w ell B rid g e , no
d ia 22 de ju n h o de 1.679. Q u a tro c e n to s ou q u in h e n to s
p a c tu á rio s fo ram m o rto s, e m a is de 1.200 fo ram levados
p ris io n e iro s e m a n tid o s no p á tio da igreja de G re y fria rs.
D esses, 257 fo ram se n te n c ia d o s a se re m tra n s p o rta d o s
p a ra fora do te rritó rio e m u ito s d eles m o rre ra m afogados
q u a n d o seu n av io a fu n d o u n a co sta da E scócia.

Neonomianism { N e o n o m ia n ism o } : do g rego, neo, “ n o v a ”


+ nomos, “ le i” , nova d eclaraçã o do e v a n g e lh o com o
m e ra m e n te u m a “ n o v a le i”, em lu g a r da lei do V elho
T e sta m e n to , de m o d o q u e a fé vem a se r m e ro a s s e n tim e n to
a essa n o v a lei e o b e d iê n c ia a ela; c o n c e ito a sso ciad o a
R ic h a rd B axter.
Nonconformist, Nonconformity {N ão c o n fo rm ism o ,
N ão c o n fo rm id a d e } : o ato de re c u sa r c o n fo rm a r-s e ao
p a d rã o d e c re ta d o p a ra a Ig reja n a c io n a l q u a n to à fé, ao
cu lto ou à p o lític a ; s im ila r, n o s e n tid o , a “d is s e n tin g ”
{d is s e n tim e n to } , e m b o ra o d is s e n tim e n to te n h a a v er
com c o n c e ito s e c re n ç a s da pessoa, ao passo q u e a n ão
c o n fo rm id a d e se refere a su a p rá tic a . O s n ão c o n fo rm ista s
da In g la te rra fre q u e n te m e n te se v ia m em c o n flito com
pessoas q u e d e c la ra v a m s u s te n ta r os m e sm o s a rtig o s de
fé. P o s te rio rm e n te , “ n ão c o n fo rm id a d e ” to rn o u -s e u m a

994
Glossário

ex p ressão co letiv a d e s ig n a n d o as d iv e rsas igrejas “ liv re s” ,


p re s b ite ria n a s , c o n g re g a c io n a is, m e to d ista s, b a tista s, etc.,
n a In g la te rra e em G ales, te n d o sua e x istê n c ia fora da
Ig re ja e stab e lecid a. Ver Dissent, Dissenter.
Non-Separating Congregationalism { C o n g reg acio n alism o
n ão S e p a ra tista } : (I.I.). M in is tro s e o u tra s pessoas
p e rte n c e n te s à I.I., q u e a d o ta ra m 0 c o n g re g a c io n a lism o
co m o u m a te o ria da p o lític a da Ig reja , m as n ão se se n tia m
liv re s, em sua c o n sc iê n c ia , p a ra se p a ra r-se da Igreja
n a c io n a l, te m e n d o to rn a r-s e c u lp a d o s de cism a. M u ito s
p re s b ite ria n o s in g leses a c h a v am -se n a m e sm a situação.

Parliamentarians { P a rla m e n ta rista s } : os q u e apoiavam


os a n tig o s d ire ito s e p re rro g a tiv a s dos reis da lin h a g e m
S tu a rt de c o n fe rir p o d e r a b so lu to à m o n a rq u ia , o que
levou à G u e rra C ivil Inglesa.

Patron, Patronage { P atro n o , P a tro n a to } : sob o siste m a de


p a tro n a to , o p a tro n o tin h a d ire ito à p ro p rie d a d e e de
ta x a r re n d im e n to s (d íz im o s) de u m a p a ró q u ia da Igreja
n a c io n a l da E scócia ou da In g la te rra ; tais d ire ito s cabiam
a m e m b ro s da a ris to c ra c ia ou da h ie ra rq u ia da igreja.
T am b ém c h a m a d o “ h e r ito r ” , v isto q u e os d ire ito s eram
d eix ad o s em te sta m e n to aos h e rd e iro s do p a tro n o de
g eraç ão em geração. O p a tro n o ou h e rito r da p a ró q u ia
p o d ia c o n c e d e r o uso da p ro p rie d a d e e de su a re n d a
c o m o u m benefice (q.v.) ao m in is tr o da sua esco lh a , q u e r
o m in is tr o fosse ace itá v el ao povo da p a ró q u ia q u e r não.
Ver Manow Controversy.

Popery, Popish {P a p a d o , P ap al, P a p is ta }: os te rm o s se referem


ao p a p a de R o m a , à in s titu iç ã o do p a p a d o , e em geral aos
e n s in o s , p rá tic a s e re iv in d ic a ç õ e s da igreja p ap al, ou seja,
da ig reja cató lic a ro m an a .

Prebend, Prebendary { P re b e n d a , P r e b e n d a r lo }; (I.I.).


D o la tim , praebenda, ou “ p e n sã o ou co n ce ssã o ” . U m a

995
PAIXAO P E L A PU R EZA

p re b e n d a é p a rte da re n d a de u m a c a te d ra l ou de u m a
igreja co leg iad a, p ag a co m o e s tip ê n d io a u m m e m b ro do
clero lig ad o a d ita c a te d ra l ou ig reja; o re c e b e d o r de u m a
p re b e n d a é, p o is, u m p re b e n d á rio .
Prelacy { P relazia} : às vezes u m te rm o q u e in d ic a h o s tilid a d e
pelo Episcopacy (q.v.).
Preparationism { P re p a ra c io n ism o } : te n d ê n c ia de a lg u n s
p u rita n o s de p ro p o re m v ária s coisas q u e o p e c a d o r p re c isa
fazer, vário s estad o s pelos q u a is p re c isa passar, ou v ário s
sin ais ou m a rc as q u e p re c isa b u s c a r em si m e sm o , a n te s
da fé salv a d o ra em C risto . D essa m a n e ira 0 p e c a d o r se
p re p a ra p a ra a graça, e m b o ra seja c o n v e n c id o de q u e a in d a
não re c e b e u a graça. O p re p a ra c io n is m o s a lie n ta a m a n e ira
c o m u m p ela q u al D e u s c o n d u z p e c a d o re s a C risto , isto é,
m e d ia n te a co n v icção de p eca d o e a p erc e p ç ã o p esso al da
p e rd a da ju stiç a p ró p ria ; te n d e a b a ix a r a re p re s e n ta ç ã o
da g a ra n tia da fé c o n tid a n a p ro m e ssa d o ev an g e lh o . Ver
Marrow Controversy, Marrowmen.
Presbyterian, Presbyterianism {P re b ite ria n o , P re s b ite ria n is -
m o}: do greg o , presbuteros, “ p re s b íte ro ” ou “ a n c iã o ” , e
presbutenon, “p re s b ité rio ” . O s p re s b ite ria n o s s u s te n ta m
(1) que “ b is p o ” e “p re s b íte ro ” são u sa d o s u m p elo o u tro n o
N ovo T e sta m e n to p a ra re fe rir-s e a m in is tro s da P a la v ra ;
(2) ju n to com os m in is tro s da P a la v ra h a v ia n a Ig re ja , ta n to
no V elho com o n o N o v o T e sta m e n to s, o u tro s g o v e rn a n te s
da Ig reja , ta m b é m c h a m a d o s a n c iã o s; (3) q u e C risto
d e te rm in o u u m g o v e rn o p a ra a S ua Ig re ja n a s m ãos desses
oficiais; (4) q u e esses o ficiais d ev em e x e rc e r o seu p o d e r
em c o n ju n to , p o r m e io dos c o n se lh o s ou a sse m b lé ia s da
Ig reja ; e (5) q u e, assim co m o se e n c o n tra m n as E s c ritu ra s
igrejas locais, m e tro p o lita n a s , p ro v in c ia is e n a c io n a is ,
assim ta m b é m h a v ia asse m b lé ia s lo cais, m e tro p o lita n a s ,
p ro v in c ia is e n a c io n a is p a ra g o v ern á-las. N a p rá tic a esses

996
Glossário

o rg a n is m o s v ie ra m a ser d e sig n a d o s sessões {reu n iõ es


do c o n se lh o lo c a l[, p re s b ité rio s , sín o d o s p a rtic u la re s e
sín o d o s g erais ou a ssem b léias gerais. Só re s u m id a m e n te a
C o n fissão de F é de W e s tm in s te r re fe re -se a esses p rin c íp io s
(C aps. X X X , X X X I), d esd e q u e são d e sd o b ra d o s m ais
e x te n sa m e n te , com p ro v as, n a F o rm o f P r e s b y te r ia l C h u rch
G o v e r n m e n t (F o rm a de G o v e rn o P re s b ite ria l da Igreja!
(v er W e stm in ste r S ta n d a r d s ) . O s p re s b ite ria n o s e s trito s eram
c h a m a d o s “ p re s b ite ria n o s ju r e d i v i n o ” (p re s b ite ria n o s p o r
d ire ito d iv in o ), p o rq u e s u s te n ta v a m esta p o lític a com o
u m a rtig o de fé, r e iv in d ic a n d o -o co m o u m j u s d iv in u m ou
u m a “ a u to rid a d e d iv in a ” , o r iu n d a da P a la v ra de D e u s,
e sc rita .
Privy Council {C o n selh o P riv a d o } : do fran cês a n tig o ,
p r iv é , “ p riv a d o ” , o c o rp o de c o n se lh e iro s e sco lh id o s
p e s s o a lm e n te pelo m o n a rc a p a ra se rv ire m com o seus
c o n s e lh e iro s , em d is tin ç ã o do g o v ern o , ou do p rim e iro
m in is tro e seu g ab in e te .

Probationer { C a n d id a to em p ro v a} : (I.E .) D o la t i m , p ro b a re ,
“ p ro v a r” , ou “d e m o n s tr a r ” , re fe rin d o -s e aos c a n d id a to s
à o rd e n a ç ã o p a ra o m in is té rio , os q u a is d ev em p rim e iro
p a ssa r p o r p ro v as e re c e b e r licen ça p a ra p re g a r nas
ig rejas co m o c a n d id a to s em e x p e riê n c ia , d a n d o prova
ou d e m o n stra ç ã o de su a c a p a c id a d e e a p tid ã o p a ra serem
o rd e n a d o s , na e sp e ra n ç a de re c e b e re m um c h a m a d o de
igreja.
Proctor: F o rm a sin c o p a d a de “ p ro c u ra to r” { p ro c u ra d o r} ,
u m o ficial a c a d êm ico das u n iv e rs id a d e s de O x fo rd e
C a m b rid g e ; pesso a in c u m b id a com a ta re fa de im p o r
d is c ip lin a aos a lu n o s, a g in d o com o re p re s e n ta n te das
a u to rid a d e s u n iv e rs itá ria s.
Prolocutor: (I.I.). D o la tim , p ro lo q u o r, “ falar p o r ” , ou “ fa la r”
{com o o ra d o r} ; títu lo oficial do m o d e ra d o r ou d irig e n te

997
PAIXAO P E L A PUREZA

de u m a a ssem b léia, assim e h a m a d o p o rq u e fala p ela casa


e a ele os o ra d o re s in d iv id u a is d e v em d irig ir-s e , e p o rq u e
ele p ro p õ e a a g e n d a a se r se g u id a e as q u e stõ e s so b re
as q u a is d e lib e ra r; títu lo d a d o ao o ficial p re s id e n te da
Westminster Assembly of Divines (q.v.).
P r o te s to r s { P ro te sta d o re s} (I.E .)· “ R e m o n s tra n te s ” escoceses
(não c o n fu n d ir com os a rm in ia n o s da H o la n d a , ta m b é m
c h a m a d o s “ r e m o n s tra n te s ” ) q u e a p re s e n ta ra m um
p ro te s to ou “ r e m o n s tra n c e ” à A ssem b léia G eral de 1650
c o n tra a p ressa e a fa c ilid a d e com q u e 0 rei C h a rle s II se
hav ia p e rm itid o su b sc re v e r as a lian ça s n a c io n a is, sem te r
e v id e n c ia d o q u a lq u e r m u d a n ç a de p rin c íp io s . E les so fre ra m
o posição dos Resolutioners (q.v.), “ re s o lu c io n á rio s ” , q u e
c o n d e n a ra m o p ro te s to (“ re m o n s tra n c e ” ) co m o u m ato de
alta traição . O re s u lta d o foi um p a rc ia l e ra n c o ro so c ism a
da I.E . q u e d u ro u até o p e río d o da R esta u ra ção .
P ro v o s t { P reb o ste } : d e riv a d o do la tim , praepositus, “ a lg u ém
colocado à fre n te ” ; nas u n iv e rs id a d e s in g lesas, títu lo dos
d ire to re s de a lg u n s colleges; n a E scócia, títu lo do ch efe de
u m a c o rp o ra ç ã o m u n ic ip a l ou “ B u rg h ” (b u rg o ).

R a m is m , R a m is t: {R am ism o , R am ista} s iste m a de lógica


p ro p o sto p o r u m a c a d êm ico re fo rm a d o fran cês, P e tru s
R am u s (1515-1572), em o p o sição ao a ris to te lis m o
d o m in a n te na tra d iç ã o o c id e n ta l; o ra m is m o foi m u ito
in flu e n te so b re certo s p u rita n o s , e n tre os q u a is W illia m
A m es (1576-1633).

R e a d e r { L e ito r} : (I.I.). P essoa d e sig n a d a p a ra le r p a rte s


do c u lto relig io so n o Book of Common Prayer d u r a n te a
ad o ração p ú b lica.
R e c to r: {R eitor} (I.I.). M in is tro de u m a igreja p a ro q u ia l com
d ire ito à su a p ro p rie d a d e e a suas re n d a s (d íz im o s ); ver
Vicar.

998
Glossário

R e c to r M a g n if ic u s : la tim , “ G o v e rn a n te E x a lta d o ”
{ M ag n ífic o R e ito r} , títu lo a c a d êm ico d ad o ao d ire to r de
u m a u n iv e rs id a d e n o c o n tin e n te e u ro p e u .
R e g iu s P r o f e s s o r : la tim , “ P ro fe sso r R e a l” ou “ R ég io ”,
c a te d rá tic o de u m a u n iv e rs id a d e d o ta d a ou fu n d a d a pela
coroa.

R e s o lu tio n e r s { R eso lu cio n istas} (I.E .). O p o sito re s dos


Protestors (q.v.), assim c h a m a d o s p o rq u e a p ro v a ra m certas
n o tó ria s “ re so lu ç õ e s” do p a rla m e n to . O s re so lu c io n á rio s
e ra m vig o ro so s p a rtid á rio s do rei C h a rle s II, a c re d ita n d o
q u e o seu acesso ao tro n o ta m b é m s e rv iría à causa do
p re s b ite ria n is m o , ta n to na E scócia com o n a In g la te rra .
V ário s c o m p ro m isso s e p ro m e ssa s de C h a rle s os
e n c o ra ja ra m a c re r n isso , m as a c o n te c im e n to s q u e se
d e ra m após a Restoration (q.v.) logo m o s tra ra m quão
e rra d o s eles estavam .

R e s to r a tio n {R e s ta u ra ç ã o }: fim da R e p ú b lic a ( Commonwealth)


e do P ro te to ra d o , com o re to rn o ou re sta u ra ç ã o da
m o n a rq u ia sob C h a rle s II em 1660. M u ito s p re s b ite ria n o s
da In g la te rra e da E scó cia tin h a m v isto o g o v ern o dos
C ro m w e ll com c re sc e n te d esap ro v açã o e desafeto, e p o r
isso a c o lh e ra m b e m a re sta u ra ç ã o da m o n a rq u ia . C h arles
se la n ç o u ra p id a m e n te à ta re fa de re s ta u ra r a velha
o rd e m na Ig re ja e n o E sta d o , tra m a n d o g u e rra c o n tra os
p u rita n o s in g leses e os p a c tu á rio s escoceses; ver Protestors
e Resolutioners.

R o c h e t: veste sa c e rd o ta l b ra n c a com m a n g as c o m p rid a s , usada


p rin c ip a lm e n te pelos b isp o s e ab ad e s, se n d o , p o rta n to , um
p e r tin e n te s ím b o lo do ofício de bispo.

R o y a lis ts {R ealistas}: p a rtid á rio s do rei C h a rle s I em sua


g u e rra c o n tra o p a rla m e n to ; em te rm o s g erais, os que
ap o ia v a m as re iv in d ic a ç õ e s da m o n a rq u ia .

999
PAIXAO P E L A PUREZA

Rye House Plot {C om pió da C asa de R y e [: u m a c o n sp ira ç ã o


c o n tra as v id a s do rei C h a rle s II e de seu filh o Ja m e s,
d e sc o b e rta em 1683; “ u m p la n o p a ra a ssa ssin a r C h a rle s
e Ja m e s n u m a casa iso la d a, n a e s tra d a real, p e rto de
H o d d e s d o n , e m H e r tf o r d s h ir e , q u a n d o v o lta v a m d e
N ew M a rk e t p a ra L o n d r e s ” (P C. Yorke).

Savoy Conference { C o n fe rê n c ia de Savoy} (1658): a sse m b lé ia


de m in is tro s e leigos c o n g re g a c io n a is no Savoy P alace
{P alácio Savoy}, em L o n d re s , r e u n id a no d ia 29 de
s e te m b ro de 1658. O p ro p ó s ito era fo rm u la r u m a p o sição e
s is te m a tiz a r sua p rá tic a , c o n tra ria m e n te ao Presbyterianism
(q.v.). A C o n fe rê n c ia foi a d ia d a p a ra 12 de o u tu b ro de 1658.
O re s u lta d o foi d a d o ao m u n d o com o a Savoy Declaration
(q.v·)·
Savoy Conference { C o n fe rê n c ia d e Savoy} (1661): re u n iã o
n o Savoy P alace, L o n d re s , re a liz a d a de 15 de a b ril a
25 de ju lh o de 1661, com igual n ú m e ro de e p isc o p a is e
p re s b ite ria n o s , com o p ro p ó s ito de re v is a r The Book of
Common Prayer {O L iv ro de O ração C o m u m } , v isa n d o
à satisfação dos d o is g ru p o s. As o bjeções p re s b ite ria n a s
ao re fe rid o liv ro e x iste n te fo ram e n fre n ta d a s com
d e te rm in a ç ã o p o r p a rte dos ep isc o p a is, q u e o d e fe n d e ra m
até ao m ín im o d e ta lh e . O e m p a te aca b o u co m to d a s
as e sp eran ça s de a c h a r u m m eio de os p re s b ite ria n o s
p e rm a n e c e re m d e n tro do g rê m io da Ig reja n a c io n a l, e
m o n to u o palco p a ra a Great Ejection (q.v.).
Savoy Declaration { D eclaração de S avoy}: a p ro v a d a p ela
c o n fe rê n c ia re a liz a d a n o Savoy em 12 de o u tu b ro de 1658,
o d o c u m e n to com eça com u m lo n g o p re fá c io a trib u íd o
a J o h n O w e n , a p re s e n ta , a seg u ir, A Declaration of the
Faith and Order Owned and Practised by the Congregational
Churches of England { D eclaração da F é e O rd e m
P e rte n c e n te às Ig rejas C o n g re g a c io n a is da In g la te rra e

1000
Glossário

p o r d a s p ra tic a d a } , u m a red aç ão da C o n fissão de F é de


W e stm in ste r, o m itid o s a lg u n s c a p ítu lo s, o u tro s reescrito s
e ao m e n o s u m a c re sc e n ta d o . A seção fin al é d ed icad a a
u m a exp o sição da p o lític a da Ig reja c o n g reg a cio n al em
tr in ta a rtig o s sob o títu lo Of the Institution of Churches, and
the Order Appointed in them by Jesus Christ {D a In s titu iç ã o
das Ig reja s, e da O rd e m E sta b e le c id a N elas p o r Jesus
C risto } .
Secession Church {Igreja da Secessão}: n o m e d ad o aos
c o rp o s q u e re s u lta ra m da d ecisão de E b e n e z e r E rs k in e
(1680-1754) e trê s colegas de d e c lin a re m da a u to rid a d e
da A sse m b lé ia G eral e de se p a ra r-se da Ig reja da E scócia
p a ra c o n s titu íre m o P re s b ité rio A ssociado em 1733.
E m d e c o rrê n c ia , eles e seus a d e p to s fo ram c h am ad o s
“ s e c e ssio n á rio s” (d issid e n te s). A Ig reja da Secessão crio u
ra iz e cresceu v ig o ro sa m e n te na E scócia e na Irla n d a , e
p o s te rio rm e n te na A m é ric a do N o rte . D iv isõ es, re u n iõ e s
e u n iõ e s re s u lta ra m n as igrejas A ssociada, A ssociada
G e ra l, Secesssão U n id a , Seceção O rig in a l, e Igrejas
P re s b ite ria n a s U n id a s da E scócia. N os E sta d o s U n id o s os
“ s e c e ssio n á rio s” se o rg a n iz a ra m co m o igrejas A ssociada,
A sso ciad a R e fo rm a d a e Ig reja s P re s b ite ria n a s U n id as.

Separatist { S e p a ra tista } : (I.I.). M u ito s p re s b ite ria n o s e


c o n g re g a c io n a is in g leses a c re d ita v a m q u e era seu d ever
p e rm a n e c e r na Ig reja n a c io n a l, m as a lg u n s não (ver
Non-Separting Congregationalism). Ig rejas p re s b ite ria n a s
e c o n g re g a c io n a is se p a ra d a s da Ig reja n a c io n a l foram
fo rm a d a s em d ata a n te rio r. A lg u n s a c re d ita v a m q u e era um
d e v e r m o ra l s e p a ra r-se da Ig reja e sta b e le c id a , e esses são
p r o p ria m e n te c h a m a d o s se p a ra tista s. E n tre eles estavam
os pais p e re g rin o s q u e fo ra m p a ra o ex ílio , p rim e iro
na H o la n d a , e d ep o is com o fu n d a d o re s da P ly m o u th
P la n ta tio n { P la n ta ç ã o de P ly m o u th } no lito ra l da Baía de
M a ssa c h u se tts.

1001
PAIXAO P E L A PUREZA

S e q u e s te r e d { S eq u estrad o s} : do la tim , sequestrate, “ re m o v e r


p a ra sa lv a g u a rd a r” ; 0 e sta d o de a lg u ém s u b m e tid o
a te m p o rá ria d e te n ç ã o ou à confiscação da re n d a da
p ro p rie d a d e ou dos b e n s p elas a u to rid a d e s eivis.
S h o r te r C a te c h is m {B reve C a te c ism o } : ver Westminster
Standards.
S iz a r {S izar}: a lu n o u n iv e rs itá rio em C a m b rid g e q u e pagava
taxas re d u z id a s a tro co de tra b a lh o d iá rio co m o c ria d o ou
“s e rv id o r” , c h a m a d o “s iz a r” p o r lh e ser c o n c e d id a u m a
“size” ou ração de a lim e n to e b e b id a.

S o c ia n ia n is m { S o c in ia n ism o } : d o u trin a de S o c in u s, o
teólogo ita lia n o F a u s tu s S o c in u s (1539-1604), q u e, e m b o ra
afirm asse a a u to rid a d e das E s c ritu ra s , negava as d o u trin a s
da T rin d a d e e da D e id a d e de C risto co m o c o n trá ria s
à razão. O so c ic ia n ism o e o d e ísm o d e ra m o rig e m ao
u n ita ris m o e n tre os b a tis ta s e p re s b ite ria n o s in g leses e
e n tre os c o n g re g a c io n a is da N o v a In g la te rra .

S o le m n L e a g u e a n d C o v e n a n t {S olene L ig a e A lia n ç a ¡ : u m
tra ta d o c o n c lu íd o e n tre a In g la te rra e a E scocia em 1643,
“ com v istas á R efo rm a e à D efesa da R elig ião , a H o n ra e
a F e lic id a d e do R ci, e a Paz e S e g u ran ça dos T rês R e in o s,
da E scocia, da In g la te rra e da Irla n d a ” . O s in g leses
p ro c u ra ra m a a ju d a dos escoceses p a ra f ru s tra r a te n ta tiv a
do rei C h a rle s I de re to m a r o tro n o à força. T am b ém
q u e ria m p ro te g e r os d ire ito s e p o d e re s do p a rla m e n to . O s
escoceses e sp erav am q u e fossem s u s te n ta d o s 0 c u lto , a fé
e a o rd e m da E scócia p re s b ite ria n a e esses e s te n d id o s à
In g la te rra . T am b ém an se ia v a m sa lv a g u a rd a r a pesso a e as
p re rro g a tiv a s do rei C h a rle s, n a e sp e ra n ç a de q u e ele fosse
levado a s u b m e te r-se à n o v a o rd e m na G rã -B re ta n h a . O s
a sp ecto s p o lític o s e m ilita re s e ra m p r e d o m in a n te s p a ra
os ingleses, e p o r isso eles d e n o m in a ra m esse tra ta d o u m a
“ liga” ou “ a lia n ç a ” . Q u a n to aos escoceses, co m u m a lo n g a

1002
Glossário

e x p e riê n c ia p a c tu a i p o r trá s d eles, o c a rá te r e os objetivos


re lig io so s do tra ta d o o assin a la v a m com o “a lia n ç a ” . N os
fatos q u e se d e ra m , os escoceses fo ram d e sb a ra ta d o s pelos
h o m e n s do rei, ao passo q u e os in g leses m e sm o s d e rro ta ra m
os realistas. O re i, b u s c a n d o se g u ra n ç a , re n d e u -s e aos
escoceses, m as estes o e n tre g a ra m aos in g leses em troca
de fu n d o s p a ra p a g a m e n to dos seus so ld ad o s. P o r sua vez,
os in g leses s u b m e te ra m o re i a ju lg a m e n to p o r traição , o
c o n d e n a ra m e o e x e c u ta ra m . O fru to d u ra d o u ro da Solene
L ig a e A lia n ça foi a o b ra da Westminster Assembly of Divines
(q.v.), n a co m p o siç ã o dos Westminster Standards (q.v.), em
c u m p rim e n to do desejo e x p resso de u m a u n ifo rm id a d e
da fé, do c u lto e da o rd e m nas igrejas dos trê s rein o s.
S p e c tr a l e v id e n c e {P rova esp ec tra l} : c o n tro v e rtid a p rova
ace ita nos p ro cesso s c o n tra pessoas acu sad as de b ru x a ria ,
p o r ex em p lo , o te s te m u n h o de pessoas q u e re iv in d ic a v a m
te r e x p e riê n c ia s s o b re n a tu ra is q u e p ro v a v a m a cu lp a das
p esso as acu sad as. Tal “p ro v a e s p e c tra l” não p o d ia ser
e x a m in a d a ou te sta d a de n e n h u m m o d o , e tin h a q u e ser
to m a d a p o r seu p ró p rio valor, caso a d m itid a {no p ro c e s s o }.
S y n o d o f D o r t {S ín o d o de D o rt} : S ín o d o N a c io n a l re u n id o
em D o rd re c h t, H o la n d a , 1618,1619, p a ra d e lib e ra r sobre
a c re sc e n te in flu ê n c ia do Arminianism (q.v.), e sobre
as o bjeções dos a rm in ia n o s aos e n sin o s co n fessio n ais
da Ig re ja n a c io n a l h o la n d e sa . O re s u lta d o foram as
d eclaraçõ e s c o n h e c id a s co m o C ân o n e s de D o rt, que
ex p õ em as d o u trin a s re fo rm a d a s da salvação sob cin co
títu lo s , na fo rm a de p ro p o siç õ e s sob cada títu lo , seg u id as
de refu ta ç õ e s do erro . O S ín o d o d eu ta m b é m fo rm a final
aos te x to s da C o n fissão de F é B elga, ao C atecism o de
H e id e lb e rg e à litu rg ia R e fo rm a d a H o la n d e s a ; p ro d u z iu
a clássica O rd e m da Ig reja de D o rt, seg u id a com o u m
m o d e lo p o r m u ito s co rp o s re fo rm a d o s d esd e aquele
te m p o ; e c o m issio n o u u m a nova tra d u ç ã o da B íb lia com

1003
PAIXAO P E L A PUREZA

co p io sas n o ta s, glosas e citaçõ es re m issiv a s, c o n h e c id a s


com o A n o taçõ e s H o la n d e s a s (Dutch Annotations).
T e a c h e r ¡M e stre } : o c o n g re g a c io n a lism o co n fessav a e n ­
c o n tra r d o is ofícios em E fésios 4 :11: “O ofício de p a s to r e
m e stre p arec e d is tin to . A o b ra esp ecial do p a s to r é c u id a r
da exortação e, n isso , a d m in is tr a r u m a p a la v ra de sabedoria;
o m e stre deve c u id a r da doutrina, e, n isso , a d m in is tr a r u m a
p alav ra de conhecimento; e ta n to u m co m o o o u tro d ev em
a d m in is tr a r os selos d essa a lia n ç a , p a ra a a d m in is tra ç ã o
da q u a l a m b o s são ig u a lm e n te chamados" (Cambridge
Platform, C h. V I.5) {P la ta fo rm a de C a m b rid g e , C ap. V I.5}.
T o le ra tio n , A c t o f {A to de T o lerân cia} : ato a p ro v a d a em
1689, no in íc io do re in a d o de W illia m e M ary, c o n c e d e n d o
lib e rd a d e de c u lto aos p ro te s ta n te s d is s id e n te s n a G rã ­
-B re ta n h a , m a rc a n d o o fim da lo n g a e m u ita s vezes b ru ta l
c a m p a n h a p a ra s u p rim ir o d is s e n tim e n to e c o m p e lir a
c o n fo rm id a d e à litu rg ia e à o rd e m da Ig re ja e stab e lecid a.
Ver Glorious Revolution.
U n ifo rm ity , A c ts o f {A tos de U n ifo rm id a d e } : a p u b lic a ç ã o
de sucessivas ed içõ es do Book of Common Prayer (1549,
1552, 1562) foi a c o m p a n h a d a p ela ap ro v aç ão de u m a
L ei de U n ifo rm id a d e q u e exigia q u e os m in is tro s se
c o n fo rm a sse m às p rá tic a s do re fe rid o liv ro , ou s e ria m
p u n id o s . A lei m ais e x tre m is ta foi a de 1662, q u e exigia
q u e os m in is tro s d essem p ú b lic o a s s e n tim e n to ao uso do
L iv ro de O ração C o m u m , q u e o usassem e x c lu siv a m e n te , e
q u e to d o s os m in is tro s fossem o rd e n a d o s e p isc o p a lm e n te .
O re s u lta d o foi a Great Ejection (q.v.).

V ic a r {V ig á rio }: (I.I.) M in is tro q u e a serv iço de u m a p a ró q u ia


cujo d ire ito à p ro p rie d a d e e à re n d a (d íz im o s) é de u m
p a tro n o ou h e rd e iro , q u e p o d e c o n c e d e r o seu uso ao
c a n d id a to de sua escolha. Ver Rector e Patron.

V ic e - C h a n c e llo r {V ic e -C h a n c e le r} : ver Chancellor.

1004
Glossário

Westminster Assembly of Divines {A ssem b léia de Teólogos


de W e s tm in s te r!: a te n d e n d o à co n v o cação do p a rla m e n to
in g lê s, a gem a dos te ólogos ou “d iv in e s ” da In g la te rra ,
clé rig o s e leigos, re u n ira m -s e nos re c in to s da A bad ia de
W e stm in ste r, do d ia p rim e iro de ju lh o de 1643 ao d ia 22
d e fe v e re iro de 1649. A m a io ria era de p re s b ite ria n o s ,
m as h a v ia ta m b é m e p isc o p a is, in d e p e n d e n te s e
e ra s tia n o s e n tre eles. T am b ém estava p re s e n te u m g ru p o
de c o m issio n a d o s ou d eleg ad o s da Igreja da E scócia,
h o m e n s c o m p e te n te s que, com o os in d e p e n d e n te s ,
era m p o u co s n u m e ric a m e n te , m as a lta m e n te in flu e n te s.
In ic ia lm e n te , a ta re fa da A ssem b léia era fazer u m a revisão
dos T rin ta e N o v e A rtig o s da R elig ião , a co n fissão de
fé da ig reja escocesa, d a ta n d o de 1562. N a c o n clu sã o da
Solemn League and Covenant (q.v.) e n tre a In g la te rra e a
E sco cia, a A ssem b léia e m p re e n d e u a tarefa de la v ra r
n o v o s d o c u m e n to s q u e serv issem de c re d o , catecism o ,
litu rg ia e p o lític a , v isa n d o c o n trib u ir p a ra a sse g u ra r a
u n ifo rm id a d e da fé, do c u lto e da o rd e m e n tre as igrejas
n a c io n a is da In g la te rra , da E scócia e da Irla n d a . Ver
Westmister Standards. A A ssem b léia a d o to u ta m b é m um a
n o v a versão m e trific a d a dos S alm os, q u e v ie ra m a ser a
fo n te de p rin c íp io s do S alté rio E scocês de 1650.
Westminster Standards ¡P a d rõ e s de W e stm in ste r} : cinco
d o c u m e n to s são o d u ra d o u ro fru to da W e stm in ste r
A ssem b léia o f D iv in e s {A ssem b léia de Teólogos de
W e s tm in s te r} , a d o ta d o s co m o a c o n s titu iç ã o e os p adrões
s u b o rd in a d o s da Ig reja da E scócia, c daí em d ia n te
a s s u m id o s pelas igrejas p re s b ite ria n a s ao re d o r do m u n d o .
O s trê s d o c u m e n to s p rin c ip a is são m u ito co n h e c id o s
co m o th e Westminster Confession of Faith ¡C o n fissão de Eé
de W e stm in ste r} (1647), th e Larger Catechism ¡C a te c ism o
M aio r} (1647), “ u m d ire tó rio p a ra c a te q u is a r aqueles que
te m d e m o n s tra d o a lg u m a p ro fic iê n c ia no c o n h e c im e n to

1005
PAIXAO P E L A PUREZA

das bases da re lig iã o ” ; e the Shorter Catechism {B reve


C atecism o } (1647), “ p a ra c a te q u iz a r os de m a is fraca
c a p a c id a d e ” , ta m b é m c o n h e c id o com o “ th e A ss e m b ly ’s
C a te c h ism ” (“ o C atecism o da A sse m b le ia ” ). O s D ez
M a n d a m e n to s , a O ração do S e n h o r e o C re d o dos A p ó sto lo s
foram ap e n so s ao te x to do B reve C atecism o . N ão tão b em
c o n h e c id o s, m as m u ito m e re c e d o re s de re g is tro , são os
dois p a d rõ e s se c u n d á rio s, The Directory for the Publick [or,
Publique] Worship of God { D ire tó rio p a ra o C u lto P ú b lic o
de D e u s} , (1644), cujo p ro p ó s ito e ra s u b s titu ir o L iv ro
de O ração C o m u m , e The Form of Presbyterial Church­
-Government { F o rm a de G o v e rn o P re s b ite ria l da Ig reja },
(1645). P u b lic a ç õ e s escocesas e a m e ric a n a s dos p a d rõ e s
de W e stm in ste r, há m u ito te m p o in c lu íra m The Sum of
Saving Knowledge: Or, a Brief Sum of Christian Doctrine,
Contained in the Holy Scriptures, and Holden Forth in the
Foresaid Confession of Faith and Catechism; Together with the
Practical Use Thereof {S u m á rio do C o n h e c im e n to Salvifico:
O u , B reve R e su m o da D o u tr in a C o n tid a n as S agradas
E s c ritu ra s , e F ix a d a n o s A c im a C ita d o s C o n fis s ã o d e F é
e C ate c ism o ; J u n ta m e n te com o U so P rá tic o dos M esm o s} ,
(c. 1650), u m a a p re se n ta ç ã o do e v a n g e lh o p re p a ra d a pelos
teólogos escoceses D a v id D ic k s o n , (1583-1663) e Ja m e s
D u rh a m , (1622-1658). Ja m a is sa n c io n a d o o fic ia lm e n te ,
o S u m á rio do C o n h e c im e n to S alvífico o c u p o u , e n tre
os p ad rõ e s de W e stm in ste r, u m lu g a r an á lo g o ao q u e os
C ân o n e s de D o rt o c u p a m e n tre as T rês F o rm a s de U n id a d e
das Ig rejas R e fo rm a d a s H o la n d e sa s.

Yeoman { P ro p rie tá rio } : te rm o ju ríd ic o d a d o a p esso a s


q u e tê m su fic ie n te s te rra s liv res e d e s im p e d id a s p a ra
q u alificá -las p a ra serv iço n o s jú ris, v o ta r em eleições,
etc.; e m p re g a d o de m o d o geral p a ra d e sc re v e r p e q u e n o s
p ro p rie tá rio s de te rra s, fa z e n d e iro s e o u tra s pesso as da
classe m édia.

1006
Bibliografia de Fontes Secundárias
acerca dos Puritanos

Em acréscimo às fontes citadas neste livro, esta bibliografia contém


uma seleção de livros que constituem fontes secundárias, incluindo
dissertações doutorais inéditas, sobre os puritanos, como também
uma pequena amostragem dos teólogos escoceses e holandeses de
persuasão puritana. Esta relação não inclui artigos e enciclopédias.
Os itens assinalados com asterisco (*) receberam um breve sumário
na seção intitulada “Eontes Secundárias sobre os Puritanos”
(páginas 967-914).

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1065
Autores e Títulos
O índice abaixo só inclui os autores sobre os quais foram
escritos artigos biográficos e os títulos de seus livros que foram
reimpressos desde 1956.

Aaron’s Rod Blossoming {A Vara de ..Salmos... e Cantares dc Saio-


Arão Florescente}, 830 mão}, 76
Abel Being Dead, Yet Speaketh Anthology of Presbyterian and
{Abel, Estando Morto, Ainda Reformed Literature {Antologia
Fala}, 557 da Literatura Presbiteriana e
ABC of Faith, 891 Reformada}, 749, 750
à Brakel, Wilhelmus, 879 A ntidote Against Arnuniamsm
Act of Conformity { Lei de Confor­ {Antídoto Contra o Arminia-
midade}, 81 nismo}, 552
Adams, Thomas, 69 Apostles' Creed {() Credo dos
Ainsworth, Henry, 74 Apóstolos}, 955
Airav, Henry, 77 Arraignment of Error {Denúncia do
Alarm to the Unconverted {Uní Guia Pirro}, 151
Seguro para o Céu}, 81 Art of Divine Contentment {A Arte
Alleine, Joseph, 79 do Contentamento Divino},
Alleine, Richard, 87 725
All Things for Good {'Podas as Art of Man-Jisliing {A Arte de
Coisas para o Bem }, 724 Pescar Homens}, 784
Almost Christian Discovered {O Art of Prophesying {A Arte de
Quase Cristão Posto às Claras¡, Profetizar}, 581
549 Assembly's Shorter Catechism Ex­
Alsop, Vincent, 92 plained by Way of Question and
Altogether Lovely {Inteiramente Answer {O Breve Catecismo
Amável}, 296 da Assemblcia, Explicado por
Ambrose, Isaac, 94 Meio de Pergunta e Resposta},
Ames, William, 99 824
Anatomy of Secret Sins {Anatomia Asty, Robert ,114
dos Pecados Secretos}, 626 Baker, Sir Richard ,117
Angel of Bethesda {O Anjo de Bates, William , 119
Betesda}, 526 Baxter, Richard , 123
Annotations on the Pentateuch... Psalms... Bayly, Lewis, 137
and the Song of Solomon Baynes, Paul, 141
{Anotações sobre o Pentateuco.. Beam of Divine Glory {Luminoso

1067
ΡΑ ΙΧA ü P E L A PUREZA

Raio da Gloria Divina}, 568 Brooks, Thomas, 164


Beatitudes { Bcm-Aventuranças}, Bruised Reed {A Cana Trilhada}, 652
725 Bunyan,João 170
Beauties of Ebenezer Erskine { Belos Burgess, Anthony 183
Aspectos de Ehenezer Erskine}, Burroughs, Jeremiah 189
823 By Faith: Sermons on Hebrews 11
Beauties of Thomas Boston {Belos { Pela F’é: Sermões sobre
Aspectos de Thomas Boston}, Hebreus, Capítulo 11}, 506
785 Byfield, Nieholas, 197
Best Match { 0 Melhor Par}, 569 Call to United, Extraordinary Prayer
Blessed Death of Those Who Die in }Chamado à Oração Unida,
the Lord {Morte Abençoada dos Extraordinária}, 130
que Morrem no Senhor}, 802 Carnal Professor {Crente Professo
Bible and the Closet {A Bíblia e o Carnal}, 146
Quarto}, 766 Cartwright, Thomas, 200
Bible Thoughts {Pensamentos Bíblicos}, Caryl, Joseph, 205
207 Case and Cure of a Deserted Soul
Biblical Theology {Teologia Bíblica}, {Caso e Cura de urna Alma
566 Desamparada}, 685
Binning, Hugh, 771 Case for Family Worship {Argu­
Blessing of Cod {A Bênção de mentos em Prol do Culto em
Deus}, 296 Família}, 404
Body of Divinity {Corpo de Case, Thomas, 211
Teologia}, 726 Character of an Upright Man {()
Body of Divinity on the Assembly’s Caráter de um Homem Integro},
Larger Catechism {Corpo de 670
Teologia sobre o Catecismo Character of a True Theologian {()
Maior da Assembleia}, 609 Caráter de um Verdadeiro
Bolton, Roben, 144 Teólogo}, 964
Bolton, Samuel, 150 Charity and Its Fruits {O Amor, ou a
Bonifacius: An Essay To Do Good Caridade, c seus Frutos}, 298
{Bonifacius: Ensaio sobre Charnoek, Stephen, 216
Fazer o Bem}, 524 Christ All and in All {Cristo, Tudo
Book of Revelation {Livro do e em Todos}, 612
Apocalipse}, 802 Christ All in All {Cristo Tudo em
Boston, Thomas, 774 Todos}, 425
Boys, John, 154 Christ Alone Exalted {Somente
Bradstrect, Anne, 156 Cristo Exaltado}, 239
Breastplate of Faith and Love Christ Crucified {Cristo Crucificado},
¡Couraça de Fé e Amor}, 597 218 '
Bridge, William, 159 Christ Crucified: Or the Marroic

1068
Autores e Títulos

of the Cospel in 72 Sermons on Christ Revealed; or, The Old


Isaiah 53 {Cristo Crucificado: Testament Explained {Cristo
ou A Medula do Evangelho Revelado; ou, o Velho Tesla-
em 72 Sermões sobre Isaías, mento Explicado}, 6%
Capítulo 53}, 803 Christ’s Counsel to His Languishing
Christiana’s Journey {A Viagem de Church {Conselho de Cristo a
Cristiana}, 179 Sua Igreja Enfraquecida}, 627
Christian Entirely the Property of Christ’s Last Disclosure of Himself
Christ {O Cristão, Inteiramente {O Ultimo Manilestar-Se de
a Propriedade de Cristo}, 936 Cristo}, 388
Christian in Complete Armour Christ’s Miracles {Milagres de Cristo},
{O Cristão com Armadura 248
Com pleta}, 394 Christ’s Sudden and Certain
Christian Philosopher { O Filósofo Appearances to Judgment
Cristão}, 527 {Aparecimentos Súbitos e
Christian’s Daily Walk, in Holy Certos de Cristo para Juízo},
Security and Peace {O Andar 719
Diário do Cristão, cm Santa Christ the fountain of Life {Cristo
Segurança e Paz}, 623 o Manancial da Vida}, 235
Christian’s Creat Interest {() Grande Church Communion {A Comunhão
Interesse do Cristão}, 842 da Igreja}, 785
Christian’s Ereedom {A Liberdade Church Covenant {Aliança da
do Cristão}, 261 Igreja}, 543
Christian’s Labor and Reward Clarkson, David, 221
{Trabalho e Recompensa do Cobbet, Thomas, 223
Cristão}, 396 Coles, Elisha, 225
Christian’s Reasonable Service {O Communion Sermons {Sermões para
Culto Racional do Cristão a a Ceia do Senhor}, 859
Deus}, 885 Complete Works of Anne Bradstreet
Christian’s Two Chief Lessons: Self­ {Obras Completas de Anne
-Denial and Self-Trial {Duas Im­ Bradstreet}, 158
portantes Lições para o Cristão: Complete Works of Matthew Henry
Abnegação e Exame Introspcc- {()bras Completas de Matthew
tivo, ou Prova Pessoal}, 451 Ilenry}, 415
Christian’s Warfare {()Combate Complete Works of the Late Rev.
Cristão}, 263 Thomas Boston {Obras Com­
Christian Warrior {()Guerreiro pletas do Finado Rev. Thomas
Cristão}, 97 Boston}, 783
Christ Knocking at the Door of the Complete Works of Thomas Adams
Heart {Cristo Batendo à Porta {Obras Completas de Thomas
do Coração}, 336 Adams}, 71

1069
PAIXAO P E L A PUREZA

Complete Works of Thomas Mantón Commentary on the Whole Bible


{Obras Completas de Thomas {Comentário sobre a Bíblia
Mantón}, 508 Toda [Poole), 592
Complete Works of William Bales Concerning Scandal {Concernente
{Obras Completas de William ao Escándalo!, 804
Bates}, 121 Conscience, with the Power and Cases
Comrie, Alexander, 888 Thereof {Consciencia, Poder e
Commentary on I John 'Comentário Casos de}, 107
sobre 1 João}, 407 Contemplations on the Historical
Commentary on Galatians {Comen­ Passages of the Old and New
tário sobre Cálalas}, 583 Testaments {Meditações sobre
Commentary on Hebrews 11 Passagens Históricas do Velho
!Comentário sobre Hebreus, e do Novo Testamentos}, 401
Capítulo 11}, 583 Correspondence ofJohn Cotton
Commentary on St. Paul's Epistle to {Correspondência de John
the Ephesians {Comentário sobre Cotton}, 235
a Epístola aos El'ésios}, 143 Correspondence ofJohn Owen, 1616­
Commentary on the Epistle to the 1683 {Correspondência de John
Colossians {Comentário sobre a Owen}, 567
Epístola aos Colossenses!, 204 Cotton, John, 227
Commentary on the Epistle to the Cotton Mather on Witchcraft {Cotton
Hebrews {Comentário sobre a Mather sobre a Bruxaria}, 525
Epístola aos Hebreus}, 374 Covenant of Grace {Aliança da
Commentry on the New Testament Graça}, 419
from the Talmud and Hebraica Covenant of Life Opened {Aliança
¡Comentário sobre o Novo da Vida, Exposta}, 860
Testamento com Base no Crisp, Tobias, 238
Talmude e na H ebraica}, 492 Crook in the Lot {A Encrenca nos
Commentary on the Old and New Acontecimentos}, 786
'Testament {Comentário sobre o I )avenant, John, 243
Velho e o Novo Testamentos}, Daily Devotions from the Puritans
705 {Devoções Diárias Provindas
Commentary on the Second Epistle dos Puritanos}, 765
General of St. Peter, {Comen­ Day by Day with Jonathan
tário sobre 2 Pedro}, 71 Edwards { Dia a Dia com
Commentary on the Shorter Catechism Jonathan Edwards}, 299
{Comentário sobre o Breve Days of Humiliation, Times of
Catecismo}, 786 Affliction and Disaster { Dias de
Commentary on the Whole Bible Quebrantamento, Tempos de
{Comentário sobre a Bíblia Aflição e Desastre}, 525
Toda} [Henry], 417 Dealing with Sin in Our Children

1070
A utores e Títulos

{Tratando do Pecado em nossos Inglesas}, 831


Filhos}, 439 Divine Providence { Divina Provi-
Dejected Soul’s Cure {Cura da Alma déneia Divina}, 218
Abatida}, 497 Doctrine of Regeneration {Doutrina
Dent, Arthur, 247 da Regeneração}, 218
Departing Glory: Eight Jeremiads by Domestical Duties { Deveres
Increase Mather {Gloria que se D om ésticos}, 375
Vai: Oito Jeremiadas de Auto­ Doolittle, Thomas, 254
ria de Increase Mather}, 538 Door Opening Into Everlasting Life
Dering, Edward, 250 {Porta que se Abre para a Vida
Devotions from the Pen ofJonathan Eterna}, 836
Edwards {Devoções Oriundas Doubting Believer {Crente em
da Pena de J. Edwards}, 299 Dúvida}, 627
Diary of Cotton Mather { Diario de Dovvname, George, 259
Cotton Mather}, 525 Dovvname, John, 262
Diary of Edward Taylor { Diario de Durham, James, 798
Edward Taylor}, 692 Duties of Parents {O Dever dos
Diary of Michael Wigglesworth {Diá­ País}, 913
rio de Michael Wigglesworth}, Duty of Self-Denial {O Dever da
739 Abnegação}, 727
Diary of Samuel Sewall { Diario de Dying Thoughts {Pensamentos
Samuel Sewall}, 632 sobre a Morte}, 131
Dickson, David, 792 Dyke, Daniel, 265
Discourse About the State of True Ecclesiastes & Song of Solomon
Happiness {Discurso sobre o {Eclesiastes e Cantares de
Estado da Verdadeira Felicidade}, Salomão}, 235
715 Economy of the Covenants Between
Discourse Concerning Love {Discur­ God and Man { Economia das
so Concernente ao Amor}, 715 Alianças entre Deus e o
Discourse of Conscience {Discurso H om em }, 957
sobre a Consciência}, 584 Edwards, Jonathan, 269
Discourse on Trouble of Mind and the Edward Taylor’s Christographia
Disease of Melancholy { Discurso {A Cristografia de Edward
sobre Perturbação Mental e Taylor}, 692
sobre o Mal da Melancolia}, 620 Eliot, John, 316
Disputations on Holy Scripture Eliot 'Tracts {Opúsculos de Eliot},
{Discussões sobre as Escrituras 322
Sagradas}, 734 Epistle ofJames {A Epístola de
Dispute Against the English Popish Tiago}, 509
Ceremonies {Disputa Contes­ Epistle ofJude { A Epístola de
tando as Cerimônias Papistas Judas}, 509

1071
PAIXAO PHLA PU R EZA

Fpistles of Paul {As Epístolas de The Family Altar {() Altar da


Paulo}, 795 Familia}, 435
Erskine, Ebenezer, 808 Fisher, Edward, 323
Erskine, Ralph, 808 Family Well-Ordered {Família bem
Evil of Evils {() Mal dos Males}, Ordenada}, 529
191 Farewell Sermons { Sermões de
Excellency of a Gracious Spirit {A Despedida}, 752
Excelência de um Espírito Fast Sermons to Parliament {1640­
Gracioso}, 192 1653} {Sermões Pregados
Existence and Attributes of God {A com Rapidez ao Parlamento},
Existência e os Atributos de (1640-1653), 755
Deus}, 219 Fear of Hell Restrai ns Men from Sin
Exposition of Ezekiel {Exposição {O Mcdo do Inferno Refreia os
sobre Ezequiel}, 388 Homens Quanto ao Pecado},
Exposition of First John {Exposição 679
sobre 1 João}, 236 Fight of Faith Crowned {A Luta da
Exposition ofJohn 17 { Exposição Fé Coroada}, 727
sobre João, Capítulo 17}, 507 Figures or Types of the Old Testament
Exposition of the Profecy of I !osea { Figuras ou Tipos do Velho
{ Exposição sobre a Profecia de Testamento}, 546
Oséias}, 192 Fire and Brimstone { Fogo e
Exposition upon the Book ofJob E nxofre}, 719
{Exposição sobre o Livro de Flavel, John, 328
Jó}, 207' Ford, Thomas, 340
Exposition of the Epistle ofJude Forerunner of the Great Avaketung:
{Exposição sobre a Epístola de Sermons by Theodoras Jacobus
Judas}, 477 Frelinghuysen { Precursor do
Exposition of the Epistle of St. Paul to Grande Despertamento: Ser­
the Colossians {Exposição sobre mões de Theodorus Jacobus
a Epístola de Paulo aos Colos- Frelinghuysen}, 897
senses}, 245 Foundation of Christian Religion
Exposition of the Epistle to the {Fundamento da Religião
Hebrews { Exposição sobre a Cristã}, 584
Epístola aos Ilebreus}, 567 Fountain of Life {Fonte de Vida},
Exposition of the Parables { Expos¡- 337
cão sobre as Parábolas}, 484 Four Last Things {As Quatros
Exposition of Thus ¡ Exposição sobre Realidades Finais}, 147
a Epístola a Tito}, 697 Freedom of the Will {A Liberdade
Exposition upon the Epistle to the da Vontade}, 300
Colossians {Exposição sobre a Frelinghuysen, Theodorus Jacobus,
Epístola aos Colossenses}, 198 893

1072
Autores e Títulos

Gearing, William, 344 Estendido para os Humildes},


General Directions for a Comfortble 597
Walking with God {Diretrizes Golden Treasure of Puritan Devotion
Gerais para urn Bom Andar {O Aureo Tesouro da Devoção
com Deus}, 147 Puritana}, 751
Gillespie, George, 822 Golden Treasure of Puritan Quo-
Gilpin, Richard, 345 rations { O Áureo Tesouro das
Gleanings from Thomas Watson Citações Puritanas}, 765
{ Respigos de Thomas Watson}, Goodwin, Thomas, 350
727 Good Work Begun { Boa Obra
Gleanings from William Gurnall Começada}, 720
{Respigos de William Gurnall}, Gospel Gonversation {Procedimento
396 Evangélico}, 192
Glorious Freedom { Gloriosa Liber­ Gospel Pear {Temor Evangélico},
dade}, 652 193
Glory and Honor of God {Gloria e Gospel Glass {O Espelho do
Honra de Deus}, 300 Evangelho}, 681
Glory of Heaven {Glória do Céu}, Gospel Incense {O Incenso do
344 Evangelho}, 224
Godly Family: a Series of Fssays Gospel Mystery of Sanctification
on the Duties of Parents and {O Mistério Evangélico da
Children {Eamília Piedosa: Série Santificação}, 514
de Ensaios sobre os Deveres de Gospel of Matthew {O Evangelho de
Pais e !·'ilhós}, 728 Mateus}, 796
Godly Man’s Picture {Retrato do Gospel Reconciliation {Reconcilia-
Homem Piedoso}, 728 çào pelo Evangelho}, 193
God’s Mercy Mixed with His Justice Gospel Remission {Remissão pelo
{A Misericórdia de Deus Evangelho}, 193
Mesclada com Sua Justiça}, Gospel Worship {Culto Evangélico},
237 194
God’s Plot {O Projeto de Deus}, Gouge, Thomas, 367
638 Gouge, William, 371
God’s Temble Voice in the City Grace Abounding to the Chief of
{ A Terrível Voz de Deus na Sinners {Graça Abundante para
Cidade}, 720 o Maior dos Pecadores}, 180
God’s Thoughts and Ways are Above Grace: The Truth, Growth, and
Ours {Os Pensamentos e os Different Degrees {A Verdade:
Caminhos de Deus são Mais Crescimento e Diferentes
Altos que os Nossos}, 644 Graus}, 495
Golden Scepter Held Forth to the Gray, Andrew, 833
Humble {O Cetro de Ouro Great Works of Christ in America

1073
PAIXAO P E L A PUREZA

{Grandes Obras de Cristo na tória da Obra de Redenção}, 302


América}, 529 Holy War {Guerra Santa}, 181
Grecnham, Richard, 377 Hope {Esperança}, 194
Greenhill, William, 385 Hooker, Thomas, 443
Grew, Obadiah, 390 Hoornbeek, Johannes, 907
Growing in God’s Spirit {Crescendo Hopkins, Ezekiel, 454
no Espírito de Deus}, 302 Howe, John, 457
Guide to Christ {Guia para Cristo}, How to Prepare for Communion
677 {Como Preparar-nos para a
Gurnall, William, 392 Ceia do Senhor}, 416
Guthrie, William, 839 Human Nature in its Fourfold State
Hall, Joseph, 397 {A Natureza Humana cm seu
Halyburton, Thomas, 844 Quádruplo Estado}, 787
Halyburton’s Works {Obras de Indian Grammar Begun {A Gramática
Halyburton}, 842 India Iniciada}, 321
Ilamond, George, 403 Instructed Christian {Cristão Instru­
Hardy, Nathanael, 406 ido}, 502
Harmless as Doves { Inofensivos Instructions About Heart-work
Como as Pombas}, 724 { Instruções Acerca da Obra do
Harris, Robert, 408 Coração}, 89
Heart Treasure {Tesouro do Instructions for Comforting Afflicted
Coração}, 166 Consciences {Instruções para Con­
Heaven on Earth {Céu sobre a fortar Consciências Aflitas}, 148
Terra}, 166 Irenicum to the Lovers of Truth and
Heaven Opened {Céu aberto}, 89 Peace {Mensagem Irónica para
Heaven Taken by Storm {O Céu os Amantes da Verdade e da
Tomado à Força}, 729 Paz}, 195
Help for Distressed Parents {Ajuda Irresislibleness of Converting Grace
aos Pais Aflitos}, 530 {Irresistibilidade da Graça
I lellenbroek, Abraham, 901 da Conversão}, 594
Henry, Matthew, 412 Jacomb, Thomas, 468
Henry, Philip, 424 Janeway, James, 471
Heywood, Oliver, 430 Jenkyn, William, 474
Hildersham, Arthur, 437 Jeremiads {Jeremiadas}, 539
Hill, Robert, 440 Johnson, Edward, 478
History of God’s Remarkable Providences Johnson’s Wonder-Working
in Colonial New England {His­ Providence {Johnson sobre
tória de Notáveis Providências a Providência e suas Obras
de Deus na Nova Inglaterra M aravilhosas}, 479
Colonial}, 969 Jo n ath an E dw ards on R evival
History of the Work of Redemption {His- {J. Edwards sobre Avivamento},

1074
Autores e Títulos

302 Letters of Samuel Rutherford i Carias


Jo n a th a n E dw ards, R eader de Samuel Rutherford}, 860
{J. E d w ard s, le ito r}, 303 Lessons for the Children of Godly
Jonathan Edwards’s Resolutions and Ancestors Í Lições para os Filhos
Advice to Young Converts {As de Aneeslrais Piedosos}, 754
Resoluções e o Conselho de Lex Rex, or The Lave and the Prince
Jonathan Edwards a Recém- }O Rei é a Lei, ou a Lei e o
-Convertidos}, 303 Príncipe}, 862
Journal ofJohn Wmthrop 1630-1649 Life and Diary of David Braincrd
{Diario de J. Winthrop}, 744 IVida e Diario de David
Judges {J u1'zes}, 616 Braincrd}, 305
Jus Divinurn Regimims Ecclesiastic1 Life and Letters of Joseph A lleine
or The Divine Right of Church { Vida e Cartas de Joseph
Government {O Direito Divino Alleine}, 83
do Governo da Igreja}, 754 Life of the Reverend Mr. George
Justification by Eaith Alone ¡Justifi- Trosse {Vida do Rev. Sr. George
cação pela Fé Somente}, 302 Trosse}, 709
Justification of a Sinner {Justificação Lifting Up for the Lowcast { Um
de um Pecador}, 571 Elixir para os Abatidos}, 162
Justification Vindicated {Justificação Lightfoot, John, 486
Vindicada}, 580, 701 Lord's Prayer {Watson} {A Oração
Reach, Benjamin, 482 do Senhor}, 729
Keeping the Heart {Guardando o Lord’s Prayer {Witsius} {A Oração
Coração}, 337 do Senhor}, 963
Knowing Christ {Conhecendo Lord Our Righteousness {O Senhor,
Cristo}, 304 nossa Justiça}, 392
Knowing the Heart {Conhecendo o Looking Unto Jesus {Olhando para
Coração}, 304 Jesus}, 98
Knowledge of God {Conhecimento Love, Christopher, 494
de Deus}, 220 Love to Christ Necessary to Escape
Koelman, Jacobus, 915 the Curse of His Coming {Amor
Lawrence, Edward, 486 a Cristo: Necesario para
Learning in Christ’s School {Apren­ Escapar do Flagelo de Sua
dendo na Escola de Cristo}, 714 Vinda}, 258
Lectures on Job {Preleçòes sobre Lyford, William, 502
Jó}, 805 Mantón, Thomas, 504
Lectures upon the Whole Epistle Marbury, Edward, 513
of St. Paul to the Philippians Marks of God’s Children { Mareas
{ Preleçòes sobre Toda a dos Filhos de Deus}, 919
Epístola do Apóstolo Paulo Marrow of Modem Divinity {Medula
aos Filipenses}, 78 da Teologia Moderna}, 109

1075
PAIXAO P E L A PU R EZA

Marrow of Theology {Medula da Ness, Christopher, 551


Teologia}, 109 Norton, John, 553
Marshall, Walter, 515 Obadiah and Habakkuk {Obadias e
Mather, Cotton, 520 Habacuque}, 513
Mather, Increase, 533 One Hundred and Ninety Sermons
Mather, Richard, 540 on Psalm 119 {tiento e Noventa
Mather, Samuel, 544 Sermões sobre o Salmo 119},
Mead, Matthew, 547 510
M. Dering’s Works {Obras de Μ. On the Character of a True Theologian
Dering}, 254 {Sobre o Caráter de um Verda­
Meditations and Disquisitions upon deiro Teólogo}, 964
Certain Psalms {Meditações Ornaments for the Daughters of Zion
e Dissertações sobre Alguns {Ornamentos para as Eilhas de
Salmos}, 118 Sião}, 531
Memoirs of Thomas Boston { Memo­ Our Great and Glorious God {O nosso
rias de Thomas Boston}, 792 Grande e Glorioso Deus}, 305
Memoirs of Thomas Halyburton Owen, John, 558
{Memórias de Thomas Haly- Parable of the Ten Virgins {A Pará­
burton}, 850 bola das Dez Virgens}, 634
Method of Grace {() Método da Parents' Concerns for their Unsaved
Graça}, 337 Children { Preocupações dos
Method for Prayer { Método para Pais com seus Eilhos Não Sal­
Oração}, 419 vos}, 488
Michael and the Dragon {Miguel e Paterna: The Autobiography of Cotton
o Dragão}, 268 Mather {Paternal: Autobiografia
M ischief o f Sin {O D an o do de Cotton Mather}, 531
P e ca d o }, 729 Path of True Godliness {A Vereda da
Mortified Christian {O Cristão Verdadeira Piedade}, 928
M ortificado}, 498 Pathway to Prayer and Piety
Mute Christian under the Smarting {Cantinho para a Oração e a
Rod {Um Cristão em Silêncio Piedade}, 437
sob a Vara da Aflição}, 167 Pearse, Edward, 572
Mystery of Providence { O Mistério Pemble, William, 574
da Providência}, 337 Penitent Pardoned {O Penitente
Name in Heaven the Truest Ground of Absolvido}, 499
Joy {Nome no Ceu: a Mais Ver­ Perkins, Willliam, 573
dadeira Base da Alegria}, 550 Pilgrim’s Progress {O Peregrino}, 181
Nature of Saving Conversion {A Plain Man's Pathway to Heaven {()
Natureza da Conversão Salva­ Caminho do Homem Simples
dora}, 677 para o Céu}, 249
New Birth {() Novo Nascimento}, 220 Plea for the Godly and Other Sermons

1076
Autores e Títulos

{Pleito em Prol dos Piedosos, e { Preciosas Promessas do Kvan-


Outros Sermões}, 730 gelho}, 86
Pleasantness of a Religious Life {O Precious Remedies Against Satan’s
Prazer de uma Vida Religiosa}, Devices {Preciosos Remédios
420 Contra as Artimanhas de Sata­
Poems o f Michael Wigglesworth nás}, 168
{Poemas de Michael Wiggles- Pressing Into the Kingdom j Pres­
worth}, 739 sionando para a Entrada no
Polhill, Edward, 586 Reino 1, 306
Poole, Matthew, 589 Preston, John, 589
Poor Doubting Christian Drawn Psalms { Salmos}, 796
to Christ { Pobre Cristão em Puritan Pulpit: Jonathan Edwards
Dúvida Atraído a Cristo}, 451 {Púlpito Puritano: Jonathan
Power of Faith and Prayer {O Poder Edwards}, 678, 730
da Fé e da Oração}, 863 Puritan Pulpit: Solomon Stoddard
Practical Discourse of Cod’s Sove­ { Púlpito Puritano: Solomon
reignty {Discurso Prático sobre Stoddard}, 306
a Soberania de Deus}, 226 Puritan Pulpit: Thomas Watson
“Practical Divinity” {Teologia {Púlpito Puritano: Thomas
Prática}, 381 Watson}, 730
Practical Exposition of the Ten Com­ Puritans: A Sourcebook of Their
mandments {Exposição Prática Writings {Puritanos: Livro de
dos Dez Mandamentos}, 806 Fontes dos seus Escritos}, 751
Practical Codliness {Piedade Prática}, Puritans Sermons, 1659-1689 {Ser-
93 mòes I’ uritanos, 16591689‫}־‬,
Practical Works of Richard Baxter 758
{ Obras Práticas de Richard Puritan Sermon in America, 1630­
Baxter}, 132 1750 {O Sermão Puritano na
Practice of Piety IA Prática da América, 1630-1750}, 755
Piedade}, 138 Puritans in America: A Narrative
Prayer of the Publican { A Oração do Anthology {Puritanos na América:
Publicano¡, 930 Antologia Narrativa}, 754
Preacher of God's Word: Sermons by Puritans in the New World: A
Christopher Love {Pregador da Critical Anthology { Puritanos
lAdavra de Deus: Sermões de no Novo Mundo: Antologia
Christopher Love}, 500 Crítica}, 751
Preaching from the Types and Puritans on Conversion {Os Purita­
Metaphors of the Bible { Pregação nos sobre a Conversão}, 761
Baseada nos Tipos e Metáforas Puritans on the Lord’s Supper
da Biblia}, 388 {O s Puritanos sobre a Ceia
Precious Promises of the Gospel do Senhor}, 762

1077
PAIXAO P E L A PU R EZA

Puritans on Loving One Another {(>s Reynolds, Edward, 603


Puritanos sobre Amar Uns aos Riches Increased by Giving ¡ Riquezas
Outros}, 763 Aumentadas pelo Ato de D ar¡,
Puritans on Prayer ¡Os Puritanos 370
sobre a Oração}, 764 Ridgley, Thomas, 608
Pursuing Holiness in the Lord { Bus­ Robinson, Ralph, 611
cando a Santidade no Senhor¡, Rogers, Richard, 613
307 Rogers, Timothy, 617
Quaint Sermons of Samuel Ruther­ Romans 8 {Romanos, capítulo 8 ¡ ,
ford {Curiosos Sermões de 469
Samuel Rutherford}, 863 Rutherford, Samuel, 852
Quest for Meekness and Quietness of Rutherford’s Catechism: or, The Sum
Spirit { Em Busca da Mansidão of Christian Religion {() Catecismo
e da Serenidade de Espírito}, de Rutherford: 011 Sumario da
421 Religião Cristal, 863
Ranew, Nathanael, 600 Sabbath’s Sanctification {A Santifi­
Rare Jewel of Christian Contentment cação do Sabbath, isto é, do Dia
IA Joia Rara do Contentamento de Santo Repouso Semanal},
Cristão}, 195 376
Redeemer's Tears Wept Over Lost Safety oj Appearing on the Day
Souls { Lágrimas do Redentor of Judgment { Segurança no
sobre as Almas Perdidas}, 466 Comparecimento no Dia do
Redemption: Three Sermons, 1637­ Juízo}, 678
1656 ¡Redenção: Três Sermões, Saint’s Daily Exercise {C) Exercício
1637-1656}, 448 Diário do Santo}, 598
Reformed Pastor ¡ O Pastor Saint’s Encouragement to Diligence in
Reformado}, 133 Christ’s Service !Encorajamento
Religious Affections { Afetos do Santo para que Seja Diligen­
Religiosos}, 307 te no Serviço de Cristo}, 472
Religion Our True Intrerest Saints’ Everlasting Rest {O Repouso
¡Religião: O Nosso Verdadeiro Eterno dos Santos}, 135
Interesse}, 730 Saints' Happiness {A Eelicidade dos
Religious Tradesman ¡O Comer­ Santos}, 196
ciante Religioso}, 675 Saints’ Treasure {O Tesouro dos
Reliquiae Baxtenanae ¡Reliquias Santos}, 196
Baxterianas}, 134 Scougal, Ilenry, 864
Remedy for Wandering Thoughts Scudder, Ilenry, 622
in Worship { Remédio Contra Secret of Communion with God It)
Pensamentos Errantes no Segredo da Comunhão com
Culto}, 672 Deus}, 422
Revelation {Apocalipse}, 422 Sedgwick, Obadiah, 624

1078
Autores e Títulos

Seeking God {Em Busca de Deus}, Sincere Convert and the Sound
309 Believer {O Sincero Convertido
Selected Letters of Cotton Mather e o Crente Firme}, 640
{Cartas Seletas de Cotton Ma­ Sinfulness of Sin {A Gravidade do
ther}, 531 Pecado}, 712
Select sermons { Sermões Seletos}, Singing of Psalms {Cantando dos
836 Salmos}, 342
Select Sermons of Ralph Erskine Smith, Flenry, 658
{Sermões Seletos de Ralph Smooth Stones Taken from Ancient
Erskine}, 825 Brooks {Pedras Polidas Tiradas
Select Works of Thomas Case {Obras de Antigos Ribeiros}, 169
Seletas de Thomas Case}, 214 Soldiery Spiritualized {Tropa Espiri­
Selected Writings of Jonathan tualizada}, 765
Edwards { Escritos Selecionados Solitude Improved by Divine Medita­
de Jonathan Edwards}, 310 tion { Solidão Aperfeiçoada pela
Selections from the Unpublished Meditação Espiritual}, 601
Writings of Jonathan Edwards Solomon’s Divine Arts {As Artes
{Seleções Tirados dos Escritos Sacras de Salomão}, 402
Não Publicados de Jonathan Song of Solomon {Cantares de
Edwards}, 309 Salomão}, 806
Sermons and Cannonballs { Sermões Soul’s Humiliation {O Quebranta-
e Balas de Canhão}, 760 mento da A lm a},451
Sermon of Repentance {Sermão Soul’s Preparation for Christ {A
sobre Arrependimento}, 250 Preparação da Alma para
Sermons ofJonathan Edwards { Ser- Cristo}, 452
mòcs de Jonathan Edwards},310 Specimen of Divine Truths { Uma
Sermons ofJonathan Edwards: A Amostra das Verdades D ivi­
Reader { Sermões de Jonathan n a s}, 906
Edwards: Uma Cartilha}, 311 Spiritual Desertion { O Abandono
Sermons of Matthew Mead { Sermões Espiritual}, 909, 947
de Matthew Mead}, 546 Spiritual Refining {Refinamento
Sermons of Thomas Watson { Ser­ Espiritual}, 186
mões deThomas Watson}, 731 Spurstowe, William, 666
Sewall, Samuel, 633 Standing in Grace { Permanecendo
Shepard, Thomas, 638 na Graça}, 312
Shorter Catechism Explained from Steele, Richard, 664
Scripture {O Breve Catecismo Stoddard, Solomon, 673
Explicado com Base nas E s­ Stuckley, Lewis, 680
crituras}, 721 Swinnock, George, 683
Shower, John, 642 Symonds, Joseph, 685
Sibbes, Richard, 645 Taffin, Jean, 916

1079
PAIXAO P E L A PU R EZA

Taylor, Edward, 687 Treatise of Earthly-Mindedness


Taylor, Thomas, 694 {Tratado sobre Mentalidade
Technometry {“Tccnometria” }, 113 Terrena}, 196
Ten Commandments {Os Dez Man- Treatise of Effectual Calling and
damentos}, 732 Election {Tratado sobre a voea-
Tccllinck, Willem, 917 ção eficaz e a eleição}, 499
'Temptation of Christ {A Tentação de Treatise of Rejoicing in the Lord Jesus
Cristo}, 511 { Tratado sobre Regozijar-nos
Theses Sabbaticae {Teses Sabáticas}, no Senhor Jesus}, 115
636 Treatise of Satan’s Temptations
Thomas Hooker, Writings in England {Tratado sobre as Tentações de
and Holland {Thomas Hooker, Satanás}, 348
Escritos na Inglaterra e na Treatise on Grace {Tratado sobre a
Holanda}, 452 Graça}, 314
'Thoughts on the New England Treatise of Self-Denial {Tratado
Revival { Pensamentos sobre o sobre a Abnegação}, 511
Avivamento na Nova Inglaterra}, Trosse, George, 706
312 True Believer {O Verdadeiro
Threefold Paradise of Cotton Mather Grente}, 313
{ Paraíso Tríplice de Cotton True Bounds of Christian Freedom
Mather}, 530 {Os Verdadeiros Limites da
Token for Children { Um Toque para Liberdade Cristã}, 152
as Crianças}, 472 True Christian’s Love to the Unseen
To My Husband and Other Poems {A Christ {O Verdadeiro Amor do
meu Marido e Outros Poemas}, Cristão ao Cristo Invisível},
158 721
To the Rising Generation {A Geração True Constitution of a Particular
Nascente}, 313 Visible Church {A Verdadeira
Traill, Robert, 702 Constituição de uma Igreja
To All the Saints of God {A 'Todos os Visível Particular}, 237
Santos de Deus}, 311 True Professors and Mourners
Trial and Triumph of Eaith { Prova {Crentes Professos Verdadeiros
e Vitoria da Fé}, 863 e os Pranteadores}, 256
Trapp, John, 707 Truth and Life { A Verdade e a
'Travels of True Godliness {Jornadas Vida}, 340
da Verdadeira Piedade}, 484 Truth’s Victory over Error {Vitória da
Treatise Concerning the Lord's Supper Verdade sobre o Erro}, 797
{Tratado Concernente à Ceia Two Mather Biographies { Duas
do Senhor}, 258 Biografias de Mather}, 539
Treatise of Christian Love {Tratado Two Sermons {Dois Sermões}, 237
sobre o Amor Cristão}, 773 Types of the Old 'Testament {Tipos

1080
Autores e Títulos

do Velho Testamento}, 1 {Obras de Christopher Love,


Unless You Repent {Se Não vos Volume 1}, 501
Arrependerdes}, 314 Works of David Clarkson {Obras de
Unsearchable Riches of Christ David Clarkson}, 222
{A s Insondáveis Riquezas Works of Ebenezer Erskine {Obras
de Cristo}, 807 de Ebenezer Erskine}, 818
Valley of Vision: A Collection of Works of Edward Polhill {Obras de
Puritan Prayers and Devotions Edward Polhill}, 587
{Vale da Visão: Coleção de Works of Edward Reynolds {Obras
Orações e Devoções Puritanas}, de Edward Reynolds}, 605
751 Works of Ezekiel Hopkins {Obras de
van der Groe, Theodoras, 928 Ezekiel Hopkins}, 456
VanderKemp, Johannes, 935 Works of George Gillespie {Obras de
Venning, Ralph, 710 George Gillespie}, 830
View of the Covenant of Grace Works of George Swinnock {Obras
{Conceito sobre a Aliança da de George Swinnock}, 684
Graça}, 789 Works of Henry Scougal {Obras de
Vincent, Nathaniel, 714 Henry Scougal¡, 867
Vincent, Thomas, 717 Works of Henry Smith {Obras de
Voetius, Gisbertus, 938 Henry Smith}, 657
Watson, Thomas, 722 Works ofJohn Roys {Obras de John
Way to True Happiness {O Caminho Bovs}, 155
da Verdadeira Felicidade}, 411 Works ofJohn Runyan {Obras de
Whitaker, William, 733 João Bunyan},178
Whole Treatise of Cases of Conscience Works ofJohn Flavel {Obras dc
{Tratado Completo sobre Casos John Flavel}, 334
de Consciência}, 580 Works ofJohn Howe {Obras de},
Wigglesworth, Michael, 739 463
Wiles of Satan {Artimanhas de Works ofJohn Owen {Obras de},
Satanás}, 666 564
William Perkins 1558-1602: English Works of Jonathan Edwards, 281,
Puritanist {William Perkins, 282
1558-1602: Puritanista Inglês}, Works ofJonathan Edwards {Obras
584 de Jonathan Edwards}, 818
Winthrop, John, 740 Works of Ralph Erskine { Obras de
Witsius, Herman, 948 Ralph Erskine}, 814
Word to the Aged { Palavra aos Works of Robert Traill {Obras de
Idosos}, 159 Robert Traill}, 697
Works of Andrew Gray {Obras de Works of Richard Sibbes {Obras de
Andrew Gray}, 830 Richard Sibbes}, 648
Works of Christopher Love, Volume Works of the Reverend and Faithful

1081
PAIXAC) P E L A PU R EZA

Servant ofJesus Christ M. William Bridge}, 161


Richard Greenham {Obras do Works of William Perkins {()bras de
Reverendo e Fiel Servo de William Perkins}, 580
Jesus Cristo, M. Richard World Conquered by the Faithful
Greenham}, 384 Christian {O Mundo Vencido
Works of the Rev. Hugh Burning pelo Cristão Piel}, 90
{Obras do Rev. Hugh Binning}, Worthy is the Lamb: Puritan Poetry
773 in Honor of the Savior { Digno é
Works of Thomas Brooks {Obras de o Cordeiro: Poesia Puritana em
Thomas Brooks}, 165 Honra do Salvador}, 749
Works of Thomas Goodwin {Obras Wrath of Almighty God { Ira do
de}, 360 Deus Todo-Poderoso}, 315
Works of Thomas Mantón {vols. 1-3} Young Christian {O Jovem Cristão},
{Obras de Thomas Mantón}, 423
511 Zealous Christian {O Cristão Zeloso},
Works of William Bridge {Obras de 501

1082
O DR. JO EL R. BEEKE é p re s id e n te e p ro fe sso r de
te o lo g ia s is te m á tic a e de h o m ilé tic a no P u rita n R efo rm e d
T h e o lo g ic a l S em in ary , p a s to r da H e rita g e N e th e rla n d s
R e fo rm e d C o n g re g a tio n em G ra n d R a p id s, M ic h ig a n , e d ito r
de The Banner of Sovereign Grace Truth, d ire to r e d ito ria l de
R e fo rm a tio n H e rita g e B ooks, p re s id e n te da In h e rita n c e
P u b lis h e rs , e v ic e -p re s id e n te da D u tc h R e fo rm e d T ra n sla tio n
Society. E le já escrev eu ou e d ito u c in q u e n ta liv ro s e co lab o ro u
co m m a is de 1.500 a rtig o s so b re a fé re fo rm a d a p a ra livros,
jo rn a is, p e rió d ic o s e e n c ic lo p é d ia s. Seu d o u to ra d o em filosofia
(P h .D .) é em te o lo g ia da R e fo rm a e da P ó s-R e fo rm a , pelo
W e s tm in s te r T h e o lo g ic a l S em inary. F re q u e n te m e n te ele é
c o n v id a d o p a ra fazer prele çõ es em s e m in á rio s e p ara falar
em c o n fe rê n c ia s da fé re fo rm a d a em to d o o m u n d o . Hle e sua
esp o sa M a ry fo ram a b e n ç o a d o s com três filhos.

RANDALL J. PEDERSON é m e m b ro da H e rita g e N e th e rla n d s


R e fo rm e d C o n g re g a tio n em G ra n d R a p id s, M ic h ig a n . Q u a n d o
c o la b o ro u n a p ro d u ç ã o d este liv ro , P e d e rso n estava c o n c lu in d o
o seu m e stra d o em te o lo g ia (T h . M .) no C alv in T h eo lo g ic a l
S em in ary . Sua tese, “Francis Rous e a Corrente Mística dentro
do Puritanismo Inglês, 1640-1660”, ex p lo ra u m te m a m u ito
n e g lig e n c ia d o n o s e stu d o s so b re o p u rita n is m o inglês. Hle
é a u to r e c o -a u to r de d iv e rsas p u b lic a ç õ e s re la c io n a d a s com
o p u rita n is m o , in c lu siv e p ró lo g o s, a rtig o s, in tro d u ç õ e s e
d e v o c io n á rio s. E le tra b a lh o u co m o e d ito r c o m issio n a d o p ara
d iv e rsas p u b lic a d o ra s c ristã s, e n tre elas estas: E v an g elical
P re ss, D a y O n e P u b lic a tio n s , B ry n tirio n P re ss e C rossw ay
B ooks. E le e su a esposa S arah fo ram ab e n ç o a d o s com um filho.

1083

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