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BREVE HISTORIA RESUM O: Este artigo investiga a relevância da categoria espaço e suas

variações conceituais no âmbito da Teoria da Literatura, abarcando as correntes


DO ESPAÇO NA do princípio do século X X e o pensam ento estruturalista. Como significativos

TEORIA DA desdobramentos ou questionamentos deste último, a Desconstrução, os Estudos


C u ltu ra is e a Teoria da Recepção são expostos seg u n d o seus principais
LITERATURA aspectos de espacialização.
Palavras-chave: espaço; teoria da literatura.
Luis Alberto Brandão
U n iv e rsid a d e F e d e ra l de ABSTRACT: This paper investigates the relevance o f category space and its
M inas Gerais conceptual variations in the field o f Literary T heory, enclosing early X X th
C entury tendencies and the structuralist thought. /Is important developments
and replies to that thought, D econstruction, C ultural Studies and Reception
Theory are exposed according to its main aspects o f spatialization.
Keywords: space; literary theory.

1. Histórias do espaço

Quando se pretende discutir a questão do espaço segundo um


viés diacrônico, é preciso levar em conta duas perspectivas, em geral
intim am ente relacionadas. A prim eira propõe que uma "história do
espaço" - ou seja, um registro das m odificações que envolvem tal
categoria no decorrer de determ inado período - seja constituída por
meio do levantamento das diferentes formas de percepção espacial, as
quais incluem tanto os sentidos do corpo humano quanto os sistemas
tecnológicos, rudimentares ou complexos, de observação, mensuração
e representação. A segunda perspectiva propõe que se indaguem as
transformações do espaço exatamente como conceito, construto mental
utilizado na produção do conhecim ento hum ano, seja de natureza
científica, filosófica ou artística. No prim eiro caso, tem -se, pois, a
fund am entação em pírica da "h istória do esp aço "; no segundo, a
h is to r ic id a d e da ca te g o ria esp a ço se g u n d o um a p e rsp e c tiv a
epistemológica.
Um breve exame da história da cartografia é suficiente para
dem onstrar que as formas de representação espacial variam de acordo
com a relação que cada época e cultura possui com o espaço, relação
que abarca possibilidades de percepção e uso, definidas por intermédio
de condicionantes econôm icos, sociais e políticos. A ssim é que os
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Luis A lberto Brandao (U FM G )

m apas m ed ievais, em d ecorrên cia do relativo Outro m odo privilegiado de se abordar a


iso la m e n to d os e s p a ç o s fe u d a is eu ro p e u s, historicidade do espaço segundo um prism a de
acentuam as qualidades sensoriais e sim bólicas, d escriçã o e m p írica é m e d ia n te o e stu d o das
m as n ão as ra c io n a is e o b je tiv a s , da ord em transform ações da m ais persistente e com plexa
espacial, como é o caso dos m apas renascentistas, forma de organização espacial hum ana: a cidade.
que refletem o desejo de conquista e dom ínio dos No âmbito do U rbanism o, tam bém se observa a
espaços. Já a cartografia m oderna fundam enta-se tendência de uma categorização que ressalta as
na concepção iluminista de um espaço passível de especificidades da cidade medieval em contraposição
ser m in u ciosa e ra cio n a lm en te ap reen d id o e, à cidade an tiga, o p ro cesso de d esru ralização
conseqüentem ente, apropriado e controlado.40 associado à consolidação da cidade m oderna, e,
"Sendo o espaço um 'fato' da natureza, a p or fim , o p ro ce sso de " p o lic e n tr is m o " das
conquista e organização racional do espaço se m etrópoles contem porâneas, que, aliado a outros
tornou parte integrante do projeto modernizador", processos, estaria colocando em xeque as próprias
afirma David Harvey (1993, p.227), defendendo fronteiras do que se entende por cidade.42 Jacques
um a p e rio d iz a çã o na q u al ao m o v im en to de Le G o ff, p ara se re fe r ir ao fe n ô m e n o da
ra c io n a liz a ç ã o do esp a ç o do Ilu m in ism o se conurbação, observa que é inadequado utilizar o
seguiria, a p artir de m eados do século X IX , a termo cidade, já que se trata de algo im preciso, no
tipicam ente m odernista "com pressão do tempo- máxim o "espaços de form as u rban as", nos quais
esp aço", cuja ênfase no sentido de m udança e "os campos são subm ersos e as cidades, como que
progresso revelaria o caráter heterogêneo e não inundadas: não se sabe m ais m uito bem quais
absoluto do espaço. Tal com pressão, por sua vez, deles invadem os ou tros" (1998, p .149-150).
se radicalizaria a partir dos anos 60-70 do século XX, Aliados à história dos espaços urbanos, há
gerando a espacialidade disruptiva caracterizadora também esforços de se m apear as m udanças de
da "condição pós-m oderna", em que se constata o configuração de outros tipos de espaço. Isso se
conflito entre, por um lado, a tentativa de preservar verifica, por exem plo, no livro Casa - pequena
e constituir lugares de identificação, e, por outro, história de uma idéia, em que o arquiteto W itold
a p ro g re ss iv a a b stra ç ã o e v irtu a liz a ç ã o dos Rybczynski (1996) analisa a evolução dos arranjos
espaços, sobretudo de natureza pública.41 ad o ta d o s n as e d ific a ç õ e s q u e se d estin a m à
moradia hum ana, e os valores a elas associados.
Já em Corpo e pedra - o corpo e a cidade na
40 Cf. A G UILAR: 1967; JO LY: 1990; D REYER-EIM BRCKE: civilização ocidental, Richard Sennet propõe uma
1992.
in v e stig a çã o d as " r e la ç õ e s e n tre os co rp o s
41 HARVEY: 1993, partes III e IV. O raciocínio de H arvey,
humanos no espaço" (1997, p .17), abarcando desde
b a se a d o no e stu d o d os m o v im en to s do C ap italism o , é
desenvolvido também no livro The urban experience: "I argue
that the very existence of money as a mediator of commodity
exchange radically transforms and fixes the meanings of space 42 P ara um a d iscu ssão sob re a h istó ria d as cid ad es, ver
and time in social life and defines limits and imposes necessities B E N E V O L O : 1 9 9 7 ; G ED D E S: 1 9 9 4 ; M O RRIS: 1 984;
1 1 6 uPon the shape and form of urbanization"(1989, p .165). M UM FORD: 1965.

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Breve história do espaço na teoria da literatura

a Atenas em seu período de apogeu até a Nova York Tal reversão, acentuada sobretudo a partir dos
do século XX. As mesmas relações, mas centrado an os 60 do sé cu lo X X , re p re se n ta um a
somente na atualidade, dedica-se David Harvey no "reeq u ilib ração " entre a noção de seqü ência -
capítulo intitulado "O n bodies and political persons típica de uma perspectiva que prioriza o caráter
in global space", em que parte do princípio de que temporal - e a de sim ultaneidade - associada a
"the body is not a closed and sealed entity, but a uma perspectiva espacializante:
relational 'thing' that is created, bounded, sustained,
and ultimately dissolved in a spatiotemporal flux of Assim, o fluxo seqüencial é freqüentemente
multiple processes" (2000, p.98). desviado para levar concom itantemente em conta
P ara lela m en te a um a h isto rio g ra fia do as sim ultaneidades, os m apeam entos laterais que
esp a ço , d e se n v o lv id a seg u n d o o v iés de sua possibilitam entrar na n arrativa quase que em
natureza empírica ou perceptiva, é de fundamental qualquer ponto, sem perder de vista o objetivo
relevância a perspectiva que coloca em foco as geral: criar modos mais criticam ente reveladores
transform ações históricas do conceito de espaço. de exam inar a com binação de espaço e tempo,
Tal "h isto rio g ra fia ep istem o ló g ica do esp aço" história e geografia, período e região, sucessão e
depende, naturalm ente, de se reconhecer que o simultaneidade. (SOJA: 1993, p.8)
conceito de espaço atua como elemento importante
em v á rio s ca m p o s do c o n h e c im e n to . É m ais T am bém no cam p o da F ísica se pod e
ad eq u ad o , p ois, se fa la r que o esp aço possu i pensar em uma atribulada história que teria dois
distintas histórias, dependendo do cam po que se personagens centrais. De um lado, encontra-se o
e n fo ca , m esm o q u e, fre q ü e n te m e n te , h aja conceito newtoniano de espaço absoluto. Segundo
cruzam entos entre cam pos e, com o conseqüência, M argaret W ertheim , no livro Um a história do
intercessões das histórias, o que dem anda uma espaço, "trata-se da noção de que o espaço forma
abordagem transdisciplinar. um pano de fundo absoluto para o universo, uma
Nas Ciências Sociais, segundo defendido moldura absoluta contra a qual tudo o mais pode
por Edward Soja, ao se propor hoje uma história ser medido de m aneira ú nica" (2001, p .124). Do
das relações entre espaço e tem po, verifica-se que outro lado, há o conceito de espaço relativístico
a prim azia teórica da H istória (derivada da noção proposto por Einstein, segundo o qual o tem po é
de que o esp aço é um m ero "c e n á rio " para o tomado como uma quarta dim ensão do espaço,
desenrolar do tempo) deve ser questionada. Assim, que, por sua vez, está em constante expansão. A
a pós-modernidade seria caracterizada pelo projeto concepção dinâmica de espaço coloca sob suspeita
de "abrir e recom por o território da im aginação o paradigma teórico que se consolidara até então.
histórica através da espacialização crítica" (1993, Nas palavras de Einstein: "n a im aginação dos
p .19), projeto que corresponde a uma reversão da físicos, o espaço conservou até os últim os tempos
tendência, predom inante nas abordagens sociais o aspecto de um território passivo para todos os
teóricas do século XIX, de se privilegiar o tempo e a c o n te c im e n to s, e stra n h o ele m esm o aos
a história em detrim ento do espaço e da geografia. fenômenos físicos" (1981, p .168-169).

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Luis A lberto Brand ão (U FM G )

Q uanto a um a h istó ria do con ceito de histórico da Teoria da Literatura, compreendida na


espaço na Filosofia, seria necessário configurar um acepção moderna de campo conceituai e metodológico
p ercu rso que lev a sse em co n sid era çã o , en tre voltado para o objeto literário e com potencial de
ou tras, a p ersp ectiv a id ea lista , sin tetizad a na estabelecer e regular as próprias peculiaridades. A
pressuposição kantiana de que espaço e tempo são consolidação da Teoria da Literatura se inicia nos
categorias apriorísticas;43 a fenom enológica, que prim órdios do século XX m ediante a busca pela
propõe uma ontologia dos espaços - associando o e s p e c ific id a d e de seu o b je to - a b u sc a p ela
espaço ao ser, com o em M artin H eidegger,44 ou à literaturnost, ou literaturidade46 -, o que pressupunha
imaginação poética, como em Gaston Bachelard45 - o d istan ciam e n to da E sté tica (com ó ram o da
; e as te n ta tiv a s de te o riz a ç ã o da filo so fia F ilo s o fia ), a recu sa d as a n á lis e s de cu n h o
contem porânea, como é o caso das "heterotopias" im pression ista ou de d ecod ificação sim bólico-
de M ich e l F o u c a u lt, qu e a firm a : "S p a c e is metafísica, e o questionamento de abordagens cuja
fundam ental in any form of com m unal life; space ênfase recaía em aspectos "extrín secos" ao texto,
is fundam ental in any exercise of pow er" (1984, de natureza historicista, psicológica, biográfica ou
p.252); e da "G eo filo so fia " proposta por Gilles sociológica. A perspectiva im anentista, dominante
Deleuze e Félix Guattari, na qual o pensam ento é no Form alism o Russo, no N ew C riticism norte-
co n ce b id o com o sé rie s de m o v im en to s de americano, na Fenom enologia, na Estilística, e que
"territorialização" e "desterritorialização" (1992 e de certa forma encontra seu ponto de articulação
1997), defendendo que à Geografia se atribua um e eq u acion am en to no E stru tu ra lism o fran cês,
novo papel em relação à História: "A geografia não e ste v e a sso c ia d a n ão a p e n a s à d ifu sã o da
se contenta em fornecer uma m atéria e lugares Lingüística, mas à grande força do pensam ento de
variáveis para a história. Ela não é som ente física vanguarda, ou, se se prefere, do projeto artístico
e hum ana, m as m ental, com o a paisagem . Ela m odernista, na prim eira m etade do século XX.
arranca a história do culto da necessidade, para Essa associação torna tentadora a hipótese
fazer valer a irred utibilid ad e da con tin gên cia" de que a categoria espaço não ocupa posição de
(1992, p .125). destaque nas teorizações de tais correntes pelo fato
de que, em linhas gerais, as vanguardas se recusam
2. Espaço na Teoria da Literatura a atrib u ir à arte o p ap el de rep resen tação da
realid ad e. A ssim , se o esp aço era v isto com o
C abe in d a g a r, en tã o , q u al o p ap el categoria empírica derivada da percepção direta do
representado pela categoria espaço no percurso m undo, conform e a tradição realista-naturalista,
vinculada à linhagem positivista do século XIX,
este não desperta especial interesse teórico em um
43 Para discussão sobre o conceito de espaço em Kant, ver
SANTOS: 2 002, p .174-185.
46 Tradução preferível à difundida "literariedade", pois parte,
44 Cf. em especial o ensaio "C onstruir, habitar, pensar" em
como no original russo, do substantivo "literatu ra", e não do
H EIDEGG ER: 2002, p .125-141.
adjetivo "literário", repleto de ressonâncias estetizantes em
1 18 45 Cf. BACHELARD: 1978 e seu discípulo DURAND: 2001. p ortu guês.

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Breve histó ria do e sp aço na teoria da literatura

pensam ento que, essencialm ente antim im ético, já que remete o sentido do texto à intenção do autor;
que concebe a m im ese com o imitatio, coloca no a "falácia afetiva", que confunde o poema com o
centro a própria linguagem . Luiz Costa Lima, no im pacto provocado sobre o leitor; a falácia do
artigo significativam ente intitulado "U m conceito "mimetismo da forma", que concebe o poema como
proscrito: m im ese e pensam ento de vanguarda", m era tra n scriçã o da ex p e riên cia ; e a "fa lá c ia
afirm a: "a linguagem se converteu no centro a comunicacional", que supõe que o texto seja veículo
e x p lo ra r e su a c o n q u ista se m ed ia p or sua para transm issão de idéias.48
ductibilidade quanto ao que ignoram , desprezam No cam po da p ro sa, tam bém há, sem
ou tem em os s e rv id o re s , v o lu n tá rio s ou dúvida, contribuições, especialm ente no caso dos
involuntários, da sociedade estabelecida. Como ru sso s, com o a a p lica b ilid a d e das n oções de
uma bola de neve, este processo cresce desde os função e m otivação, dem onstrada no trabalho de
rom ânticos até o aparecim ento das vanguardas, Wladimir Propp (2000), e da distinção entre fábula
nas primeiras décadas do século X X " (1986, p.320). e trama, entre o quê e como se narra.49Contudo, em
De fato, se se p en sa, por exem p lo, no n om e do m aior in teresse no "p ro c e d im e n to "
F o rm a lism o ru sso , c o n sta ta -se que a gran d e (priom ), nos aspectos articulatórios, ou sintáticos,
contribuição teórica se deu no cam po da poesia, a teoria formalista da narrativa compreensivelmente
form a na q u a l era m a is fá c il d e m o n stra r as privilegia o estudo da trama. A fábula, plano no
prem issas da distinção entre linguagem poética e qual o espaço se apresenta, teria como papel, para
quotidiana, da ênfase no desvio e no estranhamento o analista, de meramente oferecer, à maneira de um
(o stra n en ie ), e, em esp ecial, da atuação de um léxico, os elementos a serem tramados. Não se pode
elem ento funcional incontestável, que é o ritm o.47 esquecer, naturalmente, da colaboração de Mikhail
No Círculo Lingüístico de Praga, desdobram ento Bakhtin, que, inspirado na teoria da relatividade,
do grupo russo, chega-se a postular, nas Teses de formula o conceito de "cronotopo" para evidenciar
1929, a existência de um a "língua poética", a ser a "indissolubilidade de espaço e de tem po", e para
abordada em sua autonomia: "Em lugar da mística operar com uma "categoria conteudístico-form al
da cau salid ad e en tre sistem as h eterog êneos, é da lite r a tu r a " (1 9 8 8 , p .211). P or o u tro lad o ,
p re c is o e s t u d a r a lín g u a p o ética em si m esm a " também não se pode esquecer que Bakhtin, em
(G U IN SB U R G : 1978, p .43 ). T am b ém no N ew decorrência de sua orientação sociológica, não se
Criticism é notável a prim azia do texto poético, já
que p or in term éd io d este se p od e ad v og ar a
autonomia da linguagem literária e efetuar a crítica 48 Para uma síntese do ideário dos new critics, ver COHEN:
às falácias críticas, com o a "falácia intencional", 1 9 8 3 ; p a ra d iscu ssã o so b re a fa lá cia in te n cio n a l, v er
BEARSLEY, WIMSATT: 1983; sobre a falácia comunicacional,
v er TA T E: 1983, tod o s reu n id o s na co le tâ n e a T eo ria da
L iteratu ra em suas fontes, o rg an izad a p o r COSTA LIMA
47 Para uma apresentação dos pressupostos formalistas, ver (1983). Ver, tam bém , a obra crítica de ELIOT (1989, 1991,
a co letân ea TO LED O : 1971. P ara um a av aliação geral do 1992) e POUN D (1991 e s /d ) .
legado do m ovim en to, ver POMORSKA: 1972; TODOROV:
1970 e 1991; COSTA LIM A: 1973. Para a questão do ritmo, 49 Cf. Para um detalhamento da distinção fáb u la/tram a, ver
ver TINIANO V: 1975. TO M ACH EVSK (1971).

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Luis A lberto Brandão (U FM G )

co n sid e ra v a fo r m a lis ta .50 A lém d isso , su as É no cerne do pensam ento estruturalista,


reflexões sobre o "cronotopo" foram produzidas já porém, que ganha força a idéia de que, a partir do
nos anos 30, ou seja, posteriorm ente à extinção, p riv ilé g io da sin cro n ia so b re a d ia cro n ia , as
por razões políticas, do m ovim ento na Rússia. questões relativas a gênese ou filiação, ou seja,
vinculadas a um "determ inism o tem poral", dão
2.1. Estruturalismo: espaço da linguagem lugar à investigação das relações que definem a
coerência interna das obras, isto é, nas palavras
O Estruturalismo, que se difunde a partir dos de Gérard Genette, a um "determ inism o espacial"
anos 60 do século XX, tendo na França seu foco (1968, p.379). E nesse sentido que François Dosse,
irradiador, surge como espécie de retomada e revisão em sua H istória do Estruturalism o, com enta a
dos pressupostos formalistas. Em sua qualidade de espantosa ausência da G eografia no cenário das
elo de continuidade com tal tradição, sobretudo em discussões estruturalistas:
função do m esm o vínculo com a Lin gü ística,51
preserva a ênfase na "gram aticalidade" do texto Essa ausência é tão m ais surpreendente
literário, o que significa que, na teoria da narrativa, a um a vez que p u d em os a v aliar a que pon to o
categoria espaço, entendida como referência a um estruturalism o privilegiou as noções de relações
possível mundo extratextual reconhecível, continua a em termos de espaços, às custas de um a análise
desempenhar papel secundário. Os focos de interesse em term os de gênese. A sincronia su bstituiu a
são as vozes, as temporalidades e as ações.52 Para d ia c ro n ia ; ,após a in v e s tig a ç ã o d as o rig e n s,
Roland Barthes, por exem plo, em "Introdução à prevaleceu um esforço cartográfico, a atenção se
análise estrutural da narrativa", os dados espaciais deslocou para as diferentes inversões efetuadas
são classificados como "inform antes", cuja função pelo olhar e é impossível, portanto, não ficar muito
discursiva é atuar como "operador realista", tarefa surpreendido por não se encontrar a geografia no
acessória em relação às "funções" (divididas em âmago dessa reflexão dos anos 60. (1993, p.347)
núcleos e catálises) que determinam as "articulações
da narrativa" (1972: p.28-35). Observa-se que o espaço passa a ser tratado
não apenas como categoria identificável em obras,
50 Para vima discussão sobre o "form alism o" de Bakhtin, ver mas como sistema interpretativo, modelo de leitura,
o prefácio de TODOROV p ara o livro E stética da criação
verbal, de BAKHTIN (1997). orientação epistemológica. Sim ultaneamente a essa
ampliação, e coerentem ente com a tendência não-
51 Para uma discussão dos aspectos centrais do pensamento
estruturalista, em especial no que concerne à questão literária, m im ética baseada na co n cep ção au to télica de
v er G EN ET TE: 1968; C O EL H O : 1 968; PO U ILL O N : 1968; linguagem, passa-se-a falar, de m aneira bastante
LÉVI-STRAUSS: 1968, reunidos na coletânea, organizada por
genérica, e usualm ente m etafórica, em "espaço da
COELHO, Estruturalismo: antologia de textos teóricos (1968);
COSTA LIMA: 1973; CULLER: 1978; BARTHES: 1982. linguagem ".53 Genette conclui seu artigo "Espaço
52 Para estudos que buscam sistem atizar um a "g ram ática
da n arrativ a", ver BARTHES et al: 1972; TODOROV: 1976; 53 E dentro dessa vertente que se poderia incluir o livro O espaço
G EN ET T E : 1 9 7 9 ; B R E M O N D : 1 9 7 3 ; G R EIM A S: 1 9 7 6 a e literário, de Maurice Blanchot, no qual se afirma: "Escrever é
120 1976b . entregar-se ao fascínio da ausência de tem po" (1987, p .20).

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Breve histó ria do esp aço na teoria da literatura

e linguagem " afirm ando: "H oje, a literatura - o P o d e-se su p o r q u e, p ara co n ju g a r o


pensam ento - exprim e-se apenas em term os de marcante antiempirismo - que oblitera o interesse
distância, de horizonte, de universo, de paisagem, p ela c a te g o ria esp a ço se g u n d o um p rism a
de lu g ar, de sítio , de cam in h os e de m orada: m im ético - à o b sessão sin crô n ic a - que abre
figuras ingênuas, m as características, figuras por caminho ao fascínio por uma noção genérica de
excelência, onde a linguagem se espacializa a fim espacialização - o Estruturalismo extrai da realidade
de que o espaço, nela, transformado em linguagem, apenas o elem ento sensível, justam ente o que se
fale-se e escrev a -se" (1972, p .106). O artigo de m a n ife sta n as fo rm as -, a p lic a n d o -o com o
Genette é um a análise do livro L'espace humain, elem ento essen cial na definição da linguagem
em que G eorges M atoré caracteriza o "esp aço literária. Pode-se trabalhar com a hipótese, pois, de
literário" precisam ente em função das dimensões que, para o Estruturalism o, o espaço significa o
sensoriais que a lin guagem pode explorar: "la veículo para se estabelecer um "em pirism o da
conception de l'esp ace est une sorte de synthèse linguagem ". De qualquer m aneira, talvez como
opérée en partant de différentes sensations" (1962, sintoma das oscilações conceituais que envolvem
p.213). E nesse contexto que se pode compreender o term o, naquela conjuntura intelectual não se
a re co rrê n c ia da n o çã o de é c r i t u r e no tra jeto gerou, no âmbito da Teoria da Literatura, nenhuma
intelectual de Roland Barthes, noção que abarca obra de vulto tendo o espaço como eixo principal,56
tanto a "in tran sitiv id ad e" da linguagem literária como ao tempo Paul Ricouer dedicou a monumental
quanto sua qualidade "e ró tica ".54 Tam bém assim Tempo e narrativa (1994, 1995, 1997).
se entende a grande difusão, por interm édio de
R om an Ja k o b so n , do p re ssu p o sto de que, na 2.2. Espaço e Desconstrução
função poética da linguagem, é a materialidade da
palavra que se ressalta, o que reforça a autonomia Quais são os desdobram entos do conceito
desta em relação à realidade: "C om prom over o de espaço posteriormente ao momento estruturalista?
caráter palpável dos signos, tal função aprofunda Em uma breve panorâm ica, pode-se verificar que
a d ic o to m ia fu n d a m e n ta l de sig n o s e o d en o m in ad o P ó s -E s tru tu ra lis m o , ou
objetos" (JA KOBSON : s.d., p.128).55 D e sc o n stru c io n ism o , em g e ra l re p re se n ta a
e x p lic ita ç ã o e a in te n s ific a ç ã o da te n d ê n c ia
espacializante. Recusando as pretensões científicas
54 V er, em especial, BA R T H ES:1986, 1982, 1987 e s.d. Para do Estruturalism o, investe-se„sobretudo, contra a
um d eb ate so b re a n o ção de " e s c ritu ra " , v er PERRO N E- lógica que opera por pares opositivos, buscando-
MOISÉS: 1978 e 1985.

55 O utro nom e fundam ental, profundam ente m arcado pelo


pensam ento e stru tu ra lista , é O ctav io Paz. Ver, sobretudo, 56 Antonio Dimas, em Espaço e romance, livro publicado nos
PA Z : 1976, 1979, 1989. E m O m o n o g ram ático , Paz afirm a: anos 80 do século XX, observa: "N o quadro de sofisticação
"T o d o co rp o é u m a lin g u a g e m q ue, no in stan te de sua crítica a que chegaram os estudos sobre o rom ance, é fácil
plenitude, se desvanece; toda linguagem, ao alcançar o estado p erceber que alguns asp ectos ganh aram p referência sobre
de incan descência, se revela com o um corpo ininteligível" outros e que o estudo do espaço não encontrou receptividade
(1988, p. 131). sistem ática." (1987, p .6).

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se a crítica ao logocentrism o, ou seja, à ordem do simples antes do com plicado, o essencial antes do
logos, do sentido tom ado como verdade. Deve-se acidental, o im itado antes do im itador etc. Esse
ressaltar, contudo, que a Desconstrução - a que são não é u m gesto m eta físico d en tre o u tro s, é a
associadas, não sem controvérsias, obras como, exigência metafísica mais contínua, mais profunda
entre outras, as de Gilles Deleuze, Michel Foucault, e mais poderosa. (DERRIDA: 1991, p .130)
Jacques Lacan, Paul de M ann e o últim o Roland
Barthes, mas cujo cerne indubitável é a obra de Segundo Terry E agleton, é considerado
Jacques D errida - não é uma teoria. Conform e m etafísico "qualquer sistem a de pensam ento que
Jo n a th a n C u lle r, "a d e sc o n stru ç ã o tem sid o dependa de uma base inatacável, de um princípio
variad am en te ap resen tad a com o um a posição primeiro de fundamentos inquestionáveis, sobre o
filosófica, uma estratégia política ou intelectual e qual se pode construir toda uma hierarquia de
um modo de leitura" (1997, p.99). Não sendo uma s ig n ific a ç õ e s " (1 9 9 7 , p .182). A c rític a
teoria, muito menos uma teoria da Literatura, não d esco n stru cio n ista, co lo can d o sob su sp eita as
se encontram aí categorias, mas uma discussão h ie ra r q u ia s , in c id e p re c is a m e n te so b re tais
sobre possibilidades críticas de abarcá-las. Assim, sistem as de p en sam ento. De acord o com essa
não há contribuições específicas a se "aplicar" em crítica, deve-se problem atizar o entendim ento do
d eterm in ad o cam po, m as a se in ferir de suas espaço como categoria '"m en o r", sem poder de
propostas. Na questão do espaço, tal contribuição transcendência, excessivamente empírica, tributária
pode ser nitidam ente verificada pelo m enos em da p latitu d e do u n iv erso se n sív el, facilm en te
dois aspectos. O prim eiro diz respeito à negação domesticável pela razão. Simultaneamente, porém,
do sistema de oposições que inclui sentido/forma, n u m d u p lo m o v im e n to , d e v e -se re c u sa r a
alm a/corpo, inteligível/sensível, transcendente/ pressuposição de que o espaço possa ocupar o
em pírico, sistem a no qual a categ oria espaço, prim eiro termo de pares que opõem natureza e
tendencialm ente, é inserida no segundo termo. cultura, realidade e percepção, fato e interpretação.
Derrida enfatiza que, em oposições como essas, há O espaço não é um "fato n atu ral", ou m elhor, se
um sentido de anterioridade que trata o prim eiro há algo de "n atu ral", ressalte-se que a "n atu reza"
termo como essencial, originário, e o segundo como não possui estatuto de presença absoluta. Para
acidental, derivado, o que revela o gesto "metafísico": Derrida, em seu debate com a obra de Rousseau,
"o conceito de natureza e todo o sistem a que ele
O projeto de remontar "estrategicam ente", comanda não podem ser pensados a não ser sob a
idealmente, a uma origem ou a uma "prioridade" categoria irredutível do su plem ento (...), o que
sim p les, in ta cta , n o rm a l, p u ra, p ró p ria , para supõe que a natureza possa, às vezes, faltar a si
pensar em seguida a derivação, a com plicação, a m esm a, ou, o que não é diferente, exceder a si
degradação, o acidente etc. Todos os m etafísicos m esm a" (1973, p .219). A lógica su p lem en tar é
p ro ced eram assim , de P la tã o a R o u sseau , de justamente aquela em que a "positividade de uma
Descartes a Husserl: o bem antes do mal, o positivo p re s e n ç a " é c o rro íd a : " a c r e s c e n ta n d o -s e ou
1 2 2 antes do negativ o, o puro antes do im puro, o substituindo-se, o suplem ento é exterio r, fora da

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Breve história do esp aço na teoria da literatura

positividade à qual se junta, estranho ao que, para Such negotiation s betw een politics and
ser por ele su bstitu íd o, deve ser distinto dele. theory make it im possible to think of the place of
D ife re n te m e n te do c o m p le m e n to , a firm a m os the theoretical as a metanarrative claiming a more
dicionários, o suplem ento é uma adição exterior" total form of generality. Nor is it possible to claim
(1973, p .178).57 Por m eio desse duplo movim ento, a ce rta in fa m ilia r e p is te m o lo g ic a l d ista n ce
d eixa-se de co n ceb er o esp aço com o entidade betw een the time and place of the intellectual and
positiva, segundo um em pirism o substancialista the activist, as Fanon suggests w hen he observes
(de ín d o le d e sq u a lifica d o ra de sua d im en são that "w hile politicians situate their action in actual
corpórea ou de índole apologética de sua fixidez present-day events, men of culture take their stand
ontológica), e passa-se a tratá-lo com o efeito da in the field of history". It is precisely that popular
d iferen ça , ou seja , seg u n d o um a p ersp ectiv a b in arism b etw een theory and p o litics, w hose
radicalm ente relacional. fou n dation al basis is a view of kn ow ledge as
to ta liz in g g e n e ra lity and e v ery d a y life as
2.3. Estudos Culturais: espaço e identidade experience, subjectivity and false consciousness,
that I have tried to erase. (1990, p.30)
Uma segunda força intelectual que se insurge
contra as premissas estruturalistas, em especial contra Uma das estratégias principais adotadas
sua verve imanentista, são os denominados Estudos para se efetivar a "politização da teoria" é a recusa
Culturais, que se organizam inicialmente na Inglaterra da especificidade da produção artística - o que, no
dos anos 60 e 70, mas são tributários da longa tradição campo literário, significa contrapor-se frontalmente
marxista (que, no campo dos Estudos Literários, já ao m ovim ento gerador da Teoria da Literatura,
havia gerado a Sociologia da Literatura58). Os Estudos baseado, como se viu, na tentativa de fundamentar
Culturais também não podem ser definidos como as peculiaridades de seu objeto, movim ento ainda
corrente teórica, e sim como "campo interdisciplinar", muito m arcante no pensam ento estruturalista - e
"um movimento ou uma rede", o que não exclui sua a apologia, como campo de ação, de uma ampla,
crescente "codificação acadêmica" (JOHNSON et al: não raro im precisa, noção de cultura. Conform e
1999, p.9), sobretudo nos Estados Unidos. Na verdade, reconhece Richard Johnson, "o termo 'cultura' tem
apresentam-se como crítica à própria noção de teoria; valor com o um lem brete, m as não com o uma
mais especificamente, como defesa de um processo de categoria p recisa" (1999, p .24), e. ainda: "P ara
politização da teoria. Segundo Homi Bhabha, m im , b oa p arte das fo rte s c o n tin u id a d e s da
tradição dos Estudos C ulturais está contida no
term o singular 'cu ltu ra', que continua útil não
57 P a ra um le v a n ta m e n to d e ta lh a d o do léxico
derrideano, e com o dem onstração da penetração de sua com o um a categoria rig orosa, m as com o uma
obra em setores universitários no Brasil dos anos 70, ver espécie de síntese de uma h istória" (1999, p.20).
SAN TIA G O : 1976.
Para os Estudos Literários, a conseqüência
58 Para um a ap re se n ta çã o da ab ord ag em sociológica mais imediata da abordagem culturalista está na
da literatu ra, ver "A an álise so cio ló g ica" em COSTA
LIMA: 1983, v .2.
retomada da noção de literatura como representação,
123
C errad os: R evista do P rogram a de Pós-G rad u ação em Literatura, n. 19, ano 14, 2005, p. 115-134
Luis A lberto Brandão (U FM G )

ou seja, de um a rev alo rização da p ersp ectiv a identitárias, o que corresponde a deslocar a visão
mimética. A Literatura, que deixa de ter qualquer em p irista de esp aço , sem , c o n tu d o , n eg á-la.
privilégio em relação ã totalidade dos discursos em M ed ian te o en fo q u e n as id e n tid a d e s, qu e se
operação na sociedade, interessa à medida que se d efin em na in tera çã o en tre as su b jetiv id a d es
oferece como palco onde os vetores conflituosos de individuais e as referências coletivas, o tratamento
determinada configuração cultural se manifestam.59 do esp aço não p rev ê que se d is so cie , de sua
Para uma teoria do espaço, tal prem issa parece, a m a te ria lid a d e , u m a d im e n sã o in te n sa m e n te
p rin cíp io, sig n ifica r um a abertu ra. De fato, o sim b ó lica . S tu a rt H a ll a firm a : "T o d a s as
caráter agonístico das relações culturais coloca em id en tid ad es estão lo ca liz a d a s no esp aço e no
foco os lu g a re s n os q u a is os d isc u rso s são tempo sim bólicos" (1999, p .71).
produzidos, o que explica, na difusão do "discurso Naturalm ente, o "espaço da identidade" é
c u ltu r a lis ta " , a re c o r rê n c ia de term o s com o m a rcad o n ão a p en a s p o r c o n v e rg ê n c ia de
margem, fronteira, entre-lugar, metrópole, colônia, in te re s s e s , co m u n h ã o de v a lo re s e açõ es
centro, periferia, ocidente, oriente. A "politização", conjugadas, mas também divergência, isolamento,
porém, se confundida com m ero pragm atism o de c o n flito e em b a te . Se, co m o o e s p a ç o , tod a
in teresses im ed ia tista s,60 por m ais n obres que id e n tid a d e é re la c io n a l, p ois só se d efin e na
p areçam , co rre o risco de lev a r a um a v isão in terface com a alterid ad e, é in trin se cam e n te
mecânica do que é o processo mimético no discurso p o lítico seu p rin cip a l p re d ica d o . "E sp a ç o de
lite rá rio , re s ta u ra n d o a co n c e p ç ã o de jo g o identificações" pode ser entendido, genericamente,
esp ecu lar arte/ so cied a d e, rev elad ora de uma como sinônim o de cultura. Com efeito, Edward
visão determinista de História, e da eleição de um Said abarca, com o term o cultura, a variabilidade
projeto de arte em que a afirm atividade se ergue de conotações atribuíveis ao espaço, variabilidade
em d e trim e n to de um p o d e r ra d ic a l de que dem onstra a centralidade do espaço para a
negatividade, ou, dito de outra maneira, em que a própria definição de cultura: "O sentido geográfico
n eg ativ id ad e é "d o m e stic a d a ", tom ada com o faz p ro je çõ e s - im a g in á ria s , c a rto g rá fic a s ,
instrum ental por ideais afirmativos. m ilitares, econôm icas, históricas ou, em sentido
A p o litização da noção de teoria pode g e ra l, c u ltu ra is. Isso ta m b ém p o s s ib ilita a
significar, entretanto, que tam bém a noção de construção de vários tipos de conhecimento., todos
espaço se politiza. Isso se dá quando se concebe o eles, de uma ou outra m aneira, dependentes da
esp aço segu n d o o p rism a de su as d efin içõ es percepção acerca do caráter e destino de uma
determ inada geografia" (1995, p .118).

59 Para um debate sobre as relações entre Estudos Literários


e E stu d o s C u ltu ra is , v e r JITR IK : 2 0 0 0 ; SA R LO : 1 998;
2.4. Teoria da Recepção: im aginário espacial
SANTOS: 2000.

60 Tal p ragm atism o se insinua, por exem plo, em Johnson,


Não é desprezível, em termos teóricos, uma
quando defende o impulso de se "lutar por um conhecimento tendência à polarização que, no decorrer do século
realm ente ú til" (p. 16) e de se "p a rtir de casos co n creto s"
XX, se verifica nas correntes de investigação crítica
124 (p.24). JO H NSON et al: 1999.

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Breve história do espaço na teoria da literatura

do objeto literário . Segun d o tal polarização, é variabilidade histórica dos significados espaciais.
possível separar as abordagens que privilegiam as W olfgang Iser, exp loran d o os cam inho
esp ecificid ad es da L iteratu ra com o sistem a de abertos por Jauss,62 percebe que um a teoria da
lin g u a g e m d a q u e la s q u e se e sfo rç a m p ara recepção conduz, necessariamente, a uma reflexão
com preendê-la em seu vínculo, m ais ou m enos sobre o imaginário;
determ inista, com fatores socioculturais. Pode-se
m esm o reconhecer, nesse em bate dicotôm ico, a A re cep çã o n ão é p rim a ria m e n te um
tensão entre o legado rom ân tico-id ealista, que p ro ce sso se m â n tico , m as sim o p ro ce sso de
a d v o g a a a u to n o m ia da o b ra de a rte , cu ja experim entação da configuração do im aginário
n e g a tiv id a d e se m a n ife s ta e sp e c ia lm e n te no projetado no texto. Pois na recepção se trata de
universo das formas, e o legado realista-positivista, produzir, na con sciência do receptor, o objeto
que co n ceb e a o b ra com o reflex o do m undo, im aginário do texto, a partir de certas indicações
sobretudo pelos conteúdos sociais que é capaz de estruturais e funcionais. Por este cam inho se vem
veicular. E o que sugere H ans Robert Jauss: "D a à experiência do texto. Na medida em que este se
orientação definida pela escola positivista e pela co n v e rte em um o b je to e s té tic o , re q u e r dos
idealista destacaram -se a sociologia da Literatura recep to res a cap acid ad e de p ro d u zir o objeto
e o método im anentista, aprofundando ainda mais im a g in á rio , que não c o rre sp o n d e às su as
o abism o entre poesia e H istória" (1994, p .14). disposições habituais. Se o objeto im aginário é
A te n ta tiv a de se c o n tra p o r a essa produzido como correlato do texto na consciência
dicotom ia pela ênfase em uma instância até então do receptor, pode-se então dirigir a ele atos de
pouco explorada teoricam ente - a recepção das compreensão. Esta é a tarefa da interpretação. Dela
obras - norteia o desenvolvim ento da palestra de resulta a conversão deste objeto im aginário em
Jauss, que, proferida em 1967, é o marco inaugural uma dim ensão sem antizada ( S in n d im en sío n ). A
da denom inada Estética da Recepção.61 Para uma re ce p çã o , p o rta n to , está m ais p ró x im a da
teoria do espaço na Literatura, o pressuposto geral experiência do imaginário do que a interpretação,
dessa "Estética" tem desdobramentos estimulantes, que pode apenas sem antizar o im aginário. (1983,
pois o espaço, assim como qualquer outro elemento p.381)63
tex tu al, d eixa de ser to m ad o com o categ o ria
passiva - seja porque é tido como irrelevante para
62 E n q u an to Jau ss se asso cia à "E s té tic a d a R e ce p çã o ",
os m ov im en tos da lin g u ag em , seja porqu e se v o ltad a p ara o "h o riz o n te de e x p e cta tiv a so c ia l" , Iser é
acredita que ele pode ser imediatamente "transposto" vinculado, especialmente em decorrência de seu livro O ato
para o texto - e passa a ser concebido segundo um da le itu ra , a u m a "E s té tic a d o E fe ito " , v o lta d a p a ra o
"h orizonte de exp ectativa interna ao texto ". A distinção é
sistem a, sim ultaneam ente cultural e form al, de proposta p or Jauss em "E stética da R ecep ção: colocações
"h o riz o n te s de e x p e cta tiv a s", o qual d efine a g erais" (1979, p .50).

63 M aior d etalham ento, ap resen tad o pelo p róprio Iser, do


61 Para apresentação e discussão dos princípios da Estética vín cu lo en tre a p ersp ectiv a recep cio n ai e um a teoria do
da R ecepção, ver JAUSS: 1994 e 1979; ZILBERM AN : 1989; imaginário se encontra na palestra "O fictício e o imaginário",
COSTA LIM A: 1979; G U M BRECH T: 1998. publicada em ROCHA: 1999. 125

C e rrad o s: R evista do P rogram a de P ó s-G rad u ação em Literatura, n. 19, ano 14, 2005, p. 115-134
Luis A lberto Brandão (U FM G )

No caso do texto literário, pode-se afirmar A ssim , p o d e-se a firm a r que o fic tíc io é um a
que a experiência estética é, paradoxalm ente, tão realidade que se repete pelo efeito do im aginário,
mais vinculada à realidade quanto mais exercita ou que o fictício é a concretização de um imaginário
sua a u to n o m ia em re la ç ã o a ela ; tão m ais que traduz elementos da realidade, mas a rigor não
p enetrante e abrang en te quanto m ais aberta e se pode dizer o que são o real (a não ser que este
especulativa. O caráter paradoxal da experiência corresponde ao "m undo extratextu al"), o fictício
literária se explica pelo fato de esta tornar possível (além de que se m anifesta como ato, revestido de
o q u e stio n a m e n to da o p o siç ã o en tre rea l e intencionalidade) e o imaginário (exceto que possui
ficcional. Entretanto, para se investigar de que caráter difuso, e que deve ser com preendido como
maneira a dicotomia é transgredida, não basta que um "funcionam ento") (p. 13-16).
se afirm e que a Literatura opera a suspensão de Propõe-se, assim, que se pense a Literatura
limites, utilizando-se o argum ento de que a ficção segundo uma perspectiva antropológica ampla, ou
traz elem entos de realidade e de que esta contém seja, como produto hum ano e sim ultaneam ente
elem en to s ficcio n a is. Se se d eseja fazer ju s à definidor do humano. Trata-se, pois, não de adotar
com plexidade da experiência proporcionada pela a m irad a da A n tro p o lo g ia co m o d is c ip lin a
Literatura, é im prescindível que se rompa com o constituída (mesmo que não se descartem diálogos
próprio sistem a de oposições, m ediante o esforço com v e rte n te s das a n tr o p o lo g ia s c u ltu ra l,
de se conceber uma relação que incorpora, ao par filosófica, social, estrutural, gerativa, histórica),
com um ente convocado para a equação que tenta mas de conceber uma Antropologia Literária, que
d escrev er o fu n cio n a m e n to do "m e c a n ism o " p arte da id é ia de qu e há u m a "p la s tic id a d e
literário, uma terceira noção, cuja presença redefine hum ana" (ISER: 1996, p .8) que se m anifesta de
o papel dos ou tros dois term os. Esse terceiro maneira privilegiada na Literatura e nas artes, já
ingrediente é o imaginário. que estas são capazes de o ferecer um a "au to -
Seg u n d o Iser, "co m o o texto ficcio n al interpretação do h om em " (p .10). D esse m odo,
contém elem entos do real sem que se esgote na deixa de possuir relevância a discussão sobre a
descrição d este real, então o seu com ponente ênfase na forma ou no conteúdo, significante ou
fictício não tem o caráter de uma finalidade em si significado, m aterialidade ou m im ese, já que a
mesma, mas é, enquanto fingido, a preparação de Literatura é entendida como operação que converte
um im aginário" (1996, p .13). A conseqüência mais a plasticidade hum ana em texto. Tal plasticidade
im ed ia ta d essa co n cep çã o triá d ica resid e no abarca a experiência do hom em com o que percebe
im perativo de se abandonar a pretensão de que como real, o processo im aginário de conceber as
seu s term o s p o ssa m ser d eterm in a d o s limitações e as potencialidades de tal experiência,
ontologicamente - pretensão que se manifesta, por e a transform ação desse processo em obras, ou
exemplo, quando se supõe que o fictício se define seja, a concretização do im aginário por m eio da
pela elim inação dos atributos da realidade. Na ficção. N atu ralm ente, o fictício e o im aginário
tríade, im porta a natureza relacional dos termos, estão presentes em qualquer atividade humana; na
-|2 g sem que se possa jam ais estabelecer fundamentos. Literatura, contudo, estes se apresentam segundo

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Breve histó ria do espaço na teoria da literatura

uma articulação organizada, que pode ser mapeada intenção de ser exaustivo,64 demonstra a relevância
em termos sincrônicos e diacrônicos. Na Literatura, de se in v estig ar o p ap el d esem p en h ad o pela
o fictício, que é, entre os três termos, o que tem caráter c a te g o ria esp a ço , ou p e lo s p ro ce sso s de
de ato, assum e papel essencial de transgressão de espacialização, na produção intelectual que toma
lim ites, tanto do que há de determinação do real (já o texto literário como corpus de análise. Após o
que, na ficção, isto é, nas obras, o real se revela q u estio n am en to da p rim azia do p en sam en to
transfigurado por efeito do imaginário), quanto do estruturalista, abrem -se perspectivas capazes de
que há de difuso do im aginário (já que, na ficção, tra z er à ton a lin h a s de fo rça te ó ric a s que,
o im aginário ganha uma determ inação - que é, a colocadas em diálogo, podem colaborar para o
princípio, um atributo de realidade) (p.14-15). e sb o ço , seg u n d o um e n fo q u e ce n tra d o na
São inúmeras as potencialidades sugeridas atualidade, de uma teoria do espaço na Literatura.
pelas relações entre real, fictício e imaginário para A partir da contribuição desconstrucionista, pode-
se investigar a questão do espaço. Pode-se pensar, se pensar o espaço simultaneamente como sistema
em primeiro lugar, que, historicamente, há distintas de organização e de significação. Trata-se, pois, de
conformações de uma realidade espacial, como modo uma questão de natureza sem iótica, am plamente
de percepção em pírica, associada a m étodos de verificável quando se aproximam o espaço urbano
observação e representação do espaço e a modelos e o literário. As indagações culturalistas, atentas
de organização geopolítica e econômica. Mas deve- à questão das identidades sociais e à configuração
se pensar tam bém na existência de um discurso das esferas públicas, evidenciam que ao espaço se
espacial, conjunto de produtos, com graus variados vincula uma questão de cunho em inentem ente
de form alização - incluindo-se aí, sem dúvida, a político. Por fim, a Antropologia Literária, por meio
p ró p ria L itera tu ra , m as tam bém os d iscu rso s de uma inspiração recepcionai, e colocando em
científicos e filosóficos - no qual se concretiza, além cen a a n o ção de im a g in á rio , su g ere que a
de um sistema conceituai e operacional, um quadro abordagem do espaço é tributária de um debate
de referências simbólicas e um conjunto de valores tanto filosófico quanto antropológico.
de n a tu rez a cu ltu ra l a que g en erica m en te se
denomina im aginário espacial. Se o espaço, como
categoria relacional, não pode fundam entar a si
mesmo, é por m eio de suas "ficções" que ele se
manifesta, seja para vir a ser tomado por real, seja
para reconhecer-se com o projeção imaginária, ou,
ainda, para se explicitar, na auto-exposição de seu
caráter fictício, com o realidade imaginada.
64 Para mapeamentos abrangentes do percurso das tendências
da T eo ria da L ite ra tu r a , v e r CO STA L IM A : 1 983;
3. Linhas de força do espaço EAGLETON: 1997; FOKKEM A, IBSCH: 1992; FREAD M AN ,
M IL L E R : 1 9 9 4 ; L O P ES : 1 9 9 7 ; S E L D E N , W ID D O W SO N :
O panoram a apresentado, m esm o sem a 1993; TADIÉ: 1992; NÕTH: 1999; CO ELHO : 1982; RIVKIN,
REJAN: 1998. 127

C errad os: R evista do Program a d e Pó s-G rad u ação em Literatura, n. 19, ano 14, 2005, p. 115-134
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