You are on page 1of 320
fIRO B AGRICUL "CE DA ECONOMYA BRASTLELRA JRA NO DESENVOLVIMENY me Costa Pelqade Tese de Doutorarento apresentada ao Departamento de Economia e Pla nejamento do Instituto de Filoso- fia e Ciéncias Humanas da Univer- sidade Estadual de Campinas sob a orientagado do Prof. Sércio S. Silva. D378 Campinas, julho de 1984. 5848/BC 7 UnNicamr BIBLIOTECA CENTRAL Classi n autor WW) 33 v. Tembe BC/. BrQOOOSBEIS AGRADECIMENTOS Muitas pessoas e institui¢gdes colaboraram de maneiras di- versas para a realizagio deste trabalho, sendo praticamente impossi- vel, pelo seu grande niimero, nomear a todas sem incorrer no risco da injustiga pela omissdo. Em especial, algumas pessoas colaboraram de maneira mais direta ao encaminhamento desta tese, embora nao para os descaminhos eventuais, que sao de minha completa responsabilidade. Quero registrar destacadamente meus agradecimentos a dedi- cagao e paciéncia com que o Prof. Sérgio Silva leu, anotou e comigo discutiu varias versées parciais deste trabalho, indicando-me pistas e corregio de rumo. Aos meus colegas do Curso de Doutoramento da UNICAMP = de 1981 a 1983, devo a Oportunidade de desenvolver frutuosas discussGes sobre temas que posteriormente vieram a se organizar nce corpo teéri~ co desta tese. Quero mencionar ainda a contribuigio em discussdes direta ov i diferentes ocasides com os Profs. Tamas Szmreczsanyi, José Graziano iretamente ligadas 4 elaboragdo deste trabalho que mantive em da Silva e José Juliano de Carvalho. Compartilho também com os colegas do IPLAN-IPEA de Brasi- lia, minha gratidSo pelo apoio recebido em sugestées, dados e acesso a fontes oficiais de informag&o. Christine Viveka Guimaraes, Roberto Araujo © Ronaldo Garcia, embora nao sendo Gnicos, terdo sido os cole gas que mais frequentemente recorri aqui no IPLAN. Outra forma de contribuigSo igualmente importante obtive de Ana Maria Vieira Martins, que datilografou com esmero todo o tra- balho e de Cynthia Teles Peter Silva que revisou a redagao. Finalmente, uma palavra de reconhecimento intimo dedico a minha esposa Adélia, que muito ajudou a realizar este trabalho, pela leitura e comentarios dos originais, e ainda pelo desdobramento aos cuidados de nossas filhas Janaina e Mariana. "Como a terra faz desabrochar seus rebentos e como um jar- dim faz germinar suas sementes, Deus fara germinar a justiga © 0 louvor diante de todas as nagdes". (Is. 61,11) APRESENTAGAO GERAL . INDICE PARTE I - "0 ESTILO DE DESENVOLVIMENTO RECENTE DA AGRICUL "CURA BRASILEIRA 6... eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerrees Introdugdo wee eee ceeee reece renee eee ener e eee eee en nes Capitulo 1 - Caracterizacdo Geral do Des folvimento Ru- 1 = Pericdo de ANGLISE 6. seeeeeeeeee eee eeeeeeee 2 - Urbanizagdo e Agricultura .....eeeeee eee eee 3 - Comércio Exterior e Agricultura ....... 7 4 - Transformagdes na Base Técnica da Agricultu~ ra e Constituicao do Complexo Agroindustrial 5 ~ Me@iagdo Estatal das Relagdes Econdmicas e Sociais - Auge € CrIS® .eseeeeee sees este eens Capitulo 2 - Estilo de Crescimento Global Estratég: Agricola ...seeeeeee Introdugdo . 21. ee eee eee ee eee eee eee eee eens 1 - Marco Geral do Desenvolvimento Econédmico ... 2 - aArticulagdo de uma Estratégia de Crescimento RUEAL cee ee eeecee cece enn ente ete e nent te eees 3 - Politicas Econémicas Gerais e Estratégia de crescimento Agricola ...... 3.1 - Politica Econémica Externa 3.2 - Politica Monetéria 3.3 - Politica de Controle de Pregos Aarico- las ... 14 15 17 20 23 31 40 47 47 48 53 58 61 63 72 Capitulo 3 ~ Politicas Explicitas de Fomento Agricola ... 76 IMELOdUGEO 2h cece cece eee e rete eee e eee e ee ee ees 76 1 - Politica de Financiamento Rural ..........45 78 2 - Politica Tecnol6gica ..sseeseeeeseeereeeseee 90 3 - Politica Fundiaria ...... eee eeee sence ee ences 97 3.1 - Polos de Desenvolvimento Rural no Con- texto da Politica Pundiaria .......... 106 4 - Sentido de Conjunto da Politica Agricola ... 110 PARTE II - "CONSTITUICAO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL FI~ NANCEIRO NA AGRICULTURA 2. esse eeeeeeeeeee eres 113 IMtLOdUGEO eee eee e cece e cece nee ee eee eee e eee ee eneeenne 114 Capitulo 4 ~ Desenvolvimento do Sistema de Crédito eo Processo de Integragdo de Capital na Agricul o 120 1 - Desenvolvimento do Sistema de Crédito ...... 120 1.1 - Demanda Efetiva e Administraggo das Margens de Lucro na Agricultura ...... 122 1.2 - Mudanga no Padréo de Financiamento e Suas ImplicagSes .....seeeee eee eeee eee 128 2 - Processo de Conglomerag&o de Capitais e sua Manifestagao na Agricultura ........eeeee eee 133 2.1 - Integrago de Capitais xX Integragao TEcnico-Produtiva ..-..seeeeeeeeeeeeee 137 2.2 ~- Mobilidade do Capital Fixo na Agricul- LULA cece eee ence ee eee eee ence ences 142 Capitulo 5 - Formas de Integracio de Capitais na Agricul- tura Brasileira we... eeeeeee eee eeee eee e neues 148 Introdugdo . 2... . cee cece ee eee eee e cece eens 148 1 - Importéncia das S.A. e “Holdings” na Agricul tura Brasileira co.cc cece es eee cease eee eee eee 149 Capitulo 6 - Cooperativas Empresariais e "Multicooperati- vas" na Agricultura ..eeeeseceeeeeeee eee eees ~ Pequenos Produtores e as Diversas Formas de Associagio ao Capital Financeiro ‘ Mercado de Terras e Quest4o Acraria Face ao Capital Financeiro ..........00- Tree EGA SO feet al plotted a elect alaacterealacloh ~ Circulagio Pinanceira e Mercado de Terras .. 1.1 ~ Especificidade do Setor Agricola para © Capital Financeiro ......sseeeee eens - Mercado de Terras no Brasil .... 3 - A Questdo Agraria Face ao Capital Financeiro .. 3.1 - Dinamismo e Debilidades da Produg&o Ca pitalista na Agricultura ............- 3.2 - A Questao da Terra e o Capital Finan- CONCLUSOES 66... cece ee cece ee eee e eee n eee e eee e eee eenene BNEXO oes e eee eect cece eee ee eee e nee e eee e eens e ee NOTA EXPLICATIVA 1. .-. se eeee eee ee eee eee teeters QUADRO i ..... QUADRO 2 1.2... e ee eee ee eee eee enter nets ee eee QUADRO 3 . QUADRO 4 eee cece eee eet e ee tees eee e eee e eect QUADRO 5S ese e eee c eee reece teen sneer e ee nneeeenee QUADRO 6 ....... LISTA DE TABELAS E QUADROS .eeesseeeeeeeseeeeceeee cerns BIBLIOGRAPIA 20... .ee eee ese ee cece ees eeee eens Pag. 168 183 196 196 197 235 243, 244 248 290 293 301 303 304 310 315 a APRESENTAGAO GERAL Este trabalho se propée a realizar uma interpretag&o do de senvolvimento econémico recente da agricultura brasileira. Com esse propésito, delimitei a abordagem do tema em dois grandes blocos ana- liticos, que enfatizam, de um lado, os aspectos mais especificamente histdricos desse processo recente e, de outro, o enfoque tedrico,cen trado na experiéncia brasileira, do desenvolvimento do capital finan ceiro na agricultura, com suas contradigdes, limites e tendéncias ge rais. A divisdo formal da tese em duas partes pretende incorpo~ rar esse corte analitico a que me referi. A Primeira Parte, contendo .os trés primeiros capitulos, apresenta uma tentativa de caracteriza- gdo do desenvolvimento da agricultura brasileira, a partir de meaq dos da década dos 60 até o presente. Picam destacados como elementos de mudanca significativa na estrutura econémica, as transformagdes nto rapido da ur banizacho e do comércio exterior agricola, mudanca na base técnica simultanea de um sistema nacional que se operam no conjunto da sociedade, com crescil de produgio rural e consolidag: ae crédito rural, que apdia e potencia a realizag&o desse projeto. Esse projeto, que com muita propriedade foi cognominado + ae "modernizagio conservadora", mantém intocvel a estrutura da pro~ priedade territorial, sancionando-a como base de integragdo e valori zagio junto ao sistema de crédito, e fonte de obtengao de financia- mentos encondigdes favorecidas de juros, prazos e caréncias. A diregao desse projeto de modernizagao, cujo auge é alcan gado no final dos anos 70, requer um envolvimento profundo do Estado na regulagao desse processo, destacando-se no apenas o seu papel de financiador, por intermédio do sistema de crédito e das politicas de coméreio exterior e de pregos, mas ainda: 1) a articulag&éo organica do Departamento de Bens de Produgao da Indistria para a Agricultura (reestruturagiio do sistema de pesquisa e extens§o rural e complemen- tag&o da produg&o interna de bens de capital e de insumos basicos agroquimicos); 2) estruturagio de uma politica fundiaria, cuja execu gSo pratica se traduz em protegSo e favorecimento da propriedade ter ritorial rural. 10. A crise desse projeto de articulag&o financeixa e estatal do processo de mdernizagao, revelada no final dos anos 70, traz a um sé tempo problemas econémicos e sociais graves desse estilo de de senvolvimento, Aparecem de imediato os problemas da crise do crédito e suas repercussées instabilizadoras sobre a produgdo agricola e dos setores industriais conexos que se articulam no chamado Complexo Agroin dustrial. a Por seu turno, a “modernizagao conservadora" avangou como. um caudal, erodindo barreiras, destruindo estruturas produtivas pri- mitivas, concentrando os frutos do processo técnico, num movimento de profunda e historicamente acelerada rejeig&o do contingente primi, tivo de populagao rural. A sua crise, que coincide e reflete a crise mais geral da economia, leva a uma pressio social aguda da massa de populag&o sobrante em busca de condigdes humanas minimas de subsis~ téncia, press&o essa que se traduz, principalmente, como um fendmeno urbano de subemprego ou desemprego aberto ou pela demanda exacerbada em busca de protegdo dos beneficios do estado-previdéacia. Na segunda a ho, compreendendo os capitu- los 49, 5? e 6%, pretendo estudar a constituigdo e desenvolvimento do capital financeiro na agricultura, numa tentativa de propor teori camente a integrag’o do capital financeiro e da produgéo rural = e aplicé-la ao caso concreto do desenvolvimento brasileiro. Na primeira parte, o eixo da modernizac&o vem explicado pe lo sistema de crédito cimentando relacdes interindustriais sob patro cinio do aparato bancério do Estado. Esse inteara, ainda, a proprie- dade territorial no processo, mediante a ampli. s&o e favorecimentoda da divida hipotecdria rural e dos favores da’ politica fundiaria. Por sua vez, 0 enfooue da secunda parte deste trabalho tenta estabelecer uma sequéncia analitica, do 49° ao 69 capftulos, que da conta da arti culagdo do sistema de crédito em consorciagao com as awéncias esta~ tais de politica aaricola e com o arande capital, envolvidos com 0 movimento que conceituo de intearacdo de capitais no complexo acroin, dustrial. Esse movimento de intearacao de capitais, n&o apenas de in tearagio técnica acricultura~indéstria, abrance ainda uma linha de diversificagio das aplicagdes do arande canital conclomerado no mer~ cado de terras, perseauindo a valorizacaio financéira dos titulos de propriedade, 4 semelhanca da valorizacao dos ativos financeiros em aeral. il. Se na Primeira Parte identifiquei o eixo analitico da mo- dernizagao com base na politica de financiamento governamental, nes- sa Segunda Parte identifico esse novo eixo explicativo no capital fi. nanceiro, relagdo social mais abstrata do capital consigo préprio,que comanda da érbita financeira a centralizag&o e mobilidade do capital, organiza monopolisticamente também os mercados agricolas e diversifi, ca as suas aplicagdes multisetorialmente em busca de uma taxa média de lucro do conglomerado. © movimento de diversificag&o do capital e sua estratégia especifica de integragao de capitais no campo persegue, em Gltima insta@ncia, a valorizagdo dos capitais individuais em busca das mar~ gens diferenciais de lucro por um lado e dos “ganhos de fundador" e outras rendas especulativas oriundas da operagZo do mercado de ter~- ras, por outro. Mas tanto a diferenciagao das margens operacionais de lucro, quanto.a realizagao dos ganhos especulativos no mercado de terras, passam, necessariamente, pela regulacao e intima co~partici- pag&o das agéncias estatais encarregadas de gerir a politica de pre~ gos e de financiamento de um lado e a politica de terras por cutro. No primeiro caso, o da diferenciag&o e administrag&o das margens pri vadas de lucro, € fundamental a administragao de um complexo e dis- criminatério sistema de beneficios financeiros, fiscais e da politi- ca de pregos, favorecendo a realizag&o de margens diferenciais de 1 cro, aos empreendimentos conglomerados ao estilo agroindustriais, a~ grocomerciais, agroexportadores, etc.. No segundo caso, o da regula- gao das rendas patrimoniais, requer-se todo um conjunto de normas © procedimentos administrativos que garantam a plenitude da criagio e circulagdo dos titulos patrimoniais rurais e de sua valorizagao. Bs~ sa se d&, agora, em um mercado onde o prego desse ativo forma-se ba~ sicamente pela avaliagdo prospectiva da capitalizagao da renda da terra. Esse mercado - o mercado de terras - atribui valor 4 essa renda capitali- zada que 6 o prego da terra, pela mesma légica que avalia a cotagao dos demais titulos portadores de renda (agdes, debéntures, titulos piblicos, etc.}, tendendo a converter a renda da terra no rendimento proporcional e equivalente da aplicagao alternativa do capital dinhei rv. : : As formas concretas de como se’ di o movimento de integra- gSo de capitais ea regulagdo diferencial das margens de lucro e dos 12. ganhos financeiros leva o grande capital a realizar distintas estra- tégias de associagao com o Estado. Examino em especial, no Capitulo 5, a estratégia de diversificagdo dos grandes grupos econémicos pri- vados na agricultura brasileira (grandes S.A. e “holdings"). Estabe- lego, ainda, um paralelo dessa linha de penetragao 4 estratégia de erescimento das grandes cooperativas nos mercados agricolas e agroin dustriais. Trato, também, nesse capitulo, das diferentes formas com que os pequenos produtores se associam de forma subordinada, ou, ain da, si0 rejeitados no processo de crescimento econémico sob a égide do capital financeiro. A estratégia de crescimento econémico sob a égide do capi- tal financeiro carrega na esteira do seu avango inovagdes crescentes no ambito da criago de novas fronteiras de inversao, abertura de mercados, disseminagao do progresso técnico, etc.. Mas 6, ao mesmo tempo, uma estrutura extremamente instavel do ponto de vista da pro- dugao e do abastecimento interno, podendo mesmo se converter, nos mo mentos de crise, em campo peculiar de especulag&o com terras e de parasitismo dos agentes financiadores, relativamente ao lucro dos pro- dutores agricolas. Ademais, o inteiro descompromisso da acumulagdo capitalista relativamente 4s condigdes de vida e de trabalho dos pe- quenos produtores e trabalhadores rurais, promovendo a sua rejeig&o crescente, agrava as condigdes sociais no campo em grau elevado. Finalmente, a maneira intima e umbilical de como se a4 associagdo do grande capital com o Estado na economia brasileira é igualmente fator de instabilizagdo para o exercicio das fungdes da politica piblica, envolvendo, por um lado, crescente politizagao das “relagdes econédmicas e da estratégia de crescimento do conglomerado e, por outro, uma certa privatizacado das agéncias do Estado. Desse estilo de desenvolvimento econémico emergem ques- tées criticas do ponto de vista da politica agraéria. A concentragao da propriedade e da renda social aprofunda-se com a dominagao do gran de capital no meio rural e, paralelamente, as condigdes de reprodu~ gao dos pequenos produtores deterioram-se. Por sua vez, 0 acesso dos trabalhadores a postos est&veis de trabalho e relagdes formais de emprego torna-se problematico, convivendo a relagado de assalariamen- to por curtos periodos e baixa remuneracdo com diferentes formas de subemprego e mesmo desemprego aberto no mercado de trabalho rural. 13, Isto tudo desemboca numa nova “quest&o agraéria", a reque- rer novos padrées de regulagdc do crescimento capitalista e novas for mas de incorporaga’o da maioria da populagdo rural a condigdes condig nas de vida e de trabalho, tema que me parece da maior pertinéncia pa ra avaliagado e reconstrugdo da politica agraria a partir da tomada de posigo da sociedade civil em seu conjunto e, em especial, dos grupos sociais marginalizados. PARTE I 0 ESTILO DE DESENVOLVIMENTO PECENTE DA AGRICULTUR? BRASTLEIRA is, © ESTILO DE DESENVOLVIMENTO RECENTE DA AGRICULTURA BRASILEIRA Introdugao Na Primeira Parte deste trabalho, como assinalei inicial- mente, pretendo caracterizar os grandes tragos do desenvolvimento re cente da agricultura brasileira. Nessa andlise, ainda nfo explicito os aspectos tedricos do capital financeiro, que tomo por base na Se- gunda Parte, para interpretar a agricultura brasileira. A cosntrugo analitica que me proponho a desenvolver nos trés primeiros capitulos, restringe-se a descrever e analisar as gran Ges mudarigas por que passa a economia em geral e particularmente a economia rural, no perfodo que vai de meados dos anos 60 até a crise econémica do inicio dos anos 80. Mas, se por necessidade didatica, separo, na Primeira Parte, a abordagem histérica dessas mudangas, da abordagem teérica, que desenvolvo na Segunda, nem por isso essa fi1ti ma deixaré de estar presente ao longo de toda a exposig&o, embora de maneira implicita. No primeiro capitulo procedo & caracterizagdo geral do de- senvolvimento recente, ressaltando os elementos gerais que o particu larizam e distinguem de perfiodos anteriores: 1) crescimento muito ra pido e diversificagao das demandas do setor urbano e do comércio ex- terior pela produc&o agropecuaria; 2) transformagéo da base técnica de produg&o rural; 3) constituigdo do Sistema Nacional de Crédito Ru ral. Bsses trés processos se realizam em interagao e encontram nas diversas instancias de regulacio estatal das relagdes econdmicas e sociais o seu lugar de destaque. No segundo capitulo tento explicitar de forma mais detida as diversas formas com que se d&, no ambito da politica econémica, a definigao das estratégias de desenvolvimento econémico. Ocupo-me de maneira mais breve com a elucidagfo da estraté gia de transferéncia de renda rural-urbaha que, a meu ver, caracteri za o papel da agricultura no estilo de desenvolvimento do periodo an 16. terior ao que estou analisando. Em seguida, analiso de maneira mais detida as politicas econémicas que propiciam a nova estratégia, pos- terior a meados dos 60: a modernizac&o conservadora. A maior parte do segundo e terceiro capitulos ocupam-se de explicitar os diferentes mecanismos de politica agricola que tornam vidvel e posteriormente instavel esse processo de modernizagao. A po litica monetaria e sua forma peculiar de manipular excedentes finan- ceiros para aplicagdo em programas de crédito favorecido é o eixo em torno do qual se move o aprofundamento das relagées interindustriais do setor rural. Por sua vez, a montagem de um Departamento de Meios de Pro dugao Industriais para a Agricultura, apoiado em investimentos do Es tado, Empresas Multinacionais e Grandes Empresas Nacionais, traz a baila novos interesses e novos protagonistas do que até entio ficava compreendido como setor rural. Emerge a categoria nova do Complexo Agroindustrial, como uma tela de relagdes muito ampla, a jusante e a montante do setor rural. Finalmente, & importante, também, destacer a execugdo de toda uma politica fundiaria no perfodo pés-65, cuja diretriz maior se traduz de forma permissiva, e ainda como incentive direto, para promover intensa valorizagao da propriedade territorial. i7. Capitulo 1 Caracterizacao Geral do Desenvolvimento Recente da Agricultura 1 - Perfiodo de An&lise © corte histérico que pretendo estabelecer, analiticamente, para dar conta de importantes caracteristicas do estilo recente de desenvolvimento agropecuério brasileiro, converge, em linhas gerais, para o final da década de 60, particularmente o ano de 1965,estenden do-se até o presente. © final dos anos sessenta marca um momento de transicao en tre duas fases de desenvolvimento rural, onde sobressaem os seguin- tes aspectos, que dio sentido ao mencionado corte analitico: a) Inicia-se com certo vigor um processo de mudanga na ba- $e técnica da agricultura brasileira, com a consolidacdo integrada.do denominado complexo agroindustrial brasileiro~CAl. Essa mundaga signifi- ca que a agricultura torna-se crescentemente menos dependente do la~ boratério natural de terra e da forga de trabalho rurais e, simulta- neamente, mais articulada, por um lado, com a indfistria produtora de insumos e bens de capital para a agricultura, e, por outro, coma in @istria processadora de produtos naturais. Em linhas gerais, a mudanga na base técnica da agricultura significa que a sua reprodugo ampliada passa a depender menos da dq “tag&o de recursos naturais utilizados e dos meios de produgdo produ- zidos em escala de manvfetura, e, cada vez mais, dos meios de produ- g3o gerados num setor especializado da indistria (fertilizantes, de- fensivos, corretivos do solo, ragdes, concentrados, miquinas em ge- ral, sobressaindo tratores e colhedeiras, etc.), que cumpriria, a grosso modo, © papel de Departamento de Meios de Produgéio da indiis~ tria para a agricultura. b) © final dos anos 60 e a década dos setenta, no Brasil, sao, também, um periodo de intensa urbanizagao e rapide crescimento do emprego nao agricola, com pressoes conseqiientes em termos de de- 18. manda de produtos agricolas. Conjugada essa pressao de demanda inter na com a maior integragdo e diversificagao das exportagées agricolas, que evoluem a taxas muito elevadas no periodo, configura-se um qua- dro de crescentes exigéncias pelo suprimento de produtos agricolas, cujo atendimento é crucial para que se mantenha o ritmo de acumula- gio. © crescimento répido da demanda de produtos agricolas pelo setor nio agricola (setor urbano e mercado externo) leva a uma acen- tuagao do processo de mercantilizagao geral das relagées econémicas do setor rural. Esse processo manifesta-se de maneira mais clara em trés dimensdes da dominagao das relagdes capitalistas, pela imposi- gio da légica homogeneizadora da economia mercantil: “1. constituic&o, em escala nacional, do mercado de produ~ tos-agricolas e agroindustriais; 2. consolidac&o de um mercado de trabalho; 3, constituigio de um mercado de terras, transacionaveis 4 semelhanga da negociagéo de ativos no mercado financei~ ro. cl 0 terceiro fator que justificaria a escolha da periodi- zagéo adotada diz respeito, explicitamente, & relevancia que assume a politica de crédito rural como principal veiculo articulador dos interesses rurais e urbanos em torneo do projeto de desenvolvimento ae cunho modernizador. £ evidente que o crédito rural institucional é anterior 4 constituigho do Sistema Na¢ional de Crédito Rural, em 1965 (SNCR). B também verdade que a modernizago da agricultura, medida generica~ mente em termos dos indicadores de tratorizag&o e consumo de NPK, ja se observa nos anos cinquenta, como pretendo mostrar mais adiante.mas as politicas agricolas anteriores ao SNCR explicitam-se, basicamente, por intermédio dos institutos isolados de produto - Instituto Brasi-’ leiro do Café, Instituto do Agucar e do Alcool e Comiss&o Especial da Lavoura Cacaueira (CEPLAC)*. 0 objeto maior dessas politicas consis~ * Para uma andlise da politica agricola centrada'nos interesses espe cificos dos produtores do café e do agiicar ver os seguintes traba lhos: Tamas Szmreczsanyi "Contribuicao 4 Analise do Planejamento da Agricultura Canavieira do Brasil”, UNICAMP, 1976, Tese de Doutora= do. José Juliano de Carvalho “Politica Cafeeira do. Brasil - _Seus Instrumentos: 1961/71", Sao Paulo, FEA-USP, 1975, Tese de Doutora- io, mimeografado. 19. tia na mediagao dos interesses das oligarquias rurais tradicionais em relagdo aos interesses industriais e urbanos. Essa politica nao fornecia o conjunto do setor agricola, mas unicamente os setores li- gados ao modelo prim4rio-exportador. Ademais, nao se buscava, pela po litica agricola, fixar nexos de relagSes interindustriais com a ag} cultura e a indistria interna. Buscava-se, predominantemente, compa- tibilizar o crescimento industrial, em plena énfase na década dos cinquenta e parte dos sessenta, com a obtengao de divisas a partir @as exportagdes agricolas para viabilizar 0 processo de substituigdo de importagdes, assim como para abastecer o mercado interno de ali- mentos e de algumas matérias-primas industriais. Somente com a introdugio da politica de crédito rural, co- mo carro-chefe da modernizag&o do setor agropecuario, desloca-se 0 eixo da politica por produtos para a politica da metcadoréa rural em geral. 0 crédito.subsidiado @ provido de maneira generosa e por inter médio do sistema banc&rio institucionalizado. A prépria necessidade ae financiamento se torna crescente, uma vez que tanto a elevagdo da capacidade produtiva quanto as necessidades de financiamento de capi. tal de trabalho na agricultura passam a depender cada vez mais de re do. As fontes usvarias tradicionais, liga~ cursos adquiridos no merc: das ao capital comercial, cedem lugar 4 rede bancaria. E esta, ao se imiscuir no negdcio rural, traz implicito um projeto de modernizagdo que visa crescentemente a mudar a prépria base técnica da agricultura. © crescimento rapido da urbanizagdo e das exportagdes; a modernizagio agropecuéria que enseja a constituigao e ampliagdo dos diversos ramos do C.A.I.; a organizagdo de um novo sistema de finan- ciamento para atividades rurais-o Sistema Nacional de Crédito Rural- e, por Giltimo, a definigo de um novo padrfo de regulag&o das rela- goes sociais e econémicas do setor rural pelo Estado, configuram, em seu conjunto, wm novo padrao de desenvolvimento rural, que se conven cionou, com propriedade, chamar de modernizagZio conservadora*. ‘0s meados da década de 60 sdo tomados por referéncia para datar, sendo © inicio, pelo menos o desencadeamento em larga escala das transfor- magoes sécio-econémicas que mencionei e que pretendo explorar mais adiante. * Alberto Passos Guimardes "oO Complexo Agroindustrial", Revista Opi- niao, ne 159 (21/11/75), p. 6. 20. 2 - Urbanizagao e Agricultura Considerando-se, inicialmente, o movimento geral dos flu- xos demogrficos para indicar a tendéncia recente da urbanizag&o, ob serva-se que entre 1970 e 1980 a populagdo urbana aumentou de 54,58 (taxa geométrica anual de 4,58), significando o influxo de 26,4 mi- lhdes de novas pessoas que se urbanizaram. Em apenas uma década, a proporgao da populagdo urbana, que é de 55,92% da populagdo total,em 1970, passou a 67,57% em 1980. No mesmo perfodo, ocorreu declinio ab soluto da populagdo rural das regides Sul-Sudeste e Centro-Ceste, em torno de 4,54 milhdes de pessoas. Parte dessa populagéo migrante - 2,11 milhdes de pessoas - realizou migragéo rural-rural em diregdo aos Estados de fronteira agricola (Amazonas, Para, Rondénia, Acre e Mato Grosso) *. Esse iricremento relativamente alto da populago urbana explicado por trés fatores: o crescimento vegetativo da populagdo ur bana; as migragdes com destino urbano e, ainda, a incorporag&o de po pulagées gue por ocasi&o do Censo de 1970 eram consideradas rurais. o urbana entre Considerando o crescimento total da popula 1970 e 1980 (taxa geométrica anual de 4,5 a.a.}, 0 fator de cresci~ mento vegetativo deve ter sido o de menor peso relativo, recaindo so bre os fatores de migragao e de redefinig&o do espago urbano a maior parcela de crescimento demografico. Sustentanto esse rApido processo de urbanizagdo, tivemos a intensificagio da industrializagio, que 6, aparentemente, o grande fator de viabilizag&o desse movimento demogr&fico. De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, 0 emprego nio agricola cresceu 4 expressiva taxa de 4,8% a.a. na década dos sessenta, enquanto o emprego industrial, crescendo a 5,28 a.a. entre 1960/70 e a 8,4% entre 1970/74, apresentou grande dinamismo, que em filtima instAncia refletia o "boom" industrial observado no perfodo de 1967/1974 (ver dados ¢ observagées sobre crescimento industrial & segao 1, Cap. 2. * Dados demograficos extraidos do IBGE ~ Sinopse Preliminar do Censo Demografico de 1980, vol. 1, Tomo 1, Rio de Janeixo, 1981. 21. © crescimento do emprego ndo agricola na década dos 50 tam bém @ alto (3,78 a.a.), permitindo que durante praticamente todo 0 Pés-guerra, até o final dos anos 70, a urbanizagdo acelerada se apoie, com pequenas: flutuagdes, no movimento de crescimento e transformagao da economia brasileira. Concluido o auge do ciclo industrial, iniciado em 1967 e que vai até o 29 semestre de 1974, o ritmo de crescimento do emprego industrial comeca a cair rapidamente, atingindo niveis negativos, em termos absolutos, no ‘primeiro semestre de 1981 (ver tabela 1). A desaceleragao do crescimento a partir da segunda metade dos anos 70 reflete-se com maior velocidade pelos indicadores de em- prego industrial (crescimento de 2,9% a.a.), enquanto verifica-se que © produto industrial, no mesmo periodo, ainda crescia em torno de 7% a.a. (Ver dados da Tabela 4). Tabela 1 - Evolugao Recente do Fmprego no Brasil e no Estado de So Paulo: ‘Taxas Anuais de Crescimento Periodos | 1980/81] 1981/83 Média Média 3950/60 |1960/70 |1950/70 |1970/74 1974/80 | ao tnai| do tnd’, ce ce Taxas Therementd anual | _Anual " Bmprego nao agri- cola 3,7 4,8 4,3 = - - 7 Rrprego industri~ al 1,9 5,2 3,6 8,4 (2,9) 8,5) (-9,3) Emprego agricola 3,6:C.A. 1,2:C.A 2,4:C.A, 2,96:C.A.0,8:CA, _ 7 1,8:C.D. 0,6:C.D, 1,2:C.D.-0,40:C.D-0,4:C.D. Eprego total 2,7 2,6 2,7 - - - - FONTES: "Emprego nao Agricola" - "RelatGrio de Pesquisa sobre o Mer~ cado de Trabalho no Brasil"- DEPE - UNICAMP 1980 - citados por Paulo Re nato de Souza in "Estudos Econdmd- cos", S80 Paulo, FEA-USP, margo/81, p- 63. “Emprego Industrial" - Censos Industriais para o Brasil e dados entre ( } para o Grande S40 Paulo-FIESP. Estraido do relaté rio de pesquisa DEPE-UNICAMP, dados até 1980. De 1981 a 1983 - calcula~ do com base no indice da FIESP. "Emprego Agricola" - C.A. ~ Censo Agropecuario e C.D. - PEA rural - Censo Demografi co. 22, Por sua vez, a queda absoluta do emprego nfo agricola, no inicio dos anos 80, coloca novos problemas relativos 4 grave questo do desemprego urbano. A partir dai é que se recoloca a questdo do em prego rural, cujo ritmo de crescimento j4 era declinante na época do “poom" da economia, comparado aos anos 60,e que se revelard ainda mais cadente no final da década dos 70. (Ver dados de crescimento do "pessoal Ocupado" e "Populagao Economicamente Ativa Rural" na Tabela 1, relativamente aos perfodos intercensitarios de 1950 a 1980). Acresce notar que o "Pessoal Ocupado" na agropecvaria,cujo crescimento observado no perfodo 75/80 € de 0,8%, & uma medida ainda superestimada do emprego agricola. Na verdade, mais da metade do pes soal ocupado na agropecudria ocupava postos de trabalho em estabele- cimentos entre menos de 1 hectare até 20 ha, Em 1975 é de 568 o con tingente de forga de trabalho rural que o Censo Agropecuario indica como ocupada nos: pequenos estabelecimentos com até 20 hectares de Area total, enquanto em 1980 essa mesma participago cai para 52%. Considere-se, ainda, que estes microestabelecimentos, em geral, apre sentam precdrias possibilidades de manutengSo e subsisténcia do nume roso contingente populacional que neles reside ou trabalha, enquanto que nos estabelecimentos de maior tamanho escasseiam as opertunida~ des de trabalho produtivo, relativamente ao contingente total de for ga de trabalho livre. Deve-se, ainda, fazer a ressalva sobre os conceitos censi~ tarios de pessoal ocupado ou populag&o economicamente ativa, com 0 argumento da provavel alta taxa de subemprego e até desemprego aber to ai incorporados, fato que é possivel detectar mas requeriria pes~ quisa especifica para quantificar. © processo de urbanizagao intenso, acompanhado por uma evo lugo do emprego nfo agricola também répida requer, de qualquer for~ ma, a elevagdo da oferta de alimentos, mesmo que se observem, em al~ guns subperiodos, a queda da taxa média de saldrio real da economia. De qualquer forma, na década dos 70, e especialmente no quinglénio 1970/74, a massa de saladrios cresceu e assim também a demanda de bens-salario de origem agropecuaria. A resposta da produgao agricola a essa pressfo de demanda interna é funcional, se tomada a economia em seu conjunto e também 23. © periodo de andlise como um todo.. Mas certamente quando se o decom- pde em subperiodos e se observa diferentes estratos de demanda, o de sempenho da oferta interna agricola e seu crescimento 6 altanente des proporcional, requerendo crescente complementagao pela importagao de alimentos. Esse aspecto, por sua vez, remete-nos a uma anélise do se tor agricola e de seu papel no comércio exterior, objeto do préximo tdpico dessa segdo. Ressalte-se, ainda, que o processo intenso de urbanizag&o por que passa a economia brasileira no periodo em foco reflete~se sq bre o setor agricola em profundidade, produzindo movimentos de popu- lagiio, € elevagiio da demanda por produtos agropecuarios que transfor mam inteiramente os espagos previamente definidos como rurais e urba nos. Isso tudo, operando-se em ritmo historicamente inédito, enseja, ainda, uma valorizagaéo das terras agricolas e do solo urbano também em ritmo acelerado, movimento que, em seu conjunto, propicia ganhos substanciais aos detentores de patriménios imobiliarios, Esse aspec~ to especifico de valorizagdo imobiliaria, reservo-me a trataé-lo deti damente na Parte II deste trabalho, onde discuto as relagdes do mer- cado de terras e do capital financeiro (cap, 6, segdes 1 e 2). 3 - Comércio Exterior e Agricultura A importancia do comarcio exterior para a agricultura bra~ sileira nio 6 nova. Mas a diversificagao das exportagdes agricolas e. a nova composigio das importagdes de produtos agricolas e de meios de produgSo para a agricultura terfo experimentado mudanga no perfo- do que estou analisando. 0 coeficiente de abertura da agricultura pa xa o comércio exterior continua elevado, e muda com certa rapidez a composigao da pauta de exportaveis, com o surgimento de novos produ- tos agricolas e agroindustriais, competindo em importancia com o ca~ £6. Essa mudanga na estrutura do comércio exterior agricola al tera um pouco o enfoque de considerar o setor agricola como fonte pro vedora de divisas para o restante da economia, para fazer _—real.gar também um novo aspecto das xelagées internacionais do setor agricola, que € 0 da integragao de relagdes interindustriais. 24, Sob © prisma do comércio exterior parece-me relevante ana~ lisar o papel da agricultura sob.o aspecto da evolugdo do seu satdo de divésas. Assim, consideramos simultaneamente o desempenho das ex- portagdes agricolas e as necessidades de importagao vistas de dois Angulos. De um lado, a importago de meios de produgao que abastecem a agricultura. De outro, a importag&o de produtos agricolas que com- plementam a oferta interna de alimentos e matérias-primas. Ha um outro fator que também influi na determinagao do sal do de divisas, que nfo se esgota nas transagdes com mercadorias, me- didas pelo Balango Comercial. A conta de servigos - captando as transa gdes de "Lucros e Dividendos", “Royalties e Assisténcia Técnica" e “guros de Empréstimos" das empresas industriais e agroindustriais componentes do chamado complexo agroindustrial - envolve uma teia mais ampla e complexa de relagdes internacionais que direta ou indi- retamente se ligam & agricultura brasileira. Deixo de considerar em- piricamente esta questao por dificuldade de construgéo de balangos apropriados, embora tenha razées para supor que o saldo desse comér~ cio seja negativo. A anlise do comércio exterior agricola a partir dos dados que apresento nas Tabelas 2 e 3 permite que se identifique algumas modificagdes importantes que se operam do inicio ao final do periodo analisado. No inicio do periodo, de 1967 até 1979, a exportagao agri- cola comanda praticamente a pauta de exportagdes globais, com parti- cipagio em torno dos 808 (ver Tabela 2, col. 1). Por sua vez, oS pro “autos basicos - e, nesses, preponderantemente o café - dominam as ex portacées, que, entretanto, se mostram relativamente estagnadas até 1968. Do lado das importagées, nos meios de produg&o para a agri cultura j4 se observa o crescimento do fluxo de insumos modernos (ver Tabela 3 "Principais Importagdes de Insumos Industriais para o Setor Agricola"), mas 0S valores em délares desse comércio sdo relativamen te pequenos até 1971, quando apresentaram entre 5 e 6% da exportacao agricola, elevando-se rapidamente para mais de 15% na maioria dos anos subsequentes. 25, ‘eget eared sozeutwrterd sopea : (+) WadI/NWIdI ‘AD€I ‘SSLNOd (o“925"2) (9'€z) “pu pre peu spre spr (2‘sp) 2 €86T PiPTL’S z’9¢ S'EE6°T s/20e't 6‘ L88°z s‘L90°9 spru of Py zg6r 6‘ OET9 “tLe 6'E80°S ples" e‘gesce o’s97'9 bon 6Sh Te6T o’s9e"s 887 s'Loz'z o'ses'% 6'T9ETE ofzsL"9 9'8r z‘0s og6T e*tree Tsp plerte TseL* yi oza'e vore’s 6c s‘es 6L6t €/epr'y 9/8 bezel TyLe’t ot ystrz 2'066"% vith ets gL6t v'786°S ofoz s'296 ofLet't €'L00°% z‘s80'9 B'ep e990 LL6t z‘cLe'y eee steer 94Zg0°T vi ose T 6*860°S 8’0s L'9 9L6T p’soz'e 6’8e e’zee z'zou't ofLzz"t 6'2z0'e 9'8r 9*09 SL6T VTp6°% o'bF L0st’T Tete*t 6'soeT O'bbOT® 6'bS a/99 bL6T L°BLTTE Bile of eLe 9'8er ef LTs Teele a'z9 Ze eL6t 61 bL6°T Tez zt yLe c'L6E L'oep przez e’es 8‘89 ZL6T 6'9Ly'T Lez Lisve 9 Lee zieee et LEL Tt List €'TL TL6T 6'zes'T L'9e spe v'oez 6'9€e 6 0SL°T g'ss Zon OL6T e'epert 69% yOTe 9' pat 6'E9t PELS*T o'zs S'6L 6961 s‘sso't pice a‘ ove e'zet Tissz o’oee*T T'6r eps 896T o‘ res abe e'zee s'ezt s'toz Bert T Livy ees L96T (wW-Wx) Sar0ZeS SOIR | eanz[NOTAbY A oF oa =no exed set |e ered oxdnp| sopezoqeta sootseg @) (3) Brosqy optes -ooyabypoza |-oza op sotew sory ata Teqndka sou SeSTATG op ODTeS | WN iseTooyxby -3a0duy Wx esepooyaby -3a0dxq | 0OT SEER ERE | OT TST . Cs) Cy) (€) (@) (1) ee Sa a RT] Soe Wanan an ennniawhy catanearnin 7 eraner 26. © avango do processo de modernizagao agropecuaria que ° Brasil experimenta com toda evidéncia na década dos 70 & refletido claramente na evolugo do comércio do setor agricola, que sintetizo na Tabela 3. Observa-se diversificagdo das exportagdes em varias di- regdes. A prépria pauta de exportagées passa a refletir também a di- versificagao industrial por qué passa o Pais neste periodo. As expor tagdes agricolas passam a apresentar novo perfil, com introdugio de novos € importantes produtos agricolas e, principalmente, produtos agricolas elaborados (ver Tabela 2, col. 3) pelo setor industrial a jusante da agricultura. Por sua vez, a elevagao e diversificacdo dos meios de produgdo importados para a agricultura reflete muito clara- mente as mudangas que esto ocorrendo na base técnica da produgao ru ral. _ A resultante em termos de saldo de divisas desse comércio ao setor acricola revela nos anos finais da década de 70, um certo es treitamento do excedente de divisas tradicionalmente gerado (ver Ta~ bela 2, col. 5). Por esse resultado, em parte @ responsavel a elevagio do coeficiente de meios de produgao importados sobre os insumos totais usados pela agricultura. Em parte, também, a importagao de alimentos pressiona a balanga comercial de alguns anos. S6 recentemente - em 1981 e 1982 ~ as politicas protecionistas da Europa e os reflexos mais profundos da recess&o mundial sobre o com@ércio internacional fi zeran-se presentes, inibindo de maneira mais dramatica o crescimento das exportagdes agricolas brasileiras. Antes disso, j4 se observavam sinais independentes de estreitamento do saldo de divisas da agrope~ cuadria. Como se pode observar na Tabela 2, 0 saldo absoluto de divi- sas apresenta-se estagnado ou decrescente desde 1977. A an&lise da evolugao dos saldos comerciais das transagées internacionais do setor agricola é o caminho mais consistente para se aferix o papel desse comércio sobre a demanda efetiva. Essa colo- cagao, que é teoricamente valida em geral, ficou ignorada em grande nimero de contribuigdes sobre comércio exterior e setor agricola,vis. to que, estranhamente, sempre se privilegiou a Stica da evolugdo das exportagdes € o seu desempenho na geragio de divisas para a economia em seu conjunto, Ora, essa visdo claramente parcial sé faria sentido se fosse admitida, "a priori",a irrelevancia quantitativa do coefi- ciente de importagdes do setor agropecudrio. sexteoyate ronmonry op erTes Ww Kom mmoRERD seman 8 RARRLECH DION TE TOT 1 sec coteniacsa 9 eSsod aera Sear aaam Tans aT | SRA RET TE TTI wox_| wer | co | ctor | oto | ade | odor | ate | vd [cde | cde | ule is sie saw isaQrine ssn! “ssyouuioweT se Moo OywrAvENuD 4 SuuRGOLs SiVETONTL IGR~UOVENONT ~ ¢ FroaRE 28. Pela analise dos dados de "saldo de divisas" (Tabela 2,col. 5), observa-se que, grosso modo, até 1973 essa premissa de desimpor~ tAncia das importagdes poderia ser assumida como verdadeira, porquan to o coeficiente de importagdes sobre as exportagdes (considero adi- tivamente as importagdes de meios de produg&o e produtos agricolas por um lado e a soma de exportagdes de basicos e “elaborados" por ou tro), @ relativamente pequeno (em torno de 28%), e bastante estavel ao longo do periodo 1967/73 ~ (variou de um m4ximo de 34% a um mini- mo de 26,7%). Essa situagao muda, entretanto, a partir de 1974, passando a oscilar num patamar mais elevado e assumindo valores crescentes no triénio 1978/80, em torno de 50% de importagao para cada délar expor tado. Mesmo nos anos de 1981 e 1982, em que as restrigdes 4 importa~ go se tornaram muito graves, 0 coeficiente de “importagées agricolas" @ ainda superior: a 1/3 das exportagSes totais da agricultura (ver Ta bela 2, col. 5). Ja em 1983, os resultados preliminares indicam mu~ @anga abrupta no coeficiente de importacées. Se acrescermos 4 tendéncia de estreitamento do saldo comer cial de divisas do setor agricola, o saldo de um hipotético “Balango ae Servigos" do complexo industrial a montante e a jusante da agri- cultura, certamente que a situagao cambial ficaria ainda mais precé~ ria. Isto ocorreria, certamente, em vista da alta incidéncia de cus- tos em juros e, em menor escala, de "Assisténcia Técnica" e "Lucxos e Dividendos", que afetam negativamente as transagdes com o exterior das indistrias integradas no processo de modernizagao agricola. & importante destacar as distintas necessidades de importa go que se originam do setor agricola nesse periodo de diversifica- g&o e integragao do comércio internacional. De um lado, observa~se a pressio pela modernizagao, com o crescimento ja indicado dos chama- dos insumos modernos. Mas hd também uma importante pressao pela im- portag&o de produtos agricolas para abastecimento interno, movimento esse que em geral revela-se ainda mais oneroso no consumo de divisas que a pressio especifica da modernizagao, A Tabela 3 resume estes da dos, considerando uma lista de principais insumos industriais para a agricultura e os principais produtos agricolas de consumo intermedia rio ou final. Compara ao mesmo tempo, a proporgao dessas importagées 29, com relag&o & exportacao acricola total. Como se pode observar na 1 bela 3, p. 27, as importagées de alouns bens de consumo de massa e@ de produtos de consumo mais restrito (alta elasticidade renda da de- manda), consomem divisas a partir de 1978 em cerca de um quinto das exportagées acricolas. Ao lado das importagdes de insumos industriais - expressi- va para os itens defensivos, combustiveis e fertilizantes, incluindo matérias-primas para indistria de fertilizantes (Tabela 3) - temos, ainda, a grande express4o dos grupos de produtos agricolas de consumo de massa (trigo, arroz,carnes, leite, milho e feijZo, principalmente). A lista desses produtos, que discrimino na Tabela 3, com~ pée uma cesta de bens-salério, relativamente importante nas listagens elaboradas para acompanhamento dos indices de custo de vida. Por ai pode~se avaliar A importancia que assume essa produgaéo externa ao se tor agricola na complementagao do abastecimento e, de certa forma, na administragao indireta do salario real urbano. Em linhas gerais, os dados desagregados de importagao de meios de produgao e de produtos agricolas revelam aprofundamento da dependéncia do setor agricola em relag&o ao comércio internacional. Essa dependéncia se revela maior a partir de 1978, quando, n&o obs~- tante sinais de desaceleragao do crescimento das exportagées agrico- las, a presso pela importagdo de insumos modernos perdura até 1981 e & crescente a importagdo de bens de consumo de massa. Se ligarmos a evolug&o dessas importagSes A evolugSo coetdnea do emprego nao agri cola e da politica salarial, algumas indicagdes de politica macroeco némica ficarao aclaradas. A observagao de forma mais desagregada das importagSes de produtos agricolas (ver Tabela 3) permite-nos visualizar, pelo comér, cio exterior, diferentes momentos do desenvolvimento econémico recen te e das estratégias de sua condugdo pela politica governamental. En ento do emprego nao tre 1967 e 1973 compatibilizou-se alto cresci agricola com relativamente pequena importagao de "bens-salario" - em torno de 10% da exportagéo agricola -, parcialmente pelo desempenho da produgiio interna agricola e parcialmente pelo controle coercitivo do salario real. A partir de 1974, € mais pronunciadamente em 1979, 30. liberaliza-se a politica salarial, mas, por outro lado, desacelera-~ se claramente o crescimento do emprego nao agricola. De qualquer for ma, 0S dados desagregados da importagio de "bens-salario" evidenciam que a partir de 1978 houve pressées pronunciadas de demanda, que pas. sam a consumir cerca de 20% das divisas da exportagéo agricola (ver Tabela 3, p. 27. Por iltimo, com a politica claramente recessiva a partir @e 1981, cai abruptamente o emprego nao agricola (queda absoluta) e, paralelamente, decrescem as importagSes de produtos agricolas, como de resto todo o coeficiente de importagdes da economia. As relagées indiretas que se estabelecem entre o comércio exterior, abastecimento interno e politica salarial podem sugerix o argumento da funcionalidade relativamente 4 oferta agropecuaria glo- bal e A demanda final para abastecimento e exportagées. O ajustamen- to estaria se dando, pelo lado da oferta, com o recurso 4 importagao de bens-saldrio, enquanto que, pelo lado da demanda, a politica sala rial e a evolug&o do emprego nado agricola cumpririam as metas de “ajustamento", comprimindo as massas de saldrios. Aparentemente, 0 recurso As importagdes se daria nas situagées de folga cambial, en- quanto a estratégia contencionista em situagSes inversas. Nao 6 preciso dizer que uma tal "funcionalidade"ultrapassa inteiramente a capacidade de regulagao pelo préprio mercado, pois re quer uma posigio permanente de arbitrio por parte do Estado. Os re~ sultados, que no plano do bem-estar social revelam-se desastrosos tam pouco logram alcancar simultancamente, objetivos declarados de esta bilidade interna de pregos e melhoria nos saldos de divisas. Com pos sivel exceg%o do ano de 1983, quando as restrigdes 4 importagai se tornaram praticamente absolutas e a massa de salarios cain de forma substancial, a evolugdo dos saldos comerciais da agricultura a par- tir de 1977 nao se revela crescente. Por outro lado, assiste-se, tam bém, no perfodo, uma aceleragao do processo inflaciondrio sem parale lo na histéria recente do Pais. Creio que as dificuldades econémicas pelo lado das relagdes internacionais 46 setor agricola projetam-se, hoje, de maneira mais profunda na condugao da politica interna de abastecimento e de moder 31. nizagao agricolas, ainda que a agricultura tenha logrado um — enorme avango tecnolégico e paralela integragao nas correntes dindmica de comércio. Essas questdes, como se vera na exposig&o dos demais seg- mentos deste trabalho, serado retomadas 4 luz dos demais elementos que compéem essa estratégia peculiar de crescimento agricola do periodo recente. 4 - Transformagdes na Base Técnica da Agricultura e Constituigéo do Complexo Agroindustrial - CAT A transformag&o da base téc da agricultura e a consti tuigdo do CAI sdo processos distintos e historicamente separados. 0 primeiro, se entendido enquanto processo de transformagao dos meios de produg&o utilizados pela agricultura, de “insumos naturais" para bens de produgao"industriais, é basicamente, no Brasil, um processo de mudanga técnica do pés-guerra. © primeiro momento do processo de modernizagSo agropecua~ ria se caracteriza, grosso modo, pela elevagao dos indices de trato~ rizagio e consumo de NPK, estimulada e facilitada pelo governo e em- presas norte-americanas. Intreduz-se nessa primeira década de inova- goes, que é basicamente a d&cada dos 50, um novo padraéo tecnolégico para a produgdo rural com base na importagio de meios de produgao in dustriais. A demanda de insumos atendida por importagées. © segundo momento € o da industrializagao dos processos de produgao rural propriamente, com a implantago dos setores industriais de bens de produg&o e de insumos basicos para a agricultura, e 0 fa- vorecimento financeiro pelo Estado ao consumo desses novos meios de produg&o. O marco inicial dessa nova arrancada é a implantagao no Brasil das primeiras indistrias de tratores, no final dos anos 50. Um terceiro momento das relagées agricultura-indistria é 0 processo de fus&o ou integragéo de capitais intersetoriais. Essa in- tegragdo se distingue da integragdo técnica agricultura-indistria,em bora se realize com o suporte dela, Mas a integragdo de capitais te- r& um raio de abrangéncia mais amplo, compreendendo nado apenas 0 apro fundamento das relagdes interindustriais, mas outras formas de inte- 32. gragao e conglomeragao sob comando do grande capital. A essa andlise reservo a Parte Ir deste trabalho, que trata da constituigdo e do de- senvolvimento do capital financeiro na agricultura. Por outro lado, o processo de modernizag&o somente encon- trara dinamismo e abrangéncia significativa a partir de meados dos anos 60, até o final dos anos 70, quando a conjugagdo de um sistema financeiro apropriado - 0 Sistema Nacional de Crédito Rural; a = im- plantagdo de novos blocos de substituigo de importagées de meios de produgio para a agricultura, patrocinada pelo TI PND, e uma certa fol ga cambial nas transagdes externas - possibilita a introdugdo maciga das transformagées na base técnica da agricultura. 0 final dos anos 60 @ considerado como marco de constitui- g&o do chamado Complexo Agroindustrial brasileiro (CAI), denominado ainda por alguns-autores de arrancada do processo de industréatiza- edo de campo*. Esse processo caracteriza-se, fundamentalmente, pela implantagio, no Brasil, de um setor industrial produtor de bens de produgdo para a agricultura. Paralelamente, desenvolve-se ou moderni za-se, em escala nacional, um mercado para produtos industrializados de origem agropecuaria, dando origem 4 foxmagao simult&nea de um sis. tema de agroindistrias, em parte dirigido para o mercado interno e em parte voltado para a exportacao**. A constituig&o de um ramo industrial a montante (meios de produgio para a agricultura) e a modexnizag&o do ramo industrial a jusante (processamento de produtos agricolas) passa, necessariamente, pela modernizagaio de uma parcela significativa da agricultura brasi~ leira. Essa agricultura que se moderniza, sob o influxo dos incenti- vos do Estado e induzida tecnologicamente pela indistria, transforma profundamente sua base Zéenica de meios de produgdo. Esse — processo significa, também, que, em certa medida, a reprodug&o ampliada do ca pital no setor agricola torna-se crescentemente integrada em termos de relagdes interindustriais para tras e para frente. No primeiro ca so, essas relagdes implicam a prépria mudanga do processo de produ- gdo rural de forma articulada 4 indistria produtora de insumos (fer tilizantes, defensivos, corretivos do solo, ragdes e concentrados) e * Para uma andlise sobre a constituigdo do Complexo Agroindustrial (CAI) ver Geraldo Muller "O_ Complexo Agroindustrial" Sao Paulo, FGv, 1981. So ** Sobre a consolidag&o do CAI e discussio sobre o perfodo efetivo de sua constituicao ha interessante trabalho que contradita a Tese de G, Muller. Ver Tamas Szmreczsnanyi, "Nota sobre o Comple xo Agroindustrial e a Industrializagao da Agricultura no Brasil? Revista de Economia Politica, vol. 3, ne 2, abril-junho de 1983, 33, de bens de capital (tratores, implementos diversos, colhedeiras equi, pamento para irrigag&o, etc.). A evolugdo interna do consumo ¢ da produgao de fertilizan- tes e a demanda de tratores comparada com a produgao nacional é mos- trada nas Tabelas 4 e 5. Os dados, como se pode observar,revelam cla ramente uma aceleragio do crescimento do consumo e da produgdo dos principais meios de produgdo industriais para agricultura, a pertir de meados dos anos 60. Mas a partir de 1980 h& o decréscimo acentua- do do consumo e da produgSo interna desses meios de produgao moder- nos, associado 3s mudangas drasticas na politica de financiamento ru ral, que examino mais adiante. Tabela’ 4 - Produgao e Consumo Aparente de NPK (Mil Toneladas de Nutrientes) - 1960-1983 Fosfatados Nitrogenados Potassicos Total NPK Anos Sodan Consumo | ProdugZo| Consumo | Produgio| Consumo [Produgo] Copsur© | Produrso 1960 131,6 89,9 66,8 15,8 nad 198,4 —105,7 1967 204,6 109,0 103,4 7,9 136,9 444,9 -116,9 1970 415,9 169,4 276,4 20,8 += -306,7 999,0 19,2 1975 1.016,7 516,7 406,2 160,8 557,21 1.980,0 67,5 4,066,1 1.871,7 2.653,3 1.432,0 2,651,1 1.461,7 2.246,3 1.542,7 1980 1.853,9 1.488,7 905,6 383,0 1.3066 1981 1.218,2 1.082,6 668,4 349,4 766,7 1982 1.133,6 1.061,9 646,2 — 399,8 571,3 1983 934,3 991,1 586,2 551,6 726,4 ecooo ooo FONTE: Associac’o Nacional para Difusao de Adubos - ANDA e Sindica- to de Adubos e Colas do Estado de S40 Paulo - dados provisé- xios para 1983. A evolucao dos indicadores de mecanizagao agricola 6 mos- trada, qrosso modo, na Tabela 5, que indica tamanho da frota de tra- teres agricolas e a produgdo interna, importagHo e exportagao de tra tores de quatro rodas. 34, Tabela 5 - Evolugdo Recente da Produgao e Utilizagao de Tratores de Quatro Rodas ay (2) a) (4) (5) ota © Bae cereals eee rae eee prea nternas | Bxportagao 1950 8.372 9 8.373 n.d. 0 1960 61.345 37 12,702 n.d. 0 1967 n.d. 6.223 342 n.d. 31 1970 145.309 14.048 60 n.d. 41 1975 323,113 56.928 * 801 n.d. 671 1980 545, 205 58.812 0 n.d. 7.759 1981 n.d. 38.988 Q 28.104 10.073 1982 n.d. 35.687 oO 28.164 6.239 1983 ned. 22.612 0 26.639 nd. FONTE: Coluna 1: Censo Agropecudrio; cols. 2 e 4: ANFAVEA; cols. 3 e 5: CACEX. Por sua vez, a indiistria de tratores, que ja@ no final dos anos 60 abastece inteiramente a demanda do setor agricola (ver dados de produgao e importagao da Tabela 5), sendo, portanto, pioneira no processo de modernizacio, entra também em crise no final dos anos 70, caindo a produgao a menos da metade do seu nivel de 1975. Por outro lado, a indiistria processadora de alimentos € matérias-primas (indistria a jusante da agricultura), de constitui- g&o antiga e de graus de modernizagado variaveis, integrou-se de ma~ neira n&o uniforme ao movimento de alteragdo na base técnica da agri cultura. Alguns ramos ou sub-ramos, como a produgao de "Ragdes e Con s", "Lacticinios", "Madeiras", "Papel e , etc. se integram de ma centrados", "Abate de Anim: ", "Couros e Peles", "Fumo", “Alcool" Papel neira mais direta e necesséria ao movimento de modernizagao da agri- cultura. Os padrées de produgio dessas indiistrias, no que se refere a tipos de produto, exigéncias sanitarias, qualidade e homogenidade da matéria~prima e, ainda, regularidade de sua entrega, impdem = um perfil tecnolégico 4 produg&o que deve ser seguido pelos agriculto- res. Porém, 6 importante destacar que tais exigéncias séo variaveis de produto a produto. Estdo até mesmo ausentes em grande nimero de produtos consumidos "in natura" (arroz, milho, feijao, etc.). Por si sds, as exigéncias de padronizagao de produto nao sao suficientes pa ra induzir em geral o movimento de alteragdo da base técnica de pro- dugao. Esse depende basicamente, e tem como cerne de sua diregio, o ramo industrial que produz meios de produgdo para a agricultura. B deste ramo industrial que emanam as inovagées que est&o incorporadas aos novos meios de produgao adotados. A ele se integra todo o apara- to de pesquisa e extensao rural, conformando o Departamento de Meios de Produgao para a agricultura (D,), que dirige tecnologicamente a modernizagao agricola, segundo estratégias politicas mais gerais, que me reservo a comentar na segio de politica tecnolégica. A definigao de um perfil industrial do CAI, compondo os seus principais ramos a jusante e a montante da agricultura, & um indicador relevante para que se possa, sendo medir, pelo menos esti- mar uma ordem de magnitude desse complexo industrial, e bem assim a relevancia das relagées interindustriais do tipo insumo-produte. Is~ so € 0 que tento fazer na Tabela 6. Usando os critérios de origem agropecuanta das matencas- phimas utilizadas e, ainda, de sua partictpacdo no vaton da producao industrial nao inferior a 50%, foi definido o grupo de indiistrias a jusante, componente do Complexo Agroindustrial. Por outro lado, o ramo industrial a montante compreende o grupo de indistrias abastecedoras de insumos e bens de capital da agricultura. Para cada um desses grupos de ramos e atividades a mon- tante e a jusante tentei medir a participagao no PIB industrial* nos anos censit4rios (1970,1975 e 1979). Os resultados que apresento na Tabela 6 merecem comentario explicativo. A evolugao recente do CAI revela, em primeiro plano, um crescimento expressivo do ramo a montante, entre 1970 e 1975, passan do de 2,48 do Valor da Transformagao Industrial das indiistrias de transformagao em conjunto, para 4,0%. Tal crescimento da participa- gHo significa que esse grupo de atividades industriais cresceu 4 fren te do conjunto da indiistria no periodo, e o fez de maneira expressi~ va * Considerei o valor de Transformagao Industrial do Censo Industrial apenas para as indistrias de transformagao e néo para todo o PIB industrial. 36, Tabela 6 - COMPLEXO AGROINDUSTRIAL (CAI) - COMPOSICAO E PARTICI- PACKO PROPORCIONAL NA INDOSTRIA DE TRANSFORMACAO 1970-1975-1979 Ramos e Sub-Ramos Valor da Transformagao Industrial (VTI) do Ramo no VTI da Indistria de Transfor magao_(%) Industriais 1975 1979 I. Indiistrias a Montante 2,40 3,97 3,96 a) Quimica (parcial) 0,98 1,63 2,77 Mdubos, Fertilizan- tes e Corretivos 0,68 1,19 1,65 «Inseticidas, Germ, cidas e Fungicidas 0,30 0,44 0,37 b) Mec&nica (parcial) 0,60 1,40 0,90 .Maquinas.e Implemen tos Agricolas 0,42 0,88 0,58 .Fabricagao e Monta gem de Tratores 0,18 0,52 0,32 c) Produtos Alimenta- yes (parcial) 0,32 0,45 0,65 sRagdes para Animais 0,32 0,45 0,65 d) Produtos Farmacéuti_ Gos ¢ Veterinarios parcial) 0,50 0,49 0,39 «Produtos veterina- rios 0,50 0,49 0,39 II, Indistria_a Jusante 26,26 24,68 25,07 i) Produtos Alimentaq res (parcial) 12,32 10,63 10,21 -Beneficiamento,moa gem, torrefagao 2,85 2,67 2,19 .Preparagao de re- feigdes, conservas 0,58 0,53 0,98 -Abate de animais - frigorificos 2,00 1,88 1,76 .Preparagao do pes— cado 0,23 0,19 0,26 -Resfriamento e pre paragao/leite e lac ticinios 1,34 1,04 1,06 .Fabricagao e refi-~ no de agicar 2,12 1,53 1,35 Continua ..- 37. Tabela 6 - Complexo Agroindustrial (CAI) - Composigao e Partici- pagao Proporcional na Indistria de Transformagao continuacao Ramos e Sub-Ramos 1970-1975-1979 valor da Transformagao Industrial (VTI) do Ramo no VII da Indistria de Transfor Industriais ceo 1970 1975 1979 «Fabricago de ba~ las e caramelos 0,49 0,40 0,46 .Fabricagao de pro- dutos de padaria 1,05 1,02 0,73 .Fabricagao de mas— sas alimentares 0,58 0,55 0,52 .Preparagao de pro- autos alimentares diversos 1,07 0,83 0,90 ii) Quimica (parcial) 1,06 1,13 1,70 .Destilagao do Al- cool 0,25 0,15 0,66 Oleos vegetais e esséncias (em bru- to) 9,91 0,98 1,04 4ii) Fumo (total) 1,30 1,06 1,10 iv) Madeiras (total) 2,34 2,83 2,37 v) Mobiliario (méveis de madeira) 1,29 1,45 1,32 vi) Couros, peles (to- tal) 0,53 0,52 0,63 vii) Bebidas (total) 2,10 1,79 viii) T&xtil (parcial) 4,07 3 3,02 .Benef.Fibras vege tais 0,82 0,72 0,63 .Fiagaéo tec. fibras veg. e animais 3,26 2,01 2,39 ix) Papel_e Papelao (to ao 2,53 2,55 3,16 FONTE: Censo Industrial IBGE (1970-1975) e Pesquis: 1979 a Industrial - IBGE, 38, Por sua vez, a participagao no PIB industrial, ainda relati yvamente pequena do grupo de indGstrias a montante - 4,08 em 1975, comparado com os 24,7% dos ramos a jusante ~ no faz inteira justi- ga as reais dimensdes da demanda do setor agricola por meios de pro- dugo industriais. A composigio das indistrias a montante nos itens de insumos e bens de capital industriais, que utilizei, & aquela pos- sivel de ser feita com base na desagregagio das atividades industriais do Censo Industrial. Com isso se perde grande parte das demandas se- toriais da agricultura para a indiistria, em termos de combustiveis, material de transporte, equipamento de armazenamento, equipamento pa ra irrigagdo e, ainda, material elétrico para eletrificagao rural, etc., devido 4 impossibilidade de se atrubuir, nos respectivos ramos industriais, qual a efetiva parcela do PIB industrial que é demanda- @o pelo setor rural, Observe-se, ainda, que o setor industrial a mon tante tem importancia crucial como centro criador da tecnologia agri cola, condigio mais qualitativa que quantitativa em suas —relagdes como meio rural. * De outro lado, a expressiva participagao da indistria a jusante, capitaneada pelo ramo de “Produtos Alimentares", da, certa~ mente, uma idéia clara da importdncia das relagdes interindustriais para frente. Esse subconjunto de ramos industriais, conquanto classi ficado geralmente como “indiistrias tradicionais", apresenta cresci- mento inferior ao do conjunto da indfistria no perlodo 1970-75, haja vista que houve declinio de sua participac&o relativa no valor = de transformagio da indiistria de transformagdo, de 2€,268 em 1970 para 24,68% em 1975 e 25,07% em 1979. Esse declinio relativo, que de res~ to & normal em face ao ritmo mais acelerado de crescimento das indis trias de meios de produgao, apresenta graus variados conforme o ramo industrial que se considere. Observe-se que em alguns ramos e sub-ramos onde 6 notéria a integragio da agroindiistria com as correntes do comércio interna~ cional e programas de substituig&o de importagdes, o valor da trans- formagao industrial cresce até mais que o conjunto da indistria de transformagio. Pelos dados da Tabela 6 constata-se crescimento de ra mos au atividades industriais a jusante da agricultura na “Destila~ g3o de Alcool", "Oleos Vegetais e Essenciais em Bruto” e no ramo ae "papel e Papeldo", que aumentam sua participagao no PIB industrial 39, ao longo da década dos setenta. Por sua vez, os ramos de "Madeiras" e os sub-ramos de "Abate de Animais" e "Beneficiamento, Moagem e Tor refagao de Produtos Agricolas", revelam pequena queda na propor¢do do PIB industrial entre 70, 75 e 79. Estes cresceram também a taxas razoaveis no periodo, certamente um pouco inferiores aos 10% ao ano que é, em média, a taxa de crescimento industrial do perfodo 70/79. © surgimento e consolidagéo do Complexo Agroindustrial ar- ticula novos interesses sociais comprometidos com 0 processo de “ mo~ dernizagao. Conforma-se um novo bloco de interesses rurais em que so bressaem a participagdo do grande capital industrial, do Estado e dos grandes e médios proprietérios rurais. A soldagem desse pacto mo dernizador 6 feita pela politica econémica, com primazia dos apara- tos financeiros do Estado. Sobressai, ainda, uma politica tecnold- gica especifica, que preside a articulagao do D, da agricultura e uma politica fundiaria que, em termos gerais, valoriza a propriedade territorial (ver andlise especifica 4s segdes 2 e 3 do Capitulo 3). Esse novo bloco de interesses rurais, submetido 4 crise financeira aguda a partir do final dos anos 70, evolui para novas e ainda mal definidas aliangas, em que novamente o grande capital = industrial, o Estado e a propriedade territorial estardo presentes, numa articula go de interesses que marcaria uma forma mais avangada de integragao de capitais a nivel intersetorial (ver andlise dos Caps. 4 a 6). Todo esse processo de modernizag&o se realiza com intensa diferenciagao e mesmo exclusao de grupos sociais.e regides econémi- cas. No &, portanto, um processo que homogeiniza o espago econémico _e tampouco o espectro social e tecnolégico da agricultura brasileira. Ro contraério, deve-se ressaltar que a concentrago espa- cial do projeto modernizante, abrangendo basicamente os Estados do Centro-Sul brasileiro (MG, GO, RJ, SP, PR, SC e RS). Por seu turno, ocorre paralelamente um movimento de concentragao de produ¢&o,abran gendo um niimero relativamente pequeno de estabelecimentos (entre 10 e 20% dos estabelecimentos rurais, conforme o indicador de moderniza gio que se tome), que respondem por parcelas crescentes da produgao. As demais regiées do Pais e os milhdes de estabelecimentos n&o incorporados ao processo de modernizagao cumprem, nessa estraté 40. gia de organizagao da produgéo, papéis periféricos na agricultura bra sileira. HA mesmo que admitir que significativas parcelas de agricul tores residentes em estabelecimentos mintisculos constituem-se numa forga de trabalho sobrante, de dificil possibilidade de absorgado em qualquer ramo produtivo da economia rural. Nesse sentido, as mudan~ gas no mercado de trabalho induzidas pela “industrializagao do campo" fazem crescer uma massa de marginais sociais, cuja absorgao, restri~ ta aos assalariados tempor&rios na esfera produtiva, ocorrerd de forma ainda mais precaria ao nivel da circulag3o da renda social, no Ambito do que se convencionou chamar de mercado de trabalho informal. Quanto as regides nfo atingidas de maneira predominante pe la modernizagio - 0 Nordeste,de agricultura geralmente arcaica, © as regiées novas (fronteira agricola) - prevalecem processos produti vos grandemente heterogéneos e uma estrutura agraria dominada pela grande propriedade. A valorizagao do capital no setor agricola nao se di ai, de forma necesséria, por intermédio do CAI, mas pelo con- trole da propriedade fundiaria. Esse &, pois, o lado conservdor do projeto de modernizagio agricola, que passa pela mediagao politica de acordo com complexas e instaveis aliangas. 5 = Mediacdo Estatal das Relagdes Econédmicas e Sociais - Auge e Cri- se A insergdo do Estado, vista a partir dos seus distintos apa yelhos, no processo de modernizagZo capitalista da agricultura brasi leira, revela o car&ter cada vez mais complexo e abrangente da regu- lagao das relagédes econédmico-sociais pela miquina estatal. Esse pro cesso @ grandemente acentvado pela constituig&o do Complexo Agroin-~ dustrial e pelas préprias transformagées simultaneamente instituidas para o meio rural. B importante perceber como as esferas de regulagao estatal se tornam cada vez mais onipresentes. Nao tanto pelas novas fungoes, © que poderia dar uma idSia estatica de funcionalidade do papel do Estado, mas, € principalmente, pela penetrag&o por dentro da maquina do Estado das condigdes e mejos de reprodugao do capital na agricul- tura em particular, e no Complexo Agroindustrial de forma mais gene ralizada. 41. Essa dominaga’o crescente da regulagdo capitalista pelo Es- tado, processando-se de maneira nao necessariamente funcional, mani- festa-se por diversos meios ou niveis de decisio burocratica, que de forma geral poderiam ser sintetizados nas insténcias nonmativa, §i- nanceina- fiscal, produtiva e previdenciaria. De todas essas instan- cias ou meios de regulago econémica, o estilo de regulagéo financed ra sobressai como eixo de articulagao fundamental da intervengao es~ tatal na economia, como pretendo indicar no desenvolvimento desta se gio. A esfera normativa compreende uma fungdo mais tradicional do Estado, qual seja a de legislar e normatizar as bases contratuais sobre as quais se estabelecem as relagdes sociais no meio rural. + primeira grande mudanga normativa nos contratos rurais ne 4,214, de 02/03/63), norma que em geral se propée a estender os direitos tra de trabalho vem com o Estatuto do Trabalhador Rural (i balhistas urbanos - férias, contrato inscrito na Carteira de Traba~ lho, salario minimo, estabilidade aos 10 anos de servigo, protegdo ao trabalho do menor e da mulher, etc., as relagGes de trabalho no cam- po. Observe-se, entretanto, que essa legislag&o somente teria sentido pratico num corpo de reformas mais gerais da estrutura agra- ria, 0 que entdo era o propdsito do governo que a promoven. Contudo, © que sucede & promulgago do Estatuto do Trabalhador Rural @ a mu~ danga do regime politico, em 1964, e a promulgagSo posterior do Esta tuto da Terra (Lei no 4.504, de dezembro de 1964). Esse contém toda ‘ama legislag&o agraéria, consubstanciada, por um lado, no principio da _reforma agraria, e, por outro, na estruturagao de condigées favo~ raveis ao empreendimento capitalista na agricultura. Nao 6 preciso alongar-me para indicar que a vertente refor mista do Estatuto da Terra feneceu rapidamente sob o impacto das no~ vas aliangas politicas gestadas pelo golpe de 1964, Com ele foi tam- bém sepultado o Estatuto do Trabalhador Rural. Prevaleceu a vertente do desenvolvimento rural sob a égide da empresa capitalista, que com o tempo assumiu todo o espago de exe 42. cuggo da politica agraria, revertendo, na pratica, as declaragées re formistas do Estatuto da Terra e, principalmente, do Estatuto do Tra balhador Rural. Enquanto o primeiro transformou-se em letra morta na parte que trata da reforma agraria, o Estatuto do Trabalhador Rural transformou-se no exemplo mais flagrante de desrespeito sistemético As suas normas de protegdo e garantia das relacdes formais de traba~ ho por parte das empresas organizadas em bases modernizadas. A conjugagao dos dois Estatutos e, principalmente, do exa- cerbado protecionismo ao chamado empreendimento capitalista, acabam por inverter, também, as normas que reguilam a fungao social da pro- priedade territorial rural, transformando-a em fonte auténoma de va- orizag&o patrimonial. Isso tudo modifica, na pratica, as relagdes de trabalho e as relagdes de propriedade, convergindo no sentido de apoiar novas aliangas do grande capital e do Estado em diregao 4 va- lorizagio especulativa da propriedade territorial, conformando um pe culiar mercado de terras a que me proponho analisar mais adiante (ver Cap. 6). A segunda. esfera de regulag&o estatal, a que denominei de fénanceina e@ §4seal, compreende um conjunto amplo de mecanismos mong tario-financeiros e de incentivos fiscais, que estimulam, compensam ¢ financiam a aplicagdo de capitais privados nas atividades rurais ou a essas conectadas por diversas formas de integra¢&o. Nessa esfera financeira e estatal, desemponha papel de des taque a estrutura bancdria do Estado e, em particular, a politica de crédito rural por ela executada (majoritariamente). Essa politica,de “que tratarei detidamente no Capitulo 3, contém uma proposta explici- ta de modernizagSo agropecudria em interagéo com a constituigao inte grada do Complexo agroindustrial. Nessa esfera {inanceiaa e estatal desempenham papel relevante as diversas instituigdes encarregadas da concessao de subsidios financeiros e facilidades crediticias que se sucedem desde a constituigiio do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) . B particularmente a partir do projeto de modernizagao e diversificagdo agropecudrias, que se insinua claramente a partir da segunda metade dos anos 60, que se tenta institucionalizar o SNCR,

You might also like