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Controle de Buva e Amargoso
Controle de Buva e Amargoso
Manejo e
controle
de plantas
daninhas na
cultura da soja
José Fernando Jurca Grigolli
INTRODUÇÃO
O manejo adequado das plantas daninhas na Diversas das espécies citadas acima estão
cultura da soja tem se tornado mais difícil a cada presentes em Mato Grosso do Sul. Entretanto,
ano. Novos casos de resistência são relatados as plantas daninhas de maior impacto até o
todos os anos, e os problemas de resistência momento são a buva e o capim-amargoso.
múltipla, ou seja, resistência de uma planta Neste sentido, experimentos de controle químico
daninha a mais de um mecanismo de ação de destas plantas daninhas foram realizados na
herbicidas assombra o Brasil. Esse cenário safra 2015/16, os quais são listados abaixo.
só vai reduzir quando toda a cadeia da soja Na apresentação dos resultados, foi utilizada
começar a tratar o assunto de plantas daninhas além da estatística, uma escala de cores para
de forma responsável novamente. tornar mais visual os resultados, de forma que
verde indica eficiência igual ou superior a 80%,
A utilização isolada do glifosato já não é mais amarelo eficiência entre 60 e 80%, vermelho
garantias de uma boa dessecação. Plantas claro eficiência entre 40 e 60% e vermelho
daninhas resistente à este herbicida, como a escuro eficiência entre 0 e 40% de controle
buva, o capim-amargoso, Amaranthus palmeri do alvo estudado. Também ressalta-se que
e o capim pé-de-galinha já são responsáveis os dados obtidos e apresentados no presente
pela utilização de outros herbicidas nas áreas trabalho foram obtidos com fins experimentais,
cultivadas com soja no Brasil. Além disso, e a recomendação de produtos fitossanitários
existem atualmente 41 casos de resistência de no campo deve seguir as normas do Ministério
plantas daninhas à herbicidas no país (Tabela da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem
1) (WeedScience, 2016). como a bula dos produtos.
1
Eng. Agr. Dr. Pesquisador da Fundação MS - fernando@fundacaoms.org.br
Primeiro
Nº. Nome Científico Nome Comum Mecanismo de Ação
Relato
18 Oryza sativa var. sylvatica Arroz Vermelho 2006 Inibidor de ALS (B/2)
RM1: 2 Modos de Ação
19 Bidens subalternans Picão-Preto 2006 Inibidor de ALS (B/2)
Inibidor do Fotossistema II (C1/5)
Capim-
20 Digitaria insularis 2008 Inibidor da sintase da EPSP (G/9)
Amargoso
RM1: 2 Modos de Ação
Echinochloa crus-galli var.
21 Capim-Arroz 2009 Inibidor de ALS (B/2)
crus-galli
Auxinas Sintéticas (O/4)
RM1: 2 Modos de Ação
Aguapé-de- Inibidor de ALS (B/2)
22 Sagittaria montevidensis 2009
Flecha Inibidor do Fotossistema II (Nitrilas)
(C3/6)
Continua...
Primeiro
Nº. Nome Científico Nome Comum Mecanismo de Ação
Relato
Tabela 2. Tratamentos, dosagem (mL ha-1), época de aplicação e manejo de herbicidas após a aplicação do experimen-
to. Amambai, MS, 2016.
Tabela 3. Eficiência de controle (%) dos herbicidas aos 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias após a primeira aplicação dos trata-
mentos. Amambai, MS, 2016.
Glifosato + Heat 82 B 87 B 82 C 69 C 68 C 65 D
Finale 88 A 92 B 87 B 68 C 70 C 66 D
Finale + Spider 91 A 96 A 82 C 76 B 75 C 78 C
Finale + 2,4-D 96 A 99 A 89 B 81 B 75 C 70 D
Glifosato + Finale 93 A 98 A 93 B 90 A 87 B 78 C
Glifosato + WaterMix 8D 9C 9E 4E 5F 4F
50,0
C C
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Testemunha Testemunha Gli (3,0) + Gli (4,5) + Gli + 2,4-D Gli + Heat Gli + 2,4-D Finale Finale + Finale + Gli + Finale Gli +
Sem Capina Sem Capina 2,4-D (1,5) 2,4-D (1,5) + Spider + Heat Spider 2,4-D WaterMix
Teste F = 31,58**; CV = 4,52%
Figura 1. Rendimento de grãos (sc ha ) de plantas de soja com diferentes manejos herbicidas. Amambai, MS, 2016.
-1
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott a
5% de probabilidade. nsnão significativo, * e ** significativo a 5% e 1% respectivamente.
Conforme dito anteriormente, o controle capim estabelecido. Para evitar que as plantas
adequado de buva deve ser feito com plantas de de buva cresçam e evitar dessecar o capim de
até 20 cm. Todavia, há um estímulo grande em forma precoce, recomenda-se o uso de 2,4-D
cultivar o milho de segunda safra consorciado e de metsulfuron para “segurar” as plantas de
com capim, afim de elevar os níveis de matéria buva ainda no tamanho pequeno até o momento
orgânica do solo e aumentar a quantidade de da dessecação.
palha, reduzindo os impactos de prováveis déficit
hídrico. Entretanto, em áreas consorciadas Nesse sentido, existem muitas dúvidas acerca
e após a colheita do milho, é comum termos da dose de metsulfuron à ser utilizada e do
algumas plantas de buva ainda pequenas e o período entre a aplicação e o plantio da soja em
Tabela 4. Herbicida, dosagem (g ha-1), ingrediente ativo e época de aplicação. Bonito, MS, 2016.
Dosagem
N. Tratamento Ingrediente Ativo Época de Aplicação
(g ha-1)
Testemunha sem
1 --- --- ---
Aplicação
1
DAS - dias antes da semeadura da soja.
Quanto ao controle de plantas de buva aos 21 8 g ha-1 de Ally apresentou bom controle das
e 42 DAA, verificou-se uma curva de segundo plantas, inclusive com valores acima de 80% de
grau no controle em função da dose do herbicida controle, também sendo uma opção de dose de
utilizado, de forma que doses acima de 10 g manejo (Figura 2).
ha-1 de Ally não incrementaram o controle das
plantas de buva, devendo esta ser a dose Á valido lembrar que o objetivo desta aplicação
máxima de uso para esta finalidade. A dose de não é controlar todas as plantas de buva, e sim
42DAA
21DAA 100
100
89 89 89 88
88 89 89 89 90 82
90 83 Teste F= 289,72**
80 CV=6,38%
80 Teste F= 261,68**
70
70 CV=6,75%
60
60
50 50
49 40 50
40
30 30 Y= -0,492X2+13,53X -2,016
Y= -0,480X2+13,39X -2,007 R2=0,9682**
20 R2=0,9641** 20
10 10
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Dosagem (gp.c.ha -1) Dosagem (gp.c.ha ) -1
Figura 2. Eficiência de controle (%) de plantas de buva com diferentes doses do herbicida Ally aos 21 e 42 dias após a
aplicação dos tratamentos. Bonito, MS, 2016.
ESTANDE (PLANTAS / M)
12,0 12,0 12,9
Teste F= 0,38ns 12,6 12,8 13,1 12,6 12,8 13,0
10,0 CV=11,16% 10,0
8,0 8,0
Teste F= 0,33 ns
6,0 7,5 7,8 6,0
7,1 7,3 7,2 7,3 7,1 CV=5,35%
4,0 4,0
2,0 2,0
0,0 0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Dosagem (gp.c.ha -1) Dosagem (gp.c.ha -1)
15 DAE IVE
3,00
14,0
ESTANDE (PLANTAS / M)
Figura 3. Estande de plantas de soja (plantas m-1) aos 5, 10 e 15 dias após a emergência das plantas, e Índice de Velo-
cidade de Emergência (IVE) (Maguire, 1962) em área tratada com diferentes doses do herbicida Ally. Bonito, MS, 2016.
Outro aspecto bastante importante no manejo aplicação dos herbicidas foi realizada em 03 de
da buva é o uso de herbicidas pré-emergentes, outubro de 2015 e a semeadura realizada com a
que auxiliam no manejo de resistência de cultivar BMX Potência RR em 14 de outubro de
plantas daninhas à herbicidas, além de auxiliar 2015, em um solo argiloso coberto por palhada
pelo efeito residual na área. Nesse sentido, de aveia.
a Fundação MS desenvolveu em Maracaju,
MS, um experimento comparando diversos Os resultados obtidos indicaram que na
herbicidas pré-emergentes no mercado e seu avaliação aos 14 DAA todos os herbicidas
controle em buva oriunda de semente. Os pré-emergentes apresentaram valores acima
herbicidas utilizados, dosagem e ingrediente de 80% de controle de plantas de buva.
ativo podem ser observados na Tabela 5. A Entretanto, a partir dos 21 DAA as diferenças
Tabela 5. Herbicidas pré-emergentes, dosagem (mL ou g ha-1) e ingrediente ativo utilizados no experimento. Maracaju,
MS, 2016.
Dosagem
N. Tratamentos Ingrediente Ativo
(mL ou g ha-1)
3 Classic 80 Clorimuron
11 Spider 30 Diclosulan
12 Spider 42 Diclosulan
Aos 28 DAA, os herbicidas Imazaquim Nortox, estatisticamente. Aos 35 DAA Sencor 480 e
Sencor 480 nas duas dosagens utilizadas Spider apresentaram valores acima de 80% de
e Spider nas duas dosagens utilizadas controle apenas nas doses mais elevadas. Aos
apresentaram valores superiores a 80% de 42 DAA, nenhum herbicida manteve a eficiência
controle, e com os maiores efeitos residuais de controle acima de 80% (Tabela 6).
Uma observação importante quanto aos estão ligadas diretamente à eficiência, e caso
herbicidas pré-emergentes é que em geral, tenha sido feita aplicação de calcário sem
áreas que receberam calcário à lanço sem incorporação ou haja longo período sem chuva,
incorporação, déficit hídrico e tipo de solo a eficiência dos pré-emergentes reduz de forma
alteram seu comportamento. As duas primeiras signficativa.
Tabela 7. Herbicidas, estádio de aplicação do capim-amargoso, dosagem (mL ha-1) e ingrediente ativo utilizados no ex-
perimento. Maracaju, MS, 2016.
Continua...
Nas avaliações realizadas nas plantas com alguns mais rápidos para matar a planta
pequenas, observou-se que no geral de capim-amargoso do que outros, mas no
todos os herbicidas em todas as dosagens geral, todos os herbicidas apresentaram
avaliadas apresentaram eficiência de bom controle quando aplicados em plantas
controle igual ou superior à 80% em pelo de D. insularis pequenas (Tabela 8).
menos três avaliações. Evidente que houve
diferenças significativas entre os herbicidas,
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabili-
dade. nsnão significativo; * e ** significativo a 5% e 1% de probabilidade.
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabili-
dade. nsnão significativo; * e ** significativo a 5% e 1% de probabilidade.
Tabela 10. Herbicidas pré-emergentes, dosagem (mL ha-1) e ingrediente ativo utilizados no experimento. Maracaju, MS,
2016.
7 Spider 30 Diclosulan
Spider 30 Diclosulan 90 A 83 B 58 C 52 C 35 D
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabili-
dade. nsnão significativo; * e ** significativo a 5% e 1% de probabilidade.
70,0 A A
61,9
58,0 B
60,0 55,1 C 54,4 53,8 54,5 54,2
D D D D D
50,0
40,0
E
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Testemunha Alaclor Gamit Herdadox Dual Gold Trifluralina Spider Flumyzin Pivot Boral
Nortox Gold
de capim-amargoso Digitaria insularis. Maracaju, MS, 2016. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. nsnão significativo, * significativo a 5% de
probabilidade, ** significativo a 1% de probabilidade.
Outro aspecto a ser considerado, principalmente onde objetivou-se aplicar diversos inibidores
em áreas com capim-amargoso e buva juntos, da ACCase sem e com mistura à 1,5L ha-1 de
é que via de regra, quando se associa um 2,4-D (Tabela 12). Logicamente, o objetivo era
herbicida inibidor da ACCase com um herbicida ver quais herbicidas eram mais afetados pela
hormonal (2,4-D por exemplo), cria-se uma associação.
situação de antagonismo no resultado da
aplicação, e quase sempre que perde eficiência Os resultados obtidos aos 28 DAA indicaram
de controle é o herbicida inibidor da ACCase. que à exceção de Verdict, todos os tratamentos
Esse fato, apesar de ser um dos preceitos do apresentaram perda significativa de controle do
manejo de plantas daninhas, é desconsiderado capim-amargoso quando associados ao 2,4-D.
ou esquecido por vezes, impactando de forma O herbicida Targa foi o mais afetado, perdendo
direta no resultado da aplicação. 56% de eficiência de controle, enquanto Panther
perdeu aproximadamente 45% de controle,
Para avaliar o potencial de perda causada Fusilade 17%, Podium EW 13%, Select 8% e
pela mistura ACCase x 2,4-D, a Fundação Verdict (único sem diferença estatística) perdeu
MS desenvolveu, em Maracaju, MS, na safra 4% de controle (Figura 5).
2015/16 um experimento em esquema fatorial,
70,0 12,6
* 63,4
% CONTROLE
58,0 44,6
60,0 56,0
50,0 17,4
40,6
39,0
40,0
30,0 27,0
20,0
10,0 3,0
0,0
0,0
Testemunha Select Fusilade Podium EW Verdict Panther Targa
(Clethodim) (Fluazifop) (Fenoxaprop) (Haloxifop) (Quiz. P-Tef.) (Quiz.P-Met.)
Teste F (Herbicida) = 328,64**; Teste F (2,4-D) = 295,50**; Teste (H*2,4-D) = 51,15**; CV = 8,45%
Figura 5. Eficiência de controle (%) aos 28 dias após a aplicação de capim-amargoso Digitaria insularis por diferentes
herbicidas sem e com associação ao 2,4-D. Maracaju, MS, 2016. nsnão significativo, * significativo a 5% de probabilidade
pelo teste de Scott-Knott.