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IMAGENS DE MODA E COTIDIANO: COLAGENS E OLHARES SENSÍVEIS

Fashion images and daily life: collages and sensitive looks


Francez, Letícia; Doutoranda; Universidade do Estado de Santa Catarina, lefrancez@gmail.com1

Resumo: Este texto propõe pensar as imagens de moda que circulam no cotidiano a partir dos escritos
de Merleau-Ponty (2014, 2018) sobre a percepção e da colagem como processo artístico e reflexivo.
Por meio da a/r/tografia discute-se a importância de questionar tais representações em busca de um
olhar sensível. Observa-se que tais imagens participam da construção de saberes e evidenciam a
responsabilidade do campo da moda no contexto de produção e circulação imagética.
Palavras chave: Imagem; colagem; moda; percepção.

Abstract: This text proposes to think about the fashion images that circulate in daily life based on
Merleau-Ponty (2014, 2018) texts about perception and collage as an artistic and reflective process.
Through a/r/tography, the importance of questioning such representations in search of a sensitive look
is discussed. It is observed that such images participate in the construction of knowledge and
demonstrate the responsibility of fashion in the context of imagery production and circulation.
Keywords: Image; collage; fashion; perception.

Introdução
O tempo presente é marcado pela crescente profusão de imagens que circulam nos mais
diversos espaços que nos rodeiam. As imagens sempre fizeram parte do nosso modo de vida, contudo
a aceleração tecnológica dos meios de comunicação exacerbaram seu trânsito e permanência. Nesse
conjunto, encontram-se as imagens de moda, sistematizadas, produzidas e veiculadas a todo instante
de modo a chamar a atenção dos sujeitos, propor ações, induzir comportamentos.
Este texto, de modo breve e pontual, se propõe a discutir a percepção diante das imagens
de moda que circulam em nosso cotidiano atual. Para isso utiliza como base as referências teóricas
apoiadas em Merleau-Ponty (2014, 2018) e também a criação de colagens como processo artístico
artesanal e de construção de pensamento. O trabalho é um recorte de uma pesquisa maior de

1
Doutoranda em Artes Visuais pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Mestra em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Professora de arte na rede Municipal de Ensino de Balneário Camboriú.
doutorado, a qual busca investigar como as imagens de publicidade podem ser trabalhadas no ensino
de arte de modo a contribuir com a educação estética, uma educação voltada à sensibilidade.
Por meio da a/r/tografia, considerada uma metodologia de pesquisa viva que compreende
o sujeito em suas posições de artista, professor e pesquisador (IRWIN, 2013), procura-se discorrer
sobre a importância de pensar as imagens de modo a questioná-las e reconfigurá-las. É uma forma de
investigação que parte de uma prática e que propõe a discussão dos problemas não para oferecer
respostas únicas, mas para buscar caminhos e questionamentos.
A partir de imagens selecionadas por estudantes do nono ano do ensino fundamental,
foram realizadas colagens pela a/r/tógrafa de modo a perceber os detalhes, formas e figuras que se
encontravam naquelas fotografias: corpos, objetos, texturas, gestos. A percepção parte de uma postura
ativa, aberta, atenta, crítica e questionadora perante o visível.
Para Merleau-Ponty (2014) o mundo é aquilo que vemos, sendo necessário também
aprender a vê-lo. É na percepção que encontramos nosso primeiro modo de ver o mundo, visto que
ele chega até nós antes pela sensibilidade, para em seguida suscitar nosso pensamento já elaborado
acerca das coisas. O que se busca, portanto, é o exercício de um olhar sensível diante dessas imagens,
de modo a relacioná-las entre si e expressar novas formas de pensamento por meio de colagens
visuais.

Olhar e perceber o mundo


A partir da Idade Moderna, com a retomada de algumas ideias da Antiguidade, o
pensamento filosófico buscou inserir a percepção sensível em uma posição inferior à razão. A
premissa de Descartes sugeria que se desconfiasse de todas as constatações perceptivas e o
positivismo de Comte elevou ainda mais a necessidade de se comprovar, corrigir ou verificar o
conhecimento a partir de validações exclusivamente racionais, exatas, matemáticas.
De modo a propor um retorno à origem de nossa consciência, entendendo que a percepção
é o nosso primeiro contato com as coisas, tal questão passa então a ser revista no século XX por
Merleau-Ponty (2014, 2018). Para o autor, é por meio da sensibilidade que se dá nossa primeira
relação com o mundo, e somente depois é que passamos a elaborar um conhecimento teórico sobre
aquilo que percebemos.
Retornar às coisas mesmas é retornar a este mundo anterior ao conhecimento do qual o
conhecimento sempre fala, e em relação ao qual toda determinação científica é abstrata,
significativa e dependente, como a geografia em relação à paisagem - primeiramente nós
aprendemos o que é um floresta, um prado ou um riacho. (MERLEAU-PONTY, 2018, p. 4)

Nossa primeira consciência perante o que vivemos viria, portanto, pela percepção, por
este contato sensível com o mundo que acontece antes mesmo de termos alguma ideia já formulada
sobre as coisas. É pela sensibilidade que originalmente observamos e compreendemos o que está à
nossa volta para, a partir dela, formularmos o conhecimento inteligível.
Conforme explica Chauí (2002, p. VII), Merleau-Ponty passa a dedicar seus estudos sobre
“o que designa como ‘tradição cartesiana’, isto é, o dualismo corpo-consciência, fato-ideia, sujeito-
objeto, que marcou o pensamento ocidental com as filosofias da consciência e o objetivismo
científico”. O filósofo se distancia do subjetivismo filosófico ― que se apoia unicamente na
experiência ― e do objetivismo científico – que se baseia exclusivamente na razão ― , e retoma o
problema da dualidade entre razão e emoção, corpo e mente, para clarear o entendimento acerca da
percepção e sugerir uma compreensão do sujeito de modo a integrar ambas as esferas do pensamento.
Desse modo, para Merleau-Ponty (2014, 2018) não somos uma consciência pura, não
somos apenas pensamento ou razão, mas somos uma consciência encarnada num corpo, pois é por
meio dele que somos conscientes de nossa existência. Nosso corpo deixa de ser um mero objeto, algo
externo à nossa consciência, mas é visto como elemento indispensável de nossa condição humana.
Sendo pela percepção corpórea que temos nossa primeira consciência do mundo, é então quando
vemos, tocamos, escutamos ou saboreamos algo que primeiramente passamos a ter consciência
daquilo que experimentamos e a integramos à racionalidade elaborada diante de nossas experiências.
Ao debruçar-se sobre a visão, o filósofo nos mostra que ela pode ser entendida como a
“palpação pelo olhar” (MERLEAU-PONTY, 2014, p.133). Nossa visão toca aquilo que está visível
e também somos tocados por aquilo que vemos. Como analogia simples, poderíamos pensar que se
tocamos a palma de nossa mão em uma superfície coberta de tinta fresca, nossas impressões digitais
ficarão marcadas na superfície, assim como nossa mão ficará marcada com a tinta. Assim, “[...] a
visão é pergunta e resposta… Abertura pela carne: os dois lados da folha de meu corpo e os dois lados
da folha do mundo visível… É entre esse avesso e esse direito intercalados que há visibilidade."
(MERLEAU-PONTY, 2014, p. 130).
Para Merleau-Ponty (2014, 2018), o corpo ultrapassa a materialidade e se entrelaça com o
mundo e com outras dimensões, possuindo uma dupla referência. Pelo corpo, sentimos e somos
sentidos, vemos e somos vistos, tocamos e somos tocados. Somos ao mesmo tempo seres singulares
(enquanto vemos) e plurais (enquanto somos vistos).

Dizemos, assim, que nosso corpo, como uma folha de papel, é um ser de duas faces, de um
lado, coisa entre as coisas e, de outro, aquilo que as vê e toca; dizemos, porque é evidente,
que nele reúne essas duas propriedades, e sua dupla pertença à ordem do “objeto” e à ordem
do “sujeito” nos revela entre as duas ordens relações muito inesperadas. (MERLEAU-
PONTY, 2014, p. 135)

Somos corpos singulares marcados pela cultura e pelas relações que nos perpassam. É na
relação com o nosso entorno que nos compreendemos sujeitos, nesse entrelaçamento que envolve
nossa subjetividade e também a objetividade do mundo e que acontece por meio das relações sociais.
É nessa intersubjetividade que se forma a nossa consciência. Eu só me percebo na medida que sou
também percebido, pois “[...] somos plenamente visíveis para nós mesmos, graças a outros olhos.
Essa lacuna onde se encontram nossos olhos, nosso dorso, é de fato preenchida, mas preenchida por
um visível de que não somos titulares” (MERLEAU-PONTY, 2014, p. 141).
Desse modo, as imagens que circulam em nosso cotidiano são tomadas de representações que
refletem os sujeitos que estão à sua volta. Quando vemos uma imagem, também somos vistos por ela,
ou seja, ela também nos atravessa e imprime em nós sua marca. Conhecemos as imagens não somente
pelas suas significações e simbologias, mas também por aquilo que sentimos diante delas, pelas
sensações que nos provocam, nos afetam e nos fazem pensar. Essa é uma forma de compreender o
mundo não apenas pelas informações que estão nele explícitas, mas também pelas entrelinhas, por
aquilo que não está dito de antemão, mas que depende do que o sujeito elabora a partir de sua
percepção e experiência em contato com o objeto posto em relação.
Tomar o mundo abarcando razão e emoção, corpo e mente, sujeito e objeto, é compreender
seus múltiplos caminhos e produção de sentidos. Diante de um mundo construído de forma
prioritariamente visual, é preciso percebermos as diversas camadas que compõem as imagens que
estão por toda parte, ampliando nossos olhares e exercitando a capacidade crítica e sensível diante de
nosso meio.

Por que exercitar a percepção diante das imagens?


Conforme já apresentado, as imagens produzidas fazem cada vez mais parte de nosso
cotidiano, sobretudo da vida diária de adolescentes e jovens conectados constantemente nas redes
sociais. As imagens de moda não fogem desses meios e são elaboradas de forma ainda mais sutil,
muitas vezes sem que o espectador perceba que se trata de uma publicidade, sobretudo quando são
veiculadas pelos chamados “influenciadores digitais”.
De acordo com Berger (1999), todas as imagens da publicidade buscam propor a mesma
coisa: que a pessoa se transforme, ou transforme sua vida, ao utilizar o objeto ou serviço que estão
lhe oferecendo. Quando um sujeito vê uma imagem, mesmo que não se interesse pelo seu conteúdo,
existe um instante em que sua imaginação é estimulada. Mostra-se uma pessoa, uma cena, um objeto
ou outros elementos que, durante um breve momento, provocam o sujeito a imaginar-se transformado
devido àquele símbolo ou signo. Para o autor, é como se esse tipo de imagem roubasse do sujeito a
sua autoestima, pois ele é convidado a se comparar com a imagem visualizada de modo a
compreender-se inferior e assim desejar os atributos que ali estão sendo oferecidos.
Nesse sentido, é importante perceber com atenção e discutir sobre essas imagens que
circulam a todo instante, exercício esse que deve ser elaborado ainda em idade jovem. Para Hernández
(2000, p. 135), pensar as imagens que nos envolvem “pode proporcionar-nos uma compreensão
crítica de seu papel e de suas funções sociais e das relações de poder às quais se vincula”. Essa seria
uma forma de podermos compreender de modo mais consciente nosso entorno, inclusive a nós
mesmos e ao outro.
Nosso desafio hoje, tanto na arte ― que também abarca as questões do visível, da moda
e da cultura visual ― como na educação, é fazer com que os alunos reflitam sobre as imagens. Como
podemos romper com os discursos que são sugeridos no meio dessa quantidade de imagens e
promover a reflexão? O ponto em questão não é somente o que vemos, mas como vemos, como
percebemos as paisagens visuais que tomam o cotidiano.
Partindo do pensamento de Merleau-Ponty aqui apresentado, como o que vemos nos vê?
Como as imagens nos tocam? Como elas também nos interpretam? Nesse sentido, a interpretação
propõe ir além do que as imagens dizem, mas pensar sobre as identidades que essas imagens estão
construindo e os efeitos que elas provocam nos sujeitos.
É preciso colocar as imagens em relação, e não apenas com outras imagens, mas também
com outros textos e pontos de contato, para observar e refletir sobre o que elas fazem, o que
constróem. É preciso colocar as imagens em relação também com os sujeitos, de modo que se possam
colocar abertos para estabelecerem outras relações.
Conforme sugere Didi-Huberman (2017), é preciso saber ver para conhecer, é necessário
tomarmos posição diante das imagens, assim como elas também tomam posição diante de nós. Trata-
se de um movimento de percepção, corte, quebra, busca, rastreio, análise. Uma exploração da imagem
que não acontece somente pela interpretação de códigos já elaborados, mas que se dá também quando
tomamos distância dessas imagens, quando estabelecemos uma relação de proximidade e
afastamento, para podermos pensá-las a partir do lado de dentro e de fora, para conseguirmos nos
direcionar para além delas.
Uma imagem é mais do que apenas uma figura, uma representação ou algo concreto. Ela
é também estrutura do visível que acaba configurando novas formas de mundo. E por isso a
importância de entrar em contato com esse campo visual, de tocá-lo, deixar-se tocar e então refletir
sobre esse movimento. Desse modo, perceber as imagens torna-se um espaço de pesquisa, que pode
acontecer a qualquer momento e a partir de diversas possibilidades, como uma forma de pensamento
mental, verbal ou mesmo artístico.

A colagem como exercício de percepção e expressão


Como então pensar essas imagens? O processo de criação artística é também uma forma
de elaboração do pensamento. Conforme vimos, a percepção sensível passa a ser nosso primeiro
contato com as imagens e diante dela podemos partir para outras formas de elaboração do
conhecimento acerca daquilo que vemos. Por meio desse primeiro contato podemos prestar atenção
àquilo que sentimos perante o que visualizamos, e passar então a questionar, buscar compreender o
que significam e os porquês dessas construções visuais. A criação artística compreende o movimento
do olhar, do perceber, mas também o do modificar, do transformar, criar outros mundos e
pensamentos possíveis a partir dessas imagens.
Partimos então do exercício da colagem como forma de percepção e criação. Da Idade
Média até o final do século XIX a colagem era vista como produto da arte manual ou popular, situada
às margens do desenvolvimento artístico. No século XX os artistas passam a se apropriar dessa
técnica para também utilizá-la como um meio de expressão (WESCHER, 1976). Contudo, cabe frisar
que partimos aqui de uma perspectiva que entende que também as artes manuais, os processos
artesanais, são formas de expressão, visto que é justamente por meio do corpo, do gesto, do fazer,
que expressamos o que somos e que também desenvolvemos o nosso pensamento. Ou seja, mesmo
antes de alguns artistas começarem a utilizar a colagem em suas produções, as criações realizadas a
partir dessa técnica também podem ser consideradas como formas de expressão.
Nesse estudo, de modo a elaborar as experimentações poéticas em colagem, o processo
de criação realizado por mim, enquanto a/r/tógrafa, contou com quatro etapas: 1) seleção de imagens;
2) percepção de detalhes, formas e figuras; 3) desmontagem de narrativas; e 4) composição de novas
figuras. Como primeiro passo, a seleção das imagens foi realizada por alunos de uma escola pública
municipal que cursavam o 9º ano do Ensino Fundamental. Eram as primeiras aulas do ano e
estávamos estudando o modo como a arte faz parte da nossa vida e está em todos os lugares, não
somente em museus ou galerias. Primeiro, os estudantes pensaram a cidade, o ambiente em que vivem
e, a partir disso, elaboraram desenhos e pinturas sobre o tema. Em seguida, propus que passassem a
pensar no ambiente virtual que também faz parte do seu cotidiano, como as redes sociais. Assim, foi
realizada uma sondagem para saber qual a rede social que mais acessavam, a qual resultou no
aplicativo Instagram.
Foi sugerido então que cada um selecionasse uma imagem publicada por alguma marca
naquela rede social. Poderia ser de qualquer marca, de qualquer segmento. Quando as imagens que
haviam enviado foram visualizadas, percebi que a maioria delas ― aproximadamente 75% ―
pertenciam a marcas de vestuário. Isso me fez pensar o quanto estes adolescentes estão imersos neste
universo. Talvez pelo fato de a moda fazer parte da formação de sua identidade, no modo como se
expressam corporalmente, como se apresentam ao mundo, ou então como se identificam com as
imagens que são veiculadas nesses canais.
Figura 1 - Imagens selecionadas

Fonte: Elaborado pela autora com base em imagens fornecidas pelos estudantes.

Em seguida, parti para a percepção dos detalhes, formas e figuras que compunham essas
imagens. Ao realizar essa etapa busquei observar as figuras que se encontravam naquelas fotografias:
corpos, objetos, texturas, gestos. O objetivo foi observar os detalhes e pensar formas de relacionar as
imagens entre si, colocá-las em disposição com os sujeitos, com o contexto do mundo atual e também
com o conhecimento sistematizado da arte, ou seja, os conteúdos curriculares da disciplina. O que
essas imagens dizem a respeito dos estudantes que a selecionaram? Por que fazem parte de seu campo
visual? Como os sujeitos veem e são vistos por essas imagens? Por que pensar essas imagens
comerciais? Por que utilizar imagens que não são artísticas para falar de arte?
Nas etapas seguintes, minha intenção foi desmontar as narrativas, embaralhar as formas
ali presentes e propor novas configurações a fim de provocar outros pensamentos diante daquelas
mesmas imagens: um smartphone que substitui o pensamento, uma cabeça vazia penetrada pela marca
comercial, o narcisismo do corpo comprimido pelo produto, o salto que pisa no humano…
Figura 2 - Colagens

Fonte: Elaborado pela autora.

Durante todo o processo, foi possível observar como as figuras utilizadas possuem
conexões entre si, as quais procurei imprimir no conjunto por meio da repetição de cores e texturas.
As colagens que fazem parte desse estudo são um exercício de percepção que tem sido também
estimulado em meu olhar como professora e pesquisadora. Como professora de arte, vejo-me em
constante aprendizado e me baseio nas palavras de Rancière (2015, p. 57) quando fala do mestre
emancipador, que “para emancipar o outro, é preciso que se tenha emancipado a si próprio”. Seria
esse o princípio da dodiscência de Freire (1996), que entende o ato de ensinar e de aprender como
sempre consonantes.
A colagem enquanto técnica artística possibilita o exercício da percepção na medida em
que solicita a atenção do olhar para os elementos visuais que compõem as imagens abordadas. Desde
a seleção, passando pela análise das formas e experimentos de outros arranjos, até chegar na
composição final das novas possibilidades de reorganizar tais imagens e sentidos. O pensamento é
elaborado com base na sensibilidade que dá início ao processo, caminha pelo questionamento e pela
criticidade que decorrem da ampliação do olhar, e oportuniza uma disrupção diante do visível e da
imposição de representações que são constantemente veiculadas em nossos dias.

Algumas considerações
As experimentações artísticas elaboradas partem de um exercício de percepção e sugerem
uma costura entre o mundo que se coloca cotidianamente e outros caminhos e sentidos que se podem
estabelecer a partir de olhares sensíveis. Como vimos, é na percepção que construímos nosso
entendimento diante do mundo, e quando ela se dá de modo sensível, atento e aberto, ela pode
possibilitar a criação de novas formas de se olhar nosso entorno.
A seleção das imagens pelos estudantes pode ser considerada ainda como uma forma de
construção de saberes que não são apreendidos de modo sistematizado, mas são saberes produzidos
a todo instante na contemporaneidade de modo informal e que nos fazem pensar na responsabilidade
do campo da moda nesse contexto de produção e circulação de imagens. Enquanto os olhares não são
ampliados, tais imagens captam os espectadores de modo fechado e direto, sem sugerir
questionamentos e a criação de múltiplos saberes.
Conforme relatado no início deste texto, o exercício discutido neste estudo faz parte de
uma pesquisa que encontra-se em andamento e aponta para a necessidade de darmos continuidade à
elaboração de outras formas de pensar o campo visual que nos cerca. A intenção principal foi debater
sobre a importância de ampliar a percepção em nosso cotidiano e de pensar as imagens a partir de um
processo artístico que possibilita a sua reformulação.

Referências

BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

CHAUÍ, Marilena. Experiência do pensamento: ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.

DIDI-HUBERMAN, George. Quando as imagens tomam posição. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto


Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

IRWIN, Rita L. A/r/tografia. In: DIAS, Belidson; IRWIN, Rita L. (Org.). Pesquisa educacional
baseada em arte: a/r/tografia. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013.

MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2014.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Editora WMF


Martins Fontes, 2018.

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

WESCHER, Herta. La historia del collage: del cubismo a la actualidad. Barcelona: Editorial
Gustavo Gili S.A., 1976.

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