You are on page 1of 23
conferéncia Stylus Rio de Janciro n° 23. p. 1-164 novembro 2011 Repeticao e Sintoma' Colette Soler Conferéncia 1 Repeticao ¢ Sintoma sao os dois eixos da questo que vou tratar hoje. Por que coloco esses dois termos juntos? Sio duas coisas das quais sofrem os seres falantes. $6 existem para o ser falante: Repetigio e sintoma se reproduzem no campo do gozo, ¢ ambos dependem do inconsciente, O sintoma uma formagao do ineons> Giente:/A repetigio € um afeto. Os dois sio solidérios, caminham juntos, mas nao podem ser confundidos. ‘A anilise nfo faz com que o sintoma, nem a repeticéo, desapa- ream, No entanto, sobre este ponto, ha uma dissimetria: trata-se uma parte dos sintomas, mas no se trata a repeti¢io, que é um incurdvel, contrariamente ao que, as vezes, se diz Todo gozo do ser falante se ordena entre repeticio & Eles sio solidarios, ¢ cada um deles esta referido ao “nao ha relagio sexual”, mas € preciso notar que ha repetigao ¢ ha sintoma. Nos termos de Lacan, a repetigao faz objecao A relagao, porque cla nio promove senao Uns de gozo. O'sintoma,na definigio lacanianafsue pre a relacao sexual. E 0 sintoma que, na auséncia da relagao sexual, permite que existam relacdes entre os seres sexuados. Repeti¢aio Sintoma Relagao Sexual . ncoma. Repeticao ¢ sintoma é um tema que concerne ao gozo do ser fa- lante. Comeco pela Repeti¢io. Ela édemonfaca, diz Freud, para ex- primir nossa impoténcia diante dela; cle cvoca o gradus daananké, a necessidade, Mais préximo da légica do que Freud, Lacan a reduz.a0 inecessario, isto é, 20 “nao cessa de se escrever”. Insisténcia, portanto. Qual é a relagao entre a repetigao € o inconsciente? O inconsciente nao é a repeti¢ao. Lacan no percebeu isso de ime- diato, Somente em 1964 é que cle trazalgo novo sobrea repeticao. Até enrao, Lacan confundiu os dois conceitos: inconsciente ¢ repeticao. Eu Ihes darci muiltiplas referencias destes dois tempos, trazendo citagdes que podem ser encontradas a partir de 1953. Como primeira referéncia, trago a Ligao de 26 de abril de 1955, no texto A Carta Roubada. M Lacan diz que “o automatismo de repeticao (Wiederholungszwang) ‘nao pode scr concebido como um Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 1. Estas duas conferéncias foram profridasem Forts lesa, durante 0X1 Encontro Nacional da EPFCL-Brasil «em 2010, Nasuaedicto foi mantido catilo de sma comfertnca Fada. As citagoes, dentro do possvel fara efeidas i eligi brasilias, 15 Lacan, A cert rbade (09561998, pp. 49-50, 3 4 vee 17:6 aneo da pristine Ibid, p50 Lacan, © Seminario, i (4969.7011998, . 73) 5. Tid, p50, 16 acréscimo, ainda que coroador, ao edificio doutrinal”? Ele prosse- gue: “€ sua descoberta inaugural que Freud reafirma com ele, ou scja, a concep¢io da meméria implicada por ‘seu inconsciente™. Portanto, continuidade. Repetigao tomada, entao, como nada além do que a meméria do inconsciente. Contrariamente a isso, em 1969, quatro anos depois do Semi- ndrio 11, em O avesso da Psicandlise, Lacan designa o ano de 1920 como “o ponto de inficxao”.* Em si mesma a cxpressio indica a descontinuidade. Alias, Lacan é expliciro quando diz, ainda no Se- mindrio 17, que a cnunciagio de Freud teve dois tempos. De inicio, a articulagio do inconsciente, que permite a Freud situar 0 desejo © onde Lacan precisa que nada parecia impor af a repetigao.> No segundo tempo, hé a introdugao 4 repetigao que’ referida a6 Além do Principio do Prazer, ou scja, aquilo que Lacan chama o gozo. No primeiro tempo, enquanto clabora sua ideia da ordem lin- guageira do inconsciente, Lacan nao marca uma ruptura, mas uma continuidade entre o inconsciente ¢ a repetigao. Ele fala de uma “repetigao simbélica”. Bem longe de dissociar os conceitos, cle ho- mologa, de fato, a repeti¢ao ao inconsciente. Mais precisamente, cle a homologa a lei do retorno dos signos na sintaxe da cadeia lingua- geira que determina o sujcito. Dito de outra mancira, cle supée que na repeticio o que fica evidente é a propria ordem simbélica. Lacan identifica a repetigao & insisténcia da cadcia significante. E apenas em 1964 que Lacan situa 1920 como um novo avango. Isto quer dizer que todos os textos anteriores a 64 nao entram no conceito lacaniano, Se se quiser ser rigoroso, 0 que Lacan diz sobre a repeticao, antes de 1964, nao é, ainda, a repeticio. Da mesma forma, © que Freud dizia em 1914 nao cra, ainda, a repetigo. Somente em 1920 & que Freud dispie do conceito que s6 foi estabelecido, por ele, em Além do Principio do Prazer. Entao, qual é a repeticéo proposta por Lacan a partir de 1964? Nada do que a opiniao comum possa imaginar que € a repeti¢ao. Vocés sabem que a repetigao tem muito s e880 no senso comum. Ela ¢ muito convocada na histéria, na cconomia, no nivel do amor — que é seu campo eletivo. Expresses paradoxais concernentes & repetigao sio particularmente numcrosas, mas nem todas se cncon- tram no mesmo nivel. Algumas estéo em contraste com a ideia co mum da repeticéo, ¢ isso porque hé uma ideia comum da repeticao. Ora, 0 que diz a psicandlise se opde, ai, ponto por ponto. Acredita- -se que é o retorno do mesmo e do passado. Para a psicandlise, com Lacan, a repeti¢ao nao € um retorno, Nao ¢ do passado que se trata. E a tinica coisa que nao envelhece. Nao é 0 mesmo. E o diferente. Nao ¢ um destino, mas uma figura do aeaso, Nao se duvida, tam- pouco, que nio se trate do miiltiplo na repericéo, do varias veres, quase que por definicao porque nao sc pode escapar ’s presses da Repetigao e Sintoma lingua. Mas Lacan, em A légica da Fantasia § nos diz que'a tepeti> (Gk se produ” uma Gniea ver, Em uma conferéncia em Baltimore,” cle vai dizer que nao pode haver outra igual & primeira. Vou dircto ao objetivo da repeti¢ao: a produgao do sujeito divi- "ido ¢ sua colocagao em exercicio. Como distinguir Inconscicnte e Repetigao? O inconsciente é composto por elementos discretos, cada um di ferente dos outros, no plural. Inicialmente, Lacan falou de scus sig?) depois, de seus Tragos Unitas e, em seguida, de elemen- tos d Juando o inconsciente trabalha, arbeiter, nos lapsos, nos atos falhos, nos sonhos etc.... 0 que retorna, de certa forma, sio esses elementos com todos os tipos de tropecos, de fracassos, ou seja, de equivocagées. De onde cles vém, afinal? Como se constituem? ~ Eles se constituem a partir das primeiras experiéncias de gozo “corporal que sio, sempre, imprevisiveis, chegam de surpresa. Nao sio programados, mesmo quando anunciados, mesmo quando ha liberdade de habitos, mesmo quando a crianga assistiu a cépulas, mesmo quando viu imagens etc. Isso porque 0 gozo é incomen- surdvel a tudo que se pode dele dizer ou ver. E incomensurivel & dialética intersubjetiva, aos debates com Outro. ‘Temos que sublinhar, accntuar esse termo “experiéncia’, Qual a concepgio de experiencia? E aquilo que nao se imagina. Transtorna ‘os cquilibrios. E sempre singular. Mesmo quando ¢ para todos, nao se partilha. (Gtk ha rigem) Lacan a qualifiea de experigncia néo marcada ¢ que vai ser marcada por um traco undrio. Ou é um trauma ou um prazer especial; essa referéncia é freudiana c cla é dupla. No que diz respeito ao prazer especial, ele nos envia & Interpreragio dos Sonos ® no final, quando eu explica'a génese do desejo indestrutfvel a) partir da perda da experiéncia suposta de satisfagio que o trago me- (morial faz perder) Em relacao ao trauma, Lacan sc refere ao adenc de Inibigdo, Sintoma e Angistia,? quando Freud coloca a origes das primeiras experién traumitica de toda neurose n: de satisfacio, aquelas nas qua ‘A partir desses tragos é produvida a perda de gozo. Essa nogao de trago mnémico convoca Freud a falar sobre algo da ordem do registro da inscri¢ao. Sobre isso, Lacan retornou cm A Instincia da Letra." O trago unario, 0 que ¢ isso? O ago undtio nso ¢ propriamente um significance, Ele com a estrutura diferencial do significante c comporta, mesmo, a nica mesmidade concebivel, que é, eu cito uma expressio de La- can "larmemeté dala difference’, que cu podria designar como a Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 6. Lacan, Semindri, lio 14 A igi de fea (0966, ig I, 30111166 Inédito). 7 Lacan, Ofsaruerure as en inmixing of en chernes proveguisie amy cubjece swhaterer, Cossnicasse no Simpéso Internacional de John Hopkins em Balimore (1966) 1970, pp. 186-195), 8. Freud, inerpresepto dos senbas (190001987). 9. Froud, Inibigae, Sintoma e Angistia (9261925111996), 10. Lacan, insincia dale desde Freud (1957 11998). 17 LL. Lacan, A ligioa de Pensa, op cit 12, Aautors situa o tro arbeiter, sito wilrade por Freud, equa, cm alemae, 62 referea trabalho, 13, Ofstrncrure aan nmin ofan atherness prereguaite any subject sehatener, Convanicao feta no Simp sio Internacional de John Hopkins rm Balkimore, op. ciegp. 186-195. 14, Lacan, O Seminario Tivso 20: mets, tnd (1972- 7311985, p. 197). 15. Lacan, O Seminario liso 16: Dem Omer to Oxzr,(1968-69/2008, 201), [Na vest publicada pela Jonge Zahartem-s00 smatera: I — a suagimento dos pela contager. 16. Lacan, J. Rauiofinia (497072003). 18 cifta da diferenga. Ele se distingue do significante em dois aspectos: “nao tem sentido € nao representa nada, De onde vem o trago unério? Da linguagem ou de alingua? Em A Iégica da fantasia" Lacan diz que “cle ignora a natureza das coi- sas”. Qualquer coisa pode servir para escrever este Um da Repeticao. Nao € que dle scja nada, € que ele sc escreve no importa com que. Nao ver, necessariamente, de alingua. Imagem, cendrio, nao impor- ta qual scja o clemento Unguagionimaginso pra ie indie ow imagindrio para fazer indice de uma experiéncia de gozo./A definigio de tage undrio € que Ele -éum clemento discreto, distinto de qualquer outro. Ele se inscreve iacronicamente no tempo. Ele comanda, em seguida, como trago de perversio & een tolocte wn em ato da sexualidade, retorna nas formag6es do Inconsciente, que a arbeiter fomenta ¢, também, na associaga0 livre, em que os tragos undtios so desalojados pelo deciframento. 13 Lacan o nomeia deo Um da repeticao. Ele insistiu muito em dizer que se trata do Um contavel ¢ dai advém o porqué Lacan recorreu aos problemas do incontavel e a Cantor. Lacan distingue o Um contavel dos outros Uns, da repetigo, 0 Um da totalidade, de inicio em A légica da fantasia e, em seguida, o Um do “Ya d’l'Un", “Ha Um," no sentido do Um-dizer, do falasser. A repeticio se marca no trago undrio, mas nao é 0 traco undrio. Ela é efeito dos tragos undrios. O trago undrio é uma marca que tem um efeitos ele afera o gozo de uma perda. O que é perdido? EF 0 gozo original, ndo marcado. (dla éperda de passado, Lacan escreveu isto de varias manciras, principalmente no seminé- rio Deum Outro ao Outro, em que cle introduz um pequeno matema."> UM L a gozo perdido Essc efeito de perda nada mais ¢ que a produgio do sujcito divi- dido. Esses tragos undrios do inconsciente supécm um sujeito, mas cles nao representam esse sujeito, cles o produzem como corte, na medida em que séo colocados em série, corte no campo do gozo. Uma precisio: o sujeito que chamamos, muitas vezes, de sujei to do inconsciente, Lacan, de inicio, o apresentou como suposto & cadeia significante. Por qué? E 0 caso no Grafo do Desejo, porém, como suposto & séric dos uns do trabalho do inconsciente, saber sem sujeito, que cifra o gozo; idéntico ao corte. A tese é escrita em Radiofonia,'® mas formulada muito antes. Repetigao e Sintoma Evidentemente, estamos a mil léguas do sujeito psicolégico do qual é tao dificil se desfazer. Estamos, também, a mil éguas do que, mente, os leitores de Lacan aprenderam, ou scja, que o inconsciente faz cadcia com os significantes que representam o sujcito. Porém, os tragos da repeticao nao fazem cadeia, mas série, eventualmente. Uma tinica repetigao é necesstria para constituir a posigao do sujeito. O trago undrio pode se repetir, mas a repeticao, producao do sujcito dividido, nao se repete, cla sc produz apenas uma tinica vez. Lacan insiste nisso. Em Baltimore,” ele diz. Cito: “Esta primei- 1a repetigao (a do um, portanto) é a Gnica necessaria. O sujcito do inconsciente € algo que tende a se repetir, mas uma (inica repetigao é necessdria para constitui-lo”. Ele diz que o trago undrio produz 0 sujeito sob condigao de se reproduzir apenas uma ver. E acrescenta. Cito Lacan: “Ele é produzido como efeito de perda. A lei consti- tuinte do sujeito éa repetigao”, Ou, ainda: “O sujeito a introdugao de uma perda no real”, sob o efeito do traco undtio, Onde localizar esta produgao do sujeito dividido na experigncia? Eu acabo de dizé-Io: Id, onde se constitui 0 inconsciente, no nivel das primeiras experiéncias ainda nao marcadas, onde o sujeito do inconsciente nao est4 ainda constituido como efeito de perda devi- da.ao trago. Entio, é claro: “o trago se repete, plural, introduzindo a imissao da diferenga” que produz.a repeticao, no singular, como cfeito de perda. Uma vez. produzida, essa perda nao cessa de se es- crever. Logo, nio se trata do passado, mas do presente perpetuado. Em 1966, Lacan diz que a repetigao é tinica ¢ necessdria. A re= peticao insiste. Bis o termo que faltava. Ela é 0 destino do homem. cientifico. Por que o homem cientifico?’O homem cientifico é su= posto a linguagem, ¢ © sujeito da ciéncia, da filosofia que foi inscrito pelo cogito de Descartes: “penso, logo sou”. O trago unério seria identificar-se ao cu penso do homem cientifico. A repetigao é “a relacao vazia insistente”. Qual é a relagao entre a produgao do sujeito dividido, definido pela perda de gozo, ¢a nao relagio sexual que Lacan formula mais tarde, nos anos 70, notada- mente, em Radiofonia? E que a perda nao determina para 0 sujcito senao 0 objeto 4, a-sexual, que responde pela perda icial- outro parceiro constituinte. O resultado é que © dois do sexo é como o niimero dois ¢, como o Aleph de Cantor, um “inacessivel”. Esta referéncia matemética tem sua traducéo clinica precisa:/6 parceiro do amor inealealavel! O inconsciente nao calcula o parceiro; cle néo pode nem calcular nem julgar. Ele trabalha para produzir os tracos und- rios do gozo castrado. Dai © problema de como aceder ao parceiro como corpo. Eu retornarei a esta questio. A repetigao, efeito do Inconsciente, deixa o sujeito sem parceiro. No entanto, hd casais..O Tneansciente nao fornece 6 dois do parcei- To, Mas 0 acaso, a sorte, fornece. Comprecnde-se melhor, cntao, que Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 17. Ofuurucrure aan Inmiscing ofan orborness prerequisite ary wubect seharever, Comunicagao feta ro Simpési Internacional de Joba Hopkins em Bakimore, ‘op. cit. pp. 186-195 19 18. Lacan, ntodugto 4 edipaoalema de wm primero volume dex Esrites (097312003, p. 553. 19, Kieckegaard, A reperiedo 08432010), 20, Lacan, Televisto (097412003, pp. 525-2 20 a repeticao seja, sempre, nova, porque para envelhecer seria preciso que cla fosse submetida ao tempo ¢ cla nao 0 €, Sao as contingéncias que estio submetidas ao tempo, ¢ elas s € que nos casos da sorte, nestcs cncontros que nao fazem relagao, 0 sujeito se repete © se mantém na sua solidao. Isto porque ele nao é 0 parceiro enquanto tal, apenas, a causa de seu desejo. Assim a repeti- do é renomeada por Lacan bomheur die sujer, nas duas ortografias'® que apresento a seguir: bon heure, bonheur PB boa hora, felicidade A repetigfo é, portanto, renomeada por Lacan como bon heur do sujeito. Com o destino de solidao que comporta, a repetigao se manifesta, cletivamente, nos encontros do amor. Nao imaginem 0 contririo, A falta ao encontro, como diz Lacan, equivalente ao real da nao relacio, se impde nos encontros do amor, como encontro fal- toso. E dai poderia surgir uma suspeitas desses sujeitos que choram por nfo reencontrarem o homem ou a mulher que eles esperam, poder-sc-ia, de fato, dizer que eles se protegem do encontro faltoso. Nao sem ironia: a felicidade (boa hora) do sujeito, sua pronta submissio, é a infelicidade do falasser, reduzido ao se saber sozinho. Lacan situa af a razio do grande clamor dos sofredores que sofrem por screm sujcito, ¢ sujcito que se repete. Dito de outra mancira: a repetigao da relagao faltosa, faltosa com © Outro, (o pai, a mulher), € cstritamente solidaria do encontro cxitoso com o objeto @ que, a0 mesmo tempo, objeta ao que seria 0 encontro com 0 Outro e que supre a relagio que falta. Como percebeu, genialmente, Kierkega- ard no scu texto A Repeti¢ao,"® no capitulo que repete o titulo, @ repeti¢o é que, no amor, nio se encontra senao a si mesmo. Dai o alcance ontolégico da repeticao que Lacan homologa. Eo mesmo esquema do Semindrio XI, aplicado ao sonho “Pai nao vés que estou queimando?”, ¢ que dé coeréncia aos dois desen- volvimentos, j4 que Lacan ¢ Freud leram diferentemente este sonho. Segundo Freud, hé a realizagdo de um descjo: o pai vé 0 filho vivo no sonho. Para Lacan, 0 p: Iho, contrariamente ao que diz Freud. Ele sé encontra scus objetos: Ea mesma tese de Kierkegaar si mesmo no amor. O pai nio cncontra o filho no sonho como Dan- te nao encontra Beatriz. Ele sé encontra um batimento de cflios que oolham. Nao é por ironia, nem por gosto pelo paradoxo, que Lacan formula em Televisio,” que a repetigao é 0 bon heur, boa hora, do sujeito. E que hd, a toda hora, bons encontros, acidentes, acasos} © sujcito nao faz outra coisa scnao repetir-sc, idéntico a si mesmo, como efeito de uma necessidade demoniaca, segundo as palavras de Freud, © que Lacan situou em termos légicos. Qual a relacao da repeticao com a transferéncia? Da repetigao sobre transferéncia podemos dizer: repetigao € um io inumerdveis! A sutileza , sujeito do sonho, nao reencontra o fi- olhar e vor : que © sujeito encontra a Repetigao e Sintoma irredutivel por estrutura que vem do efeito da linguagem sobre 0 goz0, Nao se trata de reduzi-la. A transferéncia nao € a repeticao. que fez. com que se as confundisse? Num pardgrafo de Freud em Além do Principio do Prazer:™ a transferéncia aparece como repeti- 21. Frei Alin do principio cao dos amores infantis e o fracasso deles. Fracasso do amor traido, da prazer(19201987) da pulsio, da criagao. B porque a transferéncia toma a forma do. amor que se acreditou que ela era repeticao. Lacan péc uma ordem nisso com o sujcito suposto saber. A trans- feréncia positiva é 0 sujeito suposto saber, nao no nivel dos sentimen- tos que nao sio senio efeitos de uma relagio ao saber suposto. Con- siste numa relagao ao saber, sob 0 modo do sujeito suposto saber. HA um efcito da transferéncia sobre a repeticao. A repetigao ai, nao deixada a si mesma, como é no amor. Ela é provocada. Alias, em toda parte trata-se de evité-la. Por que a relagao ao saber provoca a repeticao? ‘A transferéncia é demanda, A relacio ao saber provoca a repeti- do porque a transferéncia é uma demanda enderegada ao saber, 0 que a distingue enormemente da tinica reiteragio das demandas in- fantis, aquelas da dita neurose infantil. O dispositivo analitico usa esta demanda para colocar o inconsciente “em exercicio”, é 0 que chamamos cfcito de histerizagio da andlisc. Como ¢ que, a partir dai, a declinagao dos Uns do inconsciente na fala analisante nao reanimaria scu efeito automatico de perda? O saber inconsciente que se declina via deciframento € interpretacio s6 produz do Um. Portanto, coloca em jogo a repetigao do sujeito dividido, Outra ma- neira de dizer: situa a fungao proposicional @(x), 0 gozo castrado, que “faz fungao de sujeito”.® Ou, ainda, efeito de produgio dos S, 22. Lacan, Sominiria no Discurso do analista. Livro 19.1 pire (97275) ndamento, faz-se mais do que falar tnt dela. Na andlise, nao s6 falamos ¢ softemos da repetiga0, mas nds a Ao colocar a repeti¢io em programamos, a provocamos. que faz confundir Transferencia ¢ Repeti¢ao é que se procura do lado do analista o dois que falta ao sujeito, 0 dois do Suj posto saber. Como? Pela demanda. Quaisquer que sejam os ditos dizer analisando & demanda. A transferéncia dé 3 repetigao a forma de demanda, de fato, uma repeti¢ao enderegada. Eis porque, para situar @/AHER nao os ditos, © dizer da demanda analisante, Lacan reescreve a repeti¢ao em re- -petitio. Sem mesmo conhecer o latim, encontramos a raiz latina na petigao que é a expressio de uma demanda, geralmente coletiva ¢ cujo apetite designa, digamos, uma busca, talvez individual, de gozo jé que © apetite evoca o corpo. A re-petitio € 0 que fax confundir a transfe- réncia com a repetigao, como retorno das exigéncias infantis, re-petitio enderecada a0 Outro, Vejam a pagina vibrante que Freud consagra & transferéncia no comego de scu Além do principio do Prazer para dizce ro su- Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 2 2B. A incerpresao de sonhos ep. ts pp AGB, 24. Lacan, A ding de smasament 0% principor de sex poder (958N1998 pp. 591-652). 25. hid. 648, 26, Lacan, Oatundito 97372008) 22 a insisténcia, sob transferéncia, das infelicidades da infincia. A repetigao, fora da transferéncia, nao é essencialmente, de- manda; o sujeito se repete, automaticamente, ao acaso dos apetites do amor. Vejam o exemplo de Dante ¢ Beatriz: nem sombra de uma demanda, somente uma questao sobre o Outro. E diferente. Vejam, também, 0 jogo do Fort-da, esse jogo solitério da perda reiterada, jogo que, na sua virtude separadora, nao demanda nada a ninguém. ‘A transferéncia demanda c faz reluzir, esperar pelo Outro que pode- onder, justamente aquele no qual o sonho “Pai, nao vés que estou queimando?” manifestava a falta, desoladora. “Celle qui vient a notre charge”, aquela que vem ao nosso encar- go, diz Lacan, indicando a inflexibilidade. Busca-se o dois do lado do analista, isso toma a forma do amor, mas nao © encontramos. No entanto, 0 analista dgaeparceiro que tem a “chance de res- ponder”, Na anilise, a #1ch? baal do lado do outro, do analista. Nao se encontra no analista senao o semblante do objeto, o objeto que falta. Neste sentido, a andlise opera bem no nivel da repetigéo, cla a coloca em evidéncia. Ela a mostra, diz Lacan, de “notre index”. Ele toma por referencia o dedo erguido de Sao Joao, de Leonardo da Vinci, que faz vislumbrar a vircude alusiva da interpretago, como se pode encontrar no texto A diregdo do tratamento. Ela a revela colocando em exercicio “a relagao vazia insistente”5 Ela a faz pa: sar ao irremedidvel. Demonstrando o impossivel da relagao, a ina- cessibilidade ao dois, cla funda, de uma certa maneira, 0 necessdrio da repeti¢io. E uma mudanga, mas nao a reduz. Faz-se passar a repetigao do contingente, dos maus encontros, ao destino que cons- titui o necessdrio. Vinha-se para reduzi-la c no final se sabe que cla é irredutivel... programa-sc um luto das expectativas de transferéncia. Além de revelar a repeticao, a andlise faz, ainda, u ria resj na outra coi- say quic repercute sobre a repctigao, Ela opera sobre o sintoma Conferéncia 2 Vou falar, agora, do que sustenta a repetigio, que ¢ 0 sintoma. O que vou explicar hoje, crcio que scja um pouco dificil para aque- les que ainda nao tém uma leitura completa de Lacan. Espero, no entanto, que isso Ihes dé um pouco de perspectiva para o trabalho. Entio, comego com uma frase de Lacan que se encontra em O aturdito® ¢ que diz. que as demandas tém funcio de “emparelhar o imposstvel ao contingente, o posstvel ao necessirio”. Ao contritio, por- ranto, do que se passa na Idgica modal. © que esté em questio nesta frase € precisar o que pode varia ou seja, o que pode mudar na anilise. Nio se pode mudar nem o impossivel, nem o necessério, que nao cessam. Logo, cles sé podem ser verificados. O contingente ¢ Repetigao e Sintoma possivel, ao contratio, se definem pelo fato de cessarem. O contin- gente, diz Lacan, € 0 que cessa de nio se escrever, ou scja, 0 que co- mega a se escrever na psicandllise. Eo que é que se escreve? Ha mui- tas formas de dizé-lo. Resumindo, é 0 que Lacan chama a fungio filica, que é a fungio castragio que determina o gozo Um. Entio, 0 que se escreve na anilise € 0 efcito castragao ¢ é uma mudanga. Agora, 0 possivel, que cessa de se escrever. O que é, entio? O que E que se escrevia ¢ que vai cessar de se escrever gragas 4 andlisc? Nao setia o efeito terapéutico, logo, a acéo sobre o sintoma? Enfatizo que Lacan, ao dizer “o que cessa de sc escrever”, cssa forma de traduzir as modalidades lgicas, implica 0 tempo, a duragio, em relagio a isso que cessa ¢ que nao cessa. E preciso nao confundir, portanto, 0 registro da escrita, da qual ele falava, com a letra. Pode-se dizer que uma letra, isso se escreve, certamente; mas 0 que sc escreve na analise ¢ um efeito do dizer, da fala. Lacan o diz explicitamente, pode-se ler textualmente, em Liruraterra2? isto se situa no nivel do significado. Eis porque cle utiliza expressées como “ravinement” — sulco. Ele diz, também, “Le rail, le canal” — a via , © canal, que sio imagens de tragados, alguma coisa que faz tragos, com 0 tempo, por efeiro da fala. Entao, como dissc ontcm, na repcti¢ao ¢ no sintoma trata-sc de govo. Sim, porém, o problema é 0 acesso ao corpo do outro, jé que © gozo no faz lago. Goza-se sozinho, cm todos os casos. Quanto a0 inconsciente linguagem, ele estabelece bem os lagos entre os signifi- cantes, mas nao estabelece lagos entre o corpo que stiporta 0 sujeito ¢ 0 outro do gozo. Ele nao programa o parceiro scxuado. O amor, ele proprio, no é uma condigio de gozo. Entio, o que permite 0 acesso a0 corpo do outro? Parece-me que Lacan respondeu a esta questo em dois tempos. De inicio, ele convocou as pulsé cemos bem: oral, anal, escépica ¢ invocante, como mediagées para aceder ao corpo do Outro, ¢ depois, em seguida, convocou o sintoma. Sobre © primciro ponte, a fungao das pulsocs, como mediagao para o Outro, as referencias sio muito numerosas no texto de La- can. Detenho-me cm duas ou trés para justificar 0 que digo. Em O aturdito, voces leem: “a pulsio genital é 0 catélogo das pulsées pré-genitais”. Em Televisdo, cle fala da quadrupla instancia em cada pulsio que se sustenta por cocxistir com as outras trés. O que quer dizer que uma pulsio jamais esta sozinha, que elas sio soliddrias quando se trata de dar acesso 4 desunido a qual se trata de evitar para aqueles que “o sexo nao basta para torné-los parceiros”.2* Dito de outro modo, a “nao rclagao sexual” diz que dois nao scjam par- ceiros. No entanto, gracas as quatro pulsées, transpée-se essa desu- nido € se acede ao corpo a corpo. Vocés encontraréo também uma outra referéncia no texto ... Ou pior, um texto muito complex, que ja citei ontem, um esquema bastante complexo, mas que no final as quatro que conhe- Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 Lacan, Literterra 9712009. 28 Tedevete op. cep. 527. 29. rend, Fetichime (492711997 p. 179). 24 das contas diz uma coisa bastante simples. E 0 complemento dos Uns da repetigs que cle nomeia, alids, “Gozo do Outro” com uma letra maitiscula. 1, que faz. 0 sujcito solitario, © quatro das pulses — Entao, esta ¢a primeira tese de Lacan: nao hé relagao sexual, mas hd pulsdes, o que permite conectar ao corpo do Outro. E af seri pre~ ciso levar em consideragao que a pulsio nao opera somente em ato. A pulsio, efeito da demanda, circula na metonimia da linguagem © € por isso que cla é “gozo do Outro”. A metonimia — penso que significante, 0 mais-de-gozar pulsional. Eis porque Lacan diz: “a metonimia regula 0 metabolismo do goz0”, E isso que ressalta no erotismo: sem essas transferéncias metonimicas do mais-de-gozas, 0 corpo do Outro nao todo mundo o sabe ~ transfere, de significante para diria nada ao primeiro corpo. E 0 que se chama de tragos de perver- sio sio tragos pulsionais; de fato, nada mais séo que tragos de uma crotizagao possivel, que suprem a auséncia da pulsao genital ¢ que permirem produzir 0 gozo que h4, a despeito do gozo que nao ha. Sobre este ponto, séo os cxcmplos que permitcm dar um pouco de consisténcia clinica a estas teses dificeis. Um exemplo freudiano. O cxemplo do homem do brilho no nariz. Vocés conhecem, talvez, este caso de Freud.” De um homem cuja libido heterosexual sé se anima se o nariz da dama brilha. Bis uma condigao erética que, alids, nio faz mal a ninguém. E divertido. Bastatia que a dama nao colocasse muito pé na ponta do nariz. No fundo, Freud consegue colocar 4 mostra, com esse exemplo, a metonimia translinguistica por meio da qual esse traco se fixou. No bilinguismo de origem des- te paciente, este pequeno veyeur que amava olhar, onde o “regarder” em francés é “to glance”, em Inglés, vé-se que se transferiu, por ho- mofonia, sobre uma palavra alema “glanz” eserita com “2” e que sig- nifica, em alemio, brilhar. Logo, é uma metonimia translinguistica da pulsao, Agora, um exemplo lacaniano que figura em Radiofoni Em razao do estilo de Lacan, nao ¢ facil de ser lido. E 0 exemplo do Bel Ami, um personagem de Guy de Maupassant que se chama Bel Ami. Lacan qualifica se chama em francés de baratineur, Ele mexe com as mogas. E um provocador. Qual é a rese de Lacan sobre 0 Bel Ami? E, também, que € uma metonimia que condiciona scu prazcr cm sc aproveitar das mulheres. E qual € essa metonimia? E que a orelha da dama (primeiro significante) evocando a ostra a engolir (segundo signifi- ssse homem de rufiio. E, de fato, 0 que cante) metonimiza a pulsao oral; esta ostra a engolir é o segredo de seu gozo de mexer com as mulheres. Af esta o charme das damas, nao? Logo, nao é na pulsio genital, mas na metonimia pulsional por meio da qual o desejo sexual avanga. Ea primeira tese de Lacan. Mas vejam o que falta. Nenhum dos dois exemplos diz. 0 que € 0 goz0 do corpo do outro; eles dizem, apenas, como o corpo do outro € investido de desejo ¢ que, do descjo ao gozo, hé um abismo. Esta Repetigao e Sintoma construgio de Lacan é comparivel 4 ideia, bem difundida entre nés, segundo a qual o parcciro seria o objeto 4, respondendo ao objeto que falta. Ora, como disto se goza nao se diz. Diz como se vem a descjar. No comego do seminario Mais, ainda, Lacan afirma: “Vou pri- meiro supor vocés na cama”. Todo mundo se entreolha e d fo que que deu no Lacan? Isso queria dizer uma coisa muito precisa: é que no se tratava mais, apenas, do vetor metonimico da pulsio, mas do gozo do corpo a corpo que, geralmente, se dé na cama. De fato, é uma questo nova. Ausente em O aturdito. Uma questio que se coloca sobre o gozo do ato, nao um ato interrogado a partir de scus fracassos sintomaticos, mas do ato interrogado a partir de seu éxito. Entio, qual é a tese de Lacan? E que o gozo do corpo do Outro é sintoma, Apesar das aparéncias, nao éa tese freudiana do sintoma subs- ticuro de um gozo sexual. A tese freudiana dizia que, para o neurético, no lugar do gozo sexual faltoso vinha o sintoma. A tese de Lacan dizz 0 gozo sexual, aquele do ato exitoso, é sintoma e nao hé senao sintoma. essa tesc, um pouco complexa, que vou tentar desdobrar um pouco. Isso me obriga a voltar 4 questao do inconsciente “saber sem sujeito”, que determina o gozo do corpo. Ha duas manciras de tocar no gozo do corpo. Ha a dos tracos unarios da repeticio, com os cfeitos de perda, gerador do objeto @, que falci ontem. A séric deles comega, segundo Freud, na contingéncia, ¢ eles ligam o inconsciente as cxperiéncias origindrias. Isto € um primciro cfcito. E depois, hd um outro efeito que nao € o efeito de perda. E 0 que Lacan chama o efeito “fixio” escrito com um “x” que elimina as ficgGes da verdade. Logo, todo parceiro ésintoma, cis ai a tese. E todo sujeito se defi- ne por um sintoma, ou seja, todo o sujeito se define a partir de uma “fixao” de gozo, uma fixao que lhe ¢ propria. Isto quer dizer que 0 sintoma nao pode mais ser pensado como uma anomalia, como uma perturbagao da boa ordem. Se hé uma anomalia, a tinica anomalia é a do sujeito dividido e da nao relagao sexual, mas uma anomalia que é para todo falante nao se chama mais anomalia. Ea regra. Entio, o que € pre jeito, ¢ bipolar — tomo o termo de Lacan. Bipolar ¢ dividido entre 0S), que o representa, ¢ o saber (S,). Mas o saber em questao & ele mesmo, bipolar, dividido entre o que dele se decifra ¢ 0 resto, ou sefa, 0 que nao seo decifra. Vou escrever. o ver & que o sujeito, © que se chama 0 su- S, Os §, decifrados ‘Temos 0 S, do sujeito ¢ 0 S, que Lacan qualifica de saber. Mas este saber, ele mesmo, se divide entre os uns decifréveis € 0 resto nao decifravel do grande mar que ¢ alingua, inexaurivel. Quando se Ie Lacan tem-sc, 4s vezes, algumas dificuldades porque, ora cle chama Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 30. Lacan, O Semin Livro 20: Mais ainda (1972. 7211985, p10) 25 Bl. dbids p. 188, 32. id. p59, 33. Lacan, Seminario 17, O oso da picandlce 1969. 701 1998) 26 saber © conjunto (S,-S,), é 0 caso quando ele diz que todo saber bipolar. E, &s vezes, cle chama “saber” apenas que permanece in~ decifravel. Este saber que nao representa o sujeito, mas que afeta scu corpo esté, evidentemente, dentro do campo do gozo. Depois, ha, mesmo assim, um passo a mais, no fim do seminé- tio Mais, ainda, que observei recentemente. E é 0 que Lacan chama o enigma do saber. No comeso da tiltima licio do Mais, ainda, ele acaba de ler as provas deste seu scmindrio ¢ diz: falei de muitas coisas, do amor, do gozo... mas meu objeto deste ano &0 saber. E de fato, €0 que crcio. Jf no corpo do texto cle havia perguntado: o que ¢ saber? Nao © saber como 0 sujeito sabe, mas o saber como substantive. O saber enquanto inconsciente é um saber. E 0 que é que ele diz? E um enigma. ‘Nao sei se vocés alcangam o paradoxo desta afirmagao. Porque, em geral, acredita-se que o saber é 0 que reduz os enigmas. Acredi- ta-se que quando se sabe, nao hd mais enigmas que € por isso que se pode ficar de acordo. Além disso, esta formula “o saber, ele é um cnigma” é um paradoxo cm relagao a tudo que precede no ensino de Lacan: a scu ideal de transmissao cientifica que ele deu como modelo & psicandlise, & sua tentativa de criar matemas. Ainda que se preste a muitas leituras, o matema é 0 antienigma E certo que 0 scmindtio Mais, ainda marca uma virada no que concerne a esta questio, Felizmente, Lacan, ele priprio, o diz, eu cito: “o truquc analitico nao sera matematico”.® Isso é um veredito, Coloca um ponto-final em vinte anos de ensino. E, falando de seus matemas, (S(A)®, 2) cle diz que ¢ sob o Angulo depreciativo que ele os introduz. Entao, qual é a frmula do cnigma? Isso néo é um enigma. Isto se 1é bem no texto. A formula do enigma é que “o saber se goza’. E posso acrescentar: onde? Notadamente no sintoma, que é 0 meu tema de hoje. Alguns comentarios. Hd muito tempo, Lacan formulou que 0 saber operava no nivel do gozo. Pode-se encontrar isto no comeso do Seminario 17, O avesso da psicandlise.* Era uma tese que dizia que a linguagem € um opcrador, que tem efeitos sobre 0 goz0, 0 gozo do vivente. E uma tese ani you fazé-lo), mas vai desde os efeitos da demanda sobre a necessi- dade (tese dos anos 60) até gozo civilizado pela lingua (tese final). Essa tese nao coloca cm questio a hetcrogencidade dos dois regis tros, que sio 0 gozo ca linguagem, isso os deixa hetcrogéneos ¢ diz. apenas que um opera sobre 0 outro. Mas, quando se diz. “o saber se goza”, é uma coisa muito diferen- te, Isto quer dizer que as duas dimensées, saber ¢ gozo, se homoge- ncizam. Nao sao dois registros diferentes. Entao, que o saber se goza, isso implica que para fazer um saber, o que Lacan vai chamar um saber, o saber do inconsciente, sio necessitios dois componentes. Ele 0 diz na ligao “O saber ¢ a Verdade”. E preciso o clemento formal, © clemento formal do significante diferencial, que se define pela di- iga que se pode desenvolver (nio Repetigao e Sintoma ferenga de um para o outro — af se est4 em um terreno comum, ele repete isso hd vinte anos. Mas, ele acrescenta agora que ao clemento formal sera preciso que se acrescente 0 go70. Hi ai, entio, algo novo. Certamente, o texto do final do Mais, ainda prepara as tescs que se encontram em RSI, onde ele define sintoma como gozo de um clemento do inconsciente, ou ainda, cito: isto quer dizer que se trata de um inconsciente no qual o significante se tornou objeto. Nao é mais significante com efcito de sentido. Eis por que evocar aqui o fendmeno esquizofrénico é perfeitamente justific bram da tesc de Freud “o esquizofrénico trata as alone como coisas”, ¢ as coisas, isto néo tem sentido? Ele nem mesmo é signi- ficante com efeito de gozo. Ele é significante tornado coisa a gozar. Esta tes de Lacan tem implicagoes filoséficas ¢ ética mas cu quero ir ao essencial que nio esta ai, ainda, Falando do saber assim definido, significante a gozar ou elemento a gozar, cle diz: “o gozo do seu exercicio é 0 mesmo da sua aquisigio” 35 E uma questio sobre a fabricagao de um inconsciente ¢, sc sc seguir esta frase, creio que cla muda o estatuto do sintoma. Se vocés olharem 05 comentarios que estéo em volta desta frase, verdo que Lacan evo- ca o problema da aquisicio. Ele se pergunta: sera que se dé por aprendizagem? Penso que cle se pergunta porque a ideia geral ¢ que 0 saber se adquire nas escolas, nos livros, por transmissio. De fato, © que sc adquire nos livros, nas escolas, ¢ 2 informagio, porém, nao o saber, segundo Lacan. Ele faz af uma distingao, bem precisa, entre informacio ¢ saber. Esta distingéo implica que se pode estar informado, bem informado, especialmente dos saberes cientificos ¢, no entanto, nao saber no sentido em que o inconsciente ¢ um saber. O significante basta para a informagio, mas nao para o saber. Para o saber é preciso que 0 gozo seja acrescentado, se posso dizer assim. Eis porque o computador, por exemplo, nao se pode dizer que cle pensa, ele é programado para fazer aquilo para que serve, mas nio se pode dizer que cle. Ha um outro exemplo que cito porque é engragado e, também, porque me diz respcito. Ele fala dos normalistas superiores, © que sc acredita que a Franga produz de melhor em matéria de saber. Nao sci se voces tém isso no Brasil, uma escola que se acredita ser de elite. Ele diz: cles nao sabem nada, mas ensinam admiravelmente. Dizia isso em uma época em que existia na sua Escola uma oposi- ao feroz contra a chegada de Jacques Alain Miller, que vinha desta Escola Normal Superior. Poder-se-ia acteditar que era uma brin- cadcira bastante maldosa, ¢ muitos a tomaram assim, mas nao cra somente isso. O que cle dizia repousava na distingao informacao/ saber. Informagao € articulagao significante correta, saber € signifi- cante gorado, objeto. E cle conclui neste texto, que para saber “nio ha informagao que dé conta”, mas um “formado no uso”. Qual é imensas, sabe, Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 34, No texto O Income, slo VIL Avaliagio do Inconscient, Froud apre sera “uma caractertuagso de ppensamento do cequizofr nica dizende que ee trata Foser abstratas,p. 223, 6. Metis, tind op. cit. PBL 56, Ibid 27 28 uso? E clara a referéncia aia Marx e & distincao entre valor de uso ¢ valor de troca. Isso diz que 0 inconsciente gozado de troca. Alids, ele seria obstaculo para a troca dererminando 0 nao ha didlogo. Mas cle tem um valor de uso de gozo. Um uso que € sempre proprio a cada um. Portanto, adquire-se o saber gozando do io tem valor clemento formal, qualquer que seja. Eis, pois, © primeiro ponto do enigma: como 0 gozo chega ao clemento formal? Porém, 0 ponto principal nao esta, ainda, af. E que o gozo de sua aquisigao é 0 mesmo de seu exercicio. De onde veio isto? E o contrério da idcia comum sobre o saber. Pensa-se, geralmente, que para adquirir um saber € preciso penar muito, mas que depois vem a retribuigio dos esforgos ¢ as satisfagdes esperadas. Que significa esta ideia de que 0 exercicio © a aquisicao io marcados por um de um ao outro, da aquisigao ao exercicio, nao hé perda. Ao contririo, mesmo gozo? Eu nao vejo, sendo uma maneira de entendé- uma constante de gozo. Dito de outra maneira, 0 inconsciente é um saber scm entropia, sem variagées diferenciais. Um clemento gozado na sua aquisicéo se gozar4 de modo idéntico em seu exerct- cio. Quando sc Ié, pela primeira vez, fica-se desconcertado. Por que? Porque se foi habituado a seguir Lacan na ideia de que ha perda desde que hé significante. E 0 que cu explicava ontem a respeito da repeticao. De tal maneira se esta impregnado desta ideia, que no fundo nao se tem feito grande caso do que cle diz ali, sendo que ja estava escrito desde 1973. Mas o que ele adianta af é outra coisa. Alids, cle nao emprega © termo repeti¢ao, mas exercicio. No que diz respeito aos uns de repeticéo, sua tese é que o repetido difere; para o saber, o repetido no difere. Evidentemente, isto toca o sintoma, porque o sintoma &0 produto maior do inconsciente saber ¢ 0 que motiva & andlise. Isto nos leva & ideia de um inconsciente completamente bipolar: de um lado, os uns da perda e, do outro lado, os uns sem perda. E Lacan se demanda: como se constitui este saber nao entrépico ? Sua referéncia & alingua e a sua aquisigio é uma resposta. Notadamente na conferéncia de 1975 sobre o sintoma, na qual cle coloca que este saber se constitui na primeira relagao a alingua do outro, Coma ideia de que, para todos os bebés, alingua do outro nao ¢ do significante produtor de sentido, De inicio, é do som, do som fora sentido, mas que se goza. Isto quer dizer que este saber se encontra na origem, em alfngua. Ela, nao €do simbolico, é obscena, diz Lacan, sempre obscena, para designar a conexao entre os sons de alingua ¢ 0 goro que pode af se realizar. Além disso, alingua nao € propicia a que, dela, o sujcito saiba alguma coisa. E por isso que Lacan diz: “como pode, de alingua, 0 ser saber alguma coisa?” O ser, efeito deste saber inconsciente, falasser, nao é tampouco sabedor, de preferéncia é mais nio sabedor do todo concernente aos cfeitos de alingua que o ultrapassam, sempre. Repetigao e Sintoma Entio, retornemos um pouco & clinica. A tese nao diz respeito a todo gozo do falante, mas o que Lacan chama 0 gozo préprio do sintoma, na sua segunda conferéncia sobre Joyce, onde se lé: “gozo opaco por excluir o sentido”” portanto, real. O sintoma ¢ gozo dos uns do inconsciente, o que ele nomeia letra. Por isso, ele di voces gozam do inconsciente de vocés. E até mesmo, vocés fazem amor com 0 inconsciente de vocés. EF ele precisa: nao com o inconsciente como meio para fazer o amor, mas com 0 inconscicnte como par- ceiro. Dito de outro modo, mio é gragas ao inconsciente que voces fazem amor, € que vocés fazem amor com cle. Como conceber isso? Nao € af que Lacan introduziu a referéncia A letra. Desde o inicio, desde A Carta roubada,3* especialmente, é uma transformagao do significante que faz dele um objeto gozado, idéntico a si mesmo. Dai a questéo tardia de saber como alingua “precipita na letra”, esse saber gozado, idéntivo a si mesmo, na sua aquisigio e no seu exercicio. Fntio, quando ele acresceata, no fi nal do semindrio Mais, ainda, que 0 “um cncarnado™ de alingua ¢ incerto, entre o fonema, a frase e, mesmo, todo discurso, é muito estranho. E dizer que fragmentos de discurso podem valer como Um, o tema da holéfrase nao esta longe. Termino por compreen- der que esta séric: fonema, frase, discurso, podcria designar tipos de sintomas diferentes. Se € todo 0 discurso que serve de “um”, isto quer dizer que este “um” inclui, ainda o clemento formal ¢ 0 gozo, © imagindrio do corpo com o que Lacan chama as representagoes imbecis que a alingua introduz no corpo. Portanto, isso designa um sintoma que inclui a fantasia ¢ 0 gozo do sentido da fantasia. Isso designa o Um de um né borromeano que é um “um” socializante, implicando um parceiro. Se é uma frase que faz.0 Um, por exemplo, “bate-se numa crianga”, sua fixio, com um “x”, determina um corpo 4 corpo, mas, pouco genital. E, se € um fonema que faz.0 “um” do sintoma, isso deixa 0 imagindrio do corpo a corpo do outro fora da jogada. Encontro ai uma outra via, 0 que jé havia desenvolvido, de uma intoma autista” € o “sintoma borromeano”. tingo entre “o Agora, este gozo opaco que exclui o sentido, o que € que cu pos- so saber disso? Grande questo para o Passe. Qual é a resposta que Lacan vai dar? Ele néo deixa nenhuma diivida. A resposta é nada de certeza, 0 que quer dizer que os “Uns” sao incertos. Posso fazer hipéreses, a partir da decifragi0, mas elas so clucubragées, nada mais que plaus{veis, Nada de provas, nada de certo. Posso dizer que esta tese, logo que a compreendi, pareccu-me satisfat6ria, cor- respondendo bem mais aos fins reais das andlises, que aquelas que anunciavam © nome de seu objeto ou de sua letra — 0 que sempre me pareceu um forgamento, um pouco detrisério. Em todo caso, que isso satisfaca ou nao, é a resposta de Lacan, logo se deve, de todo modo, levar cm conta. Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 37. Lacan, Somindro Livro 23: O sinthama (19751 2003, 566). 38, Lacan, A carte roubade (098611998), 39. Op cits p. 196. 29 40. asters, 30 die “no hi «la» no nivel do gozo", fur eeferéncia3 Lacan quan do dizs“La Femme existe pas» Fim portuguds — "No hi A mulher argo defnido para designe universal” Semindrie, veo 20, Mat sind, op. cit p98. 30 Entao, como se manifesta este sintoma a gozar, que resiste a ser sabido? Evidentemente, é preciso que cle se manifeste para que se fale dele. Ele se manifesta pelo lado inamovivel da fixio que supre a nao relacao sexual. Ele se manifesta por meio de sua constancia, constincia que se impde: mesmo se nao se pode decifré-la, ela se cexperimenta, cla se manifesta © até mesmo se mostra em todas as minhas relagdes com meus parceiros Nao sc deve confundir: de um lado, a insisténcia da repetisao, a ins isténcia da entropia de gozo, da perda com que se sustenta 0 insacidvel do amor; ¢, do outro, a constincia do gozo opaco, que esté af, idéntica a si mesmo, que contrabalanca a primeira dimen- sio. Lacan nos diz que se pode seguir esta constancia, passo a paso, justamente no que cle chama afetos enigmaticos. Vou terminar. Gragas 4 uma anilise, o que posso fazer com essa constincia opaca? Resposta de Lacan: posso, depois de té-la perce- bido, cernido, me identificar com ela, isto é, me reconhecer ai. Ad- mitir que af cst4 o meu ser de gozo. £ um efeito terapéutico radical. Mas ele est do lado da disposigao do sujeito. Ele nao ¢ mudanga do saber. Estar identificado & sua constancia de gozo, isto muda muito a vida. Eu me expresso, 4s vezes, com uma meréfora que tomo de cmpréstimo de uma analisanda: “muita coisa néo mudou mas, de agora em diante, a vida ¢ colorida”. E. uma metéfora para dizer uma mudanga na satisfagio que ha na relagao a vida, Esta metéfora da cor, alids, eu jd havia encontrado, hd muito tempo, no caso da pe- quena Piggle de Winnicott. Nao sei se vocés conhecem este caso, um lindo caso, no qual se vé que a pequena Piggle, cujas figuras de terror eram em negro ¢ que passam ao azul. Poder-se-ia dizé-lo, de outra forma, com metéforas musicais. Sobre o sintoma, no nivel do gozo, nao hé “/a"®. Na misica se dio “Ia” e cle € 0 mesmo para todos. Em matéria de sintoma, nada de “/a”, sempre a particularidade. Poder-se-ia utilizar a metéfora da tonalidade para situar a mudanga: identificar-se ao sintoma, isto pode fazer mudar a ronalidade da vi ‘Termino, cntao, definitivamente, desta vez, sobre o que cessa de se escrever, a saber, o efeito rerapeutico. Ele é, possivelmente, duplo. Quando sc lida com um sujcito borromeano, o que Lacan chama um “Sinthome”, que enoda o sintoma real, fora sentido, ea fantasia, uma parte do efeito terapéutico consiste em construire remanejar o que sobressai da ficgao, do sentido. Bo que se chama a travessia da fantasia. Ela opera no nivel do sentido, ¢ é por isso que Lacan diz que a anilisc libera ao analisando o sentido de scus sintomas. Mas, no que diz respeito ao nticleo autista, real, que Lacan escreve entre simbdlico ¢ real, no R.S.1., nao se muda este saber ai, mas, sim, as relagées do sujeito com esta fixio. E, portanto, ha um duplo efeito terapéutico: de um lado, remancjamento do sentido, do outro lado, la Repetigao e Sintoma identificag4o a0 que nao se remaneja e que nem mesmo se presta para ser sabido, integralmente, Bis af, é a palavra final. Tradugao: Sonia Campos Magalhacs Revisao da Traducao: Andréa Hortélio Fernandes Referéncias bibliogrdficas FREUD, S. (1900). Juterpretagio dos sonhos. Trad. sob a ditogéo de Jay- me Salomao. Rio de Janeiro, Imago, 1987. (Edigao Standard Brasi- Ieira das Obras Psicolégicas Completas de Sigmund Freud, vol. IV). FREUD, S. (1900). O inconsciente. Trad. sob a ditegao de Jayme Sa- lomo. Rio de Jancizo, Imago, 1987. (Edigio Standard Brasileira das Obras Psicoldgicas Completas de Sigmund Freud, vol. XIV). FREUD, S. (1920). Mais além do principio do prazer. Trad. sob a direcao de Jayme Salomao. Rio de Janciro, Imago, 1987. (Edi- gio Standard Brasileira das Obras Psicolégicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVII). FREUD, S. (1926 [1925]). Inibiedo, sinroma e angiistia. Trad. sob a dircgo de Jayme Salomio. Rio de Janciro, Imago, 1996. (Edicao Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XX). FREUD, S. (1927). Fetichismo. Trad. sob a ditegio de Jayme Salo- mio. Rio de Janciro, Imago, 1996. (Edigio Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XX1) KIERKEGAARD. S. (1843). A Repetigio. Lisboa: Ed. Relégio D/Agua, 2010. LACAN, J. (1956). A carta roubada. In: Fserizos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. LACAN, J. (1957). A Instancia da letra no inconsciente ou a razéo desde Freud In: Eicritos. Rio de Janciro: Jorge Zahar Editor, 1998. LACAN, J. (1958). A direcio do tratamento ¢ os principios de seu poder. In: Lscritos. Rio de Jancito: Jorge Zahar Editor, 1998. LACAN, J. O Semindrio, livro 11: 0s quatro conceitos fundamentais da psicandlise (1964). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. LACAN, J. (1966). OF structure as an inmixing of an otherness prerequisite any subject whatever. Comunicagio feita no Sim- pésio Internacional de John Hopkins em Baltimore. In: The Language of Criticism and the Sciences of Man: The structuralist Controversy, dirigido por R. Macksey ¢ E.Donato. Baltimore € Londres: The Johns Hopkins Press, 1970, pp. 186 - 195 LACAN, J. O Semindri, liv Hs. lca dae fantasia (1966-1967). Inédivo. LACAN, J. O Semindrio, livro 16: de um outro ao Outro (\968- 1969). Rio de Janciro: Jorge Zahar Ed., 2008. Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 31 32 LACAN, J. O Semindrio — livro 17: O avesso da psicandlise (1969- 70). Rio de Janeiro: Zahar, 1998. LACAN, J. (1970). Radiofonia. In: Outros escritos. Rio de Jancito, Jorge Zahar Ed., 2003, LACAN, J. (1971). Lituraterra. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. LACAN, J. O Semindrio, livro 20: mais, ainda (1972-73). Rio de Janciro: Jorge Zahar Ed., 1985. LACAN, J. (1972). ... ou pior. In: Scilicer 5. Paris: Seuil, 1975. LACAN, J. (1973). O aturdito. In: Outros Escritos. Rio de Jancito: Zahar, 2003. LACAN, J. (1973). Introdugio & edigao alema de um primeiro volu- me dos Escritos. In: Outros Escritos. Rio de Jancito: Zahar, 2003. LACAN, J. (1974). Televisio. In: Ouzros Ercriros. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. LACAN, J. Le Séminaire XXII: RSI (1974-1975): Patis, Versio ALI. Inédieo. LACAN, J. (1975). Conferéncia em Genebra sobre o sintoma. In: Opeiio Lacaniana, Revista Brasileira Internacional de Psicandlise, n? 23, 198. LACAN, J. (1975). Joyce, 0 sintoma. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. Repetigao e Sintoma Resumo © texto contempla duas conferéncias proferidas por Co- lette Soler durante 0 XJ Encontro Nacional da EPFCL- Brasil, om Fortaleza, dedicadas ao tema “Repetigio ¢ Sintoma”. Nelas, a autora trata da repeticio e do sintoma come se produzinds no campo do gozo e dependendo do inconscientc. Cada um destes conccitos, prdprios a0 felaser, esti refetido a0 “nie hi relagie sexual”. Embora sejam solidarios e caminhem juntos, no entanto, a repe- tigio €0 sintoma no podem se confundit. Para estabele- cer essa sutil diferenca, a autora trabalha exaustivamente estes ¢ outros conccitos, sobretudo ao longo da obra de Freud e Lacan, articulando-os magistralmente acl Palavras-chave Repeticao, sintoma, inconsciente, transferéncia, gozo. Abstract This article discusses two conferences given by Colette Soler during the XI Encontro Nacional da EPFCL—Bra- zil, in Fortaleza, Ceard, about the theme “Repetition and Symptom”, In these conferences, the author explores repetition and symptom as if producing in the field of jouissance and depending on the unconscious. Each of the concepts, particular to the speaking-being refers 10 the “there is no such thing as a sexual relationship”. Even though they are related and walk hand-in-hand, repeti- tion and symptom cannot be confused. To establish this subtle difference, the author works exhaustively on both concepts and others, especially along Freud and Lacan’s works, brilliantly connecting them with the clinic. Keywords Repetition, symprom, unconscious, transference, jouissance Stylus Rio de Janeiro n° 23 p, 15-33 novembro 2011 34

You might also like