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Parecer: MPC/2384/2022

Processo: @APE 21/00713200


Instituto de Previdência do Estado de Santa
Unidade Gestora:
Catarina - IPREV
Registro de Ato de Aposentadoria IRANI BRUNNER
Assunto:
APOLINARIO

Número Unificado: MPC-SC 2.2/2022.2140

Trata-se de ato de concessão de aposentadoria voluntária


por redução de idade, com proventos integrais, remetido pelo Instituto
de Previdência do Estado de Santa Catarina - IPREV, relativo ao servidor
IRANI BRUNNER APOLINARIO.

A unidade gestora apresentou a documentação pertinente


(fls. 2-106) e a Diretoria de Atos de Pessoal apresentou relatório técnico
(fls. 107-117), em cuja conclusão opinou pelo registro do ato de
aposentadoria, nos seguintes termos:

3.1. Ordenar o registro, nos termos do artigo 34, inciso II, combinado
com o artigo 36, §2º, letra 'b', da Lei Complementar nº 202/2000, do
ato de aposentadoria de Irani Brunner Apolinario, servidor da
Secretaria de Estado da Administração - SEA, ocupante do cargo de
Artífice I, nível 03, referência D, matrícula nº 239756-0-01, CPF nº
430.006.069-04, consubstanciado no Ato nº 758/2021, de
29/03/2021, considerado legal por este órgão instrutivo.
3.2. Dar ciência da Decisão ao Instituto de Previdência do Estado de
Santa Catarina - Iprev.
Vieram os autos, então, a este Ministério Público de
Contas para manifestação.

A apreciação, para fins de registro, da legalidade do ato


de aposentadoria, está inserida entre as atribuições dessa Corte de
Contas, consoante os dispositivos constitucionais, legais e normativos
vigentes (art. 59, inciso III, da Constituição Estadual, art. 1º, inciso IV, da
Lei Complementar Estadual n. 202/2000, art. 1º, inciso IV, da Resolução
TC/SC n. 06/2001 e Resolução TC/SC n. 35/2008).
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Repercussões do julgamento do Tema 1157 - STF

Importa analisar a documentação que compõe o histórico


funcional do servidor frente ao julgamento, pelo Supremo Tribunal
Federal, do Recurso Extraordinário com Agravo n. 1.306.505/AC, o qual
resultou na tese de repercussão geral de Tema n. 1157, in verbis:

É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e


Remuneração, de servidor admitido sem concurso público antes da
promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que
beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja
vista que esta regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos
termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na
ADI 3609 (Rel. Min. DIASTOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe. 30/10/2014).
Segundo o histórico funcional (fls. 85-104), o servidor
IRANI BRUNNER APOLINARIO ingressou em 16/01/1984 sendo
contratado para exercer a função de Auxiliar de Serviços Operacionais.
Posteriormente, em 01/06/1986 a função foi alterada para Agente de
Serviços Operacionais. Em 01/11/1989 foi transformado o regime
jurídico para Estatutário. Após, o servidor foi enquadrado no cargo de
Artífice I, com início em 01/09/1992, com base nos artigos 7 a 9, §1º da
LC nº 64/1992, no qual se aposentou.

Logo, o caso dos autos se amolda ao preceituado na tese


acima transcrita, uma vez que o Sr. IRANI BRUNNER APOLINARIO
ingressou no Poder Executivo mediante regime celetista, tendo sido
enquadrado posteriormente em cargo efetivo.

Sobre tal ponto, a Diretoria de Atos de Pessoal registrou


(fls. 109-114) que, em que pese o presente caso se amoldar à tese de
repercussão geral de Tema n. 1157, é sabido que o julgamento de teses
em sede de repercussão geral representa o entendimento consolidado
da Suprema Corte em temas análogos e que norteia a aplicação do
direito circunscrito à matéria objeto da tese, porém, há que se
considerar que as implicações do julgamento são desconhecidas,
mormente quando confrontadas com os milhares de casos concretos em
que poderá incidir.

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Lembrou, ainda, que essa Corte de Contas passou a
considerar, no julgamento de aposentadorias de servidores que
ingressam sem concurso público em cargos efetivos da Administração, a
Decisão liminar do STF na ADI n. 837-4, datada de 23.04.1993, na qual a
Suprema Corte consolidou o entendimento de que a forma de
provimento por acesso e ascensão, previstos no art. 8°, inciso III, e no
art. 13, §4°, da Lei n. 8.112/1990, bem como as expressões “ou
ascensão” e “ou ascender” do art. 17 e do art. 33, inciso IV, do mesmo
diploma legal, tiveram eficácia suspendida, com efeitos ex nunc.

Por fim, defendeu que deve ser considerado como marco


temporal modulatório, em respeito à segurança jurídica e boa-fé, os
efeitos determinados na ADI 837-4/DF.

Em razão de todo o alegado, defendeu que o julgado não


consiste em irregularidade no caso em epígrafe.

No entanto, esta representante ministerial não compactua


com o entendimento do corpo técnico.

Veja-se que o conteúdo da tese firmada pelo STF em


regime de repercussão geral é claro ao dispor que os servidores
admitidos sem concurso público antes da CRFB/88 não podem ser
enquadrados no Plano de Cargos, Carreira e Remuneração
implementado para servidores públicos efetivos, sob pena de violação
ao art. 37, inciso II, da CRFB/88.

Como bem referido pela instrução (fl. 109), o julgamento


pela Suprema Corte em sede de repercussão geral representa o
entendimento consolidado da Corte em temas análogos, norteando a
aplicação do direto circunscrito à matéria objeto da tese.

Pontua-se que o CPC/2015 passou a prever alguns


precedentes com cunho de observância obrigatória:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado
de constitucionalidade;
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II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em
matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
Do artigo transcrito, percebe-se que não está previsto
como precedente obrigatório o acórdão proferido em repercussão geral.
Nesse sentido, José Miguel Garcia Madina refere que, apesar da omissão
do art. 927, deve-se entender que o que for fixado em repercussão
geral tem força vinculante na mesma medida, dentro da categoria
“recursos repetitivos”, in verbis:

Além das hipóteses mencionadas, há que se considerar, ainda, a de


julgamento de recurso extraordinário com repercussão geral, mesmo
que tal julgamento se realize fora do regime de recursos repetitivos. A
situação não é prevista no art. 927 do CPC/2015. O art. 1.030, I, a e II
do CPC/2015 (na redação da Lei 13.256/2016), no entanto, dispõe
sobre a negativa de seguimento a recurso extraordinário interposto
contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do
Supremo Tribunal Federal proferido no regime de repercussão geral,
e, também, sobre o juízo de retratação, se o acórdão recorrido
divergir de entendimento do Supremo Tribunal Federal manifestado
em regime de repercussão geral. Assim, a orientação firmada pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida também deve ser observada
pelos juízes, a despeito de a hipótese não encontrar-se prevista no
art. 927 do CPC/2015. O art. 988, § 5.º, II (também na redação da Lei
13.256/2016), por sua vez, dispõe que cabe reclamação contra
decisão que desrespeitar acórdão de recurso extraordinário com
repercussão geral reconhecida, circunstância que impõe que se
reconheça a força vinculante de tal precedente.
Nessa mesma linha, entendo que a tese de repercussão
geral de Tema n. 1157 deve ser observada no caso em análise.

Em que pese a alegação da área técnica de que a


contratação pelas regras insertas na CLT era prática corriqueira na
Administração Pública Estadual e Municipal até o advento da CRFB/88 e
que essa Corte de Contas já registrou inúmeros atos de aposentadoria
em situações análogas, importa ressaltar que os registros de tais atos
eram efetuados com base em entendimento anterior ao julgamento do
Recurso Extraordinário com Agravo n. 1.306.505/AC – que fixou a tese
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de repercussão geral de Tema n. 1157 –, e se mostra superado a partir
da nova decisão do STF.

Além disso, em consulta ao trâmite processual do referido


recurso, verifica-se que consta certidão de 11.06.2022 atestando que a
decisão transitou em julgado. Como consequência, os autos foram
baixados nessa mesma data, mantendo-se, portanto, o mérito da
decisão.

Por essa razão – e considerando-se, ainda, a decisão


proferida nos autos do processo @APE 17/00391108 1 - sugere-se que
seja fixado prazo de 30 dias para que o gestor adote as providências
cabíveis com vistas ao exato cumprimento da lei e comprove-as a este
Tribunal, a fim de sanar a situação aqui apontada.

Conclusão

Ante o exposto, este Ministério Público de Contas, com


amparo na competência conferida pelo art. 108, incisos I e II, da Lei
Complementar Estadual n. 202/2000, manifesta-se por:

1. FIXAR PRAZO de 30 dias para que o gestor adote as


providências cabíveis com vistas ao exato cumprimento da lei e
comprove-as a este Tribunal, a fim de sanar a seguinte restrição:

1.1. Enquadramento do aposentando em novo Plano de


Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), em que pese ter sido
admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição
Federal de 1988, em violação à tese de repercussão geral de Tema n.
1157 do STF e ao art. 37, inciso II, da CFRB/88.

Florianópolis, data da assinatura digital.

Cibelly Farias
Procuradora
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O Relator, em seu voto GAC/WWD-446/2022 (fls. 179-186), sustentou que eventual
aplicação do Tema 1157 deveria ser precedida de abertura de novo prazo para
alegações de defesa por parte da Unidade Gestora e interessado, uma vez que tal
tema não constava da audiência encaminhada preliminarmente.
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