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FISIOTERAPIA APLICADA FISIOTERAPIA APLICADA

Fisioterapia Aplicada à Saúde do Idoso


À SAÚDE DO IDOSO À SAÚDE DO IDOSO
Aline Andressa Matiello Aline Andressa Matiello

O envelhecimento da população é um fenômeno que vem se consolidando nos últimos


anos, resultando em um novo perfil populacional, com um aumento expressivo de
idosos em todo o mundo. Associado a isso, tem-se uma mudança no perfil epidemio-
lógico, com redução da prevalência de doenças de causas infectocontagiosas para um
aumento na prevalência de doenças crônico-degenerativas. Essas mudanças resulta-
ram em novas demandas voltadas para a atenção à população idosa, especialmente,
novas demandas na área da saúde, visando atender esse novo perfil de idosos.
Baseando-se nisso, no decorrer dessa disciplina, abordaremos os conceitos básicos
relacionados ao envelhecimento, as teorias acerca desse processo, a relação do en-
velhecimento com a qualidade de vida em idosos, os conceitos básicos relativos à
bioética e, ainda, falaremos sobre a atuação do fisioterapeuta junto aos demais pro-
fissionais das equipes interdisciplinares na atenção à pessoa idosa. Nesse sentido,
o fisioterapeuta pode atuar mediante abordagens fisioterapêuticas preventivas, de
promoção de saúde, de reabilitação, e ainda, pode atuar na atenção paliativa voltada
à população idosa, garantindo seus direitos de acordo com as políticas sociais vigen-
tes e promovendo melhorias na independência, autonomia, capacidade funcional e
qualidade de vida desse público.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

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Autoria Aline Andressa Matiello

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Introdução ao estudo do envelhecimento


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Histórico do processo de envelhecimento....................................................................... 13


Epidemiologia do envelhecimento populacional........................................................ 14
Perfil da transição epidemiológica................................................................................ 15

Termos básicos empregados no estudo do envelhecimento........................................ 16


Termos básicos aplicados aos tipos de envelhecimento biológico........................ 18
Outros termos ligados ao processo de envelhecer.................................................... 21

Teorias biológicas do envelhecimento humano............................................................. 24


Teorias estocásticas do processo de envelhecimento............................................. 24
Teorias sistêmicas do processo de envelhecimento................................................. 25

Qualidade de vida e a relação com o processo de envelhecimento.......................... 27


Conceito de qualidade de vida aplicado ao idoso...................................................... 27
Avaliação da qualidade de vida..................................................................................... 28

Bioética aplicada ao envelhecimento.............................................................................. 29


Conceitos básicos em bioética...................................................................................... 29
Relação profissional de saúde e paciente idoso........................................................ 31
Relação profissional paciente idoso frente ao processo de morte......................... 32
Cuidados paliativos.......................................................................................................... 33

Atuação do fisioterapeuta no processo de envelhecimento........................................ 35


Atuação do fisioterapeuta nos diferentes tipos de envelhecimento....................... 35

Sintetizando............................................................................................................................ 37
Referências bibliográficas.................................................................................................. 38

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Sumário

Unidade 2 - Abordagem integral do paciente idoso


Objetivos da unidade............................................................................................................ 42

Avaliação multidisciplinar do idoso ................................................................................. 43


Objetivos da avaliação multidisciplinar . ..................................................................... 44
Domínios a serem avaliados na AGA............................................................................ 45

Tratamento integrado do idoso........................................................................................... 48


Determinantes do envelhecimento e envelhecimento ativo ������������������������������������ 49
Serviços de saúde institucionais e comunitários ...................................................... 51

Políticas sociais na velhice ............................................................................................... 53


Política Nacional do Idoso . ........................................................................................... 54
Estatuto do Idoso.............................................................................................................. 54
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.............................................................. 56
Previdência Social........................................................................................................... 57

Envelhecimento dos sistemas orgânicos......................................................................... 58


Envelhecimento do sistema osteomioarticular........................................................... 58
Envelhecimento do sistema cardiorrespiratório......................................................... 61
Envelhecimento do sistema nervoso............................................................................ 62
Envelhecimento do sistema tegumentar...................................................................... 63

Reabilitação na saúde do idoso......................................................................................... 65


Alvos da reabilitação em geriatria e gerontologia..................................................... 65
Fatores que influenciam a reabilitação........................................................................ 66
Constituição e perfil da equipe de reabilitação.......................................................... 68
Áreas de atuação da fisioterapia junto à reabilitação na saúde do idoso 68

Sintetizando............................................................................................................................ 73
Referências bibliográficas.................................................................................................. 74

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Sumário

Unidade 3 - Fisioterapia nas síndromes geriátricas e nas disfunções do idoso


Objetivos da unidade............................................................................................................ 78

Fisioterapia nos gigantes da geriatria: síndromes geriátricas.................................... 79


Instabilidade postural: marcha e quedas..................................................................... 79
Iatrogenia e polifarmácia................................................................................................ 81
Incontinências.................................................................................................................. 84
Imobilidade prolongada................................................................................................... 89
Insuficiência familiar....................................................................................................... 92
Incapacidade comunicativa........................................................................................... 93
Incapacidade cognitiva................................................................................................... 93

Fisioterapia nas doenças relacionadas às síndromes geriátricas............................. 94


Doenças cerebrovasculares.......................................................................................... 94
Doença de Parkinson....................................................................................................... 96
Demências......................................................................................................................... 99
Diabetes mellitus............................................................................................................ 100

Fisioterapia nas disfunções cardiovasculares: reabilitação cardiovascular (RCV)..........102


Fisiopatologia das principais disfunções cardiovasculares em idosos ��������������� 102
Reabilitação cardiovascular RCV................................................................................ 104
Fases da RCV................................................................................................................... 105
Princípios e cuidados da RCV...................................................................................... 106

Fisioterapia nas disfunções respiratórias...................................................................... 106


Fisiopatologia das principais disfunções respiratórias em idosos........................ 106
Reabilitação pulmonar................................................................................................... 107
RP nas doenças infecciosas........................................................................................ 108
RP no DPOC..................................................................................................................... 108
RP no pré e pós-operatório........................................................................................... 109

Sintetizando.......................................................................................................................... 111
Referências bibliográficas................................................................................................ 112

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Sumário

Unidade 4 - Fisioterapia em disfunções reumatológicas e desenvolvimento de


ambientes funcionais
Objetivos da unidade.......................................................................................................... 116

Avaliação reumatológica em geriatria........................................................................... 117


Anamnese........................................................................................................................ 117
Exame físico/funcional ................................................................................................. 118
Diagnóstico cinético-funcional e plano de tratamento ������������������������������������������ 119

Fisioterapia nas principais disfunções reumatológicas............................................. 119


Impacto funcional das doenças reumáticas............................................................. 119
Osteoartrose e osteoporose . ...................................................................................... 121
Artrite reumatoide e artrite gotosa ............................................................................ 129
Fibromialgia, polimialgia reumática e espondiloartrites ���������������������������������������� 133
Outras doenças reumatológicas do idoso e abordagem da fisioterapia 137

Planejamento e adaptação do ambiente em geriatria ............................................... 141


Casa segura em geriatria . ........................................................................................... 141
Avaliação do ambiente em que o idoso vive ............................................................ 143
Sugestões de adaptações de ambientes gerais . .................................................... 144
Sugestões de adaptações de ambientes específicos............................................. 146

Sintetizando.......................................................................................................................... 150
Referências bibliográficas................................................................................................ 151

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Apresentação

O envelhecimento da população é um fenômeno que vem se consolidando


nos últimos anos, resultando em um novo perfil populacional, com um au-
mento expressivo de idosos em todo o mundo. Associado a isso, tem-se uma
mudança no perfil epidemiológico, com redução da prevalência de doenças
de causas infectocontagiosas para um aumento na prevalência de doenças
crônico-degenerativas. Essas mudanças resultaram em novas demandas vol-
tadas para a atenção à população idosa, especialmente, novas demandas na
área da saúde, visando atender esse novo perfil de idosos.
Baseando-se nisso, no decorrer dessa disciplina, abordaremos os con-
ceitos básicos relacionados ao envelhecimento, as teorias acerca desse pro-
cesso, a relação do envelhecimento com a qualidade de vida em idosos, os
conceitos básicos relativos à bioética e, ainda, falaremos sobre a atuação do
fisioterapeuta junto aos demais profissionais das equipes interdisciplinares
na atenção à pessoa idosa. Nesse sentido, o fisioterapeuta pode atuar me-
diante abordagens fisioterapêuticas preventivas, de promoção de saúde, de
reabilitação, e ainda, pode atuar na atenção paliativa voltada à população
idosa, garantindo seus direitos de acordo com as políticas sociais vigentes e
promovendo melhorias na independência, autonomia, capacidade funcional
e qualidade de vida desse público.

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A autora

A professora Aline Andressa Matiello


é especialista em Saúde Coletiva pela
Universidade Federal da Fronteira Sul –
UFFS (2014) e em Saúde da Família pela
Universidade Federal de Santa Catari-
na – UFSC (2014). Tem formação em En-
velhecimento e Saúde da Pessoa Idosa
pela Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz
(2012). É graduada em Fisioterapia pela
Universidade do Oeste de Santa Catari-
na – Unoesc (2011).

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4870592018602158

À minha família, pelo apoio incansável. Aos meus pacientes, em especial


aos idosos, por confiarem em meu trabalho e permitirem que a fisioterapia
possa auxiliá-los na melhoria da qualidade de vida. Aos meus alunos, por
estarem sempre abertos para adquirirem novos conhecimentos.

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UNIDADE

1 INTRODUÇÃO
AO ESTUDO DO
ENVELHECIMENTO

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Objetivos da unidade
Conhecer, por meio de dados epidemiológicos, como o envelhecimento da
população vem ocorrendo no Brasil e no mundo;
Descrever as principais alterações fisiológicas do envelhecimento;
Estudar a visão geral das principais teorias biológicas sobre o
envelhecimento;
Identificar princípios de bioética aplicados ao atendimento a pacientes
idosos;
Reconhecer aspectos importantes da relação fisioterapeuta-paciente idoso;
Analisar pontos relevantes no processo de morte de pacientes idosos;
Compreender a abordagem voltada aos cuidados paliativos à definição do
conceito de qualidade de vida voltado à pessoa idosa.

Tópicos de estudo
Histórico do processo de enve-
lhecimento Qualidade de vida e a relação
Epidemiologia do envelhecimento com o processo de envelhecimento
populacional Conceito de qualidade de vida
Perfil da transição epidemiológica aplicado ao idoso
Avaliação da qualidade de vida
Termos básicos empregados no Bioética aplicada ao envelhe-
estudo do envelhecimento cimento
Termos básicos aplicados aos Conceitos básicos em bioética
tipos de envelhecimento biológico Relação profissional de saúde e
Outros termos ligados ao paciente idoso
processo de envelhecer Relação profissional paciente
idoso frente ao processo de morte
Teorias biológicas do envelheci- Cuidados paliativos
mento humano
Teorias estocásticas do processo Atuação do fisioterapeuta no
de envelhecimento processo de envelhecimento
Teorias sistêmicas do processo Atuação do fisioterapeuta nos
de envelhecimento diferentes tipos de envelhecimento

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Histórico do processo de envelhecimento
Segundo Freitas e Py (2016), o envelhecimento (processo), a velhice
(fase da vida) e o idoso (resultado final) constituem um conjunto de fatores
intimamente relacionados. Sendo que o envelhecimento é um fenômeno
comum a todos os seres vivos animais, mas ainda com muitas dúvidas a
serem esclarecidas.
O envelhecimento, como processo dinâmico e progressivo, no qual todas
as pessoas estão sujeitas, resulta em modificações morfológicas, funcionais,
bioquímicas e psicológicas relevantes, sendo que o conjunto dessas mani-
festações caracterizam a velhice, considerada a última fase do ciclo da vida.
O processo de envelhecimento
tem sido tema de estudos e pesqui-
sas desde o início das civilizações e,
ao longo da história, vem sendo tra-
tado de diferentes modos. Segundo
Dardendo e Mafra (2018), em algumas
civilizações, as pessoas mais velhas
eram muito valorizadas, recebendo
destaque por sua experiência de vida.
Como exemplo, pode-se citar as civi-
lizações chinesa e japonesa, onde se
acreditava, inclusive, que as pessoas
mais velhas detinham um poder so-
brenatural, associado a mais expe-
riência de vida e sabedoria.
Do mesmo modo, as civilizações de babilônios
e hebreus davam grande importância às pes-
soas mais velhas e, por isso, já pesquisavam
modos de impedir o processo de envelhe-
cimento. Em contrapartida, em outras civili-
zações, como os povos nômades, as pessoas
mais velhas eram vistas como uma sobrecarga
e, portanto, muitas vezes eram abandonadas.

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A valorização das pessoas mais velhas ao longo dos anos ainda esteve
relacionada à classe social em que pertenciam. Na Grécia, por exemplo, as
pessoas mais velhas pertencentes às classes sociais mais altas, possuíam po-
der político, econômico e cultural, sendo reconhecidas como pessoas sábias.
Ao contrário de pessoas mais velhas pertencentes a classes sociais inferiores,
que representavam situações de invalidez e doença e não detinham poder
algum (DARDENDO; MAFRA, 2018).
Ainda nessa perspectiva, algumas civilizações consideravam o envelheci-
mento como sinônimo de doenças, tanto do ponto de vista da ciência quanto
do ponto de vista cultural. Segundo Perracini e Fló (2019), essa ideia do enve-
lhecimento como sinônimo de doença pendurou até a década de 1990.
Além disso, antigamente, em todas as civilizações, chegar à velhice era pri-
vilégio de poucas pessoas e, assim, na maioria das sociedades não existia preo-
cupação em compreender o processo de envelhecimento. Contudo, atualmen-
te, a longevidade se tornou um acontecimento comum e, por consequência, há
uma crescente busca pela compreensão desse processo.

Epidemiologia do envelhecimento populacional


Considera-se que uma das maiores conquistas da humanidade foi o au-
mento dos anos de vida da população, sendo que essa condição é resultado
de vários fatores, incluindo o declínio da mortalidade, redução da natalidade,
melhoria nas condições de saneamento básico e, principalmente, avanços na
área da saúde, garantindo que as pessoas tenham mais qualidade de vida e
longevidade (LEMOS et al., 2001).
Contudo, essa conquista trouxe consigo um dos grandes desafios do século
XXI: a atenção à pessoa idosa. Esse desafio é evidente em todo o mundo, uma
vez que o processo de envelhecimento da população acontece em ritmo acele-
rado (DARDENGO, MAFRA, 2018). Segundo dados do IBGE (2018), a população
idosa no Brasil aumentou consideravelmente desde a década de 1960, e tende
a crescer ainda mais nos próximos anos, podendo chegar a um quarto de toda
a população no ano de 2043.
O Gráfico 1 mostra uma projeção do índice de envelhecimento da popula-
ção brasileira (relação entre jovens e idosos).

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GRÁFICO 1. PROJEÇÃO DO ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

2018 2060
Homem Mulher
90+
75 - 79

55 - 59

35 - 39

15 - 19

0-4

Fonte: PERISSÉ; MARLI, 2019, p. 23. (Adaptado).

Considerando esse processo acelerado de envelhecimento da popula-


ção, cria-se a necessidade de novos estudos e novas áreas de atenção desti-
nadas a essa população com predomínio de idosos. Dentre as necessidades
que vem surgindo, cita-se mudanças nas estratégias voltadas à saúde dessa
população.
Segundo o Ministério da Saúde (2006), no Brasil, o processo de envelheci-
mento aconteceu de modo tão rápido que não houve tempo para uma reor-
ganização adequada para atender às novas demandas de saúde dessa popu-
lação, sendo necessários novos estudos e novas intervenções na área.

Perfil da transição epidemiológica


Vale destacar que, com relação à epidemiologia, além do aumento no nú-
mero de idosos, vive-se um processo de mudanças nos perfis de morbidade
e de mortalidade dessa faixa etária, representando um quadro de transição
epidemiológica, que acomete todas as faixas etárias, entretanto, é mais inten-
sa na população idosa.
Segundo Cortez et al. (2019), essa condição representa uma redução nos
perfis de morbidade e mortalidade de doenças infectocontagiosas para um
perfil em que predominam as doenças crônicas não transmissíveis. Desse
modo, atualmente, doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças de causas
externas e afecções crônico-degenerativas são mais prevalentes.

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Além do aumento expressivo da prevalência de doenças crônicas não trans-
missíveis, os idosos estão mais suscetíveis à presença de mais de uma dessas
doenças associadas. Estima-se que cerca de 80% dos idosos, no Brasil, têm ao
menos uma morbidade, e grande parte dessa população, possui duas ou mais
comorbidades.
Esse novo perfil de morbimortalidade entre idosos com aumento de doen-
ças crônicas traz impactos importantes para toda a sociedade, especialmente
no aumento da demanda por serviços de saúde. Isso porque, no cenário com
maior prevalência de doenças crônicas, o paciente idoso demanda de acompa-
nhamento constante, cuidados permanentes, da utilização de medicação con-
tínua e da realização de exames periódicos, o que aumenta a necessidade de
assistência e, ainda, eleva os custos de saúde.

Termos básicos empregados no estudo do envelhecimento


Frequentemente, na área de estudos sobre envelhecimento surgem termos
técnicos que visam estabelecer uma linguagem universal, ou seja, um linguajar
comum a todos que lidam no dia a dia com pacientes idosos (FREITAS; PY, 2016).
Considerando isso, os termos básicos aplicados a essa área são importantes,
pois evitam confusões teóricas no uso de diferentes conceitos.
Dentre esses termos básicos aplicados à área do envelhecimento, cita-se as
definições de idoso, de envelhecimento populacional, envelhecimento individual,
velhice, idoso, geriatria, gerontologia, equipes interdisciplinares, entre outros.
Sobre a definição de idoso, no Brasil, uma pessoa é considerada idosa quan-
do possui idade igual ou superior a 60 anos. Todavia, essa definição é diferencia-
da nos países desenvolvidos, onde a pessoa é considerada idosa com 65 anos ou
mais (SANTOS, 2010).
É importante que se estabeleça a diferença entre o envelhecimento popula-
cional e o envelhecimento individual. Sendo que o envelhecimento populacio-
nal se refere às características demográficas da população, como o aumento nas
proporções de pessoas idosas em relação as pessoas mais jovens e o envelheci-
mento individual se refere aos processos fisiológicos que ocorrem no organis-
mo do indivíduo, decorrente do envelhecimento dos sistemas. Uma pessoa en-
velhece à medida que sua idade aumenta e isso não é reversível (Fiocruz, 2008).

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Outros conceitos importantes estão intimamente relacionados ao envelheci-
mento, como os termos idoso e velhice. Segundo Freitas e Py (2016), o termo ve-
lhice se refere a última fase da vida, decorrente do processo de envelhecimento,
enquanto o termo idoso (velho) se refere ao resultado desse processo.
Ao longo dos anos, a tendência de crescimento da população de idosos pro-
porcionou avanços na área da saúde, especialmente no início do século XX, o
que garantiu o surgimento de áreas de estudo específicas voltadas ao acom-
panhamento do processo de envelhecimento, como a geriatria e a gerontologia
(LEMOS et al., 2001).
Essas áreas de conhecimento atuam em conjunto sobre os múltiplos aspec-
tos envolvidos no processo de envelhecimento. A geriatria atua nos aspectos
curativos e preventivos da atenção à saúde da pessoa idosa e possui uma re-
lação estreita com a área médica e a gerontologia é uma área interdisciplinar
de estudo do processo de envelhecimento que contempla aspectos biológicos,
sociais e psicológicos, envolvendo a atuação de profissionais de diferentes áreas
(FREITAS; PY, 2016).
Devido à sua interdisciplinaridade, a gerontologia possibilita uma atuação
ampla e efetiva, atendendo às múltiplas necessidades da população idosa, con-
siderando que, nesses casos, há uma maior integração entre os vários profissio-
nais, possibilitando, assim, uma intervenção completa.
Em geral, as equipes interdisciplinares são formadas por terapeutas ocupa-
cionais, enfermeiros, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nu-
tricionistas, entre outros, que atuam no atendimento integral ao paciente idoso.

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Termos básicos aplicados aos tipos de envelhecimento
biológico
Destaca-se dois termos básicos que se referem às classificações do proces-
so de envelhecimento, são eles: envelhecimento fisiológico e envelhecimen-
to patológico.
Com relação ao processo de envelhecimento, considera-se que todos os in-
divíduos passam por transformações biológicas com o passar dos anos, que se
caracterizam por modificações decorrentes de processos de involução morfo-
lógica e funcional, que afetam os sistemas orgânicos do organismo e culmi-
nam com a morte (Fiocruz, 2008). Por afetarem todos os indivíduos de mesma
espécie de modo semelhante, o envelhecimento é considerado um evento bio-
lógico e irreversível, que se caracteriza por maior vulnerabilidade às agressões
impostas tanto pelo meio interno, como pelo meio externo, uma vez que célu-
las, tecidos, órgãos e sistemas apresentam maior suscetibilidade a agressões à
medida que envelhecem.
Nessas situações, o envelhecimento é denominado fisiológico, também
chamado de senescência, e se caracteriza pelo surgimento de alterações fi -
siológicas esperadas nesse processo, resultado do declínio das funções dos
sistemas (FREITAS; PY, 2016).
Dentre as alterações fisiológicas, caracterizadas pela redução da capacida-
de e função desses sistemas, destacam-se as alterações nos sistemas muscula-
res, ósseos, respiratório, cardiovascular e nervoso.
Segundo a SBGG (2016), as alterações encontradas no envelhecimento fi-
siológico são comuns a todos os indivíduos e estão relacionadas à evolução do
tempo sobre o organismo sem o aparecimento de nenhuma doença associada.
No entanto, no envelhecimento denominado de patológico, também cha-
mado de senilidade, o idoso, além de apresentar alterações decorrentes do
processo de envelhecimento fisiológico, apresenta alterações relacionadas à
presença de patologias (SBGG, 2016).
Além disso, Freitas e Py (2016) citam que, no envelhecimento patológico, a
presença de alterações fisiológicas juntamente com doenças concomitantes,
induzem graus variados de incapacidades, uma vez que podem interferir nas
alterações fisiológicas próprias do envelhecimento e produzir uma ação deleté-
ria muito acentuada, piorando o quadro de incapacidade apresentado.

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O Gráfico 2 mostra a classificação do envelhecimento fisiológico e patológi-
co com base nos limiares de incapacidade.

GRÁFICO 2. TIPOS DE ENVELHECIMENTO


Função

Envelhecimento fisiológico

Envelhecimento
patológico

Limiar de incapacidade

Idade
Fonte: Fiocruz, 2008, p. 153. (Adaptada).

Infelizmente, de acordo com os dados epidemiológicos, a maioria dos ido-


sos apresenta um quadro de envelhecimento patológico, ou seja, associado à
presença de doenças e consequentes incapacidades.
O envelhecimento fisiológico é subdividido em envelhecimento bem-
-sucedido e envelhecimento usual, com base em algumas características
apresentadas pelo idoso. No envelhecimento bem-sucedido, o organismo
mantém todas as funções fisiológicas de modo semelhante a um organismo
em fase adulta. Já no envelhecimento fisiológico usual, observa-se uma perda
funcional, de característica lenta e progressiva, que traz alguma limitação ao
indivíduo idoso, mas não promove nenhum tipo de incapacidade.
Existe ainda, ao se falar em classificação do envelhecimento biológico,
uma subclassificação que muitas vezes se confunde com envelhecimento
patológico, por possuírem características muito similares. Nessa subclassifi-
cação, encontram-se os idosos que apresentam alterações fisiológicas mais

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acentuadas, decorrentes do processo natural do envelhecimento, o que ca-
racteriza a síndrome da fragilidade ou frailty. A síndrome da fragilidade se
difere do envelhecimento patológico por não apresentar doenças que justifi-
quem as alterações fisiológicas existentes (Fiocruz, 2008).
O Gráfico 3 apresenta a relação do limiar de incapacidade com base no
envelhecimento patológico e no envelhecimento bem-sucedido e suas sub-
classificações.

GRÁFICO 3. TIPOS DE ENVELHECIMENTO EM RELAÇÃO AO LIMIAR DE INCAPACIDADE

Envelhecimento
fisiológico
Bem
-suc
edid
o
Usu
Env al
elhe Frai
pat cimen lty
ológ t
ico o

Limiar de incapacidade

Fonte: Fiocruz, 2008, p. 154. (Adaptada).

Com relação à síndrome da fragilidade, algumas condições são considera-


das fatores de risco para o desenvolvimento dessa condição, das quais desta-
cam-se: gênero feminino, baixo nível socioeconômico, problemas de nutrição,
senescência, quadro de sarcopenia, sedentarismo e a presença de doenças
associadas, como doenças degenerativas (Parkinson e doença de Alzheimer),
depressão e doenças vasculares (acidente vascular encefálico).
Ressalta-se que alguns fatores como a hereditariedade, hábitos de vida e
a presença de doenças prévias são determinantes no processo de envelheci-
mento e contribuem em diferentes graus para o tipo de en-
velhecimento a ser apresentado pelo idoso, uma vez que
esses fatores expõem o indivíduo a agressões capazes
de interferir no funcionamento do organismo, geran-
do diversas incapacidades na velhice, que são variáveis
de um indivíduo para outro (Fiocruz, 2008).

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Outros termos ligados ao processo de envelhecer
O conhecimento de outros termos relativos ao envelhecimento também se
faz necessário, uma vez que estão intimamente ligados ao processo de enve-
lhecer. São eles:
• Autonomia: habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais em
seu dia a dia (OMS, 2005);
• Capacidade funcional: compreendida como a autonomia para realizar
atividades cotidianas básicas (relativas às atividades de vida diárias e ativi-
dades instrumentais de vida) sem que necessite de auxílio de outras pessoas
(BOFF, GREGORY, 2019; PERERIA, ARAUJO, SANTOS, 2020);
• Independência: capacidade de executar funções relacionadas à vida diá-
ria, de modo que se possa conviver sozinho ou em comunidade, com autono-
mia ou com pouca ajuda de outras pessoas (OMS, 2005);
• Incapacidade funcional: inabilidade ou a dificuldade em realizar tarefas
cotidianas indispensáveis para uma vida independente (ALVES et al., 2007).
Desse modo, conclui-se que quanto maior a autonomia e a capacidade fun-
cional, maior a independência do idoso no processo de envelhecimento.

EXPLICANDO
As atividades de vida diárias (AVD) são consideradas atividades básicas
relacionadas ao autocuidado e incluem: alimentar-se, tomar banho, ves-
tir-se, deambular, controlar as necessidades fisiológicas e ir ao banhei-
ro. Já as atividades instrumentais da vida diária (AIVD) são mais com-
plexas que as atividades básicas e envolvem atividades como: utilizar
meios de transporte, independência na manipulação dos medicamentos,
capacidade de fazer compras, realizar tarefas domésticas, fazer uso de
telefone, preparar as refeições e cuidar das finanças.

Segundo Diniz et al. (2020), a capacidade funcional é diretamente influen-


ciada pelas condições de saúde do paciente idoso e, portanto, tem importante
valor prognóstico e na qualidade de vida.
A escala de Katz é uma das principais escalas utilizadas para avaliação da
funcionalidade das atividades de vida diárias (AVD), que classifica o pacien-
te como independente, com dependência parcial ou totalmente dependente
(DINIZ et al., 2020). O Quadro 1 apresenta a escala de Katz de avaliação fun-
cional das atividades de vida diárias (AVD).

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QUADRO 1. ESCALA DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIAS (KATZ)

Atividade Independente se:

Não recebe ajuda ou somente para uma parte do corpo


Banho
(costas, área genital ou extremidade com deficiência).

Vestir-se Pega as roupas e se veste sem ajuda, exceto para amarrar os sapatos.

Vai ao banheiro, usa-o, limpa a área genital, veste-se e retorna


Higiene pessoal
sem qualquer ajuda (pode usar andador ou bengala).

Consegue se deitar na cama, sentar-se na cadeira e se levantar


Transferência
sem ajuda (pode usar andador ou bengala).

Continência Controla completamente urina e fezes.

Come sem ajuda (exceto para cortar carne ou


Alimentação
passar manteiga no pão).

Interpretação:
O paciente ganha um ponto em cada item considerado como independente.
Seis pontos: totalmente independente; de um a cinco pontos: parcialmente dependente;
nenhum ponto: dependência total.

Fonte: DINIZ et al., 2020, p. 11. (Adaptado).

Além da escala de Katz, pode-se adotar a escala de Lawton referente às


Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), sendo que sua “pontuação
serve de parâmetro para o seguimento e a identificação de eventuais perdas
de funcionalidade” (DINIZ et al., 2020). O Quadro 2 apresenta como essa esca-
la é utilizada na avaliação da capacidade funcional dos pacientes.

QUADRO 2. ESCALA DE LAWTON PARA ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA

1. Consegue usar o telefone?

2. Consegue ir a locais distantes, usando algum transporte, sem necessidade de planejamentos


especiais?

3. Consegue fazer compras?

4. Consegue preparar suas próprias refeições?

5. Consegue arrumar a casa?

6. Consegue fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

7. Consegue lavar e passar sua roupa?

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8. Consegue tomar seus remédios na dose e horário corretos?

9. Consegue cuidar de suas finanças?

Interpretação:
Pontuar para cada item: sem ajuda (3 pontos); com ajuda parcial (2 pontos); incapaz (3 pontos).
Pontuação máxima: 27 pontos (totalmente independente).
A pontuação pode ter variação cultural e, por isso, serve para comparação temporal do
indivíduo.

Fonte: DINIZ et al., 2020, p. 11. (Adaptado).

Considera-se que os níveis de capacidade funcional aumentam na in-


fância e na adolescência, decrescem minimamente na fase adulta e apre-
sentam uma queda mais expressiva na velhice. Desse modo, é natural que
no decorrer do processo de envelhecimento o idoso apresente uma pe-
quena redução da autonomia, da independência e, consequentemente, da
capacidade funcional decorrentes das alterações fisiológicas próprias do
envelhecimento.
Entretanto vale ressaltar que essa redução é fisiológica e esperada,
mas não causa incapacidades e o idoso consegue manter suas habilidades,
tanto físicas como cognitivas em níveis suficientes para uma vida indepen-
dente e autônoma.
Em contrapartida, no processo de envelhecimento patológico pode ha-
ver alguma interferência negativa na
capacidade funcional que depende
de vários fatores, incluindo a quan-
tidade de doenças associadas, o tipo
e a gravidade dessas doenças, além
de outras condições pessoais (ALVES
et al., 2007). No entanto a presença
de doenças associadas não signi-
fica que obrigatoriamente o idoso
deve apresentar incapacidades, pois
mesmo com a presença de múltiplas
doenças associadas, podem manter
a autonomia, a independência e a ca-
pacidade funcional, conseguindo desempenhar suas atividades cotidianas
normalmente (BOFF; GREGORY, 2019).

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Teorias biológicas do envelhecimento humano
Na prática, sabe-se que alguns fatores contribuem de modo favorável ou
desfavorável para o processo de en-
velhecimento, contudo, não se sabe
exatamente o que determina o tipo
de envelhecimento a ser apresentado
pelo paciente, pois muitos indivíduos
mesmo apresentando condições he-
reditárias favoráveis e bons hábitos
ao longo da vida podem desenvolver
um envelhecimento patológico ou
ainda pacientes com condições here-
ditárias desfavoráveis associados a
hábitos ruins de vida podem apresen-
tar um processo de envelhecimento
fisiológico comum.
Para entender como essas situações acontecem, a gerontologia faz uso de
algumas teorias de natureza biológica que tentam explicar o mecanismo da
gênese do envelhecimento, mas até o momento nenhuma delas conseguiu es-
clarecer como se dá esse processo de modo completo (FREITAS; PY, 2016).
Existem diversas teorias que buscam explicar as causas do envelhecimento,
sendo que as mais descritas atualmente se agrupam em dois grandes grupos:
as teorias estocásticas e as teorias sistêmicas.

Teorias estocásticas do processo de envelhecimento


As teorias estocásticas defendem que o organismo humano está expos-
to a um contínuo e ininterrupto processo de ataques diversos e aleatórios,
chamados de estocásticos, capazes de causar erros em determinados siste-
mas do organismo, provocando declínio fisiológico, estrutural e progressivo
(FREITAS; PY, 2016).
O Quadro 3 apresenta as principais teorias estocásticas do processo de
envelhecimento e suas respectivas definições.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 24

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QUADRO 3. SUBCLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS ESTOCÁSTICAS DO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO

Teoria Definição

Essa teoria define que quanto mais desgaste uma célula sofre,
maior é o comprometimento em sua sobrevida, que pode estar
Teoria do uso e desgaste
relacionado ao uso contínuo e ininterrupto das células, sendo a
principal causa de envelhecimento (FREITAS; PY, 2016).

Define que em virtude de falhas na reparação celular, algumas


macromoléculas, como as proteínas, podem sofrer alterações
Teoria das modificações na sequência de aminoácidos ou modificações na organização
proteicas dessas moléculas e, com isso, interferirem no funcionamento
do organismo. Além disso, a atividade proteica parece ficar mais
lenta com o processo de envelhecimento (FREITAS; PY, 2016).

Essa teoria define que alguns fatores orgânicos podem causar


alterações na composição do DNA e nas células somáticas. Falhas
Teoria da mutação
na reparação ou anomalias existentes podem causar golpes
somática e do dano ao
aleatórios sobre as células, que comprometem a expressão
DNA
genética e, consequentemente, promovem o envelhecimento
celular (FREITAS; PY, 2010).

Essa teoria justifica que erros na síntese de proteínas levam


a uma redução progressiva da função celular, tendo maior
Teoria do erro catastrófico importância quando afeta as proteínas envolvidas na síntese
de DNA, resultando no surgimento de disfunções celulares e
patologias (MOTA; FIGUEIREDO; DUARTE, 2004).

Sugere que envelhecimento ocorre devido às células adultas (já


diferenciadas) se desviarem de seus processos de diferenciação,
Teoria da desdiferenciação causando uma síntese de proteínas inadequada ou desnecessária,
que no decorrer do tempo podem interferir na atividade celular,
levando à morte (FREITAS; PY, 2016).

Postula que o envelhecimento é resultado dos efeitos deletérios


que as espécies reativas de oxigênio causam sobre as organelas
celulares, de modo que essa oxidação pode causar lesões em
Teoria da dano oxidativo
proteínas, no DNA e em outras estruturas, predispondo o
surgimento de doenças, reduzindo a longevidade e interferindo
negativamente no processo de envelhecimento (FREITAS; PY, 2016).

Teorias sistêmicas do processo de envelhecimento


As teorias sistêmicas se baseiam na gênese do envelhecimento de modo
encadeado e organizado, estando relacionado a um declínio de função de
alguns sistemas específi cos, como os sistemas nervoso, endócrino e imu-
nológico, que desempenham a coordenação de todos os demais sistemas,
estando, inclusive, envolvidos no sistema de defesa do organismo (FREITAS;
PY, 2016).

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O Quadro 4 apresenta as principais teorias sistêmicas do processo de
envelhecimento e suas respectivas definições.

QUADRO 4. SUBCLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS SISTÊMICAS DO PROCESSO DE


ENVELHECIMENTO

Teoria Definição

Defende que a longevidade está ligada ao metabolismo, sendo que as


taxas metabólicas mais altas estariam relacionadas a um maior risco de
Teoria metabólica mortalidade. Nesse sentido, afirma-se que níveis mais baixos de glicemia,
de temperatura corporal e o declínio de alguns hormônios estejam
associados a maior longevidade (FREITAS; PY, 2016).

Envolve uma série de justificativas relacionadas à expressão genética


responsáveis pelas alterações de envelhecimento. Além disso, essa teoria
Teoria genética afirma que os fatores ambientais, emocionais e alimentares, assim como
o estilo de vida, podem influenciar na velocidade do envelhecimento do
organismo (FREITAS; PY, 2016).

Defende que o envelhecimento é o resultado do declínio de diversas


Teoria funções hormonais, uma vez que os hormônios possuem um papel
neuroendócrina essencial no trofismo e na manutenção dos tecidos e sua deficiência pode
causar a deterioração tecidual (MOTA; FIGUEIREDO; DUARTE, 2004).

Defende que o envelhecimento é causado pelo declínio de vários aspectos


Teoria da proteção imunológica, incluindo a diminuição de resposta das células
imunológica T, que resulta em menor resistência a infecções e doenças (MOTA,
FIGUEIREDO, DUARTE, 2004).

Considera que o processo de envelhecimento é resultante de variações


epigenéticas, ou seja, modificações herdadas que acometem o genoma
humano, mas que não causam alterações na sequência de DNA. Essa
Teoria epigenética
teoria defende ainda que hábitos de vida e até mesmo o ambiente
social podem modificar o funcionamento celular, tornando-se variações
epigenéticas (FREITAS; PY, 2016).

A apoptose é considerada um fenômeno de morte celular programada e


envolve uma cascata de eventos moleculares complexos com alterações
bioquímicas e morfológicas que resultam na autodestruição celular. Essa
Teoria da
teoria defende que o envelhecimento dos tecidos pode ser resultado
apoptose
de taxas maiores de apoptose celular e, mediante a ação de sinais
fisiológicos específicos, essas células podem se autodestruir, causando
envelhecimento dos tecidos e predisposição a doenças (FREITAS; PY, 2016).

Nesse contexto, conclui-se que, apesar da diversida-


de de teorias criadas ao longo dos anos para explicar a
gênese do envelhecimento, ainda não existe um en-
tendimento definitivo sobre o tema e, além disso, não
se sabe como essas teorias podem interagir entre si
(NASCIMENTO, 2020).

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Qualidade de vida e a relação com o processo de
envelhecimento
Envelhecer é uma das principais conquistas da humanidade. Segundo
Perracini e Fló (2019), a maior longevidade alcançada pela população pode
resultar em processos de envelhecimento marcados por dependência, inca-
pacidades, altas taxas de prevalência de doenças crônico-degenerativas, en-
tre outras implicações que acometem as diversas dimensões do ser humano.
Desse modo, o surgimento dessas implicações acaba interferindo de modo
negativo na qualidade de vida do idoso.

Conceito de qualidade de vida aplicado ao idoso


Segundo a OMS (2005), a qualidade de vida é entendida como a percepção
que o paciente possui sobre sua posição na vida, considerando o contexto de
cultura, de valores, de expectativas, padrões e preocupações. Por se tratar de
um conceito muito amplo, incorpora diversas variáveis, incluindo a dimensão
de saúde física, relações sociais, estado psicológico, nível de dependência, con-
dições do ambiente em que vive, entre outros. Quando relacionada à saúde, a
qualidade de vida se refere aos impactos que o estado de saúde gera na capa-
cidade de se viver plenamente (PERRACINI; FLÓ, 2019).
Quando esse conceito é aplicado ao processo de envelhecimento, busca-se
compreender de que modo se estabelece a relação entre a qualidade de vida e
a velhice. Para Perracini e Fló (2019), o envelhecimento não é sinônimo de redu-
ção de qualidade de vida, assim como não é sinônimo de perda de autonomia e
dependência, pois é possível encontrar um largo espectro de idosos com dife-
rentes condições de autonomia e independência, que variam desde totalmente
dependente até totalmente independente.
Todavia, há de se pontuar que os idosos estão mais expostos a
riscos de perdas de domínios físicos e intelectuais decor-
rentes do próprio processo de envelhecimento fisioló-
gico, tornando-os mais vulneráveis a alterações que
comprometem a sua capacidade funcional, autonomia
e independência.

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Um exemplo de implicações fisiológicas esperadas no envelhecimento são as
modificações anatomofisiológicas do sistema musculoesquelético, que causam
redução da massa muscular e da mobilidade articular, contribuindo para a redu-
ção da capacidade funcional e, consequentemente, influenciando na qualidade
de vida.
Além das implicações físicas, o processo de envelhecimento pode cursar com
alterações na saúde mental e cognitiva, sendo que os pacientes podem apresen-
tar alterações em relação à autonomia e à independência, uma vez que possuem
fundamental importância na execução de tarefas do dia a dia, interferindo em
diferentes graus na capacidade funcional do paciente (PERRACINI, FLÓ, 2019).

Avaliação da qualidade de vida


Avaliar a qualidade de vida de idosos é útil para que se possa estabelecer
intervenções específicas sobre os fatores que influenciam negativamente em
sua saúde e bem-estar.
Para isso, pode-se empregar escalas de caráter multidimensional que ava-
liam diversos aspectos relacionados à qualidade de vida dos pacientes. Rebe-
latto (2007) indica que as escalas mais recomendadas são:
• Questionário de qualidade de vida ( World Health Organization Qua-
lity of Life - WHOQOL), da OMS, estruturado em cem questões em sua versão
completa, ou 26 questões em sua versão reduzida, que avaliam seis domínios
relacionados à qualidade de vida: domínio físico, psicológico, independência,
relações sociais, ambiente e espiritualidade;
• Quality of life profile (perfil de qualidade de vida), do Centre of Health
Promotion, trata-se de uma escala destinada a adultos e idosos e avalia três
domínios: autodescrição, conexões com o ambiente e metas, expectativas e
aspirações.

DICA
É importante para todo profissional da saúde conhecer como esses ins-
trumentos de avaliação da qualidade de vida são estruturados e como
colaboram no diagnóstico e tratamento, promovendo intervenções ade-
quadas no atendimento individual do paciente. O WHOQL é um excelente
instrumento para promover melhor qualidade de vida à população geral e,
principalmente, de idosos em todo o mundo.

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Bioética aplicada ao envelhecimento
Em síntese, o termo bioética se refere a uma ciência que tem como objetivo
primordial indicar quais são os limites e as finalidades da intervenção do homem
sobre a vida animal, humana e ambiental, identificando valores e riscos.
A bioética busca facilitar o enfrentamento de questões de cunho ético que co-
mumente surgem na prática profissional. Com isso, é possível enfrentar dilemas
e conflitos na área da saúde de modo mais efetivo e ético. Todavia, vale ressaltar
que a aplicação da bioética na prática profissional não visa impor regras de com-
portamento, mas por meio dela se pretende subsidiar decisões e comportamen-
tos sobre o cuidado com a vida e sua relação com os conflitos éticos.

Conceitos básicos em bioética


É importante destacar alguns conceitos para que sejam sempre lembrados
no enfrentamento das questões bioéticas, são eles:
• Toda a pessoa é única, ou seja, as pessoas são diferentes entre si em rela-
ção a gênero, cor, raça, entre outras características e também no que se refere
às necessidades, anseios e objetivos e, desse modo, devem ser tratadas indivi-
dualmente, tendo suas particularidades respeitadas;
• O ser humano é provido de dignidade, o que na prática significa que cada
pessoa possui valor pelo simples fato de existir;
• Cada pessoa é composta de diversas dimensões (biológica, psicológica, so-
cial, moral e espiritual) e a junção dessas dimensões dá origem a um ser único.
Esses conceitos permitem compreender que a conduta profissional deve se
pautar no respeito às características individuais de cada pessoa. Para garantir
o respeito à individualidade da pessoa, à dignidade e às suas diversas dimen-
sões, a bioética faz utilização de ferramentas para facilitar essa abor-
dagem. Essas ferramentas, chamadas de princípios da bioética,
são (STAPENHORST, 2017):
• Princípio da beneficência: entendido como uma
dupla obrigação em que não se deve causar danos e
deve-se maximizar o número de benefícios e minimi-
zar os prejuízos;

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• Princípio da autonomia: esse princípio se pauta no poder e liberdade
de decisão que o paciente possui, para isso, o profissional deve explicar de-
talhadamente todas as questões relativas às condutas, tratamentos e orien-
tações e certificar-se de que a pessoa realmente compreendeu as questões
colocadas;
• Princípio da justiça: refere-se ao conceito de equidade, que represen-
ta dar a cada indivíduo o que lhe é necessário, considerando que as pes-
soas apresentam necessidades diferentes e, portanto, precisam de condu-
tas e tratamentos distintos, conforme suas particularidades.
Após compreender que cada pessoa é única, possui dignidade e é forma-
da por diversas dimensões, deve-se considerar esses três princípios bási-
cos da bioética para tomar as decisões adequadas. Visto isso, o profissional
deve ser capaz de responder algumas perguntas:
• Como profissional, estou oferecendo a melhor opção de tratamento ao
paciente, conforme as necessidades dele?
• O paciente detém conhecimento para decidir sobre o tratamento/con-
duta que indiquei?
• Minha conduta profissional está sendo justa?
• Minha atuação profissional junto ao paciente está fundamentada em
princípios éticos?
Essas questões são empregadas diariamente na prática profissional e,
nos últimos anos, vem sendo muito aplicadas sobre o processo de envelhe-
cimento, especialmente pelo crescente número de pessoas na faixa etária
acima de 60 anos.
Segundo Saqueto et al. (2013), considerando essa abordagem, a bioética
pode ser vista como uma ferramenta eficaz para promover reflexão sobre o
processo de envelhecimento, permitindo que o paciente idoso seja respei-
tado em todas as suas dimensões.
Entre as questões bioéticas mais abordadas no processo de
envelhecimento, destacam-se as questões relativas a:
relações familiares do idoso, pesquisas envolvendo
idosos, aspectos relacionados à morte, a autonomia
de idosos e as questões envolvendo a relação entre
profissionais de saúde e o paciente idoso.

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Relação profissional de saúde e paciente idoso
Todos os profissionais de saúde, incluindo o fisioterapeuta, estabelecem al-
gum tipo de relação com os pacientes idosos, com seus familiares, cuidadores
e, ainda, com os demais membros da equipe interdisciplinar. Sobre essas rela-
ções, alguns pontos relacionados à bioética são relevantes e devem ser respei-
tados (GOLDIM, 2000):
• Veracidade: consiste em transmitir informações verdadeiras, reais e ho-
nestas ao paciente. Quando se fala da relação entre profissional de saúde e
paciente idoso, muitas vezes surge o dilema de dizer ou não a verdade para o
paciente, para preservá-lo diante de más notícias. Portanto, cabe ao profissio-
nal desenvolver habilidades a fim de conseguir fornecer informações verdadei-
ras ao paciente, causando o menor sofrimento possível. A não veracidade das
informações pode impedir o paciente de tomar decisões importantes referente
ao tratamento, às condutas ou sobre sua vida pessoal, ou seja, pode impedir
que o paciente e sua família se organizem para acontecimentos prováveis, in-
cluindo o processo da morte. Deve-se considerar ainda que o paciente também
possui o direito de não receber informações sobre sua saúde, tratamento ou
conduta, caso essa seja a sua vontade, que deve ser igualmente respeitada;
• Privacidade: é definida como a limitação do acesso às informações do
paciente, ao acesso à própria pessoa, às informações sobre a intimidade e o
anonimato, de modo que pessoa tenha direito de não ser observada sem a sua
devida autorização;
• Confidencialidade: é definida como a garantia que o paciente possui de
resguardo das informações dadas, assim como a proteção contra uma possível
revelação não autorizada. É importante que a confidencialidade do profissional
seja fiel ao paciente, considerando que cabe apenas a ele a decisão de revelar
ou não suas informações, o que deve ser respeitado mesmo em situações de
incapacidade ou após a sua morte;
• Humanização da relação: considera-se que a relação entre profissionais
de saúde e pacientes idosos implica em mudanças no modo de atenção ao
paciente que passa a ser integral, mais humana, em equipe, respeitando as
individualidades e, ainda, privilegiando uma atenção mais humanística e ética
ao paciente.

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O respeito a esses aspectos permite uma relação de vínculo, de confiança
e, sobretudo, de respeito às questões éticas envolvidas no atendimento de pa-
cientes idosos e, portanto, devem ser cumpridas pelos profissionais.

Relação profissional paciente idoso frente ao processo


de morte
Essa relação de vínculo, confiança e respeito que se estabelece na relação
entre profissionais de saúde e pacientes idosos pode acontecer em diferentes
etapas do envelhecimento, incluindo o processo de morte.
Segundo Cocentino e Viana (2011), embora a velhice devesse ser esperada
e previsível para todos, esse processo se constitui de um fenômeno muitas ve-
zes assustador para os pacientes, assim como o fenômeno da morte, que gera
espanto e medo. Na velhice, o processo de morte acaba se aproximando mais
dos pacientes à medida que envelhecem.
Em geral, mesmo com os avanços da área da saúde, com a cura de doenças
e o prolongamento da vida, o processo de morte ainda é visto como um grande
tabu pela sociedade, principalmente por envolver inúmeras questões éticas.
Juntamente com a bioética, destaca-se uma ciência que se preocupa especi-
ficamente com o cuidado voltado ao processo de morrer, a tanatologia.

ASSISTA
A tanatologia foi estabelecida pela médica Elisabeth
Kübler-Ross (1926-2004), que afirmou ser a morte uma
condição inexorável do ser humano e que, por isso, todas
as pessoas devem ter seus sofrimentos minorados nesse
processo, mediante métodos de cuidados especiais. O
vídeo Elisabeth Kubler-Ross - Conversando com uma
paciente gravemente enferma, Nova Interview, 1983
apresenta um comovente diálogo com uma paciente
gravemente enferma e sua família.

A tanatologia é considerada uma área de estudos que surgiu e se consoli-


dou com o escopo de humanizar as relações entre o momento da morte e os
significados desse processo, considerando as características intrínsecas do ser
humano. Segundo Kovács (2003), por envolver questões éticas no processo de
morte, a tanatologia está intimamente ligada à bioética, sendo uma área de
abordagem interdisciplinar.

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Desse modo, a bioética pode ser empregada por meio dos princípios de
benefi cência, dignidade, competência e autonomia, de modo que se possa
trabalhar com a possibilidade de re-humanização do processo de morrer,
fazendo com que a morte seja vista como parte natural do processo da vida.
Kovács (2003) destaca alguns questionamentos, discussões e refl exões
comuns entre os profissionais de saúde sobre a morte em pacientes idosos,
tais como:
• Se a pessoa idosa possui o direito de decidir sobre sua própria morte;
• Se o paciente pode planejar o seu processo de morte;
• Se os profissionais de saúde podem atender um pedido de morte de
seus pacientes;
• Se os tratamentos para prolongamento da vida podem ser interrompidos.
As questões relativas às decisões sobre término da vida são únicas e
exclusivas do paciente e estão relacionadas a determinantes pessoais e re-
ligiosos. Entretanto os demais questionamentos relativos à assistência ao
paciente no processo de morte são norteados por questões legais (KOVÁCS,
2003).
Em casos de pacientes idosos em processo de adoecimento, em situações
em que não há prognóstico de cura, a bioética defende que nem sempre o
prolongamento da vida é a melhor decisão. Isso porque, segundo Poletto,
Santin e Betinelli (2012), é essencial que no processo de terminalidade, os
profissionais da saúde levem em consideração a qualidade de vida e bem-
-estar do paciente. A partir disso, surgiu a definição de cuidados paliativos.

Cuidados paliativos
O termo cuidados paliativos se refere a um conjunto de abordagens volta-
das à qualidade de vida dos pacientes, assim como de seus familiares,
frente aos problemas associados às doenças que ameaçam a conti-
nuidade da vida.
Sua atuação busca a prevenção e o alívio do sofrimen-
to por meio do tratamento da dor e de outros sintomas
e queixas de natureza física, espiritual ou psicossocial
(POLETTO; SANTIN; BETINELLI, 2012).

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Ressalta-se que até pouco tempo atrás os cuidados paliativos eram indica-
dos apenas para pacientes em fases terminais de algumas enfermidades. Con-
tudo, atualmente, indica-se sua aplicação durante todo o processo de doença,
desde o seu diagnóstico, quando necessário, até o processo de luto por meio
da atenção aos familiares e cuidadores.
Vale destacar que, nos cuidados paliativos, as práticas dos profissionais de
saúde vão muito além de intervenções voltadas às condições de saúde físicas
do paciente e envolvem práticas de vários profissionais de modo associado,
uma vez que as condições emocionais e espirituais se encontram extremamen-
te afetadas nessa fase. Segundo a Fiocruz (2008), os cuidados paliativos se pau-
tam em algumas abordagens:
• Abordagens integradas, interdisciplinares e multidimensionais;
• Abordagens que não prolongam a vida, mas melhoram a qualidade do
tempo de vida restante;
• Incluem ações que promovem o alívio de qualquer sinal ou sintoma que
esteja atrelado a sofrimento para o paciente, seja físico, emocional ou psíquico;
• Oferecem medidas voltadas aos familiares, dando suporte do processo de
adoecimento até a morte do paciente, inclusive, sendo muitas vezes necessá-
rias no processo de luto mesmo após a morte.
Com os cuidados paliativos, os pacientes gravemente enfermos possuem
grande possibilidade de terem aliviados seus sintomas incapacitantes, assim
como seus quadros de dor e, com isso, garante-se um mínimo de dignidade
no processo de morte pela melhoria em relação à qualidade de vida (KOVÁCS,
2003).
Assim, o emprego dos cuidados paliativos traz um grande progresso no que
se refere aos cuidados do fim da vida, de modo que cada pessoa possa viven-
ciar esse processo natural com respeito e autonomia, seguindo os princípios
da bioética.
Destaca-se que algumas doenças em fases avan-
çadas costumam demandar maiores abordagens em
relação aos cuidados paliativos, tais como: câncer, de-
mência, doenças cardíacas, doenças pulmonares crôni-
cas, insuficiência renal, insuficiência hepática, aids, entre
outros (Fiocruz, 2008).

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Atuação do fisioterapeuta no processo de envelhecimento
Considerando os aspectos multidimensionais do envelhecimento, ressalta-
-se que os profissionais da saúde enfrentam grandes desafios frente às novas
demandas da crescente população idosa em todo o mundo.
Com isso, é indispensável que haja uma atuação interdisciplinar no cuidado
e atenção ao paciente idoso. Nesse contexto, destaca-se o papel do fisiotera-
peuta, que possui uma abordagem relevante na prevenção, na promoção, na
reabilitação e nos cuidados paliativos voltados a esses pacientes, promovendo
uma melhora da independência, da funcionalidade, da autonomia e, conse-
quentemente, da qualidade de vida.

Atuação do fisioterapeuta nos diferentes tipos de


envelhecimento
Com relação às necessidades apresentadas pelos pacientes idosos na área
da fisioterapia, vale ressaltar que constituem um grupo com características
muito variáveis ao se considerar o processo de envelhecimento particular de
cada um.
Há pacientes que apresentam necessidades de assistência fisioterapêutica
decorrentes do processo de envelhecimento fisiológico e para esses casos os
objetivos de intervenção fisioterapêutica se pautam na manutenção e melhora
das condições físicas e na promoção de hábitos saudáveis que possam inter-
ferir no processo de envelhecimento e garantir independência, autonomia e o
máximo de capacidade funcional possível.
Nos pacientes em processo de envelhecimento patológico, o fisioterapeuta
deve realizar uma abordagem com base nas necessidades apresentadas pelo
paciente. Nesses casos, o fisioterapeuta pode atuar na reabilitação de distúr-
bios cinéticos funcionais de diferentes sistemas, como disfunções reumato-
lógicas, neurológicas, musculoesqueléticas, entre outras. Mas também pode
atuar na promoção e prevenção de agravos, evitando o surgimento de novas
afecções ou seu agravamento. Ainda, na presença de múltiplas doenças crôni-
cas, o fisioterapeuta pode atuar para minimizar o impacto dessas disfunções
sobre a capacidade funcional do paciente.

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Destacam-se ainda os pacientes idosos que podem precisar de uma abor-
dagem voltada aos cuidados paliativos. Nesses casos, o fisioterapeuta deve se
pautar na redução da dor e do sofrimento, podendo fazer uso de inúmeros re-
cursos terapêuticos voltados tanto para o paciente como para seus familiares.
Vale ressaltar que todas essas abordagens fisioterapêuticas visam promo-
ver ao paciente idoso uma melhor qualidade de vida, conforto e bem-estar.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 36

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Sintetizando
Nesta unidade, vimos que envelhecimento populacional tem se consolidado
como um fenômeno mundial com perspectivas de aumento considerável para os
próximos anos. Associado a isso, há também um fenômeno de transição epide-
miológica que caracteriza uma mudança na etiologia das principais condições de
morbidade e mortalidade, de etiologia infectocontagiosa para crônico-degene-
rativa. Esses dois fatores adjuntos geram novas demandas em serviços de saúde
e em estudos voltados a essa população.
Abordamos, também, os principais termos empregados no estudo do enve-
lhecimento e os conceitos gerais da gerontologia, importante ciência que, por se
tratar de uma área de estudo interdisciplinar, conta com a atuação de profissio-
nais de diferentes áreas de formação, englobando, inclusive, a atuação do fisio-
terapeuta, que trabalha junto aos demais profissionais para garantir melhores
condições na qualidade de vida do paciente idoso.
Com isso, o fisioterapeuta pode atuar sobre algumas variáveis que interfe-
rem na qualidade de vida do idoso, utilizando condutas para melhorar sua au-
tonomia, independência e funcionalidade e, assim, colaborar para que esse seja
capaz de realizar algumas atividades básicas de vida diária.
Como vimos, estudar e compreender o processo de envelhecimento em suas
diferentes dimensões é essencial a todos os profissionais que atuam na promo-
ção da saúde desses pacientes. É nesse sentido que os fisioterapeutas se depa-
ram com idosos que estão vivenciando um envelhecimento fisiológico, natural,
sem a presença de doenças associadas, com alterações fisiológicas não tão sig-
nificativas e esperadas pelo desgaste natural do organismo; além daqueles em
envelhecimento patológico, com presença de comorbidades diversas e maiores
limitações, demandando maiores intervenções.
Por fim, vale considerar que todas essas intervenções junto à população ido-
sa, devem acatar questões éticas, respeitando o paciente idoso em sua pleni-
tude. Para isso, o profissional deve estabelecer uma relação com o paciente e
com seus familiares, baseada no vínculo, na confiança e, sobretudo, no respeito,
mediante aos princípios da bioética.

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UNIDADE

2 ABORDAGEM
INTEGRAL DO
PACIENTE IDOSO

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Objetivos da unidade
Identificar os objetivos da avaliação multidimensional do idoso;
Compreender o atendimento integrado do paciente idoso;
Estudar as políticas sociais voltadas ao envelhecimento no Brasil;
Analisar pontos relevantes do Estatuto do Idoso, da Política Nacional do Idoso
e da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa;
Perceber a relação existente entre a pessoa idosa e a Previdência Social;
Estudar os impactos dos processos de envelhecimento sobre os principais
sistemas corporais;
Reconhecer as áreas de atuação do fisioterapeuta frente às diversas
patologias que podem acometer os sistemas do organismo do idoso;
Apontar os principais alvos da reabilitação em idosos e quais os fatores que
influenciam esse processo.

Tópicos de estudo
Avaliação multidisciplinar do Envelhecimento dos sistemas
idoso orgânicos
Objetivos da avaliação multi- Envelhecimento do sistema
disciplinar osteomioarticular
Domínios a serem avaliados na Envelhecimento do sistema
AGA cardiorrespiratório
Envelhecimento do sistema
Tratamento integrado do idoso nervoso
Determinantes do envelheci- Envelhecimento do sistema
mento e envelhecimento ativo tegumentar
Serviços de saúde institucio-
nais e comunitários Reabilitação na saúde do idoso
Alvos da reabilitação em geria-
Políticas sociais na velhice tria e gerontologia
Política Nacional do Idoso Fatores que influenciam a rea-
Estatuto do Idoso bilitação
Política Nacional de Saúde da Constituição e perfil da equipe
Pessoa Idosa de reabilitação
Previdência Social Áreas de atuação da fisioterapia
junto à reabilitação na saúde do
idoso

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Avaliação multidisciplinar do idoso
A avaliação dos pacientes idosos consiste em uma avaliação multidisciplinar
que inclui a análise de várias dimensões envolvidas direta ou indiretamente
na sua saúde e, por isso, é definida como uma avaliação de caráter multidis-
ciplinar. Segundo Perracini e Fló (2019), ela também é denominada avaliação
geriátrica-gerontológica abrangente ou, para Freitas e Py (2016), avaliação ge-
riátrica ampla (AGA), avaliação geriátrica multidimensional (AGM) ou avaliação
geriátrica global (AGG).
Essa avaliação faz parte do manejo clínico de pacientes idosos e pode ser
realizada por diversos profissionais da área da saúde, que executam a aborda-
gem dos pacientes de maneira conjunta; tem como objetivo avaliar as princi-
pais dimensões envolvidas na saúde dos idosos, como: capacidade funcional,
condição física, função cognitiva, estado emocional e condições socioambien-
tais em que estão inseridos.
Em relação às indicações, orienta-se que a AGA seja feita por todos os pa-
cientes idosos, previamente a qualquer intervenção. Ressalte-se que a AGA está
indicada para todos, mas é de extrema valia para os idosos frágeis, uma vez que
costumam ter problemas de saúde mais complexos e, dessa forma, trata-se de
pessoas mais vulneráveis. Para a realização dessa avaliação, usam-se ferramen-
tas avaliativas capazes de detectar precocemente sinais que interferem na saúde
do idoso, como: sinais de demência, delirium, efeitos colaterais de medicamen-
tos, fragilidade, déficits visuais e auditivos, síndromes geriátricas, alterações de
capacidade funcional, entre inúmeras outras alterações.
A AGA do idoso permite, além de identificar tais sinais, quantificá-los e, com
isso, determinar as principais necessidades exibidas pelo paciente, consideran-
do as múltiplas dimensões envolvidas no processo de envelhecimento. De modo
a padronizar as ferramentas empregadas durante a avaliação, são aproveitados
instrumentos avaliativos universais (de ótima confiabilidade e segurança). Para
tanto, operam-se instrumentos – como testes, escalas e índices – a fim de avaliar
cada dimensão vinculada ao envelhecimento.
Os profissionais da área da saúde, nesse sentido, conseguem utilizar a AGA,
coletando e organizando informações clínicas importantes, para identificar pro-
blemas de saúde – de maneira precoce – e compreender como as diferentes di-

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mensões estão influenciando o processo de envelhecer do idoso, criando um
perfil geral do estado de saúde do paciente. Para a avaliação, em geral, indica-se
que o idoso esteja acompanhado por um familiar, cuidador ou outras pessoas
engajadas em seu cuidado; além disso, é fundamental que seja aplicada previa-
mente a realização de qualquer orientação ou intervenção terapêutica, pois as
intervenções serão planejadas com base nessa avaliação
Conforme Perracini e Fló (2019), o processo de AGA compreende as seguin-
tes fases: inicialmente, é efetuada a explicação dos objetivos da avaliação para
o paciente e cuidador/familiar, seguida da obtenção de informações mediante
entrevista e, posteriormente, são feitos o processo de avaliação, análise dos re-
sultados e, por fim, o planejamento das intervenções terapêuticas.

Objetivos da avaliação multidisciplinar


Ao executar a AGA, é possível, entre inúmeros objetivos, identificar as condi-
ções funcionais do paciente que podem estar associadas à presença de doenças
e as que apenas fazem parte do processo de envelhecimento fisiológico. A partir
disso, profissionais das equipes interdisciplinares de atenção à saúde do idoso
são capazes de desenvolver um plano adequado de intervenção, que objetiva
desde a prevenção, de doenças, do tratamento das enfermidades presentes, até
intervenções que retardem o aparecimento de incapacidades funcionais, quan-
do ainda não presentes, ou amenizá-las e revertê-las, caso isso seja possível.
Além de identificar as condições
funcionais do idoso e estabelecer um
plano de intervenções, a prática da
AGA permite: identificar idosos em ris-
co de agravo à saúde, prever prognós-
tico funcional, monitorar mudanças
clínico-funcionais no decorrer do tem-
po, aumentar a satisfação do idoso
com o cuidado ofertado pela equipe
interdisciplinar, localizar as áreas de maior necessidade de reabilitação, reco-
mendar cuidados com o paciente idoso, direcionar modificações ambientais,
definir critérios de institucionalização etc.

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Domínios a serem avaliados na AGA
Para lidar com a complexidade dos problemas encontrados, os profissionais
das equipes interdisciplinares devem levar em consideração todas as dimen-
sões avaliativas da AGA, realizando a análise de diversos domínios que estão
contemplados nesse esquema de avaliação. Dentre os contemplados, estão os
domínios físicos, funcionais, mentais, cognitivos, sociais e ambientais. Freitas e
Py (2016) destacam que a AGA consegue ter uma estrutura levemente variável,
dependendo da expertise da equipe que deve utilizá-la e do público de idosos
em que ela é aplicada – podendo ser subtraído um ou outro componente.
A AGA, contudo, precisa ser feita sempre com o uso de instrumentos pa-
dronizados, sendo que carecem ser avaliadas, no mínimo, as quatro principais
dimensões relacionadas ao envelhecimento, que são: capacidade funcional,
condições médicas, aspecto social e saúde mental.
Domínio físico funcional
Geralmente é avaliado por instrumentos que medem a capacidade funcio-
nal do paciente mediante análise de desempenho das atividades de vida diária
(AVDs) e das atividades de vida instrumentais (AVIs), bem como os aspectos
relativos à mobilidade do paciente idoso (PERRACINI; FLÓ, 2019). Para isso, su-
gere-se a aplicação de instrumentos avaliativos como a Escala de Katz, Índice
de Barthel, Escala de Lawton e Brody e a Medida de Independência Funcional
(REBELATTO, 2007). O Quadro 1, referente à avaliação do domínio físico funcio-
nal, mostra uma síntese dos instrumentos usados.

QUADRO 1. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO FÍSICO FUNCIONAL

Instrumento de avaliação Criar sinergia e mobilizar recursos e competências

Avalia atividades da vida diária, como comer, vestir-se,


Escala de Katz tomar banho, realizar transferências, ir ao banheiro e
controlar contingências.

Avalia AVD com base em domínios de autocuidado,


Escala de Barthel transferências, locomoções, controle de esfíncteres, co-
municação e cognição.

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Avalia atividades instrumentais de vida diária, graduan-
Escala de Lawton e Brody do cada atividade realizada sem ajuda, com ajuda total
ou sem capacidade de realizar.

Medida de Independência Ser responsável, assumindo os riscos e as consequências


Funcional (MIF) de suas ações, sendo por isso reconhecido.

Fonte: PERRACINI; FLÓ, 2019; BESDINE, 2019; SILVA et al., 2008; MINOSSO et al., 2010. (Adaptado).

Em avaliações destinadas a idosos, indica-se, em geral, a avaliação dos aspec-


tos de funcionalidade elencados inicialmente. Uma avaliação do domínio físico
funcional, entretanto, pode ser feita de maneira mais aprofundada, incluindo ava-
liação de mobilidade, equilíbrio e marcha nos pacientes de maior fragilidade. Nada
impede, no entanto, que sejam empregados todos esses instrumentos durante a
avaliação de paciente em processo de envelhecimento fisiológico.
O Quadro 2 apresenta exemplos de instrumentos que também devem ser uti-
lizados na avaliação do domínio físico funcional, como teste de equilíbrio e Marcha
de Tinetti, Escala de Lawton, teste Timed Up and Go e Escala de Berg.

QUADRO 2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO FÍSICO


FUNCIONAL – AVANÇADA

Instrumento de avaliação Descrição

Teste de equilíbrio e Marcha de O teste de Tinetti é usado para avaliar o equilíbrio e as


Tinetti anormalidades da marcha em idosos.

Avalia AIVD, como usar o telefone, ir às compras, prepa-


rar refeições, fazer atividades domésticas, lavar roupa,
Escala de Lawton
cuidar dos medicamentos, locomover-se e cuidar
do dinheiro.

Avalia o tempo que o idoso leva para executar uma ati-


vidade motora específica e, com base no tempo que o
Teste Timed Up and Go
paciente leva para executar a ação, sugere-se a classifi-
cação da independência.

Avalia o controle postural e o equilíbrio dinâmico, além


Escala de Berg
da flexibilidade.

Fonte: PERRACINI; FLÓ, 2019; BESDINE, 2019; SILVA et al., 2008; MINOSSO et al., 2010. (Adaptado).

Além dessas avaliações, no domínio físico funcional devem ser analisados


os aspectos relacionados à perda auditiva, visual e ao estado nutricional do
paciente idoso (PERRACINI; FLÓ, 2019). Tudo isso porque as alterações visuais

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e auditivas também impactam a saúde, uma vez que pessoas nessas condições
possuem maior dependência, restrições de mobilidade, privação nas ativida-
des diárias, depressão e, portanto, menor autonomia, o que interfere de ma-
neira negativa na qualidade de vida.
Para a avaliação desses dois aspectos, sugere-se a utilização da Escala de
Snellen (para análise da acuidade visual) e o questionário Hearing Handicap In-
ventory for the Elderly – Screening Version (que avalia os impactos emocionais
e sociais ligados à perda auditiva). O estado nutricional do paciente também
está relacionado à condição de saúde, pois vários fatores podem comprome-
tê-lo: como o uso de medicações, comprometimento visual e de mobilidade,
isolamento, doenças associadas etc. Indica-se, portanto, a realização de testes
como a Mini Avaliação Nutricional, índice de massa corporal e circunferência de
panturrilha e cintura (FREITAS; PY, 2016).
Domínio mental e cognitivo
A cognição possui um papel importante na saúde da pessoa idosa, pois está
diretamente relacionada à capacidade de execução de tarefas cotidianas. Pa-
cientes com comprometimentos mentais e/ou cognitivos, nesse sentido, cos-
tumam ter impactos negativos no que tange à independência funcional. Para
avaliar tal domínio na AGA, aconselha-se a utilização do mini teste mental e da
Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (PERRACINI; FLÓ, 2019). O Quadro 3
descreve os testes empregados na avaliação do domínio mental e cognitivo.

QUADRO 3. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO MENTAL E COGNITIVO

Instrumento de avaliação Descrição

Avalia a função cognitiva do paciente idoso por meio


de domínios, como orientação espacial e temporal,
Mini Exame do Estado Mental memória imediata e de evocação, cálculo, linguagem-
-nomeação, repetição, compreensão, escrita e cópia de
desenho.

Consiste na aplicação de perguntas e, com base nas res-


Escala de Depressão Geriátrica
postas, classifica-se o paciente em normal deprimido ou
Abreviada
muito deprimido.

Fonte: PERRACINI; FLÓ, 2019.

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Domínio socioambiental
A avaliação do domínio social é bastante ampla e envolve as relações, ati-
vidades humanas, habilidades sociais e apoio familiar. Pacientes idosos com
melhores avaliações nesse domínio possuem maior autoestima, melhor senso
de controle, melhor capacidade de enfrentamento de problemas, e, ainda, me-
nor impacto por estresse. Nesse domínio, o instrumento a ser utilizado na AGA
refere-se ao mapa mínimo de relações do idoso, que avalia a rede de suporte
social do paciente e identifica vínculos, possibilitando que os profissionais de
saúde consigam potencializar essa rede e prevenindo ou amenizando situa-
ções de isolamento social.
Em relação ao domínio ambiental, avaliam-se situações do ambiente em
que o idoso está inserido e que, de algum modo, podem interferir nas condi-
ções de saúde. Nesse caso, é possível avaliar as condições de segurança, priva-
cidade, conforto, funcionalidade, orientação espacial etc. Para tanto, Perracini
e Fló (2019) apontam o emprego do questionário da avaliação ambiental, adap-
tado do Home Environment Survey.

EXEMPLIFICANDO
No domínio físico funcional da AGA, é importante avaliar a dor do pa-
ciente idoso, pois interfere no sono, alimentação, mobilidade e, ainda,
está relacionada à depressão e menor socialização, impactando negati-
vamente na qualidade de vida. Por isso, deve-se classificar o tipo de dor
(neuropática, nociceptiva, inespecífica ou psicologicamente mediada), a
localização, a intensidade e o impacto que traz para os demais domínios
(REBELATTO, 2007).

Tratamento integrado do idoso


Baseando-se nos diversos domínios que devem compor a AGA voltada ao
atendimento de idosos, percebe-se que vários aspectos conseguem interferir na
saúde deles. Tais aspectos vão muito além de determinantes pessoais, como a
presença de doenças, condições físicas e mentais; abrangem pontos interseto-
riais, como as condições de vida do idoso, incluindo circunstâncias sociais e am-
bientais em que o paciente está inserido, por exemplo. Torna-se compreensível,
portanto, que a abordagem voltada à assistência à pessoa idosa paute-se nesses

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múltiplos aspectos determinantes para a saúde, a fim de garantir um atendimen-
to integral ao paciente, e não apenas traçado nos aspectos individuais (presença
de doença, idade, gênero etc.).

Determinantes do envelhecimento e envelhecimento ativo


Nessa perspectiva, compreende-
-se que vários conceitos agem como
determinantes durante o processo
de envelhecimento, interferindo em
graus variáveis na autonomia, inde-
pendência, qualidade de vida e na
saúde dos pacientes idosos. Entre os
fatores, a Fiocruz (2008) elenca os de-
terminantes de saúde do idoso em di-
ferentes categorias:
• Comportamentais: tabagismo, etilismo, prática de exercício físicos, ali-
mentação, saúde bucal etc.;
• Ambientais: condições de moradia, de transporte, local de residência etc.;
• Sociais: educação, alfabetização, apoio social, maus-tratos etc.;
• Econômicos: trabalho, renda e proteção social;
• Pessoais: genética, condição cognitiva e condição biológica.
Analisando que o processo de envelhecimento chega a ser afetado por es-
ses fatores determinantes, observa-se que o tratamento deve respeitar tal con-
dição; por isso, as ações precisam ser interdisciplinares e intersetoriais, consi-
derando que a qualidade de vida do paciente e a saúde vão além das demandas
unicamente de saúde (SBGG, s.d.). A atenção à pessoa idosa, nesse sentido,
pode incluir, por exemplo, ações de meio ambiente relacionadas às condições
de esgoto e tratamento de lixo existente no local de moradia do paciente.
Por isso, pode-se dizer que as abordagens a serem efetivas devem respeitar
a AGA e considerar as variantes determinantes do envelhecimento, conhecen-
do, desse modo, o paciente idoso em todo o contexto. Surge, assim, a impor-
tância das equipes que promovem assistência à pessoa idosa, atuando com
base em tais conceitos de determinantes de saúde e proporcionando um en-

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velhecimento ativo da população. Segundo a Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS) (2005), o termo envelhecimento ativo refere-se a um processo
de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança voltadas
à população, com o objetivo primordial de melhorar a qualidade de vida à me-
dida que as pessoas envelhecem, considerando os diversos fatores envolvidos
no processo de envelhecer.
Na prática, o envelhecimento ativo busca aumentar as chances de um pro-
cesso de envelhecer saudável, respeitando as condições comportamentais,
ambientais, sociais, econômicas e pessoais do idoso. O Diagrama 1 retrata
exemplos de fatores determinantes no envelhecimento ativo.

DIAGRAMA 1. FATORES DETERMINANTES DO ENVELHECIMENTO ATIVO

Gênero

Prevenção de doenças,
Renda, proteção social, Determinantes Serviços sociais e de
promoção da saúde e
trabalho econômicos saúde
acesso aos serviços

Estilo de vida: tabagismo,


Apoio social, violência e
maus tratos, educação e Determinantes sociais
Envelhecimento Determinantes atividade física,
alfabetização ativo comportamentais alimentação, saúde
oral, álcool etc.

Contexto urbano/rural, Genética, condição


serviços de transportes e Ambiente físico Determinantes pessoais biológica, capacidade
moradia segura cognitiva

Cultura

Fonte: FIOCRUZ, 2008, p. 144. (Adaptado).

As ações com esse foco devem ponderar os diferentes fatores que influen-
ciam o processo de envelhecer, e que, de algum modo, podem interferir na
autonomia, na independência e na qualidade de vida (SBGG, s.d.). Um exemplo
forte dessa influência dos determinantes de saúde no envelhecimento ativo diz
respeito ao peso que o estilo de vida, relacionado aos aspectos comportamen-
tais do paciente, possui sobre as condições de saúde. Pacientes que fumam,

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são sedentários, etilistas ou têm maus hábitos alimentares são mais vulnerá-
veis ao surgimento de diversas disfunções dos sistemas orgânicos, em virtude
dos malefícios causados por tais hábitos.

Serviços de saúde institucionais e comunitários


Considerando os diversos aspectos envolvidos na saúde da pessoa idosa,
e visando um tratamento integrado, destaca-se a importância da moradia,
trocar por vírgula surgindo a necessidade de locais especializados ao abrigo
desses pacientes. De acordo com a legislação brasileira, é obrigação da famí-
lia, comunidade, sociedade e Poder Público assegurarem ao idoso condições
que efetivem o direito à moradia.
O direito à moradia a que se refere a legislação está relacionado à mora-
dia com a família natural ou substituta, desacompanhado de sua família , ou,
ainda, em instituições públicas e privadas. Em situações em que o paciente
está desamparado pela sua família natural ou substituta ou está sozinho, o
Estado garante a assistência integral à moradia por meio de instituições es-
pecíficas (PERRACINI; FLÓ, 2019). Tais instituições são destinadas a pacientes
idosos quando há inexistência de família ou nos casos de carência de recursos
financeiros tanto do paciente quanto de sua família.
Instituições de longa permanência
Entre as instituições criadas com o objetivo de garantir o direito básico de
moradia ao idoso, estão as instituições de longa permanência (IPLs), locais
destinados a atendimento específico e integral de pacientes idosos, associa-
dos à presença de equipes interdisciplinares, que são compostas por diver-
sos profissionais de áreas distintas, de acordo com as necessidades. Nesses
ambientes, são oferecidos, além da moradia, serviços de saúde e
de assistência social e outras atividades que impactam de alguma
forma os fatores determinantes de envelhecimento ati-
vo, interferindo positivamente na saúde dos idosos,
como: atividades religiosas, de lazer, repouso, ali-
mentação, higiene, entre outras ações capazes de
melhorar as condições de saúde e qualidade de vida
dos pacientes.

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Nessas instituições, que podem ser de natureza pública, privada, filantrópica,
beneficente ou mista, os idosos permanecem em regime de internato, mediante
pagamento ou não. Em relação ao tempo de permanência nas ILPs, os idosos
permanecem por período indeterminado, dependendo das necessidades. Se-
gundo Perracini e Fló (2019), os idosos que se encontram nesses locais passam
a ser considerados idosos institucionalizados, podendo estar inserido neles por
vários motivos: vontade dos familiares (condições financeiras, laborais ou de re-
lacionamento); pela inexistência de familiares; falta de independência para viver
sozinho. O idoso pode também precisar ficar nas ILPs quando é essencial uma
reabilitação intensiva após alta hospitalar (antes de seu retorno ao domicílio).

EXEMPLIFICANDO
As ILPs devem promover e melhorar a qualidade de vida, manter a au-
tonomia, favorecer a livre expressão de vontade, possibilitar liberdade
de escolha ao idoso, gerar um ambiente aconchegante como se fosse a
própria casa do paciente, respeitar a privacidade, reconhecer o direito do
idoso a seus próprios pertences e garantir acesso ao melhor cuidado de
saúde de acordo com as necessidades, além de oferecer cuidado integral,
em vez de apenas atendimento médico (FREITAS; PY, 2016).

O fisioterapeuta é parte fundamental das equipes interdisciplinares, já que


atua na melhora de autonomia, independência e mobilidade dos idosos. Em ge-
ral, as pessoas atendidas nas ILPs apresentam-se fragilizadas ou em processo
de envelhecimento patológico, dadas as condições em que estão. Para Alves-
-Silva, Scorsolini-Comin e Santos (2013), verifica-se, na maioria dos casos, que o
perfil do idoso institucionalizado se caracteriza por situações de sedentarismo,
perda da autonomia e ausência de suporte familiar, o que resulta na ocorrência
de idosos com maior quantidade de agravos à saúde.
Hospitais-dia
Além das ILPs, há instituições chamadas de hospitais-dia, destinadas ao
atendimento de pacientes cujas famílias não possuem condições financeiras
ou de oferecer cuidados necessários, como moradia. Diferem-se das ILPs, en-
tretanto, pois nesse caso os idosos permanecem por um tempo previamente
determinado, baseando-se, é claro, em critérios médicos e sociais que justifi-
quem a estada do idoso (PERRACINI; FLÓ, 2019). Assim como nas ILPs, os hos-

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pitais-dia contam com equipes interdisciplinares variadas, com diversos profis-
sionais que realizam a assistência conforme as necessidades dos idosos.
Tanto as ILPs quanto os hospitais-dia cumprem o mesmo objetivo: o
de fornecer, além da moradia, um espaço integrado de atendimentos às
demandas relacionadas direta ou indiretamente à saúde do paciente ido-
so e, dessa forma, garantir um envelhecimento ativo com melhor quali-
dade de vida.
Serviços comunitários
Além dessas modalidades de instituições voltadas à assistência e aos
cuidados do idoso, existem serviços de natureza comunitária, cujo objetivo
primordial é promover a participação comunitária do idoso, ou seja, a con-
vivência com outros idosos. Por isso, é importante que os lugares gerem
a socialização dos idosos mediante ações destinadas a esse fim (BRASIL,
s.d.). Todos os serviços objetivam fornecer aos idosos melhores condições
de moradia, de assistência e, consequentemente, de saúde. Nesse tipo de
assistência, há programas como família acolhedora, casa lar, centros de
convivência, residências temporárias etc.

Políticas sociais na velhice


A legislação brasileira garante a proteção ao paciente idoso em diversos
aspectos. Segundo a legislação, o idoso tem o direito de envelhecer e, durante
o processo, ser protegido pelo Estado e resguardado pela sociedade, por meio
de leis e políticas que assegurem um envelhecimento digno. As primeiras cita-
ções dos direitos destinados à pessoa idosa começaram a aparecer na Cons-
tituição Federal de 1988, quando o idoso foi contemplado em alguns artigos,
que garantiam respeito à dignidade, ao não preconceito e ao voto facultativo a
partir dos 70 anos.
A garantia de direitos específicos para os idosos, contudo, apenas consoli-
dou-se por meio de outras legislações que surgiram nos anos seguintes, como a
Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que aprovou a Política Nacional do Idoso; a
Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, referente ao Estatuto do Idoso; Lei Fede-
ral nº 2.528, de 19 de outubro de 2006, aprovando a Política Nacional de Saúde
da Pessoa Idosa (PNSPI).

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Política Nacional do Idoso
Essa política, aprovada em 1994, foi criada de modo a assegurar os direitos
sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração
e participação da família, da sociedade e do Estado no dever de garantir que
o idoso tenha seus direitos relativos à cidadania, participação na comunidade,
respeito à dignidade, bem-estar e o direito à vida (BRASIL,1994).
Tal política defende que o processo de envelhecimento diz respeito à so-
ciedade em geral, sendo seu dever garantir os direitos dos idosos. Os idosos,
nesse sentido, não devem sofrer discriminação de qualquer natureza; as di-
ferenças econômicas e sociais entre eles precisam ser pontos de atenção dos
poderes públicos, uma vez que o Estado tem que sua assistência; o idoso deve
participar ativamente de organizações representativas; prioriza-se o atendi-
mento ao idoso por meio de suas próprias famílias em detrimento do aten-
dimento asilar; orienta-se a implementação de sistema de informações sobre
idosos, além de incentivarem-se pesquisas na área de envelhecimento, dado o
aumento do número de idosos (FIOCRUZ, 2008).

Estatuto do Idoso
Trata-se de uma lei orgânica do es-
tado brasileiro destinada à regulamen-
tação dos direitos das pessoas com 60
anos ou mais que vivem no país, surgi-
do de modo a ampliar os direitos cita-
dos primeiramente na Constituição Fe-
deral de 1988. É resultado do trabalho
interdisciplinar voltado a assegurar os
direitos fundamentais da pessoa idosa
em relação ao respeito à vida, além de
especificar direitos sobre transporte, educação, cultura, lazer, alimentação, saúde,
habitação, assistência social, bem como punição por crimes contra idosos.
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG – (2014) cita alguns
pontos importantes desse estatuto:

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• O reajuste das aposentadorias e dos benefícios da pessoa idosa deve aconte-
cer na mesma data do reajuste do salário mínimo;
• Assegura atenção integral à saúde do idoso por meio do Sistema Único de
Saúde (SUS), a partir do acesso universal e igualitário aos serviços de saúde, in-
cluindo atendimento especializado para a população idosa;
• Direito de gratuidade de transporte urbano, sendo que 10% dos assentos
deverão ser preferenciais ao indivíduo idoso;
• Prioridade na tramitação dos processos judiciais;
• Direito à moradia digna, seja familiar, seja em ILPs;
• Destinação de horários especiais em meios de comunicação para fins de
educação, informação e atividades artísticas e culturais para idosos;
• Orienta a formação de profissionais de diversas áreas com conteúdo volta-
do ao processo de envelhecimento, considerando a ação interdisciplinar;
• Proíbe a cobrança de valores diferenciados por planos de saúde para pa-
cientes idosos em virtude da idade;
• O idoso possui direito a acompanhante em caso de internação ou
observação em hospital;
• Obriga o Poder Público a fornecer gratuitamente medicamentos, prótese
e órteses necessários ao tratamento;
• Prioridade para a compra de moradia nos programas habitacionais, tendo
3% das unidades reservadas para idosos.
Em relação à punição contra crimes cometidos contra idosos, o esta-
tuto prevê punição para quem discriminá-los, deixar de prestar assistên-
cia, abandonar, expor a perigo à integridade e à saúde física ou psíquica do
idoso, apropriar-se ou desviar bens, induzir ou coagir a pessoa idosa sem
discernimento de seus atos (AGÊNCIA SENADO, 2006).

EXEMPLIFICANDO
O Estatuto do Idoso é uma das leis mais importantes no que
concerne à proteção aos direitos da pessoa idosa, pois
detalha os direitos que a pessoa idosa possui e as respon-
sabilidades do Estado e sociedade na garantia de proteção
ao idoso. Considerando sua importância, é fundamental que
todos os profissionais de saúde conheçam tal lei. Para mais
informações, acesse ao Estatuto do Idoso na íntegra.

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Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
Mesmo a saúde sendo um direito garantido a toda a população idosa desde a
Constituição de 1988, a legislação que trata desse tema especificamente só surgiu
com a Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006, que aprova a Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) (BRASIL, 2006).
Tal política garante os direitos do idoso e cria condições que promovem auto-
nomia, integração e participação efetiva na sociedade, além de reafirmar o direito
à saúde junto aos serviços do Sistema Único de Saúde. A PNSPI, nesse sentido,
orienta que órgãos e entidades do SUS elaborem e readequem planos, projetos
e atividades destinados a pessoas idosas, visando atuar sobre as principais alte-
rações apresentadas por elas, como a perda da capacidade funcional. A principal
finalidade dessa política é atuar na recuperação, manutenção e promoção da au-
tonomia e independência dos idosos, mediante ações coletivas e individuais de
saúde para esse fim, realizadas por profissionais de diversas áreas, baseando-se
nos princípios e diretrizes do SUS.
Fundamentando-se nisso, a PNSPI (BR ASIL, 2006), traz tais diretrizes
de atuação:
• Envelhecimento ativo e saudável;
• Atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa;
• Estímulo às ações intersetoriais;
• Fortalecimento do controle social;
• Garantia de orçamento destinado à saúde dos idosos;
• Incentivo a estudos e pesquisas voltados a idosos.
As diretrizes incluem avaliações, planejamento e ações na área da saúde e
demais áreas relacionadas ao envelhecimento (fatores determinantes do en-
velhecimento ativo), com atenção focada na prevenção, proteção, promoção
e reabilitação.

DICA
Para ampliar seus conhecimentos, faça a leitura na ínte-
gra da Lei nº 2.528, de 19 de outubro de 2006, que aprova
a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, de modo a
identificar outras informações importantes que auxiliem
na função de assistência ao paciente idoso.

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Previdência Social
A Previdência Social é uma política pública que oferece amparo por meio
de benefício monetário (aposentaria e outros benefícios) às pessoas quando
deixam de trabalhar, sendo por perda da capacidade para o trabalho, doen-
ça, invalidez, idade, morte e desemprego involuntário – mediante contribuição
(BRASIL, 2008). A primeira legislação que marca sua atuação é a Lei
Orgânica da Previdência Social: Lei nº 3.807, de 26 de agos-
to de 1960. Em seguida, em 1966, foi regulamentada e
houve a criação do Instituto Nacional de Previdência
Social, com vistas a organizar as atividades relacionadas
à Previdência Social no país.
Posterior a isso, com a Constituição de 1988, os serviços de amparo aos
cidadãos passaram a ser mais amplos, incluindo, além da previdência, a saúde
e assistência social, de modo que as ações tornaram-se mais extensas, aumen-
tando também a gama de pessoas amparadas. Atualmente, o amparo aos in-
divíduos é feito pelo benefício da aposentadoria, que insere-se nos benefícios
previdenciários, privativo da seguridade e devido aos segurados em geral, des-
de que satisfaçam às condições exigidas – condições que têm sido alteradas no
decorrer do tempo. O recebimento desse benefício está atrelado à idade e ao
tempo de contribuição (FREITAS; PY, 2016).
Além das aposentadorias pagas aos contribuintes idosos, a Previdência So-
cial é responsável pelo pagamento de outros benefícios destinados a pessoas
em situação de vulnerabilidade, objetivando garantir proteção social a essas
pessoas, incluindo a proteção de pessoas idosas. O benefício assistencial, tam-
bém chamado de benefício de prestação continuada, é um exemplo e serve
como um meio de amparo social pago pela Previdência Social ao paciente ido-
so. O benefício é regulamentado pela Lei nº 8.742/1993 – Lei Orgânica da Assis-
tência Social (LOAS) (BRASIL, 1993).
O fornecimento do benefício busca garantir o pagamento de um salário
mínimo mensal para pessoas com 65 anos ou mais que não possuem meios
de prover a própria subsistência (ou quando a família do idoso não tem con-
dições), de maneira que coloque esse idoso em paridade de condições sociais
com o restante da sociedade.

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Ressalta-se que, para obter tal benefício, ele não precisa ter contribuído com o
INSS; apenas deve comprovar idade igual ou superior a 65 anos, vivenciar estado
de necessidade, conforme os critérios definidos pela legislação (renda familiar per
capita inferior a ¼ do salário mínimo) e não receber outro tipo de benefício da Pre-
vidência Social (BRASIL, 2019). Por meio do pagamento desse benefício assistencial
aos idosos, a previdência cumpre um papel essencial dentro do conceito ampliado
de determinantes de envelhecimento ativo, uma vez que desempenha especifica-
mente sobre a proteção social do idoso.

Envelhecimento dos sistemas orgânicos


O processo de envelhecimento, mesmo que fisiológico, vem acompanha-
do de alterações nos sistemas do organismo, acarretando declínios e com-
prometimentos das funções desempenhadas por tais sistemas. As alterações
são consideradas normais, ou seja, são fisiológicas e esperadas à medida que
os sistemas envelhecem. Dependendo da intensidade do comprometimento,
pode haver interferência na autonomia, na independência e na capacidade
funcional do paciente idoso.

Envelhecimento do sistema osteomioarticular


Em relação ao sistema osteomioarticular, o processo de envelhecimento cau-
sa uma série de modificações estruturais no tecido ósseo, articular, conjuntivo
e muscular. Acerca do sistema ósseo, espera-se que o envelhecimento origine
uma redução na densidade mineral óssea, que se caracteriza por um desequi-
líbrio entre o processo de modelagem e remodelagem óssea. O desequilíbrio
pode ocorrer como resposta a maior atividade de células chamadas osteoclastos
(responsáveis pela reabsorção óssea), pela menor atividade de células denomi-
nadas osteoblastos (responsáveis pela síntese de matriz óssea) ou, ainda, por
uma combinação de ambas.
A redução da densidade mineral óssea em idosos tem início na fase adulta e
torna-se mais intensa à medida que os anos passam, recebendo o nome de os-
teopenia fisiológica (ROSSI, 2008). Ela afeta tanto os ossos trabeculares como os
ossos corticais; entretanto, não acontece de maneira uniforme em todos os tipos

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de ossos, sendo que, antes dos 50 anos, a perda é mais evidente em ossos tra-
beculares e, após essa idade, a perda é mais evidente em ossos corticais. Outro
fator importante é que a osteopenia fisiológica se dá em diferentes intensidades,
dependendo do gênero. Nas mulheres, a perda de massa óssea é mais marcante
e mais intensa depois da menopausa graças à queda dos níveis hormonais de es-
trogênio, que ativam os osteoclastos, aumentando as taxas de reabsorção óssea.
Segundo Villa-Forte (2019), as alterações tornam os ossos mais frágeis e mais
predispostos a fraturas, e podem podem ser intensificadas pela redução de ní-
veis de vitamina D em idosos, condição frequentemente encontrada nesses pa-
cientes. Em níveis normais, a vitamina D auxilia no metabolismo ósseo; níveis re-
duzidos predispõem a maior fragilidade óssea. Na cartilagem, o envelhecimento
promove alterações importantes, tornando-a menos resistente e mais suscetível
a lesões. Para Rebelatto (2007), isso ocorre pela redução do número de condró-
citos, pelo espessamento de fibras de colágeno e pela redução de componentes
da cartilagem, como os proteoglicanos que deixam a cartilagem mais fina e com
a presença de rachaduras.
Em condições normais, a cartilagem articular possui uma capacidade de repa-
ração tecidual muito limitada, dadas as suas características; contudo, tal capacida-
de limitada é ainda mais intensa à medida que o tecido cartilaginoso envelhece.
Nessas condições, a resistência da cartilagem e a capacidade de reparação ficam
bastante prejudicadas, predispondo o surgimento de lesões.
No tecido conjuntivo, o envelhecimento também gera alterações que interfe-
rem no sistema osteomioarticular. O aumento da rigidez desse tecido é um dos
efeitos esperados do envelhecimento, o que torna tendões e ligamentos mais rí-
gidos e menos elásticos. A menor elasticidade é decorrente do aumento na de-
posição de fibras de colágeno e menor deposição de fibras de elastina, e causa
limitação no movimento articular, consequentemente reduzindo a amplitude de
movimento das articulações (VILLA-FORTE, 2019). Em relação ao sistema muscu-
lar, com o envelhecimento, espera-se uma redução da massa muscular, com a re-
dução progressiva no número e tamanho das fibras musculares, e, como resulta-
do, tem-se uma diminuição da força e da resistência muscular.
Essa perda de massa muscular é chamada de sarcopenia, e é também um
evento fisiológico. Villa-Forte (2019) comenta que a redução da massa óssea em
idosos não afeta todos os tipos de fibras musculares de maneira uniforme, haven-

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do maior redução das fibras do tipo rápidas. Isso explica, por exemplo, por que
as pessoas idosas possuem maior lentidão na execução de movimentos quando
deveriam ser realizados rapidamente.
Freitas e Py (2016) comentam que a sarcopenia, apresentada pelos idosos
durante o envelhecimento, é resultado de uma série de fatores que, quando as-
sociados, culminam em uma importante redução de massa muscular. Entre os
fatores, segundo os autores, estão: condições individuais, redução dos níveis de
atividade física, modificações hormonais, elevação de níveis de citocinas, altera-
ções mitocondriais, além da influência genética. O Diagrama 2 demonstra a atua-
ção de tais fatores sobre o desenvolvimento do quadro de sarcopenia presente
no envelhecimento.

DIAGRAMA 2. FATORES RELACIONADOS À SARCOPENIA NO ENVELHECIMENTO

Unidades motoras
Fibras musculares
Células satélites

GH
Taxa metabólica basal IGF-1
Anorexia relacionada com a idade DHEA
Sarcopenia Testosterona
Ingestão de proteínas
Estrógeno
Vitamina D
PTH

Atividade física
Imobilidade
IL-6 Disfunção mitocondrial
TNF-a Genes via miostatina
Apoptose

Fonte: FREITAS; PY, 2016, p. 1446.

De forma geral, as alterações no sistema osteomioarticular decorrentes do


envelhecimento fisiológico interferem consideravelmente em vários aspectos da
funcionalidade; isso porque as alterações ósseas, musculares, articulares e do te-
cido conjuntivo costumam causar redução da resistência, da força e da velocidade
muscular, limitações de amplitude de movimento, redução da flexibilidade, entre
outras alterações que interferem de maneira negativa na marcha, equilíbrio e de-
sempenho de funções motoras essenciais para o dia a dia do idoso.

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Envelhecimento do sistema cardiorrespiratório
O sistema cardiorrespiratório passa por mudanças resultantes
do processo de envelhecimento, de natureza estrutural e fun-
cional. No sistema respiratório, observam-se altera-
ções morfológicas importantes: segundo Perracini
e Fló (2019), o pulmão sofre modificações tanto
na estrutura propriamente dita como apresenta
alterações influenciadas por modificações estru-
turais da caixa torácica.
Verifica-se que o envelhecimento reduz o número de fibras de elastina, de ca-
pilares alveolares; reduz o mecanismo de clearance mucociliar e o mecanismo de
tosse; aumenta a quantidade de fibras de colágeno e do diâmetro bronquiolar. Na
caixa torácica, é possível observar o enrijecimento das costelas e das articulações
esternocostais, causando a redução da complacência da caixa torácica – sendo im-
portante para a mecânica respiratória; redução da força de diafragma e de massa
muscular de todos os músculos respiratórios.
Tais condições estruturais da caixa torácica e funcionais do pulmão resultam
em um declínio da capacidade respiratória, com declínio acentuado da capacidade
vital e redução do volume corrente associados a um aumento de volume residual
e da capacidade residual funcional. Como resultado, nota-se que as trocas gasosas
em pacientes idosos sofrem modificações, prejudicando a relação ventilação-per-
fusão, o que predispõe ainda mais o paciente idoso a doenças pulmonares, espe-
cialmente a infecções das vias respiratórias.
No que concerne ao cardíaco, o coração também passa por alterações morfo-
lógicas e estruturais. Os volumes das câmaras cardíacas modificam-se, causan-
do um aumento do volume cardíaco (BARSANO, 2019); nesse sentido, é esperada
uma redução progressiva na quantidade de células cardíacas. Para compensar a
redução, as células sofrem um aumento no volume, representado por hipertrofia
cardíaca (PERRACINI; FLÓ, 2019).
Há também alterações nas fibras elásticas e no colágeno do coração, tornan-
do-o mais fibroso e menos elástico à medida que envelhece, o que reduz conside-
ravelmente a capacidade que possui de gerar contração muscular; isso é obser-
vado na influência sobre o débito cardíaco, que se reduz notavelmente. Espera-se

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ainda que o processo de envelhecimento origine redução da irrigação sanguínea
local, graças à redução do número de capilares. Constata-se um acúmulo maior de
gordura, espessamento e calcificação das válvulas cardíacas, acarretando enrijeci-
mento geral da estrutura cardíaca.

Envelhecimento do sistema nervoso


No que tange ao envelhecimento fisiológico do sistema nervoso, é esperado
um declínio ponderal discreto e lentamente progressivo, que tem início ainda na
segunda década de vida, mas que se torna mais evidente na velhice. Segundo
Freitas e Py (2016), o número de células nervosas decresce com o envelhecimen-
to normal, sendo que, em algumas áreas, a perda é mínima; em outras, no en-
tanto, ela é mais acentuada.
Tal condição faz com que haja atrofia do encéfalo, incluindo cerebelo, tronco
encefálico, núcleos da base, tálamo e córtex cerebral, reduzindo volume e peso. As
reduções acometem também o tecido nervoso da medula espinhal. No cérebro,
é evidenciado um aumento no volume dos ventrículos e na quantidade de líquor,
associado a um espessamento das meninges. A Figura 1 apresenta algumas das
alterações que acometem o cérebro durante o envelhecimento.

Perda da substância
cinzenta em virtude
da morte celular neuronal
e/ou da atrofia cortical

Aumento
dos ventrículos

Perda da substância
branca em virtude
da perda axônica ou
da diminuição da
mielinização

Cérebro adulto normal Cérebro adulto envelhecido

Figura 1. Efeitos do envelhecimento no cérebro. Fonte: REBELATTO, 2007, p. 73. (Adaptado).

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Além das modificações estruturais, há o aparecimento de modificações bioquí-
micas no sistema nervoso relacionadas à redução da quantidade de neurotrans-
missores, o que interfere negativamente na condução de impulsos nervosos. Como
o sistema nervoso é responsável pelo controle de praticamente todos os demais
sistemas corporais, as alterações do envelhecimento sobre esse sistema impactam
as alterações globais, como: modificações na capacidade de memória, alterações na
marcha, no equilíbrio e no controle da micção, entre outras alterações decorrentes
do envelhecimento das estruturas nervosas (REBELATTO, 2007).

Envelhecimento do sistema tegumentar


O envelhecimento cursa com o surgimento de alterações fisiológicas na
pele. Entre as alterações previstas, estão: redução da espessura da epiderme
e da derme; redução da quantidade de fibras de colágeno e elastina; redução
da atividade de glândulas sebáceas e sudoríparas; alterações na produção de
melanina (substância que dá cor à pele); além da redução de tecido subcutâneo
(BARSANO, 2019).
As alterações predispõem ao aparecimento de uma pele idosa com sinais
comuns: com presença de rugas, flacidez, pele fina, sensível, manchas; tudo as-
sociado à menor resistência a danos físicos, químicos e solares, por exemplo. A
Figura 2 mostra o padrão de pele comumente encontrado no paciente idoso.

Figura 2. Efeitos do envelhecimento na pele. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020.

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Além das alterações nos sistemas descritos, o envelhecimento fisiológico
cursa com o aparecimento de alterações em outros sistemas orgânicos do
organismo, como no sistema geniturinário, digestivo, endócrino etc. No sis-
tema geniturinário, observam-se alterações principalmente nos rins, órgãos
que sofrem redução significativa de peso e de área de filtração glomerular,
causando decréscimo nas funções fisiológicas. Os ureteres também sofrem
modificações, especialmente em suas paredes. A bexiga apresenta-se com
um aumento na deposição de colágeno, desequilíbrio entre músculos de con-
tração voluntária e músculos de contração involuntária, entre outras altera-
ções (FREITAS; PY, 2016).
Ressalta-se que algumas das alterações que afetam o sistema geniturinário
são particulares de cada gênero. As mulheres estão mais suscetíveis ao apare-
cimento de infecções urinárias com o envelhecimento, consequência da queda
de taxas de estrogênio aliada à estrutura anatômica da uretra; os homens, con-
tudo, estão mais predispostos a alterações prostáticas decorrentes do proces-
so degenerativo.
No sistema digestivo, o envelhecimento provoca uma série de alterações
funcionais, estruturais, de motilidade e de excreção, com diferentes intensi-
dades para cada órgão: redução da motilidade esofágica, aumento do tempo
de esvaziamento gástrico, alterações nas colonizações bacterianas do trato di-
gestivo, redução do peso de pâncreas e fígado, redução de secreção hepática
e pancreática, além de alterações na motilidade intestinal, predispondo a qua-
dros de constipação.
No sistema endócrino, o envelhecimento provoca redução nas taxas de al-
guns hormônios, como o hormônio do crescimento e os hormônios sexuais,
que acabam por influenciar os demais sistemas do organismo. Freitas e Py
(2016) comentam que são alterações do envelhecimento no sistema endócrino
a redução das reservas funcionais de órgãos, redução das respostas de células
do tipo linfócitos T e, ainda, alterações nos valores de referência, podendo in-
duzir a diagnósticos laboratórios equivocados. Tais alterações que acometem
praticamente todos os sistemas do organismo do idoso podem variar de inten-
sidade de um paciente para outro. Vale destacar, entretanto, que são modifi-
cações fisiológicas esperadas no processo de envelhecimento e, por isso, não
devem ser tratadas como sinais patológicos.

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Reabilitação na saúde do idoso
O processo de reabilitação direcionado ao paciente idoso envolve uma série
de medidas que auxiliam na manutenção do funcionamento ideal, na prevenção
de incapacidades e na maximização da função frente a uma condição de incapa-
cidade; com foco não apenas na alteração/disfunção apresentada pelo paciente,
mas também nas condições funcionais e na qualidade de vida (FERREIRA, s.d.).
Em ambos os processos de envelhecimento, a assistência ao idoso pauta-se
na promoção, prevenção, reabilitação e acompanhamento das condições rela-
cionadas à saúde do paciente; favorecendo, desse modo, um envelhecimento
ativo com autonomia, funcionalidade, independência e com o máximo possível
de qualidade de vida.

Alvos da reabilitação em geriatria e gerontologia


Fundamentando-se nas diferentes interfaces do envelhecimento a que a
reabilitação destina-se, Ferreira (s.d.) pontua os principais alvos da reabilitação
do paciente idoso, considerando as diferentes abordagens que podem ser utili-
zadas objetivando a sua melhor qualidade de vida. O Diagrama 3 apresenta um
esquema de reabilitação voltada à população idosa.

DIAGRAMA 3. REABILITAÇÃO DA PESSOA IDOSA

Prevenção

Recuperação

Reabilitação Educação

Adaptação

Conforto

Fonte: FERREIRA, s.d., p. 4. (Adaptado).

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Acerca da prevenção, citam-se a abordagem de identificação de riscos liga-
dos à saúde do idoso; a prevenção de incapacidades; o favorecimento de um
envelhecimento saudável; ações para detectar precocemente riscos para perdas
funcionais etc. A reabilitação está baseada na recuperação funcional do pacien-
te, garantindo o máximo de autonomia e independência, aliada à prevenção de
complicações secundárias e do agravamento do quadro existente.
Na adaptação, pode-se mencionar a importância de adaptar o paciente às
novas demandas funcionais, após perdas ou declínios. Inclui-se nessa parte a
adaptação do ambiente físico, social e comunitário, de modo a atender às novas
demandas do paciente idoso. O alvo do tratamento, em relação ao conforto,
refere-se aos cuidados paliativos do paciente, que incluem, sobretudo, modali-
dades para alívio da dor e do sofrimento quando o prognóstico não é favorável
no que concerne à cura/recuperação completa. Também destaca-se o valor da
educação durante as dimensões da reabilitação do paciente idoso, ponderando
que as orientações para o paciente e familiar devem estar presentes em todas
as situações – desde orientações referentes ao envelhecimento ativo até mesmo
sobre o processo de morte. Ou seja: as ações de educação transitam em todas
as dimensões da reabilitação.

Fatores que influenciam a reabilitação


A assistência ao paciente idoso, considerando suas múltiplas demandas de
saúde, normalmente envolve processos de reabilitação mais longos e comple-
xos, quando comparada com a assistência de pacientes de outras faixas etá-
rias. Nesse processo de assistência, certos fatores podem influenciar de ma-
neira positiva ou negativa o processo de reabilitação; eles chegam a ser de
natureza pessoal, social, econômica ou cultural (FREITAS; PY, 2016).
Fatores ligados ao paciente e/ou à doença
Esses são os fatores relacionados à aceitação do paciente sobre a maneira
pela qual aderirá ao tratamento (adesão ou não adesão). Pessoas com determi-
nados tipos de doenças – em especial, disfunções mentais e intelectuais – ten-
dem a ser menos aderentes aos tratamentos. Pacientes com doenças crônicas
que demandam tratamentos contínuos também tendem a sentir-se desmotiva-
dos durante a reabilitação, devendo reduzir a aderência ao tratamento.

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Fatores ligados às condições socioeconômicas
Pacientes com condições socioeconômicas desfavoráveis apresentam difi-
culdades pertinentes à alimentação, habitação, locomoção, entre outros fato-
res que interferem nas condições de saúde; constituindo, nesse caso, pacien-
tes pouco aderentes aos tratamentos propostos.
Fatores ligados à equipe
Divergências de informações entre
os diversos profissionais que operam na
reabilitação do idoso, limitações ou im-
passes nos agendamentos, pouco forne-
cimento de informações ao paciente e a
seus familiares, desmotivação e poucas
ações periódicas são exemplos de fa-
tores relacionados à equipe que reduzem a aderência dos idosos ao tratamento.
Por isso, na prática profissional, é essencial que os profissionais saibam reconhecer,
identificar e, sobretudo, atuar sobre tais fatores, a fim de garantir um processo de
reabilitação mais resolutivo. Entre as intervenções que os profissionais de saúde
podem adotar para melhorar a aderência dos pacientes, estão:
• Intervenções planejadas e direcionadas ao paciente especificamente, con-
siderando todas as dimensões em que está inserido;
• Ampliação do processo de comunicação entre profissionais e paciente e
entre profissionais e familiares/cuidadores, considerando a importância que
possuem no processo de reabilitação do paciente idoso;
• Permitir um suporte familiar e social durante o processo de reabilitação;
considerando que um amparo familiar e social ajuda o idoso a não abandonar
ou negligenciar o tratamento;
• Garantir uma abordagem interdisciplinar do idoso com a atuação de di-
versos profissionais mediante ações coordenadas; isso porque a gama de pro-
fissionais envolvidos no processo de reabilitação possibilitará um olhar amplo
em todas as dimensões envolvidas na aderência ao tratamento, incluindo con-
dições sociais, econômicas e culturais, por exemplo;
• Permitir o máximo de esclarecimento ao paciente e sua família sobre o
tratamento, os objetivos, as intervenções e os resultados esperados, de modo
que todos atuem em prol dos mesmos objetivos.

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Constituição e perfil da equipe de reabilitação
Acerca da reabilitação do paciente idoso, além da adesão ao tratamento, tor-
na-se fundamental a ação por parte de uma equipe interdisciplinar. A Organização
Pan-Americana da Saúde orienta que todo o cuidado voltado a esta população pre-
cisa ser feito por uma equipe interdisciplinar, dada sua seriedade (PERRACINI; FLÓ,
2019). A atuação interdisciplinar na saúde do idoso justifica-se porque tais pacientes,
normalmente, apresentam-se com alterações complexas que demandam ações de
várias áreas de atuação a fim de atender às demandas de saúde.
As equipes são formadas por diferentes profissionais – essa composição é
mutável e depende diretamente da função que a equipe desempenhará e tam-
bém das necessidades dos pacientes idosos atendidos. Além desses fatores, a
composição das equipes, em especial, na área da geriatria, depende do local de
atuação (hospital, ILP, domiciliar etc.); dos programas que serão desenvolvidos
(programas de cuidados domiciliares, avaliação de idosos, clínicas geriátricas);
das disfunções apresentadas pelos idosos, uma vez que as equipes podem ser
preparadas para atuar na assistência de pacientes acometidos por patologias
específicas, como equipes interdisciplinares destinadas à assistência de pa-
cientes idosos com demência.
Na área da saúde, as equipes interdisciplinares são comumente forma-
das por médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas,
dentistas, educadores físicos, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudió-
logos etc., que atuam de forma interdependente, cada um em sua área de
formação; contudo, a responsabilidade pelo cuidado e assistência ao idoso
é compartilhada, atendendo, desse modo, ao paciente de maneira global,
frente a todas as demandas.

Áreas de atuação da fisioterapia junto à reabilitação na


saúde do idoso
Sabe-se que à medida que o corpo envelhece é esperada uma série de declí-
nios nos sistemas orgânicos, que podem ser ainda mais acentuados na presença de
doenças associadas. Dessa forma, há uma interferência na autonomia, na indepen-
dência e na capacidade funcional dos idosos, em graus variados.

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Partindo desse princípio, o profissional fisioterapeuta, inserido nas equipes in-
terdisciplinares, pode atuar em diversos aspectos do processo de envelhecimento
humano, garantindo, principalmente, maior autonomia, independência e capacida-
de funcional aos idosos, tanto no processo de envelhecimento fisiológico quanto no
patológico, a fim de melhorar a qualidade de vida na velhice, incluindo:
• Fisioterapia nas alterações do sistema osteomioarticular;
• Fisioterapia nas alterações do sistema cardiorrespiratório;
• Fisioterapia nas alterações do sistema nervoso;
• Fisioterapia nas alterações do sistema tegumentar;
• Fisioterapia nas alterações reumáticas, entre outras áreas de atuação.
Fisioterapia nas alterações do sistema osteomioarticular
O envelhecimento, mesmo que fisiológico, origina uma série de alterações
nos sistemas ósseos, articulares e do sistema tegumentar, acarretando declínios
funcionais. Nesse caso, o fisioterapeuta deve atuar de modo a evitar que tais de-
clínios fisiológicos ocasionem incapacidades, mediante melhora das condições
de funcionalidade do paciente pelas ações de promoção e prevenção. Em alguns
casos, pode haver a presença de doenças associadas (envelhecimento patológi-
co) que acometem esses sistemas, o que causa maiores graus de comprometi-
mento da função articular, muscular, redução do equilíbrio, alterações da mar-
cha e limitações funcionais. Os declínios mais intensos impactam diretamente a
qualidade de vida do idoso e limitam a execução de atividades diárias.
As doenças que avançam nesses sistemas são chamadas de doenças osteo-
mioarticulares, e compreendem um conjunto de afecções que afetam o siste-
ma ósseo, articular e muscular, trazendo, normalmente, quadros de compro-
metimento funcional, dor, alterações na arquitetura desses sistemas, lesões
teciduais ósseas etc. (PERRACINI; FLÓ, 2019). Entre as disfunções mais comuns
que afetam os sistemas, estão: fraturas, lesões meniscais, estenose
lombar degenerativa, síndrome da imobilidade, síndrome da fragili-
dade, instabilidade postural, alteração de marcha e de
equilíbrio etc. (REBELATTO, 2007). Além de outras
afecções, como epicondilite, síndrome do impacto
e aquelas que acometem o sistema ósseo, arti-
cular ou muscular, impactando, de algum modo, a
funcionalidade do paciente.

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Nas doenças que atacam o sistema osteomioarticular, a fisioterapia tem uma
atuação ampla e trabalha para a redução de quadros de dor, melhora do mo-
vimento, da força, da amplitude do movimento e, consequentemente, propor-
ciona uma melhora da função. Para tanto, utilizam-se recursos como: terapias
manuais, eletroterapia, hidroterapia, termoterapia etc.
Fisioterapia nas alterações do sistema cardiorrespiratório
Em relação ao sistema cardíaco, alterações como elevação da pressão
arterial, redução do débito cardíaco, enrijecimento valvular e redução do
consumo máximo de oxigênio são esperadas. Quando não há presença de
doenças associadas ao envelhecimento cardíaco, a fisioterapia deve operar
para melhorar o condicionamento cardiorrespiratório, mediante treino físi-
co orientado, e, dessa forma, melhorar a funcionalidade e facilitar o desem-
penho de atividades diárias.
Tanto nas ações voltadas à prevenção quanto nas ações voltadas à reabili-
tação, a fisioterapia faz uso de diversas modalidades, abrangendo exercícios
físicos regulares, específicos, prescritos individualmente para cada paciente,
considerando intensidade, duração e frequência adequadas. No sistema res-
piratório, o envelhecimento cursa com alterações fisiológicas, como: redução
da ventilação/perfusão, redução da elasticidade pulmonar, fraqueza da mus-
culatura respiratória, redução da complacência da caixa torácica, entre outros
aspectos que resultam em um prejuízo funcional pulmonar.
Fisioterapia nas alterações do sistema nervoso
A ação fisioterapêutica pode estar voltada ao paciente idoso apenas com
declínio fisiológico das funções do sistema nervoso, procurando potencializar
a capacidade funcional. Ela também é capaz de ser empregada, contudo, no
manejo das principais doenças que afetam o sistema nervoso do paciente
idoso. Nessa área, o trabalho do fisioterapeuta está ligado à presença de dis-
funções neurológicas, incluindo: doenças de Alzheimer e Parkinson. Os ob-
jetivos e as condutas fisioterapêuticas são diversos e estão sujeitos ao tipo
de disfunção, da fase; e a escolha das condutas está diretamente ligada aos
déficits e limitações apresentados pelo paciente, sendo identificados na ava-
liação geriátrica ampla e, posteriormente, na avaliação fisioterapêutica. A
atuação do fisioterapeuta tem o objetivo de minimizar impactos funcionais
que as doenças causam.

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Fisioterapia nas alterações do sistema tegumentar
As alterações fisiológicas que acometem a pele do paciente idoso causam quei-
xas comuns de prurido, ressecamento, ardência e sensibilidade aumentada, já que
a pele torna-se mais fina, menos hidratada e com decréscimo na função de barreira
à medida que envelhece. A fisioterapia consegue atuar nas alterações presentes na
pele por meio de orientações de cuidados a serem seguidos diariamente, com uma
rotina de atenções que envolvem limpeza e hidratação da pele, a partir do uso de
ativos cosméticos específicos; bem como orientações acerca da exposição ao sol,
uso de fotoprotetores, temperatura da água do banho etc.
Fisioterapia nas alterações reumáticas
As doenças reumáticas configuram-se por um grupo bastante amplo de afec-
ções que podem acometer diferentes tecidos do organismo. Na maioria dos ca-
sos, tais afecções atacam o aparelho locomotor, o que acarreta alterações no sis-
tema músculoesquelético. Algumas dessas afecções começam a manifestar-se
após a quinta década de vida e costumam gerar dor, redução da força muscular,
entre outros sintomas que predispõem a um quadro de maior sedentarismo,
agravando o declínio funcional existente no envelhecimento. Além disso, as afec-
ções reduzem a independência, a autonomia e trazem maior isolamento e pre-
disposição à depressão em idosos.
Osteoporose, gota, artrite reumatoide, osteoartrite, fibromialgia, febre reumáti-
ca e doenças reumáticas de partes moles (tendinites, bursites, tenossinovites) são
exemplos de doenças reumáticas predominantes entre idosos e que merecem certa
atenção do fisioterapeuta. Para tanto, esse profissional dispõe de recursos como
eletroterapia, exercícios terapêuticos, terapias manuais, hidroterapia, pilates etc.,
que podem ser utilizados para reduzir a dor, inflamação, rigidez, melhorar o padrão
de movimentos e, com isso, interferir de maneira positiva na capacidade funcional
do idoso – mesmo na presença de doença reumática.
Fisioterapia nas alterações geniturinárias
Além das alterações fisiológicas que envolvem os sistemas com o enve-
lhecimento, há uma prevalência importante de disfunções que acometem
tal sistema – em especial, as incontinências urinárias e fecais. As disfunções
podem ser resultantes de desequilíbrios entre os sistemas que controlam a
continência normal, como o sistema nervoso e o sistema muscular pélvico e
perineal (PERRACINI; FLÓ, 2019). O fisioterapeuta precisa atuar no tratamento

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das disfunções de forma a restaurar a capacidade de continência, incluindo
terapias manuais específicas, uso de biofeedback, estimulação elétrica, entre
outros recursos que devem ser associados a outros tratamentos, como trata-
mentos medicamentosos.

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Sintetizando
A atenção à saúde da pessoa idosa demanda inicialmente a realização de ava-
liação específica, que recebe o nome de avaliação geriátrica ampla (AGA); esta
deve ser aplicada a todos os idosos por profissionais que compõem as equipes
interdisciplinares. Tal avaliação consiste é padronizada, com a utilização de fer-
ramentas, escalas e formulários validados que possibilitam a análise de diversos
fatores que interferem no processo de saúde-doença, considerando as condi-
ções individuais, sociais, ambientes etc.
Em relação às abordagens destinadas aos idosos, estas devem ser interdis-
ciplinares e intersetoriais, o que garante um atendimento integral. Tudo isso é
ressaltado em algumas políticas públicas ligadas ao envelhecimento; entre elas,
estão a Política Nacional do Idoso, Estatuto do Idoso e Política Nacional de Saú-
de da Pessoa Idosa. A legislação permite, além da abordagem integral, a defesa
dos direitos básicos do idoso, destacando a importância da Previdência Social no
amparo social para essa população.
Torna-se fundamental, pois, que o profissional de saúde conheça as alterações
que o envelhecimento causa sobre os sistemas, a fim de intervir da melhor manei-
ra possível. No geral, o envelhecimento, mesmo que fisiológico, acarreta declínios
em praticamente todos os sistemas do organismo, trazendo maior vulnerabilidade
e incapacidades funcionais. Além do declínio funcional, os sistemas podem ser afe-
tados por condições patológicas e, nesses casos, a presença de doenças aumenta
ainda mais a vulnerabilidade e a predisposição à redução da capacidade funcional,
impactando negativamente a qualidade de vida do paciente idoso.
Tanto nos casos de envelhecimento fisiológico quanto nos casos de enve-
lhecimento patológico, os idosos podem ser beneficiados pelos tratamentos de
reabilitação, de modo a minimizar perdas e melhorar a capacidade funcional.
O idoso, assim, deve ser assistido por equipes interdisciplinares formadas por
profissionais de saúde de diferentes áreas de atuação, incluindo o fisioterapeuta,
que pode trabalhar de maneira conjunta com os demais profissionais – median-
te ações voltadas à promoção, recuperação, adaptação, reabilitação e cuidados
paliativos com os pacientes idosos.

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FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 76

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UNIDADE

3 FISIOTERAPIA
NAS SÍNDROMES
GERIÁTRICAS E NAS
DISFUNÇÕES DO
IDOSO

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Objetivos da unidade
Reconhecer as principais síndromes do paciente idoso e estabelecer
condutas fisioterapêuticas em casos de instabilidade postural, alterações de
marcha e predisposição a quedas;

Compreender a atuação do fisioterapeuta junto aos demais profissionais no


manejo da iatrogenia e da polifarmácia, nas doenças vasculares e nos casos de
acidente vascular encefálico (AVE);

Identificar a fisiopatologia das doenças cardiovasculares e respiratórias mais


prevalentes na terceira idade;

Tópicos de estudo
Fisioterapia nos gigantes da Fisioterapia nas disfunções car-
geriatria: síndromes geriátricas diovasculares: reabilitação cardio-
Instabilidade postural: marcha e vascular (RCV)
quedas Fisiopatologia das principais
Iatrogenia e polifarmácia disfunções cardiovasculares em
Incontinências idosos
Imobilidade prolongada Reabilitação cardiovascular RCV
Insuficiência familiar Fases da RCV
Incapacidade comunicativa Princípios e cuidados da RCV
Incapacidade cognitiva
Fisioterapia nas disfunções
Fisioterapia nas doenças rela- respiratórias
cionadas às síndromes geriátricas Fisiopatologia das principais dis-
Doenças cerebrovasculares funções respiratórias em idosos
Doença de Parkinson Reabilitação pulmonar
Demências RP nas doenças infecciosas
Diabetes mellitus RP no DPOC
RP no pré e pós-operatório

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 78

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Fisioterapia nos gigantes da geriatria: síndromes geriátricas
A saúde da pessoa idosa é determinada por uma série de domínios, incluin-
do domínios como cognição, humor, mobilidade e comunicação, que, quando
preservados, garantem autonomia, independência, funcionalidade e, com isso,
qualidade de vida ao idoso (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).
A perda de funções relativas ao domínio de cognição e humor causam ini-
cialmente redução da autonomia, limitando as atividades de vida diária (AVDs)
e reduzindo em seguida a capacidade funcional; enquanto a perda de funções
dos domínios de mobilidade e comunicação geram inicialmente limitações na
independência do idoso e posteriormente, na capacidade funcional (MORAES;
MARINO; SANTOS, 2009).
A perda dessas funções resulta no surgimento de síndromes geriátricas,
as quais se caracterizam por um conjunto de sinais e de sintomas geralmente
oriundos da associação de doenças de alta prevalência em idosos e que causam
graus variados de incapacidade funcional. Essas manifestações podem indicar
a presença de doenças, mas também podem ser a origem de outras disfunções
(RODRÍGUES, 2019).
Atualmente, as síndromes geriátricas são consideradas os “gigantes” na área
de geriatria/gerontologia, tendo alta prevalência entre idosos. Inicialmente, fo-
ram descritas cinco síndromes geriátricas, conhecidas como os cinco “is” da ge-
riatria; e, atualmente, citam-se sete “is” gigantes, incluindo: instabilidade pos-
tural, iatrogenia, incontinência, imobilidade, insuficiência familiar, incapacidade
comunicativa e incapacidade cognitiva (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).

Instabilidade postural: marcha e quedas


A instabilidade postural, associada às alterações de marcha e
ocorrência de quedas, é um dos grandes problemas
em idosos. Isso porque essas alterações são res-
ponsáveis pelo elevado índice de lesões, fraturas,
hospitalizações, além de causarem redução da
independência e da autonomia (MOREIRA FILHO;
OLIVEIRA, 2020).

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Acerca da instabilidade postural, o seu controle (equilíbrio) é definido como
o processo pelo qual o sistema nervoso central (SNC) garante, por meio de
padrões de atividade muscular, a coordenação de diferentes mecanismos (sen-
soriais e motores) que visam à garantia de respostas rápidas e precisas e fazem
com que o idoso não perca o equilíbrio, mesmo na presença de condições de
perturbações (FREITAS; PY, 2016).
Acerca da marcha, vale destacar a influência de diversos sistemas, incluindo
o nervoso e o musculoesquelético sobre ela. Essas influências fazem com que a
marcha do idoso tenha características particulares, como passos mais curtos,
menor tempo em apoio unipodal, pelve rodada anteriormente, redução da fle-
xão plantar, entre outros aspectos que tornam a marcha do idoso diferenciada
(FREITAS; PY, 2016).
Em relação aos fatores associados às quedas, cita-se que: alterações do
envelhecimento fisiológico (alterações musculoesqueléticas), presença de
doenças associadas específicas (epilepsia, doença de Parkinson, miopatias,
síncopes, demências, hipotensão postural), uso de determinadas medicações
(psicotrópicos e neurolépticos) e doenças agudas (insuficiência cardíaca con-
gestiva, doença cerebrovascular, patologias pulmonares) são fatores causais
de quedas em idosos, relacionados às condições intrínsecas do paciente (FREI-
TAS; PY, 2016).
Além dessas condições, alguns riscos ambientais podem estar relaciona-
dos à maior quantidade das quedas, incluindo: ambientes de baixa iluminação
ou brilho excessivo, tapete solto, chão encerado, escadas, entre outros riscos,
também chamados de extrínsecos (REBELLATO, 2008).
Fisioterapia na instabilidade postural
Previamente a qualquer abordagem fisioterapêutica, é necessário que o
idoso vulnerável ao quadro de síndrome da instabilidade seja submetido à
avaliação. Nela, o fisioterapeuta deve analisar sinais de instabilidade
postural e alterações de marcha que possam estar presentes no
idoso. Freitas e Py (2016), destacam a importância da
realização de testes, como o Timed up and go, da esca-
la de avaliação do equilíbrio e da marcha de Tinetti.
Posterior a isso, com base na avaliação, o profissio-
nal pode elaborar um plano de tratamento.

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Acerca das intervenções de fisioterapia na instabilidade postural e nas
alterações da marcha, são sugeridas intervenções associadas que atuem
sobre o equilíbrio estático e dinâmico, a força muscular, a resistência e a
mobilidade. Ainda se orienta a realização de exercícios direcionados para as
AVDs (ZAPPE; FILIPPIM, 2016).
Uma abordagem diferenciada voltada a esse fim é o uso da realidade
virtual. Segundo Barros e outros (2016), essa tecnologia utiliza controle dos
estímulos aliado ao feedback visual, desempenho em tempo real e aprendi-
zagem motora, além de ser um treino seguro que promove a motivação do
paciente. Na abordagem, destaca-se a inserção de exercícios físicos que são
capazes de aumentar a velocidade da marcha, maior equilíbrio, aumento do
tônus muscular e fl exibilidade em idosos.
Além de orientações preventivas, o fisioterapeuta pode orientar a rea-
lização de exercícios físicos regulares e exercícios de equilíbrio de maneira
preventiva. Acerca do tipo de exercício na prevenção de quedas, é importan-
te que a intervenção seja respeitosa e feita de modo individual, indicando
modalidades de exercício com base na avaliação, na presença de doença, na
capacidade funcional, na vulnerabilidade e nas preferências do idoso (MAG-
NA; BRANDÃO; FERNANDES, 2020).
Já no paciente que sofreu queda, a abordagem reabilitativa dependerá
dos impactos da queda na funcionalidade. Deve-se destacar que o fisiotera-
peuta, além de atuar de maneira preventiva, evitando novos episódios, deve
ainda auxiliar o idoso a superar a frustação e o medo de cair novamente
(FREITAS; PY, 2019).

Iatrogenia e polifarmácia
A iatrogenia é definida como qualquer dano, direto ou indireto, re-
sultante de ações ou omissões de profissionais da saúde, diante de
qualquer prática de atenção à saúde, desde o diagnostico
até a assistência (MANSO et al., 2018). É fundamental
que na prática os profissionais de saúde evitem casos
de iatrogenia em idosos, considerando a vulnerabilida-
de dessa população.

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Na área da saúde, a iatrogenia pode acontecer por vários fatores, incluindo:
falha de comunicação entre pacientes e profissionais; erros de diagnóstico e/
ou tratamento; realização de intervenções desnecessárias; falhas relacionadas
à prescrição de medicações; internações desnecessárias; falta de vínculo, etc.;
(MANSO et al., 2018; MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).
Quando se fala em fisioterapia, pode-se citar dois exemplos de iatrogenia fi-
sioterapêutica em idoso: o primeiro deles é um quadro de mialgia após ativida-
de física em grupo para controle de agravos de doenças crônicas; e o segundo
é um quadro de fratura decorrente de exercício físico realizado na fisioterapia
(CHAIMOWICZ, 2013).
No geral, esses erros são responsáveis pelo surgimento ou agravamento
de várias situações, incluindo: quedas,
alterações cognitivas, depressão, imo-
bilidade, desnutrição, tonturas, défi-
cits de audição e visão. Assim, dentre
os tipos de iatrogenia que acontecem
comumente junto à população idosa,
ressalta-se a iatrogenia medicamento-
sa que, nessa condição, está relaciona-
da ao uso de medicamentos.
A iatrogenia medicamentosa na
população idosa se relaciona com a
prescrição de medicamentos conside-
rados inapropriados para o uso, consi-
derando que elevam riscos de aparecimento de reações adversas (MANSO et
al., 2018), não possuem evidências científicas suficientes para indicação, ou sua
utilização pode agravar a condição clínica do idoso.
Acerca das reações adversas, elas são definidas como respostas indesejá-
veis, não intencionais, que acontecem no uso de medicamentos mesmo em
doses normais. Dentre elas, destacam-se: confusão mental, fraqueza, tontura,
tremor, constipação intestinal, desequilíbrio, agitação, inapetência, sedação,
hipotensão ortostática, urgência miccional, perda de peso, hipoglicemia, insô-
nia, incontinência urinaria, parkinsonismo, entre outros sintomas (FIOCRUZ,
2008; MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).

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Ademais, na iatrogenia medicamentosa, observa-se ainda outra situação
relacionada a essa síndrome, a polifarmácia (MORAES; MARINO; SANTOS,
2009). Rodrígues (2019) justifica que cerca de 80% dos idosos têm ao menos
uma doença crônica, como hipertensão, diabetes, osteoartrite, entre outras,
além de muitos deles possuírem várias doenças associadas simultaneamente,
levando a um alto consumo de medicamentos. Com isso, surge o termo poli-
farmácia, definido como o uso de cinco ou mais fármacos ao mesmo tempo
(FIOCRUZ, 2008).
Em relação às causas do uso excessivo de fármacos, temos: desejo dos
pacientes de receber prescrição medicamentosa; falta de relato de sintomas,
que podem ser reações adversas de outros fármacos; consultas com múl-
tiplos médicos; automedicação, entre outros fatores (FIOCRUZ, 2008). Essa
situação está relacionada a uma série de efeitos negativos, incluindo o risco
elevado de reações adversas (MANSO et al., 2018), maior quantidade de in-
terações medicamentosas, uso incorreto de medicamentos e, ainda, baixa
adesão ao tratamento.

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo comum de reação adversas intensas a medicamentos é o
agravamento de tontura e urgência miccional, queixas comuns em idosos,
o que reduz a adesão aos tratamentos, fazendo com que eles abandonem
a prescrição (MANSO et al., 2018).

Fisioterapia na iatrogenia e na polifarmácia


A abordagem fisioterapêutica na iatrogenia é interdisciplinar e consiste
em orientações aos pacientes/familiares/cuidadores, além da comunicação
adequada com o idoso e familiares, escuta qualificada dos pacientes e indi-
cações de intervenções pautadas na ciência, sem que haja intervenções des-
necessárias.
Na abordagem fisioterapêutica da polifarmácia, a atuação consiste em
orientações repassadas por todos os profissionais. Isso porque a polifarmá-
cia preocupa a todos os profissionais das equipes interdisciplinares, conside-
rando os diversos problemas que pode ocasionar. Em função disso, Leal e ou-
tros (2020) orientam que, enquanto profissionais de saúde, é importante que:

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• Questionem o paciente sobre o uso dos medicamentos;
• Orientem o paciente sobre automedicação, polifarmácia e os riscos;
• Orientem o paciente ir ao médico para ajustar a prescrição medicamentosa;
• Conheçam as reações adversas dos principais medicamentos;
• Certifiquem-se de que o paciente consegue ler para fazer o uso correto da
medicação;
• Auxiliem o familiar ou cuidador no manejo dos medicamentos;
• Estimulem horários fixos e de fácil memorização para uso dos medicamentos.
Assim, destaca-se que a atuação dos profissionais das equipes interdisci-
plinares, incluindo o fisioterapeuta, deve se pautar no acompanhamento da
terapia medicamentosa em idosos, detectando precocemente situações de
iatrogenia, prevenindo e resolvendo, o mais breve possível, fatores capazes
de aumentar a fragilidade dos idosos em relação ao uso de medicamentos
(PAGNO et al., 2018).

Incontinências
As incontinências são síndromes geriátricas e incluem tanto a incontinên-
cia fecal (IF), que é definida como a perda de fezes e/ou flatos, como a incon-
tinência urinária (IU), definida como a perda involuntária de urina (MATOS et
al., 2019). Essas disfunções estão inseridas nas síndromes geriátricas devido
a sua alta prevalência na população idosa. Dados demonstram uma prevalên-
cia de 2% a 16,9% para IF e de 9% a 60% para IU em idosos (LAGE et al., 2019).
Assim, algumas mudanças funcionais e estru-
turais decorrentes do envelhecimento tornam o
idoso mais suscetível à incontinência, incluin-
do: redução da capacidade da bexiga, hipe-
ratividade e redução da contração do mús-
culo detrusor, aumento do volume residual
da bexiga, redução da pressão de fechamen-
to da uretra, aumento do volume da próstata,
aumento da produção de urina à noite, redução
de hormônios estrógenos na mulher e, ainda, aumento da inci-
dência de infecções (FREITAS; PY, 2016).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 84

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As incontinências acometem tanto homens como mulheres, mas com maior
prevalência em mulheres. Acerca da etiologia, elas possuem causas distintas
em cada gênero: em homens, o principal fator envolvido é o aumento da prós-
tata, que causa modificações no fluxo urinário; enquanto nas mulheres, os
principais fatores estão relacionados à atrofia da uretra, bexiga e vagina, e por
condições relacionadas a gestações e partos.
Além desses fatores, outras condições podem causar incontinências no
idoso ou agravar os quadros, por exemplo, redução da mobilidade, utilização
de medicamentos, hábitos intestinais (constipação), quantidade de líquido in-
gerida, cirurgias geniturinárias, consumo de bebidas cafeinadas, infecções,
fatores psicológicos e alterações neurológicas (demências) (FREITAS; PY, 2016;
SILVA et al., 2019).
De acordo com as características, a IF pode ser classificada em: passiva,
quando há perda de fezes sólidas e/ou gases sem que o paciente perceba; ur-
ge-incontinência, quando há vontade abrupta de defecar, com incapacidade
em adiar a defecação por 15 minutos; mista, quando há associação de sinto-
mas e a IF ocorre sem percepção do paciente, não estando associada à urgên-
cia (PERRACINI; FLO, 2019).
Acerca da fisiopatologia da IU, ela pode ser classificada em IU reversível e
persistente. A primeira delas refere-se a quadros de IU transitória, com episó-
dios de perda de urina sem que haja disfunção no trato urinário inferior, sendo
causada por alterações clínicas agudas reversíveis, como infecções. Por outro
lado, a IU persistente é crônica e pode ser classificada em IU de urgência, IU de
esforço, de transbordamento, mista e funcional, de acordo com a sintomatolo-
gia e etiologia (FREITAS; PY, 2016).
A IU de urgência é a mais comum em idosos e se caracteriza por desejo in-
tenso de urinar (urgência) seguido de perda involuntária de urina. Esse tipo de
IU é desencadeado por contrações não inibidas da bexiga, decorrentes de hi-
peratividade do detrusor. É nessa condição que surge o termo bexiga
hiperativa, que é uma síndrome caracterizada por urgência
urinária com ou sem perda de urina, acompanhada de au-
mento da frequência e noctúria, que pode estar presente
em idosos sendo efeitos de doenças neurológicas, como
demências.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 85

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Já com relação à IU de esforço, sabe-se que é caracterizada pela perda in-
voluntária de urina sincrônica ao esforço, como ao espirro ou tosse. Em geral,
em mulheres está associada à fraqueza do assoalho pélvico, sendo o tipo mais
comum; enquanto em homens é mais frequente após cirurgia de prostatecto-
mia radical.
Considera-se também a IU por transbordamento, caracterizada pela perda
de urina em gotejamento ou de forma contínua, associada ao esvaziamento
vesical incompleto, seja por jato uri-
nário fraco, baixo esforço miccional,
frequência e noctúria. Esse tipo de IU
pode ser causado por hipocontratili-
dade do detrusor, obstrução da saída
vesical, presença de neuropatia peri-
férica, ou de lesão das vias eferentes
do detrusor, causadas por herniações,
tumores, etc. Em homens, pode ser re-
sultado de obstruções por aumento da
próstata e em mulheres, por prolapso
vesical ou uterino. A IU mista refere-se
à coexistência de mais de um tipo de
incontinência em um mesmo paciente.
A IU funcional é um tipo não causa-
do por comprometimento dos meca-
nismos controladores da micção, mas
sim por incapacidades funcionais relacionadas às limitações físicas, psicológi-
cas, cognitivas ou ambientais do paciente (FREITAS; PY, 2016).
Fisioterapia nas incontinências
Na avaliação de idosos com incontinência, é primordial que o fisioterapeu-
ta realize anamnese adequada, seguida de exame físico global e exame físico
específico. Na anamnese, deve-se investigar situações que possam estar re-
lacionadas à perda de urina ou de fezes, investigando presença de doenças,
medicamentos, história de incontinência, hábitos de ingestão de líquidos, cirur-
gias, hábitos intestinais e vesicais, mobilidade, entre outros fatores (MORAES;
MARINO; SANTOS, 2009).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 86

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Em todos os tipos de incontinência, o tratamento se baseia na causa. No
caso das IF, a fisioterapia tem ênfase na reeducação muscular da pelve, no in-
tuito de aumentar a sensibilidade retal e favorecer a função contrátil do esfínc-
ter anal. Aliado a isso, podem ser empregados tratamentos cirúrgicos, que vi-
sam à reparação do esfíncter e à terapia medicamentosa, que busca controlar
a perda de fezes.
Na IU, o tratamento conservador, por meio da fisioterapia, é a primeira linha
de tratamento, podendo ser associada à terapia comportamental e ao uso de
medicamentos, conforme necessidade. No entanto, quando as modalidades
conservadoras falham, é indicado o tratamento cirúrgico, especialmente nos
casos de IU de esforço ou por transbordamento. A terapia medicamentosa é
utilizada na IU de urgência e mista, em associação com terapia comportamen-
tal (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009; LAGE et al., 2019).
Em relação à terapia comportamental, essa abordagem utilizada pelos fisio-
terapeutas inclui medidas comportamentais que visam a amenizar os quadros
de incontinências e devem ser a primeira abordagem terapêutica a ser utilizada
(FREITAS; PY, 2016; MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).
Além disso, os idosos com IU ou IF podem se beneficiar de recursos fi-
sioterapêuticos específicos, de acordo com as condições cinético funcionais
apresentadas. Na IF, o objetivo da fisioterapia é melhorar a força do esfíncter
anal externo, a coordenação durante a contração voluntária e a sensibilidade
anorretal. Já na IU, o objetivo é restaurar a funcionalidade do assoalho pélvico,
evitar contração excessiva da musculatura detrusora e melhorar o padrão de
contração funcional do assoalho pélvico.
A terapia comportamental pode ser utilizada em todos os tipos de inconti-
nências, uma vez que visa à prevenção de condições do dia a dia que possam
estar interferindo nos quadros de incontinência, incluindo: ingestão adequada
de líquidos (não excessiva), evitar o consumo de bebidas cafeinadas e álcool,
reduzir a ingestão hídrica noturna; parar de fumar; redução do peso e orienta-
ção para tratamento da constipação intestinal.
O treino locomotor até o banheiro também é uma modalidade de terapia
comportamental e consiste em orientar o paciente quanto à postura correta
para micção e defecação (PERRACINI; FLÓ, 2019). A Figura 1 mostra o posicio-
namento adequado a ser orientado aos idosos.

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Parcialmente Completamente
aberto aberto

Pouco saudável Saudável

Figura 1. Posicionamento correto no banheiro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/11/2020. (Adaptado).

A reabilitação do assoalho pélvico inclui modalidades de relaxamento de


músculos hiperativados, com contraturas ou com pontos de tensão, assim como
o fortalecimento deles. Esse fortalecimento pode ser realizado mediante exer-
cícios de Kegel, que consistem em contrações repetidas desses músculos, de
modo a melhorar a coordenação e a força muscular, reduzindo a hipotrofia. Es-
ses exercícios podem ser realizados diariamente pelo paciente, por até três vezes
ao dia, desde que bem orientados pelo fisioterapeuta (PERRACINI; FLÓ, 2019).
O biofeedback é outro recurso utilizado. Trata-se de um equipamento que
amplifica as respostas fisiológicas e converte essas informações em recursos
visuais e/ou auditivos com o objetivo de facilitar a percepção acerca da con-
tração e relaxamento do assoalho pélvico (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).
Nesses casos, utilizam-se sondas intramarginais ou intrarretais que captam os
sinais elétricos da musculatura e transmitem os sinais para computador ou ou-
tro recurso visual ou auditivo, de modo que o paciente compreenda quando
está realizando a contração e qual a intensidade dela.
A estimulação elétrica é outro recurso utilizado em ambas as incontinên-
cias, que visa à estimulação muscular, podendo utilizar eletrodos intra-anais,
intravaginais, ou percutâneos, associado a uma corrente elétrica terapêutica
específica.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 88

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Por fim, outro recurso utilizado nos casos de IU é o treinamento vesical,
que consiste na micção com hora marcada, com aumento de 15 a 30 minutos
por semana, à medida que não haja episódios de IU. O uso
de cones vaginais pode ser empregado em IU de idosas, e
OBJETOS DE
consiste no uso seriado de cones com diferentes pesos, APRENDIZAGEM
Clique aqui
introduzidos intravaginal, que facilitam a contração e a
consciência do assoalho pélvico (PERRACINO; FLÓ, 2019).

Imobilidade prolongada
A imobilidade está associada à redução gradativa da independência do
idoso e é extremamente prejudicial, pois o corpo humano foi projetado para
se manter em movimento (TERRA, 2015). Assim, entende-se por imobilidade
qualquer limitação de movimento. Contudo, essa definição é bastante variável,
podendo inclusive abranger situações em que há permanência por longos pe-
ríodos acamados, havendo um impacto maior sobre a saúde. Por isso, a imobi-
lidade é considerada um dos gigantes da gerontologia.
Considerando o período de imobilidade variável, Freitas e Py (2016) definem
uma situação de repouso quando há permanência no leito de sete a 17 dias;
e condição de imobilização quando há permanência no leito de 10 a 15. Além
disso, a imobilidade no leito por períodos maiores a 15 dias caracteriza quadro
de imobilidade prolongada no leito ou decúbito de longa duração.
A imobilidade pode ser causada por doenças, como: osteoporose, fraturas,
osteoartrose, câncer, doenças pulmonares, cardiopatias, desnutrição, doenças
vasculares, doenças mentais, doenças neurológicas, entre outras. Nessas si-
tuações, as doenças causam inicialmente quadros de imobilidade muito leves,
como redução do equilíbrio, alterações na marcha e, à medida que evoluem,
passam a causar limitações de mobilidade cada vez maiores (Quadro 1).

QUADRO 1. EFEITOS DA IMOBILIDADE SOBRE OS SISTEMAS DO ORGANISMO

Sistema Efeitos da imobilidade

Hipotensão ortostática; taquicardia, náusea, sudorese e síncope após


Cardiovascular repouso prolongado; redução da capacidade aeróbica, com diminuição da
tolerância ao exercício; alto risco de trombose venosa profunda (TVP).

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Redução do volume corrente e da capacidade
vital; aumento da secreção brônquica; tosse ineficaz; atelectasia;
Respiratório pneumonia; embolia
pulmonar; insuficiência respiratória; alto risco de bronco aspiração por
engasgos.

Anorexia secundária a restrição dietética; tosse ou refluxo associados


Digestivo a posicionamento inadequado; doença do refluxo gastroesofágico;
constipação intestinal e fecaloma.

Aumento do volume residual da bexiga e alto risco de retenção urinária,


Geniturinário
alto risco de IU; alto risco de infecção urinária aguda ou recorrente.

Dermatites e micoses; escoriações,


Pele
lacerações e equimoses; xerodermia; prurido cutâneo; úlcera de pressão.

Redução do tônus e da força muscular; encurtamento e atrofia muscular;


Musculoesquelético redução da elasticidade das fibras colágenas; encurtamento muscular e
tendinoso; contraturas; redução da massa óssea.

Fonte: MORAES; MARINO; SANTOS, 2009; FREITAS; PY, 2016. (Adaptado).

Esses efeitos sobre os sistemas podem se apresentar com diferentes inten-


sidades. Em condições em que são mais intensos e causam limitação de mobi-
lidade maior, tem-se o surgimento da síndrome da imobilidade (SI). Essa sín-
drome se caracteriza como o grau máximo de imobilidade e continua mesmo
quando a causa inicial da imobilidade é resolvida, ou seja, a SI é considerada
uma situação clínica irreversível.
Vale destacar que nem todo idoso restrito ao leito desenvolve SI. Isso por-
que, para ser considerada SI, são necessários alguns critérios de diagnóstico.
Segundo Freitas e Py (2016), o idoso deve apresentar déficit cognitivo de médio
a grave e múltiplas contraturas, associado a pelo menos duas das condições
a seguir: sofrimento cutâneo, úlcera de decúbito, disfagia leve a grave, dupla
incontinência/e afasia.
Entretanto, sabe-se que a imobilidade prolongada no leito leva à deteriora-
ção funcional progressiva dos vários sistemas orgânicos do idoso, muito além
do envelhecimento fisiológico e, com isso, pode-se levar ao desenvolvimento
da SI ao longo dos anos.

CURIOSIDADE
Dentre as síndromes geriátricas, a síndrome da imobilidade é a que possui
maior taxa de morbidade e de mortalidade. Isso porque cerca de 40% dos
idosos que desenvolvem essa síndrome da imobilidade vão a óbito, o que
geralmente acontece pela falência de múltiplos órgãos ou pelo agrava-
mento de doenças comuns que surgem com a síndrome da imobilidade
(PEREIRA et al., 2017).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 90

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Fisioterapia na imobilidade prolongada
A fisioterapia na imobilidade objetiva tratar, reabilitar, reduzir agravos e
promover saúde e qualidade de vida em idosos nessas condições. Para isso,
o fisioterapeuta pode utilizar de recursos, incluindo a cinesioterapia, a prá-
tica de atividade física (quando possível), a eletrotermoterapia, orientações
quanto ao posicionamento e transferências, entre outras modalidades.
Terra (2015) cita que a cinesioterapia é amplamente utilizada (passiva,
ativa ou ativa assistida), prevenindo deformidades, dor, incapacidades e a
SI. Nesses casos, a cinesioterapia previne/ameniza prejuízos funcionais cau-
sados pela imobilidade, por meio de exercícios de reforço muscular, flexibi-
lidade, propriocepção, além de treino de equilíbrio e marcha (PERRACINI;
FLÓ, 2019).
Em relação ao fortalecimento, exercícios de força de membros inferiores
apresentam bons resultados na prevenção e manejo da imobilidade, pois
auxiliam nas transferências e em atividades como se sentar e se levantar.
Aliado a isso, orienta-se a realização de fortalecimento de membros supe-
riores, conforme as necessidades do paciente.
Treino de uso de dispositivos auxiliares de marcha, como muletas e anda-
dores também auxiliam na redução dos efeitos da imobilidade (PERRACINI;
FLÓ, 2019). Esses dispositivos devem ser corretamente indicados pelo fisiote-
rapeuta e o treino para uso deve ser supervisionado pelo profissional. Aliada
a esses recursos, a prática regular de atividade física é primordial para re-
duzir os efeitos da imobilidade, uma vez que auxilia na funcionalidade, nas
AVDS, preservando ao máximo as funções essenciais à rotina do idoso.
Em relação à eletrotermoterapia, a aplicação de correntes elétricas tera-
pêuticas está indicada para manejo da dor e para
prevenção e tratamento da hipotrofia muscular
(TERRA, 2015). A termoterapia (por meio do uso
de calor e frio) pode ser usada no ambiente
domiciliar pelo idoso, desde que os cuidado-
res/familiares estejam devidamente instruídos
sobre sua aplicação. Acerca do posicionamento,
torna-se imprescindível, em especial em idosos restritos ao
leito (Quadro 2).

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QUADRO 2. POSICIONAMENTO ADEQUADO EM CADA DECÚBITO

Decúbito Posicionamento adequado

Joelhos semiflexionados, de preferência manter cabeceira da cama a 30


Decúbito dorsal
graus de elevação, evitar plantiflexão.

Raramente indicado, esse decúbito causa estresse desnecessário à


Decúbito ventral coluna e ainda dificulta a respiração na maioria dos casos; mas pode ser
necessário na presença de úlceras de pressão na região sacral.

Joelhos flexionados, travesseiro entre as pernas, travesseiro posicionado


embaixo do membro superior que está acima, evitar que o peso do corpo
Decúbito lateral
fique totalmente sobre o ombro, evitar a posição fletida excessivamente
(posição fetal).

Manter a coluna ereta e elevada, evitar que os pés permaneçam em


Sentado
plantiflexão e, ainda, posicionar apoio para os membros superiores.
Fonte: TERRA, 2015. (Adaptado).

Esses posicionamentos podem ser realizados pelos familiares/cuidado-


res, mediante orientação do fisioterapeuta. Cintra e outros (2013) comen-
tam ainda a necessidade de técnicas de fisioterapia respiratória, por meio
de abordagens preventivas ou reabilitativas.

Insuficiência familiar
Além das síndromes geriátricas citadas, idosos podem ser acometidos por in-
suficiência familiar. Dessa forma, observa-se uma fragilidade no suporte familiar
do idoso e, consequentemente, isso se reflete na saúde, considerando que o su-
porte familiar se constitui como a principal instituição cuidadora dos idosos.
Em relação às causas, observa-se que a transição demográfica causou redução
das taxas de fecundidade, menor número de filhos, aliados à inserção da mulher
no mercado de trabalho e o aumento dos conflitos intergeração, culminando com
maiores dificuldades no cuidado de idosos, tornando essa tarefa, que antes era
realizada pela família, um obstáculo (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).
Dentre as síndromes, a insuficiência familiar demanda uma abordagem bas-
tante complexa, pois envolve fatores interdisciplinares e intersetoriais. Contudo,
a abordagem do fisioterapeuta se pauta em identificar situações de fragilidade
familiar e, quando necessário, realizar os encaminhamentos para os demais pro-
fissionais das equipes, a fim de garantir que o idoso tenha apoio integral, seja da
família, nos serviços comunitários ou nas instituições de longa permanência.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 92

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Incapacidade comunicativa
A capacidade funcional do idoso, a autonomia e a independência estão es-
tritamente relacionadas com a capacidade de comunicação, uma vez que ela
permite que o idoso troque informações com o meio, manifeste desejos, ideias
e pedidos. Por isso, problemas de comunicação podem resultar em perda de
independência. Segundo Moraes, Marino e Santos (2009), os problemas de co-
municação afetam 1/5 da população idosa e, por isso, é considerada uma das
síndromes geriátricas.

Incapacidade cognitiva
A incapacidade cognitiva é definida como o comprometimento das funções
encefálicas superiores, de modo que cause prejuízos na funcionalidade. Na po-
pulação idosa, as principais causas de incapacidade cognitiva são: depressão e
delirium (que são causas reversíveis) e doenças mentais e demência (que são
causas irreversíveis).
Em relação à avaliação dos idosos nesses aspectos, os profissionais devem
proceder a realização de testes de avaliação de atividades de vida diárias (esca-
la de Katz por exemplo), uma vez que a incapacidade cognitiva causa prejuízos
na execução dessas ações, além de teste do mini estado mental e escala de
depressão geriátrica (MORAES; MARINO; SANTOS, 2009).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 93

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Fisioterapia nas doenças relacionadas às síndromes
geriátricas
As síndromes geriátricas podem ser causadas ou vir acompanhadas de doen-
ças prevalentes em idosos, incluindo as doenças cerebrovasculares, doença de
Parkinson, demências e diabetes mellitus.

Doenças cerebrovasculares
As doenças cerebrovasculares (DCV) são anormalidades do encéfalo causa-
das por alterações vasculares, que podem surgir por obstrução de vaso sanguí-
neo, impedindo a irrigação sanguínea para alguma região, causando isquemia e
infarto cerebral (AVE isquêmico), ou ainda podem ocorrer por ruptura de vaso,
causando hemorragia intracraniana (AVE hemorrágico) (FREITAS; PY, 2016).
Desses, o AVE isquêmico é o mais prevalente (80% dos casos) e, em idosos,
a principal causa está relacionada à aterosclerose dos vasos que fazem a irri-
gação sanguínea encefálica. Nesses casos, há formação de um trombo, que se
adere às placas de ateroma e leva à isquemia. Pode ser causado também por
embolia, com trombos de origem cárdica ou decorrente de TVP. Pode aconte-
cer ainda em idosos de baixo débito sanguíneo para algumas regiões encefáli-
cas, associado às arritmias cardíacas e, nesses casos, a hipoperfusão cerebral
pode gerar lesão isquêmica.
Já os AVEs hemorrágicos costumam estar relacionados à hipertensão ar-
terial sistêmica (HAS) (FREITAS; PY, 2016). Isso porque a pressão arterial cro-
nicamente elevada causa fragilidade da parede dos vasos e, com isso, há for-
mação de microaneurismas nos pequenos vasos,
que podem se romper geralmente em picos hiper-
tensivos. Além dessa causa, outras condições
cerebrovasculares podem gerar hemorragias,
incluindo dissecção arterial, alterações hema-
tológicas, hemorragias causadas por neoplasias
cerebrais, por infecções, etc. Assim, o extravasa-
mento de sangue para o parênquima cerebral causa compres-
são e destruição das estruturas adjacentes.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 94

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Acerca das manifestações clínicas no AVE, além da intensidade e extensão da
lesão encefálica, a localização dela também influencia no quadro clínico do idoso,
mas no geral causam comprometimentos motores, cognitivos ou sensitivos, dan-
do origem a sintomas, como: alteração de força, sensibilidade, visão, fala, comu-
nicação, marcha ou equilíbrio, redução de mobilidade, entre outros, dependendo
do local da lesão (MARTINS et al., 2019).
Fisioterapia nas doenças cerebrovasculares
A ocorrência de AVE em idosos pode causar comprometimentos significativos,
dependendo da gravidade. Por isso, a abordagem da fisioterapia se faz necessária
para garantir a recuperação funcional. Nesses casos, a abordagem pode ser pre-
ventiva, ou envolver o manejo do paciente agudo ou ainda na fase crônica.
Na abordagem preventiva, atua-se mediante redução de fatores de risco mo-
dificáveis. Freitas e Py (2016) citam como fatores de risco passiveis de mudança:
tabagismo, HAS, DM, dislipidemias, etilismo, obesidade e sedentarismo. Dessa
maneira, busca-se a detecção precoce de fatores, a instituição de mudanças no
estilo de vida e, no caso de doenças como HAS e DM, o controle da doença, pois
pode-se reduzir o risco de AVEs.
Na fase aguda (em média até as 72 horas pós AVE), o fisioterapeuta pode atuar
desde que o idoso se encontre estável e haja liberação médica. Segundo Martins
e outros (2019), nessa fase, objetiva-se a preservação e melhora da condição res-
piratória, a prevenção da imobilidade, de contraturas, de complicações vasculares
(TVP) e cutâneas (úlceras de decúbito), além da redução no tempo de hospitali-
zação. Para isso, usa-se mobilização precoce, retirada do leito, higiene brônquica,
reexpansão pulmonar, orientações sobre posicionamento, transferências e uso
de órteses.
Na fase crônica, a abordagem visa à melhora da funcionalidade, a reinserção
no meio social e a qualidade de vida, uma vez que as ações objetivam recuperar a
independência funcional (ARRAIS JR., LIMA; SILVA, 2016). Na fase crônica da reabi-
litação de AVE, os recursos terapêuticos/ técnicas mais utilizadas são: o conceito
Bobath, facilitação neuromuscular proprioceptiva, treinamento funcional, hidro-
terapia, terapia de contensão induzida, eletroestimulação neuromuscular, entre
outros recursos (MARTINS et al., 2019).
O Quadro 3 mostra as manifestações clínicas dos AVES com base no local de
acometimento.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 95

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QUADRO 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ESPERADAS NAS LESÕES VASCULARES ENCEFÁLICAS

Hemiparesia, alteração da sensibilidade e comprometimento


Hemisfério esquerdo do campo visual (hemilanopsia homônima) à direita, afasia,
(dominante) comprometimento do olhar conjugado para a direita, disatria e
comprometimento da leitura, escrita e cálculo.

Hemiparesia, alteração da sensibilidade comprometimento


Hemisfério direito (não do campo visual à esquerda, comprometimento do olhar
dominante) conjugado para a esquerda, disartria, desorientação espacial e
heminegligência esquerda.

Déficit motor ou sensorial nos quatro membros, ataxia de


Tronco cerebral,
tronco ou membros, disartria, mirada lateral desconjugada,
cerebelo, lobos
nistagmo, amnésia, defeitos de campo visual bilateral, vertigem e
occipitais
incoordenação.

a) AVE motor puro: hemiparesia (membro superior e inferior, com


ou sem acometimento facial ipsi ou contralateral) sem alteração
Pequena lesão das funções cerebrais superiores, sensorial ou da visão
subcortical (lacuna) b) AVE sensorial puro: déficit na sensibilidade (face, membro
hemisférica ou do superior e inferior contralaterais) sem alterações das funções
tronco cerebral cerebrais superiores, motora ou da visão
c) outros tipos mais raros – disartria/desajeitamento manual;
ataxia/hemiparesia.

Fonte: FREITAS; PY, 2016, p. 414. (Adaptado).

Essas manifestações podem ser de diferentes intensidades e ainda podem


interferir de formas distintas na funcionalidade. Por isso, é importante que o
fisioterapeuta, além de conhecê-la, realize a avaliação fisioterapêutica especí-
fica, avaliando força, flexibilidade, equilíbrio, marcha, transferências, locomo-
ção, funcionalidade, entre outros aspectos que possam nortear o tratamento,
de modo que o planejamento seja feito com base nas necessidades evidencia-
das na avaliação.

Doença de Parkinson
Caracteriza-se por uma doença crônica, progressiva, decorrente da dege-
neração dos neurônios dopaminérgicos localizados na substância branca. A
etiologia não é totalmente conhecida, mas fatores genéticos, ambientais e dis-
funções mitocondriais e oxidativas parecem estar associados à degeneração
(PERRACINO; FLÓ, 2019).
Acomete preferencialmente pessoas acima de 50 anos, sendo que a pre-
valência aumenta com a idade, tendo maior acometimento entre mulheres
(FREITAS; PY, 2016).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 96

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A doença de Parkinson (DP) se manifesta por um quadro decorrente da re-
dução de dopamina, com dificuldades em iniciar e executar movimentos, bradi-
cinesia, tremor de repouso, rigidez muscular e instabilidade postural (FREITAS;
PY, 2016).
A bradicinesia é o sintoma mais prevalente (acomete 90% dos pacientes) e
considerado o mais incapacitante, pois resulta em limitações nos movimentos
do dia a dia, em virtude da lentidão dos movimentos voluntários. Há também
o tremor de repouso que atinge as extremidades, iniciando geralmente nas
mãos, e causa movimento involuntário semelhante a “contar dinheiro”, muito
comum na DP, mas não muito incapacitante (PERRACINI; FLÓ, 2019). Esse tre-
mor é prevalente no repouso e, à medida que o movimento voluntário aconte-
ce, tende a reduzir. A Figura 2 mostra o padrão postural de paciente com DP e
alguns outros sinais.

Postura encurvada
Rosto mascarado

Rigidez das costas


Inclinação frontal do tronco

Cotovelos e punhos flexionados Balanço de braço reduzido

Tremor de mão

Tremores nas pernas


Quadril e joelhos ligeiramente flexionados

Arrastamento, passo curto

Figura 2. Sinais da DP. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/11/2020. (Adaptado).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 97

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Em relação à marcha, o idoso se desloca em bloco com poucos movimentos de
braços, podendo ainda surgir um quadro de marcha patológica, chamada de mar-
cha festinante, caracterizada por passos curtos, rápidos e quase sem deslocamentos
(FREITAS; PY, 2016). Além disso, pode haver ainda outros sintomas, como: fala hipofô-
nica, micrografia, acúmulo de saliva, hipotensão ortostática, alterações cogntivas, al-
terações do sono, alterações sensoriais, depressão, entre outras doenças associadas.
Ainda não há cura para a DP e o tratamento visa apenas ao controle dos sintomas,
sendo que não há modalidades terapêuticas que impeçam o seu avanço (FREITAS; PY,
2016). Para controle dos sintomas, pode-se empregar o uso de terapia farmacológica,
tratamentos cirúrgicos (ablativos, radiofrequência, transplante de células nervosas
etc.) e fisioterapia.
Fisioterapia na doença de Parkinson
A fisioterapia na DP visa ao manejo de sinais e sintomas, de modo a prevenir ou
tratar incapacidades, melhorar a autonomia, independência e qualidade de vida,
atuando inclusive nos cuidados paliativos. Para isso, é necessária a realização de
avaliação prévia do paciente, verificando as limitações decorrentes da doença. En-
tão, deve-se avaliar: desempenho das AVDs, marcha, história de quedas e condições
cognitivas.
Com base nos resultados, o fisioterapeuta pode fazer uso de recursos que pos-
sibilitem o treino de marcha, de transferências, exercícios específicos para equilíbrio
e treino de mobilidade global, incluindo força, resistência, flexibilidade e capacidade
física geral, além do treino de AVDS. Esses recursos (incluindo exercícios físicos) devem
ser aplicados com base nos objetivos de tratamento na DP, que incluem: prevenção da
inatividade, manter/melhorar a condição física, reduzir quedas, amenizar incapacida-
des, melhorar equilíbrio e marcha (PERRACINI; FLÓ, 2019).
O atendimento pode ser feito em grupos, por meio de programas de exercícios,
especialmente em fases iniciais da doença; ou por meio de atendimento clínico. Ain-
da, em fases avançadas da doença, o atendimento pode ser feito em domicílio. Além
disso, quando o paciente idoso apresenta quadros de limitações
mais acentuados, os objetivos de tratamento se pautam em
manter as funções vitais, prevenir complicações (PERRACI- OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
NI; FLÓ, 2019). Para isso, são utilizadas adaptações postu- Clique aqui

rais, exercícios passivos e orientações de posicionamento,


assim como fisioterapia respiratória.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 98

SER_FISIO_FASI_UNID3.indd 98 25/11/2020 13:02:04


Demências
As demências são consideradas vilãs na área da geriatria, tanto por não terem
cura completa como também por demandarem altos custos em saúde. As demên-
cias se caracterizam por déficits progressivos de funções cognitivas, que incluem
habilidades de perceber, lembrar, tomar decisões, planejar e produzir respostas
adequadas aos estímulos externos (FREITAS; PY, 2016). Levam a prejuízos de pla-
nejamento, perdas sociais, ocupacionais, alterações de comportamento, resultan-
do em perda de independência (PERRACINI; FLÓ, 2019).
Inicialmente, o quadro se apresenta com queixas de perda de memória, espe-
cialmente com esquecimento de fatos recentes (perda de objetos, repetição de
ações, desorientação temporal e espacial, repetição de fatos etc.) (FIOCRUZ, 2008).
Com a evolução, além da perda de memória recente, há outros sinais e sintomas,
fazendo com que o paciente nomeie de maneira inadequada, apresente discurso
pobre, dificuldades de compreensão, dificuldade de nomear objetos, encontrar
palavras adequadas, etc. (FIOCRUZ, 2008).
As demências podem ser reversíveis (em média 5% dos casos) quando cau-
sadas por condições tóxicas ou infecciosas, como alcoolismo, HIV, meningite; ou
irreversíveis (95% dos casos), quando causadas por alterações estruturais ou me-
tabólicas, como na doença de Alzheimer (DA), demência vascular, degeneração
frontotemporal ou demência de corpúsculos de Lewy (FIOCRUZ, 2008).
Dentro do grupo de demências irreversíveis, a DA é a mais prevalente e cons-
titui em média 50 a 60% das causas de demências irreversíveis. Em relação à fisio-
patologia, Varela (2020) comenta que a DA é causada pela redução de acetilcolina,
um neurotransmissor essencial para manutenção da memória e aprendizagem,
sendo que essa redução é resultado da degeneração de neurônios na substância
cinzenta.
Fisioterapia nas demências
O fisioterapeuta deve realizar a avaliação, incluindo análise dos aspectos fí-
sicos, cognitivos, funcionais, comportamentais e, a partir disso, identificar quais
funções estão preservadas e quais devem ser reestabelecidas. Então, pode-se
elaborar um plano de tratamento que considere os déficits e implicações funcio-
nais, baseando-se nas manifestações clínicas, no tipo de demência e na fase da
doença.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 99

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De maneira geral, percebe-se que a maioria das demências não causam al-
terações motoras significativas em fases iniciais da doença (PERRACINI; FLÓ,
2019). Por isso, nessa fase, a abordagem fisioterapêutica é voltada à manu-
tenção da mobilidade, do equilíbrio, marcha e condicionamento físico. Sendo
assim, é importante que os familiares sejam orientados a manter o idoso com o
máximo de independência nas AVDs, realizando atividade física diária e sendo
estimulado à integração social.
Em fases moderadas das demências, os idosos já reduzem a mobilidade de
maneira importante. Assim, a fisioterapia deve estimulá-los a se manterem ao
máximo ativos, por meio de abordagens que visem ao aumento da ADM, da
força e resistência muscular. Como as alterações cognitivas estão mais acen-
tuadas, orienta-se que a cinesioterapia seja realizada com exercícios menos
complexos e mais funcionais, mais próximos do dia a dia, como carregar obje-
tos, colocar calçados, varrer etc., além da utilização de dispositivos auxiliares
de marcha (PERRACINO; FLÓ, 2019).
Já em fase avançada, os pacientes costumam estar em condições de imobi-
lidade no leito. No final dessa fase, o idoso encontra-se com perda praticamen-
te total da capacidade cognitiva, associada ao grave comprometimento motor
irreversível, podendo ser necessárias abordagens paliativas com intenção de
aliviar a dor e o sofrimento (PERRACINI; FLÓ, 2019).

Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus (DM) possui alta prevalência em idosos e se refere a
uma disfunção metabólica caracterizada por hiperglicemia. As duas princi-
pais apresentações são o DM tipo 1 e o DM tipo 2. No primeiro,
o aumento dos níveis de glicose se deve à defi ciência de insuli-
na, resultando da destruição autoimune das células das ilho-
tas pancreáticas; já o DM tipo 2 é resultado da
defi ciência na secreção e/ou ação da insulina,
sendo mais prevalente entre idosos e em
associação com obesidade, especialmen-
te obesidade visceroabdominal (FREITAS;
PY, 2016).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 100

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Essa disfunção exerce efeitos deletérios sobre o organismo, em virtude do
efeito tóxico da hiperglicemia, causando lesões em diversos sistemas, incluindo
circulatório e nervoso, evoluindo para complicações. Dentre as complicações,
há o surgimento de neuropatia periférica, que se manifesta, inicialmente, com
leve distúrbio sensorial e, conforme evolui, causa déficit motores progressivos
e autonômicos de caráter irreversível.
A polineuropatia periférica distal é o tipo mais comum de neuropatia peri-
férica em diabéticos e, nesses casos, os níveis elevados de glicose afetam os
nervos periféricos. À medida que evolui, a doença pode levar ao surgimento do
pé diabético, que se caracteriza por complicações cutâneas, vasculares, mus-
culares, ósseas, dentre outras, provenientes da má nutrição e inervação das
extremidades (FERREIRA; MEJIA, 2011). A Figura 3 mostra alguns sinais encon-
trados no pé diabético, em decorrência da neuropatia periférica.

Fluxo
sanguíneo
reduzido

Úlceras
Nervos
Danificados

Calo

Joanete

Unhas
encravadas

Pele seca
e rachada
Úlcera
Dedo do pé
do martelo

Figura 3. Pé diabético Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/11/2020. (Adaptado).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 101

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Fisioterapia no diabetes mellitus
Pacientes idosos com DM devem ser acompanhados por equipes inter-
disciplinares. Esses pacientes se be-
neficiam de medidas preventivas,
incluindo redução de fatores de risco
(tabagismo, HAS, obesidade, dislipide-
mia e sedentarismo), e de orientações
para prática de atividade física regular.
Aliados a isso, os fisioterapeutas
podem atuar sobre as disfunções ciné-
tico funcionais, por meio de um trata-
mento, até com próteses que objetive
independência, redução da incapaci-
dade funcional, redução do risco de
quedas, prevenção de complicações
crônicas do DM, como o pé diabético, melhora do equilíbrio e marcha.

Fisioterapia nas disfunções cardiovasculares: reabilitação


cardiovascular (RCV)
Dentre as disfunções cardiovasculares mais prevalentes em idosos, te-
mos: as coronarianopatias, como angina de peito e infarto agudo do miocár-
dio (IAM); e a hipertensão arterial sistêmica (HAS) (FREITAS; PY, 2016).

Fisiopatologia das principais disfunções cardiovasculares


em idosos
Coronarianopatias: também chamadas de doença arterial coronariana,
ou doença isquêmica cardíaca, referem-se a afecções que resultam da obs-
trução das artérias coronárias, responsáveis pela irrigação sanguínea da es-
trutura cardíaca. Essas artérias podem ser obstruídas por placas de gordura
(aterosclerose), que vão se depositando no interior dos vasos ao longo dos
anos, causando graus variados de estenose (obstrução). A Figura 4 mostra a
obstrução da artéria coronária observada nas coronarianopatias.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 102

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Figura 4. Coronarianopatia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 23/09/2020.

Essas disfunções são mais prevalentes à medida que se envelhece. Além


da idade, outros fatores estão associados, como sexo masculino, dislipide-
mia, tabagismo, HAS, DM, obesidade e sedentarismo (REBELATTO, 2008). A
estenose proveniente das coronarianopatias pode resultar em angina de
peito ou infarto agudo do miocárdio (IAM).
HAS: é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2016) como
sendo condição clínica caracterizada pela elevação sustentada dos níveis
pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg e que, acima destes valores, passa a ser
classificada em estágios, conforme a Tabela 1.

TABELA 1. CLASSIFICAÇÃO DA HAS

Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg)

Ótima <120 <80

Normal <130 <85

Limítrofe 130 a 139 85 a 89

Hipertensão estágio 1 140 a 159 90 a 99

Hipertensão estágio 2 160 e 169 100 a 109

Hipertensão estágio 3 >180 >109

Hipertensão sistólica isolada >140 <90

Fonte: FREITAS; PY, 2016, p. 652. (Adaptado).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 103

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Em geral, a HAS possui etiologia multifatorial e envolve distúrbios me-
tabólicos, dislipidemia, obesidade, DM, sedentarismo, entre outros. A pre-
sença de HAS eleva o risco de eventos, como morte súbita, AVE, IAM e insu-
fi ciência cardíaca. Trata-se de uma condição muito comum em idosos, uma
vez que a prevalência aumenta conforme a idade.

Reabilitação cardiovascular (RCV)


Pacientes idosos com doenças cardíacas podem ser submetidos a programas
de reabilitação, estabelecidos por equipes interdisciplinares. Nos casos de angina, o
tratamento envolve o uso de medicamentos e RCV, visando a amenizar as queixas
e prevenir a ocorrência de complicações. Pacientes com IAM devem ser imediata-
mente encaminhados ao hospital para tratamento médico, necessitando de medi-
camentos e, em algumas situações, cirurgias de revascularização miocárdica para
posteriormente dar início a RCV.
Acerca da HAS, ela costuma ser tratada com medicamentos, terapia comporta-
mental (afastamentos dos fatores de risco e estímulo a hábitos saudáveis), incluin-
do, por exemplo, a prática de exercícios físicos, orientados e supervisionados.
Nessas disfunções, a RCV pode atuar em diferentes momentos, sendo indicada
em situações em que o paciente cardiopata está clinicamente estável, ou seja, está
devidamente medicado e liberado para a prática da reabilitação. Tem como objetivo
proporcionar um condicionamento físico satisfatório, de modo que facilite a eficiên-
cia cardíaca e proporcione maior vascularização colateral.
Antes de dar início à RCV, os pacientes passam por uma avaliação médica crite-
riosa, com realização de diversos exames/testes. Realiza-se teste ergométrico para
detectar possíveis alterações eletrocardiográficas, definir a capacidade máxima de
exercício e serve para acompanhamento da evolução.
Posteriormente, o paciente é submetido a uma avaliação fisioterapêutica com in-
vestigação de histórico familiar, história pregressa da doença, história atual da doen-
ça, além de outras informações que possam ser importantes para a reabilitação.
Com base na anamnese e no teste ergométrico, o fisioterapeuta pode realizar a ava-
liação funcional do paciente, que inclui desde avaliações de sinais vitais (FC, FR, PA,
ausculta pulmonar, ausculta cardíaca) até testes específicos de força muscular, teste
da caminhada de seis minutos, entre outros testes que subsidiarão o tratamento.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 104

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Fases da RCV
A RCV é dividida em quatro fases, de acordo com a situação clínica do pacien-
te e os objetivos de tratamento fisioterapêutico. São elas:
Fase I: paciente ainda em internação hospitalar. Objetiva-se prevenir com-
plicações circulatórias, respiratórias, reduzir a inatividade, manter o trofismo
muscular, reduzir o tempo de internação e proporcionar deambulação precoce.

CONTEXTUALIZANDO
Na fase aguda de IAM a atuação do fisioterapeuta é importante, uma vez
que são comuns complicações respiratórias relacionadas ao imobilismo.
Isso porque idosos em IAM permanecem restritos ao leito no ambiente
hospitalar de 24 a 48 horas (quando sem complicações) (REBELATT, 2008).

Fase II: denominada subaguda ou pós-hospitalar com paciente em fase de


recuperação domiciliar. Essa fase dura durante 6 a 17 semanas (mínimo e má-
ximo) e objetiva aumentar a capacidade aos esforços, trabalhar musculatura
respiratória, orientar o paciente sobre a monitorização dos sinais e educá-lo.
Fase III: paciente em reabilitação em fase crônica, com tratamento a longo
prazo. Em geral, após o terceiro mês do evento cardíaco, objetivando alcançar
e manter os efeitos da RCV.
Fase IV: fase crônica de reabilitação
em que o paciente está inserido em
grupos de reabilitação ou em reabilita-
ção individual não supervisionados.
Durante a RCV, deve-se considerar
as particularidades da avaliação, vi-
sando a alcançar a frequência cardíaca
alvo de 60 a 80% da FCmax e, embora
os exercícios possam ser iguais para
todos os pacientes, a diferenciação do
tratamento se pauta na determinação
da carga de trabalho, respeitando a
condição física, idade e condições ge-
rais do idoso.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 105

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Princípios e cuidados da RCV
Em relação ao tempo de tratamento, são orientados programas de rea-
bilitação cardiovascular de 10 a 12 semanas, com frequência mínima de três
sessões semanais e máxima de cinco, com duração de 20 a 30 minutos cada.
Deve-se iniciar com atividades leves de aquecimento (caminhadas), seguido de
exercícios de MMSS e MMII, preparando-o para os exercícios posteriores em
maior intensidade na esteira ou bicicleta ergométrica.
Deve-se considerar que, durante a sessão de RCV, o organismo
sofre mudanças consideráveis de PA e FC, que pode ge-
rar angina, picos de hipertensão, tonturas, dores etc.
OBJETOS DE
Por isso o fisioterapeuta deve acompanhar o pacien- APRENDIZAGEM
Clique aqui
te em cada etapa, verificando com periodicidade os
sinais vitais do paciente (REBELATTO, 2008).

Fisioterapia nas disfunções respiratórias


Dentre as afecções respiratórias mais prevalentes em pacientes idosos, ci-
tam-se as infecções, como as pneumonias e a tuberculose, doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) e complicações pulmonares pós-cirúrgicas.

Fisiopatologia das principais disfunções respiratórias


em idosos
Infecções: idosos possuem redução da capacidade respiratória fisioló-
gica, redução dos mecanismos de defesa, redução
da complacência da caixa torácica associada à
presença de algumas doenças e ao uso de me-
dicamentos, o que aumenta as chances de con-
tágio por agente infeccioso, uma vez que as de-
fesas do organismo estão reduzidas. Má nutrição,
higiene oral precária e alterações da deglutição são
também fatores envolvidos na prevalência de infecções respira-
tórias (REBELATTO, 2008).

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 106

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Pneumonia: é uma doença infecciosa, causada por diferentes microrga-
nismos, incluindo vírus, bactérias e fungos. É bastante prevalente em idosos
e representa altas taxas de morbimortalidade. Segundo a Sociedade Bra-
sileira de Geriatria e Gerontologia (2016), o risco de pneumonias aumenta
com a idade, baixo peso, doenças cardíacas, doenças neurológicas e psi-
quiátricas, uso de medicamentos sedativos, alcoolismo, presença de tubos
nasogástricos, entre outros fatores.
Tuberculose: trata-se de uma doença infecciosa que acomete a estrutu-
ra pulmonar e é causada por bactéria conhecida como bacilo de Koch (SBPT,
2020).
DPOC: é uma afecção caracterizada por obstrução crônica ao fl uxo aé-
reo, resultado da associação de enfisema, bronquite crônica e bronquite
asmática. A nível pulmonar, observa-se limitação ao fl uxo de ar, que não
é totalmente reversível, é progressiva e associada à resposta inflamatória
pulmonar anormal (FREITAS; PY, 2016).
Essas disfunções, bastante prevalentes em idosos, são passiveis de rea-
bilitação pulmonar (RP).

Reabilitação pulmonar
A RP é realizada mediante trabalho conjunto, incluindo fisioterapeutas, mé-
dicos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, nutricionistas, entre outros
profissionais.
Os objetivos da RP se pautam em: controlar e aliviar sintomas respirató-
rios; treinar o paciente para que obtenha o máximo de funcionalidade no dia
a dia; reduzir impactos psicológicos causados pela doença (ansiedade e de-
pressão); possibilitar aumento da capacidade produtiva; melhorar a tolerân-
cia aos exercícios e as AVDs; reduzir hospitalizações e melhorar a qualidade
de vida do idoso.
A RP está indicada para pacientes com comprometimento pulmonar crônico
ou agudo. Nestes casos, a RP utiliza técnicas que promovem a eliminação de se-
creções com auxílio de manobras de higiene brônquica, manobras de reexpan-
são pulmonar, reeducação respiratória, além de exercícios de fortalecimento
muscular, alongamento, condicionamento, mobilidade, entre outras técnicas.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 107

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RP nas doenças infecciosas
Nas doenças infecciosas, a fisioterapia atua de maneira associada ao tratamento
medicamentoso. Tem como objetivos: melhorar a ventilação pulmonar, aumentar
a oxigenação e maximizar a tolerância ao exercício e à realização das AVDs. Além
disso, dificulta a progressão da doença, prevenindo o surgimento de novas compli-
cações e reduzindo o tempo de hospitalização.
As condutas devem promover a remoção de secreções brônquicas, garantir a
reexpansão pulmonar e melhorar o condicionamento. Para higiene brônquica, res-
saltam-se técnicas de vibrocompressão, aceleração do fluxo expiratório, drenagem
postural e tapotagem. Para reexpansão, utiliza-se estímulo diafragmático, técnica
de compressão e descompressão, padrão inspiratório em tempos, em soluços e ex-
piração abreviada (FARENCENA; SILVEIRA; PASIN, 2006). Essas técnicas aumentam a
ventilação pulmonar, a oxigenação alveolar e, com isso, reduzem sinais e sintomas.

RP no DPOC
O tratamento envolve medidas de educação (orientações acerca da
doença, fatores agravantes, tratamento, etc.), medidas farmacológicas (uso
de broncodilatadores e corticoides), oxigenioterapia, cirurgia, além da RP.
Preconiza-se, na reabilitação de pacientes com DPOC, exercícios respirató-
rios associados a programas educativos, que objetivam melhorar o condi-
cionamento físico e a funcionalidade (REBELATTO, 2008).
A principal queixa no DPOC é a dispneia, causada pelo desequilíbrio en-
tre a necessidade ventilatória e a limitação da capacidade pulmonar, em
especial durante a realização de exercícios físicos ou durante a realização
de AVDs, causando limitações funcionais, perda de autonomia e redução da
qualidade de vida.
Para avaliação, é importante que, além da anamnese, sejam realizados
teste ergométrico, gasometria arterial, teste de caminhada, espirometria,
teste de resistência de membros inferiores, teste incremental de membros
inferiores e superiores e oximetria. Após, o paciente pode ser encaminhado
para a RP com duração de 24 sessões, no mínimo, para que se faça o treina-
mento físico aliado ao programa educativo.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 108

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Resumidamente, o programa de reabilitação voltado ao paciente com
DPOC envolve:
a) Treinamento intervalado, com 14 exercícios de curta duração, alter-
nando posição ortostática e sentada, além de exercícios de MMSS e MMII;
b) Treinamento dos MMII em esteira ou bicicleta ergométrica por 30 mi-
nutos, respeitando a carga evidenciada no teste incremental de MMII;
c) Treinamento dos MMSS por 30 minutos, respeitando a carga máxima
evidenciada no teste incremental de MMSS;
d) Alongamento global, com ênfase em cintura escapular;
e) Relaxamento;
f) Programa educativo, com orientações acerca da importância da fisiote-
rapia, do uso dos medicamentos, técnicas de conservação de energia, entre
outros aspectos.

RP no pré e pós-operatório
As complicações respiratórias pós-cirúrgicas em idosos são frequentes e
consideradas importantes causas de morbimortalidade. Em relação às causas,
as cirurgias costumam desencadear repercussões pulmonares, principalmente
devido às alterações no padrão respiratório, nas trocas gasosas, no mecanismo
de defesa, entre outros aspectos.
Além disso, a posição em supinação durante a cirurgia e durante a fase pós-
-operatória, associada aos fatores de risco, como tabagismo e obesidade, au-
mentam as chances de complicações respiratórias pós cirurgia. Tais complica-
ções são mais intensas quando os procedimentos cirúrgicos são realizados em
abdômen superior ou tórax e quando duram mais de seis horas. A imobilidade
no leito e adoção de posturas antálgicas elevam ainda mais o risco de compli-
cações pulmonares (REBELATTO, 2008).
Dentre as alterações pulmonares pós-operatórias, cita-se: redução do volu-
me corrente, aumento da FR, redução de volumes e capacidades respiratórias,
redução da relação perfusão ventilação, inibição do mecanismo de tosse, alte-
rações do muco, entre outras. Nessas situações, o fisioterapeuta pode atuar
junto aos idosos que serão submetidos aos procedimentos cirúrgicos, ainda na
fase pré-operatória.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 109

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Como técnicas de mobilização de secreção pulmonar, pode-se empregar:
drenagem postural brônquica, vibração, manobras de percussão torácica, tos-
se, tosse assistida, técnica de expiração forçada, drenagem autógena e expira-
ção lenta com a glote aberta.
Outros recursos a serem empregados na fase pós-operatória são: inalote-
rapia, flutter, ventilação percussiva intrapulmonar, exercício respiratório dia-
fragmático, suspiros inspiratórios, expiração abreviada, expiração máxima
sustentada e inspiração fracionada. Em relação aos equipamentos, podem ser
utilizados na RP: inspirômetro de incentivo, respiração com pressão positiva
intermitente, pressão positiva contínua das vias aéreas, pressão positiva nas
vias aéreas (REBELATTO, 2008).
Na fase pós-operatória, o fisioterapeuta deve atuar visando à redução do
imobilismo no leito, uma vez que esse é fator desencadeante da redução da
capacidade respiratória, assim como deve atuar na prevenção de atelectasia
e infecções. Para isso, pode-se utilizar técnicas manuais de higiene brônquica
e técnicas de reexpansão pulmonar, como: bag squeezing, aspiração traqueal,
posicionamento do paciente e recrutamento alveolar.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 110

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Sintetizando
Aprendemos nesta unidade que atualmente possuímos sete síndromes ge-
riátricas: instabilidade postural, iatrogenia, incontinência, imobilidade, insufi-
ciência familiar, incapacidade comunicativa e incapacidade cognitiva. Em cada
uma delas, a fisioterapia tem papel importante, tanto na prevenção como na
reabilitação.
Além de possuir uma atuação importante junto às síndromes geriátricas, o fi-
sioterapeuta pode atuar no manejo de algumas doenças prevalentes em idosos,
que podem levar ao desencadeamento de síndromes geriátricas, como: doenças
cerebrovasculares; doenças cardiovasculares; doença de Parkinson; demências,
como a doença de Alzheimer; diabetes mellitus; entre outras.
Diante dessas abordagens, percebe-se que o fisioterapeuta tem uma atuação
importante na assistência da pessoa idosa, tanto por meio de medidas preventi-
vas como pela promoção de saúde, reabilitação e, em alguns casos, de cuidados
paliativos.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 111

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FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 114

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UNIDADE

4 FISIOTERAPIA
EM DISFUNÇÕES
REUMATOLÓGICAS E
DESENVOLVIMENTO
DE AMBIENTES
FUNCIONAIS

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Objetivos da unidade
Identificar pontos importantes na avaliação fisioterapêutica voltada ao idoso
com doença reumática;

Compreender a abordagem fisioterapêutica nas principais doenças


reumáticas que acometem idosos;

Compreender a fisiopatologia de doenças reumáticas que cursam com


alterações motoras;

Analisar o ambiente doméstico de idosos e identificar pontos relevantes


envolvidos na segurança e funcionalidade dos ambientes.

Tópicos de estudo
Avaliação reumatológica em Planejamento e adaptação do
geriatria ambiente em geriatria
Anamnese Casa segura em geriatria
Exame físico/funcional Avaliação do ambiente em que o
Diagnóstico cinético-funcional e idoso vive
plano de tratamento Sugestões de adaptações de
ambientes gerais
Fisioterapia nas principais dis- Sugestões de adaptações de
funções reumatológicas ambientes específicos
Impacto funcional das doenças
reumáticas
Osteoartrose e osteoporose
Artrite reumatoide e artrite
gotosa
Fibromialgia, polimialgia reu-
mática e espondiloartrites
Outras doenças reumatoló-
gicas do idoso e abordagem da
fisioterapia

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 116

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Avaliação reumatológica em geriatria
Além da avaliação geriátrica ampla, o paciente idoso pode ser submetido
a uma avaliação fisioterapêutica específica para doenças reumáticas, conside-
rando algumas particularidades destas disfunções. Vale lembrar que o atendi-
mento do paciente idoso, incluindo aquele com doença reumática, é interdis-
ciplinar e envolve a avaliação e condutas diversas voltadas ao seu tratamento
integral. A reumatologia é uma das áreas de atuação da fisioterapia, em que o
profissional pode intervir de modo a prevenir complicações, melhorar a condi-
ção física e possibilitar melhores condições funcionais para os pacientes aco-
metidos por doenças reumáticas.
Na avaliação, busca-se entender ao máximo todos os fatores envolvidos na
saúde do idoso que possam estar interferindo de maneira positiva ou negativa
nas condições de saúde. Para isso, a avaliação pode ser estruturada em anam-
nese, exame físico funcional e, a partir destas informações, o fisioterapeuta
entende as disfunções cinético-funcionais existentes, define objetivos e traça
condutas de maneira individualizada.

Anamnese
Refere-se a uma entrevista semiestruturada a ser feita com o paciente, com
ou sem auxílio de familiares ou cuidadores, dependendo das condições cogniti-
vas do idoso. Nesta etapa da avaliação, o fisioterapeuta pode elaborar pergun-
tas que envolvam informações sobre:
• Dados pessoais: identificar dados como nome, idade, raça, gênero, te-
lefone, endereço, profissão etc. Dentre outros dados essenciais para manter
contato com o paciente e, ainda, estabelecer um panorama geral da situação,
considerando que algumas das informações obtidas nesta etapa podem au-
xiliar o profissional a compreender maiores incidências de algumas doenças
reumáticas em alguns casos;
• Queixa principal: refere-se ao que trouxe o idoso ao atendimento fisiote-
rapêutico, o que está lhe incomodando;
• Doenças associadas/uso de medicações e história familiar: o profissio-
nal estabelece um panorama geral das condições de saúde do paciente, visan-

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do conhecer possíveis contraindicações a algumas modalidades de tratamento
e para que consiga elencar relações entre as doenças associadas e o desenvol-
vimento ou agravamento da doença reumática. O histórico familiar permite
compreender a carga relacionada à hereditariedade que possa existir, conside-
rando que algumas doenças reumáticas têm maior predisposição quando há
casos na família;
• História da doença pregressa e atual: visa descrever toda a história
acerca da queixa do paciente, quando foi o início, como evoluiu, se já realizou
tratamentos e quais os resultados alcançados, além de informações sobre a
condição atual do paciente (como se locomove, quais as limitações citadas pelo
paciente etc.);
• Hábitos de vida: visa identificar a presença de fatores de risco para algu-
mas doenças (tabagismo, etilismo, sedentarismo, obesidade etc.) e é a partir
destas informações, que o fisioterapeuta pode traçar medidas preventivas de
maneira mais personalizada.

Exame físico/ funcional


Nesta etapa, o fisioterapeuta pode fazer uso de testes, escalas e questionários,
ou seja, uma série de recursos de modo a entender melhor a situação de saúde do
paciente com doença reumática. Inicia-se com a inspeção, em sequência é realizado o
exame físico/funcional. São informações importantes:
• Dor (tipo de dor, localização, intensidade, relação com movimento, relação
com repouso);
• Rigidez (presença de rigidez, em qual período do dia, por quanto tempo persiste);
• Manifestações articulares (verificar presença de edema, de dor à palpação, erite-
ma, calor, contraturas, deformidades etc.);
• Manifestações extra-articulares (alterações de pele, humor, depressão etc.);
• Força muscular e flexibilidade;
• Amplitude de movimento;
• Transferências e marcha;
• Equilíbrio;
• Perimetria;
• Avaliação funcional.

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Diagnóstico cinético-funcional e plano de tratamento
Com base nos dados obtidos na anamnese e no exame físico do paciente
idoso com doença reumática, o fisioterapeuta é capaz de definir as necessi-
dades de tratamento do paciente, o quanto e como a doença reumática está
interferindo nas condições biomecânicas do idoso e, consequentemente, na
autonomia e funcionalidade.
Com base nestas informações, o fisioterapeuta elabora o plano de tra-
tamento, que é sempre individualizado e planejado com base nos dados
coletados na avaliação. Neste momento, o profissional é capaz de estabele-
cer objetivos e condutas a fim de permitir a atenção à saúde do idoso com
doença reumática.

Fisioterapia nas principais disfunções reumatológicas


Entre as áreas de atuação da fisioterapia que se ocupam da saúde da pessoa
idosa, encontra-se a atuação fisioterapêutica junto aos pacientes com doenças
reumáticas. Nesta área, a fisioterapia tem ampla atuação e, junto aos demais
membros, as equipes interdisciplinares podem promover melhorias significati-
vas na qualidade de vida de idosos com doenças reumáticas.

Impacto funcional das doenças reumáticas


O avanço da idade traz consigo maiores chances de desenvolvimento
de doenças crônicas, que podem de algum modo interferir na capacidade
funcional, na independência, na autonomia e, consequentemente, na qua-
lidade de vida do idosos de maneira negativa.
Segundo Francisco e colaboradores (2018), as doenças reumáticas
destacam-se como enfermidades de caráter crônico com maior impacto
na qualidade de vida dos idosos. Isso porque estas doenças causam, ao
longo de sua evolução, graus variados de restrição de habilidades físicas,
necessárias para manutenção da independência e autonomia na realiza-
ção de atividades de vida diárias, assim como nas demais atividades de
maior complexidade.

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As doenças reumáticas são definidas como um grupo de doenças que
acometem o tecido conjuntivo, podendo gerar comprometimento de teci-
dos como pele, coração, pulmão, vasos sanguíneos, estruturas osteoarti-
culares e periarticulares (FRANCISCO e colaboradores, 2018).
De forma geral, estas doenças,
especialmente as que acometem
estruturas osteoarticulares, periar-
tiuclares e musculares, são as que
mais causam limitações funcionais
na população idosa (REBELATTO; MO-
RELLI, 2007). Por sua vez, estas limi-
tações funcionais ocorrem porque o
desempenho do idoso em atividades
da vida diária dependem diretamen-
te das funções motoras. Nos casos de
doenças reumáticas, é comum o com-
prometimento deste aspecto, principalmente pela presença de dor, rigidez
articular e outros sintomas que interferem na execução dos movimentos, nas
transferências, na marcha, entre outros efeitos característicos provocados
por essas enfermidades.
Dentre os sintomas, vale destacar que a dor possui uma importância rele-
vante na qualidade de vida do idoso com doença reumática, tendo em vista que,
conforme apontam Freitas e Py (2016), a dor que acomete estruturas musculoes-
queléticas são as mais comuns e as mais incapacitantes
Francisco e colaboradores (2018) comentam ainda que a dor resultante
destas doenças em idosos predispõem esta população a complicações e
fragilidade, tornando o idoso mais sedentário e dependente, com impac-
tos negativos sobre a massa muscular e sujeitos a estados de dor crônica.
Em relação aos fatores de risco para estas doenças, sabe-se que gê-
nero feminino, idade avançada, sedentarismo, sobrepeso e tabagismo são
fatores associados ao desenvolvimento ou piora dos quadros clínicos de
doenças reumáticas (FRANCISCO e colaboradores, 2018). Destaca-se que
essas doenças podem surgir em qualquer fase da vida, sendo que boa par-
te delas surge a partir da fase adulta. Entretanto, mesmo as que surgem

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antes desta fase, por terem em sua maioria componente crônico, evoluem
ao longo dos anos e trazem um peso importante para o idoso, que convive
com a doença há muito tempo.
Entre as doenças reumáticas mais prevalentes nos idosos e relaciona-
das à maior incapacidade funcional, citam-se: osteoartrose, artrite
reumatoide, osteoporose, fibromialgia, polimialgia reumáti-
ca, espondiloartrites, artrite gotosa, além de outras doen-
ças reumáticas, como capsulite adesiva, distrofia simpáti-
co-reflexa, estenose vertebral e síndrome do impacto.

Osteoartrose e osteoporose
Osteoartrose
Também conhecida pelos nomes de osteoartrite, artrose ou doença ar-
ticular degenerativa, a osteoartrose é uma disfunção reumática caracteri-
zada por alterações bioquímicas, moleculares e histológicas na cartilagem
articular e no osso subcondral, quando, por diversos fatores, há
redução da função dos condrócitos em produzir quantidades
suficientes de matriz extracelular na cartilagem
(REBELATTO; MORELLI, 2007). Estas alterações
trazem um quadro de desgaste da cartilagem
articular, associada a alterações ósseas, entre
elas a presença de osteócitos e quadro clínico
característico (SBR, 2011).
É classificada em osteoartrose primária quando não se conhece o me-
canismo relacionado ao desenvolvimento da doença; e secundária, quan-
do o quadro é resultante de uma causa conhecida. É classificada ainda
conforme a sintomatologia (muda, ativa, idiopática) e os locais de acome-
timento (central e periférica):
• Muda: presença de alterações radiográficas, mas sem sintomas;
• Ativa: presença de alterações radiográficas e sintomatologia;
• Idiopática: quando não se sabe precisar a origem do problema;
• Central: acomete o esqueleto axial, a coluna vertebral na maioria dos casos;
• Periférica: acomete estruturas articulares do esqueleto apendicular.

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Trata-se da doença reumática mais comum em idosos, sendo mais frequen-
te a partir dos 60 anos e, a partir dos 75 anos, cerca de 85% dos idosos possuem
sinais desta disfunção. É mais comum em mulheres e, neste caso, com maior
acometimento em mãos e joelhos, enquanto nos homens é menos prevalente
e costuma acometer mais articulação coxofemoral (SBR, 2011).
Em relação à fisiopatologia, inicialmente percebem-se sinais que acometem
a cartilagem articular, a membrana sinovial e o osso subcondral, associado ain-
da, em alguns casos, a alterações de tecidos próximos. Estas alterações não
têm natureza inflamatória a princípio e resultam em um desequilíbrio no pro-
cesso de reparação e remodelamento do osso subcondral, havendo redução
da ação de condrócitos (células que sintetizam matriz extracelular). Estes dese-
quilíbrios no processo de remodelamento acontecem de maneira progressiva
e não uniforme na cartilagem, havendo sinais pontuais de lesões, causando
como sintoma inicial a fibrilação localizada decorrente das lesões nas camadas
mais superficiais da cartilagem articular.
Com o avanço da doença, esta degeneração se estende às demais áreas
da cartilagem, tendo acometimento mais profundo, ocasionando em fissuras
na cartilagem (decorrentes de rupturas das fibras de colágeno) até atingir o
osso subcondral. Nesta fase, a espessura da cartilagem reduz e há liberação
de fragmentos no espaço articular, associados à ação de enzimas que intensifi-
cam a degradação da cartilagem, sendo que, em fases avançadas, a cartilagem
articular pode estar toda destruída e haver exposição do osso subcondral. A
liberação de fragmentos no espaço articular leva ao desenvolvimento de um
quadro de sinovite reacional, que pode variar de moderada a grave e, neste
caso, há um processo inflamatório associado.
No geral, a perda da cartilagem causa alterações secundárias nos tecidos
adjacentes, como músculos, tendões e ligamentos, decorrentes do processo
inflamatório crônico que se instala e do desuso da articulação, tornando estas
estruturas rígidas, fracas e contraturadas. No tecido ósseo, observa-se como
alteração secundária, a descarga irregular de peso na cartilagem, que gera for-
mação de cistos e lesões na medula óssea, com aumento da densidade óssea
subcondral, redução do espaço articular e formação de osteófitos, evidencia-
dos no raio X. A Figura 1 traz uma exemplificação de um caso de osteartrose
em região de joelho.

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Normal Osteoartrite

Cisto ósseo
Cápsula Cápsula espessada

Membrana sinovial Inflamação/hipertrofia sinovial

Cartilagem Cartilagem fibrilada (espessada)


Menisco Degeneração do menisco
Formação de osteófitos
Osso subcondral Espessamento do
osso subcondral
Lesão de medula óssea

Figura 1. Alterações encontradas na osteoartrose. Fonte: WILLIAMS e colaboradores, 2015, p. 360. (Adaptado).

Acerca das manifestações, na fase inicial, a doença pode ser assintomática


ou, ainda, é comum o aparecimento de dor articular localizada que piora ao
movimento e reduz em repouso, enquanto em fases avançadas o quadro de
dor é intenso, mesmo em repouso. A dor está associada à rigidez matinal, que
dura menos de 30 minutos até desaparecer e é resultante, nestes casos, da
redução do espaço articular, do atrito, da presença de episódios agudos de
sinovite, de espasmos musculares e da inflamação de bursas, tendões e liga-
mentos. A longo prazo, com o desuso percebe-se hipotrofia muscular, altera-
ções da propriocepção, sensibilidade, dentre outras disfunções associadas.
Vale destacar que parte destas alterações iniciais no osso subcondral e
na cartilagem articular são decorrentes do envelhecimento fisiológico do or-
ganismo. Estas alterações favorecem a instalação de osteoartrose, contudo,
não é causada simplesmente pelo envelhecimento dos tecidos (REBELATTO;
MORELLI, 2007).
Abordagem fisioterapêutica na osteoartrose
Considerando o quadro clinico da osteoartrite e as limitações que ela impõe
na funcionalidade, a fisioterapia pode atuar de modo a reduzir a dor e a rigidez,
manter ou aumentar a força muscular, elevar a estabilidade articular e promo-
ver proteção da articulação. Para isso, são empregadas condutas como orien-
tações, exercícios terapêuticos, recursos analgésicos, uso de órteses, além de
condutas empregadas no pré e pós-operatório.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 123

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As orientações são essenciais e incluem controle de peso de modo a pro-
teger a articulação e a realização de exercício físico regular orientado. Por
sua vez, os exercícios terapêuticos devem ser enfatizados de forma a man-
ter ou aumentar a força muscular, a flexibilidade e a amplitude de movimen-
to, assim como melhorar a propriocepção e o alinhamento articular. Em fa-
ses agudas da doença, o repouso é orientado, uma vez que a movimentação
excessiva da cartilagem pode intensificar o quadro inflamatório. Entretanto,
deve-se evitar o repouso absoluto, considerando que este causa uma série
de efeitos negativos também na estrutura articular.
Rebelatto e Morelli (2007) sugerem que um programa de exercícios ade-
quado aos pacientes com osteoartrite devem incluir: exercícios de baixo
impacto, condicionamento progressivo da musculatura, exercícios de alon-
gamento e resistência, atividades de redução da sobrecarga articular pela
adoção de modalidades como hidroginástica ou posicionamentos alterna-
tivos, uso de calçado que absorva o máximo de impacto e uso de órteses
rígidas ou semirrígidas para suporte ou correção de alinhamento.
O emprego de recursos analgésicos como termoterapia e eletroterapia
pode ser benéfico no controle da dor, sendo que modalidades termotera-
pêuticas de calor devem ser evitadas em fases agudas, quando o uso da
crioterapia é preferido. Em relação à eletroterapia, o emprego do TENS é
efetivo no manejo da dor.
O uso de órteses deve ser recomendado visando prevenir contraturas e
deformidades, assim como reduzir a descarga de peso sobre articulações,
especialmente de membros inferiores, auxiliando na proteção articular.
Para isso, pode-se indicar o uso de diferentes dispositivos de marcha. Nes-
tas situações, a fisioterapia atua de modo a melhorar a funcionalidade do
idoso e, com isso, aprimorar o desempenho nas atividades diárias,
elevando a qualidade de vida e reduzindo limitações. Em relação
às cirurgias, em alguns casos graves da doença o pa-
ciente pode ser submetido a artroscopias (limpeza
articular), osteotomias (alinhamento articular)
ou artroplastias (para substituição da articula-
ção). Nestes casos, o fisioterapeuta tem atuação
tanto nas fases pré como pós-operatória.

FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DO IDOSO 124

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Osteoporose
A osteoporose trata-se se uma disfunção óssea metabólica sistêmica, ca-
racterizada pela redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura
do osso, levando ao enfraquecimento deste tecido e culminando com maior
predisposição a fraturas (WILLIAMS e colaboradores, 2015). A Figura 2 mostra
uma estrutura óssea saudável, com uma quantidade adequada de mineraliza-
ção óssea, uma imagem de osteoporose, seguida de imagem de osteoporose
severa, em que se evidencia redução da mineralização óssea, com redução da
força e resistência do osso e aumento da fragilidade.

FASES DA OSTEOPOROSE

Saudável Osteoporose Osteoporose severa

Figura 2. Osteoporose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/10/2020. (Adaptado).

É classificada em primária ou secundária, dependendo do mecanismo cau-


sador da doença. Na osteoporose primária encontram-se alterações no tecido
ósseo relacionadas ao processo de envelhecimento, onde tem-se um aumento
na ação de osteclastos (células que reabsorvem tecido ósseo) e redução na
ação de osteoblastos (células responsáveis pela formação de matriz óssea). Es-
tas alterações são ainda influenciadas pelos níveis menores de vitamina D, de
estrogênio e hormônios paratireoideanos. Neste grupo, inclusive, constam a
osteoporose pós-menopausa e a osteoporose senil. A primeira delas acomete
1/3 das mulheres pós-menopausa e está relacionada à queda nos níveis de es-
trogênio, que é fundamental para manter a massa óssea. A osteoporose senil
atinge idosos com mais de 70 anos e está relacionada à maior perda de massa

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óssea decorrente do envelhecimento. Em contrapartida, há também quadros
de osteoporose secundária, que é resultante da presença de algumas doenças
renais, endócrinas, hepáticas e do uso de alguns medicamentos (especialmen-
te corticoides) (SBR, 2019b).
Considerando essa classificação da osteoporose, percebe-se que idosas
em fase pós-menopausa, idosos acima de 70 anos e pacientes com algumas
doenças associadas e uso de alguns medicamentos são mais suscetíveis ao
desenvolvimento da doença. Por isso, a osteoporose é tão preva-
lente em idosos, em especial entre mulheres, e é uma das
principais causas de fraturas em idosos. São algumas
das outras condições consideradas fatores de risco para
a osteoporose (WILLIAMS e colaboradores, 2015):
• Mulheres maiores de 65 anos de idade;
• Homens maiores de 70 anos de idade;
• Brancos ou asiáticos;
• Baixo peso corporal (menos de 57 kg ou índice de massa corporal menor que 20);
• História familiar de osteoporose;
• História pessoal de fratura por fragilidade;
• Fratura por fragilidade em parentes de primeiro grau;
• Uso de glicocorticoides a longo prazo;
• Álcool (mais de dois ou três drinques por dia);
• Deficiência de estrogênio com menos de 45 anos;
• Deficiência de testosterona;
• Baixa ingestão de cálcio;
• Deficiência de vitamina D;
• Estilo de vida sedentário;
• Consumo atual de tabaco.
Destaca-se, ainda, como fator de risco a imobilização prolongada,
uma vez que a prática de atividade física serve como estímulo para a for-
mação dos ossos e grandes períodos de imobilização podem levar à osteo-
porose (REBELATTO; MORELLI, 2007).
Acerca das manifestações clínicas, a osteoporose geralmente é assinto-
mática em fases iniciais, até que o paciente tenha algum quadro de fratura
decorrente da fragilidade óssea aumentada. Assim, as fraturas causadas por

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osteoporose estão associadas a um traumatismo pequeno que não se espera
ser causador de fraturas em adulto/idoso saudável. Os locais mais comuns de
acometimento por fraturas são quadril, coluna e porção distal do punho, com
diversos graus de extensão, abrangendo desde fraturas que demandam de
tratamento cirúrgico pela extensão maior, até microfraturas, que acontecem
sem o paciente perceber. Estas, quando acometem a coluna vertebral anterior,
causam redução da estatura e cifose torácica, pelo acunhamento vertebral, po-
dendo gerar graves alterações posturais e limitações respiratórias pelas altera-
ções na caixa torácica. No geral, as fraturas decorrentes de osteoporose estão
relacionadas a maiores taxas de internação, restrição ao leito e mortalidade.
Abordagem fisioterapêutica na osteoporose
O diagnóstico e o tratamento precoce da disfunção são considerados as
melhores formas de abordagem nesta disfunção, de modo a atuar na redução
das perdas ósseas e funcionais, além de agir na prevenção de fraturas, uma
vez que aumentam as taxas de morbidade e mortalidade de idosos, decorren-
tes de complicações. Os tratamentos são interdisciplinares e incluem o uso de
medicamentos, suplementação de cálcio e vitamina D, medidas preventivas de
quedas e exercícios físicos, visando especialmente minimizar as perdas ósseas
e prevenir fraturas e, com isso, complicações que possam levar a incapacida-
des funcionais ou óbito.
A elaboração de exercícios físicos
deve ser individualizada e pautada es-
pecialmente na carga utilizada, uma
vez que é ela que influenciará na for-
mação de massa óssea e na gravidade
da osteoporose, se leve, moderada ou
grave. Perracini e Flo (2019) citam que
a realização de exercícios físicos gera
aumento da massa óssea, e é resulta-
do das compressões que são realizadas sobre os ossos nestas atividades, seja
pelo suporte de peso ou pelo impacto. Como na prática é difícil estabelecer a
força descarregada nos exercícios de impacto e adequar as necessidades in-
dividuais, em geral opta-se pela orientação de exercícios resistidos, que são
benéficos tanto para a prevenção como para o tratamento da osteoporose,

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incluindo pacientes com fragilidade aumentada. Em caso de pacientes com as-
sociação de osteoporose e osteoartrite, indica-se a realização de hidroterapia,
pelo menor impacto da atividade (FREITAS; PY, 2016).
Quando empregados preventivamente, os exercícios devem ser des-
tinados especialmente para as regiões de maior propensão a fraturas, e
devem incluir, além de exercícios de resistência, exercícios de potência.
Freitas e Py (2016) sugerem a realização de exercícios ao ar livre, muscula-
ção, esportes, dança e exercícios posturais para pacientes com quadro de
osteopenia (redução da massa óssea, que pode ocorrer fisiologicamente
com o envelhecimento). Os exercícios posturais, quando utilizados, devem
enfatizar o alongamento de musculatura peitoral e fortalecimento de mus-
culatura de costas, de modo a prevenir posturas antálgicas decorrentes
das fraturas vertebrais e podem, inclusive, ser orientados para realização
no ambiente domiciliar.
No geral, orienta-se a realização de exercícios três vezes na semana, de
maneira ininterrupta, e a progressão da carga dependerá de avaliação in-
dividual. Quando em quadros de dor, o fisioterapeuta pode fazer uso de
modalidades de eletroterapia, como o TENS, a fim de promover analgesia.

DICA
Para ampliar o conhecimento sobre a osteoporose e fornecer um
material de apoio, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (2019b)
elaborou uma cartilha com informações básicas acerca da doença,
orientações de exercícios a serem realizados no ambiente domici-
liar e, ainda, orientações nutricionais.

Além destas medidas, a educação do paciente com osteoporose é essencial


e deve incluir prevenção de fatores de risco, adoção de posturas adequadas e
prevenção de quedas. Em relação às posturas, deve-se orientar o paciente a
evitar posturas de flexão, manter a coluna alinhada, pegar objetos no chão com
joelhos fletidos e evitar a realização de exercícios em postura de flexão.
Em relação às fraturas, Freitas e Py (2016) comentam que, em alguns casos,
os pacientes podem necessitar de cirurgia para tratamento de fraturas. Nestas
situações, a abordagem da fisioterapia irá depender do tipo de fratura, local, do
tratamento cirúrgico realizado e das condições de saúde do paciente. Entretanto,

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alguns procedimentos são comuns, especialmente na prevenção de complicações
pós-operatórias imediatas. Na fase aguda, objetiva-se a manutenção de uma boa
ventilação pulmonar, prevenção de complicações vasculares, como a trombose
venosa profunda, e prevenção de complicações cutâneas, como úlceras de de-
cúbito. Para isso, pode-se empregar técnicas de higiene e reexpansão pulmonar,
cinesioterapia (especialmente com mobilizações, alongamentos e treino de força
isométrica), orientações acerca de posicionamentos e, quando possível, a retirada
do leito e treino de marcha.
Destaca-se ainda que, quando o paciente com osteoporose já realiza um
tratamento preventivo e sofre fratura, espera-se que a recuperação seja
mais rápida e com menos complicações, considerando a melhor condição
física do paciente.

Artrite reumatoide e artrite gotosa


Artrite reumatoide
A artrite reumatoide trata-se de uma doença inflamatória crônica e sistê-
mica, com acometimento articular e extra-articular. O quadro articular pode
regredir ou evoluir em surtos enquanto as manifestações extra-articulares
podem afetar olhos, sistema cardiorrespiratório, gastrointestinal, quadros de
infecção e osteoporose. Em relação à causa, ainda é desconhecida e pode
estar relacionada a fatores imunológicos, hormonais e infecciosos.
No que diz respeito à fisiopatologia, inicialmente, a artrite reumatoide
se manifesta com uma sinovite subaguda, com membrana sinovial aver-
melhada e edemaciada, associadas à liberação de fator reumatoide (an-
ticorpos) na corrente sanguínea, que podem também ser encontrados na
membrana e no líquido sinovial. A presença deste fator reumatoide sobre
a articulação desencadeia uma reação inflamatória, que culmina com a
destruição da cartilagem articular e hiperplasia sinovial, o que se estende
para o osso subcondral e estruturas periarticulares, gerando instabilidade
e deformidade articular irreversível. Estas alterações causam dor, calor,
edema e rigidez nas articulações afetadas, que pioram após períodos de
repouso, sendo que a rigidez é mais comum pela manhã e costuma durar
mais de 30 minutos. Podem ainda vir acompanhadas de fraqueza mus-

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cular, fadiga, alterações cutâneas e perda de peso. Embora seja comum
os sintomas terem início ainda na terceira e quarta década de vida, esta
doença se torna bastante incapacitante em idosos.
Abordagem fisioterapêutica na artrite reumatoide
O tratamento requer uma abordagem interdisciplinar, objetivando mi-
nimizar os danos articulares irreversíveis. Para isso, atua de modo a aliviar
a dor, manter ou melhorar a capacidade funcional, prevenir incapacidades
e adaptar o paciente às limitações. Preservar a amplitude de movimento e
força muscular, reduzir a sobrecarga sobre articulações afetadas, promo-
ver estabilidade articular, aumentar a resistência cardiorrespiratória e a
segurança na marcha são objetivos comuns.
Assim como ocorre na osteoartrose, quando na fase aguda, com pre-
sença de sinovite, recomenda-se o repouso não absoluto e, neste caso, o
fisioterapeuta pode intervir com medidas de controle da inflamação, com
o uso de órteses ao repouso, de modo a prevenir deformidades e reduzir
o estresse mecânico, aliado ao uso de crioterapia para controle da infla-
mação, por meio da realização de exercícios passivos ou ativos sem carga
etc. A eletroterapia pode ser utilizada nesta fase mediante aplicação de
salicilatos, por meio da iontoforese pode ser introduzida também na fase
inflamatória com bons resultados.
Em relação à realização de exercícios físicos, estes devem ser realizados
mantendo um equilíbrio entre repouso e atividade. Nestes casos, preconiza-
-se exercícios para prevenção de contraturas, para melhoria da força e flexibi-
lidade, para aumento do condicionamento cardiorrespiratório, dentre outros.
Rebelatto e Morelli (2007) sugerem planos de exercícios dinâmicos de média
à alta intensidade (exceto para fase aguda), realizados de duas a três vezes na
semana, por períodos de quatro semanas a um ano.
Aliados a estes exercícios, pacientes com artrite reumatoide se beneficiam
de hidroterapia, especialmente com corrida em piscina funda através do mé-
todo aqua jogging, uma vez que nestes casos atua-se no condicionamento, na
mobilidade, na flexibilidade e forças sem, no entanto, sobrecarregar as articu-
lações. Cita-se também o uso da balneoterapia, que consiste em banhos em
estâncias hidrominerais que parecem auxiliar na redução da dor e na melhoria
dos movimentos articulares (REBELATTO; MORELLI, 2007).

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Têm sido introduzidos, ainda, como modalidade terapêutica interdisci-
plinar no tratamento da artrite reumatoide, os grupos de autotratamen-
tos. Consistem em grupos formados por pacientes estáveis, em que estes
recebem orientações sobre exercícios físicos específicos para a doença,
modalidades de controle de dor, orientações sobre alimentação, medica-
ção etc. Contudo em relação à abordagem do fisioterapeuta, o profissional
atua na orientação, não supervisionando as condutas a serem realizadas
pelo paciente. Além disso, o fisioterapeuta pode atuar ainda em fases pré
e pós-operatória, quando o tratamento conservador falha em relação ao
controle da dor e das limitações, e para isso são realizadas cirurgias de
sinovectomia ou para substituição articulares.
Os problemas extra-articulares podem afetar a reabilitação do pacien-
te com artrite reumatoide, como a fadiga, por exemplo. Nestes casos, o
fisioterapeuta deve permitir períodos de repouso durante a sessão de tra-
tamento, assim como, durante fases de maior dor, deve-se preconizar me-
didas analgésicas e atividades passivas. A Figura 3 mostra um quadro de
deformidades de mãos causada por esse tipo de artrite.

Figura 3. Fisiopatologia da artrite gotosa. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/10/2020.

Artrite gotosa
A artrite gotosa, conhecida popularmente como gota, é uma artropatia in-
flamatória desencadeada por excesso de ácido úrico depositado na forma de

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cristais, na articulação, causando um quadro de dor articular, edema e rigidez
(HECKLER e colaboradores, 2017). O ácido úrico é o produto final de processos
metabólicos da purina do organismo e, em condições normais, deve ser ex-
cretado pela urina. Maiores quantidades de ácido úrico na corrente sanguínea
podem ser resultado de problemas renais, erros inatos do metabolismo, pre-
sença de doenças, entre outros fatores.
No idoso, a artrite gotosa tem uma apresentação que difere um pouco da
apresentação clínica da doença nos adultos jovens. Conforme Batista e Wibe-
linger (2011), em idosos o início dos sintomas é insidioso, com sinais inflama-
tórios não evidentes, de acometimento poliarticular e com preferência para
pequenas articulações. A Figura 4 mostra um quadro de artrite gotosa.

Artrite gotosa
Inchaço
Massas de ácido úrico

Cristais de ácido úrico

Junta inflamada

Figura 4. Fisiopatologia da artrite gotosa. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/10/2020. (Adaptado).

Abordagem da fisioterapia na artrite gotosa


A abordagem no tratamento da artrite gotosa envolve vários profis-
sionais e consiste em mudança de hábitos de vida, como redução
do consumo de bebida alcoólica, alterações na alimentação,
redução de peso, considerando que obesidade e
síndromes metabólicas são fatores de risco para
desenvolvimento da gota. Aliados a isso, orien-
ta-se o uso de medicamentos anti-inflamatórios
e realização de fisioterapia.

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As condutas dependerão da fase da doença, se aguda ou não. Em ca-
sos agudos, geralmente, são indicados o repouso associado ao uso de
medicamentos e medidas de controle dos sinais inflamatórios. Batista e
Wibelinger (2011) sugerem o uso de crioterapia, iontoforese, ultrassom,
TENS e mobilizações passivas em fases agudas da artrite gotosa, além de
repouso, o uso correto da medicação prescrita pelo médico e uso de talas
de posicionamento. Em fases não agudas, Heckler e colaboradores (2017)
comentam a importância de exercícios terapêuticos de modo a melhorar
a mobilidade e a força muscular das estruturas envolvidas com as articu-
lações, a fim de prevenir efeitos deletérios do repouso na fase aguda e,
ainda, prevenir deformidades a longo prazo.

CURIOSIDADE
Sabe-se que as neoplasias estão entres as doenças crônicas bastante
prevalentes em idosos. Em muitos casos, as neoplasias malignas podem
estar associadas ao desenvolvimento de síndromes reumáticas, podendo
surgir antes mesmo do diagnóstico de neoplasia. Nestes casos, os sinto-
mas reumáticos são resultado da invasão muscular por tumores, liberação
de mediadores, no caso de síndromes paraneoplásicas, ou ainda em
virtude de alterações do sistema imunológico (FREITAS; PY, 2016).

Fibromialgia, polimialgia reumática e espondiloartrites


A fibromialgia trata-se de uma síndrome dolorosa crônica, de etiologia multifa-
torial complexa, que ainda não é totalmente conhecida. Contudo, sabe-se que nos
pacientes com fibromialgia há algumas alterações no sistema nervoso no que diz
respeito ao controle da dor. Aliado a isso, a predisposição genética é um dos fatores
associados, bem como o estresse.
A doença acomete preferencialmente mulheres e caracteriza-se por dores muscu-
loesqueléticas generalizadas, severas, de caráter crônico (com duração superior a três
meses) e que, além da dor, normalmente trazem também alterações do sono, fadiga
generalizada, sintomas somáticos, alterações cognitivas, alterações de humor, ansie-
dade e, em alguns casos, depressão (MARQUES e colaboradores, 2017). O quadro
de dor acontece especialmente em locais específicos do corpo, chamados de tender
points. A Figura 5 mostra a localização destes pontos no corpo.

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Tender points da fibromilagia

Figura 5. Localização dos pontos de dor em fibromialgia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/10/2020.

Os sintomas costumam surgir entre os 30 e 50 anos, mas podem manifes-


tar-se em qualquer faixa etária. Também podem aparecer como doença asso-
ciada em pacientes com outras doenças reumáticas, como artrite reumatoide
e lúpus eritematoso sistêmico. Muitas vezes, isso representa um desafio à me-
lhora (SBR, 2019a).
Vale destacar que o diagnóstico da fibromialgia é basicamente clínico, uma
vez que não há exames específicos que diagnostiquem esta disfunção. O tra-
tamento envolve abordagem interdisciplinar, com uso de medicação (alívio da
dor, melhora do sono e disposição), acompanhamento psicológico e realização
de exercícios físicos, além de orientações.
Abordagem da fisioterapia na fibromialgia
Os objetivos do tratamento consistem em aliviar o quadro álgico, prevenir
crises e, ainda, educar o paciente acerca da doença. A principal abordagem no

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manejo da fibromialgia atualmente é a realização de exercícios físicos. Isso por-
que os exercícios, além de atuarem na melhoria do quadro físico do paciente,
auxiliam na redução da ansiedade e na melhora do sono.
A Sociedade Brasileira de Reumatologia (2019) sugere exercícios ae-
róbicos, que parecem ser mais efetivos no tratamento da fibromialgia,
como hidroginástica e caminhadas, além de exercícios de alongamento
e reforço muscular que podem ser inseridos nos programas. Entretanto
devem ser prescritos individualmente e a implantação deve
ser gradual, considerando que a hipersensibilidade à dor,
presente na fibromialgia, pode causar reações
exacerbadas de dor nas primeiras semanas
de realização dos exercícios e, após a adap-
tação, os programas de exercícios devem
ser feitos de três a cinco vezes na semana, de
maneira contínua.
Além disso, outras modalidades de controle de dor, como acupuntura ou ele-
troterapia, podem ser indicadas de modo a amenizar as queixas do paciente.
Polimialgia reumática
Por sua vez, a polimialgia reumática é uma disfunção caracterizada
por inflamação da membrana que reveste as articulações, causando qua-
dros de dor intensa e rigidez muscular, sem ter causa conhecida. Costu-
ma surgir após os 55 anos, é bastante prevalente em idosos, tendo maior
acometimento em mulheres (VILLA-FORTE, 2019). Os locais de maior aco-
metimento são pescoço, cintura escapular e pélvica, com queixas de dor
e rigidez por períodos maiores que um mês. Segundo Neves, Teixeira e
Granja (2012), os sintomas costumam ser bilaterais, com início abrupto,
e podem ainda surgir manifestações musculoesqueléticas em estruturas
distais, como a síndrome do túnel cárpico e artrite periférica assimétrica.
Podem surgir ainda sintomas sistêmicos, como perda de peso, fadiga, fe-
bre e mal-estar (WILLIAMS, 2015).
Em virtude do quadro de dor, pacientes apresentam amplitude de movi-
mento reduzida, especialmente para atividades funcionais, como escovar o
cabelo e subir escadas, entretanto não apresentam sinais inflamatórios e a
força muscular é mantida, uma vez que o surgimento da doença é abrupto.

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Abordagem da fisioterapia na polimialgia reumática
O diagnóstico é clínico, por exclusão, e o tratamento é feito a partir do
uso de corticoides, por longos períodos, associado à fisioterapia. A abor-
dagem fisioterapêutica pode ser empregada visando a redução do quadro
de dor e, ainda, evitando os efeitos da imobilidade, uma vez que o paciente
com dor costuma reduzir as atividades funcionais gradativamente como
um mecanismo de resposta. Para isso, pode-se empregar o uso
de eletroterapia, de terapias manuais e de exercícios físicos
que respeitem as particularidades de cada pacien-
te. Rebelatto e Morelli (2007) comentam que,
neste tipo de doença reumática, o emprego da
eletroterapia por meio do uso do TENS é bas-
tante efetivo, podendo ser aplicado nas áreas
próximas ao ponto de dor ou sobre ele.
Freitas e Py (2016) reforçam que a fisioterapia, através da cinesiotera-
pia, é importante para manter a mobilidade de cintura escapular, preve-
nindo, por exemplo, quadros de capsulite adesiva.
Espondiloartrites
As espondiloartrites, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia
(2020), são um conjunto de afecções reumáticas, que se apresentam com
sinais clínicos semelhantes, que incluem acometimento com artrite de ar-
ticulações sacrilíacas e coluna, fator reumatoide negativo e, de maneira
associada, inflamação de tendões e ligamentos.
Entre as doenças que se incluem neste grupo, podemos citar espon-
dilite anquilosante, espondiloartropatias indiferenciadas, artrite reativa,
artrite psoriásica e artrites enteropática.

EXPLICANDO
A artrite psoriásica é uma forma específica de artrite que afeta pacientes
com psoríase, doença dermatológica que causa lesões avermelhadas
escamosas em diferentes partes do corpo. Cerca de 10% dos pacientes
com psoríase desenvolvem artrite, que pode surgir tanto na fase inicial
como em fases mais avançadas da doença, e costuma causar dor, edema
e rigidez, que pioram à noite. Com o avançar da doença, o paciente é aco-
metido com limitação dos movimentos e deformidades (FIOCRUZ, 2019).

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Abordagem da fisioterapia nas espondiloartrites
A abordagem terapêutica nestes casos inclui o uso de medicamentos e fisio-
terapia. As condutas empregadas pelo fisioterapeuta vão depender do tipo de
doença, da gravidade, dos sintomas e das limitações apresentadas. De maneira
geral, o tratamento deve aliviar a dor e reduzir chances de deformidades.

Outras doenças reumatológicas do idoso e abordagem


da fisioterapia
Além das doenças reumáticas citadas anteriormente, outras afecções
podem acometer o idoso e, em algumas situações, é possível que sur-
jam complicações de outras doenças reumáticas com maiores chances
de causar contraturas e deformidades, pela intensidade dos sintomas ou
pela persistência dos quadros inflamatórios. Neste sentido, tem-se uma
prevalência alta de disfunções em idosos relacionadas a distúrbios que
afetam o sistema musculoesquelético, como capsulite adesiva, síndrome
do impacto, estenose do canal vertebral, distrofias neurorreflexas, den-
tre outras alterações.
Capsulite adesiva
Refere-se a um quadro de enrijecimento articular como resultado
da retração capsular e caracteriza-se por reação inflamatória (cápsula
articular) que leva ao espessamento, contratura e sua retração. Como
resultado, tem-se a redução da amplitude de movimento e dor (CRUZ e
colaboradores, 2018).
É dividida em três fases: dolorosa, adesiva e fase de resolução. Na primei-
ra delas, o curso tem duração média de três a oito meses, com início insidioso
da dor aos movimentos até progredir para dor em repouso. A segunda fase é
a fase adesiva, dura de quatro a seis meses e, neste período, a dor é menos
forte e costuma desaparecer com o repouso, mas persiste aos movimentos.
Por fim, a terceira fase, chamada de resolução, que dura de um a três anos.
Nesta fase praticamente não há dor, mas há uma restrição de movimento im-
portante (ROMANO; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2001). A Figura 6 mostra a retração
capsular encontrada nos quadros de capsulite adesiva, também chamada de
ombro congelado.

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Capsulite adesiva

Normal Ombro enrijecido

Figura 6. Capsulite adesiva. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/10/2020.

Em relação à abordagem fisioterapêutica da capsulite adesiva, em fase agu-


da preconiza-se medidas anti-inflamatórias, incluindo crioterapia e analgesia
para controle da dor. Nas demais fases, a fisioterapia é essencial para garantir
melhoria da mobilidade, da força muscular e da funcionalidade do ombro. Para
isso, sugere-se o emprego de acupuntura, eletroterapia, ultrassom, termotera-
pia profunda e movimentos passivos, seguidos de passivos assistidos e ativos,
garantindo um restabelecimento da ADM e com isso, cessação do quadro de
dor (CRUZ e colaboradores, 2018).
Síndrome do impacto
Trata-se de uma afecção musculoesquelética progressiva, que afeta a
articulação glenoumeral. Caracteriza-se por redução do espaço subacro-
mial, associado a alterações na articulação acrômio clavicular, no acrômio,

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nos tendões do manguito rotador, no tendão do bicipital braquial, nas
bursas, ligamentos, entre outras estruturas (REBELATTO; MORELLI, 2007).
Podem ter causas funcionais ou estruturais. Em idosos, uma das causas
estruturais refere-se à presença de doenças reumáticas, que causam, por
exemplo, alterações no formato do acrômio. Nestas situações, o paciente
queixa-se de dor no ombro que piora os movimentos de rotação externa e
elevação acima de 90 graus, decorrentes do impacto do acrômio sobre as
estruturas moles nestas amplitudes. A longo prazo, o paciente evita rea-
lizar os movimentos, o que causam dor, restringindo movimentos, o que
pode evoluir para um quadro de capsulite adesiva.
Dependendo da gravidade, a sín-
drome do impacto pode demandar
tratamento cirúrgico, mas, em geral,
os pacientes respondem bem ao tra-
tamento conservador, que se pauta
no uso de medicações e fisioterapia
(REBELATTO; MORELLI, 2007). A abor-
dagem da fisioterapia pode estar vol-
tada às duas modalidades de tratamento, conservadora ou cirúrgica, e visa
redução da dor, melhora da amplitude de movimento, reequilíbrio muscular,
correção dos eventos causais, dentre outros objetivos que visam primordial-
mente a funcionalidade do idoso para que ele consiga desempenhar as fun-
ções básicas de vida sem dor e limitações.
Estenose do canal vertebral
Trata-se de uma síndrome causada por pressões mecânicas sobre o canal medu-
lar, podendo acometer a medula ou a cauda equina, e, como resultado, há diferentes
graus de lesões neurológicas (FREITAS; PY, 2016). Embora possa ter ainda causas con-
gênitas e traumáticas, em idosos a estenose do canal vertebral está mais relacionada
a doenças degenerativas do tecido ósseo e de estruturas adjacentes, acometendo,
com maior prevalência, a região cervical e lombar. Dependendo do grau de estenose
causado, o tratamento pode ser conservador, com uso de órteses de posicionamento,
medicamentos e fisioterapia ou, em casos mais graves, há necessidade de interven-
ção cirúrgica. Neste sentido, o fisioterapeuta pode atuar tanto no tratamento conser-
vador como cirúrgico, priorizando a máxima recuperação funcional do paciente.

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Rebelatto e Morelli (2007) ressaltam a importância de abordagem fisiote-
rapêutica com uso de ultrassom, exercícios de flexibilidade e exercícios de for-
talecimento com ênfase em flexão da coluna, educação do paciente acerca de
posturas adequadas e, ainda, a termoterapia.
Distrofias neurorreflexas
Também conhecidas pelos nomes de distrofia simpático-reflexa, atrofia
de Sudeck ou síndrome ombro-mão, tratam-se de síndromes dolorosas que
vêm associadas a alterações vasomotoras e tróficas, que acometem osso, car-
tilagem e, estruturas periarticulares. Segundo Rebelatto e Morelli (2007), são
comuns em pacientes idosos após períodos de imobilização prolongados, e
atingem principalmente extremidades, mais comumente membros superiores.
Iniciam-se com quadros de inflamação (dor, calor, rubor, edema), seguidos de
distrofia (edema, dor, mobilidade prejudicada, cianose periférica, extremidade
fria) e, na fase mais avançada, se caracterizam por atrofia (pouca dor aos movi-
mentos, hipotrofia da pele e dos músculos, restrições importantes de amplitu-
de de movimento e osteoporose (FREYTAS; PY, 2016).
Acerca da abordagem fisioterapêutica, pode-se evitar esta condição com
medidas de posicionamento adequadas, inclusive com uso de órteses, associa-
das à manutenção da mobilidade, mediante realização de cinesioterapia (RE-
BELATTO; MORELLI, 2007). Estas medidas podem ser empregadas também no
tratamento, de modo a regularizar as funções musculares e vasculares, quando
ainda não irreversíveis.
No geral, percebe-se que as doenças reumáticas, em sua maioria, cursam
com quadros inflamatórios de característica crônica, associadas à dor, rigidez
e limitações de movimento. Estas condições impostas pelas doenças reumá-
ticas fazem com que o paciente idoso reduza a mobilidade em seu dia a dia,
tanto pela dor, como pelas limitações de amplitude de movimentos e até mes-
mo pelo medo de cair, especialmente quando houver acometimento de mem-
bros inferiores que possam alterar a marcha do idoso. Todos estes quadros
decorrentes de doenças reumáticas podem interferir de diferentes maneiras
e intensidades no dia a dia, podendo gerar desde pequenas limitações até
limitações muito intensas em atividades de vida diária, como higienizar-se,
alimentar-se, transferir-se de um lugar para outro etc., tornando o idoso de-
pendente de outras pessoas.

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Nestes casos, a fisioterapia está presente nas diferentes fases de tratamen-
to, tanto na prevenção de complicações decorrentes de doenças reumáticas,
como na reabilitação, e, de maneira ampla, os objetivos de tratamento se pau-
tam na redução da dor e rigidez, melhora do movimento, da força e da funcio-
nalidade. Para atingir tais objetivos, o fisioterapeuta tem à sua disposição uma
série de recursos, que incluem cinesioterapia, eletroterapia, termoterapia, te-
rapias manuais, hidroterapia, uso de órteses, entre inúmeros outros recursos
que devem ser selecionados com base nos objetivos de tratamento.
Destaca-se que a definição dos objetivos de tratamento e condutas é feito
com base na avaliação do paciente, que deve ser realizada previamente a qual-
quer abordagem. Seguindo estas recomendações, o fisioterapeuta pode promo-
ver maior independência e funcionalidade ao idoso com doença reumática.

Planejamento e adaptação do ambiente em geriatria


Fundamentando-se no cuidado integral do idoso e nas diversas variáveis
que interferem no processo de envelhecimento, existem evidências de que o
ambiente em que o idoso vive tem um papel determinante sobre a funcionali-
dade (FREITAS; PY, 2016). Este ambiente refere-se ao domicílio dos idosos, seja
a casa onde ele reside sozinho, que reside com a família, em instituições de
longa permanência ou em instituições comunitárias.

Casa segura em geriatria


Esta relação entre o ambiente e a funcionalidade se torna mais evidente
quando se percebe que, na velhice, os pacientes permanecem a maior parte do
tempo em suas casas e, portanto, é primordial que sejam adotadas medidas
para avaliação, planejamento e adaptações destes ambientes, atendendo às ne-
cessidades que estes pacientes passam a apresentar à medida que envelhecem.
Nestas situações, pequenas mudanças podem trazer muitos benefícios para o
idoso no quesito funcionalidade e prevenção de acidentes. Ressalta-se que o im-
pacto do ambiente sobre a funcionalidade vale tanto para idoso em processo de
envelhecimento fisiológico, como, principalmente, para idosos em processos de
envelhecimento patológicos, pela maior limitação funcional (FREITAS; PY, 2016).

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Nos idosos sem doenças associadas, estas adaptações do ambiente são ne-
cessárias de modo a atender às mudanças que acontecem nos sistemas do or-
ganismo de maneira natural ao longo dos anos e resultam em pequenos déficits
funcionais. Em contrapartida, nos idosos em envelhecimento patológico, a pre-
sença de algumas doenças pode representar níveis variáveis de incapacidades,
uma vez que tornam possível acometer o sistema neurológico, cardiovascular,
respiratório, osteoarticular, dentre outros, causando redução da autonomia, da
independência e da funcionalidade no dia a dia.
Nos idosos mais ativos, a presença de um ambiente adequado, que atenda
às necessidades físicas gerais dos idosos, atua como agente preventivo de aci-
dente, incapacidades e limitações, tendo em vista que a estrutura física do local
está condizente com o que o idoso precisa no dia a dia, respeitando as condições
impostas pelo envelhecimento. Em idosos mais dependentes, as condições am-
bientais, quando não adequadas, podem limitar ainda mais tarefas simples e
rotineiras, representando um desafio diário, além daqueles impostos pelas con-
dições de saúde. No geral, um ambiente com limitações e obstáculos aumenta
o risco de quedas pela ação de agentes extrínsecos, sendo que elas possibilitam
importantes agravos à saúde do idoso, incluindo mobilidade e mortalidade.
Considerando esta íntima relação entre o ambiente e a funcionalidade do
idoso, surge o termo casa segura. Este conceito foi estabelecido pelo Ministério
da Saúde e é voltado a pessoas de todas as faixas etárias, contudo interessa mais
à população idosa, considerando a maior vulnerabilidade desta população. Além
de garantir o máximo de segurança nestes ambientes, o termo refere-se à garan-
tia de conforto ao paciente. Para isso, profissionais de diversas áreas de atuação
podem estar envolvidos em projetos voltados a este fim, incluindo arquitetos,
engenheiros, decoradores, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, entre ou-
tros profissionais (SBOT, 2018).
A atuação nestes casos visa criar um ambiente funcional ao idoso, conside-
rando as cinco atividades básicas de vida: alimentação, higiene pessoal, trans-
porte, lazer e descanso. Para garantir uma casa segura do ponto de vista funcio-
nal, compreendendo quais aspectos do ambiente não estão condizentes com as
necessidades do idoso, inicialmente é necessário que seja avaliado adequada-
mente o ambiente, para, posteriormente, elaborar-se o planejamento das ações
e a execução das adaptações necessárias.

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Avaliação do ambiente em que o idoso vive
Freitas e Py (2016) comentam que os principais aspectos a serem avaliados
são condições de acessibilidade e uso do ambiente, a facilidade de circulação,
comunicação, segurança (com menor risco possível de acidentes), proteção
(que seja um ambiente confiável, que não cause medo ou ansiedade) e, ainda,
que respeite a privacidade do idoso.
Para avaliar de maneira efetiva estes domínios orienta-se o uso de um
instrumento avaliativo derivado do Home Safety Self-Assessment Tool, da Uni-
versity at Buffalo. Este instrumento possibilita uma avaliação do ambiente do
idoso, incluindo banheiro, cozinha, quartos, entrada da casa, sala de jantar,
sala de estar, espaços externos, também avalia ambientes comuns, além de
condições de iluminação, temperatura, instalações físicas, indo de aposento
por aposento, e considera tanto o relato do paciente sobre dificuldades como
também a observação direta do avaliador. Entretanto, esta avaliação pode
ser feita com base na análise do ambiente de maneira geral pelos profissio-
nais de saúde e das demais áreas envolvidas nas adaptações.
Independentemente do método de avaliação utilizado, busca-se, por
exemplo, por problemas do ambiente que possam causar riscos aumenta-
dos de acidentes ou de ansiedade, medo, dor e limitações funcionais, como
obstáculos para chegar ao banheiro, difi culdade de acesso às lixeiras, tem-
peratura inadequada da água para banho.
Destaca-se que, além de considerar as necessidades atuais do paciente
idoso em relação ao ambiente, as adequações devem considerar as possí-
veis necessidades futuras, respeitando e criando espaços já programados
para novas demandas. Analisando estes aspectos, planeja-se as
modifi cações ambientais necessárias com base nas reais ne-
cessidades do idoso e objetivando facilitar o dia
a dia, melhorando o desempenho de tarefas,
reduzindo risco de acidentes e garantindo
maior autonomia e independência. Assim,
visando uma casa funcional, devem ser
avaliados os aspectos gerais do ambiente e
aspectos específi cos de cada cômodo.

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Sugestões de adaptações de ambientes gerais
Entrada de casa
Preconiza-se que a entrada da casa seja de fácil acesso e sem barreiras,
com área externa bem iluminada de modo a facilitar a visão do idoso do
interior para fora. A porta principal deve ter mais de 80 cm de vão, com
maçaneta tipo alavanca (horizontal) e com fechadura sobre a maçaneta
(SBOT, 2018) (Figura 7).

Figura 7. Entradas acessíveis da casa (iluminação, fitas antiderrapantes nos degraus, corrimão de ambos os lados da
escada e na lateral da rampa e maçaneta horizontal). Fonte: CHIOSSI; SANTOS, 2011, p. 10. (Adaptado).

Tipo e disposição da mobília


Orienta-se que a mobília, incluindo cadeiras, sofás, mesas etc., sejam fir-
mes e de altura condizente com a condição física do paciente ou com a con-
dição de funcionalidade e/ou das limitações do idoso (FREITAS; PY, 2016). Em
relação à disposição dos móveis, é orientado que áreas de passagem fiquem
livres e que se evite o uso de móveis pontiagudos ou estruturas que possam
causar acidentes.

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Pisos
No uso de pisos cerâmicos, deve-se levar em consideração que geralmente
causam acústica ruim por não filtrar ruídos, são mais frios, não absorvem ade-
quadamente o impacto em caso de queda e são mais desconfortáveis. Quan-
do utilizados, os pisos cerâmicos devem ser antiderrapantes. No uso de pisos
vinílicos, que geralmente são antiderrapantes, a absorção dos sons também é
ruim, mas o controle de temperatura é melhor. No uso de carpetes, destaca-se
a capacidade que têm de reter o calor e, apesar de terem melhor condição
acústica, são mais difíceis de limpar e limitam o trânsito de cadeiras de rodas.
Por isso, considerando as diferentes características, orienta-se a combinação
de diferentes pisos para uma mesma casa, dependendo do cômodo e das ne-
cessidades (FREITAS; PY, 2016).
Quanto à cor, deve-se evitar pisos muito coloridos porque dificultam a
percepção de profundidade. Além disso, os pisos devem estar sempre bem
secos, sem nenhum obstáculo no chão, como brinquedos, animais, roupas
ou fios. Tapetes soltos devem ser evitados, mesmo que tenham borrachas
antiderrapantes, pois significam risco importante para quedas em idosos,
sobretudo em idosos com distúrbios de equilíbrio e marcha. Quando absolu-
tamente necessários, devem evitar o uso de tapetes muito altos e com predis-
posição à formação de dobras.
Iluminação
Os interruptores devem estar dispostos logo ao lado das portas e suas cores
devem ter contraste com a parede, permitindo maior visibilidade. Luzes noturnas
indiretas devem ser dispostas em corredores e no acesso aos banheiros para evitar
quedas devido à menor iluminação natural durante a noite (FREITAS; PY, 2016).
Escadas
As escadas devem ser bem iluminadas, com interruptores de energia no
início e fim de cada uma, devem ser livres de objetos, com corrimões de ambos
os lados e com início e fim bem demarcados. Sugere-se que os corrimões sejam
de cores de destaque, diferentes da cor da parede. Os degraus devem medir
em média 80 cm e devem possuir piso e tiras antiderrapantes, de preferência
que estas fitas sejam de cores opostas à cor dos degraus, facilitando o contras-
te e ajudando na visão, de modo a ajudar a estabelecer os limites dos degraus
(FREITAS; PY, 2016; SBOT, 2018).

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Figura 8. Escada adaptada (luz indireta e direta, corrimões dos dois lados, fitas antiderrapantes, interruptor, degraus de cor
diferente do piso e parede de cor diferente do corrimão, facilitando a visualização. Fonte: CHIOSSI; SANTOS, 2011, p. 8.

Sempre que possível, orienta-se que seja preconizado o uso de rampas ao


invés de escadas, pela maior segurança e funcionalidade destas e, neste caso,
a rampa deve garantir no máximo 10% de declividade e ter largura mínima de
90 cm. Os corredores, assim como as escadas, devem possuir boa iluminação,
com luz indireta durante a noite e presença de corrimões de ambos os lados,
com preferência de cor distinta da parede (BRASIL, 2019).

Sugestões de adaptações de ambientes específicos


Além destas sugestões de adaptações relacionadas a condições comuns,
pode-se realizar a avaliação e orientações de adaptações específicas para
cada ambiente da casa, incluindo quarto, cozinha e área de serviço, sala de
estar e jantar e banheiro.
Quarto
Deve-se optar por cama mais larga, com altura entre 0,45 m a 0,50 m,
incluindo o colchão, que deve ter a densidade condizente com o peso do
idoso. A altura da cama pode ser ajustada também conforme a altura do
idoso, sendo interessante que, mesmo sentado, consiga encostar os pés

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no chão. Deve-se optar por cabeceiras acopladas às camas, macias, sem
pontas e que sejam firmes para o idoso apoiar-se, se necessário. É interes-
sante uma mesa auxiliar acoplada à cabeceira, que permita a colocação
de relógio, copo de água e telefone, associada a uma gaveta onde podem
ser armazenados controles e lanterna. O quarto deve contar com abajur
fixo na parede ou bem posicionado na mesa lateral. Os armários devem
ser leves e, de preferência, com iluminação interna. A presença de cadeira
ou poltrona facilita algumas atividades da vida diária (AVDS), como colocar
calçados (SBOT, 2018).

QUADRO 1. INDICAÇÕES PARA UM QUARTO SEGURO

Normas gerais para quarto seguro

Tapetes;
Fumar no quarto;
Cortinas pesadas;
Evitar
Alimentação na cama;
Andar de meias;
Fios elétricos soltos.

Chinelos antiderrapantes;
Manter Luz noturna;
Interruptores de luz próximos à cama.

Fonte: SBOT, 2018, p. 4.

Cozinha e área de serviço


A disposição da mobília e dos eletrodomésticos deve permitir passagem livre
para geladeira, fogão, lixeiras, armários e máquinas de lavar. Os armários devem
ter diferentes alturas, atendendo às diferentes necessidades do idoso, evitando
que ele necessite de escadas ou bancos para conseguir alcançar itens. As áreas
inferiores do armário da pia devem ser desprovidas de portas, permitindo que o
idoso acople a cadeira de rodas, descanse os pés e movimente-se com dispositivos
de marcha, caso necessite. O fogão deve possuir botões com cores de destaque e,
quando digitais, devem possuir números grandes, coloridos e com alarmes sono-
ros (SBOT, 2018). Além disso, em frente à pia pode-se colocar fitas antiderrapan-
tes, evitando acidentes que possam acontecer com quedas frequentes relativas à
água, óleo e alimentos durante a preparação das refeições.

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Sala de estar e jantar
Estas áreas devem possuir paredes de cores claras, de preferência,
com iluminação uniforme e contínua (em vários pontos), associadas à ilu-
minação indireta, evitando ofuscamento, sendo indicadas intensidades
de iluminação três vezes maiores em casa de idosos para compensar as
perdas visuais decorrentes de envelhecimento. As cadeiras e poltronas
devem possuir braços de apoio, com altura média de 0,50 m e profundi-
dade de 0,70 m a 0,80 m. Estante fixa, evitando muitos objetos desneces-
sários, de vidro ou pesados. Orienta-se mesa de apoio para colocação de
telefone, copo de água, abajur etc., que deve ser posicionada próximo ao
sofá ou à poltrona e, de preferência, de material diferente de vidro e com
pontas arredondadas. Além disso, a mesa de jantar deve possuir bordas
arredondadas com cadeiras sem braços de apoio e sem tapetes sob a
mesa (SBOT, 2018).

QUADRO 2. SUGESTÕES PARA SALAS DE ESTAR E DE JANTAR SEGURAS

Normas gerais para sala de estar e de jantar

Tapetes soltos;
Cortinas pesadas;
Evitar
Alimentação na cama;
Fios elétricos soltos.

Piso antiderrapante;
Luz noturna nas articulações;
Interruptores nas entradas e saídas do espaço;
Manter
Lâmpada de emergência;
Ambiente livre de objetos no chão e móveis
baixos.

Fonte: SBOT, 2018, p. 6.

Banheiro
São indicadas paredes firmes que permitam a instalação de barras de se-
gurança, espaço interno que permita a livre movimentação de duas pessoas
(para o caso de o idoso necessitar de cuidador) e porta de acesso com aber-
tura para fora e com largura maior que 0,80 m. Em relação ao box, este deve
possuir piso antiderrapante, abertura maior que 0,80 m, fechamento do box
com sistema inquebrável, porta de correr ou apenas o uso de cortinas de
plástico (BRASIL, 2019).

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Devem ser instaladas barras de apoio de diferentes alturas no interior do box
e, na parte externa do box, deve ter um tapete antiderrapante com ventosas. Em
relação ao armário, a parte inferior do gabinete deve proporcionar movimenta-
ção ampla no caso de cadeira de rodas ou outros dispositivos de marcha. Acer-
ca do vaso sanitário, deve-se evitar vasos muito baixos, preconizando-se altura
média de 46 cm e, em casos de pacientes mais altos, deve-se optar pelo uso de
assentos de elevação (SBOT, 2018). Ao lado do vaso podem ainda ser instaladas
barras de apoio horizontais e o idoso deve ser instruído a não trancar a porta do
banheiro ou que esta tenha acesso externo em caso de emergência.

CONTEXTUALIZANDO
A colocação de barras de apoio/segurança em banheiros, quartos e ou-
tros cômodos da casa, quando necessárias, atendem às normas da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), mediante NBR 9050:2004.
No geral, esta norma estabelece que todas as barras de apoio utilizadas
devam suportar um esforço mínimo de 150 kg peso/massa, ter um diâmetro
entre 3 e 4,5 cm, estar firmemente fixadas a 4 cm da parede e serem de
material resistente à corrosão (CHIOSSI; SANTOS, 2011).

Vale lembrar que estas sugestões de adaptações são amplas, gerais e não
consideram as especificidades de cada idoso, de modo que, na prática, estas ade-
quações devem considerar as características individuais de cada paciente, suas
necessidades e expectativas evidenciadas a partir de avaliação. Isso porque criar
um ambiente funcional por meio de uma casa segura demanda requisitos além
daqueles para criar um ambiente adequado para os idosos de maneira geral. É
necessário o olhar interdisciplinar sobre a funcionalidade do idoso.
Quando bem sugeridas, estas adaptações do ambiente em que o idoso vive po-
dem compensar perdas ou limitações funcionais, além de proporcionar ao idoso
maior conforto, segurança, acessibilidade e funcionalidade em seu dia a dia.

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Sintetizando
A fisioterapia pode atuar na saúde do idoso com doença reumática, junta-
mente com demais profissionais das equipes interdisciplinares, de modo a ame-
nizar os quadros sintomatológicos e garantir independência, funcionalidade e
qualidade de vida a estes pacientes. Para tal, o fisioterapeuta pode fazer uso
de diferentes abordagens voltadas às disfunções reumáticas específicas, pau-
tando-se na fisiopatologia de cada uma delas. Dentre as patologias reumáticas
que demandam tratamento fisioterapêutico, citam-se osteoporose, osteoartrite,
fibromialgia, polimialgia reumática e artrite gotosa.
Antes de iniciar a abordagem, cabe ao fisioterapeuta a realização de avalia-
ção voltada ao idoso com doença reumática, visando identificar pontos relevan-
tes, incluindo aspectos motores, funcionais e análise de aspectos evidenciados
em exames de imagem. A partir da avaliação, elabora-se o plano de tratamento,
utilizando-se diferentes abordagens, que podem incluir eletroterapia, analgesia,
cinesioterapia, hidroterapia, entre outras medidas efetivas no controle da dor,
na melhoria das condições motoras, na prevenção de deformidades e, com isso,
interferindo de maneira positiva na capacidade funcional do idoso.
Além destas medidas, o fisioterapeuta pode avaliar ambientes domiciliares
de idosos, identificando aspectos que possam estar envolvidos na segurança e
funcionalidade dos espaços, considerando que idosos passam grande parte do
seu dia em suas residências. Facilitar o desempenho de abordagens funcionais,
como a alimentação, higiene, transferências, entre outras atividades de vida diá-
ria é essencial tanto para o idoso que está vivenciando um processo de enve-
lhecimento funcional como para o idoso que possui maiores limitações motoras
resultantes de doenças reumáticas, ortopédicas, cardiorrespiratórias, neuroló-
gicas etc. Com base na avaliação destes ambientes, o fisioterapeuta, juntamente
com outros profissionais, é capaz de propor melhorias nas residências de idosos
com base na avaliação interdisciplinar, minimizando limitações funcionais e faci-
litando o dia a dia do paciente.
Deste modo, percebe-se que a fisioterapia é uma área de ampla atuação junto
à saúde da pessoa idosa, atuando por meio de diferentes abordagens, de modo
a proporcionar melhorias funcionais e na qualidade de vida dessa população.

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