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Chieko Aoki: a imigrante

japonesa que virou dama da


hotelaria no Brasil
A empresária fundou a cadeia de hotéis Blue Tree em
1997 depois de uma reviravolta em sua vida. A rede é
hoje uma das maiores do país.

Chieko Aoki, 72, é uma empresária brasileira, presidente do


grupo hoteleiro Blue Tree Hotels. Conhecida como a “dama da
hotelaria” no Brasil, é uma das mulheres de negócios mais
influentes do país. Ela já tinha uma longa carreira no setor
quando lançou a rede Blue Tree, em 1997. Hoje, a cadeia é
uma das maiores do ramo no Brasil, com 23 unidades em 17
cidades e mais de 4 mil apartamentos.
Quem é Chieko Aoki?

Chieko Aoki nasceu em Fukuoka, no Norte da ilha Kyushu, no


sudoeste do Japão, em 16 de setembro de 1948, filha de Kaoro
Nishimura, técnico em eletricidade, e Takako Nishimura, dona
de casa. Sua família se mudou para o Brasil quando ela tinha
seis anos, a convite de uma tia viúva com dois filhos para criar.
Os Nishimura se estabeleceram em Bastos, no interior de São
Paulo, para trabalhar em uma propriedade da parente.

Bastos, a cerca de 540 quilômetros da capital paulista, foi


fundada por um japonês, Senjiro Hatanaka, representante da
Sociedade Colonizadora do Brasil, para assentamento de
famílias imigrantes do Japão.

“O Brasil estava em crescimento, devia ser um paraíso”, disse


Aoki ao InfoMoney sobre o que a família imaginou na época.
“Mas a história não era bem assim”, acrescentou. Seus pais
não estavam acostumados com a agricultura e não se
adaptaram à atividade.

“Eu me sentia muito responsável em ajudar meus pais. Eles


não falavam português e eu podia ajudar aprendendo
rapidamente, para auxiliar na comunicação, mesmo sendo
criança”, afirmou. Esse senso de responsabilidade iria
acompanhá-la por toda a vida. Depois de dois anos no campo,
a família se mudou para a capital de São Paulo.
Quando menina, Chieko sempre estudou em escolas públicas.
Fez o “clássico”, atual ensino médio, em São Caetano do Sul, e
o curso de Secretariado na Escola de Comércio Álvares
Penteado (Fecap), no Largo de São Francisco, região central
da capital. Ela chegou a trabalhar como secretaria na Ford.

A jovem estudava também inglês, japonês e música. “Estudava


muito. Meus pais não me forçaram, mas eu aceitei a
responsabilidade”, afirmou. Até hoje, ela dá grande importância
ao preparo e ao conhecimento.

Chieko pensou em cursar Filosofia na Universidade de São


Paulo (USP) e lecionar a disciplina. Mas com a inauguração da
Cidade Universitária, em 1968, a Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas (FFLCH) mudou da Rua Maria Antônia, na
Consolação, região central de São Paulo, para o novo campus,
na zona oeste. Ficou fora de mão para a jovem.

Ela decidiu então prestar vestibular para Direito na USP e foi


estudar na faculdade do Largo de São Francisco, nas
proximidades da Fecap. Se formou e tirou a carteira da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB). Ela fez estágios, gostava da
área trabalhista, mas não chegou a exercer a profissão. “Fui
estudar no Japão, casei, e acabei não trabalhando na área”, diz
Chieko.

No Japão, nos anos 1970, Aoki estudou Administração na


Universidade Sofia, em Tóquio, curso com ênfase no modo
japonês de administrar. “Eu queria entender mais a cultura.
Achava bacana”, afirmou. “Descobri que o japonês pensa de
forma coletiva, pensa a empresa como uma família, é uma
sociedade mais unida, um ajuda o outro”, declarou.

Dessa época, ela guarda lições importantes, como ter “muita


reponsabilidade”, disciplina e espiritualidade. Segundo a
executiva, no Japão, sob influência do budismo, a
espiritualidade tem grande relevância. “Há muito foco na
espiritualidade no mundo oriental”, declarou. Isso se traduz
numa preocupação com o servir bem, em fazer as pessoas se
sentirem bem. É um conceito que a empresária adota em seus
empreendimentos hoteleiros.

Chieko se casou com o empresários japonês John Aoki,


presidente da Aoki Corporation, que atuava nos ramos de
construção e hotelaria. A companhia tinha negócios no Brasil,
como os hotéis Caesar Park. Sendo japonesa naturalizada
brasileira, ela tinha como ajudar nos empreendimentos. Viajava
muito e conhecia práticas hoteleiras de várias partes do
planeta. Resolveu fazer um curso de Administração Hoteleira
na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e entrou de vez
no ramo.

Vale lembrar que, no Brasil da década de 1980, a bandeira


Caesar Park era sinônimo de hotel cinco estrelas. Em São
Paulo, por exemplo, o Caesar Park da Rua Augusta, na
Consolação, era um dos hotéis de luxo icônicos da capital, ao
lado do Maksoud Plaza, do Sheraton Mofarrej e do Hilton do
Centro. Naquela época, a Avenida Paulista, a uma quadra do
hotel, era o principal polo econômico e financeiro da cidade.

Em 1982, Aoki tornou-se diretora de marketing e vendas do


Caesar Park em São Paulo. Depois, assumiu a presidência da
Caesar Park Hotels & Resort. Nos anos 1980, a Aoki
Corporation adquiriu a tradicional empresa hoteleira norte-
americana Westin Hotel & Resorts, da qual a empresária
também foi presidente. Em 1988, ela era responsável por mais
de 80 hotéis em 19 países.

Reviravolta

Nos anos 1990, a economia japonesa entrou em crise. Em


meio à recessão, John Aoki teve um AVC que o deixaria com
graves sequelas até sua morte, em 2012. A Aoki Corporation
estava alavancada, com dívidas resultantes de sua expansão
internacional na década anterior, e os bancos cobraram. As
receitas, por sua vez, estavam em baixa, frente à situação
econômica do Japão.

“Meu marido teve um derrame muito forte logo no começo da


crise, em que ele ficou entre a vida e a morte, e decidimos
vender os hotéis. Então, com a venda e meu marido doente, eu
pensei que não ia mais trabalhar”, disse a empresária
em entrevista ao InfoMoney em 2019.
A Caesar Park e a Westin foram vendidas: a primeira para a
mexicana Posadas e, a última, para o Starwood Capital Group.
A Posadas posteriormente vendeu os hotéis Caesar Park na
América do Sul para a Accor, e a Westin hoje pertence à
Marriott International.

“Por incrível que pareça, a hotelaria passa de mão em mão


porque tem uma grande liquidez”, afirmou Chieko Aoki sobre a
venda das redes hoteleiras em podcast do jornal Brasilturis.
Só a rede Westin tinha cerca de 90 hotéis na época.

À beira da falência, a Aoki Corporation foi incorporada pela


também japonesa Asunaro Construction, que passou a se
chamar Asunaro Aoki Construction, em 2004.

Recomeço

Em 1992, no Brasil, Chieko Aoki havia criado a Caesar Towers,


com o objetivo de oferecer serviços de alto padrão, mas com
preços mais baixos do que os de hotéis cinco estrelas. Quando
o marido adoeceu, ela ficou dividida entre suas
responsabilidades profissionais e pessoais, mas abraçou as
duas. “A mulher já está acostumada a fazer hora extra”, disse a
empresaria ao Brasilturis.

Aoki conta que tinha uma equipe profissional “fabulosa” que a


motivou a seguir no negócio. Em 1997, ela inaugurou a
bandeira Blue Tree, que comanda até hoje. “Blue tree” significa
“árvore azul” em português, ou “aoki” em japonês. Ela
continuava de olho na mesma fatia de mercado, pouco
explorada na época, segundo a executiva.

Aoki explica que reuniu características de administração de


diferentes culturas para criar sua própria fórmula: os processos
de gestão dos norte-americanos, a elegância dos europeus, a
espiritualidade e o bem servir dos japoneses e o calor humano
dos brasileiros.

“Cada pessoa é diferente, não dá para enquadrar o cliente


dentro de um padrão da empresa. A pessoa tem que se sentir
bem”, afirmou. “Eu prezo muito isso até hoje”.

Para ela, o grande diferencial de seu negócio é o atendimento


personalizado e o profissionalismo, acompanhado de “paixão
pelo que se faz e para quem se faz”. “Esta é uma parte muito
importante da hotelaria”, destacou. Aoki classifica sua atividade
como “apaixonante”, e esse envolvimento faz ela ter o “insight”
certo para o negócio. “Conhecer o negócio por inteiro”,
ressaltou.

A hospitalidade brasileira influenciou sua filosofia de negócios,


e ela fala bastante sobre o tema. “A hospitalidade brasileira é
única no mundo. O brasileiro rapidamente vira seu ‘amigo de
infância’”, observou. “É um acolhimento diferente. Mesmo no
Japão, onde o serviço é excepcional, eles não têm a
flexibilidade que o brasileiro tem para atender as necessidades
do cliente”.
Essa característica garante que o negócio tenha personalidade
própria num mundo globalizado e dominado pela tecnologia.
Aoki cita o livro “Paradoxo Global”, do norte-americano John
Naisbitt, para dizer que ao mesmo tempo em que a
globalização avança, criando padrões universais, os países
não podem perder sua identidade.

“É importante fortalecer suas características próprias por conta


da globalização”, afirmou. “Acho que cada vez mais o ser
humano será valorizado, por fazer coisas diferentes”, declarou.
Ela gosta que seus colaboradores sejam profissionais e, ao
mesmo tempo, “gente”. “É um profissional que vai além do
uniforme para atender o cliente, faz as coisas com o coração”,
disse. “Só o brasileiro consegue entender isso”, comentou.

Liderança feminina

Aoki diz que não teve problemas em sua carreira empresarial


por ser mulher. Ela observa, porém, que hoje há mais mulheres
em cargos de liderança do que quando começou. “Não é igual
[à presença masculina], isso ainda vai demorar um pouco mais.
Mas as mulheres ajudam umas às outras e [a inclusão] pode
andar mais rápido”, declarou.

A presidente da rede Blue Tree é uma das fundadoras do


Grupo Mulheres do Brasil, organização que reúne
representantes de diversos setores e tem entre seus objetivos
promover a inclusão e fortalecer a liderança feminina. O grupo
é presidido pela também empresária Luiza Helena Trajano, do
Magazine Luiza.

Aoki diz que as mulheres estão acostumadas a acumular dupla


jornada e que são unidas. Portanto, o avanço feminino em
posições de liderança tende a aumentar, mesmo com o debate
público contaminado por opiniões machistas e misóginas.

Pandemia

Chieko diz que seu negócio sofreu bastante com a pandemia


de Covid-19. Parte de seus empreendimentos permaneceram
fechados por alguns meses em 2020. O setor de turismo foi um
dos mais afetados pelas medidas de restrição impostas pelos
governos para conter a circulação do vírus.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), as atividades turísticas no Brasil sofreram uma queda
de 36,7% em 2020 na comparação com 2019. No primeiro
trimestre de 2021, houve um recuo de 27,4% sobre os três
primeiros meses de 2020.

Chieko participa de iniciativas para aceleração da vacinação.


“É fundamental, a vacina é a solução”, destacou. A empresária
avalia que certo grau de normalidade só irá voltar quando a
maior parte da população estiver completamente imunizada.
Em 1º de julho, 12,8% dos brasileiros haviam recebido duas
doses de vacinas, segundo dados do site Our World in Data, da
Universidade Oxford.

Até que a imunização torne a circulação segura, Chieko


recomenda que as pessoas “tenham consciência”, mantenham
o isolamento social, fiquem em casa, usem máscara e
higienizem as mãos. “Até minha mãe, com 94 anos, tem
dificuldade de ficar dentro de casa”, contou, acrescentando que
leva a mãe para passear quando há pouca gente na rua.

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