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A SINCRONICIDADE
JUNG, Carl Gust av. Sincronicidade. Tradução de Pe. Dom Mat eus Ramalho Rocha, OSB. Pet rópolis:
Vozes, 2000, 10ª edição, volume VIII/3 das Obras Completas.

NOTA: Os números em colchet es referem-se à numeração original dos parágrafos e serve como
referência para citação bibliográfica.

[959] Talvez fosse indicado começar minha exposição, definindo o conceit o do qual ela
t rat a. Mas eu gost aria mais de seguir o caminho inverso e dar-vos primeirament e uma breve
descrição dos fat os que devem ser ent endidos sob a noção de sincronicidade. Como nos
most ra sua et imologia, esse t ermo t em alguma coisa a ver com o t empo ou, para sermos mais
exat os, com uma espécie de simultaneidade. Em vez de simult aneidade, poderíamos usar
t ambém o conceit o de coincidência signif icat iva de dois ou mais acont eciment os, em que se
t rat a de algo mais do que uma probabilidade de acasos. Casual é a ocorrência est at íst ica —
ist o é, provável — de acont eciment os como a "duplicação de casos", p. ex., conhecida nos
hospit ais. Grupos dest a espécie podem ser const it uídos de qualquer número de membros sem
sair do âmbit o da probabilidade e do racionalment e possível. Assim, pode ocorrer que alguém
casualment e t enha a sua at enção despert ada pelo número do bilhet e do met ro ou do t rem.
Chegando à casa, ele recebe um t elefonema e a pessoa do out ro lado da linha diz um número
igual ao do bilhet e. À noit e ele compra um bilhet e de ent rada para o t eat ro, cont endo esse
mesmo número. Os t rês acont eciment os formam um grupo casual que, embora não seja
freqüent e, cont udo não excede os limit es da probabilidade. Eu gost aria de vos falar do
seguint e grupo casual, t omado de minha experiência pessoal e const it uído de não menos de
seis termos:
[960] Na manhã do dia Iº de abril de 1949 eu t ranscrevera uma inscrição referent e a
uma figura que era met ade homem, met ade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos
lembrou o cost ume do "Peixe de Abril" (primeiro de abril). De t arde, uma ant iga pacient e
minha, que eu j á não via por vários meses, me most rou algumas figuras impressionant es de
peixe. De noit e, alguém me most rou uma peça de bordado, represent ando um monst ro
marinho. Na manhã seguint e, bem cedo, eu vi uma out ra ant iga pacient e, que veio me visit ar
pela primeira vez depois de dez anos. Na noit e ant erior ela sonhara com um grande peixe.
Alguns meses depois, ao empregar est a série em um t rabalho maior, e t endo encerrado
j ust ament e a sua redação, eu me dirigi a um local à beira do lago, em frent e à minha casa,
onde j á est ivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Dest a vez encont rei um peixe mort o,
mais ou menos de um pé de compriment o [cerca de 30 cm], sobre a amurada do Lago. Como
ninguém pôde estar lá, não tenho idéia de como o peixe foi parar ali.
[961] Quando as coincidências se acumulam dest a forma, é impossível que não
fiquemos impressionados com ist o, pois, quant o maior é o número dos t ermos de uma série
dest a espécie, e quant o mais ext raordinário é o seu carát er, t ant o menos provável ela se
t orna. Por cert as razões que mencionei em out ra part e e que não quero discut ir aqui, admit o
que se t rat a de um grupo casual. Mas t ambém devo reconhecer que é mais improvável do
que, p. ex., uma mera duplicação.
[962] No caso do bilhet e do met ro, acima mencionado, eu disse que o observador
percebeu "casualment e" o número e o gravou na memória, o que, ordinariament e, ele j amais
fazia. Ist o nos forneceu os element os para concluir que se t rat a de uma série de acasos, mas
ignoro o que o levou a fixar a sua at enção nos números. Parece-me que um fat or de incert eza
ent ra no j ulgament o de uma série dest a nat ureza e reclama cert a at enção. Observei coisa
semelhant e em out ros casos, sem, cont udo, ser capaz de t irar as conclusões que mereçam fé.
Ent ret ant o, às vezes é difícil evit ar a impressão de que há uma espécie de precognição de
acont eciment os fut uros. Est e sent iment o se t orna irresist ível nos casos em que, como

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[Publicado pela primeira vez no Eranos-Jahrbuch XX (1951). Trat ava-se originariament e de uma conferência
que o autor pronunciou perante o Círculo Eranos de 1951, em Ascona na Suíça].
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acontece mais ou menos freqüentemente, temos a impressão de encontrar-nos com um velho
conhecido, mas para nosso desapont ament o logo verificamos que se t rat a de um est ranho.
Então vamos até a esquina próxima e topamos com o próprio em pessoa. Casos desta natureza
acont ecem de t odas as formas possíveis e com bast ant e freqüência, mas geralment e bem
depressa nos esquecemos deles, passados os primeiros momentos de espanto.
[963] Ora, quant o mais se acumulam os det alhes previst os de um acont eciment o, t ant o
mais clara é a impressão de que há uma precognição e por isto tanto mais improvável se torna
o acaso. Lembro-me da hist ória de um amigo est udant e ao qual o pai promet era uma viagem
à Espanha, se passasse satisfatoriamente nos exames finais. Este meu amigo sonhou então que
est ava andando em uma cidade espanhola. A rua conduzia a uma praça onde havia uma
cat edral gót ica. Assim que chegou lá, dobrou a esquina, à direit a, ent rando nout ra rua. Aí ele
encont rou uma carruagem elegant e, puxada por dois cavalos baios. Nesse moment o ele
despert ou. Cont ou-nos ele o sonho enquant o est ávamos sent ados em t orno de uma mesa de
bar. Pouco depois, t endo sido bem sucedido nos exames, viaj ou à Espanha e aí, em uma das
ruas, reconheceu a cidade de seu sonho. Encont rou a praça e viu a igrej a, que correspondia
exat ament e à imagem que vira no sonho. Primeirament e, ele queria ir diret ament e à igrej a,
mas se lembrou de que, no sonho, ele dobrava a esquina, à direit a, ent rando nout ra rua.
Est ava curioso por verificar se seu sonho seria confirmado out ra vez. Mal t inha dobrado a
esquina, quando viu, na realidade, a carruagem com os dois cavalos baios.
[964] O sentimento do déjà-vu [sensação do já visto] se baseia, como tive oportunidade
de verificar em numerosos casos, em uma precognição do sonho, mas vimos que est a
precognição ocorre t ambém no est ado de vigília. Nest es casos, o puro acaso se t orna
ext remament e improvável, porque a coincidência é conhecida de ant emão. Dest e modo, ela
perde seu carát er casual não só psicológica e subj et ivament e, mas t ambém obj et ivament e,
porque a acumulação dos det alhes coincident es aument a desmedidament e a improbabilidade
(Dariex e Flammarion calcularam as probabilidades de 1:4 milhões a 1:800 milhões para
mortes corretamente previstas). Por isto, em tais casos seria inadequado falar de "acasos". Do
cont rário, t rat a-se de coincidências significat ivas. Comument e os casos dest e gênero são
explicados pela precognição, ist o é, pelo conheciment o prévio. Também se fala de
clarividência, de t elepat ia, et c, sem, cont udo, saber-se explicar em que consist em est as
faculdades ou que meio de t ransmissão elas empregam para t ornar acont eciment os dist ant es
no espaço e no t empo acessíveis à nossa percepção. Todas est as idéias são meros nomina
[nomes]; não são conceit os cient íficos que possam ser considerados como afirmações de
princípio. At é hoj e ninguém conseguiu const ruir uma pont e causal ent re os element os
constitutivos de uma coincidência significativa.
[965] Coube a J. B. Rhine o grande mérit o de haver est abelecido bases confiáveis para
o t rabalho no vast o campo dest es fenômenos, com seus experiment os sobre a ESP (extra-
sensory-perception). Ele usou um baralho de 25 cart as, divididas em 5 grupos de 5, cada um
dos quais com um desenho próprio (est rela, ret ângulo, círculo, cruz, duas linhas onduladas).
A experiência era efet uada da seguint e maneira: em cada série de experiment os ret iravam-se
aleat oriament e as cart as do baralho, 800 vezes seguidas, mas de modo que o suj eit o (ou
pessoa t est ada) não pudesse ver as cart as que iam sendo ret iradas. Sua t arefa era adivinhar o
desenho de cada uma das cart as ret iradas. A probabilidade de acert o é de 1:5. O result ado
médio obt ido com um número muit o grande de cart as foi de 6,5 acert os. A probabilidade de
um desvio casual de 1,5 é só de 1:250.000. Alguns indivíduos alcançaram o dobro ou mais de
acertos. Uma vez, todas as 25 cartas foram adivinhadas corretamente em nova série, o que dá
uma probabilidade de 1:289.023.223.876.953.125. A dist ância espacial ent re o
experiment ador e a pessoa t est ada foi aument ada de uns poucos met ros at é 4.000 léguas,
sem afetar o resultado.
[966] Uma segunda forma de experiment ação consist ia no seguint e: mandava-se o
sujeito adivinhar previament e a cart a que iria ser ret irada no fut uro próximo ou dist ant e. A
dist ância no t empo foi aument ada de alguns minut os at é duas semanas. O result ado dest a
experiência apresentou uma probabilidade de 1:400.000.
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[967] Numa t erceira forma de experiment ação o suj eit o deveria procurar influenciar a
moviment ação de dados lançados por um mecanismo, escolhendo um det erminado número.
Os result ados dest e experiment o, dit o psicocinét ico (PK, de psychokinesisj , foram t ant o mais
positivos, quanto maior era o número de dados que se usavam de cada vez.
[968] O experiment o espacial most ra com bast ant e cert eza que a psique pode eliminar
o fator espaço até certo ponto. A experimentação com o tempo nos mostra que o fator tempo
(pelo menos na dimensão do fut uro) pode ser relat ivizado psiquicament e. A experiment ação
com os dados nos indica que os corpos em moviment o podem ser influenciados t ambém
psiquicamente, como se pode prever a partir da relatividade psíquica do espaço e do tempo.
[969] O post ulado da energia é inaplicável no experiment o de Rhine. Ist o exclui a idéia
de t ransmissão de força. Também não se aplica a lei da causalidade, circunst ância est a que
eu indicara há t rint a anos at rás. Com efeit o, é impossível imaginar como um acont eciment o
fut uro sej a capaz de influir num out ro acont eciment o j á no present e. Como at ualment e é
impossível qualquer explicação causal, forçoso é admit ir, a t ít ulo provisório, que houve
acasos improváveis ou coincidências significativas de natureza acausal.
[970] Uma das condições dest e result ado not ável que é preciso levar em cont a é o fat o
descobert o por Rhine: as primeiras séries de experiência apresent am sempre result ados
melhores do que as post eriores. A diminuição dos números de acert o est á ligada às
disposições do suj eit o da experiment ação. As disposições iniciais de um suj eit o crent e e
ot imist a ocasionam bons result ados. O cet icismo e a resist ência produzem o cont rário, ist o é,
criam disposições desfavoráveis no suj eit o. Como o pont o de vist a energét ico é prat icament e
inaplicável nest es experiment os, a única import ância do fat or afet ivo reside no fat o de ele
ser uma das condições com base nas quais o fenômeno pode, mas não deve acont ecer.
Contudo, de acordo com os resultados obtidos por Rhine, podemos esperar 6,5 acertos em vez
de apenas 5. Todavia, é impossível prever quando haverá acert o. Se ist o fosse possível,
est aríamos diant e de uma lei, o que cont raria t ot alment e a nat ureza do fenômeno, que t em
as caract eríst icas de um acaso improvável cuj a freqüência é mais ou menos provável e
geralmente depende de algum estado afetivo.
[971] Est a observação, que foi sempre confirmada, nos most ra que o fat or psíquico que
modifica ou elimina os princípios da explicação física do mundo est á ligado à afet ividade do
suj eit o da experiment ação. Embora a fenomenologia do experiment o da ESP e da PK possam
enriquecer-se not avelment e com out ras experiências do t ipo apresent ado esquemat icament e
acima, cont udo uma pesquisa mais profunda das bases t eria necessariament e de se ocupar
com a nat ureza da afet ividade. Por ist o, eu concent rei minha at enção sobre cert as
observações e experiências que, posso muit o bem dizê-lo, se impuseram com freqüência no
decurso de minha j á longa at ividade de médico. Elas se referem a coincidências significat ivas
espont âneas de alt o grau de improbabilidade e que conseqüent ement e parecem
inacredit áveis. Por ist o, eu gost aria de vos descrever um caso dest a nat ureza, para dar um
exemplo que é caract eríst ico de t oda uma cat egoria de fenómenos. Pouco import a se vos
recusais a acredit ar em um único caso ou se t endes uma explicação qualquer para ele. Eu
poderia t ambém apresent ar-vos uma série de hist órias como est a que, em princípio, não são
mais est ranhas ou menos dignas de crédit o do que os result ados irrefut áveis de Rhine, e não
demoraríeis a ver que cada caso exige uma explicação própria. Mas a explicação causal,
cient ificament e possível, fracassa por causa da relat ivização psíquica do espaço e do t empo,
que são duas condições absolut ament e indispensáveis para que haj a conexão ent re a causa e
o efeito.
[972] O exemplo que vos proponho é o de uma j ovem pacient e que se most rava
inacessível, psicologicamente falando, apesar das tentativas de parte a parte neste sentido. A
dificuldade residia no fat o de ela pret ender saber sempre melhor as coisas do que os out ros.
Sua excelent e formação lhe fornecia uma arma adequada para ist o, a saber, um racionalismo
cart esiano aguçadíssimo, acompanhado de uma concepção geomet ricament e impecável da
realidade. Após algumas t ent at ivas de at enuar o seu racionalismo com um pensament o mais
humano, tive de me limitar à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo
que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se encerrara. Assim, certo dia
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eu est ava sent ado diant e dela, de cost as para a j anela, a fim de escut ar a sua t orrent e de
eloqüência. Na noit e ant erior ela havia t ido um sonho impressionant e no qual alguém lhe
dava um escaravelho de ouro (uma j óia preciosa) de present e. Enquant o ela me cont ava o
sonho, eu ouvi que alguma coisa bat ia de leve na j anela, por t rás de mim. Volt ei-me e vi que
se t rat ava de um inset o alado de cert o t amanho, que se chocou com a vidraça, pelo lado de
fora, evident ement e com a int enção de ent rar no aposent o escuro. Ist o me pareceu est ranho.
Abri imediat ament e a j anela e apanhei o animalzinho em pleno vôo, no ar. Era um
escarabeídeo, da espécie da Cet onia aurat a, o besouro-rosa comum, cuj a cor verde-dourada
torna-o muit o semelhant e a um escaravelho de ouro. Est endi-lhe o besouro, dizendo-lhe:
"Est á aqui o seu escaravelho". Est e acont eciment o abriu a brecha desej ada no seu
racionalismo, e com ist o rompeu-se o gelo de sua resist ência int elect ual. O t rat ament o pôde
então ser conduzido com êxito.
[973] Est a hist ória dest ina-se apenas a servir de paradigma para os casos inumeráveis
de coincidência significat iva observados não soment e por mim, mas por muit os out ros e
regist rados parcialment e em grandes coleções. Elas incluem t udo o que figura sob os nomes
de clarividência, t elepat ia, et c, desde a visão, significat ivament e at est ada, do grande
incêndio de Est ocolmo, t ida por Swedenborg, at é os relat os mais recent es do marechal-do-ar
Sir Vict or Goddard a respeit o do sonho de um oficial desconhecido, que previra o desast re
subseqüente do avião de Goddard.
[974] Todos os fenômenos a que me referi podem ser agrupados em três categorias:
1. Coincidência de um est ado psíquico do observador com um acont eciment o obj et ivo
ext erno e simult âneo, que corresponde ao est ado ou cont eúdo psíquico (p. ex., o
escaravelho), onde não há nenhuma evidência de uma conexão causal ent re o est ado psíquico
e o acont eciment o ext erno e onde, considerando-se a relat ivização psíquica do espaço e do
tempo, acima constatada, tal conexão é simplesmente inconcebível.
2. Coincidência de um est ado psíquico com um acont eciment o ext erior correspondent e
(mais ou menos simult âneo), que t em lugar fora do campo de percepção do observador, ou
sej a, especialment e dist ant e, e só se pode verificar post eriorment e (como p. ex. o incêndio
de Estocolmo).
3. Coincidência de um est ado psíquico com um acont eciment o fut uro, port ant o,
dist ant e no t empo e ainda não present e, e que só pode ser verificado t ambém
posteriormente.
[975] Nos casos dois e t rês, os acont eciment os coincident es ainda não est ão present es
no campo de percepção do observador, mas foram ant ecipados no t empo, na medida em que
só podem ser verificados post eriorment e. Por est e mot ivo, digo que semelhant es
acontecimentos são sincronísticos, o que não deve ser confundido com "sincrônicos".
[976] Esta visão de conj unt o dest e vast o campo de observação seria incomplet a, se não
considerássemos aqui t ambém os chamados mét odos mânt icos. O mant icismo t em a
pret ensão, senão de produzir realment e acont eciment os sincroníst icos, pelo menos de fazê-
los servir a seus objetivos. Um exemplo bem ilustrativo neste sentido é o método oracular do I
Ging que o Dr. Helmut Wilhelm descreveu detalhadamente neste encontro. O I Ging pressupõe
que há uma correspondência sincroníst ica ent re o est ado psíquico do int errogador e o
hexagrama que responde. O hexagrama é formado, sej a pela divisão purament e aleat ória de
49 varinhas de milefólio, sej a pelo lançament o igualment e aleat ório de t rês moedas. O
result ado dest e mét odo é incont est avelment e muit o int eressant e, mas, at é onde posso ver,
não proporciona um inst rument o adequado para uma det erminação obj et iva dos fat os, ist o é,
para avaliação est at íst ica, porque o est ado psíquico em quest ão é demasiadament e
indet erminado e indefinível. O mesmo se pode dizer do experiment o geomânt ico, que se
baseia sobre princípios similares.
[977] Est amos numa sit uação um pouco mais favorável quando nos volt amos para o
mét odo ast rológico, que pressupõe uma "coincidência significat iva" de aspect os e posições
planet árias com o carát er e o est ado psíquico ocasional do int errogador. Ã luz das pesquisas
ast rofísicas recent es, a correspondência ast rológica provavelment e não é um caso de
sincronicidade mas, em sua maior part e, uma relação causal. Como o prof. KnolI demonst rou
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nest e encont ro, a irradiação dos prót ons solares é de t al modo influenciada pelas
conj unções, oposições e aspect os quart is dos aspect os que se pode prever o apareciment o de
t empest ades magnét icas com grande margem de probabilidade. Podem-se est abelecer
relações ent re a curva das pert urbações magnét icas da t erra e a t axa de mort alidade —
relações que fort alecem a influência desfavorável de , e [aspect os quart is] e as
influências favoráveis de dois aspectos trígonos e sextis. Assim é provável que se trate aqui de
uma relação causal, ist o é, de uma lei nat ural que exclua ou limit e a sincronicidade. Ao
mesmo t empo, porém, a qualificação zodiacal das casas, que desempenha um papel no
horóscopo, cria uma complicação, dado que o Zodíaco ast rológico coincide com o do
calendário, mas não com as const elações do Zodíaco real ou ast ronômico. Est as const elações
deslocaram-se consideravelment e de sua posição inicial em cerca de um mês plat ônico quase
complet o, em conseqüência da precessão dos equinócios desde a época do 0º [pont o zero
de Áries] (em começos de nossa era). Por ist o, quem nascer hoj e, em Aries, de acordo com o
calendário ast ronômico, na realidade nasceu em Pisces. Seu nasciment o t eve lugar
simplesment e em uma época que hoj e (há cerca de 2.000 anos) se chama "Áries". A Ast rologia
pressupõe que est e t empo possui uma qualidade det erminant e. É possível que est a qualidade
est ej a ligada, como as pert urbações magnét icas da Terra, às grandes flut uações sazonais às
quais se acham suj eit as as irradiações dos prót ons solares. Ist o não exclui a possibilidade de
as posições zodiacais representarem um fator causal.
[978] Embora a int erpret ação psicológica dos horóscopos sej a uma mat éria ainda muit o
incert a, cont udo, at ualment e há a perspect iva de uma possível explicação causal, em
conformidade, port ant o, com a lei nat ural. Por conseguint e, não há mais j ust ificat iva para
descrever a Ast rologia como um mét odo mânt ico. Ela est á em vias de se t ornar uma ciência.
Como, porém, ainda exist em grandes áreas de incert eza, de há muit o resolvi realizar um
t est e, para ver de que modo uma t radição ast rológica se comport aria diant e de uma
invest igação est at íst ica. Para ist o, foi preciso escolher um fat o bem definido e indiscut ível.
Minha escolha recaiu no casamento. Desde a ant iguidade a crença t radicional a respeit o do
casament o é que est e é favorecido por uma conj unção ent re o Sol e a Lua no horóscopo dos
casais, ist o é, com uma órbit a de 8º em um dos parceiros, e em com no out ro parceiro.
Uma segunda t radição, igualment e ant iga, considera t ambém como uma característica
do casamento. De importância são as conjunções dos ascendentes com os grandes luminares.
[979] Junt ament e com minha colaboradora, a Dra. L. Frey-Rohn, primeirament e
procedi à colet a de 180 casament os, ou 360 horóscopos individuais2, e comparamos os 50
aspect os ast rológicos mais import ant es neles cont idos e que poderiam caract erizar um
casament o, ist o é, as (conj unções) e (oposições) ent re (Sol), (Lua), (Mart e),
(Vênus), asc. e desc. O result ado obt ido foi um máximo de 10% em . Como me informou
o Prof. Markus Fierz, que gent ilment e se deu ao t rabalho de calcular a probabilidade de meu
result ado, meu número t em a probabilidade de cerca de 1:10.000. A opinião de vários físicos
mat emát icos consult ados a respeit o do significado dest e número, é dividida: alguns acham-na
considerável, out ros acham-na quest ionável. Nosso número parece duvidoso, na medida em
que a quant idade de 360 horóscopos é realment e muit o pequena, do pont o de vist a da
Estatística.
[980] Enquant o analisávamos est at ist icament e os aspect os dos 180 casament os, est a
nossa coleção se ampliava com novos horóscopos, e quando havíamos reunido mais 220
casament os, esse novo "pacot e" foi submet ido a uma invest igação em separado. Como da
primeira vez, agora t ambém o mat erial era avaliado j ust ament e da maneira como chegava.
Não era selecionado segundo um det erminado pont o de vist a, e foi colhido nas mais diversas
font es. A avaliação do segundo "pacot e" produziu um máximo de 10,9% para . A
probabilidade deste número é também aproximadamente de 1:10.000.

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O mat erial aqui recolhido provém de diversas font es. Trat a-se de horóscopos de pessoas casadas. Não se fez
nenhuma seleção. Utilizamos indiscriminadamente todos os horóscopos de que pudemos lançar mão.
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[981] Por fim, foram acrescent ados mais 83 casament os, a seguir est udados t ambém
separadament e. O result ado foi de um máximo de 9,6% para ascendent e. A probabilidade
deste número é aproximadamente de 1:3.000.
[982] Um fat o que logo nos chama at enção é que as conj unções são t odas conj unções
lunares, o que est á de acordo com as expect at ivas ast rológicas. Mas est ranho é que aquilo
que logo se dest aca aqui são as t rês posições fundament ais do horóscopo, a saber: (Sol),
(Lua) e o ascendent e. A probabilidade de uma coincidência de com é de 1:100
milhões. A coincidência das t rês conj unções lunares com (Sol), (Lua) e o ascendent e t em
uma probabilidade de 1:3x10; em out ros t ermos: a improbabilidade de um mero acaso para
est a coincidência é t ão grande, que nos vemos forçados a considerar a exist ência de um fat or
responsável por ela. Como os t rês "pacot es" eram muit o pequenos, as probabilidades
respect ivas de 1:10.000 e 1:3.000 dificilment e t erão alguma import ância t eórica. Sua
coincidência, porém, é t ão improvável, que se t orna impossível não admit ir a presença de
uma necessidade que produziu este resultado.
[963] Não se pode responsabilizar a possibilidade de uma conexão cient ificament e
válida ent re os dados ast rológicos e a irradiação dos prót ons por est e fat o, pois as
probabilidades individuais de 1:10.000 e 1:3.000 são demasiado grandes, para que se possa
considerar nosso result ado, com um cert o grau de cert eza, como merament e casual. Além
dist o, os máximos t endem a se nivelar, quando aument a o número de casament os com a
adição de novos pacot es. Seriam precisas cent enas de milhares de horóscopos de casament os
para se det erminar uma possível regularidade est at íst ica de acont eciment os t ais como as
conj unções do Sol, da Lua e dos ascendent es, e, mesmo nest e caso, o result ado seria ainda
quest ionável. Ent ret ant o, o fat o de que acont eça algo de t ão improvável quant o a
coincidência das t rês conj unções clássicas só pode ser explicado ou como o result ado de uma
fraude, intencional ou não, ou mais precisamente como uma coincidência significativa, isto é,
como sincronicidade.
[964] Embora mais acima eu t enha sido levado a fazer reparos quant o ao carát er
mânt ico da Ast rologia, cont udo, agora sou obrigado a reconhecer que ela t em est e carát er,
t endo em vist a os result ados a que chegou meu experiment o ast rológico. O arranj o aleat ório
dos horóscopos mat rimoniais colocados seguidament e uns sobre os out ros na ordem que nos
chegavam das diversas font es, bem como a maneira igualment e aleat ória com que foram
divididos em t rês pacot es desiguais, correspondia às expect at ivas ot imist as do pesquisador e
produziram um quadro geral melhor do que se poderia desej ar, do pont o de vist a da hipót ese
ast rológica. O êxit o do experiment o est á int eirament e de acordo com os result ados da ESP de
Rhine, que foram favoravelment e influenciados pelas expect at ivas, pela esperança e pela fé.
Mas não havia uma expect at iva definida com referência a qualquer result ado. A escolha de
nossos 50 aspect os j á é uma prova dist o. Depois do result ado do primeiro pacot e havia cert a
esperança de que a se confirmasse. Mas est a expect at iva frust rou-se. Na segunda vez,
formamos um pacot e maior com os horóscopos acrescent ados ant es, a fim de aument ar a
cert eza. Mas o result ado foi a . Com o t erceiro pacot e havia apenas leve esperança de
que a se confirmasse, o que também, mais uma vez, não ocorreu.
[985] O que acont eceu aqui foi reconhecidament e uma curiosidade, aparent ement e
uma coincidência significat iva singular. Se alguém se impressionasse com est a coincidência,
poderíamos chamá-lo de pequeno milagre. Hoj e, porém, t emos de considerar a noção de
milagre sob uma ót ica diferent e daquela a que est ávamos habit uado. Com efeit o, os
experiment os de Rhine nos most raram, nesse meio t empo, que o espaço e o t empo, e
conseqüent ement e t ambém a causalidade, são fat ores que se podem eliminar e, port ant o, os
fenómenos acausais ou os chamados milagres, parecem possíveis. Todos os fenómenos
nat urais dest a espécie são combinações singulares ext remament e curiosas dos acasos, unidas
ent re si pelo sent ido comum de suas part es o result ando em um t odo inconfundível. Embora
as coincidências significativas sejam infinitamente diversificadas quanto à sua fenomenologia,
cont udo, como fenómenos acausais, elas const it uem um element o que faz part e da imagem
cient ífica do mundo. A causalidade é a maneira pela qual concebemos a ligação ent re dois
acont eciment os sucessivos. A sincronicídade designa o paralelismo de espaço e de significado
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dos acont eciment os psíquicos e psicofísicos, que nosso conheciment o cient ífico at é hoj e não
foi capaz de reduzir a um princípio comum. O t ermo em si nada explica; expressa apenas a
presença de coincidências significat ivas, que, em si, são acont eciment os casuais, mas t ão
improváveis, que t emos de admit ir que se baseiam em algum princípio ou em alguma
propriedade do obj et o empírico. Em princípio, é impossível descobrir uma conexão causal
recíproca ent re os acont eciment os paralelos, e é j ust ament e ist o que lhes confere o seu
carát er casual. A única ligação reconhecível e demonst rável ent re eles é o significado comum
(ou uma equivalência). A ant iga t eoria da correspondência se baseava na experiência de t ais
conexões —teoria esta que atingiu o seu ponto culminante e também o seu fim temporário na
idéia da harmonia preest abelecida de Leibniz, e foi a seguir subst it uída pela dout rina da
causalidade. A sincronicidade é uma diferenciação moderna dos conceit os obsolet os de
correspondência, simpat ia e harmonia. Ela se baseia, não em pressupost os filosóficos, mas na
experiência concreta e na experimentação.
[986] Os fenômenos sincroníst icos são a prova da presença simult ânea de equivalências
significat ivas em processos het erogêneos sem ligação causal; em out ros t ermos, eles provam
que um cont eúdo percebido pelo observador pode ser represent ado, ao mesmo t empo, por
um acont eciment o ext erior, sem nenhuma conexão causal. Daí se conclui: ou que a psique
não pode ser localizada espacialment e, ou que o espaço-é psiquicament e relat ivo. O mesmo
vale para a det erminação t emporal da psique ou a relat ividade do t empo. Não é preciso
enfatizar que a constelação deste fato tem conseqüências de longo alcance.
[987] Infelizment e, no curt o espaço de uma conferência não me é possível t rat ar do
vasto problema da sincronicidade, senão de maneira um t ant o corrida. Para aqueles dent re
vós que desej am se informar mais det alhadament e sobre est a quest ão, comunico-vos que,
muit o em breve, aparecerá uma obra minha mais ext ensa, sob o t ít ulo de Sincronicidade
como Princípio de Conexões Acausais. Será publicada j unt ament e com a obra do Prof. W.
Pauli, num volume denominado Naturerklärung und Psyche.

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