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pos tas jEO4 Universidade Iguacu —" INCONSCIENTE FREUDIANO PROFESSORA: Nadja Maria Mendonga do Amaral Lages Pds-Graduacao em Psicanalise Clinica Av. Américo Buaiz - 905 - Torre Norte - Enseada do Sud - Vitoria - ES Cop 29050-911 - Tel.: (27) 3181 0799 / (27) 3345 6821 CURSO: FORMACAO EM PSICANALISE CLINICA OFESSORA: Dr? NADJA MARIA MENDONGA DO AMARAL LAGES. -CIPLINA: INCONSCIENTE FREUDIANO. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1.EMENTA. > Apsicanilise ea * psicologia da consciéncia => funcionamento do Psiquismo => A estrutura do inconsciente = As caracteristicas do sistema inconsciente = O inconsciente é estruturado como uma linguagem => O inconsciente e o simbélico. 2-OBJETIVO GERAL: => Instrumentalizar os futuros profissionais da Psicandlise. 2.1.OBJETIVOS ESPECIFICOS: > Promover formas de construgdo de conhecimentos a partir dos fundamentos dos fundamentos do inconsciente Freudian , => Propiciar condicdes de realizacéo de pesquisa = Desenvolver formas de trabalhos numa vertente de vivencias com abordagens terapéuticas visando 4 aquisiggo de subsidios teéricos e praticos para atuagdo na clinica psicanalitica = Possibilitar subsidios tedricos viabilizadores da atuagdo clinica. 3.CONTEUDOS: 3.1. ‘Di = Apsicanilise e a psicologia da consciencia => funcionamento do Psiquismo = A estrutura do inconsciente »4, UNIDADE 2 = As caracteristicas do sistema inconsciente > Oinconsciente é estruturado como uma linguagem = Oinconsciente e o simbélico 4 -ORIENTAGAO METODOLOGICA. Aulas expositivas interativas Contextualizacéo mediante artigos cientificos. Videos Vivencias. LbuUS 5 .. FORMAS DE AVALIACAO: = Aavaliag&o ocorrerd no contexto das vivencias da sala de aula, numa permanente busca do crescimento do aluno. = Serd levada em consideracao a participac&o, a pontualidade, a assiduidade e a qualidade da producg&o académica (estude dirigido, trabalho em grupo, resenhas, contribuicSo nos debates). = Na 2@ etapa, iremos trabalhar com seminarios. Momento em que serao avaliada a qualidade da sistematizacdo da apresentacdo e as referencias. = Cada grupo deverd produzir um resumo para ser entregue aos colegas no dia da apresentacio. 6 - REFERENCIAS. 1. Garcia Rosa, Luiz Alfredo, Freud e o inconsciente.18 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2001. 2. Zimerman. David E. Fundamentos psicanaliticos: teoria, técnicas - uma abordagem didatica Porte Alegre , Artmed.1999, 3. Freud. S.O inconsciente - Rio de Janeiro : Imago v.XIV 1915. cybiruLo vill O INCONSCIENTE ‘Chegamos finalmente aquele que ¢ apontado como o conceito funda~ mental da psicanalise. Em seu Vocabuldrio da psicandlise, Laplanche « Pontalisafirmam que, “se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente a de! inconsciente”, Creio que a quase-totalidade dos téoricos em psicand~ lise concordaria com esta afirmago, embora nem todas concordem quanto a significago, & extensto e aos limites daquilo que entendem por inconsciente, : 0 texto freudiano possibilita a produgdo de discursos bastante estrantos uns aos outros, e uma afitmagdo como a de Lacan, segundo ‘a qual “o inconsciente esté estruturado como uma li como uma frase dita em lingua estrangeira. Para muitos, a lingua francesa 6 particularmente “estrangeira”, demasiadamente literéria © deliberadamente confusa com suas “cadela do significante”, “instén- cia da letra” © “processos metaférico € metonimico”. A estranheza aumenta quando um Lacan afirma que nada mais esté fazendo do que “reler Freud". E 08 teéricos fiis a Freud correm ao texto do mestre fe nfo conseguem encontrar esses bizarros personagens cantados em pprosa e verso pelos lacanianos. Estes, por sua vez, parece que se omprazem em responder com uma “‘adeia significante”” que mais fenfurece do que esclarece os atbnitos figis que escancaram a esses colhos estrangeiros suas Gesammelte Werke e suas Standard Editions. Exoterismo positivista ou esoterismo lacaniano? ‘Nio creio que a questdo deve ser colocada nesses termos. Com ‘Althusser, aprendemos que ler nio € reproduzir especularmente um texto, mas sim produzir a partir dele um discurso, isto 6, produzir, a partir da letra do texto, um discurso do texto. Ninguém 1é o que esta escrito, A diferenga esté em que alguns sabem disso. Freud, sobre 168 O Inconsciente 169 todos, 0 sabia, Tanto que, partindo do texto manifesto — do sonho, do sintoma, do ato falho —, foi procurar um outro texto escrito pelo ineonsciente e regido pelo processo primario cujs leis si irredutiveis as do processo secundirio. Mais perplexo ainda do que os te6ricos envolvidos na eontenda parece ficar o leitor que, entre embaragado e timido, pergunta: mas por que tanta discussie? Freud no deixou claro 0 conceito de inconsciente? Nao basta ler 0 capitulo Vil de A interpretagdo de sonhos © 0 artigo da Metapsicologia? Nao sabemos todos que 0 inconsciente é um sistema, que € dindmico, que é regido pelo processo rimério etc.? Ao que o lacaniano responderia: “‘Naturalmente que sabemos, mas que significa dizer, por exemplo, que o inconsciente & dindmico?” E 0 leitor, animado pelo olhar estimulador do teérico positivist, responderia: “Ora, significa dizer que ele se estrutura como uum campo de forgas; dai o conflito, as barreiras, 0 represamento ou a liberagdo de energia etc.” Essa resposta, que sem divida alguma agradaria ao teérico positivista, encontraria o olhar enternecido do teérico lacaniano que, um tanto cansado, comentara: “Mas dizer que sciente € um conceito dinmico no & substituir a ordem do tmistério mais corrente por um mistério particular, a forga? Isso serve fem geral para designar um lugar de opacidade” (Lacan, 1979, p. 26). E a discussio prosseguiria, provavelmente deixando no leitor a conviceao de que se trata apenas de uma querela de palavras,talvez até uma simples questio de tradudo malfeita do alemdo para o inglés © 0 francés, “Prefiro 0 Dasein’, ditia ele jA aborrecido ¢ um tanto cético quanto a possibilidade de um acordo. A PSICANALISE E A PSICOLOGIA DA CONSCIENCIA, Uma das maneiras de se comesar a falar no inconsciente freudiano Podle sera de se apontar 0 que ele nto 6, ou entao, a de se marcar a sua diferenga com relagio aquela concepgo de subjetividade domi- ante até Freud. Esta, como jé vimos extensamente, é a de uma subjetividade identificada com a consciéncia e dominada pela razto; subjetividade monolitica admitindo, quando muito, “franjas" incons- cientes ¢, em alguns casos, manifestagies psiquicas que permanecem abaixo do “umbral”" da consciéncia. O termo “inconsciente", quando empregado antes de Freud, o era de uma forma puramente adjetiva 170 Freud e 0 Inconsciente para designar aquilo que nfo cra consciente, mas jamais para designar tum sistema psiquico distinto dos demais e dotado de atividade propria. ‘A concepeao que mais se aproximou da de Froud foi a de Herbart, que mesmo assim nfo falava de um psiquismo topograficamente dlividido em sistemas, mas de idéias que continuavam dinamicamente ativas apés terem sido inibidas pelas demais. Qualquer que tenha sido, porém, a nordo de inconsciente elaborada antes de Freud, o fato & que ela no designava nada de importante ou de decisivo para a compreensio da subjetividade. ‘Um outro aspecto importante a ser ressaltado € 0 da identificagdo do inconsciente com 0 cacs, 0 mistério, o ineféve, 0 ilégico etc. © esta identificago ocorreu tanto anteriormente a Freud como no interior ddo proprio espago do saber psicanalitico. Até hoje enconttamos "deserigées”” do inconsciente como sendo o lugar da vontade em estado bruto e impermedvel a qualquer intcligiblidade, A esse res- peito, Lacan decara que “o inconsciente de Freud nfo & de modo flgum o inconsciente roméntico da criaglo imaginante, Nao é o lugar das divindades da.noite”” (op. cit, p. 29). ‘Aquilo em relagto ao qual o inconsciente freudiano marca wma diferenga radical 6 a psicologia da consé do termo “psicologia profunda” para designar substitutivamente a psicandlise. A psicandlise néo & uma psicologia das profundezas, na Inedida em que 0 “profunda” aponte para uma espécie de subsolo da mente até entdo desconhecido © que ela se proponha a explorar. O inconsciente ndo € aquilo que se encontra “abaixo” da consciéneia, them o psicanalista é 0 mineiro da mente que, inversamente a0 alpinista platénico da psicologia cléssica, vai descer as profundezas infernais do inconsciente para encontrar, no minimo, o malin génie cartesiano, Freud ndo nos fala de uma consciéncia que no se mostra, mas de outra coisa inteiramente distnta. Fala-nos de um sistema psiquico — 6 les — que se contrapte a outro sistema psiquico — o PesiCs — que € em parie inconsciente (adjetivamente), mas que ndo é o inconsciente. Essa distingdo topica que é colocada no capitulo VII de A interpretagdo de sonhos & a marca essencial do inconsciente freudiano © a0 mesmo tempo o que a torna irredutivel « qualquer “psicologia profunda”. "Aqucles que identificam o inconsciente freudiano com 0 caético © 0 arbittério devem reler capitulo VII da Traumdeutung, quando Freud declara enfaticamente que no hé nada de arbitrério nos acon- fecimentos psiquicos, todos eles sio determinados. A diferenga esti 0 Inconscionte m1 ‘em que nao ha uma determinagdo dnica. A sintaxe do inconsciente info & a mesma do sistema pré-consciente-consciente, mas isso nao significa que ele nfo possua sintaxe nenhuma. Ao falar sobre a deformagio oniriea, Freud afirma que ‘‘as modificagdes a que os sonhos sfo submetidos sob a coordenago da vida de vigilia s4o to pouco arbitrérias quanto essas” € que 0s autores que 0 precederam “subestimaram até que ponto os acontecimentos psiquicos so deter- minados" e conclui: “Nao hi nada de arbitrario neles” (ESB, vs. IV-V, p. 548). Assim, quando Freud estabelece como regra funda mental da situago analitica a associagio livre, ele ndo pretende que “livre signifique auséncia de determinagto. Pelo contrério, 0 valor metodol6gico da associagao livre reside exatamente no fato de que cela nunca é livre. Ena medida em que o paciente fica livre do controle consciente (dentro dos limites possiveis), nfo permitindo que ccoeréncia lgica se imponha ao seu relato, que uma outra determinagio se torna acessivel: a do inconsciente. A associagio livre no tem por objetivo substituir 0 determinado pelo indeterminado, mas substituir uma determinago por outra. O inconsciente possui, portanto, uma fordem, uma sintaxe; ele é estruturado ¢, segundo nos diz Lacan, estruturado como uma linguagem. (OS FENOMENOS LACUNARES Freud inicia seu extenso artigo O Inconsciente assinalando que é nas Tacunas das manifestagées conscientes que temos de procurar 0 Bssas lacunas vdo trazer para 0 primeira plano da investigagao psicanalitica aquilo que Lacan, seguindo Freud, chamou de “formardes do inconsciente”: 0 sonho, 0 lapso, 0 ato falho, 0 chiste ¢ os sinfomas. O que nos chama a atengto nesses fendmenos lacunares nfo & apenas a descontinuidade que eles produ- zem no discurso consciente, mas sobretudo um sentimento de ultra- ppassagem que os acompanha (Lacan, 1979b, p. 30). Neles, 0 sujeito sente-se como que atropelado por um outro sujeito que ele desconhece, ‘mas que se impée a sua fala produzindo trocas de nomes e esqueci- rmentos cujo sentido the escapa. E essa perplexidade ¢ esse sentimento de ultrapassagem que funcionario como indicadores para 0 sujeito (6uieito do enunciado ou sujeito do significado), de um outro sujeito cculto © em oposi¢ao a ele (sujeito da enunciagdo ou sujeito do significante), Ali, em relagio a essa duplicidade de sujeitos, Freud in Freud ¢ 0 Inconsciente Jeclaa, ainda na introdueso de seu artigo sobre o inconsciente, que ‘fodos 03 atos ¢ manifestagbes que noto em mim mesmo © que nao sei ligar ao resto de minha vida mental devem ser julgados como se pertencessem a outrem” (ESB, v. XIV, p, 195). Esse outro sujeito € © sujeito do inconsciente, do qual temos algumas indicagbes seguras ‘se nos voltarmos para os fendmenos lacunares acima referidos. ‘0s fendmenos normais que primeiro chamaram a aten¢ao de Freud foram as parapraxias, 05 chistes ¢ 08 sonhos, porque mais do que quaisquer outros funcionavam como indicios seguros do determi~ nismo psiquico e dos motivos inconscientes. O famaso exemplo do esquecimento do nome Signorelli ¢ sua substituiso pelos nomes Botticelli ¢ Boltrafi, detalhadamente exposto no primeiro capitulo de A psicopatologia da vida cotidiana, jé havia sido utilizado por Freud em 1898, portanto, dois anos antes da publicagio de 4 interpretagao de sonkos. No caso do esquecimento de nomes préprios, ‘como no excmplo acima, 0 que € notivel é o fato de que, apesar dey sermos incapazes de reproduzir o nome, sabemos perfeitamente que 05 outros nomes que se oferecem & meméria ou que nos sto sugeridos por outra pessoa no correspondem ao nome esquecido, Nao se trata fe uma ignorancia do nome, pois ifo somente conhecemos o nome fesquecido como além do mais recusamos aqueles que se oferecem ‘como seus substitutes Assim, uma coisa é eu no saber 0 nome do autor de um livro, outra coisa € eu no conseguir me lembrar dele apesar de me ser familiar Lacan, discutindo a questo do sujeito ¢ do Eu (19792, pp. 193-94), faz uma distingo que podemos trazer para a questdo que ‘estamos abordando: é a diferenga que ele estabelece entre desconhe- ‘cimento e ignordncia, © desconhecimento tem um compromisso com f verdade, isto €, com 0 conhecimento, ¢ & constituido a partir deste Ultimo. A’ propria situago analitica, ao engajar o sujeito na procura de uma verdade escondida do desejo, constitui esse sujeito como stjeito do desconhecimento, O desconhecimento é, pois, produzido pelo conhecimento, Retomando a expresso agostiniana que jé usei fanles, poderiamos dizer que 0 desconhecimento ¢ @ presenga de uma ‘usénela, Diferentemente do desconhecimento, a ignordncia & 0 vazio. a essa presenga de uma auséncia que as parapraxias nos remetem. Se vamos assistir a um filme chegamos em cima da hora tencontrando a sala repleta, ao depararmos com una poltrona vazia, perguntamos a quem esté ao lado: “Est vazia?” E comum obtermos Como resposta: "Nao, esté ocupada.” Da mesma forma, a lacuna 0 Inconsciente 1m produzida pelo esquecimento nao esté vazi, ela esté ocupada por um ome que nto esta presente no momento e que impede que um outro ‘cupe 0 seu lugar. O desconforto que é produzide por um preenchi- ‘mento inadequado & semelhante ao que obteriamos se sentéssemos na cadeira cujo ocupante se encontrava ausente no momento, Como 0 préprio Freud assinalou no exemplo de Signorelli rio ignorava 0 nome do pintor e tanto isso era verdadciro que se Fecusou a preencher a lacuna com os nomes Botticelli e Boltrafi, apesar da insisténcia com que se ofereciam. O que houve foi um deslocamento do nome original para os dois nomes substitutos através eum combina desgnifeanss fen menos lacunares sto, portano, indicadores de uma nos siléncios desta iitima. Essa outra ordem & a do inconsciente, estrutura segunda, e que ndo & apenas topograficamente distnta da cconsciéncia, mas é formalmente diferente desta. O inconsciente no € 0 mais profundo, nem o mais instintivo, nem o mais tumultuado, nem o menos légico, mas uma outraestrutura, diferente da conscin- cia, mas igualmente inteigivel ‘Vimos no capitulo anterior como o recalque produz a clivagem do psiquismo em dois sistemas, um dos quais é @ inconsciente; vimos também como esse inconsciente se distingue do inconseiente nfo-re- calcado anterior & clivagem. Este capitulo serd dedicado & tentativa és erabler estes nso aes ert sua relagdo com a consciéncia. O referencial artigo Das Unbewusste, de 1915, deere 0 INCONSCIENTE E 0 SIMBOLICO Vimos © que o inconsciente nto é: ele nao se identifica com as profundezas da consciéncia nem com aquilo que a subjetividade possui de cadtico e impensavel. Vimos também quais os indicadores de sua realidade: os fenémenos lacunares. Creio que podemos agora nos arriscar em diregao a uma caractetiza¢do positiva do inconsciente. No eentanto, os fantasmas de uma psicologia da consciéncia ameagam a todo instante esse empreendimento e poderfamos mesmo concordat que muitos desses fantasmas so invocados por nés mesmos, como Se estivéssemos procurando uma desculpa prévia para um possivel fracasso. Ocorre, porém, que mesmo que nenhum de nés acredite em eS m4 Freud ¢ 0 Inconscieme fantasmas, sabemos todos que eles existem. © melhor que temos a fazer é nos defendermos deles. E provivel que o maior de todos os fantasmas seja oda substincia. Somos vitimas constantes de sua sedugto e sem dtivida alguma retiramos dela algum prazer. Na primeira parte deste trabalho, vimios como a consciéneia, no momento mesino em que se tornou objeto do discurso filosdfico, foi substancializada. Eno & justo condenarmos Descartes por esse fato, na verdade ele nada mais estava fazendo do que seguir uma tradigdo de pensamiento que,em sua época, ji tinha mais de 2 mil anos. O homem ocidental tem uma particular dificuldade para pensar qualquer coisa que nfo seja substancia ou propriedade de substincia. E de fato ha uma certa comodidade nesse modo de pensar, ou pelo menos j estamos de tal modo acostumades a ele que nao nos damos conta de suas dificuldades. 0 inconsciente freudiano néo deixa de ser uma vitima frequente dessa compulsiio substancializagi0. De certa inaneira, ¢ sem que fenha sido essa a intengto de Freud, a concepydo tépica, com seus “lugares” psiquicos, contribui para essa substancializago. Sabemos perfeitamente que o¢ “lugares psiquicos” possuem um cardter meta~ {erico, que nfo correspondem a lugares anatémicos; mas também sabemos o quanto os modelos nao sfo neutros ¢ impdem inevitavel- mente ao objeto a sua marca de origem. Assim, ao mesino tempo que 1 cortcepglo tépica nos permite uma compreensto clara da posi¢a0 telativa © da economia dos sistemas psiquices, ela nos leva a concebé-fos como lugares reais, algo andlogo aos cémodos de um apartamento que percorremos nos dois sentidos (progressive-regres- sivo) e que podemos encontrar as portas fechadas ou abertas, depen- ddendo do que acontece no interior de cada um deles. © inconsciente freudiano no é uma substancia espiritual, con- trafagio da res cogitans cartesiana, rem & um lugar ou uma coisa. O termo ““conteddo do inconsciente” ndo designa uma relagao de ‘conteiido a continente andlogo a quando dizemos que 0 copo contém ‘qua. Dizer que uma representardo € inconsciente ou que estd no onsciente no significa outra coisa sento que ela esti submetida a uma sintaxe diferente daquela que caractetiza a consciéncia. O inconsciemte é uma forma e nfo um lugar ou uma coisa. Melhor dizendo: ele uma lei de articulago e nfo a coisa ou o lugar onde essa articulagao se da. Assim sendo, a cisto produzida na subjetividade pela psicandlise nfo deve ser entendida como a divisto de uma coisa fem dois pedagos, mas como uma cisdo de regimes, de formas, de leis. 0 Inconsciente 1s “Obedecer a dois senhores”, como diz Freud, ¢ obedecer a leis diferentes, assim como as formagies de compromissos so compro- 0s entre exiggncias legais diferentes. (0 que define, portanto,o inconsciente nflo sfo os seus conteidos, mas 0 modo segundo o qual ele opera, impondo a esses contetidos uma determinada forma, Infelizmente, os seguidores de Freud no conseguiram ler no texto do mestre, a respeito do inconsciente, sendo forgas instintivas e energia em forma andrquica. Biologizaram 0 ‘onsciente ¢ com isso se interditaram de vé-lo em sua natureza simbélica, dnica capaz de responder as exigéncias de uma psicoan- lise. © que significa falar no cariter simblico do inconsciente? De fato, #6 hé o inconsciente se houver o simbilico. E ja vimos isso a propésito do conceito de recalcamento. E o recaleamento que produz 0 inconsciente ¢ isso s6 acorre por exigéncia do simblic. Vejamos mais detalhadamente essa relagio entre o inconsciente © 0 simbolico. Num artigo escrito ha mais de 30 anos, Lévi-Strauss (1967), referindo-se 20 emprego do conceito de inconscienté em antropologia, afirma que “ele se rediz a um termo pelo qual nds designamos uma fungao: a fung3o simbélica, especificamente humana, sem divida, ‘mas que em todos os homens se exerce segundo as mesma leis; que se reduz, de fato, ao conjunto dessas leis”, € mais adiante conclui: 0 inconsciete esé sempre vazio; ou, mais exatamente, ele & i estranho 4s imagens quanto 0 estbmago aos alimentos que 0 aravescam. Orgio de uma fungdo espeifica, ele se limita a impor leis estuturais, que esgotam sua relidade, a elements inarticulados que provém de cura parte: pulsdes, ‘emopbes,represenagdes,recordagdes. (op. cit, pp. 234-35) © que Lévi-Strauss nos diz é que a cultura é um corijunto de sistemas simbélicos € que esses sistemas simbélicos nfo so constituldos a partir do momento em que traduzimos um dado externo em simbolos, mas, 80 contrério, & 0 pensamento simbdtico que consttui o fato cultural ou social. $é hd o social porque hi o simbélico. Esse simbélico, Lévi-Strauss identifica-o com a funedo simbélica ou, 0 que vemn a dar no mesmo, com as leis estruturais do inconsciente. ‘© que temos aqui é, pois, um conceito de inconsciente que no ddesigna nenhuma substancia, nenhuma coisa, nem nenhum lugar, mas ‘uma fungi — a fungdo simbdlica — que se reduz.a um conjunto de 16 Frend e 0 Inconsciente leis, Nao estou de forma alguma tentando aplicar o conceito de inconseiente, rtirado da antropologia,& psicandlise freudiana. A rigor, nada do que esté dito acima é estranho a Freud. Se uma parte da psicandlise pos-freudiana muito se beneficiou com as conguistas da Entropologia e da lingiistica, com Freud passou-se o inverso. Basta Tecordarmos que 0 Cours de linguistigue générale de Ferdinand de Saussure teve sua primeira edigdo publicada em 1916 € que os mais importantes trabalhos da etnologia estruturalista sio todos muito posteriores as principais teses de Freud. No que se refere particular- mente a Lévi Strauss, ele foi o grande beneficiado pela psicanslise. 'A sepuinte declaragdo feita em Tristes Trépicos (1957, p. $3) atesta de forma indiscutivel a importincia que a psicanalise teve para Lévi Strauss, sobretudo em se tratando de um capitulo que tem por titulo “Como se faz um etndlogo”’. E 0 seguinte 0 texto: (0 period de 1920-1930 foi oda difusto das eoriaspsicanaiticas na Franca Por meio delas,aprend qu as antinomiasesttices em torno das quais nos fconsellavam a consruir nosas dissertagbes filosbficas mais tare noss35 Tigdes — acionaleirracional, intelectual e aftvo, lgieo ¢ prél6gico — ro eram mais que um jogo gtetuito. Antes de mais nda, além do racional exists uma categoria mais importante e mais vlid, ado significant, que (Ea mais alla manera de se do racional, mas da qual os nossos professores {nals ocupades, sem divida, em meditar 0 Ensaio sobre os dados imediatos ida conrcignela que 0 Curzo de lingstica geral de Saussure) no promun- ‘iavam nem mesmo o nome. Além disso, a obra de Freud me revelava que 380s oposigbes ndo eram de fato, visto serem precisamente as condutss em Spartncia mais afetivas, as operagdes menos racionsis, as manifesiagdes ‘eclarada pré-logics, a5 que so, ao mesmo tempo, as mais signiicatias. (0 acesso ao simbélico 6, portanto, a condigao necesséria para a ‘constituigdo do inconsciente e, evidentemente, também do consciente. TInconsciente e consciente se formam por efeito de um mesmo ato € nfo 0 segundo como um epifendmeno do primeiro, Ea aquisigae da Tinguagem que permite 0 acesso ao simbdlico © a conseqlente clivagem da subjetividade, No entanto, a linguagem ¢ instrumento do ‘consciente ¢ ndo do inconsciente. Este & constituido sobretudo de representagies imagéticas, ficando a linguagem restrita a0 campo do pré-consciente-consciente. Escreve Freud: ‘A representag20 (Vorstllung) conscienteabrange a representagto da coist mnais a representago da palavra que pertenee a ela, 90 passo que & 0 Inconsciente 7 representagSo inconstiente 6 arepresentagzo da coisa apenas. sistem les ‘Contém as catenias da coisa dos abjtos, as primerase verdadeitas eaters hivtaisy 9 sislema Pes ocorre quando essa represenagto da coisa ¢ hipereatexizadn através da ligarho com as represents da palavra que The correspondem. (Freud, v. XIV, p: 230) E mais adiante: ‘Como podemos ver, estar ligado &srepresenagBes da palavra ainda no é f mesma coisa que tomar-se conscientc, mas limitase » possibilitar que isso acontega; &, portanto, algo caracerstico do sistema Pes, € somente esse sistema, (op. cit, p. 232) © fato de a linguagem ser um instrumento do sistema Pes/Cs no climina, contudo, a possibilidade da existéncia de significantes pré- Yerbais anteriores & formagao dos dois sistemas. O easo do Homem dos Lobos e a experiéncia do Fort-Da s80 exemplos claros disso. No caso do Fort-Da, a ctianga passou da mae para o carretel e deste para 4 oposigd0 dos fonemas Oe A. O que a linguagem vai permitir —e esta é uma tese defendida por Lacan — é um afastamento do individuo fem relagto a vivéncia, 0 que the possibilita no apenas uma certa utonomia com respeito a realidade, mas tambéni 0 nomear-se 2 si préprio como um Eu. Voltarei a esse ponto mais a frente. A ESTRUTURA DO INCONSCIENTE Vimos que 0 fato de Freud conceber o inconseiente como um “lugar psiquico” no nos habilita a pensar esse lugar como sendo um lugar Substancial, anatémico, corporificdvel, pois se ele o aponta como ‘sendo um jugar, acentua a0 mesmo tempo que se trata de um lugar ‘psiquico. O que encontramos nesse lugar nko sfo coisas, mas repre Semacdes (Vorstellungen). As representagbes sto “representagbes psiquicas” da pulsio (ver capitulo 5), isto &, insrigBes da pulsto nos Fistemas psiquicos. Freud distingve as representagbes de coisas das representagdes de palavras. Estas iiltimas slo exclusivas do sistema PealCs, Os conteidos dos sistemas psiquicos sto, portanto, os seguin- tes: representacdes ¢ afetos. As representagdes podem ser, por sua vvez, divididas em: representacdes de coisas e representaydes de ppalavras. O inconsciente é constituldo apenas por representagdes de as, ficando as representages de palavras e 0 afeto restritos 20 @ Freud ¢ 0 Inconsciente 178 sistema pré-conseiente-consciente, (Veremos mais adiante que representagdes de coisas nfo se restringem a imagens mentais ea ar do artigo de 1915 (Das Unbevnusst) apresentar acon cepgia freudiana do inconsciente sob 0s pontos de vista topico, Ginimico e econdmico, fia bastante evidente que a grande preoc avao de Freud & deixar bem clara a dstingo pica entre 08 dol {randes sistemas psiguicos. Essa preocupagt €jusifieada, na media fm que Freud considera que & a partir dessa divisto t6pica que 2 psianise poder stars fore a polemica da consciéncia e, nto, fora da problematica da psicologl : : Pa re ter Elim deixar dividas quanto a0 fto de que as concepgBes da psicandlise « as concepgSes da psicologia pertencem a problematicas distintas ¢ aque a mare dstntivaéo eoneito de inconsciente. Nd oinconscient Ajetvo,desrtvo,perfeltamenteinteigivel pea psicoogia da cons igneia, mas o inconsciente sistematico, O temor de Freud de que dois inconscientes sejam confurdidos leva-o propor que se fags uso de abrevigo les (Ubw) para designar o conceito sistemético de Invonsciente, Isso fica claro a part do momento em que compre demos que ma determinada representao pode ser ineonsente som fo entanto pertencer a0 sistema inconscente (Jes). Assim, une fepresentagd0 pertencente ao sistoma inconsciente pode escapar 2 Censura‘ ingressarno sistema PesiCs, 180, porém, nfo significa q tla se tome consiente, mas sim que ela pode se tomar eonsciene, Ela, portant inconsciente — porque ainda no se trnou conslen = Anas ndo pertence mais ao sistema inconsciente. Nesse estado, ee © adjetivamente inconsciente, mas nfo € inconsciente no sen sistemitico. | ete "A questio que Freud levanta a partir desse pont € a segue: quando uma represeniagio pertencente a0 sistema inconsclente $= toma consciente, 0 que acontece? Dik-se uma nove insrigio dt representagdo,paralelamente a incriedo original (que continua eis tino)? Ou € a mesma representagdo que sofre wma mudanga de estado? A primeira hipétese, a da dupla inserigao em sistemas die: fentes,é eonsiderada por Freud a mais grossere, porém mais conve: niente; a segunda hipétese, chamada de “funcional”, € eonsiderade por ele mais provivel, embora menos plistica. Hipétese topografica tn hipdtese funcional? Freud néo se decid, de pronto, por nen das duas. O Inconsciente ‘a Na segd0 IV do artigo 0 inconsciente ele coloca a questo em termes econdmicos: a passagem de uma representaglo do sistema inconsciente para o sistema pré-consciente-consciente € explicada em fungao da catexia de cada sistema, A explicagdo econdmica abandona deliberadamente a hipdtese da dupla inscrigdo © adota a hipdtese funcional, Freud supde que cada sistema psiquico possui uma energia de investimento especifica, de tal forma que a passagem de uma representagdo de um sistema para outro seria explicada através. do desinvestimento dessa representagao, por parte do primeiro sistema © de um reinvestimento por parte do segundo sistema. Ou seja, no ha ‘uma dupla inscrigo da representagi0 mas uma mudanga funcional que supte a eliminagao do estado anterior. “Aqui”, escreve Freud, “a hipdtese funcional anulou facilmente a topografica” (ESB, v. XIV, p. 207). No entanto, J. Laplanche em seu artigo O inconselente: um estudo psicanalitico (1970, p. 107), eserito juntamente com S. Leclai- re, € de opinio que a hipdtese funcional supe uma distingSo tépica ainda mais rigorosa e que além disso nfo esta isenta de contradigGes. ‘Tomemos como referencial o processo de recalcamento. Sabemos que o recalcamento opera na fronteira entre os sistemas les e Pes/Cs, © que sua fungao € proteger o sistema Pes/Cs das representacdes ligadas as pulsdes © pertencentes ao les. Essas tepresentagBes, por serem investidas pela pulséo, tém de ser mantidas no les ou, no caso de terem acesso ao Pcs, so expulsas de volta para 0 Ics. Isso se dé pela retirada do investimento ligado a essas representagbes (desinves- timento) ¢ a conseqiente utiizarao dessa energia que fica disponivel fem operagdes defensivas do ego para evitar que a representagio tornada inconsciente tenha novamente acesso & consciéncia, A difi- cculdade dessa concepgio reside no fato de Freud afirmar a existéncia de uma energia especifica a cada sistema e ao mesmo tempo declarar que toda energia de investimento tem como fonte’ as pulsies e que esta energia é a libido. (Iss0 fica claro quando, no capitulo IV do artigo O inconsciente, ele fala em “retirada da libido” para designar © processo de desinvestimento.) A energia de um sistema nio é transportével para outro sistema; o que passa de um sistema para outro € a representagio mas no a energia investida nessa representagSo. Sob esse aspecto, existe uma energia de investimento inconsciente © uma energia de investimento consciente. © que a hipétese funcional ‘firma a propésito do recaleamento € que ele deve ser explicado por uma retirada do investimento pré-consciente da representagao a ser recalcada, de modo que esta: 1*) permanece no investida; 25) recebe @ its, Freud ¢ 0 Inconsciente a catexia do les, ou 38) retém a catexia do les que j& possufa (Freud, ESB, v. XIV, p. 207). ‘0 que ocorr, portant, no processo de recalcamento, € que uma doterminada representaga0 ligada & pulsdo e oriunda do sistema Tes procura sun expresso consciente. Ao tentar penetrar no sistema Pea/Cs, a representaglio em questho tem seu ingresso recusado Ou, S& jfingressou no sistema PesiCs, é mandada de volta para oles. Haveria pois, um desinvestimento PesiCs e um reinvestimento Tes do repre- entante psiquico da pulsto, isto é, uma repulsa por parte do sistema Pes e uma atraglo exercida pelo sistema lcs. Esse é, porém, 0 caso do recaleamento posterior (Nachdrangen), e 9 mesmo raciocinio nfo pode ser aplicado ao recalcamento orgindrio (Urverdrngung), posto {hue ainda ndo se constituiu a clivagem da subjetividade em sistemas Gistintos. © mecanismo responsivel pelo recalcamento primério no pode ser nem o de invesimento por parte do Tes, nem o de desinves fimento por parte do Pes, mas apenas o contrarinvestimento (Gegen- bpesetzumg), Quando 0 contra-investimento & exercido pelo sistema Pes, ele s¢ faz com a enerpiatornada disponivel pelo desinvestimento operado sobre uma representagfo que anteriormenteestavainvestda palo es, mas no caso do recalcamento originério isso ¢ impossivl- Assim sendo, o contra-investimento deve jogar com a energia decor- rente de exeitagdes muito intensas (ver capftulo anterior) ‘© abandono da hipStese da dupla inscrigao em favor da hipétese funcional nao é uma atitude tedrica definitiva em Freud. De fato, em rrenhum momento a distingdo tpica entre os sistemas les ¢ PesiCs € fameagada, mas, a0 contrério, ela ¢ reforyada a ponto de se tomar Sefinftiva Jean Laplanche (Laplanche e Lelaire, 1970, p. 107) aventa a possibilidade de que a hipotese funcional seja verdadcira no que $= qefere a uma representagdo isolada, mas que tal ndo ocorreria quando etivéssemos falando de sistemas de representagdo; nesse caso, & fistingdo t6pica permaneceria valida. Esse ponto de vista concilia tnbes. as hipéteses freudianas, além de encontrar fundamento tanto fhum ponto de vista tépico quanto num ponto de vista eeondmico, De fato, uma das dificuldades apresentadas pela hipétese funcional, quando considerada exclusiva, era a de conciliar a tese freudiane qe que cada sistema psiquico possui uma forga de enesto propria, om aquela outra segundo a qual o investimento inconsciente te por objetivo fazer com que uma representapdo fosse impelida em direso a consciéne! 0 Inconscionte 181 orga de coesto, srative,repetitiva, opondo-se & tomada de conscitncia a, conti fora qe tenia eer sient “ev jas” na consciéncin que 36 seria contda gragas A vgilincia da eens one gravas A vigiltncia da censuca? (Os exemplos que Laplanche nos oferece para mostrar que os dois pats d vite no conclvas so erates da psclois dx perceppi: & 0 caso das figuras reversiveis, ou ainda o desses desenhos fos quais hi um figura dissimulada no meio da paisagem (“Descobrir © chapéu de Napoleto escondido entre as folhagens de uma cena’ de almozo eampest"). De fato, se 0 chapéu de Napoleto nio é facilmente percebido,& porque ele nfo faz parte do contexto manifesto do desenho e, por outro lado, eles6 seré percebido quando articulado 4 outro contexto, ue & o da lenda napolednica. Esta nto esté presente no desenho, & apenas insinuada por um elemento isolado, disfargado e oculto pela cena campestr. Haveria, portanto, dois sistemas de Feferncia: a lenda napolenica e o almoso campesre, Como esta itm & a pregnante, ela impede por contra-investimento 0 apareci- mento do detalhe, que é 0 chapéu de Napoleto distargado entre as folhagens. Um processo anélogo ocorreria entre os sistemas Ies € Pes/Cs. © que passa de um para o outro sfo elementos isolados e no os sistemas de significado; estes iltimos permanecem restrits a cada sistema pela “forga de coesto interna”. (0 estudo que Laplanche realiza sobre 0 inconscient freudiano o conduz a certs conclusBes com as quais ndo concordam tanto 0 seu parce de artigo (S. Leclaire) como J. Lacan, o mestre de ambos. E 0 caso, por exemplo, da tese de Laplanche, segundo a qual 0 inconsciente € a condigio da linguagem ou ainda o caso do desdo- tramento do processo do recaleamento originrio. Adiarei, porém, por sioar pigs «exons 8 ale det rie, ara apresentar as caractristicas do sistema les ta i no texto freudiano de 1915. ee ‘AS CARACTERISTICAS DO SISTEMA ICS © capitulo V do artigo 0 inconsciente & uma reafirmagao da distingto radical feta por Freud entre os sistemas Ies ¢ Pes/Cs. Cada sistema possui uma estrutura prépria de tal modo que as caracteristicas que tncontramos em um deles nfo s80 encontradas no outro. No que se @ 182 Freud ¢ 0 Inconsciente refere ao sistema Ics, Freud nos diz. que seu niicleo “consiste em representantes pulsionais que procuram descarregar sua catexia; isto 4 consiste em impulsos carregados de desejo” (Freud, ESB, v. XIV, 213), As leis que presidem 0 funcionamento do sistema les rio $80 as mesmas que presidem o funcionamento do sistema Pes/Cs. Assim sendo, no sistema les podem coexist, lado a lado, duas representagies contraditérias sem que iss0 implique a eliminagao de uma delas. dois desejos so incompativeis do ponto de vista da consciéncia, a nivel inconsciente eles nfo se eliminam mas sc combinam para atingit seu objetivo. O principio da ndo-contradigao ndo funciona a nivel do sistema Ics; 0 que pode ocorrer & um maior ou menor investimento de uma representagdo, mas nfo a exclusio de uma delas por ser incompativel com a outra, No inconsciente no ha lugar para a negagdo: esta s6 vai aparecer pelo trabalho da censura na fronteira entre os sistemas Ics € Pes/Cs. ‘Cada umn dos sistemas possui um modo préprio de funcionamento que Freud denominou processo primdrio e processo secundério. O processo primério, modo de funcionamento do sistema Tes, & earac- {erizado:por dois mecanismos bisicos, que silo 0 deslocamento © a condensagdo. Do ponto de vista econdmico, os processes primarios secundérios sto correlativos dos dois modos de escoemento da energia p fa energia livre ou mével © a energia ligada. No processo primério, a energia psiquica tende a se escoar livremente, passando de uma representagio para outra e procurando a descarga da maneira mais répida e dircta possivel, enquanto, no processo secundirio, essa descarga é retardada de maneira a possibilitar um fescoamento controlado. Isso faz com que no processo secundério as representagdes sejam investidas de forma mais estével, enquanto no processo primério hé um deslizar continuo do investimento, de uma Fepresentagao para outra, o que Ihe confere o cardter aparentemente absurdo que se manifesta, por exemplo, nos sonhos. Os processos primdrio e secundério sfo ainda respectivamente correlatives do principio de prazer e do principio de realidade; isto é, enquanto 0s processos Ics procuram a satisfago pelo caminho mais curto dircto, ‘0 processos Cs, regulados pelo principio de realidade, sfo obrigados a desvios © adiamentos na procura de satisfagdo. Temos, portanto, a seguinte correlagto: Sistema les — Processo Primério — Energia live — Princ. de Prazer. Sist. PewCs — Proceso Secund, — Energia Iignda — Prine. de Realidede © Inconsciente 183, Freud assinala ainda como caracteristica do sistema les a austncla de temporalidade. O inconsciente € intemporal, seus contetidos no somente nfo esido ordenados no tempo, como nfo sofrem a ago desgastante do tempo. A temporalidade & exclusiva do sistema PesiCs. 4 me referi algumas vezes a0 fato de que um texto nio deve set lido de forma especular, numa pura duplicagdo inalterada do original, mas que a leitura implica uma produso que se faz a partic do texto. Uma coisa € a representagdo que 0 autor — no caso, Freud — faz de sua prépria teoria; outra coisa é 0 discurso que vamos produzir tomando como referencial o texto dessa teoria. Assim é, por ‘exemplo, que, a partir dos dois mecanismos basicos de funcionamento do ics apontados por Freud —condensagao e deslocamento—, Roman Jakobson (1969) ¢ Jacques Lacan (1978) foram encontrar as duas figuras da lingiistica: a metdfora © a metontmia. ‘Ao estudar o problema da afasia, o lingt assinalou que todo distirbio afisico se distribui em torno de dois tipos polares: 0 metaférico € o metonimico, isto’, ou so distirbios da similaridade ou sto distirbios da contigiidade. Enquanto a metéfora € incompativel com 0 distirbio da similaridade, a metonimia € incompativel com o distirbio da contighidade (Jakobson, 1969, p. 55). E foi 0 proprio Jakobson quem relacionou 0s polos metafvrico © rmetonimico descritos pela lingQistica com a condensagio e o deslo- camentoapontads por Freud com mecanismo sins da elaborapto 4 sabemos, no entanto, que @ condensag20 € 0 deslocamento nfo so apenas mecanismos da elabora¢a0 onirica, mas sim os “marcos dlistintivos do assim denominado processo psiguico primério” (Freud, ESB, v. XII, p. 213): E 0 proprio inconstiente que é estruturado seguindo os mecanismos da condensagdo ¢ do deslocamento, meca- nismos esses que Lacan, seguindo Jakobson, vai interpretar como andlogos as figuras lingistices da metéfora e da metonimia, para afirmar em seguida que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem’” “O INCONSCIENTE E ESTRUTURADO COMO UMA LINGUAGEM” © ponto central do pensamento de J. Lacan é 0 que concede a0 simbélico o papel de constituinte do sujeito humano, Tomada nessa ) 184 Freud e o Inconsciente ‘generalidade, a tese nfo pode ser apontada como original. Antes de Lacan, Emst Cassirer (1945) jé havia proposto que, em lugar de definismos 0 homem como um animal racional, © definissemos como ‘um animal simbélico. Para Cassicer, a fungdo simbdlica & aquela Siravés da qual o individuo consitui seus modos de objetivagdo, sua percepel0, seu discurso. O simbblico é o mediador da realidade ¢ 20 Fresmo tempo o que constitui 0 individuo como individuo humano, Seguindo a Jresdo apontada por Cassirer, Susanne Langer (1970) vai info apenas reforgar a tese do simbélico como sendo @ caréter dliferencial do humano, como vai ainda render homenagem a Freud ‘como um dos iniciadores dessa concepedo do homem. As S originalidade de Lacan nfo esté em afirmar o condicionamento Simbolico do homem, mas a maneira como, a partir de contribuigties fetiradas da lingistica e da antropologia estruturais, ele vai “reler” Freud e assinalar os varios niveis de estruturagao do simblico, assin, ‘como a formagio do inconsciente pela linguagem. ‘Uma das fontes do pensamento de Lacan é a lingtistica de Ferdinand de Saussure tal como foi exposta postumamente por alguns de seus alunos sob o titulo de Curso de lingaistica geral. Uma das idéias centrais de Saussure € 0 conceito de signo lingilstico como tuma unidade composta de duas partes: 0 significado ¢ 0 significante. 0 signo nao € unio de uma coisa e vin nome, mas unio de um Concelto e uma imagem acistica (ou impressfo psiquica do som). ‘Como representagao gréfica dessa relagio temos: oe Trem Aan Significado ‘Significante ‘ou, como sugeriu o proprio Saussure: Signo ~ (0 signo lingtistico portanto uma unidade composta de duas partes, fa como uma moeda é composta de cara ¢ coroa. O que ele {ine é um significado a um significante. Saussure aponta dois princl- pios referentes a0 signo lingilistio: o primeiro afirma sua arbtraie- ade, o segundo afirma a sua lincaridade, Por arbitrariedade do signo, flevemos entender 2 inexisténcia de relagfo necesséria entre um Significado e um significant; isto é nfo hé nada que una, de maneira © Inconsciente 185 necesséria, o significado “érvore” a seqUéncia de sons que the servem iffcante, O mesmo significado “érvore” pode ser representado pelos significanes arbor, arbre, tre ou Baum. A arbitrariedade do signo Pao deve nos levar a supor que ele depends da livre escolha de quem Tala, mas sim que ele é imotivado, isto & que nfo mantém nenhur lago ratural com a realidade. Por arbitrario devernos entender, pois, “ndo-na- ural”, © segundo principio diz respeito ao carder linear do significante Por oposigto a0 sigificantes visusis, que podem se organiza simultanes- mente ert vérias dimensbes, os significantes acisticos dispdem apenas da Tinka do tempo, seus elementos Se apresentam um apbs outro; formam uma, cadela, (Saussure, [58], p- 84) (© que até agora foi dito sobre o signe Tingiistico refere-se a sua significagao, isto &, & relagdo significado/significante constitutive do Signo considerado como uma entidade isolada. Mas a significarto do Signo nfo se esgota no isolamento dessa relaglo, ela também é fungfo da relago que o signo mantém com os outros signos da lingua. E & fesse outro aspecto do signo que Saussure se refere quando coloca © Conceito de vafor. Com 0 conceito de valor, Saussure introduz uma ‘tova dimensto no signo lingistico. Este deixa de ser visto apenas como dima relagdo entre significado e significante e passa a ser considerado também como um termo no inferior de um sistema. Ulizando a tepresentaglo grfica feita acima, temos que a sigificaglo resulta da felagdo enre o significado e o significant, indicada pela fecha vertical: igieado Signifiane (0 valor seré representado por uma relagio horizontal do signo com os demas signos do sistema, No lugar da representaco anterior, teremos iss Freud ¢ 0 Inconscionte a posigto do signo no interior do sistema da linguagem que vai constitair 0 valor de um signo como um elemento de significa. Porém, a0 introduzir a nog%0 de valor, Saussure nio faz dela © elemento consttuinte central da signfieas8o, nem tampouco elimina 4 relagdo isolada entre o significado e o signficante, Em sua opinigo, apesar de a significagéo local de um elemento numa frase ser dada pela sua relago com os outros elementos da frase, a relagdo signifi tadoisignifieante continua a gozar de relativa autonomia, tal como indicada pela elise que cerca 0 algoritmo injeia. ‘A concepedo lacaniana do signo difere em virios aspectos da ‘que nos oferece Saussure. Em primeiro lugar, Lacan inverte a re- Preseniagdo savssuriana do signo. Enquanto Saussure o representa- significado | ang tava por SEAM facan o representava por ———-—_—. Em se- significado Y8 Por Significant gzundo lugar, a barra que separa um do outro indica para Lacan uma Eutonomi do signficante com relaglo.a um significado, Vejainos clalmente esses dois ponts. Em seu artigo Insidncia da letra no inconsciente, Lacan declara que.o momento consttuinte de uma ciéncia é assinalado por um algoritmo © que no caso da lingUistica esse algoritimo é- onde S ¢ o significante es € 0 significado, ambos separados pela barra. Enquanto para Saussure 0 signo constituia uma unidade formada pelo significado ¢ pelo significante, unidade essa que era rmarcada pelo cariter indissociével de suas partes componentes, para Lacan a barra indica duas ordens distintas, a do significante e a do significado, interpondo-se entre ambas uma barrcira resistente & significagdo (Lacan, 1978, p. 228). Fica, dessa mancira, quebrada @ tunidade do signo defendida por Saussure. A cadeia dos significantes (ov cadeia significante) é, ela propria, a produtora de significados. E tessa cadeia que vai fornecer o substrato topolégico ao signo lacaniano. ;pondo que nenhum significante possa ser pensado fora de sva relago com os demais. Para ilustrar a fungio significante, Lacan substitui a imagem tornada clissiea por Saussure — a do desenho de uma rvore sobre a palavra “drvore” — por uma outra que evidencia 2 maneira pela ual é a oposigto diferencial entre significantes que produz o efeite de significado. As ilustragBes seguintes so, respectivamente, a de Saussure ¢ a de Lacan. © Inconsciente 187 ARVORE WOMENS SENHORAS o a Y; . I. pple tata, considera por Lacan como dios, significado ¢ imple 0 isolamento do signo pela rela Diunivoa que indicade pols ses vera wanes ovata ‘mente por Saussure, A segunda ilustragdo, que Lacan considera mais correla, mostra, no lugar do significado, duas portas absolutamente idénticas separadas dos significantes “OMENS” ¢ “SENHORAS" por tuma barra. Nesse exemplo, é a oposigo entre os signficantes que vai produzit a diferenciago entre os significados. O que Lacan nos diz, numa eritica a toda filosofia que procura o significado, € que o signifcante ndo tem por fungdo representar o significado, mas que ele [yecade © determina o significado (bid), Faz-se necestirio, portan- to, deteminar of prineipios segundo os quis os signiicants se PROCESSOS METAFORICO E_ METONIMICO Em seu artigo 4 instdncia da letra no inconsciente, La ate do tor dos textos featancs pura abunncls deel cias filoldgicas ¢ légicas feitas por Freud e o quanto essas referéncias fumentam a medida que o inconscente vai Sendo tematizado mais iramente, O que A inferpretaedo de sons ealocs ¢ 0 préprio Seno como uma lingungem. “0 sonbo”,exeeve Lacan (op ets. ), *°é um enigma em imagens" e ‘as imagens do sonho 86 devem ser consideradas pelo seu valor significante". A imagem nfo é cla mesma potaore de se significado, Significant e sgiicado sto luas ordens distintas,constituindo duas redes de articulagSes paralelas. Ha um deslizamento incessante do significado sob o significante e é @ consttuir a signifieagae do sonho. 188 Freud e 0 Inconsclente destizamento do significado sob o significante, nés 0 encon- {ramos no trabatho do sonho (Trawmarbeit) em seu efeito de distorgao (Entstethng). Essa distorg0 € produzida por dois mecanismos bisi- cos: a condensagao ¢ 0 deslocamento. a vimos como eles funcionam. © que Lacan faz € assimilar esses mecanismos & metdfora e & ‘metonimia. Na eondensagao teriamos uma sobreimposigio dos signi- ficantes dando origem & metéfora; no deslocamento, pela substituigao dos significantes com base na contigtidade, teriamos o equivalente da metonimia, Condensagio © deslocamento: desempenhariam, no sonho, uma fungdo homéloga a da metéfora ¢ metonimia no discurso, Esses ‘mecanismos funcionariam tendo em vista a consideragio & figurabilidade. (O que fica evidente a partir do texto de A interpretagdo de sonhos que os mecanismos apontados por Freud como responséveis pela elaboragto onirica nfo se restringem aos sonhos, mas vo ser apontados ‘como mecanismos fundamentals do inconsciente em geral. Segundo Lacan (1978, p. 245), a metifora e @ metonimia vao nos forecer a ‘pica desse inconsciente, que € a mesma que & definida pelo algoritmo s 5 Devemos entender por issondo apenas que a metéfora ea metonimia regem o funcionamento do inconsciente, mas que eles so formadores do inconsciente no recalcamento original. Os processos metal metonimico, nés 0s encontramos em funcionamento em todas as ‘chamadas formagdes do inconsciente € so eles os responsiveis por uma das mais importantes caracteristicas da linguagem: © seu duplo sentido; isto é, 0 fato de ela dizer outra coisa diferente daquilo que diz A letra. Do ponto de vista da lingUistica, esse efeito de alteragio do sentido & obtido, na metéfora, pela substituigao de significantes que apresentam entre si uma relagio de similaridade, e, na metonimia, pela substituigdo de significantes que mantém relagdes de cont dade. Do ponto de vista psicanalitico, a distingdo entre 0s dois mecar nismos nfo € tXo clara, Apesar de assimilar a metafora & condensagio © a metonimia ao deslocamento, Lacan no os distingue claramente sendo em casos muito precisos. Segundo Anika Lemaire, autora de um estudo sobre Lacan (Lemaire, 1979, p. 250), as proprias afirmagdes do psicanalista francés, segundo as quais “o desejo é uma metonimia” “o sintoma € uma metéfora”, seriam apenas designativas de uma “orientagao geral dos lacos associativos num ou noutro sentido”. 0 Inconseiente 189 (© importante a se destacar no emprego que Lacan faz desses dois mecanismos descrtos pela lingtistica ¢ o fato de que é através eles que se produz a ruptura entre 0 significante e 0 significado, fazendo com que, pela interposiggo de um novo significante, © significante original caia na categoria de significado, permanecendo como significante latente. Quanto mais extensa for a cadeia signifi- ccante que surja nesse intervalo, maior seré a distorgo produzida, Se ‘tomarmos 0 exemplo do sonho, teremas que ele resist & significagio porque uma série de novos significantes se iterpde entre osignificante do sonho manifesto e o significado inconsciente portador do desejo. ‘No eas0 do recalcamento propriamente dito (Verdrangung), esse mecanismo de substituigées de significantes nfo apresenta grandes tuldades de compreensio. No caso, porém, do recaleamento origindrio (Urverdrangung), a questo € um pouco mais complexa, © {que pode ser depreendido a partir da discordancia entre Laplanche e Leclaire no interior do artigo que escreveram em conjunto © através ddo qual se apresentaram como ports-vozes de Lacan no Coloquio de Bonneval (1970). E de assinalar que a discordéncia nao se deu apenas entre os dois disefpulos, mas também entre mestre e discipulo. Em vvérias oportunidades, Lacan expressa seu descontentamento com respeito a interpretagio dada por Laplanche a sua formula da metifora, sobretudo a0 desdobramento que Laplanche faz dela com base numa analogia com os desdobramentos possiveis de uma proposisao ari ‘mética. 7 No capitulo anterior, fiz uma exposigdo do recalcamento origi- nério na qual procurei me manter 0 mais préximo possivel do texto freudiano. Crefo que agora ja dispomos de elementos para tentar uma aproximagdo abordagem lacaniana do recalque origindrio ¢ da cemergéncia do inconsciente. ‘A. EMERGENCIA DO INCONSCIENTE 'A descrigho do recalque origindrio que Freud nos oferece em seu artigo O recalcamento (ESB, v. XIV, p. 171) é extremamente concisa nfo esclarece como ele se produz. Diz-nos apenas que hé uma primeira fase do recalcamento que consiste na recusa de uin repre- Eentante da puls8o pelo consciente ¢ que a partir daf se estabelece lima “fixagae", permanecendo © representante em questo incons- & 190 Freud e 0 Inconsciente ciente ¢ ligado & pulsto. Devemos notar que os termos “consciente” “inconsciente” aqui empregados ndo devem ser tomados no sentido dinimico, posto que essa fase do recalcamento é anterior & distingdo entre os dois sistemas psiquicos ou, pelo menos, é contemporénea a essa divisto. Laplanche nos fala numa etapa’ de indiferenciagao primitiva mitica, anterior ao recalque originério, e aponta 0 processo de entrada do sujeito no simbélico como a origem do inconsciente. Sobre esse ponto esto de acordo Laplanche, Leclaire e Lacan. © ingresso no universo simbélico ¢ 0 momento de constituigao do inconsciente. A discordéncia entre eles, sobretudo entre Lacan € Laplanche, diz respeito ao modo como se opera essa passagem. Segundo Laplanche, esse processo — que marca o recalque origindrio — se dé em duas etapas: num primeiro nivel de simboti- zagio, uma rede de oposigées significantes toma lugar no universo subjetivo, mas sem que nenhum significado particular fique preso a uma malha particular dessa rede. “O que se introduz. simplesmente com esse sistema coextensivo ao vivido € a pura diferenga, a escansfo, a barra: no gesto'do Fort-Da, a borda da cama” (1970, p. 144). O segundo nivel de simbolizagao & 0 que, segundo Laplanche, cria verdadeiramente o inconsciente segundo o mecanismo da metéfora. Isso ocorre quando, nesse conjunto de oposigdes significantes, 0 significado fica preso a certas malhas, em certos pontos privilegiados: ote0-00€0A, 0 “bom” 0 “mau”, a direita e a esquerda, Essas oposigdes vio constitur os significantes clementares que fixam a pulsto. Laplanche coloca a questio do status ontolégico desse incons- ciente, Ele possui o status de linguagem, mas no se identifica com a linguagem verbal. O que é nele algado & categoria de significantes nfo sto as palavtas, mas elementos retirados do imaginério, sobretudo do imaginério visual. Laplanche recupera a palavra “imago” para designar esses significantes. Serge Leclaire, parceiro de Laplanche no artigo citado, & de iio que ndo hi necessidade de se desdobrar 0 processo de recalcamento originério em duas etapas. Para ele, 0 primeiro nivel de simbolizaglo, que € caracterizado pelas primeiras opo: cantes, ja seria produtor do inconsciente. A interpretagao de Lecl colocaria em questo a proposta de que o recalque origindrio se realiza segundo 0 mecanismo da metéfora, O inconsciente “resulta da captura da energia pulsional nas redes do significante” (1970, p. 148). Ele & pois, o que possibilita a metafora mas ndo € ainda metéfora, O Inconsciente Nao pretendo penetrar nos meandros da discordancia « Laplanche e Leclaire, o que seria cabivel num estudo especializado sobre 0 tema do recaleamento, mas no numa exposig8o como esta, ‘e me parece ainda que devemos permanccer 0 mais proximo possivel dda palavra de Lacan, deixando a discussdo entre os discfpulos para um outro momento. Infelizmente, Lacan no nos oferece uma explicagao detalhada do recalque originario. De fato, ele ndo faz senfo algumas breves referéncias 20 tema, que funcionam muito mais como indicaydes para investigagbes futuras do que como esclarecimentos propriamente ditos. ‘0 que podeimos admitir como sendo 0 ponto de vista do mestre {da Escola Freudiana de Paris é que a fase descrita acima correspon- deria a uma primeira divisto do sujeito: a que separa o fmagindrio dda inconsciente, Poderiamos admitir uma divisfo anterior a essa ainda sia que existitia entre 0 imagindrio ¢ a pulsio —, mas sobre cla Gquase nada temos que dizer. Segundo A. Lemaire (1979, p. 163). Lacan estabelece uma barra separadora em trés niveis do ser humano: 1. A que separa o imaginério do inconsciente. : 2. A que separa o inconsciente como linguagem © 2 linguagem consciente, | 3, Ao nivel da propria linguagem consciente, a que separa o si nificante do significado, (© imaginstio é o que nos introduz nos dominios da subjetividade. Vimos que, anteriormente ao imaginério, terfamos a pulsio, mas esta pertence ao impensivel, nunca se dé por si mesma, mas se apresents crapre pelos seus representantes psiquicos. O dominio do imaginari rao é, porém, fécil de pensar. Anterior ao simbélico, o imagi constituiria o primeiro corte com o exercicio pleno da pulsao. A I ilimitada da fase anterior a0 imaginério corresponderia uma i {imitada no plano do imagindrio. Essa fimitago nfo é, porém. 4 que ocorre apés 0 ingresso no simbélico. Ela teria sua origem na perda originéria, que é a separagao do recém-nascido de sua mae, O ‘que a crianga perde com o corte do cordo umbilical — diz-nos Lacan = Gin By, 1970, pp. 188 s.) nfo & como pensam os analistas, sua rie, mas uma parte de si mesma, um complemento anatémico, @ membrana que a protege. Lacan compara essa perda ao ovo que perde 192 Freud e 0 Inconsciente 1 sua casca. O vivente, ao romper o ovo, pete mio a mie, mas a sua casca, isto é, um pedago de si mesmo. Quebrado 0 ovo, diz Lacan, faz-se 0 homem, mas também 0 ““homelette". Para evitar que essa massa informe, movida pelo puro instinto de vida e guiada pelo real, invada tudo, o homem the designa limites corporais. Dal por diane, a libido s6 poderé expandir-se através das zonas erégenas, e a pulsto ilimitada serd transformada em “pulsio parc pelas zonas erégenas, a libido nunca estaré presente, inteira, na subjetividade. Ligada.a im objeto imaginério, ela ada pela perda, pela insatisfaglo, pela incompletude, A falta ou “hidincia” nos remete a essa incompletude fundamental do ser hhumano. Ela & anterior a pulsto, anterior ao desejo. Essa falta serd, dat por diante, representada no imagindrio pelo que Lacan e Leclaire chamam de “letra”. ‘A letra é 0 significante tomado em sua materilidade. Como assinala Leclaire (1977, p. 79), ela ndo nem a zona erégena fiem 0 objeto, mas algo que necessariamente tem de ser referido a ambos. AA letra nifo é a falta a que se refere Lacan, mas a representagio da falta. As primeiras letras sto inscritas numa fase da vida infantil muito ‘anterior a0 ingresso no simbélico e, portanto, & aquisigdo da lingua- gem, A letra é uma marca que fixa uma falta, um vazio; ela é um lenificante abstrato, inscrito no inconsciente (entendido aqui no ‘sentido descritivo) e referido a uma experiéncia origindria de prazer fou de desprazer. E de notar que esse inconsciente nto € ainda 0 inconsciente sistematico a que Freud se refere a partir do-capitulo VII de Travmideutung. S40 precisamente essas letras ou esées signifieantes clementares que vao constituir propriamente.a ordem do inconsciente a partir do recalcamento 0. A rigor, no se pode falar de inconsciente, no sentido sistematico, antes que esses significantes clementares sejam submetidos a uma rede ou malha de oposigies ‘capazes de produzirem significagdes. No capitulo seguinte, voltarei a abordar a questdo do imagi ‘A primeira barra é, portanto, a que separa 0 imagindrio do inconsciente. Vimos que poderiamos conceber uma outra separaydo anterior ainda a essa: a que distinguiria o imagindrio da pulsio. Contudo, como estamos interessados na formagio do inconsciente, convém no retrocedermos além do primeiro nivel assinalado por Lacan. importa, no momento, caracterizar essa clivagem da subjet- vidade em dois grandes sistemas: o inconsciente e o pré-consciente- O Inconsciente 193 consciente. Apesar do emprego bastante amplo que Freud faz do termo, no vejo nenhum impedimento em designar esse momento como 0 da Spaliung original. A CLIVAGEM ORIGINARIA A divistio mais arcaica, a nivel do individuo, & a que resulta do seu nascimento. Vimos com Lacan que, com 0 corte do cordao umbilical, © individuo nao € apenas separado de sua méc, mas também perde uma parte de si mesmo. Desse momento em diant, ele se earacteriza ‘como um ser incompleto, fendido, tal como os andréginos do mito platénico. De fato, o que o ser humano experimenta com o nascimento uma primeira castragdo, experiencia essa que serd revivida em varios, ‘momentos posteriores de sua vida. Mas esse ser fendido, esse ovo que perdeu a sua casca, transforma-se numa omelete que ameaga invadir tudo. E a libido em sua origem. Sobre essa experiéncia, a psicandlise nada tem que dizer ou, se 0 faz, & apelando pata-o mito. f2 somente com a pulsfo, com a pulslo parcial ligada a uma zona erégena, que a psicandlise dé o seu primeiro asso em diredo & subjetividade. Tendo perdido uma parte de si mesma, a crianga vai procurar entre 03 objetos exteriores os que poderdo preencher essa falta. ‘Aquele que primeiro se apresenta como capaz de substituir a parte perdida é 0 seio da mie. Ele serd 0 primeiro objeto da pulsio. Vimos, no capitulo IV, que a constituigao do scio como objeto 4a pulsdo supde um momento anterior no qual um primeiro objeto se caracteriza como objeto especifico € que este no & o-seio. De fato, quando Freud toma a amamentagdo do lactente como o protétipo da experiéncia de satisfagdo, ele deixa bem claro que o que satisfaz a crianga no é 0 sugar 0 seio, mas a ingestio do leite, Dessa forma, {eriamos um primeiro momento em que o objeto especifico esta ligado a autoconservagdo e ndo & pulsto sexual. O que temos ai & 0 instinto Unstinks) e 0 objeto especifico do instinto. A pulsdo (Trieb) s6 surge ‘quando, por apoio (Anlefmumg) nessa fungdo de autoconservasio, surge uma satisfagdo ligada & excitagao dos labios e da lingua pelo seio, Portanto, paralelamente & satisfagdo de uma necessidade (fome) produz-se um prazer no sugar. Ora, esse prazer, a0 mesmo tempo que {em seu apoio no instinto, diferencia-se dele, posto que nto tem mais por objetivo a autoconservacto. E esse apoio-desvio o que marca @ emergéncia da pulsdo. 194 Freud e 0 Inconsciente No entanto, os objetos que satisfazem a pulstio nfo continua rmarcados pela exterioridade. "Na medida em que 05 objetos que Ihe sio apresentados constituem fontes de prazer”, escreve Freud (ESB, v. XIV, p. 157), “ele (0 eg0) os toma para si proprio, os ‘introjeta’; «¢, por outro lado, expele o que quer que dentro de si mesmo se torne ‘causa de desprazer.” Esse mecanismo faz. com que 0 sujeito do ego coincida com o que éagradivel, o que transforma o “ego de realidade” ‘original, que distinguiu o interno do extemno, em “ego do prazer"” (ESB, v. XIV, p. 156, nota 2). Esse & 0 momento do auto-erotisme. Essa passagem do exterior para o interior se faz de modo fantasmatico, 0 que nos remete ao imaginal E a nivel do imaginério que vdo ser fixados 0s primeiros significantes (“Letras”, segundo Leclaire). Esses significantes passa- Flo a ser 0s primeiros representantes da pulsto. Sobre # natureza perigos: , © que o in- ta emissdo de um sinal de angus, ingstsignah, o i : Ang » 0 que Deena que vai desencade- (2) 0 (2) cas em que uma situacdo andloga one es de sa cenata se estabelece » Seguindo-se uma reaca >I eacdo auto- matica de angusti ie stia i ensiae (automatische Os dois c asos tornam-se i Mais aproxi- 2 3 ‘ados, ressaltando-se que o cepie ee ” Consultar © Vocabula Vocabulétio de Poicanélise de Laplanches&Pontalis, a” Pucorocua IV ee eae : decorre de uma situacdo original, no sentido de arcaica, enquanto gue © Pr i a qualquer \ meiro corresponde a n determinantes ulteriores de oca con- originado. Ou ue dela se tenha kc furme aplicado a perturbagéo com gue de fato o Ego se veja defrontando, gus "a é atu- i ‘0 segundo caso 1 do vai-se ver que ae i ia das neuroses at ante na etiologia es (Aktualneurosen), enquanto que i gundo se mantém como tipico psiconeuroses"*. wer-se a ques- ‘A proposito, cabe aqui tornar-se a a . a gues. tao da angustia no conilito que se desenrola n i siquico. . oe ee jistia neurotica, diferentemente da spate ie ant Sada por um perigo extemno, resulta de ae sat de repressao. a i peau, ean Regende angi quando de um dese i rié ual, sendo, sy 55 jt uma experi€ncia sex Ly ¢ “tl ee angiistia e néo de excitagéo ou de grates 0 prerehiend (eee que ha uma repressao in lade, c 7 : a Iressa ui constata-se que a repressdo precede A: ae a neusties criando todas as condicoes que gustia neurot y ey ensejar 0 desenvolvimento da angistia. nche&Pontalis. lério da Peicandlise de Laplar "Ver definighe no Vecabulario d 44 Psiconoct IV Parte T Quando lemos Freud no seu 7h je Ego and the Id (1923a), vamos vé-lo ressaltando: 1. que quando ocorrem conflito neuréti 00s, as foreas mentais colocadas em Sposi¢ao aos desejos sexuais, nao sao, de nenhuma forma, facilmente accessiveis ao consciente; Haver uma necessidade de castigo (pu- nieao), que pode, freqiientemente, ser inaccessivel ao consciente, ou entao sé. lo mediante uma grande dificuldade. No texto citado, vamos ver Freud se valendo de que jstracdo para clarificar seu raciocinio, disendo de int ando um desejo se torna ativo no nivel mental Paciente em analise, vai este, de ordinario, ma- pifestar-se, influenciando as associagoes. Ou seja, nao havendo inibicdo da descarga, ter-se-A, da parte do pa- ciente, uma expresséio do desejo a se tornar mais e percebé-la, Bm contrapartida, ocorrendo a inibicdo, em lu- Gar (le uma expressdo bem clara, vamos ver o pacienve ihudando de assunto, ou entao se aferrando a ius qua- dro de siléncio, 0 que deixa claro estar ele 4 resistir, Por se encontrar sob o efeito das forcas inibidoras Mas 0 fato € que o paciente nao tem a menor hoedo do que esta a acontecer consigo mesmo, sento @d * Pconocia IV Panee é i egando- conta disso, que vamos vé-lo, literalmente, neg ip : ol. aera falar ou mesmo a pensar sobre alg oe Se Nassim, ele realmente ignora estar a fazer todo um esforco no sentido de inibir ee aoa oa : i jo que, &, , aria consciente, sen nes oe vonie aeque resistindo abertamente. E a coisa pea do analista, @ torna tao séria, que se impoe, ce cpaste ola hist a rocedimentos e a ae que esta a resistir a algo eae ba He nal Pec em assim sendo, o procedimento aplicav' ade ser ae faperdae o Ego, ou mais especificamente, an a odea : 67). Pa (eae spare fato de que todo este processo se : ar torna muito nitido para o analista, pelo que, partir da a -se considerar que 1 ervacdo, pode-se cor 1 Se aeaitoco na teotia topogratica, convindo assim, ra nar-seaquest@o. amos porque. eesti a fi a inibigo que se constata na mente, — Be cura do sistema Pes, pelo que, deveria, es into ¢ tudo o que a cle se referisse, accessar 4 consci nc vide thot J}, mas nao € assim, ja que 0 acesso s6 vai severe car, apos o trabalho psicanalitico, que acaba poi ea o resistencia absolutamente inconsciente que s a conclusao de q ‘ la, o que nos leva a Sco cee ativo na mente, que seja ee in Sel a consciéncia, s6 vai se tornar accessivel, p' melo da inalise pelo que, ha de ser, com absoluta certeza, dese do acento que se ¢ vel inconsciente 46 " que prowuie vio, val por conta do ae ja aauieenpeenin, Na verdade o fenémeno se passa n ja aqui expe Psiconocia TV ~ Pate T fencente ao sistema Ics € nunca ao Pcs, pois se o fosse, iA, por definicao, seria accessivel A consciéncia, Do mesmo modo, nao sera, nunca, um fator anti- instintual, ou inibidor presente na mente e sim um de. Sejo sexual reprimido, o que vai criar a condieao contra, ditoria acima referida, ja que a teoria topografiea estipu- la que o quer que seja inaccessivel mente, ha de ser uum desejo sexual reprimido, oriundo do sistema Ics, mas © problema € que a atividade inibidora, constatada na resistencia, é inaccessivel 4 consciéncia, ou seja, € im. perceptivel ao paciente. Quando Freud detectou o contraditério, que apa- Fane ob a forma de um dilema, vai ele dizer que pelo fato de algo ser ou nao ser accessivel a consciéncia, nao Pode servir para estabelecer uma divisao do aparelho Psiquico em sistemas, exigindo-se, antes, que a divisao devesse se ajustar ao inferido do fenémeno a que cha, mamos de conflito psiquico. Veja-se que no principio, Freud se concentrava nos desejos sexuais reprimidos, equiparando o quer que fos, Se Inaccessivel 4 consciéncia, a tudo o que derivasse dos desejos sexuais, ou entéo o que com eles se constatasse estar ligado, Desse modo, partindo-se da Teoria Topografica, os elementos sexuais infantis da mente, abrangendo o sistema Ics, exatamente, por se encontrarem no nivel inconsciente, seriam inaccessiveis 4 mente, contido, in- discutivelmente, nas situacgdes conflitivas, os elementos sexuais infantis na mente, sao, combatidos e censura- dos pelos elementos adultos, realisticos e morais da men, 'e, elementos esses, que sao perfeitamente accessiveis A consciéncia exatamente por se encontrarem situados no ambito do sistema Pcs. Psicorocia IV = Panty 1 3 as 47 ‘Tudo foi assim até 1923, quando Freud concluiu que, inclusive as forcas anti-instintuais podem ser inaccessiveis consciéncia, tomando, como verdade, es- tar a mente dividida em sistemas referidos 4 caracteris- tica da accessibilidade a consciéncia, para constatar que o conflito neurético jamais poderia ser descrito como algo a ocorrer entre os sistemas Pcs ¢ Ics, j4 que 0 que é inaccessivel & consciéncia nao ¢ idéntico ao que seja ins- tintual, por incluir, também, uma parcela do quer que seja instintual. Na verdade, 0 que importa é sabermos que o que levou Freud a rejeitar a Teoria Topografica, foi descobrir que esta ndo cra adequada para explicar o conflito neu- rético, j que pensava da seguinte maneira: na clinica, o fator crucial da vida men- tal a se considerar, € 0 conflito neuréti- co, que se caracteriza por ser formado pela confrontacao de grupos de fungoes e/ou tendéncias mentais. Assim, se di- vidirmos o aparelho psiquico em par- tes estanques, tal diviséo devera, ‘ne- cessariamente, adequar-se as linhas de clivagem perceptiveis no conflito, pois se assim nao for, a divisao adotada nao nos sera util para o trabalho. Veja-se que, do que mais se necessita na clini- ca, é de uma teoria que contribua para a compreensao, para o estudo e para o manejo dos conflitos que se desen- rolam no espaco intrapsiquico. Por isso mesmo, caso a teoria nao tome o pré- 48 Psicotocu IV Parte prio conflito co rio con mo base do raci no sera possivel té-la ‘al nosso trabalho raciocinio, como util para o rea ati &Pontalis, quando falam de confli co, © pensamento freudi: prejuizo para a clareza, dizendo: arriaa to psi- sem qualquer he : Soar quando ha oposicao entre ae Tarias, que pode se uu manifesto, tr i e a » trad - ae formagao de siatomas ace i omportamentais 1 poi » perturbacé caractericiais etc, O contto 6 haves Lendo-se tudo 0 i i : que aqui Teoria Topografica, realmente “acing quando 0 analista se depara co Psiquico, o que acabou levando © 0 Id. 1923a) que: vamos ter que a deixa muito a desejar mM a questéo do conflito Freud a estipular (0 Zg0 ae, i i Os conflitos neuroticos, as forcas men- tais 6 ae que se opdem aos desejos sexuais » Nunca, facilmente acc consciéncia; 2a da m da meses forma, uma necessidade de ico (ow seja, uma imposicado mo. @" Paxte 1 ser inacces- i umente, ; ral) pode, muito com sivel a iénci: eSSi sivel a consciéncia, ou ser acces custa de uma grande dificulda i vas da

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