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Filipe K. Dick Autofac (1954-10-11) Copyright © Galaxy, novembro de 1955 Eu A tensdo pairava sobre os trés homens que esperavam Eles furavam, andavam de um lado para o outro, chutavam sem rumo as ervas daninhas que cresciam a beira da estrada. Um sol quente do meio-dia brilhava em campos marrons, fileiras de casas de plastico arrumadas, a linha distante de montanhas a oeste. "Quase tempo", disse Earl Ferine, amarrando as maos magras. "Varia de acordo com a carga, meio segundo para cada quilo a mais." Amargamente, Morrison respondeu: "Voc tem isso tramado? Vocé é to ruim quanto é. Vamos fingir que & tarde." © terceiro homem nao disse nada. O'Neill estava visitando de outro assentamento; ele ndo conhecia Ferine e Morrison bem o suficiente para discutir com eles. Em vez disso, ele se agachou e arrumou os papéis colados em seu quadro de cheques de aluminio. Sob o sol escaldante, os bracos de O'Neill estavam bronzeados, peludos, brilhando de suor. Wiry, com cabelos grisalhos emaranhados, éculos de aro de chifre, era mais velho que os outros dois. Ele usava calcas, camisa esportiva e sapatos de sola crepom. Entre os dedos, sua caneta-tinteiro brilhava, metalica e eficiente. "O que vocé esta escrevendo?" Ferine resmungou. "Estou definindo o procedimento que vamos empregar", disse O'Neill com leveza. "Melhor sistematizar agora, em vez de tentar ao acaso. Queremos saber o que tentamos e o que nao deu certo, Caso contrario, daremos a volta em circulo, O problema que temos aqui é de comunicagao; assim que eu vejo." "Comunicacéo", Morrison concordou em sua voz grave e peitoral. "Sim, ndo podemos entrar em contato com a maldita coisa. Ele vem, sai de sua carga e continua, nao ha contato entre nés e ele." "E uma maquina", disse Ferine animada. "Esté morto, cego e surdo." jas _esté em contato com o mundo exterior", apontou O'Neill. "Tem que haver alguma maneira de chegar a isso. Sinais seménticos especificos so significativos para ele; tudo © que temos de fazer é encontrar esses sinais. Redescobrir, na verdade. Talvez meia dtzia de mil milhdes de possibilidades." Um estrondo baixo interrompeu os trés homens. Olharam para cima, cautelosos e alertas. Tinha chegado a hora. "aqui esta", disse Ferine. "Ok, cara sdbio, vamos ver vocé fazer uma Unica mudanga em sua rotina." © caminhdo estava enorme, roncando sob sua carga apertada. Em muitos aspectos, assemelhava-se a veiculos de transporte convencionais operados por humanos, mas com uma exceco - ndo havia cabine do motorista. A superficie horizontal era um estdgio de carregamento, e a parte que normalmente seriam os fardis e a grade do radiador era uma massa fibrosa semelhante a uma esponja de receptores, 0 aparato sensorial limitado dessa extensdo mével do utilitario. Ciente dos trés homens, 0 caminh&o parou na velocidade, trocou de marcha e acionou o freio de emergéncia. Um momento se passou enquanto os revezamentos entravam em aco; em seguida, uma parte da superficie de carga inclinou- se e uma cascata de caixas pesadas se espalhou para a estrada, Com os objetos esvoacou uma folha de inventario detalhada "Vocé sabe o que fazer", O'Neill disse rapidamente. "Apresse-se, antes que saia daqui.” Habilmente, os trés homens pegaram as caixas depositadas e arrancaram os invdlucros de protecao deles Objetos brilhavam: um microscépio binocular, um radio portatil, montes de pratos de plastico, suprimentos médicos, laminas de barbear, roupas, alimentos. A maior parte da remessa, como de costume, era de alimentos. Os trés homens comecaram sistematicamente a quebrar objetos. Em poucos minutos, ndo havia nada além de um caos de destrocos espalhados ao seu redor. "E isso", ofegou O'Neill, recuando. Ele se atrapalhou para sua folha de cheque. "Agora vamos ver o que ele faz. © caminh&o comesou a se afastar; abruptamente, parou e recuou em direcdo a eles. Seus receptores haviam levado em conta 0 fato de que os trés homens haviam demolido a parte abandonada da carga. Ele girou em um meio circulo moedor e veio para enfrentar seu banco receptor em sua direc. Subiu sua antena; Tinha comecado a comunicar com a fabrica. As instrucées estavam a caminho. Uma segunda carga, idéntica, foi inclinada e empurrada para fora do caminhao. Jés falhamos", Ferine gemeu enquanto uma folha de estoque duplicada tremulava apés a nova carga. "Destruimos todas essas coisas a toa.” agora?" Morrison perguntou a O'Neill. "Qual é a préxima estratégia em nosso conselho?" "Da-me uma mo." O'Neill pegou uma caixa e a levou de volta para o camino. Deslizando a caixa para a plataforma, virou-se para outra. Os outros dois homens seguiram desajeitadamente atrds dele. Eles colocaram a carga de volta no caminh&o. Quando o caminhao partiu para frente, a ultima caixa quadrada estava novamente no lugar. © caminho hesitou. Seus receptores registravam o retorno de sua carga. De dentro de suas obras vinha um zumbido baixo e sustentado. "Isso pode deixd-lo louco", comentou O'Neill, suando. "Passou pela operacéo e nao conseguiu nada. O caminh&éo fez um movimento curto e abortado em dirego a frente. Em seguida, girou propositalmente e, em um borrao de velocidade, novamente despejou a carga na estrada. "Pegue-os!" O'Neill gritou. Os trés homens pegaram as caixas e as recarregaram febrilmente. Mas tao rapido quanto as caixas foram empurradas de volta para o palco horizontal, as garras do caminhao as inclinaram para baixo de suas rampas laterais e para a estrada. do adianta", disse Morrison, respirando forte. "Agua através de uma peneira." "Estamos lambidos", Ferine ofegou em concordancia miserdvel, "como sempre. Nés, humanos, perdemos sempre." © caminho os olhava com calma, seus receptores vazios e impassiveis. Estava fazendo o seu trabalho. A rede planetdria de fabricas automaticas estava desempenhando sem problemas a tarefa que Ihe foi imposta cinco anos antes, nos primeiros dias do Conflito Global Total. “La vai", observou Morrison com tristeza. A antena do caminhao havia caido; Ele mudou para marcha baixa e soltou 0 freio de estacionamento. “Uma ultima tentativa", disse O'Neill. Ele varreu uma das caixas e rasgou-a. Dele ele arrastou um tanque de leite de dez litros e desapertou a tampa. "Bobo como parece." “Isso é um absurdo", protestou Ferine. Relutantemente, ele encontrou um copo entre os detritos e mergulhou-o no leite. "Um jogo de crianga!" © caminhao parou para observé-los. "Faca isso", ordenou O'Neill bruscamente. "Exatamente do jeito que praticamos." Os trés beberam rapidamente do tanque de leite, visivelmente permitindo que o leite escorresse pelo queixo; nao tinha que haver erro no que eles estavam fazendo. Como planejado, O'Neill foi o primeiro. Com o rosto torcido de repulsa, ele jogou o copo para longe e cuspiu violentamente o leite na estrada. "Pelo amor de Deus!", engasgou Os outros dois fizeram 0 mesmo; Gritando e xingando alto, eles chutaram o tanque de leite e olharam acusativamente para 0 caminhao "N&o adianta!" Morrison rugiu. Curioso, 0 caminh&o voltou devagar. Sinapses eletrénicas clicavam € choramingavam, respondendo a situacdo; sua antena disparou como um mastro de bandeira. "Acho que é isso", disse O'Neill, tremendo. Enquanto o caminhao observava, ele arrastou um segundo tanque de leite, desapertou a tampa_e provou o contetido, "O mesmo!", gritou para o caminhéo. "E tao ruim quanto!" Do caminhao saiu um cilindro de metal. O cilindro caiu aos pés de Morrison; Ele rapidamente a arrebatou e a rasgou. NATUREZA DO ESTADO DO DEFEITO As folhas de instrucdes listavam fileiras de possiveis defeitos, com caixas arrumadas por cada uma; Um punch- stick foi incluido para indicar a deficiéncia particular do produto. "O que vou verificar?" Morrison perguntou. "Contaminado? Bacteriano? Azedo? Rancoso? Rotulado _incorretamente? Quebrado? Triturado? Rachado? Arqueado? Suja?" Pensando rapidamente, O'Neill disse: "N&o_ verifique nenhum deles. A fabrica esta, sem diivida, pronta para testar e reamostrar. Vai fazer a sua prépria andlise e depois ignorar- nos." Seu rosto brilhava quando a inspiracdo frenética veio. "Escreva naquele espaco em branco na parte inferior, € um espaco aberto para mais dados." "Escrever 0 qué?" O'Neill disse: "Escreva: o produto esté completamente chuvoso". "O que é isso?" Ferine exigiu, perplexo. "“Escreva! E uma gargalhada seméntica -- a fabrica ndo seré capaz de entendé-la, Talvez possamos atrapalhar as obras." Com a caneta de O'Neill, Morrison _escreveu cuidadosamente que o leite estava chuvoso. Balancando a cabeca, ele selou novamente o cilindro e o devolveu ao caminhao. O caminhdo varreu os tanques de leite e bateu no corrim&o no lugar. Com um barulho de pneus, ele se chocou De seu slot, um cilindro final quicou; O caminho partiu as pressas, deixando 0 cilindro caido na poeira. O'Neill abriu-o e ergueu o papel para os outros verem. UM REPRESENTANTE DE FABRICA SERAO ENVIADOS. ESTEJA PREPARADO PARA FORNECER DADOS COMPLETOS SOBRE A DEFICIENCIA DO PRODUTO. Por um momento, os trés homens ficaram em siléncio. Entéo Ferine comecou a rir. "Conseguimos. Entramos em contato. A gente se cruzou." "Com certeza fizemos", concordou O'Neill. "Nunca se ouviu falar de um produto sendo chumbado." Cortado na base das montanhas estava o vasto cubo metdlico da fabrica de Kansas City. Sua superficie estava corroida, esburacada com variola de radiagao, rachada e marcada pelos cinco anos de guerra que a varreram. A maior parte da fabrica estava enterrada no subsolo, apenas seus estagios de entrada visiveis. O caminh&o era um cisco que roncava em alta velocidade em direcdo & extensdo de metal preto, Atualmente forma-se uma abertura na superficie uniforme; O caminhdo mergulhou nele e desapareceu Id dentro. A entrada fechou. "Agora o grande trabalho permanece", disse O'Neill "Agora temos que convencé-lo a fechar as operacées, a se fechar." IL Judith O'Neill serviu café preto quente para as pessoas sentadas ao redor da sala de estar, O marido falava enquanto os outros ouviam. O'Neill estava téo perto de ser uma autoridade no sistema autofac quanto ainda podia ser encontrado. Em sua propria drea, a regido de Chicago, ele havia encurtado a cerca de protecdo da fabrica local por tempo suficiente para se safar com fitas de dados armazenadas em seu cérebro posterior. A fabrica, é claro, havia imediatamente reconstruido um tipo melhor de ofensa. Mas ele havia mostrado que as fabricas nao eram infaliveis. "O Instituto de Cibernética Aplicada", explicou O'Neill, “tinha controle total sobre a rede. Culpa da guerra. Culpar o grande ruido na linha da comunicacdo que acabou com o conhecimento de que precisamos. De qualquer forma, o Instituto n&o nos transmitiu suas informacgées, entéo nao podemos transmitir nossas informagdes para as fabricas - a noticia de que a guerra acabou e estamos prontos para retomar 0 controle das operacées industriais.” "E enquanto isso", acrescentou Morrison azedamente, "a maldita rede se expande e consome mais de nossos recursos naturais o tempo todo". "Eu tenho a sensacéio", disse Judith, "de que, se eu batesse forte o suficiente, eu cairia em um tunel de fabrica Eles j4 devem ter minas em todos os lugares." "“Ndo ha alguma liminar limitativa?" Ferine perguntou nervosa. “les foram criados para se — expandir indefinidamente?" "Cada fabrica é limitada & sua propria drea operacional", disse O'Neill, "mas a rede em si é ilimitada, Pode continuar a apanhar os nossos recursos para sempre. O Instituto decidiu que tem prioridade maxima; nés meras pessoas ficamos em segundo lugar." "Vai sobrar alguma coisa para nés?" Morrison queria saber. "A menos que possamos parar as operagées da rede. JA consumiu meia duzia de minerais basicos. Suas equipes de busca estdo 0 tempo todo, de todas as fabricas, procurando em todos os lugares por alguma ultima sucata para arrastar para casa." "O que aconteceria se tuneis de duas fdbricas se cruzassem?" O'Neill deu de ombros. "Normaimente, isso n&o vai acontecer. Cada fabrica tem sua propria seg&o especial do nosso planeta, seu préprio corte privado da torta para seu uso exclusivo." jas pode acontece em, eles so matéria-prima trépica; enquanto sobrar alguma coisa, eles vao cacar." O'Neill ponderou a ideia com crescente interesse. "E algo a se considerar. Suponho que a medida que as coisas vo ficando mais escassas --" Ele parou de falar. Uma figura entrara na sala; ficou em sil€ncio junto & porta, examinando a todos. Nas sombras sem brilho, a figura parecia quase humana Por um breve momento, O'Neill pensou que era um acordo atrasado. Entdo, 4 medida que avancava, ele percebeu que era apenas quase humano: um chassi bipede vertical funcional, com receptores de dados montados no topo, efetores e proprioceptores montados em um verme descendente que terminava em pingas de assoalho. Sua semelhanca com um ser humano era testemunho da eficiéncia da natureza; nenhuma imitacéo sentimental foi pretendida © representante da fabrica havia chegado. Comegou sem preambulo. "Trata-se de uma maquina de coleta de dados capaz de se comunicar oraimente. Ele contém aparelhos de radiodifusdo e recepcao e pode integrar fatos relevantes para sua linha de investigacao." A voz era agradavel, confiante. Obviamente era uma fita, gravada por algum técnico do Instituto antes da guerra. Vindo da forma quase humana, soava grotesco; O'Neill podia imaginar vividamente o jovem morto cuja voz alegre agora emanava da boca mec&nica dessa construgao vertical de aco e fiagdo "Uma palavra de cautela", continuou a voz agradavel. "E infrutifero considerar esse receptor humano e envolvé-lo em discussées para as quais ele n&o esta equipado. Embora proposital, ndo é capaz de pensamento conceitual; sé pode remontar material ja disponivel." A voz otimista disparou e uma segunda voz surgiu Assemelhava-se ao primeiro, mas agora nao havia entonagdes ou maneirismos pessoais. A maquina estava utilizando 0 padrao fonético de fala do homem morto para sua prépria comunicagao. "A andlise do produto rejeitado", afirmou, “nao mostra elementos estranhos ou deteriorac&o perceptivel. O produto atende aos padrées de testes continuos empregados em toda a rede. A rejeico é, portanto, em uma base fora da area de teste; padrées ndo disponiveis para a rede esto sendo empregados." Isso mesmo", concordou O'Neill. Pesando suas palavras com cuidado, ele continuou: "Achamos 0 leite abaixo do padrdo. Nao queremos nada com isso. Insistimos em uma produgao mais cuidadosa." A maquina respondeu agora. "O contetido semantico do termo 'pizzled' nao é familiar para a rede. Nao existe no vocabuldrio gravado. Vocé pode apresentar uma andlise factual do leite em termos de elementos especificos presentes ou ausentes?" "No", O'Neill disse cautelosamente; O jogo que ele estava jogando era intrincado e perigoso. "Fizzled’ é um termo geral. Ndo pode ser reduzido a constituintes quimicos.” "O que significa ‘pizzled'?", perguntou a maquina. "Vocé pode defini-lo em termos de simbolos seméanticos alternativos?” O'Neill hesitou, O representante teve de ser conduzido do seu inquérito especial para regides mais gerais, para o problema final do encerramento da rede. Se ele puder abrir isso a qualquer momento, comece a discussdo teérica... "Pizzled", afirmou, "significa a condigéo de um produto que é fabricado quando nao ha necessidade. Indica a rejeicdo de objetos sob o argumento de que eles nao sao mais desejados.” O representante disse: "A andlise da rede mostra uma necessidade de substituto do leite pasteurizado de alta qualidade nesta drea. Nao hd fonte alternativa; A rede controla todos os equipamentos do tipo mamario sintético existentes." E acrescentou: "As instruces originais gravadas descrevem o leite como essencial para a dieta humana". O'Neill estava sendo enganado; a mdquina estava devolvendo a discussdo para o especifico. "Decidimos", disse desesperadamente, "que nao queremos mais leite Preferimos ficar sem ele, pelo menos até conseguirmos localizar as vacas.” isso € contrario as fitas da rede", contestou o representante. "Ndo ha vacas. Todo o leite & produzido sinteticamente." nto nés mesmos vamos produzi-lo sinteticamente", Morrison entrou impaciente. "Por que ndo podemos assumir as maquinas? Meu Deus, nao somos criangas! Podemos administrar nossas préprias vidas!" © representante da fabrica avancou em diregao a porta "Até que sua comunidade encontre outras fontes de suprimento de leite, a rede continuaré a fornecé-lo. Aparelhos analiticos e avaliadores permanecerdo nessa area, realizando a habitual amostragem aleatéria.” Ferine gritou inutilmente: "Como podemos encontrar outras fontes? Vocé tem toda a configuracéo! Vocé estd comandando o show inteiro!" Na sequéncia, ele disparou: "Vocé diz que nao estamos prontos para administrar as coisas - vocé alega que néo somos capazes, Como vocé sabe? Vocé n&o nos dé uma chance! Nunca teremos chance!" O'Neill estava petrificado. A maquina estava saindo; sua mente de pista Unica havia triunfado completamente. "Olha", ele disse rouco, bloqueando seu caminho. "Queremos que vocés se calem, entendam. Queremos assumir 0 seu equipamento e executd-lo nés mesmos. A guerra acabou. Porra, vocé nao é mais necessério!" © representante da fdbrica fez uma breve pausa na porta "O ciclo inoperante", disse, "no esté programado para comecar até que a producdo em rede simplesmente duplique fora da produc&o. Ndo hd, neste momento, de acordo com a nossa amostragem continua, nenhuma produg&o externa Portanto, a producdo em rede continua." Sem aviso, Morrison balancou o tubo de aco em sua mao. Cortou contra o ombro da maquina e rompeu a elaborada rede de aparelhos sensoriais que compunham seu peito. O tanque de receptores quebrou; pedagos de vidro, fiagéo e pegas minusculas tomaram banho por toda parte. "E um paradoxo!" Morrison gritou. "Um jogo de palavras, um jogo semantico que eles estéo puxando para nés. Os ciberneticistas tem isso manipulado." Ele levantou o cano e novamente o derrubou selvaticamente na maquina sem protesto. "Eles nos prejudicaram. Estamos completamente desamparados." © quarto estava em alvorogo. "E a unica maneira", Ferine ofegou enquanto passava por O'Neill. "Teremos que destrui- los, € a rede ou nés." Agarrando uma lampada, atirou-a na “cara" do representante da fabrica. A lampada e a intrincada superficie de plastico estouraram; Ferine entrou, tateando cegamente pela maquina. Agora todas as pessoas na sala estavam se fechando furiosamente em torno do cilindro ereto, seu ressentimento impotente fervendo. A maquina afundou e desapareceu enquanto a arrastavam para 0 chao. Tremendo, O'Neill se afastou. Sua esposa segurou seu braco e 0 levou para o lado do quarto. "Os", disse desanimado. "Eles ndo podem destrul-lo; eles sé vao ensind-lo a construir mais defesas. Esto piorando todo o problema.” Na sala de estar rolou uma equipe de reparo de rede Habilmente, as unidades mec&nicas se desprenderam do inseto-mae de meia pista e correram em direcéio ao monte de humanos em luta. Eles deslizaram entre as pessoas e rapidamente se enterraram. Um momento depois, a carcaca inerte do representante da fabrica foi arrastada para dentro da moega do inseto-mae. Partes foram recolhidas, restos rasgados recolhidos e levados. A estrutura plastica e 0 equipamento foram localizados. Em seguida, as unidades se reposicionaram no bug e a equipe partiu. Pela porta aberta veio um segundo representante da fabrica, uma duplicata exata da primeira. E do lado de fora, no saldo, havia mais duas maquinas verticais. O acordo havia sido vasculhado aleatoriamente por um corpo de representantes. Como uma horda de formigas, as maquinas moveis de coleta de dados haviam filtrado pela cidade até que, por acaso, uma delas se deparou com O'Neill. "A destruicéo de equipamentos méveis de coleta de dados da rede é prejudicial aos melhores interesses humanos", informou o representante da fabrica. "A ingesto de matéria- prima esté em uma vazante perigosamente baixa; quais materiais basicos ainda existem devem ser utilizados na fabricagao de bens de consumo". O'Neill e a maquina ficaram de frente um para o outro. "Ah?" O'Neill disse baixinho. "Isso é interessante. Eu me pergunto no que vocé estd mais baixo -- e pelo que vocé realmente estaria disposto a lutar.” Rotores de helicéptero choramingavam mintsculamente acima da cabeca de O'Neill; Ele os ignorou e espiou pela janela da cabine no chao n&o muito abaixo Escéria e ruinas se estendiam por toda parte. As ervas daninhas subiam, caules doentios entre os quais os insetos afundavam. Aqui e ali, colénias de ratos eram visiveis: casebres emaranhados construidos de ossos e escombros. A radiagéo sofreu mutacées nos ratos, juntamente com a maioria dos insetos e animais. Um pouco mais longe, O'Neill identificou um esquadréo de pdssaros perseguindo um esquilo terrestre. O esquilo mergulhou em uma fenda cuidadosamente preparada na superficie da escéria e os passaros se viraram, frustrados. "Vocé acha que um dia teremos isso reconstruido?" Morrison perguntou. "Me faz mal olhar para isso." “Em tempo", respondeu O'Neill. "Assumindo, é claro, que tenhamos 0 controle industrial de volta, E supondo que resta alguma coisa para trabalhar. Na melhor das hipéteses, sera lento. Teremos que nos afastar dos assentamentos.” A direita estava uma colénia humana, espantalhos esfarrapados, magrinhos e magros, vivendo entre as ruinas do que um dia fora uma cidade. Alguns hectares de solo estéril haviam sido limpos; Legumes caidos murchavam ao sol, galinhas vagavam apéaticas aqui e ali, e um cavalo incomodado com moscas jazia ofegante & sombra de um galpao tosco. "Ruinas-posseiros", disse O'Neill melancolicamente. "Muito longe da rede, ndo tangente a nenhuma das fabricas." culpa é deles", Morrison Ihe disse com raiva, “Eles poderiam entrar em um dos assentamentos.” "Essa era a cidade deles. Eles esto tentando fazer 0 que estamos tentando fazer -- construir as coisas novamente por conta prépria. Mas eles esto comecando agora, sem ferramentas ou maquinas, com as préprias maos, pregando pedacos de entulho. E nao vai funcionar. Precisamos de maquinas. No podemos reparar ruinas; Temos que comesar a producio industrial." A frente havia uma série de colinas quebradas, restos lascados que j4 haviam sido uma cordilheira. Além de estender-se a ferida titdnica feia de uma cratera de bomba H, meio cheia de agua estagnada e lodo, um mar interior cheio de doengas. E além disso -- um brilho de movimento ocupado. "La", disse O'Neill tenso. Ele baixou o helicéptero rapidamente. "Vocé sabe dizer de qual fabrica eles séo?" “Todos se parecem comigo", murmurou Morrison, inclinando-se para ver. "Teremos que esperar e segui-los de volta, quando receberem uma carga." ;e eles receberem uma carga", corrigiu O'Neill. A tripulacio do autofac ignorou o helicéptero que sobrevoava e concentrou-se em seu trabalho. A frente do caminhdo principal afundaram dois tratores; Eles subiram montes de escombros, sondas brotando como colchas, desceram a encosta distante e desapareceram em um manto de cinzas que jazia espalhado sobre a escéria. Os dois batedores escavaram até que apenas suas antenas fossem visiveis. Eles explodiram até a superficie e afundaram, seus passos chiando e cambaleando. que eles esto buscando?" Morrison perguntou, "Deus sabe." O'Neill folheou atentamente os papéis em sua prancheta. "Vamos ter que analisar todos os nossos boletos de encomenda em atraso." Abaixo deles, a tripulagdo de exploracio do autofac desapareceu atrds. O helicéptero passou por cima de uma faixa deserta de areia e escéria na qual nada se moveu. Um bosque de matagal apareceu e, em seguida, a direita, uma série de mintsculos pontos em movimento. Uma prociss&o de carrinhos automaticos de minério corria sobre a escéria sombria, uma série de caminhdes de metal em movimento rapido que seguiam uns aos outros nariz a rabo. O'Neill virou o helicéptero em direcdo a eles e, alguns minutos depois, pairou sobre a prépria mina. Massas de equipamentos de mineracéo de agachamento chegaram &s operagées. Eixos tinham sido afundados; carrinhos vazios aguardavam em filas de pacientes. Um fluxo constante de carretas carregadas arremessou em direcdo ao horizonte, driblando minério atrés delas. A atividade e o barulho das maquinas pairavam sobre a drea, um centro abrupto da industria nos residuos sombrios da escéria. "Al vem aquela tripulacio de exploracao", observou Morrison, olhando para tras do jeito que eles tinham vindo. "Vocé acha que talvez eles se enrosquem?" Ele sorriu. "N&o, acho que é demais esperar. desta vez", respondeu O'Neill. "Eles esto procurando substancias diferentes, provavelmente. E normalmente estdo condicionados a ignorar uns aos outros. © primeiro dos insetos exploradores chegou a linha de carretas de minério, Desviou-se ligeiramente e continuou a sua busca; As carrocas viajavam em sua fila inexorével como se nada tivesse acontecido. Desapontado, Morrison se afastou da janela e jurou, "Nao adianta. E como se um nao existisse para o outro.” Gradualmente, a equipe de exploraco se afastou da linha de carrocas, passando pelas operagdes de mineracéo e por um cume além. Nao havia pressa especial; partiram sem terem reagido & sindrome de acumulacao de minério. "Talvez eles sejam da mesma fabrica", disse Morrison esperancoso O'Neill apontou para as antenas visiveis nos principais equipamentos de mineracao. "Suas palhetas so viradas em um vetor diferente, entao elas representam duas fabricas. Vai ser dificil; Teremos que acertar ou ndo haverd reac&o." Ele clicou no radio e pegou o monitor no assentamento. "Algum resultado nas planilhas de back-order consolidadas?” A operadora 0 encaminhou para os escritérios de administrag&o do assentamento. Ir "Eles est&o comecando a entrar", disse Ferine a ele "Assim que obtivermos amostragens suficientes, tentaremos determinar quais matérias-primas faltam as fabricas. Vai ser arriscado, tentar extrapolar de produtos complexos. Pode haver uma série de elementos basicos comuns as varias sublocagées." "O que acontece quando identificamos o elemento desaparecido?" Morrison perguntou a O'Neill. "O que acontece quando temos duas fabricas de tangente com o mesmo material?" "Entéo", disse O'Neill com tristeza, "comegamos a coletar © material nés mesmos - mesmo que tenhamos que derreter todos os objetos nos assentamentos". Na escuridao da noite, um vento fraco agitava-se, frio e fraco. Densa vegetagao rasteira chacoalhada metalicamente Aqui e ali um roedor noturno rondava, seus sentidos hiperalertas, perscrutando, planejando, buscando alimento. A area era selvagem. Nao existiam assentamentos humanos por quilémetros; toda a regido havia sido paralisada, cauterizada por repetidas explosdes de bombas H. Em algum lugar na escuriddo turva, um fluxo lento de 4gua fez seu caminho entre escéria e ervas daninhas da AUTOFAC, pingando grossamente no que um dia foi um elaborado labirinto de rede de esgoto. Os canos estavam rachados e quebrados, projetando-se na escuridao noturna, cobertos de vegetacio rasteira. O vento levantou nuvens de cinzas negras que rodopiavam e dancavam entre as ervas daninhas, Certa vez, um enorme mutante mexeu sonolento, puxou seu grosseiro casaco protetor de trapos ao redor e cochilou. Por um tempo, n&o houve movimento. Uma faixa de estrelas mostrada no céu por cima, brilhando fortemente, remotamente. Earl Ferine tremeu, olhou para cima e se amontoou mais perto do elemento de calor pulsante colocado no chao entre os trés homens. “Bem?” Morrison desafiou, dentes tagarelando. O'Neill ndo respondeu. Terminou o cigarro, esmagou-o contra um monte de escéria em decomposicéo e, tirando o isqueiro, acendeu outro. A massa de tungsténio - a isca - estava a cem metros diretamente a sua frente. Nos ultimos dias, as fabricas de Detroit e Pittsburgh ficaram sem tungsténio. E em pelo menos um setor, seus aparelhos se sobrepunham. Essa pilha lenta representava ferramentas de corte de precisio, pecas arrancadas de interruptores elétricos, equipamentos cirlrgicos de alta qualidade, segdes de im&s permanentes, dispositivos de medic&io - tungsténio de todas as fontes possiveis, recolhido febrilmente de todos os assentamentos. A névoa escura se espalhou sobre o monte de tungsténio. Ocasionalmente, uma mariposa noturna voava para baixo, atraida pelo brilho da luz refletida das estrelas. A mariposa pendia momentaneamente, batia suas asas alongadas inutilmente contra o emaranhado entrelacado de metal e depois se afastava, nas sombras das trepadeiras espessas que se erguiam dos tocos dos canos de esgoto. "N&o é um lugar muito bonito", disse Ferine com ironia. "N&o se engane", retrucou O'Neill. "Este é 0 local mais bonito da Terra. Este € 0 local que marca o timulo da rede autofac. As pessoas vao vir por aqui a procura disso algum dia. Vai ter uma placa aqui a um quilémetro de altura." "Vocé esta tentando manter sua moral elevada", Morrison bufou. "Vocé nao acredita que eles véo se massacrar sobre um monte de ferramentas cirlirgicas e filamentos de lampadas. Eles provavelmente tam uma mdquina no nivel inferior que suga tungsténio da rocha." "Talvez", disse O'Neill, dando um tapa em um mosquito. O inseto esquivou-se caninamente e depois zumbiu para irritar Ferine. Ferine balancou violentamente contra ele e agachou- se mal-humorado contra a vegetacéo umida. E havia o que eles tinham vindo ver. O'Neill percebeu com um comeco que ele estava olhando para ele por varios minutos sem reconhecé-lo. O bug de busca estava absolutamente parado. Repousava na crista de uma pequena elevacao de escéria, sua extremidade anterior levemente elevada, receptores totalmente estendidos. Pode ter sido um hulk abandonado; Nao havia nenhum tipo de atividade, nenhum sinal de vida ou consciéncia. O bug de busca se encaixou perfeitamente na paisagem desperdicada e encharcada de fogo. Uma vaga banheira de chapas e engrenagens metdlicas e degraus planos, descansava e esperava. E assistiu Estava examinando o monte de tungsténio. A isca havia dado sua primeira mordida. eixe", disse Ferine grosso. "A fila se moveu. Acho que 0 ralo caiu." "Que diabos vocé esté murmurando?" Morrison grunhiu. E entdo ele também viu o bug de busca. "Jesus", sussurrou. Ele meio que se levantou, corpo enorme arqueado para frente "Bem, hd um deles. Agora tudo o que precisamos é de uma unidade da outra fabrica. Qual vocé acha que €2" O'Neill localizou o cata-vento e tragou seu Angulo. "Pittsburgh, ent&o ore por Detroit... ore como louco”. Satisfeito, 0 bug de busca se desprendeu e avancgou Aproximando-se cautelosamente do monte, iniciou uma série de manobras intrincadas, rolando primeiro para um lado e depois para outro. Os trés homens que observavam estavam mistificados - até que vislumbraram os primeiros talos de sondagem de outros insetos de busca. “Comunicacao", disse O'Neill baixinho. "Como abelhas." Agora, cinco insetos de Pittsburgh estavam se aproximando do monte de produtos de tungsténio. Receptores acenando animadamente, eles aumentaram seu ritmo, correndo em uma stbita explosdo de descoberta até o lado do monte até o topo. Um inseto cavou e desapareceu rapidamente; Todo o monte estremeceu; O inseto estava ld dentro, explorando a extensdo do achado. Dez minutos depois, os primeiros carrinhos de minério de Pittsburgh apareceram e comesaram a sair correndo com seu lanco. "Porra!" O'Neill disse, agoniado. "Eles terdo tudo antes que Detroit apareca. "N&o podemos fazer nada para retardd-los?" Ferine exigiu impotente. Saltando aos seus pés, ele pegou uma pedra e a jogou na carroca mais préxima. A rocha quicou e a carreta continuou seu trabalho, imperturbavel. O'Neill levantou-se e rondou, corpo rigido com furia impotente. Onde estavam? As autofacs foram iguais em todos os aspectos e 0 ponto foi exatamente a mesma distancia linear de cada centro. Teoricamente, as partes deveriam ter chegado simultaneamente. No entanto, ndo havia nenhum sinal de Detroit - e os pedacos finais de tungsténio estavam sendo carregados diante de seus olhos. Mas entdo algo passou por ele. Ele ndo reconheceu, pois 0 objeto se moveu muito rapido. Ele disparou como uma bala entre as videiras emaranhadas, correu até o lado da crista da colina, se posicionou por um instante para mirar a si mesmo e caiu pelo lado oposto. Ele bateu diretamente no carrinho de chumbo, Projétil e vitima se estilhagaram em uma explosao abrupta de som. Morrison saltou. "Que diabos?" isso!" Ferine gritou, dangando e agitando seus bracos magros. "E Detroit!" Um segundo bug de busca de Detroit apareceu, hesitou ao ver a situacao e, em seguida, atirou-se furiosamente contra os carrinhos de Pittsburgh em retirada. Fragmentos de tungsténio espalhados por toda parte - pecas, fiacéo, placas quebradas, engrenagens e molas e parafusos dos dois antagonistas voaram em todas as direcées. As carretas restantes rodavam estridentes; Um deles despejou sua carga e saiu em alta velocidade. Um segundo seguiu, ainda pesado com tungsténio. Um bug de busca de Detroit o alcancou, girou diretamente em seu caminho e o derrubou ordenadamente. Inseto e carroca rolaram por uma trincheira rasa, em uma piscina de agua estagnada. Pingando e brilhando, os dois lutaram, meio submersos. "Bem", O'Neill disse instavel, "nés fizemos isso. Podemos comegar em casa." Suas pernas estavam fracas. "Cadé o nosso veiculo?" Enquanto ele disparava o motor do caminhao, algo piscava longe, algo grande e metalico, movendo-se sobre a escéria morta e as cinzas. Era um coagulo denso de carretas, uma extenséo sélida de transportadores de minério pesados correndo para o local. De que fabrica eram? N&o importava, pois do emaranhado espesso de trepadeiras negras pingando, uma teia de contra-extensdes se arrastava para encontra-las. Ambas as fabricas estavam montando suas unidades méveis. De todas as diregdes, os insetos deslizaram e rastejaram, fechando-se em torno do monte restante de tungsténio. Nenhuma das fabricas ia deixar a matéria-prima necessdria escapar; nenhum dos dois ia desistir do achado. Cegamente, mecanicamente, nas garras de diretivas inflexiveis, os dois oponentes trabalharam para reunir forcas superiores. famos 1a", disse Morrison com urgéncia. "Vamos sair daqui. Todo o inferno esta estourando." O'Neill virou_apressadamente o caminhdo na diregdo do assentamento, Eles comecaram a roncar através da escuridao em seu caminho de volta. De vez em quando, uma forma metalica é disparada por eles, indo na direcdo oposta. "Vocé viu a carga naquele Ultimo carrinho?" perguntou Ferine, preocupada. "Nao estava vazio." Nem as carrogas que 0 seguiam, toda uma procissdo de transportadores de suprimentos volumosos dirigidos por uma elaborada unidade de topografia de alto nivel. mas", disse Morrison, com os olhos arregalados de apreenso. "Eles esto pegando armas, Mas quem vai usd- los?" "Eles so", respondeu O'Neill. Ele indicou um movimento a sua direita. "Olha ld. Isso é algo que ndo esperévamos.”

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