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DIREITO CONSTITUCIONAL Controle de Constitucionalidade » Se Wee o2 + GRAN CURSOS Livro Eletrénico ONLINE @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes SUMARIO Controle de Constitucionalldade ccc s enti nnnetti nineties sel T. Consideraces INCHES eee cenenenetintneetitennnnentnnnnctinnneesnnnee sea 2.0 Principio da Supremacta da ConstItulCl0 «ocean neentetnnencnetnnnenensnne dl 3. Bloco de Constituctonalidade ...cccecustetetunnnenntinnnnetsnnnennnennnnnee see 4.0 que Acontece com as Normas Pré-constituclonats? .....cccscsweeeceennnneneesnneT 4.1, Sttuacao das Normas Infraconstituclonals occ seeeteteneeecennnnnenenseneeT 4.2. Constitulcao Anterior X Constitulcdo AtUAL cece sceetnteneeneentnnneneneen I 5. Espécies de Inconstituctonalidade ....0.c0sucestussnecissecisinencsncee Mb 5.1. Inconstituctonalidade por Omissao. 5.2. Incanstituctonalidade por ACAO.......cscissteseuunsinstecisetnteniinsinetstisetnnensese 1B 6. Momentos de Controle......:scsessssisiestisetctentossiniestisetciestossanestesetntse 6.1. Controle Preventivo 6.2. Conttrole RepressiVo .occcccvscsntnnnteti nnn nineteen Dd 7. Modelos de Controle... ccsnnnnetneintnnntntnnienntntinnsnnatntnneenenetnnnenenste DT 8. Sistematizando o5 Momentos € 05 Modelos de Controle... ceneneeeeeneeneees 2B 9. Controle Jurisdictional de Constituctonalldade cece seeeeesnnnenene seen DS SUT. Controle DHFS. enone eeentnnntetintnnntntnnnnnntntrninnctsnnnnneetsenenneeee ST 9.2. Controle Concentrado....cccscntnnntetunnnntntinnnanntnnnnet senses 2 9.3. Acao Direta de Inconstituclonalidade ~ ADI... - coe 48 9.4, Acao Declaratéria de Constituctonalidade - ADC... 7 7 9.5. Acao Direta de Inconstituclanalidade por OmIs380 ~ ADO w.sscsssseesestenneie TA 9.6. Argulcao por Descumprimento de Preceito Fundamental ~ ADPF .....-.-.c00-07B 9.7. Acao Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI Interventiva) ou conte desta SlevOnco¢ Ienciago para CLAUDIA MARIADE OLVERA PERESTRELO - 87114208752, vegada, por qusequer melas © qualquer ti, 2 su eproour3o, conta, cvulgacso Ou lsbUIGSO, sujlancose ans laure 2responsaDizagSo cle cmina, ‘www.grancursosenline.com.br 2de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionalidade ‘ragond Fora Representacdo INterventlVa.....cccncsnueeti nent senate snes, Bb 9.8. Controle Concentrado na Esfera Estadual cece seen einen BB 9.9. Quadro Comparative das Hipéteses de Cabimento das Acées de Controle Concentrado nn. cecneresintnnetneintininnntinnnnetitininetinnnnetsnsnneee, SB 9.10. Quadro Comparative de Cablmento da Medida Cautelar (ou Liminar) nas Ages de Controle Concentrado ......s0csesisnieeteneiinnssncnsnencsenee TOD 10. Stimulas Vinculantes... 11. Reclamaca .. 12. Tépico Especial: Simulas Aplicdvels & AULA. occ seen eens 1B Questées de Concurso — Cespe nc nvncunneetinnnntitu nematic AD Gabartto — Cespe econ nnenntntnnnnntintnnntiti nematic NS Gabarito Comentado ~ Cespe...ocnvnvsnmeeti nent nemesis QO Questées de Conctrso— FCC. nocnvnrnueeti niente nenenennnnensnnnnneesenenneee 16D Gaba ito — FOC. eee censntnnneenentnnnnntnntnnntntnnnnatntrnnnectsnnnnneesenenneee DOD Gabartto Comentado — FOC... noeeovntsnuteti nnn ntnnntntrnnnctsnnnnneesennneee 203 conte desta SlevOnco¢ Ienciago para CLAUDIA MARIADE OLVERA PERESTRELO - 87114208752, vegada, por qusequer melas © qualquer ti, 2 su eproour3o, conta, cvulgacso Ou lsbUIGSO, sujlancose ans laure 2responsaDizagSo cle cmina, ‘www.grancursosenline.com.br 3de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE BM 1. Consioeracdes Iniciats Muitos alunos tém calafrios £6 em ouvir falar sobre o tema desta aula. Sendo honesto com voc8, controle de constitucionalidade realmente é um assunto dificil e desafiader. Mas, se voeé olhar bem, a maior parte das questes de prova gira em tomo de um corte no contetido. E claro que isso néo quer dizer que a tarefa seré uma moleza, mas 0 bicho é menos feio do que parece. Onde é que o calo aperta? Vocé verd corriqueiras questées tratando sobre legitimados para quatro das agties do controle concentrado (ADI, ADO, ADC e ADPF), sobre as hipéteses de cabimento da ADI, de ADPF. Hé também muitas questées indagando sobre stimulas vinculantes, sobre os momentos € modelos de controle, alm da simultaneidade de ages no ambito do STF edo TJ Enfim, o volume de informagies é considerével, mas tentarei tomar as coisas o mais simples possivel. Como vood sabe, tem hora que néc hé cutro jeito, pois terei de usar o “juridiqués” Antes, porém, farei algumas pontuagées indispensveis para voce se sair bem nas provas, ok? Eisso! Vamos para cima, pois € hora de desvendar os mistérios do controle de constitucio- nalidade e parar de ter tanto medo da matéria. BE 2. 0 Principio pa Supremacia va ConstituicAo Pelo principio da supremacia da Constituigo, todas as normas de um pals devem se com- patibilizar com a Constituigo Federal, norma de maior estatura juridica de um ordenamento. Norberto Bobbio ensina que: ‘Aa aormas de um ardanamento nfo aati todes no meame plano. Hé normas superiores @normas inferior. As inferisres dependem das cuperisret. Subind dae normaa inferioces Aqualas que et fencontram mais acima, chege-sea uma norma supreme, que no depende de nenhurna outra supe ‘ore sobre a qual repousa a unidade do sistema * ‘Sempre que trato desse assunto, eu me lembro da minha prova oral para o concurso do TJDFT. BOBBIO, Norbert. Teoria do ordenamanto Jurisica. Bri: Edtora UnB. 1982, pg. 40 www.grancursosonline.com.br 440301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Na ocasio, o examinador era um desembargador aposentado do Tribunal, profundo eo- nhecedor do Direito Constitucional. Ele me perguntou mais ou menos assim: “Candidato, de onde uma norma extrai sua validade?” Eu retruquei: "Da norma superior, Excelncia” Appartir daf seguiu um bate-bola em que ele ia perguntando degrau por degrau da Pirémide de Kelsen, até chegar aonde ele queri “Ea Constituigtio, busca validade onde?” Aresposta para essa pergunta nfo é to simples! E que alguns poderiam dizer que ela bus- ca validade no Direlto Natural, nas outras cléncias eto. Contudo, 0 idealizador da pirémide do ordenamento é Hans Kelsen, nada menos de que ‘o Pal do Positivismo”. Ou seja, ele néo buscava a validade fora do “juridiqués”. Ao contrério, Kelsen afir- ma que a Constituiggo busca validade nela mesma, por ser a norma hipotética fundamental. Pois bem! Retomando, no hé divides de que, em virtude do principio da supremacia da Constituigao, as normas constitucionais estao no topo da piramide do ordenamento juridico, Eo que isso quer dizer? Significa que todas as normas devem ser compatfveis formal mate- rialmente com o-que esté na Constituigao! Mas essa pirémide conta com outros substratos.. Vou partir para a ilustragdo e depois explicarei mais detidamente. Veja: PIRAMIDE DE KELSEN CF + EC + TIDH com rte especial J \\ suprategais"* ‘Atos Normativos Primérios’® / \\ tos Normatives Secundarios” www.grancursosonline.com.br 5de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Obs.: | #1: TIDH antes EC n. 45/2004 ou apés, mas sem rito especial (dois tumos, trés quintos em cada Casa do Congreso Nacional). *2: leis complementares, leis ordinérias, leis delegadas, medidas provisérias, resolu- Bes e decretos legislativos, tratados internacionais (que no versam sobre direitos humanos), decretos auténomos e resolugées do CNJ edo CNMP_ *3: portarias, decretos regulamentares, instrucdes normativas. Agora é hore de decodificar! Lé no topo da pirémide no esté apenas a ConstituigSo. Ao contrério, também estardo as emendas & Constituigdo (ECs) ¢ os tratados internacionais sobre direftos humans (TIDH) aprovades sab o rito das ECs (dois turnos, trés quintos de votos, em cada Casa do Congreso Nacional). Mas fique atento(a): as ECs so obra do Poder Constituinte Derivado Reformador. Logo, es- to sujeitas as limitagdes impostas pelo Constituinte Origindrio. Em consequéncia, caso elas violem quaisquer das restrigdes, poderdo ser declaradas inconstitucionais, tanto de ponto de vista formal quanto material. Olhando por outro angulo, para fazer valer esse sistema hierarquizado ~ verdadeiro filtro constitucional -, o Poder Constituinte Originario criou mecanismos por meio dos quais os ates normativos so controlados. Com esses mecanismos, é feita uma anélise para saber se as normas esto ~ ou no ~ em compasso com a orientaco constitucional. Podemos dizer, grosseiramente, que, se a norma seguiu os mandamentos constitucionais, seré vélida; caso contrério, ou seja, se ela for contra os preceitos constitucionais, seré inconstitucional Note que 0 pardimetro de aferi¢o, no controle de constitucionalidade, & sempre a Constitui- ‘940 vigente 20 tempo da elaboracdo da norma. Daf se falar em prineipio da parametricidade. Olhando por outro éngulo: Normas posteriores a 5/10/1988 Constitucionalidade [Controle de constitucionalidade. x /Aprecia 2 compatiilidade material Inconstitucionalidade ‘formal diante da CF a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 6 e301 conus ae @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘report Fernando 3. BLoco pe CoNSTITUCIONALIDADE A primeira coisa que surge é @ necessidade de definirmos 0 que seria o bloco de constitu. cionslidade. Nesse cenério, podemos afirmar que ele seria a jungéo entre as normas materialmente constitucionais, que estéo fora de CF, com 0 texto formal da Constituigio. Bernardo Gongalves Fernandes cita que poderiam ser incluidos no concelto de bloco de constitucionalidade as normas infraconstitucionais materialmente constitucionais, os costur mes juridico-constitucianais e as jurisprudéncias constitucionais® Uadi Lammégo Bulos cita que 0 blaco de constitucionalidade é o conjunto de nermas ¢ principios extraidos da Constituigéo, que serve de paradigma para o Poder Judiciério averiguar 2 constitucionalidade das leis. Também é conhecido como parémetro constitucional- dai 0 nome de principio da parametricidade -, pois por seu intermédio as Cortes Supremas, a exem- plo do nosso STF, afeririam a parametricidade constitucional das leis e dos atos normativos perante a CRF Mas fique atento(a), porque © STF adota 0 conceito restrito do bloco de constitueionali- dade, segundo o qual servem de parametro para a andlise de compatibilidade de leis ou atos normatives em relagao a nossa Constituicao © préprio texto e os tratados intemacionais so- bre direitos humanos aprovados no rito previsto pelo § 3° do artigo 5° da CF. 4. O que Acontece com as Normas PRE-CONSTITUCIONAIS? 4.1. SiruacAo pas Normas INFRACONSTITUCIONAIS Aesta altura, jé esta claro que 0s atos normativos editados apds a promulgagao da Cons- tituigao se submetem a controle de constitucionalidade. Mas o que acontece com as normas anteriores a ela? Olhando para a realidade brasileira, as norma infraconstitucionais editadas antes de 5/10/1988 (data da promulgac&o da atual Constituicéo) passam por outro tipo de fiscalizagéo. + FERNANDES, Bemarde Gonaives. Curso de direte conettucionsl 10" ed, Salvador Jus Pedivm. 2018, pég, 87. 5 qualquer meles 2a palquer tao, nal 7 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora E que elas sero recepeionadas ou néo recepcionadas (revogadas por auséncia de recep- ¢40), conforme sejam ou néo compativeis com a nova ordem constitucional. Explicando por me de exemplos, o Cédigo Penal em vigor atualmente & datado de 1940. Ou sea, ele foi editado bem antes da nossa Constitui¢o em vigor. Logo, em 1988 ele passou por um controle, chamado de jutzo de recepeao/revogacéo. Aqui vai um importantfssimo alerta: as normas infraconstitucionais editadas antes da Constituiggo que no se mostraram compativeis com o novo texto so revogadias. Nao é correto falar que elas se tornaram inconstitucionais, na medida em que o Brasil no admite a teoria da inconstitucionalidade superveniente (STF, ADI 7). Em outras palavras, a norma nasce constitueional ou ndo (de acordo com a Constituiggo que estava em vigor na época de sua edi¢éo). Quando nova Constituigao é promulgada, cla pode se manter compativel (dai seré recepeionada) ou ser incompativel, ocasio em que seré revogada. Ela nao se tomar inconstitucional Sistematizando: + se anorma anterior ématerialmente compativel com a nove Constituigéo, dizemos que ela foi recebida (recepcionada) pela nova ordem constitucional, + se a norma anterior ndo é materialmente compativel com o texto constitucional, temas que ela no foi recepcionada revogada), E importante pontuar excegdes @ realidade que falei anteriormente: @ STF aeeita que, por meio de uma mutaeao constitucional ou de mudanga no substrate fatico da norma, pessase -chegar a uma inconstitucionalidade superveniente. Vou exemplificar 1) lei nasceu de acordo com a Constituiggo de sua época. Porém, ela pode se tomar in- constitucional com o tempo, na situacéio em que o parémetro que dé validade a ela sofrer uma mudanga em seu sentido interpretative (mudanga na interpretag&o da norma sem alterag&o do texto = mutago constitucional), Pedro Lenza usa 0 exemplo da interpretagéo dada ao artigo 226, § 3°, da Constituigéo que, num primeiro momento, sé aceitava uniéo estével entre pessoas de sexo opostos. Assim, se uma lei proibia unio homoafetiva, ela era valida. Porém, com a mudanga interpretativa do STF, a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes a.unido entre pessoas do mesmo sexo passou a ser aceita ©, consequentemente, a norma em questéio se tornou incompativel com a Constituigéio, sendo inconstitucional. Veja que néo aconteceu nenhuma mudanga no texto constitucional, e sim na interpretago. 2) OSTF entendia ser valida a lei federal que permitia @ uti ;agio do amianto do tipo eriso- tila (asbesto branco), usado na fabricagao de telhas e de caixas d'égua. Porém, o avango das pesquisas cientificas demonstrou que também esse tipo de amianto era eancerigeno, assim como os demais. 0 problema é que leis estaduais (de SP por exemplo) impediam todas as formas de comer- cializago do amianto. Ento, 0 STF acabou acolhendo o argument cientifico, confirmando a validade da norma estadual e, em consequéncia, declarando a inconstitucionalidade da lei federal. Repare que nada mudou no tocante ao texto constitucional, especialmente no mbit da reparticfo de competéncias ou aos dispositivos ligados & protecéo a satide. A alt ragdo se deu foi no substrato fético, © avango. das pesquisas atestando o carter cancerigeno do amianto crigotila e, 20 mesmo tempo, a possibilidade de eubstituig&o per outros materials, tanto na fabricacéo de telhas quanto de caixas ¢'égua. Em sua decisdo, o Ministro Relator apontou a existéncia de: (a) materiais altemativos & fibra de amianto; (b) conenso entre érgdos oficiais de satide geral e de ealide do trabalhador sobre a natureza altamente cancerigena do material e (c) auséncia de revisiio geral da legis- lagdo federal, mesmo apés todo esse tempo - a Lei Federal é an. 9.055/1995. Pesaram na discusséo os artigos 6°; 7°, XXII, e196, todos da Constituigéo (STF, ADI n. 3.406), ‘Ah, esse julgarento do amianto é bem importante, pois foi nele que ocorreu a acettagéio da teoria da abstrativizacSo/objetivag&o do controle difuso. Ou seja, dois pontos relevantes numa tacada s6. ‘Agora vou abrir um paréntese para explicar outro ponte relacionado ao-controle de constr tucionalidade e direito intertemporal E © seguinte: quando ajuiza uma ADI, a parte deve indicar a norma que quer ver declarada inconstitucional e também outras que, antes dela, contenham o mesmo problema. Em outras palavras, suponha que eu entre com uma ADI para questionar a Lein. 3, que revogou a Lein. 2, querevogou a Lei n. 1. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 9 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Nesse caso, se em todas as trés hé o defeito que eu quero combater, de antemdo eu jé digo: olha, mesmo que vocé tire a Lei n. 3 do ordenamento, ainda persistiré o problema, uma vez quea ein. 2 voltaré a vigorar (por conta do efetto repristinatéria). A mesma coisa acontece com a Lei. 1. Em outras palavras, tenho que dar um tiro ¢ derrubar toda a cadeia de normas incompativeis com a Constituigio, certo? Até aqui, tudo bem Entéo, se as trés leis (3,2 1) tiverem sido editadas apés a promulgac&o da Constituigio em vigor, eu pedirei a declaragéo de inconstitucionalidade de todas elas. Por outro lado ~ & aqui que vero pulo do gato -, suponhamos que as Leis n. 3.22 foram edi- tadas na vigéncia da Constituigéo atual, mas a Lei n. 1 (que foi revogada pela Lein. 2) tivesse sido editada em 1985 (portanto, antes da Constituigo atual). Nesse cenério, caso o STF entenda que as Lels n. 3, 2€ 1 so incompativeis com a Constituico atual, de um lado o Tribunal vai declarar a inconstitucionalidade das Leis n. 3 ¢ 2 (editadas na vigéncia da Constituicdo atual) ¢, de outro lado, declarar a revogago, por auséncia de recep, da Lein. 1 (editada antes da Constituigdo atual). Foi o que decidiu o STF ao julgar a ADI n. 3.111. Ufal Espero que vocé tenha entendido. Fecho o paréntese. Avangando, é importante dizer que no controle relacionado as normas infraconstitucio- nais anteriores 4 Constituigao (juizo de recepeao/revogacao) $6 se analisa a sua compati- bilidade material com o novo texto. Assim, ainda que nao haja a compatibilidade formal, a norma pode ser recebida Para que vocé néo tenha nenhuma divida, vou usar dois exemplos, fixando o conhecimento. 1°) A partir da Constituig&io de 1988, no existe mais a figura do decretotel. Em seu lugar, foram criadas as medidas provisérias. 0 detalhe € que o Cédigo Penal é o Decreto-lein. 2848/1940. Contudo, considerando que ele é uma norma pré-constitucional (editado em 1940), a andlise de compatibilidade considera apenas aspecto material, ou seja, 0 conteiide. Em ra- 20 disso, o CP continua regulando a maior parte dos crimes previstos atualmente em nosso ordenamento. E bom lembrar que se o Congresso Nacional quiser alterar © Cédigo Penal na atualidade, deverd utilizar uma lel ordinéria, uma vez que nao existe mais decreto-el e que o uso de medida proviséria em Direito Penal proibide pelo artigo 62, § 1°, da Constituigdo. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 10 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagan Fortes 2°) O Cédigo Tributario Nacional é a Lein. 5.172/1966. Note que o CTN foi produzido na forma de lei ordindria e que o art. 146 da ConstituigSo atual diz que caberd & lei complementar a cla- boragdo de normas gerais sobre Direito Tributério. E por qual motivo no hd inconstitucionalidade? Mais uma vez, pelo fato de sé averiguar- mos a compatibilidade no sentido material. Novamente eualerto a vocé: se houver a necessidade de modificar o CTN atualmente, seré necesséria a edig&o de ume lei cornplementar. Sistematizando: Normas antares 5/10/1968 Recepeio Jauico de recepglo. precio x somente.a compatibilidade material Revogagio de norma préconstitucional diante de nova CF (0 Brasil ndo adimite a inconstitucionalidade superveniante, Assim, se 2 norma se tomou inoonatitucional por conta de uma nova Conatituigo ou de uma EC, els serd simplesmente revogada, Da igual modo, no @ aceita 2 constitucionaliade supervaniente. ozo significa que, se no momenta de sua ‘digo a norma era inconstitucional ela ndo se convalidarg, mesmo que e torre compativel com a Constituicéo (0uEC) posterior. ‘Mas pera ai.. Vocé viu que excepcionalmente eu posso falar em inconstitucionalidade superveniente (por mutagio constitucional ou por alteragiio no substrate fético da norma). ‘Seré que é possivel movimento inverso, ou seja, chegar a uma eonstitucionalidade super- ‘veniente, afastando 0 vicio de nascimento da norma? ‘A regra, por Sbvio, é que no, pols @ inconstitucionalidade nunca deveria ser eanada, pole 0 fildsofo Cumpadi Washington jd ensinava em suas ligGes que pau que nasce torto nunca se endireita Porém, 0 Brasil no € para amadores, lembra? O STF entende que @ constitucionalidade superveniente paderia acontecer numa situagSo peculiar, Explico e exemplifico: a EC n. 57/2008 foi editada no final de 2008, sendo responsével por con: validar os municipios criados de forma irregular até 31/12/2006 (as leis locais desrespeitaram © procedimento previsto no § 4° do artigo 18 da CF, sendo, portanto, inconstitucionais). a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Dai, houve uma estranha espécie de eorregao do defeito congénito na norma de criagSo irregular dos municipios por meio de uma deciséo politica do parlamento ~ no caso, a promul- gagéio da EC, o que manteve a validade das normas que criaram (de modo irregular, frise-se) os municipios ~ STF, ADI n. 2.381 AQATENCAO Embora sé se verifique a compatibilidade material da norma anterior com a nova Gonstitui¢do, em relago a Constituigao vigente ao tempo em que a compatibilidade (formal e material) i foi editada, sera necessaria a dupla Em consequéncia, mesmo na vigéncia da Constituicéo atual, é possivel, por exemplo, a decla- ragéo de inconstitucionalidade de lei editada em 1980, que tenha desrespeitado o processo legislativo previsto na Constituig&o de 1967. 4.2. ConstituicAo Anterior X ConstrtuicAo ATUAL ‘Aid aqui vimos que as normas editadas apés a promulgago da Constituig8io devern passar por um juizo de compatibilidade chamado de controle de constitucionalidade, enquanto as nor- mas infraconstitucionais pré-constitucionais se submeterdio a controle de recep¢Sa/revogacio. Agora é hora de vermos o que acontece com a Constituig&e anterior quando a nova en- fra em cena Pois bem. Mantidas as condicdes normais de temperatura e pressio, a situacéio é bem mais simples, uma vez que a Canstituigdo anterior serd revogada pela nova. Tem mais: nao importa se ‘esse ou aquele trecho da Constituigo anterior esta de acordo coma Constituig&o atual, na medi- da em que ocorre a ab-rogagao (revogago total), endo derrogaeao (revogacao parcial). Ou seja, a solucdo é relativamente simples. Mas € claro que as coisas sempre podem piorar, pois também aqui hd excegdes. E que, embora a regra seja anova Constituigdo revegar completamente a anterior, hé duas hipéteses nas quais o texto antigo ainda continuaré sendo aplicado. Eo que ocorre na desconsti icionalizago e na recep¢ao material Vou explicar a seguir cada um desses fenémenos. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 12.de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes 4.2.1. Desconstitucionalizacao A desconstitucionalizagao acontece quando a nova Constituigao, em vez de revogar a ar terior, opta por recebé-la com status de lei (infraconstitucional). Essa técnica jé foi utilizada no estado de Sdo Paulo, quando a CE/SP de 1967 trouxe a sequin- te: ‘consideranrse vigentes, com o caréter de lei ordinéria, os artigos da Constituico promut gada em 9 de julho de 1947 que no contrariarem esta Constituigc’ Lemiro que, em regra, a desconstitucionalizago née admitida; pare que ela exista, deve haver uma ordem explicita na nova Constituigéo, o que no aconteceu com a Constituic&o de 1988. 4.2.2. Recepcao Material Diferentemente do que ocorre na desconstitucionalizacéo, na recepgao material, as dispo- sigdes da Constituigao anterior sao recebidas com status de norma constitucional Preste muita atengSo, pois esse mecanismo é bem m utilizado no art. 34 do ADCT, que trouxe a seguinte previséo: explorado nas provas, porque foi ‘Art. 34. 0 sistema tributario nacional entrard em vigor a partir do primeiro dia do quinto més se- uinte ao da pronvulgacao da Constituico, mantido, até entao, o da Constituicao de 1967. com a redago dads pela Emenda n. 1, de 1969, e pelas posteriores, § 1° Emtrardo em vigor com a promulgago da ConstituigSc oa arts, 148, 149, 150, 154, |, 156, IIL & 1199, |, “e, revogadas as diaposigdes em comtério da ConstitulySe de 1967 e das Emendas que 2 modificaram, especialmente de aeuart. 25, Conforme adverte Pedro Lenza, “as referidas nomas sto recebidas por prazo certo, em razéo de seu carater precario, caracteristicas marcantes no fenémeno da recepgao material das normas constitucionais" > Assim como a desconstitucionalizago, a recepgSo material s6 seré possivel caso haja a previsio expressa na nova Constituigao. Do contrério, volta-se para a regra da revogagao total (eb-rogacéo). 2 LENZA, Pedro, Ditto Constitucionsl Esquematizado, 124 ed, Sio Paulo: Saraivs, 2008, pée. 169. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 13 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes Hora de sistematizar: DESCONSTITUGIONALIZAGAO_ _REGEPGAO MATERIAL “Raontese quando nava ConstitulgSe recebe a anterior 2a da ConatiuigSo anterior slo revebidae com com status de lei (infraconstitucional). status constitucional, em carater temporério e precério. Ex: Conetiuigdo do ectado de SP de 1987 Ex: artigo 34 do ADGT, que manteve as normas da CE/1967 por cinca meses. ‘quanto a recepgfo material a8 acontecem caso Tanto @ desconatiucionaliza exprasea previalo na ova Conatituigde. Bo contrério, haverd a revogaro total 4.2.3. Vacatio Constitucionis Vacatio legis pode ser conceituade come perfado vago da lei. Para mim, seria 0 perfodo para vocé se acostumar com a nova norma. Seja como for, & Lei de Introdugo &s Normas do Direito Brasileiro (LINDB, antiga LICC) diz que, salvo disposic&o em contrério, a lei entra em vigor no Brasil quarenta € cinco dias apés a publicago. No exterior, esse intervalo sobe para trés meses. ‘Seré que podemos falar em vacatio constitucionis? Aresposta é sim, desde que conste previséo expressa na Constituicfo. A titulo ilustrativo, a Constituigo de 1967 ¢ a EC n. 1/1969 — por muitos, considerada uma nova Constituiglio ~ estabeleceram um momento posterior para a entrada em vigor de ambas. (O mestre José Afonso da Silva, inclusive, destaca que a norma infraconstitucional editada no periodo de vacatio constitucionis deve ter sua constitucionalidade aferida de acordo com a Constituigéio que vigorava época (a quase-morta)* ‘Tem mais: se a lei editada no perfode de vacatio constitucionis for incompativel com a nova ConstituigSo, ela seré revogada, por auséncia de recep¢So. MME 5S. Espécies pe INcoNSTITUCIONALIDADE Indo direto ao ponto, fala-se em inconstitucionalidade por agao e por omissao. Na primeira (por ago), a norma existe e é inconstitucional, enquanto na segunda é exstamente na falta da nalidade. norma que reside a inconstitu: SILVA, José Afono da. Aplicabilidade de narmas eansttucionsis. 3 ed, Sdo Paulo: Malheras, 1998, pég. St. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘report Fernando 5.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR OmIssAO A inconstitucionalidade por omissao decorre da inércia legislativa na regulamentagao de normas constitucionais de eficacia limitada. Para corrigir esse vécuo normativo, séo utilizadas duas ferramentas: a primeira é 0 manda- do de injungao, remédio constitucional. Nesse caso, 0 controle de constitucionalidade € difuso, podendo 0 julgamento caber 20 STF, ao STJ ou mesmo & primeira insténcia. A determinago da competéncia levaré em consideracao qual é a autoridade responsével pela elaboracao da norma, mas que s¢ quedou inerte, A outra ferramenta é a ADI por omiss40. No 2mbito federal, assim como acontece com a ADI, a ADC, @ ADPF & @ ADI interventiva, ela s6 pode ser julgada pelo STF e tem nove legitima- dos, previstos no artigo 103 da Constituigéo. Veja algumas diferengas entre as duas ferramentas: Diferengas entre Mandado de Injungo e Agio Direta de Inconstitucionalidade por Omisso ‘Mandado de Injungao ADI por Omissao_ Controle dituso de eonsttucienalidede (pode ser fet© BO" 6. ale concentrado de conettuconeldlede qualquer juiz ou Tbunal) ‘A competéncia para julgamento dependerd da autoridade | Para omisedes na CF, a competncia para jul- que ests endo omisss. gamento sera sempre do STF. ‘ul incivieival pode serimpetrado por qualquer pessoa, natu- ral oujuridica. 86 pode ser ajuizada por entes previstos no art. 103, incisos | aX, da CF (mesmos da ADI) ‘Mi coletivo pode ser impetrado pelos mesmos lesitimados do MS coletivo + Ministario Pablico-e Defensoria Piblica.. 5.2. INCONSTITUCIONALIDADE POR ACAo A inconstitucionalidade por agao seré verificada sempre que a norma for elaborada em desrespeito & Constituigto. © vicio (defeito) pode ser de natureza formal (nomedinamico) ou material (nomoestatico) \Vou detalhar cada um deles a seguir. conus ae 4 CLAUDIA MARIA DE OL fa, conta, vugaga0 OU dso w.grancursosonline.com.br 15 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes 5.2.1. Vicio Formal ‘Também chamado de vicio no procedimento ou vicio nomodinamico, ele pode ser de és ordens: inconstitucionalidade formal org&nica, formal propriamente dita e por violagSo @ pres- supostos objetivos do ato. Vejamos cada uma delas: 5.21 inconstitucionalidade Formal Organica Ea que decorre da inobservancia da competéncia legislativa para a elaboragao do ato. La na repartigo de competéncias, vooé aprende que hé uma delimitagéo da esfera de competéncia de cada um dos entes federados. Assim, caso 0 Estado invada a competéncia da Unio para legislar sobre determinado tema, teremos a inconstitucionalidade formal orgénica, na medida em que o érgio responsé- vel pela elaborag&o da norma (Assembleia Legislativa) n&o era o constitucionalmente previsto (Congreso Nacional). Aliés, é importante lembrar que teremos-a inconstitucionalidade mesmo que contetido da norma seja excelente. Estd ai uma excelente casca de banana para os candidatos. As bancas colocam normas: com contaiido bom para a populagde e logo em seguida perguntam sea norma é constitucio- nal. O(A) candidato(a), muitas vezes, olha.s6 para o contedido, “ficando cego(2)" para oaspecto formal. Em outras palavras, ele(a) acaba se esquecendo de olhar para o érg8o responsével pela elaborago da norma, Quer um exemplo? Legislar sobre trénsito e transporte € competéncia da Unido. Entéo, leis estaduais, distritais ou municipais sobre esse tema sero inconstitucionais, mesmo quando tragam contetido como a determinac&o de instalagdo de cinto de seguranca em veiculos de transporte coletive (STF, ADI 874), Mais um exemplo: nossa sociedade vern sendo bombardeada com noticias sobre crimes prati- cados por bandides de dentro dos presidios, muitas vezes usando aparelhos de telefone celu- lar. Em razo disso, alguns estados acabaram editando leis determinando a instalaco. de blo- queadores de sinal junto aos estabelecimentos prisionais. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 16 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagan Fortes Seria 6timo, desde que as Assembleias Legislativas pudessem tratar sobre “Agua, energia, inform , telecomunicages € radiodifusdo", competéncia privativa da Unido (artigo 22, IV, da Constituigde). Resultado: 0 STF declarou a inconstitucionalidade de tais normas, por invaséo de competéncia da Unido, ressaltando que lei nesse sentido tinha de ser editada pelo Congreso Nacional (STF, ADI 5.356). 5.2.1.2. Inconstitucionalidade Formal Propriamente Dita Na inconstitucionalidade formal propriamente dita, 0 vicio decorre do proceso legislative, podendo ser objetivo ou subjetivo, ) Vicio formal subjetivo: a palavra “subjetivo” jé remete a sujeito, certo? Pois & lembre-se disso para memorizar que o vicio esté na fase de iniciativa. Nesse caso, quem propée o projeto de lei ndo é a pessoa certa Aqui, mais do que nunca, vale a maxima do “ema, ema, ema, cada um tem seu problema” Com assim? Ora, quem entende das necessidades do Judiciério? 0 préprio Judiciéric, Logo, projetos de lei que interessem a ele devern partir de dentro do Judiciério, seja na cria- 0 de cargos, seja mesmo na ampliacdo de despesas. Entéo, so inconstitucionais projetos nascidos de iniciativa parlamentar sobre tais temas (STF, ADIn. 4.062). (O mesmo raciocinio se aplica a0 Executivo, certo? Claro que sim! Mas muitas vezes o Le gislativo, em busca de agradar determinados setores (e garantir voto nas préximas eleigtes), acaba apresentando projetos de lei que criem cargos efetivos ou que aumentem a remune- ragéo para os érgéos e servidores do Executivo, em claro vicio de iniciative. Daf néo hé outro jeito: a norma seré declarada inconstitucional (STF, ADI n. 2.867). b) Vieio formal objetivo: o vicio esté nas demais fases do processo legislative. Ou seja, ocorre em um momento posterior & fase de iniciativa Novamente vou usar exemplo para facilitar a compreenséo. A esta altura vocé jé sabe que as. emendas & Constituicéio passam por rito especial, que é a necessidade de aprovaedo em dois tumos de votagaa, por 3/5 de votos, de cada Gasa do Congresso. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 17 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Pois bern. Se ern uma das votages na Cémara (ou no Senado) a PEC for aprovada pelo quérum de maioria absolute ~ ao invés da maioria qualificada de 3/5 -, inevitavelmente esta- remos diante de inconstitucionalidade formal, por vicio objetivo (STF, ADI n. 2.135). 5.2.13. Inconstitucionalidade Formal por Violacao a Pressupostos Objetivos do Ato Normativo Aqui, o defeito acontece porque néo se respeita um pressuposto determinado pela Cons- tituigdo, E o que ocorre, por exemnplo, nas medidas provisérias quando séo editadas sern que estejam presentes os requisitos constitucionais de urgéncia e relevncia (STF, ADI 4.048). Em igual sentido, esto as leis estaduais que criam municipios sem respeitar as etapas exigidas no artigo 18, § 4°, da ConstituicSo (STF, ADI n. 2.240), 5.2.2. Vicio Material Ovvieio material também recebe o nome de vieio de contetdo ou vieio substancial ou vicio Nomoestético. O que é analisado € 0 conteiido, para saber se ele esté ou no de acordo com © texto constitucional. Aqui ndo se verifica 0 procedimento de elaboraggo do ato normativo. N&o tenho divide algums em falar que a maioris esmagadora de hipéteses de inconstitu- cionalidade se refere a vicio formal, exatamente a mais dificil de ser detectado pelo candidato. Varnos a um exemplo de vicio material? Imagine a situago em que um deputado federal, ap6= grave delito noticiado pela imprensa, apresente proposta de emenda & Constituiedo (PEC), pre- vendo pena de morte para crimes hediondos. Suponha que essa PEC tramite regularmente, sendo aprovada em dois tumos de votagio, em cada Casa do Congresse Nacional, obtendo 0 quérum qualificado de 3/5 de votos. Em sequida, ela € promulgada e publicada. Pergunto: hé algum problema com a nova EC promulgada? Sem divida, sim! E que uma das limitagdes materiais ao poder de emenda (cldusulas pétreas) se refere aos direitos e &s garan- tias individuais. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes E, na visio do STF, a expressao “direitos e garantias individuais” engloba os artigos 5° (direitos e deveres individuais € coletivos), 16 (principio da anterioridade eleitoral) © 150 (limi- tages ao poder de tributar). Dentro desse cenério, no ha dividas de que a proibic&o de pena de morte (salve guerra declarada, o que néo era.o caso) funciona como um ebstéculo para a nova EC promulgada, por estar inserida no artigo 5° da Constituigao. Em resume, mais fécil de identificar e menos raro de acontecer, o vicio material traz poucos: problemas para o candidato. 5.2.3. Vicio de Decoro Parlamentar Na doutrine, fala-se em vicio de decoro parlamentar. A esse respeito, o noticiério tem des- tacado muitos escindalos de corrupgSo, que muitas vezes envolvem o pagamento de propinas pelo chefe do Executivo aos parlamentares. ‘A razio maior para o pagamento de verbas espiirias (“mensaléc’, “mensalinho") seria a busea por aprovagio de projetes de lel de intereese do Executivo. Pois bem, mas dai eu pergunto: tais projetos de lei possuem vicio formal ou material? E ai que mora o X da questéo. Os projetos no apresentam nenhum vicio formal, respeitando Casa Legislativa, a iniciativa adequade e os trémites procedimentais prescritos na Constituk go. Eles também no ofendem a Constituigo com seu contetido. Contudo, ndo existe divida de que ha alguma coisa errada, que é 2 razo que levou o par- lamentar a aprovar essa ou aquela proposta. Come visto, a motivagio era o recebimento de propina. Ora, é evidente que no se espera isso do parlamentar. Daf se falar em vicio por (falta de) decoro parlamentar. Obs.: | 0 vicio formal eo material eo reconhecidos na jurisprudéncia e hé vérias decistes indicando a inconstitucionalidade de diversas leis pela ocorréncia deles. Por sua vez, 0 vicio de decoro parlamentar encontra guarida no campo doutrinério. Jé hou- ve citagdo na AgSo Penal n. 470 (proceso do Mensalo). Isso ocorreu em relagSo a0 capitulo Vida deniincia, pois se falou na “formagéo de base aliada ao governo federal”, por meio do recebimenta de propina + LENZA. Paco. irate Conattueiona Esquematzado. 19 as, Sie Paulo: Srave 2015, pége. 200-202, a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 19 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora Mais recentemente (ADIs n. 4887,n. 4888 e n. 48889), houve mengo a ‘vieio na formagao da vontade no proceso legislativo’ ¢ a “vicio de corrupeao da vontade do parlamentar’, sendo reconhecida a possibilidade de o Judiciério verificar um vicio que atingiria o proceso legis- lativo, tornando-o fraudulento, a ensejar a inconstitucionalidade da norma. No fim das contas, mesmo com a eventual retirada dos votos dos parlamentares condenados pelo Mensaléo, 0 resultado da votacdo da PEC nao seria alterado. Usando essa fundamentacéo, afastou-se a alegagaa de inconstitucionalidade da EC n, 41/2003 (pentiltima Reforma da Previdéncia), Aguardemos as cenas dos préximos capitulos para ver se a tese seré reconhecida pelo Plenério.e qual nome prevalecerd. www.grancursoseniine.com.br 20 de 301 @seay CURSOS ONLINE DIREITO CONSTITUCIONAL Controte de Constitucianalidace Vamos resumir? LESPEGIEDE ViGIO VIGIO MATERIAL (nomoestaico} ‘ViCIO FORMAL (nomodinamico) pone Foran DETALHES | O visio singe o conteddo da norma, que & contro 8 Cconstuigo. Exemplos 1) PEC que viola cldusula pétrea ao prever pena de morte para crimes hediondos. 2) Lei que viole eeparagdo de Poderes ac prever que nome de PGJ deva 2er submetido i aprovagioda AL. O visio estan prosedimente que te encontrs em dea compaseo oom 28 regraa de proceesa legislative ou de repartgio de competineia. € bem mais comur que vicio material. Subdividewe em: a) inconsttucionalidade formal organica:o probleme std na repartgio de competincian. A Cava Lesialr tive que edta » norma usurpa a competincia da que seria a reaponaével pela edgde, Ex: norma estedual sobre {dint © trneporie, sczunto de compaténeia privatve da Unio 1) Inconstitucionaidade formal propriamente dita: 0 vicio pode ser gubjetivo ou objetivo. No primeira cate, acorre quando quem dafiagr 0 processa legis lative ndo era competent. Ex: lei que reajuste venci- mentee dos servdarea do Executive apresentada por parlarmentar. © vio objetivo, por ava vez, ovorre naa demaisfases do provesso legislative. Ex:EC aprovada em um dos turnce sem pesear pela aprovagio de 2/5 devotas c) Inconstitucionalidade formal por falta de pressu- ostos objetives do ato nomativo: nio se respeita um presauposto daterminado pela Conatiuigée. Ex: norma de criagio de formago de novo municipio sem obaervar ee etapa deecrtaeno artigo 18,5 4°, ‘Obeervagdo: por coma do cesdndalo de corrupgie canhevide came Mensalio, Pedro Lenza defendau e exatén- cia de uma nove eapécie de vcio, chamade de VICIO DE DECORO PARLAMENTAR. Ele atingiia nd o contaikdo ‘10 provedmento, esi a ro que levou 0 parlamentara votarnequele sentido (proping). ‘A tose foi apreciada pelo STF em 2020, foram apresentadas ADis nas quale ee aportava jo na formagso dda vontade no processo legislativo’. © STF entendeu ser possivel raconhecer 0 vicio que atingiria 0 processo legislativo, tomando-o fraudulento. Contudo, manteve a validade da EC n, 41/2003 (Reforma da Previdéncia) ‘20.coneluir que meemo tirando o2 votos dos parlamantarea do MensalSo a reauktado da PEC niio seria alterado, w.grancursosanline.com.br 21 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes MG. Momentos pe Controve Quanto aos momentos de controle, fala-se em controle preventivo ou repressivo. 6.1. ContRote Preventivo O controle preventivo € fetto antes de o projeto entrar em vigor. Tratando-se de uma lei, por exemplo, seria feito na fase de tramitag&o no Congresse ou ainda na deliberacdo executive (cangao/veto). Ele visa impedir a insergo no ordenamento juridico de uma norma inconstitucional e acon- tece durante as fases do processo legislativo. No direito brasileiro, 0 controle preventivo é ‘exceedo, pois a regra é 0 controle jurisdicional posterior/repressivo, E bom vocé ter em mente que todos os Poderes fazem controle preventivo. Isso serviré de alerta, mesmo que vocé néo se lembre especificamente qual a forma em que esse con- trole € materializado. Comegando pelo Legislative, o controle preventivo € feito especialmente por meio da CCU (Comiss&o de ConstituigSo e Justiea), uma das comissSes mais importantes de cada Casa Legislativa. Em algumas situagées, 0 préprio Plenério da Casa também pode fazer esse filtro. No Executive, o controle preventive cabe ao chefe do Executiva, por ocasido da fase de sancdo/veto ~ mais especificamente no veto. E que a manifesta de contrariedade do presi- dente (ou governador ou prefeito) pode ser 0 veto politico ou o veto juridico. O veto politica acontece quando o chefe do Executive entende que o projeto é contrario a0 interesse piblico. Note que nao se fala em inconstitucionalidade. E no veto juridi¢o que ocorre o controle de constitucionalidade, na forma preventiva, pois @ manifestagao recai sobre o pro jeto de lel, endo sobre allel no controle Agora vou pedir para vocé redobrar a atengao! £ o sequinte: a maior polér preventivo volta-se & atuacdo do Judiciario. E nesse ponto que estéo concentrados as contro- vérsias judiciais e 0 maior ndmero de questées de prova. Entéo, méos a obra! © controle preventive jurisdicional é feito somente por meio do mandado de seguranga a ser impetrado por parlamentares, 0s tinicos legitimados. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 22 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes Mas por que 0 MS? E que os parlamentares possuem o direito liquido e certo ao. devido processo let jativo. Em outras palavras, eles tém que preservar a garentia de participarem de um proceso legislativo sem falhas, sem desrespeito a Constituigéo. Outro ponte importante que voc8 deve ter em mente € 0 que pode ser questionado nesse MS. A importéncia dessa discuss&o & tamanha, que jé foi objeto de provas discursivas. Entéo, todo cuidado € pouco! Sobre 0 tema, a jurisprudénc do STF se consolidou no sentido de que o MS 86 pode ser usado em duas situagdes: a) para bartar a tramitago de PEC que viole cléusula pétrea: é que o artigo 60, § 4°, da Constituigéio dispde que determinadas matérias néio podem ser objeto de proposta ten- dente a abol as. Ou seja, a proibigdo é maior do que permitir que uma matéria seja aprovada, O Constituin- te, buscando ‘cortar o mal pela raiz", determina que aqueles assuntos ndo podem ser sequer deliberados, quanto male aprovados. b) Para frear a tramitagao de projeto de-lei por vicio formal: aqui cabe ainda mais atengéo. Repare que eu sublinhei a palavra “formal’, exatamente para chamar sua atengao para esse ponto. Mais uma vez, digo que a regra & 0 controle de constitucionalidade operar-se apés anorma entrar em vigor. 0 controle preventivo é excepcional, pois, em virtude da sepsragéo de Poderes, a légica é deixar 0 legislador trabalhar. Pois bem, o STF entende que, em relagdio a projetos de lei, o controle preventive jurisdicio- nal sé pode atuar se houver a comprovagi de vicio formal ne procedimento. Isso significa que no cabera MS para barrar a tramitago de projeto de lei por vicio material (contetido). No STF, a questo foi enfrentada em um julgado muite rumoroso: foi o MS impetrado pelo entéo senador Rodrigo Rollemberg (do DF). Ele pedia para o Tribunal barrar a tramitagio do projeto de lei “Anti Marina’. Como assim? E que aquela altura, Marina Silva destacava-se nas pesquisas de opinido de votos para as eleicdes presidenciais de 2014. Entio, os partidos da base do governa Dilma (PT © PMDB, especialmente), querendo desat ular 0 movimento de criagéo do partido politico Rede Sustentabilidade, apresentaram projeto de lei que sufocava as novas legendas. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes Na prétiea, ele permi que os parlamentares insatisfeitos migrassem para o novo partido. Contudo, eles no levariam consigo os recursos do fundo partidério (SSS) ¢ o tempo de rédio e TV de grace. Em resumo, 0 partido nasceria pobre e praticamente sem aparecer nos meios de comunice- (80. A ideia era deliberadamente desestimular o deslacamento de politicos para a nova legenda. ‘Quando impetrou o MS, o parlamentar alegava violago 20 pluralisme politice, fundamento da Repiblica. O problema é que o vicio sustentado era de natureza material, pois estava ligado a0 contetido da lei Resultado: embora reconhecessem informalmente a existéncie de vicio material, os mi- nistros do STF entenderam pelo ndo cabimento do MS, ao argumento de que se tratava de tentativa de frear a tramitago de projeto de lei por vicio material, o que ndo admitide (STE MS n. 32.033). Esse raciocinio foi renovado em fevereiro de 2021, quando se indeferiu liminar em MS im- petrado por parlamentar para barrar a tramitacéo da chamada "PEC da Impunidade’, que visa restringir a possibilidade de prisdo-de parlamentares. Prevaleceu a orientagdo de que eventual vicio deveria ser apreciado em controle posterior. Myatencao O controle preventive jurisdicional s6 é cabivel para barrar a tramitagao de PEC que viole cldu- sula pétrea ou quando 0 projeto de lei contiver vicio formal. Ele no pode ser impetrado sob a alegago de vieio de conteddo no projeto de lei 6.2. Conrrote Repressivo Vencido 0 controle preventivo, é hora de vermos o controle repressivo, que acontece quan- do a norma jé esté em vigor. Ele pode ser feito pelo Judiciério, pelo Executivo, pelo Legislativo ¢ pelo Tribunal de Contas. Caso se verifique a presenga dos vicios formal ou material na norma, caberd aos rgtos competentes pele cantrole retiré-la do ordenamento. www.grancursoseniine.com.br 24 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade "rapond Foran Funciona assim: comegando pelo mais importante, o controle repressive jurisdicional é ‘feito pela via difusa ou concentrada De anteméo, em respeito a0 principio da separago dos Poderes, quando no caracteriza- ro que o assunte serd detalhado mais a frente. do o desrespeito as normas.constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é vedado ao Judiciétio exercer 0 controle jurisdicional em relagSo & interpretago do sentido e do aleance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas. Isso porque as normas regimen tals, via de regra, tratam de matéria interna corporis (STF, RE n. 1.297.884). Usando uma linguagem doutrinéria (José Adércio Leite Sampaio), atos interna corporis © a escolha prépria da oportunidade e conveniéncia do administrador so conhecidos como ‘espages vazios de jurisdi¢do, ou seja, fora da esfera de atuagao do Judiciério. No &mbito do Executive, poderia o presidente (ou goverador ou prefeito) orientar os seus icional (STF, ADI n. 221) Hé polémica nesse ponto, pois uma posigao minoritéria defende que essa possibilidade subordinados para n&o 3} rem a norma que ele entende inconstit no mais existiria apés a Constituigo de 1988. 0 raciocinio € o seguinte: antes de 1988, ape- nas 0 PGR era legitimado para ingressar com uma ADI. Loge, como ndo podia ingreesar com ADI, permitia-se a0 Chefe DO Executive orientar a néo aplicagao da norma, Contudo, atualmente essa corrente ~ minoritéria, repito — defende que, se néo concordar com a lei, deve o presidente (ou as outros chefes de governo) recorrer 20 Judiciério por meio da ADI. Prevalece, todavia, a orientago de que se pode optar por um das caminhos ou mesmo segui-loe concomitantemente, até mesmo porque costuma ser bastante deriorado 0 tempo de andlise de uma ADI Dentro do Legislativo, surgem trés possibilidades de controle repressive: a primeira est no artigo 49, V, da Constituigaa. Ele prevé que o Congresso Nacional pode sustar os atos nor- mativos editados pelo Poder Executivo que exorbitem do poder regulementar ou dos limites da delegagdo legislativa. Abrindo um paréntese, a regra do artigo 49, V, deve ser seguida pelos estados sem amplia- 0. Digo isso porque a Constituig&e do estado de Gols atribufa a Assembleia Legislativa a prerrogativa para sustar atos normatives de Poder Executive ou dos Tribunais de Contas. A extensao da possibilidade de sustago para os atos dos Tribunais de Gontas foi considerada inconstitucional, por ser uma afronta aos principios da simetria, da separago de Poderes, além de violago das garantias da independéncia, autonomia funcional, administrative e finan ceira das Cortes de Contas (STF, ADI n. 5.290). Fecho o paréntese. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 25 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora ‘A-segunda é encontrada no artigo 52, X, da Constituigao, oportunidade em que se atribui a0 Senado Federal a prerrogativa de sus pender, no todo ou em parte, norma declarada incons- titueional pelo STF dentro do controle difuso de constitucionalidade. Por fim, a terceira voce vé no artigo 62, § 5°, da Constituigao, que permite ao Congress rejeitar medida provisoria quando no estiverem presentes 08 requisitos constitucionais de urgéncia e relevancia Abrindo um paréntese, a Siimula n. 347 do STF prevé a possibilidade de os Tribunais de Contas, ne exercicio de suas atribuigSes, apreciarem.a constitucionalidade das leis dos atos do poder publico. Ou seja, esse entendimento permitiria ao TC fazer controle de constitucionalidade, do caso concrete. Porém, 2 stimula foi editada em 1963 e hé algum tempo vinha sendo questionada. Dai, em abril de 2021, 0 Plenério do STF definiu que mae cabe & Corte de Contas, pornao ter -fungdo jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade nos processos sob sua andlise. invoeago da Simulan. 347 estaria comprometida desde 8 promulgagdo da atual Constituicdo. Na ocasiio, pontuou-se que admitir a continuidade da possibilidade de o TC declarar inci- dentalmente a inconstitucionalidade geraria desrespeito & func jurisdicional e & competén- exclusiva do STF, além de afrontar as fungdes do Legislativo, responsével pela produgéo das normas juridicas. Assim, embora a Siimula n. 347 ndo tenha sido formalmente cancelada, o efeito prético da decisdio proferida pelo Plenério do STF € afastar a passibilidade de o TC fazer controle de constitucionalidade dentro de sua atuacdo (STF MS n. 35.410). Vou analisar os modelos de controle e, em sequida, compilar nossos dados até aqui em uma tabela para facilltar as coisas para voct. Myatencio Executivo, Legislative e Judicirio fazem controle preventivo e repressivo de constitucionalidade. www.grancursoseniine.com.br 26 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘report Fernando MM 7. Movevos pe Controve Existem basicamente dois modelos de controle, ¢ saber, 0 controle politico ~ realizado pelo Poderes Executivo e Legislative - eo controle jurisdicional — feito pelo Poder Judiciario. Como visto, no ha mais a possibilidade de o TCU fazer controle (sempre repressivo) de constitucionalidade dos atos. 4 CLAUDIA MARIA DE OL 5 qualquer meles 2a palquer tao, avuigacio ou asioug3o, ee nal r'sosonline.com.br 27 de301 o-arne057 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade 8 Fra, MMM 8. Sistemarizanpo os Momentos € os Mopetos ve ConTRoLe Para melhor sistematizar os momentos e modelos de controle, vou utilizar uma ilustragao: MOMENTOS E MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE | oneal (MOMENTOS I ‘PREVENTIVO ‘REPRESSIVO E relzado emtiéshinsteses: «a sustagdo de atos normativas edtados pelo presidente de Repiblica que exarbtem oslini & te dedelegonio legiciativa~ an. 4, V, da CF: foecaio Ge icon no eds ote upc ate ‘oulem parte norma deciarada inconeticional ejiatve Consiicn « stea gcTF naconr Gen ange, X. (Co) palo eno das. PR Cates. © no cas0 des medidas prvidias, quando © Polticos Congresso entender que ndo esto presentes 0s requisites consttuconais ce wrgéncia ‘elevencia~ antigo 62,§ 5" de Coneticéo. Posstilidade dada ao chefe ée Exzcvtvo ~ presidente i= Repibiice governado- Orientacdo dada pelo chefe do Execurivo para Emeutvo rs ¢ prefstos - de veto seus subordinades daterem de cum @ projet caso © considerar_nerma, poise considera inconstiucional “MODELOs inconstituconal (veto jr co) Quando se precise man- Feito por meio do controle feo ou eoncen- dado de seguranga impe- trado de consttuconalidade.O primal & rea: Jriaicionsl Juieéio’ ado por parlamentar para. lized por qualquer julz ou tibunal do pas, jstantr devido processo enquanto o segundo somente cabe 20 STF lagielae. (volagdo 8CF) «20 I (ofensa 82}. ‘Nao faz controle de conettucionalidade. Embore a Simul. 247 ndo tah sido fr. ‘ibunais malmente cancelada, em abrilde 2021, 0 ie ‘deContes nério do STF afastou a possibildads de 9 TC fazer canvele de consttueinalidade dentro Acinitatve desea atuaco (STEMS. $5.10) ‘NBo faz controle de consttucionaidade, Pode deixar de apicar norma que entenda ser ow inconstitucional,o que configura exarcico de controled vlidade dos stos administrative {do Pater Juiicirio (STF, PET 4656/P8). ya CLAUDIA NAL ; ese agwalver tia, w.grancursosonline.com.br 28 de 301 @seay CURSOS ONLINE DIREITO CONSTITUCIONAL Controte de Constitucianalidace Tagore Fortes MMM 9. Controte Jurispicionat pe CoNSTITUCIONALIDADE Vocé jé viu que no direito brasileiro os tiés Poderes (Executivo, Legislative e Judiciério) fazem controle de constitucionalidade, tanto de forma preventiva quanto repressiva. Eutambém jé adiantei que a regra é o controle repressivo. Sendo ainda mais especffico, & regra € 0 controle jurisdicional repressivo de constitueionalidade, uma vez que o controle poli- tico, feito pelo Executivo e pelo Legislative, é limitado a situages muito pontuais. Avangando, © controle jurisdicional de constitucionalidade pode ser feito a partir de dois sistemas, o difuso, originado nos Estados Unidos da América, e 0 concentrado, nascido no continente europeu. Pare fac também dos pontos que os diferenciam ~, usarei o seguinte quadro esquem: itar a visualizac&o das caracteristicas centrais de cada um desses sistemas - QUADRO COMPARATIVO ENTRE 0 SISTEMA DIFUSO E GONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE CONTROLE DIFUSO Modelo norte-americane. ‘Surgido @ partir do cao Marbury ve Madiaon. Controle incidental (incidenter tantum). via de excagiio ou de defesa. Inconatitucionalidade da norma é a raz de nedic endo pedido. No Brasil adotado desde a Constituipo de 1891 ‘A Constituigo atual mantave a previelio de con- ‘role difuso, itroduzindo importantes ferrarnentas ‘como 0 Ml, o manejo do Mie do MS coletivos, a deliminago do RE, Quanto a0 RE, @ EC n. 45/2004 previu a fitro da repercusedo geral trazendo ractonalidade 20 sle- tema, wwwgrancursosenline.com.br -CONTROLE GONGENTRADO Modelo austrface-alamio. Idealizado por Hana Kelaen, Controle pein Via de age. Inconstitucionalidade de norma é o pedi. No Brasil adotado de forra mais robusta @ partir da EG n. 16/7965 ~ ADI, 2 ser propoata, perante 0 STF sxclusivamente pelo PSR No entanto, na Gonatituigdo de 1934 jé havia a previ 30 da ADI Imarvertiva. |A.CF/1988 trouxe ao sequintes inovagées 8) ampliagéo dos legtimados para a ADI (antes era 26 PGR): 1) cviagdo de convale ds oman constiucionais (AQ) ©) previado da ADPE #8 ADC a6 fot introdusida pela EC n.03/1893; s+ aECn.45/200dinseriu o governader do DF 2 CLOF come lesitimadoa ¢ equiparou os legiimados de ADI ADO, ADC & ADP: 29 de 301 Ce ead DIREITO CONSTITUCIONAL Controte de Constitucianalidace ‘A inconatitucionalidade pode eer arguida em qual- quer tipo de agao (egies ordindrias, trabalhistas, civeis, panaia, agSee civis piblicas), por meio de recursos au remédios constitucionais (HC, MS, Mi, HD ea popular Tagore Fortes ‘A inconetitucionalidade 26 pode eer arguid por meio de cinco fesramentas (cabem nos dedos de minha mio} 8) apo direta de inconstiucionalidade ~ ADL ) ogi decloratvia de conatiucionalidade - ADC; 0) apo direta de inconstitucionslidade por omisedo — ADO: <4) arguigSo por descumprimento a preceito fundamen tal~ ADPFe © representagéo interventiva — ADI Interventiva, Pode ser utiizads per qualquer pesses, no bojo do proceso, Na origem, adogaio da teoria da nulidade. ‘No Brasil, ambos seguem a teoria da nulidade, com 1 declaragdo de inconetiucionalidade operanda em ragra, efeitos retroavos. Pode ser fito por qualquer juizo ou Thbunal do Pais inclusive o STF. Em regrs, = decisao produz efeitos inter partes (entre as partes). Pla rdagdo da Conatnugdo (artigo 52,1, 20 deck tara inconsttciona ideo STF deveria communi ‘20 Senado, para posaivel suspensic, total ou parcial da execupio da lei No ertanto, a crientagdo atual & de mutagSa eonstitucional desea diepostive, pas: ‘sando a dacisio do Plenériodo STF, mesmo.em con ‘role difuso, 2 valer erga omnes. 0 papel do Senado ‘seria de dar publcidade & decisio. wwwgrancursosenline.com.br No plane federal = ADI, ADO, ADC e ADPF somente podem ser ajuizadas por nove levitimados, previstos ‘no artigo 103 da Constituigdo: presidente da Repi- blica: Mesas da Camara dos Deputados ou do Senado, PGR: governadores das estades e do DF, Mesa des ‘Aagembleiae ou da Cémara Legislative; pantides polt- ‘208 com representago no Congreasa; Conselho Fade- ral da OAB: © confederagio sindical ou entidade de classe de dmbito nacional. No Ambito eatadusl, o artigo 125 da Constituigde de 1088 previu a impossibilidade da existir somenta um legitimado, embora deixe para o Canstituinte eatadual 4 tarefs de definiro rol. 4J6 a ADI Interventiva posaui apenss um legitimado, que 20 PGR no cenério federal, © 0 PG perameo Ty. Na origem, adota a teoria da anulabilidace No Brasil ambos seguem a teoria da nulidade, com «2 declaragSo de inconstitucionalidade operando, em ‘29m, efeitos retroatives. ‘86 pode ger feito pela STF (quardiéo da CF) e pelos TJs (guardido de CE ou da LODF). Desiado produz efeitos erga omnes (todo mundo). ‘Ao daslarar a incanetitucionalidade, @ STF no pre- isa comunicar 20 Senado, uma vez que a decide jé é dotada de efeitos erga omnes. 30 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes ‘Ao proferira decisSo, 0 julgador pode fazer modu- Ao proferir deciaSo, 0 julgador pose fazer madulagéo lagao temporal de efitos. temporal de efeitos. (Cabs a participagdo de amicus curiae. Cab a participagde de amicus curiae. Eposaivel a realizago de audifnciaa piblioss. © posolvl araalizagio de audincias pablions 9.1. Controte Diruso Presente no ordenamento jurfdico brasileiro desde a Constituigao brasileira de 1891, 0 con- trole difuso é também chamado de controle aberto, incidental, por via de excecao ou de defesa. Pode ser realizado por qualquer juiz ou Tribunal do Pafs, af incluidos 0 STF ¢ 08 TJs ~ eles acumulam o controle difuso € 0 concentrado. No controle difuso, ha um caso concreto em estudo € dentro desse proceso se apura, constitucionalidade da norma. incidentalmente, Traduzindo o juridiqués, quando eu falo “incidentalmente’, quero dizer que a inconstitucio- nalidade nao é 0 pedido, mas sim a causa de pedir. Em outras palavras, quando ingressa com uma aco, a parte no busca a declarago de inconstitucionalidade. Ela quer, na verdade, a concess#o do "bem da vide". No entanto, para chegar ao resultado pretendido, ela acaba fundamentando o seu pedido em algumas alegacées. E ai que entra a narrativa de que uma norma seria inconstitucional.. Sei que ainda esté muito truncada a linguagem. Entéo, nada melhor do que user exemplos. Puxe ai em sua meméria: no inicio do governo Collor, houve a edigéio de uma medida proviséria, determinando o bloquelo de valores depositados em agéncias bancérias. Buscando a libere- edo dessas quantias, intimeros correntistas recorreram & Justica, alegando a inconstituciona- lidade da medida proviséria editada pelo governo. Nesse cenério eu pergunto: © que os correntistas queriam? A inconstitueionalidade da norma ‘ou o seu dinheiro de volta? E certo que os cidaddos prejudicados pretendiam obter 0 seu dinheiro de volta, no a declarag&o de inconstitucionalidade da norma. Eles apenas alegavarn © vicio de inconstitucionalidade como fundamento de seu pedido. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 31 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagan Fortes Mais um exemplo: José fot condenado por homicidio qualificado, a cumprir uma pena de doze anos de recluséo. A época, foi determinado que a sangio fosse integralmente cumprida em regime fechado, pois estava em vigor a Lei n. 8:072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos) em sua redago original Pois bem. José entrou com um HC pedindo para ter direito & progress de regime prisional, podendo passar para o regime semiaberto e depois para o aberto. Em sua petic&o, alegou ser inconstitucional o dispositive da Lei dos Crimes Hediondos que vedava a progressdo. Suster- tou violago ao principio da individualizaggo da pena. Nova pergunta: 0 que José queria, ir para o regime semiaberto (e depois para o aberto) ou ver allei ser declarada inconstitucional? Nao hé divide de que ele queria sair do regime fechado, sendo reinseride pouco a pouco ao convivio social. Sé5 que, para isso acontecer, havia um entrave, que era a lei, Ent&o ele precisava que a norma fosse declarada inconstitucional. Aatencio No controle difuso, a inconstitucionalidade é a causa de pedir, e no © pedido. Em raze disso, ele 6 chamado de controle incidental. 9. Eficacia da Deciséo no Controle Difuso ‘Adecisao tomada no controle difuso é dada dentro de um proceso e, em razo disso, em regra, ela sé vincula as partes ~ daf a chamada eficdcia inter partes. Repare bem que eu destaquei a expresso “em regra’, porque hd algumas pontuais situs: ges em que os efeitos da decisdo no controle difuso sero muito préximos Squeles extraidos das ferramentas do controle concentrado. 8 frente eu felarei sobre © controle de constitucionalidade feito em uma ago civil piblica. Lé ficaré evidente que, quando relacionada a direitos difusos, a decis&o surtiré efeitos erga omnes. Essa ai foi apenas uma situagao, mas ha outras! E 0 caso do recurso extraordindrio (RE), quando interposto contra deciso proferida pelo TJ dentro de uma ADI Estadual. Ora, se 2 Logo mai a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora deciso de origem - na ADI ~ havia sido tomada em controle concentrado, com eficacia erga omnes, a decisio no RE dai decorrente também carregaré as mesmas caracteristicas. ‘Também no RE apreciado nos moldes da repercussiio geral se falaré em uma deciséo repercutindo sobre os demais processos relacionados & mesma matéria discutida no caso paradigma. Hé, ainda, a situagao prevista no artigo 52, X, da Constituigdo, que permite ao Senado es- tender para todos deciséio proferida pelo STF dentro do controle difuso-de constitucionalidade. Em outras palavras, expande erga omnes uma deciséo que nasceu inter partes. Aliés, sobre o artigo 52, X, conversaremos um pouco mais logo no préximo tépico. Outra hipétese é verificada por meio da simula vinculante, ferramenta introduzida pela EC n, 45/2004, Ela vincularé toda a Administragdo Publica, de todas as esferas de governo, e os dem: érg8os do Judiciério, Ficaria de fora da vinculag&o apenas o préprio STF eo Legis- lativo na sua fungdo tipica de legislar, tudo isso de modo evitar 0 fenémenc da fossilizacéo da Constituiggo. Todas essas situagdes foram esmiugadas no julgamento da Reclamagao n. 4.335/AC, es- pecial mente no voto proferide pelo ministro Teori Zavascki 9.1.2. 0 artigo 52, X, da Constituicao O assunto é bastante polémico e, como se diz no popular, dé pano para mangas. Logo, 8 melhor coisa é comecar com 0 texto da Constituicao, que é nosso ponto de partida (mas esté longe de ser 0 ponto de chegada). Vamos la! ‘Segundo o artigo 52, X, da Constituicéio, compete privativamente ao Senado Federal “sus- pender a execugio, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por deciséo definiti- va de Supreme Tribunal Federal". ‘Tome muito cuidado com esse dispositivo, pois ele é de extrema relevncia para as provas, especialmente por envolver controle de constitucionalidade feito pelo Legislative (controle politico) de forma repressiva (a norma jé existe). a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 33 de301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora E certo que o STF faz controle de constitucionalidade tanto difuso quanto concentrado. ‘As decisGes proferidas no controle concentrado ja sao dotadas de eficdcia vinculante erga ‘omnes (aspecto subjetive: vinculam a todos). Em razBo disso, nd haveria como aplicar o arti- go 52, X, a0 controle concentrado, uma vez que néo haveria norma a suspender ~ adeclaragéo de inconstitucionalidade jé retiraria a norma do sistema para todos. ‘Assim, a suspensiio de eficacia a que se refere o dispositive vale apenas para o controle difuso. ‘Avangando, por conta do principio da separagio de Poderes, o Senado nao é obrigado @ suspender a norma. Ou seja, @ STF nao pode determinar que ele adote essa providéncia. Doutrinariamente, Gilmar Mendes defendia que esse dispositivo teria softido mutagao cons- {itucional, servindo na atualidade apenas para dar publicidade deciséo da Suprema Corte. Abrindo um paréntese, mutagéo constitucional é a mudanga na interpretagao da norma ‘sem alteragao formal do texto. Ela também é conhecida como poder constituinte difuso ou procedimento de mudanga informal da Constituic&o. Voltando ao objeto da discussSo, na visdo de Gilmar Mendes, em virtude de uma crescente aproximagéo entre os controles difuso e concentrado, as decis6es do STF no controle difuso teriam sofrido uma abstrativizagao/objetivacao. Trocando em mitidos, isso significaria que também as decisdes do Plenario do STF no controle difuso teriam eficdeia erga omnes, e nao inter partes. Aquestiio saiu do campo doutringric e veio a ser discutida no STF. Num primeiro momento, apés longos anos de tramita¢So, o Tribunal negou a tese da mu- taco constitucional, entendendo que a deciséio tomada no controle difuso, ainda que partisse do Plenério, teria efeitos apenas sobre as partes do proceso (inter partes). Isso aconteceu no julgamento da Reclamagdon. 2.176. Aquela altura, o placar foi de 8 x2 contrariamente & tese. Pois €, mas 0 tempo passa, o tempo voa € @ questo foi parar novamente no Plenério do STF em razio de outros processos. Deixe-me expliesr: 80 julgar a proibigao de comercislizagao de amianto em todas as suas formas, inclusive a crisotila, o STF confirmou a constitucionalidade de leis estaduais - que vedavam a comercializagSo -, em virtude de as substncias serem cancerigenas, Em consequéncia, incidentalmente (ou seja, de forma difusa), declarou a inconstitucionali- dade da lei federal que autorizava a comercializagéo do amianto na forma crisotila (usada na fabricagio de telhas, por exemple). a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta www.grancursosonline.com.br 34 de301 conus ae @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘report Fernando Avangando, como se tratava de declarago incidental de ineonstitucionalidade, pelo enten- dimento cléssico, seria necesséria a comunicagao ao Senado Federal para que a Casa Legis lativa, se quisesse, suspendesse a eficdcia da norma, estendendo a deciséo para todas ~ lem- bro: a decis#o no controle. lental) sé atingia as partes. Contudo, 0 Tribunal, acolhendo aquela tese da abstrativizaco/objetivagao do controle di- fuso, decidiu que 0 artigo 52, X, da Constitui¢ao sofreu verdadeira mutacao constitucional. No frigir dos ovos, 0 papel do Senado passou a ser de apenas dar publicidade a decisao do Plendrio do STF, que jé seria dotada, tanto no controle concentrado quanto no difuso, de eficdcia vinculante contra todos. ‘A explicagSo para essa mudanga na orientacao seria de prestigiar a unidade do sistema, evitando-se a fragmentagao desnecesséria Repetindo para que vocé no se confunda: as decisdes declaratérias de inconstituciona- lidade proferidas pelo Plendrio do STF, mesmo em controle difuso de constitucionalidade, Tepercutem contra todos, de forma vineulante. Aproximaram-se, assim, os eontroles difuso concentrado (STF, ADI 3.406 € 3.470). Qyatencio Modificando o entendimento anterior, © STF passou a aceitar a teoria da abstrativizagao/ objetivagao do controle difuso de constitucionalidade. Assim, as decisdes proferidas pelo Plendrio do STF no controle difuso e no controle concentrado tém eficacia vinculante contra todos (erga omnes). 91.3. Cldusula de Reserva de Plendrio Eu diria que a cl&usule de reserva de plendrio é, a0 mesmo tempo, importantissima para quem se prepara pars concursos piblicos e pouco compreendida pelos candidatos! Prevista no art. 97 da Constituigo, é também chemada de full bench (banco cheic). Embo- produr So, conta, dvuigac30 ou dis : w.grancursosonline.com.br 35 de 301 @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Fora pelo voto da maioria absoluta de seus membros (Plenario) ou dos membros do 6rgao especial poderdo os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo poder piiblico Vale lembrar que em matéria de controle de constitucionalidade, 0 ordenamenta brasileiro adota um sistema misto, abrangendo o controle difuso — de origern norte-americana — e 0 controle concentrado, sistema adotado na Europa. controle difuso de constitucionalidade pode ser fetto por qualquer juiz ou Tribunal do Pais, enquanto o cantrole concentrado é realizado apenas pelo STF (guardido da Constituigéo Federal) e pelo TJ (guar Quando © controle difuso é feito por um Tribunal (ex: STJ, TJDFT, TST), incidird a regra o da ConstituigSo Estadual). segundo a qual a norma somente seré declarada ineonstitucional se houver deciséio nesse sentido de maioria absoluta dos membros do Tribunal ou de seu érgao especial — como visto anteriormente, este substitui o Plenério do Tribunal. Pensando no STJ pars ilustrar, a inconstitucionelidade N80 poderd ser declarada por um ministro, pela Turma ou por uma Seedo, ficando reservada & Corte Especial, uma vez que Ié hd 0 érgdo especial Arazio da ext ‘éncia da referida cléusula é a seguinte: é certo que uma decisdo proferida por um juiz de determinada Comarca é importante. No entanto, muito mais importante é uma decisdo proferida por um Tribunal da envergadura do STJ, pols, nesse tiltimo caso, todos os Tribunais inferiores indicargo 0 julgamento a titulo de orientacdo e exemplo. Vale dizer que as decisées dos Tribunais sdo mais importantes e, por isso, néo podem ser tomadas monocraticamente ou por um pequeno nimera de julgadores (Srgio fracionério), Esse tema, de dificil compreenso por grande parte dos estudantes, tem direta relagéo com a Sémula Vinculante n. 10, que tem esta redagao: Viola @ cléusula de reserva de plenério (CF, artigo 97) a decisdo de érgio fracionério de tribunal que, embora néo declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder piblico, afasta sua incidéncia, no todo ou em parte. Qual a razdo de ser da Simula Vinculante n. 10? E 0 seguinte: muitas vezes, para fugir da exigéncia de submeter a questo relativa é inconstitucionalidade ao Plendrio - ou érgo espe- a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade Tagore Fortes a =, 08 6rgiios fracionérios dos Tribunals (turmas, cémaras ou segGes) déio “um jeitinho": em vez de dizer que @ norma é inconstitucional, eles deicam de aplicé-a. No final das contas, s6 deixaram de aplicé1a por entender que era inconstitucional... Por fim, cabe alertar que somente serd necessério submeter a questo a0 Plendrio - ou a0 6rgo especial quando se-entender que @ norma é inconstitucional, pols todas as normas nascem com presungao (relativa) de constitucionalidade. Ou seja, para se afirmar a constitucionalidade da norma, ndo hd necessidade de uma Tur- ma mandar o caso para o Plen: pois estard confirmando a regra, “chovendo no molhade’. Foi exatamente dentro dessa diferenga que trabalhou o examinador de recente concurso para a Magistratura no DF. Na ocasiéo, perguntou-se a diferenca entre a Interpretagdo Confor- me a Constituiggo e @ Declaragéo de Inconstitucionalidade Parcial sem reduco de texto. Antes mesmo de dara resposta, vou lembréola) de uma dica: Todas as vezes em que for indagada a diferenca entre institu- ‘tas, vocé deve encontrar inicialmente a semelhanga. Isso porque as perguntas giram em torno de temas com varios pontos de interseeo. Exemplificando, néo seré perguntada a diferenga entre caneta e relégio. A pergunta rec ia sobre a diferenga entre ténis e sapato. Em casos assim, 0 candidato responderia: ‘embora ambos sejam calados, masculino e feminino (semelhanca), o ténis é utilizado para ocasides mais casuais, enquanto o sapata para eventos formais” (diferenga). Pois bem. Voltando & questo feita no concurso do TJDFT, tanto a interpretagao conforme Constitulgao quanto a declaragdo de inconstitucionelidade parcial sem reduco de texto so técnicas de manipulagdo situadas entre os limites constitucionalidade/inconstitucionalidade (clas estariam dentro do grande género “sentengas intermediérias", na subdiviséo “decisbes normativas interpretativas’). Além disso, as duas atuam em palavras plurissignificativas ~ até aqui, vimos as semelhangas! Avancando sobre a distingéo, terse que na interpretagaio conforme a Constituiglo se faz um juizo positive de constitucionalidade. Em outras palavras, afirma-se a constitucionalidade, © que conduz a desnecessidade de remeter 0 caso ao Plenério (ou Srgéo especial, se houver) a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Foran: J4na declaragao de inconstitucionalidade parcial sem reduc de texto, 0 juizo 6 negati- Vo. Nesse caso, como se profere um juizo de inconstitucionalidade (negativo), seré necesséria a observéncia da regra do artigo 97 da CF, ora em estudo. Por fim, atengo! No hd necessidade de observancia da cldusula de reserva de plend- rio por juizes de primeira instdncia, por Turmas Recursais de Juizados Especiais (embora colegiadas, sé compostas por juizes de primeiro grau) e também pelas Turmas do STF (STE Aln, 607.616). Outra coisa: é desnecesséria a submisséo do caso & regra da reserva de plenério na hipé- tese em que a deciséo judicial estiver fundada em jurisprudéncia do Plenério do STF ou em stimula desse tribunal (STF, ARE n. 914,045). Por outro lado, nas decisées de TCU (Siimula n. 247/STF)*, do CN ¢ do CNMP, para afas- tar a aplicagdo da norma entendida como inconstitucional, deverd ser observada aclausula de reserva de plenario. ‘A titulo de exemplo, se 0 CN4 fizer o controle de validade dos atos (lembre-se de que ele no faz controle de constitucionalidade), precisaré observar a decistio de maioria absoluta do colegiado, para dar mais segurangs juridica & decisio (STF, PET n. 4.656). Ah, eu tenho certeza de que vocé reparou no asterisco* que coloquei af em cima. E que, embora a Siimula n, 347 no tenha sido formalmente cancelada, em abril de 2021, o Plendrio do STF atuagio (STE MS n. 35.410). conus ae 4 CLAUDIA MARIA DE OL 5 agualuer tia, produr So, conta, dvuigac30 ou dis : w.grancursosonline.com.br 38 de 301 @seay CURSOS ONLINE Sistematizando: DIREITO CONSTITUCIONAL Controte de Constitucianalidace Tagore Fortes Clausula de Reserva de Plenatio “QUEM precisa observar? ~Turmaa, camaras e seqdes dos tibunais de 2° grave de tribunaie auperiores. -TCU, CN 2 CNMI. QUANDO nao precisa ser observada_ “Dacia de interpretagSo conforme & ConatiuigSo. ~Se jf houver deciato do Srgo eapes Tribunal e do plendrio do STF. No juizo de recepgiio/revogagdo de normae pré-cons-_ thusionaie No juizo de recepgiio/revogagSo de normaa pré-cone-_ | ou plensrio do: ‘tucionais 9.1.4. A Declaracdo de Inconstitucionalidade em Acao Ci “QUEM nao precisa observar? “Turmas do STF ~Turmas recursaia de juizados especial, sizes de primeiro- gray QUANDO precisa ser observada TAfasiamento, no todo ou em parte, de norma, mesmo oem daclaraZo expressa de inconstitucionalidade. - Declaragée de inconstitucionalidade parcial sem redugie de test, Pablica (ACP) Em minha prova oral pata o concurso de Juiz do TJDFT, o examinador me perguntou mais, ou mens assim: “Candidato, pode ser feito controle de constitucionalidade em uma ago civil piblica?” ‘A minha reagae foi quase que intuitiva (¢ soou até meio abusada, mesmo néo tendo sido a intenc&o): “Exceléncia, o controle de constitucionalidade pode ser feito em qualquer acéo, remédio ou recurso!” E claro que a pergunta daquele examinador tinha uma razéio especial: é que na ago civil piblica versando sobre direitos difusos, a decisao proferida terd eficacia erga omnes. Ou seja, os efeitos da deciséo seréo equivalentes aqueles observados nas ferramentas do controle concentrado de constitucionalidade (ADI, ADO, ADC, ADP). Ento, hé uma grande semelhanga entre o aleance da decis%o proferida na ADI ena ACP, certo? Exato, pois em ambas pode se declarar a inconstitucionalidade @ nas duas a deciséo gerard efeitos para todos. Mas é Sbvio que hé diferengas entre elas. Vejamos: 0 primeiro ponto que vooé deve reparar é que a ADI ferramenta do controle concentrado, enquanto a ACP pertence ao controle difuso = que, em regre, produz efeitos inter partes. a CLAUDIA Imsgaci0 ou dsoucso, seta wwwgrancursosenline.com.br 39 de 301 conus ae @seay CURSOS DIREITO CONSTITUCIONAL ONLINE Controle de Constitucionatidade ‘ragond Foran: Outra diferenca est na competéncia para julgamento das agées: a ACP, em regra, jul- gada na primeira instancia, enquanto a ADI serd julgada pelo STF ou pelos TJs - respective: mente, no caso de ofensa a CF e as CEs. Avangando, eu fale antes que no controle difuso a inconstitucionalidade é a razo do pedi- do (causa de pedir), nunca o-pedido. Talvez esteja af o grande X da questo, uma vez que a AGP no pade serusada para buscar a declaragdo de inconstitucionalidade come pedido, Se isso acontecer, haverd ausurpagéo de competéncia do STF. Em resumo, na ACP pode ser discutida a inconstitucionalidade, desde que ela seja a ques- ‘to incidental, a causa de pedir, nunca o pedido (STF REn. 424.993). AMATENCAO. Em ago civil piblica sobre direitos difusos, pode haver a declaracéio de inconstitucionalidade de lei, desde que ela (a inconstitucionalidade) seja @ causa de pedir, no 0 pedido. 9.1.5. Repercussao Geral A partir da EC n. 45/2004, foi criado um requisito de admissibilidade do recurso extraor- dindrio (apenas para ele, ok?): a parte recorrente precisa demonstrar a repercusso geral das questdes constitucionais discutidas no caso. Addemonstragdo de repercussao geral funciona como um filtro, evitando que o STF julgue processos que no tenham imparténcia (os famosos casos de briga de vizinhos por conta de papageio, entre outros...). O instituto da repercusso geral foi regulamentado pela Lei n. 11.418/2006 e, em um pri- meiro momento, fol inserido nos artigos 543-4 ¢ 543-8 do Gédigo de Processo Civil de 1973, revogado no ano de 2015 pela Lei n. 13.105/2015 ("Nove CPC"). No CPC atual, o Instituto foi mais bem destrinchado em seu artigo 1.035, cabendo aqui destacar que a parte deveré, na petico do RE, demonstrar que o seu recurso possui questies relevantes do ponto de vista econémico, politico, $0. ico (para gravar mais fécil, eu sempre associava & sigla JES). produr So, conta, dvuigac30 ou dis : w.grancursosonline.com.br 40 de301

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