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DESCRIÇÃO
Construção das principais linhas norteadoras da arte arquitetônica do entorno do Mediterrâneo
na Antiguidade.

PROPÓSITO
Listar as características das sociedades que compõem o ideal de civilização ocidental
presentes entre o Crescente Fértil e os espaços de Grécia e Roma, relacionando as
concepções de arte e poder nessas sociedades.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Identificar a arte arquitetônica na Grécia Antiga

MÓDULO 2

Relacionar arte da arquitetura na Roma Antiga às estruturas de poder

MÓDULO 3

Descrever a arte da arquitetura no Crescente Fértil Oriental

INTRODUÇÃO
Faremos um breve passeio sobre as arquiteturas da Antiguidade. O mundo e as sociedades
são muito mais amplos do que abordamos; contudo, os desdobramentos da história criaram um
ideal civilizacional contemporâneo pautado, em especial, nas sociedades greco-romanas.
Entretanto, precisamos não ser
etnocêntricos e perceber que é inegável a influência do
Crescente Fértil para a cultura dessas sociedades. Por isso, reconhecer sua arte e arquitetura
será fundamental.

Depois passamos a identificar os símbolos e a influência da chamada Grécia Clássica,


considerada no ideal Ocidental como o berço de nossa civilização. Para passar, então, aos
organizadores do ideal social de um mundo civilizado e que manifesta isso em
sua arte e
Arquitetura.

ETNOCÊNTRICOS
Centrados em nossa própria cultura

CRESCENTE FÉRTIL

Termo adotado para designar as áreas do Mediterrâneo Oriental entre o Egito e a


Mesopotâmia.

MÓDULO 1

 Identificar a arte arquitetônica na Grécia Antiga

ARQUITETURA GREGA

Imagem: Shutterstock.com
 Acrópole e Partenon de Atenas.

O Partenon é um dos monumentos mais famosos do mundo. Em dias de verão, a acrópole


ateniense é visitada por centenas de turistas. Sua construção, que ficou sob a responsabilidade
dos arquitetos Ictinos e Calícrates,
começou em 447 a.C. no lugar de outro templo destruído
pelos invasores persas, por volta de 480 a.C.

Engana-se, porém, quem pensa que o edifício permaneceu lá, intocável, por todos esses
séculos, servindo apenas de espaço de contemplação:

395 A 1453 D.C.

O Partenon foi igreja cristã na época do Império Bizantino, destinado ao culto da Virgem Maria.
1458

Quando Atenas foi tomada pelo Império Otomano, foi convertido em mesquita.

1687

Em um contexto de guerra, o Partenon foi utilizado como paiol de pólvora e experimentou os


efeitos de um tiro de canhão adversário.

O edifício que os turistas fotografam entusiasmados não é, nem de longe, idêntico à construção
original. Apesar disso, nenhuma das alterações que sofreu foi suficientemente poderosa para
descaracterizá-lo: ele permanece um dos símbolos mais emblemáticos
não só da Grécia
Antiga, mas de toda a arquitetura ocidental, já que inspirou diversas outras construções ao
longo dos séculos.

Foto: Zigres/Shutterstock.com
 Antigas ruínas do Partenon e Erechtheion na acrópole de Atenas. Na capital grega, a
acrópole é um marco histórico significativo, Zigres, 2018.

O QUE É UM CLÁSSICO?
Certamente, o termo “clássico” é bastante comum em nosso dia a dia, não é mesmo? Mas
afinal, qual é a origem desse significado?

A noção de “clássico” tem origem na Roma Antiga. A palavra classicus estava associada aos
cidadãos que, pela riqueza e pelo prestígio, pertenciam à primeira classe. Esse sentido foi
transposto para os textos escritos,
quando se passou a distinguir o escritor clássico (scriptor
proletarius ), mais prestigiado, do scriptor proletarius .

Imagem: Miguel de Cervantes/Wikimedia Commons, CC BY 3.0.


 Capa da primeira edição de Dom Quixote, livro de Miguel de Cervantes, publicado em
Madrid, em 1605.

Os textos canonizados pelo termo “clássico” seguiram não apenas sendo estudados, mas
classificados a partir da alcunha dada na Roma Antiga. Assim, escritos latinos e gregos
passaram a ser selecionados e qualificados como “clássicos” até que assumiram
o adjetivo
como nome próprio: a expressão Antiguidade Clássica designa, até hoje, algum aspecto ou,
no limite, a totalidade de experiências histórico-culturais da Grécia e Roma antigas.
O mesmo
princípio se aplica a casos específicos, como arquitetura clássica.

Mas seria equivocado afirmar que esse entendimento é o único possível. A ideia de
“qualidade”, provável influência da lógica censitária da Roma Antiga, tem outro sentido
atualmente.

 RESUMINDO

Clássico, em outras palavras, seria aquilo que é “de primeira classe” – melhor por suas
características e virtudes do que todo o resto. Trata-se de uma acepção que guarda consigo
profundas consequências políticas, sobretudo porque nosso gosto, nosso prazer
estético, é
formado e reproduzido na experiência social, e essa disposição nos faz crer que determinado
modelo representa o paradigma a partir do qual todos os demais devem ser julgados, além de
um sentido de
resistência, persistência e perenidade quando se fala em “clássicos”.

Os desenvolvimentos do conceito, sobretudo entre os séculos XVII e XIX, fizeram com que
seus sentidos oscilassem e que não houvesse necessariamente vinculação com o passado dos
povos antigos. Assim, pode-se falar em “clássicos da literatura espanhola”,
expressão que
representaria uma contradição com o sentido original, mas que coexiste e reforça o sentido de
“imortalidade”: tornaram-se “clássicas” todas as obras a que, por força da popularidade,
são atribuídas a
capacidade de permanecer como referência, blindadas do
esquecimento. Até mesmo a expressão “nasce um clássico” passou a ser praticada como
hipérbole, como elogio a uma obra recente e que se julga qualificada para não ser esquecida.

PRIMEIROS MATERIAIS E PRIMEIRAS


CONSTRUÇÕES

Imagem: Shutterstock.com
 Muro com textura adobe.

O território grego não ganhou fama por sua fartura de recursos. O relevo montanhoso e a
aridez do solo são bastante conhecidos, ainda que a topografia da bacia do Mediterrâneo seja
heterogênea. As terras agricultáveis, como se discute, eram muito limitadas,
correspondendo a
cerca de 20% do território. Se, por um lado, aprendemos a reconhecer os méritos do engenho
humano por sua capacidade de superar as desvantagens, por outro, não podemos ignorar que
essas mesmas desvantagens
estão na base das soluções encontradas.

As condições materiais (e naturais) não são meros empecilhos à engenhosidade, mas uma
variável indispensável para entender a forma com que os povos antigos interferiam na
paisagem.

Ao longo dos séculos, as redes de contato e comércio garantiram maior oferta de


possibilidades.

Foto: Shutterstock.com
 Grande peça de mármore e um martelo após a divisão do mármore para trabalhos futuros.

Os mármores de Quios (norte do mar Egeu) se tornaram célebres não apenas pelo uso como
matéria-prima para esculturas, mas também para a construção e decoração de edifícios.

Foto: Shutterstock.com
 Grande rocha vulcânica no vale da montanha Hrafntinnusker. A montanha leva o nome das
rochas de vidro preto, obsidiana.

Melos, por sua vez, situada ao sul das Cíclades, se tornou referência no comércio de
obsidiana, uma rocha ígnea extrusiva constituída basicamente de vidro vulcânico, muito
utilizada na Antiguidade para produzir
pontas de flecha e de lanças, e outros instrumentos
cortantes de boa qualidade.

Essas inovações, resultado de processos de integração e diálogo entre as cidades, são parte
de condições históricas específicas, razão pela qual não é possível atestar o uso de tão
variados recursos em períodos mais antigos, como a Idade do Bronze, quando
o adobe era a
técnica mais recorrente nas construções.

O desenvolvimento das técnicas de construção dos templos concentrou bastante atenção nas
proporções. Tales de Mileto e Anaximandro de Mileto foram dois filósofos pré-socráticos do
século VI a.C. que propuseram modelos geométricos que expressavam suas
visões
cosmológicas e religiosas de mundo. Acredita-se que parte importante de suas reflexões se
ampara na influência egípcia, sobretudo em relação à arquitetura de pedra. O diálogo entre as
sociedades permitiu o compartilhamento
de procedimentos, habilidades e ferramentas.

O interesse pela medição da área, necessário no caso egípcio por razões tributárias, foi
incorporado pelos filósofos gregos, bem como o uso de técnicas de escala em desenho para
assegurar, no plano da construção, as propriedades e proporções previamente
planejadas. O
peristilo gradualmente se consolidou como uma das marcas mais visíveis dos templos.
 EXEMPLO

A técnica de alocar blocos de pedra ásperos no local das construções para o posterior
acabamento, por exemplo, é uma prática egípcia que, por volta desse período, se tornou
bastante frequente no mundo grego.

PERISTILO

Galeria de colunas que rodeia o edifício.

Em relação ao material utilizado nas construções, o uso de blocos de pedra foi se tornando
cada vez mais popular e ajudou a reforçar a monumentalidade dos edifícios.

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Imagem: Shutterstock.com
 Rua arqueada medieval na cidade velha de Rodes, Grécia.

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Garantindo estabilidade, as pedras cortadas ajudaram a produzir uma aparência mais
regular e assegurar o respeito às proporções. O uso de pedras também esteve presente
nos conjuntos escultóricos dos frisos. No templo dedicado a Ártemis em Paros (490-480
a.C.), as paredes foram feitas com mármores locais bem-ajustados, diferentes de
diversos templos construídos com tijolos de barro. Os templos também ajudaram a
consolidar as formas arquitetônicas conhecidas como “ordens”.

ORDENS GREGAS
As discussões sobre as famosas “ordens” da arquitetura grega são muito influenciadas pelo
arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio. Em seu tratado De Architectura (séc. I a.C.), Vitrúvio
oferece não apenas informações,
mas também levanta algumas discussões sobre a arquitetura
helênica. Essa obra ganhou particular atenção no Renascimento, inclusive por seus aspectos
teóricos e pelo apreço às ideias de harmonia e proporção, mas também ficou
marcada pelo
entendimento oferecido acerca dos distintos sistemas arquitetônicos, identificados como
“ordens”. Trata-se, então, de um método classificatório que define práticas e estilos de
construção, explorando simultaneamente
seus aspectos estruturais e ornamentais.

O desenvolvimento dessas ordens é igualmente devedor do acúmulo de novas técnicas,


sobretudo do processo de “petrificação” dos templos. Ainda que certas formas arquitetônicas
que se tornaram célebres pela perspectiva de Vitrúvio já estivessem presentes
em edifícios do
século IX a.C., o uso mais frequente de pedras na construção ampliou as possibilidades. O
peristilo , por exemplo, se torna relativamente comum no século VII a.C., mas
seu uso é
menos frequente nesse período do que se costumava supor. Apenas no século VI a.C. os
componentes típicos das ordens se tornam mais visíveis, resultado provável das melhorias
técnicas e da circulação de informações
entre as cidades, mais conectadas e suscetíveis a
influências mútuas, mesmo que tenham preservado inúmeras características, demandas e
exigências regionais.

 Templo do Erecteion com o famoso pórtico cariátide em vez de colunas na acrópole.


Atenas, Grécia.

Existe um consenso prático entre os especialistas de que todas as ordens derivam de duas
principais: a dórica e a jônica.
Apesar das variações, essas ordens eram caracterizadas por algumas regras que
asseguravam um padrão razoavelmente regular. Compunham-se de uma base a partir da qual
eram erguidas as colunas que, por sua vez, eram alocadas em
entablamentos constituídos
por três partes:

Imagem: Siegerder e FlaviaC/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)


Figura 1: Elementos arquitetônicos na ordem dórica , 2009.

Vamos conhecer as três partes do entablamento:

Imagem: Siegerder e FlaviaC/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)


ARQUITRAVE

Uma viga mestra horizontalmente ajustada sobre as colunas.

Imagem: Siegerder e FlaviaC/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)

FRISO

Representa a parte plana do entablamento, situado entre a cornija e a arquitrave.

Imagem: Siegerder e FlaviaC/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)


CORNIJA

Uma faixa horizontal que se sobressai na parede e que também arremata a parte superior da
obra.

Tais elementos, apesar de bastante presentes e de necessária observação, não constituíam os


únicos aspectos visuais para a definição das ordens, sugerindo mais uma tendência do que
uma regra cuja ortodoxia deveria ser formalmente seguida.

Confira abaixo mais detalhes sobre cada ordem:

Foto: Shutterstock.com

ORDEM DÓRICA

Na ordem dórica, a coluna não costumava ser acompanhada de base, sendo erigida
diretamente a partir do solo. Tais colunas eram adornadas com caneluras e terminavam com
uma espécie de anel no topo
(conhecido como equino – ver Figura 1), sobre o qual era
apensado um ábaco – ver Figura 1 -, quadrado que restringia o vão entre as colunas e provia
melhor sustentação à arquitrave. Esta, por sua vez, costumava
ser lisa e não se apoiava
diretamente na cornija. Também era frequente que um frontão se sobrepusesse a esse
conjunto. Trata-se de um grande triângulo de alvenaria, algumas vezes decorado com
conjuntos escultóricos
em alto-relevo que narravam alguma história mítica, associada tanto à
divindade local como aos heróis fundadores das cidades.

 Capitel de estilo clássico de Corinto no topo de coluna de mármore.

Foto: Shutterstock.com

ORDEM JÔNICA

Na perspectiva de Vitrúvio, as colunas eram os principais elementos que caracterizavam as


ordens, e com a ordem jônica não é diferente. Acredita-se que o estilo jônico tenha incorporado
influências orientais com mais singularidade. Diferentemente da ordem
dórica, as colunas não
emergem diretamente do piso, mas de uma base anelar. Sobre o capitel, os arquitetos
alocavam uma arquitrave que suportava um friso que, a seu turno, carregava uma cornija
balanceada.
Em seu estilo canônico, a coluna apresenta também motivos vegetais (palmeiras,
videiras etc.) que, acredita-se, tenham sido inspirados pelos egípcios. No entablamento, a
arquitrave desempenhava funções similares
à da ordem dórica, sendo dotadas de estrias
horizontais. As cenas decorativas nos frisos também se mostravam presentes. As cornijas, por
sua vez, não se diferenciavam significativamente da ordem dórica.

 Detalhe arquitetônico de uma capital neorrenascentista Jônica com elementos florais.


Foto: Shutterstock.com

ORDEM CORÍNTIA

A chamada ordem coríntia, que os próprios gregos diziam ter se desenvolvido pela influência
jônica, é sobretudo caracterizada por seu capital ricamente esculpido em forma de flores e
folhagens. Vitrúvio creditou a Calímaco a construção do primeiro capitel
coríntio. Os detalhes
são notáveis e acredita-se que os finos entalhes tenham surgido do trabalho com metal para só
posteriormente serem aplicados ao mármore.

 Capitel de estilo clássico de Corinto no topo de coluna de mármore.​


Foto: Shutterstock.com

ORDEM CARIÁTIDE

A ordem cariátide é caracterizada pela incorporação de figuras humanas às colunas do edifício.


Na acrópole de Atenas há a principal referência a esse estilo, especificamente no pórtico da
fachada sul do Erecteion (templo consagrado a Atena e Poseidon).
É um edifício jônico no que
concerne aos ornamentos e dórico em relação à forma e às proporções. Até hoje, os visitantes
se encantam com as cariátides.

 Imagem do pórtico da fachada sul do Erecteion, com destaque para as cariátides.​

Em linhas gerais, a ordem dórica tende a ser vista como mais sóbria, geométrica e regular; a
ordem jônica é mais detalhista, fluida, leve e ornamentada.

CARIÁTIDES

Figuras femininas esculpidas que funcionam como coluna ou pilar de sustentação com
um entablamento na cabeça.
Por mais que haja o costume, por exemplo, de associar a criação do estilo dórico ao norte do
Peloponeso ou à pólis de Corinto, os avanços da arqueologia mostraram que tais inovações
foram muito menos localizadas. Além disso, há variações dentro da mesma
ordem: o modelo
jônico não era o mesmo nas Cíclades e/ou na parte oriental da Ásia Menor. Em outras
palavras, além da diversidade, as interações políticas e culturais foram responsáveis pela
criação de mais formas híbridas
do que exatamente puras.

DAS CASAS AO TEATRO


Ainda que a maioria dos especialistas concentre sua atenção nos templos, outros aspectos da
arquitetura grega merecem ser considerados. Os edifícios religiosos, mais complexos e
grandiosos, se tornaram objeto privilegiado por força de sua monumentalidade,
da influência
que exerceram nos pensamentos arquitetônico e artístico posteriores e nos seus aspectos
simbólicos. No entanto, diversas outras construções compuseram a paisagem urbana da
Grécia Antiga e qualquer entendimento
mais amplo da vida em sociedade do período precisa
levá-las em consideração.

CASAS

É o caso, por exemplo, da arquitetura doméstica. Há uma razão prática para certa
desatenção dos especialistas: como os templos foram erigidos com material durável, se
tornaram mais resistentes às ações do homem e
do tempo; as casas gregas, por sua vez,
foram construídas com materiais mais simples, menos resistentes. No entanto, não é uma
mera questão de análise de vestígios, já que também possuímos bom estoque de informação
sobre
os oikoi , mas uma questão de olhar: só mais recentemente os arquitetos, arqueólogos
e historiadores passaram a se interessar pela experiência da vida doméstica.

Ainda que os espaços públicos abrigassem as mais decisivas situações da vida social
(embates políticos, julgamentos criminais, festividades, práticas religiosas, jogos etc.), grande
parte dos gregos (sobretudo as mulheres) passava boa parte de seu tempo
no espaço privado.
A maioria das casas era construída com paredes de tijolos (adobe) assentadas sobre pedras,
que impediam que o barro absorvesse a água do solo. Era comum o uso de revestimentos de
gesso na parte posterior
da parede, também visando à impermeabilização.


SAIBA MAIS

Além de ser de baixo custo e ter material em abundância, o adobe não exigia muitos
instrumentos para a produção nem conhecimentos técnicos exigentes; mais que isso, tratava-
se de um excelente isolante térmico, que mantinha a temperatura interna mais amena
no verão
e ajudava a reter o calor no inverno, sobretudo com o auxílio de lareiras e braseiros.

 Teatro de Epidauro, prefeitura de Argolida, Peloponeso, Grécia.

Outra intervenção na paisagem extremamente popular na Grécia Antiga foi o teatro. Tanto nos
centros urbanos como nas regiões mais periféricas, os teatros eram importantes espaços de
sociabilidade, religiosidade e
discussões políticas. No caso ateniense do Período Clássico, o
Teatro de Dionísio abrigava importantes festivais no inverno e no verão. Especialmente no
verão, atraía centenas de estrangeiros que visitavam a cidade para
assistir à performance de
ditirambos, às peças de Aristófanes e a outros comediógrafos, mas sobretudo às tragédias
célebres de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Aliás, no mundo contemporâneo, muitos teatros da
Antiguidade seguem sendo utilizados
para seu propósito original.


SAIBA MAIS

Em julho de 2020, a peça Os persas , de Ésquilo, foi encenada pela primeira vez no Teatro de
Epidauro, um dos mais importantes da Antiguidade. Por força da pandemia do novo
coronavírus, a adaptação foi
transmitida ao vivo pela internet para o mundo inteiro.

Era bastante frequente que a estrutura do teatro interagisse com a topografia local. Entenda
melhor com explicação abaixo:

Foto: Shutterstock.com

CAVEA

A cavea (Espaço destinado aos espectadores.) era, geralmente, afundada em uma encosta
natural, o que diminuía os custos de construção
e aproveitava a o caráter íngreme das colinas
para definir as fileiras em que ficaria a audiência. Com sua forma hemisférica, a cavea
semirredonda garantia a propagação do som e se ajustava à orchestra .

 Foto aérea do icônico e gigantesco teatro antigo de Epidavros ou Epidauro, Argolida,


Peloponeso, Grécia, feita pelo drone panorâmico.​

Foto: Shutterstock.com
ORCHESTRA

Espaço destinado à performance dos atores.

 Foto aérea do icônico e gigantesco teatro antigo de Epidavros ou Epidauro, Argolida,


Peloponeso, Grécia, feita pelo drone panorâmico.​

Foto: Shutterstock.com

SKENE

Logo após a orchestra ficava o espaço conhecido como skene , formado por um edifício de
dois ou três pavimentos que funcionava como um camarim, a partir do qual os atores entravam
e saíam de
cena. Como eram frequentemente construídos em encostas, o público também
ficava diante de grandes vales e colinas. Acredita-se que a construção de skenes mais altas
pode ter funcionado como incentivo
para reter a atenção dos espectadores nas ações que
ocorriam na orchestra .

 Foto aérea do icônico e gigantesco teatro antigo de Epidavros ou Epidauro, Argolida,


Peloponeso, Grécia, feita pelo drone panorâmico.​

Em muitos casos, skenes de madeira eram desmontadas ao fim dos festivais teatrais. No
entanto, muitos teatros acabaram substituindo essa prática por edifícios perenes, feitos de
pedra. Credita-se ao tragediógrafo
Sófocles o uso de pinturas na skene (skenographia ) para
a composição do cenário de suas peças. Também é bem-documentado o uso de maquinários
que interagiam com as estruturas originais do teatro.
 EXEMPLO

O ekkyklema , por exemplo, era um dispositivo móvel que permitia o deslocamento dos atores
no palco por meio de uma plataforma. Alguns atores, quando a necessidade cênica se
impunha, eram elevados com
guindastes. A versatilidade do espaço, portanto, estimulava
inovações cênicas.

É necessário insistir que o espaço teatral era um recinto sacralizado, de modo que tais
estruturas compunham um edifício religioso, e não um espaço rigorosamente utilitário. A
posição privilegiada que o sacerdote de Dionísio ocupava, por exemplo, no principal
teatro
ateniense, mostra o valor atribuído à religiosidade. A presença de altares nos teatros é outro
elemento que destaca a relação íntima entre a execução das peças e a ritualização do
espetáculo. Estudos recentes também
mostram que o espaço era utilizado para debates
públicos, sobretudo na Atenas democrática: a estrutura permitia, em última instância, que todos
pudessem ver e ser vistos, o que reforçava ideologicamente a questão da isonomia e da
isegoria, princípios extremamente valorizados nos discursos políticos atenienses.

ASSISTA AO VÍDEO COM A PROFESSORA


BÁRBARA LEAL SOBRE ARQUITETURA E
PODER NO GRÉCIA ANTIGA .

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. EM RELAÇÃO ÀS TÉCNICAS E AOS MATERIAIS USADOS NAS


CONSTRUÇÕES DOS EDIFÍCIOS GREGOS, PODE-SE DIZER QUE:

A) A abundância de matéria-prima permitiu o desenvolvimento de inúmeras técnicas de


construção.

B) A arquitetura manteve-se simples e funcional ao longo de todos os séculos graças à


escassez de pedras e madeiras para a construção.

C) A madeira foi a principal matéria-prima utilizada na construção dos teatros gregos do


período clássico.

D) Houve um gradual processo de “petrificação” dos edifícios, sobretudo os templos.

E) As estruturas metálicas usadas na cobertura dos telhados foi uma técnica onipresente ao
longo dos séculos.

2. SOBRE AS ORDENS GREGAS, ASSINALE A ÚNICA OPÇÃO CORRETA.


A) Apesar de terem surgido na Grécia, as reflexões e classificações conhecidas são resultado
dos estudos do romano Vitrúvio em seu tratado De Architectura .

B) Considera-se que o ponto em comum entre elas era a sobriedade, escassez de detalhes e
economia nas formas.

C) As ordens jônica e dórica surgiram na Idade do Bronze e permaneceram em voga até o


surgimento da ordem coríntia no Período Clássico, que substituiu as demais em função de
suas características marcantes.

D) As ordens jônica e dórica representaram um estilo tão marcante que nenhum arquiteto
construiu edifícios que utilizassem elementos de ambas simultaneamente.

E) As ordens gregas não existem, são uma invenção posterior e que não se confirmam com
estudos específicos.

GABARITO

1. Em relação às técnicas e aos materiais usados nas construções dos edifícios gregos,
pode-se dizer que:

A alternativa "D " está correta.

O processo do desenvolvimento de técnicas e de usos de materiais obtidos nas pedreiras eram


uma tendência no mundo grego, em especial do uso da pedra mármore que se tornaria uma de
suas marcas.

2. Sobre as ordens gregas, assinale a única opção correta.

A alternativa "A " está correta.

As ordens gregas são fruto das variações das próprias pólis que, ainda que tivessem relação
entre si, assumiam perspectivas específicas. Foram organizadas pelos romanos, característica
recorrente desse grupo, como destacado na afirmativa A.

MÓDULO 2
 Relacionar arte da arquitetura na Roma Antiga às estruturas de poder

 Fórum Romano – ruínas da arquitetura do Império Romano, Roma, Itália.

ARQUITETURA NA ROMA ANTIGA


Cícero, considerado o maior pensador romano por muitos historiadores, em uma reflexão sobre
a mimesis (simulacrum ) platônica, recorreu ao exemplo de Fídias. Para o romano, as
estátuas do artista grego eram
as mais perfeitas já vistas e, “apesar de sua beleza, podemos
imaginar algo ainda mais belo” (CÍCERO, 1967). O filósofo afirmava que Fídias não fez a
imagem de Júpiter (Zeus, na analogia latina) baseado em qualquer pessoa
tomada como
modelo, mas a partir de uma idealização de belo, sem lastro com referentes do mundo real.
Essa reflexão, que compõe um argumento mais amplo a respeito da oratória, ampara-se não
apenas na estética grega, mas
também na influência que os gregos, em particular Platão,
exerceram nas concepções latinas de arte.

Contudo, seria um equívoco sustentar que a arte e a arquitetura romanas foram simples
processos de emulação da arte e arquitetura gregas. Ainda que seja possível abordar esses
fenômenos de modo conjunto, agrupados sob o qualificativo “greco-romano”, a
influência grega
precisa ser relativizada a partir de pelos menos três pontos importantes:


Arraste para ler o conteúdo.

Α
Não há concepção de plágio na Antiguidade, fato que depõe contra a ideia de uma arte
nacional que serviria de medida para outras nações.

Parte significativa do que conhecemos dos gregos depende das reproduções e das narrativas
que os romanos fizeram a seu respeito, o que coloca em xeque a noção de originalidade
helênica.

Não há cultura que sobreviva sem contato com outras culturas e, no caso romano, apesar da
aproximação óbvia com a cultura grega, influências de várias outras sociedades são visíveis.

ARQUITETURA ROMANA
Em meados do século VIII a.C., os arqueólogos identificaram as primeiras ocupações da
cidade que era fundada à margem esquerda do rio Tibre. A planície do Lácio era pantanosa e
cercada por florestas. Era também um ponto estratégico para as rotas comerciais
do mar
Tirreno, pela ligação que fazia entre a Campânia, ao sul, e a Etrúria, ao norte. Nessa região
foram erigidas as cabanas do sítio original, feitas com materiais bem simples, demasiadamente
perecíveis para que deles
tenhamos apenas vagas notícias, mas também suficientemente
capazes de deixar os vestígios que confirmam sua existência.

O processo de drenagem da planície foi um fato decisivo, e a construção da rede de esgoto,


que os romanos denominavam
cloaca maxima , representou o principal esforço nessa direção.
Trata-se, aliás, de um dos mais antigos sistemas de esgoto do mundo. Os dejetos e as águas
pluviais, que até o ano 600 a.C. mantinham o solo excessivamente
úmido, passaram a ser
escoados para o rio Tibre. Houve melhoria óbvia das condições sanitárias e da circulação de
pessoas.

Foto: Lalupa/Wikimedia Commons, Domínio público.


 A cloaca maxima , ou "Grande Dreno", drenava água de partes do centro de Roma para o
rio Tibre, Lalupa, 2005.

As escavações revelaram o uso de diversos materiais e técnicas de construção, sintoma de


que os canais foram reformados com regularidade ao longo dos séculos. A drenagem também
tornou viável a construção do Fórum Romano, cuja importância exige nossa atenção.

As mudanças na cidade também envolvem a relação com o espaço, e a religiosidade não fica
de fora dessa equação. O espaço doméstico era marcado por uma profunda dimensão de
sacralidade. Não era apenas o domínio do pater familias ,
que exerceria seu poder de mando
como um sacerdócio; era também o espaço no qual os espíritos dos antepassados viviam.

A cidade, porém, não é um simples conglomerado de casas e essa concepção também foi
expressa pela via religiosa: os romanos entendiam que o que havia de sagrado em cada
domus era também compartilhado no espaço comum,
no espaço do fórum. A experiência de
formação das pólis gregas oferece mais do que uma analogia, mas um sintoma de práticas
mediterrâneas compartilhadas. Em outras palavras, o desenvolvimento das cidades foi
acompanhado
da noção de que há espaços comuns que pertencem a todos sem pertencer a
ninguém em particular.

Foto: Shutterstock.com
 Ruínas do Fórum Romano , Itália.

O fórum era a expressão material da consciência de fazer parte de uma comunidade. Além dos
prédios administrativos, onde as instituições do governo foram construídas, era também o
centro jurídico, onde os negócios públicos e as discussões legais eram
realizados. Também era
o centro religioso da cidade: diversos rituais e festividades eram periodicamente realizados na
busca de uma relação harmoniosa com os deuses. O fórum foi o coração urbanístico e
arquitetônico de
Roma, ponto de ser referência a partir do qual compreendiam irradiar-se todos
os caminhos, visto como a origem da malha urbana.

 VOCÊ SABIA

Antigas narrativas diziam que Rômulo, ao fundar a cidade, mandou escavar um poço na região
do Fórum. Os primeiros resultados das colheitas anuais eram lançados nele como sacrifício
coletivo. Já em II d.C., o imperador Sétimo Severo mandou erigir um monumento
que marcava
esse ponto central: o Umbilicus Urbis Romae , “umbigo da cidade de Roma”.

Foto: Sailko/Wikimedia Commons, CC BY 2.5.


 Umbilicus Urbis , Roma, 2008.

As mudanças urbanísticas e arquitetônicas, como também já observamos, não resultam


necessariamente de uma visão de mundo preexistente da qual são resultado; ao contrário, elas
participam, de modo estruturado e estruturante, da construção dessas visões
de mundo. Não
parece improvável que, do ponto de vista das mentalidades, essa gradual valorização do
espaço comum tenha estimulado não apenas o crescimento da cidade, mas também tenha
provocado tensões políticas importantes.
Ao final do século VI a.C., as tensões que culminaram
com o fim da monarquia instituíram a República , palavra oriunda do latim res publica , “coisa
pública” e que se opõe, do
ponto de vista semântico, à res privata , à “coisa particular”.

ESPAÇO DOMÉSTICO E VIDA COTIDIANA


Durante o período republicano, os templos se consolidaram como a estrutura arquitetônica
mais comum de Roma. Milhares de templos foram construídos, sobretudo com base em
patrocínio, mas também com a devida anuência das instituições republicanas. Líderes
militares
utilizavam o espólio de guerra para financiar a construção de santuários, sobretudo dedicados
a Marte, deus da guerra, como forma de apaziguar o deus ou buscar sua simpatia.
Magistrados também prometiam templos para celebrar fatos importantes da vida romana. Foi o
caso do Templo da Concórdia, dedicado à deusa homônima. Sua construção foi jurada em 367
a.C. para celebrar os acordos que culminaram com a promulgação da Lex Licinia Sextia ,
ratificada nesse ano e que estabelecia a obrigatoriedade de que um dos cônsules deveria ser
necessariamente plebeu. Construído na extremidade ocidental do fórum, aos pés do monte
Capitolino, esse templo com colunas coríntias
foi destruído em 1450, restando para nós apenas
suas ruínas.

O Templo de Júpiter Capitolino é considerado o maior e mais importante edifício do gênero do


período republicano. Localizava-se no ponto em que culminava a procissão triunfal que
generais vitoriosos realizavam para celebrar suas conquistas. Por força
de incêndios, foi
reconstruído e sofreu diversas intervenções. Acredita-se, por exemplo, que o general e cônsul
Sula teria substituído as colunas originais do templo pelas colunas de mármore coríntio do
Templo de Zeus Olímpico,
em Atenas. A difícil tarefa de transportar essas estruturas de
algumas toneladas levanta sérias dúvidas sobre essa narrativa, ainda que a reutilização de
mármore e pedra fosse algo comum. Não menos importante, suas características
eram bem
diferentes dos templos helênicos, como o recurso a degraus frontais, alpendre profundo e
colunas bem mais espaçadas.

Imagem: Morphart Creation/Shutterstock.com.


 Templo de Júpiter, Capitolino , Roma.

Ainda que seja um marco arquitetônico do início da República, sobretudo por ter sido dedicado
aos cônsules em 509 a.C., acredita-se que sua construção tenha começado em 580 a.C. sob a
iniciativa do último rei etrusco, que mobilizou seus artistas para
viabilizar a obra monumental.
Reforça essa hipótese a estrutura gigantesca que se erguia em uma plataforma de quase 55
metros e que tinha apenas seis colunas frontais ladeadas por escadarias íngremes e largas.
Diferentemente
dos templos gregos, os ornamentos inseridos no topo do telhado eram
símbolos da opulência do edifício. O mais admirado era a escultura de Júpiter em uma
carruagem, feita em terracota, situada no topo do frontão. De acordo
com testemunhos
literários, o original foi substituído por uma versão em bronze que data de 296 a.C.

É impossível ignorar a influência da arquitetura grega, sobretudo pela adoção das ordens
dórica e jônica, pelo uso de colunas, capitéis, estruturas em pedra e proporções. Também são
notáveis os esforços para manter algumas características tradicionalmente
latinas. É preciso
recordar que, ao final da República, Roma já dominava parte significativa do mundo conhecido.
Por essa razão, controlava inúmeras rotas comerciais que garantiam enorme afluxo de
produtos para a capital.
As construções se tornaram mais diversas e menos dependentes das
matérias-primas locais. Como não há forma sem conteúdo e conteúdo sem forma, é
compreensível que a diversificação das técnicas de construção e ornamentação
não tenha
resultado apenas das exigências locais, dos contatos culturais e da criatividade dos arquitetos,
mas também da oferta de condições materiais que a expansão do território garantiu.

 Partenon, ruínas de um antigo monumento na acrópole. Atenas, Grécia.

A variedade de estilos também depende do tipo de habitação: tem-se a domus , a casa


geminada, os cortiços, edifícios de apartamentos, vilas urbanas e suburbanas, casas de
fazenda, palácios e residências imperiais.
Quando se pensa na amplitude do império, não é
exigido muito esforço para pensar a existência de enorme variedade de estilos, mas o princípio
também é válido para a própria cidade que, com seu crescimento, se tornou uma
espécie de
sociedade multicultural. Ainda assim, de acordo com os relatos antigos, a domus
representava o modelo mais representativo da arquitetura doméstica de Roma.

Mesmo que pudesse ter um segundo pavimento, as domus caracterizavam-se pela


horizontalidade. As tabernae eram divisões que garantiam acesso à rua e, em alguns casos,
eram alugadas para terceiros, usadas como
lojas ou oficinas. O átrio, provavelmente o espaço
mais valorizado da domus , não parece ter cumprido funções semelhantes ao pátio dos oikoi
gregos. Ainda que atividades domésticas cotidianas acontecessem nesse
espaço, há ênfase
no valor religioso, já que o átrio abrigava imagens dos antepassados (imagines maiorum ),
além de ser um espaço de sociabilidade.

Foto: Shutterstock.com
 Estátua do Fauno na casa do Fauno nas ruínas de Pompeia, Nápoles, Itália.

Um dos exemplos mais bem-preservados de domus é a conhecida Casa de Fauno , cujas


ruínas estão localizadas em Pompeia.

Leia Mais

Os edifícios (insulae ) se tornaram marca da paisagem urbana de Roma, sobretudo a partir do


século I d.C. Uma família com melhores condições poderia alugar um apartamento térreo, mas
a maioria tinha poucas posses
e era obrigada a alugar apartamentos em andares mais altos
que, na época, eram desvalorizados pelas dificuldades de transportar água pelas escadas.
Aqueles que investiram na construção de edifícios com vários pavimentos
receberam razoáveis
quantias pela locação. Os custos da produção eram reduzidos com o uso de madeira nas
estruturas. A probabilidade de desabamento era muito alta, especialmente por terremotos, bem
como por incêndios.

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Foto: Shutterstock.com

A erupção do vulcão Vesúvio em 79 a.C. soterrou as cidades de Pompeia e Herculano.


Essa domus , construída no século II a.C., é considerada, por seu tamanho e riqueza,
uma das casas aristocráticas mais luxuosas
do período republicano. O lugar recebeu
esse nome pela presença de uma estátua de bronze do deus homônimo, instalada na
lateral do implúvio. A construção possui aproximadamente 3.500m2. Não produziu, como
muitos
alegaram, uma cápsula do tempo, mas permitiu que os historiadores e
arqueólogos analisassem com muito mais recursos a vida em sociedade naquela região.
Há peristilos da ordem dórica e jônica, além de tabernae ,
átrios e espaços de serviço.
Na entrada da domus , o proprietário inscreveu a mensagem Have (ave), famosa
saudação latina usada para cumprimentar os convidados na chegada e na saída. A Casa
de Fauno
também possuía quartos (cubicula ), salas para banquetes (triclínios), sala de
recepção e tablinum , uma espécie de escritório. Um dos mosaicos romanos mais
famosos, como veremos adiante, também foi
preservado na Casa de Fauno .

Obviamente, esse tipo de domus era mais exceção do que regra. Ainda que Roma
tenha se tornado extremamente rica, a maioria da população era empobrecida e,
portanto, incapaz de adquirir e garantir a manutenção
de residências similares.

 VOCÊ SABIA
O episódio mais conhecido ocorreu em julho de 64 d.C., quando um grande incêndio afetou
diversas zonas da cidade de Roma. O fogo se alastrou com enorme velocidade e durou seis
dias, segundo relatos. As causas são desconhecidas. É possível que tenha começado
porque
algum morador fez uso de fogo no interior de seu apartamento para se aquecer ou preparar
uma refeição. Alega-se também que o imperador da época, Nero, teria ordenado esse incêndio
para desapropriar as
regiões e construir um complexo palaciano. A despeito da causa real,
esse grande incêndio estimulou a promulgação de leis que criavam protocolos mais rígidos
para as construções.

 Coliseu de Roma , Itália.

ARQUITETURA DO ESPETÁCULO
Ainda que os templos tenham sido a forma dominante na paisagem, a arquitetura romana
tornou-se célebre pelos edifícios destinados aos espetáculos.

Além da monumentalidade, os efeitos políticos foram plenamente percebidos: no final da


República, aspirantes às altas magistraturas perceberam que o patrocínio para a construção de
espaços para jogos e atividades esportivas garantia enorme prestígio político.
Ainda que os
anfiteatros, destinados principalmente ao combate de gladiadores, e o circo tenham se tornado
as principais referências desse modelo arquitetônico, obras de teatros e estádios também
foram amplamente financiadas,
tanto na urbs como nas provinciae de Roma. O investimento
público foi igualmente alto.
 EXEMPLO

O circo (circus ), por exemplo, prioritariamente destinado a corridas de bigas, podia abrigar
eventos de caça, procissões e outras atividades religiosas. Seu formato lembra a letra “U”,
ainda que as laterais
fossem mais compridas do que a analogia sugere. Acomodavam, em
média, corridas de até doze carros. As dimensões também eram bastante variáveis.

Foto: Shutterstock.com
 Interior do Circus Maximus, estádio de corrida de bigas , Roma, Itália.

Destaca-se nesse estilo o chamado Circus Maximus , localizado no coração de Roma, entre
os montes Aventino e Palatino. Com cerca de 621m de comprimento e 118m de largura, podia
acomodar aproximadamente 150 mil pessoas.
O início de sua construção é atribuído ao rei
etrusco Lúcio Tarquínio Prisco, e durante vários séculos o espaço sofreu intervenções,
sobretudo restauros por incêndios ocorridos em I a.C. A estrutura de pedra só foi construída
durante o governo de Trajano (98 a 117 d.C.).

Os teatros romanos, ainda que influenciados pela experiência grega, foram construídos com
técnicas e materiais bem distintos. As estruturas, erigidas com madeira ou pedra, dependendo
da região e da fonte de financiamento, diferenciam-se bastante da inspiração
helênica,
sobretudo por força dos avanços técnicos.

Os romanos já não dependiam da topografia das encostas para produzir a arquibancada: era
mais frequente o uso de estruturas bem-assentadas no solo, com vigas profundas, para
garantir apoio seguro aos lugares destinados ao público. O teatro assumia quase
sempre uma
forma semicircular, lembrando a letra “D”; a orchestra , diferentemente da circular dos teatros
gregos, acompanhava a forma semicircular. Os prédios altos (scenae )
também eram
presentes e cumpriam função semelhante à dos teatros gregos.

Foto: Håkan Svensson/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0


 O teatro romano em Mérida , Espanha, 2004.

Os anfiteatros eram arenas ovais quase totalmente cercadas por assentos. O anfiteatro
permanente mais antigo conhecido fica em Pompeia. De acordo com uma inscrição no edifício,
Quinctius Valgus e Marcus Porcius patrocinaram a obra com recursos próprios
e com a devida
anuência dos magistrados locais. Localizado na parte oeste da cidade, media 135m x 105m
externamente.

Contudo, como é notório, o anfiteatro mais famoso e influente de Roma, símbolo da cidade até
os dias atuais, é o Anfiteatro Flaviano, o famoso Coliseu. O edifício monumental contava com
quatro andares que avançavam por 52m de altura, apoiados em uma estrutura
de concreto
que, por sua vez, assentava-se em fundações com cerca de 12m de profundidade.

Não menos surpreendente foi o tempo utilizado para a construção dessa obra: as primeiras
pedras foram colocadas no ano de 68 a.C. e sua inauguração ocorreu por volta de 79 a.C. O
local escolhido foi o lago artificial criado por Nero na região afetada
pelo grande incêndio de 64
a.C. Essa decisão, amparada na controvérsia do incêndio, provavelmente buscava oferecer
uma resposta à impopularidade de Nero e garantir prestígio político para o imperador
Vespasiano, fundador
da
dinastia Flaviana, que então assumia o poder.

Foto: FeaturedPics/Wikimedia Commons, Domínio público.


 Coliseu , Roma, Itália, 2020.

A política não estava presente apenas na oferta de tais espaços. O Coliseu, em particular, se
tornou o símbolo da famosa “política de pão e circo” (panis et circensis ), tão discutida e objeto
de intermináveis controvérsias.

A despeito das divergências, os espetáculos oferecidos ao populus romano eram bastante


populares. Os mais conhecidos eram os combates de gladiadores, protagonizados por sujeitos
quase sempre escravizados que na maioria
das vezes lutavam até a morte diante do público.
Além disso, a arena do Coliseu também foi palco dos chamados ludi bestialia , combates com
animais ou experiências simuladas de caça.

 VOCÊ SABIA

Por falar em animais, você sabia que a maioria deles não fazia parte da fauna italiana? A
documentação literária menciona que esses espetáculos ocorriam na parte da manhã e que
elefantes, leões, leopardos e até tigres eram colocados na arena para enfrentar
gladiadores.
Trazê-los de outras regiões era um método de reforçar o poder imperial e mandava uma
mensagem – que Roma era tão grande que se estendia até onde viviam animais exóticos.
Ainda que pouco provável, a documentação também menciona as chamadas naumaquias,
combates que simulavam algum enfrentamento naval célebre de gregos e/ou romanos.

MONUMENTALIDADE ROMANA
O Circus Maximus e o Coliseu são símbolos do vibrante investimento que os romanos fizeram
em sua paisagem. Em especial, estão inseridos em um processo mais amplo de urbanização
da cidade que, em período relativamente
curto do ponto de vista histórico, produziu
transformações que geram espanto e curiosidade intelectual. Como vimos, a cidade fundada
no século VIII a.C., com seus primeiros assentamentos bem simples, gradualmente se
converteu
em centro do mundo (urbi et orbi ), a ponto de se referirem ao Mediterrâneo como
mare nostrum , nosso mar, já que todas as praias desse mar estavam sob domínio romano.
Essas transformações, ainda que em menor
medida, também se mostraram presentes nas
províncias, sobretudo nos esforços de assegurar instrumentos adequados de administração e
manutenção do poder imperial.

As famosas estradas são exemplos desse esforço estratégico. Mesmo em regiões


montanhosas, os romanos construíram estradas com enorme cautela, em muitos casos de
pedra e com valas para o escoamento das águas. Havia boas razões para esse investimento:
além
de facilitar os deslocamentos (para fins administrativos e militares), permitia melhor
comunicação com as regiões mais afastadas da capital e facilitava o fluxo de mercadorias. A
construção de estradas igualmente garantia
emprego para as camadas mais empobrecidas,
desestimulando revoltas e sedições.

Foto: Kleuske/Wikimedia Commons, Domínio público.


 Ruínas da Via Appia, perto de Quarto Miglio , Roma, 2005.

O início dessa malha viária se deu por volta de 300 a.C., mas os primeiros esforços seriam
provavelmente incapazes de projetar as dimensões que atingiriam. A mais famosa de Roma é
também a mais antiga. A Via Ápia, construída em 312 a.C., que ligava Roma
à cidade de
Cápua, ficou conhecida pela repressão que o então general Marco Licínio Crasso imputou a
um grupo de gladiadores revoltosos liderados pelo trácio Espártaco. Crasso capturou cerca de
6 mil revoltosos e os crucificou
ao longo de toda a Via Ápia.

 SAIBA MAIS

Calcula-se que 372 grandes estradas foram construídas pelos romanos, totalizando cerca de
400 mil quilômetros, dos quais 80 mil eram calçados com rochas de basalto, e boa parte ainda
se encontra em uso. Os chamados miliários (miliarium )
eram pontos de referência apensados
ao longo das estradas em intervalos médios de 1.500 metros. Eram colunas de base retangular
que indicavam o número da milha em questão. O Miliarium Aureum , construído
por Augusto,
representava o marco zero de todas as estradas.

Não menos emblemáticos foram os aquedutos. A cidade de Roma, por exemplo, era
abastecida por onze aquedutos na época final do império, com longitude total de 426km,
fornecendo 200 mil litros diários de água. Eles
também eram fundamentais para o fornecimento
de energia hidráulica, necessária para o funcionamento de moinhos e serrarias.

Foto: Shutterstock.com
 Arco de Druso, um antigo arco em Roma , Itália.

A maioria dos canais era subterrânea e garantia o fluxo de água por meio da gravidade e com
ligeiras inclinações. Diversas pontes foram construídas para lidar com a topografia. Esses
sistemas de aqueduto também incluíam tanques de sedimentação, diminuindo
a quantidade de
impurezas na água. O fluxo era regulado por comportas, e o escoamento levava a fossas e à
própria rede de esgotos.

A monumentalidade das obras não é isolada das demais construções que, tomadas em seu
conjunto, reforçam a excepcionalidade romana.

Foto: Jean-Pierre Dalbéra/Wikimedia Commons, CC BY-SA 2.0.


 Maquete de Roma durante o reinado de Constantino (306-337) , França, 2011.

 SAIBA MAIS

As maquetes produzidas e expostas pelo Museu della Cività Romana são esclarecedoras para
visualizarmos o crescimento da urbs .

As redes de esgoto, aquedutos e estradas não levavam em consideração as antigas fronteiras


locais. Após a conquista, os romanos atravessavam os territórios com essas intervenções
urbanas sem considerar os limites tradicionais. Essa estratégia também produzia
um efeito
simbólico, ratificando o domínio do poder central por meio da desterritorialização das
comunidades nativas. Ou seja, quando uma estrada romana se expandia por territórios,
produzia um efeito de integração que
ratificava o poder imperial.
ASSISTA AO VÍDEO COM A PROFESSORA BÁRBARA
LEAL SOBRE ARQUITETURA E PODER NA ROMA
ANTIGA .

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DO FÓRUM ROMANO, PODE-SE DIZER QUE:

A) Seu surgimento foi motivado exclusivamente pela necessidade de canalizar os esgotos e


garantir melhor salubridade para os moradores da região.

B) Sua criação resultou de uma iniciativa dos plebeus, que já não admitiam ver seus problemas
resolvidos pelos patrícios e desejavam um espaço público para discuti-los.

C) Foi resultado de uma decisão democrática e coletiva, planejada com vistas a destinar os
tributos à construção de obras monumentais que exibissem o poder político dos patrícios.

D) Sua criação foi uma iniciativa dos reis etruscos que desejavam aprofundar os laços
comunitários dos povos latinos que estavam sob seu governo.

E) É um espaço marcado por profunda religiosidade que resultou das demandas por espaços
públicos que pertencessem a todos sem pertencer a ninguém em particular.

2. O DITADO TODOS OS CAMINHOS LEVAM À ROMA POSSUI LASTRO


EM SUA FAMOSA REDE DE ESTRADAS. EM RELAÇÃO A ELAS,
ASSINALE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA.

A) As estradas foram construídas por cidadãos livres e ricos que estavam envolvidos no projeto
de melhorar o acesso da plebe à capital do império.

B) A construção das estradas era uma estratégia de governo para angariar votos para os
senadores.

C) Os milhares de quilômetros de estrada facilitavam o deslocamento das mercadorias e


tinham exclusivamente esse fim.

D) As estradas romanas, atravessando as antigas fronteiras tradicionais das comunidades


conquistadas, produziam um sentido de integração que reforçava o domínio de Roma.

E) Com as estradas, os administradores das províncias conseguiam se proteger e se isolar dos


ataques dos inimigos de Roma.

GABARITO

1. A respeito do Fórum Romano, pode-se dizer que:


A alternativa "E " está correta.

O Fórum é um ícone da organização romana, marcando a transição de modelos religiosos para


a consolidação de espaços públicos, saindo das estruturas palaciana para um modelo que
seria icônico na República e no Império Romano.

2. O ditado Todos os caminhos levam à Roma possui lastro em sua famosa rede de
estradas. Em relação a elas, assinale a única alternativa correta.

A alternativa "D " está correta.

A arquitetura e o urbanismo romano são fortemente funcionais. Estavam sempre vinculados a


demandas e projetos de poder. Assim, expressavam possibilidades de integração, o que
facilitava a própria noção de romanidade, tão cara ao sistema político naquele momento.

MÓDULO 3

 Descrever a arte da arquitetura no Crescente Fértil Oriental

ARQUITETURA NO CRESCENTE FÉRTIL


Como vimos, Grécia e Roma representam aquilo que se convém denominar “cultura clássica”,
qualificativo que também se aplica à arte e arquitetura. Seria tentador acreditar que a influência
dessas sociedades é resultado único e exclusivo das qualidades
inatas e inquestionáveis
daquilo que realizaram. Sabe-se, porém, que esse prestígio tem mais a ver com o valor
atribuído ao longo dos séculos, sobretudo pelos europeus, do que com a inventividade e
perícia dos gregos e
romanos antigos. Quando os gregos começaram a erigir seus edifícios e a
representar suas visões de mundo nas artes visuais, sociedades do antigo Oriente Próximo já
tinham experiências análogas havia muitos séculos. A Mesopotâmia,
em particular, é
considerada a primeira sociedade a organizar um modo de vida urbano.
A cidade não é um simples conglomerado de pessoas que vivem próximas umas às outras – é
uma experiência de vida em
comum, com relações comunitárias em determinado
espaço, exigências próprias, obrigações e deveres mútuos, vivências
compartilhadas,
além da sensação de pertencer a um grupo que, por suas características étnicas ou
históricas, se
diferencia de outros grupos semelhantes.

 Mesopotâmia .

No caso mesopotâmico, as comunidades foram crescendo gradualmente e a construção de


templos garantiu um centro de culto comum. As práticas agrícolas permitiam que as pessoas
não precisassem se deslocar em busca de novas fontes de alimento. Pouco a pouco,
descobriram as vantagens sociais de viver junto, bem como os problemas que isso traz, e
produziram cada vez mais intervenções na paisagem para favorecer e organizar, a partir de
relações de poder, uma experiência inaugural
de vida urbana.

 ATENÇÃO

Como se deduz, a data de 3.600 a.C. possui um caráter arbitrário, pois o desenvolvimento das
cidades não foi um fato momentâneo, precisamente situável na cronologia, mas resultado de
um processo gradual que, por volta dessa época, atingiu características
que historiadores e
arqueólogos julgaram claras para estabelecer esse marco.

Em meados do quarto milênio antes de Cristo, a Baixa Mesopotâmia desenvolveu formas de se


viver em cidades com relativo ineditismo. Não sem razão, diversos especialistas tentaram
identificar as causas desse fenômeno.

Por que a formação das cidades ocorreu precisamente naquela região?

É uma pergunta inevitável, mas arriscada, principalmente se buscamos elementos objetivos. As


condições climáticas e geográficas não parecem ter sido um incentivo a essa inovação: além
do clima árido, as regiões mais irrigadas eram pantanosas e a oferta
de matéria-prima muito
limitada. O uso de madeira era raro no período, inclusive porque a palmeira, espécie nativa
encontrada em maior quantidade, não era considerada adequada para as construções.

 COMENTÁRIO

Mesmo na Antiguidade, comentadores destacaram a importância dos rios perenes para o


desenvolvimento da região e a administração das águas se tornou o principal aspecto na
tentativa de explicação do surgimento das cidades.

A garantia de alimentos é necessidade primária para a sedentarização. A produção de


alimentos em maior escala exigia a construção e manutenção de canais que controlassem a
oferta de água para o solo, irrigando ou drenando conforme a necessidade.

Acreditou-se que a origem das cidades e do Estado estivesse associada à necessidade de um


poder central que se responsabilizasse por essa tarefa e utilizasse os tributos para financiar a
atividade. Essa interpretação recebeu o nome de hipótese causal hidráulica.
Estudos
recentes, contudo, mostraram que a administração das águas dos rios foi inicialmente
comunitária e só posteriormente os governos se encarregaram dessa tarefa.

Muitos vestígios chegaram a nós dada a baixa umidade da região e também porque a ausência
prática de madeira estimulou construções com materiais menos degradáveis, sobretudo tijolos
de argila. No entanto, e a despeito de dificuldades ou favorecimentos
ecológicos, os povos
sumérios e acádios produziram intervenções no ambiente com recursos e inventividade que
merecem atenção. Ainda que o patrimônio material tenha sido afetado ao longo do tempo,
restando de muitos edifícios
apenas a planta baixa, o corpus é amplo e rico.

Confira os detalhes abaixo:

TIJOLOS
ROCHAS

TIJOLOS
O material básico utilizado nas construções era a argila, tanto na fabricação de tijolos como
na função de argamassa.

A partir da definição de um formato e da pressão exercida sobre o material com as mãos ou


com um molde, produziam-se tijolos pré-fabricados que permitiram construir casas e grandes
edifícios em menor tempo. Em muitos casos, utilizava-se betume para garantir
melhor
impermeabilização. Os tijolos eram produzidos com um material versátil, econômico e
abundante na região. Mesmo que a umidade e as chuvas pudessem danificar os edifícios, o
verão era árido e a disponibilidade
de recursos permitia a realização tanto de reparos rápidos
como da derrubada de paredes comprometidas para que outras, mais seguras, fossem erigidas
a partir delas.

ROCHAS

O uso de rochas era mais incomum, mas presente. Eram obtidas tanto pela coleta de
pedras (As mais frequentes eram basalto, calcário e arenito.) soltas como pela extração de
blocos. As pedras foram utilizadas na construção
de paredes independentes ou de contenções,
plataformas e detalhes arquitetônicos, como colunas, escadas e soleiras de portas.

ETAPA 03

txt

CASA, PALÁCIO, TEMPLO


 Templo de Bel Baal Mesopotâmia , Palmyra, Síria.

Tradicionalmente, os analistas dão maior ênfase aos templos e palácios, sobretudo pela
influência das autoridades que os comandavam, pela disponibilidade de vestígios e pelo
caráter monumental da arquitetura. Porém, os espaços domésticos passaram a ser
reconhecidos não apenas por serem os núcleos da vida cotidiana, mas da unidade
socioeconômica básica, valorizando não só as formas de construção como também os
artefatos que a compunham e o modo com que interagiam e se
integravam à paisagem.

CASA

Seria difícil estabelecer um modelo de casa na Mesopotâmia. Sabe-se que as casas com pátio
(tarbaṣu , em acadiano) eram o tipo predominante. Ao norte da Babilônia, casas menores
eram mais frequentes do que na Baixa
Mesopotâmia.

Na cidade de Ur, duas áreas de casas foram encontradas bem-preservadas. Em uma delas, foi
possível conhecer o nome do proprietário, um comerciante chamado Ea-nasir. Essa casa de
dois pavimentos foi construída com tijolos cozidos e tinha um pátio central
que se comunicava
com todos os cômodos. Em uma sala longa e estreita foi incluída uma escada que conduzia ao
segundo andar. Em todas as cinco salas foram encontradas tumbas no subsolo. A espessura
da parede era bastante
significativa e alguns autores acreditam que o proprietário buscava
expressar prosperidade e opulência com isso.

Imagem: Zunkir /Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0


 Ilustração do interior de uma velha casa babilônica encontrada nas ruínas de Ur, que pode
ter sido a residência de Ea-nasir. 1. entradas; 2. tribunal principal; 3. cômodo que leva
à escada
(a casa pode ter um andar); 4. lavatório; 5. recepção ou sala residencial; 6. capela ou outro
cômodo residencial. Zunkir, 2011.

 VOCÊ SABIA

Curiosamente, nessa casa foi encontrado o registro escrito mais antigo de uma reclamação,
feita contra o próprio Ea-nasir.

 Tabuleta de argila cuneiforme ao comerciante


Ea-Nasir, reclamando da entrega de cobre
de qualidade errada , cerca de 1750 a.C., atualmente no Museu Britânico.

Foto: Qualiesin/Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0.​

A noção de casa não se restringia às paredes que delimitavam o espaço doméstico. Os povos
mesopotâmicos muitas vezes descreveram construções maiores, como templos e palácios,
com grandes famílias. Diversos estudos mostram que regiões como Diyala, Ur e
Nippur,
distritos residenciais, eram compostas de casas grandes, amuralhadas e bem-equipadas, e
uma maioria de casas pequenas e pouco mobiliadas que se situavam próximas a elas, quase
sempre com paredes compartilhadas.
Cômodos especializados (cozinhas, banheiros,
santuários domésticos etc.) eram exceções, incluindo espaços para sepultamento de ricos
túmulos. Arqueólogos oportunamente observaram que, graças às características da
construção,
essas casas eram bem maleáveis e com bastante frequência paredes eram
derrubadas ou erguidas para ampliar uma residência ou reduzi-la, por força de novas
configurações familiares ou por dificuldades financeiras que obrigavam
o proprietário a alugar
ou sublocar algum cômodo.

Um dos exemplos foi encontrado na cidade assíria de Mari, na Alta Mesopotâmia.

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Trata-se de um modelo circular feito de argila que teria sido produzido entre 2900 e 2460
a.C. Foi encontrado em contexto privado e tinha fins religiosos: era um objeto votivo
relacionado ao culto de ancestrais e que poderia também servir a fins apotropaicos.
Os
arqueólogos relataram que esse objeto foi cuidadosamente alocado em uma superfície
rodeada de tijolos e acompanhado de vários outros objetos de cerâmica. Não menos
curioso é o fato de que seu formato não possuía equivalente
com as edificações da
cidade de Mari na época, em geral construídas em forma retangular ou quadrangular.

Imagem: ROZESTRATEN, 2003, p.46.



Modelo de Mari B. Mari , Iraque. Terceiro Milênio, 2900-2460 a.C., cerca de 1750
a.C.

Foto: Louvre Museum/Wikimedia Commons, Domínio público


 Hamurabi , Louvre Museum, cerca de 1793 e 1751.

Mesmo que tais modelos tivessem finalidade religiosa, podem ter sido usados como referência
e estudo de edifícios que pretendiam construir. Essa hipótese não é desprezível, sobretudo
porque a fragilidade das construções foi objeto de atenção dos governantes
antigos, com
destaque para
Hamurabi. Contudo, ainda que seja arriscado caracterizar esses artefatos como
maquetes, não há como ignorar que são
excelentes documentos para compreender as
experiências domésticas dos mesopotâmicos. Afinal, eram a expressão de uma concepção de
moradia que só poderia estar vinculada à experiência real, inclusive do ponto de vista da
matéria-prima.

HAMURABI

Monarca ou deus, depende da interpretação, que organiza os sumérios.

 COMENTÁRIO
Sobre o Hamurabi, no parágrafo 229 de seu famoso códice legal, tomamos conhecimento de
que pedreiros que edificassem casas sem a devida fortificação poderiam ser condenados à
morte caso o prédio tombasse e matasse o contratante.

PALÁCIO

O palácio não era apenas uma residência, mas também o lugar de atividades de cunho
administrativo, burocrático, industrial e cerimonial. Por aglutinar tantas dimensões importantes
para a vida em sociedade, deveriam ser bem maiores do que as casas regulares.
Além desse
aspecto prático, a monumentalização desses edifícios ocorreu porque os reis gozavam de
recursos de que a maioria não dispunha e buscavam exibi-los publicamente para legitimar seu
poder.

Confira os detalhes arquitetônicos do palácio:

PÁTIO
DECORAÇÃO

PÁTIO

Acredita-se que os palácios mesopotâmicos se desenvolveram a partir do paradigma da


arquitetura doméstica, especialmente pela centralidade do pátio. Em geral eram dois pátios: um
externo, que se abria ao público em função de eventos; e um interno, utilizado
para cerimônias
privadas. Ambos mantinham conexão com a sala do trono, mas a seu redor foram construídos
quartos que acomodavam escritórios, oficinas e áreas de armazenamento.

DECORAÇÃO

A decoração interna também era rica. As paredes eram adornadas com pinturas contendo
cenas cerimoniais; entre os assírios, relevos esculpidos representavam atividades de guerra e
caça.
Um dos maiores palácios conhecidos, com cerca de trezentos cômodos, foi identificado em
Mari e pertencia ao governador Zinri-Lim, coetâneo de Hamurabi (séc. XVIII a.C.).

Foto: Heretiq/ Wikimedia Commons, CC BY 2.5.


 Palácio de Zinri-Lim em Mari , Síria, 2005.

O prédio foi projetado com alguns diferenciais:

SALA DO TRONO
ESPAÇO DE ABRIGO
PRIVACIDADE NOS CÔMODOS
PORTÃO DE ENTRADA E SEGURANÇA
CONSTRUÇÃO EM ARGILA

SALA DO TRONO

A sala do trono continha uma escada em espiral que conduzia ao telhado para observações
astronômicas e cerimônias específicas, e um caminho de pedras para guiar as rodas de um
braseiro portátil que garantia conforto no inverno.
ESPAÇO DE ABRIGO

Além da família que governava, o espaço abrigava também os funcionários mais próximos,
como guardas reais, militares, escribas e demais responsáveis pela manutenção diária do
espaço.

PRIVACIDADE NOS CÔMODOS

A maioria dos cômodos era interconectada, o que reduzia o nível de privacidade; já os


aposentos particulares do rei eram isolados.

PORTÃO DE ENTRADA E SEGURANÇA

Apenas um grande portão de entrada garantia acesso ao palácio, o que aumentava a


segurança.

CONSTRUÇÃO EM ARGILA

As escavações também revelaram cerca de 25 mil tabletes de argila, que demonstram não
apenas a importância de Mari no contexto da Mesopotâmia, mas também a atividade
administrativa que o prédio sediava.

Outro exemplo bastante estudado é o palácio de Assurnasirpal II (883-859 a.C.), um dos reis
mais conhecidos da história mesopotâmica, por sua política de expansão territorial e pelo
desenvolvimento de importantes
centros de poder.

Imagem: ru:user:Кучумов Андрей/Wikimedia Commons, Domínio público



Assurnasirpal II sentado em seu trono , ru:user:Кучумов Андрей, 1904.

Seu projeto arquitetônico mais destacado foi a construção de uma nova capital na província de
Kalhu, localizada à margem leste de um antigo leito do rio Tigres. Em seu quinto ano de
governo, abandonou a região de Assur e migrou para Kalhu, onde fez investimentos
dos quais
se destacam uma muralha de aproximadamente 7,5km de circunferência, templos e o referido
palácio. A área do palácio mede 200m no eixo norte-sul e 120m de leste a oeste.

Veja os detalhes dessa construção:

PÁTIO EXTERNO E SALA DO TRONO


ENTRADAS
MATERIAIS
DECORAÇÃO

PÁTIO EXTERNO E SALA DO TRONO

Ao norte do edifício encontra-se um grande pátio externo e ao sul, a sala do trono.


ENTRADAS

Várias entradas garantiam acesso ao palácio, que foi ricamente adornado com colossos de
touro e leões com rostos humanos.

MATERIAIS

Registros sugerem o uso de madeiras exóticas, tijolos vitrificados e bronze na sua construção.
A arqueologia não pôde confirmar outras informações presentes na documentação literária,
mas os vestígios conhecidos são bastante impressionantes. Um muro de
contenção feito com
grandes blocos de calcário, com aproximadamente 10m de altura e 6,5m de largura, era uma
das marcas desse edifício. Atualmente, os restos do palácio ainda cobrem uma área de quase
25.000m2.

DECORAÇÃO

As paredes eram decoradas com relevos e esculturas. Havia também um pátio interno menor,
alinhado com três grandes cômodos de paredes revestidas de pedra onde foram esculpidas
essas imagens. Os arqueólogos britânicos do século XIX extraíram parte desses
relevos e
levaram para seu país de origem. Atualmente, encontram-se expostos no British Museum, em
Londres.

Imagem: Mujtaba Chohan/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0


 Detalhe do Palácio Noroeste de Assurnasirpal II, mostrando o rei e seu público
comemorando a caçada ao touro, Mujtaba Chohan, 2020.

TEMPLOS

Apesar da monumentalidade dos palácios, as construções mais emblemáticas da arquitetura


mesopotâmica foram os templos conhecidos como zigurates (do acádico ziqquratu , “prédio
alto”). Os templos eram as principais
instituições políticas da Mesopotâmia antes do
estabelecimento dos palácios como centros administrativos. Durante décadas, especialistas
também consideraram que o templo organizava a economia mesopotâmica. De acordo com
os
defensores da teoria “economia-templo”, todas as terras cultivadas e os habitantes pertenciam
ao deus patrono da cidade e estavam sob controle do templo.

Foto: Zereshk /Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0



Dur-Untas, ou Choga Zambil, construído no século XIII a.C. por Untas Napirisa e localizado
perto de Susa, Irã, é um
dos mais preservados zigurates do mundo , Zereshk, 2005.

A partir da década de 1960, os historiadores passaram a considerar que, apesar da forte


dimensão teocrática do poder político, o templo não dominava a totalidade das terras, ainda
que fosse, como se sugeriu, uma instituição fundamental para organizar
a vida em sociedade
no período.
Os zigurates eram construções maciças feitas de tijolos de argila, em forma de pirâmide
escalonada, que contavam com um pequeno santuário em sua parte mais alta. Os andares
eram sobrepostos respeitando um padrão: os mais baixos deveriam ser, para garantir
o
escalonamento, maiores que os postos acima. O interior foi construído com tijolos queimados,
mais resistentes; a parte externa era feita de tijolos cozidos ao sol, mais fáceis de serem
produzidos, ainda que menos densos
e duradouros que os anteriores. O acesso ao topo se
dava por rampas que começavam na base. Esses templos eram identificados como a morada
dos deuses nas cidades, reproduzindo a analogia
com as casas. Por essa dimensão religiosa,
apenas os sacerdotes tinham acesso aos espaços cultuais.

Entretanto, os zigurates também cumpriam funções administrativas, serviam como depósito de


cereais e mesmo como residência para pessoas ligadas à administração pública. Essa forma
canônica foi estabelecida na época da Terceira Dinastia de Ur.

Apesar da relativa semelhança entre as obras, algumas especificidades foram observadas:


Arraste para ler o conteúdo.

Entre os sumérios, valorizava-se uma base retangular com acesso pelas escadas.

II

Ao norte da Mesopotâmia, os assírios optavam por uma base quadrangular e rampas de


acesso em torno do edifício.

III

Na Babilônia, identificou-se uma terceira possibilidade: a partir de uma base quadrada, o


acesso era garantido por escadas nos andares inferiores e por rampas nos andares superiores.

Na base dos zigurates, costumava-se também observar a construção de templos dedicados


aos deuses. Para lidar com a umidade e os riscos de desabamento provocados por chuvas,
além de revestir os tijolos com camadas de betume, os arquitetos produziram canaletas
para
escoamento das goteiras que vinham dos andares de cima.

Foto: Hardnfast/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0



Fachada reconstruída do zigurate; as ruínas da estrutura neobabilônica podem ser vistas
no topo da estrutura , Iraque, 2005.

O zigurate de Ur é o que se encontra em melhor estado de conservação. Foi construído pelo


rei Ur-Nammu em XXI a.C. e media aproximadamente 62,5m de comprimento, 43m de largura
e 21m de altura. Nabonido, o último rei do Império Neobabilônico, restaurou-o
no século VI a.C.
e, nos anos que se seguiram, novas intervenções foram feitas. A fachada do nível mais baixo e
a escadaria monumental foram reconstruídas perto do fim do século XX por iniciativa de
Saddam Hussein.
ASSISTA AO VÍDEO COM A PROFESSORA BÁRBARA
LEAL SOBRE ZIGURATE E A TORRE DE BABEL .

ARQUITETURA NO EGITO ANTIGO


Há um ditado árabe que diz: “O homem teme o tempo, mas o tempo teme as pirâmides”. De
fato, nada construído pela humanidade parece dar tantas provas de sua perenidade quanto as
pirâmides egípcias.
A primeira construção desse tipo começou em 2630 a.C. e foi concluída por volta de 2611 a.C.
Como alguém observou, do ponto de vista cronológico, o intervalo entre a construção da
primeira pirâmide e o nascimento de Cristo é maior do que o intervalo entre
o nascimento de
Cristo e nosso presente social. Existem, é claro, construções mais antigas, mas nenhuma que
goze da fama e do universo de exotismo que cercam as pirâmides. Talvez seja essa mistura de
grandiosidade e misticismo
que cause a sensação de imortalidade a que o ditado se refere.

Talvez seja uma tarefa impossível, ignorar todos esses fatores que povoam nosso imaginário
quando nos dedicamos a pensar a história do Antigo Egito. Provavelmente, não seja nem
mesmo recomendável, já que a história das sociedades é, também, a história
dos usos e das
recepções da cultura dos povos do passado.

 ATENÇÃO

No entanto, é preciso lembrar que as experiências históricas dos egípcios não se resumem (ou
se confundem!) com toda essas narrativas que prescrevem uma forma de vida exótica,
luxuosa, opulenta, mágica e supersticiosa.

 Mastaba de Seshemnefer IV e a Pirâmide de Quéops em Gizé .

EDIFÍCIOS PARA OS MORTOS


Diz-se que a arquitetura egípcia pode ser dividida em três categorias, variáveis em função do
destinatário: edifícios para os mortos, edifícios para os vivos e edifícios religiosos. Poderíamos
acusar o equívoco de pensar uma arquitetura para aqueles que,
falecidos, não poderiam
usufruir dos edifícios. Afinal, a laicidade é um valor básico para o pensamento científico e, até o
momento, ignoramos qualquer tipo de experiência possível para os sujeitos que morreram.

 COMENTÁRIO

A morte se confunde com o desaparecimento do sujeito, razão pela qual tenderíamos a


descartar imediatamente a categoria “arquitetura para os mortos”. Porém, se para os egípcios
essa é uma categoria verdadeira, como ignorá-la?

A arquitetura funerária tinha uma função principalmente política e, portanto, também era
destinada às necessidades de uma pequena parcela de vivos. A opulência cumpria a função de
produzir distinção social, reforçar as hierarquias e assegurar privilégios.
Ainda que
eventualmente alguma pessoa das camadas menos abastadas tenha gozado de enterros
pomposos por algum casuísmo, o que há de certeza é que a arquitetura funerária pode até ser
destinada aos mortos, mas só àqueles
que foram ricos e poderosos em vida.

No entanto, a compreensão que os egípcios tinham da morte era em nada parecida com a
nossa. Como explicou Cardoso (1982, p. 103-104), até o terceiro milênio antes de Cristo,
acreditava-se que a sobrevivência à morte era privilégio dos reis, que teriam
uma forma
duplicada de si, um “princípio do sustento” que os egípcios designavam ka . A mumificação
dos cadáveres é tributária da crença de que era preciso manter o corpo íntegro para
garantir a
vida eterna; a arquitetura funerária, nesse caso, garantiria as condições para o usufruto dessa
vida. As pirâmides são o principal símbolo dessa mentalidade que foi impressa na arquitetura.

MASTABAS

O início da construção de túmulos suntuosos começou na I Dinastia (3100 a.C.). Acredita-se


que a forma das pirâmides é resultado do desenvolvimento das chamadas mastabas, “casa
para a eternidade”. O formato já apresentava
uma base mais ampla com paredes inclinadas
em direção a um topo de menor área, geralmente construídas com os recursos disponíveis na
região, como tijolos de argila e palha expostos ao sol do deserto para secagem, ou calcário
talhado com ligeira inclinação para o interior.

Foto: Jon Bodsworth, egyptarchive.co.u, Wikimedia Commons, Livre de Direitos Autorais.


 Mastaba do faraó Seberquerés, chamada “Mastaba Faraum” (c. 2510 a.C.), da 4ª Dinastia,
Sacará, Vale funerário de Mênfis , Egito, 2007.

Esses edifícios, do ponto de vista prático, ofereciam proteção contra ladrões de túmulo e
animais necrófagos, mas a suntuosidade é tributária da exibição pública do poder do morto
(sempre faraós ou altos funcionários) e, como vimos, da necessidade religiosa
de assegurar a
preservação do corpo. A estrutura acima do solo contava com um pequeno altar para que
familiares e sacerdotes levassem comida e outras oferendas para o morto. Em seu interior, as
câmaras mortuárias eram cavadas
na rocha e forradas com madeira. Estátuas dos falecidos
também foram encontradas pelos arqueólogos.

Ainda que as mastabas não tenham a fama das pirâmides, é notável que essa forma inicial
tenha enorme influência nos desenvolvimentos ulteriores. Ainda no Reino Antigo – considerado
“O tempo das pirâmides” –, uma estrutura bastante conhecida foi erigida.
Além de garantir
abrigo ao corpo morto do faraó Djoser (III Dinastia), assegurou a fama de Imhotep como o
primeiro arquiteto da história.

Apesar de não ter nascido em família nobre, Imhotep tornou-se vizir do faraó, e é conhecido
não apenas pela construção da primeira pirâmide de que temos notícia, mas também por seus
conhecimentos médicos. Após séculos de sua morte, durante o Reino Novo,
foi deificado na
cidade de Mênfis. Acreditava-se que a arte de construir com pedras tenha sido uma invenção
sua.
PIRÂMIDE DE DJOSER

Imagem: Olaf Tausch/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0


 Pirâmide de Djoser , Egito, 2009.

A Pirâmide de Djoser tem sua forma escalonada porque é composta de seis mastabas
sobrepostas, de dimensões decrescentes, de baixo para cima. Na época de sua construção,
alcançava 62m de altura com uma base de 109m x 125m e era revestida de pedra de calcário
branca polida.

O desenvolvimento posterior da arquitetura egípcia levou as pirâmides a abandonarem a


estrutura escalonada. As superfícies externas passaram a ser lisas, assumindo o formato
triangular que ascendia para um ponto central no topo a partir de uma base retangular.
Ainda
que as mastabas seguissem sendo construídas e utilizadas ao longo de centenas de anos,
gradualmente foram cedendo espaço às pirâmides como forma arquitetônica dominante da
paisagem. Não chegou até nós qualquer modelo
bidimensional ou tridimensional que tivesse
sido usado para projetar essas obras monumentais. Sabe-se que o primeiro passo era escolher
cuidadosamente o lugar e a posição que a pirâmide ocuparia. Pela posição que ocupam,
deduz-se que não deveriam estar demasiadamente distantes dos centros de poder e do próprio
Nilo. Também era necessária uma base rochosa para suportar a massa do edifício. Do mesmo
modo, esse terreno posteriormente nivelado
deveria estar a uma altura segura para se proteger
das cheias do rio.
PIRÂMIDE DE QUÉOPS

Foto: Nina/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0


 Pirâmide de Quéops , Egito, 2005.

A Pirâmide de Quéops, atribuída ao arquiteto Hemiunu e construída por volta de 2550 a.C.,
segue muito atentamente essas preocupações e dá indicativos de como o planejamento era
bem mais rigoroso do que podemos descobrir por meio dos indícios. O nivelamento
do solo
apresenta um erro de apenas 18mm. A base quadrangular de 230m de lado possui um erro de
apenas 25cm. Não menos curioso, os lados estão orientados para cada um dos pontos
cardiais, já que os egípcios acreditavam
que as estrelas do norte representavam os deuses no
outro mundo.

 VOCÊ SABIA

O monumento, dedicado ao faraó que a denomina, é a única maravilha do mundo antigo que
sobreviveu e que se exibe aos turistas que a visitam na necrópole de Gizé, com seus
imponentes 146,5m de altura. A massa da pirâmide é de aproximadamente 6 milhões
de
toneladas e seu volume interno é de cerca de dois milhões e meio de metros cúbicos.

A documentação antiga sugere que a obra teria levado vinte anos para ser concluída. Se esse
prazo é correto, também é correto afirmar que foram necessárias a instalação de 800 toneladas
de pedra por dia, ou doze blocos por hora, dia e noite, sem intervalo.

Não menos curiosa é a perícia dos construtores, que asseguraram uma abertura média das
juntas de apenas 0,5mm de largura. O material não era necessariamente abundante na região.
O calcário foi extraído do rio Nilo, bem como 500 mil toneladas de argila
usadas como
argamassa, mas as pedras de granito, que pesam entre 25 e 80 toneladas, vieram de Assuã,
no sul do Egito, a 950km da atual capital Cairo, e 800km distante do local da construção. A
logística, portanto, também
impressiona, sobretudo porque a única forma viável de transportar
esse material era através de embarcações que atravessassem o Nilo.

O número de trabalhadores envolvidos também é digno de nota. Estima-se a necessidade de


uma força de trabalho médio de 14.500 pessoas, mas não seria surpreendente que, em alguns
momentos, mais de 40 mil homens estivessem envolvidos com a construção, movendo,
cortando e alocando os blocos com a ajuda de polias, rodas, cunhas e métodos desconhecidos
para tornar a finalização do prédio viável.

TEMPLOS, ARQUITETURA RELIGIOSA DO


EGITO
Os templos eram entendidos como a casa dos deuses. Sua forma e decoração, portanto, são
aquelas que seriam convenientes a uma morada divina. Entre as obrigações religiosas do
faraó, constava a necessidade de erigir esses edifícios e assegurar sua manutenção
por meio
de obras e rituais. Não menos importante, os templos eram medida importante para os próprios
egípcios, que emulavam tais práticas, em escala adequada, em suas residências particulares.
Eram, também, símbolo de
distinção social, e a opulência era a marca pública do prestígio da
divindade (e, por correspondência, do faraó que presidia a construção e os cuidados
rotineiros).

O destinatário também permite classificar os templos em duas categorias:


Foto: Shutterstock.com

Templos de culto

Dedicados aos deuses

Foto: Shutterstock.com
Templos mortuários

Dedicados aos faraós mortos

Suas características arquitetônicas são bem próximas, exceto pela localização, já que os
templos mortuários tendiam a ficar nas cercanias do sepultamento do faraó, pelo menos até o
Reino Médio. No limite, ambos cumprem funções de culto, sobretudo porque
os faraós eram
reis divinizados; contudo, os templos dedicados aos deuses parecem ter concentrado funções
administrativas menos presentes nos templos mortuários, com ênfase no Reino Médio.

O estudo dos templos egípcios enfrenta duas dificuldades principais.


Arraste para ler o conteúdo.

As construções mais antigas foram feitas de tijolos cozidos e, por razões diversas, não
sobreviveram ao tempo.

II

Muitos templos foram construídos a partir das estruturas de templos anteriores, localizados no
mesmo lugar, produzindo diversas camadas de construção que interditam um conhecimento
mais acurado dos edifícios que precederam os sobreviventes. Destaca-se
também que, após o
período faraônico, muitos templos foram convertidos em igrejas ou fortificações. Outros foram
soterrados para a construção de cidades.

Do ponto de vista histórico, as mudanças foram notáveis: no fim do quarto milênio, eram
santuários discretos em nada parecidos com as grandes estruturas que marcaram a paisagem
a partir do Reino Novo. Grandes propriedades de terra pertenciam aos templos
que, portanto,
também cumpriam uma função econômica.

TEMPLO DE HATSHEPSUT

Foto: Ian Lloyd/Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0.


 Templo mortuário de Hatshepsut , Egito, 2006.

Um dos templos mortuários mais conhecidos é o de Hatshepsut, faraó egípcia da XVIII


Dinastia. A rainha em questão casou-se com Tutemés II, seu meio-irmão. O marido faleceu
quando o filho Tutemés III, enteado de Hatshepsut,
era ainda uma criança, o que a levou a
assumir o poder como regente. Contudo, e graças à enorme habilidade política, Hatshepsut
assumiu o governo (1502 a 1482 a.C.). Na época, o uso das pirâmides já tinha cedido espaço
a
enterros realizados na região conhecida como Vale dos Reis, localizada nas proximidades de
Tebas, na margem oeste do Nilo. O espaço abrigou diversas tumbas, algumas bem simples,
outras bastante complexas. O templo
de Hatshepsut foi construído em Deir el-Bahari, nas
proximidades do vale, junto ao complexo mortuário de Mentuotepe II.

É considerado um dos monumentos mais emblemáticos do Antigo Egito.

Sua construção é atribuída ao arquiteto real Senenmut. Há três terraços em camadas que
chegam a quase 30m de altura, conectados por rampas que, na Antiguidade, eram cercadas
por plantas estrangeiras. Colunas protodóricas, decerto um modelo que foi tomado
como
referência pelos gregos antigos, foram erigidas para abrigar o altar. O principal eixo do templo
está alinhado com o nascimento do sol no solstício de inverno. A entrada de luz solar foi objeto
de preocupação dos arquitetos,
que garantiam sua penetração na parte traseira do altar. Essa
exposição não era importante apenas do ponto de vista material, para evitar os efeitos
acumulados da umidade, mas sobretudo pelo aspecto cósmico que orientou
fortemente as
concepções egípcias, expressas também na forma com que praticavam sua arquitetura.
 COMENTÁRIO

O egiptólogo Jan Assman designou como “drama cósmico” a visão de mundo dos egípcios,
que não encaravam a realidade de um ângulo basicamente espacial e material (ASSMANN,
2000, p. 73). Em que pese o possível exagero dessa afirmação, a relação com o culto
solar
deixou marcas bastante curiosas na arquitetura.

Imagem: Desconhecido/Wikimedia Commons, CC BY-SA 2.0.


 Templo de Ramsés , Egito, 2004.

COMPLEXO DE ABU-SIMBEL

É o que se observa no complexo de Abu-Simbel, construído por Ramsés II e que possui


ornamentação bastante impressionante. O maior de seus templos é dedicado ao faraó Ramsés
II e aos deuses Rá, Ptá e Amon. A construção
começou por volta de 1284 a.C. e foi concluída
vinte anos depois. A fachada possui 33m de altura e 38m de largura. Esse edifício –
incomparável pelo luxo e pela opulência que são expressos, por exemplo, pelos oito pilares
de
Osíris que sustentam seu interior, pelo conjunto escultórico riquíssimo e pelas pinturas
emblemáticas – também ficou conhecido pela forma da dimensão cósmica em uma sala
específica.
Por fim, e não menos importante, todas essas obras monumentais são tributárias da oferta de
mão de obra especializada que foi capaz de erigi-las. Ainda que seja muito difícil fazer
estimativas demográficas na Antiguidade, crê-se que a população do Egito
aumentou de 1,5
milhão para 7 milhões ao longo do período faraônico.

As pesquisas sobre a arquitetura doméstica no Egito têm avançado nos últimos anos, bem
como a análise de outras formas e estruturas de assentamento; no entanto, o fascínio
provocado por esses edifícios e as descobertas arqueológicas frequentes concentram
a
atenção dos analistas nos grandes monumentos.

ASSISTA AO VÍDEO COM A PROFESSORA BÁRBARA


LEAL SOBRE ARQUITETURA E PODER NO EGITO
ANTIGO .
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. AS PIRÂMIDES SE TORNARAM A FORMA DOMINANTE E O MODELO


ARQUITETÔNICO MAIS CÉLEBRE DA HISTÓRIA DO EGITO ANTIGO. A
SEU RESPEITO, PODE-SE AFIRMAR CORRETAMENTE QUE:

A) Foram construídas exclusivamente com rochas e metais, razão pela se tornaram tão
resistentes ao tempo e às ações humanas.

B) Tinham por finalidade abrigar o corpo do faraó das intempéries, constituindo-se assim em
um edifício com características absolutamente funcionais e sem qualquer valor político ou
religioso.

C) Desenvolveram-se a partir das mastabas, edificações com base ampla, mas sem as
superfícies triangulares que acabaram por se consolidar.

D) Eram centros econômicos e políticos administrados pela comunidade, que também


participava coletivamente de sua construção sem qualquer recompensa financeira.

E) Tornaram-se o principal espaço de entretenimento, já que seu complexo também abrigava


estádios e teatros onde ocorriam jogos e encenações dramáticas.

2. NA BUSCA PELA EXPLICAÇÃO ACERCA DO SURGIMENTO DAS


CIDADES NA MESOPOTÂMIA, FOI PROPOSTA A CHAMADA “HIPÓTESE
CAUSAL HIDRÁULICA” QUE, EM SÍNTESE, ATRIBUÍA O SURGIMENTO DO
ESTADO E DAS CIDADES À NECESSIDADE DE GERENCIAR AS ÁGUAS
DOS RIOS TIGRES E EUFRATES. ESSA HIPÓTESE FOI DESCARTADA
POR QUÊ:

A) Os especialistas observaram que os canais de drenagem e irrigação foram construídos por


iniciativa privada dos reis, e não por causa dos tributos recolhidos.

B) Observou-se que as populações locais não precisaram da agricultura (e, portanto, da gestão
das águas dos rios) para se organizar em cidades.

C) Como o Tigres e Eufrates são rios temporários, com secas regulares ao longo do ano, não
havia necessidade de organizar suas águas, tampouco dependência delas para viver em
cidade.

D) Pesquisas recentes mostraram que a gestão das águas dos rios ocorreu inicialmente de
forma comunitária, sendo o Estado e a cidade um desenvolvimento posterior.

E) A administração das cheias dos rios mesopotâmicos foi feita inicialmente por governantes
egípcios, que exportaram a expertise que adquiriram com a gestão do rio Nilo.

GABARITO

1. As pirâmides se tornaram a forma dominante e o modelo arquitetônico mais célebre


da história do Egito Antigo. A seu respeito, pode-se afirmar corretamente que:

A alternativa "C " está correta.

A noção de continuidade da vida é algo muito intenso para os egípcios e as relações de poder
e a arquitetura voltada para a eternidade eram marcadamente mortuárias e, por isso, passam a
ser os principais símbolos de poder arquitetônico.

2. Na busca pela explicação acerca do surgimento das cidades na Mesopotâmia, foi


proposta a chamada “hipótese causal hidráulica” que, em síntese, atribuía o surgimento
do Estado e das cidades à necessidade de gerenciar as águas dos rios Tigres e Eufrates.
Essa hipótese foi descartada por quê:

A alternativa "D " está correta.

A arquitetura e o urbanismo têm relação humana na busca de soluções. A dinâmica vista no


Oriente Próximo revela como o clima e a ação humana na arquitetura abrem possibilidades
fundamentais.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você percorreu um longo trajeto neste tema e, ao final, é importante perceber qual o seu foco.
Entender a dinâmica da forma da arquitetura, sua manifestação como arte reconhecida, não
retira sua característica de dialogar com a sociedade e estabelecer
soluções.

Além disso, você deve ter notado que ela dialoga com o contexto, com as demandas sociais,
com a disponibilidade de materiais, as técnicas, os conflitos, a disponibilidade de mão de obra
e as relações de poder.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Carolina. O clássico como problema. Poiésis, v. 8, n. 11, p. 11-24, 2007.

ASSMANN, Jan. The search for god in ancient Egypt. Ithaca: Cornell University Press, 2000.

CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 1982.

CICERO. De Oratore. Paris: Les Belles Letres, 1967, 3 v.

GOMBRICH, E. H. La historia del arte. Colonia del Valle, México: Editorial Diana, 1995.

OSBORNE, R. Archaic and classical Greek art. Oxford: Oxford University Press, 1998.

KRIWACZEK, Paul. Babilônia: a Mesopotâmia e o nascimento da civilização. Rio de Janeiro:


J. Zahar, 2010.

ROZESTRATEN, Artur Simões. Estudo sobre a História dos Modelos Arquitetônicos na


Antiguidade: origens e características das primeiras maquetes de arquiteto. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, p. 46. 2003.

EXPLORE+

Navegue pelo site Melammu Project e tenha acesso gratuito a uma série de materiais
que ajudam a entender a arte e arquitetura na Mesopotâmia.

Veja mais detalhes sobre o conceito de clássico no artigo O Clássico como problema ,
de Carolina Araújo, publicado na Revista Poiésis, da Universidade Federal Fluminense
(UFF).

Conheça o site do British Museum e explore as coleções de arte grega.

Conheça mais sobre a erupção do Vesúvio e sua importância para conhecer a arte e
arquitetura de Roma a partir do documentário Os últimos dias de Pompeia (BBC, 2003).

Explore o interior de uma domus romana em 3D no site do Laboratório de Arqueologia


Romana Provincial (LARP) da Universidade de São Paulo (USP).
Visite o site do Museu Egípcio do Cairo e explore a coleção virtual, inclusive com
objetos em 3D que permitem uma excepcional experiência de descoberta.

CONTEUDISTA
Alexandre Moraes

 CURRÍCULO LATTES

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