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Trabalho e Direitos Humanos
Trabalho e Direitos Humanos
O artigo 23° da Declaração Universal dos Direitos Humanos deixa claro que: “Toda a
pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e
satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todos têm direito, sem
discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. Quem trabalha tem direito a uma
remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência
conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de
proteção social. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se
filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses”.
O TRABALHO NA ANTIGUIDADE
Quantos de nós já não escutamos esta máxima: o trabalho dignifica o homem. Às vezes, o
ditado vem na forma de outros discursos, como “seu avô já trabalhava aos 8 anos de idade”.
Em nossa sociedade, o trabalho é motivo de orgulho, quase uma carta emancipatória. Quem
trabalha adquire diversos direitos morais que só se admitem a quem tem uma função
econômica dentro da sociedade. Mas nem sempre foi assim.
Naquela época, trabalhar não era uma boa ideia. Era fruto inclusive de debates filosóficos,
como o de Aristóteles, que discutia se havia pessoas predestinadas para o trabalho e outras
para a liberdade. Trabalhar era coisa de escravo, e ser escravo nunca é bom negócio.
A ideia de que cumprir um papel no mundo trabalhista traz dignidade às pessoas só foi
aparecer já em nossos tempos modernos, fruto das revoluções industriais que nos trouxeram
um novo tipo de convivência social. Uma sociedade onde a divisão de classes não era mais
uma escolha divina, como na Alta Idade Média e Idade Média Central – época em que a
estratificação social era vista como vontade divina -, ou no início do Renascimento Comercial,
quando as corporações de ofício decidiam as regras sobre as próprias atividades.
A partir do aumento da industrialização, era necessário buscar outro motivo além do sustento
ou da vontade de Deus para o trabalho. A atividade laboral passa então a empregar valores
morais e sociais aos que a exerciam, e consequentemente privar os que não trabalhavam
desses mesmos valores. Passamos também a viver uma nova relação entre as pessoas, com
uma grande divisão: os que tinham meios econômicos de manter um empreendimento e os
que tinham apenas sua força de trabalho como meio de garantir sua existência. Surgem assim
as figuras do patrão e do empregado.
Reivindicações foram sendo incorporadas de maneira paliativa para que tudo se mantivesse
em funcionamento. Um exemplo são as pedidas do próprio movimento cartista, na Inglaterra,
que propunha medidas socialistas. Leis como a da jornada de trabalho de 10 horas e a
participação dos operários no parlamento, que eram pautas do movimento, foram sendo
incorporadas pouco a pouco, fazendo com que o cartismo perdesse força política e não
ganhasse crédito por essas conquistas. Entre os anos de 1860 e 1869, as reivindicações
cartistas foram quase totalmente inseridas na constituição inglesa.
O primeiro exemplo histórico de direito do trabalho não tinha propriamente esse nome. Esses
direitos trabalhistas eram chamados de “sociais” e se consolidaram em 1917, no México, no
contexto da revolução mexicana, que levou à promulgação de uma nova constituição no país
naquele ano. Nela, constavam artigos que legislavam acerca do período de trabalho (8 horas
diárias), além de estabelecer um salário mínimo como um montante capaz de sustentar o
trabalhador e sua família com dignidade.
E O BRASIL?
Getúlio Vargas, em passeata em 1954. Foi ele o presidente que decretou a CLT, em 1943.
As conquistas sociais em relação ao trabalho no Brasil são tardias, porque nosso desligamento
com a escravidão e nossa indústria também foram tardios. Porém, já no final do século XIX,
havia movimentos no sentido de garantir avanços legais, como a Fundação da Liga Operaria no
Rio de Janeiro e a lei que proibia o trabalho para menores de 12 anos. No começo do século
XX, assistimos ao estabelecimento de normas que previam férias (15 dias por ano) e alguns
tipos de direito em relação aos acidentes de trabalho. A criação destas leis foi impulsionada
pela abolição da escravidão, que trouxe um novo viés trabalhista e econômico para o país.
O governo brasileiro passou a buscar o equilíbrio entre os elos que formam a corrente do
capital industrial a partir do governo Vargas, com a Constituição de 1934. Nela estavam
previstos direitos trabalhistas como salário mínimo, jornada de trabalho de 8 horas, repouso
semanal, férias remuneradas e assistência médica e sanitária. Fica exposto nessas ações que as
leis do trabalho não eram apenas do trabalho, eram também sociais.
Em 1943, no dia 1º de maio, foi promulgada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O
contexto de sua criação é particular: o governo buscava legitimidade para a figura de Getúlio
Vargas. Mais do que apenas ser legítimo, Vargas, que acabara de instituir o Estado Novo,
buscava personificar a figura de “pai dos pobres”. O país passava por uma fase de
desenvolvimento: o número de trabalhadores aumentava e suas reivindicações também. Por
isso, era necessário unificar as leis do trabalho. A CLT garantiu parte das demandas dos
trabalhadores. Leis posteriores garantiriam também 13º salário, repouso semanal remunerado
e outras conquistas.
O QUE É A CLT?
Sua importância está na maneira com que se propôs a coibir relações abusivas de
trabalho, que antes eram comuns: não havia leis que regulassem horários, condições de
trabalho nem de benefícios. Ou seja, ela foi uma conquista dos trabalhadores, pois garantiu
condições mínimas de trabalho.
Carteira de trabalho
Salário mínimo
Como o próprio nome já diz, o salário mínimo é a remuneração mais básica que uma
pessoa pode receber, de acordo com a CLT. Ele deve:
Logo, o salário mínimo deve ser calculado por uma fórmula que leva em conta o valor
das despesas diárias de uma pessoa adulta mensalmente. Por isso, deve considerar:
alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte. É expressamente proibido pela CLT
que qualquer contrato ou convenção preveja um salário inferior ao salário mínimo
estabelecido no país ou na região.
Direito à greve
Por conta da Lei nº 7.783, os trabalhadores conquistaram o direito a fazer greve. Eles
mesmos podem decidir sobre a oportunidade de exercer esse direito e sobre o que estarão
defendendo a partir da ação de greve – se é contra a perda de direitos, ajustes salariais ou
condições de trabalho, por exemplo.
Para que seu direito à greve seja exercido corretamente, os empregados devem avisar
seus empregadores sobre a iminência de greve com, no mínimo, 48 horas de antecedência. A
lei ainda prevê que o sindicato da categoria será o responsável por coletar os motivos da
greve, documentar e levar aos empregadores do setor todas as reivindicações.
O regime de trabalho é o tempo em que o trabalhador deve prestar o serviço pelo qual
foi contratado ou estar à disposição de seu empregador. A jornada prevista pela CLT é de, no
máximo, 8 horas diárias, o equivalente a 40 horas semanais. São permitidas até 44 horas
semanais.
Essa é a regra mais conhecida quando se comenta sobre esse conjunto de leis, porque
antes de a CLT existir não era estabelecido um limite de horas de trabalho e, por isso,
empregados chegavam a trabalhar 12 horas por dia no Brasil. Os trabalhadores têm direito a
uma hora de descanso ou para refeição em todos os dias de trabalho; e, se não for concedido
esse tempo, o valor da hora de trabalho deverá ser no mínimo 50% mais caro do que o valor
da hora normal.
Horas extras
Descanso semanal
Férias
Para cada período de um ano trabalhado, o trabalhador tem direito a 30 dias de férias
remuneradas. Ou seja, é proibido qualquer desconto de salário relativo a esse período de
descanso. Se a pessoa tiver menos de um ano de contrato, o tempo será calculado
proporcionalmente aos dias trabalhados e uma nova contagem será iniciada no retorno das
férias. Quando a pessoa tiver faltas não justificadas, ela terá direito a menos dias de férias,
calculados proporcionalmente aos dias em que faltou.
As férias podem ser divididas em dois períodos, nunca inferior a dez dias corridos. A
empresa também pode conceder férias coletivas a todos os trabalhadores ou a determinados
setores dela, cuja decisão deve ser comunicada ao Ministério do Trabalho e ao sindicato da
categoria em questão.
Faltas justificadas
A CLT regulou um assunto muito importante para qualquer trabalhador: as faltas. Ela
prevê o número de dias que um funcionário pode faltar de acordo com o motivo pelo qual
precisa fazê-lo. Esses são os casos especificados por lei:
Por doação voluntária de sangue (uma vez a cada doze meses de trabalho): falta por 1
dia;
Quando precisar comparecer a juízo – pode ser participação num júri, numa audiência
ou qualquer compromisso em que o funcionário seja obrigado a comparecer.
Licença-maternidade
FGTS e aposentadoria
Diagnóstico de câncer;
Diagnóstico de AIDS;
Aposentadoria.
13º Salário
O pagamento do 13º salário é feito com base na remuneração mensal e pode ser
parcelado em até duas vezes. A primeira, até 30 de novembro e a segunda, até 20 de
dezembro do mesmo ano.
Sua origem remonta à Lei 4.090/62, assinada durante o governo João Goulart.
Conforme trazido pela revista Superinteressante, entende-se que a razão de o benefício não
ter surgido junto com a CLT, em 1943, foi por pressões empresariais. Não era a intenção de os
empresários que o benefício fosse obrigatório. Apesar disso, eram comuns as chamadas
“bonificações de Natal” aos empregados, sobretudo em anos de sucesso para às empresas.
Em meio às crises e disputas políticas pelas quais o país passava na década de 1960, o
governo Jango cedeu à pressões de grupos trabalhistas e estabeleceu o 13º em lei. Desde
então, este tem sido um benefício pago aos empregados.
No ano de 1965, início da Ditadura Militar, foi lançada a Lei 4.749 que previu o
adiantamento de uma parcela do salário mínimo entre janeiro e novembro.
Por fim, na Constituição Cidadã, de 1988, o benefício foi consolidado, no Artigo 7º,
Inciso VIII.
3. Servidores de autarquias públicas – são entidades criadas por lei, com patrimônio
público ou misto, que realiza obras, serviços e atividades de interesse público e coletivo, de
acordo com o jurista Hely Lopes Meirelles. Apesar de obedecerem às regras do Estado,
respondem pelas suas finanças, exercem direitos e obrigações. Por isso, são consideradas
autônomas. Os servidores dessas autarquias podem ser considerados funcionários públicos,
também.
Como já se sabe, o governo está promovendo uma série de reformas, e a das leis
trabalhistas é uma delas, que visa a flexibilizar essas regras. No vídeo (link abaixo), trazemos a
discussão sobre o fenômeno da uberização e trabalho informal, que tem surgido em meio à
essa flexibilização. Confira!
Links:
https://www.politize.com.br/direitos-trabalhistas-historia/
https://www.politize.com.br/clt/
https://www.youtube.com/watch?
t=129&v=5HpkxAXSdNs&source_ve_path=OTY3MTQ&feature=emb_imp_woyt
https://www.politize.com.br/direitos-trabalhistas-no-mundo/
https://www.politize.com.br/escravidao-brasil-ainda-existe/