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Desenvolvimento Cerebral e

processos de aprendizagem
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Desenvolvimento do sistema nervoso humano
A geração de uma nova vida se dá depois que o espermatozoide (gameta masculino)
penetra no óvulo (gameta feminino) formando a primeira célula do novo organismo, o
zigoto. Contendo a carga genética materna e paterna, o zigoto inicia as transformações
que originarão o embrião e depois o indivíduo adulto. O desenvolvimento do sistema
nervoso se inicia com poucas células do embrião, células essas denominadas células-
tronco neurais e sofre, ainda no útero, um explosivo crescimento chegando a atingir, a
partir de sucessivas divisões celulares (mitóticas), centenas de bilhões de células (LENT,
2010).

No processo de desenvolvimento, o sistema nervoso do embrião surge logo no início,


entre a 3ª e 4ª semanas pós-fecundação, com o espessamento longitudinal da ectoderme
(uma das três camadas de folheto embrionário) formando a placa neural e
posteriormente, transformando-se em tubo neural, que originará o sistema nervoso
central (SNC). O processo de formação do tubo resulta na presença de duas aberturas:
uma superior (anterior), denominada neurópodo rostral e uma inferior (posterior),
denominada neurópodo caudal; ambas normalmente se fecham por volta do 24º-28º dia
de vida (quando estas aberturas não se fecham, denominam-se as alterações decorrentes,
dentre elas anencefalia e espinha bífida, formadas a partir de defeitos de fechamento do
tubo neural).

O tubo neural passa por transformações e se torna uma estrutura composta de três
dilatações, conhecidas como vesículas encefálicas primitivas (chamadas de vesícula
rostral, do meio e caudal) e que darão origem às principais estruturas do sistema nervoso
do indivíduo adulto.

A vesícula rostral é chamada prosencéfalo e dá origem ao telencéfalo (este, por sua vez,
originará o córtex cerebral e os núcleos de base) e o diencéfalo. A vesícula do meio é
chamada mesencéfalo; como não se modifica muito, continua sendo chamada assim. A
vesícula caudal é chamada de rombencéfalo e, ao se dividir, dá origem ao metencéfalo
(que por sua vez originará o cerebelo e a ponte) e ao mielencéfalo (que originará o bulbo).
Para trás do mielencéfalo, o tubo neural continua cilíndrico e gradativamente se
transforma na medula espinhal do indivíduo adulto.

O desenvolvimento do SNC, que inclui o encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e


a medula espinhal, ocorre, por outro lado, concomitantemente com a porção que origina o
sistema nervoso periférico (SNP); neste caso, a maioria de suas estruturas (gânglios e
nervos) surge a partir das cristas neurais que se formam nos dois lados do tubo neural,
quando este se fecha. Apesar desse processo de desenvolvimento neural terminar,
descobriu-se, na década de 1990, que o sistema nervoso mantém células-tronco neurais
que continuam capazes de produzir neurônios e células da glia na fase adulta e no
envelhecimento humano. No cérebro adulto, neurônios recém-formados foram
encontrados no hipocampo e nos bulbos olfatórios (LENT, 2010; PURVES, 2010).

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Desenvolvimento cerebral
Dentre as estruturas do SNC anteriormente citadas, o cérebro é a maior parte do encéfalo,
apresentando centros nervosos que estão relacionados a diversas funções do organismo
como a capacidade sensorial, cognitiva, de aprendizagem, memória, percepção corporal,
orientação espacial e coordenação motora. O desenvolvimento cerebral passa por etapas
ao longo do desenvolvimento embrionário:

Indução neural

Apenas uma parte do total de células da ectoderme do embrião é induzida a formar o


sistema nervoso. A neurulação é o processo de transformação gradativa da ectoderme em
tecido nervoso, sendo que a regulação da expressão gênica na neurogênese é
fundamental.

Proliferação celular

Esta fase é marcada pelo surgimento de células-filhas a partir de células progenitoras


neurais. A proliferação celular se intensifica após a formação do tubo neural e este passa a
ser formado de várias camadas celulares.

Migração e agregação seletiva

Os neuroblastos começam a migrar a partir da 5ª semana de vida intrauterina e até o final


do quinto mês se completa a maior parte da migração do que será o futuro córtex
cerebral. De modo mais lento, esse processo continua até o nascimento e posteriormente
ocorre a fase de agregação. Nesta fase, neurônios jovens se agrupam e iniciam a
formação de camadas ou núcleos; desse modo, se constituem as entidades cito-
arquitetônicas características do sistema nervoso adulto as quais se atribui o nome de
unidade funcional, na qual todas as células trabalham colaborativamente numa mesma
função.

Diferenciação/maturação neural

A fase de diferenciação neural consiste na gradativa expressão dos fenótipos neurais, na


qual a célula neuronal começa a se desenvolver anatômica e bioquimicamente. Nessa fase
ocorre o aumento do volume do corpo celular e o citoplasma emite prolongamentos (que
se diferenciam em dendritos e axônio) até que a célula assuma sua forma madura
característica, transformando-se em neurônio propriamente dito.

Sinaptogênese
Os neurônios apresentam uma especialização morfo-químico-funcional que permite a
formação de redes neurais, conexões entre neurônios ou entre neurônios e estruturas
efetuadoras (como por exemplo, na placa neuromuscular). Estas conexões ou
comunicações se denominam sinapses e permitem a passagem do impulso nervoso entre
células. As sinapses químicas são as mais comuns, sendo que nesse tipo de conexão os

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neurônios sintetizam substâncias químicas genericamente denominadas
neurotransmissoras que afetam (inibem ou excitam) a atividade neuronal. O cérebro
infantil tem uma quantidade excessiva de sinapses; esta exuberância sináptica continua
até o início da adolescência, quando então começa a ser reduzida por eventos regressivos
(LENT, 2010; REED, 2015).

O processo da aprendizagem e o desenvolvimento


cerebral
A Neurociência estuda não apenas o sistema nervoso como um todo, mas abrange
também diversos campos do conhecimento. A Neuropsicologia, por exemplo, é um dos
ramos da Neurociência que se preocupa com a complexa organização cerebral, que trata
da relação entre cognição e comportamento. Atualmente, sabe-se que os estados mentais
são provenientes de padrões de atividade neural, sendo que a aprendizagem é alcançada
então por meio da estimulação das conexões neurais. Assim sendo, não basta ter
neurônios; por mais especializado que o neurônio seja enquanto célula, pois isoladamente
ele não é nada. É fundamental que os neurônios estabeleçam conexões entre si, pois
somente a partir da formação das redes neurais se torna possível o aprendizado em
qualquer nível.

Na infância, o cérebro em desenvolvimento é plástico, ou seja, capaz de reorganização de


padrões e sistemas de conexões sinápticas com vistas a readequação do crescimento do
organismo às novas capacidades intelectuais e comportamentais da criança. Essas células
em desenvolvimento têm maior capacidade de adaptação que as células maduras; por
isso, com o avanço da idade e diminuição da plasticidade, a aprendizagem requer o
emprego de muito mais esforço para se efetivar (PINHEIRO, 2007; REED, 2015).

Aprendizagem e memória
O processo de aquisição das novas informações que vão ser retidas na memória é
chamado aprendizagem. Através dele, nos tornamos capazes de orientar o
comportamento e o pensamento. A memória, por sua vez, é o processo de arquivamento
seletivo dessas informações, pelo qual podemos evocá-las sempre que desejarmos,
consciente ou inconscientemente. De certo modo, a aprendizagem pode ser vista como
um conjunto de comportamentos que viabilizam os processos neurobiológicos e
neuropsicológicos da memória, sendo importante destacar que todos os animais são
capazes de aprender, o que significa que todos têm algum tipo de memória e a
capacidade de aprendizagem dos animais pode ser reduzida a dois tipos principais:
associativa e não associativa.

Estilos de aprendizagem
Os estilos de aprendizagem possuem diversas tipologias, estes modelos foram então
propostos pela concepção de cada pesquisador responsável, afinal estilos são modos
característicos e dominantes da forma que os indivíduos recebem e processam
informações. Considera-se então que, como as informações nos chegam das mais diversas
formas, poderemos ser mais eficientes se desenvolvermos essas diferentes habilidades de

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lidar com as informações. Segundo Cavellucci (2005), podemos listar quatro dimensões de
estilos de aprendizagem:

Ativo (Active) – Reflexivo (Refletive)


Racional (Sensing) – Intuitivo (Intuitive)
Visual (Visual) – Verbal (Verbal)
Sequencial (Sequential) – Global (Global)

Aprendizes Ativos x Reflexivos

Os ativos tendem a reter e compreender informações mais eficientemente


discutindo, aplicando conceitos e/ou explicando para outras pessoas. Gostam de
trabalhar em grupos.
Os reflexivos precisam de um tempo para sozinhos pensar sobre as informações
recebidas, preferindo os trabalhos individuais.

Aprendizes Racionais x Intuitivos

Os racionais gostam de aprender fatos. São mais detalhistas, memorizam fatos com
facilidade, saem-se bem em trabalhos práticos (laboratório, por exemplo). Tendem a
ser mais práticos e cuidadosos que os intuitivos.
Os intuitivos preferem descobrir possibilidades e relações. Sentem-se mais
confortáveis em lidar com novos conceitos, abstrações e fórmulas matemáticas,
além de serem mais rápidos no trabalho e mais inovadores.

Aprendizes Visuais x Verbais

Os visuais lembram mais do que viram – figuras, diagramas, fluxogramas, filmes e


demonstrações.
Os verbais tiram maior proveito das palavras – explicações orais ou escritas.

Aprendizes Sequenciais x Globais

Os sequenciais preferem caminhos lógicos, aprendem melhor os conteúdos


apresentados de forma linear e encadeada.
Os globais lidam aleatoriamente com conteúdo, compreendendo-os por “insights”.
Depois que montam a visão geral, têm dificuldade de explicar o caminho que
utilizaram para chegar nela (CAVELLUCCI, 2005; SCHMITT; DOMINGUES, 2016).

Desta maneira, é possível concluir que o desenvolvimento cerebral está diretamente


relacionado aos processos de aprendizagem. O cérebro é responsável por receber
informações, processá-las e armazená-las em diferentes regiões, formando novas
conexões neurais que são essenciais para o aprendizado. Durante a infância e
adolescência, o cérebro passa por um período de grande plasticidade, o que significa que
está mais receptivo a novas informações e pode se adaptar com mais facilidade a novas
experiências. Por isso, é fundamental que a estimulação cognitiva adequada seja
proporcionada durante esse período, para que o desenvolvimento cerebral ocorra de
forma saudável e a capacidade de aprendizado seja maximizada. Além disso, é importante
ressaltar que a aprendizagem não ocorre apenas na infância e adolescência, mas ao longo

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de toda a vida, e o cérebro continua a se adaptar e formar novas conexões neurais, o que
pode ser estimulado por meio de desafios intelectuais e atividades que incentivem o
aprendizado constante.

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Referências
CAVELLUCCI, L.C.B. Estilos de Aprendizagem: em busca das diferenças individuais.
Curso de Especialização em Instrucional Design, v. 33, p. 1-12, 2005.

LENT, Robert. Cem Bilhões de Neurônios Conceitos Fundamentais de


Neurociências. 2ª Edição, Editora Atheneu, 2010.

PINHEIRO, Marta. FUNDAMENTOS DE NEUROPSICOLOGIA: o desenvolvimento cerebral da


criança. Vita Et Sanitas, Trindade, v. 1, n. 1, p. 34-48, dez. 2007.

PURVES, D et al. Neurociências. 4ª Edição, Porto Alegre: Editora Artmed, 2010.

REED, U.C. O Desenvolvimento Normal do Sistema Nervoso Central. In: NITRINI, Ricardo;
BACHESCHI, Luiz Alberto. A neurologia que todo médico deve saber. 3.ed. São Paulo:
Atheneu, 2015.

SCHMITT, Camila da Silva; DOMINGUES, Maria José Carvalho de Souza. Estilos de


aprendizagem: um estudo comparativo. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação
Superior (Campinas), [S.L.], v. 21, n. 2, p. 361-386, jul. 2016.

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