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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

VARA ÚNICA DA COMARCA DE PORTO REAL – RIO DE


JANEIRO

Processo n° 0001161-94.2018.8.19.0071

RAFAEL DE CARVALHO LIMA, brasileiro, casado, portador da


Cédula de Identidade de n° 10290120-4, expedido pelo DETRAN/RJ, inscrito
no CPF/MF sob o número 032.772.117-03, residente e domiciliado na cidade
de Porto Real – RJ, na Rua São Francisco, n° 395, Bairro de Fátima, CEP:
27.570-000, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por
intermédio de seu advogado que esta subscreve, propor

EMBARGOS À EXECUÇÃO

Em face do MUNICÍPIO DE PORTO REAL, pessoa jurídica de


direito público, inscrita no CNPJ sob o número 01.612.355/0001-02, com
sede na Rua Hilário Ettore, n° 442, Centro, CEP: 27.570-000, Porto Real –
RJ, pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir e ao final requer.
SÍNTESE DOS FATOS
A Fazenda Municipal fundamenta a presente Ação de Execução
Fiscal contra o Embargante em virtude de débitos tributários, que o
Embargante sequer sabe quais tributos o Embargado pleiteia receber, sendo
certo que pleiteia receber, judicialmente, a importância de R$ 21.211,30
(vinte e um mil duzentos e onze reais e trinta centavos), referentes à Certidão
de Dívida Ativa de n° 17/2018.
Contudo, não merece prosperar a pretensa Execução Fiscal, em
virtude das diversas irregularidades constantes da Certidão de Dívida Ativa
juntada à Inicial, o que serão demonstradas a seguir.

PRELIMINARMENTE – DA INÉPCIA DA INICIAL


A presente execução tem como título a Certidão de Dívida Ativa,
documento que deve gozar de presunção de liquidez e certeza, sendo
circunstanciada, vez que a qualidade da autora embargada não lhe retira a
obrigação processual de demonstrar o fato e o fundamento jurídico do pedido.
Contudo, a petição inicial e a CDA são flagrantemente ineptas, pois
o credor deixa de informar a origem do pretenso crédito e ainda mais, não o
discrimina. Portanto, não bastar remeter a certidão que nada informa e define.
Constitui a inicial da Fazenda Municipal, petição estereotipada e
aleatória, que não demonstra especificamente o débito, o que ocorre em
específico na certidão já elencada.
Ora, Excelência, o Art. 614 do Código de Processo Civil é claro ao
exigir o devido demonstrativo do débito e deve ser aplicado subsidiariamente
ao processo de Execução Fiscal (LEF), conforme previsto no Art. 1° da Lei
6.830/80, vejamos:
“Art. 1° A execução judicial para cobrança de Dívida
Ativa da União, dos Estados ou do Município e
respectivas autarquias será regida por esta lei e,
subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil.”
Neste passo, apesar da presunção de liquidez e certeza, a CDA
apresentada pela Fazenda Pública Municipal pode ser ilididas por prova
inequívoca pelo executado ou terceiro interessado, quando estes constarem
que o título não cumpre todos os requisitos necessários, conforme dispõe o
parágrafo único, do artigo 3° da Lei n° 6.830/80.
Esses requisitos são elencados no parágrafo 5°, do artigo 2°, que
assim versa, in verbis:
“Parágrafo 5°. O Termo de Inscrição de Dívida Ativa
deverá conter:
I – o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre
que conhecido, o domicílio ou residência de um e de
outros;
II – o valor originário da dívida, bem como o termo
inicial e a forma de calcular os juros de mora e
demais encargos previstos em lei ou contrato;
III – a origem, a natureza e o fundamento legal ou
contratual da dívida;
IV – a indicação, se for o caso, de estar a dívida
sujeita à atualização monetária, bem como o
respectivo fundamento legal e o termo inicial para
cálculo;
V – a data e o número da inscrição, no Registro da
Dívida Ativa;
VI – o número do processo administrativo ou do auto
de infração, se neles estiver apurado o valor da
dívida.
Parágrafo 6°. A Certidão de Dívida Ativa conterá os
mesmos elementos do Termo de Inscrição e será
autenticada pela autoridade competente.”
No entanto, a CDA juntada à peça inicial não obedece às
determinações impostas pelo texto legal supracitado, dificultando o
entendimento e a defesa do Embargante, e consequentemente
comprometendo sua presunção de liquidez e certeza.
Da análise da referida certidão, podemos concluir que o disposto no
inciso III, do parágrafo 5°, não foi observada, pois não há como identificar a
origem e a natureza do débito cobrado, vez que não se determinou o fato
gerador.
Não basta que o Embargado apenas se limite a mencionar que o
débito fiscal é originário do tributo ICMS, por exemplo, é necessário,
também, que identifique e destaque o fato gerador (FATO JURÍDICO
TRIBUTÁRIO PRATICADO PELA EMBARGANTE E NÃO A
HIPÓTESE GENÉRICA DA LEI) no qual incide o tributo na situação
específica do Embargante.
Ademais, como está instruída a inicial, impossível é vislumbrar qual
a origem e a natureza do débito.
No caso em tela, portanto, perfeitamente possível verificar a falta
dos requisitos que configurariam a necessária certeza e liquidez dos títulos, o
que induz a nulidade da Certidão de Dívida Ativa que sustentam a presente
execução.
Nesse sentido, esclarece o douto SAMUEL MONTEIRO:
“Existindo qualquer dúvida ou incerteza sobre o “na
debeatur”, a origem, causa, e cabimento da dívida do
contribuinte, ou sobre o “quantum debeatur”, o valor
legal exigível ou o próprio cabimento da
exigibilidade em face do contribuinte a liquidez e
certeza do título fica abalada, e a certidão resta nula,
já que tais requisitos representam a certeza da dívida
e sua liquidez”
Ressalte-se que a Certidão de Dívida Ativa, goza de presunção de
certeza e liquidez, porém, em relação a esta presunção, admite-se prova em
contrário. Com a palavra, Dejalma de Campos:
“Assim a dívida ativa regularmente inscrita goza de
presunção de certeza e liquidez. A certidão de
inscrição respectiva tem efeito de prova pré-
constituída. Essa presunção, todavia, é relativa,
podendo ser elidida por prova constituída a cargo do
sujeito passivo ou do terceiro a quem aproveite.”
Portanto, diante da imprecisão da inicial, da inobservância do inciso
III, do parágrafo 5°, do artigo 2°, da Lei n° 6.830/80, e do consequente
comprometimento da liquidez e certeza da CDA, requer seja,
preliminarmente, decretada a nulidade da aludida Certidão de Dívida Ativa,
julgando-se completamente procedente os presentes embargos, com base no
artigo 295, I, do Código de Processo Civil.

DA MULTA E DOS JUROS


Ao analisarmos os números apresentados pelo Município destaca-se,
a prima face, a cobrança de valores indevidos e exorbitantes a título de multa
e de juros.
O que se evidencia no caso em tela é uma verdadeira afronta ao
contribuinte, à Constituição Federal, e à ordem moral e jurídica que devem
pautar as relações do Estado com seus administrados.
Fica evidente que o quantum alegado com devido (dívida original)
mais que dobra o seu valor através da aplicação da multa e juros exorbitantes
que adquirem não só o caráter de abuso, já que não se trata de operações no
mercado financeiro, mas de características de confisco.
Tal imposição adquire a verdadeira conotação de CONFISCO, por
consequência da abusividade na correção do valor da dívida original,
cobrança de multas e juros comuns somente ao mercado financeiro, sendo
inaplicáveis à cobrança de Fisco, pois tal conduta do Município adquire o
caráter de operador financeiro o que conflita com a sua função social de única
e exclusivamente cobrar o tributo devido originalmente.
A Constituição da República, em seu artigo 150, inciso IV, versa o
seguinte, in verbis:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV – utilizar tributo com efeito de confisco;”
A vergonhosa intenção do Embargado, de utilizar a cobrança
de tributos e seus acessórios com caráter de confisco, merece dura reprimenda
por parte do Poder Judiciário, pois vem se tornando uma constante nas
execuções fiscais propostas pelas Fazendas Públicas.
José Cretella Jr., renomado tributarista, seguindo o entendimento
pacífico da doutrina e da jurisprudência brasileira, escreveu as seguintes
linhas:
“É vedado no direito brasileiro o exercício de
tributação confiscatória. Atribuir ao imposto ou à
taxa ou à contribuição de melhoria, o efeito de
confisco, isto é, cobrar pelo tributo importância
equivalente ao patrimônio do contribuinte é
inconstitucional. Se a lei o fizer, será arguida sua
inconstitucionalidade. Se tratar de ato administrativo
confiscatório – Decreto, Resolução, Portaria -, o ato
é eivado de desvio de poder, o que o torna nulo.”
No presente caso, o que se vislumbra é a clara característica de
confisco por parte do embargado.
Vem colocadas as palavras do mestre Sacha Calmon Navarro
Coelho, acerca da matéria, in verbis:
“Há que se considerar que o qualitativo e o
quantitativo. Sob o primeiro aspecto, importa
verificar quais os tipos de sanções possíveis, e sob o
último, até que limite (quantum) pode ser o
contribuinte ou responsável sancionado pela lei
fiscal.”
Portanto, não há dúvida de que deve haver um limite para a cobrança
da execução fiscal, e este limite foi flagrantemente ultrapassado no presente
caso, violando o princípio constitucional que veda o confisco através de
imposição tributária e da determinação constitucional do Artigo 146 da
Constituição Federal.
Diante do exposto, requer a nulidade ou exclusão da cobrança da
multa e dos juros apresentados na certidão embargada, em não sendo esse o
entendimento de Vossa Excelência, seja determinada a quantia razoável a ser
paga pelo Embargante a título de multa, desconsiderando-se ainda os juros
aplicados, em favor dos juros legais.

DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer que seja concedida, liminarmente, a
suspensão da presente ação de execução contra si, diante da inexigibilidade
do título executivo.
Requer, ainda, que seja acatada a preliminar de inépcia da inicial e
ofensa ao princípio do contraditório e ampla defesa em virtude da
inobservância ao Artigo 2°, parágrafo 5°, inciso III da Lei 6.830/80 que rege
o procedimento administrativo fiscal.
Outrossim, requer a juntada dos processos administrativos,
oferecendo após, vistas ao Embargante para manifestar-se, sob pena de
caracterizar-se violação ao princípio da ampla defesa e do contraditório.
No mérito, deverão ser julgados procedentes os presentes embargos,
condenando-se o Embargado ao pagamento de custas processuais e
honorários advocatícios, para:
a) afastar a cobrança da multa nos valores impostos pelo Embargado, em face
do caráter confiscatório da mesma;
b) afastar a incidência da Taxa SELIC como índice de correção, aplicando-se
somente os juros de 1% (um por cento) ao mês, uma vez que caracteriza
capitalização de juros e ilegalidade da aplicação do referido índice aos
tributos federais, estaduais e municipais.
Por fim, requer o deferimento da produção de todas as provas em
direito admitidas.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Valença – RJ, 04 de julho de 2023.

Carlos Alberto Sampaio Brites Pinheiro


OAB/RJ 204.942

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