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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1°

VARA DA COMARCA DE VALENÇA – RIO DE JANEIRO

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Processo n° 0802094-16.2022.8.19.0064

ROSILENE FIGUEIRA DE CARVALHO, já qualificada nos


autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, inconformada com o conteúdo da r. Sentença de ID 55641315
por intermédio de seu advogado que esta subscreve, interpor,
tempestivamente

APELAÇÃO

Com fulcro nos artigos 1.099 e seguintes do Código de Processo


Civil, cujas razões seguem acostadas, salientando que a Apelante deixou de
recolher o preparo em virtude da Gratuidade de Justiça concedida à mesma
pelo juízo a quo.
Por oportuno, requer a intimação do Apelado para apresentar
contrarrazões no prazo legal de 15 (quinze) dias e após tal providência, sejam
os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, nos termos do § 1° e 3° do artigo 1.010 do Código de Processo Civil

Nestes termos,
Pede deferimento.

Valença – RJ, 16 de junho de 2023.

Carlos Alberto Sampaio Brites Pinheiro


OAB/RJ 204.942
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

Apelante: LUIZ ANTONIO FRANÇA DA ROCHA


Apelados: RIOPREVIDÊNCIA – FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA
SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

Processo n° 0802094-16.2022.8.19.0064

COLENDA CÂMARA,
ILUSTRES JULGADORES.

RAZÕES DA APELAÇÃO

PRELIMINARMENTE
DA TEMPESTIVIDADE
A recorrida foi intimada no dia 12 de junho de 2023 da Sentença
proferida pelo juízo a quo, razão pela qual, nos termos do artigo 350 e 351 do
Código de Processo Civil.

SÍNTESE DA DEMANDA
A Recorrente é pensionista militar, e seus proventos foram
calculados com base na Lei n° 3.189/99 que institui o Fundo Único de
Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro – Rio Previdência c/c a Lei
n° 5.260/2008, Lei n° 443/1981 e os artigos 65, 68 e 69 da Lei n° 279/79, que
dispõe sobre a remuneração dos integrantes da Polícia Militar e do Corpo de
Bombeiros, ambos do Estado do Rio de Janeiro, o qual compreende
vencimentos ou proventos e indenizações.
Na qualidade de pensionista, esta passou a ser beneficiada pela
isenção de pagamento de Imposto de Renda com fundamento no artigo 6°,
inciso XIV da Lei 7.713 de 22 de dezembro de 1988, que assim dispõe:
“Art. 6° Ficam isentos do imposto de renda os
seguintes rendimentos percebidos por pessoas
físicas:
(...)
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma
motivada por acidente em serviço e os percebidos
pelos portadores de moléstia profissional,
tuberculose ativa, alienação mental, esclerose
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia
grave, hepatopatia grave, estados avançados da
doença de Paget (ostelte deformante), contaminação
por radiação, síndrome da imunodeficiência
adquirida, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido
contraída depois da aposentadoria ou reforma;”
A contribuição previdenciária do Recorrida, sempre foi calculada
sobre o soldo, cotas de soldo e gratificações incorporáveis no percentual de
14% (catorze por cento) do que, eventualmente excedesse ao dobro do limite
máximo para os benefícios do RGPS/INSS, com base no artigo 34, inciso I
da Lei Estadual n° 3.189/99, combinado com o § 21, do artigo 40 da
CRFB/88, alterado pela EC45/2005:
“Lei Estadual n° 3.189/99
Art. 34. A contribuição prevista no artigo anterior
incidirá sobre a seguinte base de cálculo:
I – para os membros do Poder Judiciário, do
Ministério Público, da Defensoria Pública, do
Tribunal de Contas e os servidores públicos
estatutários inativos, o montante dos seus proventos
de aposentadoria que exceder o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, combinado
com o art. 40, § 21, se for o caso, ambos da
Constituição da República;
(...)
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo
incidirá apenas sobre as parcelas de proventos de
aposentadoria e de pensão que superem o dobro do
limite máximo estabelecido para os benefício do
regime geral de previdência social de que trata o art.
201 desta Constituição, quando o beneficiário, na
forma da lei, for portador de doença incapacitante.”
Na base de cálculos para fins previdenciários era aplicado o
percentual de 14% (catorze por cento) em favor do Rio Previdência n/f do art.
33 da Lei n° 3.189/1999, in fine:
“Art. 33 – A contribuição a que se refere o art. 14,
inciso I, desta Lei será devida pelos servidores
públicos estatutários, ativos e inativos, do Estado do
Rio de Janeiro, suas autarquias e fundações,
vinculados ao plano financeiro e ao plano
previdenciário, bem como pelos beneficiários de
pensão por morte de servidor público estadual
estatutário sob a alíquota de 14 (catorze por cento)
passando a ser arrecadada a favor da
RIOPREVIDÊNCIA e a compor suas receitas.”
Cabe ressaltar que pela ineficiência comprovada da gestão estatal,
certificada pelas notícias de corrupção no governo estadual, a alíquota
previdenciária sofreu, no ano de 2017, uma majoração de 11% (onze por
cento) para 14% (catorze por cento), já com o fito de recuperar o sistema de
Previdência Estadual.
A pensão da Requerente estava sob a vigência de normas antigas que
foram adequadas por meio das Emendas Constitucionais 20/98, 41/2003, e
43/05, sendo criado o RIOPREVIDÊNCIA pela Lei n° 3.189 de 22 de
fevereiro de 1999, e Lei n° 5.260 de 11 de junho de 2008.
A alíquota do percentual previdenciário foi instituída por meio da já
citada Lei n° 3.189/99. Já a Lei n° 5.260/2008 definiu normas importantes no
nosso Ordenamento Jurídico, como o artigo 9°, assim dispondo:
“Art. 9° A aposentadoria dos membros do Poder
Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria
Pública, do Tribunal de Contas e dos servidores
públicos estatutários do Estado do Rio de Janeiro
rege-se pelas normas constitucionais e legais
vigentes quando da aquisição do respectivo direito,
assim consideradas:”
Ocorre que com a revogação do § 21, do artigo 40, da Constituição
Federal e com a edição da Lei n° 13.954/2019, foi realizada uma alteração
completa na folha de pagamento dos reformados por invalidez, que se refletiu
nos meses de janeiro de 2020 e seguintes.
Até o mês de dezembro de 2019, o Estado só descontava dessa
categoria de Inativos os valores que fossem superiores ao teto duplo da
previdência. Todavia, com a revogação do § 21, do artigo 40 da Constituição
Federal, promovida pela EC 41/2003, em janeiro se passou a descontar 14%
(catorze por cento) do que ultrapassasse o teto simples.
Ressalte-se que a contribuição para os Inativos foi instituída pela EC
41/2003, que incluiu o § 18, do artigo 40, da Constituição Federal e pela EC
43/2005, que incluiu o § 21, já para equilibrar o sistema previdenciário, uma
vez que, até àquela data, quando os servidores se aposentavam não eram mais
tributados sobre qualquer modo.
No dia 17/03/2020 o Estado passou a aplicar a nova base de cálculo,
instituída pela Lei n° 13.954/2019, no percentual de 9,5 (nove e meio por
cento) sobre a totalidade da remuneração, de forma que no pagamento de
março, os primeiros dezesseis dias foram calculados com base nas regras
utilizadas nos meses de janeiro e fevereiro, e os outros quatorze dias
subsequentes tiveram o cálculo realizado com a nova base de cálculo.
Logo, a Recorrente, que até dezembro de 2019 contribuía com 14%
(catorze por cento) do que ultrapassava o teto simples do RGPS, passou a
contribuir com 10,5% (dez e meio por cento) sobre o total dos proventos com
base na Lei Federal n° 13.954/2019, o que reduziu sobremaneira seus parcos
proventos líquidos, ou seja, houve uma redução de salário, fato rechaçado
pela Constituição Federal, em seu artigo 7°, VI.

DA SENTENÇA A QUO
Ao final da instrução foi prolatada a r. Sentença quo, julgando
improcedentes os pedidos autorais, a qual, como será demonstrado, não
merece qualquer alteração, sendo mister transcrever o julgado na íntegra:

DO MÉRITO
DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
Inicialmente cabe esclarecer que no dia 27 de maio de 2021 o IRDR
n° 0054174-56.2020.8.19.0000 foi INADMITIDO pela Seção Cível do
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

DA EMENDA CONSTITUCIONAL N° 103/2019 E SUA EFICÁCIA


LIMITADA PARA ENTES FEDERADOS
A EC 103/2019, ao revogar o § 21, do artigo 40 da Constituição
Federal, o fez através do artigo 35, e no artigo 36 trouxe normas gerais para
vigência e aplicação pelos entes federados. Senão vejamos:
“Art. 35. Revogam-se:
I – os seguintes dispositivos a Constituição Federal:
a) O § 21 do art. 40;
(...)
Art. 36. Esta Emenda Constitucional entra em vigor:
I – no primeiro dia do quarto mês subsequente ao da
data de publicação desta Emenda Constitucional,
quanto ao disposto nos arts. 11, 28 e 32;
II – para os regimes próprios de previdência social
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
quanto à alteração promovida pelo art. 1° desta
Emenda Constitucional no art. 149 da Constituição
Federal e às revogações previstas na alínea “a” do
inciso I e nos incisos III e IV do art. 35, na data de
publicação de lei de iniciativa privativa do respectivo
Poder Executivo que as referende integralmente;
III – nos demais casos, na data de sua publicação.
Parágrafo único. A lei que trata o inciso II do caput
não produzirá efeitos anteriores à data de sua
publicação.”
Note-se que, no que tange aos entes federados, a citada emenda,
trata-se de Norma de Eficácia Limitada, muito bem definida nas lições de
Luís Roberto Barroso, em sua obra Curso de Direito Constitucional – Os
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo:
“(...) normas de eficácia limitada são as que não
receberam do constituinte normatividade suficiente
para sua aplicação, o qual deixou ao legislador
ordinário a tarefa de completar a regulamentação
das matérias nelas traçadas em princípio ou
esquema. (BARROSO, p. 251)”
No mesmo sentido, temos a lição dos professores Vicente Paulo e
Marcelo Alexandrino, na obra, Resumo de Direito Constitucional
Descomplicado, 11° Edição:
“As normas constitucionais de eficácia limitada são
aquelas que não produzem, com a simples entrada em
vigor, os seus efeitos essenciais, porque o legislador
constituinte, por qualquer motivo, não estabeleceu,
sobre a matéria, uma normatividade para isso
bastante, deixando essa tarefa ao legislador
ordinário ou a outro órgão do Estado (2017, p. 22 e
23)”
Desse modo, as alterações foram realizadas pela EC n° 103/2019, só
poderiam entrar em vigor em relação aos Estados Federados na data de
publicação de lei própria, de iniciativa privativa do Poder Executivo Estadual,
discutida e votada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Portanto, permanece em vigor para o Estado do Rio de Janeiro a Lei
Estadual n° 3.189/99, em especial o inciso I, do art. 34, que deve ser
combinado com o § 21 do art. 40, da Constituição Federal, que isenta os
inativos de contribuírem sobre os valores que excederem o teto do Regime
Geral de Previdência Social, in fine:
“Lei Estadual n° 3.189/99
Art. 34. A contribuição prevista no artigo anterior
incidirá sobre a seguinte base de cálculo:
I – para os membros do Poder Judiciário, do
Ministério Público, da Defensoria Pública, do
Tribunal de Contas e os servidores públicos
estatutários inativos, o montante de seus proventos de
aposentadoria que exceder o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, combinado
com o art. 40, § 21, se for o caso, ambos da
Constituição da República;
Constituição da República Federativa do Brasil de
1988
Art. 40
(...)
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo
incidirá apenas sobre as parcelas de proventos de
aposentadoria e de pensão que superem o dobro do
limite máximo estabelecido para os benefícios do
regime geral de previdência social de que trata o art.
201 desta Constituição, quando o beneficiário, na
forma da lei, for portador de doença incapacitante.”
No presente caso, o Estado do Rio de Janeiro, não editou Lei neste
sentido, apenas implantou os descontos nas folhas de pagamento dos inativos
Militares e pensionistas, causando um rombo nas contas desses que deram,
literalmente, o seu sangue em defesa da sociedade, justamente no momento
em que a população de modo geral mais precisa do salário íntegro.
Por estas razões, o Estado deve ser compelido a realizar os descontos
previdenciários do autor apenas quanto ao montante que exceder o TETO
DUPLO do Regime Geral de Previdência Social, afastando-se o art. 24-C do
Decreto-Lei n° 667, de 2 de julho de 1969, incluído pelo art. 25 da Lei
13.954/2019 no caso em concreto, em controle incidental.

DA LEI N° 13.954/2019 E AS RECENTES DECISÕES DO STF – DA


VIOLAÇÃO AO PACTO FEDERATIVO
Com a promulgação da Lei n° 13.954/2019, os descontos
previdenciários passaram a incidir sobre a totalidade dos ganhos dos Militares
Estaduais Inativos e seus pensionistas no percentual de 9,5% (nove e meio
por cento), sendo este exatamente o caso da Recorrente, em total
contrariedade com a Constituição Federal, como já foi demonstrado.
A novel lei tratou, entre outras coisas, do Sistema de Proteção Social
dos Militares, alterando diversas normas infraconstitucionais, em especial, o
Decreto n° 667 de 02 de julho de 1969, acrescentando o art. 24-C, como já
foi demonstrado.
A mudança significativa no decreto 667 que reorganiza as Polícias
Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos Territórios e
do Distrito Federal, foi a alteração da alíquota e da base de cálculo da
contribuição previdenciária conforme disposto no art. 24-C do referido
decreto, in fine:
“Art. 24-C. Incide contribuição sobre a totalidade da
remuneração dos militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios, ativos ou inativos, e de seus
pensionistas, com alíquota igual à aplicável às
Forças Armadas, cuja receita é destinada ao custeio
das pensões militares e da inatividade dos militares.
(Incluído pela Lei n° 13.954, de 2019).”
Ao igualar a contribuição previdenciária dos militares dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios, a dos militares das Forças Armadas,
inseriu-se na contribuição dos militares estaduais a alíquota prevista no art.
3°-A da Lei 3.765, de 04 de maio de 1960, também alterada pela Lei
13.954/2019, conforme se demonstra:
“Art. 3°-A. A contribuição para a pensão militar
incidirá sobre as parcelas que compõem os proventos
na inatividade e sobre o valor integral da quota-parte
percebida a título de pensão militar.
I – de 9,5% (nove e meio por cento), a partir de 1° de
janeiro de 2020;
II – de 10,5% (dez e meio por cento), a partir de 1°
de janeiro de 2021.”
Para iniciar a mudança em 17 de março de 2020 na contribuição
previdenciária do servidor militar estadual inativo, os agravantes se basearam
no ato complementar expedido com fulcro no artigo 27 da Lei 13.954,
seguindo os termos da Instrução Normativa SPREV n° 5, de 24/01/2020:
“Art. 22-A. Na aplicação do disposto no art. 13 e 14
desta Instrução Normativa, será considerado o
seguinte:
(...)
II – em relação aos militares inativos e pensionistas:
a) se o resultado combinado da alteração da alíquota
e da ampliação da base de cálculo resultar em
redução do valor final da contribuição devida, este
novo valor passará a ser devido a partir de 1° de
janeiro de 2020;
b) se o resultado da alteração da alíquota e da
ampliação da base de cálculo resultar em aumento
do valor final da contribuição devida, o valor
anterior da contribuição continuará sendo devido até
16 de março de 2020.”
Os tribunais superiores reconhecem o Princípio da Solidariedade no
RGPS e RPPS, não se prestando, contudo a legitimar distorções na base de
cálculo previdenciário, ou seja, mesmo diante de premente necessidade de se
equacionar os regimes, não pode o Ente Estatal, amparado por documento
legislativo escrito em conluio com o poder executivo, promover arrecadação
de forma desmedida conforme restou cristalino ARE 669.573, in verbis:
“(...) O princípio da solidariedade se presta a
universalizar o âmbito de potenciais contribuintes,
mitigando a referibilidade que é própria das
contribuições. Não se presta o referido postulado a
legitimar distorções na base de cálculo das
contribuições, as quais, no intuito desmedido de
arrecadar, acarretem o desvirtuamento da natureza
retributiva que deve marcar os regimes de
previdência. 9ARE 669.573 AgR, rel. min. Roberto
Barroso, j. 4-8-2015, 1° T, DJE de 26-8-2015).”
Questão n~~ao menos importante foi destacada na Nota Técnica SEI
n° 12212/2019/CONOR/CGNAL/SRPPS/SPREV-ME, firmada pelo
Secretário de Previdência, sobre a análise das regras constitucionais da
reforma previdenciária aplicáveis aos regimes próprios de previdência social
dos entes federados subnacionais, tendo como interessados, regimes próprios
de previdência social dos estados, do distrito federal e dos municípios
conforme passamos a destacar:
“9. Já para determinados preceitos da reforma,
nominados adiante, a cláusula de vigência constante
do inciso II do art. 36 da EC n° 103, de 2019,
estabelece um período de vacância, em que o início
da produção de efeitos jurídicos dar-se-á somente
com a publicação de lei do ente subnacional que
promova o seu referendo integral. 10. A teor do
aludido inciso II do art. 36 da EC n° 103, de 2019, a
aplicação de redação dada pela reforma ao art. 149
da Constituição Federal e a cláusula de revogação
contida na alínea a do inciso I e nos incisos III e IV
do art. 35 daquela Emenda não tem aplicabilidade
constitucional para os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios enquanto estiverem em período de
vacância, já que dependem de referendo para o início
de sua vigência, mediante a publicação de lei de
iniciativa privativa do respectivo Poder Executivo
destes entes da federação, nestes termos: EC n° 103,
de 2019 Art. 36. Esta Emenda Constitucional entrará
em vigor: II – para os regimes próprios de
previdência social dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, quanto à alteração promovida pelo
art. 1° desta Emenda Constitucional no art. 149 da
Constituição Federal e as revogações previstas na
alínea “a” do inciso I e nos incisos III e IV do art. 35,
na data da publicação de lei de iniciativa privativa
do respectivo Poder Executivo, que as referende
integralmente; III – nos demais casos na data da sua
publicação. Parágrafo único. A lei de que trata o
inciso II do caput não produzirá efeitos anteriores à
data de sua publicação. 11. Assim, enquanto não
houver o referendo integral dos mencionados
dispositivos da reforma, por meio da lei estadual,
distrital ou municipal, continua a valer o parágrafo
21 do art. 40 da Constituição, bem como valem os
arts. 2°, 6° e 6°-A da Emenda Constitucional n° 41,
de 2003, e o art. 3° da Emenda Constitucional n° 47,
de 2005, sendo aplicável, quanto ao art. 149 da
Constituição, a redação anterior à data de entrada
em vigor da EC n° 103, de 2019, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios não poderão
instituir alíquotas de contribuição para o custeio do
RPPS de forma progressiva, nem fazer incidir a
contribuição ordinária dos aposentados e
pensionistas sobre o valor dos proventos e pensões
que superem o salário mínimo, se houver déficit
atuarial, pois, em todo o caso, deverá incidir sobre
proventos e pensões que superem o limite máximo
estabelecido para os benefícios do RGPS, ou que
superem o dobro desse limite quando o beneficiário
for acometido de doença incapacitante.”
A aberração jurídica é que o Estado do Rio de Janeiro, não legislou
sobre o tema, apenas aplicou a alíquota de 9,5% (nove e meio por cento) sobre
a totalidade dos ganhos dos Militares Estaduais inativos e dos pensionistas,
causando um rombo na vida daqueles que deram os seus sangues para a
Preservação da Ordem Pública.
O Governo do Estado fez isto justamente em um momento de
pandemia, onde todos os esforços estavam voltados para minimizar os danos
à Saúde Pública e à Economia.
Talvez para se arrecadar mais, ou mesmo suprir os rombos dos
desmandos dos nefastos governos dos últimos anos, implementou-se a nova
contribuição, antes mesmo de enviar o Projeto de Lei à Assembleia
Legislativa regulamentando o desconto, ou seja, apenas houve a
implementação, sem seque se dizer como seriam geridos os recursos, uma vez
que, os Militares Estaduais não fazem mais parte, em tese, do sistema gerido
pelo RIOPREVIDENCIA, violando, além de normas infraconstitucionais,
normas constitucionais, senão vejamos:
“Seção III
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO
FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos
de Bombeiros Militares, instituições organizadas
com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1° Aplicam-se aos militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a
ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8°, do
art. 40, § 9° e do art. 142, §§ 2° e 3°, cabendo a lei
estadual específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3°, inciso X, sendo as patentes dos oficiais
conferidas pelos respectivos governadores.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina,
sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
§ 3° Os membros das Forças Armadas são
denominados militares, aplicando-se-lhes, além das
que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes
disposições:
(...)
X – a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras
condições de transferência do militar para a
Inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração,
as prerrogativas e outras situações especiais dos
militares, consideradas as peculiaridades de suas
atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
compromissos internacionais e de guerra.”
Assim, resta claro e evidente, que compete privativamente ao
respectivo poder executivo de cada Estado a iniciativa de lei para referendar
o § 1°, do artigo 149 da Constituição Federal, só podendo ser instituída
contribuição após a publicação da referida lei:
“Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir
contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais
e econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,
III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art.
195, § 6°, relativamente às contribuições a que alude
o dispositivo.
§ 1° A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições
para o custeio de regime próprio de previdência
social, cobradas dos servidores ativos, dos
aposentados e dos pensionistas, que poderão ter
alíquotas progressivas de acordo com o valor da base
de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e
de pensões.”
O Supremo Tribunal Federal já havia enfrentado o tema sobre a
competência dos Estados Membros para dispor sobre direitos previdenciários,
ao julgar o RE 610.290, in fine:
“(...) I – Compete aos Estados-membros dispor sobre
os direitos, os deveres, a remuneração, as
prerrogativas e outras situações especiais dos
militares, inclusive quanto aos direitos
previdenciários. II – O benefício previdenciário
instituído em favor dos dependentes de policial
militar excluído da corporação representa uma
contraprestação às contribuições previdenciárias
pagas durante o período efetivamente trabalhado.
(...) (STF – RE 6210390 MS, Relator: Min. Ricardo
Lewandowsi, Julgamento: 26/06/2013, Segunda
Turma).”
No dia 19/02/2020, decidiu o STF no mesmo sentido, na Medida
Cautelar na Ação Civil Ordinária n° 3.350, de relatoria do Ministro Barroso,
afastando a aplicação da novel Lei n° 13.954/2019 para o Estado do Rio
Grande do Sul, por contrariar os arts. 42, § 1°, 142, § 3°, X e 149, § 1°, da
Constituição Federal. Ao que tudo indica, muito em breve o STF declarará
inconstitucionais os artigos 24-C, caput, §§ 1° e 2°, do Decreto-Lei n°
667/1969 e dos arts. 14, 22 e 22-A, com redação que foi dada pela Lei
13.954/2019, senão vejamos o entendimento de nossa Corte Suprema:
“Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO
CÍVEL. ORIGINÁRIA. ALÍQUOTA DE
CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E PENSÃO.
POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES
ESTADUAIS. 1. Ação cível originária por meio da
qual o Estado do Rio Grande do Sul pretende não ser
sancionado caso aplique aos militares estaduais
alíquota de contribuição para o regime de
inatividade e pensão prevista na legislação estadual
(14%), em detrimento da lei federal que determinou
que se aplicasse a essa categoria a mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas (atualmente,
9,5%) 2. Plausibilidade jurídica da tese de que a
União, ao definir a alíquota de contribuição
previdenciária a ser aplicada aos militares estaduais,
extrapolou a competência para a edição de normas
gerais sobre “inatividades e pensões das polícias
militares e dos corpos de bombeiros militares” (art.
22, XI, da Constituição, com a redação dada pela
Emenda Constitucional n° 103/2019). 3. A
interpretação sistemática da Constituição fortalece o
argumento de que a alíquota da contribuição
previdenciária devida por militares estaduais deve
ser fixada por meio de lei estadual que considere as
características dos regimes de cada um desses entes
públicos (arts. 41, § 1°, 142, § 3°, X e 149, § 1°, da
Constituição). 4. A edição de atos normativos cuja
aplicação implicará a redução das alíquotas de
contribuição praticadas pelo Estado revela
comportamento contraditório da União – que, de um
lado, exige dos demais entes públicos que assegurem
o equilíbrio de seus regimes próprios de previdência,
e de outro, restringe os meios para o alcance desse
objetivo. 5. Existência de perigo na demora, já que o
descumprimento da legislação federal sujeita o
Estado à aplicação das consequências jurídicas
previstas no art. 7° da Lei ne 9.717/1998 e à negativa
de expedição do Certificado de Regularidade
Previdenciária, com prováveis prejuízos á execução
de políticas públicas. 6. Medida cautelar deferida.
(...) 9. Além de preenchidos os pressupostos
necessários ao conhecimento da ação, entendo que
estão presentes os requisitos que autorizam o
deferimento da tutela de urgência, nos termos do art.
300 do CPC/2015. Quanto à probabilidade do
direito, considero plausível a tese de que a União, ao
deferir a alíquota de contribuição previdenciária a
ser aplicada aos militares estaduais e distritais e seus
pensionistas, extrapolou a competência para a
edição de normas gerais sobre “inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares” que lhe foi atribuída pelo art.
22, XI, da Constituição, com a redação dada pela
Emenda Constitucional n° 103/109. 10. A
interpretação sistemática da Constituição fortalece o
argumento de que a alíquota da contribuição
previdenciária devida por militares estaduais e seus
pensionistas deve ser fixada por meio de lei estadual.
Observa-se que, de acordo com os arts. 42, § 1°, e
142, § 3°, X, da Constituição, cabe a “lei estadual
específica” dispor sobre “a estabilidade e outras
condições de transferência do militar para a
inatividade” e “a remuneração, as prerrogativas, e
outras situações especiais militares”. Além disso, o
art. 149, § 1°, da Constituição – na redação atual,
dada pela Emenda Constitucional n° 103/2009, e nas
anteriores – estabelece que as contribuições para o
custeio dos regimes próprios de previdência social
deverão ser instituídas por meio de lei a ser editada
pelos entes federativos responsáveis por sua gestão,
além de definir diretrizes para as alíquotas a serem
praticadas por eles. 13. Ao contrário do que a União
argumenta, entendo que a unificação das alíquotas
de contribuição aplicáveis às Forças Armadas e aos
militares estaduais não assegura simetria política
remuneratória aplicável a essas carreiras.
Considerando que cabe à União e a cada um dos
Estados fixar a remuneração de seus militares, a
alíquota única incidirá sobre bases de cálculo
distintas, resultando em remunerações líquidas com
valores diferentes. Penso, ainda, não haver
demonstração (i) de que a perda de arrecadação
decorrente da redução da alíquota da contribuição
poderia ser compensada por outras medidas
instituídas pela Lei n° 13.954/2019, tais como a
ampliação da base de cálculo e a elevação das idades
para a condução de militares à reserva remunerada,
ou (ii) de que a implementação conjunta de todas
essas ações não seria necessária para garantir a
sustentabilidade do regime gaúcho. 14. Considero
presente, ainda, o perigo na demora. Isso porque, se
deixar de aplicar a mesma alíquota de contribuição
estipulada para os militares da União, o Estado
aparentemente estará sujeitos: (i) à aplicação das
consequências jurídicas previstas no art. 7° da Lei n°
9.717/1998, dentre as quais a suspensão das
transferências voluntárias, o impedimento para
celebrar contratos e a suspensão de empréstimos e
financiamentos; e (ii) à negativa de expedição do
Certificado de Regularidade Previdenciária (art. 9°,
IV, da Lei n° 9.717/1998. Essas providências podem
causar sérios prejuízos à execução de suas políticas
públicas. Não vislumbro, ainda, a existência de
perigo na demora inverso, já que: (i) a decisão não
produz impacto direto no sistema de inatividades e
pensões mantido pela União; e (ii) o Estado deverá
se responsabilizar por danos eventualmente
causados a seus servidores e pensionistas caso
proferida decisão de mérito, que lhe seja
desfavorável, nos termos do art. 302, I, do CPC/2015.
15. Por todo o exposto, defiro o pedido de tutela de
urgência, para determinar que a União se abstenha
de aplicar ao Estado do Rio Grande do Sul qualquer
das providências previstas no art. 7° da Lei n°
9.717/1998 ou de negar-lhe a expedição do
Certificado de Regularidade Previdenciária caso
continue a aplicar aos policiais e bombeiros militares
estaduais e seus pensionistas a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista em lei estadual, em detrimento do que prevê
o art. 24-C do Decreto Lei n° 667/1969, com a
redação da Lei n° 13.954/2019. 16. Cite-se a União.
Publique-se. Intimem-se. (STF – MC ACO: 3350 DF
– 0086169-03.2020.1.00.0000, Relator: Min. Roberto
Barroso, Julgamento: 19/02/2020.”
Nestes mesmo sentido, em decisão mais recente ainda, 05/10/2020,
do Plenário do STF, por unanimidade, em sede de ACO n° 3.396-DF, de
relatoria do Eminente Ministro Alexandre de Moraes, a qual se transcreve
abaixo:
“EMENTA: AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA.
CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO
ÀS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE
COMPETÊNCIA. LEI 13.954/2019. ALÍQUOTA DE
CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E PENSÃO.
POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES
ESTADUAIS. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
ESTABELECER NORMAS GERAIS. ART. 22, XXI,
DA CF/88. EXTAVASAMENTO DO CAMPO
ALUSIVO A NORMAS GERAIS.
INCOMPATIBILIDADE COM A CONSTITUIÇÃO.
DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA DA
AÇÃO. 1. Ação Cível Originária ajuizada por
Estado-membro com o objetivo não afastar sanção
decorrente de aplicação, aos militares, de alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista na legislação estadual, em detrimento de lei
federal que prevê a aplicação da mesma alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista na legislação estadual, em detrimento de lei
federal que prevê a aplicação da mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas. 2. É possível
a utilização da Ação Cível Originária a fim de obter
pronunciamento que declare, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo,
particularmente quando esta declaração constituir-
lhe a sua causa de pedir e não o próprio objeto do
pedido. 3. As regras de distribuição de competências
legislativas são alicerces do federalismo e
consagram a fórmula de divisão de centros de poder
em um Estado de Direito. Princípio da
predominância do interesse. 4. A Constituição
Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para
algumas matérias a presença do princípio da
predominância do interesse, estabeleceu, a priori,
diversas competências para cada um dos entes
federativos – União, Estados-Membros, Distrito
Federal e Municípios – e, a partir dessas opções,
pode ora acentuar maior centralização de poder,
principalmente na própria União (CF, art. 22), ora
permitir uma maior descentralização nos Estados-
Membros e nos Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso
I). 5. Cabe à lei estadual, nos termos do art. 42, § 1°,
da Constituição Federal, regulamentar as
disposições do art. 142, § 3°, inciso X, dentre as quais
relativas ao regime de aposentadoria dos militares
estaduais e a questões pertinentes ao regime jurídico.
6. A Lei Federal 13.954/2019, ao definir a alíquota
de contribuição previdenciária a ser aplicada aos
militares estaduais, extrapolou a competência para a
edição de normas gerais previstas no art. 22, XI, da
Constituição, sobre “inatividades e pensões das
polícias militares e dos corpos de bombeiros
militares”. 7. Ação Cível Originária julgada
procedente para determinar à União que se abstenha
de aplicar ao Estado de Mato Grosso qualquer das
providências previstas no art. 7° da Lei 9.717/1998
ou negar-lhe a expedição do Certificado de
Regularidade Previdenciária caso continue a aplicar
aos policiais e bombeiros militares estaduais e seus
pensionistas a alíquota de contribuição para o
regime de inatividade e pensão prevista em lei
estadual, em detrimento do que prevê o art. 24-C do
Decreto-Lei 667/1969, com redação da Lei
13.954/2019. Honorários sucumbenciais arbitrados
em R4 4.000,00 (quatro mil reais), nos termos do
artigo 85, § 8°, do CPC de 2015, devidos ao Estado-
Autor. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes
autos, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em
Sessão Virtual do Plenário, sob a Presidência do
Senhor Ministro LUIZ FUX, em conformidade com a
certidão de julgamento, por unanimidade, julgaram
procedente a ação para determinar à União que se
abstenha de aplicar ao Estado de Mato Grosso
qualquer das providências previstas no art. 7° da Lei
9.717/1998 ou de negar-lhe a expedição do
Certificado de Regularidade Previdenciária caso
continue a aplicar aos policiais e bombeiros militares
estaduais e seus pensionistas a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista em lei estadual, em detrimento do que prevê
o art. 24-C do Decreto-Lei 667/1969, com a redação
da Lei 13.954/2019.Fica prejudicado o agravo
interno interposto contra a decisão que deferiu a
liminar. Caracterizada a sucumbência, fica a União
condenada ao pagamento de honorários
advocatícios, ora arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro
mil reais), corrigidos a partir desta decisão, nos
termos do artigo 85, § 8°, do PCC de 2015. (STF –
ACO: 3396 DF, Relator: Min. Alexandre de Moraes,
Julgamento: 05/10/2020).”
Caber também destacar a decisão no Recurso Extraordinário com
Agravo, n° 1.309.755, São Paulo, de relatoria do Eminente Ministro Edson
Fachin, prolatada no dia 26/05/2021, a qual merece ser transcrita abaixo:
“DECISÃO: Trata-se de agravo cujo objeto é a
decisão que inadmitiu recurso extraordinário
interposto em face de acórdão do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, assim ementado (eDOC 2,
p. 59): “Policial Militar – Contestação da nova
forma de contribuição social instituída com a
chamada “reforma da previdência” – Incidência da
contribuição sobre a totalidade da remuneração que
não viola a irredutibilidade de vencimentos, o direito
adquirido nem tem efeitos confiscatórios – Reforma
constitucional que atribuiu a competência legislativa
para regulamentar a inatividade de policiais
militares à União, tornando não recepcionada a
legislação estadual anterior sobre o tema – Recurso
improvido”. No recurso extraordinário, interposto
com fundamento no art. 102, III, a e b, da
Constituição Federal, aponta-se ofensa aos arts. 22,
XXI, 42, §§ 1° e 2°, 142, § 3°, X e 149, § 1°, do texto
constitucional. Nas razões do recurso, sustenta-se,
em síntese, a inconstitucionalidade da contribuição
previdenciária instituída com base na Lei
13.954/2019, devida pelos militares estaduais ativos,
inativos e seus pensionistas, sob o argumento de
incompetência legislativa da União para estabelecer
esse tributo. É o relatório. Decido. A irresignação
merece prosperar. Constata-se que o acórdão
recorrido destoa da jurisprudência desta Corte
segundo a qual a atribuição da competência
legislativa federal para edição de normas gerais de
policiais militares e corpos de bombeiros militares,
não exclui a competência legislativa dos Estados
para tratar das especificidades atinentes aos temas
previstos pela própria Constituição como objeto de
disciplina em lei específica de cada ente estatal em
relação aos militares que lhes preste serviço,
inclusive às relativas ao regime de aposentadoria dos
militares estaduais. Nesse sentido, transcrevo a
ementa do julgamento da ADI 4912, de minha
relatoria, Pleno, DJe 24.05.2016. “AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 8°, 9°
E 10 DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL
125/2012, DE MINAS GERAIS. LEGITIMIDADE
ATIVA DAS ENTIDADES DE CLASSE. ALEGAÇÃO
DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 42, §§ 1° E 2°, E 142,
§ 3°, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
EXIGÊNCIA DE LEI ESTADUAL ESPECÍFICA.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA O
ESTABELECIMENTO DE NORMAS GERAIS,
ARTIGO 22, XXI E XXIII. 1. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal estabelece os seguintes
requisitos a serem atendidos pelas entidades de
classe no ajuizamento de ação de controle
concentrado: a) abrangência nacional; b)
delimitação subjetiva da associação; c) pertinência
temática; e d) compatibilidade entre a abrangência
da representação da associação e o ato questionado.
Requisitos atendidos pelas associações postulantes.
Legitimidade ativa reconhecida. 2. A Lei
Complementar Estadual 125/2012, do Estado de
Minas Gerais, por tratar exclusivamente sobre o
regime jurídico dos militares daquele Estado e sobre
regras de previd1ência do regime próprio dos
militares e praças, tem a especificidade exigida pela
Constituição Federal, atendendo ao comando dos
arts. 42, §§ 1° e 2° e 142, § 3°, X, da Constituição
Federal. 3. O Supremo Tribunal Federal, atendendo
ao comando dos arts. 42, §§ 1° e 2° e 142, § 3°, X, da
Constituição Federal. 3. O Supremo Tribunal
Federal tem jurisprudência dominante no sentido de
reconhecer que cabe à lei estadual, nos termos do art.
42, § 1°, da Constituição Federal, regulamentar as
disposições do art. 142, § 3°, inciso X, dentre as quais
as relativas ao regime de aposentadoria dos militares
estaduais. A atribuição da competência legislativa
federal para edição de normas gerais das polícias
militares e corpos de bombeiros militares,
necessárias para regular a competência, estrutura,
organização, efetivos, instrução, armamento, justiça
e disciplina que lhes importem um controle geral de
âmbito nacional, não exclui a competência
legislativa dos Estados para tratar das
especificidades atinentes aos temas previstos pela
própria Constituição como objeto de disciplina em lei
específica de cada ente estatal em relação aos
militares que lhes preste serviço. 4. Ação direta de
inconstitucionalidade conhecida e, no mérito,
julgada improcedente.” No que diz respeito
especificamente, às alíquotas da contribuição
previdenciária para inatividade e pensão para os
policiais e bombeiros militares estaduais fixadas com
base na Lei 13.954/2019, essa Corte já se pronunciou
sobre sua inconstitucionalidade, no seguintes termos:
“AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONSTITUCIONAL.
FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. LEI
13.954/2019. ALÍQUOTA DE CONTRIUIÇÃO PARA
INATIVIDADE E PENSÃO. POLICIAIS E
BOMBEIROS MILITARES ESTADUAIS.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA ESTABELECER
NORMAS GERAIS. ART. 22, XXI, DA CF/88.
EXTRVASAMENTO DO CAMPO ALUSIVO A
NORMAS GERAIS. INCOMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO. DECLARAÇÃO INCIDENTAL
DE INCONSTITUCIONALDIADE. PROCEDÊNCIA
DA AÇÃO. 1. Ação Cível Originária ajuizada por
Estado-membro com o objetivo não afastar sanção
decorrente de aplicação, aos militares, de alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista na legislação estadual, em detrimento de lei
federal que prevê a aplicação da mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas. 2. É possível
a utilização da Ação Cível Originária a fim de obter
pronunciamento que declare, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo,
particularmente quando esta declaração constituir-
lhe a sua causa de pedir e não o próprio pedido. 3.
As regras de distribuição de competências
legislativas são alicerces do federalismo e
consagram a fórmula de divisão de centros de poder
em um Estado de Direito. Princípio da
predominância do interesse. 4. A Constituição
Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para
algumas matérias a presença do princípio da
predominância do interesse, estabeleceu, a priori,
diversas competências para cada um dos entes
federativos – União, Estados-Membros, Distrito
Federal e Municípios – e, a partir dessas opções,
pode ora acentuar maior centralização de poder,
principalmente na própria União (CF, art. 22), ora
permitir uma maior descentralização nos Estados-
Membros e nos Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso
I). 5. Cabe à lei estadual, nos termos do art. 42, § 1°,
da Constituição Federal, regulamentar as
disposições do art. 142, § 3°, inciso X, dentre as quais
as relativas ao regime de aposentadoria dos militares
estaduais e a questões pertinentes ao regime jurídico.
6. A Lei Federal 13.954/2019, ao definir a alíquota
de contribuição previdenciária a ser aplicada aos
militares estaduais, extrapolou a competência para a
edição de normas gerais, prevista no art. 22, XI, da
Constituição, sobre “inatividades e pensões das
polícias militares e dos corpos de bombeiros
militares”. 7.. Ação Cível” (ACO 3.3.96, de relatoria
do Min. Alexandre de Moraes, Pleno, DJe
19.10.2020) Ante o exposto, dou provimento ao
recurso extraordinário, nos termos do art. 21, § 2°,
do RISTF, para reconhecer a inconstitucionalidade
da cobrança da contribuição previdenciária
estabelecida nos termos da Lei 13.954/2019, no caso
dos autos. Observe-se que as questões atinentes aos
eventuais valores a serem restituídos ou devidos em
razão da inconstitucionalidade da exação em
discussão, inclusive quanto a prescrição e correção
monetária, cingem-se ao âmbito infraconstitucional,
devendo ser solvidas pelo juízo de origem. Custas
judiciais e honorários de sucumbência ex lege.
Publique-se. Brasília, 26 de maio de 2021.”
Desse modo, percebe-se que há um vício de competência na inclusão
do artigo 24-C do Decreto-Lei n° 667, de 2 de julho de 1969, pelo artigo 25
da Lei 13.954/2019, em flagrante quebra do Pacto Federativo, face a
autonomia dos Estados para legislar sobre o tema.

DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS E SUBSÍDIOS – ART.


37, XV CRFB/88
Conforme já foi demonstrado, as alterações traídas pela Lei Federal
n° 13. 954/2019, trouxeram uma redução nos vencimentos da Recorrente, em
total violação ao artigo 37, inciso XV, da Constituição Federal que, in literis:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes a União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também ao
seguinte:
(...)
XV – o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de
cargos e empregos públicos são irredutíveis,
ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste
artigo e nos arts. 39, § 4°, 150, II, 153, III, e 153, §
2°, I;”
Sobre a vedação a redutibilidade de vencimentos, assim vem se
manifestando o Egrégio Supremo Tribunal Federal:
“A garantia constitucional da irredutibilidade do
estipêndio funcional traduz conquista juridicosocial
outorgada, pela Constituição da República, a todos
os servidores públicos (CF, art. 37, XV), em ordem a
dispensar-lhes especial proteção de caráter
financeiro contra eventuais ações arbitrárias do
Estado. Essa qualificada tutela de ordem jurídica
impede que o poder público adote medidas que
importem, especialmente quando implementadas no
plano infraconstitucional, em diminuição do valor
nominal ao estipêndio devido aos agentes públicos.
(ADI 2.075 MC, rel. min. Celso de Mello, P, j. 7-2-
2001, DJ de 27-6-2003)
Irredutibilidade de vencimentos: garantia
constitucional que é a modalidade qualificada da
proteção ao direito adquirido, na medida e que a sua
incidência pressupõe a licitude da aquisição do
direito a determinada remuneração. Irredutibilidade
de vencimentos: violação por lei cuja aplicação
implicaria reduzir vencimentos já reajustados
conforme a legislação anterior incidente na data a
partir da qual se prescreveu a aplicabilidade
retroativa da lei nova. (RE 298.694, rel. min.
Sepúlveda Pertence, P, j. 6-8-2003, DJ de 23-
4.2004)”
Desse modo, as alterações trazidas pela Lei Federal n° 13.954/2019
não devem prevalecer, eis que implementaram uma redução nos vencimentos
dos militares estaduais do Estado do Rio de Janeiro, em total violação ao
Princípio da Irredutibilidade de Vencimentos e Subsídios, previstos no art.
37, XV, da Constituição Federal.

DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE – ART. 5° DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL
Por previsão expressa do artigo 5° da Constituição Federal, o
princípio da igualdade é forma republicana de tratamento entre os iguais, não
podendo o legislador ou o próprio Poder Executivo, na edição de leis, atos
normativos e medidas provisórias, crias tratamentos abusivamente
diferenciados a pessoas que se encontram idêntica situação.
Não menos importante é a garantia constitucional que limita o poder
de tributar, artigo 150 da Constituição Federal, regra que certamente não foi
observada pela União ao igualar os diversos contribuintes, já que não se
encontram em situações iguais, senão vejamos.
A alteração proposta pela Lei ne 13.954 garantiu aos Militares da
União, como forma de compensação a nova contribuição previdenciária,
“diversos penduricalhos”, criou um adicional por disponibilidade militar,
elevou os bônus pagos por habilitação (cursos e qualificação), majorou de 04
(quatro) para 08 (oito) soldos, a ajuda de custo quando da passagem para a
inatividade, garantindo a percepção dos benefícios na aposentadoria, tudo
conforme texto legal destacado abaixo, extraído da Lei n° 13.954/19,
benefícios que não alcançaram os militares dos Estados.
“Art. 8° É criado o adicional de compensação por
disponibilidade militar, que consiste na parcela
remuneratória mensal devida ao militar em razão de
disponibilidade permanente e da dedicação
exclusiva, nos termos estabelecidos em regulamento.
(...)
§ 5° O adicional de compensação por disponibilidade
militar comporá os proventos da inatividade.
Art. 9° Os percentuais do adicional de habilitação,
devido em razão de cursos realizados com
aproveitamento pelo militar, são definidos no Anexo
III a esta Lei e produzirão efeitos financeiros a partir
das datas nele especificadas.
Art. 10. A gratificação de representação é parcela
remuneratória devida:
Art. 11. O auxílio-transporte de que trata a alínea
“a” do inciso II do caput do art. 2° da Medida
Provisória n° 2.215-10, de 31 de agosto de 2001, será
devido a todos os militares, independentemente do
meio de transporte utilizado, nos termos
estabelecidos em regulamento.
Art. 12. Os proventos na inatividade remunerada são
constituídos das seguintes parcelas:
I – soldo ou quotas de soldo;
II – adicional militar;
III – adicional de habilitação;
IV – adicional de compensação por disponibilidade
militar, observado o disposto no art. 8° desta Lei;
V – adicional de tempo de serviço, observado o
disposto no art. 30 da Medida Provisória ne 2.215-
10, de 31 de agosto de 2001;
VI – adicional de compensação orgânica; e
VII – adicional de permanência.”
Com maior gravidade, equiparou os militares Estaduais, não fazendo
distinção entre militares da reserva remunerada, reformados e, reformados
por invalidez, fazendo com que, todos contribuíssem com 9,5% (nove e meio
por cento) da totalidade de seus proventos, quando, os primeiros e os
segundos contribuíam com 14% (catorze por cento), mas apenas da parcela
dos proventos que ultrapassem o teto simples do RGPS/INSS, art. 40, § 18,
da Constituição Federal, e, os terceiros e mais sofridos, com 14% (catorze por
cento) dos proventos que ultrapassem o teto duplo do RGPS/INSS.
A Lei n° 13.954/2019, ao que parece, instituída sem qualquer estudo,
inseriu enorme discrepância entre os servidores ativos e aposentados. O
servidor ativo teve uma redução de 4,5% (quatro e meio por cento) na
contribuição previdenciária, logo, um aumento dos vencimentos líquidos,
uma vez que a estes já não era aplicado o teto simples. Todavia os inativos,
como é o caso da Recorrente, tiveram um aumento na contribuição
previdenciária, logo uma redução nos proventos líquidos.
Outra discrepância que se pode observar é que para os inativos que
ganham os maiores proventos, como os Coronéis houve uma significativa
redução no desconto previdenciário. Isso ocorre porque devido aos elevados
proventos que recebem, grande parte no teto do Estado, faz com que 9,5%
(nove e meio por cento) do total de seus vencimentos seja inferior ao valor
gerado pelos 14% (catorze por cento) do que excede o teto do Regime Geral
de Previdência Social.
Já para os praças, que recebem os menores proventos, houve um
enorme aumento na contribuição, conforme já exaustivamente demonstrado
acima.
Ora, não parece que a lei atingiu os eu objetivo de equilíbrio
financeiro e manutenção, do sistema previdenciário, ao menos do Estado do
Rio de Janeiro, onde, os que possuem os maiores proventos em decorrência
da alta patente, contribuem com valor menor de que os aposentados com
menor patente.
Ainda no serviço público e, mais especificamente, na área de
Segurança Pública, a mudança no regime previdenciário trouxe discrepâncias
entre servidores que exercem a “mesma atividade”, já que os policiais civis
continuaram com o desconto de 14% (catorze por cento) dos proventos que
ultrapassam o teto simples do RGPS/INSS.
Certo é que não há igualdade na forma de contribuição
previdenciária em vigor no Estado do Rio de Janeiro, no que tange a
servidores Militares e Civis.

DAS RECENTES DECISÕES SOBRE A MATÉRIA NO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Necessário se faz transcrever as recentes decisões deste Egrégio
Tribunal de Justiça quando o tema em liça:
“Trata-se de Recurso Inominado interposto pelo
FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO –
RIOPREVIDÊNCIA e ESTADO DO RIO DE
JANEIRO em face da sentença anexada as fls.
163/166 que julgou procedente o pedido nos
seguintes termos: “Sentença Dispensado o relatório
na forma do art. 38 da Lei 9.099/95 c/₢ art. 27 da Lei
12.153/2009. Trata-se de ação movida por policial
militar aposentado, em face do FUNDO ÚNICO DE
PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA e do ESTADO DO
RIO DE JANEIRO, por maio da qual alega que vem
sofrendo indevidos descontos a título de contribuição
previdenciária, antes calculada sobre o soldo, cotas
de soldo e gratificações incorporáveis, no percentual
de 14% (catorze por cento) do que eventualmente
excedesse ao limite máximo para os benefícios do
Regime Geral de Previdência Social (INSS); e que,
por força da Lei Federal n° 13.954/19, teve alíquota
reduzida para 9,5% mas a base de cálculo majorada
para o total da remuneração (proventos); o que
gerou uma indireta redução salarial. Pede, assim,
que o desconto previdenciário de 9,5%, instituído
pela Lei n° 13.954/2019, seja aplicado com
incidência apenas sobre o valor dos seus proventos
que ultrapassem o teto simples do RGPS, na forma do
§ 18°, do art. 40 da Constituição Federal, que não foi
revogado, afastando-se incidentalmente a expressão
da “totalidade da”, do art. 25 da Lei 13.954/2019,
por contrariar o citado texto constitucional, ainda em
vigor: ou que seja exonerado da contribuição
previdenciária instituída pela Lei n° 13.954/2019,
retornando à forma como era realizada em janeiro de
2020, no percentual de 14%, com incidência apenas
sobre o valor que ultrapassar o teto simples do
RGPS, na forma do § 18, do art. 40, da CF/88. Pede,
ainda, a consequente devolução dos valores
descontados a maior. Os réus sustentam a legalidade
e a constitucionalidade dos descontos promovidos, já
que consoantes com a Reforma Previdenciária, tendo
a EC n° 103/2019 atribuído à União Federal a
competência privativa para legislar sobre
inatividade e pensões dos policiais e bombeiros
militares, de modo que a Lei n° 13.954/2019, ao
alterar o Decreto n° 667/69, acrescentando o art. 24-
C, igualou a contribuição previdenciária sobre os
proventos e pensões dos militares estaduais aos
militares das Forças Armadas. Com efeitos, a EC n°
103/2019 outorgou à União Federal a competência
para ditar normas GERAIS sobre inatividade e
pensões dos militares estaduais. No entanto, aquela
Emenda Constitucional não atribuiu à União
competência para dispor sobre suas remunerações,
até porque o custeio dos vencimentos, remunerações
ou subsídios dos militares estaduais é realizado pelos
respectivos Entes Federativos, a partir de prévia
dotação orçamentária. Entender de forma diversa
implicaria em verdadeira violação aos princípios
fundamentais consagrados em nossa Carta Magna,
na medida em que o federalismo é a forma de Estado
pela qual o Brasil se organizou, estando assegurado,
no art. 1° da CRFB/88, que “a República Federativa
do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito (...)” De
acordo com o pacto federativo, os entes federados
são dotados de autonomias administrativa, política,
tributária e financeira necessárias para manter o
equilíbrio estabelecido entre eles para a constituição
do Estado Federal. Nessa linha, qualquer alteração
promovida pelo Constituinte Derivado não pode
violar a política de descentralização federativa do
Poder. Por tal razão, a correta interpretação da nova
redação do art. 22, XXI, da Constituição Federal, é
no sentido de que sua competência legislativa cinge-
se à edição de normas puramente gerais, sem
extrapolar e adentrar nas especificidades de cada
Estado. E tanto é assim que, apesar da promulgação
da EC 103/2019, alguns dispositivos constitucionais
sobre os militares estaduais permaneceram
inalterados, a exemplo do § 1°, do art. 42, que requer
lei estadual específica para dispor sobre as matérias
do art. 142, § 3°, inciso X. Diante disso, a Lei n°
13.954/2019, que, dentre outros objetivos visou a
alterar o Decreto Lei n° 667/69 para reestruturar a
carreira militar e dispor sobre o Sistema de Proteção
Social dos Militares, não se aplica em sua
integralidade aos Estados federados, ao contrário do
que sustentam os réus. Ou seja, se é certo que a União
Federal tem competência para dispor sobre normas
gerais, inclusive destinadas aos militares estaduais;
é igualmente correto que cabe aos Estados a edição
de normas específicas, complementares e/ou
suplementares. Em suma, a criação de normas gerais
por parte da União não pode restringir a
competência dos Estados para detalhar matérias que
lhe cabem, não estando aquela autorizada a fazê-lo,
sob pena de ferir de morte o pacto federativo e
interferir na administração dos demais entes. Dito
isso, não parece razoável que a Lei n° 13.954/2019
se aplique aos Estados no que concerne à fixação de
alíquotas das contribuições previdenciárias. A uma,
na medida em que se mantém hígida a norma
constitucional inserta no art. 42, § 1°, que dispõe
expressamente que cabe à lei estadual específica
dispor sobre as matérias do art. 142, § 3°, inciso X,
nas quais se incluem a remuneração do militar, a
qual restará diretamente impactada pela tributação
sobre ela incidente. A duas, porque o Regime
Previdenciário dos servidores estaduais, sejam eles
civis ou militares, tem impacto direto nas finanças e
orçamento do Estado, de modo que cada um deve se
organizar de forma que entender melhor,
autonomamente e sem ingerência da União Federal.
E, nessa toada, certamente a definição de alíquota
não compõe o conteúdo de “norma geral” designado
pelo Constituinte em matéria tributária, sendo
necessário permitir que cada ente da federação
definida a alíquota da contribuição devida por seus
servidores e pensionistas, com vistas a estabilizar
uma decisão coerente com a sua realidade, não
podendo, assim, as normas gerais federais fragilizar
o equilíbrio financeiro de suas contas. Ademais, o art.
149, § 1°, da CRFB/88, com redação dada pela EC
n° 103/2019, previu a competência concorrente entre
União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a
instituição das contribuições para custeio do regime
próprio de previdência social. Por tais razões,
entendo que se revela inconstitucional a Instrução
Normativa n° 05/2020 Ministério da Economia,
estipulando que “ficam suspensas a eficácia das
regras previstas na legislação dos Estados e do
Distrito Federal sobre inatividades e pensões dos
militares que conflitem com as normas gerais”.
Corroborando tal entendimento, o Exmo. Alexandre
de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, deferiu
tutela de urgência na Ação Cível Originária (ACO)
3396, para determinar que a União se abstenha de
aplicar qualquer sanção legal ou administrativa ao
Estado do Mato Grosso em razão da cobrança da
alíquota de contribuição previdenciária de policiais
e bombeiros militares em percentual diverso (14%)
do aplicável aos militares das Forças Armadas e seus
pensionistas (9,5%). Segundo noticiado pelo E. STF,
o “relator classificou de ‘consistente’ o argumento de
que, se os militares estaduais integram o regime
próprio de previdência do estado, o valor da sua
contribuição previdenciária deve ser definido por
legislação estadual, segunda as características
próprias do sistema local, sob pena de quebra do
equilíbrio atuarial. Tanto é assim que, em caso de
déficit, cabe ao estado, e não à União, a
complementação dos recursos necessários ao
pagamento dos benefícios vinculados a cada regime.
Na ação, o Estado de Mato Grosso explica que editou
lei complementar (LC 654/2020) para alterar
disposições sobre o Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS) dos servidores civis e militares
estaduais, com a fixação da alíquota de 14%.
Segundo o estado, ao estabelecer a alíquota de 9,5%
para militares estaduais ativos, inativos e seus
pensionistas, a Lei federal 13.954/2019 extrapolou a
sua competência legislativa (XXI do artigo 22 da
Constituição), pois incumbe aos estados, mediante
estudos atuariais, definir o percentual de
contribuição incidente sobre a remuneração, os
proventos e as pensões dos militares e bombeiros
militares estaduais necessários ao custeio dos
benefícios previdenciários de inativação e pensão,
em atenção às particularidades da sua realidade
fiscal orçamentária.” Cabendo, portanto, à
legislação estadual a definição do regime de
aposentadoria dos seus servidores, sejam eles civis
ou militares, o que inclui a fixação da alíquota e base
de cálculo da contribuição previdenciária, que como
espécie tributária que é, tem a finalidade de financiar
o sistema previdenciário; deve prevalecer o disposto
no art. 33 da Lei n° 3.189/99. No que tange ao § 18,
do art. 40, da CRFB/88, não há amparo
constitucional para a sua aplicação aos militares
estaduais, já que o art. 40 rege apenas o regime
previdenciário dos servidores públicos das
Administrações Públicas direta e indireta (autarquia
e fundacional), em conformidade com o art. 39. Por
sua vez, o art. 42, § 1°, da CRFB/88, não faz qualquer
remissão àquela norma, mas apenas ao seu art. 40, §
9°. Ocorre que a Lei n° 3.189/99, aplicável também
aos militares estaduais, expressamente cuida da base
de cálculo da contribuição previdenciária de seus
servidores, dispondo, em seu art. 34, I, que incidirá
“para os membros do Poder Judiciário, do
Ministério Público, da Defensoria Pública, do
Tribunal de Contas e os servidores públicos
estatutários inativos, o montante de seus proventos de
aposentadoria que exceder o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, combinado
com o art. 40, § 21, se for o caso, ambos da
Constituição da República”. Por força disso,
independentemente da alíquota adotada, entendo que
a base de cálculo para a incidência da contribuição
previdenciária sobre os proventos da inatividade do
servidor público, civil ou militar, deve se orientar
pela referida norma, ou seja, equivale ao montante
que ultrapassar o teto do RGPS/INSS. Diante do
exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO,
resolvendo o mérito na forma do art. 487, I, do CPC,
para: (i) RECONHECER o direito do autor de ter sua
contribuição previdenciária descontada em
conformidade com os art. 33 e 34 da Lei n° 3.189/99,
devendo os réus se abster de efetuar novos descontos
com fundamento na Lei 13.954/2019; bem como (ii)
CONDENAR os réus a devolverem o excedente
descontado ao autor, até a regularização dos
descontos (cumprimento do item anterior), acrescido
de juros moratórios de 1% ao mês, a partir do
trânsito em julgado (Súmula 188, do STJ), e correção
monetária, a partir do trânsito em julgado (Súmula
188, do STJ), e correção monetária, com base na
Selic, desde a data do pagamento indevido, tudo em
conformidade com o Tema 810, do STF. Sem custas e
honorários advocatícios. Certificado o trânsito em
julgado e nada mais se requerendo, dê-se baixa na
distribuição e arquivem-se os autos, com as cautelas
de praxe. Rio de Janeiro, 28/08/2020. Rosana
Albuquerque França – Juiz de Direito.” Cuida-se de
demanda na qual o autor requer a concessão de
tutela de urgência sejam cessados os descontos de
contribuição previdenciária sobre os proventos de
aposentadoria (ou pensão) com base nas alterações
promovidas pela EC 103/19 c/c Lei n° 13.954/19 c/c
24-C do Decreto n° 667/69 c/c art. 3°-A da Lei
3.765/60, restabelecendo-se os descontos
previdenciários com a observância da faixa de
isenção prevista no § 21, art. 40, da CR/88, com
alíquota de 14%, conforme o artigo 33 da Lei
3.189/1999. Pleiteia também a restituição das
contribuições elevadas desde quando foi iniciada a
aplicação das alterações promovidas pela EC
103/19. Aduz que a referida emenda constitucional
não é autoaplicável, e portanto, a Lei n° 13.954/19 e
o Decreto n° 667/69 c/c art. 3°- A da Lei 3.765/60,
padecem de inconstitucionalidade, uma vez que a
aplicação da alíquota do desconto previdenciário ali
prevista incide sobre todo o seu vencimento, o que
acarretou a redução dos seus proventos de
aposentadoria, ferindo pois o comando o art. 7°, VI,
da Constituição Federal, bem como violando o
tempus regit actum, o direito adquirido e o princípio
da igualdade. Recurso Inominado do FUNDO
ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA e o
ESTADO DO RIO DE JANEIRO cujas razões
recursais se encontram em index 187/202 alegando
que a EC 103/19 alterou a redação do inciso XXI, do
art. 22, da CR/88, atribuindo à União da competência
privativa para legislar sobre inatividade e pensões
dos policiais e bombeiros militares; A partir de sua
nova competência, o Congresso Nacional editou a
Lei n° 13.954, de 16 de dezembro de 2019, que
alterou o Decreto n° 667, de 02 de julho de 1969, que
trata da reorganização das polícias militares e os
corpos de bombeiros militares dos Estados, dos
Territórios e do Distrito Federal, acrescentando ao
mesmo o art. 24-C, o qual iguala a contribuição
previdenciária sobre proventos e pensões militares
estaduais, aos militares das Forças Armadas, que o
referido dispositivo estabeleceu que a contribuição
previdenciária sobre proventos e pensões dos
militares estaduais incide sobre a totalidade da
remuneração, deve ter base de cálculo e alíquota
iguais às aplicadas aos militares das Forças
Armadas; que a alteração constitucional introduzida
pela EC 103/19, bem como as alterações legislativas
realizadas com base nela, são válidas e possuem
aplicabilidade plena e imediata. Como estão em
pleno vigor, em atenção ao princípio da legalidade,
as novas regras estão sendo devidamente observadas
no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, como não
poderia ser diferente; que como já há muito
consolidado na jurisprudência, não existe direito
adquirido a regime jurídico, não havendo que se falar
em qualquer direito à imunidade tributária ou à
alíquota e base de cálculo específica de contribuição
previdenciária sobre proventos e pensões; invoca
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. Requer a
reforma da sentença para que os pedidos sejam
julgados improcedentes. Contrarrazões anexadas às
fls. 214/241. É o relatório. Passo a votar. VOTO
Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos
de admissibilidade, conheço do recurso. Trata-se da
contribuição previdenciária sobre os proventos de
aposentadoria (ou pensão) com base nas alterações
promovidas pela EC 103/19 c/c Lei n° 13.954/19 c/c
art. 24-C do Decreto n° 667/69 c/c art. 3°-A da Lei
3.765/60. Com efeito, a sentença não merece
qualquer reparo. O E. Supremo Tribunal Federal já
possui diversos precedentes no sentido de serem de
inciativa privativa do Chefe do Poder Executivo os
projetos de leis que envolvam o regime jurídico de
servidores públicos, o provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e
transferência de militares para a inatividade, cujo
custeio deve se pautar na dotação orçamentária, e
como ressaltado na sentença a “outorga à União
Federal a competência para ditar normas GERAIS
sobre inatividade e pensões dos militares estaduais”,
não atribuiu à União competência para dispor sobre
as suas remunerações. Voto no sentido de manter a
sentença recorrida pelos próprios fundamentos, na
forma do art. 46 da Lei 9.099/95, com a condenação
do recorrente ao pagamento de honorários
arbitrados no percentual de 10% do valor da causa,
sem custas ante a isenção legal. Com o trânsito em
julgado, devolva-se à origem. TJ-RJ -012168-
18.2020.8.19.00 – Recurso Inominado – Relatora
Juíza Ana Paula Cabo Chini – Julgamento:
02/12/2020 – 1° Turma Recursal Fazendária.
RELATÓRIA Cuido de ação de rito especial proposta
por SAMUEL BERG VICENTE DE SOUZA em face
do FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO –
RIOPREVIDÊNCIA em que pede 1) concessão de
tutela antecipada para suspensão imediata dos
descontos com base na Lei 13.954/19, e suste até o
julgamento do presente feito a nova contribuição
previdenciária imposta ao autor, realizando o
cálculo como era feito e até fevereiro de 2020, na
forma do § 18, do mesmo artigo, incidindo o desconto
somente sobre a parcela que ultrapassar o teto
simples do Regime Geral de Previdência Social; 2)
Alternativamente: 2.1) que o desconto previdenciário
de 9,5% seja aplicado com incidência apenas sobre o
valor dos proventos que ultrapassem o teto simples
do RGPS ou 2.2) ou então, que seja exonerado o
autor da contribuição previdenciária instituída pela
Lei n° 13.954/19, retornando a forma como era
realizada em janeiro de 2020, no percentual de 14%
com incidência apenas sobre o valor que ultrapassar
o teto simples do RGPS, na forma do § 18, do art. 40,
da CF/88, que não foi revogado; por quebra do Pacto
Federativo; violação ao Direito adquirido e ao
Princípio da Igualdade, e também por não assegurar
a mesma simetria na política remuneratória aplicável
à carreira policial militar e 3) Devolução dos valores
descontados a maior: 3.1) caso seja acolhido o
pedido 2.1, no mês de março, R$ 296,82 (duzentos e
noventa e seis reais e oitenta e dois centavos); e nos
meses de abril e maio, respectivamente em cada um
deles a importância de R$ 579,60 e 3.2) caso seja
acolhido o pedido 2.2, no mês de março, R$ 265,12
(duzentos e sessenta e cinco reais e doze centavos),
perfazendo nesta data o valor total de R$ 1.360,92
(mil trezentos e sessenta reais e noventa e dois
centavos). Sustenta que o ato concreto do Réu apto a
dar efetividade ao novo art. 24-C do decreto
667/1969, fruto do art. 25 da lei ordinária n°
13.954/2019, viola o art. 40, § 18° da Constituição
Federal, o qual permanece inalterado e que
determina que somente incidirá contribuição
previdenciária sobre os proventos de aposentadorias
e pensões que superem o teto do INSS. E, diante de
um confronto de uma lei ordinária com a constituição
federal, deve prevalecer, irrecusavelmente, o que
dispõe a segunda norma. A petição inicial foi
instruída pelos documentos de fls. 42/115.
Indeferimento do pedido de concessão de tutela de
urgência às fls. 128. Contestação do Réu às fls.
132/137 alegando que a EC 103/09 alterou a redação
do inciso XXI, do art. 22, da CR/88, atribuindo à
União da competência privativa para legislar sobre
inatividade e pensões dos policiais e bombeiros
militares e foi editada a Lei 13/954/2019, que alterou
o Decreto n° 667, de 02 de julho de 1969, que trata
da reorganização das polícias militares e os corpos
de bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e
do Distrito Federal, acrescentando ao mesmo o art.
24-C, o qual iguala a contribuição previdenciária
sobre proventos e pensões dos militares estaduais,
aos militares das Forças Armadas, estabelecendo
que a base de cálculo deve corresponder a totalidade
da remuneração e alíquota iguais às aplicadas aos
militares das Forças Armadas. O art. 3°-A, da Lei
3.765 de 04 de maio de 1960, também alterada pela
Lei 13.954, estabelece o percentual de 9,5%, a partir
de 1° de janeiro de 2020, e 10,5%, a partir de 1° de
janeiro de 2021, para a contribuição dos militares
das Forças Armadas. Sustenta que a alteração
constitucional introduzida pela EC 109/19, bem
como as alterações legislativas realizadas com base
nela, são válidas e possuem aplicabilidade plena e
imediata. Assevera que não há direito adquirido a
regime jurídico, considerando que se trata de
exigência tributária, sendo certo que inexiste regra
de imunidade absoluta. Discorre sobre o sistema
previdenciário e a evolução do princípio da
solidariedade. Com base no princípio da
eventualidade, impugna os valores apresentados.
Assevera a necessidade de observância da prescrição
quinquenal, o termo e índice de juros de mora.
Sentença de improcedência do pedido às fls. 174/176.
Recurso inominado interposto pelo autor às fls.
184/220 pugnando pela reforma da sentença
reiterando os argumentos já expostos em sua inicial,
em especial que a norma em que se funda a alteração
da base de cálculo da contribuição seria
inconstitucional por afronta ao disposto no § 18, do
artigo 40 da CRFB. Contrarrazões e fls. 231/249. É
O BREVE RELATÓRIO. PASSO AO VOTO. Conheço
do recurso, eis que presentes os requisitos intrínsecos
e extrínsecos de admissibilidade. No mérito, o
recurso deve ser provido. Cuido de ação em que o
autor interpôs Recurso Inominado buscando a
reforma da sentença e a procedência do pedido para
suspensão dos descontos no percentual ed 9,5% à
título de contribuição militar sobre base de cálculo
inferior ao teto do INSS (atualmente R$ 6.101,06),
devendo incidir sobre o montante mensal que superar
o teto do INSS (atualmente, R$ 6.101,06), bem como
a restituição dos valores vencidos e vincendos ou,
alternativamente, sobre o valor que exceder o teto do
RGPS. Incide a contribuição para a pensão militar o
percentual de 9,5% sobre os proventos na
inatividade, nos termos do art. 25 da lei n°
13.954/2019. Os servidores militares possuem
regime jurídico próprio, que lhes confere tratamento
diferenciado (arts. 142 e 143 da CRFB/88). Seu
sistema remuneratório tem regulamentação remetida
à lei, na forma do inc. X do art. 142, na qual estarão
previstos os critérios de contribuição dos ativos ou
inativos, bem como de seus pensionistas, não sendo
possível modifica-los em função da existência de
tratamento diferente em outro regime. A questão aqui
controvertida decorre do teor da Lei Federal n°
13.954 de 2019 que foi promulgada para disciplinar
o “Sistema de Proteção Social dos Militares”,
inserindo na redação do Decreto-lei 667 de 1969 a
seguinte disposição: “Art. 24-C. Incide contribuição
sobre a totalidade da remuneração dos militares dos
estados, do Distrito Federal e dos territórios, ativos
ou inativos, e de seus pensionistas, com alíquota
igual à aplicável às Forças Armadas, cuja receita é
destinada ao custeio das pensões militares e da
inatividade dos militares”. A referida lei federal foi
originada após a edição da Emenda Constitucional
n° 103 de 2019, conhecida como “Reforma da
Previdência”, que alterou a redação do inciso XXI do
art. 22 da Constituição da República, para outorgar
à União a competência privativa de legislar sobre
normas gerais de “inatividades e pensões” dos
militares estaduais. Essa alteração teria, na leitura
de alguns, aberto espaço para uma reforma do
sistema previdenciário dos militares estaduais
mediante lei federal. Entretanto, tal orientação
doutrinária e jurisprudencial não pode prevalecer.
Com efeito, não obstante inexistir qualquer decisão
colegiada do Supremo Tribunal Federal apreciando
diretamente a questão, certo é que nos autos da Ação
Cível Originária (ACO) 3396, o Ministro Alexandre
de Moraes deferiu tutela de urgência para determinar
que a União se abstenha de aplicar qualquer sanção
legal ou administrativa ao Estado de Mato Grosso em
razão da cobrança da alíquota de contribuição
previdenciária de policiais e bombeiros militares em
percentual diverso (14%) do aplicável aos militares
das Forças Armadas e seus pensionistas (9,5%) ao
argumento de que “se os militares estaduais integram
o regime próprio de previdência do estado, o valor
da sua contribuição previdenciária deve ser definido
por legislação estadual, segunda as características
próprias do sistema local, sob pena de quebra do
equilíbrio atuarial. Tanto é assim que, em caso de
déficit, cabe ao estado, e não à União, a
complementação dos recursos necessários ao
pagamento dos benefícios vinculados a cada
regime”. Posteriormente, em 05.10.2020, o plenário
da Corte Maior, por unanimidade, julgou procedente
aquela ação para determinar à União que se
abstenha de aplicar ao Estado do Mato Grosso
qualquer das providências previstas no art. 7° da Lei
9..717/1998 ou de negar-lhe a expedição do
Certificado de Regularidade Previdenciária caso
continue a aplicar aos policiais e bombeiros militares
estaduais e seus pensionistas a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e pensão
prevista em lei estadual, em detrimento do que prevê
o art. 24-C do Decreto-Lei 667/1969, com a redação
da Lei 13.954/2019, nos termos do voto do Relator.
Ora, por dedução e consequência lógica daquele
julgado, impõe-se concluir que o Supremo Tribunal
Federal entendeu que à União caberia editar normas
gerais sobre as contribuições dos militares estaduais,
não por força da nova disposição do art. 22, XI
(competência genérica), mas sim pela regra
preexistente do art. 146, III da nossa Carta
(competência específica), razão pela qual a Lei
Federal n° 13.954 de 2019, promulgada como lei
ordinária, não poderia assumir a condição de
instrumento introdutório de norma geral tributária,
uma vez que tal instrumento deve ser promulgado
como lei complementar, por força da disposição do
art. 146, III. Assim, a aplicação da regra do art. 24-
C do Decreto-lei 667 de 1969, inserido pela Lei
Federal n° 13.954 de 2019, seja como efetiva norma
de incidência ou como norma geral tributária, não
encontra respaldo na atual jurisprudência do STF.
Destaque-se, a fim de corroborar a conclusão acima
esposada, que recentemente, em janeiro de 2021, o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Luiz Fux, indeferiu duas ações ajuizadas
pelo Estado do Ceará contra decisão do Tribunal de
Justiça (TJ-CE) que impediu que fosse fixado, para
os militares estaduais inativos, o desconto de 9,5% a
título de contribuição previdenciária, mantendo,
assim, a ordem daquela Corte estadual para a
cobrança da alíquota voltasse a ser realizada de
acordo com a sistemática anterior, de 14%. Por
derradeiro, porém não menos importante, vale
destacar o entendimento empossado pela eminente
juíza desta Corte Fluminense, Mirela Erbisti, quando
do julgamento do processo n° 0144973-
45.2020.8.19.0001, ao qual me filio, no seguinte
sentido: “... A Emenda Constitucional n° 103/2019
outorgou à União Federal a competência para ditar
normas GERAIS sobre inatividade e pensões dos
militares estaduais. No entanto, aquela Emenda
Constitucional não atribuiu à União competência
para dispor sobre as suas remunerações, até porque
o custeio dos vencimentos, remunerações ou
subsídios dos militares estaduais é realizado pelos
respectivos Entes Federativos, a partir da prévia
dotação orçamentária. Entender de forma diversa
implicaria em verdadeira violação aos princípios
fundamentais consagrados em nossa Carta Magna,
na medida em que o federalismo é a forma de Estado
pela qual o Brasil se organizou, estando assegurado,
no art. 1° da CRFB/88, que “a República Federativa
do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados, Municípios e Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito(...)” De acordo
com o pacto federativo, os entes federados são
dotados de autonomias administrativa, política,
tributária e financeira, necessárias para manter o
equilíbrio estabelecido entre eles para a constituição
do Estado Federal. Nessa linha de raciocínio,
qualquer alteração promovida pelo Constituinte
Derivado não pode violar a política de
descentralização federativa de Poder. Por tal razão,
a correta interpretação da nova redação do art. 22,
XXI, da CRFB/88, é no sentido de que sua
competência legislativa cinge-se à edição de normas
puramente gerais, sem extrapolar e adentrar nas
especificidades de cada Estado. E tanto é assim que,
apesar da promulgação da EC 103/2019, alguns
dispositivos constitucionais sobre os militares
estaduais permaneceram inalterados, a exemplo do §
1°, do art. 42, que requer lei estadual específica para
dispor sobre as matérias do art. 142, § 3°, inciso X...
... Desta forma, a definição de alíquota não compõe
o conteúdo de “norma geral” designado pelo
Constituinte em matéria tributária, sendo necessário
permitir cada ente da federação defina a alíquota da
contribuição devida por seus servidores e
pensionistas, com vistas a viabilizar uma decisão
coerente com a sua realidade, não podendo, assim,
as normas gerais federais fragilizar o equilíbrio
financeiro de suas contas. Ademais, o art. 149, § 1°,
da CRFB/88, com a redação dada pela EC n°
103/2019, previu a competência concorrente entre
União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a
instituição das contribuições para custeio do regime
próprio de previdência social...”. Por todos os
argumentos acima expostos, entendo que a sentença
merece reforma. Para acolher o segundo pedido
alternativo do autor, reconhecendo a incorreção dos
descontos de 9,5% à título de contribuição militar no
contracheque do Autor sobre base de cálculo inferior
ao teto do INSS e determinar o restabelecimento do
recolhimento previdenciário instituído pela Lei
Estadual n° 3189, 22 de fevereiro de 1999, na
alíquota de 14% (quatorze) por cento ou outra que
sobrevier, incidindo a referida alíquota, apenas
sobre o que exceder o teto do INSS, previsto § 18° do
Art. 40 da CRFB. O primeiro pedido não pode ser
acolhido, considerando premissa lógica ora adotada
de irregularidade da aplicação da regra do art. 24-C
do Decreto-lei 667 de 1969, inserido pela Lei Federal
n,° 13.954 de 2019. O que o autor deseja é a cisão da
disciplina, ou seja, aceita as normas oriundas da
reforma do sistema previdenciário dos militares
estaduais mediante lei federal apenas no que tange
ao percentual, mas refutá-la quanto à base de
cálculo, o que não é, a toda evidência, juridicamente
possível. A impugnação aos valores apresentados
pelo autor não merece acolhimento, pois o réu não o
fez de forma especificada, com a apresentação do
montante que seria devido. O autor, por sua vez
indicou corretamente respeitou o prazo prescricional
quinquenal e indicou, quanto ao segundo pedido
alternativo, a diferença obtida na subtração do
montante decorrente da aplicação de 9,5% sobre o
total de rendimentos e o valor que é devido com base
na fórmula legalmente incidente ao caso concreto.
Ressalto que a expedição de ofícios em sede de
Juizado Especiais não é possível, porque contrário
ao seu rito célere, e porque incumbe ao ERJ o
contado e obtenção de dados junto as suas
repartições e secretarias estaduais. Os juros e
correção monetária devem obedecer ao disposto no
Enunciado n° 36 do Aviso Conjunto TJ Cojes 15/17,
que está em consonância com o Tema 810 do STF. No
que tange às parcelas vincendas, o pedido carece de
liquidez conforme o disposto no artigo 14 da Lei n°
9099/95, incidente nos Juizados Fazendários por
força do artigo 27 da Lei n. 12.153/09, razão pela
qual deve ser extinto sem exame de mérito. Neste
sentido, é o enunciado n° 13 do Aviso Conjunto
TJ/COJES n° 15/2017: “13. O pedido em sede de
Juizado Especial Fazendário deve ser LÍQUIDO, sob
pena de indeferimento da inicial na forma do artigo
14 da Lei n. 9099/95, incidente nos Juizados
Fazendários por força do artigo 27 da Lei n.
12.153/09 (Precedente: Recurso Inominado –
processo n. 9.099/95, incidente nos Juizados
Fazendários por força do artigo 27 da Lei n.
12.153/09 (Precedente: Recurso Inominado –
processo n. 0026617-33.2016.8.19.0001)”. Isto
posto, voto pelo CONHECIMENTO E
PROVIMENTO do recurso para reformar a sentença
e julgar procedente o pedido para: (i) condenar o réu
a suspender os descontos de 9,5% à título de
contribuição militar no contracheque do Autor sobre
base de cálculo inferior ao teto do INSS e que o
determinado o restabelecimento do recolhimento
previdenciário instituído pela Lei Estadual n°. 3189,
22 de fevereiro de 1999, na alíquota de 14%
(quatorze por cento) ou outra que sobrevier,
incidindo a referida alíquota, apenas sobre o que
exceder o teto do INSS, previsto no § 18° do Art. 40
da CRFB e (ii) condenar o réu ao pagamento total de
R$R 1.360,92 (mil trezentos e sessenta e cinco reais
e doze centavos) no mês de março e R$ 547,90 para
cada um do meses de abril e maio de 2020, - corrigido
monetariamente pelo IPCA-E a contar de cada
pagamento vencido e acrescida de juros de mora pelo
mesmo índice de remuneração da caderneta de
poupança a contar da citação. Deixo de acolher os
pedidos alternativos 2.1 e 3.3. JULGO EXTINTO O
FEITO SEM EXAME DE MÉRITO, quanto ao pedido
de condenação do réu a pagamento dos valores dos
descontos vincendos, ante o reconhecimento de ofício
de iliquidez, na forma dos artigos 51, II da Lei
9.099/95 e 27 da Lei 12.153/2009 Sem condenação
em custas e honorários ante o provimento do recurso,
na forma do artigo 55 da Lei 9.099/95. TJ-RJ –
0123438-60.2020.8.19.0001 – Recurso Inominado –
Relatora Juíza Carla Faria Bouzo – Julgamento:
11/03/2021 – 2° Turma Recursal Fazendária.”

DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer a esse Egrégio Tribunal de Justiça, seja o
recurso conhecido e no mérito, lhe seja dado total provimento para reformar
a sentença a fim que o pedido seja julgado, desde logo, procedente, pelos fatos
e fundamentos da peça inicial.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Valença – RJ, 03 de julho de 2023.

Carlos Alberto Sampaio Brites Pinheiro


OAB/RJ 204.942

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