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Homem, Barbas. Parte III
Homem, Barbas. Parte III
Introdugdo Histérica 8 Teoria da Lei - Epoca Moderna iy «Aquele que solar abertamente as es declara-se em estaco de guerra com a socie- dd atigo 6°) mos- a sombra da guilhotina pairava ameagadora, poder No entanto, na époc rando como estas formulas abstractas podiam ser manipuladas pelo politico c pelas maiorias transitérias, Era, como escreveu com sarcasmo Meira Camilo Castelo Branco, a época da revolugio social pela guilhotina. § 12.2FUNCAO DE JULGAR E OBEDIENCIA A LE. LEL 1A obediéncia & lei pelos juizes. de um governo pelas leis e na superioridade ontolégica do poder legislativo, compreende-se que o poder do juiz. tenha sido enten- dido nos estreitos limites de um dever de aplicagao da lei e 0 poder de jul- gar subordinado ao poder de fazer as leis. Repetindo uma ligao que vinha de S. Agostinho e da canonistica medieval, Bodin enuncia: Fundados na vi so cabe aos juizes julgar as leis, mas julgar segundo as leis». Também Francis Bacon (1561-1620), chanceler inglés, postula: ¢ «seres inanimados que nio podem moderar nem a sua forga nem o set rigor (da lei)»; por outro lado, a propésito do jari escreve que 0 poder judicial € um «poder nulo»: 0 esti ligado nulo. ~Desta forma, o poder de julgar, tio terrivel entre os homens, como t hem 2 certo estado, nem a certa profissio, torna-se, por assim dizer, invisivel ¢ ¢ nio os Nio se tém continuamente juizes sob os olhos; ¢ teme-se a magistratu magistrados», ost; 7 om : eve set Assim, para o pensamento filosdfico das Luzes, o poder de julgar deve um poder nulo e os jufzes pessoas fungiveis, no sentido da indiferens? | is ses Joi genten- quem julga para quem é julgado, Deste modo, a subordinagao i lei é ent Digitalizado com CamScanner senD> omoaugho mintrien ® Teoria dn Loi ~ paca Moderna jida também como um modo de garantir a independéncia e a imparciali- jade dos juizes Ficam assim identificados os pressupostos doutrinarios da concepgio libe~ de lei: i) idlentifieagio entre direito e lei ii) a lei como von- rabddemocritic J maioritétia declarada de modo solene; ii) a lei como garantia dos ad ‘ici is contra 0 arbitri do poder; iv) o poder judicial e 0 xy administrative como aplicadores da lei poder 4 fungi dos juizes é resumvida pelos autores do final do século XVIII a duas operagaes: conhecimento dos factos; aplicagao literal da lei. Dat a dissoci- acio entre o poder de legislar e © poder de interpretar € aplicar as leis: a jnterpretagio € um modo de aplicagio ~ como alids viré de novo dizer a nenéutica dos nossos dias. costume e estilo, WL E importante verificar que os instrumentos utilizados na Idade Moderna pare garantir uma efectiva observancia lei por parte dos juizes vinham da época medieval. Contudo, eles sio aperfeigoados na época moderna, demonstrando como 0 espirito das instituigdes foi sendo moldado as con- cepgdes dominantes. Em primeiro lugar, as instituigdes e os jufzes encontram-se submetidos 20 império do direito patrio. «... onde 2 lei, estilo ou costume de nossos reinos dispdem, cessem todas as outras leis ¢direito» (OF. 3.65). A enumeragio legal suscitou logo esta interrogacio: lei, costume ¢ estilo éncontram-se num mesmo plano da hierarquia normativa, de tal modo que Jo divi- stilos (i) Evilido 0 costume ¢ o estilo contra a lei? A resposta a esta que: diu a doutrina, Porém, deve distinguir-se consoante se trata dos ou do costume (ii). ') Os estilos sio uma antiga fonte do direito europeu. Nasceram na Made Média para resolver o problema da organizagao dos tribunais Superiores, De facto, enquanto hoje em dia a criagio de um tribunal é Digitalizado com CamScanner} Intro SBP Introducho Histérica & Teorin da Lei - Epoca Moderna dida também como UM modo de dade dos juizes. Ficam assim identificados os i de lei: i) identifi Batantir a independéncia ¢ a imparcialic ssup ‘ *upostos doutrinatios da concepgao libe- AGA entre direito ¢ le rabdemocritic, ; ti) a lei como von- fade maioritaria declarada de maior dee modo solene; ii) a lei como garantia dos dirctos indivicuals contra o atbitrio do poder; iv) 0 poder judicial ¢ 0 poder administrative como aplieadores la le A fungio dos juizes 6 resumida pelos autores de final ‘ do século XVIII a duas es: eonhecimento dos factos, aplicagio literal da lei. Daf a dissoci- op. der de interpretar e aplicar as leis: a interpretagio € um modo de aplicagio — como aliés hermenéutica dos nossos dias, opera aeio entre 0 poder de legislar e po vird de novo dizer a Il Lei, costume e estilo, E importante verificar que os instrumentos utilizados na Idade Moderna para garantir uma efectiva observancia & lei por parte dos juizes vinham da época medieval. Contudo, eles séo aperfeicoados na época moderna, demonstrando como o espirito das instituigdes foi sendo moldado as con- ceps6es dominantes. Em primeiro lugar, as instituiges e os juizes encontram-se submetidos ao impétio do direito patrio. onde a lei estilo ou costume de nossos reinos dispdem, cessem todas as outras leis e direito» (OF. 3.65). A enumeracio legal suscitou logo esta interrogacio: lei, costume e estilo encontram-se num mesmo plano da hierarquia normativa, de tal modo que évalido 0 costume e o estilo contra a lei? A resposta a esta questio div i div a doutrina. Porém, deve distinguir-se consoante se trata dos estilos (i) ou do costume (ii). }) Os estilos sio uma antiga fonte do direito europeu. N ‘ : dade Média para resolver o problema da organizagio dos 7 Superiores, De facto, enquanto hoje em dia a criagio de um tribunal ¢ jasceram na Digitalizado com CamScanneryp ONY 26 : oj de organizagao e joname! 5 mpanhada por uma Ici de org: ¢ funcionamento, tal nao s¢ ys recuados. <¢ foi lento ¢ gradual ¢ usualmente foi em torno 4 le acon ava em temp Antes pelo contrério, 0 proceso de for ao dos tribuna' ados em concreto que ados tiveram que inventar as regras de i gras de organi. pas autonomizar uma instituicg i veio a magistr se veio a Deste modo, os ma funcionamento interno, portanto, formas de costume eriadas por um triby. gist ¢ foi a essas regras que se gras que se deu o nome fio ¢ de estilos. Eles sio, a disciplinar a su como um instrumento cont ambém as instituig6es superiores ficam a organizagao ¢ funcionamento. Sio entendidos nal pat a prepoténcia ¢ o arbitrio dos igualmente juizes, precisamente porque t ev adas as stas prsticas decis6rias, que nao podem alterar arbitr- riamente. A importancia dos estilos decai 4 medida que as instituigdes judiciais ¢ administrativas vio sendo dotadas de regimentos aprovados pelo rei. Em Portugal, devido ao facto de estas instituigdes serem uma criacio régia, a doutrina maioritéria nao admite os estilos contrérios a lei. Existiram, no entanto, excep¢des. ii) O bindmio lei e costume é paralelo daquele outro entre rei e povo. Aré que alterou radicalmente este modo de pensar, em a revolucao francesa, tentavam que 0 costume regra, os partidérios do consensualismo sus' pudesse revogar a lei: 0 povo é maior do que o principe, afirmavam ~ por- numa monarquia, 2s dinastias que era o povo que escolhia os regimes e, ela reinantes -, pelo que as decisdes do governante deviam ser aceites p comunidade politica para serem validas. Deste modo, foi defendido, come requisito de validade das leis, a necessidade da sua recep¢io voluntiria pela comunidade. Os autores mais favordveis @ monarquia pura nao aceita mento ¢, se defendem que o principe é superior ao povo, retiram como con- sequéncia que 0 costume nio pode revogar ou derrogar a lei. Alguma doutrina europeia vem a encontrar maximas e principios juridicos qui tram a inventividade dos juristas para encontrar formulas que contradi- gam as teses legalistas: 1.° Existe uma presungio de aceitagao wicita . costumes contrrios 8 lei, se o principe expressamente 0S nio revogsi 2 A lei que proibe o costume e lhe impée requisitos pode ela propria Ser contrariada por um costume contrario. m este entendi- e MOS" Digitalizado com CamScanner18 de Agosto de 1769 nio é mais do que a projeccao no direi liticos do absolu aja aga ALei di ys principios po smot profbe-se que dos P : bel ; r S€ que 0 costume possa Ici ¢ estabelece-se que 6 vale AO CC e i costume com antiguidade supe- ieee al ». Taml acem anos ¢ jo de accitagao ticita dos costumes c arios A ontrarios a lei po a or parte conforme a boa ra: rior nse re 4 rm 7 se refuta a existéncia de yma presung do principe. and como dolosa a suposigio notoriamente falsa, de que os Pri , 8 Principes “EE repro ‘ou podem ser sempre informados de tudo o que se passa nos foros ssa nos foros con- panos S40 emda, que presume pelo lapso de tempo o consentimento,e aprov igualme ana se estendem a0 que se ignora...» (Lei da Boa Razio, § 14"). lessio de suas Leis, para com esta suposigio se pretextar a outra que O jurista, poeta € fildsofo Tomas Anténio Gonzaga sustenta uma mesma conclusio no seu Tratado de direito natural, observacao que é tipica dos partiddrios da monarquia pur: se obedecer nasce da superioridade de quem manda e nio do consen- da nao tivesse jus de exigir obediéncia dos stbditos, ‘0 teria direito de mandar mas ao individualismo eas guerras de para ra abre a decisiva durant comunidade 20 do lado protest politico. O tema gal o na Europa. Tanto ante a acel~ religia Digitalizado com CamScannerD> Mmtrodugho isérica & Teoria da Lei ~ Epoca Moderna tagio do assassinio do governante injusto tinha como exemplo maior 0 rincipe herético. A época et adoutrina que adn ‘va dos monarcémacos, como vem a ser deno- © 0 Uranicidio, Porém, de p mminada trata de uma decisio que a doutrina s6 admitia em dhtimo lugar, como vrultado de um longo conflite res ve advertir-se que se interior entre dois deveres: 0 da obedién- wos governantes ¢ a8 suas leis © 0 da obedia ce nicia A justica ea Deus. Reconhecemos duas dimensdes distintas no problema da resistencia: dircito de resistencia individual ¢ o direito de resistencia colective. Para explicar ¢ justificar em que situagdes pode haver lugar ao exercicio do gircito de resisténcia, as doutrinas renascentistas aplicam um eritério geral hem conhecido dos juristas ¢ da refle 0 juridica: a legitima defesa. Com a secularizagao ¢ posta em causa a cidade de Deus, 0 pensamento liberal acrescentard os temas da cidade e da liberdade, a prosa moralista, os da virtude dos cidadios e do governante vicioso como eventual funda mento para o direito de resisténcia, No fundo, a interrogagao da ética politica é a seguinte: existe o dever de suportar 0 abuso do poder? Na resposta a esta questo, como vimos para a Idade Média, é necessirio dissinguir varias situagdes, que se prendem com a intensidade da injustica do acto do poder ¢ com o estatuto dos destinatarios desse acto. $6 depois se pode concluir quanto & natureza dos direitos que os destinatatios ¢ a comunidade podem exercer em relagio ao acto abusivo. Com todo peso da retérica politica e a fria lucidez de um assassino por convicgio, é esta interrogagio que Shakespeare coloca na boca de Brutus na tragédia Jiilio César. A liberdade é elevada a dimensio essencial da cidade, de tal modo que a morte do tirano parece suportavel e insignificante Perante um tal valor: ‘Preferieis que César vivesse e morrésseis todos escravos, a que César morresse ¢ vivés- s ee tis todos livres?» (fuilio César, acto III, cena I). Podemos questionar-nos se a beleza deste fragmento nio ilude sobre 0 valor da retérica politica, porque nio clucida da grandeza moral de Brutus. Para © formalismo juridico, a explicagio para o tema da desobediéncia nio “S¢aravel da questo da legitimidade. Kant enuncia na Metafisica dos cos- Digitalizado com CamScannerogistancia organizada é a matriz. para uma nova forma que a resisténcia org r ma de legi. sete modo frisando que 30 & mety projecto jut idico que se vai efectivar com 6 triung fo ton timidade, de mas radica num a justificagio da insurreigio n: fisi da revolugio ~ pelo novo poder leg permitindo justificar o dever de obediencia ss} aS leis portanto, i pitimo. criadas dade da lei. Ml Deg a nem & Idade Contemporarea a descoberty Mas ja lhe pertence o problema da ile. um plconasmo, mas antes como Nio pertencew & dade Modern leis podem ser injusta: de que calidade da lei, nao como um paradoxo ou u ‘oblema central da teoria politica € da teoria do direito. Benjamim um pr primeiros tericos do liberalismo a sustentar que o Constant foi um dos dever de obediéncia as leis assenta em juizos do senso comum que recor- dam o critério tomista do escindalo da repablica: Introducso Historica d Teoria da Loi - Epoca Moderna de todas as tiranias existentes, denunciadores postumos de todas as tiranias derruba- guém se faria agente de leis injustas das. Foi-nos dito, numa época afrontosa, que n para mitigar 0 s€0 figor, € QUE © poder, que consentiam em ser as deporitiien, cx garia ainda mais mal se fosse parar a mios menos puras. Transagio enganadors, que pris a porta a todo 20 crime uma earreira sem limites. Cada um comerciaes cons ene 2 ¢ cada degrau de injustiga encontrava os seus dignos exectitores» (Constant consci idem, ibidem), Regressamos, de novo, a0 tema do homem, porque a lei é feita por homens ¢ tem homens por destinatétios. § 14.2 A INTERPRETACAO DAS LEIS U Interpretagao da lei. Um dos problemas mais complexos da teoria do direito € constituido pela interrogacao acerca da unicidade ou pluralidade dos critérios e métodos de interpretacao da lei: existe apenas um critério vlido para a interpretagao das leis ou, antes, existem diversos critérios, consoante 0 ramo do direito de que se trata? Neste sentido, a fragmentacao da ordem juridica conduziu ao tema da interpretacao da lei constitucional, da lei fiscal, da lei penal — cujos critérios foram teorizados como distintos da interpretacdo das leis civis. Como, por outro lado, tradicionalmente existem regras especificas para a interpretacao dos actos gratuitos — doa- ces € testamentos — e dos actos onerosos, como os contratos, fica uma pandplia complexa e contraditéria de recursos argumentativos... Do iluminismo veio a crenga da hermenéutica como critério para unidade da ciéncia da legislagio, como método de interpretaga aplicacao das leis. No nosso século, 0 positivismo sustentou o «método juridico» como modo especifico de actuagio da ciéncia do direito, até se chegar ao critério actualmente propugnado para salvar a unidade da ordem juridica ¢ a coeréncia dos procedimentos metodologicos dajus 76 Ovtubr0o - Dozombro 1999 agi © 508 sani uma manifestagio do poder lish jo const ragio € ' abe em primeiro lugar a quem as aproya, "Ps oe erpretagHo € soberania jUstiicou diversas ey so da liberdade de interpreta tatiy, » ou de aplicag constantino, de Justiniano, qa disp s italianas dos séeuyja los y ent you resttig go as reformas de C Fstio neste ¢ al prussiano, de constituig rental da Riissia de 1832, que vinculaa oe al bem como o do Cédigo fredericiano, vis 1a importante observaga Nio se pode perder de vista uma impo C acio de Montesa as Ieis deve harmonizar-se com a forma de go. etm do direito ternitor XIX, da lei fundar br e XIX, " " cama interpretagao liter que a interpretagao d (Espito das lis, VI, 3-4). Quer dizer q pretagio uma actividade politica, os critérios de interpretacio das les so oY snsoante a natureza do regime politico. Nos regimes que qualfcscony ‘os nio admite a equidade, mas apenas a interpretacio literal; nos regimes monérquicos admite que os juizes possam fazer uso da equidzde, Como sublinha Engish, as proibigdes de interpretacio das leis sio verdad ros monumentos de ingenuidade legislativa. De facto, qualquer deckrss verbal necessita de ser interpretada, mesmo aquela que probe a interpreta, Verificamos 0 acerto desta observagio a propésito da legislacao portugues. Existiram em Portugal regras legais para a disciplina interpretativa. As Ordenages Filipinas, tratando do estatuto dos juizes da Cast h Suplicagao, dispdem: mesmo que se nao considers», tinto republican lespacho de Orem om +E havemos por bem, que quando os Desembargadores, que forem no d algum feito, todos ou algum deles tiverem alguma drivida em alguma noss do entendimento dela, vio com a diivida a0 Regedor; o qual na Mesa gran Desembargadores, que bem Ihe parecer, undo 0 que afr minado, se pord a sentenga, 3s Onlern nent? determinaré, ¢ oi s que em outra maneira interpretarem™ ou derem sentengas e Be mtengas em alyum feito, tendo algum deles divida no enter Ordenagio, sem i ei cio, sem i ao Regedor, sed suspenso até nossa merce». (OF. 155) aS Numa primeira observagio, me ae snagdes proibem 20) imterpretar as leis an: retira-se que as Orde ' excepto através de assentos tomados na Cast 250, Mas logo os juris i 60 08 juristas se deram conta dos inconvenientes © mes"? A Digitalizado com CamScannerA €D lMvroducno Historica & Teoria da Lei - Epoca Moderna jpilidade de sempre assim procederem, Com subtileza, vio estabelecendo > a esta proibigio de ‘as em rela terpretagio, importantes al i ‘ocedimentos argumentativos: i) 6 Sempre licita a inter- pordeliitarem ak jgumas essa os f i) é igualmente permitida a Interpretagio compreensiva pretagao liter ‘\ desconfianga em rela um t6pico permanente da cultura juridica ocidental, Por vezes ressona >. manipulagio das leis atray da interpretagio * aco camoneand, sobre o vicio ¢ a cobiga do dinheiro: Este interpreta mais que subtilmente Os textos; este faz, ¢ desta Leis; Este causa os perjtirios entre a gente E mil vezes tiranos torna os Reis» (VIII, 99) Uma Carta régia de 7 de Abril de 1614 determinou que se nao altere nada das leis por interpretagao, sem expressa ordem régia. Jodo Pinto Ribeiro denuncia os magistrados que abusam dos poderes permitidos pelo direito, comportando-se como se fossem reis: «assim parece haver ministros, que toda a sua felicidade poem em se mostrarem reis, nfo s6 interpretando, e nas violentas interpretagdes alterando, mas esfarrapando, que- brando e desfazendo leis». A desconfianca em relacio aos advogados era maior ainda. Sobretudo no século XVIII multiplicam-se pela Europa as obras que denunciam queacrise do direito era o produto do que designaram por pirronismo forense. A expresso tem um forte sentido pejorativo e é usada com um sentido critico do critério ainda aplicado em alguns paises — como nas cidades italianas, em Espanha e em Portugal - da opiniio comum dos doutores. A valorizagao da logica ea procura da certeza do direito levam a condenar a utilizagio de outros critérios que nao a simples aplicagéo da lei na descoberta da regra de direito. W Regras da interpretacao das leis. Os tratadistas da Idade Moderna formulam diversos axiomas no que con- Seme a interpretacao das Iecis. Digitalizado com CamScannerbro » Dezembro 1999 as claras nao nece: s palaw Podemos enunei, itam de interpret. i) a interpretagio deve atender ao espitito da lei ii) as palavin, das icis devem ser interpretadas pelo seu préprio signifi ado, ou seja, pelo se, sentido comum; iy) a excep¢ao confirma a regra contraria; v) é valido 6 uso de argumentos a contrario sensu, se nao induzirem em absurdo; vi) onde existir a mesma razio, deve dat nao distingue também nés nio devemos distinguir; vii) aos casos similares deve aplicar-se a mesma disposicao; viii) em todos os casos, deve conside. rat-se mais a equidade do que a aplicagio estrita. E importante frisar que muitos destes procedimentos argumentativos cons- tituem regras do senso comum e de um modo geral so recolhidos adap- tados do dircito romano, Mas nao se pode perder de vista que, pelo facto de constitufrem procedimentos imperativos para os jufzes, existe a possi- bilidade de um controlo pela via de recurso. Por esta razio, a fundamen- tasio das sentencas torna-se um elemento definidor dos programas do iluminismo da Europa central, precisamente porque em regra nesses paf- ses as sentengas nao eram motivadas, se a mesma disposi¢ao; onde a le Jé antes vimos que a solugio do direito portugués se afasta do direito comum. As Ordenacdes impéem a fundamentagio das sentengas: Introdugao Historica 4 Teoria da Lei Epoca Moderna um tema fo i assistente, ati p gem fui assist istematicamente apresentado: a doutrina dos juris: a um obstculo 3 tirana do Estado ea inventvidadee response or ca jurita como instrument de va concep jsruleni dit, para uma primeira apresentas do destas ideias v. RUY DE AL BUQUERQUE, «Histé is do Dircito Portugues Relatsrion, in RIDL, XXVI (1985), : nae ‘eres da autoridade cos juristas na historia do pensamento juridico europeu, v. LOM- anol, Seggio stil Divito Ginrisprudenziali, citado. ae CONCLUSOES | Idade Moderna trouxe consigo uma alteragio decisiva no vocabulério do direito e da politica ao lado de uma renovagio dos instrumentos tedricos ¢ priticos de organizagio e disciplina da sociedade. Ao conceito medievo de respublica - coisa ptiblica - que podemos entender como 0 Estado abjecto ou coisa, opde-se 0 Estado sujeito, isto é, pessoa juridica. Ora, 0 primeiro dos instrumentos deste Estado moderno é 0 poder legislatvo, caracterizado a justo titulo como a principal marca da soberania. Com isto : a ideia medieva de con- assistimos a uma nova visao da legitimidade da lei senso e de comunidade (reptiblica) que se dé leis a si propria, cede lugar a uma perspectiva de heteronomia do poder. As leis sio ditadas por um poder exterior e heterénomo ~ 0 Estado. Por esta razao, o tema da obediéncia e da desobediéncia a este poder que é exterior 4 comunidade e aos seus mem- bros coloca-se com particular vigor desde o renascimento. Teoricamente, 2 obediéncia ao Estado é mediada, nao apenas pelo consentimento, mas também pela consciéncia individual e, com 0 iluminismo, também pela autonomia dos sujeitos que constituem essa comunidade. O crescimento e organizagio do Estado foi feito através d as grandes compilag seguidas depois pelas até 1867, A impor- as fontes de direito, Nio sur- s de leis fe leit Preende, assim, que aparegam no século XVI estaduais: as Ordenagdes Manuclinas (1521), Ordenagdes Filipinas (1603), que estiveram em vigor Nancia crescente da lei foi feita com sacrificio para outr Como 0 costume ¢ a doutrina dos juristas. Por outro lado, este monstro estadual, se actua ¢ S0a juridica, internamente partilha 0 poder soberano por diversos érgios. xteriormente como pe Digitalizado com CamScanner0. Dezembro 1999 Ne 26 Outubr mo em concrete éexercido o poder de legish zislar m str: aan 105 ia das instituigo igies superior especializadas da mi mpulso legislative quer quanto a experiéncia ena, qu > eavolve. Neste sentido, o dogma ae téciag ny ogislativa constitu uma ficgo ee cee titular, sidade de todas estas instituigdes concorrerem para a r ie dada a neg ‘ ee saae do Estado Mas nao pode deixar de aera manifesta, so histsrica, como melhor se dir em reflex eos dex pres ee distribuigao de tarefas ¢ ee Bele ete FO. xperigneia, perante a qual uma com, Pea de especia. normativo contemporanco nos levaria a um jui fee eee juizo necessariamente ee v0 acerca das instituigdes actuais ¢ da ausé: s Ges a énci s actuai: auséncia de uma cultura organiz; ‘a organizacio ional, CO modo © jmportinel quanto 30 4 que a sua preparag dade no rei da fung observag Digitalizado com CamScanner