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Em boa parte do tempo, Henfil utilizava-se desse personagem para espinafrar o Sul Maravilha, numa
espécie de metáfora da região do país que se desenvolvera em detrimento das outras, como o
Nordeste, que eram entregues à própria sorte pelos governantes.
SUMÁRIO
Contexto Histórico 01
Sítios Arqueológicos na Paraíba 03
Antecedentes da Conquista 04
Expedições para a conquista 05
O Fim dos conflitos e a consolidação da Conquista 09
Nossos Índios 11
As Ordens Religiosas e seus mosteiros 13
Antecedentes e Invasão Holandesa 15
A “libertação” da Paraíba 20
Frentes de Ocupação Territorial na Paraíba 21
Primeiros “Desbravadores” 23
Guerra dos Cariris 24
Povoamento do Sertão 25
Principais Povoados da Paraíba 26
Crise comercial e anexação a Pernambuco 27
Analise Política, econômica e social da Capitania nos séculos XVII e XVIII 28
A Inquisição na Paraíba e as histórias sobre Branca Dias 29
REBELIÕES COM A PARTICIPAÇÃO DA PARAÍBA 32
Rebeldia no Nordeste em 1817: A República de quase todas as classes 32
A Revolução de 1824 33
Rebelião Praieira de 1848 34
Homens Pobres e “Livres” rebelam-se: Movimentos Sociais no Século XIX 35
O Ronco da Abelha (1851-1852) 36
Quebra-Quilos (1874-1875) 37
Da crise do escravismo à abolição 40
A Coluna Prestes e a Passagem por Piancó 41
A República dos Córoneis 44
Perrepistas e Liberais disputam o poder em 1930 47
A Parahyba Arenovada? 51
Ligas Camponesas 53
O Golpe de 1964 e a Instalação da repressão na Paraíba 55
Lampejos da Cultura Paraibana 58
Cronologia por século 63
História dos Governantes da Paraíba 63
UM POUCO DE GEOGRAFIA DA PARAÍBA 66
Clima, Relevo e Hidrografia 66
Vegetação, População e Etnias 67
As mesorregiões e as microrregiões 68
Aspectos Rurais 68
ESPECIAL SOBRE A REVOLTA DE PRINCESA 72
Manifesto à Nação sobre a Revolta de Princesa 73
Referências Bibliográficas 77
Olá Pessoal,
Esse material é uma compilação de textos e informações colhidas de diversas fontes para ajudar
vocês a compreender de uma maneira mais contextualizada a História da Paraíba. Alguns desses
textos estão disponíveis na Internet de maneira aleatória, sem a identificação do autor. Procurei
selecionar os melhores para estimular vocês a pesquisarem sobre a nossa realidade histórica regional
e exercer, de maneira plena, aquilo que o grande Eduardo galeano diz: A primeira condição para
modificar a realidade consiste em conhecê-la.
Um grande Abraço,
Em se tratando de
arqueologia, a Paraíba possui um
potencial invejável.
No município de Ingá,
encontra-se o sítio arqueológico
mais visitado do Estado, conhecido
como Pedra do Ingá, onde estão
gravadas, na dura rocha, no leito de
um rio, dezenas e dezenas de
inscrições rupestres, formando
fantásticos painéis com mensagens até hoje não decifradas. Embora ainda fazendo parte do desconhecido, os
achados da Pedra do Ingá estão já há bastante tempo catalogados por notáveis arqueólogos como um dos mais
importantes documentos líticos, motivando permanentes e incessantes pesquisas, que buscam informações mais
nítidas sobre a vida e os costumes de civilizações passadas. Seriam as itacoatiaras do Ingá manifestações dos
deuses? O que estes antepassados quiseram transmitir, com suas inscrições sincronizadas, esculpidas na rocha?
As respostas vêm sendo tentadas por arqueólogos, antropólogos, astrônomos e ufólogos, que chegam de várias
partes do mundo, interessados em desvendar esses mistérios.
O destaque do Sítio Arqueológico são três painéis de riquíssima arte rupestre. Existem sulcos e pontos
capsulares sequenciados, ordenados, que lembram constelações, serpentes, fetos e variados animais, todas
parecendo o modo que os indígenas ou os visitantes de outras latitudes tinham para anunciar ideias ou registrar
fatos e lendas. O bloco principal, de 24 metros de comprimento por cerca de 4 metros de altura, divide o rio Ingá
de Bacamarte em dois, durante o inverno. No verão, o rio corre por trás das inscrições.
No sítio arqueológico de Ingá surgiu um Museu de História Natural, que acolhe cerca de duas dezenas de
fósseis de animais que aí viveram, retirados do sítio Maringá e em Riachão do Bacamarte.
O sítio arqueológico de Ingá é ainda uma reserva ecológica da biosfera da caatinga, onde se encontram
diversas espécies de árvores, entre elas
uma velha baraúna, com mais de 100
anos de vida. Curiosamente, a
ingazeira, espécie de árvore que
inspirou o nome da cidade,
desapareceu a mais de 40 anos. A
prefeitura de Ingá está trazendo da
cidade de Areia várias mudas de
ingazeira, a fim de restaurar um pouco
da história local.
No alto sertão, mais
propriamente no município de Sousa,
encontra-se o Vale dos Dinossauros,
uma vasta área onde estão registradas
inúmeras pegadas fossilizadas de
animais pré-históricos, transformadas
em rochas pela ação do tempo.
ANTECEDENTES DA CONQUISTA
D. Luís de Brito Governador Geral do Brasil recebe a ordem do rei de Portugal, D. Sebastião, para castigar
os índios pela tragédia de Tracunhaém, expulsar os franceses e erguer uma cidade às margens do rio Paraíba. Não
podendo vir pessoalmente, D. Luís enviou o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva. Quatro expedições foram feitas
durante onze anos, somente a quinta vingou depois de acordo estabelecido entre Tabajaras e portugueses contra
franceses e potiguaras. Em meio a este período ocorre a união das coroas ibéricas.
O general Diogo Flores Valdez (espanhol) chegara à Bahia. Vinha de uma viagem mal sucedida ao Estreito
de Magalhães. Manoel Teles Barreto o encarrega da conquista do rio Paraíba. Veio nessa expedição o ouvidor-mor
Martim Leitão a quem o governador confiou à chefia da nova expedição, este organizou gente e armas, mas ficou
em Pernambuco enquanto Valdez veio por mar juntamente com Frutuoso Barbosa. Felipe de Moura, indicado de
Martim Leitão chefiou uma outra que veio por terra.
Flores de Valdez aqui chegando, encontraram franceses, destruindo-os. Logo desembarcou e tomou posse
da terra. A expedição por terra chegou. Começando os planos para fortificação da região e as discussões, quanto
ao local do forte. Valdez queria construí-lo à margem esquerda do rio Paraíba. Frutuoso queria na foz do rio, no
mesmo lugar onde se encontra hoje a Fortaleza de Santa Catarina em Cabedelo. A partir disso, as desavenças
entre eles só iriam aumentar, Frutuoso queria seu direito de autoridade concedido pelo rei se conquistasse a
Paraíba, Valdez argumentava que nada ele teria feito para ocupar a região.
Venceu a opinião do espanhol e o forte foi construído, recebendo a denominação de São Tiago e São Felipe
(primeiro de maio de 1584), em bajulação à Felipe II. O general Castelhano Valdez, antes de partir para a
Espanha deixou Francisco Castejon como capitão do forte e dos soldados espanhóis e Frutuoso Barbosa, chefe dos
soldados portugueses. Mas se a união das coroas ibéricas a estava empreendida pela conquista, essa união não se
estendia aos súditos de Felipe II, os portugueses jamais se conformariam com a dominação espanhola, os
espanhóis exigiam para si todos os privilégios por conta de ser o seu rei, o rei também de Portugal, dificultando,
assim, o bom andamento da política.
Estabelecidos no forte, batem-se em campanha chefiada por Felipe Moura para acabar com a ameaça
nativa, chegando numa campina que chamaram de Campo das Ostras acamparam e no quinto dia foram atacados,
de maneira que mais de trinta morreram, os sobreviventes fugiram em desespero tal que “passaram uns por cima
dos outros como se fossem uma mui boa ponte”.
Pouco tempo antes de 1585, chegara ao solo Paraibano, o valente cacique Piragibe (Braço de Peixe) com
sua tribo Tabajara. Vinham do Vale do São Francisco, na Bahia. A situação piorava para os conquistadores,
Piragibe estava revoltado com os portugueses havia sofrido uma traição de Francisco das Chagas, no qual em
1573 pediu apoio de Piragibe para aprisionar índios no interior e ainda pretendia traiçoeiramente atacar os
tabajaras, em represália o matara, bem como os que o acompanhavam. Temendo o castigo do governador-geral,
fugiu para a região do rio Paraíba.
Chegando 11 anos depois, os tabajaras estabeleceram acordo com os potiguaras que ficaram onde
estavam, no leito esquerdo do Paraíba desde sua foz ao sertão da Capaoba e os tabajaras na margem oposta
alargando-se até Itamaracá e se possível desalojar os colonos. Agora potiguaras e tabajaras punham cerco ao
forte.
Investido da autoridade real, que lhe foi conferida por Felipe II, Martim Leitão preparou um exército com
homens brancos, índios brancos e escravos. Nessa jornada tomou parte Ambrósio Fernandes Brandão, padres da
Companhia de Jesus, entre eles os jesuítas Jerônimo Machado e Simão Travassos, provavelmente teria sido um
deles ou os dois as testemunhas oculares que escreveram a principal fonte documental destes acontecidos o
“Sumário das armadas que se fizeram e das guerras que se deram na conquista do rio Paraíba”. Crônica esta feita
a mando de Cristóvão de Gouveia.
Depois de vários dias Martim Leitão chega à Paraíba com seu exército. No dia 5 de março, chegam ao
Tibirí, ao cair à noite, e inesperadamente se deparam com uma taba indígena. Gerou-se uma grande confusão,
principalmente para os índios que, sem defesa, fogem as pressas sendo alguns feitos prisioneiros. No outro dia, ao
saber que se tratava de índios Tabajara, diplomaticamente, Martim Leitão mandou solta-los, afirmando que não
queria lutar com eles, pois o seu intento era os Potiguaras, com os Tabajaras queria paz.
Sabia do incidente da Bahia, e que não os condenava por aquela matança. Ofereceu sua ajuda caso
precisasse. Enviou uma mensagem a Piragibe, mas o cacique Tabajara não atendeu ao apelo de paz em receio ao
que já haviam acontecido anos atrás, por isso, enfrentou em combate no qual não houve vencedores nem
vencidos.
Como nesse encontro os comandados de Martim Leitão não foram massacrados pelos índios de Piragibe,
os Potiguaras começaram a desconfiar de seus irmãos de sangue. Este foi o impasse que Piragibe sofreu, ter que
novamente debandar para outra região se entrasse em conflito com os portugueses ou ser considerado traidor
pelos potiguaras. Vendo que as negociações foram frustradas, Martim Leitão se empenhou sobre a tribo Tabajara
que estava vazia, chegando após ao Forte de S. Tiago e S. Felipe, encontrando-o em estado deplorável. Além de
doenças, fome e miséria, perdurava a célebre discórdia entre portugueses e espanhóis. Martim Leitão tenta
convencer Frutuoso a ocupar a região, mas, ele só pensava em sair daquele inferno. Por isso o substituiu por Pero
Lopes de Lobo. Dois dias depois de sua chegada, Martim Leitão pensa em voltar com Pero Lopes Lobo para onde
iriam edificar a cidade e ordena João Pais Barreto ir numa campanha com 300 homens para a Baia da Traição,
pretendendo inclusive ir também, só que tudo desmantelou quando boa parte de contingente adoeceu. Depois de
alguma melhora investiram novamente contra os potiguaras que abandonaram as aldeias que foram queimadas.
Martim Leitão deixou Pero Lopes com bons mantimentos e volta para Olinda no mês de Abril, onde foi
considerado herói da conquista, mas ele próprio reconhecia que ainda não havia feito muita coisa. A primeira má
notícia foi que Pero Lopes havia abandonado o forte. As coisas pioravam, quando soube que Castejon, além de ter
abandonado e destruído o Forte, jogara ao mar toda a artilharia. Destruíra todo o feito de Valdez, Martim Leitão o
prendeu e o mandou de volta para a Espanha. Apesar da aliança, Potiguaras e Tabajaras eram rivais, mesmo
pertencendo ao mesmo tronco Tupi. Nesse período os potiguaras já estavam desconfiando dos tabajaras, os
chamavam de panemas (fracos) pela sua fraca resistência, por isso já estavam organizando uma chacina ao povo
de Piragibe. Sabendo disso, os portugueses instruem um índio Tabajara preso no forte a enviar recados à Piragibe,
que ele receberia socorro logo que pedisse.
O mês de julho quando dois Tabajaras chegaram á Olinda com recado de Piragibe, vinham buscar o
prometido socorro contra os potiguaras que estavam em guerra declarada. A boa notícia foi celebrada com festas,
Martim Leitão escolheu João Tavares para conferenciar com Piragibe, seria então um acordo de paz com o branco
e de guerra contra os potiguaras, o célebre encontro deu-se precisamente dia 5 de agosto de 1585, no Varadouro,
local onde iniciaria a ocupação. Considerado por muitos como a data da fundação da cidade paraibana, merece ser
revista com cuidado, visto que sua fundação teria sido no dia 4 de novembro, a data 5 de agosto, dia da padroeira
que emprestou seu a nome a nova cidade de Nossa Senhora da Neves, rememora a chegada de João Tavares e o
acordo com Piragibe.
Martim Leitão partiu de Pernambuco para Paraíba no dia 15 de Outubro de 1585, com alguns amigos,
oficiais e criados. Com ele vieram pedreiros, carpinteiros e tudo o que se precisava para sua construção. Da
jornada participaram também, Manoel Fernandes, mestre de obras de El-rei, Duarte Gomes da Silveira, Cristóvão
Lins (engenheiro) e outros.
Após reconhecerem o local, onde deveria ser fundada cidade, os trabalhos começaram, era 4 de novembro
de 1585. A 20 de novembro do mesmo ano Martim Leitão deixa Cristóvão Lins à frente dos trabalhos e foi até a
Bahia da Traição para desalojar os franceses que lá se concentravam. Era intenção de Martim Leitão, afastar por
completo os arredores da Paraíba. Encontraram uma tribo potiguar que foi destruída e continuaram destruindo
outras. No terceiro dia de buscas, guiados por índios aprisionados, saíram em busca de Tijucupapo, um grande
chefe feiticeiro potiguar. Numa região alagadiça foram atacados em todos os lados por potiguaras, a batalha
terminou com vitória portuguesa. De volta dessa batida, Martim Leitão mandou apressar as obras da cidade, em
pouco tempo estavam construídos: fortes, armazéns, sobrados, bem como casas para moradores. Antes de
regressar para Pernambuco, em 20 de janeiro de 1586, Martim Leitão nomeia João Tavares Capitão do Forte,
deixando-o com 35 homens, providos para quatro meses.
Naquela época chega a Pernambuco o capitão espanhol Francisco Morales, tinha como missão recolher
seus conterrâneos no forte paraibano, chegando destituiu João Tavares da função de capitão, passando de
comandante para comandado. Esta fato gerou descontentamento entre os tabajaras que se amotinaram nas
aldeias. Os potiguaras investiram contra a tribo de Assento de Pássaro (primo de Piragibe), localizada no Tibirí
(hoje Santa Rita), foram mais de 80 mortos, novamente ameaçando o recente núcleo colonial. Observando o
perigo Morales abandonou o forte em outubro, passando para Olinda e depois para o reino.
Martim Leitão sabendo das más notícias organiza sua terceira visita a Paraíba, e depois de alguns
problemas chegam em dezembro e logo promovem a caça aos inimigos, partiu-se para o sertão da Capaoba, um
exercito composto por mais de 140 brancos e mamelucos e mais de 500 índios tabajaras liderados por Piragibe.
Depois de encontrarem tantas aldeias e promoverem a chacina, portugueses e tabajaras seguiram em busca do
famoso feiticeiro Tijucupapo que teria debandado para o norte. Depois de dois dias de viajem rumo ao norte,
encontram a mais poderosa tribo inimiga, onde houve a maior briga, do lado dos atacantes morrem 3 e 47 feridos,
inclusive Martim Leitão. Não se sabe quantas baixas teve o gentio potiguar, já que costumavam carregar seus
mortos e feridos. Depois desta campanha, permanecem algum tempo para recuperação dos feridos e retornam ao
forte da Paraíba. Pouco tempo depois retornam ao interior com propósito maior de limpar o terreno da ameaça
inimiga. Martim Leitão foi ao rio Tibirí a duas léguas da cidade onde deveria ativar as obras do forte que iriam
proteger um engenho real e a tribo de Assento de Pássaro que ficava nas imediações. Forte que teve o nome de
São Sebastião em homenagem ao santo do dia de sua fundação 20/02/1587.
A partir daí alguns moradores já iam se estabelecendo nas margens do Paraíba com roçados e plantação
de cana. Tomadas as providencias, Martim Leitão retorna a Pernambuco ainda em fevereiro, deixando João
Tavares como capitão-mor e governante da Paraíba. Tendo sido “conquistada” em 1585, a Paraíba não viu
progresso durante bom tempo, devido aos atropelos de vários acontecimentos; como a usurpação de poder
promovido por Morales, as guerras contra os potiguaras e as operações de limpeza do terreno. Tudo isso gerou a
lentidão do processo agrícola e populacional.
Em 1588, Frutuoso Barbosa reivindicava seu direito dado pelo falecido rei D. Henrique de Portugal em
1579 e confirmado em 1581 por Felipe II rei da união ibérica, sobre a Paraíba. Em sua defesa estava o espanhol
D. Pedro de la Cueva, que trazia ordens do rei para João Tavares passar o cargo para Frutuoso e o de capitão para
si. Frutuoso em ato bajulatório ao rei muda o nome da cidade para Filipéia de Nossa Senhora das Neves. Enquanto
isso os potiguaras retomavam os ataques.
Frutuoso pede ao capitão para tomar alguma atitude militar frente aos ataques dos nativos, argumentando
Cueva alega que nada poderia fazer sem autorização do rei, gerando novas discórdias entre portugueses e
espanhóis. Os potiguaras atacavam constantemente os moradores de capitania e principalmente as aldeias
tabajaras. Frutuoso então pede ajuda a Olinda que em 1590 envia uma nova expedição comandada pelo antigo
Governador João Tavares que morre em batalha contra o gentio. Com sua morte assume o comando da expedição
o capitão-mor de Itamaracá Pero Lopes Lobo a pedido de Felipe Cavalcante, capitão-mor de Pernambuco. Aqui
chegando, trata de fazer as pazes entre Frutuoso e La Cueva que chegaram a se abraçar, e voltaram a deixar a
capitania em paz. Porém essa trégua não durou muito e logo recomeçam os ataques. O rei espanhol mandou
chamar os dois, em 1591 Frutuoso deixava o governo da capitania por vontade própria e foi substituído por André
de Albuquerque que governou provisoriamente de 1591 a 1592, sendo substituído por Feliciano Coelho de
Carvalho.
Com grande empenho Feliciano Coelho de Carvalho conseguiu consolidar a conquista da Paraíba. O seu
governo foi longo e nossa terra logo logrou com sua administração. Juntamente com Pedro Lopes Lobo Capitão-
mor de Itamaracá, organizou ataques indígenas porque os índios não deixavam de investir contra a cidade,
instigados ainda pelos franceses que em 1596, chefiados por Rijjaut, atacaram a Paraíba com uma esquadra de
treze navios com 350 soldados. Para defesa de cidade Frutuoso teria iniciado a construção do forte de Cabedelo,
que na época destes ataques provia apenas de 20 homens que apesar de grande inferioridade numérica,
conseguiram obrigar os invasores a voltarem para o rio grande, mostrando sua importância na defesa da cidade.
O comandante francês ainda se preparou para atacar a Paraíba, mas Desistiu da empresa. Devido a esses
ataques estrangeiros o soberano espanhol recomendou a ocupação do Rio Grande. A conquista da Paraíba garantia
a segurança de Pernambuco. Agora se fazia necessário ocupar o Rio grande para que a Paraíba pudesse progredir
sem o perigo de ataques da França franco-indigena.
Para essa ocupação uniram-se Feliciano Coelho e o capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas,
regendo ordens do rei. Em 1997 chegou à Paraíba uma esquadra de seis navios e cinco caravelas enviadas da
Bahia pelo Governador geral Francisco de Souza. De Olinda Manoel Mascarenhas veio por terra, com quatro
companheiros capitaneados por Jerônimo e Jorge de Albuquerque, Antônio Leitão Mirim e Manoel Leitão. Feliciano
seguiu por terra com essas Companhias, levando uma da Paraíba, além dos índios Tabajaras, chefiados pelo
Piragibe Assento de Pássaro, Caldo Grande e Pedra Verde. Ao chegarem à fronteira do Rio Grande tiveram de
acampar porque a expedição foi atacada por varíola, morreram muitos. Feliciano regressa à Paraíba como também
os capitães de Pernambuco, com exceção de Jerônimo, que prosseguiu por mar ao encontro de Mascarenhas.
No Rio Grande houve muitas batalhas e a situação torna-se ainda mais grave quando Feliciano chega com
o socorro tardio. O forte norte rio-grandense já havia sido começado e o capitão-mor da Paraíba reservou parte de
seus comandados para ajudar na sua construção e a outra parte para ajudar nas batidas contra os Potiguaras. Por
ter sido principiado no dia 6 de janeiro o Forte recebeu o nome de Reis Magos. No dia 24 de junho de 1598,
Manuel Mascarenhas entregou-o a Jerônimo de Albuquerque. O retorno à Paraíba foi coroado de êxito e de muitas
vitorias sobre os índios inimigos. O fato mais importante do governo de Feliciano Coelho foi a paz com, os
Potiguaras em 1599. Os índios potiguaras cansaram de tanta luta e não tinham mais a grande ajuda dos franceses
que haviam se fixado no Maranhão. O Rio Grande estava conquistado após tudo acertado o capitão-mor de
Pernambuco foi dormir na aldeia do índio Poti, onde já se encontrava Feliciano. Como foi acertada a paz entre
portugueses potiguaras e tabajaras, pouco se sabe, porque o principal relato destes acordos é um discurso
apaixonado e patriótico de um missionário.
Sabe-se que esse acordo foi celebrado quando a varíola havia matado milhares deles, tanto de um lado
quanto de outro, teria sido feita nas proximidades do forte dos Reis Magos, por Pau-seco irmão do grande chefe
potiguar Zorobabé, juntamente com um delegado de nome Ilha Grande em 19 de abril de 1599. Depois disso
Feliciano Coelho impôs a paz pela força aos potiguaras, bem parecido com o que ocorreu com os tabajaras, esses
índios ficaram agrupados em aldeias militarmente fiscalizadas pela coroa, com o andar da carruagem da história
esses índios perderiam pouco a pouco a sua identidade cultural. Esses fatos e a catequese contribuíram para esse
fenômeno decisivo para o progresso da capitania.
A cidade progredia, especialmente a lavoura. No ano de 1600, terminou o governo de Feleciano Coelho, a
quem a Paraíba muito ficou devendo pelos grandes serviços prestados. Após 15 anos de sua fundação, à frente da
Paraíba, em se tratando de progresso, só havia Pernambuco e Bahia. Feliciano de Souza Pereira substituiu
Feliciano Coelho de Carvalho de 1600 a 1603.
A Paraíba teve mais de doze capitães-mores, até cair nas mãos dos holandeses. Seguiu seu ritmo de
progresso com a lavoura açucararia, e juntamente com Bahia e Pernambuco tornou-se o maior centro comercial
do mundo ocidental, atraindo assim a cobiça dos aventureiros flamengos.
Em 1634 a cidade de Filipéia já tinha alcançado considerável desenvolvimento, contando com mais de mil
habitantes na área urbana onde existiam, como construção os conventos de Santo Antônio, Carmo e São Bento e
igreja de Nossa Senhora das Neves, além das igrejas de São Gonçalo e da Misericórdia. O vale do Paraíba e os
terrenos banhados por seus tributários, achavam-se densamente povoados e vestido os seus solos pelos imensos
canaviais que forneciam a matéria-prima, para a movimentação de dezoito moinhos de açúcar, todos servidos de
moradores da escravatura africana e silvícolas domesticados. Elevado para o contingente de indígenas fixados nas
aldeias de Jaraguaçu, Yapoão, Pontal, Taboá, Inacoca e outros.
As defesas da capitania repousavam sobre os fortes de Cabedelo e Santo Antônio, situados nas duas
margens do rio, em posição tal que podiam varrer com seus tiros o canal de acesso ao porto de Filipéia, sem falar
na bateria montada na ponta da restinga e no forte Varadouro, e no sistema de trincheiras constituídos na
previsão de um ataque de grande envergadura.
NOSSOS ÍNDIOS
Quando Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil no dia 22 de abril de 1500, encontrou aqui uma gente
que vivia com costumes diferentes e falava uma língua estranha. Tratava-se dos primeiros habitantes da Terra: os
silvícolas. Na região em que mais tarde se fundaria a Paraíba, viviam a princípio os Cariris ou Tapuias, mas
chegaram os Potiguaras, em número bem maior e os expulsaram para o interior onde se fixaram. Em 1585 nas
lutas pela conquista chegaram os Tabajaras e se fixaram à margem direita do Paraíba, entre o rio e o mar. Os
Potiguaras já ocupavam a margem esquerda do rio até o interior nas proximidades da atual Serra da Raiz.
Na época da fundação da Paraíba, os Tabajaras formavam um grupo de aproximadamente 5 mil pessoas.
Eles eram pacíficos e ocupavam o litoral, onde fundaram as aldeias de Alhanda e Taquara. Já os Potiguaras eram
mais numerosos que os Tabajaras e ocupavam uma pequena região entre o rio Grande do Norte e a Paraíba.
Esses índios locomoviam-se constantemente, deixando aldeias para trás e formando outras. Com esta constante
locomoção os índios ocuparam áreas antes desabitadas. Os índios Cariris se encontravam em maior número que
os Tupis e ocupavam uma área que se estendia desde o Planalto da Borborema até os limites do Ceará, Rio
Grande do Norte e Pernambuco. Os Cariris eram índios que se diziam ter vindo de um grande lago. Estudiosos
acreditam que eles tenham vindo do Amazonas ou da Lagoa Maracaibo, na Venezuela.
Tabajaras e Potiguaras pertenciam à mesma nação Tupi. Sendo os primeiros tupiniquins e os segundos,
tupinambás. Falavam a mesma língua, “a língua geral”. Apesar de descenderem de um mesmo tronco, o Tupi,
eram rivais. Segundo autores avalizados essa inimizade ocorrera, quando nos movimentos migratórios, a grande
contenda, em época remota, a mulher de um cacique se negara a dar o papagaio de outra pessoa. Também, dizia-
se que a contenda teria sido motivada porque numa festa, uma índia embriagada gerara grande confusão.
Essa tribo chegou a Paraíba na época da conquista, proveniente das margens do São Francisco, na Bahia.
Aqui chegando, aliou-se aos Potiguaras, apesar de inimigos de longa data para juntos impedirem a colonização
portuguesa. Os índios Tabajaras eram amigos dos portugueses e muito auxiliaram na colonização baiana, porém
depois do incidente entre Piragibe e os portugueses Francisco de Caldas e Gaspar de Freitas, os Tabajaras
tornaram-se inimigos dos lusos.
Emigrando da Bahia para a Paraíba, penetraram na região onde hoje se ergue a cidade de Monteiro, ou
segundo alguns teria Piragibe penetrado pela serra do Teixeira. Fugiam assim do castigo dos portugueses porque
no incidente referido Piragibe e sua gente mataram Francisco de Caldas, Gaspar de Freitas e seus companheiros
de expedição, com exceção de um deles. A diplomacia de Martim Leitão perdoando a matança da Bahia e
assegurando aos Tabajaras sua permanência na Paraíba conseguiu reatar a amizade entre os governadores e
Piragibe. Esses índios ajudaram não só na conquista, mas continuaram garantindo essa conquista. Dentro de
poucos anos a aculturação se processou de tal maneira que já não se distinguia mais entre um índio Tabajara e
um luso colonizador. Toma um lugar de destaque na história da Paraíba, os Tabajaras:
- Piragibe – chefe Tabajara, temido e respeitado, que já centenário sem se levantar mais de sua rede, ainda se
impunha a todos, inclusive a seus inimigos. A aldeia do famoso morubiraba (chefe) era situada no lado sul da
cidade (hoje Ilha do Bispo). Mais tarde, Feliciano Coelho, transferiu-os para um aldeamento no interior para
melhor defender a cidade. Dividiu a aldeia em duas: uma ficou no Inhobim, e a outra, em Livramento.
- Assento de Pássaro – primo de Piragibe e grande defensor da Capitania. A sua aldeia ficava em Tibiú de Lima
(hoje Santa Rita). Esse valente Tabajara, após seu batismo recebeu o nome de D. Francisco.
- Braço Preto – filho de Piragibe e Pedra Verde (mulher de Piragibe), presentes na festa que se deu na Paraíba,
celebrando as pazes com os Potiguaras.
A sua agricultura não era das mais atrasadas. Viviam dos frutos que aqui eram abundantes: caju, umbu,
goiaba, pitomba, maracujá. Cultivavam o fumo e o algodão. A base da sua alimentação, porém, era a caça e a
farinha de mandioca. Cabiam aos homens a fabricação das armas, o preparo dos roçados, a caça, a pesca e a
guerra. Às mulheres, a plantação, a colheita e fabricação da farinha juntamente com as bebidas. Cuidavam da
casa, teciam redes grandes, etipós (redes pequenas), para os meninos. As suas casas eram grandes mas não
eram repartidas. Tinham cobertura de palhas e eram cercadas.
Como na maioria dos grupos indígenas localizados no Nordeste, os potiguaras realizam o toré, que é uma
importante prática ritual, capaz de balizar as diferenças internas, projetando os grupos nas situações de contato.
Atualmente realizado nas comemorações do Dia do Índio (19 de abril), sendo pensado como um “ritual sagrado”
que celebra a amizade entre as distintas aldeias, realçando o sentimento de grupo e de nação. É uma dança que
está na própria percepção e representação da tradição coletiva, sendo, portanto, um elemento essencial para eles
se pensarem enquanto possuidores de um passado histórico comum.
Ainda hoje, encontram-se tribos indígenas Potiguaras localizadas na Baía da Traição, mas em apenas uma
aldeia, a São Francisco, onde não há miscigenados, pois a tribo não aceita a presença de caboclos, termo que eles
utilizavam para com as pessoas que não pertencem a tribo. O
Cacique dessa aldeia chama-se Djalma Domingos, aos
poucos, a aldeia vai se civilizando, um exemplo disso é um
posto telefônico Atualmente, na Baía da Traição foi iniciado
um projeto que tenta resgatar a cultura indígena dos
descendentes dos bravos potiguaras, esta sendo feito um
projeto que coloca alunos em sala de aula para aprender o
Tupi Guarani, língua original dos indígenas aqui
estabelecidos.
Ramo dos Tapuias. Ao serem expulsos do litoral, e ao fixarem no interior e nos sertões dividiam-se em
várias tribos: Sucurus, Butius, Ariús ou Árias, Pegas, Panatis, Coremas e etc., eram atrasadas e viviam da caça e
pesca. Eram mais altos que os Potiguaras e Tabajaras. Quando conquistados foram denominados cariris velhos e
cariris novos em relação à ordem de dominação. Como os Potiguara, s furavam também os lábios inferiores, as
bochechas e as orelhas. Colocaram nos furos pedras bonitas, osso ou madeira. Dormiam também em redes
enormes. Andavam nus. As mulheres eram muito bonitas e obedientes aos seus maridos.
Eram ferozes não tinham nenhuma noção de Deus, entretanto possuíam seus feiticeiros que invocavam
um espírito Tapuia e resolvia com ele os problemas da tribo. Cada tribo tinha seu rei. Jandeú era o rei da nação
Cariri e ainda existiam os reis Carapatos e Carcará seus irmãos que se distinguiam dos demais por ter os cabelos
cortados em forma de coroa e só eles podiam deixar crescer as unhas dos polegares. Seus costumes eram mais
exóticos do que os Potiguaras e Tabajaras. Praticavam a eutanásia e o morto era guardado entre seus
companheiros. Se o rei morresse só os seus parentes e os principais da tribo podiam comê-lo e choravam, como
forma de carinho para com o morto.
OBS: O nome Paraíba tem origem tupi, seu significado ainda é discutido, alguns defendem que vem de pará mar
ou rio e íba braço, no caso então seria Braço de Rio ou Braço de Mar, e geograficamente existe esta característica.
Porém o seu significado deve ser encarado com cautela, visto que a maioria dos autores explica o significado como
Rio Ruim, intransitável. Este se deve a sua impossibilidade de navegação por grandes barcos, por ser raso.
- Acejutibiró, era o nome primitivo da Baia da Traição, começou a ser chamado assim, por causa de uma
emboscada que alguns índios teriam promovido aos viajantes da primeira expedição de reconhecimento realizada
nestas terras em 1501. Nessa expedição estava presente Américo Vespúcio, que teria narrado com certas doses
de exagero o ocorrido, onde foram conduzidos para o contato com o gentio dois dos tripulantes da nau, que após
cinco dias não tinham retornado. Preocupados, enviam outro que foi atacado e feito como refeição pelos nativos
ali na frente de todos, sem saber o que fazer os tripulantes foram embora e espalharam tal acontecido que ficou
cartograficamente documentado a partir disso.
Os Jesuítas
Os Franciscanos
Atendendo a Frutuoso Barbosa, chegaram os padres franciscanos, com o objetivo de catequizar os índios.
O Frei Antônio do Campo Maior chegou com o objetivo de fundar o primeiro convento da capitania. Seu trabalho
se concentrou em várias aldeias, o que o tornou importante. No governo de Feliciano Coelho, começaram alguns
desentendimentos, pois os franciscanos, assim como os jesuítas, não escravizavam os índios. A igreja e o
convento dos franciscanos foram construídos em um sítio muito grande, onde atualmente se encontra a praça São
Francisco.
Os Beneditinos
Após a saída dos jesuítas contava com poucos religiosos para a catequese dos índios. Em 1599 Feliciano
Coelho solicitou ao abade de Olinda a vinda dos beneditinos para o serviço religioso. Não sendo uma ordem
mendicante, o terreno para a construção do Convento A condição imposta pelo governador era que o convento
fosse construído em até 2 anos. O mosteiro não foi construído em dois anos, mesmo assim, Feliciano manteve a
doação do sítio. Outras doações que pudessem fazer com que os missionários tivessem condições de se manterem
e de se dedicarem também a sua missão de catequese.
O Convento foi constituído aos poucos. Na época da ocupação holandesa todos os missionários da Paraíba
foram requeridos pelos flamengos, e em consequência seus trabalhos paralisados. Em 1666, os frades beneditinos
conseguem terminar a restauração do seu Convento. Reorganizaram a livraria e recomeçaram as aulas de latim, o
que foi motivo de grande alegria para a população. O antigo Convento beneditino, onde atualmente funciona a
Faculdade Autônoma (IPE), localizada nas proximidades da catedral, com o passar do tempo passou a denominar-
se o “Calvário”.
Os Missionários Carmelitas
Os carmelitas vieram à Paraíba a pedido do cardeal D. Henrique, em 1580. Mas devido a um incidente na
chegada que colheu os missionários para diferentes direções, a vinda dos carmelitas demorou oito anos. Os
carmelitas chegaram à Paraíba quando o Brasil estava sob domínio espanhol. Os carmelitas chegaram, fundaram
um convento e iniciaram trabalhos missionários. A história dos carmelitas aqui é incompleta, uma vez que vários
documentos históricos foram perdidos nas invasões holandesas.
À margem esquerda do Rio Paraíba constituíram a Igreja Nossa Senhora da Guia, um belo templo barroco,
constituindo um dos melhores exemplos desse estilo no Brasil. Na cidade construíram o Convento do Carmo (hoje
Palácio do Bispo) e ao lado, a Igreja da Ordem Terceira. Foram essas ordens religiosas que promoveram não só a
evangelização dos índios mas também a construção e desenvolvimento da Paraíba. Não se sabe se foi coincidência
ou proposital, o fato é que a disposição desses templos formam uma cruz:
Em 1578 o jovem rei de Portugal, D. Sebastião, foi morto na batalha de Alcácer-Quibir, na África, deixando
o trono português para seu tio, o cardeal D. Henrique, o qual devido à sua avançada idade acabou morrendo em
1579, sem deixar herdeiros. O Rei da Espanha, Felipe II, que se dizia primo dos reis portugueses, com a
colaboração da nobreza espanhola e do seu exército, conseguiu em 1580 o trono português.
A passagem do trono português à coroa espanhola prejudicou os interesses neerlandeses (holandeses),
pois eles estavam travando uma luta contra a Espanha pela sua independência que depois de quase dez anos
libertam-se da Espanha formando as Províncias Unidas dos Países Baixos, dessa forma, rivais dos espanhóis, os
holandeses foram proibidos de aportarem em terras portuguesas, o que lhes trouxe grande prejuízo.
Interessados em recuperar seus lucrativos negócios com as colônias portuguesas, o governo e com
panhias privadas holandesas formaram em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais, para invadir as colônias e
manter as atividades comerciais. A primeira tentativa de invasão holandesa no Brasil ocorreu em 1624, em
Salvador. O governador da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, havia se preparado para o combate, porém com o
atraso da esquadrilha holandesa, os brasileiros não mais acreditavam na invasão quando foram pegos de
surpresa.
Durante o ataque o governador foi preso. Mas orientadas por Marcos Teixeira, as forças brasileiras
mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da
Bahia pela esquadra de D. Fradique de Toledo Osório.
INVESTIDAS NA PARAÍBA
Ao se retirarem de Salvador, os
holandeses, comandados por Hendrikordoon,
seguiram para Baía da Traição, onde
desembarcaram e se fortificaram, queriam “fazer
guarda e refazer-se de mantimentos”. Tropas
paraibanas, pernambucanas e índios se uniram a
mando do governador Antônio de Albuquerque para
expulsar os holandeses. A derrota batava veio em
agosto de 1625. Após esse conflito ao holandeses
seguiram para Pernambuco, onde o governador
Matias de Albuquerque, objetivando deixá-los sem
suprimentos, incendiou os armazéns do porto e
entrincheirou-se.
Temendo novos ataques, a Fortaleza de
Santa Catarina, em Cabedelo, foi reconstruída e
guarnecida e a sua frente, na margem oposta do
Rio Paraíba, foi construído o Forte de Santo
Antônio. Em 1630, após restabelecer suas forças os
neerlandes invadem Pernambuco, e o governador
Matias Albuquerque forma o principal foco de
resistência no interior o Arraial de Bom Jesus. O
mestiço Domingos Fernandes Calabar, conhecedor
das terras interioranas, apoia os holandeses na
investida contra o arraial que é derrotado e força a
fuga do governador para Alagoas. Depois de
conquistar uma das mais ricas e prosperas
capitanias da colônia, decidem ampliam seus
domínios e estabelecer sua dominação na região
açucareira.
Aos cinco dias de dezembro de 1632, comandados por Callenfels, 1600 batavos desembarcaram na
Paraíba. Ocorreu um tiroteio, os holandeses construíram uma trincheira em frente à fortaleza de Santa Catarina,
mas foram derrotados com a chegada de 600 homens vindos de Filipéia de Nossa Senhora das Neves a mando do
governador. Os holandeses decidem atacar o Rio Grande do Norte, mas Matias de Albuquerque, 200 índios e 3
companhias paraibanas os impediram de desembarcar. Depois da deserção das forças inimigas avançam e
conquistam melhores posições (Rio Grande do Norte), satisfeitos com a tomada do rio grande os holandeses
voltam à Paraíba em março de 1634 para atacar o Forte de Santo Antônio, mas ao desembarcarem percebam a
trincheira levantada pelos paraibanos, fazendo com que eles desistissem da invasão, observam os pontos fracos
da defesa e voltam ao Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco.
Ocupação holandesa na Paraíba
Após um tempo os holandeses resolvem tentar invadir a Paraíba novamente. Dessa vez, em 25 de
novembro de 1634 conduzidos pelo almirante Lichthardt sob as ordens do coronel Segismundo Van Schkoppe
partiu uma esquadra de 29 navios para a Paraíba. Aos quatro dias de dezembro de 1634, bem preparados os
soldados holandeses chegam ao Norte do Jaguaribe, onde desembarcaram distribuídos em várias colunas, uma
delas tomou o fortim de da ilha da Restinga enquanto outras se deslocaram por via fluvial em lanchas, o plano era
isolar de munições e mantimentos a fortaleza de Santa Catarina que então após intensa resistência se rendem.
No caminho por terra para Cabedelo os batavos receberam mais reforços e tomam a sua Fortaleza no dia
19 de dezembro, quatro dias depois o Forte de Santo Antonio. Os holandeses chegaram com seus exércitos na
Filipéia de Nossa Senhora das Neves em 24 de dezembro de 1634, e a encontraram vazia. Alguns dos
proprietários pressentindo a derrota queimaram os canaviais, inutilizaram seus engenhos (André Vital de
Negreiros foi o primeiro) e retiraram-se da capitania. Os que não se submeteram ao domínio holandês foram se
juntar a Matias de Albuquerque, em Alagoas.
O clima da Capitania foi de muita tensão, toda a população vivia assombrada, esperando um desastre. O
rei prometia auxílio, mas tudo era demorado na Corte Ibérica e quando algum socorro partia, não raro se
desarticulava pelo caminho ou a chegada frente aos combates com os holandeses, a essa altura já dominando a
faixa oceânica entre as Capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os moradores da Paraíba
sofriam lentidão em todos os negócios; nos engenhos, escravos e colonos aprendiam a manejar armas de fogo e o
trabalho rendia menos, dados e receios das rápidas sortidas que os holandeses também preparavam por terra.
Depois de da submissão da Paraíba os holandeses resolveram ocupar todo o território até Recife. Assim,
Rio grande, Paraíba e Pernambuco estavam em mãos neerlandesas. A preocupação inicial dos holandeses consistiu
em montar defesas para estabilizar a conquista e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba. Ao tomar conta da
então Cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves (nome dado durante o domínio espanhol) mudaram seu
nome para Frederica (ou Frederickstadt) em homenagem ao príncipe de Orange.
As primeiras providências de organização do poder holandês na Paraíba, foram tomadas pelos
comandantes que a venceram: Sigimendt Van Schoppe, Artichau Areizeswski, e Lincharlt. Na época da invasão
holandesa, a população era dividida em dois grupos: os homens livres (holandeses, portugueses e brasileiros) e os
escravos (de procedência brasileira ou africana).
- Servaes Carpentier: foi o primeiro Conselheiro Político designado para a direção da capitania também
governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco; cronista holandês de
renome, escreveu um minucioso relatório sobre a Paraíba;
- Ippo Eyssens: foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da Capitania,
governou menos de um ano, sendo assassinado pelas forças rebeldes comandadas por Rebelinho, a 14 de outubro
de 1636.
- Elias Herckman: homem de grande cultura, escritor e poeta dos mais considerados em seu tempo, governou a
Paraíba até 1639. Durante sua permanência na Paraíba, elaborou uma Descrição Geral da Capitania da Paraíba e
que hoje constitui precioso documento histórico.
Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias H., mas morreu antes de assumir o cargo.
- Daniel Alberti, conselheiro político, respondeu pelo governo da Paraíba, substituto do anterior depois da saída
de Herckman;
- Paulo de Linge dirigia a Paraíba, em 1641 quando Elias Herckman empreendeu uma expedição exploradora até
a serra de Capaoba, a pedido de Maurício de Nassau;
- Eisbert de With governou até os anos de 43 e 44, foi o melhor governador holandês, pois era honesto,
trabalhador e humano.
- Paulo de Linge: foi em maio de 1645, perdendo a cidade de Frederica a 2 de setembro, refugiando-se na
Fortaleza de Santa Catarina.
Os holandeses reconheceram a desvantagem de ver a terra desamparada então se prestaram a fazer com
os moradores uma espécie de pacto lavrado e concedido aos senhores de engenhos, lavradores e moradores da
Paraíba, pelos governadores gerais em nome de D’ Orange, servindo como norma para as capitulações que foram
emanadas para submeter outros moradores. Os artigos foram publicados nos principais portos da cidade fazendo
com que muitos moradores capitulassem.
Para garantir sua conquista no Brasil, a direção da Companhia das Índias Ocidentais enviou como
governador de seus novos domínios o Conde Maurício de Nassau, que chegou ao Brasil em 1637. Os seus
primeiros atos foram de um dirigente bem intencionado, praticou justiça, ajudou aos que tinham necessidade,
devolveu as autoridades e a nossa religião o devido respeito. Reorganizou os hospitais e pôs em leilão os
engenhos abandonados por seus senhores, restaurou os danificados embora com dupla vantagem; os engenhos
foram restaurados e coube ao fisco o valor das vendas. Medidas que ainda hoje, não se percebe o prejuízo (se
houve) que tivemos com a ocupação holandesa. Objetivando criar homogeneidade no estado ordenou que tudo
seria decidido de acordo com as leis holandesas. Os pesos e medidas eram os de Amsterdã, e não consentiu que o
clero prestasse obediência ao bispo da Bahia. Os moradores, para celebrarem os seus cultos, tinham que pagar
aos sacerdotes.
Governava a Paraíba o holandês Elias Herckman quando Maurício de Nassau aqui esteve, viajando até
Areia. De volta, mandou reparar o forte e ordenou que trocasse o nome de Santa Catarina para Margareth.
Segundo uns historiadores em homenagem a sua mãe, segundo outros a sua irmã. Na administração das
capitanias além dos ouvidores, haviam as câmaras em cada cidade ou vila, onde em média tinham 19
representantes de Portugal e Holanda chamados de escabinos (administradores da justiça) além dos almotacéis
(espécie de fiscal que regulamentava o comércio e as obras), mas como o escolteto (executor de sentenças e
ordens do governo) era presidido por um holandês, os dominadores sempre ficavam com a maioria.
O domínio holandês da Paraíba foi agitado, eles governavam durante 20 anos, de 1634 a 1654, mas não
dominaram, estavam sendo sempre atacados pelos moradores. O movimento de libertação se tornava cada dia
mais concreto em todas as capitanias dominadas. Os moradores há muito estavam descontentes porque viam os
seus templos dia a dia serem reduzidos a templos protestantes, religião dos invasores.
Aqui na Paraíba, o governador holandês, Ippo Eysens, foi assassinado por Francisco Rabello (Rabelinho).
Os holandeses culparam os frades do acontecimento. Antes já tinham tomado o Convento de São Francisco, pois
desconfiaram de correspondência entre o Superior dos franciscanos e Matias de Albuquerque (que continuava
sempre que podia, a atacar os inimigos na esperança de restaurar as capitanias invadidas). Haviam também
ocupado o Mosteiro de São Bento por ser um ponto estratégico. Com a morte do governador holandês os
missionários foram fortemente perseguidos, tiveram que deixar a Capitania por algum tempo. Só voltaram depois
da Restauração do governo português. Por causa da perseguição sofrida pelos holandeses, grande parte dos
documentos dos missionários foi queimada.
Em 1640, Portugal restaurou o seu trono, isto é, ficava separado da Espanha, acontecimento comemorado
com festas no Brasil. Os Holandeses também celebraram o acontecimento porque eram inimigos da Espanha e o
que fosse ruim para o reino espanhol estava bem para eles. Houve um armistício entre Portugal e Holanda por dez
anos. A notícia, porém ainda não tinha sido ratificada, e esta se demorando, Nassau aproveitou-se e mandou
invadir o Maranhão e Luanda, na África. Pensaram os holandeses que seu ato de invadir o domínio agora
Português, iria acelerar as negociações, uma vez que o pacto não tinha sido ainda ratificado.
Os paraibanos continuavam com a ideia de querer expulsar os holandeses, buscaram forças para isso,
arranjaram homens no Engenho São João e contaram com o apoio de André Vidal de Negreiros. Quando os
holandeses descobriram, também se prepararam para o combate. Os paraibanos reuniram-se em Timbiri, e depois
seguiram para o Engenho Santo André, onde foram atacados por Paulo Linge que dirigia a Paraíba, em 1641
quando Elias Herckman empreendeu uma expedição exploradora até a serra de Capaoba, a pedido de Maurício de
Nassau.
Vidal de Negreiros foi duramente perseguido por Nassau que chegou a por sua cabeça a preço, oferecendo
por ela mil florins, ao que respondeu Vidal com editais
em que prometia seis mil cruzados pela cabeça do
conde de Nassau.
A retomada do Maranhão foi o início de tudo.
Aconteceu quando Nassau ainda se encontrava no
Brasil, mas de malas prontas de regresso para a
Europa depois de uma série de contrariedades com a
Companhia das Índias Ocidentais que exigia de
Nassau atitudes mais enérgicas quanto ao pagamento
dos financiamentos, cogitando-se até o confisco das
terras dos inadimplentes. Diante disso ele renunciou e embarcou da Paraíba no dia 22 de maio de 1644, deixando
o governo em mãos de três conselheiros antes da chegada de seu sucessor.
A “Libertação” da Paraíba
Restaurado o Maranhão, haviam também de retomar as outras capitanias. O rei de Portugal nomeou André
Vidal de Negreiros governador do Maranhão, cumprindo a promessa que lhe fizera caso aquela capitania fosse
restaurada. André Vidal de Negreiros, paraibano, filho de proprietários portugueses, participou da resistência anti-
holandesa em 1624 na Bahia, em 1630 encontrava-se em Olinda quando foi invadida, de 1636 a 1644
permaneceu em Portugal onde tentou mobilizar forças, sem conseguir. Antes de ter conhecimento da sua
nomeação para governador do Maranhão, Vidal de Negreiros, obteve aprovação do Governador da Bahia, Antônio
Teles, para ir a Pernambuco e de lá, à Paraíba para por em prática o seu plano. Não foi ele o autor da ideia da
expulsão dos holandeses, mas foi o cérebro do movimento.
Para vir à Paraíba usou o pretexto de visitar o seu pai que aqui morava. Pediu salvo conduto, no que foi
atendido. Muito combatido e perseguido anteriormente pelos holandeses, depois do armistício, as perseguições
cessaram e assim o paraibano pode traçar seu plano de ação. Veio à Paraíba com o alferes Nicolau Aranha para
ajudá-lo no plano. O motivo de Aranha para o salvo conduto era que devia pegar duas irmãs suas que iriam para
um Convento em Portugal. Tudo aceito.
No entanto, Vidal precisava saber das condições do Forte de Cabedelo e, com o pretexto de visitar o
comandante do mesmo, sendo recebido com honrarias. Voltando para Recife com o Aranha conduzindo as
embarcações cheias de víveres não teve, porém licença para o desembarque dos gêneros foi necessário à
estratégia de escondê-los em qualquer canto do litoral pernambucano. Vivia André Vidal às correrias entre
Pernambuco e Bahia. Em Pernambuco hospedava-se na casa de João Fernandes Vieira, governador de
Pernambuco.
Os holandeses souberam das intenções de Vidal, entretanto sem provas concretas não tomaram nenhuma
decisão, ficaram, porém atentos. A notícia da sublevação já se espalhava. Os holandeses não acreditavam,
entretanto enviaram avisos para as capitanias por eles dominadas. Ao tomarem conhecimento de que o rei de
Portugal era cúmplice com os sublevados já era tarde demais. Os nossos estavam em pleno levante.
Paulo de Linge foi novamente nomeado governador “ou diretor, como chamavam os holandeses aos seus
prepostos”. Aqui chegando iniciou uma série de atitudes violentas para amedrontar os moradores. Reuniu índios
aliados sob a chefia de Pêro Poti. Essa gente tomou de surpresa as forças de resistência que estavam numa igreja
m Cunhaú à hora da missa e caíram sobre eles com grande ferocidade. Pêro Poti era aliado dos holandeses,
revoltado pelo massacre sofrido por sua gente no episódio de 1625 quando foram usados para lutar contra os
índios que resistiam à conquista do interior na Bahia e foram abandonados, jamais perdoou aos portugueses e
enquanto viveu os combateu. Na Holanda recebeu instruções e lutou ao lado dos Holandeses. Foi preso pelos
portugueses na 2° Batalha dos Guararapes, em 1649), nas quais contou com a participação de André Vidal.
Após a carnificina de Cunhaú, foi fácil convencer os moradores para aderirem à rebelião. As tropas de
Felipe Camarão e Henrique Dias foram reforçadas. Travaram lutas com Paulo de Linge. A guerra continuava árdua.
Vidal de Negreiros veio com suas tropas socorrer à Paraíba. Após vários combates Paulo de Linge retirou-se para o
Recife, deixando o coronel Hautin capitão do Forte, único reduto inimigo que restava na Paraíba. A cidade estava
livre dos holandeses desde 1645. A partir daí, houve a restauração das demais capitanias. Os holandeses
finalmente capitularam. O comandante holandês, no Forte de Cabedelo foi avisado da capitulação em Recife e
fugiu. Não chegou a receber a circular que lhe foi enviada pelos diretores holandeses:
“Nobre e honrado bravo! Pela convenção que assinamos e vai adjunta, podereis saber quanto, com o
maior sentimento, nos cumpre informa-vos. Com ela vos conformais entregando a ordem do Senhor Mestre de
Campo general, todas as fortalezas aí existentes. Para esse fim vão a essa os Srs. Van de Wall e Brest, que vos
darão todas as explicações, na conformidade das quais vos conduzireis. Terminando rogo a Deus que vos proteja.”
O senhor Mestre de Campo general, que se referia a circular, era o Mestre de Campo Francisco de
Figueirôa, que foi nomeado para tomar posse da capitania da Paraíba. O comandante Hautjin escapara, mas antes
soltara os prisioneiros e a eles entregara a Fortaleza. No Rio Grande havia acontecido o mesmo. André Vidal de
Negreiros foi o escolhido para dar a boa notícia ao rei de Portugal. Do lado dos insurretos, a resistência se fez com
a participação de índios e negros, porém se tratavam de nativos aculturados e de escravos, alguns alforriados, que
viam neste movimento uma oportunidade de conquistarem alguns direitos com a retomada dos domínios
portugueses.
Para a elite colonial se torna o meio de manter a propriedade e os lucros, no qual após os conflitos assim
se fez ao retomar a antiga “ordem natural das coisas”, ou seja, monocultura, agro-exportação e escravidão. Por
tanto a chamada Insurreição Pernambucana se fez muito mais por interesses do que propriamente um sentimento
nativista, ou pior ainda nacionalista, já que o Brasil só será uma nação em 1822.
Ao escrever em 1627, a
primeira História do Brasil, o Frei
Vicente do Salvador comentou
que os portugueses ficavam
“arranhando as costas litorâneas
como caranguejos”, isso se deve
pela insistente ocupação
litorânea, onde a maior
preocupação era explorar e
exportar. Essas eram as
características da colonização
portuguesa, onde as atividades
que gerassem maior lucro e
tivessem maior mercado, seriam
adotadas em suas posses. Nesse
período as maiores fontes de
riqueza na colônia ainda eram a
extração de pau-brasil e a
produção de açúcar nos
engenhos.
Disse um desses produtores “não deixo de plantar um só pé de cana, no perigo de renegar a melhor fonte
de lucros da colônia,” depoimento esse que reflete a ação típica de uma colônia de exploração. Porém a ocupação
do interior e dos sertões se deu pela necessidade de buscar outras fontes de riqueza e pela efetiva ocupação do
território, constantemente ameaçada por estrangeiros e pelos indígenas que resistiam à ocupação de suas terras.
Além disso, o incentivo do governo português concedendo sesmarias (lotes de terras) a quem desbravasse o
interior, atraia um grande número de aventureiros. Com esse propósito, frentes de ocupação foram criadas, entre
elas distinguem-se as entradas, bandeiras, missões e criação de gado.
De uma maneira geral as causas das investidas sobre o interior do Brasil foram:
A penetração na Paraíba deu-se na metade do século XVII, por três vias distantes e opostas:
O rio Piancó tem suas cabeceiras no divisor de águas com o Pageú, afluente do médio São Francisco,
também chamado de Rio dos Currais, pela sua grande quantidade de criações em suas margens. O Pageú foi o
caminho para o povoamento da parte ocidental da capitania, comunicando a região do São Francisco com a parte
do Piranhas. Transpondo os colonizadores, rumo ao norte as nascentes do Pageú, caiam no vale do Piancó e
estavam na região do Piranhas.
Marchando pela Borborema, partindo do Moxotó, alcançavam as cabeceiras do Paraíba, entravam nos
Cariris Velhos. Seguindo de leste a oeste pelo curso do Paraíba, em sentido inverso, entravam na mesma zona dos
Cariris Velhos. Portanto, vindo do interior baiano e pernambucano subiram para a Paraíba.
Primeiros “Desbravadores”
- Os Oliveira Ledo;
- Os Garcia d’Avila (Casa da Torre);
- Manoel de Araújo Carvalho.
Os Oliveira Ledo: Antônio De Oliveira Ledo – penetrando no território pelo rio Paraíba, Antônio de Oliveira Ledo
fundou o primeiro núcleo de colonização do nosso Estado, numa fenda da Serra de Carnoió, hoje a cidade de
Boqueirão. Seguindo Antônio de Oliveira o curso do rio Paraíba, deste passou para o Taperoá e descendo a
Borborema, seguindo o rio da Farinha, entrou nas Espinharas. Estacionou “no lugar onde hoje se encontra a
cidade de Patos e aí fundou “as sesmarias”“. Seguindo o rio Espinharas, Antônio de Oliveira Ledo foi até o Rio
Grande (do Norte). Daí regressou para Boqueirão. Quando o capitão-mor da Paraíba soube do grande feito de
Antônio, convidou-o a fazer uma entrada Leste-Oeste. E ao chegar ao oeste paraibano, Oliveira Ledo encontrou
entradistas da Casa da Torre, sem que a capital tivesse conhecimento do fato. Pelo grande feito Antônio de
Oliveira Ledo recebeu, em 1682, a Patente de Capitão, de Infantaria da Ordenança do Sertão da Capitania da
Paraíba. Constantino De Oliveira Ledo – continuou o trabalho do seu tio Antônio. Já o tinha acompanhado desde
sua primeira entrada, como também na viagem empreendida de leste para o oeste. Recebeu a alta patente de
Capitão-Mor das Fronteiras das Piranhas, Cariris e Piancós. Quando Constantino recebeu essa alta patente, os
tapuias estavam sublevados. Enfrentou os índios em guerra e arriscou várias vezes sua própria vida. Faleceu em
1694. O posto foi ocupado pelo seu irmão Teodósio.
Teodósio De Oliveira Ledo: É considerado o mais cruel dos desbravadores. Foi incansável na sua luta para a
dominação dos Tapuias. Em 1697, aldeiou os ariús numa grande campina, local onde hoje é Campina Grande. Em
1698, percorreu pleno território selvagem. Penetrou nos sertões de Piancó e em Pau Ferrado, acampou. Daí
marchou na direção Oeste e chegou até o Rio Grande do Norte (Apodi). Voltou para as Piranhas, fundou um
Arraial para segurança dos seus moradores, que criavam gado na região. A linha de Penetração de Teodósio teve
seu ponto terminal, no lugar onde hoje se ergue a cidade de Pombal, cujo local chamava-se antigamente de
Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Piancó. A povoação de Bom Sucesso de Piancó compreendia a
região. Piancó, não se refere ao rio, mas a toda região. Cem torno dessa figura se criou o mito do grande herói
desbravador, civilizador e cristianizador do que teria fundado Campina Grande, esse mito está presente na
narrativa de alguns escritores que acabam perpetuando essa ideia, exemplo disso é o trecho de um trabalho dos
alunos de uma escola de Campina Grande que diz:
“Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão. Pagou um
preço muito alto porque para muitos ele foi cruel no extermínio dos tapuias. Na época, porém, havia outra
solução? Os índios amavam demais à sua terra e por ela matavam ou morriam e é muito fácil fazermos uma ideia
do que seja mil ou milhares de tapuias sublevados.”
Os Garcia D’avila (Casa da Torre): Francisco Dias d’Avila – era sucessor de Pe. Antônio Pereira e Senhor da
Torre, protegido de Tomé de Sousa, estabeleceu, de início, os seus currais na Bahia. Depois suas fazendas de
gado se espalharam pelo rio São Francisco e chegaram até o Piauí. Talvez o maior dos latifundiário do Brasil. Os
senhores da Torre, foram os pioneiros na parte ocidental da nossa capitania, mas não se fixaram nessa região,
arrendaram ou doaram suas terras nas ribeiras dos Rios Piancó, Peixe e Piranhas de Cima.
Manoel De Araújo Carvalho - veio pelo Pageú e após um ano de combate aos índios, passou para o Rio das
Piranhas, encontrando aí Teodósio de Oliveira Ledo, que estava em guerra com os índios panatís. Vencidos esses
indígenas, Manoel de Araújo encaminhou-se para os sertões do Rio do Peixe e Piancó. Essa empresa custou três
anos. Depois de várias lutas e com grande diplomacia o coronel Araújo vence os índios, tornando-se assim o
grande responsável pela Conquista do Piancó. Foi nomeado Juiz para essa região e exerceu o cargo durante nove
anos.
Os índios sempre travaram lutas com os portugueses e por diferentes causas no período colonial. A guerra
dos Cariri foi a mais longa. A guerra começou declaradamente em 1687, porém de longa data. Desde que João
Fernandes Vieira em 1657, governava a Paraíba, para se vingar dos tapuias que, aliados aos holandeses, lutaram
contra portugueses que puseram a ferro dois filhos do principal dos Tapuias. E os índios jamais iriam esquecer
tamanha afronta. Começou a guerra no Rio Grande do Norte, contra os fazendeiros criadores que tinham as suas
propriedades assaltadas e devastadas pelos tapuias, que assassinavam os seus moradores e incendiavam as
fazendas.
Em 1687, o Governador Geral, Matias da Cunha, enviou recursos para debelar a luta: vieram os
bandeirantes paulistas, já afeitos às lutas contra índios. Foram eles: Matias Cardoso e Domingos Jorge Velho.
Conflito que foi amenizado em 1692. Aliás, caso inesperado, a mais imprevista das reconciliações: Um português,
João Pais Florião, apaixonou-se por uma índia, filha do maioral Nhongue, cunhado do “rei Canindé” e, com
palavras amigas, conseguiu que os índios pedissem a paz. Enviaram embaixadas à Bahia dirigida pelo dito Florião.
O governador recebeu com festas, em abril de 1692, e como entre potências, pactuaram a paz perpétua.
Enquanto o rei Canindé viveu, honrou a sua palavra, mas após a sua morte a luta se reascenderia.
No Ceará a conflito teve continuidade a partir de 1694 após a morte do rei Canindé, onde os nativos
juntaram-se às outras tribos e recomeçaram a luta que se estendeu por todas as capitanias, isto é, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba. Em 1704, o Rio Grande do Norte foi pacificado. No Ceará ainda houve lutas, mas após
1713 considerou-se encerrada a Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Cariri, ou ainda, a Guerra do Açu.
POVOAMENTO DO SERTÃO
Através de entradas, Missões de Catequese e bandeiras, o interior da Paraíba foi conquistado. E foram as
Missões de Catequese as primeiras formas de conquista do interior da Paraíba. Após elas foram executadas
bandeiras com a finalidade de capturar índios, onde depois eram formadas pequenas vilas. A seguir temos
algumas informações sobre as primeiras vilas da Paraíba:
Pilar: O início de seu povoamento aconteceu no final do século XVI, hoje uma cidade sem muito destaque na
Paraíba, foi elevada à vila em 5 de janeiro de 1765. Pilar originou-se a partir da Missão do Padre Martim Nantes
naquela região. Pilar foi elevada à município em 1985, quando o cultivo da cana-de-açúcar se tornou na principal
atividade da região.
Sousa: Hoje a sexta cidade mais populosa do Estado e dona de um dos mais importantes sítios arqueológicos do
país (Vale dos Dinossauros), Sousa era um povoado conhecido por "Jardim do Rio do Peixe". A terra da região era
bastante fértil, o que acelerou rapidamente o processo de povoamento e progresso do local. Em 1730, já viviam
aproximadamente no vale 1468 pessoas. Sousa foi elevada à vila com o nome atual em homenagem ao seu
benfeitor, Bento Freire de Sousa, em 22 de julho de 1766. Sua emancipação política se deu em 10 de julho de
1854.
São João do Cariri: Tendo sida povoada em meados do século XVII pela enorme família Cariri que povoava o
sítio São João, entre outros, esta cidade que atualmente não se destaca muito à nível estadual, mas em tempos
de outrora Campina Grande Já foi seu distrito. Sendo elevada à vila em 22 de março de 1800, sua emancipação
política é datada de 15 de novembro de 1831.
Pombal: No final do século XVII, Teodósio de Oliveira Ledo realizou uma entrada através do rio Piranhas. Nesta
venceu o confronto com os índios Pegas e fundou ali uma aldeia que inicialmente recebeu o nome do rio
(Piranhas). Devido ao seu sucesso da entrada não demorou muito até que passaram a chamar o local de Nossa
Senhora do Bom Sucesso, em homenagem a uma santa. Em 1721 foi construída no local a Igreja do Rosário, em
homenagem à padroeira da cidade considerada uma relíquia história nos dias atuais. Sob força de uma Carta
Régia datada de 22 de junho de 1766, o município passou a se chamar Pombal, em homenagem ao famoso
Marquês de Pombal. Foi elevada à vila em 4 de maio de 1772, data hoje considerada como sendo também a da
criação do município.
Areia: Conhecida antigamente pelo nome de Bruxaxá, Areia foi elevada à freguesia com o nome de Nossa
Senhora da Conceição pelo Alvará Régio de 18 de maio de 1815. Esta data é considerada também como a de sua
elevação à vila. Sua emancipação política se deu em 18 de maio de 1846, pela lei de criação número 2. Hoje,
Areia se destaca como uma das principais cidades do interior da Paraíba, principalmente por possuir um dos mais
importantes centro arquitetônicos do período colonial, e de ter sido nessa cidade fundado o primeiro teatro da
Paraíba, o Teatro Minerva, além de um passado histórico muito atraente.
Campina Grande: O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo depois de aprisionar vários índios da tribo Ariús
(originários do leito do Piranhas), trouxe-os para um planalto com uma campina verde e um clima agradável. Logo
após convocou missionários para o trabalho de catequização e construção de um aldeamento, deram-lhe o nome
de Campina Grande. O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo instalou na região um povoado, e iniciou sua
colonização no início em 1697. Os indígenas formaram uma aldeia. Em volta dessa aldeia surgiu uma feira nas
ruas por onde passavam camponeses. Percebe-se então que as características comerciais de Campina Grande
nasceram desde sua origem. Campina foi elevada à freguesia em 1769, sob a invocação de Nossa Senhora da
Conceição (hoje São João do Cariri). Sua elevação à vila com o nome de Vila Nova da Rainha se deu em 20 de
abril de 1790. Foi municipalizada em 11/11/1864, e hoje, Campina Grande é a maior cidade do interior do
Nordeste. Percebe-se então que as sucessivas frentes de ocupação territorial ocuparam e colonizaram o estado,
formando importantes centros urbanos e comercias no decorrer de sua história. O destaque no início de nossa
história esta nas bandeiras em caráter prisional, onde a brava resistência indígena causou o massacre de todo um
povo e sua cultura, somando a isso o papel dos aldeamentos missionários e a ambição dos homens.
A Capitania Real da Paraíba após a guerra holandesa encontrou dificuldades, não apenas internas, em
função da decadência em que estava, mas também externas relacionadas com a depressão da economia europeia
do século XVII. Assim, o declínio econômico da capitania ultrapassou esse período, prolongando se de tal forma
até meados do século XVIII.
Para remediar os males, concorda o rei com o parecer do Conselho Ultramarino de anexar a Paraíba a
Pernambuco, para que os produtos desta capitania fossem remetidos ao Recife. Ficando essa anexação consumada
pela Ordem Real de 1º de janeiro de 1756. A metrópole, ao se omitir transferiu o problema para outra capitania, e
essa medida não surtiu o resultado esperado, já que Pernambuco também estava em crise e esta não recuperaria
a situação econômica da Paraíba.
O Marquês de Pombal para restabelecer as finanças portuguesas teve a ideia de monopolizar ainda mais o
comércio colonial e decide criar as companhias de comércio em 1759, a Companhia Geral de Comercio de
Pernambuco e Paraíba e a Companhia Geral de Comércio do Maranhão e Pará, que tinham como metas vender os
produtos europeus e comprar os coloniais nestas regiões. Entre outros inconvenientes, a falta de comércio direto
com a metrópole, aumentava ainda mais a crise econômica, visto que mesmo estando o porto de Cabedelo com
condições de fazer o escoamento da produção, quase toda ela era levada para Recife. Alguns dos principais
produtores da província sentiam-se prejudicados pelo fato de que raramente navios metropolitanos ancoravam em
Cabedelo, preferindo assim que sua produção seguisse para Pernambuco, que mantinha regularmente o
escoamento da produção.
Dessa maneira ficava inviável o desenvolvimento da Paraíba, que via seus lucros serem arrecadados na
província vizinha que inclusive, não tinha nenhum interesse em desenvolver sua subordinada. Era necessário,
então, não só precatórias, mas, ordens régias para o repasse do dinheiro que, por direito era arrecadação
paraibana. A jurisdição que Pernambuco tivera sobre a Paraíba, exercera-se não somente no plano econômico,
mas também militar e político, como fica bem claro numa declaração de José César de Menezes, que “o título de
governador da Paraíba era apenas honorário e concedido para condecorar a pessoa do seu Capitão-mor”. Os
governadores e os Capitães-mores da época, não cansavam de alertar ao rei sobre as desvantagens da anexação.
Com a morte do rei D. José I, sua esposa D. Maria I assume o trono, e Portugal entra num caos. A corte
nomeou em 1798 Fernando Delgado de Castilho de S. Bento de Aviz como governador da Paraíba. Suas primeiras
atividades foram para atender as ordens recebidas pela rainha e começou a redigir os relatórios dentro dos itens
exigidos. Logo em seguida envia um importante documento que relatava a situação da capitania.
Com tais documentos a rainha D. Maria I, e o Conselho Ultramarino são convencidos que a anexação a
Pernambuco não rendeu os resultados esperados, com isso foi assinada pela rainha a Carta Régia de 17 de janeiro
de 1799, restaurando a autonomia da capitania paraibana. A Autonomia não se concretizou imediatamente em
função da citada Carta Régia. A restauração foi lenta. Os longos anos da dependência exigiam naturalmente
cautelas que atendessem aos interesses e ao processo colonial português.
ANÁLISE POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL DA CAPITÂNIA NOS SÉCULOS XVII E XVIII
Análise Política
Na administração colonial do Brasil, foram configurados três modalidades de estatutos políticos: o das
capitanias hereditárias, o do governo geral e o do Vice-reino. Na Paraíba, tivemos a criação da Capitania Real em
1574. Em 1694, depois de mais de noventa anos de fundação, esta capitania se tornou independente. Entretanto,
passados mais de sessenta anos, a capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco em 1º de janeiro de 1756.
Houve prejuízo nesta fusão para a capitania paraibana, além de prejudicar o Real Serviço, em virtude das
complicações de ordem General de Pernambuco, do governador da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Por isto, em
1797, o governador da capitania, Fernando Castilho dá um depoimento, descrevendo a situação da Capitania Real
da Paraíba à Rainha de Portugal. Em 11 de janeiro de 1799, pela Carta Régia, a Capitania da Paraíba separou-se
da de Pernambuco.
O interior da capitania foi devastado por bandeirantes, que penetravam até o Piauí. Entretanto a conquista
do Sertão foi realizada pela família Oliveira Ledo. Outro fato político foram as constantes invasões de franceses a
mando da própria coroa francesa. A invasão holandesa e a Guerra dos Mascates, em que a Paraíba esteve sempre
presente com heroísmo de seus filhos, tiveram a sua consequência política, uma vez que estimulou o sentimento
nacionalista dos paraibanos.
Análise Econômica
Na época colonial, a Paraíba ofereceu no aspecto econômico um traço digno de registro. Entre os principais
produtos e fontes de riqueza, destacavam-se o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o algodão e o comércio de negros. O
pau-brasil, proveniente da Ásia, era conhecido como ibira-pitanga pelos índios. O seu valor como matéria prima de
tinturaria foi atestado na Europa e na Ásia. Daí a sua importância econômica. Pernambuco e Paraíba figuravam
entre os pontos do Brasil onde a ibira-pitanga era mais encontrada.
A cana-de-açúcar, que foi a principal riqueza da Paraíba com os seus engenhos, veio do Cabo Verde. Foi
plantada inicialmente na Capitania de Ilhéus. A cana não se aclimatou na Europa. Na idade média o açúcar era um
produto raro de preço exorbitante. Figurava em testamento no meio das joias. Isto provou bem a importância do
açúcar, de que resultou o desenvolvimento e progresso das colônias brasileiras. Na primeira década da fundação
da Paraíba, já se encontravam dez engenhos montados.
Desde 1532 que entrava na capitania este produto armazenado nos celeiros, na feitorias de Iguarassú. Os
franceses já traficavam com o algodão. Entretanto a economia do "ouro branco" só se desenvolveu no século
XVIII. Aqui na capitania o algodão teve uma suma importância na balança da economia.
Na Paraíba o rebanho de gado vacum também teve importância econômica. Não foi ele somente utilizado
como fonte de subsistência entre nós. Entrou nos engenhos como impulsionador das moendas. Teve o gado a sua
fase áurea durante a "idade do couro", quando tudo se fazia com o couro com fins comerciais; móveis, portas,
baús, etc.
O TRÁFICO DE ESCRAVOS
Na Paraíba, o empreendimento do comércio negreiro iniciou-se logo após o Decreto Real de 1559, da
Regente Catarina de Áustria, permitindo aos engenhos comprar cada um doze escravos. O escravo era mercadoria
cara, seu valor médio oscilava entre 20 e 30 libras esterlinas. Portanto, em virtude do pequeno desenvolvimento
da cultura canavieira no estado e dos altos preços destes, a presença negra foi mais tímida que em muitos
estados nordestinos, mas não menos importante.
Hoje em dia, há diversas comunidades quilombolas oficialmente reconhecidas pela Fundação Cultural
Palmares. Caiana dos Crioulos foi reconhecida em 1997, Talhado em 2004 e Engenho Bonfim, Pedra d’água, Matão
e Pitombeira obtiveram a certidão de reconhecimento em 2005. Ao todo, foram identificadas 16 comunidades
remanescentes de quilombos.
A presença negra trouxe como herança manifestações culturais, religiosas e influência na culinária, no
vocábulo e na maneira de falar.
Caiana dos Crioulos, Engenho Bonfim, Grilo, Guruji, Jatobá, Lagoa Rasa, Maria da Penha, Matão, Mituassu,
Olaria, Paratibe, Pedra d’Água, Pitombeira, São Pedro, Seixos, Talhado e Vertente.
Igrejas
Duarte Coelho Pereira fundou uma nova Lusitânia, composta apenas por nobres. Alguns nobres de
Pernambuco se refugiaram para a Paraíba, antes que ocorresse alguma invasão holandesa. Ao chegarem, fizeram
seus engenhos, onde viviam com muito luxo, desfrutando de tudo.
Ocorre que nem toda a população vivia tão bem como a nobreza, uma vez que haviam mulheres e moças
analfabetas, que só faziam os afazeres domésticos. Havia também outras classes sociais, compostas por
comerciantes e aventureiros, que enriqueciam rapidamente, faziam parte da burguesia, querendo chegar a fazer
parte da nobreza. Os integrantes da máquina administrativa constituíam outra classe. Eles eram considerados os
homens bons, viviam uniformizados.
O fator mais importante para a sociedade foi a Igreja, devido à sua maneira de catequizar o povo. As
principais igrejas que acompanharam a Paraíba no tempo colonial foram:
A cidade de João Pessoa possui um bairro suburbano que, apesar de haver completado 414 anos de
existência, no dia 8 de janeiro deste ano, sua história ainda desperta polêmicas entre os maiores estudiosos do
Brasil. É Engenho Velho, a seis quilômetros de distância do centro da Capital, onde a natureza ainda é exuberante
e a vida transcorre tão calma, que parece ter esbarrado no século XVI, quando chegaram ali os primeiros colonos.
Aqui, segundo alguns autores, teria morado Branca Dias, uma moça de singular beleza, que ao rejeitar as
propostas amorosas de um padre, acabou entregue aos juízes da Inquisição, que a mandaram queimar na
fogueira.
Seria verdade esta afirmação? Horácio de Almeida, em História da Paraíba, apresenta diversas versões de
historiadores sobre Branca Dias. Atualmente seja sua existência verdadeira ou fantasiosa, uma loja maçônica da
Capital e uma avenida levam o nome da suposta mártir. Em Engenho Velho, cuja população atual orça em torno
de 1.500 pessoas, todos acreditam na existência desta mulher, cujo fantasma foi retratado por um artista local,
para lembrar que Branca Dias realmente viveu nesta região. Ademar Vidal, historiador paraibano, registra a lenda
"de que lá, o espectro de uma mulher branca e loira aparece vez por outra nas estradas acenando para os
viajantes".
"A gente acredita na existência dela e existem aqui umas ruínas antigas, onde afirmam que ali era o
engenho de Branca Dias", reforça a agente de saúde Eliane Soares Marques, 34 anos, nascida e criada em
Engenho Velho. Segundo Eliane, nas brincadeiras folclóricas de Engenho Velho, sempre há uma recomendação
para quem gosta de andar à noite: "Cuidado com a mulher de branco" Eliane conta que nas redondezas muitos
sonham, também, em capturar o lendário caranguejo de ouro, que anda pelas noites enluaradas, nos mangues de
Gramame.
O industriário Hermes Gonçalves da Silva, 56, acredita em Branca Dias. E, para demonstrar que sua fé
histórica é inabalável, ele mostra, a qualquer interessado, os vestígios de uma ruína localizada dentro de uma
granja, que seriam a prova incontestável de que o engenho da suposta mártir da Inquisição existiu ali. Umas
pedras calcáreas trabalhadas e uma gruta levam Hermes à compreensão de que Branca Dias morou no local, até
ser presa e desterrada para Portugal, onde foi queimada na fogueira.
Coincidências à parte, o historiador José Joaquim de Abreu, no Livro de Branca, que lançou na Paraíba em
1905, diz que esta heroína nasceu na Capital da Paraíba, a 15 de julho de 1734, filha de Simão Dias e Maria Alves
Dias. E que foi presa pelos jesuítas e embarcada para o Reino, onde terminou queimada em Auto de Fé, celebrado
no Limoeiro (Lisboa), em 20 de março de 1761, às seis horas da tarde. Outros historiadores discordam de Abreu,
alegando que, em 1761, a data apontada para a execução de Branca Dias, os jesuítas já haviam sido expulsos do
Brasil, pelo braço forte do Marquês de Pombal.
Já Olavo Dantas, em O Céu dos Trópicos, dá uma nova versão para a lenda (?) de Branca Dias. Segundo
afirma, era uma judia muito rica que fugiu de Portugal para Pernambuco, para livrar-se de perseguições religiosas,
isto em 1593, quando chegou ali Heitor de Furtado Mendonça, visitador da Inquisição. Ela teria se sentido
ameaçada com a presença dos meirinhos do Tribunal do Santo Ofício e, deduzindo que sua fortuna poderia ser
confiscada, mandou jogar joias e baixelas de prata na Lagoa de Dois Irmãos, até hoje conhecida como Lagoa da
Prata.
Branca Dias reaparece anos depois na Paraíba
transfigurada numa jovem de muita beleza, filha de Simão
Dias e Maria Alves Dias, moradores no Engenho Velho, em
Gramame. A moça era noiva, mas despertou as paixões de
um padre ou frade, que se sente magoado por não ser
correspondido. Repelido, o sacerdote entrega a donzela à
Inquisição, pelo crime de ser judaizante. A época do
acontecido varia de autor para autor.
No primeiro número da Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Paraibano, Castro Pinto diz que Branca Dias era
filha ou descendente de Diogo Dias, o senhor de engenho que
provocou a chacina de Tracunhahém, em 1574, ao reter em
seu poder uma índia de 15 anos, filha de Iniguaçu, o famoso
cacique dos potiguaras. Pinto também reafirma que depois de
morrer na fogueira, Branca Dias perde a mãe, o pai e o noivo.
Carlos Dias Fernandes, ao lançar a novela O Algoz de
Branca Dias, em 1922, apresenta-a como uma paraibana de
peregrina beleza, filha de Simão Dias e Maria Alves Dias, os
opulentos judeus donos do Engenho Velho, em Gramame. Ele
reafirma a existência desta mulher e diz que Frei Agostinho,
um franciscano que andava por aquelas bandas, se apaixona por ela, mas é repelido. O frade entrega a moça à
Inquisição, que a manda para a fogueira. No mesmo ano de 1922 o padre Nicodemus Neves, ao apresentar uma
tese, no VI Congresso Geográfico reunido na Paraíba, intitulada O Suplício de Branca Dias, conclui que toda essa
história poderia ser arquivada no rol dos mitos.
Já Ademar Vidal faz dela um capítulo de sua obra Lendas e Superstições. Reafirma a filiação de Branca
Dias e sustenta que ela nasceu na Capital da Paraíba, a 15 de março de 1734 e morreu queimada em Lisboa, a 20
de março de 1761. Vidal aponta um certo Frei Bernardo, da Ordem dos Inacianos, como o religioso responsável
pela má sorte da donzela. Vidal afirma que o noivo de Branca Dias morreu sob tortura, no subterrâneo do
Convento São Francisco. É deste escritor que parte a lenda de que o fantasma da jovem costuma aparecer em
Gramame, nas noites enluaradas, com os cabelos soltos sobre os ombros, as mãos nitentes coladas ao peito,
levando nos pés um par de sandálias brancas.
Ao iniciar suas atividades na Paraíba, em 8 de janeiro de 1595, o Tribunal do Santo Ofício registra, pela
primeira vez, uma infração atribuída a Branca Dias. Quem a denunciou foi uma mulher chamada Isabel Fernandes.
Ela relatou que vinte anos atrás Branca Dias, uma cristã-nova, tinha o costume de adorar uma toura. Por
ignorância, a denunciante se referia ao Torá, o livro sagrado da doutrina judaica.
Na Mesa do Santo Ofício, que se instalou em Pernambuco no período 1593-1594, nenhum cristão-novo foi
mais acusado do que Branca Dias, seu marido Diogo Fernandes e os filhos do casal. Convém lembrar que um ano
depois a Inquisição se instalou na Paraíba, onde Branca Dias aparece como solteira e virgem. Horácio de Almeida
lembra que, quando a Inquisição visitou Pernambuco, Branca Dias e seu marido já haviam morrido. Diogo
Fernandes falecera por volta de 1584 e Branca Dias em 1591. Rodolfo Garcia procura demonstrar isso na sua
Introdução ao Livro Visitação do Santo Ofício – Denunciações de Pernambuco.
Outra versão mostrada no livro de Horácio de Almeida é a de que Branca Dias viera para o Brasil
degredada pela Inquisição. Diziam que seu marido viera depois e que, em 1556, o casal já estava radicado em
Pernambuco. Em carta a D. João III, Jerônimo de Albuquerque intercede em favor de Diogo, relatando que ele
perdera tudo que tinha, por causa da guerra com os índios de Iagaraçu. Diogo acabou como feitor do Engenho
Camaragibe, que pertencia a Bento Dias Gonçalves, contratador dos dízimos das Capitanias de Pernambuco, Bahia
e Itamaracá.
Do casamento com Diogo, Branca Dias teve dez filhos: Inez Fernandes, Violante, Guiomar, Isabel, Filipa da
Paz, Andreza Jorge, Ana e Beatriz Fernandes. Esta última permaneceu solteira. Foi discriminada por causa de uma
corcova que tinha nas costas. O casal ainda gerou dois filhos homens: Jorge Dias da Paz e outro que vivia em
Lisboa, sem braços e que escrevia com o pé. Beatriz, que era chamada de Brites, segundo Almeida foi presa por
ordem do Santo Ofício, tirou anos de cárcere em Lisboa e acabou queimada na fogueira. Mais à frente, para
demonstrar que alguns autores estão errados, Almeida diz que D. Brites, por ser alcorcovada, morreu solteira e
sem filhos.
REBELIÕES COM A PARTICIPAÇÃO DA PARAÍBA
A Transferência da Corte Portuguesa para a Brasil Colônia acarretou graves consequências para o
Nordeste, porque o regente D. João concebeu a ideia que a região era uma fonte inesgotável de recursos que
dariam para sustentar sua política dispendiosa nas construções suntuosas no Rio de Janeiro, nos faustos da corte
e em guerras inconsequente. Para cobrir tanta despesa, resolveu taxar pesadamente o comércio das províncias
que mais importavam produtos tropicais.
Em 1816-1817, o Nordeste estava sufocado pela seca devastadora, pelos impostos altos e pelo monopólio
imposto por Portugal. Para completar, o açúcar e o algodão, produtos tradicionais nordestinos, estavam passando
por momentos de baixa em suas cotações nos centros europeus. A situação era precária não só para grandes
proprietários e comerciantes ligados à exportação. Mas também para a massa da população que sentia o peso da
carestia sob produtos de subsistência, atingidos pela seca de 1816. Os adeptos do liberalismo político–
restauração, patriotismo – pregavam a “lusofobia” e a “descolonização”, fermentando ideias que se alastraram em
pontos estratégicos de Pernambuco. A crise, o descontentamento, e alguns ideais presentes no Nordeste,
formaram o cenário para a primeira Revolta emancipacionista que deu “certo” no Brasil, ou seja, que passou do
ato conspiratório e assumiu o poder por 75 dias. Outras províncias também aderiram ao movimento, como
Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte. Alguns historiadores taxam esse movimento de Revolução dos Padres,
devido ao grande número de religiosos que integraram.
Com a tomada das ruas do Recife pelos revoltosos, entre ele juízes, padres, militares, comerciantes,
proprietários, etc., o governador fugiu e foi organizado um governo provisório, “revolucionário de todas as classes”
nos moldes do Diretório francês de 1795. Muitos aceitaram o governo provisório, mas os revolucionários de “Todas
as Classes” não incluíram os escravos e seus propósitos, não planejaram a libertação dos mesmos. A constituição
revolucionária garantia o “direito de propriedade”, inclusive de escravos, importava-se com as ideias liberais, não
com os anseios populares, mas não se pode negar algumas características populares no movimento.
O entusiasmo logo se estendeu à Paraíba, através de Itabaiana, Pilar e Vila Nova da Rainha (hoje Campina
Grande). Os líderes paraibanos forneceram armas e munição ao povo que os seguia e marcham para a capital. No
percurso, encontraram proprietários e homens amados que os seguiam como voluntários. Os revolucionários
proclamaram a República na Paraíba em março e elegeram uma junta constituída de quatro de seus membros.
Medidas de caráter revolucionárias foram logo adotadas: aboliram-se as Ouvidorias e Câmaras portuguesas; os
tributos sobre a carne verde; suprimiram-se as insígnias reais; proibiu-se a remoção do gado para o interior,
determinou-se a criação de novas sesmarias, regulou-se a administração dos índios e adotou-se a bandeira da
República na Paraíba. (hoje a bandeira Pernambucana) A revolta se alastrou com focos espalhados no interior e no
litoral da Paraíba e das províncias que aderiram.
O governo provisório “republicano” criou uma “lei orgânica” para vigorar até que se fizesse e implantasse a
nova constituição. O texto da lei se norteou em princípios básicos como: liberdade de imprensa e consciência;
tolerância religiosa; abolição de impostos; direito de propriedade; uma nova bandeira; preferir mandioca a pão, e
beber cachaça em vez de vinho.
A reação joanina não foi diferente de outros movimentos acontecidos no Brasil. Perseguições foram
organizadas por terra e opor mar, chegando a Recife a carnificina foi geral. O saldo da revolta foi mais de 100
mortes, 150 feridos, 400 degradados, 26 mortes e 2 suicidas. A república foi então sufocada, Depois da repressão,
lojas maçônicas foram fechadas, os seminários ameaçados. O governo republicano na Paraíba implantado em 15
de março foi deposto em 05 de maio, face capitulações dos revolucionários sob promessas de não retaliações.
Todavia logo líderes paraibanos como Amaro Gomes Coutinho, Peregrino de Carvalho, Padre Antônio Pereira,
Francisco José da Silva e Inácio Maranhão tornaram-se mártires, quando foram sumariamente e “exemplarmente”
executados, tendo seus cadáveres retalhados e expostos em lugares públicos.
A REVOLUÇÃO DE 1824
Adaptado de: Horácio de Almeida
A historiografia tradicional ao descrever o século XIX enfatiza a região Sudeste esquece, quase que
completamente, a região Nordeste. É como se esta região ao perder a supremacia econômica com a crise do
açúcar, tivesse deixado de existir. No entanto, sua história continua se desenvolvendo em todos os seus aspectos
e os movimentos sociais até se intensificam na medida em que a crise econômica aumenta os conflitos.
Ao tratar dos movimentos sociais do século XIX no Nordeste, a historiografia enfoca apenas dois
movimentos; a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador em 1824, isto no início do século,
depois passa apresentar os movimentos do período regencial com a Sabinada, Balaiada e Cabanagem e a
Farroupilha ocorrida no Sul. Ao abordar a segunda metade do século, a historiografia não trata de nenhum
movimento social. É como se o crescimento da economia nacional, com o fortalecimento dos cafeicultores, tivesse
resolvido todos os problemas nacionais e reinasse a paz nas demais regiões do país. No entanto está analise é
equivocada. Diversos movimentos eclodiram em todo o país. Só para relacionar a região Nordeste, ocorreram
insurreições importantes como a revolta de 1878 e o movimento conhecido como “Carne sem osso farinha sem
caroço” ocorridos em Salvador, sem falar no grande massacre de CANUDOS.
Na segunda metade do século XIX ocorreram alguns levantes importantes na Paraíba. O Ronco da Abelha
apesar de ter sido iniciado nos Estados vizinhos acabou se difundindo na Paraíba e o movimento de Quebra-Quilos
que se iniciou na Paraíba e espalhou-se para os estados vizinhos. É preciso ficar claro que estes movimentos têm
suas especificidades, mas também têm dois fatores em comum: serem movimentos que envolveram,
principalmente, homens e mulheres pobres e livres, de área em que a concentração de escravos era pequena
tendendo a diminuir e, estes movimentos terem ocorrido em um período de profunda crise econômica e de
descaso por parte da monarquia e seus representantes, que nada faziam para responder aos problemas gerados
pela crise na região.
O movimento conhecido como Ronco da Abelha, ocorrido entre dezembro de 1851 e fevereiro de 1852,
envolveu vilas e cidades de cinco províncias do Nordeste: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe, sendo
mais forte nas duas primeiras províncias. Na Paraíba levantaram-se as vilas de Ingá, Campina Grande, Fagundes,
Areia, Alagoa Nova, Alagoa Grande e Guarabira. Durante os levantes, os engenhos e vilas foram saqueados e os
grandes proprietários, bem como as autoridades locais, tiveram que se refugiar para não serem linchados pela
multidão. Mas o que significava essa revolta? Por que começou?
O estopim da revolta foi o lançamento de dois decretos em junho de 1851, o primeiro decreto, 0 797,
tratava do recenseamento da população, e o segundo, o decreto 789, tratava do Registro Civil no caso de
nascimento e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora, passaria à responsabilidade de funcionários do
estado. O primeiro decreto relacionado ao censo deveria entrar em vigor no dia 15 de julho de 1852 e o decreto
que versava sobre o registro civil de nascimento e óbitos no dia 1º de janeiro de 1852. Declarando-se contrárias
ao que chamavam de “Lei do Cativeiro”, as populações dos citados municípios, armados de cacetes, pedras,
espingardas e mais o que estivesse ao alcance das mãos e pudesse ser utilizado como arma, partiram para
arrebatar das autoridades, os livros de registros, para que os mesmos fossem examinados pelos padres. Tal
procedimento leva alguns historiadores a verem neste movimento, bem como no movimento Quebra-Quilos
apenas o aspecto religioso.
Aparentemente, esses decretos nada teriam a acrescentar que pudessem ser considerados como motivo
para tamanha revolta da população. Para entender o que aconteceu ou porque aconteceu, vamos ter que analisar
o quadro mais geral da região. Como já foi colocado desde o século anterior, a economia nordestina não estava
bem, com muitas oscilações no seu principal produto de exportação, ou seja, o açúcar. Na verdade em meados do
século XIX esta situação agrava-se, principalmente com o aumento das dívidas dos grandes proprietários de terra
que, perdendo seu poderio econômico, perdiam também poder político junto ao poder central. Com o
endividamento, os grandes proprietários se viram obrigados a desfazerem-se de parte do seu capital “móvel”, no
caso os escravos, que foram vendidos para a região Sudeste; gerando aqui, outro problema, a falta de mão de
obra para a manutenção da grande lavoura de exportação, principalmente o algodão, que neste período, estava
com preços em ascensão. Se fazia necessário retirar mão de obra da agricultura de subsistência e desvia-la para
as plantações de algodão. Era comum a reclamação dos grandes proprietários contra o que os mesmos
consideravam como preguiça, “era preciso obrigar estes vadios a trabalhar”.
Justamente um ano antes dos decretos é assinada a Lei que proíbe o tráfico externo de escravos,
aumentando o tráfico interno de escravos, e deixando ainda eram livres e queriam assim permanecer. As
dimensões em torno dos motivos que contribuíram para este movimento são inúmeras. O historiador Marc
Hoffnagel, por exemplo, destaca como motivo para o movimento, principalmente, a questão econômica com a
ascensão do preço do algodão. Hamilton Monteiro, contrariando Geraldo Joffily, aborda o movimento a partir de
fatores externos, como a participação de elementos do partido de oposição, enquanto Geraldo Joffly aborda os
aspectos internos dando relevância a organização interna e a visão dos pequenos proprietários que, segundo o
mesmo, percebiam claramente as mudanças ocorridas no período e as perdas que estas mudanças estavam
acarretando para eles. Na verdade houve influência do partido de oposição ao governo no movimento, bem como
de diversos outros fatores, porém o encadeamento das ideias torna-se lógico para o trabalhador livre da época.
Basta fazer a ligação entre a escassez de escravos
e o discurso dos grandes proprietários exigindo leis que
pusesse fim a resistência ao trabalho e acabasse com a
vadiagem além do aparecimento dos “famosos” decretos.
Estava armado o palco para a transformação dos
trabalhadores e dos seus filhos em escravos. Foi com este
pensamento que o povo se levantou contra os seus
inimigos imediatos, os grandes proprietários e as
autoridades locais, representantes diretos do estado que,
segundo o pensamento reinante no movimento,
tencionavam transforma-los em escravos. Embora esse
não fosse o objetivo do Império, ficava difícil convencer o
trabalhador do contrário devido às experiências
anteriores. Principalmente após a Guerra do Paraguai,
onde a população pobre foi extremamente sacrificada.
Com isto, o movimento foi se espalhando, “obrigando” o
governo a utilizar um de seus principais mecanismos de
“convencimento” “a população pobre: a Repressão”.
Para reprimir o movimento, o governo mobilizou
mais de mil soldados da polícia, alem da convocação da
Guarda Nacional e da utilização de padres Capuchinhos
para prometerem a salvação a quem desistisse do
movimento e o fogo do inferno a quem não se
submetesse. Apesar da ação enérgica do governo, ficava
difícil a repressão porque não se identificavam os líderes, com isso o governo resolve “criar” os líderes. Muitas
pessoas são acusadas, porém não se conseguem provar. Por fim, em 29 de janeiro de 1852, o governo imperial
edita o decreto 907 que suspende o decreto 797. a realização do censo só irá ocorrer vinte anos depois e o
registro civil só é implantado com o advento da república, quando ocorre a separação oficial entre Esta e Igreja.
Quebra-Quilos (1874-1875)
No dia 31 de outubro de 1874, tem início na Vila de Fagundes, comarca de Ingá, na Paraíba, durante a
feira, uma discussão entre o arrematante de impostos que cobrava o chamado imposto de chão (que consistia em
uma taxa de 100 mil réis, cobrada aos comerciantes, sobre qualquer mercadoria exposta no pátio das feiras), e os
feirantes. Desta discussão partiu-se para a violência e estava iniciado o movimento que ficou conhecido como
Quebra-Quilos. Devido às instalações de quase todos os setores sociais da região Nordeste, o movimento cresce e
espalha-se pela Paraíba, sendo muito forte nas cidades de Campina Grande e areia e ramifica-se para os Estados
vizinhos, ou seja, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.
Em Campina Grande, o movimento tem início na feira do sábado 21 de setembro de 1874, onde os
revoltosos receberam as autoridades policiais a pedradas. Neste cenário, “Tomam os sediciosos conta da feira,
passam livremente a quebrar as medidas arrebatadas aos comerciantes, a despedaçar as cuias encontradas em
mão dos vendedores retalhistas, a recolher os pesos de todos os tamanhos, atirados em seguida no Açude Velho”.
(ALMEIDA, 1962, p.147-148).
Isto não significa dizer que foi um movimento único e coeso. Ao contrário, poderia se dizer que o mesmo
se espalhou dentro da lógica do chamado efeito dominó, pois em cada semana o movimento se dava em um
determinado local e a participação da população no mesmo também foi bastante diversificada. Para alguns
historiadores, este movimento teve como principal motivo, a ignorância e o fanatismo religioso. Embora não haja
um consenso sobre o motivo que propiciou o surgimento deste movimento, podemos afirmar que não houve um
motivo específico e sem uma conjugação de fatores que acabaram por desencadear o mesmo. Entre estes fatores
podemos citar:
a) A centralização administrativa promovida pelo Império que aumentou os impostos já existentes e criou novos
impostos;
b) A adoção do sistema métrico decimal uma “novidade” que era vista pelos trabalhadores pobres como nociva na
medida em que era aproveitada pelos comerciantes para diminuir a quantidade de produtos comprados por estes
trabalhadores;
c) A mudança na lei do recrutamento militar. Estes fatores conjugados com a grande crise por que passava o
Nordeste foram o estopim para a revolta.
Como eram crescentes as insatisfações, quase todas as camadas sociais da região acabaram se
envolvendo no movimento, uma mais ativa que outras, dependendo do local e dos interesses envolvidos.
Participaram do movimento os grandes proprietários, os políticos da oposição, parte do clero e os trabalhadores
pobres. Obviamente que cada camada social tinha os seus motivos e seus objetivos, porém uma participação tão
ampla fez com que o movimento tivesse maior repercussão que o movimento tratado anteriormente.
Vejamos os interesses de cada camada social envolvida: Os grandes proprietários, quando não
participaram diretamente do movimento, omitiram-se no apoio à repressão do mesmo, isto porque estavam
revoltados com o descaso do governo imperial para com a região, bem como discordavam da nova lei de
recrutamento. A republica dos “coronéis” e das oligarquias, conforme visto militar que não permitia a substituição
do convocado para o serviço militar, por alguém indicado por este. Os políticos da oposição utilizavam-se de todas
as armas para desestabilizar os conservadores que estavam no poder. Neste período já havia sido lançado o
Manifesto republicano, e este movimento poderia muito bem ser utilizado para enfraquecer o governo.
O clero estava atravessando uma fase de turbulência com o governo, devido ao avanço da maçonaria e a
prisão do bispo D. Vital. Os trabalhadores pobre que compunham a imensa maioria dos rebeldes lutavam contra a
cobrança exagerada de impostos, o que dificultava ainda mais a sua sobrevivência.
A cobrança dos impostos era realmente abusiva, pois, além dos impostos criados pela coroa, existiam os
impostos criados pela administração provincial, os da administração municipal e os abusos cometidos pelos
cobradores, com o objetivo de aumentar o seu “salário”. Para se ter uma ideia, muitas vezes os impostos cobrados
eram maiores que o valor das mercadorias, e cada vez que o vendedor mudasse de lugar, teria que pagar novo
imposto. Em quase todos os locais ocorrem fatos semelhantes, ou seja, a invasão das feiras com quebra de pesos
e medidas do novo sistema métrico decimal, destruição dos arquivos das câmaras municipais, coletorias, cartórios
civis e criminais, e até os papéis dos correios.
Embora, como já foi citado, diversos setores da sociedade tenham participado do movimento, a repressão,
como sempre, acabou caindo sobre os trabalhadores pobres. É interessante perceber as contradições no discurso
do historiador Elpídio de Almeida, facilitando a identificação de sua posição de classe. No início do seu texto sobre
o movimento o historiador declara que “[...] foi um movimento sem chefes descobertos e responsáveis [...]”. Para
acabar com o movimento, o governo da Paraíba, já que não conta com o auxílio dos grandes proprietários de
terras, pede auxílio do Império e também dos governos vizinhos, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no que é
atendido. A colaboração do Presidente da Província de Pernambuco Henrique Pereira de Lucena causa revolta na
oposição liberal que o acusa de traidor do povo, já que o mesmo lutara na Revolta Praeira, reprimida pelos
conservadores e agora enviava tropas para reprimir o movimento de Quebra-Quilos aliando-se aos conservadores.
A repressão ao movimento foi violenta, a ação das tropas foi de verdadeira selvageria, aplicada cegamente
contra culpados ou inocentes como mostra José Américo e Almeida no seu livro A Paraíba e seus Problemas. A
repressão aos movimentos populares de forma violenta, nunca foi novidade na região. A novidade desta feita ficou
por conta da invenção de um novo instrumento de tortura que, segundo consta, fora inventado pelo Capitão
Longuinho, comandante de uma das colunas que seguiu para combater o movimento no interior: o colete de
couro. O colete de couro, que levou à morte Carga d’água, “Consistia em costura-se ao tórax dos presos, muitos
inculpados, uma faixa de couro cru, previamente milhada durante horas. À medida que o couro secava ia
comprimindo o peito da vítima, causando-lhe muitas vezes morte torturante por asfixia.” (ALMEIDA, 1962, p.
157). Durante todo o império e até os dias atuais, continuaram e continuam ocorrendo conflitos relacionados aos
problemas centrais que originaram estes movimentos, ou seja, descaso das autoridades e privação de qualquer
forma de interferência das camadas populares na vida do país. Só utilizando a Repressão é que os governantes
conseguiram e vem conseguindo manter a população à margem das decisões políticas e econômicas do Brasil.
DA CRISE DO ESCRAVISMO À ABOLIÇÃO
Adaptado de: Diana Soares de Galiza
Fonte: http://otaviosaleitao.tripod.com/id31.html
A REPÚBLICA DOS “CORONÉIS”
Eliete de Queiroz Gurjão
As primeiras Ligas
Camponesas surgiram no Brasil, em
1945, logo após a redemocratização
do país depois da ditadura do
presidente Getúlio Vargas.
Camponeses e trabalhadores rurais
se organizaram em associações civis,
sob a iniciativa e direção do recém-
legalizado Partido Comunista
Brasileiro – PCB. Foram criadas ligas
e associações rurais em quase todos
os estados do país. Em 1948, no
entanto, com a proscrição do PCB
houve o desmoronamento das
organizações de trabalhadores no
Brasil.
Entre 1948 e 1954, eram poucas as organizações camponesas que funcionavam e raríssimas as que ainda
conservavam o nome de Liga, como a Liga Camponesa da Iputinga, dirigida por José dos Prazeres, um dos líderes
do movimento em Pernambuco e localizada no bairro do mesmo nome, na zona oeste da cidade do Recife. Em
janeiro de 1955, com a criação da Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco, a SAPP,
localizada no Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, houve o ressurgimento das Ligas
Camponesas no Nordeste. A partir do seu ressurgimento, as Ligas deixaram de ser organizações e passaram a ser
um movimento agrário, que contagiou um grande contingente de
trabalhadores rurais e também urbanos.
Em agosto de 1955, realizou-se no Recife, o Congresso de
Salvação do Nordeste, que teve grande importância para o
movimento camponês, uma vez que foi a primeira vez no Brasil, que
mais de duas mil pessoas, entre autoridades, parlamentares,
representantes da indústria, do comércio, de sindicatos, das Ligas
Camponesas, profissionais liberais, estudantes, reuniram-se para
discutir abertamente os principais problemas socioeconômicos da
região. A Comissão de Política da Terra era composta por mais de
duzentos delegados, em sua maioria camponeses representantes das
Ligas. Em setembro de mesmo ano, foi realizado, também no Recife,
o Primeiro Congresso de Camponeses de Pernambuco, organizado
pelo professor Josué de Castro, que culminou com um grande desfile
de camponeses pelas ruas da cidade.
A partir daí, as Ligas Camponesas expandiram-se para
diversos municípios de Pernambuco e também para outros estados
brasileiros: Paraíba, onde o núcleo de Sapé foi um dos mais
expressivos e importantes, chegando a congregar mais de dez mil
membros; Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro (na época estado da Guanabara); Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Acre e também no Distrito Federal, Brasília. O movimento tinha
como objetivos básicos lutar pela reforma agrária e a posse da terra. No plano nacional o seu principal líder foi o
advogado e deputado pelo Partido Socialista, Francisco Julião, que aglutinou o movimento em torno do seu nome
e de sua figura, conseguindo reunir idealistas, estudantes, alguns intelectuais e projetando-se como presidente de
honra das Ligas Camponesas.
Em 1962, foi criado o jornal A Liga, veículo de divulgação do movimento. Com a aprovação do Estatuto do
Trabalhador Rural, nesse mesmo ano, muitas Ligas transformaram-se em sindicatos rurais. No final de 1963 o
movimento estava concentrado nos estados de Pernambuco e Paraíba e o seu apogeu como organização de
trabalhadores rurais ocorreu no início de 1964, quando foi organizada a Federação das Ligas Camponesas de
Pernambuco, da qual faziam parte 40 organizações, com cerca de 40 mil filiados no estado. Na Paraíba, Rio
Grande do Norte, Acre e Distrito Federal (Brasília), onde ainda funcionava o movimento, o número de filiados era
de aproximadamente 30 mil, congregando assim as Ligas Camponesas entre 70 e 80 mil pessoas na época.
A Paraíba antes esquecida, vítima da seca, da miséria, da fome, de políticos oportunistas, do latifúndio,
levanta-se exigindo medidas urgentes para a questão agrária, com destaque ao Grupo da Várzea. A resposta dos
latifundiários, foi à violência como única forma de calar e exercer controle sobre o campesinato. A Paraíba
assistiu, estarrecida, entre o impacto e a revolta ao crime que vitimou a maior liderança do campesinato paraibano
na época, João Pedro Teixeira, assassinado a 2 de Abril de 1962 com 5 tiros na estrada de Sapé-café do Vento,
em direção ao sítio Sono das Antas, onde morava. Vinte e um anos depois, no dia 12 de agosto de 1983,
Margarida Maria Alves, líder camponesa, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores de Alagoa Grande é
assassinada com um tiro no rosto. As Ligas Camponesas funcionavam com duas seções, a Organização de Massas
(0.M.), que reunia moradores da cidade (Ligas Urbanas), mulheres (Ligas Femininas), pescadores (Ligas dos
Pescadores), Ligas dos Desempregados, Ligas dos Sargentos e todas as pessoas que admitiam a necessidade da
reforma agrária e a Organização Política (O. P.), que aceitava apenas determinados membros da Organização de
Massas, aqueles que se destacavam em seu trabalho, reunindo qualidades políticas, ideológicas e morais que
justificassem sua condição de militante da organização.
Com o Golpe Militar de 1964, o movimento foi desarticulado, proscrito, sendo seu principal líder preso e
exilado. O movimento funcionou ainda durante algum tempo, através da Organização Política Clandestina, que
possuía uma direção nacional formada por assalariados rurais e camponeses, que se infiltraram em sindicatos
agrícolas, passando a ajudar presos e perseguidos políticos. A organização dos camponeses com a morte de seus
lideres, não foi destruída, ao contrário. As Ligas Camponesas representam um importante papel na redefinição da
questão agrária e questionou o papel dos latifundiários, o campesinato conquistou seu papel como associação de
classe e trouxe a reforma agrária para o debate público.
O GOLPE DE 1964 E A INSTALAÇÃO DA REPRESSÃO NA PARAÍBA
Monique Cittadino
"Contou-me o coronel Pitaluga que teve vontade de prender Pedro Gondim, incontinente, após a sua resposta
evasiva e fugidia. Mas olhou para o seu colega Ednardo e ele lhe fez um sinal de ponderação e tolerância. Eles
trouxeram uma intimação, um ultimatum, e Pedro se fez de desentendido e se limitou a agradecer a comunicação,
dizendo que ia refletir e reunir o secretariado. Ednardo, pois, evitou que Gondim fosse deposto e preso naquela
madrugada. Confiou-me, ainda, o coronel Pitaluga outras missões. A primeira era reunir os líderes dos partidos,
para convencermos o governador a definir-se ao lado da revolução, até a manhã daquele dia, pelas onze horas.
Caso contrário, seria deposto."
O jornalista Nelson Coelho corrobora essa versão enfatizando a possível situação de abandono de Gondim
por suas forças militares: "A verdade é que o Palácio da Redenção, com o governador nele instalado, funcionou a
noite inteira. Pedro tinha trocado o sistema de segurança no Estado, colocou o major Macário como secretário e
fez o coronel João Gadelha de Oliveira, comandante geral da Polícia Militar. Esta equipe de segurança constou,
posteriormente, que teria ido embora do palácio da Redenção caso o governador tivesse tomado uma posição de
apoio à legalidade."
A definição da posição de Gondim, contudo, ainda não seria tomada neste momento, mas apenas na
manhã do dia 10 de abril com a chegada do líder do Governo na Assembleia, Antônio Vidal do Rego. A partir daí,
percebendo a irreversibilidade do movimento militar, a fragilidade das forças janguistas e, sobretudo, a
importância do momento para a sua sobrevivência política, Pedro Gondim elabora a nota de apoio ao movimento
"revolucionário": "Não posso e não devo, neste instante de tanta inquietação nacional, deixar de definir minha
posição, na qualidade de Governador dos paraibanos. Reafirmo, preliminarmente, todos os pronunciamentos que
expandi em favor das reformas essenciais, por saber que elas constituem instrumentos legais de adequação aos
novos problemas do povo. E neste sentido nunca faltei com o meu estímulo e apreço ao Governo Central. Os
últimos acontecimentos, verificados no Estado da Guanabara, envolvendo marinheiros e fuzileiros navais,
denunciaram, porém, inequívoca e grave ruptura na disciplina em destacado setor das classes armadas, com
desprezo às linhas”.
A posição tomada
pelo governador Pedro
Gondim, após a noite de
vigília, garantiu-lhe não
apenas a sua permanência à
frente do Governo do Estado,
como a preservação da sua
liberdade, haja vista que,
segundo depoimentos de
testemunhas da época, caso
a posição tivesse sido outra,
ele teria sido deposto e, em
seguida, preso, conforme
aconteceu com Miguel Arraes.
Portanto, essa definição do
governo favorável aos
"revolucionários" garantiu-lhe
a sobrevivência política e a
liberdade pessoal.
LAMPEJOS DA CULTURA PARAÍBANA
Damião de Lima
Falar de cultura é uma tarefa das mais difíceis devido à complexidade do tema. Vejamos como a cultura
está definida em dois tópicos de verbete encontrado no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda: Cultura.
“Conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através
da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade” e ainda “A parte ou aspecto da vida coletiva,
relacionados à produção e transmissão de conhecimentos, à criação intelectual e artística”. (AURÉLIO, 1993,
p.318)
Além desta diversidade ainda temos que nos defrontar com os diversos conceitos de cultura, tais como: cultura
popular, cultura erudita, cultura dominante, cultura de resistência etc.
Por isso este capítulo que trata da cultura paraibana se constituiu em um dos mais difíceis de elaboração.
Por outro lado, tornou-se extremamente instigante, porque nos colocou diante de um sem número de
manifestações artísticas, inúmeras manifestações de folclore, e um sem número de estilos musicais que são
oriundos ou adaptados e desenvolvidos em nosso Estado. Tal fato mostra o quanto o nosso povo é criativo e
consegue transmitir esta criatividade das mais diversas formas e, o mais importante, sem se preocupar com as
diversas rotulações e camisas de força impostas pela suposta intelectualidade.
Baseados nesta diversidade, ficamos diante de um dilema sobre o que falar que possa retratar a cultura
paraibana. Como já foi dito, qualquer escolha feita tornaria esta análise apenas a ponta de um iceberg da riqueza
das manifestações culturais de nosso povo. Dito isto, resolvemos apenas apresentar um rápido panorama sobre
algumas formas de manifestações artístico-cultural. Quando se fala em cultura, a primeira imagem que nos vem à
cabeça está relacionada às letras, daí porque iniciamos com a questão da imprensa na Paraíba. Em relação à
imprensa, tivemos na Paraíba diversos jornais desde o início do século XIX. Já em 16 de fevereiro de 1826,
fundou-se o primeiro jornal denominado: Gazeta do Governo da Paraíba do Norte.
O segundo jornal fundado na Paraíba foi: A Gazeta Parahybana, este circulou entre 1828 e 1829. durante
a monarquia circularam na Paraíba mais de 50 jornais, a maioria deles na capital e, quase todos, defendendo
interesses partidários. No campo da imprensa de cunho religioso, destacamos a existência do jornal. A Imprensa
que começou a circular no dia 27 de maio de 1897 e, como todos os jornais, passou por muitas dificuldades,
inclusive o seu fechamento durante o período do estado Novo, por ordem de Ruy Carneiro, através do
departamento de Imprensa e Propaganda (DEIP). Este jornal destacou-se por contar com a participação feminina
no seu quadro de colaboradores, sob a coordenação de um grupo de moças da Associação Católica da Capital que
escrevem sobre religião, artes, literatura, moda, etc. Entre estas colaboradoras destacaram-se figuras como:
Daura Santiago Rangel, Argentina Pereira Gomes, Eurídice de Salles, Eudésia Vieira, Laura Jacobina Laconte, além
de outras que se encobriam por trás de pseudônimos.
No interior, os jornais começaram a aparecer no final do século XIX. Na cidade de Campina Grande
destacamos: A Gazeta do Sertão de 01 de setembro de 1888 e o O Rebate fundado em 1932 e que circulou até
princípios da década de 60. na cidade de Areia tivemos O Areiense fundado em 1877 e A Verdade de 1888; em
Guarabira tivemos O Astro, O Correio Guarabirense, O Correio do Interior, O Jornal da Luz e O Município. Ainda
tivemos jornais em Alagoa Grande, Mamanguape, Itabaiana e Monteiro.
Hoje temos cinco grande jornais diários circulando no Estado, sendo três da capital; o jornal A União
fundado em 02 de fevereiro de 1892, o Norte de 07 de maio de 1908 e o Correio da Paraíba de 05 de agosto de
1953 e dois de Campina Grande; o Diário da Borborema fundado em 02 de outubro de 1957 e o Jornal da Paraíba
05 de setembro de 1971.
E a Arquitetura? Como diz o artista Chico Pereira: “As artes plásticas na Paraíba são fruto da mesma
árvore cultural europeia do legado greco-romano” (A União: 1997,08). Os principais responsáveis pelas primeiras
obras no campo da arquitetura em nosso estado foram às ordens religiosas: os beneditinos, os jesuítas, os
franciscanos e os carmelitas. Estas ordens construíram diversos monumentos arquitetônicos que ainda hoje
podem ser apreciados,
principalmente na capital
do Estado. Entre estas
obras destacamos o
Mosteiro e a Igreja de São
Bento, o conjunto Santo
Antônio e São Francisco, a
Igreja da Misericórdia, as
Igrejas conjugadas de
Nossa Senhora do Carmo e
Santa Terezinha, o Palácio
da redenção e a Faculdade
de Direito que se
originaram de construções
jesuítas e a Igreja de Nossa Senhora da Guia no município de Lucena. Vinculados à defesa do território paraibano,
temos dois importantes monumentos: a Casa da pólvora na parte antiga de João pessoa e a fortaleza de Santa
Catarina no município de Cabedelo.
Além destes monumentos de inspiração e estilo definidos, a capital dispõe ainda de alguns monumentos
que, segundo Chico Pereira: “... são lembranças de vários estilos de inspiração europeia, condensados na
paisagem do cotidiano...” (op. Cit., 11). Entre estes monumentos de vários estilos destacamos: o Teatro Santa
Rosa, os edifícios que abrigam o comando geral e o Batalhão de polícia Militar, o coreto da Praça Pedro Américo, o
Palácio da Justiça, o Pavilhão do Chá, o Palácio da arquidiocese e o edifício dos Correios e Telégrafos.
Do auge do período açucareiro, podemos observar alguns engenhos existentes na região do brejo, e que
ainda mantém toda sua estrutura, ou seja, o engenho em si, a casa grande e a senzala. E podemos ver ainda as
fachadas das residências dos municípios de Areia, Alagoa Grande, Bananeiras, Pilões, Serraria, Alagoa Nova, entre
outras, que guardam aspectos originais da arquitetura do século XVII, XVIII e XIX.
A partir do século XX percebemos a forte influência francesas na arquitetura urbana, tanto na capital como
em algumas cidades do interior. Encontramos hoje algumas fachadas no estilo Art-Nouveau e Art-Decó. Como
exemplo da Art-decó na capital, podemos observar o Prédio do Liceu Paraibano. A influência da Art-Decó foi muito
forte nas construções das residências do centro da cidade de Campina Grande, onde está sendo feito um trabalho
de revitalização do centro da cidade quanto à limpeza e a conservação das fachadas dos edifícios que guarda estas
características.
Temos que destacar que, embora a influência europeia seja predominante, as Artes Visuais na Paraíba
remontam aos primeiros habitantes, pois não podemos esquecer as inúmeras pinturas rupestres existentes nas
dezenas de sítios arqueológicos espalhados por quase todo o estado. A pintura como a conhecemos, só vai tomar
corpo a importância, no estado, no início do século passado. Foi em 1913 que se inaugurou o primeiro museu ou
galeria de retratos do pintos Aurélio de Figueiredo, que veio à Paraíba a convite do então presidente Castro Pinto.
E as outras Artes? Quanto às outras artes como cinema, música e teatro, embora tivéssemos inúmeras
manifestações, durante todo o século passado, foi só nos anos 60 que estes setores tornaram-se verdadeiramente
atuantes e organizados no estado, este boom artístico ocorreu, principalmente, com a popularização ou
massificação do conhecimento, patrocinado através da federalização da Universidade Federal da Paraíba e da
criação da Universidade Regional do Nordeste, hoje UEPB.
A partir de então, tivemos não apenas o aumento das diversas manifestações artístico-culturais na capital,
como também a interiorização deste movimento, com destaque para cidade de Campina Grande. Despontaram,
neste período, na capital, grandes artistas vinculados ao departamento Cultural da UFPB, ao Grupo Tomás Santa
Rosa e ao Centro de Artes Plásticas. Em Campina Grande, os artistas estavam ligados a diversos
movimentos liderados por pessoas vinculadas à cultura como a equipe 3 (José Analecto, Elido Barbosa e Chico
Pereira), além de outras pessoas que começaram a despontar no
movimento cultural da cidade como o diretor do teatro Municipal,
o teatrólogo Wilson Mau, além de duas figuras que ainda hoje
podem ser consideradas como patronas da cultura campinense:
Elizabete Marinheiro e Eneida Agra. Os novos artistas
congregavam-se em torno do Teatro Municipal e do recém-criado
Museu de Artes Assis Chateaubrinad, inaugurado em outubro de
1967. Não Podemos esquecer a influência dos programas de
auditório da rádio Borborema que revelou inúmeros talentos.
No cinema, a Paraíba tem se destacado com diversos
filmes e documentários sobre o estado. Embora os mais
conhecidos destacam-se o filme dirigido por Tizuka Yamazaki:
Paraíba Mulher Macho, que conta à história do movimento de 30
no estado e a recente produção da rede globo: O Autor da
Compadecida do livro de Ariano Suassuna que foi adaptado para
o cinema. Tivemos, no século passado, inúmeros filmes e
destacamos cineastas como Walfredo Rodrigues (considerado o
pai do cinema paraibano), que fez o célebre Sob o Céu
Nordestino, e Linduarte Noronha que inaugurou uma nova forma
de fazer cinema na Paraíba, onde a realidade deixa de ser apenas
mostrada e passa a ser estudada. Esta nova forma de fazer
cinema pode ser apreciada no clássico documentário produzido
no início dos anos 60 com o título de Aruanda e no documentário
que foi interrompido pela ditadura militar e só retomado no final desta; Cabra Marcado para Morrer, dirigido por
Eduardo Coutinho, que conta a história das ligas camponesas no Estado.
Hoje o cinema e o teatro paraibanos passam por
uma fase de revitalização e, embora os incentivos sejam
mínimos, os artistas estão conseguindo realizar filmes e
montar peças interessantes que alcançam destaque na
mídia nacional, como o recente espetáculo teatral: Vou da
Sarapalha. Outros artistas paraibanos também ganham
destaque nacional tais como: Marcélia Cartaxo, que atuou
no filme: Nasce uma Estrela, e Soia Lira, que atuou no filme
Central do Brasil. Destacamos, ainda, o filme: Eu, Tu, Eles,
dirigido por Carlos Vasconcelos. No campo musical, a
Paraíba tem tido grande destaque e sempre está presente
nos diversos movimentos musicais e com grandes talentos.
É da Paraíba a grande Orquestra Tabajara que encantou e
encanta gerações de românticos brasileiros e a orquestra
sinfônica que sem dúvida é uma das melhores do Brasil.
Na música popular brasileira, temos grandes nomes
como Geraldo Vandré, Sivuca, Glorinha Gadelha, Cátia de
França, Zé Ramalho, Roberta Miranda, Elba Ramalho, além
de novos talentos que começam a despontar como Emerson
Uray, Adeildo Vieira, Júnior Rangel, Paulinho de Tarso,
Capilé, Gera Brito, Pedro Osmar, Totonho, Renata Arruda,
entre outros. Gostaria de destacar, também o grupo Jaguaribe Carne considerado um celeiro de bons músicos
capital. Deste grupo saíram muitos dos novos talentos acima citados, entre eles o cantor e compositor Chico
César.
Em termos de inovação musical a
Paraíba de ao Brasil e ao mundo um dos
maiores criadores de ritmos já conhecidos: o
grande Jackson do Pandeiro, figura de difícil
classificação em termos musicais porque
passeava por todos os ritmos, reinventando-
se e adaptando-os às suas músicas. Hoje,
Jackson tem admiradores no mundo inteiro e
seu estilo irreverente e ao mesmo tempo
profundamente identificado com suas origens
vem sendo seguido por diversos artistas. No
Estado são seguidores do estilo Jackson: Biliu
de Campina, Fubá de Taperoá, Manuelzinho
Silva e as bandas Cabruêra e Tocais. Esta
reinvenção de ritmos e resgates da cultura é
hoje um movimento que ganha dimensão
nacional.
E a Cultura Popular? No que se
convencionou chamar de cultura popular,
como sendo a cultura que é feita e difundida
pela maioria da população, podemos afirmar
que a Paraíba é muito rica e tem revelado
inúmeros talentos. Comecemos pela música.
Conforme já falamos anteriormente, a nossa
contribuição musical é bastante variada e,
embora o forró seja o estilo mais
característico devido ao espaço que alcançou na mídia ultimamente, temos diversas outras formas e estilos
musicais variando de acordo com a região, o clima e a origem dos moradores e de suas atividades laborais.
Assim, no litoral temos o coco de roda e as cirandas, estilo de música e dança oriundas do período
colonial, que muda de acordo com o local de origem dos cantores e dançarinos. Os pescadores dançam e cantam o
coco de um forma, já os cortadores de cana cantam e dançam de outra forma, mudando os temas das músicas e
de acordo com a realidade de cada categoria e o seu mundo. No agreste e sertão temos uma grande influência dos
violeiros ou repentistas como também são conhecidos e, de um outro tipo de coco que é conhecido como coco de
embolada, estilo este bem diferente do coco do litoral. Recentemente, o LEO (Laboratório de estudos da
Oralidade) lançou um CD com cocos de roda, intitulado: COCOS: Alegria e Devoção. Um outro estilo musical muito
difundido é o aboio, a música entoada pelos aboiadores como são conhecidos os cantores deste estilo musical. O
aboio é a forma de identificação entre o vaqueiro e “sua” boiada. Em geral, para não deixar que o gado se
perdesse nas caatingas, os vaqueiros soltavam uma espécie de grito que fazia com que os animais se pusessem
em marcha acompanhando o restante do rebanho. Como cada vaqueiro tinha um estilo diferente de tocar sua
boiada, estes gritos eram apresentados pelos vaqueiros nas festas de apartação e, posteriormente, nas
vaquejadas. Aos poucos, os gritos ou toadas como eles preferem chamar foram ganhando letra e transformando-
se em música que, em sua maioria, falam de cavalo, mulher e gado. Três coisas sagradas para os vaqueiros,
principalmente o gado e o cavalo.
Outro filão em termos de riqueza cultural é a nossa poesia. Temos duas vertentes da poesia: uma erudita
encabeçada por Augusto dos Anjos, figura de destaque a nível nacional, recentemente eleito como o paraibano do
século e que tem seus seguidores no Estado e a poesia matuta, conhecida também como literatura de cordel. É
nesta segunda que nos deteremos um pouco. A literatura de cordel é uma adaptação da trova medieval. Embora
não se possa precisar seu surgimento, este estilo presente em toda região Nordeste e, na Paraíba, o cordel acabou
influenciando outros tipos de manifestações artísticas de caráter mais popular como o coco de embolada, a poesia
matuta, os cantadores de viola e até o forró.
Evento Viola do Anjos – Discussão musicada sobre a poética do Paraibano Augusto dos Anjos
Participação do Músico e Artista Plástico Chico Viola e do Professor Delzymar Dias
Neste tipo de literatura, tivemos grandes cordelistas e o pioneiro desta arte, no Estado, foi Leandro Gomes
de Barros, autor e editor de folhetos no final do século XXI e início do século passado; paraibano de Pombal
migrou para Recife onde editava as obras e veio falecer em 1918. tivemos também o poeta repórter Apolônio
Alves que deixou mais de 300 folhetos de cordel, retratando os acontecimentos de sua época. É preciso que se
diga que o cordel servia como jornal dos acontecimentos para as populações pobres, lidos nas feiras das mais
diversas freguesias. Ainda hoje podemos encontrar pessoas que sobrevivem da leitura do cordel. E nos anos 80
um filme fez grande sucesso contando a história de um cordelista O Homem que virou suco.
Além do cordel, temos no estado grandes expressões artísticas nos diversos ramos todos englobados como
poetas populares, esta denominação se dá pelo fato de que estes artistas em geral passeiam entre um gênero e
outro da poesia ou sejam os poetas populares, em geral, recitam e cantam, outros, tocam e embolam ou tocam,
cantam me recitam. Dentre os destaques da poesia temos originalmente a família de Agustinho Nunes da Costa
oriundo da região de Teixeira, tanto Agustinho que migrou, como seus filhos que já nasceram na região de São
João do Sabugi, Hunguinho e Nicandro são poetas populares. Desta família surgiu ainda uma terceira geração de
poetas que são os filhos de Nicandro: Dimas e Batista.
No campo da poesia matuta e cantoria de viola temos, Pinto de Monteiro, Otacílio Batista, José Laurentino,
entre outros tantos. Não podemos esquecer das mulheres violeiras que fazem sucesso em todo o país: Maria
Soledade e Minervina. Atualmente, este estilo de cordel está exercendo uma forte influência no forró e assim
podemos ver alguns cantores se destacando, mesclando poesia matuta, cordel e forró. Neste campo estão os
poetas: Ton Oliveira. Amazan e Francinaldo. Como foi colocado no início do texto, falar sobre cultura é uma tarefa
difícil devido à diversidade do tema e a riqueza da cultura paraibana. Por isso, aproveitamos para pedir desculpas
aos artistas que se sentiram excluídos por sua forma de manifestação não ter sido citada nesta obra. Mas, como o
próprio título coloca, isto aqui é um pequeno lampejo da cultura paraibana.
CRONOLOGIA POR SÉCULO
ASPECTOS GERAIS
Clima
Tropical úmido no litoral, com chuvas abundantes. À medida que nos deslocamos para o interior, depois da
Serra da Borborema, o clima torna-se semiárido e sujeito a estiagens prolongadas.
Relevo
O relevo é modesto, mas não muito baixo; 66% do território estão entre 300 e 900 metros de altitude. A
maior parte do território paraibano é constituída por rochas resistentes, e bastantes antigas, que remontam a era
pré-cambriana com mais de 2,5 bilhões de anos. Elas formam um complexo cristalino que favorecem a ocorrência
de minerais metálicos, não metálicos e gemas. Os sítios arqueológicos e paleontológicos, também resultam da
idade geológica desses terrenos.
No litoral temos a Planície Litorânea que é formada pelas praias e terras arenosas. Na região da mata,
temos os tabuleiros que são formados por acúmulos de terras que descem de lugares altos. No Agreste, temos
algumas depressões que ficam entre os tabuleiros e o Planalto da Borborema, onde apresenta muitas serras, como
a Serra de Teixeira, etc. No sertão, temos uma depressão sertaneja que se estende do município de Patos até
após a Serra da Viração.
O Planalto da Borborema é o mais marcante do relevo do Nordeste. Na Paraíba ele tem um papel
fundamental no conjunto do relevo, rede hidrográfica e nos climas. As serras e chapadas atingem altitudes que
variam de 300 a 800 metros de altitude. A Serra de Teixeira é uma das mais conhecidas, com uma altitude média
de 700 metros, onde se encontra o ponto culminante da Paraíba, a saliência do Pico do Jabre, que tem uma
altitude de 1.197 metros acima do nível do mar, e fica localizado no município de Maturéia.
Hidrografia
Na hidrografia da Paraíba, os rios fazem parte de dois setores, Rios Litorâneos e Rios Sertanejos.
Rios Litorâneos – são rios que nascem na Serra da Borborema e vão em busca do litoral paraibano, para
desaguar no Oceano Atlântico. Entre estes tipos de rios podemos destacar: o Rio Paraíba, que nasce no alto da
Serra de Jabitacá, no município de Monteiro, com uma extensão de 360 km de curso d’água e o maior rio do
estado.
Também podemos destacar outros rios, como o Rio Curimataú e o Rio Mamanguape.
Rios Sertanejos – são rios que vão em direção ao norte em busca de terras baixas e desaguando no litoral do
Rio Grande do Norte. O rio mais importante deste grupo é o Rio Piranhas, que nasce na Serra de Bongá, perto da
divisa com o estado do Ceará. Esse rio é muito importante para Sertão da Paraíba, pois através desse rio é feita a
irrigação de grandes extensões de terras no sertão. Tem ainda outros rios, como o Rio do Peixe, Rio Piancó e o Rio
Espinharas, todos afluentes do Rio Piranhas. Os rios da Paraíba estão inseridos na Bacia do Atlântico Nordeste
Oriental e apenas os rios que nascem na Serra da Borborema e na Planície Litorânea são perenes. Os outros rios
são temporários e correm em direção ao norte, desaguando no litoral do Rio Grande do Norte. Seus principais rios
são o Paraíba, Piranhas, Taperoá, Mamanguape, Curimataú, Peixes e Sanhauá.
Vegetação
A vegetação litorânea do estado da Paraíba apresenta matas, manguezais e cerrados, que recebem a
denominação de “tabuleiro”, formado por gramíneas e arbustos tortuosos, predominantemente representados,
entre outras espécies por batiputás e mangabeiras.
Formadas por floresta Atlântica, as matas registram a presença de árvores altas, sempre verdes, como a
peroba e a sucupira. Localizados nos estuários, os manguezais apresentam árvores com raízes de suporte,
adaptadas à sobrevivência neste tipo de ambiente natural. A vegetação nativa do planalto da Borborema e do
Sertão caracteriza-se pela presença da caatinga, devido ao clima quente e seco característico da região. A
caatinga pode ser do tipo arbóreo, com espécies como a baraúna, ou arbustivo representado, entre outras
espécies pelo xique-xique e o mandacaru.
A população
Segundo dados estatísticos do IBGE, a Paraíba contava em 2010 com uma população de 3.766.528,
correspondente a 1,97% da população nacional, sendo o estado uma das unidades da federação de menor
superfície (0,66% do território nacional, ficando na 21ª posição em ordem decrescente). O censo de 2010
demonstrou ainda que a população urbana da Paraíba monta a 75,4%, em oposição aos 24,6% da zona rural. A
densidade demográfica estadual é de 66,73 hab./km².
Quanto ao quesito cor, o Censo 2010 apontou que a população do estado se autodeclarava da seguinte
forma: parda, 1.986.619 (52,7%); branca, 1.499.253 (39,8%); negra, 212.968 (5,7%); e amarela e indígena,
67.636 (1,8%).
Etnias
As mesorregiões
Uma mesorregião é uma subdivisão dos estados brasileiros que congrega diversos municípios de uma área
geográfica com similaridades econômicas e sociais. Foi criada pelo IBGE e é utilizada para fins estatísticos e não
constitui, portanto, uma entidade política ou administrativa. Oficialmente, as quatro mesorregiões do estado são:
Sertão Paraibano: é a terceira mais populosa do estado, dividida em sete microrregiões que, juntos,
abrigam oitenta e três municípios, sendo a mesorregião com o maior número de municípios paraibanos.
Municípios importantes dessa mesorregião são Patos, Sousa, Cajazeiras e Catolé do Rocha.
Borborema: é a menos populosa do estado, formada pela união de quatro microrregiões que compartilham
quarenta e quatro municípios. Municípios importantes dessa mesorregião são Monteiro e Picuí.
Agreste Paraibano: é a segunda mais populosa do estado, formada pela união de sessenta e seis
municípios agrupados em oito microrregiões. Municípios importantes são Campina Grande, Guarabira,
Esperança, Solânea e Queimadas.
Mata Paraibana: é a mesorregião mais importante do estado, formada pela união de trinta municípios
agrupados em quatro microrregiões. Pelo fato de nela estar localizada a capital do estado, é a mais
populosa, reúne mais de um terço da população da Paraíba. É a única mesorregião litorânea do estado.
Municípios importantes localizados nela são João Pessoa, Santa Rita, Bayeux, Cabedelo, Sapé e
Mamanguape.
As microrregiões
Além da mesorregião, existe a microrregião, que é, de acordo com a Constituição brasileira de 1988, um
agrupamento de municípios limítrofes, com a finalidade é integrar a organização, o planejamento e a execução de
funções públicas de interesse comum, definidas por lei complementar estadual.
A Paraíba é dividida em 23 microrregiões. São elas: Brejo Paraibano, Cajazeiras, Campina Grande, Cariri
Ocidental, Cariri Oriental, Catolé do Rocha, Curimataú Ocidental, Curimataú Oriental, Esperança, Guarabira,
Itabaiana, Itaporanga, João Pessoa, Litoral Norte, Litoral Sul, Patos, Piancó, Sapé, Seridó Ocidental Paraibano,
Seridó Oriental Paraibano, Serra do Teixeira, Sousa e Umbuzeiro. No total, a Paraíba está dividida em 223
municípios, sendo o nona unidade de federação com o maior número de municípios e a terceira do Nordeste (atrás
apenas da Bahia e do Piauí).
Aspectos rurais
O espaço agrário paraibano desde o início da colonização portuguesa tem-se constituído em um espaço de
exploração. As articulações entre as variáveis econômicas, sociais, políticas e culturais tecem um “ambiente de
vida” gravoso à sobrevivência da classe trabalhadora. A sua estruturação e a sua organização subordinadas
inicialmente aos interesses do capital mercantil metropolitano e mais recentemente, aos ditames de valorização do
capital industrial e financeiro, não têm como finalidade o atendimento das necessidades básicas da maioria da
população.
Ao se afirmar que o espaço agrário tem sido historicamente, do ponto de vista do trabalhador, um espaço
de exploração, não se nega que as condições de vida no campo não tenham experimentado mutações. Com efeito,
as formas de exploração têm sofrido alterações ao longo do tempo, à medida que o espaço agrário evolui e se
reestrutura. O escravo, o morador, o boia-fria, são expressões diversas dessa exploração, correspondentes a
diferentes momentos do processo de acumulação do capital na agricultura.
Ser livre é qualitativamente diferente de ser escravo. Ser assalariado representa mudança substancial em
relação a ser morador de condição. Ao se exemplificar as transformações ocorridas, não se deseja passar a
impressão de que haja uma melhoria linear nesse processo evolutivo. Se, por um lado, a perda do acesso à terra
por parte do assalariado em relação à sua antiga condição de morador é sentida, por outro lado, o fim do controle
sobre a sua força de trabalho e a de seus familiares é algo sublinhado em diferentes testemunhos de agricultores.
Não se deve esquecer também, que as formas concretas assumidas pela passividade/luta dos trabalhadores, em
diferentes momentos da história, têm sido de fundamental importância para o quadro em que se circunscreve a
vida do trabalhador e as formas de ocupação e de organização do espaço.
Assume-se, portanto, que as condições de vida dos trabalhadores rurais estão vinculadas ao modo de
estruturação e de organização do espaço agrário. Daí a importância de um estudo que procura desvendar a
dinâmica organizacional desse espaço, enquanto subsídio para os movimentos que se integram na luta pela
melhoria da qualidade de vida da classe trabalhadora. Foi com base nesses pressupostos que este trabalho foi
concebido e desenvolvido. Nele, dá-se ênfase, num primeiro momento, ao processo inicial de formação do espaço
agrário paraibano e à evolução da sua organização até os anos 60 do século atual. Constata-se aqui que a
“aparente” não organização desse espaço antes da chegada do colonizador estava, na verdade, relacionada ao
estágio de desenvolvimento das sociedades tribais aí residentes. O espaço “intocado” era de fundamental
importância para a sobrevivência das tribos indígenas. Observa-se ainda que durante todo período colonial a
agricultura estadual se organizou em função de um “excedente colonial”. As culturas exploradas, as relações de
trabalho implantadas, o nível tecnológico vigente e a distribuição da propriedade da terra, tudo isso foi montado
segundo as necessidades de extração de um excedente por parte do capital mercantil então dominante.
Nessa fase, o “espaço intocado” do período anterior ao descobrimento foi sendo modificado, segundo as
novas necessidades da estrutura do poder colonial. Essa dinâmica permaneceu ditando as regras da organização
espacial mesmo após a independência do Brasil. E não poderia ser diferente, pois o novo status político não
implicou em modificações na estrutura de dominação socioeconômica.
Embora no final do século passado e início deste tenham ocorrido mudanças significativas na organização
da produção e do trabalho no campo, tais como a expansão da cotonicultura, a implantação das Usinas de açúcar,
o fim da escravidão e o fortalecimento do sistema morador e de outras relações de trabalho pré-capitalistas, a
lógica dominante continuou sendo a do modelo primário-exportador. Mais recentemente, com a dominação real do
capital sobre o processo produtivo agrícola, através da chamada “modernização conservadora”, verificam-se
profundas mudanças na organização do espaço agrário estadual.
O estudo dessas mudanças refletidas no uso do solo, na estrutura fundiária, na base técnica da produção,
na dinâmica da população, nas relações de trabalho e no emprego rural é realizado ao longo dos capítulos três a
sete. A análise efetuada ao longo desses capítulos não se restringe a um “inventário” da paisagem. Procura-se ir
além da aparência do fenômeno para apreender o processo global do qual as transformações da paisagem são
apenas um elemento. Deste modo, as modificações da organização agrária são situadas dentro de um quadro
explicativo mais amplo. Elas são relacionadas ao processo de modernização conservadora da agricultura que aqui
teve lugar e que se constituiu no vetor primordial da expansão do capital no agro paraibano. Foi, portanto, o novo
padrão de acumulação implantado, onde o Estado desempenha papel importante, que determinou as alterações
mencionadas.
Na Paraíba, o processo de ocupação do território se deu primeiramente em função da produção do açúcar,
que beneficiou especificamente as cidades que se encontravam próximas aos campos de cultivo da cana de
açúcar, e que tinham um porto para escoar a produção.
Destacam-se durante os séculos XVI e XVII a cidade da Parahyba (João Pessoa), com o porto do Capim e
Mamanguape, que até o final do século XIX era um importante centro comercial e cultural em função de seu porto.
Ao processo de ocupação do interior, corresponde o aparecimento de povoados que iria, posteriormente, com a
atividade do gado e do algodão, se tornarem cidades.
O sertão do Piancó agrupara as principais vilas do interior nos séculos XVII e XVIII. Piancó foi à primeira
localidade do sertão da Paraíba oficialmente com categoria de povoação. Do ponto de vista comercial, as feiras se
constituem na forma de comércio mais tradicional do Estado e tiveram uma importância histórica relevante na
formação de povoados sobretudo as feiras de gado. Muitas cidades do interior tiveram sua origem como ponto de
parada dos tangerinos que tangiam boiadas do sertão para o litoral.
Podemos citar Campina Grande, Areia, Itabaiana, Taperoá, Santa Luzia, Monteiro e outros centros de
zona. Campina Grande é a segunda cidade mais importante do Estado. Situada na região do Agreste, a sua
ocupação está relacionada ao declínio da agroindústria canavieira a partir do século XVII. A feira de gado,
inicialmente, e o comércio do algodão conjugado com a ferrovia, posteriormente, deram um grande impulso
econômico a esta cidade que, até a década de sessenta era a mais importante do Estado.
Patos surge posteriormente e passa a ter importância, de fato, a partir do início do século XX, pela sua
condição de "passagem obrigatória" para quem vai para o sertão, sendo ainda hoje a função de entroncamento
rodoviário bastante significativa para a dinâmica urbana local. De acordo com a classificação urbana elaborada
pelo IBGE, Patos é a terceira mais importante cidade do Estado.
A partir do período republicano, no final do século XIX, a urbanização deixa de ser apenas um processo de
adensamento populacional em determinados núcleos, para se tornar um elemento de um processo mais amplo: a
modernização. Tal processo, entre outras coisas, acaba por ocasionar alterações nos costumes e hábitos das
populações locais, ao serem introduzidas novas ideologias, a partir dos meios de informação, cultura e lazer que
veiculavam práticas e costumes tidos como "civilizados", sendo suas origens, europeias.
A urbanização, por sua vez, passa a ser um processo mais complexo, trazendo para as cidades a
necessidade da implantação de infraestrutura urbana (serviços de iluminação pública, água, saneamento, vias e
transporte coletivo), sistema educacional (de base acadêmica europeia) e os meios de informação por onde as
influências inovadoras penetram, como teatros, museus, bibliotecas, jornais, agremiações, partidos políticos e
outros, diversificando a vida urbana, antes centrada nas atividades religiosas.
A cidade se abre para as pessoas, surgindo às praças e os coretos. O modo de vida urbano na Paraíba se
caracteriza a partir deste período nas cidades onde a elite urbana comandava a política local. As cidades da
Paraíba que se destacaram entre o final do século XIX até a década de trinta foram: João Pessoa, Campina
Grande, Itabaiana, Guarabira e Princesa Isabel. João Pessoa por ser sede administrativa e religiosa; Campina
Grande pelo intenso comércio com Recife, sendo centro comercial e industrial; Itabaiana pela feira de gado e por
ter sido beneficiada com um ramal da rede ferroviária, ligando-se à Recife, assim como Guarabira; e Princesa, por
ter sido porta de escoamento dos produtos do alto sertão para Pernambuco além de abrigar funcionários e
engenheiros, a partir da política de construção de açudes, beneficiando-se com uma dinamização nas atividades
de serviços.
As cidades mais importantes do Estado, na metade do século XX, eram as que beneficiavam e/ou
comercializavam algodão, como Cajazeiras, Souza, Campina Grande, Patos, Monteiro, Piancó, Itabaiana e João
Pessoa. Rio Tinto, no litoral, surgiria em 1924 como comunidade industrial a partir do estabelecimento da
Companhia de Tecidos Rio Tinto do Grupo Lundgren, uma família de origem sueca que ainda hoje possui grandes
extensões de terras no litoral nordestino. A cidade, por sua vez, entrou em decadência com o fechamento da
fábrica. Por fim, o estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que classifica as cidades
paraibanas de acordo com a população, a oferta de infraestrutura urbana, de equipamentos, de serviços, do
comércio e da indústria, mostra que no estado predominam os centros de menor nível e poucas são as cidades de
nível médio. Por outro lado, a população e a riqueza concentram-se nas duas maiores cidades do Estado: João
Pessoa e Campina Grande, evidenciando a má distribuição da riqueza e a pobreza generalizada, resultantes do
processo histórico de ocupação do território paraibano.
HINO DA PARAÍBA
Letra: Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo / Música: Abdon Felinto Milanez
ESPECIAL
INFORMAÇÕES DO FILME:
Contestando o que o senhor presidente João Pessoa, prevalecendo-se de suas facilidades de detentor de
um Estado, tem mandado dizer para todos os ângulos do país, na ânsia de um julgamento benévolo à sua
desbragada megalomania política, preciso esclarecer que o caso de Princesa não é um caso de polícia, como
insinua aquele Presidente.
Não representa sequer a aspiração de mando pessoal, mas a justa resolução de não me deixar massacrar,
pelas hostes envenenadas da loucura revolucionária daquele para quem, até ontem, tinha eu todo valor político e
hoje tudo me nega, porque, para puni-lo na felonia e despertar o sentimento da responsabilidade, em face dos
seus compromissos de homem público, deixei de acompanhá-lo não só por consciência de que assim melhor
cumpriria o meu dever político com a nação, mas, também, para defender a Paraíba contra os desmandos a que
uma hora de insânia do próprio poder constituído a está conduzindo.
É preciso que o Brasil inteiro saiba que em Princesa não foi o cangaço que se armou contra os poderes
constitucionais do Estado; não é o núcleo de bandoleiros com que a paixão, o ódio ou a volúpia guerreira do
senhor João Pessoa nos apresenta ao país, mas, antes de tudo, a reação dos brios de uma numerosa população,
abnegadamente colocada ao meu lado, na defesa de si própria e na do bom nome do Estado.
Estabelecido o dissídio político provocado pelo presidente Pessoa, dentro do seu partido, ao qual ele
espedaçara, suprimindo-lhe, cesarianamente, de um só golpe, a sua comissão executiva, e usurpando-lhe as
funções para apresentar, com a sua única assinatura, os candidatos ao Congresso Federal, à Presidência e Vice-
Presidência da República, embora que, em relação a estes últimos, o fizesse nominalmente um de seus prepostos,
teve de divergir de importantes municípios, alguns, como eu, com assentos no Congresso do Estado.
A divergência constitui, pois, na oposição que lhe fiz a tal critério personalíssimo com que extinguiu, num
só dia e de uma assentada, por sua vontade unipessoal, obedecendo aos seus caprichos de ocasião, liberdades
preliminares, como a de escolher o partido, por seus legítimos órgãos, os candidatos aos cargos de representação
do Estado.
Essa atitude, comunicada ao senhor João Pessoa, valeu-me logo a demissão do prefeito local e a retirada
de Princesa de todos os representantes da administração estadual, menos a do juiz de Direito, até então meu
adversário político, mas, pessoalmente, sempre atencioso comigo, desde quando, por observação própria, teve a
certeza do quanto à autoridade da magistratura togada, no meu município, livremente se exercia. Essa
consideração, dispensada a mim pelo ilustre magistrado, aumentou quando teve ciência, por terceiros, que eu
repelira o presidente João Pessoa dia antes de várias testemunhas, a proposta que este me fizera de expulsá-lo da
comarca, "colocando-o sobre uma besta, de costas para a cabeça do animal", violência que revela uma covardia,
mais tão do agrado do presidente Pessoa.
Princesa não acolhe cangaceiros. Os que aqui vivem são homens laboriosos, amigos dedicados que nessa
hora do perigo comum, comigo se solidarizaram para defesa das nossas vidas e dos nossos haveres.
Princesa resistirá defendendo os seus direitos e a sua autonomia.
Poderá ser vencida, mas oferecerá ao país o espetáculo de uma população que se defende contra o próprio
massacre, de uma população que enfrentará resoluto os fuzis assassinos do governo, mas não se há render às
investidas de um tarado.
Cumpre ainda proclamar a quantos homens de bom senso tenha o meu país, capazes de alguma isenção
para o julgamento deste caso, que nele, se há ambições, estas são do Presidente da Paraíba, ambições que
desmentem a sinceridade do programa em que ele emoldurou a sua fracassada candidatura, que contrastam com
a pequena dignidade da função de governo.
O senhor João Pessoa pretendeu levantar as populações do nordeste contra o governo central; chego a
premeditar a invasão de Pernambuco e do Rio Grande do Norte; compartilhou do plano de assassinato do
governador Juvenal Lamartine, insultou de público a Presidentes e Governadores dos estados do nordeste,
incompatibilizando-se, pessoalmente, com quatro desses ilustres homens públicos, calunia e difama os seus
adversários políticos, e por fim agita os seus governados, concitando-os à luta fratricida, dentro e fora do Estado.
Sendo Governo, esquece a noção de sua responsabilidade; mandam surrar os seus adversários as portas
do próprio palácio governamental.
Fechou-se na Paraíba, nos torvos dias da campanha presidencial, como ainda agora, neste atentado contra
Princesa, todos os compêndios de lei. A lei é o ridículo de sua obsessão. A sede de mando.
A protervia em vez do bom senso. A felonia arvorada em lealdade. A mentira oficializada.
Resistindo a tamanha ofensa à consciência republicana, é que Princesa só, desarmada, face ao
aparelhamento bélico do governo, distanciada dos centros populosos da nação, protesta e não se rende, nem se
deixará massacrar, se não quando esgotada a resistência que os meios materiais lhe permitirem, dentro da sua
coragem, que é a coragem lendária dos homens do sertão.
A história de amanhã dirá de quem é a insânia deste momento; de quem a covardia e a pusilanimidade;
de quem afinal a responsabilidade de querer governar e elevar-se aos altos postos da nação, oprimindo os seus
concidadãos.
A Paraíba neste momento está retrocedendo cinqüenta anos da sua vida constitucional. Mas, para que as
crônicas de amanhã não a descrevam como flagelada pela covardia e submissão oprobiosas de seus filhos,
Princesa quer dar-se em holocausto à honra e à dignidade do seu passado e o seu sangue derramado imprimirá na
fronte desse tiranete de fancaria a marca inapagável de sua atrocidade, da mentira de um liberalismo de última
hora, proclamado para os néscios que lhe desconhecem os negros antecedentes.
Perante os homens de bem do meu país, declaro que eu, como a população do meu município, que me
assiste resignada a todos os sacrifícios, nada quer, a não ser o direito de viver, de exercitar a nossa atividade
social, econômica e política, como partícula da unidade nacional.
Registre-se, entretanto, esta afirmação: "Princesa poderá ser massacrada, mas não se há de render”.
A guerra de Princesa em 1930, foi um acontecimento que marcou e transformou a vida nacional.
Com referido depoimento, pretendia* "implementar mudanças 'modernas' (...). A bandeira de seu governo era
passar 'uma vassoura nova' para limpar o Estado. E com este pensamento, implementou uma política sistemática
de desprestígio dos chefes políticos (ou coronéis) dos municípios, que eram, segundo o presidente de estado, os
principais responsáveis pelos abusos e, consequentemente, pelo atraso do estado"**.
No dia 19 de fevereiro de 1930, o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, na tentativa de contornar uma
crise política provocada pela divergência na composição da chapa para deputado federal, viaja à Princesa. A chapa
para deputado federal fora publicada a 18 de fevereiro de 1930, no jornal "A União". O presidente é recebido com
festa. Por falta de habilidade política, o presidente João Pessoa e o "coronel" José Pereira, chefe político
princesense, não encontraram um denominador comum. O "coronel" José Pereira rompe com o presidente da
Paraíba. E com o apoio dos Pessoa de Queirós ( os irmãos José e João Pessoa de Queirós), primos do presidente
João Pessoa e donos de um grande empório industrial, jornalístico (Jornal do Commércio) e mercantil (João Pessoa
de Queirós e Cia.), no Recife, rebelou-se contra o governo estadual.
Com data de 22 de fevereiro de 1930, o "coronel" José Pereira rompe oficialmente com o governo do Estado,
através do telegrama n.º 52.
"Dr. João Pessoa - Acabo de reunir amigos e correligionários aos quais informei do lançamento da chapa federal.
Todos acordaram mesmo que V. Excia., escolhendo candidatos à revelia Comissão Executiva, caracteriza palpável
desrespeito aos respectivos membros. A indisciplina partidária que ressumbra do ato de V. Excia, inspirador de
desconfianças no seio do epitacismo, ameaça de esquecimento os mais relevantes serviços dos devotados à causa
do partido. Semelhante conduta aberra dos princípios do partido, cuja orientação muito diferia da atual, adotada
singularmente por V. Excia. Esse divórcio afasta os compromissos velhos baluartes da vitória de 1915 para com os
princípios deste partido que V. Excia. Acaba de falsear. Por isso tudo delibero adotar a chapa nacional, concedendo
liberdade a meus amigos para usarem direito voto consoante lhes ditar opinião, comprometendo-me ainda
defendê-los se qualquer ato de violência do governo atentar contra direito assegurado Constituição. Saudações (a)
José Pereira".
José Pereira Lima, nasceu na Vila de Princesa, em 04 de dezembro de 1884, e faleceu em 13 de novembro de
1949, com 65 anos de idade, na capital pernambucana. Filho de Marcolino Pereira Lima e Águida de Andrade Lima.
Iniciou seus estudos em Princesa, transferiu-se para o Colégio Diocesano da Paraíba, e, já na Faculdade de Direito,
em Recife, teve que abandonar os estudos, em 1905, para assumir, em substituição ao seu pai, que morrera, a
chefia política da região.
No dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente João Pessoa, visando desestabilizar o poder de mando do "coronel",
retira os funcionários do Estado, lotados em Princesa; quase todos os parentes do "coronel", e exonera o prefeito
José Frazão de Medeiros Lima, o vice-prefeito Glicério Florentino Diniz e o adjunto de promotor Manoel Medeiros
Lima, indicados pelo oligarca princesense. O juiz Clímaco Xavier abandonou a cidade por falta de garantias. O
jornal "A União" de 28 de fevereiro de 1930, trazia decretos de exoneração do sub-delegado de Tavares, Belém,
Alagoa Nova (Manaíra) e São José, distritos de Princesa na época.
A respeito da retirada dos funcionários estaduais de Princesa no dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente do
Estado da Paraíba, João Pessoa, enviou telegrama ao presidente da República, Sr. Washington Luiz, onde dizia:
"Assim procedi, primeiro porque a polícia não podia assistir inactiva a invasão da cidade por faccínoras armados..."
(publicado no jornal "A União" de 7 de março de 1930).
No dia 27 de fevereiro de 1930, o "coronel" José Pereira dirigiu ao Sr. Odilon Nicolau a seguinte carta:
"Amigo Odilon Nicolau, o meu abraço. O governo tem feito grande pressão aos eleitores e sei agora que têm sido
espancados vários correligionários da Causa Nacional. Como você já deve saber, rompi com o governo de João
Pessoa e estou disposto a garantir os nossos amigos, para o que envio vários contingentes.
O meu pessoal não tocará em ninguém, salve se for agredido. Havendo de provocar a intervenção, pois estou
disposto a ocupar todos os municípios do Sul do Estado. O mesmo se fará no Norte com outra força comandada
por pessoa em evidência no Estado.
Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para esta luta, porque as minhas relações com você e sua família,
me animam a assim proceder. Não me engane porque a luta está amparada pelos próceres da política nacional.
João Pessoa está ilegalmente no governo, logo depois da eleição, dado o movimento, o Governo Federal tomará
conhecimento dos atos absurdos e inconstitucionais praticados por ele. Venha e não se receie. Do velho amigo,
José Pereira Lima. Princesa, 27 de fevereiro de 1930".
A polícia do Estado ocupa Texeira-Pb., sob o comando dos capitães João da Costa e Irineu Rangel. No mesmo dia
parte das tropas do "coronel" José Pereira segue para Teixeira e trava o primeiro combate da chamada guerra de
Princesa.
O "coronel" José Pereira tinha armas em quantidade recebidas do próprio governo estadual, em gestões
anteriores, para enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna Prestes.
O Governo do Estado não conseguiu invadir Princesa, apesar do Quartel General da Polícia Militar, em Piancó-Pb,
ter planejado e executado o cerco na região.
No dia 24 de março de 1930, 150 homens enviados pelo chefe princesense lutaram 10 horas e conseguiram
expulsar os invasores e libertar os prisioneiros.
Com o rompimento oficial do "coronel" José Pereira em 22 de fevereiro de 1930 no município de Princesa, a justiça
deixou de funcionar, as aulas foram interrompidas e foi suspensa a arrecadação de impostos.
No dia 14 de março de 1930, o "Jornal do Commércio" do Recife publicava o manifesto do "coronel" José Pereira
ao povo brasileiro.
O presidente João Pessoa, com a finalidade de municiar a política do Estado, pede ao Ministro da Guerra, Nestor
Passos, "autorização para importar da França, cem mil cartuchos, para fuzil Mauzer", em 8 de abril de 1930. A
autorização foi negada.
O Governo do Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à Princesa duzentos e vinte homens em doze
caminhões e farta munição sob o comando do tenente Francisco Genésio, e, pasmem, para espanto dos leigos e
estrategistas, um feiticeiro que "benzia a estrada, a cada parada, dizendo: 'Vamos pegar Zé Pereira à unha!'. Os
soldados sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com entusiasmo o novo protetor, pois com ele estariam imunes
às balas. Não foi o que aconteceu. Ao chegarem ao povoado de Água Branca, no dia 5 de junho de 1930*, foram
recebidos à bala, numa emboscada fulminante (...). O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o
feiticeiro"**. Os caminhões foram queimados; quem não conseguiu fugir, morreu; inclusive o tenente Francisco
Genésio(...). Mais de cem mortos e quarenta feridos.
Com a assinatura do deputado estadual e chefe dos revoltosos, "coronel" José Pereira, do Prefeito Municipal, José
Frazão de Medeiros Lima, do presidente da câmara dos vereadores, Manoel Rodrigues Sinhô e do vereador Antônio
Cordeiro Florentino, foi publicada na primeira página do "JORNAL DE PRINCEZA", do dia 21 de junho de 1930, o
Decreto n.º 01, proclamando autonomia político-administrativa em relação ao governo Estadual, porém
subordinado politicamente ao poder político federal, cujo texto transcrevemos a seguir:
ART. II - Passa o município de Princesa, constituir com seus limites atuais, um território livre que terá
a denominação de Território de Princesa.
ART. III - O Território de Princesa assim constituído permanece subordinado politicamente ao poder
público federal, conforme se acha estabelecido na Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil.
ART. IV - Enquanto pelos meios populares não se fizer a sua organização legal, será o Território regido
pela administração provisória do mesmo território. Cidade de Princesa, em 09 de junho de 1930".
O texto, na íntegra, foi lido no expediente do Senado, no dia 13 de junho do mesmo ano, pelo Senador Melo
Viana, e na Câmara Federal o Dep. paraibano Flávio Ribeiro Coutinho exibia um exemplar do "JORNAL DE
PRINCEZA".
"... Para Clovis Bevilcqua, como para Paulo Lacerda, como para todos os jurisconsultos pátrios que se hão
manifestado sobre o caso, o desmembramento de um território ou parte de um Estado é contrário ao texto da
Constituição Federal, por isso que esta, em seu artigo 4º, se refere a Estados e ao modo porque podem subdividir-
se, annexar-se, a outros ou formar novos Estados, desmembramento que, além disso, só se pode admitir por acto
administrativo.
Donde se infere, pela licção dos dois insignes mestres, que a constituição de Princesa em território livre ou
autônomo não passa, como disse Paulo de Lacerda, em tom faceto, de uma verdadeira patusca".
Princesa ganhou projeção nacional e internacional. Tinha suas próprias leis, seu hino, sua bandeira, seu jornal,
seus ministros e seu exército. Até Lampião, foi convidado pelo delegado de polícia de Piancó, para lutar contra os
revoltosos de Princesa, e, o conceituado órgão da imprensa norte-americana, TIME, dedicou uma longa matéria a
respeito do Território Livre de Princesa.
No dia 6 de junho de 1930 o Governo do Estado tentou nova investida contra a cidade rebelde. Enviou do Quartel
General da Polícia Militar, em Piancó, um avião pilotado pelo italiano Peroni, com a missão de lançar panfletos,
concitando o povo a abandonar a luta, senão a cidade seria bombardeada dentro de 24 horas. O panfleto trazia a
seguinte mensagem:
"O governo da Paraíba intima-vos a entregar as vossas armas. Vossas vidas serão garantidas, dando o governo
liberdade aos que não respondem por outros crimes. Convém ouvir a palavra do governo. Deveis apresentar-vos
aos nossos oficiais. Dentro de 24 horas Princesa será bombardeada pelos aeroplanos da polícia e tudo será
arrasado. Evitai o vosso sacrifício inútil. Ainda é tempo de salvar-vos. Não vos enganeis; vossos chefes estão
inteiramente perdidos"**.
O bombardeio não veio. A missão falhou. Com data de 22 de maio de 1930, o jornal do governo "A União"
publicava:"As deserções entre os ladrões e assassinos do traidor José Pereira aumentam diariamente,
principalmente agora que elles já sabem que o reducto central do seu chefe poderá ser transformado em um
montão de ruínas, dentro de poucos minutos pela esquadrilha aérea da Força Pública" .
E como resposta a ameaça de Princesa ser bombardeada, veio a reação do "coronel" José Pereira, que continuava
dono da situação, e, com suas colunas de guerrilheiros fustigava várias cidades do Estado da Paraíba, na tentativa
de atemorizar as tropas da polícia.
Mas a luta perde sua razão de ser. O "coronel" José Pereira queria afastar o presidente João Pessoa do governo,
porém, o advogado João Duarte Dantas, por motivos pessoais/políticos, assassinou o presidente do Estado da
Paraíba, na confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia 26 de julho de 1930.
Com a morte do presidente João Pessoa, o movimento armado de Princesa tomou novo rumo. "(...) os homens de
José Pereira comemoraram a vitória, mas o 'coronel', pensativo, disse: 'Perdemos...! Perdi o gosto da luta'. Já
prevendo os acontecimentos futuros, decorrentes da morte do governador, falou: 'Os ânimos agora vão se acirrar
contra mim'. Os paraibanos ficaram chocados com o assassinato de João Pessoa (a partir daí criou-se todo um
mito), e, em retaliação, perseguiram e incendiaram as casas dos perrepistas na capital"**.
O Presidente da República, Washington Luiz, decidiu terminar com a Revolta de Princesa e o "coronel" José Pereira
não ofereceu resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º e 21º Batalhão de
Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó, ocuparam a cidade em 11 de agosto de 1930.
José Pereira deixa a cidade no dia 5 de outubro de 1930. Depois de anistiado, em 1934, foi residir na fazenda
"Abóboras" em Serra Talhada-PE.
No dia 29 de outubro de 1930, a Polícia Estadual, que não conseguira vencer a insurreição durante a luta, ocupa a
cidade de Princesa com trezentos e sessenta soldados comandados pelo Capitão Emerson Benjamim, passando a
perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando e torturando os que foram presos sem
direito a defesa. Uma triste condecoração para os rudes sertanejos que com bravura participaram de uma luta
improvisada, e que teve um balanço final, aproximadamente, de seiscentos mortos.
Texto adaptado de "Princesa Antes e Depois de 30", Paulo Mariano, por Mardson Medeiros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SILVA, Lígia Maria Tavares da. Características da Urbanização na Paraíba. João Pessoa: Revista Cadernos do
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PATOS-PB
2013