You are on page 1of 124

PROJETO DE ARQUITETURA II

ENSINO A
DISTÂNCIA
Copyright © 2021 by Editora Faculdade Avantis.
Direitos de publicação reservados à Editora Faculdade
Avantis e ao Centro Universitário Avantis – UNIAVAN.
Av. Marginal Leste, 3600, Bloco 1.
88339-125 – Balneário Camboriú – SC.
editora@avantis.edu.br

Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2010.

Nenhuma parte pode ser reproduzida, transmitida ou duplicada sem o consentimento


da Editora, por escrito. O Código Penal brasileiro determina, no art. 184, “dos crimes
contra a propriedade intelectual”.

Projeto gráfico e diagramação: Ana Lúcia Dal Pizzol


Editoração: Bruna Jaime Feiden

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca do


Centro Universitário Avantis - UNIAVAN
Aline Medeiros d’Oliveira. CRB 14 – 1063

Tondo, Gabriela Hanna


T663p Projeto de arquitetura II. /EAD/ [Caderno pedagógico].
Gabriela Hanna Tondo. Balneário Camboriú: Faculdade
Avantis, 2021.
121 p. il.

Inclui Índice
ISBN: 978-65-5901-046-2
ISBNe: 978-65-5901-047-9

1. Projeto Arquitetônico. 2. Estudo - tema. 3. Estudo –


Viabilidade. 4. Estudo - preliminar. 5. Anteprojeto - Legislação
6. Arquitetura e Urbanismo - Ensino a Distância. I. Centro
Universitário Avantis - UNIAVAN. II. Título.

CDD 21ª ed.


720 – Arquitetura e Urbanismo - Projetos.
PLANO DE ESTUDOS

OBJETIVOS DA DISCIPLINA

• Dominar a inserção de um projeto misto no tecido urbano.


• Compreender o processo de projeto de uma edificação vertical.
• Avaliar o entorno e as condicionantes de projeto físico-espaciais, presentes em
cada caso.
• Desenvolver um partido de projeto coerente e forte, que seja capaz de orientar
as decisões de projeto, levando em consideração as condicionantes do entorno,
terreno, clima e do programa de necessidades.
• Propor um Estudo Preliminar, utilizando como base o Levantamento de Dados, o
Programa de Necessidades e o Estudo de Viabilidade.
• Propor um Anteprojeto detalhado, utilizando como base a etapa do Estudo
Preliminar.

O PAPEL DA DISCIPLINA PARA A FORMAÇÃO DO ESTUDANTE

Caro(a) acadêmico(a), as disciplinas de Projeto de Arquitetura são a “espinha dorsal”


do curso de Arquitetura e Urbanismo.
Projeto de Arquitetura II, assim como as outras disciplinas de projeto, é fundamental
para o seu desenvolvimento como acadêmico e profissional. Todos os conhecimentos
adquiridos nas demais disciplinas devem ser aplicados em seu projeto, pois eles são a
base para o melhor desenvolvimento do projeto arquitetônico.
Projetar é a tarefa mais própria do arquiteto, e são as disciplinas de projeto que
permitirão a você experimentar, testar, errar, consertar e se conhecer como arquiteto.
Não há outra forma de aprender a projetar a não ser projetando! Por isso, realize todas
as atividades do caderno, seja esforçado, dando o seu melhor em cada etapa. Procure
se sentir satisfeito e orgulhoso do seu trabalho, para que ele possa refletir o que você
gostaria de transmitir com ele. Assim, além do seu desenvolvimento como acadêmico,
poderá construir o portfólio de projetos, o qual será utilizado, mais tarde, também na sua
vida profissional.
O presente caderno procura dar uma pequena base teórica sobre os diversos temas
envolvendo o projeto vertical misto, a temática deste projeto. Cabe destacar que os
conhecimentos precisam ser aprofundados, e o que apresentamos é um resumo, a fim de
que você tenha um norte sobre as etapas, as quais devem ser seguidas, como devem ser
executadas e onde encontrar as informações pertinentes e relevantes.
A escrita foi desenvolvida para ser de fácil compreensão e fluida. Espero que, a partir
dos conhecimentos que compartilho com grande satisfação e alegria, você possa se
desenvolver como acadêmico e futuro arquiteto de sucesso!

Um ótimo estudo!
PROFESSORA

APRESENTAÇÃO DA AUTORA

GABRIELA HANNA TONDO


Sou Arquiteta e Urbanista, graduada pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Mestra em Engenharia Civil, pela Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), com foco em
sustentabilidade e desempenho de edificações.
Trabalho como docente no Ensino Superior,
nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de
Interiores. Também atuo em projetos arquitetônicos,
reformas e projetos de design de interiores e
consultoria.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/4723293525360991
SUMÁRIO

UNIDADE 1 - CONCEITUAÇÃO E LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES DO


PROJETO ARQUITETÔNICO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
INTRODUÇÃO À UNIDADE ...................................................................................................................................... 10
1.1 ETAPAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO.......................................................................................................11
1.2 CONCEPÇÃO DO PROJETO.................................................................................................................................13
1.3 O TERRENO................................................................................................................................................................17
1.4 LEVANTAMENTO DE DADOS........................................................................................................................... 19
1.4.1 O terreno...............................................................................................................................................................................20
1.4.2 O Entorno............................................................................................................................................................................21
1.4.3 Condicionantes Legais............................................................................................................................................ 27
1.4.4 Condicionantes Ambientais ...............................................................................................................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................ 36
EXERCÍCIO FINAL........................................................................................................................................................ 38
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................. 40

UNIDADE 2 - ESTUDO DO TEMA E PROGRAMA DE NECESSIDADES . . . . . . . . . 41


INTRODUÇÃO À UNIDADE ......................................................................................................................................42
2.1 AS EDIFICAÇÕES DE USO MISTO..................................................................................................................42
2.2 RELAÇÃO PÚBLICO X PRIVADO................................................................................................................... 44
2.3 PROJETO DE EDIFICAÇÃO DE APARTAMENTOS.................................................................................. 50
2.4 O PROGRAMA DE NECESSIDADES............................................................................................................. 58
2.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO............................................................................................................................... 59
2.6 ESTUDOS FUNCIONAIS..................................................................................................................................... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................ 65
EXERCÍCIO FINAL........................................................................................................................................................ 66
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................. 68

UNIDADE 3 - ESTUDO DE VIABILIDADE E ESTUDO PRELIMINAR.. . . . . . . . . . . . . . . 71


INTRODUÇÃO À UNIDADE ......................................................................................................................................72
3.1 ESTUDO DE VIABILIDADE..................................................................................................................................72
3.2 ESTUDO PRELIMINAR........................................................................................................................................75
3.3 APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE CONFORTO AMBIENTAL – INSOLAÇÃO.............................76
3.4 ESTRUTURA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO...............................................................................................82
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................ 89
EXERCÍCIO FINAL........................................................................................................................................................90
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................92

UNIDADE 4 - ANTEPROJETO E LEGISLAÇÃO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93


INTRODUÇÃO À UNIDADE....................................................................................................................................... 94
4.1 ANTEPROJETO........................................................................................................................................................ 94
4.2 SAÍDAS DE EMERGÊNCIA................................................................................................................................ 96
4.3 ESTACIONAMENTO ............................................................................................................................................101
4.4 ELEVADORES........................................................................................................................................................107
4.5 CAIXAS D’ÁGUA................................................................................................................................................... 109
4.6 ACESSIBILIDADE NA EDIFICAÇÃO.............................................................................................................112
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................118
EXERCÍCIO FINAL........................................................................................................................................................119
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................................121
1
unidade

CONCEITUAÇÃO
E LEVANTAMENTO
DE INFORMAÇÕES
DO PROJETO
ARQUITETÔNICO
INTRODUÇÃO À UNIDADE

Agora que você já passou pelo Projeto de Arquitetura I, aprendeu mais sobre arquitetura
e realizou o seu primeiro projeto arquitetônico, iniciaremos o caderno de Projeto de
Arquitetura II com duas perguntas: O que é Projeto de Arquitetura, afinal? O que estamos
fazendo nas disciplinas de projeto e ao longo de todo o curso? Estes são questionamentos
para reflexão e discussão, mas não são perguntas sem resposta.
Para que possamos entender melhor, a NBR 16631 (ABNT, 2017) define Projeto
Arquitetônico como “uma representação do conjunto dos elementos conceituais,
concebida, desenvolvida e elaborada por profissional habilitado, necessária à
materialização de uma ideia arquitetônica, realizada por meio de princípios técnicos e
científicos, visando à consecução de um objetivo ou meta, adequando-se aos recursos
disponíveis, leis, regramentos locais e às alternativas que conduzam a viabilidade da
Decisão”.
Além da definição técnica da norma, temos outras definições, como expõe Fabricio
(2002): o projeto arquitetônico é um processo e não deve ser entendido somente
como um produto que define a edificação, gerando desenhos, especificações técnicas,
detalhamentos e memoriais, pois ele é, na realidade, uma série de decisões e formulações
que visam subsidiar a criação e a produção de um empreendimento, essas são tomadas
a partir de um processo, uma metodologia do projetista. Para Melhado (1994), o projeto
arquitetônico é o elemento responsável pelo desenvolvimento, organização, registro e
transmissão das características físicas e tecnológicas a serem consideradas na execução
de uma edificação, ou seja, é o projeto que determina como serão as construções de um
tempo e de um contexto específico.
Perceba, pelas definições, que o projeto de Arquitetura envolve tanto um viés de
conhecimento técnico, como um viés humano e criativo. Ou seja, estamos lidando tanto
com técnicas construtivas, medidas, orçamentos, estruturas, ergonomia, funcionalidade,
que são questões quantificáveis, quanto com pessoas, expectativas, sonhos, estética,
criatividade e outras questões que são difíceis de majorar.
Assim, o arquiteto, como um profissional generalista, o qual consegue dominar as
diversas etapas da construção, precisa desenvolver uma grande gama de conhecimentos
e habilidades, para poder fazer as ideias e sonhos das pessoas, de fato, saírem do papel.
Neste caderno, aprofundaremos nossos conhecimentos em projeto arquitetônico e
realizaremos um exercício de projeto mais complexo que o anterior, por meio de uma
edificação vertical de uso misto.
Na Unidade 1, estudar-se-á o processo de concepção do projeto e as etapas do projeto

10
PROJETO DE ARQUITETURA II
arquitetônico. Iniciaremos a etapa preparatória, conhecendo o terreno e levantando
os dados necessários para começar o projeto, assim como foi feito em Projeto de
Arquitetura I.

1.1 ETAPAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO

PARA REFLETIR
Faço um convite para refletir sobre o que você entende por arquitetura. O que é o
projeto arquitetônico para você? Qual a importância do arquiteto/a na realização de uma
obra? Qual a importância do projeto arquitetônico e de se ter um BOM projeto arquitetô-
nico? O que isto agrega de valor às pessoas, à cidade e à sociedade? Por que é importante para VOCÊ se
formar como arquiteto/a e urbanista?
Ao longo deste caderno, espero que consiga responder a estas perguntas para você mesmo e enten-
da um pouco mais sobre a profissão, a qual você escolheu.

Neste caderno, desenvolveremos um projeto arquitetônico, utilizando como base a


NBR 16636-2 (ABNT, 2017) para as etapas de projeto. A fim de simplificar um pouco a
norma, utilizaremos cinco etapas básicas de projeto:
• Levantamento de Dados (LV-ARQ);
• Programa de Necessidade (PN-ARQ);
• Estudo de Viabilidade (EV-ARQ);
• Estudo Preliminar (EP-ARQ) e
• Anteprojeto (AP-ARQ)

Iniciaremos, abordando em que consiste cada etapa, e o que é necessário a ela.


No levantamento de dados, devemos pesquisar e colher todas as informações de que
precisamos, antes de iniciar o projeto. Cada projeto é diferente e pode exigir uma pesquisa
distinta, mas, no geral, há três pontos necessários nesta etapa: estudar o tema do projeto,
sua função, suas especificidades e características; procurar projetos semelhantes, ou que
inspirem o projeto de alguma forma, os chamados estudo de caso; e o estudo do terreno
e do seu entorno.
Após o levantamento inicial de dados, determina-se o programa de necessidades,

11
PROJETO DE ARQUITETURA II
sendo ainda uma fase preparatória do projeto. Nela, é feita a entrevista com o cliente para
o briefing do projeto ou, em nosso caso, será feita uma pesquisa para a determinação do
programa de necessidades a ser adotado.
No meio acadêmico, e algumas vezes no profissional também, para iniciar o projeto, é
necessário pesquisar os espaços, os quais compõem a temática do projeto. O que precisa
ter na edificação que estou projetando, para ela ser adequada e atender às necessidades
dos usuários? Além da lista de ambientes, é necessário pesquisar a relação funcional
destes ambientes, expressa na forma de diagramas (fluxogramas e organogramas
funcionais). Também é imprescindível pesquisar o tamanho dos espaços para atender à
função desejada, tendo espaço suficiente para o mobiliário que se deseja inserir e para a
circulação, isto é, o pré-dimensionamento.
Dominada a temática do projeto, parte-se para os primeiros estudos, os quais
chamamos de partido de projeto ou estudo de viabilidade. Nesta parte, fazemos a síntese
das condicionantes de projeto, levantadas na etapa anterior, assim podemos ter diretrizes
de como implantar nosso projeto, qual a melhor insolação, os melhores acessos, a melhor
forma de conectar a edificação com a cidade etc.
A partir da síntese dos dados levantados e de todas as informações que obtivemos,
fazemos o zoneamento do projeto, locamos as áreas do programa de necessidades no
terreno, é um esquema inicial de nossa futura planta baixa, mas ainda sem uma forma
definida.
Após o zoneamento inicial, parte-se para a proposição de uma volumetria, que é
uma resposta às etapas anteriores, propondo uma solução inicial, a qual comporte
todo o programa de necessidades de forma adequada e seja uma resposta arquitetônica
funcional e esteticamente interessante ao problema apresentado. Perceba que tudo
ainda é muito inicial, e estão sendo estudadas diversas soluções possíveis e adequadas
ao problema, por isso não tenha medo ou pressa, estude diversas soluções até definir à
que você irá seguir.
Depois das definições, partimos para detalhar melhor o que foi proposto. Nesta fase,
podemos encontrar incoerências, as quais precisam ser resolvidas. Novamente, devemos
mudar o que for necessário. O chamado estudo preliminar é o momento, no qual nasce
o projeto em si. É possível que seja a etapa de maior criação do arquiteto, e talvez a mais
difícil para o estudante, pois é nela que se tomam decisões importantes, o projeto toma
forma, são elaboradas as soluções técnicas do projeto e a volumetria é melhor definida.
Entregam-se os desenhos técnicos iniciais do projeto, como planta baixa, cortes, fachadas,
implantação e volumetria.
Por fim, chegamos à última etapa do nosso projeto acadêmico, que é o anteprojeto.
Neste ciclo, todas as soluções estudadas são bem definidas; os desenhos técnicos são

12
PROJETO DE ARQUITETURA II
aprofundados e detalhados; são especificados os materiais; os cortes são mais definidos;
tudo é cotado e bem representado, para que o desenho não deixe dúvidas da intenção do
projetista.
Quantas informações, não é mesmo? Pois bem, este é o escopo básico do nosso projeto
e do nosso caderno.
Compreenderemos, de forma mais aprofundada, cada um dos itens aqui abordados,
sendo a ideia da introdução apresentada que você tenha uma visão geral do processo.
Além do detalhamento de cada fase das entregas, discutiremos outras informações
importantes de apoio, para desenvolvermos um bom projeto arquitetônico e entendermos
as variáveis mais consideráveis para a concepção e inserção urbana de um projeto vertical
de uso misto, que é a temática do exercício de projeto da disciplina.

1.2 CONCEPÇÃO DO PROJETO

Antes de falar sobre como fazer as primeiras etapas do projeto, e o que deve ser entregue
em cada uma delas, gostaria de fazer uma reflexão acerca da concepção do projeto em si.
Acredito que seja uma angústia de muitos estudantes e arquitetos, portanto cabe refletir
e discutir o assunto.
A concepção do projeto é uma etapa de diferenciação na arquitetura, e o que define e
cria a identidade de muitos escritórios de projeto de arquitetura. O processo de concepção,
além de envolver pesquisa, também envolve uma metodologia, a qual varia para cada
arquiteto, e você pode, ao logo do caminho, ir testando e desenvolvendo a sua própria.
Um projeto que inicia bem tem mais chances de terminar bem e requer menos
retrabalho ao longo do processo (algo muito comum no mundo dos projetos de arquitetura
e custa dinheiro dentro dos escritórios). No entanto, é necessário entender que as etapas
de preparação do projeto, embora bem-feitas, não garantem um bom projeto, mas elas
garantem a compreensão da problemática do projeto, que visa levar a uma boa síntese
arquitetônica, da qual nasce a concepção do projeto.
Dessa forma, mesmo que a compreensão do problema não garanta uma boa concepção
do projeto ou partido de projeto (como iremos chamar), a recíproca não é verdadeira, pois
não é possível uma boa concepção arquitetônica, sem a compreensão da problemática do
projeto. Muitas vezes, no processo de projeto, só dominaremos o terreno, o programa e a
forma, quando o processo está mais adiantado e, por isso, mudamos o projeto, para ele se
adequar à resposta, da qual precisamos. É importante que você confie no seu processo de
amadurecimento do projeto e não tenha medo de mudar ao longo do caminho.

13
PROJETO DE ARQUITETURA II
Voltando ao processo de concepção, ele envolve uma metodologia, que será
apresentada ao longo do estudo e que você pode ver resumida na Figura 1.

Figura 1 – Processo para a Concepção do Projeto.


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

Conforme Odebrecht (2006), quando se segue uma linha de pensamento e


metodologia, mais facilmente se consegue chegar a uma solução projetual satisfatória.
Esta metodologia, assim como a arquitetura, envolve momentos mais técnicos de
levantamento de informações e pesquisa, mas também envolve uma parte criativa, que
transforma as informações técnicas em partido de projeto e exprime, também, sensações,
sentimentos e beleza (Figura 2).

14
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 2 – Esquema metodológico das etapas de projeto
Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

A primeira etapa do projeto refere-se ao levantamento de dados (LV-ARQ), que é o


momento de coleta de informações e maior análise técnica e científica. A segunda etapa,
descrita como arte, refere-se principalmente ao estudo de viabilidade (EV-ARQ) ou
partido de projeto e ao estudo preliminar (EV-ARQ) que, apesar de já envolver informações
técnicas, é uma fase ainda bastante criativa, e, por fim, temos novamente etapas mais
técnicas que se referem, no nosso caso, ao anteprojeto (AP-ARQ). Em um projeto real,
podemos ter mais etapas de detalhamento, como o projeto executivo, compatibilização
de projetos etc.
Para um bom projeto de arquitetura, precisamos saber mesclar a arte, a emoção e a
forma com a ciência, a razão, a função e a exequibilidade, para ter como resultado um
bom projeto arquitetônico (Figura 3).

15
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 3 – Esquema Metodológico das Etapas de Projeto.
Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

Chegar a um consenso entre a forma (volumetria) e a função (funcionalidade) é o


grande desafio da arte do projeto arquitetônico (Figura 4), mas é imprescindível conseguir
equilibrar o que é necessário em cada proposta.

Figura 4 – Esquema Metodológico da Concepção do Projeto


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

Enfim, o projeto arquitetônico é complexo, pois envolve soluções técnicas e artísticas,


resultado da manipulação criativa de diferentes elementos: funções, volume, espaço,
textura, luz, materiais, componentes técnicos, custos, desempenho e tecnologia
construtiva.

16
PROJETO DE ARQUITETURA II
SAIBA MAIS
Para compreender os diferentes processos de concepção e se inspirar, assista
aos vídeos e veja como outros arquitetos criaram formas criativas, a partir de
processos inusitados:
• <https://www.youtube.com/watch?v=J4QSbRD0mwc&feature=youtu.be >. Acesso em: 20
de novembro de 2020.
• <https://www.youtube.com/watch?v=fwJB7KzDEbQ>. Acesso em: 20 de novembro de
2020.

1.3 O TERRENO

Assim, conhecendo as etapas do projeto e refletindo sobre o seu processo de concepção


em arquitetura, podemos iniciar as etapas do nosso projeto. O primeiro ponto é conhecer
o terreno, no qual trabalharemos neste caderno. O terreno fica localizado na Praia Brava,
em Itajaí, um local que está se desenvolvendo e se consolidando na região.
Ele está locado em uma esquina, o que abre diversas possibilidades para trabalhar o
projeto e os acessos, facilitando a sua inserção urbana. Conforme a Figura 5, o terreno
está na quadra 03, entre as ruas Delfim Mário de Pádua Peixoto, Maria das Dores Santos
Mueller e uma nova rua criada, que é sem saída. Você também pode observar pelas
imagens do Google alguns visuais do terreno (Figuras 6, 7 e 8).
O levantamento de dados do terreno pode ser iniciado tanto de forma digital quanto
in loco. Recomendo mesclar as duas formas, para um levantamento ágil e efetivo, pois,
apesar dos diversos recursos digitais de que dispomos, que nos auxiliam, facilitam e
agilizam nosso trabalho, visitar o terreno, conhecer o local, perceber como a luz e o vento
batem nele, quais as principais visuais, os principais pontos focais e como funciona o
entorno são pontos importantes para compreender a problemática do projeto. Conhecer
e entender o terreno é fundamental e imprescindível para fazer um bom levantamento
de dados, que é o nosso próximo tópico.

17
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 5 – Localização do Terreno.
Rua Delfim Mário de Pádua Peixoto; 2. Rua Maria das Dores Santos Mueller;
Rua Sem Saída.
Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Google Maps (2020).

Figura 6 – Visual do Terreno.


Fonte: Google Maps (2020).

18
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 7 – Visual do Terreno.
Fonte: Google Maps (2020).

Figura 8 – Visual do Terreno.


Fonte: Google Maps (2020).

1.4 LEVANTAMENTO DE DADOS

Agora que você já se familiarizou, visitou e conheceu o terreno, podemos iniciar o


levantamento de dados. O levantamento de dados visa fornecer as condicionantes de
projeto, as quais dividem em quatro categorias principais, conforme já vimos em Projeto
de Arquitetura I: as condicionantes físicas do terreno, as condicionantes locais (urbanas
ou do entorno), as condicionantes legais e as condicionantes ambientais (Figura 9).

19
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 9 – Etapas do Levantamento de Dados.
Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

1.4.1 O terreno

Começaremos o levantamento de dados pelos dados do terreno. O primeiro ponto a


ser levantado é a sua localização, onde ele se encontra no estado, na cidade e no bairro.
Com a localização do terreno, podemos mapear as suas características físicas, quais as
suas dimensões, qual o tamanho da sua testada, da sua profundidade, qual a sua forma
geométrica (Figura 10).
Não esqueça que todas essas informações devem ser apresentadas, em forma de
mapa ou diagramas, e analisadas pelo autor ou autores. Além disso, é relevante mostrar
a topografia do terreno. Ele possui desníveis, quais são, onde estão localizados dentro do
terreno? Para tais informações você pode usar um mapa de topografia com as curvas de
nível. E, por fim, é importante marcar a vegetação existente, qual o seu porte, são árvores,
arbustos ou é uma vegetação rasteira? Será necessário retirá-la, precisa mantê-la? Todas
as informações precisam ser graficamente mostradas e analisadas.

20
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 10 – Exemplo da Forma e Dimensões do Terreno.
Fonte: Adaptado pela autora (2020).

1.4.2 O Entorno

Após a análise do terreno, é feita a análise do entorno, a qual permite perceber as


influências das edificações vizinhas no entorno e na arquitetura que será construída, além
de estabelecer relações entre o terreno, o projeto e o que é pré-existente. Entendendo o
entorno, podemos ajustar melhor o programa de necessidades, a forma arquitetônica, os
materiais, o gabarito e a inserção urbana, para que o projeto pertença ao local, no qual
estamos projetando.
A análise do entorno é feita por meio de levantamento in loco e confecção e análise
de mapas temáticos, como mapas de cheios e vazios, uso do solo, gabaritos e outros,
conforme veremos. Mais recentemente tem-se utilizado também o Google Maps ou
Google Earth como ferramenta de auxílio nestes levantamentos.
Para a análise do entorno, utilizaremos os seguintes mapas-base:
Mapa de Cheios e Vazios: neste mapa coloca-se o que está edificado (preto) e não
edificado (branco), conforme se observa na Figura 11. Não são apresentadas ruas,
quadras e lotes. Para o levantamento, será utilizado um raio de 250 metros, a partir do
terreno. No mapa, é possível ver se a região está consolidada ou não, se são grandes ou
pequenas as construções, como é feito o parcelamento do solo etc. Essas análises são
complementadas com os outros mapas que serão feitos. Um exemplo de como deve ser
organizada a prancha está na Figura 12.

21
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 11 – Exemplo de Mapa de Cheios e Vazios.
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Figura 12 – Exemplo da Prancha do Mapa de Cheios e Vazios.


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

• Mapa de Uso do Solo: neste mapa, deve-se identificar o uso atual das edificações
existentes no entorno, ou seja, se elas são residenciais, comerciais, serviços,
institucionais ou mistas (Figura 13). Ele permite avaliar se o uso que estamos
propondo está de acordo com os usos do entorno e entender o funcionamento
da região. Para o levantamento, será utilizado um raio de 250 metros, a partir

22
PROJETO DE ARQUITETURA II
do terreno. Para a legenda deste mapa, utilizaremos amarelo para edificações
residenciais, vermelho para edificações comerciais, laranja para as edificações
mistas, roxo para as edificações institucionais e verde para as áreas verdes. Observe
um exemplo da prancha na Figura 14.

Figura 13 – Exemplo de Mapa de Uso do Solo.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Figura 14 – Exemplo da Prancha do Mapa de Uso do Solo.


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

• Mapa de gabaritos: neste mapa, deve-se identificar os gabaritos atuais das


edificações existentes no entorno. Para o levantamento, sugere-se dividir a legenda
em 1-2 pavimentos, 3-4 pavimentos, 5-8 pavimentos, mais que 8 pavimentos. Você

23
PROJETO DE ARQUITETURA II
pode utilizar outras legendas, conforme ache necessário ou interessante para a sua
análise. Para o levantamento desta etapa será utilizado um raio de 250 metros, a partir
do terreno. O mapa ajuda a analisar a densidade da região, quanto mais ocupada e
mais altos são os gabaritos, mais denso é o local; também nos ajuda a perceber se há
um bloqueio de insolação e ventilação próximo ao terreno, assim como entender o
skyline da região e como adequar o gabarito da edificação ao entorno.

Figura 15 – Exemplo de Mapa de Gabaritos.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Figura 16 – Exemplo da Prancha do Mapa de Gabaritos.


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

24
PROJETO DE ARQUITETURA II
• Mapa do Sistema Viário: este mapa analisa o sistema viário, a partir da
classificação de hierarquia viária, fluxos, direções, nós e conflitos, modais etc.
Para o levantamento desta etapa, será utilizado um raio de 500 metros, a partir
do terreno. Pode-se ampliar um pouco mais o raio, para poder melhor entender
o sistema viário ao redor do terreno. A classificação de hierarquia viária utilizada
neste mapa é a seguinte:
- Via de Trânsito Rápido / Expressa: trânsito livre, sem acessibilidade direta aos lotes
lindeiros e sem travessia de pedestres em nível.
- Via Arterial: conecta regiões da cidade, com interseções e acessibilidade aos lotes
lindeiros e às vias secundárias e locais. Em geral, são avenidas.
- Via Coletora: aquela destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade
de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro
das regiões da cidade.
- Via Local: destinada apenas ao acesso local, ou a áreas restritas aos próprios
moradores da rua.

Figura 17 – Exemplo de Mapa Sistema Viário.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

25
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 18 – Exemplo da Prancha do Mapa de Uso do Solo.
Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de Morimoto (2020).

Além dos mapas, recomenda-se que seja feito um levantamento fotográfico da área
(Figura 19), o qual pode ser feito como um percurso do terreno e do entorno, analisando
pontos focais, marcos visuais, vistas principais etc., a partir do terreno, de modo a auxiliar
na criação de diretrizes para a inserção do projeto no terreno.

Figura 19 – Exemplo de Levantamento Fotográfico.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

26
PROJETO DE ARQUITETURA II
1.4.3 Condicionantes Legais

Um dos pontos mais importantes para qualquer projeto é o levantamento das
condicionantes legais, sendo uma etapa obrigatória para qualquer arquiteto ou
construtor, pois determinará o que se pode ou não construir e quanto se pode ou não
construir. Conforme o resultado desta etapa, muitas vezes, um empreendimento pode ser
inviabilizado, portanto é essencial que você se familiarize com os termos e aprenda a ler
e interpretar a legislação desde agora, além de pesquisar sobre as legislações pertinentes
ao seu objeto de estudo.
Nesta etapa, vamos nos ater apenas às leis municipais, como o Código de Obras, Plano
Diretor, Zoneamento e Uso do solo. No entanto, existem diversas outras que devem
ser seguidas, como as normativas dos bombeiros, legislações ambientais específicas,
normas de acessibilidade etc. Algumas normativas veremos ao longo do caderno, mais
especificamente na Unidade 04, se você tiver necessidade ou curiosidade, pode pular
algumas etapas e ir conhecendo algumas delas.
Para a análise da legislação desta etapa, recomendo que você peça uma consulta
prévia no site da prefeitura de Itajaí, através do link: <https://geoitajai.github.io/
geo/plantacadastralconsultaprevia.html>, em que você encontrará as informações
necessárias para iniciar o seu projeto (Figura 20).

Figura 20 – Exemplo de Levantamento Fotográfico.


Fonte: Adaptado pela autora (2020), a partir de: <https://geoitajai.github.io/geo/plantacadastralconsul-
taprevia.html>. Acesso em: 20 de novembro de 2020.

27
PROJETO DE ARQUITETURA II
Para o desenvolvimento de nosso projeto acadêmico, focaremos nos índices
urbanísticos mais importantes, tais como:
• Zona em que está o terreno.
• Usos Permitidos.
• Taxa de ocupação (%).
• Coeficiente de Aproveitamento.
• Recuo Frontal.
• Afastamento Lateral e Fundos.
• Gabarito e/ou Pavimentos.

Esses conceitos foram vistos em Projeto de Arquitetura I, vamos revisá-los e mostrar


um exemplo de como aplicá-los dentro do projeto.
Taxa de ocupação é a relação percentual entre a projeção horizontal da edificação e
a área do terreno. A taxa de ocupação é, relativamente, independentemente do número
de pavimentos. Na Figura 21, podemos perceber como a taxa de ocupação varia em um
terreno de 360m². Na Figura 22, podemos observar o tamanho de um terreno exemplo e
o tamanho da edificação permitida pela taxa de ocupação.

Figura 21 – Exemplo da taxa de ocupação.


Fonte: Adaptado pela autora, a partir de TORRES; SABOYA (2020).

Figura 22 – Exemplo da Taxa de Ocupação em um Terreno Real.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

28
PROJETO DE ARQUITETURA II
Coeficiente de aproveitamento é o número que, multiplicado pela área total do
terreno, indica a área total, na qual se pode construir. Por exemplo, em um terreno de
360m², ter um coeficiente de aproveitando de 3, significa poder construir, no total, 360
x 3 = 1080m². Estes 1080m² podem ser divididos em quantos pavimentos o projetista
desejar, desde que não seja maior do que o número máximo de pavimentos permitido, e
também a edificação não pode ocupar mais que a taxa de ocupação permitida do terreno.
Afastamentos e recuos são as distâncias que a edificação deve observar, a partir das
divisas do lote. A edificação deve ter uma distância mínima da divisa que é determinada
pela legislação, a qual precisa ser respeitada, para garantir a ventilação e iluminação
de todo o conjunto urbano. Em alguns casos, pode-se encostar uma porcentagem da
edificação na divisa do lote, desde que seja uma parede cega, sem aberturas. No caso do
recuo frontal, este dificilmente pode ser construído, sendo obrigatório que sempre esteja
livre, e sem nenhum tipo de cobertura.
Gabaritos é o número máximo de pavimentos que pode ser construído naquela área
e deve ser compatível com a densidade desejada para cada zona. Além da questão da
densidade, os gabaritos também vão levar em consideração questões ambientais. Por
exemplo, perceba que, na Praia Brava, próximo à costa, os gabaritos liberados são menores,
mas conforme as edificações vão se afastamento do mar são liberados gabaritos mais
altos. Áreas ambientalmente frágeis ou de proteção do patrimônio histórico, ou locais
nos quais a infraestrutura urbana não é grande, tendem a ter gabaritos menores, devido
aos problemas que pode gerar uma maior densidade de pessoas.
Na Figura 23, temos os índices mencionados acima aplicados em um terreno real.
Temos as medidas do terreno nas cotas gerais, o gabarito máximo da edificação é de
8 pavimentos, o recuo frontal mínimo é de 8m e os laterais são de 1,5m, conforme se
percebe na imagem. Dividindo o valor do coeficiente de aproveitamento pelo número
máximo de gabaritos (que neste caso é 8), cada pavimento teria uma área de 914,16m². Não
necessariamente será construído o máximo de pavimentos ou a máxima área permitida.
A máxima área permitida total, que se tem pela conta do coeficiente de aproveitamento
pode ser dividida em menos de 8 pavimentos, respeitando a taxa de ocupação e os recuos.

29
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 23 - Exemplo dos Recuos, do Número Máximo de Gabaritos e da Divisão do Uso do Coeficiente de
Aproveitando em um Terreno Real.
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

1.4.4 Condicionantes Ambientais

Outro ponto relevante a ser considerado é a análise da condição ambiental do terreno,


a qual inclui a análise do clima da região, da orientação solar, da ação dos ventos, dos
elementos do entorno que podem influenciar no clima e nas variáveis ambientais
dentro do terreno: grandes edificações do entorno que podem influenciar na ventilação
e insolação, grandes massas vegetais, morros, grandes corpos hídricos, como rios,
mares e outros. Além destas, será feita uma análise, de acordo com a Zona Bioclimática
determinada na NBR15220-3 (ABNT, 2005).
Segundo Odebrecht (2006), a questão ambiental não pode ser deixada para a
finalização da concepção, pois implica condicionantes fundamentais, interferindo na
escolha de soluções que podem alterar todo o partido arquitetônico. Portanto, a análise
ambiental deve ser introduzida no início da concepção do projeto arquitetônico e
permanecer durante o processo de projeto. Quando focamos somente na funcionalidade
da planta baixa, corremos o risco de propor um objeto arquitetônico ineficiente do ponto
de vista energético e de conforto, necessitando de equipamentos mecânicos, como o ar-
condicionado, de modo abusivo e desnecessário.
Assim, para o levantamento das condicionantes ambientais, é necessário pesquisar
os ventos predominantes no terreno e utilizar a carta solar para verificar o período de
insolação de cada fachada. Acredito que você já tenha estudado este assunto na disciplina

30
PROJETO DE ARQUITETURA II
de Conforto Ambiental e Térmico. Não se esqueça de sempre colocar o norte, analisar os
dados e aplicá-los no seu objeto de estudo (Figuras 24 e 25).

Figura 24 - Exemplo dos Dados de Insolação e Ventilação da Região de Itajaí.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Figura 25 - Exemplo dos Dados de Insolação e Ventilação Levantados e Aplicados no Terreno.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

SAIBA MAIS
Para fazer uma análise da carta solar dentro do terreno, você pode utilizar a
ferramenta de Sun Earth, disponível no link: <https://www.sunearthtools.com/
pt/index.php>. Acesso em: 20 de novembro de 2020, conforme exemplificado na Figura 25. Para
utilizar a ferramenta, basta clicar em Sun Position e colocar as coordenadas do local.

31
PROJETO DE ARQUITETURA II
Por fim, levantar a presença no entorno de massas vegetais ou edificadas, montanhas,
vales, rios, mar, praias, praças, parques, tipo de pavimentação e sombreamento do entorno
– que possam interferir nas variáveis do macroclima (insolação, ventilação, umidade e
temperaturas) e no projeto. Para melhor compreender estas informações aplicadas ao
terreno, é importante apresentar o terreno com a orientação solar e entorno, comentando
as diferentes orientações solares com suas restrições (problemas) e potencialidades, o
que inclui as informações anteriores dentro do contexto do terreno, como na Figura 26.

Figura 26 – Exemplo da Análise das Condicionantes Ambientais, Considerando o Entorno.


Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Para uma análise mais detalhada do que está acontecendo no terreno, pode ser feita
uma maquete de massas, com as edificações e outros elementos que interferirão no
terreno. Você pode estudar esta maquete do ponto de vista solar em softwares como o
SketchUp ou o Revit (Figura 27). Você também pode fazer uma maquete física e estudar
no Heliodon, no laboratório de Conforto térmico do UNIAVAN.

32
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 27 - Exemplo da Análise da Insolação, Considerando o Entorno do Terreno.
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2020).

Por fim, estudaremos o clima do terreno pela Zona Bioclimática determinada pela
NBR 15220-3 (ABNT, 2005), a qual trata do Desempenho Térmico das Edificações. O
primeiro passo para analisar conforme a norma é identificar qual a Zona Bioclimática
do local do projeto, que está indicada na própria norma. Então, é necessário consultar as
diretrizes construtivas para aquela Zona Bioclimática (Figura 28). Tais diretrizes visam
estabelecer estratégias de condicionamento térmico passivo, sendo considerados os
seguintes parâmetros:
a) tamanho das aberturas para ventilação;
b) proteção das aberturas;
c) vedações externas (tipo de parede externa e tipo de cobertura);
d) estratégias de condicionamento térmico passivo.

33
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 28 - Exemplo de Diretrizes Construtivas para a Zona Bioclimática 07.
Fonte: NBR15220-3 – ABNT (2005).

Para compreender o que a norma considera como, por exemplo, aberturas pequenas,
paredes pesadas ou paredes leves, cobertura leve e refletora e outras indicações
semelhantes, é preciso consultar o anexo C da norma (Figura 29). Para especificar os
materiais que se enquadram nestes requisitos, você pode consultar o Anexo D da norma
e ver o desempenho dos diferentes tipos de paredes e cobertura.

34
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 29 - Anexo C – explicativo para a NBR15220-3.
Fonte: NBR15220-3 – ABNT (2005).

Assim, com análise das recomendações e diretrizes da norma e sugestão dos materiais,
encerra-se o levantamento das condicionantes ambientais, que é o último item desta
etapa.

35
PROJETO DE ARQUITETURA II
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na primeira unidade, vimos uma etapa significativa e trabalhosa do projeto, que é o


levantamento de dados (LEV-ARQ). Ela é uma das primeiras fases do projeto e nos ajuda
a compreender o problema, indicando diretrizes fundamentais do projeto, como: onde
locar os acessos, quanto é possível construir, se o que estamos construindo é pertinente
à área estudada, quais as melhores fachadas para locar cada ambiente do nosso programa
de necessidades. Estas são algumas das respostas que encontramos em nosso estudo do
levantamento de dados, entendendo as potencialidade e restrições da área e do terreno
em estudo. Assim, podemos projetar de forma mais segura e iniciar os primeiros rabiscos
do nosso projeto.
Uma última consideração relevante: analisar de modo aprofundado as informações
levantadas no seu contexto é tão importante quanto a confecção dos mapas e diagramas,
por isso uma análise crítica é parte fundamental deste processo.

36
PROJETO DE ARQUITETURA II
ATIVIDADE
Formar grupos para desenvolver uma pesquisa e análise dos temas descritos
abaixo, que servirão como base para o desenvolvimento do projeto arquitetônico
da edificação mista.

1.INFORMAÇÕES DO TERRENO
a. Localização;
b. Forma e dimensões;
c. Topografia e vegetação.

2. CONDICIONANTES LEGAIS
a. Pesquisar no plano diretor o zoneamento da área e a indicação de usos possíveis e os
índices permitidos;
b. Elaborar um quadro-resumo com os índices aplicados.

3. CONDICIONANTES LOCAIS
a. Mapa de uso do solo (residencial, comercial, institucional e misto);
b. Mapa de gabaritos;
c. Mapa de cheios e vazios;
d. Mapa de hierarquia viária, incluindo nós e pontos de conflito de fluxos (veículos x pedes-
tres, possibilidades de acessos ao terreno);
e. Levantamento fotográfico do percurso do terreno e entorno (pontos focais, marcos visu-
ais, vistas etc.).

4. CONDICIONANTES AMBIENTAIS
a. Levantar ventos predominantes (Texto Complementar 02);
b. Levantar a presença no entorno de massas vegetais ou edificadas, montanhas, vales,
rios, mar, praias, praças, parques, tipo de pavimentação e sombreamento do entorno
– que possam interferir nas variáveis do macroclima (insolação, ventilação, umidade e
temperaturas) e no projeto;
c. Fazer análise da insolação das fachadas - considerando o entorno (identificando os
problemas e potencialidades ambientais);
d. Orientações da NBR15220-3 para a Zona Bioclimática 03 – comentar (Texto Complementar 03).

37
PROJETO DE ARQUITETURA II
Levantar um raio de 250m a partir do terreno. Não esquecer de analisar todas as informa-
ções, mapas e diagramas apresentados. Não esquecer de colocar norte, escala e legenda em
todos os mapas. Grupos a serem definidos pelo tutor.

BOM TRABALHO!!

EXERCÍCIO FINAL

01- Em dezembro de 2017, a Associação Brasileira de Normas Técnicas publicou


a NBR 16636 que estabelece as diretrizes para a elaboração e desenvolvimento
de projeto arquitetônico. Esta normativa, passou a regulamentar as etapas e os
processos de projeto que, até então, desenvolviam-se de diversas formas e com
diferentes nomenclaturas para as etapas do processo de projeto. Sobre a etapa de
Levantamento de Dados (LV-ARQ), assinale a alternativa correta:
a) O LV-ARQ inclui o terreno destinado à edificação, vizinhança da edificação (estudos,
impactos) e o levantamento de ventos predominantes.
b) O LV-ARQ inclui o programa geral de necessidades, as características funcionais ou
das atividades de cada ambiente e o levantamento topográfico.
c) O LV-ARQ inclui organogramas funcionais e esquemas básicos, edificações
existentes no terreno destinado à construção e à área de construção permitida.
d) O LV-ARQ inclui a síntese das leis municipais de parcelamento do solo e de
zoneamento, o programa geral de necessidades e o levantamento da orientação solar
da edificação.
e) O LV-ARQ inclui a vizinhança da edificação (estudos, impactos), o estudo de
viabilidade e o levantamento topográfico.

2 - Considerando-se os índices urbanísticos apresentados abaixo, indique quantos


pavimentos poderia ter uma edificação construída em um terreno de 30m x 50m,
utilizando o máximo do potencial construtivo permitido (máximo da taxa de ocupação e
máximo do coeficiente de aproveitamento).

38
PROJETO DE ARQUITETURA II
Taxa De Ocupação Coeficiente De Aproveitamento Gabarito
50 % 4 8

a) A edificação poderia ter, no máximo, 2 pavimentos.


b) A edificação poderia ter, no máximo, 3 pavimentos.
c) A edificação poderia ter, no máximo, 5 pavimentos.
d) A edificação poderia ter, no máximo, 6 pavimentos.
e) A edificação poderia ter, no máximo, 8 pavimentos.

03- Para zona bioclimática 4, de acordo com a norma NBR15220-3 são indicadas as
seguintes estratégias bioclimáticas passivas:
Aquecimento solar da edificação (B).
Vedações internas pesadas (inércia térmica) (C).
Ventilação (F – I – J).

Considerando as estratégias citadas, que são indicadas para esta zona bioclimática,
para melhorar o desempenho da edificação poderiam ser utilizadas as seguintes
estratégias:

a) Utilização de vidro para captação da radiação solar (B), uso de paredes duplas para
aumentar a inércia térmica (C), utilização de ar-condicionado para ventilação (F).
b) Utilização de espelhos de água para captação de radiação solar, uso de janelas
em paredes opostas para aumentar a ventilação (F), uso de paredes leves (inércia
térmica) (C).
c) Utilização de jardim de inverno para captação da radiação solar (B), colocação de
janelas em paredes opostas para ventilação cruzada (F), uso de paredes finas para
aumentar a inércia térmica (C).
d) Utilização de vidro para captação da radiação solar (B), aplicação de paredes de
pedra com 30cm de espessura (pesadas) (C), colocação de janelas em paredes opostas
para ventilação (F).
e) Utilização de jardim de inverno para captação da radiação solar (B), aplicação de
paredes de pedra com 30cm de espessura (C), colocação de janelas em paredes opostas
para ventilação (F).

39
PROJETO DE ARQUITETURA II
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15220 – 3:


desempenho térmico de edificações residenciais. Parte 3 – Zoneamento bioclimático
brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social.
Rio de Janeiro, ABNT, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16636-2: Elaboração


e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e
urbanísticos. Parte 2: Projeto arquitetônico, ABNT, 2017. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS.

FABRICIO, M. M. Projeto Simultâneo na construção de edifícios. São Paulo, Tese


(Doutorado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, 2002.

GOOGLE MAPS. <https://www.google.com/maps>. Acesso em: 20 de novembro de 2020.

KOWALTOWSKI, D.C.C.K.; MOREIRA, D.C.; PETRECHE, J.R.D.; FABRICIO, M.M. O


Processo de projeto em Arquitetura da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de
Textos, 504.

MELHADO, S.B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao caso


das empresas de incorporação e construção. São Paulo, 294p, Tese (Doutorado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, 1994.

MORIMOTO, Rodrigo. Anotações de aula. Uniavan, 2020.

ODEBRECHT, SILVIA. Projeto arquitetônico: conteúdos técnicos básicos - 1ª ed. (2006).


Edifurb.

TORRES, Sergio; SABOYA, Renato. Anotações de aula. UFSC, 2017.

<https://geoitajai.github.io/geo/plantacadastralconsultaprevia.html>. Acesso em: 20 de


novembro de 2020.

<https://www.sunearthtools.com/pt/index.php> Acesso em: 20 de novembro de 2020.

<https://www.youtube.com/watch?v=J4QSbRD0mwc&feature=youtu.be > Acesso em:


20 de novembro de 2020.

<https://www.youtube.com/watch?v=fwJB7KzDEbQ>. Acesso em: 20 de novembro de


2020.

40
PROJETO DE ARQUITETURA II
2
unidade
ESTUDO DO TEMA
E PROGRAMA DE
NECESSIDADES

41
PROJETO DE ARQUITETURA II
INTRODUÇÃO À UNIDADE

Nesta segunda unidade, continuaremos nossos estudos do projeto de edificações


mistas, seguindo as próximas etapas do processo de projeto. Estudaremos o tema
das edificações de uso misto, a relação da edificação com a cidade, seu programa de
necessidades, o pré-dimensionamento da edificação e os estudos funcionais, para
entender como o programa se relaciona entre si.
Compreender todos os quesitos acima citados, junto com o levantamento das
condicionantes, é o primeiro passo para um bom projeto arquitetônico. A síntese das
informações das Unidades 1 e 2 é a compreensão da problemática do projeto, e as diretrizes
para lançar um partido de projeto. Assim, iniciaremos a unidade, compreendendo a
temática do projeto: as edificações de uso misto.

2.1 AS EDIFICAÇÕES DE USO MISTO

A cidade tem se transformado nos últimos anos, e a ideia de zonas multifuncionais,


como forma de ter uma cidade mais viva, tem ganhado mais força. A necessidade de
adensar as cidades, a valorização imobiliária e a falta de espaço provocaram um aumento
nas moradias de uso misto, principalmente em locais que já têm vocação para o comércio,
o que é o caso de muitas áreas, tanto em Balneário Camboriú quanto na Praia Brava.
Assim, o programa arquitetônico das edificações passou a contar com um uso
público ou semipúblico no térreo. Assim, espaços comerciais, de serviços, culturais,
ou até institucionais e educacionais passaram a fazer parte do projeto de edificações
residenciais, tanto verticais quanto horizontais de dois pavimentos. Como nosso objeto
de estudo são edificações verticais, focaremos nelas, mas é necessário compreender que
ocorre, também, nas edificações unifamiliares.
Este fenômeno, se bem trabalhado no projeto arquitetônico, pode ser benéfico às
cidades, pois gera uma diversidade de usos, atestando que o espaço seja habitado, tanto
de dia quanto à noite, ao trazer mais segurança e vitalidade para o espaço urbano e
garantir permeabilidade visual na cidade, caminhabilidade e térreos ativos. Todos esses
fatores melhoram a mobilidade urbana e a qualidade de vida nas cidades. Você pode estar
se perguntando: como ocorre?
Quando temos uma cidade com a densidade apropriada e temos uma variação de usos
no espaço com térreos ativos e permeáveis, as pessoas precisam se deslocar menos para

42
PROJETO DE ARQUITETURA II
ter acesso aos serviços básicos, elas conseguem resolver suas necessidades básicas em
uma distância caminhável. Se o local é agradável e seguro elas vão deixar de se deslocar
de carro e se deslocar a pé ou de bicicleta, o que melhorará a mobilidade urbana. Por sua
vez, se o local tem um certo adensamento, as pessoas da região serão capazes de manter
os negócios funcionando.
Os térreos ativos e permeáveis visualmente também garantem que a pessoa consiga se
conectar com a cidade no nível da escala humana e se sinta mais confortável caminhando
e “usando” a cidade, o que gerará mais pessoas nas ruas alimentando o comércio e dando
mais vitalidade e segurança ao espaço urbano.
Os térreos ativos permitem, ainda, que as pessoas vejam o que está acontecendo dentro
do local, e quem está no local veja o que acontece na rua, garantindo-se uma conexão
direta entre o espaço público e privado e, consequentemente, uma maior segurança
(falaremos mais no próximo tópico).
Além disso, a mistura de usos residenciais e comerciais garante que o espaço esteja
sendo utilizado, tanto no horário comercial quanto fora dele, e assim não temos espaços
vazios dentro da cidade em nenhum horário do dia, melhorando a segurança, dificultando
roubos e assaltos e deixando as pessoas mais seguras no espaço da cidade. Além de todos
estes benefícios, pode ser economicamente mais interessante para o empreendedor ou
para o condomínio ter salas comerciais no térreo. Enfim, como você pode perceber, há
vários benefícios nas edificações de uso misto.
A diversidade de usos faz parte das correntes urbanas pós-modernas que pregam maior
vitalidade urbana e caminhabilidade dos espaços. No entanto, quando trabalhamos esta
diversidade de usos, também estamos trabalhando com relação de espaços públicos, privados
e semipúblicos, uma relação delicada e que precisa ser bem trabalhada dentro do projeto.
Uma boa integração entre estas gradações de uso vem de um bom projeto de inserção urbana.
A relação entre os espaços públicos e privados é o assunto de nosso próximo tópico.

PARA REFLETIR
A partir do que você leu neste tópico e da sua percepção e experiência, faça uma
reflexão sobre como você acha que as edificações de uso misto alteram o uso e a
ocupação do solo dentro da cidade. Como você enxerga as modificações, as quais têm
acontecido na cidade? O que altera dentro de um projeto arquitetônico de uma edificação residencial
multifamiliar, ao se acrescentarem usos comerciais e de serviços? Você acredita que isto modifica o
uso dos apartamentos?

43
PROJETO DE ARQUITETURA II
SAIBA MAIS
Veja e estude alguns exemplos de edificações de uso misto no artigo do
site do Archdaily, disponível no link: <https://www.archdaily.com.br/br/946232/
habitacao-de-uso-misto-trazendo-programas-comerciais-culturais-e-industriais-para-a-ca-
sa?utm_source=phplist1104&utm_medium=email&utm_content=HTML&utm_campaig-
n=Arquitetos+e+urbanistas+lan%C3%A7am+carta-aberta+a+candidatos+e+pedem+pol%-
C3%ADticas+p%C3%BAblicas+%E2%80%98independentes+de+interesses+eleitorei-
ros%E2%80%99+para+melhorar+cidades+no+p%C3%B3s-pandemia>. Acesso em: 28 de
novembro de 2020.

2.2 RELAÇÃO PÚBLICO X PRIVADO

Dentro do projeto arquitetônico, é um desafio integrar os usos públicos e privados


de uma forma eficaz, principalmente em um cenário, no qual a maior parte do nosso
país sofre com problemas de segurança pública, cujas formas encontradas para lidar
com o problema recaem, muitas vezes, em uma solução simplista e que pode terminar
agravando ainda mais a questão. Iremos mais a fundo neste assunto ao longo do tópico,
no entanto gostaria de iniciar a discussão, debatendo alguns conceitos importantes. O
que é espaço público e o que é espaço privado?
• Espaço público: é uma área “acessível a todos a qualquer momento”, mas não se
pode entender que ele seja uma oposição ao espaço privado de modo rígido, sem
realces.
• Espaço semipúblico e privado: são gradações de acesso, resultantes de qualidades
espaciais designadas pelo grupo social usuário, ao mesmo tempo em que são
produtos da demanda e do projeto. O grau de acesso de espaços e lugares fornece
padrões para o projeto. A escolha de motivos arquitetônicos, sua articulação, forma
e material são determinados, em parte, pelo grau de acesso exigido por um espaço.

Ou seja, observando as definições, percebe-se como o diferente acesso aos locais


determina os espaços e vice-versa. Quem rege como estas relações ocorrerão é o arquiteto
do projeto.
Assim, cabem neste tópico algumas perguntas: o espaço público é responsabilidade
de todos ou de ninguém? Os espaços privados são proteção, segurança contra o espaço

44
PROJETO DE ARQUITETURA II
público, por que vemos tantos portões, grades ou muros? E a cidade é espaço de quem?
Como a arquitetura contribui com a cidade? Como a arquitetura contribui na transição
entre o espaço aberto e o construído? Espero que você possa responder às perguntas ao
longo deste caderno e do desenvolvimento do seu projeto arquitetônico.
A arquitetura que se relaciona com a cidade e com a rua é uma arquitetura mais
alinhada com a contemporaneidade, a qual supera os ideais modernistas da arquitetura
aérea, feita para ser olhada de cima. A arquitetura, a qual consegue fazer esta transição
de espaços é uma arquitetura que preza pela escala humana e está na altura dos olhos das
pessoas, na qual temos a permeabilidade visual, citada por Jane Jacobs, como a rua são
os olhos da casa, e a casa são os olhos da rua! Perceba que tudo está muito conectado, as
edificações mistas, as teorias urbanas e a gradação de acesso aos espaços.
Por outro lado, tem-se a presença muito forte, em diversos locais das edificações
privadas que buscam se proteger do espaço público, de negação do seu entorno e da
cidade. A forma arquitetônica desta negação é uma arquitetura que está dentro de
condomínios fechados, cercada por altos muros e grades (Figura 30), com embasamentos
de dois, três pavimentos de garagem, os quais criam uma grande barreira na cidade e
fogem da escala humana.
Essas soluções, por mais que pareçam eficazes em um primeiro momento, fogem da
escala do pedestre e afastam as pessoas da rua, o que deixa o espaço público mais vazio e
acaba gerando mais insegurança, ao invés de segurança.

Figura 30 - Fachada de um Condomínio Fechado.


Fonte: <https://fotos.habitissimo.com.br/foto/reforma-muros-e-fachada-condominio-horizon-
tal_300698>. Acesso em: 29 de novembro de 2020.

45
PROJETO DE ARQUITETURA II
Os muros nos impedem de ver a vida que acontece ao redor e permitem que as pessoas
se fechem com suas individualidades. Quantas possibilidades poderiam se esconder
atrás de um muro? Veja a obra de arte da Figura 31, que nos faz refletir sobre este assunto.

Figura 31 - Obras do Artista Banksy – Criação de “Janelas” no enorme muro que separa a Palestina do seu
entorno.
Fonte: <http://flavorwire.com/34080/quote-of-the-day-banksy-refutes-warhol-dishes-with-fairey>.
Acesso em: 28 de novembro de 2020.

Assim, as edificações de uso misto, ou edificações que trabalham os espaços públicos,


apresentam-se como uma forma inteligente de solucionar tais demandas. E cabe ao
arquiteto dar forma a isso.
Para entender melhor a gradação de espaços, utilizaremos o espaço escolar como
exemplo. Ele é destinado a um determinado público, sendo restrito aos demais, ou seja, há
um controle de acesso, de entrada e saída. Os espaços da escola são claramente definidos
por muros, cercas ou grades, então, é um espaço privado.
A rua e a calçada em frente à escola são o espaço público, facilmente acessíveis a
todos. Entre a escola a cidade deste exemplo, há uma área arborizada, fora do muro, mas
dentro do espaço da escola, no qual os alunos podem esperar os pais se desejarem, o que
seria um espaço de transição, um espaço semipúblico. Observe o croqui da Figura 32,
para melhor entender este item.

46
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 32 - Gradações de Uso dentro de um Ambiente Escolar.
Disponível em: < http://ta-licoesdearquitetura.blogspot.com/2012/12/relacoes-entre-o-publico-e-o-pri-
vado.html?m=1 >. Acesso em: 12 de março de 2020.

Trabalhar as nuances dos espaços semipúblicos enriquece o projeto, devolve à cidade


um benefício e traz vitalidade urbana à área. Vejamos um exemplo de projeto que trabalha
esta transição de espaços.
O prédio Torres do Parque, da década de 70, em Bogotá, do arquiteto Rogelio Salmona
é um bom exemplo de como trabalhar estes espaços. O terreno é conformado pela
topografia da Praça de Touros, o Parque da Independência (abandonado há mais de 15
anos) e a vista da Cordilheira. A implantação arquitetônica visou transformar e moldar
a cidade. A integração com a Praça de Touros permite a transparência entre a cidade
e a cordilheira, recuperando a inclinada rua contígua ao Parque, convertida em uma
via jardim para pedestres, sendo formada por escadarias e rampas unidas ao conjunto
residencial e ao parque (Figura 33).
O critério fundamental para o desenvolvimento deste projeto era que o edifício fosse
aberto, de modo a ter cidade mais democrática e tolerante. O projeto foi implantado no
terreno para ser apropriado a todos os habitantes da cidade, ou seja, qualquer cidadão
pode desfrutar do conjunto residencial, como desfruta de um espaço público, ainda que
este seja privado. Não tem grades, não se fecha aos seus habitantes. Faz parte da cidade.

47
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 33 - Implantação do Conjunto Residencial, integrando o entorno e a vista da Cordilheira dos
Andes.
Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/01-52017/classicos-da-arquitetura-torres-do-parque-rogelio-
-salmona>. Acesso em: 01 de dezembro de 2020.

O projeto foi concebido como um marco para a cidade, uma vez que melhora o espaço
público urbano e estabelece uma transição harmônica com o espaço privado. Assim, o
projeto não é mais um simples trabalho construtivo, mas sim um trabalho arquitetônico.
As mudanças de nível do terreno foram aproveitadas na composição, formando desde a
parte mais baixa da “Rua das Escadarias” até os últimos níveis dos edifícios (Figura 34).
A edificação se conecta com a topografia do local, respeitando ventilação, luminosidade,
paisagem e densidade adequada (Figura 35).

Figura 34 – Aproveitamento dos desníveis para criação de espaços públicos e conexão pela Rua das
Escadarias.
Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/01-52017/classicos-da-arquitetura-torres-do-parque-rogelio-
-salmona>. Acesso em: 01 de dezembro de 2020.

48
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 35 – Escalonamento da edificação para garantir iluminação, ventilação e conexão visual com o
entorno e a vista das cordilheiras.
Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/01-52017/classicos-da-arquitetura-torres-do-parque-rogelio-
-salmona>. Acesso em: 01 de dezembro de 2020.

Assim, não necessariamente todas as edificações precisam contar com um espaço


público, mas elas precisam ser implantadas de forma que se conectem com a cidade e
proporcionem uma boa qualidade de vida.
De acordo com Ohland et. al (2012), as edificações e seus espaços adjacentes devem se
inter-relacionar, definindo espaços externos que funcionem como salas sem telhado. A
arquitetura deve contribuir com a cidade e com a qualidade de vida das pessoas. Devemos
voltar a pensar a cidade como um conjunto de espaços abertos, geradores da arquitetura
e, ao mesmo tempo, gerados pela arquitetura, nos quais desaparecem os espaços e lugares
residuais. Arquitetura não deve ser uma barreira, uma segregação (Figura 36), mas deve
ser uma conexão! Conforme disse Jan Gehl, em entrevista (<https://www.archdaily.com.
br/br/879827/por-que-jan-gehl-nao-necessariamente-odeia-os-arranha-ceus>. Acesso
em: 29 de novembro de 2020): “Não pergunte o que a cidade pode fazer pelo seu prédio,
mas o que o seu prédio pode fazer pela cidade”.

49
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 36 - Rua com as Residências Muradas.
Fonte: <https://urbanidades.arq.br/2007/07/19/condominios-fechados/>. Acesso em: 29 de novembro
de 2020.

2.3 PROJETO DE EDIFICAÇÃO DE APARTAMENTOS

“Habitar significa pertencer a um lugar concreto, ter uma base de apoio existencial em
um sentido cotidiano concreto” (KOWALTOSKI et. al, 2011).
Assim, o sentido de morar vai além do objeto construído, pois ele constitui uma
identificação do usuário com o espaço e um sentido de pertencimento ao lugar. O projeto
deve humanizar o espaço construído, criar ambientes vivos e saudáveis. O projeto da
edificação da habitação em apartamentos deve valorizar a identidade do lugar. Mas como
o arquiteto pode fazer isso?
Para avaliar os projetos de edificações multifamiliares, Kowaltoski et. al (2011), criaram
categorias. A primeira delas é o senso de urbanidade. Esta categoria conceitual refere-se
à escala da implantação das edificações, de modo que tenham vida urbana, usos mistos,
uma cidade mais integrada, que seja caminhável e com melhor mobilidade urbana.
Além disso, a implantação da edificação deve oferecer uma percepção de sentido
de lugar, em sintonia com o entorno existente, articulando e conformando espaços
externos. Dessa forma, oferece-se um espaço com mais identidade, maior legibilidade e
maior interação social (KOWALTOSKI et. al, 2011).
Toda a categoria está alinhada com o que foi falado sobre edificações mistas e a relação

50
PROJETO DE ARQUITETURA II
entre espaço público e privado. Ela se subdivide nos seguintes itens:

= > Sensibilidade ao Ambiente Construído Natural – os conjuntos de edificações


devem ser espacialmente organizados, de modo a conformar espaços externos que
atendam às especificidades e aos elementos naturais e construídos do terreno e entorno.
Podem-se melhorar os elementos naturais e do entorno, a partir de um projeto que
preserve e acentue as qualidades existentes, tais como a vista, a vegetação, a insolação e a
topografia, e corrija algo desagradável da vizinhança, como características irregulares do
solo, formato do terreno ou topografia Estes espaços devem criar interfaces permeáveis
entre terreno e entorno, entrelaçando caminhos a ambientes de transição ao longo dos
limites do terreno (KOWALTOSKI et. al, 2011). Veja, na Figura 37, algumas formas de
implantar os itens no projeto.

Figura 37 – Sensibilidade ao Ambiente Construído Natural.


Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

= > Conectividade, Legibilidade e Sustentabilidade Social – o desenho urbano


estrutura e estabelece uma hierarquia entre espaços coletivos abertos do conjunto, e entre
estes e o sistema de espaços coletivos urbanos. A conexão dentro-fora e a legibilidade
de tais espaços são proporcionadas por fronteiras permeáveis, como arcadas, galerias,

51
PROJETO DE ARQUITETURA II
terraços e escadas de acesso abertas.
Quando falta espaço coletivo aberto no conjunto, as mesmas estratégias podem estabelecer
a transição público-privado, gerando uma relação mais direta com a rua. A vivacidade urbana
é incentivada pela diversidade de usos na vizinhança e por tipologias, dimensões e programas
de moradia variados, contribuindo com a sustentabilidade social. A diversidade de usuários
ajuda a sustentar atividades de lazer, comerciais e de serviços (KOWALTOSKI et. al, 2011). Na
Figura 38 abaixo, observamos como podem ocorrer tais espaços.

Figura 38 - Conectividade, Legibilidade e Sustentabilidade Social.


Fonte: Kowaltoski et. al, 2011.

= > Identidade - a identidade, para conjuntos e Unidades Habitacionais (UHs) que


abranjam uma diversidade de moradores e de níveis de renda familiar, é expressa, entre
outros, por diferentes graus de acesso e privacidade no conjunto (Figura 39). Os espaços
externos podem definir sistemas permeáveis de circulação e ser diferenciados por um
formato que incentive a permanência ou contemplação, ou configurar pátios internos e
um conjunto de entradas similares, porém diferenciadas por transições no espaço físico
da entrada. A vegetação também pode conformar e distinguir espaços.
Além disso, o espaço coletivo aberto, que reforça a existência de um ponto focal, pode

52
PROJETO DE ARQUITETURA II
contribuir para a criação de um sentido de lugar. Os conjuntos habitacionais com estas
características e com espaço coletivo aberto tendem a definir territórios mais privativos
e distintos em relação à cidade, sem se desconectar da mesma (KOWALTOSKI et. al, 2011).

Figura 39 - Identidade.
Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

= > Senso de Habitabilidade: esta categoria contempla os conceitos da escala da


edificação e das UHs em si, e visa proporcionar, a partir do atendimento de necessidades
básicas de conforto ambiental e de adequação às atividades domésticas, um sentido
de habitar que atenda às necessidades de refúgio, isolamento, convivência, ordem e
variedade. Ela inclui espaços com zonas de transição entre ambientes internos, para se
ter um gradiente de intimidade doméstica eficiente; atributos sensoriais da iluminação
natural e artificial; e, por fim, a oferta de opções de moradia a usuários diversos e suas
implicações para o sistema construtivo, aspectos da manutenção (reparos), adaptabilidade
e expansão (KOWALTOSKI et. al, 2011). Esta categoria abrange três subcategorias de
conceitos, apresentadas a seguir:

53
PROJETO DE ARQUITETURA II
• Harmonia Espacial, Conforto Ambiental e Privacidade:

Ao se considerar as diversas possibilidades dentro das UHs, a escolha da melhor orientação


solar na edificação e do formato adequado da edificação para o melhor aproveitamento da
luz e ventilação naturais tem implicações no gradiente de privacidade interna das unidades.
As alas de forma alongada e estreita, horizontal ou vertical, possibilitam, no mínimo, a
dupla orientação para as unidades; porém, colocar mais unidades sobrepostas no sentido
longitudinal e de formato alongado provoca deficiência luminosa.
Duas ou mais orientações para unidades agregadas em conjuntos adensados criam
a necessidade de outras estratégias para alcançar a privacidade (especialmente visual)
entre unidades ou entre estas e a rua, como: distância entre unidades que se abrem uma
para a outra, mini pátios reservados para a parte das aberturas, claraboias, janelas altas,
vidro corrugado ou translúcido, elementos opacos em ângulo em relação à abertura,
elementos vazados (cobogós), venezianas sanfonadas ou brises articulados controláveis
pelos usuários, vegetação, desnível de piso entre casa e passeio etc. (KOWALTOSKI et. al,
2011). Observe na Figura 40 estratégias para lidar com esta problemática.

Figura 40 - Harmonia Espacial, Conforto Ambiental e Privacidade.


Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

54
PROJETO DE ARQUITETURA II
• Sentido de lar:
Trata-se de criar UHs que proporcionem adequação ao uso e gradiente de intimidade,
por meio da diferenciação física (conformação e dimensões horizontais e verticais), a qual
ofereça senso de proteção. Os limites da habitação devem ser permeáveis, com zonas
de transição criadas por diferenciações no percurso, ambientes de entrada, terraços
semielevados, varandas, saliências que conformam ambientes de contemplação, e outros
recursos que visem à comunicação e privacidade. As aberturas (localização, dimensão,
tipo) interferem na adequação luminosa às atividades internas, na possibilidade de
controle de luminosidade e privacidade pelos usuários, na exploração do contraste
luminoso e de vistas para o exterior, que contribuem para orientar o usuário e tornar o
ambiente mais agradável (KOWALTOSKI et. al, 2011).

Figura 41 - Sentido de Lar.


Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

55
PROJETO DE ARQUITETURA II
• Opções e flexibilidade:
A flexibilidade de layout interno, nas UHs que priorizam sua adaptabilidade a
diferentes usuários ao longo do tempo, necessita de maior desenvolvimento de pesquisas
de projeto, apesar de já ter sido idealizada pela Arquitetura Moderna. A planta livre,
que objetiva a fusão dos espaços, pode levar ao caos ou à incongruência dos espaços de
convívio, à perda do gradiente de intimidade, incluindo a perda de privacidade visual e
acústica.
Para a moradia crescer ou ser alterada, sem perder a coerência, deve-se definir o meio
organizacional que reconheça partes primárias e secundárias, pressupondo que certas
propriedades espaciais e qualidades que caracterizam a forma em questão permaneçam
constantes. Sistemas construtivos e materiais adequados precisam ser enfocados nas
diferentes situações da autoconstrução e da construção por empreiteira. Se a racionalidade
construtiva for usada como meio, e não como fim, pode flexibilizar os espaços e incorporar-
se ao processo de projeto de habitação coletiva (KOWALTOSKI et. al, 2011).

Figura 42 - Opções e Flexibilidade.


Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

56
PROJETO DE ARQUITETURA II
Até aqui, estudamos estratégias para avaliar as edificações habitacionais
multifamiliares, desde a sua implantação até à distribuição dos seus interiores. Dentro
dos apartamentos, há três grandes áreas que devem ser pensadas e articuladas: a área
social (abrangendo hall de entrada, sala de estar, sala de jantar, lavabo etc.), a área de
serviço (que inclui cozinha, lavanderia, dependências de empregada, despensa etc.) e as
áreas intimas (quartos e suítes).
Um ponto a se ponderar dentro do projeto são as circulações. Avaliar como estas
áreas se conectam e articulam é um fator significativo, pois quanto menores forem as
circulações, melhor e mais eficiente é o projeto, de forma geral.

SAIBA MAIS
Para conhecer e ver esquemas de conexão
de espaços dentro dos apartamentos, você pode
consultar o livro da Silvia Odebrecht, Projeto Arquitetônico,
conteúdos técnicos básicos. O livro apresenta ilustrações inte-
ressantes de projeto, mostrando diferentes formas de conexão
dos espaços e acessos.
Fonte: ODEBRECHT, SILVIA. Projeto arquitetônico: conteúdos
técnicos básicos - 2ª ed. Edifurb. (2006)

ATIVIDADE
Como atividade da segunda unidade, selecione dois projetos arquitetônicos
de referência. Eles podem ser referência para o seu programa de necessidades,
para a sua inserção urbana, para a forma arquitetônica, para os materiais ou estrutura utiliza-
da, enfim, com o que você se identificar dentro desta gama de possibilidades. Faça um breve
parágrafo, explicando e contextualizando o projeto, e um parágrafo de análise crítica, explicando
porque a referência foi escolhida, no que ela se destaca e o auxilia no desenvolvimento de seu
projeto.

57
PROJETO DE ARQUITETURA II
2.4 O PROGRAMA DE NECESSIDADES

O desenvolvimento do programa de necessidades surgiu na arquitetura entre as


décadas de 60 e 70, como uma forma de lidar com as problemáticas do projeto e melhorar
a funcionalidade da edificação, estudando o contexto em que o projeto vai se desenvolver
e deixando clara a problemática a que ele irá responder.
Mesmo após diversos estudos interdisciplinares sobre como desenvolver um programa
de necessidades, não há uma abordagem única para tal. No entanto, independentemente
da abordagem, o resultado deve ser semelhante. Neste caderno, adotaremos uma
abordagem simplificada do programa em si, já que nosso cliente é fictício.
Kowaltoski et. al. (2011) define o programa como um sistema com dados organizados
para atender ao processo de projeto e compreender as relações funcionais entre o
contexto e o espaço físico edificado ou planejado.
O programa de necessidades do projeto não está focado ainda na solução, mas sim no
problema, normalmente com foco no usuário, buscando identificar seus diversos aspectos.
Assim, a determinação do programa de necessidades geralmente inclui entrevistas,
questionários, dinâmicas etc., para buscar entender o que o cliente pensa, quer, deseja
e espera do projeto. Apesar de o programa de necessidade ainda fazer parte da definição
do problema, ele é o primeiro passo rumo à sua solução. O programa visa identificar os
principais pontos do projeto e sintetizá-los, de forma clara, analisando os dados.
O programa de necessidades deve atender os valores mais importantes para o cliente.
Estes valores, para Kowaltoski et. al (2011), apresentam aspectos:
• Humanos: atividades funcionais para ser habitável; relações sociais a serem
mantidas; características físicas, fisiológicas, psicológicas e necessidades dos
usuários.
• Ambientais: terreno e vistas; clima; contexto urbano; recursos naturais; resíduos;
• Culturais: histórico, institucional, político, legal.
• Tecnológicos: materiais; sistemas estruturais; processos construtivos e de
concepção da forma.
• Temporais: crescimento; mudança; permanência.
• Econômicos: financeiros; construção; operação; manutenção; energia.
• Estéticos: forma; espaço; significado.
• De segurança: estrutura; incêndio; químico; pessoal; criminoso (vandalismo).

O programa envolve os pontos fundamentais levantados pelo cliente, e as atividades


desenvolvidas na edificação a ser projetada. Pode-se dividir o programa pelas diversas

58
PROJETO DE ARQUITETURA II
categorias de usuários, ou de atividades ou setores da edificação. A metodologia é variada
e deve ser avaliado o que é melhor em cada projeto.
Especificam-se, no programa, as necessidades espaciais de cada parte do edifício, para
os usuários terem eficiência e conforto em suas atividades. Descrevem-se as quantidades
e especificações de equipamentos, mobiliários, áreas particulares, circulações,
infraestrutura técnica e serviços de apoio. O programa dá um norte ao projeto e guia o
projetista durante todo o processo de projeto.
O processo de organização do programa de necessidades inclui tanto o pré-
dimensionamento, como os estudos gráficos e funcionais. Veremos um pouco mais sobre
estas etapas do programa nos próximos tópicos.

2.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Na etapa de pré-dimensionamento, o projetista deve dimensionar os espaços a serem


projetados, a partir das informações coletadas no programa de necessidades, como a
quantidade e tipo dos usuários, as exigências funcionais, os setores do projeto etc. O
projetista deve estimar o tamanho dos ambientes a serem projetados, a fim de garantir a
viabilidade dentro do espaço disponibilizado no projeto, ou seja, o terreno.
Assim, o projeto deve ser desenvolvido, obedecendo às características físico-ambientais
do terreno, à legislação e às exigências do programa de necessidades. Considerando
todos estes fatores e as medidas ergonômicas de projeto, é feito o pré-dimensionamento
dos espaços.
O pré-dimensionamento, como o nome já diz, é uma medida inicial para trabalhar
os espaços internos. Conforme o desenvolvimento do projeto, as medidas podem ser
alteradas e ajustadas para melhor se adequar às necessidades do projeto.
Mas como o arquiteto vai pré-dimensionar os espaços? Este pré-dimensionamento
pode ocorrer de diversas formas: pode vir da experiência do arquiteto, de uma demanda
ou experiência anterior do cliente, ou pode acontecer inspirado em referências de
projetos semelhantes.
Dependendo do espaço a ser projetado, há, ainda, normas que tratam de dimensões
mínimas e podem ser utilizadas como base, sendo o código de obras um exemplo bem
comum disso. Cada cidade possui um código de obras que deve ser consultado, no qual
existem exigências e informações valiosas para o projetista e que serão cobradas pelo
poder municipal, indo desde as áreas até número de vagas de garagem, porcentagem de
abertura de ventilação e especificações dos banheiros. Além do código de obras, conforme

59
PROJETO DE ARQUITETURA II
o programa do projeto, há legislações específicas, as quais devem ser consultadas e
pesquisadas.
Outra fonte possível para realizar esta tarefa são livros que tratam do dimensionamento
dos espaços, alguns exemplos deles estão mencionados no quadro SAIBA MAIS de nosso
caderno. Estes livros são importantes locais de consulta durante o desenvolvimento do
projeto. Como outra opção para o desenvolvimento do pré-dimensionamento, podem-se
medir locais parecidos com o que queremos desenvolver, avaliando as medidas, as quais
julgamos confortáveis, já que as medidas ergonômicas de conforto sofrem pequenas
variações de pessoa para pessoa.

SAIBA MAIS
Para o pré-dimensionamento, conforme citado no texto, podemos e devemos
consultar o Código de Obras da Cidade. Como o terreno proposto para o projeto está
na Praia Brava, em Itajaí, é importante consultar o Código de Obras de Itajaí, disponível no link:
<https://leismunicipais.com.br/codigo-de-obras-itajai-sc>. Acesso em: 30 de novembro de 2020.

SUGESTÃO DE LEITURA
Para o pré-dimensionamento é necessário se basear em
bibliografias de referência, por isso vamos relembrar alguns
livros importantes de consulta:
Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto – Pamela
Buxton (BUXTON, Pamela. Manual do arquiteto: planejamento, dimensiona-
mento e projeto. Porto Alegre: Bookman, 2017.)
A Arte de Projetar em Arquitetura – Peter Neufert (NEUFERT, Peter. A Arte de
Projetar em Arquitetura. Gustavo Gilli, 2013.)
Dimensionamento humano para espaços interiores – Julius Panero e Martin
Zelnik (PANERO, Julius; ZELNIK, Martin. Dimensionamento humano para
espaços interiores: um livro de consulta e referência para projetos. 1ª ed. /
10. reimp. ed. Gustavo Gili, 2014.)
Além disso, você pode medir os espaços, na sua casa, e ver como se
sente confortável.

60
PROJETO DE ARQUITETURA II
2.6 ESTUDOS FUNCIONAIS

As informações coletadas nas etapas anteriores devem ser graficamente analisadas,


por meio de esquemas gráficos e diagramas. As análises ajudam o projetista e o cliente
a visualizarem o programa de necessidades e organizarem as informações. Os estudos
podem ser uma síntese de dados no terreno, fluxogramas, zoneamentos, ajudando a
entender melhor o problema e já sendo parte da solução. O programa de necessidades
nasce baseado nestes estudos.
Tais estudos, em nossa disciplina, serão feitos de duas formas: parte na etapa do
programa de necessidades, parte no partido de projeto. Os estudos funcionais podem ser
feitos, relacionando os diferentes espaços do projeto, avaliando sua inter-relação, acessos
e funcionalidade. Um exemplo bastante comum deste tipo de diagrama é o fluxograma
(Figuras 43 e 44), os quais podem ser feitos por pavimentos ou em um único diagrama.

Figura 43 - Diagrama do térreo e do segundo pavimento de uma edificação de escritórios.


Fonte: Brandão (2020).

61
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 44 - Diagrama e Zoneamento de Projeto Escolar.
Fonte: Santos (2020).

Já no partido do projeto, podem-se fazer estudos, sintetizando as informações


ambientais (Figura 45) e também as diversas informações levantadas que são relevantes
ao projeto (Figuras 46 e 47). Estes diagramas variam bastante, conforme o projeto e o
projetista.

Figura 45 – Exemplo 1: Diagrama sintetizando informações importantes do projeto.


Fonte: Seleme (2020).

62
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 46 - Exemplo 2: Diagrama sintetizando informações importantes do projeto.
Fonte: Brandão (2020).

Figura 47 – Exemplo 3: Diagrama sintetizando informações importantes do projeto.


Fonte: Conrad (2020).

63
PROJETO DE ARQUITETURA II

Esses diagramas, conforme os exemplos apresentados acima, ou de acordo com a
necessidade do projetista, são importantes ferramentas para o projeto e ajudam a dar
início à próxima etapa, que é o estudo de viabilidade ou partido de projeto, o qual veremos
mais detalhadamente na próxima unidade.

64
PROJETO DE ARQUITETURA II
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Unidade 2, pudemos estudar, de diferentes formas, toda a temática do projeto,


desde a relação e gradação de acessos, a inserção urbana das edificações mistas até o
funcionamento de uma edificação de apartamentos. Também vimos as facetas e a
importância do programa de necessidades, formas de fazer um pré-dimensionamento e
exemplo de diagramas e estudos funcionais para o programa de necessidades.
Além disso, foi possível realizar, como atividade complementar para o projeto, a
pesquisa de projetos de referência que nos ajudam a entender melhor o funcionamento
de edificações similares à que se pretende projetar.
Assim, finalizamos nossos estudos a respeito do levantamento de informações sobre
o projeto e podemos iniciar o projeto em si. A etapa do levantamento de informações,
em um primeiro momento, parece longa e conta com uma boa carga teórica, devido ao
grande número de etapas a serem executadas. No entanto, ela é muito importante, pois
sua boa execução poupa retrabalho ao longo do projeto, auxiliando a ter um processo de
projeto mais assertivo.

65
PROJETO DE ARQUITETURA II
EXERCÍCIO FINAL

01- Leia as definições de espaço público e privado:

Espaço público é uma área “acessível a todos a qualquer momento”, mas não se pode
entender que este seja uma oposição ao espaço privado de modo rígido, sem realces.
Espaço semipúblico e privado são gradações de acesso resultantes de qualidades
espaciais designadas pelo grupo social usuário, ao mesmo tempo em que são produtos
da demanda e do projeto.
O grau de acesso de espaços e lugares fornece padrões para o projeto. A escolha de
motivos arquitetônicos, sua articulação, forma e material são determinados, em parte,
pelo grau de acesso exigido por um espaço.

Assinale a alternativa correta:

a) O diferente acesso aos locais (público, privado e semipúblico) determina como serão
os espaços e vice-versa.
b) A rua é um espaço semipúblico.
c) O urbanismo modernista preza pela arquitetura na altura dos olhos, caminhável.
d) A arquitetura de uso misto deve ser pensada como um objeto em si mesma,
conectando-se com o uso privado somente.
e) Em um projeto de arquitetura, deve-se escolher um único uso; a gradação de acessos
é desaconselhada pela insegurança que gera.

02- O desenvolvimento do programa de necessidades surgiu na arquitetura, entre


a década de 60 e 70, como uma forma de lidar com as problemáticas do projeto e
melhorar a funcionalidade da edificação, estudando o contexto em que o projeto
vai se desenvolver e deixando clara a problemática a que ele responderá. Mesmo
após diversos estudos interdisciplinares sobre como desenvolver um programa de
necessidades, não há uma abordagem única para tal. No entanto, independentemente
da abordagem, o resultado deve ser semelhante.

Considerando o texto acima, conclui-se que os objetos do programa de necessidade


de projeto incluem:
I- A determinação do programa de necessidades geralmente inclui entrevistas,
questionários, dinâmicas etc.

66
PROJETO DE ARQUITETURA II
II- O programa de necessidades buscar entender o que o usuário/cliente pensa, quer,
deseja e espera do projeto.
III- O programa de necessidades faz parte da solução do projeto; ele é uma possível
solução para a problemática.
IV- O programa de necessidades é, em última instância, uma síntese e uma análise de
dados.

Está correto o que se afirma em:


a) I e II.
b) II e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.

03- As informações coletadas nas etapas de levantamento de dados (LV-ARQ) e


programa de necessidades (PN-ARQ) devem ser graficamente analisadas, por meio de
esquema gráficos e diagramas. As análises ajudam o projetista e o cliente a visualizarem
o programa de necessidades e organizarem as informações. Estas sínteses ajudam a
entender melhor o problema, e já são parte da solução. Sobre os esquemas conceituais,
leia as asserções abaixo e assinale a alternativa correta:

I- Estes estudos podem ser uma síntese de dados no terreno, fluxogramas, zoneamentos.
II- Os esquemas conceituais são importantes ferramentas para o projeto e ajudam a
dar início à próxima etapa, que é o estudo de viabilidade ou partido de projeto.
III- Os esquemas conceituais devem conter todas as informações levantadas.

a) As alternativas I e II estão corretas.


b) A alternativa I está correta.
c) As alternativas I e III estão corretas.
d) As alternativas I, II e III estão corretas.
e) As alternativas II e III estão corretas.

67
PROJETO DE ARQUITETURA II
REFERÊNCIAS

BITELLI, Carolina; PERRONI, Daniela . Espaço Público X Espaço Privado | Muros


pra  quem? Disponível em: < https://arquiteturascontemporaneas.wordpress.
com/2017/11/22/em-foque-espaco-publico-x-espaco-privado/ >. Acesso em: 12 de março
de 2020.

Brandão, Davi. Coworking - Ambientes que estimulem a produtividade e o bem-estar.


Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário
Avantis – UNIAVAN. Balneário Camboriú, 2020.

BUXTON, Pamela. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto.


Porto Alegre: Bookman, 2017.

CONRAD, Adriane Altissimo. Escola das Artes – TCCI. Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário. Avantis - UniAvan. Balneário
Camboriú, 2020.

GONZÁLEZ, María Francisca. “Habitação de uso misto: trazendo programas


comerciais, culturais e industriais para a casa” [Mixed Use Housing: Incorporating
Commercial, Cultural and Industrial Programs in a Home] 30 Ago 2020.  ArchDaily
Brasil. (Trad. Baratto, Romullo). Acesso em:  28 Nov. 2020. <https://www.archdaily.com.
br/br/946232/habitacao-de-uso-misto-trazendo-programas-comerciais-culturais-e-
industriais-para-a-casa> ISSN 0719-8906.

HOLANDA, Marina de. “Clássicos da Arquitetura: Torres do Parque / Rogelio Salmona”


15 Mai 2013. ArchDaily Brasil. Acesso em: 01 Dez. 2020. <https://www.archdaily.com.br/
br/01-52017/classicos-da-arquitetura-torres-do-parque-rogelio-salmona> ISSN 0719-
8906.

KOWALTOWSKI, Doris C. C. K.; MOREIRA, Daniel de Carvalho; PETRECHE, João R. D.;


FABRICIO, Márcio M. O processo de projeto em arquitetura. São Paulo: Oficina de
Textos, 2011.

NEUFERT, Peter. A Arte de Projetar em Arquitetura. Gustavo Gilli, 2013.

ODEBRECHT, SILVIA. Projeto arquitetônico: conteúdos técnicos básicos - 2ª ed.


Edifurb (2006).

OHLAND, B.; HENRIQUE, C.; LANESCKA, P.; OHLAND, R. Lições de arquitetura. 18 de


dezembro de 2020. Disponível em: < http://ta-licoesdearquitetura.blogspot.com/2012/12/
relacoes-entre-o-publico-e-o-privado.html?m=1 > Acesso em: 12 de março de 2020.

PANERO, Julius; ZELNIK, Martin. Dimensionamento humano para espaços interiores:


um livro de consulta e referência para projetos. 1ª ed. / 10. reimp. ed. Gustavo Gili, 2014.)

68
PROJETO DE ARQUITETURA II
Pedersen, Martin . “Por que Jan Gehl não necessariamente odeia os arranha-
céus” [Why Jan Gehl, the Champion of People-Oriented Cities, Doesn’t Necessarily
Dislike Skyscrapers] 19 Set 2017.  ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila)
Acessado  28 Nov 2020. <https://www.archdaily.com.br/br/879827/por-que-jan-gehl-
nao-necessariamente-odeia-os-arranha-ceus> ISSN 0719-8906.

SABOYA, Renato. Condomínios fechados. 19 de julho de 2007. Urbanidades. <https://


urbanidades.arq.br/2007/07/19/condominios-fechados/> Acesso em: 29 de novembro de
2020.

SANTOS, Jessica Martins dos. Escola primaria montessoriana TCC I. Trabalho de


Conclusão de Curso (TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário. Avantis –
UniAvan. Balneário Camboriú, 2020.

SELEME, Gabriela Veloso. Crematório Municipal de Itapema TCCI. Trabalho de


Conclusão de Curso (TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário. Avantis –
UniAvan. Balneário Camboriú, 2020.

<http://flavorwire.com/34080/quote-of-the-day-banksy-refutes-warhol-dishes-with-
fairey> Acesso em: 28 de novembro de 2020.

69
PROJETO DE ARQUITETURA II
70
PROJETO DE ARQUITETURA II
3
unidade
ESTUDO DE
VIABILIDADE E ESTUDO
PRELIMINAR

71
PROJETO DE ARQUITETURA II
INTRODUÇÃO À UNIDADE

Na terceira unidade, contemplaremos duas das etapas mais significativas do projeto,
nas quais há o maior trabalho de criação por parte do arquiteto e que, talvez, sejam
as mais desafiadoras no processo de projeto arquitetônico: o estudo de viabilidade ou
partido de projeto e o estudo preliminar.
Durante a Unidade 3, relembraremos em que consiste cada uma das etapas, quais
decisões de projeto devem ser tomadas, e o que deve ser entregue no projeto acadêmico.
É nestas etapas que o projeto começa a ganhar forma, em busca de uma solução próxima
da ideal. Antes disso, tudo estará em aberto.
Uma vez que não existe uma solução única ou perfeita, o projeto deve ser encarado
como um processo, como um objeto em constante evolução, que termina devido a um
prazo, mas que pode sempre ser melhorado ou continuado.
Além de aprofundar os conhecimentos a respeito do estudo de viabilidade e o estudo
preliminar de projeto, você poderá rememorar e aplicar conceitos sobre noções de
conforto ambiental e o pré-dimensionamento das estruturas, que são importantes para
desenvolver um bom estudo preliminar.

3.1 ESTUDO DE VIABILIDADE



O ponto de partida do projeto é o estudo de viabilidade, que pode iniciar com croquis,
esquemas, diagramas, estudos, maquetes conceituais. O processo é individual, não
existindo uma maneira única ou correta.
Os estudos iniciais são formas de sobrepor as informações e restrições de projeto
existentes (que foram levantadas nas etapas anteriores) e avaliá-las. O projeto é quase
como uma investigação de soluções.
Assim, cada etapa de projeto inclui os dados de entrada; análise dos dados; síntese
dos dados (podem ser diagramas e esquemas na fase do estudo de viabilidade, ou até o
próprio projeto no estudo preliminar, isto é, a busca pela solução); avaliação do que foi
feito e a tomada de decisão (ou representação do que foi feito e avaliado), em nosso caso,
constitui-se como a entrega da etapa (Figura 48).
É possível que, em algum momento, você precise voltar uma etapa, fazer novamente
suas sínteses e reavaliar, antes de tomar as decisões, o que também faz parte do processo,
visto que ele não é um processo linear e nem puramente lógico.

72
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 48 - Modelo de Processo de Projeto e Sequência de Decisões.
Fonte: Kowaltoski et. al (2011).

É necessário também entender que cada decisão tomada, em qualquer etapa de projeto,
reflete nas outras decisões e no projeto como um todo. As decisões estão interligadas, e
cada mudança no projeto tem consequências no todo, sendo, muitas vezes, necessárias
outras mudanças, em decorrência da primeira mudança feita.
O partido do projeto é a ideia inicial, o lançamento da proposta que nasce das
condicionantes levantadas, e como uma solução ou resposta a todas elas. Além disso, a
formalização desta solução vem, também, do ponto de vista e do estilo do projetista que
delineia o projeto.
No estudo de viabilidade devem ser definidos:
• Modo de implantação da edificação no terreno;
• Disposição e inter-relação dos setores;
• Número de pavimentos;
• Elementos de ligação entre os setores;
• Disposição dos acessos;
• Relações com o entorno;
• Relações entre forma e dimensões do terreno;
• Disposição das circulações.

73
PROJETO DE ARQUITETURA II
O estudo de viabilidade conta, de forma geral, com um zoneamento da edificação e
uma proposta formal da mesma. Muitas vezes, também são apresentadas as sínteses de
dados, feitas pelos projetistas. Vejamos alguns exemplos de estudo de viabilidade nas
Figuras 49 e 50.

Figura 49 - Desenvolvimento do Conceito Formal e de Implantação de um Projeto Escolar.


Fonte: Santos (2020).

Figura 50 - Estudo de Viabilidade Coworking – Desenvolvimento Formal.


Fonte: Brandão (2020).

74
PROJETO DE ARQUITETURA II
PARA REFLETIR
O partido de projeto e o seu processo de criação podem ser encarados de
diferentes formas, de acordo com diferentes teorias de projeto e diferentes pro-
cessos. Como foi dito, não existe uma única teoria e um único modo de como chegar a um bom
resultado final. Com o tempo, pode ser que você elimine algumas destas etapas e, talvez, sinta a
necessidade de adicionar outras que não estão escritas no caderno.
O desenvolvimento das etapas de projeto depende muito do tipo do projeto e da experiência
do projetista naquele tipo de projeto.

3.2 ESTUDO PRELIMINAR



O estudo preliminar é o desenvolvimento do estudo de viabilidade, transformando-
se em uma solução inicial do projeto arquitetônico. Nesta etapa, nascem os desenhos
arquitetônicos, não completamente detalhados, mas já delineados. Todas as informações
da etapa do estudo de viabilidade são mantidas, aprofundadas e melhor detalhadas.
É comum encontrarmos incoerências no que havíamos suposto, ou até pontos, os
quais podem ser melhorados, ou podemos perceber que há uma solução melhor. Se este
for o caso, não hesite em rever e alterar o que for necessário.
Na etapa do estudo preliminar, nem tudo está definido, e podem ser utilizadas imagens
ou detalhamentos de referência para exemplificar algum ponto. É importante que o
projeto esteja ainda aberto em alguns pontos, para que seja possível avaliar diferentes
ideias e opções, pois se trata, ainda, de uma fase em que o arquiteto está explorando e
testando o projeto.
Você pode escolher mostrar ou não as diferentes opções ao seu cliente ou professor.
É interessante ter um caderno de anotações, de croquis, ou ter alguma forma de registro
das diferentes ideias, e também do processo de desenvolvimento do projeto, pois elas
podem ser revisitadas em algum momento, tornando-se úteis.
A entrega desta etapa inclui planta geral de implantação, plantas baixas, cortes e
volumetria e fachadas. Em muitos casos, a fachada é mostrada em conjunto com a
volumetria. Além disso, é interessante fazer um memorial justificativo, explicando e
justificando as decisões de projeto.
No estudo preliminar, são feitas algumas definições de projeto, como as divisões

75
PROJETO DE ARQUITETURA II
internas dos ambientes (colocar áreas); o layout básico dos espaços; a locação e as medidas
das circulações verticais e horizontais (escadas, elevadores e rampas) e a definição dos
sistemas estruturais.
É importante que o projeto tenha vãos e uma estrutura, os quais sejam viáveis técnica
e financeiramente, além de estarem alinhados com o conceito do projeto arquitetônico,
por isso é preciso avaliar o tamanho dos vãos e das peças estruturais, para que sejam
compatíveis com a realidade. Também é relevante implantar a edificação, pensando
na direção dos ventos predominantes e na orientação solar do terreno, locando os
ambientes conforme as condicionantes climáticas, o que veremos mais detalhadamente
no próximo item.

3.3 APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE CONFORTO AMBIENTAL – INSOLAÇÃO

Na etapa do estudo preliminar, deve-se pensar em quais são as melhores estratégias


para aprimorar o conforto ambiental da edificação que será projetada, como tirar partido
do clima, do terreno e do entorno da edificação. Assim, é preciso estudar as variáveis
ambientais, conforme fizemos na Unidade 1 (Figura 51). Dimensionar estas variáveis
diminui ou evita o uso de dispositivos artificiais de condicionamento do ar.

Figura 51 - Orientação Solar em uma Residência.


Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

76
PROJETO DE ARQUITETURA II
Se, em edificações baixas, o principal elemento para conforto térmico é a cobertura,
pois é a maior área de exposição ao sol, nas edificações verticais, este elemento serão
as paredes. Elas serão a maior área de troca de calor da edificação, isto é, a orientação
solar, no caso dos prédios, é mais influente no conforto térmico do que em edificações
residenciais ou edificações de um ou dois pavimentos.
O excesso ou a falta de insolação pode causar desconforto térmico e uso excessivo
de condicionamento artificial. A intensidade da insolação e o ângulo de incidência do
sol variam conforme a época do ano, a hora do dia e a orientação solar. De acordo com a
orientação solar da fachada, ela receberá diferente quantidade de horas e intensidade de
insolação. É preciso proteger a fachada quanto aos excessos no calor e garantir a insolação
no período frio. Uma das estratégias mais utilizadas é proteger as fachadas com excesso
de insolação, utilizando brises. Veja um resumo sobre algumas aplicações práticas no
projeto relativas aos brises.
Os brises instalados na parte de cima das aberturas (brises horizontais) são projetados
para dar proteção contra ângulos altos do sol, principalmente no verão, sendo mais
apropriados para uso na fachada norte (sul do país) ou norte e sul (norte do país). Ele
fornece sombreamento na abertura, no período em que se tem o maior ganho solar
indesejável (outubro a abril no sul). Os brises horizontais não são muito eficazes no
inverno (Figura 52), já que o ângulo de incidência de sol é mais baixo e, geralmente, neste
período, é aconselhável o ganho solar para o aquecimento passivo, combinado com o
uso de persianas internas para controle de ofuscamento (http://projeteee.mma.gov.br/
estrategias-bioclimaticas/).

Figura 52 - Brise horizontal, barra o sol mais alto e permite a insolação, quando ele está mais baixo.
Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

77
PROJETO DE ARQUITETURA II
Você também pode utilizar estratégias como as prateleiras de luz, já que elas protegem
as janelas com os brises horizontais, mas permitem a insolação na parte mais alta da
abertura. Na parte de cima do brise, deve ser utilizado um material refletor. Assim, a
iluminação incide nessa parte mais clara, é refletida para o interior do ambiente e se
espalha através do forro (Figura 53).

Figura 53 - Prateleira de Luz.


Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

O elemento de proteção solar horizontal mais comum é o beiral da própria cobertura.


São também exemplos de proteção horizontal: as venezianas externas, que podem ser
móveis ou fixas; os toldos, que geralmente são proteções móveis; o uso de pérgulas, um
sistema de sombreamento bastante eficiente, favorecendo a circulação de ar através dele,
o que reduz as transferências térmicas para o interior.
Além das proteções horizontais, temos as proteções verticais (Figura 54). Estas são
eficientes para o sombreamento das fachadas nos horários em que o sol está mais baixo,
ou para as fachadas em que os percursos solares estão, na maior parte, na diagonal em
relação à fachada (Nordeste, Sudoeste, Sudeste).

78
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 54 - Brise Vertical.
Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/prague-czech-republic-mar-
ch-18-2012-1046960869>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

Para proteção das fachadas norte e sul, incluindo os horários em que o sol
está mais baixo, o ideal é uma combinação de proteções horizontais e verticais (
Figura 55). Considerando a radiação solar, as janelas devem ser preferencialmente
localizadas nas fachadas sob menor impacto da radiação, orientações norte e sul. Esta
orientação pode ser conflitante com a direção dos ventos, por isso é necessário ponderar
quais as melhores opções e prioridades. Os ventos podem ser redirecionados através de
elementos de projeto.

79
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 55 - Brise Misto: Mistura do Vertical e do Horizontal.
Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-institute-management-ahmedabad-lou-
is-kahn-72525103>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

No hemisfério sul, a orientação norte das janelas é boa para o inverno e o verão, por
permitir a entrada de radiação solar direta nos períodos mais frios e impedir a radiação
direta nos períodos quentes de verão.
As orientações leste e oeste recebem grande intensidade de radiação solar, sendo a
orientação oeste sujeita ao  pico de radiação. As paredes expostas à maior insolação
podem minimizar os ganhos solares diretos, através de cores reflexivas, isolamento
ou sombreamento. É interessante utilizar ambientes não habitados, como banheiro
e despensas, voltados para as orientações desfavoráveis, como a oeste, funcionando
como barreiras térmicas. No leste, comumente se locam os quartos, para que recebam a
insolação de manhã e, à noite, já estejam mais frescos.
Veja uma indicação de como localizar os ambientes dentro de uma casa ou apartamento,
de acordo com a insolação na Figura 56.

80
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 56 - Localização dos Ambientes pela Orientação Solar.
Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Morimoto (2020).

Observa-se que os ganhos solares de verão podem ser minimizados com a orientação
da maior dimensão das fachadas no sentido N-S, no caso de edificações totalmente
expostas à radiação solar, uma vez que esta orientação facilita o planejamento e a
identificação dos períodos e horários do dia necessários ao sombreamento das fachadas.
Em regiões de clima quente e úmido, o sombreamento não só das aberturas, como
também das paredes é fundamental. Para edifícios verticais, o sombreamento é um dos
elementos mais eficazes para redução dos ganhos térmicos internos.

SAIBA MAIS
O site: <http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/> oferece dados so-
bre o clima de diferentes cidades, assim como indicações de estratégias bioclimáticas
a serem aplicadas, conforme o clima, além de informações como taxa de conforto e desconforto. Além
disso, é possível encontrar no site a explicação sobre o funcionamento destas estratégias.
Para quem deseja aprofundar mais o tema, o site também apresenta uma gama de mate-
riais e as propriedades térmicas destes materiais, para aplicar no projeto arquitetônico. O site
é desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com o Ministério de
Desenvolvimento do Meio Ambiente, o que o torna bastante didático e confiável.

81
PROJETO DE ARQUITETURA II
3.4 ESTRUTURA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

A estrutura de uma edificação é uma parte importante, para que o projeto arquitetônico
seja viabilizado e bem executado, conforme o arquiteto concebeu e planejou. Quando
se fala de estrutura, lembramos de algo que sustenta, conceito que é válido nas mais
diversas áreas do conhecimento, por exemplo, estrutura musical, estrutura de uma
empresa, estrutura do corpo humano etc.
Por mais ampla que seja a palavra “estrutura”, o seu conceito se relaciona com a
organização das partes ou elementos desta estrutura, estando presente em nosso cotidiano,
ou seja, na natureza, nas pessoas, nos objetos, nas ideias e nas construções (LOPES, 2006).
Então, qual o papel do arquiteto na estrutura de um prédio? Tem-se a ideia de que
a concepção da estrutura é atribuição do Engenheiro Civil, pela formação profissional
baseada em cálculos, dimensionamentos estruturais e sistemas complexos, mas
a concepção estrutural não nasce de modelos matemáticos e dimensionamentos
estruturais, pois para que os elementos possam ser dimensionados, deve existir
um modelo previamente concebido, cuja concepção nasce do projeto arquitetônico
(REBELLO, 2003). Na Figura 57, podemos perceber uma fachada de vidro com desenho
que foi concebido e possibilitado graças ao desenvolvimento conjunto entre o projeto
arquitetônico e o projeto estrutural.

Figura 57 - Fachada de Vidro Estrutural: Telhado Curvado de Edifício de Escritórios.


Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/structural-glass-facade-curving-roof-fantas-
tic-505608061>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

82
PROJETO DE ARQUITETURA II
E qual a importância da estrutura no projeto de arquitetura? Embora muitos arquitetos
não pensem na estrutura ou no sistema estrutural de seu projeto, ao desenvolver as
primeiras formas geométricas, a estrutura já está sendo elaborada, e estas primeiras
ideias resultarão em uma estrutura, a qual será posteriormente calculada pelo engenheiro
estrutural (REBELLO, 2003).
Quando o profissional tem consciência de que seu projeto resultará em uma estrutura,
ele terá uma relação diferente com a arquitetura, buscando conhecer os sistemas
estruturais e tirando partido destes conhecimentos para racionalização, qualidade,
construtibilidade ou, até mesmo, estética do edifício. Na Figura 58, nota-se como a
estrutura faz parte do conceito do desenvolvimento da residência. O desenho da estrutura
da cobertura traz uma estética diferente para o projeto.
Muitos arquitetos modernos brasileiros, como Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina
Bo Bardi e outros, utilizaram o desenvolvimento de uma estrutura diferenciada, como
parte conceito do projeto, seja no desenho dos pilares, nas formas curvas do concreto,
no desenho da laje ou em estruturas com pórticos (Figura 59). Utilizar o conhecimento
estrutural como parte do desenvolvimento do projeto enriquece o projeto arquitetônico
e garante o seu diferencial com maior valor agregado.

Figura 58 - Projeto Residencial.


Fonte: Shutterstock (2020).

83
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 59 - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, localizado no aterro do Flamengo.
Fonte: Shutterstock (2020).

Nas edificações, os principais elementos que compõem a estrutura são: as lajes, as


vigas, os pilares e a fundação.
Os sistemas estruturais não se resumem apenas no concreto armado. Ao deixarmos
de conhecer outras técnicas construtivas, acabamos tendo uma visão reducionista da
arquitetura e nos viciamos em projetar, utilizando somente uma ou poucas técnicas, o
que dificulta a possibilidade de abordarmos adequadamente os diversos problemas.
Os três materiais mais utilizados para estrutura são:
• Concreto armado;
• Metálica;
• Madeira.

Dentro de cada material, há várias possibilidades e diversas técnicas de construção.


Não há como abordar todas, por isso cabe ao arquiteto pesquisar e conhecer um pouco
de cada técnica, para entender o que melhor se adapta à sua concepção do projeto e ao
seu programa de necessidades.
Neste tópico, apresentamos um resumo de algumas informações significativas para
pré-dimensionamento (dimensionamento inicial da estrutura feito pelo arquiteto para
viabilizar seu projeto) em uma estrutura convencional de concreto armado (Figura 60).

84
PROJETO DE ARQUITETURA II
= > Sobre as vigas:
• Para dimensionar o tamanho das vigas, em geral, considera-se 1/10 do tamanho
do vão. Por exemplo, em um vão de 4m entre os pilares, o tamanho da viga será em
torno de 40cm de altura.
• O tamanho ou seção mínima da viga é de 10cm x 10cm, mas geralmente se adota
12cm como seção mínima (na largura). Por exemplo, uma viga de 10cm x 25cm é
considerada uma viga bem pequena e frágil, sendo utilizada somente em casos
específicos.
• Quando os pilares mudam de posição de um pavimento para outro, necessita-se de
uma viga de transição, que é algo considerado delicado. Em alguns casos, pode não
afetar em nada um projeto; em outros, pode inviabilizar o projeto arquitetônico.
Portanto, o ideal é evitar esta mudança e consultar um engenheiro estrutural, caso
ela aconteça.

Sobre os pilares:
• Seção mínima de pilar, segundo a NBR6118 (ABNT, 2014) envolve uma área mínima
de 360cm², com um dos lados sempre superior a 14cm.
• Para o pilar retangular, as dimensões mínimas são de 14cm x 26cm.
• Para o pilar quadrado, as dimensões mínimas são de 19cm x 19cm.
• O vão ideal entre pilares para uma estrutura de concreto armado é de:
• 3m a 4m para residências.
• 4m a 5m para edifícios.

Obs.: Devido às vagas de garagem, utiliza-se bastante a modulação de 5m x 5m.


Lembrando que a viga ficará com a altura em torno de 10% do tamanho do vão, ou seja,
vãos grandes geram vigas grandes.

85
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 60: Estrutura de uma edificação com vigas e pilares de concreto.
Fonte: Shutterstock (2020).

Em lajes nervuradas (Figura 61), é possível utilizar de forma uma modulação de 6m x


6m, com o tamanho da laje de 22cm, 23cm. Nas lajes nervuradas, não há vigas e, como o
peso próprio da estrutura é menor, é possível ter vãos maiores. A estética da laje pode ser
utilizada como parte da arquitetura e do conceito do projeto.

Figura 61: Laje Nervurada.


Fonte: <https://www.instagram.com/p/CDUdy4fBNIv/>. Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

86
PROJETO DE ARQUITETURA II
A estrutura feita com blocos estruturais (Figura 62) pode ser uma solução mais
econômica. No entanto, não se pode alterar o layout, nem derrubar as paredes da
edificação. Os vãos, neste tipo de estrutura, também são mais limitados. Tais fatores
podem não atender a um público mais exigente.

Figura 62 - Construção de Bloco Estrutural.


Fonte: Shutterstock (2020).

SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o pré-dimensionamento em estruturas de concreto ar-
mado, você pode consultar o seguinte site: <https://www.guiadaengenharia.com/
pre-dimensionamento-concreto-armado/>.
Nele, você pode assistir aos vídeos e exemplos sobre o assunto. Caso tenha mais dúvidas,
releia o material complementar do caderno de Projeto de Arquitetura I sobre o assunto.

87
PROJETO DE ARQUITETURA II
ATIVIDADE
Desenvolver o estudo preliminar para o projeto arquitetônico de um edifício
misto e apresentar os seguintes itens:
• Implantação (ESC. 1/500): Implantação geral com a planta básica da cobertura, áreas
externas, recuos, acessos e norte.
• Plantas Baixas (ESC. 1/200): Plantas de todos os blocos e pavimentos com nome de cada
ambiente e área, layout básico dos aptos, indicação do Norte, e marcação dos cortes.
• Cortes (ESC. 1/200): Apresentar no mínimo 1 corte esquemático da edificação projetada,
mostrando a relação das alturas e volume.
• Volumetria/Fachadas: Apresentar, no mínimo, 2 imagens ou croquis, mostrando diferentes
vistas do projeto.
• Justificar a proposta, tanto funcional quanto volumétrica.

88
PROJETO DE ARQUITETURA II
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, aprendemos mais sobre duas importantes etapas de projeto: o estudo
de viabilidade e o estudo preliminar. Como os próprios nomes já dizem, são estudos em
que são vistas diversas possibilidades do projeto, onde ele está ainda em aberto, em busca
de uma solução. Elas são as etapas de maior estudo e criação para o arquiteto, portanto
fique atento e procure dar uma boa base para a concepção do seu projeto.
Também vimos sobre dois tópicos fundamentais ao desenvolvimento do projeto:
estudo da insolação e o pré-dimensionamento de estruturas de concreto armado. As
informações foram abordadas de forma mais prática, procurando dar diretrizes para um
projeto bem-sucedido. Os tópicos contêm informações de forma direta e sintética, eles
não buscam substituir as aulas e o aprofundamento das disciplinas de estruturas e de
conforto, mas buscam algumas possíveis aplicações no projeto para estas disciplinas e
assuntos.
Por fim, espera-se que você tenha aproveitado a unidade, para desenvolver melhor
suas habilidades de projeto arquitetônico e que tenha compreendido melhor, ou talvez
revisado, os pontos abordados.

89
PROJETO DE ARQUITETURA II
EXERCÍCIO FINAL

01- O estudo preliminar é o desenvolvimento do estudo de viabilidade que se


transforma em uma solução inicial do projeto arquitetônico. Nesta etapa nascem os
desenhos arquitetônicos, não completamente detalhados, mas já delineados. Todas
as informações da etapa do estudo de viabilidade são mantidas, aprofundadas e
melhor detalhadas. Na etapa do estudo preliminar, nem tudo está definido e podem
ser utilizadas imagens ou detalhamentos de referência para exemplificar algum
ponto. Sobre a etapa do estudo preliminar, avalie as asserções abaixo:

I – Não é necessário pensar no esquema estrutural nesta etapa de projeto, já que ele
pode limitar a criatividade do projetista e restringir as opções de projeto, portanto é
melhor deixar em aberto a definição da estrutura.
II- Nesta etapa, são feitas algumas definições de projeto, como as divisões internas dos
ambientes; o layout básico dos espaços; a locação e as medidas das circulações verticais
e horizontais.
III- A entrega final desta etapa inclui a apresentação da planta geral de implantação,
plantas baixas, cortes longitudinais e transversais, planta de cobertura, elevações,
volumetria e detalhamentos construtivos. Está correto o que se afirma em:

a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) I, II e III.
e) Apenas II.

02- Quando se fala de estrutura, o que remete à mente é algo que sustenta, seja nas
mais diversas áreas do conhecimento: estrutura musical, estrutura urbana, estrutura de
uma empresa e estrutura do corpo humano. Por mais ampla que seja a palavra “estrutura”,
o seu conceito se relaciona com a organização das partes ou elementos desta estrutura e
está presente no nosso cotidiano, ou seja, na natureza, nas pessoas, objetos, ideais, nas
construções (LOPES, 2006).
Para a arquitetura, a estrutura de um edifício é elemento fundamental para transformar
o projeto concebido em uma edificação construída. Sobre a estrutura da edificação, leia
as asserções abaixo e assinale a alternativa correta:
I- Dentre os principais elementos que compõem a estrutura, estão as lajes, as vigas, os

90
PROJETO DE ARQUITETURA II
pilares e a fundação.
II- A atribuição de concepção da estrutura é do arquiteto, ela nasce junto com o projeto
arquitetônico.
III- A estrutura é uma parte somente funcional do projeto, não se relacionando com a
estética e com a qualidade da construção.

É correto o que se afirma em:


a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) I, II e III.
e) Somente I.

03- É de vital importância que os arquitetos compreendam de estruturas, para


tornarem seus desenhos possíveis e, mais importante, poderem ter subsídios para
debater com engenheiros calculistas, em busca das melhores soluções para a obra.
Um pré-dimensionamento estrutural torna-se fundamental ao lançamento inicial dos
componentes estruturais, observando-se as restrições e possibilidades dos espaços.
Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/891672/aprenda-a-pre-dimensionar-uma-
estrutura-em-concreto-armado>. Acesso em: 25 de novembro de 2020.
Para o pré-dimensionamento de uma estrutura convencional de concreto armado,
assinale a alternativa correta:

a) O tamanho das vigas: 1/20 do tamanho do vão.


b) Pilar pode ser retangular: 12cm x 30cm
c) O vão entre pilares ideal em edifícios varia entre 8m a 10m.
d) Devido às vagas de garagem, utiliza-se bastante a modulação de 10m.
e) Em lajes nervuradas, é possível utilizar uma modulação de 6m x 6m sem grandes
problemas.

91
PROJETO DE ARQUITETURA II
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de Estruturas


de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

BRANDÃO, Davi. Coworking - Ambientes que estimulem a produtividade e o bem-


estar. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro
Universitário Avantis – UNIAVAN. Balneário Camboriú, 2020.

KOWALTOWSKi, Doris C. C. K.; MOREIRA, Daniel de Carvalho; PETRECHE, João R. D.;


FABRICIO, Márcio M. O processo de projeto em arquitetura. São Paulo: Oficina de
Textos, 2011.

REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo:


Zigurate, 2003.

SANTOS, Jessica Martins dos. Escola Primária Montessoriana TCC I. Trabalho de


Conclusão de Curso (TCC). Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário Avantis –
UNIAVAN. Balneário Camboriú, 2020.

<http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/ >. Acesso em: 04 de dezembro


de 2020.

<https://www.guiadaengenharia.com/pre-dimensionamento-concreto-armado/>.
Acesso em: 04 de dezembro de 2020.

92
PROJETO DE ARQUITETURA II
4
unidade
ANTEPROJETO E
LEGISLAÇÃO

93
PROJETO DE ARQUITETURA II
INTRODUÇÃO À UNIDADE

Chegamos à última etapa de nosso projeto arquitetônico: o anteprojeto. Nesta unidade,
veremos no que consiste a fase de anteprojeto, suas exigências de entrega e alguns pontos
consideráveis para o desenvolvimento dos desenhos do projeto arquitetônico.
O anteprojeto é uma etapa para o desenvolvimento do estudo preliminar, ou seja, mais
estudos são necessários, para que a proposta seja validada. Assim, fazem-se pertinentes
os outros tópicos que também serão abordados, como o cálculo das escadas, as saídas de
emergência, o dimensionamento das vagas de estacionamentos e as rampas de acesso às
garagens, muito comuns em edificações multifamiliares.
É relevante, também, dimensionar elevadores, entradas, banheiros e rampas acessíveis.
Conhecer e aplicar a acessibilidade é fundamental em qualquer projeto de arquitetura,
sendo passível de multa e processos para os arquitetos e donos de empreendimentos que
não o fizerem. Por fim, é necessário ter uma estimativa do tamanho da caixa d’agua e da
sua colocação é nas edificações, pois estas são um grande volume e, em geral, requerem
um espaço específico, pensado para tal fim.
Na Unidade 4, compreenderemos que, além de um conceito, um partido e uma ideia
interessante, o arquiteto precisa viabilizar o seu projeto construtivamente, o que não
inclui só a estrutura, mas partes técnicas, como cálculo correto dos estacionamentos e
das caixas d’água. Sem estas noções, o arquiteto corre o risco de não conseguir tirar o seu
projeto do papel, ou precisar fazer alterações que comprometam o seu partido de projeto.
Logo, é necessário planejar bem quaisquer detalhes e pensar em todas as possibilidades,
para que o projeto possa agradar não só na estética, mas também na funcionalidade da
edificação como um todo. Este é o objetivo de nossa última unidade. Perceba que são
muitos itens, e que seria impossível abordar todos aqui, talvez você necessite pesquisar
outros itens importantes do seu projeto por conta própria, o que também faz parte do
dia-a-dia do desenvolvimento dos projetos de arquitetura.

4.1 ANTEPROJETO

Posteriormente à aprovação do estudo preliminar, vem a etapa do anteprojeto. Ela é


o desenvolvimento do estudo preliminar, principalmente na parte técnica e de desenho
arquitetônico. Não deve mais haver dúvidas quanto à execução, e todas as decisões
devem estar tomadas e bem representadas. Deixar uma lacuna nos desenhos, ou deixar

94
PROJETO DE ARQUITETURA II
uma decisão em aberto, provavelmente, gerará problemas na execução e retrabalho.
À medida que vamos avançando no projeto, precisamos tomar mais decisões, assim
diminuímos as incertezas e paramos de explorar múltiplas opções, para explorar uma
só, que deve ser detalhada. O detalhamento do projeto é necessário, e seria uma perda
de recursos detalhar várias propostas, logo é necessário escolher junto com o cliente a
melhor solução de projeto, para ser trabalhada no anteprojeto.
Por isso, as etapas de maior criatividade, testes, estudos e explorações são as do estudo
de viabilidade e estudo preliminar. É nelas que nasce o conceito e o partido do projeto em
si, e estes se desenrolam em projeto arquitetônico.
Na etapa de anteprojeto, viabilizamos tecnicamente a proposta, tomamos mais
decisões, fazemos mais algumas modificações, visando atingir o que ficou definido no
estudo preliminar. O projeto deve estar pronto para ser submetido aos órgãos públicos,
retirar as licenças e para o início da obra.
Para a aprovação do projeto na prefeitura e nos órgãos competentes, é necessário fazer
o que chamamos de projeto legal. As exigências em relação ao projeto e documentação
variam conforme a cidade, logo, você precisa consultar a legislação da cidade, em que o
projeto será aplicado.
O anteprojeto deve conter a versão final do layout, com aprimoramentos,
detalhamentos e adequações, estando presentes as cotas de tudo o que está
representado, sem deixar dúvidas em relação às medidas. Pode-se utilizar texturas
para melhorar a representação, e tudo deve seguir as normas técnicas de desenho e as
demais normas pertinentes ao projeto.
A entrega desta etapa consiste na planta de implantação, planta de cobertura,
plantas baixas, cortes (longitudinais e transversais, mostrando os elementos que podem
trazer mais dúvidas ao entendimento do projeto e dificuldade na execução), fachadas,
mostrando cores e materiais, e volumetria com imagens apresentando os pontos mais
relevantes da proposta.
No anteprojeto, também são necessárias perspectivas renderizadas, exibindo as
texturas, cores e materiais de acabamento do projeto. Na atividade 02, faremos esta etapa
de projeto na prática.
Em resumo, o anteprojeto se trata de um estudo preliminar mais refinado. A cada
etapa do projeto o grau de definição das decisões aumenta, assim como a complexidade
dos desenhos e representações.
Academicamente, este é o nosso ponto final, no entanto, na vida profissional, o
anteprojeto precisa ser entregue para outros profissionais parceiros, os quais farão outros
projetos complementares, como: estrutural, elétrico, hidrossanitário, incêndio e outros
projetos que forem necessários para a execução da obra.

95
PROJETO DE ARQUITETURA II
Cabe, geralmente, ao arquiteto compatibilizar todos os projetos, checando se um
projeto não interfere no outro, gerando problemas na hora da construção. Por fim,
com todos os projetos compatibilizados, detalhados e orçados, inicia-se a execução da
obra. É importante que o arquiteto também se envolva, de alguma forma, na execução,
garantindo que o seu projeto está sendo corretamente executado e percebendo pontos,
os quais podem ser melhorados no projeto arquitetônico.
Além disso, o arquiteto precisa emitir o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT)
do projeto e, se for ser responsável pela execução da obra, também precisa emitir a RRT
referente à execução. Para isto, o arquiteto precisa estar corretamente licenciado no CAU
(Conselho de Arquitetura e Urbanismo).
Nos próximos tópicos, estudaremos as normativas necessárias para poder desenhar e
viabilizar o anteprojeto.

PARA REFLETIR
Agora que estamos chegando ao fim do projeto, gostaria de convidá-los a
refletir sobre este processo. No caderno, vimos uma corrente de arquitetura mais
mercadológica, voltada para a arquitetura como prestação de serviço, como fruto do programa
de necessidades e em atendimento ao cliente.
No entanto, há correntes de arquitetura que a pregam como arte poética, que subverte esta
lógica, tensionando o programa de necessidades. Uma arquitetura como reflexão do momento
em que vivemos, provocando pelos seus traços e materiais.
O que você entende como mais importante e necessário? Uma arquitetura mais autoral ou
uma arquitetura mais mercadológica? Ou talvez um equilíbrio entre as duas? Quais são os prós
e contras de cada caso?

4.2 SAÍDAS DE EMERGÊNCIA

Nas edificações multifamiliares e de uso misto, é necessário que se esteja atento às


saídas de emergência e rotas de fuga. O projeto de combate ao incêndio é um dos mais
rigorosos nas suas cobranças, e ele é muito importante, para evitar tragédias em caso

96
PROJETO DE ARQUITETURA II
de incêndios. Aprenderemos neste tópico quais são os itens mais significativos para
edificações multifamiliares nos quesitos saídas de emergência e escadas.
Um dos primeiros pontos para definir as saídas de emergências em edificações verticais
é localizar as escadas e determinar o tipo de escada que deve ser colocado. A legislação
que rege estas questões aqui em Santa Catarina é a IN 009/DAT/CBMSC (2020), devendo
ser integralmente respeitada (apresentaremos os pontos mais importantes da norma
nesta unidade).
Um tópico relevante a ser observado é a distância das saídas de emergência. As
distâncias a serem percorridas para atingir os degraus ou as portas das escadas comuns
ou protegidas, a porta das antecâmaras das escadas protegidas, enclausuradas e
enclausuradas à prova de fumaça são determinadas em função das seguintes condições:
• Quando não houver isolamento entre pavimentos, a distância deve ser, no máximo,
de 20m.
• Quando os pavimentos forem isolados entre si, a distância deve ser, no máximo,
de 30m.

Obs.: Os caminhamentos são medidos dentro do perímetro do pavimento, a partir do


centro geométrico da economia (sala comercial, sala de aula, apartamento etc.), exceto
para garagens.

Assim, o projetista precisa locar as escadas, de acordo com essas distâncias, e caso
necessário, colocar mais de uma escada de emergência. Outro ponto a ser observado
é o projeto da escada em si. Todas as escadas e rampas deverão possuir os seguintes
componentes:
I - Degraus (exceto para rampas);
II - Patamares;
III - Corrimãos contínuos em ambos os lados;
IV - Guarda-corpos;
V – Iluminação de emergência;
VI - Sinalização nas paredes, em local visível, indicando o número do pavimento
correspondente e, no pavimento de descarga, deverá ter sinalização, indicando a saída.

Os degraus devem obedecer aos seguintes requisitos:


• Devem ser revestidos por materiais incombustíveis e antiderrapantes;
• Possuir o espelho (h) entre 16 e 18cm;
• Ter seu comprimento (b) dimensionado pela fórmula: 63 cm ≤ (2h + b) ≤ 64 cm;
• Os lanços mínimos serão de 3 degraus, contando-se estes pelo número de espelhos;

97
PROJETO DE ARQUITETURA II
• Ser uniforme em toda a sua extensão;
• Não são admitidos degraus em leque, exceto para escadas de acesso restrito.

Deste modo, para o projeto e cálculo da escada, deve-se obedecer aos requisitos acima
e utilizar a fórmula de Blondel: 63 cm ≤ (2h + b) ≤ 64 cm. Vejamos um exemplo de cálculo
da escada para um pé-direito de 2,80m, considerando a laje com 20cm, ou seja, uma
altura total de 3m.
Para tal, utilizaremos a medida de 3m e dividiremos por 0,18m, que é a altura máxima
do espelho.
3÷0,18 = 16,67 degraus.

Assim, arredondamos para cima, obtendo 17 degraus e recalculamos a altura do


espelho, dividindo a altura a ser vencida pelo número de degraus que especificamos.
3 ÷ 17 = 0,176m

Colocando este valor na fórmula de Blondel, encontraremos o tamanho da base ou


piso: 63 cm ≤ (2x0,176 + b) ≤ 64 cm, que será de 0,28m. Vale lembrar que teremos um
piso a menos que o número de espelhos, pois a última altura é o piso do andar. Também
vale ressaltar a importância de inserir patamares para descanso, deixando a escada mais
confortável.
Outro item a ser considerado é o tipo de escada que deve ser inserido na edificação.
Elas variam conforme o seu grau de proteção ao fogo. As escadas são classificadas quanto
ao tipo em:
I - Escada comum;
II - Escada protegida;
III - Escada enclausurada;
IV - Escada enclausurada à prova de fumaça;
V - Escada pressurizada.

O tipo e o número mínimo de escadas, de acordo com o tipo de ocupação e altura


da edificação, está estabelecido no Anexo B da IN 009/DAT/CBMSC (2020) (Figura
63). Conforme o tamanho e o tipo da edificação, há a necessidade de uma escada mais
protegida em relação ao fogo, e até de mais de uma escada.

98
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 63 - Tipo e Número de Escadas em Algumas Edificações.
Fonte: Adaptado do Anexo B, da IN 009/DAT/CBMSC (2020).

Outro item a ser destacado neste tópico é a largura das escadas, corredores e portas,
para permitir a evacuação da edificação. As larguras mínimas são determinadas por uma
fórmula, também encontrada na IN009 (2020). Assim, a largura das saídas de emergência,
isto é, dos acessos, escadas, rampas e portas, é dada pela seguinte fórmula:
N = P/Ca

Onde:
N = número de unidades de passagem (se fracionário, arredondar para mais);
P = população (ver Anexo C – Figura 64);
Ca = capacidade da unidade de passagem (ver Anexo C - Figura 64).

Na IN009, a unidade de passagem é fixada em 55cm. E, para edificações no geral, as


escadas e rampas devem possuir, no mínimo, 1,2m de largura.
No anexo C (Figura 64), encontramos os dados para serem utilizados na fórmula e,
assim, calcular o tamanho das saídas de emergência.

99
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 64 - Capacidade de Passagem das Saídas de Emergência.
Fonte: Adaptado do Anexo C, da 009/DAT/CBMSC (2020).

Vejamos um exemplo para este cálculo, em uma edificação privativa multifamiliar, que
é o foco do nosso projeto. Calcularemos a capacidade de passagem em uma escada, cujo
processo é similar em corredores e portas, somente mudando os números, conforme se
observa na Figura 64.
Em uma edificação, temos 4 apartamentos por andar, cada apartamento possui 3
quartos e a edificação possui 6 pavimentos de apartamentos ao todo. Utilizando o cálculo
da população de 2 pessoas por dormitório, temos o seguinte: 2 pessoas x 3 quartos x 4
apartamentos = 24, esta é a população do pavimento. Na fórmula, temos que a capacidade
para escadas em edificações residenciais privativas multifamiliares é de 45. Logo:

N = P/Ca
N= 24/45 = 0,53 unidades de passagem.

Deve ser arredondado sempre para cima, neste caso, 1 unidade de passagem. Cada
unidade de passagem é 55cm, no entanto, a largura mínima da escada, necessária para
este tipo de edificação, é de 1,20m. Então, a largura da nossa escada será de 1,20m.
Lembrando que esta norma é válida para o Estado de Santa Catarina, e pode haver
alterações de estado para estado, portando é sempre necessário avaliar a norma do estado
em que se está projetando. Além disso, a norma sofre constantes revisões e atualizações,
sendo cabível sempre verificar se você está com a versão atualizada dela.

100
PROJETO DE ARQUITETURA II
SAIBA MAIS
Para acompanhar as constantes atualizações da norma sobre saída de emer-
gência dos bombeiros de Santa Catarina e conhecê-la na íntegra, conferindo mais
detalhes e tirando dúvidas, consulte: https://dsci.cbm.sc.gov.br/index.php/pt/cidadao/instruco-
es-normativas-in. Acesso em: 10 de dezembro 2020.
Além disso, a norma está disponível para você como leitura complementar. No anexo D da
norma, há exemplos de detalhes de desenhos dos diversos tipos de escada, vale a pena conferir
cada um deles, para um desenho técnico mais assertivo e preciso.

4.3 ESTACIONAMENTO

Um dos pontos mais importantes e desafiadores dos projetos de edificações verticais


é o projeto do estacionamento. Ele geralmente faz parte do embasamento da edificação,
o que muitas vezes cria uma barreira de conexão com a cidade, ou um grande paredão,
ou uma massa edificada que se torna esteticamente pesada. Além de todos os problemas
formais e estéticos, o estacionamento também exige um bom planejamento das vagas e
dos acessos, itens em que vamos nos deter neste tópico.
O estacionamento, além das dimensões e disposição das vagas, também é fortemente
influenciado pela estrutura: os pilares da edificação ajudarão a determinar onde ficarão as
vagas. Logo, o desenvolvimento da modulação da estrutura deve caminhar em conjunto
com o layout do estacionamento, compatibilizando os dois.
Dentro do projeto de estacionamento, um dos itens que gera dúvidas na hora do projeto
é o acesso dos carros. Normalmente, é feito por meio de rampas, as quais precisam ser
dimensionadas. O dimensionamento das rampas dos carros é semelhante ao de qualquer
rampa. A inclinação pode ser expressa como uma porcentagem, como resultado da relação
entre a altura a vencer (h) e a distância da seção no plano horizontal (d) multiplicada por
100. É expressa pela fórmula: Inclinação em porcentagem = (h/d) x 100 (Figura 65).

101
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 65 - Elementos para o Cálculo de Inclinação da Rampa.
Fonte: DEJTIAR (2020).

Por exemplo, uma rampa existente de 1 metro de altura, com uma distância horizontal
de 10 metros, terá uma inclinação de 10%. Veja mais exemplos desta aplicação, variando
a porcentagem das rampas (Figura 66).

Figura 66 - Exemplos de Diferentes Inclinações de Rampa.


Fonte: DEJTIAR (2020).

Sobre as rampas das garagens, elas podem ser lineares ou curvas (ou helicoidais).


As lineares são, por sua vez, divididas em  retilíneas  e  em balanço. Ambos os tipos
podem ser unidirecionais ou bidirecionais. Observe o exemplo de uma rampa linear
em balanço bidirecional na Figura 67, e o exemplo de uma rampa curva ou helicoidal
bidirecional na Figura 68.

102
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 67 - Rampas Lineares em Balanço Bidirecionais.
Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/como-fazer-rampa-de-garagem-o-guia-completo/>. Aces-
so em: 14 de dezembro de 2020.

Figura 68 - Rampa Curva ou Helicoidal Bidirecional


Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/como-fazer-rampa-de-garagem-o-guia-completo/>. Aces-
so em: 14 de dezembro de 2020.

A inclinação de rampa de garagem recomendada é de 20% ou menos. Alguns lugares


permitem 25% de inclinação e outros recomendam que seja de 16%, ou seja, apesar de
algumas variações, pode-se considerar, de forma geral, 20% de inclinação para esta rampa.
A  largura mínima  da rampa é  3m  para as  rampas unidirecionais  e  4,5m  para
as bidirecionais. Se a rampa apresenta uma curvatura, o raio não pode ser inferior a 7m e, para
rampas bidirecionais, o raio mínimo é 8,25m. Observe as medidas em resumo no Quadro 1.

103
PROJETO DE ARQUITETURA II
Quadro 1 – Resumo das Medidas para Rampa

Fonte: Adaptado pela autora, a partir de: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/como-fazer-rampa-de-


-garagem-o-guia-completo/>. Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

Você também deve ficar atento a alguns detalhes de projeto. Entre o início da parte
inclinada (parte superior) e o espaço de trânsito público, deve ser prevista uma parte
plana (pelo menos 3 m), para que, ao sair, o motorista tenha a visão necessária e não ocupe
a área pública. Deve ser prevista, ainda, uma calha de drenagem das águas pluviais, pelo
menos na base da parte inclinada (preferivelmente no topo também), com grelha de piso.
Já para o piso das rampas, podem ser especificados pisos de asfalto, concreto, pórfiro e
material sintético. O piso de cimento é uma boa solução, pois garante ótima aderência
dos pneus em qualquer condição meteorológica.
Além do projeto das rampas, devem-se projetar as vagas de estacionamento. As
dimensões mínimas de uma vaga de estacionamento são de 2,50 m x 5,50 m para uma
área padrão  e  3,50 m x 5,50 m para uma área destinada a deficientes. Se possível, é
recomendável garantir um tamanho de vaga mais confortável, ou seja, 3 m x 6 m para
áreas de estacionamento padrão e 3,75 m x 6 m para as reservadas a deficientes. 
Quando a vaga for paralela à faixa de acesso (“baliza”), será acrescido 1,00m (um
metro) no comprimento e 0,25 m (vinte e cinco centímetros) na largura para automóveis
e utilitários. Em relação às vagas para deficientes físicos, entre 11 e 100 vagas de
estacionamento, pelo menos uma deve ser dedicada a eles. E, acima de 100 vagas, 1% das
demarcações devem ser de exclusividade.
Sendo as vagas cobertas, deverão dispor de ventilação permanente, garantida por

104
PROJETO DE ARQUITETURA II
aberturas, pelo menos em duas paredes opostas ou nos tetos junto a estas paredes.
As aberturas devem corresponder, no mínimo, à proporção de 60 cm2 de abertura
para cada metro cúbico de volume total do compartimento, ambiente ou local. Os vãos de
acesso de veículos com portas vazadas ou gradeadas, poderão ser computados no cálculo
das aberturas. A ventilação natural poderá ser substituída ou suplementada por meios
mecânicos, dimensionados de forma a garantir a renovação de cinco volumes de ar do
ambiente por hora.
O estacionamento mais barato do ponto de vista do espaço necessário é, com certeza, o
estacionamento perpendicular (Figura 70), seguido do estacionamento paralelo (Figura
71), com um aumento de espaço igual a 25%.

Figura 70 - Estacionamento Perpendicular.


Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/projeto-de-estacionamento-dwg-tipos-exemplos-e-mode-
lo-arquitetonico-3d-bim/>. Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

Figura 71 - Estacionamento Paralelo.


Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/projeto-de-estacionamento-dwg-tipos-exemplos-e-mode-
lo-arquitetonico-3d-bim/>. Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

105
PROJETO DE ARQUITETURA II
Os estacionamentos em espinha mostram uma variação de aproximadamente 10% e,
quanto maior é o respectivo ângulo de inclinação em relação à via de acesso, menor será
o espaço que irão ocupar. Estacionamento a 30° pode ser usado, quando há uma via de
acesso muito estreita (Figura 72). Já o estacionamento a 45° é usado nas garagens, devido
ao bom desempenho das superfícies disponíveis (Figura 73).

Figura 72 - Estacionamento a 30º.


Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/projeto-de-estacionamento-dwg-tipos-exemplos-e-mode-
lo-arquitetonico-3d-bim/>. Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

Figura 73 - Estacionamento a 45º.


Fonte: <https://biblus.accasoftware.com/ptb/projeto-de-estacionamento-dwg-tipos-exemplos-e-mode-
lo-arquitetonico-3d-bim/>. Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

Quanto à velocidade e facilidade de manobra, ao entrar ou sair da vaga, o


estacionamento perpendicular é o mais complicado à manobra e, portanto, aos tempos
de utilização. Os estacionamentos mais funcionais são os em espinha (a 45º).

106
PROJETO DE ARQUITETURA II
4.4 ELEVADORES

Um item a ser considerado no projeto de arquitetura de edificações verticais é a


posição e o dimensionamento dos elevadores, os quais devem estar em locais acessíveis
à pessoa portadora de deficiência, respeitando as normas de acessibilidade. O saguão ou
hall da edificação deve prover espaço adequado, para permitir a entrada e a saída nos
elevadores com segurança.

As entradas dos elevadores devem atender aos seguintes padrões:


• A largura livre mínima deve ser de 800 mm, e a altura livre mínima deve ser de
2000 mm.
• Em todos os pavimentos, a área defronte da entrada do elevador deve estar livre de
obstáculos e conforme a NBR 9050 (ABNT, 2020).
• O espelho, se instalado, deve estar situado acima do corrimão.
• O revestimento do piso da cabina deve ter superfície dura e antiderrapante,
permitindo uma movimentação fácil da pessoa portadora de deficiência.
• As cores do piso da cabina devem ser contrastantes com as do piso do pavimento.
As soleiras não são consideradas.

Observe o Quadro 2 e as Figuras 74 e 75 sobre as medidas das cabines dos elevadores


para as pessoas portadoras de deficiência. Observe, também, como deve ser a composição
da cabine do elevador para elevadores novos na Figura 76.

Quadro 2 - Dimensões mínimas das cabines dos elevadores para pessoas portadoras
de deficiência, conforme o número de passageiros

Fonte: NBR 13994 – ABNT (2000).

107
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 74 - Dimensões das cabines sem permitir giro da cadeira de rodas.
Fonte: NBR 13994 – ABNT (2000).

Figura 75 - Dimensões das cabines, para permitir o giro de uma cadeira de rodas.
Fonte: NBR 13994 – ABNT (2000).

108
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 76 - Composição da cabine para elevadores novos.
Fonte: NBR 13994 – ABNT (2000).

4.5 CAIXAS D’ÁGUA

Outro ponto a ser dimensionado, e bem pensado, nas edificações são as caixas d’água.
Elas precisam de altura suficiente, em relação ao último apartamento ou ponto de água.
Logo, geralmente são colocadas em uma torre, junto com a estrutura e maquinário dos
elevadores e das escadas, por isso estes três tópicos ficaram juntos em nosso estudo. No
projeto, normalmente se desenvolvem juntos e próximos.
Para o dimensionamento da caixa d’água, estimam-se 200 litros por pessoa, por dia,
para um apartamento. Para saber quantas pessoas por apartamento, utiliza-se o Quadro 3.

109
PROJETO DE ARQUITETURA II
Quadro 3 - Quantidade de pessoas por apartamento, para cálculo da caixa d’água

Fonte: <https://www.escolaengenharia.com.br/dimensionamento-caixa-dagua/>. Acesso em: 14 de


dezembro de 2020.

Para exemplificar como fazer o cálculo, utilizaremos um edifício de apartamentos


com 10 pavimentos e com 4 apartamentos por pavimento. Cada apartamento possui
3 quartos. Como será o sistema de reserva de água deste prédio, para um consumo em 2
reservatórios e um período de 2 dias?
Para cada apartamento, deveremos considerar que existam 6 pessoas (2 para cada
dormitório). Como temos 4 apartamentos por andar e 10 pavimentos no edifício, o
número total de pessoas que consideramos para o dimensionamento do reservatório
de água é 4 x 10 x 6 = 240 pessoas.
De acordo com a tabela de estimativa de consumo predial diário, uma pessoa consome,
em média, 200 litros de água por dia em apartamentos. Logo, o consumo total diário do
edifício será de 200 litros/hab x 240 hab = 48.000 litros.
Como os reservatórios deverão atender o prédio por dois dias, não podemos nos
esquecer de multiplicar o consumo por 2: 48000 x 2 = 96.000 litros. Com este número, é
possível dimensionar as capacidades dos reservatórios inferior e superior.
Para o  reservatório superior,  devem ser dedicados 40% do total do  reservatório,
e, para o  inferior, 60% do total. Agora, basta fazer o cálculo da porcentagem (40% e
60%) sobre a capacidade do reservatório, obtendo, assim, a quantidade de litros de água
adequados para cada um deles.
No cálculo do reservatório inferior de água, consideraram-se 3/5 da capacidade total
encontrada, ou seja, 3/5 de 96.000 L = 57.600 litros.
No o cálculo do reservatório superior de água, consideraram-se 2/5 da capacidade
total encontrada, ou seja, 2/5 de 96.000 L = 38.400 litros.
Esta proporção foi usada somente para o exemplo, não sendo uma regra. A  NBR
5626  recomenda que a divisão da reserva total entre os reservatórios inferiores e
superiores seja feita para atender as necessidades da edificação e do uso de água pelos
seus moradores, estabelecendo um sistema de recalque compatível e de operação e
manutenção da instalação predial de água fria.
Em edifícios, as flutuações na pressão da rede pública e a reserva para  combate a

110
PROJETO DE ARQUITETURA II
incêndios também devem ser consideradas na definição do volume ideal do reservatório.
Em alguns municípios, costumam-se adotar, para a reserva técnica de incêndio, 20%
do volume do consumo diário. Mas o mais recomendado é calcular o volume de água,
de acordo com as prescrições da ABNT NBR 13.714:2000 – Sistemas de hidrantes e de
mangotinhos para combate a incêndio, ou as normas técnicas vigentes do Corpo de
Bombeiros local.
Para o cálculo da altura da caixa d’água, é preciso considerar o ponto mais alto de
saída d’água, a fim de que a água tenha pressão suficiente para este ponto. Se a saída
de  água  mais alta da casa está a 2,00 m de  altura  (geralmente é o chuveiro), o ideal
é instalar o reservatório de  água  a, pelo menos, 4,00 m de  altura  (2,00 m + 2,00 m)
(Figura 77).
A altura mínima entre o nível mais baixo do reservatório e o ponto de abastecimento
do chuveiro é de, no mínimo, um metro. Quanto maior a elevação do reservatório, maior
será a pressão nas saídas de água.

Figura 77 - Altura Recomendada para Caixa d´água.


Fonte: <https://abolicaofm.com.br/blog/qual-a-altura-ideal-para-instalar-uma-caixa-dagua/>. Acesso
em: 14 de dezembro de 2020.

111
PROJETO DE ARQUITETURA II
4.6 ACESSIBILIDADE NA EDIFICAÇÃO

O conceito de acessibilidade em edificações é a qualidade de um edifício/estrutura


(e suas partes) de permitir a pessoas acessarem e usarem o edifício, de modo igual e
independentemente, ou seja, que se tenha a possibilidade de acesso equitativo. Dentro
das edificações residenciais multifamiliares verticais, há dois pontos a serem destacados:
as rampas de acesso para pedestres e os banheiros acessíveis.
As rampas para pedestres, de acordo com a NBR9050 (ABNT, 2020) devem ter
inclinação máxima de 8,33%. Os patamares no início e no término das rampas devem
ter dimensão longitudinal mínima de 1,20 m. Entre os segmentos de rampa, devem ser
previstos patamares intermediários com dimensão longitudinal mínima de 1,20 m. Os
patamares situados em mudanças de direção devem ter dimensões iguais à largura da
rampa, conforme pode ser visto na Figura 78.

Figura 78 - Exemplo de Rampa Acessível com Patamares.


Fonte: Souza (2019).

Para rampas com inclinação entre 6,25% e 8,33%, é recomendado criar áreas de
descanso nos patamares, a cada 50 m de percurso. Para rampas em curva, a inclinação
máxima admissível é de 8,33%, com raio mínimo de 3 m, medido no perímetro interno à
curva (Figura 79).

112
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 79 - Exemplo de Rampa Acessível Curva com Patamares.
Fonte: Souza (2019).

A largura das rampas (L) deve ser estabelecida de acordo com o fluxo de pessoas.
A largura livre mínima recomendável para as rampas em rotas acessíveis é de 1,50 m,
sendo o mínimo admissível de 1,20 m. Toda rampa deve possuir corrimão de duas alturas
em cada lado. Estas medidas podem ser observadas no corte esquemático da rampa,
apresentado na Figura 80.

Figura 80 - Corte Esquemático da Rampa Acessível.


Fonte: Souza (2019).

113
PROJETO DE ARQUITETURA II
Além das rampas, outro ponto a ser observado são os banheiros das áreas de uso
coletivo ou público. Neles, independentemente de atender à quantidade mínima de 5 %
de peças sanitárias acessíveis, deve também ser previsto um sanitário acessível para cada
sexo, junto a cada conjunto de sanitários.
O principal ponto nestes banheiros é que seja considerado haver espaço para a
manobra da cadeira de rodas dentro do banheiro. Deve haver um espaço livre suficiente,
para que a cadeira possa ser girada em 360°. Considera-se, para tal, um diâmetro livre
de 1,50 m. Ao lado da bacia sanitária, também há a necessidade da instalação de barras,
a fim de garantir a transferência lateral, perpendicular e diagonal (Figura 81). Observe,
também, algumas medidas mínimas dos sanitários acessíveis na Figura 82.

Figura 81 - Área de Manobra para Cadeira de Rodas e Barras para a Transferência.


Fonte: Souza (2020).

114
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 82 - Medidas mínima para sanitários acessíveis.
Fonte: Souza (2020).

É preciso sempre estar atento à possibilidade de alcance manual para acionamento da


válvula sanitária, da torneira, das barras, dos puxadores e trincos e manuseio e uso de
todos os acessórios. Além disso, é importante garantir alcance visual ao espelho.
Os lavatórios devem garantir altura frontal livre na superfície inferior e na superfície
superior de, no máximo, 0,80 m, para que seja possível encaixar a cadeira de rodas.
Portanto, deve ser instalado lavatório sem coluna ou com coluna suspensa ou lavatório
sobre tampo (Figura 83).
Os pisos dos sanitários ou boxes sanitários devem ser antiderrapantes, não tendo
desníveis junto à entrada ou soleira; ter grelhas e ralos posicionados fora das áreas de
manobra e de transferência.

115
PROJETO DE ARQUITETURA II
Figura 83 - Medidas para Alcance do Lavatório.
Fonte: Souza (2020).

SUGESTÃO DE LEITURA
Para conhecer mais detalhes e ver outros pontos sobre acessibilidade, consul-
te a NBR9050 (ABNT, 2020). Esta é uma importante norma a ser seguida em todos
os projetos de arquitetura. Portanto, é um conhecimento que o acompanhará não somente na
presente disciplina, mas ao longo de sua vida profissional.
Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a edifica-
ções, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2020.

116
PROJETO DE ARQUITETURA II
ATIVIDADE
Calcule a rampa da garagem e a escada para o pavimento térreo de uma edifi-
cação mista, com um pé-direito duplo, considerando as seguintes características:

PÉ-DIREITO 5,00
LAJE 0,20

a. Qual deverá ser o comprimento total da rampa da garagem, considerando uma inclina-
ção de 20%?
b. Qual deverá ser a quantidade de degaus, a dimensão da base e do espelho dos degaus
da escada?
c. Faça um croqui esquemático da rampa e da escada em planta baixa, com a indicação
das dimensões e níveis.

117
PROJETO DE ARQUITETURA II
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizamos esta unidade e o nosso caderno, concluindo os tópicos e o processo do
projeto vertical de uso misto.
Na Unidade 4, focamos na etapa do anteprojeto, desenvolvendo, também, itens
pertinentes ao mesmo, como as saídas de emergência, estacionamentos, elevadores
etc. Lembre-se de que estas são apenas algumas das informações de que você necessita
para o desenvolvimento do projeto e, talvez, ao longo do processo, você precise buscar
informações sobre outros itens.
Cada projeto é único, e não há como prever todas as ferramentas que serão necessárias
para o seu desenvolvimento. Além das informações técnicas, busque sempre referências
de projeto, pois, conforme você vai projetando, aparecem novos desafios e decisões que
precisam ser tomadas, para poder dar forma às suas ideias e materializar o projeto. Por
isso, pesquisar novas referências de projeto é sempre significativo para a tomada de
decisão e para inspiração durante o processo.
Neste projeto, enfrentamos vários desafios e aprendemos diversas nuances sobre
diferentes projetos, desde a mistura dos diferentes usos, da gradação deles e da conexão
da edificação com a cidade até as legislações específicas para tais edificações.
O projeto arquitetônico precisa não apenas de leitura e pesquisa, mas de prática projetual,
para que o aprendizado possa se concretizar. A disciplina de projeto arquitetônico é uma
das mais importantes do curso, e também uma das mais trabalhosas, por isso você deve
se empenhar durante o desenvolvimento dela, vencendo suas dificuldades.
Espero que, ao final deste caderno, você possa ter desenvolvido um bom projeto,
considerando todos os fatores aqui abordados e que esteja se sentindo satisfeito e
orgulhoso do seu projeto arquitetônico. Assim, estará mais perto de se tornar um bom
profissional de Arquitetura e Urbanismo.

118
PROJETO DE ARQUITETURA II
EXERCÍCIO FINAL

01- Os estacionamentos das edificações multifamiliares geralmente contam com


uma rampa de acesso, a qual precisa ser bem projetada pelo arquiteto, para não gerar
problemas em seu uso. A inclinação destas rampas normalmente é calculada em
porcentagem, pela seguinte fórmula: Inclinação da rampa em % = (h/d) x 100.
Em geral, a inclinação destas rampas varia de 16% a 25%, porém o mais usual é
ter uma inclinação de 20%. Sobre as rampas dos estacionamentos, leia as asserções
abaixo:
I - As rampas das garagens podem ser lineares ou curvas (ou helicoidais), podem ser
tanto unidirecionais ou bidirecionais.
II- A largura mínima é 3 m para as rampas unidirecionais e 4,5 m para as bidirecionais.
III- Para as rampas ou patamares curvos, o raio de curvatura mínimo é de 7 m.

Está correto o que se afirma em:


a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) I, II e III.
e) Somente I.

02- O projeto de estacionamentos das edificações pode parecer simples à primeira


vista, mas envolve um bom planejamento no projeto, incluindo o esquema estrutural,
o melhor aproveitamento do espaço para vagas e, frequentemente, modificações no
pavimento térreo. Na forma da edificação, muitas vezes, ele gera um impacto negativo,
e cabe ao projetista amenizar também isso. Sobre o projeto de estacionamentos,
assinale a alternativa correta:

a) Não é necessário ter ventilação nos estacionamentos.


b) As dimensões mínimas de uma vaga de estacionamento são: 2,50 m x 5.50 m.
c) Em edificações residenciais multifamiliares, não é preciso dedicar vagas de garagem
para deficientes físicos.
d) O estacionamento com maior aproveitamento do espaço é o que projeta as vagas de
carro de forma paralela à circulação.
e) O estacionamento perpendicular é o que exige menos manobra dos carros.

119
PROJETO DE ARQUITETURA II
3- Para pré-dimensionar a caixa d’água de um prédio de apartamentos, estimam-
se 200 litros por pessoa, por dia. Para o número de pessoas dos aptos considera-se o
número de dormitórios e estima-se que, em cada dormitório, haja 2 pessoas.
Considerando estes dados, calcule o tamanho de uma caixa d’água, para dois dias
de reserva em um prédio de 8 pavimentos, com 4 apartamentos em cada pavimento,
sendo que cada apartamento possui dois quartos. Qual a capacidade total dos
reservatórios? Não é preciso considerar a reserva para incêndio neste cálculo.

a) 25.600 litros.
b) 30.72 litros.
c) 44.800 litros.
d) 51.200 litros.
e) 61.440 litros.

120
PROJETO DE ARQUITETURA II
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13994: Elevadores de


passageiros - Elevadores para transporte de pessoa portadora de deficiência. Rio de
Janeiro, 2000.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.  NBR 9050: Acessibilidade a


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2020.

DEJTIAR, Fabian. “Como projetar e calcular uma rampa?”. [¿Cómo diseñar y calcular
una rampa?]. 30 Ago. 2019.  ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acesso em:  14
Dez. 2020. <https://www.archdaily.com.br/br/894740/como-projetar-e-calcular-uma-
rampa> ISSN 0719-8906.

Instrução Normativa nº 009/2020: Sistemas de Saída de Emergência: ESTADO DE


SANTA CATARINA, CORPO DE BOMBEIROS MILITAR.

KOWALTOWSKi, Doris C. C. K.; MOREIRA, Daniel de Carvalho; PETRECHE, João R. D.;


FABRICIO, Márcio M. O processo de projeto em arquitetura. São Paulo: Oficina de
Textos, 2011.

SOUZA, Eduardo. “Como projetar banheiros acessíveis segundo a NBR 9050”. 12


Jul. 2020.  ArchDaily Brasil. Acesso em:  14 Dez. 2020. <https://www.archdaily.com.br/
br/888501/projetando-banheiros-acessiveis-segundo-a-nbr-9050> ISSN 0719-8906.

SOUZA, Eduardo. “Projetando rampas acessíveis segundo a NBR 9050”. 26 Out


2019.  ArchDaily Brasil. Acesso em:  14 Dez. 2020. <https://www.archdaily.com.br/
br/891636/projetando-rampas-acessiveis-segundo-a-nbr-9050> ISSN 0719-8906.

<https://biblus.accasoftware.com/ptb/como-fazer-rampa-de-garagem-o-guia-
completo/> Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

<https://biblus.accasoftware.com/ptb/como-fazer-projetos-de-garagem-um-guia-util-
com-exemplo/> Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

<https://biblus.accasoftware.com/ptb/projeto-de-estacionamento-dwg-tipos-
exemplos-e-modelo-arquitetonico-3d-bim/> Acesso em: 14 de dezembro de 2020.

<https://www.escolaengenharia.com.br/dimensionamento-caixa-dagua/> Acesso em:


14 de dezembro de 2020.

121
PROJETO DE ARQUITETURA II
uniavan.edu.br
124
XXXX

You might also like