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ISSN 1517+ Revista Brasileira de Terapia Comportanental e Cognitiva 2001, Vol. 3, n° 1, 37-40 Quem Tem Medo de Punicio? Joao Claudio Todorov Universidade Catélica de Goids Universidade de Brasilia Resumo As diversas definig8es de punigo da literatura nem sempre esgotam 0 assunto mesmo quando a ‘comparam com estimulos discriminativos, exting2o, saciagdo e restrigao fisica. O trabalho experi- ‘mental sobre punigao foi relegado, embora, em diversos locais, ela seja utlizada para supresstio. imediata do comportamento € pelo reforgamento de quem a administra. A pergunta instigante é porque nao estuda-la. Palayras-chave: Punigao, procedimentos de punigao, definigao. Abstract Who is afraid of punishment? Ia literature we find several definitions for punishment which do not comprise the saciation an subject thoroughly, even when itis compared to discriminative stimuli, extintion, physical restriction. The experimental work on punishnient was discarded even though ithas been used consistently for an immediate supression of behavior or reinforcement for the person who has it ministrated. The relevant question must be about why not study it. Key words: Punishment, definition, procedures of punishment. Azrin e Holz (1966) definem punigio como “uma conseqiiéncia do comportamento que reduz a probabilidade futura daquele com- portamento”. De maneira niais completa, dizem que punigo é uma redugdo na probabilidade fu- tura de uma resposta especifica como resultado da apresentagdo imediata de um estimulo para aquela resposta. Essas definigdes merecem ser comenta- das, contudo. Nem todas as conseqiiéneias de um comportamento que reduzem a probabilida- de futura desse comportamento so punigio (se- gundo as definigdes acima), Em um trabalho anterior (Holz, Azrin Aylion, 1963) os autores compararam punigZo com quatro outros proce- dimentos que reduzem a freqiiéncia de uma res- posta: mudanga de estimulos discriminativos, extingao, saciagao e restriho fisi ‘A mudanga de estimulos diseriminativos tem efeito imediato na diminuigao da freqiién- 37 cia de respostas, mas nio tem efeitos duradou- 10s, néio produz supressio completa da resposta e tem efeito reversivel. A extingao tem efeito duradouro, mas nfo tem efeito imediato, nfo leva & completa supressio da resposta ¢ tem feito reversivel. A saciagao tem efeito imedia- to, duradouro, mas no tem supressio completa nem efeito irreversivel. A restrigdo fisica (im- possibilidade fisica de emissto da resposta) tem efeito imediato, duradouro, leva a completa su- pressiio da resposta, mas nao tem efeito irrever- sivel. A punigdo, quando aplicada nos termos ‘que mencionaremos a seguir, fem vantagens so- bre os outros quatro procedimentos: tem eft imediato, duradouro, completa supressio da resposta e tem efeito irreversivel, O trabalho de Azrin e Holz (1966) cen- tra-se exclusivamente no proceso de puniga0 como definido por eles. Tanto para efeitos prati- 08 quanto teéricos, convém ver ainda outros Joao Claudio Todorov procedimentos que podem levar & diminuigaio da probabilidade futura da resposta, ¢ suas van- tagens ou desvantagens sobre o procedimento que reduz.o proceso de punigo ao caso em que a diminuigio da probabilidade da resposta de- ve-se a apresentagiio de um estimulo para aque- la resposta, Na pritica, os quatro procedimentos lis- tados por Azrin e Holz (1966) poderiam tam- bém se enquadrar na definig&o de punigao. Sea resposta produz a mudanga nos estimulos dis- criminativos presentes, e essa mudanga leva a diminuigdo imediata na probabilidade da res- posta, temos um exemplo da definigdo de Azrin e Holz No esquema de reforgo de taxas baixas de respostas, DRL (diferential reinforcement of low rates of responding), respostas emitidas an- tes de um determinado tempo fixado pelo expe- timentador entram em proceso de extingo. A diminui¢4o na probabilidade futura da resposta sera tio maior quanto maior o tempo especifica- do para o intervalo entre duas respostas. Oprocedimento de extingao também esta presente no esquema de reforgo de outros com- portamentos, DRO (differential reinforcement of other behavior). A resposta alvo nunca € re- forcada, mas qualquer outro comportamento 0 serd. A probabilidade futura da resposta alvo também diminui rapidamente. Quanto saciagiio, a resposta pode pro- duzir uma quantidade tal de estimulo reforgador que bastard uma apresentagio do estimulo con- tingente a resposta para diminuir de imediato a freqiléncia dessa resposta. Isso € punigz0? O mesmo quanto a restrigdo fisica, A resposta pode ter como conseqiiéncia alteragdes no am- biente fisico que impedem a emissio de novas respostas. A probabilidade futura da resposta desaparece. Outra vez, isso é punigado? Ha ainda outro procedimento que vale a pena mencionar: timeout (suspensto diserimi- nada da contingéncia de reforgo — Todorov, 1971) A resposta produz a apresentagao de um estimulo associado a um periodo de extingfio dessa resposta. A freqiiéncia dessa resposta cai ‘mesmo que a resposta continue sendo reforgada nna auséncia do estimulo associado ao timeout. Enfim, as alternatives & punigdio enquan- toestritamente definida por Azrin e Holz (1966) sio varias. Ao examinarmos os subprodutos da punigao, veremos que busca de novos procedi- meentos que néo produzam tais subprodutos faz sentido. Ao afirmarem que a punigaio pode levar completa supressio do comportamento, Azrin © Holz (1966) listam 14 circunstaneias necessi- rias para que 0 processo funcione: 1. Nao pode haver fuga possivel do estimu- lo punitive. 2. © estimulo deve ser tio intenso quanto possivel, e (3) to freqtiente quanto pos- sivel. 4. A punigao tem que ser imediata, 5. A intensidade néio pode ser aumentada gradualmente — desde a primeira aplica- ¢40, 0 estimulo tem que ser to intenso quanto possivel. 6. Sea intensidade for baixa, os periodos de punigio devem ser curtos. 7. A punigdo no deve ser associada A apre- sentago de um estimulo reforgador posi- tivo, para ndo adquirir propriedades de estimulo discriminativo. 8. A punigio deve sinalizar um periodo de extingo para a resposta 9. Ograu de motivagio paraa resposta deve ser diminuido. 10.A fiegiiéncia de reforgo positive para a resposta deve ser diminuida, 11.Umia resposta alternativa a que é punida deve estar disponivel, 12.Se nao ha resposta altemativa na situagdo, o sujeito deve ser levado a outra situagao com acesso ao estimulo reforgador. Quem tem medo de punicao? 13.Se um estimulo aversivo primério nfo pode ser aplicado apds a resposta, po- de-se usar um estimulo aversivo condi- cionado. 14.Em iiltimo caso, puni¢do pode ocorrer pela apresentagao de timeout ou pelo au- mento no custo da resposta Catania (1992) amplia a definigao de Azrin ¢ Holz (1966) da seguinte forma: na puni- gio, a conseqiéncia do responder torna o res- ponder menos provavel. Note-se que na definigao de Catania nfo hd menc&o a apresen- tagHio imediata de qualquer estimulo. Todos os exemplos que demos a de Catania Millenson (1967) ainda adotava a defini: gf de Kellere Schoenfeld (1950): “Quando um estimulo reforgador negative (aversive) & apre- sentado apés uma resposta falamos de punigaio do operante, Mas pu pa apenascinco paginas em um livro texto de 488. Morse ¢ Kelleher (1977) e Hutchinson (1977), da mesma forma, nfo dio tra devido ao tema, Blackman Lejeune (1990) simplesmen: te omitem o assunto em seu livro “Andlise do ima cabem na definigaio o, para Millenson, ocu- mento comportamento na teoria e na pratica", assim como Staats € Staats (1966) em “Comporta- mento Inmano complexo”. Da mesma forma, ‘ondicionamento cléssico ¢ condicionamento operante” de Henton e Iversen (1978) no tra- tam do assunto, Mesmo Skinner (1938) trata 0 processo de punig&io de maneira superficial: al- gumas paginas para dizer que punigio no fun- ciona, Thomdike (1911), apresentava sta Lei do Efeito (a versio forte) com punigo como contrapartida do reforgo positivo. Depois de ve- rificar que punir seus sujeitos com a palavra “errado” nao produzia efeito, Thorndike ficou apenas com a versio “fraca” da Lei do Efeito, aquela que diz que o reforgo reforga. Obras portantes como Krech e Crutchfield (1959), m 39 Marx (1963) € Tolman (1951) nao dao impor- tancia ao tema, Em resumo, o tema punigao (¢ trabalhos experimentais sobre ele) sempre foi relegado em relagio a outros temas, exceto por duas ini- ciativas que datam dos anos cingiienta: os traba- Ihos experimentais de Azrin ¢ colaboradores, nos pordes de um hospital psiquidtrico, o Anna ate Hospi 1, em Anna, Illinois, trabalhos ja mencionados acima, ¢ a discuss4o testica do tema por Skinner (1950) em “Ciéncia e Com- portamento Humano”. A partir dos anos 70 0 tema volta a ser relegado (com excegao de Stretch, 1972). Hoje em dia, qualquer experi mento com uso de estimulagdo aversiva, com ado de perto pelos comités de ética na pesquisa. Como assunto delicado, tende a ser evitado, Em 1984, dois colegas ¢ eu tivemos um problema para pu- blicar um artigo no “Journal of the Experimen- humanos ou outros animais, é vi tal Analysis of Behavior", Trabalhamos com intensidade de choque elétrico sobre o compor- tamento de esquiva sinalizado. O editor sugeriu que incluissemos um pardgrafo final explican- do que, depois de nosso experimento, e pelos re- sultados obtidos, nfo se deveria mais usar altas intensidades de choque (Souza, Moraes e Todo- rov, 1984). Skinner (1953) dedica todo um capitulo ao tema. Nao apresenta dados novos, nem faz uma revisio da literatura sobre dados experi- mentais. E mais um manifesto contra 0 uso de punicao. Reconhece que punigio ¢ a mais co- ‘mum das formas de controle do comportamento humano na vida moderna. Depois de comegar 0 capitulo afirmando que punigao ¢ uma técnica questiondvel, Skinner pergunta: serd que a pu- nig&o funciona? Uma pergunta meramente ret6- rica, pois vai a seguir tentar explicar porque nao funciona. Recorre até a Freud com seu conceito de desejos reprimidos. Seusexemplos envol- ‘vendo sempre o comportamento humano siio in- teressantes; na verdade explica porque a Joo Claudio Todorov punigo funciona, e porque é usada na vida coti- diana, Seu trabalho mais importante é a exposi- gio dos motivos pelos quais a punigio nao deveria ser usada: tem subprodutos indeseja- veis. A punigao gera conflitos, discutidos em ainda outro capitulo, “A andlise de casos com- plexos”. A punigio gera respostas emocionai de consequéncias sérias, abordadas no ca “Psicoterapia”. A andlise de Skinner é interessante e im- portante. Mostra como seria saudavel uma vida sem estimulagfo aversiva. Por outro lado, deixa claro porque a técnica é tao usada: 0 comporta- mento de quem administra a puntigao € reforga~ do pela supressio imediata (ainda que nfo funcione a longo prazo) da resposta punida. Dos ‘anos 50 para c4, mesmo com o interesse cientifi- co pelo proceso diminuido, a punigio como técnica de controle do comportamento parece ter aumentado. Nas Febens e nas pris6es (ou se- do a mesma coisa?), nas escolas, o que se lena imprensa mostra que ainda é a técnica preferida para 0 controle do comportamento. Ent&o, por que deixamos de fazer a anali- se experimental do processo de puni¢ao? Referéncias Azzin, N.N e Holz, W.C. (1966). Punishment. In W. K.Honig,, Operant behavior: Areas ofresearch and application, pp-380-447. Englewood Cliffs, N. 4. Prentice-Hall. Blackman, D. E. ¢ Lejeune H. (1990). Behaviour analysis in theory and practice. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates. Catania, A. C. (1992). Learning. Englewood Cliffs, N. Je: Prentice-Hall, Henton, W. W. e Iversen, IH. (1978). Classical con- ditioning and operant conditioning. New York: Springer-Verlag, Holz, W.C., Azrin, N.H. Ayllon, T.(1963).A.com- parison of several procedures for eliminating beba- vior. 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