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relivole CDD-910.01 COMO PENSAMOS A Geografia j4 foi definida como 0 estudo descritivo da paisagem, 0 estudo felacio homem-meio e o estudo da organizagéo do espaco pelo homem. E tada hoje como a ciéncia que sintetiza o mundo a partir do espago global, como no passado o era como a ciéncia de sua leitura a partir da descri¢ao s locais. am-na, assim, 0 enfoque da paisagem, do meio ambiente e do expago tanto regorias-chaves isoladas quanto como categorias combinadas num s6 espectro spo te6rico. E, para muitos, também uma indisfarcada dificuldade de falar seja do , seja da natureza mesmo que empiricamente. é sobre essa base ontoepistemo das universidades e das escolas, a que nao faltaram os escri- jamento em sua face de geografia aplicada. Iégica que cla vem sendo erguida seja como for, 2 os tempos através pesquisa e de plan ORIA DAS DEFINIGOES ia do saber geografico vem dos séculos I ¢ II de nossa era, quando no Se de aia por Estrabao © 20 segundo, por Claudio Prolomet. En See eperftererreste cem Prlomet, 2 Terra nonierso,Vindo 4 i artir deles, a0 longo do tempo, cada defi- ‘de todas as definicoes- Ape ; Jing tae con camscet © DISCURSO DO AVESSO A ciéncia da descrigéo da paisagem ‘A Geografia nasceu, assim, na antiga Grécia, e sob dupla modalidade, om Estrabao é a descrigao direta da paisagem, a modalidade da leitura da superficie terreste vista em sta excala horizontal. Com Ptolomeu € essa mesma descricio da paisgem, mas ma perpectiva da escala vertical da supenficie terete, Fa mesma ida de Geografia, mas com enfoque e escala de olhar distintos. Em Estrabao, a Geografia é uma forma de olhar que flagra o mundo no modo como este é visto através da imensa diversidade de paisagens que expressam a multiplicidade de modos de vida dos homens na superficie da Terra. Em Ptolomeu, é uma forma de olhar que flagra esse mesmo mundo, mas no modo como o todo do universo verticalmente se projeta em paisagens na superficie do planeta, as paisagens expressando em sua diversidade de formas a com Plexidade csmica das relagGes da Terra com o universo. E essa forma dupla vai existr até o século XVII, quando intervém Bernhard Varenius (Moreira, 2006). Nesse longo periodo, entretanto, variard o modo como esses modos de enfoque sao traduzidos em teoria e atividade pratica. Nos séculos 1, com Estrabao, ¢ Il, com Prolomeu, a pritica geogréfica é uma forma de inventariacao de informagées sobre tetritérios € povos a partir da observagio do significado de suas paisagens. Com Estrabao, 0 objetivo é mostrar pela diversidade da superficie terrestre 0 mundo como um todo formado pela diferenca, cada povo tendo uma identidade que the é distintiva e prépria, independentem rente do modo como sua vida momen nizasao territorial, como era a Grécia agora enquanto um pedaco subalterni- Estrabao. Com Ptolomeu, o objetivo é invent iG piscuRso) DOMVESS° i jalmente correlacionadas ial, expliando-se por meio desss sinteses oe eae 4 ita a sintese causal das correl i vai se formando, Feitaasinte vetema integrado que ai vai se form: sal das corelagbes ca re eee eres atm elute cucs).Pci sereexlo Bees vmuma totalidade viram geograficamente gue dentro do todo regional narureza¢ réprias reciprocamente se interligando ages carto- agrificas, tem~ das correlagoes ¢ plotagem no espaco se torn: na forma da regiao um mundo tinico, mesmo homem e cada dado setorial sigam com vidas p por rlagées de externalidade, © propésito do dis merodologicamente atingido, A Geografia Regio ea Geografia Humana, as geografias fisica ¢ humat sistematica, ¢ a Geografia reencontrou a unidade inv curso te6rico unitdrio foi, no entanto, nal logrou reunir a Geografia Fisica na setoriais cumpriram sua funcao oluntariamente perdida. Um homem e uma natureza presente-ausentes Pode-se entender, entéo, porque no universo discursivo de'Tricart e George ¢ 0 homem trabalho, necessidade, consumo, ¢ nao sujeito; a natureza, recursos, estoque de meios, arsenal de matérias primas, ¢ nao elo holista, e sto ao mesmo tempo um par de troca metabélica que se concretiza em sociedade na historia. Indeterminados, ainda assim a natureza est4 no homem eo homem est na natureza. S4o € nao sao um entre si organicos & sociedade. Tém e nao tém um sentido de significado que dizem © que sio. O mesmo se dizendo da paisagem, do meio e do espaco. que, dialéticos em suas ideias, acaba por entre eles homem e natureza a aparecet em seus entrelaces de entes que se moyem para que os outros entes geogrificos se moyam. Criam seus significados, para que estes os tenham, Sao determinados, para que o todo como um todo também se determine. A FRAQUEZA E A POTENCIA DO ENTENDIMENTO Aambiguic i 4 ete ae de integracio-fragmentacdo que se da na Geoprafia é ed shee a fia : Bea doe elas propia carters AGE Gyan por si mesma, E na oe gratia clissica nao se pulveriza tempo imperial de Roma; o di 5 0 disci i de Kant; 0 discurso fee ee deVarenius; o discurso pré-cientifico ‘i i le Ritter e Humb, a integralizado-fragmentéi lumbolde; ¢, assi is rio. dos classi » assim, agora, o discurso éM o discurso-efeito de uma dentro de si mesma, de onde COMO PENSAMOS renascentista ¢ iluminista do olhar sobre 0 mundo como o modo do homem ver- se asi mesmo, de que o discurso holista-romantico de Humboldt ¢ Ritter € uma expresséo clara, a Geografia tenta fragmentar-se, mas manter-se também integrali- zada, Se em plena pulverizagao positivista neokantiana ela escolhe langar-se nessa ao mesmo tempo, ambiguidade de ser ¢ nao ser razao fragmentaria e razdo unitari nao é, pois, por uma dificuldade propriamente intrinseca, mas por contingéncia de ser uma forma de saber que desde Estrabao e Ptolomeu se fundamenta justa- mente no propésito de se ver como um olhar de mundo reflexivo-critico, antes que pragmatico-tecno-especialista, reagindo a cair no exclusivismo do paradigma fragmentario no qual as demais formas de saber caem sem mais pretender. Sua natureza de uma forma de olhar o mundo pelo todo, é isso o que no fundo explica sua op¢ao pelo ambiguo. Mais é seu propésito de autopreservagao ontoldgica, mais que a impoténcia de atualizar-se aos olhos das exigéncias tecnicizantes do comego do século, a fonte dessa medida. A visao de integracao entre homem ¢ natureza é entao por isso um tema que vai e volta. E assim antepée com frequéncia os gedgrafos que buscam ser holistas € os que buscam ser especialistas de fragmentos. Tricart e George sio de novo o melhor exemplo. Esse é 0 tema que os envolve num embate nos anos 1960 ao redor do cardter pratico da teoria e do método geogréficos. Indagando-se sobre a natureza de sua praxis — geografia ativa ou geografia aplicada? — Tricart ¢ George movem toda a comunidade geogrifica francesa e internacional acerca da forma que deve orientara intervencao geogréfica no mundo que nos cerca. Norteia-os a.compreensao comum de que ver 0 detalhe no todo € 0 todo no detalhe é precisamente o espelho de ciéncia que populariza a Geografia. E no fundo lhe da sua maior caracteristica ¢ potencialidade de riqueza. Uma ciéncia da forma, mas sem contetido Meio, recursos, relagao, organizacao, planejamento e, ao lado destes, populagao, necessidades, consumo, trabalho, transformacao: tais sao os termos que povoam como cacos 0 discurso fragmentério. Falta-lhea clareza da categoria de nexo estruturante, O equivalente, na fase de representacao moderna, que se presume ser 0 espago, do que na fase da representagao clissica, na linguagem das eras epistemolégicas de Foucault, foi a fungio agregante da paisagem. Sao categorias tedricas que se movem, mas que parecem nao conter o desejado poder de formatacio de contexto. Antes, ao contraio, cada qual desaparece do mesmo " modo inexplicavel com que aparece, movendo-se sem uma aparente linha légica de | Gondugao processual. Dai que em momento algum se avanga rumo a um conceit | ue explicite as conexdes ¢ dé o sentido de construsao abstrata do pensamento, So

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