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A lingua como um sistema diferenciado seria, portanto, um primeiro passo necessério para a sugestdo de ‘a busea de descontinuidades linguisticas na sucesséo dos grupos etdrios Halle receber firme suporte empirivo. oO 3.0 UMA aBoRDAGEM ‘SISTEMATICA DAS ESTRUTURAS HETEROGENEAS ‘VOLTAMOS egora 2 questo fundamental levantada na Segéo uma lingua tem de ser estruturada, a fim de funcionar eficientemente, como ela funciona enquanto a estrutura muda? Vamos propor um mo- Gelo de lingua que evita os infrutfferos paradoxos com que as teorias da estrutura homogérea tém estorvado a linguistica histérica. ‘Vimos que, para Paul tanto quanto para Saussure, a variabilida: de e a sistematicidade se exclufam mutuamente. Seus sucessores, que continuaram a postular mais e mais sistematicidade na lingua, fica~ ram ainda mais profundamente comprometidos com uma concep¢ao simplista do idioleto homogéneo. Nao ofereceram nenhum meio efe- tivo para constitu;r uma comunidade de fala a partir de varios desses, idioletos, nem sequer para representar 0 comportamento de um tinico falante com divertos idioletos 2 sua disposigao. Tampouco ofereceram um método efetivo para constituir uma tinica Ingua a partir de estdgios homogéneos cronologicamente discrepantes. No entanto, @ maioria dos linguistas reconhece a evidéncia que demonstra que a ‘mucanca linguistica é um processo continuo e v subbprudute inevité vel da interagao linguistica. Os paradoxos foram sentidos intensamente. Hockett, por exemplo, exibe uma sensibiidade dolorida frente & dificuldade de reconciliar 0 fato da mudanca com a natureza categérica da estrutura homogénea. Por tum lado, ele afirma que 0 processo de mudanga sonora é demasiado lento e gradual para ser observado, exceto em seus efeitos; por outro Jado, sustenta que o processo de mudanca estrutural é instanténeo e, portanto, igualmeate inobservavel por seus efeitos. possivel acompa- rihar, como fizem¢s, os desdobramentos historicos que levaram a essas posigdes extrema, mas poucos linguistas podem ficar satisfeitos com 86 roNOAMENTO® EMIRICOE PARA UMA TEORIA DA MUDANCR LINDHIETIC® |AUNGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 87 ‘uma explicagdo da mudanca que depende da inobservabilidade conjunta de todos os processos envolvidos. Sugerimos (§0) que a solugfo para essa questo fundamental repou- sa na decisio de romper com a identificagio da estruturalidade com a homogeneidade. No lugar dela, propusemos que uma explicagio razoavel da mudanca dependera da possibilidade de deserever w diferenciagéo ordenada dentro da lingua. Nesta seco, apresentaremos tal modelo de estrutura linguistica, junto com alguns dos dados que o sustentam; em seguida, eshocaremos uma estratégia para um estudo da mudanca linguistica que se alicerce sobre estes fundamentos empiricos. 3.1 O TESTEMUNHO DA GEOGRAFIA LINGUISTICA Desde 0 inicio, 0s achados da geografia linguistica tém sido usados pplos linguistas historicos para sustentar seus pontos de vista tedrieos, mas raramente 0s dados forneceram as provas que eram desejadas™. Se as isoglossas para cada palavra envolvida numa mudanga sonora coincidis- ‘sem, a hipétese dos neogramaticos receberia uma poderosa sustentacio. ‘Mas o fato doloroso 6 que elas raramente coincidem, mesmo quando se ‘agregem para compor feixes frouxos. A desculpa de que cada palavra tem ‘sua propria historia reflete nossa incapacidade de predizer ou mesmo de explicar os modos com uma palavra precede uma outra ao longo dos ‘mapas do ge6grafo-linguista, No entanto, essa suposta evidéncia é apre- sentada nos textos cléssieos dos neogramdticas junto com pronunciamen- tos categéricos sobre a natureza nao excepcional das mudangas sonoras (Bloomfield 1933: 341, 361)°. (Os linguistas histéricos também esperavam que as isoglossas susten- tassem a firme divisio dos territérios linguistics em conjuntos hie- rarquicamente ordenados de linguas, dialetos e subdialetos. Aqui, nova- mente, as evidéncias foram decepcionantes: um conjunto aleatério de as Compares a lltura que Osthoff e Brugmann fazem de Wintel “© Uma abordagem para recone os fatas da geograla lingistica com a uniformidade das Is sonoras € arguventar que as HntuacSesatesadas so os resultados de empréstimo Crteempréstino de um diaeto regular para outro. © procisso de mudanga sonore entio sai a clase dos fendmenos observives (ef Wentelch 1960: $80 para uma erica da elaboracio ( Hockatt sobre este tema), {88 FUNDAMENTOS EMPIRICOS PARA UMA TEORIA OA MUDANGA UNGUISTICA isoglossas nio divide um territério em éreas bem delimitadas, mas, sim, ‘num continuum de fragmentos sutilmente subdivididos. Bloomfield revé este problerza (1993: 341), mas seus proprios critérios para selecionar as {soglossas mais significativas para a classficagio dialetal nfo se revelaram exitosos na pesquisa empirica (Weinreich 1968). ‘Também se esperava que a geografia dialetal oferecesse suporte para a nogao de que existe uma correlacio negativa entre a“estruturali- dade” e a comunicabilidade dos fendmenos linguisticos. Para Paul, por ‘exemple, tudo na lingua era infinitamente comunicével pelo intercurso social, e tudo numa lingua respondia livremente, sem resisténcia, & influéncia externa ~ exceto as regras fonolégicas. Num espirito bem semelhante, Saussure alegava que 0 modelo de ondas nos esclarece sobre as leis primordiais de todos os fenémenos da diferenciacao (p. 287}, embora devamos presumir que para os propésitos da reconstru- Cio, isto é, de novo, na fonologia, Saussure conservaria a Stammbaum que postula a dependéncia miitua de inovacdes particulares. A correlacao negativa entre estruturalidade e comunicabilidade foi ‘uma extrapclagio perfeitamente natural para uma teoria linguistica social mente agnéstica. Contudo, a correlagao nunca foi mais do que hipotética ce agora fica evidente que ela era factualmente incorreta. J demos provas mais acima de que as fusdes fonémicas se expandem para fora, e essa tendéncia parece, de fato, ser muito geral", Poderia se argumentar que @ expansio das fuses representa a perda de estrutura, mais do que a transmisséo de estrutura. Entretanto, as evidéncias para a comunicasao de aspectos estruturais so mais amplas do que isso, Os estudos feitos com 7 Pei se abarvar a expanséo de fusdes numa grande vaiedade de eas dos Estados ‘Unidos com base nes restos do Atlas Linguistio realizado um geracio atrés. A fusfo Ge vogais bainas pottiore em hock e hawk, Don e dawn esté se expandindo pare além ‘das teas centrais da Nova Inglaterra orenal e da Penslvinia ocidental. Obseva ‘Sstematicas da mema fisdo no Ovste dos Estados Unidos indicam ripida expanséo © Soldificagao. A fuss de /V/¢ /e/ antes de nasais esté se expandindo para fora do Sul, © foi observada em penlos Uo ao norte quanto Gary (iniana). Vriasdlstingbes antes do r ‘clo sendo pecdidas em reas onde estavam bastante frmes uma gerasio atris:/or~ at/ tm hoarse. hose, pork vs. storm, ém dos exemplos mais notévels, no Sul tanto quanto to Norte cstinglo de har ~w/ em which, wite, whale vs, waleexibe uma instabiidade ‘comparive, apesar de ser apciada pela ortograia A principal excep a essa tendéncia € fo avanco éa prominca do rem deas anteiormente ser, resteurando em algumas resis ditingdo entre ed e guard, sauce e source. O avango deste trago prestigiso, apoiado pelos meios de cominicagio de mass, & dseutido abaixo (§ 3.3). Notes que na grande maiora das deas em -, utes desta dstingdes foram mantiéss pela qualidade da voyal |ALUNGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 89 base no Atlas do Ifdiche, por exemplo, estao revelando exemplos interes- santes, tal como a transmissao de um sistema de género rearientado do iidiche-nordeste para o ifdiche-central (Herzog 1965: 101-118), Enquanto o avango global do padrao do nordeste manifesta a perda da categoria do neutro, também observamos a importacao de uma nova categoria “inter. mediéria” que € 0 resultado do empréstimo de relagées de concordncia abstratas mais do que de empréstimo direto de itens lexieais. Além disso, essa drea de transigao mostra a comunicagio de uma nova restrigo sobre a atribuigio de género envolvendo a oposicao nomes contaveis vs. nomes ‘ineontaveis, que mio existia no dialeto (p. 103). ‘Nao pretendemos negar que uma dialetologia estrutural sincrénica seja possivel: como exercicio analitien, nada hé de errado com ela; mas 2 medida que os fatos se acumulam, tal extensdo mecénica do estrutu- ralismo esté se tornando cada vez menos esclarecedora como explicagao do modo como a lingua se desenvolve, [Nao estamos afirmando, é claro, que todas as inovacies sao igual- mente comunicdveis; se fossem, nao haveria isoglossas interseccionantes nem diferenciagéo dialetal duradoura. Estamos negando simplesmente que a estrutura sincrénica da lingua nos forneca os critérios prineipais, para a comunicabilidade diferencial ‘A rede de isoglossas que deriva de um estudo de geografia dialetal frequentemente representa o equivalente sincrénico do problema da tran- sido — isto 6, a trilha pela qual uma mudanga linguistica est4 cami- rnhando para se completar. Um entendimento da relagiio destas isoglossas com a mudanga linguistica frequentemente depende de uma solugao para 0 problema do encaixamento — isto é, a relago delas com os sistemas linguisticos e com as histérias das comunidades de fala envol- vidas. E mais provavel que uma dada isoglossa represente uma mudanga Jingufstica em progresso se sua localizacio nao puder ser explicada pelo contexto linguistico ou histérico. Podemos distinguir quatro tipos de soglossas em termes de sua “explicabilidade”. (1) A isoglossa ou feixe de isoglossas coincide com uma fronteira politica (ou geogréfica), representando os limites do padrao de comunicagao que levou & difustio do fato linguistico. As gran- des descontinuidades no ifdiche do norte da Polonia mostram varias fronteiras deste tipo (Herzog 1965: 246-252). O feixe 120 INnAMTOS ERTIRICOS BARA UMA TEORIA DA MUDANCA LINGUISTICA de isoglossas que separa o ifdiche-norte-central do ifdiche- central coincide com certo niimero de fronteiras potiticas bem conhecidas do século XVI. A fronteira linguistica entre o ifdiche- -nordeste ¢ 0 norte-central coincide com uma descontinuidade social que € menos ébvia: a linha ao longo da qual tolonos judeus lituanos vindos do norte encontraram colonos judeus poloneses vindos do sul e do centro, quando esta area foi aberta para o assentamento judeu no século XVI. Este feixe \ de isoglossas também é uma grande divisdo na érea da cultura no verbal (2) A localizagao da isoglossa é explicada por sua relacao sistema tica com outras isoglossas que se enfeixam com ela. Os casos mais claros si0 0s da incompatibilidade linguistica: onde a ‘mudanga em progresso representa um aspecto que no pode simplesmente ser acrescido ou subtraido do sistema do dialeto virinho encontrado para além do feixe de isoglossas, Observamos um exemplo disso na difusdo da monotongacéo de aj do ifdiche: -central para 0 sul da Ucrania, de modo que hajat (“hoje”) ‘tomou ha:nt,e majlex! (“boquinha”) se tomou mazlexl. A difuséio deste aspecto mutante terminou de modo abrupto justamente rnaquele ponto em que a distingéo de comprimento de vogal foi perdlida no norte da Ucrania, Se a monotongacao tivesse comti- nuado, 0 monotongo teria coincidido com 0 a breve naquela regio, de modo que hant representaria tanto “hoje” quanto “mao”, e malex! representaria tanto“boquinha” quanto“anjinho” (Herzog 1968: fig. 7)* () A localizagao da isoglossa ndo se explica por nenhum fator linguistico ou social, mas a direso do movimento é previstvel em termos lingufsticos. A Figura I mostra um exemplo de duas, isoglossas livres": de um lado, a fuséo de ie u movendo-se do sudeste para o nordeste e, do outro, a fusto de ie i, ue movendo-se do nordeste para 0 sudeste. Um fator condicionante geral sobre a mudanca Linguistica diseutida acima, 0 de que as, 0 comprimento também fot subsequentemente perdido no sul da Ucrinia. Por conseguinte, a (< #2 < a) ooorre em hant Chole") © malex) *boquinha’). No entanto, 0 2 reve origial evoluiu pars um o breve, e*mio"€ hon, e“anjino” € molex. ALINGUA COMO UM SISTEMA DIERENCIADO 9 fusdes se expandem as custas das distingGes, nes leva a predizer as diregdes das mudangas com base s6 nos fatos sinerénicos. Observou-se, é claro, que a direco do movimento pode ser predita em varios casos com base nos fatores geograficos configuracionais dos mapas dialetais (4) A localizagao da isoglossa nao se explica por fatores linguis- ticos nem sociais, e a direcao do movimento io é previsfvel. “Muitas isoglossas lexicais individuais tém este caréter. E pos- sivel vorificar que em todos eetes casos estamos lidando com itens transportados por falantes individuais que se movem 20 longo de linhas de comércio e transito, mais do que com uma difusdo firme do trago linguistico de uma comunidade de fala vizinha para outra por padrées de comunicagio mais frequen- tes e previsiveis. de um territério parece, portanto, simétrico ao problema de explicar a ‘transicdo de dialetos através do tempo numa comunidade. Em cada caso, h4 um contato entre falantes com sistemas diferentes. Se quisermos ‘resolver os misteriosos paradoxos da mudanga esborados acima, serd necessério analisar os processos que ocorrem em tais situagoes de contato em termos de como um falante pode entender e aceitar como seus 0s elementos estruturais na Tala de outros. 3.2 LiNGUAS E DIALETOS EM CONTATO ‘Um estudo atento do problema da transicao inevitavelmente nos leva a considerar a transferéncia de uma forma ou regra linguistica de uma pessoa para outra — mais especificamente, de um sistema linguistico para ‘outro, O mecanismo mais simples foi 0 proposto por Paul, em que 2 transferéncia ocorre entre dois idioletos isolados, homogineos. Para Paul, a*mistura de inguas” (incluindo mistura de dialetos, p. 402) surge quando dois individuos, cada um por definicdo falando seu priprio idioleto, se comunicam entre si. Quando isso acontece,“o falante influencia as imagi- nagdes linguisticas relevantes (Vorstellungsmassen) do ouvinte” (p. 390). Assim, ocorre Gu intercurso de idioletos nao idénticos, ou modificacao de ijoetos por mitua influéneia 92 FUNDRWERTQS EMPIRICOS PARA UMA TEORIA DA MUDANGA UN Independentemente de como este modelo de mudanca linguistica, eja considerado, ele parece impraticdvel, Ele nao corresponde as obser vvagées empiricas nem oferece um modelo razodvel que satisfaca nossas intuigGes nativas, O problema é visto em sua forma mais nitida na rapida ‘transferéncia caracteristica da cultura verbal pré-adolescente. Na area de Boston, as criangas pedem uma fatia de bolo ou um doce a seus amigos dizendo “Allies”, "Cokes"ou “Checks”. Se uma crianga de Providence ou ‘Nova York se mudar para Boston e tentar pedir uma fatia usando um termo estranho, seria razodvel esperar que sta tentativa fosse frustrada. ‘No enlanto, de um modo ou de outro, o termo para pedido “Thumbs up” se difundiu para Boston e outras cidades do norte no final dos anos 1950 desalojou os termos locais. A influéncia direta de um falante sobre outro ‘no processo de comunicaco se op6e claramente ao aparente autointeresse do receptor. \¢Go de Paul, o dominio de dois idioletos s6 é considerado tos histéricos (como uma explicagéo da influéncia de um idioleto sobre outro). No se propée para a investigagao nenhuma pro- priedade sincrénica ou de bi-idioletalismo como tal — nem analitico, nem psicol6gico, nem social. Assim, a teoria de Paul permite trocas para outros idioletos tanto quanto influéncias interidioletais, mas no a alternancia entre idioletos**, Se abandonarmos 0 idioleto individual homogéneo como modelo para @ lingua, pademos sugerir um mecanismo de transferéncia mais inteligivel. Parece razodvel dizer que a transferén- cia ocorre quando 0 falante A aprende a forma ou regra usada pelo falante B, e que a regra entdo coexiste na competéncia linguistica de A junto com sua forma ou regra anterior. A mudanga entio ocorre dentro do complexo repertério linguistico de A: um tipo é 0 desfavorecimento gradual da forma original em prol da nova, de modo que ela assume 0 status de “arcaiea” ou “obsoleta”. 0 tratamento dado por Bloomfield as mudangas sonoras no holan- dés mostrou um claro avango em relagdo a Paul neste aspecto: ‘Todo falante esté constantemente adaptando seus habitos de fala aos de seu interlocutor; ele abre mao de formas que tem usado, adota novas e, talvez mais frequentemente que tudo, muda a frequéncia das No eudo do contatolnguistco também se distingue entre alterncia posterior anterior e toca de uma vez por todas; ef Weinrich 1953: 68-69 ‘A cincua como une serena oirereveIA5o 93 formas faladas sem abandonar inteiramente as velhas ou aceitar qualquer uma que seja realmente nova para ele (1993: 327-328), O fato de Bloomfield se dispor a aventar a possibilidade de um nodelo mais complexo de transferéncia indica um reconhecimento geral a importdncia das alterndncias estilisticas no comportamento linguisti- 20, Os estudos de mudanga linguistica em progresso regularmente trazem 1 tona esse tipo de alternancia (Kékeritz 1953: 194ss.; Labov 1963; Reichstein 1960). Qualquer atlas dialetal oferece diversos exemplos da yposigéo arcaico/inovador dentro da competéncia de falantes indivi- juais. Mas podemos também apontar um mecanismo de mudanca dis- intamente diferente que pode ocorrer simultaneamente com aquele. Quando o falante A aprende pela primeira vez uma regra, q, de B, na de esperar que ele 2 aprenda perfeitamente, Influenciado por sew sr6prio sistema, P, ¢ sem a gama total de experiéneia de B que suporta 9 sistema Q de B, A adquire uma regra, q’, de um tipo algo diferente — uma regra fonolégica com tragos alterados, uma regra lexical com liferentes privilégios de distribui¢ao, ou uma regra gramatical com al- gumas condigdes especiais perdidas. Assim, nessa transferéncia inicial, am segundo tipo de mudanca ja aconteceu. Mas a mudanca mais pro: funda e sistematica deve ser esperada depois que A adquirin a regra de B, Dentro do repertério tinico dispontvel a A (contendo p em Pe q), odemos prever uma acomodacao de pe q — normalmente, uma assi tmilagio de q’ aos tragos caracteristicos de p de modo que se torna possivel a insergdo final de uma q” modificada dentro do sistema P. Esse processo tem sido observado diversas vezes no ajuste fonolégico de palavras emprestadas. Quando Trauma foi emprestado do alemao para 9 inglés, 0 r uvular automaticamente se tornou uma apical surda ame- ricana; mas no periodo subsequente de ajuste, podemos observar 0 /aw/ mudando para /o/ em conformidade com a regra geral que restringe /awi/ diante de consoantes labiais. O iidiche Stik, “pedago; travessura” foi tomacdo emprestaco pelo inglés da cidade de Nova York aproximadamen- te com 2 mesma forma fonética; mas na comunidade negra, onde o Sno corre em grupos iniciais*, a forma mudou para [stik], homénima com stick, com diversas consequencias seménticas. asm, Sehnelder aparece como (oa (smu 2}, shmuck como (sav, ¢ shnook como 94 :UNUAMEAIUS ERIRCOS FARA UMA TEDRIA DA MUDANGA LNCUISTICN Quando um falante negro tradicional do sul dos Estados Unidos migra para o norte, adquire o termo geral common sense (“senso comum, ‘bom senso”) queé apenas um equivalente parcial para seu termo nativo mother-wit (“inteligéncia prética, inata”) ou mother-with#. Os dois co: existem como um mother-wit arcaico versus 0 common sense inovador, ‘mas quando a alterndincia entre os dois se resolve em favor de common sense, 0 modificador mother- muda de seu significado original, “inato, original”, para o de “mae”, mais geral. Assim, alguns falantes negros jovens, indagades se os homens podiam ter mother-wit, se mostraram espantados e responderam: “Nao”. estudo de linguas em contato confirma a ideia de que a coexis- téncia estavel de longo prazo é muito frequentemente uma ilusdo, pro- movida talver pela existéncia de um léxico e de uma morfofonémica relativamente estiveis (ou até dessemelhantes). A investigacao de Gumperz do intimo e prolongado contato do marati e do kannada em Kupwar (india) (1967) mostra o ajuste mais radical de semAntica, estrutura frasal, componente transformacional e fonética dos dois sistemas. Por ‘outro lado, o vocabulério e as morfemas gramaticais sio tao patentemen- te diferenciados que nunca pode haver diivida num dado enunciado se que est4 sendo falado é marati ou kannada. Linguas que séo obvia- mente diferentes na estrutura de superficie de fato se tornaram tio semelhantes, qu? a tradugdo mecénica parece bastante factive] por meio de uma simples consulta 20 dicionério. Os achados de Gumperz so 0 produto de um estudo atento do bilinguismo dentro de seu contexto social; sua abordagem do desenv6l- -vimento do marati foi um estudo nao s6 do problema da transi¢ao, mas também do problema do encaixamento. Os objetos que Gumperz ana- lisou nao foram o marati eo kannada padronizados descritos nos ma- ruais, mas os sistemas coexistentes que estavam em uso dentro de um. 0 tenno mother wit &arcaica ou erudito na fala dos brancos, mas é um caso de ‘uso cotiiano para os flantes negror do sul Emora selaequivalente a common sense (Csenso comunt bom senso") na representago do saber corrqueio,prtico, nao aprendido fem leo difre em sua conexdo mals Brine com 0 concrito de inteligencia natural, inata; 2 inioria dos flares brancos aceditam que se adquire mais bom senso & medida que Se emvelhece. Um dos fatos notaveis sabre a opesigio motherwit ~ common sense € que fs brancos sio uniormemente ignoranes do uso negro de mothenwil © os negros 880 thlformeneate eautes de que os brancos nae aanm o termo (dados provenientee de Invetigages semdzteas sssociadas a Laboy 1963 « 1966), A UNGUA coMO tar SISTEMA DifeRENEIARG 95 contexto social especitico, Parte da solugio para o problema do encaixamento de uma mudanca linguistica particular é, obviamente, 0 estudo de suas interrelagGes estruturais com os elementos linguisticos que 6 circundam; mas as solugées para estes problemas foram frequentemente artficiis einsatisfatrias, 4 que comparavam estruturas que nao estavam em comtato real em nenhuuma situago social real. Em principio, nao existe diferenga entre os problemas de transferéncia entre dois dialetos intima- ‘mente relacionados e entre duas linguas distantemente relacionadas, Examinando as mudangas linguisticas que ocorrem dentro da fala de individuos bilingues ou bidialetais, podemos contemplar fatores pu- ramente estruturais; mas o isolamento da estrutura tem falhado signifi cativamente em resolver o problema de especificar a interferéncia bilingue. Como observou Weinreich: Obviamente, o linguista esta autorizado a abstrair a lingua de con: sideragdes de natureza psicolégica ou sociologica. Na verdade, ele pevEerta postular problemas puramente linguisticos sobre o bilinguismo [ol Mas a extensio, a diregéo e a nalureza da interferéncia de uma Tingua sobre outra podem ser explicadas ainda mais amplamente em termos do comportamento de fala de individuos bilingues, 0 qual por sua vez € condicionado por relagées socials na comunidade em que ele vive (1953: 4) Podemos agora nos voltar para o exame mais especifico da situago de contato e da nalureza sistemstica da alterndncia de estilo que se postula aqui, 3.2.1, Sistemas coexistentes Foi sugerido acima que encontramos certo grau de contato entre quaisquer dois dialetos regionais: alguns falantes que controlam ambos 0s dialetos ativamente, e um niimero maior que tém conhecimento pas- sivo do dialeto vizinho, mas comando ativo de apenas um. Também encontramos na maioria das comunidades de fala formas distintas da ‘mesma lingua que coexistem, grosso modo, na mesma proporgo em todas as sub-regiées geogrificas da comunidade. Este é o caso néo somente de reas urbanas como Nova York, Londres ou Paris, mas também em comu- nidades rurais como Hemnes (Noruega) ou Martha's Vineyard chusetts). Estas formas coexistentes podem ser conhecidas como “estilos”, mas também como*padrées”, “girias”, “jargbes”, “jeito antigo de 196 FUNDAMENTOS EMPIRICOS PARA UMA TEORIA DA MUDANGA LINGUISTICA i ‘ Talar” (“old talk’), *niveis cultureis” ou “variedades funcionais”. Nos termos. do modelo de um sistema lingufstico diferenciado que estamos desenvol- vendo, tais formas compartiham as seguintes propriedades: (1) Oferecem meios alternativos de dizer“a mesma coisa”: ou seja, para cada enunciado em A existe um entunciado correspondente em B que oferece a mesma informagao referencial (é sinénimo) e nio pode ser diferenciado exceto em termos da signifieagdo global que marca 0 uso de B em contraste com A. (2) Esto conjantamente disponiveis a todas os membros (adultos) da comuniade de fala. Alguns falantes podem ser incapazes de produzir enunciados em A e B com igual competéncia por causa de algumas restriges em seu conhecimento pessoal, praticas ou privilégios apropriados ao seu status social, mas todos os falan tes geralmente tém a capacidade de interpretar enunciados em ‘Ace Be entender a significacao da escolha de A.ou B por algum outro falar. Ao longo das éécadas de 1920 e 1930, ¢ possivel rastrear uma ten- éncia geral dos linguistas na Europa e na América a se afastar de unidade psicol6gica simples do idioleto tal como postulada por Paul, Mathesius e seus colegas em Praga usaram uma abordager ‘multiestratificada para caracterizar sistemas coexistentes na mesma co- ‘munidade, Jakobson (1931) declarou que a alternancia de estilo é uxr falo permanente que nao compromete a sistematicidade de cada estile ‘como um objeto da descricio linguistica, Nos Estados Unidos, vimos que Bloomfield considerava a existéneia de formas arcaicas e inovadoras ne mesmo falante. Alén disso, Bloomfield foi totalmente capaz de corrigh ‘sua prépria opinio anterior de que as complexidades dos estilos de falc “bons” e“ruins” sdo artefatos das culturas letradas; quando confrontadc com a situago dos menomini’, ele reconheceu que estilos hierarquica ‘mente organizados s40 0 produto de processos sociais gerais (1927) Confrontado com a erescente consciéncia da heterogeneidade da lingu: usada por cada individuo, Bloch procedeu ao desenvolvimento de um: nogéo do idioleto que representava apenas um dos possiveis sistema dentro da competéncia individual (1948: 7) enomini ou menominee: membro de um grupo indigena norte-americano (ead 440 Wisconsin) (N. do T). | \ |ALUINGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 9 \ Hoje pode parecer ingénuo Bloch ter imaginado que poderia evitar encarar os fatos da heterogeneidade limitando 0 idioleto a um falante e um ouvinte Se os idioletos de Bloch realmente pudessem aleancar a homogeneidade, entdo o tépico, a situagao e até o tempo teriam que ser rigidamente controlados (Ervin-Tripp 1964; Labov 1966: 90). A medida que foi crescendo a consciéncia da complexidade do comportamento lingiiistico, © dominio do idioleto foi encothendo — até, finalmente, desaparecer. Nem todos 8 lingiiistas americanos se consagraram & separagao entre os objetos lingiifsticos homogéneos e a situagdes helerogéneas da vida em que eles se localizam, Alguns nao se recusaram a descobrir dentro do idioleto uma multiplicidade de camadas. Fries e Pike, em sew artigo “Coexistent Phonemic Systems” (1949), levantaram a possibilida- de de que sistematicidade e variabilidade no eram mutuamente excludentes. Embora os autores se restringissem & fonologia, tudo 0 que disseram sobre sistemas coexistentes poderia ter sido estendido, mutatis mutandis, 20 resto da lingua. O artigo de Fries e Pike ndo lidava com um exemplo realmente substancial de subsistemas concor- rentes; 08 elementos drabes no suaili discutidos por Harris (1951), por exemplo, tém muito mais coeréneia interna do que os poucos elementos espanhéis demarcados por Fries e Pike. Mas o artigo deles marca um real avango porque fizeram mais do que pOr de lado aqueles elementos como estranhos: viram que poderia haver uma rica variedade de rela- des sistematicas dentro de tais sistemas mistos complexos. Tampouco sua inovagao foi puramente sincronista: as implicagdes para a histéria estavam bastante claras para os autores, muito embora tivessem a aautela de declard-las como meras “suposigoes": No processo de mudanga de um sistema fonémico para um sistema fonémico diferente da mesma Kingua, pode haver um tempo durante 0 qual partes dos dois sistemas existam simullaneamente ¢ em conflito dentro da fala de individuos particulares.[..] F impossivel ofereeer uma deserigio puramente sinerdnica de um sistema misto complexo; a direcéo da mudanga ¢ uma caracteristica permanente do sistema e precisa tam- bem ser conhecida se se descjar ter uma deserigéo completa da lingua enquanto estruturalmente constituida (pp. 41-12). Por mais estranho que pareca, no entanto, 0 avango s de Fries ¢ Pike quase nao foi ulilizado no trabalho hist6rico concreto. F verdade que seu esquema se tomou uma peca-chave para 0 estudo 198 FUNDAMENTOS BMIHRULLU PARA LIMA TEORIA DA MUDANCA LINGDISTICA do bilingitismo — especificamente para as descrigdes “dialingiifsticay que servem como um tipo de especificacdo da competéncia de falantas bilingties (por exemplo, Haugen 1954, 1957; Weinreich 1953, 1957). Contudo, muito embora a teoria do contato fosse perfeitamente capaz ‘em principio de lidar com pares de dialetos cronologicamente *marca- dos”, bem como com o contato entre sistemas mais dissimilares (Weinreich 1953: 2, 94-95), de fato parece nao ter ocorride a ninguén que a teoria pudesse servir como uma base socialmente realista para a investigagio da mudanga lingiistica. Ninguém tampoueo sentiu a urgéncia de testar a opiniio de Jakobson de que a alternéincia de estilo era um aspecto permanente da lingua dentro dos poucos estudos exis- tentes de mudanca sonora em processo (Gauchat. 1905; Hermann 1929), As deserigées mais detalhadas e confidveis destas formas coexistentes tim sido oferecidas por estudiosos que trabalharam zo Oriente Médio e no sul da Asia. Um rico volume de dados qualitativos © descritivos sobre niveis sociais ¢ estilisticos foi compilado por Ferguson, Gumperz, Bright, MeCormack, Kelley, Ramanujan, Levine e outros, e Ferguson e Gumperz conseguiram agrupar este material num conjunto coerente de prinefpios que tém sido sustentados por estudos ulteriores (Ferguson e Gumperz 1960; ver especialmente a introduc). Bright ¢ Ramanujan (1964) foram os primeinos a desen- sociolingiifstica. Gumperz foi consideravelmente além da simples des- crigdo em seu estudo sobre Hemnesherget: aqui, pela primeira vez, temos dados controlados sobre grupos naturais dentro da comunida- de que demonstram de modo conclusive o mecanismo de alternancia entre estratos que estéo funcionalmente disponiveis a todos os mem- bros da comunidade (1964). Friedrich (1966) oferece agora a explice: 0 mais detalhada da mudanga paralela em sistemas sociais lin- gilfsticos complexos. Estes estudos empiricos tém confirmado o mode- lo de um sistema ordenadamente helerogéneo em que a escolha entre alternativas Iingitisticas acarreta fungdes sociais e estilisticas, um sis- tema que muda acompanhando as mudangas na estrutura social. % Uma excegio notével é uum artigo de Polgram (1961) ALUNGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 99 A fim de assegurar a acuidade de nossa orientagao, observemos que a histéria nao 6 a Giniea direcio em que se pode aplicar a abor dagem lingiifstica de sistemas coexistentes; o interesse motivador para seu desenvolvimento de fato repousa em outro lugar. Mathesius, cujas reflexdes sobre a variabilidade inerente dos subsistemas componentes sero consideradas mais adiante, ofereceu uma distingdo sinerénica entre porgdes de um vocabuldrio que tém diferentes origens hist6ricas (1934) — uma aplicagio que coincidia com o estimulo de Fries e Pike. A concepgao multiestratificada também pode ser usada com fins puramente analiticos para representar uma lingua como um “diassistema” composto de dialetos-membros (Weinreich 1954). Para que 4 teoria tenha importncia na lingiiistica historica, por outro lado, nés especificamos que os estratos que ela encerra, embora fun: cionalmente distintos, tém mesmo assim de estar funcionalmente dis- poniveis a um grupo de falantes. Insistimos na distintividade funcional por duas razies. Primeiro, os estratos tém de estar em competicéo, néio em complementaridade. Os subsistemas fonoldgicos coexistentes descobertos no vocabuldrio do inglés, do mazateco ou do tcheco sio complementares — no existe, qm regra, uma escolha por traduzir a mesma palavra em outro sistema, Nao constituem, por conseguinte, os estratos em que estd interessado © observador da mudanga, Em segundo lugar, € necessirio formecer uma descrigo rigorosa das condigSes que governam a alternancia dos dois sistemas. Regras desse tipo (ém de incluir fatores extralingtifsticos ‘como ambientes condicionadores (Geertz 1960; Martin 1964), j4 que todos os subsistemas paralelos satistazem as condicées lingiisticas. As regras em si, abstrafdas de seus elementos ambientais externos, tém de fornecer uma descrigio lingitistica das relagdes que governam unida- des igualmente presentes a0 longo dos cstratos. Se os subsistemas coexistentes tiverem coeréncia interna, como discutido, por exemplo, em Gumperz (1964: 140, com referéncias ulleriores), entio um conjunto de rogras compartilharé os mesmos ambientes gerais externos* Tso io sigaifies negar que competigdes ovssionis pela “vaya” ocouran entre ‘membros de sistemas complementares, por exemplo, defendable ~ defensible, mustéche ~ _mistache. Quando ocorsem, & passivl tirar dai conseqtiéneias dinamicas correspandents, “Em saa andlise de um tipo de hidialetaliam historicamente estahilizado (“iglessia"), Ferguson (1959) deu umn passo romo a caractezacin lingiistiea das variaveis, Assim, ele 100. FuNDANER-TOS EMPIRICNS PARA UMA TEORIA DA MERANGA LINGHISTICA sen sence niente Queremos também insistir na disponibilidade dos estratos para ‘um grupo real de falantes. Qualquer par de dialetos pode ser colocado sob a rubrica de um tinico “diassistema”; a operacao pode ser executada mesmo sobre dialetos espacialmente néo-contiguas, ¢ pode servir a0 ‘itil propésito da reconstrugao. Mas somente quando um par de dialetos esta conjuntamente disponivel a um grupo que alterna num vaivém entre eles — mesmo que alguns membros do grupo apenas oucam um dos estilos e nunca o falem — € que a formulagao multiestratificada 6 relevante para se entender a mudanca lingiistica®, Fm sociedades urbanas, des- cobrimos que varios estratos est4o disponiveis populagdo como um odo, a0 menos no sentido passivo: sua competéncia inclui a eapacidade de decifrar versies altemativas do c6digo. A concepedo multiestratificada da lingua, iniciada por Mathesius € Jakobson em Praga, desenvolvida por Fries e Pike na América ¢ alualmente aplicada mais sistematicamente aos estudos sociolingiiisticos por Gumperz, abriu novos horizontes para a teoria da mudanga lin- giifstica, Ela substituiu 0 coneeito de empréstimo dialetal — em prin- cipio, um evento momentaneo e acidental — pelo conceito de alterndncia ‘ok mais loage do que Cumpera (1964), que também contribuit com dados extremamente valiosos, mas — talver por causa de uma hesitasio em compronicter o rigor estrutural da Tingivistica a0 estendé-Wo a objetos multiestraifcadas — postula wim repertrio verbal”, caja cestralurad descritivas[uniestratifcadas] ordimiras” i. 197). As dere centro os dois ‘lo noruegiés sao exemplificadas por Gumperz através de lisa roxas, sem tuna tentative de masirar por algum tipo de forma "Aiassistémica™a presenga, ‘de relagiesfamiliazes, como correspondéncias de Tonemas dois-a-um ou sneretiamos de cases através dos estratos, Note'se, porém, que mum irabalho mais recente sobre a situacao marat kannada em Kupwrar (1967), Gumperz explorou as relagies sisteméticas dos dois sistemas rmuilo mais profundamente, e sea conceito de um Unico repertrio lingistco wssummiu maior solide, Para uma artieulagio ulterior do conceito de diglosia, ver Fishman (1967); notese ‘que existem situaybes de diglesia em que as camadas no estéo conjuntamente dsponives Para uma distingo comparavel entre sociedades hilingies (sem presenca nevesséria fe individues bilinges) e grupos bilingies em lingua materaa (com individuos bilingées presente por cfinigio), ver Weinrich (1953: 83-80). Em seu prefacio aque iro, Marlinet lagoa 0 esbago de uma unificagéo tedrica de trés topicos de estuds: eonlalo lingtistico, diselologiae akernfincia de estilo. Infelizmente, essa unificagio permaneceu nac-implemenixa por demusiado tempo, Moniton (1962) eritienn acertadamente a idéia de formulas iassstémieas sob « leguggio de que seria, 1a prtica, de uma complexidade inadministrvel Contudo, sob a exigencia socialmente realista de disponibilidade conjunta dos estratos, tal ‘roposta aqui, eslariamnos lidando normabmente eom nto mais do que dois au trés festratos por vez; em tal caso, a eomplexidale da descrigo teria menos chance de eseapar das noseas mos, E preciso acrescentar que os postulads dos estratos malliplos podem ser cexpressos em qualqucr formatao deseritiva; para uma abordagem gerativita do fendmeno sintitico mulliestralificado, ver Klima (1064). LINGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 101 de estilo — em principio, um fendmeno duradouro e recorrente. “Tornou, assim, desnecesséria a busca infrutifera (empreendida, por exemplo, por Paul e Bloomfield) de dialetos puros sofrencio mudanga sem interferén- cia, Em suma, ela justificou 0 estudo da mudanga lingiistica in vivo e tornou desnecessério recorrer ao passado, o qual — por mais ricamen- te registrado e engenhosamente estudado® — munea pode substituir presente como laboratério para o lingiiista. A AVALIAGAO SUBJETIVA DA ALTERNANCIA DF CcODIGO. A grande maioria das investigagdes de comunidades de fala heterogéneas tém sido estudos do comportamento lingiiistico: os autores tém objetivado separar os varios niveis e determinar as condigées para a escolha dos falantes ou para suas alternancias entre os niveis. Algumas previsées do curso da mudanga lingiiistica em comunidades multilingties tém se apoiado inteiramente numa segunda fonte de dados — os fatores demogréficos (Deutsch 1953) —, mas a maioria das discussées introduz uma tercei- ra fonte — as atitudes sociais frente @ lingua (Kelley 1996; Rona 1966). Uma série de investigacdes sisteméticas dessas atitudes tem sido levada a eavo com considerdvel engenhosidade por Lambert e seus colegas (1960, 1967) com resultados extremamente regulares: os correlatos subjetivos da alterndncia de linguagem revelam ser mais uniformes que 0 préprio comportamento. A técnica bisica de Lambert emprega matched guises (disfarces combinados) — 0 mesmo falante € escutado em diferentes momentos falando francés ou inglés, ou hebraico e drabe, ou inglés com ou sem solaque judaico — ¢ os informantes avaliam essas vores segundo uma série de tragos de personalidade, sem estar cientes de que esto avalian- do a mesma pessoa duas vezes"". Nao pode haver diividas de que con- juntos de atitudes sociais hem sedimentadas so fatores poderosos na © Entre os tballios que mais admiramos extdo Kokeritz (1963) para o inglés e Fénagy (1956) para o francés, Esses brilhantes estudos se baselam nim reeomhecimento consciente de que as futusgoes bem docamentadas ¢ socialmentr eondicionadas que eles retraghm pertencem nos mecanismos centrais da mudang ngiistica, nfo a algum processo narginal de “mishara de dialtos". Comparado a essas anilises, 0 esquematismo. dos neogramaticos e le alguns estruturalstas modernos, gerativistas ou uulzus, € surprectilen temente aati nisione 5 Portanto, os dades bens consistom das diferencas entre tragos de personalidade atsibuidas & mesma pessoa em dois*disfarces” diferentes (isto 6, falante de franets vs, falamte de inglés). Essas reacoes sao, portanto, avaliagies do uso de uma lingua ow dialelo como lin toda, Para as reaghes subjtivas a variévels lingiistiess individuals, ver abatxo. 102, ruNDAMENTOS EMIfAICOS PARA EMATEDRIA DA MUDANGA LINGCISTICA, determinagio do curso da historia da lingua em comunidades mullilingiies; © caso da India (Kelley 1966; Weinreich 1957) é testemunho suficiente. Numa série posterior de investigagées, Lambert descobriu que estuden- tes anglo-canadenses que compartilham 0 conjunto de atitudes negativas em relacio aos falantes de francés tém muito maior difieuldade em apren- der o francés do que os estudantes nos Estados Unidos (1967: 101-102). Portanto, 0 estudo do problema da avaliago na mudanca lingiis tica ¢ um aspecto essencial da pesquisa que conduz a uma explicagio da mudanga. Nao é dificil ver como tragos de personalidade inconsvi- entemente atribuidos a falantes de um dado subsistema determinariam a significago social da alterndncia para esse subsistema e assim seu desenvolvimento ou obsolescéneia como um todo. Mas 0 efeito dos valores sociais sobre 0 desenvolvimento interno de um sistema lingitis- tico é uma questo mais dificil, que consideraremos na seco seguinte, ‘3.3 VARIABILIDADE DENTRO DO SISTEMA © carter heterogéneo dos sistemas lingitisticos discutidos até agora 6 0 produto de combinagdes, alterndncias ou mosaicos de subsistemas distintos, conjuntamente disponiveis, Cada um desses subsistemas é concebide como um corpo coerente e integral de regras do tipo categérico, neogramético: 0 tinico aparato teérico adicional necessério € um conjunto de regras que afirmem as condigées para a alternanncia. Embora tais regras possam ser bastante complexas (Geertz 1960; Martin 1964), elas no interferem com o isolamento de um subsistema ou do outro — um procedimento que é tipico da aborda- gem tradicional dos dialetos ndo-padrio. Tem-se suposto que 0 lin- giista pode abstrair um nivel ou subsistema de um tal complexo sem perder qualquer informacdo necessdria para a andlise lingiistica, e diversos estudos que isolam um de varios desses sistemas conjunta- mente disponiveis foram empreendidios sob a suposigo adicional de que a tinica base possivel para a descrigao é um sistema homogéneo, invariante. Assim, descobrimos que Sivertsen, em sen excelente estudo do inglés cockney (1960), fez abstragdiv dos dados reais para oferecer uma descrigao homogénea de um cockney independente de quaisquer allerniincias com sistemas coexistentes. Bailey fez 0 mesmo em sua penetrante investigagao da sintaxe do crioulo jamaicano (1966). Em ALINGUA COMO UM SISTEMA PEERENCIADO 103 ambos os casos, foi assumido que os elementos varifveis nos dados eram produtos da mistura de dialetos — insercdes irregulares da lingua-padrao com a qual os falantes estavam em contato. O sistema coerente do cockney ou do crioulo foi identificado com o conjunto de variantes que eram as mais diferentes da lingua-padrao. Embora estudos isolantes desse tipo possam fornecer valiosos pontos de partida para a andlise lingiifstiea, na nossa opinizio, eles nao oferecem nenhuma base racional para a explicagio da mudanga lingiifstica. Tais abstragiies so, sem ditvida, mais coerentes do que os dados reais e, portanto, mais indutoras & redagdo de regras sem exceciio. Por outro lado, se alguém tentasse descrever como um falan te de cockney ou de inglés jamaicano realmente usa a lingua, haveria diversas incoeréncias intrigantes ¢ inexplicdveis nos dados. Tais incoe réncias seriam explicdveis dentro de um modelo mais adequado de uma lingua diferenciada aplicado & comunidade de fala em sew todo, modelo que inelui elementos varidveis dentro do proprio sistema. 3.3.1 Varidveis lingiifsticas dentro do sistema Nao ha diivida de que 0 modelo diferenciado de uma comunida- de de fala apresentado até agora nao é inteiramente adequado para explicar a complexidade de estrutura observada. E verdade que em varios casos encontramos allernancia de cédigo regular entre duas estruturas integradas, como na alterndncia do franeés canadense para © inglés. Essa alternancia implica uma estrita co-ocorréncia entre os elementos e regras lingtifsticos coneernidos. Um eddigo ou sistema & concebido como um complexo de regras ou categorias inter-relacio- nadas que nao podem ser misturadas aleatoriamente com as regras, ou categorias de outro eédigo ou sistema, Assim, por exemplo, alguém normalmente em crioulo jamaicano: im tired a tired, ou em inglés-padrio: he's tired, that’s all, mas nfo: he’s tired a tired. A co-ocorréncia estrita é freqitentemente atribuida &s regras de um dialeto, mas as provas raramente sfio dadas. Um requisite minimo seria que 0 analista declarasse que, numa populac3o suficientemente ampla de sentencas, A e A’ estavam associados na mesma sentenca, € Be BY, mas que nenhum exemplo de A e B’¢ A’e B foi encontrado: contudo, esse tipo de declaragio raramente é feita, 104 rusmanen os evrffucos Para usta TEOELA DA MUDANCA LINGHSTICA, seqmeninenn sntnenensiii J& que freqiientemente ocorre que os detalhes da situagdo de alternancia nao sustentam aquela alegacao, o analista é forcado a sus- tentar que 0s falantes podem altemar cédigos no meio de um enunciado, de uma frase ou de uma oracdo, no uma ver mas varias vezes. Por exemplo, alega-se que na fala de criencinhas negras nas cidades do Norte, a cépula néo aparece no presente, como em You a swine Ora, para todos os falantes dessa comunidade, a cépula is aparecera freqiientemente nessa porgdo. Nao é incomum encontrar, na interagao de grupos de pares mais excitados, enunciados como Make believe this is a team and this a team! Alegar que este e centenas de outros exemplos semelhantes sao instancias de alterndncia de oédigo seria um arielato da teoria ¢ dificilmente uma conclusio inescapavel exigida pelos dados. Para dar conta dessa variagao intima, € necessirio introduzir outro conceito no modelo de heterogeneidade ordenada que estamos desenvolvendo aqui: @ varidvel Jingtifstiea — um elemento varidvel dentro do sistema controlado por uma tinica regra. A variabilidade inerente dos fenémenos lingiiisticos foi de inte- resse considerdvel para os membros do Cireulo de Praga, Em 1911, Mathesius fez objegdes & exigéncia de Paul de que as linguas sejam necessariamente estudadas sob 0 aspecio de sua homogeneidade. Os lingilistas tém esquecido, argumentou Mathesius, que a homogeneidade da lingua ndo 6 uma “qualidade real dos fendmenos examinados”, mas “uma conseqiiéncia do método empregado” (p. 2). Na realidade, a lingua é caraeterizada por oscilacao sinerénica™ na viduos. O aspecto sistematico (codificado) desta oscilaglo Mathesius chamou de “potencialidade”: Se qualquer dialeto fosse absolutamente constante do ponto de vista fonético, isso implicaria a constincia de seu inventario de sons e da constituigao fonética de eada palavra individual; ao contrério, a potencialidade fonétiea de um dialeto implica potencialidade do inven- tario e/ou de sua distribuigdo em palavras (pp, 23-24)*. Compare-se Stewart 1868. Para uma anslise dos argumentossinticos e dads sobre variveislingiisticas na fala das negros, ver Labov e Cohen 1967 © Seguimos otradutoreditr, Vache, que inlerpretau “esata” |__ Entre os antecessores ele Mathesius, segundo sea prio comentrio,honta especial «she a Daniel Jones, que tina earacterzad diferentes ells de inglés em termosfondtcos le Mathesius camo {A LINGUA COMO UM SISTEMA DIERENCIADO 105 Mathesius teve o cuidado de deixar claro que a potencialidade que ele discute é primordialmente um fenémeno sincrénico, Também pode haver, é claro, oseilagdo dindmica (diacrdnica), mas as questdes dindmicas [= diaeninieas] s6 podem ser resolvidas depois que ‘uma investigagao mais cabal em linguas individuais liver estabelecido firmemente quais fenmenos podem ler sido considerados nelas, num momento dado, como constantes e quais como polenciais, S6 entao al- guém estaré em condigSes de perguntar por quanto tempo um fendmeno potencial & pode ainda ter sido considerado como basieamente o mesmo fenémeno, s6 ligeiramente afetado por uma iudanca de sua potencialidade, ¢ quando ja se deve admitir a existéncia de um novo fendimeno B, substituindo a. As investigagées necessérias serio muito diffceis, mas depois de terem sido realizadas estaremos mais bem infor- mados dos fundamentos do que est acontecendo numa lingua do que estamos até agora (p. 31). Os exemplos de Mathesius mostram um claro reconhecimento do problema da transi¢io que esbocamos acima; contudo, nao mostram que ele tenha tido éxito em integrar sua nocdo de “potencialidade” numa descricéo sistemdtica da lingua. Esses exemplos mostram uma distribuigdo quase-aleatéria de extensdo ou oscilacdo de opcdes gra~ maticais — variagdo sem direcdo. A énfase esté na variabilidade do individuo em vez de nas regularidades inerentes em tal variacio. Os autores da escola de Praga continuaram, nas duas ultimas décadas, a desenvolver seu interesse pela vatiabilidade e pela mudan- ¢a continua. Estamos particularmente impressionados com os ensaios de Neustupny (1961, 1966), reformulando as opinides de V, Skaliéka, © que apresentam criticas penetrantes a0 rigido areabouco categorial normalmente empregado pelos lingitistas. Neustupny insiste no reconhe- cimento do carter complexo das categorias lingiiisticas e da importin- cia de elementos marginals e periféricos; ele nao deixa de sublinhar a importancia destes conceitos para a teoria da mudanga lingiiistica: Classes fechadas nao admitem a transi¢ao de um fonema para outro [..] ‘Nao foi por acaso que R. Jakobson [...] postulou para a mudanga fonolégica 0 carter de saltos absolutlos. Contudo, © método deseritn porle explicar a mudanga pelo desenvolvimento interno, gradual dentro de uma classe fonoldgica ou grupo de classes (1961: 16). Os estudos de mudanea histérica empreendidos por Vachek (1964a) contribuiram muito para nosso entendimento do papel das elementos 106 RunoaMeNTOs EwetRACOS FARA UMA TEORIA DA MUDANCA LNGOISTICA periféticos e sua falta de integragdo sistemstica, em termos totalmen- te consistentes com as opinides de Martinel, Mas, apesar de nossa profunda simpatia te6riea pela posicao da Escola de Praga, é preciso reconhecer que seus membros ndo apresentaram suas opinides com uma precisio formal adequada para complexidade dos dados lin- giiisticos. Tampouco desenvolveram métodos empiricos para trabe- thar dentro da comunidade de fala, 0 que lhes permitiria investigar os processos de mudanga continua de maneira convincente™. E, portan- to, compreensivel que esses escritos nao tenham tido o impacto sobre © cendirio americano que sua importancia te6rica teria permitido. Certamente no basta apontar a existéncia ou a importancia da va~ riabilidade: 6 necesséio lidar com os fatos de variabilidade com pre- ciséo suficiente para nos permitir incorporé-los em nossas anélises da estrutura lingiiistica, Uma varidvel lingiiistica tem de ser definida sob condigoes estri- tas para que seja parte da estrutura linglistiea; de outro modo, se estaré simplesmente escancarando a porta para regras em que “freqiientemente”, “ocasionalmente” ou “as vezes” se aplicam. A evi- déncia quantitativa para co-variagao entre a varivel em questio e algum outro clemento lingiistico ou extralingiiistico oferece uma condigao necesséria para admitir tal unidade estrutural. A co-varia- ¢4o pode ser oposta A co-ocorréncia estrita, ou a co-ocorréncia pode ser concebida como o caso-limite da co-variagdo, Provas das relagées de co-ocorréncia estrita podem emergir, de fato, de uma investigagio quantilativa-do tipo que oferece provas de co-variagao. Todas as regras podem ser consideradas como sendo da seguinte forma: Ma>eBl/xT Vy 2) g IB} =f (CDE...) onde B é um ou mais tragos de A, e C, De E sao varia ‘ou extralingtiisticas. A expresso g{B] € a varidvel lingi “Vachek, por exemplo, se baseia numa misoelanea de observagbes fonétieas coletagas na Hiteratura para argumentar que [W] ([w] surdo) foi ¢ € agora oposto a fh] como ma variivel social eestlstica (194a: 29-46) o esla proposta eonstitud a hase para sa alse dos desenvolvimentos lingisticas, A LINGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 107 pela regra, normalmente nolada (B). Assim, a variabilidade da pro- mincia do r na cidade de Nova York pode ser representada’ (8) A= ete 7 — (5) (4) gi] = flestilo, classe, idadey, im (3), a categoria /r/ € reeserita como a variével (x) em posi- cdo final e pré-consonantal, equivalente A freqiiéncia da consoante suprimida [r], uma fungdo de estilo, classe ¢ faixa etdria do falante. A regra categérica usual tem o valor de g colécado em 1. Quan- do sistemas inteiros de varidveis co-variam juntos, 0 valor da fungéio controladora g é idéntico para cada regra que diferencia os sistema © valor de g pode também ser idiossi particular, mas relacionado com outras varidveis de maneira mais ou menos regular. 0 sistema heterogéneo 6 entio visto como um conjun- to de subsistemas que se altemam de acordo com um conjunto de regras co-ocorrentes, enquanto dentro de cada um desses subsistemas podemos encontrar varidveis individuais que co-variam mas ndo co ccorrem estritamente. Cada uma dessas varidveis acabara sendo definida por fungées de varidveis independentes extralingitisticas ou lingiiisticas, mas essas fungdes ndo precisam ser independenles umes das outras. Pelo contrério, normalmente se esperaria encontrar inti- ma co-variagio entre as varidveis lingtisticas. A TRANSIGAO. Qualquer estudo atento da transigéo de um 0 para outro exigird a determinagao do valor de uma varidvel lingilistica. B possivel, obviamente, que uma mudanca lingiifstica ocorra como um paso discreto — uma mutacao simulté- nea de graméticas por parte de grande mimero de falantes, apesar das dificuldades postuladas acima (§ 2.41). Contudo, as mudangas que © Uma reqra prévia desenvolve o /e/ em bird, work, shirt numa diregdo diferente ¢, ‘assim, () nao se aplica a esta classe (Labow 1968: 837-312). Um eanjunto algo diferente de convengies formais pare regras varaveis, ineorparando os mesraos principios gers, apresentadto cm Labov, Cohea., Robins ¢ Lewis (1968); estes lidam primordialimente cam varldveis consonantais de dois valores do ingles negra nao-padrao cam considerdvel ‘condicionamento contextual ¢ grammatical, eneaisadas num conjimto mais abrangente de dezesseis regras fonolégicas do inglés. 8 regras dadas aqui simbolizam as relacoes de variveis de mitiplos valotes dentro de um espago voedlico cariesiano, relagies que estio ‘no momento sendo investigadus num estudo instrumental de mudanga sonora em progresso, 108 uNDAMENTOS EMPIRICOS PARA UNA TEORIA DA MUDANGA LINGCISTICA tém sido estudadas mais de perto (p. ex., Gauchat 1905; Hermann 1929; Reichstein 1960; Labov 1963, 1966) mostram transigdes conti- nuas nas freqiiéncias ¢ valores modais de formas. Assim, podemos escrever para a comunidade de Charmey estudada por Gauchat: (5) egle!] (6) ¢ = fltempo), isto 6, a variivel (ey) representando a ditongacao de fe] é uma funco do tempo. A varidvel independente tempo € freqiientemente inferida somente de um estudo de distribuicdo através das faixas etdrias; este foi de fato 0 caso com Gauchat, que realmente sé mostrou isto: (6) g = Midade). © trabalho de Hermann, uma geragio depois, trouxe os dados os para nos movermos das observacdes de faixas etrias para afirmagées sobre 0 tempo real, pois o ditongo [el] de fato nao se tomnou geral por toda a populagdo, Em outros casos, estudos quantitativos detalhados de distribuigdo pelas faixas etdrias serviram para suplemen- tar observagies mais fragmentarias feitas uma geragéio antes ccm 0 intuito de fornecer o necesséio ponto de ancoragem ¢ fazer uma dis- tingdo entre o aumento de idade € 0 processo de mudanca lingiiistica, Se a varidvel lingiistica fosse uma simples distribuigdo pelas faixas etarias, entao o processo de transferéncia de um grupo de falantes ara outro um pouco mais jovem seria um fato mislerioso, mais facil de notar do que de explicar. Podemos postular uma intrincada série de empréstimos (Bloomfield 1933: 403) ou alegar, com Ilalle, que as gramiticas de falantes mais jovens s4o reconstruidas ao longo de linhas mais simples com conseqiientes mutagées nas acima). No entanto, os casos z samenle mostram a variavel como uma fungo de estilo tanto quanto de idade, mesmo nos estagios iniciais. Verificamos que falantes com baixa escolarizacdo, que mostram pouea consciéneia da propria fala e nenhuma corregao nos estilos formais, ainda assim exibirdio uma diferenciagao cstilistica entre modos areaicos ¢ inovadores. Por exem- plo, falantes operirios de Nova York usam vogais ligeiramente mais altas em coffee, more, lost em expresses enfaticas e afetivas, embora nao passem a vogais mais baixas em estilo formal como fazer os ALINGUA COMO.UM SiSrEata DIFERENCIADO. 109 falantes de classe media fala deles a diferencia varidvel (oh): (7) (oh) = f(idade, estilo). (Labov 1966; 206). Observamos, assim, na de variantes inovadoras e areaicas desta O prontess vo EXcuXAMENTO. Os lingtiistas naturalmente desconfiam de qualquer explicagéo da mudanga que deixe de mostrar a influéncia do ambiente estrutural sobre 0 trago em questo: é razodvel presumir que © aspecto est encaixado numa matriz lingliistica que muda com ele. Além disso, podemos argumentar que fatores externos tém menos efeito sobre um traco que é membro de um sistema em equilibrio do que sobre ‘tragos isolados. Estudos detalhados de co-variagio intima entre varié- veis lingiisticas em processo de muclanga oferecem a evidéncia empirica mais persuasiva de tais efeitos sistemticos, embora explicagdes de mnu- dangas completadas ndo deixem de ter valor neste particular. Assim, no sistema de vogais da cidade de Nova York (Labov 1966: 507ss.), encontramos uma varidvel (ah), representando o grau de posteriorizacao da vogal longa e ingliding em father, pa, car, guard, bar. Esta varidvel é uma fungio de outra varisivel lingiiistica (oh), mencionada acima. Podemos representar esta co-variaglo pela nota- cdo abreviada (8) (ah) Esta expresso pode ser relacionada a uma notagao mais analitica de traco_no ponto onde © conjunto bindrio de tracos numa fonologia gerativa é substitufdo por um conjunto menor de dimensoes lineares. Por razies esbocadas acima (§2.41), 0 aparato de tragos distintivos tem de ser substituido aqui por um conjunto homogéneo de dimensdes que de- finem localizagdes mo espago fonolégieo, eontudo, nio podemes delinear a base quantitativa para tais dimensOes aqui ¢, portanto, conservaremos © bindrio. As regras dadas abaixo se aplicam somente a vogais tensas geradas num sistema sem-r depois que [r] se toma vocalizado e prece- dendo vogais alongadas, e portanto os tragos [+tenso, +vocilico, -con- sonantal] so entendidos para cada segmento com que se operou”. floh). 5A fim de interpreta as gras (11) (1), € preciso entender o tro fare ‘110. FUNDAMENTOS EMPIRICOS PARA LMA TEORIA DA MUBANGA LINGCISTICA A regra (2) celine a variavel (oh), e (10) define (ah). © statis sistemético de (ah) é estabelecido por (11), pois, sem este relaciona- mento, (10) declararia meramente que a gravidade de (ah) varia. 3 (oh) (9) [ss : comp. ~dit. = ] 7 [+ rave] +arredond, ] p arredond. onde 1 '); falantes que usam [a] em bird ridicularizam o esteredtipo [pi] que eles percebem no boid de outros; muitos que usam altas porcentagens de oclusivas lenizadas para as fricativas interdentais ficam profundamente magoados se Ihes é dito que tém problemas com seus dems € doses. 10 0 = Le S80 q : £60 E 40 re EE g EE Sata FGURA 4. AVALIAGAO SUBUEIIVA DE @ POR DADE ENTIRE FALANTES NATVOS DE NOVA YORK A investigagao destas pervep¢des sociais ferece um rico volume de dados sobre estagios recentes da mudanga lingiistica, embora nao revele os aspectos mais sistemdticos da evolucéo lingliistica. 4 corre- ‘co social explicita € esporddica to logo os falantes — quando uma variivel lingiiistica adquire importancia social — substituem a norma de prestigio pelo vernéculo basico como um controle no audiomo- nitoramento. A disjungdo entre producao e percepgio, tal como estu- dada por meio dos testes de auto-avaliagao (Labov 1966: 455-480), oferece mais um caminho para a andlise da mudanga em progresso. "© Ver Whyte (1948: 316) pars um exemplo dramatico, 120 TUNDAMENTOS EMPTRICOS PARA UMA TEORIA DA MUDANCA INGUISTICA O estudo de declaragies explicitas sobre a lingua suscita diversos insights acerca dos fatores sociais que pesam sobre a mudanga lingiiistica, e acerca das fontes de irregularidade que perturbam 0 curso da mudanga sonora; mas relacionar estes dados a evolugao do verndculo basico uma tarefa que exige um conhecimento detalhado da comunidade de fala e uma considerdvel sofisticacao sociolingiiistic« 3.4 PRINCIPIOS EMPIRICOS PARA A TEORIA DA MUDANCA LINGCISTICA Na terceira parte deste ensaio, apresentamos alguns achados empiricos que tém importaneia para a teoria da mudanca lingiifstica, ¢ também algumas conclusdes extraidas destes dados acerea da com- plexidade minima de uma teoria da estrutura lingiistiea que pode explicar esta mudanga. Também nos preocupam os métocos para relacionar os conceitos e¢ postulados de uma teoria da mudanga & evidéncia empirica — ow seja, evidéncia baseada em regras para a concordincia intersubjetiva. Nesta seco final, vamos sintetizar al- guns principios concernentes aos fundamentos empiricos para uma teoria da mudanca; organizaremos a discussio, como fizemos anterior mente, em termos dos problemas a serem resolvidos. © ProsLEMA pos FxToRES coNpicONaNTES. Sugerimos que um possivel objetivo para uma teoria da mudanga € determinar 0 conjunto de mudangas possfveis e condigdes possiveis para a mudanga; na medida em que tal programa deriva de um estudo minucioso de mudancas em progresso, acreditamos que € possivel avancar, Um desses fatores condicionanies gerais parece se aplicar a areas em que um sistema de dois fonemas esté em contato com um sistema de um fonema fundido: argumentamos que, exceto sob determinadas condigées espe diregdo da mudanga seré em favor do sistema de um fonema. Obser vamos, como outro exemplo, diversos casos de cadeias de mudanga correlatas em que vogais [lensas] perifféricas se elevam, mas nenhuma na diregdo contréria Podemos também observar que nem toda combinagio de fato- res lingitisticos e sociais tem sido observada em estudos alé 0 mo- ‘mento, nem tem sido observada toda possivel combinagao de varid- veis lingiiisticas. Em nenhum caso, por exemplo, encontramos uma variavel que se originou como um estereétipo social com estratifica- ALINGUA COMO UME SISTEMA DIFERENCIADO 121 ‘$40 estiisiica €, num estagio posterior, emergiu como um variavel social sem troca estilistica. O proutems ps TRaNsi¢io, Todas as mudangas submetidas ae exame empirico cuidadoso até agora tém mostrado distribuigo continua através de sucessivas faixas etérias da populagio. Entre quaisquer dois estgios observados de uma mudanga em progresso, normalmen- te se tentaria descobrir o estagio interveniente que define a trilha pela qual a estrutura A evoluiu para a estrutura B. Deseobrimos que a teoria da mudanga lingiistica pode aprender mais com os assim chamados dialetos transicionais do que com os dialetos “nucleares” [“core”] (Herzog 1965: 1-5), De fato, ganha-se mais considerando-se todo dialeto como transicional. Por conseguin- te, ndo ha qualquer necessidade de distinguir entre mudanga intradia- letal e mistura de dialetos (conjuntamente disponiveis}, Ao considerar alguns subsistemas ou varidveis como mancados pelo trago arcaico/inovador, a teoria da lingua pode observar a mudanga lingiiistica enquanto ocorre. Pela observacao in vivo, pode- mos aprender coisas sobre a mudanga lingiiistica que esto simples: mente perdidas nos monumentos do pasado. Esta transigdio ou transferéneia de tracos de um falante para outro parece ocorrer por meio de falantes bidialetais ou, mais geral- mente, falantes com sistemas heterogéneos caracterizados pela dile- renciagéo ordenada. A mudanga se da (1) 4 medida que um falante aprende uma forma altemativa, (2) durante o lempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competéncia, ¢ (3) quando uma das formas se toma obsoleta. A transferéncia parece ocorrer entre grupos de pares de faixas eldrias levemente diferentes; todos as evidéncias empiricas reunidas alé agora indicam que as criangas nao preservam as caracteristicas dialctais de seus pais, mas sim as do grupo de pares que domina seus anos pré-adolescentes. O prontess Do EXCUNaMENTO, Laver’ pouca discordineia entre os lin- giiistas de que as mudangas lingiiisticas sob investigagdo devem ser vistas como encaixadas no sistema lingitistico como um todo, O pro- blema de oferecer fundamentos empiricos solidos para a teoria da mudanga traz a lona diversas quesles sobre a natureza ¢ a extensio deste encaixamento. 122 ruNpaMeNTOS EMPIRICOS 23H LMA TEORIA DA MUMANCA LINGEISTICA (a) Encaixamento na estrutura lingiistica. Se a teoria da evolu- cio lingiifstica quiser evitar notérios mistérios dialetais, a estrutura lingitistica em que os tragos mutantes se localizam tem de ser ampliada para além do idioleto. O modelo de lingua proposto aqui tem (1) estratos discretos, coexistentes, definidos pela co-ocorréncia estrita, que so fancionalmente diferenciados e conjuntamente disponiveis a uma comunida- dee de fala; ¢ (2) variaveis intrinsecas, definidas por co-varia- 40 com elementos linglistioos ¢ extralingifsticos. A mudan- a Tingiistica, ela mesma, raramente é um movimento de um sistema inteiro para outro, Em vez disso, descobrimos que um conjunto limitado de variaveis num sistema altera seus valores modais gradualmente de um pélo para outro. As variantes das varidveis podem ser continuas ou discretas; em qualquer dos casos, a varivel mesma tem um espeetro con- tinuo de valores, jé que ele inchui a freqiiéncia de ocorréncia de variantes individuais na fala estendida. O conceito da variével como um elemento estrutural torna desnecessario ver flutuagées no uso como externas ao sistema, pois 0 con- trole de tal variagio faz parte da competéncia lingiiistica dos membros da comunidade de fala. (b) Encaixamento na estrutura social, A estrutura lingiiistica mutante esta ela mesma encaixada no contexto mais araplo da comunidade de fala, de tal modo que variagGes sociais e eograficas so elementos intrinsecos da estrutura. Na expli- cagio da mudanga lingiistica, € possivel alegar que os fato- res sociais pesam sobre o sistema como um todo; mas a significago social nao é eqiiitativamente distribuida por iodos ‘os elemet sistema, nem Lampouco todos os aspectos do: itativamente mareados por variaglo regio- nal. No desenvolvimento da mudanga lingiifstica, encentra- mos estruturas lingiifsticas encaixadas desigualmente na es- e nos estigios iniciais e finais de uma mudan- ¢a, pode haver muito pouca correlagao com fatores sociais, Assim, a tarefa do lingtista no 6 tanto demonstrar a motl- vagdo social de uma mudang quanto determinar o grau de correlacao social que existe e mostrar como ela pesa sobre 9 sistema lingiiistico abstrato. A LINGUA COMO UM SISTEMA DIFERENCIADO 123

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