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Demonios em Redemoinho IkaRo Maxx Rita M
Demonios em Redemoinho IkaRo Maxx Rita M
EM
REDEMOINHO
IKARO MAXX
RITA MEDUSA
ROGER TIERI
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Eliete Marques da Silva - CRB-8/9380
22-115193 CDD-B869.91
Índice para catálogo sistemático B869.1
I. Poesia: Literatura brasileira
daimon,
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”plena de carne de tinta imaginária”,
pois nos ritos, nos sonhos, na loucura, nos êxtases somos levados
pelas lúbricas leveduras dos sentidos & o maravilhoso sai de si
mesmo sem ter necessidade de ser buscado ou estimulado
& por isso & por toda parte vemos vultos recorrendo às fumiga-
ções & aos unguentos & não deixam de queimar narcóticas subs-
tâncias como o acônito, o heléboro, a mandrágora, o meimendro,
o estramônio, a papoula, a beladona & toda uma imensa coleção
insana de solâneas
Rubens Zárate
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IKARO
MAXX
O QUE DEVO A LAUTRÉAMONT
“Além do mais, despojou-vos da vossa forma humana, fazendo uma cruel brincadeira
com vosssas santas dores. E vós hesitarieis em acreditar-me.” (C5, E2)
2006
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FLORES INTRANSIGENTES
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agora eu vejo
como quem expulsa o sol do ódio
dos próprios olhos
2012
8
ÓPIUM
2000
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ROADMOVIE LISÉRGICO
A primeira flecha
na economia das atenções
a desenhar o roteiro prévio
da humanidade trágica
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DANÇA DO HEYOKA
2020
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VIDA SEM FIM
2007
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RITA
MEDUSA
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VOCABULÁRIO DO SEGUNDO INFAME DE TUDO
a palavra original
vira cinzas ao ser executada
plena de carne de tinta imaginária
ela explode seu corpo translúcido
significado de pedra
abusada maníaca
vacilando entre a dor e a folia
o que acontece com ela
quando não lida?
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fera
se reveste
de fios fabulosos
a carne sangrenta
frita na cozinha
feridas florescem
no aquário das novidades
furto
a força da malícia
não invisto por preguiça
de me desintegrar
paixão
cão ganindo, recusando comida
negando carinho
expondo os dentes à cruel fidelidade
moça se morde para incriminar os bichos
como ousam não amá-la?
Devoção ou nada
Rastejam as palavras erradas
Afoitas
Pedindo língua
pedindo corpo
pedindo voz
implorando
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*
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não sou da tua laia
não me meto com a sua muamba
não falo tua língua
se parar pra respirar perco teu ritmo
vejo o sol nascer e morrer sob o signo da asfixia
desejo um tanto e me crucifixo
minha casa de escuros não suporta tanto
nem minha ironia engole tua tendência pura
só quero dançar ao som das tuas navalhas
nunca exigiram tanto de você
eu vim pedir mais do que posso carregar
faz sentido nossas máscaras violentas ditando o apagão
Investigando as paredes
apagando rastros
dilato, deleto, não tenho pegadas pra tanto caminho
só o dialeto dos que não foram
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BEATAS EM TRANSE
balbucio o ventre
para fabricar a arquitetura
do tombo de línguas
vigio beatas em transe
aprendo a linguagem
dos olhos revirados
paixão de nervos
o casamento do castigo
com a satisfação
criminosa sonhando mares
por qual dimensão você respira?
aqui cai flor na faca
molho de amendoeira no coador
o café alimenta o salto
o cão corre atrás do próprio rabo
os balões estouram
a criança berra e um deus nasce
ou um anjo cai
tudo sinaliza uma misteriosa farra
de eventos que se ligam e rompem
e voltam a se ligar
mas, já não são mais os mesmos
esquema novo no menu dos que se devoram
falte no trabalho hoje
quero tomar sorvete na ponte
pensando como você é transcendental
depois dizer tchau, bye bye
e escrever a biografia secreta
de um Zé Ninguém
o fio da navalha
é só uma vírgula
que não caiu bem
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CAIXINHA DE MÚSICA ROLANDO PELA ESCADA
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ROGER
TIERI
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Aos pés do dilúvio de chamas
só o amor pra envenenar os chakras
só a água gelada na carne do rosto
é capaz
de saborear o karma das atitudes
o nervo das produções
a cascata das vísceras
a união do antigo aquário da dúvida
com o palácio de inanições
onde a carnificina das
andorinhas mascara a entrada do céu
para nós
os trépidos invólucros de portais
rastejamos famintos
reprogramamos
a ioga das enganações
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lavar os ombros
com sangue de estrada
sob chuva de urânio
contemplar o pacto
.:.
.:.
prana envenenado de
enfeites
vento entorpecendo
sequoias
.:.
fuga da
reprogramação inconsciente
silêncios
corrigem arcanjos
.:.
paixões iniciam
longe da lua nova
demônios existem
dentro de redemoinhos
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.:.
brilho d’água
fundido nos azulejos da
morte
deuses de origami
lapidam
oferendas no céu
.:.
íris em todas as
vogais
o momento presente
é doce dilatação
se atira do sol
pra outra estrela qualquer
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tentemos lembrar
o Momento exato
em que aprendemos a gostar da chuva
talvez tenha sido
no dia em que aprendemos a conversar
sem olhar nos olhos
que é pra dar liberdade pro rosto
apelar pra gnose da bruma
somos mágicos jogando truco
à noite
num céu de cordilheira
onde mil sóis esquecidos
desafiam a escuridão
arrastam o navio de
Aton
pela mais antiga
descrição do dilúvio
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Fumar um cigarro ao sol
é consultar o itinerário do incêndio
beijar a luz do tráfego
mimetizar o badalo de um sino
iluminar um jardim repleto
de cabelos de anjo
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para estar no
Ritmo
desse tambor
de
mil Imagens
provindas
de um encanto Lunar
que excita
o Soma nas bebidas
que nos leva do som ao
Ozone
(Seiva selva céu
oxigênio)
é só saber olhar pro próprio
Olho
sem a ajuda do espelho
e dos
artistas que enlouquecem
fabricando lagos de
gravidade
na força motriz dos
terremotos
enquanto todo o Baralho
abraça a parte escondida
das geleiras
o vislumbre da Morte
ajeita os tapetes
porque fizemos um pacto
achando que dominaríamos
o universo dos
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bebês
que dormem sobre a bíblia
enquanto os pais
escondem a polarização
em um jardim
tomado
por alguma planta
da família das Orquídeas
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o verdadeiro ritual
é feito nos sonhos
e programado
pela parábola das dez virgens
miravam Órion
em seu trigésimo terceiro
ponto de aglutinação
.:.
pirâmides desbravadas
pela memória da criança
calma e corpo
transitam
fora dos encantamentos
o vinho
nos deixa suscetíveis
às forças do zodíaco
.:.
cada poro
pedaço vazio
da pele extensa
tratada por fases de
descanso
na guia cênica
dos pensamentos
.:.
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ainda há a sobra da aurora
reluz no parapeito
um suicídio lento e tenro
de um antes
de um ontem
.:.
há rios
desaguam nas chuvas
ousam flutuar
sobre o chão de giz
e nebulosas
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IkaRo MaxX (1985) é filósofo, poeta, performer, músico, editor,
tradutor e agitador cultural. Nascido na capital paraibana é um nô-
made convicto e cosmopolita desenraizado - percorreu o Brasil e
chegou a viver na França e na Inglaterra. Suas inquietações percor-
rem dimensões políticas, poéticas e estéticas da existência. Inconfor-
mista, antiautoritário e anticanônico é um experimentador inquie-
to que desconhece limites e fronteiras. Trabalhou com os acervos
da Biblioteca Roberto Piva e Raul Fiker. Secretaria o Willer Cursos.
Em nome do terrorismo poético e da liberdade livre publicou obras
como: Saliva (VirtualBooks - 2015), Uive Quando Se Sentir Eterno
(2016), Full Foda-Se (Córrego/Provokeativa - 2019), A Arte da
Subversão (Editora Cintra/ARC Edições - 2019), 68 Teses Provoke-
ativas (Provokeativa - 2020), Ode a Lorca & outros Poemas (Mocho
Edições - 2020), Lóki-Down (Provokeativa - 2021), Diablo Ex-Ma-
china (Provokeativa - 2022), Carta Aberta de um Poeta a um Geno-
cida (Provokeativa - 2022), Orgia de Unicórnios (Córrego - 2022).
Autor do experimento de colagem audiovisual Vídeo-Crise (2017).
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Desta edição foram impressos 40 exemplares na gráfica da
Editora Córrego. São Paulo, junho de 2022.