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Capitulo 2 A InvestigagAo pas ReLAcdes SaupE-TRABALHO, 0 EsTABELECIMENTO vo Nexo Causat pa DoENca com o TRABALHO E AS Acdes DecorRENTES 0 reconhecimento do papel do trabalho na determinarao e evolueao do processo saude-doenca dos ‘rabalhadores tem implicagoes éticas,técnicas e legai, que se refletem sobre a rganizacao e o provimento de agoes de sade para esse segmento da populagaa, na rede de servgos de sade. Nessa perspectiva,o eslabelecimento da relagaa causal ou do nexo entre um determinado evento de saide -dano ou doenga ~ individual cu coltvo ptencal ou instlado,e uma dada condo de trabalho consti a condigao basica para a implementacao das agdes de Saude do Trabalhador nos servgos de saude. De modo ‘esquematico, ese processo pode se iiclar pela dentficagao e conto dos fatres dersco para a sade presentes nos ambientes e condides de taba efau a partir do dagnostico, tralamento e prevengao dos danos, esdes ou ddoengas provocados pelo trabalh, no indviduo e no coletvo de trabahadores. /Apesar de fugit aos objetivos deste texto, ue trata dos aspectos patogenicos do trabalho, potencialmente produtor de sofimento, adoecimento © mort, ¢ importante assinalar que, na atualidade, cresce em importancia a valorizagao dos aspectos positivos e promotores de sauide, também presentes no trabalho, que devem estar contemplados nas praticas de saude. Neste captuo serao apresentados,resumidamente,aspectos concellais sobre as formas de adoecimento dos trabalhadores e de sua relagao como trabalho, alguns dos recursos einstrumentos aisponives par a invesigacao das relagdes satide-rabalho-doenca ¢ para o estabelecimento do nexo do danaidoenca com o trabalho ¢ as apdes docorrentes que devem ser implementadas. Ao final encontra-se relacionada uma bibliografia sugerida para 0 aprotundamento do tema 2.1 OADOECIMENTO DOS TRABALHADORES E SUA RELAGAO COM O TRABALHO 05 trabalhadores comparitham 0s peris de adoecimento e morte da populagao em gera, em funcao de ‘sua idade, género, grupo socal ou insertao em um grupo espectio de rsco. Além disso, 0s irabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como consequéncia da protssao que exercem au exerceram, ‘ou pelas condiqSes adversas em que seu trabalho ¢ ou fi realizado, Assim, 0 perfil de adoecimento © morte dos ‘rabalhadores resularé da amalgamagao desses fatores, que podem ser sinietzados em quatro grupos de causas (Mendes & Dias, 1999) ‘+ doengas comuns, aparentemente sem qualquer rela;ao com 0 trabalho, + doencas comuns (cronico-degeneratvas, infecciosas, neoplasicas, taumaticas, el.) eventualmente rmotificadas no aumento da frequéncia de sua ocorréncia ou na precocidade de seu surgimento em trabalhadores, sob determinadas condigGes de trabalho. A hipertensdo arterial em motorists de Gnibus Uurbanos, nas grandes cidades, exemplifca esta possivildade ‘+ doengas comuns que tém o especito de sua etilogia ampiado ou tomado mais complexo pelo trabalho. ‘Asma bronguica, a dermatte de contatoalérgica, a perda aulitivainduzida pelo rudo (ocupaciona) doencas musculo-esqueléics e alguns transtornos meniais exemplifcam esta posstbildade, na qual, em decorrenca do trabalho, somam-se (efelio ava) ou muliplicam-se (felt sinérgica) as condicoes provocadoras ou desencadeadoras destes quadros nasologicos + agravos & saude especiticos, titicados pelos acidentes do trabalho e pelas doencas profssionals, A sllcase e a asbestose exemplicam este grupo de agravos especies. Os res utimos grupos constituem a fara das doengas relacionadas ao abalho. Anatureza dessa elagao < sullmente disinta em cada grupo. O Quacto Il resume e exempifica 0s grupos das doencas relacionadas de acordo com a classcaeaa proposta por Schling (1984). Grupo |: doongas em que trabalho ¢ causa necessatia,tiplicadas pelas doengas profssionals, sro sensu, e polas intoxicacdes agudas de orgem ocupacional Gruro II doengas em que o tfabalho pode ser um fator de rsco, contbutvo, mas ndo necessétio, exemplificadas pelas doencas comuns, mals frequentes ou mals precoces em determinados grupos ocupacianase para as quais 0 nexo causalé de natureza eminentemente epidemioldgica. A hipertensdo arterial eas neoplasias malignas (canceres), em delerminados grupos ocupaclonais ou pofssbes, consttuem exemplo tipico Grupo il doencas em que o trabalho ¢ provocador de um distrbio latent, ou agravador de doenca jé estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa, tpficadas plas doencas alérgicas de pele e respiatria e pelos distirbios mentais, em determinados grupos ocupacianais ou profissdes, Ente 0s agravos espectics estdo incluidas as doencas profssionais, para as quais se considera que 0 trabalho ou as condigdes em que ele ¢ realizado consituem causa deta A relardo causal ou nexo causal édireta @ imediata. A eiminacdo do agente causal, por medidas de controle ou substicdo, pode assegurar a prevencao, ou soja, sua eliminacdo ou erradicacao. Esse grupo de agravos, Schiling |, tem, também, uma conce'tuacdo legal no ambito do SAT da Previdencia Social e sua ocorréncia deve ser notficada segundo regulamentacéo na esfera da Sauide, da Previdencia Sociale do Trabalho (Quadro ‘Ciassiricagao pas Doencas SeGunno sua RELAGAO COM 0 TRABALHO Categoria Exemplos Tinea por unto Taba como causa restr Soe Deets postions ugalanteacortacias Ober carne 1 Tabaha cme cnt, mas no necesio Deena do apr kronor Var dos mambces naires Bronqute crnica I~ Trabalho come provacade do um dstirbio Dermat de contatn alice Tater, ov agravado de doanga fa eslabeleisa Asma Doengas manais (bape Seng, 864 5 oultos dois grupos, Sching Ile Il so formados por doengas consieradas de etologia malipl, ou ‘causadas por maltiplos fatoes de risco, Nessas doengas comuns,o trabalho poderia ser entendido como um fator de 1sco, 04 seja, um atrbuto ou uma exposicao que estao associados com uma probabildade aumentada de ocorréncia ‘de uma doonga, nao necessariamente um fator causal (Last, 1998). Portanio, 2 caractrizacaoetil6gica ou nexo causal sera essencialmente de natureza epidemiologica, seja pela observacao de um excesso de frequéncia em determinados grupos ocupacionais ou profissdes, seja pela ampliagao quantilatva ou qualtativa do espectro de determinantes causais, que podem ser melhor conhecidos a part do estudo dos ambientese das condgoes de trabalho. Acliinacao dessesfalores de rsco reduz aincdéncia ou modifica 0 curso evolatvo da doenga ou agravo a saude, Classicamente, 0s fatres der'sco paraa saude e seguranga dos rabalhadores, presentes ou relacionados 420 trabalho, podem ser classticados em cinco grandes grupos: Fiscos: uid, vibraga, radlacaolonizante e nao onizante,temperaturas extremes (io cal), pressao almosftica anormal, entre outos; Quaacos: agentes e substancias quimica, soba forma liquda, gasosa ou de particulase poekas minerals e vegelas, comuns nos processos de trabalha (ver @ coluna de agentes eioligicas ou fatres de isco na Lista de Doencas Relacionadas ao Trabalho) Biotoaicos: virus, batéas,paraias, geralmente associados ao trabalho em hospitals, laboratiriose na agricutura © pecuaria (vera coluna de agentes etildgicos ou flores de rsco na Lista de Doencas Relaclonadas 20 Trabalo); Econtmos e Pstossoes: decortem da organizaedo ¢ gosto do trabalho, come, por exemplo: da ulizagaode cqupamentos, ‘maquinas e mobilarioinadequados, levando a posturas e posigdes incortetas; locals adaplados com mas crontaes de iaminaco,ventlagaoe de confrto para os vabalhadores rabalho em tunos e nota; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigencias de produvidade, relagoes de trabalho autos, falas no trelnamento esupervsao dos rabalhadore, entre outros Mecaacos ¢ oF Acpesres:igados & protegdo das maquinas, aan sic, ordem e mpeza do ambiente de trabalho, sinalizagao, rlulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes do trabalho, 22. RECURSOS F INSTRUMENTS PARA A INVESTIGAGAO DAS RELAGOES SAUDE-TRABALHO-DOENCA, 0s recursos ¢ instrumentos tecnicamente disponiveis para a investigagao das relagdes saide-trabalho- cdoenga estao sumariados no Quadro Il. Estao organizados e apresentados segundo o foco da investigagao, do dano celou dos fatores de risco, no individuo eno coletvo de abalhadores. Mais informagdes quanto aos aspectos conceltuais opetacionals, seus usos e limitagdes poderao ser encontradas na bibliorafia sugetda ao final do capitulo. E importante ressaltar que, para a investigagao das relagoes saude-trabalho-doenea, & imprescindivel Considerar 0 relalo dos Wrabalhadores, lant individual quanto coleivo. Apesar dos avangos e da solsicacao das ‘écricas para oestudo dos ambientes e condigdes de trabalho, muitas vezes, apenas os trahalhadores sabem descrever a8 reais condigdes, crcunstancias ¢ imprevistos que ocarrem no colidiana e sao capazes de explicar 0 adoecimento. Quadro IusTRUMENTos DE InvesTigagko DAS RELAGOES SaUDE-TRaBaLo-DoeNcA Natureza | Nivel de Aplicagao ‘Abordagem /instrumentos nica Hsia ciricaAnamese Ooypacona Individual corpo: toncalopens Exameslaboratss, provas funcionais provas inoonas Dano ou Doenga, —_________hevsineonas id - + Eatdos desctvos de mortage redade Coketvo Estudos opidomiolgios + Estudos anaes, foo caso-contoe, de coor prospectnos = revospecives + stud do posto ou estar 6 Vabalo, por mein da andisa eyorbiea de abiaae . ‘nada + Avallagdo ambiental qualtatva ou quaitava, de acrdo com as Fatores ov ferramentas oa Higere do Trabalho ‘Condi do + Estudo do posto ou estate do vabalho, por moo da and orgondica isco. Ge alvidede Cotevo + Avalingdo ambiental quantitative equaltava + Elborardo do mapa deriso da atvdade + Inqubitos colts No ambito dos servcos de saude,o principal instrumento para a investigacao das rlagoes saude-trabalho- doenca., portant, parao dlagnestica correto do dano para a saude eda elacdo etiolagica com o trabalho, érepresentado pela anamnese ocupacional. Lamentavelmente, na formagao médica, pouca ou nenhuma atencao é dada ao cdeservohimento dessa habidade, fazendo com que os profissionas tenham difculdade para utlizéla no dla-a-dia de trabalho. ‘Aanamnese ocupacionalfaz parte da entrevista médica, ue compreende ahistoraclinicaatual,ainvestiqarao ‘sobte 0s diversos sistemas ou pares, os antecedents pessoaise familiares, ahistria ocupacional,habitose estilo de vida, o exame fisicoe apropedéutica complementary, De acordo com a siuagao especiica, a exploragao das condicoes de exposicao a fatores de rsco para a ‘sadde presents nos ambientes e condigdes de trabalho, lovantadas a patr da entrevista com o pacienteltrabalhador, poderd ser complementada por meio da teratura técnica especialzada, da observacao direta do posto de trabalho, da _analse ergonomica da atvidade, da descrigdo dos produtos quimicos uiizados no processo de trabalho e darespectiva ficha toxiclagica oblida dretamente dos responsaveis pelo processo, como encairegados, gerentes, fabrcanies de Produtos e junto aos proprios trabalhadores. Ouvir 9 trabalhador flando de seu trabalho, de suas impressoes e sentimentos em relacao ao trabalho, de ‘como seu corpo reage no trabalho e fora dele, & de fundamental importancia para a identiicagao das relacoes saude- ‘sabalho-doenga. E a tradugao praica da recomendacaa feta em 1700 pelo médica italano Bernardino Ramazzini de ‘que todos os médicos deveriam perguntar a seus pacientes: Qual é a sua prfissa0? A realizacao da anamnese ocupacional deve estar incorporada a entrevista clinica ¢ seguir uma sistemalizagao para que nenhum aspectarelevante seja esquecido, por meio de algumas perguntas basicas: 0 que faz? Como fax? Com que produto ¢ insrumentos? Quanto faz? Onde? Em que condi¢oes? Ha quanto tempo? Como se sente © 0 que pensa sobre seu trabalho? Conhece outros trabalhadores com problemas semelhantes aos seus?” ‘Assim é possivel se ler uma idéia das condigdes de trabalho e de suas repercussoes sobre a sade do trabalhador. qual importancia deve ser dada as ocupacdes anteriores desempenhadas pelo trabalhador, paticularmente aquelas 38 quais 0 Lrabalhador dedicou mais tempo ou que ervolveram situacoes de maior risco para a saude, Varios roteros para a realizagao da anamnese acupacional estao disponivels, podendo ser adaptadas as necessidades elou paticularidades dos servcos de saide e da populacao trabalhadora alendida. Podem ser abreviados « eypandidos, ou focalizar algum aspecto particular, de acorda com as quelkas e o quacro do paciente, Um rotelro basico para a realzacao de uma anamnese ocupacional ¢ apresentado no Quadro V. ‘Anda que nao seja possive fazer um diagnéstico de certeza, a historia ocupacional calhida do trabalhador servrd para orientar 0 raciocinio clinico quanto & contribuigao do trabalho, alual ou anterior, na delerminago, na ‘evolugao ou agravamento da doenca. Em alguns casos, a historia ocupacional pode desvelar a exposicao 2 uma siluagao ou fator de isco para a saude presente no trabalho que, mesmo na auséncia de qualquer manifestacao clinica ¢ laboratorial, indica a necessidade de moritoramento ou vighancia, como no caso de um paciente que relala, na sua hisldra ocupacional, exposicao signifcativa ao asbesto, a silica ou a solventes arganicas, por exernpo, ‘Alem da acupacao alual, ¢ importante investiga as ocupacdes anteriores, dada a vaiablidade dos periodos de laténcia requeridos para o surgimento de uma patolagia relacionada ao trabalho: de algumas horas, como no caso cdeuma conjunthte por exposicao a iritantes quimicos ou para o desencadeamento de um quadro de asma ocupacional, ‘a perlodos superiores a 20 anos, coma no caso da silcose e de alguns canceres. Em algumas situacoes patculares pode ser uta realzacao da anamnese ocupacional de um grupo de trabalhadores que desenvolvem uma mesma avidade (qtupo operérlo Romagéneo), em uma adaptacao da melodologia «desenvolvda por potsionas de sade esindcalstas alanos, nos anos 80. Essa praca tem serevelado um importante instrumento de resgalee valorizagao do saber dos trabalhadores sobre s processos de rabaho, suas consequéncias para a saude ea identticacdo de esratégias visando a methoria das condigées de trabalho e saude. 23. O ESTABELECIMENTO DARELAGAO CAUSAL ENTRE O DANO OU DOENCAE 0 TRABALHO A decisao quanto &existenca de relacao causal entre uma doenca dlagnostcada ou suspetta € uma stuacao de trabalho ou ambiental & considerada por Dembe (1996) como processo social. Segundo Desolle, Scherrer & Truhaut (1975), a comprovacao deve basearse em “argumentos que perritam a sua presuncdo, sem a existéncia de prova absoluta™. A nocdo de presuncao na legislacao de diferentes pafses visou a benefciaro trabalhador e a evtar dliscussoes intermindvels sobre essas relacoes Como diretriz basica, a resposta postva a maioria das questdes apresentadas a seguir auxlia no estabelecimento de relagao etolégica ou nexo causal ene doenga e trabalho ‘+ natureza da exposicao: 0 agente palogénico pode ser identificado pela historia ocupacionalefou pelas informacoes colidas no local de trabalho elou de pessoas familirizadas com 0 ambiente ou local de trabalho do trabalhador? ‘+ especiicidade da relacao causal e a forca da associacdo causal: 0 agente patogenico ou o fator de 1isco pode estar contiouindo sigiicaivamente entre os fatores causals da doenca? + tipo de relacao causal com 0 trabalho: de acordo com a Classificacao de Schilling, o trabalho é considerado causa necessétia (Tipo ? Falordersco contrbutvo de daenca de etologia mulicausal (Tipo IN? Falor desencadeante ou agravante de doensa preexistente (Tipo I? No caso de doengas relacionadas 2o trabalho, do tipo Il, s outras causas,nao-acupacionai, foram devidamente analsadas ¢ hierarquicamente consideradas em relagao as causas de nalureza ocupacional? «grav ou intensidade da exposicao: & compativel com a producao da doenca? tempo de exposicao: ¢ sufciente para produzi a doenca? tempo de latncia: & suficiente para que a doenca se instale e manifeste? regisros anteriores: exstem registos quanto ao eslado anterior de saude do tabahador? Em caso postvo, esses contibuem para o estabelecimento da relacdo causal ene oeslado alual eo trabalho? + evidencias epidemioligicas:existem evidéncias epidemioligicas que reorcam a hipotese de relacao causal entre a doenca ¢ a trabalho presente ou pregresso do segurado? 0 Quadro IV mostra as etapas da investigacao da relacao causal entre doenga e trabalho apresentadas a ‘seguir, sinletiza as elapas que podem auxlar o médico a idenificar os elementos de sustentacao para sua hipdtese iagndslica © a decisao quanto & relacdo causal com o trabalho. Ao mesmo tempo exempiiica os procedimentas a serem adolados na abordagem do paciente, de mado a faciltar sua conclusao e assegurar-se de seu acerto. 0 reconhecimenta da relacdo eoligica entre 0 danoldaenca eo trabalho tem, requenterente, impicacdes previdenciaras, trabalhistas, de responsabildade civil 2s vezes criminal, além de desencadear aces proventivas. Uma investigaga0 incompleta ou displicente pode acartetarsérios prejulzas para o paciente ‘A identiicagao ou comprovacao de efeitos da exposicao acupacional a falores ou sltuacdes de risco, parlcularmente em suas fases mais precoces, pode exigir a reaizacao de exames complementares especifcos: {oxicologicos, eletromiografcos, de imagem, clricas especialzados, provas funcionalsrespraliras, audiometia,enre ‘outros. Deve-se estar alento para os culdadas necessérios a correta cole, armazenamento e transporte do material bioldgico a ser enviado para exame ou para sua realzacao. Por exemplo, para a realizagao de uma audlometia é necessério o repouso acustico pré-exame. Para a visualizacao de alleracoes radioléglcas pulmonares, em caso de uma suspeita de pneumoconiose, & necessario que o exame sea filo segundo a técnica padronizada pela OIT, para que 0s resultados possam ser considerados. 0s exames foxcolgicas so uma importante ferramenta auxllar da clrica para avalacao da ntoxicacao pelas substancias qumicas presentes no trabalho, S40 ulizados para confer casos chicamente suspetos, detectar novos casos de exposigao,contoar a qualidade dos produos ou alimentos potencalmente associados a exposicao © coniolar 0s niv's de poluentes nos ambienies e os nivel boldgcos de exposigao aos agentes patogénico. Porém, geralmente tam custo elevadoe exigem aboratrios bem equipados ¢ de boa qualidade analica. Os resultados dos ‘examesioxicoldgcos tém valor relatvoe devem sempre ser interpretados em esta corelaa com a clinica (Camara & Galveo, 1995) ‘Aprincipallimtacao ao seu emprogo, entetanto,decorre do desprepara e desaparelhamento das laboratrios darede de servigas de saude para sua realizacao. Outrasdificuldades referer-se as stuagdes de expasigdes mulipla, com superposicao de quadrosclinicos e resultados incaracterisicas e inconclusvos. ‘Armontrizaao bioligica de trabalhadores expostos a substancias quimicas potencalment lesvas para a ‘sade, por meio da realizagao de exames txicolgicos, ¢ importante para os procedimentos de vigncia. A legistagao ‘rabalisa, por melo da Norma Reguamentadora (NR) n° 7, da PortaalMTD n* 3214/1978, ¢ seus complementos, estabelece as situagdes, as condicdes ¢ 08 pardmetos, ou Indicadores Bioldgicos, para sua realzacdo e interpreta. Enire esses parametrs esto oIncice Biokigco Maximo Perio (IBMP) eo Valor de Referéncia da Normaliade (VRN). ACW Quadro IV tapas 0a Investicagéo De Nexo Causat entre Doenca & TRABALHO. + Aendimento istiea Ocypacional i aor ou stuacto Histtaclinica & de iso onticados oearactetzadee? compatvelcom DPIDRT'? ho sm si Niko. Evidncia de histieadinca Histia Ocupeciona. a fatores ou stuagso ‘arpatvel com DPIORT™? {de sco idnticads ocaracterzados’ Niko sv Niko Dados epdaiokigics eau procedimanios camara wir sb ima ‘a hpblese de exposigao elo de dan compatval com OPIORT? sm NAO DPIORT Diagnésco Quad asco, mist, tice siraromico, evolu ncarater sia DNo™ Sensing | indterencedo * Sehiting tou Exclus causas Exchir casas rndo-ocupaconas ‘cupacioals CCondusto * DAR ong poferealou ena cera a ab) ONO Gren ccupcinah Para a comprovacdo dlagndstica © estabelecimento da relacao da doenga com o trabalho, podem ser necesséras informacdes complementares sobre os fatores dersco, identiicados apart da entrevista com o pacente No caso de rabalhadores empregads, essas informagdes poderao ser solitadas ao empregadr, como os registros. de estudose levantamentos ambientais, qualtativos ou quantaios, contdos no Programa de Prevenco de Riscos ‘Ambienais(PPRA), eto por exigencia da NR 9, da PotaialMTb 2 3.214/1978, Também podem ser ues 0s esutados de avaliagdes clinica elaboratoriis realzadas para o Programa de Controle Médico de Saude Ocupacianal (PCMSO), ‘em cumprimento da NR 7, da mesma portaria referda anterirmente,e reisros de fscalizacées realzadas pelo poder pablic, Entietanto, na grande malotia dos casos, 0 médico ou a profisional de saude que atende ao trabalhador tem muita difculdade para conseguir as informagoes necessaras para completar a dlagndstico, porque o empregador 1ndo cumpre a leislagao ou as iformacbes nao exislem, perderam-se ounao sao confavels. Nesses casos, aestimaliva dda exposipao aos flores de rsco pode ser flta por mela da identiicacaa das larefas mats frequentes, das exigéncias ‘emtermos de esforcofisico, psturas,gestos e movimentos, descr de produtos usados, com respectivas quantidades «tempo de uso, presenca ou nao de cheiros elou interferéncias em alvidades (por exemplo, ruido e comunicaga0), numero de pecas produzidas, intensidade e formas de controle derimos de trabalho, inleracoes existenles com outras {arefas,imprevstase incidentes que podem aumentar as exposigdes, dados do ambiente isico, como tipa de instalacao, layout, contaminacao por conligudade, ruido, emanacoes, produtos intermedi, ventlagao, medidas de protecao coletvas e individuals Ente as principais difculdades para o estabelecimento do nexo ou da relagao trabalho-doenga estao: ‘© auséncia ou imprecisao na identlicagao de flores de isco eu situacdes a que a trabalhadior esta ou esleve exposto, polencialmente lesivas para sua sade; auséncia ou imprecisao na caracterizagao do potencial de isco da exposicao; conhecimento insuficiente quanto 20s efellas para a sade associadas com a exposi¢ao em questto desconhecimento ou nao-valarzacao de aspectos da historia de exposicdo e da clinica, js descritos ‘como associados ou sugestivos de doenca acupacional ou relacionada ao trabalho: ‘© necessidade de métodas propedeulicas e abordagens por equipes muliprofisionals, nem sempre cisponive's nos servigas de sade. E importante lembrar que, apesar da importancia da abordagem mutiprossional para a aengao a saude do ‘tabalhadar, estabelecimento da relacdo causal ou nexo ténico entre @ doenca e o trabalho ¢ de responsabiidade do médica, que deverd estar capactado para fazé-Io. Essa atrbicao est disciplinada na ResolucaolCFM n* 1488/1988 De acordo com o artgo 2 dessa Resolucdo, para o estabelecimento da relacao (nexo) causal entre os transtomos de ‘aude es atvdades do abalvador,além do exame ano ico e mental) ¢exames complementares, quando necessato, deve 0 mético considera: ‘© alistoria clinica ¢ ocupacional, deisiva em qualquer dlagndsticoefou investigaco de nexo causa estuda do local de trabalho estud da organizacao do trabalho; 0s dados epidemioligicos; a literatura atuakzada 2 ovorréncia de quadro clnico ou subclnico em trabalhador exposto a condigdes agressivas a identiicacao de riscosfsics, quimicos, bioligicas,ergondmicos, de acidentes e autos; © depoimento e a experiencia dos trabalhadores; 0s conhecimentos e as praticas de outras dscipinas e de seus profssionas, sejam ou nao da area de saude Finalizando, é importante destacar que o médico e a equipe de saude responsavels pelo atendimento de ‘rabalhadores dever buscar um elacionamenta de cooperacao com os colegas envolvdos com o paciente, na empresa, ‘em outlos servigos de sade e com os peritos da Previdéncia Social. Entretanto,considerando anatuteza frequentemente confltuasa dessas relagdes, é aconselhavel que todos os procedimentos sejam registrados e bem documentados. Quadro V Exempco ot Roreiko PARA ANAMNESE OCUPACIONAL eentitcagao: Nem: Endorege Natura: Data do Nassiment: ade: Prose: ‘Aidode atl ‘+ entificaao da empresa edo sna de rabalhadros (nome e endreg). + Processo de produso: matérias-prinas,insrumentos # maquina, processos aailares, pratt nal, subproduto «residues, Arograma da producto ‘+ Organizagio do trabalho, contrato de trabalho, sali, joa di, pausas, horas extras ras, relaconamento com _colegas ches Pecepro do trabahsdor sobre seu trabalho, grav de salsar8o,mecanismos de conivle do rio ‘da produ, Insatagbes da empresa, rea fica, tipo de consruso,velagdoeluminagdo. Gongs de conoroehglene(banheros, Iavatiros,bebedoures, vest, refer, laze, ec) + Descrgdo da fungdo ou do posto de trabalho em um da pico de abso: 0 que fz, como faz, oom que az, usr faz? Presenca de floes de isco para sade: Fscos, quimioos, bilbgicos, egondmicos, de acidentese outos. Medias de protege clave individual: exstnca,adequago, ulizasaoe eccia em rela as scos. ‘+ Prcopeo do tabatador sobre seu trabalho relacionamento com chef clogs. ‘+ Recursos do sae: reatzacio de exames pé-atmissional, peice dmissional,aluaglo do SESMT eda Comissdo Interna de Prevengdo de Acdentes (CIP, rcu'sos de salde plano de sade, te. Alividadesantoores ‘As mosmas quotes devorb ser porguradas sobre as alvidades antares mais sigifeatas ato poa prosenga de fatores de risco quanto pol drarSo da expsicg, -Aspecios anbintis eleretes&habtacio anlar slua,covpag dos outros menos da fail; hobbies (ture, ‘esoutura, armas de ogo, ceric, jarinagem, ot); aclidades de saneamento basco (abastecment de agua, ‘esgotamento sani, cole de residue sds, te), 24 AGOES DECORRENTES DO DIAGNOSTICO DE UMADOENCAQU DANO RELACIONADO AO TRABALHO Uma vezestabelecida aretagao causal ounexo entre a doenga e o trabalho desempenhado pelo trabalhador, ‘© profssional ou a equipe responsavel pelo alendimento deverd assegura: ‘© actienlagao aotrabalhador e a seus familiares, quanto a0 seu problema de saude e os encaminhamentos. ecessaios para a ecuperacao da saude e melhoria da qualidade de vida ‘© afastamento do trabalho ou da exposigao ocupacional, caso a permanéncia do rabalhador represent Um fator de agravamento do quadro ou retarde sua melhora, ou naqueles nos quais as lmitagoes funcionais impegam 0 trabalho estabelecimento da terapeutica adequada, incluindo os procedimentos de reabiltacao: solcitagao a empresa da emissao da CAT para o INSS, responsabilizando-se pelo preenchimento do Laudo de Exame Médico (LEM). Essa providencia se apica apenas aos trabalhadores empregados e sseguradios pelo SATIINSS. No caso de funciandtios pablcos, por exemplo, devem ser obedecidas as rormas especificas (ver captul 5); ‘© notficagao a autoridade santara, por melo dos instrumentos espectficos, de acordo com a legislagao da aude, estadual e municipal, vabilizando os procedimentos da vgilancia em saude. Tambem deve ser comunicado & DRTIMTE e ao sindicato da categoria a que o trabalhador pestence ‘Adcisto quanto a0 afastamento do trabalho ¢ dificil, exigindo que inumeras variaveis de cardter médica © social sejam consideradas: ‘© 05 casos com incapacidade total eou temporaria dever ser afastados do trabalho até melhora clinica, ‘ou mudanga da funeao e afastamento da situagao de rsco; ‘© no caso do rabalhador ser mantido em alvidade, devem ser ideniiicadas as alteralivas compatveis com as limitagoes do pactente e consideradas sem isco de ileferéncia na evolucao de seu quad de sade; ‘© quando a dano apresentado ¢ pequeno, ou existem allidades compativels com as imltacbes do paciente € consideradas sem risco de agravamento de seu quadra de saude, ele pode ser remanojado para coutraalividade, em tempo parcial ou total, de acordo com seu estado de saude; ‘© quando houver necessidade de afastar o paciente do trabalho e/ou de sua atvidade habitual, o médico deve emit relatrio juslifcando as razbes do afastamento, encaminhando-o ao médico da empresa, ‘ou ao responsavel pelo PCMSO. Se hower Indiclos de exposicao de outros trabalhadores, 0 fato vera ser comunicado & empresa e soliitadas providéncias corretvas ‘Atengo especial deve ser dada a deciso quanto ao reloro ao trabalho. € importante avaiar se a empresa ‘04 a insttuigdo oferece programa de retorno ao trabalho, com oferta de avidades compativels com a formacao @ a fungao do trabalhador, que respeite suas eventuais imitagdes em relagao a0 estagio pré-esdo e prepare colegas e chelas para apotaro trabalhador na nova situacao, alargando a concepcao de capacidade para o trabalho adotada na ‘empresa, de modo a evlar a exclusao do trabalhadr no seu local de trabalho. Consderando o carte de construc da Area de Sai do Trabalhador,¢ importante que os pofssionais dos servigas de said estejam imbudos da responsabildade de producaoe dvlgacao do conhecimento acumulado, 25 BIBLIOGRAFIAE LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIDAS [ALMEIDA LV. Oicuads no gnc de doengasacupaknas edo taba, Joma Basle de Medina» 74, 112, p. 2548, 998 ATLAS. Segurangae medina do taba: Patria n° 3274187848 ed So Pal: Aas, 2001 BURGESS, W. A Ientcaran de posses sos a sade oo rabahashy nos desosprocessos dusts els Heo BUSCHINELL| J TP; ROCHA, LE. RIGOTTO, RM. (Eds). sto & taba de gene? Pepa: Vozs, 1994 ‘CAMARA, V; GALVAO, LA. Apatlgla do trabalho numa prspctva abl. MENDES, 8. (Ed), Pale do tabato Rl do Jara: nee, 1995, p 609-630. DEMEE,E. Occupation an dase: how soci factors aft the conception of waked asrders. New Haven: Vale Univers, 1996 DESOILLE H: SCHERRER. J: TRUMAUT, R. Pris db mained trava Pas: Mason, 1975, p. 290-103, INTERNATIONAL LABOUR OFFICE (LO). Encyelpaoda of occupational hat and sf 4 ed. Geneva: LO, 198, GO, 1995, LAST. JM iesonay of epidriogy.3 ed Ono: Oxted iver, 195. MENDES, R Aspcias ancetals d palalgla do abaho. In: MENDES. (E4).Paioga do taba. Rode Jaca: Ahenc, 1995, pai. MENDES, R; DIAS, EC. Saude ds tabathadees. 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Saeand [OSH - Nana isu for Occupational Safety and Heth - Puls Heah Serie, 467 Cohebla Parkway -Cnclna Oho 45226 USA ‘0PAS -organizayo Par-Arusteana da SansolOMS ~ Ooanzacao Mun da SaudeReqresesias anno Bras Setar de Ebaadas Nr, 400 ~ Lote 19, Basta - DF, CEP. 70,300.400, UUNEPIRPTC ~ ResistoIniemeconal de Produtos Qumicos PotenciamenteToncos. mal: eptcsunep.ch

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