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DIREITO

AMBIENTAL

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada

Ampliada
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CADERNO DE DIREITO AMBIENTAL
APRESENTAÇÃO............................................................................................................................. 11
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ........................................................................................................... 12
1. REFORMULAÇÃO DOS VALORES REFERENTES AO MEIO AMBIENTE ............................ 12
2. EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO BRASIL ........................................... 12
2.1. FASE INDIVIDUALISTA ...................................................................................................... 12
2.2. FASE FRAGMENTÁRIA ..................................................................................................... 12
2.3. FASE HOLÍSTICA ............................................................................................................... 13
3. EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE INTERNACIONAL ................................. 13
3.1. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO (1972) .................... 13
3.2. RELATÓRIO NOSSO FUTURO COMUM (1987) .............................................................. 14
3.3. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (ECO/92
OU RIO/92)..................................................................................................................................... 15
3.3.1. Agenda 21 .................................................................................................................... 15
3.3.2. Declaração do Rio ...................................................................................................... 15
3.3.3. Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima ..................................................... 15
3.3.4. Protocolo de Kyoto .................................................................................................... 15
3.3.5. Convenção sobre Diversidade Biológica................................................................ 16
3.3.6. Declaração de Florestas ........................................................................................... 16
3.4. CÚPULA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RIO+10 – 2002) . 16
3.5. CÚPULA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RIO+20 – 2012) . 16
3.6. ACORDO DE PARIS ........................................................................................................... 17
3.7. AGENDA 2030 PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................... 18
4. OBJETO DO DIREITO AMBIENTAL ......................................................................................... 19
5. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O MEIO AMBIENTE .............................................. 20
5.1. CONCEITO (LEGAL) DE MEIO AMBIENTE ...................................................................... 21
5.2. CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (JOSÉ AFONSO DA SILVA) ............................ 22
5.2.1. Meio ambiente natural (art. 225, §1º CF/88 c/c art. 3º, V Lei 6.938/81) ..................... 22
5.2.2. Meio ambiente artificial (ou construído) ...................................................................... 23
5.2.3. Meio ambiente cultural (art. 216 CF/88) ...................................................................... 24
5.2.4. Meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII c/c art. 7º, XXII e XXIII CF/88) .................. 25
5.3. OUTRA CLASSIFICAÇÃO DO ART. 225 DA CF ............................................................... 26
5.4. ANÁLISE DO ART. 225 CF/88 ........................................................................................... 27
5.4.1. Art. 225, caput .............................................................................................................. 27
5.4.2. Art. 225, § 2º CF/88 ..................................................................................................... 29
5.4.3. Art. 225, § 1º CF/88 ..................................................................................................... 29
5.4.4. art. 225, §3º CF/88 ....................................................................................................... 40
5.4.5. Art. 225, §4º, da CF/88 ................................................................................................ 45
5.4.6. Art. 225, §5º, da CF ..................................................................................................... 46
5.4.7. Art. 225, §6º CF/88 ...................................................................................................... 46

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5.4.8. Art. 225. §7º, da CF/88 ................................................................................................ 46
6. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS EM MATÉRIA AMBIENTAL ...................................... 48
6.1. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA .................................................................................. 48
6.2. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA PARA LICENCIAMENTO AMBIENTAL: A
INCIDÊNCIA DA LC 140/11 ........................................................................................................... 48
6.3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA .......................................................................................... 50
7. PRINCÍPIOS DO MEIO AMBIENTE .......................................................................................... 54
7.1. PRINCÍPIO DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO UM
DIREITO FUNDAMENTAL (ART. 225 CF/88 C/C PRINCÍPIO 01 DA DECLARAÇÃO DO
RIO/92) ........................................................................................................................................... 54
7.2. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ART. 225 E 170, III E VI CF/88
C/C PRINCÍPIO 4 DA DECLARAÇÃO DO RIO/92) ...................................................................... 56
7.3. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU RESPONSABILIDADE
ENTRE GERAÇÕES OU EQUIDADE (ART. 225, IN FINE CF/88 C/C PRINCÍPIO 3 DA
DECLARAÇÃO DO RIO/92) .......................................................................................................... 58
7.4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE (ART. 5º, XXII E XXIII
CF/88) ............................................................................................................................................. 58
7.5. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ............................................................................................ 60
7.6. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (PRINCÍPIO 15 DA DECLARAÇÃO DO RIO/92) ............. 61
7.7. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (PPP - PREVISÃO NO PRINCÍPIO 16 DA
DECLARAÇÃO DO RIO/92) .......................................................................................................... 62
7.8. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR .............................................................................. 64
7.9. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR (PPR - ARTIGO 6º, INCISO II, DA LEI
12.305/2010) .................................................................................................................................. 65
7.10. PRINCÍPIO DA ECOEFICIÊNCIA (PEE - O ARTIGO 6º, INCISO V, DA LEI
12.305/2010) .................................................................................................................................. 66
7.11. PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO .......................................................................................... 67
7.11.1. Princípio da Informação ............................................................................................... 67
7.11.2. Princípio da Participação Comunitária ........................................................................ 69
7.11.3. Princípio da Educação Ambiental (art. 225, §1º, VI CF/88 c/c Declaração do Rio/92 –
Princípio 19) ................................................................................................................................ 70
7.12. PRINCÍPIO DA UBIQUIDADE E PRINCÍPIO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NO
PROCESSO DECISÓRIO DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO (DECLARAÇÃO DO
RIO/92 – PRINCÍPIO 17). .............................................................................................................. 71
7.13. PRINCÍPIO DO CONTROLE OU DO LIMITE DO POLUIDOR PELO PODER PÚBLICO
(ART. 225, §1º, V CF/88) ............................................................................................................... 71
7.14. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO (DECLARAÇÃO DO RIO/92 - PRINCÍPIOS 2, 5 E 7 -
E ARTS. 77/78 DA LEI 9.605/98). ................................................................................................. 72
7.15. PRINCÍPIO DO NÃO RETROCESSO OU DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO ............ 73
SISNAMA (SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE) — LEI 6938/81 ...................................... 75
1. CONCEITO DE SISNAMA ......................................................................................................... 75
2. COMPOSIÇÃO DO SISNAMA ................................................................................................... 75
2.1. ÓRGÃO SUPERIOR (CONSELHO DE GOVERNO) ......................................................... 75
2.2. ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO (CONAMA) .................................................... 75

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2.2.1. Atos do CONAMA ........................................................................................................ 75
2.2.2. Composição do CONAMA ........................................................................................... 76
2.2.3. Competência do CONAMA .......................................................................................... 76
2.3. ÓRGÃO CENTRAL (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE) ................................................ 78
2.4. ÓRGÃOS EXECUTORES................................................................................................... 78
2.4.1. IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
78
2.4.2. ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Dec.
99274/90) .................................................................................................................................... 79
2.5. ÓRGÃOS SECCIONAIS (ÓRGÃOS ESTADUAIS E OUTROS ENTES)........................... 79
2.6. ÓRGÃOS LOCAIS .............................................................................................................. 79
3. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (art. 2º, Lei. 6.938/81)........... 79
4. OBJETIVO GERAL DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE .................................... 80
5. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (ART. 9º L. 6938/81) .... 80
5.1. ART. 9º ................................................................................................................................ 80
5.2. ANÁLISE DOS INCISOS DO ART. 9º DA LPNMA (Lei 6.938/81) ..................................... 81
5.2.1. Inciso I: padrões de qualidade ambiental .................................................................... 81
5.2.2. Inciso II: zoneamento ambiental .................................................................................. 81
5.2.3. Inciso III: avaliação de impacto ambiental................................................................... 82
5.2.4. Inciso IV: licenciamento ambiental .............................................................................. 82
5.2.5. Inciso V: incentivos ao empreendedor ........................................................................ 83
5.2.6. Inciso VI: criação de espaços territoriais especialmente protegidos .......................... 83
5.2.7. Inciso VI: criação do SINIMA ....................................................................................... 84
5.2.8. Inciso VIII: Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa
ambiental .................................................................................................................................... 84
5.2.9. Inciso IX: cominação de penalidades disciplinares ou compensatórias ..................... 84
5.2.10. Inciso X: relatório de qualidade do meio ambiente ..................................................... 84
5.2.11. Inciso XI: garantia de prestação de informações relativas ao meio ambiente ........... 85
5.2.12. Inciso XII: cadastro de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de
recursos ambientais.................................................................................................................... 85
5.2.13. Inciso XIII: instrumentos econômicos .......................................................................... 86
6. EPIA/RIMA (ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL / RELATÓRIO DE IMPACTO DO
MEIO AMBIENTE) ............................................................................................................................. 88
6.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 88
6.2. BASE LEGAL: ART. 225, §1º, IV CF/88 E RESOLUÇÃO Nº 1/86 CONAMA. .................. 89
6.3. FUNÇÃO DO EPIA.............................................................................................................. 90
6.4. LICENÇA DE OPERAÇÃO CORRETIVA OU RETIFICADORA (LOC) ............................. 90
6.5. CONDICIONANTES DO EPIA/RIMA (HERMAN BENJAMIN) ........................................... 91
6.5.1. Prevenção aos danos ambientais ............................................................................... 91
6.5.2. Transparência administrativa....................................................................................... 92
6.5.3. Consulta aos interessados .......................................................................................... 92
6.5.4. Motivação das decisões ambientais ............................................................................ 93

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6.6. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO 01/86 DO CONAMA ART. 1º ................................................ 93
6.6.1. Impacto ambiental ........................................................................................................ 93
6.6.2. Saúde, segurança e o bem-estar da população: ........................................................ 94
6.6.3. Condições (atividades) sociais e econômicas ............................................................ 94
6.6.4. Biota ............................................................................................................................. 94
6.6.5. Condições estéticas e sanitárias do meio ambiente ................................................... 94
6.6.6. Qualidade dos recursos ambientais ............................................................................ 94
6.7. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO 01/86 DO CONAMA ART. 2º ................................................ 94
6.8. REQUISITOS DO EPIA/RIMA (REQUISITOS MÍNIMOS – RES. 01/86 CONAMA) ......... 96
6.8.1. Requisitos de conteúdo (diretrizes gerais – Art. 5º da RES 01/86 CONAMA) ........... 96
6.8.2. Requisitos técnicos (Art. 6º da RES 01/86 CONAMA)................................................ 98
6.8.3. Requisitos formais (art. 7º , 8º e 9º da RES 01/86 CONAMA) ................................. 100
6.8.4. Quadro esquemático dos requisitos do EIA .............................................................. 102
6.9. AUDIÊNCIA PÚBLICA (RESOLUÇÃO 09/87 CONAMA)................................................. 103
6.9.1. Introdução .................................................................................................................. 103
6.9.2. Legitimados para solicitar audiência pública ............................................................. 103
6.9.3. Vinculação do órgão licenciador à audiência pública ............................................... 104
6.10. VINCULAÇÃO DO ÓRGÃO LICENCIADOR AO EPIA/RIMA ...................................... 104
6.10.1. Vinculação do órgão licenciador à REALIZAÇÃO do EPIA/RIMA ............................ 104
6.10.2. Vinculação do órgão licenciador ao RESULTADO do EPIA/RIMA........................... 105
7. LICENCIAMENTO AMBIENTAL (LC 140/11 + L.6938/81 C/C RESOLUÇÃO 237/97
CONAMA) ........................................................................................................................................ 105
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 105
7.1. CONCEITO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL ............................................................. 106
7.2. NATUREZA JURÍDICA DA LICENÇA AMBIENTAL......................................................... 106
7.3. LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS ................................................................................... 106
7.3.1. Licença prévia ............................................................................................................ 106
7.3.2. Licença instalação ..................................................................................................... 107
7.3.3. Licença operação ....................................................................................................... 107
7.4. COMPETÊNCIA NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................... 107
7.4.1. Introdução .................................................................................................................. 107
7.4.2. Licenciamento ambiental no Brasil depois da LC 140/2011 ..................................... 108
7.4.3. Competência administrativa dos entes federativos em matéria ambiental .............. 108
7.4.4. A importância do licenciamento ambiental e a Resolução 237 do CONAMA .......... 108
7.4.5. Advento da Lei Complementar 140/2011 .................................................................. 108
7.4.6. Competência para o licenciamento ambiental atual ................................................. 109
7.4.7. Demora e custo do licenciamento ambiental ............................................................ 110
7.4.8. Atividade suplementar, subsidiária e fiscalização pelos Órgãos Ambientais ........... 110
7.4.9. Responsabilidade administrativa vinculada ao licenciamento ambiental: art. 17 da LC
140/11 112
7.4.10. Jurisprudência sobre competência ambiental ........................................................... 114

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7.5. RESOLUÇÃO 237/97 CONAMA....................................................................................... 114
7.6. RESCINDIBILIDADE DAS LICENÇAS AMBIENTAIS OU RETIRADA............................ 116
7.6.1. Retirada temporária ................................................................................................... 116
7.6.2. Retirada definitiva (art. 19 Resolução 237/97 CONAMA) ......................................... 116
PROTEÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................................... 118
1. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP – LEI 12651/12 – NOVO CFLO) ............ 118
1.1. CONCEITO DE APP ......................................................................................................... 118
1.2. ESPÉCIES ......................................................................................................................... 118
1.2.1. APP por força de lei ................................................................................................... 119
1.2.2. APP por ato do Poder Público (Art. 6º CFLO) ........................................................... 123
1.2.3. APP atípicas ............................................................................................................... 123
1.3. INTERVENÇÃO EM APP .................................................................................................. 123
1.3.1. Hipóteses de utilidade pública ................................................................................... 124
1.3.2. Hipóteses de interesse social .................................................................................... 124
1.4. REGRAS PARA INTERVENÇÃO OU SUPRESSÃO EM APP (PROCEDIMENTO
PRÓPRIO) .................................................................................................................................... 124
2. RESERVA LEGAL FLORESTAL (RLF – Art. 3º, inc. III CFLO) .............................................. 125
2.1. CONCEITO........................................................................................................................ 125
2.2. REGIME JURÍDICO .......................................................................................................... 125
2.3. MANEJO DA RESERVA LEGAL FLORESTAL ................................................................ 127
2.4. LOCALIZAÇÃO DA RESERVA LEGAL ............................................................................ 129
2.5. REDUÇÃO/AMPLIAÇÃO DA RESERVA LEGAL ............................................................. 130
2.6. DA EXPLORAÇÃO FLORESTAL ..................................................................................... 134
2.7. DAS ÁRVORES IMUNES AO CORTE (ART. 70, inc. II DO CÓDIGO FLORESTAL)..... 136
3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (LEI 9.985/00 – LEI DO SISTEMA NACIONAL DAS
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - LSNUC) .................................................................................. 136
3.1. BASE LEGAL .................................................................................................................... 136
3.2. CONCEITO........................................................................................................................ 137
3.3. DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ..................................... 137
3.3.1. Espécies de Unidades de Conservação ................................................................... 137
Criação da Unidade de Conservação ...................................................................................... 137
3.3.2. Composição (art. 6º L.9985/00) ................................................................................. 138
3.4. ESTUDO DAS ESPÉCIES DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (quanto ao seu objetivo,
domínio e características) ............................................................................................................ 138
3.4.1. Das Unidades de Conservação de Proteção Integral ............................................... 139
3.4.2. Das Unidades de Conservação de Uso Sustentável ................................................ 140
3.5. PLANO DE MANEJO ........................................................................................................ 145
3.5.1. Conceito ..................................................................................................................... 145
3.5.2. Conteúdo do Plano de Manejo .................................................................................. 145
3.6. CONSELHOS NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .................................................... 147
3.7. MOSAICO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (ART. 26 DA LEI 9.985/00) .................. 148

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3.8. PESQUISA CIENTÍFICA NAS UC .................................................................................... 148
3.9. COMPENSAÇÃO AMBIENTAL (ART. 36 DA LEI 9.985/00) ........................................... 150
3.10. POPULAÇÕES TRADICIONAIS ................................................................................... 151
3.11. DESAPROPRIAÇÃO E INDENIZAÇÃO (ART. 45 DA L.9985/00) ............................... 152
3.12. RESERVA DA BIOSFERA (ART. 41 DA L.9985/00) .................................................... 152
4.1. CONCEITO........................................................................................................................ 153
4.2. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................. 153
4.3. OBJETO ............................................................................................................................ 153
4.4. OBJETIVO (ART. 6º DA L. 11.428/06) ............................................................................. 154
4.5. ALGUNS CONCEITOS ..................................................................................................... 154
4.5.1. Pequeno produtor que vive na Mata Atlântica (art. 3º, I) .......................................... 154
4.5.2. População Tradicional (art. 3º, II L.11.428/06) .......................................................... 155
4.6. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA ...................................................... 155
4.7. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA EM ÁREA RURAL........................ 155
4.7.1. Da vegetação PRIMÁRIA em ÁREA RURAL ............................................................ 156
4.7.2. Da vegetação SECUNDÁRIA em ÁREA RURAL ..................................................... 156
4.8. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA EM ÁREA URBANA ..................... 157
4.8.1. Da vegetação primária ............................................................................................... 158
4.8.2. Da vegetação secundária .......................................................................................... 158
4.9. DA COMPENSAÇÃO AMBIENTAL (ART. 17 L.11.428/06) ............................................. 159
4.9.1. Vedações ao corte e supressão de vegetação primária e secundária em estágio
avançado e médio de regeneração (art. 11 da L.11.428/06) .................................................. 161
5. LEI DE GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS (LGP - L.11.284/06) ..................................... 163
5.1. CONCEITOS ..................................................................................................................... 163
5.1.1. Florestas Públicas ...................................................................................................... 163
5.1.2. Recursos florestais .................................................................................................... 164
5.1.3. Manejo florestal sustentável ...................................................................................... 164
5.1.4. Concessão florestal ................................................................................................... 164
5.1.5. Unidade de manejo .................................................................................................... 165
5.1.6. Lote de concessão florestal ....................................................................................... 165
5.2. DA EXPLORAÇÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS NO BRASIL ....................................... 165
5.2.1. Da criação de florestas nacionais, estaduais e municipais e sua gestão direta (art. 17
da Lei 9.985/00 c/c art. 5º da Lei 11.284/06) ........................................................................... 165
5.2.2. Da destinação de florestas públicas às comunidades tradicionais (art. 6º
L.11.284/06) .............................................................................................................................. 166
5.2.3. Da concessão florestal, através de processo licitatório (art. 7º ao 9º da L.11.284/06)
167
5.3. DO PROCESSO DE OUTORGA DE CONCESSÃO FLORESTAL ................................. 169
5.3.1. Regras gerais ............................................................................................................. 169
5.3.2. Objeto da concessão florestal ................................................................................... 169
5.3.3. Licenciamento ambiental na concessão florestal...................................................... 170

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5.3.4. Da habilitação para o processo licitatório da concessão florestal ............................ 171
5.3.5. Dos critérios de julgamento do processo licitatório da concessão florestal ............. 171
5.3.6. Do contrato de concessão florestal (art. 27 a 35 da 11284/06) ................................ 171
5.3.7. Proteção de concorrência .......................................................................................... 172
5.3.8. Extinção da concessão .............................................................................................. 173
5.3.9. Auditoria Florestal ...................................................................................................... 173
5.3.10. Florestas públicas e unidades de conservação ........................................................ 174
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ........................................................................... 175
1. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL ........................................................ 175
1.1. BASE LEGAL .................................................................................................................... 175
1.2. CONCEITO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL (ART. 70 L.9605/98 C/C
ART. 1º DEC. 6514/08) ................................................................................................................ 175
1.3. DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS EM ESPÉCIE (ART. 72 L.9605/98) ..................... 176
1.3.1. Da advertência ........................................................................................................... 176
1.3.2. Da multa simples........................................................................................................ 177
1.3.3. Da multa diária ........................................................................................................... 177
1.3.4. Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração .............. 179
1.3.5. Destruição ou inutilização do produto ....................................................................... 180
1.3.6. Suspensão de venda e fabricação de produtos ........................................................ 180
1.3.7. Suspensão parcial ou total das atividades ................................................................ 180
1.3.8. Embargo de obra ou atividade................................................................................... 180
1.3.9. Da demolição ............................................................................................................. 181
1.3.10. Sanções restritivas, aplicáveis às PF’s e PJ’s .......................................................... 181
1.4. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................... 181
1.4.1. Regra geral................................................................................................................. 181
1.4.2. Interrupção da prescrição .......................................................................................... 182
1.4.3. Exercício o poder de polícia ...................................................................................... 182
2. DO PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL (DEC. 6514/08 C/C L.9784/99). ............. 183
2.1. DA AUTUAÇÃO................................................................................................................. 183
2.1.1. Procedimento ............................................................................................................. 183
2.1.2. Vícios na autuação .................................................................................................... 183
2.2. DA DEFESA ...................................................................................................................... 184
2.3. DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO .................................................................................. 184
2.4. DOS RECURSOS ............................................................................................................. 185
RECURSOS HÍDRICOS .................................................................................................................. 188
1. BASE LEGAL ............................................................................................................................ 188
2. DOS FUNDAMENTOS (ART. 1º DA L.9433/97) ..................................................................... 188
3. DOS OBJETIVOS (ART. 2º DA L.9433/97) ............................................................................. 189
4. DOS INSTRUMENTOS (ART. 5º DA L.9433/97) .................................................................... 189
4.1. PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................. 190

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 7

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4.2. ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES ..................................... 190
4.3. OUTORGA DOS DIREITOS DE USO DE RH .................................................................. 190
4.4. COBRANÇA PELO USO DE RH ...................................................................................... 192
4.5. COMPENSAÇÃO A MUNICÍPIOS .................................................................................... 192
4.6. SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RH .................................................................... 192
5. ESTRUTURA DO SISTEMA GERENCIAL DE RECURSOS HÍDRICOS ............................... 193
5.1. DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (ART. 35 DA L.9433/97) ..... 193
5.2. DOS COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA (ARTS. 37 E 38 DA L.9433/97) ............... 194
5.3. ANA (Agência Nacional de Águas) ................................................................................... 195
5.4. AGÊNCIAS DE ÁGUA....................................................................................................... 195
5.5. ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL ............................................................................... 195
CÓDIGO FLORESTAL E GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS................................................. 197
2. DEFESA DA FLORA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL............................................................ 197
3. DEFESA DA FLORA EM ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL .............................................. 198
3.1. NORMAS GERAIS ............................................................................................................ 198
3.2. PRINCÍPIOS ...................................................................................................................... 198
4. USO IRREGULAR DA PROPRIEDADE .................................................................................. 201
4.1. NATUREZA REAL ............................................................................................................. 202
5. CONCEITOS NO CÓDIGO FLORESTAL ................................................................................ 202
5.1. AMAZÔNIA LEGAL ........................................................................................................... 202
5.2. ÁREA RURAL CONSOLIDADA ........................................................................................ 202
5.3. PEQUENA PROPRIEDADE OU POSSE RURAL ............................................................ 202
5.4. USO ALTERNATIVO DO SOLO ....................................................................................... 204
5.5. MANEJO SUSTENTÁVEL ................................................................................................ 204
5.6. UTILIDADE PÚBLICA, INTERESSE SOCIAL E ATIVIDADES DE BAIXO IMPACTO
AMBIENTAL ................................................................................................................................. 204
5.7. ÁREAS DE USO RESTRITO ............................................................................................ 206
5.7.1. Pantanais e Planícies Pantaneiras ............................................................................ 207
5.7.2. Áreas de inclinação entre 25 e 45 graus ................................................................... 207
6. USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL ........................................................................... 207
6.1. CONDIÇÕES PARA EXPLORAÇÃO DE APICUNS E SALGADOS ............................... 208
6.2. REGRAS PARA O LICENCIAMENTO ............................................................................. 208
6.3. REGULARIZAÇÃO DE OCUPAÇÃO E IMPLANTAÇÃO OCORRIDAS ANTES DE 22 DE
JULHO DE 2008 ........................................................................................................................... 208
7. PROTEÇÃO DAS ÁREAS VERDES MUNICIPAIS URBANAS .............................................. 208
8. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO PARA USO ALTERNATIVO DO SOLO ............................. 209
9. EXPLORAÇÃO FLORESTAL ................................................................................................... 210
9.1. PLANO DE MANEJO SUSTENTÁVEL ............................................................................. 211
9.2. HIPÓTESES DE ISENÇÃO DO PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL .. 211
9.3. EMPREENDIMENTOS QUE UTILIZAM MATÉRIA-PRIMA FLORESTAL ...................... 212
10. REPOSIÇÃO FLORESTAL .................................................................................................. 212

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 8

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11. EXPLORAÇÃO FLORESTAL ............................................................................................... 213
12. DO CONTROLE DO DESMATAMENTO ............................................................................. 213
13. CONTROLE DA ORIGEM DOS PRODUTOS FLORESTAIS .............................................. 213
13.1. DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL ................................................................... 214
13.2. EXPORTAÇÃO DE PLANTAS VIVAS E OUTROS PRODUTOS ORIUNDOS DA
FLORA NATIVA............................................................................................................................ 214
14. PROIBIÇÃO DO USO DO FOGO E CONTROLE DE INCÊNDIOS .................................... 214
15. PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE ....................................................................................................................................... 216
16. AGRICULTURA FAMILIAR .................................................................................................. 217
17. GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS ............................................................................... 217
17.1. GESTÃO DIRETA.......................................................................................................... 218
17.2. DESTINAÇÃO ÀS COMUNIDADES LOCAIS ............................................................... 218
17.3. CONCESSÃO FLORESTAL ......................................................................................... 219
17.3.1. Objeto da Concessão: exploração de produtos e serviços florestais ....................... 219
17.3.2. Exceções .................................................................................................................... 220
17.3.3. Limites o Contrato ...................................................................................................... 220
17.3.4. Regras do Licenciamento Ambiental ......................................................................... 221
17.3.5. Extinção da concessão florestal ................................................................................ 221
18. SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO ................................................................................. 221
POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ....................................................................... 222
2. CONCEITOS RELEVANTES ................................................................................................... 223
3. PRINCÍPIOS ............................................................................................................................. 225
4. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS....................................... 225
5. INSTRUMENTOS ..................................................................................................................... 227
6. PRIORIZAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS ............................................................ 231
7. PROIBIÇÕES............................................................................................................................ 232
Convém mencionar, por fim, que algumas espécies de destinação ou disposição final de
resíduos sólidos foram proibidas pela lei:.................................................................................... 232
8. PRAZO PARA REGULARIZAR A DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA . 232
POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO...................................................................... 234
2. COMPETÊNCIA ....................................................................................................................... 234
3. PRINCÍPIOS ............................................................................................................................. 236
4. CONCEITOS RELEVANTES ................................................................................................... 237
POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS ......................................................... 244
2. CONCEITOS RELEVANTES ................................................................................................... 245
3. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS ...................... 246
4. FUNDAMENTOS ...................................................................................................................... 246
5. INSTRUMENTOS ..................................................................................................................... 247
6. CLASSIFICACÃO DAS BARRAGENS .................................................................................... 247
7. PLANO DE SEGURANÇA DAS BARRAGENS ....................................................................... 248

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 9

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8. PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL (PAE) .............................................................................. 249
9. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO .................................................................................... 251
10. JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................................. 252

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 10

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno de Direito Ambiental possui como base as aulas do Prof. Frederico Amado
(CERS) e da Profa. Vanessa Ferrari (G7), bem como aulas de segunda fase.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos que é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Além disso, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é
necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 11

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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1. REFORMULAÇÃO DOS VALORES REFERENTES AO MEIO AMBIENTE

Há, ao longo dos anos, uma crescente preocupação com o meio-ambiente, ocorrendo uma
conscientização da necessidade de sua preservação. Constatou-se que não seria possível o uso
inconsequente dos recursos ambientais, visto que não são infinitos.

Por isso, surgiram inúmeras leis, tratados internacionais e a proteção ao meio ambiente,
inclusive, possui status constitucional.

2. EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO BRASIL

No Brasil, podemos analisar a proteção ao meio ambiente a partir de três fases:

1ª FASE: individualista

2ª FASE: fragmentária

3ª FASE: holística

A seguir estudaremos cada fase de forma detalhada.

2.1. FASE INDIVIDUALISTA

Inicia-se com o descobrimento do Brasil (1500) e vai até a metade do Século XX (1950).

É considerada individualista, pois praticamente não havia proteção ao meio ambiente nas
Orientações Afonsinas e Manuelinas. A pouca proteção visava recursos que envolviam interesse
do reino, a exemplo do pau-brasil, de gêneros alimentícios, necessários à expansão marítima e à
prosperidade do próprio reino.

Em suma, pode-se afirmar que a questão ambiental no período colonial, imperial e


republicano foi deixada à margem.

2.2. FASE FRAGMENTÁRIA

Inicia-se em 1950 e vai até 1980.

É considerada fragmentária, pois a proteção ao meio ambiente é esparsa, preocupada com


a atividade econômica, não estabeleciam uma política ambiental e não reconheciam a natureza
difusa do meio ambiente.

Por exemplo, o Código de Águas considerava particulares as nascentes e as águas situadas


em terrenos particulares (art. 8º), Antigo Código Florestal; Lei de Proteção à Fauna, Código de
Mineração.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 12

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2.3. FASE HOLÍSTICA

Inicia-se em 1981 até os dias de hoje. Foi concebida a partir da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei 6.938/81).

A proteção do meio ambiente ganha planejamento, há uma proteção do meio ambiente como
um todo, de maneira integrada.

Compreende quatro relevantes marcos:

• Lei 6.938/1981 – que previu conceitos, princípios, responsabilidade civil ambiental e o


Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA);
• Lei 7.347/1985 – que disciplinou Ação Civil Pública para defesa do meio ambiente;
• CF/88 – que trouxe um capítulo destinado ao meio ambiente, em seu artigo 225;
• Lei 9.605/1998 – que previu sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente.

Segundo Antônio Herman Benjamin, “somente a partir de 1981, com a promulgação da Lei
nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), ensaiou-se o primeiro passo em direção a
um paradigma jurídico-econômico que holisticamente tratasse e não maltratasse a terra, seus
arvoredos e os processos ecológicos essenciais a ela associados. Um caminhar incerto e talvez
insincero a princípio, em pleno regime militar, que ganhou velocidade com a democratização em
1985 e recebeu extraordinária aceitação na Constituição de 1988”.

3. EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE INTERNACIONAL

É comum que as provas cobrem o conhecimento sobre as conferências internacionais


realizadas na seara ambiental. Por isso, serão arroladas as principais:

1) Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano (1972);

2) Relatório “Nosso Futuro Comum” (1987);

3) Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio/92 ou Eco/92 - 1992);

4) Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10 - 2002);

5) Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20 - 2012);

6) Acordo de Paris (2015);

7) Agenda 2030 (2015).

3.1. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO (1972)

O Direito Ambiental tem início com a Conferência de Estocolmo (1972), realizada pela
ONU, com o intuito de discutir sobre o meio ambiente humano. A sua importância foi a realização
da “Declaração de Estocolmo”, que colocou o meio ambiente como direito humano, acarretando

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 13

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
numa grande influência na CF/88, que o colocou como direito fundamental (direito difuso). Vale
dizer, os socialistas não participaram desta Conferência.

Esta conferência é importante porque inaugurou a presença de questões ambientais na


pauta política mundial. Um marco para o direito ambiental internacional. A Declaração de Estocolmo
é uma declaração de princípios, e prevê o direito a uma vida saudável.

Consequência desta conferência foi a formação de dois grupos:

a) Preservacionistas: buscavam manter o grau máximo de atividade; diziam que se tinha


que colocar um final ao crescimento desordenado.

b) Desenvolvimentistas: querem o crescimento econômico a qualquer custo. Tese adotada


pelos países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil.

OBS.: Houve a formação de um terceiro grupo ― os


conservacionistas, que querem o desenvolvimento econômico,
porém possuem preocupação com o meio ambiente.

Estabeleceu duas premissas básicas:

• O homem possui direito ao desenvolvimento;

• O meio ambiente deve ser preservado.

3.2. RELATÓRIO NOSSO FUTURO COMUM (1987)

Em 1987 houve a criação da Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU),


na qual se editou o relatório “Nosso futuro comum” (ou “Brundtland”). Este relatório sistematizou o
Desenvolvimento Sustentável, que é utilizado até hoje.

O desenvolvimento sustentável consiste em atender às necessidades da geração presente


sem comprometer as gerações futuras.

Em 1983, a ONU montou uma comissão especial para estudar o meio ambiente e o
desenvolvimento. A comissão foi presidida por Gro Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega.
Daí o “apelido” dado ao Relatório Nosso Futuro Comum.

Cuidado com este conceito de desenvolvimento sustentável. O Relatório Brundtland é de


1987, mas em 1988 o constituinte incluiu a preocupação com “presentes e futuras gerações” no
nosso ordenamento jurídico, conforme art. 225 da CF.

Portanto, se na prova a expressão “presentes e futuras gerações” vier vinculada ao âmbito


internacional, deve-se deduzir que se trata do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Porém, se
a expressão “presentes e futuras gerações” aparecer vinculada ao art. 225 da CF, pode-se falar
também em PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL. São semelhantes, mas a
nomenclatura pode causar confusão na hora da prova.

O relatório “Nosso Futuro Comum” precedeu o RIO/92 ou ECO/92 (“Cúpula da Terra”), na


qual foi realizada a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(desenvolvimento sustentável).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 14

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
3.3. CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (ECO/92
OU RIO/92)

Foi realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992 (Eco 92 ou Rio 92). Desta conferência,
resultaram:

a) Agenda 21;

b) Declaração do Rio;

c) Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima;

d) Protocolo de Kyoto;

e) Convenção sobre Diversidade Biológica.

f) Declaração de Florestas (princípios aplicáveis às florestas);

3.3.1. Agenda 21

É um programa de ação com diretrizes para implementação do desenvolvimento


sustentável. É uma tentativa de promover, em escala planetária, um novo padrão de
desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
É um documento PROGRAMÁTICO.

3.3.2. Declaração do Rio

É uma declaração de princípios do direito ambiental.

3.3.3. Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima

É um acordo multilateral voluntário, adotado em 09 de maio de 1992, em Nova York, um


mês antes da Conferência do Rio, mas que pode ser vinculado (por conta da abertura das
assinaturas, ocorrida no Rio). Trata-se de uma convenção nascida da necessidade de reduzir as
atividades poluentes.

3.3.4. Protocolo de Kyoto

Assinado na COP-3 (Conferência das Partes). É um protocolo adicional vinculado à


Convenção-quadro sobre Mudanças do Clima, e tem por objetivo a redução da emissão de gases
antropogênicos, que geram o efeito estufa (GEE – Gases de efeito estufa).

Meta: reduzir, em média, 5% das emissões do ano de 1990.

O Brasil não assumiu compromissos específicos quanto à redução de percentuais de


emissão de gases. Isso porque, quando assinado o Protocolo de Kyoto, o Brasil era considerado
um “país em desenvolvimento”. Porém, em 2009 foi sancionada a Lei 12.187/2009 (Política
Nacional de Mudanças Climáticas), em que há previsão de redução de emissões. Assim, apesar
de não estar vinculado à redução de emissões por instrumentos internacionais, o Brasil obrigou-se
voluntariamente a redução de emissões de GEE, conforme art. 12 da Lei 12.187/2009.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 15

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 12. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como
compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases
de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um
décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento)
suas emissões projetadas até 2020.
Parágrafo único. A projeção das emissões para 2020 assim como o
detalhamento das ações para alcançar o objetivo expresso no caput serão
dispostos por decreto, tendo por base o segundo Inventário Brasileiro de
Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não
Controlados pelo Protocolo de Montreal, a ser concluído em 2010.

3.3.5. Convenção sobre Diversidade Biológica

É o principal documento mundial sobre biodiversidade. Os objetivos desta convenção são:

a) Conservação da diversidade biológica;

b) Uso sustentável dos recursos biológicos e seus componentes;

c) Distribuição justa e equitativa dos benefícios do uso dos recursos genéticos, com a
transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos
sobre tais recursos e tecnologias, mediante financiamento adequado.

Por meio do Decreto 4.339/2002, o Brasil instituiu a Política Nacional de Biodiversidade.

3.3.6. Declaração de Florestas

Esta tem pouca importância para provas, sendo sequer mencionada em alguns livros de
doutrina. Basta saber que foi firmada no Rio-92.

OBS: Tanto a Agenda 21 quanto a Declaração do Rio consistem no


que se chama de soft law, ou seja, direito flexível, não vinculante.

3.4. CÚPULA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RIO+10 – 2002)

Aconteceu em Joanesburgo em 2002, na África do Sul. Dela resultaram dois documentos


oficiais:

• Declaração política;
• Plano de Implementação, que tem como objetivos:
- O combate à pobreza, que guarda estreita relação com os problemas ambientais;

- A mudança dos padrões de produção e consumo (já são utilizados recursos em quantia
30% superior à capacidade planetária).

3.5. CÚPULA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RIO+20 – 2012)

A declaração final da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento


Sustentável), submetida dia 22 de junho de 2012 à ratificação de chefes de Estado e de governo

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 16

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
das Nações Unidas, é um texto de 53 páginas, com boas intenções e o lançamento dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável.

O texto reafirma os princípios processados durante conferências e cúpulas anteriores e


insiste na necessidade "de acelerar os esforços" para empregar os compromissos anteriores,
homenageando as comunidades locais, que "fizeram esforços e progressos". Vejamos os pontos
principais:

• "Políticas de economia verde" (3 páginas e meia do texto): "Uma das ferramentas


importantes" para avançar rumo ao desenvolvimento sustentável. Elas não devem
"impor regras rígidas", mas "respeitar a soberania nacional de cada país", sem
constituir "um meio de discriminação", nem "uma restrição disfarçada ao comércio
internacional". Eles devem, também, "contribuir para diminuir as diferenças tecnológicas
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento". "Cada país pode escolher uma
abordagem apropriada".

• Governança mundial do desenvolvimento sustentável: o texto decide "reforçar o quadro


institucional". A comissão de desenvolvimento sustentável, totalmente ineficaz, é
substituída por um "fórum intergovernamental de alto nível". O PNUMA (Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento) terá seu papel reforçado e valorizado como
"autoridade global e na liderança da questão ambiental", com os recursos "assegurados"
(os depósitos atualmente são voluntários) e uma representação de todos os membros
das Nações Unidas (apenas 58 participam atualmente).

• “Quadro de ação": em 25 páginas, correspondentes à metade do documento, o texto


propõe setores onde haja "novas oportunidades" e onde a ação seja "urgente",
notavelmente devido ao fato de as conferências anteriores terem registrado resultados
insuficientes. Os 25 temas particularmente abordados incluem erradicação da pobreza,
segurança alimentar, água, energia, saúde, emprego, oceanos, mudanças climáticas,
consumo e produção sustentáveis.

• “Objetivos de desenvolvimento sustentável”: nos moldes dos Objetivos do Milênio para


o desenvolvimento, a cúpula insiste na importância de se estabelecer os ODS (objetivos
do desenvolvimento sustentável) "em número limitado, conciso e voltado à ação",
aplicáveis a todos os países, mas levando em conta as "circunstâncias nacionais
particulares".

• Os meios de realização do desenvolvimento sustentável: "é extremamente importante


reforçar o apoio financeiro de todas as origens, em particular para os países em
desenvolvimento". "Os novos parceiros e fontes novas de financiamento podem
desempenhar um papel". A declaração insiste na "conjugação de assistência ao
desenvolvimento com o investimento privado". O texto insiste, também, na necessidade
de transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento e sobre o "reforço de
capacidades" (formação, cooperação, etc.).

3.6. ACORDO DE PARIS

Discutido entre 195 países durante a COP21, em Paris, possuindo como único objetivo a
redução do aquecimento global.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 17

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Para a entrada em vigor do acordo, que irá substituir a partir de 2020, o atual Protocolo de
Kyoto, 55 países que representam 55% das emissões de gases de efeito estufa precisavam ratificá-
lo. Isso aconteceu em 4 de novembro de 2016. Até junho de 2017, 195 países assinaram o acordo,
e 147 destes, entre eles o Brasil, o ratificaram.

O Acordo de Paris tem como principal objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa
para limitar o aumento médio de temperatura global a 2ºC, quando comparado a níveis pré-
industriais. Mas há várias metas e orientações que também são elencadas no acordo, tais como:

• esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC;

• recomendações quanto à adaptação dos países signatários às mudanças climáticas, em


especial para os países menos desenvolvidos, de modo a reduzir a vulnerabilidade a
eventos climáticos extremos;

• estimular o suporte financeiro e tecnológico por parte dos países desenvolvidos para
ampliar as ações que levam ao cumprimento das metas para 2020 dos países menos
desenvolvidos;

• promover o desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologia e capacitação


para adaptação às mudanças climáticas;

• proporcionar a cooperação entre a sociedade civil, o setor privado, instituições


financeiras, cidades, comunidades e povos indígenas para ampliar e fortalecer ações de
mitigação do aquecimento global.

3.7. AGENDA 2030 PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Em setembro de 2015, os 193 países membros das Nações Unidas adotaram uma nova
política global: a Agenda 20301 para o Desenvolvimento Sustentável, que tem como objetivo elevar
o desenvolvimento do mundo e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. O lema é não
deixar ninguém para trás.

Para tanto, foram estabelecidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com


169 metas – a serem alcançadas por meio de uma ação conjunta que agrega diferentes níveis de
governo, organizações, empresas e a sociedade como um todo nos âmbitos internacional e nacional
e também local.

Dentre os ODs listados, destacamos aqueles diretamente relacionados à proteção do meio


ambiente, a saber:

ODS 6: garantir acesso à água e ao saneamento para todos (ODS 6);

ODS 7: possibilitar acesso à energia limpa (ODS 7);

ODS 11: assegurar que as cidades e os assentamentos humanos sejam seguros, inclusivos,
sustentáveis;

ODS 12: oportunizar modalidades de consumo e produção sustentáveis;

1
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/agenda-2030/o-que-e-a-agenda-2030/

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 18

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ODS 13: adotar medidas para combater as mudanças climáticas e seus efeitos;

ODS 14: conservar e usar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos


marinhos;

ODS 15: proteger a vida sobre a terra.

4. OBJETO DO DIREITO AMBIENTAL

O objetivo do Direito Ambiental é a proteção ao meio ambiente, garantindo sadia qualidade


de vida para as presentes e futuras gerações, nos termos do art. 225 da CF.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.

Culturalmente, o direito é voltado ao homem. Com isso, afirma-se que o Direito Ambiental é
ANTROPOCÊNTRICO, ou seja, o homem é a razão da tutela do meio ambiente, é um instrumento
de garantia para uma vida com qualidade para o homem. De acordo com esta visão, o meio
ambiente, em si, não é titular de direito, eis que a tutela é voltada para a satisfação das
necessidades humanas.

Há, ainda, as seguintes visões:

BIOCÊNTRICA: possui como objeto de tutela todas as espécies com vida: fauna, flora e o
homem. Há, no art. 225, §1º, VII, da CF referência, vejamos:

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que


coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

“ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. NÃO


CONFIGURADA A VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC. INEXISTÊNCIA DE
OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. MULTA JUDICIAL POR
EMBARGOS PROTELATÓRIOS. INAPLICÁVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
98 DO STJ. MULTA ADMINISTRATIVA. REDISCUSSÃO DE MATÉRIA
FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. INVASÃO DO MÉRITO
ADMINISTRATIVO. GUARDA PROVISÓRIA DE ANIMAL SILVESTRE.
VIOLAÇÃO DA DIMENSÃO ECOLÓGICA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE
HUMANA. 1. Na origem, trata-se de ação ordinária ajuizada pela recorrente
no intuito de anular os autos de infração emitidos pelo Ibama e restabelecer
a guarda do animal silvestre apreendido. 2. Não há falar em omissão no
julgado apta a revelar a infringência ao art. 1.022 do CPC. O Tribunal a quo
fundamentou o seu posicionamento no tocante à suposta prova de bons tratos
e o suposto risco de vida do animal silvestre. O fato de a solução da lide ser
contrária à defendida pela parte insurgente não configura omissão ou
qualquer outra causa passível de exame mediante a oposição de embargos
de declaração. 3. Nos termos da Súmula 98/STJ: "Embargos de declaração
manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter
protelatório". O texto sumular alberga a pretensão recursal, posto que não

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são protelatórios os embargos opostos com intuito de prequestionamento,
logo, incabível a multa imposta. 4. Para modificar as conclusões da Corte de
origem quanto aos laudos veterinários e demais elementos de convicção que
levaram o Tribunal a quo a reconhecer a situação de maus-tratos, seria
imprescindível o reexame da matéria fático-probatória da causa, o que é
defeso em recurso especial ante o que preceitua a Súmula 7/STJ: "A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial."
Precedentes. 5. No que atine ao mérito de fato, em relação à guarda do
animal silvestre, em que pese à atuação do Ibama na adoção de providências
tendentes a proteger a fauna brasileira, o princípio da razoabilidade deve
estar sempre presente nas decisões judiciais, já que cada caso examinado
demanda uma solução própria. Nessas condições, a reintegração da ave ao
seu habitat natural, conquanto possível, pode ocasionar-lhe mais prejuízos
do que benefícios, tendo em vista que o papagaio em comento, que já possui
hábitos de ave de estimação, convive há cerca de 23 anos com a autora.
Ademais, a constante indefinição da destinação final do animal viola
nitidamente a dignidade da pessoa humana da recorrente, pois, apesar de
permitir um convívio provisório, impõe o fim do vínculo afetivo e a certeza de
uma separação que não se sabe quando poderá ocorrer. 6. Recurso especial
parcialmente provido.” (STJ, REsp 1.797.175/SP, Relator Ministro Og
Fernandes, Segunda Turma, julgamento 21.03.2019, Dje 13.05.2019)

Há em alguns Estados, a exemplo do RS, leis estaduais reconhecendo o direito do animal a


pleitear indenização por maus tratos junto com o seu tutor.

ECOCÊNTRICA: são objetos de proteção tanto os elementos abióticos (sem vida) quanto
os elementos bióticos (com vida). O objeto de proteção seria o planeta Terra como um todo.

5. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O MEIO AMBIENTE

A CF/88 estabeleceu um capítulo ao meio ambiente (art. 225), recebendo influência da


Declaração do Meio Ambiente de Estocolmo e da Lei 6.938/81.

O legislador constitucional concentrou os princípios fundamentais em seu art. 225,


conferindo autonomia ao Direito Ambiental.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 20

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IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.
VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao
consumo final, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes
tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de
garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação
às contribuições de que tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput
do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II do caput do
art. 155 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de
2022)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

5.1. CONCEITO (LEGAL) DE MEIO AMBIENTE

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem química,


física e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 3º, I Lei 6.938/81).

Lei 6938/81 - Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;

É um conceito abrangente, que aborda elementos BIÓTICOS (é tudo aquilo que tem vida –
ex.: flora e fauna) e ABIÓTICOS (é aquilo que não tem vida – ex.: água, solo e atmosfera).

OBS.: A expressão “biota” significa conjunto de seres vivos que vivem


em determinada região.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 21

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Parte da doutrina faz uma crítica a este conceito legal por ser muito amplo, visto que inclui
o homem, os recursos hídricos, os recursos naturais etc. Segundo o professor, a definição deveria
abranger todas as espécies de meio ambiente.

5.2. CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (JOSÉ AFONSO DA SILVA)

MEIO AMBIENTE

Artificial (ambiente
Natural Cultural Do Trabalho
urbano)

Espaços Espaços
Biótico Abiótico Patrimônio Patrimônio
Urbano Rural
Fechados Abertos
Material Imaterial

É uma classificação meramente acadêmica, a fim de facilitar a compreensão da matéria.

Destaca-se que há uma fungibilidade entre as classificações, tendo em vista que um imóvel,
criado recentemente, que faça parte do meio ambiente artificial, poderá, em 500 anos, passar a
fazer parte do meio ambiente cultural (patrimônio material).

5.2.1. Meio ambiente natural (art. 225, §1º CF/88 c/c art. 3º, V Lei 6.938/81)

Divide-se em:

• Elemento BIÓTICO = é tudo aquilo que tem vida – ex.: flora e fauna

• Elemento ABIÓTICO = é aquilo que não tem vida – ex.: água, solo e atmosfera.

Art. 3º L.6938/81 - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários (é a parte de um rio que se encontra em contato
com o mar), o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera,
a fauna e a flora.

Art. 225, §1º CF/88: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

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V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.
VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao
consumo final, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes
tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de
garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação
às contribuições de que tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput
do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II do caput do
art. 155 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de
2022)

Há, inclusive, uma diferenciação feita por Édis Milaré entre os Recursos Naturais e Recursos
Ambientais.

Vejamos:

5.2.2. Meio ambiente artificial (ou construído)

É o ambiente urbano, no qual há a intervenção ANTRÓPICA, ou seja, intervenção humana.

Divide-se em:

Espaços abertos = praças, ruas etc.

Espaços fechados = escolas, museus, teatros etc.

Previsão nos arts. 182/183 CF/88.

Art. 182 CF/88 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política
de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

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§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa
indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para
área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário
do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183 CF/88 - Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos
e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Nesse contexto, o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) figura como um dos diplomas mais
importantes.

5.2.3. Meio ambiente cultural (art. 216 CF/88)

É o patrimônio cultural, artístico etc.

Art. 216 CF/88 - Constituem patrimônio CULTURAL brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem (rol aberto):
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua consulta
a quantos dela necessitem.
§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de
bens e valores culturais.
§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da
lei.

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§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual
de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária
líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a
aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados.

Divide-se em:

Patrimônio material - é o tombamento de imóveis, de cidades (ex.: Tiradentes, Olinda). O


órgão responsável pelo tombamento é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico Histórico Nacional
– autarquia federal). Regulado pelo Decreto 25/1937.

Patrimônio imaterial - inclui o registro, inventário, vigilância, desapropriação (são formas


de proteção cultural, previstas no § 1º do art. 216 CF/88).

● Registro = instrumento de proteção do patrimônio imaterial, no qual incluem as danças,


comidas, folclore nacional, samba (são todos registrados e NÃO tombados).

● Inventário = não está regulamentado. Visa relacionar os bens que guarnecem o local.

● Vigilância = é o poder de polícia, fiscalizando se o sujeito está cumprindo com suas


obrigações.

● Desapropriação = é uma intervenção no patrimônio particular mais agressiva, é supressiva


pois que resulta na saída do domínio particular para o público, utilizada com o intuito de proteger o
patrimônio.

5.2.4. Meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII c/c art. 7º, XXII e XXIII CF/88)

Art. 200 CF/88 - Ao sistema único de saúde compete, além de outras


atribuições, nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho.

Art. 7º CF/88 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei.

O meio ambiente do trabalho busca uma preocupação com o obreiro/trabalhador (não é


preocupação tão somente com o que sai da empresa, mas também com o que ocorre lá dentro.

Ex.: Os ruídos dentro de uma fábrica.

Como o tema foi cobrado em concurso?

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TJ/BA (2019) De acordo com a jurisprudência do STF, o conceito de meio
ambiente inclui as noções de meio ambiente cultural, artificial, natural e do
trabalho. Correta!

5.3. OUTRA CLASSIFICAÇÃO DO ART. 225 DA CF

O art. 225 da CF/88 possui outra classificação, segundo José Afonso da Silva:

1) Norma MATRIZ (art. 225, caput CF/88) = “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado...”

CF Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

2) Norma de EFETIVAÇÃO = para efetivar o meio ambiente ecologicamente equilibrado é


preciso norma de garantia (art. 225, §1º CF/88).

Art. 225, §1º CF/88: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

3) Normas ESPECÍFICAS (art. 225 §§2º ao 6º CF/88).

Art. 225 CF
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

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§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional,
e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem
a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,
por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

5.4. ANÁLISE DO ART. 225 CF/88

5.4.1. Art. 225, caput

Traz o conceito constitucional de meio ambiente. Iremos analisar detalhadamente.

CF Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.

“TODOS” = refere-se aos brasileiros e aos estrangeiros no Brasil. Parte da doutrina também
inclui neste rol:

• Os estrangeiros “em trânsito” no Brasil (que estão a passeio), fazendo uma interpretação
extensiva;

• Os seres vivos e não somente os seres humanos (é uma corrente minoritária que vem
ganhando força), sob o fundamento de que os animais são tutelados na CF/88.

“TÊM DIREITO” = ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Criou-se um direito


subjetivo oponível erga omnes (direito para todos, que pode ser exercido em face do Estado, mas
também do particular que esteja degradando o meio ambiente).

“MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO” = é o meio ambiente com saúde,


com salubridade, sem poluição. Na visão antropocêntrica seria a proteção do meio ambiente não
só para si próprio, mas também para a sadia qualidade de vida humana.

“BEM DO USO COMUM DO POVO” = a disciplina do direito civil e administrativo não se


adapta às condições do meio ambiente, por duas razões:

1. A responsabilidade por danos praticados ao meio ambiente não é exclusiva do Estado,


mas se atribui a qualquer um que praticar atos lesivos;

2. Não se permite a desafetação.

Desta forma, o bem de uso comum significa que é um bem jurídico autônomo, de interesse
público, o qual pode ser visto como: MICROBEM e MACROBEM. O microbem é a parte corpórea
do meio ambiente (fauna, flora, solo, recursos hídricos). Já o macrobem é a “alma” do meio
ambiente, ou seja, é a parte incorpórea, inapropriável, indisponível, indivisível e imaterial.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 27

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Quando se tutela especificamente, a proteção recai sobre o microbem. Contudo, também se
pode tutelar o macrobem. Exemplo: Vazamento de óleo na Baía de Guanabara — afeta o meio
ambiente num todo, e por isso o MP ajuizará ação civil pública.

Um exemplo de cumprimento da função socioambiental da propriedade é o do art. 4º, I, da


Lei 12.651/2012, que dispõe acerca da manutenção de área de preservação permanente (APP) ao
longo das margens do rio. Vejamos:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;

Outro exemplo é do artigo 12 da Lei 12.651/2012, que prevê acerca a manutenção de 20%
da vegetação nativa a título de Reserva Legal na propriedade rural:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PA (2019) Rafael é proprietário de um imóvel rural com vegetação de
floresta no estado do Pará. Esse imóvel deixou de ter área de reserva legal
porque o proprietário anterior a suprimiu. Nessa situação, Rafael deve
reflorestar 80% de sua propriedade. Correta!

“IMPONDO-SE AO PODER PÚBLICO” = o Poder Público é um GESTOR do meio ambiente,


cabendo a ele a sua incolumidade, ou seja, obrigação de não poluir, não degradar, não permitir que
coloquem em risco o meio ambiente.

“E À COLETIVIDADE O DEVER DE DEFENDÊ-LO E PRESERVÁ-LO PARA AS


PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES” = tem-se que buscar um meio ambiente ecologicamente
equilibrado para gerações futuras que ainda não nasceram (estão por vir).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 28

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Obs.: PRESERVAR ≠ CONSERVAR = Possuem sentidos diferentes, não são sinônimos. As
leis até o ano de 2000 não faziam a diferenciação. Porém, a partir da Lei 9.985/00 passou a
diferenciá-las.

Preservar = manter o meio ambiente intocável só com o uso indireto, como pesquisas por
exemplo.

Conservar = deve-se contabilizar o desenvolvimento de atividades econômicas e a


proteção ao meio ambiente.

- Áreas de preservação: reservas biológicas, por exemplo;

- Áreas de conservação: APA de Petrópolis, por exemplo.

5.4.2. Art. 225, § 2º CF/88

Por este dispositivo, reconheceu-se que a exploração de recursos minerais degrada o meio
ambiente e, por isso, quem a pratica deverá recuperar a parte que fora degradada, nos termos da
lei.

Art. 225, §2º CF/88: Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a
recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

5.4.3. Art. 225, § 1º CF/88

Traz obrigações para o Estado, no que tange ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
(Poder Público é poder executivo, legislativo e judiciário).

Como consequências jurídicas da natureza e do meio ambiente ecologicamente equilibrado


tem-se:

• Construção do brocardo “In Dubio Pro Natura” – na dúvida se interpreta em favor da


proteção ambiental;

• Não há “direito de poluir”;

• Inexiste direito adquirido em detrimento da proteção ambiental.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DA SÚMULA 282
DO STF. FUNÇÃO SOCIAL E FUNÇÃO ECOLÓGICA DA PROPRIEDADE E
DA POSSE. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. RESERVA
LEGAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELO DANO AMBIENTAL.
OBRIGAÇÃO PROPTER REM. DIREITO ADQUIRIDO DE POLUIR. 1. A falta
de prequestionamento da matéria submetida a exame do STJ, por meio de
Recurso Especial, impede seu conhecimento. Incidência, por analogia, da
Súmula 282/STF. 2. Inexiste direito adquirido a poluir ou degradar o meio
ambiente. O tempo é incapaz de curar ilegalidades ambientais de natureza
permanente, pois parte dos sujeitos tutelados – as gerações futuras – carece
de voz e de representantes que falem ou se omitam em seu nome. 3.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 29

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Décadas de uso ilícito da propriedade rural não dão salvo-conduto ao
proprietário ou posseiro para a continuidade de atos proibidos ou tornam
legais práticas vedadas pelo legislador, sobretudo no âmbito de direitos
indisponíveis, que a todos aproveita, inclusive às gerações futuras, como é o
caso da proteção do meio ambiente. 4. As APPs e a Reserva Legal justificam-
se onde há vegetação nativa remanescente, mas com maior razão onde, em
consequência de desmatamento ilegal, a flora local já não existe, embora
devesse existir. 5. Os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm
natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou
posse. Precedentes do STJ. 6. Descabe falar em culpa ou nexo causal, como
fatores determinantes do dever de recuperar a vegetação nativa e averbar a
Reserva Legal por parte do proprietário ou possuidor, antigo ou novo, mesmo
se o imóvel já estava desmatado quando de sua aquisição. Sendo a hipótese
de obrigação propter rem, desarrazoado perquirir quem causou o dano
ambiental in casu, se o atual proprietário ou os anteriores, ou a culpabilidade
de quem o fez ou deixou de fazer. Precedentes do STJ. 7. Recurso Especial
parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (STJ - REsp: 948921
SP 2005/0008476-9, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de
Julgamento: 23/10/2007, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: -->
DJe 11/11/2009 )

a) Inciso I: “preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas” = processos ecológicos essenciais são aqueles que
garantem o funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio
ambiente.

Prover o manejo (intervenção humana) ecológico das espécies é lidar com elas de maneira
a conservá-las e se possível recuperá-las. Ex.: animais em extinção.

Manejo ecológico dos ecossistemas = é cuidar do equilíbrio das relações entre a


comunidade biótica e seu habitat. Ou seja, é realizar a gestão adequada dos ecossistemas
mantendo-os integralmente protegidos.

RESTAURAÇÃO PRESERVAÇÃO

É o conjunto de métodos, procedimentos


É a restituição de um e políticas que visem a proteção ao longo
ecossistema ou de uma prazo das espécies, habitats e
população silvestre degradada o ecossistemas, além da manutenção dos
mais proximo possível da sua processos ecológicos, prevenindo a
condição original. (art. 2º, inc. simplificação dos sistemas naturais. (art.
XIV, da Lei nº 9.985/2000) 2º, inc. V, da Lei nº 9.985/2000).

b) Inciso II: “preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e


fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético”.

Patrimônio genético: consiste num conjunto de seres que habitam o planeta, incluindo os
seres humanos, animais, vegetais e os micro-organismos.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 30

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Biodiversidade: é a variedade de seres que habitam o planeta Terra.

Fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético: é parte


da biotecnologia, regulamentado pela Lei 11.105/05.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AC (2019) incumbe ao Poder Público preservar a diversidade e a
integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético. Correta!

c) Inciso III: “definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) A Constituição da República dispõe que todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações. Em seguida, o texto constitucional indica que, para assegurar a
efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público definir, em todas as
unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente por meio de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Correta!

UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO (UC - Lei
ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE

9.985/00)
PROTEGIDOS (EM SENTIDO AMPLO)

RESERVA LEGAL (RL - arts.


3º, III e 12 CFLO)

ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE (APP - arts.
3º, II, 4º a 6º do CFLO)

SERVIDÃO AMBIENTAL
(arts. 9-A da Lei 6.938/81)

TOMBAMENTO

Os espaços territoriais especialmente protegidos podem ser CRIADOS por DECRETO ou


LEI, no entanto, a sua alteração (seja para desafetá-los ou reduzi-los) somente pode ser por lei
específica.

1) Unidades de conservação (UC - Lei 9.985/00)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 31

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Lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, a
qual estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação.

Unidade de conservação consiste no espaço territorial e seus recursos ambientais,


incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob o regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (art. 2º, I, L.9985/00).

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao
qual se aplicam garantias adequadas de proteção;

2) Reserva legal (RL - art. 3º, III e 12 do Código Florestal)

CFLO Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


III - RESERVA LEGAL: área localizada no interior de uma PROPRIEDADE
ou POSSE RURAL, delimitada nos termos do art. 12, com a função de
assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do
imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos
e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a
proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
§ 1o Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive
para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada,
para fins do disposto do caput, a área do imóvel antes do fracionamento.
§ 2o O percentual de Reserva Legal em imóvel situado em área de formações
florestais, de cerrado ou de campos gerais na Amazônia Legal será definido
considerando separadamente os índices contidos nas alíneas a, b e c do
inciso I do caput.
§ 3o Após a implantação do CAR, a supressão de novas áreas de floresta ou
outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada pelo órgão
ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido no
mencionado cadastro, ressalvado o previsto no art. 30.
§ 4o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público poderá reduzir a
Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), para fins de
recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por cento)
da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio
público e por terras indígenas homologadas.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 32

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§ 5o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público estadual, ouvido o
Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir a Reserva Legal para
até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-
Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu
território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio
público, devidamente regularizadas, e por terras indígenas homologadas.
§ 6o Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento
de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
§ 7o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para
exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem
empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam
instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.
§ 8o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de
rodovias e ferrovias.

Art. 68. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram


supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal
previstos pela legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são
dispensados de promover a recomposição, compensação ou regeneração
para os percentuais exigidos nesta Lei.
§ 1o Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais poderão provar essas
situações consolidadas por documentos tais como a descrição de fatos
históricos de ocupação da região, registros de comercialização, dados
agropecuários da atividade, contratos e documentos bancários relativos à
produção, e por todos os outros meios de prova em direito admitidos.
§ 2o Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais, na Amazônia Legal,
e seus herdeiros necessários que possuam índice de Reserva Legal maior
que 50% (cinquenta por cento) de cobertura florestal e não realizaram a
supressão da vegetação nos percentuais previstos pela legislação em vigor
à época poderão utilizar a área excedente de Reserva Legal também para
fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental - CRA
e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.

➔ QUESTÃO: no que consiste a cota de reserva ambiental – CRA?

CRA é a sigla para Cota de Reserva Ambiental. A compensação da Reserva Legal é um


mecanismo previsto no Código Florestal segundo o qual o proprietário ou possuidor que não estiver
cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua propriedade poderá regularizar a situação
adquirindo (comprando) CRAs.

Quem tem uma propriedade que cumpre os percentuais de Reserva Legal e possui
vegetação excedente (“a mais” do que exige a lei) pode emitir CRA e quem tem déficit de Reserva
Legal pode compensá-lo comprando CRA.

O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da Reserva
Legal. Assim, o § 2º do art. 48 previu que a CRA pode ser utilizada para compensar Reserva Legal
de imóvel situado no mesmo bioma da área à qual o título está vinculado. Em outras palavras, o
proprietário que quiser adquirir CRA deverá comprar de imóveis rurais situados no “mesmo bioma”.

O STF entendeu que a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como
mecanismo de compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo bioma, existir

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 33

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uma alta heterogeneidade de formações vegetais. Assim, pela redação legal, o proprietário poderia,
dentro de um mesmo bioma, “compensar” áreas com formações vegetais completamente
diferentes, já que, como dito, existe essa grande heterogeneidade.

Desse modo, o STF acolheu os argumentos técnicos no sentido de que as compensações


devem ser realizadas somente em áreas ecologicamente equivalentes, considerando-se não
apenas o mesmo bioma, mas também as diferenças de composição de espécies e estrutura dos
ecossistemas que ocorrem dentro de cada bioma.

RESUMINDO: STF entende que se deve dar interpretação conforme a Constituição ao art.
48, § 2º, para permitir compensação apenas entre áreas com identidade ecológica, não bastando
que a área seja do mesmo bioma.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/GO (2022) As áreas a serem compensadas devem estar localizadas no
mesmo bioma e possuir identidade ecológica, no mesmo Estado ou não.
Correta!

TJ/AL (2019) Suponha que determinado proprietário rural deseje instituir


servidão ambiental na área de sua propriedade, incidente sobre a parcela
correspondente à reserva legal mínima imposta nos termos do Código
Florestal (Lei n° 12.651/2012). Tal pretensão não encontra amparo legal, eis
que a servidão ambiental constitui uma limitação voluntária instituída pelo
proprietário da área que não substitui ou reduz as limitações impostas pela
reserva legal mínima. Correta!

3) Área de preservação permanente (APP – arts. 3º, II e 4º do Código Florestal)

CFLO Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


II - ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP: área protegida,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas;

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura
mínima de:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 34

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a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até
20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta)
metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na
licença ambiental do empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer
que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta)
metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente
a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a
partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima
da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano
horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos
relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer
que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima
de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e
encharcado.
§ 1o Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de
reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou
represamento de cursos d’água naturais.
§ 4o Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior
a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos
incisos II e III do caput, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa,
salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do
Meio Ambiente - Sisnama.
§ 5o É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que
trata o inciso V do art. 3o desta Lei, o plantio de culturas temporárias e
sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no
período de vazante dos rios ou lagos, desde que não implique supressão de
novas áreas de vegetação nativa, seja conservada a qualidade da água e do
solo e seja protegida a fauna silvestre.
§ 6o Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas
áreas de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da
aquicultura e a infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:
I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de
recursos hídricos, garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo com
norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gestão
de recursos hídricos;
III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;
IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR.
V - não implique novas supressões de vegetação nativa.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 35

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Art. 5o Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração
de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição,
desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor
das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme
estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de
30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa
mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área
urbana.
§ 1o Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput,
o empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará Plano
Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em
conformidade com termo de referência expedido pelo órgão competente do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, não podendo o uso exceder
a 10% (dez por cento) do total da Área de Preservação Permanente.
§ 2o O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório
Artificial, para os empreendimentos licitados a partir da vigência desta Lei,
deverá ser apresentado ao órgão ambiental concomitantemente com o Plano
Básico Ambiental e aprovado até o início da operação do empreendimento,
não constituindo a sua ausência impedimento para a expedição da licença de
instalação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPF (2022) O plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo
curto nas várzeas – faixa de terra cultivável junto às margens e que fica
exposta no período de menor volume de água dos rios ou lagos – é admitido
nos assentamentos e projetos de reforma agrária, nas terras indígenas desde
que já demarcadas e nas demais áreas com titulação definitiva de povos e
comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território, contanto
que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa, não sejam
utilizados produtos agrotóxicos, seja conservada a qualidade da água e do
solo e seja protegida a fauna silvestre. Errada!

4) Servidão ambiental (art. 9-A L. 6938/81)

Art. 9o-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica,


pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo
firmado perante órgão integrante do SISNAMA, limitar o uso de toda a sua
propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os
recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.
§ 1o O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir,
no mínimo, os seguintes itens:
I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos
um ponto de amarração georreferenciado;
II - objeto da servidão ambiental;
III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor;
IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.
§ 2o A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação
Permanente e à Reserva Legal mínima exigida.
§ 3o A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão
ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva
Legal.
§ 4o Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de
imóveis competente:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 36

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I - o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental;
II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental.
§ 5o Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental
deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.
§ 6o É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração
da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título,
de desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.
§ 7o As áreas que tenham sido instituídas na forma de SERVIDÃO
FLORESTAL, nos termos do art. 44-A da Lei no 4.771, de 15 de setembro de
1965, passam a ser consideradas, pelo efeito desta Lei, como de SERVIDÃO
AMBIENTAL.

5) Tombamento e inventário.

Com a intenção de proteger bens que possuam valor histórico, artístico, cultural,
arquitetônico, ambiental e que, de certa forma, tenham um valor afetivo para a população, é que se
tem o instituto do tombamento, caracterizado pela intervenção do Estado na propriedade, e
regulamentado por normas de Direito Público.

O vocábulo tombamento é de origem portuguesa, e é utilizado no sentido de registrar algo


que é de valor para uma comunidade, protegendo-o através de legislação específica. Dentre os
precedentes normativos dispostos na legislação brasileira acerca do tombamento e da proteção ao
patrimônio histórico, artístico e cultural, destaca-se o Decreto – Lei 25/37, que ordena a proteção
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e a Lei 3.924/61, que dispõe sobre os Monumentos
Arqueológicos e Pré–Históricos.

O tombamento pode ter por objeto bens móveis e imóveis que tenham interesse cultural ou
ambiental para a preservação da memória e outros referenciais coletivos em diversas escalas,
desde uma que se refira a um Município até uma em âmbito mundial. Estes bens podem ser:
fotografias, livros, acervos, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, bairros,
cidades, regiões, florestas, cascatas.

Na esfera federal, o tombamento é realizado pela União, através do Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

O bem objeto de tombamento não terá sua propriedade alterada, nem precisará ser
desapropriado, pelo contrário, porém, deverá manter as mesmas características que possuía na
data do tombamento. Seu objetivo é a proibição da destruição e da descaracterização desse bem,
não havendo dessa forma, qualquer impedimento para a venda, aluguel ou herança de um bem
tombado, desde que continue sendo preservado.

Área de
Unidade de
Reserva Legal Preservação Servidão Tombamento,
Conservação
(RL) Permanente Ambiental (SA) inventário etc.
(UC)
(APP)
Consiste no Área localizada Área protegida, O proprietário ou Com a intenção
espaço territorial no interior de coberta ou não possuidor de de proteger bens
e seus recursos uma por vegetação imóvel, pessoa que possuam
ambientais, PROPRIEDADE nativa, com a natural ou valor histórico,
incluindo as ou POSSE função ambiental jurídica, pode, artístico, cultural,
águas RURAL, de preservar os por instrumento arquitetônico,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 37

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
jurisdicionais, delimitada nos recursos público ou ambiental e que,
com termos do art. hídricos, a particular ou por de certa forma,
características 12, com a função paisagem, a termo tenham um valor
naturais de assegurar o estabilidade administrativo afetivo para a
relevantes, uso econômico geológica e a firmado perante população, é que
legalmente de modo biodiversidade, órgão integrante se tem o instituto
instituído pelo sustentável dos facilitar o fluxo do Sisnama, do tombamento,
Poder Público, recursos naturais gênico de fauna limitar o uso de caracterizado
com objetivos de do imóvel rural, e flora, proteger toda a sua pela intervenção
conservação e auxiliar a o solo e propriedade ou do Estado na
limites definidos, conservação e a assegurar o de parte dela propriedade, e
sob regime reabilitação dos bem-estar das para preservar, regulamentado
especial de processos populações conservar ou por normas de
administração, ecológicos e humanas. A recuperar os Direito Público.
ao qual se promover a estipulação dos recursos
aplicam conservação da limites das APP ambientais
garantias biodiversidade, está na lei (art. existentes,
adequadas de bem como o 4º), sem prejuízo instituindo
proteção. abrigo e a do poder servidão
proteção de executivo criar ambiental.
fauna silvestre e outras (art. 6º).
da flora nativa.

d) Inciso IV: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a
que se dará publicidade” = o propósito de se realizar o estudo prévio de impacto ambiental
(EPIA/RIMA) é em razão da significativa degradação ambiental. E a publicidade visa exclusivamente
o sigilo industrial.

e) Inciso V: “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” = já visto.

f) Inciso VI: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente” = já visto.

g) Inciso VII: “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade” = as práticas que colocam em risco a função ecológica ou que possam exterminar as
espécies são:

- A caça profissional;

- Pesca clandestina;

- Introdução de espécies exóticas ou alienígenas (é a 2ª espécie de extinção da


biodiversidade, pois a 1ª é o desmatamento).

As leis estaduais do RN e RJ que autorizaram a “briga de galo” foram consideradas


inconstitucionais (ADI 3776/RN).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 38

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Com base neste inciso, o STF considerou inconstitucional a prática de vaquejada.

PROCESSO OBJETIVO – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


– ATUAÇÃO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO. Consoante dispõe a
norma imperativa do § 3º do artigo 103 do Diploma Maior, incumbe ao
Advogado-Geral da União a defesa do ato ou texto impugnado na ação direta
de inconstitucionalidade, não lhe cabendo emissão de simples parecer, a
ponto de vir a concluir pela pecha de inconstitucionalidade. VAQUEJADA –
MANIFESTAÇÃO CULTURAL – ANIMAIS – CRUELDADE MANIFESTA –
PRESERVAÇÃO DA FAUNA E DA FLORA – INCONSTITUCIONALIDADE.
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos
culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não
prescinde da observância do disposto no inciso VII do artigo 225 da Carta
Federal, o qual veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade.
Discrepa da norma constitucional a denominada vaquejada. (ADI 4983,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 06/10/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG 26-04-2017 PUBLIC 27-04-
2017)

Pouco mais de um mês, após esta decisão do STF (ADI 4983/CE), o Congresso Nacional
editou a Lei 13.364/2016, que foi alterada pela Lei 13.873/2019 a fim de reforçar a ideia de que as
atividades de rodeio, vaquejada e laço são bens de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro.

Art. 1º Esta Lei reconhece o rodeio, a vaquejada e o laço, bem como as


respectivas expressões artísticas e esportivas, como manifestações culturais
nacionais, elevam essas atividades à condição de bens de natureza imaterial
integrantes do patrimônio cultural brasileiro e dispõe sobre as modalidades
esportivas equestres tradicionais e sobre a proteção ao bem-estar animal.
Art. 2º O rodeio, a vaquejada e o laço, bem como as respectivas expressões
artísticas e esportivas, são reconhecidos como manifestações culturais
nacionais e elevados à condição de bens de natureza imaterial integrantes do
patrimônio cultural brasileiro, enquanto atividades intrinsecamente ligadas à
vida, à identidade, à ação e à memória de grupos formadores da sociedade
brasileira.

O Congresso Nacional poderia editar esta Lei, em tese, contrariando o que decidiu o STF
na ADI 4983?

Sim, porque a decisão do STF restringiu-se a uma lei do Ceará, que permitia a realização
da vaquejada naquele Estado. O efeito vinculante do acórdão se limita a isso. Assim, esta lei do
Ceará é inconstitucional e ninguém pode contrariar isso. A decisão do STF não impede, contudo,
que o Congresso Nacional ou mesmo outros Estados editem leis permitindo a vaquejada.
Formalmente, tais leis não violam a decisão do STF.

O STF (ADPF 640 – Info 1030) decidiu, também com base no art. 225, § 1º, VII, da CF, que
é inconstitucional a interpretação da legislação federal que possibilita o abate imediato de animais
apreendidos em situação de maus-tratos.

Vale ressaltar que o sacrifício de animais é até permitido, mas somente em situações
excepcionais. Um exemplo é o caso do sacrifício de animais em rituais religiosos de matrizes
africanas, desde que não sejam cometidos excessos ou crueldades (STF RE 496.601). Além disso,
nos casos comprovados de doenças, pragas ou outros riscos sanitários, também é possível justificar

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 39

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o sacrifício de espécimes animais. Esses dois exemplos, contudo, são diferentes da situação em
exame, que trata do abate imediato de animais apreendidos em situação de maus-tratos,
circunstância que a norma do art. 225, §1º, VII, da CF/88, não autoriza.

As decisões judiciais e as interpretações administrativas que justificam o abate preferencial


e imediato desses animais violam também o princípio da legalidade (art. 37, caput, da CF/88). Isso,
porque inexiste autorização legal expressa que possibilite o abate no caso específico de apreensão
em situação de maus-tratos, conforme se observa da literalidade do art. 25, §§ 1º e 2º, combinado
com o art. 32 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), bem assim dos arts. 101, 102 e 103
do Decreto nº 6.514/2008.

h) Inciso VIII: “manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao


consumo final, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente
sobre os combustíveis fósseis, capaz de garantir diferencial competitivo em relação a estes,
especialmente em relação às contribuições de que tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do
caput do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II do caput do art. 155 desta
Constituição”

O inciso VIII foi incluído pela EC 123/2022 com a finalidade de estabelecer regime fiscal
favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de lei complementar, a
fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de garantir
diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação à contribuição ao PIS e da
COFINS, PIS-Importação e COFINS-Importação, bem como em relação ao ICMS.

Além disso, enquanto não entrar em vigor a lei complementar referida, o diferencial
competitivo dos biocombustíveis ao consumidor final em relação aos combustíveis fósseis será
garantido: (i) pela manutenção, em termos percentuais, da diferença entre as alíquotas aplicáveis a
cada combustível fóssil e aos biocombustíveis que lhe sejam substitutos em patamar igual ou
superior ao vigente em 15 de maio de 2022; ou (ii) alternativamente, quando o diferencial
competitivo não for determinado pelas alíquotas, ele será garantido pela manutenção do diferencial
da carga tributária efetiva entre os combustíveis.

5.4.4. art. 225, §3º CF/88

Art. 225, § 3º CF/88- As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

Este dispositivo trata da responsabilidade no meio ambiente. Há três tipos:

Preventiva = é o licenciamento ambiental e corresponde à essência do direito ambiental.

Repressiva = analisada sob a ótica administrativa e penal. Ou seja, tem-se a


responsabilidade administrativa (arts. 70 a 76 Lei 9.605/98 c/c Dec. 6.514/08) e a responsabilidade
penal (Lei 9.605/98), a qual recai sobre a PJ.

Não se exige mais a dupla imputação para a responsabilidade.

STF: "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a


responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 40

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da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla
imputação" (RE 548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014).

Reparadora = corresponde à responsabilidade civil objetiva (art. 14, §1º Lei 6.938/81), onde
se adota duas teorias:

Art. 14, §1° - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo,
é o poluidor obrigado, INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE
CULPA, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal, por danos causados ao meio ambiente.

● Teoria do Risco Integral, uma modalidade extremada da doutrina do risco para justificar
o dever de indenizar mesmo nos casos de fato exclusivo da vítima, em caso fortuito (evento causado
pela ação humana de terceiros) ou de força maior (evento causado pela natureza). Ou seja, a
presença destas excludentes não seria suficiente para excluir o nexo causal e, consequentemente,
o dever de indenizar.

Sergio Cavalieri Filho, ao comentar o artigo 14, § 1º da Lei 6.938/81, ressalta que o artigo
225 § 3º, da Constituição, recepcionou o já citado art. 14 § 1º, da Lei 6.938/81, criando a
responsabilidade objetiva baseada no risco integral, ou seja, na teoria segundo a qual não se
admitem excludentes de responsabilidade. O autor aduz que "se fosse possível invocar o caso
fortuito ou a força maior como causas excludentes de responsabilidade civil por dano ecológico,
ficaria fora da incidência da lei a maior parte dos casos de poluição ambiental”.

● Teoria do Risco Criado (ou Risco Proveito), nos parece apontar o principal motivo da
introdução da responsabilidade objetiva no direito brasileiro. Ela é consequência de um dos
princípios básicos da proteção do meio ambiente em nível internacional - o princípio do poluidor-
pagador - consagrado nas Declarações Oficiais da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (RIO-92 - UNCED). Uma consequência importante dessa linha de fundamentação
da responsabilidade objetiva pelo dano ambiental é a possibilidade de admitir fatores capazes de
excluir ou diminuir a responsabilidade como o caso fortuito e a força maior, o fato criado pela
própria vítima (exclusivo ou concorrente), a intervenção de terceiros e, em determinadas
hipóteses, a licitude da atividade poluidora. Assim sendo, a simples prática da
atividade/obra/empreendimento responsabiliza o empreendedor.

O nexo de causalidade implica que a responsabilidade objetiva em matéria de dano


ambiental afasta qualquer perquirição e discussão de culpa, não prescinde do nexo causal entre o
dano havido e a ação ou omissão de quem cause o dano. Para se pleitear reparação há
necessidade da demonstração do nexo causal entre a conduta e a lesão ao meio ambiente. Assim,
para haver a responsabilização imprescindível ação ou omissão, evento danoso e relação de
causalidade.

Com relação à licitude da atividade exercida, verifica-se que, no direito brasileiro, a


responsabilidade civil pelo dano ambiental não é típica, independe da ofensa a standard legal ou
regulamento específico. É irrelevante a licitude da atividade. Pouco importa que determinado ato
tenha sido devidamente autorizado por autoridade competente ou que estejam de acordo com
normas de segurança exigidas, ou que as medidas de precaução tenham sido devidamente
adotadas. Se houve dano ambiental, resultante da atividade do poluidor, há nexo causal que faz

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 41

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surgir o dever indenizatório. A legalidade do ato não importa, basta a simples potencialidade de
dano, para que a responsabilidade civil seja objetiva.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) A sociedade empresária Delta obteve licença ambiental junto
ao órgão público competente do ente federativo Beta para instalação e
operação de um posto de combustível.
Após o início da operação do posto, o cidadão João ajuizou ação popular na
defesa do meio ambiente, alegando e comprovando, de forma inequívoca,
que, durante a fase de instalação do empreendimento, a sociedade
empresária Delta promoveu a supressão vegetal de uma área de 10 hectares
em área ambientalmente protegida de Mata Atlântica, sem qualquer tipo de
posterior restauração florestal ou compensação ambiental.
O empreendedor Delta se defendeu alegando que obteve as licenças
ambientais necessárias e que foi fiscalizado pelo órgão ambiental na fase de
construção do posto.
No caso em tela, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido
de que a pretensão do autor popular merece prosperar, pois se aplica a
responsabilidade civil objetiva do empreendedor, regida pela teoria do risco
integral, que se justifica pelo princípio do poluidor-pagador e pela vocação
redistributiva do Direito Ambiental, não havendo que se falar em causas
excludentes da responsabilidade. Correta!

➔ QUESTÃO: E a responsabilidade do Estado no que tange a degradação ambiental?

Resposta: Recairá sobre o Estado a responsabilidade civil OBJETIVA (art. 37, §6º
CF/88), salvo quando o dano causado pelo Poder Público na omissão do exercício do poder de
polícia, a responsabilidade do Estado é SUBJETIVA (seja quando o serviço público não funcionou,
funcionou tardiamente ou funcionou mal). Ou seja, o Estado passa para o polo passivo da ação civil
pública, respondendo conjuntamente com o empreendedor (Resp 647.493/SC).

Vale dizer que a ação de reparação por danos ambientais é imprescritível.

Art. 37, §6º CF/88. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

I) Quanto ao nexo causal = em alguns casos não é preciso nem demonstrar o nexo causal
(Resp 1.056.540/GO):

A obrigação de recuperar a degradação ambiental é do titular da


propriedade do imóvel, mesmo que não tenha contribuído para a
deflagração do dano, tendo em conta sua natureza propter rem.

II) No que tange à responsabilidade por danos ambientais, em razão do princípio da


precaução, cabe ao empreendedor provar que a sua atividade não é causadora de danos
ambientais (ou seja, nesta hipótese, há inversão do ônus da prova).

O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório,


competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental
comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio
ambiente não lhe é potencialmente lesiva.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 42

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As formas de reparação dos danos ambientais são:

a) Restauração natural (ou restauração “in specie”) = privilegia-se a recuperação no local


onde ocorreu o dano.

b) Compensação ecológica = aplicada quando não foi possível a restauração natural.


Existem vários tipos de compensação ecológica. Quando tratar de responsabilidade civil por danos
ambientais, corresponderá à recuperação de outra área e não àquela onde ocorreram os danos
ambientais.

c) Indenização pecuniária = não sendo possível a realização da reparação natural e


compensação ecológica caberá a indenização pecuniária que será revertida para o FUNDO
(EIA/RIMA).

Observe que há uma ordem preferencial entre elas, pelo que esquematizamos:

Compensação Indenização
Restauração natural
ecológica Pecuniária

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE (2022) Alfredo, em 2015, represou um curso d’água que cortava seu
imóvel, para construir um pequeno parque aquático para seus netos. Durante
as obras, Alfredo causou poluição hídrica e supressão vegetal em área de
preservação permanente, tudo sem qualquer autorização do poder público.
Em 2020, Alfredo vendeu o imóvel a Joaquim, sendo certo que até a presente
data não houve recuperação ou compensação pelos danos ambientais
provocados e as piscinas naturais construídas permanecem sendo utilizadas.
O Ministério Público - MP instaurou inquérito civil para apurar a ocorrência de
danos ambientais e obteve um laudo da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente confirmando e descrevendo tais danos. Em 2022, o MP ajuizou
ação civil pública em face de Joaquim, pleiteando medidas para a
recomposição ambiental. No caso em tela, de acordo com a jurisprudência
dos Tribunais Superiores, é imprescritível a pretensão de reparação civil de
dano ambiental e as obrigações ambientais possuem natureza propter rem,
podendo o MP cobrá-las de Alfredo e/ou Joaquim. Correta!

TJ/PA (2022) A sociedade Alfa Ltda., após obter licença ambiental para
construção de estacionamento em área inserida em Estação Ecológica, é
processada em ação civil pública, em razão do dano ambiental causado. O
autor da ação comprova erro na concessão da licença, tendo em vista que é
vedada a construção dentro da referida Unidade de Conservação. Em defesa,
a sociedade Alfa Ltda. alega que realizou a construção amparada em licença
ambiental presumidamente válida. A ação deve ser acolhida, tendo em vista
que os danos ambientais são regidos pelo modelo da responsabilidade
objetiva e pela teoria do risco integral. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 43

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DPE/AP (2022) A responsabilidade por danos ambientais impõe que a
indenização deve abranger a totalidade dos danos causados, não sendo
possível suprimir as despesas referentes à atividade empresarial. Correta!

TRF4 (2022) A responsabilidade civil por danos ambientais é solidária entre


o poluidor direto e o indireto, o que permite que a ação seja ajuizada contra
qualquer um deles, sendo facultativo o litisconsórcio. Correta!

MPE/SC (2021) Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio em sua


propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que
resultou na destruição da vegetação nativa de outras duas propriedades
vizinhas. Caso o cidadão venda a sua propriedade, o novo proprietário deverá
responder por eventuais obrigações ambientais ainda pendentes de
cumprimento, haja vista a sua natureza real.

TJ/AC (2019) O princípio da responsabilização integral envolve o dever do


poluidor, pessoa física ou jurídica, de arcar com as consequências de sua
conduta lesiva contra o meio ambiente, tanto na seara civil e administrativa,
quanto na penal. Correta!

Percebe-se, portanto, que a responsabilidade civil por dano ambiental é tema recorrente em
concursos e frequente questionada no STJ e no STF. Colacionamos abaixo as ementas de alguns
recentes julgados sobre a temática.

A empresa que efetua irregularmente a lavra de minério, enriquecendo-se


ilicitamente, não pode pretender o ressarcimento dos custos operacionais
dessa atividade contra legem, sob o argumento de que a não remuneração
ensejaria o locupletamento sem causa da União.
STJ. 1ª Turma.REsp 1860239-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
09/08/2022 (Info 746).

Caso concreto: ação civil pública foi ajuizada, em 2018, contra particular e o
Município em razão de maus-tratos identificados desde 2012 em abrigo
clandestino de animais. A particular instalou o abrigo em área pública
abandonada. Na vistoria, que ocorreu 6 anos após a ocupação, havia 107
cães com diversos problemas. Firmado termo de ajustamento de conduta, a
área foi desocupada. Porém, verificou-se a mudança do canil clandestino
para outro imóvel, igualmente com problemas e sem licença. Nessa feita,
identificou-se contaminação ambiental do solo e instalação desautorizada de
poço. Na ACP, buscou-se a determinação para o município acolher os
animais em local adequado, com acompanhamento veterinário e
encaminhamento para doação ou destinação a entidades de proteção.
Não há que se falar em ilegitimidade passiva da municipalidade que, ciente
dos fatos por anos, deixou de tomar medidas efetivas para sua solução,
penalizando os animais submetidos ao “abrigo”, o que não pode mesmo ser
tolerado, inclusive diante da dimensão ecológica da dignidade humana.
STJ. 2ª Turma. AREsp 2024982-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
14/06/2022 (Info 742).

Caso concreto: ACP ajuizada pela União objetivando condenação dos réus
na obrigação de restauração de área degradada e ao pagamento de valor
total do lucro obtido com a extração ilegal de areia e argila. O TRF fixou a
indenização no montante de 50% do faturamento total da empresa

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 44

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proveniente da extração irregular do minério, por ter descontado as despesas
referentes à atividade empresarial (impostos e outras).
O STJ não concordou com o TRF. A indenização deve abranger a totalidade
dos danos causados ao ente federal, sob pena de frustrar o caráter
pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a impunidade de empresa
infratora, que praticou conduta grave com a extração mineral irregular.
STJ. 2ª Turma.REsp 1923855-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em
26/04/2022 (Info 734).

É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.


STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020
(Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983).

O princípio da insignificância é inaplicável em sede de responsabilidade civil


ambiental.
STJ. 2ª Turma. AREsp 667867/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
17/10/2018.

Por fim, anotamos as súmulas aprovados pelo STJ em matéria de responsabilidade civil
ambiental:

Súmula 629-STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu


à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.

Súmula 623-STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem,


sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos
anteriores, à escolha do credor.

Súmula 613-STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em


tema de Direito Ambiental.

5.4.5. Art. 225, §4º, da CF/88

Art. 225, §4º CF/88. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra
do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.

Tal dispositivo trata dos biomas brasileiros (vale dizer que falta inclusão do cerrado, da
caatinga e dos pampas gaúchos). Estes foram protegidos, em virtude de sua fragilidade. A palavra
“patrimônio nacional” que consta neste dispositivo não possui sentido jurídico e sim sentido de
propriedade (o valor destes biomas para a proteção ambiental).

Vale ressaltar que somente um destes biomas possui lei específica o regulando — a Mata
Atlântica (Lei 11.428/06), cuja cobrança é recorrente nos concursos públicos.

Ressalta-se que a Mata Atlântica integra o patrimônio nacional, mas não é bem da União.

EMENTA: Competência. Crime previsto no artigo 46, parágrafo único, da Lei


nº 9.605/98. Depósito de madeira nativa proveniente da Mata Atlântica. Artigo
225, § 4º, da Constituição Federal. - Não é a Mata Atlântica, que integra o
patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4º, da Constituição

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 45

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Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que
ocorra a competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta
Magna tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse
genérico da coletividade, embora aí também incluído genericamente o
interesse da União. - Consequentemente, a competência, no caso, é da
Justiça Comum estadual. Recurso extraordinário não conhecido.
(RE 300244, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em
20/11/2001, DJ 19-12-2001 PP-00027 EMENT VOL-02054-06 PP-01179)

5.4.6. Art. 225, §5º, da CF

Art. 225 CF, §5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.

5.4.7. Art. 225, §6º CF/88

Art. 225, § 6º CF/88 - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter
sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Por este dispositivo, a localização da usina é aprovada através de lei federal. Porém, isso
não desobriga o Poder Público Federal de realizar o licenciamento ambiental, em especial o Estudo
Prévio de Impacto Ambiental para a sua instalação. Exemplo: Angra I e Angra II.

Quem efetiva o licenciamento é o IBAMA com a colaboração da CNEN (Comissão Nacional


de Energia Nuclear).

5.4.8. Art. 225. §7º, da CF/88

A Lei 13.364/2016, acima mencionada, sozinha, não teria força jurídica suficiente para
superar a decisão do STF. Isso porque, na visão do Supremo, a prática da vaquejada não era
proibida por ausência de lei. Ao contrário, a Corte entendeu que, mesmo havendo lei
regulamentando a atividade, a vaquejada era inconstitucional por violar o art. 225, § 1º, VII, da
CF/88.

Ciente disso, o Congresso Nacional decidiu alterar a própria Constituição, nela inserindo a
previsão expressa de que são permitidas práticas desportivas que utilizem animais, desde que
sejam manifestações culturais.

Veja a íntegra do § 7º que foi inserido pela EC 96/2017 no art. 225 da CF/88:

Art. 225. (...)


§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que
sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição
Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que
assegure o bem-estar dos animais envolvidos.

Foi uma tentativa de superação legislativa da jurisprudência (reversão jurisprudencial), uma


manifestação de ativismo congressual.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 46

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A EC 96/2017 é um exemplo do que a doutrina constitucionalista denomina de
“efeito backlash”. Em palavras muito simples, efeito backlash consiste em uma reação
conservadora de parcela da sociedade ou das forças políticas (em geral, do parlamento) diante de
uma decisão liberal do Poder Judiciário em um tema polêmico.

George Marmelstein resume a lógica do efeito backlash ao ativismo judicial2:

• Em uma matéria que divide a opinião pública, o Judiciário profere uma decisão liberal,
assumindo uma posição de vanguarda na defesa dos direitos fundamentais.

• Como a consciência social ainda não está bem consolidada, a decisão judicial é
bombardeada com discursos conservadores inflamados, recheados de falácias com
forte apelo emocional.

• A crítica massiva e politicamente orquestrada à decisão judicial acarreta uma


mudança na opinião pública, capaz de influenciar as escolhas eleitorais de grande
parcela da população.

• Com isso, os candidatos que aderem ao discurso conservador costumam conquistar


maior espaço político, sendo, muitas vezes, campeões de votos.

• Ao vencer as eleições e assumir o controle do poder político, o grupo conservador


consegue aprovar leis e outras medidas que correspondam à sua visão de mundo.

• Como o poder político também influencia a composição do Judiciário, já que os


membros dos órgãos de cúpula são indicados politicamente, abre-se um espaço para
mudança de entendimento dentro do próprio poder judicial.

• Ao fim e ao cabo, pode haver um retrocesso jurídico capaz de criar uma situação
normativa ainda pior do que a que havia antes da decisão judicial, prejudicando os
grupos que, supostamente, seriam beneficiados com aquela decisão.”

A EC 96/2017 é inconstitucional? Este será um belíssimo e imprevisível debate.

No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda


constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites
previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda
constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema, essa
emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea ou o
processo legislativo para edição de emendas.

Segundo o art. 60, § 4º, da CF/88, não é permitida a edição de emenda constitucional que
acabe ou enfraqueça:

I - a forma federativa de Estado;


II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

2
Disponível em: https://direitosfundamentais.net/2015/09/05/efeito-backlash-da-jurisdicao-constitucional-reacoes-politicas-a-atuacao-
judicial/)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 47

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Essas são as chamadas “cláusulas pétreas”, ou seja, o núcleo intangível da Constituição
Federal. A grande dúvida é a seguinte: a proibição de que os animais sofram tratamento cruel,
prevista no art. 225, § 1º, VII, da CF/88, pode ser considerada como uma garantia individual (art.
60, § 4º, IV)? Segundo Marcio Cavalcante, SIM. Conforme já explicado, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é um direito fundamental de terceira geração, não podendo ser abolido
nem restringido, ainda que por emenda constitucional. Resta saber, no entanto, como o STF
entenderá o tema após o backlash, considerando que a primeira decisão foi extremamente
apertada.

6. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS EM MATÉRIA AMBIENTAL

6.1. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA

Prevista no art. 23, III, IV, VI e VII CF/88), trata-se de uma COMPETÊNCIA COMUM (entre
todos os entes federados) para a proteção do meio ambiente.

Art. 23 CF/88 - É competência COMUM da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os
sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente (todas as modalidades) e combater a poluição
em qualquer de suas formas; É o mais importante!
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora.
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.
Parágrafo único - Leis complementares fixarão normas para a cooperação
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista
o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Esta competência administrativa está associada ao poder de polícia (art. 70 CTN) e ao


licenciamento ambiental. O § único do art. 23 da CF/88 foi regulado pela Lei Complementar 140/11.

Obs.: O CPC/15 revogou a preferência da União que constava na Lei


Geral do Tombamento.

6.2. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA PARA LICENCIAMENTO AMBIENTAL: A


INCIDÊNCIA DA LC 140/11

Esta lei traz basicamente o seguinte:

1) Objetivos, finalidades e conceitos;

Destaque para o art.3º da referida LC.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 48

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Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum a
que se refere esta Lei Complementar:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção
do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação
da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição
de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de
atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,
respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

2) Instrumentos de cooperação;

É um rol exemplificativo.

Art. 4o Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes


instrumentos de cooperação institucional:
I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;
II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares
com órgãos e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da
Constituição Federal;
III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e
Comissão Bipartite do Distrito Federal;
IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os
requisitos previstos nesta Lei Complementar;
VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo
a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar.
§ 1o Os instrumentos mencionados no inciso II do caput podem ser firmados
com prazo indeterminado.
§ 2o A Comissão Tripartite Nacional será formada, paritariamente, por
representantes dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental
compartilhada e descentralizada entre os entes federativos.
§ 3o As Comissões Tripartites Estaduais serão formadas, paritariamente, por
representantes dos Poderes Executivos da União, dos Estados e dos
Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e
descentralizada entre os entes federativos.
§ 4o A Comissão Bipartite do Distrito Federal será formada, paritariamente,
por representantes dos Poderes Executivos da União e do Distrito Federal,
com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e
descentralizada entre esses entes federativos.
§ 5o As Comissões Tripartites e a Comissão Bipartite do Distrito Federal terão
sua organização e funcionamento regidos pelos respectivos regimentos
internos.
Art. 5o O ente federativo poderá delegar, mediante convênio, a execução de
ações administrativas a ele atribuídas nesta Lei Complementar, desde que o
ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental capacitado a
executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio
ambiente.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 49

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Parágrafo único. Considera-se órgão ambiental capacitado, para os efeitos
do disposto no caput, aquele que possui técnicos próprios ou em consórcio,
devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das ações
administrativas a serem delegadas.

3) Ações de Cooperação;

4) Disposições finais e transitórias.

Esta lei, basicamente, distribuiu a competência entre os entes federados.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/GO (2019) Os instrumentos de cooperação institucional dos convênios,
acordos de cooperação técnica e outros similares com órgãos e entidades do
Poder Público podem ser firmados com prazo indeterminado, respeitado o
art. 241 da Constituição Federal. Correta!

6.3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Prevista no art. 24, VI. VI e VIII CF/88, trata-se de uma COMPETÊNCIA CONCORRENTE.

Caberá à União estabelecer normas gerais, cujo objetivo é coordenar e uniformizar a


legislação no país. Entretanto, no Direito Ambiental estas normas não precisam ser editadas através
de lei, pois se permite a edição por meio de Resoluções do CONAMA.

Exemplo: Resolução 237/97 (que versa sobre o licenciamento ambiental - LA) e Resolução
01/86 (que versa sobre o estudo prévio de impacto ambiental - EPIA). Deste modo, o CONAMA
possui poder regulamentar (poder infrarregulamentar).

Art. 24 CF/88 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


CONCORRENTEMENTE sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-
se-á a estabelecer normas gerais.

Os Estados e o Distrito Federal possuem competência SUPLEMENTAR (art. 24, §2º CF/88)
que pode ser:

- Competência Suplementar SUPLETIVA = cabe preencher as lacunas da norma geral;

- Competência Suplementar COMPLEMENTAR = visa pormenorizar/detalhar a norma geral.

§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a


competência suplementar dos Estados.

Vale dizer que inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa PLENA, para atender a suas peculiaridades. A superveniência de lei federal

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 50

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sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (art. 24, §§ 3º e 4º
CF/88).

§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a


competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário.

Em relação à competência dos Municípios, a jurisprudência entende que podem legislar,


desde que façam de forma fundamentada, bem como trate de matérias de interesse local.

Vejamos alguns destaques de jurisprudência sobre competência para legislar sobre direito
ambiental:

Info 1076: É inconstitucional — por invadir a competência legislativa geral da


União (art. 24, VI, §§ 1º e 2º, da CF/88) e violar o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, IV, da CF/88) — norma estadual
que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente.
STF. Plenário. ADI 4529/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/11/2022.

Info 1073: É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que


obriga à substituição de sacos e sacolas plásticos por sacos e sacolas
biodegradáveis.
Os municípios — no limite de seu interesse local e desde que em harmonia
com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados — possuem
competência para legislar sobre meio ambiente, e, caso sua regulamentação
seja mais protetiva, pode ter prevalência sobre a legislação federal ou
estadual.
STF. Plenário. RE 732686/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/10/2022
(Repercussão Geral – Tema 970) (Info 1073).

Info 1061 - O Poder Executivo tem o dever constitucional de fazer funcionar


e alocar anualmente os recursos do Fundo Clima, para fins de mitigação das
mudanças climáticas, estando vedado seu contingenciamento, em razão do
dever constitucional de tutela ao meio ambiente (CF, art. 225), de direitos e
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil (CF, art. 5º, § 2º), bem
como do princípio constitucional da separação dos poderes (CF, art. 2º c/c
art. 9º, § 2º, LRF).
STF. Plenário. ADPF 708/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
1º/7/2022 (Info 1061).

Info 1060 - São formalmente inconstitucionais as leis estaduais que


interferem em matérias relacionadas à atividade nuclear e à energia, uma vez
que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em indevida invasão da
competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu
respeito (art. 21, XII, “b”, XIX e XXIII e art. 22, IV e XXVI, da CF/88).
Com base nesse entendimento, o STF declarou a inconstitucionalidade do
art. 209 da Constituição do Estado do Paraná, que dizia:
Art. 209. Observada a legislação federal pertinente, a construção de centrais
termoelétricas e hidrelétricas dependerá de projeto técnico de impacto
ambiental e aprovação da Assembleia Legislativa; a de centrais
termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 51

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STF. Plenário. ADI 7076/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
24/6/2022 (Info 1060).

Info 1042/STF- É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em


solo urbano de área de preservação permanente (APP) fora das situações
previstas em normas gerais editadas pela União.

STF. Plenário. ADI 5675/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em


17/12/2021 (Info 1042).

Info 1014 STF: É inconstitucional norma estadual que estabelece hipóteses


de dispensa e simplificação do licenciamento ambiental para atividades de
lavra a céu aberto por invadir a competência legislativa da União para editar
normas gerais sobre proteção do meio ambiente, nos termos previstos no art.
24, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal. Vale ressaltar também que o
estabelecimento de procedimento de licenciamento ambiental estadual que
torne menos eficiente a proteção do meio ambiente equilibrado quanto às
atividades de mineração afronta o caput do art. 225 da Constituição por
inobservar o princípio da prevenção.

Info 975 STF: É constitucional lei estadual que proíbe a utilização de animais
para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de
higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei
federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando a
utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos
adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo
o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso
não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os
Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento
em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse,
conforme o caso.

Info 919 STF: Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito
de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas
áreas urbanas e de expansão urbana do Município. Essa lei municipal invade
a competência da União. O Município, ao inviabilizar o transporte de gado
vivo na área urbana e de expansão urbana de seu território, transgrediu a
competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a
política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua
fiscalização. Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de
proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.
Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação
federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a
qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro,
a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte
quanto no seu abate.

Info 857 STF - o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente,
juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse
local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 52

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CF/88). Se o Município legislar sobre Direito Ambiental, fazendo de forma
fundamentada segundo seus interesses locais, não há, em princípio, violação
às regras de competência.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) O Estado Ômega editou lei dispondo que todo Termo de
Cooperação e/ou instrumento similar a ser celebrado entre os órgãos
componentes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, no Estado
Ômega, deverá ser previamente aprovado pela Assembleia Legislativa.
Consoante jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a citada legislação é
inconstitucional, por violação ao princípio da separação de poderes, haja vista
que representa indevida ingerência do Poder Legislativo sobre o Executivo
em matéria de cunho administrativo ambiental. Correta!

AGE/MG (2022) O Estado Alfa, alegando buscar o atendimento às suas


peculiaridades regionais, editou lei ampliando os casos de ocupação
antrópica em áreas de preservação permanente (APP) previstos na norma
federal vigente. Com a nova legislação estadual, o ente federativo Alfa
pretende legitimar ocupações em solo urbano de APP, fora das situações
previstas em normas gerais editadas pela União. De acordo com a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma estadual é
inconstitucional, porque está em descompasso com as normas gerais
editadas pela União, flexibilizando e diminuindo a proteção ao meio ambiente,
tornando-o mais propenso a sofrer danos. Correta!

PGE/SC (2022) Por meio de emenda à sua Constituição, o Estado Beta editou
a seguinte norma: “Observada a legislação federal pertinente, a construção
de centrais termelétricas e hidrelétricas dependerá de projeto técnico de
impacto ambiental e aprovação da Assembleia Legislativa; a de centrais
termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária”.
De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, o artigo
inserido na Constituição do Estado Beta é inconstitucional, formalmente,
porque incorre em indevida invasão da competência privativa da União para
explorar serviços relacionados à atividade nuclear e à energia e legislar a seu
respeito. Correta!

PGE/AL (2021) Esse princípio estabelece que cabem à União as matérias de


interesse geral e cabem aos estados os assuntos de interesse regional.
Correta!

TJ/SP (2021) O Município é competente para legislar sobre meio ambiente


com a União e o Estado, no limite do interesse local e desde que tal
regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes
federados. Correta!

MPE/AP (2021) A competência para legislar sobre responsabilidade por dano


ao meio ambiente é privativa da União. Errada!

MPE/AP (2021) O pagamento de multa ambiental imposta ao infrator pela


União não afasta a exigibilidade de pena pecuniária imposta pelo município,
ainda que relacionada ao mesmo fato. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 53

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MPE/AP (2021) A competência legislativa suplementar de um ente estadual
para atender a interesse regional não lhe autoriza a dispensa de
licenciamento instituído em normas gerais por lei federal. Correta!

7. PRINCÍPIOS DO MEIO AMBIENTE

7.1. PRINCÍPIO DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO UM


DIREITO FUNDAMENTAL (ART. 225 CF/88 C/C PRINCÍPIO 01 DA DECLARAÇÃO DO
RIO/92)

Significa que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. É um direito
fundamental (direito matriz), pois é a partir deste que se irradia para novas interpretações do
legislador constitucional e infraconstitucional.

Meio ambiente ecologicamente equilibrado significa um meio ambiente não poluído, com
salubridade e sadia qualidade de vida (quanto mais se aproxima à dignidade da pessoa humana,
mais essencial ele se torna).

Art. 225 CF/88 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 54

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VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade. Serviu de fundamento para a
inconstitucionalidade das rinhas de galo e da vaquejada. (a EC 96/2017
considera possível).
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são PATRIMÔNIO
NACIONAL, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

PRINCÍPIO 1 (RIO/92) – Os seres humanos estão no centro das


preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida
saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.

Art. 170 CF/88. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação.

Trata-se de um direito de terceira geração, qual seja: direito difuso.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PE (2022) A Lei nº 6.938/1981, que Dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências, no art. 2º , I prevê que [...] o meio ambiente é patrimônio
público a ser necessariamente assegurado e protegido [...]. Logo, o meio
ambiente é bem que integra o interesse difuso dos indivíduos. Correta!

MPE/CE (2020) Com relação ao tratamento constitucional dado à questão


ambiental, é correto afirmar que a Constituição Federal de 1988 estabelece
que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é não só um direito, mas
também um dever de toda a coletividade e do poder público. Correta!

MPE/CE (2020) Reconhece o direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, um direito fundamental de segunda geração, segundo a
jurisprudência do STF. Errada!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 55

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MPE/MG (2019) Em conformidade com a Constituição vigente, incumbe ao
poder público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, exceto facultar, na forma da lei, para instalação
de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade. Errada!

TJ/RO (2019) Sobre Constituição e o Meio Ambiente, é correto afirmar que a


expressão “bem de uso comum do povo”, que define o meio ambiente na
Constituição, refere-se muito mais a interesse, ou necessidade, do que a
propriedade ou domínio. Correta!

TJ/AL (2019) A disciplina constitucionalmente estabelecida para a proteção


do meio ambiente introduziu, como obrigação do poder público, a definição
dos espaços territoriais a serem especialmente protegidos, impondo tal
obrigação a todas as unidades da federação, sem, contudo, estabelecer um
conceito único de espaço territorial especialmente protegido, podendo tal
proteção alcançar áreas públicas ou privadas. Correta!

7.2. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ART. 225 E 170, III E VI CF/88 C/C
PRINCÍPIO 4 DA DECLARAÇÃO DO RIO/92)

Art. 225 CF/88 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Art. 170 CF/88. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
III - função social da propriedade;
(...)
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação.

PRINCÍPIO 4 (RIO/92) – Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a


proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de
desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste.

Desenvolvimento sustentável é aquele economicamente factível, ecologicamente


adequado, socialmente justo e culturalmente equitativo, sem discriminações. Em outras palavras, é
compatibilizar o desenvolvimento da atividade econômica e a proteção do meio ambiente.

Pertinente a este tema, são as visões de como os seres se relacionam com o universo e a
influência disso no meio ambiente. Temos o antropocentrismo, o biocentrismo e o
ecocentrismo. Vejamos:

1) Antropocentrismo: o homem é o centro do universo (de todas as relações). Os animais e


os recursos naturais são utilizados por ele. A consequência é a destruição do meio ambiente.
A CF/88 tem essência antropocêntrica.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 56

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2) Biocentrismo: o centro do universo são os seres vivos (flora e fauna). Há proteção jurídica
dos animais, tornando-se sujeito de direito (para alguns doutrinadores). Há uma passagem
em nossa CF/88 de biocentrismo (art. 225, VII: “(...) proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais à crueldade”).
Exemplo: Rinhas de galo (leis estaduais que as autorizaram foram consideradas
inconstitucionais) e o caso da vaquejada (a EC 96/2017 considera possível).

3) Ecocentrismo: é a ecologia o centro do universo (visão radical).

Obs.: Posição a ser adotada = ANTROPOCENTRISMO ALARGADO,


ou seja, há uma preocupação em unir o ser humano com o animal.
Trata-se de uma visão abrandada do antropocentrismo, mais
globalizada e ética, na qual se valoriza a interdependência entre os
seres humanos e os elementos da natureza.

É sem dúvida alguma, necessário conciliar o antropocentrismo e o ecocentrismo, pois o meio


ambiente não pode ser considerado algo a ser destinado pura e simplesmente a satisfação dos
desejos humanos, e nem tão pouco um bem autônomo, sem qualquer finalidade para o homem.

O sistema ANTROPOCÊNTRICO ALARGADO nos traz uma superação dialética das


posições extremadas anteriores, cada um desses elementos contém, pelo menos virtualmente, uma
parte do outro, pois o homem é também um pedaço da natureza, e em contrapartida, a natureza
produz a hominização, de onde resulta um jogo permanente de interações, que contribuem para
redefinir os termos existentes.

➔ QUESTÃO: Ocorrendo conflito entre atividades econômicas e proteção ao meio


ambiente. Qual prevalecerá?

Resposta: Em conformidade com a ADI 3540/DF, deve-se primeiramente compatibilizá-las,


porém quando não for possível, prevalecerá a proteção ao meio ambiente.

Ementa: (...) O princípio do desenvolvimento sustentável, além de


impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte
legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado
brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as
exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a
invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre
valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja
observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos
mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio
ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser
resguardado em favor das presentes e futuras gerações (...). A atividade
econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios
destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente (...). ADI
3540/DF (31.08.05)

ATENÇÃO, a Lei 13.186/2015 estabelece a Política de Educação para


o Consumo Sustentável com o objetivo de estimular a adoção de
práticas de consumo e de técnicas de produção ecologicamente

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 57

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sustentáveis. Segundo a Lei, “consumo sustentável” é o uso dos
recursos naturais de forma a proporcionar qualidade de vida para a
geração presente sem comprometer as necessidades das gerações
futuras.

7.3. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU RESPONSABILIDADE


ENTRE GERAÇÕES OU EQUIDADE (ART. 225, IN FINE CF/88 C/C PRINCÍPIO 3 DA
DECLARAÇÃO DO RIO/92)

Cria-se um sujeito de direito indeterminado.

Art. 225, in fine CF/88 = “... o dever de defendê-lo e preservá-lo para as


presentes e futuras gerações”.

RIO 92 PRINCÍPIO 3 – O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de


modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de
gerações presentes e futuras.

É o princípio de ética entre as gerações, havendo duas leituras: a leitura SINCRÔNICA e a


leitura DIACRÔNICA.

1) Sincrônica (presentes gerações) = o acesso desta geração não pode comprometer o


acesso das gerações futuras. Solidariedade sincrônica, porque diz respeito a toda geração
atual ante aos problemas e às possíveis soluções ambientais. Todas as comunidades,
desta mesma geração, devem se implicar na continuidade da experiência humana.

2) Diacrônica (futuras gerações) = “A segunda, a diacrônica ('através do tempo'), é aquela que


se refere às gerações do após, ou seja, as que virão depois de nós na sucessão do tempo”.
Solidariedade diacrônica implica que as diferentes gerações não podem esquecer da
proteção a um meio ambiente equilibrado que herdarão ou deixarão das/para as outras
gerações.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Delegado/AM (2022) A Constituição da República, em seu Art. 225, dispõe
que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. A parte final do dispositivo deixa claro que as
presentes gerações devem observar a preservação do meio ambiente,
adotando políticas ambientais que permitam às presentes e futuras gerações
a utilização do meio ambiente, não podendo usufruir dos recursos ambientais
de forma a privar seus descendentes desses recursos naturais. Trata-se do
princípio de Direito Ambiental do(a) solidariedade intergeracional. Correta!

7.4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE (ART. 5º, XXII E XXIII


CF/88)

A propriedade só se legitima a partir do momento que se atende à função social e à


coletividade.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 58

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CF Art. 5º
XXII - é garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.

A função social da propriedade pode ser:

Urbana (art. 182, §2º CF/88) = deve-se cumprir o plano diretor do Município, conforme
preconiza o Estatuto da Cidade – art. 39 L. 10.257/01. A propriedade urbana cumpre sua função
social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor.

CF Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

EC Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos
quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das
atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2 o desta
Lei.

Rural (art. 186 CF/88)

Art. 186 CF/88 - A função social é cumprida quando a propriedade RURAL


atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;(fator econômico)
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;(FATOR AMBIENTAL)
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; (fator
social)
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores. (Fator social)

A função social não LIMITA o direito de propriedade. É elemento essencial interno da


propriedade, o conteúdo do direito de propriedade. Não há que se falar em limitação, mas sim no
uso da propriedade, conforme o direito (deve-se observar a PPP, cumprindo com o art. 5º, XXIII
CF/88).

OBS: Onde não há função, não há autonomia de vontade. A função


tem ideia de obrigação e quando cumprida, pode-se usar a
propriedade com certa liberdade (função socioambiental).

A função pode ser:

1) Positiva (obrigação de fazer). Exemplo: Na propriedade rural (não tendo reserva legal
florestal e não a fazendo, receberá uma sanção – multa de R$ 500,00 por dia, segundo

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 59

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o art. 35 do Dec. 6514/08). Quanto à propriedade urbana, há o limite de ruído. Caso
queira ultrapassá-lo terá que fazer vedação acústica.

Dec. 6514/08 Art. 55. Deixar de averbar a reserva legal:


Penalidade de advertência e multa diária de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$
500,00 (quinhentos reais) por hectare ou fração da área de reserva
legal. (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008).

2) Negativa (obrigação de não fazer) = não poluir, não degradar, não emitir ruídos etc.

Art. 1228 CC/02. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em


consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

7.5. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Lida com o RISCO CONHECIDO (dica mnemônica: “na prevenção tenho a Visão do risco”).
Deve-se agir antecipadamente, quando se têm dados, pequenas informações ambientais.

Exemplo: sabemos que o garimpo traz consequências desastrosas ao meio ambiente.


Assim, deve-se aplicar este princípio, através dos meios de efetivação:

• EPIA/RIMA - se caracteriza por ser um estudo multidisciplinar realizado por profissionais


das mais diferentes áreas (equipe multidisciplinar), com o objetivo de identificar os
aspectos positivos e negativos de um empreendimento, indicando os métodos
disponíveis para mitigação dos impactos ambientais;

• Licenciamento - é uma forma do Poder Público controlar atividades que vão utilizar
recursos naturais. Consiste em um procedimento administrativo no qual o órgão
ambiental competente para o licenciamento licencia a localização (Licença Prévia – LP),
a instalação (Licença de Instalação – LI) e a operação (Licença de Operação – LO) de
atividades que utilizam recursos naturais;

• Poder de polícia ambiental (segue a mesma ótica do art. 78 do CTN, ou seja, equivale
ao poder de polícia administrativo).

O que justifica o princípio da prevenção?

1) A impossibilidade de retorno do “status quo ante”, ou seja, os danos ambientais, em


regra, são irreversíveis. Ex.: Chernobyl, Hiroshima etc.

2) A extinção de uma espécie da fauna e da flora.

O direito ambiental visa o binômio: PREVENÇÃO e REPARAÇÃO.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/CE (2020) Ao avaliar um pedido de autorização do uso de determinado
agrotóxico, o órgão ambiental competente, pautado em estudos científicos,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 60

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autorizou o uso do produto. Para decidir, considerou que, no atual estágio do
conhecimento científico, inexiste comprovação de efeitos nocivos à saúde
humana decorrentes da exposição ao referido agrotóxico, conforme
parâmetros propostos pela Organização Mundial de Saúde. Considerando-se
que, nessa situação hipotética, o risco de exposição ao agrotóxico possa ser
mensurado, é correto afirmar, com base na jurisprudência do STF, que a
decisão do órgão ambiental está pautada no princípio da prevenção. Correta!

7.6. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (PRINCÍPIO 15 DA DECLARAÇÃO DO RIO/92)

Trabalha-se com o RISCO DESCONHECIDO/INCERTO, ou seja, o perigo abstrato. Não se


tem dados/pesquisas (há incerteza científica).

RIO 92 PRINCÍPIO 15 – De modo a proteger o meio ambiente, o PRINCÍPIO


DA PRECAUÇÃO deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo
com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser
utilizada como razão para postergar medidas eficazes e
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Art. 54 (Lei 9605/98). Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais


que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar
de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de
precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Ex1: Aquecimento global: não se tem pesquisa conclusiva sobre os seus efeitos daqui a
40 anos.

Ex2: Organismos geneticamente modificados (Lei 11.105/05): não se tem pesquisa


conclusiva.

Por este princípio, há inversão do ônus da prova, ou seja, cabe ao empresário comprovar
que sua intervenção não vai causar danos ao meio ambiente. Também se trabalha com a ideia da
espera da informação, isto é, “IN DUBIO PRO NATURA” ― na dúvida não intervenha no meio
ambiente.

Nesse sentido:

Súmula 618-STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de


degradação ambiental.

O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório,


competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar
que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é
potencialmente lesiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana
Calmon, julgado em 01/12/2009.

O autor precisará provar apenas que existe um nexo de causalidade provável


entre a atividade exercida e a degradação ambiental. Sendo isso provado,
fica transferido para a concessionária o encargo (ônus) de provar que sua

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 61

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conduta não ensejou riscos ou danos para o meio ambiente. STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1311669/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 03/12/2018.

Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de


reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o
encargo de provar que sua conduta não foi lesiva. STJ. 1ª Turma. REsp
1.049.822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 23/04/2009.

 Prognose negativa = faz-se o exercício da probabilidade, onde a proíbe. Exemplo: Foi o


que aconteceu com os alimentos geneticamente modificados, na década de 70.

No Info 829 o STF analisou a violação do princípio da precaução pela Lei 11.934/2009.
Afirmou que o princípio da precaução não é absoluto e sua aplicação não pode gerar temores
infundados. O Estado deve agir de forma proporcional. O eventual controle pelo Poder Judiciário
quanto à legalidade e à legitimidade na aplicação desse princípio há de ser realizado com prudência,
com um controle mínimo, diante das incertezas que reinam no campo científico. Os limites
estabelecidos pela Lei nº 11.934/2009 e pela Resolução Normativa 398/2010 da ANEEL, estão de
acordo com a Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP) e com
as recomendações da OMS. Não existem estudos científicos na Suíça mais esclarecedores que os
já produzidos no restante do mundo e que justifiquem a obrigatoriedade de se adotar os padrões ali
estabelecidos em detrimento dos níveis fixados pela OMS.

O legislador brasileiro e a ANEEL fizeram uma opção legislativa e administrativa por um


critério e não se pode afirmar que esteja inadequado. Ao contrário, estudos desenvolvidos pela
OMS demonstram que não há evidências científicas convincentes de que os valores de campos
eletromagnéticos nos limites estabelecidos pela ICNIRP causem efeitos adversos à saúde. Assim,
o Estado brasileiro adotou as necessárias cautelas, pautadas pelo princípio constitucional da
precaução, não tendo havido violação deste postulado na adoção dos critérios eleitos pela Lei nº
11.934/2009. No futuro, caso surjam efetivas e reais razões científicas e/ou políticas para a revisão
do que se deliberou no âmbito normativo, o espaço para esses debates e a tomada de novas
definições serão respeitados.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/AM (2021) In dubio pro ambiente ou in dubio pro natura: na dúvida sobre
o perigo de uma certa atividade para o ambiente, decide-se a favor do
ambiente e contra o potencial poluidor. Tal afirmação, no âmbito do Direito
Ambiental, relaciona-se, direta ou indiretamente, ao princípio da precaução.
Correta!

MPE/SC (2019) O princípio ambiental da prevenção não se confunde com o


princípio ambiental da precaução. O princípio da prevenção se aplica quando
existem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é
perigosa, sendo que têm por objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio
ambiente, por meio da imposição de medidas acautelatórias antes da
implantação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras. Correta!

7.7. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (PPP - PREVISÃO NO PRINCÍPIO 16 DA


DECLARAÇÃO DO RIO/92)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 62

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RIO 92 PRINCÍPIO 16 – Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio,
arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem
procurar promover a INTERNALIZAÇÃO dos custos ambientais e o uso
de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse
público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.

Princípio cautelar e economicamente aplicável ao direito ambiental. Possui dois aspectos:

1) Preventivo: é a internalização das externalidades negativas;

2) Reparador: ocorrendo algum dano ambiental, o empreendedor será responsável pela


reparação dos danos causados ao meio ambiente. Exemplo: uma catástrofe natural danifica
um depósito de resíduos, causando vazamento. A responsabilidade em matéria ambiental é
objetiva (art. 14, §1º, da Lei 6.938/81), havendo dever de reparação. É o que ocorreu em
Mariana/MG.

“Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei
6.938/1981, o degradador, em decorrência do princípio do poluidor-pagador,
previsto no art. 4º, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado,
independentemente da existência de culpa, a reparar – por óbvio que às suas
expensas – todos os danos que cause ao meio ambiente e a terceiros
afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento
subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé
para fins de acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de
restauração do status quo ante ecológico e de indenização” (passagem do
REsp 769.753, de 08.09.2009).”

*Internalização = corresponde ao PROCESSO DE PRODUÇÃO.

*Externalidade = é tudo aquilo que está FORA do processo produtivo.

PPP = ao invés de lançar efluentes em rios, deve-se instalar estação de tratamento, filtro
para gases etc.

O empreendedor deve internalizar os custos de prevenção, monitoramento e reparação


dos danos causados ao meio ambiente.

Obs.: Há na doutrina diferenciação entre poluidor direto e poluidor


indireto. O primeiro é o responsável diretamente pelo dano ambiental.
Ex.: Empresa responsável por um determinado acidente ambiental. O
segundo, por sua vez, é aquele que se beneficia da atividade poluente,
consumindo um determinado produto que é oriundo de uma atividade

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 63

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considerada poluente, ou quem cria os elementos necessários para
que a poluição ocorra, permitindo que o bem a ser consumido seja
lesivo ao meio ambiente

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) De acordo com preceitos legais, quem utiliza o recurso
ambiental com fins econômicos deve suportar seus custos por força do
princípio do poluidor-pagador. Correta!

TJ/RO (2019) Determinada indústria química elimina seus rejeitos no rio que
abastece uma cidade, alterando as características do meio ambiente e
prejudicando a segurança e o bem-estar da população. Nesse caso, o
princípio ambiental que visa à internalização das externalidades ambientais
negativas e busca impedir a socialização dos custos ambientais é o princípio
do usuário-pagador. Errada!

MPE/PI (2019) À luz do direito ambiental, a referida obrigatoriedade de


compra de sacolas plásticas é um exemplo de aplicação do princípio do
poluidor-pagador. Correta!

7.8. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

Trata-se de um princípio complementar ao Princípio do Poluidor-Pagador. oriundo de um


julgado do STF - ADI 3378/DF -, com fulcro no art. 4º, VII L. 6938/81.

Art. 4º L. 6938/81: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação


de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao USUÁRIO, da
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

Para este princípio, devem-se quantificar os recursos naturais para evitar o custo zero, já
que este leva à hiper exploração e consequentemente à escassez. Exemplo: seria a água potável
no mundo.

• “Usuário” é aquele que faz uso de recurso ambiental e sem causar degradação, diferente
do “poluidor”.

• “Poluidor” é aquele que direta ou indiretamente causa degradação

Crise hídrica em SP, multa para as pessoas que estavam desperdiçando.

Deve estar prevista em lei, o que mostra simbiose com princípio da legalidade (art. 19 da
Lei 9.433/97).

Art. 19 da Lei 9433/97. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:


I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação
de seu real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e
intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 64

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Ementa: O art. 36 da Lei nº 9.985/2000 densifica o princípio usuário-pagador,
este a significar um mecanismo de assunção partilhada da responsabilidade
social pelos custos ambientais derivados da atividade econômica. 4.
Inexistente desrespeito ao postulado da razoabilidade. Compensação
ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação
do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo outro
meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional. Medida amplamente
compensada pelos benefícios que sempre resultam de um meio ambiente
ecologicamente garantido em sua higidez. 6. Ação parcialmente procedente.
ADI 3378/DF (08.04.08)

Lei nº 9.985/00 Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de


empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo
órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do
Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no
regulamento desta Lei.
§ 1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta
finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos
para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão
ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado
pelo empreendimento. (Vide ADIN nº 3.378-6, de 2008)
§ 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de
conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas
apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser
contemplada a criação de novas unidades de conservação.
§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou
sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste
artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável
por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao
Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da
compensação definida neste artigo.

Visa, em suma:

• Racionalizar o uso;

• Arrecadar recursos a serem revertidos ao meio ambiente;

• Funcionar como medida educativa;

• Quantificar o recurso natural para evitar escassez;

• Evitar o custo zero;

• Evitar o uso abusivo.

7.9. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR (PPR - ARTIGO 6º, INCISO II, DA LEI


12.305/2010)

Relacionado ao poluidor-pagador. Previsto no artigo 6º, inciso II, da Lei 12305/2010. Política
Nacional de Resíduos Sólidos.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 65

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Lei 12305/10 Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
II - o poluidor-pagador e o PROTETOR-RECEBEDOR;

Poluidor-pagador (STJ - princípio da responsabilidade): finalidade punitiva.

Protetor-recebedor: finalidade de reconhecimento; aquele que protege o meio ambiente,


deve ser reconhecido por suas iniciativas em razão de serviços ambientais que aproveitem toda a
sociedade. Pode-se justificar tratamento jurídico, econômico, orçamentário distinto para empresas
que poluem e que protegem, sem que isso ofenda a isonomia.

Visão sistêmica da gestão dos resíduos sólidos.

Há no artigo 41 do Código Florestal fixação de programa de apoio e incentivo à preservação


e recuperação do meio ambiente, com a possibilidade de pagamento ou incentivo a serviços
ambientais como retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos
ecossistemas, consagrando o referido princípio.

Art. 41. É o Poder Executivo federal autorizado a instituir, sem prejuízo do


cumprimento da legislação ambiental, programa de apoio e incentivo à
conservação do meio ambiente, bem como para adoção de tecnologias e
boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com
redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do
desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados sempre os
critérios de progressividade, abrangendo as seguintes categorias e linhas de
ação:
I - pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária
ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que
gerem serviços ambientais, tais como, isolada ou cumulativamente:
a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a
diminuição do fluxo de carbono;
b) a conservação da beleza cênica natural;
c) a conservação da biodiversidade;
d) a conservação das águas e dos serviços hídricos;
e) a regulação do clima;
f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico;
g) a conservação e o melhoramento do solo;
h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e
de uso restrito;

Como o tema foi cobrado em concurso?


TRF4 (2022) Admite-se o pagamento por serviços ambientais relacionados
com o regime de conservação das águas e dos serviços hídricos para a
conservação do meio ambiente, como forma de promoção do
desenvolvimento ecologicamente sustentável. Correta!

7.10. PRINCÍPIO DA ECOEFICIÊNCIA (PEE - O ARTIGO 6º, INCISO V, DA LEI 12.305/2010)

Lei 12305/10 Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


V - a ECOEFICIÊNCIA, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a
preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as
necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 66

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ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo,
equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;

Compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços


qualificados, que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do
impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à
capacidade de sustentação estimada do planeta (art. 6º, V, da Lei 12.305/2010). Ineficiência pode
levar à interdição. Só pode ficar no mercado quem for ecoeficiente.

7.11. PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO

Subdivide-se em três subprincípios, quais sejam:

1) Princípio da Informação;
2) Princípio da Participação Comunitária;
3) Princípio da Educação Ambiental.

7.11.1. Princípio da Informação

Previsões:

1) Lei 10.650/03 - garante a todos os cidadãos o acesso às informações de dados ambientais


públicos, salvo o sigilo industrial.

L.10.650/03 Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o acesso público aos dados e
informações ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, instituído pela Lei no6.938,
de 31 de agosto de 1981.

2) Declaração do Rio:
PRINCÍPIO 10 da Declaração do Rio/92. A melhor maneira de tratar
questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de
todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter
acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que
disponham autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais
e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a
oportunidade de participar em processos de tomada de decisões. Os
Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação
pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado
acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que
diz respeito à compensação e reparação de danos.

3) CF/1988:
Art. 5º, XXXIII CF/88: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado.

Art. 225, §1º, IV CF/88: “Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao Poder Público: IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 67

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.”

4) Lei da Política Nacional de Biossegurança;

Art. 40 da L. 11.105/05: Os alimentos e ingredientes alimentares destinados


ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir
de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus
rótulos, conforme regulamento.

5) O SISNAMA.

6) Lei 12.305/2010

Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos,
com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a
recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua
sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de
2007;

Conforme alerta o prof. Márcio Cavalcanti, do Dizer o Direito, o acesso a informações


públicas é um direito simultaneamente autônomo e funcional.3

Além de a prestação de contas e controle do governo pela sociedade ser princípio básico
das democracias, o direito de acesso viabiliza a participação adequada da população na tomada de
decisões coletivas e participação na coisa pública.

No âmbito ambiental, o direito de acesso à informação encontra-se reconhecido no direito


internacional, em diversas normas que visam dar cumprimento ao Princípio 10 da Declaração do
Rio.

Na América Latina e Caribe, o Acordo de Escazú dispõe sobre a matéria. Embora não
internalizado, pendente de ratificação, o direito nacional reflete princípios semelhantes por todo o
ordenamento, desde o nível constitucional, que se espalham em variadas leis federais.

Tal entendimento caminha na construção daquilo que se denomina “Estado de Direito


Ambiental”, que consiste em medidas de governança mutuamente estruturantes devem estar
presentes; entre elas, a divulgação de informações, a participação pública e o accountability, e não
só no papel, senão na prática (FULTON, Scott; BENJAMIN, Antonio Herman. Environmental Rule
of Law and the critical role of Courts in achieving sustainablewater resources. Enviromental Law
Reporter, v. 48, n. 3, March 2018).

Em suma, o ainda incipiente Estado de Direito Ambiental, também dito Estado Ecológico de
Direito ou Estado Socioambiental de Direito (Environmental Ruleof Law), brasileiro contempla
dentre as medidas de transparência ambiental, entre outras:

3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Direito à informação ambiental e obrigação do Estado com a transparência. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f03704cb51f02f80b09bffba15751691>. Acesso em: 16/01/2023

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 68

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
i) o dever estatal de produzir relatórios de execução de projetos ambientais, como os Planos
de Manejo de APAs;

ii) o dever estatal de publicar tais relatórios na internet, com periodicidade adequada; e

iii) a averbação das APAs nos registros de imóveis rurais, mediante requisição direta do
Ministério Público aos ofícios.

Neste sentido, recentemente, o STJ fixou as seguintes teses em incidente de assunção de


competência:

Tese A) O direito de acesso à informação no Direito Ambiental brasileiro


compreende:
i) o dever de publicação, na internet, dos documentos ambientais detidos pela
Administração não sujeitos a sigilo (transparência ativa);
ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a informações
ambientais específicas não publicadas (transparência passiva); e
iii) direito a requerer a produção de informação ambiental não disponível para
a Administração (transparência reativa);
Tese B) Presume-se a obrigação do Estado em favor da transparência
ambiental, sendo ônus da Administração justificar seu descumprimento,
sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes termos:
i) na transparência ativa, demonstrando razões administrativas adequadas
para a opção de não publicar;
ii) na transparência passiva, de enquadramento da informação nas razões
legais e taxativas de sigilo; e
iii) na transparência ambiental reativa, da irrazoabilidade da pretensão de
produção da informação inexistente;
Tese C) O regime registral brasileiro admite a averbação de informações
facultativas sobre o imóvel, de interesse público, inclusive as ambientais;
Tese D) O Ministério Público pode requisitar diretamente ao oficial de registro
competente a averbação de informações alusivas a suas funções
institucionais.
STJ. 1ª Seção. REsp 1857098-MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
11/05/2022 (Tema IAC 13) (Info 737).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/SC (2022) O Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem afirmando que, no
regime de transparência brasileiro, vige o princípio da máxima divulgação: a
publicidade é regra, e o sigilo, exceção, sem subterfúgios, anacronismos
jurídicos ou meias-medidas. Assim, informa o STJ que o ainda incipiente
Estado de Direito Ambiental, também dito Estado Ecológico de Direito ou
Estado Socioambiental de Direito (Environmental Rule of Law) brasileiro,
contempla diversas medidas de transparência ambiental.
Nesse contexto, o STJ fixou tese vinculante em incidente de assunção de
competência no sentido de que o Ministério Público pode requisitar
diretamente ao oficial de registro competente a averbação de informações
alusivas a suas funções institucionais. Correta!

7.11.2. Princípio da Participação Comunitária

Este princípio se desdobra em três aspectos: administrativo, judicial e legislativo.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 69

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Por este princípio, a população vai poder participar na formação de políticas públicas
ambientais, através dos Conselhos de Meio Ambiente, no âmbito federal (CONAMA), estadual
(CONSEMA) e municipal (cada município terá o seu conselho).

Só pode efetuar o licenciamento ambiental o ente federativo que possua Conselho de Meio
Ambiente, que terá caráter deliberativo, pois visa realizar decisões (não pode ser de caráter
consultivo, de opinião).

No aspecto ADMINISTRATIVO existem as AUDIÊNCIAS públicas (é a possibilidade de que


um órgão ambiental ofereça informações à população, em seguida esta fala suas críticas e
apontamentos — EPIA/RIMA). Exemplo: Os Comentários escritos ao Estudo Prévio de Impacto
Ambiental. Além disso, há as CONSULTAS públicas com previsão constitucional. Elas são mais
abrangentes do que as audiências, pois deixam disponível para qualquer pessoa o seu acesso à
internet, cujo objetivo é deixar comentários sobre uma licitação ambiental.

Uma vez prevista a audiência pública ela DEVE ser realizada, não podendo ser substituída
por consulta pública, sob pena de macular a licença (ou seja, de gerar nulidade), dando azo à ação
civil pública.

No aspecto JUDICIAL têm-se os seguintes instrumentos: ação civil pública (ACP), ação
popular (AP - qualquer cidadão pode ajuizar), mandado de segurança coletivo (MSC) e até ADI.

Quanto ao aspecto LEGISLATIVO há previsão de iniciativa popular, referendo e plebiscito,


conforme prevê o art. 14 CF/88.

Neste sentido inclusive, o STF considerou inconstitucionais normas que impeçam a


participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas ambientais:

São inconstitucionais as normas que, a pretexto de reestruturarem órgãos


ambientais, afastam a participação da sociedade civil e dos governadores do
desenvolvimento e da formulação de políticas públicas, bem como reduzem,
por via de consequência, o controle e a vigilância por eles promovidos.
Com base nesse entendimento, o STF declarou a inconstitucionalidade:
• do art. 5º do Decreto nº 10.224/2020, que extinguiu a participação da
sociedade civil no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio
Ambiente; e
• do Decreto nº 10.239/2020, especificamente no ponto em que excluída a
participação de governadores no Conselho Nacional da Amazônia Legal; e
• do inciso CCII do art. 1º do Decreto nº 10.223/2020, especificamente no
ponto em que se extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia.
STF. Plenário. ADPF 651/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/4/2022
(Info 1052).

7.11.3. Princípio da Educação Ambiental (art. 225, §1º, VI CF/88 c/c Declaração do Rio/92 –
Princípio 19)

Art. 225, § 1º, VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de


ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Este dispositivo constitucional foi regulamentado pela Lei 9.795/99, que criou a Política
Nacional de Educação Ambiental. Tal princípio deve ser analisado, sob dois aspectos:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 70

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1º) Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino: a educação ambiental
tem que estar presente desde o ensino fundamental até o médio, em nível escolar.

2º) Conscientização pública para a preservação do meio ambiente: vai convergir com o
princípio da informação e participação comunitária.

Declaração do Rio/92 Princípio 19: É indispensável um trabalho de


educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens
como aos adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações
menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública bem-
informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das
comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à
proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão
humana.

Um exemplo concreto deste princípio é o Instituto Chico Mendes de Conservação da


Biodiversidade — é uma autarquia federal criada em 2007, que possui como objetivo primordial a
educação ambiental.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/AP (2021) Assinale a opção que indica o princípio do direito ambiental
segundo o qual os cidadãos têm o direito de participar da elaboração de
políticas públicas ambientais e de obter de órgãos públicos informações
referentes à defesa do meio ambiente. Princípio democrático. Correta!

7.12. PRINCÍPIO DA UBIQUIDADE E PRINCÍPIO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NO PROCESSO


DECISÓRIO DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO (DECLARAÇÃO DO RIO/92 –
PRINCÍPIO 17).

A ubiquidade visa colocar a questão ambiental no epicentro dos direitos humanos, ou seja,
todas as decisões, projetos e políticas públicas devem contemplar a questão ambiental ou variável
ambiental de maneira simples para que se possa enxergá-la.

Declaração do Rio/92 – Princípio 17: “A AVALIAÇÃO do impacto


ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as atividades
planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o
meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional
competente”.

Este princípio efetiva-se através do EPIA/RIMA, onde se faz primeiramente a avaliação


ambiental para em seguida realizar a avaliação econômica (posição do STJ).

Vale ressaltar a diferença entre a EPIA/RIMA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental e


Relatório de Impacto Ambiental) e a Avaliação Ambiental Estratégica. A primeira ocorre quando se
avalia apenas um empreendimento/projeto. Já a segunda ocorre quando se têm planos, programas
e projetos governamentais. A consequência está na diferença do impacto ambiental entre elas.

7.13. PRINCÍPIO DO CONTROLE OU DO LIMITE DO POLUIDOR PELO PODER PÚBLICO


(ART. 225, §1º, V CF/88)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 71

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Art. 225, § 1º, V CF/88 - controlar a produção (de energia nuclear), a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos (de biotecnologia) e
substâncias (agrotóxicos) que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente.

Significa que o Poder Público tem a obrigação de controlar o poluidor através do


licenciamento ambiental, poder de polícia ambiental e de auditorias ambientais.

Nas auditorias ambientais o projeto já está em andamento e possui o objetivo de verificar o


cumprimento do contrato administrativo, sem prejuízo do poder de polícia.

Exemplo: Lei 11.284/06 (lei que trata de florestas públicas — podendo explorar através de
auditorias do Poder Público, de ONG’s com certificação do INMETRO etc.).

7.14. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO (DECLARAÇÃO DO RIO/92 - PRINCÍPIOS 2, 5 E 7 - E


ARTS. 77/78 DA LEI 9.605/98).

Cooperar é agir conjuntamente. Pode ser visto sob dois aspectos: INTERNACIONAL e
INTERNO. O dano ambiental é transfronteiriço.

No que tange ao aspecto de cooperação internacional, os impactos ambientais são


transnacionais (não se circunscrevem às fronteiras dos países). Exemplo: Uruguai X Argentina —
Uruguai possui uma fábrica de celulose, cujos impactos ambientais afetam diretamente a Argentina.

Possui previsão na Declaração do Rio/92 (Princípios 2, 5 e 7) e nos arts. 77/78 da Lei


9.605/98.

Princípio 2 - Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com


os princípios do direito internacional, têm o direito soberano de explorar seus
próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e de
desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob
sua jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio ambiente de
outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.

Princípio 5 – Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito


indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa
essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões
de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do
mundo.

Princípio 7 - Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para


a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do
ecossistema terrestre. Considerando as diversas contribuições para a
degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades
comuns, porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a
responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do
desenvolvimento sustentável, tendo em vista as pressões exercidas por
suas sociedades sobre o meio ambiente global e as tecnologias e
recursos financeiros que controlam.

Art. 77 da Lei 9.605/98. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública


e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 72

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus,
quando solicitado para:
I - produção de prova;
II - exame de objetos e lugares;
III - informações sobre pessoas e coisas;
IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham
relevância para a decisão de uma causa;
V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos
tratados de que o Brasil seja parte.
§ 1° A solicitação de que trata este artigo será dirigida ao Ministério da Justiça,
que a remeterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente para
decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la.
§ 2º A solicitação deverá conter:
I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante;
II - o objeto e o motivo de sua formulação;
III - a descrição sumária do procedimento em curso no país solicitante;
IV - a especificação da assistência solicitada;
V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando for o caso.

Art. 78 da LEI 9.605/98. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e
especialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser
mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e
seguro de informações com órgãos de outros países.

Por outro lado, quanto à cooperação no âmbito interno, há a presença de duas formas:

• Cooperação entre o Poder Público.

• Federalismo Cooperativo (art. 225 CF/88).

O federalismo cooperativo significa que todos os entes têm o dever de cooperação para
proteção do meio ambiente.

7.15. PRINCÍPIO DO NÃO RETROCESSO OU DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO

Por este princípio, deverá o legislador evoluir na edição de normas ambientais cada vez mais
protetivas, não devendo, em regra, flexibilizar normas ambientais, que seria um grande retrocesso.

É um princípio que tem ganhado muito destaque nos últimos, como se confere dos julgados
abaixo transcritos:

A revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis


necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição
ou atualização, compromete a observância da Constituição Federal, da
legislação vigente e de compromissos internacionais.
STF. Plenário. ADPF 747/DF e STF. Plenário. ADPF 749/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 13/12/2021 (Info 1041).

O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de


preservação permanente no cálculo do percentual de instituição da reserva
legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes de
sua vigência.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 73

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de
forma a não se admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal
a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental.
STJ. 1ª Turma. REsp 1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel.
Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 673).

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/MS (2022) O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato
jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, razão
pela qual o cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser
regido pelo Código Florestal vigente à época da celebração do acordo.
Correta!

MPF (2022) Há possibilidade de cômputo das áreas de preservação


permanente (zonas específicas nas quais se exige a manutenção da
vegetação) para o cálculo do percentual da reserva legal de imóvel (fração de
vegetação nativa a ser mantido no imóvel), até mesmo porque o Código
Florestal levou em consideração a salvaguarda da segurança jurídica e do
desenvolvimento nacional ao estabelecer uma espécie de “marco zero na
gestão ambiental do país”, sendo, consectariamente, constitucional a fixação
da data de 22 de julho de 2008 como marco para a incidência das regras de
intervenção em área de preservação permanente ou de reserva legal.
Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 74

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SISNAMA (SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE) —
LEI 6938/81

1. CONCEITO DE SISNAMA

Conjunto de entes/órgãos ambientais responsáveis pela efetivação da política nacional do


meio ambiente. O SISNAMA não possui personalidade jurídica e quem a possui são os órgãos/entes
que o integram.

2. COMPOSIÇÃO DO SISNAMA

Composto por:

1) Órgão Superior (Conselho de Governo);


2) Órgão Consultivo e Deliberativo (CONAMA);
3) Órgão Central (Ministério do Meio Ambiente);
4) Órgãos Executores (IBAMA e ICMBIO);
5) Órgãos Seccionais (órgãos estaduais e outros entes);
6) Órgãos Locais.

2.1. ÓRGÃO SUPERIOR (CONSELHO DE GOVERNO)

Tem como função assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional


e nas diretrizes do meio ambiente e dos recursos ambientais. É composto por Ministros de estado
e Secretários-Gerais.

2.2. ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO (CONAMA)

2.2.1. Atos do CONAMA

O CONAMA tem competência para os seguintes atos:

1) Resolução: Ato típico de Conselho. Aqui se criam as normas gerais do meio


ambiente.
2) Recomendação: São editadas quando o CONAMA orienta os órgãos ambientais
estaduais e municipais sobre a implementação de políticas e programas ambientais.
Normalmente é usado quando se dirige ao Poder Executivo Federal (Presidente da
República) sugerindo algo (recomendar).
3) Proposição: Quando as Comissões de Meio Ambiente do Congresso Nacional se
dirigem ao Conselho de Governo.
4) Moção: É para assuntos diversificados (com caráter aberto). Exemplo: Reclamação
sobre o Código Ambiental de Santa Catarina.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 75

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
5) Julgar recursos: (art. 8º, III L.6938/81): COMPETIA ao CONAMA decidir, como
última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre
as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA. Mas tal previsão revogada.

Lei 6938/81 Art. 8º Compete ao CONAMA:


III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso,
mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas
pelo IBAMA; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989) (Revogado pela Lei
nº 11.941, de 2009)

2.2.2. Composição do CONAMA

Composto pelo:

1) Plenário;
2) CIPAM (Comitê de Integração de Política Ambiental);
3) Câmaras Temáticas;
4) Grupos Assessores.

1) Plenário

Composto por 108 Conselheiros. Há 05 grupos:

● Representantes do Governo Federal;


● Representantes dos Governos Estaduais;
● Representantes dos Governos Municipais;
● Representantes da Sociedade Civil;
● Representantes do Setor Empresarial.

2) CIPAM (Comitê de Integração de Política Ambiental)

Tem a função de atuar como Secretária Executiva do CONAMA.

3) Câmaras Temáticas

É nas Câmaras Temáticas que se inicia o debate sobre um determinado assunto que fora
abordado anteriormente pelos grupos assessores.

4) Grupos Assessores

Os grupos assessores debatem sobre um determinado assunto e enviam às Câmaras


Temáticas que irão relatar/elaborar um projeto e encaminhá-lo ao CIPAM.

2.2.3. Competência do CONAMA

Art. 8º Compete ao CONAMA: (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990)


I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser
concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 76

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Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, dos Conselheiros do CONAMA e dos órgãos
ambientais estaduais, normas e critérios para o licenciamento de atividades ou potencialmente
poluidores. Quem define normas gerais de licenciamento ambiental é o CONAMA (Resolução
237/97).

Obs.: A parte final do art. 8º, I encontra-se desatualizada, tendo em


vista há licenciamento federal, estadual e municipal.

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das


alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos
ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem
assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação
dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras
ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas
consideradas patrimônio nacional.

Determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das


possíveis consequências ambientais de projetos públicos e privados, requisitando as informações
indispensáveis ao exame da matéria. Assim sendo, pode o CONAMA pedir autorização do
EPIA/RIMA se este projeto for em áreas de patrimônio nacional, em especial.

Obs.: A função de realização de estudos e projetos, atualmente é feita


pelos órgãos ambientais que fazem o licenciamento ambiental (na
esfera federal, o IBAMA). Isso não é mais feito pelo CONAMA

V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de


benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou
condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais,


e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais.
Isto porque, no Brasil, boa parte dos empresários vive de financiamento de órgãos estatais (ex.:
BNDES), que podem conceder a elas benefícios fiscais, desde que as empresas possuam
consciência ecológica (cumpre com a legislação ambiental — art. 12 L. 6938/81).

Ex.: Se um banco privado ao liberar os benefícios através de financiamento, não verifica se


a empresa cumpre com a legislação e esta gera danos ao meio ambiente, o banco privado passará
para o polo passivo da ação civil pública (responsabilidade subjetiva).

Art. 12 L. 6938/81 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos


governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses
benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das
normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.
Parágrafo único - As entidades e órgãos referidos no " caput " deste artigo
deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de
equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e à melhoria
da qualidade do meio ambiente.
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da
poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante
audiência dos Ministérios competentes;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 77

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por
veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes.

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à


manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos
recursos ambientais, principalmente os hídricos.

A doutrina considera a competência mais importante, pois é a ampla, dando margem para a
sua atuação em diversas áreas não mencionadas nos demais incisos.

Por fim, apesar de parte da doutrina defender que as resoluções do CONAMA extrapolam
sua competência, o STF as aceita, a exemplo da ADPF dos pneus usados, em que se manteve as
resoluções do CONAMA que vedam a importação, exceto de países do MERCOSUL. Por isso,
afirma-se que possui poder regulamentar

Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas


funções, o Presidente do CONAMA. (Incluído pela Lei nº 8.028, de 1990)

2.3. ÓRGÃO CENTRAL (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE)

Tem a função de planejar, coordenar, supervisionar e controlar como órgão federal a política
nacional e as diretrizes governamentais para o meio ambiente.

Órgãos auxiliares: IBAMA, ICMBIO, ANA (Agência Nacional das Águas – agência
reguladora) e Instituto Jardim Botânico.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SC (2021) Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio em sua
propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que
resultou na destruição da vegetação nativa de outras duas propriedades
vizinhas.
A Fundação do Meio Ambiente (FATMA), como órgão central do SISNAMA,
poderá multar o cidadão e embargar a sua propriedade, considerando a falta
de autorização para queimadas. Errada!

2.4. ÓRGÃOS EXECUTORES

2.4.1. IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)

Tem a função de implementar a política nacional do meio ambiente.

É uma autarquia federal. Cuida dos recursos renováveis (quem cuida dos recursos não
renováveis é o Ministério de Minas e Energia).

Possui competência para:

• Exercer poder de polícia (aplicação de multas).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 78

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• Para realizar licenciamento de obras e atividades de impacto nacional (é aquele que
ultrapassa as fronteiras do Brasil) ou regional (é aquele que abrange dois ou mais
Estados-membros).

2.4.2. ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Dec. 99274/90)

Foi incluído como órgão executor do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de


Conservação) pela Lei 9.985/00.

É uma autarquia federal.

Possui a finalidade de realizar a gestão das unidades de conservação criadas no âmbito


federal.

2.5. ÓRGÃOS SECCIONAIS (ÓRGÃOS ESTADUAIS E OUTROS ENTES)

De caráter executivo, essa instância do SISNAMA é composta por órgãos (em geral, são as
Secretarias Estaduais de Meio Ambiente) e entidades estaduais (FUNAI, Fundação Palmares etc.)
responsáveis pela execução de programas e projetos, assim como pelo controle e fiscalização de
atividades degradadoras do meio ambiente.

2.6. ÓRGÃOS LOCAIS

Trata-se da instância composta por órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo


controle e fiscalização dessas atividades em suas respectivas jurisdições. São, quando elas
existem, as Secretarias Municipais de Meio Ambiente.

Pode um órgão local ambiental efetuar licenciamento ambiental, desde que possua
Conselho de Meio Ambiente com caráter deliberativo e plano diretor (este último, com cidades com
mais de 20 mil habitantes).

Exemplo: Shopping Center pode ser licenciado (verifica-se o impacto local que não poderá
abranger outros Municípios).

Como o tema foi cobrado em concurso?


Procurador Municipal Florianópolis (2022) No âmbito municipal, o
SISNAMA é estruturado por Órgãos Locais, responsáveis pelo controle e
fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. Correta!

3. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (art. 2º, Lei. 6.938/81)

Os princípios trazidos no diploma regem toda a sistemática da política de proteção do meio


ambiente, sendo recorrentemente cobrados nas provas. Por isso, transcrevemos o art. 2º:

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 79

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interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas; (Regulamento)
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente.

OBS: é muito comum misturarem nas provas os princípios e os


objetivos, portanto, faça uma leitura atenta dos arts. 2º e 4º da Lei.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) As opções a seguir apresentam objetivos da Política
Nacional do Meio Ambiente – PNMA, de acordo com o texto da Lei nº
6.938/1981, à exceção de uma. Assinale-a. A priorização absoluta da
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico em
relação ao desenvolvimento econômico-social. Correta!

TJ/PR (2019) Os princípios expressos na Lei n.º 6.938/1981 — Política


Nacional do Meio Ambiente — incluem a racionalização do uso do solo, do
subsolo, da água e do ar e a recuperação de áreas degradadas. Correta!

4. OBJETIVO GERAL DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando


assegurar no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e a proteção da dignidade da vida humana.

A doutrina entende que o DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL é o principal objetivo da


Lei 6.938/81, pois versa sobre a proteção do meio ambiente com a compatibilização do
desenvolvimento das atividades econômicas.

5. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (ART. 9º L. 6938/81)

5.1. ART. 9º

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 80

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Lei 6938/81 Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental; (Regulamento)
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa
Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão
ambiental, seguro ambiental e outros. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

5.2. ANÁLISE DOS INCISOS DO ART. 9º DA LPNMA (Lei 6.938/81)

5.2.1. Inciso I: padrões de qualidade ambiental

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental (do ar, água e solo), em regra, pelo
CONAMA, através de suas Resoluções.

Citam-se, como exemplos, os seguintes padrões estabelecidos pelo CONAMA:

• Limite à poluição sonora;

• Limite à poluição atmosférica de ciclomotores, motociclos e veículos similares novos;

• Limite à poluição dos corpos hídricos e suas classificações

• Limite à poluição atmosférica de fontes fixas.

5.2.2. Inciso II: zoneamento ambiental

II - o zoneamento ambiental;

Zoneamento ambiental que é denominado hoje de ZONEAMENTO ECOLÓGICO


ECONÔMICO.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 81

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Zoneamento consiste num instrumento para planejar e ordenar o território brasileiro,
harmonizando as relações econômicas, sociais e ambientais. Em suma, cuida do uso e ocupação
do solo.

Existem restrições nos zoneamentos: numa zona mista (urbana e rural) não pode uma
indústria funcionar depois das 20h, por exemplo. Em zona residencial não se pode ter boate, por
exemplo. Atualmente, está mapeando a Amazônia Legal (zoneamento).

5.2.3. Inciso III: avaliação de impacto ambiental

III - a avaliação de impactos ambientais;

São os estudos ambientais, tais como:

1) EPIA/RIMA = EPIA (Estudo Prévio de Impactos Ambientais) / RIMA (Relatório de Impacto


do Meio Ambiente).

AIA (Avaliação de Impacto Ambiental) ≠ EPIA/RIMA


 
Gênero Espécie (de estudos ambientais)

2) Relatório Ambiental Preliminar (RAP) e Relatório de Viabilidade Ambiental (RVA): São


estudos simplificados, ou seja, não demandam a realização do EPIA/RIMA. Não
podem ser usados para estudos ambientais em obras de grande impacto que causem
danos ambientais degradantes.

3) AAE (Avaliação Ambiental Estratégica) = Quando se tem: planos, programas e políticas


governamentais, que visam avaliar um conjunto de várias obras/empreendimentos.
Exemplo: PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

AAE (Avaliação Ambiental AIA (Avaliação de Impacto


Estratégica) Ambiental)
Quando se tem: planos, programas e Visa projetos e empreendimento
políticas governamentais, que visam singulares (individuais). Ex.: Licenciar
avaliar um conjunto de várias uma rodovia, ferrovia etc. Gênero
obras/empreendimentos. (EPIA/RIMA)

5.2.4. Inciso IV: licenciamento ambiental

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 82

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O licenciamento ambiental (Resolução 237/97 do CONAMA) e a revisão de atividades efetiva
ou potencialmente poluidoras.

OBS.: Os itens I ao IV são INSTRUMENTOS DE COMANDO-


CONTROLE, ou seja, o Poder Público traz as normas e depois realiza
a fiscalização se estas estão sendo cumpridas.

5.2.5. Inciso V: incentivos ao empreendedor

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou


absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

Possibilidade do empreendedor tem de realizar a gestão ambiental, que pode ser:

1) ISO 14.001

Consiste num sistema de gestão ambiental que certifica o cumprimento de normas


ambientais pelas empresas. Exemplo: ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que
certifica o ISO 14.001.

2) P + L (Produção + Limpa)

Estratégia ambiental preventiva e integrada que envolve processos, produtos e serviços de


maneira a reduzir os riscos de curto e longo prazo para o ser humano e o meio ambiente. Vale dizer
que esta expressão (P+L) surgiu com a ONU, cujo objetivo é fazer com que as empresas adotem
medidas preventivas para causar menor impacto ambiental possível. Ex.: Instalações de filtros para
gases poluentes, instalação de estações de tratamento de esgoto e de resíduos etc.

3) Rotulagem ambiental (ou Selo Ambiental ou Selo Ecológico)

Muitas empresas tomam conhecimento que os consumidores preferem consumir produtos


ambientalmente favoráveis e por isso produzem produtos que possuam certificações, que são os
selos ambientais.

4) “Cluster” (Conglomerados Ambientais)

Ocorre quando tem que reunir no mesmo parque industrial, várias empresas que possuem
ligação. Ex.: Empresa A lança dejeto que será usado pela empresa B como insumo, cujo objetivo é
evitar o turismo da poluição. Assim sendo, onde as empresas produzem, lá devem tratar os danos
ambientais preferencialmente.

5.2.6. Inciso VI: criação de espaços territoriais especialmente protegidos

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder


Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,


estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 83

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
5.2.7. Inciso VI: criação do SINIMA

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

O SINIMA (Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente) é previsto no art. 11,
II do Dec. 99274/90.

Artigo 11 Dec. 99274/90 - Para atender ao suporte técnico e administrativo


do CONAMA, o IBAMA, no exercício de sua secretaria-executiva, deverá:
II - coordenar, por meio do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio
Ambiente-SINIMA, o intercâmbio de informações entre os órgãos integrantes
do SISNAMA; e...

O SINIMA é composto por:

1) Redes computacionais livres que permitam a integração entre os órgãos ambientais


do SINIMA (trocas de informações) — Princípio sobre a Informação Ambiental.

2) Por tudo aquilo associado aos dados e informações ambientais que devem constar nos
Cadastros Técnicos Federais (que são dois = Atividades e Instrumentos) e ambos
integram o SINIMA.

5.2.8. Inciso VIII: Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa


ambiental

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa


Ambiental;

O cadastro é obrigatório, sob pena de multa para pessoa física e pessoa jurídica que se
dedique à consultoria técnica sobre questões ambientais. É igualmente obrigatório à indústria de
comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva
e potencialmente poluidoras.

Vale dizer que é um cadastro público, o fato de estar inscrito neste cadastro não significa
certificação de qualidade. A cada dois anos deve ser renovada a inscrição neste cadastro e não se
paga taxa por isso.

Por fim, àqueles que são condenados por crimes ambientais ou infrações administrativas
ambientais previstas na Lei 9.605/98 podem ter seu cadastro suspenso.

5.2.9. Inciso IX: cominação de penalidades disciplinares ou compensatórias

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das


medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas


necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental, que são reguladas pelo Dec.
6514/08.

5.2.10. Inciso X: relatório de qualidade do meio ambiente

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 84

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA;

A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente


pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

Este relatório sintetiza, sistematiza e analisa informações ambientais para a gestão dos
recursos naturais e conservação dos ecossistemas em nosso país. O público-alvo são os gestores
de meio ambiente federais, estaduais e municipais, atores privados de educação e pesquisa,
organismos internacionais, organizações não governamentais; meios de comunicação e o público
em geral.

Assim, a proposta de elaboração do RQMA 4 pelo Ibama consiste na fundamentação legal


deste mandato institucional, da definição de uma metodologia e da proposição de estratégias e de
ações conjuntas para o cumprimento dos objetivos propostos.

5.2.11. Inciso XI: garantia de prestação de informações relativas ao meio ambiente

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;

O Poder Público tem a obrigação de prestar informações ambientais, em razão do


princípio da informação ambiental, na qual garante o acesso da população sobre algumas
informações relativas à matéria ambiental. Resguarda-se apenas o sigilo industrial.

Se não há informação sobre aquelas informações, a população pode exigir que o Poder
Público a produza — é o chamado direito público subjetivo.

5.2.12. Inciso XII: cadastro de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de


recursos ambientais

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras


e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.

Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou hostilizadoras dos


recursos ambientais. Este cadastro é previsto no art. 17, II L.6938/81. O fato de estarem inscritos
neste cadastro não desobriga as pessoas jurídicas de obterem as licenças ambientais. É
obrigatório, sob pena de multa. Este cadastro fará o mapeamento das empresas que se dedicam a
atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de
produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da
fauna e flora.

Art. 17. Fica instituído, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA:
II - Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais, para registro obrigatório de pessoas
físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras

4
Os últimos relatórios assinados pelo Ibama podem ser acessados nos links a seguir: https://www.gov.br/ibama/pt-
br/phocadownload/qualidadeambiental/relatorios/2022/2022-06-03_RQMA_Brasil_2020.pdf e https://www.gov.br/ibama/pt-
br/phocadownload/qualidadeambiental/relatorios/RQMA_2013.pdf.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 85

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos
potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e
subprodutos da fauna e flora.

O Poder Público criou uma TAXA DE CONTROLE DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL,


vinculada a este cadastro (art. 17-B L. 6938/81). O fato gerador desta taxa é o exercício de poder
de polícia conferido ao IBAMA.

Art. 17-B L. 6938/81. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização


Ambiental – TCFA, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia
conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA para controle e fiscalização das atividades
potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/MS (2021) Visando o desempenho de atividade de fiscalização
ambiental mediante a utilização de parcela de recursos obtidos por meio da
taxa de controle e fiscalização ambiental (TCFA), o estado da Federação
poderá formalizar com o IBAMA convênio.

5.2.13. Inciso XIII: instrumentos econômicos

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão


ambiental, seguro ambiental e outros. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

Instrumentos econômicos, como:

1) Seguro ambiental

Até o presente momento, não está regulamentado. A ideia central deste seguro ambiental é
fazer com que as empresas que realizam o licenciamento ambiental devam pagar o mesmo, onde
as seguradoras passarão a auxiliar na fiscalização dos empreendimentos potencialmente danosos
ao meio ambiente.

2) Concessão florestal

Delegação onerosa feita pelo Poder Público do direito de praticar o manejo florestal
sustentável para a exploração de serviços (ex.: hotel de ecoturismo) e recursos florestais. Deve
haver procedimento licitatório, cuja modalidade é a concorrência.

3) Servidão ambiental (art. 9º-A L.6938/81)

Ocorre mediante anuência do órgão ambiental competente, o proprietário rural pode instituir
servidão ambiental, pela qual voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, total
ou parcialmente, a direito de uso, exploração ou supressão de recursos naturais existentes na
propriedade.

Vale dizer que não se pode realizar servidão ambiental em reserva legal florestal e nem em
área de preservação permanente.

O principal objetivo da servidão é valorizar o imóvel (ou prédio) dominante, adicionando-lhe


funcionalidade, beleza e comodidade. Como já explicitado, é uma relação imóvel - imóvel, de

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 86

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modo que o direito do titular se prende à coisa, não à pessoa, que o detém apenas no status de
proprietário do bem, e enquanto perdurar a relação dominical.

Constituindo-se de servidão ambiental, averbada na transcrição ou matrícula no registro de


imóveis, a propriedade gozará de incentivos tributários, como isenção do Imposto Sobre a Renda
do Proprietário, isenção do Imposto Territorial Rural (para áreas de cobertura vegetal primária ou
estágio médio e avançado de regeneração), compensação da Reserva Legal e dedução do Imposto
Sobre a Renda do Doador Ambiental. Além disso, o Projeto prevê incentivos creditícios que
abrangem a Servidão Ambiental.

Lei 6938/81 Art. 9o-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural


ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo
administrativo firmado perante órgão integrante do SISNAMA, limitar o
uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou
recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão
ambiental. (Redação dada pela Lei nº 12.651, de 2012).
§ 1o O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir,
no mínimo, os seguintes itens:
I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos
um ponto de amarração georreferenciado;
II - objeto da servidão ambiental;
III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor;
IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.
§ 2o A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente
e à Reserva Legal mínima exigida.
§ 3o A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão
ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.
§ 4o Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de
imóveis competente:
I - o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental;
II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental.
§ 5o Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental
deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.
§ 6o É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração
da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título,
de desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.
§ 7o As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos
termos do art. 44-A da Lei no4.771, de 15 de setembro de 1965, passam a ser
consideradas, pelo efeito desta Lei, como de servidão ambiental.

Art. 9o-B. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou


perpétua.
§ 1o O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos.
§ 2o A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários
e de acesso aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do
Patrimônio Natural - RPPN, definida no art. 21 da Lei no 9.985, de 18 de julho
de 2000.
§ 3o O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-
la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em
favor de outro proprietário ou de entidade pública ou privada que tenha a
conservação ambiental como fim social.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 87

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 9o-C. O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão
ambiental deve ser averbado na matrícula do imóvel.
§ 1o O contrato referido no caput deve conter, no mínimo, os seguintes itens:
I - a delimitação da área submetida a preservação, conservação ou
recuperação ambiental;
II - o objeto da servidão ambiental;
III - os direitos e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes
ou sucessores;
IV - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental;
V - os benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão
ambiental;
VI - a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusive medidas
judiciais necessárias, em caso de ser descumprido.
§ 2o São deveres do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações
estipuladas no contrato:
I - manter a área sob servidão ambiental;
II - prestar contas ao detentor da servidão ambiental sobre as condições dos
recursos naturais ou artificiais;
III - permitir a inspeção e a fiscalização da área pelo detentor da servidão
ambiental;
IV - defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito
admitidos.
§ 3o São deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações
estipuladas no contrato:
I - documentar as características ambientais da propriedade;
II - monitorar periodicamente a propriedade para verificar se a servidão
ambiental está sendo mantida;
III - prestar informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição
ou aos sucessores da propriedade;
IV - manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto
da servidão;
V - defender judicialmente a servidão ambiental.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/AP (2022) São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente
Zoneamento ambiental, avaliação de impactos ambientais e licenciamento e
a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Correta!

6. EPIA/RIMA (ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL / RELATÓRIO DE IMPACTO DO


MEIO AMBIENTE)

6.1. INTRODUÇÃO

É possível encontrar duas expressões (que na verdade, significam a mesma coisa):

● EPIA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental – criada pela CF/88); ou

● EIA (Estudo de Impacto Ambiental – oriunda antes da CF/88, criada pela Resolução nº1/86
do CONAMA.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 88

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
CAUSANDO
Sendo deferido
SIGNIFICATIVA Terá que realizar o
consegue-se a LICENÇA
DEGRADAÇÃO EPIA/RIMA
PRÉVIA
AMBIENTAL
ATIVIDADE OU
EMPREENDIMENTO
NÃO CAUSANDO
Realiza ESTUDOS
SIGNIFICATIVA
AMBIENTAIS LICENÇA PPRÉVIA
DEGRADAÇÃO
SIMPLIFICADOS
AMBIENTAL

 QUESTÃO: Qual a diferença entre EPIA e o RIMA?

Resposta: O EPIA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental) é um documento/estudo técnico,


complexo, amplo em que se realizam as pesquisas de campo, a revisão da literatura e todos os
estudos ambientais decorrentes.

Já o RIMA (Relatório de Impacto do Meio Ambiente) é um documento gerencial, que deve


ser apresentado de maneira clara, objetiva e didática. Deve ser compreensível à população. O RIMA
é um espelho do EPIA, já que traduz as suas conclusões, isto é, não existe RIMA desassociado
do EPIA.

6.2. BASE LEGAL: ART. 225, §1º, IV CF/88 E RESOLUÇÃO Nº 1/86 CONAMA.

Previsão na CF:

Art. 225, §º CF/88. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.

“Exigir” = não há discricionariedade do órgão ambiental entre realizar ou não o EPIA. O


pressuposto do EPIA é a significativa degradação do meio ambiente, em caso de se ter uma obra
ou atividade que a cause.

“Na forma da lei” = até hoje não foi editada tal lei. Então, quem regulamenta a EPIA? Há
divergências:

1ª corrente) trata de reserva legal absoluta;

2ª corrente) trata de reserva legal relativa;

3ª corrente) quem regulamenta a EPIA é a L.6938/81.

O STF entende que “na forma da lei” seria reserva legal absoluta (1ª corrente). Porém,
adotando este entendimento, o EPIA/RIMA não teria fundamentação.

Adotando a 2ª corrente (MAJORITÁRIA – doutrina) podem-se aceitar as resoluções editadas


pelo CONAMA. Logo, a Resolução nº 1/86 foi formalmente recepcionada pelo texto
constitucional.

A 3ª corrente entende que a L.6938/81, art. 9º, III que trata do AIA (Avaliação de Impacto
Ambiental), na qual justificaria o EPIA/RIMA.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 89

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Resolução CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986

6.3. FUNÇÃO DO EPIA

Possui a função primordial de preservar e monitorar os impactos ambientais e figura como


instrumento de materialização dos princípios da prevenção e precaução.

Normalmente, o empreendedor faz primeiro uma avaliação econômica de seu projeto para
depois realizar o EPIA, que é uma regra de bom-senso, visto que é necessário primeiramente
analisar os impactos ambientais. O EPIA é realizado antes das obras/empreendimentos.

Desta forma, a avaliação técnica do impacto deve ter certa proximidade com a execução do
projeto. Mudanças radicais no meio ambiente ou novos dados, no período entre a elaboração e
execução do projeto, exigem a elaboração não de um EPIA, mas, sim, de uma Licença de
Operação Corretiva ou Retificadora, conforme previsto no art. 34 do Decreto 4.340/2002, que
regulamentou os artigos da Lei 9.985/2000.

Decreto 4340/02, Art. 34. Os empreendimentos implantados antes da edição


deste Decreto e em operação sem as respectivas licenças ambientais
deverão requerer, no prazo de doze meses a partir da publicação deste
Decreto, a regularização junto ao órgão ambiental competente mediante
licença de operação corretiva ou retificadora.

Ou seja, para os empreendimentos que já têm licença de operação, estes não devem
elaborar um EPIA/RIMA, pois o estudo não seria mais que um caro capricho da Administração
imposto ao empreendedor, no qual todos os aspectos técnicos que poderiam ser levantados
estariam prejudicados pelo início das operações há anos.

Para esses casos a lei orienta para que seja elaborada uma Licença de Operação Corretiva,
medida já adotada por diversos Estados do Brasil, como Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Santa
Catarina, pois evita um digladiar entre princípios constitucionais, bem como, não macula um ato
jurídico perfeito, que foi a primeira licença obtida pelo empreendimento.

A Licença de Operação Corretiva, ao mesmo tempo em que reconhece e respeita as


licenças de operação já dadas, ainda permite que essas empresas, junto com o órgão competente
ambiental, elaborem programas para a atualização dos estudos científicos apresentados quando
da licença prévia.

6.4. LICENÇA DE OPERAÇÃO CORRETIVA OU RETIFICADORA (LOC)

Usando estudo comparativo, para requerer a Licença de Operação Corretiva (LOC) nos
Estados que já adotam esse mecanismo, os empreendimentos devem formalizar um pedido à
entidade responsável pelo licenciamento ambiental, em que se iniciará um processo administrativo
que culminará em visitas técnicas de pessoal deste órgão às usinas, que juntamente com técnicos
daquela empresa, verificarão como está a situação que envolve o meio ambiente naquele
empreendimento, se elaborando dessa troca de informações, um Plano de Controle Ambiental
(PAC).

Enfim, um estudo que levará em conta os anos de funcionamento da empresa, bem como
sua relação com o meio ambiente durante todo esse período.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 90

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De se notar, ainda, que as empresas que já estão instaladas não trabalhavam sem qualquer
fiscalização ambiental, pois, seguindo as respectivas Leis Estaduais, eram submetidas a auditorias
ambientais periódicas.

Importante também esclarecer que a Licença de Operação Corretiva não se confunde com
Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC). Enquanto esse é oriundo de um
"ato lesivo", a Licença de Operação Corretiva não é oriunda de ato lesivo algum e tem por objetivo
regularizar os empreendimentos que se iniciaram antes da exigência legal do EPIA/RIMA.

6.5. CONDICIONANTES DO EPIA/RIMA (HERMAN BENJAMIN)

1) Prevenção aos danos ambientais;


2) Transparência administrativa;
3) Consulta aos interessados;
4) Motivação das decisões ambientais;

Vejamos:

6.5.1. Prevenção aos danos ambientais

Antes de se realizar as obras, faz-se as análises de possíveis impactos ambientais e por


isso pode-se adotar medidas preventivas para minimizar ou mitigar. Todavia, quando não for
possível a medida preventiva, realizam-se as medidas compensatórias (art. 36, Lei 9985/00).

Art. 36 Lei 9.985/00. Nos casos de licenciamento ambiental de


empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo
órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do
Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no
regulamento desta Lei.
1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta
finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos
para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão
ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado
pelo empreendimento. (Vide ADIN nº 3.378-6, de 2008)
§ 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de
conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas
no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada
a criação de novas unidades de conservação.
§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou
sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste
artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável
por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao
Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da
compensação definida neste artigo.

Este dispositivo foi objeto de ADI (ADI 3378/DF).

ADI 3378/DF (08.04.08) Ementa: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 36 E SEUS §§ 1º, 2º E 3º DA LEI Nº

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 91

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9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. CONSTITUCIONALIDADE DA
COMPENSAÇÃO DEVIDA PELA IMPLANTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS
DE SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL. INCONSTITUCIONALIDADE
PARCIAL DO § 1º DO ART. 36. 1. O compartilhamento-compensação
ambiental de que trata o art. 36 da Lei nº 9.985/2000 não ofende o princípio
da legalidade, dado haver sido a própria lei que previu o modo de
financiamento dos gastos com as unidades de conservação da natureza. De
igual forma, não há violação ao princípio da separação dos Poderes, por não
se tratar de delegação do Poder Legislativo para o Executivo impor deveres
aos administrados. 2. Compete ao órgão licenciador fixar o quantum da
compensação, de acordo com a compostura do impacto ambiental a ser
dimensionado no relatório - EIA/RIMA. 3. O art. 36 da Lei nº 9.985/2000
densifica o princípio usuário-pagador, este a significar um mecanismo
de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos
ambientais derivados da atividade econômica. 4. Inexistente desrespeito
ao postulado da razoabilidade. Compensação ambiental que se revela como
instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as
presentes e futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para atingir
essa finalidade constitucional. Medida amplamente compensada pelos
benefícios que sempre resultam de um meio ambiente ecologicamente
garantido em sua higidez. 5. Inconstitucionalidade da expressão "não
pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a
implantação do empreendimento", no § 1º do art. 36 da Lei nº 9.985/2000.
O valor da compensação-compartilhamento é de ser fixado
proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se
assegurem o contraditório e a ampla defesa. Prescindibilidade da
fixação de percentual sobre os custos do empreendimento. 6. Ação
parcialmente procedente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/SC (2022) A sociedade empresária Alfa protocolizou requerimento de
licença ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental,
assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em
estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatório - EIA/RIMA
apresentados. No caso em tela, consoante dispõe a Lei nº 9.985/2000, em
regra, a sociedade empresária Alfa será obrigada a apoiar a implantação e
manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral.
Correta!

6.5.2. Transparência administrativa

É uma obrigação constitucional, onde se deve ter a publicidade. Ou seja, um dos principais
objetivos do EPIA é a transparência administrativa quanto aos efeitos ambientais de um
determinado projeto. Sendo assim, todo empresário quando realizar um licenciamento ambiental
necessita realizar o EPIA/RIMA, que será publicada, através de um “extrato”.

6.5.3. Consulta aos interessados

São as audiências públicas. Quem for sofrer os possíveis impactos ambientais devem ser
consultados, através destas audiências (Resolução nº 9/87 CONAMA).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 92

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6.5.4. Motivação das decisões ambientais

Toda decisão no âmbito ambiental deve ser motivada ou fundamentada, sob pena de se
ajuizar ação judicial, seja ação popular ou ação civil pública.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/AC (2022) A exigência de estudo de impacto ambiental (EIA) para o
licenciamento de atividade apta a causar degradação ao ambiente decorre do
princípio da prevenção. Correta!

MPE/AC (2022) O licenciamento ambiental é procedimento administrativo


restrito à concessão de licença prévia aos empreendimentos de grande porte.
Errada!

MPE/AC (2022) O órgão ambiental está vinculado às conclusões do EIA, de


modo que, se este for desfavorável à concessão da licença ambiental, a
administração não poderá concedê-la. Errada!

TJ/MS (2020) O Ministério Público ajuizou uma ação civil pública visando à
declaração de nulidade de licenciamento ambiental conduzido por estudo
ambiental diverso do Estudo de Impacto Ambiental e Respectivo Relatório
(EIA-RIMA). O Magistrado deverá
determinar a produção de prova pericial para aferir a necessidade de
elaboração do EIA-RIMA no licenciamento ambiental. Correta!

6.6. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO 01/86 DO CONAMA ART. 1º

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

6.6.1. Impacto ambiental

Consiste em qualquer alteração das propagandas químicas, físicas ou biológicas do meio


ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante de atividades humanas que
afetem direta/indiretamente:

1) A saúde, a segurança e o bem-estar da população;


2) As condições (atividades) sociais e econômicas;
3) A biota;
4) As condições estáticas e sanitárias do meio ambiente;
5) Que afetam a qualidade dos recursos ambientais.

O impacto ambiental que interessa é aquele causado por atividade humana (antrópica). O
impacto ambiental causado pela natureza pode ser: abalos sísmicos, onda vermelha.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 93

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No entanto, têm-se impactos ambientais positivos, como por exemplo, o Aterro do Flamengo
(RJ).

6.6.2. Saúde, segurança e o bem-estar da população:

Saúde = fábrica que produz e lança gases no ar prejudicando a saúde da população.

Segurança = é aquela atividade que pode causar erosão, desabamento. Inclui também,
nesta hipótese, a segurança pública, já que possui correlação direta entre o desmatamento e a
criminalidade.

Bem-estar = fábrica que produz resíduo.

6.6.3. Condições (atividades) sociais e econômicas

Quando se tem uma cidade turística e nela se descobre uma fonte de minérios. Daí passa-
se a exercer a atividade de exploração, acarretando num prejuízo econômico e social para aquela
cidade (turismo).

6.6.4. Biota

É um conjunto de seres vivos que habitam em uma determinada região (flora e fauna).

6.6.5. Condições estéticas e sanitárias do meio ambiente

Condições estéticas: é a paisagem (já foi comprovado que em áreas onde há muito
desmatamento, sem vegetação possui os maiores índices de suicídios).

Condições sanitárias = é o caso, por exemplo, de se jogar lixo na praia.

6.6.6. Qualidade dos recursos ambientais

Os recursos ambientais estão previstos no art. 3º L.6938/81 e caso sejam afetados


acarretará num impacto ambiental. Os recursos ambientais são: a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas e os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da
biosfera.

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


...
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos
da biosfera, a fauna e a flora.

6.7. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO 01/86 DO CONAMA ART. 2º

O que é SIGNIFICATIVA degradação ambiental?

O art. 2º da Resolução nº 1/86 traz um rol de atividades que se presumem causadoras de


significativa degradação ambiental.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 94

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Art. 2º Resolução nº 1/86. Dependerá de elaboração de Estudo de Impacto
Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e da SEMA em
caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio
ambiente, tais como:
I. estradas de rodagem com 2 (duas) ou mais faixas de rolamento;
II. ferrovias;
III. portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV. aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, art. 48, do Decreto Lei nº 32,
de 18 de novembro de 1966;
V. oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
VI. linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230 Kw;
VII. obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para quaisquer fins hidrelétricos, acima de 10 MW, de saneamento
ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição
de bacias, diques;
VIII. extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX. extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
X. aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
XI. usina de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia
primária, acima de 10 MW;
XII. complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de
recursos hidróbios;
XIII. distritos industriais e Zonas Estritamente Industriais - ZEI;
XIV. exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de
100ha (cem hectares) ou menores, quando atingir áreas significativas em
termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV. projetos urbanísticos, acima de 100ha (cem hectares) ou em áreas
consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos
órgãos municipais e estaduais competentes;
XVI. qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos
similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia ;
XVII. projetos agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000ha, ou
menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas
áreas de proteção ambiental.

Obs.: É um rol exemplificativo, em razão da expressão “tais como”,


além disso, a referida resolução é de 1986 e até os dias atuais
surgiram novas atividades que causam impactos ambientais, como,
por exemplo: assentamento de reforma agrária, Pró-álcool etc.

Este rol exemplificativo são hipóteses de presunção ABSOLUTA ou RELATIVA para a


realização do EPIA/RIMA? Resposta: Há divergências:

1ª corrente) MAJORITÁRIA = presunção absoluta, onde se tem que realizar o EPIA/RIMA;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 95

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2ª corrente) MINORITÁRIA = presunção relativa, pois o empresário pode comprovar que sua
atividade não necessariamente causará significativa degradação ambiental

6.8. REQUISITOS DO EPIA/RIMA (REQUISITOS MÍNIMOS – RES. 01/86 CONAMA)

1) Requisitos de conteúdo (diretrizes gerais);


2) Requisitos técnicos;
3) Requisitos formais.

O empreendedor se dirige ao órgão competente que emitirá TERMO DE REFERÊNCIA, em


que estabelecerá quais os estudos que o empresário terá que realizar obrigatoriamente. O órgão
ambiental pode exigir mais requisitos do que os supracitados, porém deverá consignar no TERMO
DE REFERÊNCIA, sob pena de preclusão administrativa.

6.8.1. Requisitos de conteúdo (diretrizes gerais – Art. 5º da RES 01/86 CONAMA)

RES 01/86 Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à


legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política
Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes DIRETRIZES
GERAIS:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,
confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas
fases de implantação e operação da atividade ;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente
afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto,
considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;
lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em
implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental
o órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município,
fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e
características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os
prazos para conclusão e análise dos estudos.

São quatro as diretrizes:

• Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização confrontando-as com a


hipótese de não execução do projeto;

• Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implementação e


operação da atividade;

• Definir os limites da área de influência do projeto que deve ter como referencial a bacia
hidrográfica;

• Considerar a compatibilidade com os planos e programas governamentais.

Vejamos:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 96

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1) Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização confrontando-as com
a hipótese de não execução do projeto

Quando o empreendedor realiza o EPIA/RIMA já tem o projeto pronto e deverá já saber


quais alternativas tecnológicas que deverá adotar (ex.: energia eólica).

Qualquer licenciamento ambiental começa com uma certidão de localização emitida pela
Prefeitura Municipal, para saber se o local onde se quer exercer a atividade é adequado, seja em
zona urbana, ou no caso de área de unidade de conservação (nas zonas de amortizamento não se
pode realizar atividade).

CUSTO ZERO ou HIPÓTESE ZERO = é a não realização do projeto. É um exercício de


futuro, ou seja, o empresário terá que desenvolver um estudo de como a área ficará com a
realização da obra, bem como ficará a área caso não seja realizada a obra daqui a alguns anos.
Daí, pode o custo zero ser adotado pelo órgão competente e o empresário não realizar seu projeto.

ATENÇÃO!

É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema


responsável pela integração (Redesim) para o funcionamento de empresas
que exerçam atividades de risco médio nos termos da classificação
estabelecida em ato do Poder Público.
O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional e não pode ser
suprimido, ainda que de forma indireta, por lei. Também não pode ser
simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma que o excepcionar
apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente
com igual ou maior qualidade.
Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da
desburocratização e desenvolvimento econômico, com controle apenas
posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois afasta os princípios da
prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez,
contraria norma específica sobre o licenciamento ambiental, segundo a qual
as atividades econômicas potencial ou efetivamente causadoras de impacto
ambiental estão sujeitas ao controle estatal.
Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional,
pelos órgãos competentes, de dados que não tenham sido disponibilizados
na Redesim previamente ou no ato do protocolo do pedido de licenciamento.
STF. Plenário. ADI 6808/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/4/2022
(Info 1052).

É inconstitucional a legislação estadual que, flexibilizando exigência legal


para o desenvolvimento de atividade potencialmente poluidora, cria
modalidade mais simplificada de licenciamento ambiental.
É inconstitucional lei estadual que regulamenta aspectos da atividade
garimpeira, nomeadamente, ao estabelecer conceitos a ela relacionados,
delimitar áreas para seu exercício e autorizar o uso de azougue (mercúrio)
em determinadas condições.
STF. Plenário. ADI 6672/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
14/9/2021 (Info 1029).

É inconstitucional norma estadual que estabelece hipóteses de dispensa e


simplificação do licenciamento ambiental para atividades de lavra a céu
aberto por invadir a competência legislativa da União para editar normas

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 97

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gerais sobre proteção do meio ambiente, nos termos previstos no art. 24, §§
1º e 2º, da Constituição Federal.
Vale ressaltar também que o estabelecimento de procedimento de
licenciamento ambiental estadual que torne menos eficiente a proteção do
meio ambiente equilibrado quanto às atividades de mineração afronta o caput
do art. 225 da Constituição por inobservar o princípio da prevenção.
STF. Plenário. ADI 6650/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/4/2021
(Info 1014).

2) Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implementação e


operação da atividade

Todo licenciamento é composto por três fases:

1ª fase) Prévia (localização): observa-se a localização se está correta/adequada;

2ª fase) Instalação: quando se começa a construir/edificar, ou seja, materializa-se o projeto;

3ª fase) Operação: é quando se começa efetivamente a funcionar.

No EPIA/RIMA tem que constar quais são os impactos ambientais que poderão ocorrer na
fase de IMPLEMENTAÇÃO/INSTALAÇÃO e OPERAÇÃO.

3) Definir os limites da área de influência do projeto que deve ter como referencial a bacia
hidrográfica

Só se consegue identificar os impactos ambientais diretos, pois os indiretos são


imprevisíveis/incertos e terá como referência a bacia hidrográfica.

Importância: Realiza-se a audiência pública, em razão desta área de influência onde o


projeto será concretizado.

4) Considerar a compatibilidade com os planos e programas governamentais

O Poder Público, às vezes, quer implementar uma área de prevenção ambiental ou área
residencial, no local onde o empresário quer realizar sua atividade. Deve inclusive os planos e
programas governamentais estarem em conformidade com a LOA – Lei Orçamentária Anual.

6.8.2. Requisitos técnicos (Art. 6º da RES 01/86 CONAMA)

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as


seguintes ATIVIDADES TÉCNICAS:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição
e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de
modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do
projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime
hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora,
destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor
científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de
preservação permanente;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 98

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
sócio economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos,
históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a
sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses
recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através
de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e
negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a
médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de
reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a
distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre
elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos,
avaliando a eficiência de cada uma delas.
lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os
impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem
considerados.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental
o órgão estadual competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município
fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas
peculiaridades do projeto e características ambientais da área.

Conforme a RES 01/86, temos o seguinte:

1) Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, com a completa descrição dos


recursos naturais, tais como existem, considerando os seguintes aspectos: a) o meio
físico, b) meio biológico dos ecossistemas, c) o meio socioeconômico.
2) Análise dos impactos ambientais e de suas alternativas;
3) Definição das medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos;
4) Elaboração do Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos
Ambientais e dos parâmetros a serem considerados.

Vejamos cada um desses requisitos pormenorizadamente:

1) Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, com a completa descrição dos


recursos naturais, tais como existem, considerando os seguintes aspectos:

a) O meio físico = Indaga-se: como é o solo? Tem recursos minerais no solo?

b) Meio biológico dos ecossistemas = Indaga-se: Tem animais na área? Tem fauna e flora
ameaçadas de extinção?

c) O meio socioeconômico = Indaga-se: Quais as atividades econômicas que existem lá?


Quais os monumentos históricos que existem naquela área?

2) Análise dos impactos ambientais e de suas alternativas

Deve-se fazer análise:

a) De impactos ambientais positivos e negativos;


b) De impactos de curto, médio e longo prazo;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 99

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c) Dos benefícios sociais e fiscais;
d) Dos ônus do impacto ambiental.

3) Definição das medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos

Reconhece-se que há impactos negativos e que por isso devem ser mitigados (ex.:
instalações de filtros, estação de esgoto etc.).

4) Elaboração do Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos


Ambientais e dos parâmetros a serem considerados

Exs.: Angra I, II e III.

6.8.3. Requisitos formais (art. 7º , 8º e 9º da RES 01/86 CONAMA)

Composto por:

1) Equipe multidisciplinar (art. 7º e 8º da RES. 01/86 CONAMA, art. 69-A da Lei 9605/98 e
Decreto 6514/08)

2) RIMA (art. 9º da RES 01/86 CONAMA)

1) Equipe multidisciplinar (art. 7º e 8º RES 01/86 CONAMA, art. 69-A da Lei 9605/98 e
Decreto 6514/08)

O empreendedor paga para que esta equipe realize o EPIA (art. 8º RES 01/86). Possui
responsabilidade penal e administrativa pelo estudo que faz.

A equipe multidicisplinar deve estar inscrita no cadastro técnico federal de atividades e


instrução de defesa ambiental, isso inclui o advogado.

RES 01/86 CONAMA Artigo 7º - O estudo de impacto ambiental será


realizado por equipe multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou
indiretamente do proponente do projeto e que será responsável tecnicamente
pelos resultados apresentados.

Esse dispositivo choca com o disposto no art. 11 da Res. 237/97, que afirma que os estudos
serão realizados às expensas do empreendedor. Assim, deve-se considerar que prevalece o art.11
e esse dispositivo se considera insubsistente.

Res. 237/97 Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento


deverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas
do empreendedor.
Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem os
estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas
informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e
penais

Continuando Res 01/86


Artigo 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as
despesas e custos referentes à realização do estudo de impacto

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 100

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ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e informações, trabalhos
e inspeções de campo, análises de laboratório, estudos técnicos e científicos
e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e
fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cópias,

Art. 69-A L.9605/98. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão


florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou
relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por
omissão:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1o Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano
significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa,
incompleta ou enganosa.

Decreto 6.514/2008 (Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao


meio ambiente).
Art. 82. Elaborar ou apresentar informação, estudo, laudo ou relatório
ambiental total ou parcialmente falso, enganoso ou omisso, seja nos sistemas
oficiais de controle, seja no licenciamento, na concessão florestal ou em
qualquer outro procedimento administrativo ambiental:
Multa de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão
de reais).

2) RIMA

Quando se faz o EPIA, deve-se fazer em seguida o RIMA. O EPIA consiste num documento
técnico, já o RIMA num documento objetivo, compreensível ao público. É o espelho mais simples
do EPIA.

O art. 9º da Resolução 01/86 CONAMA traz os tópicos do RIMA. O empreendedor deve


disponibilizar no mínimo cinco cópias do RIMA.

Art. 9º Resolução 01/86 CONAMA- O relatório de impacto ambiental - RIMA


refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:
I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade
com as políticas setoriais, planos e programas governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a
área de influência, as matérias primas, e mão de obra, as fontes de energia,
os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões,
resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área
de influência do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e
operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os
horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos,
técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas,
bem como com a hipótese de sua não realização;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 101

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VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser
evitados, e o grau de alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e
adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em
linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e
demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender
as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

Os requisitos do EPIA estão no “TERMO DE REFERÊNCIA”: O empreendedor que fará uma


obra de grande impacto vai ao órgão ambiental pedir autorização para EPIA. O órgão ambiental lhe
dará um documento chamado “termo de referência” com requisitos para estudo do impacto com
exigências além dos requisitos do EPIA. Não pode o órgão no meio do estudo exigir mais requisitos,
só pode exigir mais requisitos no Termo (no início), sob pena de preclusão administrativa.

Obs.: Terminado o EPIA, faz-se o RIMA. Deve entregá-lo ao órgão e


este abre a fase de comentários, ou seja, as pessoas comentam
sobre o estudo (será sempre escrito)!

6.8.4. Quadro esquemático dos requisitos do EIA

REQUISITOS DE REQUISITOS TÉCNICOS REQUISITOS FORMAIS


CONTEÚDO (DIRETRIZES (ART. 6º DA RES 01/86 (ART. 7º , 8º E 9º DA RES
GERAIS – ART. 5º DA RES CONAMA) 01/86 CONAMA)
01/86 CONAMA)

1) Contemplar todas as 1) Diagnóstico ambiental da 1) Equipe multidisciplinar


alternativas tecnológicas e de área de influência do projeto, (art. 7º e 8º da RES. 01/86
localização confrontando-as com a completa descrição CONAMA, art. 69-A da LEI
com a hipótese de não dos recursos naturais, tais 9.605/98 e Decreto 6514/08).
execução do projeto; como existem, considerando
os seguintes aspectos: a) o 2) RIMA (art. 9º da RES 01/86
2) Identificar e avaliar os meio físico, b) meio biológico CONAMA).
impactos ambientais gerados dos ecossistemas, c) o meio
nas fases de socioeconômico.
IMPLEMENTAÇÃO e
OPERAÇÃO da atividade; 2) Análise dos impactos
ambientais e de suas
3) Definir os limites da área de alternativas;
influência do projeto que
deve ter como referencial a 3) Definição das medidas
bacia hidrográfica; mitigadoras dos impactos
ambientais negativos;
4) Considerar a
compatibilidade com os

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 102

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planos e programas 4) Elaboração do Programa
governamentais. de Acompanhamento e
Monitoramento dos
Impactos Ambientais e dos
parâmetros a serem
considerados.

6.9. AUDIÊNCIA PÚBLICA (RESOLUÇÃO 09/87 CONAMA)

6.9.1. Introdução

É um instrumento de informação e consulta aos interessados, pois eles sofrerão


consequências do empreendimento. Possui como requisito formal essencial: a publicação em edital
no órgão oficial de imprensa e jornal de grande circulação para que em 45 dias haja manifestação
dos interessados para requerer a audiência pública. Quando solicitada e não realizada audiência
pública, a licença concedida será inválida.

RES 09/87 Art. 1º - A Audiência Pública referida na


RESOLUÇÃO/CONAMA/N.º 001/86, tem por finalidade expor aos
interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA,
dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a
respeito.

Art. 2º. § 1º - O Órgão de Meio Ambiente, a partir da data do recebimento do


RIMA, fixará em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo
que será no mínimo de 45 dias para solicitação de audiência pública.
§ 2º - No caso de haver solicitação de audiência pública e na hipótese do
Órgão Estadual não realizá-la, a licença concedida não terá validade.

6.9.2. Legitimados para solicitar audiência pública

RES 09/87 Art. 2º - Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado
por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais
cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de audiência
pública.

1) Qualquer órgão ambiental licenciador, ex officio;


2) MP Federal ou Estadual;
3) Entidade da sociedade civil (não precisa ser entidade ambientalista);
4) 50 ou mais cidadãos.

Pode haver mais de uma audiência pública em decorrência da complexidade do tema.


Realizada em local de fácil acesso.

Na audiência pública, o órgão ambiental leva as informações sobre o projeto e em seguida,


a população dará a sua opinião. A audiência pública não é mecanismo de convencimento, até
porque o órgão ambiental não licenciou.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 103

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Após a audiência pública, lavrar-se-á a ata de forma sucinta e recolhem-se as informações
e documentos da população para encaminhá-los ao órgão ambiental. Em seguida, o órgão
ambiental pode emitir:

- EPIA/RIMA favorável;

- EPIA/RIMA desfavorável.

6.9.3. Vinculação do órgão licenciador à audiência pública

Não obstante a evolução legislativa, a audiência pública ainda não permite uma eficaz
participação do público atingido no processo decisório do EIA/RIMA. Isso porque ela é posterior à
entrega do estudo e não vincula a decisão do órgão licenciador. Serve apenas de subsídio à decisão
final sobre o EIA/RIMA e oportuniza a indagação do público à equipe multidisciplinar, ao proponente
do projeto e ao próprio órgão licenciador ambiental acerca do conteúdo do estudo.
Tal como hoje está prevista, a audiência pública é de pouca eficácia, não só informativa, como
quanto ao poder de participação e influência na decisão relativa ao licenciamento.

O que a prática vem demonstrando é que o envolvimento do público, no mais das vezes, é
"formal, previsível e orientado", tanto em relação àqueles que pretendem a implantação de um
projeto, quanto em relação aos que o rechaçam.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MS (2020) A audiência pública no processo de licenciamento ambiental
não obriga o órgão responsável pelo licenciamento ambiental a acolher as
contribuições dela decorrentes, desde que apresente justificativa. Correta!

6.10. VINCULAÇÃO DO ÓRGÃO LICENCIADOR AO EPIA/RIMA

6.10.1. Vinculação do órgão licenciador à REALIZAÇÃO do EPIA/RIMA

Com relação aos empreendimentos passíveis de ocasionar significativa degradação ao meio


ambiente, os quais ensejam a prévia elaboração de EIA, conforme acima exposto, a doutrina, diante
da dificuldade de se precisar o conceito de SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO (o qual pode ser
considerado como um conceito jurídico indeterminado), é praticamente uníssona em afirmar que as
hipóteses constantes do artigo 2º da Resolução n°. 01/86 são regidas pelo princípio da
obrigatoriedade, ou seja, a Administração Pública deve exigir a elaboração do EIA naqueles casos.
Assim, considera-se que o rol é meramente exemplificativo no sentido de somatória de atividades,
mas considerado obrigatório para as relacionadas.

Milaré afirma, baseando-se no teor do parágrafo único do artigo 3° da Resolução n°. 237/97,
que a presunção de gravidade de impacto das atividades e obras constantes do rol do artigo 2º da
Resolução n°. 01/86 é juris tantum, ou seja, comporta prova em contrário, produzida pelo
empreendedor.

Resolução n°. 237/97 CONAMA Art. 3º- A licença ambiental para


empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente
causadoras de SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO do meio dependerá de
prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o
meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 104

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realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a
regulamentação.
Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade
ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa
degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao
respectivo processo de licenciamento.

6.10.2. Vinculação do órgão licenciador ao RESULTADO do EPIA/RIMA

Foi mencionado que a licença ambiental não pode ser confundida com a licença
administrativa, sendo também ato vinculado por excelência, devido aos princípios próprios que
regem o Direito Ambiental. Já se sabe, igualmente, que o EIA/RIMA é orientado a trazer elementos
que auxiliem o processo decisório, devendo o estudo, pois, ser anterior à concessão de qualquer
das licenças, até mesmo da licença prévia.

1ª corrente (MAJORITÁRIA) = órgão ambiental não está vinculado às conclusões do


EPIA/RIMA. Ou seja, ainda que o EPIA seja favorável, o órgão ambiental pode não licenciar, e ainda
que o EPIA seja desfavorável, o órgão ambiental pode deferir a licença, desde que motivado —
“discricionariedade sui generis” decorrente do próprio texto constitucional, que permite o sopeso
entre a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento econômico. O EPIA está no plano da
motivação do órgão ambiental.

2ª corrente) Se o EPIA é favorável vincula o órgão ambiental e por isso deve conceder a
licença prévia. Um EPIA desfavorável não vincula.

Saliente-se que o EIA não vincula obrigatoriamente a decisão a ser tomada pela
Administração Pública nesse licenciamento ambiental, uma vez que esse estudo não fornece uma
resposta absoluta e inquestionável sobre os danos que possam surgir. A necessidade de
interpretação do conteúdo do estudo se apresenta imprescindível, tendo em vista a importância de
analisar a conveniência e oportunidade em autorizar o projeto do proponente, assim como
disponibilizar as soluções possíveis para afastar ou reduzir a magnitude dos diversos impactos
ambientais negativos.

7. LICENCIAMENTO AMBIENTAL (LC 140/11 + L.6938/81 C/C RESOLUÇÃO 237/97


CONAMA)

INTRODUÇÃO

Se o EIA/RIMA for aprovado pelo órgão ambiental, o empreendedor obtém licença prévia,
faltando obter apenas as outras duas licenças, quais sejam: licença instalação e licença operação.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 105

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7.1. CONCEITO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

É o procedimento em que o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,


ampliação e operação de empreendimento e atividades que utilizem recursos ambientais, que sejam
efetivas ou potencialmente poluidores e àqueles que sob qualquer forma possam causar
degradação ambiental. Em outras palavras, consiste num instrumento preventivo da Política
Nacional do Meio Ambiente que visa compatibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção
do meio ambiente.

É um instrumento complexo que objetiva alcançar as licenças ambientais. Deve seguir


ordem do licenciamento ambiental, e a finalidade é atingir a licença de OPERAÇÃO, após a licença
PRÉVIA e licença de INSTALAÇÃO.

A licença ambiental diferencia-se da licença do direito administrativo, embora haja


divergências.

7.2. NATUREZA JURÍDICA DA LICENÇA AMBIENTAL

1ª corrente) é uma autorização (defendida pelo TCU);

2ª corrente) é uma licença administrativa (Édis Milaré);

3ª corrente) é licença com contornos próprios, singulares (Paulo de Bessa). Não se confunde
com:

● licença administrativa → é ato unilateral e vinculado. Também não pode a licença


ambiental ser licença administrativa, porque esta gera direito adquirido e licença ambiental não pode
gerar direito adquirido a poluir, por exemplo.

● autorização → é ato discricionário e precário e a licença ambiental não pode ser precária!

Desta forma, a licença ambiental deve ser realizada de forma sui generis, pois pode ser
revogada, cassada, anulada (possui contornos próprios).

7.3. LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS

Como dito, percorremos o seguinte caminho:

1) Licença prévia;
2) Licença instalação;
3) Licença operação.

Vejamos:

7.3.1. Licença prévia

Prazo máximo de 05 anos;

Elenca série de condicionantes (requisitos) para a próxima licença;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 106

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Aprova localização, concepção do projeto;

Atesta a viabilidade ambiental do projeto.

7.3.2. Licença instalação

Prazo máximo de 06 anos;

Vai edificar, o projeto ganhará materialidade (condicionantes);

Têm condicionantes para a próxima licença (de operação);

Terminou de construir, não pode funcionar, precisa da licença de operação, se cumprir


os condicionantes das licenças anteriores.

7.3.3. Licença operação

Prazo mínimo de 04 anos e máximo de 10 anos;

Para iniciar o funcionamento, deve verificar se cumpriu as condicionantes anteriores.

É possível pedir licença de renovação quando estiver vencendo a licença de operação (até
120 dias antes de vencer). Se o órgão ambiental não analisar nesses 120 dias, a licença
automaticamente se prorroga até a apreciação pelo órgão ambiental.

O órgão ambiental terá o prazo de 06 meses para analisar cada licença. Na hipótese de
EPIA/RIMA o prazo é de 01 ano.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PA (2022) O ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que
deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para
localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades
utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental, é normativamente definido como licença ambiental. Correta!

TJ/SP (2021) A respeito da previsão de licenças ambientais, é possível


afirmar que na doutrina prevalece o entendimento de que as hipóteses de
atividades estabelecidas pela Resolução no 001/1986 estão regidas pelo
princípio da obrigatoriedade, ou seja, a Administração deve determinar a
elaboração do EUA, presumindo-se a necessidade. Correta!

7.4. COMPETÊNCIA NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

7.4.1. Introdução

Essas regras estão, atualmente, dispostas na LC 140, de 8 de dezembro de 2011, que veio
a lume para disciplinar a cooperação entre os vários entes da federação “nas ações
administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das
paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora”.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 107

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Nesse sentido, revogou as disposições da Resolução CONAMA 237/97 que tratavam da
competência, corrigindo uma distorção que havia devido ao fato de a Resolução determinar
competência administrativa sem haver nenhuma lei que lhe desse suporte.

7.4.2. Licenciamento ambiental no Brasil depois da LC 140/2011

Como visto, licenciamento ambiental brasileiro, fundamentado na Lei da Política Nacional do


Meio Ambiente, tinha a Resolução CONAMA 237/1997 como principal norma delimitadora das
atribuições dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) dentro do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). A Lei Complementar 140, de 08/12/2011, passou a regular,
agora de forma constitucional, tais atribuições.

7.4.3. Competência administrativa dos entes federativos em matéria ambiental

Sob pena de se violar a independência dos entes federativos, somente a Constituição


Federal pode estabelecer as atribuições de cada um e indicar como estas serão delimitadas.

De acordo com o artigo 225, da CF, a atuação do poder público é fundamental para a
preservação e defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado para estas e futuras gerações.
Em seu artigo 23, foi estabelecida a competência comum dos entes federativos, onde a proteção
do meio ambiente, em todas suas dimensões ganha destaque (art. 23, III, IV, VI, VII, IX etc.) e ficou
claro que tanto a União como os Estados, Distrito Federal e Municípios têm o dever de proteger o
meio ambiente.

7.4.4. A importância do licenciamento ambiental e a Resolução 237 do CONAMA

Nesta tarefa do poder público de proteger o meio ambiente ressalta-se o licenciamento


ambiental como um instrumento preventivo, indispensável para empreendimentos ou atividades
potencialmente poluentes e caracterizado pelo controle prévio do poder público para se evitar a
poluição.

Antes da regulamentação efetivada por meio da Resolução 237/1997, especificamente em


relação ao licenciamento ambiental, surgiram problemas para se definir em que instância federativa
deveria ser este efetivado, ao ponto de serem exigidos, em algumas oportunidades, licenciamentos
simultâneos nas esferas municipal, estadual e federal, gerando-se insegurança jurídica e ônus
desnecessários para os empreendedores.

Para acabar com esta polêmica e, principalmente, instituir o sistema de licenciamento


ambiental único, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) instituiu a resolução 237/1997
estabelecendo, entre outras questões, como se daria esta distribuição de atribuições comuns aos
entes federativos. Entretanto, de acordo com a Constituição Federal (art. 23, parágrafo único),
caberia à Lei Complementar tal função, razão pela qual a doutrina apontava a inconstitucionalidade
da resolução.

7.4.5. Advento da Lei Complementar 140/2011

Com o advento da Lei Complementar 140/2011, estas competências materiais (ou


administrativas ou executivas) comuns dos entes federativos relativas à proteção ao meio ambiente,
agora estão regulamentadas. No que tange ao licenciamento ambiental, verifica-se que as normas

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 108

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estabelecidas na Resolução 237/1997 foram ratificadas, sem maiores alterações, por tal Lei
Complementar, permanecendo o sistema único de licenciamento pelos órgãos executores do
Sistema Nacional de Meio Ambiente (art. 13), com a garantia de manifestação não vinculante dos
órgãos ambientais das outras esferas federativas.

A Lei Complementar 140/2011 ratifica o conceito de licenciamento ambiental já previsto na


Lei da Política Nacional do Meio Ambiente e na Resolução CONAMA 237/97 como destinado a “[...]
atividades ou empreendimento utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental” (art. 2º, I).

7.4.6. Competência para o licenciamento ambiental atual

No que tange à competência para licenciamento ambiental dos entes federativos verifica-se
que, como regra, foi mantido o critério da abrangência do impacto: se local, cabe aos MUNICÍPIOS
(desde que definidos pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente); se extrapola mais de um
município dentro de um mesmo ESTADO, cabe a este o licenciamento e se ultrapassa as fronteiras
do estado ou do país cabe ao ÓRGÃO FEDERAL ESPECÍFICO.

Além disso, cabe à UNIÃO o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades:

1) Localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona


econômica exclusiva;
2) Localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
3) Localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto
em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
4) De caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder
Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas;
5) Relativos à energia nuclear;
6) Que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da
Comissão Tripartite Nacional (“formada, paritariamente, por representantes dos Poderes
Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com o objetivo de
fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos”).
(art. 7º, XIV).

Para os Estados foi adotado o critério da competência licenciatória residual (pode


licenciar aquilo que não for da atribuição da União e dos Municípios), sendo-lhe expressamente
estabelecida, assim como para os municípios a atribuição para licenciamento de atividades ou
empreendimentos em unidades de conservação estaduais ou municipais respectivamente, com
exceção de área de proteção ambiental (APA). (arts. 8º, XIV e XV e 9º, XIV, “b”).

Art. 8o São ações administrativas dos Estados:


XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o
disposto nos arts. 7o e 9o;
XV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos
localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo
Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

Art. 9o São ações administrativas dos Municípios:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 109

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XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta
Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos:
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto
em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

7.4.7. Demora e custo do licenciamento ambiental

Foi concretizada na Lei Complementar 140/2011 a preocupação com os constantes atrasos


dos órgãos ambientais nos procedimentos de licenciamento ambiental atualmente efetivados (art.
14) e com a proporcionalidade que deve ser verificada entre as taxas para o licenciamento
ambiental, especificadas por estes órgãos, e o verdadeiro custo e complexidade do serviço prestado
pelo órgão licenciador (art. 13, §3º).

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos


para tramitação dos processos de licenciamento.
§ 1o As exigências de complementação oriundas da análise do
empreendimento ou atividade devem ser comunicadas pela autoridade
licenciadora de uma única vez ao empreendedor, ressalvadas aquelas
decorrentes de fatos novos.
§ 2o As exigências de complementação de informações, documentos ou
estudos feitas pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de
aprovação, que continua a fluir após o seu atendimento integral pelo
empreendedor.
§ 3o O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença
ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela
dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art.
15.
§ 4o A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com
antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo
de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.

Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,


ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as
atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
...
§ 3o Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros
serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a
complexidade do serviço prestado pelo ente federativo.

Vale ressaltar que os prazos para o licenciamento, bem como outras regras atinentes a esta
atividade, ainda são regulamentados pela resolução CONAMA 237/1997 que permanece em vigor
naquilo que não contraria a Lei Complementar 140/2011.

7.4.8. Atividade suplementar, subsidiária e fiscalização pelos Órgãos Ambientais

Em caso de inexistência de órgão ambiental executor ou deliberativo ou ainda em caso de


atraso injustificado no procedimento de licenciamento imputável ao órgão ambiental licenciador,
outro ente federativo de maior abrangência atuará em caráter SUPLETIVO, através de seu
respectivo órgão licenciador ou normativo (arts. 14, §3º e 15).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 110

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Art. 2o Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
...
II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente
federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas
nesta Lei Complementar;

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos


para tramitação dos processos de licenciamento.
§ 3o O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença
ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela
dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no
art. 15.

Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações
administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes
hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no
Estado ou no Distrito Federal, a UNIÃO deve desempenhar as ações
administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no
Município, o ESTADO deve desempenhar as ações administrativas
municipais até a sua criação; e
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio
ambiente no Estado e no Município, a UNIÃO deve desempenhar as ações
administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos.

Foi estabelecida ainda a figura da atuação SUBSIDIÁRIA, consistente na “ação do ente da


Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências
comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições
[licenciatórias]” e que se dará, entre outras formas, através de apoio técnico, científico,
administrativo ou financeiro (art. 2º, III c/c art. 16).

Art. 2o Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no
desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando
solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições
definidas nesta Lei Complementar.

Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por
meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem
prejuízo de outras formas de cooperação.
Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente
originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei Complementar

A Lei Complementar referida estabelece também a competência FISCALIZATÓRIA dos


entes federativos, permanecendo a atribuição comum de todos estes entes para a adoção de
medidas urgentes para se evitar o dano ambiental, embora a competência para lavrar auto de
infração e procedimento administrativo seja do órgão licenciador (art. 17).

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização,


conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração
ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 111

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legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada
ou autorizada.
...
§ 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade
ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar
medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando
imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a
atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AL (2019) Considerando a competência dos órgãos dos diferentes entes
federativos para licenciamento de empreendimentos potencialmente
poluidores, tem-se que, a partir da edição da Lei Complementar n° 140/2011,
cada empreendimento ou atividade serão submetidos a licenciamento
ambiental de um único ente federativo, o qual terá competência também para
fiscalizar e lavrar autos de infração correlatos à atividade ou empreendimento
licenciado.

7.4.9. Responsabilidade administrativa vinculada ao licenciamento ambiental: art. 17 da LC


140/11

Até a LC 140/11, o STF dividia a competência para licenciar e para fiscalizar, afirmando que
seriam atuações independentes. Com o advento da LC 140/11 esse panorama mudou:

Atualmente, quem licencia (ente federativo que tem a competência para licenciar) deve,
prioritariamente, exercer a competência de fiscalização sobre essa obra ou atividade licenciada.

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou


autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar
auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a
apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
§ 1º Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração
ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de
recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir
representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de
seu poder de polícia.
§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade
ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá
determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la,
comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências
cabíveis.

Ex.: obra licenciada pelo Estado-membro e que está provocando degradação na área,
conforme constata o fiscal do IBAMA; Nesse caso, embora seja servidor de órgão federal, poderá
o referido fiscal lavrar auto de infração e suspender a atividade, devendo, ato contínuo, comunicar
o órgão ambiental do Estado-membro.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 112

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§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o
caput.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2022) A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos
ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador. Correta!

PGE/AL (2021) Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos


Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) o licenciamento ambiental localizado
em zona econômica exclusiva ou desenvolvido em parceria com país
limítrofe. Correta!

PGE/GO (2021) Foram submetidos ao licenciamento ambiental conduzido


pelo Estado de Goiás cinco empreendimentos com absoluta sinergia entre
eles e que serão instalados em áreas limítrofes. Neste cenário, o órgão
licenciador poderá conduzir um único licenciamento considerando o conjunto
de empreendimentos. Correta!

MPE/SC (2021) Sobre o caso a seguir, responda: Uma empresa pretende


instalar, em determinado município, uma indústria que trabalhará com
extração de cerâmica e produção de telhas. Para tanto, ela solicitou o
licenciamento ambiental ao órgão de meio ambiente do estado.
I- Para que seja viável o licenciamento da atividade em questão, a prefeitura
do município deverá declarar, mediante certidão, que o local e o tipo de
empreendimento estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e
à ocupação do solo. Correta!
II- O órgão estadual de meio ambiente deverá expedir licença de instalação
caso conclua pela viabilidade ambiental do empreendimento. Errada!
III - Para conseguir o licenciamento do referido empreendimento, a empresa
necessariamente deverá estar inscrita no Cadastro Técnico Federal de
Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos
Ambientais (CTF). Correta!
IV - Antes da expedição da licença, o órgão estadual de meio ambiente
deverá desenvolver o estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e emitir o
respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA), para evitar, mitigar e
compensar os impactos ambientais do empreendimento. Errada!

TJ/GO (2021) Na gestão da fauna silvestre, compete aos estados controlar a


apanha de espécimes, ovos e larvas destinadas à implantação de criadouros
e à pesquisa científica. Correta!

Delegado PC/RN (2021) De acordo com a Constituição da República de


1988, a competência material ambiental é comum a todos os entes da
federação, a quem cabe proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas. Para tal, os entes devem atuar de forma
coordenada, cooperando uns com os outros, para não haver desperdício de
forças e recursos. Nesse contexto, a Lei Complementar nº 140/2011dispõe
que os entes federativos podem valer-se, entre outros, do seguinte

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 113

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instrumento de cooperação institucional delegação de atribuições de um ente
federativo a outro, respeitados os requisitos previstos na referida lei.

TJ/MS (2020) O Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) deliberou


que os licenciamentos ambientais conduzidos por Estudo de Impacto
Ambiental e Respectivo Relatório (EIA-RIMA) serão estaduais e os demais,
salvo aqueles de competência da União (Lei Complementar Federal n° 140,
de 08 de dezembro de 2011), serão municipais. A presente deliberação é
nula, pois o critério selecionado está em desacordo com a normativa que rege
o tema. Correta!

7.4.10. Jurisprudência sobre competência ambiental

A seguir compilamos julgados recentes sobre a competência ambiental, tema fortíssimo para
as provas de concursos públicos e frequente nas discussões dos Tribunais.

INFO 1079/STF - LC 140/2011 foi declarada constitucional.


A repartição de competências comuns, instituída pela LC 140/2011, mediante
atribuição prévia e estática das competências administrativas de fiscalização
ambiental aos entes federados, atende às exigências do princípio da
subsidiariedade e do perfil cooperativo do modelo de Federação, cuja
finalidade é conferir efetividade nos encargos constitucionais de proteção dos
valores e direitos fundamentais.
Vale ressaltar, no entanto, que dois dispositivos da Lei merecem
interpretação conforme:
§ 4º do art. 14 da LC 140/2011:
É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação
automática de licença ambiental.
Assim, a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na
manifestação definitiva sobre os pedidos de renovação de licenças
ambientais instaura a competência supletiva do art. 15.

§ 3º do art. 17 da LC 140/2011:
A prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente
competente para o licenciamento ou autorização ambiental não exclui a
atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada omissão
ou insuficiência na tutela fiscalizatória.
No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar —
ainda que não conflitiva — da União com a dos órgãos estadual e municipal.
STF. Plenário. ADI 4757/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/12/2022
(Info 1079).

INFO 1076/STF - É inconstitucional — por invadir a competência legislativa


geral da União (art. 24, VI, §§ 1º e 2º, da CF/88) e violar o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, IV, da CF/88) — norma
estadual que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente.
STF. Plenário. ADI 4529/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/11/2022
(Info 1076).

7.5. RESOLUÇÃO 237/97 CONAMA

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 114

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O art. 10 traz o “iter procedimental”, isto é, o caminho até chegar à licença:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes


etapas:
I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do
empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais,
necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença
a ser requerida;

Vai até o órgão ambiental que estabelecerá os estudos necessários — é o TERMO DE


REFERÊNCIA.

Obs.: O licenciamento ambiental inicia-se com certidão de uso e


ocupação do solo expedida pelo Poder Executivo Estadual.

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor,


acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes,
dando-se a devida publicidade;
III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA ,
dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização
de vistorias técnicas, quando necessárias;

Análise dos documentos e pode-se fazer vistoria técnica.

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão


ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em
decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais
apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma
solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham
sido satisfatórios;

Solicitação de esclarecimentos e complementações, uma única vez, que deverá ser


cumprida no prazo de 4 meses pelo empreendedor, sob pena de iniciar tudo novamente. Nesta
fase, o prazo de 6 a 12 meses para o órgão ambiental emitir licença, ficará suspenso.

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação


pertinente;

Audiência pública é só para o EPIA/RIMA, desde que os legitimados requeiram, pois no


licenciamento normal não precisa de audiência pública.

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão


ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando
couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos
e complementações não tenham sido satisfatórios;

Solicitação de esclarecimentos e solicitações decorrentes de audiências públicas (só haverá


no caso de EPIA/RIMA).

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer


jurídico;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 115

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VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida
publicidade.

7.6. RESCINDIBILIDADE DAS LICENÇAS AMBIENTAIS OU RETIRADA

Temporária Suspensão

RETIRADA
(DECISÃO Anulação
MOTIVADA)

Definitiva Cassação

Revogação

OBS: o que as diferencia é o grau de irregularidade.

7.6.1. Retirada temporária

A licença pode ser suspensa.

Na retirada temporária haverá prazo para regularização.

7.6.2. Retirada definitiva (art. 19 Resolução 237/97 CONAMA)

A licença pode ser revogada, anulada, cassada.

1) Anulação = quando há ilegalidade na expedição da licença, na origem;

2) Cassação = quando não se cumpre os termos da licença, logo a ilegalidade não é na origem
e sim no exercício da atividade (legalidade posterior).

3) Revogação = quando há graves riscos para o meio ambiente e a saúde humana.

Ex.: Em casos de desastres naturais que inviabilizam a atividade não será cabível indenização.
Por outro lado, caso o plano diretor realize o zoneamento urbano e decida retirar o empreendimento
de lá, caberá a indenização.

Art. 19, Resolução 237/97 CONAMA – O órgão ambiental competente,


mediante decisão motivada, poderá modificar os condicionantes e as
medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença
expedida, quando ocorrer:
I – Violação (cassação) ou inadequação (revogação) de quaisquer
condicionantes ou normas legais.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 116

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II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a
expedição da licença (anulação).
III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde (revogação).

ATENÇÃO: Em obra pública antes da licitação tem que realizar


estudos ambientais quando da realização do projeto básico. A
exceção encontra-se nos contratos de concessão, que não será
necessária a realização de estudo prévio.

Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se:


(...)
XXV - projeto básico: conjunto de elementos necessários e suficientes, com
nível de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço,
ou o complexo de obras ou de serviços objeto da licitação, elaborado com
base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegure a
viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do
empreendimento e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição
dos métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes
elementos:
(...)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 117

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PROTEÇÃO AMBIENTAL

1. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP – LEI 12651/12 – NOVO CFLO)

O Código Florestal abrange não só florestas, mas também outros tipos de vegetação.

1.1. CONCEITO DE APP

Conforme o art. 3º do Código Florestal, corresponde à área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da flora e da fauna, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não
por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas;

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) Em termos legais, uma área protegida, não coberta por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas, é denominada área de preservação permanente.
Correta!

MPE/SC (2019) A Lei Federal n. 12.651/2012, conhecida como Código


Florestal, define como área de preservação permanente somente a coberta
por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas. Errada!

1.2. ESPÉCIES

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 118

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APP por força de lei (art. 4º L.12651/12 – Novo
Código Florestal);
Espécies de APP

APP por ato do Poder Público (art. 6º - CFLO)

APPs atípicas

1.2.1. APP por força de lei

É aquela decorrente de sua localização.

1) Nas matas ciliares (art. 4º, inc. I CFLO)


2) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais (art. 4º, inc. II CFLO)
3) Em caso de reservatório artificial (art. 4º, inc. III CFLO)
4) Nas nascentes e "olhos d'água" (art. 4º, IV, CFLO)
5) Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na
linha de maior declive (art. 4º, inc. V, CFLO)
6) Nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues (art. 4º, inc. VI
CFLO)
7) Os manguezais em toda sua extensão (art. 4º, inc. VII CFLO)
8) Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais (art. 4º, inc. VIII CFLO)
9) No topo de morros, montes, montanhas e serras (art. 4º, inc. IX CFLO)
10) Em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação (art. 4º, inc. X, CFLO)

Vejamos:

1) Nas matas ciliares (art. 4º, inc. I CFLO)

As florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer
curso d'água natural, perene (água corrente) e intermitente (aquele que, naturalmente, não
apresenta escoamento superficial em alguns períodos do ano; seca em período de escassez de
chuva), excluídos os efêmeros (que têm escoamento superficial apenas durante ou imediatamente
após períodos de precipitação), desde o seu nível mais alto em faixa marginal.

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 119

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I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;

2) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais (art. 4º , inc. II CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas NATURAIS, em faixa com largura
mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até
20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta)
metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

Em suma:

● em área urbana consolidada = faixa de APP é de 30 metros;


● em área rural, com até 20 hectares = faixa de APP é de 50 metros
● em área rural, com mais de 20 hectares = faixa de APP é de 100 metros.

3) Em caso de reservatório artificial (art. 4 , inc. III CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na
licença ambiental do empreendimento

4) Nas nascentes e "olhos d'água" (art. 4º, IV, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 120

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IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer
que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

Raio mínimo de 50 metros de largura.

A definição de nascente envolve perenidade (característica do que é perene = duradouro).


Ocorre que o STF afirmou que não se pode negar proteção também aos entornos das nascentes e
dos olhos d´água intermitentes.5

Na ocasião, o STF decidiu dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3o, XVII e ao
art. 4o, IV, para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos
dá́ gua intermitentes configuram área de preservação permanente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Delegado Polícia/GO (2022) Em um auto de prisão em flagrante por crime
ambiental, constou um relato sobre os atos e fatos praticados pelo agente A,
afirmou-se que a prática criminosa restou configurada pela intervenção
humana, inerente à construção de imóvel localizado em área de preservação
permanente (APP). Tal local onde consta a referida intervenção humana é
descrito e caracterizado como ambiente protegido “olho d’ água”. Conforme
a Lei Federal nº 12.605/2012, o ambiente protegido conhecido como “olho d’
água” é o afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente.
Correta!

MPE/RS (2021) Configuram Área de Preservação Permanente as áreas no


entorno das nascentes e olhos d’água perenes, em um raio de, no mínimo,
cinquenta metros, não sendo consideradas Área de Preservação Permanente
aquelas situadas no entorno de nascentes e olhos d’água intermitentes.
Errada!

MPE/SC (2019) De acordo com decisão proferida pelo Supremo Tribunal


Federal, no julgamento da ADI n. 4.903, foi reconhecida a caracterização das
nascentes e olhos d'água intermitentes como áreas de preservação
permanente, de modo que, atualmente, a proteção do entorno destas áreas
abrange o raio mínimo de 50 (cinquenta) metros no entorno das nascentes e
dos olhos d’água perenes e intermitentes, nos termos do art. 4º, IV, da Lei
Federal n. 12.651/2012. Correta!

5) Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100%
na linha de maior declive (art. 4º, inc. V, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente
a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;

5
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012). Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/517f24c02e620d5a4dac1db388664a63>. Acesso em: 10/01/2023.

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6) Nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues (art. 4º, inc.
VI, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

7) Os manguezais em toda sua extensão (art. 4º, inc. VII, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

8) Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em


faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais (art. 4º, inc. VIII, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

9) No topo de morros, montes, montanhas e serras (art. 4º, inc. IX, CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a
partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima
da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano
horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos
relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

10) Em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação (art. 4º, inc. X,
CFLO)

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer
que seja a vegetação;

11) Veredas (art. 4º, inc. XI, CFLO)

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima


de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e
encharcado.

Atenção!!

§ 1o Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de


reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou
represamento de cursos d’água naturais.

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1.2.2. APP por ato do Poder Público (Art. 6º CFLO)

É aquela instituída administrativamente, por ato do Poder Público. Em regra, se dá por


Decreto. Tais espécies caíram em desuso atualmente, em razão do surgimento de outros institutos.

Art. 6o Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando


declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas
cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou
mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de
terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou
histórico;

APP substituída por tombamento

VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

Formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias. Vale dizer que de acordo com a
L. 6766/79, art. 4º, III (Lei de Parcelamento do Solo Urbano), ao longo das faixas de domínio público
das rodovias e ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável de 15 (quinze)
metros de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica.

VII - assegurar condições de bem-estar público;


VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades
militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

1.2.3. APP atípicas

Estão previstas em outros diplomas, a exemplo do art. 197 da CE de SP:

Art. 197 CESP - São áreas de preservação permanente:


I - os manguezais;
II - as nascentes, os mananciais e matas ciliares;
III - as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como
aquelas que sirvam como local de pouso ou reprodução de migratórios;
IV - as áreas estuarinas;
V - as paisagens notáveis;
VI - as cavidades naturais subterrâneas.

1.3. INTERVENÇÃO EM APP

➔ QUESTÃO: É possível exercer atividade econômica em APP?

Resposta: Em regra NÃO, pois as APP’s são insuscetíveis de atividade econômica, salvo
casos excepcionais em que o órgão ambiental competente pode autorizar a intervenção ou
supressão de vegetação em APP para a implantação de obras, planos, atividades ou projetos de

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utilidade pública ou interesse social, ou para a realização de ações consideradas eventuais e de
baixo impacto ambiental. (Resolução 369/2006 do CONAMA).

1.3.1. Hipóteses de utilidade pública

1) Atividades de segurança nacional e proteção sanitária;


2) Obras de infraestrutura, de serviços públicos de transporte, saneamento e energia;
3) Pesquisa e extração de substâncias minerais, exceto areia, argila, saibro e cascalho;
4) Pesquisa arqueológica;
5) Implantação de áreas verdes públicas em área urbana;
6) Obras de captação e condução de água e de efluentes tratados.

1.3.2. Hipóteses de interesse social

1) As atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa. Busca


evitar incêndios e perpetuação de espécies invasoras (colocação de uma planta
vinda da África que devasta a vegetação local), por exemplo.
2) Manejo agroflorestal ambientalmente sustentável, praticado em pequena propriedade ou
posse rural (quando se intervém no meio ambiente).
3) Regularização fundiária sustentável em área urbana. Esta ocorre quando a população
invade encostas de morro, realiza construções irregulares e lá vive. É preciso regularizar
tal área, pois acabam invadindo a APP.
4) Atividades de extração de areias, argila, saibro e cascalho.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPF (2022) Os manguezais são área de preservação permanente, por isso,
mesmo quando a sua função ecológica esteja comprometida, não podem
sofrer supressão de vegetação nativa para a execução de obras habitacionais
e de urbanização ainda que inseridas em projetos de regularização fundiária
de interesse social em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população
de baixa renda. Errada!

1.4. REGRAS PARA INTERVENÇÃO OU SUPRESSÃO EM APP (PROCEDIMENTO


PRÓPRIO)

1) Inexistência de alternativa técnica e locacional;


2) Atendimento às condições e padrões aplicáveis aos corpos d’água;
3) Averbação da reserva legal florestal;
4) Inexistência de risco de agravamento de processos com enchentes, erosão etc.

O órgão competente para aplicar tal procedimento é o órgão ambiental estadual.

➔ QUESTÃO: Em área urbana, pode o órgão ambiental municipal autorizar a supressão


em APP urbana?

Resposta: Sim, desde que o Município tenha Plano Diretor e Conselho de Meio Ambiente, de
caráter deliberativo. Vale ressaltar que antes, deve o Município solicitar um parecer técnico ao órgão
ambiental estadual.

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Obs1: Intervenção e supressão em nascentes, veredas, dunas e
mangues só podem ocorrer nas hipóteses de UTILIDADE PÚBLICA.
Obs2: Implementação de reservatório artificial, o proprietário deverá
adquirir a área de seu entorno ou desapropriá-la.

➔ QUESTÃO: Pode o ser humano, animais entrar em APP?

Resposta: A dessedentação (matar a sede) é permitida.

➔ QUESTÃO: A APP é tributável?

Resposta: Para a doutrina, a área rural não é computada para fins de ITR. Entretanto, a
área urbana dependerá de legislação específica de cada Município. O governo federal já
reconheceu que APP não é tributável.

ATENÇÃO: Quanto às águas correntes e dormentes = a fixação da


marginal da APP vem se modificando com o tempo. Assim sendo, caso
se tenha uma construção consolidada em área que passa a ser
considerada de preservação permanente, não há necessidade de
demoli-la, em virtude do princípio da razoabilidade.

2. RESERVA LEGAL FLORESTAL (RLF – Art. 3º, inc. III CFLO)

2.1. CONCEITO

É a área localizada no interior de uma propriedade ou posse RURAL, excetuada a APP,


necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à construção e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e da flora nativas
(diferencia-se da APP, pois esta abrange propriedade urbana e rural).

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


...
III - RESERVA LEGAL: área localizada no interior de uma propriedade ou
posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o
uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,
auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover
a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa;

2.2. REGIME JURÍDICO

Obrigação propter rem, vejamos:

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STJ: A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os
deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação
propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse, independente do
fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental. Casos
em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do
dever de recuperar a área de preservação permanente. (AgRg no Resp
1.367.986/SP - Relator: Min. Humberto Martins – decisão publicada no DJe
de 12.03.2014)

Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação
nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer
título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
§ 1o Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive
para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada,
para fins do disposto do caput, a área do imóvel antes do fracionamento.
§ 2o O percentual de Reserva Legal em imóvel situado em área de formações
florestais, de cerrado ou de campos gerais na Amazônia Legal será definido
considerando separadamente os índices contidos nas alíneas a, b e c do
inciso I do caput.
§ 3o Após a implantação do CAR, a supressão de novas áreas de floresta
ou outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada pelo órgão
ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido no
mencionado cadastro, ressalvado o previsto no art. 30.
§ 4o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público poderá reduzir a
Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), para fins de
recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por cento)
da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio
público e por terras indígenas homologadas.
§ 5o Nos casos da alínea a do inciso I, o poder público estadual, ouvido o
Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir a Reserva Legal para
até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-
Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu
território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio
público, devidamente regularizadas, e por terras indígenas homologadas.
§ 6o Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento
de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
§ 7o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para
exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem
empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam
instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.

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§ 8o Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de
rodovias e ferrovias.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) No parcelamento de imóveis rurais, a área de Reserva Legal
poderá ser agrupada em regime de condomínio entre os adquirentes. Correta!

MPE/SC (2021) Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio em sua


propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que
resultou na destruição da vegetação nativa de outras duas propriedades
vizinhas. O cidadão deverá recompor 20% da vegetação nativa da área
destruída pelo incêndio, a título de área de preservação permanente (APP).
Errada!

TJ/PR (2019) Em uma área completamente preservada, com bioma intacto,


localizada em sua integralidade no bioma cerrado, existe uma propriedade
particular de 100 ha, dos quais 40 ha constituem reserva legal com a devida
averbação na matrícula do imóvel e com o registro no cadastro ambiental
rural (CAR). Nessa situação, o limite máximo de hectares que o proprietário
poderá destinar para fins de instituição de servidão ambiental corresponde a
65 ha. Correta!

TJ/BA (2019) Em 2006, um imóvel rural localizado no bioma caatinga e fora


da Amazônia Legal foi completamente desmatado por seu proprietário, que,
em decorrência disso, foi autuado, no mesmo ano, pelo órgão ambiental
federal competente e penalizado com multa.
Nessa situação hipotética, para eximir-se do pagamento da multa, basta ao
proprietário inscrever o imóvel no Cadastro Ambiental Rural, aderir ao
Programa de Regularização Ambiental, assinar termo de compromisso e
reparar integralmente o dano. Correta!

2.3. MANEJO DA RESERVA LEGAL FLORESTAL

➔ QUESTÃO: É possível a supressão da reserva legal florestal?

Resposta: Não pode ser suprimida. Autoriza-se apenas o MANEJO FLORESTAL


SUSTENTÁVEL, através do plano de manejo. Na pequena propriedade é possível computar o
plantio de árvores frutíferas ornamentais e industriais em sistema intercalar de um consórcio com
espécies nativas.

Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação
nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer
título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1o Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo
sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de
acordo com as modalidades previstas no art. 20.
§ 2o Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse
rural familiar, os órgãos integrantes do Sisnama deverão estabelecer
procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais
planos de manejo.

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§ 3o É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva
Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.
§ 4o Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis,
deverá ser iniciado, nas áreas de que trata o § 3 o deste artigo, o processo de
recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da
data da publicação desta Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos
estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental - PRA, de que trata
o art. 59.
.
Art. 20. No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal,
serão adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejo
sustentável sem propósito comercial para consumo na propriedade e manejo
sustentável para exploração florestal com propósito comercial.

Art. 21. É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como
frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:
I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos,
quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da
espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas,
cipós, bulbos, bambus e raízes.

Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com


propósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá
atender as seguintes diretrizes e orientações:
I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da
vegetação nativa da área;
II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;
III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que
favoreçam a regeneração de espécies nativas.

Art. 23. O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem


propósito comercial, para consumo no próprio imóvel, independe de
autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados
previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume
explorado, limitada a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.

Art. 24. No manejo florestal nas áreas fora de Reserva Legal, aplica-se
igualmente o disposto nos arts. 21, 22 e 23.

Como o tema foi cobrado em concurso público? MPE/PR (2019) A Lei n.


12.651/2012 (Código Florestal) estabelece critérios para que os órgãos
competentes autorizem o manejo sustentável para exploração florestal
eventual, mesmo que sem propósito comercial e para consumo no próprio
imóvel. Errada!

➔ QUESTÃO: O que é pequena propriedade para o Código Florestal?

Resposta: É aquela explorada mediante o trabalho pessoal do proprietário ou posseiro de


sua família, cuja renda bruta seja proveniente no mínimo em 80% da atividade agroflorestal.

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Art. 3º, V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada
mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar
rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda
ao disposto no art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006;

Lei 11326/06 Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar
e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural,
atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos
fiscais;
II - utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida
pelo Poder Executivo; (Redação dada pela Lei nº 12.512, de 2011)
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

A pequena propriedade não pode superar/ultrapassar:

- 150 hectares da Amazônia Legal;


- 50 hectares do polígono das secas;
- 30 hectares em outras regiões do país.

OBS.: A pequena propriedade no bioma Mata Atlântica é de no


máximo de 50 hectares, tendo que ter 80% da renda bruta, conforme
prevê a L. 11.428/06 (lei regulamenta tal bioma). Vale dizer que o art.
225, §4º CF/88 traz os grandes biomas brasileiros e lá diz que cada
um deles será regulamentado por uma lei específica.

L. 11.428/06 – Regulamenta o Bioma Mata Atlântica


Art. 3o Consideram-se para os efeitos desta Lei:
I - pequeno produtor rural: aquele que, residindo na zona rural, detenha a
posse de gleba rural não superior a 50 (cinquenta) hectares, explorando-a
mediante o trabalho pessoal e de sua família, admitida a ajuda eventual de
terceiros, bem como as posses coletivas de terra considerando-se a fração
individual não superior a 50 (cinquenta) hectares, cuja renda bruta seja
proveniente de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais ou do
extrativismo rural em 80% (oitenta por cento) no mínimo;

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal
com propósito comercial estará dispensado da autorização do órgão
competente, desde que previamente comprovado que será assegurada a
manutenção da diversidade das espécies. Errada!

2.4. LOCALIZAÇÃO DA RESERVA LEGAL

➔ QUESTÃO: Como se define a localização da reserva legal florestal?

Resposta: Quem aprova e define é o órgão ambiental estadual, que deverá considerar a
função social da propriedade, observados os seguintes critérios e instrumentos, quando houver:

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Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar
em consideração os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área
de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra
área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ 1o O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada
deverá aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no
CAR, conforme o art. 29 desta Lei.
§ 2o Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da
área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser
imputada sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer
órgão ambiental competente integrante do Sisnama, em razão da não
formalização da área de Reserva Legal.

2.5. REDUÇÃO/AMPLIAÇÃO DA RESERVA LEGAL

➔ QUESTÃO: É possível reduzir/ampliar uma reserva legal florestal?

Resposta:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.
68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
§ 4o Nos casos da alínea a do inciso I (Amazônia legal), o poder público
poderá REDUZIR a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), para
fins de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por
cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio
público e por terras indígenas homologadas.
§ 5o Nos casos da alínea a do inciso I (Amazônia legal), o poder público
ESTADUAL, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá
REDUZIR a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), quando o
Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico aprovado e mais de 65%
(sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de
conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e
por terras indígenas homologadas.

Art. 13. Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE


estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público
FEDERAL poderá:
I - reduzir, exclusivamente para fins de regularização, mediante
recomposição, regeneração ou compensação da Reserva Legal de imóveis
com área rural consolidada, situados em área de floresta localizada na
Amazônia Legal, para até 50% (cinquenta por cento) da propriedade,
excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade e dos
recursos hídricos e os corredores ecológicos;

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Na Amazônia Legal = é possível reduzir para 50% da propriedade — tendo que ser ouvido
os seguintes órgãos: Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Agricultura e CONAMA (tem que
estar previsto no zoneamento).

II - ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento) dos
percentuais previstos nesta Lei, para cumprimento de metas nacionais de
proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito
estufa.

No território nacional = Pode-se ampliar os índices de reserva legal florestal em até 50%;

Nos cerrados = pode-se ampliar em 50% do índice de 35% (aumento de 17,5%), ou seja,
pode-se ter propriedade em cerrados de 52,5%.

Em outras regiões = pode-se ampliar em 50% do índice de 20%, ou seja, pode-se ter
propriedade em 30%.

§ 1o No caso previsto no inciso I do caput, o proprietário ou possuidor de


imóvel rural que mantiver Reserva Legal conservada e averbada em área
superior aos percentuais exigidos no referido inciso poderá instituir servidão
ambiental sobre a área excedente, nos termos da Lei no 6.938, de 31 de
agosto de 1981, e Cota de Reserva Ambiental.
§ 2o Os Estados que não possuem seus Zoneamentos Ecológico-Econômicos
- ZEEs segundo a metodologia unificada, estabelecida em norma federal,
terão o prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data da publicação desta Lei, para
a sua elaboração e aprovação.

A reserva legal florestal deve ser averbada, a partir do novo CFLO, no CAR (Cadastro
Ambiental Rural).

Art. 12, § 3o Após a implantação do CAR, a supressão de novas áreas de


floresta ou outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada pelo
órgão ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido
no mencionado cadastro, ressalvado o previsto no art. 30.

Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão


ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art.
29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão,
a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta
Lei.
§ 1o A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a apresentação
de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas
geográficas com pelo menos um ponto de amarração, conforme ato do Chefe
do Poder Executivo.
§ 2o Na posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de
compromisso firmado pelo possuidor com o órgão competente do Sisnama,
com força de título executivo extrajudicial, que explicite, no mínimo, a
localização da área de Reserva Legal e as obrigações assumidas pelo
possuidor por força do previsto nesta Lei.

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No caso de posse é preciso ter reserva legal florestal. O órgão ambiental vai assinar um
“Termo de Ajustamento de Conduta” (TAC) com o posseiro e tal termo terá força de título executivo
extrajudicial.

§ 3o A transferência da posse implica a sub-rogação das obrigações


assumidas no termo de compromisso de que trata o § 2 o.
§ 4o O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório
de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação
desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar
fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.

Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema


Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público
eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com
a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses
rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento
ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
§ 1o A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente,
no órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento,
exigirá do proprietário ou possuidor rural:
I - identificação do proprietário ou possuidor rural;
II - comprovação da propriedade ou posse;
III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo
a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de
amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos
remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente,
das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também
da localização da Reserva Legal.
§ 2o O cadastramento não será considerado título para fins de
reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina a
necessidade de cumprimento do disposto no art. 2o da Lei no 10.267, de 28
de agosto de 2001.
§ 3o A inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e
posses rurais, devendo ser requerida até 31 de dezembro de 2017,
prorrogável por mais 1 (um) ano por ato do Chefe do Poder
Executivo. (Redação dada pela Lei nº 13.295, de 2016)

Art. 30. Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na
matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a
localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão
ambiental as informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do
§ 1o do art. 29.
Parágrafo único. Para que o proprietário se desobrigue nos termos do caput,
deverá apresentar ao órgão ambiental competente a certidão de registro de
imóveis onde conste a averbação da Reserva Legal ou termo de
compromisso já firmado nos casos de posse.

Atenção!!! Vejamos os comentários trazidos pelo Dizer o Direito6 sobre a presente situação:

6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Área de reserva legal e registro da sentença declaratória de usucapião. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7eb7eabbe9bd03c2fc99881d04da9cbd>. Acesso em: 05/01/2023.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 132

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João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se
tornar o proprietário do terreno. A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a
propriedade.

Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de
Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu
favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião
no Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.

Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença
no Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental
Rural). Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o
autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.

Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?

SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no
Cadastro Ambiental Rural (CAR).

A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental


Rural (CAR), que passou a concentrar as informações ambientais dos imóveis
rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no Registro de
Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como
condição para o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro
de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no CAR.
A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu
tão somente alterar o órgão responsável pelo "registro" da reserva legal, que
antes era o Cartório de Registro de Imóveis, e agora passou a ser o órgão
ambiental responsável pelo CAR. STJ. 3ª Turma. REsp 1356207-SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) O Código Florestal prevê que fica criado o Cadastro
Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre
Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional,
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as
informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base
de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico
e combate ao desmatamento.
Nesse contexto, consoante dispõe a Lei nº 12.651/2012, a inscrição no CAR
é obrigatória e por prazo indeterminado para todas as propriedades e posses
rurais. Correta!

➔ QUESTÃO: É possível reserva legal florestal em área urbana?

Resposta: Não é possível. Pode acontecer de uma área urbana avançar para uma área
rural, atingindo a reserva legal florestal — significa que tal área se tornará zona urbana, porém,
deve-se manter a reserva legal florestal, pois não pode uma norma local (municipal) se sobrepor a
uma norma geral (Código Florestal).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 133

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 E se desapropriar uma propriedade rural, a sua reserva legal
florestal entra no cálculo para determinar a área improdutiva? O STJ
e o STF entendem que, se a reserva florestal NÃO estiver averbada
no registro imobiliário antes da vistoria, não poderá ser excluída da
área total do imóvel desapropriado para efeito de cálculo da
produtividade do imóvel rural. Para a jurisprudência, a reserva legal
precisa estar devidamente identificada e averbada na matrícula do
imóvel a fim de que seja possível saber se o proprietário vem
cumprindo ou não as obrigações positivas e negativas que a legislação
ambiental lhe impõe.

2.6. DA EXPLORAÇÃO FLORESTAL

Quem a definirá será o órgão ambiental estadual. Há algumas possibilidades, conforme art.
31 a 33 e 70 do Código Florestal):

Art. 31. A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de


domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts. 21, 23
e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama,
mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS
que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e
manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura arbórea
forme.
§ 1o O PMFS atenderá os seguintes fundamentos técnicos e científicos:
I - caracterização dos meios físico e biológico;
II - determinação do estoque existente;
III - intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte
ambiental da floresta;
IV - ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de
produto extraído da floresta;

Recompor a área em 1/10 a cada 03 anos, com espécies nativas, de acordo com critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente (supondo que a área está zerada, esta
demorará 30 anos para recompor).

V - promoção da regeneração natural da floresta;

Regeneração natural = o órgão fecha a área para que haja a regeneração (tem que ser
tecnicamente possível).

VI - adoção de sistema silvicultural adequado;


VII - adoção de sistema de exploração adequado;
VIII - monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;
IX - adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais.

Compensação ambiental, por outra área equivalente em importância ecológica e extensão,


desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme
critérios estabelecidos em regulamento.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 134

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Caso isto não seja possível, adota-se o critério de maior proximidade possível dentro da
mesma bacia hidrográfica e dentro do mesmo Estado.

Se o Poder Público criou uma unidade de conservação de domínio público (ex.: Parque
Nacional), ele terá que obrigatoriamente desapropriar. Porém, nem sempre o Poder Público dispõe
de recursos financeiros e por isso é possível que uma pessoa adquira a propriedade que será
desapropriada, desonerando-se da reserva legal florestal.

§ 2o A aprovação do PMFS pelo órgão competente do Sisnama confere ao


seu detentor a licença ambiental para a prática do manejo florestal
sustentável, não se aplicando outras etapas de licenciamento ambiental.
§ 3o O detentor do PMFS encaminhará relatório anual ao órgão ambiental
competente com as informações sobre toda a área de manejo florestal
sustentável e a descrição das atividades realizadas.
§ 4o O PMFS será submetido a vistorias técnicas para fiscalizar as operações
e atividades desenvolvidas na área de manejo.
§ 5o Respeitado o disposto neste artigo, serão estabelecidas em ato do Chefe
do Poder Executivo disposições diferenciadas sobre os PMFS em escala
empresarial, de pequena escala e comunitário.
§ 6o Para fins de manejo florestal na pequena propriedade ou posse rural
familiar, os órgãos do Sisnama deverão estabelecer procedimentos
simplificados de elaboração, análise e aprovação dos referidos PMFS.
§ 7o Compete ao órgão federal de meio ambiente a aprovação de PMFS
incidentes em florestas públicas de domínio da União.

Art. 32. São isentos de PMFS:


I - a supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do
solo;
II - o manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das Áreas
de Preservação Permanente e de Reserva Legal;
III - a exploração florestal não comercial realizada nas propriedades rurais a
que se refere o inciso V do art. 3o ou por populações tradicionais.

Art. 33. As pessoas físicas ou jurídicas que utilizam matéria-prima florestal


em suas atividades devem suprir-se de recursos oriundos de:
I - florestas plantadas;
II - PMFS de floresta nativa aprovado pelo órgão competente do Sisnama;
III - supressão de vegetação nativa autorizada pelo órgão competente do
Sisnama;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 135

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IV - outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão competente do
Sisnama.
§ 1o São obrigadas à reposição florestal as pessoas físicas ou jurídicas que
utilizam matéria-prima florestal oriunda de supressão de vegetação nativa ou
que detenham autorização para supressão de vegetação nativa.
§ 2o É isento da obrigatoriedade da reposição florestal aquele que utilize:
I - costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da atividade
industrial
II - matéria-prima florestal:
a) oriunda de PMFS;
b) oriunda de floresta plantada;
c) não madeireira.
§ 3o A isenção da obrigatoriedade da reposição florestal não desobriga o
interessado da comprovação perante a autoridade competente da origem do
recurso florestal utilizado.
§ 4o A reposição florestal será efetivada no Estado de origem da matéria-
prima utilizada, mediante o plantio de espécies preferencialmente nativas,
conforme determinações do órgão competente do Sisnama.

Art. 70. Além do disposto nesta Lei e sem prejuízo da criação de unidades de
conservação da natureza, na forma da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000,
e de outras ações cabíveis voltadas à proteção das florestas e outras formas
de vegetação, o poder público federal, estadual ou municipal poderá:
I - proibir ou limitar o corte das espécies da flora raras, endêmicas, em perigo
ou ameaçadas de extinção, bem como das espécies necessárias à
subsistência das populações tradicionais, delimitando as áreas
compreendidas no ato, fazendo depender de autorização prévia, nessas
áreas, o corte de outras espécies;
II - declarar qualquer árvore imune de corte, por motivo de sua localização,
raridade, beleza ou condição de porta semente;
III - estabelecer exigências administrativas sobre o registro e outras formas
de controle de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à extração,
indústria ou comércio de produtos ou subprodutos florestais.

2.7. DAS ÁRVORES IMUNES AO CORTE (ART. 70, inc. II DO CÓDIGO FLORESTAL)

Art. 70. Além do disposto nesta Lei e sem prejuízo da criação de unidades de
conservação da natureza, na forma da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000,
e de outras ações cabíveis voltadas à proteção das florestas e outras formas
de vegetação, o poder público federal, estadual ou municipal poderá:
II - declarar qualquer árvore imune de corte, por motivo de sua localização,
raridade, beleza ou condição de porta-se mente;

3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (LEI 9.985/00 – LEI DO SISTEMA NACIONAL DAS


UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - LSNUC)

3.1. BASE LEGAL

A Lei 9.985/00 regulamenta os incisos I, II e III do art. 225, §1º da CF/88.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 136

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CF Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

3.2. CONCEITO

Lei 9985/00 Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao
qual se aplicam garantias adequadas de proteção;

Obs: o art. 2º da Lei 9.985/2000 traz uma série de conceitos


recorrentemente cobrados em concurso, revise com atenção este
ponto!

3.3. DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

3.3.1. Espécies de Unidades de Conservação

1) Unidades de PROTEÇÃO INTEGRAL

Visa à proteção efetiva ao meio ambiente. Não se tem atividade econômica, admitindo-se
somente o uso INDIRETO, tais como: pesquisa científica, observação, coleta etc.

2) Unidades de USO SUSTENTÁVEL

Devem compatibilizar atividade econômica com proteção ao meio ambiente. Admite-se o


uso de parcela de seus recursos naturais.

Criação da Unidade de Conservação

É criada por ato do Poder Público (em regra, através de Decreto), precedido de estudo
técnico e consultas públicas — Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade.

ATENÇÃO: Para criação de estação ecológica e reserva biológica não


é necessária a consulta pública, bastando apenas o estudo técnico.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 137

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
É possível converter uma unidade de uso sustentável em unidade de proteção integral, pelo
mesmo diploma legal (ex.: se foi criado por decreto, será convertido por decreto), observado os
estudos técnicos e consulta pública. Todavia, para DESAFETAR/REDUZIR uma unidade de
conservação só pode ser feita através de lei específica (art. 225, §1º, I a III CF/88).

Art. 225 CF/88


§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
...
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

3.3.2. Composição (art. 6º L.9985/00)

Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas


atribuições:
I – ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO: o Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA, com as atribuições de acompanhar a implementação
do Sistema;
II - ÓRGÃO CENTRAL: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de
coordenar o Sistema; e
III - ÓRGÃOS EXECUTORES: o Instituto Chico Mendes e o IBAMA, em
caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de
implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as
unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas
esferas de atuação.
Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do
Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que, concebidas
para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam objetivos de
manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por nenhuma
categoria prevista nesta Lei e cujas características permitam, em relação a
estas, uma clara distinção.

1) Órgão consultivo e deliberativo (CONAMA);


2) Órgão central (Ministério do Meio Ambiente);
3) Órgãos Executores - ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – Autarquia );
- IBAMA (supletivo);
- Órgãos Estaduais e Municipais (ex.: Parque Estadual, Área de
Proteção Estadual).

3.4. ESTUDO DAS ESPÉCIES DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (quanto ao seu objetivo,


domínio e características)

Estudaremos aqui o seguinte:

1) Unidades de Proteção Integral (UPI - art. 8º da LSNUC)

1.1) Estação Ecológica (EE);


1.2) Reserva Biológica (RB);
1.3) Parque Nacional (PN);

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 138

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1.4) Monumento Natural (MN);
1.5) Refúgio de Vida Silvestre (RVS).

2) Unidades de Uso Sustentável (UUS - art. 14 da LSNUC)

2.1) Área de Proteção Ambiental (APA);


2.2) Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE);
2.3) Floresta Nacional (FN);
2.4) Reserva Extrativista (RE);
2.5) Reserva de Fauna (RF);
2.6) Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS);
2.7) Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

Obs.: A diferença entre estas duas espécies de unidade de


conservação é que na de Proteção Integral, admite-se apenas o uso
indireto de recursos naturais, salvo em alguns casos. Não se admite a
atividade econômica. Já na de Uso Sustentável, utiliza-se parcela de
recursos naturais cumulativamente com a proteção ambiental,
compatibilizando com a atividade econômica.

3.4.1. Das Unidades de Conservação de Proteção Integral

1) Estação Ecológica (EE)

I) Objetivo: Preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas.

II) Domínio: Posse e domínio PÚBLICO, ou seja, as áreas particulares no seu interior
deverão ser desapropriadas.

III) Características: possibilidade de realização de pesquisas científicas, permitindo apenas,


no máximo, 3% da área, desde que os 3% não excedam a 1.500 hectares.

2) Reserva Biológica (RB)

I) Objetivo: Preservação integral da biota e dos demais elementos naturais em seus limites
(não se permite qualquer pesquisa científica).

II) Domínio: posse e domínio PÚBLICO, ou seja, a área particular no seu interior deverá ser
desapropriada.

3) Parque Nacional (PN)

I) Objetivo: Preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza


cênica.

II) Domínio: Domínio PÚBLICO e áreas privadas que deverão ser desapropriadas.

III) Características: permite-se a realização de pesquisa científica, atividade de interpretação


e educação ambiental, atividade de recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico.

4) Monumento Natural (MN)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 139

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I) Objetivo: Preservar ambientes naturais raros, singulares e de grande beleza cênica.

II) Domínio: Admite-se a existência de áreas PARTICULARES, desde que sejam


compatíveis com a unidade de conservação e com a anuência dos proprietários. Caso haja
discordâncias destes, será realizada a desapropriação.

5) Refúgio de Vida Silvestre (RVS)

I) Objetivo: Proteger ambientes naturais em que se asseguram condições para a existência


e reprodução de espécies e comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

II) Domínio: Admite-se a existência de áreas PARTICULARES, desde que sejam


compatíveis com a unidade de conservação e com a anuência dos proprietários. Caso haja
discordâncias destes, será realizada a desapropriação.

Obs: Mnemônico para gravar as espécies de UPI: ESte PARQUE


RESERVA um MONUMENTAL REFÚGIO DA VIDA SILVESTRE.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/GO (2019) As unidades de conservação da Reserva Biológica, da
Floresta Nacional e do Parque Nacional integram as Unidades de Proteção
Integral. Errada!

MPE/SC (2019) A categoria de unidade de conservação de proteção integral,


denominada Monumento Natural, não pode ser constituída por áreas
particulares. Errada!

MPE/SC (2019) As unidades de conservação de proteção integral, da


categoria Parque Nacional, quando criadas pelo Estado ou Município, serão
denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.
Correta!

3.4.2. Das Unidades de Conservação de Uso Sustentável

1) Área de Proteção Ambiental (APA)

I) Objetivo: Disciplinar o processo de ocupação da unidade, assegurar a sustentabilidade no


uso dos recursos naturais e proteger a diversidade biológica.

II) Domínio: Domínio PÚBLICO e áreas PRIVADAS.

III) Características: É uma área de GRANDE EXTENSÃO, com certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos bióticos, abióticos, estéticos e culturais, importantes para o bem-estar
e qualidade de vida das populações. Respeitados os limites constitucionais é possível ter restrições
à propriedade privada.

2) Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE)

I) Objetivo: manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso


admissível dessas áreas.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 140

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
II) Domínio: terras PÚBLICAS e PRIVADAS.

III) Características: é uma APA de PEQUENA EXTENSÃO (diminutiva), com pouca ou


nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares
raros da biota regional.

3) Floresta Nacional (FN)

I) Objetivo: é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e


possui como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
científica, com ênfase em métodos para a exploração sustentável de florestas nativas (ex.:
ecoturismo).

II) Domínio: posse e domínio PÚBLICO, onde as áreas particulares devem ser
desapropriadas.

III) Características: Se houver população tradicional no momento da sua criação, elas


poderão ficar, desde que compatíveis à floresta nacional. A pesquisa científica é permitida e
incentivada.

4) Reserva Extrativista (RE)

I) Objetivo: proteger os meios de vida e a cultura das populações extrativistas e assegurar o


uso sustentável dos recursos naturais da unidade. A subsistência se dá com o extrativismo e a
complementação da sua renda é com a agricultura de subsistência e criação de animais de pequeno
porte.

II) Domínio: Domínio PÚBLICO. A população assina o contrato de concessão de direito real
de uso. As áreas privadas devem ser desapropriadas.

III) Características: É proibida a exploração de recursos minerais (ao contrário da RDS –


ver abaixo), bem como a caça (seja a armadora como a profissional). A pesquisa científica é
permitida e incentivada.

5) Reserva de Fauna (RF)

I) Objetivo: área natural com populações, animais de espécies nativas, terrestres ou


aquáticas, residentes ou migratórias adequadas para estudos técnico-científicos para o manejo
econômico sustentável de recursos faunísticos.

II) Domínio: posse e domínio PÚBLICO, com possibilidade de áreas particulares


desapropriadas.

III) Características: NÃO pode ter caça, seja amadora ou profissional.

6) Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS - art. 20 da L.9985/00)

Art. 20. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que


abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas
sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo
de gerações (pelo menor nº de geração: pai-filho) e adaptados às
condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na
proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 141

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
I) Objetivo: Preservar a natureza e ao mesmo tempo assegurar as condições e os meios
necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida das populações
tradicionais e a exploração dos recursos naturais por estas (§1º do art. 20 da L.9985/00).

II) Domínio: Domínio PÚBLICO e terras particulares devem ser desapropriadas, apesar do
§2º, art. 20 não ter sido incisivo.

Art. 20§ 2º da L.9985/00. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de


domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites
devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que
dispõe a lei.

III) Características: é permitida e incentivada a visitação pública e a pesquisa científica


voltada para a conservação da natureza (§5º do art. 20 da L.9985/00).

Obs.: A L.9985/00 não aborda a vedação de exploração de recursos


minerais na Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

Vale dizer que no Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as


zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos e será
aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade (§6º do art. 20 da L.9985/00).

7) Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPDN - art. 21 da L.9985/00)

I) Objetivo: é uma área privada gravada com perpetuidade com o objetivo de conservar a
diversidade biológica.

II) Domínio: terras PRIVADAS/PARTICULARES;

III) Características: É permitida a pesquisa científica, bem como a visitação com objetivos
turísticos, recreativos e educacionais; o gravame de perpetuidade constará de termo de
compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público,
e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis (§1º, art. 21 L.9985/00); são
isentas de ITR; podem ser encontradas em âmbito estadual e municipal.

Obs1.: De acordo com art. 21, §3º da L.9985/00, os órgãos integrantes


do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação
técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio
Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e
de Gestão da unidade.

Obs2: no âmbito federal foi instituída pela Lei 13.668/2018 a


possibilidade de concessão de áreas de UC para a iniciativa privada,
esta lei incluiu o art. 14-C na Lei 11.516/2007:
“Art. 14-C . Poderão ser concedidos serviços, áreas ou instalações de
unidades de conservação federais para a exploração de atividades de
visitação voltadas à educação ambiental, à preservação e
conservação do meio ambiente, ao turismo ecológico, à interpretação
ambiental e à recreação em contato com a natureza, precedidos ou

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 142

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não da execução de obras de infraestrutura, mediante procedimento
licitatório regido pela Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995.

Art. 21. § 3o Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e


oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva
Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo
ou de Proteção e de Gestão da unidade.

Note que há unidades que podem ser instituídas em áreas particulares e outras não,
devendo ser desapropriadas. É um ponto bastante recorrente em provas, por isso esquematizando,
temos o seguinte cenário:

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Estação Ecológica
Posse e domínio públicos.
Reserva Biológica Áreas particulares incluídas em seus
limites serão desapropriadas.
Parque Nacional
Proteção Integral
Monumento Natural Pode ser constituído por áreas
particulares, desde que compatível com
os objetivos da unidade com a utilização
Refúgio da Vida Silvestre da terra e dos recursos naturais do local
pelos proprietários.

Área de Proteção Ambiental


Áreas públicas e particulares.
Área de Relevante Interesse
Ecológico

Floresta Nacional
Posse e domínio públicos.
Reserva de Fauna
Áreas particulares incluídas em seus
Reserva de Desenvolvimento limites serão desapropriadas.
Uso Sustentável
Sustentável

Áreas públicas. Haverá concessão de uso


às populações extrativistas tradicionais.
Reserva Extrativista
Áreas particulares devem ser
desapropriadas.

Reserva Particular do Áreas particulares, gravadas com


Patrimônio Natural perpetuidade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/AM (2022) De acordo com a Lei nº 9.985/00, que instituiu o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, dentro do Grupo das
Unidades de Uso Sustentável, aquela definida como área com cobertura
florestal de espécies predominantemente nativas e que tem como objetivo
básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 143

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científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas
nativas, é chamada de Floresta Nacional. Correta!

MPE/TO (2022) A reserva de fauna é uma área natural, necessariamente de


posse e domínio público, com populações animais de espécies nativas,
terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos
técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos
faunísticos. Correta!

TJ/AP (2022) Tendo em vista a grande especulação imobiliária do Município


X, o prefeito decide reduzir a área de determinada Unidade de Conservação,
para permitir a construção de novas unidades imobiliárias. Sobre o caso, é
correto afirmar que o prefeito não pode mudar as dimensões da Unidade de
Conservação por decreto, o que apenas pode ser feito por lei específica.
Correta!

PGE/MS (2021) Instituição privada que pretenda promover visitação pública


em uma reserva biológica deverá demonstrar que referida visitação tem o
objetivo educacional. Correta!

MPE/RS (2021) A Área de Proteção Ambiental é Unidade de Conservação de


Uso Sustentável situada exclusivamente em área pública, que permite certo
grau de ocupação humana e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Errada!

MPE/RS (2021) As áreas de Reserva Legal são Unidades de Conservação


de Uso Sustentável localizadas no interior de uma propriedade ou posse rural,
com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos
recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. Errada!

MPE/CE (2020) Considerando que haja interesse do poder público em


permitir uma atividade de recuperação de áreas contaminadas dentro da
Estação Ecológica do Pecém, unidade de conservação do estado do Ceará
localizada nos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, assinale
a opção correta. A estação ecológica é uma espécie de unidade de
conservação de proteção integral, sendo exigido licenciamento ambiental
para a atividade de recuperação. Correta!

MPDFT (2021) O reconhecimento e a declaração formais de que uma área


particular seja de relevante interesse ecológico impõem ao poder público
desapropriá-la. Errada!

MPDFT (2021) É possível a exploração comercial de produtos e subprodutos


oriundos de recursos naturais em unidade de conservação organizada na
forma de reserva particular do patrimônio natural, desde que haja prévia
autorização da autoridade competente e pagamento pela outorga. Errada!

TJ/MS (2020) Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público,


pretende-se a declaração de nulidade de processo de licitação para a
concessão da área de uso público de um parque estadual. A ação será

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 144

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julgada improcedente pela ausência de ilegalidade no modelo proposto.
Correta!

TJ/PR (2019) São unidades de conservação que admitem a habitação ou a


permanência de populações tradicionais as reservas de desenvolvimento
sustentável e as florestas nacionais. Correta!

TJ/PR (2019) Conforme a Lei n.º 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), os requisitos necessários
à criação de uma unidade de conservação, exceto no caso de estação
ecológica ou reserva biológica, são a edição de ato autorizador do Poder
Executivo e a realização de estudos técnicos e de consulta pública para a
identificação da localização, da dimensão e dos limites adequados da
unidade. Correta!

3.5. PLANO DE MANEJO

3.5.1. Conceito

Toda unidade de conservação deve possuir o plano de manejo, que é um documento técnico
que vai disciplinar a gestão, o zoneamento da unidade de conservação, de acordo com seus
objetivos.

É obrigada a sua instituição no prazo de até 05 anos, contados a partir da criação da unidade
de conservação.

3.5.2. Conteúdo do Plano de Manejo

1) Área de unidade de conservação;


2) Zona de amortecimento = é o entorno da unidade de conservação.

3) Corredores ecológicos, se necessários = serve para o curso gênico da flora e da fauna entre
uma unidade de conservação e outra.

4) Medidas de integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas às unidades de


conservação já criadas e disciplinadas.

➔ QUESTÃO: Toda unidade de conservação possui zona de amortecimento?

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 145

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Resposta: Não, há duas unidades de conservação que não a possuem: a Área de Proteção
Ambiental (APA) e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

➔ QUESTÃO: Quem elabora o Plano de Manejo?

Resposta: É o órgão gestor, ou seja, é o ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação


de Biodiversidade), através de Portarias.

➔ QUESTÃO: Quais são as unidades de conservação criadas para as populações


tradicionais?

Resposta: São a Reserva Extrativista (RE) e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável


(RDS). Nesta hipótese, estas populações devem participar na sua criação e serão criadas através
de Resoluções do Conselho da Reserva Extrativista ou do Conselho da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável. Serão reguladas através de CONTRATO.

Além destas, observe que as Florestas Nacionais (FN) também admitem a permanência das
populações tradicionais (art. 17, §2º, Lei 9985/2000). Assim, temos o seguinte:

Reserva Extrativista (RE)


Unidades de Conservação que admitem
a permanência das populações Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS)
tradicionais
Floresta Nacional (FN)

➔ QUESTÃO: É possível o plantio de OGM’s (Organismos Geneticamente Modificados)


em unidade de conservação?

Resposta: Sim, na Área de Proteção Ambiental (APA) e nas zonas de amortecimento de


unidades de conservação, desde que aprovados no PLANO DE MANEJO. Vale dizer que o STJ
entende NÃO ser necessária a realização do EPIA/RIMA para o plantio de OGM’s e sim quando o
CTNBio, assim decidir (art. 27, §4º L.9985/00).

Art. 27, § 4o L.9985/00. O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades


de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados
nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das
demais categorias de unidade de conservação, observadas as informações
contidas na decisão técnica da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança - CTNBio sobre:
I - o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;
II - as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo
geneticamente modificado;
III - o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em
relação aos seus ancestrais diretos e parentes silvestres; e
IV - situações de risco do organismo geneticamente modificado à
biodiversidade.

E se não houver a aprovação do Plano de Manejo? Pode-se plantar OGM’s em unidades de


conservação? Resposta: De acordo com o art. 57-A da L.9985/00 que fora regulamentado pelo Dec.
5950/06, o Poder Executivo estabelecerá os limites para o plantio de OGM’s nas áreas que
circundam as unidades de conservação até que seja fixada sua zona de amortecimento e aprovado

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o seu respectivo Plano de Manejo, utilizando-se uma metragem (não se aplicando às Áreas de
Proteção Ambiental e Reservas de Particulares do Patrimônio Nacional).

Art. 1o Dec. 5950/06. Ficam estabelecidas as faixas limites para os seguintes


organismos geneticamente modificados nas áreas circunvizinhas às
unidades de conservação, em projeção horizontal a partir do seu perímetro,
até que seja definida a zona de amortecimento e aprovado o Plano de
Manejo da unidade de conservação:
I – 500m para o caso de plantio de soja geneticamente modificada, evento
GTS40-3-2, que confere tolerância ao herbicida glifosato;
II – 800m para o caso de plantio de algodão geneticamente modificado,
evento 531, que confere resistência a insetos; e
III – 5.000m para o caso de plantio de algodão geneticamente modificado,
evento 531, que confere resistência a insetos, quando existir registro de
ocorrência de ancestral direto ou parente silvestre na unidade de
conservação.
Parágrafo único. O Ministério do Meio Ambiente indicará as unidades de
conservação onde houver registro de ancestral direto ou parente silvestre de
algodão geneticamente modificado, evento 531, com fundamento no
zoneamento proposto pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
EMBRAPA.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Procurador Teresina (2021) Para estabelecer a zona de amortecimento de
um Parque Municipal, o Plano de Manejo considerou um fragmento de
vegetação nativa relevante, mas que não possui relação com a unidade de
conservação. A restrição ao direito de propriedade imposta é ilegal, pois a
zona de amortecimento deve ser estabelecida de forma a minimizar os
impactos negativos sobre a unidade de conservação.
DPE/PA (2022) De acordo com a lei que instituiu o SNUC, a posse e o uso
das áreas ocupadas pelas populações tradicionais nas reservas extrativistas
e reservas de desenvolvimento sustentável serão regulados por contrato.
Correta!
PGE/CE (2022) O entorno de uma unidade de conservação, onde as
atividades humanas estiverem sujeitas a normas e restrições específicas,
com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade, é
considerada zona de amortecimento. Correta!

Procurador Municipal Campo Grande/MS (2019) As populações


tradicionais residentes em unidades de conservação deverão ser,
obrigatoriamente, realocadas pelo poder público e, por conseguinte,
indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes no local onde
habitavam. Errada!

MPE/MG (2019) A área de uma unidade de conservação é considerada zona


rural, para os efeitos legais, e sua zona de amortecimento, uma vez definida
formalmente, não pode ser transformada em zona urbana. Errada!

3.6. CONSELHOS NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 147

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É possível que cada unidade de conservação tenha um Conselho. A regra é que possuam
um Conselho CONSULTIVO. Todavia, há exceção — duas unidades de conservação terão
Conselho DELIBERATIVO (conselhos que decidem), quais sejam: Reserva Extrativista e Reserva
de Desenvolvimento Sustentável.

3.7. MOSAICO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (ART. 26 DA LEI 9.985/00)

Art. 26. Quando existir um conjunto de unidades de conservação de


categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras
áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do
conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa,
considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a
compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da
sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.
(Regulamento)
Parágrafo único. O regulamento desta Lei disporá sobre a forma de gestão
integrada do conjunto das unidades.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/MG (2022) Se houver um conjunto de unidades de conservação
próximas, justapostas ou sobrepostas, e áreas protegidas públicas,
constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma
integrada e participativa, considerando-se os seus objetivos de conservação,
de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da
sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional,
desde que as unidades em questão pertençam à mesma categoria, nos
termos da lei. Errada!

➔ QUESTÃO: As unidades de conservação podem ser visitadas?

Resposta: Algumas unidades de conservação não só permitem como estimulam. Porém, em


alguns casos é necessária uma autorização do órgão gestor. Ex.: Parque Nacional de Itatiaia (não
precisa de autorização) ≠ da Reserva Biológica (que precisa de autorização).

*ATENÇÃO: É possível a gestão compartilhada das unidades de


conservação com uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, cujos requisitos para firmar o TERMO DE
PARCERIA são:

I) deve possuir entre seus objetivos institucionais a proteção do


meio ambiente ou a promoção do desenvolvimento
sustentável;
II) comprove a realização de atividades à proteção do meio
ambiente ou desenvolvimento sustentável, preferencialmente
na unidade de conservação ou no mesmo bioma.

3.8. PESQUISA CIENTÍFICA NAS UC

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 148

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É possível a pesquisa científica, desde que possuam a autorização do órgão gestor da
unidade de conservação, com exceção da Área de Proteção Ambiental (APA) e da Reserva
Particular do Patrimônio Natural.

➔ QUESTÃO: É possível ter exploração COMERCIAL/PUBLICITÁRIA na unidade de


conservação?

Resposta: A utilização de imagens de unidade de conservação para fins de exploração


comercial é possível, desde que sejam pagas, salvo nos casos de pesquisas científicas e estudos
escolares que será gratuita (art. 24 da L.9985/00).

Art. 24 L.9985/00. O subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na


estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de
conservação.

➔ QUESTÃO: Qual o destino do dinheiro arrecadado por uma unidade de conservação,


como por exemplo, em razão da taxa de visitação em um Parque Nacional?

Resposta: De acordo com o art. 35 da Lei 9.985/00:

I - até 50%, e não menos que 25% por cento, na implementação, manutenção
e gestão da própria unidade;

II - até 50%, e não menos que 25%, na regularização fundiária das unidades
de conservação do Grupo (indenização aos proprietários que tiveram suas
propriedades desapropriadas, em razão de se tornarem unidades de
conservação);
III - até 50%, e não menos que 15%, na implementação, manutenção e gestão
de outras unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral.

Obs.: As unidades de conservação são propriedades rurais e uma vez


definidas formalmente as zonas de amortecimento de proteção
integral, estas não podem ser convertidas em zonas urbanas.

**ATENÇÃO: Os arts. 46 a 48 da L.9985/00 trazem a hipótese das concessionárias de energia


elétrica ou de água/esgoto de contribuir financeiramente com unidades de conservação, com o
intuito de mantê-las e consequentemente de cumprir seus objetivos, visto que estas passam fios
elétricos ou utilizam recursos hídricos nas unidades de conservação.

Art. 46 L.9985/00. A instalação de redes de abastecimento de água, esgoto,


energia e infraestrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde
estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão
responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de
elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais.
Parágrafo único. Esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento
das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de
propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não
indenizadas.

Art. 47 L.9985/00. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo


abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos,
beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 149

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deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da
unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Art. 48 L.9985/00. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela


geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção
oferecida por uma unidade de conservação, deve contribuir
financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de
acordo com o disposto em regulamentação específica.

3.9. COMPENSAÇÃO AMBIENTAL (ART. 36 DA LEI 9.985/00)

Tal dispositivo foi objeto da ADI 3378/DF (§1º do art. 36 – ver acima ementa).

Art. 36 L.9985/00. Nos casos de licenciamento ambiental de


empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado
pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do
Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no
regulamento desta Lei.
§ 1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta
finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos
para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão
ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado
pelo empreendimento. (Vide ADIN nº 3.378-6, de 2008)
§ 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de
conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas
no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada
a criação de novas unidades de conservação.
§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação ESPECÍFICA
ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste
artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável
por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao
Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da
compensação definida neste artigo.

Quando se pretende desenvolver uma atividade que causará grandes impactos ambientais,
o empreendedor além de ter que realizar o EPIA/RIMA, terá também que realizar a compensação
ambiental.

Seus requisitos legais da aplicabilidade são:

I) empreendimento de significativo impacto ambiental;

II) assim considerado pelo órgão competente;

III) com fundamento em EPIA/RIMA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental).

A regra é a destinação de valores (dinheiro) ao grupo de unidades de conservação de


proteção integral. Porém, quando o empreendimento afetar unidade de uso sustentável, ela será
uma das beneficiadas pela compensação ambiental (art. 36, §3º L.9985/00).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 150

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*ATENÇÃO: O §1º do art. 36 da L.9985/00 foi objeto da ADI 3378/DF.
O Supremo julgou parcialmente procedente a ADI, isto é, decidiu que
o art. 36 era constitucional, porém fez uma ressalva — caiu a
discussão quanto à porcentagem “inferior a meio por cento”. Sendo
assim, o STF entende que o estabelecimento da porcentagem
dependerá do caso concreto, baseando-se nos princípios
constitucionais (da razoabilidade e ampla defesa).

3.10. POPULAÇÕES TRADICIONAIS

Encontram-se na Reserva Extrativista e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Vale


dizer que se na Floresta Nacional, no momento da criação de uma unidade de conservação tiver
população tradicional e sua presença não for incompatível com os objetivos da unidade de
conservação, elas poderão permanecer. Lembrando: todas são UUS.

➔ QUESTÃO: Qual a natureza jurídica do vínculo que estas populações tradicionais


terão com o Poder Público?

Resposta: De acordo com o art. 23 da L.9985/00 será de contrato de concessão de direito


real de uso.

Art. 23 L.9985/00. A posse e o uso das áreas ocupadas pelas populações


tradicionais nas Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento
Sustentável serão regulados por contrato, conforme se dispuser no
regulamento desta Lei.
§ 1o As populações de que trata este artigo obrigam-se a participar da
preservação, recuperação, defesa e manutenção da unidade de
conservação.
§ 2o O uso dos recursos naturais pelas populações de que trata este artigo
obedecerá às seguintes normas:
I - proibição do uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de
práticas que danifiquem os seus habitats;
II - proibição de práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural
dos ecossistemas;
III - demais normas estabelecidas na legislação, no Plano de Manejo da
unidade de conservação e no contrato de concessão de direito real de
uso.

Obs.: Instalando uma reserva biológica ou estação ecológica


(unidades de conservação de proteção integral - UPI), as populações
tradicionais terão que sair, tendo direito ao ressarcimento. Ou seja,
deve-se deslocar esta população e transferi-la para outro local, quem
fará isso é o Poder Público. Havendo a realização de benfeitorias no
novo local onde a população vivia, o Poder Público fará um abatimento
no valor da indenização.

➔ QUESTÃO: Como funciona a DESAPROPRIAÇÃO da unidade de conservação?

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 151

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Resposta: No Decreto que estabelece a criação de unidade de conservação, já vem prevista
a desapropriação e o seu fundamento — utilidade pública ou de interesse social. É a chamada
regularização fundiária.

3.11. DESAPROPRIAÇÃO E INDENIZAÇÃO (ART. 45 DA L.9985/00)

A indenização será do valor de mercado.

Art. 45 L.9985/00. Excluem-se das indenizações referentes à regularização


fundiária das unidades de conservação, derivadas ou não de desapropriação:
I - (VETADO)
II - (VETADO)
III - as espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Público;
IV - expectativas de ganhos e lucro cessante;
V - o resultado de cálculo efetuado mediante a operação de juros compostos;
VI - as áreas que não tenham prova de domínio inequívoco e anterior à
criação da unidade.

Obs.: Se uma família vive numa unidade de conservação e esta não


possui o título de domínio, ela será indenizada pelas benfeitorias
reprodutivas (ex.: plantação) e pelas não reprodutivas (ex.: cerca,
curral).

3.12. RESERVA DA BIOSFERA (ART. 41 DA L.9985/00)

É um modelo internacional de gestão, criado pela ONU, denominado como MAG (Programa
do Homem e da Biosfera). Ex.: Cinturão Verde de SP, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica.

Art. 41 L.9985/00. A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado


internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos
recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da
diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o
monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento
sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações.
§ 1o A Reserva da Biosfera é constituída por:
I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades
que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e
III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo
de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos
de modo participativo e em bases sustentáveis.
§ 2o A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou
privado.
§ 3o A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação
já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam
o manejo de cada categoria específica.
§ 4o A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado
por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade
civil e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no
ato de constituição da unidade.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 152

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§ 5o A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental
"O Homem e a Biosfera – MAB", estabelecido pela Unesco, organização da
qual o Brasil é membro.

4. LEI DO BIOMA MATA ATLÂNTICA (L 11.428/06)

4.1. CONCEITO

É considerado patrimônio nacional, conforme preconiza o art. 225, §4º CF/88.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.

4.2. LOCALIZAÇÃO

Vai do Estado do Rio Grande do Norte ao Estado do Rio Grande do Sul.

4.3. OBJETO

Disciplina a intervenção, a supressão do bioma Mata Atlântica.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bioma Mata


Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas
associados, com as respectivas delimitações estabelecidas em mapa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, conforme regulamento:
Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de
Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional
Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as
vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves
florestais do Nordeste. (Vide Decreto nº 6.660, de 2008)
Parágrafo único. Somente os remanescentes de vegetação nativa no estágio
primário e nos estágios secundário inicial, médio e avançado de regeneração
na área de abrangência definida no caput deste artigo terão seu uso e
conservação regulados por esta Lei.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) A Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Mista
(também denominada Mata de Araucárias), a Floresta Ombrófila Aberta e a
Floresta Estacional Semidecidual, dentre outras formações florestais nativas
e ecossistemas associados, integram o bioma Mata Atlântica. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 153

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4.4. OBJETIVO (ART. 6º DA L. 11.428/06)

Art. 6o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por OBJETIVO


GERAL o desenvolvimento sustentável e, por OBJETIVOS ESPECÍFICOS, a
salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos,
estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.

● objetivo geral = o desenvolvimento sustentável;

● objetivo específico = a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores


paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.

Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão


observados os princípios da função socioambiental da propriedade, da
equidade intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-
pagador, da transparência das informações e atos, da gestão
democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos serviços
administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações
tradicionais e do respeito ao direito de propriedade.

O parágrafo único do art. 6º da L.11.428/06 traz os princípios norteadores do Bioma Mata


Atlântica, quais sejam:

1) Princípio da função socioambiental da propriedade;


2) Princípio da equidade intergeracional;
3) Princípio da prevenção;
4) Princípio da precaução;
5) Princípio do usuário-pagador;
6) Princípio da transparência das informações e atos;
7) Princípio da gestão democrática;
8) Princípio da celeridade procedimental;
9) Princípio da gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural
e às populações tradicionais; e
10) Princípio do respeito ao direito de propriedade.

4.5. ALGUNS CONCEITOS

4.5.1. Pequeno produtor que vive na Mata Atlântica (art. 3º, I)

É aquele que tira uma renda bruta, de no mínimo 80% da sua propriedade. Porém, o
tamanho máximo da propriedade no bioma é de 50 hectares. A exploração eventual sem
propósito direto ou indireto, INDEPENDE de autorização do órgão ambiental.

Art. 3o Consideram-se para os efeitos desta Lei:


I - pequeno produtor rural: aquele que, residindo na zona rural, detenha a
posse de gleba rural não superior a 50 (cinquenta) hectares, explorando-a
mediante o trabalho pessoal e de sua família, admitida a ajuda eventual de
terceiros, bem como as posses coletivas de terra considerando-se a fração

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 154

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individual não superior a 50 (cinquenta) hectares, cuja renda bruta seja
proveniente de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais ou do
extrativismo rural em 80% (oitenta por cento) no mínimo;

4.5.2. População Tradicional (art. 3º, II L.11.428/06)

É a população vivendo em estreita relação com o ambiente natural, dependendo de seus


recursos naturais para a sua reprodução sociocultural, por meio de atividades de baixo impacto
ambiental.

Art. 3º, II - população tradicional: população vivendo em estreita relação com


o ambiente natural, dependendo de seus recursos naturais para a sua
reprodução sociocultural, por meio de atividades de baixo impacto ambiental;

4.6. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA

Em estágio
Vegetação
AVANÇADO de
Primária
regeneração
Regime Jurídico
Vegetação Em estágio MÉDIO
Secundária de regeneração

Em estágio INICIAL
de regeneração

Quem define o tipo de vegetação que se enquadrarão no Bioma Mata Atlântica é o


CONAMA, através de suas Resoluções.

Vale dizer que na vegetação primária NÃO há intervenção humana, isto é, ela é intocada.
Já na vegetação secundária já houve a intervenção humana e se encontra num processo de
regeneração ou porque foi queimada, derrubada, desmatada, etc.

4.7. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA EM ÁREA RURAL

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 155

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Em estágio
Vegetação
AVANÇADO de
Regime Jurídico Primária
regeneração
em
ÁREA RURAL Em estágio
Vegetação
MÉDIO de
Secundária
regeneração

Em estágio
INICIAL de
regeneração

Quem autoriza a intervenção é o órgão ambiental estadual, mediante procedimento


administrativo.

4.7.1. Da vegetação PRIMÁRIA em ÁREA RURAL

É possível a SUPRESSÃO da vegetação primária em área rural, cujos requisitos são:

1) Utilidade pública:

1.1) Atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

1.2) Obras essenciais de infraestrutura de interesse nacional destinadas aos serviços


públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo poder público federal
ou dos Estados;

2) Pesquisas Científicas;

3) Práticas preservacionistas: consistem na atividade técnica e cientificamente


fundamentada, imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa, tal como
controle de fogo, erosão, espécies exóticas e invasoras.

4.7.2. Da vegetação SECUNDÁRIA em ÁREA RURAL

1) Da vegetação secundária em estágio AVANÇADO de regeneração: é possível a


supressão, cujos requisitos são:

1.1) Utilidade pública:

1.1.1) Atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

1.1.2) As obras essenciais de infraestrutura de interesse nacional destinadas aos


serviços públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo
poder público federal ou dos Estados;

1.2) Pesquisas científicas;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 156

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1.3) Práticas Preservacionistas: consistem na atividade técnica e cientificamente
fundamentada, imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa, tal
como controle de fogo, erosão, espécies exóticas e invasoras.

OBS: requisitos para supressão da vegetação primária = vegetação


secundária em estágio avançado de regeneração.

2) Da vegetação secundária em estágio MÉDIO de regeneração: é possível a supressão,


cujos requisitos são:

2.1) Utilidade pública:

2.1.1) Atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

2.1.2) Obras essenciais de infraestrutura de interesse nacional destinadas aos


serviços públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo
poder público federal ou dos Estados.

2.2) Interesse social:

2.2.1) As atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa,


tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão,
erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas,
conforme resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA;

2.2.2) As atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena


propriedade ou posse rural familiar que não descaracterizem a cobertura
vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área;

2.2.3) Demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do


Conselho Nacional do Meio Ambiente.

2.3) Pesquisas Científicas;

2.4) Práticas Preservacionistas: consistem na atividade técnica e cientificamente


fundamentada, imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa, tal
como controle de fogo, erosão, espécies exóticas e invasoras.

2.5) Quando necessário ao pequeno produtor ou população tradicional, ressalvadas as


APP’s.

3) Vegetação secundária em estágio INICIAL de regeneração: é possível a supressão,


desde que tenha autorização do órgão ambiental estadual, salvo nos casos de Estados-
membros com menos de 5% da área original do bioma Mata Atlântica, que se
submeterão às regras do estágio MÉDIO de regeneração.

4.8. REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA EM ÁREA URBANA

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 157

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Em estágio
Vegetação Primária AVANÇADO de
regeneração
Regime Jurídico em
ÁREA URBANA
Vegetação Em estágio MÉDIO
Secundária de regeneração

Em estágio INICIAL
de regeneração

4.8.1. Da vegetação primária

Não é possível a supressão da vegetação primária em área urbana.

4.8.2. Da vegetação secundária

O órgão competente para autorizar a supressão é o órgão ambiental estadual.

1) Da vegetação secundária em estágio AVANÇADO de regeneração

1.1) Antes da Lei 11.428/06 (até 22.12.06): era possível a intervenção, desde que
deixasse no mínimo 50% da vegetação.

1.2) Após a L.11.428/06: não há que se falar em supressão, pois é vedado/proibido.

2) Da vegetação secundária em estágio MÉDIO de regeneração

2.1) Antes da Lei 11.428/06 (até 22.12.06) = era possível a intervenção, desde que
deixasse no mínimo 30% da vegetação.

2.2) Após a L.11.428/06 = é possível a intervenção, desde que se deixe no mínimo 50% da
vegetação.

Nesta hipótese, além do órgão AMBIENTAL ESTADUAL, pode o MUNICÍPIO também


autorizar a supressão da vegetação secundária, desde que o ente tenha Conselho com Caráter
Deliberativo e Plano Diretor, mas sempre com prévia autorização do órgão estadual, que dará
um parecer técnico.

3) Vegetação secundária em estágio INICIAL de regeneração: há certa “liberalidade”, pois


não está vinculada aos percentuais. Também pode o Município também autorizar a
supressão da vegetação secundária, desde que o ente tenha Conselho com caráter
deliberativo e Plano Diretor, mas sempre com prévia autorização do órgão estadual,
que dará um parecer técnico.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 158

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O art. 12 da L. 11.428/06 busca evitar a supressão/intervenção em vegetação primária (mata
virgem).

Art. 12. Os novos empreendimentos que impliquem o corte ou a supressão


de vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser implantados
preferencialmente em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) De acordo com a Lei nº 11.428/2006, que dispõe sobre a
utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, a
supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio de
regeneração para fins de atividades minerárias somente será admitida
mediante alguns requisitos, como a adoção de medida compensatória que
inclua a recuperação de área equivalente à área do empreendimento, com as
mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e sempre
que possível na mesma microbacia hidrográfica, independentemente do
disposto no Art. 36 da Lei nº 9.985/2000. Correta!

MPE/SC (2019) A Lei Federal n. 11.428/2006, conhecida como Lei da Mata


Atlântica, veda a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica,
para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas
urbanas consideradas como tal em lei específica, estabelecendo restrições à
supressão da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração.
Correta!

MPE/PR (2019) Os novos empreendimentos que impliquem o corte ou a


supressão de vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser implantados
obrigatoriamente em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas.
Errada!

MPE/MG (2019) A supressão de vegetação inicial, em Mata Atlântica,


somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, enquanto a
vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser
suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social. Errada!

MPE/MG (2019) A vegetação secundária em qualquer estágio de


regeneração do Bioma Mata Atlântica não perderá esta classificação nos
casos de incêndio, desmatamento ou de qualquer outro tipo de intervenção
não autorizada ou não licenciada. Correta!

4.9. DA COMPENSAÇÃO AMBIENTAL (ART. 17 L.11.428/06)

O corte/supressão da vegetação primária e secundária (em estágio AVANÇADO e MÉDIO)


impõe COMPENSAÇÃO AMBIENTAL, equivalente à destinação de área com a mesma extensão
da área desmatada, na mesma bacia hidrográfica e preferencialmente na mesma microbacia
hidrográfica.

Mas, cuidado. O STJ já julgou no sentido de que não seria necessário observar tal
preferência em se tratando de danos ambientais ocorridos em reserva legal anteriores à aprovação
do Código Florestal vigente.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 159

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A compensação de danos ambientais ocorridos em reserva legal em data
anterior à vigência da Lei nº 12.651/2012 (Novo Código Florestal) não precisa
ser feita na mesma microbacia, sendo suficiente que ocorra no mesmo bioma
do imóvel a ser compensado.
STJ. 1ª Turma. REsp 1532719-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 08/09/2020 (Info 679).

Agora, quando se tratar de área urbana, ocorrerá preferencialmente no mesmo Município ou


região metropolitana.

OBS: bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de um curso de água


é o conjunto de terras que fazem a drenagem da água das
precipitações para esse curso de água e seus afluentes.

Art. 17. O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos


estágios médio ou avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica,
autorizados por esta Lei, ficam condicionados à COMPENSAÇÃO
AMBIENTAL, na forma da destinação de área equivalente à extensão da
área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma
bacia hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica,
e, nos casos previstos nos arts. 30 e 31, ambos desta Lei, em áreas
localizadas no mesmo Município ou região metropolitana.

OBS1: Lembrando que Compensação Ambiental é um mecanismo


para contrabalançar os impactos sofridos pelo meio ambiente,
identificados no processo de licenciamento ambiental no momento da
implantação de empreendimentos. A empresa causadora do impacto
negativo deve financiar a implantação e regularização fundiária de
unidades de conservação, sejam elas federais, estaduais ou
municipais. A Compensação Ambiental foi instituída pela Lei Federal
n° 9.985/2000 e regulamentada pelo Decreto n° 4.340/2002,
constituindo uma obrigação legal de todos os empreendimentos
causadores de significativo impacto ambiental, cujos empreendedores
ficam obrigados a apoiar a implantação e manutenção de unidade de
conservação por meio da aplicação de recursos correspondentes aos
custos totais previstos para a implantação do empreendimento de
forma proporcional ao impacto ambiental (o patamar mínimo de 0,5%
dos custos foi declarado inconstitucional pelo STF).

Não sendo possível a compensação ambiental impõe-se a REPOSIÇÃO FLORESTAL, com


espécies nativas em área equivalente à desmatada, na mesma bacia hidrográfica e
preferencialmente na mesma microbacia hidrográfica (art. 17, §1º L.11.428/06).

§ 1o Verificada pelo órgão ambiental a impossibilidade da compensação


ambiental prevista no caput deste artigo, será exigida a REPOSIÇÃO
FLORESTAL, com espécies nativas, em área equivalente à desmatada, na
mesma bacia hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia
hidrográfica.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 160

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OBS2: por Reposição Florestal entende-se como o conjunto de ações
desenvolvidas que visam estabelecer a continuidade do
abastecimento de matéria prima florestal aos diversos segmentos
consumidores, através da obrigatoriedade da recomposição do
volume explorado, mediante o plantio com espécies florestais
adequadas.
OBS3: para os pequenos produtores e populações tradicionais ou
quando houver supressão ilegal não será pedida a compensação
ambiental (art. 17, §2º L.11.428/06).

§ 2o A compensação ambiental a que se refere este artigo não se aplica aos


casos previstos no inciso III do art. 23 (necessários o pequeno produtor rural
ou populações tradicionais) desta Lei ou de corte ou supressão ilegais.

4.9.1. Vedações ao corte e supressão de vegetação primária e secundária em estágio


avançado e médio de regeneração (art. 11 da L.11.428/06)

As hipóteses são as seguintes:

1) Quando a vegetação: abrigar espécies ameaçadas de extinção; proteger de mananciais


e prevenir e controlar erosão; formar corredores entre vegetação primária ou secundária;
entornar unidades de conservação; tiver valor paisagístico. (art. 11, inc. I da L.11.428/06)

2) O proprietário ou posseiro que não cumprir os dispositivos da legislação ambiental, em


especial o Código Florestal (Área de Proteção Ambiental e Reserva Legal Florestal). (art.
11, inc. II da L.11.428/06)

3) Forem pretendidas atividades minerárias de vegetação secundária em estágio avançado


e médio de regeneração, salvo se tiver: licenciamento ambiental adoção de medida
compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à área do empreendimento.
(art. 32 da L.11.428/06)

Vejamos:

1) Quando a vegetação:

a) abrigar espécies da flora e fauna silvestres ameaçadas de extinção em âmbito nacional


ou estadual, assim declaradas pelos entes políticos (União e Estados);

b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;

c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio


avançado de regeneração;

d) proteger os entornos das unidades de conservação;

e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos do SISNAMA.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 161

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Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios
avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados
quando:
I - a vegetação:
a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em
território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou
pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a
sobrevivência dessas espécies;
b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle
de erosão;
c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou
secundária em estágio avançado de regeneração;
d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou
e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos
executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA;

2) O proprietário ou posseiro que não cumprir os dispositivos da legislação ambiental,


em especial o Código Florestal (Área de Proteção Ambiental e Reserva Legal
Florestal).

OBS.: A vegetação primária e secundária não perde sua classificação,


em razão de incêndio, desmatamentos, ou qualquer outro tipo de
intervenção, para evitar a “Política da Terra Arrasada”.

Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios


avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados
quando:
II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação
ambiental, em especial as exigências da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de
1965 (leia-se: novo código florestal), no que respeita às Áreas de
Preservação Permanente e à Reserva Legal.

3) Atividades minerárias em vegetação secundária em estágio avançado e médio de


regeneração (art. 32 da L.11.428/06)

A supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio de regeneração para


fins de atividades minerárias somente será admitida mediante:

I - licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de Estudo Prévio de Impacto


Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental - EPIA/RIMA, pelo empreendedor, e desde que
demonstrada a inexistência de alternativa técnica e locacional ao empreendimento
proposto;

II - adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à


área do empreendimento, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia
hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica, independentemente do
disposto no art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 162

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Art. 32. A supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio
de regeneração para fins de atividades minerárias somente será admitida
mediante:
I - licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de Estudo Prévio
de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA, pelo
empreendedor, e desde que demonstrada a inexistência de alternativa
técnica e locacional ao empreendimento proposto;
II - adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área
equivalente à área do empreendimento, com as mesmas características
ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma
microbacia hidrográfica, independentemente do disposto no art. 36 da Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PR (2019) O poder público, sem prejuízo das obrigações dos
proprietários e posseiros estabelecidas na legislação ambiental, estimulará,
com incentivos econômicos, a proteção e o uso sustentável do Bioma Mata
Atlântica. Correta!

Procurador Municipal Bertioga/VUNESP (2019) O corte, a supressão e a


exploração da vegetação do Bioma Mata Atlântica far-se-ão de maneira
diferenciada, conforme se trate de vegetação primária ou secundária.
Correta!

5. LEI DE GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS (LGP - L.11.284/06)

5.1. CONCEITOS

Estudaremos aqui os seguintes conceitos:

1) Florestas Públicas;
2) Recursos florestais;
3) Manejo florestal sustentável;
4) Concessão florestal;
5) Unidade de manejo;
6) Lote de concessão florestal;

5.1.1. Florestas Públicas

São florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens
sob o domínio da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da
administração indireta (art. 3º, I L. 11.284/06).

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


I - florestas públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos
diversos biomas brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos Estados,
dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da administração
indireta;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 163

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5.1.2. Recursos florestais

Elementos ou características de determinada floresta, potencial ou efetivamente geradores


de produtos ou serviços florestais (art. 3º, II L. 11.284/06).

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


II - recursos florestais: elementos ou características de determinada floresta,
potencial ou efetivamente geradores de produtos ou serviços florestais;

Produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros gerados pelo manejo florestal
sustentável (art. 3º, III L. 11.284/06). Ex.: Palmito, castanha do Pará, cupuaçu, borracha etc.

Art. 3, III - produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros


gerados pelo manejo florestal sustentável;

Serviços florestais: turismo ecológico e outras ações ou benefícios decorrentes do manejo


e conservação da floresta, não caracterizados como produtos florestais (art. 3º, IV L. 11.284/06).

Art. 3, IV - serviços florestais: turismo e outras ações ou benefícios


decorrentes do manejo e conservação da floresta, não caracterizados como
produtos florestais;

5.1.3. Manejo florestal sustentável

Administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e


ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e
considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras,
de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e
serviços de natureza florestal (art. 3º, VI L. 11.284/06).

Art.3, VI - manejo florestal sustentável: administração da floresta para a


obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e
considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas
espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros,
bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal;

5.1.4. Concessão florestal

Delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal
sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à
pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado (art.
3º, VII L. 11.284/06).

Art.3, VII - concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder


concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para
exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante
licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 164

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do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;

5.1.5. Unidade de manejo

Perímetro definido a partir de critérios técnicos, socioculturais, econômicos e ambientais,


localizado em florestas públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS,
podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de plantios florestais (art. 3º,
VIII L. 11.284/06).

Art.3, VIII - unidade de manejo: perímetro definido a partir de critérios


técnicos, socioculturais, econômicos e ambientais, localizado em florestas
públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS,
podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de
plantios florestais;

5.1.6. Lote de concessão florestal

Conjunto de unidades de manejo a serem licitadas (art. 3º, IX L. 11.284/06).

Art.3, IX - lote de concessão florestal: conjunto de unidades de manejo a


serem licitadas;

5.2. DA EXPLORAÇÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS NO BRASIL

Os requisitos são:

1) Criação de florestas nacionais, estaduais e municipais e sua gestão direta;


2) Destinação de florestas públicas às comunidades tradicionais;
3) A concessão florestal, através de processo licitatório.

Vejamos:

5.2.1. Da criação de florestas nacionais, estaduais e municipais e sua gestão direta (art. 17
da Lei 9.985/00 c/c art. 5º da Lei 11.284/06)

A floresta pública é aquela em que o domínio é dos entes federativos. Porém, nem sempre
ela é uma unidade de conservação. Por isso, pode um ente federativo pegar uma floresta pública e
torná-la unidade de conservação, desde que respeite os requisitos previstos no art. 17 da Lei
9.985/00.

A GESTÃO DIRETA ocorre quando o poder público cria e assume o comando de uma
FLORESTA NACIONAL, embora seja possível que em atividades subsidiárias firmem Termo de
Parceria, Convênios e outros instrumentos administrativos, observados os procedimentos
licitatórios e os contratos e os instrumentos ficam limitados a 120 meses.

Art. 5º Lei 11.284/06. O Poder Público poderá exercer diretamente a gestão


de florestas nacionais, estaduais e municipais criadas nos termos do art. 17
da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, sendo-lhe facultado, para execução
de atividades subsidiárias, firmar convênios, termos de parceria, contratos ou

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 165

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
instrumentos similares com terceiros, observados os procedimentos
licitatórios e demais exigências legais pertinentes.
§ 1o A duração dos contratos e instrumentos similares a que se refere o caput
deste artigo fica limitada a 120 (cento e vinte) meses.
§ 2o Nas licitações para as contratações de que trata este artigo, além do
preço, poderá ser considerado o critério da melhor técnica previsto no inciso
II do caput do art. 26 desta Lei.

Lei no 9.985/00
Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para exploração sustentável de florestas nativas.(Regulamento)
§ 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo
com o que dispõe a lei.
§ 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações
tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o
disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
§ 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas
para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.
§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização
do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e
restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
§ 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo
órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das
populações tradicionais residentes.
§ 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será
denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.

5.2.2. Da destinação de florestas públicas às comunidades tradicionais (art. 6º L.11.284/06)

Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas


por comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes, por meio
de:

I - criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável,


observados os requisitos previstos da Lei 9.985/00;

II - concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de desenvolvimento


sustentável, agroextrativistas ou outros similares, nos termos do art. 189 da CF/88 e das diretrizes
do Programa Nacional de Reforma Agrária;

III - outras formas previstas em lei.

A destinação de florestas públicas às comunidades tradicionais será feita de forma não


onerosa para o beneficiário e efetuada em ato administrativo próprio, conforme previsto em
legislação específica.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 166

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Sem prejuízo das formas de destinação previstas no art. 6º da L.11.284/06, as comunidades
locais poderão participar das licitações previstas na referida lei, por meio de associações
comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas em lei.

Por fim, o Poder Público poderá, com base em condicionantes socioambientais definidas em
regulamento, regularizar posses de comunidades locais sobre as áreas por elas tradicionalmente
ocupadas ou utilizadas, que sejam imprescindíveis à conservação dos recursos ambientais
essenciais para sua reprodução física e cultural, por meio de concessão de direito real de uso ou
outra forma admitida em lei, dispensada licitação.

Está tudo no art. 6º:

Art. 6o Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas


ocupadas ou utilizadas por comunidades locais serão identificadas para a
destinação, pelos órgãos competentes, por meio de:
I - criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento
sustentável, observados os requisitos previstos da Lei no 9.985, de 18 de julho
de 2000;
II - concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de
desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares, nos
termos do art. 189 da Constituição Federal e das diretrizes do Programa
Nacional de Reforma Agrária;
III - outras formas previstas em lei.
§ 1o A destinação de que trata o caput deste artigo será feita de forma não
onerosa para o beneficiário e efetuada em ato administrativo próprio,
conforme previsto em legislação específica.
§ 2o Sem prejuízo das formas de destinação previstas no caput deste artigo,
as comunidades locais poderão participar das licitações previstas no Capítulo
IV deste Título, por meio de associações comunitárias, cooperativas ou outras
pessoas jurídicas admitidas em lei.
§ 3o O Poder Público poderá, com base em condicionantes socioambientais
definidas em regulamento, regularizar posses de comunidades locais sobre
as áreas por elas tradicionalmente ocupadas ou utilizadas, que sejam
imprescindíveis à conservação dos recursos ambientais essenciais para sua
reprodução física e cultural, por meio de concessão de direito real de uso ou
outra forma admitida em lei, dispensada licitação.

5.2.3. Da concessão florestal, através de processo licitatório (art. 7º ao 9º da L.11.284/06)

A concessão florestal será sempre autorizada por ato do poder concedente (Ministério do
Meio Ambiente) e formalizada mediante contrato, após procedimento licitatório.

Art. 7º da L.11.284/06. A concessão florestal será autorizada em ato do poder


concedente e formalizada mediante contrato, que deverá observar os termos
desta Lei, das normas pertinentes e do edital de licitação.
Parágrafo único. Os relatórios ambientais preliminares, licenças ambientais,
relatórios de impacto ambiental, contratos, relatórios de fiscalização e de
auditorias e outros documentos relevantes do processo de concessão
florestal serão disponibilizados por meio da Rede Mundial de Computadores,
sem prejuízo do disposto no art. 25 desta Lei.

Art. 8o da L.11.284/06. A publicação do edital de licitação de cada lote de


concessão florestal deverá ser precedida de audiência pública, por região,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 167

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realizada pelo órgão gestor, nos termos do regulamento, sem prejuízo de
outras formas de consulta pública.

Art. 9o da L.11.284/06. São elegíveis para fins de concessão as unidades de


manejo previstas no Plano Anual de Outorga Florestal.

O órgão executor (gestor) é o SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, já o órgão consultivo é


a COMISSÃO DE GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS.

L.11.284/06
Art. 54. Fica criado, na estrutura básica do Ministério do Meio Ambiente, o
Serviço Florestal Brasileiro - SFB.

Art. 55. O SFB atua exclusivamente na GESTÃO das florestas públicas e


tem por competência:[...]

Art. 51. Sem prejuízo das atribuições do Conselho Nacional do Meio


Ambiente - CONAMA, fica instituída a Comissão de Gestão de Florestas
Públicas, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, de NATUREZA
CONSULTIVA, com as funções de exercer, na esfera federal, as atribuições
de órgão consultivo previstas por esta Lei e, especialmente:
I - assessorar, avaliar e propor diretrizes para gestão de florestas públicas da
União;
II - manifestar-se sobre o Paof da União;
III - exercer as atribuições de órgão consultivo do SFB.
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disporão
sobre o órgão competente para exercer as atribuições de que trata este
Capítulo nas respectivas esferas de atuação.

Tal órgão executor elaborará o PLANO ANUAL DE OUTORGA FLORESTAL – PAOF e o


submeterá ao poder concedente (Ministério do Meio Ambiente). Tal plano é aprovado anualmente,
cujo objetivo é selecionar a área onde se encontram as florestas que poderão ser objeto de
concessão florestal.

L.11.284/06
Art. 10. O Plano Anual de Outorga Florestal - PAOF, proposto pelo órgão
gestor e definido pelo poder concedente, conterá a descrição de todas as
florestas públicas a serem submetidas a processos de concessão no ano em
que vigorar.
§ 1o O Paof será submetido pelo órgão gestor à manifestação do órgão
consultivo da respectiva esfera de governo.
...

OBS.: Para uma floresta pública da União estar dentro do PAOF, é


necessária a manifestação prévia da Secretaria de Patrimônio da
União do Ministério do Planejamento.

L.11.284/06 Art. 10, § 2o A inclusão de áreas de florestas públicas sob o


domínio da União no Paof requer manifestação prévia da Secretaria de
Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 168

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Vale ressaltar que o Conselho de Defesa tem que se manifestar no caso no art. 20, §2º
CF/88.

L.11.284/06 Art. 10, § 3o O Paof deverá ser previamente apreciado pelo


Conselho de Defesa Nacional quando estiverem incluídas áreas situadas na
faixa de fronteira definida no § 2o do art. 20 da Constituição Federal.

Art. 20, §2º CF/88. A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura,
ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é
considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua
ocupação e utilização serão reguladas em lei.

5.3. DO PROCESSO DE OUTORGA DE CONCESSÃO FLORESTAL

Estudaremos o seguinte sobre este ponto:

1) Regras gerais;
2) Objeto da concessão florestal;
3) Licenciamento ambiental na concessão florestal;
4) Da habilitação para o processo licitatório da concessão florestal;
5) Dos critérios de julgamento do processo licitatório da concessão florestal;
6) Do contrato de concessão florestal;
7) Proteção de concorrência;
8) Extinção da concessão;
9) Auditoria Florestal;
10) Florestas públicas e unidades de conservação.

Vejamos:

5.3.1. Regras gerais

O poder concedente (Ministério do Meio Ambiente) publicará previamente ao edital de


licitação ato justificando a conveniência da concessão florestal, caracterizando seu objeto
(exemplo: ecoturismo, madeira, palmito etc.) e a unidade de manejo.

Antes de publicar o edital de licitação é necessária a realização de AUDIÊNCIA PÚBLICA


por região, sem prejuízo de outras formas de consulta pública (inclui a internet, por exemplo).

As licitações devem ser realizadas na modalidade concorrência, a título oneroso. Veda-se a


contratação direta.

Art. 13. As licitações para concessão florestal observarão os termos desta Lei
e, supletivamente, da legislação própria, respeitados os princípios da
legalidade, moralidade, publicidade, igualdade, do julgamento por critérios
objetivos e da vinculação ao instrumento convocatório.
§ 1o As licitações para concessão florestal serão realizadas na modalidade
concorrência e outorgadas a título oneroso.
§ 2o Nas licitações para concessão florestal, é vedada a declaração de
inexigibilidade prevista no art. 74 da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021.”

5.3.2. Objeto da concessão florestal

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 169

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A concessão florestal terá como objeto a exploração de produtos e serviços florestais,
contratualmente especificados em unidade de manejo de floresta pública, com perímetro
georreferenciado, registrada no respectivo cadastro de florestas públicas e incluída no lote de
concessão florestal (art. 16, caput e §§1º e 2º L. 11.284/06).

Art. 16 L.11.284/06. A concessão florestal confere ao concessionário somente


os direitos expressamente previstos no contrato de concessão.
§ 1o É vedada a outorga de qualquer dos seguintes direitos no âmbito da
concessão florestal:
I - titularidade imobiliária ou preferência em sua aquisição;
II - acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa e desenvolvimento,
bioprospecção ou constituição de coleções;
III - uso dos recursos hídricos acima do especificado como insignificante, nos
termos da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997;
IV - exploração dos recursos minerais;
V - exploração de recursos pesqueiros ou da fauna silvestre;
VI - comercialização de créditos decorrentes da emissão evitada de carbono
em florestas naturais.
§ 2o No caso de reflorestamento de áreas degradadas ou convertidas para
uso alternativo do solo, o direito de comercializar créditos de carbono poderá
ser incluído no objeto da concessão, nos termos de regulamento.

5.3.3. Licenciamento ambiental na concessão florestal

O licenciamento ambiental, em regra, se apresenta através do RAP (Relatório Ambiental


Preliminar) pelo SFB (Serviço Florestal Brasileiro) que será encaminhado ao órgão ambiental
competente (IBAMA, se for federal...).

Tal órgão ambiental trabalhará com dois tipos de licença:

1) Licença prévia; e
2) Licença de operação.

OBS.: Não há licença de instalação na CONCESSÃO FLORESTAL!

➔ QUESTÃO: É possível o EPIA/RIMA pelo Serviço Florestal Brasileiro?

Sim, desde que haja efetivo impacto ambiental.

Quando se obtêm a LICENÇA PRÉVIA significa que é aprovada a confecção do Plano de


Manejo Florestal Sustentável (PMFS).

Em seguida, se obtêm a LICENÇA DE OPERAÇÃO, onde a floresta poderá ser explorada.

Com o deferimento da licença prévia caso a unidade de manejo esteja inserida no PAOF
(Plano Anual de Outorga Florestal), autoriza-se a licitação para a concessão florestal.

ATENÇÃO: A aprovação do Plano de Manejo de unidade de


conservação substitui a licença prévia, sem prejuízo da elaboração do
EPIA/RIMA. Em outras palavras, se há uma floresta nacional que
possui Plano de Manejo APROVADO, este substitui a licença prévia.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 170

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➔ QUESTÃO: É possível realizar o RAP e EPIA/RIMA conjuntamente?

É possível a realização do RAP e EPIA/RIMA que abranjam diferentes unidades de manejo


de um lote de concessão florestal, desde que as unidades se situem no mesmo ecossistema e no
mesmo Estado.

5.3.4. Da habilitação para o processo licitatório da concessão florestal

➔ QUESTÃO: Quem é que pode participar do processo licitatório da concessão


florestal?

Resposta: Além dos requisitos legais dos arts. 62 e ss. da L.8666/93, exigem-se a ausência
de:

1) Débitos inscritos na dívida ativa relativos à infração ambiental nos órgãos ambientais do
SISNAMA;
2) Decisões condenatórias com trânsito em julgado em ações penais relativas a crimes contra
o meio ambiente, a ordem tributária ou crime previdenciário.

5.3.5. Dos critérios de julgamento do processo licitatório da concessão florestal

➔ QUESTÃO: Qual será a melhor proposta?

Deve-se conjugar dois critérios, quais sejam:

1º) Maior preço ofertado pela outorga da concessão florestal;

2º) Melhor técnica que engloba:

a) Menor impacto ambiental que será gerado na região;

b) Maiores benefícios sociais diretos, isto é, que traga impactos ambientais positivos,
tais como: geração de empregos, bem-estar da população daquela região;

c) A maior eficiência, isto é, aquele que consegue explorar com maior eficiência. Ex.:
Ao explorar um objeto acarreta numa maior gama de exploração, transformando
parte deste objeto em produtos que seriam descartados.

d) A maior agregação de valor ao produto de serviço florestal na região da concessão.


Exs.: Reflorestamento da área ambiental, criação de infraestrutura daquela região.

5.3.6. Do contrato de concessão florestal (art. 27 a 35 da 11284/06)

Para cada unidade será celebrado um único contrato de concessão com um único
concessionário, no qual este será responsável perante o Poder Público (ex.: cumprir com os termos
contratuais), terceiros (ex.: decorrentes de relações de trabalho) e com o meio ambiente (caso
degrade terá que reparar o dano).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 171

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Art. 27. Para cada unidade de manejo licitada, será assinado um contrato de
concessão exclusivo com um único concessionário, que será responsável por
todas as obrigações nele previstas, além de responder pelos prejuízos
causados ao poder concedente, ao meio ambiente ou a terceiros, sem que a
fiscalização exercida pelos órgãos competentes exclua ou atenue essa
responsabilidade.

A fiscalização exercida pelo Poder Público não exclui ou atenua a responsabilidade deste
concessionário.

Não se admite a subconcessão na concessão florestal!

Art. 27, 4o É vedada a subconcessão na concessão florestal.

O contrato de concessão exige a RESERVA ABSOLUTA — no Plano de Manejo (na área


de exploração) deverá ter uma reserva absoluta de no mínimo 5% (não se inclui as APP’s), onde
não se pode ter nenhum tipo de exploração econômica, cujo intuito é comparar depois de 15 a 20
anos com está a área explorada em relação à área nativa.

Art. 32. O PMFS deverá apresentar área geograficamente delimitada


destinada à reserva absoluta, representativa dos ecossistemas florestais
manejados, equivalente a, no mínimo, 5% (cinco por cento) do total da área
concedida, para conservação da biodiversidade e avaliação e monitoramento
dos impactos do manejo florestal.
§ 1o Para efeito do cálculo do percentual previsto no caput deste artigo, não
serão computadas as áreas de preservação permanente.
§ 2o A área de reserva absoluta não poderá ser objeto de qualquer tipo de
exploração econômica.
§ 3o A área de reserva absoluta poderá ser definida pelo órgão gestor
previamente à elaboração do PMFS.

5.3.7. Proteção de concorrência

Visa evitar a concentração econômica, cujas regras são:

1º) em cada lote de concessão florestal não podem ser outorgados mais de dois contratos,
individualmente ou em consórcio;

2º) cada concessionário, individualmente ou em consórcio, terá um limite percentual máximo


de área de concessão florestal definido no PAOF.

➔ QUESTÃO: Qual é o prazo da concessão florestal?

É estabelecido de acordo com o ciclo de colheita de exploração, no mínimo 1 ciclo e no


máximo 40 anos.

E quando se tratar de serviços florestais (ex.: ecoturismo, recreação etc.)?

O prazo mínimo é de 5 anos e no máximo de 20 anos.

Art. 35. O prazo dos contratos de concessão florestal será estabelecido de


acordo com o ciclo de colheita ou exploração, considerando o produto ou
grupo de produtos com ciclo mais longo incluído no objeto da concessão,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 172

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podendo ser fixado prazo equivalente a, no mínimo, um ciclo e, no máximo,
40 (quarenta) anos.
Parágrafo único. O prazo dos contratos de concessão exclusivos para
exploração de serviços florestais será de, no mínimo, 5 (cinco) e, no
máximo, 20 (vinte) anos.

5.3.8. Extinção da concessão

Extingue-se a concessão florestal nas seguintes hipóteses:

1ª) Esgotamento do prazo contratual;

2ª) Rescisão, seja do Poder Público ou do particular. Quando o Poder Público não cumpre
o contrato, o particular (concessionário) deve ajuizar uma ação para este fim.

3ª) Anulação;

4ª) Falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade do titular, no caso


de empresa individual. O concessionário NÃO pode transferir o contrato sem a anuência prévia do
poder Público (poder concedente - Ministério do Meio Ambiente), sob pena de rescisão.

5ª) Desistência e devolução, por opção do concessionário (particular). A DESISTÊNCIA é


ato formal, irrevogável e irretratável, pelo qual o concessionário demonstra seu desinteresse em
continuar o contrato de concessão e DEVOLVE ao poder concedente.

Art. 44. Extingue-se a concessão florestal por qualquer das seguintes causas:
I - esgotamento do prazo contratual;
II - rescisão;
III - anulação;
IV - falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade do
titular, no caso de empresa individual;
V - desistência e devolução, por opção do concessionário, do objeto da
concessão.

5.3.9. Auditoria Florestal

Sem prejuízo ao poder de polícia do poder concedente, todas as concessões florestais


devem se submeter à auditoria florestal, de caráter independente, com prazo não superior a 03
anos.

Quem arca com os custos da auditoria é o concessionário (ONG’s). O INMETRO


padronizará/capacitará esta auditoria.

Conclusões quanto ao processo de auditoria florestal:

I) constatação de regular cumprimento do contrato de concessão;

II) constatação de deficiência sanáveis que devem ser regularizadas no prazo máximo de 6
meses para a continuidade do processo de concessão florestal;

III) contratação de descumprimento o que implica em sanções, segundo a sua gravidade,


incluindo a rescisão contratual.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 173

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5.3.10. Florestas públicas e unidades de conservação

Para inserir uma unidade de conservação (florestas nacional, estadual ou municipal) no


PAOF é necessária autorização prévia do órgão gestor da unidade de conservação.

Para elaboração de edital e do contrato de concessão florestal de unidade de manejo em


florestas nacionais, estaduais ou municipais é preciso ouvir o seu conselho consultivo (Comissão
de Gestão de Florestas Públicas) que acompanhará/participará de todo o processo de outorga da
concessão florestal.

Reportamos à leitura da medida provisória nº 1.151/2022, editada em


dezembro de 2022.
Trata-se de diploma de atualiza alguns artigos da Lei de Gestão das
Florestas Públicas (lei n. 11.284/2006), sobretudo em função das
alterações trazidas com a nova Lei de Licitações (lei n. 14.133/2021).
Não apenas isso: a MP em questão representa um grande estímulo
do Estado ao mercado de créditos de carbono, o que recebeu muitas
críticas.
Como a MP ainda não foi convertida em lei e envolve tema polêmico,
orientamos que fique de olho neste ponto.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 174

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

1. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

1.1. BASE LEGAL

1) Arts. 70 a 76 L.9605/98
2) Decreto 6514/08;

1.2. CONCEITO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL (ART. 70 L.9605/98 C/C


ART. 1º DEC. 6514/08)

É toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente.

Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão


que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação
do meio ambiente.

➔ QUESTÃO: Quem são as autoridades competentes para lavrar auto de infração


ambiental e instaurar processo administrativo?

Resposta: São os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de


Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes
das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha (art. 70, §1º L.9605/98). Vale dizer que qualquer
particular pode representar e a autoridade competente deve efetuar a apuração, sob pena de
corresponsabilidade.

§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e


instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais
integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados
para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos
Portos, do Ministério da Marinha.

A natureza da responsabilidade administrativa ambiental é controversa, mas o STJ tem


entendido tratar-se de responsabilidade SUBJETIVA:

A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da


responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos
causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou
seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com
demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo
causal entre a conduta e o dano.
Assim, a responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém, tratando-se de
responsabilidade administrativa ambiental, a responsabilidade é SUBJETIVA.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 08/05/2019 (Info 650).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 175

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Neste sentido, inclusive, o STJ aprovou a súmula 652:

Súmula 652-STJ: A responsabilidade civil da Administração Pública por


danos ao meio ambiente, decorrente de sua omissão no dever de
fiscalização, é de caráter solidário, mas de execução subsidiária.

MPE/RJ (2022) Considere que João requereu ao órgão competente a licença


ambiental necessária para construir um posto de gasolina na cidade do Rio
de Janeiro. Como a licença foi concedida, ele construiu o empreendimento e,
para isso, precisou desmatar uma área de Mata Atlântica. Em face do dano
ocasionado ao meio ambiente, foi imposta administrativamente multa à João.
Com base na situação hipotética e no entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, é correto afirmar que
como a licença foi concedida regularmente, houve exclusão da
responsabilidade pelo rompimento do nexo causal por fato de terceiro.
Correta!

1.3. DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS EM ESPÉCIE (ART. 72 L.9605/98)

L.9605/98 Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes


sanções, observado o disposto no art. 6º:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;

O agente autuante (fiscal) ao lavrar o auto de infração, indicará uma destas sanções e
observará três critérios:

L.9605/98 Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade


competente observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas
consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

1.3.1. Da advertência

É aplicada em infrações de menor lesividade ao meio ambiente, garantidos a ampla defesa


e o contraditório e desde que a multa máxima cominada não ultrapasse R$ 1.000,00 (art. 5º, §1º,
decreto 6514/2000).

Caso o agente autuante constate a existência de irregularidades a serem sanadas, lavrará


o auto de infração com a indicação da respectiva sanção de advertência, ocasião em que

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`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
estabelecerá prazo para que o infrator sane tais irregularidades. Sanadas as irregularidades no
prazo concedido, o agente autuante certificará o ocorrido nos autos e dará seguimento ao processo.
Caso o autuado, por negligência ou dolo, deixe de sanar as irregularidades, o agente autuante
certificará o ocorrido e aplicará a sanção de multa relativa à infração praticada, independentemente
da advertência. A sanção de advertência não excluirá a aplicação de outras sanções.

Fica vedada a aplicação de nova sanção de advertência no período de três anos contados
do julgamento da defesa da última advertência ou de outra penalidade aplicada. Assim, neste prazo,
caso seja cometida uma infração, o infrator não será beneficiado pela advertência.

A penalidade deve ser confirmada em julgamento pela autoridade competente.

1.3.2. Da multa simples

Será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:

● advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo
assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da
Marinha;

● opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do


Ministério da Marinha.

Obs.: A multa simples pode ser convertida em serviços de


preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.

➔ QUESTÃO: Como é calculada a multa? E qual o valor da multa?

Resposta: De acordo com o art. 74 L.9605/98, a multa terá por base a unidade, hectare,
metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado. Vale
ressaltar que uma mesma infração pode afetar mais de um recurso ambiental.

Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma
ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado.

Nos termos do art. 75 L.9605/98, o valor da multa (multa simples ou diária) será fixado no
regulamento da referida lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na
legislação pertinente, sendo:

● mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais); e

● máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).

1.3.3. Da multa diária

Será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo. Vale dizer que
o VALOR DA MULTA-DIA deverá ser fixado de acordo com os critérios estabelecidos no Decreto
6514/08, não podendo ser:

● inferior ao mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e;


● nem superior a 10% do valor da multa simples máxima cominada para a infração.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 177

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Ex.: R$ 50,00 a R$ 1.000,00 (x 10%) = R$ 100,00.

➔ QUESTÃO: Quando é que cessa a multa diária?

Resposta: Quando for apresentado documento que comprove a regularização da situação


que deu causa à lavratura do auto de infração. Deve o fiscal, depois, averiguar se realmente foi
regularizado. Caso, ele constate que não houve a regularização, retroage a incidência da multa a
partir do dia em que foi apresentado o documento e não a partir do dia da fiscalização.

O infrator pode assinar Termo de Compromisso de Reparação ou Cessação dos Danos,


estando encerrada a multa diária.

Da reincidência da multa: O prazo é de 5 anos (art. 11 do Dec. 6514/08). Caso seja


constatado a ocorrência de nova infração neste prazo de 5 anos, há duas possibilidades:

I) aplicação da multa em DOBRO, quando praticada outra infração;

II) aplicação da multa em TRIPLO, quando praticada a mesma infração.

A autoridade julgadora, assim que constatar a reincidência, deve:

1º) agravar a pena (em dobro ou em triplo, a depender do caso em concreto);

2º) deve notificar o autuado para que se manifeste sobre o agravamento da pena, sob o
prazo de 10 dias (não é reabertura de prazo de defesa);

3º) julgar a penalidade com o agravamento.

O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios


substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência, isto ocorre em razão do art. 76 da
L.9605/98 ainda não ter sido regulamentado. Assim sendo, pode um fiscal federal, estadual e
municipal aplicar um auto de infração sobre o mesmo FG.

Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito


Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de
incidência.

Normalmente é lavrado um TAC pelo órgão ambiental federal ou estadual com o infrator.
Contudo, tal celebração não vale como substituição de multa e sim o efetivo pagamento da multa,
salvo se o órgão ambiental federal participar na celebração do TAC e de maneira expressa
concordar.

➔ QUESTÃO: Qual é o destino da multa?

Resposta: As multas reverterão ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (20% do valor da


multa), segundo preconiza o art. 73 da L.9605/98.

Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração


ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela
Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº
20.923, de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio
ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 178

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1.3.4. Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração

Conforme prevê o art. 107 do Dec. 6514/08, após a apreensão, a autoridade competente,
levando-se em conta a natureza dos bens e animais apreendidos e considerando o risco de
perecimento, procederá da seguinte forma:

I- os animais da fauna silvestre serão libertados em seu hábitat ou entregues a jardins


zoológicos, fundações, centros de triagem, criadouros regulares ou entidades assemelhadas, desde
que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados;

II- os animais domésticos ou exóticos mencionados no art.103 poderão ser vendidos;

III- os produtos perecíveis e as madeiras sob risco iminente de perecimento serão avaliados
e doados.

Após decisão que confirme o auto de infração, os BENS e ANIMAIS apreendidos que ainda
não tenham sido objeto da destinação prevista no art. 107, não mais retornarão ao infrator, devendo
ser destinados da seguinte forma:

I- os produtos perecíveis serão doados;

II- as madeiras poderão ser doadas, vendidas ou utilizadas pela administração quando
houver necessidade, conforme decisão motivada da autoridade competente;

III- os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a


instituições científicas, culturais ou educacionais;

IV- os instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser destruídos, utilizados pela
administração quando houver necessidade, doados ou vendidos, garantida a sua
descaracterização, neste último caso, por meio da reciclagem quando o instrumento puder ser
utilizado na prática de novas infrações;

V- os demais petrechos, equipamentos, veículos e embarcações descritos no inciso IV do


art. 72 da Lei nº 9.605/98 poderão ser utilizados pela administração quando houver necessidade,
ou ainda vendidos, doados ou destruídos, conforme decisão motivada da autoridade ambiental;

VI- os animais domésticos e exóticos serão vendidos ou doados.

Os bens apreendidos poderão ser doados pela autoridade competente para os órgãos e
entidades públicas de caráter científico, cultural, educacional, hospitalar, penal e militar, bem como
para outras entidades com fins beneficentes. Os produtos da fauna não perecíveis serão destruídos
ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.

Tratando-se de apreensão de substâncias ou produtos tóxicos, perigosos ou nocivos à


saúde humana ou ao meio ambiente, as medidas a serem adotadas, inclusive a destruição, serão
determinadas pelo órgão competente e correrão a expensas do infrator.

Os bens sujeitos à venda serão submetidos a leilão, nos termos do § 5 o do art. 22 da


L.8666/93. Os custos operacionais de depósito, remoção, transporte, beneficiamento e demais
encargos legais correrão à conta do adquirente.

ATENÇÃO!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 179

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Em 2021, o STJ julgou o recurso repetitivo para fixar tese quanto à necessidade de o
instrumento utilizado na infração ambiental ser utilizado especificamente para cometê-la, pelo que
ficou decidido que não, vejamos:

A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 5º


do art. 25 da Lei nº 9.605/98, independe do uso específico, exclusivo ou
habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da
infração a apreensão dos bens e instrumentos utilizados na prática do ilícito
ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica,
exclusiva ou habitual para a prática de infrações não é um requisito que esteja
expressamente previsto na legislação. Tal exigência compromete a eficácia
dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva
da teoria econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1814944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 10/02/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1036) (Info 685).

1.3.5. Destruição ou inutilização do produto

1.3.6. Suspensão de venda e fabricação de produtos

É medida que visa evitar a colocação no mercado de produtos e subprodutos oriundos de


infração administrativa ou interromper o uso contínuo de matéria-prima e subproduto de origem
ilegal.

1.3.7. Suspensão parcial ou total das atividades

Constitui medida que visa impedir a continuidade de processo produtivo em desacordo com
a legislação ambiental.

Ex1: Tem-se uma fábrica com vários filtros para evitar o lançamento de gases na atmosfera,
uns novos e outros velhos, onde estes últimos não estão de acordo com as normas ambientais —
suspensão.

Ex2: Quando não se observa as condicionantes da licença de operação — suspensão total


ou parcial.

1.3.8. Embargo de obra ou atividade

Restringe-se aos locais onde efetivamente caracterizou-se a infração ambiental, não


alcançando as demais atividades não embargadas ou não correlacionadas com a infração
ambiental.

Nas áreas regularmente desmatadas ou queimadas o agente autuante embargará quaisquer


obras ou atividades nelas localizadas ou desenvolvidas, exceto as atividades de subsistência.

➔ QUESTÃO: Quais as consequências para o DESCUMPRIMENTO de embargo?

1º) Suspensão da atividade que originou a infração e da venda de produto ou subproduto


criado ou produzido na área ou local objeto do embargo.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 180

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2º) Cancelamento de registro, licença ou autorização de funcionamento da atividade
econômica dos órgãos ambientais.

Este agente autuante tem que comunicar o MP em até 72h pelo eventual cometimento de
crime ambiental (art. 79 do Dec. 6514/08).

Art. 79 do Dec. 6514/08. Descumprir embargo de obra ou atividade e suas


respectivas áreas:
Multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

1.3.9. Da demolição

Será aplicada sempre observada à ampla defesa e o contraditório, quando:

a) verificada a construção em área ambientalmente protegida em desacordo com a


legislação ambiental (ex.: construções em APP’s ou em unidades de conservação — Caso de Angra
no final de 2009);

b) quando a obra ou construção realizada não atenda às condicionantes da legislação


ambiental e não seja passível de regularização.

Todas as despesas correm por conta do infrator. Quem realiza a demolição é a


Administração Pública ou o próprio autuado/infrator.

NÃO será aplicada a demolição quando ela causar piores impactos ambientais.

1.3.10. Sanções restritivas, aplicáveis às PF’s e PJ’s

a) Suspensão de registro, licença ou autorização;

b) Cancelamento de registro, licença ou autorização;

c) Perda ou restrição de incentivos ou benefícios fiscais;

d) Perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento de bancos oficiais;

e) Proibição de contratar com a Administração Pública.

-> QUESTÃO: Quanto tempo duram estas sanções?

A “proibição de contratar com a Administração Pública” dura 03 anos e as demais duram 01


ano.

Tais sanções extinguem-se através da regularização.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/AC (2022) As penas de multa, de restrição de direitos e de prestação
de serviços à comunidade podem ser aplicadas cumulativamente. Correta!

1.4. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

1.4.1. Regra geral

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 181

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Prazo de 05 anos, contados da prática do fato ou se forem infrações permanentes, corre da
data em que cessarem.

Súmula 467-STJ: Prescreve em cinco anos, contados do término do processo


administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a
execução da multa por infração ambiental.
Quando o fato objeto de a infração também constituir crime, a prescrição de que trata o caput
reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal (art. 109 CP).

Dec. 6514/08 Art. 21. Prescreve em cinco anos a ação da administração


objetivando apurar a prática de infrações contra o meio ambiente, contada da
data da prática do ato, ou, no caso de infração permanente ou continuada, do
dia em que esta tiver cessado.
§ 1o Considera-se iniciada a ação de apuração de infração ambiental pela
administração com a lavratura do auto de infração.
§ 2o Incide a prescrição no procedimento de apuração do auto de infração
paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho,
cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte
interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional
decorrente da paralisação. (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008).
§ 3o Quando o fato objeto da infração também constituir crime, a prescrição
de que trata o caput reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
§ 4o A prescrição da pretensão punitiva da administração não elide a
obrigação de reparar o dano ambiental. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de
2008).

1.4.2. Interrupção da prescrição

Dec. 6514/08 Art. 22. Interrompe-se a prescrição:


I - pelo recebimento do auto de infração ou pela cientificação do infrator por
qualquer outro meio, inclusive por edital;
II - por qualquer ato inequívoco da administração que importe apuração do
fato; e
III - pela decisão condenatória recorrível.
Parágrafo único. Considera-se ato inequívoco da administração, para o efeito
do que dispõe o inciso II, aqueles que impliquem instrução do processo.

1.4.3. Exercício o poder de polícia

O art. 101 do Dec. 6514/08 traz o exercício do poder de polícia que é exercido pelo agente
autuante. Ele poderá adotar as seguintes medidas administrativas:

Dec. 6514/08 Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente autuante,


no uso do seu poder de polícia, poderá adotar as seguintes medidas
administrativas:
I - apreensão;
II - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
III - suspensão de venda ou fabricação de produto;
IV - suspensão parcial ou total de atividades;
V - destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e instrumentos da
infração; e
VI - demolição.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 182

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 1o As medidas de que trata este artigo têm como objetivo prevenir a
ocorrência de novas infrações, resguardar a recuperação ambiental e garantir
o resultado prático do processo administrativo.
§ 2o A aplicação de tais medidas será lavrada em formulário próprio, sem
emendas ou rasuras que comprometam sua validade, e deverá conter, além
da indicação dos respectivos dispositivos legais e regulamentares infringidos,
os motivos que ensejaram o agente autuante a assim proceder.
§ 3o A administração ambiental estabelecerá os formulários específicos a que
se refere o § 2o.
§ 4o O embargo de obra ou atividade restringe-se aos locais onde
efetivamente caracterizou-se a infração ambiental, não alcançando as demais
atividades realizadas em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou
não correlacionadas com a infração. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de
2008).

Se o agente autuante chegar num local e lá verificar que não é caso de reincidência, mas
que tal lugar é utilizado para a prática de infrações administrativas ambientais ou que esteja
convergindo para o ilícito penal, ele poderá ordenar a demolição, desde que comprove (ex.: tire
fotografias).

2. DO PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL (DEC. 6514/08 C/C L.9784/99).

O processo administrativo ambiental é regido pelos princípios da legalidade, finalidade,


motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência (art. 2º da L.9784/99 – Lei do Processo Administrativo).

2.1. DA AUTUAÇÃO

2.1.1. Procedimento

Constatada a ocorrência de infração administrativa ambiental, será lavrado auto de infração,


do qual deverá ser dada ciência ao autuado, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa.

Caso o autuado se recuse a dar ciência do auto de infração, o agente autuante certificará o
ocorrido na presença de duas testemunhas e o entregará ao autuado.

Nos casos de evasão ou ausência do responsável pela infração administrativa, e inexistindo


preposto identificado, o agente autuante encaminhará o auto de infração por via postal com aviso
de recebimento ou outro meio válido que assegure a sua ciência.

O auto de infração será encaminhado à unidade administrativa responsável pela apuração


da infração, oportunidade em que se fará a autuação processual no prazo máximo de 05 dias úteis,
contados de seu recebimento, ressalvados os casos de força maior devidamente justificados.

2.1.2. Vícios na autuação

1) Em caso de vício SANÁVEL

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 183

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
O auto de infração que apresentar vício SANÁVEL poderá, a qualquer tempo, ser
convalidado de ofício pela autoridade julgadora, mediante despacho saneador, após o
pronunciamento do órgão da Procuradoria-Geral Federal que atua junto à respectiva unidade
administrativa da entidade responsável pela autuação.

Porém, se tal vício for constatado pelo AUTUADO, o procedimento será anulado a partir da
fase processual em que o vício foi produzido, reabrindo-se novo prazo para defesa, aproveitando-
se os atos regularmente produzidos.

2) Em caso de vício INSANÁVEL

Vício INSANÁVEL é aquele em que a correção da autuação implica MODIFICAÇÃO do fato


descrito no auto de infração. Sendo assim, o auto de infração que apresentar vício insanável deverá
ser declarado nulo pela autoridade julgadora competente, que determinará o arquivamento do
processo, após o pronunciamento do órgão da Procuradoria-Geral Federal que atua junto à
respectiva unidade administrativa da entidade responsável pela autuação.

Vale dizer que caso seja declarado nulo o auto de infração e estiver caracterizada a conduta
ou atividade lesiva ao meio ambiente, deverá ser lavrado novo auto, observadas as regras relativas
à prescrição.

2.2. DA DEFESA

O prazo é de 20 dias, contados da data da ciência da autuação, oferecer defesa contra o


auto de infração (art. 113 do Dec. 6514/08).

Se até o prazo da defesa, ele resolver pagar a multa, ele terá um desconto de 30%. Se
passar o prazo de 20 dias, ele tem desconto de 30% do valor corrigido.

A defesa será formulada por escrito e deverá conter os fatos e fundamentos jurídicos que
contrariem o disposto no auto de infração e termos que o acompanham, bem como a especificação
das provas que o autuado pretende produzir a seu favor, devidamente justificadas. Vale ressaltar
que requerimentos formulados fora do prazo de defesa não serão conhecidos, bem como se
apresentada a órgão ambiental incompetente, podendo ser desentranhados dos autos conforme
decisão da autoridade ambiental competente.

Por fim, o autuado PODERÁ ser representado por advogado ou procurador legalmente
constituído, devendo, para tanto, anexar à defesa o respectivo instrumento de procuração. O
autuado poderá requerer prazo de até 10 dias para a juntada do instrumento.

2.3. DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Cabe ao autuado provar o que está alegando e sem prejuízo deste, cabe à Administração
Pública a busca da verdade real.

A autoridade julgadora poderá requisitar a produção de provas necessárias à sua convicção,


bem como parecer técnico ou contradita do agente autuante, especificando o objeto a ser
esclarecido.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 184

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
O parecer técnico deverá ser elaborado no prazo máximo de 10 dias, ressalvadas as
situações devidamente justificadas.

A contradita consiste em informações e esclarecimentos prestados pelo agente autuante


necessários à elucidação dos fatos que originaram o auto de infração, ou das razões alegadas pelo
autuado, facultado ao agente autuante, nesta fase, opinar pelo acolhimento parcial ou total da
defesa. Esta deverá ser elaborada pelo agente autuante no prazo de 05 dias, contados a partir do
recebimento do processo.

As provas propostas pelo autuado, quando impertinentes, desnecessárias ou protelatórias,


poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada da autoridade julgadora competente.

Ao final da fase de instrução, o órgão da Procuradoria-Geral Federal, quando houver


controvérsia jurídica suscitada, emitirá parecer fundamentado para a motivação da decisão da
autoridade julgadora.

Encerrada a instrução, o autuado terá o direito de manifestar-se em alegações finais, no


prazo máximo de 10 dias. A autoridade julgadora publicará em sua sede administrativa a relação
dos processos que entrarão na pauta de julgamento, para fins de apresentação de alegações finais
pelos interessados. Apresentadas as alegações finais, a autoridade decidirá de plano.

Obs.: A decisão da autoridade julgadora não se vincula às sanções


aplicadas pelo agente autuante, ou ao valor da multa, podendo, de
ofício ou a requerimento do interessado, minorar, manter ou majorar o
seu valor, respeitados os limites estabelecidos na legislação ambiental
vigente. Nos casos de agravamento da penalidade, o autuado deverá
ser cientificado antes da respectiva decisão, por meio de aviso de
recebimento, para que se manifeste no prazo das alegações finais.
Oferecida ou não a defesa, a autoridade julgadora, no prazo de trinta
dias, julgará o auto de infração, decidindo sobre a aplicação das
penalidades.

A decisão deverá ser motivada, com a indicação dos fatos e fundamentos jurídicos em que
se baseia. A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações ou decisões, que, neste
caso, serão parte integrante do ato decisório.

Julgado o auto de infração, o autuado será notificado por via postal com aviso de
recebimento ou outro meio válido que assegure a certeza de sua ciência para pagar a multa no
prazo de 05 dias, a partir do recebimento da notificação, ou para apresentar recurso. O pagamento
realizado no referido prazo contará com o desconto de 30% do valor corrigido da penalidade.

2.4. DOS RECURSOS

Da decisão proferida pela autoridade julgadora, caberá recurso, no prazo de 20 dias. Tal
recurso será dirigido à autoridade administrativa julgadora que proferiu a decisão, a qual, se não a
reconsiderar no prazo de 05 dias, o encaminhará ao Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA.

-> QUESTÃO: Quem é a autoridade julgadora e autoridade superior?

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 185

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
I) Sendo o valor da multa até R$ 2 milhões:

● autoridade julgadora: servidor designado pelo superintendente do IBAMA;

● autoridade superior: superintendente do IBAMA (não cabe recurso).

II) Sendo o valor da multa acima R$ 2 milhões:

● autoridade julgadora: é o próprio superintendente do IBAMA;

● autoridade superior: Câmara Especial Recursal (criado no âmbito do CONAMA — não


cabe recurso).

Toda multa aplicada tem efeito suspensivo e as demais penalidades têm efeito devolutivo,
salvo se tiver prejuízo de difícil ou incerta reparação, que deverá ser motivado. Prazo de 05 dias
para o pagamento de multa.

O art. 74, §4º da L.9605/98 trata da conversão da multa. Ou seja, a multa simples pode ser
convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.

Os serviços são:

I) execução de obras ou atividades de recuperação de áreas degradadas, bem como de


preservação e melhoria do meio ambiente (no local onde ocorreu o dano ambiental);

II) implementação de obras ou atividades de recuperação de áreas degradadas (em outras


áreas degradadas);

III) custeio ou execução de programas ou projetos ambientais (ex.: Instituto Chico Mendes
de Conservação de Biodiversidade);

IV) manutenção ou espaços públicos que tenham por objetivo a preservação ambiental (Ex.:
Parque na cidade – Parque do Ibirapuera).

Na primeira hipótese (na conversão de multa destinada à reparação de danos ou


recuperação de áreas degradadas) tem que apresentar um pré-projeto para recuperação
juntamente com a solicitação e caso não seja feito isso, o autuado pode solicitar um prazo de 01
mês para apresentar o pré-projeto.

Supondo que o valor da multa é de R$ 1 milhão e o gasto de recuperação foi de R$ 500 mil.
O autuado deverá utilizar os R$ 500 mil restantes e investir nos demais serviços.

A autoridade ambiental aplicará o desconto de quarenta por cento sobre o valor da multa
quando os pedidos de conversão forem protocolados tempestivamente.

Havendo o deferimento da conversão será assinado um Termo de Compromisso, onde este


não encerra o processo administrativo, apenas o SUSPENDE. Isto ocorre porque muitas vezes a
recuperação demora 15/20 anos e a cada 2 anos, no máximo, o órgão ambiental tem que monitorar
se as obrigações assumidas estão sendo cumpridas. Caso seja descumprido o Termo de
Compromisso acarretará efeitos civis e administrativos:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 186

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
● esfera administrativa = imediata inscrição do débito em Dívida Ativa para cobrança da
multa resultante do auto de infração em seu valor integral;

● esfera civil = a imediata execução judicial das obrigações assumidas, tendo em vista seu
caráter de título executivo extrajudicial.

Por fim, a conversão da multa não poderá ser concedida novamente ao mesmo infrator
durante o período de 05 anos, contados da data da assinatura do termo de compromisso.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 187

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RECURSOS HÍDRICOS

1. BASE LEGAL

● Lei 9.433/97

● Lei 9.984/00 (ANA – Agência Nacional de Águas).

2. DOS FUNDAMENTOS (ART. 1º DA L.9433/97)

A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

I - a água é um bem de DOMÍNIO PÚBLICO (não há que se falar em águas particulares);

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico (incidência do Princípio


do Usuário-Pagador);

III - em situações de escassez (tem que ter ato do Poder Público), o uso prioritário dos
recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais (matar a sede dos animais);

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas (exs:
navegabilidade, lançamento de afluentes, atender ao consumo da população, etc.);

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de


Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Bacia
hidrográfica consiste na área de drenagem de um curso d’água ou lago. Será o Comitê de Bacia
Hidrográfica o responsável pela gestão dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica);

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada (são os órgãos colegiados —
Conselhos) e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/AP (2022) A Política Nacional de Recursos Hídricos busca prevenir e
evitar eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso
inadequado dos recursos naturais, prevendo a gestão descentralizada e
democrática dos recursos hídricos, por meio do estabelecimento do Conselho
Nacional e dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, que julgarão os
recursos das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica de acordo com sua
esfera de competência. Correta!

PGE/RO (2022) A água é um recurso natural limitado, dotado de expressivo


valor econômico, necessário para o desenvolvimento de toda a cadeia
produtiva e imprescindível para a manutenção da vida humana, animal e
vegetal. Dada a sua importância, foi constituída a Política Nacional de
Recursos Hídricos, que tem como instrumentos, entre outros, a outorga dos
direitos de uso de recursos hídricos. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 188

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TJ/GO (2021) Diante de uma crise hídrica, o setor energético propõe uma
gestão mais austera de seus reservatórios de água para garantir o
abastecimento de energia elétrica. Nesse cenário, deve ser assegurado o uso
prioritário dos recursos hídricos para o consumo humano e para a
dessedentação de animais. Correta!

MPE/SC (2019) A Lei Federal n. 9.433/1997, que institui a Política Nacional


de Recursos Hídricos, prevê o uso prioritário das águas para fins energéticos.
Errada!

MPE/SC (2019) Dentre os fundamentos em que a Política Nacional de


Recursos Hídricos se baseia, está definida a bacia hidrográfica como a
unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos. Correta!

3. DOS OBJETIVOS (ART. 2º DA L.9433/97)

São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões


de qualidade adequados aos respectivos usos (incidência do Princípio da Solidariedade e do
Desenvolvimento Sustentável);

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,


com vistas ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou


decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/TO (2022) O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos
tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos
da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Correta!

PGE/CE (2022) Na lei que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos,


a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao
desenvolvimento sustentável, é considerada como um objetivo. Correta!

4. DOS INSTRUMENTOS (ART. 5º DA L.9433/97)

São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

• Planos de Recursos Hídricos;

• Enquadramento dos corpos de água em classes;

• “Outorga” dos direitos de USO de recursos hídricos;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 189

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• Cobrança pelo uso de recursos hídricos;

• Compensação a Municípios;

• Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Vejamos:

4.1. PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS

Os Planos de Recursos Hídricos (são os planos diretores de longo prazo para a gestão de
recursos hídricos. Ocorre na esfera de âmbito nacional, estadual e das bacias hidrográficas);

4.2. ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES

Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água.

Água Doce: salinidade = ou


inferior a 0,5%

Água saloba: salinidade acima


Classificação das Águas
de 0,5% e inferior a 30%

Água salina: salinidade = ou


superior a 30%

4.3. OUTORGA DOS DIREITOS DE USO DE RH

Outorga dos direitos de USO de recursos hídricos.

O rio é de uso comum e a outorga gera o exercício do poder de polícia administrativo.

➔ QUESTÃO: Qual é a natureza jurídica de uma “outorga”?


Autorização administrativa

➔ QUESTÃO: Quando é que se SOLICITA a outorga?


Ela é exigida para usos que alterem a quantidade, qualidade e o regime das águas.

➔ QUESTÃO: Quais as HIPÓTESES que exigem a outorga?


As hipóteses encontram-se no art. 12 da L.9433/97, quais sejam:

1) Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para


consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
2) Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 190

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3) Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
4) Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
5) Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em
um corpo de água.

Em suma, a outorga nada mais é que o simples direito de uso, cujo prazo é de 35 anos,
renováveis.

Neste sentido, recentemente decidiu o STJ:

A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº


11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) preveem, de forma expressa,
categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea para
uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização
ambiental do Poder Público.
As normas locais devem respeitar essa regra geral fixada pela legislação
federal, sob pena de serem inconstitucionais.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1335535-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
26/09/2018 (Info 678).

Nos termos do art. 15 da L.9433/97, a outorga pode ser SUSPENSA TOTAL ou


PARCIALMENTE, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

1) Não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;


2) Ausência de uso por três anos consecutivos;
3) Necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as
decorrentes de condições climáticas adversas;
4) Necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
5) Necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não
se disponha de fontes alternativas;
6) Necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE (2022) No contexto da Política Nacional de Recursos Hídricos e da
política pública de abastecimento de água potável, o Governador do Estado
Gama pretende enviar à Assembleia Legislativa projeto de lei autorizando, de
forma genérica, em determinada região do interior do Estado onde há
baixíssimo índice de residências atendidas com fornecimento de água potável
encanada, a perfuração de poços artesianos, sem exigência de autorização
específica.
Assim, o Governador solicitou a João, Procurador do Estado, esclarecimentos
sobre a juridicidade de sua proposta, e recebeu informação de que, de acordo
com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a legislação federal
prevê que é proibida a captação de água subterrânea para uso de núcleos
residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do poder
público, de maneira que as normas locais devem respeitar essa regra geral,
sob pena de serem inconstitucionais. Correta!

TJ/RS (2022) A outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos tem por
objetivo o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e a garantia do
efetivo exercício dos direitos de acesso à água. No contexto normativo, qual

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 191

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dos usos abaixo NÃO está sujeito à outorga? O uso para a satisfação das
necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural.
Correta!

MPE/MS (2022) É vedada a captação de água subterrânea para uso de


núcleos residenciais sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do
Poder Público. Correta!

MPE/PR (2019) A derivação ou captação de parcela da água existente em


um corpo de água para consumo final independe de outorga pelo Poder
Público. Errada!

4.4. COBRANÇA PELO USO DE RH

A cobrança pelo uso de recursos hídricos possui natureza jurídica de PREÇO PÚBLICO.

➔ QUESTÃO: O que justifica tal cobrança?


Tal cobrança, conforme prevê o art. 19 da L.9433/97, visa:

1) Reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real
valor;
2) Incentivar a racionalização do uso da água;
3) Obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos hídricos.

Vale dizer que, os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão
aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão utilizados:

1) No financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de


Recursos Hídricos;

2) No pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e


entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(limitada a 7,5% do total arrecadado).

Por fim, os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos poderão ser
aplicados a fundos, em projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade,
a qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.

4.5. COMPENSAÇÃO A MUNICÍPIOS

O dispositivo que regulamentava tal inciso foi vetado pelo Presidente da República. Logo,
carece de regulamentação.

4.6. SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RH

O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é responsável pelo gerenciamento


de todas as informações de recursos hídricos de bacias hidrográficas – art. 27 da L.9433/97.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 192

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Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/AL (2019) A política nacional de recursos hídricos instituída pela Lei n°
9.433/1997, estabelece, como um de seus instrumentos, a possibilidade de
cobrança pelo uso de recursos hídricos sujeitos a outorga, o que não se
confunde com taxa ou tarifa cobrada pelo fornecimento domiciliar de água
tratada e coleta de esgoto. Correta!

5. ESTRUTURA DO SISTEMA GERENCIAL DE RECURSOS HÍDRICOS

a) Conselho Nacional de
Recursos Hídricos

Órgãos b) Conselhos de Recursos


colegiados Hídricos Estaduais

c) Comitês de Bacia Hidrográfica (rios federais e


estaduais) - art. 37, da Lei 9433

a) ANA (Agência Nacional de


Estrutura do Águas)
Sistema
Gerencial de Órgãos de
Recursos Administração b) Órgãos Estaduais
Hídricos Pública
c) Agências de Água (arts. 41 e 43 da
L.9433/97)

Entidades da
art. 47 da Lei 9433/97
Sociedade Civil

5.1. DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (ART. 35 DA L.9433/97)

Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

1) Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos


nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;

2) Arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos


Estaduais de Recursos Hídricos;

3) Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões


extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;

4) Deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 193

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5) Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política
Nacional de Recursos Hídricos;

6) Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de


Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;

7) Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer


critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;

8) Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar


as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

9) Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para
a cobrança por seu uso.

5.2. DOS COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA (ARTS. 37 E 38 DA L.9433/97)

Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:

I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;

II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário


desse tributário; ou

III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.

Obs.: A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de


domínio da União será efetivada por ato do Presidente da República.

Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:

1) Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação


das entidades intervenientes;

2) Arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos


hídricos;

3) Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;

4) Acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as


providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

5) Propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as


acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de
isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo
com os domínios destes;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 194

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6) Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os
valores a serem cobrados;

7) Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse
comum ou coletivo.

OBS.: Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá


recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de
Recursos Hídricos, de acordo com sua esfera de competência.

5.3. ANA (Agência Nacional de Águas)

Tem como missão implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos


recursos hídricos e regular o acesso à água, promovendo o seu uso sustentável em benefício da
atual e das futuras gerações. Além disso, a instituição possui outras definições estratégicas centrais.

5.4. AGÊNCIAS DE ÁGUA

Exercerão a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia


Hidrográfica.

A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos seguintes requisitos:

1) Prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;

2) Viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua
área de atuação.

É responsável pela cobrança de recursos hídricos (outorga).

5.5. ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL

São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis de recursos hídricos:

I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;


II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos
hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de
recursos hídricos;
IV - organizações não governamentais com objetivos de defesa de interesses
difusos e coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

Obs.: Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as


organizações civis de recursos hídricos devem ser legalmente
constituídas.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 195

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Como o tema foi cobrado em concurso?
Delegado PA (2021) João é dono de uma pequena propriedade rural no
interior do Pará. Buscando ampliar a sua cultura de coco-verde, João decide
por si próprio desviar parcialmente o curso de um córrego que margeia sua
propriedade, diminuindo a sua vazão, a fim de irrigar a plantação de
coqueiros. Considerando essa situação hipotética, a conduta de João
constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais.

Sobre os recursos hídricos, trazendo ainda alguns julgados recentes:

Compete aos municípios legislar sobre a obrigatoriedade de instalação de


hidrômetros individuais nos edifícios e condomínios, em razão do
preponderante interesse local envolvido.
STF. Plenário. RE 738481/SE, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16/8/2021
(Repercussão Geral – Tema 849) (Info 1025).

O STF declarou a inconstitucionalidade de Lei do Estado do Amapá, que


instituiu a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades
de Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos (TFRH).
A Corte entendeu que o valor cobrado é muito superior em relação ao custo
da atividade estatal relacionada (fiscalização das empresas que exploram
recursos hídricos). Logo, não há proporcionalidade entre o custo da atividade
estatal e o valor que será pago pelos particulares pela taxa. Isso viola as
características da taxa, que é um tributo orientado pelo princípio da
retributividade e que possui caráter contraprestacional e sinalagmático.
Além disso, a lei previa que apenas 30% dos valores arrecadados com a taxa
seriam utilizados em atividades relacionadas com a política de recursos
hídricos e os 70% restantes iriam para a conta única do Tesouro Estadual.
Isso demonstra o caráter arrecadatório desta taxa.
Por fim, ao onerar excessivamente as empresas que exploram recursos
hídricos, a referida taxa adquiriu feições verdadeiramente confiscatórias,
dificultando, ou mesmo inviabilizando, o desenvolvimento da atividade
econômica. Houve, portanto, violação ao que prevê o art. 150, IV, da CF/88,
que proíbe que os tributos sejam utilizados com efeito de confisco.
STF. Plenário. ADI 6211/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/12/2019
(Info 962).

É inconstitucional lei estadual que discipline a ARRECADAÇÃO das receitas


oriundas da exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica
e de recursos minerais, inclusive petróleo e gás natural.
Há uma inconstitucionalidade formal, considerando que cabe à União legislar
sobre o tema (art. 22, IV e XII, da CF/88).
Por outro lado, a lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e o controle
dessas receitas, tendo em vista que é de competência comum aos entes
registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios (art. 23, XI, da
CF/88).
STF. Plenário. ADI 4606/BA, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
28/2/2019 (Info 932).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 196

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CÓDIGO FLORESTAL E GESTÃO DE FLORESTAS
PÚBLICAS

1. EXPRESSÃO FLORA E FLORESTA

A expressão “Flora” tem natureza jurídica de “gênero” e é a totalidade de espécies, que


compreende a vegetação de uma determinada região.

“Floresta”, por seu turno, é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre a área de
terra mais ou menos extensa. Diferentemente da Flora, a Floresta é uma espécie marcada pelas
características da extensão e densidão.

Note que “Flora” é coletivo e engloba o termo “Floresta”.

2. DEFESA DA FLORA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal distingue o termo “Flora” do termo “Floresta”, conforme se depreende


do art. 23, VII; art. 24, VI; art. 225, §1º, VI todos da CF/88.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

No art. 24 da CF/88 verifica-se a competência CONCORRENTE da União, estados e Distrito


Federal para legislar sobre floresta. Já a competência para proteger a flora é atribuída a TODOS
OS ENTES FEDERADOS, incluindo os municípios.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios:
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista
o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Há, ainda, a competência COMUM dos entes federados de preservar a fauna e a flora.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 197

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Visando equilibrar o desenvolvimento do bem-estar em âmbito nacional, a Lei Complementar
nº 140/2011 fixa normas de cooperação entre os referidos entes.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.

A partir do dispositivo, tem-se que:

• Floresta Amazônica

• Mata Atlântica

• Serra do Mar

• Pantanal Mato-Grossense

• Zona Costeira

São considerados patrimônios nacionais e, portanto, têm sua utilização de acordo com a lei,
assegurando-se a preservação do meio ambiente.

3. DEFESA DA FLORA EM ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL

3.1. NORMAS GERAIS

Vide caput do artigo 1º-A do Código Florestal:

Art. 1o-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação,
áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a
exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da
origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios
florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de
seus objetivos.

3.2. PRINCÍPIOS

Vide §º único do artigo 1º-A do Código Florestal:

Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta


Lei atenderá aos seguintes princípios:
I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas
florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 198

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o
bem-estar das gerações presentes e futuras;
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa
na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de
vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e
internacional de alimentos e bioenergia;
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização
entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da
vegetação;
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas
para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções
ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o
uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das
florestas e demais formas de vegetação nativa;
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a
preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Procurador municipal (Vunesp/2021) A Lei nº 12.651/2012, que tem como
objetivo a proteção das florestas e da vegetação nativa, estabelece, em seu
artigo 1º , princípios a serem observados para o alcance de objetivos como
criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação
e a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de
atividades produtivas sustentáveis. Correta!

Todos os princípios giram em torno do desenvolvimento sustentável.

Vejamos cada um dos incisos do dispositivo:

a) Afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação de suas florestas e


demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e
da integridade do sistema climático, para o bem-estar das gerações presentes e futuras.

Fomenta-se o respeito à soberania e se afasta a ideia de patrimônio da humanidade.

b) Reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel


das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico,
na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados
nacionais e internacionais de alimentos e bioenergia.

Cuida-se da ideia da coexistência do desenvolvimento sustentável com a preservação


ambiental para garantir a melhoria da qualidade de vida.

c) Ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o


compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo da terra e a
preservação da água, do solo e da vegetação.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 199

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Apresenta-se a premissa do uso sustentável compatibilizando o uso produtivo da terra com
a preservação dos recursos naturais.

d) Responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em


colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da
vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais.

Prevê-se a restauração das funções sociais nas áreas urbanas e rurais, com especial
atenção ao meio ambiente.

Bem como, calca-se no Princípio da Participação ao defender a união do Poder Público e


da Sociedade Civil no compromisso de tutela da proteção ambiental.

e) Fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável


do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de vegetação
nativa.

Incentiva-se o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica e o descobrimento de


novas técnicas, correlatas ao crescimento da produção alimentar, sem comprometer a vegetação
nativa.

Trata-se de materialização da ideia de pesquisa científica e tecnológica trazida na Política


Nacional do Meio Ambiente.

Vide artigos 2º, inciso VI e 4º, incisos IV e V, ambos da Lei nº 6.938/1981:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios:
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas
para o uso racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de
dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública
sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico;

f) Criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a


recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas
sustentáveis.

Sustenta-se as denominadas “Cotas de Reserva Ambiental” que equivale à dinheiro.

O Código Florestal, em seu capítulo X, aponta o “programa de apoio e Incentivo à


preservação e recuperação do meio ambiente”, que se baseia no Princípio do Recebedor-Protetor
(aquele que protege e recebe) ganha pelo fato de tutelar o meio ambiente.

EM SUMA:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 200

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Responsabilidade do
Poder Público e da
sociedade civil na
Ação governamental da
preservação e
proteção e uso
restauração da
sustentável de florestas
vegetação nativa

Reafirmação da
importância da
agropecuária e da Fomento à pesquisa
vegetação nativa científica e tecnológica
PRINCÍPIOS
Compromisso do Brasil Incentivos econômicos
Norteador:
de proteção da para preservação da
Desenvolvimento
biodiversidade vegetação nativa e
Sustentável
atividades sustentáveis

4. USO IRREGULAR DA PROPRIEDADE

O Código Florestal, reafirmando algo já consagrado na jurisprudência do STJ, algumas


premissas, tanto em relação à obrigação real (propter rem), quanto ao uso irregular.

Tudo que representar afronta as disposições do Código Florestal são tidas como Uso
Irregular da Propriedade. Nesse sentido, há aplicação da responsabilidade civil ambiental
OBJETIVA, nos termos do artigo 14, §1º da Lei nº 6.938/1981, sem prejuízo das sanções civis,
administrativas e penais.

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,


estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.

Também se estabelece como premissa que toda a vegetação é considerada bem de


interesse comum a todos os habitantes do País, portanto, afasta-se a ideia de bem público ou
privado.

A natureza jurídica da Floresta/Flora é de “bem difuso”, isto é, não é público e nem privado.

A gestão pode se dar de forma pública ou privada, todavia, isso não afasta a sua
característica de bem difuso.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 201

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
4.1. NATUREZA REAL

Todas as obrigações são de natureza real, por isso, são obrigações propter rem
(acompanham a coisa).

Precedentes do STJ já confirmavam essa natureza antes do Novo Código Florestal.

5. CONCEITOS NO CÓDIGO FLORESTAL

5.1. AMAZÔNIA LEGAL

A Amazônica Legal abrange os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia,


Amapá e Mato Grosso, bem como as regiões situadas ao norte do paralelo 13ºS, dos Estados de
Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão.

A Amazônia Legal ocupa 49% do território brasileiro.

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima,
Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo
13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W,
do Estado do Maranhão;

5.2. ÁREA RURAL CONSOLIDADA

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica
preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou
atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime
de pousio;

A data de 22.07.08 é o marco do Código Florestal, pois há a publicação do Decreto nº


6.514/2008, que regulamentou a Lei dos Crimes Ambientais.

5.3. PEQUENA PROPRIEDADE OU POSSE RURAL

Tem como marca o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural.

Pequena Propriedade ou Posse Rural é aquela explorada mediante o trabalho pessoal do


agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma
agrária, e que atenda ao disposto no artigo 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006.

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e


empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural,
atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos
fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 202

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida
pelo Poder Executivo;
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Utilize
predominantemente mão-
de-obra da própria família
nas atividades
econômicas
Tenha percentual mínimo
da renda familiar
Não detenha área maior originada de atividades
do que 4 (quatro) econômicas do seu
módulos fiscais estabelecimento ou
empreendimento

PEQUENA
Explorada mediante o PROPRIEDADE Dirija seu
trabalho pessoal do OU POSSE estabelecimento ou
agricultor familiar e FAMILIAR empreendimento com a
empreendedor familiar sua família
rural

Por equiparação (serão tratados da mesma forma):

• Os imóveis rurais com até 04 (quatro) módulos fiscais que desenvolvam atividades
agrossilvipastoris;

• As terras indígenas demarcadas e

• As demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo
do seu território.

Art. 3º, Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento
dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste artigo às
propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais que
desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como às terras indígenas
demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais
que façam uso coletivo do seu território.

O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, de forma


que tais terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo sem demarcação e
titulação. Isso porque a titulação do território das comunidades tradicionais e dos povos indígenas
representa uma mera “formalidade”, de caráter declaratório (e não constitutivo). Em outras palavras,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 203

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
mesmo sem demarcação ou titulação, tais territórios já existem e devem receber tratamento
diferenciado independentemente dessas formalidades.

A exclusão dessas palavras foi, portanto, para beneficiar os povos indígenas e as


comunidades tradicionais.7

5.4. USO ALTERNATIVO DO SOLO

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações
sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias,
industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de
transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana;

5.5. MANEJO SUSTENTÁVEL

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção
de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e
considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas
espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora,
bem como a utilização de outros bens e serviços;

Manejo Sustentável é a gestão da vegetação natural para obtenção de benefícios


econômicos, sociais e ambientais, mas mantendo a sustentabilidade (permitindo a continuidade
daquele recurso).

5.6. UTILIDADE PÚBLICA, INTERESSE SOCIAL E ATIVIDADES DE BAIXO IMPACTO


AMBIENTAL

Outros conceitos frequentemente cobrados em provas de concurso, dizem respeito à


utilidade pública, interesse social e às atividades de baixo impacto ambiental, circunstância que,
presentes no caso concreto, permitem a intervenção em áreas sujeitas à preservação ambiental.
Vejamos.

VIII - utilidade pública: (Vide ADIN Nº 4.903)


a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços
públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos
parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento,
gestão de resíduos , energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais , bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração
de areia, argila, saibro e cascalho; (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº
4.903)
c) atividades e obras de defesa civil;

7
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012). Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/517f24c02e620d5a4dac1db388664a63>. Acesso em:
11/01/2023.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 204

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d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção
das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal;
IX - interesse social: (Vide ADIN Nº 4.903)
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão,
erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade
ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que
não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função
ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de 7
de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes
integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal;
X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões,
quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas
e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das
atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da
água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em
áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos
moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros
requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção
de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação
específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e
outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação
existente nem prejudique a função ambiental da área;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 205

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e
familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde
que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem
prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de
baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PR (2021) Está compreendida no conceito de interesse social a
implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de
efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes
integrantes e essenciais da atividade. Correta!

MPE/SC (2019) A implantação de trilhas para o desenvolvimento do


ecoturismo, a construção e manutenção de cercas na propriedade e a
construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro, são
algumas das hipóteses de atividades eventuais ou de baixo impacto
ambiental definidas nas alíneas do inciso X do art. 3º da Lei Federal n.
12.651/2012. Correta!

MPE/SC (2019) Como regra geral, a Lei Federal n. 12.651/2012 somente


admite a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de
Preservação Permanente nas hipóteses de utilidade pública e de baixo
impacto ambiental por esta previstas. Errada!

5.7. ÁREAS DE USO RESTRITO

Cita-se, oportunamente, duas situações de espécies de espaços territoriais ecologicamente


protegidos – relembrando que esse rol NÃO é considerado taxativo:

Vide artigo 10 do Código Florestal (Pantanais e planícies pantaneiras – exploração


ecologicamente sustentável):

Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração


ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações
técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de
vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do
órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações
mencionadas neste artigo.

Vide artigo 11 do Código Florestal (Áreas de inclinação entre 25 e 45 graus – manejo florestal
sustentável):

Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo
florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como
a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das
atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a
conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e
interesse social. (Vide ADIN Nº 4.903)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 206

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
5.7.1. Pantanais e Planícies Pantaneiras

Tais áreas somente poderão ser exploradas de forma ecologicamente sustentável.

Novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo estarão condicionadas
à autorização do órgão estadual do meio ambiente.

5.7.2. Áreas de inclinação entre 25 e 45 graus

É possível a exploração através do manejo florestal sustentável.

São permitidos os exercícios de atividades agrossilvipastoris, desde que se zele pela


manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observando as
boas práticas agronômicas.

ATENÇÃO!
É vedada a conservação de novas áreas.
Se a área tem inclinação superior a 45 graus, trata-se de Área de
Preservação Permanente.
Se a área tem inclinação inferior a 25 graus, será autorizado o uso
alternativo do solo.

6. USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL

O Uso Ecologicamente Sustentável é uma espécie territorialmente protegida. Os Apicuns e


Salgados podem ser utilizados de modo ecologicamente sustentável em atividades de carcinicultura
e salinas (produção de sal e criação de camarões em cativeiros).

Tais atividades possuem alto interesse econômico, por isso a importância de regulamentá-
las e protegê-las.

Relembrando que aparecem nas áreas próximas aos manguezais e NÃO se confundem com
estes (APP).

Manguezal é uma APP.

Apicum são as áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entre marés superiores,
inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade superior a 150 partes por
1000, desprovidas de vegetação vascular.

Salgado ou Marismas Tropicais Hipersalinos são as áreas situadas em regiões com


frequências de inundações intermediárias entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja
salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1000 (mil), onde pode ocorrer
a presença de vegetação herbácea específica.

Perceba, portanto, que a diferença entre os Apicuns e Salgados é a salinidade, dos Apicuns
é maior do que nos Salgados, bem como os Apicuns não têm vegetação vascular, são apenas
inundados.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 207

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6.1. CONDIÇÕES PARA EXPLORAÇÃO DE APICUNS E SALGADOS

No bioma amazônico, há um percentual máximo destinado à exploração de Apicuns e


Salgados - a área total ocupada em cada Estado não pode ser superior a 10%.

Já no restante do país, será de, no máximo, 35%, excluídas as ocupações consolidadas.

A exigência é salvaguardar a proteção absoluta da integridade dos manguezais arbustivos


e dos processos ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica
e condição de berçário de recursos pesqueiros.

Ainda como condição para a exploração, há o licenciamento da atividade e das instalações


pelo órgão ambiental estadual, com ciência ao IBAMA e, no caso de uso de terrenos da marinha ou
bens da União, mediante regularização prévia da titulação.

Também será necessário o recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes


e resíduos.

Para mais, será necessária a garantia da manutenção da qualidade da água e do solo,


respeitadas APP.

E, por fim, exige-se o respeito às atividades tradicionais e de sobrevivência das comunidades


locais.

6.2. REGRAS PARA O LICENCIAMENTO

O Licenciamento Ambiental das referidas áreas tem o prazo de cinco anos, sempre
renovável.

Será exigido o EPIA/RIMA em três situações:

• Novos empreendimentos com área superior a 50 hectares;

• Empreendimentos com área de até 50 hectares, se potencialmente causadores de


significativa degradação do meio ambiente;

• Empreendimentos localizados em região com adensamento de empreendimentos de


carcinicultura ou salinas cujo impacto afete áreas comuns.

6.3. REGULARIZAÇÃO DE OCUPAÇÃO E IMPLANTAÇÃO OCORRIDAS ANTES DE 22 DE


JULHO DE 2008

Serão regularizadas as atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas (criação


de camarões em viveiros e produção de sal), desde que o empreendedor, pessoa física ou jurídica,
comprove sua localização em Apicum ou Salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a
proteger a integridade dos manguezais arbustivos adjacentes.

7. PROTEÇÃO DAS ÁREAS VERDES MUNICIPAIS URBANAS

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 208

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Há o dever do Município de criar áreas verdes. Nesse sentido, são consagrados
instrumentos, pelo Código Florestal, para tanto.

• Direito de Preempção (preferência) para aquisição de remanescentes florestais


relevantes

• Estatuto da Cidade (artigo 25 a 27 do Código Florestal)

• Preferência do poder público municipal para aquisição de imóvel urbana objeto de


alienação onerosa entre particulares

• Transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas

• Exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos comerciais e na


implantação de infraestrutura

• Áreas verdes em recursos oriundos de compensação ambiental (compensar o impacto


ambiental diante de procedimento de licenciamento ambiental que traga impacto ao meio
ambiente).

8. SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO PARA USO ALTERNATIVO DO SOLO

Supressão de Vegetação para uso alternativo do solo é a substituição de vegetação nativa


e formações sucessoras (desmatamento) por outras coberturas do solo, como atividades
agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte,
assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações
sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias,
industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de
transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana;

Possui dois requisitos para que haja a possibilidade desse uso alternativo do solo:

• Cadastramento do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR)

• Prévia autorização do órgão estadual competente do SISNAMA.

ATENÇÃO! Somente será aplicável a áreas não protegidas (Reserva


Legal, Áreas de Preservação Permanente, Áreas de Uso Restrito,
Áreas Verdes Urbanas, Apicuns, Salgados).

Em contrapartida à supressão para uso alternativo do solo, será exigida reposição florestal,
nos termos do art. 33, §1º, do Código Florestal:

§ 3o A isenção da obrigatoriedade da reposição florestal não desobriga o


interessado da comprovação perante a autoridade competente da origem do
recurso florestal utilizado.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 209

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Há um regramento para essa reposição florestal. Será priorizado:

• Utilização de espécies nativas (o que há de mais precioso no Código Florestal);

• Essa efetivação deve se dar no estado de origem da matéria-prima utilizada.

Vide artigo 26, §3º do Código Florestal:

§ 3o No caso de reposição florestal, deverão ser priorizados projetos que


contemplem a utilização de espécies nativas do mesmo bioma onde ocorreu
a supressão.

Vide artigo 33, §4º, do Código Florestal:

§ 4o A reposição florestal será efetivada no Estado de origem da matéria-


prima utilizada, mediante o plantio de espécies preferencialmente nativas,
conforme determinações do órgão competente do Sisnama.

A supressão de vegetação de espécie da flora ou da fauna ameaçada de extinção dependerá


da adoção de medidas compensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação da espécie.

Há, ainda, uma lista que aponta quais são as espécies ameaçadas. A sua elaboração, em
âmbito nacional, é competência da União, através do Ministério do Meio Ambiente.

Art. 7o São ações administrativas da União:


XVI - elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de
extinção e de espécies sobre-explotadas no território nacional, mediante
laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que
conservem essas espécies in situ;

Em relação aos Estados e Distrito Federal, a elaboração desta lista ficará relativa ao seu
território.

Art. 8o São ações administrativas dos Estados:


VII - organizar e manter, com a colaboração dos órgãos municipais
competentes, o Sistema Estadual de Informações sobre Meio Ambiente;

Art. 10. São ações administrativas do Distrito Federal as previstas nos arts.
8o e 9o.

Lembrando que NÃO é permitida a conversão de vegetação nativa para uso alternativo do
solo no imóvel rural que possuir área abandonada (art. 28).

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/GO (2019) Não é permitida a conversão de vegetação nativa para uso
alternativo do solo no imóvel rural que possuir área abandonada. Correta!

9. EXPLORAÇÃO FLORESTAL

Na exploração florestal, há supressão da vegetação com objetivo específico de exploração


da flora. Para que ocorra, será necessário licenciamento efetuado pelo órgão competente do
SISNAMA.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 210

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Ainda, deverá haver aprovação prévia do Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS.

O referido plano deve contemplar técnicas de condução, exploração, reposição florestal e


manejo, que sejam compatíveis com os variados ecossistemas que existam de cobertura na área.

9.1. PLANO DE MANEJO SUSTENTÁVEL

O Plano de Manejo Sustentável é o documento técnico básico com diretrizes e


procedimentos para administração da floresta, visando à obtenção de benefícios econômicos,
sociais e ambientais.

Na pequena propriedade de posse rural ou familiar, os procedimentos serão simplificados,


inclusive em relação ao Plano de Manejo Florestal Sustentável.

Vide artigo 31, §6º, do Código Florestal:

§ 6o Para fins de manejo florestal na pequena propriedade ou posse rural


familiar, os órgãos do Sisnama deverão estabelecer procedimentos
simplificados de elaboração, análise e aprovação dos referidos PMFS.

9.2. HIPÓTESES DE ISENÇÃO DO PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL

• A supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do solo;

Art. 32. São isentos de PMFS:


I - a supressão de florestas e formações sucessoras para uso alternativo do
solo;

• O manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das Áreas de


Preservação Permanente e de Reserva Legal;

Art. 32. São isentos de PMFS:


II - o manejo e a exploração de florestas plantadas localizadas fora das Áreas
de Preservação Permanente e de Reserva Legal;

• A exploração florestal não comercial realizada nas pequenas propriedades ou posses


rurais familiares ou por populações tradicionais;

Art. 32. São isentos de PMFS:


III - a exploração florestal não comercial realizada nas propriedades rurais a
que se refere o inciso V do art. 3o ou por populações tradicionais.

• Coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes;

Art. 31. A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de


domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts. 21, 23
e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama,
mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS
que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 211

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura arbórea
forme.
Art. 21. É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como
frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:
I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos,
quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da
espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas,
cipós, bulbos, bambus e raízes.

• Em área de Reserva Legal, Manejo Sustentável para Exploração Florestal eventual sem
propósito comercial, para consumo no próprio imóvel;

Art. 31. A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de


domínio público ou privado, ressalvados os casos previstos nos arts. 21, 23
e 24, dependerá de licenciamento pelo órgão competente do Sisnama,
mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS
que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e
manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura arbórea
forme.
Art. 23. O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem
propósito comercial, para consumo no próprio imóvel, independe de
autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados
previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume
explorado, limitada a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.

9.3. EMPREENDIMENTOS QUE UTILIZAM MATÉRIA-PRIMA FLORESTAL

Os empreendimentos que utilizam matéria-prima florestal devem extrair recursos de:

• Florestas plantadas;

• PMFS de floresta nativa aprovado pelo órgão competente do SISNAMA;

• Supressão de vegetação nativa autorizada pelo órgão competente do SISNAMA;

• Outras formas de biomassa florestal definidas pelo órgão competente do SISNAMA.

10. REPOSIÇÃO FLORESTAL

Reposição Florestal é a compensação do volume de matéria-prima extraído da vegetação


natural pelo volume de matéria-prima resultante de plantio florestal para geração de estoque ou
recuperação de cobertura florestal.

Objetiva compensar a poluição causada pela extração da vegetação nativa.

Art. 33, 1o São obrigadas à reposição florestal as pessoas físicas ou jurídicas


que utilizam matéria-prima florestal oriunda de supressão de vegetação
nativa ou que detenham autorização para supressão de vegetação nativa.
É isento aquele que utilize:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 212

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
• Costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes de atividade industrial.

• Também é isento aquele que tem matéria-prima florestal:

• Oriunda de PMFS;

• Oriunda de floresta plantada;

• Matéria não madeireira.

11. EXPLORAÇÃO FLORESTAL

As empresas industriais que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestal


(parâmetros estabelecidos pelo Chefe do Poder Executivo) são obrigadas a elaborar e implementar
o Plano de Suprimento Sustentável –PSS, a ser submetido à aprovação do órgão competente do
SISNAMA.

O PPS assegurará produção equivalente ao consumo de matéria-prima florestal pela


atividade industrial.

12. DO CONTROLE DO DESMATAMENTO

A supressão de vegetação em desacordo com a lei gera o desmatamento ilegal.


Consequentemente, haverá o embargo da atividade.

Tanto o desmatamento quanto o desacordo possibilitam o embargo da atividade.

Art. 51. O órgão ambiental competente, ao tomar conhecimento do


desmatamento em desacordo com o disposto nesta Lei, deverá embargar a
obra ou atividade que deu causa ao uso alternativo do solo, como medida
administrativa voltada a impedir a continuidade do dano ambiental, propiciar
a regeneração do meio ambiente e dar viabilidade à recuperação da área
degradada.
§ 1o O embargo restringe-se aos locais onde efetivamente ocorreu o
desmatamento ilegal, não alcançando as atividades de subsistência ou as
demais atividades realizadas no imóvel não relacionadas com a infração.
§ 2o O órgão ambiental responsável deverá disponibilizar publicamente as
informações sobre o imóvel embargado, inclusive por meio da rede mundial
de computadores, resguardados os dados protegidos por legislação
específica, caracterizando o exato local da área embargada e informando em
que estágio se encontra o respectivo procedimento administrativo.
§ 3o A pedido do interessado, o órgão ambiental responsável emitirá certidão
em que conste a atividade, a obra e a parte da área do imóvel que são objetos
do embargo, conforme o caso.

13. CONTROLE DA ORIGEM DOS PRODUTOS FLORESTAIS

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 213

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O controle é realizado através de um sistema nacional integrado, com dados disponibilizados
para acesso público. Referir-se-á, principalmente, à madeira, carvão e outros produtos florestais.

Haverá a estipulação LIVRE da extração de lenha e demais produtos de florestas plantadas


nas áreas não consideradas APP e Reserva Legal.

Será PERMITIDA a exploração de espécies nativas plantadas em área de uso alternativo,


desde que haja prévio cadastro e prévia declaração de exploração.

13.1. DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL

O Documento de Origem Florestal – DOF é extremamente importante.

Trata-se de licença obrigatória para o controle do transporte de produto e subproduto


florestal de origem nativa.

Conterá a especificação do material, volumetria e dados sobre sua origem e destino.

➔ QUESTÃO: É possível o comércio interno de plantas vivas ou outros produtos


oriundos da flora nativa?

Sim, é possível. Neste caso, é necessária licença do órgão estadual e do registro no


Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos
Ambientais.

13.2. EXPORTAÇÃO DE PLANTAS VIVAS E OUTROS PRODUTOS ORIUNDOS DA FLORA


NATIVA

A exportação de plantas vivas e de outros produtos oriundos da flora nativa, por sua vez,
necessita da licença emitida pelo órgão federal e do registro no Cadastro Técnico Federal de
Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.

O controle é rígido em relação ao comércio e transporte de produtos da flora.

14. PROIBIÇÃO DO USO DO FOGO E CONTROLE DE INCÊNDIOS

O Código Florestal, em regra, proíbe o uso do fogo na vegetação (artigo 38, caput).

Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes


situações:
I - em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo
em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão
estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de
forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de monitoramento e
controle;
II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em
conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia
aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo
conservacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas
estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 214

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa
devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por instituição
de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental
competente do Sisnama.

Excepcionalmente, o fogo poderá ser utilizado:

- Em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas


agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental competente do
Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de
monitoramento e controle;

- Emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o


respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de
Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características
ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo;

- Nas atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente


aprovado pelos órgãos competentes e realizada por instituição de pesquisa reconhecida, mediante
prévia aprovação do órgão ambiental competente do Sisnama.

Observe que sempre deve haver prévia autorização.

ATENÇÃO!

Art. 38, § 2o Excetuam-se da proibição constante no caput as práticas de


prevenção e combate aos incêndios e as de agricultura de subsistência
exercidas pelas populações tradicionais e indígenas.

Queima da palha de cana-de-açúcar

DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CANA-DE-AÇÚCAR.


QUEIMADAS.ART. 21, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 4771/65. DANO AO
MEIO AMBIENTE.PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. QUEIMA DA PALHA DE
CANA. EXISTÊNCIA DE REGRAEXPRESSA PROIBITIVA. EXCEÇÃO
EXISTENTE SOMENTE PARA PRESERVARPECULIARIDADES LOCAIS
OU REGIONAIS RELACIONADAS À IDENTIDADECULTURAL.
INAPLICABILIDADE ÀS ATIVIDADES AGRÍCOLAS INDUSTRIAIS. 1. O
princípio da precaução, consagrado formalmente pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Rio 92
(ratificada pelo Brasil), a ausência de certezas científicas não pode ser
argumento utilizado para postergar a adoção de medidas eficazes para a
proteção ambiental. Na dúvida, prevalece a defesa do meio ambiente. 2. A
situação de tensão entre princípios deve ser resolvida pela ponderação,
fundamentada e racional, entre os valores conflitantes. Em face dos princípios
democráticos e da Separação dos Poderes, é o Poder Legislativo quem
possui a primazia no processo de ponderação, de modo que o Judiciário deve
intervir apenas no caso de ausência ou desproporcionalidade da opção
adotada pelo legislador. 3. O legislador brasileiro, atento a essa questão,
disciplinou o uso do fogo no processo produtivo agrícola, quando prescreveu
no art. 27, parágrafo único da Lei n. 4.771/65 que o Poder Público poderia
autoriza-lo em práticas agropastoris ou florestais desde que em razão de
peculiaridades locais ou regionais. 4. Buscou-se, com isso, compatibilizar
dois valores protegidos na Constituição Federal de 1988, quais sejam, o meio

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 215

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
ambiente e acultura ou o modo de fazer, este quando necessário à
sobrevivência dos pequenos produtores que retiram seu sustento da
atividade agrícola e que não dispõem de outros métodos para o exercício
desta, que não o uso do fogo. 5. A interpretação do art. 27, parágrafo único
do Código Florestal não pode conduzir ao entendimento de que estão por ele
abrangidas as atividades agroindustriais ou agrícolas organizadas, ou seja,
exercidas empresarialmente, pois dispõe de condições financeiras para
implantar outros métodos menos ofensivos ao meio ambiente. Precedente:
(AgRg nos EDcl no REsp 1094873/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda
Turma, julgado em 04/08/2009, DJe 17/08/2009). 6. Ademais, ainda que se
entenda que é possível à administração pública autorizar a queima da palha
da cana de açúcar em atividades agrícolas industriais, a permissão deve ser
específica, precedida de estudo de impacto ambiental e licenciamento, com
a implementação de medidas que viabilizem amenizar os danos e a recuperar
o ambiente, Tudo isso em respeito ao art. 10da Lei n. 6.938/81.
Precedente:(EREsp 418.565/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira
Seção, julgado em 29/09/2010, DJe 13/10/2010).Recurso especial provido.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SC (2022) Com o objetivo de expandir suas atividades de agricultura
familiar de plantação de maçã, Joaquim, proprietário de imóvel em área rural,
pretende fazer uso de fogo na vegetação em determinada parte de sua
propriedade, para fins de limpeza e preparo do solo antes do plantio, entre
uma safra e outra. Apesar de ter sido alertado sobre os impactos ambientais
negativos da queimada pelo seu filho Gabriel, que estudou na escola
questões sobre mudanças climáticas e importância da preservação da flora,
Joaquim manteve seu intuito de se valer dessa técnica, mas se comprometeu
com seu filho a se capacitar para, nos próximos anos, utilizar alternativas
sustentáveis ao uso do fogo na agricultura. Correta!
Tendo em vista que a região onde está localizado o imóvel de Joaquim possui
peculiaridades que justificam o emprego de fogo em práticas agropastoris
naquela época do ano, diante do que dispõe o Código Florestal, Joaquim
poderá excepcionalmente fazer uso do fogo, desde que mediante prévia
aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para o
imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de
monitoramento e controle.

15. PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO MEIO


AMBIENTE

Cabe ao Poder Executivo Federal estabelecer o Programa de Apoio e Incentivo à


conservação do meio ambiente, por meio de adoção de tecnologias e boas práticas, bem como,
conciliação da produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como
forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Nesse caso, se está diante do Princípio do Protetor-Recebedor.

Vejamos três instrumentos principais para a concretização do referido princípio:

- Pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou não, às


atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços ambientais;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 216

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
- Compensação pelas medidas de conservação ambiental necessárias para o cumprimento
dos objetivos desta Lei;

- Incentivos para comercialização, inovação e aceleração das ações de recuperação,


conservação e uso sustentável das florestas e demais formas de vegetação nativa.

16. AGRICULTURA FAMILIAR

Aplicam-se procedimentos ambientais simplificados em relação à Agricultura Familiar.

Vejamos os aspectos procedimentais:

• Supressão de vegetação em APP e de Reserva Legal para atividades eventuais ou de


baixo impacto ambiental – será necessária declaração ao órgão ambiental competente
e que o imóvel esteja devidamente inscrito no CAR;

• O Registro de Reserva Legal (RL) é simplificado e gratuito.

• Reserva Legal: a vegetação poderá ser formada pelos plantios de árvores frutíferas,
ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema
intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais.

• Inscrição CAR: necessita, tão somente, da identificação proprietário/possuidor


comprovação da propriedade/posse e de um croqui indicando o perímetro do imóvel – o
que há de APP e o que há de RL.

• Manejo florestal de reserva legal com propósito comercial: autorização será simplificada.

• Desobrigadas da reposição florestal se a matéria-prima florestal for utilizada para


consumo próprio.

17. GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS

A Lei nº 11.284/2006 cuida da Gestão de Florestas Públicas.

Além de estabelecer a gestão de florestas públicas para a produção sustentável, essa norma
institui o Serviço Florestal Brasileiro – SFB, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente e cria o
Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal – FNDF.

O conceito de florestas públicas está definido no artigo 3º, inciso I, da Lei nº 11.284/2006.

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


I - florestas públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos
diversos biomas brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos Estados,
dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da administração
indireta;

A Gestão poderá se dar de três formas:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 217

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• Gestão Direta (criação de Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais);

• Destinação de Florestas Públicas às comunidades locais;

• Concessão Florestal.

A Gestão Direta está disciplinada no artigo 17 da Lei nº 9.985/2000

Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
§ 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo
com o que dispõe a lei.
§ 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações
tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o
disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
§ 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas
para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.
§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização
do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e
restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
§ 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo
órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das
populações tradicionais residentes.
§ 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será
denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.

17.1. GESTÃO DIRETA

A Gestão Direta consiste no exercício direto pelo Poder Público na gestão de florestas
nacionais, estaduais e municipais criadas nos termos do artigo 17 da Lei nº 9.985/2000, facultado,
para execução de atividades subsidiárias, firmar convênios, termos de parceria, contratos ou
instrumentos similares com terceiros.

Tem como objetivo transformar uma floresta pública em uma unidade de conservação de
floresta nacional (estadual ou municipal).

A duração dos contratos e instrumentos é de, no máximo, 120 meses.

17.2. DESTINAÇÃO ÀS COMUNIDADES LOCAIS

Pressupõe a identificação das florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades


locais.

O Poder Público deverá identificar as florestas públicas ocupadas por comunidades locais
para sua destinação de forma não onerosa.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 218

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Comunidades locais: são as populações tradicionais e outros grupos humanos, organizados
por gerações sucessivas, com estilo de vida relevante à conservação e à utilização sustentável da
diversidade biológica.

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


X - comunidades locais: populações tradicionais e outros grupos humanos,
organizados por gerações sucessivas, com estilo de vida relevante à
conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica;

A destinação ocorrerá para:

• Criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável;

• Concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de desenvolvimento


sustentável, agroextrativistas ou outros similares;

• Outras formas previstas em lei.

Não é onerosa para o beneficiário e é efetuada em ato administrativo próprio.

Inclusive, as comunidades locais poderão participar das licitações por meio de associações
comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas em lei.

17.3. CONCESSÃO FLORESTAL

É o contrato de concessão oneroso, celebrado por entidades políticas com pessoas jurídicas,
consorciadas ou não, precedido de licitação, na modalidade concorrência, visando a transferir ao
concessionário o direito de explorar de maneira sustentável os recursos florestais por prazo
determinado.

Recursos florestais são elementos ou características de determinada floresta, potencial ou


efetivamente geradores de produtos ou serviços florestais.

Art. 3o Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se:


II - recursos florestais: elementos ou características de determinada floresta,
potencial ou efetivamente geradores de produtos ou serviços florestais;

17.3.1. Objeto da Concessão: exploração de produtos e serviços florestais

Produtos florestais e serviços florestais têm conceitos distintos.

Produtos florestais são produtos madeireiros e não madeireiros gerados pelo manejo fiscal
sustentável.

Já os serviços florestais têm característica de turismo e outras ações ou benefícios


decorrentes do manejo e conservação da floresta, não caracterizados como produtos florestais.

São objetos dessa concessão tanto florestas públicas, como as florestas que se
transformaram em Unidades de Conservação.

Em resumo:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 219

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
- Floresta pública (natural ou plantada de propriedade da Administração Pública Direta ou
Indireta);

- Unidade de Conservação de Floresta nacional, distrital, estadual ou municipal.

Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para exploração sustentável de florestas nativas.

ATENÇÃO! Deve constar do Plano Anual de Concessão Florestal


(PAOF) a descrição de todas as florestas públicas a serem submetidas
a processos de concessão no ano em que vigorar.

17.3.2. Exceções

Não podem ser objetos da concessão:

• Unidades de conservação de proteção integral;

• Unidades de uso sustentável: reservas de desenvolvimento sustentável, reservas


extrativistas, reservas da fauna e áreas de relevante interesse ecológico.

Estão excluídas das unidades de uso sustentável a APA e RPPM. As demais, caso o plano
de manejo autorize, podem ser objeto da concessão florestal.

Observação: se o plano de manejo expressamente admitir, poderá ser objeto de concessão


florestal.

17.3.3. Limites o Contrato

Existem limites em relação ao contrato de Concessão Florestal.

Não se transfere:

• A titularidade imobiliária ou preferência em sua aquisição

• O acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa e desenvolvimento,


bioprospecção ou constituição de coleções;

• O uso de recursos hídricos acima do especificado como insignificante.

• A exploração dos recursos minerais; a exploração de recursos pesqueiros ou da fauna


silvestre, bem como a comercialização de créditos decorrentes da emissão evitada de
carbono em florestas naturais.

Apenas o que é possível ao vencedor da Concessão é a exploração de produtos e serviços


florestais.

Regras específicas para a licitação

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 220

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Para que ocorra habilitação é exigida a inexistência de débitos inscritos em Dívida Ativa em
órgão do SISNAMA e que não haja condenação transitada em crimes ambientais, tributários ou
previdenciários.

Apenas as empresas ou pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras com sede e
administração no Brasil podem participar.

17.3.4. Regras do Licenciamento Ambiental

A licença prévia será requerida pelo órgão gestor, mediante apresentação de relatório
ambiental.

Será exigido (se for o caso) o EIA para a concessão da Licença Prévia.

Os custos serão ressarcidos pelo ganhador da Licitação.

A LP autoriza a elaboração de PMFS.

O Licenciamento é composto pelo LP e LO.

Por fim, a aprovação do plano de manejo da UC substitui a LP, no entanto, sem prejuízo de
EIA/RIMA.

Há, ainda, no Licenciamento Ambiental, uma reserva tida como absoluta: 5% da floresta não
deve ser tocada.

17.3.5. Extinção da concessão florestal

• Esgotamento do prazo contratual;

• Rescisão contratual;

• Anulação;

• Falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade do titular, no caso


de empresa individual;

• Desistência;

• Devolução, por opção do concessionário, do objeto da concessão.

18. SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO

Um dos objetos da norma é a criação do Serviço Florestal Brasileiro – SFB.

Vide artigo 54 da Lei nº 11.284/2000:

Art. 54. Fica criado, na estrutura básica do Ministério do Meio Ambiente, o


Serviço Florestal Brasileiro - SFB.

O SFB atua exclusivamente na gestão das florestas públicas como órgão gestor.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 221

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Após tramitar por mais de 20 anos no Congresso Nacional, finalmente foi aprovado o Projeto
de Lei 354/1999, resultando na Lei 12.305/2010, que implementou a política nacional de Resíduos
Sólidos, que integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional de
Educação Ambiental e com a Política Federal de Saneamento Básico.8

1. OBJETO E CAMPO DE APLICAÇÃO

Considera-se resíduo sólido o material, substância, objeto ou bem descartado resultado de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se
está obrigado a proceder, nos estados sólidos e semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em fase da melhor tecnologia disponível.

§1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de


direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela
geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à
gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
§ 2o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por
legislação específica.

No que diz respeito aos rejeitos radioativos convém observar que tais foram excluídos por
já receberem tratamento próprio, isto é, encontre-se regulamentado expressamente na Lei n.
10.308/2001.

Dentre as inovações trazidas, destacam-se:

→ A proibição dos lixões (observada a regra de transição);

→ A atribuição de responsabilidade às indústrias pela destinação dos resíduos sólidos que


produzem, verdadeiro corolário do Princípio poluidor-pagador;

→ A inclusão social das organizações de catadores;

→ A logística reversa, que determina que fabricantes, importadores, distribuidores e


vendedores realizem o recolhimento de embalagens usadas;

→ A responsabilidade compartilhada, que envolve a sociedade, as empresas, os governos


municipais, distrital, estaduais e federal na gestão dos resíduos sólidos;

→ A previsão de planos de resíduos sólidos;

→ A responsabilidade das pessoas de acondicionar de forma adequado o lixo para o seu


recolhimento, devendo fazer a separação onde houve coleta seletiva.

8
Trecho introdutório retirado do Revisaço de Direito Ambiental da Editora Jusdpodivm, 2ª edição, de autoria do professor Frederico
Amado (2018).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 222

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
2. CONCEITOS RELEVANTES

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e
fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a
implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;
II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição,
regular ou irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos;
III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela
disposição não sejam identificáveis ou individualizáveis;
IV - ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento
do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo,
o consumo e a disposição final;
V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados
conforme sua constituição ou composição;
VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam
à sociedade informações e participação nos processos de formulação,
implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos
sólidos;
VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que
inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o
aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos;
VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de
rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a
evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os
impactos ambientais adversos;
IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito
público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades,
nelas incluído o consumo;
X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta
ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal
de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;
XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a
busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as
dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle
social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável;
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados
a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial,
para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada;
XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de
bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e
permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade
ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 223

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que
envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou
biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos,
observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos
competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as
possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos
disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade
que não a disposição final ambientalmente adequada;
XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado
resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados
sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos:
conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como
para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental
decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei;
XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem
sua transformação biológica, física ou físico-química, observadas as
condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama
e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos:
conjunto de atividades previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/RO (2022) Conforme a Lei n.º 12.305/2010, o gerenciamento dos
resíduos sólidos constitui-se de um conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal
de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, exigidos na forma dessa lei. Correta!

MPE/MS (2022) Sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº


12.305/10), é correto afirmar que são obrigados a estruturar e implementar
sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e
de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores
e comerciantes de determinados produtos descritos em lei. Correta!

DPE/SC (2021) Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes


de pneus e lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz
mista, dentre outros, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de
logística reversa. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 224

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MPE/PR (2019) Consideram-se geradores de resíduos sólidos as pessoas
físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos
por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo. Correta!

3. PRINCÍPIOS

Observe que alguns dos princípios mais citados em matéria ambiental é um princípio
norteador da política nacional de resíduos sólidos, logo a leitura do artigo a seguir é indispensável:

Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


I - a prevenção e a precaução;
II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as
variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde
pública;
IV - o desenvolvimento sustentável;
V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a
preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as
necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto
ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo,
equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor
empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um
bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de
cidadania;
IX - o respeito às diversidades locais e regionais;
X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;
XI - a razoabilidade e a proporcionalidade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/TO (2022) Assinale a opção que apresenta o princípio que tem o
objetivo de premiar aquelas pessoas que prestam serviços ambientais para a
coletividade. O princípio do protetor-recebedor. Correta!

4. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Além dos princípios, a lei elenca também uma série de objetivos a serem perquiridos com a
implementação da política em questão (vide art. 7º da Lei).

O objetivo geral da Política Nacional dos Resíduos Sólidos é a proteção da saúde pública
e da qualidade ambiental. Não obstante, há ainda objetivos específicos, vejamos.

a) não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem
como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

Este objetivo, inclusive, estabelece uma ordem de preferência no que diz respeito à gestão
dos resíduos sólidos:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 225

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Não geração Redução Reutilização

Disposição final
ambientalmente Tratamento Reciclagem
adequada

Como se observa, trata-se de uma lista de ordem crescente, que vai do ZERO impacto
ambiental a uma MAIOR degradação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/AP (2021) Segundo a Lei n.º 12.305/2010, a gestão e o gerenciamento
adequados de resíduos sólidos devem observar a seguinte ordem de
prioridade não geração; redução; reutilização; reciclagem; tratamento; e
disposição final ambientalmente adequada.

b) estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;

c) adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de


minimizar impactos ambientais;

d) redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

e) incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e


insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

Um dos pontos fortes da Lei é o fomento à atividade dos catadores de materiais recicláveis,
personagens fundamentais na correta destinação dos resíduos sólidos.

f) gestão integrada de resíduos sólidos;

Assim como em outros diplomas, há aqui uma distribuição das competências e atribuições
dos entes federativos, de modo que todos atuem na medida de suas possibilidades.

g) articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor


empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de
resíduos sólidos;

h) capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

i) regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços


públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos
gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços
prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira,
observada a Lei nº 11.445, de 2007;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 226

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j) prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para produtos reciclados e
recicláveis e bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões
de consumo social e ambientalmente sustentáveis;

k) integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam
a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

l) estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;

m) incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados


para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos,
incluídos a recuperação e o aproveitamento energético;

n) estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável.

O consumo deve ser cada vez mais consciente e direcionado ao desenvolvimento


sustentável.

5. INSTRUMENTOS

Os principais instrumentos para a consecução da PNRS são os planos de resíduos sólidos,


que deverão ser publicizados e sofrer controle social em sua formulação, implementação e
operacionalização.

Será elaborado pela União, sob a coordenação do Ministério


do Meio Ambiente, mediante processo de mobilização e
Plano Nacional de Resíduos
participação social, incluindo a realização de audiências e
Sólidos
consultas públicas, com vigência por prazo indeterminado e
horizonte de 20 anos, a ser atualizado a cada 4 anos.

Extensível ao DF. É condição obrigatória para que os


Estados recebam recursos da União ou por ela controlados.
Planos Estaduais de Resíduos
Vigência por prazo indeterminado, abrangendo todo o
Sólidos
território dos Estados, com horizonte de atuação de 20 anos
e revisões a cada anos.

Planos Microrregionais/ Este plano é de instituição facultativa, mas caso instituído


específicos direcionados às obrigada a participação de todos os Municípios envolvidos
regiões metropolitanas ou às (este plano NÃO exclui ou substitui as prerrogativas a cargo
aglomerações urbanas dos Municípios).

Planos Municipais de gestão É condição OBRIGATÓRIA para que os Municípios recebam


integrada recursos da União ou por ela controlados.

Os Municípios com menos de 20mil habitantes podem


Planos Simplificados elaborar um plano simplificado, exceto se integrantes de
áreas de especial interesse turístico, inseridos na área de
influência de empreendimentos ou atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito regional ou

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 227

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
nacional ou, ainda, cujo território abranja, total ou
parcialmente, Unidades de Conservação.

Planos intermunicipais de Outra estrutura de implantação FACULTATIVA, em regime


de consórcio público, que também terá prioridade no
resíduos sólidos
recebimento de recursos da União.

OBS: terão preferência na percepção de recursos federais os


municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais
para a gestão dos resíduos sólidos bem os implantarem a coleta
seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
formadas por pessoas físicas de baixa renda, como será visto em
breve.

Como o tema foi cobrado em concurso?


AGE/MG (2022) Em matéria de Política Nacional de Resíduos Sólidos, de
acordo com a Lei nº 12.305/2010, a elaboração de plano estadual de resíduos
sólidos, nos termos previstos por tal Lei, é condição para os Estados terem
acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a
empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, ou
para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades
federais de crédito ou fomento para tal finalidade. Correta!

DPE/SC (2021) Para Municípios com menos de 50.000 habitantes, o plano


municipal de gestão integrada de resíduos sólidos terá conteúdo simplificado,
na forma do regulamento. Errada!

Foram previstos, ainda, os seguintes instrumentos para alcance dos objetivos estudados:

a) os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos;

b) a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas


à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

➔ QUESTÃO: a coletiva seletiva é obrigatória?

Depende. Caso conste do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, sim.
Neste caso os consumidores são obrigados a acondicionar adequadamente e de forma diferenciada
os resíduos sólidos gerados e disponibilizar adequadamente resíduos sólidos reutilizáveis e
recicláveis para coleta ou devolução.

➔ QUESTÃO: o que é logística reserva?

É o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de


ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos
ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada.

➔ QUESTÃO: quais produtos industriais sujeitam-se à logística reserva?

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 228

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
A lei previu que algumas classes de produtos devem OBRIGATORIAMENTE estruturar e
implementar sistemas de logística reversa (art. 33).

Tal procedimento será feito mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de
forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

Art. 33 (...) I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros


produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso,
observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em
lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do
SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

➔ QUESTÃO: de quem é a responsabilidade pela logística reversa?

Trata-se de obrigação solidária entre os agentes, independentemente de culpa.

Inicialmente caberá aos consumidores promover a devolução após o uso, aos comerciantes
ou distribuidores dos produtos e das embalagens referidos. Por sua vez, os comerciantes e os
distribuidores deverão efetuar a sua devolução aos fabricantes ou importadores, que finalmente
darão destinação ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos,
sendo o rejeito encaminhado para a disposição final ambientalmente adequada.

É o que se denomina-se RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA pelo ciclo de vida dos


produtos.

ATENÇÃO: é possível que haja acordo para que o Poder Público


assuma a responsabilidade pelas atividades de logística reversa, mas
a prestação desse serviço público deverá ser remunerada.

c) o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de


associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

d) o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária;

e) a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o


desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de
gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final
ambientalmente adequada de rejeitos;

f) a pesquisa científica e tecnológica;

g) a educação ambiental;

h) os incentivos fiscais, financeiros e creditícios;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 229

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i) o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico;

j) o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir);

k) o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa);

l) os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde;

m) os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos


sólidos urbanos;

n) o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos;

o) os acordos setoriais;

p) no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles:

i) os padrões de qualidade ambiental;

ii) o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou


Utilizadoras de Recursos Ambientais;

iii) o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa


Ambiental;

iv) a avaliação de impactos ambientais;

v) o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima);

vi) o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

q) os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta;

r) o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes


federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à redução dos custos
envolvidos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SC (2022) A institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo
sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos,
incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder
público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. De acordo com o referido
diploma legal, NÃO constitui um dos instrumentos da Política Nacional de
Resíduos Sólidos a proibição de consórcios entre os entes federados.
Correta!

DPE/AP (2022) No âmbito da política nacional de resíduos sólidos instituída


pela Lei nº 12.305/2010, os consumidores são obrigados a acondicionar
adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados sempre
que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 230

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MPE/CE (2020) Os municípios A e B pretendem criar, juntos, uma região
metropolitana, com o intuito de compartilhar entre si a gestão de resíduos
sólidos e, com isso, ter prioridade na obtenção de incentivos do governo
federal previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Para receber os incentivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os
municípios A e B podem celebrar consórcio como forma de cooperação para
a gestão dos resíduos sólidos. Correta!

6. PRIORIZAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS

O legislador buscou estimular a atividade dos catadores de materiais reutilizáveis e


recicláveis, bem como a integração das regiões urbanas. Desta forma, previu algumas situações
que terão prioridade na distribuição dos recursos da união para que possam aplicar nos referidos
planos, vejamos.

Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos


sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal
e os Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados,
destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e
ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou
financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal
finalidade. (Vigência)
§ 1o Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput
os Municípios que:
I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos
resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano
intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos
microrregionais de resíduos sólidos referidos no § 1o do art. 16;
II - implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
formadas por pessoas físicas de baixa renda.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RJ (2020) Para evitar a poluição por Resíduos Sólidos, é correto afirmar
cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos, observado, se houver, o plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos, estabelecer sistema de coleta seletiva.
Correta!

MPE/GO (2019) Cabe ao poder público atuar, solidariamente, com vistas a


minimizar ou cessar o dano, logo que tome conhecimento de evento lesivo ao
meio ambiente ou à saúde pública relacionado ao gerenciamento de resíduos
sólidos. Errada!

Procurador (Vunesp/2019) Acerca da poluição por resíduos sólidos,


estabelecem-se proibições de determinadas formas de destinação ou sua
disposição final, dentre as quais lançamentos em praias, no mar ou em
quaisquer corpos hídricos. Correta!

MPE/SC (2019) Dentre as obrigações do titular dos serviços públicos de


limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos previstas pela Legislação

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 231

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Federal, no âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos, estão o estabelecimento de coleta seletiva e a que consiste em dar
disposição final ambientalmente adequada aos resíduos e rejeitos oriundos
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.
Correta!

MPE/SC (2019) Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes


de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos
lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor
de sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus
componentes; têm a obrigação de estruturar e implementar sistemas de
logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso do consumidor,
de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo
dos resíduos sólidos. Correta!

MPE/SC (2019) É vedado ao titular do serviço público de limpeza urbana e


de manejo de resíduos sólidos, por acordo setorial ou termo de compromisso,
encarregar-se de atividades de responsabilidade dos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes nos sistemas de logística reversa
previstos no art. 33 da Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
mesmo que as ações do Poder Público sejam, por estes, devidamente
remuneradas na forma previamente acordada entre as partes. Errada!

7. PROIBIÇÕES

Convém mencionar, por fim, que algumas espécies de destinação ou disposição final de
resíduos sólidos foram proibidas pela lei:

- lançamentos em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;

- lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;

- queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para


essa finalidade (salvo em caso de emergência sanitária declarada);

- outras formas vedadas pelo poder público.

Além disso, foi proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de
resíduos sólidos cujas características causam danos ao meio ambiente, à saúde pública e animal e
à sanidade vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reuso, reutilização ou recuperação.

8. PRAZO PARA REGULARIZAR A DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA

Inicialmente, a lei previu que em até 4 anos de sua edição, deveria se concretizar a
destinação final ambientalmente adequada. Porém, ante ao insucesso da meta, houve alteração
legislativa para ampliar este prazo, dando nova chance para que os Municípios procedam às
adequações, proporcional à sua população.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 232

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado
o disposto no § 1o do art. 9o, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos
após a data de publicação desta Lei.

Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos deverá ser
implantada até 31 de dezembro de 2020, exceto para os Municípios que até
essa data tenham elaborado plano intermunicipal de resíduos sólidos ou
plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos e que disponham de
mecanismos de cobrança que garantam sua sustentabilidade econômico-
financeira, nos termos do art. 29 da Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007,
para os quais ficam definidos os seguintes prazos: (Redação dada pela
Lei nº 14.026, de 2020)

I - até 2 de agosto de 2021, para capitais de Estados e Municípios integrantes


de Região Metropolitana (RM) ou de Região Integrada de Desenvolvimento
(Ride) de capitais; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)

II - até 2 de agosto de 2022, para Municípios com população superior a


100.000 (cem mil) habitantes no Censo 2010, bem como para Municípios cuja
mancha urbana da sede municipal esteja situada a menos de 20 (vinte)
quilômetros da fronteira com países limítrofes; (Incluído pela Lei nº
14.026, de 2020)

III - até 2 de agosto de 2023, para Municípios com população entre 50.000
(cinquenta mil) e 100.000 (cem mil) habitantes no Censo 2010; e
(Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)

IV - até 2 de agosto de 2024, para Municípios com população inferior a 50.000


(cinquenta mil) habitantes no Censo 2010.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 233

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ainda no que diz respeito à destinação final ambientalmente adequada, não se pode ignorar
a importância na estruturação do sistema de saneamento básico. 9

A Constituição Federal prevê que compete a todos os entes promover a melhoria das
condições de saneamento básico, inclusive por intermédio do sistema único de saúde (art. 23, IX e
art. 200, IV).

O papel da União, neste campo, é o de instituir diretrizes nacionais:

Art. 21. Compete à União:


(...)
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,inclusive habitação
saneamento básico e transportes urbanos;

As diretrizes nacionais para o saneamento básico foram fixadas pela União na Lei nº
11.445/2007, recentemente alterada pela Lei nº 14.026/2020, que ficou conhecida como “novo
marco do saneamento básico”.

2. COMPETÊNCIA

De acordo com o art. 8º, I, da Lei nº 11.445/2007, os Municípios exercem a titularidade dos
serviços públicos de saneamento básico, no caso de interesse local.

Percebe-se, assim, que a maioria discussões envolvendo essa temática recai sobre a
competência legislativa dos entes públicos, como se extrai dos julgados a seguir:

Info 1030 - A Lei nº 14.026/2020, fundamentada nos arts. 21, XX, 22, XXVII,
e 23, IX, da Constituição Federal, possibilitou a formação de arranjos
federativos de contratação pública compatíveis com a autoadministração dos
municípios.
Embora a organização das atividades continue sob a titularidade dos
Municípios, o planejamento das políticas de saneamento é o resultado da
deliberação democrática em dois níveis, o Plano federal e o Plano estadual
ou regional, não havendo, assim, se falar em violação à autonomia municipal.
Da mesma forma, não ocorre ofensa ao princípio federativo em decorrência
da nova redação do art. 50 da Lei nº 11.445/2007, a qual determina os
requisitos de conformidade regulatória esperados dos Municípios, do Distrito
Federal e dos Estados, para que façam jus às transferências voluntárias,
onerosas e não onerosas, provenientes da União. Trata-se de mecanismo de
compliance e o condicionamento da destinação de recursos federais via

9
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Usurpa a competência dos Municípios a exigência feita pela Constituição Estadual de que os
serviços de saneamento eabastecimento de água sejam realizados por pessoa jurídica de direitopúblico ou sociedade de economia
mista. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c6d4eb15f1e84a36eff58eca3627c82e>. Acesso em: 13/01/2023

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 234

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transferências voluntárias pode ocorrer, inclusive, por pactuação contratual,
sendo desnecessária a existência de lei disciplinadora das condições para a
percepção das dotações.
Ademais, a exclusão do contrato de programa para a execução dos serviços
públicos de saneamento básico a partir da promulgação da Lei nº
14.026/2020, representa uma afetação proporcional à autonomia negocial
dos municípios, em prol da realização de objetivos setoriais igualmente
legítimos. Essa proibição ocorre no mesmo ritmo da opção legislativa pela
delegação sob o modelo de concessão, que, além de proteger a segurança
jurídica com a continuidade dos serviços, estipula metas quanto à população
atendida pela distribuição de água (99% da população) e pelo esgotamento
sanitário (90% da população), visa a fomentar a concorrência para os
mercados e a aumentar a eficiência na prestação dos serviços.
STF. Plenário. ADI 6492/DF, ADI 6536/DF, ADI 6583/DF e ADI 6882/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, julgados em 2/12/2021 (Info 1040).

Info 988 - É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja


que os serviços públicos de saneamento e de abastecimento de água serão
prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por sociedade de
economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público
Estadual ou Municipal.

Compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento


básico. Assim, a eles cabe escolher a forma da prestação desses serviços,
se diretamente ou por delegação à iniciativa privada mediante prévia licitação.
Isso é garantido pelo art. 30, I e V, da CF/88.

Além disso, essa previsão da Constituição Estadual também viola o art. 175
da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação
de serviços públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou
permissão mediante prévia licitação.

STF. Plenário. ADI 4454, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 988
– clipping).

A Lei autoriza que tais serviços sejam realizados por entidade não integrante da
Administração Pública do titular. Neste caso, será necessária a celebração de contrato de
concessão, mediante prévia licitação (art. 10).

Regulamento prevê quem pode prestar o serviço

O Decreto nº 7.217/2010 regulamenta a Lei nº 11.445/2007.

O art. 38 do Regulamento prevê que o titular do serviço de saneamento básico poderá


prestá-lo de três formas:

I - diretamente, por meio de órgão de sua administração direta ou por autarquia, empresa
pública ou sociedade de economia mista que integre a sua administração indireta, facultado que
contrate terceiros, no regime da Lei nº 8.666/93, para determinadas atividades;

II - de forma contratada:

a) indiretamente, mediante concessão ou permissão, sempre precedida de licitação na


modalidade concorrência pública, no regime da Lei nº 8.987/95; ou

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 235

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b) no âmbito de gestão associada de serviços públicos, mediante contrato de programa
autorizado por contrato de consórcio público ou por convênio de cooperação entre entes federados,
no regime da Lei nº 11.107/2005; ou

III - mediante autorização a usuários organizados em cooperativas ou associações, no


regime previsto no art. 10, § 1º, da Lei nº 11.445/2007, desde que os serviços se limitem a:

a) determinado condomínio; ou

b) localidade de pequeno porte, predominantemente ocupada por população de baixa renda,


onde outras formas de prestação apresentem custos de operação e manutenção incompatíveis com
a capacidade de pagamento dos usuários.

-> QUESTÃO: Qual o papel dos Municípios sobre o tema?

Os Municípios são os titulares dos serviços públicos de saneamento básico. É um serviço


municipal.

Assim, compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico.

A eles cabe escolher a forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por


delegação à iniciativa privada mediante prévia licitação.

Na Constituição da República se confere aos Municípios competência expressa para


organizarem, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local (art. 30, I e V).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/SC (2022) A Lei nº 11.445/2007 estabelece as diretrizes nacionais para
o saneamento básico e consiste em importante diploma legislativo na
concretização do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e em tema de saúde pública. De acordo com a citada lei, em
especial com a redação atualizada pela Lei nº 14.026/2020 (novo marco legal
do saneamento básico), em matéria de regulação, é correto afirmar que o
titular dos serviços públicos de saneamento básico deverá definir a entidade
responsável pela regulação e fiscalização desses serviços,
independentemente da modalidade de sua prestação. Correta!

MPE/BA (2015) Com esteio na Lei no 11.445/07, que estabelece as diretrizes


nacionais para o saneamento básico, a interrupção ou a restrição do
fornecimento de água por inadimplência a: estabelecimentos de saúde;
instituições educacionais e de internação coletiva de pessoas; e usuário
residencial de baixa renda beneficiário de tarifa social deverá obedecer a
prazos e critérios que preservem condições mínimas de manutenção da
saúde das pessoas atingidas. Correta!

3. PRINCÍPIOS

Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes
princípios fundamentais:

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 236

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I - universalização do acesso e efetiva prestação do serviço; (Redação
pela Lei nº 14.026, de 2020)
II - integralidade, compreendida como o conjunto de atividades e
componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento que propicie
à população o acesso a eles em conformidade com suas necessidades e
maximize a eficácia das ações e dos resultados; (Redação pela Lei nº
14.026, de 2020)
III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo
dos resíduos sólidos realizados de forma adequada à saúde pública, à
conservação dos recursos naturais e à proteção do meio ambiente;
(Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
IV - disponibilidade, nas áreas urbanas, de serviços de drenagem e manejo
das águas pluviais, tratamento, limpeza e fiscalização preventiva das redes,
adequados à saúde pública, à proteção do meio ambiente e à segurança da
vida e do patrimônio público e privado; (Redação pela Lei nº 14.026, de
2020)
V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as
peculiaridades locais e regionais;
VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de
habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção
ambiental, de promoção da saúde, de recursos hídricos e outras de interesse
social relevante, destinadas à melhoria da qualidade de vida, para as quais o
saneamento básico seja fator determinante; (Redação pela Lei nº 14.026,
de 2020)
VII - eficiência e sustentabilidade econômica;
VIII - estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento e à utilização de tecnologias
apropriadas, consideradas a capacidade de pagamento dos usuários, a
adoção de soluções graduais e progressivas e a melhoria da qualidade com
ganhos de eficiência e redução dos custos para os usuários; (Redação
pela Lei nº 14.026, de 2020)
IX - transparência das ações, baseada em sistemas de informações e
processos decisórios institucionalizados;
X - controle social;
XI - segurança, qualidade, regularidade e continuidade; (Redação pela
Lei nº 14.026, de 2020)
XII - integração das infraestruturas e dos serviços com a gestão eficiente dos
recursos hídricos; (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
XIII - redução e controle das perdas de água, inclusive na distribuição de água
tratada, estímulo à racionalização de seu consumo pelos usuários e fomento
à eficiência energética, ao reúso de efluentes sanitários e ao aproveitamento
de águas de chuva; (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
XIV - prestação regionalizada dos serviços, com vistas à geração de ganhos
de escala e à garantia da universalização e da viabilidade técnica e
econômico-financeira dos serviços; (Incluído pela Lei nº 14.026, de
2020)
XV - seleção competitiva do prestador dos serviços; e (Incluído pela Lei
nº 14.026, de 2020)
XVI - prestação concomitante dos serviços de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário.

4. CONCEITOS RELEVANTES

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 237

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Novamente o legislador cuidou de descrever alguns conceitos que considerou relevantes
para a compreensão da política do saneamento básico. Vejamos.

I - saneamento básico: conjunto de serviços públicos, infraestruturas e


instalações operacionais de: (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades e pela
disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais
necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até
as ligações prediais e seus instrumentos de medição; (Redação pela
Lei nº 14.026, de 2020)
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades e pela disponibilização
e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais necessárias à
coleta, ao transporte, ao tratamento e à disposição final adequados dos
esgotos sanitários, desde as ligações prediais até sua destinação final para
produção de água de reúso ou seu lançamento de forma adequada no meio
ambiente; (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: constituídos pelas atividades
e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações
operacionais de coleta, varrição manual e mecanizada, asseio e conservação
urbana, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente
adequada dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos de limpeza
urbana; e (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: constituídos pelas
atividades, pela infraestrutura e pelas instalações operacionais de drenagem
de águas pluviais, transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas,
contempladas a limpeza e a fiscalização preventiva das redes; (Redação
pela Lei nº 14.026, de 2020)
II - gestão associada: associação voluntária entre entes federativos, por meio
de consórcio público ou convênio de cooperação, conforme disposto no art.
241 da Constituição Federal; (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
III - universalização: ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios
ocupados ao saneamento básico, em todos os serviços previstos no inciso
XIV do caput deste artigo, incluídos o tratamento e a disposição final
adequados dos esgotos sanitários; (Redação pela Lei nº 14.026, de
2020)
IV - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem
à sociedade informações, representações técnicas e participação nos
processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação
relacionados com os serviços públicos de saneamento básico; (Redação
pela Lei nº 14.026, de 2020)
V - (VETADO);
VI - prestação regionalizada: modalidade de prestação integrada de um ou
mais componentes dos serviços públicos de saneamento básico em
determinada região cujo território abranja mais de um Município, podendo ser
estruturada em: (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
a) região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião: unidade
instituída pelos Estados mediante lei complementar, de acordo com o § 3º do
art. 25 da Constituição Federal, composta de agrupamento de Municípios
limítrofes e instituída nos termos da Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015
(Estatuto da Metrópole); (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
b) unidade regional de saneamento básico: unidade instituída pelos Estados
mediante lei ordinária, constituída pelo agrupamento de Municípios não

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 238

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necessariamente limítrofes, para atender adequadamente às exigências de
higiene e saúde pública, ou para dar viabilidade econômica e técnica aos
Municípios menos favorecidos; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
c) bloco de referência: agrupamento de Municípios não necessariamente
limítrofes, estabelecido pela União nos termos do § 3º do art. 52 desta Lei e
formalmente criado por meio de gestão associada voluntária dos titulares;
(Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
VII - subsídios: instrumentos econômicos de política social que contribuem
para a universalização do acesso aos serviços públicos de saneamento
básico por parte de populações de baixa renda; (Redação pela Lei nº
14.026, de 2020)
VIII - localidades de pequeno porte: vilas, aglomerados rurais, povoados,
núcleos, lugarejos e aldeias, assim definidos pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); (Redação pela Lei nº 14.026,
de 2020)
IX - contratos regulares: aqueles que atendem aos dispositivos legais
pertinentes à prestação de serviços públicos de saneamento básico;
(Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
X - núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas,
constituído por unidades imobiliárias com área inferior à fração mínima de
parcelamento prevista no art. 8º da Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972,
independentemente da propriedade do solo, ainda que situado em área
qualificada ou inscrita como rural; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
XI - núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual não tenha
sido possível realizar a titulação de seus ocupantes, ainda que atendida a
legislação vigente à época de sua implantação ou regularização;
(Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
XII - núcleo urbano informal consolidado: aquele de difícil reversão,
considerados o tempo da ocupação, a natureza das edificações, a localização
das vias de circulação e a presença de equipamentos públicos, entre outras
circunstâncias a serem avaliadas pelo Município ou pelo Distrito Federal;
(Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
XIII - operação regular: aquela que observa integralmente as disposições
constitucionais, legais e contratuais relativas ao exercício da titularidade e à
contratação, prestação e regulação dos serviços; (Incluído pela Lei nº
14.026, de 2020)
XIV - serviços públicos de saneamento básico de interesse comum: serviços
de saneamento básico prestados em regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões instituídas por lei complementar estadual, em que se
verifique o compartilhamento de instalações operacionais de infraestrutura de
abastecimento de água e/ou de esgotamento sanitário entre 2 (dois) ou mais
Municípios, denotando a necessidade de organizá-los, planejá-los, executá-
los e operá-los de forma conjunta e integrada pelo Estado e pelos Munícipios
que compartilham, no todo ou em parte, as referidas instalações
operacionais; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
XV - serviços públicos de saneamento básico de interesse local: funções
públicas e serviços cujas infraestruturas e instalações operacionais atendam
a um único Município; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
XVI - sistema condominial: rede coletora de esgoto sanitário, assentada em
posição viável no interior dos lotes ou conjunto de habitações, interligada à
rede pública convencional em um único ponto ou à unidade de tratamento,
utilizada onde há dificuldades de execução de redes ou ligações prediais no

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 239

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sistema convencional de esgotamento; (Incluído pela Lei nº 14.026, de
2020)
XVII - sistema individual alternativo de saneamento: ação de saneamento
básico ou de afastamento e destinação final dos esgotos, quando o local não
for atendido diretamente pela rede pública; (Incluído pela Lei nº 14.026,
de 2020)
XVIII - sistema separador absoluto: conjunto de condutos, instalações e
equipamentos destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar
exclusivmente esgoto sanitário; (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)

XIX - sistema unitário: conjunto de condutos, instalações e equipamentos


destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar conjuntamente
esgoto sanitário e águas pluviais.

Além disso, a lei deixa claro que o saneamento básico é um sistema complexo, formado por
uma série de atividades que se complementam. Assim, serviço público de abastecimento de água,
serviço público de esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos bem como
o manejo das águas pluviais (das chuvas) são atividades diferentes: todas são espécies do gênero
saneamento básico.

Abastecimento básico de água Esgotamento sanitário


(Art. 3º-A) (art. 3º-B)

SANEAMENTO
BÁSICO

Limpeza urbana e manejo de Manejo de águas pluviais urbanas


resíduos sólidos (art. 3º-C) (art.3º-D)

Vejamos as principais atividades de cada uma destas espécies:

I - reservação de água bruta;

II - captação de água bruta;

ABASTECIMENTO BÁSICO DE III - adução de água bruta;


ÁGUA IV - tratamento de água bruta;

V - adução de água tratada; e

VI - reservação de água tratada.

I - coleta, incluída ligação predial, dos esgotos sanitários;

ESGOTAMENTO SANITÁRIO II - transporte dos esgotos sanitários;

III - tratamento dos esgotos sanitários; e

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 240

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IV - disposição final dos esgotos sanitários e dos lodos
originários da operação de unidades de tratamento
coletivas ou individuais de forma ambientalmente
adequada, incluídas fossas sépticas.

I - resíduos domésticos;

II - resíduos originários de atividades comerciais, industriais


e de serviços, em quantidade e qualidade similares às dos
resíduos domésticos, que, por decisão do titular, sejam
considerados resíduos sólidos urbanos, desde que tais
resíduos não sejam de responsabilidade de seu gerador
nos termos da norma legal ou administrativa, de decisão
judicial ou de termo de ajustamento de conduta; e

III - resíduos originários dos serviços públicos de limpeza


urbana, tais como:

a) serviços de varrição, capina, roçada, poda e atividades


LIMPEZA URBANA E DE correlatas em vias e logradouros públicos;
MANEJO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS b) asseio de túneis, escadarias, monumentos, abrigos e
sanitários públicos;

c) raspagem e remoção de terra, areia e quaisquer


materiais depositados pelas águas pluviais em logradouros
públicos;

d) desobstrução e limpeza de bueiros, bocas de lobo e


correlatos;

e) limpeza de logradouros públicos onde se realizem feiras


públicas e outros eventos de acesso aberto ao público;
e

f) outros eventuais serviços de limpeza urbana.

I - drenagem urbana;

II - transporte de águas pluviais urbanas;


MANEJO DAS ÁGUAS PLUVIAIS III - detenção ou retenção de águas pluviais urbanas para
URBANAS amortecimento de vazões de cheias; e

IV - tratamento e disposição final de águas pluviais


urbanas.

OBS1: Nas Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) ou outras áreas


do perímetro urbano ocupadas predominantemente por população de
baixa renda, o serviço público de esgotamento sanitário, realizado

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 241

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diretamente pelo titular ou por concessionário, inclui conjuntos
sanitários para as residências e solução para a destinação de
efluentes, quando inexistentes, assegurada compatibilidade com as
diretrizes da política municipal de regularização fundiária.

OBS2: Lembrar que os recursos hídricos NÃO integram os serviços


públicos de saneamento básico – há lei específica (Lei n. 9433/1997)

OBS3: O lixo originário de atividades comerciais, industriais e de


serviços cuja responsabilidade pelo manejo não seja atribuída ao
gerador pode, por decisão do poder público, ser considerado resíduo
sólido urbano.

Por fim, tenha em mente que estamos falando de um serviço público, logo, estão presentes
as características inerentes a esta atividade, sobretudo a universalidade, integralidade , acesso à
informação aos usuários e modicidade das tarifas, como se percebe em diversas passagens da lei.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/GO (2019) Segundo a Lei Federal n. 11.445/2007, que estabelece
diretrizes nacionais para o saneamento básico, é correto afirmar que o
licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos sanitários e
de efluentes gerados nos processos de tratamento de água considerará
etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente os padrões
estabelecidos pela legislação ambiental, em função da capacidade de
pagamento dos usuários. Correta!

MPE/SC (2019) A Lei Federal n. 11.445/2007 define como saneamento


básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de:
abastecimento de água potável; de esgotamento sanitário; e de limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos, excluindo deste conceito a drenagem
e manejo das águas pluviais. Errada!

MPE/MS (2018) Sob o regime de vigência da Lei Federal n. 11.445/2007, é


vedada a contratação de prestação de serviços públicos de saneamento
básico sem que haja prévio plano de saneamento básico no Município.
Correta!

DPE/SP (2015) Através da Resolução n° 545, de 08 de janeiro de 2015, a


ARSESP − Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São
Paulo autorizou a Sabesp a instituir o mecanismo tarifário de contingência, no
Programa de Incentivo à Redução de Consumo de Água, estabelecendo
acréscimo de até 100% sobre o valor da tarifa para aqueles usuários que
ultrapassassem a média do consumo mensal apurada, no período de
fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. Sobre tal mecanismo tarifário,
implementado por Resolução da agência reguladora, em cotejo com a Lei n°
11.445, de 11 de janeiro de 2007, que instituiu as diretrizes nacionais para o
saneamento básico e para a política federal de saneamento básico, é correto
afirmar a Lei contempla expressamente a possibilidade de utilização do
mecanismo previsto na Resolução, condicionando sua instituição, entretanto,

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 242

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ao prévio reconhecimento de situação de escassez ou de contaminação dos
recursos hídricos que obrigue a adoção do racionamento. Correta!

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 243

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POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS

Para finalizar a temática envolvendo a destinação final da adequada de resíduos sólidos,


trazemos breves apontamentos sobre a atual política nacional de segurança de barragens, tratada
na Lei 12.334/2010

Foi sancionada a Lei 14.066/20, aumenta as exigências para as mineradoras quanto à


segurança de barragem, proíbe o uso de barragem a montante e prevê multas de R$ 2 mil até R$
1 bilhão aos infratores.

O tema é de grande relevância, haja vista que o Brasil presenciou por duas vezes, em três
anos, perdas de vidas humanas e de destruição do patrimônio e do meio ambiente provocadas por
um acidente de barragem de rejeitos de mineração, o texto sancionado proíbe a construção ou o
alteamento de barragens a montante, que é aquela construída com a colocação de camadas
sucessivas de rejeito mineral uma em cima da outra, o mesmo tipo que provocou o desastre de
Brumadinho (MG), em janeiro de 2019.

A Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) cria uma série de obrigações ao


empreendedor que administra essas estruturas. Dentre elas, está a exigência de notificar
imediatamente o órgão fiscalizador, o órgão ambiental e o órgão de proteção e defesa civil sobre
qualquer alteração das condições de segurança da barragem que possa implicar acidente ou
desastre.

1. OBJETO E CAMPO DE APLICAÇÃO

Nos termos da lei, barragem é qualquer estrutura construída dentro ou fora de um curso
permanente ou temporário de água, em talvegue ou em cava exaurida com dique, para fins de
contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas.

Art. 1º. Parágrafo único. Esta Lei aplica-se a barragens destinadas à


acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária
de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais que apresentem pelo
menos uma das seguintes características:
I - altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior
ou igual a 15m (quinze metros);
I - altura do maciço, medida do encontro do pé do talude de jusante com o
nível do solo até a crista de coroamento do barramento, maior ou igual a 15
(quinze) metros; (Redação dada pela Lei nº 14.066, de 2020)
II - capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três
milhões de metros cúbicos);
III - reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas
aplicáveis;
IV - categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos
econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas, conforme
definido no art. 6o.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 244

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IV - categoria de dano potencial associado médio ou alto, em termos
econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas, conforme
definido no art. 7º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.066, de 2020)
V - categoria de risco alto, a critério do órgão fiscalizador, conforme definido
no art. 7º desta Lei.

2. CONCEITOS RELEVANTES

Em que pese a indispensável leitura da lei n. 12.334/2020 em sua integralidade, destacamos


a seguir alguns conceitos de elementar relevância.

Dano que pode ocorrer devido a rompimento, vazamento, infiltração no


solo ou mau funcionamento de uma barragem, independentemente da
Dano potencial
sua probabilidade de ocorrência, a ser graduado de acordo com as
associado à barragem
perdas de vidas humanas e os impactos sociais, econômicos e
ambientais;

Zona de Trecho do vale a jusante da barragem em que não haja tempo


autossalvamento suficiente para intervenção da autoridade competente em situação de
(ZAS) emergência, conforme mapa de inundação.

Zona de segurança Trecho constante do mapa de inundação não definido como ZAS.
secundária (ZSS)

Produto do estudo de inundação que compreende a delimitação


geográfica georreferenciada das áreas potencialmente afetadas por
Mapa de inundação eventual vazamento ou ruptura da barragem e seus possíveis cenários
associados e que objetiva facilitar a notificação eficiente e a evacuação
de áreas afetadas por essa situação.

Comprometimento da integridade estrutural com liberação


Acidente incontrolável do conteúdo do reservatório, ocasionado pelo colapso
parcial ou total da barragem ou de estrutura anexa.

Incidente Ocorrência que afeta o comportamento da barragem ou de estrutura


anexa que, se não controlada, pode causar um acidente.
Resultado de evento adverso, de origem natural ou induzido pela ação
Desastre humana, sobre ecossistemas e populações vulneráveis, que causa
significativos danos humanos, materiais ou ambientais e prejuízos
econômicos e sociais.

Após os ocorridos em Minas Gerais, passou a proibida a construção ou o alteamento de


barragem de mineração pelo método a montante, uma técnica mais arcaica e menos segura de
retenção de resíduos sólidos, semelhante a que resultou no desastre.

Entende-se por alteamento a montante a metodologia construtiva de barragem em que os


diques de contenção se apoiam sobre o próprio rejeito ou sedimento previamente lançado e
depositado.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 245

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
O empreendedor deve concluir a descaracterização da barragem construída ou alteada pelo
método a montante até 25 de fevereiro de 2022, considerada a solução técnica exigida pela
entidade que regula e fiscaliza a atividade minerária e pela autoridade licenciadora do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).

A entidade que regula e fiscaliza a atividade minerária pode prorrogar o prazo previsto no §
2º deste artigo em razão da inviabilidade técnica para a execução da descaracterização da
barragem no período previsto, desde que a decisão, para cada estrutura, seja referendada pela
autoridade licenciadora do Sisnama.

3. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS

A lei elenca alguns objetivos a serem buscados pela implementação da política (art. 3º):

a) garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a fomentar a


prevenção e a reduzir a possibilidade de acidente ou desastre e suas consequências;

b) regulamentar as ações de segurança a serem adotadas nas fases de planejamento,


projeto, construção, primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação, desativação,
descaracterização e usos futuros de barragens;

c) promover o monitoramento e o acompanhamento das ações de segurança empregadas


pelos responsáveis por barragens;

d) criar condições para que se amplie o universo de controle de barragens pelo poder
público, com base na fiscalização, orientação e correção das ações de segurança;

e) coligir informações que subsidiem o gerenciamento da segurança de barragens pelos


governos;

f) estabelecer conformidades de natureza técnica que permitam a avaliação da adequação


aos parâmetros estabelecidos pelo poder público;

g) fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos.

h) definir procedimentos emergenciais e fomentar a atuação conjunta de empreendedores,


fiscalizadores e órgãos de proteção e defesa civil em caso de incidente, acidente ou
desastre.

4. FUNDAMENTOS

Outro aspecto relevante para melhor gravar as particularidades da lei é saber os seus
fundamentos (art. 4º). Vejamos:

a) a segurança da barragem, consideradas as fases de planejamento, projeto, construção,


primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação, desativação, descaracterização e
usos futuros;

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 246

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
b) a informação e o estímulo à participação direta ou indireta da população nas ações
preventivas e emergenciais, incluídos a elaboração e a implantação do Plano de Ação
de Emergência (PAE) e o acesso ao seu conteúdo, ressalvadas as informações de
caráter pessoal;

c) a responsabilidade legal do empreendedor pela segurança da barragem, pelos danos


decorrentes de seu rompimento, vazamento ou mau funcionamento e,
independentemente da existência de culpa, pela reparação desses danos;

d) a transparência de informações, a participação e o controle social;

e) a segurança da barragem como instrumento de alcance da sustentabilidade


socioambiental.

5. INSTRUMENTOS

São instrumentos da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB):

I - o sistema de classificação de barragens por categoria de risco e por dano


potencial associado;
II - o Plano de Segurança da Barragem, incluído o PAE; (Redação dada
pela Lei nº 14.066, de 2020)
III - o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB);
IV - o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (Sinima);
V - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa
Ambiental;
VI - o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais;
VII - o Relatório de Segurança de Barragens.
VIII - o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
(SNIRH); (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
IX - o monitoramento das barragens e dos recursos hídricos em sua área
de influência; (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
X - os guias de boas práticas em segurança de barragens. (Incluído pela
Lei nº 14.066, de 2020)
Parágrafo único. Os sistemas nacionais de informações previstos neste artigo
devem ser integrados.

Observe que muitos instrumentos foram incluídos após os desastres supracitados, com a lei
n. 14.066/2020, refletindo a necessidade de atualização legislativa frente à insuficiência do
regramento anterior. Tornou assim muito comum o monitoramento das barragens bem como o
estímulo de técnicas de simulação para a população que reside nos arredores das barragens, por
exemplo.

6. CLASSIFICACÃO DAS BARRAGENS

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 247

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As barragens serão classificadas pelos agentes fiscalizadores, por categoria de risco, por
dano potencial associado e pelo seu volume, com base em critérios gerais estabelecidos pelo
Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

ALTO

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À
CATEGORIA DO RISCO MÉDIO

BAIXO

A classificação por categoria de risco em alto, médio ou baixo será feita em função das
características técnicas, dos métodos construtivos, do estado de conservação e da idade do
empreendimento e do atendimento ao Plano de Segurança da Barragem, bem como de outros
critérios definidos pelo órgão fiscalizador.

A classificação por categoria de dano potencial associado à barragem em alto, médio ou


baixo será feita em função do potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos econômicos,
sociais e ambientais decorrentes da ruptura da barragem.

O órgão fiscalizador deverá exigir do empreendedor a adoção de medidas que levem à


redução da categoria de risco da barragem.

7. PLANO DE SEGURANÇA DAS BARRAGENS

O Plano de Segurança da Barragem deve compreender, no mínimo, as seguintes


informações (art. 8º):

I - identificação do empreendedor;
II - dados técnicos referentes à implantação do empreendimento, inclusive,
no caso de empreendimentos construídos após a promulgação desta Lei, do
projeto como construído, bem como aqueles necessários para a operação e
manutenção da barragem;
III - estrutura organizacional e qualificação técnica dos profissionais da equipe
de segurança da barragem;
IV - manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e de
monitoramento e relatórios de segurança da barragem;
V - regra operacional dos dispositivos de descarga da barragem;
VI - indicação da área do entorno das instalações e seus respectivos acessos,
a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações permanentes, exceto
aqueles indispensáveis à manutenção e à operação da barragem;
VII - Plano de Ação de Emergência (PAE), exigido conforme o art. 11 desta
Lei;
VIII - relatórios das inspeções de segurança regular e especial;
IX - revisões periódicas de segurança.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 248

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X - identificação e avaliação dos riscos, com definição das hipóteses e dos
cenários possíveis de acidente ou desastre; (
XI - mapa de inundação, considerado o pior cenário identificado
XII - identificação e dados técnicos das estruturas, das instalações e dos
equipamentos de monitoramento da barragem.

8. PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL (PAE)

O PAE estabelecerá as ações a serem executadas pelo empreendedor da barragem em


caso de situação de emergência, bem como identificará os agentes a serem notificados dessa
ocorrência, devendo contemplar, pelo menos:

I - descrição das instalações da barragem e das possíveis situações de emergência;

II - procedimentos para identificação e notificação de mau funcionamento, de condições


potenciais de ruptura da barragem ou de outras ocorrências anormais; (

III - procedimentos preventivos e corretivos e ações de resposta às situações emergenciais


identificadas nos cenários acidentais

IV - programas de treinamento e divulgação para os envolvidos e para as comunidades


potencialmente afetadas, com a realização de exercícios simulados periódicos

V - atribuições e responsabilidades dos envolvidos e fluxograma de acionamento;

VI - medidas específicas, em articulação com o poder público, para resgatar atingidos,


pessoas e animais, para mitigar impactos ambientais, para assegurar o abastecimento de água
potável e para resgatar e salvaguardar o patrimônio cultural;

VII - dimensionamento dos recursos humanos e materiais necessários para resposta ao pior
cenário identificado;

VIII - delimitação da Zona de Autossalvamento (ZAS) e da Zona de Segurança Secundária


(ZSS), a partir do mapa de inundação referido no inciso XI do caput do art. 8º desta Lei;

IX - levantamento cadastral e mapeamento atualizado da população existente na ZAS,


incluindo a identificação de vulnerabilidades sociais;

X - sistema de monitoramento e controle de estabilidade da barragem integrado aos


procedimentos emergenciais;

XI - plano de comunicação, incluindo contatos dos responsáveis pelo PAE no


empreendimento, da prefeitura municipal, dos órgãos de segurança pública e de proteção e defesa
civil, das unidades hospitalares mais próximas e das demais entidades envolvidas;

XII - previsão de instalação de sistema sonoro ou de outra solução tecnológica de maior


eficácia em situação de alerta ou emergência, com alcance definido pelo órgão fiscalizador;

XIII - planejamento de rotas de fuga e pontos de encontro, com a respectiva sinalização.

O PAE deve estar disponível no empreendimento e nas prefeituras envolvidas, bem como
ser encaminhado às autoridades competentes e aos organismos de defesa civil.

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 249

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§ 1º O PAE deverá estar disponível no site do empreendedor e ser mantido,
em meio digital, no SNISB e, em meio físico, no empreendimento, nos órgãos
de proteção e defesa civil dos Municípios inseridos no mapa de inundação
ou, na inexistência desses órgãos, na prefeitura municipal. (Incluído pela Lei
nº 14.066, de 2020)
§ 2º O empreendedor deverá, antes do início do primeiro enchimento do
reservatório da barragem, elaborar, implementar e operacionalizar o PAE e
realizar reuniões com as comunidades para a apresentação do plano e a
execução das medidas preventivas nele previstas, em trabalho conjunto com
as prefeituras municipais e os órgãos de proteção e defesa civil. (Incluído
pela Lei nº 14.066, de 2020)
§ 3º O empreendedor e os órgãos de proteção e defesa civil municipais e
estaduais deverão articular-se para promover e operacionalizar os
procedimentos emergenciais constantes do PAE. (Incluído pela Lei nº
14.066, de 2020)
§ 4º Os órgãos de proteção e defesa civil e os representantes da população
da área potencialmente afetada devem ser ouvidos na fase de elaboração do
PAE quanto às medidas de segurança e aos procedimentos de evacuação
em caso de emergência. (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
§ 5º O empreendedor deverá, juntamente com os órgãos locais de proteção
e defesa civil, realizar, em periodicidade a ser definida pelo órgão fiscalizador,
exercício prático de simulação de situação de emergência com a população
da área potencialmente afetada por eventual ruptura da barragem. (Incluído
pela Lei nº 14.066, de 2020)
§ 6º O empreendedor deverá estender os elementos de autoproteção
existentes na ZAS aos locais habitados da ZSS nos quais os órgãos de
proteção e defesa civil não possam atuar tempestivamente em caso de
vazamento ou rompimento da barragem. (Incluído pela Lei nº 14.066, de
2020)
§ 7º O PAE deverá ser revisto periodicamente, a critério do órgão fiscalizador,
nas seguintes ocasiões: (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
I - quando o relatório de inspeção ou a Revisão Periódica de Segurança de
Barragem assim o recomendar; (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
II - sempre que a instalação sofrer modificações físicas, operacionais ou
organizacionais capazes de influenciar no risco de acidente ou desastre;
(Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
III - quando a execução do PAE em exercício simulado, acidente ou desastre
indicar a sua necessidade; (Incluído pela Lei nº 14.066, de 2020)
IV - em outras situações, a critério do órgão fiscalizador. (Incluído pela Lei
nº 14.066, de 2020)
§ 8º Em caso de desastre, será instalada sala de situação para
encaminhamento das ações de emergência e para comunicação transparente
com a sociedade, com participação do empreendedor, de representantes dos
órgãos de proteção e defesa civil, da autoridade licenciadora do Sisnama, dos
órgãos fiscalizadores e das comunidades e Municípios afetados. (Incluído
pela Lei nº 14.066, de 2020)

OBS: A elaboração do PAE é obrigatória para todas as barragens


classificadas como de: (Redação dada pela Lei nº 14.066, de 2020)
I - médio e alto dano potencial associado; ou (Incluído pela Lei nº
14.066, de 2020)

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 250

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II - alto risco, a critério do órgão fiscalizador. (Incluído pela Lei nº
14.066, de 2020)
Parágrafo único. Independentemente da classificação quanto ao dano
potencial associado e ao risco, a elaboração do PAE é obrigatória
para todas as barragens destinadas à acumulação ou à
disposição de rejeitos de mineração.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/MG (2022) São fundamentos da política nacional de segurança de
barragens:
I. A segurança da barragem, consideradas as fases de planejamento, projeto,
construção, primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação,
desativação, descaracterização e usos futuros. Correta!
II. A informação e o estímulo à participação direta ou indireta da população
nas ações preventivas e emergenciais, incluídos a elaboração e a
implantação do Plano de Ação de Emergência (PAE) e o acesso ao seu
conteúdo, ressalvadas as informações de caráter pessoal. Correta!
III. A responsabilidade legal do empreendedor pela segurança da barragem,
pelos danos decorrentes de seu rompimento, vazamento ou mau
funcionamento e, independentemente da existência de culpa, pela reparação
desses danos. Correta!
IV. A transparência de informações, a participação e o controle social.
Correta!
V. A segurança da barragem como instrumento de alcance da
sustentabilidade socioambiental. Correta!

MPE/MG (2021) I. A fiscalização da segurança de barragens caberá à


entidade que concede, autoriza ou registra o uso do potencial hidráulico,
quando se tratar de uso preponderante para fins de geração hidrelétrica. II. A
fiscalização da segurança de barragens caberá à entidade que outorga o
direito de uso dos recursos hídricos, observado o domínio do corpo hídrico,
quando o objeto for de acumulação de água, exceto para fins de
aproveitamento hidrelétrico. III. A fiscalização da segurança de barragens de
disposição de resíduos industriais caberá à entidade que concede a licença
ambiental. IV. A fiscalização da segurança de barragens de disposição de
rejeitos de mineração caberá à Agência Nacional de Mineração, sem prejuízo
da competência da entidade que regula, licencia e fiscaliza a produção e o
uso da energia nuclear.
Todas as assertivas estão corretas!

Consultor Legislativo/FCC (2018) A Lei que estabelece a Política Nacional


de Segurança de Barragens destinadas à acumulação de águas para
quaisquer usos. Disciplina também a disposição final ou temporária de
rejeitos e a acumulação de resíduos industriais. A lei não trata do
procedimento de licenciamento ambiental das barragens, mas conceitua,
para efeitos da lei, barragem, reservatório, segurança de barragem e dano
potencial associado à barragem. Desse modo,

9. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 251

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A Lei 14.066/2020 inseriu um novo capítulo, V-A, cuidando de prever um sistema
administrativo punitivo próprio para as infrações cometidas em desrespeito à lei de segurança de
barragens.

Sem prejuízo das cominações na esfera penal e da obrigação de, independentemente da


existência de culpa, reparar os danos causados, considera-se infração administrativa o
descumprimento pelo empreendedor das obrigações estabelecidas nesta Lei, em seu regulamento
ou em instruções dela decorrentes emitidas pelas autoridades competentes.

Tal iniciativa foi resultado de ampla cobrança social devido às irregularidades apontadas nos
relatórios das barragens em como nas consequências fatais dos desastres ocorridos em Minas
Gerais nos últimos anos.

A fiscalização, mais uma vez, como medida preventiva e mais rigorosa, mostra-se a melhor
alternativa para evitar que novas tragédias se repitam.

➔ QUESTÃO: como se inicia o processo administrativo para apuração de infração


administrativa?

O processo será instaurado de ofício ou a partir de uma representação.

A autoridade competente que tiver conhecimento de infração administrativa é obrigada a


promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de
corresponsabilidade.

São autoridades competentes para lavrar auto de infração e instaurar processo


administrativo os servidores dos órgãos fiscalizadores e das autoridades competentes do Sisnama.

Qualquer pessoa, ao constatar infração administrativa, pode dirigir representação à


autoridade competente, para fins do exercício do seu poder de polícia.

Outro fator que chamou a atenção na alteração legislativa foi a previsão de uma espécie de
caução exigida para os empreendedores, justamente para resguardar eventuais indenizações que
venham a ser necessárias

10. JURISPRUDÊNCIA

Os casos envolvendo as barragens de Fundão em Mariana e da Mina do Córrego do Feijão,


ambas em Minas Gerais, ainda repercutem, sobretudo pela magnitude da tragédia e pelo grande
número de vítimas. É comum haver discussão quanto à competência para processar e julgar os
processos, como tratado a seguir, em trecho extraído do Buscador Dizer o Direito.10

A Federação das Colônias e Associações dos Pescadores e Agricultores do Espírito Santo


(FECOPES) ajuizou ação contra a Samarco Mineração S.A. pedindo que ela fosse condenada a
pagar indenização por danos morais e materiais aos pescadores integrantes das colônias pelos
prejuízos suportados em razão do rompimento da barragem.

10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Competência para julgar ação que tem por objeto apenas a reparação de danos morais e
materiais suportados por pescadores em razão do rompimento da barragem de Mariana/MG. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e46be61f0050f9cc3a98d5d2192cb0eb>. Acesso em:
17/01/2023

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 252

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A ação foi proposta na Justiça Estadual, mais especificamente no Juízo da 2ª Vara Cível de
Linhares (ES). A mineradora contestou alegando, dentre outros argumentos, a incompetência do
Juízo.

O Juízo da 2ª Vara Cível de Linhares entendeu que a ação pretendia tutelar coletivamente
direitos individuais homogêneos e que ficou constatado que o dano teria natureza regional. Logo, a
competência para a demanda seria do Juízo da capital do Estado do Espírito Santo (Vitória), nos
termos do art. 93, II, do CDC:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a


causa a justiça local:
(...)
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de
âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo
Civil aos casos de competência concorrente.

Sendo assim, devido a constatação da natureza regional do dano, o Juízo da 2ª Vara Cível
de Linhares (ES) determinou, de ofício, nos termos do art. 64, § 1º, do CPC, a remessa dos autos
para uma das Varas Cíveis da Comarca de Vitória (ES), dado que a lesão atingiu várias comarcas
de um mesmo estado, atribuindo-se a competência absoluta ao juízo do foro da capital do Estado,
evitando-se a fragmentação da tutela coletiva.

A Somarco Mineração S/A não concordou com a conclusão do Juízo e interpôs agravo de
instrumento, aduzindo que a competência deveria ser da Justiça Federal e alegou que o Juízo da
12ª Vara da Seção Judiciária de Belo Horizonte é prevento para a demanda, foro universal para
processar e julgar as ações coletivas decorrentes do rompimento da barragem.

O TJ/ES manteve a decisão afirmando que a competência seria da uma das varas cíveis de
Vitória (ES), na Justiça Estadual.

A mineradora interpôs recurso especial.

O STJ manteve o acórdão do TJ/ES ou determinou a remessa para a Justiça Federal?

Manteve o acórdão.

A lide originária tem por objeto a reparação de danos morais e materiais suportados por
pescadores do Estado do Espírito Santo em razão do rompimento da barragem de Fundão em
Mariana/MG. Não se discute a responsabilização do Estado, tampouco há indicação de pedido de
restauração do meio ambiente. Portanto, a demanda possui natureza eminentemente privada.

No Conflito de Competência 144.922/MG, Relatora Ministra Diva Malerbi (Desembargadora


convocada do TRF 3ª Região), a Primeira Seção do STJ dirimiu a questão da competência para
dirimir as demandas decorrentes do referido acidente ambiental.

O STJ disse que:

• como regra geral, a 12ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais é competente
para julgar as ações decorrentes do acidente ambiental de Mariana. Isso porque, além de ser a
Capital de um dos Estados mais atingidos pela tragédia, já tem sob sua análise processos outros,
visando não só a reparação ambiental stricto sensu, mas também a distribuição de água à
população dos Municípios atingidos, entre outras providências, o que lhe propiciará, diante de uma
visão macroscópica dos danos ocasionados tomar medidas dotadas de mais efetividade, que não

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 253

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corram o risco de ser neutralizadas por outras decisões judiciais provenientes de juízos distintos,
além de contemplar o maior número de atingidos.

• ficam ressalvadas as situações que envolvam aspectos estritamente humanos e


econômicos da tragédia (tais como o ressarcimento patrimonial e moral de vítimas e familiares,
combate ao abuso de preços etc.) ou mesmo abastecimento de água potável que exija soluções
peculiares ou locais, as quais poderão ser objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas cada
qual no foro de residência dos autores ou do dano. Nesses casos, devem ser levadas em conta as
circunstâncias particulares e individualizadas, decorrentes do acidente ambiental, sempre com base
na garantia de acesso facilitado ao Poder Judiciário e da tutela mais ampla e irrestrita possível. Em
tais situações, o foro federal de Belo Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria óbice à
facilitação do acesso à justiça, marco fundante do microssistema da ação civil pública.

Assim, se o dano que se pretende ver reparado no processo em debate tem caráter
patrimonial (dano material emergente e lucros cessantes) e extrapatrimonial (dano moral), ante a
preocupação em ampliar o acesso à Justiça daqueles prejudicados pela tragédia de Mariana, não
deve prevalecer a competência da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, permitindo o ajuizamento
de ações individuais e coletivas no foro de residência dos autores ou no local do dano.

Outrossim, é certo que a reunião dos processos em virtude da existência de conexão entre
as demandas não é obrigatória, especialmente se uma das causas já foi sentenciada, nos termos
da Súmula 235/STJ. Deste modo, sintetizando, o STJ entendeu:

Em ação que tem por objeto apenas a reparação de danos morais e materiais
suportados por pescadores em razão do rompimento da barragem de Fundão
em Mariana/MG, não se discutindo a responsabilização do Estado, não
prevalece a competência da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, permitindo-
se o ajuizamento no foro de residência do autor ou no local do dano.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.966.684-ES, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 17/10/2022 (Info 758).

CS - DIREITO AMBIENTAL 2023.1 254

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