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INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
DISCIPLINA HISTÓRIA DA ARTE IV
20171014040020 – ANGÉLICA Mª GADELHA G. POMPEU
20171014040080 - DANILO MIRANDA RAMOS
20162014040056 - LEONARDO DENIPOTI CAVALCANTE
20171014040144 - LUIZA PUCCA ROCHA

FLUXUS: A ELIMINAÇÃO DAS BELAS ARTES.

INTRODUÇÃO

Este trabalho refere- se a disciplina de História da Arte IV, ministrada pelo


professor Hebert Rolim, no Instituto Federal do Ceará e tem por objetivo apresentar o
movimento Fluxus, suas propostas e características específicas, relacionando ao contexto
histórico, a forma como disseminou-se internacionalmente e a maneira como ainda hoje atua
nas expressões artísticas. Soma-se a apresentação panorâmica de alguns artistas e obras do
movimento.
Fluxus foi um movimento artístico -ou anti-artístico?- que ocorreu inicialmente nos
anos 1960 e reuniu diversos artistas ao redor do mundo com uma proposta de questionar os
cânones da arte e trazer um cunho político para esta também. Assim, foram exploradas diversas
confluências entre as linguagens artísticas, quebrando, então, inclusive, essas separações entre
a música, o teatro, a performance, as artes visuais, por exemplo. Uma forma de apresentar o
Fluxus que parece interessante é situá-lo em meio às influências sofridas:

Com fontes complexas e principais no futurismo italiano, em Dada (Marcel Duchamp,


essencialmente) e surrealismo, no construtivismo soviético da “Levyj front iskusstv”
(LEF) (“Frente de Esquerda das Artes”), em Erik Satie e John Cage, na filosofia Zen,
a que se juntam os estímulos protoconceituais de Yves Klein - o Grupo Fluxus
configurou-se como uma comunidade informal de músicos, artistas plásticos e poetas
radicalmente contrários ao status quo da arte. (Zanini, 2004, p.11).

Comumente referencia-se a influência da música de John Cage quando se introduz


a apresentação do movimento Fluxus. Além de ter aproximado os artistas da época (George
Brecht, Jackson Mac Low, Dick Higgins, Allan Kaprow e Toshi Ichijanagi), seu curso e
apresentações traziam propostas renovadas. Concomitantemente, George Maciunas (nome
relevante do movimento) sintonizava seus estudos com Richard Maxfiled, La Mont Young e
Yoko Ono, associando música com performances (Home, 1999). O foco de atuação nesse início
dá-se em Nova York, apesar de o movimento Fluxus, em si, espalhar-se, internacionalizar-se e
somar artistas de outros países (sobretudo da Ásia e Europa).
Facilitou as possiblidades o trabalho bem pago e repleto de recursos de Maciunas
na Força Aérea Americana, permitindo a melhor comunicação e encontro entre os membros,
como Nam June Paik e introduzindo a relação destes com os artistas europeus (Home, 1999).
O movimento trazia uma estética destrutiva em algumas apresentações, iconoclasta:
“embora as performances do Fluxus misturassem várias disciplinas, como música e artes
visuais, cada composição estava focada num único evento isolado e deveria ser apresentado
como uma visão iconoclasta da natureza da realidade propriamente dita” (Home, 1999, p.86).
Home (1999) aponta desencontros e discordâncias entre os membros do Fluxus e a
forma como isso foi fragilizando o movimento à medida que foram sendo postas em pauta
propostas que questionavam o sistema de forma não pacífica e destrutiva. Por exemplo:

Maciunas esquematizou sua ‘proposta de ação de propaganda’ para o Fluxus em Nova


York [...] em quatro áreas principais: a) piquetes e demonstrações; b) sabotagem e
destruição; c) composições; d) venda de publicações Fluxus (Home, 1999, p. 88).

Então propostas como a interrupção do sistema de transporte público ou do sistema


de comunicação, pelo fato de atrapalhar a vida do trabalhador comum, caiu em discordância.
Mac Low, por exemplo, “descreve essas táticas como ‘sem princípios, antiéticas e imorais’”
(Home, 1999, p.89).
Vale ressaltar que “O Fluxus foi lançado como um assalto a todas as categorias
separadas de arte, com a intenção de fundi-las numa única prática” ((Home, 1999,p.91), ou seja,
os artistas de diversas linguagens interligavam suas artes como um atentado “às belas artes”,
como dizia Maciunas, para tornar a arte viva.
Assim, apresentaremos a seguir um pouco mais sobre esses artistas e suas obras e
performances, assim como ideias, ideologias e festivais. Antes, porém, faz-se importante
apresentar o contexto histórico ao qual tal movimento está inserido.
CONTEXTO HISTÓRICO

O movimento Fluxus situa-se no período dos anos 1960, quando os resultados


políticos e econômicos do fim da Segunda Guerra Mundial resultaram em uma Guerra de
tensões: a Guerra Fria. Tendo vencido a Segunda Guerra Mundial como Aliados, e, apesar das
perdas, os Estados Unidos (EUA) e a antiga União Soviética (URSS) detinham grande parte do
poder mundial, posses e influências. Era, portanto, um mundo dividido em dois pólos. Há uma
vasta discussão ideológica sobre o que era defendido entre uma e outra potência, para criar tal
tensão, inclusive a preponderância da democracia e os cuidados com as classes desfavorecidas,
porém, em geral, diz-se que se trata de uma tensão entre uma perspectiva capitalista e socialista,
representada, respectivamente, pelos EUA e URSS.
Há que se ressaltar que tal Guerra é denominada Fria pois a tensão entre tais
potências se dava por ambas terem desenvolvido armamentos nucleares e que, a eclosão de uma
Guerra entre ambas geraria uma destruição impossível de se recuperar à humanidade. Pois bem.
Assim, o mundo estava dividido entre essas duas potências e as tensões se concretizavam nas
disputas de território:a Europa Ocidental e a América Central e do Sul sob influência cultural,
ideológica e econômica estadunidense, e a parte do Leste Asiático, Ásia central e Leste
Europeu, sob influência soviética.
Um representante material e simbólico dessa Guerra é o muro de Berlim, construído
em 1961, na Alemanha devastada e destrinchada entre as potências e cuja capital foi
“presenteada” com essa divisão entre o lado Ocidental e Oriental, inviabilizando a comunicação
e a relação de ambos os lados.
Outro evento relevante dessa época é a Guerra do Vietnã (1962-1975) em que
disputada o Vietnã do Norte pró-comunismo e o Vietnã do Sul pró-capitalismo, a Revolução
Cubana (1959, em que instabilizou a influência americana na América Latina), e a
descolonização da África e do Caribe.
Social e culturalmente o que se sucedeu após a segunda guerra mundial foi um
crescente descrédito na cultura estabelecida anteriormente, o surgimento da contracultura, o
desencanto com o Sonho Americano, o reconhecimento das lutas das minorias, dos direitos das
mulheres, dos negros e dos homossexuais, as questões postas da revolução sexual e os protestos
contra o endurecimento dos governos. Os anos 1950, em si, foram sendo desmoralizados aos
poucos e a juventude estava desmotivada a acreditar os nos sonhos de seus pais. Se, por um
lado, seus pais pensavam nas questões materiais que aprenderam a se preocupar depois da crise
econômica, os jovens se preocupavam com as questões humanas e ideológicas, as confusões
sobre a humanidade que afloravam após tanta destruição e ameaças. O mundo continuava em
Guerra, uma Guerra sutil em alguns aspectos e agressiva em outros e as perdas continuavam.
Os governos buscavam manter tudo em ordem. Além disso, há que se ressaltar que os jovens
americanos continuavam sendo convocados para a Guerra (Vietnã).
Portanto, a contracultura dos anos 1960 engloba vários movimentos cuja ideologia
era similar, que falava em libertação e em questionamento, e entre eles está o movimento
Fluxus, ao qual este trabalho foca.
Outro fator relevante historicamente desse período diz respeito à questão dos
avanços tecnológicos e de comunicação, pois nisso também os EUA e a URSS competiam. Em
1960, os EUA enviam o primeiro satélite meteorológico para o espaço; em 1961 a URSS envia
o primeiro homem ao espaço; em 1966 a URSS envia o primeiro robô à Lua; em 1969 os EUA
enviam o primeiro homem à Lua; envia sonda a Marte e a URSS envia robô à Venus.
À nível de comunicação, é lançado chip de computador, disco rígido, a informática
começa a ser utilizada para fins comerciais e não mais exclusivo aos militares, surge o embrião
da internet (Arpanet) e em 1969, a primeira mensagem de e-mail. Essa questão dos avanços
tecnológicos e de comunicação tocam a produção artística da época, tanto de forma positiva
quanto de forma crítica: é afirmada e negada.
Assim feito a contextualização do que consideramos os eventos principais da época
que influenciaram o movimento Fluxus, há que se falar de sua origem. Propondo-se a ser uma
anti-arte, tal qual o dadaísmo (e inclusive inicialmente chamado-se “Neo-Dadá”), o Fluxus
“reagiria às formas domesticadas de modernismo e colocaria em questão concepções relativas
ao papel dos artistas, ao estatuto do objeto e a relação arte/vida” (Santos, 2009, p.22). Santos
(2009) observa que, ao longo dos 17 anos que o Fluxus atuou ativamente, vários artistas
entraram e saíram do movimento (mesmo que continuassem participando ideologicamente),
havendo diferentes fases com diferentes configurações.
Santos (2009) cita as influências do futurismo e do dadaísmo, além da performance
que foi sendo executada na Bauhaus alemã, que buscava uma experiência interdisciplinar. “John
Cage incluirá os ruídos e o acaso, eliminando a diferença entre sons musicais e não-musicais,
enquanto que Merce Cunninghan irá abrir o repertório do balé aos movimentos comuns do dia
a dia (Santos, 2009, p. 26). Nos anos 1950, “o eixo das performances irã se deslocar para Nova
York” (Kaprow executa 18 happenings in 6 parts). Soma-se também a essa lista de influências
culturais as action paintings de Pollock. Ainda que listemos várias influências, segundo
distintos autores “a ‘porosidade’ das fronteiras de Fluxus enquanto vanguarda nos impede de
delimitar precisamente suas origens” (Santos, 2009, p. 31).
Assim, anteciparemos agora os primeiros passos reconhecidos como movimento
Fluxus por vários autores.
Maciunas, inicialmente em Nova York, onde também se movimentava John Cage
e seus cursos de composição musica (1958) com outros artistas que serão mais citados a
posteriori, participa de curso sobre música eletrônica junto com La Monte Young (que
frequentava ateliê de Yoko Ono) em 1960. (Home, 1999, p. 83). A seguir, Maciunas foi enviado
para a Alemanha Ocidental, em 1961, onde encontrou mais artistas que convergiram com a
ideia do que adiante seria o Fluxus:

Após a mudança de Maciunas à Alemanha ocidental em 1961, este encontraria por


intermédio de Paik numerosos artistas e músicos com ideáias e meios de expressão
similares àqueles com os quais havia trabalhado em Nova York. Foi com ajuda de
Paik que Maciunas pode organizar em 1962 as “duas performances pré-fluxus
fundamentais” (Santos, 2009, p.17).

A partir daí, a ideia de Maciunas era executar uma turnê mundial de eventos Fluxus,
o Festum Fluxorum – série de performances em turnê pelo mundo apresentando a nova arte,
apresentando suas obras e trazendo o público à participação performática. (Home, 1999), de
1961 a 1962. Festival de Desajustes de Londres 1962. Nesses festivais, somavam-se novos
artistas, como Joseph Beuys. Além disso, soma-se as publicações que divulgavam a proposta
Fluxus.
Santos (2009) aponta que o primeiro período do movimento Fluxus se encerra em
1964, com a dissidência de alguns participantes. Haja visto alguns princípios postos por
Maciunas que envolviam eventos destrutivos, Mac Low, por exemplo, afasta-se por apontar tais
táticas como “sem princípios, antiéticas e imorais” (Home, 1999, p. 89).
Seguem-se atuações que serão melhor apresentadas no capítulo artistas e obras. Por
fim, Maciunas morre por câncer em 1978, quando alguns pontuam como o termino do Fluxus
enquanto movimento. Em tal situação é executado o “Fluxus-Funeral”, seguindo uma linha
similar a atuações da época que brincavam com os ritos tradicionais de forma bizarra.
CARACTERÍSTICAS

O termo Fluxus vem do latim fluxu e significa fluxo, movimento ou escoamento.


Esse significado é a melhor definição do que foi esse movimento, uma constante fluidez e
constante movimentação. Com forte influência do dadaísmo, da contra-cultura e de nomes
como Marcel Duchamp, John Cage e Allan Kaprow, George Maciunas lança o programa Fluxus
por meio de uma manifesto. Segundo Gompertz (2013):

Maciunas fora para Nova York entre o final dos anos 50 e o início dos anos 60, onde
conhecera muitas das principais figuras dos mundos das artes, em especial John Cage,
que lhe causou um impacto duradouro. Ele sentiu também um vivo interesse por
Marcel Duchamp, os happenings de Kaprow, o novo realismo e os dadaístas de
Zurique. Tudo isso o levou a desenvolver o seu próprio conceito de um movimento
artistico neodadaista que chamou de fluxus, que significa “fluir”. Ele escreveu um
Manifesto fluxus (1963) exigindo que o mundo fosse expurgado da “náusea burguesa,
a cultura intelectual, profissional e comercial”. Prometeu que o fluxus iria “promover
a arte viva. fundir os quadros de revolucionários culturais sociais e políticos numa
frente e numa ação unidas”.

As mais fortes características do fluxus são a busca pela fusão de vida e arte,
trabalhando coisas do cotidiano como temática das obras e a diversidade de linguagens que
compõe o movimento que envolve performance, vídeo, música e etc.
Por ter fortes características de antiarte, o fluxus tende a ser comparado com o
dadaísmo e até é chamado por alguns de neodadaísmo. De fato a influência do dadaísmo é
notável pois os dois tinham pretensões de não seguir os padrões pré-estabelecidos de como se
entendia arte, como se pensava arte e como se fazia arte. O fluxus é quase um dadaísmo que
aconteceu em outra época. Assim como o dadaísmo os artistas do fluxus pensavam suas obras
não se tornando reféns de suas linguagens e técnicas. nas palavras de Santos (2009)

O movimento faz parte da tradição vanguardista antiarte inaugurada pelo Dadá, razão
pela qual George Maciunas considerava Fluxus como NeoDadá [...] . Um dos
objetivos centrais do programa fluxus era a “fusão entre a arte e a vida, ou o abandono
da arte”, o que daria ao movimento um forte caráter social. mantendo uma relação
tênue com as novas conjunturas políticas de sua época (Santos, 2009).

No que se refere às linguagens, por conta dessa ânsia de unir arte e vida, era muito
forte a performatividade nas ações dos artistas, onde eles próprios se punham como objetos de
arte. A performance é uma linguagem que é naturalmente de antiarte que não tem cânones ou
padrões ou expectativas quanto a um modo de se fazer e combina perfeitamente com as
proposições do fluxus, apesar de alguns artistas não usarem o nome performance, Joseph Beuys
por exemplo chamava suas obras de aktions, ou “ações”. Sobre performatividade e não-arte,
Cohen (2011) fala:

a performance é basicamente uma arte de intervenção, modificadora, que visa causar


uma transformação no receptor. A performance está ideologicamente ligada à não-
arte, proposta por Kaprow, na medida que como nesta, vai contra o profissionalismo
e a intencionalidade da arte. [...] o praticante da não-arte, e da mesma forma o
performer, trabalha nesse tênue limite da espontaneidade (Cohen, 2011)

Era muito presente na produção de alguns artistas um caráter muito experimental


nas obras, principalmente naqueles que trabalham com vídeos e músicas. Os músicos do fluxus
propunham peças musicais (muito por influência de John Cage) onde a música eram os sons do
ambiente e das pessoas que estavam assistindo.
Vale ressaltar que apesar dos artistas do fluxus terem em comum as características
que compunham o movimento, cada um tinha uma produção muito própria e singular. As obras
de Beuys e Nam June Paik por exemplo, cada um deles tinham temáticas que eram comuns as
suas obras mas que se encaixavam no que era o fluxus. segundo Santos (2009)

Ao falar da necessidade de se evitar uma categorização restrita do que seria Fluxus de


modo a permitir a inclusão de artistas como Josef Beuys e Nam June Paik no
“fluxismo”, O curador e diretor de museu René Block associou o reconhecimento
gradativo de Fluxus por parte do público, galerias e colecionadores a tais artistas “que
criaram trabalhos artísticos de relevância histórica, mas que, em suas atitudes, no
entanto, permaneceram fiéis a fluxus. À observação de René podemos acrescentar o
fato de que o fluxus não foi uma “escola” e que sua condição de movimento artístico”
no sentido habitual, é questionada, segundo Andreas Huyssen, esta vanguarda teria
conseguido criar uma “tradição dinâmica”, livre de dogmas permitindo que seus
primeiros participantes ingressassem em novas aventuras conservando o “espírito do
fluxo” cujos traços continuariam presentes em numerosos movimentos e trabalhos
ulteriores (Santos, 2009).

Assim como o dadaísmo, uma de suas grandes influências, o fluxus foi um


movimento singular na história da arte e definitivo até para o que temos hoje na
contemporaneidade. Vcale analisar a obra de cada artista isoladamente pois cada um dá voz ao
fluxus de uma maneira diferente mas igualmente potente.
ARTISTAS E OBRAS

John Cage (1912 - 1992)


John Cage foi um artista estadunidense que se dedicou à música experimental. Em
sua carreira, se dedicou em pesquisar e extrapolar os limites da música, sendo um dos principais
precursores da música espontânea (chamada por ele de música aleatória), da música concreta e
da música eletroacústica. Cage fazia diversas apresentações na TV de diversos países dos EUA
e Europa, e suas performances ao vivo são tidas como seminais para a performance. A
visibilidade que suas apresentações tinham permitiu que acabasse por influenciar diversos
artistas e movimentos, dentre eles o Fluxus. Uma de seus trabalhos musicais mais famosos é o
“4’33”, que se trata de uma performance onde o música se senta diante de um piano por quatro
minutos e trinta e três segundos sem tocar nada, pois a partitura está vazia, mas o conteúdo da
música não é o silêncio, mas sim os pequenos ruídos ambientes desfrutados pelo público
durante o tempo da apresentação. Cage se apresentou em diversos festivais de música
experimental em meados dos anos 60 e mais tarde passou a fazer parte dos Festivais Fluxus
organizados por George Maciunas, em países como Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos.

George Maciunas (1931 - 1978)


George Maciunas é tido como o principal organizador do Grupo Fluxus. Maciunas
nasceu na Lituânia e depois fez vida nos Estados Unidos, onde era um comerciante, artista,
músico e historiador da arte, muito influenciado pelos ideais anarquistas e pelo pensamento
Dadaísta, que se dedicou à arte de vanguarda, publicando, primeiramente, uma revista
denominada Fluxus, nome que mais tarde ele iria atribuir ao conjunto de atividades dos artistas
integrantes de seu grupo. Profundamente influenciado por John Cage, falava bastante de música
eletrônica em sua revista, o que levou a organizar concertos, que mais tarde viriam a ser os
famosos Festivais Fluxus, que percorriam várias partes do mundo. Junto com o artista coreano
e seu amigo, Nam June Paik, fez apresentações neo-dadaístas, como Neo-Dada in der Musik, e
performou as peças de Phillip Corner. Então, também por influência de Cage e de seu trabalho
de “Pianos preparados”, onde ele inseria objetos nas cordas do piano, afim de obter diferentes
efeitos sonoros, Maciunas passou também a produzir seus objetos preparados na forma de
esportes, como o “Ping pong preparado”, onde se jogava ping pong em uma mesa irregular,
sem rede e com um enorme buraco em um dos lados. As raquetes também eram preparadas, de
diversas maneiras, desde buracos a objetos colados nelas como pedaços de madeira e latas, afim
de impossibilitar a jogabilidade. A intenção reisidia justamente no humor advindo da
impossibilidade de se jogar o jogo seguindo as regras tradicionais. Em 1978, Maciunas se casa
com sua namorada Billie Hutching, na performance “Fluxwedding”, onde a noiva e o noivo
trocam a roupa pela do outro. Três meses depois Maciunas viria a falecer de um câncer no
pâncreas.

Nam June Paik


Foi o primeiro artista do vídeo à experimentar com mídia eletrônica e provocar um
profundo impacto na arte do vídeo e da televisão, por isso é conhecido como o “Pai da video-
arte”.
Paik era coreano e teve que fugir muito cedo com sua família por causa da guerra,
para o Japão, onde se graduou. Mais tarde, Paik concluiu seus estudos de música na Alemanha
e depois teve a oportunidade de colaborar com Karhlheinz Stockhausen e John Cage, que o
inspiraram na sua transição para as artes eletrônicas. Mais tarde conheceu George Maciunas,
Yoko Ono e outros artistas e passou a integrar a comunidade de artistas ”Fluxus”.
Paik trabalhava modificando aparelhos de TV e em 1963 fez sua primeira exposição
solo na Alemanha, “Exposition of Music-Electronic Television”. Em 1965, já em Nova Iorque,
ele começou seus experimentos com câmeras de vídeo, eletromagnetismo e com TV’s à cores.
Em 1969, juntamente com o engenheiro japonês Shuya Abe, construiu o primeiro video
sintetizador, através do uso de um grande imã magnético em contato com um monitor, foi capaz
de criar distorções na imagem e formas abstratas.

Joseph Beuys (1921 - 1986)


Joseph Artista alemão que produziu em vários meios e técnicas, incluindo escultura,
fluxus, happening, performance, vídeo e instalação. Ele é considerado um dos mais influentes
artistas alemães da segunda metade do século XX.
Beuys nasceu em Krefeld e teve algum contato com a arte na juventude, tendo
visitado o ateliê de Achilles Moorgat em várias ocasiões, mas decidiu seguir carreira em
medicina. Entretanto, com a explosão da Segunda Guerra Mundial, ele se alistou na Força Aérea
Alemã (Luftwaffe). Depois da guerra, Beuys concen- trou-se na arte e estudou na escola de
Düsseldorf de 1946 a 1951. Nos anos 1950, ele se dedicou principalmente ao desenho. Em
1961, ele se tornou professor de escultura na academia, mas acabou sendo demitido de seu posto
em 1972, depois que insistiu em que suas aulas deveriam ser abertas a qualquer interessado.
Seus alunos protestaram, e ele pôde manter seu ateliê na escola, mas não recuperou as aulas.
Em 1962, Beuys conheceu o movimento Fluxus, e as performances e trabalhos
multidisciplinares do grupo inspiraram-no a seguir uma direção nova também voltada para a
happening e performance. Sua obra tornou-se cada vez mais motivada pela crença de que a arte
deve desempenhar um papel ativo na sociedade.
Em 1979, uma grande retrospectiva da obra do artista foi exibida no Museu
Guggenhein de Nova York. Beuys morreu de insuficiência cardíaca, em 1986.

Dick Higgins (1938 - 1998)


Dick Higgins nasceu na inglaterra e foi um compositor, poeta, tipógrafo e um dos
primeiros artistas do grupo Fluxus, criador do conceito de Intermídia. Teorizou também sobre
literatura, incluindo a Poesia concreta.
Foi aluno de John Cage na New School, é um dos protagonistas do grupo Fluxus.
Trabalhando com pintura, performance e poesia; happenings, intermídia e filme; tipografia e
livro de arte, suas apresentações, projetos e publicações o tornaram uma figura central da rede
de ideais que ligavam artistas em todo o mundo. Em 1964 funda as edições Something Else
Press, que publicam textos históricos como os de Gertrude Stein e dos dadaístas; livros de
artistas, poesia concreta, new music etc. A partir de 1974, inicia as Unpublished Editions, com
Geoff Hendricks, Philip Corner, Jackson Maclow, Alison Knowles e John Cage (que publica
Writings through Finnegans Wake). Ativas até 1985, as edições passam a se chamar Printed
Editions em 1978. A partir de 1965, Dick Higgins define seu trabalho com o termo de
intermedia, conceito que supõe interseções entre mídias, espaços que não representam a fusão,
mas a relação complexa no ínterim de posições.

George Brecht (1926 - 2008)


Foi um artista e químico profissional americano, de Minessota. Ele foi
considerado um membro chave em influência na Fluxus, tendo sido envolvido com o grupo
desde a primeira performance, até a morte de Maciunas em 1978. Ele descrevia sua arte como
uma forma de "garantir que os detalhes da vida cotidiana, as constelações aleatórias de objetos
que nos cercam, deixem de passar despercebidas”.
Foi muito influenciado pela arte de Pollock e pelo “action painting”. Sua principal
maneira de trabalho artístico se dá por meio dos “Eventos”, que são, segundo o próprio Brecht,
“peças teatrais curtas e elementares caracterizadas pelas mesmas qualidades alógicas dos
detalhes dos acontecimentos". Os eventos não são somente a obra, ou objetos, são interações
entre espaço, tempo, objetos e a possibilidade de mudanças contínuas. Seus Eventos são a
simples lista de instruções escritas, sendo também a experimentação particular de Brecht com
as palavras.

Wolf Vostell
Wolf Vostell nasceu em 1932. Sua família foi forçada a se mudar para Komotau,
na Tchecoslováquia, em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial. Vostell registrou esses
tempos difíceis em tintas e aquarelas que ele fez como estudante. Em 1950, iniciou seu
aprendizado como fotolitógrafo e começou a experimentar também pintura e fotografia. Ele
frequentou aulas na École National des Beaux-Arts, e foi nessa época que o artista começou a
usar objetos do cotidiano em seu trabalho.
Vostell começou a experimentar com o vídeo em 1959, quando fez sua primeira
“dé-coll / age” eletrônica, como ele a denominou. Ele começou a trabalhar realmente com
videoarte em 1963, quando produziu seu trabalho “6 TV Dé-coll / age” em Nova York. Ele foi
o primeiro a apresentar um aparelho de televisão em uma obra de arte em uma instalação
intitulada "Ciclo da Sala Negra".

Alison Knowles
Uma das criadoras mais importantes do Fluxus foi Alison Knowles. Nascida em
Nova York, e graduada com um prêmio no Pratt Institute of Fine Arts Brooklyn. Desde 1961
realiza performances, uma atividade pela qual ela tem sido muito reconhecida. Uma de suas
primeiras foi a intitulada “Shuffle”, na qual ela propôs que um ou vários artistas se misturassem
na área de performance com o público, movendo-se à frente, atrás, ao redor ou através da
experiência, mas em silêncio. Neste caso, os participantes do evento são parte essencial, mas
involuntária da ação.
Desde 1962, suas ações, e também suas obras objetivas tomam como grupo de
pesquisa central a comida ou a maneira de fazê-lo, isto é, o ato de comer, ou a comida, se torna
um objeto.

Carolee Schneemann
Carolee Schneemann é uma artista norte-americana cujas obras de arte feministas
lidam com políticas de identidade e gênero e tabus sociais. Ela é conhecida por suas práticas
artísticas provocativas e é considerada a progenitora da arte corporal. Ela começou sua carreira
artística criando pinturas expressionistas abstratas, mas rapidamente se viu atraída por métodos
de expressão mais experimentais e de vanguarda. Ela se aventurou no desempenho com papéis
nos primeiros curtas-metragens de Stan Brakhage (Loving, 1957 e Cat's Cradle, 1959).
No início dos anos 1960, Schneemann participou de vários Happenings. E também
coreografou o que chamou de “obras de movimento” para o Judson Dance Theatre, um coletivo
de dança experimental que funcionou de 1962 a 1964. Schneemann continuou a desafiar as
normas sociais e de gênero em seu trabalho até o final dos anos 1960 e 1970 e incorporou o
cinema em seu repertório de médiuns.
Uma das peças de performance mais conhecidas de Schneeman é Interior Scroll
(1975). Para a peça, que ela apresentou pela primeira vez na exposição Mulheres Aqui e Agora,
em East Hampton, Nova York, Schneeman ficou nua em uma mesa e, na frente da plateia,
pintou seu corpo com tinta escura, puxou uma longa tira. de papel de sua vagina, e ler o que era
uma conversa que ela teve com um crítico de cinema americano que não via seus filmes.
Sugerindo que uma mulher tenha controle total sobre seus modos de expressão, ela é
considerada uma peça fundamental da performance feminista.

Yoko Ono (1933 - )


Yoko Ono, nasceu em 1933 em Tokyo, filha de um pintor frustrado. Ela começou
a fazer filmes na década de 1960 e fez contribuições substanciais para o gêne ro de vanguarda
do cinema. Nessa época, ela já era uma artista consagrada que desempenhava um papel ativo
no mundo da música, mais conhecido por seu "grito primal" ou por seus gritos estridentes.
No início dos anos 1960, Ono tornou-se parte do Fluxus, cujos artistas eram
"dedicados a desafiar definições convencionais nas artes plásticas e relações convencionais
entre obra de arte e espectador".
A obra de arte que Yoko fez no início dos anos 1960 exigiu que o espectador
concluísse o processo. "Pintar para ver a sala", feito em 1961, era uma tela com um buraco
quase invisível através do qual o espectador podia ver a sala. "Painting to Hammer a Nail In",
também feito em 1961, era um painel de madeira branca que o público pregava com um martelo.
Yoko continuou a fazer filmes no início dos anos 70, muitos dos quais ela
colaborou com seu marido na época, John Lennon. Seus filmes podem ser divididos em temas.
O primeiro consiste em um exame minucioso do corpo humano nu. A segunda categoria são
filmes teóricos. Eles têm um tema de movimento e mudança. A última categoria são
documentários. Bed-In feita em 1969, é a filmagem do evento de paz que Ono e Lennon
realizaram em sua lua de mel. Yoko Ono amplia os limites do que a sociedade considera
aceitável e cria oportunidade para o espectador recuar e refletir.
CONCLUSÃO

É interessante pensar hoje sobre o que foi o fluxus porque nota-se a importância
que ele teve para tudo que veio depois. George Maciunas, o responsável por lançar a proposta
fluxus, considerava o movimento um NeoDadá e de fato os movimentos têm muitas
semelhanças se levar em conta os seus devidos contextos. Ambos os movimentos tinham a
tendência de não se curvar a técnicas e os dois tinham um caráter muito forte de antiarte e o não
tratar a arte como um objeto puramente de valor.
Um dos objetivos principais do fluxus era acabar com a distância entre arte e vida
e entre artista e não-artista. Com isso em mente os artistas constantemente traziam o cotidiano
para as obras tanto enquanto temática como enquanto objeto.
Dentre as ações do fluxus tem performance, música, vídeo e todos ligados por essa
ideia. Pode-se dizer que foi um movimento que com toda sua singularidade mudou a forma
como a arte seria enxergada a partir dali.
Vale ressaltar que a produção dos artistas são unidos por essa proposta fluxus mas
alguns deles tinham uma produção muito própria e inclusive suas próprias interpretações do
que era o fluxus. Segundo Santos (2009):

opor a incursão de Paik na esfera das mídias eletrônicas ao suposto “espírito” do


movimento seria ignorar a visão pessoal do artista sobre o significado do fluxus,
expresso em sua entrevista com Irmeline Lebeer:‘na verdade eu queria simplesmente
ir onde ninguém tinha ido. (...) Todo mundo olhava a televisão como se ela fosse a
coisa mais normal do mundo. quanto a mim, eu queria saber o que se podia fazer com
ela : um puro fluxus. fluxus é r à terra virgem. havia lá uma terra virgem: era preciso
que eu fosse até lá’

Diz-se que o fluxus teve seu fim com a morte de Maciunas mas muitos artistas do
fluxus continuaram produzindo após esse evento e o movimento continua sendo debatido até
hoje em sites na internet e deve continuar.

REFERÊNCIAS

COHEN, R. Performance como linguagem. 3. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2011.
HOME, S. Assalto à Cultura: utopia subversão guerrilha na (anti)arte do século XX. São Paulo: Conrad, 1999.
GOMPERTZ, W. Isso é Arte? - Do Impressionismo até Hoje. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.
SANTOS, B.V.D. Nam June Paik: da música física à arte da comunicação. Tese de Mestrado em História. PUC-
RIO: 2009.
ZANINI, W. A atualidade de Fluxus. ARS (São Paulo), 2(3), 10-21, 2004.

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