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RESENHA DO FILME NENHUM A MENOS – KARYNA RÉGIA TELES ALVES

O filme Nenhum a Menos retrata a precária realidade de uma escola na pequena


aldeia pobre da província de Hebei, localizada na zona rural chinesa, marcada pela falta de
recursos e apoio de órgãos sociais competentes. No filme é mostrada a situação de uma jovem
de treze anos, chamada para dar aula durante um mês na escola primária, pois o professor Gao
precisa se ausentar para cuidar de sua mãe que está doente. Por ser uma escola pobre em
recursos, há apenas um professor para uma turma bastante mista. A princípio o único objetivo
da professora Wei é garantir que nenhum dos alunos desista, pois, além de ter sido alertada
sobre isto pelo professor Gao, se alguém desistisse ela ficaria sem seu pagamento. Neste
momento pude perceber que Wei não estava dando aulas por gostar, mas por necessidade. Foi
colocada sobre uma menina a responsabilidade de um profissional, quando nem ela mesma
sabia o que estava fazendo.

Trazendo para nossa realidade este cenário não é muito diferente, pois dentro das
escolas existem muitos professores que não têm amor pelo que fazem, o fazem apenas para
sobrevivência, e, infelizmente, isto acaba refletindo nos alunos. A desistência, a disseminação
da crença de que não tem capacidade para isto está presente em vários estudantes. Certa vez vi
o relato de uma menina que dizia que sua professora de artes não permitia que ela fizesse os
desenhos por os considerar feios. Esta professora fazia os desenhos por ela e ela apenas os
pintava. Assim como ela existem vários outros e, como futura pedagoga, vejo a necessidade
de descontruir esse tipo de crença, pois um ensino sem prazer revela um ensino sem
motivação para os estudantes.

Gao deixa para Wei um pedaço de giz para cada dia letivo, fato que reforça ainda
mais a situação precária que a escola se encontra. Inicialmente sua metodologia consiste em
trancar os alunos na sala e ficar de guarda na porta do lado de fora. Porém, posteriormente, há
uma cena onde um dos alunos, Zhang Huike, foge da sala de aula. Nesse momento a
professora Wei vê sua obrigação de ir atrás de Zhang, pois não pode perder nenhum aluno
pelas ordens de Gao. Certa manhã, Wei é informada que os pais de Zhang o levaram embora
e, indo até sua casa, descobre que Zhang foi procurar emprego na cidade com outras crianças
para ajudar sua família que vive precariamente e sua mãe que se encontra doente.

Através deste filme, encontramos a necessidade de pensar sobre os diversos


modos de praticar e pensar o ensino-aprendizagem, o sistema educacional e currículo, a forma
como estes são criados, criticados e defendidos nas escolas, a forma como se compõem na
trama dos diversos discursos (acadêmicos, políticos, midiáticos, comunitários, etc.). Com a
fuga de Zhang para a cidade, pela primeira vez, Wei deixa de praticar atividades monótonas e
propõe à turma um problema de verdade, onde todos precisam pensar em como resolvê-lo.
Contas são feitas e os resultados são checados, avaliados e revisados. Através do interesse
pelo retorno de Zhang sua prática pedagógica muda drasticamente. Observando os créditos do
filme percebe-se que Wei, Zhang e Gao não são atores, mas professor e alunos, o que torna a
jornada de Wei ainda mais realista. Sua ida até a cidade permite que ela conheça a precária
realidade, onde Zhang não deixou de ir à escola por causa da professora, mas por necessidade.
Uma nota no final do filme afirma que “A pobreza tira mais de um milhão de crianças da
escola todo ano na China”.

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