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GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO

PAÍSES DE INDUSTRIALIZAÇÃO PLANIFICADA

2 - CHINA

2.1 - A FORMAÇÃO DA CHINA COMUNISTA


A China é um país milenar. Ao longo de séculos de história, alternou períodos de maior ou menor produção
tecnológica, cultural e artística. Porém, no final do século XIX, sob o governo da dinastia Manchu, o império estava
decadente. A figura do imperador era apenas decorativa, e naquela época o país fora partilhado entre potências
estrangeiras.
No início do século XX, sob a liderança do político Sun Yat-sen (1866-1925), foi organizado um movimento
nacionalista hostil à dinastia Manchu e à dominação estrangeira. Esse movimento culminou em uma revolução que
atingiu as princi país cidades do país, pôs fim ao império e instaurou a República em 1912. Sob a direção de Yat-sen,
foi organizado o Partido Nacionalista, o Kuomintang.
Apesar da proclamação da República, o país continuava envolto no caos político, econômico e social, e
mantinham-se os laços de dependência com as potências estrangeiras.
Nessa época começou a se desenvolver uma incipiente industrialização, com a chegada de capitais estrangeiros
interessados em aproveitar a mão de obra muito barata e a grande disponibilidade de matérias-primas. Começaram a
ser instaladas algumas fábricas nas princi país cidades do país, sobretudo em Xangai. No conjunto, porém, a China
continuava a ser um país camponês dominado por estrangeiros. A tímida industrialização foi interrompida pela
invasão e ocupação japonesa, na década de 1930, e pela guerra civil, que se estendeu de 1927 até 1949.
Nesse contexto, ideias revolucionárias ganharam força entre muitos intelectuais chineses. À influência da
Revolução Russa juntou-se o sentimento nacionalista e anticolonial, dando origem ao Partido Comunista Chinês
(PCCh), em 1921. Entre os fundadores estava Mao Tse-tung (1893-1976), seu futuro líder.
Com a morte de Sun Yat-sen, o Kuomintang passou a ser controlado pelo militar Chiang Kai -shek (1887-1975),
que a partir de 1928 passou a liderar o Governo Nacional da China, embora não controlasse todo território. Após
curta convivência pacífica, o governo nacionalista colocou o PCCh na ilegalidade, iniciando uma guerra civil entre
comunistas e nacionalistas que se estendeu até o fim da década de 1940. Em 1934, os japoneses implantaram na
Manchúria, com a conivência das potências ocidentais, Manchukuo (Reino Manchu), um país apenas formalmente
independente. Seu governante era Pu yi, o último imperador chinês, na verdade um governante fantoche. Quem de
fato governava Manchukuo eram os japoneses, que tinham se apoderado de uma das regiões mais ricas em minérios e
combustíveis fósseis de toda a China.
Em 1937, os japoneses declararam guerra total contra a China e chegaram a ocupar, próximo do fim da Segunda
Guerra, cerca de dois terços de seu território. Somente nesse breve período houve um apaziguamento entre
comunistas e nacionalistas, empenhados em derrotar os invasores japoneses. Bastou o Japão assinar sua rendição para
que o conflito interno na China reacendesse.
Depois de 22 anos de guerra civil, com breves interrupções, os comunistas do Exército de Libertação Popular -
formado por voluntários, em sua maioria camponeses, e liderado por Mao Tse-tung - saíram vitoriosos. Em outubro
de 1949 foi proclamada a República Popular da China, e o território continental do país foi unificado sob o controle
dos comunistas, comandados por Mao, então secretário-geral do PCCh: nascia a China Comunista. Entretanto, os
membros do Kuomintang, comandados por Chiang Kai-shek, se refugiaram na Ilha de Formosa, onde fundaram a
República da China ou China Nacionalista, mais conhecida como Taiwan, que o governo de Pequim sempre
considerou uma província rebelde.
A Revolução Chinesa de 1949 foi um divisor de águas fundamental na história do país, e isso já ficara evidente
quando Mao Tse-tung, em discurso durante a proclamação da República, afirmou para uma multidão em Pequim: “O
povo chinês se levantou (...); ninguém nos insultará novamente".
No início do período revolucionário, a China seguiu o modelo político-econômico vigente na antiga União
Soviética. Com base na ideologia marxista-leninista, implantou-se um regime político centralizado sob o controle do
Partido Comunista Chinês, cujo líder máximo era o secretário-geral (Mao Tse-tung ocupou o cargo até 1976).
Economicamente, com a coletivização das terras, foram implantadas de modo gradativo as comunas populares, que
seguiam, em linhas gerais, o modelo das fazendas coletivas da União Soviética. O Estado passou a controlar também
todas as fábricas e a exploração dos recursos naturais: seu processo de industrialização só deslanchou mesmo após
1949. Vale lembrar que a Revolução Chinesa foi essencialmente camponesa. Para se ter uma ideia, nessa época havia
no país em tomo de 3.2 milhões de operários, o que equivalia a apenas 0,6% da população de cerca de 540 milhões de
habitantes.

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RELAÇÃO CHINA-TAIWAN
Por causa da Guerra Fria, a história de Taiwan é marcada pelo conflito com Pequim e pela duplicidade da
política norte-americana em relação aos dois países. Após a revolução comunista, a cadeira reservada à China na
ONU foi oferecida a Taiwan, que a ocupou até o início da década de 1970. A República Popular da China, com
cerca de 1 bilhão de habitantes, simplesmente não era reconhecida.
Com o rompimento sino-soviético em 1965, os Estados Unidos passaram a ter grande interesse na
aproximação com a China comunista. Em 1972, o presidente Richard Nixon fez uma viagem ao país, dando início
ao reconhecimento do governo de Pequim. No ano anterior, o país havia sido reconhecido pela ONU e admitido
como membro permanente do Conselho de Segurança ao mesmo tempo que Taiwan foi expulsa da organização por
exigência chinesa. Em 1979, os Estados Unidos romperam relações com Taiwan e reconheceram oficialmente a
China.
Há setores da sociedade de Taiwan que defendem sua readmissão na ONU e o restabelecimento de relações
diplomáticas com os Estados Unidos, que apesar de não reconhecê-la oficialmente lhe vendem armas, criando
atritos com Pequim. A concretização dessas metas é difícil, pois contraria os interesses chineses. A China sempre
deixou claro que é contrária à independência da ilha e ameaça invadi-la caso isso venha a acontecer. Os governos
dos dois países recentemente vêm adotando uma posição moderada em relação a essa questão e firmando acordos
que visam a uma aproximação na área econômica, que pode levar no futuro a uma “reunificação pacífica”,
garantindo uma certa autonomia a Taiwan.

2.2 - O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO


Seguindo o modelo soviético, inicialmente o Estado chinês passou a planificar a economia. Em 1957, Mao Tse-
tung lançou um ambicioso plano, conhecido como o Grande Salto à Frente, que se estendeu até 1961. Esse plano
pretendia acelerar a consolidação do socialismo por meio da implantação de um parque industrial amplo e
diversificado. Para tanto, a China passou a priorizar investimentos na indústria de base, na bélica e em obras de infra-
estrutura que sustentassem o processo de industrialização. Apesar de dispor de numerosa mão de obra e de
abundantes recursos naturais, a industrialização chinesa teve idas e vindas. Por causa da burocracia e da má
implementação, o Grande Salto à Frente desarticulou completamente a incipiente economia industrial do país. Além
disso, a industrialização chinesa inicialmente padeceu dos mesmos males do modelo soviético no qual se inspirou:
baixa produtividade, produção insuficiente, qualidade inferior dos produtos, concentração de capitais no setor
armamentista e burocratização.
Com os problemas enfrentados pelo Grande Salto à Frente, os opositores de Mao Tse-tung dentro do Partido
Comunista, liderados por Deng Xiaoping, se fortaleceram. Para tentar reverter essa situação, Mao lançou a Revolução
Cultural (1966-1976), movimento de trabalhadores e estudantes que se insurgiram contra o poder da burocracia do
PCCh. Além de tentar enfraquecer os burocratas do partido, adversários de Mao, buscava combater o modelo
soviético que ainda imperava na economia chinesa. A Revolução Cultural agravou a crise econômica do país e o
enfrentamento político dentro do partido; também foi marcada por violenta perseguição aos supostos
contrarrevolucionários e por isolamento econômico em relação ao exterior.
As divergências e as desconfianças entre os líderes dos dois princi país países socialistas aumentavam cada vez
mais. Em 1964, a China fez seu primeiro teste subterrâneo com uma bomba atômica e, três anos depois, com a de
hidrogênio. A União Soviética, por sua vez, não admitia perder a hegemonia nuclear no bloco socialista. Esse fato
decisivo, somado às divergências quanto ao modelo de socialismo, acabou provocando, em 1965, o rompimento entre
a União Soviética e a China. Como conseqüência, Moscou retirou todos os assessores e técnicos que mantinha em
território chinês, agravando ainda mais os problemas econômicos da China. O rompimento sino-soviético abriu
caminho para a aproximação sino-americana. Foi nessa época que, como vimos, a República Popular da China
recebeu a visita do presidente dos Estados Unidos e foi admitida na ONU, tornando-se membro permanente do
Conselho de Segurança. Com a morte de Mao Tse-tung, em 1976, ascendeu ao poder Deng Xiaoping (1904- 1997),
que foi secretário-geral do PCCh até 1989, quando renunciou. O novo líder pôs fim à Revolução Cultural e iniciou
um processo de “desmaoização” na China. Uma nova revolução estava por acontecer.

2.3 - A "ECONOMIA SOCIALISTA DE MERCADO"


O gigante chinês, depois de viver décadas em estado de letargia, à margem do explosivo crescimento econômico
de seus vizinhos - o Japão e os Tigres Asiáticos -, resolveu finalmente se modernizar. Sob o comando de Deng
Xiaoping, iniciou-se, a partir de 1978, um processo de reforma econômica no campo e na cidade, paralelamente à
abertura da economia chinesa ao exterior. Leia no boxe seguinte a avaliação que Jiang Zemin, então secretário-geral
do PCCh e futuro presidente, fez desse processo, durante o XIV Congresso Nacional do partido, em 1992.

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BALANÇO DAS REFORMAS


(...) A III Sessão Plenária do XI Comitê Central realizada em 1978, e a direção coletiva central que nela se
formou, nucleada em tomo do camarada Deng Xiaoping, assumiram a árdua missão de realizar uma grande virada
histórica e iniciar um novo período de desenvolvimento da causa do socialismo em nosso país. Começou a
prevalecer a tese de "tomar a construção econômica como elo fundamental e persistir nos quatro princípios
fundamentais, e na reforma e na abertura para o exterior", firmando a base da linha fundamental do Partido para o
novo período. (...)
Com base no cumprimento fundamental da tarefa de retificar o desvio, realizou-se, em 1982, o XII
Congresso Nacional do Partido. Ali, propôs-se a ideia de "integrar a verdade universal do marxismo com a
realidade concreta de nosso país, seguir nosso próprio caminho e construir um socialismo com peculiaridades
chinesas", e estabeleceu-se a meta de quadruplicar, em duas etapas, o Produto Nacional Bruto até o final deste
século. Mais tarde, traçou-se a estratégia da terceira etapa, que consiste em materializar, fundamentalmente, a
modernização socialista no país em meados do próximo século. Assim, Nosso Partido ergueu a grande bandeira do
progresso para o século XXI à frente dos povos de todas as nacionalidades do país.
A característica mais destacada do novo período consiste na reforma e na abertura. Elas deram os primeiros
passos imediatamente após a III Sessão Plenária do XI Comitê Central e tiveram seu desdobramento completo a
partir do XII Congresso Nacional.
ZEMIN, Jiang. Balanço das reformas. Revista de política externa. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
Jiang Zemin foi presidente da China (1993-2003) e secretário-geral do PCCh (1989-2002);
Em 2010, Hu Jintao era o presidente da China, desde 2003. Era também, desde 2002, secretário-geral do PCCh.

O que significa “integrar a verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país [...] e construir
um socialismo com peculiaridades chinesas”? Trata se, na prática, de conciliar o processo de abertura econômica e a
adoção de mecanismos característicos da economia de mercado (aceitação da propriedade privada e do trabalho
assalariado, estímulo à iniciativa privada e ao capital estrangeiro) com a manutenção, no plano político, de uma
ditadura de partido único. Tal discurso mostra com clareza a importância das reformas econômicas para o regime
chinês e também a busca de justificar ideologicamente a simbiose da economia de mercado com a economia
planificada sob o controle do Estado. É uma tentativa de perpetuar a hegemonia do PCCh, apoiando-se, porém, numa
economia em crescimento e em moldes capitalistas, que seriam impensáveis na China de algumas décadas atrás. A
evidência mais forte de que os dirigentes chineses não estavam (e não estão) planejando uma abertura também no
plano político foi a dura repressão aos manifestantes da Praça Tiananmen, nome que, por aparente ironia, significa
“Portão da Paz Celestial”. Ocorrido em 1989, o movimento, liderado pelos estudantes, reivindicava a abertura
política, além da econômica que já estava em curso.
No final dos anos 1970, num país de quase um bilhão de habitantes, dos quais 75% camponeses, era
compreensível que as reformas fossem iniciadas pela agricultura. Foram extintas as comunas populares, e, embora a
terra continuasse pertencendo ao Estado, cada família poderia cultivá-la como desejasse e comercializar livremente
uma parte de sua produção. A reforma na agricultura provocou a disseminação da iniciativa privada e do trabalho
assalariado no campo, levando a um aumento da produtividade e da renda dos agricultores. Houve também uma
expansão do mercado interno, com o consequente estimulo à economia como um todo. Mas a grande transformação
ainda estaria por acontecer, ao atingir a indústria.
A partir de 1982, após o XII Congresso Nacional do PCCh, iniciou-se o processo de abertura no setor industrial.
Empresas estatais tiveram de se enquadrar à realidade e foram incentivadas a adequar-se aos novos tempos,
melhorando a qualidade de seus produtos, baixando seus preços e ficando atentas às demandas do mercado. Além
disso, o governo permitiu o surgimento de pequenas empresas e autorizou a constituição de empresas mistas (joint
ventures), visando atrair o capital estrangeiro.
A grande virada, porém, veio com a abertura das chamadas zonas econômicas especiais, das cidades abertas,
dos portos abertos, entre outras modalidades de abertura ao exterior (observe o mapa). O objetivo fundamental
dessas diversas áreas abertas, espécies de enclaves capitalistas dentro do território chinês, foi atrair empresas
estrangeiras, que proporcionaram não apenas capitais, mas tecnologia e experiência de gestão empresarial, que
faltavam aos chineses. Num esforço para ampliar as exportações, a China concedeu aos capitais estrangeiros ampla
liberdade de atuação nessas novas regiões industriais, especialmente nas zonas econômicas especiais (a maioria se
concentra na província de Guandong). Consequentemente, desde os anos 1990 o país tem se mantido quase sempre
como o segundo maior receptor de investimentos produtivos do mundo, só atrás dos Estados Unidos. Quase todas as
multinacionais com atuação global têm filiais na China, mas para se instalar em seu território precisam criar joint
ventures com empresas nacionais, o que implica transferência tecnológica.

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É importante destacar que as empresas estrangeiras são atraídas por um conjunto de fatores que tornam o
território chinês altamente favorável a uma produção voltada ao mercado externo e ao abastecimento do crescente
mercado interno, que veremos com mais detalhes ainda neste capitulo:
 baixos salários e mão de obra relativamente bem qualificada: a população é numerosa e os sindicatos são
proibidos;
 política tributária que favorece as exportações: redução ou isenção de impostos sobre produtos
industrializados;
 controle da taxa de câmbio: a cotação do iuane é mantida artificialmente baixa pelo governo, o que deixa os
produtos exportados baratos no mercado internacional;
 disponibilidade de modema infra-estrutura nas zonas especiais: o governo tem investido maciçamente em
portos, ferrovias, rodovias, telecomunicações etc.;
 disponibilidade de recursos naturais usados como matéria-prima e fontes de energia: apesar de seus imensos
recursos naturais a China é grande importadora;
 permissão para poluir e não investir em preservação ou recuperação ambiental: como veremos num texto a
seguir, essa política está mudando;
 nos últimos anos, grande crescimento e fortalecimento do mercado interno: está havendo uma elevação da
renda da população.

2.4 - A ECONOMIA QUE MAIS CRESCE NO MUNDO E SUAS CONTRADIÇÕES


Desde o início da década de 1980 a China tem sido a economia que mais cresce no mundo, a uma taxa média de
10% ao ano (observe a tabela). Entretanto, há regiões de seu território que ainda crescem mais. A província de
Guandong, a mais dinâmica do país e onde a internacionalização está mais avançada, apresentou uma taxa de
crescimento real de cerca de 12% ao ano, a mesma apresentada desde 1993 pela cidade de Xangai, escolhida pelo
governo para ser o centro financeiro e de negócios da China. Como consequência desse impressionante crescimento,
entre 1980 e 2007 o PIB chinês aumentou 1487% e se tornou o segundo/terceiro maior do planeta. Observe a tabela.

CHINA: INDICADORES ECONÔMICOS


1980 2000 2007 1980-2000 2000-2007
PIB (bilhões de dólares) 202 1080 3206 - -
Crescimento do PIB (% média anual) - - 11,9 10,4 10,3

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Além da liberalização econômica, dos impostos baixos e do iuane desvalorizado, outro fator fundamental que
vem atraindo vultosos capitais para a China e contribuindo para seu rápido crescimento é o baixíssimo custo de uma
mão de obra muito disciplinada e relativamente qualificada. Esse ainda é o principal fator de competitividade da
indústria chinesa. Na China paga-se menos de um dólar por hora trabalhada.
O governo também tem procurado atrair de volta ao país parte dos chineses que vivem no exterior, sobretudo nos
Estados Unidos. Quer de volta empresários, engenheiros e cientistas com experiência em empresas ocidentais. Vale
lembrar também que as populações de Taiwan, Hong Kong e Cingapura são compostas basicamente de chineses, o
que favorece o fluxo de capitais, informações e pessoas, além da presença de uma “cultura capitalista" na região.
Outro fator muito importante para o desenvolvimento chinês foram as enormes reservas de minérios e de
combustíveis fósseis em seu subsolo. O país é o 1º produtor mundial de minério de ferro, magnésio, chumbo, zinco e
o 2º de estanho; é também, segundo o The world factbook 2009, o lº produtor mundial de carvão (2,8 bilhões de
toneladas) e o 5º de petróleo (3,8 milhões de barris diários). Entretanto, o rápido crescimento econômico e a constante
elevação do consumo interno têm levado a China a investir na indústria extrativa de diversos países em
desenvolvimento, especialmente da África, para assegurar seu abastecimento futuro: por exemplo, em 2008 importou
4,4 milhões de barris de petróleo por dia (4º do mundo). O país também tem investido na construção de enormes
usinas hidrelétricas, como a de Três Gargantas, a maior do mundo, e em energias alternativas, como a eólica.
O rápido crescimento econômico concentrado especialmente nas cidades costeiras provocou o aumento das
migrações internas, apesar das restrições do governo central. Por exemplo, a população da cidade de Shenzen,
localizada na província de Guandong, próxima a Hong Kong, saltou de 300 mil habitantes, em 1975, para 7,6
milhões, em 2007. De acordo com o Urban Agglomerations 2007 (ONU), a cidade saltou da 401ª posição entre as
maiores do mundo para a 31ª colocação. Foi a cidade que mais cresceu no mundo nas últimas três décadas. A maioria
quer ir em busca de melhores salários nas zonas econômicas especiais e nas cidades livres, mas é sobretudo essa
migração que impede uma elevação maior dos salários. O governo tem procurando interiorizar a economia,
estimulando o desenvolvimento de novos centros industriais, mas é na fachada litorânea que ainda estão as maiores
oportunidades de trabalho.
Outro aspecto perverso desse crescimento acelerado foram os graves impactos ambientais provocados pelo
rápido e insustentável crescimento econômico, um verdadeiro “pesadelo” (leia o texto a seguir). Até os anos 1990 não
havia nenhuma preocupação com a questão ecológica por parte do regime chinês, a ordem era crescer a qualquer
custo e gerar urgentemente empregos, lucros, saldos comerciais e impostos. Como consequência as agressões
ambientais cresceram vertiginosamente: as cidades chinesas estão entre as mais poluídas do mundo, assim como seus
cursos de água, o que tem causado diversas doenças à população, e muitos de seus recursos naturais estão à beira do
esgotamento. Entretanto, agora no século XXI cada vez mais se dissemina no país a consciência de que o crescimento
precisa ser sustentável, não apenas do ponto de vista econômico e social, mas também ecológico, e o próprio governo
está preocupado com a questão.
Os baixos custos de produção proporcionados pela China têm levado os produtos do país a ganhar cada vez mais
mercados no mundo. De acordo com dados da OMC, em 1980, no início das reformas econômicas, as exportações
chinesas somavam 18 bilhões de dólares (25º lugar na lista dos maiores exportadores). Vinte e oito anos depois, o
país exportou mercadorias no valor de 1,4 trilhão de dólares, tornando-se o segundo maior exportador do mundo
(observe a tabela a seguir e compare os números da China com os dos outros países). Para se ter uma ideia do
explosivo crescimento das exportações chinesas, basta compará-lo com outro Bric, o Brasil. Em 1980, nosso país
exportou mercadorias no valor de 20 bilhões de dólares (19º lugar na lista) e, em 2008, 198 bilhões de dólares (22º
lugar). Enquanto as exportações brasileiras cresceram 890% no período, as chinesas cresceram 7833%!

OS CINCO MAIORES EXPOSTADORES MUNDIAIS DE MERCADORIAS E O CRESCIMENTO NO


PERÍODO 1980 – 2008
Posição /país Bilhões de dólares 1980 Bilhões de dólares 2008 Crescimento 1980 – 2008 (em %)
1. Alemanha 193 1465 659
2. China 18 1428 7833
3. Estados Unidos 226 1301 476
4. Japão 130 782 502
5. Países Baixos 74 634 757

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O governo da China aumentou gradativamente a quantidade de produtos industrializados na pauta de exportação


do país. Em 1980, 48% de suas exportações eram compostas de produtos industrializados; em 2005, esse índice subiu
para 95% de acordo com o Relatório de desenvolvimento industrial 2009. Desse percentual, 42,5% é composto de
produtos de baixo valor agregado, intensivos em trabalho, ou seja, que se valem da enorme disponibilidade de mão de
obra barata como vantagem competitiva. Entretanto, o governo tem se esforçado para aumentar os produtos de maior
valor agregado, de alto conteúdo tecnológico, na pauta de exportação. Para isso, desde meados da década de 1980
vem implantando as chamadas zonas de desenvolvimento econômico e tecnológico, tecnopolos que buscam atrair
indústrias de alta tecnologia. Em 2005, de acordo com o mencionado relatório, 57,5% dos produtos industrializados
exportados pelo país já eram compostos de bens de média e alta tecnologia, que são intensivos em capital. Grande
parte desses produtos é fabricada nas mais de 50 zonas de desenvolvimento econômico e tecnológico situadas
predominantemente na costa leste, tais como Xangai, Cantão, Fuzhou, Xiamen e Hainan. Muitas dessas regiões
industriais de alta tecnologia localizam-se em zonas econômicas especiais ou em cidades abertas.
Apesar de ter grandes reservas em seu subsolo, o país tem importado cada vez mais recursos minerais (e também
agrícolas) para sustentar sua crescente produção industrial. Segundo o Banco Mundial, em 2007, do valor de 956
bilhões de dólares que o país importou, 28% eram matérias-primas agrícolas, minérios e combustíveis fósseis. Para
garantir acesso a esses recursos, o governo chinês e algumas empresas do país têm feito maciços investimentos em
países em desenvolvimento, especialmente da África Subsaariana. Isso fez com que alguns analistas estabelecessem
uma correlação entre essa expansão econômica e o imperialismo europeu do século XIX a meados do XX. Porém,
seus líderes não se cansam de dizer que a expansão da China atual é marcada pelo que chamam de “ascensão
pacífica” (depois o termo foi trocado por “desenvolvimento pacífico”, para não gerar atrito com os Estados Unidos e
seus aliados, especialmente Japão e Coréia do Sul, que poderiam ver na palavra "as-censão" tendências hegemônicas
ou revanchistas).
Diferentemente dos países imperialistas europeus, os chineses não querem colonizar os africanos. Diversamente
da ação dos Estados Unidos e da União Soviética durante a Guerra Fria, não querem impor nenhuma ideologia,
nenhum sistema político-económico. Afirmam querer apenas fazer negócios e garantir a disponibilidade de recursos
naturais, assegurando seu crescimento econômico sustentado e contribuindo para o crescimento dos outros países. De
fato, com sua demanda crescente no mercado internacional, a China tem contribuído para a valorização dos produtos
primários, predominantes na pauta de exportação dos países em desenvolvimento. Muitas nações africanas, como
Angola e Sudão, vêm apresentando rápido crescimento econômico em grande parte graças aos investimentos
chineses. Muitos criticam os líderes de Pequim por fazerem negócios com regimes ditatoriais, como o do Sudão,
legitimando seus governantes, mas a própria China não é uma democracia.
A entrada da China na OMC, em 2001, foi um dos princi país acontecimentos da economia internacional no
início deste século e reforça sua posição mundial como grande país comerciante. Ao se adequar às regras dessa
organização, o país ampliou as possibilidades de negócios para suas empresas exportadoras e também para as
empresas estrangeiras que exportam para seu mercado interno.

2.5 - O PARQUE INDUSTRIAL


Em razão de seu rápido crescimento industrial, a China dispõe atualmente de um parque fabril muito
diversificado, e grandes corporações estão se constituindo no país. Em 2008, como mostra a tabela a seguir, havia 37
empresas chinesas, a maioria delas estatais, na lista das quinhentas maiores do mundo (15 anos antes não havia
nenhuma). Entre elas estão: Sinopec (atua no setor petrolífero e petroquímico; em 2008 era a maior empresa do país e
a nona na lista da revista Fortune), China Nacional Petroleum (petrolífero), State Grid (energia elétrica), Baosteel
(siderúrgico), China Railway (ferroviário), Shanghai Automotive e FAW Group (automobilístico) e Aviation Industry
Corporation of China - Avic (aeronáutico).
Esses dados refletem o explosivo crescimento econômico do país e evidenciam a crescente importância de suas
empresas no mundo. Acompanhe, na mesma tabela, a evolução do número de empresas chinesas entre as maiores do
mundo em comparação com outros países. Mas nem só de grandes empresas vive a economia chinesa. A maioria dos
empregados e grande parte da produção para a exportação, especialmente das mercadorias de baixo valor agregado,
concentram-se em milhões de pequenas empresas espalhadas pelo país, incluindo a zona rural.

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OS SEIS PAÍSES COM MAIOR NÚMERO DE EMPRESAS NA


GLOBAL 500 DA FORTUNE (2008)

Posição / país Número de empresas


1993 2000 2008
1. Estados Unidos 159 185 140
2. Japão 135 104 68
3. França 26 37 40
4. Alemanha 32 34 39
5. China 0 12 37
6. Reino Unido 41 33 26

Em muitos setores industriais, especialmente nos estratégicos, as empresas chinesas são controladas
predominantemente pelo Estado. De acordo com a OCDE, em 2003 o Estado controlava 93,8% da produção de
petróleo, 83,4% da eletricidade, 81,4% do carvão, 63,6% da siderurgia e 63,1% do material de transportes.
Entretanto, o setor privado está em crescimento constante e, se considerarmos a economia como um todo, já superou
o setor estatal. Ainda segundo a OCDE, o setor privado (nacional e multinacional) era responsável por 59% do PIB.
A maioria das grandes empresas multinacionais do mundo e mesmo algumas de menor porte têm instalado filiais
na China para aproveitar o gigantesco mercado interno, que não para de crescer, e as vantagens competitivas que o
país oferece para exportação (quase todas as 500 da lista da revista Fortune possuem filiais lá). Há inclusive algumas
multinacionais brasileiras instaladas no país: Embraer (fabrica aviões civis em sociedade com a Avic), WEG
(motores elétricos), Embraco (compressores), entre outras.
O acelerado crescimento econômico da China e sua transformação em "fábrica do mundo” transformou
radicalmente as paisagens do país, especialmente as urbanas. As cidades cresceram exponencialmente, fábricas foram
erguidas por todos os lados e a poluição cresceu na mesma proporção, mas ao mesmo tempo esse processo tirou
milhões de pessoas da pobreza e constituiu uma classe média. Em 1981, segundo o Banco Mundial, 97,8% da
população chinesa vivia na pobreza (com menos de 2 dólares/ dia) e 84,0% na extrema pobreza (com menos de 1,25
dólar/dia); em 2005, a população que vive na pobreza caiu para 36,3% e a que vive na extrema pobreza, para 15,9%.
A expansão da classe média, com crescente poder de compra, ampliou significativamente o mercado consumidor
interno, como se pode constatar pelos dados da tabela.

CONSUMO DOMÉSTICO NA CHINA (NÚMERO DE APARELHOS PARA CADA 100 RESIDÊNCIAS)


Aparelho 1985 2003
TV em cores 4 94
Máquina de lavar 1 59
Geladeira 1 46
Ar condicionado 0 28
Computador 0 12

Entretanto, ao mesmo tempo, esse crescimento acelerado vem concentrando renda nos estratos mais ricos da
sociedade e contribuindo para ampliar as desigualdades sociais (observe a tabela abaixo). De acordo com o Hurun
Report, em 2009 havia na China 130 pessoas com uma fortuna superior a 1 bilhão de dólares (só perdia para os
Estados Unidos, com 359 bilionários). O vínculo com o Partido Comunista ajuda a fazer negócios e a enriquecer;
segundo o mesmo relatório, um terço das mil pessoas mais ricas da China pertence ao PCCh.
Essas são algumas das contradições da “economia socialista de mercado”.

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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NA CHINA (PERCENTUAL SOBRE O TOTAL DA RENDA NACIONAL)


Ano Aos 20% mais pobres Aos 60% intermediários Aos 20% mais ricos Aos 10% mais ricos
1992 6,2 49,9 43,9 26,8
2005 5,7 46,5 47,8 31,4

2.6 - SUCESSÃO POLÍTICA E INTEGRIDADE TERRITORIAL


Os dilemas que a China enfrenta nos últimos anos ganham grande importância no cenário mundial. A economia
do país registra um crescimento extraordinário, com taxas superiores a 10% ao ano. O PIB chinês, ajustado pelos
padrões de poder de compra, saltou para a segunda posição no mundo, atrás dos Estados Unidos e superando o Japão.
O país recebe praticamente a metade de todos os investimentos internacionais fora dos países ricos.
Contudo, no momento da sucessão de Deng Xiaoping a estabilidade geopolítica da China tornou-se fonte de
preocupações internacionais. Na cúpula do PCC, movem-se como sombras os pretendentes ao poder, organizando em
torno de si as facções típicas dos processos de transição política dos regimes totalitários.
As incertezas quanto ao futuro político trazem à tona incertezas quanto à própria integridade territorial do Estado.
A história da China, desde a criação do império, há mais de 4 mil anos, tem sido marcada por períodos de extrema
centralização, alternados com longas fases de enfraquecimento do poder central, chegando, às vezes, à fragmentação
do território, que se organizava em moldes feudais. No cenário atual, a ampliação das desigualdades regionais faz
pairar a ameaça de fragmentação do país.
Atualmente, o território chinês exibe três conjuntos regionais distintos: a China oriental ou marítima,
industrializada e fortemente urbanizada, foco original da etnia majoritária do país, os han (90% da população); a
China central ou interior, agrária e pobre; a China periférica, de ocupação esparsa e etnicamente distinta.
A China oriental é, historicamente, a região de maior importância econômica e demográfica em função do delta
dos rios Hoang-Ho e Iang Tsé-Kiang, berços da civilização e da agricultura chinesa. As áreas mais a sudeste sempre
estiveram vinculadas à navegação e ao comércio com o estrangeiro. No século XIX, as concessões coloniais
reforçaram o papel de cidades costeiras como Xangai e Cantão. A instalação das ZEEs, em 1984, acentuou ainda
mais as peculiaridades dessa região, ao mesmo tempo que produziu diferenças no seu interior. Assim, na porção
setentrional, a Manchúria continua sendo uma área onde a indústria pesada e os interesses japoneses são tradicionais.
Mais ao sul, a região que tem Xangai como centro diversifica suas relações comerciais com várias partes do mundo.
A área meridional, polarizada por Cantão, funciona como elo de ligação com Hong Kong, Taiwan e com a importante
diáspora chinesa do sudeste asiático.
A China central mantém sua tradição agrária e comporta-se como reservatório de mão-de-obra para os centros
urbanos. É nessa parte do país que melhor se identificam os grandes cinturões agrícolas, que praticamente
acompanham os vales dos rios, especialmente o Hoang-Ho (a chamada "China do trigo") e o lang Tsé-Kiang (a
"China do arroz"). Nessa região, os salários são, em média, a metade da porção oriental.
A China periférica, apesar de compreender mais de 60% da área do país, concentra pouco mais que 10% da
população, composta pelos 56 grupos étnico-nacionais reconhecidos pelo governo central, e detém menos de um
décimo da renda. Três áreas merecem destaque nessa região: o Tibete ou Xizang, na porção sudoeste; o antigo
Turquestão chinês ou Xijiang-Uigur, a noroeste; e a Mongólia interior ou Nei Menggu, junto às fronteiras da
Mongólia. O Tibete, ocupado desde o início dos anos 50, vem tentando se livrar sem sucesso da tutela chinesa. O
Xijiang-Uigur é habitado majoritariamente por povos semi-nômades de cultura turca e religião islâmica. Por fim, a
Mongólia interior possui tribos mongóis que praticam há séculos o pastoreio nômade e semi-nômade.
Os diferentes ritmos de crescimento regional, somados às dificuldades no quadro sucessório, podem ativar
importantes tensões separatistas. Isso delineia um quadro preocupante para um país que, através dos tempos, tem tido
rivalidades persistentes com alguns de seus vizinhos e pretensões, nunca abandonadas, de ser uma potência
continental, além de suas armas nucleares e da possibilidade de que sua fragmentação territorial projete uma incrível
onda imigratória em direção aos países desenvolvidos, abalando as estruturas internacionais de forma imprevisível.

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LEITURA EXTRA
Cinco mitos sobre a economia chinesa
Autor(es): Agência O Globo/ARTHUR KROEBER O Globo – 18/04/2010
A impressionante ascensão econômica da China é uma das grandes histórias desta geração. Em apenas três
décadas, desde que abraçou a economia de mercado, a China deixou para trás sua pobreza desesperadora para se
tornar a maior nação exportadora do mundo. A transformação ocorreu tão rapidamente que proliferam mitos e mal-
entendidos.
1. A China irá rapidamente ultrapassar os EUA como a economia mais poderosa do mundo.
De acordo com uma pesquisa feita em novembro pela Pew Research Center, 44% dos americanos acreditam que
a China já é a maior potência econômica, enquanto 27% põem os EUA nessa posição. Essa percepção está
completamente em desacordo com os fatos.
Este ano, a economia da China deverá produzir cerca de US$ 5 trilhões em bens e serviços. Isto irá colocá-la à
frente do Japão, como a segunda maior economia, mas ela ainda seria pouco mais de um terço da americana (US$ 14
trilhões), e bem atrás da União Europeia, se tomada como um todo.
Uma razão pela qual a economia chinesa é tão grande é que o país tem 1,3 bilhão de habitantes. Mas o PIB per
capita chinês é apenas um sétimo do americano. Em termos de padrão de vida das famílias, a China está ainda mais
atrasada. A cada ano, uma família chinesa consome, em média, 1/14 do valor em bens e serviços adquiridos por uma
família americana. E, apesar de sua perda crônica de empregos no setor manufatureiro, os EUA ainda são o líder
nessa área Em termos de valor dos bens, os EUA respondem por mais de 20% da produção global, cerca de duas
vezes mais que a China.
2. O vasto estoque de títulos do Tesouro americano em poder da China significa que Pequim pode tornar
Washington refém em negociações econômicas.
A China detém mais títulos do Tesouro americano do que qualquer outro país — cerca de US$ 1 trilhão. Muitos
pensam que, com isto, a China é o banqueiro dos EUA e que pode fechar sua linha de crédito a qualquer momento
que Washington faça algo que desgoste os líderes chineses.
Mas a posse dos títulos do Tesouro pela China não é o mesmo que um empréstimo regular que um banco
concede a uma companhia. Parecem mais com depósitos: seguros, com elevada liquidez e taxas de juro muito baixas.
Como um depositante, a China tem pouca capacidade para dizer a seu banco como ele deve gerir seus negócios.
Ela pode apenas transferir seus depósitos para outro lugar — mas eles são tão grandes que não há outro “banco”.
Os mercados de títulos europeu e japonês não são grandes o bastante para absorver tanto dinheiro da China, nem
a China pode comprar campos de petróleo, minas ou imóveis suficientes para aplicar todo seu dinheiro. E o país não
pode simplesmente investir todo o dinheiro em sua própria economia, sob pena de ver a inflação disparar. Desta
forma, goste-se ou não, Washington e Pequim estão grudados um no outro — e nenhum dos dois tem o poder de
tornar o outro refém.
3. Deixar sua moeda apreciar é a coisa mais importante que a China pode fazer para reduzir seu superávit comercial.
Algumas companhias americanas, sindicatos e políticos se queixam que, ao manter uma taxa fixa entre o yuan e
o dólar, a China está injustamente tornando seus produtos mais baratos no mercado mundial, ampliando seu superávit
às expensas de seus parceiros comerciais.
Certamente, o câmbio é importante, mas é um erro achar que deixar o valor do yuan aumentar magicamente faria
o superávit comercial chinês desaparecer. No final dos anos 80, o Japão deixou o iene dobrar de valor, mas seu
superávit comercial não cedeu.
De maneira inversa, em 2009 a China manteve o valor do yuan fixo contra o dólar, mas seu superávit comercial caiu
em um terço.
De longe, a coisa mais importante que a China poderia fazer para reduzir seu superávit comercial é estimular a
demanda interna (inclusive por produtos importados), algo que ela começou a fazer via um maciço programa de
investimentos em infraestrutura.
4. A fome da China por recursos está deixando o mundo seco e dando grande contribuição para o aquecimento global.
É verdade que a China é hoje a maior produtora de dióxido de carbono e outros gases-estufa que contribuem para
o aquecimento global. E é verdade que a China usa mais energia para produzir cada dólar de seu PIB que a maioria
dos outros países, inclusive os EUA. Mas, numa base per capita, o uso de recursos (...) pela China ainda é modesto se
comparado aos países ricos. Por exemplo, a despeito do rápido crescimento do uso de automóveis, a China consome
cerca de 8 milhões de barris de petróleo por dia. Os EUA consomem cerca de 20 milhões de barris/dia. Os EUA, com
apenas 5% da população mundial, respondem por quase um quarto do consumo global de petróleo. De quem é o
apetite que causa maior problema? Além disso, ao contrário dos EUA, a China reconheceu que não pode deixar seu
apetite por combustível fóssil crescer para sempre e está trabalhando duro para aumentar a eficiência.

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5. A economia chinesa cresceu principalmente via cruel exploração de mão de obra barata.
Toda vez que uma economia em desenvolvimento começa a crescer rapidamente, países ricos a acusam de
trapacear ao manter os salários e a taxa de câmbio artificialmente desvalorizados.
Mas isto não é trapacear; é um estágio de desenvolvimento natural que caminha para o fim em todo país, como
acontecerá na China. Esta cresceu de forma muito similar às outras economias que hoje consideramos maduras e
histórias de sucesso responsáveis — incluindo Japão, Coréia do Sul e Taiwan. Estes países investiram pesadamente
em infraestrutura e educação, e rapidamente levaram seus trabalhadores de empregos de baixa produtividade em
áreas rurais para outros mais produtivos nas cidades.
A China está atingindo esse estágio agora: o número de jovens com idade de entrada na força de trabalho (15 a
24 anos) deverá cair em um terço nos próximos 12 anos. Com trabalhadores jovens mais escassos, os salários não
poderão senão subir. Isto já está acontecendo.
No mês passado, a província de Guangdong (maior centro exportador da China) aumentou o valor do salário
mínimo em 20%.
A China ainda tem grande quantidade de trabalhadores se dirigindo do campo para as cidades, mas a era do
trabalhador chinês ultrabarato em breve ficará para trás.
ARTHUR KROEBER é diretor-gerente da GaveKal-Dragonomics, empresa de pesquisas em Pequim.
© The Washington Post.

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