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O MAGISTÉRIO DOS

ÚLTIMOS PAPAS
SOBRE
O
CAMINHO CARTUSIANO

Cartuxa Nossa Senhora Medianeira


2016

1
APRESENTAÇÃO

Os Papas mais recentes referiram-se com frequência ao lugar que a


vida contemplativa tem na Igreja.
Dentro do seu magistério, na presente coletânea, desejamos agrupar
aqueles textos pontifícios que vão dirigidos expressamente a iluminar
o caminho cartusiano.
Em tais documentos marcam-se as linhas essenciais do carisma que
o Espírito de Cristo concedeu a Mestre Bruno, dentro da comunhão do
Povo de Deus. Ao mesmo tempo, neles se assumem os novos
planejamentos eclesiológicos propostos pelo Vaticano II.
É para agradecer a Deus Pai, doador de todo bem, a luz que
desprendem estes apontamentos dos Vigários de Cristo, com os quais
não só se confirma a audaz senda que São Bruno abriu no deserto há
mais de nove séculos, mas neles também se enquadra dito caminho na
visão cristocéntrica pela qual o Espírito sopra hoje em sua Igreja.
Por essa causa, acreditamos que sua leitura meditada pode ser guia
para todos os jovens que quiserem beber da tradição viva que Mestre
Bruno nos deixou, no seguimento de Jesus pelo deserto. Foi assim que
Bruno desejou viver para louvor da glória do Pai e edificação do seu
reino na Terra.
Colocaremos aqui, primeiramente, os documentos que foram
dirigidos expressamente à Ordem Cartusiana, ou a alguma Cartuxa
em particular. Finalizaremos com um apêndice, onde irão alguns
outros textos dirigidos a diferentes destinatários, nos quais os mesmos
Papas fazem alusão à pessoa de São Bruno ou à sua espiritualidade.

URBANO II
CONFIRMA BRUNO NO SEU CAMINHO

2
CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA
UMBRATILEM VITAM,
DO PAPA PIO XI

Aprovando em forma específica os Estatutos da Ordem Cartusiana,


revisados segundo as prescrições do Código de Direito Canônico de 1917

PIO, Bispo Servidor dos servos de Deus para perpetua memoria.


Oficio e excelência da vida contemplativa
Valor e eficacia da oração penitência dos contemplativos.

1. Aqueles que, por estado, levam uma vida de retiro e solidão afastada do estrépito e
loucuras do mundo para se dedicarem não só à contemplação dos divinos mistérios e
das verdades eternas, mas também para suplicar a Deus, com fervorosas e incessantes
preces, a extensão do Seu reino e a expansão da Igreja, e para expiarem, não tanto os
pecados próprios como os alheios, mediante os exercícios de penitência interior e
exterior, impostas ou voluntárias, estes – deve se proclamar com verdade – escolheram,
com Maria de Betânia, a melhor parte.
2. Porque, efetivamente, não se pode propor aos homens um gênero de vida mais
perfeito, se para isso forem chamados pelo Senhor. Tanto pela sua íntima união com
Deus como pela sua santidade interior, os seguidores desta vida oculta e solitária nos
claustros contribuem grandemente obra suster o resplendor da santidade que e Esposa
imaculada de Cristo oferece aos olhos de todos para que a admirem e imitem.
3. Por isso, não, de admirar que os antigos escritores eclesiásticos para louvar a
eficácia inerente às orações destes religiosos, chegaram compará-la à oração de Moisés,
lembrando o seguinte fato de todos conhecidos.
4. Quando Josué lutava na planície contra os amalecitas, Moisés, orava no cimo do
monte: quando este levantava as mãos para o alto, os Israelitas venciam, e quando,
fatigado, deixava-as cair, eram os amalecitas que ganhavam. Em vista disso, acudiram
Aarão e Hur duma e outra parte e sustentaram-lhe os braços, pelo que Josué saiu
vitorioso.
5. Neste fato temos um magnífico símbolo destes religiosos, cujas preces são
valorizadas pelo augusto sacrifício do Altar e pelo exercício da penitência,
representados por Aarão e Hur. Porque, como já o temos dito essa é a ocupação
habitual e principal destes solitários, investidos dum cargo até certo ponto público,
oferecer-se e imolar-se e Deus como hóstias de paz para a salvação de todos.
6. Por isso, esta vida de perfeição é muito mais proveitosa para a sociedade do que se
pensa, propagou-se na Igreja desde os mais remotos tempos. Porque, sem necessidade
de falar agora dos "ascetas", que desde as origens do cristianismo levaram nas suas
casas uma vida austera que próprio São Cipriano chegou a considerá-los como "a
porção mais ilustre do rebanho de Cristo”, sabe-se que com certeza que durante a
perseguição de Décio, um número considerável de fiéis de Egito buscaram um refúgio
nas regiões desérticas de sua pátria. Ali experimentaram quanto ajuda a solidão para

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levar uma vida perfeita, e preferiram continuar no deserto mesmo depois de ter cessado
a perseguição.
7. Destes anacoretas (cujo número foi tão grande que se chagou afirmar que o deserto
estava tão povoado como as cidades), uns continuaram vivendo afastados de todo o
trato com os homens, e outros, guiados por Santo Antão, reuniram-se em Lauras. Desta
maneira foi nascendo pouco a pouco a prática da vida comum, organizada e regulada
por determinadas leis, que rapidamente se estendeu por todo o Oriente, depois pela
Itália, Gálias e África do Norte, surgindo mosteiros por toda a parte.
8. Esta instituição (que se baseava inteiramente na entrega absoluta à divina
contemplação das realidades celestes) de monges que viviam no segredo das suas celas,
livres e desligados de todo ó ministério exterior, foi duma admirável utilidade para a
sociedade cristã. Com efeito, tanto o povo como o clero daquelas épocas não podia
menos de considerar com grande proveito o exemplo daqueles homens que,
arrebatados pelo amor de Cristo para quanto há de mais perfeito e austero, imitavam a
vida interior que o Senhor levou em Nazaré e completavam, como vítimas consagradas
a Deus, o que falta aos sofrimentos de Cristo na Sua paixão (cf.Cl 1,24).
9. Com o tempo, porém, esta tão perfeitíssima instituição da chamada vida
contemplativa perdeu qualquer coisa do seu primitivo fervor. Porque os monges
misturaram quase insensivelmente a contemplação das coisas divinas com as obras da
vida ativa. O qual sucedeu por necessidade de socorrerem os padres, às instancias dos
Bispos, no trabalho apostólico, ou de se entregarem à instrução popular que Carlos
Magno promovia. Unia-se a isto a perturbação geral das guerras e outros
acontecimentos daquela época, que produziriam nos mosteiros certa relaxação.
10. Vê-se logo, pois, quanto interessava à Igreja que esse gênero e estilo de vida, com
tantos séculos de história gloriosa, voltasse a ser o que antes fora. Assim nunca
faltariam na Igreja intercessores que livres de qualquer outra ocupação, implorassem
sem descanso a divina misericórdia e fizessem descer do céu sobre os homens,
demasiado preocupados com as coisas terrenas e esquecidos das celestiais e da eterna
salvação, toda a espécie de benefícios.
11. Na Sua infinita bondade, Deus não cessa jamais de remediar as necessidades da
Sua Igreja e de velar pelos seus interesses, e com este fim escolheu São Bruno, varão de
eminente santidade, para volver à vida contemplativa a sua pureza e esplendor
primitivos. Este foi o motivo de ter fundado a Ordem Cartusiana, à qual soube infundir
o seu próprio espírito e dar-lhe umas leis capazes da mover eficazmente os religiosos,
livres de toda a função e atividade exterior, a percorrer com mais rapidez o caminho da
santidade interior e na mais rigorosa penitência, sentindo-se, ao mesmo tempo,
animados a perseverar sem desfalecer nessa mesma austeridade.
12. Os Cartuxos, como é sabido, têm guardado tão perfeitamente durante nove
séculos o espírito do seu Fundador e Legislador, que, ao contrário do que acontece
noutras Ordens, jamais têm necessitado de correção ou "reforma".
13. Quem não sente admiração por estes homens que se afastam totalmente, e para
toda a vida, da companhia dos homens para trabalhar num apostolado silencioso e
oculto, pela salvação dessa mesma sociedade que deixam; para viverem numa solidão
tão perfeita que por nenhuma causa nem necessidade nem nenhum tempo abandonam
durante todo o ano? Reúnem-se na igreja do mosteiro em determinadas horas do dia e
da noite não para salmodiar, como as outras Ordens, mas sim para cantar
animadamente e com entusiasmo, "com voz clara e sustida", sem órgão ou outros

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instrumentos o Divino Ofício completo, conforme as antigas melodias gregorianas dos
seus livros litúrgicos.
Como o Bondoso Deus não escutaria as súplicas de tão piedosos religiosos que assim
clamam a Ele pelas necessidades da Sua Igreja a pela conversão dos homens?
14. Da mesma maneira que Bruno gozou de estima e benevolência do nosso
antecessor Urbano II, que em Reims fora discípulo de tão devotíssimo varão, ao qual
chamou depois para junto de si com o fim de tê-lo como conselheiro, assim a Ordem
Cartusiana tem desfrutado sempre da graça da Sé Apostólica, pois além de tudo o mais
bastava só a sua simplicidade e santa rusticidade de vida para recomendá-la. E hoje
continua a ser amada por Nós que, não menos que nossos Antecessores, desejamos a
extensão e o progresso desta Ordem tão proveitosa.
15. Com efeito, se em tempos passados foi necessária e existência e o apogeu de tais
anacoretas, nunca como hoje foi tão necessária. Vemos, na verdade, tantos cristãos
entregues sem freio às riquezas e aos prazeres do corpo, com desprezo das coisas do
alto e até com total esquecimento da eterna salvação, professando privada e
publicamente uns costumes pagãos, em tudo opostos ao Evangelho.
16. Talvez não faltarão quem ainda pense que já não são do nosso tempo as virtudes
impropriamente chamadas passivas, a que em lugar da antiga disciplina claustral há que
fomentar agora uma mais ampla e livre prática das virtudes chamadas ativas. Mas tal
opinião, condenada, refutada e banida por nosso antecessor Leão XIII, de imortal
memória, na sua Carta "Testem Benevolentiæ" de 22 do Janeiro de 1899, é
evidentemente injuriosa e funesta, tanto para a teoria como para a prática da perfeição
cristã.
17. Por outra parte, facilmente se compreende que contribuem muito mais para o
incremento da Igreja e para a salvação do gênero humano os que assiduamente
cumprem com seu dever de oração e penitência, que aqueles que com seus suores e
fadigas cultivam o campo do Senhor; pois se aqueles não fizessem descer do Céu a
abundância das divinas graças para regar esse campo, os operários evangélicos não
conseguiriam nos seus trabalhos senão muito escassos frutos.
18. Não é necessário que Nós digamos como é grande a esperança que nos infundem
os monges cartuxos: obedecendo à regra própria da Ordem não só com exatidão, mas
com generosos impulsos do espírito, a sua alma encontrará, em virtude dessa mesma
regra, um meio eficaz para alcançar a santidade mais elevada, e converter-se-ão estes
religiosos em poderosíssimos intercessores para todo o povo cristão.
19. Estes Estatutos, pelos quais se governa a Ordem, mereceram do nosso Antecessor
Inocêncio XI uma aprovação particularmente solene, chamada "specífico modo", dada
na Constituição “Injunctum Nobis" de 27 de Março de 1688.
Grandes são os elogios que nesse Documento tributou à vida cartusiana, tanto mais
valiosos quanto proferidos por um Pontífice ilustre pela sua santa vida, o qual não
hesitou em escrever que os Papas sempre tinham considerado a Ordem Cartusiana
“como uma árvore boa plantada pela mão do Senhor no campo da Igreja militante, e
que produzia constantemente copiosos frutos de justiça", e que ele próprio “levava no
mais íntimo do coração a mencionada Ordem e as pessoas da mesma que não cessavam
de servir a Deus ocupados na sublime contemplação das coisas divinas".
20. Fazendo-se necessário acomodar os Estatutos ao Código de Direito Canônico, os
Superiores da Ordem reuniram-se em Capítulo Geral para estudar esse assunto de
comum acordo.

5
Assim fizeram-no, com efeito, e muito acertadamente, suprimindo certos pontos
introduzidos pelo uso, mas que já, sem menosprezo do essencial, podiam considerar-se
antiquados, e incluindo algumas Ordenações dos Capítulos Gerais. Repassados e
emendados dessa forma os Estatutos, fora apresentados em língua latina, à Sagrada
Congregação dos Religiosos.
O teor dos Estatutos, é como segue:
…………………………………………………………………………………………..
Aqui vai o texto mesmo dos Estatutos
………………………………………………………………………..

Tendo-nos suplicado humildemente o Superior Geral e os Capitulares da Ordem


Cartusiana que aprovássemos com a autoridade apostólica estes Estatutos que vão
incluídos na presente Constituição, de boa vontade decidimos aceder aos seus desejos.
Portanto, aprovamos e confirmamos com a nossa autoridade apostólica os Estatutos
da ordem cartusiana, como se contêm nas linhas precedentes, corrigidos e revisados;
acrescentando-lhes o vigor da inefável firmeza apostólica, e se algum defeito se achar
neles, nós o suprimimos.
Já sabemos que os religiosos Cartuxos não precisam de qualquer exortação nossa
para cumprir doravante com constância e fidelidade as suas Regras como até hoje, com
todo o fervor. Todavia, com o fim de os estimularmos e também de os oferecermos mais
outra prova da nossa paternal benevolência, lhes concedemos para sempre, que possa
lucrar cada ano indulgência plenária visitando a igreja do mosteiro e cumprindo as
demais acostumadas condições, aos 8 de Julho, data para eles muito memorável.
Esta é a nossa vontade; e estabelecemos que a presente Constituição e os Estatutos
nela incluídos sejam e permaneçam firmes, válidos e eficazes para sempre; que surtam
os afeitos, planos e íntegros; e que recebam toda a força em favor daqueles para quem
estão dados, no presente e no futuro. Assim deve ser admitido por todos e se se atentar
qualquer coisa contra isto, desde já fica anulado, seja o que for, não importa quem o
fizer, ou com que autoridade. Sem que se oponha nada, por muito digno da atenção que
seja. E queremos que as copias desta Constituição façam fé, mesmo impressas, como se
fosse o original, com tal que levem a assinatura dum notário público e o carimbo de
alguma dignidade eclesiástica.
Dado em Roma, em São Pedro, aos 8 do Julho de 1924, no terceiro ano do nosso
pontificado.
Pio, PP XI
P. CARD. GASPARRI C, CARD. LAURENTI
a Secretis Status Congreg. de Religiosis. Praefectus.

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CARTA APOSTÓLICA
DO
PAPA PIO XII
A
DOM GERALDO RAMAKERS,
Prior da Cartuxa de Vedana, com motivo do
V Centenário da fundação deste monastério.
(A.A.S, 1958.12.n.48, p.614)

Saúde e benção apostólica, amado filho.


Cumpre-se já o V Centenário da fundação de vosso mosteiro; e isso, à vez que vos
traz à memória tantas e tão grandes obras de santidade, de doutrina e de penitência aí
mesmo realizadas por vossos maiores, vos deve a cada um mover, não só a guardar tão
preclaros exemplos na alma, senão a imitá-los com entusiasmo.
Vossa forma de vida religiosa, como bem o entendeis vós é altíssima; que se próprio
dos demais homens é conhecer, amar, fazer reverência a Deus, o vosso, em quanto é
factível nesta vida mortal, deve ser, além disso, fruir Dele e disfrutar aquela suavidade
que é imagem e prenda da celestial doçura.
E se o próprio, igualmente, dos demais é servir a Deus, o vosso deve ser unir-vos a
Ele plenamente e obedecer de tal modo sua vontade na terra em todas as coisas, como o
fazem os Anjos nos céus.
O gênero de vida, pois, ao qual Deus, com superior movimento e com a graça divina,
vos chamou, é como angélico.
Necessário é, por tanto, que vos mostreis para com Ele muito agradecidos por tão
excelso beneficio recebido.
Mas isto também o sabeis vós: quanto maiores são os dons de Deus, tanto mais
pronto e ativo deve ser a aplicação de vossa vontade. Aplicação, que não só demanda
de vós que leveis uma vida entregue do tudo a Deus no retiro, a solidão e a penitência,
senão que vos pede também que ardais nas chamas daquela caridade que mova vossa
alma a entregar-vos plenamente à obra da salvação dos demais seres humanos. Para
cuja salvação muito aportareis, certamente, orando, chorando, expiando, contemplando.
Contudo, não é isto tudo. Como ensina o Doutor Angélico, "mais é dar parte aos
outros do que se contempla, que só o contemplar".1
Assim, pois, levai à prática, na medida em que o permitem vossos Estatutos, aquela
máxima: "ora et labora". E se ao labor do mundo no podeis acudir, o exemplo de vossas
virtudes e o que escreveis como fruto de vosso estudo; – sobretudo na Sagrada Teologia
–, em defesa da integridade dos costumes, ou sobre a necessidade de rogar, de expiar e
de contemplar as coisas do céu, movam saudavelmente a todas as classes dos homes.
E ainda mais que nada, esforçar-vos por serdes contados no número daqueles que
procuram o que Moisés no alto do monte, que colocado na presença do Senhor, abertos
seus braços e derramando ali sua oração, rogava ao Deus eterno, enquanto o povo
lutava lá embaixo contra o inimigo.2

1 ST,II-II, q.188, a.6.


2 Ex.17,9.

7
Impetrai assim de Deus com vossas virtudes e oração a paz para o povo, que luta, em
perigo, rodeado das milícias inimigas; alcançai-lhe a concórdia; e, sobre tudo, aquele
gosto das coisas do alto,3 de que tanto necessita.
Deste modo, respondereis magnificamente a vossa profissão religiosa. E seguindo os
passos de vossos maiores, que é o que ides comemorar nesta ocasião, conseguireis
ganhar muito, não só para vosso aproveitamento, senão para o dos outros.
E isto, amado filho, é o que lhe suplicamos a Deus muito encarecidamente para ti e
tua família religiosa neste aniversário secular, ao dar-vos de todo coração nossa benção
apostólica, prenda dos dons do céu e de nossa paternal benevolência.
Dado em Roma, junto da Confissão de São Pedro, no dia IV de agosto do ano de
MDCCCCLVI, o XVIII de nosso Pontificado.
Pio, PP. XII

3 Cf. Cl 3,1-2.

8
CARTA DO BEM-AVENTURADO PAPA PAULO VI
OPTIMAM PARTEM
A
DOM ANDRÉ POISSON,
Prior de Chartreuse e Ministro Geral da Ordem Cartusiana.
(AAS.nº.63,p.458.1971)

Querido Filho, a Nossa saudação e a Bênção Apostólica.


Diz-se, com razão, que escolheram a melhor parte4 aqueles que se afastaram das coisas
terrenas e se consagraram a Deus, para servi-Lo na solidão do corpo e do espírito. Ao
despojar-se dos impedimentos que servem de obstáculo ao espírito para a contemplação
das verdades divinas, conseguem mais facilmente o que S. Teodoro Estudita afirmou
com acerto ser próprio dos monges: "É monge o que concentra o seu olhar em Deus,
tem desejos de Deus, se dedica a Deus, se esforça por prestar culto a Deus, se encontra
em paz com Deus e promove a paz para os outros".5 Trata-se, sem dúvida, de uma
forma de vida singular, em que se antecipa de certo modo cá na terra a existência dos
cidadãos da pátria celeste. Por isso, aos que escolheram este modo de vida solitário, se
lhes pode aplicar perfeitamente as palavras de Santo Agostinho a propósito dos castos
em geral: "Quanto melhores sais vós que começais a ser antes da morte o que hão-de ser
os homens depois da ressurreição".6
Valor da vida contemplativa
Contudo, não devemos pensar que os habitantes da Cartuxa se encontram à margem
do corpo da Igreja e da sociedade humana. Porque, como afirmou claramente o Concílio
Vaticano II, "A vida contemplativa pertence à plenitude da presença da Igreja";7 e os
que a seguem "movem o povo de Deus com o seu exemplo e dilatam-no com uma
misteriosa fecundidade apostólica".8
A Ordem Cartusiana tem praticado esta vida solitária e de união com Deus, de forma
integra e exemplar, através dos tempos, como uma herança recebida dos seus
fundadores. Isto constitui para ela um apreciável motivo de louvor e de apreço. Toda a
Igreja está interessada em que perdure esta forma de vida, quer dizer, em que os seus
membros, desejosos de dar a Deus a honra que Lhe é devida, consagrem perpetuamente
as suas forças à adoração do Senhor. Com este culto sincero e indiviso, a Ordem não só
se torna muito útil aos cristãos, mas oferece ainda uma considerável ajuda a todos os
homens que buscam o caminho da verdade e necessitam da graça divina. Com efeito,
convém ter presente que a contemplação e a oração contínua são dons primários para
ajudar todo o mundo.9
Esta forma de vida que, quanto o permite a condição humana, se orienta para Deus
de uma maneira direta e contínua, põe também os monges num contato especial com a
Santíssima Virgem Maria, a quem costumam chamar Mãe singular dos Cartuxos.

4 Cf. Lc. 10, 41.


5 Parva Catechesis, ed. E. Auvray, Paris 1891, pp. 141-142.
6 Sermo 132, 3; PL 38, 736.
7 Cf. Decr. Ad Gentes Divinitus, 18; cf. também Instr. Venite Seorsum: A.AS, 61 (1969), pp. 689.
8 Decr. Perfectæ Caritatis, 7.
9 Cf. Conc. Vatic. II, Decr. Perfectæ Caritatis, 9; Ad Gentes Divinitus, 40.

9
É, pois, com agrado que manifestamos a esta família religiosa o nosso paternal afeto e
alta estima. Segundo se Nos informa, vai celebrar em breve o Capítulo Geral especial
que será de grande importância nas circunstâncias atuais, visto tratar-se de rever as leis
da Ordem. Isto Nos move, portanto, a indicar nesta Carta o que a Igreja espera dos
monges Cartuxos e algumas coisas que Nos parecem úteis para orientar retamente o
trabalho desse Capitulo.
Como se sabe, a vossa Ordem compreende monges com obrigação ao coro e irmãos
conversos ou donatos, unidos entre si por fraterna dependência, mútuo respeito e um
propósito comum de servir a Deus e unir-se a Ele. Por isso, convém que as vossas leis
que tendes entre mãos enunciem claramente que todos participam do mesmo
patrimônio espiritual, já que, tanto os sacerdotes como os conversos ou donatos podem
viver plenamente a vocação monástica.
Sacerdócio e vida monástica
Quase desde as origens da Ordem, os monges obrigados ao coro são sacerdotes ou
religiosos que se preparam para receber as sagradas ordens. Hoje em dia, há quem
considere pouco conveniente que sejam promovidos ao sacerdócio cenobitas ou
eremitas que nunca exercerão o ministério sagrado. Esta teoria, porém, como já temos
dito,10 carece de fundamento sério e seguro. Muitos Santos e muitíssimos religiosos
uniram a profissão de vida monástica, mesmo eremítica, com o sacerdócio, porque viam
claramente a perfeita conformidade de ambas as consagrações, a de presbítero e a de
monge. De fato, a solidão onde o homem se dedica somente a Deus, o desprendimento
absoluto dos bens deste mundo, a renúncia à própria vontade, tal como a praticam os
que se fecharam entre os muros dum mosteiro, preparam de forma especial o espírito
do sacerdote para celebrar piedosa e fervorosamente o sacrifício eucarístico que é "fonte
e centro de toda a vida cristã".11 Além disso, quando ao sacerdócio se junta aquela total
doação de si próprio, pela qual se consagra a Deus o religioso, este fica configurado de
modo especial a Cristo, que é ao mesmo tempo sacerdote e vítima.
Ao tratar dos presbíteros e suas funções, o Concílio Vaticano II estabeleceu com toda
a razão que um dos seus serviços consiste em cuidar do povo de Deus. Vós realizais
esse serviço celebrando o sacrifício eucarístico que costumais oferecer diariamente. A
maior parte das vezes essa celebração tem lugar nos vossos oratórios eremíticos, ou seja,
em piedosos e retirados lugares, onde o espírito do monge, absorto nas coisas celestiais,
bebe mais abundantemente o Espírito de amor e de luz. Por isso, a vocação Cartusiana,
observada com fidelidade, faz com que a intenção universal, própria do sacrifício
eucarístico, se converta em intenção de cada monge celebrante. O Concílio Vaticano II
exprimiu com palavras muito significativas esta plenitude da caridade eucarística: "No
mistério do Sacrifício Eucarístico, em que os sacerdotes desempenham a parte principal
do seu múnus, exerce-se continuamente a obra da nossa redenção; por isso recomenda-
se com instância a sua celebração diária, que é um ato de Cristo e da Igreja, ainda que
falte a presença dos fiéis".12
Adaptação ao tempo presente

10 Cf. A.A.S. 58 (1966), p. 1181.


11 Conc. Vatic. II, Const. Dogm. Lumen Gentium, 11.
12 Decr. Presbyterorum Ordinis, 13.

10
Sem dúvida, o vosso Capítulo Geral procurará conservar fielmente o espírito dos
vossos fundadores e manter com entusiasmo todo o trabalho que fostes fazendo, no
decurso dos séculos, com os Estatutos da Ordem, movidos por critérios espirituais.
Com esse intuito, julgais conveniente redigir melhor algumas passagens das
Constituições, para que se tornem mais claras e o seu estilo fale mais diretamente aos
leitores. Do mesmo modo, com respeito à forma de vida espiritual e corporal, pensais
que, dado o progresso atual, convém eliminar algumas coisas que já caíram em desuso.
Também fazeis bem em renovar certos costumes antigos, se, com a mudança que
sofreram posteriormente, ficou diminuída a sua eficácia ou obscurecido o seu
verdadeiro significado. Isto se aplica especialmente à sagrada Liturgia, tal como entre
vós se celebra. Seguindo as normas da Sé Apostólica sobre esta matéria, esforçais-vos
por devolver ao rito da Missa a sua antiga simplicidade e por dar mais importância ao
ordinário do tempo no ciclo litúrgico; com isto pretendeis enriquecer o vosso lecionário.
Já que estais dispostos a aceitar fielmente as decisões da Sé Apostólica, tendes motivo
para pensar que ela se vos mostrará benévola em todos os vossos desejos. Ela
compreende que os monges solitários precisam duma liturgia acomodada à sua forma
de vida, isto é, uma liturgia em que predomine o culto interior e a consideração dos
mistérios, alimentada por uma fé viva. Os eremitas preferem participar nas celebrações
litúrgicas do povo através duma união espiritual, o que implica também uma certa
comunhão ativa, embora a parte exterior e visível resulte menos manifesta. A vossa
vocação criou pouco a pouco uma liturgia especial que desejais conservar por ser mais
apropriada à vossa vida contemplativa e solitária. A Igreja também não proíbe um certo
pluralismo, como se diz, no que respeita à manifestação do sentimento religioso e à
celebração do culto divino, já que assim o aconselham as diversas formas de buscar a
Deus e de honrá-Lo. Fomenta, por isso, as sãs tradições monásticas que, observadas
diligentemente, muito contribuem para aumentar a fé e a energia espiritual, donde
brotaram.
Era isto o que queríamos dizer com todo o afeto a ti e a toda a Ordem Cartusiana,
que muito estimamos, ao aproximar-se o Capítulo Geral especial. Pedimos
instantemente ao Pai das luzes que assista propício aos que participam nessa
assembleia; que ela seja muito proveitosa para a vossa família religiosa; e que os seus
decretos sejam recebidos com espírito de observância e de paz.
Confirme estes votos a Nossa Bênção Apostólica que de todo o coração concedemos a
ti, querido filho, e a todos os religiosos confiados à tua direção.
Roma, junto de S. Pedro, 18 de Abril de 1971, oitavo ano do Nosso Pontificado.
Paulo, PP. VI

11
CARTA APOSTÓLICA
DO
PAPA SÃO JOÃO PAULO II
A
DOM ANDRÉ POISSON,
Prior de Chartreuse, com motivo do IX Centenário
da fundação da Ordem Cartusiana.
(AAS 76, pp.770-774)

Ao nosso querido filho André Poisson Ministro Geral da Ordem Cartusiana.

Sabe-se que o ideal da vocação da Ordem Cartusiana, a que vós presidis, consiste
principalmente em "dedicar-se ao silêncio e à solidão da cela" (cf. Estatutos Renovados da
Ordem Cartusiana, 4.1). Os seus membros, em resposta a um apelo muito especial de
Deus e a fim de viverem somente para Ele, passaram "da tempestade deste mundo ao
refúgio, seguro e tranquilo dum porto”.13
É assim que, desde há novecentos anos, a vossa Ordem se esforça por levar, com uma
perseverança e uma energia admiráveis, essa "vida escondida com Cristo" (cf.Cl 3,3).
Convém sublinhá-lo nestes dias em que se celebra o aniversário da vossa fundação. Esta,
com efeito, teve lugar cerca de 24 de Junho de 1084, dia consagrado a são João Baptista,
"o maior dos profetas e amigo do deserto",14 a quem os Cartuxos honram como patrono
celeste, depois da santíssima Virgem Maria. Foi então que São Bruno, homem eminente,
começou, com alguns companheiros, esta forma de vida separada do mundo, num
lugar chamado Chartreuse, situado na diocese de Grenoble.
Alegramo-nos convosco na recordação de tão feliz acontecimento, felicitamos-vos do
fundo do coração por uma tão longa fidelidade e queremos aproveitar esta
oportunidade, para manifestar a toda a Família Cartusiana a nossa estima muito
particular e o nosso paternal afeto.
Nos primeiros séculos da Igreja, como é sabido, houve eremitas, votados à oração e
ao trabalho em lugares desertos; “despojados de tudo, davam o nome a um modo de
viver todo celeste";15 foram eles que deram origem à vida religiosa. Os seus exemplos
provocaram a admiração dos homens e incitaram muitos à virtude. São Jerônimo, para
citarmos um testemunho entre tantos, proclamou em termos inflamados o segredo
escondido dos monges: "O deserto, ornado com as flores de Cristo! Ó solidão, onde
nascem para Cristo as pedras com que se constrói no Apocalipse a cidade do grande rei!
Ó ermo, que gozas de Deus mais intimamente!"16
Os Pontífices Romanos aprovaram muitas vezes esta vida afastada e exaltaram-na
com louvores. No que vos diz respeito, numa época mais recente, foi o que aconteceu
com a Constituição Apostólica "Umbratilem" de Pio XI e depois com a Carta que vos
enviou Paulo VI por ocasião do Capítulo Geral de 1971. 17 E o Concilio Vaticano II
exprimiu a sua estima pela vida solitária, cujos adeptos seguem mais de perto a Cristo

13 São Bruno, Carta a Raul, S.Ch. p. 74.


14 Cf. Hino de Laudes, na solenidade do Nascimento de S. João Batista.
15 São Atanásio, Vida de S. Antão, PG 26,866.
16 Carta 14; PL 22,350-354.
17 AAS, 16, 1924, p. 385 ss.- 63, 1971, p. 447 ss.

12
em contemplação sobre o monte, e afirmou que ela é fonte secreta de fecundidade para
a Igreja.18 Enfim, o novo código de Direito Canônico acaba de confirmar de forma clara
este ensinamento: "Os institutos que se dedicam integralmente à vida contemplativa
ocupam sempre uma parte relevante no Corpo Místico de Cristo".19
Tudo isto vos diz respeito, caros monges e monjas da Cartuxa, a vós que, longe do
estrépito do mundo, "escolhestes a melhor parte" (cf.Lc 10,41). Por isso, perante a
aceleração do ritmo de vida que arrasta os nossos contemporâneos, convém-vos
regressar incessantemente ao espírito original da vossa Ordem e permanecer
inabaláveis na vossa santa vocação. Com efeito, a nossa época parece ter necessidade do
vosso exemplo e do vosso serviço: os espíritos são divididos em opiniões diversas;
muitas vezes são perturbados e correm mesmo grandes perigos espirituais sob a
pressão de muitos escritos publicados por toda a parte e, sobretudo, dos meios de
comunicação social, dotados do grande poder de influência sobre os corações e por
vezes totalmente opostos à verdade e à moral cristãs. Então os homens sentem
necessidade de saber o que é o absoluto e de o ver comprovado por um testemunho de
vida. A vossa função é precisamente de fazê-lo ver.
Por seu lado, os filhos e as filhas da Igreja que se consagram ao apostolado no mundo,
no meio de coisas em constante mobilidade e evolução, devem apoiar-se na estabilidade
de Deus e do seu amor; estabilidade esta que eles veem manifestada em vós, que dela
participais muito especialmente nesta peregrinação terrena.
A própria Igreja, que, como Corpo Místico de Cristo, deve oferecer incessantemente à
divina majestade um sacrifício de louvor - o que constitui uma das suas principais
funções -, tem necessidade do vosso zelo cheio de devoção, vós que todos os dias
"permaneceis de guarda na presença de Deus".20
Todavia temos de reconhecer que hoje em dia, talvez por se dar demasiada
importância à ação, a vossa vida eremítica, por vezes, não é suficientemente
compreendida nem estimada como merece, sobretudo por muito se sentir a falta de
operários na vinha do Senhor. Contra tal opinião é necessário afirmar que os Cartuxos
devem conservar integralmente, mesmo hoje, o caráter autêntico da sua Ordem. Isso
concorda inteiramente com as normas do novo Código que, referindo-se às
necessidades urgentes do apostolado ativo, defende a vocação peculiar daqueles que
pertencem a institutos puramente contemplativos; e isto precisamente em razão do
serviço que estes religiosos prestam ao Povo de Deus, pois "movem-no com o exemplo e
dilatam-no com misteriosa fecundidade apostólica". 21 Se, portanto, os membros da
vossa família “não podem ser chamados para auxiliarem com o seu trabalho nos vários
ministérios pastorais",22 vós também não tendes de exercer, pelo menos de maneira
habitual, esta outra forma de apostolado que consiste em acolher pessoas estranhas
desejosas de fazer retiros de alguns dias nos vossos mosteiros, por ser menos
congruente com a, vossa vocação de vida eremítica.
Sem dúvida, as mutações numerosas e rápidas que se apresentam na sociedade
contemporânea têm efeitos psicológicos profundos, sobretudo entre os jovens, e estão
na origem da tensão nervosa de que hoje sofre muita gente. Dai podem nascer

18 Cf. Lumen Gentium, 46; Perfectæ Caritatis, 7.


19 Can. 674.
20 Cf. são Bruno, Carta indicada, p. 68.
21 Can. 674.
22 ibid.

13
dificuldades nas comunidades cartusianas, principalmente entre os que se apresentam
como candidatos à vossa Ordem. Por isso deveis agir com prudência e firmeza - sem
omitir um esforço por ter em conta os problemas dos jovens -, de forma a conservar na
sua integridade o vosso verdadeiro carisma, sem vos afastardes dos vossos Estatutos
aprovados. Se uma vontade inflamada no amor de Deus e disposta a servi-Lo
esforçadamente, no rigor duma vida afastada da convivência dos homens, poderá
vencer todos os obstáculos.
A Igreja está convosco, queridos filhos e filhas de São Bruno; ela conta com os
abundantes frutos espirituais das vossas orações e das austeridades que suportais por
amor de Deus. Já tivemos ocasião de dizer, para ilustrar o sentido da vida consagrada a
Deus: "o importante não é o que vós fazeis, mas o que vós sois":23 isto parece aplicar-se
por um título muito particular a vós, que voa abstendes do que se chama vida ativa.
Portanto, ao recordardes as origens da vossa família, certamente vos sentis impelidos
a aderir com um novo ardor interior e alegria espiritual à vossa sublime vocação.
Em sinal do amor que nos inspirou estas linhas e como penhor das graças
abundantes do céu, sentimo-nos felizes no Senhor de vos conceder a Bênção Apostólica,
a vós, querido filho, e a todos os monges e monjas da Ordem Cartusiana.
Vaticano, 14 de Maio de 1984, sexto ano do nosso Pontificado.

João Paulo, PP. II

23 Cf. Alocução de 1 de Out. 1979 aos padres, missionários, religiosos e religiosas; AAS, 71, 1979, p. 1127.

14
ALOCUÇÃO
DO
PAPA SÃO JOÃO PAULO II,
dirigida aos monges da Cartuxa de Serra São Bruno, com motivo
do IX Centenário da fundação da Ordem Cartusiana.24
05-09-1984
(AAS, 76 (1984), pp. 770-774)

1. Agradeço vivamente ao Padre Prior as calorosas palavras de saudação que me


dirigiu em nome da Comunidade, neste encontro para mim, e estou certo também para
vós, tão significativo. Vim de muito bom grado até vós para vos manifestar o afeto e a
estima que nutro pela vossa Ordem e para recordar também, no IX Centenário da sua
fundação, os estreitos laços que ela mantém com a sé Apostólica desde as suas origens,
quando pelo meu venerado predecessor Urbano II foram confiadas a São Bruno e aos
seus primeiros discípulos algumas missões.
Para a data jubilar enviei ao Padre André Poisson, Ministro Geral da Ordem, uma
Carta em que, recordando o carisma, da vossa benemérita Instituição, salientava que,
embora na devida e justa adaptação aos tempos, "convém-vos regressar
incessantemente ao espírito original da vossa Ordem e permanecer inabaláveis na vossa
santa vocação". Agora que a Providência permitiu esta etapa, quereria retomar o
assunto nela iniciado, meditando convosco sobre o papel que tendes na Igreja e sobre as
expectativas do Povo de Deus a vosso respeito.
É-vos dado viver a vocação contemplativa neste oásis de paz e de oração, que já São
Bruno, ao escrever ao amigo Raul le Verd, assim descrevia; "Vivo num deserto, bastante
afastado por todos os lados de toda, a, habitação humana, nos confins da Calábria.
Como descrever-te devidamente a amenidade do lugar, o seu clima temperado e
saudável, as suas agradáveis a espaçosas planícies que se estendem ao largo entre os
montes, com verdes prados e floridas pastagens? Como descrever-te a visita das colinas
que se elevam em suaves pendentes para toda a. parte e o retiro dos sombrios vales,
com encantadora abundância de rios, regatos e fontes?”25 É necessário que vós, atuais
seguidores daquele grande homem de Deus, tomeis os exemplos dele, empenhando-vos
em realizar o seu espírito de amor a Deus na solidão, no silêncio e na oração, como
aqueles que "esperam o seu senhor, ao voltar do seu noivado, a fim de lhe abrirem a
porta'" (Lc.12, 36). Vós, de fato, sais chamados a viver como por antecipação aquela vida
divina que são Paulo descreve na Primeira Carta aos Coríntios, quando observa: "Hoje
vemos como por um espelho, de maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje
conheço de maneira imperfeita: então, conhecerei exatamente, como também sou
conhecido" (1Cr13,12).
2. O Fundador convida-vos a refletir sobre o sentido profundo da vida contemplativa,
para a qual Deus chama em cada época da história almas generosas. O espírito da
Cartuxa é para homens fortes: já São Bruno notava que o empenho contemplativo era
reservado a poucos: "Os filhos da contemplação, com efeito, são menos numerosos do

24 Neste pronunciamento, o Papa complementava a Carta que dirigira pouco antes, o dia 14 de maio de 1984, ao

Ministro Geral da Ordem, Dom André Poisson.


25 Carta a Raul, S.Ch. p. 68.

15
que os da ação”.26 Mas estes poucos são chamados a formar uma espécie de "escolta
avançada"; na Igreja. A ação sobre o caráter, a abertura à graça divina, a assídua oração,
tudo serve para formar no cartuxo um espírito novo, robustecido na solidão, a fim de
viver para Deus em atitude de disponibilidade total. Na, Cartuxa empenham-se em
obter a plena superação, de si mesmos e em cultivar os germes de todas as virtudes,
nutrindo-se copiosamente dos frutos celestes. Há nisto um inteiro programa de vida
interior, a que alude São Bruno quando escreve: "Aqui se adquire aquele olhar límpido
cuja visão clara fere de amores o Esposo, e cuja pureza permite ver a Deus. Aqui se vive
num descanso sem ociosidade e se repousa numa atividade tranquila".27
O homem contemplativo está constantemente debruçado para Deus e pode, com
razão exprimir o anseio do Salmista: "quando irei contemplar a face: de Deus?" (Sl. 41,3).
Ele vê o mundo e as suas realidades de modo bastante diverso de quem nele vive: a
quietude é procurada, só em Deus, e São Bruno com frequência convida os seus
discípulos a fugirem "às moléstias e às misérias" deste mundo e a deslocarem-se "do
tempestuoso mar deste mundo para o repouso tranquilo e seguro do porto".28 Na paz e
no silêncio do mosteiro encontra-se a alegria de louvar a Deus, de viver Nele e para Ele.
São Bruno, que viveu neste mosteiro durante cerca de dez anos, ao escrever aos seus
irmãos da Comunidade de Chartreuse, abre a sua alma transbordante de alegria e, sem
retórica alguma, incita-os a gozarem do seu estado contemplativo: "Alegrai-vos, meus
caríssimos irmãos, pela vossa ditosa sorte e pela largueza da graça divina para convosco.
Alegrai-vos por vos verdes livres dos inúmeros perigos e naufrágios do tumultuoso
mar do mundo. Alegrai-vos por terdes alcançado repouso tranquilo e seguro do mais
resguardado porto”.29
3. Esta vossa específica e heroica vocação não vos põe, todavia, nas margens da
Igreja; ela coloca-vos antes no coração mesmo dela. A vossa presença é um apelo
constante à oração, que é o pressuposto de todo o apostolado autêntico. Como tive
ocasião de vos escrever, o "sacrifício de louvor... tem necessidade do vosso zelo cheio de
devoção, vós que todos os dias `permaneceis de guarda na presença de Deus´ (cf. São
Bruno)". A Igreja estima-vos, conta muito com o vosso testemunho, confia nas vossas
orações. Também eu vos confio o meu ministério apostólico de Pastor da Igreja
universal.
Dai com a vida testemunho do vosso amor a Deus. O mundo olha para vós e, talvez
inconscientemente, espera muito da vossa vida contemplativa. Continuai a pôr sob os
seus olhos a "provocação" de um modo de viver que, embora impregnado de penitência,
de solidão e de silêncio, faz jorrar em vós a fonte duma alegria sempre nova. Não
escreve, por ventura, o vosso Fundador: "quanto proveito e alegria divina
proporcionam a solidão e o silêncio do deserto a quem os ama, só o sabe quem o
experimentou”? 30 Que esta é também a vossa experiência pode-se deduzi-lo do
entusiasmo com que perseverais no caminho empreendido. Pelos vossos rostos vê-se
como Deus dá a paz e a alegria do Espírito como recompensa a quem abandonou todas
as coisas para viver Dele e cantar eternamente o seu louvor.

26 Ibid., pp. 70,72.


27 Ibid., p. 70.
28 Ibid., p. 74
29 Ibid., p. 82.
30 Ibid., p. 70.

16
4. A atualidade do vosso carisma está presente na Igreja e faço votos por que muitas
almas generosas vos sigam na, vida contemplativa. O vosso é um caminho evangélico
de seguimento de Cristo. Exige doação total na segregação do mundo, como
consequência duma opção corajosa que tem na sua origem unicamente o chamamento
de Jesus. É Ele que vos dirige este convite, de amizade e de amor, a segui-lo para o
monte, para ficar com Ele.
O meu voto é por que deste lugar parta uma mensagem para o mundo e chegue
especialmente aos jovens, lhes abrindo diante dos olhos a perspectiva era vocação
contemplativa como dom de Deus. Os jovens, hoje, são animados por grandes ideais e,
se veem homens coerentes, testemunhas do Evangelho, seguem-nos com entusiasmo.
Propor ao mundo de hoje praticar a "vida escondida com Cristo" (Col. 3,3), significa
reafirmar o valor da humildade, da pobreza, da liberdade interior. O mundo, que no
fundo tem sede destas virtudes, quer ver homens retos que as praticam com heroísmo
quotidiano, movidos pela consciência de amar e de servir os irmãos com este
testemunho.
Deste mosteiro, sois chamados a ser lâmpadas que iluminam a vida pela qual
caminham tantos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo; sabei sempre ajudar quem
tem necessidade da vossa oração e da vossa serenidade. Embora na feliz condição de
terdes escolhido com Maria, irmã, de Marta, "a melhor parte, que não lhe será tirada"
(Lc.10,42), não sois alheios às situações dos irmãos que vos procuram no vosso lugar de
solidão. Eles levam-vos os seus problemas, os seus sofrimentos, as dificuldades que
acompanham esta vida: vós - embora no respeito da vossa vida contemplativa - dais-
lhes a alegria de Deus, dando-lhes a certeza de que rezareis por eles, que oferecereis as
vossas asceses, para que também eles tirem força e coragem da fonte da vida, que é
Cristo. Elas oferecem-vos a inquietação da humanidade; vós fazeis-lhes descobrir que
Deus é a. fonte da verdadeira paz. De fato, para usar outra vez uma expressão de São
Bruno, "que bem maior do que Deus? Ou melhor, existe, porventura, outro bem que não
seja Deus?"31
5. Quis ler convosco alguns pensamentos do vosso Fundador para reviver neste lugar,
testemunha da sua intensa vida eremítica, o espírito que o animava. Aqui, depois dum
longo serviço à Igreja, quis ele acabar a sua existência terrena. Aqui ficais vós para
manter viva a lâmpada que ele acendeu há, nove séculos.
Levo comigo, nesta Visita pastoral na Calábria, a experiência de um momento de paz
e de, alegria que me deu profundo conforto. A natureza, o silêncio e a vossa oração
ficam gravados na minha alma: continua a vossa missão. Em conforto do vosso
compromisso, concedo a cada um a Bênção Apostólica, propiciadora, dos dons que vêm
de Deus, fonte de toda a consolação.

31 Ibid., p.. 78.

17
CARTA DE SÃO JOÃO PAULO II
A
DOM GABRIELE Mª LORENZI,
Prior da Cartuxa de Serra San Bruno, com motivo do
IX Centenário da fundação de dita Cartuxa.
02-05-1991

l. Com ânimo reconhecido ao Senhor pelos contínuos dons de graça que lhe tem
concedido, a Comunidade Religiosa de Serra San Bruno deseja comemorar este ano o IX
centenário da própria Cartuxa, fundada no princípio do mês de Junho de 1091.
Como é sabido, São Bruno, que foi chamado a Roma pelo meu predecessor Urbano II,
a fim de tê-lo de seu lado como conselheiro e amigo, suplicou a dito Pontífice o poder
volver à solidão do Mosteiro, para continuar a vida contemplativa e eremítica à qual o
Senhor insistentemente o chamava.
Segundo a tradição, foi precisamente o Papa Urbano II quem quis fazer doação a São
Bruno da solitária e interessante zona de Santa Maria de la Torre, onde se eleva a
histórica Cartuxa e repousam até hoje os despojos mortais do Santo.
"Só quem o tem experimentado – escrevia propriamente o Santo desde este lugar,
após haver exaltado sua beleza – sabe quanta utilidade e gozo divino traem consigo a
solidão e o silêncio do deserto a quem os ame... Aqui se adquire aquele olho limpo, cujo
sereno olhar fere de amores o Esposo e cuja limpeza e pureza permite ver a Deus... Aqui
concede Deus a seus atletas, pelo esforço do combate, a desejada recompensa, a paz que
o mundo ignora e a alegria no Espirito Santo” (Carta a Raul,6).
São Bruno, subtraído da primeira fundação de Chartreuse, encontrou aqui, no
contorno maravilhoso da paisagem que circunda esta Cartuxa, as condições ideais para
a vida contemplativa tão ansiada: o silêncio, a solidão, a possibilidade de dedicar-se
exclusivamente à oração.
2. Nesta data comemorativa, me é grato unir-me à Comunidade de Serra San Bruno e
a toda a igreja da Calábria para dar graças ao Senhor pelos dons concedidos a essa terra
e, em particular, pelo vivo e fiel testemunho que a Ordem Cartusiana continua
oferecendo aos fieis. De fato, os valores da contemplação alcançam a vida íntima da
Igreja que comparte com todos os contemplativos a vocação da total dedicação a Deus
na oração, na liturgia e na meditação das verdades eternas.
Anunciando o Reino de Deus, a Igreja promove a conversão do coração e continua no
tempo a obra de Cristo. Ela realiza assim sua peregrinação sobre esta terra e, como
estrangeira, já desde agora, procura e considera as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus (Cl 3,1). Desde sempre, a Igreja demostrou um amor de
predileção para com todos os que se tem consagrado com constância e convencimento à
oração, dispostos a caminhar com plena liberdade de espírito pela via da fé.
3. Por minha parte, desejo que se compreenda cada vez melhor até que ponto seja
essencial e insubstituível a vida contemplativa e eremítica, expressão e signo vivo da
caridade perfeita. Os monges da Cartuxa recordam aos cristãos de qualquer condição,
que fixar o próprio olhar amoroso em Deus, na quietude do recolhimento espiritual, é
fonte de verdadeira esperança.
Tal aspiração, presente sempre na consciência do contemplativo e eremita, pertence a
toda a Igreja como esposa de Cristo, unida a Ele com pacto de amor indissolúvel. Pelo

18
mesmo, ela é consciente de viver em seus monges a experiência do amor infinito de
Deus e de Cristo, e de testemunhar, ao mesmo tempo, seu ardente desejo de estar com
Cristo, e de entrar com Ele no banquete da vida eterna (cf. Jn 3.2).
A Igreja sabe também que o monge eremita, em certo modo sepultado no coração de
Cristo, imita e atualiza ainda hoje a oração de Jesus, quando deixadas as turbas, subia
sozinho ao monte para orar, e permanecia ali longo tempo até muito adiantada a noite,
(cf. Mt 14.23; LG,46).
Com aquela oração, manifestava Jesus a seus discípulos sua perfeita e ininterrupta
união com o Pai, e lhes ensinava que só partindo da contemplação do Pai pode
encontrar pleno cumprimento o preceito fundamental da caridade para com Deus e
com o próximo.
4. Eu quero que esta celebração jubilar possa servir também para conhecer melhor a
espiritualidade cartusiana, a qual exige que, ainda quando se esteja pressionados pela
urgente atividade pastoral e diretiva (cf.CDC,674), o ideal contemplativo permaneça
sempre por acima de toda outra aspiração de quem queira alcançar a perfeição cristã.
Exorto, portanto, aos monges de Serra San Bruno a fazer-se constantemente ante
Deus intérpretes das peculiares necessidades da Igreja com espírito de verdadeira
comunhão. Assumam a peito os monges os problemas e compromissos da Comunidade
crista dessa Região, especialmente a urgência da formação dos jovens até uma visão
autenticamente cristã da vida. Rezem igualmente a Deus que as novas gerações não
sejam induzidas à tentação da violência, nem atropeladas por estruturas de pecado, mas
que seus ideais se inspirem no evangelho da solidariedade espiritual, humana e social,
conscientes de que a juventude é um tempo propício de graça para a edificação de uma
personalidade forte e coerente.
5. Unido aos Veneráveis Bispos da Comunidade diocesana da Calábria, peço aos
monges que ajudem com suas preces aos sacerdotes com cura de almas, a fim de que se
encontrem confortados nas fadigas do seu ministério, e obtenham a graça de uma
inesgotável generosidade na total dedicação exclusiva ao verdadeiro bem dos fiéis. Que
implorem o dom de numerosas vocações sacerdotais e religiosas, de maneira que não
faltem pastores mansos e fortes capazes de reagrupar o povo de Deus, de nutri-lo com
os Sacramentos da salvação, de iluminá-los com a palavra e com o testemunho de uma
vida santa e edificante.
Que jamais falte na oração dessa Comunidade a súplica pela paz: da paz, cuja
necessidade sente mais o mundo, quanto mais experimenta a proclividade à violência.
A Virgem Maria, Padroeira da Ordem Cartusiana, modelo de todos aqueles que
vivem a verdadeira contemplação de Deus, proteja a essa Comunidade de Serra San
Bruno e a toda a Comunidade Cartusiana. A eles e a quantos participarem na celebração
centenária da fundação dessa Cartuxa, como também a toda a igreja particular da
Calábria, dou de coração uma especial Bênção Apostólica.
No Vaticano, a 2 de Maio do ano 1991.
João Paulo, PP. II

19
CARTA APOSTÓLICA
DO
PAPA SÃO JOÃO PAULO II
A
DOM MARCELLIN THEEUWES,
Prior de Chartreuse e Ministro Geral da Ordem dos Cartuxos e
a todos os membros da Família Cartusiana,
COM MOTIVO
DO IX CENTENÁRIO DO FALECIMENTO DE SÃO BRUNO
14-05-2001

1. No momento em que os membros da Família dos Cartuxos celebram o IX


centenário da morte do seu Fundador, juntamente com eles dou graças a Deus que
suscitou na sua Igreja a figura eminente e sempre atual de São Bruno. Numa oração
fervorosa, ao apreciar o vosso testemunho de fidelidade à Sé de Pedro, uno-me de bom
grado à alegria da Ordem cartusiana, que tem neste «pai bondoso e incomparável» um
mestre de vida espiritual. A 6 de Outubro de 1101, «ardendo de amor divino», Bruno
abandonava «as sombras fugitivas do século» para alcançar definitivamente os «bens
eternos»32.
Os irmãos da ermida de Santa Maria da Torre, na Calábria, aos quais ele dera tanto
afeto, não podiam duvidar que este dies natalis inaugurava uma aventura espiritual
singular que ainda hoje dá abundantes frutos à Igreja e ao mundo.
Testemunha da efervescência cultural e religiosa que, na sua época, agitava a Europa
nascente, tendo tornado parte ativa na reforma que a Igreja desejava realizar perante as
dificuldades internas com as quais se deparava, depois de ter sido um professor
apreciado, Bruno sente-se chamado para se consagrar ao bem único que é o próprio
Deus. «E o que há de melhor do que Deus? Existe outro bem, além do único Deus?
Também a alma santa, que se apercebe desse bem, do seu incomparável fulgor, do seu
esplendor, da sua bondade, arde com a chama do amor celeste e exclama: "Tenho sede
do Deus forte e vivo, quando irei ver o rosto de Deus".33 O caráter radical desta sede
estimulou Bruno, na escuta paciente do Espírito, a descobrir com os seus primeiros
companheiros um estilo de vida eremita, onde tudo favoreça a resposta à chamada de
Cristo que, em todos os tempos, escolheu homens «para conduzi-los à solidão e uni-los
num amor íntimo». 34 Mediante estas escolhas de «vida no deserto», Bruno convida
desde o início toda a comunidade eclesial «a nunca perder de vista a vocação suprema,
que permanecer sempre com o Senhor».35
Bruno evidencia o seu profundo sentido de Igreja ele que foi capaz de esquecer o
«seu» projeto para responder aos apelos do Papa.
Consciente de que a caminhada pelas longas estradas da santidade não a concebe
sem a obediência à Igreja, ele mostra-nos também que o verdadeiro caminho no
seguimento de Cristo exige o entregar-se nas suas mãos, manifestando no abandono de
si um acréscimo de amor.

32 Carta a Raul, n. 13.


33 Carta a Raul, n. 15.
34 Estatutos da Ordem dos Cartuxos.
35 Vita consecrata, n.7.

20
Esta atitude mantinha-o sempre na alegria e no louvor constantes. Os seus irmãos
observaram que «tinha sempre o rosto repleto de alegria e a palavra modesta»36. Estas
palavras delicadas dos Títulos Fúnebres exprimem a fecundidade de uma vida dedicada
à contemplação do rosto de Cristo, fonte de eficácia apostólica e força de caridade
fraterna. Possam os filhos e as filhas de São Bruno, seguindo o exemplo do seu pai,
continuar a incansavelmente a contemplar Cristo, montando desta forma «uma guarda
santa e perseverante, na expectativa da vinda do seu Mestre para lhes abrir logo que ele
bater à porta», 37 isto constitui um apelo encorajador a que todos os cristãos
permaneçam vigilantes na oração a fim de acolher o seu Senhor!

2. Depois do Grande Jubileu da Encarnação, a celebração do nono centenário da


morte de São Bruno adquire hoje um ulterior relevo. Na Carta Apostólica Novo millennio
ineunte convido todo o povo de Deus a partir de Cristo, a fim de permitir que todos os
que têm sede de sentido e de verdade ouçam bater o coração de Deus e o coração da
Igreja. A Palavra de Cristo, «estarei sempre convosco, até ao fim, do mundo» (Mateus
28 20), convida todos os que têm o nome de discípulos a tirarem desta certeza um
renovado impulso na sua vida cristã, força inspiradora do seu caminho.38 A vocação
para a oração e para a contemplação, que caracteriza a vida da Cartuxa, demonstra de
modo particular que só Cristo pode dar à esperança humana uma plenitude de
significado e de alegria.
Então, como duvidar um só instante que semelhante expressão do puro amor dê à
vida da Cartuxa uma extraordinária fecundidade missionária? No retiro dos mosteiros
e na solidão das celas, paciente e silenciosamente, os Cartuxos tecem as vestes núpcias
da Igreja, «bela como uma esposa que se ataviou para o seu esposo» (Apocalipse 21,2);
eles apresentam quotidianamente o mundo Deus e convidam toda à humanidade para a
festa nupcial do Cordeiro. A celebração do sacrifício eucarístico constitui a fonte e o
auge de toda a vida no deserto, conformando com o próprio ser de Cristo todos os que
se abandonam ao amor, a fim de tornar visíveis a presença e a ação do Salvador no
mundo, para a salvação de todos os homens e para a alegria da Igreja.

3. No coração do deserto, lugar, de prova e de purificação da fé, o Pai conduz os


homens por um caminho de despojamento que se opõe a qualquer lógica do possuir, do
sucesso e da felicidade ilusória. Guigo, o Cartuxo, não se cansava de encorajar todos os
que desejavam viver segundo o ideal de São Bruno a «seguir o exemplo de Cristo pobre
(para) participar nas suas riquezas».39 Este despojar-se requer uma ruptura radical com
o mundo que não é desprezo do mundo, mas uma orientação tomada para toda a
existência numa busca assídua do supremo Bem: «Vós me seduzisses, Senhor, e eu me
deixei seduzir» (Jr 20,7). Feliz é a Igreja que pode contar com o testemunho dos
Cartuxos, de total disponibilidade ao Espírito e de uma vida inteiramente dedicada a
Cristo!
Por conseguinte, convido os membros da Família dos Cartuxos, através da santidade
e da simplicidade da sua vida, a permanecer como uma cidade em cima do monte e
como uma luz sobre o lampadário (cf.Mt 5,14-15). Radicados na Palavra de Deus,
saciados pelos Sacramentos da Igreja, amparados pela oração de São Bruno e dos

36 Título fúnebre dedicado a são Bruno.


37 Carta a Raul, n. 4.
38 Cf. Novo millennio ineunte, 29.
39 Carta sobre a vida solitária, n. 6.

21
irmãos, eles permanecem em toda a Igreja e no centro do mundo «lugares de esperança
e de descoberta das bem-aventuranças, lugares onde o amor, haurindo na fonte da
comunhão que é a oração, é chamado a tornar-se lógica de vida e fonte de alegria»40.
Expressão sensível de uma oferta de toda a vida vivida em união com a de Cristo, a
vida de clausura, fazendo sentir a precariedade da existência, convida a contar
unicamente com Deus. É também «o lugar da comunhão espiritual com Deus e com os
irmãos e irmãs, onde a limitação dos espaços e dos contatos ajuda à interiorização dos
valores evangélicos».41 De fato, a busca de Deus na contemplação é inseparável do amor
dos irmãos, amor que nos faz reconhecer o rosto de Cristo no mais pobre dos homens.
A contemplação de Cristo vivida na caridade fraterna continua a ser o caminho mais
seguro da fecundidade de qualquer vida. São João não deixa de recordá-lo: “Caríssimos,
amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus é todo aquele que ama, nasceu
de Deus e conhece” (1Jo 4,7). São Bruno compreendeu isto muito bem, ele que nunca
separou a prioridade que durante toda a sua vida conferiu a Deus da profunda
humanidade de que era testemunha entre os seus irmãos.

4. O IX centenário do dies natalis de São Bruno oferece-me a oportunidade de renovar


a viva confiança à Ordem dos Cartuxos na sua missão de contemplação gratuita e de
intercessão pela Igreja e pelo mundo. A exemplo de São Bruno e dos seus sucessores, os
mosteiros dos Cartuxos não cessam de despertar a Igreja para a dimensão escatológica
da sua missão, recordando as maravilhas que Deus realiza e vigiando na expectativa do
cumprimento último da esperança. 42 Sentinela incansável do Reino que há de vir,
procurando “ser” antes de “fazer”, a Ordem dos Cartuxos dá à Igreja vigor e coragem
na sua missão, para se fazer ao largo e permitir que a Boa Nova de Cristo acenda toda a
humanidade.
Nestes dias de festa da Ordem, rezo ardentemente ao Senhor para que faça ressoar
no coração de numerosos jovens o apelo a deixar tudo para seguir Cristo pobre, ao
longo do caminho exigente, mas libertador do percurso dos Cartuxos. Além disso,
convido os repousáveis da família dos Cartuxos a responder sem receio aos apelos das
jovens Igrejas, para fundar mosteiros nos seus territórios.
Com este espírito, o discernimento e a formação dos candidatos que se apresentam
devem ser objeto de uma atenção renovada por parte dos formadores. De fato, a cultura
contemporânea, marcada por um forte sentimento hedonista, pelo desejo de possuir e
por uma concepção errônea da liberdade, não facilita a expressão da generosidade dos
jovens que desejam consagrar a sua vida a Cristo, escolhendo percorrer, no seu
seguimento, o caminho de uma vida de amor oblativo, de serviço concreto e generoso.
A complexidade do caminho pessoal, a fragilidade psicológica, as dificuldades de viver
a fidelidade no tempo, convidam a fazer com que nada seja descuidado, a fim de
oferecer a todos os que pedem para entrar no deserto da Cartuxa uma formação que
inclua todas as dimensões da pessoa. Além disso, dar-se-á uma particular atenção à
escolha de formadores capazes de seguir os candidatos ao longo do caminho da
libertação interior e da docilidade ao Espírito Santo. Por fim, sabendo que a vida
fraterna é um elemento fundamental do caminho das pessoas consagradas, convidar-se-

40 Vita consecrata, n. 51.


41 Ibidem, n. 59.
42 Vita consecrata, n. 27.

22
ão as comunidades a viver sem reservas o amor recíproco, criando um clima espiritual e
um estilo de vida conformes com o carisma da Ordem.

5. Queridos filhos e amadas filhas de São Bruno, como recordei no final da Exortação
pós-sinodal Vita consecrata, «Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar
e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai o futuro, para o qual vos projeta o
Espírito a fim de realizar convosco ainda grandes coisas».43 No coração do mundo,
tornai a Igreja atenta à voz do Esposo que fala ao seu coração: «Tende confiança! Eu
venci o mundo» (Jo 16,33).
Encorajo-vos a nunca renunciar às intuições' do vosso fundador, mesmo se o
empobrecimento das comunidades, a diminuição das entradas e a incompreensão
suscitada pela vossa escolha de vida radical vos possam fazer duvidar da fecundidade
da vossa Ordem e da vossa missão, cujos frutos pertencem misteriosamente a Deus!
A vós, estimados filhos e queridas filhas da Cartuxa, que sois os herdeiros do carisma
de São Bruno, compete conservar em toda a sua autenticidade e profundidade a
especificidade do caminho espiritual que ele vos mostrou com a sua palavra e o seu
exemplo. O vosso apreciado conhecimento de Deus, alimentado na oração e na
meditação da sua Palavra, convida o povo de Deus a alargar o próprio olhar até aos
horizontes de uma humanidade nova e rica da plenitude do seu sentido e unidade. A
vossa pobreza oferecida para a glória de Deus e a salvação do mundo é uma eloquente
contestação das lógicas de rendimento de eficácia que, muitas vezes, fecham o coração
dos homens e das nações às verdadeiras necessidades dos seus irmãos. A vossa vida
escondida com Cristo, como Cruz silenciosa plantada no coração da humanidade
redimida, permanece de fato para a Igreja e para o mundo o sinal eloquente e a
chamada permanente do fato que cada ser, hoje como ontem, se pode deixar prender
por Aquele que é amor.
Ao confiar todos os membros da família da Cartuxa à intercessão da Virgem Maria,
Mater singularis Cartusiensium, Estrela da evangelização do terceiro milênio, concedo-
vos a afetuosa Bênção apostólica, que faço extensiva a todos os benfeitores da Ordem.

Vaticano, 14 de Maio de 2001.

João Paulo, PP. II

43 Ibidem, n. 110.

23
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
NAS VÉSPERAS CELEBRADAS
NA
CARTUXA DE SERRA SAN BRUNO
09-10-2011
(L’Osservatore Romano, nº. 2182, p. 16)

Venerados irmãos no Episcopado,


queridos Irmãos Cartuxos,
irmãos e irmãs!

Dou graças ao Senhor, que me conduziu a este lugar de fé e oração, a Cartuxa de


Serra San Bruno. Ao renovar a minha grata saudação a Dom Vincenzo Bertolone,
Arcebispo de Catanzaro-Squillace, dirijo-me com grande afeto a esta Comunidade
Cartusiana, a cada um dos seus membros, a partir do Prior, padre Jacques Dupont, ao
qual agradeço de coração pelas suas palavras, pedindo-vos que estendais o meu grato e
beneficente pensamento ao Ministro Geral e às Monjas da Ordem.
É-me caro, antes de tudo, sublinhar como esta minha Visita situa-se em continuidade
com alguns sinais de forte comunhão entre a Sé Apostólica e a Ordem dos
Cartuxos Ordem, acontecidos durante o último século. Em 1924, o Papa Pio XI emitiu
uma Constituição Apostólica com a qual aprovou os Estatutos da Ordem, revistos à luz
do Código de Direito Canônico. Em maio de 1984, o Beato João Paulo II dirigiu uma
carta especial ao Ministro Geral, por ocasião do IX centenário da fundação por parte de
são Bruno da primeira comunidade da Chartreuse, junto a Grenoble. Em 5 de outubro
daquele mesmo ano, meu amado predecessor esteve aqui, e a memória de sua
passagem dentro destes muros ainda está viva. Na esteira desses acontecimentos
passados, mas sempre atuais, venho a vós hoje, e gostaria que este nosso encontro
destacasse o profundo vínculo que existe entre Pedro e Bruno, entre o serviço pastoral à
unidade da Igreja e a vocação contemplativa na Igreja. A comunhão eclesial, de fato,
tem necessidade de uma força interior, aquela força que há pouco o Padre Prior
recordava citando a expressão “captus ab Uno”, referida a são Bruno: “aderido ao Uno”,
a Deus, “Unus potens per omnia” (Uno poderoso em todas as coisas), como cantamos
no Hino das Vésperas. O ministério dos Pastores traz da comunidade contemplativa
uma seiva espiritual que vem de Deus.
“Fugitiva relinquere et æterna captare”: abandonar a realidade fugaz e buscar ater-
se ao eterno. Nessa expressão da carta que o vosso Fundador endereçou ao Reitor de
Reims, Raul, encerra-se o núcleo da vossa espiritualidade (cf.Carta a Raul,13): o forte
desejo de entrar em união de vida com Deus, abandonando todo o resto, tudo o que
impede essa comunhão e deixando-se agarrar pelo imenso amor de Deus e viver
somente por esse amor. Queridos irmãos, vós tendes encontrado o tesouro escondido, a
pérola de grande valor (cf. Mt 13,44-46); tendes respondido com radicalidade ao
chamado de Jesus: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e
terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me!" (Mt 19,21). Cada mosteiro –masculino

24
ou feminino– é um oásis em que, com a oração e a meditação, escava-se
incessantemente o poço profundo do qual tirar a "água viva" para a nossa sede mais
profunda. Mas a Cartuxa é um oásis especial, onde o silêncio e a solidão são protegidos
com cuidado especial, segundo o modo de vida iniciado por são Bruno e mantido
inalterado ao longo dos séculos. "Habito no deserto com os irmãos," é a frase sintética
que escrevia o Fundador (Carta a Raul,4). A visita do Sucessor de Pedro nesta Cartuxa
pretende confirmar não somente a vós, que aqui viveis, mas a toda a Ordem, em sua
missão, tanto mais atual e significativa no mundo de hoje.
O progresso técnico, assinaladamente no campo dos transportes e das comunicações,
tornou a vida humana mais confortável, mas também mais agitada, às vezes convulsiva.
As cidades são quase sempre barulhentas: raramente há silêncio, porque um ruído de
fundo permanece sempre, em algumas áreas também durante a noite. Nas últimas
décadas, pois, o desenvolvimento da mídia tem propagado e amplificado um fenômeno
que já aparecia nos anos sessenta: a virtualidade que ameaça dominar a realidade. Cada
vez mais, mesmo sem perceber, as pessoas estão imersas em uma dimensão virtual, por
causa de mensagens audiovisuais que acompanham sua vida da manhã à noite. A
maioria dos jovens, que já nascem nessa condição, parecem encher com música e
imagens cada momento vazio, quase com medo de sentir, de fato, este vazio. Trata-se
de uma tendência que sempre existiu, especialmente entre os jovens e nos contextos
urbanos mais desenvolvidos, mas hoje atinge um nível tal a se falar em mutação
antropológica. Algumas pessoas não são mais capazes de ficar muito tempo em silêncio
e solidão.
Quis acenar a essa condição sócio-cultural porque coloca em relevo o carisma
específico da Cartuxa, como um dom precioso para a Igreja e para o mundo, um dom
que contém uma mensagem profunda para a nossa vida e para toda a humanidade.
Resumi-lo-ia assim: retirando-se no silêncio e na solidão, o homem, por assim dizer, se
"expõe" ao real na sua nudez, se expõe àquele aparente “vazio” que mencionamos antes,
para experimentar, ao contrário, a Plenitude, a presença de Deus, da Realidade mais
real que há, e que está além da dimensão sensível. É uma presença perceptível em todas
as criaturas: no ar que respiramos, na luz que vemos e que nos aquece, na relva, nas
pedras... Deus, “Creator omnium” (Criador de tudo), atravessa tudo, mas está além, e
exatamente por isso é o fundamento de tudo. O monge, deixando tudo, por assim dizer,
"arrisca": se expõe à solidão e ao silêncio para não viver em nada além do essencial, e
exatamente no viver do essencial encontra também uma profunda comunhão com os
irmãos, com cada homem.
Alguém poderia pensar que seja suficiente vir aqui fazer este “salto”. Mas não é. Esta
vocação, como qualquer outra vocação, encontra resposta em um caminho, na busca de
toda uma vida. Não basta, de fato, retirar-se em um lugar como esse para aprender a
estar na presença de Deus. Como no matrimônio, não é suficiente celebrar o Sacramento
para se tornar efetivamente um só, mas é preciso deixar que a graça de Deus atue e
conduza juntamente a rotina diária da vida conjugal, assim o tornar-se monges requer
um tempo, exercício, paciência, "em uma perseverante vigilância divina –como
afirmava são Bruno– esperando o retorno do Senhor para abrir-lhe imediatamente a
porta" (Carta a Raul,4); e exatamente nisto reside a beleza de todas as vocações na Igreja:
dar tempo a Deus de operar com o Seu Espírito e à própria humanidade de formar-se,
de crescer segundo a medida da maturidade de Cristo, naquele particular estado de
vida. Em Cristo está o tudo, a plenitude; nós temos necessidade de tempo para fazer

25
nossa uma das dimensões do seu mistério. Poderíamos dizer que este é um caminho de
transformação em que se atua e se manifesta o mistério da ressurreição de Cristo em
nós, mistério a que nos chamou esta noite a Palavra de Deus na Leitura bíblica, tirada
da Carta aos Romanos: o Espírito Santo, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, e que
dará vida também a nossos corpos mortais (cf.Rm 8,11), é Aquele que opera também a
nossa configuração a Cristo de acordo com a vocação de cada um, um caminho que se
desenrola da fonte batismal até a morte, passagem para a casa do Pai. Às vezes, aos
olhos do mundo, parece impossível permanecer por toda a vida em um mosteiro, mas,
na realidade, uma vida é suficiente apenas para entrar nesta união com Deus, naquela
realidade essencial e profunda que é Jesus Cristo.
Por isso vim aqui, queridos irmãos que formais a Comunidade cartusiana de Serra
San Bruno! Para dizer-vos que a Igreja precisa de vós, e que vós tendes necessidade da
Igreja. O vosso lugar não é marginal: nenhuma vocação é marginal no Povo de Deus:
somos um só corpo, em que cada membro é importante e tem a mesma dignidade, e é
inseparável do todo. Também vós, que viveis em um isolamento voluntário, estais, na
realidade, no coração da Igreja, e fazeis escorrer em suas veias o sangue puro da
contemplação e do amor de Deus.
Stat Crux dum volvitur orbis – assim diz o vosso lema. A Cruz de Cristo é o
ponto firme, em meio às mudanças e reviravoltas do mundo. A vida em uma Cartuxa
participa da estabilidade da Cruz, que é aquela de Deus, do seu amor
fiel. Permanecendo sadiamente unidos a Cristo, como ramos à videira,
vós também, irmãos Cartuxos, estão associados ao seu mistério de salvação, como a
Virgem Maria, que junto à Cruz stabat unida ao Filho na mesma oblação de amor.
Assim, como Maria e junto a ela, também vós estais inseridos profundamente no
mistério da Igreja, sacramento de união dos homens com Deus e entre si. Nisso, vós sois
singularmente próximos ao meu ministério. Cuide, portanto, de nós a Mãe Santíssima
da Igreja, e o santo Pai Bruno abençoe sempre do Céu a vossa comunidade. Amém!

26
CARTA DO PAPA FRANCISCO
A
DOM FRANÇOIS-MARIE VELUT,
Prior de Chartreuse e Ministro Geral da Ordem Cartusiana,
NO
V CENTENÁRIO DA CANONIZAÇÃO DE SÃO BRUNO
03-06-2014

Na ocasião do 500º aniversário da “canonização equipolente” de São Bruno, dou


graças a Deus por esta bela e irradiante figura, cuja vida, impregnada44 do Evangelho,
segue inspirando homens e mulheres desejosos de seguir de maneira particular a Jesus
orante e que se oferece para a salvação do mundo. Cinco séculos se passaram desde que
Leão X, tomando nota da devoção de tantos fieis ao servo de Deus, Bruno, permitiu a
inserção deste no calendário litúrgico! Hoje ainda, pela densidade de sua existência,
dedicada toda ela a uma procura assídua de Deus e à comunhão com Ele, segue sendo
uma estrela brilhante no horizonte, para a Igreja e para o mundo.
Saúdo, com particular afeto, cheio de admiração, às filhas e aos filhos espirituais
deste grande santo. Pela sua consagração, mostram de maneira muito bela aos homens
deste tempo a fé no Deus revelado em Jesus Cristo como a verdadeira e única luz
“capaz de acender toda a existência do homem […], uma luz que vem do futuro, que
entreabre ante nós grandes horizontes e nos conduz mais além de nosso “eu” isolado,
até a amplidão da comunhão” (Lumen Fidei, n.4). Lembrando-me da memorável visita
de Bento XVI à Cartuxa de Serra San Bruno, em 2011, faço minhas as palavras de meu
Antecessor reafirmando que a situação sociocultural atual, caracterizada pelo ruído ou,
ao contrário, por uma solidão individualista, “põe em evidência o carisma específico
da Cartuxa como um dom precioso para a Igreja e para o mundo, um dom que encerra
uma mensagem profunda para nossa vida e para a humanidade toda inteira” (Homilia
do Papa Bento XVI, Cartuxa de Serra San Bruno, 9 de outubro de 2011).
Animando aos monges e monjas a renovar a oferenda de sua vida ao Senhor, confio a
Ordem dos Cartuxos à solicitude maternal da Virgem Maria assim como à de São
Bruno, e lhes concedo de muito bom grado uma particular Benção apostólica.
No Vaticano, a 3 de junho de 2014.
Francisco

44 No texto original podemos ler a palavra “pétrie”, amassada, tirada da imagem de amassar o pão, mas

parece-nos que em português é melhor traduzir por “impregnada”.

27
APÊNDICE

I
EXTRATO DA ENCÍCLICA RERUM ECCLESIÆ
DO PAPA PIO XI,
sobre as missões, referência à constituição apostólica Umbratilem
(28 de fevereiro de 1926)

[Consignas para o desarrolho nas regiões de primeira evangelização]


Para terminar esta parte que vamos tratando, relacionada com o pessoal escolhido
como cooperador de vossos trabalhos apostólicos, só resta indicar-vos uma ideia que, se
se reduz à prática, pensamos vai ajudar grandemente à rápida difusão do Evangelho.
Pelas Letras apostólicas com que, faz um ano, confirmamos custosíssimos as
Constituições da Ordem Cartusiana,45 aprovada desde um principio pela autoridade
pontifícia e acomodadas agora ao novo Direito canônico, havereis entendido a estima
grande em que temos a vida contemplativa. Pois bem, do mesmo modo que Nós
exortamos com todo calor a aos Superiores destas Ordens contemplativas a que
introduzam sua austera forma de vida nas missões, fundando lá cenóbios, de igual
maneira deveis vós, Veneráveis Irmãos e amados filhos, acossá-los com rogos a que o
levem a efeito, já que estes religiosos da vida solitária vos acarretaram indizíveis graças
do céu para vós e para vossos trabalhos.
Não duvideis de que hão de ser muito bem vistos os monges em vossos distritos,
sobre tudo em algumas regiões cujos moradores, ainda sendo todos gentios, são
naturalmente inclinados à vida solitária e de oração e contemplação. Bom exemplo disto
o temos no célebre mosteiro de Cistercienses Reformados, o Trapistas, que se
estabeleceram no Vicariato apostólico de Pequim, onde cerca de cem religiosos chineses
quase todos, exercitam-se em toda sorte de virtudes perfeitas, continua oração, aspereza
de vida e não interrompido trabalho para aplacar o Senhor pelos pecados próprios e
alheios, e faze-lo propício, atraindo com a força do exemplo muitos fieis a Cristo.
Por onde se vê, mais claro que a luz, que vossos anacoretas podem, sim desorientar-
se nada do espírito e prática do seu Instituto, e sim tomar parte na vida ativa, fazer
muito em pro das missões católicas. Assim que acederem a vossos desejos os Superiores
de ditas Ordens e fundarem, de comum acordo, residências dos seus em vossos
territórios, fariam uma obra muito benemérita para a conversão dos pagãos e nos
prestariam um serviço sobremaneira aceito e agradável.

45 Cf. Constitución Apostólica Umbratilem (8 de julio de 1924).

28
II

DISCURSO DE SÃO JOÃO PAULO II


Aos fieis reunidos ante a igreja de santa Maria del Bosque,
na Cartuxa de Serra San Bruno
05-10-1984

Muito queridos irmãos e irmãs.

l. A todos vós a minha saudação cordial com a alegria deste encontro que tem lugar
num cenário majestoso e rico em lembranças. Dou as graças ao senhor prefeito pelas
nobres palavras com que me tem recebido neste lugar esplêndido que viu atuar e
morrer ao grande monge São Bruno, fundador dos Cartuxos. Meu agradecimento vai
também para quantos se têm afanado por esta parada espiritual ao começo de minha
visita pastoral a Calábria, parada que me chega ao fundo do coração e me põe em
contato com almas dedicadas à contemplação de Deus.
Saúdo às autoridades presentes, a monsenhor Cantisani, Arcebispo desta igreja, aos
sacerdotes e religiosos e a cada um de vocês, irmãos e irmãs que tendes vindo dar-me as
boas-vindas.
Sinto-me próximo de vossas necessidades e preocupações. Quis vir até vós para
dizer-vos o muito que aprecio vossas antigas tradições de fé que honraram vossa terra
ao largo dos séculos, e também para animar-vos a prosseguir pelo caminho indicado
por vossos antepassados com o testemunho de uma vida inspirada nos valores da
honradez, generosidade e sacrifício.

2. Estou aqui convosco, amados irmãos e irmãs, para exortar-vos a custodiar


zelosamente o patrimônio espiritual vivo no âmbito de vossa cidade. Ainda que a
Cartuxa possa ter também incentivos de interesse cultural e turístico, o que se propõe é
ser sinal, presença particular de Deus louvado por almas arrebatadas por Deus e
colocadas aqui para orar, sofrer e oferecer pelos irmãos.
Vós, cidadãos de Serra San Bruno, conheceis bem o significado da presença dos
monges entre vós, tendes experimentado sua eficácia espiritual, pois a Cartuxa é como o
coração desta região e reclamo constante ao mundo de Deus e dos valores concernentes
à salvação eterna de cada um. Já desde o longínquo 1094, quando Bruno veio aqui com
alguns discípulos, o tempo esteve marcado sempre pela presença da Cartuxa, que não
só desempenhou função espiritual, mas que deu origem à vossa comunidade cívica. O
primeiro contato entre os cartuxos – que este ano lembram o IX Centenário de suas
origens – e vossos antepassados foi-se afiançando através dos séculos, e tem chegado a
ser vínculo indestrutível e osmose de colaboração espiritual e prática.
Siga suscitando este vínculo também hoje, nos cidadãos de Serra San Bruno,
propósitos generosos de atuação no âmbito civil e no religioso para que estas terras

29
continuem desfrutando da maravilhosa floração de virtudes humanas e cristãs que
alegrou e honrou não poucos momentos de sua história passada.

3. Proteja sempre San Bruno – cuja festa é amanha – vossa cidade, queridíssimos fieis,
e vos faça crescer fortes na fé, testemunhas e garantidores de uma riqueza incalculável
de graça que desce da Cartuxa até o mundo exterior.
Sois vós os primeiros beneficiários disso e vos orgulhais [parece que o sentido é que
eles tem orgulho de si mesmo, portanto verbo pronominal, isto é usado com pronome e
com sentido reflexivo] com razão por isso, sabei tirar fruto alimentando aqui vossa fé e
opondo-vos à mentalidade tão difundida hoje, por desgraça, que rejeita os valores do
espírito em nome dum consumismo fácil. Vossa fé singela e madura seja sustida pela
“laus perennis” que sobe constantemente a Deus desde a Comunidade da Cartuxa.

4. Confio este desejo à intercessão da Virgem Santíssima, de quem San Bruno foi
devoto fervoroso como testemunha também o nome da basílica contígua, levantada
onde ele fechou os olhos a esta vida mortal.
Imitai a São Bruno também nisto, comportai-vos como filhos devotos da Virgem
Maria, pedindo-lhe ajuda constante com abandono confiado. Não vos canseis de
suplicar à Virgem sobretudo com a reza do Rosário ao qual nos convida o mês de
outubro apenas começado. Em todas as circunstancias da vida experimentareis sua
intervenção maternal.
Com estes sentimentos e com uma lembrança especial e afetuosa para as crianças,
enfermos e anciãos, a todos outorgo minha benção.

João Paulo II.

30
III
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
AOS
MEMBROS DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL
06-10-2006

Queridos Irmãos e Irmãs!


Não preparei uma verdadeira homilia, mas apenas algumas ideias para fazer a
meditação. A missão de São Bruno, o santo de hoje, é clara e podemos dizer que é
interpretada na oração deste dia que, mesmo se bastante variada no texto italiano, nos
recorda que a sua missão foi silêncio e contemplação. Mas silêncio e contemplação têm
uma finalidade: servem para conservar, na dispersão da vida quotidiana, uma união
permanente com Deus. Esta é a finalidade: que na nossa alma esteja sempre presente a
união com Deus e transforme todo o nosso ser.
Silêncio e contemplação, características de São Bruno, servem para poder encontrar
na dispersão de cada dia esta profunda e contínua união com Deus. Silêncio e
contemplação: a bela vocação do teólogo é falar. É esta a sua missão: na loquacidade do
nosso tempo, e de outros tempos, na inflação das palavras, tornar presentes as palavras
essenciais. Nas palavras tornar presente a Palavra, a Palavra que vem de Deus, a
Palavra que é Deus.
Mas como poderemos, sendo parte deste mundo com todas as suas palavras, tornar
presente Deus nas palavras, a não ser mediante um processo de purificação do nosso
pensar, que deve ser sobretudo também um processo de purificação das nossas
palavras? Como poderemos abrir o mundo, e primeiro nós mesmos, à Palavra sem
entrar no silêncio de Deus, do qual procede a sua Palavra? Para a purificação das nossas
palavras, e, portanto, para a purificação das palavras do mundo, temos necessidade
daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e
assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora.
Santo Tomás de Aquino, com uma longa tradição, diz que na teologia Deus não é o
objeto do qual falamos. Esta é a nossa concepção normal. Na realidade, Deus não é o
objeto; Deus é o sujeito da teologia. Quem fala na teologia, o sujeito falante, deveria ser
o próprio Deus. E o nosso falar e pensar deveria servir apenas para que possa ser
ouvido, para que o falar de Deus, a Palavra de Deus possa encontrar espaço no mundo.
Assim de novo, somos convidados para este caminho da renúncia a palavras nossas; a
este caminho da purificação, para que as nossas palavras sejam só instrumento
mediante o qual Deus possa falar, e assim Deus seja realmente não objeto, mas sujeito
da teologia.
Neste contexto vem-me à mente uma lindíssima palavra da Primeira Carta de São
Pedro, no primeiro capítulo, versículo 22. Em latim soa assim: "Castificantes animas
nostras in obedientia veritatis". A obediência à verdade deveria "castificar" a nossa alma,
e desta forma guiar à reta palavra e à reta ação. Por outras palavras, falar para encontrar
aplausos, falar orientando-se segundo o que os homens querem ouvir, falar em

31
obediência à ditadura das opiniões comuns, é considerado como uma espécie de
prostituição da palavra e da alma. A "castidade" à qual o apóstolo Pedro faz alusão não
é submeter-se a estes protótipos, não procurar os aplausos, mas procurar a obediência à
verdade. E penso que esta seja a virtude fundamental do teólogo, esta disciplina até
severa da obediência à verdade que nos torna colaboradores da verdade, boca da
verdade, para que, neste rio de palavras de hoje, não falemos nós, mas realmente
purificados e tornados castos pela obediência à verdade, a verdade fale em nós. E dessa
forma podemos ser verdadeiramente portadores da verdade.
Isto me faz pensar em Santo Inácio de Antioquia e numa sua bonita expressão:
"Quem compreendeu as palavras do Senhor compreende o seu silêncio, porque o
Senhor deve ser conhecido no seu silêncio". A análise das palavras de Jesus chega até
um certo ponto, mas permanece no nosso pensar. Só quando alcançamos aquele silêncio
do Senhor, no seu ser com o Pai do qual provêm as palavras, podemos realmente
começar a compreender a profundidade destas palavras. As palavras de Jesus nasceram
no seu silêncio no Monte, como diz a Escritura, no seu ser com o Pai. Deste silêncio da
comunhão com o Pai, do estar imerso no Pai, nascem as palavras e só chegando a este
ponto, e partindo deste ponto, alcançamos a verdadeira profundidade da Palavra e
podemos ser autênticos intérpretes da palavra. O Senhor convida-nos, falando, a subir
com Ele ao Monte, e no seu silêncio, aprender de novo o verdadeiro sentido das
palavras.
Dizendo isso chegamos às duas leituras de hoje. Jó tinha gritado a Deus, fez também
a luta com Deus diante das injustiças evidentes com as quais o tratava. Agora se
confronta com a grandeza de Deus. E compreende que diante da verdadeira grandeza
de Deus todo o nosso falar é só pobreza e não alcança nem sequer de longe a grandeza
do seu ser, e assim diz: "Por duas vezes falei, não continuarei". Silêncio diante da
grandeza de Deus, porque as nossas palavras tornam-se demasiado pequenas. Isto me
faz pensar nas últimas semanas da vida de Santo Tomás. Nessas últimas semanas não
escreveu mais, não falou mais. Os seus amigos perguntaram-lhe: Mestre, porque não
falas, porque não escreves? E ele respondeu: perante tudo o que vi agora todas as
minhas palavras parecem palha. O grande conhecedor de Santo Tomás, o padre Jean-
Pierre Torrel, diz-nos que não interpretemos mal estas palavras. A palha não é nada. A
palha dá o grão e é este o grande valor da palha. Dá o grão. E também a palha das
palavras permanece válida como portadora de grão. Mas isto é também para nós, diria,
uma relativização do nosso trabalho e ao mesmo tempo uma valorização do nosso
trabalho. É também uma indicação, para que o modo de trabalhar, a nossa palha, dê
realmente o grão da Palavra de Deus.
O Evangelho termina com as palavras: "Quem vos ouve, é a mim que ouve". É
verdade que quem me escuta, escuta realmente o Senhor? Rezemos e trabalhemos para
que seja sempre mais verdadeiro que quem nos ouve, ouça Cristo. Amém!

32
IV
ENCONTRO DO PAPA BENTO XVI
COM A POPULAÇÃO DE SERRA SAN BRUNO
Praça de Santo Estêvão em frente à Cartuxa de Serra San Bruno
09-10-2011
(L’Osservatore Romano, nº. 2182, p. 8)

Senhor Prefeito,
Veneráveis Irmãos no Episcopado,
distintas autoridades,
queridos amigos de Serra San Bruno!

Tenho o prazer de poder encontrá-los antes de entrar na Cartuxa, onde estarei


fazendo a segunda parte da minha Visita Pastoral à Calábria. Saúdo todos vós com
afeto e agradeço-lhes a vossa calorosa acolhida; em particular, agradeço ao Arcebispo
de Catanzaro-Squillace, Mons. Vincenzo Bertolone, e ao prefeito, Dr. Bruno Rosi, pelas
amáveis palavras que me dirigiram. É verdade, duas Visitas feitas pelo Sucessor de
Pedro é um privilégio para a vossa comunidade civil. Mas acima de tudo, como bem
disse ainda o Prefeito, é um grande privilégio ter em sua área esta "fortaleza" do espírito
que é a Cartuxa. A própria presença da comunidade monástica, com sua longa história
que remonta a são Bruno, é uma referência constante a Deus, uma abertura ao céu, e um
convite para lembrar que somos irmãos em Cristo.
Os mosteiros no mundo têm um grande valor, eu diria indispensável. Se no medievo
eram centros de recuperação de áreas pantanosas, agora servem para “limpar” o
ambiente de outra maneira: às vezes, de fato, o clima que reina em nossa sociedade não
é saudável, é poluído por uma mentalidade que não é cristã, ou mesmo humana,
porque dominada pelos interesses econômicos, preocupada apenas com as coisas
terrenas e sem uma dimensão espiritual. Este clima não só marginaliza Deus, mas
também o nosso próximo, e não nos compromete por o bem comum. O mosteiro é um
modelo, em vez de uma empresa, que coloca no centro a Deus e a relação fraterna.
Temos tanta necessidade dele em nosso tempo.
Queridos amigos de Serra San Bruno, o privilégio de ter perto a Cartuxa é também
uma responsabilidade para vós: conservai o tesouro da grande tradição espiritual deste
lugar e procurai levá-lo à prática na vida diária. A Virgem Maria e são Bruno vos
protejam sempre. De coração vos abençoou a todos e as vossas famílias.

33
V
ÂNGELUS DO PAPA BENTO XVI
NA
PERIFERIA INDUSTRIAL DE LAMEZIA TERME
09-10-2011
(L’Osservatore Romano, nº. 2182, p. 9)

Queridos irmãos e irmãs!


Ao aproximarmo-nos do final da nossa Celebração, dirijamo-nos com filial devoção à
Virgem Maria, que neste mês de Outubro veneramos em particular com o título de
Rainha do Santo Rosário. Sei que são diversos os Santuários marianos presentes nesta
vossa terra, e alegro-me por saber que aqui na Calábria está viva a piedade popular.
Encorajo-vos a praticá-la constantemente à luz dos ensinamentos do Concílio Vaticano
II, da Sé Apostólica e dos vossos Pastores. Confio com afeto a Maria a vossa
Comunidade diocesana, para que caminhe unida na fé, na esperança e na caridade.
Ajude-vos a Mãe da Igreja a ter sempre a peito a comunhão eclesial e o compromisso
missionário. Ampare os sacerdotes no seu ministério, ajude os pais e os professores na
tarefa educativa, conforte os doentes e quantos sofrem, conserve nos jovens um ânimo
puro e generoso. Invoquemos a intercessão de Maria também para os problemas sociais
mais graves deste território e de toda a Calábria, sobretudo os do trabalho, da
juventude e da tutela das pessoas deficientes, que exigem crescente atenção da parte de
todos, em particular das Instituições. Em comunhão com os vossos Bispos, exorto-vos
em particular a vós, fiéis leigos, a não deixar faltar a vossa contribuição de competência
e de responsabilidade pela construção do bem comum.
Como sabeis, hoje à tarde irei a Serra San Bruno para visitar a Cartuxa. São Bruno
veio a esta terra há nove séculos, e deixou uma marca profunda com a força da sua fé.
A fé dos Santos renova o mundo! Com a mesma fé, também vós, renovai hoje a vossa,
a nossa amada Calábria!

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ÍNDICE

Constituição Apostólica Umbratilem, de Pio XI. 3

Carta de Pio XII ao Prior de Vedana no V Centenário de sua Casa. 7

Carta Optimam partem, do Bto. Paulo VI, a Dom André Poisson. 9

Carta de São João Paulo II a Dom André P. no IX Centenário de nossa Ordem. 12

Alocução de São João Paulo II aos monges de Serra San Bruno no IX Cent. da Ordem. 15

Carta de São João Paulo II ao Prior de Serra S. Bruno no IX Centenário de sua Casa. 18

Carta de São João Paulo II a Dom Marcellin no IX Centenário da morte de S. Bruno. 20

Homilia de Bento XVI nas vésperas celebradas na Cartuxa de Serra San Bruno. 24

Carta de Francisco a Dom François-M. Velut no V Centenário da canonização de S. Bruno. 27

APÉNDICE

Extrato da Encíclica Rerum Ecclesiæ, do Papa Pio XI. 28

Alocução de São João Paulo II aos fieis reunidos em Santa Maria del Bosque. 29

Homilia de Bento XVI com os membros da Comissão Teológica Internacional. 31

Alocução de Bento XVI com a população de Serra San Bruno. 33

Ângelus de Bento XVI na periferia industrial de Lamezia Terme. 34

LAUS DEO VIRGINIQUE MATRI

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