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TB Unidade 04
TB Unidade 04
PÓS MODERNIDADE
Professor:
Dr. Julio Zabatiero
Me. Roney de Carvalho Luiz
DIREÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender a práxis da teologia bíblica atual.
• Refletir a construção de uma hermenêutica contextual.
• Apresentar uma proposta dialogal de teologia.
PLANO DE ESTUDO
UMA PROPOSTA DE
TEOLOGIA BÍBLICA A
PARTIR DA AÇÃO CRISTÃ
TRANSFORMADORA
Pós-Universo 7
De largada queremos te conduzir a refletir sobre a imagem aqui no início deste estudo.
A imagem é de uma figura de castanha de bronze que vem de Calcutá, na Índia. Ela
parece representar perfeitamente o propósito da praxis do labor do biblista. A figura
representa o momento entre a ação (a mão direita) e a reflexão (a mão esquerda).
Trabalho e análise são lindamente capturados neste momento. Esta figura, então,
capta bastante o trabalho do Estudo Bíblico Contextual.
O estudo contextual da Bíblia na pós-modernidade como ação cristã transformadora
deve seguir uma metodologia - uma maneira de trabalhar, em vez de uma fórmula
fixa. O método enquanto ação transformadora é semelhante a muitas outras formas
de se fazer teologia bíblica que têm suas origens na interface entre estudiosos bíblicos
socialmente envolvidos, intelectuais orgânicos como diria Gramsci e “leitores” cristãos
comuns (quer sejam alfabetizados ou não) da Bíblia. Talvez você já esteja familiarizado
com o Método Ver-Julgar-Agir, onde o processo de estudo da Bíblia começa com
a análise do contexto local (Ver) e, em seguida, se lê a Bíblia para permitir que o
texto bíblico dialogue com esse mesmo contexto (Julgar) e, em seguida, move-se
para a ação transformadora enquanto respondemos ao que Deus está dizendo para
cumprimento da Missio Dei (Agir).
Essa análise social nos permite compreender o nosso topos (lugar ou realidade
comum); reler a Bíblia nos permite julgar se a nossa realidade é como Deus pretende
que ela seja; e nosso plano de ação nos permite trabalhar com Deus para mudar
nossa realidade. Este processo é um processo contínuo, é repetido, pois cada ação
leva a uma maior reflexão (Ver), etc. Este é o ciclo missional onde a práxis transforma.
A CEBI acrescenta outros dois elementos a este processo, a fim de tornar aberta a
natureza cíclica do processo. Eles falam de seu processo como composto por Ver-
Julgar-Agir-Celebrar-Avaliar. Depois que se realiza o Estudo Bíblico, se “Comemora”
o que se fez, tanto a nível litúrgico como social; então, após a celebração vem a
avaliação. A avaliação do processo se dá até para que se prossiga o planejamento
do trabalho em andamento.
O estudo da Bíblia contextual é uma forma do método Ver-Julgar-Agir. Primeiro, o
Estudo Bíblico Contextual é sempre situado dentro da análise social e das necessidades
de comunidades particulares dos pobres, a classe trabalhadora e marginalizada. É a
perspectiva deles sobre a realidade que molda todo o estudo da Bíblia.
Pós-Universo 9
reflita
Para que a ação transformadora seja eficaz, faz-se necessário uma mudança de
mentalidade e de estruturas eclesiais, que promovam e incentivem a ação dos
cristãos no mundo como comunidade que se abre permanentemente para
as urgências do mundo; que mostra a fraternidade de ajuda e serviço mútuo,
com especial atenção às pessoas mais frágeis e necessitadas; uma Igreja
em saída, de portas abertas, que vai em direção aos outros para chegar às
periferias humanas e acompanhar os que ficaram caídos à beira do caminho.
(Igreja em rede)
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2. Ao ler a Bíblia, o povo das Comunidades traz consigo a sua própria história
e tem nos olhos os problemas que vêm da realidade dura da sua vida. A
Bíblia aparece como um espelho, “símbolo” (BÍBLIA, Hb 9,9; 11,19), daquilo
que ele mesmo vive. Estabelece-se uma ligação profunda entre Bíblia e
vida que, às vezes, pode dar a impressão de um concordismo superficial. Na
realidade, é uma leitura de fé muito semelhante a que faziam as primeiras
comunidades (BÍBLIA, At 1,16-20; 2,29-35; 4,24- 31) e os Santos Padres.
4. Antes deste contato mais vivido com a Palavra de Deus, a Bíblia ficava longe
da vida do povo. Era o livro dos “padres”, dos “pastores”, do clero. Mas agora
ela chegou perto! O que era misterioso e inacessível, começou a fazer parte
da vida quotidiana de crianças, mulheres e homens empobrecidos. E, junto
com a sua Palavra, o próprio Deus chegou perto! “Vocês que antes estavam
longe foram trazidos para perto!” (BÍBLIA, Ef 2,13). Difícil para um de nós
avaliar a experiência de novidade e de gratuidade que isto representa para
as pessoas empobrecidas.
5. 5. Assim, aos poucos, foi surgindo uma nova maneira de se olhar a Bíblia e a
sua interpretação. Ela já não é vista como um livro estranho que pertence ao
clero, mas sim como o nosso livro, “escrito para nós que tocamos o fim dos
tempos” (BÍBLIA, 1Co 10,11). Às vezes, ela chega a ser o primeiro instrumento
de uma análise mais crítica da realidade. Por exemplo, a respeito de uma
empresa que oprime e explora o povo, o pessoal da comunidade dizia: “É
o Golias que temos que enfrentar!”
7. A Bíblia entra na vida do povo não pela porta da imposição autoritária, mas
sim pela porta da experiência pessoal e comunitária. Ela se faz presente não
como um livro que impõe uma doutrina de cima para baixo, mas como
uma Boa Nova que revela a presença libertadora de Deus na vida e na luta
do povo. As pessoas que participam dos grupos bíblicos, elas mesmos se
encarregam de divulgar esta Boa Notícia e atraem outras para participar.
“Vinde ver um homem que me contou toda a minha vida!” (BÍBLIA, Jo 4,29).
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8. Para que se produza esta ligação profunda entre Bíblia e vida, é importante:
a. Ter nos olhos as perguntas reais que vêm da realidade, e não perguntas
artificiais que nada têm a ver com a vida do povo. Aqui, aparece como é
importante o(a) intérprete ter convivência e experiência pastoral inserida
no meio do povo.
c. Ter uma visão global da Bíblia que envolva os próprios leitores e leitoras,
e que esteja ligada com a situação concreta das suas vidas hoje.
Para os dois métodos brevemente já descritos, era usado o mesmo referencial teórico,
extraído da tradição marxista popularizada: o conceito de modo de produção (e seu
companheiro, o de formação social). Na leitura do Antigo Testamento um elemento
facilitador foi o fato de que praticamente em toda a história do antigo Israel apenas
um modo de produção tenha sido predominante. era a fundamental – aplicava-se ao
texto, assim, uma crítica ideológica, ou uma hermenêutica da suspeita, que buscava
situar o texto nos confrontos sociopolíticos de sua época e definir a favor de que grupos
sociais e políticos ele se colocava. O risco desse referencial é a reificação dos agentes
sociais e a simplificação do processo complexo que é a dinâmica das sociedades. O
que interessa, porém, primariamente, na leitura popular não é o método, mas a vida.
Pós-Universo 15
Novo Marco
Enquanto isso acontecia por aqui, no outro lado do mundo um muro caía.
Uma visão de mundo, outrora sedutora, mostrou uma face perversa – conhecida,
mas negligenciada em função de uma utopia maior, de sonhos urgentes.
Um simples muro, mas quase o fim da história. Monumentos de lá caíram,
movimentos de cá ficaram esmagados. O Brasil melhorou, não há como negar, mas
uma ambígua sensação tomou conta de muitos de nós. Será que o sonho foi traído?
A radicalidade do discurso e das práticas dantes oposicionistas deu lugar à
mesmice acomodada da situação? As porteiras abertas, escancaradas, tornaram
perceptível uma imensa pluralidade. Plural, fragmentário até. Tantas lutas, tantas vozes,
tantas microutopias. Certezas não tão antigas assim ficaram soltas no ar. Não mais
singularidades. Agora tudo se tornou plural. Por um lado, uma certeza se impõe: “um
outro mundo é possível”. Por outro, um novo vocabulário, uma nova hermenêutica
parece fazer seu caminho em nossas terras e comunidades.
A leitura multiforme, multicolorida, faz-se intercultural. Novas redes se formam,
os horizontes se ampliam. Afinal de contas, um outro mundo é possível – mais que
possível, necessário, urgente, imperativo.
O texto não é só espelho, é também janela. Não! Sempre foi uma janela. Janela
para um mundo diferente, estranho e exótico. Tão exótico, estranho e diferente que
acabamos nos acostumando com ele e ele se transfigurou em nosso próprio mundo.
É verdade que as janelas podem virar espelhos. Só não podem deixar de ser janelas.
Abertas para entrar a vida que está fora da casa. Aberta para a gente pular e brincar
no quintal, na rua, cair na estrada, aventurar-se mundo afora. Tantas coisas boas que
aprendemos e fizemos. Não podemos esquecê-las.
Uma coisa, também boa e útil, imagino, apresenta seu convite para nós. Quase
uma intimação. Contra a tentação da mesmice, da familiaridade, o texto bíblico nos
convida a nos reencantarmos com a sua estranheza. Foi ótimo nos acostumarmos
com o texto, sentirmos-nos em casa com ele, fazer dele nosso espaço sagrado, nosso
lugar de encontro, o ponto de chegada de nossa romaria. Agora me parece necessário
olharmos novamente para o texto em toda a sua estranheza, em sua peculiaridade
e em sua distância de nós. Não mais espelho. Janela, com vidros opacos, meio sujos,
apenas entreaberta. Ora, afinal de contas, não é muito esquisito que filhos dos deuses
desçam do céu à terra para fazer amor com as filhas dos homens? Terá sido uma
resposta dos deuses machos ao movimento de libertação das deusas exploradas?
Ou teria sido fruto de um movimento libertário das filhas dos homens, cansadas de
sofrer sob o jugo patriarcal quiriárquico?
Não é ética e politicamente incorreto que Jesus, ao expulsar a legião de um
rapaz gadareno (ou teria sido geraseno?), tenha enviado os espíritos impuros para a
manada de porcos, obrigando-a a se atirar ao mar desesperadamente? Ou que coisa
terrível o Apocalipse nos oferece, com suas pragas, cavaleiros, bestas e destruições?
Quem não se incomoda ao ler que Davi era um homem “segundo o coração de
Deus” nos Salmos e, ao voltar os olhos para os profetas anteriores, descobre que Davi
era mulherengo, voyeur, assassino? Não é espantoso ler os Evangelhos e chegar à
conclusão que Jesus jamais seria aceito como sacerdote de igrejas cristãs – afinal de
contas, ele era encrenqueiro, rebelde, amigo de gente que não prestava e, além de
tudo, milagreiro, sem curso de teologia, sem eira nem beira. Que Deus é essa cujo
primeiro milagre é transformar água em vinho? Ah! Se Jesus fosse evangélico! Teria
transformado o vinho em água.
Pós-Universo 21
Dei exemplos óbvios, mas, de fato, a Bíblia toda é muito estranha. Justificação
pela fé, em Paulo, não é justificação pela fé luterana. Soberania divina não é a dupla
predestinação calvinista. A rocha deixada por Jesus não é a base da sucessão apostólica
etc. Não. Conflito campo-cidade não está presente em toda a Bíblia. Os negros também
eram minoria entre o chamado povo de Deus da Escritura. As mulheres eram oprimidas
mais do que a gente gostaria. E, para espanto de quem ama a santidade, o pessoal
que adorava a Deus também era craque no pecado. E as bem-aventuranças de Jesus
em Mateus, então! Não é feliz quem milita, mas quem pacifica. Não é feliz quem
consegue a terra, mas quem alcança o reino dos céus. Não é feliz quem consegue
vida boa, mas quem é perseguido, zombado, ridicularizado. Será?
Escrevi esses dois últimos parágrafos para provocar. Para me provocar, desafiar-me,
chocar-me e me desestabilizar. Para que o texto mantenha seu poder, sua beleza, seu
encanto, seu charme, sua ousadia, é preciso que nos entreguemos à sua estranheza,
à sua peculiaridade, à sua diferença e à sua outridade. Dentre os vários modos de
ler que descobrimos, uma atitude se faz necessária e urgente. Voltar os olhos para
o texto enquanto texto. Não mais enquanto exemplo de luta, testemunho de fé e
espelho de nossa caminhada. O texto, por si só, sem qualquer pretexto. Não. Não se
apresse a gritar “fundamentalismo!”.
Fundamentalistas amam o texto porque para eles o texto só é espelho. O texto
sempre concorda com suas doutrinas, medos, inseguranças e violências. Se queremos
ficar livres do fundamentalismo, precisamos voltar a deixar o texto ser texto e falar sua
própria voz, gritar, clamar, berrar, ferir nossos ouvidos, cegar nossos olhos, manchar
nossas mãos e criar calos em nossos pés.
Ao terminar essa autorrevisão, mais um testemunho e não mais do que um
simples e teimoso testemunho. Descobri que história, sociologia, antropologia, gênero,
cultura etc. são boas ferramentas. Indispensáveis. Mas descobri que elas também são
perigosamente tendenciosas a transformar o texto em “espelho, espelho meu”, e nos
tentam a nos apaixonarmos mais por elas do que pelo texto que lemos, e pela pessoa
divina que nos ama, salva e governa na fé, espiritualidade e militância. Precisamos
nos libertar do apego aos nossos queridos e amados métodos.
22 Pós-Universo
Como somos apenas gente, precisamos permitir que outras ferramentas encontrem
lugar na obra de construir a casa de todas as pessoas. Quando fazemos a memória da
caminhada, encantamos-nos com a liberdade que nos foi presenteada, para servir a
Deus servindo às pessoas que sofrem qualquer e todo tipo de injustiça. Ao olharmos
para o futuro, para o outro mundo possível, precisamos nos arriscar e nos libertar das
ferramentas que nos auxiliaram tanto até hoje.
Que nossos métodos não se transformem nas panelas do Egito. Gente que põe
a mão no arado, gente que se arrisca no deserto, não pode olhar prá trás, senão vira
estátua de sal. Não. Não tenho nenhum segredo para contar. Não sei que métodos
colocar no lugar. Estou tentando construir meu jeito de ler, que não é meu por
invenção, mas por teimosa e obstinada vontade de aprender. Mas não creio em
meus métodos. Só os reinvento. Nem estou dizendo que deveríamos jogar fora as
ferramentas amadas que nos ajudaram a construir a nossa casa.
Só imagino que, se queremos um outro mundo possível, precisamos de novas
ferramentas, de uma nova caixa de ferramentas, de um outro jeito de lutar, militar,
amar e ler.
O novo não nega o antigo. A novidade pode vir de onde menos esperamos, pois
o Espírito é como vento que sopra onde e como quer. Mas se não estivermos abertos
ao novo, o texto continuará tão familiar, que não mais conseguirá dizer nada para
nós. Mais do que de novas ferramentas, nossos braços e pernas, pés e mãos, precisam
de uma renovada paixão – pelo texto, sim, pelo texto mesmo, pelo texto enquanto
texto. Paixão por essa simples e sedutora flor sem beleza. Paixão que faz da gente
uma gente nova que busca união, uma nova semente.
Pós-Universo 23
UMA TEOLOGIA
BÍBLICA AINDA EM
CAMINHO
24 Pós-Universo
A teólogia bíblica age como orquestradora de um diálogo que ainda está em construção,
colocando juntas as diversas vozes bíblicas sobre o mesmo tema, criando, um espaço
onde o diálogo pode ocorrer. É importante notar que a natureza da conversa se dá nas
particularidades históricas e culturais de cada voz. Quais são os critérios para a escolha
desses textos a serem colocados em diálogo? Há uma subjetividade inescapável, mas
deve-se convencer outras vozes a aceitar as conexões sugeridas.
O Centro de Teologia e Justiça se descreve como uma conexão de fé e ação.
Instintivamente, os cristãos podem reconhecer que os dois estão conectados, mas,
na prática, podem deixar de reconhecer a relação dinâmica entre eles. A teologia
pode se tornar um conjunto de idéias que discutimos dentro de uma igreja ou uma
comunidade universitária. A justiça pode se tornar um conjunto de questões às quais
respondemos na comunidade local e global mais ampla. Como habilitamos nossas
experiências, compreensões e práticas religiosas a conversar com nossas experiências,
entendimentos e práticas de justiça? Como permitimos que eles se moldem?
saiba mais
A temática “fé e justiça” é como um fio de ouro que perpassa, articula e
costura as muitas páginas da Bíblia. Não é apenas um tema entre outros, por
mais importante que seja. Nem muito menos algo secundário e preterível.
Ela constitui o núcleo fundamental da experiência judaico-cristã de Deus:
caracteriza e/ou descreve tanto o Deus de Israel e de Jesus quanto o Povo
de Deus em sua mútua relação e interação.
Fonte: Francisco de Aquino Júnior (on-line).
A reflexão teológica pode significar apenas uma reflexão sobre a teologia. No entanto,
significou algo mais rico e profundo. Seguem-se duas tentativas para definir a reflexão
teológica:
Pós-Universo 25
“
A disciplina de explorar nossa experiência individual e corporativa na conversa
com a sabedoria de uma herança religiosa. A conversa é um diálogo genuíno
que busca ouvir nossas próprias crenças, ações e perspectivas, bem como as
da tradição. Respeita a integridade de ambos. A reflexão teológica, portanto,
pode confirmar, desafiar, esclarecer e expandir a forma como entendemos
nossa própria experiência e como entendemos a tradição religiosa. O resultado
é uma nova verdade e significado para viver (KILLEN; DE BEER, 1994, p. 51).
Uma atividade que permite às pessoas de fé dar conta dos valores e tradições
que sustentam suas escolhas e convicções e aprofunda sua compreensão.
A reflexão teológica permite explorar as conexões entre dilemas humanos e
horizontes divinos, com base em uma ampla gama de disciplinas acadêmicas
(GRAHAM; WALTON; WARD, 2005, p. 5-6).
TEOLOGIA BÍBLICA
COMO DIÁLOGO
Pós-Universo 27
a. eticamente válidos, pois nem todos os meios são justificados pelos fins –
ou, nem tudo que funciona, ou que dá prazer, é justo, é bom, é santo;
saiba mais
As virtudes teologais unem a alma a Deus por Cristo. A Fé - inclina e capacita
o intelecto e a vontade a aceitar a Palavra de Deus e aderir a sua autoridade,
que a revela. A Esperança - inclina e capacita a vontade a ter confiança de que
Deus lhe dará a vida eterna e a graça para merecê-la. A Caridade - inclina e
capacita a vontade a amar a Deus por ser quem é, a si mesmo e ao próximo,
por causa de Deus. Dá valor meritório aos atos de todas as outras virtudes e
une o homem a Deus mais perfeitamente. Além disso, só a caridade é que
há de permanecer no céu, pois, com a visão beatífica, a fé e a esperança
desaparecerão (1 Cor 13, 1-13).
Fonte: José Orquiza (on-line).
A pessoa que vai aprender o jeito certo para, depois, dizer à igreja qual é a verdade
que ela deve crer e praticar; ler a Bíblia superando a preguiça ou o medo estudantis
de, ao invés de estudar a Bíblia, com todo o trabalho que a leitura exige, ler as leituras
que outros fizeram da Bíblia e reproduzir as interpretações já feitas e presentes nos
comentários bíblicos, nos dicionários teológicos, nos sermões, nos artigos, etc…
Retornando à linguagem acadêmica, este modelo de leitura da Bíblia se insere no
processo de mudanças epistemológicas a que se convencionou chamar de “virada
lingüística”, o qual insiste em que o sentido é fruto da ação intersubjetiva: o sentido
não deve mais ser visto como correspondente à intenção do sujeito, nem ao referente
do texto, mas como fruto da interação humana; interpretar o texto bíblico é fazer
dialogar os discursos do presente com os do passado, levando em consideração a
história dos efeitos do texto bíblico ao longo do tempo; a historicidade passa a ser vista
principalmente como parte da rede discursiva de produção de sentido na interação
humana, e não apenas como uma cadeia objetiva de acontecimentos.
O foco da interpretação deverá recair sobre as múltiplas relações do processo de
significação e não mais apenas sobre a relação do texto com o seu referente histórico
(do texto bíblico com os acontecimentos de seu tempo). Neste novo modelo, a tarefa
fundamental da interpretação não é mais a compreensão do sentido original do
texto, mas a compreensão das possibilidades de sentido da ação (divina ou humana)
no texto e a partir do texto. Redescrever a tarefa hermenêutica desta maneira nos
permite ir além dos limites da interpretação moderna da Bíblia, limites impostos, como
vimos, pelas discussões e conflitos entre fé e razão, ciência e revelação, objetividade
e subjetividade, deísmo e teísmo; e, mais importante, pela prioridade do sujeito
individual, masculino, branco, racional e norte-atlântico, e pela prioridade da teoria
sobre a prática. A leitura da Bíblia é tarefa de comunidades cristãs, eclesiais, missionárias,
acadêmicas, familiares.
30 Pós-Universo
I) A leitura dos quatro lados tem por intuito ajudar as pessoas a terem uma visão
integral da sociedade produtora do texto bíblico.
II) o método da leitura do conflito objetivava ajudar as pessoas a focar a leitura do
texto bíblico nos conflitos explícitos ou implícitos no mesmo.
III) Ambos os métodos utilizam o mesmo referencial teórico, que vão na contramão
do marxismos.
IV) O método da leitura dos quatro lados destacava os conflitos rei-povo e campo-
cidade mais da Antiguidade Oriental.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade. Espero que tenha absorvido muito conhecimento.
Ao longo do material, estudamos: Uma proposta de Teologia Bíblica a partir da ação cristã
transformadora; Uma Teologia Bíblica ainda em caminho e Teologia Bíblica como diálogo.
Na aula 1, vimos que o estudo contextual da Bíblia na pós-modernidade deve ser uma ação cristã
transformadora. O método enquanto ação transformadora é semelhante a muitas outras formas de
se fazer teologia bíblica que têm suas origens na interface entre estudiosos bíblicos socialmente
envolvidos, intelectuais orgânicos e “leitores” cristãos comuns (quer sejam alfabetizados ou não)
da Bíblia. Sendo dividido em três etapas: estar situado dentro da análise social e das necessidades
de comunidades particulares dos pobres, a classe trabalhadora e marginalizada; fornecer uma
maneira de fazer análises teológicas e terminar com recursos teológicos fornecidos pelo estudo
da Bíblia para planejar a transformação social. Além disso, estudamos sobre a leitura popular da
bíblia e suas características.
Na segunda aula, debruçamo-nos em estudar sobre a reflexão teológica, a qual objetiva explorar
nossa experiência individual e corporativa na conversa com a sabedoria de uma herança religiosa.
Já na última aula, propomo-nos a enxergar a teologia como diálogo, para isso criou-se consensos.
Ler a Bíblia em busca de consensos teologais depende de uma prática hermenêutica em que
os sujeitos da leitura não sejam mais indivíduos isolados, os especialistas da técnica, e, sim, os
participantes da comunidade de fé. Sob essa ótica, o objetivo da interpretação não é mais a
compreensão do sentido original do texto, mas a compreensão das possibilidades de sentido da
ação (divina ou humana) no texto e a partir do texto.
Nossas discussões chegam ao fim, porém, é seu dever como estudante e pesquisador continuar
aprofundando seu conhecimento. A base teórica você tem, vá para a prática: a palavra de Deus
é inesgotável. Bons estudos e até a próxima.
material complementar
Sinopse: What roles do biblical scholars play in contexts where the Bible
is a significant text within poor and marginalized communities? Gerald
West reflects on what their role is by drawing on liberation hermeneutics
(with a focus on race, class and gender), inculturation hermeneutics (with
a focus on culture), and postmodernism (with a decentred ‘focus’!). He argues that recent
trends in the field of biblical studies open up space for serious dialogue (and perhaps even
collaboration) between readers of the Bible in the academy and readers of the Bible in poor
and marginalized communities.
Na Web
Connecting Faith and Action - Exploring the intersection of theology & justice for the churches
of Britain and Ireland. O Centro de Teologia e Justiça se descreve como uma conexão de fé e
ação e foi lançado na quarta-feira, 10 de maio de 2017. O evento incluiu a palestra inaugural
David Goodbourn: “A justiça é suficiente? Uma resposta cristã radical à atual crise humanitária
e ecológica.
Web: <http://www.theologyjustice.org>
referências
AQUINO JÚNIOR, F. Fé e Justiça. In: Theologica Latinoamericana. [2017]. Disponível em: <http://
theologicalatinoamericana.com/?p=183>. Acesso em: 20 nov. 2017.
IGREJA EM REDE. Ficha 127 – A ação transformadora dos leigos e leigas no mundo (CNBB
105, 08). Disponível em: <http://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/ficha-127-a-acao-
transformadora-dos-leigos-e-leigas-no-mundo-cnbb-105-08/>. Acesso em: 20 nov. 2017.
VOS, G. Teologia do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Alberto Almeida de Paula. São Paulo:
Cultura Cristã, 2010.