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PARA UMA TEOLOGIA BÍBLICA NA

PÓS MODERNIDADE
Professor:
Dr. Julio Zabatiero
Me. Roney de Carvalho Luiz
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia
Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Editoração Flávia Thaís Pedroso
Qualidade Textual Hellyery Agda Gonçalves da Silva

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; ZABATIERO, Julio; LUIZ, Roney de Carvalho.

Teologia Bíblica. Julio Zabatiero; Roney de Carvalho Luiz.


Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
37 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Teologia 2. Bíblica. 3. EaD. I. Título.
CDD - 22 ed. 266
CIP - NBR 12899 - AACR/2

As imagens utilizadas neste livro foram


obtidas a partir do site shutterstock.com

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sumário
01 06| UMA PROPOSTA DE TEOLOGIA BÍBLICA A PARTIR DA AÇÃO
CRISTÃ TRANSFORMADORA

02 23| UMA TEOLOGIA BÍBLICA AINDA EM CAMINHO

03 26| TEOLOGIA BÍBLICA COMO DIÁLOGO


PARA UMA TEOLOGIA BÍBLICA NA PÓS MODERNIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender a práxis da teologia bíblica atual.
• Refletir a construção de uma hermenêutica contextual.
• Apresentar uma proposta dialogal de teologia.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Uma Proposta de Teologia Bíblica a partir da Ação Cristã Transformadora.
• Uma Teologia Bíblica ainda em Caminho.
• Teologia Bíblica como Diálogo.
INTRODUÇÃO
Qual o papel que os estudiosos bíblicos desempenham em contextos onde
a Bíblia é um texto significativo em comunidades pobres e marginalizadas?
No contexto brasileiro atual em que vivemos não podemos nos furtar dessa
pergunta realizada pelo professor Gerald West. Sua reflexão sobre o papel da
teologia bíblica se basea na hermenêutica de libertação (com foco na raça,
classe e gênero), na hermenêutica de inculturação (com foco na cultura) e no
pós-modernismo (com um “foco” descentralizado). As tendências recentes no
campo dos estudos bíblicos abrem espaço cada vez mais para um diálogo sério
e honesto (e talvez até a colaboração) entre leitores da Bíblia na academia e
leitores da Bíblia em comunidades locais das mais diversas possíveis..
Aqui introduziremos uma Teologia Bíblica na pós-modernidade, ou seja, a
prática do Estudo Bíblico Dialogal Contextual. Ao estudar a Bíblia dessa maneira,
a ênfase será sempre em ler “com” em vez de ler “para”. A ênfase é permitir que
os leitores (alfabetizados e analfabetos) leiam e interpretem o texto em seu
próprio contexto, contexto cultural e experiência de vida, tudo com o objetivo
de conseguir transformação pessoal e social.
É por isso que neste estudo dividimos a ideia principal em três temas que se
complementam dentro de uma espiral concêntrica, a saber: a Teologia Bíblica
a partir da ação cristã transformadora, a Teologia Bíblica ainda em caminho e a
Teologia Bíblica como diálogo.
Tudo isso porque o campo da pesquisa bíblica tem se modificado
consideravelmente nas três últimas décadas. Não há mais a exclusividade dos
modelos históricos regendo o conjunto das disciplinas que compõem o estudo
bíblico. Uma pluralidade de métodos e teorias tem se apresentado entre nós,
beirando quase uma fragmentação dos estudos. Fronteiras disciplinares e
geográficas se diluem, e novos paradigmas são afirmados. De todos os lados, o
que vemos no campo da teologia bíblica pode ser descrito como um período
de transição de modelos. Esta situação não é peculiar apenas à pesquisa bíblica,
mas se insere no quadro maior de revisão paradigmática nas ciências humanas,
descrita como virada linguística, paradigma da complexidade, pós-modernidade,
etc.
Neste estudo o foco é apresentar uma proposta encarnacional e missional
da teologia bíblica pós moderna, e oferecer uma avaliação do quadro atual
de nosso campo de pesquisa, reconhecendo o caráter transitório e parcial das
afirmações e propostas. introdução
6 Pós-Universo

UMA PROPOSTA DE
TEOLOGIA BÍBLICA A
PARTIR DA AÇÃO CRISTÃ
TRANSFORMADORA
Pós-Universo 7

A título de introdução sempre é bom deixar registrado que todos os métodos de


leitura e todas as hermenêuticas possuem pontos fortes e pontos fracos. Por isso,
nenhum modo de interpretar a Bíblia é tão completo a ponto de substituir e descartar
todos os demais. Ao contrário, a Bíblia está sempre aberta a novas abordagens e
novas interpretações. Sabendo disso, queremos afirmar enfaticamente que todos os
métodos de leitura fazem sentido para buscar os significados do texto bíblico. A partir
desse ponto queremos ofertar um caminho de estudo bíblico que faz consideramos
válido e útil para o contexto atual brasileiro.

Figura 1- Castanha de bronze de Calcutá, Índia.


Fonte: The Ujamaa Centre.
8 Pós-Universo

De largada queremos te conduzir a refletir sobre a imagem aqui no início deste estudo.
A imagem é de uma figura de castanha de bronze que vem de Calcutá, na Índia. Ela
parece representar perfeitamente o propósito da praxis do labor do biblista. A figura
representa o momento entre a ação (a mão direita) e a reflexão (a mão esquerda).
Trabalho e análise são lindamente capturados neste momento. Esta figura, então,
capta bastante o trabalho do Estudo Bíblico Contextual.
O estudo contextual da Bíblia na pós-modernidade como ação cristã transformadora
deve seguir uma metodologia - uma maneira de trabalhar, em vez de uma fórmula
fixa. O método enquanto ação transformadora é semelhante a muitas outras formas
de se fazer teologia bíblica que têm suas origens na interface entre estudiosos bíblicos
socialmente envolvidos, intelectuais orgânicos como diria Gramsci e “leitores” cristãos
comuns (quer sejam alfabetizados ou não) da Bíblia. Talvez você já esteja familiarizado
com o Método Ver-Julgar-Agir, onde o processo de estudo da Bíblia começa com
a análise do contexto local (Ver) e, em seguida, se lê a Bíblia para permitir que o
texto bíblico dialogue com esse mesmo contexto (Julgar) e, em seguida, move-se
para a ação transformadora enquanto respondemos ao que Deus está dizendo para
cumprimento da Missio Dei (Agir).
Essa análise social nos permite compreender o nosso topos (lugar ou realidade
comum); reler a Bíblia nos permite julgar se a nossa realidade é como Deus pretende
que ela seja; e nosso plano de ação nos permite trabalhar com Deus para mudar
nossa realidade. Este processo é um processo contínuo, é repetido, pois cada ação
leva a uma maior reflexão (Ver), etc. Este é o ciclo missional onde a práxis transforma.
A CEBI acrescenta outros dois elementos a este processo, a fim de tornar aberta a
natureza cíclica do processo. Eles falam de seu processo como composto por Ver-
Julgar-Agir-Celebrar-Avaliar. Depois que se realiza o Estudo Bíblico, se “Comemora”
o que se fez, tanto a nível litúrgico como social; então, após a celebração vem a
avaliação. A avaliação do processo se dá até para que se prossiga o planejamento
do trabalho em andamento.
O estudo da Bíblia contextual é uma forma do método Ver-Julgar-Agir. Primeiro, o
Estudo Bíblico Contextual é sempre situado dentro da análise social e das necessidades
de comunidades particulares dos pobres, a classe trabalhadora e marginalizada. É a
perspectiva deles sobre a realidade que molda todo o estudo da Bíblia.
Pós-Universo 9

Em segundo lugar, o estudo contextual da Bíblia fornece uma maneira de fazer


análises teológicas, lendo o Zeitgeist “os sinais dos tempos”. A Bíblia é lida cuidadosamente
e de perto para ouvir sua voz distinta dentro de seu próprio contexto literário e sócio-
histórico, proporcionando assim um recurso teológico a partir do qual refletir e se
envolver com nossa análise social. E em terceiro lugar, a Bíblia Contextual sempre
termina com recursos teológicos fornecidos pelo estudo da Bíblia para planejar a
transformação social.
Assim como a hermenêutica contextual foi uma forma de renovação da exegese
histórico-gramatical, a leitura popular de ação cristã transformadora tem sido uma
revisão da exegese histórico- crítica. Nasceu e se desenvolveu na América Latina,
especialmente no Brasil, graças aos esforços pioneiros do Frei Carlos Mesters e do Pr.
Milton Schwantes, juntamente com um grande número de estudiosos da Bíblia junto
com o povo cristão que desenvolveu seu trabalho junto ao Centro Ecumênico de
Estudos Bíblicos (CEBI) para a Pastoral Popular. Essa leitura é mais praticada no âmbito
da Igreja Católica e no movimento ecumênico protestante. É importante conhecê-
la e compará-la com a leitura contextual, também latino-americana, mas praticada
principalmente nos meios evangélicos.

reflita
Para que a ação transformadora seja eficaz, faz-se necessário uma mudança de
mentalidade e de estruturas eclesiais, que promovam e incentivem a ação dos
cristãos no mundo como comunidade que se abre permanentemente para
as urgências do mundo; que mostra a fraternidade de ajuda e serviço mútuo,
com especial atenção às pessoas mais frágeis e necessitadas; uma Igreja
em saída, de portas abertas, que vai em direção aos outros para chegar às
periferias humanas e acompanhar os que ficaram caídos à beira do caminho.
(Igreja em rede)
10 Pós-Universo

O que é a Leitura Popular?


A “leitura popular da Bíblia” tem suas origens nos movimentos cristãos de base no Brasil
e em outros países da América Latina, nos anos 1960-1970, em suas lutas por melhorias
nas condições de vida de camponeses, estudantes e trabalhadores assalariados
(especialmente operários), e deve assim ser ligada à Juventude Universitária Católica
(JUC) & Juventude Operária Católica (JOC), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e
Pastorais Populares da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Nos anos 1970-1980,
a hermenêutica popular desenvolve uma vertente ecumênica que se incorpora à
identidade da leitura bíblica.
A característica fundamental da hermenêutica popular não é a metodologia
adotada, mas o fato de que um novo sujeito emerge na leitura da Bíblia - “o pobre”,
ou seja: por, cristãs e cristãos, ecumênicos, reunidos em comunidades eclesiais e
organizados de diversas formas na sociedade civil, em busca da transformação de
suas próprias situações de vida e das estruturas político-econômicas da sociedade –
no âmbito da adoração a Deus na espiritualidade comunitária.
O novo sujeito da leitura popular da Bíblia desenvolve uma nova espiritualidade,
a partir da qual se volta ao texto bíblico: a espiritualidade do serviço ao pobre, em
Cristo, no cotidiano da ação política-pública. A leitura da Bíblia é feita a partir dessa
espiritualidade e realimenta a experiência espiritual do sujeito leitor da Bíblia, animando-
a e reanimando-a para a participação ativa na vida pública da Igreja e da Sociedade.
O novo sujeito da leitura popular procura a Bíblia para, a partir dela, enfrentar a
vida com a força da fé e o poder do amor, construindo a utopia na esperança.
Não se trata de “encontrar o sentido do texto”, mas a partir dos sentidos do
texto, “encontrar o sentido da vida e da ação” como cristãs e cristãos no mundo
contemporâneo que agem em busca de transformação social e política sob o signo
do Reinado de Deus.
O novo sujeito da leitura popular da Bíblia provocou também uma revolução na
Academia – exegetas especializados se converteram ao olhar do povo organizado e
colocaram as ferramentas críticas a serviço da hermenêutica popular. Leitura acadêmica
militante, ora feita nos lugares universitários, ora feita nos lugares políticos do cotidiano,
a espiritualidade do povo contagiou as doutoras e doutores que se renderam ao
fascínio do novo modo de ler a Bíblia.
Pós-Universo 11

A relação entre o novo sujeito popular da leitura bíblica e os leitores acadêmicos


pode se ver na trajetória de uma ONG dedicada à formação de leitoras e leitores
da Bíblia e à produção de material de consulta e apoio para a leitura popular: o
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos. Por meio do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI),
participantes do mundo acadêmico se engajaram nas lutas sociais e populares,
aprendendo com o povo a ler a Bíblia a partir da vida e para a libertação. Vejamos
uma síntese da LP feita por Carlos Mesters e Francisco Orofino, em comunicação oral,
por mim gravada e copiada, sem publicação. A apresentação foi feita em curso do
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, em Curitiba, no ano de 1991.

Dez Características da Leitura Popular


1. A Bíblia é reconhecida e acolhida pelo povo como Palavra de Deus. Esta fé
já existia antes da chegada do que se convencionou chamar leitura popular.
É nessa raiz antiga que se enxerta todo o nosso trabalho com a Bíblia junto
do povo. Sem essa fé, todo o método teria de ser diferente. “Não és tu que
sustentas a raiz, mas a raiz sustenta a ti” (BÍBLIA, Rm 11,18).

2. Ao ler a Bíblia, o povo das Comunidades traz consigo a sua própria história
e tem nos olhos os problemas que vêm da realidade dura da sua vida. A
Bíblia aparece como um espelho, “símbolo” (BÍBLIA, Hb 9,9; 11,19), daquilo
que ele mesmo vive. Estabelece-se uma ligação profunda entre Bíblia e
vida que, às vezes, pode dar a impressão de um concordismo superficial. Na
realidade, é uma leitura de fé muito semelhante a que faziam as primeiras
comunidades (BÍBLIA, At 1,16-20; 2,29-35; 4,24- 31) e os Santos Padres.

3. A partir desta ligação entre Bíblia e vida, os pobres fazem a descoberta,


a maior de todas: “Se Deus esteve com aquele povo no passado, então
Ele está também conosco nesta luta que fazemos para nos libertar.
Ele escuta também o nosso clamor!” (BÍBLIA, Ex 2,24; 3,7). Nasce, assim,
imperceptivelmente, uma nova experiência de Deus e da vida que se torna
o critério mais determinante da leitura popular e que menos aparece nas
suas explicitações e interpretações, pois o olhar não se enxerga a si mesmo.
12 Pós-Universo

4. Antes deste contato mais vivido com a Palavra de Deus, a Bíblia ficava longe
da vida do povo. Era o livro dos “padres”, dos “pastores”, do clero. Mas agora
ela chegou perto! O que era misterioso e inacessível, começou a fazer parte
da vida quotidiana de crianças, mulheres e homens empobrecidos. E, junto
com a sua Palavra, o próprio Deus chegou perto! “Vocês que antes estavam
longe foram trazidos para perto!” (BÍBLIA, Ef 2,13). Difícil para um de nós
avaliar a experiência de novidade e de gratuidade que isto representa para
as pessoas empobrecidas.

5. 5. Assim, aos poucos, foi surgindo uma nova maneira de se olhar a Bíblia e a
sua interpretação. Ela já não é vista como um livro estranho que pertence ao
clero, mas sim como o nosso livro, “escrito para nós que tocamos o fim dos
tempos” (BÍBLIA, 1Co 10,11). Às vezes, ela chega a ser o primeiro instrumento
de uma análise mais crítica da realidade. Por exemplo, a respeito de uma
empresa que oprime e explora o povo, o pessoal da comunidade dizia: “É
o Golias que temos que enfrentar!”

6. Pouco a pouco, cresce a descoberta de que a Palavra de Deus não está só


na Bíblia, mas também na vida, e de que o objetivo principal da leitura da
Bíblia não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida com a ajuda da
Bíblia. A Bíblia ajuda a descobrir que a Palavra de Deus, antes de ser lida na
Bíblia, já existia na vida. As comunidades descobrem que a sua caminhada
é bíblica. “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (BÍBLIA,
Gn 28,16).

7. A Bíblia entra na vida do povo não pela porta da imposição autoritária, mas
sim pela porta da experiência pessoal e comunitária. Ela se faz presente não
como um livro que impõe uma doutrina de cima para baixo, mas como
uma Boa Nova que revela a presença libertadora de Deus na vida e na luta
do povo. As pessoas que participam dos grupos bíblicos, elas mesmos se
encarregam de divulgar esta Boa Notícia e atraem outras para participar.
“Vinde ver um homem que me contou toda a minha vida!” (BÍBLIA, Jo 4,29).
Pós-Universo 13

8. Para que se produza esta ligação profunda entre Bíblia e vida, é importante:

a. Ter nos olhos as perguntas reais que vêm da realidade, e não perguntas
artificiais que nada têm a ver com a vida do povo. Aqui, aparece como é
importante o(a) intérprete ter convivência e experiência pastoral inserida
no meio do povo.

b. Descobrir que se pisa o mesmo chão, ontem e hoje. Aqui, aparece a


importância do uso da ciência e do bom senso, tanto na análise crítica
da realidade de hoje como no estudo do texto e do seu contexto social.

c. Ter uma visão global da Bíblia que envolva os próprios leitores e leitoras,
e que esteja ligada com a situação concreta das suas vidas hoje.

9. A interpretação que o povo faz da Bíblia é uma atividade envolvente que


compreende não só a contribuição intelectual do(a) exegeta, mas também
todo o processo de participação da Comunidade: trabalho e estudo de
grupo, leitura pessoal e comunitária, teatro, celebrações, orações, recreios,
“enfim, tudo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, digno de honra,
virtuoso, ou que louvor” (Fl 4,8 versão do autor). Aqui aparecem a riqueza
da criatividade popular e a amplidão das intuições que vão nascendo.

10. Para uma boa interpretação, é muito importante o ambiente de fé e de


fraternidade, por meio de cantos, orações e celebrações. Sem este contexto
do Espírito, não se chega a descobrir o sentido que o texto tem para nós
hoje. Pois o sentido da Bíblia não é só uma ideia ou uma mensagem que se
capta com a razão e se objetiva por meio de raciocínios; é também um sentir,
um conforto que é sentido com o coração, “para que, pela perseverança e
pela consolação que nos proporcionam as Escrituras, tenhamos esperança”
(BÍBLIA, Rm 15,4). Na leitura popular, praticam-se pelo menos dois diferentes
métodos, mas com a mesma finalidade:
14 Pós-Universo

a. Leitura dos Quatro Lados: Um dos primeiros métodos desenvolvidos na


comunhão entre acadêmicos e comunidades eclesiais foi a chamada
“leitura dos quatro lados” que visava ajudar as pessoas a ter uma visão
integral da sociedade produtora do texto bíblico: Econômico (a base),
Social (a realidade), Político (as relações), Ideológico (as explicações da
opressão). O método reflete uma visão marxista elementar da sociedade
e seus conflitos, seguindo Marta Harnecker, e foi muito utilizado em
ambientes não acadêmicos.

b. Leitura do Conflito: Outro método desenvolvido na comunhão entre


acadêmicos e comunidades eclesiais foi a chamada “leitura do conflito”
que visava ajudar as pessoas a focar a leitura do texto bíblico nos conflitos
explícitos ou implícitos no mesmo. As perguntas básicas eram: qual
é o conflito retratado no texto? de que lado do conflito está o texto?
(destacando o aspecto crítico da leitura) e o olhar básico à sociedade
destacava os conflitos rei-povo e campo-cidade mais ou menos típicos
da Antiguidade Oriental.

Para os dois métodos brevemente já descritos, era usado o mesmo referencial teórico,
extraído da tradição marxista popularizada: o conceito de modo de produção (e seu
companheiro, o de formação social). Na leitura do Antigo Testamento um elemento
facilitador foi o fato de que praticamente em toda a história do antigo Israel apenas
um modo de produção tenha sido predominante. era a fundamental – aplicava-se ao
texto, assim, uma crítica ideológica, ou uma hermenêutica da suspeita, que buscava
situar o texto nos confrontos sociopolíticos de sua época e definir a favor de que grupos
sociais e políticos ele se colocava. O risco desse referencial é a reificação dos agentes
sociais e a simplificação do processo complexo que é a dinâmica das sociedades. O
que interessa, porém, primariamente, na leitura popular não é o método, mas a vida.
Pós-Universo 15

Uma Revisão Crítico-Valorativa da


Leitura Popular
Para maior compreensão da leitura popular, ofereço uma espécie de autorrevisão
da trajetória da leitura bíblica que se pode encontrar nas páginas da revista Estudos
Bíblicos. Revisão de práticas de leitura, mas também revisão de práticas políticas e
práticas de espiritualidade, pois em nosso jeito de ler a Bíblia, exegese-hermenêutica,
prática política e espiritualidade se misturam o tempo todo, de tal forma que há vezes
em que não sabemos onde começa uma e termina a outra.
Acredito que a mais importante contribuição das milhares de páginas já publicadas
na revista Estudos Bíblicos e na Revista de Interpretação Bíblica Latino-americana
esteja exatamente aqui: afirmar e reafirmar constantemente que leitura-política-
espiritualidade não se separam. Lição de resistência: não mais aceitamos, como
muitos de nossos antepassados nas igrejas, viver a fé cristã dentro das paredes do
templo, com mãos macias e suaves de indiferença e comodismo. Não pretendo
que essa autorrevisão seja a descrição verdadeira e definitiva das práticas plurais e
enriquecedoras das centenas de artigos de Estudos Bíblicos. Nem sequer ofereço
uma análise academicamente controlada e estruturada.
É uma autorrevisão, um olhar pessoal, subjetivo, comprometido com a própria
caminhada que examino. Não sou da primeira geração de biblistas populares latino-
americanos, nem das gerações pioneiras da trajetória ecumênica. Cheguei depois e fui
bem recebido. Pude aprender e experimentar aspectos da fé cristã que nem sequer
podia imaginar. Deixaram-me, também, contribuir com a caminhada. Textos meus
foram publicados, revelando um percurso pessoal de crescimento, questionamento,
mas, acima de tudo, de um certo êxtase – de um sair de mim mesmo e das fronteiras
de minha experiência eclesiástica, na companhia de homens e mulheres que me
mostraram a face de Deus em diversos ângulos, perspectivas, sombras e luzes. Por
tudo isso, essa revisão da caminhada é um olhar, ao mesmo, tempo respeitoso e
crítico, agradecido e extasiado.
16 Pós-Universo

Marcos de uma Caminhada


O primeiro marco dessa caminhada é o testemunho de uma dupla conversão.
Conversão ao pobre como a pessoa a quem servimos por amor a Cristo, a
pessoa em quem servimos Cristo. Pessoa real, concreta e próxima. Mas, também,
eminentemente, classe, desafio político, sujeito da história. Participantes de igrejas
que pouco fizeram concretamente para enfrentar de modo adequado a injustiça,
a opressão, a dominação sofridas por nosso continente, tivemos de nos converter
ao pobre – pobre cuja presença nos chocava, nos indignava, fazia-nos enxergar o
rosto sofrido de Cristo em faces suadas e cheias de rugas; não mais um rosto sereno
em crucifixos, vitrais, murais, imagens e textos. Conversão na qual espiritualidade e
política se reencontraram, reataram o romance rompido e geraram filhas e filhos que
vivenciam a fé cristã de modo engajado, militante e histórico.
Comunidades eclesiais se deslocaram do altar e do púlpito, saíram do centro
do cenário e se colocaram à esquerda, à margem, tornando-se parceiras e não mais
senhoras da caminhada popular. Novos momentos foram vividos, em tantos novos
movimentos que se fizeram a casa da fé, templos a céu aberto, em barracas, margens
de estrada, ruas, passeatas, associações e sindicatos.
Conversão à Bíblia enquanto Palavra de Deus no clamor dos pobres. Séculos de
poeirenta exegese tiveram de ser limpados. Uma grande faxina se fez na casa da
Palavra – por trás das palavras, uma flor sem defesa foi vislumbrada, a festa do povo
foi reencontrada, portas emperradas e empenadas se abriram revelando aposentos
convidativos, iluminados, cheios de vida, de uma vida que se perdera em meio às
exigências acadêmicas, racionais, universitárias e clericais da ciência bíblica.
Textos outrora esquecidos foram reencontrados, relidos, examinados desde quatro
lados, seus conflitos revelados, os clamores antes silentes encontraram novamente
ouvidos atentos, de parceiras e parceiros oprimidos, mas conscientizados, em novas
saídas, peregrinações, êxodos do capital; cidades imponentes que impediam a visão
se tornaram transparentes e a vida do campesinato mais uma vez se encontrou e
os sons da utopia ressoaram em celebrações democráticas, ecumênicas, populares,
militantes, reverentes em um grau até então desconhecido.
Pós-Universo 17

Estranhas ideias, doutrinas, práticas se encontraram no texto outrora tão familiar


das Escrituras. Estranhos que nos conquistaram e vieram a fazer parte de nossa família,
fizeram entre nós seu lar. Aos poucos, ora silenciosamente, ora altissonante, com uma
gentil violência, novo marco se impôs à caminhada. Palavras foram articuladas no
feminino, denunciando a neutralidade enganosa do “o” inclusivo. “Elas estão chegando”
cantou-se, então, chegando para ficar, chegando para mudar, chegando para mostrar
a diversidade da face dos pobres. Classe, sim, mas não só classe. Gênero.
Palavra estranha, que incomodava, que obrigava a pensar, a repensar, a sentir, a não
mais ressentir. A conversão experimentada teve de se expandir. Uma nova conversão.
O rosto macho da opressão ficou sem sua máscara. Belas, sim, mas muito mais do que
belas. Feras, sim, mas muito menos do que feras. Elas mostraram outro jeito de ler,
mais atento a coisas simples, cotidianas, corriqueiras. Elas mostraram outro jeito de
escrever, mais afeito ao testemunho, à conversa, narrativas de luta, de transformação,
de encanto ousaram ocupar espaços dantes relegados à irracionalidade.
Todo um novo jeito de olhar para a vida, para o mundo, para a gente. O que
parecia grandioso se tornou pequenino. O que parecia imponente, revelou-se banal.
Coisas outrora simples, cotidianas, corriqueiras se tornaram, em sua simplicidade e
cotidianidade, valores inegociáveis, utopias sedutoras. Um jeito que incomodava,
incomoda e desestabiliza. O que se tornara tão familiar, revela-se estranho novamente.
“Porteira por onde passa um boi, passa uma boiada”. Porta que não mais se fecha.
Elas entraram e deixaram, não sei se de propósito, ou sem-querer, a porteira aberta.
Novas faces, novas cores vieram habitar entre nós. Índios, índias; negras e negros.
Sons que estavam esquecidos nos distantes ecos da história acharam de novo o
presente. E a Bíblia se fez multicor, multiforme, cada vez mais bela, cada vez mais
plural. Latino-abya-américa-ayala-afro-ameríndia.
Novos cânticos, novos instrumentos, novos sons e tons deixaram a festa mais
bonita, mais popular, mais ricamente – pobre – categoria que se expandiu, pluralizou,
embelezou. Igreja é povo, plural, que se articula, que se confronta honestamente e
se diz na pluralidade, mostra as feridas abertas, para poder reconciliar sem deixar
de pagar as dívidas. Tudo fica ainda mais estranho. Tribos de Israel viram espelho de
tribos andinas, tupis, guaranis, astecas, maias etc. Cuxitas e eunucos etíopes saem das
sombras e nos mostram suas faces luminosas cujo sorriso faz a leitura da Bíblia crescer
na militância, ludicamente, reinventando a antiga lição de que é preciso endurecer-
se, mas sem jamais perder a ternura.
18 Pós-Universo

Novo Marco
Enquanto isso acontecia por aqui, no outro lado do mundo um muro caía.
Uma visão de mundo, outrora sedutora, mostrou uma face perversa – conhecida,
mas negligenciada em função de uma utopia maior, de sonhos urgentes.
Um simples muro, mas quase o fim da história. Monumentos de lá caíram,
movimentos de cá ficaram esmagados. O Brasil melhorou, não há como negar, mas
uma ambígua sensação tomou conta de muitos de nós. Será que o sonho foi traído?
A radicalidade do discurso e das práticas dantes oposicionistas deu lugar à
mesmice acomodada da situação? As porteiras abertas, escancaradas, tornaram
perceptível uma imensa pluralidade. Plural, fragmentário até. Tantas lutas, tantas vozes,
tantas microutopias. Certezas não tão antigas assim ficaram soltas no ar. Não mais
singularidades. Agora tudo se tornou plural. Por um lado, uma certeza se impõe: “um
outro mundo é possível”. Por outro, um novo vocabulário, uma nova hermenêutica
parece fazer seu caminho em nossas terras e comunidades.
A leitura multiforme, multicolorida, faz-se intercultural. Novas redes se formam,
os horizontes se ampliam. Afinal de contas, um outro mundo é possível – mais que
possível, necessário, urgente, imperativo.

Novos Horizontes – Novas Questões


Um olhar assim retrospectivo pode se tornar em mero autoelogio. Não há que
desmerecer as conquistas, os avanços, os aprendizados, a criatividade nos modos
de ler e de viver a fé e a militância. Há, porém, que deixar fluir a veia crítica. Aliás,
sem autocrítica, a militância se reduz a mera ignorância. Sem autocrítica, o que se
aprendeu acaba esclerosado, vira ortodoxia vazia. E mata. Mata os sonhos, mata os
companheiros e companheiras, mata a utopia. Mata a flor sem defesa. Permitam-me,
peço, oferecer uma crítica, melhor, rezar uma confissão.
Pós-Universo 19

Aqui e acolá, ao lermos nossa revista, ao estudarmos a Bíblia em grupos, cursos,


lutas, uma situação me chama a atenção. Mesmo diante de tanta criatividade, tantas
vozes, tantos aprendizados – vez por outra um samba monótono ecoa, um sambinha
desafinado, ou, quem sabe, uma bossa-nova desafinada de alguém que, no final
das contas, também tem coração. De vez em quando, ao bater os olhos nos textos,
somos assaltados por uma imagem extremamente familiar. Parece que, meio que
de repente, a pluralidade das leituras reduz a multiformidade das Escrituras a uma
nota só. Em todo lugar da Bíblia se encontra, ou opressor versus oprimido, ou campo
versus cidade, ou brancos versus negros e índios, ou homens versus mulheres.
Vez por outra, de vez em quando, repito, mas nessas poucas vezes (ou seriam muitas
e não conseguimos enxergar?), uma ortodoxia se insinua, deslizando, serpenteando
entre as místicas, militantes e celebrativas leituras.
Então, o texto se torna familiar. Torna-se espelho. De tanto olharmos para o texto,
acabamos nos encontrando nele o tempo todo. Olhamos para o texto, mas enxergamos
a nós mesmos. É verdade que foi por causa dessa experiência de espiritualidade que o
novo se instalou entre nós que lemos a Bíblia. Se não tivéssemos encontrado na Bíblia
um espelho para nossas lutas, os clamores de hoje continuaram sem ouvidos para
ouvir; as lutas de hoje continuaram sem pés para semear as boas novas; as belezas
de hoje não supreenderiam olhos a contemplá-las. Mas o problema com o espelho
é que ele mostra as coisas ao contrário.
Revela, mas distorce. E, quando ficamos tanto tempo a encará-lo, adeus Branca de
Neve, reaparece a rainha má. Quando o espelho nos encanta mais do que a pessoa
que ele reflete, o coração se esfria novamente e os braços, outrora abertos para
receber pessoas diferentes, fecham-se em um abraço apertado – mas tão apertado
que ninguém mais entra. Entrar não se entra mais, sair, infelizmente, sim. Abraço
apertado demais acaba espirrando alguém – amassado, assustado e excluído.
É assim que funcionam as ortodoxias, os fundamentalismos. Seduzem com
imagens encantadoras. Atraem com carinho, amizade, amor até. Abraço apertado,
aconchego, refúgio, segurança. Bonito, por fora. Precisamos, então, olhar com mais
cuidado para o espelho. Prestar atenção nas imperfeições, nas rugas, nas espinhas
e no cabelo desgrenhado. E reencontrar, na própria caminhada, redescobrir, na
memória, a força para fazer o abraço encontrar o aperto certo, para continuar incluindo,
transformando, celebrando. De tanto olhar e matutar, ouvir e falar, reencantei-me
com uma coisa simples.
20 Pós-Universo

O texto não é só espelho, é também janela. Não! Sempre foi uma janela. Janela
para um mundo diferente, estranho e exótico. Tão exótico, estranho e diferente que
acabamos nos acostumando com ele e ele se transfigurou em nosso próprio mundo.
É verdade que as janelas podem virar espelhos. Só não podem deixar de ser janelas.
Abertas para entrar a vida que está fora da casa. Aberta para a gente pular e brincar
no quintal, na rua, cair na estrada, aventurar-se mundo afora. Tantas coisas boas que
aprendemos e fizemos. Não podemos esquecê-las.
Uma coisa, também boa e útil, imagino, apresenta seu convite para nós. Quase
uma intimação. Contra a tentação da mesmice, da familiaridade, o texto bíblico nos
convida a nos reencantarmos com a sua estranheza. Foi ótimo nos acostumarmos
com o texto, sentirmos-nos em casa com ele, fazer dele nosso espaço sagrado, nosso
lugar de encontro, o ponto de chegada de nossa romaria. Agora me parece necessário
olharmos novamente para o texto em toda a sua estranheza, em sua peculiaridade
e em sua distância de nós. Não mais espelho. Janela, com vidros opacos, meio sujos,
apenas entreaberta. Ora, afinal de contas, não é muito esquisito que filhos dos deuses
desçam do céu à terra para fazer amor com as filhas dos homens? Terá sido uma
resposta dos deuses machos ao movimento de libertação das deusas exploradas?
Ou teria sido fruto de um movimento libertário das filhas dos homens, cansadas de
sofrer sob o jugo patriarcal quiriárquico?
Não é ética e politicamente incorreto que Jesus, ao expulsar a legião de um
rapaz gadareno (ou teria sido geraseno?), tenha enviado os espíritos impuros para a
manada de porcos, obrigando-a a se atirar ao mar desesperadamente? Ou que coisa
terrível o Apocalipse nos oferece, com suas pragas, cavaleiros, bestas e destruições?
Quem não se incomoda ao ler que Davi era um homem “segundo o coração de
Deus” nos Salmos e, ao voltar os olhos para os profetas anteriores, descobre que Davi
era mulherengo, voyeur, assassino? Não é espantoso ler os Evangelhos e chegar à
conclusão que Jesus jamais seria aceito como sacerdote de igrejas cristãs – afinal de
contas, ele era encrenqueiro, rebelde, amigo de gente que não prestava e, além de
tudo, milagreiro, sem curso de teologia, sem eira nem beira. Que Deus é essa cujo
primeiro milagre é transformar água em vinho? Ah! Se Jesus fosse evangélico! Teria
transformado o vinho em água.
Pós-Universo 21

Dei exemplos óbvios, mas, de fato, a Bíblia toda é muito estranha. Justificação
pela fé, em Paulo, não é justificação pela fé luterana. Soberania divina não é a dupla
predestinação calvinista. A rocha deixada por Jesus não é a base da sucessão apostólica
etc. Não. Conflito campo-cidade não está presente em toda a Bíblia. Os negros também
eram minoria entre o chamado povo de Deus da Escritura. As mulheres eram oprimidas
mais do que a gente gostaria. E, para espanto de quem ama a santidade, o pessoal
que adorava a Deus também era craque no pecado. E as bem-aventuranças de Jesus
em Mateus, então! Não é feliz quem milita, mas quem pacifica. Não é feliz quem
consegue a terra, mas quem alcança o reino dos céus. Não é feliz quem consegue
vida boa, mas quem é perseguido, zombado, ridicularizado. Será?
Escrevi esses dois últimos parágrafos para provocar. Para me provocar, desafiar-me,
chocar-me e me desestabilizar. Para que o texto mantenha seu poder, sua beleza, seu
encanto, seu charme, sua ousadia, é preciso que nos entreguemos à sua estranheza,
à sua peculiaridade, à sua diferença e à sua outridade. Dentre os vários modos de
ler que descobrimos, uma atitude se faz necessária e urgente. Voltar os olhos para
o texto enquanto texto. Não mais enquanto exemplo de luta, testemunho de fé e
espelho de nossa caminhada. O texto, por si só, sem qualquer pretexto. Não. Não se
apresse a gritar “fundamentalismo!”.
Fundamentalistas amam o texto porque para eles o texto só é espelho. O texto
sempre concorda com suas doutrinas, medos, inseguranças e violências. Se queremos
ficar livres do fundamentalismo, precisamos voltar a deixar o texto ser texto e falar sua
própria voz, gritar, clamar, berrar, ferir nossos ouvidos, cegar nossos olhos, manchar
nossas mãos e criar calos em nossos pés.
Ao terminar essa autorrevisão, mais um testemunho e não mais do que um
simples e teimoso testemunho. Descobri que história, sociologia, antropologia, gênero,
cultura etc. são boas ferramentas. Indispensáveis. Mas descobri que elas também são
perigosamente tendenciosas a transformar o texto em “espelho, espelho meu”, e nos
tentam a nos apaixonarmos mais por elas do que pelo texto que lemos, e pela pessoa
divina que nos ama, salva e governa na fé, espiritualidade e militância. Precisamos
nos libertar do apego aos nossos queridos e amados métodos.
22 Pós-Universo

Como somos apenas gente, precisamos permitir que outras ferramentas encontrem
lugar na obra de construir a casa de todas as pessoas. Quando fazemos a memória da
caminhada, encantamos-nos com a liberdade que nos foi presenteada, para servir a
Deus servindo às pessoas que sofrem qualquer e todo tipo de injustiça. Ao olharmos
para o futuro, para o outro mundo possível, precisamos nos arriscar e nos libertar das
ferramentas que nos auxiliaram tanto até hoje.
Que nossos métodos não se transformem nas panelas do Egito. Gente que põe
a mão no arado, gente que se arrisca no deserto, não pode olhar prá trás, senão vira
estátua de sal. Não. Não tenho nenhum segredo para contar. Não sei que métodos
colocar no lugar. Estou tentando construir meu jeito de ler, que não é meu por
invenção, mas por teimosa e obstinada vontade de aprender. Mas não creio em
meus métodos. Só os reinvento. Nem estou dizendo que deveríamos jogar fora as
ferramentas amadas que nos ajudaram a construir a nossa casa.
Só imagino que, se queremos um outro mundo possível, precisamos de novas
ferramentas, de uma nova caixa de ferramentas, de um outro jeito de lutar, militar,
amar e ler.
O novo não nega o antigo. A novidade pode vir de onde menos esperamos, pois
o Espírito é como vento que sopra onde e como quer. Mas se não estivermos abertos
ao novo, o texto continuará tão familiar, que não mais conseguirá dizer nada para
nós. Mais do que de novas ferramentas, nossos braços e pernas, pés e mãos, precisam
de uma renovada paixão – pelo texto, sim, pelo texto mesmo, pelo texto enquanto
texto. Paixão por essa simples e sedutora flor sem beleza. Paixão que faz da gente
uma gente nova que busca união, uma nova semente.
Pós-Universo 23

UMA TEOLOGIA
BÍBLICA AINDA EM
CAMINHO
24 Pós-Universo

A teólogia bíblica age como orquestradora de um diálogo que ainda está em construção,
colocando juntas as diversas vozes bíblicas sobre o mesmo tema, criando, um espaço
onde o diálogo pode ocorrer. É importante notar que a natureza da conversa se dá nas
particularidades históricas e culturais de cada voz. Quais são os critérios para a escolha
desses textos a serem colocados em diálogo? Há uma subjetividade inescapável, mas
deve-se convencer outras vozes a aceitar as conexões sugeridas.
O Centro de Teologia e Justiça se descreve como uma conexão de fé e ação.
Instintivamente, os cristãos podem reconhecer que os dois estão conectados, mas,
na prática, podem deixar de reconhecer a relação dinâmica entre eles. A teologia
pode se tornar um conjunto de idéias que discutimos dentro de uma igreja ou uma
comunidade universitária. A justiça pode se tornar um conjunto de questões às quais
respondemos na comunidade local e global mais ampla. Como habilitamos nossas
experiências, compreensões e práticas religiosas a conversar com nossas experiências,
entendimentos e práticas de justiça? Como permitimos que eles se moldem?

saiba mais
A temática “fé e justiça” é como um fio de ouro que perpassa, articula e
costura as muitas páginas da Bíblia. Não é apenas um tema entre outros, por
mais importante que seja. Nem muito menos algo secundário e preterível.
Ela constitui o núcleo fundamental da experiência judaico-cristã de Deus:
caracteriza e/ou descreve tanto o Deus de Israel e de Jesus quanto o Povo
de Deus em sua mútua relação e interação.
Fonte: Francisco de Aquino Júnior (on-line).

A reflexão teológica pode significar apenas uma reflexão sobre a teologia. No entanto,
significou algo mais rico e profundo. Seguem-se duas tentativas para definir a reflexão
teológica:
Pós-Universo 25


A disciplina de explorar nossa experiência individual e corporativa na conversa
com a sabedoria de uma herança religiosa. A conversa é um diálogo genuíno
que busca ouvir nossas próprias crenças, ações e perspectivas, bem como as
da tradição. Respeita a integridade de ambos. A reflexão teológica, portanto,
pode confirmar, desafiar, esclarecer e expandir a forma como entendemos
nossa própria experiência e como entendemos a tradição religiosa. O resultado
é uma nova verdade e significado para viver (KILLEN; DE BEER, 1994, p. 51).

Uma atividade que permite às pessoas de fé dar conta dos valores e tradições
que sustentam suas escolhas e convicções e aprofunda sua compreensão.
A reflexão teológica permite explorar as conexões entre dilemas humanos e
horizontes divinos, com base em uma ampla gama de disciplinas acadêmicas
(GRAHAM; WALTON; WARD, 2005, p. 5-6).

Há dois pontos importantes a serem feitos sobre a reflexão teológica compreendida


nesse tipo de caminho:
Primeiro, não é apenas para os especialistas (teólogos e clérigos), mas para todos
- como indivíduos e juntos em nossas congregações e grupos. Todos precisamos
de ajuda no desenvolvimento de boas maneiras de refletir e o Centro de Teologia e
Justiça pretende compartilhar esses e seus resultados para encorajar uns aos outros.
Em segundo lugar, não se trata apenas de pensamentos e sentimentos, mas de ação.
Tanto a fé como a justiça podem ser concebidas como idéias abstratas, mas ambas
precisam ser postas em prática. Assim como dizemos que existe uma relação dinâmica
entre teologia e justiça, existe uma relação entre ideias e ações.
Nossa reflexão sobre nosso próprio contexto deve levar a ação. Devemos refletir
sobre a nossa experiência de ação para que possamos aprender com ela. Novamente,
o Centro pretende compartilhar experiências e reflexões para nos ajudar a descobrir
o que pode ser apropriado em nosso próprio contexto.
26 Pós-Universo

TEOLOGIA BÍBLICA
COMO DIÁLOGO
Pós-Universo 27

Reconhecidos os limites do modelo predominante, desde os anos oitenta do século


passado um novo modelo de leitura está sendo construído, como, e.g., na leitura
popular latino-americana, nas leituras contextualizadas na Europa, América do Norte,
África e Ásia. Como um modelo novo, os seus contornos todos ainda não estão
claramente definidos, o que se nos apresenta como uma santa aventura pessoal,
acadêmica e devocional. Redescobrir o impacto e a força do livro santo é o que
deveria nos animar, especialmente nós que estamos envolvidos com o ensino da
Escritura na igreja ou com as disciplinas de hermenêutica, exegese e teologia bíblica
nos seminários e faculdades de teologia.
Passo a descrever as principais características desse novo modelo de interpretação
bíblica. A finalidade primeira da leitura da Bíblia, neste modelo, será a de construir
consensos, ou seja, acordos fraternos sobre a vontade de Deus na atualidade, que
sejam:

a. eticamente válidos, pois nem todos os meios são justificados pelos fins –
ou, nem tudo que funciona, ou que dá prazer, é justo, é bom, é santo;

b. cognitivamente verdadeiros, pois nem todas as experiências, doutrinas e


conceitos que defendemos passam pelo crivo da Sagrada Escritura; e

c. pessoalmente verídicos, pois muitas vezes ocultamos a verdade pessoal e


institucional atrás das máscaras do poder, do dinheiro, do prestígio ou do
saber.

Ler a Bíblia em busca de consensos teologais depende de uma prática hermenêutica


em que os sujeitos da leitura não sejam mais indivíduos isolados, os especialistas da
técnica, e, sim, os participantes da comunidade de fé. Depende de uma prática em
que as diferentes contribuições de cada pessoa – tenha ela formação teológica ou
não – possam ser:

a. criticamente examinadas, ou seja, que a opinião de cada um seja demonstrada


e provada e não apenas apoiada ou aceita por causa da autoridade acadêmica
ou política ou espiritual de quem a formula;
28 Pós-Universo

b. livremente apresentadas, ou seja, que cada membro da comunidade da fé


possa falar, se expor, apresentar aos demais a sua visão da fé, da vida, da
missão, da vontade de Deus conforme ele ou ela a vê na Escritura; e

c. responsavelmente partilhadas, ou seja, que não se fale apenas por falar,


que não se fale apenas a partir do achômetro de cada um, mas que cada
participante do diálogo com a Bíblia e a partir da Bíblia, seja responsável em
sua contribuição – tendo examinado bem o que leu e o que quer dizer –
como os antigos judeus de Beréia que, ao ouvir a explanação da Bíblia pelos
missionários cristãos, foram examinar cuidadosamente o valor e a validade
da nova forma de ler a Bíblia que a fé cristã estava trazendo.

saiba mais
As virtudes teologais unem a alma a Deus por Cristo. A Fé - inclina e capacita
o intelecto e a vontade a aceitar a Palavra de Deus e aderir a sua autoridade,
que a revela. A Esperança - inclina e capacita a vontade a ter confiança de que
Deus lhe dará a vida eterna e a graça para merecê-la. A Caridade - inclina e
capacita a vontade a amar a Deus por ser quem é, a si mesmo e ao próximo,
por causa de Deus. Dá valor meritório aos atos de todas as outras virtudes e
une o homem a Deus mais perfeitamente. Além disso, só a caridade é que
há de permanecer no céu, pois, com a visão beatífica, a fé e a esperança
desaparecerão (1 Cor 13, 1-13).
Fonte: José Orquiza (on-line).

Traduzindo estas reflexões para a linguagem da prática cotidiana, precisamos aprender


a ler a Bíblia com seriedade acadêmica, ética e pessoal. Ler a Bíblia superando o
comodismo do hábito de achar na Bíblia aquilo que nós já sabemos ou sentimos;
superando a atitude distante do especialista – da ação comunicativa.
Pós-Universo 29

A pessoa que vai aprender o jeito certo para, depois, dizer à igreja qual é a verdade
que ela deve crer e praticar; ler a Bíblia superando a preguiça ou o medo estudantis
de, ao invés de estudar a Bíblia, com todo o trabalho que a leitura exige, ler as leituras
que outros fizeram da Bíblia e reproduzir as interpretações já feitas e presentes nos
comentários bíblicos, nos dicionários teológicos, nos sermões, nos artigos, etc…
Retornando à linguagem acadêmica, este modelo de leitura da Bíblia se insere no
processo de mudanças epistemológicas a que se convencionou chamar de “virada
lingüística”, o qual insiste em que o sentido é fruto da ação intersubjetiva: o sentido
não deve mais ser visto como correspondente à intenção do sujeito, nem ao referente
do texto, mas como fruto da interação humana; interpretar o texto bíblico é fazer
dialogar os discursos do presente com os do passado, levando em consideração a
história dos efeitos do texto bíblico ao longo do tempo; a historicidade passa a ser vista
principalmente como parte da rede discursiva de produção de sentido na interação
humana, e não apenas como uma cadeia objetiva de acontecimentos.
O foco da interpretação deverá recair sobre as múltiplas relações do processo de
significação e não mais apenas sobre a relação do texto com o seu referente histórico
(do texto bíblico com os acontecimentos de seu tempo). Neste novo modelo, a tarefa
fundamental da interpretação não é mais a compreensão do sentido original do
texto, mas a compreensão das possibilidades de sentido da ação (divina ou humana)
no texto e a partir do texto. Redescrever a tarefa hermenêutica desta maneira nos
permite ir além dos limites da interpretação moderna da Bíblia, limites impostos, como
vimos, pelas discussões e conflitos entre fé e razão, ciência e revelação, objetividade
e subjetividade, deísmo e teísmo; e, mais importante, pela prioridade do sujeito
individual, masculino, branco, racional e norte-atlântico, e pela prioridade da teoria
sobre a prática. A leitura da Bíblia é tarefa de comunidades cristãs, eclesiais, missionárias,
acadêmicas, familiares.
30 Pós-Universo

A leitura da Bíblia é parte integrante da espiritualidade cristã e da ação ministerial


e missionária. Isto exige uma mudança do centro da tarefa: por isso o sentido da
ação vem ocupar o lugar do sentido do texto enquanto tal. Consequentemente, o
resultado da leitura deverá ser a renovação da ação do cristão e da igreja em resposta
à palavra de Deus que é testemunhada pelo texto bíblico. Desta forma, os aspectos
doutrinários, conceituais e teológicos são colocados a serviço da missão do povo de
Deus. Este novo modelo de leitura bíblica seria, assim, consistente com as mudanças
em curso no campo teológico em geral, com mais ênfase nos aspectos prático e
público da teologia cristã.
Para concluir em um tom mais devocional: interpretar a Bíblia no modelo dialogal
permite fazer valer novamente o papel específico da Escritura na construção da
identidade do povo de Deus – permitir à Escritura que oriente criticamente a ação
do cristão individual e da comunidade eclesial. Construir esse novo modelo de
interpretação da Bíblia é nos aventurarmos a fazer da leitura bíblica um caminho
crítico e construtivo da edificação e da missão do povo de Deus, reavivando a função
da Escritura expressa em I Tm 3,15-16 que é formar o povo de Deus para a plena e
integral participação na missio Dei.
O que se pede de cristãs e de cristãos é apenas que “tenham prazer” em ler a
Escritura comunitária e missionalmente. Ler a Bíblia não é obrigação, é expressão
do amor a Deus e ao próximo, é expressão da fala do antigo salmista: “agrada-te do
Senhor”.
atividades de estudo

1. A respeito dos métodos da leitura popular da bíblia, é correto afirmar:

I) A leitura dos quatro lados tem por intuito ajudar as pessoas a terem uma visão
integral da sociedade produtora do texto bíblico.
II) o método da leitura do conflito objetivava ajudar as pessoas a focar a leitura do
texto bíblico nos conflitos explícitos ou implícitos no mesmo.
III) Ambos os métodos utilizam o mesmo referencial teórico, que vão na contramão
do marxismos.
IV) O método da leitura dos quatro lados destacava os conflitos rei-povo e campo-
cidade mais da Antiguidade Oriental.

a) Estão corretas apenas I e II.


b) Estão corretas apenas II e III.
c) Estão corretas apenas I, II e III.
d) Estão corretas apenas I, III e IV.
e) Estão corretas I, II, III e IV.

2. Sobre a reflexão teológica, assinale a alternativa correta:

I) Visa explorar nossa experiência individual e corporativa na conversa com a sabedoria


de uma herança religiosa.
II) Possibilita que entendamos nossa própria experiência e a tradição religiosa.
III) A reflexão teológica pode significar apenas uma reflexão sobre a teologia.
IV) Pode explorar nossa experiência individual e corporativa na conversa com a
sabedoria de uma herança religiosa.

a) Estão corretas apenas I e II.


b) Estão corretas apenas II e III.
c) Estão corretas apenas I, II e III.
d) Estão corretas apenas I, III e IV.
e) Estão corretas I, II, II e IV.
atividades de estudo

3. Sobre a Teologia como diálogo, é correto afirmar:

I) É preciso ler a Bíblia com seriedade acadêmica, ética e pessoal.


II) O sentido dado ao texto bíblico é fruto da interação humana.
III) Deve-se ler as leituras que outros fizeram da Bíblia e reproduzi-las.
IV) Para interpretar o texto bíblico deve-se dialogar com os discursos do presente e
do passado.

a) Estão corretas apenas I e IV.


b) Estão corretas apenas II e III.
c) Estão corretas apenas I, II e III.
d) Estão corretas apenas I, III e IV.
e) Estão corretas I, II, III e IV.
resumo

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade. Espero que tenha absorvido muito conhecimento.
Ao longo do material, estudamos: Uma proposta de Teologia Bíblica a partir da ação cristã
transformadora; Uma Teologia Bíblica ainda em caminho e Teologia Bíblica como diálogo.

Na aula 1, vimos que o estudo contextual da Bíblia na pós-modernidade deve ser uma ação cristã
transformadora. O método enquanto ação transformadora é semelhante a muitas outras formas de
se fazer teologia bíblica que têm suas origens na interface entre estudiosos bíblicos socialmente
envolvidos, intelectuais orgânicos e “leitores” cristãos comuns (quer sejam alfabetizados ou não)
da Bíblia. Sendo dividido em três etapas: estar situado dentro da análise social e das necessidades
de comunidades particulares dos pobres, a classe trabalhadora e marginalizada; fornecer uma
maneira de fazer análises teológicas e terminar com recursos teológicos fornecidos pelo estudo
da Bíblia para planejar a transformação social. Além disso, estudamos sobre a leitura popular da
bíblia e suas características.

Na segunda aula, debruçamo-nos em estudar sobre a reflexão teológica, a qual objetiva explorar
nossa experiência individual e corporativa na conversa com a sabedoria de uma herança religiosa.

Já na última aula, propomo-nos a enxergar a teologia como diálogo, para isso criou-se consensos.
Ler a Bíblia em busca de consensos teologais depende de uma prática hermenêutica em que
os sujeitos da leitura não sejam mais indivíduos isolados, os especialistas da técnica, e, sim, os
participantes da comunidade de fé. Sob essa ótica, o objetivo da interpretação não é mais a
compreensão do sentido original do texto, mas a compreensão das possibilidades de sentido da
ação (divina ou humana) no texto e a partir do texto.

Nossas discussões chegam ao fim, porém, é seu dever como estudante e pesquisador continuar
aprofundando seu conhecimento. A base teórica você tem, vá para a prática: a palavra de Deus
é inesgotável. Bons estudos e até a próxima.
material complementar

The Academy of the Poor: Towards a Dialogical Reading of the Bible


Autor: Gerald O. West
Editora: Sheffield Academic Press

Sinopse: What roles do biblical scholars play in contexts where the Bible
is a significant text within poor and marginalized communities? Gerald
West reflects on what their role is by drawing on liberation hermeneutics
(with a focus on race, class and gender), inculturation hermeneutics (with
a focus on culture), and postmodernism (with a decentred ‘focus’!). He argues that recent
trends in the field of biblical studies open up space for serious dialogue (and perhaps even
collaboration) between readers of the Bible in the academy and readers of the Bible in poor
and marginalized communities.

A Bíblia pós-moderna: Bíblia e cultura coletiva


Autor: George Aichele
Editora: Loyola

Sinopse: Este livro é um guia, ao mesmo tempo acessível e abrangente,


para a compreensão dos vários métodos, teorias e práticas críticas que
vêm transformando a pesquisa bíblica. Escrito por um grupo de argutos
pesquisadores e traduzido por Barbara Theoto Lambert, o livro apresenta,
exemplifica e crítica sete possíveis estratégias de leitura da Bíblia: a crítica retórica, a narratologia,
a crítica da resposta do leitor, a crítica ideológica, o pós-estruturalismo e a crítica psicanalítica.
Os autores defendem uma crítica bíblica transformada, reconheça que nosso contexto cultural
é marcado por estéticas, epistemologias e princípios políticos muito diferentes dos que
predominavam nos séculos XVIII e XIX. Defendem também uma crítica bíblica transformadora,
que se incumba de entender o impacto ininterrupto da Bíblia na cultura e tire vantagem
dos generosos recursos do pensamento contemporâneo sobre linguagem, epistemologia,
método, retórica, poder, leitura, bem como as questões políticas prementes e muitas vezes
controversas de ‘diferença’ - gênero, raça, classe, sexualidade e, na verdade, religião - que
passaram a ocupar o centro do palco em discursos tanto públicos como acadêmicos.

Na Web
Connecting Faith and Action - Exploring the intersection of theology & justice for the churches
of Britain and Ireland. O Centro de Teologia e Justiça se descreve como uma conexão de fé e
ação e foi lançado na quarta-feira, 10 de maio de 2017. O evento incluiu a palestra inaugural
David Goodbourn: “A justiça é suficiente? Uma resposta cristã radical à atual crise humanitária
e ecológica.
Web: <http://www.theologyjustice.org>
referências

AQUINO JÚNIOR, F. Fé e Justiça. In: Theologica Latinoamericana. [2017]. Disponível em: <http://
theologicalatinoamericana.com/?p=183>. Acesso em: 20 nov. 2017.

BÍBLIA SAGRADA. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/>. Acesso em: 20 nov. 2017.

IGREJA EM REDE. Ficha 127 – A ação transformadora dos leigos e leigas no mundo (CNBB
105, 08). Disponível em: <http://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/ficha-127-a-acao-
transformadora-dos-leigos-e-leigas-no-mundo-cnbb-105-08/>. Acesso em: 20 nov. 2017.

ORQUIZA, J. Virtudes Teologais. [2017]. Disponível em: <http://www.joseorquiza.com.br/texto_


virtudes-teologais_fe_esperanca_e_caridade.asp>. Acesso em: 20 nov. 2017.

VOS, G. Teologia do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Alberto Almeida de Paula. São Paulo:
Cultura Cristã, 2010.

ZABATIERO; J. Métodos e Interpretação Bíblica. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016.


resolução de exercícios

1. a) Estão corretas apenas I e II.

2. e) Estão corretas I, II, II e IV.

3. a) Estão corretas apenas I e IV.

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