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CAPITULO 4 Conceitualizacao Cognitiva com Criangas RENATO MalATO CAMINHA Marina Gusmdo CAMINHA Segundo Beck, o momento da avaliacao cognitivo-compor- tamental é de extrema importancia no contexto da psicote- rapia por proporcionar um nivel de conhecimento daestrutura bsica de um paciente pelo seu terapeuta’. Conforme salientado no Capitulo 3, Princfpios de Psico- terapia Cognitiva na Infancia, os processos de psicoterapia infantil so os mesmos na infancia e vida adulta, cabendo ao terapeuta adaptar as técnicas para melhor acessara crianga. Com relacio @ fase de conceitualizacao, continua valendo a mesma regra. Assim, conceitualizar um caso infantil desfru- tada mesma importancia para um bom desfecho terapéutico quanto conceitualizar um caso na clinica de adultos. O processo de conceitualizagio com pacientes adultos costuma levar entre trés e cinco sess6es, ja na infancia, dev doa incluso de familiares e, 4s vezes, educadores, 0 processo poderd ser um pouco mais eldstico, atingindo um intervalo que poderd ir de trés a olto sessoes. ‘Muitas vezes nao conseguimos conjugar a presenca dos numa mesma sessao, por vezes precisamos incluir um professor ou mais, 0 orientador educacional, a baba, a avo, pifim, depende nao apenas da complexidade do problema apresentado pela crianga, mas também do ntimero de pes- seas de referéncia da criangaa serem incluidas no processo. ‘Hawton etal, apontam queaavaliagao cognitive-compor- tamental tem como objetivo discutir com paciente uma Digitalizado com CamScanner 58 = Princtpios Basicos ¢ Fundamentos Técnicos terapia ¢ dos fatores may ser tratada na psico! ‘ Fi ntene. srantaget de um plano terapéutico eficiente?, ‘lo, uma repre A 6 elaborar um modelo, Presentacag angé, formular wm caso jodelo, um sen ae problema do paciente € suas Ea eee faa € indiretas, sendo essa coleta de dados para a formulagao do modelo feita com a familia, i 3 escola e a crianga preferencialmente®. formulagio da problemitti dores do problema para a Psicopatologia na Infancia Conforme discutimos também no Capitulo 3, 0 diagnéstico infantil sera, emum grande ntimero de vezes indefinido, se considerarmos manuais diagnésticos espe- Cificos. A formulagao do caso deverd ser feita diante do comportamento-problema, diagnéstico do problema apresentado pela crianga e suas relagdes com a famifliae demais ambientes nos quais esté inserida. ‘Assim sendo, a classificagao diagnéstica adquire carateres mais secundériose os problemas apresentados pela crianga caracterfsticas mais importantes, O obje- tivo da conceitualizagao aponta para hipéteses mais explanatérias que explicam ainter-relacdo entre os sintomas e os contextos levantados, sendo portanto teori- camente inferidas. Rapport na Avaliagéo Aimportancia do rapport no processo de psicoterapia cognitiva se deve a possibi- lidade de o paciente obter informagées detalhadas a respeito do modo como 0 processo psicoterapéutico ird transcorrer. Compreendendo o tramite do processo de psicoterapia, que haja boa e colaborativa fluéncia ao longo do tratamente e familia devem ser esclarecidos acerca do processo, terapia infantil, além da crianga, seus familiares, Para que o terapeuta consiga dar in ; sdrio que ele introduza questdes es Quest6es comumente trabalh: © paciente ira permitir 10. Desse modo, crianga ouseja, o rapportenglobana icio & operacionalizacao do rapport, éneces- Pecificas tanto aos familiares quanto ascrianas adas com as criancas no rapport. * Voce sabe por que estd aqui hoj y ui hoje? meira entrevista, a dividit com ne terapeuta, muitos pais guardam a" mo orientados pelo terapeuta, na Pr tiangas a decisaio da procura de wm" porta se abre e 0 teray ‘surpresa” da consulta até a hora que # necessariameme ae ise chama e se apresenta, Essa postura nao denot® mente ser reflexo de um desenon Pais Para coma crianga, ela pode simples Proprios pais, aceitar, por ss mM abordar questdes dificeis par °° (TOC) de seu filho, Ao abriy nt?! © transtorno obsessivo-compulsi¥? uma crianga na sala de espers oor © tetapeuta se depara com adultos ¢ Pais jé falaram de mim © pergunta: “O14, dro, seus ay Para voce” ent®: “Old, voce deve ser o Pedro, S°”° sentagao inicial tende g ?”. Quando a é i ne e va a ap! *transconer com matafactidade entretanto aus" Digitalizado com CamScanner 4 Conceitualizagdo Cognitiva com Criangas # 59 aresposta é “nao sei de nada; eles 86 disseram que a gente ia sair", sugerimos que os pais, ou no caso de apenas um deles, entrem juntamente com a crian- gaeajudem 0 terapeutaa esclarecer quem ele 6,0 que faze por que acrianga estd ali. Essa conduta reflete uma questio terapeutica basica na clinica in- fantil - pais so partes ativas e devem ser treinados a desempenhar papéis terapeuticamente ativos no manejo das dificuldades da crianga. * Vocé sabe quem eu sou? O que faz e como trabalha um terapeuta? Segundo os pais, 0 motivo de vocé estar aqui é por estar apresentando comporta- mentos repetitivos que o fazem se atrasar nas tarefas em casa e na escola e 0 deixam muito ansioso e vocé nao consegue controlar seus pensamentos € comportamentos, vocé concorda? Qual a visdo que vocé tem do seu problema? Estas questdes compéem a parte inicial do rapporte devem ser adaptadas a narrativas capazes de serem compreendidas pela crianga. Desenhos e fan- toches ajudam a explicar a questo de um modo terceirizado, ou seja, 0 problema visto em um personagem e nao em si préprio. Tipo de Terapia Para que sejam colaborativos, os pais precisam saber que as criangas levardo con- sigo tarefas e experimentos a serem desenvolvidos fora das sessdes de psicoterapia. Os pais sero igualmente informados de que deverdo participar ativamente do processo de psicoterapia, tendo a funcao de executar e conduzir tarefas terapéuti- cas que a crianca sozinha nao tem condigées de administrar. O processo de psicoeducacao envolvendo o conhecimento do transtorno ou do problema especifico da crianga, bem como a educagao quanto ao modelo cognitivo, serdo igualmente trabalhados com familiares e com a crianga, numa linguagem devidamente acessivel, possivelmente Itidica, para que a crianga seja capaz de compreender. Tempo Aproximado £comum que os pais sejam bastante interessados nesse item da psicoterapia, Seus interesses vao desde preocupagoes com a capacidade da crianga se reabilitar do problema ou psicopatologia até o dispéndio financeiro que 0 processo poderd acarretar a familia. Questionar o quanto irio despender financeiramente nao é sindnimo de mes- quinhez ou ter o foco apenas no dinheiro endo em necessidades Teais da criang: como muitos supervisionandos supdem, quando questoes relacionadas a gastos financeiros surgem no setting. Para algumas familias, esse planejamento 6 fundamental sem excluir o real interesse pela crianga. HA, realisticamente, por parte da familia, questoes de re- sisténcia ao problema apresentado pela crianga, que podem se manifestar, dentre Outras formas possiveis, pela questao financeira, Numa situagao especifica, uma mae assim se posicionou, quando questionada Pelo terapeuta se havia pensado em procurar ajuda antes, jé que havia identificado Digitalizado com CamScanner 60 = Principios Bésicos ¢ ‘Fundamentos Técnicos ‘Sempre usava a questio do mesmo era ter de colocar al. meu marido nao estavamos is ano: © problema de seu filho ha pelo menos Kor ant dinheiro, mas hoje entendo que pesavt Para rm guém de fora da familia para resolver algo 4 conseguindo resolver. Para propor alguma estimat deverd apelar para a seguinte eq tiva razodvel de tempo & prognéstico, o terapeuta uuagdo: tipo de problema da crianga; nivel de am. paro familiar para colaboracao € participacéo da familia; nivel od colaboracao e de condicées cognitivas da crianga. Computando esses elementos ons terapeutas trabalharao aplacando a ansiedade dos pais pela resolugao do problema da crianca e facilitando, inclusive, a adesao familiar ao processo terapéutico. Alianca Terapéutica Conforme discutido no Capitulo 3, a alianga terapéutica no atendimento clinico infantil é complexa e delicada por envolver diversos membros, a “triade’, e possi- vel e preferivelmente o quarto elemento (vivéncias pedagégicas). De qualquer forma, o terapeuta deverd prestar esclarecimentos sobre suas condutas no setting. Por exemplo, ele sera atuante, mediador, instigador e facilitador da compreensao dos problemas apresentados pelo paciente. Além disso, oterapeuta ird delegar tarefas extra-sessdes, ajustar rumos do tratamento elevantar hipoteses que podem ou nao se confirmar ao longo do processo. Tais procedi- mentos servem de fatores motivacionais para o paciente melhorar a sua adesio e o nivel de colaboragao no tratamento, _ Eigualmente nessa fase que o terapeuta trabalhard os prinefpios bésicos de psicoeducagao quanto & patologia ouproblema, quanto ao modelo cognitivo envol- vendo familia crianga e com relagdo& prevengao de recaida eee a Se odera e deverd ser questionado pela crianca e seus fa- econfianca. ‘ga uma genuina alianga de aceitagao, compreensio O que se Deve Saber na Conceitualizacio? d lidade, na clings deen. was20 clenificareferente dctiniea infantil seja uma rea: E i. iOS autores 16 7 Fles destacam, em suas produgdes, irene 8 tecicado intensamente ao tem® boa conceitualizagio d tens importantes integrar uma aoe le Casos | § ori. antes que devem integra U" Como Silvares, Friedberg e Meciina gt aMaS € seus familiares Bo caso deautores Conforme discutido em outa, Caminha et al, Yunese Knapp etal? dimento psice ico pel ‘api see 2 Em algun, aoe 820 Pelos mais dive eas io encaminhadas a0ate i as Cognil = ental» crianga, enquanto em gnitivo-comportam’ Digitalizado com CamScanner Conceitualicagao Cognitiva com Griancas ® 61 ° eas ae pe Dossivel acerca da ertanga, nos mais diversos contextos, a poss ceradaunen Lae ueloa familiar, se possivel, e da percepgaio da propria a cerca daquilo que os seus pais ou sua escola site Os pais podem criar problemas nas erian Pde ern Brotterna para els, Gas a partir de suas vivencias pessoais e eae de rena muitas vezes bastante inflexiveis, 0 que hes gera, além deum nivel de exigéncia elevado, uma baixa tolerfincia a respostas que nfio cumpram exatamente 0 que esperam da crianga, Por exem) 10, tirar nota oito e nao uma nota dez pode gerar nos pais, em decorréncia de ence inflexiveis, a nogio de que o filho tem problemas de aprendizagem, Suas crengas condicionadas apontam para “se meu filho fosse realmente inteligente, ele 6 tiraria de: Ou, ainda, pais que acabam por gerar, também em decorréncia de crencas infle- xiveis, vivéncias altamente estressantes e problematizantes a seus filhos. Por exemplo, 0 filho de 11 anos de um bem-sucedido profissional liberal chegou a tratamento encaminhado pela escola com a justificativa de desistir facilmente das tarefas pelo elevado nivel de exigéncia pessoal. No processo de conceitualizacao, constatamos que o pai sempre desqualificava 98 resultados positivos do filho. Sua intencao? “Para que ele nao pensasse que as. coisas s4o faceis na vida sé por que o pai dele tem dinheiro”. Resposta, esta, advinda da trajet6ria pessoal dificil que o pai teve, segundo ele “eu s6 me dei bem na vida por que tive dificuldades’. O pai produz sérias distorgdes e tenta projetar para 0 filho o mesmo cendrio de dificuldades que teve em sua vida. No seu modo de pensar, nao cabe a idéia de que pessoas que tiveram uma vida econdmica mais confortavel possam se dar bem na vida. Outra generalizacio do pai “bem-sucedido é quem tem muito dinheiro”. Obviamente, esse caso justifica uma intervengao clinica com a crianca, mas fundamentalmente com os pais, j4 que a mae, embora pense diferente, “respeita a opiniao do pai Uma questao pertinente a esse exemplo seria a seguinte: nao havendo adesao © conseqiiente reestruturagao cognitiva das crengas paternas ha viabilidade de tratamento clinico apenas para a crianga? Resumidamente, a resposta é sim, embo- rade resultado clinico mais dificil. E importante que a crianga possa compreender, por meio de modelacao, reestruturacao, flexibilizagao e testagem da realidade que nao € por serem adultos que as pessoas nao se equivocam e produzem idéias erradas. Enecessdrio que ela entenda que mesmo as pessoas que amamos muito come- tem equivocos e nem por isso deixamos de amé-las ou elas deixam de nos amar. Principais Fontes de Problemas da Crianga Problemas infantis podem estar relacionados, em alguns casos, a fatores genéticos. H4 uma gama de cromossomopatias capazes de alterar comportamentos e gerar Problemas cognitivos, . on Hé algumas cromossomopatias mais conhecidas e mais sindrdmicas como o caso da trissomia do cromossomo 21, a sindrome de Down, que normalmente Produz retardo mental de leve a moderado em seus portadores, além de uma ten- dénciaa sutis estereotipias comportamentais. H4, no entanto, alteragdes genéticas Digitalizado com CamScanner 62. ® Princip Bésicos ¢ Pundamentos Técnicos c itas vezes apenas em meg, fas, constatadas mui imei ne det ‘onlfos, ou emt casos mals sofisticados,exarye as rod: aoe etria facial, andlise «le ema de simetria onNewe ronto da conceittalizagaio é mull importante conhecermos dados ¢, aineet| ore revieta clinica com criancas. Obter informagdies 5, anamnese tradicional ental. Da pen ea desenvolvimento neuropsicomoror ¢ fundam« dos como Apgar, inhar, do andar, da aquisigao da fala, do controle esfincteriano, da inklo doers nee histérico de doengas, doengas Pee Nos fa. miliares diretos ¢ indiretos, perdas significativas, traumas, 7 im, qualquer fator {que passa estar correlacionado ao atual problema apresentado pela crianga, Atrasos de desenvolvimento podem ser fatores indicativos de Problemas ee néticas ou congénitos. Nao cabe ao terapeuta 0 diagnéstico especifico dessas patologias, mas ¢ fundamental que um terapeuta seja COPAZ de desconfiare enca. minbar para avaliacao adequada a qualquer caso que fuja a rotina clinica, Novamente cabe frisar que, havendo algum fator genético ou congénito forte. mente correlacionado ao problema da crianga, 0 processo psicoterépico nao estara excluido. Cabe ao terapeuta a tarefa de integracao multiprofissional em prol dos resultados almejados para o paciente. Problemas Ambientais Embora atualmente as ciéncias do comportamento se baseiem no principio de interacdo, genes e ambiente interagindo, e nao mais aceitem que tratemos os pro- blemas sob apenas uma 6tica, ou genética, ou ambiental, 0 interesse do terapeuta deve seguir para uma detalhada avaliacao dos aspectos ambientais fortemente correlacionados aos problemas apresentados pela crianga. Esse interesse se da ‘em grande parte em razo de o comportamento-problema poder estar sofrendo reforgos contingenciais, a partir das interagGes didrias que envolvem aprendiza- gens geralmente motivadas pelos modelos e a freqiiéncia operacional dos esquemas cognitivo-comportamentais. Nas interagdes cotidianas, muitos comportamentos indesejados podem ser reforgados acidentalmente, Por exemplo, os pais podem permitir que o filho coma chocolates no supermercado, evitando com isso o desconforto e a suposta verge nha de ter um filho aos berros num corredor do mercado. Nessa l6gica, os pais reforcam positivamente 0 comportamento de chorat quando quiser algo por parte da crianga e reforgam negativamente as suas ansi dades e vergonhas. 4 A crianga fica predisposta a ativar o esquema de mediagio pot intermédio Seems comportamental cada vez que ouvir uma negativa por parte da interagao didriacomos vale Ho lndesefeda, entretanto, foi eriado, como proc? dentalmente’ reforgado, O comportamento indesejado foi, desse modo ' Linear ne aoe comportamentos indesejados sao reforgados acide 7 7 4 seus estilos atribuitivos, podem criar situagdes U° Digitalizado com CamScanner Conceitualizagao Cognitiva com Criangas = 63 tornam verdadeiras ar madilhas nas expectativas com os filhos. f.deveras importante queo terapeuta possa identificd-las, a fim de ajudar aos pais a reestruturar algumas expectativas que se mostram demasiadas ¢ irreais na relacdo com os seus filhos. Numa situagao clinica uma mae entrevistada negava que o filho de 12 anos pudesse ter se apropriado de uma material de um colega na escola embora todas as evidéncias ‘Apontassem para a veracidade do fato. Alias, ndo era a primeira vez que fatos indicavam que o menino estava apresentando problemas de conduta manifests por furtos de objetos, Numa outra situagdo, Ppequena quantia de di- nheiro da empregada doméstica havia sumido e todos os indicios também apontavam para o menino, A dificuldade de aceitagao do fato residia em expectativas que a mae criaraa respeito de seu filho, derivadas obviamente de seu estilo atribuitivo de personali- dade, que nao estavam correspondendo & realidade dos fatos. Conforme a mae: “eu tenho uma 6tima relagado com meu filho... estou criando ele para que sempre me diga a verdade... ele nao mentiria para mim porque me ama... é impossivel que em nossa familia alguém pegue coisas dos outros com os valores morais que temos”. Ha uma série de distorgGes na fala da mae que indicam sua grande dificulda- de em lidar com a realidade. Primeiramente, nao ha uma relagao direta entre ter uma 6tima relacdo com alguém e nao haver nenhum tipo de mentira nessa rela- do; segundo, mentimos para pessoas que amamos, nem por isso deixamos de amé-las; terceiro, a despeito de valores que uma familia possa ter eles nao isentam seus membros de adotarem atitudes erradas, nao se forma nenhum tipo de blin- dagem moral nos componentes dessa familia. Finalmente precisamos contextualizar o comportamento do menino para que possamos aborda-lo de modo clinico adequado. E preciso conhecer a realidade cotidiana dessas criangas para sabermos que grande parte do comportamento problema apresentado pela mesma nao possa ser um comportamento aprendido através de modelagao. Pessoas significativas emocionalmente tem fortissima tendéncia a serem imi- tadas pelas criangas. Por exemplo, exigir que uma crianca nao diga palavrao quando seus pais cotidianamente os utilizam é uma tarefa bastante ardua. O mesmo se pode dizer de comportamentos agressivos. Ha criangas que sao agredidas pelos pais com fins “educativos’, puni¢ao fisica nao educa, pelo contrario ensinaum modo dese lidar com situagdes aversivas, tendem a repetir o uso de agres- s6es isicas em situacdes em que se sintam desgostosas, Comportamentos agressivos se fazem freqtientes na escola, na interagao social e até mesmo familiar. 0 comportamento de hipersexualizagio 6 outra modalidade de comporta- mento fortemente influenciado pela observagao do comportamento adulto, além, é-claro, de estimulagao sexual precoce em casos especiticos de criangas sexual- mente abusadas, Pais que nao se preocupam em resg\ ajudam a disseminar o mesmo padriio de escolas ou demais situagdes de interagao social. Um menino de oito anos, certa vez, foi encaminhado por uma escola por apre- sentar, conformeo laudo de encaminhamento, “comportamento hipersexualizado indiscriminado.,. posstvel situagao de abuso sexual infantil intrafamiliar’. uardar sua intimidade sexual das criangas ‘comportamento observado pela crianca nas Digitalizado com CamScanner 64 = Princfpios Bésicos ¢ Fundamentos Téenicos nn varias situagoes cotidianas nas quais eg, das criangas, havia uma outra fi 5 intimas na frente A i fcias fn ‘Ajustificativa dos meson emos de mostrar ate stiemyada de errado riem de feio nisso”, mantre as crengas familiares © as interagoe, rta predilecao e sociai nino demonstrava ce! a .s pelas normas sociais. Omet ; rae Seales por tras e acariciar as — Lara congo deal lemonsinay : ia o papai fazer e! n . carinho, do mesmo modo que via o pa! casacomamamse, | buso ituagaio nao se configurou como a n do ea apo para exposigao de criancas a estimulos sexuais capazes de ge. srersnto nao “natural” e inadequado a idade, rarnas mesmas um comport emtestede evidencias na validasao dascren as paternas e na relagao dessas crengas no processo de me‘ ura social. Os pais Soran trabalhados a ponto de verificar 0 quanto seus comportamentos como ca- sal estavam sendo imitados pelos filhos, no caso da menina nao socialmente dissonante, pois ela ainda nao freqiientava escola, e o quanto tais comporta- agao e a integragao do filho, e futuramente da mentos estavam afetando a inter 10 do mel filha, em situagGes que demandavam longa permanéncia com pares socials ¢ uso de comportamentos consonantes as normas daquele grupo social, na vivéncia de determinada situagao social, escola, aniversdrio de amigos, viagens em grupos, etc. Os pais tém uma historia de relacionamentos afetivos bastante liberais, a mae por duas ou trés vezes citou, em conversa com 0 terapeuta, que "em amor nao ha nada a se esconder”. ‘Ao mesmo tempo, os pais tiveram de entender que muitas pessoas no consi- deram contato fisico sinénimo de afeto, pelo contrario, pode ser uma forma invasiva e abusiva de se relacionar e, ainda, embora achassem divertido os filhos se manifestarem afetivamente com contatos fisicos intimos, hd um enorme fator de complicacao social nessa forma de interagir. Por meio de questionamentos socraticos, perguntamos aos pais se eles tili- zavam essas estratégias em seus trabalhos, e se por acaso utilizassem, como as pessoas reagiriam, ao que o pai prontamente respondeu, “mas s4o apenas criancas” ‘Com o uso de intimeros questionamentos socraticos mostramos aos pais que, embora a sociedade seja mais tolerante com deslizes comportamentais infantis, comportamentos tais como pegar objetos dos outros, contatos fisicos intimos, nunca sao reforcados pelos adultos. Ainda, numa outra situagdo, questionamos 08 pais sobre como se sentiriam se seus fillhos chegassem em casa e se queixassem de que algum colega esteve estabelecendo uma relagao de contato fisico intimo e essa relacao est4 lhes fazendo mal, causando-lhes sofrimento,e que eles nao querem que aquilo continue? Chegamos a ponto de choque entre a crenga dos pais de que toda manifesta- 40 de amor é positiva. Ela é positiva na medida em que o outro considere positiva. adequada e no contexto e faixa etéria adequados, Ambos se posicionaram surpreendentemente chocados com a idéia de que © comportamento aprendido pelos filhos de “manifestagao de amor” pudesse estar sendo compreendido e contextuali: tualizad i r outras: pessoas. lo de um modo negativo po! Em conversa com os pais aparece? tes se excedem em cart menor em idade pré-escolar. hossos filhos que nos amamos © 140 Novamente ocorre uma assimnett Digitalizado com CamScanner Conceitwalisagdo Cognitioa com Criancas * 65 Por meio de orientagées ter: ca, i Varios equivocos causadores de problemas pars aesinon oo thcel tecer nas interag6es cotidianas, ‘4.4 crianga sio faceis de acon- - Imimeras situagdes demonstram que os Pais ignoram o comportamento de- sejavel da crianga. Em suma, eles nao sabem muito bem 0 que querem dela, nem levam em consideragao aquilo que é 0 temperamento, ou seja, 0 estilo atribuitivo que a crianga ja estd delineando em sua personalidade. Por exemplo, alguns pais se queixam de que seus filhos ndo param quietos, mexem em tudo, querem saber de tudo, ignorando que criangas sao naturalmente, sem ser necessariamente patol6gico, hiperativas, curiosas, exploradoras, vasculha- doras e questionadoras. Imaginam que uma crianca comportada esteja constantemente quieta, aceita limites verbais como se fosse um adulto entendedor e complacente a regras, e Se comporta como um adulto em miniatura, Essas posturas revelam crencas de total desconhecimento e intolerancia acer- cade como sao verdadeiramente e como realmente de se comportam as criangas. Em suma, quando questionados, muitas vezes os adultos nao sabem o que querem, esperam ou toleram das criangas. O modo como 05 pais instruem as tarefas dos filhos é também de grande inte- resse na fase de conceitualizagao. As formas de instruir geralmente se mostram com muitas falhas em muitos contextos familiares. Criangas precisam de informagoes concisas e precisas acerca de tarefas a serem realizadas. £ importante constatar se os pais ndo exageram a carga de informa- GOes e instrugdes. ‘Numa situagdo clinica, pedimos a uma mie, que se queixava de displicéncia de seu filho de 10 anos com relacdo a seus brinquedos, roupas e higiene pessoal, que reproduzisse na sessao uma simples instrugao cotidiana. ‘Amie escolheu a tarefa de guardar os brinquedos ap6s 0 fim da brincadeira. Segundo ela, o filho virava um grande saco de brinquedos pela sala ou quarto e deixava tudo espalhado depois de parar de brincar. Tal comportamento nao ocorria no setting, ao final de cada sessao, o menino ajudava o terapeuta a guardar o material ltidico utilizado, Numa sessao especifica, sugerimos que a mae entrasse e pedisse ao menino que organizasse asala, O resultado da tarefa foi que o menino saiu porta a fora do consult6rio, indo direto para o elevador do prédio, como se ninguém lhe houvesse sequer dirigido a palavra, Ainstrugao da me foi mais ou menosa seguinte: “Coisa feia, quando fica tudo espalhado pela sala, vocé precisa entender isso & guardar os brinquedos. O Dr. vai ficar triste contigo e pensar: como esse menino é mal educado! A mamae fica muito chateada desse jeito... ai, Doutor, o senhor nfo sabe como eu softo com esse jeito do Paulinh a Tanto na situagao observada no setting terapéutico quanto nas demais situa- Ses descritas pelos pais nao hé uma exigéncia do cumprimento da tarefa por Parte do menino Paulinho. Os pais quando instruem algo, o fazem de modo im- Preciso, com muitas informagoes, pouca objetividade, uso de respostas emocionais Digitalizado com CamScanner ‘Bésicos ¢ Fundamentos Técnicos 66 = Principios m com 0 objetivo final, qual seja, ‘antes mesmo de qualquer ati, usando de queixas emocionaig regada da casa ¢ instrufda a e preocupa tagem emocional), © no 8 ee nam co rf arrumar scus i, ¢ ros brinquedos: 4 comegaa recolhe! 8 eg menting (mal-eduicado) O18 emp (chan' Paulinho deve! tudedomenin' e desvalorizs enh shuma restrigao para 0 menino pelo no-cum. nunca houve ner : _Nao roacerete pelocontrario, ele nao deixa de an eae Novos, nao Con de val ay festinhas de amigos: ou Mes dorms na casa deles quando é onvidado. B 1 jlizar a disciplina. ‘dado. Em suima, os pais nao $4) convidnde no esses ore bastante comuns a quem cabe a tarefa de educar. Do de vista terapeuticn; conhecer essasarmadilhas € fundamental ao terapeuta guests con iro terapéutico. i para um adequado rot festa conceitualizando 0 caso | t ; see serros mais comuns consistem em dar muitas ou poucas instrugdes a crianga, . Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, cap, al, Terapla Cognitivo-comportamentat 2. ed, Sao Paullo: Martins Fontes, 2902, 4 scielo.php?script Acesso em: 14/nov./2006. 9. KNAPP, P; ROHDE, L. A; LYSKOWSKI, L. et al. Teoria Cognitivo-comportamental no Transtorno de Déficit de Atencao/Hiperatividade: manual do terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2002. cap. 1, p. 15-33. V. 2. . Digitalizado com CamScanner

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