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EXPOSIÇÃO DE RUTE 1

Grande Ideia do Livro: (COP) A soberania e bondade de Yahweh


transformam tragédia individual em bênção nacional por meio da fé pujante
de uma mulher gentia e um israelita compromissado.

Grande Ideia do Livro: O Deus Soberano e Bom transforma uma tragédia


individual em bênção nacional e mundial por meio da fé de uma mulher
gentia e um israelita compromissado.

Cap. 1

Grande Ideia (hermenêutica): Apesar da falta de esperança de Noemi,


provocada pelas tragédias enfrentadas, Deus, em Sua soberania
incondicional, dá a Rute a oportunidade do exercício da fé, iniciando Seu
auxílio e resgate na família afligida.

Grande Ideia: Mesmo em situações sem esperança aos nossos olhos, em Sua
soberania, Deus nos dá a oportunidade de exercitar nossa fé, demonstrando
Seu auxílio.

 1:1-5 (O juízo de Deus sobre Seu povo, por meio da fome, faz
Elimeleque se mudar com sua família para Moabe, onde morrem ele
e seus dois filhos, que haviam se casado com mulheres moabitas,
sobrevivendo ambas e Noemi, esposa de Elimeleque.) Com a fome na
terra, Elimeleque vai viver em Moabe por um tempo, levando sua esposa e
seus dois filhos. Morrendo ele, deixa sua esposa sozinha com os filhos, que
se casam com mulheres moabitas e também morrem apó s dez anos de
habitaçã o em Moabe.
 1:6-18 (O retorno do auxílio do Senhor sobre Seu povo faz com que
Noemi, mesmo desesperançosa, decida retornar à terra de Israel,
dando a Rute a chance de exercitar sua fé.)
 1.19-21 (A falta de esperança de Noemi é evidenciada aos que a
recebem admirados e a bondade de Deus aparentemente
questionada por ela.)
 1.22 (O auxílio de Deus estava começando a trazer esperança e
fartura sobre seu povo, em contraste com a profunda desesperança e
tristeza de Noemi.)
Introdução

Seria a vida do homem algo previsível, facilmente controlá vel e composto por
situaçõ es das quais sempre conhecemos o caminho final? Seriam nossas vidas
algo que direcionamos exatamente para onde queremos e que, desde o princípio,
a tudo entendemos, sabendo os porquês e para quês de tudo que nos acontece? O
que dizer, entã o, das tragédias?

Sã o as tragédias assim chamadas exatamente por serem algo que nã o prevemos.


Quando uma ou mais tragédias acontecem, inevitavelmente ficamos, no mínimo,
surpresos. E, mesmo que sejam tragédias sobre as quais nó s digamos que já eram
esperadas, a verdade é que, quando acontecem, elas sempre nos causam certo
choque por seu grande impacto.

Inevitavelmente, o ser humano sempre lida com tragédias. Todos nó s já


passamos, estamos passando ou ainda passaremos por momentos como estes ou
ao menos conhecemos alguém que passou, tem passado ou ainda passará por
elas. Mas, por que isto? Ou, como muitos preferem, para quê passamos por
momentos tã o tristes e difíceis? Bom, estas sã o perguntas que facilmente
lançamos diante dos homens e de Deus, mas que, em muitas ocasiõ es, nã o
encontramos suas respostas, ao menos nã o da maneira como esperá vamos que
fossem respondidas. Se você conhece a resposta total e final de cada uma delas,
parabéns, pois até mesmo Jó , que falava diretamente com Deus, morreu sem ter
as respostas que esperava, apenas entendendo aquilo que Deus lhe havia
permitido entender.

Estaremos estudando o Livro de Rute e, desde o princípio, é preciso dizer que


este é um Livro que apresenta uma tragédia e das grandes, logo em seu início. O
Livro de Rute nos oferece um quadro trá gico daqueles digno de grandes
produçõ es cinematográ ficas. Ele nos oferece, no início de sua narrativa (sim, este
é um livro narrativo) algo que nó s, geralmente, temos muita dificuldade de
acreditar ou de aceitar, quando vemos que acontece ou aconteceu conosco, com
alguém que amamos ou mesmo ao vermos relato semelhante nos noticiá rios.
Mas o Livro apenas se inicia assim, e nã o é assim que ele termina. Apesar de todo
esse quadro trá gico, ele nos mostra o controle do Deus Soberano sobre todas as
coisas e Sua graciosa e misericordiosa bondade atuando em provisã o e resgate. O
livro de Rute, portanto, nos ensina que...

Grande Ideia do Livro: O Deus Soberano e Bom transforma uma tragédia


individual em bênção nacional e mundial por meio da fé de uma mulher
gentia e um israelita compromissado.

Numa época de um povo sem rei e sem lei (Jz 21:25), na qual havia maldade,
surge uma histó ria, numa pequena vila, de fidelidade, amor e esperança, sob o
poder da Soberania de Deus.

Esta é uma histó ria que muito tem para nos ensinar e que, assim como toda a
Escritura tem um Personagem principal: o pró prio Deus Soberano. É importante
ressaltar, desde o princípio, que Rute nã o é sua personagem principal; Noemi
nã o é sua personagem principal e tampouco Boaz, que encontraremos no texto, é
seu personagem principal; o pró prio Senhor Soberano o é. É preciso também
entender que, assim como toda a Escritura, o Livro de Rute aponta para a
histó ria da redençã o e para Cristo, o nosso Resgatador. Toda a Escritura tem uma
ú nica histó ria. E cada um dos 66 Livros que a constituem fazem parte e contam
esta histó ria. E nã o seria diferente com Rute.

Ao longo de toda a Escritura, vemos Deus nos dando “sneak-peaks”, como


naqueles vídeos de “promo” dos episó dios seguintes de um seriado de TV (“cenas
dos pró ximos capítulos”). Ao longo de toda a Bíblia, em especial do Antigo
Testamento, chamado pelo autor de Hebreus como “a sombra das coisas que
estavam por vir”, vemos Deus nos dando pequenas prévias daquilo que Ele faria
no futuro e, em especial, por meio da obra redentora de Cristo Jesus. Nã o
simplesmente por meio de profecias diretas, como as de Isaías, Daniel e outros,
Deus estava sempre nos mostrando, por meio de símbolos e dos chamados tipos
na teologia, aquilo que Ele faria (e fez). Um bom exemplo disso é o momento em
que Abraã o vai ao monte Moriá para sacrificar Isaque, que é substituído por um
animal morto em seu lugar; outro exemplo é a instituiçã o da Pá scoa, em Ê xodo
12, na qual um cordeiro devia ser morto, para que seu sangue pudesse salvar os
israelitas da destruiçã o; os pró prios juízes, apontando para a necessidade de um
governante definitivo e de um reto juiz, que fosse um real e eterno Resgatador
nã o apenas de Israel, mas de todo o mundo; e tantos outros exemplos podem ser
visto na Palavra de Deus. O Senhor estava avisando ao Seu povo o que faria. E
isto também acontece no Livro de Rute, conforme veremos ao longo de seus
quatro capítulos.

Esta história foi escrita por alguém que não conhecemos ainda; não sabemos ao
certo quem foi o autor do Livro de Rute, mas sabemos que foi, obviamente,
inspirado pelo Espírito Santo e escreveu num período bem posterior ao de seus
acontecimentos, após a coroação de Davi como rei. Ele retrata o período dos juízes,
anterior à monarquia, mas foi escrito em algum momento depois de Davi ter se
tornado rei.

Esta história foi escrita por alguém, obviamente, inspirado pelo Espírito
Santo para escrever aquilo que lhe fora revelado, conforme aconteceu com
todos os livros da Escritura, mas não sabemos ao certo quem é este autor.
Uns até já supuseram ter sido Samuel, mas a menção a Davi, meio que o
indicando como rei estabelecido, ao fim do livro, evita tal posição. O fato é
que o livro foi escrito numa época bem posterior à de seus próprios
acontecimentos, conforme veremos. Ele foi escrito após a coroação de Davi
como rei, mas é referente ao período dos Juízes. E ele faz parte, na Bíblia
Hebraica, da seção chamada de “Os Escritos”. Vale lembrar que o Antigo
Testamento Hebraico, a TaNaKh, é dividido em Leis (Torah), Profetas
(Nevyim) e Escritos (Ketuvym). É nesta última seção que se encontram os
livros de Lamentações de Jeremias, os Salmos e Provérbios, Eclesiastes,
Cântico dos Cânticos e o Livro de Rute. (Não sei se permanece!)

Conforme já mencionado, o grande contraste presente no Livro de Rute é que,


numa época de extrema maldade e perversidade do povo de Israel, uma histó ria
maravilhosa acontece, fundamentada em fidelidade, justiça, pureza, devoçã o,
amor, paz, bondade e espiritualidade. E é nesta histó ria que iremos mergulhar e
aprender grandes liçõ es da parte do pró prio Deus que escreveu, produziu,
dirigiu, coordenou e comandou toda esta histó ria, de seu início ao fim. Vamos ao
texto!

Ler Rute 1.1-5

“Na época em que os juízes julgavam houve fome na terra”.

O livro é iniciado com uma contextualizaçã o que nos traz (implicitamente)


informaçõ es muito importantes, já que sabemos muitas coisas sobre o período
dos juízes através do livro que leva este nome. Sobre este período, por exemplo,
sabemos que o povo vivia num constante ciclo de desobediência, opressã o
(castigo), arrependimento (clamor) e libertaçã o (resgate, restauraçã o). E,
geralmente, uma das fortes maneiras com as quais o juízo de Deus vinha sobre o
povo era por meio da fome, algo muito comum durante o cerco dos inimigos (cf.
Jz 6.1-6). E, assim, por causa desta grande fome, Elimeleque decide levar sua
família para outra terra e uma grande tragédia acontece. Ele foge com sua família
por causa de uma tragédia, mas outra tragédia acontece em seguida.

Que grande tragédia! E, por que nã o dizer: tragédias? Quanta coisa aconteceu em
apenas cinco versículos! E, de forma tã o rá pida, tã o dura, repentina e
devastadora! O autor nos choca bastante e bem que poderia ter contado isso
tudo aos poucos, nã o é mesmo? Nã o. Por que era este mesmo o interesse dele,
direcionado pelo Espírito Santo de Deus.

Recebemos, entã o, além da contextualizaçã o no período dos juízes outras


informaçõ es no texto: este homem, Elimeleque, era casado com Noemi e tinha
dois filhos, Malom e Quiliom. Além disso, somos informados que eles eram de
Belém, da tribo de Judá . Eles pertenciam a uma cidade que seria, mais tarde,
bastante conhecida em Israel (e no mundo inteiro) e que os leitores originais, a
quem o livro de Rute foi escrito, já conheciam muito bem. E esta cidade se
chamava, literalmente, “casa do pã o”, na língua hebraica. É interessante ver que
aquela que seria uma terra de fartura (a terra prometida era descrita como
manando leite e mel e tudo mais!) e, em especial, esta cidade, que até no nome
demonstrava a bênçã o de fartura do Senhor, por causa do juízo de Deus, havia se
tornado uma terra de fome e de sofrimento. E, por isso, eles se mudam para a
terra de Moabe. Mas, que terra era esta?

Moabe era um dos filhos-netos de Ló !! Como assim? Basta olharmos para Gênesis
19.30-38 que vamos nos lembrar da terrível histó ria de Ló e suas filhas. Ao
fugirem da destruiçã o em Sodoma e Gomorra, Ló e sua família vã o se refugiar nas
montanhas, mas sua esposa, ao desobedecer ao Senhor e olhar para trá s, vira
uma está tua de sal, deixando Ló e suas filhas sozinhos. Acostumada aos terríveis
costumes depravados de onde vivia, a filha mais velha de Ló tem a horrenda e
repugnante ideia de embriagar seu pai, para que ela e sua irmã mais nova
tenham relaçõ es sexuais com ele, engravidem e nã o fiquem sem descendência,
morrendo sem filhos. Pois bem, os nomes de seus filhos sã o Ben-Ami, que deu
origem ao povo amonita (os filhos de Amon) e Moabe, que deu origem aos
moabitas (filhos de Moabe). E foi para este povo que Elimeleque levou sua
família. Um povo cuja moral estava manchada desde os primó rdios de sua
histó ria. E mais: um povo sobre o qual Deus dissera, em Deuteronômio 23.3:

Nenhum amonita ou moabita ou qualquer dos seus descendentes, até a décima


geração, poderá entrar na assembléia do Senhor.

Ou seja, o povo de Israel jamais deveria se misturar a eles. Mas, neste tempo dos
juízes, tempo de profunda desobediência por parte do povo, tempo no qual “cada
um fazia o que aos seus olhos parecia correto” (cf. Juízes 21.25), Elimeleque e
família se mudam exatamente para longe da terra da promessa, para longe do
local chamado de “habitaçã o do Senhor” (cf. Salmo 132.13-14) e vã o para Moabe!
E, chegando lá , tragédia apó s tragédia acontece.

Nã o podemos, contudo, afirmar com toda a certeza que houve uma puniçã o
direta do Senhor a eles quanto à s mortes que vemos no texto, pois o texto nã o
afirma (necessariamente) isto. É bem verdade que morte prematura e
esterilidade eram comumente vistos como claros sinais de puniçã o do Senhor na
sociedade da época (e muitas vezes o eram, de fato), mas a fome na terra possui
muito mais evidência, já que era assim que tudo acontecia no período dos juízes
e o versículo seis nos dará uma informaçã o preciosa disto. Mas, quando se trata
das mortes que acabamos de ler, o texto nã o fecha completamente a questã o
para nó s. O fato de que dispomos é que Elimeleque havia errado e, depois, morre.
E, além disso, para piorar a situaçã o, seus filhos se casam com moabitas!! Deus já
havia proibido qualquer mistura e/ou miscigenaçã o com outros povos, que nã o
serviam ao Senhor e que bem poderiam desviá -los dos caminhos de Deus, mas,
além de serem estrangeiras, eram também do pior tipo: Orfa e Rute eram
moabitas. Até que, entã o, depois de dez anos vivendo por lá , Malom e Quiliom,
filhos de Noemi, também morrem, deixando em nossa histó ria apenas três viú vas
pobres e solitá rias.

Além de nã o termos mesmo uma evidência direta de que as mortes destes


homens foram fruto do juízo de Deus (sabemos de muitos outros casos de
rebeldia cujo castigo nã o foi a morte, nã o é mesmo?), nã o é nosso objetivo
apontar-lhes o dedo por isto. O fato principal que o texto nos mostra é que há um
grande e terrível cená rio de tragédia e principalmente para as mulheres, que
ficaram vivas! Imagine o que deve ter passado pela cabeça daquelas três
mulheres, desamparadas e vivendo num contexto em que as esposas eram
totalmente dependentes de seus maridos para conseguirem viver. O quadro
terrível, entã o, está posto. E, alguém bem que poderia dizer, com a linguagem de
sabedoria do mundo: “A sorte está lançada. Boa sorte!”. Ou pior: “Que azar!”. O
que o texto nos diz, porém, é que tudo isto aconteceu debaixo da soberana
vontade do Senhor e que Ele conduziu todo o curso da histó ria. Afinal de contas,
Ele é o personagem principal desta histó ria. Vemos este controle e vontade de
Deus, entã o, já no versículo seis, que continua nossa narrativa.
O que aprendemos aqui é que as tragédias acontecem, as coisas dã o errado, mas,
mesmo assim, Deus está sempre no controle de tudo, como o Soberano que
conduz a histó ria. As tragédias acontecem e, muitas vezes, nã o esperamos por
elas. Ou vocês acreditam que Elimeleque e seus filhos imaginavam que tudo isto
pudesse acontecer? Se imaginassem, jamais teriam saído de Israel. Ficariam por
lá para se proteger ou para evitar seja lá o que aconteceu para que morressem na
terra de Moabe. E assim é a nossa vida, queridos. Nó s nã o prevemos coisa
alguma. E, muitas vezes, dentro dos acontecimentos que nã o esperamos,
tragédias acontecerã o. Mas há um Deus, o Deus Soberano por trá s e à frente
disso tudo. Vejamos a continuaçã o, no versículo 6.

(Ler v. 6-7)

Percebem a evidência de que a fome era, sim, açã o direta de Deus? Sim, porque
tudo está debaixo de Seu controle. Ele havia deixado que tudo aquilo
acontecesse, mas, ao vir Ele em auxílio dos israelitas (linguagem bastante comum
no Livro de Juízes), o alimento é novamente dado ao povo e Noemi, a mais velha
das três viú vas decide voltar para a “casa do Pã o”. Foi Deus quem trouxe a
comida de volta a Belém e foi sua açã o que motivou Noemi a voltar para a terra
de Israel. Como já dissemos, é Ele o personagem principal desta histó ria.

Todavia, Noemi nã o volta para Israel como havia saído de lá . E o texto nos
demonstra o que estava habitando em seu coraçã o e que é claramente
evidenciado em suas palavras.

(ler até o v. 13)

Algumas explicaçõ es sã o necessá rias aqui. Primeiro, vemos que Noemi deseja o
melhor para suas noras, mas que este melhor, segundo ela, seria longe da sogra e
de volta à sua terra natal, como ela mesmo estava fazendo ao voltar para Belém.
Isso porque, para encontrar o desejado e necessá rio “descanso” ou “refú gio” ou
“segurança”, elas precisavam de novos maridos. Elas, porém, a princípio, nã o
quiseram ouvi-la. Aqui, entã o, é manifesto o coraçã o de Noemi.

A partir do versículo 11, ela deixa bastante claro a todos a profunda tristeza e
falta de esperança que havia em seu coraçã o. E, em especial, do versículo 11 ao
13 (parte a), Noemi retoma um costume bastante comum naquela época, dentro
e fora da naçã o de Israel, tendo sido prescrito por Lei no Pentateuco: o levirato.

De acordo com esta lei do levirato, caso algum homem morresse deixando sua
esposa sem filhos, seu irmã o ou o parente mais pró ximo disponível deveria
tomá -la como esposa, a fim de preservar a descendência de seu irmã o ou parente
mais pró ximo. Este que assim poderia (e deveria) fazê-lo era chamado de
“resgatador” ou, num sinô nimo, “redentor”; as mulheres viú vas e sem filhos
buscavam nele a redençã o, ou seja, a salvaçã o e libertaçã o através deste resgate
prescrito por lei (cf. Deuteronô mio 25.5-10). Mas nem mesmo nisso Noemi via
esperança, pois ela mesma estava muito velha para se casar novamente e ter
filhos e, mesmo que, por milagre, fosse possível que ela tivesse filhos, Orfa e Rute
nã o poderiam esperar uma vida inteira para se casar com estes novos maridos.
Nã o, nã o havia esperança para elas com Noemi, segundo ela mesma pensava. E,
para ela, era ainda pior, pois dizia: “a mã o do Senhor voltou-se contra mim!”.

Irmã os, é muito importante que nó s nã o nos distanciemos tanto assim de Noemi,
por julgamento ou recriminaçã o. Afinal de contas, quantos de nó s nã o já
experimentamos a falta de esperança? E, novamente aqui, o objetivo nã o é
afirmar se ela estava em pecado ao dizer isto ou se disse apenas de modo realista
e sem fé, mas o que o texto nos mostra em alto e bom som é que ela estava
completamente arrasada, destruída emocionalmente, quebrada, desventurada e
com um terrível sentimento de impotência e desistência. Ela chegou mesmo ao
ponto de dizer que Deus estava contra ela! Se por juízo ou nã o também nã o o
sabemos, até porque o texto nunca nos falou que Noemi havia pecado na saída
para Moabe. Talvez, ela tenha ido apenas por submissã o ao seu marido. Nã o
sabemos mesmo! Mas ela entende, de todo modo, que Deus estava contra ela.
Para quê suas noras a acompanhariam, entã o? Nã o havia mais esperança.
Acabou! Tudo acabou!

Quantas vezes nó s também nã o pensamos assim, nã o é mesmo? Das menores à s


maiores circunstâ ncias aparentemente “sem esperança” para nó s, achamos
mesmo que tudo acabou. “Nada será como antes e muito menos melhor do que
aquilo que eu tinha ou tinha vivido”, pensamos. E, quando somos “espirituais” o
suficiente para nã o murmurar e/ou reclamar, atribuímos a Deus e, de fato, tudo
vem d’Ele, pois Ele é Soberano, mas atribuímos a Ele todo o nosso sofrimento
como num gesto de dedo apontado para cima, ao dizer que Ele é o culpado e
pronto. E isto como se Ele tivesse alguma obrigaçã o de fazer tudo diferente do
que já havia realizado; como se Ele tivesse alguma obrigaçã o de seguir nossas
recomendaçõ es ou de fazer algo à nossa maneira. “Eu nã o queria que as coisas
fossem assim, mas Deus quis. Ele quis assim.”, dizemos nó s numa suposta
submissã o à vontade de Deus, que, na verdade, apenas reflete a desesperança
desesperada de nossos coraçõ es, diante daquilo que enxergamos como
impossível de se consertar. Assim (ou mais ou menos assim) estava Noemi!

É neste momento, entã o, que uma grande oportunidade surge para Rute.

(Ler v. 14-15)

As mulheres choram novamente e Orfa, apó s se despedir de sua sogra, resolve


voltar à terra de Moabe. Mas Rute fica com Noemi. E esta lhe oferece mais uma
vez a oportunidade de seguir o caminho de volta ao seu povo e ao seu... ao seu
deus ou aos seus deuses (v. 15). É importante também ressaltar que, naquela
época, o deus (ou deuses) de uma naçã o estava sempre associado à terra em que
viviam (cf. Jeremias 48.7). E, assim como a terra de Israel era tida como a morada
de Deus, para muitos povos, suas respectivas terras eram o local onde habitavam
os seus deuses (que nó s sabemos que nã o eram deuses, já que há um só Deus e
Senhor, nã o é verdade?). Entã o, retornar à Moabe significava retornar ao
domínio dos deuses daquela naçã o e aos seus costumes e há bitos. Neste caso, o
deus Camos e/ou também o deus Moloque, deus de Amon, naçã o irmã e vizinha
(cf. 1 Reis 11.7). “Volte com ela”, diz Noemi a Rute. Como já disse, é neste
momento que surge uma grande oportunidade para Rute. E é aqui que, ao
agarrar tal oportunidade, Rute faz surgir um dos textos mais lindos da Escritura
e um dos mais lidos e citados (infelizmente, de maneira errada e fora de
contexto).

Ler v. 16-18

Que lindas palavras! E mais lindo ainda o que significavam. Nã o sabemos


exatamente quanto isto aconteceu (se bem antes deste momento ou
imediatamente antes a tais palavras ou mesmo no momento exato destas
palavras), mas este texto nos mostra aquilo que meio que podemos chamar de a
conversã o de Rute! É claro que nã o estamos no contexto da igreja ainda e tudo
funcionava um tanto diferente durante o Antigo Testamento, mas a fé era já
necessá ria, como sempre foi, já que “o justo viverá pela fé” e que, “sem fé, é
impossível agradar a Deus”. E Rute demonstra esta fé de modo claro e explícito
através de seu voto a Noemi, em nome do SENHOR. A Rute foi dada a
oportunidade da fé e ela a agarrou, contrariando toda a desesperança de Noemi.
Rute decidiu crer e tanto creu que agiu, que pô s sua fé em prá tica, sendo fiel e
leal à sua sogra e fazendo seu voto no nome Precioso de Yahweh. Percebam as
letras maiú sculas no texto. Isto significa que, no original em hebraico, Rute faz
uso do Nome da Aliança, o Nome de Deus, o nome pelo Qual Ele pró prio Se
apresentara a Moisés, dizendo: “Eu Sou”. Neste momento, Rute crê e age como
nem mesmo uma israelita estava agindo e crendo. E a partir daí, ela busca refú gio
no Senhor Soberano (cf. Rute 2.12). Ao decidir ir à terra do Senhor, fazendo
promessas no Nome d’Ele, Rute age como uma verdadeira israelita. Tanto é que,
quando Noemi viu o quã o resoluta Rute estava, nã o insistiu mais e deixou que
sua nora a acompanhasse. Vale também lembrar que Deus havia ordenado que os
estrangeiros que desejassem viver entre o povo de Israel fossem bem tratados
pelo povo:

Não oprima o estrangeiro. Vocês sabem o que é ser estrangeiro, pois foram
estrangeiros no Egito. (Êxodo 23.9)

O estrangeiro residente que viver com vocês deverá ser tratado como o natural da
terra. Amem-no como a si mesmos, pois vocês foram estrangeiros no Egito. Eu sou o
Senhor, o Deus de vocês. (Levítico 19.34)

Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.


(Deuteronômio 10.19)

E, ao morar com os israelitas, dispondo-se a viver também sob a Lei de Moisés,


eles passariam a fazer parte da naçã o de Israel, conforme vemos em muitos
textos nos quais os estrangeiros também deviam estar submissos aos
mandamentos:

Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus
servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas
cidades. (Êxodo 20.10)
Reúnam o povo, homens, mulheres e crianças, e os estrangeiros que morarem nas
suas cidades, para que ouçam e aprendam a temer o Senhor, o seu Deus, e sigam
fielmente todas as palavras desta lei. (Deuteronômio 31.12)

O fato é que Rute agiu de modo como deveria agir uma verdadeira israelita e,
vendo o quã o decidida e determinada ela estava, Noemi nã o mais insistiu e a
deixou acompanhá -la.

Aplicação:

Em tempos de crise, de desesperança e de profunda tristeza, o Senhor nos dá a


oportunidade de exercitar nossa fé. Ele nos dá a oportunidade de pensar, de crer
e de agir diferente do que todos ao nosso redor estã o fazendo. Eles nos dá a
oportunidade de agir de acordo com quem se compromete com o Nome do
Senhor. A grande pergunta que devemos fazer é: “Temos agarrado a
oportunidade da fé?”. Temos estado dispostos a nos lançar nos exercícios de fé
que o Senhor coloca diante de nó s? Ou temos escolhido o caminho mais fá cil,
como fez Orfa? O Senhor Jesus nos disse que o caminho do Reino é o caminho
mais difícil (ao falar do caminho estreito) nã o é mesmo? O Senhor nos concede a
oportunidade de exercitar nossa fé em Cristo e em Sua provisã o, exercitando tal
fé em açõ es prá ticas de fidelidade e lealdade. Rute assim o fez. E nã o é à toa que
seu nome significa, provavelmente, “a fiel”.

Nossa histó ria continua, entã o, rumando para o fim deste primeiro episó dio,
registrado no capítulo 1. E ela continua com um assombroso contraste entre Rute
e Noemi. Vejamos o texto.

Ler v. 19-21

As duas viú vas chegam a Belém e sã o logo percebidas. Imaginem o alvoroço


causado. Alguém conhecida no meio da pequena cidade de Belém, uma pequena
vila na época, uma mulher que havia saído com toda a sua família e muito melhor
estruturada, apó s mais de dez anos, simplesmente retorna. Se isto fosse hoje, já
daria o que falar, nã o é? Imaginem só as fofoqueiras: “Ih. Nã o deu certo lá , foi?
Nã o tinha ido pra uma vida melhor? Por que voltou?”. Imaginemos as críticas
que, talvez, Noemi tenha ouvido ou mesmo as que ela tenha apenas suposto que
poderiam acontecer. Imaginemos a “cara no chã o” com que Noemi deve ter
voltado para sua cidade de origem. E, conforme vemos no texto, ela permitiu que
tudo isto tanto a afligisse que a fizesse dizer as fortes palavras que disse.

É preciso novamente nos voltarmos um pouco para a língua hebraica e entender


que o nome “Noemi”, no hebraico “Naomi” ( ‫)נָעֳמִי‬, significa “agradá vel”. E é por
isso que, ao fazer alusã o ao significado de seu nome ela se queixa de ser assim
chamada, já que sua vida havia se tornado algo nada agradá vel, e sim “amargo”,
significado do termo “Mara” ( ‫מָרא‬ָ ). Ela se queixa diante do povo de sua cidade,
afirmando que o pró prio Deus havia tornado sua vida amarga. E, no versículo 21,
ela fornece ainda mais detalhes de como via toda a situaçã o: ela saíra na fartura,
mas Deus a trouxera de volta com as mã os vazias. Mas, qual foi mesmo a razã o de
ela ter saído de Belém? Fome. Como assim, entã o, “na fartura”? Parece que aqui
Noemi meio que nos mostra reconhecer que nã o foi uma escolha acertada sair de
Belém. Parece (e nã o podemos dizer mais do que “parece”) que ela está dizendo
que, na verdade, tinha tudo o que precisava, tinha fartura, mas que, por
precipitaçã o e para buscar algo de que nã o precisava, talvez, saiu para Moabe.

Contudo, vale também lembrar o que já foi dito: nã o sabemos também se foi uma
escolha da qual ela partilhou ou mesmo se concordou com a decisã o que bem
pode ter sido tomada por seu marido apenas. O foco aqui é que ela lança tal
situaçã o diante de Deus, como estando debaixo de Sua vontade Soberana. E ela
ainda afirma que Ele mesmo foi Quem a trouxe de volta, mas, agora, de mã os
vazias. Uau! Que reconhecimento da soberania e do poder de Deus, nã o? Mas,
talvez, nã o da melhor forma. E nã o devemos dizer isto para recriminá -la, preciso
reiterar isto, e sim para ver o seu desespero, ao dizer, no versículo 21: “Por que
me chamam Noemi, visto que o Senhor se colocou contra mim e o Todo-Poderoso
me trouxe desgraça?”.

Aplicação:

Quantas vezes supostamente vemos a soberania e o poder de Deus em tudo, nã o


é? Mas o vemos de forma amarga, triste e pesada. Afinal de contas, somos seres
humanos, limitados, fracos, necessitados de descanso para nossas almas. E, por
mais que intelectualmente entendamos tudo (ou quase tudo ou bem menos, nã o
é mesmo?), na verdade, nossos coraçõ es nã o entendem, de fato, o porquê de tudo
o que nos acontece. E entendemos menos ainda quando se trata de uma tragédia
e imaginem uma tragédia desse nível. Quem já enfrentou situaçõ es assim sabe
muito bem do que falo agora.

É interessante, porém, ver como o autor do livro encerra este primeiro episó dio
de nossa histó ria. Vejamos o versículo 22.

Ler v. 22

Qual era mesmo a razã o pela qual Noemi havia saído da “Casa do Pã o”, de Belém?
Fome. Fome e fome. Escassez. E qual a razã o de ela retornar? Solidã o, desamparo
e, de certa forma (como veremos na continuaçã o do livro), fome novamente, pois,
como duas mulheres viú vas e, em especial Noemi, bem mais velha, iriam se
sustentar num contexto como aquele? Elas retornam também por causa da fome
e, segundo a pró pria Noemi, porque Deus a trouxe de volta. Observemos, entã o, o
momento em que voltaram: no início da colheita da cevada! Elas chegaram à
“Casa do Pã o” no exato momento do início da colheita de alimentos! Elas
chegaram a Belém, antes rejeitada por sua escassez e falta de provisã o, num
momento, agora, de renovo, de expectativa real de provisã o da parte de Deus.
Noemi estava muito triste e aflita, quebrada, destruída, amarga, mas elas
chegaram a Belém num momento em que a esperança estava se renovando ali
para o povo do Senhor.

Pois bem, neste momento, mesmo que ainda de forma muito inicial e ainda vista
ao longe, quase que como uma mui pequena luz no fim do tú nel, podia ser vista a
esperança renascendo para Noemi e Rute. E aí se encerra o primeiro episó dio
desta histó ria.

Conclusão:

Que histó ria, hein? E olha que este é apenas o início de tanta coisa que Deus
ainda fará acontecer nas vidas de Noemi e de Rute. E tantas liçõ es mais ainda
aprenderemos. Mas, em especial, neste primeiro capítulo do Livro de Rute,
podemos ver que...

Grande Ideia: Mesmo em situações sem esperança aos nossos olhos, em Sua
soberania, Deus nos dá a oportunidade de exercitar nossa fé, demonstrando
Seu auxílio.

Sim. Basta olhar para como esta histó ria começou e como ela terminou. Aliá s,
como seu primeiro episó dio terminou, porque ainda tem muito mais. Vejamos
como tudo se iniciou e a que ponto chegou Noemi e Rute com ela. Tudo parecia
muito perdido aos olhos de Noemi e, muito provavelmente, pareceria também
aos olhos de qualquer um de nó s, mas o Deus Soberano, em Sua soberania, Deus
a Rute e, de certa forma também a Noemi, a oportunidade do exercício da fé e
ainda demonstrou a chegada de Seu auxílio, por mais ainda iniciante que
parecesse. A esperança de Noemi ainda nã o havia sido totalmente reacendida;
nã o é esta a força deste texto neste momento. Ela ainda estava muito triste. Mas
Deus já estava atuando, mesmo que Noemi nã o enxergasse.

Queridos, quando as tragédias vêm, ficamos sem esperança, tomando decisõ es e


até mesmo agindo de modo que o Senhor nã o aprova e permitindo que a
amargura tome conta de nó s. Mas Ele nos envia incondicionalmente Seu auxílio,
mesmo quando enxergamos apenas o seu início e nã o contemplamos o quadro
completo.

Nestas horas, o Senhor nos dá a oportunidade de exercitar nossa fidelidade em


fé! Nã o conhecemos o fim da histó ria e, por isso, nossa tendência é esmorecer,
mas o Senhor Soberano está a todo instante nos dando Seu auxílio e guiando
nossos passos.

Talvez, vocês estejam vivendo no ponto exato em que Noemi se encontrava;


talvez, já passaram deste ponto e, hoje, olhando para trá s, conseguem reconhecer
um pouco isto; ou pode até ser que ainda virã o a experimentar algo deste tipo (e
o alerta prévio já vale); de todo modo, precisamos entender que, na verdade, nã o
entendemos e que nã o vemos o quadro completo da histó ria. Mas há um Deus, o
Senhor Soberano que nã o apenas conhece o fim da histó ria, que nã o apenas
conhece este quadro completo, como o projetou, arquitetou, pintou e traçou cada
linha, desde seu início até o seu fim. E é este Deus que nos dá , agora, a
oportunidade de exercitar nossa fé.

Agarraremos esta oportunidade, mesmo sem vê o que está diante de nó s, o que o


futuro estabelecido por Deus já possui? Pode até parecer que nã o há mais
esperança, mas o Deus Soberano está no controle de tudo e já está nos enviando
Seu auxílio, mesmo que em coisas “pequenas”, ao menos aos nossos olhos.

Através desta tragédia acontecida a Noemi e Rute, Deus iria fazer grandes coisas
nã o apenas a elas, mas a toda a naçã o de Israel e a todas as naçõ es da terra. Mas,
de fato, Noemi e Rute nã o sabiam disso. Pois bem, é quando nada sabemos que a
oportunidade da fé se coloca diante de nó s. Mas só consegue experimentar esta
fé aqueles que tiveram um encontro pessoal com Jesus Cristo, o nosso Grande e
Perfeito Resgatador, Aquele em quem encontramos descanso para nossas almas
(cf. Jo 16.33). É apenas pela fé em Jesus que podemos entender isto e viver, como
diz o apó stolo Paulo, nã o por aquilo que vemos, e sim pela fé!!! “O justo viverá
pela fé”. Vamos exercitá -la, entã o. Entendendo que...

Grande Ideia: Mesmo em situações sem esperança aos nossos olhos, em Sua
soberania, Deus nos dá a oportunidade de exercitar nossa fé, demonstrando
Seu auxílio.

Que Ele nos ajude nesta dura e difícil caminhada.

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