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Trabalho de Sociologia

TEORIAS RACIAIS
E A FORMAÇÃO
DO PENSAMENTO
SOCIOLÓGICO
NO BRASIL

Escola: Colégio Santo Inácio

Professor: Pablo Tahim

Aluna: Mariah Malveira Carvalho

Ano: 1º ano do ensino médio

Turma: A

Turno: Manhã

Data: 03/11/2022
Sociologia é o estudo do que se refere aos comportamentos e relações humanas que constroem e regem a vida em
sociedade. É uma ciência que exige que o sociólogo afaste-se do plano em que se encontra e esqueça o senso
comum, para poder analisar objetivamente os mecanismos, motivações e os ciclos de interdependência e
influência entre indivíduo e meio. O surgimento do pensamento sociológico e sua popularização foram
impulsionados e influenciados por grandes acontecimentos, em que se destacam as revoluções francesa e
industrial, e contou com importantes representantes, como Auguste Comte e diversos outros. Essa ciência foi
propagada pelo mundo todo, alcançando inclusive, o Brasil.

Brasil no início do século XX. Uma república recém-nascida, um país ex-escravocrata, mas que cultivava
pensamentos remanescentes. Uma realidade em que o negro, apesar de livre, era negligenciado e excluido, e sua
inserção na sociedade simplesmente não ocorreu, pois o racismo estruturado no Brasil perpetuou abusos e
pensamentos preconceituosos. Consequentemente, apesar da suposta grande mudança, muitas coisas eram as
mesmas. A nova república apresentava diversas similaridades com o antigo regime, as oligarquias permaneciam
no poder, o que gerou o quadro de um país repleto de revoltas e conjuntos internos.

Em seu entorno, a consolidação do sistema capitalista e os avanços nos campos da ciência e da tecnologia
transformaram efetivamente as relações de produção. A questão principal do Brasil no ponto de vista sociológico
era, como um país “renascido”, entender o contexto e o panorama sob o qual se desenrolou sua história e, ao
mesmo tempo, criar uma identidade própria, independente de Portugal, sendo um verdadeiro país do mundo. Nesse
contexto, influenciados pela cultura brasileira e por diversas vertentes científicas, principalmente o iluminismo, a
teoria evolucionista de Charles Darwin, o positivismo e o determinismo biológico, surgiram os primeiros
pensadores sociais brasileiros, cuja nomenclatura se deve ao fato de que tais sujeitos não tiveram graduação em
sociologia.

O pontapé inicial da história da sociologia no Brasil, também conhecido como sociologia pré-científica, foi o
período que introduziu o conceito no país e antecedeu sua consolidação. Os representantes desse período foram
responsáveis pelas chamadas teorias raciais brasileiras, cujo pensamento racial na época tinha duas vertentes:
uma pessimista que via a mestiçagem como um crime retrocesso, e outra otimista que a via como alternativa
para promover a identidade de formação do povo do Estado brasileiro, desde que resultasse no branqueamento
da população. Alguns desses pensadores serão citados a seguir com seus respectivos pensamentos:

- Euclides da Cunha: Em sua obra " Os Sertões", o autor retrata um quadro realista do país, que
contrasta o novo (república) e o velho (monarquia) e revela as inconsistências de um Brasil que está
supostamente progredindo mas que, interiormente, está repleto de desigualdades. Euclides também se
posiciona acerca da miscigenação, cuja opinião foi transformada após conhecer a realidade dos
nordestinos, ressaltando que é um fator que deve ser reconhecido, pois traz ao país uma identidade
própria, libertação dos vínculos europeus. Ele também acreditava, influenciado pelas teorias
evolucionistas e pensamentos racistas da época, que haviam sociedades mais e menos desenvolvidas, e
por conseguinte haveria raças mais e menos desenvolvidas também.
- Sílvio Romero: Um historiador, político, literário e jornalista, que compartilhava a mesma visão que
Euclides da Cunha acerca da mestiçagem, afirmando que os mestiços eram a encarnação do Brasil, sua
verdadeira identidade. Acreditava na superioridade dos genes brancos em detrimento dos outros,
influenciado pelo darwinismo social e o determinismo biológico, em que teoricamente o branco "mais
forte" tem seu gene perpetuado ao invés do preto e do índio. Consequentemente, houve a propagação da
cultura do branqueamento no Brasil, uma espécie de "cura" da negritude, movimento sem embasamento
científico fiel, sem comprovação alguma, fundamentado apenas nos preconceitos e no pensamento
escravocrata enraizado no povo, que funcionam como mecanismos segregadores que excluem ainda mais
pessoas da sociedade, a exemplo do famoso quadro do pintor espanhol Modesto Brocos "A Redenção de
Cam'’, que retrata perfeitamente essa triste realidade.

- Alberto Torres: Influenciado principalmente pelo positivismo, o jornalista e político Alberto Torres visou
a criação de um estado que pudesse promover mudanças e corrigir as desordens e problemas do país
desde sua época escravista. Defendeu suas ideias nos livros "O problema nacional brasileiro" e "A
organização nacional".

- Raimundo Nina Rodrigues: Utilizando-se de uma linha de pensamento evolucionista e adotando uma
postura radical, o médico Nina Rodrigues defendia a ideia de grupo racial sobre valor individual,
generalizando e condenando pessoas de determinados grupos e assassinando as vontades e os valores
individuais. Para ele, a miscigenação era inaceitável, um ultraje e um retrocesso. Outra fala sua era que
os mesmos crimes, se cometidos por "raças" diferentes, deveriam ter penalidades diferentes que fossem
compatíveis com a posição específica, uma vez que, de acordo com Raimundo, as "raças inferiores" têm
maior tendência a cometer crimes. Além disso, também afirmou que esses últimos são mais propensos a
pegar e transmitir infecções, sendo responsáveis pela perpetuação de doenças e pela geração de
epidemias. Em suma, em sua filosofia a possibilidade de igualdade era inexistente. Para ele, a sociedade
funcionava em uma hierarquia, que era determinada pela cor da pele. Tal pensador criou inclusive um
"perfil criminoso”, proporcionando ainda mais a prisão e incriminação de diversos inocentes, fornecendo
justificativas e incitando a violência, segregação e exclusão dos indígenas e negros.

- Francisco José de Oliveira Viana: Compartilhando os ideais de Nina Rodrigues, Oliveira Viana também
defendia a superioridade branca e diferença das raças, estimulando a imigração europeia a fim de que
houvesse o embranquecimento da população.

Os pensadores dessa época embasaram em grande parte suas noções absurdas e visões acerca da sociedade
brasileira nos vestígios do preconceituoso e antiquado pensamento escravista, manipulando teorias científicas e
as utilizando fora de contexto, na tentativa de encaixar seus ideais deturpados na população. A exemplo de
alguns previamente citados que desejavam "limpar" os traços das demais "raças", os pensadores sociais eram
extremamente racistas.
Algum tempo depois, na década de 1930, ocorreu a consolidação e oficialização da sociologia como ciência no
Brasil. A partir daí, a sociologia brasileira deixa de ser praticada por pessoas não especializadas que visam seus
próprios princípios e passa a ser utilizada como um instrumento de análise social, fiel a seu propósito original.
Tal movimento contou com intelectuais fundamentais, entre os principais deles:

- Gilberto Freyre, que substituiu o centro do pensamento social antigo (raça) e o transformou em
cultura, influenciado pelo culturalismo norte-americano. Para ele, não existiam lugares mais e menos
evoluídos, na verdade, respeitando a cultura, identidade e individualidade de cada país, ele acreditava
que cada lugar tem sua própria trajetória, não podendo ser comparado tão levianamente. Nessa
perspectiva, o sociólogo tentou entender o Brasil com base na cultura e na história. Porém, este
apresentou um comportamento controverso em suas teorias, pois ao passo que rompia com as teorias
raciais do passado, endeusava o período colonial, que era um período extremamente tradicionalista e
segregacionista. Foi duramente criticado por alguns de seus conterrâneos, mas, apesar disso, sua obra
foi de alta relevância, pois marcou um importante ponto de superação para o rompimento com as
teorias racialistas do século XX.

- Sérgio Buarque de Holanda: Seu livro "Raízes do Brasil" analisou o histórico sociocultural como fator
para a formação da sociedade contemporânea. A diferença entre ele e Gilberto Freyre é que em sua
análise os colonizadores e os pensamentos advindos dessa colonização não eram admirados, muito
menos aspectos positivos. O sociólogo criou um novo conceito a respeito da ideia de "homem cordial", em
que contesta que a valorização do "ser cordial", característica do brasileiro, não é ser educado e gentil,
mas sim o significado etimológico da palavra "que diz respeito ao coração". Assim, critica a falta de
racionalidade brasileira, que por vezes, segue os impulsos e o coração em detrimento da lógica. Ele
afirma que a sociedade brasileira é uma sociedade patrimonialista.

- Florestan Fernandes: Crítico das ideias de gilberto Freyre, Florestan Fernandes trouxe a questão do
negro na sociedade. Além de ser bem ativo na política, e ser considerado um pensador marxista, o
sociólogo também decidiu estudar as relações econômicas de poder para tentar entender a sociedade.
Ele questiona o mito da democracia racial, teoria desenvolvida a partir dos pensamentos de Gilberto,
pois afirma que é um mito e não reflete a realidade do negro no Brasil.

Resumidamente, esses homens estiveram entre os primeiros sociólogos do Brasil e foram fundamentais para a
superação das teorias raciais e consolidação da ciência sociológica no país. Vale ressaltar que, apesar da
sociologia passar a ser consideravelmente objetiva, o racismo estrutural foi um fator presente em toda a
construção do Estado, e ainda é uma realidade no Brasil do século XXI, configurando um retrocesso, promovendo
a desigualdade, o racismo e o preconceito e prejudicando a população como um todo em diversas áreas, uma vez
que impede a evolução. O conceito de "diferentes raças" está completamente errado. Só existe uma única raça, a
raça humana.

FIM
OBS: No que diz respeito às referências, me inspirei majoritariamente no livro, busquei alguns termos na
internet e o quadro "A Redenção de Cam" já era conhecido, pois o vi enquanto estudava para a ONHB.

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