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Rui Costa

Governador

José Geraldo dos Reis Santos


Secretário do Meio Ambiente

Iara Martins Icó Sousa


Chefe de Gabinete

Márcia Cristina Telles de Araújo Guedes


Diretora Geral do Inema

Eva Cristina de Castro Borges


Assessoria de Planejamento e Gestão

Aderbal de Castro Meira Filho


Superintendência de Política e Planejamento Ambientais

Kitty de Queiroz Tavares


Diretoria de Estudos Avançados em Meio Ambiente

Mariana Stefanelli Mascarenhas


Coordenadora da Secretaria Executiva dos Colegiados Ambientais

Ana Paula Porto Santos


Assessoria de Comunicação

Autor
Mauricio Pain

Equipe Diretoria de Estudos Avançados em Meio Ambiente - Deama:


Alexsandro Santos Silva; Cassiana Marchesan; Elaine Pereira Amaro; Felipe Bastos Lobo Silva;
Ilyuska Makarya Rodrigues Barbosa; Isabela Souza Santana; Luis Fabrício Moura Viana Santos;
Maira Alves dos Santos; Mateus Gonçalves Conceição da Paixão; Nadia Cristina Xavier Santos;
Patrícia Rabelo Nunes da Silva; Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues. Estagiárias: Elisângela da
Conceição Alves; Juliana Santos Conceição; Raquel Pereira Moser; Yanka Schramm Oliveira.
Glossário

Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia,


Amapá e Mata Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos
Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado
do Maranhão;

Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por


vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico
de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas;

Área de Proteção Ambiental – APA: é uma área em geral extensa, com certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou
culturais, especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar
das populações humanas, e tem com objetivos básicos proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do
uso dos recursos naturais (Lei nº 9.985/2000);

Área degradada: área que se encontra alterada, em função de impacto


antrópico, sem capacidade de regeneração natural;

Área desertificada: área que passou pelo processo de desertificação. A


desertificação é definida como processo de destruição do potencial produtivo
da terra nas regiões de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco;

Consciência Ecológica: mudança de comportamento, tanto de atividades


quanto em aspectos da vida, dos indivíduos e da sociedade em relação ao
meio ambiente. Possuir consciência ecológica é utilizar os recursos ambientais
de forma sustentada, ou seja, consumir o que se pode produzir, sem prejudicar
o ambiente para as gerações futuras;
Degradação Ambiental: alteração imprópria às características do meio
ambiente;

Estudo de impacto ambiental: instituído pela Resolução do CONAMA nº


001/86, constitui a avaliação de impacto ambiental utilizada nos procedimentos
de licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades consideradas
causadoras de significativa degradação ambiental;

Fiscalização: procedimentos utilizados por órgão competente para verificar se


as normas e leis estão sendo cumpridas;

Legislação ordinária: São as leis típicas, ou as mais comuns, aprovadas pela


maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
presentes durante a votação. Complementa as normas constitucionais que não
forem regulamentadas por lei complementar, decretos legislativos e resoluções.
Deve ser aprovada por maioria simples, ou seja, pela maioria dos presentes à
reunião ou sessão da Casa Legislativa respectiva no dia da votação;

Licenciamento: procedimento administrativo pelo qual o órgão de meio


ambiente avalia e concede licença de localização, instalação, ampliação e
operação de empreendimentos e atividades que utilizem recursos naturais e
possam causar danos ou impactos ambientais. A licença prevê as ações que
serão necessárias para minimizar impactos, considerando-se as disposições
legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso;

Monitoramento Ambiental: procedimento destinado a verificar, ao longo do


tempo, das condições ambientais em função das atividades humanas;

Plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos


objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu
zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à
gestão da Unidade de Conservação;

Resíduos Perigosos: são todos os resíduos sólidos, líquidos, gasosos ou a


combinação desses, que sendo provenientes de processos industriais,
possuem características físicas, químicas ou microbiológicas que não podem
ser assimiladas aos resíduos domésticos. São substâncias ou produtos que
apresentam risco à saúde pública e ao meio ambiente, exigindo tratamento e
disposição especial em razão de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade (capacidade de causar
doenças);

Relatório de Impacto Ambiental (RIMA): documento que reflete as


conclusões do Estudo de Impacto Ambiental, redigido em linguagem acessível,
de modo que se possa entender as vantagens e desvantagens de um projeto,
bem como todas as consequências ambientais de sua implementação;

Termo de cooperação técnica: uma forma de descentralização orçamentária


para execução de programa de governo, realizada mediante uma portaria
ministerial e sem a necessidade de contrapartida. São também definidos como
instrumento por meio do qual os gestores demonstram sua “vontade política”
em se unir para realizar ações de seu interesse;

Termo de referência: conjuntos de critérios exigidos para a realização de


determinada atividade;

Cadastro Ambiental Rural – CAR: registro eletrônico de abrangência nacional


junto ao órgão ambiental competente, no âmbito do Sistema Nacional de
Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, obrigatório para todos os imóveis
rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das
propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle,
monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao
desmatamento;

Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR): é um registro


eletrônico, de natureza declaratória e obrigatória para todos os imóveis rurais.
O seu principal objetivo é a formação de um banco de dados de informações
que servirão para p controle, o monitoramento e o planejamento ambiental e
econômico do Estado;

Módulo Fiscal: unidade de medida agrária usada no Brasil, instituída pelo


Estatuto da Terra (Lei nº 6.746/79). É expressa em hectares e é variável, sendo
fixada para cada município, com vistas à cobrança do Imposto Territorial Rural
(ITR);
Módulo Rural: unidade de medida agrária, expressa em hectares, que busca
refletir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica do imóvel
rural, a forma e as condições de seu aproveitamento econômico;

Reserva Legal - RL: área localizada no interior de uma propriedade ou posse


rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos
recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como
o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

Unidade de Conservação - UC: instituída pelo poder público, nas suas três
esferas (municipal, estadual e federal), são reguladas pela Lei nº 9.985/00, que
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Estão
divididas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável;

Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE: o zoneamento ambiental é um


instrumento previsto na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n° 6.938/81)
que visa orientar o planejamento, a gestão e as decisões do poder público, do
setor privado e da sociedade em geral, considerando as potencialidades e
limitações ambientais e socioeconômicas. Seu objetivo maior é a promoção do
desenvolvimento sustentável. Os critérios para elaboração do ZEE nacional,
macrorregionais, estaduais e locais foram estabelecidos pelos decretos
Federais n° 4.297/02 e 6.288/07.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 8
2 MEIO AMBIENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS ............................................... 10
2.1 Políticas ambientais no Brasil..................................................................... 14
3 O DIREITO AMBIENTAL E SEUS PRINCÍPIOS ........................................... 17
4 O MEIO AMBIENTE FACE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ............ 24
Sistematizando... ............................................................................................ 24
1- Quais os princípios elencados no texto? ................................................... 24
2- Diferencie os princípios da prevenção e precaução. ................................. 24
4.1 Princípio da ordem econômica ................................................................... 31
4.2 A função socioambiental da propriedade ................................................... 33
4.3 Referências constitucionais explícitas e implícitas ..................................... 35
5 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM MATÉRIA
AMBIENTAL – LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011 ...................................... 37
5.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................. 41
5.1.1 União ....................................................................................................... 41
5.1.2 Estados ................................................................................................... 44
5.1.3 Municípios ............................................................................................... 45
5.1.4 Distrito Federal ........................................................................................ 47
5.1.5 Áreas de Proteção Ambiental (APAs)...................................................... 47
5.2 AUTORIZAÇÃO DE SUPRESSÃO VEGETAL E APROVAÇÃO DE
MANEJO. ......................................................................................................... 48
5.2.1 União ....................................................................................................... 48
5.2.2 Estados ................................................................................................... 48
5.2.3 Municípios ............................................................................................... 48
5.2.4 Distrito Federal ........................................................................................ 49
5.2.5 Aspectos relevantes ................................................................................ 49
5.4 LICENCIAMENTO POR UM ÚNICO ENTE FEDERATIVO ........................ 51
5.5 ALTERAÇÕES NA LEI Nº 6.938/81 ........................................................... 51
6 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL ............................................................. 52
7 PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL ............................................................... 55
7.1 Princípios.................................................................................................... 56
7.1.1 Princípio da legalidade ............................................................................ 56
7.1.2 Princípio da impessoalidade .................................................................... 57
7.1.3 Princípio da moralidade ........................................................................... 57
7.1.4 Princípio da publicidade .......................................................................... 57
7.1.5 Princípio da eficiência.............................................................................. 57
7.1.6 Princípio da presunção de legitimidade ou de veracidade ...................... 61
7.1.7 Princípio do controle ou tutela ................................................................. 61
7.1.8 Princípio da autotutela ............................................................................. 61
7.1.9 Princípio da hierarquia............................................................................. 61
7.1.10 Princípio da Razoabilidade .................................................................... 61
7.1.11 Princípio da Proporcionalidade .............................................................. 62
7.1.12 Princípio da Motivação .......................................................................... 62
7.2 Poder de polícia ......................................................................................... 63
7.3 Abuso de Poder.......................................................................................... 64
8 AS POLÍTICAS NACIONAL E ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E A
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ASPECTOS NORMATIVOS
RELATIVOS À FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL .................................................. 65
8.1 A Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) ....................................................................................... 65
8.2 Política Estadual do Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade ........ 71
8.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos: Aspectos normativos relativos à
fiscalização ambiental. ..................................................................................... 71
9 ATUAÇÕES SETORIAIS RELATIVAS AO MEIO AMBIENTE ...................... 81
9.1 O papel do SUS na proteção ambiental ..................................................... 81
9.2 Agrotóxicos: competências administrativas ................................................ 87
9.3 Os organismos geneticamente modificados (OGMS) ........................... 88
9.4 Agricultura e meio ambiente ....................................................................... 93
9.5 Os órgãos de trânsito e a proteção ambiental ............................................ 95
9.6 As obrigações ambientais das autoridades marítimas ............................... 96
9.7 O papel das instituições financeiras ........................................................... 97
9.8 O DNPM e os seus deveres ambientais ..................................................... 98
9.9 A política energética, a ANP e a proteção ambiental ................................. 98
9.10 A educação ambiental .............................................................................. 99
9.11 Gerenciamento Costeiro......................................................................... 100
9.12 A política urbana e o meio ambiente .................................................. 101
10 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DA BAHIA ............................ 102
10.1 Poderes dos agentes de fiscalização ..................................................... 109
10.2 Notificação.............................................................................................. 109
10.3 Infrações e penalidades administrativas................................................. 110
10.4 Infrações ambientais em espécie ........................................................... 111
10.5 Penalidades administrativas ................................................................... 114
10.6 Penalidades em espécie ........................................................................ 115
11. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS .............. 122
12. RESERVA LEGAL .................................................................................... 123
13 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP ................................ 127
13.2 APPs na Bahia (art.89 e 90 da Lei nº 10.431/06) ................................... 130
1 INTRODUÇÃO

Apesar do crescimento da consciência ecológica em segmentos da sociedade


brasileira e de dispormos de uma legislação internacionalmente considerada
avançada, diversas dificuldades têm sido identificadas nas formas de
organização e de gestão dos órgãos responsáveis pela defesa e proteção do
meio ambiente.

O êxito da política ambiental no Estado da Bahia depende, dentre outros


fatores, do fortalecimento da gestão municipal, da articulação entre os órgãos
governamentais federais, estaduais e municipais, do setor empresarial e da
sociedade civil organizada e, concomitantemente, do desenvolvimento e
execução de ações intersetoriais, do investimento em novas tecnologias e
instrumentos metodológicos de gestão capazes de potencializar os resultados
das intervenções estatais, bem como da constante capacitação de servidores
públicos para o exercício de suas atividades, especialmente nas áreas de
monitoramento, licenciamento e fiscalização ambiental.

Nessa perspectiva, além da implantação do Programa Estadual de Gestão


Ambiental Compartilhada (GAC), das recentes modificações realizadas na
legislação estadual, em sua própria estrutura e na do Instituto do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), bem como da realização de concurso
público para a contratação de novos servidores, a Secretaria do Meio Ambiente
do Estado da Bahia (SEMA) pretende, por intermédio do Programa Estadual de
Formação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, promover a capacitação de
agentes públicos, servidores, técnicos, gestores e representantes da sociedade
civil, com atuação na área ambiental e que integram o Sistema Estadual de
Meio Ambiente (Sisema) e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (Segreh), por meio de cursos presenciais e à distância.

O presente módulo visa servir como material de apoio para o Curso de


Fiscalização Ambiental e encontra-se estruturado em 12 capítulos.

8
O capítulo 1 é a introdução, No capítulo 2, procura-se contextualizar o
aparecimento da questão ambiental na década de sessenta do século XX, as
iniciativas de movimentos sociais e de governos voltadas para o seu
enfrentamento, bem como suas repercussões no Brasil.

O Capítulo 3 apresenta, de forma sucinta, o escopo do Direito Ambiental e seus


princípios, destacando sua importância para o adequado exercício da
fiscalização ambiental.

No Capítulo 4, registra-se a ausência da proteção ambiental nas ordens


constitucionais anteriores à Constituição Federal de 1988, o tratamento do
tema em constituições de diversos países e analisa-se a questão ambiental na
atual Carta Magna, destacando-se as referências constitucionais explícitas e
implícitas em relação à questão ambiental.

O Capítulo 5 examina a repartição de competências administrativas em matéria


ambiental nos termos da Lei Complementar nº 140, enquanto no capitulo 6,
procede-se à análise da tríplice responsabilidade ambiental e o capitulo 7
apresenta uma síntese do poder de polícia ambiental e de seus limites.

O Capítulo 8 trata da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e do Sistema


Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), indicando a base legal da Política
Estadual do Meio Ambiente e Proteção à Biodiversidade, bem como os
aspectos normativos relativos à fiscalização ambiental contidos na Lei da
Política Nacional de Resíduos Sólidos.

No Capítulo 9 são identificadas responsabilidades e ações relativas ao meio


ambiente em distintos setores governamentais no sentido de apontar
possibilidades de sinergia e articulação para o exercício da fiscalização
ambiental. Analisam-se também o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) na
proteção ambiental, as competências administrativas referentes aos
agrotóxicos e aos organismos geneticamente modificados (OGMs), alguns

9
aspectos da política agrícola, funções ambientais dos órgãos de trânsito, das
autoridades marítimas, das instituições financeiras e do Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM), a Política Energética Nacional, a atividade de
fiscalização da Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíves
(ANP), a responsabilidade pela promoção da educação ambiental e alguns
dispositivos legais da legislação pertinente aos ao gerenciamento costeiro e à
política urbana.

No capítulo 10 examina-se a fiscalização ambiental no estado da Bahia, as


infrações administrativas, os procedimentos para a sua apuração e as sanções
cabíveis. O capítulo 11 analisa os principais aspectos relacionados aos
espaços territoriais especialmente protegidos, com foco na nova legislação
florestal. O último capítulo traça um panorama geral e apresenta alguns temas
das políticas estadual e federal de recursos hídricos relevantes para o exercício
da fiscalização ambiental.

2 MEIO AMBIENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS

A partir da década de sessenta do século passado o meio ambiente passou a


ser objeto de preocupação de alguns segmentos da sociedade. Denúncias
relacionadas à devastação de florestas, poluição nas cidades, pesca predatória
de baleias e identificação de animais em extinção, dentre outras, passaram a
sensibilizar parte da opinião pública. Para alguns autores, os sinais de alerta
soaram no Primeiro Mundo:

Nos Estados Unidos da América, país hegemônico dentro do sistema


capitalista e principal potência industrial até aquele momento, as
evidências dos aspectos destrutivos da industrialização para a própria
vida humana começaram a se acumular e dramatizar [...]. Mas foram
grupos de cidadãos e organizações não-governamentais que chamaram
a atenção para os primeiros problemas ambientais que se verificavam
(STOTZ; VALLA et al., 1992, p.2-3).

10
Ao final daquela década, especialmente no ano emblemático de 1968 quando o
movimento estudantil se expandiu em Paris e em outras cidades européias,
nos Estados Unidos, México e Brasil, despontaram lutas sociais com
características distintas das experiências históricas anteriores. Nesse mesmo
ano, surgiu a idéia de uma Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, originada do governo sueco, “respondendo às inquietações dos
cientistas daquele país com a chuva ácida, a contaminação do Báltico e a
acumulação de metais pesados e praguicidas nos peixes e nas aves” (STOTZ;
VALLA et al., 1992, p.3).

Segundo esses autores, entre o lançamento dessa idéia e a realização da


Conferência de Estocolmo em 1972, muita mobilização ocorreu. Não se tratava
da clássica luta de classes entre trabalhadores e burguesia, mas da
problematização de novos temas para a ação coletiva. Surgiram, desse modo,
os chamados novos movimentos sociais (GOHN, 2004):

O ano de 1968 é excepcionalmente importante porque, na Europa e


nos Estados Unidos, eclodiram movimentos radicais que colocavam
em questão a ordem capitalista. E apesar de superados os chamados
‘maios vermelhos’, o impacto desses movimentos foi duradouro. As
primeiras reações não demoraram a se fazer sentir entre os círculos
responsáveis pela ordem mundial. No mesmo ano, um grupo de
cientistas, educadores, economistas, industriais e funcionários
públicos de nível internacional reuniram-se em Roma para discutir os
dilemas da humanidade: pobreza em meio da abundância,
deterioração do meio ambiente, perda de confiança nas instituições,
inflação, etc. Dos encontros dessa associação internacional – o
chamado Clube de Roma – resultou o Relatório Meadows (1970), o
qual propunha, até o ano 2100, um certo estado de não-crescimento
para a sociedade humana (STOTZ; VALLA et al., 1992, p.3).

O referido relatório, denominado “Limites do crescimento” (The Limits to


Growth), elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Technology, por

11
solicitação do Clube de Roma, defendia a tese de que o crescimento
exponencial da economia e da população constituiria a origem da crise
ambiental. A catástrofe para eles seria inevitável ao final do século XX, devido
ao esgotamento dos recursos naturais, à poluição e à carência de alimentos
(PELICIONI, 2005).

Figura 01. Projeções do relatório “os Limites do Crescimento”. Capa do relatório do


clube de Roma.

Assim, segundo a autora, os supracitados cientistas,

Sugeriam agir rapidamente para a obtenção do equilíbrio global, por


meio do reconhecimento de que havia limites para o crescimento
econômico e que era preciso adotar medidas internacionais
coordenadas, inclusive quanto à melhoria da situação do Terceiro
Mundo (PELICIONI, 2005, p.62).

Desse modo, a questão ambiental propiciou a emergência e o desenvolvimento


de movimentos ambientais, reconhecidos pela literatura da sociologia e da
ciência política como um dos representantes mais destacados dos novos
movimentos sociais, inclusive no século que se inicia (GOHN, 2003). Se no
âmbito da sociedade civil era possível identificar o ambiente como objeto de
ação coletiva, o mesmo não pode ser afirmado em relação aos Estados
nacionais. Assim, a questão ambiental esteve praticamente ausente nas

12
discussões das políticas públicas até a década de setenta do século XX
quando ocorreu a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente em junho de
1972. Este evento histórico tem sido reconhecido como um marco da
construção da agenda internacional no que tange à apresentação de diretrizes
políticas para o enfrentamento da questão ambiental.
No que concerne aos movimentos ecológicos, observa-se nesse período um
gradativo abandono da concepção inicial conservacionista pura para uma
busca de maior integração entre o homem e a natureza (socioambientalismo).
Todavia, o balanço dessas mobilizações até 1992 (Eco-Rio) não tem sido
considerado muito favorável:

Superada a fase inicial, marcada pelo temor com uma catástrofe global,
e abandonando qualquer idéia de redução do crescimento econômico
tal como proposta pelo Clube de Roma, as empresas multinacionais e
os governos dos países do Primeiro Mundo converteram-se em
destacados defensores do ‘desenvolvimento sustentável’. [...]. Porém,
apesar das promessas da reciclagem e da conversão industrial, da
automação e da microeletrônica, dos novos materiais, os vinte anos
subseqüentes à Conferência de Estocolmo foram marcados por um
aumento constante da poluição do ar e do mar, por crescente escassez
de água e perda de solo fértil, pela destruição da biota com redução de
espécies (STOTZ; VALLA et al., 1992, p.33).

Contudo, tem-se chamado a atenção para a necessidade de repensar a


questão ambiental no Brasil. Nessa perspectiva, sugere-se “desnaturalizar” o
conceito de meio-ambiente no sentido de evitar o equívoco de dissociar seus
elementos físicos e sociais na medida em que o ambiente “é o resultado da
interação da lógica da natureza e da lógica da sociedade” (BECKER, 1992,
p.128). Do mesmo modo, caberia “desideologizar” a questão ambiental,
distinguindo a consciência ecológica legítima daquela ideologia ecológica “que
se tornou um novo parâmetro da Geopolítica Mundial no movimento de rápida
estruturação da organização econômica e política internacional” (BECKER,
1992, p.129).

13
2.1 Políticas ambientais no Brasil

Na Conferência de Estocolmo o Brasil foi influenciado pelas iniciativas dos


países periféricos, dispostos a não sacrificar o desenvolvimento econômico em
favor do meio ambiente (VIOLA, 2006), e mesmo vivendo um período
autoritário, em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA.
Em 1981, foi editada a Lei nº 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA), rompendo o paradigma jurídico da fragmentação
(Código Florestal – Lei nº 4771/65, Código de Caça – Lei nº 5.197/67, Código
de Mineração – Decreto-Lei nº 227/67, Lei da Responsabilidade por Danos
Nucleares – Lei nº 6.453/77, dentre outros) e passando a proteger o meio
ambiente de maneira integral (BENJAMIN, 2003).

Figura 02. Linha do tempo da Política Ambiental no Brasil

Desse modo, a questão ambiental passa a interessar, progressivamente,


setores da sociedade brasileira nas décadas de 70 e 80 e órgãos
governamentais, culminando com a elaboração de propostas na transição
democrática que foram incorporadas pela Constituição de 1988 e pela
legislação subsequente.

As políticas públicas referentes ao meio ambiente implantadas na conjuntura


pós-constituinte, todavia, esbarraram na falta de prioridade diante da crise

14
econômica e do corte dos gastos públicos e foram limitadas quanto à
sustentabilidade ambiental. Também não conseguiram superar o tradicional
viés setorial. A área ambiental tem-se caracterizado pela “fragmentação e
incompetência gerencial, além de continuar isolada dos centros de decisão
econômica, onde se definem as políticas de desenvolvimento” (VIOLA, 2006,
p.13).

Segundo Arlindo Philippi Jr., Gilda Collet Bruna e Vicente Fernando Silveira
(2005, p.801) há quem considere que

[...] a PNMA, instituída pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de


1981, é uma transformação inconclusa das políticas públicas oriundas
de uma visão setorizada da questão ambiental a partir da década de
1950. Esta transformação estaria à espera de uma coalizão política de
interesses.

Refletindo sobre o tema, Paulo de Tarso Abrão e Daniela Mac-Dowell (2005,


p.373) asseveram:

Descobrir se o desenho da Administração Ambiental no país é o mais


eficiente dependerá, entre vários fatores, não só daqueles ligados às
questões de competência, cooperação federativa e
inconstitucionalidades. Reserva-nos a busca de um entendimento mais
dinâmico das estruturas criadas pelo Estado, para compreender se,
dentro da própria estrutura administrativa estatal como um todo, não há
um feixe de explosivos aguardando uma faísca.

Observa-se que os sistemas de controle ambiental são periféricos em relação


aos sistemas de poder e têm aparatos pouco eficientes (VIOLA, 2006).
Predomina ainda “um tipo de política e gestão ambiental centralizada,
regulamentadora e fiscalizadora – baseado no princípio de comando e controle,
que estabelece padrões e metas de poluição a serem cumpridas” (PHILIPPI
JR.; BRUNA; SILVEIRA, 2005, p.799). Modelo que, segundo esses autores,

15
“tem mostrado grande eficiência no controle de poluição pontual
(predominantemente efluentes industriais), mas apresenta dificuldades para o
controle da poluição difusa” (PHILIPPI JR.; BRUNA; SILVEIRA, 2005, p.799).
A contaminação e poluição ambiental provocadas, por exemplo, pelo uso
indiscriminado de agrotóxicos, por esgotos domésticos oriundos de ligações
clandestinas, por veículos automotores e por resíduos sólidos urbanos (lixo
doméstico) exige outros tipos de intervenções do Poder Público pautadas em
ações educativas e incentivos econômicos.
Comentando os rumos que a Política Nacional do Meio Ambiente vem
tomando, Edis Milaré (2005, p. 432) salienta:

Diga-se, a bem da verdade, que é irreal o planejamento ambiental


isolado do planejamento econômico e social. O meio ambiente é um
bem essencialmente difuso e engloba todos os recursos naturais: as
águas doces, salobras e salinas, superficiais ou subterrâneas; a
atmosfera, o solo, o subsolo e as riquezas que encerram, assim como a
fauna e a flora e suas relações entre si e com o ser humano.
Compreende ainda outros bens, como os culturais. Por isso mesmo o
planejamento da utilização de tais recursos deve considerar todos os
aspectos envolvidos: os econômicos, os sociais e os ambientais. Não é
possível planejar o uso de qualquer desses recursos apenas sob o
prisma econômico-social ou somente sob o aspecto da proteção
Ambiental. Ora o planejamento integrado das políticas públicas ainda
não existe no Brasil, mercê da excessiva setorização e verticalização
dos diferentes Ministérios. A isso acresce a inexistência de efetivas
definições políticas por parte dos partidos políticos e dos governos, em
geral.

Cabe registrar alguns aspectos que caracterizam as políticas ambientais:

1. Os problemas a serem resolvidos, não raro transcendem as fronteiras


dos Estados-nação, implicando um papel mais dominante das
instituições e tratados internacionais e limites maiores, obviamente, das
capacidades de regulamentação dos Estados-nação.

16
2. A constituição e a definição de problemas são altamente
dependentes da ciência, a qual se reveste de considerável insegurança.
A identificação de um problema ecológico, suas causas e
conseqüências freqüentemente devem ser definidas por análises
científicas. Essas muitas vezes são marcadas pela incerteza, como é o
caso, por exemplo, das previsões do tempo ou dos riscos de avaliação
das manipulações genéticas. Estamos tratando, portanto, de uma esfera
política que vem se tornando cada vez mais baseada na ciência, na
qual o acesso à informação, ao conhecimento e à competência
desempenha papel fundamental.
3. Os problemas ambientais estão estreitamente relacionados aos
problemas da distribuição da riqueza, isto é, as políticas ambientais não
se limitam à proteção da natureza, mas incluem a exploração, remoção
e utilização sustentável dos recursos naturais. Exemplo disso é a
destruição do clima global pelas metrópoles capitalistas. Um outro
exemplo são as lutas sobre os direitos de uso e exploração dos
recursos genéticos.
4. Além disso, a interdependência entre os níveis políticos – dos locais
aos internacionais – e a questão de representação e mediação dos
interesses relativos desempenham papel crucial nesse campo.
(HIRSCH, 2001, p.108).

3 O DIREITO AMBIENTAL E SEUS PRINCÍPIOS

Analisando a evolução da proteção jurídica do meio ambiente no Brasil, o


jurista Antônio Herman Benjamin (2003, p. 15), didaticamente, aponta para a
existência de três fases, ressaltando, todavia, não se tratarem “de fases
históricas, cristalinas, apartadas, delimitadas e mutuamente excludentes”.

A primeira, denominada “fase da exploração desregrada ou do laissez-faire


ambiental” compreende o período de 1500 a 1960, que se caracteriza pela
existência de poucas normas relativas ao meio ambiente e na sua essência
visavam à proteção de interesses econômicos ou sanitários e secundariamente
protegiam aquele bem jurídico. A segunda, chamada “fase fragmentária”,
demonstra a preocupação do legislador com largas categorias de recursos

17
ambientais, surgindo várias leis esparsas, a exemplo do Código Florestal
(1965), dos Códigos de Caça, de Pesca, de Mineração (todos de 1967), a Lei
de Responsabilidade por Danos Nucleares (1977), a Lei do Zoneamento
Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (1980) e a Lei de Agrotóxicos (1989).
Finalmente na terceira, denominada “fase holística” passa o meio ambiente a
ser protegido integramente. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
6.938/81) é o marco legislativo inicial dessa nova fase destacando-se ainda a
Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) (BENJAMIN, 2003).

Para Marcelo Abelha Rodrigues (2005), o surgimento do Direito Ambiental no


país coincide com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
nº 6.938/81), ou seja, com o início da “fase holística” (BENJAMIN, 2003). Só a
partir daí foram relacionados instrumentos, características e princípios próprios,
que são elementos indispensáveis para a existência de uma ciência autônoma.
Sem ingressar no mérito das discussões doutrinárias acerca de sua autonomia,
passa-se à análise de alguns conceitos de Direito Ambiental. Para Edis Milaré
(2005, p.155), Direito Ambiental é “o complexo de princípios e normas
coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à
sustentabilidade para as presentes e futuras gerações”.
De acordo com Paulo de Bessa Antunes (2004, p.11), o Direito Ambiental pode
ser definido da seguinte forma:

[...] um direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são


constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio
ambiente e direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida
em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamental que
cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida,
ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais.
Mais do que um Direito autônomo, o Direito Ambiental, é uma
concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra,
transversalmente, em todos os ramos do direito. O Direito Ambiental,
portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e uma

18
dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito de
desenvolvimento sustentado.

Sinteticamente, pode-se compreender o Direito Ambiental como o conjunto de


normas jurídicas (regras e princípios) que visam à defesa e à proteção
ambiental.

As fontes do Direito Ambiental se dividem em materiais e formais. São fontes


materiais: os movimentos populares, a descobertas científicas e a doutrina
jurídica. A Constituição, as leis, os atos internacionais firmados pelo Brasil, os
decretos, as normas administrativas originadas dos órgãos competentes como
as Resoluçoes do CONAMA e do CEPRAM e a jurisprudência são
consideradas fontes formais

Segundo um ilustre Procurador da República, “para a doutrina mais autorizada,


as normas jurídicas que compõem o ordenamento positivo podem assumir
duas configurações básicas: regras (ou disposições) e princípios”
(SARMENTO, 2003, p.42) destacando:

Os princípios representam as traves-mestras do sistema jurídico,


irradiando seus efeitos sobre diferentes normas e servindo de
balizamento para a interpretação e integração de todo o setor do
ordenamento em que radicam. Revestem-se de um grau de
generalidade e de abstração superior ao das regras, sendo, por
conseqüência, menor a determinabilidade do seu raio de aplicação.
Ademais, os princípios possuem um colorido mais acentuado do que as
regras, desvelando mais nitidamente os valores jurídicos e políticos que
condensam. (SARMENTO, 2003, p.42).

19
Leis

Princípios

Figura 03. Diagrama das leis e princípios do direito.

No exercício do poder de polícia, os agentes públicos devem se basear nos


princípios para a tomada de decisões administrativas, buscando sempre atingir
o interesse público. Em muitos casos, especiamente quando se deparam com
diversas formas de interpretação da lei ou ante a ausência de regras
específicas, podem e devem se basear nos princípios do Direito Ambiental.

Nesse sentido, na fiscalização ambiental, os principios do Direito Ambiental e


da Administração Pública, que serão posteriormente analisados, têm grande
relevância para nortear a atuação dos técnicos nos casos concretos, inclusive
para a correta aplicação de sanções e imposição de determinações,
exigências, ou solicitações de planos, projetos, e demais documentos
necessários à instrução dos procedimentos administrativos ou medidas
específicas para correção de irregularidades. No que se refere aos princípios
internacionais que regem o Direito Ambiental, não se observa uma enumeração
uniforme na doutrina. Nesse sentido, procura-se, a seguir, analisar aqueles
relacionados por mais de um autor.

O mais importante deles é o “princípio do direito humano fundamental”


(ANTUNES, 2004) ou princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como
direito fundamental da pessoa humana (MILARÉ, 2013). Tal princípio será
estudado mais detalhadamente quando da análise do art. 225 da CF.

O principio da natureza pública da proteção ambiental, por sua vez, de acordo


com Edis Milaré (2013, p.) “decorre da previsão legal que considera o meio

20
ambiente como um valor a ser necessariamente assegurado e protegido para o
uso de todos”. Tratando-se o bem ambiental de um interesse de toda a
coletividade, evidentemente, a sua proteção deve ser pública.

Outro princípio importante é o denominado democrático (ANTUNES, 2004) que


engloba outros dois princípios apontados pela doutrina (PHILIPPI JR;
RODRIGUES, 2005): o da participação e o da informação. Fruto de
movimentos sociais, evidentemente, o Direito Ambiental não poderia deixar de
trazer para si essa característica democrática, assegurando o direito à
participação da coletividade nas decisões políticas relativas às questões
ambientais e à informação ambiental.

Destacam-se também os princípios da prevenção e precaução. O princípio da


prevenção exige a adoção de medidas tendentes a evitar a ocorrência de
danos previsíveis. Já o da precaução, determina que não se produzam
intervenções no meio ambiente antes de se ter certeza científica de que estas
não serão adversas ao mesmo.

O princípio da prevenção foi implicitamente incorporado ao texto constitucional.


Pressupõe uma ação proativa do Estado e da sociedade, em geral, para evitar
a ocorrência do dano ambiental. A exigência da realização de estudo de
impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente e a obrigação do
Poder Público de “controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente” são demonstrações de sua assimilação pela
Constituição.

Ressalte-se que o principio da precaução foi expressamente relacionado na


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio
92, conforme a seguir:

21
Princípio nº 15 - Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da
precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo
com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza absoluta não será utilizada como
razão para o adiamento de medidas economicamente visíveis para
prevenir a degradação ambiental (ANTUNES, 2004, p.36).

Há também o princípio do poluidor-pagador que de acordo com Edis Milaré


(2005, p.163-164):

Assenta-se este princípio na vocação redistributiva do Direito Ambiental


e se inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que
acompanham o processo produtivo (v.g., o custo resultante dos danos
ambientais) precisam ser internalizados, vale dizer, que os agentes
econômicos devem levá-los em conta ao elaborar os custos da
produção e, consequentemente, assumi-los. Busca-se, no caso, imputar
ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, engendrando-se
um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos
efeitos da poluição não somente sobre bens e pessoas, mas sobre toda
a natureza.

As obrigações dos empreendedores de arcar com os custos do licenciamento


ambiental, de estudos ambientais onerosos como o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e a de reparar os danos ambientais previstas no ordenamento
jurídico brasileiro se inspiram no aludido princípio.

O princípio do usuário pagador é também enumerado pela doutrina. Segundo o


supracitado jurista,

Funda-se este princípio no fato de que os bens ambientais -


particularmente os recursos naturais - constituem patrimônio da
coletividade, mesmo que, em alguns casos possa incidir sobre eles em
justo título de propriedade privada. Sabemos, outrossim, que recursos

22
essenciais, de natureza global – como a água, ar e o solo – não podem
ser “apropriados” a bel talante (MILARÉ, 2005, P.170).

É de bom alvitre lembrar que a cobrança de uso da água baseia-se no referido


princípio. Um novel princípio começa a ser delineado no Direito Ambiental: o
princípio do protetor-recebedor ou do provedor. Como explica Melissa Furlan
(2008, p. 230):

O princípio do protetor-recebedor busca efetivar a justiça econômica e


ambiental e o desenvolvimento sustentável. Tal princípio pode ser
encarado como o inverso do princípio do poluidor-pagador, na medida em
que proporciona uma justa compensação a todos aqueles que contribuem
para a conservação ambiental com suas condutas, ou seja, reconhece as
externalidades positivas daqueles cujo comportamento ambiental reduz os
gastos públicos e traz benefícios para toda a coletividade.

O referido princípio já tem amparo legal. Encontra-se de forma implícita previsto


nos arts. 47 e 48 da Lei nº 9.985/00 juntamente com princípio do usuário-pagador.

Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo


abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário
da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve
contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de
acordo com o disposto em regulamentação específica.
Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração
e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por
uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a
proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em
regulamentação específica.

Diversos projetos de lei relacionados ao pagamento por serviços ambientais


encontram-se em tramitação no Congresso Nacional. Destaca-se o PL nº 792/07
que define os serviços ambientais e prevê a transferência de recursos, monetários
ou não, aos que ajudam a produzir ou conservar estes serviços; e os PL de

23
números 1.190/07, 5.487/09 e 6.204/09 que foram apensados ao primeiro
(BRASIL, 2010).

A recente Lei nº 12.651/12, em seu art. 41, I prevê a possibilidade de o Poder


Executivo Federal instituir programas de apoio e incentivo à conservação do
meio ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que
conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos
ambientais, como forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente
sustentável, abrangendo, dentre outras medidas, o pagamento por serviços
ambientais. Por fim, merece também atenção especial o princípio da
cooperação, que prega a colaboração e auxílio de todos os povos na defesa e
proteção ambiental.

Sistematizando...

1- Quais os princípios elencados no texto?

2- Diferencie os princípios da prevenção e precaução.

4 O MEIO AMBIENTE FACE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Fortemente influenciada pelos movimentos ecológicos, pelos princípios


internacionais de proteção ambiental consagrados pela Declaração do Meio
Ambiente, adotada pela Conferência das Nações Unidas, realizada em 1972
em Estocolmo e também por princípios e diretrizes estabelecidos pela Lei n°
6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a
Constituição Federal de 1988 representa um marco jurídico fundamental para a
proteção ambiental no Brasil.

24
O meio ambiente, que as ordens constitucionais anteriores nem sequer
tratavam expressamente, com o advento da Carta Magna de 1988 passou a ter
destaque especial, não apenas pela criação de um capítulo especialmente
dedicado à matéria, mas também em virtude da questão permear todo o seu
texto, “correlacionada com os temas fundamentais da ordem constitucional”
(SILVA, 1998, p.26).

Devido a essa abordagem ampla e moderna do tema, o referido


constitucionalista chega a classificá-la de “eminentemente ambientalista”
(SILVA, 1998, p.26), enquanto outro jurista chega a denominá-la de “verde”
(MILARÉ, 2005, p.184).
Registre-se que essa previsão expressa não é exclusividade de nosso país.
Salienta o ilustre jurista Jorge Miranda (2000, p.533):

Problemática centralíssima de que se tem vindo a tomar consciência


mais aguda nas últimas décadas, não admira que a problemática do
meio ambiente tenha feito também a sua entrada nas Constituições e
que tenha passado a interessar crescentemente a doutrina jus
publicística.

Dentre as diversas Constituições que tratam do tema, cite-se a portuguesa


(arts. 9º, 65, 66, 93, 228, dentre outros); a italiana (art. 9º); a suíça (arts. 22
quater, 24 -bis, 24 sexies e 24 septies); a indiana (art. 48-A e 51, alínea g); a
espanhola (art. 45); a equatoriana (art. 50); a chinesa (arts. 9º e 26); a
holandesa (art. 21); a de Guiné-Bissau (art. 15); a iraniana (art. 50); a filipina
(seção 16, art. II); a de S. Tomé e Príncipe (art.10, alínea d e 48); a nambiana
(art. 11); a moçambicana (art. 36 e 37); a búlgara (art. 15 e 55); a romena
(art.14, n 2, alínea e); a cabo-verdina (art.70); a angolana (art. 24); a russa (art.
58); a alemã (art. 20-A); a sul-africana (art. 24) (MIRANDA, 2000). Adverte,
todavia, o referido constitucionalista:

Hoje, a relevância do ambiente tornou-se quase obrigatória ou


recorrente em quase todos os novos textos constitucionais, entendida à

25
luz das suas coordenadas próprias. Mas essa universalização não
significa, só por si, que a efectividade das normas – sejam
programáticas ou preceptivas – se mostre muito forte ou idêntica por
toda a parte e muito poucos os Estados que poderão arrogar-se (como
bem se desejaria) a qualidade de Estados ambientais (MIRANDA,
2000).

No que se refere à Constituição brasileira, antes de analisar os dispositivos que


tratam do tema sub examine faz-se necessário trazer à baila importante
contribuição dada pelo constitucionalista brasileiro citado para a compreensão
do conceito constitucional de meio ambiente:

O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente


de toda a natureza original e artificial, bem como os artificiais correlatos,
compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas
naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e
arqueológico. O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de
elementos naturais artificiais e culturais que propiciem o
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas (SILVA,
1998, p.2).

O Capítulo VI, do Título VIII - Da Ordem social, foi reservado pelo constituinte
de 1988 para tratar especialmente do tema ambiental, e merece ser
integralmente transcrito:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

26
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional,
e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso
dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.

27
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.

O art. 225 da CF, ao assegurar a todos o direito “ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado”, considerando-o “bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida”, reconhece expressamente o seu caráter
de direito fundamental da pessoa humana, que, segundo a doutrina, é um dos
princípios mais importantes do direito ambiental.

Paulo de Bessa Antunes (2004) lembra o reconhecimento internacional do


sobredito princípio pelos Princípios 1 e 2 da Declaração de Estocolmo,
segundo os quais, respectivamente, “O homem tem o direito fundamental à
liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um
meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de
bem-estar, e é portador solene de obrigação de melhorar o meio ambiente,
para as presentes e futuras gerações [...]” e “os recursos naturais da Terra,
incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas
representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em
benefícios das gerações atuais e futuras [...]” (ANTUNES, 2004, p.32).

Acrescenta o ilustre jurista que o referido princípio foi reafirmado pela


Declaração do Rio, proferida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
ambiente, realizada em 1992, no Rio de Janeiro, conhecida como Rio-92, cujo
Princípio 1 declara que “os seres humanos constituem o centro das
preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a
uma vida saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente”.

Merece ainda aplausos o referido dispositivo constitucional por enfatizar, em


seguida, que o dever de defender e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações se impõe não apenas ao Poder Público, mas
também à coletividade.

28
Em razão de seu caráter difuso, pertencente à categoria de direitos que se
enquadra como de terceira geração (BOBBIO, 1992) e de sua vital importância
para a própria sobrevivência do planeta, não poderia, de fato, a Constituição
disciplinar a matéria de forma diversa, isentando a coletividade da sua também
salutar obrigação de preservar e proteger o meio ambiente.

No que concerne especificamente ao Poder Público, além do dever genérico de


proteger e preservar o meio ambiente, explícito no caput do art. 225, a
Constituição anuncia expressamente, nos incisos I a VII, do § 1º, um rol de
atividades que devem por ele ser realizadas com fim de assegurar a efetividade
do aludido direito humano fundamental.

Poder Público, segundo o citado constitucionalista, “é expressão genérica que


se refere a todas as entidades territoriais, pois uma das características do
Estado Federal, como o nosso, consiste precisamente em distribuir o Poder
Público por todas as entidades autônomas que o compõem, para que cada
qual o exerça nos limites das competências que lhe foram outorgadas pela
Constituição” (SILVA, 1998, p.49).

Em matéria ambiental, a competência legislativa, em regra, é concorrente entre


União, Estados e Distrito Federal, de acordo com o art. 24, VI, VII e VIII da CF:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
[...] VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle
da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

29
Convém frisar que o Município, conforme entendimento doutrinário e
jurisprudencial amplamente majoritários, pode também legislar sobre meio
ambiente, com fundamento no art. 30, incisos I e II, ou seja, “legislar sobre
assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação federal e estadual no
que couber”.

Já a competência administrativa é comum, sendo, portanto, dever de todos os


entes da Federação, ou seja, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios a obrigação de preservar e proteger o meio ambiente.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
[...] III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora.

É bem verdade que cada ente federativo, por sua vez, organiza e cria seus
próprios órgãos e entidades outorgando-lhes atribuições específicas para
atuarem nas questões ambientais, a exemplo do IBAMA, na Administração
Federal. Essa repartição de competências internas não parece, destarte,
afastar a indeclinável obrigação genérica que qualquer outro órgão ou entidade
que compõe a Administração Pública tem de cuidar do meio ambiente, ainda
que não haja previsão expressa na legislação ordinária nesse sentido.

Essa é, sem dúvida, a melhor exegese do caput do art. 225 e da análise


sistêmica do texto constitucional que, por reconhecer a interdisciplinaridade e
transversalidade do tema ambiental, fazendo-o penetrar em outras áreas,
obriga os setores da administração não vinculados diretamente à questão

30
ambiental a inserirem essa preocupação no planejamento, desenvolvimento e
execução de suas atividades.

4.1 Princípio da ordem econômica

No Título VII, que trata da Ordem Econômica e Financeira, há referência


expressa ao meio ambiente, sendo a sua defesa erigida ao status de princípio
geral da atividade econômica, conforme art. 170, VI.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valoração do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
[...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação (Redação da EC nº 42/03).

Segundo o Ministro Eros Roberto Grau (2000, p.265),

A Constituição, destarte, dá vigorosa resposta às correntes que


propõem a exploração predatória dos recursos naturais, abroquelado
sobre o argumento, obscurantista, segundo o qual as preocupações
com a defesa do meio ambiente envolvem proposta de “retorno à
barbárie”.

Ainda de acordo com o ilustre ministro, o princípio da defesa do meio ambiente


trata-se de um dos princípios constitucionais impositivos (GRAU, 2000) que,
conforme o constitucionalista português J. J. Gomes Canotilho (2003, p.1166),
seriam aqueles que “subsumem-se todos os princípios, que impõem aos
órgãos do estado, sobretudo ao legislador, a realização de fins e a execução
de tarefas”.

31
Conforme Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

[...] a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com


os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A
incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por
interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole
meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade
econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está
subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a
‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo
e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente
laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de
natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio
ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que
lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da
saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de
causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado
este em seu aspecto físico ou natural. (BRASIL, 2006).

Em face do dispositivo constitucional supracitado, não se pode mais conceber


um desenvolvimento econômico desatrelado de valores ambientais. Cabe
portanto, ao Estado, com fundamento também no art. 225 da CF, o dever de
não apenas proteger o meio ambiente nos casos excepcionais em que
intervenha diretamente na economia, mas, sobretudo, o de exigir o total
cumprimento das normas ambientais pelos particulares, quando no exercício
de sua precípua função regulatória.

Ademais, deve-se lembrar também que a incorporação ao ordenamento


jurídico de novos instrumentos econômicos seria um passo importante na
direção de tornar efetivo o referido mandamento constitucional. De acordo com
Arlindo Philippi Jr., Gilda Collet Bruna e Vicente Fernando Silveira (2005,
p.806):

32
A Agenda 21 preconiza que os instrumentos econômicos devem
incorporar os custos ambientais às decisões de produtores e
consumidores, diminuindo o viés distorcido da disponibilidade absoluta
dos recursos naturais. Os preços devem refletir o valor total (custos
sociais e ambientais) e sua escassez relativa, contribuindo para a
mitigação da degradação ambiental.

Registre-se a criação em alguns estados do chamado ICMS ecológico. O


Paraná foi o pioneiro, seguido pelos Estados de São Paulo (1993), Minas
Gerais (1995), Rondônia (1996), Rio Grande do Sul (1998), Mato Grosso do
Sul (2001) e Mato Grosso (2001). Projetos relativos ao tema estão em fase de
implementação ou regulamentação em Pernambuco, Tocantins e Amapá, e em
debate ou tramitação nas casas legislativas dos Estados da Bahia, Goiás,
Pará, Santa Catarina, Ceará e Rio de Janeiro (LOUREIRO, 2006).

4.2 A função socioambiental da propriedade

Em que pese a Constituição de 1967 já ter tratado de forma expressa da


função social da propriedade, a Constituição de 1988, refletindo mais uma vez
o espírito preservacionista que a caracterizou, deu um passo adiante nessa
matéria incorporando a preocupação ambiental no seu conceito.
Na oportunidade, vale ressaltar os seguintes ensinamentos:

A Propriedade Privada, absoluta e ilimitada, torna-se incompatível com


a nova configuração dos direitos, que passam a tutelar Interesses
Públicos, dentre os quais a preservação ambiental. Assim, o Direito de
Propriedade adquire nova configuração, e passa a estar vinculado ao
cumprimento de uma Função Social e Ambiental. É limitado no
interesse da coletividade e a fim de adequar-se às novas demandas de
ordem ambiental (CAVEDON apud MASCARENHAS, 2005).

A conclusão da existência de uma verdadeira “função socioambiental da


propriedade” se extrai da análise sistemática de diversos dispositivos
constitucionais, dentre os quais se destacam o art. 5º, XXIII, segundo o qual “a

33
propriedade atenderá à sua função social”, o art. 170 e seus incisos II, III e VI,
que diz que a propriedade privada, a função social da propriedade e a defesa
do meio ambiente são princípios da ordem econômica, o art. 182, § 2º, que
trata da função social da propriedade urbana, o art. 184, referente à
desapropriação por interesse social de imóvel rural, o art. 186, que descreve os
requisitos para a conformação da função social, bem como e o próprio art. 225,
já analisado anteriormente.

O art. 186, que trata especificamente da propriedade rural, merece ser aqui
transcrito na íntegra por exigir de forma explícita para o efetivo cumprimento da
função social a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação do
meio ambiente.

Art.186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Convém lembrar que Novo Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406/02,
procurando se amoldar a esses novos contornos estabelecidos pela
Constituição Federal de 1988, ao direito de propriedade, contemplando o fim
socioambiental a que ela se destina, diz expressamente em seu art. 1228, § 1°:

O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as


finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

34
A função socioambiental da propriedade, sendo, portanto, matéria
constitucional e também disciplinada pela legislação ordinária, não pode jamais
deixar de ser observada pelo Estado. A busca de sua efetivação pelo Poder
Público se revela imprescindível para o desenvolvimento sustentável.

4.3 Referências constitucionais explícitas e implícitas

A doutrina pátria costuma apontar a existência de normas constitucionais


explícitas e implícitas, tratando da matéria ambiental.

No que tange às normas explícitas, além dos dispositivos constitucionais já


mencionados, destacam-se os seguintes artigos: art. 5º, inciso LXXIII (confere
legitimação a qualquer cidadão para propor ação popular que vise anular ato
lesivo ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural); art. 20, inciso II
(considera bens da União as terras devolutas indispensáveis à preservação
ambiental); art. 91, § 1º, inciso III (outorga ao Conselho de Defesa Nacional a
competência para “propor os critérios e condições de utilização das áreas
indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo
uso, especialmente nas áreas de fronteira e nas relacionadas com a
preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo”; art. 129,
inciso III (declara ser uma das funções institucionais do Ministério Público
“promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”;
art. 174, § 3º (determina que o Estado “favorecerá a organização da atividade
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e
a promoção econômico-social dos garimpeiros); art. 200, inciso VIII (atribui,
textualmente, ao Sistema Único de Saúde – SUS a obrigação de colaborar na
proteção do meio ambiente); art. 216, inciso V (declara constituir patrimônio
cultural brasileiro “os conjuntos urbanos e de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”; art. 220, § 3º, II
(diz que lei federal deve “estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e
à família de se defenderem [...] da propaganda de produtos, práticas e serviços

35
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”); e art. 231, § 1º (define
as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios como aquelas “por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem estar e às necessárias à sua reprodução física e
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”) (SILVA, 1998).

Quanto às normas implícitas, não se faz necessário para os restritos limites


desse trabalho tentar identificar todas elas, nem mesmo transcrever as já
reveladas pela doutrina. Basta registrar que, para enumerar algumas delas, a
doutrina se baseou nas já apontadas transversalidade e interdisciplinaridade do
Direito Ambiental.

É o que se verifica, por exemplo, quando certos autores indicam o art. 21, XX
que trata da competência da União para “instituir diretrizes para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos” como uma dessas inúmeras normas implícitas (ANTUNES, 2004;
SILVA, 1998).

O último autor citado fundamenta a referida conclusão, asseverando que


diretrizes para o desenvolvimento urbano, incluindo habitação, saneamento
básico e transportes urbanos é matéria urbanística que inclui o Direito
Ambiental, lembrando ainda que deve ser preocupação da União regular,
segundo ele, “assunto de enorme potencial contaminador – transportes
urbanos – onde carece interferir para impor conduta não poluidora” (SILVA,
1998, p.28).

Sistematizando...
1- Qual o significado da constituição de 1988 para a Política
Ambiental no Brasil?
2- Faça um quadro comparativo das competências concorrentes e
comuns aos entes federativos.
3- Comente a função socioambiental da propriedade.

36
5 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM MATÉRIA
AMBIENTAL – LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011

Baseada em um modelo de federalismo cooperativo, a Constituição Federal de


1988, estabeleceu, conforme mencionado, em seu art. 23, III, VI e VII, a
competência comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a
atuação em matéria ambiental, reservando à lei complementar a fixação de
normas de cooperação entre os mesmos, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional (art. 23, parágrafo único).

Nesse sentido, no exercício do poder de polícia administrativa, todos os entes


federados, por intermédio de seus órgãos ambientais, estariam aptos a
fiscalizar e licenciar atividades e empreendimentos utilizadores de recursos
naturais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma,
de causar degradação ambiental.

A falta de regulamentação do mencionado dispositivo constitucional e a


ausência de regras claras sobre a repartição de competências administrativas
sempre geraram dúvidas e incertezas quanto ao órgão ambiental competente
para o exercício de determinadas ações, especialmente no tocante as
atividades de fiscalização e licenciamento.

Os princípios constitucionais da predominância de interesses e da eficiência


administrativa que, especialmente ante a ausência da referida regulamentação
deveriam nortear a atuação dos órgãos incumbidos de promover a defesa e
proteção do meio ambiente, não se revelaram suficientes para evitar ações
dúplices, desperdício de recursos públicos, nem para oferecer à sociedade a
segurança jurídica necessária.

Na tentativa de regular a matéria e eliminar as infindáveis discussões na


doutrina e conflitos na práxis administrativa e nos Tribunais, a Resolução nº

37
237/97 do CONAMA estabeleceu critérios e parâmetros para a repartição de
competências entre os entes federativos para fins de licenciamento ambiental.

Ocorre que, além de não tratar de outros temas relativos à atuação


administrativa ambiental da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, ao disciplinar matéria reservada, a lei complementar revelou-se,
segundo a Resolução CONAMA nº 237/97, nesse particular, inconstitucional
pela forma.

Nesse sentido, a Lei Complementar nº 140 de 08 de dezembro de 2011 veio a


suprir uma importante e imensa lacuna legislativa existente até então no Brasil.
Passados mais de vinte anos da promulgação da Constituição Federal de
1988, e finalmente foi editada a Lei Complementar nº 140/11, regulamentando
o art. 23, parágrafo único, no que diz respeito à matéria ambiental.

Em que pesem as suas evidentes imperfeições, poderá essa lei nortear as


ações administrativas, possibilitando uma redução dos conflitos de
competência entre os diversos órgãos ambientais e o aumento da segurança
jurídica para os empreendedores, bem como contribuir para o desenvolvimento
e aperfeiçoamento da gestão ambiental no âmbito municipal e consequente
fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA.

A Lei Complementar nº 140/11 fixa normas para a cooperação entre a União,


os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas
decorrentes do exercício da competência comum em matéria ambiental,
regulamentando o art. 23, parágrafo único, da Constituição Federal, no que
concerne aos temas previstos nos incisos III, VI e VII do caput desse artigo.
Tem por objetivos fundamentais (art. 3º):

a) proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente


equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e
eficiente;

38
b) garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a
proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa
humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais;
c) harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a
sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar
conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
d) garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,
respeitadas as peculiaridades regionais e locais. (LEI
COMPLEMENTAR Nº 140/11).

Estabelece, em seu art. 4º, que os entes federativos podem valer-se, entre
outros, dos seguintes instrumentos de cooperação institucional:

a) Consórcios públicos;
b) Convênios, acordos de cooperação técnica e outros Instrumentos
similares com órgãos e entidades do Poder Público;
c) Comissões Tripartites Nacional e Estaduais e Comissão Bipartite do
Distrito Federal, formadas, paritariamente, por representantes de todos
os entes federativos;
d) Fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
e) Delegação de atribuições e de ações administrativas de um ente
federativo a outro. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11).

A delegação de ações administrativas será feita mediante convênio, devendo,


para tanto, o ente federativo destinatário da delegação, conforme o art. 5º,
dispor de:

a) Conselho de Meio Ambiente; e


b) Órgão ambiental capacitado, considerado aquele que possua
técnicos próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em
número compatível com a demanda das ações a serem delegadas. (LEI
COMPLEMENTAR, N° 140/11)

39
A Resolução CONAMA Nº 237/07, ao descrever os requisitos para que o órgão
ambiental pudesse licenciar, se referia a “técnicos próprios ou contratados”.
Para fins específicos de delegação de ações administrativas, a Lei
Complementar nº 140/11 é, nesse sentido, bem mais restritiva, privilegiando e,
de certa forma, estimulando a criação de consórcios públicos.

É de se notar que os municípios, por meio de consórcios públicos por eles


formados, poderão contribuir sobremaneira para tornar mais eficiente a gestão
ambiental no Brasil.

Além do aumento de sua capacidade técnica para atendimento de demandas


de sua competência originária, a instituição de consórcios públicos poderá
facilitar a delegação pelos estados aos mesmos, visando à realização do
licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto regional,
desafogando os primeiros, abarrotados de processos, otimizando o uso de
recursos públicos e tornando os processos mais céleres.

Imprescindível para o alcance desses objetivos é a constituição, pelo consórcio


público, de uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais qualificados
experientes, preferencialmente concursados, para a atuação na área
ambiental.

No Capítulo III da referida lei complementar foram estabelecidas as ações de


cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com
vistas a atingir os objetivos previstos no art. 3º, bem como garantir o
desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas as políticas
governamentais.

Nesse particular, buscou o legislador disciplinar a repartição de competências


entre os entes federados para o desenvolvimento de diversas atividades
administrativas, destacando-se, entre elas, o licenciamento, a fiscalização

40
ambiental e a autorização para supressão e aprovação de manejo vegetal,
cujas competências para o seu exercício serão a seguir analisadas.

5.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL


5.1.1 União

De acordo com o art. 7º, XIV da referida lei complementar compete a União
promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país


limítrofe;
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma
continental ou na zona econômica exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação
instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos
termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e
emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar
nº 97, de 9 de junho de 1999;
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que
utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);
ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a
partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a
participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento. (LEI COMPLEMENTAR, Nº
140/11)

41
No que se refere às alíneas “a”, “b”, “c”, “e” e “g” não houve qualquer alteração
de cunho material. As hipóteses ali previstas já eram assim disciplinadas pela
Resolução CONAMA nº 237/07.

Nota-se que foi suprimida a hipótese prevista no art. 4º, III da Resolução
CONAMA nº 237/97, qual seja, “cujos impactos ambientais diretos ultrapassem
os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados”.

A extensão do impacto direto da atividade ou empreendimento jamais poderia,


no entanto, ser desconsiderada pelo legislador, pois é corolário lógico do
princípio constitucional da predominância de interesses. Empreendimentos ou
atividades cujos impactos diretos atinjam mais de um Estado ou ultrapassem
as fronteiras do país, atingindo outras nações, não podem, evidentemente,
deixar de ser licenciados pelo órgão ambiental federal, no caso, o IBAMA.
Qualquer tentativa na prática administrativa nesse sentido pode representar
séria ofensa à Constituição Federal.

O critério da dominialidade do bem para fins de licenciamento ambiental


adotado para a hipótese da alínea “b”, que também constava da Resolução
CONAMA nº 237/97, sempre foi objeto de questionamento por parte da
doutrina e da jurisprudência que frequentemente arguía a sua
inconstitucionalidade. (MILARÉ, 2005).

Registre-se, todavia, que, neste particular, houve um pequeno avanço com o


advento da Lei Complementar sub examine. Segundo o art. 8º, Parágrafo
Único:

O licenciamento dos empreendimentos cuja localização compreenda


concomitantemente áreas das faixas terrestre e marítima da zona
costeira será de atribuição da União exclusivamente nos casos
previstos em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir
de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a
participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente

42
(CONAMA) e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento. (LEI COMPLEMENTAR, Nº
140/11).

Em outros termos, nesses casos, a regra geral é no sentido de que o


licenciamento passa a ser de competência dos estados ou municípios, sendo
da União apenas excepcionalmente.

A hipótese prevista na alínea “d”, referente a empreendimentos ou atividades


localizadas em unidades de conservação federais também já era considerada
pela referida Resolução CONAMA como de competência da União. A grande
novidade trazida pela Lei Complementar nº 140/11 diz respeito às APAs que
passaram a ter regramento próprio, conforme adiante especificado.

O licenciamento de empreendimentos militares, que também já era de


competência da União (art. 4º, inciso V da Resolução CONAMA nº 237/ano),
não sofreu qualquer alteração. Houve apenas uma atualização da regra
anterior, incorporando na alínea “f” a exceção prevista na Lei Complementar nº
97, de 9 de junho de 1999.

A inovação mais significativa está prevista na alínea “h”. Consiste na


possibilidade do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite
Nacional, estabelecer outras hipóteses de licenciamento ambiental no âmbito
federal, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), e considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade ou empreendimento.

Além das hipóteses supracitadas algumas atividades e empreendimento que


causem ou possam causar impacto nacional, mesmo não tendo sido
explicitamente mencionadas no referido dispositivo legal, continuam sendo de
competência da União.

43
É o caso, por exemplo, das atividades que envolvam Organismos
Geneticamente Modificados – OGM (Lei nº 8.974/95), da licença para uso da
configuração de veículos ou de motor (Lei nº 8.723/93) e do registro de
agrotóxico e seus componentes (Lei nº 7.802/89).

Nos termos do art. 18, §§ 1º e 3º da Lei Complementar tais normas continuam


vigentes. A sua aplicação somente se iniciará a partir da entrada em vigor do
ato previsto no art. 7º, XIV, h relativo à proposição da Comissão Tripartite
Nacional.

Destarte, ainda que inexistisse disposição expressa não seriam tais normas
revogadas por essa lei, mesmo que posterior. Prevaleceria, nesse caso, a
aplicação do princípio da especialidade. Têm as mesmas total amparo
constitucional por se inspirarem no princípio da predominância de interesses,
devendo a sua disciplina permanecer inalterada.

5.1.2 Estados

A competência para o licenciamento ambiental dos Estados foi definida no


art.8º, XIV e XV da referida lei complementar.
Além da hipótese de licenciamento de atividade ou empreendimentos
localizados em unidades de conservação, expressamente prevista, com a
mesma ressalva referente às APAs, a competência dos Estados para o
licenciamento ambiental passou a ser residual.

Em vez de a lei tentar enumerar todas as hipóteses de licenciamento estadual,


optou por elencar os casos de licenciamento federal e municipal (art. 7º e 9º),
sendo estadual o licenciamento de todos os empreendimentos e atividades que
ali não se enquadrarem.

A prevalência do licenciamento ambiental no âmbito estadual, que já era uma


tendência na legislação vigente (Lei nº 6.938/81), ao que parece, não sofrerá

44
grandes alterações, em que pesem os esforços para o licenciamento no âmbito
local.

5.1.3 Municípios

Nos termos do art. 9º, XIV da referida lei complementar compete aos
Municípios o licenciamento de atividades ou empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,


conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade; ou
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). (LEI
COMPLEMENTAR, Nº 140/11).

Conforme já mencionado, a definição de novas hipóteses de licenciamento no


âmbito federal passa pela análise da Comissão Tripartite Nacional. Não se
compreende por que razão essa atividade não foi estabelecida como de
competência das Comissões Tripartites Estaduais.

Na Bahia, o Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia (CEPRAM), antes


mesmo da vigência dessa lei complementar, já havia editado a Resolução nº
3.925/09, definindo as atividades de impacto local para fins de licenciamento
ambiental municipal.

Com o advento da Lei Complementar n° 140/11, que teve como objetivo a


fixação das normas de cooperação entre os entes federados para o exercício
da competência material comum na defesa do meio ambiente, nos termos do
parágrafo único do artigo 23 da Constituição Federal, a Resolução CEPRAM n°
3925/2009, que dispõe sobre o Programa Estadual de Gestão Ambiental
Compartilhada, passou por um processo de análise e modificação, que teve
como consequência, a edição de uma nova Resolução, aprovada pelo Cepram

45
em outubro de 2013, que versa sobre as atividades de impacto local, de
competência dos municípios, e fixa normas gerais de cooperação federativa
nas ações relativas à proteção das paisagens naturais, do meio ambiente e ao
combate da poluição, seguindo o que dispõe a Lei Complementar nº 140/2011,
que deverá ser publicada ainda este ano, revogando a Resolução CEPRAM n°
3.925/2009.

A referida Resolução do CEPRAM dispõe também sobre o Programa Estadual


de Gestão Ambiental Compartilhada com fins ao fortalecimento da gestão
ambiental, mediante normas de cooperação entre os Sistemas Estadual e
Municipais de Meio Ambiente. Para apoio às ações de descentralização da
gestão ambiental com o objetivo de implantação, implementação e
fortalecimento do Sistema Municipal de Meio Ambiente é prevista a celebração
de termo de cooperação técnica entre o Estado e o Município.

É importante frisar, no entanto, que o exercício da competência ambiental


originária dos municípios independe da celebração do referido termo de
cooperação ou de qualquer outro instrumento com o Estado, ou de
reconhecimento de sua competência por parte do CEPRAM (art. 8º da referida
Resolução). A sua competência decorre da própria Constituição Federal, da
recente Lei Complementar ora em estudo e de outras normas pertinentes.

Figura 04. Competências do Licenciamento

46
5.1.4 Distrito Federal

Ao Distrito Federal, com fulcro no art. 10 da referida lei complementar, compete


o licenciamento de atividades ou empreendimentos de competência dos
Estados e dos Municípios.

5.1.5 Áreas de Proteção Ambiental (APAs)

O licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados em


APAs passou a ter regramento próprio, não se aplicando o critério do ente
federativo instituidor da unidade de conservação para a definição de
competência, conforme art. 12 da Lei Complementar. Deverão, no caso, serem
observados os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV
do art. 7º, no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do inciso XIV do art. 9º para
fins da delimitação da competência, já tratados anteriormente.

Desse modo, a competência do ente que irá proceder ao licenciamento


ambiental em área de Área de Proteção Ambiental (APA) será definida, em
regra, pelo grau de impacto da atividade, independentemente se a APA é
federal, estadual ou municipal.

Entretanto, para as demais categorias de Unidades de Conservação, entende-


se que o ente federativo responsável pela criação da respectiva UC, a
princípio, ficará também responsável pelo licenciamento ambiental da atividade
ou do empreendimento a ser instalado.

Sistematizando...
1- Faça um quadro comparativo das competências Federal,
Estadual municipal do Licenciamento.

47
5.2 AUTORIZAÇÃO DE SUPRESSÃO VEGETAL E APROVAÇÃO DE
MANEJO.
5.2.1 União

Compete à União, com fundamento no art. 7º, XV, da referida lei


complementar, aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e
formações sucessoras em:

a) florestas públicas federais, terras devolutas federais ou unidades de


conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e
b) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pela União. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11)

5.2.2 Estados

Aos Estados compete, de acordo com o art. 8, XVI, aprovar o manejo e a


supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em:

a) florestas públicas estaduais ou unidades de conservação do Estado,


exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
b) imóveis rurais, observadas as atribuições previstas no inciso XV do
art. 7º; e
c) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pelo Estado. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11)

5.2.3 Municípios

Aos municípios, conforme o art. 9, XV, compete aprovar:

a) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações


sucessoras em florestas públicas municipais e unidades de
conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs); e

48
b) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações
sucessoras em empreendimentos licenciados ou autorizados,
ambientalmente, pelo Município. (LEI COMPLEMENTAR, Nº 140/11)

5.2.4 Distrito Federal

Ao Distrito Federal compete as ações de competência estadual e federal.

5.2.5 Aspectos relevantes

Com a edição dessa lei as competências para autorização de supressão


vegetal e aprovação de manejo passaram a ser tratadas na legislação
infraconstitucional de forma clara.

A competência para a emissão desses atos de consentimento estatal torna-se,


em regra, do ente competente para o licenciamento ambiental ou daquele que
instituiu a unidade de conservação onde será realizada a intervenção.

A mesma ressalva referente ao licenciamento de atividades ou


empreendimentos localizados em APAs aplica-se para autorização de
supressão vegetal e aprovação de manejo, devendo ser também observados
os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7º,
no inciso XIV do art. 8º e na alínea “a” do inciso XIV do art. 9º para fins da
delimitação da competência.

Privilegiou-se a autorização de supressão vegetal e aprovação de manejo pelo


estado, já que, em regra, a este ente competirá a concessão desses atos no
que se refere a imóveis rurais.

Tendo em vista que grande parte dos estados e a maioria dos municípios não
estão devidamente estruturados para a atuação na área florestal, a exclusão da
competência do IBAMA pode, em muitos casos, representar graves riscos para

49
a conservação da biodiversidade, em especial, na floresta amazônica, caatinga
e cerrado.

Conforme o art. 11, “a lei poderá estabelecer regras próprias para atribuições
relativas à autorização de manejo e supressão de vegetação, considerada a
sua caracterização como vegetação primária ou secundária em diferentes
estágios de regeneração, assim como a existência de espécies da flora ou da
fauna ameaçadas de extinção”.

No caso da Mata Atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição


Federal (art. 225, §4º) já existe lei (a Lei Federal nº 11.428/06), disciplinando a
utilização e proteção da vegetação nativa desse bioma e prevendo claramente
a repartição de competências entre os entes federados para a autorização de
manejo e supressão de vegetação, afastando a incidência das regras gerais da
lei complementar ora em análise.

Com base no princípio da especialidade a referida lei continuaria sendo


aplicada ainda que inexistisse a regra estabelecida no art. 11. Além disso, nas
disposições finais e transitórias, prevê a lei complementar, em seu art. 19, que
“o manejo e a supressão de vegetação em situações ou áreas não previstas
nesta Lei Complementar dar-se-ão nos termos da legislação em vigor”.

Figura 05. Diagrama das etapas do Licenciamento Ambiental.

50
5.3 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

Por disposição expressa, a competência para a fiscalização ambiental passa a


ser, a priori, do ente licenciador (art. 7º, XIII, art. 8º, XIII, art. 9º, XIII, art. 10 e
art. 17, caput) o que não impede, todavia, o exercício da fiscalização pelos
demais entes federativos, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado
por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização (art. 17 §
3º).

Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental,


o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas
para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão
competente para as providências cabíveis. (art. 17 § 2º).

5.4 LICENCIAMENTO POR UM ÚNICO ENTE FEDERATIVO

A Lei Complementar nº 140/11, seguindo a mesma orientação da Resolução


CONAMA nº 237/97 impôs que o licenciamento ambiental seja realizado em
única esfera federativa (art. 13).

Retrocedeu, todavia, no tocante a manifestação dos demais entes interessados


ao dizer que seria a mesma uma mera faculdade (art. 13, §1º).

A legislação vigente até então exigia que a realização do licenciamento


ambiental pelo órgão competente fosse precedida do exame técnico dos
demais entes interessados (art. 4º, §1º e art. 5º, parágrafo único da Resolução
CONAMA nº 237).

5.5 ALTERAÇÕES NA LEI Nº 6.938/81

Foram também realizadas algumas modificações nos arts. 10 e 11 da Lei da


Política Nacional do Meio ambiente visando adequá-la a nova sistemática

51
proposta pela Lei Complementar nº 140/11 com relação ao licenciamento e
fiscalização ambiental.

Ressalte-se que mesmo antes dessa alteração deveria ser feita uma releitura
de alguns dos dispositivos ali constantes à luz da Constituição Federal de 1988
que estabeleceu a competência administrativa comum em matéria ambiental.

Houve também uma pequena inovação, no que concerne a publicidade no


licenciamento ambiental. Admitiu-se a possibilidade de a publicação de pedidos
de licenciamento, sua renovação e concessão ser realizada em meio eletrônico
de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente, como alternativa
ao jornal periódico regional ou local de grande circulação.

6 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Para melhor compreender o conceito responsabilidade é interessante buscar a


origem etimológica do vocábulo responsável. Do latim responsus, do verbo
respondere (responder, afiançar, prometer, pagar) – ideia de reparar,
recuperar, compensar ou pagar pelo que fez.

Antes de ser um fato jurídico é um “fato social” (Rosa, 1996), pois “aquele que
vive em sociedade e pratica um ato ou uma omissão que resulta em prejuízo,
deve suportar a consequência deste comportamento por imposição legal”
(Leite, 2003).

No caso da responsabilidade ambiental, o seu fundamento constitucional é o


art. 225, § 3.º, segundo o qual “as condutas e atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados”.

O art. 14, § 1º da Lei n° 6.938/81 também embasa a responsabilidade


ambiental nas esferas administrativa, civil e penal. Vejamos:

52
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal,
por danos causados ao meio ambiente.

Registre-se, portanto, que instâncias são em regra independentes. Uma


mesma conduta pode ensejar responsabilização nas três esferas. Pode a uma
pessoa que cause um dano ambiental ser imposta uma multa pelo órgão
ambiental e ser também processada civil e criminalmente.

A responsabilidade penal é decorrente de cometimento de crime ou


contravenção penal (infrações penais). Acarreta sanções penais como prisão,
multa, penas restritivas de direito, após a instauração do devido processo
judicial. O MP é a entidade responsável pela promoção da competente ação
pena pública. As infrações penais ambientais estão previstas na Lei nº
9.605/98.

A responsabilidade civil decorre da obrigação de reparar ou ressarcir o dano


ocasionado ao meio ambiente. Independe de culpa, basta que seja provada a
ocorrência do dano ambiental e o nexo de causalidade entre a atividade e o
dano.

De acordo com a Teoria do Risco Integral seria prescindível a investigação da


culpa, irrelevante a licitude da atividade e inaplicáveis excludentes (caso
fortuito, força maior e fato de terceiro) e de cláusula de não indenizar.

A responsabilidade civil por danos ambientais é solidária e concorrente. Todos


aqueles que de alguma forma contribuíram para a ocorrência do dano
ambiental respondem (concorrência) e cada um deles pode responder
integralmente pelos danos (solidariedade).

53
Trata-se de uma obrigação propter rem, ou seja, que acompanha a coisa e a
persegue, independe de quem seja o proprietário. É o caso, por exemplo, da
recuperação de áreas de Preservação Permanente.

A Lei nº 7.347/85 regula o Inquérito Civil, o Termo de Ajustamento de Conduta


e a Ação Civil Pública, instumentos habéis para tetela ambiental. A defesa
judicial do meio ambiente também pode ser feita por qualquer cidadão por meio
da Ação Popular.

A responsabilidade administrativa decorre da inobservância de normas


administrativas. Acarreta sanções de natureza administrativa. No âmbito
federal as infrações administrativas ambientais estão previstas na Lei nº
9.605/98 na parte dedicada às infrações administrativas e no Decreto nº
6.514/2008. Na esfera estadual, na Lei nº 10.431/06 e no Decreto nº
14.024/2012.

Nos termos do art. 33 do Decreto Estadual nº 14.024/2012 os responsáveis


pelos empreendimentos e atividades instalados ou que venham a se instalar no
Estado da Bahia respondem, independentemente de dolo ou culpa, pelos
danos causados ao meio ambiente pelo acondicionamento, estocagem,
transporte, tratamento e disposição final de resíduos, mesmo após sua
transferência a terceiros.

A responsabilidade do gerador não exime a do transportador e a do receptor do


resíduo pelos incidentes ocorridos durante o transporte ou em suas
instalações, que causem degradação ambiental. Desde que devidamente
aprovada pelo órgão executor da política de meio ambiente, a utilização de
resíduos por terceiros, como matéria-prima ou insumo, fará cessar a
responsabilidade do gerador.

54
Os responsáveis pela degradação ambiental ficam obrigados a recuperar as
áreas afetadas, sem prejuízo de outras responsabilidades administrativas
legalmente estabelecidas, através da adoção de medidas que visem à
recuperação do solo, da vegetação ou das águas e a redução dos riscos
ambientais para que se possa dar nova destinação à área.

Deverá, no caso, ser apresentado ao órgão ambiental competente um Plano de


Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD sujeito à sua aprovação.

São considerados responsáveis solidários pela prevenção e recuperação de


uma área degradada: I - o causador da degradação e seus sucessores; II - o
adquirente, o proprietário ou o possuidor da área ou do empreendimento; III -
os que aufiram benefícios econômicos, diretos ou indiretos, decorrentes da
atividade causadora da degradação ambiental ou contribuam para sua
ocorrência ou agravamento.

Consideram-se áreas degradadas, dentre outras:

I - as que tiveram suas características naturais alteradas pela poluição causada


por derrame de produtos químicos;
II - as que não foram devidamente recuperadas após sofrerem exploração
mineral;
III - as que foram desmatadas sem prévia autorização;
IV - as que sofreram erosão em consequência de atividade antrópica;
V - as Áreas de Preservação Permanente ocupadas de forma irregular;
VI - as que tiveram suas características naturais alteradas por poluição
causada por disposição irregular de resíduos.

7 PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

O regime jurídico administrativo pode ser sinteticamente compreendido como


prerrogativas e sujeições.

55
As prerrogativas ou privilégios da Administração Pública são a ela conferidos
com vistas à satisfação dos interesses da coletividade. Os Poderes da
Administração Pública decorrem, fundamentam-se e somente se justificam em
razão de seu dever de perseguir o interesse público.

Por outro lado, a Administração Pública está sujeita a uma série de obrigações,
princípios, regras e procedimentos não incidentes nas relações entre
particulares.

Cabe a Administração Pública a busca constante do equilíbrio entre a proteção


aos interesses individuais e a necessidade de satisfação dos interesses
coletivos.

7.1 Princípios

De acordo com o Art. 37 da Constituição Federal, a administração pública


direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Além dos princípios previstos expressamente no referido dispositivo, outros


estão implícitos no texto constitucional e/ou em outros diplomas legais, tendo o
reconhecimento da doutrina e da jurisprudência.

7.1.1 Princípio da legalidade

Com base nesse princípio o servidor público só pode fazer o que está previsto
em lei. Ou seja, não há autonomia de vontade. No mundo privado, pode-se
fazer tudo que a lei não proíbe (CF, art. 5°, II).

Somente a Lei pode criar direitos e obrigações. Somente a Lei pode inovar no
mundo jurídico. Para Celso Antônio Bandeira de Melo esse princípio "implica
subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos,

56
desde o que lhe ocupe a cúspide até os mais modestos deles, devem ser
instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas".

7.1.2 Princípio da impessoalidade

Esse princípio abrange dois aspectos: 1) A Administração não pode atuar com
vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas; 2) Os atos e
provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que o pratica,
mas ao órgão ou entidade da Administração Pública.

Ofende, por exemplo, esse princípio, o técnico ambiental que interdita uma
determinada indústria não pelos prejuízos ambientais por ela causados, mas
verdadeiramente por ser inimigo de seu proprietário ou, em situação inversa,
que não aplica a sanção adequada pela relação de amizade que mantém com
o seu proprietário.

7.1.3 Princípio da moralidade

O agente público deve agir com retidão, idoneidade, em conformidade com a


moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de
justiça e equidade, a idéia comum de honestidade.

7.1.4 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade liga-se ao controle. Conforme previsto no art. 5°,


XXXIII, da CF, todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

7.1.5 Princípio da eficiência

O princípio da eficiência liga-se à qualidade no serviço público. Mesmo


entendendo que a eficiência da Administração Pública já era exigível antes da

57
Emenda Constitucional nº 19/98, não resta dúvida de que, ainda que no
primeiro instante pareça “um simples adorno agregado ao art. 37 ou o
extravasamento de uma aspiração dos que burilam no texto“(MELLO, 2004,
p.112), a sua previsão expressa como princípio da administração alcança
relevância fundamental.

Pietro (2000, p. 83), salienta:

O princípio da eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos: pode


ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do
qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para
lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar,
estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo
objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço
público.

No mesmo sentido, aduz outro autor:

[...] o princípio da eficiência não alcança apenas os serviços públicos


prestados diretamente à coletividade. Ao contrário, deve ser observado
também em relação aos serviços administrativos internos das pessoas
federativas e das pessoas a elas vinculadas [...] significa que a
Administração deve recorrer a moderna tecnologia e aos métodos hoje
adotados para obter a qualidade total da execução das atividades a seu
cargo (CARVALHO FILHO, 2006, p.23).

Outra interpretação doutrinária do referido princípio constitucional que merece


destaque pela sua completude é a seguinte:

Assim, princípio da eficiência é o que impõe à administração pública


direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por
meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra,
transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca
da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais

58
necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de
maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade
social (MORAES, 1999, p.298).

Outro jurista assevera:

Do exposto até aqui, identifica-se no princípio constitucional da


eficiência três idéias: prestabilidade, presteza e economicidade.
Prestabilidade, pois o atendimento prestado pela Administração Pública
deve ser útil ao cidadão. Presteza porque os agentes públicos devem
atender o cidadão com rapidez. Economicidade porquanto a satisfação
do cidadão deve ser alcançada do modo menos oneroso possível ao
Erário público. Tais características dizem respeito quer aos
procedimentos (presteza, economicidade), quer aos resultados
(prestabilidade), centrados na relação Administração Pública/cidadão
(COSTODIO apud VETTORATO, 2003).

Assim, prossegue o autor:

Ocorre que há também outra espécie de situação a ser considerada


quanto à Administração e que não engloba diretamente os cidadãos.
Trata-se das relações funcionais internas mantidas entre os agentes
administrativos, sob o regime hierárquico. Nesses casos, é fundamental
que os agentes que exerçam posições de chefia estabeleçam
programas de qualidade de gestão, definição de metas e resultados,
enfim, critérios objetivos para cobrar de seus subordinados eficiência
nas relações funcionais internas dependerá a eficiência no
relacionamento Administração Pública/cidadão (COSTODIO apud
VETTORATO, 2003).

E conclui:
Observando esses dois aspectos (interno e externo) da eficiência na
Administração Pública, então, poder-se-ia enunciar o conteúdo jurídico
do princípio da eficiência nos seguintes termos: a Administração Pública
deve atender o cidadão na exata medida da necessidade deste com

59
agilidade, mediante adequada organização interna e ótimo
aproveitamento dos recursos disponíveis. (COSTODIO apud
VETTORATO, 2003).

Para o renomado constitucionalista José Afonso da Silva (2006), a


Administração pública atinge eficiência quando utiliza melhor dos recursos e
meios (humanos, materiais e institucionais), visando uma melhor satisfação das
necessidades coletivas.

Para Gustavo Vettorato (2003), o princípio da eficiência administrativa “deve


ser interpretado de forma a abalizar a melhor utilização dos inputs
administrativos (recursos, meios e esforços), bem como os seus outputs
(resultados)”.

O princípio constitucional da eficiência da Administração Pública, nessa


perspectiva, representa importante base jurídica para a construção de novos
modelos de gestão pública, participativos, democráticos, descentralizados,
intersetoriais.

Desse modo, para fins da completa observância do referido princípio


constitucional a Administração Pública deve não só racionalizar meios e
recursos para melhor satisfazer as necessidades públicas, mas também tornar,
de maneira geral, suas ações efetivamente capazes de solucionar os
problemas.

No caso específico do meio ambiente, deve-se ressaltar que a eficiência só é


plenamente atingida quando a ação administrativa revela-se, em regra, capaz
de evitar a ocorrência do dano ambiental. É que no Direito Ambiental o referido
princípio administrativo tem que ser estudado à luz do princípio da prevenção.
Portanto, não cumpre o mandamento constitucional a Administração Pública
que se omite no seu dever de fiscalizar, quedando-se inerte à espera da
materialização do dano para a tomada de providências.

60
7.1.6 Princípio da presunção de legitimidade ou de veracidade

Abrange a presunção de verdade (certeza dos fatos), bem como a presunção


da legalidade (conformidade com a lei). Essa presunção é relativa, admitindo,
portanto, prova em contrário.

7.1.7 Princípio do controle ou tutela

Segundo esse princípio a Administração Direta deve fiscalizar a atividades das


entidades da Administração Indireta

7.1.8 Princípio da autotutela

Esse princípio é consagrado em duas súmulas do supremo Tribunal Federal.


Nos termos da Súmula nº 346 “a Administração Pública está sujeita à lei, cabe-
lhe, evidentemente, o controle da legalidade”.

Segundo a Súmula nº 473 “a administração pode anular seus próprios atos,


quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial”.

7.1.9 Princípio da hierarquia

Diz respeito à relação de coordenação e subordinação entre os órgãos


públicos. Tem como efeitos a revisão de atos de subordinados e os poder de
delegação, avocação e disciplinar.

7.1.10 Princípio da Razoabilidade

Diz respeito ao aceitável, ao bom senso. Deve haver congruência lógica entre
as situações e as decisões administrativas.

61
7.1.11 Princípio da Proporcionalidade

Pode ser dividido em três princípios: 1) Adequação (meio empregado


compatível com o fim colimado); 2) Necessidade (a conduta deve ser
necessária, não pode haver meio menos gravoso ou oneroso); 3)
Proporcionalidade em sentido estrito (as vantagens devem superar as
desvantagens)

De acordo com ilustre jurista “as competências administrativas só podem ser


validamente exercidas na extensão e intensidade proporcionais ao que seja
realmente demandado para cumprimento da finalidade de interesse público a
que estão atreladas. Segue-se que os atos cujos conteúdos ultrapassem o
necessário para alcançar o objetivo que justifica o uso da competência ficam
maculados de ilegitimidade, porquanto desbordam do âmbito da competência;
ou seja, superam os limites que naquele caso lhes corresponderiam.“ (MELLO)
E complementa:

[...] quando a Administração restringe situação jurídica dos


administrados além do que caberia, por imprimir às medidas tomadas
uma intensidade ou extensão supérfulas, prescindendas, ressalta a
ilegalidade de sua conduta. É que ninguém deve estar obrigado a
suportar constrições em sua liberdade ou propriedade que não sejam
indispensáveis à satisfação do interesse público.(Celso Antonio
Bandeira de Mello)

7.1.12 Princípio da Motivação

Exige que a Administração Pública indique os fundamentos de fato e de direito


de suas decisões. Nesse sentido, para a aplicação de sanções administrativas
é necessário descrever a suposta infração cometida, analisar as circunstâncias
agravantes e atenuantes, entre outros. A decisão deve ser fundamentada sob
pena de nulidade.

62
7.2 Poder de polícia

Nos termos do art. 78 do CTN:

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos.

Em sentido amplo abrange atos do Legislativo e Executivo.

Divide-se em Polícia Administrativa e Polícia Judiciária:

A Polícia Administrativa tem caráter preventivo e tem o dever de combater o


Ilícito administrativo. No caso o IBAMA e o ICMBio (âmbito federal), INEMA
(estadual) e órgão ambientais municipais exercem o poder de polícia
administrativa ambiental seja por meio do licenciamento ou fiscalização.

Já a Polícia judiciária tem caráter repressivo e a ela compete o combate ao


Ilícito penal. Tem como principais características a discricionariedade, a
autoexecutoriedade e a coercibilidade.

A discricionariedade está ligada ao leque de opções previstas em lei que


dispõe o agente público quando da tomada de uma decisão, cabendo a ele a
escolha daquela que melhor atenda ao interesse público e que exija o menor
sacrifício do administrado.

A autoexecutoriedade é a prerrogativa que dispõe Administração Pública de


executar seus próprios atos sem a necessidade de recorrer ao Poder

63
Judiciário. A imposição de interdição, por exemplo, está embasada nesse
poder. A coercibilidade relaciona-se ao poder da Administração de utilizar a
força necessária para o cumprimento de suas decisões. O Poder de Polícia tem
como limites a competência, a forma, os fins, o motivo e o objeto.

7.3 Abuso de Poder

O abuso de poder ocorre sempre que os poderes conferidos à Administração


forem utilizados com desrespeito à lei, à moral ou com finalidade diversa da
prevista em sua criação.

Ele pode se materializar de duas formas:

a) por excesso de poder: o agente atua fora dos limites de sua


competência administrativa, invadindo competências de outros agentes
ou atuando fora da competência que lhe foi delimitada legalmente.
b) desvio de poder ou desvio de finalidade: ocorre quando o agente
atua no limite de sua competência, mas com finalidade diversa da
determinada pela lei.

Princípios Constitucionais ou Explícitos

LEGALIDADE

IMPESSOALIDADE

MORALIDADE

PUBLICIDADE

EFICIÊNCIA

Figura 06. Princípios Constitucionais da administração pública.

Atos praticados com abuso de poder são nulos, devendo ser assim declarados
pela Administração Pública (autotutela administrativa) ou pelo Judiciário.

64
Pode-se citar como exemplos de abusos cometidos pela autoridade ambiental
a aplicação de multa com valor desproporcional a infração cometida, a
interdição de empreendimento quando a multa seria sanção suficiente para
atingir a finalidade pública, o estabelecimento de prazos inexequíveis para o
cumprimento de determinações, etc.

Sistematizando...
1- Conceitue os princípios da administração.

8 AS POLÍTICAS NACIONAL E ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E A


POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ASPECTOS NORMATIVOS
RELATIVOS À FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

8.1 A Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio


Ambiente (SISNAMA)

A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938/81,


representa um passo pioneiro não só para a proteção ambiental, mas também
para a história da própria Administração Pública brasileira, até então marcada
(hoje, infelizmente, em muitas situações, não é muito diferente) por ações
governamentais que “obedeciam mais a impulsos do momento ou a tendências
de um determinado governo do que a planos, programas e projetos
devidamente articulados”. (MILARÉ, 2005, p.429).

De acordo com art. 2º, caput o seu objetivo geral é “a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”

Percebe-se, de logo, a preocupação do legislador com o ser humano, fruto de


uma notória influência da Declaração de Estocolmo, que, conforme lembra
Paulo de Bessa Antunes (2004), em seu Princípio 1, diz:

65
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao
desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de
qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar,
e é portador solene de obrigação de melhorar o meio ambiente, para as
presentes e futuras gerações [...]

Aliás, nesse particular, a referida lei está em plena consonância com a


Constituição de 1988 que considera a dignidade da pessoa humana
fundamento da República.
A Política Nacional do Meio Ambiente deve atender, com fulcro no art. 2º da
aludida lei, os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso de recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com representação de áreas
representativas;
V - Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o
uso racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a
educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente.

A análise de tais princípios demonstra que a referida política enseja


necessariamente a participação dos diversos setores que compõem a
Administração Pública, sem a qual o objetivo geral e os específicos, a seguir

66
enumerados, ficam totalmente prejudicados a ponto de inviabilizar o êxito da
própria política.

Os objetivos específicos da PNMA são relacionados no art. 4º e seus incisos


da referida lei:

Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


I - a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - a definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à
qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de padrões da qualidade ambiental e de normas
relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias nacionais
orientadas para o uso racional de recursos ambientais;
V - a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação
de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e
do equilíbrio ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à
sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para
a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar
e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

Para fins específicos do presente estudo, merece atenção especial o inciso II


do referido artigo. De acordo com Edis Milaré (2005, p.440),

Por tratar-se de ação governamental ou, em outro dizer, de políticas


governamentais para o meio ambiente, esse objetivo condicionará os
planos, programas e projetos do Poder Executivo em especial, assim

67
como os da Administração Pública, que é a estrutura organizacional e
operacional daquele poder.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão previstos no art.


9 º da referida lei, a seguir transcritos:

Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:


I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação
ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade
ambiental;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo
Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de
proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas
extrativistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de
Defesa Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento
das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental;
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente
poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão
ambiental, seguro ambiental e outros. (inciso acrescentado pela Lei nº
11.284/06).

68
O Sistema Nacional do Meio Ambiente é composto pelo conjunto de órgãos e
entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
responsáveis pela proteção ambiental.

A estrutura do SISNAMA, com fundamento no art. 6º da Lei da PNMA, é


formada por: um Órgão Superior – o Conselho de Governo; um Órgão
Consultivo e Deliberativo – o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA);
um Órgão Central – o Ministério do Meio Ambiente; um Órgão Executor – o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA); Órgãos Setoriais – órgãos ou entidades da Administração Pública
Federal direta ou indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas
atividades estejam associadas à proteção da qualidade ambiental ou as de
disciplinamento do uso dos recursos ambientais; Órgãos Seccionais – os
órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas,
projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a
degradação ambiental; Órgãos Locais – os órgãos ou entidades municipais,
responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas
respectivas jurisdições.

A função do Conselho de Governo é assessorar o Presidente da República na


formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio
ambiente e os recursos ambientais.

O CONAMA tem a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de


Governo diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e
deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões.

O referido conselho tem o caráter consultivo e deliberativo e é composto por


representantes de todos os Ministérios, dos governos estaduais e municipais e
também da sociedade, incluindo setor empresarial, de trabalhadores e
organizações não governamentais, dentre outros. Registre-se que também

69
integram o conselho, na qualidade de conselheiros convidados sem direito a
voto um representante do Ministério Público Federal, dos Ministérios Públicos
Estaduais e da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio ambiente e Minorias
da Câmara dos Deputados (art. 5º do Decreto nº 99.274/90).

O CONAMA tem desempenhado importante papel na defesa e proteção do


meio ambiente principalmente na edição de normas. A composição plural do
referido conselho sem dúvida também dá mais legitimidade a suas decisões.

O Ministério do Meio ambiente tem a finalidade de planejar, coordenar,


supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


(IBAMA) ao lado do ICMBio executa e faz executar, como órgãos federais, a
política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.

Importante para os fins do presente estudo é observar que são também


integrantes do SISNAMA, conforme já mencionado, os chamados Órgãos
Setoriais. Diversos são os órgãos e entidades cujas atividades estão
associadas à proteção da qualidade ambiental ou ao disciplinamento do uso
dos recursos ambientais. Conforme já dito anteriormente, diversos ministérios
têm suas atividades nitidamente ligadas à área ambiental, devendo ser,
portanto, considerados Órgãos Setoriais (ANTUNES, 2004).

Se de um lado a Lei nº 6.938/81 que instituiu a Política Nacional do Meio


Ambiente e criou o SISNAMA, evidencia a necessidade de participação dos
diversos setores governamentais e da sociedade em geral para o êxito de suas
ações, de outro, é, de certa forma, tímida no que diz respeito à previsão de
mecanismos de integração, articulação e comunicação entre eles.

70
A composição plural do CONAMA e a mera previsão legal de que os órgãos
setoriais são integrantes do SISNAMA não se revelam suficientes para que
valores ambientais possam imiscuir-se nas políticas públicas realizadas pelos
diversos setores.

8.2 Política Estadual do Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade

A Política Estadual do Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade é


regulada pela Lei nº 10.431/06 e pelo Decreto nº 14.024/12.

Seguindo o modelo federal e em total consonância com a legislação federal,


estabelece a lei em seus artigos 2º, 3º e 4º, respectivamente, os seus próprios
princípios, objetivos e as diretrizes gerais para a Política Estadual do Meio
Ambiente e de Proteção à Biodiversidade.

Em seu art. 6º são enumerados os instrumentos, sendo a fiscalização


ambiental textualmente citada como um desses instrumentos.

8.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos: Aspectos normativos relativos


à fiscalização ambiental.

A recente e bastante esperada Lei Federal nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,


regulamentada pelo Decreto Federal nº 7.404/2010, veio a preencher uma
importante lacuna legislativa, instituindo a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como
sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos
sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder
público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

Para os fins específicos deste estudo será dada ênfase aos aspectos
normativos mais atinentes ao exercício da fiscalização ambiental.

Por expressa previsão legal, aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto
na referida lei, nas Leis nos 11.445, de 5 de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de

71
junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos
órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional
de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade
Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Sinmetro). Já os rejeitos radioativos são regulados por
legislação específica.

Os resíduos sólidos são classificados quanto à origem e no que se refere à sua


periculosidade.

Quanto à origem são assim classificados:

1. resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em


residências urbanas;
2. resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de
logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
3. resíduos sólidos urbanos: os englobados os domiciliares e os resíduos
de limpeza urbana;
4. resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os
gerados nessas atividades, excetuados os resíduos de limpeza urbana,
dos serviços públicos de saneamento básico, de serviços de saúde da
construção civil de serviços de transportes;
5. resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados
nessas atividades, excetuados os resíduos sólidos urbanos;
6. resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais;
7. resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde,
conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos
órgãos do Sisnama e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
(SNVS);

72
8. resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas,
reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os
resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis;
9. resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e
silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas
atividades;
10. resíduos de serviços de transportes: os originários de portos,
aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e
passagens de fronteira;
11. resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa,
extração ou beneficiamento de minérios;

No que concerne à periculosidade são os resíduos sólidos são divididos em:

1. resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de


inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade,
carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam
significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo
com lei, regulamento ou norma técnica;
2. resíduos não perigosos: os que não se enquadrarem na categoria de
perigosos.

A lei estabeleceu também a obrigatoriedade de elaboração de Plano de


Gerenciamento de Resíduos Sólidos – PGRS para algumas atividades e
empreendimentos.

Estão sujeitos ao PGRS:

1. os geradores de resíduos industriais, de mineração, de serviços de


saúde e dos serviços públicos de saneamento básico;
2. os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que:
a) gerem resíduos perigosos;

73
b) gerem resíduos que, mesmo caracterizados como não perigosos, por
sua natureza, composição ou volume, não sejam equiparados aos
resíduos domiciliares pelo poder público municipal;
3. as empresas de construção civil, nos termos do regulamento ou de
normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama;
4. os responsáveis por portos, aeroportos, terminais alfandegários,
rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira e, nos termos do
regulamento ou de normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e, se
couber, do SNVS, as empresas de transporte;
5. os responsáveis por atividades agrossilvopastoris, se exigido pelo órgão
competente do Sisnama, do SNVS ou do Sistema Unificado de Atenção
à Sanidade Agropecuária (Suasa).

No que tange às responsabilidades disciplinou a lei especificamente as


obrigações do titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos, das pessoas físicas ou jurídicas sujeitas ao PGRS, dos
geradores de resíduos sólidos domiciliares e do Poder Público.

O titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos


sólidos é responsável pela organização e prestação direta ou indireta desses
serviços, observados o respectivo plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos, a Lei nº 11.445, de 2007, e as disposições da referida Lei e
seu Regulamento.

As pessoas físicas ou jurídicas sujeitas ao PGRS são responsáveis pela


implementação e operacionalização integral do plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, aprovado pelo órgão competente.

Frise-se que, nesses casos, a contratação de serviços de coleta,


armazenamento, transporte, transbordo, tratamento ou destinação final de
resíduos sólidos, ou de disposição final de rejeitos, não as isenta da

74
responsabilidade por danos que vierem a ser provocados pelo gerenciamento
inadequado dos respectivos resíduos ou rejeitos.

Em outros termos, a sua responsabilidade é solidária, não cessa com a


terceirização dos serviços, perdurando até a adequada disposição final dos
resíduos sólidos.

Assim, além do responsável direto pelo eventual dano ambiental poderão


também responder as pessoas físicas ou jurídicas sujeitas ao PGRS.

Já o gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada a sua


responsabilidade pelos resíduos com a disponibilização adequada para a
coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33 (logística reversa), com a
devolução.

Cabe ao poder público atuar, subsidiariamente, com vistas a minimizar ou


cessar o dano, logo que tome conhecimento de evento lesivo ao meio ambiente
ou à saúde pública relacionado ao gerenciamento de resíduos sólidos. Os
responsáveis pelo dano ressarcirão integralmente o poder público pelos gastos
decorrentes das ações empreendidas na forma do caput.

O sistema de logística reversa, que já era previsto para alguns produtos


específicos por Resoluções do Conama, passou a ser regulado pela lei.

Nesse sentido, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística


reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma
independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos
sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

a) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos


cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as
regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou

75
regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do Sistema Unificado
de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), ou em normas técnicas;
b) pilhas e baterias;
c) pneus;
d) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
e) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
f) produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Na forma do disposto em regulamento ou em acordos setoriais e termos de


compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas
de logística reversa serão estendidos a produtos comercializados em
embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e
embalagens, considerando, prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à
saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.

Os resíduos perigosos mereceram tratamento especial pela lei. Nesse sentido,


a instalação e o funcionamento de empreendimento ou atividades que gerem
ou operem com resíduos perigosos somente podem ser autorizados ou
licenciados pelas autoridades competentes se o responsável comprovar, no
mínimo, capacidade técnica e econômica, além de condições para prover os
cuidados necessários ao gerenciamento desses resíduos.

As pessoas jurídicas que operam com resíduos perigosos, em qualquer fase do


seu gerenciamento, são obrigadas a se cadastrar no Cadastro Nacional de
Operadores de Resíduos Perigosos.

As pessoas jurídicas que gerem ou operam com resíduos perigosos são


obrigadas a elaborar plano de gerenciamento de resíduos perigosos e
submetê-lo ao órgão competente do Sisnama e, se couber, do SNVS, bem
como manter registro atualizado e facilmente acessível de todos os
procedimentos relacionados à implementação e à operacionalização do plano.

76
Devem também informar anualmente ao órgão competente do Sisnama e, se
couber, do SNVS, sobre a quantidade, a natureza e a destinação temporária ou
final dos resíduos sob sua responsabilidade.

Têm a obrigação de adotar medidas destinadas a reduzir o volume e a


periculosidade dos resíduos sob sua responsabilidade, bem como a aperfeiçoar
seu gerenciamento; e são também obrigadas a informar imediatamente aos
órgãos competentes sobre a ocorrência de acidentes ou outros sinistros
relacionados aos resíduos perigosos.

Sempre que solicitado pelos órgãos competentes do Sisnama e do SNVS, será


assegurado acesso para inspeção das instalações e dos procedimentos
relacionados à implementação e à operacionalização do plano de
gerenciamento de resíduos perigosos.

No caso de controle a cargo de órgão federal ou estadual do Sisnama e do


SNVS, as informações sobre o conteúdo, a implementação e a
operacionalização do plano de gerenciamento de resíduos perigosos serão
repassadas ao poder público municipal, na forma do regulamento.

No que se refere à responsabilidade pelas por áreas órfãs contaminadas,


dispõe o art. 41 da referida lei que, sem prejuízo das iniciativas de outras
esferas governamentais, o Governo Federal deve estruturar e manter
instrumentos e atividades voltados para promover a descontaminação de áreas
órfãs.

Se, após descontaminação de sítio órfão, realizada com recursos do Governo


Federal ou de outro ente da Federação, forem identificados os responsáveis
pela contaminação, estes ressarcirão integralmente o valor empregado ao
poder público.

77
Com o fim de garantir a devida proteção à saúde e ao meio ambiente a lei
estabelece uma série de condutas proibidas.

São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de


resíduos sólidos ou rejeitos:

a) lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;


b) lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de
mineração;
c) queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não
licenciados para essa finalidade;
d) Outras formas vedadas pelo poder público.

Excepcionalmente, nos casos em que seja decretada emergência sanitária, a


queima de resíduos sólidos é admitida, desde que autorizada e acompanhada
pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e, quando couber, da Suasa.

Assegurada a devida impermeabilização, as bacias de decantação de resíduos


ou rejeitos industriais ou de mineração, devidamente licenciadas pelo órgão
competente do Sisnama, não são consideradas corpos hídricos para efeitos da
proibição de disposição final em corpos hídricos.

São proibidas, nas áreas de disposição final de resíduos ou rejeitos, as


seguintes atividades:

a) utilização dos rejeitos dispostos como alimentação;


b) catação, observado o disposto no inciso V do art. 17;
c) criação de animais domésticos;
d) fixação de habitações temporárias ou permanentes;
e) outras atividades vedadas pelo poder público.

78
É também expressamente proibida a importação de resíduos sólidos perigosos
e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas características causem dano ao
meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para
tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.

A responsabilidade civil objetiva pelos danos decorrentes da inobservância nos


normas previstas na referida lei e em seu regulamento é ratificada pela nova
lei, bem com a possibilidade de seus infratores serem responsabilizados
administrativa e penalmente. É o que dispõe o art. 51:

Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de


culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas
físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou
de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei,
em especial às fixadas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
“dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências”, e em seu regulamento.

A obrigação dos responsáveis pelo plano de gerenciamento de resíduos


sólidos, de manter atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente,
ao órgão licenciador do Sisnama e a outras autoridades, informações
completas sobre a implementação e a operacionalização do plano sob sua
responsabilidade, bem como as obrigações das pessoas jurídicas que operam
com resíduos perigosos constam do § 2o do art. 39 da referida lei e são
consideradas obrigação de relevante interesse ambiental para efeitos do art. 68
da Lei nº 9.605/1998, sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis
nas esferas penal e administrativa.

Em outros termos, além de responder administrativamente, poderá ser também


responsabilizado penalmente aquele que tendo o dever legal ou contratual de
fazê-lo, deixar de cumprir qualquer das referidas obrigações, sujeitando-se, em

79
caso de dolo, a pena de detenção, de um a três anos, e multa. Se o crime for
culposo, a pena é de três meses a um ano, sem prejuízo da multa.

Estabeleceu a lei o prazo de até 4 (quatro) anos, após a data de publicação


desta Lei (2 de agosto de 2010), para a disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1 o do art. 9o. Os órgãos de
fiscalização ambiental devem estar atentos a esse prazo legal.

Por fim, merece destaque a alteração pelo Decreto nº 7.404/2010 do art. 62 do


Decreto no 6.514, de 22 de julho de 2008, introduzindo novas infrações
administrativas específicas. Vejamos:

Art. 62.
IX - lançar resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou quaisquer
recursos hídricos;
X - lançar resíduos sólidos ou rejeitos in natura a céu aberto,
excetuados os resíduos de mineração;
XI - queimar resíduos sólidos ou rejeitos a céu aberto ou em recipientes,
instalações e equipamentos não licenciados para a atividade;
XII - descumprir obrigação prevista no sistema de logística reversa
implantado nos termos da Lei no 12.305, de 2010, consoante as
responsabilidades específicas estabelecidas para o referido sistema;
XIII - deixar de segregar resíduos sólidos na forma estabelecida para a
coleta seletiva, quando a referida coleta for instituída pelo titular do
serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;
XIV - destinar resíduos sólidos urbanos à recuperação energética em
desconformidade com o § 1o do art. 9o da Lei no 12.305, de 2010, e
respectivo regulamento;
XV - deixar de manter atualizadas e disponíveis ao órgão municipal
competente e a outras autoridades informações completas sobre a
realização das ações do sistema de logística reversa sobre sua
responsabilidade;
XVI - não manter atualizadas e disponíveis ao órgão municipal
competente, ao órgão licenciador do SISNAMA e a outras autoridades,

80
informações completas sobre a implementação e a operacionalização
do plano de gerenciamento de resíduos sólidos sob sua
responsabilidade; e
XVII - deixar de atender às regras sobre registro, gerenciamento e
informação previstos no § 2o do art. 39 da Lei no 12.305, de 2010.
§ 1o As multas de que tratam os incisos I a XI deste artigo serão
aplicadas após laudo de constatação.
§ 2o Os consumidores que descumprirem as respectivas obrigações
previstas nos sistemas de logística reversa e de coleta seletiva estarão
sujeitos à penalidade de advertência.
§ 3o No caso de reincidência no cometimento da infração prevista no
§ 2o, poderá ser aplicada a penalidade de multa, no valor de R$ 50,00
(cinquenta reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais).
§ 4o A multa simples a que se refere o § 3o pode ser convertida em
serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio
ambiente.

9 ATUAÇÕES SETORIAIS RELATIVAS AO MEIO AMBIENTE

O presente capítulo procura identificar responsabilidades e ações relativas ao


meio ambiente em distintos setores governamentais no sentido de apontar
possibilidades de ação intersetorial, especialmente, no tocante a realização de
operações conjuntas de fiscalização.

9.1 O papel do SUS na proteção ambiental

É tão íntima a relação entre saúde e meio ambiente que Maria Luiza Machado
Granziera e Sueli Dallari (2005, p.607) chegam a sustentar serem temas
indissociáveis. De fato, a saúde da população está nitidamente relacionada ao
equilíbrio ambiental.

É sabido que a poluição atmosférica causa sérios danos à saúde humana, a


exemplo de alergias e problemas respiratórios; que a contaminação do mar,
dos rios e dos lagos por substâncias químicas perigosas pode provocar
intoxicações e, a longo prazo, graves enfermidades como o câncer; que a

81
superpopulação de animais nos centros urbanos tais como ratos e pombos
provoca também sérios riscos à saúde humana; que a devastação das florestas
contribui para a proliferação de doenças, tais como malária, febre amarela,
doença de Chagas e leishmaniose; e que o uso indiscriminado de agrotóxicos
também representa grande risco para a saúde.

Muitas outras situações, além das supracitadas, poderiam ilustrar o quão


estreita é a relação entre os dois assuntos. Ressalte-se também que, segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde é o completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou outros agravos.
Tal conceito de saúde, indubitavelmente, amplia ainda mais a sua ligação com
o meio ambiente.

De acordo com o art. 196 da CF,

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Analisando a matéria Lenir Santos (2006, p.4) assevera,

[...] abandonou-se um sistema que apenas considerava a saúde pública


como dever do Estado no sentido de coibir ou evitar a propagação de
doenças que colocavam em risco a saúde da coletividade (prevenção
da transmissão da malária, da hanseníase, da tuberculose e cuidados
que competiam à polícia sanitária) e assumiu-se que o dever do Estado
de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais, além da prestação de serviços públicos de
recuperação e prevenção. A visão epidemiológica da questão saúde-
doença que privilegia o estudo de fatores sociais, ambientais,
econômicos, educacionais que podem gerar a enfermidade passou a
integrar o direito a saúde.

82
Embora não sejam “os limites externos de seus círculos de configuração”, a
rigor, coincidentes, o direito à saúde e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado dividem uma área de convergência e, em alguns
casos, até de sobreposição (BENJAMIN, 2003, p.20). Ensina o autor:

Quase sempre quando se ampara o ambiente está-se beneficiando a


saúde humana. Sem dúvida há aspectos da proteção ambiental que
dizem respeito, de forma direta, à proteção sanitária. Assim é com o
controle de substâncias perigosas e tóxicas, como os agrotóxicos; com
a garantia da potabilidade da água e da respirabilidade do ar
(BENJAMIN, 2003, p.20).

Recorde-se que, de acordo com o art. 225, caput da Constituição Federal, o


direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à sadia
qualidade de vida. Segundo o § 1, inciso V do mesmo artigo, cabe ao Poder
Público “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e
o meio ambiente”.

O Art. 200 da Constituição Federal diz que compete ao Sistema Único de


Saúde, além de suas atribuições, nos termos da lei, dentre outros, participar do
controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos (inciso VII) e,
conforme já citado, colaborar na proteção do meio ambiente (inciso VIII).

Diversos dispositivos também podem ser encontrados na legislação


infraconstitucional demonstrando essa proximidade entre os dois temas.

A Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81) enumera dentre os


seus objetivos “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar [...] a proteção da vida humana [...]”. O art.
3º, inciso III, ao conceituar poluição diz que é a “degradação da qualidade

83
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente”, dentre outros,
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.

A Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), em seu art. 54, tipifica a conduta
de quem “causar poluição de qualquer natureza em tais níveis que resultem ou
possam resultar em danos à saúde humana [...]”.

A Lei nº 8.080/90, que trata do Sistema Único de Saúde (SUS), em seu art. 3º,
diz:

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, dentre


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o
acesso aos bens e serviços essenciais:os estágios de saúde da
população expressam a organização social e econômica do país (grifo
nosso).

Reconhecendo a importância da preservação ambiental para a saúde humana,


a referida lei, em conformidade com os ditames constitucionais supracitados,
quando disciplina as atividades de competência dos órgãos integrantes do
SUS, não os exime de sua responsabilidade nessa área.

Repetindo o mandamento contido no art. 200, VIII da CF a referida lei, em seu


art. 6º, inclui no campo de atuação do SUS a colaboração na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o trabalho.

Quando, entretanto, se analisa mais detidamente o art. 6º da aludida lei e o


próprio art. 200 da CF, percebe-se que em muitas outras atividades realizadas
pelo SUS os bens ambientais são indiretamente protegidos. É o que se verifica
na execução de ações de vigilância sanitária, de vigilância epidemiológica e de
saúde do trabalhador; na participação na formulação da política e na execução
de ações de saneamento básico; no controle e na fiscalização de serviços,
produtos e substâncias de interesse para a saúde; na fiscalização e na

84
inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; na participação
no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.

Mas vai além o legislador, que propõe, de forma explícita, a integração em


nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico (art.
7º, X). Determina também a criação de comissões intersetoriais de âmbito
nacional, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas da
sociedade civil com a finalidade de articular políticas e programas de interesse
para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS) (art.12). Nesse particular, enfatiza que a
referida articulação das políticas e programas, abrangerá, dentre outras
atividades, em especial, o meio ambiente (art 13; II).

Dentre as atribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios estão o acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de
saúde da população e das condições ambientais; a elaboração de normas
técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da saúde
do trabalhador; a participação de formulação da política e da execução das
ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recuperação do
meio ambiente; propor a celebração de convênios, acordos e protocolos
internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente (art.15).

À direção nacional do Sistema Único da Saúde compete, dentre outras


atividades, participar na formulação e na implementação das políticas de
controle das agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às
condições e aos ambientes de trabalho; participar da definição de normas e
mecanismos de controle, com órgão afins, de agravo sobre o meio ambiente ou
dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana; controlar e
fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde
(art.16).

85
À direção estadual do Sistema Único de Saúde compete também participar,
junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que
tenham repercussão na saúde humana, da formulação da política e da
execução de ações de saneamento básico, bem como das ações de controle e
avaliação das condições e dos ambientes de trabalho (art.17).

À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS), por sua vez, foi conferida a
competência para também colaborar na fiscalização das agressões ao meio
ambiente que tenham repercussão sobre a saúde humana e para atuar, junto
aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-las
(art.18).

Finalmente, em capítulo dedicado especialmente à saúde indígena, dá a lei


supracitada também especial atenção ao meio ambiente:

Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a


realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas e o
modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que se deve
pautar por uma abordagem diferenciada e global, contemplando os
aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição,
habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e
integração institucional.

A moderna abordagem conceitual de saúde dada pela Constituição repercutiu


de forma bastante positiva na legislação ordinária subseqüente. A Lei 8.080/90,
que trata do SUS, como restou demonstrado, não se conformou em apenas
repetir os já avançados dispositivos constitucionais relativos à atuação do SUS.
Procurou aperfeiçoar os mecanismos de gestão da saúde, determinando
explicitamente a criação de comissões intersetoriais e a articulação de políticas
e programas de interesse para a saúde destacando-se os relativos ao meio
ambiente.

86
Além de estar em consonância com as modernas técnicas de gestão
governamental pautadas na intersetorialidade, a referida previsão legal, ao que
parece, representa também uma tentativa do legislador de prevenir o
surgimento de conflitos de competência entre órgãos do SISNAMA e do SUS.
Em algumas situações fáticas, é realmente difícil saber os limites de atuação
dos órgãos ambientais e sanitários. No campo da saúde ambiental, esses laços
se estreitam demasiadamente. Basta citar alguns exemplos de assuntos de
interesse desse setor da saúde: contaminação do solo e da água de consumo
humano; contaminantes ambientais; disposição de dejetos humanos e animais;
poluição do ar; lixo hospitalar (SANTOS, 2006, p.21).

Andou muito bem o legislador ao propor a criação de comissões Inter setoriais,


a integração em nível executivo de ações e a articulação de políticas e
programas principalmente entre setores como saúde e ambiente. Salvo para
fins estritamente acadêmicos, qualquer tentativa de separar o campo de
atuação dos mesmos se revela inútil, descabida, estéril e desprovida de
qualquer relevância prática por ser prejudicial ao interesse público. Na
realidade, em vez de disputa de poder o que se espera de órgãos públicos de
áreas afins é a comunhão de esforços visando a racionalização de recursos e a
obtenção de melhores resultados. Esse parece ter sido o propósito da
sobredita lei.

A Lei n.º 7.802/89, referente a agrotóxicos, e a Lei n.º 11.105/2005, que dispõe
sobre Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e seus derivados,
devido às suas especificidades serão objeto de estudo à parte.

9.2 Agrotóxicos: competências administrativas

O Decreto nº 4.074/02 que regulamentou a Lei nº 7.802/89 que “dispõe sobre a


pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e
embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização

87
de agrotóxicos, seus componentes e afins”, reconhecendo ser um tema que
interessa aos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Saúde e do
Meio Ambiente, conferiu competência ora conjuntamente a todos ou a dois
deles (arts. 2º, 3º e 4º), ora separadamente à cada um deles (arts. 5º, 6º e 7º)
para tratar de assuntos pertinentes à matéria.

Criou o Sistema de Informações sobre Agrotóxicos (SAI), sendo que dentre os


seus objetivos está o de permitir a interação eletrônica entre os órgãos federais
envolvidos no registro de agrotóxicos, seus componentes e afins (art 94, I).

Instituiu também o Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos que


possui, dentre as suas competências, a de racionalizar e harmonizar
procedimentos técnico-científicos e administrativos nos processos de registro e
adaptação de registro de agrotóxicos, seus componentes e afins (art. 95, I), e a
de propor a sistemática incorporação de tecnologia de ponta nos processos de
análise, controle e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins e em
outras atividades cometidas aos Ministérios da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, pelos representantes da Saúde e do Meio Ambiente pela Lei n o
7.802, de 1989 (art. 95, II). O referido comitê será constituído por dois
representantes, titular e suplente, de cada um dos órgãos federais
responsáveis pelos setores de agricultura, saúde e meio ambiente, designados
pelo respectivo Ministro (art. 95, § 1o) e coordenado por um de seus membros,
com mandato de um ano, em rodízio que iniciará pelo representante do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seguido, pela ordem, pelo
dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente (art. 95, § 2o).

9.3 Os organismos geneticamente modificados (OGMS)

Intensa é a preocupação de diversos setores da sociedade com os possíveis


riscos para a saúde e para o meio ambiente relativos aos Organismos
Geneticamente Modificados (OGMs). Antes da edição de lei federal tratando do

88
assunto, protestos da sociedade civil organizada eram recorrentes e os ânimos
acirrados entre setores da saúde e meio ambiente e desenvolvimentistas.

Longe de pôr fim às polêmicas, a Lei nº 11.105/05 veio ao menos disciplinar o


delicado tema, estabelecendo normas de segurança e mecanismos de
fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o
transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a
pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o
descarte de organismos geneticamente modificados (OGMs) e seus derivados,
tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança
e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a
observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente (art.
1º).

Foi criado o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) vinculado à


Presidência da República, órgão de assessoramento superior da Presidência
da República para a formulação e implementação da Política Nacional de
Biossegurança (PNB) a quem compete: I – fixar princípios e diretrizes para a
ação administrativa dos órgãos e entidades federais com competências sobre a
matéria; II – analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da
conveniência e oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os
pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados; III – avocar
e decidir, em última e definitiva instância, com base em manifestação da
CTNBio e, quando julgar necessário, dos órgãos e entidades referidos no art.
16 da Lei, no âmbito de suas competências, sobre os processos relativos a
atividades que envolvam o uso comercial de OGM e seus derivados. Dentre
outros Ministros de Estado, o Ministro do Meio Ambiente é um dos integrantes
do referido conselho.

Para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na


formulação, atualização e implementação da Política Nacional de
Biossegurança (PNB) de OGM e seus derivados, bem como no

89
estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos
referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso
comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco
zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente, foi reestruturada a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, integrante do
Ministério da Ciência e Tecnologia, instância colegiada multidisciplinar de
caráter consultivo e deliberativo.

A referida comissão é composta de membros titulares e suplentes, designados


pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia. É constituída por 27 (vinte e
sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória
atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada
atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia,
saúde humana ou meio ambiente.

Desse total de 27 (vinte e sete) membros: 12 (doze) são especialistas de


notório saber científico e técnico, em efetivo exercício profissional, divididos
igualmente entre as áreas da saúde humana, meio ambiente, animal e vegetal,
escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a participação das
sociedades científicas; 9 (nove) são representantes dos Ministérios da Ciência
e Tecnologia, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Saúde, do Meio
Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, da Defesa e das Relações Exteriores; 1 (um) é
representante da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da
República; 6 (seis) são especialistas em defesa do consumidor, saúde, meio
ambiente, biotecnologia, agricultura familiar e saúde do trabalhador, indicados,
respectivamente, pelos Ministros da Justiça, da Saúde, do Meio Ambiente, da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Desenvolvimento Agrário e do
Trabalho e Emprego.

Mais do que a integração, a referida lei criou uma comissão técnica composta
por representantes dos diversos setores interessados. Se por um lado esse

90
modelo permite a participação dos diversos setores na tomada de decisões o
que é, sem dúvida, positivo; por outro se observa, no âmbito de competência
dessa comissão, uma grande concentração de poderes que pode se revelar
bastante prejudicial.

Dentre as atividades de competência da referida comissão, previstas no art.14,


está a de “identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus
derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou que
possam causar riscos à saúde humana”. É de notar que o art. 16, § 3o diz que
a “CTNBio delibera, em última e definitiva instância, sobre os casos em que a
atividade é potencial ou efetivamente causadora de degradação ambiental,
bem como sobre a necessidade do licenciamento ambiental”. Comentando
esses dispositivos legais, Paulo Affonso Leme Machado (2006, p.984) conclui
que esse parágrafo “está em antinomia com o disposto no art. 8º, § 1º, III, e §
3o, que permite ao Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS deliberar
contrariamente à atividade analisada” e alerta:

Ao se analisar a composição da CTNBio vê-se que, dos doze


especialistas - de notório saber científico e técnico - que a compõe,
somente três são da área do meio ambiente. O Ministério do Meio
Ambiente terá um representante e indicará um especialista oriundo da
sociedade civil. Cinco conselheiros num conselho de 27 membros. Não
é preciso muito esforço mental para diagnosticar que a CTNBio não
está preparada tecnicamente para decidir sobre a necessidade, ou não,
do licenciamento ambiental. Por melhores que sejam os conselheiros
das outras áreas do conhecimento, não se pode esconder – nem dos
brasileiros, nem dos que importarem nossos produtos – o fato de que a
análise político-ambiental dos produtos transgênicos passou a carecer
das necessárias profundidades e amplitude científica possibilitadas por
um órgão dedicado somente ao meio ambiente (MACHADO, 2006,
p.984).

91
O Capítulo IV trata dos órgãos e entidades de registro e fiscalização. Devido à
sua importância para os propósitos desse estudo vale a pena transcrever parte
do mesmo. Conforme a seguir:
Art. 16. Caberá aos órgãos e entidades de registro e fiscalização do
Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República entre
outras atribuições, no campo de suas competências, observadas a
decisão técnica da CTNBio, as deliberações do CNBS e os mecanismos
estabelecidos nesta Lei e na sua regulamentação:
I – fiscalizar as atividades de pesquisa de OGM e seus derivados;
II – registrar e fiscalizar a liberação comercial de OGM e seus
derivados;
III – emitir autorização para a importação de OGM e seus derivados
para uso comercial;
IV – manter atualizado no SIB o cadastro das instituições e
responsáveis técnicos que realizam atividades e projetos relacionados a
OGM e seus derivados;
V – tornar públicos, inclusive no SIB, os registros e autorizações
concedidas;
VI – aplicar as penalidades de que trata esta Lei;
VII – subsidiar a CTNBio na definição de quesitos de avaliação de
biossegurança de OGM e seus derivados.
§ 1o Após manifestação favorável da CTNBio, ou do CNBS, em caso de
avocação ou recurso, caberá, em decorrência de análise específica e
decisão pertinente:
I – ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento emitir as
autorizações e registros e fiscalizar produtos e atividades que utilizem
OGM e seus derivados destinados a uso animal, na agricultura,
pecuária, agroindústria e áreas afins, de acordo com a legislação em
vigor e segundo o regulamento desta Lei;
II – ao órgão competente do Ministério da Saúde emitir as autorizações
e registros e fiscalizar produtos e atividades com OGM e seus derivados
destinados a uso humano, farmacológico, domissanitário e áreas afins,

92
de acordo com a legislação em vigor e segundo o regulamento desta
Lei;
III – ao órgão competente do Ministério do Meio Ambiente emitir as
autorizações e registros e fiscalizar produtos e atividades que envolvam
OGM e seus derivados a serem liberados nos ecossistemas naturais, de
acordo com a legislação em vigor e segundo o regulamento desta Lei,
bem como o licenciamento, nos casos em que a CTNBio deliberar, na
forma desta Lei, que o OGM é potencialmente causador de significativa
degradação do meio ambiente;
IV – à Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da
República emitir as autorizações e registros de produtos e atividades
com OGM e seus derivados destinados ao uso na pesca e aqüicultura,
de acordo com a legislação em vigor e segundo esta Lei e seu
regulamento [...]

Verifica-se, portanto, que a referida lei criou um conselho composto por


Ministros de Estado de várias áreas e reorganizou a CTNBio, também formada
por representantes de diversos setores, ambos com amplos poderes. Mesmo
com um certo esvaziamento de algumas atribuições dos órgãos envolvidos,
especialmente do Ministério do Meio Ambiente (MACHADO, 2006), algumas
atividades continuam sendo por eles desenvolvidas, conforme demonstrado.

9.4 Agricultura e meio ambiente

No que se refere à agricultura, além dos aspectos já abordados acerca dos


agrotóxicos e Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) outras
considerações merecem ser feitas.

A política agrícola, instituída pela Lei nº 8.171/91, tem como um de seus


objetivos proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a
recuperação dos recursos naturais (art. 3º, IV). Registre-se que um capítulo
inteiro da lei é dedicado à proteção ambiental e à conservação dos recursos
naturais.

93
No seu art. 19, a lei atribui ao Poder Público os deveres de integrar, ao nível de
Governo Federal, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e
as comunidades na preservação do meio ambiente e conservação dos

recursos naturais (inciso I); disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da


água, da fauna e da flora(inciso II); realizar zoneamentos agroecológicos que
permitam estabelecer critérios para o disciplinamento e o ordenamento da
ocupação espacial pelas diversas atividades produtivas, bem como para a
instalação de novas hidrelétricas (inciso III); promover e/ou estimular a
recuperação das áreas em processo de desertificação (inciso VI); desenvolver
programas de educação ambiental, a nível formal e informal, dirigidos à
população (inciso V); fomentar a produção de sementes e mudas de essências
nativas(inciso VI); coordenar programas de estímulo e incentivo à preservação
das nascentes dos cursos d'água e do meio ambiente, bem como o
aproveitamento de dejetos animais para conversão em fertilizantes (inciso VII).

Escolhe a lei o critério das bacias hidrográficas para o planejamento do uso, da


conservação e da recuperação dos recursos naturais (art. 20).

A lei determina que o Poder Público deverá identificar, em todo o território


nacional, as áreas desertificadas, que só poderão ser exploradas na hipótese
de ser adotado plano de manejo adequado, com o emprego de tecnologias
capazes de interromper o processo de desertificação e de promover a
recuperação dessas áreas. Deve ainda o Poder Público fazer cadastros das
áreas sujeitas a processos de desertificação, em âmbito estadual ou municipal,
bem como promover a pesquisa, a geração e a difusão de tecnologias para os
fins acima expostos.

O art. 22 diz que “a prestação de serviços e aplicações de recursos pelo Poder


Público em atividades agrícolas devem ter por premissa básica o uso
tecnicamente indicado, o manejo racional dos recursos naturais e a
preservação do meio ambiente”.

94
O Poder Público deverá também implementar programas de estímulo às
atividades de interesse econômico apícolas e criatórios de peixes e outros
produtos de vida fluvial, lacustre e marinha, visando o incremento da oferta de
alimentos e a preservação das espécies animais e vegetais.

Determina ainda a lei, a elaboração pelos órgãos mantidos ou não pelo Poder
Público, sob a coordenação da União e das Unidades da Federação, de
programas plurianuais e planos operativos anuais relativos à proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais.

Cite-se ainda a Lei nº 10.831/03 que dispõe sobre a agricultura orgânica e a Lei
nº 11.326/06, que estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diz a
última, em seu art. 4o, II, que a referida política observará, dentre outros, o
princípio da sustentabilidade ambiental. Mais uma vez restou demonstrada a
obrigação legal dos órgãos responsáveis pela execução da política agrícola de
atentarem para as questões ambientais.

9.5 Os órgãos de trânsito e a proteção ambiental

Reconhecendo as relações entre o meio ambiente e a área de transportes, o


Código de Trânsito Brasileiro determina em seu art. 10, VI que um
representante do Ministério do Meio Ambiente faça parte da composição do
Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).

Conferiu o Código competência à Polícia Rodoviária Federal, aos órgãos e


entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e
do Distrito Federal e aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos
Municípios, nos âmbitos de suas respectivas circunscrições, para fiscalizar o
nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores

95
ou pela sua carga, e dar apoio, quando solicitado, às ações específicas dos
órgãos ambientais (arts. 10, VI; 20,XI e 21, XIII; 24, XX).

Preocupado, certamente, com o excesso de poluição atmosférica causado pela


emissão de gases tóxicos por veículos automotores, o legislador atribuiu ainda
aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de
sua circunscrição, a competência de planejar e implantar medidas para
redução da circulação de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de
diminuir a emissão global de poluentes (art. 24, XVI).

9.6 As obrigações ambientais das autoridades marítimas

A Lei nº 9.537/97, que dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em


águas sob jurisdição nacional atribui, em seu art. 3º, competência à autoridade
marítima para “promover a implementação e a execução desta Lei, com o
propósito de assegurar a salvaguarda da vida humana e a segurança da
navegação, no mar aberto e hidrovias interiores, e a prevenção da poluição
ambiental por parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de
apoio”.

Dentre outras atividades, é atribuição da autoridade marítima estabelecer os


requisitos para a prevenção da poluição por parte de embarcações,
plataformas ou suas instalações de apoio.

Ressalte-se que, se durante inspeção naval em embarcação estrangeira forem


constatadas condições operacionais precárias, representando ameaça de
danos ao meio ambiente, a autoridade marítima pode ordenar a mesma a não
entrar no porto; não sair do porto; sair das águas jurisdicionais ou arribar em
porto nacional.

Verifica-se o quão relevante é o serviço das autoridades marítimas na proteção


ambiental.

96
9.7 O papel das instituições financeiras

A Lei da PNMA - Lei nº 6.938/81, em seu art. 12, determina que as entidades e
órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a
aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento
ambiental e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões
expedidos pelo CONAMA, devendo exigir das instituições financeiras que
conste dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos
destinados ao controle de degradação ambiental e à melhoria da qualidade do
meio ambiente.

No que se refere especificamente às atividades e projetos que envolvam OGMs


e seus derivados, relacionados ao ensino com manipulação de organismos
vivos, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção
industrial, a Lei nº 11.105/05 ainda foi mais avançada. Disse, expressamente,
em art. 2o, §4o, que devem não só as organizações públicas, mas também as
privadas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, financiadoras ou
patrocinadoras de atividades, exigir a apresentação de Certificado de
Qualidade em Biossegurança, emitido pela CTNBio, sob pena de se tornarem
corresponsáveis pelos eventuais efeitos decorrentes do descumprimento da Lei
ou de sua regulamentação.

A participação das instituições de financiamento é de fundamental importância


para a prevenção de danos ambientais. Sem o apoio delas, a maior parte dos
projetos impactantes não pode ser implementada, obrigando os
empreendedores a submeterem-nos à análise e avaliação dos órgãos públicos
competentes. A expressa previsão legal da possibilidade de sua
responsabilização contribui para que as mesmas assumam o seu papel na
defesa e proteção do meio ambiente.

A articulação das aludidas instituições com os órgãos públicos competentes


pode seguramente tornar as suas ações ainda mais eficazes.

97
9.8 O DNPM e os seus deveres ambientais

O Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, autarquia vinculada


ao Ministério de Minas e Energia tem, dentre outras, com fundamento na Lei nº
8.876/94, as competências de estimular o uso racional e eficiente dos recursos
minerais; fiscalizar a pesquisa, a lavra, o beneficiamento e a comercialização
dos bens minerais, podendo realizar vistorias, autuar infratores e impor as
sanções cabíveis, na conformidade do disposto na legislação mineraria; baixar
normas, em caráter complementar, e exercer fiscalização sobre o controle
ambiental, a higiene e a segurança das atividades de mineração, atuando em
articulação com os demais órgãos responsáveis pelo meio ambiente e pela
higiene, segurança e saúde ocupacional dos trabalhadores (art. 3º, V VI e VII).

Verifica-se que não só atribuiu a lei competência à referida entidade para atuar
na área ambiental, mas disse também, expressamente, que a atividade de
fiscalização por ela exercida deve ser realizada de forma articulada com os
órgãos ambientais e outros órgãos interessados.

9.9 A política energética, a ANP e a proteção ambiental

De acordo com o art. 1º da Lei nº 9.478/97, que dispõe sobre a Política


Energética Nacional e a Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) e outros temas, as políticas nacionais para o
aproveitamento racional das fontes de energia têm como alguns de seus
objetivos os de proteger o meio ambiente e promover a conservação de
energia (inciso IV) e o de incrementar, em bases econômicas, sociais e
ambientais, a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional
(inciso XII).

À ANP, “entidade integrante da Administração Federal Indireta, submetida ao


regime autárquico especial, como órgão regulador da indústria do petróleo, gás
natural, seus derivados e biocombustíveis, vinculada ao Ministério de Minas e
Energia” (art. 7º) compete, dentre outros assuntos: fiscalizar diretamente, ou

98
mediante convênios com órgãos dos Estados e do Distrito Federal, as
atividades integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos
biocombustíveis, bem como aplicar as sanções administrativas e pecuniárias
previstas em lei, regulamento ou contrato (art. 8º, inciso VII); fazer cumprir as
boas práticas de conservação e uso racional do petróleo, gás natural, seus
derivados e biocombustíveis e de preservação do meio ambiente (art. 8º, inciso
IV).

A referida entidade pode ser uma grande parceira na proteção ambiental. De


acordo com Paulo Bessa Antunes (2004, p.945),

O Conjunto de atribuições da ANP, embora relacionado diretamente


com a qualidade de operação das atividades de petróleo,
indiscutivelmente, guarda muita proximidade com o controle ambiental.
Assim é porque, efetivamente, a má operação quase sempre implica o
lançamento de petróleo no ambiente. Observa-se, portanto, que um
derramamento de óleo com efeitos negativos sobre o ambiente
repercute, do ponto de vista jurídico, na esfera administrativa própria da
atividade de petróleo, bem como nas diferentes esferas tuteladas pelo
Direito Ambiental. É importante, portanto, que a ANP, o IBAMA e as
Agencias Ambientais dos Estados estabeleçam um mecanismo de
colaboração e consulta, a fim de que a proteção ambiental seja
considerada de forma concreta e razoável.

9.10 A educação ambiental

A Lei nº 9.795/99 estabelece critérios e normas para a educação ambiental no


ensino formal no “âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e
privadas" e também da educação ambiental não formal “constituída de práticas
educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões
ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio
ambiente”.

99
De acordo com o art. 1º do Decreto nº 4.281/02, que regulamenta a referida lei,
“a Política Nacional de Educação Ambiental será executada pelos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA,
pelas instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino,
pelos órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
envolvendo entidades não governamentais, entidades de classe, meios de
comunicação e demais segmentos da sociedade”.

Verifica-se que, fundamentados no art. 225 da CF, a referida lei e o decreto


que a regulamentou determinam a obrigação da coletividade e dos diversos
órgãos públicos, não só os incumbidos da área de educação e meio ambiente,
de promoverem a educação ambiental.

9.11 Gerenciamento Costeiro

Breves considerações merecem serem feitas em relação ao Plano Nacional de


Gerenciamento Costeiro (PNGC), instituído pela Lei nº 7.661/88.
O art. 1º da citada lei diz que o referido plano é parte integrante da Política
Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e da Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA).

De acordo com o art. 5º o PNGC “será elaborado e executado observando


normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade
do meio ambiente, estabelecidos pelo CONAMA, que contemplem, entre
outros, os seguintes aspectos: urbanização; ocupação e uso do solo, do
subsolo e das águas; parcelamento e remembramento do solo; sistema viário e
de transporte; sistema de produção, transmissão e distribuição de energia;
habitação e saneamento básico; turismo, recreação e lazer; patrimônio natural,
histórico, étnico, cultural e paisagístico”.

Planos Estaduais ou Municipais de Gerenciamento Costeiro também, com base


na citada lei, poderão ser instituídos, observadas as normas e diretrizes do
Plano Nacional, prevalecendo sempre, no tocante ao uso do solo, do subsolo e

100
das águas e limitações à utilização de imóveis, as disposições de natureza
mais restritiva. A Bahia instituiu o seu Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro, sendo o assunto regulado nos art. 19 a 22C da Lei Estadual nº
10431/06.

Observando a complexidade de fatores necessários para o êxito na execução


do plano nacional e dos planos estaduais e municipais, percebe-se mais uma
vez que é imprescindível o envolvimento dos diversos setores do governo e
também da sociedade em geral.

9.12 A política urbana e o meio ambiente

A Lei 6.766/79, que dispõe sobre parcelamento do solo urbano, já trazia


algumas referências no que tange à proteção do meio ambiente urbano ao
proibir, em seu art 3º, parágrafo único, inciso V, o parcelamento do solo em
áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça
condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.

O Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/01, regulamentando os arts. 182 e 183 da


Constituição Federal e estabelecendo as diretrizes gerais da política urbana,
contém diversos dispositivos relativos à matéria. Representa indubitavelmente
um importante marco legislativo na proteção do meio ambiente urbano.

A referida lei, de acordo com o art. 1º, estabelece normas de ordem pública e
interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem
coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio
ambiental.

Diversas são as diretrizes da política urbana previstas no art. 2º da lei, voltadas


para a proteção ambiental. Dentre elas há de se destacar:

101
I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer,
para as presentes e futuras gerações;
[...] IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição
espacial da população e das atividades econômicas do Município e do
território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as
distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente;
V – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
[...] g) a poluição e a degradação ambiental;
[...] VII– adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços
e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade
ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área
de influência;
[...] XII– proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural
e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e
arqueológico;
XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada
nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou
construído, o conforto ou a segurança da população.

10 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DA BAHIA

O INEMA, entidade executora da política estadual de meio ambiente, é


responsável pela fiscalização ambiental no estado da Bahia. A Diretoria de
Fiscalização e Monitoramento Ambiental (DIFIM) dispõe de quatro
coordenações: Coordenação de Atendimento a Denúncias e Emergências
(COADE); Coordenação de Fiscalização (COFIS); Coordenação de Gestão de
Cadastros (COGEC); Coordenação de Monitoramento (COMOM).

102
Figura 07. Diagrama do INEMA enfatizando os órgãos responsáveis pela fiscalização
ambiental.

É importante frisar que os técnicos alocados na Diretoria de Regulação,


quando no âmbito do processo de licenciamento, constatarem a prática de
infração ambiental, têm também o dever de autuar, aplicando as penalidades
administrativas cabíveis.

A COADE e a COFIS atuam diretamente na fiscalização ambiental. A COGEC


é responsável pelo cadastramento de usuários de água e perfuradores de
poços, enquanto a COMOM cuida do monitoramento ambiental, apoiando a
fiscalização e o licenciamento.

Tabela 04. Quadro demonstrativo das ações de fiscalizações ambientais no Estado da


Bahia. O ano de 2014 é referente ao período de janeiro a maio.
FISCALIZAÇÕES AMBIENTAIS REALIZADAS 2002-2014
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fiscalização de atendimento às
203 255 409 297 206 76 95 735 1460 1137 835 875 408
denúncias
Fiscalização de atendimento às
* * * 42 29 7 1 14 49 15 52 52 16
condicionantes
Fiscalização para renovação de
39 43 78 80 63 38 44 72 58 65 44 41 3
licenças
Fiscalização de atendimento
49 87 118 101 55 99 88 109 59 79 61 95 45
emergencial
Operações planejadas de
22 21 22 20 27 37 98 96 133 185 254 174 49
fiscalização

Fiscalização de atendimento de
181 196 228 203 346 136 262 277 551 389 509 432 28
demanda judicial
Fiscalização para avaliar termo de
10 17 14 11 8 10 148 5 1 50 2 11 1
compromisso.

TOTAL 504 619 869 754 734 403 736 1308 2311 1920 1757 1680 550

103
À COADE compete o atendimento às denúncias e emergências ambientais,
bem como às solicitações do Ministério Público e do Poder Judiciário.

As denúncias podem ser feitas gratuitamente pela sociedade por meio do disk
denúncia (0800), por carta, e-mail, fax ou qualquer outro meio hábil. Qualquer
pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de
empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao INEMA ou a qualquer
outro órgão ambiental integrante do Sistema Estadual de Meio Ambiente -
SISEMA e do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos -
SEGREH, para adoção das providências cabíveis.

DISK DENÚNCIA:

Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA

Disque Meio Ambiente: 0800-71-1400. E-mail: denuncias@inema.ba.gov.br ou carta,


para o endereço: Rua Rio São Francisco, N°1, Monte Serrat. CEP. 40.425-060
Salvador/BA.

Instituto Brasileiro Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA

Linha Verde 0800-61-8080. E-mail: linhaverde.sede@ibama.gov.br, fax: (61) 3321-7713;


ou preencha o formulário disponível no site do IBAMA em:
http://www.ibama.gov.br/cadastro-
ocorrencias

É realizada uma triagem para, em seguida, ser formado processo


administrativo para apuração dos fatos, que será concluído após a realização
de inspeção técnica, elaboração do respectivo relatório de fiscalização e
aplicação de sanções administrativa, se for o caso. Para cada penalidade
aplicada é formado um processo administrativo próprio, no qual são
assegurados o contraditório e a ampla defesa.

104
Os Ministérios Público Federal e Estadual, com freqüência, requisitam aos
órgãos ambientais, documentos, informações acerca de licenças ambientais,
cumprimento de condicionantes, desmatamento, extração ilegal de minérios,
dentre outras supostas irregularidades, estabelecendo prazo para
cumprimento.

Nesses casos, no INEMA é também formado um processo administrativo.


Havendo necessidade de inspeção in loco, é confeccionado relatório de
fiscalização e constatada a prática de infração devem ser adotadas as
providências administrativas cabíveis, incluindo a aplicação de penalidades,
remetendo cópia de toda a documentação pertinente ao MP. O processo é
concluído quando da resposta ao Ministério Público.

Convêm lembrar que, além de estar sujeito a sanções administrativas, o infrator


pode responder civil e penalmente por danos ambientais, sendo atribuição do
MP buscar a devida reparação civil e exclusivamente promover a competente
ação penal.

Não sendo possível o atendimento imediato a solicitação do Parquet, deve o


órgão demandado solicitar, por meio de ofício, prorrogação de prazo. No caso
do INEMA, deve a COADE, de imediato, elaborar a respectiva minuta de ofício.

O eventual não atendimento a requisição do MP pode configurar ato de


improbidade administrativa e, em havendo dolo, seja na forma direta ou
eventual, o crime previsto no art. 10 da Lei nº 7.347/85, segundo o qual
“constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais
multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional -
ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos
indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério
Público.

105
A COFIS realiza operações planejadas de fiscalização, fiscaliza e cumprimento
de condicionantes e de termos de compromisso firmados com o INEMA, e
atualmente é também responsável pelos processos de renovação de licença
ambiental.

As operações planejadas são ações que envolvem um maior número de


técnicos e contam geralmente com o apoio da polícia militar. Geralmente tem
como foco uma determinada região, atividade e/ou empreendimento. São
baseadas muitas vezes em número de denúncias e no monitoramento
ambiental.

Podem ser realizadas operações em conjunto com o IBAMA, ICMBio, Polícia


Federal, Polícia Civil, MPF, MP-BA, DNPM, Capitania dos Portos e outros
órgãos federais, estaduais e/ou municipais que atuam direta ou indiretamente
na área ambiental.

O Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR), integrado ao


sistema do Cadastro Ambiental Rural (CAR) federal, será uma importante
ferramenta de apoio para o planejamento dessas operações de fiscalização.

Cadastro de Imóveis Rurais

6000
5095
5000

4000

3000

2000 1807

1000
248
0
2012 2013 2014

Até o momento 7.150 propriedades rurais foram cadastradas no CEFIR, gerando a regularização de aproximadamente
4,5 milhões de hectares no Estado da Bahia.
Os dados de 2014, referem-se ao período de Janeiro a Maio do mesmo ano.
Fonte: SEMA/INEMA
Sistemas: SEIA/CEFIR

106
Os atendimentos emergenciais, em geral, dizem respeito a vazamento de
substâncias químicas, que atingem a atmosfera, o solo e/ou corpos hídricos. É
comum o atendimento a situações que envolvem o tombamento de caminhões
e o vazamento de óleo na praia e no mar.

Cabe à equipe técnica que estiver de plantão se dirigir imediatamente até o


local, orientar os responsáveis e acompanhar a adoção das medidas de
controle pertinentes.

Conforme preceitua o art. 37 do Regulamento da Lei Estadual nº 10.431/06,


aprovado pelo Decreto Estadual nº 14.024/12, em caso de derramamento,
vazamento ou deposição acidental de produtos, subprodutos, matérias-primas,
insumos ou resíduos sobre o solo, em cursos d'água ou na atmosfera,
causando risco ou danos ao meio ambiente, o órgão ambiental competente
deverá ser comunicado de imediato.

Os responsáveis envolvidos na ocorrência deverão fornecer informações, tais


como composição, periculosidade, procedimentos de remediação,
recolhimento, disposição do material perigoso, efeitos sobre a saúde humana,
a flora e a fauna, antídotos e outras que se façam necessárias.

Deverão também adotar todas as medidas necessárias para o controle da


situação, com vistas a minimizar os danos à saúde pública e ao meio ambiente,
incluindo as ações de contenção, recolhimento, remediação, tratamento e
disposição de resíduos, bem como para a recuperação das áreas impactadas,
de acordo com as condições e procedimentos estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.

Em casos excepcionais, nos quais se verifique grave e eminente risco à saúde


das pessoas e ao meio ambiente, de acordo com legislação vigente,
independente de prévia aprovação do órgão ambiental, medidas urgentes

107
poderão ser implementadas pelo responsável
envolvido na ocorrência, devendo ser o fato
Poderes dos agentes de
comunicado imediatamente ao órgão fiscalização
Nos termos do art. 239 do
ambiental.
referido Regulamento da Lei
Estadual nº 10.431/06, no
exercício de suas atividades, os
O responsável pelo material derramado,
agentes poderão:
vazado, lançado ou disposto acidentalmente
a) colher amostras necessárias
deverá fornecer ao órgão ambiental
para análises técnicas de
competente, no prazo máximo de 48 controle;
b) efetuar inspeções e visitas
(quarenta e oito) horas, relatório preliminar
de rotina, avaliação, análise e
com estimativa qualiquantitativa do material, am ostragem técnicas e
elaborar os respectivos autos,
bem como as providências tomadas para
relatórios e laudos;
apuração, solução e minimização do impacto c) elaborar o relatório de
inspeção para cada vistoria
causado. Admitir-se-á a prorrogação do
realizada;
prazo, desde que devidamente justificado ao d) proceder à apuração de
irregularidades e infrações;
órgão ambiental e condicionado à sua
e) verificar a observância das
aprovação. normas e padrões ambientais
vigentes;
f) notificar, lavrar autos de
Nos 15 (quinze) dias seguintes à infração e impor as sanções
administrativas legalm ente
comunicação, o responsável deverá
previstas;
apresentar ao órgão ambiental competente g) praticar todos os atos
necessários ao bom
relatório conclusivo da ocorrência,
desempenho da vigilância
relacionando causas, quantidades, extensão ambiental no Estado;
h) fixar prazo para: correção
do dano e providências adotadas.
das irregularidades
Excepcionalmente o prazo poderá ser constatadas, bem como a
tomada de m edidas objetivando
dilatado desde que também devidamente
a redução ou cessação de risco
justificado ao órgão ambiental e condicionado potencial à saúde humana e à
integridade
à sua aprovação.
ambiental;cumprimento de
condições, restrições e

O não fornecimento tempestivo e não


justificado dos referidos relatórios constitui, portanto, infração administrativa.

108
As operações de limpeza e restauração de áreas e bens atingidos, de
desintoxicação, quando necessária, e de destino final dos resíduos gerados
deverão atender aos requisitos do órgão ambiental competente.

Se, por motivo de incapacidade técnica ou operacional, o responsável não


tomar as medidas adequadas para a proteção dos seres vivos e do meio
ambiente, ficará obrigado a ressarcir a entidade que o fizer. O ressarcimento
das despesas envolvidas na adoção das medidas citadas não eximirá o
responsável de sanções administrativas.

O órgão ambiental competente, conforme art. 38 do Regulamento da Lei


Estadual nº 10.431/06, aprovado pelo Decreto Estadual nº 14.024/12,
determinará a adoção de medidas emergenciais visando à redução ou à
paralisação das atividades degradadoras, após prévia comunicação ao
empreendedor, na hipótese de grave e iminente risco à saúde, à segurança da
população e ao meio ambiente.

10.1 Poderes dos agentes de fiscalização

10.2 Notificação

As determinações, exigências, ou solicitações de planos, projetos, e demais


documentos necessários à instrução dos procedimentos administrativos ou
medidas específicas para correção de irregularidades, bem como
comunicações feitas ao interessado, deverão ser por meio de notificação.

Deverão os responsáveis pelas fontes degradadoras, quando determinado pelo


órgão ambiental, prestar informações ou apresentar documentos, nos prazos e
condições que forem estabelecidos na notificação.

O órgão ambiental poderá determinar também, sem prejuízo das penalidades


aplicáveis, a redução das atividades geradoras de degradação ambiental, a fim

109
de que as mesmas se enquadrem nas condições e limites estipulados na
licença ambiental concedida.

Poder-se-á exigir a apresentação de fluxogramas, memoriais, informações,


plantas e projetos, bem como linhas completas de produção e respectivos
produtos, subprodutos, insumos e resíduos, para cada operação, com
demonstração da quantidade, qualidade, natureza e composição.

A notificação não se trata, portanto, de sanção. É um instrumento de


comunicação formal entre o interessado e o órgão ambiental que, em sendo
descumprida, pode acarretar penalidades administrativas.

10.3 Infrações e penalidades administrativas

Qualquer pessoa poderá, conforme já mencionado, e o servidor público deverá,


quando constatado ato ou fato que se caracterize como infração ambiental,
dirigir representação às autoridades competentes.
Responderá pela infração não apenas quem a cometer, mas todo aquele que
contribuir para sua prática ou dela se beneficiar. Quando a infração for
praticada por menores ou incapazes, responderá por ela quem juridicamente
os representar.

As infrações administrativas serão apuradas em processo administrativo,


assegurado o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela
inerentes.

Os responsáveis pelas fontes degradadoras ficam obrigados a submeter ao


órgão ambiental, quando solicitados, os planos, estudos ou projetos voltados
para recuperação da área impactada e controle ambiental do empreendimento
ou atividade.

110
10.4 Infrações ambientais em espécie

No âmbito do estado da Bahia, conforme disposto no art. 176 da Lei nº


10.431/06 e no art. 254 de seu Regulamento aprovado pelo Decreto Estadual
nº 14024/12, considera-se infração:

Toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que viole as regras


jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente, que, resulte:
I - risco de poluição ou degradação do meio ambiente;
II - efetiva poluição ou degradação ambiental;
III - emissão, lançamento ou liberação de efluentes líquidos, gasosos ou
resíduos sólidos, em desacordo com os padrões estabelecidos, e/ou
que tornem ou possam tornar ultrapassados os padrões de qualidade
ambiental.

Consideram-se ainda, dentre outras, como infrações administrativas:

I - executar obras, instalar, implantar, alterar, testar ou operar


equipamentos ou empreendimentos, bem como exercer atividades ou
explorar recursos naturais de quaisquer espécies sem as necessárias
anuências, autorizações, ou licenças ambientais ou registros, quando a
estes sujeitos, ou em desacordo com os mesmos;
II - inobservar ou deixar de cumprir normas regulamentares e exigências
técnicas ou administrativas formuladas pelos órgãos executores do
SISEMA, SEGREH ou pelo CEPRAM;
III - descumprir condicionantes ou prazos estabelecidos nas
notificações, anuências, autorizações, licenças ambientais ou nos
próprios autos de infração;
IV - descumprir os compromissos estabelecidos no TCRA;
V - descumprir, no todo ou em parte, obrigações, condições ou prazos
previstos em termo de compromisso assinado com o INEMA;
VI - deixar de atender determinação dos órgãos executores do SISEMA
ou do CEPRAM, inclusive aquelas relativas à apresentação de planos

111
de controle ambiental, de medidas mitigadoras, de monitoramento, ou
equivalentes;
VII - impedir, dificultar ou causar embaraço à fiscalização dos órgãos
executores do SISEMA;
VIII - inobservar preceitos estabelecidos pela legislação de controle
ambiental;
IX - prestar informação falsa, adulterar dados técnicos solicitados pelos
órgãos executores do SISEMA ou deixar de apresentá-los quando
devidos ou solicitados, bem como apresentá-los fora do prazo
estabelecido;
X - a falta de inscrição ou irregularidade nas inscrições nos Cadastros
disciplinados pela legislação ambiental;
XI - falta de registro para a devida inscrição nos cadastros que
compõem o SEIA, quando legalmente exigidos.

Descreve ainda o Regulamento da Lei nº 10.431/06 aprovado pelo Decreto


Estadual nº 14.024/12, em seu art. 255, as infrações administrativas relativas a
recursos hídricos quais sejam:

I - captar, derivar ou utilizar recursos hídricos, para qualquer finalidade,


sem a respectiva outorga de direito de uso, quando exigível, ou em
desacordo com as condições estabelecidas;
II - perfurar poços para a extração de água subterrânea sem a
manifestação prévia do órgão gestor e executor da Política Estadual de
Recursos Hídricos ou colocá-los em operação sem a outorga;
III - exercer atividades ou realizar serviços e obras sem a outorga ou em
desacordo com a mesma, que possam afetar os canais, álveos,
margens, terrenos marginais, correntes de águas, nascentes, açudes,
aquíferos, lençóis freáticos, lagos e barragens, bem como a quantidade,
a qualidade e o regime das águas superficiais e subterrâneas;
IV - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar
valores diferentes dos medidos;
V - realizar interferências nos leitos dos rios e demais corpos hídricos
para a extração mineral ou de outros materiais sem as autorizações dos
órgãos competentes;

112
VI - infringir normas estabelecidas nesta Lei e em suas disposições
regulamentares, abrangendo instruções e procedimentos fixados pelos
órgãos ou entidades competentes;
VII - lançar em corpos hídricos esgotos, despejos e demais resíduos
sólidos, líquidos ou gasosos, tratados ou não, sem a respectiva outorga
de direito de uso.

Registre-se que as infrações administrativas são também descritas mais


detalhadamente no Anexo VI do Regulamento da Lei nº 10.431/06 aprovado
pelo Decreto Estadual nº 14.024/12 com as alterações promovidas pelo
Decreto estadual nº 14.032/12.

O referido rol de infrações administrativas descritas não é taxativo, autorizando


a autuação com base nos artigos 254 e 255 do referido Regulamento, bem
como nas demais legislações ambientais vigentes, conforme previsto art. 256
do mesmo diploma legal. As infrações são classificadas pela legislação
estadual em formais e materiais.

A falta de anuência, autorização, licença ambiental ou registros, em quaisquer


de suas modalidades, quando necessários; o descumprimento de prazos para
o atendimento de exigências, notificações ou condicionantes, quando não
tragam consequências diretas para o meio ambiente são consideradas
infrações formais. A ação ou a omissão que cause ou possa causar
contaminação, poluição e/ou degradação do meio ambiente é considerada
infração material.

As infrações são classificadas pela legislação ambiental estadual também


como leves, graves e gravíssimas. Tal classificação e caracterização de
infrações encontra-se prevista no Anexo VI do Regulamento da Lei Estadual nº
10.431/06, aprovado pelo Decreto Estadual nº 14.024/12, com a alterações
introduzidas pelo Decreto Estadual nº 14.032/12.

113
10.5 Penalidades administrativas

São previstas na legislação estadual as seguintes penalidades administrativas:

I - advertência;
II - multa de R$50,00 (cinquenta reais) a R$50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais);
III - multa diária de R$50,00 (cinquenta reais) a R$500.000,00 (quinhentos
mil reais);
IV - interdição temporária ou definitiva;
V - embargo temporário ou definitivo;
VI - demolição;
VII - apreensão dos animais produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos,petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração;
VIII - suspensão parcial ou total de atividades;
IX - suspensão de venda e fabricação do produto;
X - destruição ou inutilização de produto;
XI - destruição de fornos para produção de carvão vegetal;
XII - perda ou restrição de direitos consistentes em:
a) suspensão de registro, licença ou autorização;
b) cancelamento de registro, licença e autorização;
c) perda ou restrição de benefícios e incentivos fiscais;
d) perda ou suspensão da participação em linhas financiamento em
estabelecimentos públicos de crédito;
e) proibição de licitar e contratar com a Administração Pública pelo período
de até 03 (três) anos.

As penalidades poderão ser impostas isoladas ou cumulativamente. Caso o


infrator venha a cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações de natureza
diferente, poderão ser-lhe aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas
correspondentes.

114
Todas as despesas decorrentes da aplicação das penalidades correrão por
conta do infrator, sem prejuízo da indenização relativa aos danos a que der
causa.

10.6 Penalidades em espécie

Interdição temporária e
Advertência Multa
definitiva
A penalidade de advertência A multa poderá ser simples A penalidade de interdição
será aplicada, a critério da ou diária. O valor da multa temporária será imposta a
autoridade fiscalizadora, simples será fixado de acordo atividades, nos casos de:
quando se tratar de infração com a classificação da I - perigo ou dano à saúde
de natureza leve ou grave infração administrativa pública ou ao meio ambiente;
fixando-se, quando for o previstas no Anexo VI do II - a critério do órgão
caso,prazo para que sejam Decreto nº 14.024/12 e será ambiental, nos casos de
sanadas as irregularidades corrigido periodicamente pelo infração formal;
apontadas. Poder Executivo, com base III - a critério do órgão
em índices oficiais, sendo o ambiental, a partir de
mínimo de R$500,00 reincidência.**
(quinhentos reais) e o
máximo de R$50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais).*
Embargo temporário e
Demolição Apreensão
definitivo
A penalidade de embargo A penalidade de demolição A penalidade de apreensão
temporário será imposta no será imposta a critério da será aplicada nos casos de
caso de obras e construções autoridade julgadora e infração às normas e
em andamento sem a devida executada exigências ambientais ou
regularidade ambiental administrativamente quando danos diretos ao meio
mediante licença, anuência, a obra, construção ou ambiente e aos recursos
autorização ou em desacordo instalação: naturais e dar-se-á em
com os mesmos, se I - estiver produzindo grave relação aos instrumentos,
concedidos. Já a penalidade dano ambiental; apetrechos, equipamentos,
de embargo definitivo será II - estiver contrariando as animais e veículos utilizados
imposta quando a obra ou disposições legais previstas bem como, produtos e
construção não tiver condição em normas ambientais de subprodutos dela resultantes,
de ser regularizada, conforme âmbito federal ou estadual. mediante lavratura do
os dispositivos previstos na respectivo auto.
legislação ambiental.***
Tabela 01. Quadro comparativo das penalidades em espécie.

115
*Nos casos de infração continuada, a critério do agente autuante, poderá
será aplicada multa diária de R$500,00 (quinhentos reais) até
R$500.000,00 (quinhentos mil reais).

**A interdição temporária deve perdurar até o atendimento das exigências


feitas pelo órgão ambiental para correção das irregularidades apontadas,
ou até a celebração de termo de compromisso, voltando a atividade a ser
operada nas condições nele estabelecidas.

***A penalidade de interdição definitiva será aplicada quando a atividade


não tiver condições de ser regularizada conforme os dispositivos previstos
na legislação ambiental.

- Destinação dos bens apreendidos


I - os produtos e subprodutos perecíveis ou madeira, sob risco iminente
de perecimento, apreendidos pela fiscalização serão avaliados e, na
impossibilidade de liberação, doados pelo INEMA às instituições
científicas, hospitalares, penais, militares, públicas e outras com fins
beneficentes, bem como às comunidades carentes, lavrando-se os
respectivos termos de doação, ou utilizadas pela administração quando
houver necessidade, conforme decisão motivada da autoridade
competente, através do termo de destinação, sendo que, no caso de
produtos da flora não perecíveis, os mesmos serão destruídos ou doados
à instituições científicas, culturais ou educacionais.

II - os animais apreendidos serão libertados em seu habitat natural após


verificação de sua adaptação às condições de vida silvestre, por técnico
habilitado, ou entregues a jardins zoológicos, fundações ambientalistas ou
entidades assemelhadas, mediante termo de entrega, havendo a
impossibilidade de atendimento imediato das condições anteriores, os
animais serão confiados a fiel depositário, até definição de seu destino.

116
III - os instrumentos, os equipamentos, os apetrechos, os veículos e as
embarcações apreendidos na prática da infração, poderão:

a) ser confiados a fiel depositário, na forma do disposto no Código Civil, e


somente serão liberados mediante o pagamento da multa, quando
imposta, ou acolhimento de defesa ou recurso.
b) ser doados pelo órgão ambiental às instituições científicas,
hospitalares, penais, militares, públicas e outras com fins beneficentes,
bem como às comunidades carentes, lavrando-se os respectivos termos
de doação.

c) utilizados pela administração quando houver necessidade, conforme


decisão motivada da autoridade competente, ou ainda vendidos.

- Suspensão de venda e fabricação do produto


As penalidades de suspensão de venda e fabricação do produto serão
impostas pela autoridade ambiental nos casos de substâncias ou
produtos tóxicos, perigosos ou nocivos à saúde humana ou ao meio
ambiente.da autoridade competente, ou ainda vendidos.

- Destruição ou inutilização de produto


As penalidades de destruição ou inutilização de produto serão impostas
pela autoridade julgadora nos casos de substâncias ou produtos tóxicos,
perigosos ou nocivos à saúde humana ou ao meio ambiente.

- Destruição de fornos
A penalidade de destruição de fornos será imposta pelo agente autuante
e executada administrativamente quando os mesmos estiverem sendo
utilizados sem as devidas licenças e autorizações.Os fornos poderão ser
destruídos in loco, na ocasião da constatação do evento

117
Anteriormente era necessária uma previa autorização do CEPRAM para a
destruição dos fornos durante operação de fiscalização.

- Perda ou restrição de direitos


A penalidade de perda ou restrição de direitos consiste em:
I - suspensão de registro, licença ou autorização;
II - cancelamento de registro, licença e autorização;
III - perda ou restrição de benefícios e incentivos fiscais;
IV - perda ou suspensão da participação em linhas financiamento em
estabelecimentos públicos de crédito;
V - proibição de licitar e contratar com a Administração Pública.

- Lavratura do auto de infração


Constatada a infração administrativa, será lavrado o auto de infração, em 02
(duas) vias, no mínimo, destinando-se a primeira ao autuado e as demais à
formalização do processo administrativo, devendo este instrumento conter:
I - a denominação da entidade ou pessoa física autuada e seu endereço,
quando possível;
II - o ato, fato ou omissão que resultou na infração;
III - a disposição normativa infringida;
IV - o local, data e hora do cometimento da infração ou da constatação de
sua ocorrência;
V - o prazo para corrigir a irregularidade apontada, se for o caso;
VI - a penalidade imposta e seu fundamento legal;
VII - a assinatura da autoridade que o lavrou;
VIII - o prazo para apresentação de defesa e recurso.

O auto de infração de apreensão deverá conter também:


I - a descrição dos produtos e ou apetrechos apreendidos;
II - a qualificação e assinatura do fiel depositário, quando for o caso;
III - as testemunhas.

118
No caso de infração que envolva fontes móveis, o auto de infração deverá
ainda conter a placa de identificação da fonte móvel, a marca, o modelo, a cor
e demais características.

Em caso de evasão do infrator durante a ação fiscalizatória, poderá o agente


autuante recolher os instrumentos, apetrechos, equipamentos, animais e
veículos utilizados, bem como, os produtos e subprodutos, mediante termo de
apreensão, com a assinatura de duas testemunhas, fazendo constar,
expressamente, que o infrator evadiu-se do local.

Caso o infrator se recuse a tomar ciência do auto de infração quando autuado


pessoalmente ou quando evadir-se do local, a autoridade fiscalizadora dará por
notificado o infrator mediante a assinatura de duas testemunhas.

Para gradação e aplicação das penalidades serão observados os seguintes


critérios:
I - as circunstâncias atenuantes e agravantes;
II - a gravidade do fato, tendo em vista suas consequências para o meio
ambiente;
III - os antecedentes do infrator;
IV - o porte do empreendimento;
V - o grau de compreensão e escolaridade do infrator;
VI - tratar-se de infração formal ou material;
VII - condição socioeconômica.

- Circunstâncias atenuantes
(art. 250 do Regulamento da Lei Estadual nº 10.431/06, aprovado pelo Decreto
Estadual nº 14.024/12, com a alterações introduzidas pelo Decreto Estadual nº
14.032/12).
São consideradas circunstâncias atenuantes:
I - espontânea contenção, redução ou reparação da degradação
ambiental pelo infrator;

119
II - decorrer, a infração, da prática de ato costumeiro de população
tradicional à qual pertença o infrator;
III - não ter cometido nenhuma infração anteriormente;
IV - baixo grau de escolaridade do infrator;
V - colaboração com os técnicos encarregados da fiscalização e do
controle ambiental;
VI - comunicação imediata do infrator às autoridades competentes.

- Circunstâncias agravantes (art. 251 do Regulamento da Lei 10.431/06)


Consideram-se circunstâncias agravantes:
I - a infração ter ocorrido à noite, em domingos ou dias feriados ou em
local de difícil acesso e carente de infraestrutura;
II - a infração ter ocorrido em Unidades de Conservação ou em área de
preservação permanente;
III - ter a infração atingido propriedades de terceiros;
IV - ter a infração acarretado danos em bens materiais;
V - ser o infrator reincidente ou cometer a infração de forma continuada;
VI - a tentativa dolosa de se eximir da responsabilidade;
VII - ter o infrator cometido o ato:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para execução material da infração.
VIII - adulteração de análises e resultados que prejudiquem a correta
avaliação dos níveis de emissão;
IX - a infração atingir espécies nativas raras, endêmicas, vulneráveis, de
importância econômica ou em perigo de extinção;
X - causar a necessidade de evacuar a população, ainda que
momentaneamente;
XI - a infração expor ao perigo a saúde pública ou o meio ambiente;
XII - tornar a área, urbana ou rural, imprópria para ocupação humana;
XIII - causar danos permanentes ao meio ambiente ou à saúde humana.
Parágrafo único - Será considerado agravante, aquele que apresentar ou
elaborar no licenciamento, em especial, em procedimento que envolve a

120
LAC, ou em qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou
relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por
omissão.

- Reincidência
O cometimento de nova infração ambiental pelo mesmo infrator, no período de
três anos, contados da lavratura de auto de infração anterior devidamente
confirmado no julgamento, implica:
I - aplicação da multa em triplo, no caso de cometimento da mesma
infração; ou
II - aplicação da multa em dobro, no caso de cometimento de infração
distinta.

- Termo de Compromisso (art. 291 a 300 do Regulamento da Lei 10.431/06


O INEMA poderá celebrar Termo de Compromisso com os responsáveis pelas
fontes de degradação ambiental, visando à adoção de medidas específicas
para a correção das irregularidades constatadas, que terá efeito de título
executivo extrajudicial e deverá conter, obrigatoriamente, a descrição de seu
objeto, as medidas a serem adotadas, o cronograma físico estabelecido para o
cumprimento das obrigações e as penalidades a serem impostas, no caso de
inadimplência.

Em casos específicos, o Termo de Compromisso poderá preceder a concessão


da licença ou autorização ambiental, constituindo-se em documento hábil de
regularização ambiental, durante a sua vigência.

A multa poderá ser convertida na prestação de serviços de preservação,


melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, mediante a assinatura
de Termo de Compromisso a ser firmado com o órgão ambiental competente.

A autoridade competente aplicará o desconto de 50% (cinquenta por cento)


sobre o valor da multa definida pela autoridade julgadora, que deverá ser

121
utilizado para os serviços de preservação, melhoria e recuperação da
qualidade do meio ambiente.

Termo de Compromisso fixará o valor dos custos dos serviços de preservação,


melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, que não poderá ser
inferior ao desconto de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da multa
definida pela autoridade julgadora.

11. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS

Constitui dever do Poder Público definir espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, conforme preceitua o Art.
225, § 1º, inciso III da CF/88), sendo os mesmos instrumentos da Política
Nacional do Meio Ambiente.

A Constituição do Estado da Bahia, em seu art. 214, também diz textualmente


ser obrigação do estado e dos municípios através de seus órgãos da
administração direta e indireta definir espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, representantes de todos os ecossistemas
originais do Estado.

A Lei Estadual nº 10.431/06, da mesma forma, assevera em seu art. 71, que
compete ao Poder Público instituir, implantar e administrar, na forma da
legislação pertinente, espaços territoriais e seus componentes representativos
de todos os ecossistemas originais a serem protegidos, com vistas à
manutenção e utilização racional do patrimônio biofísico e cultural de seu
território, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção.

Conforme leciona grande constitucionalista brasileiro espaços territoriais


especialmente protegidos são:

122
Áreas geográficas públicas ou privadas [...] dotadas de atributos
ambientais que requeiram sua sujeição, pela lei, a um regime jurídico de
interesse público que implique sua relativa imodificabilidade e sua
utilização sustentada, tendo em vista a preservação e proteção de
amostras de toda a diversidade de ecossistemas, a proteção ao
processo evolutivo das espécies, a preservação e proteção dos
recursos naturais” (SILVA, 2007).
Em um conceito amplo espaços territoriais especialmente protegidos são um
gênero do qual são espécies a reserva legal, as Áreas de preservação
permanente – APPs e as Unidade de Conservação – UC.

12. RESERVA LEGAL

No âmbito federal o tema é regulado basicamente pela Lei nº 12.651/12 e na


esfera estadual pela Lei Estadual nº 10.431/06 que dispõe sobre a Política de
Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da Bahia.
Reserva legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar
a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa (Art. 3º, III, da Lei nº 12.651/12).

Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título
de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de
Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em
relação à área do imóvel:

I - localizado na Amazônia Legal:


a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

123
II - localizado nas demais regiões do País, como no caso da Bahia: 20%
(vinte por cento).

Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para


assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins
do disposto do caput, a área do imóvel antes do fracionamento.

Após a implantação do CAR, em regra, a supressão de novas áreas de floresta


ou outras formas de vegetação nativa apenas será autorizada pelo órgão
ambiental estadual integrante do Sisnama se o imóvel estiver inserido no
mencionado cadastro.

Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de


esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.

Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas


por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de
potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de
geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica.

Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas


com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e
ferrovias.

Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE estadual,


realizado segundo metodologia unificada, o poder público federal poderá:

I - reduzir, exclusivamente para fins de regularização, mediante recomposição,


regeneração ou compensação da Reserva Legal de imóveis com área rural
consolidada, situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal, para

124
até 50% (cinquenta por cento) da propriedade, excluídas as áreas prioritárias
para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos;

II - ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento) dos
percentuais previstos nesta Lei, para cumprimento de metas nacionais de
proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito estufa.

Os Estados que não possuem seus Zoneamentos Ecológico-Econômicos –


ZEEs, segundo a metodologia unificada estabelecida em norma federal, terão o
prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data da publicação desta Lei, para a sua
elaboração e aprovação.

A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em


consideração os seguintes estudos e critérios:

I - o plano de bacia hidrográfica;


II - o Zoneamento Ecológico-Econômico
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com
Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com
outra área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade;
e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.

O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada deverá


aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR.
Protocolada a documentação exigida para análise da localização da área de
Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada
sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão
ambiental competente integrante do SISNAMA, em razão da não formalização
da área de Reserva Legal.

125
Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do
percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas
áreas para o uso alternativo do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de
recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual
integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.

O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita


no Cadastro Ambiental Rural - CAR, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por
esta Lei, poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão
ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres.

A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo
proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado.

Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo


sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama.

É obrigatória a suspensão imediata das atividades em Área de Reserva Legal


desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.

Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser
iniciado o processo de recomposição da Reserva Legal em até dois anos
contados a partir da data da publicação da nova lei florestal.

A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal


não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva
Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do

126
solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante
as diretrizes do plano diretor.

É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós,
folhas e sementes, devendo-se observar:

I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos,


quando houver;
II - a época de maturação dos frutos e sementes;
III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e
da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos,
resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.
O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito
comercial depende de autorização do órgão competente e deverá atender as
seguintes diretrizes e orientações:
I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação
da vegetação nativa da área;
II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;
III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas
que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito


comercial, para consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos
órgãos competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão
ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a
exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.

13 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP

No âmbito federal o assunto é disciplinado pela Lei nº 12.651/12 e no estado


da Bahia pela Constituição do Estado da Bahia (art. 215), Lei Estadual nº
10.431/06 que dispõe sobre a Política de Meio Ambiente e de Proteção à
Biodiversidade do Estado da Bahia (art.89 ao 95) e seu regulamento.

127
De acordo com art. 3º, II da Lei 12.651/12Área de Preservação Permanente é
a “Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.

13.1 APP por mero efeito legal - Lei 12.651/12


AS FAIXAS MARGINAIS DE QUALQUER CURSO D’ÁGUA NATURAL (art.
4º, I)

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros


de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez)
a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros.

A contagem da APP com o advento da nova lei florestal passa a ser da


“borda da calha do leito regular”, em substituição ao “nível mais alto em
faixa marginal”, sendo leito regular a calha por onde correm regularmente as
águas do curso d água durante o ano (art. 3º, XIX)

AS ÁREAS NO ENTORNO DOS LAGOS E LAGOAS NATURAIS (art. 4º, II)


1 - Zonas rurais:
Regra geral: 100 (cem) metros
Exceção: Corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície – 50
(cinquenta) metros;

128
2 – Zonas urbanas:
30 (trinta) metros
- No caso reservatório destinado a geração de energia ou abastecimento
público:
Zona rural - faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem);
Zona urbana - faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta)
metros.

Nesse último caso, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de


servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação
Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento
ambiental (art.5º). Além disso, é necessária a elaboração de Plano Ambiental
de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, nos termos dos §§ 1º e 2º
do art. 5º)

Fica dispensado o estabelecimento das faixas de Área de Preservação


Permanente no entorno das acumulações naturais ou artificiais de água com
superfície inferior a 1 (um) hectare, vedada nova supressão de áreas de
vegetação nativa. (art. 4º, § 4º)

 As áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’àgua perenes*,


qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
(cinquenta) metros (art. 4º,IV);
 As encostas ou partes destas com declividade superior a 45º,
equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive (art.
4º,V);
 As restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues
(art. 4º,VI);
 Os manguezais, em toda a sua extensão (art. 4º, VII);
 As bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais
(art. 4º, VIII);

129
 No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 (cem) metros e inclinação média maior que 25º. As áreas
delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois
terços)da altura mínima da elevação sempre em relação a base, sendo
esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho
d’àgua adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela
mais próximo da elevação (art. 4º, IX);
 As áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros,
qualquer que seja a (art. 4º, X);
 Em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura
mínima de 50 (cinqüenta) metros, a partir do limite do espaço brejoso e
encharcado (art. 4º, XI).

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM ÁREAS URBANAS (art. 4º,


§ § 9º e 10.)

Em áreas urbanas, assim entendidas as áreas compreendidas nos perímetros


urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural
que delimitem as áreas da faixa de passagem de inundação terão sua largura
determinada pelos respectivos Planos Diretores e Leis de Uso do Solo,
ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente.

13.2 APPs na Bahia (art.89 e 90 da Lei nº 10.431/06)

São consideradas APPs:

I - os manguezais;
II - as áreas estuarinas, em faixa tecnicamente determinada através de
estudos específicos, respeitados a linha de preamar máxima e os limites
do manguezal;
III - os recifes de corais, neles sendo permitidas as atividades científicas,
esportivas ou contemplativas;

130
IV - as dunas e restingas, sendo que a sua ocupação parcial depende de
estudos específicos a serem aprovados por órgão competente;
V - os lagos, lagoas e nascentes existentes em centros urbanos,
mencionados no Plano Diretor do respectivo município;
VI - as áreas de proteção das nascentes e margens dos rios
compreendendo o espaço necessário à sua preservação;
VII - as matas ciliares;
VIII - as áreas que abriguem exemplares de espécies raras da fauna e da
flora, ameaçados de extinção e endêmicos, bem como aquelas que
sirvam como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias
devidamente identificadas e previamente declaradas por ato do Poder
Público;
IX - as reservas da flora apícola, compreendendo suas espécies vegetais
e enxames silvestres, quando estabelecidas pelo Poder Público, nelas
vedados o uso de agrotóxicos, a supressão da vegetação e a prática da
queimada;
X - as áreas consideradas de valor paisagístico, assim definidas e
declaradas por ato do Poder Público;
XI - as áreas que abriguem comunidades indígenas na extensão
necessária à sua subsistência e manutenção de sua cultura;
XII - as cavidades naturais subterrâneas e cavernas, onde são permitidas
visitação turística, contemplativa e atividades científicas, além daquelas
previstas em zoneamento específico;
XIII - as encostas sujeitas à erosão e deslizamento, sendo que, em áreas
urbanas, poderá ser permitida a sua utilização após a adoção de medidas
técnicas que assegurem a qualidade ambiental e a segurança da
população.

As áreas e bens naturais que não se incluam entre aqueles definidos como
Área de Preservação Permanente pela legislação federal, terão seu uso,
hipóteses de supressão de vegetação e demais restrições definidos pela
legislação estadual.

131
São também consideradas de preservação permanente as áreas cobertas ou
não por vegetação natural situadas nas veredas do Oeste do Estado e brejos
litorâneos, cujos limites serão definidos em regulamento, de modo a garantir e
proteger os mananciais.

13.3 APPs POR ATO DO PODER PÚBLICO (Lei 12.651/12)

Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de


interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com
florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das
seguintes finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos


de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou
histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades
militares.
IX – proteger áreas úmidas, especialmente as de importância
internacional.

Casos excepcionais de intervenção ou supressão de vegetação em APP


 Hipóteses dos §§ 5º e 6º do art. 4º;
 Utilidade Pública;
 Interesse social;
 Atividades eventuais ou de baixo impactos.

132
Hipóteses dos §§ 5º e 6º do art. 4º
É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, o plantio de
culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que
fica exposta no período de vazante dos rios ou lagos, desde que não implique
supressão de novas áreas de vegetação nativa, seja conservada a qualidade
da água e do solo e seja protegida a fauna silvestre.

Considera-se pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada


mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar
rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda
ao disposto no art. 3o da Lei n° 11.326, de 24 de julho de 2006 (art. 3º).

Estende-se o tratamento dispensado aos imóveis considerados pequena


propriedade ou posse rural familiar às propriedades e posses rurais com até 4
(quatro) módulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem
como às terras indígenas demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e
comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território.

Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas
de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da aquicultura e a
infraestrutura física diretamente a ela associada, desde que:

I - sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de


recursos hídricos, garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo
com norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
II - esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de
gestão de recursos hídricos;
III - seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;
IV - o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR.
V – não implique novas supressões de vegetação nativa.

A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação


Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse

133
social ou de baixo impacto ambiental. A supressão de vegetação nativa
protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em
caso de utilidade pública.

É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução,


em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de
interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em
áreas urbanas.

Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras


intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.

UTILIDADE PÚBLICA (art. 3º, inciso VIII)


a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços
públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos
parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento,
gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais
ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a
extração de areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção
das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do
Poder Executivo federal.

134
INTERESSE SOCIAL (art. 3º, inciso IX)
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da
erosão, erradicação de espécies invasoras e proteção de plantios com
espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena
propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades
tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e
não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977,
de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de
água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são
partes integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e
cascalho, outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas
em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa
técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do
Poder Executivo federal.

135
ATIVIDADES EVENTUAIS OU DE BAIXO
IMPACTO AMBIENTAL (art. 3º, inciso X)
ÁREAS DE USO
a) abertura de pequenas vias de acesso RESTRITO
interno e suas pontes e pontilhões, Nos pantanais e planícies
pantaneiras é permitida a
quando necessárias à travessia de um
exploração ecologicamente
curso d’água, ao acesso de pessoas e sustentável, devendo-se
animais para a obtenção de água ou à considerar as
recomendações técnicas
retirada de produtos oriundos das
dos órgãos oficiais de
atividades de manejo agroflorestal pesquisa, ficando novas
sustentável; supressões de vegetação
nativa para uso alternativo
b) implantação de instalações
do solo condicionadas à
necessárias à captação e condução de autorização do órgão
água e efluentes tratados, desde que estadual do meio ambiente,
com base nas
comprovada a outorga do direito de uso
recomendações
da água, quando couber; mencionadas neste artigo.
c) implantação de trilhas para o Em áreas de inclinação
entre 25° e 45°, serão
desenvolvimento do ecoturismo;
permitidos o manejo
d) construção de rampa de lançamento florestal sustentável e o
de barcos e pequeno ancoradouro; exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem
e) construção de moradia de
como a manutenção da
agricultores familiares, remanescentes infraestrutura física
de comunidades quilombolas e outras associada ao
desenvolvimento das
populações extrativistas e tradicionais
atividades, observadas
em áreas rurais, onde o abastecimento boas práticas agronômicas,
de água se dê pelo esforço próprio dos sendo vedada a conversão
de novas áreas, excetuadas
moradores;
as hipóteses de utilidade
f) construção e manutenção de cercas pública e interesse social.
na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos
ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável;

136
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e
produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a
legislação específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e
outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da
vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e
familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros,
desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem
prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e
de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente.

ÁREAS DE USO RESTRITO ( arts. 10 e 11)


Nos pantanais e planícies pantaneiras é permitida a exploração
ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações
técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de
vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do
órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações mencionadas
neste artigo.

Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal


sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a
manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das
atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão
de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse
social.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL (Art. 29 a 30)


É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de
Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de

137
âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de
integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais,
compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento
ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no


órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento,
exigirá do possuidor ou proprietário:
I - identificação do proprietário ou possuidor rural;
II - comprovação da propriedade ou posse;
III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo,
contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um
ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos
remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação
Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso
existente, também da localização da Reserva Legal.

A inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses


rurais, devendo ser requerida no prazo de 1 (um) ano contado da sua
implantação, prorrogável, uma única vez, por igual período por ato do Chefe do
Poder Executivo.

Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na matrícula do


imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a localização da
reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as
informações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1° do art. 29.

DA AGRICULTURA FAMILIAR (art. 42 a 58)


Nesse caso a Intervenção e supressão de vegetação em APP e RL, para
atividades eventuais ou de baixo impacto em pequena propriedade ou posse
rural familiar, em regra, dependerão de simples declaração ao órgão
competente, estando o imóvel inscrito no CAR.

138
Para registro no CAR da reserva legal de pequena propriedade ou posse rural
familiar, o interessado fornecerá os dados e os órgãos ambientais ou instituição
por eles habilitada fará a coleta das coordenadas geográficas, sendo gratuito e
devendo o Estado prestar apoio técnico e jurídico.

Para cumprimento da manutenção da reserva legal na pequena propriedade ou


posse rural familiar poderão ser computados os plantios de árvores frutíferas,
ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em
sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em
sistemas agroflorestais. O poder público estadual deverá prestar apoio técnico
para a recomposição da vegetação da Reserva Legal nesses imóveis.

O manejo sustentável da RL para exploração florestal eventual, sem propósito


comercial direto ou indireto, para consumo no próprio imóvel em pequena
propriedade ou posse rural familiar, independe de autorização dos órgãos
ambientais competentes, limitada a retirada anual de material lenhoso até 2
(dois) metros cúbicos por hectare.

Além disso, não poderá comprometer mais de 15% da biomassa da RL nem


ser superior a 15 (quinze) metros cúbicos de lenha para uso doméstico e uso
energético, por propriedade ou posse rural, por ano.
Os limites para a referida utilização previstos no caso de posse coletiva de
populações tradicionais ou de agricultura familiar serão adotados por unidade
familiar.

As pequenas propriedades ou posses rurais familiares são desobrigadas da


reposição florestal se a matéria-prima florestal for utilizada para consumo
próprio.

Nas pequenas propriedades ou posses rurais familiares, o manejo florestal


madeireiro sustentável da RL com propósito comercial direto ou indireto
depende de autorização simplificada do órgão ambiental competente.

139
ÁREAS RURAIS CONSOLIDADAS EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE
Nas APPs, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades
agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais
consolidadas até 22 de julho de 2008.
Área rural consolidada: “área de imóvel rural com ocupação antrópica
preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio”.

ÁREAS RURAIS CONSOLIDADAS EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE - RECOMPOSIÇÃO MÍNIMA

CURSOS DE NASCENTES E LAGOS E


IMÓVEIS
ÁGUAS OLHOS D’ÁGUA LAGOAS VEREDAS
RURAIS
NATURAIS PERENES NATURAIS
≤ 1 MÓDULO 5m em faixas 5m em faixa 30m em faixas
Raio de 15m.
FISCAL marginais. marginal. marginais.
>1 ≤ 2
8m em faixas 8m em faixa 30m em faixas
MÓDULOS Raio de 15m.
marginais. marginal. marginais.
FISCAIS
>2 ≤4
15mem faixas 15m em faixa 30m em faixas
MÓDULOS Raio de 15m.
marginais marginal. marginais
FISCAIS
Conforme PRA,
> 4 MÓDULOS 30m em faixa 50m em faixas
mínimo 20m e Raio de 15m.
FISCAIS marginal. marginais.
máximo 100m.

Para fins de recomposição será considerada a área detida pelo imóvel rural em
22 de julho de 2008.
A existência de áreas rurais consolidadas deverá ser informada no CAR para
fins de monitoramento, sendo exigida, nesses casos, a adoção de técnicas de
conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos.

Antes mesmo da disponibilização do CAR, no caso das intervenções já


existentes, é o proprietário ou possuidor rural responsável pela conservação do
solo e da água, por meio de adoção de boas práticas agronômicas.

140
A realização das atividades agrossilvipastoris,
de ecoturismo e de turismo rural observará
MÉTODOS DE
critérios técnicos de conservação do solo e da RECOMPOSIÇÃO
ADMITIDOS:
água indicados no PRA, sendo vedada a
I - condução de regeneração
conversão de novas áreas para uso natural de espécies nativas;
II - plantio de espécies nativas;
alternativo do solo nesses locais. III - plantio de espécies nativas
conjugado com a condução da
regeneração natural de
espécies nativas;
Será admitida a manutenção de residências e IV - plantio intercalado de
espécies lenhosas, perenes ou
da infraestrutura associada as atividades de ciclo longo, exóticas com
nativas de ocorrência regional,
agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo em até 50% (cinquenta por
cento) da área total a ser
rural, inclusive o acesso as mesmas, recomposta, no caso das
pequenas propriedades ou
independentemente da recomposição mínima posse rural familiar.

das faixas de APP, desde que não estejam


em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das pessoas.

Em todos esses casos o poder público, verificada a existência de risco de


agravamento de processos erosivos ou de inundações, determinará a adoção
de medidas mitigadoras que garantam a estabilidade das margens e a
qualidade da água, após deliberação do Conselho Estadual de Meio Ambiente
ou de órgão colegiado estadual equivalente.

A partir da data da publicação da Nova Lei Florestal e até o término do prazo


de adesão ao PRA, é autorizada a continuidade das atividades desenvolvidas
nas áreas rurais consolidadas até 22.07.2008, as quais deverão ser informadas
no CAR para fins de monitoramento, sendo exigida a adoção de medidas de
conservação do solo e da água.

As APPs localizadas em imóveis inseridos nos limites de UC de Proteção


Integral criadas até a data de publicação da Lei não são passíveis de ter
quaisquer atividades consideradas como consolidadas, ressalvado o que
dispuser o Plano de Manejo, devendo o proprietário, possuidor rural ou
ocupante a qualquer título adotar todas as medidas indicadas.

141
Em bacias hidrográficas consideradas críticas, conforme previsto em legislação
específica, o Chefe do Poder Executivo poderá, em ato próprio, estabelecer
metas e diretrizes de recuperação ou conservação da vegetação nativa
superiores, como projeto prioritário, ouvidos o Comitê de Bacia Hidrográfica e o
Conselho Estadual de Meio Ambiente.

Além disso, para imóveis que, em 22.07.2008, compreendiam até 4 módulos


fiscais e desenvolviam atividades agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em
APPs a exigência de recomposição, somadas todas as ÁPPs do imóvel, não
ultrapassará:

I - 10% (dez por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com
área de até 2 (dois) módulos fiscais;
II - 20% (vinte por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com
área superior a 2 (dois) e de até 4 (quatro) módulos fiscais.

Para os assentamentos do Programa de Reforma Agrária, a recomposição de


áreas consolidadas em APPs ao longo ou no entorno de cursos d'água, lagos e
lagoas naturais observará os limites de cada área demarcada individualmente,
objeto de contrato de concessão de uso, até a titulação por parte do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.

Para os reservatórios artificiais de água destinados a geração de energia ou


abastecimento público que foram registrados ou tiveram seus contratos de
concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória
no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, a faixa da Área de Preservação
Permanente será a distância entre o nível máximo operativo normal e a cota
máxima maximorum.

Será admitida a manutenção de atividades florestais, culturas de espécies


lenhosas, perenes ou de ciclo longo, bem como da infraestrutura física
associada ao desenvolvimento de atividades agrossilvipastoris, vedada a

142
conversão de novas áreas para uso alternativo do solo nas áreas rurais
consolidadas em:

a) encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente


a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;
b) bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
c) topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, nas áreas
delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços)
da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta
definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água
adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais
próximo da elevação;
d) áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros.

O pastoreio extensivo nas referidas APPs (incisos V, VIII, IX e X do art. 4°)


deverá ficar restrito às áreas de vegetação campestre natural ou já convertidas
para vegetação campestre, admitindo-se o consórcio com vegetação lenhosa
perene ou de ciclo longo.

A manutenção das culturas e da infraestrutura nas referidas áreas é


condicionada à adoção de práticas conservacionistas do solo e da água
indicadas pelos órgãos de assistência técnica rural.

Admite-se, nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, de imóveis rurais de até 4


(quatro) módulos fiscais, no âmbito do PRA, a partir de boas práticas
agronômicas e de conservação do solo e da água, mediante deliberação dos
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente ou órgãos colegiados estaduais
equivalentes, a consolidação de outras atividades agrossilvipastoris,
ressalvadas as situações de risco de vida.

143
ÁREAS CONSOLIDADAS EM ÁREAS DE RESERVA LEGAL
O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22.07.2008, área
de RL em extensão inferior a atualmente estabelecida, poderá regularizar sua
situação, independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes
alternativas, isolada ou conjuntamente:
I - recompor a Reserva Legal;
II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva
Legal;
III - compensar a Reserva Legal.
A Recomposição da RL:
- Deverá atender os critérios estipulados pelo órgão competente do Sisnama e
ser concluída em até 20 (vinte) anos, abrangendo, a cada 2 (dois) anos, no
mínimo 1/10 (um décimo) da área total necessária à sua complementação.
- Poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas com
exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os seguintes
parâmetros:
a) o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies
nativas de ocorrência regional;
b) a área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50%
(cinquenta por cento) da área total a ser recuperada.
- Nesse caso, os proprietários ou possuidores do imóvel terão direito à sua
exploração econômica.

Compensação da RL:
Deverá ser precedida de inscrição do imóvel rural no CAR.
- Poderá ser realizada mediante:
I - aquisição de Cota de Reserva Ambiental - CRA;
II - arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou Reserva
Legal;
III - doação ao poder público de área localizada no interior de UC de
domínio público pendente de regularização fundiária;

144
IV - cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva
Legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de
terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou
recomposição, desde que localizada no mesmo bioma.

As áreas a serem utilizadas para compensação deverão:

I - ser equivalentes em extensão à área da RL a ser compensada;


II - estar localizadas no mesmo bioma da área de RL a ser compensada;
III - se fora do Estado, estar localizadas em áreas identificadas como
prioritárias pela União ou pelos Estados.

A definição de áreas prioritárias buscará favorecer, entre outros, a recuperação


de bacias hidrográficas excessivamente desmatadas, a criação de corredores
ecológicos, a conservação de grandes áreas protegidas e a conservação ou
recuperação de ecossistemas ou espécies ameaçadas.

Quando se tratar de imóveis públicos, a compensação poderá ser feita


mediante concessão de direito real de uso ou doação, por parte da pessoa
jurídica de direito público proprietária de imóvel rural que não detém Reserva
Legal em extensão suficiente, ao órgão público responsável pela UC de área
localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público, a ser
criada ou pendente de regularização fundiária.

As medidas de compensação não poderão ser utilizadas como forma de


viabilizar a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo.
Nos imóveis rurais que detinham, em 22.06.2008, área de até 4 (quatro)
módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em
percentuais inferiores ao atualmente exigido, a Reserva Legal será constituída
com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22.06.2008,
vedadas novas conversões para uso alternativo do solo.

145
Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de
vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela
legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são dispensados de
promover a recomposição, compensação ou regeneração para os percentuais
exigidos na nova Lei Florestal.

MOTOSERRAS
São obrigados a registro no órgão federal competente do Sisnama os
estabelecimentos comerciais responsáveis pela comercialização de
motoserras, bem como aqueles que as adquirirem. A licença para o porte e uso
será renovada a cada 2 (dois) anos, sendo os fabricantes obrigados a imprimir,
em local visível do equipamento, numeração cuja sequência será encaminhada
ao órgão federal competente do Sisnama e constará nas correspondentes
notas fiscais.

DO CONTROLE DO DESMATAMENTO (Art. 51)


O órgão ambiental competente ao tomar conhecimento do desmatamento
ilegal, deverá embargar a obra ou atividade que deu causa ao uso alternativo
do solo, restringindo aos locais onde efetivamente ocorreu o mesmo.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
No âmbito federal o assunto é regulado basicamente pela Lei nº 9.985/00
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza) e pelo Decreto
nº 4.340/02; e na esfera estadual pela Lei nº 10.431/06 e seu regulamento.
As unidades de Conservação são “espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual
se aplicam garantias adequadas de proteção” (Art. 2º; I da Lei nº 9.985/00).

146
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL
Estação Monumento Refúgio de Vida
Características Reserva Biológica Parque Nacional
Ecológica Natural Silvestre
A preservação integral
da biota e demais A preservação de
atributos naturais ecossistemas naturais
Proteger
existentes em seus de grande relevância
ambientes
limites, sem interferência ecológica e beleza
naturais onde se
humana direta ou cênica, possibilitando
asseguram
Preservação da modificações ambientais, a realização de Preservar sítios
condições para a
natureza e a excetuando-se as pesquisas científicas naturais raros,
existência ou
Objetivos realização de medidas de recuperação e o desenvolvimento singulares ou
reprodução de
pesquisas de seus ecossistemas de atividades de de grande
espécies ou
científicas. alterados e as ações de educação e beleza cênica
comunidades da
manejo necessárias para interpretação
flora local e da
recuperar e preservar o ambiental, de
fauna residente
equilíbrio natural, a recreação em contato
ou migratória
diversidade biológica e com a natureza e de
os processos ecológicos turismo ecológico
naturais

Posse e Públicos e Públicos e


Públicos Públicos Públicos
domínio privados privados

Proibida, salvo
Visitação Proibida, salvo para fins
para fins permitida permitida permitida
Pública educacionais
educacionais

147
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL

UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL


Área de Proteção Área de Relevante Reserva
Floresta Nacional
Ambiental Interesse Ecológico Extrativista
É uma área utilizada
por populações
extrativistas
É uma área em geral tradicionais, cuja
É uma área em geral de
extensa, com um certo subsistência baseia-
pequena extensão, com É uma área com
grau de ocupação se no extrativismo e,
pouca ou nenhuma cobertura florestal de
humana, dotada de complementarmente,
ocupação humana, com espécies
atributos abióticos, na agricultura de
características naturais predominantemente
bióticos, estéticos ou subsistência e na
extraordinárias ou que nativas e tem como
culturais especialmente criação de animais de
abriga exemplares raros objetivo básico o uso
importantes para a pequeno porte, e tem
da biota regional, e tem múltiplo sustentável dos
qualidade de vida e o como objetivos
como objetivo manter os recursos florestais e a
bem-estar das básicos proteger os
ecossistemas naturais pesquisa científica, com
populações humanas, meios de vida e a
de importância regional ênfase em métodos
e tem como objetivos cultura dessas
ou local e regular o uso para exploração
básicos proteger a populações, e
admissível dessas sustentável de florestas
diversidade biológica, assegurar o uso
áreas, de modo a nativas. O domínio é
disciplinar o processo sustentável dos
compatibilizá-lo com os público, mas admite-se
de ocupação e recursos naturais da
objetivos de a permanência das
assegurar a unidade. O domínio é
conservação da populações tradicionais.
sustentabilidade do uso público, mas é
natureza.
dos recursos naturais concedido o uso às
populações
extrativistas
tradicionais.
Reserva de Reserva Particular
Reserva de Fauna Desenvolvimento do Patrimônio
Sustentável Natural.
É uma área natural que
abriga populações
tradicionais, cuja
É uma área natural existência baseia-se em
com populações sistemas sustentáveis
animais de espécies de exploração dos
nativas, terrestres ou recursos naturais,
aquáticas, residentes desenvolvidos ao longo
É uma área privada,
ou migratórias, de gerações e
gravada com
adequadas para adaptados às condições
perpetuidade, com o
estudos técnico- ecológicas locais e que
objetivo de conservar a
científicos sobre o desempenham um papel
diversidade biológica.
manejo econômico fundamental na
sustentável de proteção da natureza e
recursos faunísticos. na manutenção da
Posse e domínio diversidade biológica. O
públicos domínio é público e o
uso pelas comunidades
tradicionais é regulado
por contrato.

148
RESERVAS DA BIOSFERA
 Programa Intergovernamental Man and Biosphere (“O homem e a
biofera”) – MAB, da Unesco.
 “A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de
gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com
os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o
desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental,
a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da
qualidade de vida das populações” (art. 41).

CRIAÇÃO, ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DE UCs


A criação em regra depende da realização prévia de estudos técnicos e
consulta pública (salvo para criação de Estação Ecológica e Reserva
Biológica). Pode ser feita por ato do Poder Público (lei ou decreto).
É possível a sua transformação total ou parcial de Unidade de Uso Sustentável
em Unidade de Proteção Integral.

ZONA DE AMORTECIMENTO
É “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas
estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar
os impactos negativos sobre a unidade” (art. 2º, XVIII). Todas as UCs devem
possuir, exceto APAs e RPPNse.

CORREDORES ECOLÓGICOS
“São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da
biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam, para
sua sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquela das unidades
individuais.” (art. 2º, XIX).

149
PLANO DE MANEJO
Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de
uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas
que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade” (art.
2º,XVII).

COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo
impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com
fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA,
o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade
de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto
neste artigo e no regulamento desta Lei” (art. 36).

LEI ESTADUAL Nº 10.431/06


Merece destaque, para fins específicos da fiscalização ambiental, os casos em
que se faz necessário a anuência do órgão responsável pela Unidade de
Conservação afetada pela implantação de empreendimentos ou atividades. O
assunto está regulado no art. 47. Vejamos:

Art. 47 O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto


ambiental que possam afetar Unidade de Conservação - UC específica
ou sua Zona de Amortecimento - ZA, assim considerados pelo órgão
ambiental licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto
Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA, só
poderá ser concedido após anuência do órgão responsável pela
administração da UC ou, no caso das Reservas Particulares de
Patrimônio Natural - RPPN, pelo órgão responsável pela sua criação.
§ 1º - A Anuência é o ato administrativo por meio do qual o órgão
executor da Política Estadual de Meio Ambiente, previamente à
concessão da primeira licença, estabelece as condições para a
localização, implantação, operação e regularização de

150
empreendimentos e atividades que afetem unidades de conservação ou
suas respectivas zonas de amortecimento, tendo em vista o respectivo
plano de manejo ou, em caso de inexistência do mesmo, as fragilidades
ecológicas da área em questão.
§ 2º - Nos processos de licenciamento ambiental de empreendimentos
não sujeitos ao EIA/RIMA, o órgão ambiental licenciador deverá dar
ciência ao órgão responsável pela administração da UC, quando o
empreendimento:
I - puder causar impacto direto em UC;
II - estiver localizado na sua ZA;
III - estiver localizado no limite de até 2.000 (dois mil) metros da UC,
cuja ZA não venha a ser estabelecida até 31 de dezembro de 2015.
§ 3º - O disposto no parágrafo segundo deste artigo não se aplica às
áreas urbanas consolidadas, às APAs e às RPPNs.

12 - RECURSOS HÍDRICOS

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433/97, tem


os seguintes objetivos: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos
usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o
transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; a prevenção
e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou
decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais (art. 2º)

As diretrizes gerais de ação para implementação da referida política,


estabelecidas no art. 3º, interessam aos propósitos do presente estudo.
Conforme salienta Paulo Affonso Leme Machado (2006, p.445) “a lei indicou
estratégias de ação e preconizou parcerias com outros órgãos”. Convém
transcrever o referido artigo na íntegra:

Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da


Política Nacional de Recursos Hídricos:

151
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos
aspectos de quantidade e qualidade;
II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,
bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas
regiões do País;
III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão
ambiental;
IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos
setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;
V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas
estuarinos e zonas costeiras.

De fato, as políticas referentes aos recursos Hídricos e ambientais têm que


estar integradas. O jurista supracitado, comentando ainda o assunto, assevera:

Os recursos hídricos não podem ser geridos de forma isolada em


relação ao meio ambiente. Portanto, o planejamento concernente à
fauna (aquática e terrestre), as florestas, o uso do solo e de agrotóxicos,
a instalação de indústrias, a renovação das antigas indústrias e o
zoneamento ambiental das bacias hidrográficas são algumas das
matérias que devem ser levadas em conta na gestão das águas
(MACHADO, 2006, p.445)

Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao


Poder Executivo Federal e aos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito
Federal, nas suas respectivas esferas de competência, a outorga dos direitos
de uso de recursos hídricos, e a regulamentação e a fiscalização dos usos,
bem como a promoção da integração da gestão de recursos hídricos com a
gestão ambiental, dentre outras atividades.

A concessão de outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos merece


atenção especial por parte dos órgãos competentes com o fim de evitar que o

152
deferimento das outorgas solicitadas por usuários específicos não torne
inviável a qualidade ambiental de um corpo de água (MACHADO, 2006, P.459).

Aos Poderes Executivos do Distrito Federal e dos municípios foi, por sua vez,
conferida a competência para a integração das políticas locais de saneamento
básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as
políticas federal e estaduais de recursos hídricos. Por fim, ressalte-se que a lei
também criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
que dentre outros, tem como objetivo planejar, regular e controlar o uso, a
preservação e a recuperação dos recursos hídricos.

Na Bahia houve avanços significativos no sentido de promover a articulação


entre as políticas ambiental e hídrica, inclusive com a fusão do IMA e do INGÁ.
Observa-se no gráfico um aumento no quantitativo de processos concluído a
partir de 2011, coincidindo com o período no qual foi instituída a integração dos
órgãos de meio ambiente e de recursos hídricos, com a criação do INEMA.

REGULAÇÃO AMBIENTAL

6000
5095
5000

4000
3208
3000 2813
2282 2355 2376
1844
1766 1648 1928 1739 1807
2000 1521 1599
1333 1288 1362 1276
1074 1186 719 796
1000 702
518 519 415 383
224 363 340248
0 0 29 0 162 0 161 0 48 0 20 95 0 34 76 0 78 0 155 0 0
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Licença Ambiental Ato Florestal Outorga Cadastro de Imóveis Rurais*

*Em 19.11.2012 foi Implementado o Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR).
Os dados de 2014, referem-se ao período de Janeiro a Maio do mesmo ano.
Fonte: SEMA/INEMA

São instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos:


I - o Plano Estadual de Recursos Hídricos;
II - os Planos de Bacias Hidrográficas;

153
III - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo seus
usos preponderantes;
IV - a outorga de direito de uso de recursos hídricos;
V - a cobrança pela utilização de recursos hídricos;
VI - o Sistema Estadual de Informações Ambientais e de Recursos
Hídricos - SEIA; (Alterado pela lei n° 12.377/2011).
VII - a qualidade e o monitoramento dos recursos hídricos; (Alterado pela
lei 12377/2011)
VIII - a fiscalização do uso de recursos hídricos;
IX - o Fundo Estadual de Recursos Hídricos da Bahia – FERHBA.

Outorga de direitos de uso de recursos hídricos


A outorga de direito de uso de recursos hídricos tem por objetivo efetuar o
controle quantitativo e qualitativo do uso das águas e assegurar o direito de
acesso à água, condicionada às prioridades de uso estabelecidas no Plano
Estadual de Recursos Hídricos e nos Planos de Bacias Hidrográficas.

No ato de emissão da outorga de direito de uso de recursos hídricos deverá


constar a finalidade, o prazo de vigência, a vazão máxima outorgada, o seu
regime de variação, o período de bombeamento e, no caso de lançamento de
efluentes, seus parâmetros de qualidade.

As outorgas de direito de uso de recursos hídricos no Estado da Bahia serão


emitidas na modalidade de autorização. Toda outorga de direitos de uso de
recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a 35 (trinta e cinco) anos,
renovável conforme diretrizes estabelecidas pelo CONERH.

Ficam sujeitos à outorga de direito de uso de recursos hídricos ou à


manifestação prévia do órgão executor da Política Estadual de Recursos
Hídricos, na forma do regulamento, as seguintes atividades ou
empreendimentos (Alterado pela lei 12377/2011)

154
I - as atividades ou empreendimentos que captem ou derivem águas
superficiais ou
II - as atividades, ações ou intervenções que possam alterar a quantidade,
a qualidade ou o regime das águas superficiais ou subterrâneas, ou que
alterem canais, álveos, correntes de águas, nascentes, açudes, aquíferos,
lençóis freáticos, lagos e barragens; (Alterado pela lei n° 12.035/2010)
III - as interferências nos leitos dos rios e demais corpos hídricos para a
extração mineral ou de outros materiais, conforme legislação específica;
IV - o lançamento de esgotos e demais efluentes sólidos, líquidos ou
gasosos, tratados ou não, em corpos d’água, com finalidade de diluição,
transporte ou disposição final;
V - a perfuração de poços tubulares.

Dispensa de outorga de direitos de uso de recursos hídricos


Os lançamentos, captações, derivações e acumulações de volumes d´água
considerados de pouca expressão pelo CONERH serão dispensados de
outorga do direito de uso, em prejuízo de seu cadastramento para o
monitoramento de uso, controle e fiscalização, e para fins de defesa da
segurança, da saúde pública e da solução de conflitos.

Os usuários de recursos hídricos deverão fazer seu cadastramento junto ao


órgão gestor e executor da Política Estadual de Recursos Hídricos. (Acrescido
pela lei n° 12.377/2011)

Usos Insignificantes para Efeito de Dispensa de Outorga


(Instrução Normativa SRH nº. 01/07 – hoje INEMA)
Consideram-se usos insignificantes para efeitos de dispensa de outorga de
direito de uso de recursos hídricos as captações ou derivações que
apresentem vazões máximas de até 0,5 l/s e as acumulações de volumes de
água de até 150.000m3. Deverão ser cadastrados pelo INEMA.

155
Modalidades de Outorga e Prazos - Instrução Normativa SRH nº. 01/07
São modalidades de outorga de direito de uso de recursos hídricos no Estado
da Bahia:
I - a concessão, nos casos de utilidade pública;
II - a autorização, nos outros casos.
Os prazos máximos a serem estabelecidos para a vigência da outorga serão
de:
I - 30 (trinta) anos contados da data de publicação do respectivo ato
administrativo, nas hipóteses de concessão;
II - 4 (quatro) anos contados da data de publicação do respectivo ato
administrativo, nas hipóteses de autorização.

Os prazos poderão ser renovados pelo INEMA, a pedido do outorgado


interessado, desde que respeitadas as prioridades estabelecidas no Plano
Estadual de Recursos Hídricos e nos planos de bacia, quando houver. Serão
fixados em função da natureza, finalidade e do porte do empreendimento,
levando-se em consideração, quando for o caso, o período de retorno do
investimento.

156
REFERÊNCIAS

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cidades saudáveis: um convite para um pacto transetorial. In: MENDES, E. V.
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ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 7. ed. rev. ampl. e atual. Rio de
Janeiro: Lúmen Juris, 2004, 1160p.
MACHADO, P. A. L.Direito Ambiental Brasileiro.14. ed. São Paulo:Malheiros,
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