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COMO USAR REFERÊNCIAS NA REDAÇÃO DO ENEM

Incluindo uma lista de referências versáteis!

O critério de Estrutura e conhecimentos, que vale 200 pontos na nota da redação, avalia
dois aspectos: a estrutura da sua redação — isto é, se a introdução, desenvolvimento e proposta
estão onde deveriam estar — e os conhecimentos aplicados. Por conhecimentos, entende-
se tudo aquilo que você traz para reforçar sua redação, geralmente em forma
de exemplos ou referências.

A referência é tipo um fiador pro teu argumento. Você pode falar pra imobiliária que vai
pagar o aluguel todo fim do mês, certinho, mas isso é só a sua palavra. Por que ela confiaria em
você? Aí vem o fiador e fala: olha só, eu garanto o que essa pessoa tá falando. E como o fiador é
alguém de confiança, ele passa essa confiança pra você — agora você é confiável também.

Referências funcionam do mesmo jeito. Você pode até desenvolver direitinho seu
argumento, mas sem um fiador, sem uma referência, ele não tem peso. Pro seu argumento ser
confiável, ele precisa ter algum apoio externo, senão o texto vira trinta linhas de você falando
sozinha.

Ou seja, a referência apoia seu argumento. É como se você dissesse: escuta, isso aqui
não é só coisa da minha cabeça não. Já disseram a mesma coisa em tal música, tal filme, tal
teoria, tal época. Eu entendo como esse tema se encaixa no mundo.

Pra chegar à nota 900, sua redação precisa incluir duas referências.

TÁ, MAS O QUE É UMA REFERÊNCIA?

Referenciar é traçar uma relação entre o argumento e algo que você já conhece.

Vamos supor que o tema seja Legalização da educação domiciliar. Educação domiciliar é o


nome desse novo modelo de educação, que o governo Bolsonaro está tentando legalizar, no qual
o estudante não vai à escola; ele aprende em casa, com os pais, sem professores.
Em relação a esse tema, um dos meus argumentos gira em torno de como o professor ajuda a
mudar o mundo. Como nós podemos apoiar esse argumento? Bom, eu posso falar do filme
Sociedade dos Poetas Mortos, em que um professor inspira seus alunos, ou então citar Paulo
Freire, que disse que se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a
sociedade muda. Ambas são referências válidas; o importante é enxergar a relação entre a
referência e o argumento.

privilégio do professor homem é dar aula arreganhado assim

E SE EU NÃO SOUBER UMA REFERÊNCIA?

Então escolha outro argumento.

Sério. A referência é o diferencial entre uma redação ok e uma redação excelente; ela tem um
peso enorme na nota. Por isso, sempre dê prioridade aos argumentos pros quais você tem alguma
referência!

Continuando o tema acima, por exemplo, vamos supor que você não consiga pensar em nenhuma
referência sobre o papel do professor. Tudo bem. Mas e sobre a desigualdade? A educação
domiciliar seria desigual, porque gente pobre não tem dinheiro nem tempo nem capacitação pra
educar os filhos em casa. Por isso a educação pública é importante; pra garantir que a educação
alcance a todos, independente do quanto a sua família ganha. Então qualquer referência
relacionada à desigualdade serviria nesse tema! Uma estatística, talvez, ou quem sabe outro
filme…
Ou seja, o importante é que a referência seja relevante ao seu argumento de alguma
forma. Digamos que eu queira criticar a política brasileira, dizendo que ela avança e retrocede,
sem fazer progresso. Eu posso puxar da mitologia grega e referenciar Sísifo, que foi condenado a
rolar uma pedra enorme montanha acima. Toda vez que ele chegava ao topo, a pedra rolava de
volta, e ele precisava buscá-la e empurrar ao topo novamente. Essa é uma referência sobre ciclos;
como o meu argumento diz que a política brasileira está num ciclo, ela se aplica.

ENTÃO EU POSSO USAR QUALQUER COISA DE REFERÊNCIA?

Praticamente qualquer coisa, desde que se encaixe no argumento. Pense nas referências como
categorias — existem referências culturais, históricas, acadêmicas e em forma de frases.

Entre as culturais, temos filmes, músicas, livros, poemas, fábulas, mitologias, estátuas,
pinturas. O quadro “Guernica”*, por exemplo, retrata a cidade de Guernica sofrendo um
bombardeio; é uma ótima referência em argumentos antimilitarismo e antiguerra.

*Todo título de obra, seja livro, arte, filme ou o que for, deve ser incluído na redação com
ASPAS!
Já as referências históricas usam, como o nome já diz, eventos ou períodos históricos como
apoio pro argumento. Você pode mencionar, por exemplo, a Revolta da Vacina, ou o costume
romano de abandonar bebês “imperfeitos” pra serem devorados por cachorros selvagens.
As referências acadêmicas apresentam conceitos de todo tipo; da filosofia, sociologia,
antropologia… você pode falar do individualismo em Durkheim ou do mundo das ideias de Platão,
por exemplo. Essas são as mais difíceis, mas valem MUITO a pena se você souber do que tá
falando. Uma dica: tente se especializar em um filósofo só (por exemplo, Bourdieu) e entender
muito bem o que ele pensa sobre o mundo. Aí você pode usar o pensamento dele pra quase
qualquer coisa! Lembre-se que o corretor do ENEM só vai ler uma redação sua, então o que
importa não é o tamanho do seu repertório, mas sim a qualidade.

Por fim, referências em forma de frase podem ser tanto acadêmicas quanto históricas ou culturais;
a diferença é que estão em forma de citação direta. Existe uma diferença entre dizer que
Rousseau escreveu sobre a liberdade do indivíduo, uma referência acadêmica, ou citar
diretamente a abertura do seu livro mais famoso:
“O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado.”

Isso porque as frases famosas têm mais impacto; não é à toa que elas ficaram famosas!
Caso você não se lembre exatamente da citação, procure parafraseá-la; isto é, escrevê-la em
outras palavras:
Como disse Rousseau, o homem nasce em liberdade, mas não se mantém livre.

ENTENDI, ENTÃO NÃO TEM ERRO, É SÓ REFERENCIAR QUALQUER COISA!

Calma lá. Não é bem assim. Em quase toda redação que eu corrijo, a autora cometeu um dos três
erros a seguir: usou referências que não entende, referências que não se encaixam no
argumento ou simplesmente não explicou o que a referência tem a ver com o texto!

1- USOU REFERÊNCIAS QUE NÃO ENTENDE

O primeiro erro é muito comum, especialmente em referências acadêmicas. A regra é: não


entende? Não referencie. É muito melhor citar uma música que você conhece bem do que um
trecho de Bourdieu que você pesquisou só pra usar na redação. Filósofos e sociólogos têm
ideias complexas, que precisam ser entendidas direitinho, pra você não acabar associando a
pessoa a algo em que ela não acredita. Você pode não saber que fez isso, mas talvez a corretora
saiba. E aí fudeu.

Uma maneira de evitar esse erro é utilizar referências de áreas que te interessam. Quem gosta
muito de filmes, por exemplo, pode sempre referenciar filmes em suas redações. Eu gosto muito
de mitologia grega, então sempre enfio um mito em algum lugar, mas você pode ser mais fã da
Bíblia e saber várias parábolas de cor. Use o que você conhece! E se você tem um apego por
um filósofo específico, fique craque nas ideias dele. Aí você pode usar ele pra tudo. Bauman,
Marx, Durkheim e Weber são bons exemplos de filósofos que combinam com vários temas — dá
pra deixar um na manga em caso de emergência.
2- USOU REFERÊNCIA QUE NÃO SE ENCAIXA NO ARGUMENTO

Já o segundo erro, da referência que não cabe no argumento, tem a ver com aquela
EMPOLGAÇÃO que a gente sente quando pensa num autor foda, ou na música perfeita pra
referenciar. A gente fica tão animada com esse pontinho extra que acaba nem conferindo se a
referência faz sentido mesmo. Lembre-se: não adianta jogar uma referência qualquer e se dar por
satisfeita. Você só ganha ponto pela referência que faz sentido!

3- NÃO EXPLICOU O QUE A REFERÊNCIA TEM A VER COM O TEXTO

Por fim, o terceiro erro é o mais grave e o mais comum: inserir a referência solta no parágrafo,
sem explicar o que ela tem a ver com o seu argumento ou com o tema. Olha esse exemplo de
como NÃO encaixar uma referência:
O sociólogo alemão Max Weber defendia que o poder é toda a possibilidade de impor sua vontade
sobre uma pessoa. Não são poucos os relatos de violência policial no Brasil, que estão infelizmente
relacionados com o racismo, crescendo cada vez mais o número de jovens negros mortos pela
polícia.
Deu pra entender onde a pessoa tá querendo ir com isso: a violência policial é uma consequência
de concedermos poder a uma instituição racista. Só que o texto não fala isso! A relação entre a
referência e o argumento fica só nas entrelinhas, como se a autora achasse que a gente consegue
ler o pensamento dela. Ninguém consegue ler pensamento, e pior; ninguém ganha ponto por
pensamento. Tem que botar tudo no papel.

corrigindo sua redação

Veja só como relacionar claramente a referência ao argumento já o deixa muito melhor:


O sociólogo alemão Max Weber defendia que o poder é toda a possibilidade de impor sua vontade
sobre uma pessoa. Nesse sentido, a força policial exerce um poder sobre a população brasileira,
especialmente sobre jovens negros, já que impõe sua vontade sobre eles por meio da violência. De
fato, não são poucos os relatos de violência policial no Brasil relacionados ao racismo, crescendo
cada vez mais o número de jovens negros mortos pela polícia.

E COMO EU ENCAIXO MINHA REFERÊNCIA NO TEXTO?

Seja bem direta! Não adianta só escrever a referência e seguir em frente; tem que parar, explicar,
mostrar a relação. Só aí ela é usada direito. Olha esse exemplo de referência numa introdução:
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o
comprimem.” Os versos do poeta alemão Brecht ilustram os desafios do combate ao tráfico de
drogas; enquanto a sociedade repudia a violência do traficante, nada é dito sobre a pobreza que o
leva ao crime.

Enquanto a primeira frase apresenta a referência, a segunda frase explica exatamente a


relação entre a referência e o tema (Desafios do combate ao tráfico de drogas). Ou seja, a
referência tá encaixadinha — você sabe exatamente por que ela tá ali.
Peraí, pode referência em introdução? Pode! A prioridade é o desenvolvimento, porque é lá que
os seus argumentos precisam de mais ajuda; mas se você tiver uma referência sobrando, joga pra
introdução.

DE QUANTAS REFERÊNCIAS EU PRECISO NA REDAÇÃO?

Para obter a nota máxima no critério de Estrutura e conhecimentos, é preciso, além de uma
estrutura impecável, duas referências utilizadas corretamente. Nesse sentido, pra facilitar sua
vida, vamos listar abaixo algumas referências versáteis, que se encaixam em diversos temas e
maximizam a chance de que você alcance um notão nesse critério.
hora de fingir que a gente sabe alguma coisa sobre a Grécia antiga

CITAÇÕES
“A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto.” (Darcy Ribeiro, antropólogo)
“Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.” (Barão de Itararé — que não foi
Barão, foi um humorista)
“A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida.” (Papa João Paulo II)

Também é possível referenciar estas frases em forma de paráfrase; isto é, reescrevendo a frase
no mesmo sentido, mas em outras palavras. Basta deixar claro quem é o autor e a referência será
contada.

ESTATÍSTICAS

Todas as estatísticas abaixo devem ser citadas junto do nome completo do órgão. Referências
sem fonte ou com fonte abreviada em sigla terão sua pontuação diminuída ou podem até não ser
consideradas!
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, o Brasil tem a terceira maior população carcerária
do mundo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais de 12 milhões de brasileiros estão
desempregados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, menos da metade dos brasileiros que já
passaram dos 24 anos têm o ensino médio completo.

Uma boa dica genérica no uso de estatísticas: simplifique os números. Arredondar 852.000 para


“mais de 800.000” ajuda na hora de memorizar!

ALEGORIAS

O poder da alegoria é o de encontrar em uma história, seja um mito, fábula, parábola ou conto de
fadas, um paralelo ao problema em questão. As alegorias abaixo são versáteis, se encaixando
em diversos possíveis temas. Lembre-se de amarrar a alegoria ao tema em questão, deixando
claro a sua relação com o que está sendo tratado! Do contrário, a referência fica solta no texto e
não recebe pontuação.
Em sua casa, Procusto tinha uma cama de ferro, para a qual convidava todos os viajantes a se
deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para
ajustá-los à cama, e os baixos eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. No entanto, a
vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procusto, secretamente, tinha
duas camas de tamanhos diferentes. O mito de Procusto representa a intolerância do ser humano
em relação ao seu semelhante, sempre buscando adequá-lo a padrões aos quais não pode nunca
se encaixar.
Na história da Branca de Neve, sua madrasta ouve do Espelho Mágico que não é mais a mulher
mais bela do reino. Isso a faz sentir tanta inveja que ela então entra num ciclo de violência que leva,
eventualmente, à sua própria destruição. Esse conto de fadas trágico é análogo ao impacto que as
redes sociais, e a mídia em geral, têm sobre a autoestima daqueles que as consomem.
De acordo com a mitologia grega, Hércules precisou cumprir doze tarefas para tornar-se um deus.
Tais tarefas só poderiam ser realizadas por alguém com capacidade e habilidades divinas; logo,
eram uma forma de avaliação razoável para o que se desejava testar. O mesmo não pode ser dito
de vestibulares, entrevistas de emprego e diversos outros processos seletivos, que exigem
habilidades divinas de quem é mero ser humano.
Espero que o uso de referências na redação tenha ficado mais claro!

Boa prova ❤

https://medium.com/@niva/como-usar-refer%C3%AAncias-na-reda%C3%A7%C3%A3o-do-enem-
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