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Bases Neuropsicologicas Do Desenvolvimento Psicomotor Unidade III
Bases Neuropsicologicas Do Desenvolvimento Psicomotor Unidade III
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: ASPECTOS
SOMÁTICOS, AFETIVOS, AMBIENTAIS E SOCIAIS
Elaboração
Rogério Gonçalves de Castro
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: ASPECTOS SOMÁTICOS, AFETIVOS, AMBIENTAIS E SOCIAIS........................ 5
CAPÍTULO 1
PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM......................................................................................... 5
CAPÍTULO 2
AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO....................................................................... 17
CAPÍTULO 3
ASPECTOS SOMÁTICOS, AFETIVOS, AMBIENTAIS E SOCIAIS.................................................................................... 25
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................29
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DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA: ASPECTOS
SOMÁTICOS, AFETIVOS,
UNIDADE III
AMBIENTAIS E SOCIAIS
CAPÍTULO 1
PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM
Quando nos reportamos a Piaget e seus estudos, observamos que ele rejeita a teoria de
ideias defendidas no passado por filósofos como Platão, Descartes, Leibniz, afirmando
que todo o conhecimento deriva da experiência, transformando o sujeito em simples
produto do meio.
Para Piaget, assim como todo organismo ou ser vivo necessita de uma determinada
estrutura biológica para se manter e se reproduzir, da mesma forma a vida psicológica
também possui suas estruturas, as quais permitem a adaptação à realidade.
Para Piaget, a criança não é um adulto em miniatura, mas sim alguém que pensa
qualitativamente diferente do adulto. Por essa linha, não há inferioridade no seu
pensamento, mas apenas uma diferença em relação ao pensamento do adulto, diante
das características específicas que Piaget trata de detalhar na sua teoria.
Piaget sustentava que a inteligência não apenas seria hereditária ou o produto dos
condicionamentos de ordem ambiental, mas que seria desenvolvida por meio da interação
do sujeito com o meio.
Desse modo, quanto maior a riqueza de estímulos – físicos e sociais – apresentada pelo
ambiente, maior será a possibilidade de a criança atuar sobre ele e desenvolver-se.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
Quanto mais contato com objetos físicos distintos tiver a criança, maiores serão as
chances de ela bem se desenvolver, uma vez que a interação física dará a oportunidade
de abstração e irá promover a aquisição de conhecimentos novos.
Por meio do crescimento, inicia-se a construção da noção de “eu”, que significa perceber-
se como alguém individualizado, separado de sua mãe. Entende que outras pessoas
podem atendê-lo, que não somente a sua mãe, e que pode brincar sozinho.
Outra observação que confirma nesse período é que a criança começa a se ver como
alguém separado da mãe, é quando demonstra perceber a noção da permanência do
objeto. Isso ocorre por volta dos oito meses.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Tem consciência da existência dos objetos, tais como: a mamadeira existe, mesmo que
não esteja perto dela, sob seus olhos.
É essencial que nesse estágio a criança estabeleça contato com diversos objetos para
experienciar o meio e elaborar as suas estruturas mentais. É muito importante que a
criança tenha acesso a diversos materiais distintos no que diz respeito ao tamanho e
à textura, a exemplo de potes que se encaixem, blocos grandes, objetos coloridos etc.
Trata-se do período do concreto. A ela ainda não é possível fazer abstrações (por isso
a dificuldade de compreender o outro) ou executar operações puramente mentais.
É também a fase da exploração do meio ambiente. Ao explorá-lo, adquire conhecimento
sobre o meio em que está inserida. Para efetuar uma contagem, por exemplo, necessita
de objetos físicos. A criança nesse período entende o número como algo concreto.
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Como ela ainda não tem compreensão acerca de regras, também não tem o senso do
perito, necessitando de constante supervisão de adultos. Por essa razão, ela exercita nessa
fase a sua coordenação motora global e o seu equilíbrio. A criança deve ser incentivada
a realizar brincadeiras ao ar livre.
De todo modo, a criança deve ser apresentada a algumas regras, mesmo que ainda ela
não consiga enxergar um sentido muito claro nisso, a fim de que ela comece a entender
os seus próprios limites e a respeitar os limites do colega e os de cada ambiente que
frequenta.
A criança deve ser colocada em contato com desafios, mas erros devem ser permitidos
e jamais ridicularizados. Também é importante o incentivo à criatividade, assim como
os trabalhos em grupo que devem ser bastante incentivados.
Por essa razão, os problemas precisam incluir situações do dia a dia e também permitir
traçar um paralelo com situações da vida real. A resolução de problemas nesse período
assume formas distintas. O professor deve dar a devida importância à necessidade de
entender o raciocínio da criança, buscando sempre socializar as diferentes maneiras de
resolver os problemas que surgirem, em lugar de tentar fazer com que a criança pense
como ele.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Salientamos, portanto, que o ambiente escolar, nessa etapa, deve proporcionar desafios
e o contato com coisas novas que permitirão à criança sair em busca de respostas.
O professor precisa demonstrar ao aluno o que ele conhece e o lugar onde pode chegar,
trabalhando juntamente com ele no planejamento. Essa estratégia oferece segurança e
ajuda no desenvolvimento da autoestima da criança. Cuidados especiais precisam ser
tomados ao realizarmos qualquer tipo de comparação entre eles.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
Dito de outra forma, Vygotsky entende não ser suficiente apenas a posse de todo o
aparato biológico da espécie para a execução de uma atividade, caso o indivíduo se
abstenha de participar de ambientes e práticas características que levem a esse processo
de aprendizagem.
Não se pode imaginar que a criança conseguirá se desenvolver sozinha ao longo do tempo,
dado que ela não possui, isoladamente, os instrumentos necessários para trilhar sem
companhia o caminho que leva ao desenvolvimento, pois isso irá depender do conteúdo
que ela aprendeu a partir das experiências vividas.
Por essa linha, reconhece-se a criança como um ser capaz de raciocinar e de relacionar
a sua ação à representação de mundo pertencente à sua cultura, de sorte que a escola
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Percebemos, portanto, por meio da citação anterior, que, para além da crítica à separação
entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico, Vygotsky sugere
uma antecipação aparente da ação – dito de outra forma, da experiência direta em que
se encontra o encontra o fluxo vigoroso dos nossos anseios, das nossas necessidades
etc. – ao pensamento generalista.
Segundo Wertsch, (1988), Vygotsky enxerga a questão a partir de sua dimensão social,
segundo a qual a dimensão individual tem natureza derivada e secundária, sendo vista
como “organização objetivamente observável do comportamento, que é imposta aos
seres humanos através da participação em práticas socioculturais” (Wertsch, 1988, p.
195-6), por processos sucessivos de internalização que vão além da simples cópia da
realidade externa para um plano interior existente.
Desse modo, a linguagem, entendida assim como um sistema simbólico de mediação entre
o sujeito e o objeto, se propõe essencialmente a assumir a função contributiva voltada
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
Por essa linha, por meio das investigações que realizou sobre os processos internos
ligados à aquisição, organização e utilização do conhecimento por meio da sua dimensão
simbólica, Vygotsky busca estabelecer um trajeto genético do desenvolvimento do
pensamento generalizante, denominado por ele pensamento conceitual, em um ensaio
em que busca evidenciar a maneira como se corporifica a construção dos significados,
o modo como ocorre o processo de formação dos conceitos.
A criança, no primeiro estágio, reúne os objetos do mundo ao seu redor segundo critérios
subjetivos, apoiada apenas na sua percepção; portanto, essas ligações mostram-se pouco
estáveis e não estão necessariamente relacionadas com as características importantes
dos objetos.
Enfim, no terceiro estágio, acontece a reunião dos objetos a partir de uma única
característica, abstraída de particularidades não ligadas à experiência direta como um
todo, caracterizando, assim, o estágio em que se realiza o pensamento lógico-abstrato.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
De todo modo, apesar dos conceitos explicados anteriormente, é necessário descrever, por
ora, o pensamento de Vygotsky vinculado às questões mais intensamente relacionadas
com o tema da afetividade.
Como enfatiza o próprio Carl Ratner, apesar de certas emoções possuírem correspondentes
naturais, a maioria das emoções não os possui, cabendo citar, como exemplo: o dever,
a raiva, a vergonha, a piedade, a gratidão, o remorso, a admiração, o amor, a culpa, o
ódio, o desprezo e a vingança. A inexistência de correspondentes naturais, no caso dessas
emoções específicas, evidencia ainda mais a sua natureza social (RATNER, 1995, p. 68).
Além disso, entendendo as emoções como aspectos de natureza estrutural criados para
atender às necessidades humanas, e por isso dependentes da cognição, da interpretação
e da percepção, as oscilações das emoções se fazem muito compreensíveis.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
O médico francês Henri Wallon (1879-1962) elaborou alguns estudos no campo neurológico
conferindo ênfase à característica de plasticidade do cérebro.
Por essa linha, os fatores físicos espaciais, os indivíduos próximos, a linguagem, assim
como os conhecimentos encontrados na cultura favorecem substancialmente a formação
do contexto de desenvolvimento infantil.
Estágios de desenvolvimento
Na sequência, explicitamos os estágios do desenvolvimento descritos por Wallon.
» Estágio impulsivo-emocional (1º ano de vida): nessa fase, predominam nas crianças
as relações emocionais com o ambiente. Vão se desenvolvendo as condições sensório-
motores, a construção do sujeito.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Desse modo, ao dar-lhes carinho, assim sinalizando para o reconhecimento dos seus
direitos e dando-lhes a devida atenção, proporcionam à criança uma experiência de
bem-estar emocional, acompanhada de um sentimento de segurança e proteção.
Certamente, isso não quer dizer que se deve fazer “vista grossa” para os equívocos
da criança, uma vez que um alerta emitido de forma segura e ponderada constitui
precisamente uma demonstração relevante de um relacionamento afetuoso.
Freud deu ênfase ao desenvolvimento sexual infantil. Para ele, a sexualidade é central
no processo de transformação do ser humano. A partir das experiências prazerosas
e não prazerosas e também da curiosidade sobre a sexualidade, ocorre o processo de
constituição do indivíduo como pessoa.
» 1º ano – Fase oral: prazer derivado dos lábios e da boca: sugar, comer, chupar o
dedo. Mais tarde, com a erupção dos dentes, prazer de morder;
» 2º ano – Fase anal: prazer derivado da retenção e expulsão das fezes e, também,
do controle muscular. Treino dos esfíncteres;
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» 12 até idade adulta – Fase genital: prazer derivado das relações sexuais. Maturidade
sexual, intimidade.
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CAPÍTULO 2
AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES
NO CAMPO DA EDUCAÇÃO
Deve-se ter em mente que o entendimento sobre a criança e seu desenvolvimento existente
até o final do século XX sofreu diversas modificações a partir do progresso alcançado
nas áreas da psicologia, biologia e medicina, sem esquecer da pedagogia e da sociologia,
levando a relevantes transformações na maneira de pensar e agir relacionadas às crianças.
A partir do contato com o seu próprio corpo, com o meio, e, também, pela da interação
com outras crianças e adultos, os indivíduos iniciam o processo de desenvolvimento da
sua a capacidade afetiva, da autoestima, da sensibilidade, do pensamento, do raciocínio
e da linguagem.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
Tal entendimento tem impacto direto e concreto na qualidade da interação dos professores
com a criança e também na condução das atividades pedagógicas do cotidiano dos pequenos.
No cotidiano é muito comum, não só na educação infantil, bem como nos demais níveis
de ensino, serem avaliados somente os alunos. Temos que modificar nossos conceitos e
transformar a tradicional maneira de avaliar, que preceitua e dá ênfase apenas à procura
por “erros” e por “culpados”.
É preciso então, procurar novos modelos avaliativos, além de substituir a forma tradicional
por outro modelo que tenha a capacidade de oferecer oportunidades e de disponibilizar
pontos passíveis de crítica e de transformação a fim de que o trabalho pedagógico possa
ser bem desenvolvido.
Vale ressaltar que, dessa maneira, todos nesse processo – professores, coordenação
pedagógica, direção, equipe de apoio e administrativa, crianças e responsáveis – devam
se sentir comprometidos com o ato avaliativo das crianças.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
» refletindo sobre o que a família pensa em relação aos motivos de a criança comportar-
se de determinada forma na escola/creche;
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» ouvindo a família sobre como pensa que poderia auxiliar a criança a avançar em
seu desenvolvimento.
Hábitos e atitudes
» Está sempre atento na sala de aula.
Linguagem
» Entende bem o que lhe é falado.
Desenvolvimento cognitivo
» Apresenta bom raciocínio matemático.
» Compõe quebra-cabeça.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Desenvolvimento psicomotor
» Consegue movimentar-se bem (pular, correr, saltar, arrastar).
Movimento
Diante disso, é possível concluir que o movimento consiste em algo mais de que
simplesmente deslocar o corpo no espaço, constituindo-se de uma verdadeira linguagem
que dá permissão às crianças para interagirem com o meio físico e atuarem sobre o
ambiente humano, mobilizando as pessoas a partir do seu teor expressivo.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
A educação das crianças abrange a faixa etária que vai de zero a cinco anos. Nessa idade,
segundo Gallahue e Ozmun (2005), as crianças se encontram entre os estágios inicial e
elementar em seu desenvolvimento motor.
Sendo assim, a realização do estágio maduro deve ser influenciada muito significativamente
pelas oportunidades para a prática, pelo encorajamento e pelo ensino em um ambiente
adequado e que propicie o aprendizado dos alunos.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Percebemos que nos anos iniciais da infância as crianças estão envolvidas em duas
atividades socioemocionais relevantes: desenvolvimento do senso de autonomia e o
senso de iniciativa.
Desenvolvimento motor
» Habilidades perceptivo-motoras estão se desenvolvendo rápido, mas frequentemente
existe confusão na consciência corporal, direcional, temporal e espacial.
» O controle motor refinado ainda não está totalmente estabelecido, embora o controle
motor rudimentar esteja desenvolvendo-se rapidamente.
Desenvolvimento cognitivo
» Existe uma habilidade crescente de expressar pensamentos e ideias verbalmente.
» Uma imaginação fantástica leva à imitação tanto de ações como de símbolos, com
pouca preocupação com a precisão ou com a sequência lógica dos eventos.
» O “como” e o “porquê” das ações da criança são aprendidos por meio das quase
constantes brincadeiras.
Desenvolvimento afetivo
» Nessa fase, as crianças são egocêntricas e supõem que todas as pessoas raciocinam da
mesma maneira que elas. Como resultado, frequentemente parecem ser briguentas
e relutantes em compartilhar objetos e sentimentos e em socializar-se com outras.
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
É preciso, então, dar ênfase à exploração das atividades motoras e de resolução de problemas
a fim de explorar ao máximo a criatividade da criança; fortalecer o desenvolvimento das
diversas habilidades fundamentais de locomoção, manipulação e estabilização, desde as
mais simples até as mais complexas. É preciso extrair vantagem da fértil imaginação da
criança por meio do uso de uma diversificada gama de atividades, aí incluindo o teatro
e as fantasias; além de oferecer-lhes diversas atividades que exijam a manipulação de
objetos acompanhada da coordenação olho/mão.
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CAPÍTULO 3
ASPECTOS SOMÁTICOS, AFETIVOS, AMBIENTAIS E SOCIAIS
Wallon (2007) considera o brincar como algo inerente à criança, e toda a ação realizada
por ela poderá ser entendida como um brincar, desde que ocorra de forma espontânea,
não sujeita a orientações e objetivos definidos previamente. O brincar espontâneo da
criança é pautado unicamente pela sua própria satisfação.
Os aspectos emocionais e afetivos nos jogos são explicitados, conforme Wallon (2007),
por dois aspectos específicos: a ficção e o surgimento das regras.
A ficção nada mais é que o componente lúdico da brincadeira, do jogo, aquilo que a criança
imagina, isto é, o mundo de fantasia que é criado pela criança durante o brincar. Depois
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
Piaget (1978), do mesmo modo que Wallon (2007), categoriza os jogos conforme a
evolução dos estágios do desenvolvimento infantil. Além disso, para ele, a atividade
lúdica das crianças segue a mesma dinâmica de assimilação e acomodação, conceitos
que vimos no capítulo anterior. Nas palavras de Piaget:
» jogos de regras: são jogos que exigem a colaboração entre pares ou a competição
entre equipes, exigem ainda a obediência a regras as quais todos devem estar
cientes e de acordo previamente.
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Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais | UNIDADE III
Da mesma forma, para esse autor, todas as brincadeiras, além do componente lúdico,
necessariamente apresentam regras. Entende-se que mesmo que as regras não estejam
definidas e enumeradas, a brincadeira está sujeita às regras de comportamento presentes
no corpo social. A criança se esforçará em desempenhar com excelência o comportamento
social do seu entorno mesmo que ele esteja além do seu momento de desenvolvimento.
Este último entendimento também é compartilhado por Piaget, que embora dê destaque
à satisfação como indutora do comportamento de brincar na criança, tal como Vygotsky,
considera que o jogo de faz de contas faz com que a criança, simbolicamente, realize
seus desejos e suas potencialidades.
Os três autores, Wallon, Piaget e Vygotsky, consideram o brincar um fator essencial para
a criança, que interfere diretamente em seu desenvolvimento nos aspectos motores,
afetivos e sociais. Convém, esclarecer, que o brincar para esses autores corresponde
àquele que começa e termina por iniciativa da criança, não sendo direcionado por regras
definidas por adultos visando a objetivos educacionais. Portanto, é essencial que as
crianças tenham tempo livre para que desenvolvam suas próprias brincadeiras, suas
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UNIDADE III | Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais
próprias atividades lúdicas, que, como vimos, são essenciais para seu desenvolvimento
afetivo e intelectual.
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