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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE

DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE


JABOTICABAL/SP

A SECRETARIA DA SAÚDE DO
MUNICÍPIO DE JABOTICABAL- pessoa jurídica de direito público,
inscrita no CNPJ/MF sob o nº 50.387.844/0001-05, com sede na Esplanada do
Lago Carlos Rodrigues Serra, nº160- Bairro Vila Serra - CEP. 14870-900 e

RENATA APARECIDA RONCAGLIO


ASSIRATI, brasileira, casada, atualmente ocupando o cargo de Secretária
Municipal da Saúde, com endereço na Esplanada do Lago Carlos Rodrigues
Serra, nº160- Bairro Vila Serra - CEP. 14870-900 , representando também a
primeira Requente, vem, perante Vossa Excelência, através de sua advogada ao
final assinada, conforme instrumento de mandato incluso, interpor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA cc PEDIDO DE LIMINAR de caráter


URGENTE.

Para que o poder Judiciário declare se há obrigação legal,


ou se há impedimento legal com referência à entrega de documentos médicos e
prontuários médicos de pacientes atendidos na UPA, documentos cobertos
por sigilo legal, sem ordem ou autorização expressa do Poder
Judiciário.

Em face da

COMISSÃO ESPECIAL DE INQUÉRITO DA CÂMARA


MUNICIPAL DE JABOTICABAL- CEI-UPA- instalada na N. Câmara
Municipal de Jaboticabal, na Rua Barão do Rio Branco, nº 765- Centro –
Jaboticabal- CEP 14.870-000, pelos motivos de fato e de direito a seguir:
DOS FATOS

1- Em maio de 2015, foi criada pela Câmara Municipal de


Jaboticabal, uma Comissão Especial de Inquérito, para apurar eventuais
irregularidades no atendimento médico da Unidade de Pronto Atendimento –
UPA, unidade que tem, como finalidade, o atendimento médico de urgência da
população do Município de Jaboticabal, tendo já ouvido várias pessoas
atendidas pela referida UPA.(doc j.).

2. No decorrer dos trabalhos da comissão em comento,


foram ouvidas várias pessoas, (doc.) algumas que foram pessoalmente
atendidas pela UPA e outras ,fizeram relatos de caso de parentes que já
faleceram que tiveram atendimentos, ora investigados por esta Comissão
Especial de Inquérito. Na oitiva das pessoas em comento, estava sendo
discutida, de diversas formas, a entrega dos prontuários médicos à Câmara
Municipal, tendo em vista serem documentos sigilosos, tanto pelo viés dos
profissionais , quanto dos pacientes.

2.A O que diz a Lei Orgânica Municipal (doc j.)

Artigo 17- Compete à Câmara Municipal, privativamente, entre


outras, as seguintes atribuições:

(omissis)

-XVI- Criar comissões especiais de Inquérito, sobre fato


determinado que se inclua na Competência da Câmara
Municipal, sempre que o requerer pelo menos 1/3 (um têrço) dos
membros da Câmara Municipal.

2. B O que diz o Regimento Interno da Câmara Municipal

Art. 75. As Comissões Temporárias poderão ser:


I – Comissões de Representação;
II – Comissões de Assuntos Relevantes;
III – Comissões Especiais de Inquérito;
IV – Comissões de Investigação e Processante.
Art. 79. As Comissões Especiais de Inquérito destinar-se-ão a
apurar irregularidades sobre fato determinado, que se inclua na
competência municipal.
Art. 80 As Comissões Especiais de Inquérito serão constituídas
nos termos da Legislação pertinente, mediante requerimento
subscrito por, no mínimo, um terço dos membros da Câmara,
não necessitando da aprovação do Plenário.
§ 1º Recebida a proposta, a Mesa nomeará a Comissão, com três
membros, conforme a indicação dos líderes dos partidos,
respeitada a proporcionalidade de representação na Câmara
Municipal e, não havendo indicação no prazo de 15 (quinze
dias), deverá nomeá-los de ofício.
§ 2º A conclusão a que chegar a Comissão Especial de Inquérito,
na apuração de responsabilidade de terceiros, terá o
encaminhamento de acordo com as recomendações propostas.

3. Porem, de súbito, foi determinado pelo N. Presidente da


Comissão Especial de Inquérito , Vereador João Roberto da Silva, para que a
Secretaria da Saúde do Município- via intimação da Secretária da Saúde, em
anexo, entregasse, de imediato, de forma incontinente, todos os
prontuários médicos das pessoas atendidas pela UPA, (falecidas ou não,
cujos casos estão sendo investigados), à um funcionário da Câmara
Municipal, para serem juntados nos autos do procedimento da comissão,
sob pena de indiciamento criminal do Prefeito Municipal e da Secretária
da Saúde .

4. Tentou-se ponderar, durante as audiências da


Comissão em tela, bem como por reiterados requerimentos, que os
prontuários médicos são documentos particulares do cidadão e sigilosos
por determinação constitucional e legal, sendo necessário autorização
judicial para sua entrega à Comissão da Câmara Municipal, conforme
entendimento da jurisprudência e da doutrina. (doc. J.) ( artigo 5º da CF,
X e artigos 102 e 105 do Código de Ética Médica).
5. Para surpresa da parte Autora, recebemos um R.
Despacho, da lavra do Presidente da Comissão Especial de Inquérito, Vereador
João Roberto da Silva, contendo ameaça evidente de denunciar
criminalmente e de imediato, o Sr Prefeito e sua Secretária de Saúde, sob
alegação de descumprimento de ordem “ imperativa”(sic) do Presidente da
Comissão, contendo as seguintes argumentações:

a- Que a presente Comissão Especial de Inquérito tem o mesmo Poder das


Comissões Parlamentares de Inquérito- órgãos específicos do Congresso
Nacional, citando artigos da Constituição Federal, específicos das Comissões
Parlamentares de Inquérito, repita-se, órgão específico do Congresso Nacional,
ou seja, Câmara Federal e Senado Federal) .

b- Que, mais ainda, “ ....as deliberações das CEI e de seus membros são
imperativas e neste aspecto assemelham-se aos poderes dos juízes, segundo
os ditames da Lei 1.579 de 18 de março de 1952, a qual, dispõe sobre as
Comissões Parlamentares de Inquérito ....) (sic)- grifamos e negritamos.

c- Que a conduta da parte Autora ( ao se recusar a entregar os documentos


sem a determinação judicial) é considerada crime previsto tanto no inciso I, do
artigo 4º, da Lei 1.579/52 , como no artigo 329/330, do Código Penal
Brasileiro, podendo ocorrer a denúncia criminal do Prefeito Municipal e
da Secretária de Saúde, a qualquer momento, caso não se entregue os
documentos sigilosos ao funcionário da Câmara ali indicado.

6. Como se sabe, as Comissões Especiais de Inquérito são


órgãos do Poder Legislativo Municipal e estão previstas na Lei Orgânica do
Município (doc. J.), tendo a prerrogativa de investigar fato determinado de
relevância, decorrido na órbita do Poder Executivo. Tem, para tanto, o poder de
ouvir testemunhas, requisitar documentos, tudo como consta no artigo 17,
inciso XVI, da Lei Orgânica Municipal e do Regimento Interno da Câmara
Legislativa Municipal, a ver:
2.A O que diz a Lei Orgânica Municipal (doc j.)

Artigo 17- Compete à Câmara Municipal, privativamente, entre


outras, as seguintes atribuições:

(omissis)

-XVI- Criar comissões especiais de Inquérito, sobre fato


determinado que se inclua na Competência da Câmara
Municipal, sempre que o requerer pelo menos 1/3 (um têrço) dos
membros da Câmara Municipal.

2. B O que diz o Regimento Interno da Câmara Municipal

Art. 75. As Comissões Temporárias poderão ser:


I – Comissões de Representação;
II – Comissões de Assuntos Relevantes;
III – Comissões Especiais de Inquérito;
IV – Comissões de Investigação e Processante.

Art. 79. As Comissões Especiais de Inquérito destinar-se-ão a


apurar irregularidades sobre fato determinado, que se inclua na
competência municipal.
Art. 80 As Comissões Especiais de Inquérito serão constituídas
nos termos da Legislação pertinente, mediante requerimento
subscrito por, no mínimo, um terço dos membros da Câmara,
não necessitando da aprovação do Plenário.
§ 1º Recebida a proposta, a Mesa nomeará a Comissão, com três
membros, conforme a indicação dos líderes dos partidos,
respeitada a proporcionalidade de representação na Câmara
Municipal e, não havendo indicação no prazo de 15 (quinze
dias), deverá nomeá-los de ofício.
§ 2º A conclusão a que chegar a Comissão Especial de Inquérito,
na apuração de responsabilidade de terceiros, terá o
encaminhamento de acordo com as recomendações propostas.

3- Portanto, as Comissões Especiais de Inquérito, de âmbito


Municipal e com legislação própria são diferentes das Comissões
Parlamentares de Inquérito, exclusivas do Congresso Nacional, vez que a
Constituição Federal, no artigo 58 , diz, expressamente que “ O Congresso
Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento
ou no ato de que resultar sua criação.”

Comissão Parlamentar de Inquérito, portanto, é exclusividade do


Congresso Nacional.

E Comissão Especial de Inquérito é órgão do poder legislativo


municipal, não regulamentado pela Constituição Federal.

No entanto, a Comissão Especial de Inquérito instalada pela N.


Câmara Municipal de Jaboticabal, invoca as mesmas prerrogativas das
Comissões Parlamentares de Inquéritos, tendo trazido para o suporte de seus
atos, a lei específica das Comissões Parlamentares de Inquérito, qual seja, a
Lei 1.579/1952.

Como se sabe, documentos médicos estão protegidos por sigilo,


constitucionalmente, pela pétrea cláusula 5, X, da Constituição Federal-
cláusula pétrea, que diz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(omissis)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;   

(doc. J.)

Mais ainda, constitui crime, previsto no Código Penal, a


violação de segredo profissional, a ver:

Violação do segredo profissional

        Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano
a outrem:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

        Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Por sua vez, a legislação médica, também impede a entrega de


documentos e prontuários médicos, sem autorização expressa, pessoal e
direta do paciente conforme Resolução 1.604/2000 e Resolução 1997/2012,
cujo teor juntamos.

Reiteramos, portanto, à CEI, que para a entrega de tais


documentos médicos, “máxime” de pessoas já falecidas, seria necessário
autorização judicial. Considerando-se que, em muitos casos, mesmo à Justiça,
seria vedado o fornecimento de informações sigilosas como as do presente
caso, conforme Jurisprudência em anexo.

6- Para surpresa da parte Autora, recebemos um R. Despacho, da


lavra do Presidente da Comissão Especial de Inquérito, Vereador João Roberto
da Silva, contendo ameaça evidente de denunciar criminalmente e de
imediato, o Sr Prefeito e sua Secretária de Saúde, sob alegação de
descumprimento de ordem “ imperativa”(sic) do Presidente da Comissão,
contendo as seguintes argumentações:

a- Que a presente Comissão Especial de Inquérito tem o mesmo Poder das


Comissões Parlamentares de Inquérito- órgãos específicos do Congresso
Nacional, citando artigos da Constituição Federal, específicos das Comissões
Parlamentares de Inquérito, repita-se, órgão específico do Congresso Nacional,
ou seja, Câmara Federal e Senado Federal) .

b- Que, mais ainda, “ ....as deliberações das CEI e de seus membros são
imperativas e neste aspecto assemelham-se aos poderes dos juízes, segundo
os ditames da Lei 1.579 de 18 de março de 1952, a qual, dispõe sobre as
Comissões Parlamentares de Inquérito ....) (sic)- grifamos e negritamos.

c- Que a conduta da parte Autora ( ao se recusar a entregar os documentos


sem a determinação judicial) é considerada crime previsto tanto no inciso I, do
artigo 4º, da Lei 1.579/52 , como no artigo 329/330, do Código Penal
Brasileiro, podendo ocorrer a denúncia criminal do Prefeito Municipal e
da Secretária de Saúde, a qualquer momento, caso não se entregue os
documentos sigilosos ao funcionário da Câmara ali indicado.

A JURISPRUDÊNCIA

A Jurisprudência pátria é unânime em reconhecer que


documentos médicos são sigilosos e só podem ser entregues a outrem, em
casos especialíssimos, sempre com autorização do Poder Judiciário, conforme
julgados e anexo.

DO PEDIDO

7- Ora, tendo em vista a dúvida e eventual risco entre...

entregar os prontuários médicos do paciente ao


Senhor Luiz Carlos dos Santos, D. funcionário da Câmara Municipal,
arriscando-se a enquadramento criminal, ou ...

não entregar os prontuários médicos, por força do


entendimento de que proteção de direito garantido pela Constituição
Federal só poderia ser resolvido por autorização Judicial, arriscando-se
também a enquadramento criminal, pelo artigo 154, do Código de
Processo Penal, não restou alternativa à parte Autora, a não ser vir
perante o Poder Judiciário, para que este declare que tais documentos e
prontuários médicos, máxime o de pessoas já falecidas, em poder da
Secretaria da Saúde/UPA :

a- Podem ser entregues informalmente à funcionário público, para serem


juntados ao procedimento da Comissão especial de Inquérito, ou

b- Podem ser entregues à Comissão Especial de Inquérito, mediante


autorização judicial, ou

c- Não podem ser entregues à Comissão Especial de Inquérito, por tratar-


se de documento sigiloso.
DA MEDIDA LIMINAR EM CARÁTER DE URGÊNCIA

ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

DO PERICULUM IN MORA

DO FUMUS BONI IURIS

Tendo em vista o teor do R. Despacho encaminhado pelo


Ofício CEI-UPA nº 37/2015 (doc. j.) do N. Presidente da Comissão Especial
de Inquérito em tela que:

a- Entende que a Comissão Especial de Inquérito tem a mesma função de


Juiz, membro do Poder Judiciário, quando determina a juntada de
documentos sigilosos, protegidos constitucionalmente e por legislação penal,
com amparo na Lei 1.579/52;

b- Entende que pode indiciar, de imediato, criminalmente a Secretária da


Saúde da Saúde;

Presente se acham a fumaça do bom direito e o


perigo na demora da manifestação do Poder Judiciário!

Requer, portanto, para que o Poder Judiciário da


Comarca de Jaboticabal suspensa temporariamente os trabalhos e o
andamento da Comissão Especial de Inquérito instalada para averiguar
eventuais irregularidades na unidade de Pronto Atendimento da Secretaria da
Saúde Municipal, até decisão sobre a obrigatoriedade de entregar ou não
tais documentos sigilosos, conforme pedido acima.

Para que a parte Autora não sofra o irremediável


dano/constrangimento de ser indiciada criminalmente, conforme a grave
ameaça contida no R. Despacho em comento. (doc.j.)

Salienta-se que não há entendimento por parte da


Requerida em ponderar o caso e, caso não haja o deferimento imediato da
presente liminar, a Requerente continuará sofrendo com a ameaça
praticada, haja vista o entendimento da Comissão Especial de Inquérito
em ter poder de império, iguais aos de Magistrados, membros do Poder
Judiciário.

Bem como, que a demora pode manchar


sobremaneira o bom nome e imagem construídos da Secretária Municipal de
Saúde, ainda que esteja fortemente colaborando, no que é possível e legal,
para os trabalhos a da referida Comissão Especial de Inquérito.

DOS REQUERIMENTOS:

Ante o exposto, requer receba Vossa Excelência a


presente demanda, determinando:

A) A concessão, em caráter de urgência, da medida liminar, inaudita altera


parte, frente a presença dos requisitos ensejadores – periculum in mora e
fumus boni iuris -, no sentido de determinar o sobrestamento/paralização do
andamento e dos trabalhos da Comissão Especial de Inquérito, criada para
averiguar eventuais irregularidades no atendimento médico da Secretaria da
Saúde/UPA de Jaboticabal;

B) A citação da parte Requerida, na pessoa do N. Vereador João Roberto da


Silva, DD. Presidente da referida Comissão especial de Inquérito, no
endereço constante na prefacial, para que compareça na audiência de
conciliação a ser designada por Vossa Excelência, e, querendo, apresente sua
defesa sob pena de confissão e revelia;

C) Seja julgada procedente a presente demanda, haja vista dúvida da parte


Autora, para que haja declaração do Poder Judiciário conforme acima, bem
como seja considerado a situação perigosa, de fato, em que foi colocada a
parte Requerente, qual seja, entre cometer um crime ou outro;

D) Seja condenada a Requerida ao pagamento de indenização por danos morais


em favor da Requerente, em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência;
E) Requer ainda a produção de todos os meios de prova em direito admitidas,
notadamente a documental inclusa, depoimento pessoal das partes, oitiva de
testemunhas e demais que se fizerem necessárias;

F) por fim, requer a condenação da Requerida em custas processuais e


honorários de advogado, nos termos da lei.

Dá à causa o valor simbólico de R$ 3.000,00 (três mil


reais).

Nesses termos, pede deferimento.

Jaboticabal, 17 de agosto de 2015.

Lúcia Maria Lebre OAB 40.853

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