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Felicidade Autêntica - Psicologia Positiva FLOW
Felicidade Autêntica - Psicologia Positiva FLOW
Martin Seligman
H=S+C+V
Onde:
As variáveis “S” tendem a impedir que o nível de felicidade aumente. Elas são
constituídas por fatores genéticos, rotina hedonista e limites preestabelecidos.
O estudo das circunstâncias abrange o dinheiro (que não teria grande influência para o
aumento do nível constante de felicidade), casamento (esse sim, com forte influência para
tornar as pessoas felizes), vida social, emoções negativas, saúde, educação, religião,
dentre outras circunstâncias.
Por fim, uma das melhores partes do livro: como aumentar a felicidade no presente,
ancorada em sólidas evidências e bases científicas, e resultantes de milhares de
pesquisas. As emoções positivas em relação ao presente abrangem os prazeres e as
gratificações. Os prazeres se definem por serem momentâneos, fugazes, e pela emoção
que provocam. Exemplo: comer chocolate, assistir televisão. Eles podem ser
intensificados pela anulação do efeito negativo da habituação (isto é, aumentando o
intervalo temporal entre eles, por exemplo, tomar refrigerante só no final de semana), pela
apreciação (“curtir o momento”), e pela atenção (“concentrar-se na experiência”).
As gratificações, que talvez constituam uma das pedras angulares da Psicologia Positiva,
estão ancoradas não nas emoções, mas sim nas forças e virtudes pessoais. Isto é, no
“flow”, que ocorre quando nos dedicamos e nos concentramos em uma atividade de tal
modo que o tempo parece parar. Caracterizam-se, portanto, pela plenitude, pelo
engajamento, pela absorção. Não existe, na gratificação, emoção positiva ou consciência,
mas sim o exercício de forças e virtudes pessoais. Participar de um projeto social
voluntário não requer emoção nem consciência, mas produz extrema gratificação para
quem assume esse desafio. A teoria do fluxo, ou “flow”, foi criada por Mihaly
Csíkszentmihály, um respeitado cientista social que forneceu uma das bases estruturais
para a criação da ciência da Psicologia Positiva.
É aqui que encontramos resposta para uma indagação que na verdade é uma
contradição: se os indicadores atuais de bem-estar objetivo – tais como grau de instrução,
poder de compra, alimentação – vêm subindo e estão maiores do que há 50 anos atrás,
por quê os indicadores de bem-estar subjetivo vêm caindo – representado, por exemplo,
pelo aumento dos casos de depressão? Se as condições materiais de vida vêm
melhorando, por quê as pessoas não estão mais felizes?
“O que me aconteceria se a vida fosse toda feita de prazeres fáceis, nunca exigindo o uso
de minhas forças nem apresentando desafios? Uma vida assim predispõe à depressão.
As forças e virtudes podem murchar durante uma vida de facilidades, oposta a uma vida
plena pela busca da gratificação”.
Além das seis virtudes, a Psicologia Positiva catalogou 24 forças que podem ser
desenvolvidas por praticamente qualquer ser humano, cada uma relacionada a uma
virtude específica. Por exemplo, dentro da virtude do “saber e conhecimento”, foram
localizadas seis forças pessoais: curiosidade, gosto pela aprendizagem, critério,
habilidade, inteligência social e perspectiva. Dentro da virtude da moderação, estão
autocontrole, prudência e humildade, e assim por diante. Toda pessoa possui inclinação a
desenvolver certo tipo de força ou virtude específica, e o autor apresenta uma série de
exercícios que visam fazer com que o leitor encontre as que lhe são mais poderosas e as
que mais poderiam ser desenvolvidas e aprimoradas.
Essa terceira parte trata da aplicação prática de como ampliar as emoções positivas,
desenvolvendo as forças e as virtudes, a fim de produzirem gratificação, e, portanto,
felicidade autêntica, em diferentes segmentos da vida, tais como trabalho – como
desenvolver as suas forças pessoais nas rotinas profissionais, e, assim, recriá-las,
tornando-se uma vocação – no amor, mais especificamente no casamento, afirmando-se
que esse é tanto melhor quanto mais se torna um veículo para uso diário de nossas
forças pessoais – e na criação de filhos, com orientações práticas de como desenvolver
emoções positivas, principalmente em crianças pequenas.
Nesse último capítulo – criação de filhos – o autor se vale de sua própria experiência
pessoal na criação de seus quatro filhos pequenos, e conta as oito técnicas para criar
emoção positiva, apresentando seus prós e contras: dormir com o bebê, uso de jogos
sincrônicos, tesouros da hora de dormir etc. Para pais marinheiros de primeira viagem, só
esse capítulo já valeria o investimento.
O autor distingue quatro tipos de vida: a agradável, a boa, a significativa e a plena. A vida
agradável é a que busca os sentimentos positivos, bem como o desenvolvimento de
habilidades para aumentar essas emoções. A vida boa vai além, e visa utilizar as forças
pessoas para produção de gratificação abundante. A vida significativa constitui
igualmente um passo a mais, e define-se pela busca de alguma coisa maior que nós
mesmos. E a vida plena, por sua vez, é viver todas essas três vidas, de forma integrada e
harmoniosa.
Conclusão
Como já vem se tornando praxe nas resenhas que fazemos todos os domingos, esse é
mais outro livro que merece a qualificação de excelente. É um livro de psicologia voltada
não para profissionais da psicologia, mas para leigos. E o que mais me impressionou foi a
metodologia científica com a qual foram elaborados os argumentos que levaram à
fundação dessa nova área da Psicologia – a Psicologia Positiva – inclusive, o última parte
da obra revela as origens e os bastidores da criação dessa nova área.
Dentre tantas novidades que estão contidas na obra, uma das mais úteis e interessantes,
sem dúvida, é a distinção que se estabelece entre prazeres e gratificações, como
requisitos para manutenção e abastecimento dos reservatórios de felicidade no momento
presente. O autor não descarta a importância dos prazeres como componentes da
felicidade, mas lhes redimensiona a função, dando dicas úteis de como amplificá-los, bem
como reforça o papel vital que as gratificações desempenham na construção de uma
felicidade autêntica baseada no desenvolvimento de nossas forças e virtudes.
Não é um livro que fica só na teoria, pois dá exemplos práticos de como fatos que
poderiam passar despercebidos – como o sorriso em fotografias antigas – pode revelar
muito se a pessoa teve uma vida de felicidade autêntica ou não. São muito engraçadas as
situações que o autor narra ter vivido com seus filhos pequenos, já que essas mesmas
situações despertaram nele o momento “eureca” para diversas teorias que procurava
explicitar.
Esse foi outro livro recheado de sublinhados e asteriscos, cujas ideias – muitas profundas,
brilhantes e incrivelmente simples – merecem ser revistas e discutidas em outros artigos
aqui no blog.