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Felicidade autêntica

Usando a psicologia positiva para a realização permanente

Martin Seligman

Baseado no livro: Felicidade Autêntica, de Martin Seligman « Valores Reais

Martin Seligman é um dos fundadores de um novo ramo da Psicologia, chamada de


Psicologia Positiva. Ao invés de centrar seus estudos nos transtornos mentais, Seligman
elege como alvo de prioridade o estudo das emoções positivas, isto é, dos fatores que
levam as pessoas a ter mais felicidade. A Psicologia Positiva está assentada sobre três
pilares: estudo das emoções positivas, estudo dos traços positivos, principalmente as
forças e virtudes, e, finalmente, o estudo das instituições positivas – democracia,
liberdade, família – que dão amparo às virtudes, as quais, por sua vez, sustentam as
emoções positivas. Vamos ver do que trata então o livro Felicidade autêntica?

Parte I: Emoção positiva.

O cerne da primeira parte da obra é mostrar que a felicidade pode aumentar e se


estender. Trata, pois, do entendimento e da intensificação das emoções positivas,
procurando derrubar o “dogma imprestável” de que não existiria felicidade autêntica. A
fórmula da felicidade seria constituída pela seguinte equação:

H=S+C+V

Onde:

H (happiness) = nível constante de felicidade

S (set range) = limites preestabelecidos

C (circunstances) = circunstâncias da vida

V (voluntary) = fatores que obedecem ao seu controle voluntário

As variáveis “S” tendem a impedir que o nível de felicidade aumente. Elas são
constituídas por fatores genéticos, rotina hedonista e limites preestabelecidos.

O estudo das circunstâncias abrange o dinheiro (que não teria grande influência para o
aumento do nível constante de felicidade), casamento (esse sim, com forte influência para
tornar as pessoas felizes), vida social, emoções negativas, saúde, educação, religião,
dentre outras circunstâncias.

A emoção positiva se apresenta em três diferentes níveis: passado, presente e futuro,


sendo possível cultivar cada um de modo separado.

As emoções positivas em relação ao passado abrangem a elevação dos níveis de


satisfação, contentamento, orgulho e serenidade. Nesse ponto, Seligman é um crítico
severo da teoria que sustenta que eventos negativos na infância levem sempre a
problemas na idade adulta. De acordo com o autor, a importância que se dá aos fatos
passados é exagerada, ou seja, o passado, em geral, é superestimado. Aliás, é a pouca
valorização dos acontecimentos positivos do passado, bem com a ênfase excessiva aos
negativos, que são as responsáveis pelo enfraquecimento da satisfação, contentamento e
serenidade.

Para amplificar as emoções positivas em relação ao passado, propõe-se uma série de


exercícios, como a expressão da gratidão, do perdão, do esquecimento. Eis um bom
trecho para se guardar na memória (p. 125):

“O que você sente em relação ao passado – satisfação ou orgulho versus amargura ou


vergonha – depende inteiramente das suas lembranças. Não existe outra fonte. A razão
pela qual a gratidão contribui para aumentar a satisfação com a vida é que ela amplia as
boas lembranças do passado – a intensidade, a frequência e a graça”.

As emoções positivas em relação ao futuro compreendem a esperança, o otimismo, a


fé e a confiança. Nesse capítulo, são mostrados exercícios de como fazer com que o leitor
aumente o grau de emoções positivas em relação ao futuro, bem como são apresentados
exemplos práticos que ilustram tais possibilidades.

Por fim, uma das melhores partes do livro: como aumentar a felicidade no presente,
ancorada em sólidas evidências e bases científicas, e resultantes de milhares de
pesquisas. As emoções positivas em relação ao presente abrangem os prazeres e as
gratificações. Os prazeres se definem por serem momentâneos, fugazes, e pela emoção
que provocam. Exemplo: comer chocolate, assistir televisão. Eles podem ser
intensificados pela anulação do efeito negativo da habituação (isto é, aumentando o
intervalo temporal entre eles, por exemplo, tomar refrigerante só no final de semana), pela
apreciação (“curtir o momento”), e pela atenção (“concentrar-se na experiência”).

As gratificações, que talvez constituam uma das pedras angulares da Psicologia Positiva,
estão ancoradas não nas emoções, mas sim nas forças e virtudes pessoais. Isto é, no
“flow”, que ocorre quando nos dedicamos e nos concentramos em uma atividade de tal
modo que o tempo parece parar. Caracterizam-se, portanto, pela plenitude, pelo
engajamento, pela absorção. Não existe, na gratificação, emoção positiva ou consciência,
mas sim o exercício de forças e virtudes pessoais. Participar de um projeto social
voluntário não requer emoção nem consciência, mas produz extrema gratificação para
quem assume esse desafio. A teoria do fluxo, ou “flow”, foi criada por Mihaly
Csíkszentmihály, um respeitado cientista social que forneceu uma das bases estruturais
para a criação da ciência da Psicologia Positiva.

É aqui que encontramos resposta para uma indagação que na verdade é uma
contradição: se os indicadores atuais de bem-estar objetivo – tais como grau de instrução,
poder de compra, alimentação – vêm subindo e estão maiores do que há 50 anos atrás,
por quê os indicadores de bem-estar subjetivo vêm caindo – representado, por exemplo,
pelo aumento dos casos de depressão? Se as condições materiais de vida vêm
melhorando, por quê as pessoas não estão mais felizes?

Porque a nossa sociedade prioriza os prazeres em detrimento das gratificações.


Buscam-se atalhos para a felicidade: televisão, compras, drogas, junk food… e esses
atalhos não geram mudanças nem desenvolvem as virtudes nem as forças pessoais.
Como diz o autor (p. 186):

“O que me aconteceria se a vida fosse toda feita de prazeres fáceis, nunca exigindo o uso
de minhas forças nem apresentando desafios? Uma vida assim predispõe à depressão.
As forças e virtudes podem murchar durante uma vida de facilidades, oposta a uma vida
plena pela busca da gratificação”.

Parte II – Força e virtude


Essa parte é dedicada ao estudo das forças e virtudes. Inicialmente, os autores fazem
uma catalogação das seis virtudes que estão presentes em praticamente todas as
culturas e tradições existentes ou que existiram, ou seja, estudaram diversas religiões e
tradições filosóficas – Velho Testamento, Confúcio, Buda, Alcorão, Benjamin Franklin,
tribos indígenas da América do Norte etc. – encontrando seis virtudes comuns a todas
elas: saber e conhecimento, coragem, amor e humanidade, justiça, moderação e
espiritualidade e transcendência.

Além das seis virtudes, a Psicologia Positiva catalogou 24 forças que podem ser
desenvolvidas por praticamente qualquer ser humano, cada uma relacionada a uma
virtude específica. Por exemplo, dentro da virtude do “saber e conhecimento”, foram
localizadas seis forças pessoais: curiosidade, gosto pela aprendizagem, critério,
habilidade, inteligência social e perspectiva. Dentro da virtude da moderação, estão
autocontrole, prudência e humildade, e assim por diante. Toda pessoa possui inclinação a
desenvolver certo tipo de força ou virtude específica, e o autor apresenta uma série de
exercícios que visam fazer com que o leitor encontre as que lhe são mais poderosas e as
que mais poderiam ser desenvolvidas e aprimoradas.

Parte III – Nas moradas da vida

Essa terceira parte trata da aplicação prática de como ampliar as emoções positivas,
desenvolvendo as forças e as virtudes, a fim de produzirem gratificação, e, portanto,
felicidade autêntica, em diferentes segmentos da vida, tais como trabalho – como
desenvolver as suas forças pessoais nas rotinas profissionais, e, assim, recriá-las,
tornando-se uma vocação – no amor, mais especificamente no casamento, afirmando-se
que esse é tanto melhor quanto mais se torna um veículo para uso diário de nossas
forças pessoais – e na criação de filhos, com orientações práticas de como desenvolver
emoções positivas, principalmente em crianças pequenas.

Nesse último capítulo – criação de filhos – o autor se vale de sua própria experiência
pessoal na criação de seus quatro filhos pequenos, e conta as oito técnicas para criar
emoção positiva, apresentando seus prós e contras: dormir com o bebê, uso de jogos
sincrônicos, tesouros da hora de dormir etc. Para pais marinheiros de primeira viagem, só
esse capítulo já valeria o investimento.

O último capítulo do livro destina-se a investigar o significado e propósito da vida. De


acordo com Seligman, tendo em vista que a humanidade parece caminhar em um
processo de maior complexidade e em mais situações em que todos saem ganhando, o
nosso objetivo, como indivíduos, é escolher ser uma parte do avanço nesse sentido, nos
unindo a algo maior.

Todas as partes do livro – Partes I, II e III – estão repletos de exercícios e questionários


visando que os leitores coloquem em prática os ensinamentos ali repassados,
promovendo um grau de interatividade entre autor e leitor bastante interessante, útil e
oportuno.

O autor distingue quatro tipos de vida: a agradável, a boa, a significativa e a plena. A vida
agradável é a que busca os sentimentos positivos, bem como o desenvolvimento de
habilidades para aumentar essas emoções. A vida boa vai além, e visa utilizar as forças
pessoas para produção de gratificação abundante. A vida significativa constitui
igualmente um passo a mais, e define-se pela busca de alguma coisa maior que nós
mesmos. E a vida plena, por sua vez, é viver todas essas três vidas, de forma integrada e
harmoniosa.

Conclusão
Como já vem se tornando praxe nas resenhas que fazemos todos os domingos, esse é
mais outro livro que merece a qualificação de excelente. É um livro de psicologia voltada
não para profissionais da psicologia, mas para leigos. E o que mais me impressionou foi a
metodologia científica com a qual foram elaborados os argumentos que levaram à
fundação dessa nova área da Psicologia – a Psicologia Positiva – inclusive, o última parte
da obra revela as origens e os bastidores da criação dessa nova área.

Dentre tantas novidades que estão contidas na obra, uma das mais úteis e interessantes,
sem dúvida, é a distinção que se estabelece entre prazeres e gratificações, como
requisitos para manutenção e abastecimento dos reservatórios de felicidade no momento
presente. O autor não descarta a importância dos prazeres como componentes da
felicidade, mas lhes redimensiona a função, dando dicas úteis de como amplificá-los, bem
como reforça o papel vital que as gratificações desempenham na construção de uma
felicidade autêntica baseada no desenvolvimento de nossas forças e virtudes.

Não é um livro que fica só na teoria, pois dá exemplos práticos de como fatos que
poderiam passar despercebidos – como o sorriso em fotografias antigas – pode revelar
muito se a pessoa teve uma vida de felicidade autêntica ou não. São muito engraçadas as
situações que o autor narra ter vivido com seus filhos pequenos, já que essas mesmas
situações despertaram nele o momento “eureca” para diversas teorias que procurava
explicitar.

Esse foi outro livro recheado de sublinhados e asteriscos, cujas ideias – muitas profundas,
brilhantes e incrivelmente simples – merecem ser revistas e discutidas em outros artigos
aqui no blog.

Felicidade autêntica, de Martin Seligman « Valores Reais

Martin Seligman é um dos fundadores de um novo ramo da Psicologia, chamada de


Psicologia Positiva. Ao invés de centrar seus estudos nos transtornos mentais, Seligman
elege como alvo de prioridade o estudo das emoções positivas, isto é, dos fatores que
levam as pessoas a ter mais felicidade. A Psicologia Positiva está assentada sobre três
pilares: estudo das emoções positivas, estudo dos traços positivos, principalmente as
forças e virtudes, e, finalmente, o estudo das instituições positivas – democracia,
liberdade, família – que dão amparo às virtudes, as quais, por sua vez, sustentam as
emoções positivas. Vamos ver do que trata então o livro Felicidade autêntica?

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