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“Deixe tudo para trás”: o papel das demandas mentais e do distanciamento mental em relação à saúde e bem-

estar dos alunos de dança

Artigo em Problemas médicos de artistas performáticos · Dezembro de 2018

DOI: 10.21091/mppa.2018.4038

CITAÇÕES LER

6 1.203

4 autores:

Yannick Balk
J de Jonge

Universidade de Amsterdã Universidade de Tecnologia de Eindhoven

15 PUBLICAÇÕES 248 CITAÇÕES 215 PUBLICAÇÕES 11.328 CITAÇÕES

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Roger M van Rijn Janine Stubbe

Codarts Rotterdam Codarts Rotterdam

65 PUBLICAÇÕES 3.116 CITAÇÕES 117 PUBLICAÇÕES 4.376 CITAÇÕES

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Artigo
“Deixe tudo para trás”: o papel das exigências mentais e
do distanciamento mental em relação ao
Saúde e bem-estar dos alunos de dança
Yannick A. Balk, PhD,1,2 Jan de Jonge, PhD,2,4 Rogier van Rijn, PhD,3
e Janine Stubbe, PhD3
OBJETIVOS: A recuperação física e mental adequada (ou seja, cognitiva e
emocional) é essencial para a saúde e o bem-estar dos dançarinos. No entanto,
estudos que investigam o papel das demandas mentais e da recuperação na
dança são escassos. Uma estratégia de recuperação mental potencialmente
eficaz é o distanciamento da dança, que se refere à ausência de pensamentos,
emoções e sentimentos relacionados à performance durante o tempo longe da
dança. O primeiro objetivo deste estudo foi investigar a relação entre 1) demandas
cognitivas e emocionais em dança e 2) saúde e bem-estar de estudantes de
dança. O segundo objetivo foi examinar se a estratégia de recuperação do
distanciamento mental moderou a relação entre as demandas cognitivas e
emocionais e a saúde e o bem-estar dos dançarinos.
MÉTODOS: Foi realizado um estudo de levantamento transversal com 80
estudantes de dança em tempo integral matriculados em um curso de bacharelado
em dança (n=45) ou professor de dança (n=35). As variáveis dependentes foram
problemas de saúde, dificuldades de concentração e afeto positivo.
RESULTADOS: As análises de regressão hierárquica mostraram que as
demandas cognitivas e o distanciamento cognitivo não foram associados à saúde
e ao bem-estar dos estudantes de dança. Em contraste, as demandas emocionais
foram negativamente relacionadas ao afeto positivo e positivamente relacionadas
às dificuldades de concentração. O distanciamento emocional foi positivamente
relacionado ao afeto positivo e negativamente relacionado aos problemas de
saúde.
Além disso, o distanciamento emocional moderou (ou seja, tamponou) a relação
negativa entre demandas emocionais e afeto positivo.
CONCLUSÕES: Esses achados destacam a importância de considerar os
aspectos emocionais do esforço e recuperação na dança. Recomenda-se que os
alunos de dança considerem
1
Departamento de Psicologia Organizacional e do Trabalho, Universidade
de Amsterdã, Amsterdã; 2Grupo de Gestão de Desempenho Humano,
Universidade de Tecnologia de Eindhoven, Eindhoven; 3Codarts
University of the Arts, Rotterdam, Holanda; e 4Asia Pacific Center for
Work Health and Safety, University of South Australia, Adelaide, Austrália.
Os autores declaram não haver financiamento ou conflitos de interesse
relacionados a este estudo.
Endereço para correspondência: Dr. Yannick Balk, Dep. of Work and
Organizational Psychology, PO Box 15919, 1001 NK Amsterdam,
Holanda. Tel +31205256860. yabalk@uva.nl.
https:// doi.org/ 10.21091/ mppa.2018.4038 © 2018
Science & Medicine. www.sciandmed.com/ mppa
258ÿ Problemas médicos de artistas performáticos
maneiras de se distanciar emocionalmente de emoções e sentimentos negativos
relacionados à dança durante seu tempo livre.
Med Probl Perform Art 2018;33(4):258–264.
Dançarinos, incluindo
lidar com estudantes
uma variedade de dança vocacional,
de demandas devem
físicas e mentais,
como cargas de trabalho pesadas, tensão musculoesquelética
extrema, lidar com contratempos, tomadas de decisão
complexas e manter relacionamentos interpessoais.1–4 Além
disso, em contraste com o esporte, onde um período de
polimento é geralmente empregado antes de uma partida
importante, os dançarinos geralmente enfrentam um aumento
nas demandas antes de apresentações importantes. Geralmente,
as demandas na dança podem ser definidas como aquelas
propriedades do ambiente de dança que requerem esforço
físico, cognitivo e/ou emocional imediato ou sustentado.5,6 As
demandas mentais da dança estão relacionadas a ambos os
aspectos cognitivos (por exemplo, pensamentos) e aspectos
emocionais (por exemplo, emoções e sentimentos). Ou seja,
as demandas cognitivas afetam principalmente o processamento
de informações, como tomada de decisão complexa e
percepção, enquanto as demandas emocionais dizem respeito
principalmente ao esforço necessário para lidar com emoções
inter e intrapessoais, como desapontamento, raiva ou conflito.
Embora estejam relacionadas, pesquisas anteriores no esporte
demonstraram empiricamente que
é útil diferenciar entre as dimensões cognitivas e emocionais
das demandas.5,6 A fadiga decorrente de lidar com uma
variedade de demandas cognitivas e emocionais tem sido
associada a uma maior suscetibilidade a lesões.7,8 Além disso,
altas demandas cognitivas e emocionais na dança podem
induzir fadiga mental, baixa concentração, estados de humor
positivos mais baixos e distúrbios do sono.9 Uma importante
estrutura teórica nesta área, o modelo Effort-Recovery (ER) de
Meijman e Mulder,10 defende que essas reações imediatas não
resultam necessariamente em problemas crônicos de saúde,
desde que os vários sistemas psicofisiológicos que foram
tributados possam retornar aos seus níveis basais durante a
fase de recuperação.10,11 Portanto, recuperação adequada é
considerado essencial para prevenir problemas crônicos de
saúde.12 No entanto, há uma escassez de pesquisas que
investiguem possíveis estratégias destinadas a melhorar a recuperação de d
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Uma estratégia de recuperação potencialmente eficaz e
comprovada empiricamente é o distanciamento mental, que se
refere a uma sensação de estar longe de pensamentos, emoções e
sentimentos relacionados à performance durante o tempo livre.13
Isso implica que os alunos de dança devem parar de pensar em
questões relacionadas à dança ou problemas (distanciamento
cognitivo) e não são mais incomodados por emoções e sentimentos
negativos relacionados à dança (desapego emocional) durante seu
tempo livre. O distanciamento cognitivo suficiente permite que um
indivíduo se recupere, pois não há pensamentos intrusivos
relacionados ao passado ou futuro.14,15 Por outro lado, a falta de
distanciamento cognitivo interfere na recuperação, pois pensamentos
relacionados ao estresse invadem a consciência, prolongando
assim a atividade psicofisiológica.16 De acordo com a teoria da
ativação cognitiva do estresse17 (CATS), não é principalmente a
reação aguda a estímulos exigentes que é prejudicial à saúde e ao
bem-estar, mas sim a chamada ativação sustentada, mesmo
quando as demandas não estão mais presentes . Da mesma forma,
o distanciamento emocional envolve a ausência de emoções e
sentimentos negativos associados a questões relacionadas à dança.
Em contraste, as emoções negativas que resultam da falta de
distanciamento emocional interferem potencialmente na recuperação
como resultado do aumento da excitação e, se persistente,
esgotamento de energia.18 Assim, além do descanso físico, a
recuperação adequada envolve a obtenção de um nível cognitivo
e emocional suficiente ruptura ('distanciamento mental') de diferentes
demandas na dança. Isso pode ter implicações na forma como os
programas de dança educacional são projetados e na percepção
dos dançarinos que deliberadamente se afastam da dança.
Estudos anteriores em dança identificaram as demandas mentais
por meio de uma abordagem qualitativa3 ou traçando um paralelo
com as descobertas no esporte.12 Poucos estudos mediram as
demandas usando uma abordagem quantitativa.
Além disso, os estudos vincularam principalmente as demandas
mentais às lesões,9,19 enquanto acredita-se que o bem-estar
mental do artista também seja importante. Alguns estudiosos
chegaram a argumentar que o estado emocional dos indivíduos é o
aspecto mais importante da saúde e do desempenho.20 À luz das
altas e duradouras demandas com as quais os dançarinos se
deparam, combinadas com a importância da recuperação, vale a
pena examinar se o distanciamento da dança beneficia saúde e
bem-estar de estudantes de dança. Portanto, o primeiro objetivo
do presente estudo foi investigar a relação entre demandas mentais
(ou seja, cognitivas e emocionais) na dança e saúde (ou seja,
problemas de saúde) e bem-estar (ou seja, dificuldades de
concentração e afeto positivo) de estudantes de dança. O segundo
objetivo foi examinar se o distanciamento mental da dança amortece
o efeito negativo das demandas mentais na saúde e no bem-estar
dos alunos de dança. Nossa hipótese é que as demandas cognitivas
e emocionais estariam positivamente relacionadas a problemas de
saúde e dificuldades de concentração, e negativamente relacionadas
ao afeto positivo. Além disso, levantamos a hipótese de que o
distanciamento cognitivo e emocional da dança moderaria (ou seja,
atenuaria) as associações hipotéticas entre (1) demandas cognitivas
e emocionais e (2) saúde e bem-estar.
MÉTODOS
Participantes e Procedimento
Este estudo de pesquisa transversal, realizado com um questionário
de papel e lápis, envolveu estudantes de dança matriculados em
um programa de bacharelado na Codarts University of the Arts,
Rotterdam, Holanda, durante o ano acadêmico de 2015-2016. A
amostra consistiu em 80 estudantes de dança em tempo integral
(25 homens, 55 mulheres, idade média de 19,30 anos, DP 1,30)
matriculados em um programa de bacharelado em dança (n=45) ou
professor de dança (n=35). Quarenta e sete bailarinos (59%) eram
alunos do primeiro ano e 33 (41%) eram alunos do segundo ano.
O Comitê Central Holandês de Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos (CCMO) declarou que nenhuma aprovação ética médica
era necessária para este estudo de questionário, conforme
declarado na Lei Holandesa de Pesquisa Médica Envolvendo Seres
Humanos.
Antes do início do estudo, todos os dançarinos deram seu
consentimento informado. Os dançarinos preencheram um
questionário composto por questões relacionadas a características
demográficas, demandas mentais, distanciamento mental,
problemas de saúde, afeto positivo e dificuldades de concentração.
O questionário foi aplicado por funcionários da instituição, sob
supervisão de um dos coautores. Em média, os questionários
levaram 15 minutos para serem preenchidos. O idioma dos
questionários estava de acordo com o idioma principal dos
programas de bacharelado (ou seja, inglês para o grau de
performance e holandês para o grau de ensino de dança).
Medidas
Como o ambiente da dança se assemelha em grande parte ao
ambiente do esporte,12 as demandas relacionadas à dança foram
medidas por meio de uma versão adaptada do instrumento DISQ-
SPORT. O DISQ-SPORT foi desenvolvido para medir
sistematicamente diferentes tipos de demandas no esporte e está
disponível em inglês e holandês.5 As demandas cognitivas foram
medidas usando três itens (por exemplo, “eu precisava exibir altos
níveis de concentração e precisão”; um teste de Cronbach =0,62).
As demandas emocionais foram medidas por meio de três itens
(por exemplo, “Tive que lidar com um clima negativo dentro do
grupo ao qual pertenço”; a de Cronbach = 0,65). Os dançarinos
indicaram até que ponto foram confrontados com demandas
cognitivas e emocionais no último mês. Todos os itens foram
pontuados em uma escala Likert de 5 pontos baseada em
frequência, variando de 1 (nunca) a 5 ((quase) sempre). Assim,
pontuações mais altas indicaram demandas mentais mais percebidas.
O distanciamento cognitivo e o distanciamento emocional
da dança foram medidos com dois itens cada, derivados de escalas
bem validadas desenvolvidas por De Jonge e colegas.21 Para
avaliar a confiabilidade das escalas, calculamos o coeficiente de
Spearman-Brown, que é considerado o coeficiente de confiabilidade
mais apropriado para escalas de dois itens.22 Itens de exemplo de
cada dimensão são: “No mês passado, depois das aulas, pensei
em outras coisas além da dança” (desapego cognitivo; coeficiente
de Spearman-Brown
Dezembro de 2018 259
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TABELA 1. Médias, desvios padrão e correlações de Pearson entre as variáveis do estudo (n=80)

Média (DP) 1 2 3 4 5 6 7 8

–
1. Gênero 1,69 (0,47)
–
2. Demandas cognitivas 3. 3,56 (0,64) 0,15
–
Demandas emocionais 4. 2,32 (0,68) 0,07 0,45
–
Distanciamento cognitivo 5. 2,50 (0,81) –0,16 0,00 –0,10
–
Distanciamento emocional 6. 2,56 (0,84) –0,02 –0,07 –0,19 0,28
–
Problemas de saúde (pontuação de gravidade) 26,92 (26,71) –0,10 0,06 0,26 –0,01 –0,28
–
7. Afeto positivo 8. 3,61 (0,72) –0,12 –0,27 –0,39 0,24 0,37 –0,42
–
Dificuldades de concentração 2,25 (0,95) 0,00 0,35 0,51 –0,08 –0,19 0,24 –0,63

Nota: O sexo foi codificado como 1 = masculino, 2 = feminino. Todas as correlações ÿ0,24 são significativas em p<0,05; todas as correlações ÿ0,35 são significativas em p<0,01; todas as
correlações ÿ0,45 são significativas em p<0,001.

= 0,55); e “No último mês, após as aulas, não fui mais incomodado
por eventos emocionais ocorridos durante as aulas” (distanciamento
emocional; coeficiente de Spearman-Brown = 0,41). Os dançarinos
indicaram até que ponto experimentaram cada tipo de
distanciamento durante o último mês. Todos os itens foram
pontuados em uma escala Likert de 5 pontos, baseada em
frequência, variando de 1 (nunca) a 5 ((quase) sempre). Pontuações
mais altas foram, portanto, indicativas de níveis mais altos de
distanciamento. Para reconfirmar a validade fatorial dos dois
fatores conforme encontrado por De Jonge et al.,21 foi realizada
uma análise fatorial confirmatória (CFA). Os índices de ajuste
revelaram que um modelo de dois fatores (ou seja, distanciamento
cognitivo e emocional) forneceu um bom ajuste aos dados (CFI =
1,00, TLI = 1,00, SRMR = 0,02, RMSEA = 0,00). O modelo de dois
fatores também mostrou um ajuste significativamente melhor aos
dados em comparação com uma solução de um fator (ou seja,
distanciamento mental geral; ÿÿ2 = 13,16, ÿdf = 1, p<0,001).
Os problemas de saúde foram medidos usando o Oslo Sports
Trauma Research Center (OSTRC) Overuse Injury Questionnaire.23
O questionário contém quatro perguntas relacionadas a problemas
de saúde e lesões relacionadas à participação na dança. Os
dançarinos indicaram se tiveram problemas de saúde (por
exemplo, lesão, doença) durante o mês anterior em uma escala
de 4 ou 5 pontos, com pontuações mais altas indicando problemas
de saúde e/ou lesões mais graves. A gravidade do problema de
saúde ou agravo foi calculada em uma escala de 0 a 100, somando-
se a pontuação das quatro questões. O escore de gravidade pode
ser usado como uma medida objetiva das consequências de um
problema de uso excessivo.23 O afeto positivo foi medido usando
os cinco itens da subescala de afeto positivo do International
Positive and Negative Affect Schedule Short-Form (I-PANAS-
SF ).24 Os dançarinos indicaram até que ponto sentiram estados
afetivos positivos (por exemplo, “inspirados”) no último mês em
uma escala Likert de 5 pontos, variando de 1 (nada) a 5 ( muito ) .
Assim, uma pontuação mais alta indica mais afeto positivo. A
consistência interna da amostra atual foi satisfatória (a de
Cronbach=0,84).
As dificuldades de concentração foram medidas usando
quatro itens da subescala Foco da Ferramenta de Avaliação de
Habilidades Mentais de Ottawa25 (OMSAT-3; por exemplo, “No
mês passado, perdi meu foco durante apresentações importantes”).
Os dançarinos indicaram até que ponto tiveram dificuldades de
concentração no último mês usando uma escala Likert de 5 pontos, variando
de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Assim, uma
pontuação mais alta refletiu mais dificuldades de concentração. A
consistência interna para a amostra atual foi satisfatória (a de
Cronbach=0,83).
Análise Estatística
Análises de regressão hierárquica foram conduzidas para cada
uma das três variáveis dependentes (ou seja, problemas de saúde,
afeto positivo e dificuldades de concentração) usando o SPSS 24.0
(IBM-SPSS, Armonk, NY, EUA). Para evitar encontrar associações
espúrias entre as variáveis do estudo, o gênero foi incluído como
uma variável de controle na Etapa 1. Para evitar problemas de
multicolinearidade, os termos principais centrados dos preditores
(ou seja, demandas cognitivas e emocionais, distanciamento
cognitivo e emocional) foram inseridos o modelo na Etapa 2. Na
Etapa 3, os quatro termos moderadores foram inseridos no modelo
que consiste em termos multiplicativos de demandas e
distanciamento (por exemplo, demandas cognitivas ÿ distanciamento
cognitivo). Isso está de acordo com os padrões comuns para incluir
efeitos de interação na regressão múltipla.26
RESULTADOS
Médias, desvios padrão e correlações de ordem zero de Pearson
para as variáveis são exibidos na Tabela 1. Três análises de
regressão hierárquica foram realizadas para testar as associações
entre demandas cognitivas, demandas emocionais, distanciamento
cognitivo e distanciamento emocional, por um lado , e problemas
de saúde, afeto positivo e dificuldades de concentração, por outro
(Tabela 2).
Os resultados da primeira análise de regressão hierárquica com
problemas de saúde como desfecho indicaram que o modelo
apenas com efeitos principais (Modelo 2) forneceu o melhor ajuste
aos dados (F(5,67)=2,02, p=0,087). Embora o ajuste do modelo
não tenha sido significativo no nível de 0,05, mas no nível de 0,10,
indicando uma tendência estatística, esse modelo fornece pistas
para direções interessantes para pesquisas futuras e para a prática.
Por exemplo, o distanciamento emocional foi negativamente
relacionado a problemas de saúde (b=–0,25, p=0,040). Isso
significa que os alunos de dança que relataram maior
distanciamento emocional tiveram problemas de saúde menos graves.

260ÿ Problemas médicos de artistas performáticos

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TABELA 2. Resumo das análises de regressão para variáveis que predizem problemas de saúde, afeto positivo e dificuldades de concentração (n=80)
Problemas de saúde Afeto positivo Dificuldades de Concentração
_____________________ _____________________ _____________________

b b b

Modelo 1: Variáveis de controle (ÿR2 ) 0,01 0,01 0,00

Gênero –0,11 0,03 –0,07

Modelo 2: Exigências e distanciamento (ÿR2 ) 0,12 0,25 0,30

Demandas cognitivas –0,08 –0,13 0,18
Exigências emocionais 0,23† –0,26* 0,41** –
distanciamento cognitivo 0,10 0,16 0,04 –
distanciamento emocional –0,25* 0,23* 0,11

Modelo 3: Interações bidirecionais (ÿR2 ) 0,11

Exigências cognitivas × distanciamento cognitivo 0,22
Exigências cognitivas × distanciamento emocional –0,16
Exigências emocionais × distanciamento emocional 0,39** –
Exigências emocionais × distanciamento cognitivo 0,27

Modelo de melhor ajuste R2 =0,13 R2 =0,37 R2 =0,30

F(5,67)=2,02 F(9,66)=4,28 F(5,69)=5,89

p<0,10 (Modelo 2) p<0,001 (Modelo 3) p<0,001 (Modelo 2)
R2 ajustado = 0,07 R2 ajustado =0,28 R2 ajustado = 0,25

Coeficientes padronizados são mostrados. Sexo foi codificado como 0 = masculino, 1 =

feminino. †pÿ0,10, *p<0,05, **p<0,01.

Os resultados da segunda análise de regressão hierárquica para DISCUSSÃO

afeto positivo indicaram que o modelo incluindo as interações entre
demandas e distanciamento (Modelo 3) forneceu o melhor ajuste
aos dados (F(5,66)=4,28, p<0,001). Primeiro, as demandas
emocionais foram negativamente relacionadas ao afeto positivo (b=–
0,26, p=0,024). Isso implica que os alunos de dança que
experimentaram maiores demandas emocionais também
experimentaram menos afeto positivo. Em segundo lugar, o
distanciamento emocional foi positivamente relacionado ao afeto positivo (b=0,23, p=0,031).
Assim, os alunos de dança que relataram maior distanciamento
emocional experimentaram mais afeto positivo.
Finalmente, a interação entre demandas emocionais e
distanciamento emocional foi significativa (b=0,39, p=0,004). Ou
seja, o distanciamento emocional moderou a relação entre
demandas emocionais e afeto positivo.
Para obter uma visão sobre a natureza desse efeito de interação,
plotamos as inclinações de acordo com as recomendações de
Aiken e West26 e realizamos testes de inclinação simples.27 Os
valores das variáveis preditoras foram escolhidos um DP abaixo e
acima da média. Conforme mostrado na Figura 1, testes de
inclinação simples revelaram que demandas emocionais mais altas
estavam relacionadas a afetos positivos mais baixos quando o
distanciamento emocional era baixo (–1 DP; t= –4,83, p<0,001),
mas não quando o distanciamento emocional era alto (+1 SD;
t=0,73, p=0,466). Assim, o distanciamento emocional da dança
amorteceu a relação negativa entre demandas emocionais e afeto
positivo.
Finalmente, os resultados da terceira análise de regressão
hierárquica para dificuldades de concentração indicaram que o
modelo apenas com efeitos principais (Modelo 2) forneceu o melhor
ajuste aos dados (F(5,69)=5,89, p<0,001). As demandas emocionais
foram positivamente associadas às dificuldades de concentração
(b=0,41, p=0,001). Demandas cognitivas e distanciamento cognitivo
não se relacionaram com problemas de concentração.
Estudantes de dança que estão se preparando para se tornarem
bailarinos profissionais geralmente se deparam com demandas
relacionadas a treinamento físico intenso, alta pressão, críticas,
tomadas de decisão complexas e manutenção de relacionamentos
próximos com outros dançarinos e membros da equipe. Se o
esforço físico e mental necessário para lidar com as demandas da
dança não for equilibrado com uma recuperação adequada, os
dançarinos correm o risco de desenvolver fadiga crônica, lesões
por uso excessivo e até esgotamento.9,12 Como o papel da
recuperação mental, em termos de distanciamento cognitivo e
emocional da dança, tem recebido pouca atenção, este estudo
investigou a relação entre as demandas cognitivas e emocionais na
dança e a saúde e bem-estar dos bailarinos. Examinamos se o
distanciamento mental da dança atua como um moderador (ou seja,
um amortecedor) na relação entre as demandas mentais e a saúde
e o bem-estar dos dançarinos.
Ao contrário de nossas expectativas, as demandas cognitivas
não foram associadas à saúde e bem-estar dos alunos de dança.
É possível que esse achado seja indicativo do chamado efeito
supressor,28 uma vez que a correlação de ordem zero entre
demandas cognitivas e afeto positivo foi pequena a moderada e
negativa, e a correlação de ordem zero entre demandas cognitivas
e dificuldades de concentração foi moderado a grande e positivo.
No entanto, os coeficientes de regressão não foram significativos
quando inseridos nas análises de regressão. Da mesma forma, a
correlação entre distanciamento cognitivo e afeto positivo foi
moderada a grande e positiva, embora seu coeficiente de regressão
não tenha sido significativo. A reanálise de nossos dados sem
demandas emocionais e distanciamento emocional como preditores
mostrou que as demandas cognitivas predizem significativamente
afeto positivo e dificuldades de concentração no hipotético

Dezembro de 2018 261

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direções, e que o distanciamento cognitivo previu significativamente o
afeto positivo na direção hipotética.
Assim, as demandas emocionais e o distanciamento emocional
parecem suprimir a relação entre as demandas cognitivas e o
distanciamento cognitivo e o bem-estar dos alunos de dança. No
entanto, não surgiram interações significativas entre demandas
cognitivas e distanciamento cognitivo.
Esses achados destacam a importância de levar em consideração as
contribuições gerais e únicas das dimensões de distanciamento, bem
como a interação entre demandas específicas e indicadores de bem-
estar.6 As demandas emocionais foram
negativamente relacionadas ao afeto positivo e positivamente
relacionadas às dificuldades de concentração. Além disso, o
distanciamento emocional foi positivamente relacionado ao afeto
positivo e parece estar relacionado negativamente aos problemas de
saúde (uma tendência de p=0,087). Assim, quando os alunos de dança
são capazes de se livrar das emoções e sentimentos (negativos)
relacionados à dança durante seu tempo livre (ou seja, após as aulas
e repetições), eles experimentam melhor saúde e maior bem-estar.
Essas descobertas estão de acordo com estudos anteriores que
mostram que o alto distanciamento está associado à melhoria da saúde
e bem-estar dos funcionários13 e atletas.29 Mais importante, nossos
resultados mostram que o distanciamento emocional da dança moderou
(ou seja, tamponou) a relação negativa entre demandas e afeto
positivo. Tomados em conjunto, os aspectos emocionais do esforço e
da recuperação parecem ser importantes para a saúde física e o bem-
estar mental dos dançarinos. Isso está de acordo com a noção de que
o bem-estar emocional é o aspecto mais importante da saúde e do
desempenho.20 No geral, os presentes achados
ressaltam a importância de equilibrar esforço e recuperação,
conforme apresentado por uma de nossas estruturas teóricas: o
esforço- Modelo de recuperação (ER).10 Desligar-se da dança durante
o tempo de lazer permite uma “pausa mental” durante a qual os
sistemas psicofisiológicos que foram sobrecarregados podem retornar
aos seus níveis basais. Se os dançarinos são incapazes de fazer isso,
tanto o modelo ER quanto a teoria da ativação cognitiva do estresse17
prevêem que, com o tempo, a saúde e o bem-estar serão prejudicados.
É importante considerar isso à luz da cultura predominante na dança.
Conforme descrito por Rivera et al.19 e Thomas e Tarr,30 a
(socio)cultura da dança espera que os dançarinos “empurrem através”
da dor. Além disso, os alunos de dança que estudam para se tornar
professores de dança também podem querer se envolver em
apresentações, pois isso aumentará sua experiência de dança. Assim,
os alunos de dança operam sob forte pressão externa e interna. Essa
pressão, principalmente quando associada a um tempo de recuperação
limitado ou inexistente, pode afetar significativamente a saúde e o bem-
estar.
As instituições de dança e os membros do corpo docente devem
incorporar tempo e possibilidades para os dançarinos deixarem sua
bolha de dança , permitindo, por exemplo, folga após períodos
estressantes ou organizando atividades não relacionadas à dança.
Pode ser um desafio, no entanto, pois fazer uma pausa ou aproveitar o
tempo longe da dança pode ser percebido pelos dançarinos como se
estivessem ficando para trás. Além disso, os dançarinos podem ser
educados em habilidades de recuperação mental (por exemplo,
relaxamento, atenção plena e registro no diário). Idealmente, além de seções de
262ÿ Problemas médicos de artistas performáticos
FIGURA 1. Interação entre demandas emocionais e distanciamento
emocional para afeto positivo.
sões, as sessões de recuperação mental farão parte de um programa
educacional e de treinamento regular.
Os dançarinos que enfrentam altas demandas emocionais no
esporte também devem estar cientes da recuperação emocional
adequada e dos meios para se livrar de emoções e sentimentos
negativos relacionados ao esporte. O distanciamento emocional é
particularmente recomendado quando fatores psicológicos ou sociais
estão causando tensão e pode ser alcançado por meio do envolvimento
em atividades relaxantes ou prazerosas (por exemplo, assistir a um
filme edificante31) ou por meio do relaxamento mental.32 Passar tempo
com pessoas que não estão envolvidas na dança é outra maneira de
descontrair.8 No entanto, devido à imersão psicológica e social na
dança, a última estratégia pode ser difícil de realizar para os alunos de
dança, pois é provável que as interações sociais ocorram com pessoas
de dentro do ambiente de dança.33 Ou seja, os alunos de dança
geralmente vivem juntos, o que pode impedir o abandono de
pensamentos e emoções relacionados à dança.
Limitações do estudo e pesquisas futuras
Este é o primeiro estudo a investigar a relação entre as demandas
mentais na dança, a recuperação mental, bem como a saúde física e o
bem-estar mental dos dançarinos. Nesta perspectiva, várias limitações
precisam ser mencionadas. Em primeiro lugar, o desenho transversal
do estudo não permite inferir sobre a relação causal entre demandas
da dança, distanciamento da dança e saúde e bem-estar dos bailarinos.
Da mesma forma, o presente estudo empregou um tamanho de
amostra relativamente baixo, o que pode criar problemas potenciais de
poder ao tentar testar efeitos de interação. Portanto, futuros estudos
longitudinais devem investigar essas relações mais profundamente
usando, por exemplo, medições mensais ou diárias e/ou incluindo uma
amostra maior.
Em segundo lugar, algumas das escalas tinham consistências
internas mais baixas (isto é, a<0,70), o que poderia tornar nossos
achados menos confiáveis. No entanto, como as pontuações alfa não
poderiam
ser melhoradas
recuperação física com a exclusão de um item, decidimos manter o atual.
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escalas de aluguel. Além disso, a baixa correlação entre os itens
que medem o distanciamento emocional é uma limitação.
Devido às limitações de espaço e tempo, optou-se por utilizar
escalas de dois itens para medir o distanciamento cognitivo e
emocional, o que pode ter prejudicado a validade do construto.
Outros estudos empíricos mostraram, no entanto, boas qualidades
psicométricas dessas escalas.5,21 No entanto, estudos futuros
incluindo medidas mais abrangentes de distanciamento para replicar
nossos achados são necessários.
Em terceiro lugar, a confiança nas medidas de autorrelato pode
resultar em uma superestimação das associações entre as variáveis
devido à variância do método comum. No entanto, Spector34
estudou o problema potencial da variância do método comum e
descobriu que o uso de autorrelatos não garante a obtenção de
resultados significativos. No entanto, seria valioso se estudos
futuros incluíssem outras medidas, como indicadores fisiológicos
de saúde e bem-estar (por exemplo, níveis de cortisol35). Somado
a isso, estudos futuros poderiam incluir medidas de desempenho
durante as repetições e performances para desvendar ainda mais
o papel do esforço físico e mental e recuperação em relação ao
desempenho.
Finalmente, estudos futuros podem explorar os antecedentes do
alto/baixo descolamento com mais detalhes. Por exemplo, o sono
é uma importante estratégia de recuperação que pode ser afetada
por experiências anteriores de recuperação, como o desapego. Ou
seja, a excitação emocional antes do sono (isto é, baixo
distanciamento cognitivo e/ou emocional) afeta negativamente a
qualidade do sono.36 Além disso, alguns dançarinos podem
simplesmente ser mais capazes de se desligar da dança,
dependendo de sua personalidade (por exemplo, perfeccionismo
adaptativo ) ou fatores situacionais (por exemplo, apoio social).
Conclusão
O presente estudo mostrou que apenas as demandas emocionais
e o distanciamento emocional estão relacionados aos problemas
de saúde, afeto positivo e dificuldade de concentração dos alunos
de dança. Além disso, descobriu-se que o distanciamento emocional
amortecia a associação negativa entre demandas emocionais e
afeto positivo. Esses achados destacam a importância de considerar
os aspectos emocionais do esforço e recuperação na dança.
Recomenda-se que os alunos de dança considerem maneiras de
se distanciar emocionalmente das questões relacionadas à dança
durante seu tempo livre.
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