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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
TEORIA DO CRIME

TEMA – INTRODUÇÃO AO CURSO

Aula 01 – INTRODUÇÃO AO CURSO

A vida em sociedade exige que regras de conduta sejam estabelecidas e


cumpridas para que se tenha organização, disciplina e bom convício social entre
aqueles que a compõem.
O Direito Penal estabelece o conjunto de regras a ser seguidas, dispondo
das condutas consideradas proibidas, com aplicação de sanção para aqueles que se
adequam às condutas descritas no ordenamento positivado, ou seja, as condutas
descritas no Código Penal e nas legislações penais especiais.
Com a finalidade de garantir a estabilidade social é que se tem o
ordenamento jurídico penal positivado, devendo ser respeitado todos os preceitos
constitucionais, bem como respeitadas as regras de julgamento estabelecidas no
Código de Processo Penal e legislações especiais, para que se dê a oportunidade
ao transgressor de exercer o direito à ampla defesa e o contraditório, só então,
eventualmente sobrevenha uma condenação.
O Direito Penal, essencial para à organização da sociedade, deve ser
interpretado como última ratio, se preocupando com os delitos mais graves, devendo
os de menor impacto social ser dirimidos em outros ramos do direito.
Entretanto, necessário se faz a interdisciplinaridade do Direito Penal, como
os outros ramos do direito, que se verifica nas seguintes situações exemplificadas
abaixo:
Com o Direito Civil: Contratos / fraudes;

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Com o Direito Imobiliário: Parcelamento de solo / dano;
Com o Direito de Família: Abandono / tutela do Poder Familiar;
Com o Direito Administrativo: Relações com o Estado / Autuações /
Corregedorias;
Com o Direito tributário: fraudes fiscais;
Com o Direito Ambiental: Construções / danos;
Com o Direito Previdenciário: Fraudes;
Com o Direito Trabalhista: ilícito nas relações empregatícias e exercício de
atividades;
Com o Direito Internacional: Extradições;
Com o Direito Médico: Genética / danos;
Com o Direito Eleitora: Fraudes.
Dessa forma, se pode perceber que as relações dos indivíduos que vivem
em sociedade, devem ser organizadas de acordo com os vários ramos de direito,
tendo o direito penal papel subsidiário, no sentido de apurar condutas consideradas
proibidas, julgando e aplicando sanções quando necessário.
Nesse sentido nos explica Julio Fabbrini Mirabete:

“A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras


que estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os
indivíduos que a compõem. O conjunto dessas regras, denominado
direito positivo, que deve ser obedecido e cumprido por todos os
integrantes do grupo social, prevê as consequências e sansões aos
que violarem seus preceitos. À reunião das normas jurídicas pelas
quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de
sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os
pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de
segurança, dá-se o nome de Direito Penal.
A expressão Direito Penal, porém, designa também o sistema de
interpretação da legislação penal, ou seja, a Ciência do Direito Penal,
conjunto de conhecimentos e princípios ordenados metodicamente,
de modo que torne possível a elucidação do conteúdo das normas e
dos institutos em que eles se agrupam, com vistas em sua aplicação
aos casos ocorrentes, segundo critérios rigorosos de justiça”1

1
Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19. ed. São
Paulo : Atlas, 2003. p.21.

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Tamanha é a importância do Direito Penal na organização social que esse
deve ser estudado, interpretado e aplicado não de forma isolada, mas sim em
conjunto com todos os outros ramos do Direito como por exemplo com a Filosofia do
Direito, com a Sociologia Jurídica entre outras.
Ainda, com disciplinas auxiliares relacionadas com outros ramos do Direito,
como Medicina Forense, Psiquiatria Forense e Criminalística entre outras.
Segundo posicionamento doutrinário, o Direito Penal é formado por vários
caracteres, devendo ser analisado de acordo com o posicionamento ético, como nos
ensina o professor Ricardo Antonio Andreucci, cuja lição tomamos a liberdade de
transcrever:
“O Direito Penal tem vários caracteres, de acordo com o
posicionamento ético que se considere ao analisa-lo, e, para alguns
doutrinadores, tem função protetiva do corpo social, na medida em
que defende e tutela os valores fundamentais dos cidadãos, tais com
o a vida, a liberdade, a integridade corporal, o patrimônio, a honra, a
liberdade sexual etc. Outros estudiosos consideram que o Direito
Penal tem finalidade preventiva, visto que deve tentar motivar o
criminoso a não infringir o sistema jurídico-penal, estabelecendo
sanções às proibições fixadas. É a chamada função motivadora da
norma penal, no dizer de Muñoz Conde (Derecho penal y control
social, Sevilla: Fondación Universitaria de Jerez, 1995, p. 30-32).
Caso essa função motivadora não paresente resultado positivo,
impõe-se ao criminoso a sanção penal, que se torna efetiva após o
devido processo legal.
Nesse sentido, já estabelecia o mestre Heleno Cláudio Fragoso
(Lições de direito penal; parte geral. 5. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1983, p. 2-3) que a “função básica do Direito Penal é a defesa social.
Ela se realiza através da chamada tutela jurídica, mecanismo com o
qual se ameaça com uma sanção jurídica (no caso, a pena criminal)
a transgressão de um preceito, formulado para evitar dano ou perigo
a um valor da vida social (bem jurídico).
Procura-se assim uma defesa que opera através da ameaça a todos
os destinatários da norma, bem como pela efetiva aplicação da pena
ao transgressor. A justificação da pena liga-se à função do Direito
Penal, que é instrumento de política social do Estado. O Estado,
como tutor e mantenedor da ordem jurídica, serve-se do Direito
Penal, ou seja, da pena e das medidas de segurança, como meios
destinados à consecução e preservação do bem comum (controle
social). A pena, embora seja por natureza retributiva, não se justifica
pela retribuição nem tem qualquer outro fundamento metafísico.

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De maneira praticamente uniforme na doutrina pátria, entretanto,
tem-se considerado o Direito Penal como sendo ramo do Direito
Púbico, valorativo, normativo, finalista e sancionador.
É pertencente ao ramo do Direito Público em razão de prestar-se à
regulamentação das relações entre o indivíduo e a sociedade,
visando a preservação das condições mínimas da subsistência do
grupo social.
É valorativo, porque estabelece, por meio de normas, uma escala de
valor dos bens jurídicos tutelados, sancionando mais severamente
aqueles cuja proteção jurídica considera mais relevante.
É normativo, porque se preocupa com o estudo da norma, da lei
penal, como conjunto de preceitos indicativos de regras de conduta e
de sanções em caso de descumprimento.
É finalista, porque tem como escopo, como finalidade, a tutela dos
bens jurídicos eleitos pela sociedade como merecedores de maior
proteção.
Por fim, é sancionador, porque estabelece sanções em caso de
agressão a bens jurídicos regidos pela legislação extrapenal (Direito
Civil, Direito Comercial, Direito Tributário, Direito Administrativo
etc.)”.2

Segundo a doutrina, existem diferenças entre as várias classificações do


Direito Penal, conforme se demonstrará abaixo.

2
Andreucci, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 4.
ed. Reformulada – São Paulo : Saraiva, 2008. p. 4.

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Bibliografia

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete.


19. ed. São Paulo : Atlas, 2003.

Andreucci, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio


Andreucci. – 4. ed. Reformulada – São Paulo : Saraiva, 2008.

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
TEORIA DO CRIME

TEMA – INTRODUÇÃO AO CURSO

Aula 02 – INTRODUÇÃO AO CURSO

Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo

O Direito Penal objetivo é classificado como o conjunto de normas penais,


positivadas, que definem crime e suas respectivas sanções.
No que tange o Direito Penal subjetivo, podemos classifica-lo como sendo o
poder de punir do Estado.
Nesse sentido, nos ensina o professor Julio Fabbrini Mirabete:

“Denomina-se Direito Penal objetivo o conjunto de normas que


regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as
respectivas sanções. Somente o Estado, em sua função de
promover o bem comum e combater a criminalidade, tem o
direito de estabelecer e aplicar essas sanções. É, pois, o único
e exclusivo titular do “direito de punir” (jus puniendi) que
constitui o quer se denomina Direito Penal subjetivo. O direito
de punir, todavia, não é arbitrário, mas limitado pelo próprio
Estado ao elaborar este as normas que constituem o Direito
subjetivo de liberdade que é o de não ser punido senão de
acordo com a lei ditada pelo Estado. Só a lei pode estabelecer
o que é proibido penalmente e quais são as sanções aplicáveis
aos autores dos fatos definidos na legislação como infrações
penais.
Anibal Bruno contesta a existência de Direito Penal subjetivo ao
afirmar que a manifestação do exercício da Justiça penal é
decorrente do poder soberano do Estado, do poder jurídico

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destinado a cumpri sua função de assegurar as condições de
existência e a continuidade da organização social. (BRUNO,
Anibal. Direito Penal. Rio de Janeiro : Forense, 1959. v. 1, p.
19-24). Esse poder jurídico(jus imperii), todavia, existe em
momento anterior ao direito positivo; é o poder do Estado de
estabelecer a norma penal como atributo da soberania. Só
após a elaboração de norma que define as infrações penais,
vigente a lei penal, surge o jus puniendi, ou seja, o direito de
punir, de acordo com a legislação e não como resultado de
denominação do Estado. Correta, pois, se nos afigura a
afirmação de que o Direito Penal subjetivo é o “direito de punir”
do Estado.1

Direito Penal comum e Direito Penal especial

Os doutrinadores costumam distinguir Direto penal comum de Direito Penal


especial.
Com efeito, Direito Penal comum pode ser entendido como o conjunto de
normas penais que podem ser aplicadas de um modo geral, ou seja, a todas as
pessoas.
Entretanto, quando se fala em Direito Penal especial, restringe-se sua
aplicação a determinados grupos, em razão de uma qualidade especial.
Dessa forma, trazemos à baila os seguintes conceitos:
Professor Ricardo Antonio Andreucci:

“Direito penal comum: é aquele que se aplica a todas as pessoas e,


geral.
Direito penal especial: é aquele que se aplica a determinada classe
de pessoas, em razão de uma qualidade especial.
A distinção entre ambos encontra-se, via de regra, no órgão
incumbido de aplicar o direito objetivo. É o caso, por exemplo, do
Direito Penal Militar, que é aplicado apenas à classe dos militares,
tendo como órgão jurisdicional aplicador a Justiça Militar. Outro
exemplo seria o Direito Penal Eleitoral, muito embora, sobre essa
qualificação, não haja consenso na doutrina pátria.2

Segundo os ensinamentos do professor Mirabete relacionados ao assunto:

1
Mirabete, op. cit., p.26.
2
Andreucci, op. cit. p. 5

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“Distinguem os doutrinadores o Direito Penal comum, que se aplica a
todas as pessoas eis delitos em geral, do Direito Penal especial
dirigido a uma classe de indivíduos de acordo com sua qualidade
especial, e a certos atos ilícitos particularizados. A distinção entre
ambos, porém, não é precisa, tanto que a divisão só pode ser
analisada tendo em vista o órgão encarregado de aplicar o Direito
objetivo comum ou especial (Cf. MARQUES, José Frederico. Ob. cit.
p. 20-22; JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 8. Ed. São Paulo :
Saraiva, 1983, p. 8; NORONHA, E. Magalhães. Ob. cit. p. 17;
PIEDADE JUNIOR, Heitor. Direito penal: a nova parte geral. Rio de
Janeiro : Forense, 1985. v. 1, p. 3). Nesse aspecto, são de Direito
Penal comum o Código Penal e as leis extravagantes (Lei das
Contravenções Penais, Lei de Economia Popular, Lei de Tóxicos, Lei
de Imprensa et.), sujeitas à aplicação pela justiça comum. São de
Direito Penal especial o Código Penal Militar, aplicado pela Justiça
Militar; a lei do impeachment do Presidente da República, dos
prefeitos municipais etc. aplicáveis pelas Câmaras Legislativas.
A citada distinção, porém, não encontra apoio na legislação, que se
refere genericamente à legislação especial como sendo aquela que
não consta do Código Penal (arts. 12 e 360 do CP). Assim, pode-se
falar em legislação penal comum em relação ao Código Penal, e em
legislação penal especial como sendo as normas penais que não se
encontram no referido Estatuto.3

Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo

Essa classificação resta superada, pois, em face da autonomia do Direito


Processual Penal, que determina as regras de aplicação do Direito Penal e da
legislação penal especial, segundo nos ensina o professor Andreucci, senão
vejamos:

“Direito Penal adjetivo: é o conjunto de normas destinadas à


aplicação do Direito Penal substantivo. São as regras processuais
que se destinam a estabelecer a forma pela qual as normas penais
serão aplicadas aos criminosos, ensejando, se o caso, a imposição
de sanção.
Direito Penal substantivo: é o conjunto de normas que estabelecem
as infrações e as sanções penais. É o Direito Penal propriamente
dito, encontrado na forma de normas que estabelecem preceitos que
devem ser obedecidos e sanções para o caso de descumprimento.4

3
Mirabete, op. cit., p.26.
4
Andreucci, op. cit. p. 5.

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No mesmo sentido nos ensina o professor Mirabete, vejamos:

“Antiga e já superada é a distinção entre Direito Penal substantivo


(ou material) e Direito Penal adjetivo (ou formal). O primeiro é
representado pelas normas que definem as figuras penais,
estabelecendo as sanções respectivas, bem como os princípios
gerais a elas relativos (Código Penal, Lei das Contravenções Penais
etc.). O segundo constitui-se de preceitos de aplicação do direito
substantivo e de organização judiciária. Modernamente, essa
distinção já não tem razão de ser, uma vez que as últimas normas
ganharam autonomia com o reconhecimento da existência do Direito
Processual Penal. Este não é parte ou complemento do Direito
Penal, mas objeto de ciência diversa, destinada ao estudo pela lei
referente à aplicação do Direito Penal objetivo. Isto não impede que
de um mesmo diploma legal constem normas de Direito Penal e de
Direito Processual Penal, como é o caso da Lei de Tóxicos, da Lei de
Imprensa, da Lei de Responsabilidade de Prefeitos etc.

Dessa forma, podemos concluir que embora essa classificação esteja


superada, importante destacar o contexto histórico, para compreensão da evolução
e autonomia do Direito Processual Penal, na aplicação do Direito Penal e Legislação
Especial Penal, ou seja, na aplicação do Direito Substantivo.

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Bibliografia

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete.


19. ed. São Paulo : Atlas, 2003.

Andreucci, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio


Andreucci. – 4. ed. Reformulada – São Paulo : Saraiva, 2008.

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
TEORIA DO CRIME

TEMA – INTRODUÇÃO AO CURSO

Aula 03 – INTRODUÇÃO AO CURSO

Direito Penal e a relação com outros ramos do direto e outras ciências

O Direito Penal deve ser interpretado, estudado e aplicado de forma


subsidiária aos outros ramos do Direito, preocupando-se com os fatos mais
relevantes, sendo a última ratio, também de forma ampla, através da
interdisciplinaridade com outras ciências jurídicas, como por exemplo a Filosofia do
Direito, Sociologia do Direito, fazendo ainda valer-se de outros ramos como por
exemplo a Criminologia.

Segundo os ensinamentos do Prof. Ricardo Antonio Andreucci:

“Não constitui o Direito Penal um ramo isolado das ciências jurídicas,


relacionando-se com todos os outros ramos do Direito, bem assim,
com as disciplinas auxiliares (Medicina Forense, Psiquiatria Forense
e Criminalística) e com as ciências penais (Criminologia, Sociologia
Criminal, Estatística Criminal, política Criminal, Biotipologia Criminal,
Vitimologia, Biologia Criminal, Antropologia Criminal, Psicologia
Criminal e Endocrinologia Criminal).
Nesse panorama destaca-se a Criminologia, que, na definição de
Heleno Fragoso (op. cit., p. 18), “é a ciência causual-explicativa que
estuda o crime como fato social, o delinquente e a delinquência, bem
como, em geral, o surgimento das normas de comportamento social
e a conduta que viola ou delas se desvia e i processo de reação
social. A Criminologia, como se vê, não se limita ao estudo do crime
como realidade fenomênica, cabendo-lhe, de forma mais ampla, o

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estudo da conduta desviante que constitui o fato anti-social grave
(assim, por exemplo, a prostituição, o homossexualismo, o
alcoolismo, etc.)”.
Assim, sendo diversas as disciplinas que se relacionam com o Direito
Penal (às quais se tem dado a denominação de Enciclopédia das
Ciências Jurídicas), deve o estudo criminológico de um ser humano
que infringiu as normas sociais, segundo Hélio Veiga de Carvalho
(Compêndio de criminologia, São Paulo: Bushatsky, 1973, p. 16),
“preceder o julgamento, isto é, aquela decisão dramática que definirá
o destino específico que caberá a essa pessoa: uma condenação e
uma sanção, ou a volta à posse da liberdade e reintegração no
convívio social”. E conclui o renomado jurista: “Enfim, o julgamento é,
pois, dentro do quadro geral da vida do criminoso, o momento em
que se decide qual a sua situação em face da sociedade que,
defendida pela organização judiciária, vai proferir a sua sentença em
face da ação anti-social cometida”.1

Temos como ciências auxiliares aquelas que servem e auxiliam na aplicação


do Direito Penal, sendo elas a Medicina Legal, a Criminalística e a Psiquiatria
Forense. Nesse sentido, importante destacar os ensinamentos do Prof. Mirabete:

“Na Medicina Legal, que é a aplicação de conhecimentos médicos


para a realização de leis penais ou civis, verificam-se a existência, a
extensão e a natureza dos danos à saúde e à vida (exames de
lesões corporais, necroscópicos), a ocorrência de atentados sexuais
(exame de conjunção carnal ou atos libidinosos), a matéria de
toxicologia (envenenamento, intoxicação alcoólica e por tóxicos) etc.
A Criminalística, também chamada de Polícia Científica, é a técnica
que resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal,
colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus
autores. Seu objetivo é o estudo de provas periciais referentes a
pegadas, manchas, impressões digitais, projéteis, locais de crime
etc.
A Psiquiatria Forense, originalmente ramo da Medicina, é
considerada hoje ciência à parte. Seu objetivo é o estudo dos
distúrbios mentais em face dos problemas judiciários, tais com os da
imputabilidade, da necessidade de tratamento curativo nos autores
de crimes chamados “semi-imputaveis” e da presunção de violência
por alienação ou debilidade mental da vítima de crimes contra os
costumes (art. 224, b, do CP).2

O artigo 224 do Código Penal foi revogado pela Lei nº 12.015, de 2009,
entretanto se faz necessário a citação supra para o entendimento do tema.

1
Andreucci, op. cit., p. 6.
2
Mirabete, op. cit., 31.

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No que tange o tema Criminologia, podemos definir como a ciência que
estuda os fenômenos e as causas da criminalidade, a personalidade do agente
criminoso e das vítimas, com a finalidade de ressocialização do delinquente e
combate à criminalidade.
Por se valer de diversos outros ramos do Direito e de ramos auxiliares,
conforme citação supra, temos que a Criminologia tem caráter interdisciplinar, pois,
deve ser analisada de forma ampla, com utilização de outras ciências, como por
exemplo, a Psicologia, a Biologia, a Sociologia, entre outros.
Ainda seguindo os ensinamentos do Prof. Mirabete:

“Segundo Israel Drapkin Senderey, ‘a Criminologia é um conjunto de


conhecimentos que estudam os fenômenos e as causas da
criminalidade, a personalidade do delinquente e sua conduta
delituosa e a maneira de ressocializá-lo’ (SENDEREY, Israel Drapkin,
Manual de criminologia. São Paulo : José Bushatski, 1978. p. 6.).
Nesse sentido, há uma distinção precisa entre essa ciência e o
Direito Penal. Enquanto neste a preocupação básica é a dogmática,
ou seja, o estudo das normas enquanto normas, da Criminologia se
exige um conhecimento profundo do conjunto de estudos que
compõem a enciclopédia das ciências penais. O delito e o
delinquente, na Criminologia, não são encarados do ponto de vista
jurídico, mas examinados, por meio de observação e
experimentação, sob enfoques diversos. O crime é considerado
como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e
agente social, influenciado por fatores genéticos e constitucionais,
bem como pelas injunções externas que conduzem à prática da
infração penal, e, numa postura moderna, agente de comportamento
desviante. Em resumo, estuda-se na Criminologia a causação do
crime, as medidas recomendadas para tentar evita-lo, a pessoa do
delinquente e os caminhos para sua recuperação.”3

Em suma, deve ser o Direito Penal estudado de forma ampla, em


conjunto com outros ramos e disciplinas jurídicas, especialmente a
Criminologia, visando a ressocialização do delinquente e o combate à
criminalidade.

3
Mirabete, op. cit., 31.

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Bibliografia

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete.


19. ed. São Paulo : Atlas, 2003.

Andreucci, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio


Andreucci. – 4. ed. Reformulada – São Paulo : Saraiva, 2008.

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
TEORIA DO CRIME

TEMA – INTRODUÇÃO AO CURSO

Aula 04 – INTRODUÇÃO AO CURSO

Avançando no estudo da Criminologia, quando estudada na fase de


introdução ao curso, temos que a doutrina que se assenhora de melhor forma é a do
ilustre Professor Mirabete.
Nesse sentido, sem a pretensão de esgotar o tema, mas sim acreditando
que seja a leitura inicial para aprofundamento no tema, tomamos a liberdade de
transcrever parte da sua obra como segue abaixo.

Criminologia crítica

“O distanciamento provocado pela reação da Escola Técnico-jurídica a


intromissão excessiva da Criminologia no campo da ciência penal, porém, levou à
verificação de que esta não pode viver exclusivamente do estudo dos sistemas
normativos, em exercícios de pura lógica formal, fazendo do direito legislado o seu
único objeto. Surgiu então um movimento de aproximação de duas ciências, com a
conclusão de que a Criminologia não deve ter por objeto apenas o crime e o
criminoso como institucionalizados pelo direito positivo, mas deve questionar
também os fatos mais relevantes, adotando uma postura filosófica. Nesse
posicionamento, a que se deu o nome de Criminologia crítica, cabe questionar os
fatos ‘tais como a violação dos direitos fundamentais do homem, a inflingência de

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castigos físicos e de torturas em países não democráticos; a prática de terrorismo e
de guerrilhas; a corrupção política, econômica e administrativa” (PIMENTEL, Manoel
Pedro. O crime e a pena na atualidade. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1983, p.
40), tudo isso como afirma Lopez-Rey, como ‘expressão da decadência dos
sistemas socioeconômicos e políticos, sejam quais forem suas etiquetas’ (Manifesto
criminológico. Revista de Direito Penal. Rio de Janeiro : Forense, nº 24, p. 9). Cabe
à Criminologia crítica cumprir seu papel, como afirma Manoel Pinto Pimentel,
‘retendo como material de interesse para o Direito Penal apenas o que efetivamente
mereça punição reclamada pelo consenso social, e denunciando todos os
expedientes destinados a incriminar condutas que, apenas por serem contrárias aos
interesses dos poderosos do momento, política ou economicamente , venham a ser
transformadas em crime’ (PIMENTEL, Manoel Pedro. Ob. cit. p. 43). Em suma, há
que se ter por lema a frase do Ministro da Justiça francês na abertura do Instituto
Criminológico em Vaucresson, em 1956: ‘Devemos não só comparar os fatos com o
Direito, mas também o Direito com os fatos.’
Cezar Roberto Bitencourt resume a essência da Criminologia Crítica na
contestação a princípios estabelecidos no Direito Penal. Quanto ao princípio do bem
e do mal, diz que a criminalidade é um fenômeno social “normal” (e não patológico)
de toda estrutura social, cumprindo uma função útil ao desenvolvimento
sociocultural; ao princípio da culpabilidade opõe as teorias das subculturas, diante
da qual o comportamento humano não representa a expressão de uma atitude
interior dirigida contra o valor que tutela a norma penal, pois não existe um único
sistema de valor, o oficial, mas uma série de subsistemas que se transmitem aos
indivíduos através dos mecanismos de socialização e de aprendizagem dos grupos
e do ambiente em que o indivíduo se encontra inserto; questiona o princípio do fim
ou da prevenção da pena, com o entendimento de que a ressocialização não pode
ser conseguida numa instituição como a prisão, que sempre é convertida num
microssomo no qual se reproduzem e se agravam as graves contradições existentes
no sistema social exterior etc.’ (O objetivo ressocializador na visão da Criminologia
Crítica, RT 662/247-256).

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Biologia Criminal

Adotando a classificação de Mezger, aceita por Battaglini, pode-se dividir a


Criminologia em dois grandes ramos: o da Biologia Criminal e o da Sociologia
Criminal. (Cf. BATTAGLINI, Giulio. Ob. cit. p. 17-21). Não se deve esquecer,
entretanto, de que as ciências penais que compõem essa classificação tem intima
correlação, confundindo-se e interpretando-se, muitas vezes, no âmbito de seus
estudos.
Estuda-se na Biologia Criminal o crime como fenômeno individual,
ocupando-se essa ciência das condições naturais do home criminoso em seu
aspecto físico, fisiológico e psicológico. Inclui-se ela os estudos da Antropologia,
Psicologia e Endocrinologia criminais.

Sociologia Criminal

Tomando o crime como um fato da vida em sociedade, a Sociologia


Criminal estuda-o como expressão de certas condições do grupo social. Criada por
Henrique Ferri, preocupa-se essa ciência, preponderantemente, com os fatores
externos (exógenos) na causação do crime, bem como com suas consequências
para a coletividade. Serve-se a Sociologia Criminal da Estatística Criminal, como
método ou técnica para o estudo quantitativo dos fenômenos criminais.
O estudo do delito como fenômeno social, como foi visto, é do âmbito da
Sociologia Criminal, assim como o crime, como fato individual, pertence ao campo
de observação da Biologia Criminal. Entretanto, a interpretação dessas ciências,
para o estudo da gênese do delito, é incontestável. Notou Gemelli que a dinâmica da
ação do ambiente não pode ser separada ‘da dinâmica da personalidade por serem
dois aspectos de um só dinamismo que necessitam ser ponderados por quem
pretenda compreender o significado de uma ação delituosa’ (MARQUES, Jose
Frederico. Ob. cit. p. 62-63).”1

1
Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19. ed. São
Paulo : Atlas, 2003, p. 31-34.

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Bibliografia

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete.


19. ed. São Paulo : Atlas, 2003.

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