Professional Documents
Culture Documents
Os Reflexos Da Evolucao Da Neurociencia
Os Reflexos Da Evolucao Da Neurociencia
D.O.I: 10.6020/1679-9844/2403
Existe uma ligação direta entre o tipo de vida do homem e os progressos da ciência,
ou seja, as mudanças científicas trazem consigo mudanças sociais. Nesse contexto,
é importante a observação do desenvolvimento da ciência, para que se possa
informar e salvaguardar a sociedade das suas vantagens e dos seus riscos
(SGRECCIA, 1996). Em um cenário onde as possibilidades de transformação da
natureza e, de modo especial, da natureza humana aumentam em uma velocidade
meteórica; onde as respostas do ponto de vista antropológico que até o momento
eram consideradas satisfatórias tornam-se insuficientes, a presença de parâmetros
éticos faz-se fundamental. A possibilidade de solução das variações de humor, da
depressão e até da loucura, são algumas das novidades científicas que colocam em
cheque concepções até então adquiridas e requerem uma avaliação ética,
responsável e ciente dos riscos.
Hans Jonas (2006), por sua vez, considera a ética clássica e tradicional, que
contava com comportamentos não cumulativos e com os ensinamentos da
experiência, insuficiente para o trato dos novos e inúmeros problemas trazidos pelo
avanço da modernidade e da ciência. Nesse contexto, o autor propõe à ética uma
dimensão de responsabilidade que, diante de tantas transformações, precisa
reconhecer a importância do saber, mas também a ignorância e a prudência frente
às oportunidades da ciência e do poder.
Para Lent:
Todas essas atividades somente são possíveis graças a tecnologia, que tem
como aspectos destacados a inovação e a criatividade. Diante da tecnologia o ser
humano se vê instigado a ampliar e a estender suas capacidades intrínsecas como,
por exemplo, ver mais e melhor, ampliar suas funções cerebrais, etc. Todavia, é
importante que essa virtuosidade e exuberância tecnológica conduzam a melhoria
da vida humana e jamais a depreciação de suas características essenciais. Nessa
linha de raciocínio, destaca-se o pensamento de Rolando e Onofre (2008, p.135-
141):
Assim como a sociedade antiga passou à moderna e hoje já é, para alguns, pós-
moderna, o direito também precisa evoluir para acompanhar a evolução da
sociedade. Nesse contexto, toda inovação, seja científica ou tecnológica acaba
exigindo do ordenamento jurídico uma postura que equilibre o avanço da técnica e a
proteção da identidade da espécie humana.
Devido a pouca discussão sobre o assunto fora dos círculos médicos, salvo
pela doutrina especializada, a abordagem das técnicas neurocientíficas parece
remontar às criações de filme de ficção científica ou algo semelhante. Entretanto,
uma rápida pesquisa, especialmente no campo do direito, esclarece que esse é um
pensamento que não corresponde bem à realidade.
Nesse escopo, Martell (2009, p. 124) atenta para o fato de que direito e
neurociência partem de diferentes concepções filosóficas e plataformas
programáticas. Dessa maneira, ao passo que o direito há muito tempo assumiu que
o comportamento humano é produto do livre arbítrio ou de um mínimo de escolha
racional, a neurociência, por sua vez, com foco estritamente voltado para a
localização da cognição, emoção e comportamento como estruturas específicas do
cérebro, sugere que o comportamento deve ser determinado inteiramente pelas
nossas funções cerebrais. Isso cria um confronto entre culturas e um contraste entre
livre arbítrio e determinismo, situação que por si lança luzes de dúvida a respeito do
casamento direito e neurociência, em especial no campo penal.
5. Considerações Finais
Pretende-se chamar à atenção para o lado não tão belo dessas pesquisas. É
preciso não ser inocente quanto aos riscos e as consequências que o mau uso de
tais práticas pode causar ao seu principal interessado. A participação do ser
humano, como beneficiário, das descobertas e pesquisas faz parte do esperado e do
próprio propósito da ciência aplicada à saúde. Nessa linha, o progresso técnico e
científico deve desenvolver-se sempre levando em consideração a qualidade de vida
humana.
Por fim, conclui-se que a ciência não parece tão certa, segura e
suficientemente desenvolvida a ponto de ser utilizada ilimitadamente, mormente pelo
direito, quando se trata de condenar ou inocentar um indivíduo. Da mesma forma,
não há garantias de que os direitos de personalidade, tais como a identidade
humana e sua personalidade jamais serão afetados.
Referências
GAZZANIGA, Michael. The ethical brain. New York: The Dana Press; 2005.
Gage - Conheça a história do trabalhador que, após acidente, passou por uma série
de mudanças comportamentais e de personalidade, em Vermont, no ano de 1848.
Super Interessante. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_121115.shtml>. Acesso
em: julho de 2010.
SILVA, Reinaldo Pereira. Biodireito: a nova fronteira dos direitos humanos. São
Paulo: LTr, 2003.