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Apresentação

Programa
ABC Cerrado
Recuperação de
Pastagens Degradadas
20 horas

1
2019 - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR

1a. Edição - 2019


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui
violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

A coleção ABC Cerrado é uma iniciativa do Senar com objetivo de manter disponível
ao público rural os cursos elaborados no âmbito do Projeto ABC Cerrado e demais
tecnologias sustentáveis de produção agropecuária preconizadas no Plano ABC.

Fotos
Banco de imagens do SENAR
Banco Multimídia Embrapa
iStock
Shutterstock

Informações e contato
SENAR Administração Central
SGAN 601 – Módulo K Edifício Antônio Ernesto de Salvo – 1º andar
Brasília – CEP 70830-021
Telefone: 61 2109-1300
www.senar.org.br

Presidente do Conselho Deliberativo do SENAR


João Martins da Silva Junior

Diretor Geral do SENAR


Daniel Klüppel Carrara

Diretora de Educação Profissional e Promoção Social


Andréa Barbosa Alves

Coordenadora de Programas Especiais


Janei Cristina Santos Resende

Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância


Ana Ângela de Medeiros Sousa

Coordenador Técnico do Projeto ABC Cerrado


Mateus Moraes Tavares

Equipe técnica Senar


Dyovanna Depolo de Souza Pinto
Larissa Arêa Sousa
Sumário
Apresentação.................................................................................................................. 4

Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado.............................................. 15


Aula 1 – Uso e ocupação do solo pela pecuária no Cerrado e perspectivas do setor....... 18
Aula 2 – Entendendo a degradação de pastagens.................................................................... 26
Aula 3 – Causas da degradação de pastagens........................................................................... 38
Aula 4 – Benefícios da intervenção nas pastagens................................................................... 42
Atividade de aprendizagem............................................................................................................ 47

Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens..................................................................... 50


Aula 1 – Formas de intervenção nas pastagens........................................................................ 52
Aula 2 – Intervenção nas pastagens – Etapas 1 e 2.................................................................. 63
Aula 3 – Intervenção nas pastagens – Etapa 3.......................................................................... 71
Aula 4 – Passo a passo para intervenção na área..................................................................... 87
Atividade de aprendizagem............................................................................................................ 96

Módulo 3 – Manejo das Pastagens e Sistemas de Integração............................... 101


Aula 1 – Manejo da pastagem........................................................................................................ 103
Aula 2 – Sistemas de integração................................................................................................... 112
Atividade de aprendizagem............................................................................................................ 118

Encerramento................................................................................................................. 122

Referências...................................................................................................................... 123

Anexo............................................................................................................................... 126
Apresentação

Apresentação
Bem-vindo(a) ao curso Recuperação de Pastagens Degradadas!

Você verá, neste curso, que as pastagens degradadas são áreas que
podem ser reintegradas ao processo de produção de alimentos por
meio de práticas que recuperem a capacidade produtiva do solo degradado.
Isso pode evitar a abertura de novas áreas e trazer economia para seu bolso.

Fonte: CNA Brasil / Foto: Adriano Brito.

O curso está organizado em três módulos. Confira as aulas que compõem


cada um.

Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Aula 1 – Uso e ocupação do solo pela pecuária no Cerrado e perspectivas


do setor
Aula 2 – Entendendo a degradação de pastagens
Aula 3 – Causas da degradação de pastagens
Aula 4 – Benefícios da intervenção nas pastagens

4
Apresentação

Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens

Aula 1 – Formas de intervenção nas pastagens


Aula 2 – Etapas para intervenção nas pastagens – etapas 1 e 2
Aula 3 – Etapas para intervenção nas pastagens – etapa 3
Aula 4 – Passo a passo para intervenção na área

Módulo 3 – Manejo das Pastagens e Sistemas de Integração

Aula 1 – Manejo da pastagem


Aula 2 – Sistemas de integração

Este curso faz parte da Coleção ABC Cerrado – Tecnologias Sustentáveis


de Produção Agropecuária no Bioma Cerrado. Essa coleção, que é
composta de sete cursos, é fruto do Projeto ABC Cerrado, que foi
implementado durante os anos de 2014 a 2019. Vamos conhecer um
pouco mais sobre esse projeto?

O Projeto ABC Cerrado


O Brasil ocupa um lugar de destaque entre os maiores produtores de
alimentos do mundo, além de ser um dos países que mais preserva o
meio ambiente – consegue produzir em apenas 27,7% do seu território,
enquanto mantém 61% coberto com vegetação nativa.
Mesmo assim, durante a 15ª Conferência das Partes (COP-15), em 2009,
o País assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito
estufa (GEE). De lá para cá, a agricultura de baixa emissão de carbono
(ABC) passou a receber uma atenção maior por parte do Governo e de
diversas instituições, que criaram programas para incentivar o produtor
rural brasileiro a adotar técnicas sustentáveis.

5
Apresentação

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) participa dessas


iniciativas que contribuem com a meta nacional de redução de emissão
de gases do efeito estufa pela atividade agropecuária. É o caso do Projeto
ABC Cerrado, que disseminou práticas de agricultura de baixa emissão
de carbono e estimula o produtor a investir na sua propriedade, para
impulsionar a produtividade e a renda, ao mesmo tempo em que preserva
o meio ambiente.
Oito estados do bioma Cerrado participaram do Projeto: Bahia, Distrito
Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Piauí
e Tocantins.

O projeto foi desenvolvido em parceria com o Ministério


da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
com recursos do Programa de Investimento em Florestas
(FIP) e o Banco Mundial.

O SENAR atuou como responsável pela transferência de tecnologias aos


produtores rurais do bioma Cerrado por meio de capacitação, pela formação
de instrutores e de técnicos de campo, além de fornecer assistência técnica
e gerencial à atividade rural, com foco em tecnologias preconizadas pelo
Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC).
Desde a sua criação, o SENAR levou aos agricultores e pecuaristas
brasileiros os avanços da ciência e da tecnologia. Com esse curso, espera
contribuir para o crescimento do seu empreendimento e da produção de
alimentos com sustentabilidade.

No ambiente virtual de aprendizagem (AVA), você poderá


assistir ao vídeo que conta a história de sucesso do Senhor
Alcides e de sua família que foram beneficiados pelo
Projeto ABC Cerrado.
Vale a pena conferir!

Os Cursos
A coleção ABC Cerrado é composta por um conjunto de sete cursos:

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Apresentação

Recuperação de Pastagens Degradadas


Carga horária: 20 horas

Sistema Plantio Direto


Carga horária: 30 horas

Florestas Plantadas
Carga horária: 30 horas

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Carga horária: 30 horas

Tratamento de Dejetos Animais


Carga horária: 20 horas

Fixação Biológica de Nitrogênio


Carga horária: 20 horas

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Apresentação

Mudanças Climáticas e Agricultura


Carga horária: 20 horas

Esses cursos foram desenvolvidos com o objetivo


de levar a você e aos demais produtores do bioma
Cerrado a atualização sobre novas técnicas que
favorecem a redução na emissão de gases de efeito
estufa que promovem o aquecimento global, ao
mesmo tempo que entregam ao produtor maior
produtividade e retorno econômico na atividade.

Fazenda Rio Novo


Para facilitar sua compreensão dos assuntos e das técnicas abordadas nos
sete cursos, apresentaremos o caso fictício da fazenda Rio Novo. Ela é de
propriedade da família do Sr. Antônio e da Sra. Teresa e fica no estado de
Goiás, em uma região onde predomina o bioma Cerrado.
Todos dessa família vão se empenhar em adotar práticas sustentáveis
na propriedade, que trarão maior produtividade e ainda contribuirão para
reduzir a emissão dos GEEs. Cada membro será o responsável principal
por uma ação específica na fazenda e acompanhará os participantes dos
diferentes cursos. Conheça um pouco dessa família.

Antônio Teresa João Carmen Rogério Natália Mariana


76 anos 72 anos 49 anos 47 anos 28 anos 24 anos 20 anos

8
Apresentação

Antônio
76 anos
Ensino fundamental completo

No final da década de 1960, Antônio herdou um pedaço de terra no interior de


Goiás, região de Cerrado, e lá iniciou um discreto plantio de milho. Alguns anos
mais tarde, passou também a criar gado na mesma propriedade.
Sem muito estudo, viu sua propriedade crescer, fruto de seus esforços e de
sua esposa, Dona Teresa. No entanto, junto com o crescimento da propriedade
também veio a degradação das pastagens pelo gado e pelo manejo incorreto
da própria pastagem.
Hoje, o Sr. Antônio quer reintegrar as áreas degradadas pela pastagem ao
processo de produção de alimentos. Com isso, quer evitar a abertura de novas
áreas para a pastagem, o que é benéfico ao meio ambiente, além de trazer
economia para o próprio bolso.
Para isso, pretende aplicar práticas que recuperem a capacidade produtiva do
solo degradado na fazenda Rio Novo.
Você pode acompanhar essa empreitada do Sr. Antônio no curso Recuperação
de Pastagens Degradadas.

Teresa
72 anos
Ensino fundamental completo

Ao lado do Sr. Antônio, Teresa plantou as primeiras sementes de milho na


propriedade Rio Novo ainda na década de 1960. Juntos, trabalharam duro para
que essa propriedade crescesse e fosse produtiva.
Ela é uma pessoa muito observadora e gosta de conversar com outros
produtores da região. Sempre em contato com os vizinhos e “antenada” em
tudo que acontece por ali.
Apesar de não ter tido a oportunidade de estudar além do ensino fundamental,
viu que seus vizinhos utilizavam uma técnica muito interessante para proteger
o solo e evitar erosões. Quem sabe a técnica não daria certo na fazenda Rio
Novo? Resolveu testar e... deu!
Agora, Dona Teresa quer aprimorar ainda mais a aplicação da técnica para
resolver os problemas de conservação de água e solo, como a erosão na
fazenda Rio Novo. Você pode conferir mais sobre a técnica e os resultados que
ela obteve no curso Sistema Plantio Direto.

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Apresentação

João
49 anos
Técnico agrícola

João cresceu vendo seus pais, Antônio e Teresa, darem duro na fazenda Rio
Novo e presenciou o grande crescimento da propriedade.
Inspirado pela dedicação e amor dos pais pela terra, nunca passou pela sua
cabeça deixar o campo para exercer outra atividade... Queria fazer a diferença
no campo!
Assim, ao terminar o Ensino Médio, matriculou-se em um curso técnico
agrícola. Lá teve a ideia, junto com Carmen, hoje sua esposa, de plantar árvores
comerciais de rápido crescimento na fazenda, como uma alternativa de renda
para a família.
Acompanhe o João no curso Florestas Plantadas.

Carmen
47 anos
Técnica agrícola

Carmen conheceu seu marido João ainda na adolescência, no colégio onde


estudavam. Ao se casar com João, mudou-se para a fazenda Rio Novo, de
propriedade de seu sogro Antônio.
Fizeram juntos o mesmo curso técnico agrícola, onde tiveram a ideia de plantar
espécies florestais na propriedade.
Para fazer a ideia dar ainda mais certo, Carmen tem se empenhado em integrar
a lavoura e as pastagens à nova área florestal.
Sempre cuidadosa, quer aumentar a renda da propriedade, mas sem descuidar
da legislação ambiental vigente.
Você pode acompanhar o passo a passo de suas ações no curso integração
Lavoura-Pecuária-Floresta.

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Apresentação

Rogério
28 anos
Engenheiro agrônomo

Rogério é o filho mais velho do casal João e Carmen, primeiro neto de Antônio
e Teresa.
Apaixonado pela terra, formou-se engenheiro agrônomo.
Durante a graduação, percebeu que o dejeto de animais pode se tornar uma
potencial fonte de energia e até mesmo de renda.
Por isso, tem se empenhado em tratar esses dejetos da forma correta na
propriedade Rio Novo.
Você pode aprender a técnica utilizada pelo Rogério no curso Tratamento de
Dejetos Animais.

Natália
24 anos
Bióloga

Natália é filha do casal João e Carmen e neta de Antônio e Teresa. Sempre


muito curiosa, desde criança desejava ser “cientista”.
Influenciada pelo ambiente em que cresceu, e enxergando uma oportunidade
para colocar em prática toda a sua curiosidade sobre as plantas e animais,
tornou-se bióloga.
Seu Trabalho de Conclusão de Curso foi sobre o ciclo do nitrogênio na natureza.
Com base nos amplos conhecimentos obtidos em seus estudos, tem defendido
o plantio, na fazenda Rio Novo, de propriedade da família, de espécies que
possibilitem a fixação de nitrogênio no solo. Isso permitirá uma melhora na
fertilidade do solo da propriedade.
Você também pode ter acesso a esses conhecimentos da Natália realizando o
curso Fixação Biológica de Nitrogênio.

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Apresentação

Mariana
20 anos
Estudante de Engenharia Ambiental

Filha mais nova do casal João e Carmen, defende o meio ambiente com unhas
e dentes, mas sem se descuidar do setor produtivo da fazenda!
Está no terceiro ano da faculdade de Engenharia Ambiental e deseja especializar-
se na área de sustentabilidade no campo.
Quer permanecer na propriedade Rio Novo da família, adaptando a produção
às mudanças climáticas e fiscalizando a adoção de práticas sustentáveis
por todos!
O curso Mudanças Climáticas e Agricultura fala sobre esse assunto e apresenta
as práticas sustentáveis defendidas pela Mariana.

A família do Sr. Antônio contará com a ajuda do Marcos,


técnico do SENAR que atende à região. Você perceberá que,
em diferentes momentos dos cursos, o técnico Marcos enviará
dicas e orientações por meio de áudios. Portanto, ao se
deparar com o ícone ao lado nos cursos, não deixe de ouvir
suas valiosas dicas!
Mas aqui na apostila vamos facilitar para você e colocar a
transcrição dos áudios.
Por isso que é tão importante você acessar o ambiente virtual
de aprendizagem e passar por essa experiência de interação
com o conteúdo.

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Apresentação

Recursos educacionais e interativos


Ao longo do curso, você encontrará imagens, áudios e vídeos. O objetivo
é tornar seu aprendizado mais interessante e prazeroso. Além disso,
também se deparará com recursos interativos que ajudarão a aplicar da
melhor forma os novos conhecimentos.

No AVA, sempre que você vir um ícone com alguma


animação, principalmente com setas, significa que uma
informação será exibida ao clicar sobre ele. Não deixe
de conferi-la, pois esses elementos fazem parte de uma
experiência de aprendizagem completa!

Outro exemplo de recurso interativo são as palavras destacadas, que


exibirão sua definição ou uma explicação extra quando forem acionadas.
Veja como vai aparecer lá no AVA.
A maioria dos solos no Cerrado é muito
Processos
antiga e bastante modificada pela ação de químicos e físicos
processos químicos e físicos e possui baixa Também chamados
fertilidade, com sérias limitações à produção. de intemperismo.
São exemplos:
o sol, a chuva, o
vento, entre outros.

Durante todo o curso, você terá a companhia do Sr.


Antônio. Como você já viu, ele é o proprietário da
fazenda Rio Novo e pretende recuperar as pastagens
degradadas dessa propriedade.
Então, sempre preste muita atenção no que ele tem
a dizer!

13
Apresentação

Atividades de aprendizagem
A navegação pelo conteúdo deste curso é sequencial e linear. Isso significa
que você deve acessar o primeiro módulo e conferir todos as aulas. Ao
final, você realizará a atividade de aprendizagem para, então, liberar o
conteúdo do módulo seguinte.

As atividades de aprendizagem têm o objetivo


de verificar se você teve um bom aproveitamento
em relação ao conteúdo do módulo. Por isso é tão
importante acessar o AVA e responder à atividade para
liberar o módulo seguinte.

Canais de comunicação
Este é um curso autoinstrucional, ou seja, você será o responsável pelo
seu próprio ritmo de aprendizagem. Mas isso não significa que você está
sozinho nesta jornada!
Durante seus estudos, você poderá utilizar os canais de comunicação
disponibilizados no seu AVA para esclarecer dúvidas técnicas com a
monitoria do curso.

Os monitores dão o suporte necessário às dúvidas de


cunho mais técnico relacionadas ao AVA e às regras
de conclusão do curso.

Siga em frente e bom estudo!

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Módulo 1:
A Degradação
de Pastagens no
Cerrado
O Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor e o maior exportador
mundial de carne bovina. Praticamente toda essa produção nacional
tem como base as pastagens, que é a forma mais econômica e prática
de produzir e fornecer alimentação ao gado. As pastagens são,
portanto, fundamentais na pecuária brasileira, garantindo baixos custos
de produção.

Fonte: CNA Brasil / Foto: Wenderson Araujo.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Neste primeiro módulo do curso, falaremos sobre a degradação de


pastagens, com foco no bioma Cerrado.
Veja o que preparamos para cada uma das aulas do módulo:
Pronto(a) para começar a primeira aula?

Aula 1 - Uso e ocupação Aula 2 - Entendendo a


do solo pela pecuária e degradação de pastagens
perspectivas do setor • O que é degradação
• Panorama da pecuária na de pastagens
região do Cerrado • O processo e os estágios
• Uso e ocupação do solo pela de degradação
pecuária
• Solo e clima do Cerrado
• Perspectivas do setor
pecuário

Aula 3 - Causas da degradação Aula 4 - Benefícios da


de pastagens intervenção nas pastagens
• As principais causas da • Os principais benefícios da
degradação de pastagens intervenção nas pastagens
• A influência da taxa de • O efeito “poupa-terra”
lotação e dos métodos de • A erosão decorrente da
formação na degradação de degradação de pastagens
pastagens

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Você pode buscar mais conhecimentos com a Embrapa!


Visite a Unidade da Embrapa mais próxima de sua
propriedade. Todas elas possuem biblioteca com
muitas publicações disponíveis para leitura, além de
pesquisadores para poder conversar.
No site da Biblioteca da Embrapa, também é possível
encontrar muitas informações. Acesse:
• https://www.embrapa.br/biblioteca
O serviço Informação Tecnológica em Agricultura
(Infoteca-e) dá acesso a informações técnicas na forma
de cartilhas, livros para transferência de tecnologia,
programas de rádio e de televisão editados com linguagem
adaptada de modo que produtores rurais, extensionistas,
técnicos agrícolas, estudantes e professores de escolas
rurais, cooperativas e outros segmentos da produção
agrícola possam assimilá-los com maior facilidade. Visite:
• https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br
Você também poderá comprar livros publicados pela
Embrapa diretamente no site de comunicação. Acesse:
• http://vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/principal.
do?metodo=iniciar

Pronto(a) para começar a primeira aula?

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Aula 1:
Uso e ocupação do
solo pela pecuária
no Cerrado e
perspectivas do
setor
O Cerrado ocupa quase 25% do território brasileiro
e está presente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Embrapa Cerrados
Unidade Cerrados,
Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato da Empresa
Grosso do Sul, Piauí, São Paulo, Paraná e no Distrito Brasileira
Federal – segundo dados da Embrapa Cerrados de Pesquisa
Agropecuária.
e do Projeto Biomas.

Nesta primeira aula, veremos como se dá o uso e ocupação do solo pela


pecuária na região do Cerrado, além das perspectivas para esse setor.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

A pecuária no Cerrado
Nos últimos 30 anos, o Cerrado brasileiro tornou-se a mais
importante região produtora de carne bovina do país. Veja alguns
números importantes:

PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NO CERRADO

Mato
Grosso

Goiás Distrito
Federal
Mato
Grosso
do Sul Estados que mais Maiores exportadores
abateram de carne bovina
Cerrado bovinos (2012/2013) in natura (2015)
55% da carne
produzida
no Brasil 65,9
mil ton
45,1
mil ton 38,7
Região mil ton 30
Centro-Oeste + mil ton

Distrito Federal 1ª 2ª 3ª 4ª
posição posição posição posição
1ª 2ª 3ª 4ª
76 milhões de Mato Mato Goiás São
posição posição posição posição
cabeças de gado Grosso Grosso Paulo
São Paulo Mato Goiás Mato
do Sul
(2014) Grosso Grosso
do Sul

45% do total
Fonte: Martha Junior e Vilela, (250,5 mil ton)
2002; ABIEC, 2015; IBGE, 2015.

Apesar desses números, quase toda a produção no Cerrado provém de


sistemas extensivos com baixa produtividade animal e baixo retorno
econômico. Os índices desfavoráveis refletem o manejo inadequado do
sistema solo-planta-animal praticado em grande parte das fazendas, o
que as predispõe à degradação das pastagens.

A degradação é, sem dúvida, o maior obstáculo para o


estabelecimento de uma pecuária sustentável em termos
agronômicos, econômicos e ambientais no Cerrado (MARTHA
JUNIOR; VILELA, 2002).

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Além disso, a estratégia de ocupação do Cerrado pela atividade


pecuária foi muito diferente daquela utilizada pela agricultura industrial.
A evolução da pecuária pautou-se quase que exclusivamente na
intensificação do uso do solo, em vez de receber investimentos em
capital, caracterizando o processo extrativista que ainda é visto hoje
em dia.

Lá na Fazendo Rio Novo


Você sabia que, até os anos 70, as pastagens nativas
ou exóticas voluntárias, como os capins gordura, jara-
guá e colonião, eram as principais espécies utilizadas
como pastagem?

Por um bom tempo, o colonião era considerado o


melhor capim para a engorda de bovinos, por causa
principalmente de sua qualidade. Eu mesmo usei essa
espécie durante muitos anos para alimentar o gado lá
na fazenda Rio Novo.
Mas tinha um problema... Esse modelo exploratório
do capim não possibilitava a manutenção da
qualidade e persistência da própria espécie – ela
é muito exigente em fertilidade do solo e sensível
ao manejo inadequado do pastejo. Por isso, os
pesquisadores e produtores começaram a buscar
novas espécies para a utilização na pastagem
no Cerrado.
Foi só a partir de 1980 que a utilização de espécies
introduzidas, como as do gênero Brachiaria, apareceu
de forma mais significativa e com o objetivo de
substituir as pastagens nativas e naturalizadas.
E é claro que eu não fiquei de fora dessa! Ainda na
década de 1980 já passei a adotar a Brachiaria como
pastagem pro meu rebanho lá na Rio Novo.

A adição das espécies forrageiras selecionadas e adaptadas ao sistema


pecuário nacional permitiu aumentar em até quatro vezes a taxa de lotação
das áreas. Juntamente com programas governamentais de investimentos
na região, influenciou decisivamente os pecuaristas a converter suas áreas
tradicionais para pastagens cultivadas (MARTHA JUNIOR et al., 2007).

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Solo e clima
A maior parte das regiões do Cerrado em que há atividade pecuária
impõe sérios desafios à produção agropecuária, especialmente pelas suas
condições de solo e clima.

A maioria dos solos no Cerrado é


muito antiga e bastante modificada Processos químicos e físicos
pela ação de processos químicos Também chamados de
intemperismo. São exemplos: o sol,
e físicos e possui baixa fertilidade, a chuva, o vento, entre outros.
com sérias limitações à produção.
São solos ácidos, que apresentam
baixa disponibilidade de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio
(Ca), magnésio (Mg), zinco (Zn), boro (B) e cobre (Cu). Têm, ainda,
alta saturação por alumínio (m%) e alta capacidade de fixação de
fósforo.Além desses, outros fatores limitantes à produção merecem
ser mencionados:

a. existência de uma estação seca bem definida, com duração de 5 a 6


meses (abril a setembro);

b. ocorrência de períodos secos


períodos secos durante
durante a estação chuvosa, a estação chuvosa
geralmente associados a altas taxas Conhecidos como “veranicos”.
de evapotranspiração;

c. baixa capacidade de retenção de água;

d. limitado desenvolvimento do sistema radicular da maioria das


culturas, em função da toxicidade de Al e/ou deficiência de Ca nas
camadas subsuperficiais do solo (LOPES; GUILHERME, 1994).

21
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

De olho nos valores


Vale ressaltar também os problemas logísticos da
região. Desde o início da ocupação, esses problemas
vêm dificultando ou, em alguns casos, impossibilitando
a melhoria dos índices produtivos da atividade.
Devido a limitações na capacidade de carga de pontes
em estradas vicinais, a chegada de fertilizantes e
corretivos fica dificultada ou mesmo inviabilizada em
muitas propriedades.
Além disso, a má conservação das estradas de
rodagem agrava ainda mais este quadro e prejudica
a retirada dos animais na hora da comercialização,
aumentando o custo com o frete.
Por isso, é fundamental considerar todos esses
fatores nas planilhas de custo da produção e na hora
de precificar os produtos!

Perspectivas do setor
O principal fator que ainda motiva os produtores a investir em suas
pastagens no Cerrado é a perspectiva de crescimento do setor na região.
Considerando as car-
nes, o setor pecuário
Perspectiva de crescimento
deve crescer 22,5%
da produção de carne no Cerrado
até 2023, passando
de 8.930 milhões de
toneladas em 2013
para 10.935 em 2023.
De acordo com a ap-
tidão agrícola, esti-
ma-se que 60% dos
204,7 milhões de
hectares (ha) do Cer-
rado possuam esse
potencial.

22
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

No entanto, nesse percentual há presença de solos


empobrecidos e que não começam a produzir rapidamente,
demandando correção da acidez e também da fertilidade para
melhorar os índices produtivos. As áreas com os solos mais
férteis já foram usadas e estão cada vez mais caras.

Ao longo dos últimos 30


anos, a atividade agro-
pecuária no Cerrado tem
mostrado um desenvolvi-
mento excepcional.
Observe, no gráfico, a
atual ocupação das áreas
cultivadas nesse bioma.
Isso implica uma grande
importância do Cerrado
na produção de diversas
culturas no Brasil. Veja al-
gumas delas:

Soja Algodão
O Cerrado é responsável por Contribui com 76% da produção
mais de 55% da produção brasileira do algodão.
brasileira de soja, com
rendimentos mais elevados do
que a média nacional.

23
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Milho Arroz
31% do milho no Brasil é Responsável por 18% de todo o
produzido no Cerrado. arroz produzido nacionalmente.

Feijão
Contribui com 22% da produção
nacional do feijão.

Além disso, a gama de cultivos agrícolas se expandiu recentemente com


a chegada de culturas como sorgo, girassol, cevada, trigo e seringueira,
assim como frutas e vegetais para a indústria de processamento
de alimentos.

24
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Na pecuária, os números também


são bastante significativos. O
Cerrado contribui com 42% do
rebanho nacional de 176 milhões
de bovinos, sendo responsável
por 55% da produção de carne
brasileira (SCHEID et al., 2013).
Nota-se, portanto, que a atividade
pecuária tem muito para crescer
na região. Isso porque, mesmo
com os desafios impostos, há Fonte: CNA Brasil.
Foto: Wenderson Araujo.
tecnologia disponível para garantir
a intensificação da atividade sem comprometer os recursos naturais com a
abertura de novas áreas.
Para que tal avanço ocorra, no entanto, é necessário um investimento
equivalente ao que se espera produzir. Ao intervir nas pastagens com
o intuito de torná-las mais produtivas e evitar sua degradação, deve-
se, invariavelmente, investir em conservação, correção e adubação do
solo, além de também melhorar as práticas de manejo das pastagens.
Na próxima aula, você entenderá com mais detalhes a degradação
de pastagens.

25
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Aula 2:
Entendendo a
degradação de
pastagens
Durante a 15ª Conferência das Partes (COP-15), realizada em Copenhague
em 2009, o Brasil assumiu voluntariamente compromissos que preveem
a redução das emissões de gases de efeito estufa projetadas para 2020
entre 36,1% e 38,9%. Com isso, estima-se uma redução da ordem de 1
bilhão de toneladas de CO2.
Esses compromissos foram ratificados na Política Nacional sobre
Mudanças do Clima (Lei nº 12.187/09) e regulamentados pelo Decreto
nº 7.390/10. Para efeito desta regulamentação, no caso específico da
agricultura, foi estabelecido o “Plano Setorial para a Consolidação de
uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura”, que se
convencionou chamar de “Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão
de Carbono)”.
Uma das alternativas tecnológicas que compõem os compromissos
assumidos na COP-15 é a recuperação de pastagens degradadas.

Você pode consultar na íntegra as leis citadas acessando


os links:

• Política Nacional sobre Mudanças do Clima (Lei nº


12.187/09) – http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm

• Decreto nº 7.390/10 – http://www.planalto.gov.br/


ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7390.htm

• Decreto nº 9.578/10 (revogou o anterior) – http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/
l12187.htm

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Degradação de pastagens
A degradação das pastagens é definida por Macedo e Zimmer
(1993) como:

“o processo evolutivo da perda do vigor, de produtividade,


da capacidade de recuperação natural das pastagens para
sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos
animais, bem como o de superar os efeitos nocivos de pragas,
doenças e invasoras, culminando com a degradação avançada
dos recursos naturais em razão de manejos inadequados”.

A degradação pode se apresentar em diferentes graus, cada um


representando um estágio diferente. Esses graus se agravam com o passar
do tempo e com a manutenção das práticas inadequadas de manejo.
Confira o gráfico que mostra a relação entre Produção da Pastagem e
Tempo.

27
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Perceba que as considerações sobre o processo de degradação estão


apresentadas numa sequência lógica e simplificada. Mas, na realidade,
o processo não é tão simples assim e nem sempre ocorre nessa mesma
ordem – ele pode se apresentar em diferentes sequências e graus,
dependendo do ecossistema e do manejo utilizado.
O próprio limite entre a fase de manutenção e o início da degradação
ainda é objeto de pesquisa, pois, para cada sistema de produção, pode-
se ter uma situação diferente. As linhas pontilhadas do gráfico indicam
tendências de estágios da pastagem, que podem variar de acordo com
as condições de clima e solo de cada região. É razoável supor, portanto,
que esses limites estabelecidos por indicadores sejam diferentes e se
situem em faixas, e não em valores fixos e pontuais.

De olho nos valores


Nesse gráfico, quanto mais pra baixo na “escadinha”,
mais caro será o processo de recuperação da área
degradada, além de demandar mais tempo por parte
do produtor.
Por isso, não perca tempo e nem dinheiro! Inicie a
recuperação da pastagem o quanto antes!

Influência das estações do ano


A degradação das áreas de pastagem sofre influência também da
estacionalidade na produção das forrageiras tropicais. Esse conceito
diz respeito à alternância no desenvolvimento do capim entre períodos
de crescimento vigoroso e de paralisação ou diminuição no ritmo de
crescimento das plantas.
Ao longo do ano, as plantas de capim exibem diferentes
produtividades. Veja:

28
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Menor produtividade

As menores produtividades
ocorrem na seca, que
corresponde ao inverno no
Cerrado.

Maior produtividade

As altas produtividades ocorrem


no período das águas, que
coincide com o verão no Cerrado
(verão agrostológico).

Mão na terra
Você viu que a produtividade do capim varia ao longo
do ano, apresentando maior produtividade no verão e
menor no inverno.
Mas é importante lembrar que a demanda por
forragem pelo animal é constante, ou seja, ela não
muda nos doze meses do ano. Isso obriga a gente,
produtores rurais, a lançar mão de estratégias para
manter a oferta de alimento suficiente para os animais
durante todo o ano.

Essas observações sobre a estacionalidade são importantes, pois estão


ligadas à degradação das pastagens. O principal impacto negativo é o
superpastejo, que ocorre principalmente no inverno, quando a oferta de
forragem diminui muito e o produtor não tem outra fonte de alimento para
seus animais. No verão, é comum que haja excedente de pasto, mas isso

29
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

não resulta em impacto negativo na área, significa apenas um recurso


alimentar não utilizado.

Portanto, é preciso que haja um bom manejo da pastagem, bem


como fontes alternativas de alimento para os animais na seca ou
no inverno, evitando assim a degradação por excesso de pastejo.

Estágios da degradação
Quando falamos dos estágios da degradação, cujo processo
demonstramos graficamente no item anterior, é preciso observar
que cada uma das fases tem um grau de degradação que,
consequentemente, representa um índice de Queda na Capacidade de
Suporte (QCS).

A capacidade de suporte representa quantos animais a área


poderá suportar em uma pressão de pastejo ótima durante um
determinado tempo, obtendo-se o máximo ganho por área sem
degradar a pastagem.

Acompanhe, na tabela a seguir, o índice de QCS para cada estágio de


degradação.

30
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Tabela 1 – Estágio de degradação (ED) das pastagens, parâmetro


limitante e a respectiva queda na capacidade de suporte (QCS)

Estágio de
Parâmetro limitante QCS (%) Nível
degradação

1 Vigor e solo pouco descoberto Até 20 Leve

ED 1 agravado + presença de
2 21 - 50 Moderado
plantas daninhas
ED 2 agravado ou morte de
3 plantas forrageiras (degradação 51 - 80 Forte
agrícola)

Solo descoberto + erosão


4 > 80 Muito forte
(degradação biológica)

QCS: Queda na Capacidade de Suporte.


Fonte: Adaptado de Dias Filho (2011).

Vamos ver com mais detalhes cada um desses estágios.

Estágio de degradação 1
É a fase de manutenção, em que as
quedas no vigor e na produtividade
são mais acentuadas, provocadas
pelo:

• excesso de lotação
(superpastejo);

• redução nos níveis


e não reposição de
macronutrientes; e manejo
inadequado da pastagem.
Pasto com queda de produtividade e
Macronutrientes vigor, provocada por baixos índices
Nutrientes essenciais e exigidos em de macronutrientes. Foto: Alex Marcel
grandes quantidades pelas plantas. Melotto

31
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Neste estágio, não há presença de espécies invasoras, pragas ou morte de


plantas forrageiras. A característica-diagnóstico é o aspecto visual sempre
com pasto baixo e demora na rebrota. A QCS estimada para essas áreas
é de 20%.
Representa o estágio inicial da degradação, em que a recuperação dos bons
níveis de produção é mais fácil e com menores investimentos. O principal
ponto a se considerar é que o restabelecimento da boa produtividade
pode ser feito sem revolvimento do solo, o que torna o processo menos
oneroso do que se a degradação avançar.

Mão na terra
Neste estágio, a melhor forma de retornar os bons
índices produtivos na área é por meio da reposição
de nutrientes com adubação de cobertura, além do
ajuste da taxa de lotação e carga animal na área.
Fazendo a análise de solo, é possível identificar os
níveis dos nutrientes minerais, o que possibilita
determinar o estágio no qual o pasto se encontra e
indicar as medidas corretivas.

Estágio de degradação 2
Caso não seja feita nenhuma
intervenção, ou haja erros no
manejo dos animais durante
a fase de manutenção, a
degradação se inicia de fato
na área.
Há perda de produtividade e
de qualidade, além de grande
presença de plantas invasoras
– notadamente as brotações de
espécies nativas do Cerrado e da Área de pastagem em degradação com
grama-mato-grosso ou “gramão”. perda acentuada de produtividade e
qualidade, especialmente pela presença
de brotações de Cerrado e gramão e áreas
com solo descoberto.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Estágio de degradação 3
Neste estágio, o déficit nutricional
é grande, o que resulta em grande Pragas
mortalidade de plantas forrageiras Cigarrinha, percevejo-
castanho e cupins.
e as que sobram estão malnutridas e,
consequentemente, frágeis, tornando-
se muito suscetíveis às pragas e
Doenças
às doenças.
Especialmente a mancha foliar
por Phytum, foma, cersospora
Nota-se, ainda, a presença de erosões (Cercospora fusimaculans)
e carvão (Tilletia ayersii).
laminares, percebidas principalmente
pelo início da exposição das raízes das
forrageiras.

33
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Estágio de degradação 4
Dentro do estágio de degradação 4, podemos observar diferentes fases.
Veja:

Nesta fase, notam-se os


primeiros sinais de erosão do
solo, principalmente pela falta
de plantas da espécie forrageira,
expondo o solo e permitindo o
início dos processos erosivos. A
QCS pode atingir 50% a 80%.

Acentuação da degradação de A recuperação da pastagem


pastagem pela exposição do solo nesta fase exige mecanização
e início dos processos erosivos. total da área, com construção
de terraços (de acordo com a
declividade), preparo do solo
com grade pesada, correção
da acidez e nutrientes do solo
e reposição da forrageira por
meio de uma nova semeadura.

34
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Caso nenhuma das ações seja


realizada, a área entra na mais
grave fase da degradação:
com compactação, surgimento
de áreas de solo descoberto
e grandes erosões, podendo
ser agravadas pelo fato
de as pastagens estarem,
frequentemente, em áreas de
Grandes erosões formadas em
áreas de pastagem mal manejadas
solos mais arenosos.
e não recuperadas.
Nesses casos, a QCS é acima
de 80%.

A situação mostrada na foto re-


presenta sérias condições de
degradação do solo e do meio
ambiente como um todo, além
de depreciação da propriedade
rural. Tal processo resulta em
carreamento do solo, assorea-
mento dos rios, soterramento de
Rio completamente assoreado nascentes e outros.
por solo vindo de áreas de
pastagem degradada. Neste ponto, a recuperação é
muito onerosa e, em alguns lo-
cais, torna-se inclusive inviável.
Além disso, essas grandes ero-
APPs
Áreas de Preservação
sões normalmente necessitam
Permanente. ser transformadas em APPs.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Confira as alterações que ocorrem no perfil do pasto com o avanço nos


estágios de degradação na sequência de imagens.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Ficou claro o fenômeno da degradação de pastagens? Na próxima aula,


veremos quais são suas principais causas. Siga em frente!

37
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Aula 3 :
Causas da
degradação de
pastagens
Com a conversão das pastagens na-
tivas em áreas cultivadas, ocupadas Gramíneas
por gramíneas, aumentou-se tam- Principalmente as braquiárias.
bém a exigência do sistema solo-
-planta-animal. Falhas na implanta-
ção, manejo e condução dessas áreas têm provocado a degradação das
mesmas.

Lá na Fazenda Rio Novo


Lá na fazenda Rio Novo, eu nunca dei muita impor-
tância ao manejo correto das pastagens. E não deu
outra! Depois de alguns anos de criação de gado,
pude notar a degradação das áreas de pastagem...

Perguntei ao Marcos, técnico do SENAR que presta


assistência nas propriedades daqui da região, o que
causa a degradação de pastagens. Ele enviou uma
explicação bem completa! Confira aí.

Dica do Técnico

Oi, seu Antônio! Tudo bem com o senhor?


Eu posso listar as causas mais comuns da degradação
de pastagens. Vamos lá:

• Falta de práticas conservacionistas do solo.

38
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

• Preparo de solo e técnicas de semeadura errados.

• Uso de sementes de má qualidade e de


origem desconhecida.

• Espécie ou cultivar inadequada, não adaptada ao


clima, solo e objetivo da produção.

• Falta de correção e adubação na formação da


pastagem, ou então a falta de reposição de
nutrientes pela adubação de manutenção.

• Excesso de lotação e manejo inadequado


das pastagens.

Quanta coisa pode causar a degradação da pastagem,


hein? Mas eu posso te garantir que as principais são: a
alta lotação e a falta de reposição nutricional.
Perceba que as duas são práticas de manejo, o que quer dizer
que dependem quase exclusivamente do produtor rural.
É por isso que as falhas no manejo são as principais
responsáveis pelos processos danosos que ocorrem nas
pastagens! Tudo é uma questão da tomada de decisão
correta pelo produtor rural!

Taxas de lotação
No que se refere às taxas de lota-
ção, o menor descuido ou exage-
ro na carga animal acelera muito
a taxa de degradação anual da
pastagem, provocando redução
substancial na capacidade de re-
brota das plantas e, consequente-
mente, queda nas taxas de lotação
já a partir do segundo ano após
a formação. Área de pastagem com excesso de
lotação e sem reposição nutricional.

39
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Além disso, a degradação pode se iniciar no pastejo de formação, caso


este seja feito de forma errada, com carga animal exagerada, animais
muito pesados ou por longos períodos de tempo.

Métodos de formação de pastagem


Na década de 1970, quando se
iniciou a colonização do Cer-
rado, os métodos de forma-
ção de pastagem muitas vezes
não levavam em conta princí-
pios de conservação de solos e
água, correção e manutenção
da fertilidade.
Também a semeadura das pasta- Método tradicional de cobertura
gens era realizada de forma ina- de sementes, conhecido como
dequada, com taxas e profundida- “rasta gaia”.
de que não respeitavam critérios
técnicos. Na época, eram comuns (e até hoje algumas ainda são) práticas
como aração, semeadura de baixas quantidades de sementes, geralmente
de má qualidade, e cobertura com o arrasto de uma árvore.

Mão na terra
Atualmente, esses métodos devem ser substituídos por
práticas agronomicamente corretas e ambientalmente
sustentáveis, como o cultivo mínimo, a construção
de terraços, a correção do solo e o plantio das
forrageiras.
Hoje a gente já sabe, por exemplo, que a profundidade
de semeadura indicada é de 3 a 6 cm para as
braquiárias e de 2 a 5 cm para os capins do gênero
Panicum. Isso é facilmente conseguido com o uso de
uma plantadeira para sementes finas ou cobertura
com grade niveladora fechada.

40
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

No estabelecimento inicial da pastagem, os erros no preparo e correção


do solo também são frequentes, provocados especialmente pelo uso
das famosas “receitas de bolo” para a recomendação de calcário, gesso
e fertilizantes.
A maioria das ações é executada sem levar em conta as práticas corretas
de conservação e preparo do solo, muito menos a análise de solo da
área. Além disso, a maior parte das áreas não recebe a devida reposição
nutricional, o que, além de reduzir a capacidade produtiva da área, inicia
o processo de degradação da mesma.
Veja abaixo uma comparação entre áreas de pastagens vizinhas, sendo
uma com adubação de manutenção (A) e outra sem (B). A presença de
invasoras e espaços sem forrageira na área representada pela figura B
demonstra o início do processo degradativo.

A
Com adubação

B
Sem adubação

Para contornar os impactos negativos desse processo de degradação, é


necessário realizar intervenções nas pastagens. Na próxima aula, veremos
os principais benefícios dessas intervenções. Até lá!

41
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Aula 4:
Benefícios da
intervenção nas
pastagens
Na visão do produtor rural, o maior benefício da reforma de pastagens
é a elevação das taxas de lotação, além do desempenho animal. No
entanto, muitas outras vantagens podem ser alcançadas ao se reformar
ou recuperar uma área de pastagem. É isso que veremos nesta aula.

Lá na Fazenda Rio Novo


Pra me convencer a começar a recuperar as
pastagens da fazenda Rio Novo, o Marcos, do
SENAR, me enviou uma explicação com uma série de
benefícios dessa ação.

Dica do Técnico

Olha só, os benefícios de recuperar a pastagem


degradada vão muito além do aumento das taxas de
lotação e do desempenho animal.
Com a intervenção na pastagem, você pode:

• reduzir ou até mesmo acabar com os processos


erosivos na área;

• recuperar o solo no local;

• melhorar a capacidade de recarga dos cursos


d’água;

• reduzir a emissão de gases de efeito estufa;

42
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

• retomar a capacidade produtiva;

• economizar fertilizantes nas adubações de


manutenção;

• melhorar os índices zootécnicos, como o ganho


em peso, a taxa de natalidade e de prenhez e a
produção de leite;

• retomar a sustentabilidade econômica da


propriedade;

• deixar de abrir novas áreas para expandir a


atividade pecuária; e

• valorizar financeiramente sua propriedade e toda


a região.

Então, quando podemos começar?

Lá na Fazenda Rio Novo


Olha eu aqui! Falou em práticas sustentáveis na
Rio Novo, eu tô lá pra conferir! Deixe-me trazer
algumas informações ambientais pra convencer
você e meu avô Antônio a adotarem essa prática.

Do ponto de vista ambiental, a recuperação de


pastagens é muito interessante. Entre outras razões,
ela evita o desmatamento de novas áreas para a
formação de novas pastagens.

Olha que dado interessante... Se, em cada hectare de


pastagem degradada, se adotasse apenas práticas de
adubação de manutenção, seria possível aumentar
significativamente a média de lotação animal nas
propriedades rurais, tornando possível até dobrar o
rebanho nacional sem a derrubada de uma única árvore!

43
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Efeito poupa-terra
De acordo com o estudo feito na região
Estudo feito na região
do Cerrado, a intervenção nas pastagens do Cerrado
por meio da recuperação direta ou indireta Realizado por Martha
com um sistema de produção integrado Junior e Vilela (2009).

provocaria um efeito chamado “poupa-


terra”. Veja:

Segundo os autores, com o


sistema integração lavoura-
pecuária (ILP), 10% da área
de pastagem da região seria
recuperada, com 50% de
pastagem e 50% de lavoura
no verão.
Isso geraria um efeito de 3,55
hectares poupados para cada
hectare reformado.

Fonte: CNA Brasil.


Foto: Bento Viana. Senar.

Assim, em vez de ter 2,2


milhões de cabeças de gado
nesta área (10%), seria possível
ter 7,4 milhões na metade dela
(que estaria com pastagem).
A outra metade da área ainda
poderia receber cultivos
agrícolas.

Fonte: CNA Brasil.


Foto: Bento Viana. Senar.

44
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Lá na Fazenda Rio Novo


Quer saber mais sobre este assunto? É só se inscrever
no curso integração Lavoura-Pecuária-Floresta des-
te mesmo programa!

Lá vou mostrar como estamos fazendo essa integra-


ção na fazenda Rio Novo do meu sogro, o Sr. Antônio.

Princípios básicos para a intervenção


Na intervenção em pastagens, devem ser adotados princípios básicos im-
prescindíveis, como:

• ações de controle de erosões;

• manejo adequado das taxas de lotação e manejo do pastejo;

• conservação do solo;

• recomposição da fertilidade do solo;

• cobertura do solo;

• preservação da matéria orgânica do sistema; e

• retenção de água.

Esses fatores vão ao encontro da preservação do ambiente, ou seja, a


recuperação da infraestrutura ambiental mínima para que funções eco-
lógicas, especialmente do solo, possam ser reativadas. Isso é imprescin-
dível para que qualquer atividade agropecuária seja sustentável (OLI-
VEIRA, 2005).

45
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

O Brasil localiza-se em grande


parte na região tropical do planeta,
onde ocorrem precipitações inten-
sas e as temperaturas são, geral-
mente, elevadas. Essas condições
são favoráveis à ocorrência de
erosão hídrica.

A erosão causa grandes pre-


juízos não só ao setor agríco- Área de pastagem com excesso de
lotação e sem reposição nutricional.
la, como também a diversas
outras atividades econômicas e ao próprio meio ambiente.

Em áreas de pastagens com lotação excessiva, pouca massa de forragem


e solo descoberto, a forrageira perde uma de suas principais funções no
que diz respeito à conservação do solo, que é a de minimizar o impacto
da gota de chuva diretamente no solo, evitando a desagregação das par-
tículas. Isso faz com que esta seja a primeira, e talvez a mais importante,
etapa para instalação do processo erosivo no solo em áreas de pastagens
tropicais. Daí a grande importância da intervenção nessas pastagens.

No próximo módulo, veremos quais são as formas de intervenção


nas pastagens.

46
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Atividade de
aprendizagem
Chegou o momento de verificar sua compreensão dos conceitos apre-
sentados até aqui. Todas as atividades do curso serão baseadas
na história que apresentaremos a seguir. Por isso, leia com atenção:

A história do Seu Mario


Seu Mario é proprietário da fazenda “Chão Batido”, em Lucas do Rio Ver-
de, no Mato Grosso. Ele herdou essa fazenda de seu pai, assim como o
amor ao cerrado e à pecuária. Não obstante, seu Mario precisou aprender
a lidar desde cedo com as exigências e necessidades da região: o latos-
solo de baixa fertilidade natural e a alta lixiviação. O clima tropical sazonal
caracteriza-se pela chuva concentrada na primavera e no verão, e a seca
no inverno.
Seu Paulo, pai de Mario, criava gado nelore em sistema extensivo, deixava
os animais soltos, sem controle do manejo da pastagem e também não
suplementava os animais.
Na época que seu Mario assumiu a fazenda, percebeu que precisaria se
atualizar e modificar a forma como seu pai vinha conduzindo as atividades
para melhorar o rendimento do negócio, bem como para a sustentabilida-
de dos recursos ambientais que ele usufruía.
Então, seu Mario decidiu procurar a ajuda do Senar, começou a frequentar
palestras sobre técnicas conservacionistas do solo, foi a dias de campo e
também recebeu a visita da assistência técnica.

As atividades aqui na apostila servem apenas para você


ler e respondê-las com mais tranquilidade.
Entretanto, você deverá acessar o AVA e responder lá
as questões. Você terá duas tentativas para responder
cada questão e só desbloqueará o próximo módulo
depois que:

1 - acertar as questões; ou
2- usar todas as suas tentativas.

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Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Questão 1
Seu Mario acompanhou de perto o crescimento da atividade pecuária na
região do cerrado nas últimas décadas, seu pai era produtor de gado de
corte e, em muitos anos de atividade, nunca aplicou sequer um grama
de adubo no solo, nem realizou manejos adequados para conter a erosão
do solo. Seu Mario herdou a propriedade e agora quer dar sequência à
atividade, de forma que seja produtiva e sustentável.

Analise as sentenças abaixo e selecione as que representam


corretamente características de uma área de pastagem degradada.

1. Solo com índices de P, K e Fe satisfatórios.


2. Alta incidência de plantas daninhas.
3. Baixa incidência de pragas.
4. Alta incidência de doenças.
5. Solo compactado.
6. Forragem de alto vigor.

Assinale a alternativa que contém as sentenças corretas:

a) 1, 2, 3, 4, 5, e 6.
b) 1, 2 e 3 apenas.
c) 4, 5, e 6 apenas.
d) 2, 4 e 5 apenas.

48
Módulo 1 – A Degradação de Pastagens no Cerrado

Questão 2
Com a ajuda do Técnico do Senar, seu Mario entendeu que o manejo
inadequado e a ausência de práticas conservacionistas do solo podem
prejudicar muito o meio ambiente e a sustentabilidade da atividade
agropecuária, mas ele quer ir além!

Agora, ajude-o a entender quais são os benefícios da intervenção da


pastagem degradada. Analise as sentenças a seguir:

1. Melhorar a capacidade de recarga dos cursos d’água.


2. Reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
3. Retomar a capacidade produtiva.
4. Melhorar os índices zootécnicos, como o ganho em peso.
5. Retomar a sustentabilidade econômica da propriedade.
6. Desmatar novas áreas para expandir a atividade pecuária.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente os benefícios:

a) Apenas 1, 2, 3 e 4.
b) Apenas 1, 2, 3, 4, 5.
c) 1, 2, 3, 4, 5, 6.
d) Apenas 3, 4, 5 e 6.

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