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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecusria Embrapa Hortalicas Embrapa Estudos e Capacitacao Ministério da Agricultura, Pecudria e Abastecimento Agéncia Brasileira de Cooperacao Japan International Cooperation Agency Colecao - Third Country Training Program - TCTP Hortallicas Sistema de Produgao Sustentavel de Hortalicas Moédulo | Juscimar da Silva Margarida Gorga Editores Técnicos Embrapa Brasilia, DF 2014 Esta pubicacdo destina-se exclusvamente ao desenvolvimento de Programa Third County Training Program (TCTP). Venda Proibida, ‘Agiincia de Cooperacio Internacional do Japio (ICA) ‘Agencia Brasileira de Cooperacéo (ABC/MRE) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuéria (Embrapa) Unidade Responsavel pela Edicao: Unidade Responsivel pelo Conteido: -Embrapa Hortaligas Embrapa Estudos e Capacitacio FdoviaBrasia/Anapois BR 060 - km 08 - DE Prague Esta Biologia -PaEB sn ana Postal 218 CEP 70389-970 Basia, DF - Brasil - CEP 70770901 Fone: (61) 3385-9000 Fax (61) 35565744 Fone: (61) 3448-1599 Fax: (61) 2448-4890 ‘sn caph embrapa br -telp@nph embrapa br vamcecatembrapa br -capactacao cecat@embrapa.br Comité de Publicagées da Embrapa Hortaligas Presidente: Watley Marcos Nascimento CChete Adjunto de Capacitacéa: Paulo Mela Editor Tecnico: Ricardo Borges Pereira Coordenador da Projeto: Margarida Gorga Supenisor Edltoria: George James ‘Apolo nedagéaico: Maria Quitéria Marcelino Biblotecaria: Antonia Veras de Souza ‘Membros: Fabio Akiyoshi Suinaga, Carlos Eduardo Pacheco Lima, Italo Moraes Rocha Guedes, Jadir Borges Pinheiro, Mariane Carvano Vida. CConsultaria em EAD: Mentor Interativa Design Edueacianal: Ximenes Prado Projeto Gratico € Editoracio Eletronica:Eaitora Nova Espiral Capa: Editora Nova Espira Fotos: Acerve Embrapa Hortalcas. Vedicao ‘¥*impressio 2014): 150p. : iL; ~20,5 x 27,5 am. ~ (Third Country Training Program ~ TCTP Hortalicas). ‘Todos os direitos reservados. A reprodugdo nao autorizada desta publicacdo, no todo ou em parte, constitl violagdo dos dieitos autoais (Lei n® 9.160) Dados Internacionais de Catalogacéo na Publicacéo (CIP) Emirapa Hortalicas Curso Internacional sobre Producdo Sustentvel de Hortalias: médulo | Sistema de Producdo Sustentavel de Hortai= (25 / SIVA, Juscimar da, GORGA, Margarida (Ed. Técnicos). ~ Brasilia, DF. Embrapa, 2014. 150p. il; 20,5 x27,5 em. ~ (Third County Training Program ~ TCTP Hortalias) 'sBN: 1, Sistema de Produco, 2, Agricutura, 3, Horticulture. 4, Sustentabilidade Sv, Juscimar da. I Gorga, Margarida (4. Tecnico) Il, Colegto cop 631.584 ©Embrapa 2014 Autores ‘Alexandre Pinho de Moura Engenheiro Agrénomo, Doutor em Entomologia, ppesquisadar A da Embrapa Hortalcas, Bra Slexandre moura@embrapa,br Daniel Basilio Zandonadi Engenheiro Agrénomo, Doutor em Biociéncas ¢ Biotecnologia, Analista A da Embrapa Hortalicas, Bras, OF daniel tandonadi@embrapa.br {talo Moraes Rocha Guedes Engenheiro Agrénomo, Doutor em Solos e Nutrigto de Plantas, Pesquisador A da Embrapa Hortalcas, Bras, OF italo.guedessembrapa br Rodrigues Maldonade Engenheira de Alimentos, Doutora em Ciencia «Tecnologia dos Alimentos, Pesqusadora A da Embrapa Hortalicas, Brasilia, DF irianimaldonade® cembrapabr Jadir Borges Pinheiro Engenheiro Agrénomo, Doutor em Fitopatologia, Pesquisador A da Embrepa Hortalias, Brasilia, DF. jadicpinheliro@embrapaior Juscimar da Silva Engenheiro Agrénomo, Doutor em Solos e Nutrigto de Plantas, Pesquisador A da Embrapa Hortalcas, Brasilia, BF juscimarsivagiembrapa.br Lucimeire Pilon Engenheira Agronoma, Doutora em Ciencia e Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora A da Embrapa Hortalicas, Sraslia, DF lucimeie.pilon® ‘embrapa.br Marcal Henrique Amici Jorge Engenheiro Agrénomo, Ph.D. em Fitotecn Pesquisador A da Embrapa Hortalias, Brasilia, OF marcaljorge@embrepa.or Marcelo Mikio Hanashiro Engenheiro Agrénomo, Mestrado em Desenvolvimento Econémico, Analista Ada Embrapa Hortaligas, asia, DE marcela hanashiro@embrapa, br Marcos Brando Braga Engenheiro Agrénamo, Doutor em lrigacao, Pesquisador A da Embrapa Hortalias, Brasilia, OF. marcos bragatembrapa br Margarida Gorga Jornalst, expecialista em Inovagio em Tecnologias Educacionais,Analsta 8 da Embrapa Estudos © CCapacitacio, rasa, D. ‘Guida gorga@embrapa.br Mariane Carvalho Vidal Bidioga, PhD. em Agroecologia, Pesquisadora A ‘da Embrapa Hortalicas, Brasilia, OF, mariane.vidal@ fembrapa.br Nuno Rodrigo Madeit Engenheiro Agrénomo, Doutor em Fitotecria, Pesquisador A da Embrapa Hortalias, Brasilia, DE rnune:madeira@embrapa br Ricardo Borges Pereira Engenheiro Agrénomo, Doutor em Fitopatologia, Pesquisador A da Embrapa Hortalias, Brasilia, DE. ricardo-borges.pereira@embrapabr Rita de Fatima Alves Luengo Engenheira Agrénoma, Doutora em Fitotecnia, Pesquisadora A da Embrapa Hortalics, Brasilia, DF. rita.luengo@embrapa.br ‘Waldir Aparecido Marouelli Engenheiro Agricola Ph.D. em Engenharia Agricola ‘ede Biosistemas, Pesquisador A da Embrapa Hortalicas, Brasilia, DF waldirmaroueli@embrapa br Warley Marcos Nascimento Engenheiro Agrénomo, Ph.D. em Fisiologia de ‘Sementes,Pesauisador A da Embrapa Hortalicas, Bras, DF. wearleynascimento@embrapa br Apresentacao Esta obra fornece conhecimentos basicos de diferentes dreas da agronomia que compéem um sistema de produgéo de hortalicas. Cada capitulo retrata a percepcao de cada especialista de ‘como se produzir hortalicas de forma sustentavel - termo utilizado num sentido mais amplo, com énfase na manutencéo da saudabilidade de todo o ecossistema. O uso de insumos agropecusrios, necessérios para producao de hortaligas, 6 abordado e incentivado, desde que precedido de reco- mendacées técnicas. primeiro capitulo enfoca a preocupacéo com o individuo solo, tema central quando se refere ao sistema de cultivo conservacionista. A protecao do solo com vistas a melhorar as caracteristicas fisicas ¢ 0 incremento da matéria organica é discutida com énfase na manutencéo da cobertura do solo e da adocao da pratica de rotacao de culturas, abrindo mao de técnicas convencionais de aracao e gradagem. O sistema de producgo organica de hortalicas, tema do segundo capitulo, é uma alternativa interessante para regies com baixa disponibilidade de insumos e deve ser encorajada porque se trata de uma alternativa de cultivo factivel de ser reproduzida localmente. A construcao da fertili- dade do solo e a diversificacdo de culturas sao pontos centrais da discussao. Dentre os conceitos agroecolégicos, séo apontados exemplos de adubos verdes, biofertilizantes e manejo do solo. Conhecer 0 individuo solo e 0 seu estado nutricional so as premissas do terceiro capitulo, que aborda o tema adubacdo de hortalicas. Solos férteis nao so necessariamente solos produtivos. A interacdo entre nutrientes, influenciada pelas variveis fisicas e quimicas do solo, pode afetar a dis- ponibilidade deles para as plantas. Alem disso, as espécies horticolas, diferentes de outras plantas, cultivadas, so muito exigentes em nutrientes. Portanto, a anélise quimica do solo é tratada como ferramenta-chave para iniciar um programa de manejo da fertilidade do solo. © quarto capitulo discorre sobre 0 uso e o manejo da Agua. A pressdo sobre o uso da agua, re- curso limitante ao desenvolvimento vegetal, tornou proibitiva a irrigagéo de hortalicas fundamen- tada em conhecimentos empiticos. Em regides onde o regime pluviométrico ¢ limitado ou irregular, (© manejo eficiente da irrigacao é fundamental e seré conseguido por meio do bom dimensiona- mento do sistema. Informagées basicas sobre sistemas de irrigacéo e recomendagGes técnicas para © bom manejo da agua de irrigaco sao discutidas com detalhe, A producio de sementes e mudas, tema do quinto capitulo, introduz a preacupacéo com a qualidade da semente a ser utilizada na produgao de hortalicas. Com as condicoes ambientais ade- quadas ¢ 0 uso de sementes selecionadas, o produtor paderd obter 0 maximo de germinacdo em ouco tempo, levando ao aumento do potencial produtivo da sua lavoura, O cuidado na selecao e na producao de boas sementes seré tratado detalhadamente no referido capitulo, ‘As maiores ameacas & producao de hortalica so as pragas e as doencas. A identificagdo, 0 reco- nhecimento do nivel de dano e a tomada de decisao de quando intervir séo muito bem abordados nos capitulos seis e sete, de manejo integrado de pragas e manejo integrado de doencas. Alterna- tivas de controle biol6gico so apontadas e seu uso ¢ recomendado ¢ incentivado. Por fim, no capitulo de pés-calheita so indicados os cuidados que devem ser tomados nos estagios intermedidrios @ chegada da hortalica até a mesa do consumidor. Minimizar a perda pés-colheita € um grande desafio para os profissionais da ciéncia e tecnologia de alimentos, ¢ isso ocorre porque, diferente da maioria das culturas, as hortalicas, depois de colhidas, ainda se mantém “vivas”. Com esse conjunto de conhecimentos, adquiridos pelos cientistas da Embrapa, em parceria com diferentes instituicdes brasileiras ¢ internacionais de ensino e pesquisa, na constante experi- mentacdo cientifica, fruto do exercicio cotidiano da cigncia nos campos e laboratérios, buscou-se oferecer aos participantes do TCTP Hortalicas a oportunidade de se aproximar de duas vertentes: 0 conhecimento cientifico e a pratica exercida nos seus campos de atuacéo. Prefacio Mais um desafio cumprido! © Médulo | Sistemas de Producao de Hortalicas, agora reformulado, 6 fruto de intensa observacdo sobre 0 curso Producdo Sustentavel de Hortalicas, que vem se reali zando desde 2011 no formato hibrido ~ um médulo realizado a distancia e um realizado presencial- mente no Brasil. Da mesma forma que as Tecnologias de Informacao e Comunicacéo evoluem a largos e velazes ppassos, o setor educacional tem sido profundamente impactado por essas transformacées ¢ pelo uso das novas tecnologias em sala de aula e fora dela. Ainda mais quando se trata de educacéo conti- rnuada, cujo pilblico-alvo sao adultos que trabalham e buscam, senao, aperfeicoamento profissional ‘A.Embrapa, em parceria com a ABC (Agencia Brasileira de Cooperacio) e a JICA (Japan Intemnatio- nal Cooperation Agency), assumiu o desafio de rever metodologias, recursos, processos e tecnologias com 0 objetivo de atualizar, nao s6 os contetidos, como também as estratégias de ensino-aprendiza- gem desse Curso. Assim apresentamos a uma nova edicéo do Médula |, com 0 enfoque mais amplo que 08 anteriores, Sistema de Producao Sustentavel de Hortalicas. (Os anos anteriores ¢ as experiéncias em sala de aula mostraram que o modelo de capacitacéo implan- tado precisaria ser revisto, visando melhorar a intera¢ao dos participantes com os conteiidos propostos, levando-os a pratica de producéo agricola, avancando além da parte tedrica, dada em sala de aula, Levou-nos a desafiar também a equipe de pesquisadores da Embrapa Hortalicas para uma nova dindmica de ensino-aprendizagem, desfazendo-se dos modelos tradicionais de ensino baseados na apresentacao linear e de mao dinica com apoio do Power Point e uma palestra ativa-passiva, ern que 65 participantes faziam pouca ou nenhuma interpelacéo. Os pesquisadores aceitaram o desafio, debrucaram-se sobre os contetidos e construiram um con- junto de ensinamentos considerados o estado da arte da producao de Hortalicas hoje no Brasil, fruto das suas pesquisas, as quais se dedicam diariamente, O presente livro-texto nao abarca toda essa ex- periéncia, mas sera o ponto de partida de uma nova abordagemn que envolve também modificagoes ne Médula tt, a ser ministrado no Brasil ‘A segunda parte dessa capacitacao também sera reformulada, apresentando um programa mais prati- co, com experiéncias reais em campo, visando completar os ensinamentos teéricos iniciados no Médulo | Nesta breve apresentacdo, queremos externar os devidos agradecimentos aos parceiros JICA e ABC e aos pesquisadores da Embrapa Hortalicas, que, ombro a ombro, dedicaram-se com anima e paixdo a esse projeto. Foram meses de articulac6es, escolhas e trabalho intenso para, enfim, apresentar o Médulo | ~ Sistema de Producdo Sustentavel de Hortaligas. © esforgo nao se encerra aqui, ainda viréo novos desafios a serem superados quando caminhamos rompendo as barreiras do desconhecido e da exce- lencia, a5 quais queremos atingir Juscimar da Sila e Margarida Gorga Indice Capitulo 1 - Sistemas de plantio direto (SPD) 1.1 Preocupacdo com o solo... soon sess seonmnennnnees 1B 1.2 Plantio direto na palha B 1.3 Consideracdes finais 18 Capitulo 2 - Sistemas de cultivo organico 2.1 Agricultura sustentavel .... TES sarees 20 2.2 Sistema de producdo Organica ...mmsnsnsnmnnnnniennen eaarwanaanenunsmaes 20 2.3 Producao organica de hortalicas 25 2.3.1 Ages para a producao organica de hortalicas 25 2.3.2 Manejo de solo em agricultura organica 35 2.3.3 Adubos e adubacao na producao organica de hortalicas .. 44 2.3.4 Certificagao da producao organica .. 50 2.3.5 Integracéo com a producao animal .. 54 2.4 Consideracoes Finais ... Capitulo 3 - Adubacdo de hortalicas 3.1Solo soe 3.2 Manejo da fertilidade .. 3.3 Avaliacao da fertilidade .. 3.4 Consideragées finais. Capitulo 4 - Irrigacao 4.1 Importancia e eficiéncia dos sistemas de irrigacao 4.2 Métodos e sistemas de irrigacao 4.2.1 Método de irrigacao superficial 4.2.2 Método de irrigacao subsuperficial 4.2.3 Método de irrigacao por aspersao 4.2.4 Método de irrigacao localizada ... 4.2.5 Selecdo de sistema de irrigacdo, 4.2.6 Cuidados e Manutencao de Sistemas de Irrigacdo 97 4.3 Manejo da agua de irrigacao 98 4.3.1 Necessidade de Agua das hortaligas 99 4.3.2 Armazenamento de agua no solo 101 4.3.3 Métodos de manejo da agua de irrigacao .. ne 102 4.3.4 Tempo de ittigacéo «ners DIREERES sees 106 4.3.5 Melhor horario para irrigar .. TEST carcass 108 4.3.6 Estratégias para economizar 4Qua ...smmnnns eaarwanaacenunnnsman 109 110 4.4 Consideracdes finais.... Capitulo 5 - Sementes e mudas 5.1 Sementes e mudas de qualidade .. 2 5.2 Producéo de sementes 112 5.2.1 Qualidade das sementes 113 5.2.2 Analise de sementes de hortalicas. 116 5.2.3 Tratamento de sementes...... ee 5.3 Produgdo de mudas.... sorter qemrassomnce 124 5.3.1 Qualidade na producao de mudas ..... 124 5.4 Consideracées finais.. 135 Capitulo 6 - Manejo Integrado de Pragas 6.1 Sustentabilidade, meio ambiente e bem estar... sicmmanaras 132 6.2 Reconhecimento de pragas € suas injitias ....nncrnnnnnnnnninnnnnsnnnnninnesnn 138 156 157 6.3 Reconhecimento dos inimigos naturais.... 6.4 Vistoria periédica do cultivo - monitoramento 6.5 Momento de controlar a praga (tomada de decisao). 159 6.6 Selecao e uso planejado dos métodos de controle 161 6.7 Consideragées finais...... sense aonuracursannse 165 Capitulo 7 - Manejo Integrado de Doencas 7.10 ciclo de doenca nas plantas .. 168 7.2 Métodos de controle cultural de doencas 171 7.3 Nematoides. 184 FEA O queso nematoidest ancnnnninuninanismonaaisnnronmnninnaninansser 184 7.3.2 Sua importancia no cultivo de hortaligas 0.00 ssa, 185 7.3.3 Perdas e danos provocados pelos nematoides em hortalicas. .. 185 7.3.4 Principais espécies de nematoides de importancia para hortalicas. . 185 7.3.5 Amostragem para identificacao e diagnose de nematoides 186 7.3.6 Sintomatologia 187 7.3.7 Manejo Integrado de Nematoides. .... ostnnnnnnnnnnnnnnnnnee 188 7.4 Consideracdes finais ...... a ree iszoie sarensaisseonnce 190 Capitulo 8 - Pés-colh 8.1 Qualidade na pés-colheita . 192 8.2 Colheita 2 . 192 8.2.1 Cuidados na colheita 192 8.2.2 Acessorios de colheita 195 8.2.3 Técnicas de colheita snnnnminiennnnnnesieimmnnnemnnnnnmnnnennns 196 8.2.4 Ponto de colheita de hortali¢as ....cnmmnunnemnnnnunnannnnnnnnnnmnnnnes 197 8.2.5 Manuseio .... . 198 8.3 Armazenamento ... 202 203 8.5 Processamentos de hortalicas 206 8.5.1 Principios basicos de limpeza € desinfecgdO swum 207 8.5.2 Processamento MINIMO ....s:.:sneemnnnnenmmnnnemnsmnennnnene 21 8.5.3 Desidratacao 227 85.4 Conservas (picles de hortalicas .... . 27 8.5.5 Fermentacao 229 e comercializacéo 230 BGA LOTSEI CAL enenrnanecrenewss rast serisetianaisonsncnntnessartnnsanteonnanantttses 2D) 8.6.2 Comercializacao .... 230 8.7 Consideracoes finais .... . 233, Introducao Sustental idade na Agricultura - uma reflexdo © consumidor atual, em grande parte dos paises, tem sido insistentemente chamado a pensar sobre o conceito de sustentabilidade. Os meios de comunicacéo, numa adogao superficial, "vendem* a ideia de que a sustentabilidade & um produto acabado, nao relacionado a mudancas de atitudes proprias ou da sociedade ern que vive. Mudangas que estao diretamente relacionadas a cultura, as rengas @ aos valores dos povos, independente do pais em que se encontre O desejo por um "mundo sustentavel” implica em adogao — quase que unanime — de praticas coti- dianas menos agressivas ao planeta, tais como reciclagem de lixo, reducao de poluicéo do ar, da égua da terra. Essa nova postura passa tamibém por atitudes sustentaveis nas relacées sociais, profssionais, e até entre paises, pela sustentabilidade econdmica da produgao, entre tantos outros elementos. ‘Com base no tripé da sustentabilidade, que engloba questdes ambientais, econdmicas e sociais, a reflexdo que se propde aqui nesse curso ¢ identificar ~ no ambito da producao de hortaligas em dife- rentes escalas — técnicas e processos que permitam o equiliorio entre a producéo efetiva de alimentos, aliada 8 economicidade da producéo e a sua correta cistribuico para a sociedade Em relacdo especificamente & producao de hortalicas, a reflexdo sobre a sustentabilidade deve ser ‘mais profunda. Existem alguns mitos a serem derrubados. O primeiro deles, e que faz parte de um sen- so comum, € o que trata 0 agricultor como um dos vildes, levando debate para o plano ideolbgico politico, quando nao para o plano moral. Um debate a respeito da producdo sustentavel de hortalicas, por exemplo, esta relacionado ao uso intenso de defensivos agricolas (agrot6xicos). Destaca-se que parte da opinio mundial é contraria a essa pratica — inclusive muitos produtores. Entretanto, a adocéo ou no do uso de defensivos agricolas na produgéo de hortalicas ¢ uma decisdo dificil de ser tomada. Se por um lado, nao ha produtos quimicos adequados as diferentes va- riedades, por outro, ha uma crescente preocupacéio com a forma correta de utlizacao, e o produto, muitas vezes, ndo tem alternativas. Mas, 0 nao uso de defensivos agricolas deverd levar 0 produtor a rever todo o seu sistema de plan- tio, o que implica em custos extras. Os ganhos com a comercializacao de alimentos organicos poderéo ‘compensar — no médio prazo — os investimentos iniciais? A produgao organica garantira a rentabili- dade (sustentabilidade econémica da producio) ao produtor? Essas questdes, entre tantas, devern ser analisadas & luz da sustentabilidade em diferentes aspectos. ‘As razes que impulsionam 0 mundo globalizado a propor a producéo de alimentos menos agres- siva ao organismo humano devem ser analisadas, inevitavelmente, considerando, além dos fatores ambientais, os sociais e os econémicos. E, para voc, considerando a sua atividade exercida hoje, qual a sua visdo sobre sustentabilidade na produgio de horticolas? az Neste curso, procurou-se abranger diferentes tipos de cultivos, visando debater as diferentes pos- sibilidades destes, bem como outros aspectos da producéo de qualidade, que envolve a preparacdo € a analise dos diferentes solos, a escolha de mudas e sementes, os cuidados com tratos culturais ¢ 0 combate a pragas ea doencas, a escolha do tipo de irrigacéo adequada, bem como os cuidados na colheita e na comercializacdo. Nesse primeiro capitulo, a proposta ¢ tefletir sobre a sustentabilidade na producao horticola. A primeira atividade em grupo é o férum disponivel no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), para a reflexdo e 0 debate sobre diferentes visdes acerca de SUSTENTABILIDADE Participe! No link a seguir, vcé encontraré o local para iniciar esse debate com os demais colegas © 0s professores. Encontramo-nos la, ltalo Moraes Rocha Guedes Warley Marcos Nascimento Sistema de Plantio Direto (SPD) Nuno Rodrigo Madeira ote Nano Rodiga Mader @ Ao final deste capitulo, vocé devera ser capaz de: ‘+ Demonstrar a importancia do sistema de plantio direto (SPD). ‘+ Descrever 0 que é quais sao os fundamentos deste sistema de cultivo. ‘+ Distinguir as vantagens e as desvantagens do plantio direto na palha. ‘+ Identificar os pontos-chave para a adocao do plantio direto. 1.1 Preocupacao com o solo Hoje sabemos da importancia de se en- tender que 0 solo deve ser tratado € nao somente explorado. Devemos pensar em "adubar 0 solo” e ndo em adubar a planta, sendo consequéncia do equilibrio deste a obtencao de produces satisfatdrias E indispensavel buscar alternativas para © desenvolvimento de um modelo de pro- ducéo de hortalicas com sustentabilidade ambiental, equidade social e viabilidade econémica, adequado as condicées climati- «as tropicais O Sistema de Producao Conservacionista, conhecido como Sistema de Plantio Direto (SPD), ver sendo apontado como alternati- va social e econémica para 0 tratamento do solo de maneira sustentavel Caso de sucesso: Teres6polis € Nova Friburgo Entre 1995, em Teres6polis e Nova Friburgo, regio serrana do Estado do Rio de Janeiro - Brasil, apicou- se 0 sistema conservacionista para o cultivo de couve- flor, utlizando aveia, eriihaca e vegetacéo esponténea: para a forrnagao de palhada, manejando 0 mato sem liminé-to. Os resultados? ‘A produgéo supetou as expectativas, indo melhor cdo que em cuitivos convencionais realzados na mes- ma €poca, por produtores regionais. Os agricultores que utlizaram a pratica alegaram que a terra fica mais, " gorda”, mais facil de trabalha, o terreno resseca me- nos e aplanta aguenta o calor. Esses so comentarios praticos carregados de cién- cia, que fazem referencia & melhoria das caracteristicas, ‘isico-quiricas e biol6gicas e & regulacdo hidrica e ter. mica do solo. \Vocé sabe responder as seguintes perguntas? tio Direto (SPD)? No plantio direto, a infestacdo por plantas espontaneas aumenta ou di © que ¢ plantio direto? € um modelo sustentavel? Por qué? O plantio direto diminui a erosdo do solo? Por que 0 plantio direto promove o aumento dos teores de materia organica no solo? Quais itens devem ser levados em consideracao ao se decidir por adotar o Sisterna de Plan- Encontre estas ou outras respostas ao longo deste capitulo. 1.2 Plantio direto na palha O plantio direto é um sistema de mane- jo sustentavel de solo e égua que visa ex- pressar © patencial produtivo das culturas, sendo fundamentado em trés requisitos ba- sicos, como se vé ao lado. Requisitos basicos do plantio direto + Rotacdo de culturas, incluindo plantas de cobertu- ra formadoras de palhada. + Revolvimento minimo do solo, restito as covas ou as linhas de plantio, * Cobertura permanente do solo, verde ou morta (palhada), ® Dentre as premissas do plantio direto (Figura 1), destaca-se, do ponto Plantio direto - uma ‘i ° 2 | devista social e econémico, a possibilidade desse modelo de gerenciamen- ‘opcao para a promocao : a ‘i do desenvolvimento | ‘© da producéo agricola ser uma opcéo para a promogéo do desenvol realeterertel Viento rural sustentavel, em decorréncia da menor dependéncia por insumos externos, pela alta conservaco ambiental que proporciona e pelo consequente aumento de renda do agricultor. O plantio direto pode significar a sobrevivéncia da agricultura nos trépicas e suibtrépicos, caminho certo e definitivo na busca da competitividade, da sustentabilidade e da equidade com qualidade am- biental. Significa, ainda, uma mudanca de comportamen- to € uma profissionalizagao dos atores do agronegécio. Efeitos do plantio direto ‘+ Reducéo da erosdo (Figura 2): + Aumento da capacidade de retencéo de agua. ~ Reducéo do assoreamento dos cursos d'égua ‘© Maximizagéo do uso da agua e da energia ‘+ Reducao da mecanizacio. Tot: casio ies Cape ‘© Maior eficiéncia de uso da agua (Tabela 1). Fgura2. Vocoroca em Mato Grosso, MT, Bra ‘Tabela 1. Consumo estimado de Sgua para producto de alimentos (Lkg”) Ate 132 ears 726 teas 20 «| Repo 36 coon |e 192 ‘+ Recuperacéo ou preservacio das caracteristicas fisicas, quimicas e biolégicas do solo: = Elevagao dos teores de matéria organica. ~ Preservacao da estrutura do solo. ~ Maior aco de minhocas e microrganismos. * Regulacao térmica: - 41°C em PC x 32°C em PD. ‘+ Reducao da infestacao de plantas daninhas. + Reducio na dispersao de doencas. e Para refletir e anot: ‘Aproveite este momento e reflita sobre a se- guinte questdo: quais sd0 as vantagens e as des- Um caso de sucesso em Piedade Na regio de Piedade, Estado de Sd Paulo, 2 ee bates produtores, buscando alternativas para melho- rar a producao de alface no verdo, dificultada pelo clima quente e chuvoso, testaram 0 plan- tio de hortaliga sobre palhada de aveia preta O preparo dos canteiros ¢ feito em junho, com adubacdo de base programada. Efetua-se 0 semeio manual a lango e, antes da maturagao dos gros, desseca-se a aveia 30 dias antes do transplantio da alface. Vantagens Desvantagens Verificou- se incremento produtivo, reducao do incamento e redugio da infestacéo por do- encas, pela auséncia de respingos nas folhas, pela melhor drenagem dos canteiros, propor- cionando produto de melhor qualidade Vantagens do Sistema de Plantio Direto ‘+ Minimizacdo da erosao, pelo amortecimento do impacto das gotas da chuva e dos efeitos das pe- sadas enxurradas, tanto pela palhada propriamente dita quanto pela integridade da estrutura do solo, pelo fato de nao se efetuar o revolvimento do solo e sim a *aragdo bioléaica”, verificando-se significativo aumento da infitracdo de aqua e da capacidade de retengéo de 4gua no solo. ‘+ Aumento na eficiéncia de uso de agua e energia, pela maior infiltracdo da 4gua no solo e menor escorrimento superficial e evaporacao da gua, observando-se reducao na necessidade de irriga- ao de até 20%. * Reducao da mecanizacao, superior a 50%, quando comparado a sistemas convencionais de producao. ‘* Elevacao dos teores de matéria organica do solo, pela reduzida movimentacao e pelo aporte de residuos. ‘+ Reducdo da infestacio por plantas esponténeas, seja pela acdo fisica, atuando como barreira; seja pela acéo quimica, em fungi do efeito alelopatico que algumas espécies apresentam, como sorgo, mucunas e outras. + Aumento na diversidade da biota do solo, por elevar os teores de matéria organica. + Reducéo da disperséo de doencas de solo, em consequéncia da diminuicéo dos respingos de agua da chuva e do escorrimento superficial ‘+ Regulacao térmica do solo, observando-se amenizacao da temperatura nas horas mais quentes do dia, com reducao de até 9°C na palhada em superficie do solo, préximo ao coleto da planta, quan- do em comparacéo ao solo desprotegido, e retencao do calor residual nas horas mais frias do dia Desvantagens do Sistema de Plantio Direto ‘Em regides muito umidas, 0 plantio direto pode favorecer o deserwohimento de alguns fungos fitopatogénicos que sobrevivern na palhada, aumentando o inéculo inicial de doencas; entretan- to, a dispersdo destas é mais lenta ‘+ Aumento da populacdo de "cords", besouros consumidores de matéria orgénica que, quando em. elevadas populacées, podem atacar as raizes das plantas como alimentaco alternativa ~ fendme- 1o ja relatado em areas sob plantio direto de graos. ‘+ Aumento da populacdo de cupins, consumidores de celulose, que podem atacar as raizes caso haja um desequilibrio na populacdo e a disponibilidade de palhada seja insuficiente em alguns periodos do ano. * Compactacao do solo, caso nao ocorra o pleno estabelecimento das plantas de cobertura, em geral, em decorréncia da escolha inadequada da rotacdo de culturas ou, ainda, de seu inadequado manejo, a exemplo do excesso de pisoteio ou de transito de maquinas na area, ‘+ Indisponibilizagao da rea pelo cultivo de plantas de cobertura que muitas vezes nao tem valor comercial direto ‘As experiéncias com sistemas de plantio direto devem receber ajustes if conforme a realidade local, visto que, nesse sistema de plantio, nao exis- existe um manejo ; ; Geelaee te um manejo Unico, uma receita geral, mas sim uma complexa dinami- menace

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